108
1 Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação Estadual na região da Serra da Maria Comprida, Petrópolis-RJ Rio de Janeiro, Julho de 2021

Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

1

Estudo Técnico de Criação de Unidade de

Conservação Estadual na região da Serra da

Maria Comprida, Petrópolis-RJ

Rio de Janeiro, Julho de 2021

Page 2: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

2

Governo do Estado do Rio de Janeiro

Claudio Bomfim de Castro e Silva

Governador

Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade

Thiago Pampolha

Secretário de Estado

Instituto Estadual do Ambiente

Philipe Campello Costa Brondi da Silva

Presidente

João Eustáquio Nacif Xavier

Diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas e Ecossistemas - DIRBAPE

Andrei Veiga dos Santos

Gerente de Unidades de Conservação – GERUC

Coordenação INEA

Clarice Costa Gomes Pinto - Bióloga - GERUC

Débora Rocha Aguiar Veras - Bióloga - GERUC

Eduardo Pinheiro Antunes - Geógrafo - GERUC

Equipe Executiva INEA

Andréa Franco de Oliveira - Bióloga - DIRBAPE

Ana Carolina Marques de Oliveira - Bióloga - GERUC

Bruno Cid Crespo Guimarães - Biólogo - GERUC

Eduardo Ildefonso Lardosa - Biólogo - GERUC

Gabriel Freitas de Aguiar Lardosa - Gestor Ambiental - GERGET

João Rafael Gomes de Almeida e Marins - Biólogo - GERUC

Márcio de Azevedo Beranger - Engenheiro Civil e Sanitarista - GERVINS

Paulo Vinicius Rufino Fevrier - Geógrafo - GERGET

Taís Cabral Maia - Bióloga - GERUC

Vanessa Conceição Coelho Teixeira - Bióloga - DIRBAPE

Page 3: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

3

Colaboração

Adriana Charnaux - Voluntária - INEA/RVS Estadual da Serra da Estrela

Alba Simon - Bióloga - ALERJ/Gabinete do Deputado Carlos Minc

Aline Schneider - INEA/DIRBAPE

Anderson Rabello Pereira - Observador de aves

Arthur Prizo - INEA/DIRBAPE

Bernardo Luiz Eckhardt da Silva - Analista Ambiental – ICMBio

Daniele Izidoro - Agente de Defesa Ambiental - RVS Estadual da Serra da Estrela

Érica Melo - Gestora de UC - INEA/Reserva Biológica Estadual de Araras

Felipe Tubarão - Agente de Defesa Ambiental - INEA/Reserva Biológica de Araras

Hugo de Castro Pereira - Presidente - Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso

Igor Camacho - Canindé Birdwatching

Isabella Chamberlain - Geógrafa - INEA/DIRBAPE

Júlia Magalhães Horta - Bióloga - Prefeitura Municipal de Petrópolis

Julian Kronenberger - Guia de Montanha - Centro Excursionista Petropolitano

Leonardo Holderbaum - Agente de Defesa Ambiental - INEA/RVS Estadual da Serra da Estrela

Luana Cunha Motta - Voluntária - INEA/RVS Estadual da Serra da Estrela

Márcio Ferreira - Adjunto I - INEA/Reserva Biológica Estadual de Araras

Maria Cristina Monteiro - INEA/DIRBAPE

Paulo Bidegain - Biólogo - ALERJ/Gabinete do Deputado Carlos Minc

Raphael Logato de Oliveira - Biólogo - INEA/GERUC

Raquel Mattos - Voluntária - INEA/RVS Estadual da Serra da Estrela

Rodrigo Mayworm da Silva - Laboratórios Servier do Brasil

Page 4: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

4

1. CONTEXTUALIZAÇÃO ......................................................................................................................... 8

2. LOCALIZAÇÃO E ACESSOS A UC .......................................................................................................... 9

2.1. LOCALIZAÇÃO ....................................................................................................................................... 9

2.2. ACESSOS À ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................... 11

3. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DA CRIAÇÃO DA UC .............................................................................. 12

4. JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO NOME DA UC .................................................................................. 17

5. METODOLOGIA ............................................................................................................................... 17

5.1 LEVANTAMENTO DE DADOS E INFORMAÇÕES ............................................................................................... 17

5.2. CRITÉRIOS PARA DELIMITAÇÃO DOS LIMITES DA UC ...................................................................................... 20

6. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ............................................................................................................. 22

6.1. CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO ........................................................................................................... 22

6.1.1. CLIMA ........................................................................................................................................................ 22

6.1.2. GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA, RELEVO E SOLOS ................................................................................................. 23

6.1.3. HIDROLOGIA ............................................................................................................................................... 34

6.2. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES BIÓTICOS .................................................................................................. 35

6.2.1. FLORA ........................................................................................................................................................ 36

6.2.2. FAUNA ....................................................................................................................................................... 40

6.3. USO E COBERTURA DO SOLO ................................................................................................................... 53

6.4 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA ........................................................................................................ 56

6.4.1. PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL ................................................................................................................ 61

6.4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS AÇÕES ANTRÓPICAS NA ÁREA........................................................................................... 64

6.4.3. CARACTERIZAÇÃO FUNDIÁRIA ......................................................................................................................... 67

6.4.4. POTENCIAL PARA USO PÚBLICO ....................................................................................................................... 69

6.5. IDENTIFICAÇÃO DAS RESTRIÇÕES LEGAIS JÁ ESTABELECIDAS PARA A ÁREA DO ESTUDO ............................................ 72

6.6. IDENTIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS AMBIENTAIS ................................................................................................ 75

6.7. EVENTOS CRÍTICOS E AMEAÇAS ................................................................................................................ 76

7. ANÁLISE INTEGRADA DO DIAGNÓSTICO ........................................................................................... 81

7.1. ANÁLISE KERNEL PARA DEFINIÇÃO DO LIMITE DO MONA DA SERRA DA MARIA COMPRIDA ................................... 81

7.2. CRITÉRIOS PARA INCLUSÃO ..................................................................................................................... 81

7.3. CRITÉRIOS PARA NÃO INCLUSÃO. ............................................................................................................. 83

7.4. ANÁLISE DO RESULTADO........................................................................................................................ 83

Page 5: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

5

8. IDENTIFICAÇÃO DAS VANTAGENS PARA O MUNICÍPIO ABRANGIDO E POPULAÇÃO LOCAL ................ 85

9. IDENTIFICAÇÃO DAS OPORTUNIDADES PARA O SUCESSO DA IMPLEMENTAÇÃO DA UC ..................... 87

10. DEFINIÇÃO DA CATEGORIA DA UC .................................................................................................. 90

11. PROPOSTA DE LIMITE PARA A UC ................................................................................................... 94

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 95

13. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 96

Page 6: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

6

Siglas e abreviaturas

ABAV Associação Brasileira das Agências de Viagem AGI Águas do Imperador

AGP Associação de Guias de Turismo de Petrópolis ANAMMA ANAMA – Associação Nacional de Secretarias Municipais de Meio Ambiente

ANP Agência Nacional de Mineração ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

APA Área de Proteção Ambiental APEDEMA Assembleia Permanente das Entidades em Defesa do Meio Ambiente

APP Área de Preservação Permanente BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CBH PIABANHA Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha e Sub-Bacias Hidrográficas dos Rios Paquequer e Preto - Comitê Piabanha

CBMERJ Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro CCA Câmara de Compensação Ambiental

CERHI Conselho Estadual de Recursos Hídricos CI-BRASIL Conservação Internacional

CICCA Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais CNRBMA Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

CONABIO Comissão Nacional de Biodiversidade CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CONEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente

CPAM Comando de Polícia Ambiental CPRM Serviço Geológico do Brasil CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura

CRT Concessionária Rio-Teresópolis DER/RJ Fundação Departamento Estadual de Estadas de Rodagem

DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

DRM Departamento de Recursos Minerais EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAPERJ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FECAM Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano FEEMA Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente FIPERJ Fundação Instituto Estadual da Pesca FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente – MMA FUNASA Fundação Nacional de Saúde FUNBIO Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

FUNDRHI Fundo Estadual de Recursos Hídricos GAM/PMERJ Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro

GEF Fundo Global para o Meio Ambiente GEF Global Environmental Fund

GT Grupo de Trabalho IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMBIO Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IEF Fundação Instituto Estadual de Florestas

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INEA Instituto Estadual do Ambiente

INEPAC Instituto Estadual do Patrimônio Cultural IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Page 7: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

7

ITERJ Instituto de Terras do Estado do Rio de Janeiro IUCN União Internacional para Conservação da Natureza JBRJ Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro KfW Banco Alemão de Desenvolvimento (Kreditanstalt Für Wiederaufbau) MCF Mosaico Central Fluminense MMA Ministério do Meio Ambiente

MNRJ Museu Nacional do Rio de Janeiro MONA Monumento Natural

MONA/SMC Monumento Natural Estadual da Serra da Maria Comprida MONAPE Monumento Natural da Pedra do Elefante

MPE Ministério Público Estadual MPF Ministério Público Federal ONG Organização Não Governamental

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Pacto Pacto para Restauração da Mata Atlântica

PARNASO Parque Nacional da Serra dos Órgãos PCVB Petrópolis Convention e Visitors Bureau

PESAGRO Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A.

PF Polícia Federal PL Projeto de lei PM Polícia Militar

PNMMT Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis PNMP Parque Natural Municipal de Petrópolis RBMA Reserva da Biosfera da Mata Atlântica REBIO Reserva Biológica

REDE TRILHAS Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural

SAF Sistema agroflorestal SEA Secretaria de Estado do Ambiente

SEBRAE Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa SERLA Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas

SESC Serviço Social do Comércio SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SOSMA Fundação SOS Mata Atlântica SUPPIB Superintendência Regional Piabanha – INEA / SR V

TCA Termo de Compromisso Ambiental TIBÁ Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura

TURISRIO Empresa de Turismo do Estado do Rio de Janeiro. UC Unidade de Conservação

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFF Universidade Federal Fluminense

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura Unifeso Centro Universitário Serra dos Órgãos UNIRIO Universidade do Rio de Janeiro

UPAM Unidade de Polícia Ambiental WWF World Wildlife Fund

Page 8: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

8

1. Contextualização

Em 11 de março de 2021, a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) e o

Instituto Estadual do Ambiente foram instados a se pronunciar sobre o Projeto de Lei (PL) nº

3.209/2020 (Anexo I). O PL dispõe “sobre a criação do Monumento Natural Estadual da Serra da

Maria Comprida”, no município de Petrópolis, bioma da Mata Atlântica, região Serrana fluminense e

interior da Região Hidrográfica do rio Piabanha.

Na data de 04 de abril de 2021, ficou acordado entre a instituição e o gabinete do autor do PL,

deputado Carlos Minc, que seria criado um grupo de trabalho (GT) para avaliar o documento que

avaliza a formulação do PL. Por conta da prerrogativa da instituição enquanto responsável pela

gestão de UC estaduais, coube também ao GT a elaboração do estudo técnico para criação da

unidade e a realização de consulta pública. Representantes do ICMBio (NGI Teresópolis) e da

Prefeitura Municipal de Petrópolis (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) acompanharam a

elaboração dos estudos, participando das reuniões e disponibilizando informações.

Foi publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, em 18 de maio de 2021, a Portaria

Inea/Pres nº 1041 de 14 de maio de 2021, que cria o GT e indica um prazo de 90 dias para a

realização das atividades citadas anteriormente (Anexo II). Foi também aberto um processo

administrativo no Sistema Eletrônico de Informações - SEI/RJ nº SEI-070002/004377/2021.

Cabe destacar que o PL em questão tem apoio da população local representada por, ao menos,

vinte organizações e atores como, a Prefeitura Municipal de Petrópolis, o Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade, o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, a

Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro, a Confederação Brasileira de

Montanhismo e Escalada, entre outros.

O estudo técnico é um componente obrigatório do processo de criação de uma UC, previsto no §2o

do art. 22 da Lei Federal nº 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza - SNUC). Assim, tem o objetivo de apresentar a caracterização e os aspectos técnicos

relevantes sobre a área proposta, considerando os dados disponíveis para a região de interesse.

Utilizou-se como pilar principal o documento anexo ao PL, intitulado "Subsídios para o Estudo

Técnico de Criação do Monumento Natural da Serra da Maria Comprida - MONA/SMC” (ALERJ,

2020) (Anexo III). As informações do documento foram utilizadas no estudo, acrescidas de novas

informações levantadas pelo GT, conforme descrito no item de metodologia.

Para efeito deste estudo, a área definida no PL nº 3.209/2020 é denominada de “área núcleo”,

tendo sido ainda definido um “buffer” de 3 km no seu entorno, o que resultou em uma área

aproximada 33.560 hectares, referenciada como “área de estudo” (Figura 01). A metodologia

adotada está detalhada no item 5.

O documento deverá ser publicizado no site do Inea, como etapa anterior à realização de consulta

pública, também prevista pelo SNUC. A consulta será realizada de forma virtual, em virtude das

restrições oriundas da pandemia da Covid-19.

Page 9: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

9

Figura 01: Área de Estudo da UC proposta

2. Localização e acessos a UC

2.1. Localização

A área de estudo está localizada na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, na sua quase

totalidade, inserida no município de Petrópolis, entre os Distritos de Itaipava e Pedro do Rio, na

Região Turística da Serra Verde Imperial. Em relação aos aspectos fisiográficos, está situada no

Planalto e Escarpas da Serra dos Órgãos, conforme os Domínios Morfoestruturais do ERJ e integra

o Bioma Mata Atlântica, Região Fitogeográfica da Floresta Ombrófila Densa, e a Região

Hidrográfica do Rio Piabanha. Ela é cortada pela BR-040, RJ-123 e RJ-117.

Page 10: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

10

O limite da UC proposto no projeto de lei (área núcleo) está parcialmente inserido na APA

Petrópolis, administrada pelo ICMBio, e parcialmente sobreposto à zona de amortecimento da

REBIO Araras, UC estadual administrada pelo Inea.

Nas adjacências da área de estudo existem diversas unidades de conservação de diferentes

esferas de governo (Figura 02 e Anexo IV).

Figura 02: Área de Estudo e UCs próximas

Page 11: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

11

2.2. Acessos à Área de Estudo

De acordo com informações do documento apresentado pela ALERJ (Subsídios para estudo

técnico - 2020), a área proposta para a implantação da UC situa-se no município de Petrópolis,

distante 25 km do centro desta cidade, e 87 km da cidade do Rio de Janeiro, tomando a localidade

de Itaipava como ponto de referência. A principal via de acesso é a BR-040. Esta área é

circundada e/ou atravessada por estradas pavimentadas e em leito de terra (Figura 03).

Pode-se destacar:

● Ao leste: A BR-040 (Rodovia Washington Luís, entre Rio e Petrópolis, mais a frente

conhecida como Juscelino Kubitschek, entre Petrópolis e Brasília), que liga o Rio de Janeiro

a Brasília e no trecho corre por 13,3 km pelo vale do Rio Paraibuna, passando pelas

localidades de Araras, Bonsucesso, Itaipava e Pedro do Rio.

● Ao oeste: Em leito de terra, a estrada municipal, que se desenvolve no sentido sul por 14

km, em grande parte no vale do rio Fagundes, entre o entroncamento com a RJ-123,

próximo ao Sítio Humaitá e a localidade de Vale das Videiras.

● Ao sul: A RJ-117, que se prolonga por 23 km no vale do rio das Araras, conhecida

localmente como estrada Almirante Paulo Meira entre as localidades de Vale das Videiras e

Araras, e como estrada Bernardo Coutinho entre Araras e a BR-040.

Figura 03: Principais vias de acesso à área proposta para criação da unidade de conservação.

Page 12: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

12

3. Justificativa e objetivos da criação da UC

A Mata Atlântica, originalmente, possuía 1,5 milhões de km² e estendia-se de forma contínua ao

longo da costa brasileira, penetrando até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina em sua

porção sul (SOS MATA ATLÂNTICA & INPE, 2016). Hoje, está dividida em fragmentos,

apresentando apenas 12,5% do tamanho original - considerando-se aqueles com mais de 3 ha -

(SOS MATA ATLÂNTICA, 2016).

O estado do Rio de Janeiro possui uma posição estratégica em termos de preservação da Floresta

Atlântica, já que apresenta um conjunto de importantes remanescentes florestais com diferentes

fitofisionomias, com um elevado grau na riqueza e endemismo de espécies de diferentes grupos de

organismos (BERGALLO et al., 2000; ROCHA et al., 2003). Essa elevada biodiversidade no estado

pode ser explicada pelas características do seu relevo acidentado e de particularidades edáficas

que promovem a ocorrência de diferentes hábitats (BERGALLO et al., 2000).

No território fluminense, cerca de 1.456.366 hectares estão inseridos em alguma forma de UC.

Entretanto, esses números ainda não são suficientes para a garantia de proteção de muitas

espécies presentes na Mata Atlântica (BERGALLO et al., 2009). Nesse contexto, o ERJ exerce

papel fundamental na conservação e restauração do bioma, devendo adotar medidas estratégicas

nas suas diferentes regiões. Dentre essas medidas, considera-se uma das mais efetivas a criação

de Unidades de Conservação, no âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza (SNUC - Lei nº 9.985/2000).

Essa estratégia de proteção é a que está sendo proposta para a área objeto deste estudo, sendo

compreendida como uma oportunidade de salvaguardar as espécies presentes nos ambientes

montano, altimontano e de campos de altitude da região. Há ocorrência de espécies da flora e

fauna endêmicas, raras e ameaçadas de extinção, cabendo destaque na flora ao rabo-de-galo ou

flor-da-imperatriz (Worsleya procera), espécie endêmica dos campos de altitude locais, uma

“relíquia viva”. Mais informações sobre os atributos bióticos são apresentadas no item 6.2.

Na região foram mapeadas diversas áreas consideradas como de alta prioridade para conservação

da flora endêmica do estado do Rio de Janeiro (LOYOLA et al., 2018), conforme Figura 04. Além

disso, a área de estudo é composta por áreas prioritárias para restauração com vistas à proteção e

recuperação de mananciais (SEA/INEA, 2018), vide Figura 05.

Page 13: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

13

Figura 04: Áreas prioritárias para conservação de flora endémica no ERJ.

Page 14: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

14

Figura 05: Áreas prioritárias para restauração com vistas à proteção e recuperação de

mananciais.

A relevância dos ecossistemas de montanha é tão significativa que foi reconhecida pela Lei

Estadual n° 8.280, de 09 de janeiro de 2019, que “declara de relevante interesse ambiental a

conservação e a proteção dos Ecossistemas de Montanha, no território do Estado do Rio de

Janeiro, e dá outras providências”.

Ademais, a região da Serra da Maria Comprida destaca-se como um complexo de geossítios,

importante no contexto do Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense (LINO et al., 2007).

Caracterizada como uma cadeia montanhosa com ao menos 22 montanhas, com altitudes

superiores aos mil metros (ALERJ, 2020), conota à área de estudo um geossistema de grande

beleza cênica e de destaque para o ERJ.

O município de Petrópolis tem como uma das principais atividades econômicas o turismo, em

especial o turismo de natureza, beneficiado pelo uso direto dos recursos naturais, ou pelo simples

uso do cenário natural da região. Na área núcleo, em estudo, encontra-se o bairro de Araras e a

região do Vale das Videiras, onde se concentram os grandes atrativos, de beleza cênica pujante,

que encantam os frequentadores. Entre os atrativos naturais estão a Cachoeira das Sete Quedas e

a Cachoeira da Ponte Funda, além do amplo conjunto de montanhas e afloramentos rochosos

(Pedra Montanha da Maria Comprida, Serra das Antas, Serra das Antas cume Oeste, Pedra Morro

da Cuca, Pedra Comprida de Araras, Pedra de Itaipava, Pedra Roxa, Pedra do Capim Roxo, Morro

da Covanca, Morro da Mensagem, dentre outras). Como suporte à visitação nessas localidades,

Page 15: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

15

existem diversos restaurantes, meios de hospedagens e estabelecimentos comerciais. No entorno

da área núcleo encontra-se o bairro de Secretário, também com vários atrativos naturais e uma

exuberante beleza cênica, além de diversos restaurantes, produtores rurais, hospedagens e

estabelecimentos comerciais beneficiários do turismo de natureza.

Nesse contexto, a região é muito procurada por turistas e praticantes de esportes e atividades ao

ar livre, em especial por montanhistas, ciclistas e por aqueles que buscam as cachoeiras. Deste

modo, a criação de uma nova unidade de conservação poderia contribuir ainda mais com o

fortalecimento da atividade do turismo (ecológico, gastronômico, cultural), potencializando negócios

e a geração de emprego e renda, além de elevar a arrecadação de impostos, dentro de uma

perspectiva sustentável.

Outro aspecto relevante a ser considerado é que parte da área em estudo apresenta grau

preocupante de suscetibilidade a deslizamentos, movimentação de massa e enxurradas,

despertando um alerta para a necessidade do controle de intervenções e ocupações nos trechos

mais sensíveis. Portanto, a criação desta UC poderá contribuir com a diminuição da ocupação e do

desmatamento das partes médias e superiores das montanhas e encostas, evitando deslizamentos

de terra e rochas que ameaçam vidas, acarretam prejuízos econômicos e materiais e assoreiam os

rios. Assim, podem ser reduzidos os riscos a bairros do entorno, sendo a UC compreendida como

um instrumento de defesa e segurança civil, caso devidamente implementada.

A área em estudo, em grande parte, já é abrangida por uma unidade de conservação federal, a

Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis (APA Petrópolis), administrada pelo

ICMBio. Essa unidade foi criada pelo Decreto nº 87.561, de 13/09/1982, por meio do qual algumas

áreas da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul foram declaradas como “APAs”. A delimitação da

APA Petrópolis foi definida pelo Decreto nº 527, de 20/05/1992, o qual também criou as “Zonas de

Vida Silvestre (ZVS)”. O estabelecimento dessa tipologia de zona por decreto já teve o objetivo de

proporcionar maior proteção aos campos de altitude da APA, sendo “destinada à preservação do

habitat de espécies endêmicas, raras, em perigo ou ameaçadas de extinção”.

Na APA os incêndios florestais são recorrentes, tendo o ICMBIO (2016) ressaltado que “a criação

de mais uma UC na região poderia ajudar de forma considerável no combate e prevenção aos

incêndios, principalmente nas áreas não protegidas por UC. Tal medida seria fundamental para a

conservação de espécies ameaçadas e endêmicas localizadas nessa parte do território”.

Nesse sentido, apesar da existência da UC federal, considerando as peculiaridades e

potencialidades da região, a comunidade local ainda manifestava a preocupação em intensificar

sua proteção. Assim, a ideia de conferir uma proteção de caráter “integral” surgiu como estratégia

de garantir meios adicionais ao poder público para coibir atividades degradadoras na área, e como

meio de atender ao anseio de ser deixado um legado para as gerações futuras de “uma das mais

lindas porções da Serra do Mar”.

Dessa forma, entidades ambientalistas, grupos relacionados ao ecoturismo e esportes de

montanha, e outros atores se mobilizaram em busca de viabilizar, junto ao poder executivo e

legislativo, a criação de uma UC estadual de proteção integral, culminando na proposta do PL nº

3.209/2020.

Page 16: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

16

Cabe ressaltar que a instituição de nova área protegida não tem, necessariamente, a intenção de

aumentar as restrições ou gerar impedimentos ao território. A área objeto da proposta já possui

restrições de uso por outras legislações e regulamentações, tais com a Lei da Mata Atlântica (Lei nº

11.428/2006), que dispões sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata

Atlântica; e a Lei nº 12.651/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, estabelecendo

Reservas Legais (art. 12), Áreas de Preservação Permanente - APPs (art. 4º) e Áreas de Uso

Restrito (art.10).

Diante dos motivos expostos, a criação de uma unidade de conservação na região teria como

objetivos:

● Preservar remanescentes de Mata Atlântica, campos de altitude, vegetação associada a

afloramentos rochosos e populações de espécies da flora e fauna nativas, algumas

classificadas como raras, endêmicas e ameaçadas de extinção;

● Valorizar a beleza cênica e a geodiversidade da região e proteger os afloramentos rochosos

que formam as montanhas, picos e cumes, em especial a montanha Maria Comprida, de

destaque na Serra do Mar e uma dos mais notáveis de Petrópolis;

● Buscar maior reconhecimento pela sociedade dos serviços ecossistêmicos proporcionados

pela natureza local, assegurando sua continuidade;

● Assegurar a manutenção e qualidade de nascentes, cachoeiras, cursos e corpos hídricos,

garantindo a perpetuidade do serviço ecossistêmico de provisão de água;

● Oferecer oportunidades de visitação, recreação, interpretação e educação ambiental, bem

como de pesquisa científica, conciliadas à conservação do território;

● Reconhecer e valorizar aspectos histórico-culturais e arqueológicos da região,

principalmente os caminhos que tiveram papel protagonista na história colonial do Brasil,

tais como o Caminho Novo da Estrada Real, e a antiga Variante do Caminho Novo,

conhecido localmente como Atalho do Proença;

● Incentivar o desenvolvimento do ecoturismo, turismo rural e cultural em bases sustentáveis,

potencializando a economia local e a geração de emprego e renda;

● Incentivar a prática dos esportes de montanha, de forma consciente e sustentável;

● Fortalecer os serviços de gestão territorial, a prevenção e combate a incêndios florestais, e

a coerção de crimes ambientais na região;

● Incentivar a recuperação de áreas degradadas, com vistas a estabelecer um contínuo

florestal com outras UCs e ampliar a área de refúgio das espécies nativas;

● Incorporar mais uma UC de proteção integral ao Mosaico da Mata Atlântica Central

Fluminense, fortalecendo o Corredor Ecológico Central da Mata Atlântica no Estado do Rio

de Janeiro e a composição de áreas protegidas sob a égide da Reserva da Biosfera;

Page 17: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

17

● Garantir a estabilidade de encostas e de áreas suscetíveis a deslizamentos, reduzindo os

riscos de assoreamentos de rios, enchentes e outros prejuízos socioambientais;

● Assegurar o aproveitamento racional e adequado do solo na unidade de conservação,

estimulando ações voltadas à adequação ambiental das propriedades inseridas nos seus

limites e no seu entorno, a adoção de práticas conservacionistas e a utilização de

tecnologias limpas no exercício das atividades agrícolas de baixo impacto.

4. Justificativa da escolha do nome da UC

O artigo 3º do Decreto Federal nº 4.340, de 22 de agosto de 2002, que regulamenta a Lei do

SNUC, estabelece que a denominação de uma unidade de conservação deve basear-se,

preferencialmente, na “sua característica natural mais significativa, ou na sua denominação mais

antiga, dando-se prioridade, neste último caso, às designações indígenas ancestrais”. A

designação indicada para o objeto de estudo atende o supramencionado requisito legal, pois utiliza

a toponímia local de “Serra da Maria Comprida”.

Esta serra guarda também relação com patrimônio histórico-cultural, pois era utilizada como

referência geográfica para o deslocamento de tropeiros que partiam do fundo da Baía de

Guanabara em direção ao interior de Minas Gerais em busca de ouro e pedras preciosas durante o

século XVIII.

