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7/26/2019 Estudos+no+livro+de+Josu+-+Antonio+N.+Mesquita
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Digitalizao
Emanuence digital
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JosuAntnio Neves de Mesquita.
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VISO PANORMICA DA PALESTINA
(Geografia)
Sobe a este monte de Abarim., ao monte Nebo., que est na terra de Moabe, defronte de
Jeric, e, v a terra de Cana, que eu dou aos filhos de Israel por possesso (Deut. 32:49).
Moiss viu a terra sonhada e desejada, mas no pde entrar nela. Muitos l entraram, muitos
lutaram por ela, muitos a combateram, muitos a desejaram e muitos a venceram. Nenhum
outro pedao de terra na superfcie do globo viu tantas guerras, tantas lutas pela posse desta
nesga de terra. Os hebreus, que nunca tinham lutado por ela, passariam, em pouco, a ser os
seus donos perpetuamente. De 1400 a.C. at o ano 70 da era crist l ficaram vivendo mansa
e pacificamente. Apenas 1470 anos. Dois mil anos depois de expulsos dela, para l esto
voltando, para completar a tarefa que o Deus de Abrao lhes destinou. Pela parte que nos
cabe na histria desta gente eleita de Deus somos agradecidos divina Providncia, pois a
histria dos hebreus , em grande parte, a nossa histria tambm, do ponto de vista espiritual.
De l vieram os nossos profetas; de l veio a nossa Bblia; de l veio o nosso Salvador.
Portanto, ns tambm amamos esta terra, e amamos a sua gente.
Agora que estamos prestes a pr diante do pblico o livro da histria da Conquista levada a
efeito por Josu, o livro que traz o seu nome, nada mais natural que ofereamos um breve
bosquejo dos encantadores contornos da Palestina, para que a histria melhor seja
compreendida e o relato que Josu nos deixou na sua memorvel conquista melhor seja
entendido.
Do ponto de vista poltico-econmico a Palestina no oferece grandes atrativos. um pas
pequeno, de 220, quilmetros de norte a sul, e de uns 80 de leste a oeste. Portanto, um
pequeno pas. Todavia, a sua posio geogrfica deu-lhe, atravs da histria, uma posio de
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destaque. Era por ela que os exrcitos do Oriente vinham fazer as suas conquistas no
Ocidente. Foi por ela que os Faras egpcios passaram para as suas conquistas no norte.
Totmes III, Ramss II, Sargo II, Senaqueribe e tantos outros conheceram os contornos desta
nesga de terra, e l se desafiaram reciprocamente, l se combateras l uns venceram os
outros, de modo que no h na face da terra um pas que tivesse assistido a tantos embates, a
tantas lutas e a tantas conquistas.- J se v, por esta breve amostra, que a Palestina sempre foi
uma terra cobiada por sua posio geogrfica, mais que por sua riqueza natural. Entretanto,
um pas admirvel por seus contrastes, por sua grande variedade de contornos. J se disse
que em nenhuma outra terra se encontram tantas e tais variedades de climas, de belezas
naturais. No decorrer desta modesta apreciao da Palestina, ver-se- que a terra era
pequena, mas desejvel. Era "terra que manava leite e mel", no dizer gracioso da Bblia.
Um observador postado no pico do monte Nebo, onde Moiss foi ao encontro da morte, ficar
fascinado ante tantas altas montanhas e to profundos vales, vrzeas e plats, outeiros e
campinas, picos cobertos de neve no inverno e mesmo no vero, para ento descer a vista pelo
vale do Jordo, at o Mar Morto, com a sua cavidade, a mais baixa, da superfcie da terra, a
420 metros abaixo do Mediterrneo. Mas isso no tudo que um observador atento ver, se a
sua visita for feita na primavera. Por cima, da sua cabea a glria dos cus da Sria, e c
embaixo o tapete de verdura emoldurando o cenrio encantador. A vista do pico do Nebo, a
1.400 metros de altitude acima do Mar Morto, apresenta ura conjunto entre a terra e o cu e o
mar para produzir uma tal variedade de contornos e de belezas que a imaginao no pode
descrever. Deve ser vista para ser apreciada. Quer se olhe para o norte ou para o sul, para
leste ou para oeste, as diferenas so tantas que poderiam criar na mente do observador um
conjunto de contrastes; todavia, no isso que acontece. Parece que tudo foi feito para
compor um quadro em que as diferenas formam o fundo da cena. Se o observador puder
ento reunir a histria geografia, ento o quadro ficar ainda mais completo e perfeito.
Nenhum pedao de terra na superfcie do globo tem histria igual. Em nenhuma outra parte
Deus trabalhou tanto. Em nenhum outro lugar se deram tantas maravilhas da graa divina.
Em nenhum outro lugar se viram tantos milagres como ali. uma terra privilegiada e desejada.
Em nenhuma outra parte os turistas se benzem tanto, em nenhum outro lugar se perde a
respirao, face ao que os lugares nos contam da vida dos hebreus e, especialmente, da vida
de nosso Senhor Jesus Cristo. Qual a criatura humana que pode visitar o Jardim das Oliveiras,
o Getsmane, sem se sentir comovido? Quem pode visitar o Calvrio, e ficar insensvel?
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Verdade que h outras terras no Oriente Prximo de muito encanto histrico. O vale da
Mesopotmia, o vale do Nilo, com as suas fertilssimas campinas, bem regadas e ricas, so
duas delas, mas a sua histria no fala tanto ao corao como a histria da Palestina. A
Palestina um eptome do mundo, pois foi l que se desenhou a sua histria, l que se decidiu
o destino eterno da humanidade. Ento todos estamos ligados a esta terra, seja pelos laos
afetuosos do corao, seja pelos do esprito. Abrao, Isaque, Jac, Isaias e uma pliade de
outros foram judeus de nascimento, mas so cidados do mundo; pertencem a todas as gentes
e a todas as naes. Quando hoje se faz uma visita ao tmulo de Abrao, morto h tantos
sculos, parece que ainda se sente, a sua figura comandando os seus rebanhos, na esperana
do cumprimento das promessas de Deus, e todos se sentem igualmente comovidos ante
aquele pedao de cho que guarda o p do pai da f.
Para se compreender melhor a Palestina, deve se conhecer a sua geografia, os seus contornos
geogrficos. Por isso que vamos tentar fazer no menor nmero de palavras. Quando, h anos,
o autor escreveu um pequeno livro a que deu o nome de "Panorama do Mundo Bblico", teve
justamente o propsito de dar aos leitores da Bblia uma noo simples das diversas divises
da Terra da Promessa. Est esgotado este livro e no se sabe quando voltar a ver a luz do dia.
Por isso, e na falta de melhores compndios em portugus, vamos tentar dar aos leitores do
livro de Josu uma sinopse geogrfica da terra que foi palco da narrativa ali encontrada.
Muitos tm escrito sobre a geografia da Palestina. Entre outros, George Adam Smith, Edward
Robinson, etc. So livros um tanto antigos e fora de circulao, alm de estarem todos na
lngua inglesa. De modo geral, so livros mais para professores de investigao do que paraum pblico como o nosso.
As fronteiras naturais da Palestina so: ao norte, o Hermom ou o Lbano e o Anti-Lbano, com
os seus picos nevados de vero a inverno; ao sul, o Neguebe e o rio do Egito; a oeste, o
Mediterrneo com as suas guas eternamente azuladas e mansas; a leste, a profunda
depresso do rio Jordo. Toda a regio do leste atualmente compreendida como a
Transjordnia, que, nos tempos do Novo Testamento, exerceu notvel papel nos destinos da
vida israelita. No fazia parte da Terra da Promessa, pois a regio ocupada pelos moabitas,
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edomitas e amoritas no estava compreendida nos territrios a serem conquistados. Um
desvio da histria levou esta regio a ficar inclusa na terra conquistada. Foi dada s tribos de
Gade, Rben e a meia tribo de Manasss. O territrio prometido por Deus a Abrao ficava
entre o Jordo e o Mediterrneo, e entre D e Berseba, nomes muito familiares aos estudantes
da Bblia. Como se v, era uma terra pequena, mas tambm os seus destinatrios no eram
muito numerosos. Ocupava, entretanto, uma estratgica posio geogrfica que a tornava
uma terra cobivel e de muita importncia nos destinos do lo antigo. Basta o fato de ficar
entre o Tigre e o Eufrates a leste, e o Egito ao sul, os dois maiores centros de cultura antiga,
para se compreender que era uma regio de muita valia, nos destinos daqueles povos
primitivos. Todas as estradas do comrcio antigo passavam pela Palestina. Ningum podia
visitar o Egito, a grande capital da antigidade, sem passar pela Palestina, do mesmo modo
que ningum podia vir do sul Caldia sem passar por l. Os grandes imprios do norte,
amoritas, mitnios e hiteus, tinham ali os seus caminhos, quer para o comrcio, quer para as
guerras. Algumas das cidades da Palestina passaram de mo por mais de uma vez, em virtude
das guerras ali feridas. Vemos, portanto, que a Palestina tinha um grande papel a
desempenhar na formao da histria dos povos antigos, e quando Deus determinou dar ao
Seu povo esta nesga de terra certamente teria em vista este conjunto de fatos, na esperana
de que os israelitas ,executassem o seu ministrio missionrio em condies nicas nasuperfcie da terra.
Com esta breve apreciao introdutria, podemos passar a examinar as diversas divises
fundamentais do territrio palestino, e nosso estudo se tornar mais inteligvel e apetitoso.
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DIVISES FUNDAMENTAIS DA PALESTINA
1. Plancie Martima,
2. Piemonte ou Sefel,
3. Plat Ocidental (incluindo a Plancie de Esdraelom e Jizreel).
4. Vale do Jordo,
5. Plat Oriental,
6. Neguebe ou Pas do Sul.
Estudaremos, alm dessas seis divises, duas outras, no menos importantes, tais como a
Plancie de Esdraelom, que vai do Carmelo ao Jordo, e a de Jizreel, que separa o norte do sul.
Apreciando essas divises, poderemos compreender no s o valor poltico e social da terra,
mas tambm a significao da conquista por Josu, nosso principal fim neste estudo.
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1. Plancie Martima.
A regio martima ou costeira estende-se do rio do Egito, o moderno Wadi e el-Wade (a
rinocultura), uma rea de uns 70 quilmetros, ao sul de Gaza, at a Escada de Tiro, ao norte,
que fica a uns 25 quilmetros ao sul da cidade de Tiro, a famosa cidade dos tempos de
Salomo. Esta regio, do norte ao sul, compreende uns 200 quilmetros de extenso, e de
largura varia muito. Ao norte h apenas pequena frincha entre os Lbanos e a terra dos
sidnios, alargando-se bastante no centro, na altura do monte Carmelo. Ali se formaram o
mais lindo e aprazvel prado, o encanto da natureza da Palestina. Na primavera, este prado
oferece tal beleza, com os seus roseirais e seus trigais que nada h comparvel na face da
terra.
