Estudos+no+livro+de+Josué+-+Antonio+N.+Mesquita

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    Digitalizao

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    JosuAntnio Neves de Mesquita.

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    VISO PANORMICA DA PALESTINA

    (Geografia)

    Sobe a este monte de Abarim., ao monte Nebo., que est na terra de Moabe, defronte de

    Jeric, e, v a terra de Cana, que eu dou aos filhos de Israel por possesso (Deut. 32:49).

    Moiss viu a terra sonhada e desejada, mas no pde entrar nela. Muitos l entraram, muitos

    lutaram por ela, muitos a combateram, muitos a desejaram e muitos a venceram. Nenhum

    outro pedao de terra na superfcie do globo viu tantas guerras, tantas lutas pela posse desta

    nesga de terra. Os hebreus, que nunca tinham lutado por ela, passariam, em pouco, a ser os

    seus donos perpetuamente. De 1400 a.C. at o ano 70 da era crist l ficaram vivendo mansa

    e pacificamente. Apenas 1470 anos. Dois mil anos depois de expulsos dela, para l esto

    voltando, para completar a tarefa que o Deus de Abrao lhes destinou. Pela parte que nos

    cabe na histria desta gente eleita de Deus somos agradecidos divina Providncia, pois a

    histria dos hebreus , em grande parte, a nossa histria tambm, do ponto de vista espiritual.

    De l vieram os nossos profetas; de l veio a nossa Bblia; de l veio o nosso Salvador.

    Portanto, ns tambm amamos esta terra, e amamos a sua gente.

    Agora que estamos prestes a pr diante do pblico o livro da histria da Conquista levada a

    efeito por Josu, o livro que traz o seu nome, nada mais natural que ofereamos um breve

    bosquejo dos encantadores contornos da Palestina, para que a histria melhor seja

    compreendida e o relato que Josu nos deixou na sua memorvel conquista melhor seja

    entendido.

    Do ponto de vista poltico-econmico a Palestina no oferece grandes atrativos. um pas

    pequeno, de 220, quilmetros de norte a sul, e de uns 80 de leste a oeste. Portanto, um

    pequeno pas. Todavia, a sua posio geogrfica deu-lhe, atravs da histria, uma posio de

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    destaque. Era por ela que os exrcitos do Oriente vinham fazer as suas conquistas no

    Ocidente. Foi por ela que os Faras egpcios passaram para as suas conquistas no norte.

    Totmes III, Ramss II, Sargo II, Senaqueribe e tantos outros conheceram os contornos desta

    nesga de terra, e l se desafiaram reciprocamente, l se combateras l uns venceram os

    outros, de modo que no h na face da terra um pas que tivesse assistido a tantos embates, a

    tantas lutas e a tantas conquistas.- J se v, por esta breve amostra, que a Palestina sempre foi

    uma terra cobiada por sua posio geogrfica, mais que por sua riqueza natural. Entretanto,

    um pas admirvel por seus contrastes, por sua grande variedade de contornos. J se disse

    que em nenhuma outra terra se encontram tantas e tais variedades de climas, de belezas

    naturais. No decorrer desta modesta apreciao da Palestina, ver-se- que a terra era

    pequena, mas desejvel. Era "terra que manava leite e mel", no dizer gracioso da Bblia.

    Um observador postado no pico do monte Nebo, onde Moiss foi ao encontro da morte, ficar

    fascinado ante tantas altas montanhas e to profundos vales, vrzeas e plats, outeiros e

    campinas, picos cobertos de neve no inverno e mesmo no vero, para ento descer a vista pelo

    vale do Jordo, at o Mar Morto, com a sua cavidade, a mais baixa, da superfcie da terra, a

    420 metros abaixo do Mediterrneo. Mas isso no tudo que um observador atento ver, se a

    sua visita for feita na primavera. Por cima, da sua cabea a glria dos cus da Sria, e c

    embaixo o tapete de verdura emoldurando o cenrio encantador. A vista do pico do Nebo, a

    1.400 metros de altitude acima do Mar Morto, apresenta ura conjunto entre a terra e o cu e o

    mar para produzir uma tal variedade de contornos e de belezas que a imaginao no pode

    descrever. Deve ser vista para ser apreciada. Quer se olhe para o norte ou para o sul, para

    leste ou para oeste, as diferenas so tantas que poderiam criar na mente do observador um

    conjunto de contrastes; todavia, no isso que acontece. Parece que tudo foi feito para

    compor um quadro em que as diferenas formam o fundo da cena. Se o observador puder

    ento reunir a histria geografia, ento o quadro ficar ainda mais completo e perfeito.

    Nenhum pedao de terra na superfcie do globo tem histria igual. Em nenhuma outra parte

    Deus trabalhou tanto. Em nenhum outro lugar se deram tantas maravilhas da graa divina.

    Em nenhum outro lugar se viram tantos milagres como ali. uma terra privilegiada e desejada.

    Em nenhuma outra parte os turistas se benzem tanto, em nenhum outro lugar se perde a

    respirao, face ao que os lugares nos contam da vida dos hebreus e, especialmente, da vida

    de nosso Senhor Jesus Cristo. Qual a criatura humana que pode visitar o Jardim das Oliveiras,

    o Getsmane, sem se sentir comovido? Quem pode visitar o Calvrio, e ficar insensvel?

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    Verdade que h outras terras no Oriente Prximo de muito encanto histrico. O vale da

    Mesopotmia, o vale do Nilo, com as suas fertilssimas campinas, bem regadas e ricas, so

    duas delas, mas a sua histria no fala tanto ao corao como a histria da Palestina. A

    Palestina um eptome do mundo, pois foi l que se desenhou a sua histria, l que se decidiu

    o destino eterno da humanidade. Ento todos estamos ligados a esta terra, seja pelos laos

    afetuosos do corao, seja pelos do esprito. Abrao, Isaque, Jac, Isaias e uma pliade de

    outros foram judeus de nascimento, mas so cidados do mundo; pertencem a todas as gentes

    e a todas as naes. Quando hoje se faz uma visita ao tmulo de Abrao, morto h tantos

    sculos, parece que ainda se sente, a sua figura comandando os seus rebanhos, na esperana

    do cumprimento das promessas de Deus, e todos se sentem igualmente comovidos ante

    aquele pedao de cho que guarda o p do pai da f.

    Para se compreender melhor a Palestina, deve se conhecer a sua geografia, os seus contornos

    geogrficos. Por isso que vamos tentar fazer no menor nmero de palavras. Quando, h anos,

    o autor escreveu um pequeno livro a que deu o nome de "Panorama do Mundo Bblico", teve

    justamente o propsito de dar aos leitores da Bblia uma noo simples das diversas divises

    da Terra da Promessa. Est esgotado este livro e no se sabe quando voltar a ver a luz do dia.

    Por isso, e na falta de melhores compndios em portugus, vamos tentar dar aos leitores do

    livro de Josu uma sinopse geogrfica da terra que foi palco da narrativa ali encontrada.

    Muitos tm escrito sobre a geografia da Palestina. Entre outros, George Adam Smith, Edward

    Robinson, etc. So livros um tanto antigos e fora de circulao, alm de estarem todos na

    lngua inglesa. De modo geral, so livros mais para professores de investigao do que paraum pblico como o nosso.

    As fronteiras naturais da Palestina so: ao norte, o Hermom ou o Lbano e o Anti-Lbano, com

    os seus picos nevados de vero a inverno; ao sul, o Neguebe e o rio do Egito; a oeste, o

    Mediterrneo com as suas guas eternamente azuladas e mansas; a leste, a profunda

    depresso do rio Jordo. Toda a regio do leste atualmente compreendida como a

    Transjordnia, que, nos tempos do Novo Testamento, exerceu notvel papel nos destinos da

    vida israelita. No fazia parte da Terra da Promessa, pois a regio ocupada pelos moabitas,

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    edomitas e amoritas no estava compreendida nos territrios a serem conquistados. Um

    desvio da histria levou esta regio a ficar inclusa na terra conquistada. Foi dada s tribos de

    Gade, Rben e a meia tribo de Manasss. O territrio prometido por Deus a Abrao ficava

    entre o Jordo e o Mediterrneo, e entre D e Berseba, nomes muito familiares aos estudantes

    da Bblia. Como se v, era uma terra pequena, mas tambm os seus destinatrios no eram

    muito numerosos. Ocupava, entretanto, uma estratgica posio geogrfica que a tornava

    uma terra cobivel e de muita importncia nos destinos do lo antigo. Basta o fato de ficar

    entre o Tigre e o Eufrates a leste, e o Egito ao sul, os dois maiores centros de cultura antiga,

    para se compreender que era uma regio de muita valia, nos destinos daqueles povos

    primitivos. Todas as estradas do comrcio antigo passavam pela Palestina. Ningum podia

    visitar o Egito, a grande capital da antigidade, sem passar pela Palestina, do mesmo modo

    que ningum podia vir do sul Caldia sem passar por l. Os grandes imprios do norte,

    amoritas, mitnios e hiteus, tinham ali os seus caminhos, quer para o comrcio, quer para as

    guerras. Algumas das cidades da Palestina passaram de mo por mais de uma vez, em virtude

    das guerras ali feridas. Vemos, portanto, que a Palestina tinha um grande papel a

    desempenhar na formao da histria dos povos antigos, e quando Deus determinou dar ao

    Seu povo esta nesga de terra certamente teria em vista este conjunto de fatos, na esperana

    de que os israelitas ,executassem o seu ministrio missionrio em condies nicas nasuperfcie da terra.

    Com esta breve apreciao introdutria, podemos passar a examinar as diversas divises

    fundamentais do territrio palestino, e nosso estudo se tornar mais inteligvel e apetitoso.

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    DIVISES FUNDAMENTAIS DA PALESTINA

    1. Plancie Martima,

    2. Piemonte ou Sefel,

    3. Plat Ocidental (incluindo a Plancie de Esdraelom e Jizreel).

    4. Vale do Jordo,

    5. Plat Oriental,

    6. Neguebe ou Pas do Sul.

    Estudaremos, alm dessas seis divises, duas outras, no menos importantes, tais como a

    Plancie de Esdraelom, que vai do Carmelo ao Jordo, e a de Jizreel, que separa o norte do sul.

    Apreciando essas divises, poderemos compreender no s o valor poltico e social da terra,

    mas tambm a significao da conquista por Josu, nosso principal fim neste estudo.

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    1. Plancie Martima.

    A regio martima ou costeira estende-se do rio do Egito, o moderno Wadi e el-Wade (a

    rinocultura), uma rea de uns 70 quilmetros, ao sul de Gaza, at a Escada de Tiro, ao norte,

    que fica a uns 25 quilmetros ao sul da cidade de Tiro, a famosa cidade dos tempos de

    Salomo. Esta regio, do norte ao sul, compreende uns 200 quilmetros de extenso, e de

    largura varia muito. Ao norte h apenas pequena frincha entre os Lbanos e a terra dos

    sidnios, alargando-se bastante no centro, na altura do monte Carmelo. Ali se formaram o

    mais lindo e aprazvel prado, o encanto da natureza da Palestina. Na primavera, este prado

    oferece tal beleza, com os seus roseirais e seus trigais que nada h comparvel na face da

    terra.

