15
ESIUDOS  CULTURE DOIS  PARADIGMAS N o  trabalho_Intelectual  se"iio  e  crjtico  n a p  existemJ inicios absolutes" e  poucas  sao as  continuidades inquebrantadas. N ao  basta o  interminavej  desdobramento da  tradicap,  tao caro a  histpria  das ideias, nem tampouco o absolutismo da  "rup- tura  epistemologlca", pontuando o  pensamento  em suas partes "certas"  e  "falsas",  outrora favorecido  pelos  althusserianos. A o  inves disso,  o que se  percebe  e u m  desenvolvimentp desordenado  porem irregular.  O que  importa  sa o  a s/  rupturas} "f^ignificatLYaa—  em que  velhas correntes depensamento  sap rompidas, velhalfconstelacoes  de^Irjcj.d e~velrios  s a o  reagrupados ap redor  _de  u j _ prefnissas  e  temas.  Mudancas  em uma  problematica trans-  /j _  '  ^. —forfnarfrsignificativamente  a  natureza  das  questoes  propostas,  ^ ^ . ,  —— ••....••IN <»...<  .  > —i^— »•• —••  • •  [fJ V  * as formas  cofno  sa o  propostas  e a  maneira  como  podem  se r  /V '  °  < ——-  '  -   •-——   -——->-  - . ^  -ilf-f adequadamente respondidas. Tais  rnudancas-de^perspectiya  -^  1< v  r ,^ reflefem"fiao"so~os""resultados  do  proprio trabalho  intelectual,  ^  I| F .  ; m a s  tambem  a  maneira como  o s  desenvolvimentos  e a s verdadeiras  transformapoes  historicas  sao apropriados no pensamento e fornecem ao  Pensamento,  nao  su a  garantia de "corre^ao", mas  suas orienta^oes  fundamentals,  suas con- digoes de existencia. E por causa dessa  articulacao  complexa entre  pensamentpje  reaiidajde  hjstorjca,  refletida  n a s  cate- gorias  socials  do pensamento e na  contmua  dialetica entre "RP^e-Tl^.'^orihecimento", que tais rupturas sao dignas de  registro.

Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2

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E S I U D O S   C U L T U R E

D O I S   P A R A D I G M A S

No  t r aba lho_In te lec tua l

  se"iio

  e  crjtico  n a p  existemJ inicios

absolutes" e

  poucas

  sao as

  continuidades inquebrantadas.

N ao  basta o

 in te rminave j

 desdobr amen to da t radicap ,  tao caro

a  histpria  das ideias , nem tampouco o absolut ismo da

  " rup-

tura  epistemologlca", pontuando o

  pensamento

  em suas partes

"certas"  e

  "falsas",

  ou t r or a f avor ec ido  pelos  al thusser ianos.

A o  inves disso,  o que se  percebe  e u m

  desenvolv imen tp

desordenado

  porem ir regular . O que  impor ta sa o

  a s/

  rupturas}

"f^ignificatLYaa— em que velhas correntes depensamento sap

rompidas, velhal fconstelacoes  de^Irjcj.d

e~velrios

  s a o

  r eag r upados ap r edor  _de

  u j _

prefnissas

  e

  temas.  Mu da n c a s

  em uma

  problematica t rans-  /j _  '

  ^.

—forfnarfrsignificativamente  a

 natureza

 das questoes propostas ,  ^

  . ,  ———— ••....••IN < » . . . <   .   >

• —i^—

»•• —••  • • •   [fJ V   *

as formas

  cofno

  sa o  propostas  e a

  mane i r a

  como

  podem

  se r

  /V

'  °  • <

——-

  ' • -  •

 •-——

—   ™

  -——— ->-

  - . ^   -ilf-f 

adequadamente respondidas. Tais

 rnudancas-de^perspectiya -^ —

  1< v

  r

,^

reflefem"fiao"so~os""resultados   do  proprio trabalho  intelectual,  ^

  I| F

.  ;

m as  t a m b e m

  a

  m a n e i r a c o m o

  os

  d e s e n v o l v i m e n t o s

  e a s

verdadeiras  transformapoes  historicas  sao apropriados no

pensamen to e fo r necem ao

  Pe n s a me n t o ,

  nao  su a  g aran t ia

de "corre^ao", mas

 suas or i en t a^oes

  f undamen ta l s ,

  suas con-

digoes de existencia. E por causa dessa   art icu lacao  complexa

en t r e  p e n s a m e n t p j e  reaiidajde

  hjstorjca,

  ref let ida  nas

  ca t e -

gor ias

  socials

  do pensamen to e na  c on t mu a  dialetica entre

"R P ^e-Tl^ . ' ^or ihec imen to" , que t a i s r up tu r as sao d ig nas

de registro.

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CO

b f -

(ps  EstudosOilnirajs)como prpblematica distinta.

 emerggm

de  u m  m o m e n t o  desses ,~nos  m e a dos  da  de c a da  de_19Sfl.

C e r t a m e n t e n a o

  f o i

a"'prlmeira

  vez que suas questoes  ca r ac -

teristicas   for am  colocadas  na mesa.  M u i t o

  pelo

  con t r a r io .

Qs

  dois livros

  qu e  a judaram  a

  mar ca r

  o  ovo

  t e r r eno

  —   As

utiliza$oes

  da cultura,  de   Hoggar t ,  e  Cultura e  sociedade

1780-1950,

  de

  Wflliams

1

  —

  sa o  amfeos,

  die

 m aneiras dis t intas ,

t r a ba lhos

 ( em parte) de  r ecuper a^ao . O livro d e Hog g ar t teye

como

  r e fe r enda

  o

  "debate cul tural"

 ha   muito

 su^ntado_nas

discussoes

  acerca  da

  "sociedade de

  massa",

  bem

  c o m o

  na

t raSi^ao   do  t r aba lho in t e l ec tua l iden t i f icado co m  Leavis  e a

revista

  Scrutiny.

  C«/fMr^ejrpr fe^r fe.recpjwtni i ii_i inia  longa

tradicao definida

 por

  W il l iams como a quela que,

  em

  resumo,

cbrisiste"c o  "registro de um

  n u m e r o

  de

  i mp or t a n c e s

  e  con-

t inuas  reacoes  a . . . mudancas em nossa vida social , econo-

mica

 e politica" e que

 oferece

  "u m

 tipo e special

  de

 mapa pelo

qua l a na tu r ez a das mudancas pode ser expiorada". O s l ivros

par ec i am,

  in ic ja lmente .

  simples

  atuaU^a,cAes._djessa5_pr£jQcu

:

P _ a c _ o e s   anteriores, com

  r e fe re nda

  ao

  m undo jdo pos-gue r ra .

R et r ospec t ivamen te , suas

  " ru p t u ra s "

  c om a s

  t r adicoes

  de

p e n s a m e n t o

  em que estavam si tuados parecem tao ou mais

impor t an t es

  do que sua

  con t inu idade

  c om a s

  mesmas.

  As

utilizacoes  da cultura

 propos-se

  —  m u i t o  no e spi r i to da

"cri t ica

  prat ica" — a ler a cul tura da classe t rabalhadora em

busca  de   valores  e  significados incorporados  e m seus pa droe s

e   est ruturas : como  se  fossem certos tipos  de

  "textos".

  P or em,

a apl ica^ao desse

 m e t o d o

 a uma cu l tu r a viva  e a rejeicao dos

termos do deba te cul tu ral (polar izado em   to rno  da dis t incao

de

  a l t a /ba ixa cu l tu r a )

 foi um

  desvio  r adica l .

  Cultura e socie-

dade,  num un ico e mesmo  m ov im e nto ,

  c on s t i t u i u

  uma t r a -

dic a o  (a t r adicao de "cu l tu r a -e -soc iedade" ) ,  de f in iu  a sua

^

ir

unTclade"

  (nao

  e m

  t e r mos

  de  posifoes

  c o m u n s ,

  m a s de

p r e o c u p a c o e s

  caracteristicas

  e

  formas

  de expressao de

  suas

indaga^oes). e

  fe z

  uma contribujgao

  d|sjintajiiente_jpo_de;rn_a_ao

assunto ao mesmo tempo em  _gue escreYia  se u  epitafio^  O

livro

  de

  W i l li ams

  que o

  suc e de u

  —

  Th e  Long

 Revolution

 —

indicou c l a r amen te que o  modo  de

  ref lexao

  cul tura-e-socie-

^de^^_r jp^^r ia__ser_

  comple tado

  e

  desenvolvido

  a ^ p a r t i r d e

ou t r o

  lugar

  — um t ipo de analise stgnificativarnente

  di feren te .

ConTsulTtentativa de "teorizar" a partir de uma tradicao   cujo

132

estilo

  de

  pensamento

  er a

  decididamente empir ico

  e

  par t icu-

larista,  mais  a  densidade e xper imental  de seus  concei tos  e

o

  es for co

  g e n e r a l i z a n t e  de sua a rgum e nta c a o ,

  T he

  Long

Revolution deve  sua dificuldade de lei tura, em par te , ao fato

de ter a

  determinacao

  de

  m u d a r

  (o

  t r aba lho

  de  Will iams,  at e

o  mais recente  Politics  and  Letters e  exemplar precisamente

por causa de seu desenvolvimentismo consistente). As  partes

"boas"

  e

  "ruins" dessa obra

  provem do seu

  status

  de

  "obra

  de

ruptura" .

  O  mesmo  pode  se r  dito  de  A formacao da  classe

Qperdriain^lesa,

  de E. P . Thom pson,

2

.que pertence decisiva-

mente a esse  "momento", ainda que tenha surgido, cronolo-

g icamen te ,

 u m

 pou co mais tarde. Esse

 tambem foi um

 t rabalho

pensado  den t r o

  de

  cer tas tradicoes  his tor icas  especificas:__a_

historiografia

  marxista

  inglesa

  e a

  historia

  economics e "do

trabaTHo^TMas,  ao destacar questoes 5e~cultura' ,"c6nscigncia

e  exgeriencia^e  en f a t iz a r  o  ag enc iamen to , t ambem r ompeu

decisivamente

  com uma  certa"f67ma~u

f

e~evolucionisrno

  tecno-

logico, com o economicismo   reducionista-js_com  o  determi-

nismo organizacional .

  Entre

  eles, esses^tres livroj^ onslituiram

a cesura da qual — entre outras coisas  —^emergiram o s

 EstudosJ)

Cu l tu r a i s .3  ~— —

  --

E ram,  c l a r o ,  textos  seminais

  e de

  for macao .

  N a o

  e r am,

e m caso  a l gu m,

 "livros-textos"

  pa r a a fundap io de uma nova

subdisciplina

  academica:

  nada poderia ter sido mais estranho

ao seu

  impulse intrinseco. Quer fossem historicos

  ou

  contem-

pora ne os

  em seu

  foco,  eles  propr ios  cons t i tu iam  respostas

as

  pressoes  imedia t as

  do

  t e m p o

  e da

  sociedade

  em que

fo ra m  escritos, ou era m focalizados ou organ izados por  tais

respostas . Eles nao apen as lev aram  a^ 'cul tura

1

;  a

  scrip,,

  como

uma  dimensao sem

  a

  qu^af^sJffa^^ormago^'Kis^oricas,  pas-

saclas^e~presentes

)

  simplesmente nao poder iam ser  pensadas

de man e i r a adequada . E r am em s i mesmos  "culturais" ,  no

senfflcTd&lffilturae

  sociedade.

  Eles

  forcaram

  seus

  lei tores

a  a ten tar  para a tese de  qu e

f

 ^con centrgdas na^BalayjaJcultura ,

exis tem questoes

  d i re ta m e nte  propgstas

  pe l as g r andes mu-

d a n g a s  hist6ric^s_qu^^sjTnodifica^^ej.naJndjjs^m

  na  demo-

cracia

  e nas

  classes sociais representam

  de

  mane i r a p r opr i a

e

  as  quais  a  arte  responde  t ambem,  de  forma  semelhante'^^

Esta era uma questao para  os  anos  60 e 70, bem  como para o s

anos  I860  e 1870. E talve z seja um ponto a nota r que

  essa

l inha  de  pensamento coincidia mais  ou menos com o que

133

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0

s

te m

  sido

  chamado  de "agenda" da Nova Esquerda ,  qua

esses

  escritores

  e

  seus

  textos,  de uma

  forma

  ou de

  ou t ra ,

pertenciam. Essa  l igacao  colocou  a^pol i t i ca do t r aba lhqjn t e -

l ec tua l"

  bejn-Ccijgentro

  dos  Es tudos Cul tura is

 desde

  o  inicio

  um a  p r eocupag ao  da qual , fe l izmente , eles  n u n c a  foram

n em   jamais

 poderao

  se r  liberados.