Toda a regio costeira de recente formao geolgica, constando de extensos areais
fecundos pelo aluvio carregado pelos diversos rios que regam aquela rea. uma terra
roubada ao mar, e em constante crescimento, graas s correntes martimas vindas da frica.
a parte, talvez, mais antiga da Palestina. Gaza, a famosa cidade ao sul, deve ter sido fundada
antes de 4500 a.C. Ainda no se sabe tudo dos seus antigos palcios porque a picareta do
arquelogo ainda no fez todo o servio. A sua riqueza tal que desde tempos imemoriais os
cretenses ali se estabeleceram, formando o povo conhecido pelo nome de filisteus. Teria sido
inicialmente ocupada pelos levitas, depois desapossados pelos filisteus. Esta diviso pede uma
subdiviso, para melhor compreenso do nosso estudo: (1) Plat da Filstia, (2) Plancie de
Sarom, (3) Plancie de Acre.
(1) O Plat da Filstia (1) compreende uma rea de 90 quilmetros de norte a sul e uns 30 de
largura. uma faixa muito importante que tem o seu centro em Jope, incluindo a famosa
cidade de Gaza. Nos tempos das cartas de Tell-el-Amarna (14501350) foi uma regio muito
famosa, e mesmo nos tempos da conquista. Algumas das suas mais famosas cidades so
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Asquelo, Gerar, Gaza e Jope, muito nossas conhecidas. Os egpcios ali tiveram o seu domnio
em tempos antigos, sendo depois empurrados mais para o sul, rumo ao Nilo. A importncia
desta regio liga-se vida dos filisteus, que nunca puderam ser desapossados. Estava no mapa
da conquista, mas Josu no pde ou no quis conquist-la, e os seus sucessores, igualmente,
nunca conseguiram tomar conta da regio. Vez por outra, unia cidade passava s mos
israelitas para, logo depois, voltar aos seus antigos donos. Se Josu tivesse tomado esta
regio, teria evitado as lutas que ns conhecemos durante mais de 1.000 anos. No estudo de
Josu e Juizes voltaremos a considerar, diversas vezes, as lutas que ali se feriram. A
organizao fistia, no sendo uma monarquia com um centro poltico, mantendo por sculos
as cinco cidades confederadas, pde, entretanto, por mais tempo, manter unidos os filisteus
que qualquer outro povo da Palestina. Suas cinco cidades, cada uma com o seu rgulo,
Ascalo, Asdode, Gade, Ecrom e Gaza, eram cinco baluartes difceis de dominar e s foram
inteiramente dominados no tempo de Salomo. Os historiadores nem sabem a que admitir a
invencibilidade destas cidades, se riqueza da terra, se belicosidade dos seus habitantes, se
sua posio estratgica, pois ficavam na entrada da Palestina, e ningum podia ir para o sul,
vindo do norte, ou ir para o norte, vindo do sul, sem prestar sua homenagem Filstia. Fosse
pelo que fosse, a fertilidade, o esprito guerreiro do seu povo, a posio geogrfica, o certo
que nunca houve quem pudesse desapossar esta gente da faixa costeira. Admite-se que aosconquistadores de Josu interessavam as vrzeas frteis dos plats centrais, mais do que a
regio martima, mas ns no estamos de acordo com este ponto de vista. Outros motivos
deveria ter havido para que essa gente ficasse sem ser molestada por sculos. Perdido o
mpeto guerreiro de Josu, os seus irmos contentaram-se em ficar em paz nalguns cabeos e
vrzeas, misturados com os cananeus, em vez de avanar para oeste e dominar esta gente. O
que nos parece verdade que os filisteus jamais seriam dominados, humanamente falando,
com as armas daqueles dias, pois tinham armas melhores do que os seus inimigos, tinham
lanas de ferro e carros ferrados, que os israelitas no tinham. Muito lamentamos o terem
ficado invencveis, pelos horrores que causaram aos nossos hebreus atravs de tantos sculos.
Outros grandes povos foram dominados, mas esse no.
No decorrer desta apreciao geogrfica, fomos vtima de nossa preferncia pelos hebreus em
detrimento dos povos conquistados ou a serem conquistados, mas isso tem sua justificao.
Deus mesmo teve esta preferncia e se no fosse assim no teria dado a terra ocupada ao
povo que elegeu. Somos basicamente contrrios idolatria, deturpao do sentimento
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religioso da raa humana; e Deus, por condenar a idolatria, deu a terra da Palestina a um povo
que no era idlatra, com a misso de estabelecer o verdadeiro monotesmo primitivo. No
Brasil somos vtimas da mariolatria, e do culto a centenas de santos com o qual o povo fica
embrutecido e incapaz de fazer a distino entre um culto espiritual e um idoltrico. Esta a
continuao da luta comeada h 3.400 anos. a nossa luta transformar uma nao idoltrica
numa nao que adore a Deus em esprito e verdade. Se venceremos ou no, a histria o dir.
Nenhum estudante de geografia poder ignorar o afamado pentgono, composto de Gaza,
Asquelo, Asdode, Gade e Ecrom. Sua superioridade, como ncleo de cidades, no resultava
apenas do fato de possuir uma rea por demais frtil, mas tambm porque controlava todos os
movimentos polticos da Palestina. Por esta razo, julgavam-se os filisteus com o direito dedominar toda a Palestina. At que ponto eles teriam razo cabe ao historiador dizer. No se
pode negar a sua influncia na terra, desde tempos muito antigos, porque foram eles que
deram o nome Palestina. Os historiadores no sabem dizer com segurana em que se
baseou esta herana, alm dos fatos aqui alinhados.
(2) Plancie de Sarom. Esta rea constitui naturalmente a segunda diviso do territrio
constitudo pela Plancie Martima. Os limites sulinos desta regio so demarcados pelo Nahr
(Rio) el-Auja (Jacrom), que desgua no Mediterrneo, perto de Jope, enquanto os limites
nortistas da mesma regio se encontram na pequena cordilheira formada pelo Carmelo. A
extenso desta rea no muito grande, compreendendo aproximadamente 75 quilmetros
de norte a sul, e uma largura de vinte a trinta quilmetros. Muito naturalmente, estas divises
so mais polticas que geogrficas, e apenas so oferecidas para no deixar o leitor na
ignorncia dos fatos, quer geogrficos quer polticos destas zonas. Admiram-se alguns
historiadores que os filisteus nunca tivessem reclamado esta parte da Palestina, sendo, como
era, de uma beleza e fecundidade a toda prova. Durante o perodo do Velho Testamento era
considerada como provncia independente, uma regio isolada. Sarom muito bem regada,
porque alm da precipitao anual bastante elevada, recebe as guas que atravessam a regio
perenemente. Os rios mais importantes so o Auja (Isconderunebe) Mefjir e Zerca. Esta
planura esteve, em antigas eras, em poder dos filisteus. Eles a perderam por motivos que se
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ignoram e ela est atualmente em poder dos hebreus. Aos poucos vo eles devolvendo a esta
regio a riqueza e fertilidade que sempre teve.
(3) Plancie de Acre. Esta planura comea nas faldas do Monte Carmelo, muito conhecido pela
histria de Elias, e se estende pela costa numa distncia de 30 quilmetros, mais ou menos.
Sua largura de 5 a 6 quilmetros. A Escada de Tiro o em ponto culminante. Esta planura,
com as suas fontes no Plat Central, regada por dois pequenos rios: o Namein e o antigo
Quinsom, famoso na histria de Dbora e Baraque. O interior da planura muito frtil,
especialmente no norte e no sul, onde floresceram antigamente algumas cidades bem
famosas. Toda esta rea, incluindo Sarom, ao sul do Carmelo, conhecido pelo nome de Dor,
pertencia antigamente aos fencios. Este territrio a partir de Tiro at o Carmelo caiu em sorte
tribo de Aser, mas a sua proximidade dos filisteus no lhe permitiu a posse mansa por muitos
anos. Por isso, Acre, Tiro e Sidom nunca foram cidades israelitas. A cidade de Acre, a uns 20
quilmetros da costa, era, no somente a mais importante, mas tambm, a porta de entrada
da Palestina central. O Novo Testamento nos d informaes da importncia desta regio,
perto de Jope, Cesaria e a moderna cidade de Halfa, o orgulho dos hebreus modernos.
Para concluirmos nossa apreciao da Plancie Martima, diremos umas poucas palavras sobre
a costa numa costa aberta sem boas balas. Enquanto a plancie costeira oferece tantas
vantagens, sua costa nunca despertou interesse dos navegadores por falta de portos onde
acostar os navios. Se outra fosse a configurao, acredita-se que outra teria sido tambm a
sorte desta parte da Palestina. Os hebreus atuais esto construindo seu melhor porto de mar
custa de grandes gastos, numa pequena salincia ao norte do Carmelo porque no h outro
local onde faz-lo. Haifa, com 450.000 habitantes, uma cidade moderna, com grande
comrcio e amplo movimento nacional e internacional. Mais para o norte, o litoral oferece um
panorama muito diferente, pois os portos de Tiro, Sidom, Beirute, Gebal e Trpoli, entre outros,
do costa um outro aspecto. Toda esta vasta zona. desde o Egito a Tiro, ficou privada de
bons portos de mar, pois nem mesmo Alexandria e Port Saide so ainda hoje os melhores do
mundo. Repetimos: se a costa da Palestina tivesse sido servida de boas enseadas, outra teria
sido a sua histria. Mesmo que reconheamos que os navios antigos no careciam de grandes
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portos como os modernos, ainda assim, se portos bons houvesse, teramos outra histria.
Cesaria era o principal porto nos tempos herodianos. Jope era outro bom porto. Mas nem
um nem outro merecem o nome de portos de navios. Teria sido por isso que os hebreus nunca
se sentiram atrados para o mar, a no ser nos tempos de Salomo, usando o porto de Acaba,
no Sinai, e isto por causa da influncia fencia, senhora dos mares naqueles longnquos dias.
