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A evolução de povoações costeiras no litoral da região Centro de Portugal. O caso de estudo das praias de Esmoriz e Cortegaça Nuno Rafael Almeida Andrade Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Urbanismo e Ordenamento do Território Orientadores Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo Júri Presidente: Professora Doutora Maria Beatriz Marques Condessa Orientador: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira Vogal: Engª Teresa Allen Gamito Outubro de 2014 (Documento provisório)

Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

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Dissertação de Mestrado

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A evolução de povoações costeiras no litoral da região Centro de Portugal.

O caso de estudo das praias de Esmoriz e Cortegaça

Nuno Rafael Almeida Andrade

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Urbanismo e Ordenamento do Território

Orientadores

Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira

Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo

Júri

Presidente: Professora Doutora Maria Beatriz Marques Condessa

Orientador: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira

Vogal: Engª Teresa Allen Gamito

Outubro de 2014 (Documento provisório)

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Page 3: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

    I  

AGRADECIMENTOS

Para a realização desta dissertação importa agradecer o contributo do Instituto Geográfico Português

(actual Direcção Geral do Território), pela cedência das fotografias aéreas da área de estudo, tendo

sido um apoio indispensável para as conclusões obtidas, e ao professor José Américo Pinto (à época

vereador do pelouro do Urbanismo e Gestão do Território da Câmara Municipal de Ovar) pela

disponibilidade e abertura na entrevista realizada sobre a temática que se aborda na dissertação.

Uma palavra de agradecimento aos meus orientadores, Professor António Trigo-Teixeira e à

professora Amélia Araújo pelo acompanhamento, disponibilidade e conselhos, pela paciência,

incentivo e entrega para levar este trabalho a bom porto.

O meu percurso académico, no âmbito do Mestrado em Urbanismo e Ordenamento do Território,

culmina com a apresentação desta dissertação. Ao longo deste percurso foram muitas pessoas que

me ajudaram nos momentos mais complicados que foram surgindo e nas tarefas rotineiras do dia-a-

dia, sem elas este percurso seria mais complicado.

Entre essas pessoas está naturalmente a minha família, pais, avós e irmão, para os quais só tenho

palavras de gratidão pelo esforço que fizeram para me possibilitaram esta oportunidade e que me

incentivaram nos momentos de maior dificuldade. Não posso também deixar de agradecer à Ângela

Rodrigues por ter estado sempre ao meu lado, pela motivação, insistência e pelo apoio ao longo

desta longa caminhada.

Aos meus colegas de mestrado, pela colaboração e pelos tempos passados nas várias unidades

curriculares frequentadas e pelas horas dedicadas nos trabalhos práticos, desejo-lhes as maiores

felicidades.

Aproveito para deixar um agradecimento em particular ao João Reis pela ajuda e sugestões na

elaboração da dissertação e acima de tudo pela amizade, um grande abraço.

A todos um muito obrigado!!

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    II  

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    III  

RESUMO A costa portuguesa caracteriza-se por ser extensa e bastante diversificada. Ao longo dos seus 900

km, desde a foz do rio Minho à foz do rio Guadiana, esta é composta por uma variação entre costa

rochosa, costa arenosa e costa alta que está relacionada com as formações geológicas presentes em

cada sector do território. Cada tipo de costa reage de maneira diferente aos agentes erosivos e à

ocupação humana. Deste modo é importante conhecer a génese da costa antes de se intervir na

defesa desta ou no planeamento desta. É ainda possível, com o conhecimento das características de

um tipo particular de costa, efectuar as melhores abordagens em termos de políticas específicas e

linhas orientadoras para a gestão desses territórios.

Desde o início dos anos 90 que o Governo Português introduziu legislação relacionada com o

planeamento e gestão das áreas costeiras, dando aos municípios com frente de mar algumas linhas

orientadoras para a sua gestão. Contudo, apesar dos esforços efectuados é durante esse período

que se dá o maior crescimento desses povoados, o que significa que o planeamento não foi

direccionado da melhor maneira.

Tendo em conta factores de habitabilidade de um local, esta investigação pretende analisar a

evolução de dois povoados costeiros, Esmoriz e Cortegaça, localizados no litoral da região Centro de

Portugal, costa essa que é severamente afectada pela erosão. Foi encontrada uma relação entre o

desenvolvimento dos povoados analisados e o planeamento efectuado para o local.

 

Palavras-chave: povoados costeiros; gestão costeira; erosão costeira; habitabilidade; recuo da linha

de costa.

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    IV  

ABSTRACT Portugal has a long and varied coastline. Along its 900 km, extending from the mouth of the Minho

River to the mouth of the Guadiana River, a variation between the rocky shore, sandy shore and high

cliff coast is found, what is related to its geological formation. Each type of coastline reacts in a

different way to erosive agents and the human occupation. Therefore it is important to know the

genesis of a coast before any action is taken for shore protection. In addition, this information allows

the definition of specific policies and guidelines for each particular type of coastline.

Since the nineties the Portuguese Government has introduced legislation related to the planning and

management of coastal areas by setting guidelines for municipalities that have a seafront. However,

despite all these efforts, both the emergence and the evolution of coastal settlements were not made

in a well-planned way.

Taking into account the factors of liveability, this research aims to analyse the evolution of two coastal

villages, Esmoriz and Cortegaça, located at the Portuguese central coast, which are affected by

severe erosion. A relationship between the development of those villages and the coastal

management plans is found.

Key words: coastal settlements; coastal management; coastal erosion; liveability; shoreline retreat.

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    V  

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................... I

RESUMO ............................................................................................................................................... III

ABSTRACT .......................................................................................................................................... IV

ÍNDICE ................................................................................................................................................... V

LISTA DE QUADROS ......................................................................................................................... VII

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................... VIII

LISTA DE ABREVIAÇÕES ................................................................................................................... X

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1

1.1. ENQUADRAMENTO E OBJECTIVOS ................................................................................................. 2

1.2. METODOLOGIA ............................................................................................................................ 5

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ..................................................................................................... 7

2. O LITORAL NA LEGISLAÇÃO PORTUGUESA ............................................................................ 9

2.1. PLANOS DE ORDENAMENTO DA ORLA COSTEIRA ........................................................................... 9

2.2. ESTRATÉGIA NACIONAL DE GESTÃO INTEGRADA DAS ZONAS COSTEIRAS ..................................... 12

2.3. REVISÃO DO REGIME APLICÁVEL À ORLA COSTEIRA ...................................................................... 14

2.4. SÍNTESE DA LEGISLAÇÃO PORTUGUESA REFERENTE À ORLA COSTEIRA ........................................ 16

3. A FORMAÇÃO DO LITORAL DA ZONA CENTRO ..................................................................... 17

3.1. A ACÇÃO DAS ONDAS E A DERIVA LITORAL ................................................................................... 17

3.2. O TIPO DE COSTA ...................................................................................................................... 19

3.3. O CRESCIMENTO DA RESTINGA ENTRE ESPINHO E CABO MONDEGO ............................................. 21

3.4. SÍNTESE DE CAPÍTULO ............................................................................................................... 23

4. A EVOLUÇÃO DAS POVOAÇÕES COSTEIRAS AO LONGO DO TEMPO ............................... 25

4.1. CARACTERIZAÇÃO DOS PALHEIROS ............................................................................................ 25

4.2. O POVOADO DE ESPINHO .......................................................................................................... 27

4.3. O POVOADO DO FURADOURO ..................................................................................................... 29

4.4. O POVOADO DA TORREIRA ......................................................................................................... 31

4.5. O POVOADO DE SÃO JACINTO .................................................................................................... 33

5. HABITAR A LINHA DE COSTA ................................................................................................... 35

5.1. O CONCEITO DE HABITABILIDADE ............................................................................................... 36

5.1.1. Riscos costeiros ............................................................................................................... 38

5.1.1.1. Erosão Costeira ......................................................................................................... 38

5.1.1.2. Inundações e galgamentos ........................................................................................ 39

5.1.2. Clima ............................................................................................................................... 40

5.2. SÍNTESE DO CAPÍTULO ............................................................................................................... 40

6. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................... 42

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    VI  

6.1. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO ................................................................................................ 42

6.1.1. Localização ...................................................................................................................... 43

6.1.2. Factos históricos .............................................................................................................. 45

6.2. SÍNTESE DE CAPÍTULO ............................................................................................................... 48

7. A EVOLUÇÃO DE UMA POVOAÇÃO COSTEIRA – O CASO DA PRAIA DE ESMORIZ E

CORTEGAÇA ....................................................................................................................................... 50

7.1. FASE 1 – CONSTRUÇÃO INFORMAL ............................................................................................. 51

7.2. FASE 2 – CONSTRUÇÃO FORMAL ................................................................................................ 53

7.3. FASE 3 – CONSOLIDAÇÃO DOS POVOADOS COSTEIROS DE ESMORIZ E CORTEGAÇA ...................... 56

7.3.1. Os povoados no ano de 1967 ......................................................................................... 57

7.3.2. Os povoados no ano de 1984 ......................................................................................... 58

7.3.3. Os povoados no ano de 1991 ......................................................................................... 60

7.3.4. Análise Estatística ........................................................................................................... 65

7.3.4.1. População .................................................................................................................. 65

7.3.4.2. Habitação ................................................................................................................... 68

7.3.5. Análise dos resultados .................................................................................................... 71

7.4. SÍNTESE DO CAPÍTULO ............................................................................................................... 75

8. QUE FUTURO PARA OS POVOADOS COSTEIROS DE ESMORIZ E CORTEGAÇA? ............ 78

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 83

REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 86

ANEXOS I .................................................................................. ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.

ANEXOS II ................................................................................. ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.

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    VII  

LISTA DE QUADROS

TABELA 1 - LEGISLAÇÃO PORTUGUESA EXISTENTE PARA A ORLA COSTEIRA E OBJECTIVO PRINCIPAL DESSES DIPLOMAS; ......................................................................... 16

TABELA 2 - CLASSIFICAÇÃO DA COSTA ENTRE ESPINHO E O CABO MONDEGO PELA METODOLOGIA DE SHEPARD .................................................................................................. 20

TABELA 3 - PERÍODOS DA GESTÃO ADMINISTRATIVA DA FREGUESIA DE ESMORIZ; FONTE: (SANTOS, 1996) ............................................................................................................ 46

TABELA 4 - LUCRO OBTIDO COM A VENDA DOS TERRENOS À BEIRA-MAR PELA JUNTA DE FREGUESIA DE ESMORIZ; FONTE: AMORIM, 1986 ................................................................ 48

TABELA 5 - TAXAS DE RECUO DA LINHA COSTEIRA PARA O TROÇO ESPINHO/CORTEGAÇA; FONTE: PROT CENTRO LITORAL 1992 .......................................... 60

TABELA 6 - VARIAÇÃO DOS INDIVÍDUOS PRESENTES E RESIDENTES PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ..................................... 65

TABELA 7 - VARIAÇÃO DO Nº DE INDIVÍDUOS RESIDENTES POR FAIXAS ETÁRIAS PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ............................... 66

TABELA 8 - VARIAÇÃO DA RELAÇÃO DO INDIVIDUO FACE À SITUAÇÃO LABORAL PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ..................................... 66

TABELA 9 - VARIAÇÃO DOS INDIVÍDUOS EMPREGADOS PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ............................................................... 68

TABELA 10 - PERCENTAGEM DE EDIFÍCIOS POR TIPOLOGIA PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ............................................................... 68

TABELA 11 - PERCENTAGEM DE ALOJAMENTOS POR EDIFÍCIOS EXISTENTES PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ..................................... 69

TABELA 12 - NÚMERO DE EDIFÍCIOS EXISTENTES POR ANO DE CONSTRUÇÃO PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ..................................... 69

TABELA 13 - PERCENTAGEM DE EDIFÍCIOS CONSTRUÍDOS NO PRÉ E PÓS 25 DE ABRIL DE 1984 PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ..... 70

TABELA 14 - PERCENTAGEM DE RESIDÊNCIAS HABITUAIS ARRENDADAS PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ..................................... 70

TABELA 15 - PERCENTAGEM DE ALOJAMENTOS FAMILIARES VAGOS PARA AS SUBSECÇÕES ESTATÍSTICAS DA ÁREA EM ESTUDO; FONTE: INE ..................................... 71

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    VIII  

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - ESQUEMA DA METODOLOGIA UTILIZADA NA INVESTIGAÇÃO FEITA À EVOLUÇÃO DOS POVOADOS COSTEIROS DE ESMORIZ E CORTEGAÇA; FONTE: PRÓPRIA ...................................................................................................................................... 6

FIGURA 2 - CONCEITO DE ZONAS COSTEIRAS (LIMITES); FONTE: RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE MINISTROS N.º 82/2009 ................................................................................. 13

FIGURA 3 - PROCESSO DE REFORMULAÇÃO DO "NOVO POOC" E SUA INSERÇÃO NOS IGT; FONTE: ADAPTAÇÃO DA INFORMAÇÃO OBTIDA NO DECRETO-LEI 159/2012, 24 DE JULHO .................................................................................................................................. 14

FIGURA 4 - DERIVA LITORAL, PROVOCADA PELA CONJUGAÇÃO DE DOIS FLUXOS: DERIVA DE PRAIA E DERIVA AO LONGO DA COSTA; FONTE: ADAPTADO (STRAHLER, 2010) .................................................................................................................... 18

FIGURA 5 - COSTA EM BARREIRA DO TIPO RESTINGA; FONTE: ADAPTADO U.S. ARMY CORPS OF ENGINEERS, 2002 ................................................................................................. 20

FIGURA 6 - COSTA DE PORTUGAL SEGUNDO O PORTULANO DE PETRUS VISCONTE, 1318; FONTE:HTTP://WWW.DRAPC.MIN-AGRICULTURA.PT/BASE/DOCUMENTOS/ HISTORIA_BACALHAU.HTML (CONSULTADO A 05/01/2013) ................................................ 22

FIGURA 7 - LITORAL AVEIRO ANTES DA FORMAÇÃO DA RESTINGA. RECONSTITUIÇÃO DA COSTA ENTRE ESPINHO E O CABO MONDEGO A PARTIR DOS DADOS DA CARTA GEOLÓGICA; FONTE: (SOUTO, 1923) ........................................................................ 23

FIGURA 8 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS PALHEIROS DO LITORAL DE AVEIRO; FONTE: ADAPTADO DE E. V. DE OLIVEIRA E GALHANO, 1964) .......................................... 26

FIGURA 9 - PRINCÍPIOS DO POVOADO DE ESPINHO, BASEADO NO PLANO DE MELHORAMENTO DE ESPINHO PROPOSTO PELO ENG.º JOSÉ COELHO BANDEIRA DE MELO EM 1870; FONTE: EDITADO DE (E.V DE OLIVEIRA E GALHANO, 1964) ............. 28

FIGURA 10 - A CAPELA VELHA NO INÍCIO DO SÉC. XX, NO ALTO DO ENTÃO "ROCIO" DO FURADOURO; FONTE: NEVES, 2012 ...................................................................................... 31

FIGURA 11 - MAPA TOPOGRÁFICO DA RIA D’OVAR DO SÉCULO XVIII; FONTE: E. V. DE OLIVEIRA E GALHANO, 1964 ................................................................................................... 32

FIGURA 12 - INDICADORES QUE AJUDAM A CARACTERIZAR A HABITABILIDADE DE UM LOCAL; FONTE: ADAPTADO (NEWTON, 2012) ...................................................................... 37

FIGURA 13 - GALGAMENTO NA PRAIA DO LABREGO (VAGUEIRA) DURANTE TEMPESTADE ENTRE 24 E 31 DE OUTUBRO 2011; FONTE: SERVIÇOS MUNICIPAIS DE PROTECÇÃO CIVIL DE VAGOS ............................................................................................... 39

FIGURA 14 - ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO DAS FREGUESIAS DE ESMORIZ E CORTEGAÇA; FONTE: OPENSTREETMAP ............................................................................. 43

FIGURA 15 - GRÁFICO TERMOPLUVIOMÉTRICO DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DE AVEIRO/BARRA; FONTE: (H. A. FERREIRA, 1970) ................................................................. 45

FIGURA 16 - GRÁFICO COM AS SITUAÇÕES DE VENTOS PREDOMINANTES NA REGIÃO LITORAL DE AVEIRO; FONTE: (H. A. FERREIRA, 1970) ......................................................... 45

FIGURA 17 - COSTA OESTE DE PORTUGAL - APRESENTAÇÃO DA COSTA PRIMITIVA E ACTUAL. LOCALIZAÇÃO DOS POVOADOS ANTIGOS E RECENTES DE ESMORIZ E CORTEGAÇA; FONTE: EDITADO DE (SOUTO, 1923) ............................................................. 47

FIGURA 18 - PLANTA PARA O PROJECTO DE CONSTRUÇÃO DE UM CANAL DE NAVEGAÇÃO ENTRE O RIO DOURO E A RIA DE OVAR; FONTE: JORNAL "A VOZ DE ESMORIZ", 1957 ........................................................................................................................ 52

FIGURA 19 - GRUPO DE PALHEIROS DA PRAIA DE ESMORIZ, DESTAQUE PARA O ALINHAMENTO DAS CONSTRUÇÕES; FONTE: (E. V. DE OLIVEIRA E GALHANO, 1964) ... 53

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    IX  

FIGURA 20 - PLANTA DA FREGUESIA DE ESMORIZ (1:10000), LEVANTAMENTO FEITO PELO ENG.º. JOÃO LOPES EM 1927; FONTE: PLANTA ORIGINAL NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE OVAR ............................................................................................................... 55

FIGURA 21 - CRESCIMENTO URBANO, AO LONGO DO TEMPO, DOS POVOADOS COSTEIRO DE ESMORIZ E CORTEGAÇA – 1967; FONTE: IGP 1967 (FOTOGRAFIA AÉREA 1:15000 Nº126 – VOO DGF 99/67 – 29) ....................................................................... 62

FIGURA 22 - CRESCIMENTO URBANO, AO LONGO DO TEMPO, DOS POVOADOS COSTEIRO DE ESMORIZ E CORTEGAÇA – 1984; FONTE: IGP 1984 (FOTOGRAFIA AÉREA 1:15000 Nº2973 – VOO MINHO 84.13 – 2951) ............................................................. 63

FIGURA 23 - CRESCIMENTO URBANO, AO LONGO DO TEMPO, DOS POVOADOS COSTEIRO DE ESMORIZ E CORTEGAÇA – 1991; FONTE: IGP 1991 (FOTOGRAFIA AÉREA 1:15000 Nº2978 – VOO ZONA CENTRO NORTE91.10 - 29) - ..................................... 64

FIGURA 24 - ZONAS DE MAIOR CONCENTRAÇÃO DE POPULAÇÃO - ANÁLISE DA DENSIDADE POPULACIONAL À SUBSECÇÃO ESTATÍSTICA DOS LUGARES DA PRAIA DE ESMORIZ E CORTEGAÇA; FONTE: INE ................................................................ 73

FIGURA 25 – PLANTA ESQUEMÁTICA DA PRESSÃO URBANA SOBRE A LINHA DE COSTA; FONTE: EDITADO DE (VELOSO GOMES, 1992) ..................................................................... 74

FIGURA 26 - VISTA A PARTIR DO "BAIRRO DOS PESCADORES" PARA O POVOADO COSTEIRO DE CORTEGAÇA (17/02/2013); FONTE: N. ANDRADE ........................................ 75

 

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    X  

LISTA DE ABREVIAÇÕES ANPC Autoridade Nacional de Protecção Civil

CEE Comunidade Económica Exclusiva (antiga UE)

EEA European Environment Agency

EFTA European Free Trade Association

ENGIZC Estratégia Nacional de Gestão Integrada de Zonas Costeiras

FMI Fundo Monetário Internacional

IGP Instituto Geográfico Português

IGT Instrumentos de Gestão Territorial

INAG Instituto da Água

INE Instituto Nacional de Estatística

NAO North Atlantic Oscillation

PEOT Plano Especial de Ordenamento do Território

PMOT Plano Municipal de Ordenamento do Território

PNPOT Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território

POOC Plano de Ordenamento da Orla Costeira

PROT Plano Regional de Ordenamento do Território

RCM Resolução do Conselho de Ministros

VCEC Victorian Competition e Efficiency Commission

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  1  

1. INTRODUÇÃO

Portugal é um país que se encontra “litoralizado”. As suas principais cidades encontram-se no litoral,

sendo também aí que se encontra a maioria da população. Para este crescimento contribuiu uma

forte componente migratória a partir das zonas interiores do país, onde escasseavam as

oportunidades de emprego e a qualidade de vida era mais baixa. Existe assim um contraste entre as

regiões do interior, com densidades abaixo dos 20 habitantes/km2, e as zonas costeiras, com uma

densidade média de 215 habitantes/km2, bem acima da densidade média na UE, que é de 114/ km2

(EEA, 2006). Estima–se que cerca de 75% da população portuguesa viva atualmente na zona

costeira e que este número tenha tendência a aumentar significativamente nos próximos anos

(Pereira, 2013).

Para muito deste crescimento contribuiu o aparecimento e desenvolvimento do turismo balnear. Ao

longo da época de Verão a grande parte da população deslocava-se na época de Verão para as

praias existentes no litoral para aí passar as suas férias. Esta tendência implicou a necessidade de

dotar esses locais de infraestruturas básicas para acolher essas pessoas durante a época balnear. O

crescimento da actividade turística assente no binómio “sol e praia” desde a década de 1960 não

pode ser também dissociado do processo crescente de urbanização, em especial nas áreas do litoral,

tendo-se desencadeado a construção de alojamentos hoteleiros, segundas habitações e

equipamentos turísticos em massa (Schmidt et al. 2012).

Contudo, o presente e futuro das regiões litorais obrigam a enfrentar novos desafios ao nível das

alterações climáticas, sendo a água um dos principais problemas a resolver num futuro próximo pois

está a colocar milhões de pessoas expostas aos riscos costeiros. Para as próximas décadas são

esperadas, para todo o globo terrestre, alterações nos padrões climáticos, com efeitos na localização

e severidade de grandes tempestades, frequência da ocorrência de cheias, e ainda o aumento do

nível das águas do mar, acrescendo a necessidade de rever as políticas de ordenamento do território,

aliadas a eficazes processos de prevenção contra riscos naturais (EEA, 2012).

Dado o grau de exposição, de inúmeras povoações costeiras ao longo da costa portuguesa, aos

riscos de erosão e galgamentos marinhos, Portugal tem que adaptar as suas políticas de

ordenamento do território para salvaguardar a protecção de pessoas e bens nesses locais. Nesse

sentido torna-se assim pertinente desenvolver um estudo que aborde as questões dos riscos

costeiros e do planeamento do território costeiro português.

O caso de estudo que se apresenta, localizado no extremo norte da linha de costa do distrito de

Aveiro, é um dos locais em Portugal com maiores taxas de recuo da linha de costa e classificado

como zonas de maior risco de erosão costeira. Os aglomerados costeiros de Esmoriz e Cortegaça

serão assim tema central desta investigação, da qual se procura fazer uma reflexão sobre a

problemática da ocupação urbana junto à linha de costa.

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  2  

1.1. ENQUADRAMENTO E OBJECTIVOS

Portugal tem uma linha de costa extensa e bastante diversificada. Ao longo dos seus 900 km, que se

prolongam desde a foz do Rio Minho até à foz do Rio Guadiana, encontram-se diferentes tipos de

costa: rochosa, arenosa, baixa, alta ou em arriba que se deve à variação dos maciços geológicos que

vão sendo atravessados de norte para sul.

Dadas as especificidades de cada tipo de costa que se acaba de referir e à forma como estas reagem

aos diferentes elementos erosivos e à ocupação antrópica, é importante conhecer ao nível estrutural

e dinâmico a morfologia do território que se aborda. Nesse sentido, pode-se adiantar que todo o

território em análise se desenvolve numa tipologia de costa baixa e arenosa, constituída por dunas e

praias, o que significa que é uma zona bastante sensível e afectada pela agitação marítima.

Nesse sentido é relevante referir que as cargas exercidas pelo mar sobre aquele trecho da costa

portuguesa são caracteristicamente muito fortes principalmente no Inverno. A questão da

sobrelevação do nível do mar de origem meteorológica (“storm surge”) está intimamente relacionada

e dependente das depressões oceânicas, e as variações na intensidade dessas tempestades está

relacionada com as mudanças sazonais da NAO (North Atlantic Oscilation) e dos sistemas a ela

associadas. A NAO é um movimento de oscilação do campo de pressão atmosférica no Atlântico

norte que tem influência no clima de superfície, nos fluxos superficiais e mesmo nos fluxos das

profundidades oceânicas (ANPC, 2010).

Num trecho de costa com estas características, para além das actuais mudanças na dinâmica

marítima provocada não só pelas alterações climáticas mas também pela pressão exercida por

factores antrópicos, tem-se registado a diminuição do volume de sedimentos transportados pela

deriva para as praias, encontram-se nesses locais praias classificadas, pelo INAG, de “risco

elevado/muito elevado de erosão”.

Entende-se por risco a probabilidade da ocorrência de uma acção perigosa e respectiva estimativa

das suas consequências, directas ou indirectas, sobre o Homem provocando prejuízos neste. A

“teoria do risco” assenta na sequência Risco-Perigo-Crise (Faugères, 1990; Rebelo, 1999; Lourenço,

2003), podendo também ser entendido na relação entre perigosidade, probabilidade de ocorrência de

um processo ou acção (natural, tecnológico ou misto) com potencial destruidor (ou para provocar

danos) com uma determinada severidade, numa dada área e num dado período de tempo), e

consequência, prejuízo ou perda expectável num elemento ou conjunto de elementos expostos, em

resultado do impacto de um processo (ou acção) perigoso natural, tecnológico ou misto, de

determinada severidade (ANPC, 2009). O risco será mais elevado quanto maior for a relação entre

produto das variáveis perigosidade e consequência, sendo que a transformação do potencial de

vulnerabilidade para uma situação de risco está dependente da presença de pessoas (Pereira, 2013).

Na avaliação dos riscos costeiros deve-se entender as povoações costeiras como o elemento sobre o

qual é expectável a ocorrência de fenómenos que provoquem danos e perdas e a diminuição de

defesas naturais, recuo da linha costeira, que potenciam a acção dos fenómenos meteorológicos e

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  3  

por consequência a severidade. Variações que ocorram nestes elementos terão assim repercussões

no nível do risco previsto para determinado local na costa.

Com a informação apresentada até ao momento, regista-se que abordagem à temática dos

problemas de erosão costeira pode ser feita por dois caminhos diferentes. Um pela vertente do

aumento da intensidade do fenómeno, ou seja, estudando a evolução da linha de costa e o avanço do

mar, ou seguindo a vertente do aumento do elemento exposto aos processos perigosos, ou seja o

progressivo crescimento de povoados costeiros, nos quais se situam pessoas e bens.

Optou-se por realizar a investigação sobre a temática da erosão costeira abordando o tema pela

temática do aumento da exposição (expansão dos povoados costeiros), pois verificou-se a

necessidade de explorar melhor este elemento da “equação do risco costeiro” no litoral da região

Centro de Portugal. Deste modo procura-se entender os motivos de desenvolvimento dos povoados

costeiros e a interferência e importância do planeamento.