  N u m

  sen t ido profundo,  o

"acer to  de contas" em

  Cultura

 e sociedade,  a

  primeira

  parte

de  The  Long  Revolution,  certos  aspectos  p a r t i c u l a r m e n t e

densos  e concretes  do estudojde Jioggart  sobreji

  c u l t u r a

da

  clas.se trabalhadora

  e da

  recon

 s t rugap

  h is torica

  da

  for-

m a c a o   da  c u l t u r a  de  classe  e das  t r adi soes  p op u l a re s  do

periodo e nitre

 1790/1830,

 feita  p o r T h omps on — e m c on j u n t o

  cons t i tu i ram a ruptura e

  def iniram

  u m

  n o v o  espaco

  e m

que uma  nova area  de es tudo  e_pratica brotou,  Em termos  de

•  \*-**-^~™*^^-~

 —  

----   —

  —  

 --"  

 - •*•

  -i"**^^ -

  m

*——*-*^^~'   -

  ^

marcac.6es e   gnfases  in te lec tua is , esse  fo i — se e que  algo

assim pode s e r veri f icado — o mome n t o  de

  "re- fundacao"

  do s

Estudos Cul tura is .  A ins t i tuc iona l iz ag ao

  deles

  —   primeiro ,

no

  centro

  em  B i rmi n gh a m, e depois, por  meio  de  cursos  e

pub l i cag oes provenien tes  de varias fon tes  e  lugares , c om suas

perdas e

  ganhos caracteristicos,  pertencem

  ao periodo dos

anos  60 em

  dian te .

era o  l oc a l  de  c o n v e r g e n c i a .  M a s ,  qu e  de f i -

nicoes

  desse  concer to

  ceritral"ernergiram

 desse

  c on j u n t o

  de

obras?

  E, em

  t o rn o

  de

  qu a l espaco  fo ra m u n i f ic a da s

  a s

  suas

preocupacoes  e

  conceitos,  ja

  qu e

  decisivamente essa

  l inha

de  pensamento  moldou  os  Es tudos Cul tura is e  representa  a

t r adicao au toc tone

  ou

  "nativa" mais  formativa?

  O

  fato

  e que

n e n h u m a d e f i n i g a o

  u n i c a  e nao

  p r o b l e m a t i c a

  de

  c u l t u r a

  se

encpjil£a_aa,.uL

  O _conce i j j

.—

  um local

f ede

 interesses

  convergentes ,  em vez de uma ideia logica ou

c o n c e i t u a l m e n t e

  c l a r a .

  Es s a " r i qu e za " e u ma a re a de c on -

t i n u a

  t e n s a o e  di f icu ldade  n o  campo.  Pode  ser necessar io,

por t an to ,

  re s u mi r b re v e me n t e

  as

  enfases

  e

 dimensoes

  carac-

teristicas

 pelas

  quais

  o cg |

chegou

  ao seu  a tua l

  [1980]

esta^ode

B

£ii^^ten^n

i

a^^

 (A s

 carac teriza^oes que se  seguem

sao nece ssa r iamen te  grosseiras e simplificadas,

 sintet icas

  e m

vez de

  precisamente  analiticas.) .  Somente duas  problematicas

principals sao discu t idas .

Duas manei ras di feren tes ddfconcei tuar a

  cu l tu r aNpodem

se r  e x t ra i da s  d a s

  v a r i a s

  e  s u ge s t i v a s fo r fn u l a c oe s f e i t a s

po r  Ra ymon d W i l l ia ms em  The  Long Revolution.  A  primeira

134

relaciona[cultura-a   soma das^escngogsjdisponiveis

  pelas quais

as   sociedades  dao  sentido^  refletem^j_suas_exp_erigngas

CQmun|M

 Essa  definic.ao  recorre  a  enfase

  primi t iva"sobre~as

"ideias",

  m a s

 submete -a

  a

 todo

  u m

 t ra b a l h o

  de

  r e f o rmulacao .

A

 concepcao  de cu l tura e , em s i mesma, socia l izada e d e m o -

cra t izada.  N ao

  consiste

  mais

  n a

  soma

  de o "melhor que foi

pensado

  e  dito",  considerado  como  o s  apices  de uma  civili-

zagao

  p lenam ente rea l izada — aquele ideal de

o  qual ,

  n u m

 sentido

 an t igo, todos  aspi ravam. Mesmo

—   des ignada

  an t e r io r men te

 como

 u m a

 posicao

  de

  privi legio,

u m a

  pedra-de-toque  do s  mais a l tos va lores  da  c iv i l i z a f ao

—  |e  a go ra re de f i n i da c omo  apenas  u m a  formajesr jecia l_^ le

processo

  social geral: o dar e  t oma r s i gn i f i c a dos e o  l e n t o

d e s e n v o l v i m e n t o

  dos

  s igni f icados comuns ; i s to

  e , u ma

  cul -

t u ra  comum:

 a

  "cul tura"^neste  sen.tido^especial,__"e prdinari_a"j^

( t o m a n d o  emprestado  u m a d a s  p r i m e i r a s t e n t a t i v a s  d e

W i l l i a m s

  de

  t o r n a r

  su a

 posicao

  b a s i c a

  mais

  acessivel). '

5

  S e

a s

 descricoes

  mais sublimes  e  re f i n a da s d as  obras  l i terar ias

t ambem fazem "parte

  do processo

 gera l

  qu e

  cria convenc.6es

e

  instituicoes,

  pelas quais  os  s igni f icados  a que se  a t r i b u i

valor  n a  comunidade  sa o  compart i lhados  e  at ivados",

5

 entao

nao

  exis te nenhum

  modo

 pelo

  qu a l

 esse processo pode

 ser

desvinculado, dis t inguido  ou  isolado  de  out ras pra t icas  qu e

f o rmam

  o

 processo

  historico:

•^

Ja que a   nossa  maneira de ver as  coisas  e  li teral me nte a  nossa 1

manei ra  de v iver , o

  processo

  de comunica^ao, de

  fa to,

  e o  i

processo

  de comunhao : o  compar t i lhamento  de

  significados

comuns e ,

  dai,

  os

  propositos

  e a t iv idades comuns; a

  oferta ,

recepcao  e c omparacao de novos s ign i f icados , que  l evam  a

tensoes ,

  ao   cr esctmento  e a  mudanca.

6

Assim,

  de

  manei ra a lguma

  as

 descricoes  li terarias, entendidas

dessa

  fo rma ,

 podem

  se r

  isoladas

  e

  comparadas corn

  as

 ou t ra s

coisas.

Se a  ar te  €  par te  da  sociedade,  na o  existe unidade solida  fora

dela,

  para a qua

nos concedemos

  p r ior idade  pela

  forma

  de

nosso  q u e s t i o n a m e n t o . A   arte existe  ai  como  u ma  a t iv idade,

j u n t a m e n t e  com a p roducao, o  comercio,  a  poli t ica,  a cr iacao

de

  filhos. Para

  es tudar as  rela?6es  adequadame nte , p r ecisamos

estuda-las

  a t ivamente ,  vendo todas

  as

  atividades como  f orma s

par t i cula res

  e

  con temporaneas

  de

  energia  h u m a n a .

7

135

 

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S e  essa primeira enfasejeyanta  e

 r e - t r aba lha

 a  _._

 

do_terjnc<^u]tura)com

  o

  dominio

  das

  "ideias".

 a

  segunda

enfase:  € jriais

  deliberadamente antropologica

  e  e n f a U z a ~ o

se refere as praticas  sociais. E a

  - --

  -- .,-

  5sMjr~i **

  •

 —l, iL,

partir dessa segunda enfase

 que uma  defin icao de

 certo modo

s impli f icada —  ^a^ultura_ejjrn_mpdo  dejvida_global" —

 tern

sido  a bs t r a f d a

  de

  f o rm a

  u m

  tanto pura.

  W il l iams

  relacionou

esse aspecto

  do conceito  ao uso mais documental do

  termo

— isto e, descritivo ou

 mesmo

 etnografico. Mas a

  d e f in i c a o

anterior

 me

 parece

 a

 mais central,

 pois

 nela

 o

 "modo

 de

 vida"

esta_integrado.

 O

 ponto

  im p o r t a n c e

 nessa  discussao

 se

 apoia

nas  relacoes  aCivas e

 indisso luve is

 entre

 elementos e

 praticas

}

  sociais normalmente isoladas.

 E nesse

 contexto

 que a

  "teoria

da  c u l t u r a " e

  defin ida

 como "o estudo das  relacoes  ejitTg_elg-

-d.e.^ida_gJpJ3;al".   A

  cultura^ naQ_tLurna .

p r a t i c a ; nem

  apenas

  a

 soma

 descritiva dos^Q^tyjnes  e

  "cul-

turas populares

  [folkways]

_ d a . s  sociedades, como  e]a

po r

  todas

  as_pra t icas sociais  _e  cons t i tu i a

 soma

 dojjiter^rela-

cionamento das mesmas.

 Desse

  modo, a questao do que  e_

^como

  elsTe

  estudada

  se resolve por si

  m e s m a j

 A cultura e

es^e_qadTac^ de  o r ga n iza c a p ,  essj_gj

?

orma^_£aj:a

fjer

'

5r

icas_de_

gj^giaJiumana_que4iQd£m.s_er descobertajuxtmqjeyeladoras

—   "dentro

  de

  identidades

  e

 correspondencias

t

""

  ~~

  ~  *i$g8*&3?ss&5*£*~

ides^ge  Cipos

nesperadas",

inespeHBbs"

8

 —

 d

p r ^ f i c a s  sociais.

  A a n a l i s e d a

 cultura

 e,

 portanto,

  " a te n t a t i v a

de~des coBrir a  riatu reza da organizacao que  fo rma o

  complexo

desses

  relacionamentos".

  Comeca

  com "a descoberta  de

padroes

  caracteristicos".

  Iremos descobri-los nao

  na

  a r t e ,

producao, comercio, politics, c r i a c a o

 de

  filhos,

 tratados como

atividades isoladas, mas atraves do "estudo da

  o r g a n i z a c a o

g era l

  em um

  caso

  par t icu lar" .

9

  Analiticamente,

 e

  necessario

estudar

  "as relacoes

  entre

  esses

  padroes".

  O propositp da

analisej entendej^cgjTjO^sjriter-re^acoes

  de

 todas

 essas

 pra-

ticas  e_^rj^roes,,sao_yiyidas-e-e.x^jenmejitj^as_^^

em_urn_dadqi

 ^erlo.do:-essa

  e sua  "es t ru tura  de  experiencia"

[structure

  of feeling]. 

~~

  "

E

 mais

  faci l

  ve r a que

  W i l li a m s

 estava chegando

  e por que

ele seguiu

  nesse  caminho ,

  se entendermos quais problemas

136

ele abordava e os percalcos que tentava e v i t a r . Isso e particu-

larmente

 necessario, pois

  The Lons Revolution

 (como muitos

dos  trabalhos  de  W i l li a m s)  desenvolve  um

  dialogo

  oculto,

quase

  silencioso, com

  posicoes  alternativas,

 que nem sem-

pre sao

 t ao

 claramente identificadas quanto

 se  desejaria. Existe

u m

  claro  e n g a j a m e n t o

 j :om_as

  d e f in igo e s  "i

de cultura

^

" ideias" , na

  tra-dicacMdeaJista,

 quanto

  a ass imila^ao de  c u l t u ra

aTim^e«j;,,_cj4£_r e3:al ^^

_tura l" .

  M a s h a

  tambem

  u m e n g a j a m e n t o

  mais extenso

  c o m

certas

  fo r m a s

 de marxismo, contra as quais conscientemente

se

 voltam

 as  d e f in i c o e s  de  W il l iams. Seu

 posicionamento

  se

dirige

  contrariamente

  a  operacao

  l i t era l

  da  m e ta fo r a  base/

superestrutura, que no marxismo class ic o  c o n f e r i a  o dominio  f/J

das^ideias e

  significados as  "sja r je rest ruturas^T concebidas

 

r r

como

  meros  r e f l e x o s

  determinados

 de

  maneira simples

 pela

base,

  e sem

 qualquer efetividade social propria. Quer dizer,

o araumentgde

  W i l li a m s

 e  dirifiido  contra um

i

v u l g a r

  e um determinismp

  economico.