5. Metodologia

5.1 Levantamento de dados e informações

O início do trabalho se deu pelo levantamento de dados secundários por meio de buscas no

Google Acadêmico. Foram pesquisados estudos de todas as naturezas realizados em locais dentro

dos limites propostos ou adjacentes. As palavras-chave utilizadas foram: “Pedra Maria Comprida”,

“Pedra João Grande”, “Morro da Mensagem”, “Serra das Antas”, “Serra das Antas Oeste”, “Pedra

Azul ou Morro do Careca”, “Morro do Palmares”, “Monte de Milho”, “Poço do Brás”, “Poço da

Rocinha”, “Travessia Araras Secretário”, “Morro Cep 70”, “Pedra da Cuca”, “Travessia Cuca

Palmares”, “Pedra Roxa”, “Estrada da Rocinha”, “Trilha do Álvaro Maluco”, “Cachoeira da Rocinha”,

“Poço da Rocinha”, “Rebio Araras”, “APA Petrópolis” e “Parnaso”. Além disso, foram feitos

levantamentos de dados secundários no acervo interno do Inea referente às pesquisas realizadas

na Reserva Biológica Estadual de Araras - RBA, constante no banco de dados do Núcleo de

Pesquisa - Nupes do Inea.

Os dados obtidos de fauna foram divididos em três grandes grupos: mastofauna (mamíferos),

avifauna (aves) e herpetofauna (anfíbios e répteis). As listas de espécies foram geradas a partir

das listas de ocorrências confirmadas nos Planos de Manejo das UCs mais próximas (APA

Petrópolis, REBIO Araras e PARNASO) e na compilação dos principais artigos científicos

publicados para essas unidades. Adicionalmente, foram feitas buscas em repositórios on-line, tais

como o GBIF (https://www.gbif.org) e Species Link (http://www.splink.org.br), adotando-se como

filtro as palavras-chave: “Petrópolis” e “Chordata”.

Page 18: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

18

Para levantamento dos dados de mamíferos foram selecionados alguns estudos de cunho técnico-

científico de abrangência regional, para serem utilizados como base para subsidiar a lista de

espécies da área proposta para a UC. Como os estudos para a área são incipientes, a lista foi

elaborada utilizando os trabalhos dispostos na Tabela 01.

Tabela 01: Estudos de cunho técnico-científico utilizados como fonte de dados secundários para o

levantamento de dados de mamíferos na área de estudo.

Localidade Referência Riqueza (spp)

REBIO Araras Inea, 2010 apud Alves e Andriolo

(2005). 32

REBIO Araras Alves e Andriolo (2005). 9

PARNA Serra dos Órgãos Cunha (2004) 23

----- Esberad & Bergallo (2005) 1

----- Bueno & Almeida (2010) 17

PARNA Serra dos Órgãos Olifiers et al. (2007) 10

Por fim, especificamente para o grupo das aves, foram utilizadas as listas geradas em cada edição

do Programa Vem Passarinhar-RJ na REBIO Araras, bem como as listas cadastradas em

plataformas de ciência colaborativa como, por exemplo, eBird (ebird.org), Táxeus

(www.taxeus.com.br), Xeno-canto (www.xeno-canto.org), WikiAves (www.wikiaves.com.br),

Avibase (avi.base.bsc-eoe.org), desde que confirmadas como locais de observação. Na Tabela 02

são relacionamos as fontes das informações levantadas, com o número de espécies e localização.

Tabela 02: Fontes pesquisadas sobre lista de aves com possíveis registros para a área em estudo da Serra

da Maria Comprida, Petrópolis, RJ.

Referência Localidade Período Riqueza

(spp)

1. Camacho, I. (2021) Fazenda Canto do Riacho* 2019-2021 32

2. Ebird Rocio ---- 9

3. Cunha (2004) Reserva Biológica Estadual

de Araras 2013-2019 23

4. Wikiaves Reserva Biológica Estadual

de Araras ---- 1

* Fazenda localizada no interior da área de estudo

Page 19: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

19

Para o levantamento de dados de herpetofauna foram usados, exclusivamente, os dados

referentes aos anuros registrados no Parque Nacional da Serra dos Órgãos conduzidos por

CARVALHO-E-SILVA et al. (2020) e para os répteis foi utilizado GONÇALVES et al. (2007).

Para flora, foram realizadas buscas no portal do Jardim Botânico-RJ

(http://jabot.jbrj.gov.br/v3/consulta.php), utilizando como palavras-chave: “Serra da Maria

Comprida”, “Pedra Maria Comprida”, “Pedra João Grande”, “Morro da Mensagem” e “Serra das

Antas”. Também foram consultadas as publicações do CNC Flora: Áreas Prioritárias para

Conservação da Flora Endêmica do estado do Rio de Janeiro (LOYOLA et al., 2018), Lista da Flora

das Unidades de Conservação Estaduais do Rio de Janeiro (MAURENZA et al., 2018) e Livro

Vermelho da Flora Endêmica do Estado do Rio de Janeiro (MARTINELLI et al., 2018). Foram

também compilados dados de ocorrência de espécies ameaçadas, fornecidos pela equipe da APA

Petrópolis. Destaca-se que todos os dados levantados passaram por processo de vetorização em

ambiente de SIG e, com isso, foi possível uma melhor aferição das ocorrências das espécies de

flora, em relação aos limites definidos para a área de estudo. Obteve-se, assim, uma listagem geral

das espécies e sua classificação como endêmica do estado do Rio de Janeiro, bem como em

relação aos graus de ameaça.

Para caracterização dos aspectos físicos e socioeconômicos, além das pesquisas gerais no

Google, foram acessados portais de instituições conhecidas como CPRM, ICMBio, Inea (Plano de

Manejo Rebio Araras e GEOInea), IBGE (Cidades@) e Prefeitura Municipal de Petrópolis. As

palavras-chave utilizadas foram: “Geologia do ERJ”, “Geomorfologia do ERJ”, “Geomorfologia do

município de Petrópolis”, “Carta Geomorfológica do Município de Petrópolis”, “Suscetibilidade

movimento de massa Petrópolis”, “Socioeconomia de Petrópolis”, ONGs de Petrópolis”.

Em relação ao mapeamento de cobertura vegetal e uso da terra, foram definidas as seguintes

classes a serem mapeadas: vegetação secundária em estágio avançado e médio (VGAM),

vegetação secundária em estágio inicial (VGSI), vegetação rupícola, campos de altitude,

silvicultura, afloramento rochoso, água, pastagem, área antrópica, urbano (área urbana de média e

baixa densidade). As classes de mapeamento adotadas relativas à floresta – VGSI e VGAM têm

como referência a lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428 de 22/12/2006). A escala de produção do

mapeamento definida foi 1:10.000, a de saída do produto 1:25.000, e a área mapeada

correspondeu à área de estudo adotada no presente documento. Este mapeamento foi realizado

na plataforma Google Earth Engine, usando classificação direcionada ao objeto e metodologia

multiresolução, utilizando-se imagens WorldView 2 e 3 do ano 2019, com bandas do visível e com

resolução degradada para 2.5 m, e imagens sentinel 2021 com imagens do visível e infravermelho.

Para otimização do processo foi utilizado o mapeamento das classes do CAR como máscaras de

classe genéricas com a finalidade de detalhá-las a posteriori com as imagens supracitadas. O

método de mapeamento utilizado no Google Earth Engine foi o de classificação Suport Vector

Machine (SVM). Para a classificação dos campos de altitude, foram selecionadas áreas acima de

1.800 metros no SRTM 30 metros, disponível na plataforma utilizada, e foram cruzadas com as

classes de mapeamento rupícola, VGSI, afloramento e pastagem, reclassificando-as, assim, como

campos de altitude.

Os dados referentes aos processos de licenciamento estadual foram retirados do Sistema de

Consulta Unificada de Processos (http://200.20.53.7/SCUP/ ), disponíveis na extranet e site do

Inea, que disponibiliza a listagem de processos físicos e digitais da instituição. Para obter os

Page 20: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

20

processos para a área proposta para a UC, foi realizada consulta por filtragem do campo

"município" para a opção Petrópolis, e foi obtida listagem de todos os processos cadastrados

naquele município (1.914). Desta tabela bruta, foram extraídos os dados para os processos de

instrumentos vigentes e processos com requerimentos abertos. Os processos com instrumentos

emitidos (vencidos) não foram computados. Para obtenção dos pontos espacializados das licenças

vigentes, foi necessário efetuar consulta em cada processo e seus respectivos documentos

(relatório de vistoria, parecer técnico, entre outros), a fim de localizar as coordenadas de

referência/endereço de cada empreendimento. Cumpre ressaltar que os processos de Certidão de

Inexistência de Dívidas (DIPOS) e Certificado de Credenciamento de Laboratórios (DISEQ) não

foram considerados.

No que se refere a dados relacionados ao uso público e demais atividades de visitação e turismo,

foram feitas buscas nos sites da Prefeitura de Petrópolis (https://www.petropolis.rj.gov.br), da

TurisPetro (https://www.petropolis.rj.gov.br/turispetro/), do Petrópolis Convention & Visitors Bureau

(http://www.visitepetropolis.com/), da empresa de jornalismo e mídia digital independente SOU

Petrópolis (https://soupetropolis.com/), do Polo Gastronômico e Turístico de Secretário

(http://visitesecretario.com.br/), da Revista Brasileira de Ecoturismo

(https://periodicos.unifesp.br/index.php/ecoturismo), da EMBRATUR (https://embratur.com.br), da

ABETA (http://abeta.tur.br), do Guia de Escalada de Petrópolis

(https://guiadepetropolis.wordpress.com), da FEMERJ (http://www.femerj.org) e do Centro

Excursionista Petropolitano (http://www.petropolitano.org.br/), além de contatos com representante

do ICMBio / APA Petrópolis, Bernardo Luiz Eckhardt da Silva, e com guias locais e montanistas

como Julian Kronemberger (Centro Excursionista Petropolitano), Hugo de Castro (Rede Brasileira

de Trilhas de Longo Curso) e Leonardo Holderbaum (guia local e agente ambiental do Refúgio de

Vida Silvestre Estadual da Serra da Estrela).

5.2. Critérios para delimitação dos limites da UC

Os limites das Unidades de Conservação são definidos, basicamente, por meio da análise de dois

conjuntos de dados. O primeiro conjunto reúne as camadas da base cartográfica de fé pública, com

o melhor nível de detalhamento disponível para a região. São elas: hipsometria, cursos d’água,

divisor de águas, talvegues, arruamentos, trechos rodoviários, entre outros. O segundo grupo

contempla os dados temáticos reunidos a partir de diversas fontes, tais como projetos já realizados

na região, bancos de dados espaciais existentes em outras instituições de administração pública

(prefeitura), dados alfanuméricos cadastrados em banco de informações etc.

Após amplo levantamento de dados e análises geoespaciais, o limite da UC objeto do estudo foi

proposto com base nos critérios da Tabela 03 a seguir:

Tabela 03: Critérios utilizados na análise para definição do limite da unidade de conservação

Critérios para inclusão

Dados Camadas

APPS

Declividade (maior que 45°)

Topo de Morro

Áreas acima de 1800 metros

Page 21: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

21

Nascente (50m)

Restrição Uso Restrito (Lei 12.651/2012)

Suscetibilidade

Enxurrada

Corrida de Massa

Movimento de Massa

UCs ZVS APA Petrópolis

ZPP3 e ZPC3 APA Petrópolis

Uso Público Atrativos

Flora

Espécies Ameaçadas

Espécies Endêmicas

Áreas Prioritárias Ottobacias (Prioridades)

Uso e Cobertura

Vegetação em Estágio Médio Avançado

(Médio e Clímax), Afloramento rochoso,

Rupícola e Campos de Altitude.

Critérios para exclusão

Dados Camadas

UCs RPPN (municipais, estaduais e federais)

Licenciamento Licenças Municipais (SEMA Petrópolis)

Licenças Estaduais

ITERJ Assentamentos

Comunidades Quilombolas

Uso e Cobertura Silvicultura e áreas Urbanas.

Ocupação urbana Áreas edificadas identificadas nas imagens

de satélite

Critérios para ajustes nos limites

Dados Camadas

Instrumentos do

Licenciamento ambiental

estadual

Outorgas (Superficiais e Subterrâneas)

Uso Público Trilhas e Travessias

CAR Reserva Legal e Áreas Consolidadas

Proposta de

Macrozoneamento -

Prefeitura de Petrópolis

Áreas Urbanas

UCs Demais Zonas da APA Petrópolis

Flora Dados de Flora em geral

Page 22: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

22

6. Caracterização da área

6.1. Caracterização do meio físico

6.1.1. Clima

O Clima no município de Petrópolis é classificado como tropical de altitude, com verões úmidos e

quentes e invernos secos e relativamente frios. Apresentam médias de temperatura entre 22ºC e

24ºC e, em anos mais frios, de 19ºC caindo para menos de 10ºC. As precipitações totais anuais

são da ordem de 2.000 mm (INEA, 2010). Segundo PMP (2014), o Instituto Nacional de

Meteorologia indica que a menor temperatura historicamente registrada foi 0,7°C, no dia 2 de

agosto de 1955, e a maior temperatura registrada foi 36,6°C, no dia 6 de novembro de 2009. Na

figura abaixo (Figura 06) está representada a média de temperatura e chuvas calculada com base

na série histórica de 30 anos de observação, conforme disponibilizado no site do Climatempo.

Figura 06: Climatologia de Petrópolis. Fonte: https://www.climatempo.com.br/climatologia/317/petropolis-rj

Por conta da barreira orográfica das Serras dos Órgãos e Araras que se interpõe diretamente entre

a localidade de Araras e a Baixada Fluminense, ficam presentes as características de

estacionalidade pertinente ao clima tropical de altitude. Já a barreira composta pela Serra da Maria

Comprida, localizada ao norte do município, cumpre a função de isolar a região de Araras da

continentalidade imposta pelo Vale do Paraíba e Minas Gerais, que poderia aquecer mais a área

em questão (INEA, 2010). O resultado desta situação especial gera um mesoclima bem

característico e isolado para a região.

De uma forma geral, o município de Petrópolis permanece a maior parte do ano sob o domínio da

Massa Tropical Atlântica, originada da Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS). Essa massa possui

Page 23: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

23

como características temperatura e umidade elevadas. O regime de chuvas presente na região

obedece aos sistemas de correntes perturbadas de sul (frente fria) e de correntes perturbadas de

oeste. A elevada pluviosidade anual de Petrópolis, de cerca de 2500 mm a 3000 mm, é compatível

com a pluviosidade anual da Amazônia. O período chuvoso estende-se de novembro a março e o

mês mais seco é julho. A umidade relativa é estável, de um modo geral, mantendo-se próxima aos

80% (INEA, 2010 e PETRÓPOLIS, 2021).

Ocorre retenção de nevoeiros no inverno, e neblina no verão e no inverno, que também

caracterizam a climatologia no município de Petrópolis. Por ocasião da chegada de frentes frias,

costumam ocorrer as chamadas virações, quando as massas frias e úmidas de ar se chocam com

a serra e formam grossas nuvens que atravessam as montanhas e provocam bruscas quedas de

temperatura e intensas sensações térmicas de frio. Geadas, no entanto, não são noticiadas, salvo

nos redutos situados acima dos 1.200 m (INEA, 2010).

6.1.2. Geologia, geomorfologia, relevo e solos

O Estado do Rio de Janeiro (ERJ) caracteriza-se por uma grande geodiversidade, constituindo uma

profusão de tipos de paisagens e formas diferenciadas de relevo (ALERJ, 2020). Geologicamente,

a parte sul da Região Sudeste apresenta-se dominada pelo imenso escudo pré-cambriano, onde

ocorrem rochas das mais antigas da Terra e que, possivelmente, nunca estiveram submersas. Tal

escudo, classificado como Domínio da Serra do Mar, falhado e fraturado, apresenta uma borda

meridional escarpada que ressalta na Serra dos Órgãos, separada da linha do litoral atual por

planícies e por isoladas elevações remanescentes de intensa e longa ação do intemperismo

(SILVA, 2001 e INEA, 2010).

A geologia local tem estrutura rochosa do Proterozóico (560 milhões de anos) do grupo

denominado Suíte Serra dos Órgãos, com as Unidades Serra dos Órgãos e Santo Aleixo (SILVA,

2001). A primeira unidade é configurada por rochas Hornblenda-biotita granitóide de granulação

grossa e composição expandida de tonalítica a granítica, composição cálcio-alcalina (SILVA, 2001

e ALERJ, 2020). Texturas e estruturas magmáticas preservadas com foliação tangencial em estado

sólido superimposta. Localmente, podem ser observados enclaves e paleodiques anfibolíticos. Já a

Unidade Santo Aleixo compreende fácies marginal do Batólito Serra dos Órgãos constituída por

granada-hornblenda-biotita granodiorito, rico em xenólitos de paragnaisse parcialmente fundido e

assimilado (migmatito de injeção). Intrusões tardias de leucogranito tipo-S são comuns. Ocorre

ainda uma pequena exposição de granadas da Suíte Serra das Araras (IBAMA, 2009 e ALERJ,

2020).

As barreiras orográficas da Serra dos Órgãos e das Araras, citadas anteriormente, se erguem a

altitudes de mais de 2.000 m entre Petrópolis, Teresópolis e Miguel Pereira e são parte de um

antiquíssimo afloramento de gnaisse e granito que, ainda hoje, é caracterizado por uma

heterogeneidade topográfica marcante. As circunvoluções das curvas de nível são indescritíveis e

os afloramentos rochosos íngremes são comuns em toda a região (INEA, 2010 e SILVA, 2001).

De acordo com PETRÓPOLIS (2021), as rochas pertencentes ao complexo granítico – gnáissico -

migmatítico são predominantemente encontradas na região e nelas são encontradas,

frequentemente, fraturas e falhas de extensão regional, com fortes consequências na topografia.

Page 24: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

24

Por conta disso, as características gerais do relevo do município são determinadas por um mesmo

padrão de fraturamento e posição em relação à escarpa principal (limite meridional do domínio

serrano). Dessas características resultaram solos objetos de sucessivas fases erosionais, com

intensa remobilização de blocos graníticos, agravadas pela presença de vales alongados,

segmentos de drenagem retilíneos, maciços graníticos circundados por camadas de solo,

relativamente pouco espessas (PMP, 2014). Por conta do descrito, as encostas de toda a região

são afeitas a movimentos de massa, especialmente escorregamentos, o que recomenda especial

atenção aos processos de ocupação antrópica, desmatamento e localização de culturas agrárias.

Importante destacar que essas estruturas geológicas regionais desempenham um importante papel

na organização da rede de drenagem e na formação do relevo municipal. Dessas características

resultaram solos objetos de sucessivas fases erosionais, com intensa remobilização de blocos

graníticos, agravadas pela presença de vales alongados, segmentos de drenagem retilíneos,

maciços graníticos circundados por camadas de solo, relativamente pouco espessas. Por conta do

descrito, as encostas de toda a região são afeitas a movimentos de massa, especialmente

escorregamentos, o que recomenda especial atenção aos processos de ocupação antrópica,

desmatamento e localização de culturas agrárias (DANTAS et al, 2000 e DANTAS, 2003).

De acordo DANTAS et al. (2000) a notável diversificação do cenário geomorfológico do estado

deve ser compreendida através de uma singular interação entre aspectos tectônicos e climáticos,

que delinearam sua atual morfologia. O estado do Rio de Janeiro, na escala 1:250.000, pode ser

compartimentado em duas unidades morfoestruturais: o Cinturão Orogênico do Atlântico e as

Bacias Sedimentares Cenozóicas. Petrópolis está inserido no primeiro compartimento. Este se

subdivide em 07 (sete) unidades morfoesculturais: Maciços Costeiros e Interiores; Maciços

Alcalinos Intrusivos; Superfícies Aplainadas nas Baixadas Litorâneas; Escarpas Serranas;

Planaltos Residuais; Depressões Interplanálticas; Depressões Interplanálticas com Alinhamentos

Serranos Escalonados (DANTAS et al., 2000) (Figura 07), estando o município de Petrópolis

inseridos na 4ª, 5ª e 6ª unidade (Figura 08). A Figura 09 representa o perfil topográfico

esquemático do município de Petrópolis de acordo com a compartimentação

morfoestrutural/morfoescultural em, onde se pode notar que a área de estudo encontra-se, em sua

maior parte, no compartimento Planaltos residuais.

Page 25: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

25

Figura 07: Unidades Morfoesculturais do ERJ. Fonte: SHINZATO et al., 2017

Figura 08: Unidades Morfoesculturais presentes em Petrópolis. Fonte: SHINZATO et al., 2017

Page 26: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

26

Figura 09: Perfil topográfico esquemático do Município de Petrópolis. Fonte: SHINZATO et al., 2017

A Unidade Morfoescultural Escarpas Serranas, presente no município de Petrópolis, compreende

um conjunto de escarpas montanhosas fortemente alinhadas sob direção WSW-ENE, compostas

pelas serras do Mar e da Mantiqueira. A escarpa da serra do Mar atravessa praticamente todo o

território do estado do Rio de Janeiro numa direção WSW-ENE, acompanhando o “trend” estrutural

do substrato geológico. No reverso da escarpa serrana, observa-se algumas zonas planálticas, de

relevo montanhoso, tais como o planalto, o planalto reverso da Região Serrana e a própria Serra

do Desengano, também englobados nessa subunidade. Os escarpamentos serranos apresentam

sérias limitações frente à ocupação humana. Devido a este fato, boa parte desses escarpamentos

apresentam ainda extensas áreas de Mata Atlântica preservadas, sendo algumas protegidas por

lei, como é o caso dos Parques Nacionais do Itatiaia, da Serra da Bocaina, da Serra dos Órgãos e

do Desengano.

As escarpas serranas apresentam, em geral, solos pouco espessos (Cambissolos) e bastante

lixiviados (Latossolos Vermelho-Amarelos álicos), devido a um clima bastante úmido proporcionado

pela barreira física imposta ao avanço dos sistemas frontais (efeito orográfico), conforme descrito

anteriormente. As zonas mais elevadas dessas escarpas e das zonas montanhosas, constituídas

por solos rasos ou paredões subverticais rochosos, evidentemente, devem ser mantidas

preservadas (DANTAS et al., 2000 e INEA, 2010). Esta unidade apresenta, de acordo com INEA

(2010) as seguintes limitações: terrenos escarpados de alta declividade. Ocorrência de depósitos

de tálus com baixa capacidade de carga, e afloramentos de rocha. Alta suscetibilidade a processos

de erosão e movimentos de massa. Solos, em geral, pouco espessos e de baixa fertilidade.

Inadequado para urbanização, agricultura e pecuária. Potencial hidrogeológico baixo a nulo e

mineral para água mineral e rocha ornamental. Sua área apresenta grande beleza cênica,

indicadas para turismo de baixa densidade e possui áreas de mananciais.

Outra unidade morfoestrutural presente na maior área do município são os Planaltos residuais que

representam os terrenos montanhosos e amorreados, de amplitude de relevo elevada, localizados,

em geral, no reverso das escarpas serranas. De acordo com DANTAS et al. (2000) ocorrem,

subordinadamente, compartimentos colinosos no interior da zona planáltica. Trata-se de superfícies

residuais, soerguidas por tectônica, e que resistiram aos processos erosivos e de aplainamento

atuantes durante o Cenozóico Superior, configurando-se, portanto, nos terrenos mais elevados no

estado. Esses planaltos residuais associam-se a superfícies de erosão mais antigas que as que

modelaram as depressões interplanálticas ou as superfícies aplainadas junto às baixadas

Page 27: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

27

litorâneas. As zonas planálticas apresentam características morfológicas muito diferenciadas,

sendo definidas, predominantemente, pelos sistemas de relevo Domínio Colinoso, Domínio de

Morros Elevados ou Domínio Montanhoso. Caracterizam-se por relevos colinosos de baixa

amplitude de relevo, alternados com tipos de relevos mais movimentados com morros mais

elevados, degraus estruturais ou zonas montanhosas que se sobressaem em relação à superfície

colinosa regional. Apresentam vertentes de gradientes suaves a médios, ou elevados, nas áreas de

relevo acidentado, frequentemente recobertas por colúvios. Possuem densidade de drenagem alta

e padrão dendrítico a treliça.

O município de Petrópolis, em sua maior parte, está inserido na unidade geomorfológica de

Planalto Reverso da Região Serrana (Serra dos Órgãos). Numa direção N-S, do núcleo urbano de

Petrópolis até a localidade de Posse, toda a região pertencente a esta unidade está englobada por

relevos acidentados e de elevada amplitude de relevo do Domínio Montanhoso. Esse fato pode

estar relacionado à presença de marcantes estruturas de direção SSW-NNE, que controlam os

principais canais da região, tais como os rios Fagundes, Pequeno, da Maria Comprida e Piabanha,

todos tributários do rio Paraíba do Sul. Essas estruturas parecem se comportar como patamares

estruturais que elevam e alargam progressivamente a zona montanhosa até o vale encaixado do

rio Piabanha.

Dessa forma, segundo DANTAS et al. (2000), os alinhamentos das serras de Miguel Pereira e do

Facão, de direção WSW-ENE, localizados a oeste do vale do rio Fagundes, apresentam cristas

com cotas entre 1.000 e 1.200m, enquanto os alinhamentos das serras das Araras e do Taquaril,

de mesma direção, localizados a leste do vale do rio Fagundes, apresentam cristas com cotas

superiores a 1.400m e picos que atingem quase 2.000m (Pico da Maria Comprida – 1.926m; Pico

da Maria Antônia – 1.869m). Estruturas de direção W-E e WSW-ENE também são relevantes nesse

trecho do planalto, controlando os rios das Araras e da Cidade, respectivamente. Destacam-se,

nesse setor do planalto, os núcleos urbanos de Petrópolis, Itaipava, Pedro do Rio e Posse, todos

no vale do rio Piabanha.

A última unidade morfoescultural encontrada no município de Petrópolis é a Depressão

Interplanáltica que representa os terrenos colinosos de baixa a média amplitude de relevo,

embutidos entre zonas planálticas ou alinhamentos serranos ao longo do estado do Rio de Janeiro.

DANTAS et al. (2000) indica que esta unidade, de acordo com estudos renomados, os seus

terrenos constituintes, foram originados, em termos gerais, por influência de rebaixamento

tectônico a partir da abertura do oceano Atlântico e do soerguimento das cadeias montanhosas das

serras do Mar e da Mantiqueira durante o final do Cretáceo e o Terciário. Trata-se de um extensa

unidade caracterizada por colinas, morrotes e morros baixos com vertentes convexo-côncavas de

gradiente suave a médio e topos arredondados ou alongados e nivelados. Esse relevo foi

caracterizado por AB’SABER (1966) no médio vale do rio Paraíba do Sul como a área-tipo do

domínio morfoclimático dos mares de morros, conforme indicado em DANTAS et al. (2000).

As unidades descritas a seguir são definidas, predominantemente, pelos sistemas de relevo

Domínio Suave Colinoso e Domínio Colinoso, constituídas por um relevo uniforme de colinas e

morros baixos, frequentemente recobertos por colúvios. A unidade morfoescultural em tela

apresenta, de acordo com DANTAS et al. (2000), uma média densidade de drenagem com padrão

dendrítico a treliça. Os domínios supracitados apresentam, em geral, um médio potencial de

Page 28: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

28

vulnerabilidade a eventos de erosão e movimentos de massa, devido às amplitudes de relevo,

geralmente baixas, e aos gradientes suaves a médios do relevo colinoso dominante. Não há

evidências de ravinamentos ou voçorocamentos nas vertentes colinosas, exceto no médio vale do

rio Paraíba do Sul. Essas áreas caracterizam-se por uma extensa zona de pecuária extensiva, com

esparsos remanescentes de cobertura florestal.

