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ESTUDO SOBRE A LOCALIZAÇÃO DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE NA CIDADE DE SOROCABA Gustavo Falconi Filippi (UFSCar) [email protected] Marina Rodrigues Campagner (UFSCar) [email protected] Barbara Moralles Heldt Piva (UFSCar) [email protected] Taina Lourenco Basilio (UFSCar) [email protected] Eli Angela Vitor Toso (UFSCar) [email protected] Este trabalho foi desenvolvido tendo em vista a situação da saúde pública no Brasil que, apesar de possuir alta tecnologia e profissionais qualificados, ainda apresenta um cenário onde uma pequena parcela da população tem acesso a esse sisttema. O foco do trabalho são as UBS (Unidades Básicas de Saúde) que em Sorocaba totalizam 30 unidades para atender aproximadamente 600 mil habitantes. Pelas estimativas da Secretaria de Saúde da cidade, para sanar os problemas de filas e longas esperas por atendimento, seria necessário abrir mais 70 UBS. Porém, através de modelo de localização estocástico multi- períodos, obteve-se que é necessária a abertura de 180 UBS em um horizonte de 10 anos, considerando o crescimento da população. No entanto, acrescentando ao modelo a possibilidade de abertura de turno extra, como alternativa para ampliar capacidade de cada unidade, o número de UBS necessárias cai para 44. Considerando que já existem 30 unidades, os custos de ampliação do sistema são significativamente menores. Palavras-chaves: Localização de instalações, Unidades Básicas de Saúde, modelo estocástico XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

ESTUDO SOBRE A LOCALIZAÇÃO DE UNIDADES BÁSICAS … · 2016-08-11 · XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As

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ESTUDO SOBRE A LOCALIZAÇÃO DE

UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE NA

CIDADE DE SOROCABA

Gustavo Falconi Filippi (UFSCar)

[email protected]

Marina Rodrigues Campagner (UFSCar)

[email protected]

Barbara Moralles Heldt Piva (UFSCar)

[email protected]

Taina Lourenco Basilio (UFSCar)

[email protected]

Eli Angela Vitor Toso (UFSCar)

[email protected]

Este trabalho foi desenvolvido tendo em vista a situação da saúde

pública no Brasil que, apesar de possuir alta tecnologia e profissionais

qualificados, ainda apresenta um cenário onde uma pequena parcela

da população tem acesso a esse sisttema. O foco do trabalho são as

UBS (Unidades Básicas de Saúde) que em Sorocaba totalizam 30

unidades para atender aproximadamente 600 mil habitantes. Pelas

estimativas da Secretaria de Saúde da cidade, para sanar os problemas

de filas e longas esperas por atendimento, seria necessário abrir mais

70 UBS. Porém, através de modelo de localização estocástico multi-

períodos, obteve-se que é necessária a abertura de 180 UBS em um

horizonte de 10 anos, considerando o crescimento da população. No

entanto, acrescentando ao modelo a possibilidade de abertura de turno

extra, como alternativa para ampliar capacidade de cada unidade, o

número de UBS necessárias cai para 44. Considerando que já existem

30 unidades, os custos de ampliação do sistema são significativamente

menores.

Palavras-chaves: Localização de instalações, Unidades Básicas de

Saúde, modelo estocástico

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1 Introdução

No Brasil, apesar da existência de recursos de alta tecnologia e de profissionais competentes,

o desafio da saúde pública está em oferecer seu acesso à população de baixa renda. Isto

confere às questões relacionadas à saúde pública um carácter social, político, econômico e

cultural.

Em 1988, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de universalizar o

atendimento aos brasileiros. Porém, como é de conhecimento geral, os usuários enfrentam

filas para serem atendidos e podem esperam meses para realizar cirurgia eletiva.

Considerando que o orçamento federal não tem como destinar mais recursos para saúde, uma

alternativa é melhorar o gerenciamento do SUS, o que pode ser feito reavaliando os gastos

atuais e priorizando investimentos em serviços que tornem o atendimento mais dinâmico.