Entendam-se os povoados costeiros como aglomerados de pequena dimensão populacional e que

tiveram como base de fundação a actividade piscatória durante a época de Verão, época de menor

agitação marítima. Contudo, estes povoados acabaram para evoluir para uma vertente mais turística

tendo-se construído habitações de forma a dar condições de habitação durante os períodos de férias.

Da imagem do conjunto de povoados que estão distribuídos pela costa portuguesa passa muitas

vezes a ideia errada de que “a costa portuguesa está forrada a betão”. Na verdade, e para o trecho

da costa em análise, é que apesar de actualmente existirem habitações e infraestruturas

referenciadas como estando em risco de serem destruídas pelo avanço do mar, estes povoados

nunca se desenvolveram de forma massiva, nem de modo contínuo (paralelo à costa) como em

outros locais, tanto em Portugal como a nível internacional, em situação semelhante.

Nesse sentido, e com base nas ideias de Huntington (1924; 1927) sobre o desenvolvimento das

populações e selecção do território com base nos factores climáticos, aborda-se as questões de

habitabilidade e os factores que contribuem para que determinado lugar tenha mais ou menos

condições de atracção de população. Sendo o sector norte da costa da região Centro característico

por apresentar Invernos rigorosos (frios e com algumas tempestades) e Verões ventosos (quentes

mas muitos ventosos), importa saber se este foi realmente um factor que influenciou o

desenvolvimento dos povoados costeiros.

Outro aspecto que desempenha um papel nas intervenções no território são as questões do

planeamento e ordenamento território. É relevante por isso obter informação sobre planos e

instrumentos de gestão do território implementados e com interferência naquele sector da costa,

pretendendo-se cruzar com as dinâmicas evolutivas dos povoados, permitindo aferir a importância ou

não destes instrumentos e planos para o desenvolvimento dos povoados na orla costeira.

Após décadas de ocupação das zonas junto à linha de costa, apenas em 1990, com a Resolução do

Conselho de Ministros nº 38/90, publicada na série I do Diário da República em 14-09-1990, que o

Estado se tem preocupado com o planeamento e ordenamento das zonas costeiras. Neste

Page 16: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  4  

documento legal é referido que se está perante “um território em acelerado processo de alteração”,

definindo assim directrizes para os municípios com frente marítima.

Com isto, faz-se uma abordagem a todo o território entre os concelhos de Ovar e Vagos, obtendo-se

assim uma perspectiva geral da realidade que se faz sentir nesse trecho ao nível da ocupação

urbana, focando depois a análise na freguesia de Esmoriz e Cortegaça, os locais em que a agitação

marítima é mais energética a nível nacional e europeu (Taveira-Pinto et al., 2009) e em que se

observa taxas de recuo da linha de costa muito elevadas.

Esmoriz e Cortegaça são um dos vários casos mediáticos, a nível nacional, sobre o qual se noticia os

problemas e prejuízos provocados pelos galgamentos marítimos durantes as tempestades de

Inverno. As elevadas taxas de recuo da linha de costa são sempre apontadas como o causador

destes problemas, contudo décadas antes do desenvolvimento dos povoados costeiros de Esmoriz e

Cortegaça, já o “concelho vizinho” Espinho lidava com problemas desta ordem.

A selecção do caso de estudo deve-se em muito ao conhecimento à priori que o autor possuía do

concelho e dos aglomerados que se pretende estudar e os problemas que estes tem enfrentado ao

longo das últimos anos.

Assim, este estudo pretende realizar uma caracterização e análise da evolução presente no processo

de ocupação urbana no trecho de costa aveirense, em concreto nos aglomerados de Esmoriz e

Cortegaça, explorando a possível influência dos instrumentos de Gestão Territorial tiveram nesse

mesmo processo. De modo a estruturar da melhor forma o estudo, definiu-se um conjunto de

objectivos secundários que devem ser atingidos:

1. Conhecer os principais diplomas legislativos nacionais que incidem sobre o ordenamento da

orla costeira, assim como os instrumentos e estratégias de gestão para esses territórios;

2. Apresentar o processo de formação da linha de costa da região Centro de Portugal, assim

como a sua evolução temporal;

3. Identificar os principais povoados costeiros presentes no caso de estudo, procurando

inventariar possíveis semelhanças quanto aos factores que estiveram na sua origem;

4. Compreender o conceito de habitabilidade de um território e procurar aplicá-lo ao caso de

estudo;

5. Apresentar as principais características históricas e geográficas das freguesias de Esmoriz e

Cortegaça, inferindo sobre os motivos que levaram à expansão para o litoral;

6. Perceber as várias fases de evolução dos povoados costeiros presentes no caso de estudo,

identificando como se efectivou a ocupação dessas praias e a relação com o planeamento e

ordenamento do território;

7. Averiguar, com base no conhecimento obtido sobre a evolução dos povoados, junto do

responsável pela gestão municipal destas áreas, qual o futuro desses povoados e que

estratégias se pretendem implementar na resolução de possíveis problemas.

Page 17: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  5  

A reflexão que se fará sobre este território pretende contribuir para um aumento do conhecimento

científico destes aglomerados. Sendo o planeamento uma tarefa que define estratégias futuras para

determinado território, esta ocorre no presente com base nos comportamentos passados. Nesse

aspecto, este estudo é relevante para se perceber as dinâmicas passadas dos povoados costeiros de

Esmoriz e Cortegaça, pretendendo apoiar uma possível estratégia futura.

1.2. METODOLOGIA

Ao longo da dissertação, procurou-se utilizar os métodos de investigação que melhor se adaptassem

aos objectivos que se pretendia atingir. Deste modo, para além da pesquisa bibliográfica que suporta

todos os elementos teóricos, procurou-se obter informação através do recurso à análise estatística e

cartográfica e entrevista, para se perceber se mostrar de forma clara e sintética a realidade do

território analisado.

Na Figura 1 pode-se observar a esquematização da metodologia utilizada. Assim, numa primeira fase

iniciou-se um processo de escolha do tema a abordar na dissertação tendo como assente que estaria

relacionado com as questões do ordenamento da orla costeira. Ao longo desse processo foi sendo

feita uma pesquisa bibliográfica geral para enquadrar o tema e analisar as preocupações actuais,

muita desta informação acaba por não ser apresentada mas foi fundamental para se decidir o rumo

da dissertação. Dentro de várias possibilidades, apresentadas na Fase 1.1, optou-se pela vertente

dos riscos costeiros devido à constante actualidade do tema mas também pela necessidade de

aprofundar este tema num âmbito específico. Assim, na Fase 1.2 procurou-se obter o máximo de

informação através do estudo da teoria deste tema, saber a estrutura e os objectivos dos trabalhos

realizados sobre os riscos costeiros e perceber a nível nacional qual o sector da costa mais

fragilizado de modo a escolhê-lo como área de estudo. No seguimento das informações recolhidas na

fase anterior, é apresentado na Fase 1.3 o objecto de estudo da dissertação. Foram ponderadas duas

situações, uma pela vertente da análise da evolução da linha de costa e outra pela vertente da

pressão antrópica e exposição aos riscos. Optou-se pela segunda por vários motivos, primeiro porque

a presença de pessoas e bens é elemento essencial nas questões dos riscos e nesse sentido seria

interessante ter uma perspectiva do desenvolvimento dessas pressões, em segundo porque é um

tema que não tem sido muito abordado na literatura científica o que leva ao terceiro motivo, visto que

na maioria dos casos em que aborda as questões dos riscos se opta pela criação de modelos de

projecção da linha de costa e não era intenção repetir questões já discutidas, mas sim trazer outra

abordagem para a discussão.

Page 18: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  6  

Figura 1 - Esquema da metodologia utilizada na investigação feita à evolução dos povoados costeiros de

Esmoriz e Cortegaça; Fonte: Elaboração própria

Na fase 2 procurou-se aprofundar o tema da ocupação urbana no litoral de modo a apresentar-se a

primeiras ideias da dissertação. Nesse sentido procurou-se estudar as características do sector da

costa da região Centro de Portugal e estudando os principais povoados e os mais vulneráveis à

erosão costeira (Fase 2.1). Na Fase 2.2, pretendeu-se efectuar uma recolha bibliográfica no sentido

de fundamentar teoricamente os elementos que contribuem para a problemática da ocupação da

linha de costa. Com as informações recolhidas decidiu-se o caso de estudo que seria abordado, ou

seja, o local que apresentava maior vulnerabilidade à erosão costeira e que decerta forma poderia ser

um bom exemplo do que se pretendia demonstrar (Fase 2.3).

Page 19: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  7  

Na Fase 3 o método de estudo pretendeu fazer uma abordagem ao caso de estudo. Assim, na Fase

3.1 iniciou-se a localização e caracterização dos povoados escolhidos para analisar, obtendo-se um

enquadramento geral do território na sua globalidade. Com a Fase 3.2 efectuou-se a recolha da

informação histórica, cartográfica e estatística necessária para auxiliar o estudo da evolução dos

povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça. A informação histórica implicou a consulta de arquivo

para encontrar referencias ao inicio dos povoados, já os dados cartográficos e estatísticos foram

tratados (Fase 3.3) em ambiente próprio, os primeiros em ArcGis 9.3 o segundos em Excel, para

facilitar a análise efectuada na fase seguinte.

Na Fase 4 chegou-se aos resultados do estudo, sendo que na Fase 4.1 fez-se a análise a esses

dados. É com base na interpretação desses valores e dados obtidos que se apresenta a forma como

os povoados estudados evoluíram ao longo do tempo (Fase 4.2). Com o conhecimento adquirido

sobre o povoado nas fases anteriores, procurou-se, na Fase 4.3, saber pelo método da entrevista

junto da administração local quais as estratégias para o futuro desses povoados. Desta forma, após

se percorrer todas as fases da investigação, realizou-se as conclusões na Fase 4.4.

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Ao longo deste ponto será apresentada a estrutura da dissertação, estrutura essa que pretende

acompanhar as diferentes fases de investigação abordadas anteriormente. Deste modo, pretende-se

que o texto seja coerente e estruturado na ligação entre as diferentes temáticas de modo a se atingir

os objectivos propostos.

Assim, neste primeiro capítulo introdutório pretende-se apresentar o tema a dissertação, justificando

a pertinência do assunto assim como fazer um enquadramento geral, explicitar a metodologia

utilizada e a forma como se encontra estruturado o texto.

No segundo capítulo apresenta-se o enquadramento legal do litoral português. Nesse sentido,

sintetizou-se os diplomas que regulamentam a orla costeira em Portugal, assim como os principais

planos e estratégias para a costa.

No capítulo 3 referem-se as questões teóricas relativamente à formação da costa da região Centro.

Assim, referem-se os agentes e dinâmicas que interagem na faixa costeira e permitiram que se

chegasse à forma actual da linha de costa neste sector do litoral.

No capítulo 4 são referidos os principais povoados do sector norte do litoral da região Centro. Com

isto pretende-se mostrar as principais características desses povoados e as suas origens, só desta

forma se pode compreender a ocupação da linha de costa.

Ao longo do quinto capítulo procurou-se fundamentar teoricamente os motivos que levam à ocupação

de um lugar. Desta forma é introduzido o conceito de habitabilidade como um conjunto de indicadores

relevantes para tornar um local mais atractivo que outro para se residir/habitar.

Page 20: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  8  

É a partir do sexto capítulo que se inicia a abordagem ao caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça.

Aqui pretende-se fazer um enquadramento geográfico do local, referindo os seus principais

acontecimentos históricos, as suas características e a sua localização face aos municípios mais

próximos.

O capítulo 7 é o resultado da informação e dados recolhidos sobre o caso de estudo. Assim, é

apresentada a evolução dos povoados das praias de Esmoriz e Cortegaça ao longo de diferentes

fases de evolução, assim como os resultados da análise dessa evolução.

Já o capítulo 8 é mais prospectivo, baseia-se nas informações que se possui actualmente para se

perceber o que se pretende para o futuro e quais as soluções existentes. Nesse âmbito foi

fundamental a recolha da opinião junto da administração local sobre este assunto.

Por fim, no capítulo 9 faz-se uma síntese à investigação realizada pretendendo fazer um juízo sobre a

resposta aos objectivos propostos, assim como as conclusões retiradas da relação entre o

ordenamento do território e a evolução dos povoados.

Page 21: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  9  

2. O LITORAL NA LEGISLAÇÃO PORTUGUESA

A preocupação com o ordenamento do litoral em Portugal é antiga. Desde cedo se percebeu os

problemas que as povoações costeiras iriam sofrer, mas as intervenções tardaram a ser executados

e a matéria legal, desenvolvida mais recentemente, foi acompanhando as recomendações europeias.

São vários os trabalhos e estudos desenvolvidos em Portugal sobre as questões da erosão costeira

no litoral português (Gomes, 1998, 2007; Dias 1993, 2005, 2008, 2009), e que sustentam muito do

que se sabe hoje sobre a costa portuguesa. A costa do litoral da região centro, no trecho Espinho-

Mira e principalmente na área que será foco desta dissertação, Esmoriz-Cortegaça, é tida um dos

casos mais preocupantes e como uma das zonas mais “frágeis” ao nível da perda de território da

Europa (Dias et al., 1994; CEHIDRO/INAG , 1998; HP, 1998; Coelho, 2005; Gomes et al., 2006;

Barbosa et al., 2006; Coelho et al., 2007).

Sendo a região Centro da responsabilidade da Comissão de Coordenação da Região Centro, esta

promove em 1990 por Resolução do Conselho de Ministros nº38/90 (publicado na I série do Diário da

República em 14 de Junho de 1990) a elaboração do PROT (Plano Regional Ordenamento do

Território) do Centro Litoral. A importância dessa Resolução do Conselho de Ministros para a

temática da ocupação do litoral e do risco costeiro, prende-se com a constituição de um objectivo

onde se pretendem estabelecer “normas gerais de ocupação e utilização do território que permitam

fundamentar um correcto zonamento e integrar a sua diversidade”.

Esta RCM é assim, um alavancar da legislação aplicável à orla costeira de maneira a conter os

“problemas relacionados com o aumento da pressão em relação às alterações do uso do solo

associadas a uma ocupação urbana e industrial, novas acessibilidades (portos e auto-estradas), e

aumento do tráfego, intensificação do uso recreativo (praias, desportos náuticos) e pesca excessiva”

(Gomes e Pinto, 2003).

Apesar de haver consciência das situações de desequilíbrio, reflexo disso é a elaboração da Carta

Europeia do Litoral, em Creta no ano de 1981, após a reunião plenária da Regiões Periféricas

Marítimas da Comunidade Económica Europeia, devido à crescente procura e ocupação da faixa

costeira, só cerca de 10 anos depois se inseriu na legislação portuguesa a necessidade de

regulamentar a costa.

A regulamentação da ocupação da linha de costa aparece contemplada pelo Decreto-Lei n.º 302/90,

26 de Setembro, o qual estabelece “os princípios a que deve obedecer a ocupação, uso e

transformação da faixa costeira”.

2.1. PLANOS DE ORDENAMENTO DA ORLA COSTEIRA

Os POOC são introduzidos pelo Decreto-Lei n.º 309/93, 2 de Setembro. Este surge com a

necessidade regular a elaboração e implementação desses planos, regulamentando os critérios de

Page 22: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  10  

atribuição de uso privativo de parcelas de terrenos do domínio público marítimo destinadas à

implantação de infra-estruturas e equipamentos de apoio à utilização das praias (Gomes e Pinto,

2003).

Estes são planos sectoriais que definem as condicionantes, vocações e usos dominantes e a

localização de infra-estruturas de apoio a esses usos e orientam o desenvolvimento das actividades

conexas.

Segundo as informações recolhidas do sítio do INAG (www.inag.pt; acedido a 11 Setembro 2012), os

POOC, surgem como um instrumento de enquadramento que as pode conduzir a uma melhoria,

valorização e gestão dos recursos presentes no litoral. O INAG, no âmbito das suas competências,

promoveu a elaboração de seis dos nove POOC estabelecidos, correspondentes aos seguintes

troços: Caminha-Espinho, Ovar-Marinha Grande, Alcobaça-Mafra, Cidadela-São Julião da Barra,

Sado-Sines e Burgau-Vilamoura. A elaboração dos POOC relativos aos restantes troços, Sintra-Sado,

Sines-Burgau e Vila Moura-Vila Real de Stº António, por corresponderem maioritariamente a áreas

que integram a rede nacional de áreas protegidas, foi da responsabilidade do Instituto da

Conservação da Natureza.

Os POOC abrangem uma faixa ao longo do litoral, a qual se designa por zona terrestre de protecção,

cuja largura máxima é de 500m, contados a partir do limite da margem das águas do mar, ajustável

sempre que se justifique, e uma faixa marítima de protecção que tem como limite inferior a

batimétrica - 30.

Pelo n.º 2, do Artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 309/93, 2 de Setembro, os POOC têm como objectivos:

1. Ordenar os diferentes usos e actividades específicas da orla costeira;

2. Classificar as praias e regulamentar o uso balnear;

3. Valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos ambientais e turísticos;

4. Enquadra o desenvolvimento das actividades específicas da orla costeira;

5. Assegurar a defesa e conservação da natureza;

O Decreto-Lei n.º 309/93, 2 de Setembro, posteriormente alterado pelo alterado pelos Decretos-Leis

n.º 218/94, de 20 de agosto, 151/95, de 24 de Junho, e 113/97, de 10 de Maio, e mais recentemente

revisto pelo Decreto-Lei n.º 159/2012 de 24 de Julho, são, segundo Gomes e Pinto (2003), os planos

de gestão das zonas costeira que serviram de primeiro impulso na direcção de uma gestão integrada

das zonas costeiras portuguesas.

O POOC Ovar-Marinha Grande, RCM nº 142/2000, publicado a 28 de Setembro, incide sobre a área

em estudo, sendo o limite norte do plano estabelecido na “Barrinha de Esmoriz”, sendo por isso

relevante a análise da sua composição. Este plano pretende conciliar os diversos valores presentes

no trecho de costa sobre o qual incide, estabelecendo um conjunto de objectivos principais que

estruturaram a sua elaboração: valorizar, diversificar e garantir os usos e as funções da orla costeira;

proteger os ecossistemas naturais e assegurar a exploração sustentável dos recursos; melhorar as

condições de vida das populações, reforçar e melhorar as infra-estruturas e equipamentos e

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  11  

promover uma oferta turística de qualidade; valorizar o actual tipo de povoamento, em respeito das

dinâmicas costeiras, dos valores naturais e da minimização de riscos, e promover a articulação dos

factores económicos e sociais.

Importa assim sintetizar o regulamento do presente plano, direccionando a análise para a influência

deste na área de estudo. Deste modo apresenta-se um excerto da planta síntese (Figura 2) estando

aí representados as classes de espaço, áreas de usos e restrições específicas .

Figura 2 - Excerto da Planta Síntese do POOC-Ovar Marinha Grande – pormenor sobre os aglomerados

de Esmoriz e Cortegaça; Fonte: DGT, 2014 (http://www.igeo.pt/WMS/POOC/OvarMG327)

Este sector da costa possui praias classificadas como Praia urbana com uso intensivo - Tipo I, Praia

não equipada com uso condicionado – Tipo IV e Praia com uso restrito – Tipo V. As praias de tipo I

possuem uma envolvente de núcleo urbano e por isso estão sujeitas a uma procura intensa, as praias

de tipo IV estão associadas a sistemas de elevada sensibilidade e apresentam limitações para o uso

balnear pois não garante a segurança do utente, por fim as praias de tipo V são zonas de

acessibilidade reduzida em que se encontram sistemas naturais sensíveis. Nesta planta estão ainda

identificados dois núcleos piscatórios, um de nível I (Esmoriz) e outro de nível II (Cortegaça), e um

núcleo de vocação turística de nível III (Esmoriz).

Ao nível do planeamento e gestão das áreas urbanas de Esmoriz e Cortegaça foram definidos dois

tipos de estudos a realizar, Projecto de Intervenção, da iniciativa do INAG, das frentes marítimas da

praia de Esmoriz e de Cortegaça e um PMOT, o Plano de Pormenor de Esmoriz e Cortegaça. O

Projecto de Intervenção tinha como objectivo primordial a realização de um estudo de avaliação de

soluções alternativas de defesa costeira para resolução dos problemas de erosão nas frentes

marítimas dos dois aglomerados e do parque de campismo de Cortegaça, na qual se incluía a análise

de custos/benefícios em termos ambientais, sociais, urbanísticos e económicos, prevendo-se que

após a conclusão desse estudo inicial ocorressem intervenções ao nível da qualificação e valorização

da imagem urbana destes aglomerados. O regulamento do POOC define ainda um conjunto de

índices a aplicar, ao nível da gestão urbanística, enquanto o PP previsto não entra-se em vigor. Em

Page 24: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  12  

ambos os casos não foi realizado qualquer estudo ou projecto, tendo-se ficado apenas pelas

indicações e propostas do regulamento do que se apresentou.

2.2. ESTRATÉGIA NACIONAL DE GESTÃO INTEGRADA DAS ZONAS COSTEIRAS

A Estratégia Nacional da Gestão Integrada das Zonas Costeiras (ENGIZC) é introduzida pela RCM

Resolução do Conselho de Ministros (RCM) nº 82/2009, 8 de Setembro; com o intuito de se criar uma

visão estratégica para o litoral que favorecesse a protecção ambiental e a valorização paisagística.

No mesmo sentido pretendia-se também enquadrar a sustentabilidade e qualificação das actividades

económicas que aí se desenvolvem.

Há ainda a pretensão de implementar medidas para salvaguardar a faixa costeira dos riscos naturais,

por vias de operações de monitorização e identificação de zonas de risco aptas a fundamentar os

planos de acção necessários a uma adequada protecção, prevenção e socorro.

Destaque, face ao referido anteriormente, para a criação dos programas Polis Litoral e com interesse

para a área de estudo, o Polis Litoral Ria de Aveiro (Decreto-Lei n.º11/2009, 12 de Janeiro) definido

para “as situações prioritárias, por se tratar de zonas de risco e de áreas naturais degradadas em

domínio público marítimo, torna-se necessário intervir através de operações integradas, com

dimensão significativa e, sempre que necessário, de escala supramunicipal, que visem a qualificação

costeira de forma exemplar”.

Outro facto que dever ser realçado, é que a ENGIZC segue a linha das restantes estratégias, políticas

e programas nacionais ao nível do ordenamento do território, das actividades marítimas, da natureza

e biodiversidade e do turismo. Esse facto faz com que exista coerência com as opções feitas

anteriormente.

Para além da importância dos objectivos transversais e temáticos que o ENGIZC apresenta, há um

facto que convêm realçar que se prende com a clarificação do conceito da zona costeira. Isto surge

pois as “designações de “litoral, costa, faixa costeira, faixa litoral, orla costeira, zona costeira, zona

litoral, área/região costeira” são utilizadas de modo indiferenciado ou por especialistas de diferentes

áreas para referir porções do território de dimensões variáveis, na interface entre a Terra e o Oceano”

(Veloso Gomes et al., 2006).

Esse tema é assim de todo o interesse, não só para o desenvolver desta dissertação, mas também

porque procura delimitar o litoral em diferentes zonas, o que ajudará no modo como são referidas as

diferentes áreas de intervenção, uniformizando os trabalhos desenvolvidos. Atendendo à Figura 3 e

às seguintes definições consideradas pela RCM n.º 82/2009, 8 de Setembro:

1. Litoral — termo geral que descreve as porções de território que são influenciadas directa e

indirectamente pela proximidade do mar;

2. Zona costeira — porção de território influenciada directa e indirectamente, em termos

biofísicos, pelo mar (ondas, marés, ventos, biota ou salinidade) e que, sem prejuízo das

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  13  

adaptações aos territórios específicos, tem, para o lado de terra, a largura de 2 km medidos a

partir da linha da máxima preia -mar de águas vivas equinociais e se estende, para o lado do

mar, até ao limite das águas territoriais, incluindo o leito.

3. Orla costeira — porção do território onde o mar, coadjuvado pela acção eólica, exerce

directamente a sua acção e que se estende, a partir da margem até um máximo de 500 m,

para o lado de terra e, para o lado do mar, até à batimétrica dos 30 m;

4. Linha de costa — fronteira entre a terra e o mar, assumindo-se como referencial a linha da

máxima preia-mar de águas vivas equinociais.

Figura 3 - Conceito de zonas costeiras (limites); Fonte: Resolução do Conselho de Ministros n.º 82/2009

Ainda fazendo referência à ENGIZC, destaca-se as seguintes medidas, que se entende serem as que

melhor se aplicam às questões da ocupação urbana da orla costeira, tema chave desta dissertação:

1. “Medida [M_07] - (…) O reconhecimento que a zona costeira funciona como um espaço

tampão (…) é um conceito fundamental que deve ser assumido como um princípio do

ordenamento do território a integrar nos instrumentos de gestão territorial. A introdução deste

princípio associado a um estatuto non aedifcandi da orla costeira deverá ser considerada um

mecanismo de salvaguarda fundamental para as situações de risco e para os troços de maior

vulnerabilidade da zona costeira.

2. Medida [M_10] – Proceder ao inventário do domínio hídrico e avaliar a regularidade das

situações de ocupação do domínio público marítimo.

3. Medida [M_11] – Integrar no quadro dos instrumentos de gestão territorial a problemática da

gestão integrada da Zona Costeira.

(…) Devendo os planos regionais de ordenamento do território definir as normas e as orientações a

serem integradas em sede dos planos municipais de ordenamento do território” (RCM n.º 82/2009, 8

de Setembro).

Page 26: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  14  

2.3. REVISÃO DO REGIME APLICÁVEL À ORLA COSTEIRA

Após dezoito anos desde a aprovação do Decreto-Lei n.º 309/93, legislação que introduziu os POOC

no planeamento do território português, surge a necessidade de actualizar essa mesma legislação.

Deste modo, apoiada na experiencia da 1ª geração de POOC, assim como com a introdução de

novos elementos provenientes da Lei da Água, da ENGIZC e das alterações ao Decreto-Lei n.º

309/93, 2 de Setembro (uma das quais provocada pela aprovação do Decreto-Lei n.º 380/99, 22 de

Setembro que consagra os POOC enquanto planos especiais de ordenamento do território, como

instrumentos supletivos de âmbito nacional) formulou-se o Decreto-Lei n.º 159/2012, 24 de Julho,

sintetizando-se o processo na Figura 4.

Neste ponto referem-se algumas alterações provocadas pelo mais recente diploma referente ao

planeamento da orla costeira. Este “novo POOC” promove uma nova abordagem da orla costeira,

mais flexível e de gestão integrada. É ainda acrescido aos POOC, meios de identificação e

programação de medidas de gestão, protecção, conservação e valorização, para além do seu

carácter normativo e regulamentar.

