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Estudo Numérico do Problema do Golpe de Aríete em Tubulações Raphael Costa Carvalho Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador : Helcio Rangel Barreto Orlande, Ph.D. Rio de Janeiro Março de 2018

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Estudo Numérico do Problema

do Golpe de Aríete em Tubulações

Raphael Costa Carvalho

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador : Helcio Rangel Barreto Orlande, Ph.D.

Rio de Janeiro

Março de 2018

i

Carvalho, Raphael Costa

Estudo Numérico do Problema do Golpe de Aríete em

Tubulações/ Raphael Costa Carvalho. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2018.

VIII, 47 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Helcio Rangel Barreto Orlande

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Mecânica, 2018.

Referencias Bibliográficas: p. 45-47.

1. Introdução. 2. Revisão Bibliográfica. 3. Modelo

Matemático. 4. Método WAF-TVD 5. Resultados

6.Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros 7.

Referências I. Orlande, Helcio Rangel Barreto. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Curso de Engenharia Mecânica. III. Estudo

Numérico do Problema do Golpe de Aríete em

Tubulações.

ii

Agradecimentos Agradeço a Deus por ter me dado força e resiliência ao longo da graduação e na realização

deste trabalho.

Agradeço à Nossa Senhora pela intercessão.

Agradeço à minha mãe Tânia e ao meu pai Márcio pela educação, atenção e amor dados a

mim e à minha irmã e também ao apoio e oração durante os cinco anos de graduação.

Agradeço à minha irmã Raphaelle por ser minha melhor amiga durante toda a vida.

Agradeço à minha avó Lourdes e as minhas tias Fátima e Aparecida e ao meu primo Lucas

por todo o carinho.

Agradeço ao professor Helcio Rangel Barreto Orlande pela paciência, atenção e

disponibilidade na orientação deste trabalho e todas as instruções valiosas para realizá-lo.

Agradeço aos meus amigos de faculdade Bruno, Caio, Eduardo, Lucas, Pedro e Rafael

pela convivência e horas de estudo compartilhadas ao longo da graduação.

Agradeço a todos os alunos e funcionários do Laboratório de Tecnologia e Transmissão do

Calor (LTCC) pela amizade e ajuda durante minha iniciação científica no laboratório e em

especial a Diego Estumano que me acompanhou nos dois primeiros anos no laboratório.

Agradeço também a todos os professores do Departamento de Engenharia Mecânica da

UFRJ pelos ensinamentos e experiências passadas durante a graduação.

iii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico

Estudo Numérico do Problema do Golpe de Aríete em Tubulações

Raphael Costa Carvalho

Março/2018

Orientador: Helcio Rangel Barreto Orlande

Curso: Engenharia Mecânica

Escoamentos transientes possuem uma grande importância em problemas de engenharia,

tanto para dimensionar corretamente a tubulação, quanto para a escolha adequada dos

materiais que a compõe. Dessa forma, no presente trabalho, é feito o estudo numérico de

um fenômeno transiente chamado golpe de aríete. Para tanto, é utilizada uma abordagem

numérica baseada no método de volumes finitos usando o esquema WAF-TVD. Esse

esquema é de segunda ordem no espaço e no tempo. Para a verificação e validação do

código, os resultados numéricos obtidos aqui são comparados com resultados presentes na

literatura.

Palavras-chave: Golpe de Aríete, WAF-TVD, Método Numérico.

iv

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Mechanical Engineer

Numerical Study of Water Hammer Problem in Pipelines

Raphael Costa Carvalho

Março/2018

Adivisor: Helcio Rangel Barreto Orlande

Course: Mechanical Engineering

Transient flows have a great importance in engineering problems, as for properly

dimensioning the pipelines and for the proper choice of the materials that make it. Thus, in

the present work, the numerical study of a transient phenomenon called water hammer is

done. For this, the numerical approach based on the finite volume method is used through

the WAF-TVD scheme. This is a second-order scheme in space and time. For the

verification and validation of the code, the numerical results obtained here are compared

with results present in the literature.

Keywords: Water Hammer, WAF-TVD, Numerical Method

v

Sumário 1 - Introdução.................................................................................................................... 1

2 – Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 3

2.1 Contexto Histórico .................................................................................................. 3

2.2 A Importância da Prevenção do Golpe de Aríete ................................................... 4

2.3 Equipamentos de Proteção...................................................................................... 6

2.4 Métodos Numéricos ................................................................................................ 8

3 - Modelo Matemático .................................................................................................. 10

3.1 Equação da Conservação da Quantidade de Movimento Linear .......................... 10

3.2 Equação da Conservação da Massa ...................................................................... 11

4 - Método WAF-TVD ................................................................................................... 17

4.1 Estudo da Natureza do Problema.......................................................................... 17

4.2 Fracionamento das equações Não Homogêneas ................................................... 18

4.3 Esquema de Fluxo Médio Ponderado (WAF) ...................................................... 19

4.4 Esquemas TVD ..................................................................................................... 21

4.5 Método de Solução ............................................................................................... 21

4.6 Solução Aproximada do Problema de Riemann ................................................... 23

4.7 Volumes Fictícios ................................................................................................. 25

4.8 Critério de Estabilidade ........................................................................................ 26

5 - Resultados ................................................................................................................. 27

5.1 Testes e verificações ............................................................................................. 27

5.2 Caso 1 ................................................................................................................... 27

5.3 Solução para o Caso 1 .......................................................................................... 28

5.4 Caso 2 ................................................................................................................... 32

5.5 Solução para o Caso 2 .......................................................................................... 35

6 - Conclusão e Sugestões para Trabalhos Futuros ........................................................ 43

7 - Referências ................................................................................................................ 45

vi

Nomenclatura

𝑎 celeridade

𝐴 Área da seção transversal do duto

b variável correspondente cada família de onda na solução do problema de

Riemann

𝑐𝑘 número de Courant

D diâmetro interno do duto

e espessura da parede do duto

E módulo de elasticidade do duto

𝑓 fator de atrito

F força

F vetor de fluxo

𝑔 aceleração da gravidade

J matriz Jacobiana

K módulo de elasticidade do líquido

L comprimento do duto

N número de ondas na solução do problema de Riemann

𝑝 pressão

𝑞 vazão volumétrica

r parâmetro de fluxo

𝑅𝑒 número de Reynolds

S operador representando sistema de equações diferenciais ordinárias

S vetor termo fonte

vii

t tempo

TV variação total

u velocidade

U vetor das variáveis conservativas

x posição axial

Z operador representando sistema de equações diferenciais parciais

Letras Gregas

𝜏0 tensão de cisalhamento na parede do duto

Δ variação

𝛾 peso específico

𝛿 diferencial

𝜃 ângulo entre a direção do escoamento e o plano horizontal de referência

𝜆 autovalor

𝜉 função utilizada nas Equações (4.16) e (4.17)

𝜌 massa específica

𝜐 volume específico

𝜙 função limitadora

Subscritos

* região com solução aproximada no problema de Riemann

0 estado inicial

at atrito

D à direita

viii

e entrada

E à esquerda

ext externa

i passo da solução no espaço

k família de onda do problema de Riemann

max máximo

min mínimo

N número de ondas na solução do problema de Riemann

𝑠 saída

Sobescritos

k família de onda do problema de Riemann

n passo da solução no tempo

1

1 - Introdução O escoamento de um líquido dentro de um duto é um fenômeno bastante conhecido e

analisado em diversos problemas de engenharia como pode ser visto, por exemplo, em

FOX et al (2014). Se em algum momento, a velocidade do fluido é alterada bruscamente

em algum ponto na tubulação, surge um fenômeno conhecido como transiente

hidráulico ou golpe de aríete (nome dado devido ao ruído de batida característico do

processo) (LOMBARDI, 2005, MENDES, 2011). Essa alteração de velocidade

normalmente é causada pelo fechamento rápido de válvulas ou devido à partida ou ao

desligamento rápido de bombas.

Segundo LÜDECKE et al. (2006), por causa da inércia do fluido, a velocidade do

líquido não é capaz de se ajustar à nova configuração do escoamento quando ocorre um

fechamento brusco de válvula. Como consequência, parte da energia cinética do fluido é

transformada em energia de pressão, que se converte em trabalho de compressão do

líquido e na deformação das paredes do duto (LOMBARDI, 2005). Devido a esses

fenômenos, surgem ondas de pressão ao longo da tubulação. As altas magnitudes e

velocidades de propagação (em torno de 1000 m/s) dessas ondas de pressão podem

colocar em risco as tubulações e seus acessórios, podendo ocorrer até mesmo

deformações plásticas nos tubos e falhas estruturais.