  Ele

  o fe r e c e ,

  em seu

l ug a r ,

  um in te r ac ion ismo

 radical:

 a

  in t e r a c a o

  m u t u a  de

  todas

as

  praticas, contornando

  o

  problema

 da determinacao. As

distincoes

  entre

  as

  praticas

  sao

  superadas pela visao

  de

todas

  elas

 como  f o rm a s variantes de praxis — de uma ativi-

dade  e

  energia humanas

  genericas. Os padroes

  subjacentes

que

 dis t inguem

 o

 complexo

 das

 praticas

 numa

 sociedade

 espe-

cifica  em determinado

  periodo

  sao

  " formas

  de organizacao"

caracteristicas

 que embasam a

 todas

  e

 que, portanto, podem

ser

 tracadas

  em cada uma

  delas.

Var;as

  revisoes  r a d i c a l s

 dessa primeira postura

  te rn

  ocor-

r ido:

  e cada  qual tem contribuido muito para a redefinicao

daquilo

  que os

  Estudos

  Cu l tu r a i s  sao ou  deyerianx.sei^Ja

recpnhecemos

  a

  natureza

  exemplaFdo^r j rQJeto

 . ..

 de   Willia ms .

de

 _rep_ensar

  e^

 r e v e r

  consfan tem£nte_aj ;gumentos

 mais antigos

—   de

  continuar

  pensando.

  Contudo,  somos

  surpreendidos

por

  uma~Tiflnir33^c^nti^^

  nessas revisoes

Sjejninais.  U m

 desses

  momentos ~€   aquele  em   que ^W uT i a m s

reconhece  o

  trabalho

 de  Luc ien

  Goldmann

 e,

  atraves deste,

do conjunto de pensadores  marxistas que  haviam dado atencao

p a r t i c u l a r  as

  fo r m a s

 superestruturais e  c u j a  obra comecara,

pela primeira vez,

 a aparecer em

 traducoes inglesas

 em

 meados

da

 decada

 de

  I960.

 E

 nitido

 o

 contraste entre essas tradicoes

137

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7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2

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marxistas  alternativas que susten taram autores como Go ldmann

e

  L u k a c s ,

  se  c om pa ra do  a  pos ic a o  isolada de

  Wi l l i ams

  e a

t radicao   marxista

  e m pobre c ida  da

  qu a l

  e l e s e va l e r a . M as

os

  p o n t o s

  de  conver g enc ia  —   tanto aqui lo  a que se opoe m

qua n to aqu i lo a que se

  r e f e r e m

  — s a o i d e n t i f i c a d o s d e

maneiras que nao divergem

  inteiramente

  de  seus

  argumentos

anter iores . Aqui esta o pon to neg a t ive , que e le percebe como

a

  ligacao de seu

  t r aba lho

  com o de

  G o l d m a n n :

Passei a crer que tinha que abandonar ,

  ou

  pelo  menos deixar

de lado, aqui lo que eu conhecia como   t rad icao  marx is ta : a

t enta t iva   de desenvolver  u m a  teor ia da to ta l idade socia l ; ver

o

  e s t u d o

  da

  c u l t u r a

  como o es tudo das

  r e l a c o e s

  e n t r e  os

elementos numa forma in tei r a de v ida; encon t r ar   meios  de

es tudar a es t ru tu ra . . . que pudessem   m a n t e r  c o n t a t o c o m

fo rmas  e

  obras

  de  arte  especificas e

  i lumina-las,

  ma s  t ambem

c o m a s

  formas

  e

  re lacSes

  de uma

  vida socia l mais

  gera l ;

subs t i tu i r  a

  formula

  da  base  e superestrutura pela ideia mais

a t i va

  de

  ur n  c a m p o

  de

  fo rcas mutuas

  s e n a o i r r e g u l a r m e n t e

d e t e r m i n a n t e s .

1 0

E

  aqui  o

  ponto

  posi t ive — em que se

  marca

  a  convergencia

entre  a "est rutura de exper iencia"  [structure  of  feeling]  de

Wil l iams

  e o

  "estruturalismo  genet ico"

  de G o l d m a n n ;

Descobri

  em meu p ropr io

  t r abalho

  que eu

  t lnha

  qu e

  desen-

v o l v e r

  a

  ideia

  de uma

  e s t r u t u r a

  de

  e x p e r i e n c i a

  . . . Mas

  ai

desco bri G oldmann par tindo . . . de

  u m

  conceito de estrutura

que continha em si mesmo uma relacao entre os fatos social e

l i terario.

  Essa relacao, insistia

  ele,  nao er a uma questao de

conteu do, mas de estrutu ras mentais: "categorias que simulta -

neamente organizam a consciencia empir ica de um grupo

social especifico

  e o

  mundo

  imaginative  cr iado

  pelo

  escritor".

F or   definicao,  essas

  estruturas

  nao sao

  individualmente cr iadas,

mas sim coletivamente.

11

A  enfase dada  all a  interat ividade  das praticas e as  totalidades

subjacentes ,   b em  como  as homologias  entre elas ,  e  caracte-

ristica  e s ig n i f ica t i va . E con t in ua : "A correspondent  em

termos  de   con teudo en t r e  u m  escritor  e seu m u n d o  e  menos

significante  do que  essa correspondent e m  termos  de   orga-

nizacao, de es t rutura."

138

U m  seg undo momento

  e o  ponto

  emjque^WUliams rea l -

mente leva em conta a

  critica

  de E. P. C[hompso^) sobre  Th e

Long  Revolution?

2

  segundo a qual nenhum "modo de  virla

global" existe  sejn^ua_dimensao

  de

  luta

  e

  confronto

  co m

modes

  de

  vida

  opostos,  e

  tenta repensar

  as questoes-chave

^e^etermina^ao e de dominacao at raves d o conceito  3e~rTege^~

monia de  Gramsci.  Esse^ensaio^— "Base a nd  Supers t ruc ture  in

Marxist Cul tural Theory"

13

 — e

  seminal, especialmente

  por sua

elaboragao   sobre  as prat icas  culturais  dominantes, residuals  e

emergentes e seu retorno a problematica da determinaca o

como

  "limites  e  pressoes".

  Contudo",

  a

  enfase anter ior

  vol ta

co m

  forca:

 "nao podemos

  separar  li teratura  e

  arte

  de

  outros

t ipos de prat icas

 socia ls ,

  de fo r ma a  sujei ta- las  a leis especi-

f icas

  e  distintas". E

 "nenhum

 m odo  de producao e, por  conse-

g uin t e , nenhuma  soc ie da de  dpminan te

  o u

  ordem social

  e ,

por tanto, nenhuma|cu l tura dominant^) de  fato.  esgota a pratica.

^ a e n e r g i a

  e a intencao hunianas"7 E

  esta nota

  v ai  a lem  — na

r ea l idade ,  e

  r adica lmen te

  acen fuada  — n a  mais recente  e

sucinta defesa a sua  posicao:

  Marxismo

  e

  literatura.

14

  Em

oposigao

  a  en fase es t r u tu r a l i s t a  n a  espec i f i c idade  e a u to -

n omi a ^ da s

  prat icas

  e sua

  separacao  analitica

  das

  sociedaries

errjJnstanciag_dis]mtas.

  a enfase de W il l iams recai

  sobre

  a

"at ividade

  cons t i tu tiva"

  em geral, sobre a "atividade

  h u m a n a

sensual , enquanto prat ica" ,

  da

 pr imeira "tese"

  de

  M ar x sobre

F e u e r b a c h ;  sobre  as diferentes prat icas concebidas  c om o

"pratica

  indissoluvel  em seu todo"; e

  sobre

  a

  total idade.

Logo,  ao con t r ar io de um desenvolvimento no marx ismo, n ao

e a

  base

  e a

  superestrutura

  qu e

  precisam

  se r

  estudadas,

  m as

processes

  reais especificos  e

  indissoliiveis,

  den t ro  do s  quais

o r e lac ionamento decis ive , de um ponto de v ista marx is ta , e

aquele expresso pela ideia complexa

  de  determinacao

  l5

Em  u m  dado  n i v e l ,  pode-se  d iz e r  que o  t r a b a l h o  de

Xhnmps&n  convergem

  em

  tor no

  do s

  termos

da   mesma  p r ob l emat i ca , a t r aves da oper ag ao de uma

  t e o rU

zacaojviolenta

  e

 esqueniaticamentejiicotomica.

  Q

 fundamento

organizador

  da  obra  de

  Thompson

  — as

  classes enquanto

relacoes, a luta popular, as  formafoes  historicas de consciencia,

as

  c u l t u r a s

  de

  classe

  em sua

  par t i cu l a r idade h i s to r i ca

  —

e

  a lhe io

  a o  modo mais

  ref lexive

  e  "g ener a l i z ador " como

139

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Williams

  tipicamente

 trabalha.

 E o

 dialogo

 entre

 eles

 comega

com um

 encontro brusco.

 A

 revisao

 de

  The

 Long Revolution,

empreendida

 por Thompson, fez duras

 cobrancas

 a

  W i l li a m s

nor seu  modo  evolucionista  de  conceber  a  c u l t u r a

  como

"uma  forma

  inteira de

  vida";

  por sua

  tendencia

  a

  absorver

os

 conflitos entre

  as

 cuituras

 de

  classe

  aos

  termos

  de uma

"conversacao"  ampli ada; por seu torn impessoal —

  acima

das

  classes concorrentes,

  por assim

  dizer;

  e  pelo

  alcance

imperializante  de seu  conceito  de

  " c u l t u r a "

  (que,  de

  f o r m a

heterogenea,

  tudo abarca  em sua

  orbita,

  pois

  tratava-se  do

estudo

  dos

  inter-relacionamentos

  das  f o r m a s  de

  energia

  e

organizacao  subjacentes a

  todas

  as praticas. Mas nao era ai

— perguntava Thompson

  — que a

 historia entrava?). Pouco

a

  pouco,

  podemos  ver  como

  Williams persistentemente

repensou os termos de seu paradigma original para levar em

conta tais

 criticas

 — embora isso se realize (como ocorre  tao

frequentemente em Williams) obliquamente:

 pela

 via de uma

apropriacao  especifica de  Gramsci,  em vez de uma  modifi-

cacao

  mais direta.

Thompson

  tambem

 opera com uma distincao mais "classica"

do que o faz

 Williams entre

  ser

  social

  e

  consciencia social

(termos

 que

 prefere muito mais

 aos

 conhecidos "base

 e

 supe-

restrutura"). Logo,  onde

  W i l li a m s

  insiste na  absorcao  de

todas as praticas a uma totalidade da

  "pratica  r e a l

  e indisso-

luvel",  Thompson  lanca  mao de uma dist incao mais antiga

entre  o que e  "cultura"  e o que  "nao  e  c u l t u r a " .

  "Qualquer

teoria  da

  c u l t u r a

 deve incluir o  conceito de  interacao diale-

tica  entre cultura e  algo  que  nao  e  cultura". Ainda assim,

a

  definicao

  de

  cultura

  nao

  esta

  tao

  distante daquela

  de

W i l li a m s :

Devemos supor  que a materia-prima da experiencia de vida

se

  local iza

  em um po lo , e

  t o d a s

  as disciplinas e sistemas

h u m a n o s infini tamente

  complexos,  ar ticulados

  e desar ticulados,

fo rmal i zados

  em

  insti tuicoes

  ou

  disperses

  em

  modos  m e n o s

formais,  os quais  "lidam com",  ransmi tem  o u  distorcem essas

mater i as -pr imas ,

  estar iam situados em  outro

  polo .

16

De  f o r m a

  semelhante,

 a respeito do

 carater

 comum da pratica

que subjaz a todas as praticas distintas,

  ele  a f i r m a :

  "E no

processo  ativo — que  6  ao mesmo  tempo  o  processo pelo

qual

 os

 homens

  f a z e m

 sua

 historia

 — que insisto."

17

 E as

 duas

posicoes se

  aproximam

 em

  torno

 — de

  novo

 — de

 distintos

pontos negatives

 e positives.

  Ne^a^tyjmj£nle^cQntra^a. meta-

f o r a

  ''base/sup^exesuiuxuxa.

1

'

  e uma definicao

  reducionista

  ou

economicistade determinacao.

  Sobre a primeira: "A

 relac.ao

dialetica entre  o ser  social  e a  consciencia social  — ou

entre

  'cultura'

 e

  l

n«o-cuitura'

 — esta  no amago de  qualquer

compreensao do

  processo historico dentro

 da

  tradicao mar-

xista... A tradicao  herda  uma dialetica que e certa, mas a

metafora

  mecanica  especifica  que a  expressa esta errada.

