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101 Revista da Fapese, v.3, n. 2, p. 101-116, jul./dez. 2007 Construção Civil e Mercado de Trabalho: Uma Análise Sócio-econômica no Nordeste em Aracaju-SE Denisia Araujo Chagas Tavares* A construção civil é uma atividade relevante para o desenvol vimento sócio-econômico. Tem capacidade de gerar rapida mente vagas diretas e indiretas no mercado de trabalho e ab- sorver elevado percentual de mão-de-obra, inclusive não-qualifica- da. O setor contribui com o crescimento econômico através do seu efeito multiplicador sobre o processo produtivo, além do represen- tativo nível de investimentos. Este artigo examina o mercado de trabalho na indústria da construção civil brasileira, com ênfase para região Nordeste e município de Aracaju, utilizando como principal fonte de informações a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego. Embora o setor da constru- ção tenha crescido nos últimos três anos, a construção civil opera muito abaixo de sua capacidade produtiva e de seu nível histórico de emprego. O pessoal ocupado é constituído basicamente de ho- mens entre 30 e 49 anos de idade, com reduzidos grau de instrução e nível salarial. A rotatividade elevada da força de trabalho é outra característica da construção civil. Este cenário indica a necessidade de efetuar mudanças nas relações com os recursos humanos, a fim de melhorar o desempenho sócio-econômico do setor. PALAVRAS-CHAVE: Mercado de Trabalho; Construção Civil; Aracaju-SE. * Economista. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe – UFS, Especialista em Desenvolvimento Econômico Local (UFS), professora voluntária do Departamento de Economia da UFS e titular da Faculdade São Luís de França. E-mail: [email protected]. Re s u m o

esumo A - FAPESE · o município de Aracaju. A principal fonte de infor-mações é a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do T rabalho e Emprego (MTE)

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101Revista da Fapese, v.3, n. 2, p. 101-116, jul./dez. 2007

Construção Civil e Mercado de Trabalho: Uma AnáliseSócio-econômica no Nordeste em Aracaju-SE

Denisia Araujo Chagas Tavares*

A construção civil é uma atividade relevante para o desenvolvimento sócio-econômico. Tem capacidade de gerar rapidamente vagas diretas e indiretas no mercado de trabalho e ab-

sorver elevado percentual de mão-de-obra, inclusive não-qualifica-da. O setor contribui com o crescimento econômico através do seuefeito multiplicador sobre o processo produtivo, além do represen-tativo nível de investimentos. Este artigo examina o mercado detrabalho na indústria da construção civil brasileira, com ênfase pararegião Nordeste e município de Aracaju, utilizando como principalfonte de informações a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS),do Ministério do Trabalho e Emprego. Embora o setor da constru-ção tenha crescido nos últimos três anos, a construção civil operamuito abaixo de sua capacidade produtiva e de seu nível históricode emprego. O pessoal ocupado é constituído basicamente de ho-mens entre 30 e 49 anos de idade, com reduzidos grau de instruçãoe nível salarial. A rotatividade elevada da força de trabalho é outracaracterística da construção civil. Este cenário indica a necessidadede efetuar mudanças nas relações com os recursos humanos, a fimde melhorar o desempenho sócio-econômico do setor.

PALAVRAS-CHAVE: Mercado de Trabalho; Construção Civil;Aracaju-SE.

* Economista. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelaUniversidade Federal de Sergipe – UFS, Especialista em DesenvolvimentoEconômico Local (UFS), professora voluntária do Departamento de Economiada UFS e titular da Faculdade São Luís de França. E-mail: [email protected].

Resumo

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Denisia Araujo Chagas Tavares

1 IntroduçãoA partir de 1990, a abertura comercial, a mudança

no papel do Estado e o controle da inflação, associa-dos a outros aspectos sócio-econômicos, provocaramprofundas transformações na estrutura produtiva doBrasil e, por conseguinte, no mercado de trabalho.

Este artigo examina a evolução do mercado de tra-balho na indústria da construção civil brasileira, comenfoque para região Nordeste e, particularmente parao município de Aracaju. A principal fonte de infor-mações é a Relação Anual de Informações Sociais(RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A análise focaliza a importância da construção ci-vil na geração de renda, a evolução do número deempresas e do emprego durante o período entre 2000a 2005, além do perfil sócio-econômico do trabalha-dor nesse setor, mostrando fatores como gênero, faixaetária, graus de instrução, remuneração e rotatividade.

2 Transições sócio-econômicas no Brasil e suasimplicações no mercado de trabalhoAs mudanças ocorridas no cenário sócio-econômico

no Brasil desde a década de 1990 repercutiram em alte-rações para o setor produtivo, o que por conseqüênciaafetou direta e indiretamente o mercado de trabalho.

O controle da inflação e a ausência de indexação,incluindo a adoção de uma política de câmbio flutu-ante que possibilitou a manutenção da estabilidade depreços contribuíram para modificações na estruturaprodutiva do Brasil.

Com a abertura comercial foi ampliada a concor-rência internacional junto às empresas nacionais, oque implicou em desafios para o mercado de trabalho,visto que o elevado nível tecnológico e as práticas ad-

ministrativas vindas do exterior empregam pouca mão-de-obra. A globalização dos mercados introduz umprocesso de inovação tecnológica que além de impactaro mercado de trabalho, traz efeitos para outras áreas,tais como o sistema educacional e de formação de “ca-pital humano” (Chahad, 2007).