Em sua porção leste, a unidade geomorfológica presente no município é a Depressão

Interplanáltica do Médio Vale do Rio Paraíba do Sul. Ela consiste numa depressão embutida entre

alinhamentos serranos escalonados do médio vale do rio Paraíba do Sul e o reverso montanhoso

do planalto da Região Serrana, no reverso da escarpa das serras de Paracambi e Miguel Pereira.

Esse trecho da depressão é menos extenso e alinhado na direção estrutural WSW-ENE.

Caracteriza-se também por um domínio colinoso no eixo da depressão, por onde segue o rio

Paraíba do Sul, e por um relevo de morrotes e morros baixos, em direção aos terrenos elevados

circundantes. A área também é drenada por tributários da margem direita do rio Paraíba do Sul,

como os rios Alegre, Ubá e Matozinhos. Os baixos cursos dos rios Fagundes e Piabanha também

atravessam a região. Próximo a Três Rios, os canais principais não seguem mais a direção

preferencial WSW-ENE e passam a seguir direções controladas por estruturas SSW-NNE ou SE-

NW, como demonstram os vales estruturais dos rios Fagundes e Piabanha (DANTAS et al., 2000).

A Carta Geomorfológica de Petrópolis foi elaborada no âmbito do Programa Cartas Municipais de

Suscetibilidade a Movimentos de Massa, Enxurradas e Inundações (escala 1:25.000) pelo Serviço

Geológico do Brasil (CPRM) e pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) (SHINZATO et al.,

2017), cujas ações estão inseridas no Plano Nacional de Gestão de Risco e Respostas a

Desastres Nacionais. O Plano é estabelecido pela Lei nº 12.608/2012, que gere a Política Nacional

de Defesa Civil. De acordo com a Carta, a área de estudo está inserida em 08 padrões de relevo

(Figura 10), que são: Planícies de Inundação (Várzea) (R1a), Terraços Fluviais (R1b1), Rampa

Alúvio-Colúvio (R1c1), Rampas Colúvio/ Depósito de Tálus (R1c2), Morros Baixos (R4a2), Morros

Altos (R4b1), Domínio Serrano (R4c1) e Domínio Alto Serrano (R4c2). Desses padrões os que

predominam na área de estudo são o Domínio Alto Serrano (12,64%), Morros Altos (29,75%),

Domínios Serranos (37,79%), conforme indicado na Tabela 04. Cerca de 7,21% da área de estudo

não tem informação sobre padrão de relevo, pois o estudo só foi realizado para Petrópolis, já que a

área núcleo está integralmente inserida neste município.

Page 29: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

29

Figura 10: Padrões de Relevo - Município de Petrópolis

Page 30: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

30

Tabela 04: Percentual de classes de padrão de relevo na área de estudo e área núcleo (proposta pela ALERJ)

CÓDIGO PADRÃO DE RELEVO PERCENTUAL NA

ÁREA ESTUDO (33559,72 ha) (%)

PERCENTUAL NA ÁREA NÚCLEO

(10032,92 ha) (%)

R4c2 Domínio Alto Serrano 12,64 37,2

R4c1 Domínio Serrano 37,79 48,95

R4b1 Morros Altos 29,75 9,95

R4a2 Morros Baixos 1,49 0,008

R1a Planícies de Inundação

(Várzea) 2,53 0,007

R1c1 Rampas Alúvio-Colúvio 3,03 0,37

R1c2 Rampas Colúvio/ Depósitos

tálus 5,54 3,515

R1b1 Terraços Fluviais 0,02 -

Área sem classificação 7,21 -

A seguir apresentaremos a descrição dos padrões mais representativos encontrados na área de

estudo, conforme indicado em SHINZATO et al., 2017.

● R1c2 - Rampas de Colúvio/ Depósitos de Tálus – Superfícies deposicionais fortemente

inclinadas constituídas por depósitos de encosta, de matriz areno-argilosa a argilo-arenosa,

rica em blocos, muito mal selecionados, em interdigitação com depósitos suavemente

inclinados das rampas de alúvio-colúvio. Ocorrem, de forma disseminada, nos sopés das

vertentes íngremes das serras e escarpas. Altitude Variável, Declividade 5-10o 9-18%;

● R4c1 - Domínio Serrano – Relevo de aspecto montanhoso, muito acidentado, apresentando

vertentes retilíneas a côncavas e topos de cristas alinhadas, aguçados ou levemente

arredondados, com sedimentação de colúvios e tálus. Alta densidade de drenagem.

Predominam vertentes de gradientes elevados com ocorrência esporádica de paredões

rochosos subverticais e pães-de-açúcar. Altitude >300m, 20-45º e 36-100%;

● R4c2 - Domínio Alto Serrano – Relevo de aspecto montanhoso, muito acidentado,

apresentando vertentes retilíneas a côncavas e topos de cristas alinhadas ou aguçadas,

com sedimentação generalizada de colúvios e tálus. Alta densidade de drenagem.

Predominam grandes despenhadeiros, gradientes elevados com ocorrência esporádica de

Page 31: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

31

paredões rochosos subverticais e pães-de-açúcar. Altitude >700m, com picos acima de

1.500 metros. 30-45o e 58-100%;

● R4b1 - Morros Alto – Relevo de morros de geometria convexo-côncava, fracamente

dissecados. Caracteriza-se por um relevo movimentado com vertentes de gradientes

médios a elevados e topos arredondados a aguçados. Densidade de drenagem moderada a

alta com padrão subdendrítico a treliça. Altitude de 80 a 250 m, 10-35o 18-70%.

A carta de suscetibilidade a movimento de massa (SHINZATO et al., 2017) indica que existe

predomínio significativo de deslizamentos nas classes alta e média (Figura 11), perfazendo juntos

83,51% da área referente ao município presente na área de estudo. Os 7,21% da área de estudo,

referentes a outros municípios, não foram mapeados. Já a área classificada como de alta

suscetibilidade a inundação representa 70,47% (826,62 ha) da área mapeada, como ilustrado na

Figura 12, concentrada nos rios Piabanha, Maria Comprida e Fagundes. Esses dados são

indicativos de que a região é sensível ao uso antrópico, sendo indicada a manutenção da cobertura

vegetal de forma a não prejudicar núcleos urbanos inseridos na área de estudo e a montante.

Figura 11: Suscetibilidade a movimento de massa na área de estudo

Page 32: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

32

Figura 12: Suscetibilidade a inundação na área de estudo

De uma forma bem sucinta, pode-se afirmar que o relevo básico de quase toda a área do município

de Petrópolis é fortemente ondulado. Sucedem-se as encostas que, mesmo cobertas por solos

desenvolvidos, são altamente declivosas e instáveis. Há muitas áreas intemperizadas pelo clima

tropical e essas encostas exibem com frequência encontro entre camadas laminares de gnaisse

abaixo, e camadas de matacões de granito acima. Os resultados na paisagem são encostas

heterogêneas onde os referidos pedregulhos se debruçam temerariamente sobre altíssimos

paredões monolíticos. Essa disposição característica costuma proporcionar dois resultados a

saber: se ainda em curso, essa disposição de materiais acarreta grandes riscos geotécnicos, já em

fase final, encontram-se numerosos matacões rolados nas bases dos morros, enriquecendo a

paisagem e contendo características de comunidades de plantas rupícolas sobre suas cristas

(INEA, 2010).

No que se refere a montanhas e picos, os subsídios para criação da UC apresentados pela ALERJ

(2020) indicam que a área de estudo apresenta mais de 22 picos acima dos 1.000m de altitude,

dos quais 15 acima de 1.500m, conforme a Tabela 05. Maria Comprida é uma montanha de

destaque (1.926m), exibindo amplos paredões rochosos quase verticais que superam os 1.200

metros de altitude, enquanto o Morro do Cuca está a 1.860 metros acima do nível do mar (Figura

Page 33: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

33

13). As vertentes sul e oeste de seu cume redondo terminam abruptas em paredões de rochas

nuas com declividade de até 80 graus (ALERJ, 2020).

Figura 13: Montanhas e Morros presentes na área de estudo. Fonte: Fotografia de Hugo de Castro Pereira

(ALERJ, 2020)

Page 34: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

34

Tabela 05: Picos acima dos 1.000m de altitude

Fonte: ALERJ (2020)

6.1.3. Hidrologia

O município de Petrópolis está situado parcialmente na Região Hidrográfica (RH) IV - Bacia do

Piabanha, cuja sede fica no município de Petrópolis e parcialmente na RH V – Baía da Guanabara.

A cidade é banhada pelos rios Piabanha, Quitandinha e Palatino. A rede hídrica que banha

Petrópolis corre encaixada nos fundos dos vales e é estruturada pelo Rio Piabanha, que nasce na

Serra da Estrela, na fralda ocidental do penhasco do Retiro (PMP, 2014).

A área de estudo situa-se na bacia do rio Piabanha, afluente da margem direita do rio Paraíba do

Sul. A bacia do rio Piabanha tem uma área de drenagem de 2.065 km², abrangendo quatro

municípios fluminenses – Areal, Petrópolis, Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto, onde

vivem cerca de 400 mil pessoas. O rio Piabanha, com 80 km de extensão, passa a leste da área de

estudo, correndo no sentido norte em curso meandrante, sempre ao lado da estrada BR-040,

implantada em seu estreito vale. O principal afluente do Piabanha é o rio Paquequer, de 75 km de

curso, que banha Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto. Esta é uma das bacias entre as

grandes sub-bacias formadoras do rio Paraíba do Sul que apresenta a maior cobertura florestal,

estimada em mais de 20% de suas terras, onde estão os mais expressivos remanescentes da Mata

Atlântica (INEA, 2010 e ALERJ, 2020).

Na área de estudo os principais cursos d’água descem, segundo ALERJ (2020), em três direções:

Page 35: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

35

● Norte - rio Maria Comprida nasce no flanco norte da Montanha da Maria Comprida e

desagua no rio Fagundes, assim como seus afluentes, os córregos do Barro Preto e do

Capim-Roxo, o Ribeirão Retiro das Pedras, contribuinte do rio da Prata, que deságua no rio

Piabanha, na localidade de Pedro do Rio, e o rio Pequeno, que nasce no sopé oeste da

Serra da Maria Comprida, que deságua no rio Fagundes;

● Leste - riachos que deságuam diretamente na margem esquerda do rio Piabanha, como o

córrego Manga Larga;

● Sul - pequenos afluentes da margem esquerda do rio das Araras, que flui na direção oeste-

leste e deságua na margem esquerda do Rio Piabanha, na localidade de Araras.

No interior da área núcleo, de acordo com ALERJ (2020), quase todos os rios têm leitos rochosos

típicos de montanha e águas com boa qualidade ambiental. Destaque para o pequeno canyon de

2,3 km do alto rio Pequeno, que corre em uma falha geológica no sentido norte-sul, entre a Pedra

da Imperatriz e a Serra das Antas.

De acordo com a base cartográfica 1:25.000, existem 618 nascentes potenciais na área de estudo,

818,28 km de cursos d’água e, das cachoeiras existentes, quatro são as mais visitadas: Cachoeira

da Ponte Funda, Cachoeira do rio Maria Comprida, Cachoeira/Poço da Rocinha e Cachoeira Sete

Quedas.

6.2. Caracterização dos fatores bióticos

A Mata Atlântica é um dos biomas mais importantes do mundo para a conservação, por sua alta

riqueza e endemismo de espécies animais e vegetais e também pelo alto grau de devastação.

Estima-se que a Mata Atlântica abriga de 1-8% de todas as espécies do planeta (SILVA et al.,

2003). Essa diversidade de espécies ocorre, principalmente, graças a um ambiente heterogêneo

resultado do relevo, regimes de vento e correntes oceânicas (DEAN, 1996), característicos deste

bioma, sendo conhecido como o Domínio de Mares de Morros (AB’SÁBER, 1966; AB’SÁBER,

2003).

Sendo assim, em um contexto geral, pode-se destacar as seguintes características da área de

estudo:

● Fica integralmente inserida no domínio do bioma Mata Atlântica;

● A vegetação é predominantemente ocupada por florestas, com algumas áreas compostas

por campos de altitude;

● As florestas são dos tipos Montana e Alto-Montana, apresentando vegetação rupícola em

escarpas íngremes e afloramentos rochosos e vegetação típica de Campos de Altitude nas

partes mais elevadas;

● A região é considerada prioritária para conservação por apresentar um alto número de

espécies vegetais, sendo muitas endêmicas do estado do Rio de Janeiro;

● A área se apresenta como um importante componente na preservação da já bastante

reduzida fauna histórica da Mata Atlântica;

Page 36: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

36

● Está em uma das regiões mais ricas do mundo em espécies de aves e anuros;

● Apresenta potencial de abrigar populações ainda viáveis de médios e grandes mamíferos

da Mata Atlântica.

6.2.1. Flora

O Estado do Rio de Janeiro encontra-se totalmente inserido no bioma Mata Atlântica, sendo

representado por uma área com elevada diversidade biológica, bem como, de paisagens

vegetacionais e habitats únicos, abrigando uma flora riquíssima com elevado grau de endemismo

(NADRUZ COELHO et al., 2017). Ao longo de seu histórico intenso de uso e ocupação, o Rio de

Janeiro sofreu profunda modificação de sua paisagem, composta atualmente por um mosaico de

“áreas naturais e seminaturais cercadas por zonas urbanizadas” (SILVEIRA FILHO & RAMBALDI,

2018).

Atualmente, a Mata Atlântica fluminense abriga “8.203 espécies, subespécies e variedades de

plantas vasculares e briófitas” (NADRUZ COELHO et al., 2017), sendo 884 espécies endêmicas

(MARTINELLI, et al., 2018). Neste cenário, Petrópolis, figura dentre os municípios mais

representativos em número de espécies, ocupando o terceiro lugar geral do estado com 2.532

registros. Além disso, o referido município se destaca por ser um dos cinco mais ricos apenas em

espécies de Angiospermas (2.259 spp.) (NADRUZ COELHO et al., 2017).

Já para área de estudo, a partir de levantamentos de dados secundários, foram identificadas

aproximadamente 640 espécies (Anexo V) com destaque para as famílias com maior

representatividade na área, sendo elas: Fabaceae, Asteraceae, Orchidaceae, Bromeliaceae,

Myrtaceae, Rubiaceae e Melastomataceae (Gráfico 01).

Em relação às espécies da flora ameaçadas, segundo o IBGE (2020), em 2018, existiam no Brasil

um total de 3.215 espécies ameaçadas em ambientes terrestres. Neste contexto, o Rio de Janeiro

é um dos estados com maior número de espécies com risco de extinção. Uma vez que, segundo

NADRUZ COELHO et al. (2017), “786 espécies são indicadas com algum grau de ameaça e 17

espécies apontadas como extintas na flora fluminense”.

Os levantamentos apontam que, para a área de estudo, ocorrem, ao menos, 101 espécies com

algum grau de ameaça, com base na Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçada de

Extinção (MMA, 2014). Para mais, segundo o Livro Vermelho da Flora Endêmica do Estado do Rio

de Janeiro (MARTINELLI et al., 2018), existem 193 espécies ameaçadas de extinção, dentre as

239 espécies endêmicas levantadas para área de estudo.

Importante destacar a espécie Worsleya procera (Figuras 14 e 15), conhecida como rabo-de-galo

ou imperatriz, e, classificada como criticamente ameaçada pela IUCN. Já houve registro de sua

ocorrência dentro da área de estudo em publicação de 1984 (MARTINELLI, 1984). A espécie sofre

ameaça de espécies exóticas invasoras, bem como de coletas irregulares para fins comerciais e

uso ilegal do fogo.

Podemos citar outras importantes espécies da região, como Tillandsia reclinata (Figura 16) que,

segundo MARTINELLI et al. (2018) é endêmica do estado do Rio de Janeiro e restrita a uma região

Page 37: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

37

específica da área de estudo. Já a espécie Prepusa connata (Figura 17), também ocorrente da

região, é uma espécie rara e somente conhecida em duas subpopulações. A espécie Behuria

organensis (Figura 18) tem ocorrência restrita à região da Serra dos Órgãos.

Assim como Worsleya procera, Tillandsia reclinata, Prepusa connata, Behuria organensis, Fuchsia

alpestris (Figura 19), Barbacenia brevifolia (Figura 20) e Dasyphyllum cryptocephalum (Figura 21),

também sofrem com a ameaça de queimadas frequentes (MARTINELLI et al., 2018).

A diversidade paisagística da área de estudo, associada à elevada riqueza de espécies florísticas,

muitas delas endêmicas e ameaçadas de extinção, potencializam ações de conservação da

biodiversidade da região da Serra da Maria Comprida, fato este que justifica a alta prioridade para

conservação e uso sustentável da flora endêmica do estado do Rio de Janeiro (LOYOLA et al.,

2018).

Gráfico 01: Representatividade das famílias botânicas para a área de estudo.

Fonte: LOYOLA et al, 2018; MARTINELLI, et al., 2018; MMA, 2014; JBRJ, 2021; CRIA, 2021.

Page 38: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

38

Figura 14: Worsleya procera (rabo-de-galo). Foto: Felipe Tubarão.

Figura 15: Worsleya procera (rabo-de-galo). Foto:

Bernardo Eckhardt.

Figura 16: Tillandsia reclinata. Foto: Felipe Tubarão

Page 39: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

39

Figura 17: Prepusa connata. Foto: Felipe Tubarão

Figura 18: Behuria organensis. Foto: Felipe Tubarão

Figura 19: Fuchsia alpestris (brinco-de-princesa).

Foto: Bernardo Eckhardt.

Figura 20: Barbacenia brevifolia. Foto: Felipe

Tubarão

Page 40: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

40

Figura 21: Dasyphyllum cryptocephalum. Foto: Felipe Tubarão

6.2.2. Fauna

6.2.2.1. Mastofauna (mamíferos)

Dentre os mamíferos descritos atualmente, 762 espécies ocorrem em território brasileiro (ABREU

et al. 2021). Dessa forma, o Brasil apresenta a maior riqueza de mamíferos de toda a Região

Neotropical. Dessas espécies, 110 (cerca de 15%) estão ameaçadas (MMA, 2018). Na Mata

Atlântica ocorrem cerca de 250 espécies de mamíferos, sendo cerca de 22% endêmicas deste

bioma (REIS et al., 2006).

Mamíferos em geral podem ser considerados bons bioindicadores de conservação, pois possuem

grande diversidade de tamanhos e hábitos, podendo ser especialistas ou generalistas, isto é, se

adaptam a diferentes graus de distúrbios (PARDINI et al., 2009). Algumas poucas espécies são

capazes de estabelecer populações em habitats com um grau alto de antropização (HARRIS &

YALDEN, 2004). Em áreas perturbadas, a diversidade de espécies tende a ser mais baixa, onde

espécies generalistas e de menor tamanho são mais abundantes (NAUGHTON-TREVES et al.,

2003, DAILY et al., 2003; CHIARELLO,1999). Por outro lado, ambientes mais estáveis e com maior

cobertura vegetal nativa tendem a suportar mais espécies especialistas e de maior tamanho

(PAINE et al., 2007).

De acordo com os estudos levantados INEA (2010) apud ALVES & ANDRIOLO, 2005; ALVES &

ANDRIOLO, 2005; CUNHA, 2004; ESBERAD & BERGALLO, 2005; BUENO & ALMEIDA, 2010;

OLIFIERS et al., 2007, um total de 45 espécies foram apontadas como de potencial ocorrência

para a área proposta para a criação da unidade de conservação. Esse número corresponde a

cerca de 6,5% das espécies de mamíferos com ocorrência para o território brasileiro e 18% das

espécies com ocorrência para a Mata Atlântica. O número de espécies desta lista pode aumentar,

na medida em que outros estudos sobre a mastofauna sejam realizados, principalmente os

Page 41: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

41

pequenos mamíferos e os chiropteros (morcegos). A listagem final das espécies encontra-se

apresentada no Anexo VI a.

Considerando as espécies ameaçadas, a área proposta para a UC abriga 10 espécies classificadas

na Lista Vermelha nacional (MMA, 2018) e internacional (IUCN, 2018), o que equivale a 10% das

espécies de mamíferos ameaçados do Brasil (MMA, 2018). Dentre essas espécies, há uma que

merece atenção, o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) (Figura 22), sagui nativo que ocorre

nesta região. Segundo relatos de frequentadores das matas (Anderson Rabelo, comunicação

pessoal), a espécie é avistada em áreas onde há a presença do taquaruçu (Chusquea sp.).

Paralelo a isso, também foi relatada a presença do sagui-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata)

(Figura 23), espécie considerada exótica e invasora, que também é avistada na região, inclusive

com relatos de hibridação com o C. aurita, o que se torna uma grande ameaça à espécie nativa

(Figura 24).

Além dos saguis, outras espécies de primatas têm registros regionais: o macaco-prego (Sapajus

nigritus) (Figura 25), o guigó (Callicebus nigrifrons) e o bugio (Alouatta guariba clamitans), este

último categorizado como Vulnerável (VU) na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção

(MMA, 2018). Apesar de ter relatos e registro de muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) na

região (no PARNA e na REBIO Araras), não foi localizado registro da sua presença na área de

estudo.

Das quatro espécies de tatus que poderiam ocorrer na região, foi relatada pelos moradores

somente a ocorrência de tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) e tatu-mirim (Dasypus

septemcinctus). O tatu-peba ou tatu-testa-de-ferro (Euphractes sexcinctus) e tatu-de-rabão-mole

(Cabassous unicinctus), que têm potencial ocorrência para a região, ainda necessitam de

confirmação. Para a ordem Pilosa, foram registrados o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e

a preguiça-comum (Bradypus variegatus).

Entre os roedores de grande porte há registros de paca (Cuniculus paca) (Figura 26), capivara

(Hydrochaerus hydrochaeris) (Figura 27), cutia (Dasyprocta leporina) e o ouriço-cacheiro (Coendou

insidiosus). Regionalmente, apesar de não ter sido relatado nos estudos, há a possibilidade de ter

a ocorrência do rato-do-bambu (Kannabateomys amblyonyx), espécie com deficiência de dados

científicos, mas associado à taquaruçu (Guadua sp.).

Entre os marsupiais, poderiam ser encontrados o gambá (Didelphis aurita), cuica-quatro-olhos-

cinza (Philander quica), cuíca-quatro-olhos-marrom (Metachirus myosurus), cuíca-lanosa

(Caluromys philander), cuíca-comum (Marmosops incanus), cuíca-pequena (Gracilinanus

microtarsus) e a cuíca-lanhosa-cinza (Marmosa paraguaiana).

Dentre os felinos, é possível que ocorram todos aqueles com registro para o estado do Rio de

Janeiro, com exceção da onça-pintada (Panthera onca), que conta apenas com registros histórico

para o território fluminense, sendo considerada como provavelmente extinta. A maior das espécies,

a suçuarana (Puma concolor) (Figura 28) é frequentemente registrada na região, nas diferentes

UCs estaduais e na APA Petrópolis, e possivelmente será registrada na área de abrangência desta

futura UC. Além desta, há outros felinos silvestres de menor porte, tais como o jaguarundi (Puma

yagouaroundi) e os pintados: o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus), o gato-maracajá

(Leopardus wiedii) e a jaguatirica (Leorpadus pardalis).

Page 42: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

42

Outros mamíferos da ordem Carnivora também são de potencial ocorrência, pois têm registro

regional. Da família Mustelidae - irara (Eira barbara), o furão (Galictis cuja), a lontra (Lontra

longicaudis), todos têm registros na RBA e APA Petrópolis. Da família Canidae - cachorro-do-mato

(Cerdocyon thous) (Figura 29) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) (Figura 30), este ameaçado

de extinção. Essa espécie é tipicamente do Bioma Cerrado, porém, com a alteração da paisagem

natural dos demais Biomas pela ação humana, vem expandindo a sua distribuição geográfica,

incluindo para o estado do Rio de Janeiro. A espécie já possui registros para a região do estudo

(Bernardo Eckhardt, comunicação pessoal). Para a família Procyonidae, o quati (Nasua nasua) e o

mão-pelada (Procyon cancrivorus) são citados nos estudos, mas ainda não há registros do jupará

(Potos flavus), que é uma espécie de Procyonidae com hábitos noturnos e arborícola.

Algumas dessas espécies de mamíferos são visadas por caçadores, tais como os tatus (2

espécies: galinha (Dasypus novemcinctus) e o mirim (Dasypus septemcinctus), as pacas

(Cuniculus paca), a capivara (Hydrochaerus hydrochaeris), a cutia (Dasyprocta leporina), o quati

(Nasua nasua) e o catetos ou porco-do-mato (Pecari tajacu). Após o ato de criação da UC, torna-se

necessária a criação de estratégias para coibir tal prática, visando a proteção dessas espécies,

para que não sejam extintas localmente.

Figura 22: Sagui-da-serra-escuro Callithrix aurita.

Foto: Rodrigo Bramili

Figura 23: Sagui-de-tufos-pretos Callithrix

penicillata. *espécie exótica Foto: João Rafael Marins

Figura 24: Sagui-híbrido Callitrix sp. (aurita x penicillata). Foto: Rodrigo Salles de Carvalho

Figura 25: Macaco-prego Sapajus nigritus.

Page 43: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

43

Foto: João Rafael Marins

Figura 26: Paca Cuniculus paca.

Foto: João Rafael Marins

Figura 27: Capivara Hydrochoerus hydrochaeris.

Foto: João Rafael Marins

Figura 28: Suçuarana Puma concolor.

Foto: João Rafael Marins

Page 44: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

44

Figura 29: Cachorro-do-mato Cerdocyon thous.

Foto: João Rafael Marins

Figura 30: Lobo-guará Chrysocyon brachyurus.

Foto: Bernardo Eckhardt.

6.2.2.2. Avifauna (aves)

Há cerca de 10.000 espécies de aves no mundo (DEL HOYO, 2019), e a América do Sul abriga a

maior diversidade deste grupo, com 3.487 espécies (AVIBASE, 2018). Estima-se que no Brasil

existam 1.919 espécies de aves (CBRO, 2014), sendo assim, considerado o 3° país com maior

biodiversidade de aves, ficando atrás apenas da Colômbia e Peru. Isto equivale a

aproximadamente 57% das espécies de aves registradas em toda América do Sul, em que pouco

mais de 10% dessas espécies são endêmicas do país. Dessa forma, o Brasil é considerado um dos

mais importantes países para investimentos em conservação (SICK, 1993), afinal, apresenta um

dos maiores níveis de endemismo do mundo, sendo 20% das espécies endêmicas pertencentes à

Amazônia (MITTERMEIER et al., 2004), e 18% à Mata Atlântica. Adicionalmente, 92% das

espécies de aves residentes do país encontram-se distribuídas por estes dois biomas.

Na Mata Atlântica, existem cerca de 1.023 espécies de aves residentes, destas, 213 são

endêmicas deste Bioma (MOREIRA-LIMA, 2013). Os maiores níveis de endemismo são

encontrados na Serra do Mar (173 espécies, cerca de 84% de espécies endêmicas de todo o

bioma (CORDEIRO, 2003), onde o complexo montanhoso, o regime de ventos e extensão

latitudinal exerceram forte influência na composição e evolução das espécies (SILVA et al,. 2004).

Das 193 espécies de aves presentes na lista brasileira (MACHADO et al., 2008) e mundial (IUCN,

2018) de espécies ameaçadas, 112 ocorrem na Mata Atlântica (MARINI & GARCIA, 2005; OLMOS,

2005). No âmbito do estado do Rio de Janeiro, a riqueza de aves está representada por mais de

800 espécies (GAGLIARDI, 2019), ou seja, cerca de 77% da avifauna presente em toda a Mata

Atlântica.