O SUS está presente em todo país. Na cidade de Sorocaba, compreende os seguintes serviços:

hospitais, serviço de ambulância, SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência),

policlínicas, PA (Pronto Atendimento), Unidades PH (Unidades Pré-Hospitalares) e UBS

(Unidades Básicas de Saúde).

Na UBS ocorrem os primeiros diagnósticos, com equipamentos básicos e médicos menos

especialistas. Considerando que o processo de melhoria do sistema deve iniciar pelo

atendimento básico, as UBS serão o foco do presente trabalho.

Atualmente, o município de Sorocaba é divido em seis colegiados, cada um com cinco UBS.

No entanto, segundo estimativas da Ouvidoria da Secretaria de Saúde do município, para

atender a demanda são necessárias cerca de 100 instalações de UBS.

O objetivo deste trabalho é a proposição de modelos de localização de instalações para

estudar cenários relacionados à instalação de novas UBS. Estes modelos podem auxiliar em

decisões sobre onde instalar, considerando os custos envolvidos na abertura, fechamento ou

ampliação de capacidade de uma UBS.

2 Referencial Teórico

As decisões relacionadas à localização de instalações é um problema logístico importante para

o planejamento da rede, pois define o formato e estrutura da mesma, considerando as

alternativas disponíveis e custos associados (BALLOU, 1999).

A localização de instalações é um aspecto crítico do planejamento estratégico tanto para

empresas privadas quanto para públicas (ARENALES et al., 2007). Um exemplo relacionado

ao setor público é a decisão de localização das UBS (Unidades Básicas de Saúde).

Segundo Vallim Filho e Gualda (2004), uma forma bastante utilizada para tratar o problema

de localização das instalações é através de técnicas de Programação Inteira Mista (PIM).

Entre os problemas clássicos de localização de facilidades abordando PIM, podem ser

destacados: p-medianas; p-centros; p-dispersão; p-medianas e p-centros com capacidade

limitada; cobertura; localização de facilidades com capacidade ilimitadas; localização de

facilidades com capacidade limitadas; e, localização de facilidades com capacidade limitada e

fonte única. Revisões completas sobre esses modelos podem ser encontradas em Daskin

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(1995), Klose e Drexl (2004), Albareda-Sambola et al. (2007), Arenales et al. (2007), Prado

(2007) e Melo et al. (2009).

3 Modelagem do problema

A partir da análise dos diversos tipos de problemas, determinou-se o modelo que melhor

representa o problema da localização das UBS em Sorocaba, é um modelo estocástico multi-

períodos para locação e realocação de facilidades com capacidade limitada.

De modo a exemplificar a nomenclatura do problema, dizer que um modelo é estocástico

significa considerar alguns dados do problema como probabilísticos. Assim, é possível

combinar os dados reais com aqueles interpretados de modo a gerar possíveis cenários de

ocorrência. No caso, serão considerados seis cenários equiprováveis, sendo que eles variam

igualmente entre 0,8 e 1,2 da demanda original.

A ideia de multi-períodos para a modelagem matemática passou a ser utilizada com o objetivo

de adaptar a configuração do problema à realidade. Assim, parâmetros que variam ao longo

do tempo passaram a ser considerados. Exemplos desses parâmetros são a demanda em uma

UBS e os custos.

Em relação aos termos alocação e realocação, considerou-se que UBS podem ser tanto

abertas, quanto fechadas, dependendo da superlotação ou ociosidade em cada UBS antes do

período de análise.

Por fim, o termo capacidade limitada se refere ao número de médicos, equipamentos

necessários ao atendimento, e, inclusive, ao espaço físico das UBS que possuem limites

mensuráveis.