Isso fez dos hebreus antigos um povo de criadores e agricultores, e talvez por essa razo
tivessem evitado muitas outras contendas com os seus vizinhos. Se tivessem conhecido o mar,
teriam entrado em competio com os fencios, e quem sabe se, de amigos que foram, no se
teriam convertido em inimigos. A geografia tambm influi nos destinos dos povos e marca a
sua histria com lances diferentes daquilo que poderia ter sido. A longa histria escrita pelos
povos da Plancie Martima a que ns conhecemos, e no podemos escrever outra. Mas
reafirmamos: se a geografia fosse diferente, diferente teria sido a histria. Resta ao
observador moderno esperar por outros contornos da histria dos hebreus atuais, para ver, no
final, o que eles poderiam ter tido nos tempos antigos. De qualquer modo, mesmo sem bons
portos, a Plancie Martima deu um captulo da histria antiga dos mais movimentados e
belicosos. (2)
Ainda que fora do alvo deste estudo, pedimos licena para dizer que aquilo que os hebreus
antigos no conseguiram de modo completo os hebreus modernos o esto conseguindo. J
ficou claro que muita coisa da geografia foi mudada durante os ltimos milnios. Bas, que
ns conhecemos como uma terra rica e frtil, foi reduzida a um campo quase estril por falta
de cultivo adequado. Assim, a parte ocidental. Os rabes, que se apossaram da terra depois
do ano 600 da nossa era, no souberam trat-la, e a exploraram de modo muito primitivo, at
que no deu mais a sua riqueza. Atualmente, a parte sob domnio dos hebreus uma prova do
que ela foi antigamente. Os prados, a vegetao, o arvoredo, os montes cobertos de herva,
tudo nos indica que a terra est voltando ao que era antes. Como tem sido assinalado em
diversos tpicos, a terra ficara totalmente desprovida de rvores, que foram destrudas pelos
conquistadores orientais. Pois bem, esto sendo agora replantadas e, dentro de alguns anos,
pelo menos a parte sob domnio israelita, voltar a ser o que era antes. Por isso o autor tem as
suas preferncias pelo domnio hebreu da terra, pois esta gente a senhora da cincia
agronmica e qumica, e a terra carece desse tratamento.
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(1) Smith, The Historical Geography of the Holy Land. P. 148
(2) Kent Biblical History and Geography.
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2. Piemonte ou Sefel.
Entre os altos montes, a oeste de Jerusalm e plancie costeira, ficam os baixos montes de
Sefel. uma rea caracterstica e bem definida, vista como conjunto de vales e plancies. Os
montes, esparsos em diversos lugares, tm uma altura mdia de 150 a 300 metros acima do
Mediterrneo. O solo no to rico como o da Filstia ou de Sarom, mas tambm no muito
pobre. um territrio peculiar ao cultivo das oliveiras e vinhedos, de cereais e produz fartas
colheitas de trigo e cevada. Por sua posio, foi por muitas vezes o centro de grandes
combates nos tempos do Velho Testamento, e por certo teria sido assim em tempos
anteriores. Muitas das mais sangrentas batalhas dos tempos antigos foram feridas nesta
regio. (3)
Os limites geogrficos naturais de Sefel so dados como o que compreende o estreito
territrio que vai do vale de Aijalom, uns 12 quilmetros a oeste de Jerusalm, at Berseba, no
extremo sul, incluindo as divises naturais da Filstia e as planuras de Jud, O Sefel ocupa uma
regio que melhor se entender como um tabuleiro entre a Plancie Martima e as montanhas
de Jud. Politicamente, nunca foi bem definida, e as definies aqui usadas so mais
geogrficas que polticas, pois nunca houve ali qualquer governo que desse configurao ao
territrio. Temos ento uma rea de montculos, aqui e alm, com grande claros ou vales
entre si. fcil compreender uma regio assim: os montes do a caracterstica especial, e os
vales ou planura, os contornos. Tanto nos montes como nos vales a agricultura era abundante,
especialmente, como j vimos, de oliveiras que cresciam abundantemente. Atualmente nada
se v porque tudo foi destrudo. Um vandalismo selvagem varreu, desta terra rica e prspera,
no apenas a beleza, mas tambm a riqueza. Os atuais hebreus esto fazendo voltar esta terra
ao que era h sculos, diramos, milnios passados, e certamente, vo triunfar. No plano da
conquista de Josu estava o Sefel, mas Josu mal chegou s bordas deste territrio talvezporque, para o sul, o terreno torna-se spero e pouco produtivo, sendo a antiga regio dos
amalequitas e filisteus. Parece ser uma terra de ningum porque nem os filisteus jamais
procuraram dominar nesta regio, nem os israelitas se preocuparam muito com ela. Os
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modernos sionistas crem que o Sefel e a Filstia fazem parte de uma mesma regio, mas isso
nunca foi reconhecido na antigidade. O que nos parece mais lgico reconhecer que esta
rea era um prolongamento do vale de Aijalom, e no uma rea independente. Nas narrativas
de Josu e Juizes, o Sefel figura como uma regio montanhosa, o que verdade em sentido
restrito, porque havia grandes e frteis vales de permeio. Uma visita rpida ao lugar nos daria
a viso correta da situao.
Parece que o seu maior valor, entretanto, est na sua relao com o plat central. No extremo
norte, onde os montes do Carmelo sobem -gradualmente da Plancie de Sarom, h uma
aproximao fcil a esta rea por trs lugares bem conhecidos dos amigos da Palestina. O
primeiro, pelas arenosas inclinaes do Carmelo, na direo da Plancie de Esdraelom, emMegido, o bem conhecido lugar das grandes batalhas da antigidade; o segundo, talvez por
uma estreita passagem do plat central rumo ao interior de Dot; o terceiro, o mais difcil
passo atravs da vila atual de Tulcarem, rumo a Nablus. Essas regies foram testemunhas das
mais aguerridas lutas na antigidade, para garantirem a passagem das plancies costeiras rumo
Palestina central. Megido figura nas crnicas bblicas e estrangeiras como o centro mais
cobiado, pois era por ali que a passagem era ou berrada ou consentida. Foi ali que Totms III
se defrontou com os povos do norte, e foi ali que Ramss II se defrontou tambm com os
hiteus, e foi ainda ali que Josias morreu nas mos do Fara Neco, que no lhe desejava fazer
guerra, mas aos caldeus (II Crn. 35:20-27). Era um campo de batalha em que os exrcitos ou
se dirigiam contra os israelitas ou apenas desejavam a passagem livre. A arqueologia ainda
tem muito a nos contar a respeito de Megido, onde tambm Salomo tinha as baias dos seus
cavalos, tendo sido descobertas at agora cinqenta delas, construdas de mrmore.
Na parte suleste do Plat central o Sefel mais pronunciado, p sua aproximao um tanto
mais difcil, e "talvez seja por isso a parte menos interessante na histria de Israel. H quatro
passagens mais importantes que levam a esta regio quem vem do norte: Uma delas o vale
de Aijalom (talvez a parte mais importante da Palestina, pois coloca o norte em contato com o
sul e ali se feriram algumas das batalhas de Josu pela posse da Palestina central). tambm a
passagem natural para quem vai a Jerusalm, partindo da Plancie de Sarom, e tambm para
quem vem de Sefel. Aijalom fica perto de Gibeom, uns 8 quilmetros a noroeste de
Jerusalm. O acesso se faz por uma srie de desfiladeiros, e por ali se vai tambm s partes
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baixas de Bete-Horom, nos limites de Sarom. O vale era facilmente defensvel, e foi ali que
Josu perseguiu os confederados (Jos. 10). Sculos mais tarde, Judas Macabeu provou que a
regio era mesmo o ponto melhor para uma defesa contra os srios. Quem dominasse Aijalom
dominava facilmente o resto do sul, inclusive Jerusalm, e por esta razo que os lideres
religiosos sempre se preocupavam com esta praa de guerra. O seu sistema de defesa eram as
cidades de Balate, Baixa Bete-Horom, onde Salomo construiu algumas das defesas da sua
cidade.
A segunda aproximao aos montes da Judia atravs do Sefel, era pelo vale de Soreque,
vasta planura, rica de pastagens para gado e agricultura. Foi dali que os doze espias levaram a
Moiss um cacho de uvas enfiado numa vara, como prova da riqueza da terra. Deste valetanto se vai a Jerusalm como Filstia, pois as cidades de Ecrom e Geser ficam prximas. Foi
ali que Davi enfrentou o gigante Golias (I Sam. 17:14-58). A antiga estrada de ferro de Lude a
Jerusalm segue este curso, passando pelos tabuleiros de Bete-Semes, Meoah e Zor, lugar do
nascimento de Sanso, e onde ele executou a maior parte das suas proezas. A rigor, o vale de
Soreque pertence ao Sefel, mesmo que os seus limites no sejam facilmente determinados.
Por sua proximidade aos filisteus, era o lugar onde maiores cuidados se faziam necessrios, e
no foram poucas as vezes que estes inimigos de Israel ocuparam algumas das suas cidades.
Era uma zona conflagrada. A fortaleza de Bete-Semes era uma guarda avanada contra os
inimigos do oeste. Salomo teve todo cuidado em se garantir contra estes inimigos at que os
dominou totalmente, pois quem dominasse Soreque dominava s portas da capital.
A terceira via de aproximao ao sistema central, via Sefel, era o vale de El. Os extremos
deste vale ficam um pouco ao sul de Belm, perto do antigo campo de batalha de Bete-
Zacarias, na estrada que tambm leva a Jerusalm. Os seus extremos ocidentais, passando
pelo imponente outeiro de Zacari, levam facilmente s ondulantes planuras da Filstia, em Tell
es-Safi, moderna Gade, uma das cidades do pentgono filisteu, a mais famosa e perigosa liga
anti-israelita. Guardar esta passagem rumo a Gade era guardar a entrada do inimigo rumo ao
centro vital de Israel. Provavelmente a atual Tell Zacari a antiga Azeea, em cujas
vizinhanas os israelitas, de um lado, e os filisteus do outro, se defrontaram por longo tempo,
at que Davi deu fim ao problema, matando Golias. Anos mais tarde, Roboo constituiu Azen
numa fortaleza, juntamente com outras cidades, precisamente para se garantir contra os
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clssicos inimigos do oeste. Assim podemos ver que o vale de El era muito importante, quer
para os filisteus quer para os hebreus. Guardar esta passagem era questo vital para os nossos
israelitas. Se no era to importante como Aijalom, no era menos importante que qualquer
outro passo mais ao sul.
Uma quarta passagem ou aproximao, quer s partes sulinas ou a oeste, ficava nas
proximidades de Beite Jearim, conhecido como o vale de Zefet. Ficava um tanto afastada de
Jerusalm, e por isso no era de importncia vital. Para percorrer esse caminho teria um
conquistador de vencer algumas das grandes cidades do sul, tais como Hebrom e Betezur. Fica
ento claro que o domnio da regio sulina era de importncia vital por sua aproximao com o
centro de Cana. Por esta razo, Sefel foi sempre um centro de graves contendas entrehebreus e filisteus.
A histria desta regio no compreende apenas os filisteus e israelitas. Os romanos ali
estabeleceram o seu quartel geral e os no menos belicosos srios. Nas lutas macabeanas,
tambm este local assistiu a sangrentos combates contra os srios. Modim, clebre nas lutas
dos Macabeus, Geser, Beite-Jibrim, Bete Semes, Zacari, Quiriate-Sefer, Queil, Marqued e
Yimn so apenas alguns dos antigos basties que guardavam o sul e especialmente a capital
hebraica. Muitos destes centros foram desorganizados por Josu, mas tempos depois, por
falta de uma continuada vigilncia, voltaram a servir aos antigos inimigos filisteus. Era o
campo clssico de batalha.
