25
Julho 2017 Revista Mensal • 2 Euros Parceiro do Plano Nacional de Saúde 2014 Evento decorreu no ISPUP a convite do GAT : Australiano Greg Dore sugere descentralização do tratamento da Hepatite C e acesso universal nos estabelecimentos prisionais Município de Pombal acolhe iniciativa, em cooperação com Leiria, Porto de Mós e Batalha : I Mostra do Projecto Like Saúde revela boas práticas em prevenção em meio escolar

Evento decorreu no ISPUP a convite do GAT : Australiano ... · gia pérfida e barata de uma certa classe política sem classe a desper-diçar tanta energia e a falar da des-graça

  • Upload
    lyanh

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Julho 2017Re

vista

Men

sal •

2 Eu

ros

Parceiro do Plano Nacional de Saúde 2014

Evento decorreu no ISPUP a convite do GAT :

Australiano Greg Dore sugere descentralização do tratamento da Hepatite C e acesso universal

nos estabelecimentos prisionais

Município de Pombal acolhe iniciativa, em cooperação com Leiria, Porto de Mós e Batalha :

I Mostra do Projecto Like Saúde revela boas práticas em prevenção em meio escolar

3Editorial

FICHA TÉCNICA Propriedade, Redacção,Direcção e morada do Editor: News-Coop - Informação e Comunicação, CRL; Rua António Ramalho, 600E; 4460-240 Senhora da Hora Matosinhos; Publicação periódica mensal registada no ICS

com o nº 124 854. Tiragem: 12000 exemplares. Contactos: 220 966 727 / 916 899 539; [email protected];www.dependencias.pt Director: Sérgio Oliveira Editor: António Sérgio Administrativo: António Alexandre

Colaboração: Mireia Pascual Produção Gráfica: Ana Oliveira Impressão: Multitema, Rua Cerco do Porto, 4300-119, tel. 225192600 Estatuto Editorial pode ser consultado na página www.dependencias.pt

Por vezes, nem sei por onde co-meçar… tantas são as imbecilida-des a que vou assistindo, vendo, lendo e ouvindo sobre os incêndios de Pedrógão ou o assalto a Tancos ou porque o investimento deveria ser mais para umas coisas e menos para outras. Que podia-mos crescer mais um bocadinho. Que o desem-prego baixou mas deveria ter baixa-do mais. Que se criaram mais pos-tos de trabalho, mas ainda está aquém do ideal. Que o número de vítimas dos incêndios afinal de con-tas não contabiliza tudo e todos… lamentável aproveitamento político de quem usando a bandeira na lape-la não tem o mínimo de vergonha de “incendiar” os mais nobres senti-mentos de um povo solidário com as vítimas, as suas famílias e com to-dos os portugueses afectados pelos incêndios…

Na democracia existem direitos inalienáveis…não vale tudo, o povo não pode ser tratado como ignoran-te, nem imbecil, por alguma classe politica, que infelizmente não tem o mínimo de classe, nem capacidade para estar na causa pública. Exis-tem regras valores e princípios, que devem ser respeitados. Utilizar os acidentes, o sofrimento e a desgra-ça das pessoas apenas para tentar ganhar alguns votos, é no mínimo repugnante e aproveitamento mise-rável de algumas e alguns políticos que ainda não aprenderam a viver com a democracia.

Basta de tanto ódio nos vossos discursos, sejam razoáveis, tenham consciência dos vossos actos. Que critério que moral tem para criticar os males que sempre fizeram? Não se esqueçam que temos memória…Não basta criticar, é preciso consoli-dar a esperança e contribuir para o bem-estar e a felicidade dos portu-gueses.

Por mais demagógicas que se-jam as vossas intervenções, não me farão esquecer o suicídio de muitas pessoas vítimas das falências, do desemprego a que foram atirados muitos pequenos empresários e tra-balhadores, das famílias atiradas para a rua por não poderem pagar a

casa ao banco... Dessa “falência conveniente” do BES, BPN, Banif…, causadora da maior desgraça do País mas que a “senhora justiça” não condena…

Ninguém poderá esquecer os roubos nas pensões de reforma ou no complemento solidário para ido-sos que, juntamente com um brutal aumento de impostos, colocou os portugueses numa desgraça colecti-va nunca vista, que não tinham con-dições para se deslocar ao médico ou aos hospitais, assoberbados pela brutalidade do preço das taxas mo-deradoras? Ou será que alguns dos profetas da desgraça ainda se lem-bram do apelo à emigração como solução para os nossos jovens li-cenciados?

Pois… este caso do incêndio terá sido bem mais grave na sua própria raiz, até porque arderam muitos eucaliptos, os tais que resul-taram de plantações desenfreadas a partir de uma decisão política de uma senhora que terá entendido que o futuro do país e dos agriculto-res, que tanto defendia, teria que passar pela aposta nessa cultura, incendiária…

Mas, retomando outros exercí-cios, estarei louco ou, na verdade, foram encerrados centros de saúde, maternidades e hospitais? Ou terei sonhado que muitos doentes cróni-cos ficaram privados de médico de família, sem comparticipação nos medicamentos necessários ao trata-mento das suas doenças? E as es-colas que encerraram? E o aumento do número de estudantes por turma, fragilizando e pondo em causa a qualidade do ensino? E, claro, com

o consequente despedimento dos professores». Acabaram com a mi-nha freguesia, encerraram os tribu-nais e ninguém foi demitido!

Não! Porque as demissões eram irrevogáveis… O que não era irrevo-gável era o desemprego, a fome e a miséria de muitas famílias. Irrevogá-vel era mandar emigrar a nossa ju-ventude mais qualificada, era danar o nosso cantinho enquanto os meni-nos e meninas de bandeira na lape-la se vangloriavam da desgraça na-cional em nome da austeridade, ba-lofa e bafienta.

Não sei o que se passou em Pe-drogão Grande mas choro solidaria-mente a perda de seres humanos e sofro com as suas famílias esta des-graça que se abateu sobre pessoas inocentes.

Que tristeza assistir á demago-gia pérfida e barata de uma certa classe política sem classe a desper-diçar tanta energia e a falar da des-graça alheia para a qual, por inércia, inaptidão ou mal fazer, vem agora criticar os outros e, pasme-se, pedir a sua demissão… Francamente, era de esperar um pouco mais. Já não se trata apenas de incompetência. É mesmo demérito na forma de fazer e construir a intriga. As vidas huma-nas que ali se perderam exigia um comportamento de valores e princí-pios éticos de pessoas que estão ou deveriam estar na causa pública e na política com elevação e caracter e não para se aproveitarem da des-graça e sofrimento alheio, tentando enganar o povo para ganhar alguns votos ou vantagem que, de outro modo, não conseguem… Desçam á terra e não nos tomem por parvos e idiotas! Não se aproveitem do incên-dio de Pedrogão, do assalto a Tan-cos, dos acidentes nas estradas, das chuvas torrenciais ou das cala-midades da natureza só para des-viarem as atenções da recuperação económica e financeira do país! Não matem a esperança pois, depois desta, nada restará senão terra queimada… nem para vocês!

Sérgio Oliveira, director

4Auditório do ISPUP recebeu a conferência sobre o VHC:

A hepatite C em utilizadores de drogas: do rastreio à referenciação

O GAT - Grupo de Ativistas em Tratamentos organizou, com a colaboração da Gilead, no dia 19 de Julho, no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, uma conferência com o Profes-sor Greg Dore, do Kirby Institute, da Austrália. O evento foi subor-dinado ao tema “A hepatite C em utilizadores de drogas: do ras-treio à referenciação” e a apresentação de Greg Dore focou-se na experiência australiana, com enfoque no modelo de cuidados prestados a pessoas que usam drogas.

O evento foi antecedido de uma reunião entre o palestrante convidado e responsáveis do GAT e, após a apresentação, reali-zou-se uma mesa redonda dedicada ao debate, com diferentes stakeholders de Portugal, sobre os modelos de tratamento em pessoas que injectam drogas e doentes em contexto prisional, moderado por Henrique de Barros e Luis Mendão,e a participação de Rui Morgado – Direcção Geral dos Serviços Prisionais, Gui-lherme Macedo- Centro Hospitalar de São João, Rui Coimbra-CA-SO, Rodrigo Coutinho- Director Clinico Ares do Pinhal, Domingos Duran-SICAD e Isabel Aldir, Diretora para a área das Hepatites Vi-rais e para a área da Infeção VIH/SIDA e Tuberculose.

Numa altura em que, em Portugal, as principais instituições que oferecem serviços a utilizadores de drogas reclamam a des-centralização da administração do tratamento da hepatite c dos hospitais para os centros que oferecem tratamentos da dependên-cia, nomeadamente as ET e para outras estruturas de proximida-de e o acesso universal ao tratamento nos estabelecimentos pri-sionais, Greg Dore apresentou um modelo que, a este nível, é um garante de democratização do acesso à saúde.

Dependências esteve presente no evento e entrevistou Luís Mendão, do GAT, e Greg Dore, tendo ainda registado a interven-ção de Isabel Aldir, Diretora para a área das Hepatites Virais e para a área da Infeção VIH/SIDA e Tuberculose.

LUÍS MENDÃO, GAT

“Não sabemos quantos doentes estão diagnosticados”

Acaba de sair de uma reunião de trabalho com um pro-fissional australiano que trabalha, simultaneamente, no meio académico, num hospital público e numa unidade

prestadora de cuidados a utilizadores de drogas e a pes-soas com VHC… O que fica desta partilha?Luís Mendão (LM) – Do meu ponto de vista, três coisas: a

Austrália, como nós, conseguiu criar um sistema que oferece acesso universal, encaixado na capacidade do sistema de saúde. Em Portugal, fizemos o mesmo e, nesse sentido, somos um dos países avançados no contexto europeu. Na nossa opinião, ainda falta que o tratamento chegue onde algumas das pessoas e dos grupos mais atingidos estão. Não é possível trazermos para os hospitais e para as regras destes as pessoas que estão no sistema prisional ou as pessoas que estão em tratamento nos centros de desabituação ou nos centros de tratamento de substituição opiácea, bem como muitas pessoas que vivem na rua, sem condições. Pensamos que deve ser o sistema de saúde a ir perto dos contextos onde estão as pessoas e aí fazer acesso efectivo ao tratamento. É nesse sentido que a Austrália está mais avança-da do que Portugal. E há um segundo aspecto importante, que é o facto de o sistema de vigilância epidemiológica australiano, de re-colha de dados, de registos das pessoas, etc., funcionar muito melhor do que o português. A hepatite c é, desde sempre, uma in-fecção de notificação obrigatória na Austrália, ao passo que, em Portugal, só em 2014, a hepatite c crónica passou a sê-lo. Portan-to, não sabemos nem quantos doentes estão diagnosticados nem quantos existem, ao passo que, na Austrália, mais de 80 por cento das pessoas que são estimadas viver com hepatite c estão diag-nosticadas. Em Portugal, serão 20 por cento…

Em que medida poderiam essas falhas ao nível do diag-nóstico ser colmatadas através da intervenção de equi-pas de rua, nomeadamente com a realização de testes no terreno?LM – Tudo! Defendemos que as equipas de rua, os próprios

pares e os drop-ins podem ter, junto das pessoas que usam ou usaram drogas, um papel essencial ao trazê-los para o sistema de saúde. Os testes são fiáveis e fáceis de administrar com treino

5adequado. É preciso garantir condições de bom uso, de dar os re-sultados e de ter um bom sistema para referir as pessoas para o médico mas esse papel pode revelar-se importantíssimo, sobretu-do na área da toxicodependência.

Uma vez que este utente tem muitas vezes dificuldades em deslocar-se aos hospitais, não seria também pragmáti-co adoptar-se também a administração da medicação para a hepatite c nessas unidades móveis, tal como se faz já re-lativamente aos programas de substituição opiácea ou ao tratamento da tuberculose?LM – Nessas unidades móveis e nas unidades fixas. Repare

que, em Portugal, os médicos das ET não podem prescrever, os médicos que trabalham com as equipas de rua e com as unidades móveis também não estão habilitados para o fazer, tal como os médicos das prisões. A solução mínima é que alguns dos médicos do hospital possam ir supervisionar, decidir e fazer a prescrição e depois haverá o sistema de vigilância e monitorização da adesão ao tratamento, que pode ser facilitado pelos técnicos e pares, trei-nados para esse efeito. Se houver uma mobilização da comunida-de e das pessoas que trabalham com estas comunidades para a eliminação da hepatite c, isso fará uma revolução no acesso ao tratamento. Mas, neste momento, existem demasiadas barreiras e, de facto, tudo isto pode ser deslocalizado para o terreno, man-tendo a qualidade.

GREG DORE, KIRBY INSTITUTE, AUSTRÁLIA

“Portugal tem es­tratégias muito progressivas no que concerne à lei sobre drogas”

Está hoje a partilhar o modelo australiano de gestão da hepatite c com profissionais e stakeholders portugueses, tendo também contactado com o modelo português. Com que impressão fica do trabalho realizado em Portugal?Greg Dore (GD) – Começaria por dizer que Portugal tem es-

tratégias muito progressivas no que concerne à lei sobre drogas, o que resulta num fundamento crucial para a melhoria da saúde dos utilizadores de drogas. Efectivamente, após a reforma que enceta-ram, têm políticas muito mais progressistas neste domínio do que a Austrália. No entanto, no que concerne ao tratamento da hepati-te c, Portugal apresenta um cenário apenas especializado na ofer-ta da terapia, ao passo que a Austrália tem uma abordagem muito mais ampla. A especialização e o envolvimento de gastrenterolo-gistas e outros especialistas em doenças infecciosas é obviamente crucial mas acreditamos que é muito importante que outros gru-pos de clínicos, como os profissionais da saúde geral, os clínicos que trabalham em dependências ou os clínicos da saúde sexual, estejam envolvidos na gestão da hepatite c. Posso afirmar que, no

final do ano passado, neste programa mais amplo australiano, a proporção de pessoas com hepatite c tratadas por não especialis-tas cresceu 50 por cento. Metade está a ser tratada por especialis-tas e a outra metade por não especialistas. E creio que se pensar-mos na meta da eliminação da hepatite c, precisamos realmente de envolver todos os grupos na gestão da infecção.