Uma das maiores alterações prende-se com o alargamento do “processo de planeamento a toda a

orla costeira, abrangendo as áreas sob jurisdição portuária, sem prejuízo da devida articulação com

as autoridades competentes, e ainda a faculdade de extensão da zona terrestre de protecção, até aos

1000 m, quando tal seja justificado pela necessidade de protecção de sistemas biofísicos costeiros

localizados para além da actual faixa dos 500 m” (Decreto-Lei n.º 159/2012, 24 de Julho).

Figura 4 - Processo de reformulação do "novo POOC" e sua inserção nos IGT; Fonte: Adaptação da

informação obtida no Decreto-Lei 159/2012, 24 de Julho

Mantem-se a aposta na prevenção associada à ocupação de áreas de risco de erosão,

essencialmente nas praias marítimas. Desta forma, existe um aumento e reforço na sinalização e

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  15  

informação referente às áreas de risco de erosão costeira, de modo a proteger pessoas e bens de

fenómenos naturais susceptíveis de causar dano.

Em relação aos objectivos a observar pelos POOC (Artigo 6º do Decreto-Lei n.º 159/2012, 24 de

Julho), realça-se que existem algumas semelhanças entre alguns objectivos gerais deste novo

diploma com os que estavam presentes no Decreto-Lei 309/92, 2 de Setembro, o que em alguns

casos não é de todo positivo. O legislador neste ponto parece, mais uma vez, esquecer a diversidade

de casos que a orla costeira portuguesa apresenta.

Nesse sentido, quando se pretende a “criação de condições para a manutenção, o desenvolvimento e

a expansão de actividades relevantes para o país, (...) bem como de actividades emergentes que

contribuam para o desenvolvimento local e para contrariar a sazonalidade” (alínea f), do n.º 1, do

Artigo 6º do Decreto-Lei n.º 159/2012, 24 de Julho), e não se faz, ou não está prevista uma distinção

entre os locais estáveis na orla costeira para os que se encontram afectados por elevadas taxas de

erosão costeira, poderemos estar diante de incompatibilidade de objectivos. É do conhecimento geral

a existência de vários aglomerados na orla costeira, os quais alguns POOC já apresentavam a opção

da retirada, que estão em zonas vulneráveis e o legislador aponta para a manutenção e para o

desenvolvimento local sem qualquer tipo de diferenciação? Será feita, em sede de cada POOC, a

distinção de cada caso e que pode sofrer esse tipo de aposta? São estas algumas dúvidas que

subsistem face à ambiguidade dos objectivos presentes no referido artigo.

Ainda relativamente ao assunto anterior parece preocupante que a ocupação da orla costeira em

áreas de risco não seja focada como um objectivo.

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  16  

2.4. SÍNTESE DA LEGISLAÇÃO PORTUGUESA REFERENTE À ORLA COSTEIRA Tabela 1 - Legislação portuguesa existente para a orla costeira e objectivo principal desses diplomas;

Legislação Objectivo principal do diploma Decreto-Lei n.º 309/93, 2 de Setembro Regula a elaboração e aprovação dos POOC

Decreto-Lei n.º 151/95, 24 de Junho Define os POOC como planos especiais de

ordenamento do território

Decreto-Lei n.º 5/96, 29 de Fevereiro Altera o DL 151/95 por ratificação. Pretende

harmonizar o regime jurídico dos PEOT.

Portaria n.º 767/96, 30 de Dezembro Indica as normas e técnicas para a

elaboração dos POOC.

Lei n.º 48/98, 11 de Agosto Estabelece as bases da política de

ordenamento do território e urbanismo

Decreto-Lei n.º 380/99, 22 de Setembro Estabelece o regime jurídico dos

instrumentos de gestão territorial

Resolução do Conselho de Ministros n.º

142/2000, 20 de Outubro

Aprova o POOC Ovar-Marinha Grande

(importância para a área de estudo)

Portaria n.º 137/2005, 2 de Fevereiro Indica os elementos que devem acompanhar

um PEOT

Lei n.º 58/2005, 29 de Dezembro Aprova a “Lei da Água”

Lei n.º 49/2006, 29 de Agosto Estabelece medidas de protecção à Orla

Costeira

Resolução do Conselho de Ministros n.º

90/2008, 3 de Junho

Determina a realização de um conjunto de

operações de protecção e valorização da

orla costeira – Programa Polis Litoral

Decreto-Lei n.º 11/2009, 12 de Janeiro Constitui a sociedade Polis Litoral Ria de

Aveiro (importância para a área de estudo)

Resolução do Conselho de Ministros n.º

82/2009, 8 de Setembro

Aprova a Estratégia Nacional de Gestão

Integrada das Zonas Costeiras

Resolução do Conselho de Ministros n.º

39/2012, 29 de Março

Suspensão parcial (prazo de 3 anos) o

POOC Ovar-Marinha Grande.

(importância para a área de estudo)

Decreto-Lei n.º 159/2012, 24 de Julho

Regula a elaboração e a implementação dos

POOC e estabelece o regime sancionatório

aplicável às infracções praticadas na orla

costeira

Page 29: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  17  

3. A FORMAÇÃO DO LITORAL DA ZONA CENTRO

As particularidades do território que se aborda ao longo da dissertação requerem uma análise

dedicada à sua génese, deste modo obtêm-se conhecimento sobre os elementos que influenciaram.

Desta forma, pretende-se ao longo deste capítulo fazer uma análise à génese do litoral da zona

Centro, procurando-se entender a forma como se desenvolveu a linha de costa em causa,

caracterizando os agentes intervenientes nesses procedimentos.

A área de estudo insere-se no litoral da Região Centro da costa compreendida entre Esmoriz e a

Marinha Grande. Sabe-se que este sector da costa portuguesa é de formação recente, face ao tempo

de vida da Terra, em que são características as praias de baixo declive e dunas, tendo na sua génese

múltiplos factores que contribuíram para essa forma.

A acção do vento, tanto de forma directa como indirecta, é o principal agente modelador da linha de

costa. A sua acção directa, caracteriza-se pela movimentação de sedimentos. Já de forma indirecta,

gerando ondas, acaba por modelar a costa no momento da rebentação. Deste modo, pretende-se

definir a importância destes dois agentes, vento e ondas, para o litoral e para as formas que criam.

Forma-se uma praia quando a quantidade de materiais disponíveis, provenientes das fontes

sedimentares, supera o volume de sedimentos que as ondas e as correntes litorais são capazes de

retirar da costa (Paskoff, 1985). Posto isto, é relevante demonstrar-se a importância da deriva litoral

para a formação de praias e que tipos existem. Com isto, pretende-se caracterizar, da melhor forma

possível, o local de estudo quanto à sua génese.

No caso particular do sector da costa em análise, a formação das praias é estruturalmente

característica de praias de restinga. As restingas são praias de um tipo particular porque não têm

apoio algum contra afloramentos rochosos, em toda a sua extensão (Paskoff, 1985). São assim

zonas exclusivamente sedimentares, e a sua formação e manutenção depende dos materiais que

provêm da erosão provocada na costa, pela acção das ondas, e nas serras, pela acção fluvial. Tal

como refere (Paskoff, 1985) a existência de restingas depende principalmente de uma deriva litoral

bem alimentada em materiais.

Assim, nos pontos que se seguem, pretende-se apresentar a evolução do litoral e os elementos que

potenciaram o estado da linha de costa que hoje se observa.

3.1. A ACÇÃO DAS ONDAS E A DERIVA LITORAL

Como foi referido, tanto a acção do vento como das ondas são fundamentais para modelar a linha de

costa de determinado território. Estes, são dois elementos indissociáveis neste contexto, estando as

ondas dependentes da força exercida pelo vento sobre a água.

As ondas variam as suas características consoante a força exercida pelo vento. “A altura da onda é

influenciada pela velocidade e duração do vento, e o fetch que depende da distância que o vento

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  18  

sopra da água (Strahler, 2010). As ondas viajam quilómetros sem perder energia, mas ao chegar

junto da costa, sendo afectadas por águas menos profundas, a base da onda abranda devido ao

contacto com o fundo. À superfície, a onda mantem a sua velocidade o que provoca um

desfasamento entre a base e o topo da onda acabando esta por rebentar na linha de costa. O

rebentamento da onda na costa liberta a energia transportada pela onda e que fora criada pelo vento,

esta acção é fundamental na modelação das praias.

Deste modo, durante períodos de fortes tempestades, a praia diminui e os seus sedimentos são

arrastados para o largo, voltando lentamente em períodos mais calmos (variação sazonal da praia).

As praias são assim um elemento bastante importante na costa, pois é nelas que é absorvida a

energia das ondas.

A rebentação das ondas também produz correntes que movem sedimentos ao longo da costa. Essas

correntes são fundamentais para a existência de deriva litoral.

A deriva litoral, também conhecida como transporte litoral, consiste na movimentação de sedimentos

na zona de rebentação pela acção das ondas e das correntes. As correntes geradas pelas ondas

tendem a dominar o movimento da água na zona junto à linha de costa e têm um papel fundamental

na movimentação de sedimentos. Quando a onda rebenta junto à costa, num determinado ângulo a

corrente gerada provoca uma movimentação paralela (deriva ao longo da costa) e uma perpendicular

(deriva de praia), que em conjunto formam a deriva litoral (Figura 5).

A deriva de praia, que não tem uma importância tão grande no transporte, é provocada pelo fluxo da

rebentação da onda que atinge, obliquamente, a praia “empurrando” para a praia os sedimentos

transportados. O refluxo da onda provoca o arrastamento dos sedimentos, numa direcção rectilínea,

de volta à rebentação.

Figura 5 - Deriva litoral, provocada pela conjugação de dois fluxos: Deriva de praia e deriva ao longo da

costa; Fonte: Adaptado (Strahler, 2010)

Page 31: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  19  

A deriva ao longo da costa possui uma importância maior em relação ao transporte de sedimentos.

Neste fluxo, ondas, onde o vento tem grande preponderância na sua formação, induzem as correntes

paralelas à linha de costa, sendo que estas são mais fortes na zona de espraiar da onda e diminuem

rapidamente para jusante da zona de rebentação (U.S. Army Corps of Engineers, 2002). Quando a

onda rebenta junto à costa num determinado ângulo, gera-se uma corrente paralela à linha de costa,

ficando confinada entre a zona de rebentação e a praia. É nesta corrente que se faz maioritariamente

o transporte de sedimentos no litoral.

Quando a linha de costa for relativamente rectilínea por extensos quilómetros, a deriva litoral

transporta os sedimentos na praia com a direcção do vento predominante. Neste caso, se essa linha

de costa for interrompida por uma baía, os sedimentos continuam com a mesma direcção da deriva

criando uma restinga. É exemplo deste processo, a formação do litoral na zona centro do país.

Um dado importante na deriva litoral prende-se com a quantidade de sedimentos que esta transporta.

Aqui, joga-se com a disponibilidade de sedimentos que as fontes cedem à deriva litoral e com a

velocidade e intensidade da própria deriva. Quando os sedimentos chegam a determinado sector da

praia mais rapidamente do que são retirados, então temos acumulação/crescimento da praia. Quando

ocorre o contrário, ou seja, os sedimentos são retirados mais rapidamente do que são repostos pela

deriva, então a temos diminuição/erosão da praia.

3.2. O TIPO DE COSTA

A costa é um ambiente bastante complexo e diversificado, por isso, por todo o globo existe uma

multiplicidade de formas costeiras apesar dos agentes envolvidos na modelação serem semelhantes.

“A busca por conhecer como linhas costeiras se formam e como as actividades humanas afectam

esses processos, exigiu a criação de esquemas de classificação” (U.S. Army Corps of Engineers,

2002) para os diferentes tipos de costa. Deste modo, as decisões que se fazem para determinado

tipo de costa devem ter em conta as características desta.

Para o caso particular da área que se encontra em estudo, procurou-se as definições/classificações

que melhor se adequam à morfologia de costa presente, que como se sabe deve-se à formação de

uma restinga, de acordo com três visões diferentes.

Segundo a U.S. Army Corps of Engineers (2002), que utiliza a classificação de Shepard de 1937, por

ser o método mais consensual dada a sua abrangência e detalhe permite a inclusão de todo o tipo de

costa, e por ter sido actualizado ao longo do tempo. Esta forma de classificação divide a costa em:

- Costas primárias: formada essencialmente por agentes não marinhos

- Costas secundarias: formadas por processos marinhos

Em cada uma destas divisões podemos encontrar várias subdivisões, que se avaliam consoante o

agente específico, terrestre ou marinho, que teve maior influência no desenvolvimento da costa em

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  20  

questão. Para a costa entre Espinho e o Cabo Mondego, da análise dos critérios para a classificação

da costa de acordo com a metodologia de Shepard, resulta a Tabela 2.

As restingas caracterizam-se por serem estreitas, formando montes de areia ligeiramente acima do

nível de maré alta, e se prolongam geralmente paralela com a costa, estando presente entre o maciço

terrestre e a restinga, uma laguna ou pântano (Figura 6). Estas estão ligadas a uma fonte sedimentar

e crescem no sentido da deriva litoral, podendo durante tempestades, transformar-se em ilhas

barreira caso se cria uma barra no cordão sedimentar (U.S. Army Corps of Engineers, 2002). O termo

barreira, aplicado no conceito americano, deve-se à função desempenhada por essa forma. Assim, “o

termo barreira identifica o cume de areia como aquele que protege parte da costa do impacto directo

das ondas” (U.S. Army Corps of Engineers, 2002).

Tabela 2 – Classificação da costa entre Espinho e o Cabo Mondego pela metodologia de Shepard

II B 1 c)

Costas secundarias, moldadas primeiramente por agentes ou organismos marinhos. Em alguns casos pode ter sido uma costa primária antes de ter sido moldada pelo mar

Costas de depósitos marinhos – Formação de praias por acção das ondas e correntes

Barrier Coast/ Costas Barreira

Barrier Spits/ Restinga

Após esta classificação, encontramos noutro autor, Paskoff (1985), a mesma definição que

caracteristicamente se assemelha à costa sobre a qual recai esta investigação. Assim, este refere

que a tipologia de costa em restinga (fletcehs) “são praias de um tipo particular pois não se

desenvolvem contra um aflorado rochoso, sendo que a sua existência depende ainda de uma deriva

litoral bem alimentada em materiais”

Figura 6 - Costa em barreira do tipo restinga; Fonte: Adaptado U.S. Army Corps of Engineers, 2002

Por fim, optou-se também pela classificação feita por Strahler (2010) que define de forma genérica,

as principais tipologias de costa no globo, isto apesar de cada costa ser uma criação da acção das

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  21  

ondas em diferentes tipos de rocha. Desta forma, este autor faz duas divisões nos tipos de costa,

definindo-as consoante a sua geomorfologia:

- Litorais de emersão; formaram-se quando a costa ficou exposta a uma diminuição do nível

médio do mar ou a um levantamento da crosta:

• Costas de ilha-barreira

• Costa de vulcões

• Costas de deltas

• Costas de falha geológica

• Costa de recife de coral

- Litorais de submersão; formaram-se quando o nível do mar parcialmente submergiu uma

costa ou quando parte da crosta afundou:

• Costas de ria

• Costas de fiords

Apesar de nestas definições não se referir a costa em restinga, caso da costa do litoral centro

português, a definição que mais se assemelha quanto à sua morfologia é a de costa em ilha-barreira,

cuja formação é idêntica a uma restinga. Assim, a “ilha de barreira é um cume baixo de areia, situada

a uma curta distância da costa, que é criado pela acção das ondas e o aumento na sua estatura

deve-se aos ventos costeiros, que devido à sua acção conseguem fortificar a ilha com dunas”

(Strahler, 2010). Entre a ilha de barreira e a “costa interior” existe uma lagoa, uma vasta extensão de

águas baixas em grande parte preenchido com depósitos de maré, tal como acontece com a restinga,

a grande diferença é que a restinga está ligada à costa rochosa.

3.3. O CRESCIMENTO DA RESTINGA ENTRE ESPINHO E CABO MONDEGO

Como já foi referido anteriormente a costa do litoral centro tem pouco tempo de vida, comparado com

a história geológica da Terra. Assim, a chamada “ria de Aveiro, interessante acidente litoral, sem

dúvida único na Península, em que o Vouga lança as suas águas” (Girão, 1922) não existia tal como

se conhece hoje. Segundo uma representação cartográfica de 1318 (Portulano de Petrus Visconte;

Figura 7), todo o território costeiro compreendido entre Espinho e o Cabo Mondego não existia.

Assim, “não existia a laguna de Aveiro, formando a costa, a partir do local onde hoje está a lagoa de

Esmoriz, existia uma grande chanfradura até ao Cabo Mondego” (Cunha, 1930).

Baseando-se apenas na datação desta imagem, dado que em termos geológicos é possível confirmar

a antiga localização da linha de costa, pode-se inferir que esta forma de litoral se manteve até uma

época relativamente recente, até porque “todos os dados antigos sobre a actividade marítima local se

referem exclusivamente ao rio Vouga, único porto acessível à navegação” (Cunha, 1930).

Mas, como justificar a evolução desta costa primitiva, para a situação actual? Visto que o “Vouga

devia desembocar muito mais para o interior, e a costa formaria uma reentrância mais ou menos

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  22  

recortada, em frente a qual os ventos e as correntes marinhas vindas do norte mais tarde

acumularam um cordão litoral predominante rectilíneo” (Girão, 1922).

É neste contexto que se refere a importância da deriva litoral, já explicada anteriormente, e nesse

aspecto particular uma deriva bem “alimentada” em sedimentos. Assim, “os sedimentos transportados

pela corrente marítima e ventos foram convergindo ao longo da costa formando dois grandes

cabedelos” (Cunha, 1930) um que foi crescendo desde Espinho para sul e outro que cresceu no

sentido inverso a partir do Cabo Mondego.

Figura 7 - Costa de Portugal segundo o Portulano de Petrus Visconte, 1318; Fonte: http://www.drapc.min-

agricultura.pt/base/documentos/historia_bacalhau.htm (consultado a 05/01/2013)

A principal fonte de sedimentos para a deriva litoral encontra-se nos rios, e no caso em questão,

estes tem a sua proveniência maior no rio Douro, até pela dimensão da sua bacia hidrográfica, mas

também no rio Vouga. Mas como se explica a enorme disponibilidade de sedimentos na deriva litoral

naquele período?

Só dessa forma poderia ser possível surgirem restingas com esta dimensão. Assim, para este ponto,

deve-se chamar atenção para a existência de uma relação entre a erosão fluvial e o transporte de

caudal sólido pelos rios. Assim, o assoreamento das zonas estuarinas constitui um fenómeno natural,

embora em muitos casos auxiliado pela acção antrópica. Com a interferência humana nesse

processo, pois quando se retira coberto vegetal das encostas a montante, provoca uma maior

disponibilidade de sedimentos no rio devido à erosão provocada pela escorrência superficial. “As

mais antigas destas actividades humanas, directa ou indirectamente indutoras de assoreamento,

remontam aos períodos pré- históricos, em que os incêndios provocados em florestas

(nomeadamente para criação de campos de pastoreio e/ou de agricultura) tiveram como

consequência o aumento do volume sedimentar transportado fluvialmente e o assoreamento

progressivo de áreas estuarinas” (Pereira e Dias, 1994). Há ainda a considerar um relato histórico

sobre “o incêndio das grandes florestas da península, quando da conquista romana, teria favorecido a

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  23  

erosão fluvial” (Cunha, 1930). Este processo seria concluído com as cheias dos rios que finalizariam

o processo ao levar os sedimentos para o mar, disponibilizando-os para a deriva litoral.

Para concluir o assunto da disponibilidade de sedimentos na deriva litoral que tenha contribuído para

a formação da restinga, convêm registar a opinião do “Dr. Luís Carrisso que julga insuficiente a

erosão fluvial para o justificar e sugere o estudo das alterações litorais na Galiza sujeita à erosão de

um oceano agitado” sendo que o produto dessa erosão teria “no período proto-histórico” (Cunha,

1930) colmatado os fundos do litoral junto à costa, o que contribuiu para a formação da restinga e

laguna.

Sobre este tema tem-se a noção que ocorreu um enchimento sedimentar desta baía (Figura 8), tendo

a agitação marítima concluído o processo ao criar a restinga. Tanto que “no séc. XII já temos notícia

da barra na Torreira; um novo cabedelo avançara do Carregal para sul àquele local” (Cunha, 1930).

No ano de 1808 a barra é fixada artificialmente, no local onde hoje se encontra, para aproveitar as

potencialidade portuárias e para garantir condições sanitárias às populações após as várias pestes

que assolaram a região.

Figura 8 - Litoral Aveiro antes da formação da restinga. Reconstituição da costa entre Espinho e o Cabo Mondego a partir dos dados da carta geológica; Fonte: (Souto, 1923)

O crescimento da restinga cria ainda um caso curioso em termos de administração do território que

“com a progressão do cordão litoral o concelho de Ovar atingiu no séc. XVIII o litoral; a sua câmara

manteve essa jurisdição , em 1757, quando da abertura do regueirão da Vagueira, exigindo que na

margem norte fosse colocado um marco com a palavra “Var”” (Cunha, 1930).

3.4. SÍNTESE DE CAPÍTULO

Deste modo, conclui-se este capítulo no qual se pretendeu analisar de forma sintética os elementos

que estiveram na origem da formação da costa do litoral centro. Como se referiu, é importante saber

N

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  24  

a forma como uma costa é constituída para que se possa intervir ao nível do ordenamento do

território.

Do que se retém em grande escala deste capítulo, é que se está perante uma costa única no nosso

país e que apresenta algumas debilidades face a outros tipos de costa. Ao se olhar para esta costa,

deve-se observar muito para além do que se vê entre Espinho e o Cabo Mondego, isto porque foi

uma costa criada com sedimentos cuja proveniência é distante desta zona.

Apesar de não ter sido abordado neste capítulo, pois só se abordou o processo de formação da

restinga, é fácil de prever o que poderá ser o futuro desta costa a uma escala temporal bastante

alargada. Então se durante a formação da restinga havia um “superavit” de sedimentos, logo ocorre

o crescimento da restinga, num momento em que haja um “deficit” de sedimentos, o qual já se

verifica, prevê-se que ocorra uma diminuição da restinga até que a costa se encontre em equilíbrio.

Com esta informação há que saber avaliar e relacionar os fenómenos litorais característicos destas

formações com as condições à ocupação humana que este sector da costa oferece às populações.

Page 37: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  25  

4. A EVOLUÇÃO DAS POVOAÇÕES COSTEIRAS AO LONGO DO TEMPO

Após se estudar a forma como a zona do litoral de Aveiro se formou no passado, passará a ser

apresentada, ao longo deste ponto, o aparecimento dos povoados costeiros ao longo do sector da

costa do litoral da região Centro, sobre o qual a dissertação irá incidir.

Existe uma série de relatos e monografias que auxilia a fazer uma descrição sintetizada da

“colonização do litoral” na extensão da restinga da “ria de Aveiro”. Sabe-se à partida que nos tempos

antigos, o litoral apresentava ameaças à sua ocupação, existência de piratas argelinos, e as

populações ainda não tinham a capacidade de retirar do mar todo o seu proveito e riqueza, o peixe.

Devido à fraca atractividade do litoral, as actividades piscatórias desenvolviam-se nas águas

interiores da “ria de Aveiro”, até que, ajudado pela decadência da pesca na ria devido à peste,

criaram um “tipo de barco em forma de meia lua para atravessar a rebentação da costa, organizando-

se para a exploração do mar em campanhas” (Oliveira, 1967).

O povoamento nesta área desenvolveu-se em estreita e exclusiva relação com a actividade da arte

xávega1 e para além de ser uma actividade bastante dura e pouco rentável para o pescador, era de

igual modo precária. A actividade da xávega inseriu algumas necessidades infraestruturais que eram

exigidas pelas características desse tipo de pesca, como armazéns de redes e abrigos para gado e

pescadores, e assim foram crescendo “aglomerados, ora isolados ou pouco organizados ora

alinhados em arruamentos mais ou menos regulares” (Oliveira e Galhano, 1964) de modo a garantir

apoio à actividade piscatória durante as épocas de safra2.

Segundo Oliveira (1967), “em todo o litoral entre Douro e Vouga, os pioneiros da faina marítima e os

iniciadores do povoamento foram pescadores de Ovar”. Dada a sua experiencia na arte da pesca, na

manufactura de redes e da construção dos barcos, “estabelecem ainda colónias ao norte,

nomeadamente em Espinho, e a sul iam lançar as redes em frente a S. Jacinto e da Torreira”

(Oliveira, 1967).

Uma das particularidades que caracteriza esses aglomerados do litoral centro no passado são a

tipologia da habitação, os palheiros.

4.1. CARACTERIZAÇÃO DOS PALHEIROS

Os palheiros (Figura 9) são habitações de madeira (material essencial e abundante no litoral centro,

devido à existência em grande quantidade de pinheiros para conter as areias), em palafita

                                                                                                               1  Encontra-se na bibliografia histórica, várias referencias à importação deste técnica da Catalunha e de França, esta acabou por ser proibida em França em 1754, o que levou à implementação no litoral vareiro, trazida por um imigrante francês, da arte xávega (ou da rede de arrasto).  2  Este termo é utilizado para referir os período da Arte de Xávega, que se realizava entre Maio a Outubro.  2  Este termo é utilizado para referir os período da Arte de Xávega, que se realizava entre Maio a Outubro.  

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  26  

(construção sobre estacaria) permitindo deste modo a circulação dos sedimentos. A sua construção

assenta em pilares que poderiam ser de madeira ou de granito, sendo que a sua estrutura era feita

em viga de pinho e as paredes que eram inicialmente em pinho, com o passar do tempo passaram a

ser construídas em alvenaria. Por fim, a cobertura era feita em junco/estorno (palha), e daí provém o

termo, mas com a evolução dos materiais, e com a vulgarização da telha de Marselha, os palheiros

ganharam outro tipo de condições, tais como a possibilidade de aumentar a altura do telhado

permitindo a utilização do sótão (Oliveira e Galhano, 1964).

Estas construções eram utilizadas para os mais variados fins: armazéns de salga e conserva de

sardinha, abrigo aos pescadores e lavradores que levavam o gado para puxar as redes, vendeiros e

taberneiros e autoridades fiscais. É com este tipo de construção que se iniciam os primeiros

povoados no litoral aveirense.

Nos primórdios, os palheiros serviam na sua maioria de abrigo, ou de habitações temporárias, às

populações que faziam da exploração do pescado o seu modo de vida. Essa “ocupação era feita

durante o período de safra ou dos banhos, porque fora dessa quadra nada havia ali a fazer, que

aguentasse a vida (...) pelas difíceis condições de habitabilidade, a falta de água e de transportes”

(Oliveira e Galhano, 1964), havia assim uma mudança de aspecto, devido ao abandono, destes

aglomerados após a época de pesca e início do Inverno.

Num período posterior, estes povoados começaram a ser frequentados por pessoas das localidades

mais próximas e por banhistas locais que aí passavam o Verão e procuravam acomodação. Deste

modo, procuravam alugar, comprar (como casa de férias) ou construir o seu próprio palheiro, “no final

do século XVIII e seguintes, os pescadores alugavam o seu palheiro ou erguiam um semelhante na

sua fisionomia para alugar a banhistas” (Oliveira e Galhano, 1964).