    Toda a regio costeira de recente formao geolgica, constando de extensos areais

    fecundos pelo aluvio carregado pelos diversos rios que regam aquela rea. uma terra

    roubada ao mar, e em constante crescimento, graas s correntes martimas vindas da frica.

    a parte, talvez, mais antiga da Palestina. Gaza, a famosa cidade ao sul, deve ter sido fundada

    antes de 4500 a.C. Ainda no se sabe tudo dos seus antigos palcios porque a picareta do

    arquelogo ainda no fez todo o servio. A sua riqueza tal que desde tempos imemoriais os

    cretenses ali se estabeleceram, formando o povo conhecido pelo nome de filisteus. Teria sido

    inicialmente ocupada pelos levitas, depois desapossados pelos filisteus. Esta diviso pede uma

    subdiviso, para melhor compreenso do nosso estudo: (1) Plat da Filstia, (2) Plancie de

    Sarom, (3) Plancie de Acre.

    (1) O Plat da Filstia (1) compreende uma rea de 90 quilmetros de norte a sul e uns 30 de

    largura. uma faixa muito importante que tem o seu centro em Jope, incluindo a famosa

    cidade de Gaza. Nos tempos das cartas de Tell-el-Amarna (14501350) foi uma regio muito

    famosa, e mesmo nos tempos da conquista. Algumas das suas mais famosas cidades so

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    Asquelo, Gerar, Gaza e Jope, muito nossas conhecidas. Os egpcios ali tiveram o seu domnio

    em tempos antigos, sendo depois empurrados mais para o sul, rumo ao Nilo. A importncia

    desta regio liga-se vida dos filisteus, que nunca puderam ser desapossados. Estava no mapa

    da conquista, mas Josu no pde ou no quis conquist-la, e os seus sucessores, igualmente,

    nunca conseguiram tomar conta da regio. Vez por outra, unia cidade passava s mos

    israelitas para, logo depois, voltar aos seus antigos donos. Se Josu tivesse tomado esta

    regio, teria evitado as lutas que ns conhecemos durante mais de 1.000 anos. No estudo de

    Josu e Juizes voltaremos a considerar, diversas vezes, as lutas que ali se feriram. A

    organizao fistia, no sendo uma monarquia com um centro poltico, mantendo por sculos

    as cinco cidades confederadas, pde, entretanto, por mais tempo, manter unidos os filisteus

    que qualquer outro povo da Palestina. Suas cinco cidades, cada uma com o seu rgulo,

    Ascalo, Asdode, Gade, Ecrom e Gaza, eram cinco baluartes difceis de dominar e s foram

    inteiramente dominados no tempo de Salomo. Os historiadores nem sabem a que admitir a

    invencibilidade destas cidades, se riqueza da terra, se belicosidade dos seus habitantes, se

    sua posio estratgica, pois ficavam na entrada da Palestina, e ningum podia ir para o sul,

    vindo do norte, ou ir para o norte, vindo do sul, sem prestar sua homenagem Filstia. Fosse

    pelo que fosse, a fertilidade, o esprito guerreiro do seu povo, a posio geogrfica, o certo

    que nunca houve quem pudesse desapossar esta gente da faixa costeira. Admite-se que aosconquistadores de Josu interessavam as vrzeas frteis dos plats centrais, mais do que a

    regio martima, mas ns no estamos de acordo com este ponto de vista. Outros motivos

    deveria ter havido para que essa gente ficasse sem ser molestada por sculos. Perdido o

    mpeto guerreiro de Josu, os seus irmos contentaram-se em ficar em paz nalguns cabeos e

    vrzeas, misturados com os cananeus, em vez de avanar para oeste e dominar esta gente. O

    que nos parece verdade que os filisteus jamais seriam dominados, humanamente falando,

    com as armas daqueles dias, pois tinham armas melhores do que os seus inimigos, tinham

    lanas de ferro e carros ferrados, que os israelitas no tinham. Muito lamentamos o terem

    ficado invencveis, pelos horrores que causaram aos nossos hebreus atravs de tantos sculos.

    Outros grandes povos foram dominados, mas esse no.

    No decorrer desta apreciao geogrfica, fomos vtima de nossa preferncia pelos hebreus em

    detrimento dos povos conquistados ou a serem conquistados, mas isso tem sua justificao.

    Deus mesmo teve esta preferncia e se no fosse assim no teria dado a terra ocupada ao

    povo que elegeu. Somos basicamente contrrios idolatria, deturpao do sentimento

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    religioso da raa humana; e Deus, por condenar a idolatria, deu a terra da Palestina a um povo

    que no era idlatra, com a misso de estabelecer o verdadeiro monotesmo primitivo. No

    Brasil somos vtimas da mariolatria, e do culto a centenas de santos com o qual o povo fica

    embrutecido e incapaz de fazer a distino entre um culto espiritual e um idoltrico. Esta a

    continuao da luta comeada h 3.400 anos. a nossa luta transformar uma nao idoltrica

    numa nao que adore a Deus em esprito e verdade. Se venceremos ou no, a histria o dir.

    Nenhum estudante de geografia poder ignorar o afamado pentgono, composto de Gaza,

    Asquelo, Asdode, Gade e Ecrom. Sua superioridade, como ncleo de cidades, no resultava

    apenas do fato de possuir uma rea por demais frtil, mas tambm porque controlava todos os

    movimentos polticos da Palestina. Por esta razo, julgavam-se os filisteus com o direito dedominar toda a Palestina. At que ponto eles teriam razo cabe ao historiador dizer. No se

    pode negar a sua influncia na terra, desde tempos muito antigos, porque foram eles que

    deram o nome Palestina. Os historiadores no sabem dizer com segurana em que se

    baseou esta herana, alm dos fatos aqui alinhados.

    (2) Plancie de Sarom. Esta rea constitui naturalmente a segunda diviso do territrio

    constitudo pela Plancie Martima. Os limites sulinos desta regio so demarcados pelo Nahr

    (Rio) el-Auja (Jacrom), que desgua no Mediterrneo, perto de Jope, enquanto os limites

    nortistas da mesma regio se encontram na pequena cordilheira formada pelo Carmelo. A

    extenso desta rea no muito grande, compreendendo aproximadamente 75 quilmetros

    de norte a sul, e uma largura de vinte a trinta quilmetros. Muito naturalmente, estas divises

    so mais polticas que geogrficas, e apenas so oferecidas para no deixar o leitor na

    ignorncia dos fatos, quer geogrficos quer polticos destas zonas. Admiram-se alguns

    historiadores que os filisteus nunca tivessem reclamado esta parte da Palestina, sendo, como

    era, de uma beleza e fecundidade a toda prova. Durante o perodo do Velho Testamento era

    considerada como provncia independente, uma regio isolada. Sarom muito bem regada,

    porque alm da precipitao anual bastante elevada, recebe as guas que atravessam a regio

    perenemente. Os rios mais importantes so o Auja (Isconderunebe) Mefjir e Zerca. Esta

    planura esteve, em antigas eras, em poder dos filisteus. Eles a perderam por motivos que se

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    ignoram e ela est atualmente em poder dos hebreus. Aos poucos vo eles devolvendo a esta

    regio a riqueza e fertilidade que sempre teve.

    (3) Plancie de Acre. Esta planura comea nas faldas do Monte Carmelo, muito conhecido pela

    histria de Elias, e se estende pela costa numa distncia de 30 quilmetros, mais ou menos.

    Sua largura de 5 a 6 quilmetros. A Escada de Tiro o em ponto culminante. Esta planura,

    com as suas fontes no Plat Central, regada por dois pequenos rios: o Namein e o antigo

    Quinsom, famoso na histria de Dbora e Baraque. O interior da planura muito frtil,

    especialmente no norte e no sul, onde floresceram antigamente algumas cidades bem

    famosas. Toda esta rea, incluindo Sarom, ao sul do Carmelo, conhecido pelo nome de Dor,

    pertencia antigamente aos fencios. Este territrio a partir de Tiro at o Carmelo caiu em sorte

    tribo de Aser, mas a sua proximidade dos filisteus no lhe permitiu a posse mansa por muitos

    anos. Por isso, Acre, Tiro e Sidom nunca foram cidades israelitas. A cidade de Acre, a uns 20

    quilmetros da costa, era, no somente a mais importante, mas tambm, a porta de entrada

    da Palestina central. O Novo Testamento nos d informaes da importncia desta regio,

    perto de Jope, Cesaria e a moderna cidade de Halfa, o orgulho dos hebreus modernos.

    Para concluirmos nossa apreciao da Plancie Martima, diremos umas poucas palavras sobre

    a costa numa costa aberta sem boas balas. Enquanto a plancie costeira oferece tantas

    vantagens, sua costa nunca despertou interesse dos navegadores por falta de portos onde

    acostar os navios. Se outra fosse a configurao, acredita-se que outra teria sido tambm a

    sorte desta parte da Palestina. Os hebreus atuais esto construindo seu melhor porto de mar

    custa de grandes gastos, numa pequena salincia ao norte do Carmelo porque no h outro

    local onde faz-lo. Haifa, com 450.000 habitantes, uma cidade moderna, com grande

    comrcio e amplo movimento nacional e internacional. Mais para o norte, o litoral oferece um

    panorama muito diferente, pois os portos de Tiro, Sidom, Beirute, Gebal e Trpoli, entre outros,

    do costa um outro aspecto. Toda esta vasta zona. desde o Egito a Tiro, ficou privada de

    bons portos de mar, pois nem mesmo Alexandria e Port Saide so ainda hoje os melhores do

    mundo. Repetimos: se a costa da Palestina tivesse sido servida de boas enseadas, outra teria

    sido a sua histria. Mesmo que reconheamos que os navios antigos no careciam de grandes

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    portos como os modernos, ainda assim, se portos bons houvesse, teramos outra histria.

    Cesaria era o principal porto nos tempos herodianos. Jope era outro bom porto. Mas nem

    um nem outro merecem o nome de portos de navios. Teria sido por isso que os hebreus nunca

    se sentiram atrados para o mar, a no ser nos tempos de Salomo, usando o porto de Acaba,

    no Sinai, e isto por causa da influncia fencia, senhora dos mares naqueles longnquos dias.