E como conseguem chegar aos utilizadores de drogas de rua e fazê-los aderir ao tratamento?GD – A primeira coisa que devemos perceber é que eles não

irão aos hospitais… Então, o que devemos fazer é levar os progra-mas de tratamento aos outros serviços a que eles estão a aceder. A primeira acção a desenvolver deverá passar por oferecer esses programas nos centros que desenvolvem programas de substitui-ção opiácea…

E que papel poderão desempenhar aqui as equipas de rua?GD – Concordo que algumas o poderão fazer, desde que de-

vidamente formadas e treinadas. No nosso caso, fizemo-lo relati-vamente aos profissionais das clínicas de metadona para que pu-dessem administrar o tratamento para a hepatite c, pelo que não precisamos que um especialista vá a essas clínicas, não obstante isso aconteça amiúde… Eu próprio vou algumas vezes a essas unidades mas, uma vez que pude formar e treinar essas pessoas, agora já não é necessária a minha presença. Também temos uma série de clínicas de saúde comunitária, entre as quais aquela onde trabalho, especialmente focada em trabalhadores sexuais e pes-soas que injectam drogas. E os clientes que normalmente fre-quentam estas clínicas não vão aos hospitais, muito embora o hospital mais próximo da clínica onde trabalho diste apenas 30 metros… Se conseguirmos oferecer serviços nestes tipos de uni-dades de saúde comunitárias, penso que resultarão melhores es-tratégias para cativar os utilizadores de drogas, que aí se sentem muito mais confortáveis, até porque já é aí recorrem para receber seringas ou metadona. Portanto, parece-me um contexto muito natural para também se providenciar os serviços relacionados com a hepatite c. Paralelamente, também estamos a desenvolver programas muito bons no sistema prisional. Uma das infelizes rea-lidades da Austrália prende-se com o facto de uma grande percen-tagem de pessoas que injectam drogas estar presa, certamente uma proporção muito superior à que caracteriza a realidade portu-guesa face à falta da reforma da lei de drogas que nós não tive-mos e que vocês implementaram. A título de exemplo, estima-se que, a cada ano, entre 12 mil a 30 mil pessoas com hepatite c cró-nica estejam presas na Austrália. No ano passado, tratámos cerca

6de mil e, este ano, pretendemos tratar 2 mil. Em suma, estamos a sedimentar estes programas, no sentido de que, se as pessoas fo-rem presas, pelo menos tenham acesso ao tratamento da hepatite c, bem como estamos a promover o acesso a grupos mais vulne-ráveis nos centros de tratamento com programas de substituição opiácea. Obviamente, algumas pessoas com sérias doenças do fígado precisam de cuidados hospitalares mas este tipo de estra-tégia que oferece uma variedade de modelos de cuidados é que nos permite chegar a diferentes populações e contextos. E quan-tos mais tipos de clínicos conseguirmos envolver na prescrição nesses diferentes contextos melhor. É perfeitamente natural que o acesso ao tratamento cresça com mais profissionais de saúde en-volvidos. Pelo contrário, se mantiverem o tratamento nas mãos dos especialistas, deverão tratar um razoável número de doentes no primeiro e segundo ano mas não chegarão muito mais longe depois disso nem atingirão determinados grupos.

ISABEL ALDIR, DIRETORA PARA A ÁREA DAS HEPATITES VIRAIS E PARA A ÁREA DA INFEÇÃO VIH/SIDA E TUBERCULOSE

“Não faz qualquer sentido rastrear e não tratar”

“Uma das pessoas com quem falei depois de assumir estas funções que agora desempenho foi o Luís Mendão, que me desa-fiou a assumi-las a tempo inteiro… Disse-lhe que não, justificando que a presença na clínica é para mim muito importante, é o meu chão e, de alguma forma, faz com que sinta todas estas problemá-ticas que foram aqui abordadas de uma forma muito imediata por-que as sinto enquanto médica. Como tal, percebo-as, o que me ajuda nas funções das direcções dos programas.

Estamos a percorrer uma estrada que estamos a construir si-multaneamente, o que acarreta aspectos delicados e perigosos porque a probabilidade de podermos ir derrapando a cada curva é maior do que se a estrada já estivesse feita e consolidada. Esta absoluta necessidade de termos a sociedade civil ao nosso lado, a trabalhar, sendo certo que nem sempre estamos ou estaremos de acordo só representa ganhos para o que queremos, que é a me-lhoria da saúde dos nossos cidadãos. Embora a sociedade civil, em Portugal, tradicionalmente, tenha nascido e ainda se mante-nha muito a reboque do que vai aparecendo em termos políticos. Felizmente, estamos a descolar dessa realidade é muito bom ver a vossa participação. Percebo o que o Luís Mendão quis dizer mas, ao mesmo tempo, sinto-me incomodada, quando referiu a qualidade das intervenções, nomeadamente dos membros do GAT ou da CASO… Não esperaria outra coisa… Pessoas que têm percursos de vida muito complicados, tenham ou não tido um pas-sado ligado ao consumo de drogas, não serão por isso mais ou menos válidos ou capazes de desenvolverem o seu papel. Para mim, independentemente desse passado, o que quer que tragam são elementos muitíssimo válidos e vi com muita satisfação o alar-

gamento do fórum nacional da sociedade civil para poder abarcar outras instituições. Vocês têm o conhecimento do terreno e têm que estar envolvidos na discussão e concepção dos programas.

O exemplo que o Greg Dore trouxe é muito interessante mas também convém termos presente que a organização do SNS por-tuguês é muito diferente do australiano e, como o Guilherme Ma-cedo dizia, não podemos esquecer-nos que tudo isto se encontra quase exclusivamente centrado nos profissionais de saúde e, em particular, nos médicos, que são recursos escassos e, só este exercício de fazermos alargar a possibilidade da prescrição da te-rapêutica para além dos médicos especialistas gerará certamente muitas reacções por parte destes… É obviamente um caminho que tem que ser começado a trilhar mas também não podemos querer transferir para os colegas de medicina geral e familiar sem percebermos que, também da parte destes, irão haver dificulda-des, que também eles estão assoberbados com carteiras de doen-tes e que acomodar mais este pedido não será tarefa assim tão fácil… Isto não quer dizer que não iniciemos este percurso; temos é que ter uma noção muito real das dificuldades com que nos de-frontaremos, logo a partir de coisas tão básicas como estar veda-do o pedido de ARN do VHC a um colega de medicina geral e fa-miliar… São coisas muito simples, que parecem até ridículas mas que traduzem a nossa realidade. Há um longo caminho a fazer…

Relativamente ao Grupo de Trabalho sobre as Prisões, espero que, a muito curto prazo, eventualmente ainda durante este mês, possa vir a luz um despacho que tem vindo a ser trabalho entre o ministério da saúde e o ministério da justiça por forma a trazer al-guma melhoria. Não faz qualquer sentido rastrear e não tratar. Aliás, o que aprendemos desde a faculdade é que só se fala em rastreio quando há alguma coisa para oferecer. E espero ver, mui-to em breve, bons exemplos replicados a nível nacional, contem-plando para os cidadãos reclusos o mesmo nível de acesso aos cuidados de saúde de que qualquer outro cidadão beneficia. O sistema de saúde tem que se reorganizar para chegar a eles e é nesse sentido que temos trabalhado, para que possamos final-mente e após tantos grupos de trabalho e tantos anos fazer a dife-rença. E o mesmo tem que ser feito em relação a outras realida-des e populações. O que se passa com as pessoas que conso-mem drogas tem que ser objecto de análise, urgindo perspectivar outros modelos que permitam resolver os problemas identificados. E não podemos olhar para os problemas das hepatites virais ou da hepatite c apenas pelo prisma do tratamento. Isto tem que fazer parte de um pacote, temos que tratar e que investir muito na pre-venção.

8Iniciativa foi acolhida pelo município de Pombal, em cooperação com Leiria, Porto de Mós e Batalha:

I Mostra do Projecto Like Saúde revela boas práticas em prevenção

em meio escolarOs Municípios de Leiria, Pombal, Porto de Mós e Bata-

lha promoveram, em conjunto com a Administração Regio-nal de Saúde do Centro (CRI de Leiria), o Centro de For-mação RCA e o Cenformaz, a I Mostra do projeto ‘Like Saúde’, uma iniciativa que decorreu na Biblioteca Munici-pal do Pombal no dia 28 de Junho e em que foram revela-das boas práticas na prevenção de comportamentos de ris-co em meio escolar.

Este encontro contou com o desenvolvimento de várias actividades, como oficinas de boas práticas, projectos, jo-gos, aplicações, histórias e teatro, destacando-se uma conferência com o Juiz Conselheiro Jubilado, Laborinho Lúcio.

O ‘Like Saúde’, que teve início há quatro anos, reúne um conjunto de ações que visam prevenir comportamentos aditivos e dependências nos jovens, no sentido de garantir que estejam informados sobre os riscos associados ao consumo de drogas, álcool, tabaco e relações sexuais des-protegidas.

Para a sua implementação nas escolas foi constituída uma rede de parceiros que tem desempenhado um papel muito activo no desenvolvimento das ações com os alunos, professores, directores de turma, pais, encarregados de educação e assistentes operacionais.

Esta “I Mostra Like Saúde” resulta de uma iniciativa in-terconcelhia, tendo sido destinada a educadores de infân-cia, professores do 1.º, 2.º, 3.º ciclos e ensino secundário, assistentes operacionais e outros pessoal não docente (psicólogos, assistentes sociais e educadores sociais nas escolas), técnicos da área social e da saúde e alunos.

Dependências esteve presente no evento e apresenta--lhe as perspectivas de Diogo Alves Mateus, Presidente da Câmara Municipal de Pombal, Laborinho Lúcio e Ana Filipa Soledade, Responsável pela Prevenção do CRI de Leiria.

DIOGO ALVES MATEUS, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE POMBAL

“Like Saúde é um projecto integrado”

Conseguiu juntar, nesta iniciativa, quatro autarquias uni-das por uma intervenção comum em saúde… Presumo que não seja propriamente fácil…Diogo Alves Mateus (DM) – Não mas também devo salientar

que este mérito não é da Câmara Municipal de Pombal. Este pro-jecto tem no Centro de Respostas Integradas a grande mola im-pulsionadora que contactou com os municípios de Leiria, Pombal, Batalha e Porto de Mós, que abriram as suas portas e mobilizaram os seus parceiros locais, como os agrupamentos, os professores e as famílias. É portanto um trabalho colectivo. Evidentemente, era necessário criarmos condições para realizarmos esta primeira mostra, o que aconteceu em Pombal e espero que apenas volte cá dentro de quatro anos, depois de todos os outros municípios a terem igualmente recebido. E, apesar de percebermos a dificulda-de relacionada com a escassez de recursos humanos, se outros municípios pretenderem aderir, será óptimo podermos ampliar o projecto a outros territórios e famílias. Mas o que é de facto inte-ressante é conseguirmos esta cumplicidade das comunidades de cada um dos municípios para uma temática que todos acabamos por reconhecer que tem uma enorme importância na qualidade de vida da sociedade.

9Poderemos afirmar que estamos perante uma rede social no seu melhor?DM – É uma parte importante da rede social e uma manifestação

inequívoca de como pode, bem articulada e com confiança recíproca, ser um instrumento poderosíssimo para ultrapassarmos problemas. De facto, aqui convergem alguns dos parceiros que integram a rede social de Pombal com as redes sociais de outros concelhos, que aqui têm um trabalho complexo, muito comprometido e complementar e que, noutras matérias que também integram a rede social, podem não trabalhar tão intimamente simplesmente por a razão da matéria não o justificar. Mas existe aqui efectivamente uma proximidade em torno de um compromisso interinstitucional. E que neste caso assu-me ainda a virtude de partir da base, do território para a hierarquia das organizações, o que lhe confere uma maior consistência, articu-lação e comprometimento de cada um dos agentes, dos funcionários, dos colaboradores, dos pais e professores que estão no território.

Sendo este trabalho desenvolvido pelas redes sociais de inegável importância, a verdade é que continuamos a assis-tir a reclamações de muitos autarcas devido à falta da afecta-ção do respectivo envelope financeiro por parte do Estado, que beneficia com esta delegação de competências…DM – É verdade… em parte. Se me pedisse agora para contabi-

lizar o investimento financeiro municipal que este projecto tem recla-mado e se o município precisa de ser financiado para o fazer, sem fazer contas dir-lhe-ia que não tenho noção que a expressividade fi-nanceira do projecto, de alguma maneira, possa ficar dependente de avançarmos ou não por não existir envelope financeiro. É evidente que poderemos dizer que isso representa um mau princípio porque, se assim for, faremos tudo e nunca teremos esse envelope financei-ro. O que entendo é que existem matérias que são tão importantes que não devemos ficar à espera que outros nos digam que podemos avançar. E creio que esse é também um factor diferenciador entre as pessoas que estão à frente dos municípios e dos projectos políticos e que entendem que vale a pena avançar em determinadas matérias. Nós já o fizemos em matérias de construções hospitalares ou em centros de saúde com o Ministério da Saúde, em vias rodoviárias, em equipamentos escolares ou desportivos… Temos achado que, nalgu-mas destas matérias, vale a pena dar esse passo. Nestes projectos que, por vezes até têm uma materialidade muito menos relevante, é muito mais uma questão de organização, de instalações, de boas vontades e de cooperação do que simplesmente o dinheiro.