(3) Smith, The Historical Geography of the Holy Land, p. 201.
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3. Plat Ocidental.
A parte mais importante de Cana , sem qualquer dvida, o Plat Ocidental. a terceira
diviso geogrfica da Palestina, pois a ponta que liga todas as demais divises j referidas.
Para ir plancie martima ou ao Jordo, se o viajante estiver do lado ocidental do rio, ter de
passar por esta diviso. Quando se observa Cana do topo do Nebo ou do Hermom parece
que Cana um conjunto de montes sem fim, mas a realidade bem outra. H muitos
montes, mas pequenos, e eles se sucedem de tal modo que parecem mesmo um conjunto de
elevaes. Talvez o panorama mais impressionante seja o visto de qualquer parte ao norte,
dos contrafortes dos Lbanos. Ento a vista parece sem fim, porque se vem os vales de
permeio com os montes. O planalto da Alta e Baixa Galilia apresenta-se como um vasto
lenol de verdura, e se a visita se der na primavera, ento a beleza no tem paralelo. A
expresso "De D at Berseba" toma uma feio diferente da que se tem lendo apenas as
palavras da frase. Se voc fizer a viagem, digamos, de Jerusalm ao Mar da Galilia, ver
vrzeas sem fim, to vastas que os agricultores so forados a plantar arbustos, cana brava e
outros, entre os diversos lotes, para evitar que o vento varra tudo na sua Passagem. (4)
Anotaremos aqui as principais divises desta vasta rea, para melhor compreenso do estudo.
A parte norte do Plat forma a espinha dorsal da Galila, cercada pelas regies martimas de
Acre e Fencia a oeste; ao norte, pelo rio Londres e os Lbanos, e a leste pelo famoso Vale do
Jordo. Eis uma boa sinopse da regio. Comeando com o sistema dos Lbanos, o plat desce
gradualmente, numa sucesso de depresses, at atingir o planalto de Esdraelom, dividindo-se
esta regio em duas partes bem distintas, que so: (a) a Alta Galilia e (b) a Baixa Galilia. A
bem da verdade, o observador no v outra diferena seno a altura dos montes que na
Galilia do Norte se elevam de 700 a 1.400 metros acima do Mediterrneo, enquanto na Baixa
Galilia no vo a mais de 600 metros. De permeio, grandes vales formados pela depresso do
Jordo, que vo de Tiberades Plancie Martima, de Haifa e Acre. Toda esta regio muito
bem regada, por bons e permanentes rios, e uma grande precipitao anual. Por isso esta
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regio sempre foi o celeiro de muitos povos que viviam e morriam na sua defesa. A
proximidade do Monte Hermom tambm d a sua contribuio umidade do solo. Os cereais
crescem abundantemente, e, a no ser em longas estiagens, nunca h falta de alimento para o
povo. Alm de cereais, as vinhas, os olivais, as nespereiras e outras frutas da regio crescem
abundantemente. Boas estradas partem deste centro, rumo ao Jordo, Sria, Galilia e sul de
Cana. o corao da Palestina, e, por sua localizao geogrfica e fertilidade, muitos povos a
desejaram e por ela muitos se guerrearam. A parte norte livre por todos os lados; parece
uma terra de todos, e um convite a todos. As suas cidades, tais como Nazar, a terra de nosso
Senhor, Tiberades, Can, onde Jesus fez o primeiro milagre, fazendo da gua bom vinho,
Corazim, Betsaida e tantas outras, umas maiores e outras menores, so um mundo de
encantos, e parece at de louvores ao Criador. O Lago de Nazar a ,"ande prola encrustada
neste conjunto, com os seus modestos barquinhos, indo e vindo, de um lado para outro em
busca do pescado para as populaes. Foi nestas regies que Jesus demorou mais e onde fez a
maior parte dos seus milagres. O povo, por seu feitio meio internacionalista, sempre aberto a
Quaisquer novidades, deu-lhe sua cooperao e amor, mesmo que houvesse a natural
oposio dos lideres religiosos sempre ciumentos das suas opinies.
Para quem vai do sul ao norte, a Galilia oferece o contraste j visto linhas atrs, com os seus
montes se elevando at a altura de 1.400 metros acima do Mediterrneo. Vindo do norte para
o sul, o aspecto o mesmo, mas com uma tonalidade diferente at encontrar as planuras de
Samria, com os seus vastos vales e campinas, os montes de Ebal e Gerizim a leste, montes de
to celebradas recordaes, por ter sido neles que a Lei foi reafirmada, com a proclamao das
bnos e das maldies, nos dias de Josu (Jos. 8:30-35). Foi em Samria que Jesus convidou
os discpulos a levantarem os olhos e verem os campos brancos para a ceifa e foi ali que Jesus
teve um dos seus mais tocantes encontros, no poo de Jac que fica um pouco para leste. H
duas planuras de especial importncia nesta rea: Dot, onde Jos foi vendido por seus irmos
para o Egito, e a outra, onde Eliseu mais tarde, foi cercado e livre (II Reis 6:8-23). Uma outra,
no menos significativa, a chamada Mor, nas imediaes dos montes Ebal e Gerizim, o lugar
da antiga Siqum, onde Abrao morou ao chegar a Cana. No h um palmo de terra nesta
regio que no esteja ligado a um fato histrico muito querido aos leitores da Bblia. Foi em
Siqum (Jos. 24:1) que Israel se reuniu para se despedir do seu grande lder Josu e receber as
ltimas recomendaes de ser fiel ao seu Deus; foi ainda ali que Israel se reuniu para coroar
Roboo, filho e sucessor de Salomo (I Reis 12:1). Foi perto dali mais tarde que se fundou a
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capital do Reino do Norte, com dois centros de culto idlatra, organizados por Jeroboo I, um
em D, no extremo norte, e outro em Betel, na divisa com o reino do sul. Foi ali que se
fundiram as civilizaes israelita e siraca como resultado da mistura de povos que os reis da
Assria trouxeram para Israel, de que resultou o problema religioso e poltico, to do nosso
conhecimento no Novo Testamento, entre samaritanos e judeus. Como se v, esta regio tem
uma histria.
Mais para o sul ficam as planuras de Jud, que alguns gegrafos chamam de "terceira seo"
desta rea do Plat Ocidental. Comea em Betel e termina em Berseba, bem ao sul de Cana.
Seus montes alcanam uma altura de 300 a 100 metros acima do Mediterrneo e vo
declinando, at formarem um chapado em Berseba. As suas fronteiras se unem em Sefel, jestudada nestas notas. Para o lado oriental, vai-se ao Jordo e Mar Morto, cuja situao ser
vista mais adiante. Mais ainda para leste, ficam os lugares queridos do mundo cristo, grego
ortodoxo e catlico; o Jardim de Getsmane, o Monte das Oliveiras e outros.
Chegando a este ponto, encontramos a cidade de Jeric e o Gilgal, onde Josu estabeleceu seu
quartel general, e de onde comandou as campanhas da conquista do sul da Palestina. Mas
deixaremos esta apreciao para depois.
Um pouco para o sul de Samria encontram-se os famosos vales de Ajalom ou Aijalom, onde
Josu mandou parar o sol e a luz. um vasto plat, rico para agricultura, amplo e bem regado,
onde os rios perenes tornam a regio um dos pedaos mais cobiados da Palestina. O vasto
vale de Esdraelom, que vai do Carmelo ao Jordo, foi um dos grandes centros de combate de
todos os tempos, e especialmente nos dias de Josu. Esdraelom e Jisreel se confundem, pois
ocupam a mesma rea. Foi neste local que Josu enfrentou a coligao levita, perto de
Gibeom.
Daqui partem estradas rumo a todos os pontos da Palestina; para o sul at Berseba, para o
norte at Galilia do norte e adjacncias, para leste rumo ao Jordo. Era de ver que seria um
lugar disputado. Jerusalm, o antigo forte jebuseu, ficava apenas a poucas milhas, bem assim
Hebrom e as cidades do sul. Perto deste vale fica o bem conhecido lugar de Emas onde Jesus
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se encontrou com os discpulos depois da ressurreio. Um turista que sai de Jerusalm pela
manh ficar encantado ao atravessar este lugar pela moderna rodovia que corta
longitudinalmente at Galilia. Ver os verdes prados e, no tempo das colheitas, os grandes
trigais amarelecidos, como emblema da seara branca para a ceifa. De passo a passo,
encontrar as antigas cidades, mesmo com nomes novos, e algumas ainda no identificadas.
Assim revendo antigos e modernos locais, vamos de Jerusalm, passando por Aijalom, Jizreel,
Esdraelom, Samria, Nazar e Alta Galilia e, se desejarmos ir mais adiante, iremos aos
Lbanos, e bem ao norte linda cidade de Beirute, perto dos picos gelados do Lbano. No
esqueamos o querido monte Hermom bem nas faldas do Anti-Lbano, onde Jesus se
transfigurou, para dar uma imagem do que ser a vida dos transformados na ressurreio.
No h aqui nesta aparente nesga de terra um palmo que no fale ao corao dos amigos da
Bblia, sejam judeus ou gentios cristos. Para ns, parece at ser a nossa terra, o nosso pas.
(5)
(5) Kent, Biblical History and Geography, p. 45 - Veja Huntington, Palestine and its
Transformation, p. 304.
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4. Vale do Jordo.
a quarta rea do nosso estudo. Tudo que se puder dizer desta regio ainda ser pouco para
descrever tanta histria e tanta beleza. Com uma extenso de 220 quilmetros de norte a sul,
apresenta os dois extremos em altitudes; no norte, nas alturas do Monte Hennom, atinge a
2.045 metros acima do Mediterrneo, e ao sul 420 metros abaixo deste mesmo mar, no Mar
Morto. 10 a mais profunda depresso na face da terra. A distncia no to grande, pois
alcana uns 220 quilmetros de norte a sul. Por isso o Jordo se chama o "Corredor", pois
um rio que desce com grande velocidade, especialmente no tempo das guas da primavera.
uma regio pitoresca.
O Vale do Jordo no inclua apenas o rio propriamente dito, mas a regio lateral. Portanto, oVale do Jordo constitui-se da rea que vai desde o sop do Monte Hermom, ao norte, at o
Mar Morto, ao sul, e suas imediaes. uma regio sujeita a terremotos e muitos tm sido os
abalos ssmicos que visitam a regio. Quando estudamos a queda dos muros da cidade de
Jeric fazemos referncia a um possvel abalo ssmico que levantou o solo da cidade e fez
tombar os muros de dentro para fora. 0 rio mesmo muda de curso muitas vezes pela
interrupo do curso natural e temporria abertura de outro. Dai suporem os gelogos que a
passagem do povo pelo rio se deu precisamente no momento de um desses abalos. Pode ter
sido assim, mas ento foi numa coisa totalmente medida, pois o rio secou quando as Plantas
dos ps dos sacerdotes que levavam a arca, tocaram a gua, e as guas voltaram ao seu
normal justa e precisamente quando o ltimo hebreu passou. Tudo calculado e medido por
quem tem nas mos os destinos da terra e sua cincia. Antigamente havia florestas
marginando o rio, onde os lees e outros animais ferozes tinham as suas moradas.
