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Tertúlia: Dia Nacional do Mar Think Tank Fazendo 1 1 E-mail: [email protected] | Blog: http://thinktankfazendo.blogspot.com | Endereço: Rua Rogério Gonçal- ves n o 18, 9900-146 Horta, Açores

estudo tertulia mar

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tertúlia dia nacional mar

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Page 1: estudo tertulia mar

Tertúlia: Dia Nacional do MarThink Tank Fazendo1

1E-mail: [email protected] | Blog: http://thinktankfazendo.blogspot.com | Endereço: Rua Rogério Gonçal-ves no 18, 9900-146 Horta, Açores

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Conteúdo1 Introdução 2

2 A relevância do mar nos Açores e na ilha do Faial 3

3 Por uma cultura de mar: conclusões e tópicos abordados 5

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1 IntroduçãoNo âmbito do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar, uma plataforma insititucional quepretende excitar, na sociedade civil, a discussão e o desenvolvimento de acções relacionadas como mar, a Associação Cultural Fazendo em parceria com a Ecoteca do Faial e o Gabinete para osAssuntos do Mar organizou uma tertúlia no dia 16 de Novembro de 2009, Dia Nacional do Mar,que teve lugar no Clube Naval da Horta.A discussão foi moderada pelo Prof. VÍtor Rui Dores e contou com representantes da SecretariaRegional do Ambiente, D.O.P., Clube Naval da Horta, antiga Indústria Baleeira, actividades pisca-tórias e marítimo-turísticas, Museu da Horta e actividades de consultoria marinha assim como aparticipação da população em geral.O Fórum Permanente para os Assuntos do Mar (FPAM) é um mecanismo institucional de novageração com carácter necessariamente experimental, visando ser uma voz credível da sociedade civilsobre Assuntos do Mar. Com enquadramento na Estratégia Nacional para o Mar - documento queadopta uma política integrada e abrangente na governação de todos os assuntos do mar - reflectea importância atribuída ao diálogo como elemento de referência para o sucesso deste projectonacional.O Fórum pretende estimular a troca de informação e a promoção de acções relacionadas com oMar, numa perspectiva abrangente. Procura-se, desta forma, que o FPAM constitua uma plataformainformal entre o governo, a sociedade civil e os parceiros sociais, numa perspectiva de responsabi-lidade partilhada. É igualmente objectivo do FPAM estimular a recolha, troca e disponibilizaçãode informação, com vista a implementar um sistema de gestão de apoio às actividades do Fórum,bem como servir os parceiros sociais neste domínio.No âmbito do FPAM está prevista a criação de grupos de trabalho temáticos e de núcleos/redes,nomeadamente nas Regiões Autónomas dos Açores (RAA) e da Madeira, que são considerados ele-mentos para o desenvolvimento a nível nacional das funções atribuídas ao FPAM, à escala nacional.De facto, durante a Semana do Mar de 2008 foi realizada, na cidade da Horta, uma Reunião dosMembros da RAA, que contribuiu para a dinamização do Núcleo/Rede e para o envolvimento daRegião nas actividades do Fórum.

Este pequeno documento tem como objectivo mostrar a importância da relação entre o mar eos Açores, e em particular com a ilha do Faial, assim como resumir sucintamente os tópicosabordados nesta tertúlia.

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2 A relevância do mar nos Açores e na ilha do FaialPara além da tradicional evocação de um passado glorioso, as comemorações do Dia Nacional doMar dos tempos de hoje passaram a estar viradas essencialmente para o futuro. Uma das causasprincipais para essa mudança de sentido foi exactamente a sensibilização da opinião pública por-tuguesa decorrente da Exposição Mundial de Lisboa “Os Oceanos – Um património para o futuroda humanidade” realizada em 1998. Poucos anos depois, em 12 de Dezembro de 2006, o governoportuguês elaborava a Estratégia Nacional para o Mar (ENM), que reconhece o mar como umdos principais factores de desenvolvimento do País, se devidamente explorado e salvaguardado, erelevando o facto de Portugal dispor da maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da União Europeiae de uma Plataforma Continental em vias de alargamento. Entretanto, na “Introdução” à referidaENM é salientado que as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores apresentam importantesmais-valias estratégicas e potencial desenvolvimento de actividades económicas relacionadas como mar.

Ora, neste contexto, parece oportuno referir que entre as mais-valias dos Açores, as da ilhado Faial se apresentam particularmente relevantes. Com efeito, a própria história da ilha acabapor resultar da dupla vantagem oferecida por uma ampla e abrigada baía colocada estrategicamenteno meio do Atlântico Norte.

Assim, já nos séculos XVI e XVII foi importante o papel do porto da Horta no apoio às frotasda Índia e do Brasil, apoio que depois se alargou à navegação do Atlântico Norte e já nos sé-culos XVIII e XIX, às próprias frotas locais que transportavam urzela, laranjas e vinho, tanto paraa Europa como para as Índias Ocidentais e os Estados Unidos da América. E foi também porser seguro que, durante o século XIX, se tornou no maior porto baleeiro do mundo, ao acolher agrande frota baleeira dos Estados Unidos da América. Depois veio a construção da doca, dandoaí melhores condições aos homens do mar e iniciou-se o ciclo do carvão, com o estabelecimentode grandes depósitos, que estiveram sempre muito activos até ao aparecimento do óleo que ditouo encerramento dos armazéns da cidade já depois da Primeira Grande Guerra.

