Evelyn S. Zea-(Trans)Formações Waiwai

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    1/24

    (TRANS)FORMAESWAIWAI8

    Evelyn SCHULER ZEA1

    1 Pesquisadora do Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo (NHII - USP).

    171

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia, 2010Reinaldo Imbrozio Barbosa - INPA

    Valdinar Ferreira Melo - UFRR

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    2/24

    (Trans)formaes Waiwai

    WAIWAI (TRANS)FORMATIONS

    ABSTRACT

    As occurs with other Amerindian ethnonyms, also the one thatbecame known as Waiwai constitutes a complex of relationsbetween visions about these Indians and visions of those Indiansabout themselves and others. The ethnographic and historicalliterature of Roraima and more broadly of the Guianas region reportsthat the Indians that nowadays identify themselves and are identifiedas Waiwai can be found through large regions in Northern Amazonia.They are majorly Karib speakers, constituting collectivities throughsecular processes of interchanges and nets of relationships in theregion, in which they are historically renowned as specialists infurnishing sophisticated manioc graters, speaking parrots andhunting dogs, being still notorious as big travelers in their expeditionsin search of the so-called unseen peoples (enhni komo).

    INTRODUO

    Tal como ocorre com vrios etnnimos amerndios, tambmaquele que ficou conhecido por Waiwai constitui um complexo derelaes entre vises sobre estas comunidades indgenas e visesdestas comunidades sobre si e sobre outros (cf.Gallois, 2005). Comoatesta a bibliografia etnogrfica de Roraima e mais amplamenteaquela da regio das Guianas, os ndios que se identificam e soidentificados como Waiwai encontram-se dispersos em extensaspartes da regio das Guianas, sendo falantes, em sua maioria, dafamlia lingustica Karib. Constituram-se a partir de processosseculares de redes de relaes na regio, na qual so historicamentereconhecidos como especialistas no fornecimento de sofisticadosraladores de mandioca, papagaios falantes e ces de caa, tendofama, at os dias de hoje, de grandes viajantes em suas expediesem busca de povos no vistos (enhni komo).

    Os ndios que vivem atualmente nas comunidades Waiwaiutilizam este etnnimo sabendo que ele no corresponde a uma nicaunidade tnica substancial que exista em si, mas a uma invenomotivada tanto por projetos polticos quanto intelectuais. Muitos delesse reconhecem e so reconhecidos por denominaes menosenglobantes, como o caso dos Hixkaryana, Mawayana, Karapayana,Katuena e Xerew (ou Xerewyana, em que yana designa o coletivo),

    entre outros. As famosas expedies dos Waiwai em busca de povosno vistos seguem permitindo uma intensa troca com outros povosnuma ampla rede regional, da qual seguem surgindo diversoscasamentos e convites para famlias inteiras viverem nas comunidades

    172

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    3/24

    Figura 1 - Ralador de mandioca Waiwai (Foto: Jorge Manoel Costa e Souza).

    Waiwai, como foi o caso dos ndios acima citados.Depois de 1950, quando os Waiwai permitiram a instalaoda UFM (Unenvangelized Field Mission) em trabalho conjuntoatualmente com a MEVA (Misso Evanglica da Amaznia) estasexpedies passaram a contar com o apoio material (como adisponibilizao de motores de popa e at mesmo esporadicamentedo avio da misso) e imaterial (como o discurso da salvaoevanglica) desta misso. Um dos frutos do contato permanentecom a misso e, aos poucos, com outros agentes no-indgenas,como a Funai e a Funasa, alm de contatos espordicos com

    pesquisadores e a populao ribeirinha, entre outros foi o uso dotermo Waiwai para designar no apenas a l ngua Karibpredominantemente falada entre eles, mas tambm para referir-seao coletivo como um todo, que eles passaram a chamar decomunidades Waiwai (ou Wai Wai) de tal ou tal lugar.

    A lngua Waiwai, que pertence famlia lingustica Karib,constitui o idioma principal uti l izado pelos habitantes dascomunidades Waiwai. At recentemente, havia vrias outras lnguastambm faladas nestas comunidades, cada uma por parentelas deoutros ndios que se intercasaram com os Waiwai ou que migraram

    para conviver com os Waiwai durante a fase de sua centralizaoem grandes aldeias entre 1950 e 1980.Ainda em 1980, alm desta lngua predominante (que todos

    aprenderam), havia parentelas falando outras lnguas Karib

    173

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    4/24

    (Katuena, Hixkaryana, Xerew, Karapayana) ou lnguas da famlialingustica Arawak (Mawayana, Wapixana). Havia tambm indivduosde lnguas maternas que se extinguiram ou foram quase esquecidas(Parukoto, Taruma, Cikyana), alm de algumas pessoas de povosvizinhos, que vieram morar com seus esposos Waiwai, falando outraslnguas (Makuxi, Tiriy, Atroari).

    A partir da dcada de 1990, algumas comunidades Waiwaicomo, por exemplo, a de Mapuera, grandes demais para sustentara populao devido escassez de recursos, comearam a passarpor uma fase de descentralizao. Desde ento, muitos dos povosque moraram entre os Waiwai esto voltando para suas reasoriginrias e fundando novas aldeias onde a sua prpria lngua dominante. Esse o caso dos Hixkaryana, Karapayana, Katuena eXerew. Os Mawayana, reduzidos a uma meia-dzia de sobreviventesque ainda sabem falar a sua lngua materna, continuam a conviverentre os Waiwai e os Tiriy. Tais processos de centralizao edescentralizao ajudam a esclarecer porque a lngua Waiwai setransformou em lngua franca na regio, sendo aquelapredominantemente falada nas Assembleias Gerais, que comearama ser organizadas a partir de 2002.

    ESCRITA E ESCOLA INDGENAS

    Desde a sua chegada em 1949, os irmos Hawkins, que somissionrios-linguistas norte-americanos da Unevangelized FieldsMission (UFM), aprenderam a lngua Waiwai, publicaram artigosanalisando a sua estrutura e desenvolveram uma ortografia paraensinar aos Waiwai (e aos outros povos que a eles se juntaram) aler e escrever. Robert Hawkins escreveu lies sobre a lngua paraoutros missionrios e traduziu a Bblia para o Waiwai.

    At meados dos anos 80, professoras-missionrias ensinarama forma escrita do Waiwai (e um pouco da lngua portuguesa) paraas crianas nas escolas, e treinaram os alunos mais interessadosem serem monitores, dos quais alguns agora so professores nassuas prprias comunidades. Em outras comunidades, os professoresso Makuxi ou brasileiros, que contam com a colaborao deprofessores Waiwai contratados, ou voluntrios, no ensino da lnguamaterna. No entanto, ainda possvel identificar comunidades recm-formadas sem a presena de escolas e professores.

    Os primeiros Waiwai a serem treinados para o magistriopelos estados de Roraima e Par j ensinam a lngua indgena emalgumas comunidades, mas, alm da literatura religiosa, faltammateriais escritos em Waiwai, em especial materiais didticos e

    escolares. A maioria dos homens fala um pouco de portugus (queaprendem mais durante visitas s cidades do que nas escolas),alguns fluentemente, enquanto a maioria das mulheres somenteentende um pouco, situao que lentamente est mudando.