Figura 9 - Representação esquemática dos palheiros do litoral de Aveiro; Fonte: Adaptado de Oliveira e Galhano, 1964)

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  27  

Com o passar do tempo, os aglomerados foram crescendo e organizando-se de forma alinhada

criando arruamentos. Esta situação levou a que as habitações criassem situações de abrigo ao vento

e, consequentemente, à diminuição da deslocação de sedimentos, tornado dispensável a construção

sobre estacaria permitindo revestir o palheiro até ao solo3 “ganhando” mais um piso.

Segundo os autores (Oliveira e Galhano, 1964) a pressão criada naquele sistema e a alteração da

arquitectura dos palheiros é assim atribuída às necessidades dos banhistas.

4.2. O POVOADO DE ESPINHO

Espinho tal como outras povoações do litoral norte e centro tiveram as suas raízes em pescadores do

Furadouro, sendo que “pouco antes de 1737 alguns pescadores do Furadouro começaram a vir para

a costa de Espinho” (Quinta, 1999). Os primeiros pescadores formaram a povoação apenas para

trabalhar a arte da xávega, e apenas aí ficavam “durante a época de safra, regressando depois ao

Furadouro durante o Inverno para proverem o seu sustento na ria de Aveiro” (Quinta, 1999).

É deste modo que se inicia o povoamento em Espinho, com um impulso da “indústria do próprio mar,

ele próprio num impulso utilitário, a convocar o pescador do Furadouro, que no Verão lhe disputava a

sardinha” (Azevedo, 1961). É a abundância desse pescado na costa de Espinho que faz com que “a

partir de 1776 começaram a ficar na costa de Espinho algumas famílias em pequenos palheiros de

tábuas, construídos no areal” (Quinta, 1999).

No ano de “1807 o lugar de Espinho já registava cerca de 125 casais de pescadores” (Azevedo,

1961), sendo que “até 1830 viviam exclusivamente da pesca” (Quinta, 1999), apesar de haver

registos de famílias de terras vizinhas aí permanecerem na “estação calmosa”. Espinho deve muito à

“abertura da linha férrea do Norte, em 1867, pois permitiu um desenvolvimento muito acelerado”

(Azevedo, 1961), e deste modo, inverter a tendência da pesca para se afirmar como “uma das mais

progressivas vilas do litoral do Norte, e um dos mais reconhecidos centros cosmopolitas de turismos

e veraneio” (Azevedo, 1961).

Deste modo ocorre uma transformação neste povoado que até “1830 era um amontoado de

palheiros, sujos e feios, disseminados sobre o dorso de uma intensa e elevada duna de areia”

(Quinta, 1999), mas a partir de “1873 a 1889 estava povoada de construções modernas e elegantes,

a poente e a nascente da linha férrea” (Quinta, 1999) como se pode verificar pela Figura 10.

Desde muito cedo que Espinho se via a contas com problemas com invasões marítimas. Os

parágrafos que se seguem demonstram alguns registos históricos associados às investidas do mar, e

os problemas que isso provocava no desenvolvimento da frente de mar nesse povoado. Posto isto,

sabe-se que entre 1834 e 1870 o mar começou a invadir Espinho, destruindo algumas habitações,

                                                                                                               3  Registam-se exceções a este tipo de construção na praia da Tocha e nos palheiros luxuosos (palheiros construídos de forma mais cuidada, destinada a veraneantes mais exigentes) que existiram em Esmoriz e Cortegaça ( Oliveira e Galhano, 1964).  

Page 40: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  28  

provocando elevada erosão na costa (Azevedo, 1961). Depois desta situação, o “ataque” do mar

repetiu-se númerosas vezes, sendo que se acentuaram em 1889, atribuindo-se então à construção

do porto artificial de Leixões, em 1891, a invasão das águas que em 1896 destruiu setenta e seis

prédios (Azevedo, 1961).

Após estes problemas, foi no início do séc. XX que começam a surgir as primeiras obras de defesa

para travar o avanço do mar em Espinho. Assim, “em 1909 construi-se um molhe, que o mar engole

no ano seguinte e em 1911 construíram-se os esporões, cujos bons efeitos se fizeram sentir até

1936” (Azevedo, 1961).

Figura 10 - Princípios do povoado de Espinho, baseado no plano de melhoramento de Espinho proposto

pelo Eng.º José Coelho Bandeira de Melo em 1870; Fonte: editado de (E.V de Oliveira e Galhano, 1964)

Espinho tinha assim todas as potencialidades para que pudesse crescer e desenvolver em torno da

indústria do mar, tanto a pesca como o veraneio já vimos que foram os grandes impulsionadores

desse crescimento. Mas o que garante “uma das grandes oportunidades à elevação de Espinho em

concelho, foi a existência, aqui, da antiga fábrica de conservas Brandão, Gomes e Cª. E do natural

factor económico que dela resultava para a região” (Azevedo, 1961). A industrialização aliada aos

potenciais de veraneio fizeram com que existisse um grande crescimento e manutenção da

população.

Espinho teve uma dinâmica evolutiva e de crescimento diferente dos demais povoados que se

desenvolveram para sul até Ílhavo desde logo porque o aglomerado principal desenvolve-se junto ao

mar. A chegada do comboio e abertura da estação desempenham um papel fundamental na orgânica

e formação da cidade, onde se destaca o desenho em quarteirão, afirmando-se como sendo mais

que um local de veraneio. Assim, ao contrário dos restantes povoados costeiros do litoral aqui

Page 41: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  29  

abordados, Espinho consegue combater a sazonalidade característica destas zonas costeiras, tendo

uma população residente superior aos demais casos no litoral aveirense.

4.3. O POVOADO DO FURADOURO

As primeiras referências ao Furadouro datam de 1354, relacionados com os campos agrícolas entre a

ria e o oceano. A essa faixa dava-se o nome de “Gelfa e, servia para a pastagem de gado em vários

lugares, desde a foz do Vouga até ao Furadouro” (Oliveira, 1967).

Diz-se que o nome de Furadouro se devia à existência de uma barra intermitente que ligava, nessa

zona, o mar e a ria. Essa povoação “a 4 km do centro da vila, era o lugar mais próximo para os

pescadores de Ovar exercitarem as suas artes, quando a abundância de sardinha os convidou a

intensificar a pesca marítima” (Oliveira, 1967).

O aparecimento da peste nas águas da ria fez com que os pescadores se virassem para o mar. Tanto

que o número de pescadores ovarenses “em 1600 eram não menos de duzentos, constituídos em

quatro Campanhas” (Pinho, 1959).

É a partir deste povoado piscatório que se desenvolvem, demográfica e culturalmente, alguns

povoados desde Espinho à Afurada e da Torreira a São Jacinto. Apesar disso, “não há grandes

registos de gente que vivia aí de forma permanente, devido ao isolamento da orla litoral” (Oliveira e

Galhano, 1964). Para além do isolamento, estes povoados estavam dependentes da actividade

marítima e deste modo, “terminada a safra pelo Natal, a praia ficava deserta durante alguns meses,

porque ninguém residia no Furadouro” ( Oliveira, 1967).

Grande parte dos registos históricos destas zonas baseiam-se na religião. Como tal, sabe-se que já

haveria uma afluência bastante assinalável de pessoas ao Furadouro para a actividade piscatória

dada a construção “em 1766, no lugar de outra ermida de madeira, lá erguida em 1759” para recolher

duas Figuras religiosas e nas alturas de maior “perigo no mar durante o trabalho de pesca, abre-se a

capelinha para o Oceano voltada” (Neves, 2012).

Até essa data o litoral era não mais que um problema para o desenvolvimento de culturas junto à vila

de Ovar. Dadas as características do litoral de Ovar, baixo e arenoso, “as ondas do mar impeliam

continuadamente as areias para terra, areias que o vento varria para a praia formando medos e

dunas que, sem obstáculo, caminham inexoravelmente alguns metros por ano para o interior,

ameaçando a povoação, as suas terras de cultura, as suas hortas e pomares” (A. Rodrigues, 2000).

Desta forma, a população de Ovar, semeou continuamente entre 1723 e 1893, um pinhal para suster

as areias no litoral e desse modo não invadir as suas culturas.

Depois de resolvida a questão do avanço das areias sobre a vila, e que segundo (A. Rodrigues, 2000)

aponta para a diminuição dos sedimentos no litoral aos longo dos anos, surgiu outro problema mas

desta vez a afectar a população que ocupava a faixa litoral, o avanço do mar. É velho o ditado entre

as gentes de Ovar em que “o mar ainda há-de retomar ao seu antigo lugar”, referindo-se à época em

Page 42: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  30  

que a linha de costa se situava relativamente perto da actual linha de caminhos de ferro. Registam-se

na história várias investidas do mar sobre os palheiros que provocou a sua destruição. “A primeira

notícia da invasão da terra do Furadouro pelo mar data de 1857, e o mar levou 15 palheiros; seis

anos depois, em 1863, já eram os palheiros na costa númerosos, confusos e muito próximos da água,

o mar destruiu mais de 30 palheiros” (Rodrigues, 2000). Depois disso, no ano de 1887 ocorreram

mais duas investidas que destruíram mais de 20 palheiros.

Na verdade, apesar do Furadouro apresentar uma indústria crescente da pesca e haver maior

movimento entre a vila e a praia, até pelo transporte de mercadorias, esse trajecto era sinuoso,

através da areia solta e da mata, tornando-o difícil e demorado. Só depois da “construção da estrada

em 1869” (Oliveira, 1967), que ligava o Furadouro à vila de Ovar, houve um crescimento do número

de palheiros dado o acréscimo de número de banhistas na época de Verão. Tanto que 1881 já se

contabilizava mais de 3004 dessa habitações, tornando-se assim no “maior aglomerado em toda

nossa costa” (Oliveira e Galhano, 1964). Outra vantagem para o desenvolvimento do Furadouro

prendeu-se com o aparecimento de “alguns catalães, conhecedores de novos métodos de conserva

de peixe e de um novo processo de pesca, a xávega, no início do último quartel do século XVIII” (A.

Rodrigues, 2000). Graças à salga e conserva da sardinha, o litoral entre Douro e Vouga, mas em

especial no Furadouro viveu um grande crescimento industrial e com isso, a necessidade da

população residir perto dos locais de produção. Assim, “o inquérito industrial de 1890 fornece-nos um

panorama completo dos depósitos de sardinha da costa do Furadouro, sendo que o número é de

aproximadamente 60 armazéns” (Rodrigues, 2000).

Por forma a comprovar-se a dimensão do povoado que crescia no Furadouro, observe-se a

informação, fornecida por (Rodrigues, 2000), relativa ao incêndio de 1881 naquela zona que destruiu

grande parte da povoação piscatória. As características do povoado, exclusivamente palheiros de

madeira, o seu tipo de construção e em ruas estreitas, sem condições de segurança, água e carência

de socorros dada a distancia para a vila, foram as condições necessárias para que “quase metade

da povoação piscatória, a do lado norte, num total de 321 casas, fossem devastadas pelo incêndio do

dia 31 de Julho de 1881” (Rodrigues, 2000).

O início do século XX está associado a um grande crescimento turístico no Furadouro, como

aparecimento em número considerável de pensões e hotéis, assim como alguns cafés. Isto significa

uma grande afirmação do Furadouro como praia de veraneio, dado que “com a decadência da pesca

na costa do Furadouro os armazéns foram diminuindo e, em 1956, existiam na praia somente 13

desses” (A. Rodrigues, 2000).

Por fim, para que se perceba a maneira de como o litoral estava a evoluir à cerca de 100 anos atrás,

devemo-nos apoiar no registo de uma capela construída no início do ultimo século. Nos anos 20/30

século XX, sabia-se “que entre a capela e a rebentação da onda do mar havia uma distância com

cerca de 100 metros” (Neves, 2012). Pela Figura 11, podemos ver que essa capela se situava onde

hoje encontramos a marginal da praia do Furadouro, podendo assim registar o assinalável recuo da                                                                                                                4  A 31 de Julho de 1881 ocorreu um grande incêndio no Furadouro, tendo se registado a destruição de 320 palheiros, o que explicita bem a ocupação daquela zona (Oliveira, 1967).  

Page 43: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  31  

linha de costa, visto que essa capela acabou por sucumbir à “destruição pelo mar em Fevereiro de

1939” (Neves, 2012).

Figura 11 - A capela velha no início do séc. XX, no alto do então "Rocio" do Furadouro; Fonte: Neves, 2012

Actualmente a Praia do Furadouro dedica-se exclusivamente ao veraneio, mantendo um pouco à

imagem do passado a sua sazonalidade entre os meses de Verão e de Inverno.

4.4. O POVOADO DA TORREIRA

Tal como já se referiu noutros momentos, o povoado da Torreira foi fundado pelos pescadores do

Furadouro, mas também por habitantes da Murtosa. A particularidade deste povoado, assim como o

de São Jacinto que será abordado no ponto seguinte, prende-se com a proximidade entre o mar e a

ria. Desta forma, estas povoações são assim “compostas por dois aglomerados de palheiros, um à

beira-mar e outro sobre a ria, do lado oposto do areal, que é nesse sector relativamente estreito” (E.

V. de Oliveira e Galhano, 1964).

Ao se observar a Figura 12, datada do início do século XVIII, pode-se observar que o crescimento do

povoado da Torreira se inicia junto à Ria, enquanto a zona da praia aparenta ser deserta. Pode então

“supor-se que, nesses primeiros tempos, as gentes das campanhas apenas tinham à beira-mar os

costumados barracos das redes e dos barcos, onde certamente dormiam alguns pescadores durante

aquele período” (Oliveira e Galhano, 1964).

O povoado junto à ria fornecia melhores condições de desenvolvimento. A potencialidade de

embarque e transporte do pescado e mercadorias através de mercantéis para outras paragens, o

abrigo à acção das ondas, levou a que crescessem “instalações” para realizar a actividade do

negócio do pescado. Deste modo o “aglomerado da beira-Ria evolui no sentido da habitação

permanente, porque as melhores condições de existência, e possibilidades de relação com a outra

margem, criaram actividades que estimulavam a fixação em número sempre crescente de pessoas, o

da praia conservou até quase aos nossos dias, em medida considerável, o carácter de habitação

temporária, que tinha inicialmente, em relação com a pesca e seguidamente com a sua natureza de

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  32  

estância balnear; e em qualquer do caso, ambos conhecem um período normal de vida reduzida,

durantes os meses do Inverno” (Oliveira e Galhano, 1964).

O que garante um crescimento no povoado do mar é a “produtividade” do que este oferecia aos

pescadores. Sendo aquela costa abundante em peixe, e com potencialidade para a pesca do arrasto

(arte xávega), na “última metade do século XIX, conhece um grande desenvolvimento; em 1880

armaram-se seis campanhas de xávega” (Oliveira e Galhano, 1964) o que fazia cerca de 80 homens

nesse trabalho mais um vasto número de mulheres que teria de carregar e negociar o peixe junto à

ria. Dada a necessidade de mão-de-obra, e o avolumar de trabalho “os pescadores, com o andar do

tempo, foram-se instalando preferencialmente na praia, e construindo aí os seus palheiros, que já em

1870 eram, segundo o mapa da direcção geral dos trabalhos geológicos, de 500 fogos de tábua”

(Oliveira e Galhano, 1964).

Figura 12 - Mapa topográfico da Ria d’Ovar do século XVIII; Fonte: E. V. de Oliveira e Galhano, 1964

Na obra de Egas Moniz, em que retrata a sua vida e histórias e viagens com a família, este refere

uma passagem em que vai de férias para a praia da Torreira. Nestas passagens podemos

caracterizar um pouco da povoação pelas palavras do autor que viveu esses tempos, assim à época

de 1890-1900 a Torreia “não passava de uma povoação de pescadores em que tudo era pobre e

primitivo”, ainda assim, “a casa que se arranjou, é das raras de alvenaria que há na Costa” (Moniz,

1950). Já perto da metade do século XX, sendo uma freguesia independente, a Torreira continuava a

apresentar uma sazonalidade característica destes povoados litorais, contudo “os palheiros da Ria

melhoraram com regulares construções, o seu desenvolvimento justificava” uma melhoria nos

acessos, que já eram estudados na época (ou a ponte na zona da Varela ou a estrada que ligava ao

Carregal), que permitiria “com estes melhoramentos, em poucos anos, a Torreira seria um luxo e de

Page 45: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  33  

grande frequência, devido à ria e à extensão da praia, como centro de turismo apreciado” (Moniz,

1950).

4.5. O POVOADO DE SÃO JACINTO

Este povoado, localizado na extremidade da restinga a norte da Barra de Aveiro, nunca foi alvo de

grande ocupação junto ao mar. Já foi referido anteriormente os motivos por se assemelhar ao

povoado da Torreira, ainda que não haja certezas sobre a origem dos povoadores deste local.

Segundo (Oliveira e Galhano, 1964), supõe-se que os primeiros povoadores fossem os mesmos da

Torreira, ou seja os pescadores oriundos do Furadouro, mas só encontram referências, no princípio

do século XIX, a pescadores oriundos de Ílhavo e Aveiro.

Certezas há sobre que o povoado cresceu junto à Ria, com os armazéns de salga e com espaços

para armazenar e transaccionar o pescado. Poucos eram os que habitavam a praia, a maior parte,

por serem de Ílhavo e Aveiro, “cruzavam a Ria todas as vezes que iam ao mar, porque as

inclemências da duna e a falta de água potável e de fáceis comunicações opunham-se à fixação das

pessoas” (Oliveira e Galhano, 1964). Por causa disso nunca houve propensão para o turismo de

veraneio e finda a época de safra o local ficava deserto.

Outro ponto contra a fixação da população em São Jacinto deveu-se à abertura da barra de Aveiro

em 1808. Esta tornou “a travessia da Ria difícil e perigosa, divido às correntes, e o assoreamento da

orla marítima, por elas causado, prejudicou grandemente o exercício da pesca” (Oliveira e Galhano,

1964). Esta situação levou praticamente o povoado de São Jacinto ao abandono, e os antigos

pescadores dessas água viraram-se pra as povoações mais a sul como Costa Nova e Mira.

Apesar de tudo, as campanhas5 que ficaram na praia, um total de duas em 1886, dada a sua

organização e produtividade, conseguiram “dar novo alento à pesca e reanimar a vida da localidade”,

tanto que devido ao novo sistema de retirada das redes com o gado em 1887 permitiu um aumento

para seis campanhas no ano de 1890 (Oliveira e Galhano, 1964).

Este renascer da xávega em São Jacinto, não fez com que a frente de mar se desenvolvesse, pelo

contrário, apenas a construção de “palheiros de habitação e armazéns proliferou junto à Ria, pois é aí

que vendeiros e negociantes, atrás dos pescadores do mar e Ria, se estabelecem” (Oliveira e

Galhano, 1964).

Com a queda da xávega, o pouco que restava na frente de mar desaparece de vez, e “à beira-Ria,

animado por uma vida própria, ele evolui e singra; e um estaleiro, uma fábrica de conservas, e mais

tarde um centro de aviação naval e militar, estabilizaram finalmente esse povoado” (Oliveira e

Galhano, 1964). Esse crescimento permitiu uma remodelação dos palheiros da Ria para alvenaria,

                                                                                                               5  A importância das campanhas em termos de registo prende-se com o número de mão-de-obra, e neste caso residentes naqueles locais, que a acompanha. Geralmente eram 40 homens em cada barco, mais pessoal de terra para puxar as redes, faltando ainda as mulheres para carregar e comercializar o peixe portanto o número de pessoas por campanha é bastante considerável.  

Page 46: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  34  

aliando-se a construções novas e melhores, nesse mesmo material, que se foram mantendo até aos

dias de hoje.

Referindo-se os dias de hoje, o povoado da Ria mantem-se e a frente de mar continua no mesmo

registo que fomos referindo, desocupada, mesmo não enfrentando problemas de erosão como outros

casos vizinhos (tanto para norte como para sul). São Jacinto teve que enfrentar ainda o declínio da

indústria de conservas, assim como o desaparecimento da construção naval, subsistindo apenas a

base militar, que apesar de tudo não tem a mesma ocupação de outrora, o que levou a um

despovoamento do local.

Page 47: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  35  

5. HABITAR A LINHA DE COSTA

Neste capítulo introduz-se o tema da ocupação humana da linha de costa. Procura-se identificar as

vantagens de habitar o litoral; os motivos de não existir uma ocupação em toda a extensão da linha

de costa em contra ponto a uma costa portuguesa forrada a betão, assim como descrever os

problemas que enfrentam os habitantes desses locais.

Deste modo pensa-se ser relevante introduzirmos o conceito de “liveability” (habitabilidade) presente

na literatura anglo-saxónica (Victorian Government Reports, 2008; Newton, 2012; Mccrea e Walters,

2012).

Apesar de não haver uma definição uniforme para o conceito de habitabilidade, entende-se que esta

“reflecte o bem-estar de uma comunidade e compreende as características que tornam um local num

lugar onde as pessoas querem viver agora e no futuro” (VCEC, 2008). Num sentido lato, entende-se

este conceito como englobando um conjunto de factores que influenciam a decisão pessoal para

habitar um determinado lugar. A quantificação de habitabilidade é feita, geralmente, utilizando o custo

de vida (baseado no preço de um cabaz de produtos em determinada área geográfica) e qualidade de

vida, onde se inserem dados sociais, ambientais e económicos.

As zonas costeiras diferem ao nível social e ecológico do resto do país, merecendo uma actuação

especial até pela sua vulnerabilidade. Acontece o mesmo ao longo desta, pois a costa não é toda

igual, ocorrendo situações e comportamentos diferentes consoante a sua localização geográfica.

Nesse sentido, é preciso ter em conta o conceito de habitabilidade (procurando saber o que um lugar

tem que o difere de outro) quando se procura perceber a heterogeneidade de povoações existentes

na costa portuguesa sendo que umas desenvolveram-se muito ao longo linha de costa e outras

apenas em pequenos aglomerados. Isto porque, apesar da pequena dimensão do país, Portugal

possui uma extensa linha de costa com grande variabilidade morfodinâmica e climática e cuja

influência dos centros urbanos contíguos não é feita da mesma forma.

As condições climáticas e os riscos aos quais uma população costeira estará exposta, tem

claramente um papel fundamental no desenvolvimento destas povoações. Devido a esses elementos,

existem locais em Portugal que estão bastante fragilizados, sendo que a sua manutenção se deve

apenas à intervenção de obras de engenharia pesada, tais como os campos de esporões e a criação

de paredões.

A construção e manutenção de obras de engenharia pesada, utilizadas para proteger e evitar o recuo

da linha de costa, tem um custo elevado. Neste sentido importa perceber a importância e os usos

potenciais dos territórios costeiros, assim como a necessidade de proteger as povoações costeiras

sob ameaça de destruição pelo mar, sabendo desde logo que à manutenção destes locais estará

sempre associada uma “renda” para se ocupar e manter o litoral português nos trechos mais

fragilizados.

Page 48: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  36  

5.1. O CONCEITO DE HABITABILIDADE

Residir em povoações junto à linha de costa é bastante valorizado em todo mundo “tanto pela sua

beleza natural, oportunidades de lazer que oferecem, e os benefícios económicos que resultam da

industrias costeiras tais como o turismo, a pesca e o transporte marítimo” (Academies, 2007).

Contudo deve-se dar bastante relevo a “uma das características das zonas costeiras são as múltiplas

vulnerabilidades” (Islam e Ahmad, 2004), que ameaçam vidas, propriedades e negócios. Assim tem-

se os “desastres naturais e a erosão costeira como as duas principais ameaças que as comunidades

costeiras têm de enfrentar” (Academies, 2007), mas mesmo assim a população mundial continua a

desenvolver-se para estes locais, apontando-se para “quase dois terços da população mundial -

quase 3,6 biliões de pessoas – vivem num raio de 100 milhas de um litoral” (Academies, 2007). Isto

reflecte a importância que as zonas costeiras têm tido na expansão urbana e no crescimento da

populacional, não só pelas oportunidades de negócio e empresarial mas pela sua atractividade

imobiliária.

Acontece que a linha de costa não é igual em todo mundo, e por consequência, os riscos e as

potencialidades também não sejam semelhantes para todos os locais aí situados. Isto leva a que

existam povoações com enorme crescimento populacional e expansão urbana e outros que se

restringem a pequenos povoados costeiros, à semelhança do que ocorre em Portugal e

possivelmente noutras partes do globo.

Algo que pode ajudar a compreender este fenómeno prende-se com o conceito de habitabilidade que

já introduzimos anteriormente, que é uma ferramenta bastante útil para comparar cidades e países. O

“conceito de habitabilidade é multidimensional e complexo, reflectindo a ampla gama de factores e

suas interacções que diferentes indivíduos, comunidades e empresas têm em mente quando se

pensa em habitabilidade” (VCEC, 2008). Deste modo, devem ser introduzidos alguns atributos que

ajudam a caracterizar a habitabilidade de um lugar. Assim, medidas de “comodidade residencial,

capital humano, capital social, a saúde humana, e os elementos mais qualitativos de satisfação

pessoal e felicidade” (Newton, 2012), podem ser considerados atributos que apoiam a decisão de

uma pessoa escolher um local, uma cidade, um país para habitar.

Com isto, sabe-se que independentemente da sua localização, uma cidade, centro urbano ou vila,

deve garantir um conjunto de valências e serviços, que garantam conforto ao cidadão, incentivando-o

a habitar esse local.

Tem-se ainda uma versão do conceito de habitabilidade de Mccrea e Walters (2012), que o define

como sendo parte de um índice de qualidade de vida para residentes em ambientes urbanos. Esta

versão é igualmente apoiada deste modo, “abrange os atributos de lugar de uma localização urbana

(casa, bairro, cidade) que contribuem para a qualidade de vida e bem-estar de um indivíduo”

(Newton, 2012). Com isto, pretende-se mostrar que um local que garante aos seus residentes

condições para que estes possam atingir melhorias na sua qualidade de vida vão ser mais

procurados relativamente a outros que não oferecem essas condições.

Page 49: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  37  

Os indicadores escolhidos para caracterizar a habitabilidade variam consoante as opiniões de cada

grupo de trabalho e consoante os objectivos dos estudos feitos e das características das áreas a

comparar. Das várias versões que foram estudadas e de índices abordados em diferentes artigos, é

se de opinião geral que o ideal serão indicadores que abordem por um lado o bem-estar humano, ou

seja elementos que ajudem a identificar se o local em estudo garante aos residentes não só as

funções primárias de saúde, emprego e mobilidade, mas também serviços e locais de lazer, e por

outro a qualidade ambiental onde se inserem elementos referentes à poluição do ar, água, ruído e à

presença e manutenção de espaços verdes. A Figura 13, adaptada de (Newton, 2012) sintetiza a

relação destes indicadores com a habitabilidade. Introduziu-se ainda indicadores que se considera

ser tidos em conta quando se avalia a habitabilidade de um local, tais como as questões climáticas e

os riscos que face às dinâmicas terrestres são um problema para as populações.