O Estado modificou sua forma de atuar na econo-mia. Passou, paulatinamente de promotor direto daprodução pública e privada para agente fiscalizador eregulador da economia. Além disso, a diminuição datutela do Estado sobre as relações de emprego estimu-la as negociações coletivas que envolvem diretamenteempresas e trabalhadores.

Outra transição abordada por Chahad (2007) é apressão demográfica enfrentada pelo Brasil, já que suaherança demográfica aponta para um crescimento mé-dio anual da População Economicamente Ativa (PEA)1de 3,0%, responsável pela constante “onda jovem”,que enfrenta dificuldades para ser absorvida pelo se-tor formal.

Em suma, esse conjunto de mudanças na estrutu-ra produtiva do Brasil, ocorridas desde o início dosanos de 1990, associadas a outros aspectos socio-eco-nômicos, explicam as flutuações e tendência do em-prego formal.

3 A Construção Civil no Brasil, Nordeste e AracajuNo Brasil, há forte interdependência entre a

performance da indústria da construção civil e o de-sempenho da economia nacional, pois a construção,sendo sensível ao nível de renda e ao volume de cré-dito disponíveis, cresce em grande parte associada àexpansão do produto nacional, e concomitantementecontribui com o crescimento econômico, tendo em vistaseu considerável efeito multiplicador sobre o proces-so produtivo e o nível de investimentos.

1 A PEA é a população empregada e a que está procurando emprego. Ou seja, são as pessoas ativas integradas ao mercadode trabalho.

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Uma vantagem do setor da construção civil é o ín-fimo coeficiente de importação em comparação comoutros segmentos, já que utiliza capital, tecnologia einsumos predominantemente nacionais, não depen-dendo, em princípio, de financiamentos externos (CEE-CBIC, 2002).

3.1 A IMPORTÂNCIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA ECONOMIANa década de 70 ocorreu elevada expansão do Pro-

duto Interno Bruto (PIB) do Brasil, com crescimentoreal entre 6% e 14% ao ano. Nesse período a constru-ção civil também apresentou expansão espetacular, vis-to que cresceu a uma taxa real de 10,3%. A participa-ção relativa do setor na composição do PIB aumentoude 5,8%, em 1970, para 7,3%, em 1980 (CEE-CBIC,1998).

A década recessiva de 80 contribuiu para a desa-celeração das atividades da construção civil no Bra-sil entre os anos 1981-1992, sendo a taxa de cresci-mento real do PIB da construção negativa (-1,65%).Somente com a euforia trazida pela implantação doPlano Cruzado nos anos de 1985 e 1986 é que foi

rapidamente interrompido esse processo de crise(CEE-CBIC, 1998).

O quadro muda a partir de 1993, quando o PIBsetorial voltou a expandir, principalmente após a im-plantação do Plano Real em 1994. Entre 1993 e 1997,a taxa de crescimento real média do PIB Construçãofoi de 5%. A estabilização promovida pelo Plano Realteve impacto positivo modesto para a construção ci-vil. O setor apresentou taxa de expansão acumuladaentre junho de 1994 e junho de 2002 de 11,8%, cres-cendo a uma média anual de apenas 1,4%.

O peso das Grandes Regiões brasileiras no ValorAdicionado Bruto (VAB) da construção civil registrafortes disparidades (gráfico 1). O Sudeste concentrou,em 2004, mais de 52% da participação no VAB, o Nor-deste teve a segunda maior participação. Essas regiõesreduziram suas participações em benefício das regiõesNorte e Centro-Oeste no período entre 1998 a 2004. Aregião Sul manteve suas taxas relativamente estáveis,não oscilando mais do que 0,5%. Tomando como refe-rência o primeiro e últimos anos, nota-se que apenaso Norte e Centro-Oeste aumentaram suas participa-ções na composição do VAB nacional.

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil (2003; 2006). Elaboração Própria.

Gráfico 1 - Brasil: Participação da Construção no Valor Adicionado Bruto Nacional,segundo Regiões (1998-2004)1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Nordeste 18,6 18,3 17,2 16,9 16,8 16,5 16,8Norte 4,8 4,9 5,3 6,6 7 7,2 7,4Sudeste 54,6 55,1 54,7 53,4 53,1 52,6 52,5Sul 16,4 16,2 16,1 16,1 16,1 16,6 16,2Centro-Oeste 5,6 5,5 6,6 6,9 7 7,1 7,1

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Denisia Araujo Chagas Tavares

Em 2003, a construção civil representou 7,2% doPIB nacional, equivalente a R$ 126,2 bilhões, contri-buindo em mais de 30% para o modesto crescimentode 0,54% do PIB naquele ano (DIMAC – IPEA, 2004).Segundo previsões do DIMAC – IPEA (2005), o setorreduziu sua representatividade nos dois anos seguin-tes, com 5,8% e 1,3%, respectivamente. A variaçãoanual acumulada do PIB nacional em 2004 foi de 4,9%,reduzindo o crescimento para 2,3% no ano seguinte.

Essa queda do PIB Construção em 2005 explica-sepor dois principais motivos, o primeiro foi o atraso nadefinição dos marcos regulatórios em importantes seg-mentos econômicos como energia, portos e estradas, eo segundo foi a redução de gastos públicos. Em con-junto, essas restrições concorreram para o atraso deobras de infra-estrutura, segmento que viria dinami-zar o setor no início de 2005. Quanto à questão habita-cional, embora tenham sido disponibilizados mais re-cursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço –FGTS e poupança, inexistiu, até aquele momento, umdirecionamento efetivo para a população de baixa ren-da, em que há maior demanda reprimida. Ademais,esses recursos não necessariamente foram destinadospara novos imóveis, sendo utilizados para compra deimóveis usados, terrenos ou material de construção,não beneficiando, portanto, as construtoras (DIMAC– IPEA, 2005).