Assim, se a tubulação não for de material adequado ou não for bem dimensionada

para suportar as mudanças de pressão ocorridas durante o golpe de aríete, podem surgir

sérios problemas para o circuito hidráulico. Portanto, é necessário um melhor

entendimento de como ocorrem e quais as magnitudes e velocidades de propagação das

ondas de pressão.

O presente trabalho possui como objetivo a análise numérica do fenômeno de golpe

de aríete resultante do fechamento repentino de uma válvula. Para tanto, as equações

governantes são resolvidas pelo método de volumes finitos, em um código

computacional desenvolvido nesse projeto. As equações discretas do método de

volumes finitos são resolvidas com uma versão TVD (Total Variation Diminishing) do

esquema de Fluxo Médio Ponderado (WAF), descrito por TORO (1997). Esse é um

método explícito de volumes finitos de segunda ordem no tempo e no espaço. Para a

dedução das equações que governam o fenômeno, é usado o princípio de conservação

da massa e da quantidade de movimento linear.

Outra motivação para o estudo do golpe de aríete é o seu possível uso na detecção

de vazamentos nas tubulações. Existem hoje diversas técnicas que buscam identificar a

presença e a localização desses vazamentos tais como métodos acústicos que utilizam

sensores capazes de medir a energia acústica gerada pelo vazamento assim como

métodos óticos, que identificam as mudanças de temperatura na parede do duto

causadas pelo vazamento (MURVAY e SILEA, 2012).A presença de um vazamento no

duto onde ocorre o golpe de aríete causa uma atenuação no sinal gerado pelas ondas de

pressão, através do escape do fluido pressurizado. Como mostra COLOMBO et al

2

(2009), uma das técnicas para a detecção de vazamentos se baseia justamente na análise

dessas ondas de pressão. No trabalho de COLOMBO et al. (2009), foi feito um

experimento onde foi analisado o sinal obtido pelas ondas de pressão geradas pelo

fechamento de uma válvula com e sem vazamento. Os sinais transientes de pressão ao

longo da tubulação, com e sem vazamento, apresentam comportamentos distintos. Além

disso, o sinal transiente das ondas de pressão no sistema com vazamento decai mais

rapidamente do que aquele sem vazamento, conforme ilustrado na Figura 1

(COLOMBO et al., 2009)

Figura 1: Comparação entre os sinais para os casos com e sem vazamento (adaptado de

COLOMBO et al., 2009)

Dessa forma, a aplicação de métodos numéricos que sejam capazes de resolver as

equações do golpe de aríete pode ser uma importante ferramenta na detecção de

vazamentos, através da estimativa do comportamento das ondas de pressão. Entretanto,

tal análise não é realizada neste trabalho.

O trabalho está dividido da seguinte maneira: no capítulo 2, é feita uma revisão

bibliográfica do fenômeno estudado; no capítulo 3, são deduzidas as equações do

transiente hidráulico através das equações de conservação de massa e quantidade de

movimento linear; no capítulo 4, a natureza do problema é analisada e o método

numérico para a simulação do escoamento é aplicado; no capítulo 5 são apresentados e

analisados casos testes para a verificação e validação da simulação. Finalmente, no

capítulo 6 são apresentadas as conclusões obtidas e sugestões para trabalhos futuros.

3

2 – Revisão Bibliográfica

2.1 Contexto Histórico

No final do século XVIII e começo do Século XIX ocorreu na Europa o processo

conhecido como Revolução Industrial, onde aconteceu a substituição da produção

artesanal pela produção em série realizada por trabalhadores assalariados com o uso

predominantemente de máquinas (COTRIM, 2008). Com o avanço do processo de

industrialização ao longo do século XIX e início do século XX, a demanda por energia

pelas fábricas aumentou, tornando-se necessário o acréscimo do fornecimento de

energia elétrica para o abastecimento dessa necessidade. Além disso, era preciso atender

também a crescente população urbana. A geração hidroelétrica foi uma das responsáveis

pelo o abastecimento energético durante esse período. (GHIDAOUI et al., 2002)

Companhias hidroelétricas contribuíram fortemente para o desenvolvimento de

laboratórios para o estudo de fluidos e turbo máquinas, que analisavam entre outros

fenômenos, o processo de golpe de aríete. Allievi, um dos primeiros pesquisadores a

estudar esse processo, realizou os seus experimentos através do resultado de falhas e

incidentes causados pelo aumento de pressão devido ao rápido fechamento de válvulas

em usinas de potência no norte da Itália (GHIDAOUI et al., 2005)

Como mostra LÜDECKE et al. (2006) e GUIDAOUI et al. (2005), a equação mais

conhecida para modelar o fenômeno do transiente hidráulico foi desenvolvida por

Joukowsky através de uma série de experimentos realizados em sistemas hidráulicos de

Moscou em 1897. Esse modelo é conhecido na literatura como equação fundamental do

golpe de aríete ou simplesmente equação de Joukowsky, sendo mostrada na Equação

(2.1) a seguir

p a u

onde Δ𝑝 se refere a diferença de pressão, 𝜌 é a massa específica do fluido e Δ𝑢 é a

variação de velocidade longitudinal do fluido. O parâmetro a representa a velocidade de

propagação da onda de pressão no fluido, também conhecida como celeridade

(SZYDLOWSKI, 2002).

A teoria geral do golpe de aríete, entretanto, só foi desenvolvida em 1902 por

Allievi, sendo esse autor responsável também pela produção de cartas para os picos de

pressão na seção da válvula devido ao seu fechamento uniforme (GHIDAOUI et al.,

2005). Com o passar do tempo, o fenômeno do transiente hidráulico foi sendo melhor

estudado e as suas equações governantes foram modificadas até resultar nas equações de

conservação de massa e momento mostradas no capitulo 3.

(2.1)

4

2.2 A Importância da Prevenção do Golpe de Aríete

Os riscos que o golpe de aríete pode gerar nas tubulações são consideráveis. A Figura 2

mostra uma tubulação de 12 mm de espessura complemente destruída pelo transiente

hidráulico. Dessa forma, um melhor entendimento das consequências causadas pelo

golpe de aríete é necessário para manter os dutos e todos os componentes do sistema

hidráulico em um bom estado de funcionamento.

Figura 2: Tubulação com paredes de 12 mm de espessura completamente destruída pelo Golpe

de Aríete (LÜDECKE et al, 2006)

A seguir, vemos alguns dos problemas que o golpe de aríete causar nas tubulações:

2.2.1 Altas e Baixas Pressões

Como mostra BOULOS et al. (2005) e LÜDECKE et al. (2006), o fenômeno do

transiente hidráulico gera pontos de pressão máxima e mínima nos dutos. Pressões

máximas durante o regime transiente podem destruir as tubulações, as suas fixações,

válvulas, bombas entre outros componentes do sistema hidráulico. Muitas vezes, o dano

causado pelas ondas de pressão não é visto no mesmo momento em que ocorre o

fenômeno, sendo que as suas consequências não se tornam aparentes até muito tempo

depois do evento. A Figura 3 mostra uma válvula de retenção destruída devido à

sobrepressão.

Figura 3: Válvula de retenção DN800 destruída devido à sobrepresão (LÜDECKE et al, 2006)

5

Baixas pressões também podem ser extremamente danosas ao sistema hidráulico.

Ao se atingir valores menores que a pressão atmosférica, pode ocorrer o colapso de

tubos de parede fina ou de seções reforças de concreto, além da flambagem dos dutos

(BOULOS et al, 2005 e LÜDECKE et al., 2006).

Outro fenômeno relacionado às baixas pressões na tubulação é o processo de

cavitação. Segundo MATTOS et al. (1998), a cavitação ocorre quando a pressão

absoluta em qualquer ponto do sistema hidráulico atinge valor igual ou inferior à

pressão de vapor do líquido, fazendo com que parte do líquido se vaporize. Esse

processo gera uma mistura de líquido e bolhas dentro da tubulação. Quando essa

mistura atingir algum ponto do escoamento onde a pressão absoluta for novamente

superior à pressão de vapor do líquido, haverá o colapso das bolhas com o retorno na

fase líquida. Como o volume específico do líquido é inferior ao volume específico do

vapor, o colapso das bolhas implicará a existência de um vazio, causando o surgimento

de ondas de choque.