Figura 13 - Indicadores que ajudam a caracterizar a habitabilidade de um local; Fonte: Adaptado

(Newton, 2012)

Como os indicadores que permitem o bem-estar humano podem variar a médio prazo, consoante

várias conjunturas sociais, económicas e políticas (elementos onde o Homem pode actuar), os locais

que oferecem uma boa habitabilidade nos dias de hoje podem não garantir o mesmo anos mais tarde.

Questões ambientais e do âmbito físico, como o clima e as dinâmicas terrestres, não podem ser

alterados por mão humana e deste modo serão uma característica do lugar durante muitos anos (não

se é da opinião de introduzir as questões das alterações climáticas dada a amplitude da janela

temporal), e por isso, devem entrar na equação da habitabilidade pois essas características poderão

influenciar a segurança e escolha do local para residir.

Os indicadores (clima e riscos) introduzidos no esquema são abordados de uma forma ligeira por

Howley et al. (2009) face ao modo como a habitabilidade é afectada por condicionamentos externos

que dão insegurança aos residentes, mas também pelo ranking EIU’s Quality of Life (The Economist,

2004) que usa os indicadores climáticos como sendo importantes para aferir a habitabilidade de um

país.

Page 50: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  38  

A importância de introduzir estes indicadores, para além daqueles referidos pelos demais autores, na

avaliação da habitabilidade de um local, prende-se com as características da área de estudo, visto

pensar-se no clima e nos riscos costeiros como um elemento de diferenciação para outros locais na

costa portuguesa.

Independentemente das valências e serviços que uma local (cidade, centro urbano, vila) pode

oferecer para melhorar o conforto dos seus cidadãos, poderão existir factores naturais (clima,

dinâmicas terrestres...) que condicionem a escolha desses locais para habitar.

5.1.1. RISCOS COSTEIROS

A sociedade em geral está, nos dias de hoje, directamente associada a uma “sociedade de risco”,

dadas as inúmeras ameaças a que esta pode estar sujeita. A questão principal do risco forma-se a

partir do modo de como determinada parte da sociedade se expõe a essas ameaças.

Numa perspectiva de se entender os riscos para as povoações costeiras é importante que se aborde,

ao longo deste ponto, a relação que existe entre as dinâmicas costeiras com a perda de território que

se tem vindo a registar em vários pontos do litoral português.

Nas zonas costeiras não existe nada que seja permanente excepto a mudança (Ribeiro, 2010). Estes

locais são constantemente moldados pela acção das ondas, pela subida e descida das marés,

sedimentação regulada pelas descargas fluviais, as correntes litorais e actividades humanas. A

dinâmica litoral vai depender da intensidade das forças que se façam sentir e das características

geológicas dos diferentes trechos que compõe a linha de costa.

Os litorais arenosos, do tipo que se observa no local em estudo, são característicos pelas praias que

neles se desenvolvem. Estas, que são a base de todo o turismo balnear, são bastante dinâmicas por

natureza e estão mais expostas a perturbações provocadas pelos sistemas naturais do que qualquer

outra forma/tipologia de litoral (Paskoff, 1985).

Neste âmbito, será dado especial enfoque aos riscos de inundação e galgamento e aos riscos de

erosão costeira, pois estes coadunam-se por serem bastante expressivos na costa da Beira Litoral.

Deverá se ter atenção, quando se estuda os riscos costeiros, que “a característica principal dos

sedimentos numa praia está relacionada com a sua mobilidade” (Paskoff, 1985), deslocando-se

perpendicularmente à costa pela acção das ondas e paralelamente à mesma por acção da deriva

litoral. Por isso esta mobilidade, tão característica, permite que as praias de adaptem às condições

hidrodinâmicas que se alteram sazonalmente, o que leva a variações no seu perfil (o que por vezes

se confunde com erosão).

5.1.1.1. Erosão Costeira

Apesar de ser um problema que se pode verificar em extensões bastante grandes da linha de costa,

“a posição de princípio é de que, a erosão só passa a ser problema quando no seu avanço ela é

incomodada por património construído, que está onde não devia” (I. Oliveira, 1997).

Page 51: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  39  

Nos tempos actuais a dinâmica costeira tem culminado na regressão da linha de costa

(principalmente nas zonas de praia) e queda ou deslizamento de massas rochosas (em zonas de

arribas), ou seja, temos assistido a acções de erosão mais intensas que as de deposição, o que

provoca a fragilidades nas praias.

As causas que contribuem para a erosão costeira são várias, por isso apoiemo-nos nas ideias de

Oliveira, (1997) para as enumerar:

- Subida geral do nível médio do mar;

- Efeitos prejudiciais das obras de protecção costeira;

- Utilização e ocupação desregradas da faixa litoral;

- Obras exteriores dos grandes portos (molhes e canais de acesso);

- Enfraquecimento e, em muitos casos, a supressão tendencial das principais fontes

aluvionares naturais.

Para o mesmo autor, cada causa não tem a mesma relevância em todos os locais, isto é, a causa de

erosão da costa num determinado local poderá não ser a mesma de uma outra costa. Este aponta

ainda que “para o caso da costa oeste a norte da Nazaré (local onde se insere a área de estudo), o

enfraquecimento das fontes sedimentares parece ser cada vez mais consensualmente aceite como a

causa primeira dos seus problemas erosivos” (Oliveira, 1997).

5.1.1.2. Inundações e galgamentos

Estas situações estão associadas a tempestades que se fazem, ou fizeram sentir, sobre o mar.

Quando o espraio da onda passa a linha da crista dunar ou a crista de uma ilha-barreira estamos

perante um galgamento (Figura 14), esta situação pode levar por vezes à abertura de barras de maré

(ligação entre o mar e um plano de águas interior, imagem da direita).

As consequências no litoral estão dependentes da morfologia, batimetria, características da onda e

elevação do mar. Assim, podem ocorrer importantes alterações na costa num curto período de tempo,

pois os galgamentos provocam erosão e acumulação de sedimentos simultaneamente.

Figura 14 - Galgamento na Praia do Labrego (Vagueira) durante tempestade entre 24 e 31 de Outubro

2011; Fonte: Serviços Municipais de Protecção Civil de Vagos

Page 52: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  40  

Outro dos problemas associados aos galgamentos tem a ver com as inundações das áreas

adjacentes aos sistemas dunares. Usados na maioria das vezes para práticas agrícolas, a inundação

dos terrenos por água salgada acaba por inutilizar as produções e salinizar os solos.

5.1.2. CLIMA

O clima faz parte da base dos fenómenos naturais que ocorrem na superfície terrestre, podendo ser

visto como recurso mas também como condicionante à vida humana. Este pode ser definido como “o

conjunto dos fenómenos meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera em qualquer

ponto da Terra” (Cuadrat e Pita, 2004), consistindo na análise dos tipos de tempo num determinado

local por um período de tempo a 30 anos (recomendado pela Organização Mundial de Meteorologia).

“A importância do clima de uma região para o seu ambiente geográfico, para a vida humana e as

actividades económicas que são realizados nessa área é muito alta” (Nistor, 2009). Como se afirma

na citação anterior, as condições climáticas de determinado local condicionam/influenciam as

actividades económicas, pois cada actividade tem as suas necessidades características. Atente-se

dois exemplo simples e de rápida percepção, que demonstram essa influência:

• Agricultura, cada cultura tem as suas necessidades de horas de sol, temperatura, água, etc.,

e por isso temos produtos característicos de determinada região;

• Turismo, este pode se adequar as condições climáticas que se façam sentir, mas não vamos

acreditar que uma instância balnear ou uma instância de desportos de Inverno tenham

sucesso, para usar casos extremos, se, no primeiro caso não houver um período largo com

dias de sol e “temperaturas altas”, e no segundo não existir neve.

Ao se entender o clima como recurso fundamental para o Homem, foram-se desenvolvendo maneiras

de o utilizar de um modo viável. A questão é que o clima “é um recurso peculiar, na medida em que a

sua maior característica é a variabilidade, tanto espacial como temporal, de tal forma que uma

utilização optimizada deste recurso implica uma adaptação das actividades humanas a esta

variabilidade” (Cuadrat e Pita, 2004).

Na verdade, esta adaptação exige conhecer a maneira de como a sociedade se relaciona com o

clima. Assim, como existem condições climáticas que ajudam ao desenvolvimento de um local,

também existem situações extremas que são susceptíveis de prejudicar o desenvolvimento dos

locais.

Deste modo o estudo do clima é importante para que se possa conhecer a distribuição espacial de

situações extremas e a probabilidade de ocorrência futura. Os resultados dessas operações devem

ser aplicados numa “ordenação do território de acordo com a realidade climática e capaz de

maximizar os seus aspectos positivos e minimizar os negativos” (Cuadrat e Pita, 2004).

5.2. SÍNTESE DO CAPÍTULO Em suma, o litoral apresenta inúmeras potencialidades para a vida humana, mas é essencialmente o

status de morar junto ao mar e a pressão imobiliária que foi exercida no inicío da expansão urbana

Page 53: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  41  

que levou ao crescimento dos aglomerados e cidades no litoral português. Mas não só de

potencialidade se forma o litoral.

A variabilidade que este apresenta, não só temporal mas geograficamente, faz com que existam

locais que “convivam” com as questões dos riscos costeiros mais frequentemente, ou que tenham

uma variabilidade climática que torna desagradável a vivência desses locais durante Invernos mais

ou menos rigorosos.

Será importante apreender, depois desta introdução à ocupação do litoral, o porquê de em

determinadas zonas da costa portuguesa se ter investido na expansão urbana, apesar de exemplos

do passado nos terem indicado que não seria viável.

Page 54: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  42  

6. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O enquadramento histórico e territorial da área sobre o qual esta dissertação se foca é fundamental

para se compreender esse mesmo lugar. A localização geográfica de um território e as relações que

este tem com os territórios vizinhos permite perceber que tipo de influências positivas e negativas o

lugar pode estar sujeito, assim como os acontecimentos passados que influenciaram a evolução do

lugar devem ser analisados num estudo como o que aqui se pretende apresentar de modo a que seja

possível analisar as consequências de determinadas acções. Nesse sentido, este capítulo pretende

sintetizar esses aspectos apresentando tanto a sua localização como alguns acontecimentos

relevantes.

Esmoriz e Cortegaça são dois povoados, o primeiro é cidade e o segundo é vila pertencentes ao

concelho de Ovar, que distam poucos quilómetros da costa portuguesa. O desenvolvimento destes

povoados deve-se essencialmente à agricultura e à industria e iniciou-se muitos antes da formação

da actual linha de costa, sabendo-se aferir que a linha de costa primitiva se localizava igualmente

junto a estes lugares.

Com o aparecimento deste novo território, essencialmente arenoso, que se estendia desde a

localidade vizinha Espinho até à Foz do Mondego, surgiram outras actividades económicas, do qual a

pesca é o exemplo principal, que levou à expansão das povoações para junto do mar.

Contudo, os perigos que a costa apresentava e a falta de recursos essenciais travaram durante

largos anos, um maior desenvolvimento e ocupação dos lugares da praia de Esmoriz e Cortegaça.

6.1. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO Os lugares da praia de Esmoriz e Cortegaça localizados no litoral da região centro, território sobre o

qual se desenvolve esta dissertação, não podem ser separados dos “povoados principais” de Esmoriz

e Cortegaça. Desta forma, é importante fazer um enquadramento geográfico destas localidades a fim

de se compreender o crescimento dos povoados costeiros.

Apesar de se fazer uma caracterização geral às freguesias em causa, é a mancha urbana que se

desenvolveu ao longo dos anos junto à linha de costa que será o foco desta dissertação. Assim, é

sobre as frentes marítimas da praia de Esmoriz (1.25 km) e a praia de Cortegaça (0,35 km) (Veloso

Gomes, 1992) que se fará a análise à evolução da construção naquele sector da costa.

As freguesias de Esmoriz e Cortegaça pertencem ao concelho de Ovar, sendo que Esmoriz assume

uma importância maior em termos de população, é o segundo núcleo urbano mais populoso do

município, e “riqueza” face a Cortegaça, tendo obtido inclusive em 1993 o estatuto de cidade. A

proximidade entre os dois núcleos é tão grande que, numa visão grosseira, se poderia dizer que se

trataria apenas de um grande aglomerado urbano. Contudo, em termos territoriais, é dentro dos

limites administrativos de Esmoriz que se concentra a maior ocupação ao longo da linha de costa.

Desta forma, pelas semelhanças existentes na sua génese e pela importância que Esmoriz assume

no contexto municipal, centrar-se-á a caracterização do território no território de Esmoriz.

Page 55: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  43  

6.1.1. LOCALIZAÇÃO

Em termos gerais Esmoriz localiza-se entre o Porto e Aveiro (Figura 15), distando em linha recta cerca

de 25km para o primeiro e 35 km para o segundo. Em termos locais, é a freguesia mais a norte do

concelho de Ovar fazendo fronteira com o concelho de Espinho. Esta confronta ainda com o concelho

de Santa Maria da Feira a nascente, com a freguesia de Cortegaça a sul e com o oceano Atlântico a

poente. Em termos estatísticos é uma freguesia com cerca de 9,05 km2, onde residem 11488

habitantes, de acordo com os dados dos censos de 2011 divulgados pelo INE, o que faz dela a

segunda freguesia do concelho com maior população. Ao nível dos acesos destaque para a

existência de um nó de acesso à A29, para o atravessamento da estrada nacional EN109 ao longo da

freguesia e para a existência da estação ferroviária da CP.

Figura 15 - Enquadramento geográfico das freguesias de Esmoriz e Cortegaça; Fonte: OpenStreetMap

A sua localização, é sem dúvida um elemento a ter conta dada a sua centralidade face a duas

cidades importantes como são Aveiro e Porto, sendo que ambas oferecem dois portos comerciais, o

que na perspectiva de uma cidade industrial acaba por ser relevante para escoar os seus produtos

para diferentes mercados.

Contudo, os concelhos vizinhos de Santa Maria da Feira e Espinho acabam por ter uma importância

maior do que o concelho de Ovar, em termos de população e actividades económicas. Desta forma,

as freguesias de Esmoriz e Cortegaça acabam por ser afectadas em termos de desenvolvimento

económico e populacional pela importância que esses concelhos foram conquistando ao longo do

tempo.

Page 56: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  44  

Com o declínio das actividades piscatórias na região, a presença de uma frente de mar, aquela que é

relevante para esta dissertação, e a sua exploração tem sido um factor de desenvolvimento para

Esmoriz e Cortegaça. As praias que têm sido nos últimos anos classificadas como Praias Bandeira

Azul, atraem bastantes banhistas dos concelhos limítrofes que não dispõem de mar, e dado o seu

fácil acesso invadem as praias de Esmoriz e Cortegaça na época de Verão.

Contudo, os problemas de erosão costeira e as taxas de recuo da linha de costa que neste sector são

as mais altas do país, têm trazido para a discussão da importância da manutenção das praias com

obras de protecção costeira.

Apesar de algumas situações pouco favoráveis, as freguesias de Esmoriz e Cortegaça, mas

principalmente a de Esmoriz, tem tentado aproveitar o seu potencial ao máximo até pelo

desenvolvimento industrial que se tem aguentado ao longo dos anos, contudo apresentam ambas

algumas debilidades nas actividades que se baseiam na “exploração” das praias.

É também importante fazer uma pequena abordagem ao clima que se faz sentir neste território litoral,

visto o clima ser um dos elementos que influencia a habitabilidade de um local.

Para fazer essa avaliação utlizaram-se os dados obtidos a partir das normais climatológicas entre

1931 e 1960 (Ferreira, 1970) para a estação meteorológica de Aveiro/Barra generalizando-os a todo

os espaço, pois a variabilidade neste ambiente não é muito importante. Da análise do gráfico

termopluviométrico (Figura 16) pode-se concluir que o clima característico desta zona pode se

classificar de “Temperado sem Inverno “Português”.6 Com isto pode-se dizer que os meses pluviosos

são entre Outubro e Março, e os períodos secos se encontram entre Junho e Setembro.

Relativamente às temperaturas destaca-se o mês de Janeiro como sendo o mês mais frio, em que a

temperatura média do ar ronda os 9,9º C, pelo contrário Agosto acaba por ser o mês mais quente

com a temperatura média do ar em cerca de 18,4º C. Nota-se assim uma clara influência oceânica,

esta vai fazer com que as temperaturas entre o Verão e o Inverno tenham uma oscilação baixas,

mantendo-se amenas ao longo do ano, já as precipitações são maiores no Inverno do que no Verão.

Quanto à direcção predominante do vento pode-se dizer que na região o vento “sopra”

preferencialmente de Noroeste e de Norte (Figura 17), mas conforme a época do ano o vento é mais

forte do quadrante Sul (durante o Inverno) e do quadrante Norte (conhecidas como as Nortadas de

Verão). Deve-se ter também especial atenção para as calmas, pois para além de ter um registo

bastante significativo de 15,5%, a este período de calmas estão muitas vezes associados dias,

principalmente ao longo das manhãs, de nevoeiro intenso factor característico desta região mais

concretamente na época do Verão.

Este sector da costa ao estar exposto às massas de ar oceânicas, estas condições vão condicionar

desde logo a evolução da linha de costa, com já se viu no capítulo 2, pois o vento sendo

predominante de Norte e Noroeste, vai fazer o transporte de sedimentos das dunas de Norte para

Sul.

                                                                                                               6 É aplicada a classificação climática segundo E. de Martonne

Page 57: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  45  

Figura 16 - Gráfico termopluviométrico da Estação meteorológica de Aveiro/Barra; Fonte: (Ferreira, 1970)

É também relevante referir a importância deste tipo clima para os fenómenos de galgamento, em

situações de “storm surge”7 em que o nível médio do mar é sobrelevado por acção meteorológica, o

território envolvente à linha de costa pode ser inundado pelo mar.

Figura 17 - Gráfico com os ventos predominantes na região litoral de Aveiro; Fonte: (Ferreira, 1970)

6.1.2. FACTOS HISTÓRICOS

A compreensão de alguns factos históricos é sem dúvida relevante para entender o aparecimento e

desenvolvimento do local da praia de Esmoriz. Desta forma será feita uma pequena síntese de alguns

acontecimentos que podem ter contribuído para o que hoje existe junto à linha de costa.

Esmoriz surge no foral da Feira, datado de 10 de Fevereiro de 1514, concelho a que pertenceu até

1879 (Santos, 2003). Este apoiou o seu crescimento na fertilidade dos seus solos e na exploração

agrícola dos mesmo, assim como no desenvolvimento da indústria da cordoaria, bastante associado

à actividade piscatória, e da indústria tanoeira (Amorim, 1986). Com este desenvolvimento e com a

                                                                                                               7 Ou maré de tempestade consiste na elevação da água próxima à costa, associada com um sistema de condições climáticas de baixa pressão. A maré de tempestade é causada principalmente pelos fortes ventos que empurram a superfície do Oceano. O vento faz com que a água se empilhe de forma mais elevada do que no nível do mar normal.

0  20  40  60  80  100  120  140  160  180  

0  10  20  30  40  50  60  70  80  90  

J   F   M   A   M   J   J   A   S   O   N   D  

Precipitaçãp  (m

m)  

Temperatura  (ºC)  

Meses  

Precipitação  

Temperatura  

0  10  20  30  

N  

NE  

E  

SE  

S  

SW  

W  

NW  

Direcção do Vento

Vento  

Page 58: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  46  

riqueza que se gerou, levou inclusivamente a uma disputa pela gestão administrativa desta freguesia

por parte dos concelhos da Feira, Ovar e Espinho (Tabela 3).

A passagem da gestão administrativa por parte do concelho da Feira para Ovar da freguesia de

Esmoriz dá-se “por decreto de 1876, que decretou a integração da freguesia no concelho de Ovar,

integração que só ficaria completa em 1879 dada a grande oposição da Feira nesta mudança”

(Santos, 1996). Com esta mudança surge, em 1910, alguma revolta popular no sentido de trocar Ovar

por Espinho, pois estes acusavam Ovar de apenas reter receitas da freguesia e não fazer nenhum

investimento na mesma (Santos, 1996). Com este argumento, é decretada em 1926 a passagem da

posse administrativa de Esmoriz para o concelho de Espinho. Mas esta decisão só iria vigorar

durante dois anos, pois por manobras políticas, em 1928, Esmoriz foi desanexado de Espinho

retornando a Ovar (Santos, 1996).

Tabela 3 - Períodos da gestão administrativa da freguesia de Esmoriz; Fonte: (Santos, 1996)

Período de anexação Concelho de anexação

1514-1879 Feira

1879-1926 Ovar

1926-1928 Espinho

1928 – até presente Ovar

Desta forma termina um período de instabilidade administrativa que durou entre 1879-1928, ora estas

trocas da administração local dispersaram a informação sobre o passado administrativo da freguesia,

podendo inclusive ter provocado dificuldades na gestão do território.

Outro facto relevante prende-se com a evolução do novo território costeiro, sobre o qual se

desenvolveram os “novos” povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça (Figura 18). Assim, contra a

antiga linha de costa foi crescendo uma extensa restinga nos “tempos em que era grande a

quantidade de areia que o mar atirava para fora do seu leito, com ela foi assoreando e rectificando a

costa” (Amorim, 1986). Numa primeira fase, este crescimento de território aparentou ser prejudicial ao

quotidiano das gentes de Esmoriz. Com uma economia assente na exploração agrícola “em 1657,

havia em Esmoriz campos cobertos de areia há já muitos anos, terras que anteriormente eram

cultivadas” (Amorim, 1986) o que levou a que os agricultores se vissem na necessidade da plantação

de pinheiros para suster as areias.

Page 59: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  47  

Figura 18 - Costa oeste de Portugal - Apresentação da costa primitiva e actual. Localização dos povoados antigos e recentes de Esmoriz e Cortegaça; Fonte: editado de (Souto, 1923)

Assim, inicia-se o período da arborização das dunas do litoral que foi um acontecimento marcante em

toda a extensão da costa de Espinho à Marinha Grande, sendo que “a fixação e arborização das

dunas do litoral e o ensecamento dos seus pântanos constituíram uma das mais notáveis obras de

engenharia florestal nacional” (Vieira, 2007). Tanto no areal de Esmoriz como no de Cortegaça a

arborização não foi excepção, havendo portanto documentação de alvarás sobre a sementeira de

pinhais entre os anos de 1623 e 1633, sendo que dois séculos depois, em 1851 existe imposição

legal do tribunal da Feira para semear pinhal a quem tivesse baldios à beira-mar (Amorim, 1986).

Este terá sido o primeiro passo para a passagem do terrenos junto à “nova” linha de costa para posse

de particulares (Tabela 4), dado que em 1853 “a câmara da Feira prosseguiu a sua política de defesa

dos lavradios e oficiou os juízes de Anta, Silvalde, Paramos, Esmoriz, Cortegaça, Maceda e Arada

que tencionava proceder à sementeira e plantação nos areais desta freguesias ou conceder esses

terrenos a uma porção de pessoas que tratassem com seriedade desse importante objecto” (Amorim,

1986). Esse processo seria concluído com a venda dos areais à beira-mar pela junta de freguesia a

partir de 1896.

Para se concluir a questão da arborização do litoral, convêm realçar mais uma vez a importância

dada pela administração local a este tema, sendo que em 1920 a câmara de Ovar define, para a zona

de Esmoriz, a arborização como sendo de utilidade pública.

Page 60: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  48  

Tabela 4 - Lucro obtido com a venda dos terrenos à beira-mar pela junta de freguesia de Esmoriz; Fonte:

Amorim, 1986

Ano Lucro obtido

(escudos)

1896 a 1899 20$140

1900 a 1909 1616$407

1910 a 1919 520$835

Para concluir a síntese dos factos históricos relevantes para o tema da dissertação, é importante

referir alguns aspectos que contribuíram para a forma como foi feita a ocupação na “nova” linha de

costa, tanto pelo aparecimento dos primeiros palheiros como os relatos das primeiras investidas do

mar.

Tal como foi referido no capítulo 4 (referente à evolução das povoações costeiras), o povoamento

junto à linha de costa desenvolveu-se em estreita e exclusiva relação com a actividade piscatória, a

arte xávega. Tanto em Esmoriz como em Cortegaça esse processo não foi excepção, contudo é

opinião de Amorim (1989) que os palheiros em Esmoriz apareceram mais tarde que os outros locais

vizinhos, como o Furadouro e Espinho, devido à constituição das companhas, pois em Espinho era

formada por marinheiros de ofício, longe da sua terra, requeria habitações; já em Esmoriz formadas

por agricultores locais não precisavam de habitação pois tinham-na perto (distancia entre a linha de

costa e a povoação principal era reduzida em comparação com outros locais).

Contudo, novas técnicas de pesca aplicadas naquela área exigiram a construção de palheiros em

maior número. A aplicação da alagagem das redes com gado bovino, técnica que exigia o esforço

animal para retirar as redes e o barco da água, obrigou à construção de barracões para abrigar o

gado durante as noites. É certo que esses acontecimentos tiveram influência num aumento do

número de palheiros, contudo o principal motivo da procura daquele território prendia-se com praias

de Esmoriz e Cortegaça serem consideradas estâncias balneares e por esse motivo se multiplicaram

os palheiros para as pessoas passarem férias.

As investidas do mar, tal como os problemas de erosão são anteriores à urbanização dos lugares da

linha de costa. Existem assim vários registos (Amorim, 1986) a partir de 1904 a 1914 de palheiros

que foram destruídos pela acção do mar, havendo inclusivamente registos da comparência de 5

esmorizenses na sessão da junta de paróquia, em 1907 e também 1912, visto o mar lhes ter

destruído os seus palheiros, requeriam outro local para a construção de novos. Já mais

recentemente, em 1977 o restaurante Barrinha, localizado junto da barrinha de Esmoriz, teve de ser

defendido com a colocação de pedras devido à acção do mar, tendo um ano depois a Câmara

Municipal de Ovar adjudicado uma obra de defesa no valor de 3.977.500$00 escudos.

6.2. SÍNTESE DE CAPÍTULO

Page 61: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  49  

A freguesia de Esmoriz, em virtude do desenvolvimento que foi atingindo ascendeu à categoria de

vila em 29 de Março de 1955 e de cidade em 2 de Julho de 1993. Foi a freguesia do concelho que

apresentou maior crescimento nas ultimas décadas, sendo que hoje em dia as actividades agrícolas

como as pescas já não tem o papel preponderante de outrora.

Hoje em dia é uma cidade com uma forte vertente industrial, retirando benefícios do seu

enquadramento geográfico. A centralidade relativamente a Aveiro e ao Porto, fazendo a ponte entre a

região Centro, na qual se insere, e a região Norte, permite às indústrias que aí se sediam uma forma

mais rápida de escoar os seus produtos, pois além da sua posição geográfica dispões de bons

acessos viários que rapidamente os coloca nas principais portas para a Europa e para o Mundo –

portos marítimos de Leixões e Aveiro e aeroporto Francisco Sá Carneiro.