Em 2006, com a economia brasileira apresentandocrescimento moderado de 3,7%, a construção civil me-lhorou sua participação no PIB (4,6%), conformeDIMAC-IPEA (2007). O crescimento de 2006, levou osetor a comemorar três anos seguidos de resultadospositivos que o colocam no melhor patamar desde oPlano Real (Ver gráfico 2).

A expansão dos últimos anos resultou, em boa par-te, da evolução favorável do segmento de edificaçõesresidenciais, com pouca repercussão ainda sobre proje-tos de infra-estrutura, seja por novos incentivos à cons-trução, tal como a desoneração dos materiais de cons-trução via redução de Imposto sobre Produtos Industri-alizados (IPI), seja pelo aumento do crédito habitacionalnum cenário de juros em queda, visto que o ano de2006 teve uma oferta recorde de crédito – R$ 18 bilhões– para a construção habitacional. Esses recursos foramprovenientes de várias frentes, tais como poupança,FGTS, mercado de capitais, orçamento e BNDES – Ban-co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Aexpectativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplica-da - IPEA era a de que o setor chegaria ao final de 2006com cerca de R$ 9,5 bilhões de recursos da poupançacanalizados para a habitação, financiando mais de 100mil unidades no ano (DIMAC – IPEA, 2006; Castelo,2006). O crescimento da renda foi um fator adicional nofortalecimento da demanda por novos empréstimos.

Gráfico 2 - Brasil: Variação Anual do PIB e do PIB da Construção Civil (2003-2007)Fonte: IBGE apud IPEA/DIMAC (2006), Boletim de Conjuntura. Elaboração Própria.Nota: * Previsão: IPEA/DIMAC.

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O IPEA estima crescimento de 4,3% do PIB em2007 e estável participação da construção civil na for-mação do produto nacional, com taxa de 4,5% (DIMAC– IPEA, 2007).

Em suma, a despeito do novo ciclo de expansãoiniciado nos últimos anos, a construção civil operouaté 2006 ainda muito abaixo de sua capacidade pro-dutiva e de seu nível histórico de emprego. O nívelrelativamente baixo de atividade do setor em todo operíodo deve-se, sobretudo, à interrupção do fluxo dedestinação de recursos para os gastos públicos, comoum todo, dado que as obras e investimentos públicossão responsáveis por substancial parte da demandado setor.

Em 2007, o segmento de edificações deve continu-ar dinamizando o setor. Além do volume de recursosque estará disponível em 2007 para a construção sermuito significativo e ligeiramente maior que o de 2006.Contudo, impõe-se a necessidade de elevar os investi-mentos em saneamento, transporte e energia, tendoem vista que os gargalos impostos pela falta de inves-timentos na área de infra-estrutura impedem um cres-

cimento sustentado do PIB brasileiro a taxas superio-res a 4%. O discurso do governo, notadamente na es-fera federal, mostra a preocupação em viabilizar o cres-cimento brasileiro em várias frentes, sendo considera-da a construção civil um dos setores-chave (Castelo,2006). Visto que esse setor é capaz de estimular omercado interno, o que amplia os investimentos e ele-va o nível de emprego e o bem-estar social.

A construção civil é uma importante atividade eco-nômica em Sergipe, fonte geradora de emprego e ren-da. Sergipe manteve, com pequena oscilação, a parti-cipação no VAB nacional no período entre 2001 a 2004(Gráfico 3). Entre 2001 a 2004, a participação dessesetor no VAB nacional não teve mudança, enquantono VAB estadual constatou-se redução. Em 2004, oVAB da construção de Sergipe foi da ordem de R$471,2 milhões.

Vale informar que a participação desse setor no PIBestadual subiu bastante em 2005 e 2006, pois somentecom a construção da ponte que liga Aracaju ao muni-cípio da Barra dos Coqueiros-SE foram gastos mais deR$ 100 milhões.

Gráfico 3 - Sergipe: Participação no VAB e no VAB da Construção (2001-2004)Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil (2003; 2006). Elaboração Própria.

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3.2 DISTRIBUIÇÃO DE EMPRESAS E EMPREGOS NA CONSTRUÇÃOCIVILA indústria da construção civil tem importante

participação no desenvolvimento sócio-econômico,visto que é capaz de criar rapidamente vagas diretas eindiretas no mercado de trabalho e absorver significa-tivo percentual da mão-de-obra (inclusive não-qualifi-cada). Para cada um milhão de reais a mais aplicadosna produção do setor, 29 novos postos de trabalhosão criados diretamente. E para cada 100 empregosdiretos são gerados 21 novos empregos indiretos e 47novos empregos induzidos (CEE-CBIC, 2002).

É importante ressaltar o poder que o setor possuipara gerar e distribuir renda, que se dá em termos damassa salarial criada e da cadeia de relações interseto-riais que o mesmo provoca. A construção é, em mé-dia, responsável por 6% dos salários pagos na econo-mia e por 12,8% dos rendimentos dos trabalhadoresautônomos (CEE-CBIC, 2002).

No Brasil, o número de estabelecimentos formais naindústria da construção reduziu de 0,2 no período en-tre 2000 a 2005 (Tabela 1). O ano no qual a construçãocivil elevou mais o número de estabelecimentos foi 2002.