Atualmente, a terra est devidamente aproveitada onde possvel, no havendo mais do que
arbustos marginando o rio. No 'vero o rio parece um carrego, com alguns lagos meio
parados, mas na primavera com o derretimento das neves dos Lbanos, as guas descem com
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uma velocidade incrvel, esbarrancando as margens e cavando ainda mais fundo o leito do rio,
que nalguns lugares totalmente intransponvel. Existem apenas alguns vaus, em certas
margens, onde o povo aproveita para passar de um lado para outro.
Nas imediaes de Hamate, no Orontes, as montanhas correm paralelas ao Mediterrneo,
formando o sistema conhecido por Lbano; do outro lado do Jordo corre outro sistema,
conhecido como o Anti-Lbano. Quando estas montanhas atingem a Alta Galilia, vo
abaixando at se perderem em pequenas elevaes esparsas por toda a Palestina. Quando
estes sistemas atingem Berseba, no sul, j desapareceram praticamente os Lbanos. As
montanhas de Jud representam este ramo oriental dos Lbanos. O sistema ocidental tambm
se chama "os Lbanos srios". Um turista, visitando Beirute, v l em cima os picos nevados dosLbanos, e quando chega a Balbeque, muito abaixo, ainda est a 3.300 metros acima do
Mediterrneo. Isso d regio um tom de qualquer coisa milagrosa. Ao meio-dia o turista
toma seu banho nas guas quentes do Mediterrneo, e tarde vai esquiar nas neves l em
cima, gastando menos de uma hora de carro. Olhando l de cima para o sul tem-se a
impresso de um grande tobogam, em cuja extremidade h uma esteira de verdura
convidando o observador a vir refrescar-se e alimentar-se com as frutas abundantes que ali se
encontram na poca prpria. 2 uma terra de encantos e surpresas. O passo de Hamate um
dos mais famosos nas crnicas do Velho Testamento, pois era o lugar por onde passavam os
exrcitos invasores da Palestina, e quem dominasse este passo era senhor de toda a regio
ocidental. Por ali passaram Sargo II, para cercar Samria, Tiglate-Pileser, Senaqueribe, para
cercar Jerusalm, Nabucodonozor, para tomar a cidade. Era a passagem do leste para oeste.
(11)
Com o abaixamento deste sistema Anti-Lbano vm as grandes planuras do Auram, muito
famosas at nos tempos do Novo Testamento; a grande Bas, conquistada por Moiss aos
amoritas, e dada aos filhos de Israel; e mais para o sul as planuras de Moabe. Toda esta regio
plana e muito frtil. Ao sul destas planuras reaparecem as montanhas, com o nome de
Abarim, Nebo, e outras que se estendem para o sul at o Golfo de Acaba. Acredita-se que toda
esta bacia, no perodo pluvial, fosse um grande mar interno comunicando-se com o Mar
Vermelho, sendo ento o curso do Jordo bem diferente do que atualmente. Depois da
subverso de Sodoma e Gomorra e outras cidades do planalto sulino, tudo foi alterado,
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cortando-se o curso do Jordo e formando-se o Mar Morto que no existiria antes. Nos
tempos de Abrao esta regio era rica e apetecvel, tanto que L a preferiu s secas estepes de
Berseba. Era uma regio bem regada e frtil. Temos, portanto, uma vasta regio, que parte do
Hermom, passa por Jeric e vai para o sul, at Acaba. Atualmente parece uma mesma regio,
mas a verdade que ela ainda oferece as divises que teria noutros tempos.
Esta regio presta-se a diversas divises. Infelizmente no podemos estud-la, por amor
conciso que desejamos dar a este Panorama da Palestina. Mencionaremos os nomes, e os
estudantes se podero valer de outras obras para completar o seu estudo. (7)
Alto Vale do Jordo ou o norte de Arab
Mar da Galilia, outro encanto da Palestina
Gor, ou mdio Arab
Mar Morto
Arab do sul
O Arab do norte comea nas alturas do Hermom e vai findar nas guas de Merom, onde Josu
desbaratou a coligao de Jabim, conhecida como coligao amorita. O lugar um encanto
para a vista. O lago Merom apenas uma pequena parada das guas que descem para o Mar
da Galilia. As nascentes do Jordo ficam mais acima e provm de diversos pequenos riachos.
Bnias o nome que tambm se d a este lugar, onde nos tempos dos romanos havia um
grande santurio dedicado a Vnus, uma espcie de sucursal de Balbeque. L foi construda a
Cesara de Filipos, cidade construda em honra de Csar Augusto, imperador romano. Ali
ficava a famosa cidade de Hazor, que Josu incendiou depois da vitria sobre os amoritas.
Mais abaixo, fica a linda cidade, de Tiberades, construda em honra a Tibrio, imperador
romano. um osis, cheio de verdura e frutas. O autor passou uma noite no hotel de
Tiberiades, e, pela manh, no caf, havia mais qualidades de frutas do que tinha visto em toda
a sua vida. Antes vm Capernaum, Betsaida, para chegarmos ao Mar da Galilia. Pelo lado
oriental ficam o Haur, Uaconites, Gerasa, Gadara a antiga Decpolis, lugares muito famosos
no tempo de Jesus. A Galilia, j mencionada nestas notas, dispensa qualquer outra palavra,
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mesmo porque o autor est apenas dando algumas informaes da terra que Josu
conquistou.
A seo entre a Galilia e o Mar Morto chama-se Gor ou o meio Arab, e vai da Galilia ao
Mar, sempre descendo. O clima muito quente, atingindo no vero a temperatura de 42
centgrados, para melhorar quando chega a Jeric, o ponto final desta regio. Pelo lado
ocidental ficam os plats de Esdraelom, Jizreel, Aijalom, j referidos nestas notas, e pelo leste
ficam as planuras de Betsaida-Jlia, Gadara, Jabes-Gileade, muito nossa conhecida, e que ser
ligeiramente estudada em conexo com a quinta diviso geral da Palestina. O estudante
destas notas observar que estamos apenas fazendo um ligeiro esboo de geografia da
Palestina, pois se nos detivssemos a apreciar todas estas reas, faramos um livro, o quequeremos evitar.
O Mar Morto, j tocado aqui e ali, o ltimo dos trs lagos desta regio. Os outros so Merom
e Mar da Galilia. O Mar Morto tem uma largura de dez quilmetros e um comprimento de
setenta e seis. Como se v, uma nesga de mar, pelo que se supe haver sido outrora um vale
ocupado pelas cidades desaparecidas de Sodoma e Gomorra. A profundidade deste mar de
400 metros no lugar mais fundo. As suas guas so to pesadas que uma pessoa pode nadar
sem correr o risco de afundar. Recebe toda a gua do Jordo num total de 26 milhes de
toneladas por dia e nada devolve. Toda esta gua se evapora pelo calor contnuo que faz ali,
deixando os resduos trazidos das alturas. Acredita-se que a riqueza no fundo deste mar daria
para tirar da misria todos os povos subdesenvolvidos. Todos os metais ali se encontram.
Um pouco mais para o sul fica o Arab do sul, uma regio estril at atingir o Golfo de Acaba,
onde ficava a antiga cidade de Petra, famosa nas crnicas antigas, e onde os marinheiros de
Salomo e os de Hiro, rei de Tiro, ancoravam os seus navios vindos do Oriente. Ali s moram
os bedunos, e antigamente ficavam l os horitas ou seitas, que se misturaram depois com os
descendentes de Esa e Ismael, dando os modernos rabes, conhecidos como os ismaelitasantigos. Os israelitas tiveram de passar por ali e, como a terra era dos seus primos esaultas,
foi-lhes proibido tomar qualquer coisa da terra.
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(6) Smith, The Historical Geography of the Holy Land, p. 448.
(7) Robinson, Physical Geography of The Holy Land. Veja, A Bblia e as Civilizaes antigas, p.
441, traduo do autor.
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5. Plat Oriental.
Esta ltima regio abrange todo o vale do Jordo e compreende a moderna Transjordnia, cuja
capital Am, antiga capital dos amonitas, filhos de L. Nas descries bblicas quase
sempre denominado "alm do Jordo". Esta terra no estava compreendida na "terra da
Promisso" dada a Abrao, mas por um desvio da histria, veio a caber aos israelitas, quando
vinham do Egito. A histria desta conquista encontra-se nos captulos 31 e 32 de Nmeros. Na
descrio da partilha da terra, segundo Josu 22, verifica-se que esta regio j havia sido dada
por Moiss s duas e meia tribos de Gade, Rben e meia de Manasss. (8)
Este antigo territrio pertencia aos amoritas, havendo os moabitas se estabelecido ao sul do
rio Arnom, e os amonitas a leste. Em o Novo Testamento o territrio conhecido como Bas eGileade. Os amoritas tinham a sua sede l nos altos do Lbano e Anti-Lbano, mas no decurso
do tempo se estenderam para o sul, ocupando grandes reas, como esta do leste do Jordo.
Vencidos os reis amoritas, Siom e Ogue, foi o territrio dado aos israelitas. Em tempos
primitivos, todo este territrio deveria pertencer aos filhos de L, que juntos com seus
parentes ismaelitas ocuparam toda a vasta zona desde o Jaboque at o Golfo de Acaba. Com o
poder dos amoritas, foram os moabitas empurrados para o sul, e os amonitas encostados no
deserto a leste, onde os encontraram os israelitas, cujo territrio foi poupado. Muitas
referncias bblicas que falam das campinas de Moabe, junto a Jeric (Nm. 36:13), so uma
referncia correta, pois o territrio era deles, mas havia sido tomado pelos amoritas. As trs
divises naturais desta regio eram a terra de Bas, Gileade e Moabe.