Derivada

  da engenharia  c i v i l ,  essa  metafora  ...

  deve,

  em

qualquer caso,

  ser

  inadequada para descrever

  o  f l u x o  do

conflito,  a dialetica de um  processo  social em

  mudanca...

Todas

 as

 metaforas

 que saq_gejalmentg

-

apresentad^gjdm

  uma

tg^dgricj^^a__cond.u_2ir__a  jtnente

  a  modos_esqjje^naticj3.s._e,

a f a s t a ^ l a _ j d ^ _ j n t e r a c j i p

  da

  consciencla-de-ser".

  E sobre o

reducioni smo: "O reducionismo e

 urrrHpso~na~16gica histo-

rica

 pelo

  qual acontecimentos politicos

 e

 culturais

 sao

  'expli-

cados'

  ef n

  termos  das

  af i l i agoes

  de  classe  dos  seus  atores...

M a s  a mediacao  entre 'interesse'  e

  'crenga'

  nao  passa  pelo

'complexo das superestruturas' de que  fa la

  Na i r n ,

  mas

 pelas

proprias pessoas."

18

 E

 mais positivamente

 — uma

 simples  a f i r -

macao  que  pode  ser  considerada como

  definicao

  de  quase

toda

  a

  obra historica

  de

 Thompson, retirada

  de

  Aformafao

da classe

 operdria  inglesa,

 ate  Whigs and

 Hunters,

 A miseria

da

  teoria™

 — e mais alem:

A   sociedade c apital ista

  fundou-se  sobre

  formas  de

  explorafSo

que sao ao mesmo   t e m p o  economicas ,  morais  e  cu l tu r ais .

Tomemos a  definifao  essencial de  r e lacionamento  produtivo

...

  se a  inver termos  ela se  r evelar a  ora sob um

  aspec to

  (o

t r abalho assalariado) , or a sob

  outro

  (u m  ethos  aquisitivo), ora

so b

  outro ainda

 ( a

 a l ienacao dessas  faculdades intelectuais como

aLgo

  na o

  necessario

  ao trabalhador em sua

  f un^a o

  produtiva.

20

Aqui,  entao,  a despeito  de

  varias

  diferencas  importantes,

esta  o_esbcic^__de  uma  H n h a s i g n i f i c a t i v a  de

 pensamento

  dos

<Q Estudos_Cul tu r ais j ) dir-se-ia,

 fa paradigma^omlnante\

  Ele se

opoe ao papel

  resLdu^^_de_nierg_reflexo

  atribuido aoj^cul^

t u r a l " .

  Em suas varias

  f o r m a s ,

  ele conceitua a

  cultuj-a  como

se  entrelaj:a  a  todas  as  praticas sociais;  e  essas

140

141

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7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2

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prat icas , por sua vez, como  u m a  fo r m a  c omu m de a t i v i da de

J u i m a n a :  como praxis sensual

  T Jum a na ,

  c omo  a  ativTcTarr^

a t r a v e s d a q u a l ~ h o m e n s e m u l h e r e s   f a z e m  a

  h is to r ia . Ta l

p a r a d i g m a   se  opoe  ao

  e s q u e m a b a s e - s u p e r e s t r u t u r a

  de

f o r m u l a c a o   d a r e l a c a o e n t r e a s  f o r c a s  ideais e

  m a t e r i a l s ,

e s p e c i a l m e n t e o n d e

  a

 b^se_eude£ ij iida-CQmo-jjetermiria$a

 o

pelo-"economico",

  em um

 sentido  s imples . Essa  l i n h a

  de

p e n s a m e n t o p r e f e r e

  a f o rmulacao

  m a i sa r j a p l a

  — a

 dia le t ica

 _ ^ .

J

^ -_

A

  _

_

J

_  |

i   ———-

  .1

Centre

 o ser e a consciencia socia l : inseparaveis em  seus polos

distintos

  (em

  a l g u m a s  f o r m u l a c o e s

  alternatives^

  a dia le t ica

e n t re " c u l t u ra "

 e

  "nao-cul tura") .  El a  def ine ^hu^oojnesmo

temfjo^omo  os sentidos e valo res que  nascem^entre_j^_classes

egrupos sociais  d i f e r e n t e s ,  comjjase  em_s,iia.s relacoese

condicoes^lTtstoricas,

  rjej£s_c|uaJs-eie^JUdam_com  suas

concU£oes_de_existencia e

  respondem

 a

  estas;

 e tambem

  como

as t rad  i goes e pra t icas v jyidas a t raves das qua is esses "enteji-

di me n t os "  saQ_expresso.s._g  n os qu a i s e s t a o  incorporados.

W i l l ia m s

  j u n t a

 esses

  dois aspectos  —

 de f in icoes

 e  modos  de

vida

 — em

  torno

  do

  proprio concei to_de.cu l tura . Thompson

 

-•n»BBH«aiissasisSSBiigS£HSS3 =

s

" *

reune os  dois e lementos  —  consciencia  e

  condicoes

 — em

t o r n o  do  c on c e i t o  de  " e x p e r i e n c i a " . A m b a s  as  posicoes

e n v o l v e m c e r t a s

  oscilacoes

  c omp l i c a da s

  em

  t o r n o

 dessas

a l a v r a s - c h a v e . W i l h a m s ^ a b s o r v e

  tao compJetamente as

Mef in ic6 es^_c le_exper ienc ia^ )

 ao

  nosso

 s^ rnodo_de_vida^)

  e

* >  a m B o s i e m

  u ma  indissoluvel

  g r a ti c a ^ em - ge r a l, £ e a l e r n a t e r i a l

f

ITpontcrcle

 "pefc lerde-vis ta

  qualque^cUsjy^aojentrg^"

 cu l tu r a^

e "

a

r i a o - c u l t u ra ' ' . T h omp s on , a s v e ze s ,  u t i l iza  "experiencia"

no

  s e n t i do m a i s c omu m

  de

  c o n s c i e n c i a , c o m o

  os

  me i os

coletivos  pelos  quais

  os

  h o m e n s  " l idam  c om, t r a n s mi t e m

ou  distorcem"  suas  condicoes  de vida , a materia-prima da

vida ; as vezes como

  o

  d o m m i o

  do

  " v i v e n c i a do" ,

  o

 meio-

termo  en t re

  "condicoes"

 e  " c u l t u ra " ; e as vezes como as pro-

prias

 condicoes

  obje t ivas — as quais sao cont rapo s tos certos

/ modos

  part icu lares de consciencia . Mas , quaisquer que

  sejam

os

  termos , ambas

  a s

 posicoes  t e n de m

  a

  le r  as_es tru turas

  da s

relacoes em

  termos

  de

  como estas

  sao

  "vividas"

  e

  "experi-

mental"

asTA

  "estrutura de

  experiencia"

  [structure

  of

  feeling]

w i l l i a m s i a n a

  — c o m s u a d e l i b e r a d a  condensacao  de ele-

me n t os a p a re n t e me n t e   incompat ive is — e  algo  caracteristico.

M as   o mesmo

  €

  va l ido  para Thompson, a despei to de seu

e n t e n d i me n t o  mui to  mais  his tor ico  do  c a r a t e r  de g ra t u i da de

142

e de  e s t r u t u r a c a o  das relacoes e condicSes nas  q u a i s

h ome n s e mu l h e re s ,

  de-^modo

  necessario e

  invo lun ta r io ,

  se

insereni ; e de sua   atencaxS  mais  c la r a  a " d e t e r m i n a c a o "  exer-

cida

  pelas

  re l a c oe s

 de producao e de exploracao sob o

 capi-

ta l ismo.  Isso

  ocorre

  como  conseqiiencia de uma  a t r i b u iga o

t ao cen t ra l ao papel  da experiencia e da consciencia cu l tu ra l

n a

  analise. Atrofao  da

  experiencia

  nesse

 paradigma e a

  enfase

dada

  ao

  cria t ivo

 e ao

  agenciamento h is torico cons t i tuem

 os

dois e lementos-chave

  no

 humanismo  dessa

  posicao.

  Conse-

quentemente,  cada  q u a l c p r i f e r e

  a

  "experiencia"

 u m a

 posicao

a u t e n t i c a do ra   errrqualquer  a n a l i s e  cu l tu ra l . I jm u l t ima  aria-

Use,

  trata-se de

 onde

 e  c omo  as pessoas  e xp e r i me n t a m s u a s

condigoes^

  de

  yida,

L

 com^^^e£inem_e_a

-

^lj^_xg3pondeJB_g_

^quej_para

  T h omp s on , v a i  d e f i n i r • a r a z a o  de  cada  modo  de

proclucaoser tambem uma cu l tura . e cada

  luta

  entre as classes

se r

  sempre

  u m a

  lu ta en t re modal idades  cu l tu rais ;

  e

  isto, para

W ill iams,  cons t i tu i  aqui lo que ,  em

  u l t ima  ins tanc ia ,

  a  anal ise

cu l tu r a l

  de v e o f e re c e r .  Na  gexperiencia^)todas^s^rxaticas,jg

_e.njjgcruzam;

  dentro  da^ 'cu l tura" todas  as pra t icas

  in teragem

  ainda que_de-£cmna

  des ig ua l

  e m u t u a m e n t e  de t e rmi n a n t e .

Nesse sentido

  a

  to ta l idade cu l tura l

 — do processo

  historico

 

em seu

 conjunto

 —

  u l t ra p a s s a qu a l qu e r t e n t a t i v a

 de

  m a n t e r

a

  distincao

  entre  a s  rns tanc ias  e e l e me n t os . A v e rda de i ra

conexao  e n t re  estes, sob  certas  condicoes  h is to r icas ,  deve

ser  a c o m p a n h a d a  pelo  mov i me n t o t o t a l i za do r  "no  p e n s a -

m e n t o "  d u r a n t e  a anal ise . Tal

  percepcao

  e s t a b e l e c e p a ra

a mb os

  os

  mais fortes protocolos c ont ra qualque r  forma

  de

abstracao  analitica  que distinga as praticas ou que se proponha

a tes tar o "verdadei ro movimento h is torico" em toda a sua

p a r t i c u l a r i d a d e  e  c o m p l e x i d a d e a r t i c u l a d a  por  q u a l q u e r

operacao  logica  ou  a n a l i t i c a de  ma i o r e n v e rga du ra . T a i s

posicoes,

  e s p e c i a l me n t e  em  suas

  versoes

  h is toricas mais

c on c re t a s  (Aformacao,  O campo e a cidade)

  sao o

  c on t ra r i o

da busca hegel iana das essencias subjacentes . Contudo, por

su a  tendencia

  a

  r e d u z i r

  as

  p ra t i c a s

  a

  p ra xi s

  e

  de s c ob r i r

"formas"

  c omu n s e homologas  subjacentes as areas aparen te-

mente mais diferenciadas , s e u m o v im e n tCL e  "essencializante".

Possuem  uma  fo rma  especif ica  de  c omp re e n de r  a totali^cle.

  embora es ta

  seja  com um

  "t "

  minuscu lo ,  seja

  c on c re t a

  e

h i s t o r i c a me n t e de t e rmi n a da ,

  i r r e gu l a r

  e m s u a s c o r re s p on -

dencias. Essas  posicoes a  c omp re e n de m  " e x p r e s s i v a m e n t e "

14 3

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E  uma vez que cons t an t emen te modu lam a

  a n a l i s e

  mais

t r adic iona l

  n a

  direcao

  do  n ivel_experiencia l  o u

  interpretam

as outras es t ruturas

 e

 relates

  de

  cima

  para baixo,

  do

 ponto

de

  vis ta

  de c om o

  es t as

  sa o

  "vividas" ,

  essas  pos icoes  sa o

p r o p r i a m e n t e  (mesmo

  que nao

  adequada

  o u

  in t e i r amen te )

caracter izadas como  "culturalistas"  em sua enfase: mesmo

q u a n d o   t o d a s

  a s

  adver t enc ias

  o u

  restr icoes

  a

  " t eor i z acao

dicot f imica"  por demais rapida

  t e n h a m

  sido  feitas.

21

A

  vertente^jcjjlturalista

  no s  Estudos  Culturais foi

  in terrom-

p|da_2ela_diegada dos

  estrutufafismos

  ap  cenario.