Há algum tempo atrás, foi o responsável pela adequação de instalações na USF de Pombal, então destinadas à equipa de tratamento do CRI. Recordo que a DICAD e os profissionais afectos àquela equipa ficaram desolados porque houve um desvio daquela estrutura, que não chegou a servir a equipa mas outra organização… Sente-se bem com esta situação?DM – Fico triste! Primeiro, porque tínhamos tido espaço físico e

meios financeiros para podermos acolher os serviços que, actual-mente, estão organicamente debaixo da mesma tutela e, como tal, faz todo o sentido poderem trabalhar com a maior cooperação. Como me parece absolutamente adequado e até funcional termos as equi-pas do CRI instaladas junto da USF ou na Unidade de Cuidados na Comunidade, com uma repartição de recursos que todos aprecia-mos. Fiquei de facto surpreendido porque, quando se tratou de fazer uma distribuição dos espaços pelas pessoas, ter-se-á chegado à conclusão que essa avaliação prévia não tinha sido bem feita. Con-

fesso que não gosto nada de trabalhar assim. Prefiro atrasar um pro-cesso um mês ou dois e falar com escolas se for o caso ou qualquer entidade da saúde ou de outro domínio com a qual tenhamos algum tipo de cooperação, para nos adequarem o que precisamos de fazer às efectivas necessidades, percebendo que os projectistas podem, por vezes, não obedecer à melhor articulação. Neste caso, fizemo-lo, em Pombal, houve até uma proposta de redução do edifício original-mente destinado mas essa era uma matéria que nos transcendia por-que, evidentemente, quem tem que fazer a aprovação do programa funcional da unidade é a ARS. E verifiquei, com muita pena, que isso acabou por não ser contemplado, até porque não só fui sensível a essa matéria, como as instalações que foram lançadas a concurso público tinham a unidade prevista para corresponder às necessida-des que em Pombal se tinham diagnosticado e que há mais de 20 anos precisavam de instalações definitivas.

Em que medida deverão estar as áreas da saúde e da edu-cação na órbita e na gestão municipal?DM – Não devem estar em exclusividade, até porque percebe-

mos que existem aqui estádios diferentes… Agora, a manutenção da cobertura de um centro de saúde não pode ficar à espera do concur-so público lançado pela ARS, tendo que ser sujeita à apreciação do Sr. Secretário de Estado… Quanto é que isso custa e demora, que ineficiências e prejuízos representa para o património municipal e na-cional e quanto custa aos cidadãos? A lei que está actualmente a ser discutida identifica muito razoavelmente muitas dessas matérias… Agora, pergunto, existem condições objectivas para uma região Cen-tro do país, que tem mais de 100 municípios debaixo da tutela da ARS, de repente, porque existem fundos comunitários, lançar 15 ou 20 obras quando não possui uma estrutura de pessoal técnico e de projectistas adequados… E quando vai ficar com um nível de acom-panhamento dessas empreitadas e do seu calendário de execução comprometido quando isso pode ser feito por entidades que estão no terreno, que são fiáveis, que conhecem as matérias, que são muitas vezes donas do património imobiliário onde essas construções são feitas e têm um quadro técnico que pode acompanhar essas obras… Percebe-se que há aqui muitos ganhos para todos, o que não repre-senta necessariamente mais despesa pública porque esses recursos já existem. As câmaras municipais já têm engenheiros, projectistas, arquitectos, paisagistas e equipas de manutenção, tudo muito bem organizado. Creio que deve existir uma maior proximidade. Em suma, é o tal reforço não apenas nessas matérias mais intangíveis da cooperação interinstitucional mas também noutras que têm materiali-dade. Por exemplo, faz algum sentido que, hoje em dia, a substitui-ção de um vidro de uma escola primária não seja feita pela respectiva escola, pela respectiva junta de freguesia e que tenha que ser a câ-

10

mara municipal a mandar fazê-lo, nem que esteja a 20 km de distân-cia? Havendo uma boa cooperação e delegação de competências, creio que tudo é possível e desejável. Evidentemente bem discutido, bem fiscalizado reciprocamente, com uma verificação dos meios fi-nanceiros… é tudo uma questão de organização.

Por que entende ser a autarquia um lugar de democracia por excelência?DM – Primeiro, porque os autarcas são pessoas que andam

diariamente nas ruas e, portanto, são escrutinados sobre o que fa-zem, como fazem, quanto à justeza das suas decisões, propostas e argumentos. Também são, por vezes, sujeitos de polémica mas há uma grande proximidade que resulta, de facto, de uma vivência quotidiana no território que se está a governar, onde normalmente também se vive, onde as pessoas que nos são próximas também vivem e onde existe uma sistemática interacção das consequên-cias das nossas decisões e uma apreciação na primeira pessoa sobre a construção das políticas. Para o bem e para o mal. Por-tanto, é um espaço de grande proximidade e, no conceito demo-crático, muito escrutinado. Assim sendo, eleva-se a um patamar bem presente na génese da construção da democracia.

A avaliação do trabalho realizado pela autarquia constitui uma preocupação do actual executivo?DM – Todos os dias! Para além das obrigações legais de pres-

tarmos contas, entendi que devíamos ter, por exemplo, um site que, neste ano, nos colocou no nono lugar do país ao nível da transparência municipal. No que respeita, por exemplo, à contra-tação pública e à despesa pública, somos um grande consumidor de recursos, uma vez que temos um orçamento de 50 milhões de euros. E entre a empresa municipal e a câmara temos cerca de 500 funcionários. Depois, apresentamos publicamente os projec-tos. Temos projectos que têm um impacto público relevante e fa-zemos essas apresentações localmente, ouvindo as pessoas… O orçamento participativo é outra demonstração. Percebemos como o cidadão olha para os nossos planos de actividades e orçamen-tos,,. quantas propostas dá e que matérias conseguimos eleger. E depois temos os trabalhos normais, com as freguesias, nas as-sembleias municipais, onde apresentamos os nossos relatórios e estamos disponíveis para prestar contas. Trata-se de um trabalho sistemático que se faz, nesta avaliação global, no final de cada ano mas igualmente no final de cada projecto. Repare, esta pri-meira mostra, em rigor, é um prestar contas: o que fizemos, que resultados atingimos, que dificuldades encontrámos, que parcei-ros temos, que caminhos temos que percorrer, que novas etapas teremos a seguir…

Pombal, um município inclusivo“O último diagnóstico que se fez em Portugal sobre a coe-

são social, da responsabilidade do Instituto da Segurança So-cial e do Centro de Estudos Económicos e Sociais de Lisboa classifica Pombal como um município de exclusão mitigada. Ou seja, dos 20 indicadores de exclusão avaliados, como as questões relacionadas com o desemprego, com as adições, habitacionais e outras, Pombal era um dos menos de 20 muni-cípios que se encontrava nessa situação de exclusão mitigada. O que significa que não havia nenhum factor particularmente relevante que nos distinguisse no contexto nacional, dizendo que, aqui o peso dominante seria, por exemplo, o contexto dos sem-abrigo ou do desemprego… Isto representa sucesso ali-cerçado num esforço que toda a comunidade tem dado, perce-bendo que este é um trabalho de conjunto. Primeiro, resulta de um trabalho de consciência, depois de um trabalho de criação de instituições que, nos últimos 20 anos, tiveram esse contribu-to social seja nos idosos, nas crianças, na primeira infância ou na deficiência. Em suma, existe um grande equilíbrio mas, mesmo assim, nomeadamente nas escolas, percebemos que o município deve desempenhar um papel no combate à desi-gualdade, particularmente quando enfrentamos temas como a obesidade infantil, o insucesso escolar, as perspectivas am-bientais ou as questões das adições ou da vida saudável, da arte e do desporto. As condições, à partida, não são iguais. Por questões de contexto, por questões pessoais e culturais. Nós temos a missão de, dentro da tal liberdade e diversidade, dizer às pessoas: usem, escolham e aproveitem… E, a partir daqui, irem para a linha de partida na mesma situação em que está o atleta. Isto é o que quebra a pobreza e pode verdadeiramente criar no cidadão o espírito de que conseguirá ter uma vida dife-rente da do pai e de que contará com o esforço da sua comuni-dade para o colocar apetrechado nessa linha de partida. E isso não é apenas dinheiro. É um trabalho que a sociedade deve fa-zer e em que o município deve estar empenhado”.

ANA FILIPA SOLEDADE, RESPONSÁVEL PELA PREVENÇÃO DO CRI DE LEIRIA

“O empenho das Autarquias é fundamental para este sucesso”

Quais os objetivos do Programa Like Saúde?Ana Filipa Soledade (AFS) – O Like Saúde é um programa

de prevenção em comportamentos aditivos e dependências, da iniciativa do CRI de Leiria e promovido pelas autarquias locais (Leiria, Pombal, Porto de Mós e Batalha), que funciona como uma metodologia de intervenção integrada, de base territorial (neste caso, concelhia). Este é um programa de intervenção em meio es-colar com crianças e jovens desde o Jardim de Infância ao Ensino

11Secundário. As estratégias de intervenção preventiva universal, seletiva e indicada são dirigidas a toda a comunidade educativa (alunos, professores, assistentes operacionais e outros técnicos com intervenção em meio escolar e famílias) e são realizadas, de forma integrada, pelos diversos parceiros com intervenção directa ou indirecta nos comportamentos aditivos e dependências – o CRI de Leiria; todas as Escolas públicas e privadas dos quatro conce-lhos; as forças de segurança (PSP e GNR); os cuidados de saúde primários através das suas unidades locais (UCC e USF), os Cen-tros de Formação de professores Rede de Cooperação e Aprendi-zagem e Cenformaz e outros parceiros localmente relevantes como a Associação Mulher Século XXI ou a Cruz Vermelha Portu-guesa, por exemplo. Os objetivos gerais do Programa passam por contribuir para melhorar o estado de saúde global dos jovens; con-tribuir para a definição de políticas claras em matéria de consu-mos de substâncias psicoactivas; prevenir o consumo de substân-cias em meio escolar, através de estratégias de trabalho continua-do com os alunos, os professores, assistentes operacionais e fa-mílias.

Que balanço faz do encontro, em termos de adesão, parti-cipação e envolvimento do meio envolvente?AFS – A I Mostra Like Saúde foi um sucesso, tendo inclusiva-

mente superado as nossas expectativas. Tivemos mais de 250 parti-cipantes, com uma grande adesão da comunidade educativa (alu-nos, professores, assistentes operacionais, psicólogos) dos quatro concelhos, visível através da sua presença na Mostra e, mais rele-vante, na participação efectiva e em rede na co-organização da mes-ma (foram apresentadas 12 Oficinas de Boas Práticas com projetos de prevenção realizados no âmbito do Like Saúde, com avaliação, integrados em projetos educativos dos agrupamentos e das escolas envolvidas, com continuidade nos próximos anos lectivos). Houve também um trabalho em rede com os diversos parceiros que nos per-mitiu apresentar o vídeo “A Voz de Quem Participa”, com uma avalia-ção qualitativa e sem filtros de todos os intervenientes no Programa Like Saúde nos diversos concelhos.

Foi difícil envolver as Autarquias e as escolas?AFS – O desafio que me foi lançado pela autarquia de Leiria, na

pessoa da Dra. Anabela Graça, vereadora da Educação e Juventude, no ano lectivo de 2013-2014, após ter realizado um diagnóstico junto das direcções das escolas do concelho, para a criação de um projeto integrado foi a semente para aquilo que, hoje, é uma prática efectiva e continuada em quatro concelhos. Com base na experiência de ter-reno e evidência científica que, há muito, promovemos nos territórios,

posso afirmar que foi a concretização de um dos meus sonhos profis-sionais – realizar uma intervenção integrada, consistente, de continui-dade, com uma linguagem comum e baseada em evidência científi-ca, com estratégias e objetivos partilhados pelos diversos parceiros. Com o sucesso no concelho de Leiria, foi fácil a aceitação do progra-ma por parte dos restantes concelhos… Porém, não posso deixar de realçar que o envolvimento, a participação, a pro-actividade e a capa-cidade estratégica dos autarcas dos quatro concelhos foi impressio-nante e fundamental para este sucesso. Em relação às escolas, pen-so que a metodologia utilizada facilitou a sua efectiva participação desde a direcção aos alunos. No primeiro ano de execução de cada programa, realizámos a Operação Like Saúde, com uma campanha de sensibilização para a temática nas escolas e com a apresentação formal do programa à comunidade. De seguida, realizaram-se en-contros com os directores das escolas públicas e privadas de cada concelho, encontros com todos os coordenadores de saúde e encon-tros com todos os directores de turma dessas escolas.

São diversos os temas e os projetos de intervenção… Porquê?AFS – Os 12 projetos são uma pequena amostra das dezenas

de projetos e actividades realizadas pela e para a comunidade edu-cativa dos quatro concelhos. Estes projetos inserem-se no projeto educativo das escolas e são realizados no âmbito das várias discipli-nas, de forma integrada. A intervenção do Like Saúde, em meio esco-lar, é dirigida aos vários grupos alvo – alunos, professores, assisten-tes operacionais, famílias, técnicos em todas as escolas públicas e privadas dos quatro concelhos e em todos os anos lectivos. Já con-seguimos iniciar a intervenção no jardim-de-infância, com educado-res que receberam formação e aplicaram os seus projetos até ao En-sino secundário e ensino profissional. A maioria dos projetos apre-sentados pretendeu dar conta do excelente trabalho desenvolvido pelas escolas, pelos professores e alunos que, de uma forma empe-nhada, motivada e integrada dão continuidade, todos os anos, a in-tervenções preventivas de carácter universal e selectivo. As interven-ções de carácter selectivo e indicado são realizadas maioritariamente pelo CRI de Leiria, em articulação sempre com a direcção, o coorde-nador de saúde e, por vezes, o psicólogo da escola.

Hoje, fala-se muito em prevenção baseada na evidência. Isto aplica-se a estes projetos?AFS – Todos os Projetos apresentados nas Oficinas de Boas

Práticas são baseados em evidência científica. Oito destes projetos foram concebidos no âmbito de uma acção de formação acreditada de 25 horas, realizada por mim, no âmbito do programa; um dos pro-jectos foi realizado no âmbito do Programa “Eu e os Outros” (um dos muitos realizados na Oficina de Formação de 54 horas); o G.A.M.E é uma boa prática reconhecida pelo Ministério da Educação, em que

12integrámos conteúdos e estratégias associadas às dependências; as aplicações informáticas Tek4Health e Tek4Health Famílias foram criadas no âmbito de um concurso e todos os conteúdos tiveram mo-nitorização do CRI de Leiria. Por último, a Educação pelos Pares é uma estratégia científica reconhecida e que foi utilizada, com muito sucesso, no âmbito do programa.