O territrio de Bas inclua toda a rea ao sul do Hermom at o rio Iarmuque, ao sul, e se
estendia do vale do Jordo at o Mar da Galilia, a oeste. Toda a regio de formao
calcrea, com o,solo bastante rico, plano e admirvel para a agricultura. Muitas so as
referncias a Bas, quer no Velho Testamento quer no Novo. No Novo Testamento tambm
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conhecida como o Haur e Traconites. Os limites entre uma rea e outra so muito
aproximados, pois no havia divises permanentes e estveis, muito dependendo de
condies polticas. Do Iarmuque ao Jaboque ficava a alta Gileade, e do Jaboque a Hesbom a
baixa Gileade. Este territrio est associado com muitas atividades de personagens bblicas,
tais como Davi, Elias, Saul e Jeft (Ju. 11). Do Iarmuque ao Arnom, bem ao sul, ficava o
territrio que ns conhecemos como a Peria, o lugar por onde transitavam os hebreus no
tempo de Jesus, para no terem de atravessar a regio dos samaritanos. Este territrio
pertencia a Herodes Antipas e era onde ficavam algumas das mais importantes cidades de
Decpolis, tais como Pela, Dium, Gadara e Gerasa. A cidade de Rabate-Amom foi a que Jeft
atacou, para defender os filhos de Jac (Ju. 11 e 12), quando os amonitas alegaram que a sua
terra havia sido tomada pelos filhos de Israel 300 anos antes. Contra esta cidade Davi mandou
os seus homens (H Sam. 10,11). Com um mapa diante de ns podemos compreender melhor
esta vasta regio- a -Dartir do Hermom at o Arnom, terra boa, bem regada e farta, servida de
boas estradas, com o bafejo do Jordo, que corre por toda a regio, do norte ao sul. Falando
ainda de Gileade, faremos bem em lembrar o acordo feito ali entre Labo e Jac, quando este
fugia de seu sogro (Gn. 31:22-42). H, pois, uma linha histrica entre esta regio e os
destinos do povo eleito.
Moabe. Esta regio era a terra dos moabitas, mas pela presso dos amoritas, foram aqueles
empurrados mais para o sul, onde os encontravam os israelitas vindos do Sinai, entre o rio
Axnom e os estreis montes do sul. Por isso diz o texto bblico que o termo dos moabitas
entre o Arnom e os amoritas (Nm. 21:13). Toda esta rea, desde o Hasor at o Arnom, era
possesso das duas e meia tribos de Gade, Rben e a meia de Manasss, terra boa, bem
regada e admirvel para a agricultura. Custou muito pouco a ser conquistada, e foi de fcil
manuteno durante os dias do Velho Testamento, por que os cananeus no exerciam
qualquer influncia a leste do Jordo. Enquanto os outros hebreus tiveram de lutar durante
toda a sua existncia para manter o seu direito terra conquistada, os seus irmos tiveram
apenas algumas rusgas com os amonitas, e uma ou outra vez a pilhagem dos moabitas.
Os moabitas, que no exerceram qualquer influncia entre os seus irmos israelitas, bem
poderiam ter mudado a face da histria, mas eles mesmos estavam sob o domnio de reis
estrangeiros, pois Balaque, que mandou buscar ]3alao em Peor, era, ao que se supe, de
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origem estrangeira. A histria escreve-se de modos misteriosos. As relaes entre edomitas,
filhos de Esa, moabitas filhos de L, sempre foram de malquerena, e at os dias de hoje esse
esprito de contenda permanece, e parece at que no h povos que mais se odeiam do que os
rabes, descendentes destas gentes, e os hebreus. A raiva de Esa, ao perder a primogenitura,
que vendeu por um prato de comida, dura at hoje e ainda no se sabe o que ir produzir no
futuro. Nesta hora, as armas dos dois lados esto silenciosas, mas no se sabe por quanto
tempo. Por outro lado, sabemos que os israelitas, senhores das promessas de Deus, com a
misso terrena que ainda no foi totalmente cumprida, tero de vencer, no por causa deles
mesmos, nas porque Deus lhes garante a vitria. Este escritor sionista, e deseja a paz
ardentemente entre os filhos de um mesmo pai, mas no acredita muito nos arranjos polticos
para resolver o tremendo problema palestnico.
(8) Gebad, The New Standrad Dictionary, p. 298.
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6. Neguebe ou Pas do Sul.
Esta vasta regio estril comea onde os montes de Jud comeam a declinar. Faz parte do
Plat Oriental, na direo do deserto ao sul. As runas de civilizaes mortas encontram-se por
toda parte. No tempo dos grecos-romanos muita gente viveu ali e calcula-se que 40 ou 50 mil
pessoas podiam acomodar-se nas estepes desta regio. Muitas so as referncias bblicas a
esta regio. Os amalequitas foram os primeiros a contestar o direito de passagem dos
israelitas rumo ao norte. Essa gente, que parece no tinha domiclio certo, por causa da
escassez da terra, julgava-se senhora de todo o Neguebe. Mesmo depois do estabelecimento
na terra, no foram poucas as vezes que os hebreus tiveram de se haver com eles. Por causa
da sua agresso ao povo, Deus determinou sua destruio. Saul foi comissionado por Deus
para ir destrui-los, mas o despojo foi to tentador que foi ele o destrudo, perdendo o trono
por causa da falta de obedincia ordem divina (I Sam. 15). O Prof. Hutington foi quem mais
estudou esta rea, mas as suas concluses padecem de confirmao, por falta de dados
histricos. A regio era, alm de estril, sujeita a secas, que eram a sua constante,
dependendo de osis e poos cavados aqui e ali. A histria do xodo nos confirma esta
assero, quando os israelitas clamavam por gua para beber, eles e o seu gado. A agricultura
seria possvel nos pequenos vales, entre os montes, ou junto aos osis. A famosa cidade de
Petra deveria contar com suprimento de gua, que no se sabe agora de onde vinha.
Igualmente as cidades de Robote, Aroer, Tmara, Lalasa, Es-Beite entre outras menores,
sabiam como conservar a gua das pocas chuvosas, sistema que ainda hoje usado em
muitos lugares, onde a proviso especial feita das guas que caem nos telhados ou
platibandas de suas casas de moradia. Nas ilhas Bermudas no h um litro de gua potvel.
Os habitantes dependem de navios que tragam a gua de Nova Iorque ou da que recolhem em
seus depsitos nos tempos de chuva. Face a uma situao como esta, pode ver-se que seria
impossvel construir grandes civilizaes, a no ser a dos amalequitas que se nos apresentam
com certo grau de desenvolvimento, pois quando Saul foi mandado a destruir esta tribo ficou
interessado no despojo de ovelhas e bois (I Sam. 15).
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Por outro lado, esta regio nenhuma relao tinha com a conquista da terra, pois os grandes
povos posseiros estavam l para o norte. Por isso, as referncias a esta regio e ao seu povo
so muito precrias.
Na vinda do Egito, os nossos hebreus tiveram de atravessar estes desertos, e as conseqncias
foram alguns dos milagres que Deus teve de operar para prove-los de carne, po e gua. O
deserto de Par a oeste, passando pelas desoladas estepes de Sur, rumo s planuras de
Moabe, valia por uma prova de fogo para quem estava acostumado a viver nas margens do
Nilo, sempre cheio e rico em peixes e cebolas. Abrao conhecia bem esta regio porque l
morou junto com os amalequitas, tendo a sua casa ou tenda mais permanentemente em
Berseba, que fica muito para o norte. Podemos ento entender porque esta regio nunca
esteve nas cogitaes de Moiss ou Josu. O que sabemos dos edomitas, descendentes de
Esa, leva-nos a pensar numa regio sofrivelmente servida de gua e boas terras, mas isso no
era o caso. Sempre foram um povo meio selvagem, junto com seus irmos, os ismaelitas
tambm moradores desta rida regio. A no ser Petra, que considerada um mistrio da
histria por sua beleza, seus palcios de mrmore, talvez como resultado da sua proximidade
com o mar, outra coisa no h naquelas bandas que nos provoque admirao. Toda a cultura e
civilizao estavam c para o norte, entre os cananeus, de vrios ramos, e especialmente os
hiteus, mitnios e mais tarde os srios e assrios.
No sabemos se os leitores do Livro de Josu lucraro alguma coisa com as informaes dadas
nesta introduo, mas o desejo do autor foi justamente o de facilitar esta compreenso, pois
lhe parecia que levar o estudante pouco familiar com a histria da Conquista, assim de chofre,
ao centro de operaes, sem um prvio conhecimento da terra, tornaria a compreenso umtanto difcil. Alm disso, tambm as lutas dos juizes para manterem as suas posies ao
ocidente do Jordo pedem-nos algumas informaes da situao da terra depois da conquista.
Pelo menos o autor considera-se desobrigado de maiores responsabilidades com respeito a
informaes prvias conquista de Josu, objeto desta modesta obra. Para um estudo
sofrvel, aconselhamos um bom mapa e especialmente um que contenha as divises da terra
depois da partilha feita por Josu.
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O ponto de partida para a conquista foi dado justamente desta regio que acabamos de
estudar, a regio chamada terra dos amoritas, dos moabitas, dos amonitas. Foi aqui que
Moiss fez a sua despedida e aqui foi sepultado por Deus. O povo estava agora bem
descansado e bem nutrido com a fartura desta regio leste, e pronto para avanar rumo ao
oeste da Palestina.
(*) Esta introduo o ponto de partida para a conquista.
NOTA. Os estudantes que desejarem uma informao completa da Palestina, devem ler, pelo
menos, os primeiros sete captulos da obra de McKee Adams, traduo do autor, sob o nome A
BIBLIA E AS CIVILIZAOES ANTIGAS.
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INTRODUO
1 . O Ato de Sucesso
A substituio de Moiss por seu auxiliar imediato, Josu, representou o que se convencionaria
chamar de Grande Crise. Efetivamente, substituir o lder inigualvel numa hora de grande
expectativa, qual fosse a da entrada na terra prometida, no poderia ser entendida, em termos
administrativos, de outro modo. Moiss era o organizador da nao. De um aglomerado
humano, sem idias definidas, fez ele o que se conhece hoje como nao israelita. Foi seu
legislador nico e inconteste. Todas as leis que iriam reger a novel nacionalidade, quer
jurdicas quer morais ou religiosas, tinham sido elaboradas por ele. Foi ele o grande diplomata
face ao governo egpcio. Em suas mos estivera o destino das promessas feitas a Abrao e a
seus descendentes, do ponto de vista humano. Substituir um homem deste por um quase
desconhecido, como Josu, era mesmo criar uma sria crise administrativa. At que ponto isto
teria sido apreciado, no sabemos. Tudo se passou como no melhor dos mundos, na maiscalma e plcida situao. Parece at que a demisso de um e a nomeao de outro foram
considerados f atos corriqueiros. Ns no podemos crer que assim fosse. As crnicas que nos
legaram tanto Moiss mesmo como o seu sucessor do-nos a impresso que, quer um quer
outro, eram simples mandatrios de um outro poder, acima de tudo.
Ns fazemos a nossa apreciao dos fatos daqueles distantes dias como quem aprecia um fato
coevo, normal, rotineiro. No era nada disso. Acima de Moiss e Josu estava o Grande
Capito-General das hostes israelitas, e a maneira como havia agido por mais de 40 anos no
meio do povo seria o bastante para que uma situao como esta fosse recebida como coisa
normal. Havia, porm, algo de que ningum poderia ter dvida: Moiss fora proibido de
entrar na terra pela qual tinha trabalhado e lutado tanto. Como que o povo receberia esse
castigo, no sabemos. O pecado de Moiss talvez nem tivesse sido observado pelo mesmo
povo. Uma coisa, que ns chamaramos insignificante, priva o grande lder de entrar na terra
desejada e querida. Apenas por isto: em lugar de falar rocha, para que desse gua ao
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povo, bateu nela com a vara. No tinha sido essa a ordem divina. Somente por isso foi
punido com um castigo que s Deus pode precisar (Nm. 20:7-12). Por mais de uma vez
Moiss pediu a Deus que revogasse a sua deciso de proibi-lo de entrar na terra , at que Deus
mesmo se agastou e disse: "No me fales mais nisso" (Deut. 3:23-29).