Feito isso, é válido reforçar a importância da busca pela otimização da localização das UBS

em Sorocaba. Segundo dados do IBGE, a cidade atualmente conta com cerca de 600 mil

habitantes, que divididos entre as 30 UBS existentes levam a uma média de aproximadamente

19 mil habitantes por posto de saúde. Esse valor excede imensamente a capacidade de

atendimento das UBS.

Sendo assim, neste trabalho procura-se estudar onde busca abrir UBS em locais, cuja

demanda de atendimento seja grande e não completamente atendida e fechar UBS em locais

onde são subutilizadas. Além disso, considera-se possível a abertura de turnos extras de

trabalho nas UBS na busca por ampliar o atendimento.

Para o desenvolvimento da modelagem, foram necessárias algumas considerações relativas a

tempo, centros populacionais, possíveis candidatos e o uso de cenários para aproximar o

modelo da situação real estudada.

Em relação ao tempo, foi estabelecido um horizonte de dez anos com sub-períodos de dois.

Para estimar os centros populacionais foi utilizado o mapa de macrozoneamento de Sorocaba

sobreposto ao de colegiados, localizando as UBS de acordo com seus endereços. Pelo fato de

98% da população de Sorocaba ser urbana, este percentual foi aproximado para 100%. Assim,

de acordo com as populações dos colegiados e das áreas urbanizadas, foram elencados 25

centros populacionais no mapa da cidade. A quantidade de habitantes de cada um desses

centros foi proporcionalmente dividida de acordo com a abrangência de cada um,

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considerando como pressuposto que toda a população deve ser atendida, inclusive a parcela

usuária de planos de saúde particulares. Para considerar o problema estocástico, foram

considerados seis cenários equiprováveis.

Como outros pressupostos, foram considerados: cada funcionário possui jornada de 8 horas

diárias; a capacidade inicial de cada UBS decorre da ação de 10 funcionários, incluindo 5

médicos, portanto capaz de atender 5 mil habitantes, de acordo com Botti e Dalla (2011); a

ampliação da capacidade por turno extra de atendimento é menor que à inicial; os custos

considerados variam de acordo com a taxa Selic com o passar dos períodos.

Outro ponto importante é que o modelo prevê uma restrição de distância máxima (5,0

quilômetros) a ser percorrida por uma pessoa até uma UBS. Isso evita casos de designação

para postos muito distantes. Custos de deslocamento do paciente até uma UBS não foram

previstos.

Com base nessas considerações, estimativas e pressupostos, foi proposto o seguinte modelo

matemático:

Parâmetros:

Cit = custo de abertura do candidato i no período t

CFit = custo de fechamento do candidato i no período t

CMit = custo de manter aberto o candidato i no período t

cteit = custo de abertura de turno extra no candidato i no período t

cfteit = custo de fechamento de turno extra no candidato i no período t

cmteit = custo de manter aberto turno extra no candidato i no período t

djt = demanda do centro populacional j no período t

dejts = demanda estocástica do centro populacional j no período t no cenário s

capi = capacidade inicial do candidato i

ai = acréscimo de capacidade no candidato i pela abertura de turno extra

Distij = distância entre o candidato i e o centro j

Distmax = distância máxima entre o candidato i e o centro j

Probs = probabilidade de ocorrência do cenário s

Variáveis de Decisão:

Xijts = indica se o candidato i é alocado ao centro j no período t no cenário s

Yit = indica se o candidato i está aberto no período t

Wit = indica se o candidato i foi aberto no período t

Zit = indica se o candidato i foi aberto no período t

TEits = indica se há turno extra no candidato i no período t no cenário s

TECits = indica se foi instalado turno extra no candidato i no período t no cenário s

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TERits = indica se foi retirado turno extra no candidato i no período t no cenário s

Este é um modelo estocástico de dois estágios com recurso, onde , são

consideradas variáveis de primeiro estágio e , , são variáveis de

segundo estágio.