    174

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    5/24

    MOVIMENTOS DE CENTRALIZAO E DESCENTRALIZAOTERRITORIAIS

    O movimento de centralizao e descentralizao marca tantoa ocupao territorial que se baseia fortemente na autonomia dosgrupos locais, mas tambm em jogos polticos na conjuntura atual,que envolve o contato e a negociao permanente com no-ndios quanto a concentrao e a disperso da populao em diferentesmomentos histricos na regio que abrange o rio Essequibo naGuiana, os rios Anau, Jatapu e Jatapuzinho em Roraima, os riosJatapu e Nhamund no Amazonas, e o rio Mapuera no Par.

    A bibliografia atesta que nos ltimos 50 anos o convvioconstante com no-ndios inicialmente com missionrios norte-americanos da Unevangelized Fields Mission (UFM), posteriormentecom a Misso Evanglica da Amaznia (MEVA) e com agentes daFunai, Funasa, alm de contatos espordicos com pesquisadores ea populao ribeirinha, entre outros inaugurou um processo deconcentrao das casas coletivas que outrora estavam dispersasentre os dois lados da Serra do Acarai, divisa do Brasil com a Guiana.Mas o surgimento de novos padres de assentamento implantadospelos missionrios que resultaram em grandes aldeias como, porexemplo, a de Mapuera no significa que a importncia daautonomia dos grupos locais tenha deixado de existir ou de fazersentido, muito pelo contrrio. Ao que tudo indica, esse processo decentralizao est atualmente sendo seguido por outro de re-disperso, como demonstram a migrao e criao de novascomunidades Waiwai, como as de Catual, Macra, Soma e Samama,para citar apenas alguns entre muitos outros exemplos.

    A populao total dos Waiwai (Brasil, Guiana e Suriname) somamais de 3000 pessoas, das quais a maioria vive no Brasil, enquantoalgumas famlias Waiwai convivem em aldeias com os Tiriy noSuriname. Na Guiana, onde atualmente moram em duas aldeias naregio sul do pas, o nmero de habitantes varia entre 130 e 170,dependendo da estao do ano, das extensas visitas inter-comunitrias e do nmero de famlias Wapixana, que flutuaconstantemente. No Brasil, o territrio Waiwai oficialmentereconhecido soma trs Terras Indgenas com alcance nos estadosdo Amazonas, Par e Roraima: TI Nhamund-Mapuera (PA), com1.049.520 ha; TI Trombetas/Mapuera (AM/RR/PA), com 3.970.420ha; e a TI Wai-Wai (RR), com 405.698 ha.

    CRNICAS DO CONTATO

    A dificuldade em determinar quais so efetivamente asprimeiras notcias a respeito dos ndios que mais tarde vieram acompor as atuais comunidades Waiwai reside no fato, recorrente na

    175

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    6/24

    Amaznia Indgena, de que os etnnimos atribudos a diferentescoletivos indgenas variaram muito no decorrer dos anos. Uma dasprimeiras informaes, ainda que simples referncia, data do sculoXVII (Harcourt, 1928) e outra do sculo XVIII (Sanders, 1721 inIjzermann, 1911 citado em Bos, 1985).

    No sculo XIX trs viajantes fizeram relatos sobre os Waiwai.O primeiro foi o gegrafo ingls Robert Hermann Schomburgk, querealiza suas viagens entre os anos 1835 e 1839 (Schomburgk, 1840-41), e depois novamente em 1843 (Schomburgk, 1847), na GuianaInglesa e na regio do rio Orenoco. Ele encontra os Waiwai nos doislados da fronteira Brasil/Guiana Inglesa, delimitada pela Serra Acara,com duas aldeias ao sul no rio Mapuera e uma ao norte no rioEssequibo, separadas por distncia correspondente a dois dias decaminhada. O viajante avalia a populao destas trs aldeias em150 pessoas. Nos relatos de Schomburgk se encontram vrios dadosque indicam a existncia de uma ampla rede de relaes de trocaentre os diferentes grupos desta regio. Infelizmente os dadosdiretos em relao aos Waiwai so poucos, mas indiretamente lhe contado, pelos grupos vizinhos (como os ndios Mawayana e Taruma,por exemplo), que os Waiwai eram conhecidos na regio por suashabilidades no plantio de algodo e na caa e, especialmente, pelosseus ces de caa, alm de seus cobiados raladores de mandioca.

    O prximo viajante, o gelogo britnico Barrington Brown(Brown, 1876; Brown & Lidstone, 1878), encontra em novembro de1870 os ndios Taruma, Wapixana e Mawayana voltando de umaexpedio comercial com os Waiwai, que, sem contato com os brancos,obtinham mercadorias como ferramentas, panos e miangas trocando-as por seus raladores de mandioca e ces de caa comesses grupos vizinhos. Por esta via indireta, Brown recebe ainformao de que os Waiwai esto naquele momento somente aosul da serra Acara.

    Em 1884, o terceiro viajante, o gegrafo francs HenriCoudreau (1886; 1899), encontra os Waiwai no Mapuera, perto daregio ao sul da serra Acara, enquanto a rea ao norte da serraera ocupada somente pelos Taruma. Coudreau avaliou a populaodos Ouayeoue (Waiwai) em trs ou quatro mil pessoas,aproximadamente, sendo sete aldeias de 300 habitantes, mas estenmero considerado exagerado por Fock (1963), por exemplo.Como j nos relatos de Schomburgk, tambm Coudreau aponta paraa existncia de uma ampla rede de trocas dos Waiwai com vriosoutros grupos desta regio, relatando relaes comerciais dosWaiwai ao norte com os Wapixana, os Atorai e os Taruma, no lestecom os Pianokoto (Tiriy), e nos rios Trombetas-Mapuera com osMawayana e os Xerew, entre outros. Depois de sua morte, suaesposa, Olga Coudreau (1900; 1903), deu seguimento s

    expedies. Ao contrrio do marido, que escreveu que os Waiwai eos Mawayana no possuam bens europeus, ela descreve suashabilidades de troca por estes cobiados artigos, como miangas,espelhos, faces, pentes e machados.

    176

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    7/24

    No final do sculo XIX, os Waiwai continuavam em contatocom os ndios Taruma, estabelecendo tambm relaes pacficas comos Tiriy do Trombetas-Paru de Oeste, enquanto estavam em guerracom os povos habitantes do mdio Mapuera, do grupo Parukoto(Fock, 1963). A rea de ocupao waiwai correspondia, portanto, zona de cabeceiras do Mapuera, limitada ao norte pela serra Acara.Ao sul de seu territrio, habitavam outros povos, hoje integradosaos Waiwai e que subiram progressivamente para o norte, repelidospelo avano das frentes extrativistas na bacia do rio Trombetas. Denorte a sul, eram os seguintes povos: Tutumo, Mawayana, Xerew eKatwena (Yde, 1965).

    Como o caminho das viagens de reconhecimento nesta rease dava geralmente de norte para o sul, com os viajantes saindo daGuiana e no do Brasil, as informaes se referem apenas aos ndiosda regio fronteiria. Por serem mais acessveis a estas expedies,que transmitiam doenas, assim como pelos contatos comerciais comos Taruma e Wapixana, os Waiwai sofreram, por volta de 1890, umforte abalo demogrfico, devido propagao de doenas antesdesconhecidas entre eles. Isto provocou um aumento doscasamentos intertribais. Antes deste perodo j ocorriamfrequentemente casamentos entre Waiwai e outros povos e, depois,no final do sculo, os Waiwai intensificaram este processo com osndios Parukoto, principalmente os Xerew e os Mawayana ao sul, ecom os Taruma, ao norte (Fock, 1963).