O crescimento relativo de 13,8% no total de traba-lhadores na construção civil no período entre 2000 a2005 foi superior ao de estabelecimentos, conformeilustra a Tabela 2.

Em 2005, existiam na construção civil 96.662 em-presas no Brasil, as quais foram responsáveis pelaocupação formal de 1.245.395 pessoas. Aproximada-mente 97,9% dessas empresas eram de micro e peque-no portes, que empregavam até 99 trabalhadores. Éinteressante informar que mais de 74,3% destas em-presas estavam nos segmentos de edificações e obrasde engenharia civil (RAIS, 2005).

No contexto regional, a distribuição das ativida-des produtivas da construção é heterogênea no Bra-sil. As regiões Sudeste e Sul representaram juntasmais de 72% das empresas da construção civil noperíodo entre 2000 a 2005 (Tabela 1). O Nordeste tevea terceira maior participação nos estabelecimentos daconstrução, a partir de 2002 conseguiu elevar suaparticipação para 16% e tem mantido esta taxa. OCentro-Oeste e Norte apresentaram tendência de cres-cimento em seus índices, contudo, em 2005, conti-nuaram nos últimos lugares, com 8% e 4%, respecti-vamente.

Tabela 1 - Brasil: Número de Estabelecimentos Formais na Construção Civil, segundo Regiões, Estado e MunicípiosSelecionados (2000-2005)

Abrangência Geográfica Número de Estabelecimentos2000 2001 2002 2003 2004 2005

Brasil 96.867 97.738 102.039 97.190 96.604 96.662Norte 3.093 3.319 3.900 3.614 3.825 3.870Sudeste 51.198 50.686 51.550 48.756 47.935 48.052Sul 22.175 22.211 22.979 22.524 22.534 22.135Centro-Oeste 5.967 6.387 7.053 6.791 7.233 7.474Nordeste 14.434 15.135 16.557 15.505 15.077 15.131

Sergipe 840 832 947 879 884 907Aracaju 591 557 613 570 544 515Grande Aracaju 669 644 742 686 682 674Barra dos Coqueiros 10 10 13 8 11 8Nossa Senhora do Socorro 41 48 72 61 71 93São Cristóvão 27 29 44 47 56 58Fonte: RAIS (2000; 2001; 2002; 2003; 2004; 2005) – MTE. Elaboração própria

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O total de estabelecimentos da construção emSergipe cresceu relativamente 8% no período entre2000 a 2005 (Tabela 1). Enquanto Aracaju teve redu-ção na criação de empresas de 12,9%, com o encerra-mento das atividades de 76 estabelecimentos no perí-odo entre 2000 a 2005. O inverso ocorreu na chamadaGrande Aracaju, onde são agregados a Aracaju osmunicípios da Barra dos Coqueiros, Nossa Senhorado Socorro e São Cristóvão, que apresentou taxa decrescimento de 0,7% no período em análise. É impor-tante ressaltar que embora Aracaju tenha reduzido suarepresentatividade de 70,4% para 56,8% no períodoentre 2000 a 2005, continua sendo o município quetem a maior participação estadual, inclusive possui asmaiores empresas do setor.

A tendência constante de redução na participaçãoda capital no total de empresas da construção situadasno Estado pode ser explicada, entre outros fatores, pelacarga tributária de Aracaju que é superior a outros mu-nicípios circunvizinhos que formam a Grande Aracaju.Desse modo, as empresas transferem sua localização,com o intuito de pagar menos impostos. Essa tendên-cia tornou-se mais evidente no período entre 2002 a2005, em que foi ampliado, significativamente, o nú-mero de estabelecimentos em Nossa Senhora do Socor-ro e São Cristóvão. O total de empresas da construçãonestes dois municípios apresentou taxas de crescimen-to de 126,8% e 114,8%, respectivamente, no períodoentre 2000 a 2005, índices esses, bem superiores aosencontrados em Sergipe, Aracaju e Grande Aracaju.

No que tange ao estoque de trabalhadores na cons-trução civil brasileira, segundo Tabela 2, as regiões

que apresentaram crescimento relativo elevado no pe-ríodo entre 2000 a 2005 foram Centro-Oeste e Norte(25,3% e 25,1%, respectivamente), Nordeste cresceu4,8%, Sul reduziu 0,2% e Sudeste reduziu 6,1%.Mesmo com esse bom desempenho do Centro-Oeste eNorte, a distribuição de empregados em 2005 conti-nua concentrada no Sudeste (53,9%), seguida peloNordeste (18,7%).

Em 2005, a indústria da construção na região Nor-deste tinha 15.131 estabelecimentos, que empregavamformalmente 233.401 pessoas, em que 97,2% dessasempresas eram de micro e pequeno portes, as quaisempregavam até 99 trabalhadores. Seguindo a tendên-cia nacional, constatou-se que 83,9% destes estabele-cimentos estavam nos segmentos de edificações e obrasde engenharia civil (RAIS, 2005).

Existiam na construção civil sergipana 907 empre-sas cadastradas nessa atividade no ano de 2005, res-ponsáveis pela ocupação formal de 13.484 trabalha-dores. Vale ressaltar que 97% dessas empresas eramde micro e pequeno portes, ou seja, empregavam até99 trabalhadores. Os segmentos de edificações e obrasde engenharia civil respondiam por quase 88,9% des-sas empresas (RAIS, 2005).