Entretanto tinham sido amarrados nas baías da Horta e de Porto Pim cabos submarinos paraligações telegráficas entre a Europa e a América, pertencentes a companhias de nacionalidadesinglesa, alemã e americana e que trouxeram ao Faial centenas de jovens operadores, uma grandeparte dos quais acabou por casar e fixar-se no meio. Mais tarde, já nos anos 30, foram os excitantes

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anos da aviação com a competição para a Travessia do Atlântico, com escala na abrigada baía daHorta. Por aqui estiveram em ensaios porfiados a americana Pan American com os seus famososClippers, os alemães da Lufthansa, que usavam catapultas na descolagem dos hidros, mais osingleses da Imperial Eagle e os franceses da Air France. Embora os alemães tivessem conseguidofazer viagens experimentais com sucesso, foram os americanos os vencedores desta extraordináriacorrida e mantiveram voos normais entre 1939 e 1945, ano em que acabou a Segunda GrandeGuerra.

Figura 1: Hidroaviões na Baía da Horta

Ao mesmo tempo, o porto da Horta, tal como já acontecera na Grande Guerra de 1914-1918,serviu de Base Naval para a Home Fleet prestando um inestimável apoio na guerra anti-submarinae, portanto, ajudando os Aliados a ganhar a guerra. Evidentemente, veio depois o declínio para oporto da Horta, que não pôde acompanhar as mudanças operadas com o fim do carvão e a opçãopelos óleos, o que acabou também por causar o fecho das suas famosas oficinas de reparaçõesnavais.

Mas a seguir chegaram os grandes rebocadores holandeses da companhia L. Smit’s, que pas-saram a fazer base no porto, à escuta dos pedidos de socorro de navios em dificuldades no Atlântico.

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Por fim, a pouco e pouco, começaram a aparecer no porto as velas de pequenos iates, que ovulgo apelidava, apropriadamente, de “aventureiros” e que neste último ano (2009) representaramperto de 1300 entradas, tornando a Marina da Horta numa das mais frequentadas a nível eu-ropeu e mesmo mundial, como marina de passagem. Toda esta preferência pelo porto da Hortarepresenta, acima de tudo, o reconhecimento prático das suas condições estratégicas e de segurança.

Porém, a melhor prenda dos últimos anos acabou por ser a escolha da Horta para sede doDepartamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, centro de investigações re-conhecido internacionalmente como excelente e por onde têm passado investigadores e estudantesde pós-graduação oriundos de todo o mundo. Hoje, com novas e amplas instalações prontas a serinauguradas e que vêm proporcionar muito melhores condições ao seu trabalho, são de esperaroutros desenvolvimentos.

É por isso que nesta comemoração do Dia nacional do Mar, mais do que a evocação do pas-sado, devemos preparar o futuro. E parece haver razões para pensar que, como sempre, o futuroda Horta ficará intimamente ligado com o Mar.

Mário Frayão

3 Por uma cultura de mar: conclusões e tópicos abordados“As ilhas são o efémero e o contingente; só o mar é eterno e necessário.”

Vitorino Nemésio

Os Açores são lugar de muito mar e pouca terra.

Foi no mar onde escrevemos e inscrevemos a nossa História, a nossa cultura, o nosso imagi-nário e a nossa memória.

Falar dos Açores é falar de mais de cinco séculos de isolamento físico e de contacto perma-nente com o mar. O mar marcou e moldou o açoriano e, falo por mim, a ausência de mar deixa-mecompletamente deprimido.

Por conseguinte, o mar é o destino e é a estrada que nos liga ao mundo, nós que sempre

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fomos um povo de muitas partidas e poucos regressos.

Sendo espaço de mistério, fascínio e irresistível sedução, o mar é também factor de estudo, inves-tigação e desenvolvimento, sendo de referir o facto de Portugal dispor da maior Zona EconómicaExclusiva da União Europeia e de uma Plataforma Continental em vias de alargamento.

Um grupo de gente de diferentes proveniências e diversas sensibilidades festejou, no passadodia 16 de Novembro, no bar do Clube Naval da Horta, o Dia Nacional do Mar, data que visa acomemoração da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.

Todos reconheceram que no mar reside uma das nossas maiores riquezas e que necessário setorna aprofundarmos o nosso conhecimento sobre ele. Representantes do Departamento de Ocea-nografia e Pescas da Universidade dos Açores (D.O.P.) teceram diversas considerações relativamentea aspectos relacionados com a investigação científica, o desenvolvimento tecnológico e a inovação– pilares estratégicos para o nosso desenvolvimento local e regional. Falou-se na necessidade dese criar um Parque Tecnológico ligado às actividades relacionadas com o mar, abrangendo áreascomo a protecção do meio marinho, a investigação marinha no domínio das pescas, dos ecossis-temas marinhos, do conhecimento do mar profundo, do ambiente no domínio das energias renováveis.

Pescadores, empresários de actividades marítimo-turísticas, intelectuais, cidadãos interessados nodesenvolvimento do Faial deram também importantes contributos nesta discussão, referindo a neces-sidade de formação e valorização dos recursos humanos necessários para as áreas acima referidas.

Foram amplamente discutidas as vantagens e desvantagens da criação de áreas marinhas pro-tegidas.

Outros assuntos vieram à baila: estratégia nacional para o mar; hyperclusters do mar comomotores de desenvolvimento; exploração mineral no espaço marítimo; plano de ordenamento doespaço marítimo; que prioridades entre actividades profissionais (pescas e turismo) e actividadesde lazer (desportos náuticos, náutica de recreio, whale watching, etc.).Concluiu-se que há que ter uma visão integrada do mar para se criarem estratégias de futuro. Atélá, ficou a promessa de se continuar a debater, periodicamente e sempre à mesa da tertúlia, estase muitas outras questões.

Victor Rui Dores