Considerando os grupos zoológicos comumente utilizados na análise dos efeitos da fragmentação

ambiental, as aves figuram como um dos melhores grupos de estudo uma vez que observações

diretas ou indiretas (por vocalizações) podem fornecer resultados acurados na identificação das

espécies. Dessa forma, representam importantes indicadores ecológicos de alterações ambientais

(MORRISON, 1986), uma vez que ocupam nichos diversos e desempenham diferentes funções nas

comunidades.

Page 45: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

45

As aves são o grupo de vertebrados com o maior número de espécies, consequência de um

elevado grau de especialização, de tamanhos e hábitos, fazendo com que grande parte das

espécies deste grupo possuam alta sensibilidade a alterações ambientais, como a perda de

hábitats específicos por exemplo, de modo que o número de espécies ameaçadas seja

proporcionalmente elevado.

Segundo os dados oriundos dos artigos levantados (CAMACHO, 2021; CUNHA, 2004) e sites

consultados (Ebird e Wikiaves), das cerca de 800 espécies de aves conhecidas para o estado do

Rio de Janeiro (GAGLIARDI, 2019), 242 ocorrem na região, destas, 77 são endêmicas do domínio

natural da Mata Atlântica (sensu MOREIRA-LIMA, 2013) e 16 espécies estão em alguma categoria

de ameaça em nível global (IUCN, 2018) e nacional (MMA, 2018), conforme a Anexo VI b.

As espécies Não-Passeriformes somaram 84 espécies distribuídas em 21 famílias, enquanto as

Passeriformes apresentaram as outras 158 espécies distribuídas em 31 famílias. A maioria das

espécies pertence às famílias Thraupidae (28 espécies) e Tyrannidae (28 espécies). Entre as

espécies endêmicas da Mata Atlântica, 19 são Não-Passeriformes, destacando-se a saracura-do-

mato (Aramides saracura) (Figura 31) e o jacuguaçu (Penelope obscura) (Figura 32), visualmente

reconhecíveis e facilmente avistadas na região. Já entre os Passeriformes, são 58 espécies

endêmicas da Mata Atlântica, destacando-se os inconfundíveis tangará (Chiroxiphia caudata)

(Figura 33) e tangarazinho (Ilicura militaris) (Figura 34), que chamam a atenção não apenas pelas

cores chamativas, mas também pelo comportamento de corte singular, onde os machos fazem

arenas de danças para impressionar as fêmeas.

O município de Petrópolis possui uma grande diversidade de aves, levando em consideração os

dados publicados no Wikiaves, entre os anos de 1999-2021. São 426 registradas para esse

período, o que eleva o município ao sétimo colocado em biodiversidade de aves no RJ. Na escala

nacional, ocupa a 36ª posição entre os municípios com o maior número de espécies registradas.

Comparando esses dados com o conjunto de dados secundários, referentes ao recorte deste

estudo, a área proposta para a criação da UC poderia abarcar em torno (ou mais) de 57% desse

total de 426 espécies.

Além disso, a região tem potencial para abrigar uma das cinco espécies endêmicas do estado do

Rio de Janeiro, a saudade-de-asa-cinza (Lipaugus conditus) (Figura 35), uma das aves mais

ameaçadas de extinção do Brasil. A espécie é restrita a florestas nebulares, geralmente entre

1800-2000 metros de altitude, em montanhas de difícil acesso. Segundo informações de

observadores de aves que visitam a região da Serra da Maria Comprida, a espécie ainda não foi

avistada, porém, há áreas potenciais para buscas futuras, como a Pedra da Anta. Sendo esta uma

espécie muito vocal, consequentemente de fácil detecção, tornam-se necessários esforços na

tentativa de encontrar possíveis populações presentes nesta região.

Além da saudade-de-asa-cinza, a região tem potencial para abrigar algumas espécies restritas a

ambientes montanos e/ou campos de altitude, que não foram apontadas na lista de dados

secundários, mas que possuem registro para o município de Petrópolis (Wikiaves), tais como a

garrincha-chorona (Asthene moreirae) e choquinha-da-serra (Drymophila genei). Entretanto,

algumas espécies relacionadas ao ambiente montano foram apontadas nos diferentes estudos, tais

como o sanhaço-de-fogo (Piranga flava), o sanhaço-frade (Stephanophorus diadematus), o peito-

pinhão (Poospiza thoracica), a maria-preta-de-bico-azulado (Knipolegus cyanirostris), a maria-

Page 46: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

46

preta-de-garganta-vermelha (Knipolegus nigerrimus), o tucão (Elaenia obscura), o piolhinho-

serrano (Phyllomyias griseocapilla), o estalinho (Phylloscartes difficilis), a borboletinha-do-mato

(Phylloscartes ventralis), a saudade (Lipaugus ater), o corocoxó (Carpornis cucullata), a tovaca-de-

rabo-vermelho (Chamaeza ruficauda), o tapaculo-preto (Scytalopus speluncae), o chupa-dente

(Conopophaga lineata), o trovoada-de-bertoni (Drymophila rubricollis), a choca-de-chapéu-

vermelho (Thamnophilus ruficapillus), a tesoura-cinzenta (Muscipripa vetula) (Figura 36), o

verdinho-coroado (Hylophilus poicilotis) o beija-flor-de-topete-verde (Stephanoxis lalandi) (Figura

37), o beija-flor-de-garganta-rajada (Phaetornis eurynome), o bacurau-tesourão (Macropsalis

forcipata), o cuiú-cuiú (Pionopsitta pileata), entre outros mais.

Dado tamanha diversidade de espécies no município, a região é um dos principais destinos

turísticos para o público de observação de aves. Segundo as informações constantes no Wikiaves,

são 166 observadores de aves do município cadastrados no site. Algumas iniciativas de receptivo

ao público de observação de aves estão sendo feitas na região do estudo, como na Fazenda Canto

do Riacho.

Algumas espécies de potencial ocorrência para a região são alvos de gaioleiros. Um dos principais

alvos, o pixoxó ou pichanchão (Sporophila frontalis) (Figura 38) é espécie endêmica da Mata

Atlântica e ameaçada de extinção. Essa espécie faz movimentos migratórios acompanhando a

frutificação das taquaras nativas. Segundo relatos, quando há esses períodos de frutificação na

região da Serra dos Órgãos, dezenas de indivíduos da espécie são capturados e vendidos

ilegalmente.

Figura 31: Saracura-do-mato Aramides saracura.

Foto: João Rafael Marins

Figura 32: Jacuguaçu Penelope obscura. Foto: João Rafael Marins

Page 47: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

47

Figura 33: Tangará Chiroxiphia caudata.

Foto: João Rafael Marins

Figura 34: Tangarazinho Ilicura militaris.

Foto: João Rafael Marins

Figura 35: Saudade-de-asa-cinza Lipaugus conditus. Foto: Aisse Gaertner

Page 48: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

48

Figura 36: Tesoura-cinzenta Muscipipra vetula.

Foto: João Rafael Marins

Figura 37: Beija-flor-de-topete-verde

Stephanoxis lalandi. Foto: João Rafael Marins

Figura 38: Pixoxó Sporophila frontalis.

Foto: João Rafael Marins

6.2.2.3. Herpetofauna (anfíbios e répteis)

Os anfíbios e répteis formam um grupo proeminente em quase todas as comunidades terrestres.

Atualmente, são conhecidas 7.607 espécies de anfíbios (FROST, 2013) e 10.450 espécies de

répteis (UETZ & HOSEK, 2017), sendo que mais de 80% da diversidade dos dois grupos ocorrem

em regiões tropicais, cujas paisagens naturais estão sendo rapidamente destruídas pela ocupação

humana (RAMBALDI et al., 2003). A América do Sul contém, não só a maior riqueza, mas também

a maior densidade de espécies do mundo (DUELLMAN, 1999).

O Brasil apresenta uma das mais altas diversidades de espécies de anfíbios e répteis do mundo

(AMPHIBIAWEB, 2006), com cerca de 1080 espécies de anfíbios (22% das espécies do mundo) e

795 de répteis conhecidas (SBH, 2018). Na Mata Atlântica são conhecidas mais de 400 espécies

de anuros (DUELLMAN, 1999) e 200 de répteis (MMA, 2014), e muitas espécies ainda são

descritas a cada ano neste bioma (FEIO & FERREIRA, 2005). Essa grande riqueza da Mata

Atlântica se dá, em parte, à grande heterogeneidade de habitats que favorece a evolução de

Page 49: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

49

modos reprodutivos especializados (HADDAD & PRADO, 2005), sendo um grande número de

espécies, conhecidas apenas na sua localidade-tipo. Para o estado do Rio de Janeiro é

reconhecida a ocorrência de 201 espécies de anuros (DORIGO et al., 2018) e 148 de répteis (SBH,

2018), sendo 56 espécies de anuros (DORIGO et al., 2018) e 5 de répteis consideradas endêmicas

do estado (ROCHA et al., 2004).

Segundo o estudo de CARVALHO-E-SILVA et al. (2020), foram registradas 83 espécies com a

ocorrência para o Parque Nacional da Serra dos Órgão, portanto, considerada a região com a

maior biodiversidade de anuros de todo o Bioma Mata Atlântica (CARVALHO-E-SILVA et al., 2020).

A lista de espécies encontra-se no Anexo VI c. Segundo o estudo, dessas 83 espécies, 10 são

consideradas endêmicas do PARNASO, 18 têm a UC como localidade tipo e outras cinco da sua

zona de amortecimento.

As espécies que são consideradas endêmicas do PARNASO são: Ischnocnema erythromera,

Ischnocnema parnaso, Dendrophryniscus organensis, Cycloramphus organensis, Cycloramphus

stejnegeri, Fritziana izecksohni, Aplastodiscus flumineus, Aplastodiscus musicus, Ololygon melloi,

Hylodes pipilans. Já as que têm o PARNASO ou sua ZA como localidade tipo são: Ischnocnema

venancioi, Euparkerella cochranae, Fritziana goeldii, Gastrotheca albolineata, Aplastodiscus

arildae, Aplastodiscus leucopygius, Bokermannohyla carvalhoi, Bokermannohyla claresignata,

Ololygon albicans, Ololygon v-signata, Crossodactylus aeneus, Hylodes asper, Hylodes

charadranaetes. Portanto, cabem esforços na área de estudo a fim de tentar localizar essas

espécies, visto que se encontram na mesma região geográfica do PARNASO (Serra dos Órgãos).

Cabe ressaltar que o PARNASO abrange áreas não apenas no município de Petrópolis, mas

também em Guapimirim, Magé e Teresópolis, ou seja, onde há presente outras fitofisionomias de

Mata Atlântica além de ambientes montanos. Portanto, possivelmente, parte dessas 83 espécies

não são esperadas para a área de estudo, visto que ocorrem em ambientes de cotas altimétricas

mais baixas.

Dentre as espécies com registros para a região, destaca-se a Thoropa petropolitana (Figura 39). A

espécie é conhecida historicamente por ocorrer na região da Serra dos Órgãos em altitudes

superiores a 800m. Entretanto, não há registros da espécie na natureza desde a década de 80,

mesmo esforços empenhados em pesquisa, para a sua procura. Em consequência disso, a espécie

é categorizada como Em Perigo de Extinção (EN) na lista nacional de espécies ameaçadas de

extinção. Um dos locais com registros históricos é a APA Petrópolis, cujos limites se sobrepõem em

grande parte à UC proposta neste estudo.

Já para os répteis, segundo o estudo conduzido por GONÇALVES et al. (2007), no PARNASO,

foram identificadas 66 espécies, sendo 2 cágados, 20 lagartos, 43 serpentes e 1 anfisbena. Deste

total, o artigo aponta a ocorrência de 26 espécies para o município de Petrópolis. A lista de répteis

encontra-se no Anexo VI d.

Abaixo, nas Figuras 39 a 56 encontram-se algumas espécies de herpetofauna constantes no

Anexo VI c e no Anexo VI d com potencial ocorrência para a área de estudo:

Page 50: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

50

Figura 39: Rã-das-pedras Thoropa petropolitana.

*espécie ameaçada de extinção Foto: Eugênio Izechsohn

Figura 40: Rã-da-pedras Thoropa miliaris. Foto:

João Rafael Marins

Figura 41: Sapo-de-chifres Proceratophrys boiei.

Foto: João Rafael Marins

Figura 42: Sapo-cururuzinho Rhinella ornata.

Foto: João Rafael Marins

Figura 43: Rãzinha-piadeira

Adenomera marmorata Foto: João Rafael Marins

Figura 44: Rãzinha-do-folhiço Physalaemus signifer.

Foto: João Rafael Marins

Page 51: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

51

Figura 45: Perereca-de-pijama Boana polytaenia.

Foto: João Rafael Marins

Figura 46: Sapo-martelo Boana faber.

Foto: João Rafael Marins

Figura 47: Perereca-de-folhagem Phyllomedusa burmeisteri.

Foto: João Rafael Marins

Page 52: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

52

Figura 48: Cobra-d’agua Erythrolamprus miliaris.

Foto: João Rafael Marins

Figura 49: Cobra-da-cabeça-preta Elapomorphus quinquelineatus.

Foto: João Rafael Marins

Figura 50: Jararacuçu Bothrops jararacussu

Foto: João Rafael marins

Figura 51: Jararaca Bothrops jararaca.

Foto: João Rafael Marins

Figura 52: Suaçubóia Corallus hortulanus.

*espécie ameaçada de extinção Foto: Letícia Lütke Riski

Figura 53: Papa-lesmas Dipsas neuwiedii.

Foto: João Rafael Marins

Page 53: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

53

Figura 54: Calango Tropidurus torquatus.

Foto: João Rafael Marins

Figura 55: Cágado-pescoço-de-cobra-da-serra

Hydromedusa maximiliani. Foto: João Rafael Marins

Figura 56: Cobra-cipó-marrom Chironius fuscus.

Foto: João Rafael Marins

6.3. Uso e cobertura do solo

Foi realizado um mapeamento da cobertura vegetal e uso da terra que abrange toda a área de

estudo, gerado na escala cartográfica de 1:10.000 e 1:25.000 (indicadas para a saída do dado). As

classes correspondentes à vegetação de Mata Atlântica seguiram a indicação da Lei nº 11.428 de

22/12/2006, considerando os seus estágios sucessionais. As classes mapeadas foram: vegetação

secundária estágio médio e avançado (VGMA), vegetação secundária estágio inicial (VGSI),

vegetação rupícola, campos de altitude, silvicultura, afloramento rochoso, água, pastagem, área

Page 54: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

54

antrópica e urbano (área urbana de média e baixa densidade) (Figura 57). As áreas ocupadas

pelas classes mapeadas estão dispostas na tabela a seguir (Tabela 06), considerando a área de

estudo como um todo e também a área núcleo (proposta da ALERJ, 2020).

Figura 57: Uso do solo e cobertura vegetal da área de estudo.

Tabela 06: Áreas ocupadas pelas classes de cobertura vegetal e uso da terra

Classe mapeada

Área de

estudo

(ha)

Percentual da

classe na área de

estudo (área total

33.558,44 ha) (%)

Área núcleo

(ha)

Percentual da

classe na área

núcleo (área total

10.032,92 ha) (%)

VGSI 3320,48 9,89 721,87 7,19

VGMA 17980,18 53,57 6272,04 62,52

Vegetação rupícola 186,705 0,57 91,07 0,91

Campo de altitude 44,682 0,13 44,68 0,45

Page 55: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

55

Silvicultura 310,90 0,93 94,20 0,93

Afloramento

rochoso 3117,395 9,29 2166,72 21,60

Área Antrópica 456,977 1,36 1,13 0,01

Pastagem 6204,46 18,49 636,69 6,35

Urbano 1859,09 5,54 2,51 0,03

Água 78,055 0,23 0,45 0,01

De acordo com IBGE (2012), a fitofisionomia encontrada na área de estudo é a floresta ombrófila

densa montana e algumas partes alto-montana. A área ocupada por esta fitofisionomia representa

a soma das áreas classificadas com VGMA e VGSI totalizando 21.300,66 ha para área de estudo e

6.025,12 ha para área núcleo. A característica mais marcante de uma floresta alto-montana é o

dossel com aproximadamente 20 metros de altura, que se localiza nas proximidades e nos cumes

das montanhas com solos pedregosos, podendo apresentar acumulações turfosas nas depressões.

É integrada por árvores e arbustos com troncos e galhos finos, folhas miúdas, coriáceas e casca

grossa com fissuras (IBGE, 2012 e ALERJ, 2020).

Em relação à vegetação natural, encontramos também na área de estudo Campos de altitude e

vegetação rupícola. O IBGE (2012) considera toda e qualquer vegetação diferenciada nos aspectos

florístico e fisionômico-ecológico da flora dominante como um “refúgio ecológico” e este, muitas

vezes, constitui uma “vegetação relíquia”. Nestas áreas ocorrem espécies endêmicas, que

persistem em situações especialíssimas, como é o caso de comunidades localizadas em altitudes

acima de 1.600 metros, como encontramos na área núcleo e que no mapeamento foi classificado

como campos de altitude. Os refúgios ecológicos, condicionados por parâmetros ambientais muito

específicos, apresentam, via de regra, alta sensibilidade a qualquer tipo de intervenção (IBGE,

2012).

De acordo com ALERJ (2020), os Campos de altitude são típicos de cumes mais elevados de

montanhas que se soergueram principalmente durante o Terciário (Serras do Mar e da

Mantiqueira), estando geralmente situados acima de 1.500 m de altitude e associados a rochas

ígneas ou metamórficas, como, por exemplo, granito e gnaisse. Os campos de altitude da área em

tela exibem três tipos de comunidades vegetais, a das ilhas de vegetação nas encostas de rochas

alcantiladas, as dos solos rasos de planaltos reduzidos e as dos solos infrequentes mais profundos.

Neles o solo é escuro, turfoso e, às vezes, coberto com uma fina camada de areia esbranquiçada

de quartzo (ALERJ, 2020). A flora é diversificada. Nos campos de altitude acima de 1.600 metros,

em uma porção específica da área de estudo, foram encontradas, de acordo com MARTINELLI

(1989), 227 espécies de plantas, dentre as quais seis endêmicas: rabo de galo ou flor-da-imperatriz

Page 56: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

56

(Worsleya procera), cravina-do-campo (Prepusa coronata), o bambu (Glaziophyton mirable), as

mini-bromélias (Tillandsia grazielae e Tillandsia reclinata) e a bromélia (Pitcarnia glaziovii). ALERJ

(2020) indica que os botânicos A.G. Burman e A.G. e T.R Soderstrom consideraram Glaziophyton

mirabile como o bambu mais estranho do planeta devido as suas características singulares e

exclusivas, parecendo um junco.

Segundo IBGE, os afloramentos rochosos são aquelas áreas que não apresentam nenhum tipo de

vegetação, somente a rocha e quando ocorre alguma vegetação esta se encontra nas fendas ou

em outras situações, sendo identificada também como Refúgio Ecológico. Assim, a vegetação

classificada como vegetação rupícola no mapeamento é considerada como refúgio pelo IBGE

(2012).

A vegetação rupícola é formada pelas plantas que vivem nos paredões rochosos abaixo dos

campos de altitude. Os afloramentos rochosos do ERJ são reconhecidos por abrigar uma flora com

elevado número de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Nestes paredões, de acordo

com ALERJ (2020), nota-se ausência ou mínima profundidade do solo, baixa disponibilidade

hídrica, escassez de nutrientes, incidência de ventos, inclinação acentuada em alguns trechos,

exposição à insolação, e o calor de mais de 60°C, representando condições restritivas e limitantes

para o estabelecimento de espécies vegetais sobre rocha. Esta característica influencia a

composição florística, a forma de organização e as características adaptativas das plantas. As

plantas pioneiras herbáceas, isoladas ou em grupo com outras, formando tapetes sobre a rocha,

desempenham importante função ecológica, pois alteram o microclima e fornecem substrato para

germinação. Assim, esse conjunto de plantas facilita o estabelecimento de outras espécies

sucessoras menos tolerantes. Algumas dessas espécies menos tolerantes apresentam crescimento

lento e gradual, sendo conhecidos casos de espécies que levam 150 anos para crescer cinquenta

centímetros (ALERJ, 2020). Na Montanha da Pedra Comprida de Araras, conforme consta no

relatório realizado pela ALERJ (ALERJ, 2020) esta vegetação tem aparência singular, distribuindo-

se em faixas entre os sulcos na rocha nua, à semelhança de um campo lavrado.

6.4 Caracterização Socioeconômica

O município de Petrópolis, localizado na região serrana, é constituído de cinco (05) distritos:

Petrópolis, Cascatinha, Itaipava, Pedro do Rio e Posse. De acordo com o Censo 2010, o município

possui uma população de 295.917 habitantes e apresenta uma densidade demográfica de 371,85

hab/km² (IBGE, 2021). Petrópolis tem a posição demográfica mais destacada que os demais,

quando comparado aos municípios da região serrana, em função de sua base econômica mais

dinâmica e diversificada.

De acordo com PMP (2013), o crescimento populacional do município manteve-se bastante regular

e constante no período entre os Censos de 1940 e 2000, a partir do qual se estabeleceu uma

inflexão decrescente, acompanhando o mesmo movimento desse indicador relativo à Região

Metropolitana do Rio de Janeiro. Já a distribuição populacional destaca a predominância absoluta

do distrito Sede, atingindo montante maior do que o da soma dos demais distritos (Figura 58).

Cascatinha, o maior em superfície, assume o segundo lugar em população, por razões territoriais e

de proximidade com o distrito Sede.

Page 57: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

57

Figura 58: Crescimento populacional nos distritos de Petrópolis. Fonte: Prefeitura Municipal de Petrópolis (PMP)

(2013)

A população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2020 seria de

306.678 habitantes, apresentando um crescimento populacional de 3,6 % (10.761 habitantes) em

relação à população estimada de 2010 (IBGE, 2021). No Censo de 2010, Petrópolis ficou como o 9

º município de maior população do estado do Rio de Janeiro, mantendo a posição em 2020. De

acordo com INEA (2010) e PMP (2014), a população do município de Petrópolis é,

predominantemente, urbana na sede distrital e no distrito Cascatinha, enquanto os distritos com

maior população rural são Itaipava e Pedro do Rio (Tabela 07). Petrópolis é especialmente dotado

das condições locacionais, tecnológicas e técnicas para desempenhar um papel fundamental

nesse processo de produção rural, principalmente na área de orgânicos, e na qualificação de

produtores e produtos. Outro ponto forte do negócio rural no município é a reconhecida atuação na

criação e treinamento de equinos para corrida e salto (PMP, 2013). Petrópolis possui uma

participação feminina superior à masculina e a maioria da população encontra-se na faixa etária

entre 30 e 34 anos (IBGE, 2021).

Page 58: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

58

Tabela 07: Evolução Populacional (Petrópolis – Município, Sede e Distritos).

Fonte: Prefeitura Municipal de Petrópolis (2013)

De acordo com o IBGE (2021), o PIB per capita referente a 2018 foi de R$ 41.456,25 e o Índice de

Desenvolvimento Municipal (IEHM), referente a 2010, foi 0,745. O Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) do município, de acordo com o PNUD 2010 é de 0,745, considerado um valor alto, e

ocupa a 11º posição no ERJ (PMP, 2013). O Índice de Desenvolvimento Humano considera, além

da variável econômica (renda), tradicionalmente utilizada nas comparações do grau de

desenvolvimento entre países, variáveis que visam captar outros aspectos das condições de vida

da população, aos quais se atribuem pesos iguais àquele atribuído à renda, são elas: longevidade

(esperança de vida ao nascer), educação (número médio de anos de estudo e taxa de

analfabetismo) e renda (renda familiar per capita média ajustada). O IDH varia entre 0 e 1.

A Secretaria Estadual do Trabalho e Renda (SETRAB) realizou, no âmbito do Observatório

Econômico, o estudo denominado Panorama Municipal dos Indicadores Socioeconômicos e do

Mercado de Trabalho. Esse estudo considerou um período de análise de 2010 a 2018 e, para o

município de Petrópolis, indicou que o setor da indústria sofreu variações em relação ao ano

anterior. Assim, 2013, 2015, 2017 e 2018 representaram anos de queda, enquanto 2011, 2012,

2014 e 2016 foram anos de ascensão. O setor da Indústria em Petrópolis ficou em 5º colocado

entre os 22 municípios da Região Metropolitana (Figura 59), de acordo com análise do PIB de 2018

(SETRAB, 2014). O município de Petrópolis é grande exportador de serviços tecnológicos e de

mecânica leve, bebidas (cerveja – Bohemia e Itaipava, e água mineral - Nestlé), movelaria e têxtil

(fábricas de tecido e pólo de moda da rua Tereza e Bingen) (PMP, 2014).

No período analisado, o setor agropecuário teve aumentos anuais, com exceção dos anos de 2015,

2016 e 2017 (Figura 59). Mesmo com as quedas, o setor cresceu em 89,1% (25.565) durante a

Page 59: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

59

série com o menor absoluto em 2010 (28.705) e o maior em 2014 (69.390). Em 2018, o setor da

Agropecuária em Petrópolis ficou em 3º colocado entre os 22 municípios da Região Metropolitana

do ERJ (Figura 60).

Figura 59: Análise do PIB 2018 para Petrópolis. Fonte: SETRAB (2021)

Figura 60: Análise PIB 2018 para os Municípios da Região Metropolitana. Fonte: SETRAB (2021)

Page 60: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

60

Conforme disposto em SDE (2012), as transferências correntes da União para o município

cresceram 32% no período de 2011 a 2016, com aumento de 46% no repasse do Fundo de

Participação dos Municípios e de Outras referências. Já a evolução das transferências correntes do

ERJ foi de 18% neste período, sendo os responsáveis pelo crescimento o repasse do ICMS e o

aumento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação (FUNDEB).

Em relação ao repasse do ICMS Ecológico, Petrópolis ficou no 17º lugar e recebeu R$

4.728.482,64. O município melhor posicionado no ranking do ICMS Ecológico ganhou R$

11.346.5553,33. Os valores componentes do ICMS Ecológico, por categoria, repassados para

Petrópolis em 2020 foram: mananciais 0, tratamento de esgoto R$ 1.485.715,29, destinação de

resíduos 0, remediação de vazadouro 0, áreas protegidas R$ 3.205.528,80 e áreas protegidas

municipais R$ 37.238,55. As áreas protegidas somadas representam 68,68% do valor total

repassado para o município.

A taxa de escolarização, conforme o censo do IBGE de 2010, para a faixa entre os 6 e os 14 anos

de idade foi de 97,4%. Atendem ao município 204 estabelecimentos de ensino (ano referência

2018), sendo 163 de ensino fundamental e 41 de ensino médio.

No ensino de jovens e adultos, Petrópolis teve um total de 7.089 alunos matriculados em 2016,

sendo 56% na rede estadual e 36% na municipal. Na educação profissional são contabilizados 14

estabelecimentos. Existem duas universidades públicas, a Universidade do Estado do Rio de

Janeiro (UERJ), e a Universidade Federal Fluminense (UFF), ambas com nível de excelência

reconhecido nacionalmente. Há também na cidade uma unidade do Centro Federal de Educação

Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET‐RJ) e a Faculdade de Educação Tecnológica do

Estado do Rio de Janeiro (FATERJ), além das faculdades e universidades presentes no município,

dentre as quais destacam-se a Universidade Católica de Petrópolis a (UCP), Faculdade de

Medicina de Petrópolis (FMP), a Faculdade Arthur Sá Earp Neto e a Universidade Estácio de Sá. O

Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) oferece cursos de mestrado e doutorado,

gratuitos, nas áreas de Computação, Matemática, Biologia, Física e Engenharia (SDE, 2012). O

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) para os anos iniciais da rede pública é de

5,6 e para os anos finais 4,3 (ano referência 2017) (IBGE, 2021).