    NO SCULO XX

    No incio do sculo XX, os Waiwai se dividiam em duas reas:ao norte, na serra Acara, e, a leste, o grupo do alto Mapuera. Aprimeira dcada marcada por conflitos intertribais, que realarama separao dos dois subgrupos e que, ao mesmo tempo,provocaram forte diminuio da populao. Os conflitos ocorreramentre os Waiwai e os Parukoto. J em dezembro de 1913, quandoFarabee visitou os Waiwai, as guerras haviam cessado e os antigosinimigos Parukoto eram integrados a eles, sendo, porm, os Parukotoem maior nmero (Howard, 2001).

    Nos anos 1919, 1922 e 1923 o missionrio Fr. Cuthbert Cary-Elwes S.J. visitou os Waiwai e tambm fala da proeminncia de suasatividades comerciais com os Taruma e os Wapixana (Colson &Morton, 1982). Os Waiwai e os Parukoto, do norte e leste,continuavam habitando a regio montanhosa, mas o grupo do nortecomeava a ocupar tambm o alto Essequibo, na Guiana Inglesa,onde so mencionados por Walter E. Roth no incio de 1925. Antes

    que Roth pudesse ir encontrar os Waiwai como planejado em suaviagem, os Waiwai foram ao seu encontro, tendo corrido a notciade um viajante que estava na rea com mercadorias como sal, anzise machados. As relaes comerciais com os Taruma haviam cessado,

    177

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    8/24

    pois, como afirma esse autor, os Taruma dessa rea estavampraticamente extintos e os remanescentes integrados aos Waiwai(Roth, 1929).

    De 1925 a 1950, aproximadamente, inicia-se um movimentode migrao dos Waiwai rumo ao alto Essequibo. Abandonam aregio de serra e cabeceiras para viver margem de rios maiores. Acomisso de limites anglo-brasileira, em 1935, confirma estemovimento: a maioria dos ndios Waiwai estava no Essequibo, GuianaInglesa, enquanto o Mapuera era habitado por outros povos (Xerew,Mawayana etc.) do grupo Parukoto, misturados com alguns Waiwai.Com efeito, Waiwai e Parukoto tinham uma lngua e modos de viverparecidos. Os Parukoto, procedentes do mdio Mapuera, tinhamintroduzido entre os Waiwai, por exemplo, o uso de canoas,caracterstico dos grupos amaznicos (Fock, 1963).

    At 1950 a situao dos Waiwai no sofreu grandesmodificaes a no ser territoriais, conforme puderam constatarvrios visitantes de misses etnogrficas e oficiais: em 1938, aexpedio Terry-Holden, do American Museum of Natural History (verAguiar, 1942); e em 1947, Peberdy, representante do governo daGuiana (Peberdy, 1948).

    PRESENA MISSIONRIA

    No incio de 1950, ocorreram grandes transformaes na vidados Waiwai com a interveno de uma frente missionria no altoEssequibo: a Unenvangelized Fields Mission / UFM (Cruzada deEvangelizao Mundial), atraindo para a Guiana Inglesa a grandemaioria da populao do Mapuera e do Nhamund. O reprterevanglico Homer E. Dowdy relata em seu livro Christs Witchdoctor:From Savage Sorcerer to Jungle Missionary que no incio desteempreendimento esto os missionrios Neill, Rader e Robert Hawkins,trs irmos do Texas cujo objetivo era instalar-se nas regiesindgenas no evangelizadas para, em nome de sua misso, salvaras almas para Cristo, trazendo-lhes o evangelho. Antes de fazer ocontato com os Waiwai, os dois irmos mais velhos, Neill e Rader,conviveram 10 anos com os Macuxi beira do rio Branco no Brasil.Em 1948, quando quiseram contatar os Waiwai, os Hawkins noreceberam autorizao do governo brasileiro e por esta razoresolveram viajar para a Guiana Inglesa, onde tambm lhes foinegada primeiramente a autorizao (Dowdy, 1963). Apenas no anoseguinte, em janeiro de 1949, quando o agente ento responsvelfora transferido, seu sucessor lhes concedeu a autorizao paravisitar os Waiwai no Essequibo.

    A Misso entre os Waiwai foi fundada por vrios missionrios,e em 1949 poucos Waiwai viviam no lado ingls. Mas no lado brasileiro,na regio fronteiria, a populao indgena era considervel. Desdeo incio o interesse dos missionrios consistia em fazer incurses

    178

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    9/24

    em territrio brasileiro (baixando o Mapuera e avanando at o rioNhamund) e atrair vrias centenas de ndios para a misso noterritrio da ento Guiana Inglesa (Frikel, 1970). Para atrair os ndios,os missionrios enviaram mensageiros indgenas para oferecer-lhesitens muito apreciados como anzis, espelhos, facas e miangas,bem como para contar-lhes que o mundo acabaria numa enormefogueira e que poderiam mostrar o caminho para a salvao de umavida melhor (Almeida, 1981). Com esta atrao, a populao destarea aumentou de 80 pessoas para mais de 250, em apenas trsanos, formando um conglomerado de grupos, incluindo os Waiwai,os Mouyennas (Mawayana), os Xerew, Piskaryenna e os Hixkaryana(Yde, 1960; 1965). A concentrao rapidamente resultou em umanica aglomerao, Kanashen ou Konashenay aldeia artificial criadapela Misso, cujo nome deveria traduzir a ideia de que Deus amavoc aqui para atrair os ndios a irem viver neste lugar.

    Corre uma srie de relatos e verses sobre a assim chamadaconverso dos ndios Waiwai, exemplificada de maneiraparadigmtica pela trajetria de Ewka, um xam e lder carismticoque se tornou uma referncia importante tanto para os ndios quantopara os no-ndios, como demonstram diferentes experinciasetnogrficas e fontes que datam de distintos tempos. SegundoDowdy, que d a Ewka (e a seu livro) o ttulo de Paj de Cristo,trata-se da trajetria de um xam selvagem que virou um missionrioda selva, marcando a histria dos ndios Waiwai, que junto com seulder teriam trocado o medo dos espritos kworokyam pela f emCristo.

    Dowdy relata as primeiras relaes de Ewka com kworokyam o centro da vida espiritual dos Waiwai (Dowdy, 1963) que semanifestou para o jovem xam em um sonho com os porcos do mato.Sob a guia do(s) esprito(s) do porco do mato, Ewka se iniciou nosconhecimentos xamnicos, assumindo o pacto de no comer a carnedeste animal em troca de sua ampla ajuda, por exemplo, nas curase na caa. Quando os missionrios chegaram, Ewka prontificou-se aensinar-lhes o idioma waiwai e, nas inmeras horas de ensino dalngua, ouviu as descries do Deus dos missionrios e de Seu FilhoJesus. Aos olhos dos missionrios, que estudaram os modos e jeitosWaiwai (incluindo sua lngua) para catequiz-los e faz-los seguir ocaminho de Deus (que traduziram por Kaan yesamar), no passoudespercebida a importncia da troca de ekat, alma e, em particular,a troca de yekat yewru, alma-olho - para os Waiwai e por issotraduziram o Esprito Santo por Kiriwan Yekat, ou seja, o EspritoBom de Deus. Pregavam que tinham que estar em constanteprocesso de troca com este para no serem punidos no purgatrioe poder, ao contrrio, subir para o cu. Com prestigiosos presentescomo, por exemplo, motores de popa e shorts vermelhos, os

    missionrios consideravam que poderiam conquistar Ewkaespecialmente se ele pudesse ver que Jesus era o esprito bom,infinitamente maior que os espritos ruins que, segundo a versoreducionista dos missionrios, eram representados por kworokyam

    179

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    10/24

    e que eles traduziram por Diabo.Desta considerao dos missionrios surgiu a proposta feita

    a Ewka de que ele no apenas matasse um porco do mato, mastambm comesse a sua carne, pois assim poderia provar para si epara todos que os espritos nada podiam com algum que estavaprotegido por Deus. Assim ocorreu, dando incio, segundo Dowdy, aconverso primeiramente de Ewka e depois dos grupos que oseguiram. J em 1956, quase cada semana havia uma confissopblica da nova f em Cristo durante as reunies e cultos semanaisinstitudos em Kanashen nas quartas, sextas e aos domingos.