    Isso fez dos hebreus antigos um povo de criadores e agricultores, e talvez por essa razo

    tivessem evitado muitas outras contendas com os seus vizinhos. Se tivessem conhecido o mar,

    teriam entrado em competio com os fencios, e quem sabe se, de amigos que foram, no se

    teriam convertido em inimigos. A geografia tambm influi nos destinos dos povos e marca a

    sua histria com lances diferentes daquilo que poderia ter sido. A longa histria escrita pelos

    povos da Plancie Martima a que ns conhecemos, e no podemos escrever outra. Mas

    reafirmamos: se a geografia fosse diferente, diferente teria sido a histria. Resta ao

    observador moderno esperar por outros contornos da histria dos hebreus atuais, para ver, no

    final, o que eles poderiam ter tido nos tempos antigos. De qualquer modo, mesmo sem bons

    portos, a Plancie Martima deu um captulo da histria antiga dos mais movimentados e

    belicosos. (2)

    Ainda que fora do alvo deste estudo, pedimos licena para dizer que aquilo que os hebreus

    antigos no conseguiram de modo completo os hebreus modernos o esto conseguindo. J

    ficou claro que muita coisa da geografia foi mudada durante os ltimos milnios. Bas, que

    ns conhecemos como uma terra rica e frtil, foi reduzida a um campo quase estril por falta

    de cultivo adequado. Assim, a parte ocidental. Os rabes, que se apossaram da terra depois

    do ano 600 da nossa era, no souberam trat-la, e a exploraram de modo muito primitivo, at

    que no deu mais a sua riqueza. Atualmente, a parte sob domnio dos hebreus uma prova do

    que ela foi antigamente. Os prados, a vegetao, o arvoredo, os montes cobertos de herva,

    tudo nos indica que a terra est voltando ao que era antes. Como tem sido assinalado em

    diversos tpicos, a terra ficara totalmente desprovida de rvores, que foram destrudas pelos

    conquistadores orientais. Pois bem, esto sendo agora replantadas e, dentro de alguns anos,

    pelo menos a parte sob domnio israelita, voltar a ser o que era antes. Por isso o autor tem as

    suas preferncias pelo domnio hebreu da terra, pois esta gente a senhora da cincia

    agronmica e qumica, e a terra carece desse tratamento.

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    (1) Smith, The Historical Geography of the Holy Land. P. 148

    (2) Kent Biblical History and Geography.

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    2. Piemonte ou Sefel.

    Entre os altos montes, a oeste de Jerusalm e plancie costeira, ficam os baixos montes de

    Sefel. uma rea caracterstica e bem definida, vista como conjunto de vales e plancies. Os

    montes, esparsos em diversos lugares, tm uma altura mdia de 150 a 300 metros acima do

    Mediterrneo. O solo no to rico como o da Filstia ou de Sarom, mas tambm no muito

    pobre. um territrio peculiar ao cultivo das oliveiras e vinhedos, de cereais e produz fartas

    colheitas de trigo e cevada. Por sua posio, foi por muitas vezes o centro de grandes

    combates nos tempos do Velho Testamento, e por certo teria sido assim em tempos

    anteriores. Muitas das mais sangrentas batalhas dos tempos antigos foram feridas nesta

    regio. (3)

    Os limites geogrficos naturais de Sefel so dados como o que compreende o estreito

    territrio que vai do vale de Aijalom, uns 12 quilmetros a oeste de Jerusalm, at Berseba, no

    extremo sul, incluindo as divises naturais da Filstia e as planuras de Jud, O Sefel ocupa uma

    regio que melhor se entender como um tabuleiro entre a Plancie Martima e as montanhas

    de Jud. Politicamente, nunca foi bem definida, e as definies aqui usadas so mais

    geogrficas que polticas, pois nunca houve ali qualquer governo que desse configurao ao

    territrio. Temos ento uma rea de montculos, aqui e alm, com grande claros ou vales

    entre si. fcil compreender uma regio assim: os montes do a caracterstica especial, e os

    vales ou planura, os contornos. Tanto nos montes como nos vales a agricultura era abundante,

    especialmente, como j vimos, de oliveiras que cresciam abundantemente. Atualmente nada

    se v porque tudo foi destrudo. Um vandalismo selvagem varreu, desta terra rica e prspera,

    no apenas a beleza, mas tambm a riqueza. Os atuais hebreus esto fazendo voltar esta terra

    ao que era h sculos, diramos, milnios passados, e certamente, vo triunfar. No plano da

    conquista de Josu estava o Sefel, mas Josu mal chegou s bordas deste territrio talvezporque, para o sul, o terreno torna-se spero e pouco produtivo, sendo a antiga regio dos

    amalequitas e filisteus. Parece ser uma terra de ningum porque nem os filisteus jamais

    procuraram dominar nesta regio, nem os israelitas se preocuparam muito com ela. Os

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    modernos sionistas crem que o Sefel e a Filstia fazem parte de uma mesma regio, mas isso

    nunca foi reconhecido na antigidade. O que nos parece mais lgico reconhecer que esta

    rea era um prolongamento do vale de Aijalom, e no uma rea independente. Nas narrativas

    de Josu e Juizes, o Sefel figura como uma regio montanhosa, o que verdade em sentido

    restrito, porque havia grandes e frteis vales de permeio. Uma visita rpida ao lugar nos daria

    a viso correta da situao.

    Parece que o seu maior valor, entretanto, est na sua relao com o plat central. No extremo

    norte, onde os montes do Carmelo sobem -gradualmente da Plancie de Sarom, h uma

    aproximao fcil a esta rea por trs lugares bem conhecidos dos amigos da Palestina. O

    primeiro, pelas arenosas inclinaes do Carmelo, na direo da Plancie de Esdraelom, emMegido, o bem conhecido lugar das grandes batalhas da antigidade; o segundo, talvez por

    uma estreita passagem do plat central rumo ao interior de Dot; o terceiro, o mais difcil

    passo atravs da vila atual de Tulcarem, rumo a Nablus. Essas regies foram testemunhas das

    mais aguerridas lutas na antigidade, para garantirem a passagem das plancies costeiras rumo

    Palestina central. Megido figura nas crnicas bblicas e estrangeiras como o centro mais

    cobiado, pois era por ali que a passagem era ou berrada ou consentida. Foi ali que Totms III

    se defrontou com os povos do norte, e foi ali que Ramss II se defrontou tambm com os

    hiteus, e foi ainda ali que Josias morreu nas mos do Fara Neco, que no lhe desejava fazer

    guerra, mas aos caldeus (II Crn. 35:20-27). Era um campo de batalha em que os exrcitos ou

    se dirigiam contra os israelitas ou apenas desejavam a passagem livre. A arqueologia ainda

    tem muito a nos contar a respeito de Megido, onde tambm Salomo tinha as baias dos seus

    cavalos, tendo sido descobertas at agora cinqenta delas, construdas de mrmore.

    Na parte suleste do Plat central o Sefel mais pronunciado, p sua aproximao um tanto

    mais difcil, e "talvez seja por isso a parte menos interessante na histria de Israel. H quatro

    passagens mais importantes que levam a esta regio quem vem do norte: Uma delas o vale

    de Aijalom (talvez a parte mais importante da Palestina, pois coloca o norte em contato com o

    sul e ali se feriram algumas das batalhas de Josu pela posse da Palestina central). tambm a

    passagem natural para quem vai a Jerusalm, partindo da Plancie de Sarom, e tambm para

    quem vem de Sefel. Aijalom fica perto de Gibeom, uns 8 quilmetros a noroeste de

    Jerusalm. O acesso se faz por uma srie de desfiladeiros, e por ali se vai tambm s partes

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    baixas de Bete-Horom, nos limites de Sarom. O vale era facilmente defensvel, e foi ali que

    Josu perseguiu os confederados (Jos. 10). Sculos mais tarde, Judas Macabeu provou que a

    regio era mesmo o ponto melhor para uma defesa contra os srios. Quem dominasse Aijalom

    dominava facilmente o resto do sul, inclusive Jerusalm, e por esta razo que os lideres

    religiosos sempre se preocupavam com esta praa de guerra. O seu sistema de defesa eram as

    cidades de Balate, Baixa Bete-Horom, onde Salomo construiu algumas das defesas da sua

    cidade.

    A segunda aproximao aos montes da Judia atravs do Sefel, era pelo vale de Soreque,

    vasta planura, rica de pastagens para gado e agricultura. Foi dali que os doze espias levaram a

    Moiss um cacho de uvas enfiado numa vara, como prova da riqueza da terra. Deste valetanto se vai a Jerusalm como Filstia, pois as cidades de Ecrom e Geser ficam prximas. Foi

    ali que Davi enfrentou o gigante Golias (I Sam. 17:14-58). A antiga estrada de ferro de Lude a

    Jerusalm segue este curso, passando pelos tabuleiros de Bete-Semes, Meoah e Zor, lugar do

    nascimento de Sanso, e onde ele executou a maior parte das suas proezas. A rigor, o vale de

    Soreque pertence ao Sefel, mesmo que os seus limites no sejam facilmente determinados.

    Por sua proximidade aos filisteus, era o lugar onde maiores cuidados se faziam necessrios, e

    no foram poucas as vezes que estes inimigos de Israel ocuparam algumas das suas cidades.

    Era uma zona conflagrada. A fortaleza de Bete-Semes era uma guarda avanada contra os

    inimigos do oeste. Salomo teve todo cuidado em se garantir contra estes inimigos at que os

    dominou totalmente, pois quem dominasse Soreque dominava s portas da capital.

    A terceira via de aproximao ao sistema central, via Sefel, era o vale de El. Os extremos

    deste vale ficam um pouco ao sul de Belm, perto do antigo campo de batalha de Bete-

    Zacarias, na estrada que tambm leva a Jerusalm. Os seus extremos ocidentais, passando

    pelo imponente outeiro de Zacari, levam facilmente s ondulantes planuras da Filstia, em Tell

    es-Safi, moderna Gade, uma das cidades do pentgono filisteu, a mais famosa e perigosa liga

    anti-israelita. Guardar esta passagem rumo a Gade era guardar a entrada do inimigo rumo ao

    centro vital de Israel. Provavelmente a atual Tell Zacari a antiga Azeea, em cujas

    vizinhanas os israelitas, de um lado, e os filisteus do outro, se defrontaram por longo tempo,

    at que Davi deu fim ao problema, matando Golias. Anos mais tarde, Roboo constituiu Azen

    numa fortaleza, juntamente com outras cidades, precisamente para se garantir contra os

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    clssicos inimigos do oeste. Assim podemos ver que o vale de El era muito importante, quer

    para os filisteus quer para os hebreus. Guardar esta passagem era questo vital para os nossos

    israelitas. Se no era to importante como Aijalom, no era menos importante que qualquer

    outro passo mais ao sul.

    Uma quarta passagem ou aproximao, quer s partes sulinas ou a oeste, ficava nas

    proximidades de Beite Jearim, conhecido como o vale de Zefet. Ficava um tanto afastada de

    Jerusalm, e por isso no era de importncia vital. Para percorrer esse caminho teria um

    conquistador de vencer algumas das grandes cidades do sul, tais como Hebrom e Betezur. Fica

    ento claro que o domnio da regio sulina era de importncia vital por sua aproximao com o

    centro de Cana. Por esta razo, Sefel foi sempre um centro de graves contendas entrehebreus e filisteus.

    A histria desta regio no compreende apenas os filisteus e israelitas. Os romanos ali

    estabeleceram o seu quartel geral e os no menos belicosos srios. Nas lutas macabeanas,

    tambm este local assistiu a sangrentos combates contra os srios. Modim, clebre nas lutas

    dos Macabeus, Geser, Beite-Jibrim, Bete Semes, Zacari, Quiriate-Sefer, Queil, Marqued e

    Yimn so apenas alguns dos antigos basties que guardavam o sul e especialmente a capital

    hebraica. Muitos destes centros foram desorganizados por Josu, mas tempos depois, por

    falta de uma continuada vigilncia, voltaram a servir aos antigos inimigos filisteus. Era o

    campo clssico de batalha.