No contexto municipal, os dados da RAIS (2005)ilustram freqüência similar à encontrada em Sergipe,no que se refere aos tamanhos das empresas nessemesmo ano, com 96,5% empregando até 99 funcioná-rios. Além da presença marcante dos segmentos deconstrução de edifícios e obras de engenharia civil emAracaju (89,7%).

Tabela 2 - Brasil: Número de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundo Regiões (2000-2005)

Regiões 2000 2001 2002 2003 2004 2005Norte 50.653 58.086 54.687 47.785 59.394 62.840Nordeste 208.622 213.980 208.486 195.097 209.000 233.401Sudeste 581.775 588.875 585.339 556.372 583.053 671.730Sul 170.585 178.459 172.307 165.873 173.216 177.626Centro-Oeste 82.893 93.555 85.531 83.124 93.907 99.798Brasil 1.094.528 1.132.955 1.106.350 1.048.251 1.118.570 1.245.395Fonte: RAIS (2000; 2001; 2002; 2003; 2004; 2005) – MTE. Elaboração própria

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Denisia Araujo Chagas Tavares

3.2.1 PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DO TRABALHADOR NACONSTRUÇÃO CIVILA indústria da construção civil demanda elevado

contingente de empregados pouco qualificados. Porconta disso, exerce um papel social importante numpaís em desenvolvimento como o Brasil, que tem umamassa crítica de trabalhadores economicamente ativos,mas com baixo nível de instrução, e que não seriamabsorvidos no mercado de trabalho em tarefas maisespecializadas e qualificadas (CEE-CBIC, 2002).

GêneroA mão-de-obra masculina sempre predominou na

construção civil, sendo 1.159.587 homens empregadosno setor em 2005. O sexo feminino totalizou somente85.808 mulheres (RAIS, 2005). As mulheres são empre-gadas notadamente em funções administrativas e de mai-or qualificação, já que têm nível de instrução maior doque os homens empregados no setor (CEE-CBIC, 2002).

As regiões brasileiras seguem a tendência nacional,haja vista que todas possuem uma participação mascu-lina significativa no total de trabalhadores no ano de2005, nunca inferior a 92,2%. O sexo feminino nãorepresenta mais do que 7,9% dos empregados na cons-trução civil. Na região Nordeste a participação dos ho-mens foi de 93,9% e das mulheres 6,1% (gráfico 4).

No período entre 2000 a 2005, conforme Tabela 3,a taxa de crescimento do número de empregados for-mais na construção civil em Sergipe foi de 22,2%,quase três vezes maior que a de estabelecimentos esuperior que as de trabalhadores nacional (13,8%) enordestina (11,9%). Em Aracaju, o número de empre-gados reduziu 4,3% no período entre 2000 a 2005. AGrande Aracaju teve crescimento de 13,5% no perío-do em análise, devido ao incremento considerável noestoque de trabalhadores em Nossa Senhora do So-corro (286,7%) e São Cristóvão (131,9%). Contudo, éinteressante assinalar que Aracaju, embora apresenteviés de redução no total de pessoas com empregosformais na construção, continuou concentrando sozi-nha 64,3% no ano de 2005, enquanto Nossa Senhorado Socorro e São Cristóvão registraram 12,7% e 5,9%,respectivamente.

O sexo masculino sempre prevaleceu no totalde funcionários da construção, tanto em Sergipecomo em Aracaju, seguindo as tendências nacio-nal e nordestina. No período analisado na Tabela3, o total de homens cresceu 24,2% em Sergipe ediminuiu 2,8% em Aracaju. A taxa de crescimentodas mulheres reduziu tanto no Estado (-1,2%) comono município (-20,2%). Em 2005, o sexo masculi-no representava aproximadamente 93% da mão-de-obra ocupada no setor, seja em Sergipe ou emAracaju.

Gráfico 4 - Brasil: Distribuição de Empregados Formais na Construção Civil, segundo Gêneros e Regiões (2005)

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Faixa Etária

A faixa etária predominante na construção civilbrasileira estava entre 30 e 49 anos de idade (53,2%)no ano de 2005. Para as cinco regiões geográficas, ocomportamento relativo à faixa etária repetiu o obser-vado nacionalmente, sem taxas inferiores a 52,4% (ta-bela 4). O Nordeste apresentou a maior taxa (54,9%).

Na construção civil sergipana e aracajuana a faixaetária que se destacou foi entre 30 e 49 anos de idade(54,8% e 55,6%, respectivamente), conforme consta-tado no Brasil e Nordeste. Os funcionários formaiscom até 17 anos de idade e mais de 65 anos represen-tavam somente 0,4% e 0,3% do total de empregadosem Sergipe e Aracaju, respectivamente. Segundo aTabela 4, as demais idades tiveram a seguinte partici-pação: 32,4% (Sergipe) e 31% (Aracaju) entre 18 e 29anos e 12,4% (Sergipe) e 13,1% (Aracaju) entre 50 e64 anos.

Grau de instrução

O nível de escolaridade dos trabalhadores formaisda construção civil é baixo, todavia se observou avançonos últimos anos. Em 2000, mais de 75% dos empre-gados tinham cursado o ensino fundamental, sejaincompleto (37%) ou completo (38,4%). Já em 2005,esse índice caiu para 67,8%. Outro aspecto positivofoi a redução do número de analfabetos no setor du-rante o período entre 2000 a 2005, diminuindo de2,7% em 2000 para 1,3% em 2005 (RAIS 2000; 2005).