  Possivel-

mente mais

  diversfficatios~que"os~ciTlfuralismos,

  e les  todavia

compar t i lham

  de

  ce r t as  orientacoes

  e

  posicoes

  qu e

  t o r n a m

su a  de s igna c a o  sob um

  unic o

  t i tu lo  nao to t a lmen te equ ivo-

cada. Nota-se que, embora

  o

  paradigma cul tural is ta

  possa

ser definido sem se recorrer a uma referenda concei tual ao

termo "ideologia"  (a palavra,

 e

  c laro ,  aparece,  mas nao e um

concei to-chave),  ajjjmejyerig^s^ejjr^^

mente  articujajdaj^jGaJXHm)^esse  concei to: em conco rdancia

com sua

  l inhagem mais impecavelmente marxis ta ,

  "cultura"

n ao

  f igura

  a i

  tao proeminentemente. Embora isso possa

  se r

verda deiro para os es t rutu ral is tas marxis tas , e , na melhor

das  h ip6 te se s ,

  m e n o s

  da metade da verdade a respei to da

empr e i t ada es t r u tu r a l i s t a . M as ag ora e um  erro

  c o m u m

  con-

densa r  esse  u l t imo apenas  e m  to r no  do  impac to causado

p or  A k h u s s e r  e  t udo  o que se  seguiu  n a  onda  de sua  in t e r -

v e n c a o   — onde a ideologia teve um pape l seminal, mas modu -

lado — e omit i r a  importancia  de Lev i-Strauss. Con tudo, em

termos e st r i tamente his toricos,  foram  Lev i-Strauss e a  semio-

t ica  inicial que operaram a  primeira  r up tu r a . E embor a os

es t ru tura l ismos  marxis tas os tenha m suplanta do, seu

  debito

(freqiientemente  rechacado ou  degradado  a  notas  de pe  de

p a gi n a ,  na busca por uma or todoxia ret rospect iva) para com

a

  obra  de

  Levi-Strauss_fqi

  e  con t inua

  sendo

  enor me.  Foi o

estrujj jmlismo_jie| 'Levi-Strauss\quie

t

  em sua apropr iacao do

,p_aradi^ma

  linguistico,

  a pos

  Saussure, ofereceujis  "ciencias

hum a na s  da c ul tura " a

  promessa~3'e"um

  paradigma capaz de

torna-las  cientificas  e r igorosas de uma forma inteiramente

-

n

_

ov

 ;_E

  q u a n d o ,

  na

  obra

  de

  Al thusser,

  os

  t emas  marxistas"

mais classicos foram  recuperados, Marx con t inuou sendo "lido"

  e

  reconst i tuido

 —

 pelos  termos

  do

  paradigma lingiiistico.

Em   Lendo O Capital, p or  exemplo,  argumenta-se que o  m odo

144

de produ^ a o —   cunhando  a expressao — poderia  se r melhor

compr eendido como "es t r u tu r ado como  u m a  l i ng uag em"

(a t r aves

  da

  combinagao selet iva

  de e lementos

  invar iantes).

A  enfase ais t6r ica e s incronica,

  c on t ra r i a me n t e

  as  va loracoes

historicas  d o  "culturalismo",

  advinha

  de uma  fonte  semelhante.

Assim

  tambem  uma

  pr eocupag ao

  com "o

  social,

  su i

  gener is

—   usado nao como adjet ivo, mas como substant ive: um uso

que L evi -S t r auss de r ivou nao de   Ma r x ,  m a s d e D u r k h e i m

(o

  D u r k h e i m

  qu e

  ana l i sou

  a s

  categor ias sociais

  de pe nsa -

mento — por exemplo , em  Formasprimitivas  de

  classifica$do

  em vez do

  D u r k h e i m

  de

  Da

 divisdo

  do

 trabalbo

  social,

que se

  to r nou

  o pa i

  f u n d a d o r

  do

  fu n c i on a l i s mo  e s t r u t u r a l

a m e r i c a n o . ) .

P or  vezes,  Levi-Strauss_t)rincou  com cer tas  fo rmu l a c oe s

marxistas. Assim,

  "o

  marxismo,  se na o

  o

  propr io  Marx,

  co m

freqiiencia   excessiva

f

j jsou uma  logica que pressupunha que

as

 pra t ic a ssuc e de sse m  cUretamente

  a  pjraxis.  Sem  quest ionar

a

  i n d u b i t a v e l  p r i ma zi a

  da s

  in f r a - es t ru tu ras ,  creio

  que ha

sempre  u m  mediador entre  a  praxis e a s prat icas , qual

  seja,

  o

esquema conce i tua l  cu ja  o p e r a c a o  con cret iza como est ru-

tu r as

  a

  mater ia

  e a

  forma,

  ambas

  desprovidas

  de

  qualquer

exis tencia independente, is to e , faz

  delas

  en t idades t an to

empir icas quan to inteligiveis ." Mas isso, para cu nha r outro

termo, foi

 basicamente

  um

  "gesto". Esse estruturalismo c ompar-

t i lhou

  c om o  cu l tu r a l i smo  a  r up tu r a r adica l  c om os  t e r mos

da  me t a fo ra  base /super es t r u tu r a , de r ivada de  A ideologia

alema.

  E

  embora fosse

  "a

 essa  teor ia

  da s

  super es t r u t r u r as ,

quase intocada por  Marx" que Levi-Strauss aspirava a co ntr i -

buir , sua c ontr ibuicao significou uma ruptura radical em todo

o seu

  termo

  de

  r e fe r enda ,  assim  como

  f izeram

  defini t iva

 e

i r revogavelm ente o s cul tural is tas . Aqui — e devemo s incluir

A l t h u s s e r  n e s s a c a r a c t e r i z a c a o

  —

  U mto

  o s

  c u l t u r a l i s ta s

quanto^s^st^lur^lista^s^t^bujram

  aos_domlnios^

  a . t e ^

  e n ta o

definidos como

  "

 superestrutu rais"  ta l

  especificidag^e_eficacia,,.

t a f^ r l rna z ia   cons t i tu t iva ,

  que os

  empur r ou pa r a a l em

  do s

term^^e^r^ex^cia..da,"base.lfeJLsupete

  .

 L evPSTrauss

e  Al thusser

  e ra m

  tambem ant i-reducionis tas  e  an t i economi-

cistas em suas  f o rmas  de racioc inio, e  a tacaram cri t icamente

aquela causal idade t ransi t iva que, por tanto

  t empo,  hav ia

  se

passado como "marxismo classico".

145

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7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2

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TevkStrauss  t r a b a l h o u

  consiste.nteme_n_te

  com o  termo

4j.?^^gc   ' ™ ' *  ~   ~ ~ ~ — — - —   - - * .  ,

3 -

  El e

 considerou

  as "ideologias"

  algo

  de

  b em

  m e nor

irnprtlncia:  m e ra s  " r ac iona l i z acoes secundar i as" .  Como

W ill iams  e

  G o ldm a nn, t r a ba lhou

  na o no

  nive l

  da s

  corres-

pondenc ias entre o

 conteudo

 de um a prat ica, mas no  nivel  de

suas formas

 e

 e s t ru tura s . Pore"m,

  a

 m a ne i ra c om o

  elas

 f o r a m

concei tual izadas era

  diferente

  do  "culturalismo"  de  Will iams

ou do  "estruturalismo  genetico" de Goldmann. Essa

  diver-

gencia

  pode  se r

 identificada

 de  ire's  modos

  distintos.

  Prjmeiro,

jle conceituou

  "cultura"

  como as^categorias^e^quadrQSjlej^fe-

rencia

  lingiiisticos e de pensamento atraves  dps^giiajs_a.s_dife-

rentes  socie^atieTTt^jficam^s.uas^cQJldidoes

  de  existencia

—  sobretudo

  (ja que  Levi-Strauss  er a

  antropologo),

  as

 relacoes

e nt re os m undos  h u m a n o e n a t u r a l .  Se gundo , pe nsou e m

como

 essas

 categorias

 e

  referencia is mentais e ram produzidos

e

  t r ans for mados ,

  em

  grande parte

  a

  part ir

  de uma

 a na logia

com as maneiras como a propria l inguagem — o principal

meio

 da

  "cultura"

 — operava.

  Identificou

  o que era

  especifico

a

  elas e a sua  operacao  e n q u a n t o  "producap  de sentido":

eram, sobre tudo. praticas_ sismficantes.  Terceiro, depois de ter

flertado

  inicialmente com as categorias sociais do pensamen to

de

  D ur khe im

  e

  Mauss,

 e le abandon ou pra ticamente a questao

da

  relac.ao

  entre  praticas significantes e

  nao-significantes

  —

entre "cultura " e

  "nao-cul tura" ,

  para usar outros te rmos —

para dedicar-se as relacoes existentes no interior de   prat icas

significantes  po r

  meio

 da s

 quais

 a s

 categorias

 d e

  sentido eram

produzidas.  Isso  deixou a

  questao

  da determinacao, da to ta-

l idade, em  grande parte  em  suspenso.  A  logica causal  de

determinacao  f o i

  a ba ndona da

  em  favor  da

 ca usalidade estru-

turalista

  — uma logica do  arranjo,  das re lacoes inte rnas , da

a r t i cu l acao das

  partes dentro

  de uma

  e s t r u t u r a .

  Cada  u m

desses aspectos

  tambem esta

  posit ivamente presente na obra

de Althusser e dos

  es t ru tura l is tas

  marxistas, mesmo quando

os   termos  de  re fe re nda ha v ia m s ido r e funda m e nta do s  na

"imensa

  revolucao

  teorica" de  Marx. Em uma das

  formulacoes

seminais de  Althusser sobre  a ideologia  — definida  em temas,

c onc e i tos  e r e p r e s e n t a c o e s  a t r a ve s  d a s  q u a i s  o s h o m e n s

e m u l h e r e s

  "vivem",  n u m a

  r e la c a o

  imaginaria ,

  sua re lacao

co m

  suas

  condicoes

  reais

  de  existencia  —

22

  podemos

  ver o

esquele to dos "esquemas  concei tuais"  de

  Levi-Strauss

  "entre

a  praxis  e as  pra ticas". A s  "ideologias" sao  a qu i  concebidas

146

nao

 como  conteudos

 e  formas

  superficiais

 de

 ideias,

 m as

 como

categorias inconscientes pelas quais as condicoes sao repre-

sentadas e vividas. Ja comen tamos sobre a

  p resenca

  a t iva ,

no pe nsa m e nto de A l thusse r , do pa ra d igm a

 lingiiistico

  — o

segundo e lemento identificado acima.

 E

 e m bora ,

 no

  conceito

d e " s o b r e d e t e r m i n a c a o " — u m a d e

  sua s

  c o n t r i b u i c o e s

ma i s

  o r i g i n a i s

  e

  f r u t t f e r a s

  —

  A l t h u s s e r t e n h a r e t o r n a d o

ao s  p r o b l e m a s  das relacoes

  entre

  as praticas e  a  questao da

determinacao

 (propondo, inciden ta lmente ,

 um a  reformulacao

inte iramente nova e a l tamente

  sugestiva,

  que recebeu

  muito

pouc a  atencjao  subseqiiente) ,  el e  t e nde u  a reforcar a "auto-

nomia  relativa"  da s

  diferentes praticas

 e

  suas especificidades

i n t e rn a s ,

  condicoes  e e fe i tos as custas de uma  concepcao

"expressiva"

  da tota l idade , com suas homologias e corres-

ponde nc ia s

  t ipicas.

Alem  dos universes

  inte lec tuais

  e

  conceituais to ta lmente

distintos dentro

  do s

  quais

  esses

  paradigmas

  al ternat ives  se

de se nvo lve ra m ,  hav ia  certos  pon tos  onde, apesar de suas

superposigoes   aparentes,

  o  a j l t u r a i i s m o e

  o^

  estmtural ismo

_ s _ e   c p n t r a s l a v a m n i t i d a m e n t e . P o d e m o s

  i de n t i f i c a r

  essa

c o n t r a p 6 s i £ a o e m u r n deseus  pontos mais agudos, precisa-

mente em  to rno d o conceito  de  "experiencia"  e no tocante a o

pape l

  que o

  termo exerceu

  e m

  cada

  perspectiva

1

 E n q u a n t o

no

  "cu l tura l ismo"

  a experiencia era o  solo  — o^ te r re no do

"viy idol—

  em que  interag^am_a

  c^i^j .C

L

ao^eacpnsc ienc ia , o

es t ru tura l fcmn

  insistia

  qite aj^ O

poderia  s^ r^ fu j ida rnen to  de coisa  ajguma,  pois  so  se_poc]ia

"viver^  e exper imentar as

  proprias..c.Qndicoej

j

.^g?l?rQ^  atraves^

de   categc>rias ,  c lassifica^oes e

  quadrqs

  c l e j -e fe r enc ia  da

c u l t u r a .