A rede de distribuição de água do município possui extensão total de 793 km, com volume de água

tratada por dia 38.534 m² e consumo diário de 27.989 m³ (IBGE, 2021). De forma independente, o

abastecimento é realizado com ligações diretas em córregos ou poços regionais. A empresa Águas

do Imperador é a responsável pelo tratamento e distribuição da água no município. Esta empresa

possui sete estações de tratamento de água (ETA), que são: Mosela, Bonfim, Montevideo,

Itaipava, Pedro do Rio, Secretário e Taquaril. Essas ETAs produzem 61,8 milhões litros por dia,

que garantem o abastecimento de 95% da população do município (ÁGUAS DO IMPERADOR,

2021).

Segundo o IBGE (INEA, 2010), 74,3% utilizam água proveniente de poços ou nascentes no próprio

terreno. No ano 2000, apenas 13% dos moradores tinham instalações sanitárias ligadas à rede

geral de esgoto. No município, são distribuídos 3.677 m³ de água diariamente. A quantidade de

esgoto coletado por dia é de 3.750 m3. Sobre o esgotamento sanitário, 82,1% dos domicílios

apresentam esgotamento sanitário adequado, considerando do tipo rede geral e fossa séptica. A

Page 61: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

61

rede coletora de esgoto é de 280 km e o volume tratado por dia 27.994 m³ (IBGE, 2021). De acordo

com a empresa Águas do Imperador, Petrópolis tem cinco estações de tratamento de esgoto (ETE)

que são ETE Palatino, ETE Quitandinha, ETE Piabanha, ETE Posse e ETE Corrêas, além de

outras 12 ETEs menores espalhadas por 12 bairros, 10 biodigestores e um biosistemas. Todas

essas estruturas juntas tratam 85% dos esgotos urbanos.

O melhor índice, no que tange ao saneamento do município, fica por conta da coleta de lixo, com

88,9% dos moradores com coleta por serviço de limpeza ou caçambas. Cerca de 12,5 toneladas de

lixo são coletadas diariamente. A coleta de lixo formal é realizada pela COMDEP – Companhia

Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis. O lixo é coletado semanalmente na maioria dos

povoados, e em Videiras é mantido um posto de coleta de material reciclado numa parceria com a

AMAVALE – Associação de Moradores e Amigos do Vale das Videiras (INEA, 2010 e PMP, 2014).

Segundo PMP (2014) o lixo coletado era disposto no aterro controlado de Pedro do Rio, que possui

capacidade para 300 ton/dia, sendo que o município recolhe diariamente 210 toneladas/dia. O

aterro sanitário intermunicipal, em Três Rios, previsto na formação do Consórcio Serrana II, que

permitiria a desativação do aterro de Pedro do Rio, já está em funcionamento.

Petrópolis é um dos destinos turísticos mais importantes da Região Serrana Fluminense e do ERJ.

O público é atraído pelo turismo histórico, gastronômico e de moda/têxtil. Por conta dos atrativos,

beleza cênica e condições ambientais do município, existem muitas casas de segunda

residência/veraneio, o que, indiretamente, gera emprego aos moradores da região. A soma de

todos esses recursos faz com que o município receba 1,6 milhões de visitantes por ano, gerando

emprego para cerca de 8.500 pessoas, fortalecendo o turismo ecológico e de aventura, cuja prática

vem se expandindo através da consolidação dos circuitos rurais (SDE, 2012). O município reúne

trilhas ecológicas e de aventura, com montanhismo, banhos de cachoeira, ciclismo, cavalgadas,

arvorismo, rapel e outros, podendo o turista visitar o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Pedra

do Açu, Cachoeira Véu da Noiva, Cachoeira Véu das Andorinhas, Pedra Comprida, Gruta do

Presidente e outras com vistas encantadoras.

O município de Petrópolis possui também uma agenda de eventos anuais com 11 comemorações

fixas que atraem turistas e visitantes, com uma população flutuante de 1.200.000 a 600.000 turistas

por ano, com frequência média de 34.615 pessoas por semana. O receptivo do município está

concentrado em 4.290 leitos distribuídos em 104 hotéis, pousadas, motéis e albergues (SDE,

2012).

De acordo com o site OngsBrasil (http://www.ongsbrasil.com.br/), as principais Ongs ambientais do

município são: Amigos da Mata (localidade de Secretário), Instituto Nacional e Tecnologia e Uso

Sustentável (centro de Petrópolis), Projeto Água (localidade de Itaipava), Secretaria Livre do Meio

Ambiente, e projeto Araras (localidade de Araras).

6.4.1. Patrimônio histórico-cultural

A Serra da Maria Comprida, além do seu extraordinário valor ambiental, que a qualifica para a

criação da uma unidade de conservação, possui excepcional relevância cultural do ponto de vista

histórico, paisagístico, natural, ecológico e científico, configurando-se como Patrimônio Cultural

Brasileiro, de acordo com a Constituição Federal de 1988 – CF 88 (artigo 216, inciso V).

Page 62: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

62

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

(...)

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Por ter sido alcançada pelo tombamento do Sistema Orográfico da Serra do Mar / Mata Atlântica

(Processo n.º E-18/000.172/1991), a Serra da Maria Comprida integra um bem natural, reconhecido

como Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro. Seu valor, do ponto de vista histórico,

cultural e paisagístico, foi também reconhecido no tombamento estadual dos Caminhos de Minas

(Processo n.º E-03/31486/1983), uma vez que o Caminho do Proença, que passa pela Serra da

Maria Comprida, faz parte desse tombamento, e será abordado a seguir.

Certamente, existem muitos sítios arqueológicos pré-históricos e históricos ao longo da Serra do

Mar, podendo ocorrer, inclusive, na Serra da Maria Comprida. Porém, até o momento, não há

registro de quaisquer desses sítios na área da referida serra, embora a região tenha sido habitada,

durante séculos pelos índios Coroados (pelo menos até as primeiras décadas do século XVIII).

Por volta do século XVIII, a montanha da Maria Comprida era conhecida como “sentinela de

pedra”, sendo uma referência geográfica aos tropeiros que partiam do fundo da Baía da Guanabara

para se aventurar no interior de Minas Gerais a procura de ouro e pedras preciosas (ALERJ, 2020).

6.4.1.1. Valor paisagístico, científico e ecológico

A área onde está sendo proposta a criação da unidade de conservação da Serra da Maria

Comprida, integrada a inúmeras unidades de conservação, é caracterizada por uma paisagem de

extraordinária beleza cênica, interagindo com as paisagens circundantes, de igual beleza1.

O tombamento da Serra do Mar / Mata Atlântica, referido acima, atribuiu valor aos atributos

culturais e naturais da região fluminense coberta pelo Bioma da Mata Atlântica. Cabe ressaltar que

com esse tombamento, que abrangeu a Serra da Maria Comprida, objetivou-se proteger o Bioma

da Mata Atlântica, seus elementos de grande importância ecológica e científica, também seus

monumentos e sítios naturais notáveis por sua excepcional beleza.

6.4.1.2. Patrimônio geológico

A Serra da Maria Comprida tem ainda significativa importância do ponto de vista da geologia e da

geomorfologia, que muito contribuem para o valor paisagístico do sítio.

O Pico da Maria Comprida é provavelmente o mais belo e impressionante monumento geológico de

Petrópolis. Embora não seja a montanha mais alta, seus 1.926 metros de altitude chamam a

atenção na paisagem local.

1Caminhos da Serra do Mar, travessia mãe do Brasil. Pedro da Cunha e Menezes e Leandro Goulart. Disponível em:<

https://www.oeco.org.br/colunas/pedro-da-cunha-e-menezes/caminhos-da-serra-do-mar-travessia-mae-do-brasil/>. Acesso em 21 jun 2021.

Page 63: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

63

As montanhas do complexo em que se insere o Pico Maria Comprida são verdadeiros monumentos

geológicos, devido a sua imponência e ao grande volume de rochas graníticas expostas em suas

íngremes escarpas, que abrigam nascentes de importantes bacias hidrográficas. Por causa do

grande desnível das escarpas, da qualidade e volume de rocha exposta, e das enormes fendas

que cortam os maciços, o conjunto de montanhas da região tornou-se uma referência da escalada

em grandes paredes do Brasil, sendo também reconhecidas internacionalmente por sua

importância geomorfológica, ígnea e tectono-estrutural. O Pico e o conjunto montanhoso têm

elevada importância para proposição à UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade ou

como Geoparque, também pela UNESCO.

6.4.1.3. Valor histórico - Caminho do Proença

O Caminho do Proença, também conhecido como Variante do Caminho Novo, Caminho de

Inhomirim e Atalho do Proença, foi aberto no século XVII na vizinhança leste da área de estudo. O

caminho foi incluído no tombamento estadual dos Caminhos de Minas (INEPAC), o que levou ao

reconhecimento de seu valor histórico como patrimônio cultural estadual.

Ele foi inventariado no Projeto Inventários de Bens Culturais Imóveis – Desenvolvimento Territorial

dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro, no qual foram registrados os vestígios

materiais – paisagísticos e arquitetônicos – remanescentes dos antigos Caminho do Ouro,

Caminho do Café, Caminho do Açúcar e Caminho do Sal, que contribuíram para a ocupação do

território fluminense. Nesse importantíssimo trabalho, o Caminho do Proença integrou o inventário

do Caminho do Ouro.

Aberto por Bernardo Soares de Proença, entre 1722 e 1723 como alternativa ao Caminho Novo,

razão pela qual foi denominado como Variante do Caminho Novo, o Caminho do Proença partia do

antigo Porto da Estrela, no fundo da Baía de Guanabara, de onde subia a Serra da Estrela em

direção a Minas Gerais.

Acrescente-se que o Caminho do Proença, o Caminho Novo e o Caminho Velho formavam a

Estrada Real, aberta pela Coroa Portuguesa no Século XVIII para conduzir as riquezas de Minas

Gerais (ouro e diamante) até os portos do Rio de Janeiro, razão pela qual ficaram conhecidos

como caminhos reais.

Inicialmente, a Estrada Real ligava a antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, ao porto de Paraty, no Rio

de Janeiro. Esse trajeto, utilizado a partir de 1694, foi depois chamado de Caminho Velho. Em

1701, foi aberto o Caminho Novo, como opção mais rápida e fácil que o Caminho Velho. Porém,

anos mais tarde, o Caminho do Proença tornou-se a opção preferida por tropeiros e viajantes no

Século XVIII, percorrendo a subida da Serra da Estrela em terreno menos íngreme e, assim,

encurtando o trajeto e o tempo de viagem.

6.4.1.4. Valor como itinerário histórico-cultural e turístico

A região da Serra da Maria Comprida insere-se, ainda, em dois importantes roteiros de interesse

histórico-cultural. Com a finalidade de valorizar o rico patrimônio remanescente ao longo das

estradas reais, entre elas, o Caminho do Proença, foi criado em 2001 o Projeto “Estrada Real”,

tornando-se um dos principais roteiros turístico-culturais do país. A região integra ainda a rota dos

“Caminhos da Serra do Mar”, uma travessia de longa duração, com inúmeras trilhas, cachoeiras,

Page 64: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

64

belas paisagens, com abundantes e diversificadas espécies da fauna e da flora e locais históricos

de grande interesse para o turismo cultural. Esse itinerário procura integrar diversas unidades de

conservação do mosaico da Mata Atlântica como meio de assegurar uma estratégia de

conservação por meio do uso público dos espaços.

A escalada do Pico da Maria Comprida é uma grande atração para os interessados em ecoturismo.

Já foi considerada impossível até ser alcançada pelo montanhista Emérico Hungar, o mesmo que,

pioneiramente, atingiu o do cume do Garrafão, na Serra dos Órgãos.

Em 1922, no Pico da Maria Comprida, foi criada a primeira via de escalada no Brasil a sobrepujar

os mil metros de altura pelos alpinistas Alex Ribeiro, Rafael Wojcik e Jorge Fernandes, com 1.040

metros de altura. Uma trilha dura, íngreme e com vinte e dois trechos que exigem o uso de corda.

Dentre esses trechos, a passagem dos Camelos é mais bonita e desafiadora, por atravessar uma

estreita passarela entre dois abismos com vários obstáculos (Figuras 61 e 62).

Figuras 61: Trilha da escalada

Fonte: http://www.gentedemontanha.com /escalada/maria-comprida-1040-metros-de-escalada/)

Figura 62: Passagem dos Camelos

(Fonte:http://www.cariocadventure.com.br/mariacomprida.asp).

6.4.2. Caracterização das ações antrópicas na área

O diagnóstico de ações antrópicas proposto teve como base os processos de licenciamento

ambientais estaduais e municipais em Petrópolis. O levantamento de processos estaduais

abrangeu processos abertos entre 1994 e 2021, tendo sido identificadas 78 licenças vigentes e 397

licenças em aberto (em análise). Somente as licenças vigentes foram passíveis de espacialização.

Essas licenças foram classificadas com base em temas principais, conforme a Tabela 08 abaixo.

Page 65: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

65

Tabela 08: Classificação das licenças estaduais vigentes na área do município de Petrópolis por tipologia de atividade

Atividade licenciada/autorizada %

Projeto de remediação de área degradada 11,54

Perfuração ou tamponamento de poços tubulares 12,82

Captação de água 16,67

Tipologias diversas 58,97

Dos 397 requerimentos “em aberto”, apenas 340 tinham informação sobre a atividade licenciada

e/ou tipo de licenciamento. A partir de classificação das licenças com informação sobre atividade

ou o tipo de licença podemos chegar aos percentuais apresentados na Tabela 09.

Tabela 09: Classificação dos processos de licenciamento estaduais em aberto, na área do município de Petrópolis, por tipologia de atividade

Atividade licenciada/autorizada %

Abastecimento de combustíveis líquidos em postos com tanques subterrâneos

1,51

Certidões Ambientais 1,51

Implantação de loteamento residencial, comercial e misto

1,76

Outorga de direito de uso de recursos hídricos 1,76

Faixa marginal de proteção 2,01

Abastecimento de combustíveis líquidos em postos com tanques subterrâneos e de GNV

2,52

Captação de água de poço, exceto água mineral 2,52

Outros serviços executados em prédios e domicílios, não especificados ou não classificados

2,77

Construções novas e acréscimos de edificações 6,04

Atividade não informada 20,32

Tipologias diversas 57,28

Page 66: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

66

No que tange aos licenciamentos municipais, existem 58 licenças, de acordo com planilha cedida

pela PMP. Os principais tipos de empreendimentos licenciados estão na Tabela 10.

Tabela 10: Classificação das licenças municipais de Petrópolis por tipologia de atividade

Atividade licenciada/autorizada %

Implantação de rede de distribuição de rede de energia elétrica

8,62

Implantação de grupamento residencial (uni ou multifamiliar)

10,34

Comércio varejista de combustíveis (posto de gasolina)

12,01

Tipologias diversas 69,03

Das 78 licenças estaduais vigentes, 35 estão localizadas na área de estudo e nenhuma na área

núcleo (proposta ALERJ), conforme disposto na Figura 63. Das licenças municipais informadas,

sete (7) estão localizadas na área de estudo, correspondendo às seguintes atividades: implantação

de rede de abastecimento de água; implantação de grupamento residencial multifamiliar;

preparação de concreto, argamassa e reboco; reforma e construção de galpão industrial e

comércio varejista de combustíveis (posto de gasolina).

Na área núcleo, foram identificadas apenas licenças para implantação de rede de distribuição de

rede de energia elétrica e implantação de adutora (Figura 63). Ou seja, para a área inicialmente

proposta para a UC (núcleo), não foram identificados licenciamentos que inviabilizam sua criação.

Mesmo tendo sido identificadas intervenções pontuais de rede de energia e adutora, é importante

esclarecer que o fornecimento de serviços públicos, como água e energia, é considerado de

utilidade pública, nos termos do art. 3º, inciso VIII da Lei nº 12.651/2012. Portanto, não haveria

impedimento quanto a essas atividades, inclusive por serem também pretéritos à criação da UC.

Além do mais, o SNUC prevê a necessidade de prévia autorização do órgão gestor quando a

“instalação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia e infra-estrutura urbana em geral”

ocorre em UCs ou zonas de amortecimento (Art. 46 da Lei nº 9.985/2000).

Cabe, ainda, comentar que na área de estudo e na área núcleo foram identificados alguns

processos de outorgas de direito de uso de recursos hídricos (dados Inea). No mesmo contexto

explicado acima, a criação de um Monumento Natural em si não seria empecilho para emissão

desses instrumentos, tanto pelo fato de se tratarem de atividades prévias à criação da unidade,

quanto pelo fato da categoria prever a permanência de propriedades particulares, como abordado

no item 10 deste estudo.

O SNUC também dispõe sobre uso de recursos hídricos em UC, determinando que:

Page 67: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

67

“órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica” (Art. 47 da Lei nº 9.985/2000).

Figura 63: Cartograma de localização de processos de licenciamento do Inea (processos vigentes) e da

Prefeitura de Petrópolis presentes na área de interesse.

6.4.3. Caracterização fundiária

Para a caracterização fundiária preliminar da área de estudo, foi utilizada a base de dados do

Cadastro Ambiental Rural, disponível em https://www.car.gov.br/#/ .

O critério estabelecido para a classificação dos imóveis foi o número de módulos fiscais de cada

um deles. Essa classificação é definida pela Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993(2) e leva em

conta o módulo fiscal, que varia de acordo com cada município, e contempla as seguintes

classes:

Minifúndio: imóvel rural com área inferior a 1 módulo fiscal;

2 Fontes:

https://www.gov.br/incra/pt-br/assuntos/governanca-fundiaria/modulo-fiscal

Page 68: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

68

Pequena Propriedade: imóvel com área entre 1 e 4 módulos fiscais;

Média Propriedade: imóvel rural de área superior a 4 e de até 15 módulos fiscais;

Grande Propriedade: imóvel rural de área superior a 15 módulos fiscais.

O valor do módulo fiscal no Brasil varia de 5 a 110 hectares. Já o valor do módulo fiscal no

município de Petrópolis é 10 hectares. A Figura 64 apresenta as classes de módulos fiscais para

a área de estudo.

Figura 64: Classificação dos imóveis na área de estudo com base na Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de

1993.

A partir do uso de ferramentas de análise espacial foi possível concluir:

1. A área de estudo tem aproximadamente 33.560 hectares e a área dos imóveis já inscritos

no CAR que se encontram dentro dessa área de estudos é de aproximadamente 11.300 ha,

o que equivale a cerca de 33,7% da área de estudo. Estes imóveis se encontram

distribuídos pelas classes encontradas na Tabela 11, abaixo:

Page 69: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

69

Tabela 11: Classificação dos imóveis inseridos na área de estudo de acordo com o número de

módulos fiscais.

Classe Área (ha) %

Minifúndio 457,84 4,04

Pequena propriedade 978,5 8,64

Média propriedade 3913,75 34,5

Grande propriedade 5971,0 52,74

TOTAL 11.321,09 100

2. Os limites da UC inicialmente propostos no PL tem área aproximada de 10.000 ha, e os

imóveis já inscritos no CAR nele inseridos perfazem aproximadamente 5.000 ha, o que

equivale a cerca de 50% desse limite preliminar, e se encontram distribuídos pelas classes

encontradas na Tabela 12, abaixo:

Tabela 12: Classificação dos imóveis inseridos na área núcleo de acordo com o número de módulos fiscais.

Classe Área (ha) %

Minifúndio 69,3 1,37

Pequena propriedade 249,8 4,94

Média propriedade 1104,32 21,83

Grande propriedade 3634,63 71,86

TOTAL 5.058,05 100

Essas informações irão proporcionar uma melhor interlocução do Inea com os proprietários, e

deverão ser objeto de análise e detalhamento futuros, durante o processo de planejamento da

gestão da UC proposta.

6.4.4. Potencial para uso público

Petrópolis integra a Região Turística da Serra Verde Imperial, constituindo um importante destino

turístico do estado, devido aos seus atrativos culturais e naturais e a proximidade com a capital

(ALERJ, 2020). Juntamente com Angra dos Reis e a capital Rio de Janeiro, foi um dos três

municípios do estado a integrar uma lista nacional de 21 municípios brasileiros considerados

destinos tendência para 2021. A lista dos municípios mais buscados para o ano foi divulgada

Page 70: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

70

recentemente pelo Ministério do Turismo, com base nos principais sites de pesquisa do setor, além

de publicações e dos destinos que se alinham à demanda do turista pós-covid, que tende a

valorizar o turismo doméstico. A gestão municipal do turismo é realizada pela Secretaria Municipal

de Turismo (https://www.petropolis.rj.gov.br/turispetro/).

Petrópolis oferece variadas experiências culturais, atividades ao ar livre e espaços para compras,

contando também com dezenas de atrações naturais. A infraestrutura de hospedagem abrange

dezenas de estabelecimentos, contemplando hotéis, apart-hotéis, pousadas, hostels e campings.

Há centenas de restaurantes de comida brasileira e internacional, além de cervejarias, vinícolas,

churrascarias, pizzarias, lanchonetes, creperias, lojas de tortas e doces, cafeterias e lojas de

produtos artesanais (ALERJ, 2020). No endereço eletrônico da Secretaria Municipal de Turismo é

possível encontrar a relação de estabelecimentos e indicações de “onde dormir” e “onde comer” no

município.

Vale destacar, também, a existência de diversas lojas de artigos esportivos direcionados aos

adeptos das atividades ao ar livre, como o montanhismo e o ciclismo. A cidade é palco das

principais provas de trail run (circuitos de corrida de rua) do Brasil, como a XC RUN, a APTR Ultra

Videiras e a World Trail Run, além de provas de ciclismo, sendo, inclusive, o possível palco da

Copa do Mundo de Mountain Bike (MTB) em 2022. O ciclista petropolitano Henrique Avancini,

terminou o ano de 2020 como o número 1 do ranking mundial de Mountain Bike, é o atual campeão

brasileiro da modalidade, além de ser atleta olímpico. Por esse motivo é considerado Embaixador

do Ecoturismo da cidade.

O estudo apresentado pela ALERJ (2020) destaca como atrações em seu interior e entorno

próximo:

● Montanhas com trilhas e picos que proporcionam vistas panorâmicas magníficas;

● Paredões rochosos propícios para escaladas e rapel;

● Campos de altitude e remanescentes Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro;

● Fauna nativa;

● Rios, córregos e cachoeiras com águas límpidas;

● Pequeno canyon do Rio Pequeno;

● Estradas propícias para cicloturismo e cavalgadas;

● Pousadas e Hotéis fazendas;

Dentre o rol de atividades que podem ser praticadas pelos visitantes estão: apreciação de

paisagens e vistas panorâmicas, observações astronômicas, avistamento de fauna, banho de rios e

cachoeiras, caminhadas, escaladas, ciclismo (frequente nas estradas do entorno). Vale destacar o

potencial da região para o desenvolvimento do Geoturismo, considerado por alguns como um

segmento do Ecoturismo, que vem despontando como uma nova tendência mundial em termos de

turismo alternativo, representando uma oportunidade para a ampliação da oferta turística e,

Page 71: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

71

principalmente, para a ampliação do potencial da UC na sensibilização do visitante para a proteção

do patrimônio natural.

As áreas mais visitadas são as das cachoeiras e poços, com destaque para a Cachoeira e Poço da

Rocinha, Cachoeira da Ponte Funda, Cachoeira das Sete Quedas e as cachoeiras do Rio Maria

Comprida. As trilhas de montanhas e os mirantes também são muito visitados, com destaque para

as da Pedra do Maria Comprida, Pedra da Cuca, Pedra de Itaipava, Pedra do Por do Sol, Morro do

Palmares e Morro da Mensagem, entre outras.

São inúmeras trilhas de diferentes níveis de esforço, desde aquelas com poucas centenas de

metros de extensão, que dão acesso a mirantes, poços e cachoeiras, até às que ascendem nas

íngremes encostas das montanhas ou que possuem dezenas de quilômetros de extensão, como as

travessias Araras x Secretário, Araras x Videiras, Maria Comprida x Monte de Milho, entre outras.

Devido aos gigantescos afloramentos rochosos verticais, as paredes de pedras são muito

procuradas para a prática da escalada. A face sul da Pedra da Maria Comprida foi palco da

primeira via de escalada no Brasil, que ultrapassou os mil metros de extensão, a Maria Nebulosa,

conquistada no ano de 2002. Outro ponto muito procurado pelos escaladores é o “Totem” que é

uma gigantesca protuberância rochosa na encosta da Pedra Roxa.

A Tabela 13 apresenta uma relação dos principais atrativos, trilhas e travessias existentes na área

núcleo e no seu entorno imediato.

Tabela 13 - Relação dos principais atrativos, trilhas e travessias

Cachoeiras/Poços Outros Atrativos Trilhas e travessias

Cachoeira das Sete Quedas Cachoeira da Ponte Funda Cachoeira e Poço da Rocinha Cachoeiras do Rio Maria Comprida Cachoeira e Poço do Brás Cachoeira e Poço Verde Cachoeira e Poço São Pedro

Pedra Maria Comprida

Pedra João Grande

Morro da Covanca

Pedra Joãozinho

Morro da Mensagem

Pedra de Itaipava

Morro do Palmares

Pedra da Cuca

Serra das Antas

Pedra Roxa (Totem)

Monte de Milho

Pedra Azul ou Morro do Careca

Morro Kronenochsberger (Pirâmide)

Pedra do Capim Roxo

Mirante da Cuca

Pedra Pedro Pequeno

Pedra do Por do Sol

Pedra Comprida de Araras (CEP 70)

Pedra do Vilarejo

Trilha da Pedra Maria Comprida - via Araras Trilha Maria Nebulosa (escalada Maria Comprida) Trilha da Pedra João Grande Trilha do Morro da Covanca Trilha da Pedra Joãozinho Trilha da Pedra de Itaipava Trilha do Morro do Palmares Trilha da Pedra da Cuca Trilha do Poço do Brás Trilha do Monte de Milho Trilha da Pedra Azul ou Morro do Careca Trilha do Kronenochsberger (Pirâmide) Trilha de acesso Deuses Trilha da Pedra do Vilarejo Trilha do Morro do Deck Trilha das cachoeiras do Rio Maria Comprida Trilha do Morro do Por do Sol Trilha da Antena Trilha Serra das Antas Via

Page 72: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

72

Pedra da Imperatriz Morro do Deck

Monte de Milho Trilha Serra das Antas via Palmares Trilha Serra das Antas x Maria Comprida Travessia Jussara Travessia da Pedra da Imperatriz Travessia Araras x Secretário Travessia Araras x Videiras + Palmares Travessia Pedra de Itaipava x Pedra do Pôr do Sol Travessia João Grande x Joãozinho Travessia Morro da Mensagem x Pedra de Itaipava Giga travessia de Petrópolis

Volta do Mona da Serra da Maria Comprida via Poço da Rocinha

6.5. Identificação das restrições legais já estabelecidas para a área do estudo

A Serra da Maria Comprida já apresenta uma série de restrições legais ao seu uso, protegendo a

biodiversidade local, e limitando a plena utilização direta de seus recursos pelos proprietários de

terras. Os principais instrumentos que já estabelecem alguma restrição são o Plano de Manejo da

APA Petrópolis, a Lei Municipal de Uso, Parcelamento e Ocupação do Solo, a Lei de Proteção da

Vegetação Nativa (antigo Código Florestal) e a Lei da Mata Atlântica. Outros documentos, embora

não estabeleçam restrições diretas, indicam a importância da área para conservação, como a

presença do Mosaico Central Fluminense e o mapeamento de áreas prioritárias para conservação

da SEA/INEA (2010).