A função objetivo (1) visa minimizar a soma de todos os custos envolvidos. Como uma

parcela dos custos variam com os cenários, a equação representa o custo total esperado.

A restrição (2) se refere ao atendimento da demanda de cada centro populacional j em cada

período t e cenário s. A restrição (3) designa cada centro populacional j para um ou mais

candidatos i. Essas equações implicam que um centro pode ser atendido por vários candidatos

i. A restrição (4) indica que um possível candidato i pode apresentar apenas um

correspondente centro populacional j.

A restrição (5) evita que um candidato i que tenha sido aberto no período t-1 seja aberto

novamente no período t. A restrição (6) é similar à (5) considerando o fechamento de

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candidatos i. A restrição (7) impede que um candidato i que tenha adquirido turno extra no

período t-1 receba novamente outro turno extra no período t. A restrição (8) é similar a (7)

para a retirada de turno extra.

A restrição (9) se refere à distância máxima entre um centro populacional e um candidato

designado ao mesmo. As restrições (10) e (11) indicam as variáveis binárias do modelo.

4 Experimentos Computacionais

Para implementação computacional do modelo matemático foi utilizado o pacote

GAMS/CPLEX. Primeiramente, foi realizada a validação do modelo proposto com dados

ilustrativos, a fim de se observar se o modelo se comportava de maneira esperada. Estes

experimentos computacionais mostraram que tanto no caso determinístico como no

estocástico o modelo comportou-se como esperado.

4.1 Estimativa de parâmetros

Devido a políticas internas, a Ouvidoria da Secretaria da Saúda de Sorocaba não forneceu

todos os dados necessários para a modelagem matemática do presente trabalho. Por isso, fez-

se necessário o uso de estimativas para se chegar a tais valores. Para estas estimativas foram

realizadas pesquisas no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e em

documentos da Prefeitura de Sorocaba.

4.1.1 Custos

Para simular o aumento do custo ao longo do ano, foi usada a taxa SELIC, que consiste na

taxa básica de juros nominal da economia, e contém em seu cálculo o percentual de inflação.

Seu valor é aproximadamente 10,75% ao ano (taxa mensal de 0,85%).

A estimativa de custo de abertura de uma UBS é de cerca de R$1,5 milhão. Este custo inclui

despesas com a obra em si, compra de equipamentos necessários para o funcionamento da

UBS entre outros. O custo de manutenção de uma USB também é de R$1,5 milhão por ano e

inclui despesas com reposição e concerto de equipamentos, pagamentos de contas de luz e

água, salários dos funcionários, entre outros. Estes valores foram obtidos em uma visita

técnica à Secretaria de Saúde do município de Sorocaba.

O custo de fechamento de uma UBS foi estimado a partir de dados de fechamento de

estabelecimentos particulares. Os gastos com fechamento são basicamente aqueles referentes

a demissões, fundo de garantia entre outros. Os gastos com fundo de garantia normalmente

giram em torno de três vezes o salário do funcionário.

Para estimar o custo de abertura de turno extra de trabalho, foi considerado o aumento de 20%

do valor de uma hora de trabalho normal do funcionário (turno extra) e um número médio de

10 funcionários (desde recepcionistas até médicos).

O custo de manter um turno extra em funcionamento foi estimado considerando-se um turno

extra de trabalho a cada dia útil do ano, que inclui do salário dos funcionários e a gastos extras

com luz, água e materiais.

Finalmente, o custo de fechamento de um turno extra foi estimado considerando possíveis

gastos com mudanças de contratos. A tabela 1 apresenta os valores obtidos para estes custos

ao longo do horizonte de planejamento considerado, ajustados pela taxa Selic.