Algumas consequências do fenômeno de cavitação para os sistemas hidráulicos são:

vibrações indesejáveis, diminuição do rendimento da bomba, acelerar o processo de

corrosão, além de gerar flexões nos dutos (MATTOS et al., 1998 e ELBASHIR et al.,

2007)

2.2.2 Vibrações

Como mostra BOULOS et al. (2005), o golpe de aríete pode gerar fortes vibrações nos

sistemas hidráulicos, prejudicando os suportes das tubulações, danificando os

equipamentos de controle e medição e também o concreto presentes em dutos

revestidos. Essas vibrações se continuarem por muito tempo, causarão esforços cíclicos

que podem acarretar no surgimento de falhas por fadiga na tubulação.

É preciso estar atento às frequências em que ocorrem as vibrações para que elas não

se aproximem da frequência natural de vibração dos dutos, evitando assim que aconteça

a ressonância e isso seja capaz de destruir todo o sistema hidráulico (BOULOS et al.,

2005).

2.2.3 Poluição da Água

A qualidade da água na tubulação que sofreu o golpe de aríete pode ser também muito

prejudicada. Segundo BOULOS et al. (2005), os eventos transientes podem gerar fortes

cisalhamentos entre o fluido e as paredes da tubulação, causando a raspagem de

partículas presentes nos dutos.

Níveis baixos de pressão ajudam na contaminação da água ao gerar vazamentos nos

dutos ou nas juntas das tubulações, permitindo a intrusão da água do solo ou mesmo de

contaminantes (BOULOS et al., 2005 e GHIDAOUI et al., 2005). Além disso, pontos de

baixa pressão na tubulação induzem o retorno da água no sistema hidráulico, podendo

ocorrer a mistura entre a água doméstica e a água industrial nos sistemas de distribuição

(BOULOS et al., 2005).

6

2.3 Equipamentos de Proteção

Tendo em vista as consequências que o golpe de aríete pode gerar nos sistemas

hidráulicos, alguns equipamentos são usados com o objetivo de minimizar esses efeitos.

2.3.1 Volante de Inércia

Os Volantes de Inércia são instalados na bomba com o objetivo de aumentar o seu

tempo de parada quando ela for desligada, garantindo a sua rotação por mais alguns

instantes. Dessa forma, a variação da velocidade do escoamento será menor, diminuindo

a intensidade do golpe de aríete. (CAMARGO, 1989 e MENDES, 2011)

Uma desvantagem desse método se deve ao aumento de peso da bomba,

necessitando maior potência do motor para acioná-la e consequentemente maior

intensidade de corrente elétrica.

2.3.2 Ventosas

As ventosas são dispositivos que atuam contra os baixos valores de pressão na

tubulação, através da entrada de ar nos dutos, limitando os valores da pressão ao valor

da pressão atmosférica (CAMARGO, 1989) Um tipo comum desse dispositivo é a

ventosa com flutuador esférico conforme mostrado na Figura 4.

Figura 4: Ventosa com flutuador esférico (CAMARGO, 1989).

Conforme explica CAMARGO (1989), através da pressurização da linha, o

flutuador esférico será deslocado para cima na direção do orifício de passagem de ar.

Ao ocorrer o golpe de aríete e o nível da pressão onde está instalada a ventosa cair,

haverá a redução do nível d’água causando a descida do flutuador. Isso abrirá o orifício,

permitindo a entrada de ar na tubulação, evitando regiões de vácuo e impedindo o

colapso do duto.

2.3.3 Chaminés de Equilíbrio

Chaminés de Equilíbrio são dispositivos que permitem atenuar as variações bruscas de

pressão através do fornecimento ou do armazenamento de água. Ao se reduzir a pressão

na tubulação, a água presente na chaminé irá alimentar o sistema, No caso de ocorrer

picos de pressão na tubulação, a água será direcionada da linha para o reservatório,

permitindo o enchimento da chaminé. O topo desse dispositivo é aberto para a

7

atmosfera e normalmente as chaminés são usadas em dutos de alimentação de

hidroelétricas (MENDES, 2011)

A Figura 5 abaixo mostra um esquema de como é uma chaminé de equilíbrio

Figura 5: Chaminé de equilíbrio (adaptado de CAMARGO, 1989).

2.3.4 Reservatórios de Ar comprimido

Reservatórios de ar comprido ou do inglês Air Vessels são reservatórios fechados que

contém água no nível inferior e ar comprido no nível superior, sendo a massa de ar

dentro do reservatório regulada por manômetros e compressores. Esses reservatórios

possuem praticamente a mesma função das chaminés de equilíbrio, atuando nos níveis

altos e baixos de pressão (CAMARGO, 1989 e MENDES, 2011).

2.3.5 Válvulas de Retenção

As válvulas de retenção são dispositivos que impedem que o fluxo se inverta dentro da

tubulação. Dessa forma, atuam contra os altos níveis de pressão causados pelo golpe de

aríete (CAMARGO, 1989). Uma válvula de retenção do tipo portinhola é mostrada na

Figura 6

Figura 6: Válvula de retenção com portinhola (CAMARGO, 1989).

8

Quando o fluxo ocorre da esquerda para a direita, a portinhola se encontra aberta

permitindo assim a passagem normal de fluido. Ao se inverter o sentido do escoamento,

a portinhola irá se fechar, bloqueando fluxo.

2.3.6 Válvula Limitadora de Pressão

As válvulas limitadoras de pressão ou válvula de alívio são válvulas que possuem como

função básica limitar a pressão do sistema hidráulico. Ao se atingir determinado valor

de pressão pré-fixado, essa válvula é aberta, permitindo a saída do fluido até a pressão

retornar ao valor estabelecido (RACINE HIDRÁULICA, 1981 e CAMARGO, 1989).

2.4 Métodos Numéricos

Devido às consequências mostradas que o golpe de aríete pode causar nos sistemas

hidráulicos, há a necessidade de controlar e prever continuamente esse fenômeno. O uso

de métodos numéricos é uma forma de tentar prever como ocorrem as variações de

pressão durante o processo do transiente hidráulico.

Nos trabalhos de STREETER et al. (1968) e (1982), é mostrado alguns métodos

para a solução das equações do golpe de aríete. Os autores recomendam o uso do

método das características ou MOC na abreviatura em inglês, devido a sua simplicidade

na programação, assim como sua boa eficiência e acurácia.

No MOC, as equações diferenciais parciais do golpe de aríete são transformadas em

equações ordinárias ao longo de linhas características como é mostrado em GHIDAOUI

et al (1994). Como explica TORO (1997), as linhas características são curvas y=y(t) no

plano y-t onde as equações diferenciais parciais se transformam em equações

diferenciais ordinárias.

Como mostra GUIDAOUI et al. (1994), soluções acuradas podem ser obtidas pelo

método das características se o número de Courant é bem próximo de 1. Para que essa

condição seja satisfeita, é necessário que a velocidade de propagação da onda seja

constante, o que, em geral, não ocorre no golpe de aríete, devido à compressibilidade do

líquido e da elasticidade da tubulação (SZYDLOWSKI, 2002). Além disso, a condição

de Courant é fortemente influenciada por bifurcações ou junções no sistema, devido à

mudança de vazão nos dutos (WANG et al., 2015).

Além do MOC, outros métodos para resolver as equações do transiente hidráulico

estão presentes na literatura. GUINOT (2000) usa o método de Godunov para resolver

as equações do golpe de aríete. Segundo o autor, a vantagem desse método está na sua

característica conservativa e o fato dele lidar bem com descontinuidades. Nesse

trabalho, é mostrado que as aproximações de segunda ordem são mais rápidas

computacionalmente e fornecem resultados mais precisos que as de primeira ordem para

o método de Godunov.

SZYDLOWSKI (2002) usa o esquema proposto por Roe para a solução do

problema de Riemann como forma de resolver as equações do golpe de aríete utilizando

9

a abordagem de volumes finitos. AFSHAR et al. (2008), aplica o método das

características de forma implícita (IMOC) como forma de contornar as limitações do

MOC convencional.

HWANG et al. (2013) busca resolver as equações do transiente hidráulico pelo que

o autor chama de método de partículas características. Através de casos testes, o autor

compara a solução obtida com as soluções numéricas dadas pelo método de Godunov e

pelo método das características. Já WANG et al.(2015) propõe um método acoplado

explícito-implícito. Nesse trabalho, é mostrado mostra as vantagens e desvantagens de

cada abordagem com justificativa para acoplá-las.