A melhora no grau de instrução no setor tambémocorreu nas faixas de escolaridade mais elevadas. Em2000, 5,4% dos trabalhadores tinham o ensino médioincompleto; outros 11,4% completo. Quanto ao ensi-no superior, 1,4% não tinham concluído e 3,8% ti-nham o ensino superior completo. Estes percentuaisem 2005 eram de 6,9%; 18,5%; 1,6% e 3,9%, respec-tivamente (RAIS 2000; 2005).

Tabela 3 - Sergipe, Aracaju e Grande Aracaju: Número de Empregados Formais na Construção Civil, segundo Gêneros(2000-2005)

Abrangência Geográfica Gênero Ano2000 2001 2002 2003 2004 2005

Sergipe Total 11.031 11.983 12.995 12.998 13.447 13.484Homens 10.171 11.120 12.153 12.054 12.530 12.634Mulheres 860 863 842 944 917 850

Aracaju Total 9.056 90.397 18.141 1.390 9.193 8.670Homens 8.298 8.642 9.186 663 8.470 8.065Mulheres 758 755 8.955 727 723 605

Grande Aracaju Total 9.874 10.515 19.799 3.116 11.874 11.210Homens 9.074 9.703 10.732 2.247 11.009 10.437Mulheres 800 812 9.027 869 865 773

Barra dos Coqueiros Total 30 31 34 34 23 27Homens 29 31 33 33 21 25Mulheres 1 0 1 1 2 2

Nossa Sra do Socorro Total 443 433 744 741 1.584 1.713Homens 425 400 964 972 1.488 1.581Mulheres 18 33 50 69 96 132

São Cristóvão Total 345 654 880 951 1.074 800Homens 322 630 819 879 1.030 766Mulheres 23 24 67 72 44 34

Fonte: RAIS (2000; 2001; 2002; 2003; 2004; 2005) – MTE. Elaboração Própria.

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No contexto regional, também se constatou melho-ra no nível de escolaridade observada no país. Pro-porcionalmente, a região Sul apresentou o menor nú-mero de trabalhadores analfabetos (0,9%), o maiorpercentual de trabalhadores com o ensino fundamen-tal completo (38%) e cursando o nível superior (2%).O Norte foi a região que mais teve trabalhadores comensino médio, seja incompleto (8,7%) ou completo(20,3%). O maior número de empregados com nívelsuperior está presente na região Sudeste (41.969), con-forme tabela 5.

O Nordeste apresentou taxas ruins de escolarida-de do pessoal ocupado formalmente em 2005. Foi aregião geográfica que teve o maior índice de analfabe-tismo na construção (2,3%), taxa esta, superior à naci-onal (1,3%). Somente 31% dos empregados tinhamensino fundamental completo, apenas 6,3% estavam

cursando o ensino médio e 4,1% cursavam o nívelsuperior incompleto (1,2%) ou completo (2,9%).

Em todas as abrangências geográficas analisadas nográfico 5 nota-se que o nível de escolaridade dos traba-lhadores formais da construção civil é baixo. Observou-se pequeno avanço nos últimos anos em Sergipe, cain-do de 75,2% (2000) para 74,8% (2005) o total de pessoalcursando o ensino fundamental (incompleto e comple-to). Já em Aracaju ocorreu o oposto, nos mesmos anos,esse índice sofreu elevação, passando de 74,7% para 78%.Segundo levantamentos da RAIS (2000; 2005), o númerode analfabetos no setor no período entre 2000 a 2005,reduziu em ambas as localidades, baixando de 4% para1,7% no Estado, sendo a queda em Aracaju de 3,8%para 1,5% em 2005, essas taxas estão relativamente boasse comparadas à regional (2,3%) nesse mesmo ano, em-bora ainda sejam maiores que a nacional (1,3%).

Trabalhadores por Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Sergipe AracajuFaixa Etária OesteAté 17 anos 3.355 135 294 1.680 853 393 6 4De 18 a 24 anos 195.028 10.605 35.030 106.619 27.186 15.588 2.046 1.230De 25 a 29 anos 215.360 12.086 42.722 115.518 27.464 17.570 2.328 1.461De 30 a 39 anos 380.220 19.563 75.664 201.459 52.506 31.028 4.284 2.779De 40 a 49 anos 282.785 13.342 52.454 152.137 43.109 21.743 3.111 2.042De 50 a 64 anos 161.795 6.878 26.422 90.213 25.510 12.772 1.666 1.134A partir de 65 anos 6.843 230 811 4.102 996 704 43 20Ignorado 9 1 4 2 2 0 0 0Total 1.245.395 62.840 233.401 671.730 177.626 99.798 13.484 8.670 Fonte: RAIS (2005) – MTE. Elaboração própria.

Tabela 4 - Brasil: Número de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundo Faixas Etárias e Regiões (2005)

Fonte: RAIS (2005) – MTE. Elaboração própria.

Tabela 5 - Brasil: Número de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundo Graus de Instrução e Regiões (2005)

Regiões Analfabeto Ens. Fund. Ens. Fund. Ens. Médio Ens. Médio Superior Superior Incomp. Comp. Incomp. Comp. Incomp. Comp.