  Essas categorias,

  c o n t u d o , n a o

  surgiram

  a

  pa r t i r

da

  e xpe r ie nc ia

 o u

  ne l a :  antes,

  a

  experiencia

  e r a um

  "efeito"

de ssa s c a te goria s . O s c u l tura l i s t a s ha v ia m de f in ido c om o

coletivas

  as

  fo rm a s

  de

  consciencia

  e

  c u l tura .

  M as

  f i ca r am

longe  da  proposicao  radica l segundo a

  qual ,

  em cultura e

l inguagem,

  o

  sujeito

  e ra

  "falado"  pelas categorias

  da

  cu l tura

em que

  pensava ,

  em vez de

  "fala-las".  Tais categorias

  n ao

e r am,  entre tanto, somente cole t ivas,

 a o

  inve s

 d e

  individuals:

eram, para  o s  e s t ru tura l is t a s , e s t ru tura s

 inconscientes.

  E por

isso  que, embora

  Levi-Strauss falasse

  somente

  de  cultura,

se u

  conceito forneceu

  a

  base para

  a

  facil

  t r aducao

  pa ra

  a

es t r u tu r a

  conceitua l

  da

  ideologia  feita

  por

 A l thusse r :

Sistema Tntegrado

de Bibliotecas/UFES

147

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7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2

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Ideologia e na

  verdade

  um sistema de

  representacoes

  mas na

maioria

  das  vezes,  essas  representa^oes nao

  tern

  nada  a've

co m

  a

 consciencia  ... € como e s t ru tu ra s

 q ue

  elas

  se

  impoem

  a

ampla  maioria  dos

  homens ,

  nao via  consciencia ....  e dentro

desse  inconsc ien t e

  ideologico que os

  homens

  conseguem

alterar  as experiencias  vividas entre  eles  e o  m u n d o  e  adquirem

um a  nova forma especif ica

  d e

  inconsciente ,

  que se

  chama

consciencia.^

uma

  fonte

 autent icadora ,

  ma s

  cgjnojjm

  efeitoj

  na o  como  um

reflelfo"cIo~reaT7nias   como  um a  "reiac.ao imaginar ia" . Fal tava

bem pouco

 — apenas o passo  que separa

  A favor

  de

 Marx  do

ensaio  "Aparelhos  ideologicos

  de  Estado"  — para o

  desen-

volvimento   de um  relate  de como essa

  "re lacao

  imaginaria"

servia  nao meramente ao dommio de uma c l asse gover -

nante  sob re

  um a

  cl asse dominada ,

  m a s  (pe la rep roducao

das

  relacoes de  producao  e a  constitui£ao  de uma  forga  de

trabalho  adequada

  a

  exploracao  capitalista)

  a

  ampla repro-

ducao  do

  proprio

  modo de  p roducao .  Muitas  das demais

linhas  de  divergencia  entre os dois paradigmas fluem deste

ponto:  a concepgao dos

  "homens" como por tadores

  da s

estruturas

  que os

  falam

  ou situam, em vez de agentes ativos

n

const rucao de sua  propria histor ia;  a  enfase sobre  a

"logica" e strutural,

  em vez da historica; a

 preocupacao

  com a

constitui^ao

  — em

  "tese"

  — de um

  discurso

  cientffico

  nao-

ideologico;  e

  da i

  o

  privilegio

  do

  t rabalho concei tual

  e da

Teoria

 como

  algo

  garantido;

 a

 remodelac.ao

  da

  historia  como

u m marcha  de  es t ru tu ras :  ...  [Ver

  A  miseria  da

  teoria]  a

"maquina"

  es t ruturalis ta . . .

N ao  ha  como seguir  as varias ramificagoes que  surgi ram

e m   um ou

  outro

  desses

  g randes parad igmas

  do s

  Estudos

Culturais.  Embora  de nenhum modo deem conta de todas

o u

 mesmo de  quase todas  as estrategias adotada s, eles

  defi-

niram

  as

  principals

  bases de desenvolvimento do campo. Os

debates

  seminais foram  polar izados em torno de suas tema-

  i s   e

 a lguns

 d os

 melhores t raba lhos

 concretes surgiram  do s

esforc.os

  que se  f izeram  por ope racional izar um ou outro

paradigma  em prob lemas e

  mater iais especi ficos. Dado

  o

clima

  sectario

  e

  au tocomplacen te

  do

  t r aba lho in te l ectua l

critico

  na

  Ing la te r ra ,

  jun to

  com sua

  marcan te  dependenc ia

e

  de se

  esperar

  que os

  a rgumentos

  e

  deba tes t enham

148

sido  mai s  f requentemente po la r izados

  no s

  seus  extremes.

Neles ,

  t a i s a rgumentos e deba tes mui tas

  vezes

  aparecem

somente

 como m eros reflexes ou inversoes um do outro. Aqui ,

as pr incipals apologias que viemos trabalha ndo — em consi-

dera^ao

 a uma  exposicao adequada — tornam-se uma

 prisao

para  o  pensamento.

Se m

  sugerir que  haja  qualquer sintese  facil  entre os dois,

convem   dizer neste ponto  que nem o  "cul turdismo" nem  o

"estruturaligrjoo",  em

  suas atuais man ifes tacoes,

  se

  adaptam

a

  tarefa

  d e c o r s t r . u e t u d o u t u r a

Mesmo

ass im,  a lgo impor tan te emerge da com paracao rud im enta r

entre suas respectivas

  forc.as

  e

  limitacoes.

A  grande

  vantagem

  do s

  estruralismos

  e a enfase dada  as

"condi^oes determinadas". Eles nos

 lembram

 de que,  em  qual-

quer anal ise, a nao ser que se mantenha realmente a diale-

tica  entre as duas metades da

  proposi^ao

  segundo a

 qual

 " os

homens

  fazem

  a historia . . . com base em

 condicoes

  que nao

escolhem", o resul tado sera inevi tavelmente

 ur n

 humani smo

ingenuo, com sua necessaria

  conseqiiencia:

  um a  pratica  poli-

ticaPvoTuntarista

  e  populista.  N ao se  deve permitir que o

  fato

de os

  homens poderem

  se

  tornar conscientes

  de

  suas con-

dicoes,

  se

  organizar para  lutar  contra elas

  e, ate

  mesmo,

transforma-las

 — sem o que e

  impossfvel

  conceber, muito menos

praticar, qualquer politica  ativa  — apague a consciencia de

que,

  na s

  relacoes  capitalistas,  homens

  e

  mulheres

  sa o

  colo-

cados

  e

  posicionados

  em relacoes que os

  consti tuem como

agentes. "Pessimismo  do   intelecto  e  otimismo da vontade"  e

um   ponto  de partida

  melhor

  do que uma simples

  afirmagao

heroica. O

  estruturalismo

  no s

  possibilita

  comegar a

  pensar

 —

como insistia Marx — as  rela oes  de uma estrutura em  outros

termos que nao as reduzam as relacoes entre as

  "pessoas".

Esse  era o

  nivel

  de

  abstracao

  privilegiado por

  Marx:

  aquele

qu e

  Ihe  permitiu romper

  com o

  ponto

  de

  par t ida obvio,

  mas

incorreto, da "economia politica" — os meros individuos.

M as  isso se  H ga  a uma segunda vantagem: o  reconheci-

mento

 pelo  estruturalismo

 nao so da

 necessidade

  de

  abstracao

como

  instrumento do

 pensamento pelo qual

 a s "relates

  reais"

sao apropriadas, mas tambem da presenca, na obra de   Marx,

de um movimento continuo e complexo  entre

 diferentes  nweis

149

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de abstragao. Tambem

 e

 verdade, como

 os

 culturalistas argu-

mentam,  que, na realidade  h i s t o r i c a ,  as praticas  nao  apa-

recem  nitidamente separadas em suas respectivas

  instancias.

E nt r e t a n to ,

  para pensar ou analisar a

  complexidade

 do real,

e

 necessaria

 a pra t ica do pensar e isso requer o uso do poder

da

 abstracao e analise, a  fo r m a ca o de conceitos com as quais

se pode recortar a complexidade  do real, com o proposito de

revelar e trazer a luz as relacoes e estruturas que nao podem

se

  fazer

  visiveis ao

  olhar

  nu e

  ingenuo,

  e que

  tambem

  nao

podem

  se apresentar

  ne m

  autenticar a si mesmas. "Na analise

das formas economicas, nao podemos recorrer nem ao micros-

copic,

 nem aos reagentes quimicos. O poder da abstracao deve

substi tuf-los."  De

  fato,

  o estruturalismo  f r equentem ente  levou

essa proposicao ao  extremo.  Um a  vez que o  pensamento  e

impossivel

  sem o

  "poder

  da  abstracao",  o

  estruturalismo

confunde

  isso,

  dando primazia absoluta

  a

  formacao

  de

conce itos — e somente no nive l de abstrafao mais alto e

mais abstrato: a Teoria com  "T "

  maiusculo,

  entao, se torna

juiz

  e

  jur i .

 Mas isso  significa,  precisamente,  perder de  vista  o

insight conquistado a  par t i r da propria  prat ica  de  Ma r x . Por-

que esta claro, por

  exemplo,

  em O capital,  que o  metodo —

embora claramente tenha lugar

 "no

 pensamento"

 (e

 onde  mais

ocorreria? perguntava  M a r x  na  Introducao  de  1857)

2

^  — nao

se

 apoia sobre

 o  simples exercicio  da

 abstracao,

 mas sobre  o

movimento  e as

  relacoes

  que o  argumento constantemente

estabelece entre os

  diferentes  niveis

  de abstracao: em cada

um, as premissas que  estao  em jogo devem ser distinguidas

daquelas

  que — em  considerable  ao

  argumento

 —

  tern

  de

ser

  sustentadas permanentemente.

  O

  movimento

 em direcao

a um novo nivel de grandeza (para  usar a metafora do micros-

copic)

 requer

  a  especificacao  de  outras condicoes de  exis-

tencia ainda nao disponiveis em um nivel anterior mais

abstrato:

 desse

 modo,

 por

 sucessivas

 abstracoes de

 diferentes

magnitudes,

  mover-se

 em direcao a constituicao, a  reprodufao

do "concrete no pensamento" como efeito de um certa  fo r m a

de  pensar. Esse metodo  nao e  apresentado adequadamente

nem no

 absolutismo

 da

 Pratica teorica

 do

 estruturalismo,

 nem

na  posicao de  antiabstracionismo  de  Miseria  da  teoria  (de

E.

 P. Thompson), em direcao a qual o culturali smo parece ter

sido dirigido

  ou se

  dir igiu,  como resposta.  Mesmo assim,

  se

150

mostra intrinsecamente

  teorico

 e deveria  se-lo. Aqu i , a insis-

tencia do estruturalismo de que o pensamento nao

  reflete

  a

realidade,

 mas se

 articula

 a

 partir dela

  e

 dela

  se

 apropria, £

um  ponto de partida obrigatorio. Uma perlabora cao ade-

quada

  das

  conseqiiencias

  desse

  argumento  pode  comecar

 a

produzir

 um

 metodo

 que nos

  livre

 das

 permanentes oscilacoes

entre abstracao/antiabstracao e das  faisas  dicotomias entre

Teoricismo

 versus Empi r i smo, que  marcaram, bem como  desfi-

guraram,  o  encontro entre  o culturalismo e o estruturalismo

ate

  agora.

O

  estruturalismo tern outra vantagem,

  na sua  concepcao

do "todo". Embora o culturalismo sempre insista na particu-

laridade radical de suas praticas, em certo sentido, seu modo

de conceituar a "totalidade" tem por

  t ras

  algo da complexa

simplicidade de uma totalidade expressiva. Sua complexi-

dade e  constituida pela  f lu idez  com que  certas praticas  se

sobrepoem:

  mas essa complexidade e

  redutivel conceitual-

mente a "simplicidade" da praxis —

  a

  atividade humana

enquanto  ta l  — em que as mesmas contradicoes constante-

mente aparecem

  e de

  modo homologo

 se

  refletem

  em

  cada

uma  delas. O estruturalismo vai

 longe denials

 ao  erigir a ma-

quinaria da  "Es t rutura" ,  com suas tendencias autogeradoras

(uma "eternidade spinoziana",

  cuja

  f uncao  e somente a

 soma

de  seus

  efeitos:

  um

  verdadeiro desvio estruturalista), equi-

pada  com suas instancias especificas, Mesmo assim, repre-

senta um

  avanco

  em

  relacao

  ao cultura lismo na

  concepcao

que este tem da necessaria complexidade  da unidade de uma

estrutura (sobredeterminacao e uma  fo r m a  mais bem-suce-

dida de pensar  essa

  complexidade

  do que a combinatoria

invariante da causalidade estruturalista).