O presente trabalho tem como objetivo a solução das equações do golpe de aríete

pelo esquema WAF-TVD, que é um método explicito de volumes finitos de segunda

ordem no tempo e espaço. O uso desse método foi motivado pela sua eficiência para a

solução de escoamentos compressíveis de gás no interior de dutos, conforme foi

mostrado no trabalho de BARBOSA (2003). Nesse trabalho foi visto que o método

WAF-TVD é bastante robusto para escoamentos com descontinuidades.

O método WAF-TVD foi usado também por MADEIRA (2011) para a simulação

de escoamento de gás em dutos com o objetivo de aplicar a solução obtida na detecção

do fechamento de válvula em gasodutos, através do filtro de partículas SIR. Esse

trabalho foi continuado por LUCUMI (2015) através da comparação entre os resultados

obtidos pelo filtro SIR e ASIR.

10

3 - Modelo Matemático

Para o estudo das equações básicas do golpe de aríete, será usado o princípio da

conservação da massa e da quantidade de movimento linear, bem como a aproximação

de que o escoamento é unidimensional.

As variáveis dependentes são a pressão p e a velocidade média u na seção

transversal. As variáveis independentes são a distância x medida ao longo da tubulação

e o tempo t. Dessa maneira, p=p(x,t) e u=(x,t).

As equações gerais de conservação da massa e da quantidade de movimento linear

são descritas a seguir (STREETER et al.,1982).

3.1 Equação da Conservação da Quantidade de Movimento Linear

Para a aplicação das equações de conservação da quantidade de movimento linear

iremos analisar um elemento de fluido definido por um volume de controle diferencial,

conforme a Figura 7 abaixo.

Figura 7: Volume de controle para a dedução da equação de conservação da quantidade de

movimento linear (adaptado de STREETER et al.,1982)

Aplicando a Segunda Lei de Newton na componente paralela à velocidade do

escoamento para o elemento diferencial da Figura 7 e realizando o balanço de forças,

obtêm-se.

0 sen = A Du

pA pA pA x p x A x D x A xx x dt

(3.1)

11

No lado esquerdo da Equação (3.1), os dois primeiros termos referem-se à diferença

das forças de pressão entre a entrada e a saída do volume de controle, o terceiro termo

refere-se à força de pressão exercida na superfície lateral do volume de controle, o

quarto termo é o componente da força peso paralelo ao escoamento e o último termo é a

força de atrito na parede do duto, sendo 𝜏0 a tensão de cisalhamento. O termo à direita

do sinal de igualdade refere-se à massa do volume de controle (𝜌𝐴𝛿𝑥) multiplicada pela

derivada total da velocidade.

Dividindo todos os membros da Equação (3.1) pela massa e simplificando temos:

041 sen =

p Dug

x D dt

Expandindo o termo da aceleração

Du u uu

dt x t

Substituindo a Equação (3.3) na Equação (3.2) e agrupando os termos no mesmo

lado, obtêm-se:

041 + 0

u u pu g sen

t x x D

3.2 Equação da Conservação da Massa

Para a dedução da equação da conservação da massa, vamos utilizar como modelo a

Figura 8 abaixo

Figura 8: Volume de controle para a dedução da equação da conservação da massa (adaptado de

STREETER et al.,1982)

(3.2)

(3.3)

(3.4)

12

O princípio de conservação da massa é dado por

e s

mm m

t

onde �̇�𝑒 é a vazão mássica que entra no volume de controle e �̇�𝑠 a vazão mássica de

saída. Ao realizar o balanço de massa no elemento diferencial da Figura 8, obtêm-se

A x Au Au Au xt x

Simplificando, temos

Au x A xx t

Após o desenvolvimento da Equação (3.7) e a sua divisão pela massa (𝜌𝐴𝛿𝑥)

obtêm-se:

10

u A A u u

A x A t t x

Podemos reduzir a Equação (3.8) utilizando o conceito de derivada total, onde

1 1DA u A A

A dt A x A t

1 1D u

dt x t

Com isso, a Equação (3.8) pode ser escrita da seguinte forma:

1 10

DA D u

A dt dt x

(3.7)

(3.8)

(3.9)

(3.10)

(3.11)

(3.5)

(3.6)

13

onde o primeiro termo da Equação (3.11) se refere à elasticidade da parede do tubo e à

sua taxa de deformação devido às ondas de pressão, enquanto o segundo termo se refere

à compressibilidade do líquido.

STREETER et al. (1982) nos mostra que a taxa de variação da área pode ser

substituída da seguinte maneira

2 2

DA D Dp DD

dt eE dt

)

onde e se refere à espessura da parede do tubo e E ao módulo de elasticidade do duto.

Dessa forma, o primeiro termo da Equação (3.11) pode ser escrito como

1 DA D Dp

A dt eE dt

Pela definição do módulo de elasticidade volumétrica do fluido (STREETER et al.,

1982)

Dp DpK

D D

)

Podemos, assim, substituir o segundo termo da Equação (3.11) por

1 1D Dp

dt K dt

Aplicando as Equações (3.13) e (3.15) na Equação (3.11) temos

11 0

Dp K D u

K dt E e x

Define-se agora o parâmetro a que representa a velocidade de propagação da onda

de pressão no fluido, também conhecida como celeridade (STREETER et al., 1982 e

LOMBARDI, 2005) A equação desse parâmetro é dada por (SZYDLOWSKI, 2002):

(3.12)

(3.13)

(3.14)

(3.15)

(3.16)

14

1

1a

D

K eE

)

Escrevendo a Equação (3.16) em função da celeridade temos

210

Dp ua

dt x

Expandindo a taxa de variação da pressão, temos

Dp p pu

dt x t

Para aplicações do golpe de aríete, o termo 𝑢𝜕𝑝

𝜕𝑥 é muito menor do que o termo

𝜕𝑝

𝜕𝑥

(STREETER et al., 1982). Dessa forma, a equação da conservação da massa fica

2 0p u

at x

Sabemos que a vazão volumétrica é igual a

q Au 20)

Reescrevendo as equações de conservação da quantidade de movimento linear e da

massa, dadas pelas Equações (3.4) e (3.20), em função da vazão e considerando que a

velocidade do escoamento seja paralela ao plano horizontal de referência, obtêm-se:

2

2

0

0

40

p qa

t x A

Aq qAp

t x A D

)

Existem algumas formas de substituir a tensão de cisalhamento 𝜏0 na parede do

duto. A primeira delas é utilizando a aproximação de Darcy-Weisbach (STREETER et

al., 1982)

(3.17)

(3.18)

(3.19)

(3.20)

(3.21)

(3.22)

15

08

f u u

)

ou, em função da vazão,

0 28( )

f q q

A

onde f é o fato de atrito de Darcy-Weisbach dado pela equação transcendental abaixo

(FOX et al.2014)

1 2.512log

3.7

eD

Df Re f

)

É mostrado na literatura (AXWORTHY et al, 2000, BRUNONE et al.,1995) que as

Equações (3.23) e (3.24) para o cálculo da tensão de cisalhamento não são capazes de

proporcionar dissipação suficiente para escoamentos transientes rápidos em tubulações,

que é o caso do golpe de aríete, ou seja, a tensão de cisalhamento para esse caso é maior

que prevista pelas Equações (3.23) e (3.24), que se referem a escoamentos

hidrodinamicamente desenvolvidos.

Tendo essa questão em vista, será utilizada uma nova fórmula para calcular a força

de atrito na parede do duto. Essa fórmula está presente em WYLIE (1997), baseada no

estudo feito por BRUNONE em 1991 e é igual a

2at u

f u u u uF f a

D t x

onde o parâmetro fu é definido como o fator de atrito transiente. Adicionando essa

fórmula na equação da conservação da quantidade de movimento linear temos

2

02

u

f q qq q u uAp f a

t x A AD t x

Devido à natureza método numérico escolhido para resolver as equações do golpe

de aríete, é conveniente escrevê-las na forma vetorial da seguinte maneira:

(3.23)

(3.24)

(3.25)

(3.26)

(3.27)

16

t x

U F(U)S(U)

onde

p

q

U

)

2

2

qa

A

qAp

A

F(U)

)

Se usarmos a fórmula de Darcy-Weisbach para o atrito, o termo fonte é dado por:

0

2

f q q

AD

S(U)

e se usarmos a fórmula dada por WYLIE (1997), o termo fonte é igual a:

0

2u

f q q u uf a

AD t x

S(U)

Nessas equações, U é o vetor das variáveis de estado, F é o vetor que representa o

fluxo e S é o vetor que representa o termo fonte. Podemos ver que F e S são funções do

vetor de variáveis de estado, ou seja, F=F(U) e S=S(U).

