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- Somos livres para fazer o que quisermos, desde que amemos! Dilige et quod vis fac (Agostinho): “Ama e faze o que quiseres). - Algumas reflexões sobre a ética - “Os irmãos Karamazov” – “Se Deus não existe, tudo é permitido” – Dostoievisk - As questões dos costumes, estes mudam e se relativizam – com o tempo e local - Os condicionamentos sociais - Mas há um princípio ético supremo? Um absoluto que norteie tudo? - Sócrates, o primeiro filósofo da moral e ética. - Kant, o que levou às últimas conseqüências a formulação de uma ética universal: a igualdade entre os homens. - A ÉTICA E O RELACIONAMENTO “Ninguém é ético para si mesmo; somos éticos em relação aos outros” “Somos éticos, justos e virtuosos, no espaço social” - A ética surge no momento que o homem passa a se relacionar. BREVE HISTÓRIA DA ÉTICA - ESBOÇO - A Ética é fruto de seu contexto. É uma resposta aos problemas resultantes das relações entre os homens. Sendo assim, estudar a história da ética, é estudar também os contextos históricos situacionais que deram origem aos seus estudos. - Podemos assim, também afirmar que a história da ética está entrelaçada com a história da filosofia. - Divisão da História da Ética 1. Grécia Antiga - Séc V e IV a.C 2. Mundo Helenístico Romano - Séc III a.C. ao Séc III d.C. 3. Idade Média - Séc. IV ao XV 4. Idade Moderna - Séc XVI ao XVIII 5. Idade Contemporânea - Séc XVIII ao XXI

ÉTICA

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Filosofia.

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Somos livres para fazer o que quisermos, desde que amemos!Dilige et quod vis fac (Agostinho): Ama e faze o que quiseres).

- Algumas reflexes sobre a tica

Os irmos Karamazov Se Deus no existe, tudo permitido Dostoievisk

As questes dos costumes, estes mudam e se relativizam com o tempo e local

Os condicionamentos sociais

Mas h um princpio tico supremo? Um absoluto que norteie tudo?

Scrates, o primeiro filsofo da moral e tica.

Kant, o que levou s ltimas conseqncias a formulao de uma tica universal: a igualdade entre os homens.

A TICA E O RELACIONAMENTONingum tico para si mesmo; somos ticos em relao aos outrosSomos ticos, justos e virtuosos, no espao social

A tica surge no momento que o homem passa a se relacionar.

BREVE HISTRIA DA TICA - ESBOO

- A tica fruto de seu contexto. uma resposta aos problemas resultantes das relaes entre os homens.Sendo assim, estudar a histria da tica, estudar tambm os contextos histricos situacionais que deram origem aos seus estudos.- Podemos assim, tambm afirmar que a histria da tica est entrelaada com a histria da filosofia.

- Diviso da Histria da tica

1. Grcia Antiga - Sc V e IV a.C2. Mundo Helenstico Romano -Sc III a.C. ao Sc III d.C. 3. Idade Mdia - Sc. IV ao XV4. Idade Moderna - Sc XVI ao XVIII5. Idade Contempornea -Sc XVIII ao XXI

Desenvolvimento

1. Grcia Antiga Sc V e IV a.C.

a. Polisb. Cosmos

1.1. Sofistas

Relativismo de todos os valores. No h um valor universal. O homem a medida de todas as coisas (Protgoras) Negava a tica absoluta e a objetividade da verdade. A tica de uma classe Aret Dos retricos, os que dominam o discurso.

1.2. Scrates (c. 470/469 a.C.- 399 a.C.)

Conhece-te a ti mesmo. A perfeio, o bem supremo. H um valor universal. O homem em sua essncia: razo. a razo que fundamenta as normas e costumes morais. Portanto temos uma tica racionalista. O homem que realmente sabe o que melhor para ele, far o que certo. O sbio faz o bem, as injustias so prprias dos ignorantes (intelectualismo moral).