    (3) Smith, The Historical Geography of the Holy Land, p. 201.

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    3. Plat Ocidental.

    A parte mais importante de Cana , sem qualquer dvida, o Plat Ocidental. a terceira

    diviso geogrfica da Palestina, pois a ponta que liga todas as demais divises j referidas.

    Para ir plancie martima ou ao Jordo, se o viajante estiver do lado ocidental do rio, ter de

    passar por esta diviso. Quando se observa Cana do topo do Nebo ou do Hermom parece

    que Cana um conjunto de montes sem fim, mas a realidade bem outra. H muitos

    montes, mas pequenos, e eles se sucedem de tal modo que parecem mesmo um conjunto de

    elevaes. Talvez o panorama mais impressionante seja o visto de qualquer parte ao norte,

    dos contrafortes dos Lbanos. Ento a vista parece sem fim, porque se vem os vales de

    permeio com os montes. O planalto da Alta e Baixa Galilia apresenta-se como um vasto

    lenol de verdura, e se a visita se der na primavera, ento a beleza no tem paralelo. A

    expresso "De D at Berseba" toma uma feio diferente da que se tem lendo apenas as

    palavras da frase. Se voc fizer a viagem, digamos, de Jerusalm ao Mar da Galilia, ver

    vrzeas sem fim, to vastas que os agricultores so forados a plantar arbustos, cana brava e

    outros, entre os diversos lotes, para evitar que o vento varra tudo na sua Passagem. (4)

    Anotaremos aqui as principais divises desta vasta rea, para melhor compreenso do estudo.

    A parte norte do Plat forma a espinha dorsal da Galila, cercada pelas regies martimas de

    Acre e Fencia a oeste; ao norte, pelo rio Londres e os Lbanos, e a leste pelo famoso Vale do

    Jordo. Eis uma boa sinopse da regio. Comeando com o sistema dos Lbanos, o plat desce

    gradualmente, numa sucesso de depresses, at atingir o planalto de Esdraelom, dividindo-se

    esta regio em duas partes bem distintas, que so: (a) a Alta Galilia e (b) a Baixa Galilia. A

    bem da verdade, o observador no v outra diferena seno a altura dos montes que na

    Galilia do Norte se elevam de 700 a 1.400 metros acima do Mediterrneo, enquanto na Baixa

    Galilia no vo a mais de 600 metros. De permeio, grandes vales formados pela depresso do

    Jordo, que vo de Tiberades Plancie Martima, de Haifa e Acre. Toda esta regio muito

    bem regada, por bons e permanentes rios, e uma grande precipitao anual. Por isso esta

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    regio sempre foi o celeiro de muitos povos que viviam e morriam na sua defesa. A

    proximidade do Monte Hermom tambm d a sua contribuio umidade do solo. Os cereais

    crescem abundantemente, e, a no ser em longas estiagens, nunca h falta de alimento para o

    povo. Alm de cereais, as vinhas, os olivais, as nespereiras e outras frutas da regio crescem

    abundantemente. Boas estradas partem deste centro, rumo ao Jordo, Sria, Galilia e sul de

    Cana. o corao da Palestina, e, por sua localizao geogrfica e fertilidade, muitos povos a

    desejaram e por ela muitos se guerrearam. A parte norte livre por todos os lados; parece

    uma terra de todos, e um convite a todos. As suas cidades, tais como Nazar, a terra de nosso

    Senhor, Tiberades, Can, onde Jesus fez o primeiro milagre, fazendo da gua bom vinho,

    Corazim, Betsaida e tantas outras, umas maiores e outras menores, so um mundo de

    encantos, e parece at de louvores ao Criador. O Lago de Nazar a ,"ande prola encrustada

    neste conjunto, com os seus modestos barquinhos, indo e vindo, de um lado para outro em

    busca do pescado para as populaes. Foi nestas regies que Jesus demorou mais e onde fez a

    maior parte dos seus milagres. O povo, por seu feitio meio internacionalista, sempre aberto a

    Quaisquer novidades, deu-lhe sua cooperao e amor, mesmo que houvesse a natural

    oposio dos lideres religiosos sempre ciumentos das suas opinies.

    Para quem vai do sul ao norte, a Galilia oferece o contraste j visto linhas atrs, com os seus

    montes se elevando at a altura de 1.400 metros acima do Mediterrneo. Vindo do norte para

    o sul, o aspecto o mesmo, mas com uma tonalidade diferente at encontrar as planuras de

    Samria, com os seus vastos vales e campinas, os montes de Ebal e Gerizim a leste, montes de

    to celebradas recordaes, por ter sido neles que a Lei foi reafirmada, com a proclamao das

    bnos e das maldies, nos dias de Josu (Jos. 8:30-35). Foi em Samria que Jesus convidou

    os discpulos a levantarem os olhos e verem os campos brancos para a ceifa e foi ali que Jesus

    teve um dos seus mais tocantes encontros, no poo de Jac que fica um pouco para leste. H

    duas planuras de especial importncia nesta rea: Dot, onde Jos foi vendido por seus irmos

    para o Egito, e a outra, onde Eliseu mais tarde, foi cercado e livre (II Reis 6:8-23). Uma outra,

    no menos significativa, a chamada Mor, nas imediaes dos montes Ebal e Gerizim, o lugar

    da antiga Siqum, onde Abrao morou ao chegar a Cana. No h um palmo de terra nesta

    regio que no esteja ligado a um fato histrico muito querido aos leitores da Bblia. Foi em

    Siqum (Jos. 24:1) que Israel se reuniu para se despedir do seu grande lder Josu e receber as

    ltimas recomendaes de ser fiel ao seu Deus; foi ainda ali que Israel se reuniu para coroar

    Roboo, filho e sucessor de Salomo (I Reis 12:1). Foi perto dali mais tarde que se fundou a

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    capital do Reino do Norte, com dois centros de culto idlatra, organizados por Jeroboo I, um

    em D, no extremo norte, e outro em Betel, na divisa com o reino do sul. Foi ali que se

    fundiram as civilizaes israelita e siraca como resultado da mistura de povos que os reis da

    Assria trouxeram para Israel, de que resultou o problema religioso e poltico, to do nosso

    conhecimento no Novo Testamento, entre samaritanos e judeus. Como se v, esta regio tem

    uma histria.

    Mais para o sul ficam as planuras de Jud, que alguns gegrafos chamam de "terceira seo"

    desta rea do Plat Ocidental. Comea em Betel e termina em Berseba, bem ao sul de Cana.

    Seus montes alcanam uma altura de 300 a 100 metros acima do Mediterrneo e vo

    declinando, at formarem um chapado em Berseba. As suas fronteiras se unem em Sefel, jestudada nestas notas. Para o lado oriental, vai-se ao Jordo e Mar Morto, cuja situao ser

    vista mais adiante. Mais ainda para leste, ficam os lugares queridos do mundo cristo, grego

    ortodoxo e catlico; o Jardim de Getsmane, o Monte das Oliveiras e outros.

    Chegando a este ponto, encontramos a cidade de Jeric e o Gilgal, onde Josu estabeleceu seu

    quartel general, e de onde comandou as campanhas da conquista do sul da Palestina. Mas

    deixaremos esta apreciao para depois.

    Um pouco para o sul de Samria encontram-se os famosos vales de Ajalom ou Aijalom, onde

    Josu mandou parar o sol e a luz. um vasto plat, rico para agricultura, amplo e bem regado,

    onde os rios perenes tornam a regio um dos pedaos mais cobiados da Palestina. O vasto

    vale de Esdraelom, que vai do Carmelo ao Jordo, foi um dos grandes centros de combate de

    todos os tempos, e especialmente nos dias de Josu. Esdraelom e Jisreel se confundem, pois

    ocupam a mesma rea. Foi neste local que Josu enfrentou a coligao levita, perto de

    Gibeom.

    Daqui partem estradas rumo a todos os pontos da Palestina; para o sul at Berseba, para o

    norte at Galilia do norte e adjacncias, para leste rumo ao Jordo. Era de ver que seria um

    lugar disputado. Jerusalm, o antigo forte jebuseu, ficava apenas a poucas milhas, bem assim

    Hebrom e as cidades do sul. Perto deste vale fica o bem conhecido lugar de Emas onde Jesus

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    se encontrou com os discpulos depois da ressurreio. Um turista que sai de Jerusalm pela

    manh ficar encantado ao atravessar este lugar pela moderna rodovia que corta

    longitudinalmente at Galilia. Ver os verdes prados e, no tempo das colheitas, os grandes

    trigais amarelecidos, como emblema da seara branca para a ceifa. De passo a passo,

    encontrar as antigas cidades, mesmo com nomes novos, e algumas ainda no identificadas.

    Assim revendo antigos e modernos locais, vamos de Jerusalm, passando por Aijalom, Jizreel,

    Esdraelom, Samria, Nazar e Alta Galilia e, se desejarmos ir mais adiante, iremos aos

    Lbanos, e bem ao norte linda cidade de Beirute, perto dos picos gelados do Lbano. No

    esqueamos o querido monte Hermom bem nas faldas do Anti-Lbano, onde Jesus se

    transfigurou, para dar uma imagem do que ser a vida dos transformados na ressurreio.

    No h aqui nesta aparente nesga de terra um palmo que no fale ao corao dos amigos da

    Bblia, sejam judeus ou gentios cristos. Para ns, parece at ser a nossa terra, o nosso pas.

    (5)

    (5) Kent, Biblical History and Geography, p. 45 - Veja Huntington, Palestine and its

    Transformation, p. 304.

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    4. Vale do Jordo.

    a quarta rea do nosso estudo. Tudo que se puder dizer desta regio ainda ser pouco para

    descrever tanta histria e tanta beleza. Com uma extenso de 220 quilmetros de norte a sul,

    apresenta os dois extremos em altitudes; no norte, nas alturas do Monte Hennom, atinge a

    2.045 metros acima do Mediterrneo, e ao sul 420 metros abaixo deste mesmo mar, no Mar

    Morto. 10 a mais profunda depresso na face da terra. A distncia no to grande, pois

    alcana uns 220 quilmetros de norte a sul. Por isso o Jordo se chama o "Corredor", pois

    um rio que desce com grande velocidade, especialmente no tempo das guas da primavera.

    uma regio pitoresca.

    O Vale do Jordo no inclua apenas o rio propriamente dito, mas a regio lateral. Portanto, oVale do Jordo constitui-se da rea que vai desde o sop do Monte Hermom, ao norte, at o

    Mar Morto, ao sul, e suas imediaes. uma regio sujeita a terremotos e muitos tm sido os

    abalos ssmicos que visitam a regio. Quando estudamos a queda dos muros da cidade de

    Jeric fazemos referncia a um possvel abalo ssmico que levantou o solo da cidade e fez

    tombar os muros de dentro para fora. 0 rio mesmo muda de curso muitas vezes pela

    interrupo do curso natural e temporria abertura de outro. Dai suporem os gelogos que a

    passagem do povo pelo rio se deu precisamente no momento de um desses abalos. Pode ter

    sido assim, mas ento foi numa coisa totalmente medida, pois o rio secou quando as Plantas

    dos ps dos sacerdotes que levavam a arca, tocaram a gua, e as guas voltaram ao seu

    normal justa e precisamente quando o ltimo hebreu passou. Tudo calculado e medido por

    quem tem nas mos os destinos da terra e sua cincia. Antigamente havia florestas

    marginando o rio, onde os lees e outros animais ferozes tinham as suas moradas.