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2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Taxa SELIC

corrigida1,1075 1,226556 1,358411 1,50444 1,666168 1,845281 2,043648 2,26334 2,50665 2,776114

Custo de Abertura 1661250 1839834 2037617 2256660 2499251 2767921 3065472 3395011 3759974 4164172

Custos para

Manter Aberta1661250 1839834 2037617 2256660 2499251 2767921 3065472 3395011 3759974 4164172

Custos de

Fechamento132900 147186,8 163009,3 180532,8 199940,1 221433,7 245237,8 271600,9 300797,9 333133,7

Custos para abrir

turno extra55375 61327,81 67920,55 75222,01 83308,38 92264,03 102182,4 113167 125332,5 138805,7

Custos de Manter

turno extra174985 193795,9 214628,9 237701,6 263254,5 291554,3 322896,4 357607,8 396050,6 438626,1

Custs para fechar

turno extra22150 24531,13 27168,22 30088,8 33323,35 36905,61 40872,96 45266,81 50132,99 55522,29

Tabela 1 – Parâmetros de custos estimados para o problema.

4.1.2 Capacidade

Através de pesquisas em diversas fontes, temos que a capacidade de uma UBS varia entre

4000 a 5000 atendimentos por ano. Considerando que Sorocaba possui cerca de 600 mil

habitantes (IBGE), é possível estimar que sejam necessárias 130 UBS na cidade.

Além disso, segundo Botti e Dalla (2011) um médico é capaz de atender 1000 pacientes por

ano. Como uma UBS conta em média com cinco médicos, estima-se que o atendimento anual

de uma UBS é cerca de 5000 pacientes.

Em visita à Secretaria de Saúde de Sorocaba, foi informado que o número de UBS necessário

para desafogar o atendimento seria próximo de 100. Nota-se que esse valor é muito superior

às 30 unidades existentes atualmente.

4.1.3 Demanda

Como comentado anteriormente, com o mapa de colegiados da cidade de Sorocaba sobreposto

ao de macrozoneamento, estimou-se 25 centros populacionais, indicados com letras no mapa

da figura 1. Esses centros tiveram suas demandas estimadas de acordo com sua abrangência e

população atual em cada colegiado. Ao longo dos períodos, variou-se a população

considerando um aumento exponencial com taxa constante, obtida pela relação entre a

população de 2000 e 2010 de Sorocaba. A tabela 2 mostra as demandas obtidas para todos os

períodos.

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Figura 1 - Mapa de macrozoneamento de Sorocaba com centros populacionais. Fonte: adaptado de

http://www.sorocaba.sp.gov.br/midias/anexos/495_macrozoneamento.pdf.

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Tabela 2 - Número de habitantes em cada centro populacional ao longo de cinco biênios.

4.1.4 Distâncias

Com os centros populacionais fixados, foram distribuídos 189 candidatos a terem abertura de

UBS em torno das áreas mais urbanizadas da cidade. A cada candidato e centro populacional

foram atribuídas as ordenadas e abscissas no mapa, para cálculo das distâncias euclidianas. A

Figura 2 apresenta o mapa com as localizações dos candidatos e UBS e atuais.

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Figura 2 - Mapa de colegiados sobreposto ao de macrozoneamento de Sorocaba com pontos candidatos. Fonte:

adaptado de http://www.sorocaba.sp.gov.br/midias/anexos/495_macrozoneamento.pdf.

4.2 Resultados

Foram realizados três experimentos: o Modelo Base com os dados apresentados

anteriormente; o Modelo UBS Fixo, onde foram fixadas as UBS já existentes em Sorocaba; e,

o Modelo sem Turno Extra, retirando a possibilidade de se fazer turno extra.

4.2.1 Modelo Base

Como resultado do experimento com o modelo base obteve-se a indicação de abertura de 44

UBS resultando em um custo total de R$ 0,68 bilhão. Esta solução foi obtida dentro do limite

default do GAMS e apresenta um gap de 4,84% em relação à solução ótima.

Segundo estimativas da Ouvidoria da Saúde, para atender a demanda atual da cidade de

Sorocaba, são necessárias pelo menos 100 UBS. Este valor é muito superior ao valor obtido

pelo modelo, que propõe a abertura de turnos extras, acarretando em menor custo total.