    As relaes que os Waiwai travaram com os missionrios sederam em diversos mbitos e por isso este processo no deveriaser simplesmente chamado de converso ao Cristianismo, masvisto no contexto de uma complexa rede de relaes com potnciasexteriores, fundamentais para a aquisio da prpria cultura. Caberelembrar aqui que, desde os primeiros viajantes, os relatos apontampara um especial interesse dos Waiwai em travar relaes comgrupos alheios e para a existncia de uma ampla rede de trocascom vrios outros grupos desta regio, como os Wapixana, os Tiriy,os Mawayana e os Xerew, entre muitos outros. Neste contexto sesitua seu acentuado interesse em estabelecer relaes com osmissionrios e seu entusiasmo em aceitar a proposta missionriade atuar como mensageiros indgenas fazendo contato com outrosgrupos indgenas como, por exemplo, os Xerew do Baixo Mapueraem 1954, os Mawayana do Alto Mapuera em 1955-56, os Tiriy eWayana no Suriname em 1957, os Kaxuyana no rio Cachorro e osHixkaryana no rio Nhamund em 1957-58, dois grupos Yanomami(Xirixana e Waika) em 1958-59 e 1960-62, vrios grupos doTumucumaque (como Tunayana, Wajpi, Wayana e Kaxuyana) em1963-65, os Katwena e Cikyana do Trombetas em 1966-67 e osWaimiri-Atroari do rio Alala em 1969-70 (cf.Howard, 2001). Trata-se de algo que j vinham fazendo antes do contato com osmissionrios e que, aps o contato, puderam fazer com um apoioespecial, tendo-se em vista as ferramentas materiais e imateriaisda misso.

    Em 1971, a misso Kanashen expulsa da Guiana pelo governodo pas, de tendncia socialista. Os ndios dispersam-se, ficandoapenas algumas famlias na rea. Uma pequena parte migra para oSuriname, na Misso Araraparu, enquanto a maior parte volta parao Brasil. Os lderes e pastores indgenas Kiripaka e Yakuta, irmo deEwka, organizaram neste mesmo ano a mudana de 15 famlias parao rio Anau, no estado de Roraima. Os demais, chefiados por Ewka,voltam em 1974 ao Mapuera, seu local de origem. Os missionriosexpulsos da Guiana se dividiram e passaram a acompanhar omovimento dos ndios no lado brasileiro. Uma parte deles se fixou

    com os Waiwai em Roraima e se integrou organizao missionriaMEVA. Outra parte, em 1976, estabeleceu-se no Mapuera, comointegrante da MICEB (Misso Crist Evanglica do Brasil).

    Nesta poca, as expedies de contato em busca de outros

    180

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    11/24

    grupos indgenas seguem sendo realizadas, inclusive fundando novoslugares de moradia, como o caso da expedio de contato embusca dos Karapawyana do rio Jatapu em 1974-1980, fundandoquatro anos mais tarde a nova comunidade Waiwai do Jatapuzinho,seu afluente.

    Figura 2 - Vista area da comunidade Waiwai de Jatapuzinho em 1997(Foto: Jorge Manoel Costa e Souza).

    RELAES ATUAIS COM NO-NDIOS

    O interesse dos Waiwai em travar relaes com diferentesOutros no se limita ao mundo indgena, nem ao mundo no-indgena (ao qual foi se abrindo e tendo cada vez mais contato nosltimos 50 anos), e tampouco se limita ao mundo humano. No queconcerne a suas relaes atuais com no-ndios, h de se mencionaros missionrios (sobretudo evanglicos, mas tambm catlicos emAnau, na TI Wai Wai), os agentes da Funai, Funasa, funcionriosde secretarias de governos estaduais, polticos e autoridades locais,ribeirinhos, comerciantes, pesquisadores, alm de fazendeiros,garimpeiros, madeireiros e posseiros, dentre os quais alguns soconsiderados agentes de ameaa e/ou presso.

    Desde sua instalao entre os Waiwai no incio dos anos 1950,os missionrios introduziram o ensino da escrita como forma decumprir sua meta de catequese. Consideram este um meioprivilegiado para difundir a Bblia (o Novo e o Velho Testamento),

    que eles traduziram na ntegra. Em 2001, publicada pela UFMInternational (Pennsylvania/EUA) em colaborao com a MEVA (BoaVista/RR) sob o ttulo Kaan Karitan A Bblia Sagrada na lnguaUaiuai, que brilha com letras douradas em cada exemplar de capa

    181

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    12/24

    dura negra, com mais de 600 pginas (em uma primeira tiragem de4000 cpias).

    A introduo da escrita certamente constitui um instrumentopoderoso para introduzir o Evangelho, mas cabe questionar se comisso os Waiwai esto efetivamente abandonando sua tradio detransmisso oral dos conhecimentos e suas prticas e concepescosmolgicas. No h de se perder de vista que, no contexto atual,so os Waiwai (assim como vrios povos indgenas) que reivindicamo acesso escrita e educao escolar como condio fundamentalpara sua autonomia. Esse instrumento de comunicao permite aosWaiwai produzirem sua cultura em formato acessvel aos no-ndios:escrita de projetos, de diversos documentos, nos quais eles so osautores.

    As experincias entre as diferentes comunidades Waiwai nastrs TIs variam bastante em relao s escolas existentes (ou no)nas comunidades e o acesso de seus professores ao magistrioindgena. No Par, por exemplo, desde 1997 a equipe do Ncleo deEducao Escolar Indgena vem atuando junto a professores daaldeia Mapuera, que conta com 60% da populao em idade escolar.Em Roraima, este processo mais recente, mas j existem dilogose cooperaes entre os Waiwai e o CIR (Conselho Indgena deRoraima) e organizaes como a OPIR (Organizao dos ProfessoresIndgenas de Roraima), e de mulheres Waiwai com a OMIR(Organizao das Mulheres Indgenas de Roraima). Interessadosem ampliar o domnio da linguagem escrita, em Roraima, o primeirode quatro professores Waiwai concluiu o ensino superior na UFFR etrs esto estudando no projeto Magistrio Indgena Tamkan,coordenado pela Diviso de Educao Escolar Indgena da Secretariade Educao do Estado, que tem a proposta de ampliar essequantitativo em breve2.

    Em relao aos agentes da Funai e da Funasa, as experinciastambm variam. No Par, por exemplo, j existe um Waiwai quetrabalha na Funai com certa constncia, enquanto a mudana de chefesde postos em Roraima frequente. Em sua maioria, os programas desade esto acoplados ao trabalho conjunto da Funasa com ONGs.Assim, em Roraima, por exemplo, o CIR que atua com a Funasa narea de sade. Conjuntamente promovem tambm cursos eespecializaes para capacitar agentes de sade waiwai noJatapuzinho e no Anau, onde recebem salrios para controlar osmedicamentos enviados mensalmente e a coleta de lminas para ocontrole de malria.