(3.28a)

(3.28b)

(3.28c)

(3.28d)

(3.28e)

17

4 - Método WAF-TVD

4.1 Estudo da Natureza do Problema

Um sistema de equações diferenciais parciais pode ser classificado das seguintes

maneiras (OZISIK et al., 2017):

Sistema Elíptico

Sistema Parabólico

Sistema Hiperbólico

Sistema Misto

Para analisar a natureza do problema do golpe de aríete, escrevemos o seu sistema

de equações na forma quasi-linear (TORO, 1997)

t x

U F US(U)

U

ou

t x

U UJ S(U)

onde J é a matriz Jacobiana do sistema que é igual a

1 1

1 2

2 2

1 2

F F

U U

F F

U U

FJ

U

Para o presente caso formulado pelas Equações (3.28), a matriz jacobiana é dada

por

2

0

2

a

A

qA

A

J

(4.1)

(4.2)

(4.3)

(4.4)

18

cujo autovalores são dados por:

2 2

.1

2 2

.2

u u a

u u a

Podemos ver claramente que os dois autovalores são sempre reais e distintos,

portanto, o sistema pode ser classificado como hiperbólico (TORO, 1997 e OZISIK et

al., 2017).

4.2 Fracionamento das equações Não Homogêneas

A presença do termo fonte na Equação (3.27a) a torna complicada para se aplicar os

métodos numéricos. Uma forma de contornar esse problema é fracionar o sistema não

homogêneo em dois: um sistema homogêneo de equações diferenciais parciais (EDP) e

um sistema não homogêneo de equações diferenciais ordinárias (EDO) (TORO, 1997,

MADEIRA, 2011 e OZISIK et al, 2017)

O sistema é fracionado em cada intervalo de tempo Δ𝑡 com a condição inicial dada

pela solução no tempo anterior, ou seja,

nU U

onde 𝐔 representa o vetor de variáveis de estado e 𝑡𝑛 = 𝑛Δ𝑡. A cada tempo 𝑡𝑛+1, 𝐔n

evolui para 𝐔n+1 com o passo de tempo Δ𝑡 = 𝑡𝑛+1 − 𝑡𝑛

Um fracionamento de primeira ordem é dado por (TORO, 1997 e OZISIK et al.,

2017).

10 n

n

t x

U F(U)

U

U U

1

1

( )n

n

d

dt

US U

U

U U

Podemos ver que a solução do Sistema (4.7) é a condição inicial do sistema (4.8).

Outra forma de reescrever esse fracionamento é

1 t tn nS Z U U

(4.5)

(4.6)

(4.7)

(4.8)

(4.9)

19

onde 𝑍(∆𝑡) e 𝑆(∆𝑡) representam os operadores do sistema de equações diferenciais

parciais (4.7) e o sistema de equações diferenciais ordinárias (4.8) respectivamente. O

sistema de equações representado pelo operador 𝑆(∆𝑡) pode ser resolvido através da

integração da Equação (4.8), obtendo a seguinte expressão:

11 nn t U U S

Para o sistema representado por 𝑍(∆𝑡) , iremos descrever o método utilizado na

próxima seção.

4.3 Esquema de Fluxo Médio Ponderado (WAF)

O método WAF (Weighted Avarage Flux) ou em português, Fluxo Médio Ponderado, é

uma generalização do método de Lax-Wendroff e do método upwind de primeira ordem

de Godunov para sistemas não lineares de leis conservativas. O método WAF tem suas

origens no esquema de fluxo randômico, que é de segunda ordem no tempo e no espaço,

sendo sua abordagem determinística (TORO, 1997)

Será considerada agora a integração da equação homogênea correspondente ao

sistema dado pela Equação (4.7), mostrada na Equação (4.11).

( )0

t x

U F U

Na abordagem de volumes finitos, dividimos o nosso domínio em regiões

chamadas de volumes de controle ou células de acordo com a Figura 9.

Figura 9: Discretização em volumes finitos para o caso unidimensional (adaptado de LUCUMI,

2011)

(4.11)

(4.10)

20

Considerando o domínio [𝑥 −Δ𝑥

2, 𝑥 +

Δ𝑥

2] x [𝑡, 𝑡 + Δ𝑡], sendo Δ𝑥 e Δ𝑡 os intervalos

espaciais e temporais, podemos escrever a forma integral da Equação (4.11) da seguinte

maneira

/2

/2

( , ) ( , ) ( / 2, ) ( / 2, ) 0

x x t t

x x t

x t t x t dx x x t x x t dt

U U F F

1

onde 𝐅(𝑥, 𝑡) = 𝐅(𝐔(𝑥, 𝑡))

O método WAF assume propriedades constantes localmente, ou seja, 𝐔𝑖𝑛 é uma

média integral da solução 𝐔(𝑥, 𝑡𝑛) na célula [𝑥𝑖−

1

2

, 𝑥𝑖+

1

2

] no instante 𝑡 = 𝑡𝑛

/2

/2

1( , )

x x

n n

i

x x

x t dxx

U U

. 12)

Aplicando a Equação (4.13) na Equação (4.12), temos

1 1( / 2, ) ( / 2, )

t t

n n

i i

t

x x t x x t dtx

U U F F

Um esquema numérico explícito para resolver a integral acima pode ser definido

como

1

1 1

2 2

n n n n

i ii i

t

x

U U F F

)

onde 𝐅𝑖+

1

2

𝑛 é uma aproximação numérica para o fluxo 𝐅 calculado na fronteira x=𝑖 +1

2

do volume de controle.

(4.12)

(4.13)

(4.14)

(4.15)

21

4.4 Esquemas TVD

Segundo TORO (1997), os esquemas TVD são uma classe de esquemas de variação

total estáveis e eles são baseados na condição de que a variação total da solução

numérica não aumenta com o tempo. A variação total pode ser definida para uma

solução discreta da seguinte maneira (TORO, 1997):

1( )n n n

i i

i

TV

onde 𝜉 é uma função 𝜉 = 𝜉(𝑥).

Dessa forma, um esquema TVD pode ser definido matematicamente como:

1( ) ( ), n nTV TV n

4.5 Método de Solução

Métodos WAF são de segunda ordem no espaço e no tempo. Nesta seção, aplicamos a

condição TVD no método WAF. Para a aplicação da restrição TVD em sistemas não

lineares, foi observado empiricamente que a solução para sistemas completos pode ser

caracterizada por saltos de uma variável 𝑏, através das ondas do problema de Riemann

(TORO, 1997).

A versão TVD do fluxo WAF é

1 1 1 1

12 2 2

1 1s

2 2

Nk k

i i ki i i

k

ign c

F F F F

)

onde N(=2) é o número de ondas do problema de Riemann para o sistema dado pela

Equação (3.28)

1 1

2 2

k k

i ir

)

é a função limitadora e

kk

k

csign c

c

é a função sinal

(4.16)

(4.17)

(4.18)

(4.19)

(4.20)

22

O parâmetro 𝑐𝑘 representa o número de Courant para as ondas k=1 e k=2 de

velocidade 𝑆𝑘 e é dado pela equação a seguir

kk

tSc

x

com 𝑐0=-1 e 𝑐𝑁+1=1 (TORO, 1997)

O salto do fluxo através da onda k é dado por

1

1 1 11

2 2 2

k k k

i i

F F F

onde 𝐅𝑖+

1

2

(𝑘)= 𝐅(𝐔(𝑘)) e

1

2

*

3

1

n

i E

n

i D

U U U

U U

U U U

onde o cálculo para 𝐔∗ será demonstrado na próxima seção.