A tabela 3 apresenta os resultados de quais os pontos candidatos são indicados para a abertura

de UBS.

4.2.2 Modelo UBS Fixo

Para o modelo UBS Fixo, foram fixadas as 30 UBS já existentes na cidade de Sorocaba.

Desse modo, observou-se a abertura de mais 15 UBS, totalizando 45. O custo resultante foi de

0,635 bilhão de unidades monetárias, sendo que o gap em relação à solução ótima foi de

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3,02%. Note que este custo é um pouco menor do que o anterior, isso se deve ao fato deste

resultado não considerar o custo de abertura das 30 UBS já existentes.

Como no experimento anterior, os resultados mostram que a abertura de poucas UBS (em

comparação com as estimativas) é suficiente para atender a demanda, utilizando a ampliação

da capacidade de algumas UBS com turnos extras.

Tabela 3 - Comparação dos candidatos abertos para o Modelo Base e para o Modelo UBS Fixo.

Como mostra a tabela 3, percebe-se que tanto para os experimentos Modelo Base quanto para

Modelo UBS Fixo foram abertas e designadas praticamente o mesmo número de UBS. Além

disso, os resultados foram similares, mostrando que as UBS existentes estão bem localizadas,

segundo os critérios propostos. Assim, é possível afirmar que o planejamento da localização

das unidades básicas de saúde mostra-se condizente com a demanda da cidade.

Além disso, para os seis cenários propostos, verificou-se um comportamento similar, devido a

sua equiprobabilidade. Porém, para os cenários com uma demanda maior, houve a maior

utilização de turnos extras, a fim de atender esse maior número de pacientes. Ao passo que,

para demanda menor, houve menos turnos extras sendo utilizados no decorrer dos períodos.

4.2.3 Modelo sem Turno Extra

Nos resultados dos experimentos anteriores a opção de turno extra foi muito utilizada para

conseguir atender a demanda. Considerando que no contexto atual da cidade de Sorocaba isso

não ocorre, foram realizados experimentos sem a possibilidade de implantação de turnos

extras.

Como resultado obteve-se que seria necessária a instalação de 180 UBS para atendimento da

demanda nos próximos 10 anos, levando em consideração o crescimento da população. Neste

experimento observa-se que o número de UBS a serem abertas é ainda maior do que é

previsto segundo os cálculos e estimativas da Ouvidoria da Saúde. Isso porque, foi

considerado um crescimento exponencial da população no decorrer dos anos.

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O custo da instalação de 180 UBS é de R$2,66 bilhões, uma diferença de aproximadamente

R$2 bilhões entre a implantação de turnos extras e a construção de novas UBS.

Ou seja, levando em consideração que a abertura de uma UBS acarreta em um custo muito

maior do que a utilização de turnos extras, o sistema de saúde da cidade de Sorocaba poderia

adotar outras estratégias para atender sua demanda.

4.3 Cálculo do EVPI e do VSS

Para o Modelo UBS Fixo, foi feito o cálculo do EVPI (Expected Value of Perfect

Information) e do VSS (Value of the Stochastic Solution). Tais conceitos são considerados

importantes, pois eles avaliam de forma quantitativa o valor da informação e o ganho quando

se considera o modelo estocástico.

O EVPI revela o quanto é válido pagar para obter a informação perfeita, se fosse conhecido de

antemão os valores das variáveis aleatórias. Por outro lado, o VSS mede o ganho em

considerar o modelo estocástico ao invés de simplesmente considerar os valores médios para a

tomada de decisão (BORTOLOSSI e PAGNONCELLI, 2006).

Na prática, a análise do VSS tem um maior impacto em relação aos custos nas escolhas do

decisor, medindo se realmente é válido trabalhar com o modelo estocástico. Isso porque, nos

casos em que o VSS resulta em um valor próximo de zero, compensa-se usar os resultados do

determinístico. Assim, o uso desse conceito pode ajudar a simplificar um problema na prática.