Dessa forma, como já comentado no início deste estudo, a criação de uma nova unidade de

conservação, mesmo de proteção integral, não tem o propósito de criar mais impedimentos ao

território, mas sim de fortalecer as regras já existentes e de somar esforços para a conservação da

área. A seguir, é apresentado um breve resumo de limitações do uso da terra já em vigor:

● Lei da Mata Atlântica (Lei Federal nº 11.428 de 22/12/2006): Em seus artigos 20 a 23 veda

o corte e a supressão da vegetação nativa primária e secundária em seus estágios

avançado e médio de regeneração, exceto em caráter excepcional;

● Lei de Proteção da Vegetação (antigo Código Florestal - Lei Federal nº 12.651 de

25/05/2012): Estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de

Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal. Estabelece restrições para

ocupação das áreas de preservação permanente, como as faixas marginais de proteção,

entornos de nascentes, declives de 45º ou mais e topos de morro, além de áreas acima de

1800m; estabelece um percentual de 20% das propriedades rurais que devem ser

preservadas como reserva legal em territórios de Mata Atlântica; determina restrição para

Page 73: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

73

uso e ocupação de novas áreas que tenham inclinação entre 25º e 45º (áreas de uso

restrito).

Convém destacar análise realizada à luz da Lei nº 12.651/2012, tendo sido verificado que cerca de

4.000 ha (aproximadamente 40% da área núcleo) são compostos por áreas de preservação

permanente - APP de 5 diferentes tipologias (Figura 65). Ademais, por volta de 5.800 ha são

compreendidos por áreas de uso restrito (AUR) e de reservas legais (RL), representando cerca de

60% da área núcleo (Figura 66). Aglutinando as áreas de APP, RL e AUR e retirando possíveis

sobreposições, chegamos ao resultado de quase 80% da área núcleo (7.803 hectares), que são

compostos por áreas com alguma restrição ambiental.

● Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis (2009):

Define diferentes restrições de uso no seu território, de acordo com o zoneamento

estabelecido, sendo as mais restritivas as Zonas de Preservação e Zonas de Conservação

da Vida Silvestre (Figura 67);

● Lei Municipal de Uso, Parcelamento e Ocupação do Solo (Lei Municipal nº 5.393, de

25/05/1998): Apresenta zonas de maior restrição, como a Zona de Preservação Especial -

ZPE, onde não são permitidas edificações.

Figura 65: Áreas de Preservação Permanente (APP) da área núcleo.

Page 74: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

74

Figura 66: Áreas de uso restrito (AUR) e de reservas legais (RL) da área núcleo.

Page 75: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

75

Figura 67: Sobreposição das zonas restritivas da APA Petrópolis e a área de estudo

6.6. Identificação dos serviços ambientais

A criação de uma unidade de conservação, inclusive da categoria Monumento Natural proposta no

PL, também visa a garantir a perpetuidade de importantes serviços ambientais. A manutenção da

floresta “em pé” e do bom funcionamento dos ecossistemas, por exemplo, garante a integridade e

renovação constante do solo, reduzindo os riscos de deslizamento de encostas, a taxa de

assoreamento de rios e córregos e os riscos de enchentes. Assim, contribui-se com a qualidade

dos cursos de água, permitindo recarga dos aquíferos subterrâneos, ajudando a manter as 618

potenciais nascentes e os mais de 800 Km de rios identificados dentro da área de estudo (Figura

68).

Uma área natural protegida também contribui para a pureza do ar, regulagem do clima local,

incluindo umidade e conforto térmico, fatores importantes para a qualidade de vida dos habitantes

do entorno. Já a proteção da biodiversidade, ao garantir a sobrevivência e interação das diferentes

espécies da fauna e flora, auxilia a manter um ecossistema equilibrado e funcional, atuando no

controle de pestes agrícolas e de vetores de doenças. A beleza cênica e os atrativos naturais são

serviços que não somente beneficiam moradores e visitantes, mas estimulam a pesquisa científica

e o turismo consciente.

Dessa forma, os serviços prestados pela natureza também possuem estreita interface com as

atividades econômicas importantes em Petrópolis, sendo a qualidade do ambiente fundamental

Page 76: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

76

para os cultivos agrícolas, em especial dos orgânicos, ou mesmo para o turismo, gerando renda

para guias e condutores e aquecendo o comércio local. Não se pode deixar de destacar a

relevância da indústria cervejeira na região, que depende diretamente de água de qualidade, sendo

a natureza a única provedora dessa matéria prima.

Figura 68: Recursos hídricos da área núcleo.

6.7. Eventos críticos e ameaças

Ao se propor a criação de uma área protegida, e até mesmo para embasar as ações futuras de

gestão, é imprescindível reconhecer os principais eventos críticos e ameaças que ocorrem no

território. Para compreensão deste item é importante que trabalhemos considerando conceitos

comuns.

De acordo com CASTRO (2021):

● Evento crítico: Evento que dá início à cadeia de incidentes, resultando no desastre, a menos

que o sistema de segurança interfira para evitá-lo ou minimizá-lo;

Page 77: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

77

● Desastre: Corresponde ao resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo

homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou

ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais;

● Erosão: Desagregação e remoção do solo ou de rochas, pela ação da água, vento, gelo

e/ou organismos (plantas e animais) ou ação antrópica;

● Ameaça: Risco imediato de desastre, prenúncio ou indício de um evento desastroso, evento

adverso provocador de desastre, quando ainda potencial, ou estimativa da ocorrência e

magnitude de um evento adverso, expressa em termos de probabilidade estatística de

concretização do evento (ou acidente) e da provável magnitude de sua manifestação;

● Risco ambiental: Possibilidade de dano, enfermidade ou morte resultante da exposição de

seres humanos, animais ou vegetais a agentes ou condições ambientais potencialmente

perigosas, causadas ou não pelo homem.

Considerando a área em estudo, destacam-se os seguintes eventos críticos ou ameaças:

● Incêndios florestais;

● Coleta de plantas ornamentais para comercialização;

● Erosões em estradas e trilhas, podendo desencadear movimentos de terra;

● Alastramento de espécies vegetais invasoras;

● Pastoreio e pisoteio de bovinos e equinos, que são criados soltos em áreas de campos de

altitude, onde ocorrem espécies endêmicas/ameaçadas (Figuras 69 e 70);

● Uso público desordenado, decorrendo em pisoteio da vegetação, erosão de trilhas, descarte

inadequado de resíduos sólidos, entre outros, reduzindo a qualidade ambiental de atrativos

(como o poço da Rocinha, por exemplo);

● Poluição por diversas fontes, impactando principalmente a qualidade da água;

● Caça;

● Pressão aos ambientes naturais por conta do processo de expansão urbana, com o avanço de

construções e possível aumento de áreas com supressão de vegetação.

Page 78: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

78

Figura 69: Pastoreio de equinos sobre espécies

da flora ameaçada na área de estudo. Foto: Felipe Tubarão.

Figura 70: Rastros de equinos sob indivíduos de

Prepusa connata. Foto: Felipe Tubarão.

Alguns desses temas merecem destaque, como os incêndios florestais. Segundo CAMARGO

(2019), a área de estudo está inserida em uma zona de alta suscetibilidade a incêndios. O mapa de

susceptibilidade produzido por este autor baseou-se na integração de condicionantes a partir da

aplicação de um modelo de ponderação adaptado, o qual indica os níveis de influência de cada

condicionante na ocorrência de incêndios florestais. As condicionantes adotadas foram: uso da

terra; temperatura; precipitação; declividade; altimetria e orientação das encostas. Segundo o

autor, os distritos de Pedro do Rio e Posse representaram a maior porção do território susceptível a

este tipo de evento, de acordo com a Figura 71. O mapeamento de risco apresentou convergência

entre os focos de calor registrados pelo INPE e as ações da defesa civil municipal, confirmando os

distritos de Pedro do Rio e Posse como os mais vulneráveis aos eventos de incêndio, devido à

proporção de sua área classificada com alta susceptibilidade e concentração de focos de calor em

seus territórios.

Page 79: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

79

Figura 71: Mapa de Suscetibilidade a Incêndios Florestais no município de Petrópolis. Quadrangular destacando aproximadamente a área de estudo. Fonte: CAMARGO (2019) adaptado pelos autores.

Neste cenário, um estudo apresentado pelo ICMBio (2016) corrobora com CAMARGO et al. (2019),

uma vez que, entre os anos de 2007 e 2016, identificou um total de 229 focos de calor no município

de Petrópolis. Deste total de focos, ao menos 120 estariam localizados na porção do território

petropolitano que foi selecionada no presente documento como área de estudo. Dessa forma,

segundo o ICMBio (2016), aproximadamente 52% dos focos de calor registrados para Petrópolis

encontram-se inseridos na região proposta para a implantação da UC da Serra da Maria Comprida.

Convém registrar também que, nos últimos anos, ocorreram alguns incêndios florestais de grandes

proporções nas regiões de Secretário, distrito de Pedro do Rio, e Araras, no distrito de Itaipava

(Tabela 14).

Page 80: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

80

Tabela 14: Incêndios florestais que ocorreram nas localidades de Secretário e Araras, município de Petrópolis.

Data Local Área afetada/nº

ocorrência Causa

indicada Fonte

6 a 11 de setembro de 2020

Regiões de Itamarati, Boa Vista, Itaipava, Vale das Videiras, Correas,

Dr. Thouzest, Pedro do Rio, Caxambu,

Secretário e Posse.

81 ha. 15 ocorrências.

Ação antrópica

(fogueiras) + clima seco com baixa umidade

https://www.diariodepetropolis.com.br/integra/fogo-

destruiu-area-correspondente-a-81-

campos-de-futebol-em-secretario-185567

2020 Regiões de Itaipava

e Bonfim

673 ha Rebio Araras e 447 ha no

Parnaso. Dados UCs

14 de outubro de

2014

Distritos de Petrópolis,

Secretário e Itaipava - mais afetados.

18 ocorrências

http://g1.globo.com/rj/regiao-

serrana/noticia/2014/10/fogo-chega-bem-perto-de-

casas-na-regiao-de-secretario-em-petropolis.html

Durante o período de 7 a 10 de setembro de 2020, os bombeiros apagaram mais quatro incêndios

florestais de menores proporções em uma área de mata às margens da Estrada União e Indústria,

na altura do número 12.470, no distrito de Itaipava; na Estrada Retiro das Pedras, próximo ao

número 541, e na Estrada Eldorado, próximo ao cemitério de Secretário, ambos em Pedro do Rio;

e no fim da tarde do dia 10, um foco de fogo em vegetação na Rua Bartolomeu Sodré, no

Caxambu, no primeiro distrito do município de Petrópolis (Fonte:

https://www.diariodepetropolis.com.br/integra/fogo-destruiu-area-correspondente-a-81-campos-de-

futebol-em-secretario-185567).

Outro tema dentre os eventos críticos e ameaças que deve ser ressaltado consiste na expansão

urbana desordenada. De acordo com PMP (2014), o assunto não é recente, mas desde o século

XIX já havia preocupações envolvendo aspectos ambientais de Petrópolis e a ocupação humana

(Decreto Imperial nº 155, de 16/03/1843). Com o passar dos séculos, a dinâmica de crescimento

das áreas urbanas foi seguindo uma diretriz em que primeiro o território era desmatado,

posteriormente entrava a agricultura e em seguida a cidade se estabelecia. Com isso, as áreas

mais apropriadas para edificações foram desaparecendo e a expansão imobiliária subiu os morros

(PMP, 2014).

Por falta de alternativas, as classes menos favorecidas também contribuíram para as alterações da

paisagem no município, ocupando encostas e margens de rios, aumentando os riscos naturais

oriundos das cheias recorrentes e de deslizamentos. Nas encostas os padrões construtivos variam,

Page 81: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

81

mas os riscos resultantes da instabilidade do solo são constantes, especialmente nas declividades

mais acentuadas como, por exemplo, nos talvegues (PMP, 2014).

Assim, a instalação de casas populares e condomínios em áreas inadequadas tem provocado o

desencadeamento de uma série de problemas ambientais, agravados pela inexistência de uma

legislação urbanística em sintonia com as limitações físicas, ou quando, apesar de sua existência,

ela não consegue ser colocada em prática de forma eficaz, como é o caso da área urbana,

estabelecida no 1º e 2º distritos de Petrópolis (PMP, 2014 e GUERRA et al., 2007).

Por características naturais do relevo, a expansão urbana avançou sistematicamente para porções

próximas a rios e em encostas cada vez mais íngremes. Assim, avanço do processo de

urbanização implicou em mais supressão de vegetação nativa para estabelecimento de residências

e, na área rural, de fazendas, sítios e chácaras, que ao longo do tempo viraram condomínios de

primeira e segunda residência.

Com este panorama delineado e em evolução mais acentuada desde os anos 80, temos um

município com características físicas propícias (geomorfologia e clima) a movimentos de massa e

inundações. Esse fator, somado ao avanço da expansão urbana, à conversão de áreas rurais e a

eventos extremos, causados direta ou indiretamente pelas mudanças climáticas, temos um

resultado de risco significativo para população, vide as chuvas de 2011.

7. Análise integrada do diagnóstico

7.1. Análise Kernel para definição do Limite do MONA da Serra da Maria Comprida

A elaboração do limite de uma unidade de conservação é realizada de acordo com critérios

técnicos. Estes critérios orientam as áreas que serão incluídas ou não incluídas na proposta para

criação da UC, ou seja, analisam a relevância das informações presentes na área em avaliação.

O estudo levou em consideração a relevância ecológica dos fenômenos, os objetivos ali presentes,

e o risco inerente ao ambiente e à população, considerando o mapeamento dos campos de

altitude, afloramento rochoso e áreas suscetíveis a escorregamentos e enxurradas.

Para definir a relevância de cada dado espacial, executou-se uma Análise Kernel, a qual atribui

pesos de 1 a 10 para cada camada a partir das análises feitas por uma equipe de

técnicos especialistas nos temas.

7.2. Critérios para inclusão

Foram utilizadas 19 camadas divididas em 9 grupos de acordo com a Tabela 15 abaixo:

Page 82: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

82

Tabela 15: Camadas e pesos considerados na Análise Kernel

Grupo Camada Peso

atribuído

Áreas de Preservação Permanente

Declividade >45° 10

Topo de Morro 9

Altitude > 1800 9

Nascentes 50m 9

Restrição Áreas de Uso Restrito 25° a 45° 8

Cartas de Suscetibilidade a

Movimento de Massa e Inundação

Corrida de Massa 8

Movimento de Massa 10

Enxurrada 10

UCs

ZVS - APA Petrópolis 8

ZPP 3 e ZPC 3 8

RPPNs 2

Licenciamento Licenças Municipais 1

Licenças Estaduais 1

Uso Público Atrativos 7

Dados de Flora Espécies Ameaçadas 10

Espécies Endêmicas 10

CAR Áreas Consolidadas 5

Uso e Cobertura

Vegetação em Estágio Médio Avançado, Rupícola e Campos de

Altitude. 7

VGSI 6

Pastagem 5

Silvicultura 1

Urbano 1

Áreas Antrópicas Não Agropastoris 1

Page 83: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

83

Dentro da análise, as camadas de relevante interesse para inclusão receberam pesos de 6 a 10.

Analisando com base nos pesos atribuídos, destacam-se três dados que tiveram atribuição máxima

no valor (peso 10): Espécies Endêmicas, Espécies ameaçadas e Áreas de Preservação

Permanente por declividade, esta última por se tratar de uma região com histórico de

deslizamentos.

Já as camadas com peso correspondente a 9, tem-se as Áreas de Preservação Permanente de

topo de morro e de nascente, e as Áreas de Uso Restrito (Lei Federal nº 12.651/2012 - Capítulo III).

Com peso igual a 8, tem-se os dados referentes às cartas de suscetibilidade a movimentos

gravitacionais e inundação que são representadas em três camadas: Corrida de Massa, Movimento

de Massa e Enxurrada. Também estão com este valor de peso as zonas mais restritivas do Plano

de Manejo da APA Petrópolis: Zona de Vida Silvestre, Zona de Proteção do Patrimônio Natural -

Preservação e Zona de Proteção do Patrimônio Natural - Conservação.

As classes do Uso e Cobertura mais relevantes como Vegetação em Estágio Médio Avançado (Lei

da Mata Atlântica), Afloramento Rochoso, Rupícolas e Campos de Altitude ficaram com valor 7,

assim como os atrativos naturais para visitação.

À classe de Vegetação em Estágio Secundário Inicial atribuiu-se peso 6, pois são áreas em

regeneração natural, possibilitando um incremento na vegetação. Mesmo não apresentando

desenvolvimento ecológico pleno, têm importância ecológica, pois abriga espécies de fauna e flora,

servindo como corredor, trampolim ecológico e proteção do solo.

7.3. Critérios para não inclusão.

Estes Critérios contemplaram as camadas com peso entre 1 e 5.

A pastagem teve seu peso igual a 5, pois se trata de uma classe do uso que precisou ser analisada

de duas formas para verificar a pertinência de não inclusão: inicialmente, as pastagens em si não

têm relevância ecológica considerável, porém, caso sejam corredores em meio a fragmentos

florestais, é interessante que estejam inseridos na unidade, para mitigar eventuais impactos sobre

a fauna e a flora local, favorecendo a regeneração florestal e possibilitando a conectividade entre

os fragmentos.

As classes de silvicultura, urbanas de diferentes densidades e as áreas antrópicas não

agropastoris (áreas de mineração, solo exposto, construções esparsas etc.) obtiveram peso

equivalente a 1, por serem áreas prioritárias no quesito não inclusão na área proposta para UC.

7.4. Análise do Resultado

O resultado foi obtido por meio da metodologia do mapeamento de calor, que demonstrou a

concentração de critérios de acordo com a atribuição dos pesos, conforme ilustrado na Figura 72 a

seguir. O resultado foi apresentado nas seguintes classes: muito alta, alta, média e baixa

prioridade.

Page 84: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

84

Figura 72: Análise Kernel

Para a área em estudo foi indicado nível alto e muito alto de relevância ecológica com 97,3% e 2%,

respectivamente. Tal fato se justifica por grande parte da cobertura do solo se enquadrar às

classes com grande peso para inclusão como VGMA (Vegetação Estágio Médio /Avançado),

62,52%, e afloramento rochoso (21,6%), classes de cobertura natural que se caracterizam por

estarem próximas ou em ápice de desenvolvimento ecológico, podendo abrigar refúgios

vegetacionais com espécies relíquias ou endêmicas (VELOSO et al., 1991) que foi identificado na

área núcleo por LOYOLLA et al., 2018.

Outra classe importante para inclusão na unidade é o VGSI (Vegetação Estágio Inicial), típica de

bordas de fragmentos. São áreas em regeneração ou com algum nível de degradação. Apesar de

não estarem em seu nível de desenvolvimento ecológico pleno, segundo (PRIMACK &

RODRIGUES, 2001) pode servir de abrigo para espécies da flora e fauna, como corredores e

trampolins ecológicos para outros fragmentos.

Analisando APPs, observou-se que elas ocupam 40% da área núcleo, correspondendo a 4.022 ha.

Este percentual corresponde às classes de VGMA e afloramento, o que justifica que áreas a que

essas classes estejam sobrepostas têm prioridade muito alta e alta para inclusão.

O uso restrito também entrou como um fator de alta priorização com algo em torno do peso 8. Essa

classe não permite conversão de áreas de naturais para uso antrópico, apesar de permitir uso

Page 85: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

85

agrossilvipastoril em áreas que já sejam antrópicas. Correspondeu a 1,03% em Rupícola, 0,28%

em Campo de Altitude, 24,48% em Afloramento Rochoso e 59,57% em VGMA.

Em uma análise mais detalhada, pode-se observar áreas de média e baixa prioridade de inclusão

nas bordas da área núcleo, correspondendo a 5%. Essas áreas, em sua maioria, correspondem a

pastagens, contudo, sua inserção se justifica pela presença de risco de movimento de massa e

enxurradas principalmente nos quadrantes C, D e F.

No caso das áreas de baixa prioridade no quadrante B, elas se justificam principalmente no

estabelecimento de conectividade com outros fragmentos que não estão inseridos na proposta,

algo importante para promover a diversidade ecológica da área núcleo e dos fragmentos do

entorno segundo LAUSCH et al 2015.

Em relação às áreas de muito alta prioridade, onde se destacam os quadrantes D e E

principalmente, estão as classes de VGMA, afloramento, espécies endêmicas e ameaçadas.

Com o resultado final da análise, conclui-se que a região possui uma relevante importância devido

à coalescência tanto de fatores ecológicos como a presença significativa de vegetação em estágio

médio avançado, e também de fatores de risco. Tais aspectos demandam forte controle da gestão

ambiental e planejamento territorial. Dessa forma, faz-se necessário o uso de mecanismos de

proteção e limitação, tendo a criação e implementação de UC papel fundamental neste propósito.

8. Identificação das vantagens para o município abrangido e população local

A criação de uma unidade de conservação traz diversas vantagens para o município, não apenas

no contexto ambiental, mas também no econômico. Além do incremento no repasse de ICMS

ecológico, destaca-se o potencial fortalecimento da cadeia produtiva local e principalmente do

turismo. De um modo geral, uma nova área protegida pode atuar como atrativo, aumentando o

número de visitantes/turistas, e ampliando a oferta de produtos turísticos com valores agregados.

O turismo de natureza tem um papel muito importante em Petrópolis. A cidade possui cinco

circuitos constituídos, chamados de eco rurais, dentre eles o Circuito Secretário e o Circuito Araras-

Videiras. Ambos são integrados à área de estudo, oferecendo diversos serviços como passeios de

Jeep, passeios de triciclo, aluguel de quadriciclo, aluguel de bicicletas, guiamento e condução de

visitantes em trilhas e atrativos naturais, entre outros. No endereço eletrônico da Secretaria

Municipal de Turismo é possível encontrar a indicação de alguns passeios em veículos e de

bicicleta, assim como a relação de agências de viagens e guias de turismo, com indicação

daqueles que já atuam com o ecoturismo ou turismo de natureza

(https://www.petropolis.rj.gov.br/turispetro/passeios).

A criação da unidade de conservação proposta representará uma oportunidade de consolidação

dessa modalidade de turismo na região, assim como de sua ampliação dentro de uma perspectiva

sustentável. Será incentivado o encontro equilibrado e seguro do homem com a natureza, seja para

os que curtem a contemplação e admiração, como também para os que fazem desse encontro uma

Page 86: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

86

filosofia de vida, dentro das suas mais variadas vertentes (lazer, turismo ou esporte). Vale destacar

o potencial da região para o desenvolvimento do Geoturismo, como já falado anteriormente, e a

relação existente entre o ambiente natural da região e as demais modalidades de turismo, como o

turismo gastronômico e cultural, o que leva a ampliar ainda mais a importância da criação da

unidade de conservação para a economia local.

O crescimento do turismo na área em estudo, e os conflitos já identificados decorrentes desse

crescimento, indicam a necessidade do desenvolvimento de ações articuladas entre os diferentes

atores envolvidos, incluindo o poder público.

A implantação do Programa Estadual de Guias e Condutores em Unidades de Conservação,

instituído pela Resolução INEA n° 61, de 04 de outubro de 20123, é um exemplo de ação a ser

implantada com a criação da UC, representando uma oportunidade para solução de conflitos,

associado à geração de renda e à qualificação dos serviços prestados, tendo como consequência a

melhoria na experiência de visitação, assim como na vida dos moradores do local.

A criação e implementação da UC pode viabilizar a captação de recursos e facilitar sua utilização

para fins de interesse público e coletivo, como a sinalização, por exemplo. É o caso das

autorizações para uso de imagens e realização de eventos, que geram contrapartidas (bens ou

serviços) utilizadas na gestão de unidades de conservação estaduais (Decreto Estadual nº 36.930

de 14 de fevereiro de 2005).

No que tange ao ICMS Ecológico, é apresentada, a seguir, uma simulação do impacto na

arrecadação do imposto, a partir da criação de uma UC da categoria Monumento Natural na região,

categoria proposta no PL nº 3.209/2020. Com a criação do Monumento Natural Serra da Maria

Comprida (Figura 73), e utilizando-se um limite preliminar de 9.011,20 hectares, o município de

Petrópolis passará a ter 20 Unidades de Conservação, totalizando aproximadamente 46.692,98

hectares. A APA da Região Serrana de Petrópolis, para fins de cálculo de ICMS Ecológico, terá

sua dimensão redefinida de 30.038.41 hectares para 23.007,0 hectares, porém estes 7.031

hectares de sobreposição com a nova UC, irão proporcionar um incremento no repasse de

recursos ao município, por se tratar de categoria de unidade de conservação mais protetiva.

Com relação aos valores estimados de repasse do ICMS Ecológico em função da criação do

MONA Serra da Maria Comprida, e tomando como base os dados do ano fiscal 2021, o município

de Petrópolis teria um incremento anual de aproximadamente R$ 197.000,00. Cabe ressaltar que,

num primeiro momento, essa nova UC apresenta um Grau de Conservação (GC) com pontuação

máxima de 4 pontos, e seu Grau de Implementação (GI) iniciando com a pontuação mínima de 1

ponto, ou seja, ao longo dos anos existe a possibilidade de aumento na arrecadação de ICMS

Ecológico com a melhoria dos indicadores que compõem o Grau de Implementação da unidade.

3 Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/cs/groups/public/documents/document/zwff/mda2/~edisp/inea_006668.pdf

Page 87: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

87

Figura 73: Lista de unidades de conservação do município de Petrópolis com a inserção do Monumento

Natural da Serra da Maria Comprida (Fonte: SEAS/SUBCLIM/SUPCON, 2021)

9. Identificação das oportunidades para o sucesso da implementação da UC

Desde o início da década de 2000 o extinto IEF/RJ que, juntamente com as extintas FEEMA e

SERLA deram origem ao INEA em 2007, já começava a incorporar ao seu planejamento novas

estratégias para a implementação das unidades de conservação sob sua gestão, e a

sustentabilidade dessas.

Dentre as principais estratégias, destaca-se a estruturação e o ordenamento da visitação, a

formulação de parcerias com atores locais, a execução dos primeiros projetos com recursos de

compensação ambiental previstos na Lei nº 9.985/2000 e, a partir de 2009, a implementação do

Fundo da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro (FMA-RJ). Instituído pela Lei Estadual nº

6.572/2013, e aprimorado pela Lei Estadual nº 7.061/2015, o FMA não é um Fundo, na acepção

jurídica do termo, mas um mecanismo operacional e financeiro de conservação da biodiversidade

(SEAS, 2013).

No que tange à esfera municipal, quanto ao possível suporte financeiro à UC, é relevante citar a Lei

Municipal n° 8.130, de 20 de abril de 2021, regulamentando o Fundo Municipal de Conservação

Ambiental de Petrópolis. Dentre a prioridade para a aplicação dos recursos do FMCA, estão as

ações de criação, manutenção e gerenciamento de unidades de conservação. Além disso, o art. 6°

da lei prevê a destinação para o FMCA de, pelo menos, 10% do repasse do ICMS Ecológico. Tal

fato representa importante oportunidade para as UCs, considerando que as mesmas contribuem

diretamente nos valores arrecadados pelo imposto.