Norte 712 21.888 19.451 5.442 12.730 798 1.819Nordeste 5.351 86.491 72.370 14.818 44.777 2.882 6.712Sudeste 6.809 202.792 254.065 42.760 123.335 11.053 30.916Sul 1.589 54.291 67.452 14.715 30.673 3.582 5.324Centro-Oeste 1.275 32.575 32.878 8.322 18.826 1.746 4.176Brasil 15.736 398.037 446.216 86.057 230.341 20.061 48.947

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Quanto aos graus de instrução mais elevados, ostrabalhadores com ensino médio (incompleto e com-pleto) tiveram uma melhor participação no ano de 2005em relação a 2000, pois 15,1% tinham tal grau nesteúltimo ano, seja em Sergipe ou em Aracaju, elevandoo percentual para 18,9% (Estado) e 15,7% (Municí-pio) em 2005. A participação de trabalhadores comnível superior (incompleto e completo) na construçãocivil apresentou involução em Sergipe e Aracaju, re-duzindo, respectivamente, de 5,7% e 6,4%, em 2000,para 4,6% e 4,8%, em 2005 (RAIS 2000; 2005).

Na pesquisa de campo realizada por Melo et al.(2004) junto às empresas do macrocomplexo da cons-trução civil da Grande Aracaju, constatou-se que 81,7%desses estabelecimentos realizavam treinamento comseus empregados, com as seguintes freqüências: rara-mente (29,5%), freqüentemente (38,6%) e sempre(13,6%). Entretanto, 59,1% nunca realizaram ou enca-minharam seus trabalhadores para cursos de elevaçãoda escolaridade. Além disso, 81,8% das empresaspesquisadas sempre fazem a identificação de perfis pro-fissionais e definição de competências (seja com fre-qüência rara, habitual ou constante), segundo gráfico 6.

Como resultado positivo dos processos de trei-namento e aprendizagem dos recursos humanosocorreu melhora na utilização de técnicas produti-vas, equipamentos, insumos e componentes em maisde 52% das empresas (ver gráfico 7). Também fo-ram significativos os índices referentes à maiorcapacitação do pessoal ocupado para realização demodificações e melhorias em produtos e proces-sos, maior conhecimento sobre as característicasdos mercados de atuação da empresa, melhorcapacitação administrativa e melhor capacitaçãopara desenvolver novos produtos e processos. Em-bora, o que chama atenção para este último resul-tado é que outras empresas (34,1%) informaram quenunca ocorreu melhora na capacitação para desen-volver novos produtos e processos (Melo et al.,2004).

Outro ponto positivo levantado na pesquisa reali-zada por Melo et al. (2004) foi o desenvolvimento dealgum programa de Qualidade Total, em que 75% dosestabelecimentos realizam esse tipo de programa, mos-trando uma preocupação das empresas nas relaçõescom os recursos humanos.

Gráfico 5 - Brasil, Nordeste, Sergipe e Aracaju: Distribuição de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundo Nívelde Escolaridade (2005)Fonte: RAIS (2005) – MTE. Elaboração própria.

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Remuneração média

A baixa remuneração média existente na indústriada construção civil brasileira deve-se, entre outros as-pectos, ao pequeno nível de instrução da mão-de-obraempregada, a reduzida qualificação exigida para di-versas atividades do setor, além das condiçõesmacroeconômicas do país. É interessante informar queno Brasil, segundo Ulyssea (2005), o ensino secundá-rio eleva em 11% os rendimentos dos trabalhadoresformais. No caso do ensino superior, a taxa de retornocorresponde a 62% para os empregados formais.

No Brasil, aproximadamente 74% do estoque detrabalhadores empregados formalmente na construçãocivil em 2005 recebiam até 3 salários mínimos, dosquais 562.428 ganhavam até 2 salários mínimos (Grá-fico 8). O total de trabalhadores que percebia remune-

Gráfico 6 - Grande Aracaju: Relação dos Empregadores com os Recursos Humanos na Construção Civil (2004)Fonte: Melo et al. (2004). Elaboração própria.

ração média mensal acima de 10 salários mínimos nãopassou de 32.333 (tabela 6).

O nível baixo de remuneração também está presen-te nas regiões geográficas. O Sudeste apresentou umaremuneração média pouco melhor, com 3,4% de seustrabalhadores no setor recebendo mais de 10 saláriosmínimos. A região Nordeste apresentou a pior distri-buição salarial do país, em que 196.328 pessoas (ou84,1%) dos empregados da construção civil recebiamaté 3 salários mínimos, enquanto no Sudeste estepercentual cai para 68,4% (tabela 6).

Como visto anteriormente, Sergipe e Aracaju pos-suem baixo nível de escolaridade do pessoal ocupadoformalmente na construção civil. Isso juntamente comas condições macroeconômicas, explicam a baixa re-muneração média existente nessas localidades.

Gráfico 7 - Grande Aracaju: Resultado dos Processos de Treinamento e Aprendizagem dos Recursos Humanos na ConstruçãoCivil (2004)Fonte: Melo et al. (2004). Elaboração própria.

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Em Sergipe, aproximadamente 88,9% do estoquede trabalhadores empregados na construção civil em2005 recebiam até 3 salários mínimos, dos quais 10.602ganhavam até 2 salários mínimos (tabela 6). O estoquede pessoal ocupado que percebia remuneração médiamensal acima de 10 salários mínimos foi de 174 pes-soas, ou seja, apenas 1,3%.

O nível baixo de remuneração de Aracaju é piorque o de Sergipe. No município, 91% dos emprega-dos da construção civil recebiam até 3 salários míni-mos (7.982 pessoas), enquanto no Brasil e Nordesteeste percentual caiu para 65,6% e 84,1%, respectiva-

mente. Foi ínfima a participação de pessoas perceben-do mais de 10 salários mínimos no setor em Aracaju,não passando de 0,8% do total de trabalhadores.