    So diversos os programas e projetos desenvolvidos entreos Waiwai. Ao lado de programas de formao de agentes indgenasde sade e de professores indgenas, h projetos de extrao ecoleta de produtos florestais (como, por exemplo, a castanha), de

    criao de animais aquticos e terrestres (como, por exemplo, o2 Agradeo a Jorge Manoel Costa e Souza por esta informao especfica e em geral pela sua leitura, seus comentrios e suasfotos que enriqueceram o presente texto.

    182

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    13/24

    gado), de gerenciamento e processamento de produtos para renda(como, por exemplo, o artesanato), de proteo e vigilncia territorial(alguns em parceria com outros agentes indgenas, como porexemplo, os Waimiri-Atroari), entre outros.

    H tambm, em territrio Waiwai, e alheios a suas polticassociais e econmicas, projetos com consequncias indesejveis,como o planejamento das Usinas Hidreltricas de Cachoeira Porteira,de Carona e de Nhamund, alm da Usina Hidreltrica j construdano Jatapu no incio dos anos 1990 e que trouxe agravantes para osWaiwai. Para aliviar as consequncias desta construo, o governoconcedeu aos Waiwai do Jatapuzinho um gerador de luz e uma cotamensal de leo diesel que, com muito sacrifcio, retiram na Usina.Quando conseguem, recebem tambm uma cota mensal (cerca de150 a 200 litros) de gasolina fornecida pelo prefeito do Caroebe. Nomais, em algumas comunidades Waiwai existem alguns aposentadosque recebem um salrio mnimo da Previdncia Social.

    ATIVIDADES SCIOAMBIENTAIS E ECONMICAS

    O ciclo anual waiwai se alterna entre a poca seca e a pocachuvosa. Enquanto a primeira farta em comida e vida coletiva, asegunda, ao contrrio, marcada pelos recursos mais escassos,fazendo com que as famlias waiwai se dispersem em roas maisdistantes, com significativa reduo das atividades agrcolas e deoutras plenamente dinamizadas no perodo de estiagem, tais comopescarias intensivas, caadas e apropriao de materiais extradosda floresta densa no inundada.

    Em funo deste ciclo e tambm pelos problemas decorrentesdas grandes concentraes populacionais, as roas se dividem emdois tipos: aquelas situadas perto da aldeia e as mais distantes.Nestas ltimas, muitas famlias passam boa parte da poca chuvosa,assim como recorrem a elas quando os recursos perto da aldeia noso suficientes para todos. As roas so preparadas (abrindo-se oespao pela derrubada, queima e limpa) entre agosto e setembro,quando acaba o perodo das chuvas, e o plantio feito entre janeiroe maro, em trabalho realizado de forma comunitria. As principaisespcies plantadas so algodo, abacaxi, banana (diversasespcies), cana-de-acar, mamo, tubrculos como car e batatas(diferentes tipos) e, sobretudo, a mandioca brava, da qual fazem,aps extrair a toxina, o beiju, a farinha e bebidas de tapioca (goma).

    Alm da agricultura de coivara, suas atividades desubsistncia se baseiam na caa, na pesca e na coleta de produtossilvestres. Os principais produtos da caa so anta, veado, porco

    do mato, macaco (coat, guariba, prego), cujubim, mutum, jacamim,cutia, paca, tatu, jabuti, tucano, araras etc. Desde os anos 1950,os homens waiwai se acostumaram a caar com espingardas, mas,quando falta munio, seguem usando arcos e flechas, estes

    183

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    14/24

    Figura 3 - Mulher Waiwai fazendo beiju (Foto: Jorge Manoel Costa e Souza).

    tambm na pesca3. Os peixes mais comuns so trairo (aimara),surubim, pacu, piranha, etc.

    A coleta traz importante complemento na alimentao, em quese destacam: cajus silvestres, aa, buriti, pupunha e nozes,sobretudo, a castanha-do-par. A castanha coletadaprincipalmente para ser comercializada, assim como o so a farinhade mandioca, canoas e produtos de artesanato. Com o dinheirodesses produtos vendidos, os itens mais comprados so: motoresde popa, roupas, anzis, linha, munio, sabonete, sal e redesindustrializadas.

    A produo de artesanato tem aumentado bastante, sobretudoquando os Waiwai desejam adquirir itens industrializados. Asmulheres fazem cermica, raladores de mandioca, tangas e colaresde sementes, entre outros; os homens fazem cestos, pentes,adornos de plumria, arcos e flechas etc. Boa parte do artesanato levada para ser vendida em Boa Vista, mas tambm em Manaus, e,nos ltimos anos, alguns jovens tm vendido artesanato durante aFesta do Boi em Parintins. Os Waiwai, particularmente os jovens,tambm obtm dinheiro ou mercadorias trabalhando,esporadicamente, em pequenas cidades e em vilas que resultam

    3 A utilizao de armas de fogo entre os Waiwai foi reconhecidamente ampliada pelo comrcio de peles de gato selvagem,fomentado por gateiros que se deslocavam de Manaus, atravs dos rios Negro, Branco, Anau e outros rios da regio,envolvidos na empreitada predatria do territrio, somente desestimulada pela Lei Federal n 5.197, de 3 de janeiro de 1967(Costa e Souza: ip).

    184

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    15/24

    das frentes de colonizao promovidas pelas polticas migratriasde governos estaduais, como caso, por exemplo, de Entre Rios eCaroebe no Sul de Roraima.

    RELAES DE PARENTESCO E ORGANIZAO SOCIOPOLTICA

    O parentesco waiwai est estreitamente interligado suaorganizao sociopoltica, que se baseia na complementaridade entreos sexos, na cooperao entre vizinhanas, nas obrigaes do genroem relao ao seu sogro, nas alianas entre irmos e noreconhecimento de alguns homens como especialmente influentes.

    Inexistem cls, linhagens, metades, classes sociais oudistines por ordem de riqueza econmica. A consanguinidade e aafinidade so definidas bilateralmente e a terminologia do parentescose baseia em diferentes critrios, entre os quais: relaes de gneroe gerao, relaes cruzadas versus relaes paralelas e idaderelativa de irmos. Do ponto de vista de um indivduo adulto, sofeitas as seguintes distines: epeka komo (vizinhanas constitudaspelos irmos e suas famlias), woxin komo (as famlias da parentelado esposo/a que constituem os afins) e tooto mak (pessoas com asquais o sujeito no cultiva relaes).

    Jovens se casam geralmente entre 16 e 24 anos. A alianatida como ideal aquela entre primos cruzados atuais eclassificatrios. O genro assume uma srie de deveres em relaoao seu sogro (morar perto de sua famlia, construir uma casa,preparar uma roa, compartilhar alimentos obtidos na caa e pescaetc.). Apenas gradativamente o genro ganha mais independnciaou quando se torna sogro, com o direito de exigir os mesmosdeveres. Lderes procuram manter tanto seus filhos quanto seusgenros perto de si. Eles necessitam uma esposa e caso ela morra,devem casar-se novamente ou abandonar a posio de liderana.

    At a chegada dos missionrios era comum cada Waiwai tervrios esposos e esposas ao longo de sua vida; mais frequente eraa monogamia serial. Poliginia e poliandria ocorriam de vez em quando,geralmente em carter temporrio. Sob influncia missionria, novasnormas foram institudas: celibato pr-casamento, monogamiaduradoura e ausncia de divrcio.