No âmbito da gestão estadual, é importante destacar a publicação do Decreto nº 42.483 de 27, em

maio de 2010, que estabelece diretrizes para o uso público nos parques estaduais; a publicação da

Resolução INEA n° 61, em 04 de outubro de 2012, que implementou o Programa Estadual de

Page 88: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

88

Guias e Condutores em Unidades de Conservação (citada no item 8); e a criação da Gerência de

Visitação, Negócios e Sustentabilidade do INEA (GERVINS), em 2015.

Uma das linhas de ação da referida gerência, está voltada à estruturação da visitação e

sustentabilidade econômica das UCs administradas pelo INEA, podendo-se destacar o Projeto de

“Consolidação da Gestão do Uso Público nas Unidades de Conservação Estaduais do Estado do

Rio de Janeiro" com período de execução entre 2015 e 2017”, que teve por objetivo Incrementar a

gestão da visitação, para a melhoria da qualidade do uso público e desenvolvimento da

sustentabilidade econômica nas unidades de conservação do estado do Rio de Janeiro, assim

como os seguintes objetivos específicos:

● Ordenar a visitação e as atividades de uso público nas unidades de conservação estaduais

do Rio de Janeiro;

● Consolidar a rede de guias e condutores de visitantes credenciados das unidades de

conservação estaduais do Rio de Janeiro;

● Consolidar o Programa Voluntariado Ambiental;

● Planejar concessões de serviços e espaços que ofereçam uma melhoria da qualidade da

visitação e contribuam para sustentabilidade econômica da área protegida;

● Desenvolver projetos e programas integrados com instituições públicas e privadas e

organizações da sociedade civil, objetivando a sustentabilidade das Áreas Protegidas;

● Fortalecer a gestão do conhecimento da visitação nas áreas protegidas Estaduais do Rio de

Janeiro;

● Prover as Unidades de Conservação de material promocional para divulgação e marketing.

Por meio do projeto, foi implementada a rede de eco-contadores do estado, que monitora a

visitação nas unidades de conservação estaduais através de contadores automáticos, subsidiando

a elaboração de políticas e a melhoria da gestão das UCs. Vale destacar, também, a construção do

site http://parquesestaduais.inea.rj.gov.br, direcionado à divulgação dos parques do Estado do Rio

de Janeiro, a institucionalização dos programas Vem Passarinhar (observação de aves) e Vem

Pedalar (cicloturismo) e do Programa de Voluntário Ambiental do INEA, a produção de mapas

turísticos e folders de observação de aves de 12 (doze) UCs/RJ, a produção de guias de trilhas de

03 (três) UCs/RJ, dentre outras ações.

Uma segunda linha de ação que vem sendo trabalhada e, que poderá futuramente auxiliar na

implementação da UC, está relacionada à regulamentação dos serviços ambientais prestados

pelas áreas protegidas, em especial as temáticas previstas nos arts. 46, 47 e 48, da Lei n°

9.985/2000, visando o aporte de recursos para a sustentabilidade econômica das UCs.

Art. 46. A instalação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia e infraestrutura urbana em geral, em unidades de conservação onde estes equipamentos são admitidos depende de prévia aprovação do órgão responsável por sua administração, sem prejuízo da necessidade de elaboração de estudos de impacto ambiental e outras exigências legais.

Parágrafo único. Esta mesma condição se aplica à zona de amortecimento das unidades do Grupo de Proteção Integral, bem como às áreas de propriedade privada inseridas nos limites dessas unidades e ainda não indenizadas.

Page 89: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

89

Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.

Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e distribuição de energia elétrica, beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica” (BRASIL, 2000).

Uma terceira linha de ação está associada à consolidação de parcerias com os diversos atores que

atuam na região. Um exemplo claro, e relacionado à categoria Monumento Natural, diz respeito à

possibilidade de concretização de acordos com os proprietários de terras inseridas total ou

parcialmente na UC, e que encontra sustentação nos arts. 25 a 29 do Decreto n° 4.340/2002.

Como exemplo, tem-se as explorações comerciais de serviços ligados à visitação, recreação e ao

turismo.

Além das potencialidades de auxílio na implantação da UC supracitadas, existem outras

possibilidades concretas de:

● Formalizar parceria do INEA com a Prefeitura de Petrópolis e com o ICMBIo por convênio

administrativo e/ou termo de cooperação, visando o apoio mútuo para gestão, uma vez que

a área proposta para a nova UC estadual está parcialmente sobreposta à APA Petrópolis e

totalmente inserida no município de Petrópolis. Ademais, destaca-se que a gestão

integrada, com base na premissa dos mosaicos de áreas protegidas, pode favorecer a

unidade proposta, ao considerarmos que grande parte do entorno da área núcleo, encontra-

se sob proteção da APA Petrópolis e, nos demais trechos não inseridos na UC federal,

existe proposta de criação da Área de Proteção Ambiental Municipal do Vale das Videiras.

Assim, considerando a localização de tais UCs, em relação à área núcleo, ambas as

unidades de uso sustentável poderão sobrepor o futuro território da zona de amortecimento

da UC estadual, garantindo regramentos específicos e maior potencial de conservação.

● Estabelecer parcerias do INEA com proprietários rurais por meio de termo de compromisso

mútuo, como forma de materializar as disposições da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio

de 2012 e a Lei Federal nº 9.985/2000. Para mais, considerando as características da área

de estudo, associadas às premissas legais da tipologia de UC - Monumento Natural, a

gestão da futura unidade pode inovar com a proposição de um selo de qualidade ambiental,

dedicado aos produtos das atividades rurais, previstas legalmente, que sejam oriundas de

propriedades ambientalmente adequadas e que tenham sido objeto dos referidos termos de

compromisso mútuo.

● Oficializar parceria com o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) para o

levantamento, mapeamento e desenvolvimento de pesquisas e produções sobre o

patrimônio cultural protegido pela futura UC, em especial os bens tombados e os caminhos

históricos.

Page 90: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

90

● Formar parcerias com instituições científicas e de educação para ampliação do

conhecimento sobre a biodiversidade, a geodiversidade e a sociodiversidade da UC. Além

disso, é possível o aproveitamento de parcerias formais entre o INEA e instituições de

ensino, como por exemplo, a Universidade Estácio de Sá, para dotar a unidade com

estagiários/pesquisadores.

● Promover o programa de voluntariado ambiental como oportunidade para o envolvimento

dos cidadãos na gestão do meio ambiente e de contribuição para mudanças positivas na

relação da sociedade com a natureza, bem como, ampliar o rol e gama de atividades

promovidas pela UC.

● Efetivar parceria com a Federação de Montanhismo, com as associações de esportes de

aventura e com os Clubes de Montanhismo, para o planejamento, ordenamento e fomento

às atividades de uso público, em especial no tocante ao manejo e estruturação dos

atrativos. Em Petrópolis, considerando a experiência em outras unidades de conservação

administradas pelo INEA, podemos citar como potenciais parceiros o Centro Excursionista

Petropolitano e a Associação dos Ciclistas de Petrópolis.

● Estimular a sociedade, como sugerido pela ALERJ (2020), a criar uma “associação de

amigos do monumento natural, principalmente para mobilizar voluntários para diversas

atividades como patrulhamento, limpeza e recuperação de trilhas, remoção tecnicamente

guiada de espécies exóticas vegetais e captar recursos de empresas para desenvolver

projetos, como em muitos países”;

● Estabelecer parcerias locais com as associações comunitárias, os coletivos e institutos

existentes em Petrópolis, principalmente os atuantes na área de estudo, como, por

exemplo, a Associação de Moradores do Vale das Videiras, o Instituto Caminho da Roça, o

Projeto Água e o Projeto Araras.

Para mais, em um primeiro momento, logo após a criação da futura UC, de modo a se adequar às

restrições financeiras e operacionais, a estrutura administrativa e a equipe específica da unidade

de conservação poderão utilizar, conjuntamente, as sedes do REVIS Serra da Estrela e/ou da

Reserva Biológica de Araras. Inclusive, a DIRBAPE e GERUC adotam diretrizes de gestão das

UCs por regionais, incentivando que haja colaboração e apoio mútuo entre as unidades de uma

determinada região (no caso em tela, região Serrana).

Contudo, recomenda-se que sejam envidados esforços do Inea e das instituições parceiras

(ICMBio e município de Petrópolis), a fim de garantir sede, infraestrutura e equipe próprias para a

unidade, componentes imprescindíveis diante das peculiaridades do território e da categoria.

10. Definição da categoria da UC

O Projeto de Lei n° 3.209/2020, com base no estudo "Subsídios para o Estudo Técnico de Criação

do Monumento Natural da Serra da Maria Comprida - MONA/SMC” (ALERJ, 2020) (Anexo III),

propõem o Monumento Natural como categoria de manejo da unidade de conservação (UC) a ser

Page 91: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

91

criada.

Os Monumentos Naturais (MONA) são unidades de conservação de proteção integral, cujo objetivo

básico é preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.

Segundo DUDLEY et al. (2008), todas as unidades de conservação, incluindo os MONA, devem ter

alguns objetivos balizadores, tais como:

● Preservar a composição, estrutura, função e o potencial evolutivo da biodiversidade;

● Contribuir para estratégias regionais de conservação;

● Manter a diversidade de paisagens ou habitats, e de espécies e ecossistemas associados;

● Ser de tamanho suficiente para garantir a integridade e manutenção a longo prazo de

objetivos de conservação especificados ou expansíveis para atingir tal objetivo;

● Preservar características significativas da paisagem, como a geomorfologia e geologia;

● Fornecer serviços ambientais, incluindo mitigação dos impactos da mudança do clima;

● Fornecer benefícios recreativos e facilitar atividades de pesquisa científica.

Internacionalmente, a discussão sobre os MONA teve início na década de 1940. No Brasil, as

primeiras propostas de regulamentação desta categoria de unidade de conservação remontam ao

final da década de 1960 (PUREZA et al.,2015).

Ainda no contexto internacional, o MONA enquadra-se na Categoria III do Sistema de Áreas

Protegidas proposto pela IUCN (ALERJ, 2020), e tem como objetivo e característica principal:

“proteger um monumento natural específico, que pode ser uma formação de terra, uma montanha subaquática, um caverna subaquática, uma característica geológica, como uma caverna, ou mesmo um item vivo como uma floresta antiga. Geralmente são áreas protegidas bem pequenas e muitas vezes são de grande valor para os visitantes” (DUDLEY et al., 2008).

Apesar da sugestão internacional de que os MONA protejam pequenas áreas, fato que comumente

gera certas dúvidas, a legislação brasileira que versa sobre as unidades de conservação4, não

prevê tal fato. Inclusive, em uma breve análise no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação

(MMA, 2019) é possível encontrar, ao menos, 07 Monumentos Naturais, sob gestão federal,

estadual e municipal, com mais de 5.000 hectares de área, sendo o maior deles o MONA das

Árvores Fossilizadas do Estado do Tocantins, com aproximadamente 32.000 hectares.

Com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), promulgado pela Lei nº

9.985/2000, a tipologia Monumento Natural passa a ser regulamentada com o objetivo básico de

“preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica” (BRASIL, 2000).

Apesar de enquadrar o MONA no grupo de proteção integral5, o SNUC, seguindo os princípios

previstos pela União Internacional para a Conservação da Natureza6, prevê a possibilidade da

existência de algumas atividades humanas na UC (Tabela 16) e, consequentemente, a

manutenção de propriedades particulares em seu interior. A condição é que seja possível

4 Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 e Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002.

5 “O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos

seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei” (BRASIL, 2000). 6 “El término “natural” que aquí se emplea puede referirse tanto a rasgos completamente naturales (el uso más frecuente)

pero a veces también a rasgos que se han visto influenciados por los seres humanos” (DUDLEY, et al., 2008).

Page 92: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

92

compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais pelos

proprietários.

Assim, segundo o art. 12 da Lei nº 9.985/2000 - SNUC:

“§ 1o O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.

§ 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei” (BRASIL, 2000).

Neste sentido, o PL prevê a celebração “com os proprietários de áreas nos limites do Monumento

Natural Serra da Maria Comprida, um termo de compromisso contendo direitos e deveres de ambas

as partes, com o objetivo de compatibilizar as atividades desenvolvidas por estes com os objetivos

da Unidade de Conservação (Art 6° do PL 3209/2020)”.

Tabela 16: Atividades permitidas nos Monumentos Naturais

Categoria Criação

de Animais

Agricultura Extrativismo

não- madeireiro

Extração de

Madeira Turismo Visitação Pesquisa

Monumento Natural

Sim* Sim* Não Não Sim Sim Sim

Fonte: PALMIERI et al. (2008). *Vide art. 31° da Lei 9.985/2000.

Salienta-se que, tanto DUDLEY et al. (2008), quanto PUREZA et al. (2015), citam que existe

grande similaridade entre os MONA e os Parques, sendo a necessidade de desapropriação a

principal diferença entre eles. Recentemente, frente à dificuldade estatal de desapropriação das

propriedades inseridas nas unidades de conservação de domínio público, a criação de UC das

categorias como os MONA e os Refúgios de Vida Silvestre (RVS) tem sido adotada pelo Poder

Público como estratégia para dirimir possíveis conflitos fundiários e tensões socioambientais. Tal

fato pode ser evidenciado nos últimos anos no território fluminense, com a criação, em 2016 e

2017, de cinco RVS e quatro MONA, enquanto, no mesmo período, foram criados apenas três

Parques (MMA, 2019).

Assim como nos Parques, as atividades de visitação, pesquisa e educação ambiental também são

previstas para os MONA. Contudo, considerando a previsibilidade legal da manutenção de

propriedades particulares no interior da UC, caberá “ao proprietário estabelecer as condições de

pesquisa e visitação pública dentro de sua propriedade, observadas as restrições legais”

(PALMIERI et al., 2005), devendo estar de acordo com o plano de manejo da área protegida.

O § 3º do art. 12 da Lei nº 9.985/2000 determina que:

“A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento” (BRASIL, 2000).

Page 93: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

93

No Brasil, a criação de Monumentos Naturais está associada ao conceito de patrimônio, ligado, ao

mesmo tempo, a componentes naturais de relevância, como a biodiversidade e a geodiversidade,

também elementos culturais que se relacionam com a paisagem e aos atributos naturais (COUTO

& FIGUEIREDO, 2019; ALERJ, 2020). Entretanto, ainda segundo COUTO & FIGUEIREDO (2019),

no tocante à criação de UC no país, existe a predominância dos critérios ligados à biodiversidade

em relação à geodiversidade7, sendo a categoria de MONA a mais usada pelo Poder Público para

proteção do Patrimônio geológico-geomorfológico. Tal fato pode ser evidenciado na pesquisa de

COUTO & FIGUEIREDO (2019) que identificou que a geodiversidade representa 76% dos atributos

principais que subsidiaram a criação dos MONA brasileiros.

Considerando as premissas culturais no cerne da categoria MONA, destacamos que a Serra da

Maria Comprida é qualificada como patrimônio cultural em conformidade com a Constituição

Brasileira de 1988, uma vez que a área estudada integra importantes tombamentos realizados pelo

Estado do Rio de Janeiro.

Em relação às atividades humanas presentes na porção estudada, destaca-se a presença de

algumas pastagens, localizadas principalmente nas bordas da área núcleo, bem como, a existência

de diversas cachoeiras, poços, picos, trilhas e travessias e outros atrativos turísticos na região da

Serra da Maria Comprida. Atividades estas, que são previstas na categoria de Monumento Natural.

Comparando os principais atributos utilizados para a criação de MONA no país, apresentados por

COUTO & FIGUEIREDO (2019) e utilizando como base a metodologia proposta pelos autores

supra referenciados, a Tabela 17 apresenta os principais atributos que validam a proposta.

. Tabela 17: Atributos para definição da categoria MONA para a UC proposta

Geodiversidade Biodiversidade Aspectos Culturais

Maciço Espécies Endêmicas Patrimônio Cultural

Montanhas Espécies Raras Fatos Históricos

Canyon Espécies Ameaçadas Bens Tombados

Cachoeiras

Afloramentos Rochosos

Poços

Rios

Fonte: os autores, adaptado de Couto & Figueiredo (2019).

Assim, entende-se que a categoria Monumento Natural constitui uma excelente oportunidade para

ampliar a área protegida do país, sem criar conflitos, ou depender da alocação de recursos

7Segundo JORGE & GUERRA (2016, p. 154) geodiversidade pode ser conceituado como “o estudo da natureza abiótica

constituída por uma variedade de ambientes, composição, fenômenos e processos geológicos e outros depósitos

superficiais, que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o

econômico, o científico, o educativo e o turístico”

Page 94: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

94

financeiros para a regularização de suas terras, desde que haja interesse convergente do órgão

gestor e do proprietário, na conservação do patrimônio ambiental ali existente e no uso racional do

território.

11. Proposta de limite para a UC

Considerando os critérios apontados no item 5.2 (Metodologia), apresenta-se a seguir o limite

proposto para a UC (Figura 74). Este limite foi refinado, adotando os referenciais cartográficos

especificados na metodologia, resultando em uma área de 8.905,86 hectares, abrangendo os

distritos de Itaipava, Pedro do Rio e Cascatinha. Percebe-se também que as áreas urbanas

encontram-se fora da UC.

Figura 74: Limite final da proposta para o Monumento Natural da Serra da Maria Comprida

Page 95: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

95

12. Considerações finais

Diante das informações apresentadas, considerando a beleza cênica ímpar da Serra da Maria

Comprida, todos os atributos ambientais e histórico-culturais da região, somados ao potencial de

desenvolvimento socioeconômico, com ênfase no turismo, conclui-se pela viabilidade de criação de

uma unidade de conservação estadual. Pelos diversos aspectos abordados ao longo do estudo, é

indicada como categoria o Monumento Natural, corroborando com o Projeto de Lei n° 3.209/2020.

Propõe-se a manutenção da denominação “Monumento Natural Estadual da Serra da Maria

Comprida”, também indicada no PL e no documento de subsídios elaborado pela ALERJ (2020).

Page 96: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

96

13. Bibliografia

AB’SÁBER, A. O Domínio dos Mares de Morros no Brasil. Geomorfologia, 2, pp.1–65. 1966.

AB’SÁBER, A. Os Domínios de Natureza no Brasil - potencialidades paisagísticas. 2003.

ABREU, E.F., CASALI, D.M., GARBINO, G.S.T., LIBARDI, G.S., LORETTO, D., LOSS, A.C.,

MARMONTEL, M., NASCIMENTO, M.C., OLIVEIRA, M.L., PAVAN, S.E., TIRELLI, F.P. 2021. Lista

de Mamíferos do Brasil, versão 2021-1 (Abril). Comitê de Taxonomia da Sociedade Brasileira de

Mastozoologia (CT-SBMz). Disponível em: https://www.sbmz.org/mamiferos-do-brasil/. Acessado

em: 20 de junho de 2021

ÁGUAS DO IMPERADOR. Águas do Imperador - Grupo Águas de Imperador. Disponível em:

https://www.grupoaguasdobrasil.com.br/aguas-imperador/agua-e-esgoto/estacao-tratamento-agua/

. Acesso em: 30 de maio de 2021.

ALERJ. Subsídios para o Estudo Técnico de Criação do Monumento Natural da Serra da Maria

Comprida - MONAE/SMC. Rio de Janeiro, Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro,

Gabinete do Deputado Carlos Minc, 2020.

ALVES, L. C. P. S. & ANDRIOLO, A. Camera traps used on the mastofaunal survey of Araras

Biological Reserve, IEF-RJ. Rev. Bras. Zoociências, 7, 231-246, 2005.

ALMEIDA, C, V. Estudo Histórico Geográfico da Evolução Administrativa do Município de Petrópolis

e sua Toponímia. Paraty, Anais do I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica, 2011. Disponível

em: https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/apresentacao.htm .

AMPHIBIAWEB. AmphibiaWeb: information on amphibian biology and conservation. AmphibiaWeb.

2006. Disponível em: https://amphibiaweb.org. Acesso em: 14 abr. 2019.

AVIBASE- THE WORLD BIRD DATABASE, 2018. Número de Registros. Disponível em:

https://avibase.bsc-eoc.org/avibase.jsp?lang=EN. Acesso em: 20 junho 2021.

AXIMOFF, I. O que Perdemos com a Passagem do Fogo pelos Campos de Altitude do Estado do

Rio de Janeiro? Biodiversidade Brasileira, 1(2), 180–200, 2011.

AXIMOFF, I. A., BOVINI, M. G. & FRAGA, C. N. Vegetação em Afloramentos Rochosos Litorâneos

Perturbados por Incêndios na Região Metropolitana Fluminense, Estado do Rio de Janeiro.

Biodiversidade Brasileira, 6(2): 149-172, 2016. (Número temático: Manejo do fogo em áreas

protegidas).

BERGALLO, H.G., FIDALGO, E.C.C., ROCHA, C.F.D., UZÊDA, M.C., COSTA, M.B., ALVES, M.A.,

VAN SLUYS, M., SANTOS, M.A., COSTA, T.C.C. & COZZOLINO, A.C.R. Estratégias e ações para

a conservação da biodiversidade no Estado do Rio de Janeiro. Instituto Biomas, Rio de Janeiro,

344p. 2009.

Page 97: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

97

BERGALLO, H.G.; ROCHA, C.F.D.; ALVES, M.A.S; VAN SLUYS, M. (orgs.) A fauna ameaçada de

extinção do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora da Universidade do Estado do Rio

de Janeiro, p. 113-124. 2000.

BOINA DA MONTANHA. Maria Comprida/ Serra das Araras, 12 de janeiro de 2019

Blog Boina da Montanha. Disponível em:

https://boinadamontanha2018.blogspot.com/2019/01/maria-comprida-serra-das-araras.html?m=1

BRASIL, Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos

constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição

Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8629.htm

BRASIL, Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da

vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/L11428.htm

BRASIL, Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;

altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de

22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de

abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras

providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2012/lei/L12651.htm

BRASIL, Decreto nº 87.561, de 13 de setembro de 1982. Dispõe sobre as medidas de recuperação

e proteção ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e dá outras providências.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Atos/decretos/1982/D87561.html

BRASIL, Decreto n° 527, de 20 de maio de 1992. Delimita a Área de Proteção Ambiental da Região

Serrana de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, criada pelo art. 6° do Decreto n° 87.561, de 13

de setembro de 1982, e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0527.htm

BRASIL, Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm. Acessado em: jun. 2021.

BRASIL, Decreto n° 4.340, de 22 de agosto de 2002. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4340.htm. Acessado em: jun. 2021.

BUENO, C., & DE ALMEIDA, P. J. A. Sazonalidade de atropelamentos e os padrões de

movimentos em mamíferos na BR-040 (Rio de Janeiro-Juiz de Fora). Revista Brasileira de

Zoociências, 12(3). 2010

BURMAN, A.G. & SODERSTROM. T.R. In search of the world’s oddest bamboo, Glaziophyton

mirabile. Botanical Gardens Conservation News 1: 27-31, 1990.

Page 98: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

98

CAMACHO, I. Canto do Riacho Canindé Birdwatching. Táxeus - Listas de espécies. 2021.

Disponível em: https://www.taxeus.com.br/lista/12995. Acesso em: 20 de junho de 2021.

CAMARGO, L. S., SILVA, R. W. da; AMARAL S. S. do; SILVA, A. P. da; FERRELI, T.; SILVA, M. P. D. da. Mapeamento de áreas susceptíveis a incêndios florestais do município de Petrópolis – RJ. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. 12 p. 2019. Disponível em: http://www.ppegeo.igc.usp.br/index.php/anigeo/article/view/13164. Acesso em: junho de 2021.

CARVALHO-E-SILVA, S. P., et al. "Parque Nacional da Serra dos Órgãos: a maior diversidade de

anfíbios em uma área de proteção da Mata Atlântica." Biota Neotropica 20.3. 2020.

CASTRO, A. L. C. de (Coord.). Glossário de defesa civil estudos de riscos e medicina de desastres.

Brasília: Ministério da Integração Nacional Secretaria Nacional De Defesa Civil, 5ª Edição. 191 p.

Disponível em: https://www.bombeiros.go.gov.br/wp-content/uploads/2012/06/16-Glosssario-de-

Defesa-Civil-Estudo-de-Risco-e-Medicina-de-Desastres.pdf. Acesso em junho de 2021.

CBRO (COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS). Listas das aves do Brasil.

11.ed. 2014. Disponível em: http://www.cbro.org.br.

CEIVAP-AGEVAP. Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul &

Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Plano de

Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul – Resumo. Caderno de Ações Bacia do Rio

Piabanha. Elaboração: Fundação COPPETEC - Laboratório de Hidrologia e Estudos de Meio

Ambiente. 2006.

CHIARELLO, A. G. Effects of fragmentation of the Atlantic forest on mammal communities in south-

eastern Brazil. Biological Conservation, v. 89, p. 71–82, 1999.

CORDEIRO, P. H. C. Análise dos padrões de distribuição geográfica das aves endêmicas da Mata

Atlântica e a importância do Corredor da Serra do Mar e do Corredor Central para conservação da

biodiversidade brasileira. Corredor de Biodiversidade da Mata Atlântica do Sul da Bahia, n. July, p.

1–20, 2003.

COSTA, H. C.; BÉRNILS, R. S. Répteis do Brasil e suas Unidades Federativas: Lista de espécies.

Herpetologia brasileira, v. 7, n. 1, p. 11-57, 2018.

COUTO, M & FIGUEIREDO, C. A. Geoconservação em Monumentos Naturais no Brasil. Revista

Ibero-Afro-Americana de Geografia Física e Ambiente Physis Terrae, Vol. 1, nº 2, 231-248, 2019.

CRIA (Centro de Referência e Informação Ambiental). 2021. Specieslink - simple search. Herbário

Alexandre Leal Costa (ALCB), Herbário da Universidade Federal de Sergipe (ASE), Herbário do

Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), Herbário da Reserva Natural Vale (CVRD), Herbário

Prisco Bezerra (EAC), Herbário da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESA), Herbário

Rioclarense (HRCB), Herbário Sérgio Tavares (HST), Herbario da Universidade Estadual de Feira

de Santana (HUEFS), Herbário do Recôncavo da Bahia (HURB), Herbário - IPA Dárdano de

Andrade Lima (IPA), Herbário Lauro Pires Xavier (JPB), Herbário do Instituto do Meio Ambiente do

Estado de Alagoas (MAC), Herbário do Museu Botânico Municipal (MBM), Missouri Botanical

Page 99: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

99

Garden (MO), The New York Botanical Garden - South America records (NY), Herbário Professor

Vasconcelos Sobrinho (PEUFR), Herbário do Museu Nacional (R), Herbário São Mateus / Espírito

Santo (SAMES), Herbário do Estado "Maria Eneyda P. Kaufmann Fidalgo" - Coleção de

Fanerógamas (SP), Herbário da Universidade de São Paulo (SPF), Herbário da Universidade

Estadual de Campinas (UEC), Herbário Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Herbário

UFP - Geraldo Mariz (UFP), Herbário Central da Universidade Federal do Espírito Santo VIES

(VIES) disponível no INCT - Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (http://inct.splink.org.br) em 23

de maio de 2021 às 12:16.