Rotatividade

A mão-de-obra da indústria da construção civilpossui rotatividade bastante elevada. Os dados daRAIS ilustram que mais de 56% dos trabalhadoresno país, em 2005, não completaram sequer um anode permanência no emprego. Inclusive, 37,5% des-sas pessoas estavam na faixa de tempo de empregoaté 5,9 meses.

Tabela 6 - Brasil: Número de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundo Remunerações Médias, por Regiões,Estado e Município Selecionados (2005)

Fonte: RAIS (2005) – MTE. Elaboração própria.

Abrangência Até 2 De 2,01 De 3,1 a 5 De 5,1 a 10 Mais de 10 Ignorado TotalGeográfica a 3,00Brasil 562.428 352.785 191.947 90.278 32.333 15.624 1.245.395Norte 33.653 15.144 8.741 3.763 1.084 455 62.840Sudeste 249.657 209.261 120.523 59.735 22.808 9.746 671.730Sul 73.163 60.248 28.594 10.405 2.599 2.617 177.626Centro-Oeste 50.276 27.483 12.972 6.108 2.172 787 99.798Nordeste 155.679 40.649 21.117 10.267 3.670 2.019 233.401Sergipe 10.602 1.388 731 465 174 124 13.484Aracaju 7.152 740 361 245 68 104 8.670

Gráfico 8 - Brasil: Distribuição de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundo Remuneração Média (2005)Fonte: RAIS (2005) – MTE. Elaboração própria.

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Observou-se que a mesma tendência nacional re-ferente ao tempo permanência no emprego estevepresente nas regiões (tabela 7). A taxa de trabalha-dores com faixa de tempo de emprego menor queum ano foi alta nas regiões Norte e Nordeste (72,9%e 60,7%, respectivamente). Ainda relativo a esseíndice de tempo, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste responderam por 54,8%, 53,0% e 54,7%, res-pectivamente.

Essa elevada rotatividade dos empregados pode sermotivada pelo fracionamento do ciclo de produção dosetor em diferentes etapas, que demandam ocupaçõesespecíficas para cada uma delas. Além dos problemasfinanceiros, tal como obtenção de financiamento de

novas obras e novos projetos, implicando em descon-tinuidade produtiva no setor, o que impede a perma-nência dos empregados de forma ociosa, tendo em vistao hiato de tempo entre o término de uma obra e oinício de outra (CEE-CBIC, 2002).

Seguindo as tendências nacional e regional, o tra-balhador da indústria da construção civil em Sergipee Aracaju tem rotatividade significativa. O gráfico 9mostra que mais de 56,6% dos empregados no Estadonão permaneceram um ano no emprego formal. Valeobservar que 39,2% dessas pessoas não ficaram nem6 meses no emprego. Apenas 6,2% do pessoal ocupa-do têm mais de 10 anos de vínculo de emprego naconstrução em Sergipe.

Gráfico 9 - Brasil, Nordeste, Sergipe e Aracaju: Participação de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundoTempo de Permanência no Emprego (2005)Fonte: RAIS (2005) – MTE. Elaboração própria.

Tabela 7 - Brasil: Número de Trabalhadores Formais na Construção Civil, segundo Tempo de Permanência no Emprego eRegiões (2005)

Fonte: RAIS (2005) – MTE. Elaboração própria.

Regiões até 5,9 De 6 De 12 a De 36 a Apartir Ignoradoaté 11,9 119,9 119,9 de 120Norte 27.281 12.388 14.722 7.230 1.164 55Nordeste 94.744 46.941 53.623 32.351 5.636 106Sudeste 247.989 120.354 161.378 110.753 30.635 621Sul 60.982 33.166 47.135 30.837 5.431 75Centro-Oeste 35.514 19.089 26.319 15.689 3.110 77Brasil 466.510 231.938 303.177 196.860 45.976 934

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A taxa de trabalhadores com faixa de tempo deemprego menor que um ano também foi alta em Aracaju(50,8%), tendo 35% desse pessoal menos de seis me-ses de vínculo empregatício. O pessoal ocupado maisantigo (ou seja, com mais de 10 anos de vínculo) é daordem de apenas 535 trabalhadores.

4 Considerações FinaisOs dados ora apresentados caracterizam a cons-

trução civil nordestina e aracajuana como um setorque embora tenha crescido nos últimos anos, sua ca-pacidade produtiva ainda demanda um crescimentomaior. A construção emprega basicamente homensentre 30 e 49 anos de idade, com reduzidos grau deinstrução e nível salarial. Além disso, a maior partedos trabalhadores permanece pouco tempo no traba-lho, expressando uma alta rotatividade do pessoalocupado.

Aracaju tem alguns indicadores passíveis de me-lhora, tais como crescimento médio anual das empre-sas da construção, estoque de empregados, grau deinstrução, remuneração e rotatividade. Um aspectopositivo foi a preocupação das empresas aracajuanascom o treinamento e capacitação de pessoal, o que trazbons resultados para o estabelecimento. Não obstanteAracaju tenha reduzido sua representatividade no pe-ríodo em análise, continua sendo o município quetem a maior participação estadual no número de em-presas e trabalhadores do setor, inclusive abriga asmaiores empresas da construção.

Este cenário de maior competitividade sugere mu-danças nas relações com os recursos humanos, taiscomo gestão da qualidade, educação, treinamento ecapacitação, ações de segurança do trabalho e dimi-nuição da rotatividade, a fim de melhorar a performancesócio-econômica do setor.

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