A intervenção, a prática e os resultados são avaliados?AFS – O Programa Like Saúde prevê a avaliação em todos os

concelhos. O concelho de Leiria estabeleceu uma parceria estra-tégica com o Instituto Politécnico de Leiria – Escola Superior de Saúde e Escola Superior de Educação e Ciências Sociais e o con-celho de Porto de Mós com a Universidade Aberta, através do CLA local. Esta avaliação prevê, não só, a avaliação das ações realiza-das mas também do impacto do próprio programa. Todos os proje-tos têm prevista a avaliação interna de processo e de resultados o que significa que toda a prática (da actividade ao projeto é avalia-da). Todas as formações a professores e a assistentes operacio-nais têm a avaliação prevista pelos centros de formação e todas as acções para alunos têm avaliação do processo e de resultados. Na I Mostra foi realizada uma mesa redonda sobre avaliação, em que cada concelho apresentou uma das áreas desenvolvidas e as metodologias utilizadas – investigação-acção, activas e participati-vas, integradas.

Este evento acolheu ainda a realização de diversas ofici-nas, a que se destinaram?AFS – As Oficinas de Boas Práticas apresentaram um conjun-

to de Projetos realizados no âmbito do Programa Like Saúde dos quatro concelhos. Os professores envolvidos e dinamizadores das oficinas apresentaram os objetivos, as metodologias, as estraté-gias e os resultados de cada projeto, que se encontram resumidos no caderno publicado das Boas Práticas e entregue a cada partici-pante da Mostra.

LABORINHO LÚCIO

“A dignidade humana é o valor que temos que preservar”

Sendo um homem do direito, não se cansa de assumir o papel de provedor dos excluídos da sociedade, defenden-do-os assiduamente neste tipo de intervenções…Laborinho Lúcio (LL) – Não sou nada provedor nem tenho a

defesa dos excluídos… Tenho o que considero ser um dever de ci-dadania. A vida deu-me condições para poder passar por ela do lado que a torna mais tranquila mas compreendo que há muitíssi-ma gente que vive abaixo do próprio limiar da condição humana. E é nessa medida e em nome dessas pessoas que é necessário in-tervir e persistir sistematicamente para que não nos adaptemos nem habituemos a que as coisas sejam assim. Não têm que ser,

considero que a pobreza, assim como a exclusão, é uma violação de direitos humanos e, portanto, é necessário irmos combatendo sistematicamente contra elas, o que faço porque entendo ser um dever elementar, não havendo nisso nenhum mérito especial.

Democracia que não trata bem os excluídos não soa a de-mocracia…LL – Evidentemente, não é uma democracia plena. Claro que

também não podemos ter a ideia de que tudo isto se resolve com um estalo de dedos de um dia para o outro… Precisamos é de ter a noção de que o caminho vai sendo progressivamente esse. É preciso definir um limiar da coesão social abaixo do qual a digni-dade desaparece. E a dignidade humana é o valor, desde logo constitucional, que temos que preservar sistematicamente.

É difícil ser-se jovem nos dias de hoje?LL – Gostaria de saber responder mas, como não sou, não

faço ideia… Acho que todas as gerações têm as suas dificulda-des. Evidentemente, as dificuldades da geração que está no pre-sente são sempre aquelas que se sentem mais porque são as que se estão a viver. Temos que olhar a vida como um contínuo, em que a criança, o jovem, o adulto ou o velho fazem parte do mesmo campo social, da mesma relação, da mesma comunidade e procu-rarmos intercomunicações que nos permitam que, com conflitos muitas vezes até positivos, com diferenciação de opinião, procure-mos isolar os problemas essenciais e encontrar soluções consen-suais. A vida é um desafio à superação de obstáculos e uma ju-ventude sem obstáculos ou problemas também seria uma juventu-de sem vida e sem seiva. Portanto, julgo que não vale a pena hi-pervalorizarmos os problemas. O que é preciso é perceber que existem e encontrarmos caminhos para os podermos superar em conjunto.

24‒26 OctoberLisboa Congress Centre, Portugal

www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17 | |

Lisbon Addictions 2017 | 24‒26 October | Lisboa Congress Centre, Portugal | www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17

LISBOA RECEBE 2ªCONFERÊNCIA EUROPEIA SOBRE COMPORTAMENTOS ADITIVOS E DEPENDÊNCIAS

(19.07.2017, Lisboa) A 2ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências vai decorrer em Lisboa nos dias 24–25 e 26 de outubro, contando com a presença de vários peritos internacionais na área das dependências.

Na Lisbon Addictions 2017 iremos encontrar os últimos desenvolvimentos do conhecimento científico na área dos comportamentos aditivos e dependências e irão ser debatidos vários temas, que vão desde as drogas ilícitas, o álcool, o tabaco e o jogo.

A Conferência é organizada conjuntamente pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD, Portugal), a revista Addiction, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA) e a International Society of Addiction Journal Editors (ISAJE).

Esta 2ª edição já tem mais de 800 inscrições, originárias de todos os continentes e foi concebida para abranger uma audiência multidisciplinar. Vão ser abordadas áreas como a epidemiologia, as políticas públicas, a investigação clínica, a psicofarmacologia e as ciências socias e comportamentais.

A Conferência terá lugar no Centro de Congressos de Lisboa e está organizada em torno de quatro temas:

• Da ciência para a política e da política para a ciência• Avaliando dependências — uma questão de escala• Limites da adição• Futuros desafios nas dependências

No programa destacam-se keynote speakers, investigadores de remome mundial nestas áreas e diversas apresentações; comunicações rápidas, sessões temáticas e outros eventos.

Os vários parceiros, incluindo organizações nacionais e internacionais (como as Nações Unidas, o Conselho da Europa e a Comissão Europeia) irão contribuir para a excelência científica deste evento.

As sessões de abertura e de encerramento da Conferência serão abertas à imprensa:

• Cerimónia de abertura: 24 outubro — 10H30–11H00• Sessão de encerramento: 26 outubro — 16H30

Face ao interesse demonstrado, podemos já indicar que a 3ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências irá decorrer em Lisboa de 23 a 25 de outubro de 2019.

14Evento decorreu em Paços de Ferreira:

III Jornadas da Saúde em contextos educativos 2017

O Auditório da Câmara Municipal de Paços de Ferreira foi o palco para a realização da terceira edição das III Jornadas da Saúde em contextos educativos, evento que decorreu entre os dias 30 de Junho e 1 de Julho. Estas Jornadas elegeram como principais destinatários os profissionais de saúde do ACES Tâ-mega III - Vale do Sousa Norte, os docentes e não docentes dos Agrupamentos/Escolas dos concelhos de Felgueiras, Lou-sada e Paços de Ferreira e técnicos de Acção Social dos referi-dos concelhos. As Jornadas da Saúde em contextos educativos são uma organização em parceria que envolve o trabalho de vários profissionais e entidades ligadas à Educação, Saúde e Municípios da área geográfica do ACES Tâmega III – Vale do Sousa Norte. Presença significativa no evento, Alexandra Lei-tão, Secretária de Estado da Educação, acedeu a falar com De-pendências sobre temas e políticas dominantes para o ensino e educação no exercício do actual Governo…

ALEXANDRA LEITÃO, SECRETÁRIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

“Temos de criar cidadãos informados”

Frisou, na sua intervenção, que “é na escola que tudo co-meça”… É também na escola que surgem os primeiros problemas… O que motivará este divórcio entre a escola e a educação?Alexandra Leitão (AL) – Não sei se concordo com a sua pre-

missa… Muitas vezes, a escola ou o que acontece na mesma não é mais do que a repercussão de problemas que as crianças e jo-vens trazem de casa e, aí, entendo que a escola tem um papel muito importante em matéria de intervenção precoce: de detectar, de sinalizar, de trabalhar em conjunto com a saúde e com a Segu-rança Social para tirar essas crianças e jovens, por exemplo, de comportamentos desviantes na área das dependências ou de si-nalizar e acompanhar outras situações de risco, nomeadamente ao nível da saúde mental, entre outras, e dessa forma romper essa situação. Portanto, vejo mais isto como uma relação muito profícua entre a educação e a saúde, que tenho a certeza que dará frutos.

Entre as mudanças que se vão verificando no ministério da educação, constata-se uma muito reclamada, a educa-ção para a saúde… Se é verdade que as crianças e jovens aprendem na escola, não deveria ser também um facto ad-quirido o advento de crianças e jovens informados e devi-damente apetrechados da aprendizagem sobre comporta-mentos desviantes e consumos problemáticos?AL – Este Referencial para a Saúde, aprovado pela Direcção-

-Geral da Educação, em áreas que vão desde a alimentação ou o exercício físico mas também a saúde mental, as dependências ou a educação para a sexualidade, visa exactamente fornecer orientações às escolas para estas, no âmbito da sua autonomia, desenvolverem, quer no âmbito de disciplinas do currículos formal, quer até no âmbito de outros tipos de actividades, projectos extra curriculares e outros, poderem exactamente educar e não apenas ensinar. Penso que é esse o caminho do futuro, nessa ideia de criar cidadãos informados em todas as áreas, naturalmente sem prejuízo do ensino formal, ob-viamente determinante porque, também sem este, não existe aquele elevador social que a escola deve providenciar. Mas tem sido uma tó-nica deste Governo a ideia de criar uma cidadania plena, que passa por diversas áreas e também pela da saúde.

Em que medida teremos hoje uma escola inclusiva e so-lidária?AL – Francamente, acho que temos! E acho que temos cada

vez mais, sobretudo no último ano…

Que importância assumem afinal os exames para o actual ministério da educação?AL – Os exames, as provas de aferição, o ensino formal ou a

avaliação, seja feita como for, são apenas mais um momento mas não o momento. A avaliação é importante mas, além disso, é im-portante a ideia da educação como um todo. E creio que este Go-verno tem demonstrado que se preocupa tanto com uma vertente como com outra. Não há claramente aquela ideia de que as crian-ças estão na escola para aprenderem e, sobretudo, para serem avaliadas. As crianças estão na escola para serem educadas no sentido mais amplo do conceito educação.

Afirmou que a sua presença aqui é um sinal de mudança… Para quando essa mudança?AL – Diria que é um sinal de que a mudança já está a aconte-

cer. Ou seja, de que esta relação profícua entre saúde, educação e as áreas transversalmente sociais já está a fazer-se e tem sido intensa desde o início deste mandato. Claro que na educação as coisas demoram porque implicam uma mudança de mentalidades mas entendo que estão criadas todas as condições para, a médio prazo, termos frutos desta interdisciplinaridade tão profícua.

15Festival VILA 2017 Lousada:

CRI Porto Oriental promove acções de prevenção e redução de riscos no

Festival VILA, em LousadaNos dias 30 de junho, 1 e 2 de julho, O CRI Porto Oriental, a

convite da Câmara Municipal, esteve presente, mais uma vez, no Festival VILA 2017 que animou Lousada durante 3 noites. Neste evento musical destinado aos jovens lousadenses, que decorreu no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca, participaram centenas de artis-tas locais e oito de renome nacional e internacional, de diversos es-tilos musicais.

Partindo do pressuposto que existe uma forte relação entre o consumo de substâncias psicoactivas e os contextos recreativos, como eventos de música e de dança, O CRI Porto Oriental desen-volveu um programa de prevenção dos riscos e redução dos danos que teve como objectivos: diminuir os comportamentos de risco as-sociados ao consumo e aumentar o grau de segurança dos fre-quentadores do Festival em relação aos acidentes de viação.

Para este evento musical, o CRI Porto Oriental mobilizou vários profissionais de saúde para a dinamização de várias estratégias preventivas, sensibilizando os jovens para os riscos relacionados com a associação de álcool e outras substâncias à condução rodo-viária e informando acerca das competências necessárias para uma condução segura.

Esta foi mais uma acção que decorreu em parceria com a Câ-mara Municipal de Lousada, no âmbito do Plano de Respostas Inte-gradas (PRI não financiado), através do desenvolvimento de ac-ções de intervenção comunitária concebidas para o estabelecimen-to de uma relação de proximidade com os jovens frequentadores deste tipo de evento festivo, avaliando os comportamentos de risco em contextos recreativos nocturnos, relacionados com à associa-ção do álcool e cannabis aos riscos rodoviários.

A exemplo do ano passado, o CRI Porto Oriental apostou numa intervenção de proximidade com os jovens, procurando contribuir para a promoção da saúde e promover alternativas para uma diver-são saudável, através de acções de prevenção selectiva e indicada e de acções de redução de riscos e minimização de danos juntos dos frequentadores deste Festival da Juventude. Foram dinamiza-das várias acções preventivas e de redução de riscos, desde a dis-tribuição de material informativo, conversas informais com os jo-vens no recinto dos concertos, realização de testes do álcool (para detenção do grau de alcoolémia) até a oferta de bebidas cool, sem álcool.

16Associação Nacional de Apoio a Jovens – Anajovem:

Há 25 anos a apoiar crianças, jovens, homens e mulheres adultas

A Anajovem é uma IPSS de âmbito nacional, sediada em Coimbra e que iniciou a sua actividade em 1991, com ações de formação na área da toxicodependência, dirigida a jovens, associações juvenis, escolas e encarregados de educação, promovendo o desenvolvimento saudável do indivíduo e da comunidade.

A instituição elege como objectivos prioritários promover acções de solidariedade social, nomeadamente a desenvolver ações de preven-ção da toxicodependência junto de crianças, jovens e comunidade em geral e de apoio nos sectores de reinserção social dos jovens consumi-dores de substâncias psicoactivas ou em risco de eventual consumo. Paralelamente, a Ana Jovem oferece apoio aos pais, encarregados de educação e outros envolventes e coopera com outros organismos ofi-ciais ou particulares na concretização de projectos nas áreas atrás refe-ridas.