    Cada comunidade Waiwai constitui uma unidade efetiva daorganizao poltica. Inexiste uma organizao tnica, tribal ouregional, apesar das relaes entre as diferentes comunidadesWaiwai serem complexas e significativas, bem como terem surgidoAssociaes (como, por exemplo, a AITA TROMA em Mapuera) emfuno das novas demandas advindas do contato tambm complexo

    com no-ndios.Dificilmente pode-se imaginar um lder de uma comunidade semcertas capacidades de persuaso, pois estas so necessrias paraconseguir mobilizar seguidores dispostos a construir uma nova

    185

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    16/24

    aldeia, novas roas e realizar preparativos necessrios para asfestas. Mais frequente que o termo waiwai kayaritomo para designarum lder de uma aldeia, hoje em dia, aps o contato mais permanentetanto com outros ndios da regio quanto com no-ndios, passou aser o termo regional tuxaua. A ele cabe coordenar relaes tantocom no-ndios quanto internamente, o que faz nomeando lderesde trabalho (antomae komo) e pastores (Kaan mn yene komo),que conjuntamente so (re)conhecidos como ene komo, aquelesque vem e cuidam da comunidade.

    O controle social nunca se d por fora fsica, mas porpersuaso, presso da opinio pblica e, de modo significativo, porfofoca. Qualquer desacordo mediado por sofisticados meios denegociao como ocorre, exemplarmente, no caso do dilogo ritualconhecido por Oho (que impressionou pesquisadores como Fock nosanos 1950) e outras medidas indiretas. O temor a prticas defeitiaria sempre serviu como meio de controle e atualmente ospastores chamam a ateno para o castigo de Deus em caso deconduta considerada inadequada. Em casos srios o conselhoformado pelos lderes (tuxawas, lderes de trabalho e pastores)promove longos encontros com todos os envolvidos em busca desolues. Algumas disputas chegam a ser discutidas publicamentena igreja, ou na umana, a grande casa cerimonial onde tambm secelebra festividades conjuntamente.

    Figura 4 - Casa coletiva e cerimonial umana em Jatapuzinho (Foto: JorgeManoel Costa e Souza).

    186

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    17/24

    RITUAIS E TRANSFORMAES

    As duas grandes festividades coletivas entre os Waiwai eram,antes da chegada dos missionrios, os festivais shodewika (festasnas quais uma aldeia ia visitar a outra) e os rituais yamo (quandoespritos da fertilidade, invocados por danarinos com mscaras,moravam na aldeia por vrios meses). Nas festas sempre haviafartura de bebidas fermentadas, danas e brincadeiras. Depois devrios anos de presena e insistncia dos missionrios, os Waiwaiaceitaram aos poucos trocar as bebidas fermentadas por bebidasde buriti, uma das transformaes ainda introduzida pelo carismticolder Ewka na poca em que moravam no alto Essequibo (Guiana).

    Hoje em dia, seguem sendo celebradas duas grandes festasque passaram a ser chamadas, com os missionrios, Kresmus (umapronncia waiwai da palavra inglesa Christmas) ou Festa de Natal,comemorada no fim de ano, e, em abril, a Festa de Pscoa, na qualocorrem frequentemente batismos. Como seus nomes e suas datasindicam, estas festas incorporaram certas referncias crists, mascabe lembrar que a Festa de Natal cai exatamente na poca daseca e a Festa de Pscoa coincide com o fim desta poca, perodosem que j aconteciam rituais festivos antes da chegada dosmissionrios. Cabe questionar se os diversos setores envolvidos naevangelizao conseguiram efetivamente substituir as concepescosmolgicas ou as filosofias waiwai. Nesse sentido, cabe questionartambm se a lgica da substituio faz sentido ou mais uma lgicade seleo e transformao.

    Figura 5 - Segunda entrada dos caadores/visitantes Waiwai na FestaKresmus em Jatapuzinho (Foto: Evelyn Schuler Zea).

    187

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    18/24

    Uma transformao relevante diz respeito ao papel dosvisitantes nestas festas: este no mais cumprido por moradoresde uma aldeia que visitam outra, mas por caadores waiwai aoretornarem para a prpria aldeia aps uma prolongada caaprovedora da comida para a festa. Este retorno marcado ritualmentepor duas entradas: na primeira, os caadores aparecem comovisitantes devidamente decorados com penas de gavio grande epequeno (yaimo e wikoko) e carregam toda carne fresca de sua caaao redor de seus corpos para a grande casa cerimonial umana. L,atiram flechas em animais (principalmente aves) feitos de madeira ependurados no alto da umana para este fim. Aps voltarem parasuas canoas, os caadores/visitantes encenam ritualmente asegunda entrada naumana tocando flautas e carregando desta veza carne moqueada em grandes awci (um tipo de cesto confeccionadocom folhas de bananeira). Na umana, as anfitris, que neste contextoso chamadas de donas do suco (ymtn), oferecem aos caadores/visitantes suco de buriti (you yukun) e beiju, recebendo em troca ascarnes frescas e moqueadas para serem preparadas para umbanquete coletivo.

    Durante todos os dias da festa as refeies so coletivas evrios cultos so organizados com uma srie de canes, muitasdelas compostas especialmente para a festa, que tambmacompanham danas e um grande nmero de jogos e brincadeiras,entre as quais figuram tanto referncias indgenas mais antigas (p.ex., as danas dos animais), como tambm novidades advindas docontato com no-ndios (p. ex., o futebol).

    Figura 6 - Dana da ona kamarana Festa Kresmusem Jatapuzinho (Foto:Evelyn Schuler Zea).

    Cada qual a sua maneira, estas danas, jogos e brincadeirasconfiguram rituais pelos quais os Waiwai traduzem foras e recursosexteriores, como por exemplo: sua relao com os animais e seus

    188

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    19/24

    poderes (de acordo com suas diferentes posies cosmolgicas)atravs das danas dos animais; foras celestes atravs da arteplumria; potncias espirituais (indgenas e crists) atravs demsicas e invocaes; e, entre outras, tambm sua relao comoutros ndios e no-ndios atravs do ritual dos visitantes conhecidoporpawana(Howard, 1993; 2001).

    Figura 7 - Dana de um bando de porco poko na Festa Kresmus emJatapuzinho (Foto: Evelyn Schuler Zea).

    PROXIMIDADES, DISTNCIAS E XAMANISMO

    Atualmente nenhum Waiwai se declara mais xam, mas comoo xamanismo no pode ser definido de forma reducionista apenaspela presena de xams isto no significa que modos de pensar eagir xamanicamente no continuam operantes. Eles se manifestam,por exemplo, sob a forma de acusao de feitiarias, quase sempreatribudas aos Waiwai de outra comunidade ou a ndios de outroslugares. Assim, nenhuma morte tida simplesmente como umacontecimento natural, mas sempre em relao a acontecimentosde outra ordem, como o caso, tambm, de diferentes experinciase concepes onricas. No cabe aqui uma tentativa de desvelarestes domnios que circulam em mbitos velados. Os Waiwai dizem,

    neste sentido, que escondido, que ningum fala, mas todo mundosabe e que estas trocas de feitiarias, em suas palavras, no voltampara trs no, vo longe...