O parâmetro de escoamento 𝑟(𝑘) refere-se a onda k da solução 𝑈𝑖+

1

2

(𝑘) do problema de

Riemann e é dado pela razão

12

12

32

12

para 0

para 0

k

i

kk

ik

k

i

kk

i

bc

b

rb

cb

Para as equações de Euler, é recomendado usar como o valor para a variável 𝑏 a

massa específica ou a energia interna específica (TORO, 1997). Para o caso da equação

do golpe de aríete, vamos utilizar a pressão como a variável para 𝑏. Assim,

(i) Δ𝑏𝑖−1/2(𝑘)

representa o salto em 𝑝 através da onda k na solução 𝐔𝑖−

1

2

(𝑥, 𝑡) do

problema de Riemann com dados (𝐔𝑖−1, 𝐔𝑖) em um instante 𝑡𝑛

(4.21)

(4.22)

(4.23)

(4.24)

23

(ii) Δ𝑏𝑖+1/2(𝑘)

representa o salto em 𝑝 através da onda k na solução 𝐔𝑖+

1

2

(𝑥, 𝑡) do

problema de Riemann com dados (𝐔𝑖, 𝐔𝑖+1) em um instante 𝑡𝑛

(iii) Δ𝑏𝑖+3/2(𝑘)

representa o salto em 𝑝 através da onda k na solução 𝐔𝑖+

3

2

(𝑥, 𝑡) do

problema de Riemann com dados (𝐔𝑖+1, 𝐔𝑖+2) em um instante 𝑡𝑛

A função limitadora 𝜙𝑖+1/2(𝑘)

na Equação (4.18) tem como função garantir que o

esquema numérico seja do tipo TVD. TORO (1997) nos sugere algumas funções como:

Superbee, Minbee e Van Leer. Como demonstrado pelos trabalhos de BARBOSA

(2003), MADEIRA (2011) e LUCUMI (2015), vamos utilizar a função Van Leer, que

funciona como um limitador intermediário. Essa função é representada pela equação

abaixo

1 se r 0

, 1 21 se r >0

1

VL r c c r

r

4.6 Solução Aproximada do Problema de Riemann

Como visto na seção anterior, para implementarmos o método WAF-TVD, precisamos

revolver o Problema de Riemann. Originalmente, o problema de Riemann referia-se ao

chamado problema do tubo de choque onde dois gases estacionários com diferentes

pressões são separados por um diafragma. A ruptura desse diafragma causa uma onda

de compressão para o lado de mais baixa pressão e uma onda de expansão (choque) no

sentido oposto (TORO, 1997 e LUCUMI, 2015).

O problema de Riemann foi generalizado para a solução de qualquer problema

unidimensional hiperbólico onde as condições iniciais são dadas por

(0) 0

( ,0) ( ) 0

E

D

se xx x

se x

UU U

U

onde 𝐔𝑑 e 𝐔𝑒 são dois vetores representados pela Figura 10

(3.24)

(4.26)

24

Figura 10: Condições iniciais para o problema de Riemann (LUCUMI, 2015).

Para a solução aproximada do problema de Riemann, TORO (1997) recomenda o

uso do método HLL desenvolvido por Harten, Lax e Van Leer. Nesse método, a

aproximação para o fluxo na fronteira da célula é obtido diretamente. A ideia central do

método assume, para a solução, uma configuração que consiste de duas ondas separando

três estados de acordo com a Figura 11.

Figura 11: Regiões e ondas para o método HLL (TORO, 1997).

Dado um algoritmo que calcule as velocidades de onda 𝑆𝐸 e 𝑆𝐷, podemos calcular o

vetor 𝐔∗ da seguinte maneira:

* hll D D E E E D

D E

S S

S S

U U F FU U

onde 𝐔𝐸 = 𝐔 𝑖𝑛, 𝐔𝐷 = 𝐔 𝑖+1

𝑛 , 𝐅𝐸 = 𝐅(𝐔𝐸) e 𝐅𝐷 = 𝐅(𝐔𝐷)

(4.27)

25

O método que será usado para estimar as velocidades 𝑆𝐸 e 𝑆𝐷 foi proposto por

Davis (TORO,1997)

1 1

2 2

min ,

max ,

E D

E

E D

D

S

S

onde {𝜆1𝐸 , 𝜆1

𝐷} e {𝜆2𝐸 , 𝜆2

𝐷} são os autovalores 𝜆1 = 𝑢 − √𝑢2 + 𝑎2 e 𝜆2 = 𝑢 + √𝑢2 + 𝑎2

da matriz Jacobiana J para as células i e i+1.

4.7 Volumes Fictícios

Em uma solução numérica por volumes finitos na forma explícita, é necessário saber o

valor da solução em todas as células em um instante de tempo anterior. A princípio,

pode-se não saber o valor da solução nas células do contorno. Nesses casos, iremos

utilizar condições de contorno numéricas para volumes fictícios conforme mostrado na

Figura 12.

Figura 12: Volumes finitos e fictícios (LUCUMI, 2015)

LANEY (1998) apresenta uma técnica de extrapolação utilizando dois volumes

fictícios na entrada e na saída da fronteira de acordo com a seguinte equação

0 1

1 2

1

2 1

n n

n n

n n

M M

n n

M M

U U

U U

U U

U U

Para o problema estudado, vamos impor o valor da pressão na entrada e extrapolar

a vazão, enquanto que para a saída, impõe-se o valor da vazão e extrapola-se a pressão.

Essa escolha foi motivada pela configuração dos casos estudados no capítulo 5, onde

temos um tanque na entrada e uma válvula que será fechada na saída.

(4.28)

(4.29)

26

4.8 Critério de Estabilidade

Para que o sistema de solução explícito seja estável, foi escolhido utilizar o critério

proposto por TORO (1997) sendo o incremento de tempo Δ𝑡 dado pela fórmula

max

cfl n

xt C

S

onde Δ𝑥 é comprimento da célula de discretização, 𝐶𝑐𝑓𝑙 é o coeficiente CFL (Courant-

Friedrichs-Lewy) com 𝐶𝑐𝑓𝑙 ∈ (0,1]. 𝑆𝑚𝑎𝑥(𝑛)

é a velocidade de propagação da onda mais

rápida no instante tempo 𝑛 dada por (TORO,1997)

max max

n n n

i iS u a

sendo 𝑖 é a posição do volume finito, incluindo as condições de contorno. 𝑢𝑖𝑛 é a

velocidade do escoamento no local e 𝑎𝑖𝑛 é a velocidade do som local. No caso do

problema do golpe de aríete, 𝑎𝑖𝑛 é a celeridade local.

(4.30)

(4.31)

27

5 - Resultados

5.1 Testes e verificações

Para a verificação do código implementado, vamos analisar dois casos testes estudados

por SZYDLOWSKI (2002). A grande diferença entre esses dois casos é o fato de que o

primeiro não inclui a variação de diâmetro da tubulação e a variação da massa

específica causada pelas ondas de pressão e também considera que o tubo é liso, ou seja,

não há atrito.

Os códigos computacionais desse estudo foram implementados na plataforma

Matlab®, executados em um computador com processador Intel

® Xeon

® de dois núcleos

de 2.40 GHz e memória RAM de 32 GB.

5.2 Caso 1

Para o primeiro caso analisado, temos um fluxo d’água dentro de um duto liso de 500

metros de comprimento e diâmetro igual a 0.1 metros. Inicialmente a pressão em toda

tubulação é igual a 0.5 MPa e a velocidade é igual a 0.4 m/s. Após 0.5 segundos, a

válvula presente no final da tubulação é completamente fechada. Devido a esse

fechamento, surge dentro da tubulação o fenômeno do golpe de Aríete.

Figura 13: Desenho esquemático para o Caso 1

O escoamento foi considerado incompressível com 𝜌=1000 kg/m3 e a parede do

duto rígida, ou seja, a área transversal da tubulação permanece constante durante o

transiente hidráulico. Além disso, a celeridade 𝑎 foi considerada constante e igual a

1000 m/s. As condições do escoamento podem ser resumidas na tabela abaixo

28

Tabela 1: Parâmetros do escoamento para o Caso 1

Pressão Inicial 𝑝0 0.5 𝑀𝑃𝑎

Velocidade Inicial 𝑢0 0.5 𝑚/𝑠

Massa Específica 𝜌 1000 𝑘𝑔/𝑚3

Celeridade 𝑎 1000 𝑚/𝑠

Comprimento do Duto 𝐿 500 𝑚

Diâmetro do duto 𝐷 0.1 𝑚

As condições de contorno para esse problema, segundo Szydlowski (2002), são

constantes durante todo o escoamento. Devido ao fechamento da válvula, a velocidade a

jusante da válvula é igual a 𝑢 = 0 𝑚/𝑠 Para o começo do duto, a pressão é mantida

igual à pressão inicial.

O resultado analítico para os valores de pressão na seção da válvula foi obtido por

SZYDLOWSKI (2002), sendo mostrado na Figura 14

Figura 14: Resultado Analítico (SZYDLOWSKI, 2002)

5.3 Solução para o Caso 1

Para a verificação da solução do Caso 1 utilizando o método WAF-TVD, foi realizada a

simulação do escoamento para 25, 50, 100, 200, 500 e 1000 volumes, com o objetivo de

29

verificar a convergência de malha. Os resultados para esses volumes de controle são

apresentados nas Figuras 15 a 19, respectivamente.