As actividades ligadas ao turismo balnear, apesar da forte sazonalidade implícita ao local, também

tem um forte peso na praia de Esmoriz. A qualidade da água e dos seus apoios de praia,

reconhecidos pela classificação constante de “Praia com Bandeira Azul”, assim como a proximidade a

importantes núcleos urbanos – Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Oliveira de Azeméis –

mais interiores, fazem deste local um ponto no litoral bastante procurado na época balnear.

As condições climáticas que desde sempre condicionaram o desenvolvimento e ocupação das

povoações costeiras na zona mantêm-se idênticas. Assim, os Invernos rigorosos que se fazem sentir,

assim como os nevoeiros intensos associados às calmas e os ventos fortes noutros períodos afectam

a habitabilidade do local. Neste âmbito é ainda previsível um aumento do número de galgamentos e

inundações marinhas provocadas pela crescente frequência e intensidade das tempestades,

prejudicando a vivência e usufruto das zonas litorais em vários períodos do ano.

Do que se acabou de referir, não se pode dissociar a problemática de ser uma cidade em que a sua

frente de mar é das que apresenta maiores taxas de recuo da linha de costa. A proximidade do mar

relativamente às habitações é bem patente nos períodos de Inverno, em que as condições

meteorológicas são mais adversas e o nível do mar é influenciado pelas baixas pressões

atmosféricas. Assim, a preservação e manutenção deste território, assim como a protecção das

pessoas e bens que se encontram na sua extensão está dependente de avultados custos em obras

de protecção costeiras.

Page 62: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  50  

7. A EVOLUÇÃO DE UMA POVOAÇÃO COSTEIRA – O CASO DA PRAIA DE ESMORIZ E CORTEGAÇA

Deve-se começar este capítulo por relembrar a distinção entre o conceito de litoral e conceito de linha

de costa. Apesar de genericamente se usar estes conceitos para referir o território junto ao mar, o

conceito de litoral refere-se a um território muito mais abrangente do que aquele que é afectado pelas

dinâmicas marítimas ao qual se refere o conceito de linha de costa.

Veja-se o caso do crescimento das dinâmicas populacionais no litoral português relatado nas

seguintes citações.

“Na segunda metade do século XX a conjugação dos grandes ciclos migratórios dos anos 60 com a

popularização de uma cultura recreativa balnear moderna gerou as condições para um processo

acelerado de ocupação intensiva de muitos lugares costeiros” (Schmidt, Santos, Prista, Saraiva, e

Gomes, 2012). Ora este processo, levou ao desenvolvimento de um Portugal bipolar, assente no

crescimento em torno de Lisboa e Porto, mas também da ocupação de alguns territórios junto à linha

de costa. Após este processo assiste-se à litoralização de Portugal, com o crescimento populacional

dos concelhos junto do litoral.

“Foi só a partir de então que a urbanização da faixa costeira deixou de estar directamente relacionada

apenas com o crescimento das duas áreas metropolitanas do país, generalizando-se uma forte

pressão construtiva que tem conduzido à ‘suburbanização’ do litoral” (Schmidt et al., 2012). Como se

pode analisar, há aqui uma distinção entre o território litoral, abrangendo os concelhos influenciados

pelo mar que foram ocupados por uma dinâmica populacional que procurou melhores centralidade e

empregos que o interior do país não oferecia à época, e a ocupação de alguns territórios junto à linha

de costa característico da primeira fase de crescimento das duas áreas metropolitanas portuguesas.

Deste modo, os dados que se referem à população do litoral não são sinónimo de uma ocupação da

linha de costa. Nesse contexto, a costa portuguesa estaria muito mais ameaçada, face aos problemas

da erosão costeira, do que já é actualmente. Com isto, quer se esclarecer o conceito de povoação

costeira referido nesta dissertação, como sendo um lugar em que o seu passado está

intrinsecamente ligado à exploração do mar através da pesca, mas que com o passar dos anos

evoluíram para as actividades turísticas de sol e mar assim como o crescimento da 2ª habitação ou

casas de férias.

A ocupação da linha de costa é um tema que se revela por demais importante nos dias de hoje,

dadas as questões que se prendem com os riscos costeiros. Há assim questões que se levantam

hoje devido à exposição de pessoas e bens aos riscos que o mar apresenta.

Já houve oportunidade nesta dissertação de se falar dos problemas de habitabilidade das zonas

costeiras, principalmente no sector que se aborda nesta dissertação. É certo que existe uma relação

entre as condições de segurança, entre outras, e a vontade de habitar o litoral e portanto será

analisado à luz do conceito de habitabilidade o crescimento das povoações costeiras.

Page 63: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  51  

Assim, este capítulo pretende abordar a problemática da costa portuguesa pelo lado da ocupação do

território ao contrário do comummente feito que é a abordagem pelo lado da erosão costeira e das

alterações climáticas.

Com isto pretende-se perceber a evolução das povoações costeiras de Esmoriz e Cortegaça ao longo

do tempo, partindo do pressuposto da habitabilidade dos locais. Será assim relevante fazer uma

história evolutiva destes povoados apoiando-se no máximo de material existente referente à

construção de habitações nesse território.

Utilizando a informação do capítulo anterior sobre a origem de Esmoriz, irão ser caracterizadas as

diferentes épocas de construção, que são definidas pelos dados disponíveis, e procurar possíveis

justificações/motivos do crescimento habitacional que se registou.

Deste modo serão feitas distinções entre 3 fases. A primeira, em que se considera que a construção

e a ocupação foi feita de forma informal, uma segunda em que se entende uma construção formal

dado que surgem os primeiros arruamentos e casas de pedra, e uma terceira que se assiste à

maturação do território, com um aumento do número de habitações assim como a necessidade de

planear e dotar os locais de melhores condições de habitabilidade.

7.1. FASE 1 – CONSTRUÇÃO INFORMAL Esta fase caracteriza-se essencialmente pelo aparecimento das primeiras habitações nas praias de

Esmoriz e Cortegaça. Eram “abrigos” muito simples e rudimentares que serviam de apoio à pesca da

xávega na época de maior acalmia do mar, estas construções tem o nome de palheiros (Bebiano,

2000). Os palheiros, que já foram caracterizados anteriormente (capítulo 4), tinham a vantagem de

serem deslocados o que mostrava o respeito e o conhecimento dos habitantes sobre o mar e eram

construídos com o material que abundava naquela zona, a madeira dos pinheiros.

Os lugares de praia de Esmoriz e Cortegaça não têm mais de 200 anos, sendo que foram também

dos últimos a surgir na zona costeira até Aveiro. Como se pode ver pela Figura 19, à época do

levantamento ainda não existia esses povoados sendo que está representada a povoação vizinha de

Paramos. Apesar do levantamento não estar datado aponta-se que tenha sido feito entre 1834 e

1854, devido às técnicas utilizadas mas também porque em 1855 foi construída a ponte que

atravessava a barrinha que não se encontra aí representada (Jornal “A voz de Esmoriz”, Ano II, nº25

de 15-VIII-1957, p.43).

Mesmo antes da florestação das dunas, surgiram dois grupos contínuos de palheiros ao longo da

linha de costa, os palheiros de Esmoriz e os de Cortegaça e “a violência das tempestades de areia

foram afastando a ocupação permanente desses lugares” (Bebiano, 2000). Isto levava a que as

construções que iam surgindo não devessem levar revestimento até ao solo, pois impediria a

passagem das areias que o vento arrastava, o que poderia levar a soterrar parcialmente o palheiro (

(Oliveira e Galhano, 1964).

Page 64: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  52  

Figura 19 - Planta para o projecto de construção de um canal de navegação entre o rio Douro e a ria de

Ovar; Fonte: Jornal "A voz de Esmoriz", 1957

No seu estudo sobre a história de Esmoriz, (Amorim, 1989) aponta a necessidade da emissão de

uma licença para a construção de palheiros na praia, apesar de muitas vezes isso não acontecer, a

data da primeira licença conhecida surge na acta da Junta da Paróquia de 29 de Janeiro de 1854.

Assim pode-se assumir que estes aglomerados surgem a partir desta data, tendo por base o mapa

apresentado e a data desta licença, desta forma tira um pouco de importância à ideia que os

palheiros só surgem em Esmoriz devido à abertura de linha férrea e da estação em Espinho pois este

acontecimento ocorre por volta de 1870 (Amorim, 1989).

Como se falou noutro momento, os povoados das praias de Esmoriz e Cortegaça apenas começaram

a surgir pouco depois dos vizinhos já se terem desenvolvido. Sabe-se até que pela proximidade da

vila à praia permitia aos agricultores, que pescavam na praia nas horas vagas, não se precisariam de

abrigo para eles e isso aponta-se como justificação para os poucos palheiros de abrigo face a outros

locais (Amorim, 1989). Este crescimento surge assim associado à passagem da linha ferroviária e da

abertura da estação o que influência num aumento do número de palheiros, mas também porque as

praias de Esmoriz e Cortegaça eram consideradas estâncias balneares e por esse motivo atraía

muita gente no Verão.

Tem-se ainda que, os palheiros da zona de Esmoriz eram conhecidos como “palheiros de luxo”

(Amorim, 1986) o que confere a ideia de não haver tanto a ligação à arte piscatória (actividade

conotada com muito esforço e lucro reduzido) mas mais com a presença burguesa que viria de outros

lugares passar férias na época de veraneio.

Este aumento de interesse por este território e a pressão exercida pelo aparecimento de vários

palheiros, não só os de férias mas também relacionados com a pesca, surgem alguns sem licença,

Page 65: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  53  

tanto em Esmoriz como em Cortegaça, sendo que em 1868 o presidente da câmara da Vila da Feira

intimou os seus proprietários a demoli-los (Amorim, 1989).

Com o desenvolvimento da praia como estância balnear, o povoado tornara obrigatória a edificação

alinhada em arruamentos, por vezes em zonas onde havia grandes movimentações de areia (E. V. de

Oliveira e Galhano, 1964) e (Bebiano, 2000). Isto obrigou ao levantamento, sobre estacaria, das

habitações dado que algumas eram revestidas até ao solo e que acabavam por impedir a passagem

das areias que o vento arrastava, acabando por quase cobrir os palheiros.

Apesar de se começarem a organizar os arruamentos (Figura 20) neste povoado costeiro ainda não

havia as infra-estruturas básicas como a água, luz e saneamento, que como se verá só apareceu

muito mais tarde.

Figura 20 - Grupo de palheiros da praia de Esmoriz, destaque para o alinhamento das construções;

Fonte: (Oliveira e Galhano, 1964)

Desta forma, o final do século XIX trás consigo um desenvolvimento maior àqueles lugares.

Começando a dar os primeiros sinais de organização, apesar de não oferecer as condições básicas

de habitação, mas eis que surge em 1898 a primeira habitação de pedra e cal (Amorim, 1989), dando

assim início a uma segunda fase de ocupação.

7.2. FASE 2 – CONSTRUÇÃO FORMAL Esta fase começa com o início do século XX, logo após o surgimento da primeira casa de pedra.

Ocorre assim uma mudança de paradigma do tipo e estilo de construção que existia até à data. A

tecnologia, as condições de transporte e a melhoria no acesso à praia favoreceram a construção em

pedra, sendo que “a casa do tipo palafítico ficou com o dias contados, com a casa de pedra e cal a

tomar-lhe o espaço” (Amorim, 1989) apesar da originalidade das primeiras habitações.

Para esta situação muito contribuiu a construção da estrada do mar, que levou vários anos a ficar

concluída, tendo-se terminado as obras pouco antes da primeira Grande Guerra (Ferreira, 1958).

Assim, “a nova estrada para o mar (1914) permitiu a construção em alvenaria e blocas de pedra”

(Bebiano, 2000).

Page 66: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  54  

Até essa altura, início do século XX, eram usados apenas dois caminhos para aceder à praia, o

caminho da Aldeia que dava acesso à população da parte norte da freguesia, e o caminho de

Matosinhos utilizado pela população do lado sul da freguesia (Ferreira, 1958). A melhoria

considerável no acesso à praia, aliado à procura turística da zona na época de Verão provocou um

aumento do número de habitações presentes na praia tendo sido os principais impulsionadores da

ocupação da costa naqueles lugares. Esta situação provocou alguma preocupação ao nível da

organização do espaço e da salubridade das habitações.

O primeiro plano feito para o lugar da praia de Esmoriz foi aprovada em 1913, pela Comissão

Distrital de Aveiro, constituindo o principal guia estruturante da maior parte da praia de Esmoriz,

definindo não só os arruamentos mas também a organização dos palheiros que eram feitos de novo

como aqueles que tiveram de ser mudados devido ao avanço do mar. Apesar das indicações de

construção definidas no plano surgem algumas vozes de indignação pois “apesar de alguns

arruamentos feitos, não se conseguia compreender como a Câmara de Ovar não concedia licenças

para obras e, os proprietários viam-se na necessidade de construir noutras localidades deixando os

seus terrenos na praia ao abandono com graves prejuízos para o desenvolvimento e economia local,

quando em outras localidades do Concelho de Ovar sem qualquer plano de urbanização se construía

em série sem qualquer recusa” (Ferreira, 1972).

A questão dos arruamentos assim como a organização das construções pode ser provada com o

“levantamento às habitações da freguesia de Esmoriz feito em 1927 (Figura 21), na qual se identifica

claramente o alinhamento das habitações, criando entre elas vários “arruamentos”, demonstra a

organização que se pretendia para o lugar de tal forma que foi crescendo uma malha ortogonal a

partir da estrada principal que perdura actualmente.

Com o intensificar das intenções de ocupar os lugares da praia de Esmoriz e Cortegaça surge a

intervenção das entidades competentes a fim de melhorar as condições de habitabilidade do lugar,

assim “elaborou-se o plano de saneamento da praia que foi aprovado pela Junta Distrital de Aveiro, a

3 de Agosto de 1913” (Amorim, 1986). Apesar dos esforços iniciais, na melhoria das condições de

ocupação, este processo arrastou-se durante largos anos sem que aparece-se obra. Pelo meio

surgem varias intenções de actualizar o plano realizado em 1913 para a praia de Esmoriz incluindo

ainda a praia de Cortegaça. Foram os casos dos contratos para a elaboração do “ante-projecto de

urbanização” em 1955 que seria cancelado anos mais tarde e do contrato para a elaboração do

“anteplano de urbanização de Esmoriz e Cortegaça” em 1970, igualmente cancelado (Amorim, 1986).

Relativamente às obras do saneamento nos lugares da praia, estas apenas seriam iniciadas para lá

de uma terceira fase de ocupação, por volta do ano de 1979, tendo sido um enorme esforço

financeiro para a autarquia.

Neste período de ocupação da linha de costa entre Esmoriz e Cortegaça é importante realçar alguns

acontecimentos que influenciaram o crescimento destes locais. Assim, destaca-se a Primeira Guerra

Mundial (1914-1918), a decadência da pesca da sardinha (1930) e tempestade de 1941.

Guerra Mundial teve uma enorme influência ao nível da diminuição da população, em grande parte

devido às baixas que provocou nos países mobilizados para a guerra, assim como a diminuição da

Page 67: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  55  

população jovem. No caso particular da área de estudo, sabe-se que durante este período da história

a construção de habitações de pedra e cal estagnaram não só pela diminuição da população mas

pelas dificuldades económicas que se agravaram muito mais nesse período. Estas que se

desenvolveram no final do século passado e princípios do presente, as quais marcam o início da

segunda fase de ocupação, mas a sua construção parou durante a primeira Grande Guerra” (Amorim,

1989).

Figura 21 - Planta da Freguesia de Esmoriz (1:10000), levantamento feito pelo Eng.º. João Lopes em 1927; Fonte: Planta original na Biblioteca Municipal de Ovar

Outro elemento relevante foi a extinção de algumas companhas de Esmoriz e Cortegaça, perdendo a

pesca importância neste local ganha relevância a exploração turística como praia de banhos. Isso

deveu-se ao facto da pesca da sardinha ter entrado em decadência, espécie que abundava neste

trecho de costa mas que começou a escassear naquela zona sendo a sua exploração inviável,

levando a que em 1930 ocorre-se a extinção de algumas companhas (Bebiano, 2000).

Em 1941 ocorreu uma tempestade que afectou todo o país, mas que teve efeitos devastadores na

praia de Esmoriz e Cortegaça. Tanto a acção do vento forte como da agitação marítima acabaram por

destruir inúmeros palheiros deixando centenas de pescadores sem abrigo (Pires, 1997). Este

acontecimento agravou a vida dos pescadores, visto que nessa época estes atravessavam uma

grave crise na arte Xávega, pelos motivos já apresentados. Nesse âmbito a capitania do Porto de

Aveiro apoiou os pescadores dessa zona, tendo construído vários palheiros para realojar as pessoas

(Bebiano, 2000).

Page 68: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  56  

Importa reter que nesta fase o crescimento das habitações teve vários entraves apesar de

começarem a aparecer maior número de habitações face à fase anterior. Vários motivos foram

apontados começando pelas referências à não concessão de licenças de obra a partir da existência

de um plano de urbanização em 1913, passando pela grande guerra e pela crise da pesca provocada

pela diminuição dos cardumes de sardinha. Neste âmbito, é relevante frisar o acontecimento de 1941

em que ocorreu a destruição de muitos palheiros pois vem mostrar que as investidas do mar eram

uma realidade já nessa altura (existem outros fenómenos mais antigos de investidas do mar em

povoações vizinhas, sendo pouco relevante enumerar todas), mostrando que o fenómeno dos perigos

da ocupação da linha de costa não é recente, inclusive a primeira habitação de pedra, a qual já foi

referida anteriormente, acabou por ser destruída por uma dessas investidas do mar.

Contudo, esta fase fica claramente marcada pelas intenções de urbanizar os povoados costeiros de

Esmoriz e Cortegaça. Apesar de se ter criado o primeiro plano para parte da praia de Esmoriz, a

capacidade de planear e definir as formas e regras de ocupação daqueles povoados ficou-se apenas

pelas intenções dada as várias tentativas de se criar um plano para aqueles povoados.

7.3. FASE 3 – CONSOLIDAÇÃO DOS POVOADOS COSTEIROS DE ESMORIZ E CORTEGAÇA

Até este ponto a caracterização e análise das fases de evolução dos povoados foi baseada em factos

históricos presentes em monografias da área de estudo e em relatos e testemunhos feitos por

pessoas que viveram ao longo desse período e publicaram alguma informação no “jornal da terra”.

Nesta terceira fase já se dispôs de alguma informação geográfica relevante que permitisse fazer uma

análise da evolução das povoações diferente do que foi feito até ao momento.

É ao longo desta fase que se conclui a evolução dos povoados da costa de Esmoriz e Cortegaça. Foi

neste período que se notou claramente o aumentar não só das habitações mas também das

obrigações “impostas” pela administração central ao nível do ordenamento do território. É com esse

conhecimento que se aborda a terceira fase de ocupação dos lugares da praia de Esmoriz e

Cortegaça.

Nesta terceira fase é importante destacar dois elementos bastante importantes, a erosão costeira e o

oportunismo imobiliário. São elementos que influenciaram o desenvolvimento dos povoados em

análise. A erosão costeira foi sendo ignorada ao longo do tempo, por motivos que a esta distância

não se pode afirmar o porquê, apesar de se fazer sentir na localidade vizinha de Espinho mas

também na zona de Esmoriz e Cortegaça. Ao ir sendo ignorada foi-se permitindo a construção na

frente de mar, trazendo os problemas que se assiste hoje. Já o oportunismo imobiliário/especulação

deveu-se à retenção e expectativa que vários proprietários dos terrenos junto à linha de costa foram

criando, à espera de maior valorização, ao não vender os seus terrenos a pessoas interessadas na

construção, com isto o ritmo de construção era bastante lento para as pretensões da população

(Jornal “A voz de Esmoriz”, Ano XII, nº280 de 1-VIII-1969).

Nesta fase assiste-se ainda à perda de importância da pesca artesanal como principal actividade na

zona de Esmoriz e Cortegaça, não só pela diminuição do volume de pescado mas também pelo

Page 69: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  57  

aumento da actividade industrial em Esmoriz e pelo crescimento da actividade turística na região

envolvente.

Durante este período de tempo, ocorre uma melhoria na aquisição de informação geográfica, assim

como a necessidade dessa mesma informação para determinados fins. Desta forma, chega-se aos

primeiros dados geográficos para a zona em análise, o que permitiu fazer um levantamento cadastral

baseado no voo de 67, dando a possibilidade de fazer um estudo evolutivo da ocupação do território

para os lugares da praia de Esmoriz e Cortegaça.

7.3.1. OS POVOADOS NO ANO DE 1967

Como se pode ir descrevendo nos pontos anteriores, os povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça

iniciaram-se com uma forte ligação à pesca artesanal mas rapidamente se direccionaram para

acolher veraneantes das localidades vizinhas durante a época de veraneio. Contudo existe uma forte

relação entre as duas actividades, ambas são do tipo sazonal durante a época de veraneio. Com isto

sabe-se que a ocupação permanente daqueles locais era muito rara.

Todavia o crescimento, em termos urbanísticos, destes locais esteve dependente da melhoria das

condições de acesso à linha de costa, como se pode verificar com o aparecimento da primeira casa

de pedra.

Um dos aspectos que tem de ser referido e que directa e indirectamente afecta esta análise aos

povoados de 1967 foi o período do Estado Novo. É da história que este período foi de grandes

dificuldades para a população portuguesa, o que não fomentou o desenvolvimento do país, muito

menos de pequenas localidades. O que se registou foi uma grande migração das zonas interiores do

país para a periferia dos grandes centros urbanos, principalmente, de Lisboa e Porto e em que as

condições de vida eram bastante precárias.

Deste modo poucas eram as pessoas que teriam poder económico para adquirir terreno e construir

habitação. Isto justifica, que para além dos palheiros pouco era o desenvolvimento urbano naqueles

locais. Os proprietários que conseguiram e tinham possibilidade de adquirir terrenos, “fizeram-no em

grande número, baratos ou em circunstâncias de difícil compreensão” (Jornal “A voz de Esmoriz”,

Ano XII, nº280 de 1-VIII-1969), com a pretensão destes se valorizarem e mais tarde tirar lucro.

Contudo, foram aparecendo algumas habitações tal como se pode verificar pela Figura 21. As

construções mais recentes, relativamente à data em questão, foram-se desenvolvendo em torno dos

arruamentos principais tanto em Esmoriz como em Cortegaça.

No caso de Esmoriz, destaca-se o prolongamento da estrada do mar (principal acesso à praia) para

norte em direcção à barrinha de Esmoriz, esta situação permitiu o aparecimento de várias habitações

na primeira linha de ocupação da frente de mar.

Quanto à forma como os povoados se foram desenvolvendo, a proximidade aos arruamentos

principais é sem dúvida um elemento fundamental. Nesse aspecto, destaque para os 3 principais

arruamentos presentes na imagem x que foram construídos para facilitar o acesso à zona da praia, já

os demais são caminhos trilhados pelos habitantes contornando os vários quarteirões.

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  58  

Assim, a organização do espaço foi sendo feita, nesta fase, por quarteirões, algo que se prove desde

o primeiro plano de urbanização definido em 1927. Para além deste elemento deve-se ter atenção

para a construção ao longos dos caminhos, sendo que o maior aglomerado habitacional de Esmoriz

se desenvolveu ao longo da estrada principal (estrada do mar), já em Cortegaça nota-se uma maior

dispersão pelos vários caminhos que vão formando os quarteirões.

7.3.2. OS POVOADOS NO ANO DE 1984 Passados 17 anos entre o voo de 1967 e o voo de 1984 houve alterações bastante significativas nos

povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça. Numa primeira e rápida apreciação da cartografia para

essa época (Figura 22) nota-se claramente o aumento da área ocupada pelas edificações,

principalmente na zona do “Bairro dos Pescadores” entre os dois povoados . Este período de análise

coincide com o pós-25 de Abril de 1974 o que não deixa de ser um facto relevante como se poderá

verificar.

Esta fase da história política em Portugal é essencial para se explicar a expansão deste povoado,

naquele local e sobre aquelas condições. Como vem sendo objectivo desta dissertação, explicar os

motivos do crescimento do povoado costeiro de Esmoriz e Cortegaça, encontramos neste período

elementos bastante interessantes que podem ter influenciado não só a expansão mas o

enraizamento de uma grande comunidade que hoje se encontra em risco de erosão e galgamento

costeiro.

Este crescimento assenta em vários motivos, sendo que o principal prende-se com a queda do

Estado Novo em 1974 e as mudanças que ocorreram no país, dado que “desde os anos 60, com o

progressivo colapso do império colonial, emigração massiva, os princípios de uma integração na

Europa e no mercado internacional (adesão à EFTA, ao FMI, a obtenção de estatuto privilegiado junto

da CEE), a expansão de uma classe média urbana e de capitais não monopolistas, a penetração de

capitais estrangeiros e a implantação de novos ramos industriais” ( Rodrigues, 1984).

Neste aspecto, “a democratização levou a novas relações entre o poder local e a população” (Matos,

1989) o que por certo foi garantindo alguma confiança para se actuar à margem da lei, dadas as

necessidades de habitação presentes em Portugal no pós-25 de Abril.

Neste contexto, surgem as habitações clandestinas. Esta designação é dada, em Portugal, à

construção feita sem autorização da câmara às quais compete licenciar e controlar as obras

realizadas por particulares, no entanto e para além do sentido de ilegalidade, o termo clandestino

pretende acentuar a actuação escondida, camuflada, subterrânea dos construtores (Soares, 1984).

No caso da área de estudo estas construções proliferaram a partir da zona do “Bairro dos

Pescadores” que deve ser entendido como construções clandestinas e não como Área Urbana de

Génese Ilegal.

De realçar que este não é caso único em Portugal e nesta época. A génese destas construções na

praia de Esmoriz e Cortegaça são muito semelhantes às apresentadas por Matos (1989) para as

praias do Picão e Madalena em Vila Nova de Gaia.

Page 71: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  59  

Assim, tradicionalmente as habitações clandestinas surgiam como a alternativa mais rápida e mais

acessível para as populações suprimirem as suas necessidades de habitação. Isto também somente

foi possível devido a alguma disponibilidade financeira das famílias que assim investiam as suas

poupanças na aquisição de solo para aí construírem a sua habitação.

No processo da construção clandestina a aquisição de solo era o passo fundamental, sendo que

independentemente da sua posição geográfica face à estrutura urbana existente os bairros

clandestinos tendiam a crescer nas fronteiras geográficas de concelhos e freguesias (Matos, 1989).

É o que se observa na área de estudo entre 1967 e 1984. Como foi referido anteriormente, assistiu-se

neste período a um aumento significativo de pequenas habitações no limite entre a freguesia de

Esmoriz e Cortegaça, no local onde anteriormente se fixaram os primeiros pescadores que ocuparam

a zona e daí o local ser conhecido por “bairro dos pescadores”.

A importância de se construir junto aos limites geográficos prendia-se principalmente pelos motivos

de fiscalização. À época ainda existiam muitas duvidas sobre quem recaía a responsabilidade de

fiscalização, apoiado pela dificuldade de definir em que freguesia as habitações estavam inseridas e

ainda ajudado pela capacidade das pessoas encobrirem a construção, isto é, como a maioria das

casas eram abarracadas, a construção em tijolo começava por dentro das paredes de madeira sendo

mais tarde retiradas as tábuas e ficando o resultado final à vista.