Actualmente, a Associação tem três respostas/equipamentos so-ciais, ao nível da prevenção, tratamento e reinserção social no âmbito dos comportamentos aditivos, nomeadamente a Equipa de Intervenção Directa Raiz, a Comunidade Terapêutica Lua Nova e o Apartamento de Reinserção Social.

Dependências visitou a instituição, onde fomos recebidos pela Pre-sidente, Maria de Lourdes Rosendo e a Psicóloga coordenadora, Vanda Proença, com quem falámos essencialmente sobre a resposta Lua Nova, a comunidade Terapêutica da Anajovem…

A Anajovem acumula um legado de 25 anos de intervenção… O que mudou ao longo deste período?Maria de Lourdes Rosendo (MLR) - Mudou muito… Começámos

com a designação Ana Jovem para Jovens, elegendo essencialmente as escolas como contextos destinatários da nossa intervenção. Nesse momento, tratava-se efectivamente da grande preocupação…

Mas já se sinalizavam riscos acrescidos nas escolas?MLR - Sim, já. Na altura, estava no activo, sendo professora e tinha

muita ligação com os alunos, beneficiando até de desconto de horário para estar junto dos mesmos; depois, trabalhei com o Professor Amaral Dias, que tinha um projecto dedicado às escolas, havendo ainda técni-cos do CEPD que iam periodicamente às escolas dar-nos indicações, apesar de todas as dificuldades inerentes a uma época marcada pela escassez de meios ou de referências para tratamento de casos diagnos-

ticados. Eu própria, cheguei a acolher na minha própria residência uma toxicodependente para a qual não encontrávamos qualquer resposta… Entretanto, havia técnicos muito preocupados, entre os quais uma pro-fissional que também fazia parte da Ana Jovem, que intentaram lançar uma comunidade terapêutica que possibilitasse resolver esses proble-mas com que se deparavam, inicialmente dedicada às mulheres.

Entretanto, a Lua Nova surge como uma comunidade terapêu-tica para mulheres grávidas ou com filhos… Porquê?MLR – De acordo com o que fui registando, essa era uma necessi-

dade específica constatada pelas técnicas na altura, que se focaram nestes projectos…

Vanda Proença (VP) – Entretanto, em 2009, optámos por abrir a comunidade às mulheres que quisessem fazer o tratamento connosco, independentemente de estarem grávidas ou de terem filhos, com a pro-blemática de dependência de substâncias ilícitas. Desde 2016, alargá-mos às substâncias lícitas, ou seja, o álcool.

E as mulheres aderem a esta resposta?VP – Sim, aderem… Em 2009, quando decidimos abrir a comunida-

de às mulheres, independentemente da condição maternal, fizemo-lo porque recebíamos muitas solicitações de equipas de tratamento que pretendiam saber se tínhamos vagas para mulheres sem filhos e o nos-so modo de funcionamento. A par, começámos a sentir um aumento desse tipo de procura em simultâneo com um decréscimo de procura por parte de mulheres grávidas. Entretanto, a Lua Nova continua a ser uma comunidade terapêutica exclusivamente para mulheres, com 14 camas.

Presumindo que dispõem de uma equipa técnica qualificada, como conseguem rentabilizar o projecto? A taxa de ocupação é satisfatória?VP – Não. E não é, por exemplo, por não haver mulheres alcoólicas

a necessitarem de respostas. Aliás, quando decidimos abrir a comunida-de a dependentes de substâncias lícitas foi por sentirmos essa necessi-dade porque tínhamos muitos contactos por parte de pessoas que nos perguntavam se recebíamos mulheres alcoólicas… Curiosamente, a nossa comunidade é muito procurada por equipas que sabem que ape-nas recebemos mulheres. Ou porque consideram esse critério importan-

17

te ou porque têm utentes que já experimentaram programas mistos que não resultaram ou porque, devido aos comportamentos dessas mulhe-res, associados aos consumos, as técnicas consideram mais proveitoso a frequência numa comunidade terapêutica exclusiva para mulheres. Essencialmente, é essa a procura que temos e daí mantermos a nossa população apenas feminina.

Que principais diferenças destacariam entre o trabalho com doentes alcoólicas e com doentes com consumos de outras substâncias?VP – Essencialmente, é a maneira como a própria doente encara a

dependência e como esta é vista na sociedade. Temos ambos os perfis aditivos na comunidade e, apesar de termos grupos distintos, também temos grupos em que juntamos dependentes de diferentes substâncias e notamos que, para além do preconceito geral existente em relação à toxicodependente, há uma desvalorização da toxicodependente relati-vamente ao álcool.

Qual é o modelo terapêutico aplicado na comunidade?VP – É o modelo biopsicossocial, de aprendizagem social. É um

modelo sustentado em evidência científica, que desde sempre adoptá-mos e que fomos ajustando às necessidades e à evolução dos consu-mos que nos foram surgindo. Quando entrei na comunidade, a maioria dos utentes apresentava problemáticas relacionadas com substâncias ilícitas, essencialmente de heroína, entretanto passámos a uma fase em que predominavam os consumos de cocaína e, ultimamente, já vamos tendo algumas drogas sintéticas. Logicamente, vamos adaptando todo o programa às nossas utentes, dentro da nossa matriz orientadora. O ál-cool segue essa mesma matriz, tendo em consideração as diferenças inerentes à substância, à consumidora, às vivências e contextos.

Qual é a duração do programa?VP – Para alcoólicas, é de seis meses, podendo ser prolongado por

mais três; para substâncias ilícitas, é de um ano, podendo ser prolonga-do por mais seis meses.

E avaliam os resultados obtidos a partir da implementação des-ses programas?VP – Sim, avaliamos. Até ao momento, tivemos seis alcoólicas que

terminaram o programa, entre as quais uma recaiu. Relativamente às al-coólicas que tivemos aqui, tivemos sempre suporte familiar, o que nos permite obter feedback. No que concerne às substâncias ilícitas, no-meadamente as utentes com crianças, são os nossos casos com maior sucesso relativamente à abstinência e à reinserção social e profissional.

Ao fim destes 25 anos, o que perspectivam para o futuro da Ana Jovem?MLR – Gostava de ser optimista mas os números e a contabilidade

é que contam, o que acarreta uma enorme preocupação… Ainda hoje, contamos com os mesmos apoios que nos eram concedidos quando ini-ciámos actividade, há 25 anos, quando sabemos que a evolução das despesas ou as exigências ao nível dos equipamentos ou da formação não tem qualquer comparação… É um trabalho muito difícil.

VP – A comunidade terapêutica foi-se actualizando ao longo dos tempos e, efectivamente, este é um tempo de reflexão em torno do seu futuro, que contemple um passo em frente mas em segurança. É funda-mental continuarmos atentos às mudanças e ao que é necessário na nossa sociedade. Continuaremos a ser uma comunidade pequena, de carácter familiar, seja apenas de mulheres ou mista porque sempre nos foi possível, quando temos a casa composta, gerir esta comunidade te-rapêutica. Por isso afirmo ser realista optimista: sendo lógico que a si-tuação se encontra complicada e que não é a primeira vez que a comu-nidade se depara com dificuldades como esta, é o momento de rever as coisas. Também sabemos que temos uma equipa técnica, bem como uma direcção que está ao nosso lado, que consegue acompanhar a evolução e aceita as nossas sugestões. E também temos pessoas que já pertenceram à Ana Jovem e continuam ligadas a nós que, sempre que são solicitadas, também opinam e nos ajudam. Espero que, daqui a um ano, estejamos novamente cá e possamos dizer que temos a comu-nidade cheia…

MARIA DE LOURDES ROSENDO

“Gostava de ser otimista mas…está muito difícil”

VANDA PROENÇA

“Somos uma comunidade pequena e familiar”

18C.M. Matosinhos foi pioneira em intervenção social e ganhou aposta…

Adeima celebra 25 anosPor ocasião das comemorações dos 25 anos da Adeima, a

Câmara Municipal de Matosinhos acolheu, no dia 26 de Junho, uma cerimónia pública de entrega de certificados, destinada às pessoas que concluíram os seus percursos de educação/forma-ção nos projetos + Literacia e Centro Qualifica da Adeima. Esta iniciativa visa reconhecer o esforço das pessoas envolvidas em prosseguir objetivos de aumento das suas qualificações e dar visibilidade ao trabalho desenvolvido pela Adeima na área da edu-cação e formação.

No concelho de Matosinhos, segundo os Censos de 2011, das 88326 pessoas em idade activa, 7% não tinham escolaridade, 39% não concluíram o ensino básico e 18% tinham o 9º ano. Assim, em parceria com a ADEIMA, a Autarquia implementou o Centro Qualifica, uma estrutura do Sistema Nacional de Qualifica-ções que visa promover a qualificação escolar e profissional da população adulta e de jovens, entre os 15 e os 17 anos, que não se encontrem a frequentar modalidades de educação ou formação e que não estejam a trabalhar. Desde que surgiu, em 2014, já abrangeu 787 pessoas. Foram integradas em ofertas de qualifica-ção 422 pessoas, das quais 306 iniciaram Processos de Reconhe-cimento, Validação e Certificação de Competências escolares e/ou profissionais (RVCC). Destas, 79 pessoas já concluíram os seus processos de certificação, tendo aumentado o seu nível de qualificação.

Outro dos projetos implementados nesta área foi o projeto + Literacia. Dirigido a pessoas com mais de 18 anos, iletradas ou com muito baixos níveis de literacia, este projeto visa a promoção de literacias básicas - leitura e escrita, cálculo matemático, conhe-cimento do mundo, competências tecnológicas, e desenvolvimen-to sociocognitivo.

Esta oferta de educação formação iniciou em Abril de 2016, tendo terminado a sua primeira edição no passado mês de Abril. Foram desenvolvidas ações nas quatro uniões de Freguesia que abrangeram 105 pessoas adultas, tendo 86 concluído o seu per-curso de aprendizagem com aproveitamento.

Está já em curso a divulgação e mobilização social para avan-çar com a segunda edição, em Setembro de 2017. Para além das pessoas que participaram na primeira edição e pretendem conso-lidar e aprofundar aprendizagens, serão integrados novos e novas formandas.

70 adultos aproveitaram a oportunidade que o Centro Qualifi-ca da ADEIMA- Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos e o projeto + Literacia lhes proporcionou e retomaram o seu percurso de qualificação quer ao nível da educação quer ao

nível da formação. Os certificados foram entregues no dia 26 de Junho a quem concluiu o seu processo, no Edifício dos Paços do Concelho, numa cerimónia que contou com a presença da Verea-dora da Acção Social e presidente da ADEIMA, Lurdes Queirós, do Vereador da Educação, António Correia Pinto, da deputada Luísa Salgueiro e do presidente da junta da união das freguesias de Matosinhos- Leça da Palmeira, Pedro Sousa.

Dependências marcou presença no evento de comemoração dos 25 anos da Adeima e entrevistou Luísa Salgueiro e Lurdes Queirós.

LUÍSA SALGUEIRO, DEPUTADA E CANDIDATA À PRESIDÊNCIA DA C.M. MATOSINHOS

“Matosinhos é um exemplo nacional”

Que motivos levam uma deputada da Assembleia da Re-pública a marcar presença no aniversário de uma institui-ção que intervém no concelho que a elegeu?Luísa Salgueiro (LS) – Permita-me afirmar que, hoje, não es-

tou aqui como deputada… Durante muitos anos, fui presidente da Adeima e renunciei recentemente ao cargo de presidente da as-sembleia geral e, portanto, continuo a sentir-me parte da Adeima, uma instituição de referência em termos de intervenção social. Es-tes 25 anos da Adeima confundem-se com o desenvolvimento so-cial do concelho. Os momentos mais difíceis, as populações mais vulneráveis e os projectos mais arrojados e inovadores em termos sociais em Matosinhos têm a marca da Adeima. Do tempo que lá estive, apreciei muito, em primeiro lugar, a equipa de profissionais, que é muito competente e revela uma relação de grande proximi-dade e cumplicidade com as pessoas com as quais trabalha, sen-do mesmo capaz de alterar o tecido social através da intervenção que promove.

Ao que não será alheia a tradição solidária, bem presente no território…LS – Sim, a marca solidária é uma das marcas de Matosinhos,

que tem essa tradição de gente muito altruísta e de grande solida-riedade. O território tem crescido com base na intervenção pública a par de uma intervenção do sector social muitíssimo forte e de uma grande complementaridade. Claro que não podemos falar apenas em sucesso porque existem muitos problemas sociais em Matosinhos, tal como o país vive ainda momentos difíceis, até por-que só recentemente saímos de uma crise muito profunda mas estas instituições servem para atenuar a situação de dificuldade

19que as pessoas atravessam. E se conseguirmos atingir muitas metas de sucesso, isso deve-se, sem dúvida, ao tecido social, às instituições de Matosinhos e, com um grande destaque, à Adeima, o chapéu da intervenção social ao nível municipal.

Apesar de ainda persistirem esses problemas sociais em Matosinhos, o concelho altamente qualificado ao nível das respostas, nomeadamente as destinadas às pessoas com CAD…LS – Sim, é verdade… Nós temos uma comunidade terapêuti-

ca, um centro de alcoologia, uma unidade móvel de apoio a toxico-dependentes, projectos que foram sempre os primeiros no país. Introduzimos uma nova metodologia de atendimento à população, que foi vertida no Plano Nacional para a Inclusão, o atendimento integrado, com a figura do gestor de caso… Temos marcado a agenda em termos sociais e, mesmo assim, não conseguimos re-solver tudo mas temos sempre as respostas mais qualificadas em termos nacionais.

O que faltará então fazer em Matosinhos e o que a move para assumir uma candidatura à presidência da autarquia?LS – Nós temos de atingir a excelência em tudo. Também na

área social, temos de estar num patamar de excelência, ter os me-lhores indicadores, o menor número de pobreza, o menor desem-prego, os maiores indicadores de inclusão, o melhor acolhimento para jovens que queiram fixar-se no concelho… Há muito por fa-zer. Já foi feito muito mas não estamos resignados ao que conse-guimos. Temos muita ambição e estamos determinados em con-seguir elevar ainda mais o patamar em que o concelho se encon-tra. Somos bons mas queremos ser muito melhores.