    Atualmente, a terra est devidamente aproveitada onde possvel, no havendo mais do que

    arbustos marginando o rio. No 'vero o rio parece um carrego, com alguns lagos meio

    parados, mas na primavera com o derretimento das neves dos Lbanos, as guas descem com

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    uma velocidade incrvel, esbarrancando as margens e cavando ainda mais fundo o leito do rio,

    que nalguns lugares totalmente intransponvel. Existem apenas alguns vaus, em certas

    margens, onde o povo aproveita para passar de um lado para outro.

    Nas imediaes de Hamate, no Orontes, as montanhas correm paralelas ao Mediterrneo,

    formando o sistema conhecido por Lbano; do outro lado do Jordo corre outro sistema,

    conhecido como o Anti-Lbano. Quando estas montanhas atingem a Alta Galilia, vo

    abaixando at se perderem em pequenas elevaes esparsas por toda a Palestina. Quando

    estes sistemas atingem Berseba, no sul, j desapareceram praticamente os Lbanos. As

    montanhas de Jud representam este ramo oriental dos Lbanos. O sistema ocidental tambm

    se chama "os Lbanos srios". Um turista, visitando Beirute, v l em cima os picos nevados dosLbanos, e quando chega a Balbeque, muito abaixo, ainda est a 3.300 metros acima do

    Mediterrneo. Isso d regio um tom de qualquer coisa milagrosa. Ao meio-dia o turista

    toma seu banho nas guas quentes do Mediterrneo, e tarde vai esquiar nas neves l em

    cima, gastando menos de uma hora de carro. Olhando l de cima para o sul tem-se a

    impresso de um grande tobogam, em cuja extremidade h uma esteira de verdura

    convidando o observador a vir refrescar-se e alimentar-se com as frutas abundantes que ali se

    encontram na poca prpria. 2 uma terra de encantos e surpresas. O passo de Hamate um

    dos mais famosos nas crnicas do Velho Testamento, pois era o lugar por onde passavam os

    exrcitos invasores da Palestina, e quem dominasse este passo era senhor de toda a regio

    ocidental. Por ali passaram Sargo II, para cercar Samria, Tiglate-Pileser, Senaqueribe, para

    cercar Jerusalm, Nabucodonozor, para tomar a cidade. Era a passagem do leste para oeste.

    (11)

    Com o abaixamento deste sistema Anti-Lbano vm as grandes planuras do Auram, muito

    famosas at nos tempos do Novo Testamento; a grande Bas, conquistada por Moiss aos

    amoritas, e dada aos filhos de Israel; e mais para o sul as planuras de Moabe. Toda esta regio

    plana e muito frtil. Ao sul destas planuras reaparecem as montanhas, com o nome de

    Abarim, Nebo, e outras que se estendem para o sul at o Golfo de Acaba. Acredita-se que toda

    esta bacia, no perodo pluvial, fosse um grande mar interno comunicando-se com o Mar

    Vermelho, sendo ento o curso do Jordo bem diferente do que atualmente. Depois da

    subverso de Sodoma e Gomorra e outras cidades do planalto sulino, tudo foi alterado,

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    cortando-se o curso do Jordo e formando-se o Mar Morto que no existiria antes. Nos

    tempos de Abrao esta regio era rica e apetecvel, tanto que L a preferiu s secas estepes de

    Berseba. Era uma regio bem regada e frtil. Temos, portanto, uma vasta regio, que parte do

    Hermom, passa por Jeric e vai para o sul, at Acaba. Atualmente parece uma mesma regio,

    mas a verdade que ela ainda oferece as divises que teria noutros tempos.

    Esta regio presta-se a diversas divises. Infelizmente no podemos estud-la, por amor

    conciso que desejamos dar a este Panorama da Palestina. Mencionaremos os nomes, e os

    estudantes se podero valer de outras obras para completar o seu estudo. (7)

    Alto Vale do Jordo ou o norte de Arab

    Mar da Galilia, outro encanto da Palestina

    Gor, ou mdio Arab

    Mar Morto

    Arab do sul

    O Arab do norte comea nas alturas do Hermom e vai findar nas guas de Merom, onde Josu

    desbaratou a coligao de Jabim, conhecida como coligao amorita. O lugar um encanto

    para a vista. O lago Merom apenas uma pequena parada das guas que descem para o Mar

    da Galilia. As nascentes do Jordo ficam mais acima e provm de diversos pequenos riachos.

    Bnias o nome que tambm se d a este lugar, onde nos tempos dos romanos havia um

    grande santurio dedicado a Vnus, uma espcie de sucursal de Balbeque. L foi construda a

    Cesara de Filipos, cidade construda em honra de Csar Augusto, imperador romano. Ali

    ficava a famosa cidade de Hazor, que Josu incendiou depois da vitria sobre os amoritas.

    Mais abaixo, fica a linda cidade, de Tiberades, construda em honra a Tibrio, imperador

    romano. um osis, cheio de verdura e frutas. O autor passou uma noite no hotel de

    Tiberiades, e, pela manh, no caf, havia mais qualidades de frutas do que tinha visto em toda

    a sua vida. Antes vm Capernaum, Betsaida, para chegarmos ao Mar da Galilia. Pelo lado

    oriental ficam o Haur, Uaconites, Gerasa, Gadara a antiga Decpolis, lugares muito famosos

    no tempo de Jesus. A Galilia, j mencionada nestas notas, dispensa qualquer outra palavra,

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    mesmo porque o autor est apenas dando algumas informaes da terra que Josu

    conquistou.

    A seo entre a Galilia e o Mar Morto chama-se Gor ou o meio Arab, e vai da Galilia ao

    Mar, sempre descendo. O clima muito quente, atingindo no vero a temperatura de 42

    centgrados, para melhorar quando chega a Jeric, o ponto final desta regio. Pelo lado

    ocidental ficam os plats de Esdraelom, Jizreel, Aijalom, j referidos nestas notas, e pelo leste

    ficam as planuras de Betsaida-Jlia, Gadara, Jabes-Gileade, muito nossa conhecida, e que ser

    ligeiramente estudada em conexo com a quinta diviso geral da Palestina. O estudante

    destas notas observar que estamos apenas fazendo um ligeiro esboo de geografia da

    Palestina, pois se nos detivssemos a apreciar todas estas reas, faramos um livro, o quequeremos evitar.

    O Mar Morto, j tocado aqui e ali, o ltimo dos trs lagos desta regio. Os outros so Merom

    e Mar da Galilia. O Mar Morto tem uma largura de dez quilmetros e um comprimento de

    setenta e seis. Como se v, uma nesga de mar, pelo que se supe haver sido outrora um vale

    ocupado pelas cidades desaparecidas de Sodoma e Gomorra. A profundidade deste mar de

    400 metros no lugar mais fundo. As suas guas so to pesadas que uma pessoa pode nadar

    sem correr o risco de afundar. Recebe toda a gua do Jordo num total de 26 milhes de

    toneladas por dia e nada devolve. Toda esta gua se evapora pelo calor contnuo que faz ali,

    deixando os resduos trazidos das alturas. Acredita-se que a riqueza no fundo deste mar daria

    para tirar da misria todos os povos subdesenvolvidos. Todos os metais ali se encontram.

    Um pouco mais para o sul fica o Arab do sul, uma regio estril at atingir o Golfo de Acaba,

    onde ficava a antiga cidade de Petra, famosa nas crnicas antigas, e onde os marinheiros de

    Salomo e os de Hiro, rei de Tiro, ancoravam os seus navios vindos do Oriente. Ali s moram

    os bedunos, e antigamente ficavam l os horitas ou seitas, que se misturaram depois com os

    descendentes de Esa e Ismael, dando os modernos rabes, conhecidos como os ismaelitasantigos. Os israelitas tiveram de passar por ali e, como a terra era dos seus primos esaultas,

    foi-lhes proibido tomar qualquer coisa da terra.

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    (6) Smith, The Historical Geography of the Holy Land, p. 448.

    (7) Robinson, Physical Geography of The Holy Land. Veja, A Bblia e as Civilizaes antigas, p.

    441, traduo do autor.

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    5. Plat Oriental.

    Esta ltima regio abrange todo o vale do Jordo e compreende a moderna Transjordnia, cuja

    capital Am, antiga capital dos amonitas, filhos de L. Nas descries bblicas quase

    sempre denominado "alm do Jordo". Esta terra no estava compreendida na "terra da

    Promisso" dada a Abrao, mas por um desvio da histria, veio a caber aos israelitas, quando

    vinham do Egito. A histria desta conquista encontra-se nos captulos 31 e 32 de Nmeros. Na

    descrio da partilha da terra, segundo Josu 22, verifica-se que esta regio j havia sido dada

    por Moiss s duas e meia tribos de Gade, Rben e meia de Manasss. (8)

    Este antigo territrio pertencia aos amoritas, havendo os moabitas se estabelecido ao sul do

    rio Arnom, e os amonitas a leste. Em o Novo Testamento o territrio conhecido como Bas eGileade. Os amoritas tinham a sua sede l nos altos do Lbano e Anti-Lbano, mas no decurso

    do tempo se estenderam para o sul, ocupando grandes reas, como esta do leste do Jordo.

    Vencidos os reis amoritas, Siom e Ogue, foi o territrio dado aos israelitas. Em tempos

    primitivos, todo este territrio deveria pertencer aos filhos de L, que juntos com seus

    parentes ismaelitas ocuparam toda a vasta zona desde o Jaboque at o Golfo de Acaba. Com o

    poder dos amoritas, foram os moabitas empurrados para o sul, e os amonitas encostados no

    deserto a leste, onde os encontraram os israelitas, cujo territrio foi poupado. Muitas

    referncias bblicas que falam das campinas de Moabe, junto a Jeric (Nm. 36:13), so uma

    referncia correta, pois o territrio era deles, mas havia sido tomado pelos amoritas. As trs

    divises naturais desta regio eram a terra de Bas, Gileade e Moabe.