Depois da recusa, por parte de Deus, de conceder a Moiss o privilgio de entrar na terra,
estava ele demitido do seu ofcio, sendo nomeado o seu sucessor, Josu (Deut. 3:28). Daqui
em diante, todos os atos de Moiss eram realizaes de quem se despede de um pesado
ofcio. Todavia, a no ser nesta orao a Deus, para lhe permitir entrar na terra, nenhuma
recriminado, desgosto, ou qualquer outro gesto, se nota no grande homem de Deus. Como se
tudo estivesse correndo a seu favor, continua na sua obra de realar a lei e os compromissosassumidos pelo povo perante ela. O autor gostaria de ver quantos homens, assim despedidos
sumariamente, com apenas um deslize na sua vida, seriam capazes de chamar o seu substituto
e prepar-lo para o encargo de fazer o povo entrar na terra. Se no tivssemos outros muitos
motivos para admirar o carter de Moiss, este bastaria para o imortalizar. At o autor destas
linhas sente pena de Moiss. Homem fiel, leal, esforado, corajoso que, num ato de ira, usou a
sua vara para ferir a rocha, quando a ordem era falar rocha. Deus no foi glorificado naquele
episdio, e isso foi o que decretou a demisso do grande lder. Coisa pequena,
aparentemente, mas perante Deus no h coisas pequenas nem grandes: todas tm o mesmo
tamanho. Ns no estamos em condies de apreciar devidamente o fato; limitamo-nos a
mencion-lo. Nada mais.
Tudo, daqui em diante, por parte de Moiss, convergiria para adestrar o seu substituto e
capacit-lo, para o grande cometimento de atravessar o Jordo e entrar na terra prometida. O
grande livro de Deuteronmio , pois, um livro de despedida, e veja-se, que grande despedida!
Muitas e novas determinaes foram dadas por Deus, mas tudo em preparativo para a posse
da terra. Parece que todos os ensinos de Deuteronmio visam apenas conduta do povo
depois de entrar na "terra que mana leite e mel". Alguns comentadores tm visto neste livro
uma outra lei. No h nada disso. H repetio da antiga lei dada no Sinai e sua interpretao
prtica, no convvio entre os outros povos, junto aos quais passavam a viver. Era a prtica da
lei ou a sua parte prtica. Bem vistas as coisas, podemos estudar o Deuteronmio como
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apndice de xodo e introduo ao livro de Josu. Neste sentido, veremos, mais adiante,
outra apreciao ao livro ora referido.
(1)
Para uma apreciao valiosa de Josu. veja-se International Standard Bible, artigo Josu.
Idem Enciclopdia Britnica
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2. O Cntico de Moiss
No podemos nem devemos terminar esta apreciao ao grande servo de Deus, sem passar os
olhos pelo captulo 32 de Deuteronmio. o Cntico de Moiss. No uma despedida
sombria de um derrotado, mas o cntico da vitria de um grande lidador. "Inclinai os ouvidos,
6 cus, e falarei; e Oua a terra as palavras da minha boca. . . Deus fiel e sem iniqidade;
justo e reto ele" (Deut. 32:1 e 4b). Nenhum amargor se nota no esprito de Moiss, por ter
sido preterido e demitido por Deus. Ele, afinal, era apenas um servo, e nada mais. Aceitou a
sua tarefa tal como Deus a determinou. Se havia qualquer preocupao em seu esprito
quanto ao final desta caminhada, no parece. Ele sabia que a obra no era sua, que tinha sido
apenas um comissionado, para livrar o povo do cativeiro egpcio. E quando o Senhor da obra
entendesse que estava terminada a sua tarefa, aceitaria, com dignidade, o seu afastamento e
substituio. Nem sempre este o esprito que demonstramos em situaes crticas. Comonos informa do autor de F-ebreus, capitulo 11, Moiss era homem de f, desde o seu resgate
nas guas do Nilo at agora. Este o seu retrato - Homem de F.
3. A ltima Concesso
Foi feita a Moiss uma grande e admirvel concesso: ver a terra de longe. Deus ordenou que
subisse ao monte Nebo, defronte de Jeric, para ver toda a terra do outro lado do rio. Ele foi e
viu; e poderia dizer, Venceu, parafraseando Csar. Ficou to encantado com o que viu,levantou a sua voz e abenoou o povo que iria possuir uma terra para a qual tanto ele tinha
trabalhado (Deut. 33). No Estudo dos Livros de Nmeros e Deuteronmio, do autor, h muitas
outras informaes, que no devem ser repetidas aqui, e as que agora se oferecem aos leitores
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so apenas uma manifestao de apreo pelo grande lder israelita. Depois de ver a terra e
admirar os seus contornos at onde a vista podia alcanar, e depois da bno proferida no
captulo 33, despediu-se desta vida, deixando l embaixo o povo que lhe havia dado tantos
desgostos e tantas alegrias. Com 120 anos no se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu
o vigor (Deut. 34:7). Morreu por ter cumprido a sua tarefa e no por velhice. Deus mesmo
preparou o enterro, no se sabendo at hoje onde foi sepultado. Judas, no seu breve livro, um
s captulo, no verso 9, citando de um livro acannico, informa-nos da disputa entre Satans e
o anjo Miguel, a respeito do corpo de Moiss. Porque Judas cita um livro no inspirado, Para
nos dar este informe, no sabemos, seno que o enterro de Moiss teria sido alguma coisa
fora do comum. A opinio do autor que toda a linguagem a respeito da morte e enterro de
Moiss natural, mas no real. Moiss teria sido trasladado ao cu, como foi Elias, e isso no
milita contra a linguagem que d Deus como o coveiro. O texto sagrado diz: "o sepultou num
vale na terra de Moabe" (Deut. 34:6). Quando da transfigurao de Jesus no monte,
apareceram Moiss e Elias falando com Ele. Por que Moiss e Elias? A interpretao que
Moiss representava a Lei e Elias a Profecia; e o autor acrescentaria, mui reverentemente, que
os dois foram levados ao cu sem passarem pela sepultura. Mas o texto diz expressamente,
que Deus enterrou Moiss num vale na terra de Moabe. Para o historiador nada mais natural
Moiss ser enterrado, e a tanto valia a sua subida ao cu, no caso de este humilde autor estarcerto. So maneiras de dizer uma mesma coisa. Estava assim encerrado um grande capitulo
da histria de Israel e terminada uma grande vida.
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4. O Sucessor
Depois do luto de trinta dias, celebrado nas campinas de Moabe, Josu assumiu o posto, para
o qual estava j devidamente preparado. No sabemos de alguma alternativa surgida entre o
povo. Acostumado que estava a ouvir Moiss e terminando a sua carreira, muito
naturalmente aceitou a nova situao. Deus se encarregou de intervir na situao criada.
Apareceu a Josu e lhe deu as ordens, j antes dadas e agora confirmadas. Tomemos em
considerao que Deus era o Senhor absoluto da situao. Era o chefe do povo. E isso tinha
sido demonstrado por muitos modos e maneiras. No havia um rei a que algum sucedesse.
Havia um chefe, de nomeao exclusiva de Deus. A ele caberia a orientao do curso a seguir.
Deus, pois, deu as ordens a Josu, de como deveria proceder. Josu, por sua vez, falou aos
chefes do povo, consoante o que ouvira de Deus e recebeu o apoio macio do mesmo povo.
Estava, pois devidamente credenciado para a grande tarefa de passar o Jordo e empossar a
nao na sua herana. Em 2060 antes de Cristo, Deus prometeu a Abrao a posse desta terra;
em 1440 foi ratificada a promessa com a outorga da Lei; agora em 1400 cumprida a
promessa. Algum perguntou ao autor que titulo jurdico o povo de Israel pode oferecer como
detentor dos direitos Palestina. A resposta foi que toda a terra do Senhor, e a sua
plenitude. Ele a d a quem quiser e a tira de quem quer. Deu a Palestina aos hebreus. Tinha o
direito de a dar, porque era sua. No a deu aos rabes nem a outro qualquer povo, mas aos
israelitas, descendentes de Abrao, e eles a possuiro sem qualquer dvida, haja o que houver.
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5. Problemas Literrios do Pentateuco
Antes de entrar no estudo do livro de Josu, convm examinarmos, mesmo ligeiramente, o
problema literrio que afetou Josu, como o Pentateuco mesmo. Todo o sculo XIX foi
consumido em divagaes literrias a respeito da autoria do livro de Josu e mesmo do
Pentateuco, chegando os crticos alemes a tal ponto, em seus estudos, que nada faltou para
desacreditar a Bblia totalmente. Um resumo das especulaes desses sbios o que vamos
ver linhas adiante.
1) Hiptese documentria (2)
Em 1753, Astruc, um mdico francs, descobriu que o livro de Gnesis tinha sido composto de
dois documentos diferentes usados por Moiss: num se usava o nome de Deus, Eloim; e no
outro, o nome de Deus, Jeov. Astruc no tentou negar a autoria mosaica de Gnesis, mas
apenas que ele teria usado dois documentos preexistentes. Daqui, deste ponto de partida,
que surgiu a celeuma que envolveu a credibilidade do Pentateuco e de toda a Bblia mesma.
Prosseguindo nesta anlise, descobriu ainda que Gnesis continha outros dez documentos
menores. Um pouco mais tarde, em 1782, Eichorn, erudito alemo, publicou um trabalho
intitulado "Introduo ao Velho Testamento", no qual no s apreciava as concluses de
Astruc, mas as elaborava, oferecendo novas opinies sobre a composio do livro de Gnesis.
De modo geral, mantinha-se ainda a autoria de Moiss para o livro de Gnesis, mas, pelas
concluses a que Eichorn tinha chegado, j se podia vislumbrar, que em breve Moiss
desapareceria da cena. Estava assim aberto o caminho para as mais extravagantes concluses,
no apenas sobre Gnesis, mas sobre todo o Pentateuco. A estas concluses deu-se o nome
de Hiptese Documentria. Vale dizer que Moiss teria usado duas ou mais fontes de
informao na elaborao do seu grande primeiro livro.
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(2)Veja Sylabus for the Old Testamet, J. R. Sampey e introduo do V. Testamento Trad. de
Antnio N. de Mesquita, JUER 11 edio 1969.
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2) Hiptese fragmentria.