1.3. Plato (428/427 a.C. 348/347 a.C.)

Os padres ticos derivam-se do mundo espiritual e no das experincias deste mundo fsico. A tica racionalista ainda impera. (racionalismo tico). Para ele, o mal no existe por si s, apenas um reflexo imperfeito do real, que o bem. Deve-se seguir a razo, desprezando-se os instintos e as paixes. O poder est com os sbios. Os ignorantes so dominados pelos instintos e paixes.

1.4. Aristteles (384 a.C. 322 a.C. )

O valor supremo da felicidade. A razo lhe proporciona isto. A razo novamente dita as regras. Tudo para o benefcio da vida neste mundo. Ningum consegue ser feliz sozinho. A Polis deve proporcionar esta felicidade. A tica se torna um ramo da poltica.

2. Mundo Helenstico RomanoSc III a.C. ao Sc III d.C.

Altera-se o contexto: As cidades-estados so substitudas pelos imprios. Multiplicidade de povos e culturas. As teorias ticas so individualistas Separa-se poltica da tica. A relao do homem com a cidade substituda por sua relao com o cosmos.

teoria ticas deste perodo Obs: A tica est agora fora dos contornos da Polis/Poltica.

2.1 Epicuristas (Epicuro [341 270 a.C.] e Lucrcio [96 55 a.C.])

Finalidade: atingir o prazer, principalmente o mental e no o carnal. Para Epicuro, nada existe alm do fsico. O homem senhor de si, no h nada que temer. Apartar-se do mundo. O importante nossa condio ntima.

2.2 Cnicos (Antistenes* [445-360 a.C.], Digenes**[412-323 a.C.])

* Discpulo de Scrates. Provvel fundador da escola Cnica.** Discpulo de Antstenes. Viver de acordo com a natureza, de forma simples e despojada. S a virtude pode trazer felicidade, e isto consiste em se ter uma atitude de indiferena para com os valores deste mundo.

2.3 Esticos (Zeno de Ctio [335-264 a.C.], Sneca* [3-65 d.C.] e Marco Aurlio [121-180 d.C.])

O homem tem o seu destino determinado pelo Cosmos. Determinismo e predestinao. A apatia a chave para tudo neste mundo. A apatia leva a uma aceitao de tudo. Tudo pode, tudo permitido. O homem um cidado do mundo. Deve-se viver de acordo com a natureza e evitar tudo o que pode causar sofrimento. * Virtude: moderao, compaixo e justia. Proximidade com a tica crist.

2.4 Cticos

- Representantes: Grgias, Pireu, Timo, Carnades, Ccero, Voltaire. Nada sabemos e nada podemos afirmar com certeza. Cultivar o equilbrio interior.

3. Idade Mdia Sc. IV ao XV

Muda-se novamente o contexto: A igreja domina: moral crist. Deus identificado com o bem. No h uma teoria tica autnoma parte da igreja. A obedincia a tradio, a igreja.

Teorias ticas deste perodo Obs: Agora, a tica uma questo que diz respeito ao relacionamento do homem com Deus.

3.1 Santo Agostinho (354 430 d.C.)

O princpio ser feliz. Mas o homem s ser feliz em seu encontro com Deus, uma questo de graa divina. Ama e faze o que queres, porque se amas corretamente, tudo o que fizeres ser bom.

3.2 Toms de Aquino (1225-1274 d.C.)

- Segue Agostinho, mas usa a filosofia aristotlica e de Plato tambm, alm de enfatizar a lei natural.

4. Idade Moderna Sc. XVI ao XVIII

Muda-se o contexto:a. RenascimentoVolta-se ao antropocentrismo. Um retorno idade clssica.b. Descobertas geogrficasAs concepes da Terra e do Universo se alteram.O espao infinito.A Terra, o Sol, e o Homem deixam de ser o centro. A realidade mais complexa e plural.c. Divises na igrejaA Reforma Responsabilidade individual e no obedincia tradio ou igreja.d. Cincia ModernaA autoridade passa a ser a experincia.Individualismo e razo humana.

Teorias ticas deste perodo

4.1 Descartes (1596-1650)

Razo humana. Princpio tico: seguir as normas e os costumes morais que visse a maioria seguir, evitando deste modo rupturas ou conflitos.