Figura 15: Comparação do resultado analítico (linha vermelha) com o resultado obtido pelo

método WAF TVD (linha azul) para 25 volumes de controle

Figura 16: Comparação do resultado analítico (linha vermelha) com o resultado obtido pelo

método WAF TVD (linha azul) para 50 volumes de controle

30

Figura 17: Comparação do resultado analítico (linha vermelha) com o resultado obtido pelo

método WAF TVD (linha azul) para 100 volumes de controle

Figura 18: Comparação do resultado analítico (linha vermelha) com o resultado obtido pelo

método WAF TVD (linha azul) para 200 volumes de controle

31

Figura 19: Comparação do resultado analítico (linha vermelha) com o resultado obtido pelo

método WAF TVD (linha azul) para 500 volumes de controle

Figura 20: Comparação do resultado analítico (linha vermelha) com o resultado obtido pelo

método WAF TVD (linha azul) para 1000 volumes de controle

32

Analisando a Figuras 15-20, podemos ver que conforme aumentamos o número de

volumes, melhora a concordância entre o resultado analítico e experimental. A solução

com 100 volumes já consegue recuperar bem a magnitude e a forma das ondas de

pressão, entretanto, o resultado numérico encontra-se um pouco defasado em relação ao

resultado analítico.

Na solução com 500 volumes, já conseguimos ter um resultado bastante

satisfatório, com uma defasagem bem pequena entre os resultados analítico e numérico,

mostrando a robustez do método para resolver as equações do golpe de aríete para o

caso sem atrito, incompressível e com a tubulação rígida.

Na Figura 21, comparamos os resultados obtidos pela solução com 500 e 1000

volumes de controle, onde podemos ver qualitativamente a convergência gráfica entre

ambas soluções.

Figura 21: Comparação entre os resultados numéricos obtidos pela solução com 500 volumes de

controle (linha vermelha) e 1000 volumes de controle (linha azul).

5.4 Caso 2

Nesse segundo caso para fim de validação do código desenvolvido, os resultados

numéricos são comparados com os resultados experimentais realizados por

Lewandowski e Makowski (SZYDLOWSKI, 2002). O caso analisado é semelhante ao

anterior.

A principal diferença para esse segundo caso é que, agora, consideramos a

elasticidade do duto e a variação da massa específica do líquido devido ao transiente

hidráulico. O material do tubo é de aço com o módulo de elasticidade igual a 2x1011

Pa,

33

com comprimento de 72 metros, diâmetro inicial igual a 0.042 metros e a espessura da

parede igual a 0.003 metros (SZYDLOWSKI, 2002).

Para quantificarmos a alteração da área transversal do duto, será usada a seguinte

aproximação para o calculo da área presente em SZYDLOWSKI (2002)

00 1

p pDA A

e E

1)

onde 𝐴0 é a área transversal do duto antes de ocorrer o golpe de aríete, 𝑒 refere-se a

espessura da parede do duto, 𝐸 é o módulo de elasticidade do material e 𝑝0 é a pressão

inicial

Para a variação da massa específica do líquido, temos (SZYDLOWSKI, 2002)

00 1

p p

K

.2)

onde K é o módulo de elasticidade da água e 𝜌0 a massa específica inicial. Para esse

problema 𝐾 = 2𝑥109 Pa e 𝜌0 = 1000 𝑘𝑔/𝑚3

Inicialmente, a válvula no final da tubulação está completamente aberta e a água

escoa pela tubulação com velocidade igual a 0.38 m/s por todo o duto. Na região da

válvula a pressão é igual a 0.51 MPa e é aumentada ao longo da tubulação pelo seguinte

acréscimo de pressão resultante do atrito do fluido com a parede do duto

(SZYDLOWSKI, 2002)

0

2

0

0.51

2

p p

uLp f

D

)

onde 𝑢0 é a velocidade inicial e Δ𝐿 é a distância da válvula até uma posição específica

da tubulação.

A partir do instante 𝑡 = 0.38 s, é iniciado o fechamento da válvula até o tempo de

𝑡 = 0.494 𝑠. A partir desse instante, a válvula encontra-se totalmente fechada. É

utilizada uma aproximação linear para a velocidade durante o processo de fechamento

da válvula, que é dado por (SZYDLOWSKI, 2002)

(5.1)

(5.2)

(5.3)

34

0 0

0.38

0.494 0.38

tu u u

Os parâmetros usados na simulação são resumidos na Tabela 2

Tabela 2: Parâmetros para o escoamento para o Caso 2

Pressão Inicial 𝑝0 Eq. (5.3)

Velocidade Inicial 𝑢0 0.4 𝑚/𝑠

Massa Específica inicial 𝜌0 1000 𝑘𝑔/𝑚3

Comprimento do Duto 𝐿 72 𝑚

Diâmetro do duto 𝐷 0.042 𝑚

Espessura da parede 𝑒 0.003 𝑚

Módulo de elasticidade do aço 𝐸 2𝑥1011 𝑃𝑎

Módulo de elasticidade da água 𝐾 2𝑥109 𝑃𝑎

As condições de contorno para as duas extremidades do duto são (SZYDLOWSKI,

2002)

Extremidade oposta à válvula: Pressão igual à pressão inicial

Extremidade da válvula: velocidade igual a zero quando a válvula está

totalmente fechada e igual ao resultado da Equação (5.4) quando a válvula está

no processo de fechamento

O resultado experimental para os valores de pressão na posição da válvula é

mostrado na Figura 22 (SZYDLOWSKI, 2002)

Figura 22: Resultado experimental (SZYDLOWSKI, 2002).

(5.4)

35

5.5 Solução para o Caso 2

Para a solução do problema, vamos considerar as duas abordagens do fator de atrito

como foi descrito no capítulo 3, usando a fórmula de Darcy-Weisbach e a fórmula

presente em WYLIE (1997), dada pelas equações (3.25) e (3.26)

Na fórmula do fator de atrito presente em WYLIE (1997) existem dois termos com

derivadas espaciais e temporais da velocidade. A presença desses termos modifica as

equações do golpe de aríete e seria necessário reescrevê-las. Uma forma de contornar

essa situação é aproximar essas derivadas explicitamente por diferenças finitas usando a

diferença atrasada para o tempo

1n n

i iu uu

t t

e usando a diferença de quarta ordem no espaço. Nos volumes de controle centrais

usamos a diferença centrada conforme a Equação (5.6)

2 1 1 2

1 2 2 1

12 3 3 12

n n n n

i i i iu u u uu

x x

Nos contornos, usamos a diferença avançada na entrada e a diferença atrasada na

saída conforme as Equações (5.7) e (5.8), respectivamente.

1 2 3 4

25 4 14 3

12 3 4

n n n n n

i i i i iu u u u uu

x x

1 2 3 4

25 4 14 3

12 3 4

n n n n n

i i i i iu u u u uu

x x

Como no primeiro caso estudado, era necessário 500 volumes de controle para se

obter a convergência, vamos usar esse número de volumes para resolver o escoamento

utilizando a fórmula de Darcy-Weisbach para o fator de atito. A Figura 23 mostra esse

resultado na posição da válvula

(5.5)

(5.6)

(5.7)

(5.8)

36

Figura 23: Comparação ente os resultados experimentais e numérico usando a fórmula de

Darcy-Weisbach para o atrito.

A Figura 23 mostra que o fator de atrito dado pela fórmula de Darcy-Weisbach não

é capaz de dissipar energia suficiente para escoamentos transientes rápidos.

Sabendo disso, aplicamos agora a fórmula do fator de atrito apresentada em

WYLIE (1997) nas equações do golpe de aríete e usamos a aproximação dada pelas

Equações (5.5), (5.6), (5.7) e (5.8). WYLIE (1997) recomenda alterar o fator de atrito

transiente até se obter uma dissipação adequada para o problema analisado. No nosso

caso, utilizamos 𝑓𝑢 = 0.06.

Para análise de convergência, vamos comparar os resultados obtidos por 500, 1000

e 2000 volumes. O tempo computacional para cada simulação está presente na Tabela 3

abaixo

Tabela 3: Tempos computacionais para a realização das simulações

Número de Volumes Tempo computacional (horas)

500 4.18

1000 14.83

2000 56.46

A comparação gráfica entre as simulações está presente nas Figuras 24 a 26

37

Figura 24: Comparação entre os resultados numéricos para 500 e 1000 volumes de controle

Figura 25: Comparação entre os resultados numéricos para 1000 e 2000 volumes

38

Figura 26: Comparação entre os resultados numéricos para 500, 1000 e 2000 volumes de

controle.