Enquanto deputada, uma das suas responsabilidades reside na área da saúde, onde se vai arrastando um sé-rio problema decorrente do facto de o anterior Gover-no ter optado por extinguir um serviço de excelência, o IDT, transformando-o no actual SICAD e colocando vá-rias centenas de profissionais e utentes numa situação angustiante. O que poderá fazer-se para inverter esta situação?LS – Acima de tudo, ajustar as respostas dos serviços aos

problemas das pessoas. Não podemos ter modelos de organiza-ção da Administração Central que não vão ao encontro dos pro-blemas que o território tem e que as pessoas atravessam. O mo-delo que foi criado, com base exclusiva nas ARS não funciona tão bem quanto funcionava o anterior e, como deputados, temos feito uma pressão para que este Governo adapte esse modelo, o Go-verno pretende seguir esse caminho e, portanto, o que falta para que os profissionais e utentes não sintam essa angústia é terem mais recursos, competências e meios para responderem aos pro-blemas que tão bem conhecem.

LURDES QUEIRÓS, VEREADORA DA ACÇÃO SOCIAL DA C.M. MATOSINHOS

“A resposta aos problemas faz parte do ADN da Adeima”

25 anos a intervir no concelho é, de facto, muito tempo… Que ADN é este, o da Adeima?Lurdes Queirós (LQ) – Começando pelos 25 anos, diria que pa-

rece ser muito tempo e, simultaneamente, parece que foi ontem… Creio que o ADN da Adeima é a capacidade de perceber que o que fazemos hoje não é igual ao que fazíamos ontem e que todos os dias as coisas mudam. E a procura de respostas actualizadas aos proble-mas que vão surgindo tem sido o verdadeiro segredo de uma longe-vidade que faz todo o sentido.

Em que medida se poderá justificar o sucesso da interven-ção com a proximidade adoptada perante os cidadãos e os problemas sociais?LQ – Sim, desde que começámos, há 25 anos, pegamos em

franjas que mais ninguém pega… Por vezes, quando fazemos avalia-ções, os números parecem ser pequenos mas, na verdade, nós faze-mos sentido por esses números pequenos. Há dias, quantificávamos um projecto, avaliando custo e benefício, uma particularidade muito própria da Adeima: trabalhamos para franjas que, habitualmente, fi-cam a descoberto.

Que marca destacaria ao longo deste longo caminho?LQ – Referindo-me aos quatro anos em que tenho estado mais

próxima e a um dos últimos projectos que fizemos que faz realmente a diferença, salientaria o Literacia+, no âmbito do qual entregámos 60 certificados a pessoas que aprenderam a ler e a escrever… Marcou--me perceber que ainda havia pessoas que precisavam de perguntar para onde ia o autocarro ou que não conseguiam ler fosse o que fos-se… Mas, se percorrermos todo este tempo, creio que foram muitís-simos os projectos que fizeram sentido.

Uma intervenção como a assegurada por esta instituição re-presenta custos assim tão elevados?LQ – Tem custos mas estes têm que ser equiparados ao benefício

e, se formos fazer esse balanço entre o que custa e o que depois com-pensa, estou convicta de que os custos não são assim tão significativos.

20Entrevista com o Ministro da Saúde e da Segurança Social de Cabo Verde:

“O modelo português é um exemplo para o mundo”

Cabo Verde constitui uma refe-rência no âmbito dos PALOP, ao ter transferido a interven-ção em drogas e dependên-cias do âmbito da justiça para a saúde… O que motivou esta decisão?

Arlindo Nascimento Ro-sário (ANR) - Desde logo porque entendemos que um dependente de drogas deve ser encarado, do ponto de vis-ta da saúde, como um doente. E que deve haver um trabalho muito forte em domínios como

a prevenção, o tratamento e a reabilitação e reintegração do dependente de droga na sociedade. Retirar essa carga ex-clusivamente repressiva, passando para uma visão, que é aquela que também existe em Portugal, país onde nos inspi-rámos muito a este nível, oferecendo essa componente de tratamento, agindo sobre os danos e potenciando a reabilita-ção, é fundamental.

Presumo que constitua um desafio para o ministro da saú-de o facto de esta ser uma patologia particular, em que o doente, habitualmente, não procura os serviços para ser tratado…ANR - Sem dúvida. Mas devo referir que, para além do con-

texto das drogas ilícitas, criámos um dispositivo que trata dos pro-blemas ligados ao álcool, um importante problema de saúde públi-ca em Cabo Verde. Este é um problema multissectorial e transver-sal e, por isso, este dispositivo criado faz a coordenação com ou-tros ministérios, organizações e instituições que também intervêm sobre esta problemática. Se conseguirmos que, também nas co-munidades locais, haja esse compromisso em torno da reintegra-ção do doente, estaremos no caminho certo.

Também enfrentam a barreira de o álcool ser, em Cabo Verde, uma substância culturalmente aceite e enraiza-da…ANR - É verdade… Toda a gente consome porque é cultural-

mente tolerável e aceitável… Mas também por conhecermos a realidade, não optámos por desenvolver uma política focada na abstinência. Antes pelo contrário, a mensagem passa pelo apelo a um consumo moderado, sendo certo que os problemas ligados ao álcool não se resumem ao domínio da saúde mas igualmente aos acidentes de viação ou à violência de género. Mais do que um problema de saúde pública, é um produto social que temos que controlar…

O ministro da saúde tem, em Cabo Verde, um contexto ter-ritorial muito particular, com muitas ilhas diferentes que representam perfis de consumo e de consumidores dife-renciados… Como é possível aspirar a conseguir resolver os problemas de todos os cabo-verdianos desta forma se-parados geograficamente?ANR - O pensamento do Governo passa por procurar assegurar,

ao nível da saúde, a universalização dos cuidados mas também ten-tar diluir as assimetrias flagrantes, verificadas de ilha para ilha. Não é algo que se faça de um dia para o outro mas pretendemos desenvol-ver um trabalho que nos permita alocar e ajustar recursos humanos e materiais às ilhas mais carenciadas e criar um sistema integrado para que possamos ter respostas locais e regionais. Ao nível da saúde, bem como ao nível político em geral, em termos organizacionais, es-tamos a avançar no sentido da regionalização. Foram já criadas as regiões sanitárias, bem como as delegacias mas há um trabalho de base que é concertado com outras instituições, sobretudo com o mi-nistério da educação e creio que é nesse sentido que poderemos operacionalizar o pensamento estratégico para a saúde.

Portugal integra a CPLP e os PALOP e tem um modelo de intervenção reconhecido internacionalmente nos CAD e dependências… Como encara Cabo Verde esta oportu-nidade de partilha?ANR - A experiência portuguesa é, efectivamente, considerado

um modelo a nível mundial. E o trabalho que foi feito em torno da des-criminalização do consumo e da posse para consumo das drogas e das medidas que visam a centralidade no cidadão tem produzido re-sultados. Temos muito a aprender com Portugal no que concerne ao tema da saúde e, em particular, com a política de drogas portuguesa e, por isso, temos mantido um constante contacto, do que constitui exemplo o trabalho desenvolvido pela coordenadora do CCAD. Creio tratar-se de uma experiência que Portugal deve também promover no seio do espaço CPLP, por forma a que possamos adoptar uma vi-são não apenas repressiva mas que vise dar prioridade à situação socio-sanitária dos dependentes.

Como está a saúde em Cabo Verde?ANR - Comparativamente com outros países da nossa região,

Cabo Verde até apresenta indicadores interessantes, constituin-do-se como um bom exemplo, em África, face ao que temos al-cançado nalguns domínios. É evidente que, como país com par-cos recursos, temos desafios importantes no que concerne até à adequação da nossa constituição, no que concerne ao equilíbrio entre a desejável universalidade e gratuitidade do acesso com im-perativos de ordem orçamental. Mas hoje, vamos conseguindo al-guma complementaridade entre o sector público e a actividade pri-vada que, acredito, nos permitirá desenvolver os indicadores que actualmente apresentamos.

O tratamento com Buprenorfina/Naloxona melhora a perceção do doente

relativamente à sua situação emocional e social, bem como a capacidade

de reintegração numa vida social ativa1

Doentes tratados com Buprenorfina/Naloxona

demonstraram melhorias significativas a nível social,

educacional e relativamente à utilização de drogas

concomitantes1

Bibliografia:

1.- Apelt SM, Scherbaum N, Gölz J, Backmund M, Soyka M. Safety, Effectiveness and Tolerance of Buprenorphine-Naloxone in the Treatment of Opioid Dependence: Results from a Nationwide Non-Interventional Study in Routine Care. Pharmacopsychiatry. 2013 May;46(3):94-107

ANUN_subx_port_FILM.indd 1 18/4/17 10:23

22Seminário decorreu na Madeira, no Dia Mundial da Internet:

Estou online e agora?

“O impacto da realidade virtual é inevitável. Tem prós e contras, tal como tudo na vida e como tal, tem de ser em dose q.b., tem de ser utilizada com parcimónia. Importa não esquecer que o mundo virtual, que a uns encanta e a outros assusta, é construído pelas mesmas pessoas, pelos mesmos protagonistas, que habitam o mundo real. As ameaças do mundo virtual não serão as mesmas do nosso mundo real? Não estará o mundo virtual apenas a por a descoberto os pro-blemas do mundo real? Importa perceber de que mundos falamos… e importa cuidar bem do nosso mundo real para estarmos ainda me-lhor, no que consideramos o mundo virtual. É o desafio que vos deixo e que certamente este debate que se irá iniciar dará as melhores res-postas”. Foram estas as palavras proferidas pelo Secretário Regional da Saúde da Região Autónoma da Madeira (RAM), Pedro Ramos, na Sessão de Abertura do Seminário “Estou online e agora? Conse-quências psicossociais da Internet”.

Para assinalar o Dia Mundial da Internet 2017 na RAM, o Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais, IP-RAM (IASAÚDE, IP-RAM), através da Unidade Operacional de Intervenção em Com-portamentos Aditivos e Dependências (UCAD), a Câmara Municipal de Câmara de Lobos e a Direção Regional de Juventude e Desporto levaram a efeito 3 iniciativas preventivas: Exposição “Estou online e agora? Internet – vantagens e riscos do seu uso” com trabalhos ela-borados por alunos das escolas do Concelho de Câmara de Lobos; Seminário “Estou online e agora? Consequências psicossociais da Internet”; e Lançamento da Campanha “Estou online e agora? Riscos e Alertas!”.

O Seminário “Estou online e agora? Consequências psicosso-ciais da Internet” realizou-se no dia 17 de maio de 2017, no Museu de Imprensa da Madeira, envolvendo 300 participantes, entre profissio-nais da área psicossocial, da saúde e da educação (professores, pais/encarregados de educação e alunos).

Nas palavras do Presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, Pedro Coelho, “a problemática das dependências tecnológi-cas é um fenómeno psicossocial que tem vindo a despertar preocu-pações crescentes junto da comunidade científica, educativa e enti-

dades governamental, dado o impacto das tecnologias do lazer e da comunicação, em especial nos estratos mais jovens da sociedade. Sendo ainda recentes os estudos sobre as consequências dos usos destas novas tecnologias na estruturação das relações sociais dos indivíduos, começa a tornar-se consensual que os usos intensivos e desregulados dos jogos eletrónicos e das redes sociais tendem a pio-rar o rendimento escolar das crianças e jovens, o isolamento social sujeitos e o agravar dos conflitos familiares. Nas sociedades contem-porâneas, a presença das tecnologias na vida quotidiana dos cida-dãos é inevitável e tende a ser cada vez mais prevalecente, sendo inegáveis os seus benefícios na melhoria da qualidade de vida das pessoas, na afirmação da liberdade do sujeito e na consolidação das democracias. Não obstante, é também inegável que as consequên-cias psicossociais desta realidade emergente não só nos indivíduos, mas também na sociedade no seu conjunto. É neste contexto que a realização do «Seminário Estou Online e Agora?», para além de oportuno e atual, revestiu-se de importância acrescida por ter reunido um painel variado de preletores que permitiram suscitar debate e re-flexão sobre as problemáticas associadas a este fenómeno, relevan-do, por um lado, os benefícios das tecnologias e das redes sociais e, por outro, alertando para as suas consequências.”

NELSON CARVALHO, DIRETOR DA UCAD

“A internet, é um fenómeno emergente na nossa comunidade”

Qual a importância do Seminário “Estou online e agora? Consequências psicossociais da internet?”Nelson Carvalho (NC) - As dependências sem substância, no-

meadamente as relacionadas com a internet, são um fenómeno emergente na nossa comunidade. Daí a importância em organizar um evento desta natureza, no qual juntamos especialistas e profissio-nais. Procuramos promover a partilha, a reflexão e o debate, por for-ma a reforçar as competências dos técnicos que, diariamente lidam com este tipo de comportamentos aditivos e dependências. Propor-cionamos uma abordagem da internet e as suas consequências psi-cossociais tanto do ponto de vista positivo como negativo. Não que-remos diabolizar a internet, todos sabemos a sua importância no nos-so quotidiano. À semelhança da nossa intervenção nos outros CAD,

23a realização destes encontros científicos, servem para reforçar e/ou criar novas parcerias com entidades públicas e privadas, as quais têm um papel determinante enquanto agentes preventivos nos seus locais de intervenção e as suas respetivas populações alvo. A UCAD, é o serviço do IASAÚDE, que tem a competência de desenvolver e implementar em articulação com as entidades públicas e privadas campanhas, ações, programas e projetos no âmbito da prevenção dos CAD. Nesse sentido, a área das dependências relacionadas com as novas tecnologias tem sido uma prioridade, dada a sua emergên-cia e as suas consequências psicossociais negativas, as quais têm vindo a surgir gradualmente nas diferentes faixas etárias com particu-lar ênfase nas crianças e jovens. Partindo do princípio que para inter-vir bem é necessário um bom diagnóstico, contactámos a Prof. Dra. Ivone Patrão do ISPA, com o intuito de a Madeira integrar o seu estu-do de âmbito nacional. Tal proposta foi aceite desde logo pela colega, o que para nós é importante uma vez que a partir dos seus resultados delinearemos estratégias mais eficientes e eficazes na prevenção destas dependências. Por último e não menos importante, quero en-fatizar e agradecer o papel activo e pedagógico da comunicação so-cial, na qual obviamente se inclui a revista Dependências, na preven-ção dos CAD na Madeira.