    O territrio de Bas inclua toda a rea ao sul do Hermom at o rio Iarmuque, ao sul, e se

    estendia do vale do Jordo at o Mar da Galilia, a oeste. Toda a regio de formao

    calcrea, com o,solo bastante rico, plano e admirvel para a agricultura. Muitas so as

    referncias a Bas, quer no Velho Testamento quer no Novo. No Novo Testamento tambm

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    conhecida como o Haur e Traconites. Os limites entre uma rea e outra so muito

    aproximados, pois no havia divises permanentes e estveis, muito dependendo de

    condies polticas. Do Iarmuque ao Jaboque ficava a alta Gileade, e do Jaboque a Hesbom a

    baixa Gileade. Este territrio est associado com muitas atividades de personagens bblicas,

    tais como Davi, Elias, Saul e Jeft (Ju. 11). Do Iarmuque ao Arnom, bem ao sul, ficava o

    territrio que ns conhecemos como a Peria, o lugar por onde transitavam os hebreus no

    tempo de Jesus, para no terem de atravessar a regio dos samaritanos. Este territrio

    pertencia a Herodes Antipas e era onde ficavam algumas das mais importantes cidades de

    Decpolis, tais como Pela, Dium, Gadara e Gerasa. A cidade de Rabate-Amom foi a que Jeft

    atacou, para defender os filhos de Jac (Ju. 11 e 12), quando os amonitas alegaram que a sua

    terra havia sido tomada pelos filhos de Israel 300 anos antes. Contra esta cidade Davi mandou

    os seus homens (H Sam. 10,11). Com um mapa diante de ns podemos compreender melhor

    esta vasta regio- a -Dartir do Hermom at o Arnom, terra boa, bem regada e farta, servida de

    boas estradas, com o bafejo do Jordo, que corre por toda a regio, do norte ao sul. Falando

    ainda de Gileade, faremos bem em lembrar o acordo feito ali entre Labo e Jac, quando este

    fugia de seu sogro (Gn. 31:22-42). H, pois, uma linha histrica entre esta regio e os

    destinos do povo eleito.

    Moabe. Esta regio era a terra dos moabitas, mas pela presso dos amoritas, foram aqueles

    empurrados mais para o sul, onde os encontravam os israelitas vindos do Sinai, entre o rio

    Axnom e os estreis montes do sul. Por isso diz o texto bblico que o termo dos moabitas

    entre o Arnom e os amoritas (Nm. 21:13). Toda esta rea, desde o Hasor at o Arnom, era

    possesso das duas e meia tribos de Gade, Rben e a meia de Manasss, terra boa, bem

    regada e admirvel para a agricultura. Custou muito pouco a ser conquistada, e foi de fcil

    manuteno durante os dias do Velho Testamento, por que os cananeus no exerciam

    qualquer influncia a leste do Jordo. Enquanto os outros hebreus tiveram de lutar durante

    toda a sua existncia para manter o seu direito terra conquistada, os seus irmos tiveram

    apenas algumas rusgas com os amonitas, e uma ou outra vez a pilhagem dos moabitas.

    Os moabitas, que no exerceram qualquer influncia entre os seus irmos israelitas, bem

    poderiam ter mudado a face da histria, mas eles mesmos estavam sob o domnio de reis

    estrangeiros, pois Balaque, que mandou buscar ]3alao em Peor, era, ao que se supe, de

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    origem estrangeira. A histria escreve-se de modos misteriosos. As relaes entre edomitas,

    filhos de Esa, moabitas filhos de L, sempre foram de malquerena, e at os dias de hoje esse

    esprito de contenda permanece, e parece at que no h povos que mais se odeiam do que os

    rabes, descendentes destas gentes, e os hebreus. A raiva de Esa, ao perder a primogenitura,

    que vendeu por um prato de comida, dura at hoje e ainda no se sabe o que ir produzir no

    futuro. Nesta hora, as armas dos dois lados esto silenciosas, mas no se sabe por quanto

    tempo. Por outro lado, sabemos que os israelitas, senhores das promessas de Deus, com a

    misso terrena que ainda no foi totalmente cumprida, tero de vencer, no por causa deles

    mesmos, nas porque Deus lhes garante a vitria. Este escritor sionista, e deseja a paz

    ardentemente entre os filhos de um mesmo pai, mas no acredita muito nos arranjos polticos

    para resolver o tremendo problema palestnico.

    (8) Gebad, The New Standrad Dictionary, p. 298.

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    6. Neguebe ou Pas do Sul.

    Esta vasta regio estril comea onde os montes de Jud comeam a declinar. Faz parte do

    Plat Oriental, na direo do deserto ao sul. As runas de civilizaes mortas encontram-se por

    toda parte. No tempo dos grecos-romanos muita gente viveu ali e calcula-se que 40 ou 50 mil

    pessoas podiam acomodar-se nas estepes desta regio. Muitas so as referncias bblicas a

    esta regio. Os amalequitas foram os primeiros a contestar o direito de passagem dos

    israelitas rumo ao norte. Essa gente, que parece no tinha domiclio certo, por causa da

    escassez da terra, julgava-se senhora de todo o Neguebe. Mesmo depois do estabelecimento

    na terra, no foram poucas as vezes que os hebreus tiveram de se haver com eles. Por causa

    da sua agresso ao povo, Deus determinou sua destruio. Saul foi comissionado por Deus

    para ir destrui-los, mas o despojo foi to tentador que foi ele o destrudo, perdendo o trono

    por causa da falta de obedincia ordem divina (I Sam. 15). O Prof. Hutington foi quem mais

    estudou esta rea, mas as suas concluses padecem de confirmao, por falta de dados

    histricos. A regio era, alm de estril, sujeita a secas, que eram a sua constante,

    dependendo de osis e poos cavados aqui e ali. A histria do xodo nos confirma esta

    assero, quando os israelitas clamavam por gua para beber, eles e o seu gado. A agricultura

    seria possvel nos pequenos vales, entre os montes, ou junto aos osis. A famosa cidade de

    Petra deveria contar com suprimento de gua, que no se sabe agora de onde vinha.

    Igualmente as cidades de Robote, Aroer, Tmara, Lalasa, Es-Beite entre outras menores,

    sabiam como conservar a gua das pocas chuvosas, sistema que ainda hoje usado em

    muitos lugares, onde a proviso especial feita das guas que caem nos telhados ou

    platibandas de suas casas de moradia. Nas ilhas Bermudas no h um litro de gua potvel.

    Os habitantes dependem de navios que tragam a gua de Nova Iorque ou da que recolhem em

    seus depsitos nos tempos de chuva. Face a uma situao como esta, pode ver-se que seria

    impossvel construir grandes civilizaes, a no ser a dos amalequitas que se nos apresentam

    com certo grau de desenvolvimento, pois quando Saul foi mandado a destruir esta tribo ficou

    interessado no despojo de ovelhas e bois (I Sam. 15).

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    Por outro lado, esta regio nenhuma relao tinha com a conquista da terra, pois os grandes

    povos posseiros estavam l para o norte. Por isso, as referncias a esta regio e ao seu povo

    so muito precrias.

    Na vinda do Egito, os nossos hebreus tiveram de atravessar estes desertos, e as conseqncias

    foram alguns dos milagres que Deus teve de operar para prove-los de carne, po e gua. O

    deserto de Par a oeste, passando pelas desoladas estepes de Sur, rumo s planuras de

    Moabe, valia por uma prova de fogo para quem estava acostumado a viver nas margens do

    Nilo, sempre cheio e rico em peixes e cebolas. Abrao conhecia bem esta regio porque l

    morou junto com os amalequitas, tendo a sua casa ou tenda mais permanentemente em

    Berseba, que fica muito para o norte. Podemos ento entender porque esta regio nunca

    esteve nas cogitaes de Moiss ou Josu. O que sabemos dos edomitas, descendentes de

    Esa, leva-nos a pensar numa regio sofrivelmente servida de gua e boas terras, mas isso no

    era o caso. Sempre foram um povo meio selvagem, junto com seus irmos, os ismaelitas

    tambm moradores desta rida regio. A no ser Petra, que considerada um mistrio da

    histria por sua beleza, seus palcios de mrmore, talvez como resultado da sua proximidade

    com o mar, outra coisa no h naquelas bandas que nos provoque admirao. Toda a cultura e

    civilizao estavam c para o norte, entre os cananeus, de vrios ramos, e especialmente os

    hiteus, mitnios e mais tarde os srios e assrios.

    No sabemos se os leitores do Livro de Josu lucraro alguma coisa com as informaes dadas

    nesta introduo, mas o desejo do autor foi justamente o de facilitar esta compreenso, pois

    lhe parecia que levar o estudante pouco familiar com a histria da Conquista, assim de chofre,

    ao centro de operaes, sem um prvio conhecimento da terra, tornaria a compreenso umtanto difcil. Alm disso, tambm as lutas dos juizes para manterem as suas posies ao

    ocidente do Jordo pedem-nos algumas informaes da situao da terra depois da conquista.

    Pelo menos o autor considera-se desobrigado de maiores responsabilidades com respeito a

    informaes prvias conquista de Josu, objeto desta modesta obra. Para um estudo

    sofrvel, aconselhamos um bom mapa e especialmente um que contenha as divises da terra

    depois da partilha feita por Josu.

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    O ponto de partida para a conquista foi dado justamente desta regio que acabamos de

    estudar, a regio chamada terra dos amoritas, dos moabitas, dos amonitas. Foi aqui que

    Moiss fez a sua despedida e aqui foi sepultado por Deus. O povo estava agora bem

    descansado e bem nutrido com a fartura desta regio leste, e pronto para avanar rumo ao

    oeste da Palestina.

    (*) Esta introduo o ponto de partida para a conquista.

    NOTA. Os estudantes que desejarem uma informao completa da Palestina, devem ler, pelo

    menos, os primeiros sete captulos da obra de McKee Adams, traduo do autor, sob o nome A

    BIBLIA E AS CIVILIZAOES ANTIGAS.

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    INTRODUO

    1 . O Ato de Sucesso

    A substituio de Moiss por seu auxiliar imediato, Josu, representou o que se convencionaria

    chamar de Grande Crise. Efetivamente, substituir o lder inigualvel numa hora de grande

    expectativa, qual fosse a da entrada na terra prometida, no poderia ser entendida, em termos

    administrativos, de outro modo. Moiss era o organizador da nao. De um aglomerado

    humano, sem idias definidas, fez ele o que se conhece hoje como nao israelita. Foi seu

    legislador nico e inconteste. Todas as leis que iriam reger a novel nacionalidade, quer

    jurdicas quer morais ou religiosas, tinham sido elaboradas por ele. Foi ele o grande diplomata

    face ao governo egpcio. Em suas mos estivera o destino das promessas feitas a Abrao e a

    seus descendentes, do ponto de vista humano. Substituir um homem deste por um quase

    desconhecido, como Josu, era mesmo criar uma sria crise administrativa. At que ponto isto

    teria sido apreciado, no sabemos. Tudo se passou como no melhor dos mundos, na maiscalma e plcida situao. Parece at que a demisso de um e a nomeao de outro foram

    considerados f atos corriqueiros. Ns no podemos crer que assim fosse. As crnicas que nos

    legaram tanto Moiss mesmo como o seu sucessor do-nos a impresso que, quer um quer

    outro, eram simples mandatrios de um outro poder, acima de tudo.

    Ns fazemos a nossa apreciao dos fatos daqueles distantes dias como quem aprecia um fato

    coevo, normal, rotineiro. No era nada disso. Acima de Moiss e Josu estava o Grande

    Capito-General das hostes israelitas, e a maneira como havia agido por mais de 40 anos no

    meio do povo seria o bastante para que uma situao como esta fosse recebida como coisa

    normal. Havia, porm, algo de que ningum poderia ter dvida: Moiss fora proibido de

    entrar na terra pela qual tinha trabalhado e lutado tanto. Como que o povo receberia esse

    castigo, no sabemos. O pecado de Moiss talvez nem tivesse sido observado pelo mesmo

    povo. Uma coisa, que ns chamaramos insignificante, priva o grande lder de entrar na terra

    desejada e querida. Apenas por isto: em lugar de falar rocha, para que desse gua ao

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    povo, bateu nela com a vara. No tinha sido essa a ordem divina. Somente por isso foi

    punido com um castigo que s Deus pode precisar (Nm. 20:7-12). Por mais de uma vez

    Moiss pediu a Deus que revogasse a sua deciso de proibi-lo de entrar na terra , at que Deus

    mesmo se agastou e disse: "No me fales mais nisso" (Deut. 3:23-29).