4.2 John Locke (1632-1704)

Direitos iguais. Todos os homens nascem com os mesmos direitos ( liberdade, propriedade, vida). Princpio tico: respeito pelos outros.

4.3 David Hume (1711-1778)

Nossas aes so motivadas pelas nossas paixes. Princpios ticos: utilidade (utilitarismo) e simpatia/amor (hedonismo).

4.4 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Todo homem bom por natureza. O mal tico devido aos desajustamentos sociais.

5. Idade Contempornea Sc. XVIII ao XXI

Muda-se o contexto:a. RevoluesR. Francesa (1789)Prometem uma nova sociedade e um novo homem.b. Guerras MundiaisO assassinato humano e o saque de riquezas.c. Progresso cientfico e tecnolgico A cincia ocupa o lugar da religio. Os cientistas (novos sacerdotes). Melhora-se a qualidade de vida, mas piora-se as desigualdades sociais. Expande-se muito os limites da cincia e tecnologia. Novos valores so questionados com as experincias cientficas. O progresso humano no acompanha o progresso moral.

Teorias ticas deste perodo

5.1 E. Kant (1724-1804)

O importante no a conseqncia do ato a motivao tica do ato. Imperativo categrico: faze somente aquelas coisas que gostarias que se tornassem leis universais.

5.2 Jeremy Bentham* (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873)

Utilitarismo. tica pragmtica. *O bem maior, em benefcio do maior nmero possvel de pessoas.

5.3 Hegel (1770 1831)

- Tese, Anttese e Sntese.

5.4 S. Freud (1856-1939)

Princpio tico: a luta entre o impulso do eu instintivo para satisfazer a todos os nossos desejos e a necessidade do eu social de control-los ou reprimi-los.

5.5 J. P. Sartre (1905-1980)

O relativismo total. Cada faz sua prpria escolha e se responsabiliza. Ou seja, para ele, o mago da tica est nas opes autnticas.

5.6 Habermas (1929- )

Muito influenciado pela 2 Guerra. Normas morais dependem de acordos livremente discutidos e aceitos pelos implicados.

5.7 Hans Jonas (1903-1993) = Leonardo Boff (?-2004)

- Agir hoje para preservar uma boa qualidade de vida humana para quem vem depois (futuro).

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Contedo EstruturanteContedos BsicosAbordagem PedaggicaExpectativas de Aprendizagem

TICA- tica e moral- Valores morais- Liberdade: autonomia do sujeito e a necessidade das normas- Razo desejo e vontade- tica e violncia

- Problematizaes,investigaes, leituras e anlise de textos filosficos clssicos e de comentadores;- Promover o dilogo filosfico sem niilismo, dogmatismo e doutrinao;- Os contedos estruturantes devem dialogar entre si, com as cincias, com a arte, com a histria, com a cultura; enfim, com as demais disciplinas;- Articular os problemas da vida atual com as respostas e formulaes da histria da Filosofia.

- Construa/reconstrua conceitos;

- Perceba os fundamentos da ao humana, a relao entre o sujeito e a norma;

A moral o conjunto de normas que orientam o comportamento humano tendo como base os valores prprios a uma dada comunidade.A tica a disciplina filosfica que busca refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens, buscando compreender a fundamentao das normas e interdies prprias a cada sistema moral.

Dirigindo-se aos atenienses, Scrates lhes perguntava qual o sentido dos costumes estabelecidos. Tambm indagava quais as disposies de carter que levavam algum a respeitar ou a transgredir os valores da cidade, e por qu.Costumes?Carter?

Costumes: os valores ticos ou morais da coletividade transmitidos de gerao em gerao;Carter: caractersticas pessoais, sentimentos, atitudes, condutas individuais.Dessa forma, a indagao socrtica dirige-se, portanto, sociedade e ao indivduo.

As questes socrticas inauguram a tica ou filosofia moral porque definem o campo no qual valores e obrigaes morais podem ser estabelecidos pela determinao de seu ponto de partida: a conscincia do agente moral. sujeito tico ou moral somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins de sua ao, o significado de suas intenes e de suas atitudes e a essncia dos valores morais.