Que balanço faz deste evento?NC - Quero, em primeiro lugar, agradecer à Câmara Municipal de

Câmara de Lobos na pessoa do seu presidente, Dr. Pedro Coelho e toda a sua equipa e à Direcção Regional da Juventude e do Despor-to, nomeadamente o seu Director Regional Dr. David Gomes e a sua direcção de serviços da juventude, nossas entidades parceiras que, desde a primeira hora demonstraram interesse e empenho na organi-zação conjunta deste evento. Relativamente ao seu balanço, as três centenas de participantes falam por si, ilustram bem a importância deste tema, tivemos profissionais de diversos contextos de interven-ção, desde a saúde, educação, segurança social, autarquias, IPSS, CPCJ, polícia, juventude entre outros. Outro aspecto positivo a desta-car foi a sua participação activa nas diferentes mesas. Como é nosso hábito entregamos um questionário de avaliação e o feedback foi bastante positivo, o que para nós constituiu um estímulo para organi-zar no futuro uma nova edição deste seminário.

PAULO SOUSA, NEUROPEDIATRA DO SERVIÇO DE SAÚDE DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA, E.P.E

“A comunidade deve conhecer os riscos das novas tecnologias”

Qual opinião lhe suscita a realização deste seminário?Paulo Sousa (PS) - O Instituto de Administração e Assuntos

Sociais, IP- RAM, através da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD), em parce-ria com a Câmara Municipal de Câmara de Lobos e a Direcção de Juventude e Desporto promoveram o Seminário “Estou online e

agora? Consequências psicossociais da internet”, que se realizou no dia 17 de maio de 2017, justo no dia mundial da internet, desti-nado a técnicos da área psicossocial, educação, saúde, professo-res, pais/encarregados de educação e alunos do ensino secundá-rio e superior.

Foi com muita honra que fui convidado como palestrante no Seminário e, como pediatra (neuropediatra de formação), coube--me o tema do impacto das novas tecnologias no desenvolvimento da criança e do adolescente. Actualmente, as novas tecnologias estão a crescer a um ritmo alucinante, mudando o mundo onde vi-vemos e como nos relacionamos com ele; por outro lado, o desen-volvimento da criança e do adolescente está dependente da aqui-sição de diferentes competências que são influenciadas pela inte-ração com o seu meio envolvente. A prevalência das novas tecno-logias na vida diária da criança, do adolescente e das suas famílias, quer na sua aprendizagem, nos seus trabalhos, no lazer e na forma como se relacionam continuará a crescer e a expandir--se em mais formas, que não poderemos prever.

Este tema assumiu, pela primeira vez, na Região Autónoma da Madeira, de forma oficial, um papel fundamental na discussão transdisciplinar desta temática, onde se juntaram as áreas da saú-de, psicologia, educação, investigação tecnológica, brigada do Crime Informático do Departamento de Investigação Criminal da Polícia Judiciária do Funchal, bem como a sociedade civil, repre-sentada por alunos e pais/educadores.

Dada a importância notada do seminário para o enriquecimen-to do conhecimento sobre esta temática em prol do bem-estar biopsicossocial da nossa comunidade, será pertinente manter esta discussão transdisciplinar, através da realização de outros seminários desta natureza e através da criação de grupos de tra-balho de estudo, vigilância, ensino para a adequada utilização e prevenção do uso inadequado das novas tecnologias de forma transgeracional e não só na idade pediátrica.

Qual o contributo da Neuropediatria para a compreensão da influência das tecnologias na vida da criança e do ado-lescente?PS - A Neuropediatria e a Pediatria Geral têm um papel importan-

te na compreensão da influência das tecnologias na vida da criança e do adolescente, através da vigilância em consultas de seguimento associada à investigação clínica, na avaliação do impacto das novas tecnologias no desenvolvimento infantil e do adolescente. Um traba-lho de equipa com a Neuropediatria, Pediatria Geral, Psicologia e Ciências Básicas contribuirá para o entendimento dos mecanismos fisiopatológicos dos efeitos da má utilização das novas tecnologias no sono, na atenção, na memória, na aprendizagem, no aumento da obesidade e depressão na idade pediátrica.

24Quais poderão ser as consequências futuras da utilização problemática da internet?PS - O futuro é quase sempre imprevisível, como referi ante-

riormente. As novas tecnologias estão a crescer a um ritmo aluci-nante e estão para ficar e permitem-me dizer que já temos dificul-dade em viver sem as novas tecnologias. A sociedade em geral compreende facilmente todos os benefícios das novas tecnologias mas também deverá tomar consciência real da utilização inade-quada da internet/novas tecnologias. Na idade pediátrica, a inte-racção é essencial para o desenvolvimento das relações, estabe-lecimento de ligações seguras e amadurecimento emocional, as competências sociais e emocionais são aprendidas por interação social regular, não se poderá permitir que esta interação/socializa-ção seja comprometida pela falta de interações precoces entre in-terpares e até mesmo familiares. A comunidade em geral deverá conhecer os riscos das novas tecnologias no sono, na atenção, na memória, na aprendizagem, no aumento da obesidade e depres-são na idade pediátrica, na exposição a estranhos, na exposição a conteúdo inapropriado e inseguro, no compromisso da privacida-de e confidencialidade com todos os riscos que daí advêm.

PEDRO FERNANDES, PSICÓLOGO, GESTOR DO PLANO ESTRATÉGICO CONCELHIO DE PREVENÇÃO DAS TOXICODEPENDÊNCIAS DA C.M. ODIVELAS

“É importante saber gerir o impacto uso da internet”

Como descreve a participação neste seminário?Pedro Fernandes (PF) - Foi com bastante entusiasmo que en-

carei esta participação. Em primeiro lugar, tendo em consideração a pertinência e atualidade da temática, relacionada especificamente com os riscos associados à utilização excessiva/problemática da in-ternet, no quadro da intervenção preventiva em matéria de comporta-mentos aditivos e dependências (CAD). O trabalho que venho desen-volvendo na Câmara Municipal de Odivelas, enquanto psicólogo e Gestor Técnico do Plano Estratégico Concelhio de Prevenção das Toxicodependências (PECPT), tem permitido o contacto direto com esta realidade, constatando a efetiva necessidade de uma interven-ção estruturada e integrada que vise a promoção da utilização saudá-vel das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e da internet em particular, por parte das diferentes faixas etárias, com destaque natural para as crianças e jovens. Desde logo, a partir da investiga-ção realizada em colaboração com a Prof.ª Doutora Ivone Patrão, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), ponto de partida fun-damental para o desenvolvimento de um conjunto alargado de ações e projetos, numa lógica de parceria e de intervenção em rede, na qual participam as estruturas nacionais, regionais e locais com interven-ção e responsabilidade direta na área da Prevenção dos Comporta-mentos Aditivos e Dependências. Em segundo lugar, face ao interes-

se e entusiasmo demonstrados desde logo pelas instituições promo-toras do evento, conscientes da relevância deste tema e da necessi-dade de se promover uma reflexão aprofundada na sua Região, com vista à estruturação de respostas eficazes e de qualidade. Todas as expectativas iniciais que formulei sobre este Seminário viriam a ser inteiramente correspondidas já no decorrer do evento em si. Foi im-pressionante a mobilização conseguida, assegurando a presença de diferentes instâncias e setores da comunidade, incluído jovens ado-lescentes, também eles interessados na discussão gerada a partir das intervenções de um conjunto muito interessante de preletores, oriundos de áreas profissionais diversas e com experiências muito ri-cas. Experiências essas nos inspiraram a todos e, estou certo, muito contribuíram para a nossa motivação em intensificar os nossos esfor-ços nesta área de atuação. Por fim, e do ponto de vista mais pessoal, não posso deixar de destacar a amabilidade com que fui recebido, por parte do Dr. Nelson Carvalho e toda a sua equipa, a quem viva-mente agradeço a oportunidade de ter participado neste evento e a quem já manifestei naturalmente a minha disponibilidade para cola-borações futuras.

Quais as maiores preocupações sentidas relativamente à utilização problemática da internet?PF - Parece-nos hoje evidente que a internet veio para ficar, re-

gistando-se um crescimento exponencial de utilizadores em todo o mundo, de acordo com as mais recentes investigações sobre esta matéria. Ainda assim, e no caso português, assistiu-se a uma pene-tração relativamente tardia da internet, num acesso que é geracional-mente diferenciado (aparecendo os jovens adolescentes como grupo destacado neste âmbito) e por uma grande adesão dos internautas às redes sociais digitais (socialização digital). Neste contexto, reco-nhece-se com naturalidade as vantagens e potencialidades que as tecnologias encerram, em tantos quadrantes da nossa vida, influen-ciando decisivamente a forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros. No entanto, ao mesmo tempo que enaltecemos os aspetos positivos, é evidente que temos de sublinhar os riscos asso-ciados à utilização das tecnologias e da internet em particular, com uma especial atenção às faixas etárias mais jovens. A este respeito, sou muitas vezes confrontado com preocupações manifestadas por muitos professores, pais e encarregados de educação, bem como, por outros técnicos com responsabilidades na área da saúde, educa-ção e intervenção social, que lidam diariamente com jovens. Preocu-pações centradas numa utilização tendencialmente excessiva dos dispositivos móveis, em prejuízo de atividades do quotidiano, bem como, das relações face a face, com a família e amigos. Neste con-texto, surgem muitas inquietações relacionadas com o sono, irritabili-dade/alterações do humor, desinteresse, baixo rendimento escolar, alterações no comportamento e até isolamento social. É neste con-texto que assistimos à ascensão da importância das redes sociais, as quais tendem a oferecer uma sensação de segurança e um senti-mento de pertença, providenciando suporte e atenuando a angústia e insegurança sentidas. Em certos casos mais extremos, poderemos mesmo falar de uma certa desconexão com o offline e o desconforto no contacto pessoal. Com consequências por vezes difíceis de pre-ver. Assim sendo, e a meu ver, a grande questão que se coloca con-siste na forma como gerimos a presença e impacto da tecnologia na nossa vida, quer a nível individual, familiar, sociocomunitário e global. No fundo, que valores defendemos e de que forma a tecnologia está ao serviço desses mesmos valores. E que tipo de gestão fazemos

25

dos riscos associados, em especial quando falamos da internet? Como refere a Prof.ª Cristina Ponte, os tempos que vivemos impõem uma abordagem integrada, holística, que reconheça os papéis de di-ferentes atores na cadeia de valor da internet, incluindo não só as crianças, as suas famílias e educadores, mas também as indústrias digitais, os decisores e os reguladores, na promoção de literacias, de segurança e de bem-estar no contexto digital. Sublinha-se assim o papel de todos, necessariamente em rede e em comunidade, visan-do uma gestão saudável dos nossos comportamentos online (e offli-ne).

Quais as vantagens da participação da Região Autónoma da Madeira na investigação levada a cabo pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), coordenada pela Prof. Ivone Patrão, ao nível dos comportamentos online dos jovens portugueses?PF - Como é sabido, quando se procura desenhar um projeto ou

programa de intervenção social (no seu sentido lato), numa dada co-munidade, é essencial o conhecimento aprofundado da realidade onde queremos atuar e das necessidades concretas. Tal aplica-se, como é evidente, na área dos CAD, em especial em contextos de in-tervenção onde impera um maior desconhecimento dos hábitos e pa-drões comportamentais, como é o caso da internet, uma vez que se dispõe ainda de um conjunto relativamente escasso de dados e de estudos nesta área, a nível nacional e internacional. Só desta forma podemos almejar atingir níveis elevados de eficácia na resposta aos problemas existentes. A nossa experiência em Odivelas iniciou-se exatamente com este desafio. Definimos assim como prioridade uma aposta renovada na área da Investigação, por via do estabelecimento de uma colaboração institucional entre a Câmara Municipal de Odive-las e o ISPA-IU, em articulação estreita com a Prof.ª Doutora Ivone Patrão, que se proporcionou pelo conhecimento do trabalho desen-volvido em Odivelas. Assim, numa primeira fase (e num curto espaço de tempo), foi possível a realização do estudo “Jovens e Internet”, o qual produziu um conhecimento mais aprofundado dos hábitos e comportamentos dos jovens do nosso concelho no que à internet diz respeito. A partir da análise da perceção dos cerca de 1452 jovens in-quiridos, foi possível concluir da necessidade absoluta de uma inter-venção estruturada e concreta no terreno, que promova o aumento de conhecimentos e o reforço de competências visando uma gestão saudável das tecnologias e, em particular, a sensibilização para os riscos inerentes à utilização excessiva da internet. Face aos resulta-dos atingidos, foi ainda possível avançar-se para uma 2ª fase da in-vestigação, ainda em curso, com a realização do estudo “Comporta-mentos online” de Pais e Mães do Concelho de Odivelas, Também a este nível os resultados obtidos evidenciaram a necessidade de inter-

vir diretamente junto das famílias, consideradas hoje como destinatá-rios principais da nossa intervenção e não apenas os jovens em si. Parece-me, pois, da maior pertinência que a investigação em curso possa contemplar igualmente a Região Autónoma da Madeira como território de pesquisa e de estudo, que permita uma caracterização específica da sua realidade, contribuindo assim para o diagnóstico concreto de necessidades. Estou certo que, com esse passo, os ser-viços e estruturas da Região Autónoma da Madeira com competên-cias e atribuições na área dos CAD, em articulação com as demais, passarão a dispor de mais um instrumento de trabalho de enorme re-levância na definição das linhas e princípios de atuação, presente e futura. Aguardo com expectativa o evoluir desta possibilidade e faço votos para que a mesma se concretize com a maior brevidade possí-vel.