    Depois da recusa, por parte de Deus, de conceder a Moiss o privilgio de entrar na terra,

    estava ele demitido do seu ofcio, sendo nomeado o seu sucessor, Josu (Deut. 3:28). Daqui

    em diante, todos os atos de Moiss eram realizaes de quem se despede de um pesado

    ofcio. Todavia, a no ser nesta orao a Deus, para lhe permitir entrar na terra, nenhuma

    recriminado, desgosto, ou qualquer outro gesto, se nota no grande homem de Deus. Como se

    tudo estivesse correndo a seu favor, continua na sua obra de realar a lei e os compromissosassumidos pelo povo perante ela. O autor gostaria de ver quantos homens, assim despedidos

    sumariamente, com apenas um deslize na sua vida, seriam capazes de chamar o seu substituto

    e prepar-lo para o encargo de fazer o povo entrar na terra. Se no tivssemos outros muitos

    motivos para admirar o carter de Moiss, este bastaria para o imortalizar. At o autor destas

    linhas sente pena de Moiss. Homem fiel, leal, esforado, corajoso que, num ato de ira, usou a

    sua vara para ferir a rocha, quando a ordem era falar rocha. Deus no foi glorificado naquele

    episdio, e isso foi o que decretou a demisso do grande lder. Coisa pequena,

    aparentemente, mas perante Deus no h coisas pequenas nem grandes: todas tm o mesmo

    tamanho. Ns no estamos em condies de apreciar devidamente o fato; limitamo-nos a

    mencion-lo. Nada mais.

    Tudo, daqui em diante, por parte de Moiss, convergiria para adestrar o seu substituto e

    capacit-lo, para o grande cometimento de atravessar o Jordo e entrar na terra prometida. O

    grande livro de Deuteronmio , pois, um livro de despedida, e veja-se, que grande despedida!

    Muitas e novas determinaes foram dadas por Deus, mas tudo em preparativo para a posse

    da terra. Parece que todos os ensinos de Deuteronmio visam apenas conduta do povo

    depois de entrar na "terra que mana leite e mel". Alguns comentadores tm visto neste livro

    uma outra lei. No h nada disso. H repetio da antiga lei dada no Sinai e sua interpretao

    prtica, no convvio entre os outros povos, junto aos quais passavam a viver. Era a prtica da

    lei ou a sua parte prtica. Bem vistas as coisas, podemos estudar o Deuteronmio como

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    apndice de xodo e introduo ao livro de Josu. Neste sentido, veremos, mais adiante,

    outra apreciao ao livro ora referido.

    (1)

    Para uma apreciao valiosa de Josu. veja-se International Standard Bible, artigo Josu.

    Idem Enciclopdia Britnica

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    2. O Cntico de Moiss

    No podemos nem devemos terminar esta apreciao ao grande servo de Deus, sem passar os

    olhos pelo captulo 32 de Deuteronmio. o Cntico de Moiss. No uma despedida

    sombria de um derrotado, mas o cntico da vitria de um grande lidador. "Inclinai os ouvidos,

    6 cus, e falarei; e Oua a terra as palavras da minha boca. . . Deus fiel e sem iniqidade;

    justo e reto ele" (Deut. 32:1 e 4b). Nenhum amargor se nota no esprito de Moiss, por ter

    sido preterido e demitido por Deus. Ele, afinal, era apenas um servo, e nada mais. Aceitou a

    sua tarefa tal como Deus a determinou. Se havia qualquer preocupao em seu esprito

    quanto ao final desta caminhada, no parece. Ele sabia que a obra no era sua, que tinha sido

    apenas um comissionado, para livrar o povo do cativeiro egpcio. E quando o Senhor da obra

    entendesse que estava terminada a sua tarefa, aceitaria, com dignidade, o seu afastamento e

    substituio. Nem sempre este o esprito que demonstramos em situaes crticas. Comonos informa do autor de F-ebreus, capitulo 11, Moiss era homem de f, desde o seu resgate

    nas guas do Nilo at agora. Este o seu retrato - Homem de F.

    3. A ltima Concesso

    Foi feita a Moiss uma grande e admirvel concesso: ver a terra de longe. Deus ordenou que

    subisse ao monte Nebo, defronte de Jeric, para ver toda a terra do outro lado do rio. Ele foi e

    viu; e poderia dizer, Venceu, parafraseando Csar. Ficou to encantado com o que viu,levantou a sua voz e abenoou o povo que iria possuir uma terra para a qual tanto ele tinha

    trabalhado (Deut. 33). No Estudo dos Livros de Nmeros e Deuteronmio, do autor, h muitas

    outras informaes, que no devem ser repetidas aqui, e as que agora se oferecem aos leitores

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    so apenas uma manifestao de apreo pelo grande lder israelita. Depois de ver a terra e

    admirar os seus contornos at onde a vista podia alcanar, e depois da bno proferida no

    captulo 33, despediu-se desta vida, deixando l embaixo o povo que lhe havia dado tantos

    desgostos e tantas alegrias. Com 120 anos no se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu

    o vigor (Deut. 34:7). Morreu por ter cumprido a sua tarefa e no por velhice. Deus mesmo

    preparou o enterro, no se sabendo at hoje onde foi sepultado. Judas, no seu breve livro, um

    s captulo, no verso 9, citando de um livro acannico, informa-nos da disputa entre Satans e

    o anjo Miguel, a respeito do corpo de Moiss. Porque Judas cita um livro no inspirado, Para

    nos dar este informe, no sabemos, seno que o enterro de Moiss teria sido alguma coisa

    fora do comum. A opinio do autor que toda a linguagem a respeito da morte e enterro de

    Moiss natural, mas no real. Moiss teria sido trasladado ao cu, como foi Elias, e isso no

    milita contra a linguagem que d Deus como o coveiro. O texto sagrado diz: "o sepultou num

    vale na terra de Moabe" (Deut. 34:6). Quando da transfigurao de Jesus no monte,

    apareceram Moiss e Elias falando com Ele. Por que Moiss e Elias? A interpretao que

    Moiss representava a Lei e Elias a Profecia; e o autor acrescentaria, mui reverentemente, que

    os dois foram levados ao cu sem passarem pela sepultura. Mas o texto diz expressamente,

    que Deus enterrou Moiss num vale na terra de Moabe. Para o historiador nada mais natural

    Moiss ser enterrado, e a tanto valia a sua subida ao cu, no caso de este humilde autor estarcerto. So maneiras de dizer uma mesma coisa. Estava assim encerrado um grande capitulo

    da histria de Israel e terminada uma grande vida.

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    4. O Sucessor

    Depois do luto de trinta dias, celebrado nas campinas de Moabe, Josu assumiu o posto, para

    o qual estava j devidamente preparado. No sabemos de alguma alternativa surgida entre o

    povo. Acostumado que estava a ouvir Moiss e terminando a sua carreira, muito

    naturalmente aceitou a nova situao. Deus se encarregou de intervir na situao criada.

    Apareceu a Josu e lhe deu as ordens, j antes dadas e agora confirmadas. Tomemos em

    considerao que Deus era o Senhor absoluto da situao. Era o chefe do povo. E isso tinha

    sido demonstrado por muitos modos e maneiras. No havia um rei a que algum sucedesse.

    Havia um chefe, de nomeao exclusiva de Deus. A ele caberia a orientao do curso a seguir.

    Deus, pois, deu as ordens a Josu, de como deveria proceder. Josu, por sua vez, falou aos

    chefes do povo, consoante o que ouvira de Deus e recebeu o apoio macio do mesmo povo.

    Estava, pois devidamente credenciado para a grande tarefa de passar o Jordo e empossar a

    nao na sua herana. Em 2060 antes de Cristo, Deus prometeu a Abrao a posse desta terra;

    em 1440 foi ratificada a promessa com a outorga da Lei; agora em 1400 cumprida a

    promessa. Algum perguntou ao autor que titulo jurdico o povo de Israel pode oferecer como

    detentor dos direitos Palestina. A resposta foi que toda a terra do Senhor, e a sua

    plenitude. Ele a d a quem quiser e a tira de quem quer. Deu a Palestina aos hebreus. Tinha o

    direito de a dar, porque era sua. No a deu aos rabes nem a outro qualquer povo, mas aos

    israelitas, descendentes de Abrao, e eles a possuiro sem qualquer dvida, haja o que houver.

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    5. Problemas Literrios do Pentateuco

    Antes de entrar no estudo do livro de Josu, convm examinarmos, mesmo ligeiramente, o

    problema literrio que afetou Josu, como o Pentateuco mesmo. Todo o sculo XIX foi

    consumido em divagaes literrias a respeito da autoria do livro de Josu e mesmo do

    Pentateuco, chegando os crticos alemes a tal ponto, em seus estudos, que nada faltou para

    desacreditar a Bblia totalmente. Um resumo das especulaes desses sbios o que vamos

    ver linhas adiante.

    1) Hiptese documentria (2)

    Em 1753, Astruc, um mdico francs, descobriu que o livro de Gnesis tinha sido composto de

    dois documentos diferentes usados por Moiss: num se usava o nome de Deus, Eloim; e no

    outro, o nome de Deus, Jeov. Astruc no tentou negar a autoria mosaica de Gnesis, mas

    apenas que ele teria usado dois documentos preexistentes. Daqui, deste ponto de partida,

    que surgiu a celeuma que envolveu a credibilidade do Pentateuco e de toda a Bblia mesma.

    Prosseguindo nesta anlise, descobriu ainda que Gnesis continha outros dez documentos

    menores. Um pouco mais tarde, em 1782, Eichorn, erudito alemo, publicou um trabalho

    intitulado "Introduo ao Velho Testamento", no qual no s apreciava as concluses de

    Astruc, mas as elaborava, oferecendo novas opinies sobre a composio do livro de Gnesis.

    De modo geral, mantinha-se ainda a autoria de Moiss para o livro de Gnesis, mas, pelas

    concluses a que Eichorn tinha chegado, j se podia vislumbrar, que em breve Moiss

    desapareceria da cena. Estava assim aberto o caminho para as mais extravagantes concluses,

    no apenas sobre Gnesis, mas sobre todo o Pentateuco. A estas concluses deu-se o nome

    de Hiptese Documentria. Vale dizer que Moiss teria usado duas ou mais fontes de

    informao na elaborao do seu grande primeiro livro.

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    (2)Veja Sylabus for the Old Testamet, J. R. Sampey e introduo do V. Testamento Trad. de

    Antnio N. de Mesquita, JUER 11 edio 1969.

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    2) Hiptese fragmentria.