Aristteles define a tica e a poltica como um saber prtico. Esse saber prtico pode ser de dois tipos: prxis ou tcnica.Na prxis, o agente, a ao e a finalidade do agir so inseparveis ou idnticos, o que ele faz e a finalidade de sua ao so o mesmo.Na tcnica, a finalidade a fabricao de alguma coisa diferente do agente e da ao fabricadora.Na prxis tica, somos aquilo que fazemos e o que fazemos a finalidade boa ou virtuosa.

Deciso e deliberao em Aristteles

Devemos a Aristteles uma distino que ser central em todas as formulaes ocidentais da tica, qual seja, a diferena entre o que :Por natureza (ou conforme physis);E por vontade (ou conforme liberdade).O necessrio por natureza; o possvel, por vontade.

Para Aristteles, entre todas as virtudes, uma delas deve ser a condio de todas as outras e presentes em todas elas:A prudncia ou sabedoria prtica.

Em tica a Nicmaco encontramos a sntese das virtudes que constituam a excelncia e a moralidade grega durante o tempo da Grcia Clssica.

Quadro

O LEGADO DOS FILSOFOS GREGOS

Se examinarmos o pensamento filosfico dos antigos, veremos que nele a tica afirma trs grandes princpios da vida moral:1. Por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e felicidade, que s podem ser alcanados pela conduta virtuosa;2. A virtude uma excelncia alcanada pelo carter, tanto assim que a palavra grega que a designa aret, que quer dizer excelncia; 3. A conduta tica aquela na qual o agente sabe o que est e o que no est em seu poder realizar, referindo-se, portanto, ao que possvel e desejvel para um ser humano. SENDO ASSIM...

O sujeito tico ou moral no se submete aos acasos da sorte, vontade e aos desejos de um outro, tirania das paixes, mas obedece apenas sua conscincia e sua vontade racional.Por natureza, somos passionais e a tarefa primeira da tica a educao de nosso carter ou de nossa natureza para seguirmos a orientao da razo.--