Em jeito de reflexão final, partilhamos as palavras do Presidente do IASAÚDE, IP-RAM, Herberto Jesus: “No novo milénio, o mundo virtual é atraente e apetecível para todos os seres humanos. Nele so-mos felizes e vivemos à velocidade da luz. Não existem entraves imediatos nem “correntes opressoras”. A liberdade é total! Nós geri-mos a informação online de acordo com a nossa ética, as nossas crenças, os nossos valores e a nossa moralidade. Em suma, é um mundo seguro, imediato e disponível ao alcance dos nossos dedos. Neste contexto, a dependência da Internet é algo intrínseco, genéti-co, sedutor e aditivo. A dependência salutar destas tecnologias de in-formação deve ser um aliado consciente da evolução do homem como ser social e interventivo, numa sociedade equitativa e feliz. As-sim, a informação online deve ser promotora de ambientes saudá-veis, de mudanças comportamentais e societais inovadoras, de for-ma a permitir uma vida social profícua e também sedutora. A Internet é uma ferramenta intelectual útil, económica e gestora de talentos. Vamos navegar e ser felizes, no mundo real e virtual”.

200

EXPOSIÇÃOEstou online e agora?INTERNET - VANTAGENS

E RISCOS DO SEU USO

ESCOLAS PARTICIPANTES:

Escolas Básica 1º, 2º e 3º Ciclos do Curral das Freiras

Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos do Estreito de Câmara de Lobos

Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos da Torre

Escola Básica e Secundária Dr. Luís Maurílio da Silva Dantas

26Antevisão do Congresso – Entrevista com Manuel Isorna Folgar:

“I Congresso Internacional Sobre Cannabis”

Cuales son los objectivos del I congresso Internacional sobre canábis?Manuel Isorna Folgar (MIF) - Los objetivos del congreso princi-

palmente son cuatro• Difundir información y los últimos avances sobre los efectos del

consumo de cannabis en la salud de la población fumadora voluntaria, así como sobre los efectos perniciosos de la exposición pasiva al humo del cannabis, destacando la especial importancia de no fumar durante el embarazo, ni en presencia de niños, ancianos y enfermos.

• Difundir información sobre los efectos terapéuticos reales y po-tenciales del cannabis y al mismo tiempo dar a conocer los falsos mitos y creencias sobre su “poder de curación” de enfermedades.

• Facilitar formación a profesionales sanitarios, docentes y padres sobre el problema de salud pública que representa el consumo de can-nabis (en la mayoría de los casos unido al tabaco), las tendencias ac-tuales de la edad de inicio y el aumento del consumo en adolescentes, señalando la importancia de su intervención para evitar la adquisición del hábito en la población no fumadora.

• Ofertar un lugar para que los investigadores puedan presentar sus resultados bien a través de comunicaciones orales y/o póster. Se editará un libro con estas investigaciones.

Que se pretende al final?MIF - Se pretende crear un lugar de debate con los mejores profe-

sionales, abierto al público interesado y medios de comunicación para que sirva de caja de resonancia de los efectos reales que causa el con-sumo de cannabis en los fumadores. Buscamos trasladar a la pobla-ción que no es una sustancia inocua. Como todas las drogas tiene y tendrá posibles fines terapéuticos, pero esto no puede ni debe ser mo-tivo para que cada uno pueda consumirlo con la creencia de que pue-de hacerlo cuando quiera y la cantidad que desee. Es una droga con efectos perjudiciales para quien lo consume a nivel físico, psicológico, en muchos casos incluso psiquiátricas y que bajo los efectos del THC puede causar posibles daños a terceros (sociales).

Porque los movimentos para la promocion del canábis, se ol-vidan de los efectos secundários para la salud?MIF - Los movimientos procannabis siempre han usado el poten-

cial terapéutico como caballo de troya para inocular en la población (y en los políticos princiapalmente) la idea de que es una sustancia que “cura enfermedades”, desde la esclerosis múltiple, pasando por el cán-cer, el glaucoma, los trastornos de conducta alimentaria, etc.; ¡en fin la panacea farmacológica!. Este mensaje a pesar de ser falso, a base de repetirlo muchas veces ha ido calando en una parte importante de la sociedad, principalmente en los más jóvenes que han visto como una vez descubierto lo perjudicial que es el tabaco han encontrado en el cannabis un buen sustituto (no debemos olvidar que cerca del 90% de los consumidores de cannabis también son fumadores de tabaco). Está claro que una sustancia que “cura” tanta enfermedades no puede

ser perjudicial, este es el mensaje que han ido inolucando en la pobla-ción, principalmente en la última década, a través de internet, ferias “comerciales”, foros de debate a los cuales se invitan a determinados profesionales pagados principalmente empresas de venta de semillas y parafernalia para su cultivo ya han conseguido crear un estado de opinión donde solo represente las bondades de su consumo pero nun-ca se hable del cáncer de pulmón que causa su consumo (recordemos que se inhala exactamente igual que el tabaco y en la mayor parte de las ocasiones se consume mezclado con el), los trastornos mentales en determinados tipos de consumidores, del deterioro cognitivo que causa su consumo (sobre todo si se comienza a consumir en la ado-lescencia), los problemas de memorización y aprendizaje, efectos a nivel psicomotor (por ejemplo en la conducción de vehículos), etc.

¿La Regulación es la respuesta?MIF - Algo hay que hacer, los niveles de consumo de cannabis son

altísimos en España y en toda Europa. Los movimientos procannabis auspiciados por la industria han llegado a la sitación que más le intere-sa: permiso libre para el autocultivo. No quieren ni desean comprarlo en farmacias (como se debe hacer con cualquier otro medicamento o droga con receta médica) lo que buscan es el consumo del cannabis autocultivado en su propia casa o bien en clubes cannábicos, sin nin-gún tipo de control ni receta médica y ya lo han conseguido en varios estados americanos y en Uruguay. Europa debe llegar a un acuerdo, para ello debe establecerse un debate(s) en los que se hable sin tapu-jos de esta sustancia y la economía que genera, por ello, congresos como el actual son muy necesarios.

¿Es seguro la distincion de drogas Blandas y duras?MIF - Por supuesto que no. Utilizar los términos dura o blanda al

hablar de drogas en el ámbito científico ha creado muchos malentendi-dos en la población. Hace más de 20 años que estos términos debe-rían estar desterrados de la literatura científica y periodística, ya que es una clasificación totalmente ficticia. La única clasificación que se pue-de hacer es por el tipo de efectos y diferenciar así entre sustancias “de-presoras, estimulantes y psicodislépticas” (o que distorsionan la per-cepción de la realidad), ya que los términos blanda o dura lo único que consiguen es “disminuir la percepción de riesgo de unas sustancias que suelen ser tóxicas y nocivas”. No debemos olvidar que el alcohol, y el tabaco, consideradas por la población como “drogas blandas” son de las drogas que más muertes ocasionan.

¿Usted cree que algo cambiará a final del congreso? MIF - De momento vamos a reunir a más de 400 profesionales

(médicos, psiquiatras, psicólogos, docentes, padres, periodistas) los cuales podrán recibir información científica sobre el cannabis. Los con-gresos científicos junto revistas y publicaciones son la vía más impor-tante para la difusión del conocimiento, ¡en ello estamos!.

Mas informacion en: www.congresocannabis.es

Da ciência para

a política e da política

para a ciência

Futuros desafios nas dependências

Limites da

adiçãoAvaliando dependências –

uma questão de escala

24-26 Outubro 2017Centro de Congressos de Lisboa | Portugal

LISBON ADDICTIONS 201724‒26 OctoberLisboa Congress Centre, Portugal

www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17 | |

Lisbon Addictions 2017 | 24‒26 October | Lisboa Congress Centre, Portugal | www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17

LISBOA RECEBE 2ªCONFERÊNCIA EUROPEIA SOBRE COMPORTAMENTOS ADITIVOS E DEPENDÊNCIAS

(19.07.2017, Lisboa) A 2ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências vai decorrer em Lisboa nos dias 24–25 e 26 de outubro, contando com a presença de vários peritos internacionais na área das dependências.

Na Lisbon Addictions 2017 iremos encontrar os últimos desenvolvimentos do conhecimento científico na área dos comportamentos aditivos e dependências e irão ser debatidos vários temas, que vão desde as drogas ilícitas, o álcool, o tabaco e o jogo.

A Conferência é organizada conjuntamente pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD, Portugal), a revista Addiction, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA) e a International Society of Addiction Journal Editors (ISAJE).

Esta 2ª edição já tem mais de 800 inscrições, originárias de todos os continentes e foi concebida para abranger uma audiência multidisciplinar. Vão ser abordadas áreas como a epidemiologia, as políticas públicas, a investigação clínica, a psicofarmacologia e as ciências socias e comportamentais.

A Conferência terá lugar no Centro de Congressos de Lisboa e está organizada em torno de quatro temas:

• Da ciência para a política e da política para a ciência• Avaliando dependências — uma questão de escala• Limites da adição• Futuros desafios nas dependências

No programa destacam-se keynote speakers, investigadores de remome mundial nestas áreas e diversas apresentações; comunicações rápidas, sessões temáticas e outros eventos.

Os vários parceiros, incluindo organizações nacionais e internacionais (como as Nações Unidas, o Conselho da Europa e a Comissão Europeia) irão contribuir para a excelência científica deste evento.

As sessões de abertura e de encerramento da Conferência serão abertas à imprensa:

• Cerimónia de abertura: 24 outubro — 10H30–11H00• Sessão de encerramento: 26 outubro — 16H30

Face ao interesse demonstrado, podemos já indicar que a 3ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências irá decorrer em Lisboa de 23 a 25 de outubro de 2019.

24‒26 OctoberLisboa Congress Centre, Portugal

www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17 | |

Lisbon Addictions 2017 | 24‒26 October | Lisboa Congress Centre, Portugal | www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17

LISBOA RECEBE 2ªCONFERÊNCIA EUROPEIA SOBRE COMPORTAMENTOS ADITIVOS E DEPENDÊNCIAS

(19.07.2017, Lisboa) A 2ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências vai decorrer em Lisboa nos dias 24–25 e 26 de outubro, contando com a presença de vários peritos internacionais na área das dependências.

Na Lisbon Addictions 2017 iremos encontrar os últimos desenvolvimentos do conhecimento científico na área dos comportamentos aditivos e dependências e irão ser debatidos vários temas, que vão desde as drogas ilícitas, o álcool, o tabaco e o jogo.

A Conferência é organizada conjuntamente pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD, Portugal), a revista Addiction, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA) e a International Society of Addiction Journal Editors (ISAJE).

Esta 2ª edição já tem mais de 800 inscrições, originárias de todos os continentes e foi concebida para abranger uma audiência multidisciplinar. Vão ser abordadas áreas como a epidemiologia, as políticas públicas, a investigação clínica, a psicofarmacologia e as ciências socias e comportamentais.

A Conferência terá lugar no Centro de Congressos de Lisboa e está organizada em torno de quatro temas:

• Da ciência para a política e da política para a ciência• Avaliando dependências — uma questão de escala• Limites da adição• Futuros desafios nas dependências

No programa destacam-se keynote speakers, investigadores de remome mundial nestas áreas e diversas apresentações; comunicações rápidas, sessões temáticas e outros eventos.

Os vários parceiros, incluindo organizações nacionais e internacionais (como as Nações Unidas, o Conselho da Europa e a Comissão Europeia) irão contribuir para a excelência científica deste evento.

As sessões de abertura e de encerramento da Conferência serão abertas à imprensa:

• Cerimónia de abertura: 24 outubro — 10H30–11H00• Sessão de encerramento: 26 outubro — 16H30

Face ao interesse demonstrado, podemos já indicar que a 3ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências irá decorrer em Lisboa de 23 a 25 de outubro de 2019.

24‒26 OctoberLisboa Congress Centre, Portugal

www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17 | |

Lisbon Addictions 2017 | 24‒26 October | Lisboa Congress Centre, Portugal | www.lisbonaddictions.eu | #LxAddictions17

LISBOA RECEBE 2ªCONFERÊNCIA EUROPEIA SOBRE COMPORTAMENTOS ADITIVOS E DEPENDÊNCIAS

(19.07.2017, Lisboa) A 2ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências vai decorrer em Lisboa nos dias 24–25 e 26 de outubro, contando com a presença de vários peritos internacionais na área das dependências.

Na Lisbon Addictions 2017 iremos encontrar os últimos desenvolvimentos do conhecimento científico na área dos comportamentos aditivos e dependências e irão ser debatidos vários temas, que vão desde as drogas ilícitas, o álcool, o tabaco e o jogo.

A Conferência é organizada conjuntamente pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD, Portugal), a revista Addiction, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA) e a International Society of Addiction Journal Editors (ISAJE).

Esta 2ª edição já tem mais de 800 inscrições, originárias de todos os continentes e foi concebida para abranger uma audiência multidisciplinar. Vão ser abordadas áreas como a epidemiologia, as políticas públicas, a investigação clínica, a psicofarmacologia e as ciências socias e comportamentais.

A Conferência terá lugar no Centro de Congressos de Lisboa e está organizada em torno de quatro temas:

• Da ciência para a política e da política para a ciência• Avaliando dependências — uma questão de escala• Limites da adição• Futuros desafios nas dependências

No programa destacam-se keynote speakers, investigadores de remome mundial nestas áreas e diversas apresentações; comunicações rápidas, sessões temáticas e outros eventos.

Os vários parceiros, incluindo organizações nacionais e internacionais (como as Nações Unidas, o Conselho da Europa e a Comissão Europeia) irão contribuir para a excelência científica deste evento.

As sessões de abertura e de encerramento da Conferência serão abertas à imprensa:

• Cerimónia de abertura: 24 outubro — 10H30–11H00• Sessão de encerramento: 26 outubro — 16H30

Face ao interesse demonstrado, podemos já indicar que a 3ª Conferência Europeia sobre Comportamentos Aditivos e Dependências irá decorrer em Lisboa de 23 a 25 de outubro de 2019.