 M a i s

 ainda, por sua

capacidade conceitual de pensar uma unidade que  seja  cons-

truida

  atraves

 das

  diferengas,

  e nao das homologias, entre as

praticas.

  A q u i

  de  novo  se logrou  uma

  in tuicao  cri tica

  acerca

do metodo de  M arx :  podemos pensar nas  var ias  passagens

complexas

  da Introducao de  1857  aos

  Grundrisse,

  onde

M a r x  demonstra como

  e possivel

 pensar

  a

 unidade

 de uma

formacao  social como algo que se constroi a partir da  dife-

renga e nao da identidade. Obviamente, a

 enfase

 na  di fe renca

pode

 ter

  levado

 ou

 levou

  os

 estruturalismos

 a uma

  heteroge-

neidade conceitual fundamental,  em que  todo sentido  de

151

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es t ru tu ra  e  to ta l i dade  se  perde.  Foucau l t  e  ou t ros  pos-

al thusser ianos tomaram esse  caminho  tortuoso

  em

  di recao

a autonomia

  absoluta,

  na o  a  relat iva, das prat icas, atraves

da   postulate

  de sua

  necessaria heterogeneidade

  e da sua

"nao-correspondencia

  necessaria".

 M as a

  enfase

  na

  unidade-

na-diferenca, na unidade complexa — a "unidade de   multiplas

determinates"  que  define o  concrete  em

  Marx

  — pode  se r

t rabalhada

  numa  outra  e, em  ultima  instancia,  mais

  frutifera

direcao:

 a

 problematica

 da

 autonom ia relativa

 e da

 "sobrede-

terminacao",

 e o

 estudo

 d a

  articula ao.

 D e

 novo  aqui, articu-

lacao e algo que   corre  o  risco  de um alto  formal ismo. M as

possui

  a

  grande vantagem

  de nos

  possibilitar pensar como

praticas especificas

 (articuladas e m

 torno

 de contradicoes que

na o  surgem  da mesma forma, no  momento  e no  mesmo

 ponto)

podem  todavia

  se r

  pensadas  conjuntamente.

  O

 parad igma

estruturalista,   se

  desenvolvido c orretam ente,

  no s

  permite,

de   fato,  conceituar  a  especi ficidade  de  prat icas di ferentes

(anal i t icamente di ferenciadas  e  abstraidas),

  sem

  perder  de

vista  o  conjunto  po r

  elas constituido.

  O culturalismo

  afirma

constantemente a especificidade de praticas diferentes — a

"cultura"  na o deve  ser absorvida

  pelo

  "economico": mas  Ih e

falta

  uma ma neira adequad a de estabelecer essa especifici-

dade teor icamente.

A  terceira vantagem

  que o

  estruturalismo exibe reside

  em

se u

  descentramento

  da "exper iencia" e seu t rab alho or iginal

de

  e laboracao

  da categoria negligenciada de "ideologia". E

dificil

  conceber um pensamento em Estudos

 Culturais

 dentro

de um parad igma ma rxista que seja inocente da categoria de

"ideologia".

 E claro, o

  cul tural ismo constantemente

  se

  refere

a esse

 conceito:

 mas ele de

  fato

  nao se situa no centro de seu

universe

  concei tual . O poder autenticado r e a referenda da

"exper iencia" impoem uma b arrei ra entre o culturalismo e uma

concepcao

 adequada de " ideologia". Contudo, sem ele, a efi -

cacia da

  "cul tura"

  para a

 reproducao

  de um modo

  especifico

de producao nao pode se r  compreendida.  E verdade que ha

um a

  tendenc ia

  marcan te

  nas  concepcoes

  mais recentes

  de

"ideologia" de dar a ela uma lei tura

  funcionalis ta

  — co m o

o cime nto necessar io da formacao social. A par t i r   dessa

posicao,

  e de

  fato  impossivel

 — como o culturalismo  afirmaria

corretamente — conceber tanto as ideologias que nao sao,

po r  definicao,  "dominantes" ou a  ideia  de

  luta

  (o surgimento

152

desta no famoso ar t igo da

  A IE

  de A l thusser fo i — para

cunhar

  ainda outro

  termo

 —

 basicamente

  " um gesto") . C o n -

tudo ,  tern  sido feito um trabalho que sugere formas  pelas

quais

 o

 campo

  da

 ideologia  pode

 s er

 adequadamenle conce-

bido

 como

  um

 ter reno

 de  lutas

  (pela obra

  de

 Gramsci

 e,

 mais

r ecen temente ,  de   Laclau)

25

  e estes  tern  referenciais estrutu-

ralistas,  em vez de c ul tural istas .

A s  vantagens

  do

  cul tural ismo podem

  se r

  der ivadas

  da s

deficiencias

  da

  posicao

  estruturalista ja notadas  acima  e de

seus

  silencios e

  ausencias

  estrategicas. Ele

  insistiu,

  correta-

mente,  no  momento  afirmativo  de desenvolvimento da  orga-

nizacao  e da  luta consciente como elemento necessario  a

analise  da  historia,  da

  ideologia

  e da

  consciencia: contraria-

mente ao seu  persistente rebaixamento  no   paradigma estru-

turalista.

 D e

 novo,

 e

 Gramsci ,

 em boa

  par te,

  que nos

  fornece

um

  conjunto d e catego rias mais refina das atraves das quais

podemos  vincular as categor ias  Cul turais  em grande par te

"inconscientes" e ja dadas do   "senso comum" com a  formacao

de   ideologias mais ativas  e  organicas,  que sao  capazes  de

intervir

  no  piano  do senso comum e das tradicoes  populares

e, atraves de  tais

  intervencoes,

  organizar as massas de homens

e

  mulheres. Nesse sentido,

  o

 c ulturalismo restaura

  adequada-

mente  a

  dialetica existente entre

 o

  inconsciente

  da s

 categorias

Culturais e o

  momento

  de

 organizacao consciente: ainda que,

de mane i ra caractenst ica, ele tenda a igualar a excessiva

enfase

 do estruturalismo sobre as

 "conduces"

 com uma enfase

demasiado inclusiva sobre  a " consciencia". P or tanto, o cul tu-

ralismo  n^o   apenas recupera

  —

  como mom ento nece ssario

de

  qua lquer ana l i se

  — o

  processo

  por meio do

  qua l

  as

classes em si, definida s princ ipalm ente pela  forma  atraves

da

  qual

  as

  re lacoes  economicas pos i c ionam

  os

  "homens"

como  agentes, se  to rnam

  forcas

  politicas  e  historicas ativas

  para-si — mas tambem

  requer

  que — contra seu

  proprio

b om   senso  anti te6r ico  — ao ser

  adequadamente

  desenvol-

vido, cada momento seja entendido

  em

  termos

  do

  nivel

  de

abstracao em que a anal ise   esta  operando.  Mais  um a  vez,

Gramsci  comeca  a apontar o caminho entre essa

  falsa

  polari-

zacao,

  em sua

  discussao

  da

  "passagem entre

  a

 es t ru tu ra

 e a

esfera  da s  superes t ru tu ras complexas" ,  e  suas di ferentes

fo rmas  e momentos .

153

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7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2

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N os  concentramos aqui, principalmente,

  na

 caracter izacao

daquilo

  que nos

  parece constituir

 os

  dois paradigmas seminais

em

  acao

  no s  Estudos

  Cul turais .

 O bviamente , eles nao sao os

unices  paradigmas ativos. Novos desenvolvimentos

  e

  linhas

de

 pensamento

  nao estao

  adequadamente captados

  po r seus

termos. E ntretanto,

 esses

 paradigmas podem,  nu m  certo sen-

tido,  se r

  empregados para medir aquilo

  que nos

  parece

  se r

as

 fraquez as radicals

  ou as

 deficiencias

  dos que se

  oferecem

como pontos d e

  convergencia

  alternativos. Aqui ,  brevemente,

identificamos

  tres.

O primeiro e aqueie que  sucede  a  Levi-Strauss.  E

  u m

seguimento

  Idgico, mais do que temporal: a primeira semio-

tica

  e os  termos  do   paradigma  linguistico,  e o  centramento

sobre  as "praticas  significativas",  movimentando-se atraves

de  conceitos

  psicanaliticos

  e

  Lacan

  ate um

  recentramento

radical

 de

  todo

 o  ter reno do s Estudos C ul turais em  torno  do s

termos "discurso"

  e "o

  sujeito".  Uma

  forma  de

  compreender

essa

  l inha

  de  pensamento  e ve- a  como

  um a

  tentat iva  de

preencher aquela lacuna no estrutural ismo   inicial  (seja em

suas variantes  marxistas  ou nao-marxistas)

  onde,

  em discursos

anteriores ,

 era de se esperar  que "o sujeito"  e a  subjetividade

aparecer iam, mas nao o

  fizeram.

  Este e, precisamente, um

dos

 pontos-chave

 onde o cul tural ism o faz sua cr i tica aci r rada

sobre  os

  "processes  se m

  sujeito" do estruturalismo. A dife-

renga

  e

  que, enquanto

  o

  culturalismo corrigiria

 o

  hiperestru-

turalismo

  dos modelos anteriores pela  restaurac.ao  do sujeito

unificado

  (coletivo ou individu al) da consciencia no centro

da   "Es t ru tu ra" ,  a

  teoria

  do

  discurso,

  po r

  i n te rmedio

  do s

concei tos freudianos

 d o

  inconsciente

  e dos

  conceitos laca-

nianos  de  como  os  sujeitos  sa o  constituidos  na l i nguagem

(pel a en t r ada no

  Simbol ico

  e na L e i da C u l tu ra ) , r es tau ra

o  su je i to  descentrado,  o  su je i to con t r ad i to r i o , como  um

c o n j u n t o

  de

  posicoes

  na l inguagem e no conhecimento, a

partir  do

  qual

  a cul tura

 pode

  parecer e nunciada . Essa abor-

dagem   i den t i f i ca c l a r amente uma l acuna , nao apenas no

es t ru tura l i smo m as no proprio m arxismo. O  problema  e que

a  maneira de

  conceitualizac.ao desse

  "sujeito"  da cul tura

 te m

um carater

  transistorico

  e  "universal " : e la  aborda  o  sujeito-

em-geral ,

  nao os sujei tos sociais histor icamente determi-

nados ,

  ou

  linguagens especificas socialmente determinadas.

Assim,  e  incapaz,  ate aqui, de  movimentar  suas  proposic.6es

154

em

  geral

  ao

  nivel da analise

  historica

  concreta. A segunda

dif iculdade  e que os processes d e  contradicao  e  luta —  alo-

jados

  pelo

  primeiro estruturalismo inteiramente

  no

  nivel

  da

"estrutura" — estao agora,

  gracas

  a uma daquelas persistentes

inversoes  —

 aiojados exclusivamente

  no

  nivel

  do s

 processes

psicanaliticos inconscientes. Talvez, conforme um argumento

comum

 no culturalismo, o

 "subjetivo"

  seja  um

 momento

  neces-

sario

  de

  qualquer anal ise desse  tipo.

  M as isso  e algo

  mui to

diferente  do  desmantelamento  do   con jun to  do s

  processes

sociais  do s  diversos modos  de

 producao

 e  formac.6es  sociais,

e sua  reconstituigao exclusiva  ao   nivel  de processes  incons-

cientes psicanaliticos. Embora

  um

  trabalho importante tenha

sido feito dentro  deste  paradigma, tanto para defini-lo quanto

para  desenvolve-lo,  suas  alegacoes

  de ter

  substituido  todos

os   termos  do s  paradigmas anteriores  por um  conjunto mais

adequado   de  conceitos  parecem  desvairadamente ambiciosas.

Suas

 pretensoes  de haver integrado ao marxismo um materia-

lismo

  mais adequado sao, basicamente, uma reivindicacao

semantica,   em vez de  conceitual.

Um  segundo  desenvolvimento

  e a

 tentativa

 d e

 retorno

  ao s

termos de uma  "economia

  politica"

  de cultura mais classica.

Essa

 posi^ao

  argumenta

 que a

  concentrac.ao sobre

  os

  aspectos

culturais  e ideologicos tem  sido  exagerada.  E la  restaura  os

termos mais antigos da  "base/superestrutura" ,  encontrando,

na determinacao em   ultima instancia  do cultural-ideologico

pelo

  economico,  aquela hierarquia  de

  determinates

  qu e

parece  faltar a amb as as alternativas. Essa posicao  insiste que

os  processes economicos e as estruturas  de  produgao cultural

sa o mais significantes do que seu  aspecto cultural-ideologico

e que  estes  sao um  tanto adequadamente apreendidos  na

terminologia   mais classica

  do

  lucro, exploragao,  mais-valia

  e

a  analise da cultura como

  mercadoria.