Os constituintes do campo tico

Para que haja conduta tica preciso que exista o agente consciente, isto , aquele que conhece a diferena entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vcio. A conscincia moral no s conhece tais diferenas, mas tambm reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsvel por suas aes e seus sentimentos e pelas conseqncias do que faz e sente. Conscincia e responsabilidade so condies indispensveis da vida tica.A conscincia moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de alternativas possveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de lanar-se na ao. Tem a capacidade para avaliar e pesar as motivaes pessoais, as exigncias feitas pela situao, as conseqncias para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais para alcanar fins morais impossvel), a obrigao de respeitar o estabelecido ou de transgredi-Lo (se o estabelecido for imoral ou injusto).A vontade esse poder deliberativo e decisrio do agente moral. Para que exera tal poder sobre o sujeito moral, a vontade deve ser livre, isto , no pode estar submetida vontade de um outro nem pode estar submetida aos instintos e s paixes, mas, ao contrrio, deve ter poder sobre eles e elas.O campo tico , assim, constitudo pelos valores e pelas obrigaes que formam o contedo das condutas morais, isto , as virtudes. Estas so realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da existncia tica. O sujeito tico ou moral, isto , a pessoa, s pode existir se preencher as seguintes condies:- ser consciente de si e dos outros, isto , ser capaz de reflexo e de reconhecer a existncia dos outros como sujeitos ticos iguais a ele;- ser dotado de vontade, isto , de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendncias, sentimentos (para que estejam em conformidade com a conscincia) e de capacidade para deliberar e decidir entre vrias alternativas possveis;- ser responsvel, isto , reconhecer-se como autor da ao, avaliar os efeitos e conseqncias dela sobre si e sobre os outros, assumi-Ia bem como s suas conseqncias, respondendo por elas;- ser livre, isto , ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos atitudes e aes, por no estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade no tanto o poder para escolher entre vrios possveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.O campo tico , portanto, constitudo por dois plos internamente relacionados: o agente ou sujeito moral e os valores morais ou virtudes ticas. Do ponto de vista do agente ou sujeito moral, a tica faz uma exigncia essencial, qual seja, a diferena entre passividade e atividade. Passivo aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinaes e paixes, pelas circunstncias, pela boa ou m sorte, pela opinio alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, no exercendo sua prpria conscincia, vontade, liberdade e responsabilidade.Ao contrrio, ativo ou virtuoso aquele que controla interiormente seus impulsos, suas inclinaes e suas paixes, discute consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos, indaga se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores e fins superiores aos existentes, avalia sua capacidade para dar a si mesmo as regras de conduta, consulta sua razo e sua vontade antes de agir, tem considerao pelos outros sem subordinar-se nem submeter-se cegamente a eles, responde pelo que faz, julga suas prprias intenes e recusa a violncia contra si e contra os outros. Numa palavra, autnomo*.Do ponto de vista dos valores, a tica exprime a maneira como a cultura e a sociedade definem para si mesmas o que julgam ser a violncia e o crime, o mal e o vcio e, como contrapartida, o que consideram ser o bem e a virtude. Por realizar-se como relao intersubjetiva e social, a tica no alheia ou indiferente s condies histricas e polticas, econmicas e culturais da ao moral.Conseqentemente, embora toda tica seja universal do ponto de vista da sociedade que a institui (universal porque seus valores so obrigatrios para todos os seus membros), est em relao com o tempo e a Histria, transformando-se para responder a exigncias novas da sociedade e da Cultura, pois somos seres histricos e culturais e nossa ao se desenrola no tempo.Alm do sujeito ou pessoa moral e dos valores ou fins morais, o campo tico ainda constitudo por um outro elemento: os meios para que o sujeito realize os fins.Costuma-se dizer que os fins justificam os meios, de modo que, para alcanar um fim legtimo, todos os meios disponveis so vlidos. No caso da tica, porm, essa afirmao deixa de ser bvia.Suponhamos uma sociedade que considere um valor e um fim moral a lealdade entre seus membros, baseada na confiana recproca. Isso significa que a mentira, a inveja, a adulao, a m-f, a crueldade e o medo devero estar excludos da vida moral e aes que os empreguem como meios para alcanar o fim sero imorais.No entanto, poderia acontecer que para forar algum lealdade seria preciso faz-lo sentir medo da punio pela deslealdade, ou seria preciso mentir-lhe para que no perdesse a confiana em certas pessoas e continuasse leal a elas. Nesses casos, o fim - a lealdade - no justificaria os meios - medo e mentira? A resposta tica : no. Por qu? Porque esses meios desrespeitam a conscincia e a liberdade da pessoa moral, que agiria por coao externa e no por reconhecimento interior e verdadeiro do fim tico.No caso da tica, portanto, nem todos os meios so justificveis, mas apenas aqueles que esto de acordo com os fins da prpria ao. Em outras palavras, fins ticos exigem meios ticos.A relao entre meios e fins pressupe que a pessoa moral no existe como um fato dado, mas instaurada pela vida intersubjetiva e social, precisando ser educada para os valores morais e para as virtudes.Poderamos indagar se a educao tica no seria uma violncia. Em primeiro lugar, porque se tal educao visa a transformar-nos de passivos em ativos, poderamos perguntar se nossa natureza no seria essencialmente passional e, portanto, forar-nos racionalidade ativa no seria um ato de violncia contra a nossa natureza espontnea? Em segundo lugar, porque se a tal educao visa a colocar-nos em harmonia e em acordo com os valores de nossa sociedade, poderamos indagar se isso no nos faria submetidos a um poder externo nossa conscincia, o poder da moral social. Para responder a essas questes precisamos examinar o desenvolvimento das idias ticas na Filosofia.

* A palavra autnomo vem do grego: autos (eu mesmo, si mesmo) e nomos (lei, norma, regra). Aquele que tem o poder para dar a si mesmo a regra, a norma, a lei autnomo e goza de autonomia ou liberdade. Autonomia significa autodeterminao. Quem no tem a capacidade racional para a autonomia heternomo. Heternomo vem do grego: hetero (outro) e nomos; receber de um outro a norma, a regra ou a lei.

(retirado de Convite Filosofia - De Marilena Chau - Ed. tica, So Paulo, 2000)--