Posto isto, foi muito fácil o crescimento deste tipo de bairros um pouco por todo país e

essencialmente em áreas litorais, não só pela necessidade das pessoas em arranjar habitação mas

pela dificuldade da administração central e local conseguir resolver as questões da habitação mas

também de fiscalização nessas áreas.

A problemática dos clandestinos nesta época e neste local é bastante relevante para se perceber o

desenvolvimento junto à linha de costa na área de estudo, mas também pelas consequências que se

assiste no presente. O crescente número de habitações neste sector pode ter influenciado o

crescimento dos povoados da praia de Esmoriz e Cortegaça, isto porque ao observar-se a cartografia

do local vê-se que o início do crescimento se dá essencialmente no bairro dos pescadores.

Assim, os dois povoados da praia de Esmoriz e Cortegaça começam a ganhar alguma dimensão não

só com o crescimento do “bairro” mas também pelo aproveitando das suas potencialidades turismo

de sol e mar. Isto levou a que fosse idealizado um plano de urbanização para Esmoriz e Cortegaça,

que acabou por não sair do papel pela inadequação deste à realidade local. Numa reunião para

discussão do plano chamou-se à atenção para a parte sul desse plano (sector compreendido entre a

Av. da Praia de Esmoriz e Cortegaça onde se desenvolveu o “bairro”) mas também se acusou o

mesmo de ser monumental e irrealista ao não atender às limitadas possibilidades financeiras dos

futuros construtores-moradores ao se exigirem lotes de 3000m2, prevendo-se ainda a construção de

um hospital (Ferreira, 1976).

Com estas intenções previa-se que no território litoral destas freguesias ocorresse um crescimento

urbano bastante acentuado, dando-se a possibilidade de edificação naquelas zonas. O que acabou

por acontecer essencialmente foi o crescimento do “bairro dos pescadores”, que ao se desenvolver

Page 72: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  60  

para norte acabou por contribuir para a formação da 1ª linha de edifícios na praia de Esmoriz, e uma

construção de pequenas habitações, de forma organizada por quarteirões na praia de Cortegaça.

7.3.3. OS POVOADOS NO ANO DE 1991

Neste período de análise, que encerra toda a evolução dos povoados em análise ao longo da década

de 80, devemos centrar a nossa atenção em alguns elementos importantes tais como o agravamento

dos problemas de erosão costeira e a apresentação das primeiras e principais intervenções de defesa

da costa, que foram desde logo registadas no Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT)

Centro Litoral em 1992.

Deste modo é relevante referir as taxas de recuo (Tabela 5) apresentadas para o troço

Espinho/Cortegaça (numa extensão de 11 km) nesse documento:

Tabela 5 - Taxas de recuo da linha costeira para o troço Espinho/Cortegaça; Fonte: PROT Centro Litoral

1992

1947/58 1958/80 1980/89

Recuo médio (m/ano) 0.8 1.8 4.5

Recuo máximo (m/ano) 3.7 1.8 8

Acreção máxima (m/ano) 3.0 5.7 12.5

Assim, fica provado o recuo progressivo da linha de costa ao longo do tempo, principalmente ao

longo do período do início de crescimento dos povoados de Esmoriz e Cortegaça.

Desde 1984 até 1991 os dois povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça continuaram a crescer em

número de edifícios, contudo não se pode justificar o contínuo crescimento do “bairro dos

pescadores”, ao longo desses sete anos, com os problemas da habitação e politicas provocadas pela

queda do Estado Novo e a influência dos promotores imobiliários parece ter sido pouco relevante

nesta fase como se pode ver desseguida. “Quando um dia se fizer a história da produção da cidade

em Portugal na 2ª metade do séc. XX, constatar-se-á quão insignificante foi a participação das

imobiliárias e grandes empresas de construção na realização do espaço edificado” (Ferreira, 1984).

Ao se analisar a área de estudo, a generalidade dos edifícios são pequenas casas ou moradias

unifamiliares de um e dois pisos em que o promotor é o futuro morador, inclusivamente no sector do

“bairro” a maioria das habitações são de auto-construção, já as demais construções de habitações

nos povoados foram levadas a cabo por pequenos empreiteiros, pois na generalidade os promotores

imobiliários investem em grandes empreendimentos, o que aconteceu neste período e pontualmente

na praia de Esmoriz.

A aposta na exploração turística da praia fica vincada com a expansão dos dois parques de

campismo, tanto em Esmoriz como em Cortegaça, que já surgiam na cartografia de 1984. A

existência destes parques pode ter em certa medida contribuído para “regular”, apesar de não terem

sido criados com esse propósito, um pouco a construção de edifícios nos locais. Estes ofereciam a

possibilidade de se morar junto às zonas de veraneio durante o período de férias sem que para isso

fosse necessário uma habitação fixa. De determinado prisma este tipo de ocupação acaba por ter um

Page 73: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  61  

impacto “soft” dado que pode acompanhar a sazonalidade que implica as actividades de veraneio

nestas zonas de cordão dunar bastante vulneráveis à acção do mar.

A vulnerabilidade destas praias ficou claramente em evidência ao longo deste período de análise.

Apesar de ao longo do tempo se notar que as praias iam ficando mais pequenas (Tabela 5) e o mar

mais próximo das habitações, a construção continuou a aumentar.

Após um estudo encomendado à Hidrotécnica Portuguesa, no qual se identificava o enfraquecimento

progressivo das fontes aluvionares, surge um plano de obras para a defesa da costa que previa um

novo alinhamento a linha costeira no trecho entre Esmoriz e o Cabo Mondego (Veloso Gomes, 1992).

À época as difíceis condições económicas do país não permitiram a implementação do plano na sua

totalidade, sendo que apenas tenham sido construídas as obras estritamente necessárias para

proteger as frentes urbanas litorais em risco elevado de erosão.

Foi então nessa época que surgem as primeiras obras de protecção costeira naquele local. Assim,

em Esmoriz em 1985/87 e Cortegaça 1989 surgem os primeiros 2 esporões de um conjunto de 4

obras para a defesa da costa. Posteriormente e pouco tempo após as primeiras intervenções são

construídos em 1990 tanto em Esmoriz e Cortegaça, 2 esporões com obra longitudinal aderente

(paredão) (Veloso Gomes, 1992).

Assim, como base na cartografia presente na Figura 24, pretende-se caracterizar os povoados entre

o período de 1984 e 1991. Em relação à forma dos povoados estes foram mantendo a sua dinâmica

ao manter um crescimento no número de edifícios construídos, consolidando ao longo desta fase a

sua estrutura iniciada em 1964.

O povoado de Esmoriz, apesar de apresentar a uma estrutura em quarteirões, tem as habitações

dispersas no espaço. Contudo, no sector mais central do povoado, onde termina o principal acesso à

praia, encontra-se densamente ocupada comparando com outras zonas do povoado. Isso deve-se

por um lado, por ter sido o primeiro local de crescimento deste povoado, mas também devido à

influência do “Bairro dos Pescadores” que com o seu acentuado crescimento ao longo dos anos

acabou por se ligar à zona central da praia de Esmoriz, formando dessa forma a primeira linha de

habitações dessa praia.

Na praia de Cortegaça tem-se uma estrutura, muito mais pequena que a praia de Esmoriz, que se

manteve inalterada ao longo dos anos. Apesar de não haver muita área para se expandir, ocorreu

alguma construção o que permitiu consolidar o povoado criando uma estrutura em quarteirões

bastante nítida. Porém, ao analisar a configuração da linha de costa neste sector, entre Esmoriz e

Cortegaça, pode-se observar que todo o povoado da praia de Cortegaça se encontra mais exposto à

acção do mar do que a frente de mar da praia de Esmoriz (exceptuando o “Bairro dos Pescadores”),

isto é, a primeira linha de habitações da praia de Esmoriz está mais recuada que todo o povoado em

Cortegaça. Esta situação é relevante pois embora ambos os povoados sejam bastante vulneráveis ao

avanço do mar, a praia de Cortegaça dada a configuração da linha de costa pode-se tornar num

“cabo artificial”.

Page 74: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  62  

Figura 22 - Crescimento urbano, ao longo do tempo, dos povoados costeiro de Esmoriz e Cortegaça –

1967; Fonte: IGP, 1967 (Fotografia aérea 1:15000 nº126 – Voo DGF 99/67 – 29)

Page 75: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  63  

 

Figura 23 - Crescimento urbano, ao longo do tempo, dos povoados costeiro de Esmoriz e Cortegaça –

1984; Fonte: IGP, 1984 (Fotografia aérea 1:15000 nº 2973 – Voo Minho 84.13 – 2951)

Page 76: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  64  

 

 

Figura 24 - Crescimento urbano, ao longo do tempo, dos povoados costeiro de Esmoriz e Cortegaça –

1991; Fonte: IGP, 1991 (Fotografia aérea 1:15000 nº2978 – Voo Zona Centro norte 91.10 - 29)

Page 77: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  65  

7.3.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Neste ponto pretende-se fazer uma abordagem analítica à área em estudo, com base nos Censos de

1991, 2001 e 2011, usando indicadores que permitam caracterizar os indivíduos residentes e a

habitação numa fase pós-consolidação dos povoados costeiros. Estes dois indicadores, no contexto

desta dissertação, são bastante relevantes na procura de se caracterizar a evolução dos povoados,

podendo desta forma ter uma perspectiva mais precisa sobre o tipo de moradores e o tipo de edifícios

existentes naqueles locais.

Os dados foram tratados à escala da subsecção estatística das freguesias de Esmoriz e Cortegaça,

sendo que se escolheram as subsecções que cobriam a mesma escala de observação da cartografia

apresentada anteriormente, ou seja, apenas os aglomerados junto à linha de costa.

Um elemento importante a reter deste período de análise é que é ao longo desta fase que começam

a surgir os principais diplomas legais com vista à regulamentação das zonas costeiras. Com isso

surgiram novas regras para a ocupação e edificação da orla costeira o que poderia modificar a

tendência registada ao longo da análise feita anteriormente.

7.3.4.1. População

É importante começar por avaliar os indicadores que permitem caracterizar os indivíduos residentes,

obtendo-se desta forma uma perspectiva geral do número de residentes, a sua faixa etária e a

relação com o emprego, podendo-se tirar conclusões sobre a estrutura etária e económica dos

povoados de Esmoriz e Cortegaça.

Relativamente à variação da população ao longo do tempo pode-se verificar pela Tabela 6, que que

nos últimos 20 anos (1991-2011) ocorreu um aumento de 1693 indivíduos residentes, o que

corresponde a um aumento de 26,92% durante esse período. Este valor demonstra o crescimento

populacional sentido nos povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça. Contudo durante a última

década, o crescimento foi menos expressivo, tendo a população residente aumentado apenas 4,16%

face ao valor registado em 2001.

A variação do número de indivíduos presentes, pessoas que efectivamente se encontravam no local

no momento do recenseamento estatístico, possui um comportamento bastante semelhante com

indicador anterior, sendo que os valores são ligeiramente inferiores.

Tabela 6 - Variação dos indivíduos presentes e residentes para as subsecções estatísticas da área em estudo; Fonte: INE - Recenseamento Geral da População (RGP), 1991; 2001; 2011.

ANO Indivíduos Presentes

Indivíduos Residentes

1991-2011 1489 1693

% 24,11 26,92

2001-2011 232 319

% 3,12 4,16

Page 78: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  66  

A análise da variação do número de indivíduos residentes por faixa etária permite perceber o

comportamento da população relativamente à variabilidade da natalidade, mortalidade e a esperança

média de vida.

Entre 1991 e 2011, nos povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça, ocorreram variações bastante

relevantes, ver Tabela 7, na estrutura etária desses povoados. Desde logo porque nota-se um

aumento significativo (67,23%) da faixa etária com mais de 65 anos, sendo um indicador do

envelhecimento da população ao longo das ultimas décadas, assim como o aumento da população

em idade activa (51,20%).

Contudo ao se analisar a base da estrutura etária, onde se encontra a população jovem, pode-se

verificar que os valores das variações não são suficientes para equilibrar o aumento da população

mais idosa. Obtêm-se assim uma estrutura etária desequilibrada, que tende para o envelhecimento

nestes povoados.

Esta tendência pode ser confirmada pelos valores registados entre 2001 e 2011, em que se dá uma

variação negativa dos grupos etários mais jovens, o que significa menos nascimentos na última

década e, pelo contrário, o grupo onde se inserem os idosos continua como uma variação positiva de

realce.

Tabela 7 - Variação do nº de indivíduos residentes por faixas etárias para as subsecções

estatísticas da área em estudo; Fonte: INE-RGP, 1991; 2001; 2011

ANO Nº de indivíduos residentes

0 A 4 5 A 9 10 A 13 14 A 19 15 A 19 20 A 64 +65 1991-2011 75 41 22 7 - 1349 199

% 26,50 15,13 9,61 2,53 - 51,20 67,23

2001-2011 -58 -9 52 -26 -21 271 89

% -9,29 -1,63 12,81 -4,48 -4,23 5,42 17,69

Sendo o valor da população activa um indicador importante para a análise da dinâmica urbana dos

locais, pois é esta faixa etária tem a potencialidade de trabalhar e gera riqueza a nível local, importa

perceber a relação dos indivíduos em actividade e a situação laboral.

Nesse sentido, a Tabela 8 apresenta os resultados dessa análise podendo constatar-se que ocorreu

uma variação positiva no que corresponde ao emprego dos indivíduos residentes. Ao verificar-se os

valores para cada ano conclui-se que a taxa de emprego desde de 2001 se manteve-se superior a

50% crescendo ligeiramente ao longo do tempo, no sentido inverso o número de indivíduos sem

actividade económica foi diminuindo ao longo das duas décadas, se realçar que na última década a

variação deste valor resultou numa diminuição de 51,91%.

Tabela 8 - Variação da relação do individuo face à situação laboral para as subsecções

estatísticas da área em estudo; Fonte: INE-RGP, 1991; 2001; 2011

ANO Indivíduos Residentes Empregados Pensionistas e Reformados Sem actividade económica

Page 79: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  67  

1991-2011 838 117 -247

% 29,10 18,66 -11,63

2001-2011 12 106 -746

% 0,45 27,68 -51,91

Os dados analisados até ao momento têm uma importância relevante para que se chegasse aos

valores que se irão apresentar de seguida. O número de empregados por sector de actividade é, para

o caso em questão, um indicador bastante relevante para se perceber qual o principal meio de

subsistência dos seus habitantes e quais foram as estratégias de desenvolvimento económico

seguidas ao longo do tempo.

Numa primeira apreciação da Tabela 9 pode-se confirmar que em ambos os períodos de análise tanto

o número de indivíduos empregados no sector primário como os do sector terciário se comportaram

de forma inversamente semelhante. Ou seja, a diminuição que ocorreu ao nível dos indivíduos

empregados no sector primário corresponde linearmente aos ganhos identificados no sector terciário,

podendo-se concluir que houve uma mudança de paradigma ao longo das ultimas décadas. O sector

secundário apresenta, por si só, uma variação bastante interessante, dado que a variação que ocorre

entre 1991 e 2011 é mínima, não acontecendo o mesmo entre 2001 e 2011. Este comportamento só

se pode justificar com um crescimento acentuado na década de 90 e um forte declínio ao longo da

ultima década..

Os resultados obtidos não se totalmente inesperados. Apesar de Esmoriz ter tido um génese agrícola

e possuir uma tradição industrial forte, as ultimas décadas têm acompanhado a tendência portuguesa

no caminho para a terciarização. Para isso muito contribuiu o estatuto de cidade, obtido na década de

90, e com isso a necessidade de consegui prestar e garantir um conjunto de serviços diferenciados

às populações.

Ao se analisar as estatísticas em termos espaciais, isto é o que se reflecte no território, deve-se

registar que estes dados acentuam a mudança de paradigma relativamente às funções dos povoados

costeiros , mudanças essas que se tem vindo a acentuar ao longo das ultimas décadas. Sendo

povoados que foram fundados para servir de suporte às actividades piscatórias, seria previsível que

se mantivesse ainda alguma actividade e tradição nesse ramo.

Contudo desde a 1ª Fase de análise (referida anteriormente) com o declínio da pesca, o sector

primário nunca teria, em termos estatísticos, um peso relevante apesar de em 1991 ainda se

registavam 84 indivíduos nesse sector de actividade. Volvidas duas décadas o numero caiu mais de

60%, sendo que do “Bairro dos Pescadores” fica a memória e as tradições que lhe deram origem,

pois o principal sector de actividade em que a população dessas secções se encontra é no comércio

e serviços.

O sector secundário, no qual se inserem actividades de comércio e serviços, foi o principal

empregador dos indivíduos residentes nos povoados em 1991, estando mais de 56% dos indivíduos

empregados neste sector. Estando os povoados desde muito cedo ligados ao turismo, é possível

afirmar que o comércio foi o motor de desenvolvimento das praias de Esmoriz e Cortegaça e desta

Page 80: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  68  

forma a população poderia ser empregada na zona de residência. Todavia viu a sua importância

decair na última década, em 2001 ainda se dividiam entre sector secundário (47%) e terciário (50%),

sendo que no recenseamento de 2011 o principal e maioritário empregador dos indivíduos daqueles

povoados era o sector terciário com quase 70% dos indivíduos empregados nesse sector.

Tabela 9 - Variação dos indivíduos empregados para as subsecções estatísticas da área em estudo;

Fonte: INE-RGP, 1991; 2001; 2011

ANO Indivíduos Empregados por Sector de Actividade Primário Secundário Terciário

1991-2011 -61 -20 919

% -57,01 -1,77 55,87

2001-2011 -7 -326 345

% -13,21 -22,73 15,55

A actividade industrial foi desde cedo um ponto forte de Esmoriz. Como já foi referido, a indústria da

tanoaria e cordoaria, que foi aparecendo no povoado principal, deu um impulso fundamental no

desenvolvimento da vila de Esmoriz, tendo esse crescimento permitido a passagem a cidade. Desta

forma, a mudança para o sector terciário como principal empregador vem demonstrar que a maioria

dos habitantes dos povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça trabalha fora da área de residência,

pois não há indústria no povoado costeiro.

7.3.4.2. Habitação

A análise estatística de indicadores de habitação tem particular interesse, visto o âmbito da

dissertação se procurar elementos que ajudem a perceber a evolução da ocupação urbana dos

povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça.

Começar então por perceber a evolução do número de edifícios clássicos ao longo do tempo,

baseado nos valores presentes na Tabela 10. Desde de 2001 a 2011 que ocorreu um crescimento de

cerca de 15%, o que em termos absolutos representam mais 350 construções do que em 1991, nos

edifícios construídos nos povoados, sendo que na sua maioria são edifícios exclusivamente

residenciais.

Tabela 10 - Percentagem de edifícios por tipologia para as subsecções estatísticas da área em estudo; Fonte: INE-RGP, 1991; 2001; 2011

ANO Nº de edifícios:

Clássicos Exclusivamente residenciais

Principalmente residenciais Não residenciais

1991 1005 947 32 26

% - 94,23 3,18 2,59

2001 1362 1285 73 4

% - 94,35 5,36 0,29

2011 1360 1273 80 7

% - 93,60 5,88 0,51

Page 81: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  69  

Numa perspectiva de se perceber a relação entre o número de alojamentos e o número de edifícios

realizou-se a Tabela 11. Desta forma, pode-se estimar a tendência relativamente à construção de

casas unifamiliares (moradias) ou de apartamentos. De acordo com os resultados obtidos pode-se se

ver que ocorreu um crescimento, ao longo os vários períodos de análise, da percentagem de

alojamentos por edifícios construídos, tendo inclusivamente no ano de 2011 valores que indicam dois

alojamentos por edifício. Com isto pode-se que concluir que em 2011 se afirma uma tendência da

década anterior de haver maior construção em apartamentos, pois é uma forma de inserir mais

alojamentos num edifício apenas.

Tabela 11 - Percentagem de alojamentos por edifícios existentes para as subsecções estatísticas da área

em estudo; Fonte: INE-RGP, 1991; 2001; 2011

ANO Alojamentos % 1991 1376 1,37

2001 2331 1,71

2011 2852 2,10

Para se ter uma análise mais aprimorada das décadas em que apareceram mais edifícios analise-se

a Tabela 12, estes dados apenas se referem ao número de edifícios existentes à data do

levantamento censitária, onde se poderá obter a informação referente ao ano de construção dos

edifícios existentes à data do período de recenseamento. Desta forma pode-se concluir que período

em que houve mais edifícios construídos foi ao longo do ano de 2000, contudo a década de 90 tem

também um peso bastante importante, tendo sido construído nesse ano um número considerável de

edifícios.

Tabela 12 - Número de edifícios existentes por ano de construção para as subsecções estatísticas da

área em estudo; Fonte: INE-RGP, 1991; 2001; 2011

ANO

Ano de construção dos edifícios existentes (*em 1991 o intervalo é entre 1946 e 1970)

1919 1945 1960 1970* 1980 1990 2000 2010 1991 9 33 - 210 277 476 - -

% 0,90 3,28 - 20,90 27,56 47,36 - -

2001 3 85 85 104 253 389 443 -

% 0,22 6,24 6,24 7,64 18,58 28,56 32,53 -

2011 0 11 26 104 246 223 517 233

% - 0,81 1,91 7,65 18,09 16,40 38,01 17,13

Como se referiu anteriormente e se pode comprovar pela cartografia apresentada, a época após a

queda do estado novo teve uma grande influência na expansão do edificado. Em termos estatísticos

procurou-se encontrar relação semelhante, o que se pode observar pela Tabela 13. Nela pode-se

analisar a percentagem de edifícios construídos nesses períodos de análise, assim o pré Abril de 74

representa todos os edifícios em que o ano de construção foi anterior a 1970, já o pós Abril de 74

contempla um período de 10 anos após a mudança de regime ou seja todos os edifícios com data de

Page 82: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  70  

construção entre 1970 e 1980. Com isto, verifica-se que houve um aumento do número de edifícios

no pós 25 de Abril pois em apenas numa década se construiu mais que nos anos todos até essa

data.

Tabela 13 - Percentagem de edifícios construídos no pré e pós 25 de Abril de 1984 para as subsecções

estatísticas da área em estudo; Fonte: INE-RGP, 1991; 2001; 2011

ANO PRE ABRIL 74 POS ABRIL 74 1991 252 277

% 25,07 27,56

2001 277 253

% 20,34 18,58

2011 141 246

% 10,37 18,09

Apesar de ter-se dados relativos a 3 períodos de recenseamento aos edifícios, neste contexto o

período de 1991 tem um peso maior, pois encontra-se mais perto dos anos de análise e dessa forma

pode incluir edifícios mais antigos que nos anos censitários seguintes já não existem, contudo os

resultados são bem significativos demonstrando a relevância desse acontecimento histórico do país.

Para finalizar a análise ao parque habitacional das subsecções das praias de Esmoriz e Cortegaça,

irá se focar a atenção ao estado do mercado imobiliário naquele sector. Assim tanto a Tabela 14,

percentagem de alojamentos arrendados, como a Tabela 15, percentagem de alojamentos vagos,

apresentam algumas informações relevantes sobre a situação do mercado imobiliário.

Actualmente, com a saturação do mercado imobiliário e consequentemente a construção imobiliária

estagnada, os agentes desta área tem-se direccionado para o arrendamento. Nessa perspectiva, é

relevante perceber em que situação se encontra esse tipo de mercado na área de estudo, até porque

o arrendamento permite uma mobilidade maior das famílias do que a habitação própria. As variações

neste ramo de negócio devem-se à relação entre o custo da renda e o custo do crédito à habitação,

visto que este último nas últimas décadas motivou a aquisição de casa própria devido aos custos

relativamente baixos do crédito.

Na área em estudo assistiu-se a uma variação positiva de 36% do número de alojamentos

arrendados ao longo dos últimos 20 anos, existindo assim mais alojamentos arrendados em 2011 do

que em 1991. Contudo, se analisarmos a percentagem, em cada ano, de alojamentos arrendados vê-

se que a esta foi diminuindo para 14%, valor semelhante à media nacional, o que significa que no

global dos alojamentos existentes menos alojamentos arrendados.

Tabela 14 - Percentagem de residências habituais arrendadas para as subsecções estatísticas da área em estudo; Fonte: INE-RGP 1991; 2001; 2011

ANO Alojamentos arrendados % 1991 97 18,00

2001 165 14,71

2011 207 14,07

Page 83: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  71  

1991-2011 110 36,18

Por fim analisar-se-á percentagem de alojamentos vagos. Estes dados são relevantes para se

perceber a procura/oferta de alojamento, aqui é igualmente importante referir os alojamentos que se

encontram alugados pois são alojamentos passiveis de ficar vagos momentaneamente, naquela área,

isto porque os alojamentos que se encontram vagos estão disponíveis para venda ou arrendamento.

A percentagem de alojamentos familiares vagos tem variado muito ao longo dos três períodos de

análise apresentados como se pode confirmar pela Tabela 15. Assim o ano em que se regista mais

alojamentos vagos é o ano 1991, tendo sido nessa altura que se registaram a conclusão e inícios da

maioria da construção vertical no povoado de Esmoriz. A comercialização destes pode ter afectado

esse valor, dado que no recenseamento de 2001, mesmo com a construção de mais 1000

alojamentos que o ano de 1991, registou-se o valor mais baixo de alojamentos vagos. Nessa época,

para além da disponibilidade de crédito a habitação houve um período do investimento na segunda

residência como casa de férias mas também uma “moda” de se habitar junto ao mar. Estes factores

podem ter claramente influenciado a procura de habitação naquele local, contudo 2011 apresenta

uma percentagem maior de alojamentos vagos face ao Censos anterior, mas ainda assim inferior à

percentagem de 1991 e também à média nacional (para se ter um termo comparativo mais geral e

que se encontra nos 12,5%). Esta alteração é significativa, pois foi um aumento superior ao dobro dos

alojamentos vagos em 2001, sendo que o parque habitacional não aumentou nessa proporção, e que

pode estar relacionado com a crise económica que se faz sentir nos últimos anos, sendo que com o

aumento do juros bancários tem impedido as pessoas de cumprir as obrigações com os bancos

levando-as a entregar ou a tentar vender as suas casas.

Tabela 15 – Percentagem de alojamentos familiares vagos para as subsecções estatísticas da área em

estudo; Fonte: INE-RGP 1991; 2001; 2011

ANO Alojamentos Vagos % 1991 188 13,66

2001 106 4,55

2011 246 8,63

7.3.5. ANÁLISE DOS RESULTADOS A primeira planta relativa aos aglomerados estudados é bastante arcaica e data de 1913, contudo é

com ela que se identifica que foi a partir dessa altura que os povoados adoptam a estrutura e forma

actual. A ocupação deste local foi sempre muito baixa ao longo das décadas, desempenhando um

papel de apoio às actividades relacionadas directamente com o mar, a pesca e o turismo balnear.