    189

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    20/24

    NOTAS SOBRE AS FONTES

    As fontes de informaes escritas sobre os Waiwai variamentre obras ou relatos de historiadores, viajantes ou missionrios,textos de lingustica, livros, teses e artigos acadmicos, documentose relatrios da Funai, Funasa e MEC e, atualmente, os primeirostextos escritos pelos Waiwai.

    importante chamar a ateno que aps a instalao damisso entre os Waiwai, os missionrios acabaram assumindo umpapel de mediadores e tradutores para diversos pesquisadores eviajantes que realizaram suas pesquisas de campo e viagensespecialmente nos movimentados anos 1950, entre os quais h dese mencionar: os arquelogos Betty Meggers e Charles Evans (cf.Evans & Meggers, 1955; 1979; Meggers, 1971), o botnico inglsNicholas Guppy (1961), o viajante polons Arkady Fiedler (1968) eos antroplogos dinamarqueses Niels Fock e Jens Yde na primeiraexpedio etnogrfica do Museu Nacional da Dinamarca, em 1954-55, e a segunda, em 1958. Estas expedies resultaram napublicao de uma monografia importante sobre a religio esociedade waiwai (Fock, 1963) e um amplo estudo da cultura materialwaiwai (Yde, 1965).

    Seguem mltiplas as fontes de informaes em relao aosWaiwai no final do sculo passado e no incio deste sculo XXI.Algumas delas assumem papis mais permanentes, como o casodo contato com alguns missionrios e tambm com algunsantroplogos, entre os quais podemos destacar: George Mentore,que escreveu seu doutorado na University of Sussex sobre aeconomia poltica na aldeia Waiwai Shepariymo baseando-se em suapesquisa de campo entre os Waiwai da Guiana (cf.Mentore, 1983-84; 1984; 1987; 1993; 2004; 2005; 2007; 2008); Peter Roe e PeterSiegel, que tambm fizeram pesquisa de campo em Shepariymo em1985 (cf.Roe, 1989; 1990; Siegel, 1985; 1987); Catherine Howard,que realizou sua pesquisa de campo de abril 1984 at novembro de1986 em Kaxmi (Roraima) para seu doutorado na University ofChicago sobre as expedies de contato (cf.Howard, 1991; 1993;2001); Ruben Caixeta de Queiroz, que fez pesquisa de campodurante os dois primeiros meses de 1991 e os ltimos cinco mesesde 1994 no Mapuera (Par) para o seu doutorado na Universit deParis I et Paris X sobre o encontro intercultural en anthropologiefilmique, realizou alguns filmes etnogrficos e foi o antroplogocoordenador do relatrio de identificao e delimitao da TITrombetas/Mapuera (cf. Caixeta de Queiroz, 1999; 2004); JorgeManoel Costa e Souza, que realizou pesquisa de campo noJatapuzinho em 1997 para seu mestrado na Universidade Federal

    de Santa Catarina sobre a relao dos Waiwai com a modernidade(cf.Costa e Souza, 1998); Stephanie Weparu Aleman, que realizoupesquisas de campo de trs a cinco meses anualmente entre 1997-2002 para o seu doutorado na University of Wisconsin; Carlos

    190

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    21/24

    Machado Dias Jnior, que realizou suas pesquisas de campo entre1997 e 1999, e novamente de setembro 2003 at junho de 2004,em diferentes comunidades Waiwai em Roraima, Par e Amazonas(cf.Dias Jr., 2000; 2006), alm de minha pesquisa de campo realizada,por enquanto, de dezembro de 2001 at abril de 2002, de dezembrode 2002 at janeiro de 2003, e de junho at julho de 2007 noJatapuzinho, Macra e Soma (cf.Schuler Zea, 2006a, 2006b, 2008).

    BIBLIOGRAFIA

    Aguiar, B.D. 1942. Trabalhos de comisso brasileira demarcadora de limites primeira diviso nas fronteiras de Venezuela e Guianas Britnica eNeerlandesa, 1930-1934. In: Annais do IX Congresso Brasi leiro deGeografia, vol. 2. Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geografia.

    Almeida, M.P. 1981. Relatrio de eleio e delimitao das reas dos Pls Nhamunde Mapuera (divisa dos Estados do Amazonas e Par). Braslia, Processo FUNAI2989/80.

    Bos, G. 1985. Atorai, Trio, Tunayana, and Waiwai in Early Eighteenth CenturyRecords. Folk, 5-15.

    Brown, C. B. 1876. Camp and Canoe life in British Guiana. London.Brown, C.B.; Lidstone, W. 1878. Fifteen thousand miles on the Amazon and its

    tributaries with map and wood engravings. London, Stanford.Caixeta de Queiroz, R. 1998. Les Waiwai du Nord de Lamazonie (Brsil) et la

    rencontre interculturelle: Un Essay danthropologie filmique. Paris-Naterre,Universit de Paris X. Tese de doutorado.

    Caixeta de Queiroz, R. 1999. A saga de Ewka: Epidemias e evangelizao

    entre os Waiwai. In: Robert Wright (ed.) Transformando os deuses. Osmltiplos sentidos da converso entre os povos indgenas no Brasil. Campinas,Editora da Unicamp.

    Caixeta de Queiroz, R. 2004. Relatrio de Identificao e Delimitao: TerraIndgena Trombetas/Mapuera. Braslia, Funai.

    Colson, A.B; Morton, J. 1982. Early missionary work among the Taruma andWaiwai of Southem Guiana the visits of Fr. Cuthbert Cary-Elwes, S. J. In1919, 1922 and 1923. Folk, 24: 203-261.

    Costa e Souza, J.M. 1998. Os Waiwai de Jatapuzinho. Um irresistvel apelo modernidade. Florianpolis, Universidade Federal de Santa Catarina.Dissertao de Mestrado.

    Coudreau, H. 1886. La France quinoxiale, vols 1-2 (vol. I: tudes sur lesGuyanes et l Amazonie; vol 2: Voyages travers les Guyanes etlAmazonie). Paris.

    Coudreau, H. 1899. Voyage au Yamunda (21 janvier 1899 27 juin 1899).Paris,A.Lahure.

    Coudreau, O. 1900. Voyage au Trombetas (7 aot 1899 25 novembre 1899).Paris, A. Lahure.

    Coudreau, O. 1903. Voyage la Mapuera (21 avril 1901 24 decemvre 1901).Paris, A. Lahure.

    Dias, Jr., C.M. 2000. Prximos e distantes. Estudo de um processo dedescentralizao e (re)construo de relaes sociais na regio sudeste daGuiana. So Paulo, USP. Dissertao de Mestrado.

    Dias, Jr., C.M 2006. Entrelinhas de uma rede. Entre linhas Waiwai. So Paulo,USP. Tese de Doutorado.Dowdy, H.. 1963. Christs witchdoctor. London, Hodder & Soughton.Dowdy, H. 1995. Christs jungle. Oregon, Vision House.

    191

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    22/24

    Evans, C.; Meggers, B. 1955. Life among the Waiwai Indians. NationalGeographic Magazine107.

    Evans, C.; Meggers, B. 1979. An experimental reconstitution of a villagesuccession and some implications. In: Carter Margolis, M.L.; Carter MargolisW.E. (eds.). Brazil: Anthropological Perspectives. New York: ColumbiaUniversity Press.

    Farabee, W.C. 1967. The Central Caribs . Oosterhout, Anthropologicalpublications, University of Pennsylvania University Museum.

    Fiedler, A. 1968. Bei Arawak und Waiwai. Ich lebte unter den Indianern Guayanas.Leipzig, Blockhouse.

    Fock, N. 1963. Waiwai religion and society of an Amazonian tribe. Copenhagen,National Museum.

    Friekel, P.1970. Os Kaxuyana: notas etnohistricas. Belm, Museu ParaenseEmilio Goeldi (Publicaes Avulsas 14).