Primeiramente, para o cálculo do EVPI, foi resolvido o problema determinístico para cada

cenário. Cada um desses valores ótimos da função objetivo foi chamado de Ws. Após esse

procedimento, calculou-se o valor esperado dessas soluções, utilizando a seguinte equação:

. Por fim, o cálculo do EVPI foi feito subtraindo do valor esperado da solução

(W) o valor da função objetivo do problema estocástico (RP). Todos esses valores citados

anteriormente podem ser verificados na tabela 4 abaixo.

Ws(s) Caso equiprovável

1 661.594.300,00

2 665.657.200,00

3 672.033.600,00

4 677.124.900,00

5 682.882.500,00

6 685.387.700,00

W 674113366,7

RP 676.190.600,00

EVPI 2.077.233,30

%EVPI 0,3%

Tabela 4 - Resultado dos valores para cálculo do EVPI

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Como foram feitos seis cenários e todos foram considerados equiprováveis, o valor de W foi

calculado como a média dos cenários. Dessa forma, nota-se que o resultado do EVPI foi de

2.077.233,30, que corresponde a 0,3% do valor do RP. Isso significa que não há um impacto

muito grande da aleatoriedade da demanda nesse problema. Isso porque o valor do EVPI não

foi muito elevado. Dessa maneira, pode-se dizer que essa aleatoriedade pode ser ignorada.

Para o cálculo do VSS primeiramente foi calculado o valor esperado de cada cenário, fazendo

a média de cada parâmetro estocástico. Em seguida, os valores das variáveis de primeiro

estágio para esse problema foram fixados e então o problema estocástico foi resolvido apenas

para as variáveis de segundo estágio. O valor dessa função objetivo encontrado é chamado de

EVV. Dessa forma, para o cálculo do VSS, basta subtrair do EVV o valor do problema

estocástico, o RP.

Para o problema em questão, o valor do EVV deu infactível. Isso significa que a distância

entre o valor do EVV e do RP é muito grande, ou seja, a aproximação do EVV é muito

grosseira. Dessa forma, pode-se afirmar que o valor do VSS tende ao infinito. Quando seu

valor é muito grande, prova-se que é melhor ter a solução estocástica do problema, ao invés

de se usar uma estimativa. Ou seja, para esse caso, não é recomendado o uso do problema

determinístico, próximo do cenário médio.

5 Considerações finais

O trabalho em questão teve como objetivo propor os melhores pontos de localização para

UBS na cidade de Sorocaba a partir de modelo quantitativo baseado em programação

matemática.

Foram realizados três estudos computacionais. Analisando os resultados obtidos, é possível

afirmar que as UBS já instaladas no município estão bem localizadas, já que o resultado da

modelagem indicou a instalação de UBS em locais próximos aos atualmente instalados.

Um resultado interessante deste estudo foi a possibilidade de utilização de turnos extras nos

postos de atendimentos. O modelo mostrou que o fato de abrir turnos de horas extras de

trabalho e os manter em funcionamento quando necessário é capaz de atender grande parte da

demanda nas UBS. Segundo a Ouvidoria da Saúde, um número adequado de UBS para a

cidade de Sorocaba seria cerca de 100 unidades. No entanto, não foi considerada a

possibilidade do uso de turnos extras para suprir tal demanda. A partir da análise dos

resultados, observou-se que com o uso de turnos extras, são necessárias apenas 45 UBS em

funcionamento ao longo dos anos para o atendimento de toda demanda estimada e já

reajustada ao aumento de população. Isto por que, em termos econômicos, parece ser menos

custoso o uso de turnos extras em relação à abertura de novas UBS.

Pelos resultados obtidos, a abertura de mais 15 UBS e utilização de turnos extras em algumas

unidades pode possibilitar uma economia substancial cofres públicos.

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