CUNHA, A. A. Conservação de mamíferos na Serra dos Órgãos: passado, presente e futuro. In IV

Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Anais do... Unidades de Conservação. FBPN e

Rede PróUC pp. 213-224. 2004

DAILY, G. C.; CEBALLOS, G.; PACHECO, J.; SUZÁN, G.; SÁNCHEZ-AZOFEIFA, A. Countryside

Biogeography of Neotropical Mammals: Conservation Opportunities in Agricultural Landscapes of

Costa Rica. Conservation Biology, v. 17, n. 6, p. 1814–1826, 2003.

DANTAS, M. E. et al. Estudo Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro: Geomorfologia do Estado

do Rio de Janeiro. Brasília: CPRM, 2000. Disponível em:

https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/17229 . Acesso em: 04 de junho de 2021.

DANTAS, M. E. et al. Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro. Brasília: CPRM,

2003. Disponível em:

http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/bitstream/doc/17229/14/rel_proj_rj_geoambiental.pdf .

DEL HOYO, J. Book review: All the Birds of the World. 2019

DORIGO, T. A.; VRCIBRADIC, D.; ROCHA, C. F. D. The amphibians of the state of Rio de Janeiro,

Brazil: an updated and commented list. Papéis Avulsos De Zoologia, 58. 2018.

DUDLEY, N. et al.. Directrices para la aplicación de las categorías de gestión de áreas protegidas.

Gland, Suiza: UICN. 2008

DUELLMAN, W. Patterns of distribution of amphibians : a global perspective. [s.l.] Johns Hopkins

University Press, 1999

ESBÉRARD, C. E., & BERGALLO, H. G. Nota sobre a biologia de Cinomops abrasus

(Temminck)(Mammalia, Chiroptera, Molossidae) no Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de

Zoologia, 22, 514-516. 2005.

FEIO, R. N. & FERREIRA, P. L. Anfíbios de dois fragmentos de Mata Atlântica no município de Rio

Novo, Minas Gerais. Revista Brasileira de Zoociências, v. 7, n. 1, p. 121–128, 2005.

FERNANDEZ, E. P, MORAES, M. A.; MARTINELLI, G. New records and geographic distribution of

Glaziophyton mirabile (Poaceae: Bambusoideae). Check List 8(6): 1296–1298, 2012

Page 100: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

100

FROST, D. R. Amphibian Species of the World. 2013. Disponível em:

http://research.amnh.org/vz/herpetology/amphibia/. Acesso em: 20 de junho 2021.

GAGLIARDI, R. L. Avifauna completa do estado do Rio de Janeiro. 2019

GONÇALVES, M. A. P. L. et al. Levantamento preliminar da fauna de répteis do Parque Nacional

Serra dos Órgãos. Ciência e Conservação na Serra dos órgãos (C. Cronemberger & EB Viveiros de

Castro, eds.). Ibama, Brasília, DF, p. 1-17, 2007.

GRAEFF, O. Visita ao Altiplano da Serra da Maria Comprida, Petrópolis, Rio De Janeiro, Junho de

2018. Blog Expedições Fitogeográficas - Brasil e América do Sul. Disponível em:

https://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com/2018/09/visita-ao-altiplano-da-serra-da-

maria.html?m=1

GUERRA, A. J. T., GONÇALVES, L. F. H. LOPES, P. B. M.. Evolução histórico-geográfica da

ocupação desordenada e movimentos de massa no município de Petrópolis nas últimas décadas -

RJ. Revista Brasileira de Geomorfologia, v.8, n.1, p.35-43, 2007.

HADDAD, C. F. B.; PRADO, C. P. A. Reproductive Modes in Frogs and Their Unexpected Diversity

in the Atlantic Forest of Brazil. BioScience, v. 55, n. 3, p. 207–217, 2005.

HARRIS, S. & YALDEN, D. W. An integrated monitoring programme for terrestrial mammals in

Britain. Mammal Review, v. 34, n. 1–2, p. 157–167, 2004.

HEILBRON, M., C. M. VALERIANO, C. S. VALLADARES, & N. MACHADO. A orogênese brasiliana

no segmento central da Faixa Ribeira, Brasil. Rev. bras. Geoc. São Paulo. 25(4): 249-66, 1995.

Disponível em: http://bjg.siteoficial.ws/1995/n.4/3.pdf

IBAMA. Plano de Manejo Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis. Brasília,

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 489 pp. 2009.

Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs-unidades-

coservacao/apa_petropolis.pdf

IBAMA. Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Brasília, Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 362. pp. 2008. Disponível em:

https://www.icmbio.gov.br/parnaserradosorgaos/o-que-fazemos/gestao-e-manejo.html

IBAMA. Plano de Manejo da Reserva Biológica do Tinguá. Brasília, Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 951. pp. 2006. Disponível em:

https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs-unidades-coservacao/rebio_tingua.pdf

IBGE. Cidades@ - Petrópolis. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE.

Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/petropolis/ . Acesso em: 29 de maio de 2021.

IBGE. Contas de ecossistemas: espécies ameaçadas de extinção no Brasil: 2014. Coordenação de

Recursos Naturais e Estudos Ambientais, Coordenação de Contas Nacionais. - Rio de Janeiro:

IBGE, 132 p.2020.

Page 101: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

101

IBGE. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística). nª 1, Série Manuais Técnicos em Geociências, 2012. Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv63011.pdf. Acesso em: 30 de junho de 2021.

ICMBIO. Análise dos focos de calor na região Serrana de Petrópolis no período de 2007 a 2016 e

proposta de criação de UC de Proteção Integral na Serra da Maria Comprida. Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2016.

INEA. Plano de Manejo Reserva Biológica de Araras. Rio de Janeiro: Instituto Estadual do

Ambiente, 2010. Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2019/02/RBA-PM.pdf

. Acesso em: 02 de junho de 2021.

INEA. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto

Estadual do Ambiente / Fundação COPPETEC, 2014. Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/ar-

agua-e-solo/plano-estadual-de-recursos-hidricos/

INEA. Portaria INEA/PRES n° 1041, de 18 de maio de 2021. Cria Grupo De Trabalho (GT) para

realizar a análise da proposta de criação do Monumento Natural Estadual Da Serra Da Maria

Comprida, assim como, proceder à elaboração de estudo técnico e à organização de consulta

pública. Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2021/05/PORTARIA-INEA-

PRES-N%C2%BA-1041.pdf

IUCN. The IUCN Red List of Threatened Species. 2018. Disponível em: https://www.iucnredlist.org.

JBRJ. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Jabot - Banco de Dados da Flora

Brasileira. Disponível em: http://jabot.jbrj.gov.br/. Acesso em 21 de maio de 2021.

JORGE, M.C.O & GUERRA, A. J. T. Geodiversidade, Geoturismo e Geoconservação: Conceitos,

Teorias e Método. Espaço Aberto (UFRJ), v. 6, p. 151-174, 2016.

LAUSCH, A., BLASCHKE, T., HAASE, D., HERZOG, F., SYRBE R.-U., TISCHENDORF, L., WALZ

U. Understanding and quantifying landscap estructure – A review on relevant process

characteristics, data models and landscape metrics. ELSEVIER Ecological Modelling 295. 31–p 41,

2015.

LINO, F. C., ALBUQUERQUE, J. L., DIAS, H. Mosaicos de unidades de conservação no corredor

da Serra do Mar. Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. São Paulo, 2007.

LOYOLA, R., MACHADO, N., RIBEIRO, B. R., MARTINS, E., MARTINELLI, G. Áreas prioritárias

para a conservação da flora endêmica do estado do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisas Jardim

Botânico do Rio de Janeiro: Graffici Programação Visual. 60 p. 2018.

MACHADO, A. B. M., DRUMMOND, G. M. e PAGLIA, A.P. Livro vermelho da fauna brasileira

ameaçada de extinção. Volume II. Brasília / Belo Horizonte: MMA / Fundação Biodiversitas. 908 p.

2008.

Page 102: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

102

MARQUES, M. C. M. et al. Mata Atlântica: o desafio de transformar um passado de devastação em

um futuro de conhecimento e conservação. In: PEIXOTO, A. L.; LUZ, J. R. P.; BRITO, M. A.

Conhecendo a Biodiversidade. Brasília: PPBIO: CNPq, p. 51-67. 2016.

MARINI, M. Â. & GARCIA, F. I. Conservação de Aves no Brasil. Megadiversidade, v. 1, n. n.1, p.

95–102, 2005.

MARTINELLI, G. Mountain biodiversity in Brazil. Revista Brasileira de Botânica 30: 587-597. 2007.

MARTINELLI, G. Morro do Cuca. in____. Campos de Altitude, Rio de Janeiro, Editora Index, 69-

90p. 1989.

MARTINELLI, G. Nota sobre Worsleya rayneri (J.D. Hooker) Traub & Moldenke, espécie ameaçada

de extinção. Rodriguésia, Rio de Janeiro, 36(58):65-72, jan/mar. 1984.

MARTINELLI, G., MARTINS, E., MORAES, M., LOYOLA, R., AMARO, R. (Orgs.). Livro Vermelho

da Flora Endêmica do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de

Janeiro: Andrea Jakobsson, Rio de Janeiro. 456 p. 2018.

MAURENZA, D., BOCAYUVA, M., POUGY, N., MARTINS, E., MARTINELLI, G.. Lista da Flora das

Unidades de Conservação Estaduais do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do

Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson, Rio de Janeiro. 420 p. 2018.

MCF. Planejamento Estratégico do Mosaico Central Fluminense. Rio de Janeiro, Mosaico Central

Fluminense, 2010. Disponível em:

https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/mosaicos/planejamento-central-fluminense.pdf

MITTERMEIER, R. A.; GIL, P. G.; HOFFMAN, M.; PILGRIM, J.; BROOKS, T. M.; MITTERMEIER,

C. G.; LAMOREUX, J.; DA FONSECA, G. A. B. Hotspots Revisited: Earth’s Biologically Richest and

Most Endangered Terrestrial Ecoregions. [s.l.] Cemex, 2004.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Cadastro Nacional de Unidades de Conservação - CNUC.

2019. Disponível em:

https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiYjBiYzFiMWMtZTNkMS00ODk0LWI1OGItMDQ0NmUzNTQ

4NzE4IiwidCI6IjM5NTdhMzY3LTZkMzgtNGMxZi1hNGJhLTMzZThmM2M1NTBlNyJ9. Acesso em:

29 de junho de 2021.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

[s.l.] MMA, Ministério do Meio Ambiente, 2018.

MMA. Portaria MMA nº 443, de 17 de dezembro de 2014. Reconhece a "Lista Nacional Oficial de

Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção"

http://www.cncflora.jbrj.gov.br/portal/static/pdf/portaria_mma_443_2014.pdf

Page 103: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

103

MOREIRA-LIMA, L. Aves da Mata Atlântica: riqueza, composição, status, endemismos e

conservação. 2013. I Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 2013.

MORRISON, M. L. Bird Populations as Indicators of Environmental Change. In: Current Ornithology.

Boston, MA: Springer US, p. 429–451. 1986.

NADRUZ COELHO, M. A.; BAUMGRATZ, J. F. A. ; LOBÃO, A. Q.; SYLVESTRE, L. S. ; TROVÓ,

M.; SILVA, L. A. E. Flora do estado do Rio de Janeiro: avanços no conhecimento da diversidade.

Rodriguesia, v. 68, p. 1-11, 2017.

NAUGHTON-TREVES, L.; MENA J. L.; A. TREVES, ALVAREZ, N.; & RADELOFF, J. L. Wildlife

Survival Beyond Park Boundaries: the Impact of Slash-and-Burn Agriculture and Hunting on

Mammals in Tambopata, Peru. Conservation Biology 17:1106–1117. 2003.

OLIFIERS, N., CUNHA, A. A., GRELLE, C. E. V., BONVICINO, C. R., GEISE, L., PEREIRA, L. G.,

... & CERQUEIRA, R. Lista de espécies de pequenos mamíferos não-voadores do Parque Nacional

da Serra dos Órgãos Species list of non-volant small mammals of Serra. 2007.

OLMOS, F. Aves ameaçadas , prioridades e políticas de conservação no Brasil. Natureza &

Conservação, v. 3, p. 21–42, 2005.

ONGS BRASIL. Maiores Ongs de Petrópolis. Petrópolis: OngsBrasil. Disponível em:

http://www.ongsbrasil.com.br/default.asp?Pag=44&Estado=RJ&Cidade=Petropolis&Origem=Maiore

s-ONGs-de-Petropolis-RJ . Acesso em: 05 de junho de 2021.

PAINE, R. T., T. A. Naturalist, and N. J. Food Web Complexity and Species Diversity 100:65–75.

Feb. 2007.

PALMIERI, R. H.; VERISSIMO, A.; FERRAZ, M. Guia de Consultas públicas para unidades de

conservação. 1. ed. Piracicaba: Imaflora, v. 1. 88p. 2005.

PARDINI, R., D. FARIA, G. M. ACCACIO, R. R. LAPS, E. MARIANO-NETO, M. L. B. PACIENCIA,

M. DIXO, & J. BAUMGARTEN. The challenge of maintaining Atlantic forest biodiversity: A multi-taxa

conservation assessment of specialist and generalist species in an agro-forestry mosaic in southern

Bahia. Biological Conservation 142:1178–1190. 2009.

PAULA, R. Vídeo 14 Bis Voando pela História". Inter TV/Globoplay. 2020

PETRÓPOLIS. Lei municipal nº 5.393, de 28/05/1998. Estabelece normas para as atividades de

uso, parcelamento e ocupação do solo do município de Petrópolis. Disponível em:

https://petropolis.cespro.com.br/visualizarDiploma.php?cdMunicipio=6830&cdDiploma=19985393&

NroLei=5.393&Word=&Word2=

PETRÓPOLIS. Lei municipal nº 8.130, de 20 de abril de 2021. Regulamenta o Fundo Municipal de

Conservação Ambiental - FMCA e dá outras providências. Disponível em:

https://petropolis.cespro.com.br/visualizarDiploma.php?cdMunicipio=6830&cdDiploma=20218130&

NroLei=8.130.

Page 104: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

104

PLHIS. Plano Local de Habitação de Interesse Social. Petrópolis, RJ. Prefeitura Municipal de

Petrópolis, 2012. Disponível em: http://sig.petropolis.rj.gov.br/cpge/plhis.pd

PMP. Plano Diretor de Petrópolis. 89 p. 2013. Disponível em:

https://www.petropolis.rj.gov.br/pmp/phocadownload/Planejamento/comcidade/diagnostico/diagnost

ico_05_04.pdf

PMP. SIG Petrópolis. Prefeitura Municipal de Petrópolis. Disponível em:

http://sig.petropolis.rj.gov.br/cpge/geo.html#home. Acesso em 05 de maio de 2021.

PMP/SMADS. Parque Natural Municipal de Petrópolis: Plano de Manejo. Petrópolis, Prefeitura

Municipal de Petrópolis / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,

100pp. 2010. Disponível em:

https://www.petropolis.rj.gov.br/sma/phocadownload/Documentos/Protecao_Conservacao/plano_de

_manejo.pdf

PMP/SMADS. Monumento Natural da Pedra do Elefante - MONAPE. Petrópolis, Prefeitura

Municipal de Petrópolis / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,

59 pp. 2017. Disponível em:

https://www.petropolis.rj.gov.br/sma/phocadownload/Documentos/Protecao_Conservacao/Plano%2

0de%20Manejo%20Monumental%20Natural%20Pedra%20do%20Elefante%20-MONA.pdf

PMP. Plano Municipal de Saneamento Básico de Petrópolis. Petrópolis, Prefeitura Municipal de

Petrópolis, 781 pp. 2014. Disponível em:

https://www.petropolis.rj.gov.br/pmp/phocadownload/Planejamento/comcidade/diagnostico/

diagnostico_05_04.pdf . Acesso em: 30 de maio de 2021.

POMPEU, T. C. Curso: Direito de Águas no Brasil. Brasília, Agência Nacional de Águas – ANA,

Universidade de Brasília – UnB, Secretaria de Recursos Hídricos – SRH/MMA e Fundo Setorial de

Recursos Hídricos – CTHIDRO, 2002.

PRADO, W. O. História social da Baixada fluminense: das sesmarias a foros de cidade. Rio de

Janeiro: Ecomuseu fluminense, 2000.

PRIMACK, R.B. & RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Editor Efraim Rodrigues, 2001.

PRIMO, P. B. S. & R. PELLENS. A situação atual das unidades de conservação do Estado do Rio

de Janeiro. In: Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação 2, Campo Grande. Trabalhos

Técnicos. Campo Grande, pp. 628-637, 2000.

PUREZA, F., PELLIN, A, PADUA, C.B.V.. Unidades de Conservação: fatos e personagens que

fizeram a história das categorias de manejo. 1. ed. São Paulo: Matrix, 240p. 2015.

RADAMBRASIL. Folhas SF. 23/24 Rio de Janeiro/ Vitória; geologia, geomorfologia, pedologia,

vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro Projeto RADAMBRASIL, 1983.

Page 105: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

105

RAMBALDI, M., A. MAGNANI, A. ILHA, E. LARDOSA, P. FIGUEIREDO & R. F. OLIVEIRA. A

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Conselho

Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 2003.

REIS, A. BECHARA, F. C.; ESPÍNDOLA, M. B.; VIEIRA, N. K.; LOPES, L. Restauração de áreas

degradadas: a nucleação como base para os processos sucessionais. Natureza e Conservação, 1:

28-36. 2003.

REIS, N.R.; PERACCHI, A.L; PEDRO, W.A.; LIMA, I.P. Mamíferos do Brasil. Londrina. 437p. 2006.

RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA - RBMA. Revisão e atualização dos limites e

zoneamento da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica em base cartográfica digitalizada. Fase VI.

UNESCO. 2008.

RIO DE JANEIRO. Projeto de lei nº 3209/2020. Ementa: Dispõe sobre a criação Do Monumento

Natural Estadual da Serra da Maria Comprida, no Município de Petrópolis e dá outras providencias.

Disponível em:

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro1923.nsf/0c5bf5cde95601f903256caa0023131b/267f0041b0dea93

c03258600005bc043?OpenDocument&Highlight=0,1041

RIO DE JANEIRO. Decreto n° 36.930 de 14 de fevereiro de 2005. Institui regulamentação para uso

da imagem das unidades de conservação da natureza do Estado do Rio de Janeiro subordinadas a

Fundação Instituto Estadual de Florestas - IEF/RJ. Disponível em:

http://www.pesquisaatosdoexecutivo.rj.gov.br/Home/Detalhe/22452

RIO DE JANEIRO. Decreto 42.483, de 27 de maio de 2010. Estabelece diretrizes para o uso

público nos parques estaduais administrados pelo Instituto Estadual do Ambiente - INEA e dá

outras providências. Disponível em:

http://www.pesquisaatosdoexecutivo.rj.gov.br/Home/Detalhe/82919.

RIO DE JANEIRO. Lei nº 6.572, de 31 de outubro de 2013. Dispõe sobre a compensação devida

pelo empreendedor responsável por atividade de significativo impacto ambiental no Estado do Rio

de Janeiro, institui a Contribuição por Serviços Ecossistêmicos nos termos da Lei Federal 9.985/00

e dá outras providências. Disponível em:

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/c8aa0900025feef6032564ec0060dfff/8de374a0e01bad2

583257c1a0060b529?OpenDocument&ExpandSection=-

3#:~:text=DISP%C3%95E%20SOBRE%20A%20COMPENSA%C3%87%C3%83O%20DEVIDA,00

%20E%20D%C3%81%20OUTRAS%20PROVID%C3%8ANCIAS.

RIO DE JANEIRO. Lei n° 7.061, de 25 de setembro de 2015. Altera as Leis nº 6.572, de 31 de

outubro de 2013 e nº 6.371/2012, de 27 de dezembro de 2012 e dá outras providências. Disponível

em:

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/f25edae7e64db53b032564fe005262ef/0d689f7cbd71a52

083257ecf00616fb8?OpenDocument.

Page 106: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

106

RIO DE JANEIRO. Lei nº 8.280, de 09 de janeiro de 2019. Declara de relevante interesse ambiental

a conservação e a proteção dos ecossistemas de montanha, no território do Estado do Rio de

Janeiro, e dá outras providências. Disponível em:

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf/c8aa0900025feef6032564ec0060dfff/77761866f2c59f2c8325

837f005c4cb6?OpenDocument&Highlight=0,8280

RIO DE JANEIRO. Resolução INEA nº 61, de 04 de outubro de 2012. Estabelecer as normas e

procedimentos para o censo, credenciamento e prestação de serviços de guias de turismo e

condutores de visitantes nos parques estaduais administrados pelo INEA. Disponível em:

http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2012/10/RESOLU%C3%87%C3%83O-INEA-

N%C2%BA-61-Guias-de-Turismo-e-Condutores.pdf.

ROCHA, C.F.D.; BERGALLO, H.G.; ALVES, M.A.S.; VAN SLUYS, M. A biodiversidade nos grandes

remanescentes florestais do Estado do Rio de Janeiro e nas restingas da Mata Atlântica. São

Carlos: RiMa Editora, 160p. 2003.

RODRIGUES, R. R.; SANTIN BRANCALION, P. H.; ISERNHAGEN, I. (Org.). Pacto pela

restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São

Paulo: LERF/ESALQ: Instituto BioAtlântica, 256 p. 2009.

SEA. Plano de Ação Nacional para a Conservação da Flora Endêmica Ameaçada de Extinção do

Estado do Rio de Janeiro. 1. ed. Rio de Janeiro, Secretaria de Estado do Ambiente, 80 p. 2018.

Disponível em: https://ckan.jbrj.gov.br/dataset/05d694e9-b430-4d47-beaf-

8379f508926d/resource/82728359-8070-41cf-b8dc-29d0cbf22123/download/panflora-endemica-

ameacada-rj.pdf

SEAS. Fundo Mata Atlântica-RJ. Rio de Janeiro, Secretaria de Estado do Ambiente e

Sustentabilidade, 2013. Disponível em: http://www.fmarj.org/

SEA/INEA. Proposta de criação dos Monumentos Naturais Estaduais da Serra da Beleza e Serra

dos Mascates. Rio de Janeiro, Secretaria de Estado do Ambiente, Instituto Estadual do Ambiente,

60 p. 2016. Disponível em: https://docplayer.com.br/56325234-Proposta-de-criacao-dos-

monumentos-naturais-estaduais-serra-da-beleza-e-serra-dos-mascates.html

SEA/INEA. Atlas dos Mananciais de Abastecimento Público do Estado do Rio de Janeiro.

Subsídios ao Planejamento e Ordenamento Territorial. Rio de Janeiro, Secretaria de Estado do

Ambiente, Instituto Estadual do Ambiente, 446 pp. 2018. Disponível em:

http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2019/01/Livro_Atlas-dos-Mananciais-de-

Abastecimento-do-Estado-do-Rio-de-Janeiro.pdf

SEA/INEA. Elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro. R2-F

- Caracterização Ambiental. Versão Final. Rio de Janeiro, Secretaria de Estado do Ambiente,

Instituto Estadual do Ambiente, Fundação COPPETEC, Laboratório de Hidrologia e Estudos de

Meio Ambiente, 106 p. 2014. Disponível em: http://www.agevap.org.br/downloads/Diagnostico-

Caracterizacao-Ambiental.pdf

Page 107: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

107

SEA/INEA. Estudo Técnico para Criação do Parque Estadual da Costa do Sol. Rio de Janeiro

Secretaria de Rio de Janeiro, Secretaria de Estado do Ambiente, Instituto Estadual do Ambiente,

2009.

SEA/INEA. O Estado do Ambiente . Indicadores Ambientais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,

Secretaria de Estado do Ambiente, Instituto Estadual do Ambiente, 160p. 2010. Disponível em:

http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2019/01/Livro_O-Estado-do-Ambiente.pdf

SETRAB. Panorama Socioeconômico Municipal do ERJ/Indicadores Municipais. 2014 Disponível

em: http:/rj.gpv.br/Uploads/Noticia s/1208003-2021%20-

%20Panorama%20Municipal%20de%20Indicadores%20Socioecon%C3%B4micos%20e%20do%2

0Mercado%20de%20Trabalho%20-Petr%C3%B3polis.pdf

SETRAB. Observatório Econômico: Panorama Municipal dos Indicadores Socioeconômicos e do

Mercado de Trabalho. Secretaria Estadual do Trabalho e Renda, 2021. Disponível em:

http://www.rj.gov.br/Uploads/Noticias/1208003-2021%20-

%20Panorama%20Municipal%20de%20Indicadores%20Socioecon%C3%B4micos%20e%20do%2

0Mercado%20de%20Trabalho%20-Petr%C3%B3polis.pdf. Acesso em: 02 de junho de 2021.

SDE. Modelo de análise de potencialidades econômicas do município de Petrópolis. 2012.

Disponível em:

https://www.petropolis.rj.gov.br/pmp/phocadownload/Planejamento/potencialidades_economicas/m

odelo_de_analise_potencialidades_economicas.pdf

SHINZATO, E.; DANTAS, M. E., RENK, J. F. C.; GARCIA, M. L. T.; COSTA, L.. Carta

geomorfológica: município de Petrópolis, RJ. Brasília: CPRM, 2017. Disponível em:

https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/18182. Acesso em: 02 de junho de 2021.

SICK, H. Birds in Brazil. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1993.

SILVA, J.M.C. DA; SOUSA, M.C. DE; CASTELLETTI, C.H.M. Areas of endemism for passerine

birds in the Atlantic Forest, South America. Global Ecology and Biogeography, 13, pp.85–92. 2004

SILVA, L. C. Geologia do Estado do Rio de Janeiro: texto explicativo do mapa geológico do Estado

do Rio de Janeiro / organizado por Luiz Carlos da Silva {e} Hélio Canejo da Silva Cunha. – Brasília:

CPRM. 2ª edição revista em 2001. Disponível em:

https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/bitstream/doc/17229/4/rel_proj_rj_geologia.pdf .Acesso em: 06 de

junho de 2021.

SILVA, J. M. C. da; SOUSA, M. C. de; CASTELLETTI, C. H. M. Areas of endemism for passerine

birds in the Atlantic Forest, South America. Global Ecology and Biogeography, v. 13, p. 85–92,

2004.

SILVEIRA FILHO, T., B. & RAMBALDI, D. M. A contribuição do Estado do Rio de Janeiro para a

conservação de plantas no Brasil. In: Gustavo Martinelli; Eline Martins; Marta Moraes; Rafael

Loyola; Rodrigo Amaro. (Org.). Livro Vermelho da Flora Endêmica do Estado do Rio de Janeiro.

Page 108: Estudo Técnico de Criação de Unidade de Conservação

108

1a.ed.Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio & Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 456 p.

2018.

SOS MATA ATLANTICA & INPE, I.N. de P.E. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica,

Sao Paulo, SP. 2016.

SPU. Legislação Imobiliária da União: Anotações e comentários às leis básicas. Brasília, Secretaria

do Patrimônio da União, 2002.

UETZ, P & HOŠEK, J. The Reptile Database. Disponível em: http://www.reptile-database.org/.

Acesso em: 15 de abril 2019.

VASCONCELOS, M. F. O que são campos rupestres e campos de altitude nos topos de montanha

do Leste do Brasil? Revista Brasil. Bot., 34 (2):.241-246, 2011.

VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A. L. R.; LIMA, J. C. A. Classificação da vegetação brasileira,

adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: IBGE, 123 p. 1991.

VENTURI, N.L. & ANTUNES, A.F.B. Determinação de Locais Ótimos para Implantação de Torres

de Vigilância para Detecção de Incêndios Florestais por Meio de Sistema de Informações

Geográficas, PR – Brasil. Revista Floresta, 37(2): 159-173, 2007.