Alexandre Gudes, em 1800, publicou um trabalho em que decompunha no apenas o Gnesis,
mas todo o Pentateuco, numa srie de pequenos documentos, sem ordem cronolgica, sem
nexo e sem contedo histrico. Seguiram-se Vater, em 1802, e Hertmann, em 1831, tentando
analisar a fundo a maneira como teriam surgido os livros do Pentateuco, e quem teria sido o
seu autor, ou autores, pois a esta altura j Moiss no podia ser o autor de qualquer dos seus
livros. Estava assim destruda toda a unidade interna do Pentateuco e toda a sua histria.
Est-se num labirinto, cuja entrada e sada so desconhecidas. O que isso provocou nas
universidades europias est longe de ser posto nestas pginas. Cada qual interpretava o
assunto a seu modo, e os que antes tinham vivido e morrido na crena de que Deus tinha
falado a Moiss e o levara a escrever estes livros estavam desarvorados. Os estudantes
universitrios, especialmente, eram os mais afetados pela nova doutrina, pois tudo estava
subvertido. Nem Moiss era autor de coisa alguma, nem se sabia quem poderia tomar o seu
lugar. Um abismo chama outro abismo. Foi o que aconteceu. Rapazes e moas universitrios
que haviam sado de suas casas abeberados nas doutrinas mosaicas estavam agora sem saber
o que ou em que crer.
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3) Hiptese suplementar
No estado a que chegou o exame dos livros de Moiss, ningum mais se entendia. Em 1805
de Wette escreveu um trabalho, que fez poca a respeito do Deuteronmio. Segundo as
concluses deste critico, o Deuteronmio nem era de Moiss nem mesmo da sua poca. Teria
sido forjado nos tempos do rei Josias, ou um pouco antes da sua notvel reforma Religiosa.
Lembram-se os leitores da Bblia que este grande rei reformou a religio, que estava
anarquizada, e atualizou o culto, dando-lhe as cores dos tempos de Salomo. Pois bem, algum
elemento, piedoso ou no, teria escrito o Deuteronmio e o teria escondido no templo,
nalgum canto, de modo que quando os operrios de Josias vasculhavam tudo, para proceder a
uma limpeza em regra, descobriram este livro. Esta opinio, que se afigurava to fascinante,
teve logo o apoio de outros no menos famosos crticos da Bblia, tais como Bleek, 1830, Tuch,
1838, Stacheliw, 1843, e Knobel, 1852. Juntos deram o ltimo golpe em toda a tradio
mosaica, e quem seria o cristo que poderia contestar as opinies destes ilustres luminares da
cincia histrica? Segundo esta escola, os dois documentos Eloim e Jeov formariam a base de
toda a literatura do Pentateuco, com os adendos e as alteraes, que veremos mais adiante.
Mas logo se verificou que, separando os dois documentos, Elostico e Jeovstico, o que sobrava
no tinha nexo nem sentido. Estava, assim, no apenas destruda a obra de Moiss, mas
tambm os mesmos livros a ele atribudos, pois o problema no tinha sido simplificado, porm
tremendamente complicado. O problema que eles criaram constituiu o seu calvrio. Era
preciso, antes de tudo, achar uma conexo histrica, uma explicao, pelo menos, para toda
esta diviso de documentos. Depois de tudo, se Moiss no foi o autor do Pentateuco se
nem se sabia quem teria sido, porque a nenhuma das supostas sees componentes se havia
dado autor, surgiu ento a linguagem de que tudo no passava da elaborao de uma ou de
diversas escolas durante sculos, escolas que no apenas tinham preparado o Pentateuco, mas
o mesmo livro de Josu pertencia a estas escolas. Logo no tnhamos um Pentateuco, mas um
Exateuco.
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Estes crticos sempre deram pouco valor ao pensamento dos outros. Pois como teria sido
possvel admitir que o povo judeu, que deveria ter um pouco de memria, aceitasse um livro
atribudo a Moiss, porm de quem jamais tinham ouvido falar? O rei Josias rasgou as suas
vestes, quando ouviu ler no livro de Deus, as recomendaes dadas ao povo, julgando-se e a
toda a nao como transgressores da lei de Deus. Ora, se Josias assim procedeu, porque
verificou, junto com o povo, que estavam mesmo afastados da lei. Impingir a um rei e a uma
nao um livro como sendo de Moiss, morto havia 770 anos, era qualquer coisa que no cabe
na cabea de ningum. Para estes crticos, a conscincia de um povo, as suas tradies e os
seus conhecimentos da histria antiga de nada valem.
Em 1853 Hupfeld, tentando achar uma sada para o intrincado problema, escreveu que almdo Deuteronmio e da teoria Jeovstica e Elostica, havia mais outro documento. Eramento
quatro. Para chegar a esta concluso dividiu o documento Elostico em dois, perfazendo assim
o nmero de quatro. Dois Elosticos, um Jeovstico e um Deuteronmio. Na anlise do
Pentateuco, era difcil determinar que parte pertenceria ao documento Jeovstico e que partes
pertenceriam aos documentos Elosticos, porque, segundo os seus critrios de anlise, sempre
sobrava alguma coisa, que nem pertencia a um documento nem a outro. Um verso, por
exemplo, podia pertencer tanto a um destes documentos, como a dois ou mais. Para facilitar o
exame, usaram ento letras designativas dos documentos em questo. O Elostico era
representado pela letra E; o Jeovistico pela letra J, o Deuteronmio pela letra D, e o que
sobrava de qua'Lquer destes documentos, pela letra P. Temos ento EJD sendo P
representado pela escola de sacerdotes que teria forjicado o Pentateuco. De 1865 em diante,
nem Levtico nem Nmeros eram mais atribudos a Moiss, e at se declarava que Moiss
nunca existira. Era o cmulo da ousadia.
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4) Impossvel uma apreciao.
No cabe nesta breve apreciao uma anlise exaustiva de todo o curso seguido por estas
diversas escolas atias. Estamos apreciando o livro de Josu e isto o que nos interessa. S
damos esta breve explicao do problema por amor clareza. Mas o problema no estava
resolvido. Verificando que, pela linguagem, certas expresses nem cabiam no documento E
nem no J nem no ento inventaram uns redatores, ou seja, homens que durante sculos
teriam modificado os documentos originais J E D. Assim teremos ER, JR, DR, PR, ou como
outros escrevem: El, E2, Jl, J2, Pl, P2. O Pentateuco virou uma colcha de retalhos, cabendo
muitas vezes um simples verso a duas ou trs escolas, que teriam manipulado o texto a seu
modo. Face a estas concluses, nem Moiss existiu, nem Deus falou a ningum. Tudo era
produto de escolas racionalistas, que se tinham encarregado de fabricar estes documentos.
Especialmente, durante o cativeiro babilnico, a Escola de Sacerdotes, representada pela letra
P1, P2, teve a parte principal na fabricao dos documentos, que depois vieram a ser
atribudos a Moiss.
Igualmente, tudo que cheirasse a milagres, "Assim disse Jeov", estava eliminado. Deus jamais
falou a ningum, portanto, tais frases deveriam ser riscadas dos documentos. Era um cipoal
em que no se tomava p. Um verso qualquer tinha frases atribuidas ao documento J, quando
o documento era E. Ento tirava-se tudo que supostamente no concordava com o documento
em questo; mas o que ficava no dava sentido. Assim se passou todo o resto do sculo XIX,
procurando achar uma sada para o problema simples, que estes crticos tinham
tremendamente complicado. O mal que causaram mente crist, especialmente mence
estudantil, est longe de ser analisado. A Alemanha, luterana que era, tornou-se racionalista;
e no nos devemos surpreender que ela tenha dado humanidade duas tremendas guerras.
Quando Deus varrido das escolas, perto est, a nao, da sua runa.
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(1) O estudante destas notas dispensar que se d maior exame ao problema critico do Velho
Testamento. No se pode eliminar o sobrenatural da Bblia. Tal tentativa redundar em
fracasso. Portanto, o Pentateuco no pode ser o resultado de uraa escola ou de meia dzia.
claro em suas pginas que Deus falava a Moiss e a seus seguidores.
(2) Igualmente no se pode creditar ao povo hebreu tamanha ignorncia aceitar livros como de
Moiss, quando tal pessoa nem sequer existiu. O nome de Moiss enche todo o Velho
Testamento, e todas as transgresses eram sempre aferidas base dos ensinos de Moiss.
Isso, tanto durante a existncia da nacionalidade como depois. Como que se pretende sacar
contra a mente de um povo tamanha ignorncia, no sabemos. Hoje, 3.500 anos depois de
Moiss, este nome ainda enche a histria, tanto dos judeus como dos povos cultos do nosso
sculo. Negar a existncia desse homem negar a histria dos povos cultos, pois a sua
legislao encontra-se em todos os cdigos modernos. Os Dez Mandamentos nunca puderam
ser ignorados, como no pode ser ignorada a histria antiga.
(3) No princpio do sculo XIX, a arqueologia ainda no tinha nacido. A histria da Assria e de
Babilnia, com suas conquistas dos povos ocidentais e orientais, era totalmente ignorada. Se
esta histria fosse conhecida, estes homens teriam tido outro cuidado; no avanariam, como
o fizeram, destruindo crenas e histria, exterminando personagens, como se fossem
fantoches. O sculo dezenove era muito ignorante da histria antiga.
Entretanto, quando um homem julga saber tudo, e ter o direito de desacreditar o que os
outros crem, resulta em ser desacreditado pela mesma histria que ele contraditou.
Estas notas, talvez dispensveis, so dadas a propsito da palavra exateuco, que muitos
leitores encontraro em obras antigas e modernas. Ns no temos um Exateuco, um conjunto
de seis livros, atribudos a grupos, mas um Pentateuco, atribudo a Moiss, e um Josu,
atribudo a outro escritor. Os que desejarem maiores esclarecimentos sobre a critica
racionalista, com referncia ao Pentateuco, leiam o livro Introduo ao Velho Testamento, da
autoria de Clyde T. Francisco e traduo deste autor. (3)
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(3)Os livros dos historiadores alemes no se encontram em portugus. S os que leem
francs e ingls ou alemo podem consultar estas obras.
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6. Autoria, Autenticidade e Data do Livro
Infelizmente no se pode dizer muita coisa a respeito da autoria e data do livro ora em estudo.
Parece certo que Josu nada escreveu. No que no estivesse capacitado para isso, porque
bem possvel fosse um dos amanuenses de Moiss. Tambm o fato de os ltimos versos de
Josu (24:29,30) se referirem sua morte no vale como argumento, porque tampouco
Moiss poderia descrever a sua morte, como ocorre em Deuteronmio 34. Tanto Moiss
como Josu poderiam ter os seus amanuenses. As razes que nos levam a no aceitar a
autoria de Josu, do livro que traz o seu nome, so outras. A descrio dos fatos nele narrados
parece distanciar-se muito do tempo em que ocorreram. Como veremos no estudo ora
proposto, o livro retrata uma srie de ocorrncias, muitas vezes deslocada do contexto,
parecen