    Gallois, D. (Org.). 2005. Redes de relaes nas Guianas. So Paulo, Humanitas.USP-NHII, Fapesp.

    Guppy, N. 1961. Wai-Wai. Through the forests north of the Amazon .Harmondsworth, Penguin Books.

    Harcourt, R. 1928.A relation of a voyage to Guiana 1603. London, The HaykletSociety. 203p.Hawkins, N.W. 1952. A Fonologia da Lngua Uaiuai. Boletim Etnografia e

    Tupiguarani, 1-49.Hawkins, N.W. 1962.A Morfologia do Substantivo na Lngua Uaiuai. Rio de Janeiro,

    Publicaes Avulsas do Museu Nacional.Hawkins, R.E. 1956. The winning of a Waiwai witchdoctor: from fear to faith .

    Dallas, Bible Fellowships, Inc.Hawkins, R.E. 1962. Waiwai Translation. The Bible Translator: 164-171.Hawkins, R.E. 1976. Aprendendo a Falar Uaiuai. Boa Vista, MEVA (Misso

    Evanglica da Amaznia).Hawkins, R.E. 2001. Dicionrio Uaiuai-Portugus. Boa Vista, MEVA (Misso

    Evanglica da Amaznia),Hawkins, R.E. s/d. Gramtica da Lngua Uaiuai. Boa Vista, MEVA (Misso

    Evanglica da Amaznia).Howard, C.V. 1991. Fragments of the Heavens: Feathers as Ornaments among

    the Waiwai. In: R. E. Reina; K. M. Kensinger (eds.), The Gift of Birds.Philadelphia, University Museum, University of Pennsylvania.

    Howard, C.V. 1993. Pawana: a farsa dos visitantes entre os Waiwai daAmaznia. In: Viveiros de Castro, E.; Cunha, M.C. (Orgs.), Amaznia:etnologia e histria indgena. So Paulo, USP-NHII (Fapesp).

    Howard, C.V. 2001. Wrought identities: the Waiwai expeditions in search of theunseen tribes of Northern Amazonia. Chicago, University of Chicago (Tesede Doutorado).

    Howard, C.V. 2002. A domesticao das mercadorias: estratgias Waiwai.In: Albert, B.; Ramos, A.R. (Orgs.), Pacificando o branco: cosmologias docontato no Norte-Amaznico. So Paulo, Unesp. p. 25-60.

    Meggers, B.J. 1971. Amazonia. Man and Culture in a Counterfeit Paradise. NewYork: Aldine Atherton.

    Mentore, G.P. 1983-84. Wai-Wai Labour Relations in the Production ofCassava. Antropologica (Caracas), 59-62: 199-221.

    Mentore, G.P. 1984. Shepariymo. The political economy of a Waiwai village.University of Sussex. (Tese de Doutorado).

    Mentore, G.P. 1987. Waiwai Women. The Basis of Wealth and Power. Man,22: 511-527.

    Mentore, G.P. 1993. Tempering the Social Self: Body Adornment, VitalSubstance, and Knowledge among the Waiwai. Journal of Archeology andAnthropology, 9: 22-23.

    Mentore, G.P. 2004. The Glorious Tyranny of Silence and the Resonance of

    192

    (Trans)formaes Waiwai

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    23/24

    Shamanic Breath. In: Whitehead, N.; Wright,R. (eds.), Darkness andSecrecy: The Anthropology of Assault Sorcery and Witchcraft in Amazonia.Durham, Duke University Press.

    Mentore, G.P. 2005. Of Passionate Curves and Desirable Cadences. Themes onWaiwai Social Being. Lincoln and London, University of Nebraska Press.

    Mentore, G.P. 2007. Guyanese Amerindian epistemology: the gift from a

    pacifist insurgence. Race and Class (Special Issue: Caribbean Trajectories200 Years On), 49(2): 57-70.

    Mentore, G.P. 2008. The Tropal Dynamics of a Waiwai House. Walter RothMuseum, Ministry of Culture, Youth and Sport. Georgetown, Guyana.

    Peberdy, P.S. 1948. Report of a survey on amerindian affairs in the remote interior.Colonial Development and Welfare British Guiana.

    Rivire, P. 2001. O Individuo e a Sociedade na Guiana: um estudo comparativo daorganizaao social amerindia. So Paulo, Edusp.

    Roe, P. 1989. Of Rainbow Dragons and the Origins of Designs. The WaiwaiUruperi and the Shipibo Ronin Ehua. Latin American Indian Literatures Journal,5: 1-67.

    Schomburgk, R. 1847. Reisen in Britisch-Guiana in Den Jahren 1840-44 NebstEiner Fauna Und Flora Guianas Nach Vorlagen Von Johannes Muller,Ehrenberg, Erichson, Klotzsch, Troschel, Cabanis Und Andern. Leipzig, J.J. Weber.

    Schomburgk, R.H. 1840-41. Report of the third expedition into the interiorof Guayana, comprising the journey to the sources of the Essequibo toFort San Joaquim, on the Rio Branco. Journal of the Royal GeographicalSociety of London 10 (part 2): 159-267.

    Schuler Zea, E. 2006a. Metaphorisierte Umwege, uneigentlice Ubersetzungen:Arbeit an Bildern im Doppelfeld der Waiwai-Anthropologie. Bern, Institut furSozialanthropologie (Tese de Doutorado).

    Schuler Zea, E. 2006b. Antropologia enviesada: rodeios metafricos etradues imprprias waiwai. Trabalho apresentado no Colquio InternacionalGuiana Amerindia: Etnologia e Histria. Belm, MPEG.

    Schuler Zea, E. 2008. Genitivo da Traduo. Boletim da Museu Paraense EmlioGoeldi (Antropologia), 3: 65-77.

    Schuler Zea, E. Metaphoric Detours and Improper Translations in the doublefield of Waiwai Anthropology. In: Whitehead, N.; Aleman, S. (orgs.).Guayana. Arizona Press (no prelo).

    Siegel, P. 1985. Ethnoarchaeological study of a Waiwai village in the TropicalForest of Southern Guyana. Paper presented at the XI Congreso Internacionalde Arqueologia del Caribe, San Juan, Puerto Rico.

    Siegel, P 1987. Small village demographic and architectural organization: an

    example from the Tropical Lowlands. Paper presented at 52"d Annual Meetingof the Society for American Archaeology, Toronto.UFM (Unenvangelized Field Mission) 2001. Kaan karitan: A Bblia Sagrada na

    lngua Uaiuai. Pennsylvania, UFM International (Boa Vista, MEVA).Yde, J. 1965. Material culture of the Waiwi. Copenhagen: National Museum of

    Denmark (Ethnographic Series, 10).

    193

    Roraima: Homem, Ambiente e Ecologia

  • 7/23/2019 Evelyn S. Zea-(Trans)Formaes Waiwai

    24/24

    Evelyn SCHULER ZEA pesquisadora do Ncleo de Histria Indgena e doIndigenismo (NHII-USP) desde 1996. Doutora pelo Instituto de AntropologiaSocial da Universidade de Berna (Sua) em 2006, e ps-doutoranda doDepartamento de Antropologia da Universidade de So Paulo (DA-USP) entre2007 e 2008, com bolsa da Fapesp, instituio qual agradece. Atualmentedesenvolve pesquisa de ps-doutorado como pesquisadora visitante naUniversidade Livre de Berlim (FU-Berlin).

    (Trans)formaes Waiwai