  E la

 retem

  a nocao  de

ideologia enquanto

  "falsa

  consciencia".

Naturalmente ,

 ha certa vantagem na  afirmativa  de que tanto

o  estrutural ismo quanto  o  culturalismo,  de  formas distintas,

negl igenciaram a anal ise  economica  da  p roducao cu l tu ra l

e

  ideologica .

  Me s m o

  assim,  com o  retorno  a  esse  ter reno

mais "classico", mui tos problemas que o cercavam

 tambe 'm

reaparecem. A especificidade do efeito da

 dimensao

 cul tural

e ideo 6gica  rnais  uma vez  tende  a  desaparecer . T ende  a

155

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c o nc e b e r o

  nivel

 economico  nao apenas como uma expli-

cacao

  "necessaria" ,

  m as  "suficiente" ,  dos

  efei tos

  cu l tu ra i s

e

 ideo 6gicos.

  Seu foco sobre a analise da  forma  de merca-

doria,  semelhantemente,

  obscurece todas

 as distincoes cuida-

dosamente estabelecidas entre

  as

 diferentes praticas,

 uma vez

que sao os  aspectos  mais genericos d a  forma  de mercadoria

que atraem a

 atencao. Portanto,

  suas deducoes se restringem

basicamente

  ao nivel epocal de

  abstracao:

  as generalizacoes

sobre  a forma de mercadoria se  aplicam verdadeiramente a

toda a era capitalista.

 Muito

 pouco

  dessa analise concreta e

conjuntural

  pode ser deduzido nesse  alto nivel de

  abstracao

da

  "logica

  do

  capital".

 Ela tambe"m

 tende

  a seu

  proprio

  funcio-

nalismo — um  funcionalismo  da

  "logica",

 e nao da  "estrutura"

ou da

  historia.  Essa abordagem,  t ambem,  possui discerni-

mentos

 qu e

  valem

 a

 pena acompanhar.

 M as ela sacrifica

 muito

daquilo que dolorosamente assegurou, sem ganho compensa-

torio  em sua capacidade explanativa.

A

 terceira posicao esta intimamente relacionada a iniciativa

estruturalista, mas

 seguiu

 o

  caminho

 d a " diferenca"  ate" a

  hete-

rogeneidade radical.

 A

 obra

  de

  Foucault

 — que

  atualmente

goza de um daqueles  periodos  de discipulado acritico  pelo

qual os

  intelectuais

  britanicos

  reproduzem hoje

  su a  depen-

dencia

  da s

  ideias francesas

 de

 ontem

 —

 tern surtido

 um  efeito

soberbamente positive, sobretudo porque,

  ao

  suspender os

prob lemas quase inso luve i s

  d e

  de te rminacao , Foucaul t

possibilitou

 u m grato retorno a analise concreta de  formacoes

ideologicas

 e d iscursivas especificas e aos

 locals

 de sua

 elabo-

racao. Foucault

 e

  Gramsci, entre

  eles, sao responsaveis por

muitas das obras mais produtivas sobre  analise concreta hoje

em

  andamento

  na

 area; desta

  forma  reforcando  e —

  parado-

xalmente —

  sustentando

  o sentido da instancia

  historica

concreta que

  te m

 sido sempre u m dos pontos fortes do cultu-

ralismo.

  Mas,

 novamente,

  o exemplo de

  Foucauft

  e positive

somente se sua

  posicao  epistemologica geral

  nao for engo-

l ida por  inteiro. Pois, de  fato,  Foucault suspende  ta o  resolu-

tamente a

 crftica

  e

 adota

  um

 ceticismo

 t ao extreme a

  respeito

de

  qualquer

 determinacao ou

  relacionamento entre

  as

 praticas,

a

 nao ser aquelas basicamente

 contingentes,

  qu e

  somos

 auto-

rizados a

  ve-lo

  nao como um

  agnostico

  em

  relacao

  a essas

questoes,

 m as como alguem

 profundamente

  comprometido co m

a necessaria

  nao-correspondencia

  de

  todas

  as

  praticas

 umas

156

com as  outras.  D e

  ta l

  posicao,  nem uma

  forma^ao

  social,

ne m

  o

 Estado,

 pode  se r

  adequadamente pensado.

  E,  de

  fato,

Foucault constantemente cai no bur aco que

 ele

 mesmo cavou.

Pois quando — contrariamente as suas

 posicoes epistemo 6-

gicas  bem-definidas  — ele se depara com certas "correspon-

dencias"

  (por exemplo,

  o

  simples  fato

  de que os

  momentos

mais  importantes de

  transicao

  que ele

  tracou

  em cada um de

seus estudos —  sobre  a

  prisao,

 a sexualidade, a  medicina,  o

hospicio,

 a linguagem e a economia  politica — parecem

  todos

convergir exatamente  em   torno

  daquele ponto

  em que o

capita l ismo

  industrial

  e a

 b urguesia

  fazem

  se u

  rendez-vous

historico

  e  decisive), Foucault cai

 n um

  reducionismo

 vulgar,

que desfigura inteiramente as posicoes  sofisticadas que  ele

avancara alhures.  Ele e bem

  capaz

  de

  conduzir ,

  pela

  porta

do s  fundos ,  as

  classes

  qu e

  acabara

  de

  expulsar

  da

  frente.

Eu  disse

 o suficiente para indicar que, na

 minha  visao,

 e a

vertente

  do s

  E studos C ulturais

 q ue

  tentou pensar

 partindo

do s melhores  elementos dos paradigmas

 culturalista

  e estru-

turalista,  atraves de

  alguns

  dos concei tos

  elaborados

  po r

Gramsci,

  a que mais se aproxima das exigencias

 desse

 campo

de   estudo.  E a  razao  para tal deve agora ser obvia . Embora

ne m o culturalismo nem o estruturalismo bastem, como para-

digmas

 auto-suficientes para o estudo, eles sao  centrals  para

o

 campo,

  o que  falta  a todos os

  outros contendores, porque,

entre

  si — em suas

 divergencias, assim como

  em

  suas conver-

gencias —

 eles

  enfocam  o que deve  ser o problema

  central

do s

  Estudos C ulturais. Eles

  no s  devolvem

  constantemente

ao terreno marcado

 pela

 dupla de concei tos forteme nte

 arti-

culados, mas nao mutuam ente excludentes, de

 cul tura/ ideo-

logia.

 Juntos,  eles  p ropoem  os

  problemas

  que  advem  de

pensar tanto a especificidade de

 prat icas

 diferentes como as

formas

  de

  unidade articulada

  qu e

  constituent.  Fazem

  um

constante  —

 embora  fraco

  —

 retorno

 a metafora

  base/superes-

trutura.

  Estao  corretos

  er n

  af i rmar

  qu e

  esta questao

  — que

resume

  todos os

 problemas

  de uma

  determinacao

  nao-redu-

tiva — e o

 cerne

 d a

 questao;

 e que da solucao desse

 p rob lema

depende

  a saida dos Estudos  Cul tura is  da osci lacao entre

ideal ismo  e

  reducionismo. Eles confrontam

 —

  mesmo

  em

modos

  radicalmente distintos

 — a

  dialetica  entre

 condicoes

e consciencia. Em outro  nivel,  colocam  a questao  da  relacao

entre a logica de pensar e a "logica" do processo historico.

157

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Continuam  a sustentar a

  promessa

  de uma teoria realmente

materialista da  cultura.  Em  seus  duradouros

  antagonismos,

que se reforcam mutuamente,

  nao

  prometem uma

  sintese

facil.

  Entretanto,

 entre si, definem o espaco e os

 limites

 dentro

dos quais essa sintese podera ser  constituida.  Nos  Estudos

Culturais,

  eles

  sao "o que

  ha".

[ H A L L S.

  C u l t u r a l  S tud ies :

  T w o

  Paradigms. Media

Culture

and  Society,

  n. 2, p.

  57-72 ,

  1980.

  Tra duca o

  de na

  Ca r o l ina

Escosteguy,  Francisco   Ru d ig er Adela ine   L a G u a r d ia

  R e s e n d e ]

NOTAS

1

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[A s

  tttilizacoes da

  cultura-. aspectos da vida cultural da classe trabalhadora.

Lisboa: Presenfa,  19731;  W I LLI A M S ,  Raymond.

  Culture  and Society

  1780-

195O.  Londres: Chatt o & Wind us, 1958.

  [Cultura e

 sociedade  1780-1950.

Sao

  Paulo: Nacional,  1969-1

 No

  original

  do

  autor:  W I L L I A MS ,

  R.  Culture

and

  Society,

  1780-1950.

 Harmondsworth: Penguin, 1963-

2

 THOMPSON,

  E. P.

  The

 Making

  of the

  English Working Class.

 Londres:

Victor

 Gollanz, 1963-

 [Aformacao da classe operdria inglesa.

 Rio de Janeiro:

Paz

  e

  Terra,  1988.]

3

  WILLIAMS, 1963=

  16.

4

 Ver  W I L L I A MS ,  R. Culture is Ordinary.  Conviction,  1958.

' W I L L I A M S , R. The

 Long

 Revolution. Harmondsworth: P eng uin , 1965.  p.  55-

6

 W I L L IA M S ,

  1965.

  p. 55.

7

  W I LLI A M S ,

  1965.

  p. 61.

8

  W I LLI A M S ,

  1965.  p. 63.

9

  W I L L I A MS ,  1965.

  p. 61.

10

  W I LLI A M S ,

 R.

 L i t e r a t u r e

  and  Sociology:  in memory  of  Lu c i en  Goldmann.

New

  Left

  Review,

  n. 67, p. 10, 1971.

11

  W I L L I A MS ,  1971. p. 12.

12

 THOMPSON, E. P. Reviews  of Raymond Williams's The  Lon g Revolution.

New  Left  Review, n. 9-10, 1961.

158

13

 W I LLI A M S , Raymond. Base and Superstructure in M a rx i st  Cu l t u r a l Theory.

New

  Left

  Review,  n. 82,

 1973-

14

 W I L L I A MS ,

 Raymond.

 Marxism and Literature.

  Oxford: Oxford University

Press, 1977.

 \Metrxismo e literatura. Rio de

 Janeiro: Zahar,

 1979-1

15

  W I LLI A M S .  Marxism and  literature,

 p.

  30-31,

 82.

16

 THOMPSON.  New  Left

  Review,

  1961.

17

 THOMPSON.  New  Left

  Review,

  p.

  33 -

18

 THOMPSON, E. P.  Peculiarities of the  English.

 Socialist

  Register,  p.  351-

352,

  1965-

19

 THOMPSON, E. P.  The

 Poverty

 o f  Theory.  London:

  Me r l in ,

 1978.  [A

 miseria

da

  teoria ou

  um planetaria

 de erros.

 Rio de Janeiro:  Z ah a r Editores, 1981.]

20

 THOMPSON.  The

 Poverty  of  Theory,

  p.356.

21

  Ver,  sobre  "culturalismo",  os dois artigos seminais de  R ic ha r d  Johnson

sobre a operacao do paradigma: Histories of Culture/Theories of

 Ideology.

In:  B A R R E T T ,  M.;  C O R R I G A N ,  P. et  al.  (Org.).  Ideology

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  Londres: Croom Helm, 1979; e Three Problematics. In:  C L A R K E ;

C R I T C H E R ;

 JOHNSON.

 Working Class Culture.

 Londres:

 Hutch inson/CCCS,

1979-

  Sobre

  os

  perigos

  da

  "teorizacao

  dicotomica", ver a

 Introdu9ao,

"Representation

  and

  C u l t u ra l Production".

 In: B A R R E T T , M ,

;

  C O R R I G A N ,

 P.

et al.  (Org.).  Ideology  and Cultural

 Production.  Londres: Croom

  Helm,

1979-

22

  A L T H U S S E R ,  L.

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  and

  Ideological State Appara tuses.

  In: .

Lenin

 and

  Philosophy,

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  other Essays.

 Londres:

 New Lef t

  Books, 1971.

23

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 For

 Marx.

 Londres: Allen Lane, 1969.

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Marx.  Rio de Janeiro: Zahar,  1979]-

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 Introducao

  a

 crltica

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  In: .

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25

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  Londres:

  New

  Lef t

Books, 1977.

159