    Alexandre Gudes, em 1800, publicou um trabalho em que decompunha no apenas o Gnesis,

    mas todo o Pentateuco, numa srie de pequenos documentos, sem ordem cronolgica, sem

    nexo e sem contedo histrico. Seguiram-se Vater, em 1802, e Hertmann, em 1831, tentando

    analisar a fundo a maneira como teriam surgido os livros do Pentateuco, e quem teria sido o

    seu autor, ou autores, pois a esta altura j Moiss no podia ser o autor de qualquer dos seus

    livros. Estava assim destruda toda a unidade interna do Pentateuco e toda a sua histria.

    Est-se num labirinto, cuja entrada e sada so desconhecidas. O que isso provocou nas

    universidades europias est longe de ser posto nestas pginas. Cada qual interpretava o

    assunto a seu modo, e os que antes tinham vivido e morrido na crena de que Deus tinha

    falado a Moiss e o levara a escrever estes livros estavam desarvorados. Os estudantes

    universitrios, especialmente, eram os mais afetados pela nova doutrina, pois tudo estava

    subvertido. Nem Moiss era autor de coisa alguma, nem se sabia quem poderia tomar o seu

    lugar. Um abismo chama outro abismo. Foi o que aconteceu. Rapazes e moas universitrios

    que haviam sado de suas casas abeberados nas doutrinas mosaicas estavam agora sem saber

    o que ou em que crer.

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    3) Hiptese suplementar

    No estado a que chegou o exame dos livros de Moiss, ningum mais se entendia. Em 1805

    de Wette escreveu um trabalho, que fez poca a respeito do Deuteronmio. Segundo as

    concluses deste critico, o Deuteronmio nem era de Moiss nem mesmo da sua poca. Teria

    sido forjado nos tempos do rei Josias, ou um pouco antes da sua notvel reforma Religiosa.

    Lembram-se os leitores da Bblia que este grande rei reformou a religio, que estava

    anarquizada, e atualizou o culto, dando-lhe as cores dos tempos de Salomo. Pois bem, algum

    elemento, piedoso ou no, teria escrito o Deuteronmio e o teria escondido no templo,

    nalgum canto, de modo que quando os operrios de Josias vasculhavam tudo, para proceder a

    uma limpeza em regra, descobriram este livro. Esta opinio, que se afigurava to fascinante,

    teve logo o apoio de outros no menos famosos crticos da Bblia, tais como Bleek, 1830, Tuch,

    1838, Stacheliw, 1843, e Knobel, 1852. Juntos deram o ltimo golpe em toda a tradio

    mosaica, e quem seria o cristo que poderia contestar as opinies destes ilustres luminares da

    cincia histrica? Segundo esta escola, os dois documentos Eloim e Jeov formariam a base de

    toda a literatura do Pentateuco, com os adendos e as alteraes, que veremos mais adiante.

    Mas logo se verificou que, separando os dois documentos, Elostico e Jeovstico, o que sobrava

    no tinha nexo nem sentido. Estava, assim, no apenas destruda a obra de Moiss, mas

    tambm os mesmos livros a ele atribudos, pois o problema no tinha sido simplificado, porm

    tremendamente complicado. O problema que eles criaram constituiu o seu calvrio. Era

    preciso, antes de tudo, achar uma conexo histrica, uma explicao, pelo menos, para toda

    esta diviso de documentos. Depois de tudo, se Moiss no foi o autor do Pentateuco se

    nem se sabia quem teria sido, porque a nenhuma das supostas sees componentes se havia

    dado autor, surgiu ento a linguagem de que tudo no passava da elaborao de uma ou de

    diversas escolas durante sculos, escolas que no apenas tinham preparado o Pentateuco, mas

    o mesmo livro de Josu pertencia a estas escolas. Logo no tnhamos um Pentateuco, mas um

    Exateuco.

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    Estes crticos sempre deram pouco valor ao pensamento dos outros. Pois como teria sido

    possvel admitir que o povo judeu, que deveria ter um pouco de memria, aceitasse um livro

    atribudo a Moiss, porm de quem jamais tinham ouvido falar? O rei Josias rasgou as suas

    vestes, quando ouviu ler no livro de Deus, as recomendaes dadas ao povo, julgando-se e a

    toda a nao como transgressores da lei de Deus. Ora, se Josias assim procedeu, porque

    verificou, junto com o povo, que estavam mesmo afastados da lei. Impingir a um rei e a uma

    nao um livro como sendo de Moiss, morto havia 770 anos, era qualquer coisa que no cabe

    na cabea de ningum. Para estes crticos, a conscincia de um povo, as suas tradies e os

    seus conhecimentos da histria antiga de nada valem.

    Em 1853 Hupfeld, tentando achar uma sada para o intrincado problema, escreveu que almdo Deuteronmio e da teoria Jeovstica e Elostica, havia mais outro documento. Eramento

    quatro. Para chegar a esta concluso dividiu o documento Elostico em dois, perfazendo assim

    o nmero de quatro. Dois Elosticos, um Jeovstico e um Deuteronmio. Na anlise do

    Pentateuco, era difcil determinar que parte pertenceria ao documento Jeovstico e que partes

    pertenceriam aos documentos Elosticos, porque, segundo os seus critrios de anlise, sempre

    sobrava alguma coisa, que nem pertencia a um documento nem a outro. Um verso, por

    exemplo, podia pertencer tanto a um destes documentos, como a dois ou mais. Para facilitar o

    exame, usaram ento letras designativas dos documentos em questo. O Elostico era

    representado pela letra E; o Jeovistico pela letra J, o Deuteronmio pela letra D, e o que

    sobrava de qua'Lquer destes documentos, pela letra P. Temos ento EJD sendo P

    representado pela escola de sacerdotes que teria forjicado o Pentateuco. De 1865 em diante,

    nem Levtico nem Nmeros eram mais atribudos a Moiss, e at se declarava que Moiss

    nunca existira. Era o cmulo da ousadia.

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    4) Impossvel uma apreciao.

    No cabe nesta breve apreciao uma anlise exaustiva de todo o curso seguido por estas

    diversas escolas atias. Estamos apreciando o livro de Josu e isto o que nos interessa. S

    damos esta breve explicao do problema por amor clareza. Mas o problema no estava

    resolvido. Verificando que, pela linguagem, certas expresses nem cabiam no documento E

    nem no J nem no ento inventaram uns redatores, ou seja, homens que durante sculos

    teriam modificado os documentos originais J E D. Assim teremos ER, JR, DR, PR, ou como

    outros escrevem: El, E2, Jl, J2, Pl, P2. O Pentateuco virou uma colcha de retalhos, cabendo

    muitas vezes um simples verso a duas ou trs escolas, que teriam manipulado o texto a seu

    modo. Face a estas concluses, nem Moiss existiu, nem Deus falou a ningum. Tudo era

    produto de escolas racionalistas, que se tinham encarregado de fabricar estes documentos.

    Especialmente, durante o cativeiro babilnico, a Escola de Sacerdotes, representada pela letra

    P1, P2, teve a parte principal na fabricao dos documentos, que depois vieram a ser

    atribudos a Moiss.

    Igualmente, tudo que cheirasse a milagres, "Assim disse Jeov", estava eliminado. Deus jamais

    falou a ningum, portanto, tais frases deveriam ser riscadas dos documentos. Era um cipoal

    em que no se tomava p. Um verso qualquer tinha frases atribuidas ao documento J, quando

    o documento era E. Ento tirava-se tudo que supostamente no concordava com o documento

    em questo; mas o que ficava no dava sentido. Assim se passou todo o resto do sculo XIX,

    procurando achar uma sada para o problema simples, que estes crticos tinham

    tremendamente complicado. O mal que causaram mente crist, especialmente mence

    estudantil, est longe de ser analisado. A Alemanha, luterana que era, tornou-se racionalista;

    e no nos devemos surpreender que ela tenha dado humanidade duas tremendas guerras.

    Quando Deus varrido das escolas, perto est, a nao, da sua runa.

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    (1) O estudante destas notas dispensar que se d maior exame ao problema critico do Velho

    Testamento. No se pode eliminar o sobrenatural da Bblia. Tal tentativa redundar em

    fracasso. Portanto, o Pentateuco no pode ser o resultado de uraa escola ou de meia dzia.

    claro em suas pginas que Deus falava a Moiss e a seus seguidores.

    (2) Igualmente no se pode creditar ao povo hebreu tamanha ignorncia aceitar livros como de

    Moiss, quando tal pessoa nem sequer existiu. O nome de Moiss enche todo o Velho

    Testamento, e todas as transgresses eram sempre aferidas base dos ensinos de Moiss.

    Isso, tanto durante a existncia da nacionalidade como depois. Como que se pretende sacar

    contra a mente de um povo tamanha ignorncia, no sabemos. Hoje, 3.500 anos depois de

    Moiss, este nome ainda enche a histria, tanto dos judeus como dos povos cultos do nosso

    sculo. Negar a existncia desse homem negar a histria dos povos cultos, pois a sua

    legislao encontra-se em todos os cdigos modernos. Os Dez Mandamentos nunca puderam

    ser ignorados, como no pode ser ignorada a histria antiga.

    (3) No princpio do sculo XIX, a arqueologia ainda no tinha nacido. A histria da Assria e de

    Babilnia, com suas conquistas dos povos ocidentais e orientais, era totalmente ignorada. Se

    esta histria fosse conhecida, estes homens teriam tido outro cuidado; no avanariam, como

    o fizeram, destruindo crenas e histria, exterminando personagens, como se fossem

    fantoches. O sculo dezenove era muito ignorante da histria antiga.

    Entretanto, quando um homem julga saber tudo, e ter o direito de desacreditar o que os

    outros crem, resulta em ser desacreditado pela mesma histria que ele contraditou.

    Estas notas, talvez dispensveis, so dadas a propsito da palavra exateuco, que muitos

    leitores encontraro em obras antigas e modernas. Ns no temos um Exateuco, um conjunto

    de seis livros, atribudos a grupos, mas um Pentateuco, atribudo a Moiss, e um Josu,

    atribudo a outro escritor. Os que desejarem maiores esclarecimentos sobre a critica

    racionalista, com referncia ao Pentateuco, leiam o livro Introduo ao Velho Testamento, da

    autoria de Clyde T. Francisco e traduo deste autor. (3)

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    (3)Os livros dos historiadores alemes no se encontram em portugus. S os que leem

    francs e ingls ou alemo podem consultar estas obras.

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    6. Autoria, Autenticidade e Data do Livro

    Infelizmente no se pode dizer muita coisa a respeito da autoria e data do livro ora em estudo.

    Parece certo que Josu nada escreveu. No que no estivesse capacitado para isso, porque

    bem possvel fosse um dos amanuenses de Moiss. Tambm o fato de os ltimos versos de

    Josu (24:29,30) se referirem sua morte no vale como argumento, porque tampouco

    Moiss poderia descrever a sua morte, como ocorre em Deuteronmio 34. Tanto Moiss

    como Josu poderiam ter os seus amanuenses. As razes que nos levam a no aceitar a

    autoria de Josu, do livro que traz o seu nome, so outras. A descrio dos fatos nele narrados

    parece distanciar-se muito do tempo em que ocorreram. Como veremos no estudo ora

    proposto, o livro retrata uma srie de ocorrncias, muitas vezes deslocada do contexto,

    parecen