Pela análise das Figuras 24-26, podemos ver qualitativamente que a convergência

gráfica foi obtida entre as simulações. Os valores numéricos entre as soluções estão

presentes nas Tabelas 4 e 5, para os valores de tempo e pressão, respectivamente.

Tabela 4: valores obtidos para o tempo (s) usando 500, 1000 e 2000 volumes de controle.

Número de volumes de controle Posição do pico 500 1000 2000

1º 0,4884 0,4894 0,4900

5º 0,9279 0,9309 0,9326

9º 1,3680 1,3730 1,3760

13º 1,8080 1,8150 1,8190

17º 2,2440 2,2570 2,2620

21º 2,6890 2,7000 2,7050

25º 3,1300 3,1420 3,1428

29º 3,5700 3,5840 3,5920

33º 4,0110 4,0270 4,0350

37º 4,4520 4,4690 4,4780

39

Tabela 5: valores obtidos para a pressão (MPa) usando 500, 1000 e 2000 volumes de controle.

Número de volumes de controle Posição do pico 500 1000 2000

1º 0,9969 1,0010 1,0030

5º 0,8898 0,8988 0,9042

9º 0,8226 0,8313 0,8367

13º 0,7688 0,7769 0,7819

17º 0,7252 0,7325 0,7370

21º 0,6895 0,6959 0,7000

25º 0,6601 0,6658 0,6694

29º 0,6358 0,6408 0,6440

33º 0,6157 0,6201 0,6229

37º 0,5990 0,6027 0,6052

Podemos observar através da análise das Tabelas 4 e 5 que os valores numéricos

obtidos entre as simulações estão bem próximos entre si. Para melhor análise, é

mostrado nas Tabelas 6 e 7 o desvio relativo percentual entre as soluções de 500 e 2000

e 1000 e 2000 volumes de controle para os valores de tempo e pressão respectivamente.

Tabela 6: Desvio relativo percentual para os valores de tempo em relação à solução numérica

para 2000 volumes de controle.

Nº de volumes

Posição do pico 500 1000 1º 0,3265 0,1225

5º 0,5039 0,1823

9º 0,5814 0,2180

13º 0,6047 0,2199

17º 0,7958 0,2210

21º 0,5915 0,1848

25º 0,4072 0,0255

29º 0,6125 0,2227

33º 0,5948 0,1987

37º 0,5806 0,2010

40

Tabela 7: Desvio relativo percentual para os valores de pressão em relação à solução numérica

para 2000 volumes de controle.

Nº de volumes Posição do pico 500 1000

1º 0,6082 0,1994

5º 1,5926 0,5972

9º 1,6852 0,6454

13º 1,6754 0,6395

17º 1,6011 0,6106

21º 1,5000 0,5857

25º 1,3893 0,5378

29º 1,2733 0,4969

33º 1,1559 0,4495

37º 1,0245 0,4131

Observando a Tabela 6, vemos que o desvio relativo entre as soluções para os

valores de tempo são inferiores a 1%, mostrando uma concordância excelente entre os

resultados. Contudo, ao se analisar a Tabela 7 vemos que o desvio relativo entre o

resultado obtido por 500 e 2000 volumes aumenta, ficando em torno de 1.5 %.

Considerando uma convergência para erros relativos inferiores a 1%, podemos

concluir que o resultado para 1000 volumes de controle é o ideal para a solução do caso

estudado, ainda mais considerando o tempo computacional elevado para se obter o

resultado com 2000 volumes de controle. Em determinadas aplicações, contudo, o

tempo computacional de aproximadamente 15 horas para terminarmos a simulação com

1000 volumes pode ser inviável. Para esses casos, é possível usar 500 volumes de

controle, que apresentou resultados com desvios relativos inferiores a 2% e um tempo

computacional de aproximadamente 4 horas.

Dessa forma, vamos comparar os resultados experimentais e os obtidos pelo

método WAF TVD usando 500 e 1000 volumes de controle. Essas comparações estão

presentes nas Figuras 27 e 28.

41

Figura 27: Comparação entre os resultados experimental e numérico para 500 volumes

de controle

Figura 28: Comparação entre os resultados experimental e numérico para 1000 volumes

de controle

42

Podemos observar pelas figuras anteriores que a fórmula presente em WYLIE

(1993) para o fator de atrito produz a dissipação desejada. Comparando com os

resultados numéricos, obtemos a dissipação de energia bem semelhante daquela vista

experimentalmente.

Ao analisarmos os picos de pressão obtidos pelas soluções numéricas, vemos que

logo quando a válvula é fechada, eles são um pouco inferiores em relação aos resultados

experimentais. Uma possível causa para esse fato seja o uso de uma função limitadora

de características intermediárias, como é o caso da função de Van Leer

A partir de 2 segundos aproximadamente, vemos que os picos de pressão medidos

experimentalmente começam a decair mais rápido que aqueles obtidos numericamente.

Isso talvez ocorra pelo modelo escolhido para calcular o atrito entre o fluido e a parede

do duto presente em WYLIE (1997). No tempo de 8 segundos em diante, os resultados

numéricos e experimentais são muito próximos, sendo as possíveis divergências

consequência da dificuldade de se obter os valores experimentais exatos.

43

6 - Conclusão e Sugestões para Trabalhos Futuros O objetivo deste trabalho é a análise e a implementação numérica para a solução das

equações do golpe de aríete. Para isso, foi utilizado a versão TVD do Fluxo Médio

Ponderado (WAF), que é um método explícito de volumes finitos, sendo de segunda

ordem no espaço e no tempo.

As equações do golpe de aríete foram deduzidas a partir das equações de

conservação da massa e da quantidade de movimento linear. Em seguida, foi verificado,

através da análise dos autovalores da matriz jacobiana, a natureza hiperbólica do

problema. Com isso, foi mostrado uma forma de fracionamento das equações

diferenciais parciais com o objetivo de implementar o método WAF TVD para a

solução do sistema homogêneo de equações diferenciais parciais.

Para a verificação e validação do código computacional, a solução numérica foi

comparada com dois casos presentes na literatura. O primeiro caso considerava o

fenômeno do transiente hidráulico em um tubo liso (sem atrito), onde a massa específica

e a área transversal da tubulação não variavam. Foi variado o número de volumes

utilizados e a solução numérica foi comparada com o resultado analítico presente na

literatura, onde pode ser verificado que o uso de 500 volumes produz um resultado

numérico bastante próximo do analítico.

O segundo caso estuda o mesmo fenômeno do caso anterior, com a diferença de

que, agora, é considerada a presença de atrito na parede interna da tubulação, além da

variação da seção transversal do duto e da massa específica do líquido causada pelas

ondas de pressão, características do golpe de aríete. Foi analisada a solução utilizando

duas abordagens para o fator de atrito bem como a convergência da malha.

Para o segundo caso analisado, foi visto que a presença do coeficiente de atito

transiente produz uma dissipação satisfatória de energia, algo que a formulação clássica

de Darcy-Weisbach não foi capaz de obter. A análise da convergência da malha mostrou

que o desvio relativo entre os valores de pressão para as soluções de 500 e 2000

volumes de controle são inferiores a 2% enquanto o desvio relativo entre os valores de

pressão para as soluções de 1000 e 2000 volumes de controle são inferiores a 1%.

Considerando o tempo computacional para realizar as simulações e tendo consciência

do desvio relativo, pode-se usar os resultados numéricos obtidos com 500 ou 1000

volumes de controle.

Comparando os resultados numéricos e experimentais para o segundo caso, foram

vistas algumas discordâncias entre os resultados. A primeira refere-se ao valor máximo

do primeiro pico de pressão. O resultado numérico foi um pouco inferior ao resultado

experimental. A segunda discordância foi o decaimento mais acelerado dos picos de

pressão medidos experimentalmente. Um possível motivo para isso deve-se ao modelo

escolhido para representar o atrito entre o fluido e a parede da tubulação. Entretanto,

devido à complexidade do problema analisado, vemos que o método WAF-TVD foi

muito satisfatório para a solução das equações do golpe de aríete.

44

Como sugestões para trabalhos futuros, podemos citar:

Aplicação do método WAF-TVD para a simulação de mais casos do

transiente hidráulico.

Realização de experimentos para melhor análise do golpe de aríete.

Aplicação do método WAF-TVD na detecção de vazamentos em

tubulações.

Pesquisa e possível desenvolvimento de novas formulações para o fator de

atrito entre a o fluido e a parede da tubulação durante o golpe de aríete.

45

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