É no pós-25 de Abril de 1974, inicio da mudança de regime governativo em Portugal, que ocorre a

primeira grande expansão e ocupação deste sector da costa. A carência habitacional não encontrava

respostas ao nível da política habitacional, o que levou a população mais carenciada a encontrar

formas de colmatar essa necessidade. Com custos de aquisição de terreno muito baixos, alguma

ocupação ilegal e a auto-construção fez crescer, o hoje conhecido com “Bairro dos Pescadores”,

Page 84: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  72  

actualmente a zona mais desqualificada e em maior risco de erosão e galgamentos marítimos dos

povoados.

Contudo, se for feita uma relação entre o planeamento da orla costeira e o crescimento dos

povoados, observa-se que foi depois da entrada em vigor dos primeiros e principais instrumentos de

gestão da áreas costeira, no início da década de 90, que ocorre o maior crescimento e consolidação

do povoado de Esmoriz (o povoado de Cortegaça com uma potencialidade de expansão mais

pequena ficou consolidado já no inicio da década de 80).

Apesar do povoado ter crescido em termos de habitações, como prova a cartografia apoiada pelos

dados estatísticos mais recentes, relativamente à população esta encontra-se mais concentrada em

locais específicos. A Figura 25, que apresenta valores para a densidade populacional, deve ser

analisada com um certo cuidado, isto porque a dimensão e forma das subsecções varia entre os anos

de 2001 e 2011 mas também porque as características das subsecções do mesmo ano são bastante

variáveis, o que torna a comparação entre elas não muito correcta. Contudo esta informação permite

ficar com uma ideia das zonas onde a densidade populacional é maior, ou seja, onde concentra mais

pessoas por m2.

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  73  

Figura 25 - Zonas de maior concentração de população - análise da densidade populacional à subsecção estatística dos lugares da praia de Esmoriz e Cortegaça; Fonte: INE-RGP 1991; 2001; 2011

Como se pode verificar, as zonas da frente de mar das praias de Esmoriz e Cortegaça são as que

possuem uma maior densidade de pessoas. Destaque mais uma vez para o local onde se localiza o

“Bairro dos Pescadores”, pois é o local onde se registam valores mais elevados. Na comparação

entre os anos qualquer conclusão é um pouco subjectiva, mas a ideia que se retêm é que os valores

Page 86: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  74  

se encontram bastante iguais sendo que as alterações se devem essencialmente à alteração da

forma da subsecção de análise.

Da análise que se faz aos povoados, conclui-se que estes se tornaram num “dormitório”. Esta

tendência assentou-se como se pode verificar pelos valores de emprego observados, nos Censos de

2001 e 2011, sendo que se passou a ter mais pessoas empregadas no sector terciário do que no

secundário (principal sector de actividade até 2001). Como se viu, a indústria foi a base de

desenvolvimento de Esmoriz ao longo dos anos, mas não existe nos povoados da praias, logo a

transição de pessoas do sector secundário para o terciário demonstra a queda de rentabilidade do

sector secundário, com actividades de comércio e restauração - actividades ligadas ao turismo, o que

já tinha acontecido com a pesca à época do início do povoado. Deste modo, os povoados começam a

perder a identidade que esteve na base da sua fundação, a pesca e o turismo de veraneio.

De modo esquemático e sintetizado, a Figura 26, apresentada no PROT Centro Litoral em 1992 para

expressar a pressão urbana sobre a linha de costa, resume a estrutura dos povoados de Esmoriz e

Cortegaça.

Figura 26 – Planta esquemática da pressão urbana sobre a linha de costa; Fonte: Editado de (Veloso Gomes, 1992)

Assim tem-se uma frente de mar bastante urbanizada, que não liga os dois povoados por poucas

centenas de metros onde se encontra um espaço livre (Figura 27), muito povoada e que se encontra

“protegida” por várias obras de protecção costeira. Essa é, inclusivamente, a única área que os dois

povoados tem em comum, dado que existe uma extensa mancha florestal entre os dois aglomerados.

Page 87: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  75  

Figura 27 - Vista a partir do "Bairro dos Pescadores" para o povoado costeiro de Cortegaça – representa

o espaço entre os dois aglomerados (17/02/2013); Fonte: N. Andrade

Quanto à forma de ocupação do território os povoados são um pouco diferentes, apesar de

partilharem a matriz em quarteirão que deu origem aos povoados. Assim na praia de Esmoriz que

teve um crescimento mais disperso, e que com o tempo foi sendo consolidado, ocupa assim uma

extensa área do território. Já a ocupação na praia de Cortegaça foi feita de forma rectilínea numa

direcção nascente-poente, acompanhando a principal via de ligação entre a praia e o “povoado

principal” de Cortegaça.

Por fim, fazendo uma relação entre as características do território e as características do povoado,

volta-se a reforçar a ideia não só da forte presença dos riscos de erosão costeira e galgamentos

marinhos, mas também da vulnerabilidade dos povoados a esses riscos. No primeiro caso, como já

foi referido, com a diminuição do volume de sedimentos presentes na deriva litoral e as

consequências provocadas pelas alterações climáticas (aumento do nível médio do mar assim como

o aumento da frequência de fenómenos climáticos extremos) este sector da costa continuará a

recuar, o que justifica o segundo caso. Estes povoados apresentam um grau muito elevado de

exposição aos riscos costeiros, pois para além da forte concentração populacional na frente de mar,

as características do território (costa arenosa de praia e dunas) não oferece grande resistência ao

avanço do mar, assim como as cotas do terreno se encontrarem na sua maioria ao nível médio do

mar, o que em situações de galgamento marinho certamente provocará danos nas habitações mais

próximas da linha de costa.

7.4. SÍNTESE DO CAPÍTULO Os factos históricos ajudam a perceber o presente, sobre o qual se planeia o futuro. Nessa

perspectiva, deve-se analisar com atenção o processo que levou ao que actualmente se verifica em

determinada situação. Traduzindo esta ideia, pretende-se que com a percepção sobre o que se fez

no passado, se tome consciência do que se fez de bom e mau para que o que se pretende realizar no

Page 88: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  76  

futuro não contenha os mesmos erros. A relevância dos apontamentos históricos é importante

também para colmatar a falta de dados cartográficos e estatísticos para a área de estudo.

Desta forma, pôde-se constatar que a ocupação do sector da costa entre Esmoriz e Cortegaça

iniciou-se mais tarde que as povoações vizinhas, nas quais se praticava o mesmo tipo de actividades

piscatórias e sobre as mesma condições meteorológicas e de mar. Isso devia-se à proximidade entre

o povoado principal e a povoação costeira, não justificando a construção de habitação, à época

palheiros, na costa para pernoitar durante à época de pesca.

A forma como se iniciou ocupação, aparecimento dos primeiros povoados, das praias de Esmoriz e

Cortegaça diz muito sobre as condições de habitabilidade da costa naquele lugar. O tipo de

construção e os períodos de ocupação estavam adequados às condições que o ambiente oferecia,

isto porque a população, em particular pescadores/agricultores conhecedores do local, tinha a

percepção do clima bastante característico do litoral aveirense e da perigosidade que o mar oferecia.

Só desta forma seria possível que os palheiros fossem colocados sobre estacas, permitindo a

circulação dos sedimentos e não subterrando as habitações, e que tivessem a possibilidade de serem

movidos do lugar, ocupando o topo das dunas para se defenderem das tempestades marítimas.

Contudo, estes locais eram bastante procurados no Verão pela qualidade das suas praias por muitas

pessoas de Ovar e dos concelhos vizinhos que aí passavam as suas férias. E assim começam a

desenvolver-se os povoados.

A construção de palheiros e habitações de pedra, mesmo necessitando de autorização, começou a

ser de tal forma que se realizou o primeiro plano para a praia de Esmoriz no qual se definiam os

arruamentos e quarteirões. Desta forma procurou-se organizar o espaço ocupado pelas recentes

habitações, estava assim “aberta a porta” para a ocupação das praias daquele sector da costa. Isto é,

a administração local ao ter decidido planear o espaço, mostrou à população que poderia haver

construção no local. A população tende a reconhecer que se uma autoridade “viabiliza” um local para

habitação, é porque esse local dispões das condições de segurança para habitá-lo, dado que na

generalidade a população pode não ter a consciência, e não se é exigível que saiba, quais as

melhores condições para a construção, o ambiente a que estão expostos e a perigosidade do local.

Contudo, após o primeiro plano para a praia de Esmoriz em 1913 o crescimento foi contido por

diferentes motivos, duas Grandes Guerras Mundiais, diminuição da pesca da sardinha e o período do

Estado Novo. Esta fase recessiva não era favorável ao crescimento, que começou pujante com a

afirmação do local como praia de banhos.

Ainda assim entre 1927 e 1967, período que acompanha essa fase recessiva, ocorreram algumas

modificações nos povoados. Sendo as principais a construção da estrada na frente de mar de

Esmoriz e a definição de quarteirões, estes bem definidos pelos caminhos informais entretanto

marcados. Em 40 anos o crescimento não foi tão grande como o espectável à época, mas também

porque o local tardou a oferecer melhores condições para a ocupação como a falta de saneamento,

água, iluminação pública e arruamentos.

Page 89: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  77  

Com a queda do Estado Novo e com o surgimento da democracia em Portugal alguns erros foram

cometidos, principalmente nas áreas de maior carência como era a habitação. Assim, um pouco por

todo país foram crescendo os bairros clandestinos. Neste âmbito, a necessidade sobrepôs-se à

qualidade da habitação e os locais do litoral português perto dos grandes centros urbanos ou de

localidades com empregabilidade foram os locais onde mais se registou a construção de habitações

clandestinas.

Na praia de Esmoriz e Cortegaça, como existiam alguns palheiros dos pescadores que com isto se

transformaram em casas, os terrenos eram relativamente baratos e a fiscalização era complicada

(nos limites das freguesias de Esmoriz e Cortegaça, zona florestal e zona marítima), estavam as

condições perfeitas para o aparecimento deste tipo de construção.

Apesar do planeamento ocorrido anteriormente, com as definição de quarteirões a expansão das

praias de Esmoriz e Cortegaça começam as crescer com base em construções clandestinas e fora de

quarteirões ao longo da linha de costa, formando assim a primeira linha de construções na frente de

mar.

O conhecido como “Bairro dos Pescadores” constituído por construções clandestinas, foi assim

resultado de erros cometidos no pós 25 de Abril, que se tem propagado ao longo do tempo, sendo

que hoje em dia aquele sector da costa está bastante vulnerável face às investidas do mar. Toda esta

pressão urbana sobre as praias e dunas, contribuíram as nível local para a alteração das condições

de equilíbrio morfológico da linha costeira, motivando a construção, quase sempre após a ocorrência

de situações de emergência, de obras com o objectivo da defesa dos aglomerados provocando

erosão noutros locais (Veloso Gomes, 1992).

Até esta altura tinha-se conhecimento de um plano aplicado na praia de Esmoriz e vários que

acabaram por não ser aplicados. A ideia que fica é que apesar de existir um planeamento e a

intenção de ordenar o espaço, faltaram instrumentos de gestão do território ficando-se apenas o

planeamento somente com o intuito da organização do espaço.

No início da década de 90, com os “primeiros sustos” provocados pelo avanço do mar e a

necessidade da construção de obras de protecção, surgem os primeiros instrumentos legais para o

ordenamento do território. Ironicamente os povoados tem o seu maior crescimento a partir do final

dos anos 80, tendo sido inclusivamente entrado em vigor o primeiro POOC Ovar-Marinha Grande em

1995.

Page 90: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  78  

8. QUE FUTURO PARA OS POVOADOS COSTEIROS DE ESMORIZ E CORTEGAÇA?

A linha de costa da região centro está a recuar na maioria dos sectores, isso é um facto que não é

apenas dos dias de hoje, mas sim algo que se tem vindo a agravar cada vez mais, com taxas de

recuo anual bastante acentuadas. Com base nas informações obtidas, que futuro para os núcleos

urbanos da praia de Esmoriz e Cortegaça?

No primeiro PROT Centro Litoral na análise referente à evolução fisiográfica da faixa costeira, são

apresentadas três possibilidades de respostas adaptativa em termos de gestão dos povoados da

linha de costa, sendo estas a “retirada”, “acomodação” e “protecção” (Veloso Gomes, 1992).

Estas continuam a ser as opções mais plausíveis na estratégia de defesa dos povoados costeiros.

Deste modo VELOSO GOMES, 1992 caracteriza cada opção da seguinte forma:

- “Retirada” baseia-se no abandono de medidas para defender a costa, sendo que desta

forma não se continua a desenvolver obras de protecção em zonas em que previsivelmente

irão ser afectadas por temporais com potencialidade para destruir bens, infraestruturas e

edifícios. A retirada pode ser feita em situações de emergência, ocorre uma incapacidade

económica ou técnica para a resolução do problema, ou ser feita de forma planeada, implica

a análise de cenários e impactos nos ecossistemas marítimos e das zonas húmidas.

- “Acomodação” apoia-se na irreversibilidade e progressivo agravamento dos riscos

costeiros e avanço do mar. Esta opção implica a definição de planos de emergência,

adaptabilidade das construções aos galgamentos e inundações, e alteração do coberto

vegetal por espécies adaptadas à salinidade. Um ponto bastante importante nesta opção é

que deve ficar claro para a população que tanto pessoas e bens estão bastante expostas aos

riscos e que poderão perder totalmente os seus bens.

- “Protecção” parte para a artificialização da linha de costa, fixando-a em termos médios

através de operações de alimentação artificial das praias e de outras obras de engenharia

costeira, num determinado local permitindo a defesa dos povoados que se encontram junto à

linha de costa. Há também a necessidade de uma nova gestão do uso do solo e a redução de

acções antrópicas. Esta opção deve ser ambientalmente correcta e economicamente

comportável, sendo que se deve estar preparado para as consequências desta opção tal

como a possível perda de praias e aumento do número de galgamentos por acção de

tempestades.

Volvidos mais de 20 anos desde a consciencialização do problema e das primeiras medidas

adoptadas para a defesa dos povoados, é relevante pensar sobre o que foi feito e o que deverá ser o

futuro destes povoados.

Ao longo do Capítulo 7 pôde-se mostrar como ocorreu o desenvolvimento urbano na praias de

Esmoriz e Cortegaça e percebeu-se que as opções tomadas foram sempre de protecção aos

povoados. Contudo, apesar dos instrumentos e estratégias apresentadas para a faixa costeira o

desenvolvimento urbano não parou. Desta forma, hoje tem-se mais elementos expostos aos riscos de

Page 91: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  79  

erosão e galgamentos costeiros o que obriga a uma abordagem ou resposta diferente do que a que

foi feita anteriormente.

Certo é que qualquer uma das opções tomadas terá de ser sempre em consideração a três vectores

bastante importantes, o social, económico e político. No vector social deve-se olhar às questões de

segurança da população, minimizando vulnerabilidade a que estão sujeitas, mas também evitar a

quebra de laços culturais e a relação com o território e vizinhança. O vector económico, não o deveria

ser mas, é o principal elemento desta análise pois sem dinheiro não se consegue construir ou

modificar nada, ainda para mais numa altura de crise económica que se tem vindo a prolongar, obras

que não sejam sustentáveis ou que possam vir a ser rentabilizadas, fomentando o crescimento

económico e o emprego, dificilmente são viáveis. Os vectores políticos são talvez os mais difíceis de

gerir, pois as políticas que se definem não podem ser alteradas constantemente, devendo-se basear

numa estratégia a longo prazo, e isso leva a que se mantenha um compromisso relacionado com as

decisões tomadas. São processos que devem ser conduzidos com inteligência, com opções iguais

para casos semelhantes não podendo haver um peso e duas medidas quando se trata de casos

semelhantes, neste caso contempla-se estratégias regionais que possam diferir umas das outras na

abordagem a casos idênticos. Desta relação entre vectores deve-se optar pela opção que melhor

relaciona os três.

Como se disse, as questões políticas são importantes nas tomadas de decisão sobre o território.

Deste modo analisou-se as estratégias apresentadas ao nível da região centro, proposta de PROT-

Centro disponível na no sítio da internet da CCDRC, para o planeamento da orla costeira e verificou-

se que “Interdição”, “proibição”, “não permissão/autorização”, “condicionar” a construção, são as

palavras de ordem nos objectivos e intenções para a orla costeira. Isto denota a preocupação sobre

os problemas graves de erosão sentidos na maioria dos concelhos com orla costeira da região

Centro, o que tem obrigado a uma gestão delicada destes assuntos. Desta forma, é dito que em

espaços urbanos, as áreas ameaçadas por cheias, inundações e galgamentos marinhos devem ser

geridas como espaços abertos vocacionados para actividades ou estruturas de recreio, lazer ou de

valorização ecológica, restringindo, ao nível dos PMOT, a construção de novas edificações e interdita

a criação de novas áreas urbanas.

Ao nível da gestão do território, aplicação dos POOC, o objectivo para os aglomerados costeiros, na

qual se insere o caso em estudo de Esmoriz e Cortegaça, foi a protecção dos mesmos. Isso confirma-

se pelo o que se encontra expresso na alínea g), do número 2 do artigo 2.º do regulamento do POOC

Ovar – Marinha Grande (20 de Outubro de 2000) e que à data ainda se encontra em vigor; pretende-

se manter e valorizar o actual tipo de povoamento (nucleado), promovendo a sua expansão para o

interior em forma de cunha.

Contudo, os encargos financeiros demasiado elevados para a manutenção dos povoados demasiado

elevados têm trazido à discussão a programação da retirada da população das zonas mais

vulneráveis e expostas ao avanço do mar. Essa situação encontra-se prevista no mesmo

regulamento que se apresentou, sendo que nos artigos 49.º e 50.º, para a área em análise, são

Page 92: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  80  

referidos um conjunto de indicadores que limitam a edificação e sugerem a demolição de edifícios,

que serão, como já foi dito, alvo de processos de realojamento.

Com estas informações presentes, foi importante obter a posição do município de Ovar, face às

propostas definidas pelos planos de ordem superior, relativamente aos casos das praias de Esmoriz e

Cortegaça. Deste modo realizou-se uma entrevista ao vereador Dr. José Américo Pinto da Câmara

Municipal de Ovar, responsável pelas áreas do planeamento, protecção civil, gestão urbanística e

obras municipais à data da entrevista (29 de Abril 2013), com o intuito de perceber as intenções do

município para aquele sector da costa, pretendendo-se também obter um conhecimento mais

aprofundado da realidade existente no local.

Foi assim pedido para fazer uma perspectiva do que se pretende para as frentes de mar de Esmoriz e

Cortegaça, referindo as principais forças e fraquezas desse locais:

- Resposta (R): Nesse sentido, pretende-se uma aposta contínua no turismo, esta é

inclusive a principal estratégia do município, aproveitando as potencialidades do turismo de

natureza e de sol e mar. Desta forma mantem-se a intenção de se manter essas frentes, não

apostando no crescimento mas sim na requalificação e valorização das construções

existentes. Contudo, é um território bastante exposto aos riscos costeiros e em que a

capacidade de atracção turística é sazonal, havendo muitas habitações fechadas durante o

Inverno.

Identificado o principal risco, quais os elementos mais vulneráveis:

- (R): As questões relacionadas com os riscos de erosão costeira são a maior e principal

ameaça não só daquelas frentes urbanas mas também do concelho, realçando que a cada

Inverno que passa se está a perder território e património natural e ambiental. Como

elementos mais vulneráveis destaca-se assim nas frentes de mar o “Bairros dos Pescadores”,

o povoado de Cortegaça e zona florestal. As primeiras, pela sua distancia entre o mar e as

construções, já a área florestal é uma zona com cotas bastante reduzidas, muitas delas ao

nível do mar, e não está a ser protegida, o que permite a invasão rápida pelo mar, por outro

lado permite a destruição das florestas.

Abordando as questões de planeamento do local, procurou-se saber de que forma tinha sido

conduzido o processo de urbanização dos locais:

- (R): Não se pode dizer que tenha sido feito da melhor forma, não é também justo a esta

distancia temporal fazer juízos de valor sobre as opções tomadas, visto os instrumentos de

planeamento serem posteriores ao inicio da urbanização, a forma simplista em quadrícula

dos povoados formando quarteirões demonstra a falta de planeamento mais rigoroso,

optando-se por um “plano” mais fácil de aplicar . O primeiro plano municipal surge apenas em

1994, não tendo experienciado em funções autárquicas a gestão municipal antes da

existência do PDM, e só aí foram apresentadas as classes de uso de solo e os índices de

edificabilidade, o que permitiu gerir o território de outra forma. Contudo, apesar da falta de

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  81  

planos é da opinião que o crescimento, principalmente em Cortegaça, foi feito de forma

harmoniosa (moradias de rés-do-chão e 1º andar).

O PDM, sendo bastante posterior ao início da urbanização dos povoados costeiros de Esmoriz e

Cortegaça, foi uma oportunidade perdida para se conter a expansão urbana e corrigir os erros de

planeamento feitos ao longo do tempo:

- (R): Os PDM não foram criados com o objectivo de corrigir os erros cometidos no

passados, pelo menos não tinham essa intensão, mas sim para que se definisse uma

estratégia de desenvolvimento para o município. Nesse contexto, as intenções passaram

sempre pela aposta no desenvolvimento do turismo, aproveitando as potencialidades ao nível

das praias, da barrinha de Esmoriz, da Ria e da mata e nesse sentido tem que se defender

as potencialidades que esse território oferece.

Procurou-se obter informações relativamente à forma como os privados obtiveram a posse de

terrenos nas praias e se era possível confirmar a ilegalidade da construção do “Bairro dos

Pescadores”:

- (R): Sobre o bairro, optou por tirar o conceito de “bairro ser dos pescadores” pois poucos

são os que realmente fazem da sua actividade económica a pesca, tem que se afirmar que

houve uma ocupação ilegal e abusiva de terrenos públicos, não em todos os casos mas na

maioria a construção é clandestina. Esta situação é claramente a mais preocupante no

território costeiro do município, onde as pessoas põem a sua vida em risco ao habitarem

naquele local. Isto deve-se muito ao ter-se deixado o bairro consolidar, pois passaram muitos

anos sem se tomarem medidas para resolver esses problemas e que actualmente é um

problema social. Nesse sentido, por imposição do POOC, e por questões de segurança da

própria população, é intenção do município a demolição da 1ª linha de habitações do bairro,

estando em curso o projecto para construção de 30 habitações sociais de modo a realojar as

pessoas das habitações demolidas.

Relativamente à aquisição de terrenos, tem memória por histórias contadas por antepassados, que

foram adquiridos por um conjunto de homens que se reuniram para a compra daquela área, à época

areais extensos sendo que a delimitação das áreas foi feita de forma tão aleatória que por brincadeira

se dizia que a delimitação dos terrenos foi feita a atirar pedras o mais longe possível.

Tendo como cenário certo um avanço do mar sobre o território do município, qual é a estratégia do

Câmara Municipal de Ovar para o futuro da orla costeira, na qual se inserem os povoados das praias

de Esmoriz e Cortegaça e se existe a perspectiva de retirada:

- (R): A Câmara Municipal de Ovar fará sempre os possíveis para preservar o território.

Entendemos o conceito de defesa de costa literalmente e não apenas com o intuito da defesa

das urbanizações situadas na costa. Existem vários factores que nos levam a querer manter

a actual linha de costa, desde de logo pela existência de um planeamento estratégico no qual

se define como motor de desenvolvimento um aproveitamento turístico e de valorização dos

recursos naturais. Noutro prisma tem-se preocupações para montante da própria linha de

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  82  

costa, mas que acabam por estar relacionadas. É espectável que no futuro a freguesia de

Ovar venha a ter vários problemas com a água, problemas hidrológicos, dadas as

características planas da sua orografia. Na eventualidade de o mar se ligar à ria, pode trazer

consequências graves ao nível das inundações dos aglomerados em torno da ria, assim

como a salinização das áreas de cultivo.

É também do conhecimento da administração que os custos das operações de defesa de costa são

bastante elevadas, mas nesse sentido cabe ao município arranjar formas de potenciar o território,

trazendo sustentabilidade ao investimento feito na defesa. Se olharmos ao exemplo da Holanda, que

gasta cerca de mil milhões para a manutenção dos diques, tiveram que tornar essas operações

sustentáveis de forma a manter o seu território.

Se não houver por parte da administração central uma defesa integrada, a nível da região e do país,

uma constante monitorização da costa, se não for dada como prioritária a intervenção nesta costa,

que é uma das mais fragilizadas a nível europeu, é bem provável que tenha de ocorrer retirada das

populações costeiras.

Com base nas informações recolhidas na entrevista que se acabou de apresentar e conjugando com

o futuro desenvolvimento da condições naturais no ambiente litoral da costa oeste portuguesa, pode-

se dizer que o futuro promete ser difícil para os aglomerados urbanos das praias de Esmoriz e

Cortegaça.

Por parte do município, que promete tudo fazer para a defesa da costa, espera-se que continue a

apostar na valorização daquele sector da costa mantendo e protegendo o território. Isso deve-se não

só à aposta estratégica no turismo como motor de desenvolvimento económico mas também pela

necessidade de proteger as zonas húmidas do território municipal. Desta forma pretende-se uma

gestão integrada à escala nacional e regional da faixa costeira e uma monitorização constante e mais

cuidadosa da costa e das obras de defesa costeira.

Contudo e apesar dos esforços para defender a costa, existem condicionalismos de ordem

económica que podem impedir um forte investimento nas intervenções necessárias. A impossibilidade

da administração central poder efectuar determinados esforços financeiros, assim como a

sustentabilidade do investimento recair apenas sobre o turismo, actividade essa que na área de

intervenção é sazonal, durando cerca de dois meses, está sempre dependente de várias

condicionantes e de uma forte concorrência de outros destinos, o que nem sempre pode garantir o

retorno esperado, pode levar à necessidade de outro tipo de estratégia.

Com o agravar da erosão costeira devido ao enfraquecimento das fontes aluvionares, a influência das

alterações climáticas, com o aumento do nível médio do mar e a existência de eventos atmosféricos

extremos mais frequentes e mais intensos, contribuindo para um aumento progressivo da ocorrência

de galgamentos marinhos, essa estratégia pode passar pela retirada dos povoados. Desta forma,

caso falhe ou haja a impossibilidade do investimento económico necessário à manutenção da linha

de costa, ganha forma esse cenário que pode vir a trazer efeitos secundários, com a inundação das

zonas húmidas, adversos ao município de Ovar.

Page 95: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  83  

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste ponto, depois das análises feitas aos elementos recolhidos e aos dados obtidos, serão

apresentadas as conclusões do estudo efectuado. Desta forma é relevante saber se os objectivos

propostos foram atingidos, assim como explicar que elementos estiveram na base da ocupação e

evolução deste sector da costa do litoral da região Centro de Portugal, recorde-se que essa era a

meta principal desta dissertação.

Deste modo, procurou-se esclarecer e clarificar da melhor forma possível a forma como se procedeu

à ocupação do território costeiro na área de estudo, não fazendo juízos de valor às opções tomadas

no passado mas com a intenção de perceber o que motivou esses comportamentos. Foi assim um

exercício de reflexão sobre a problemática da erosão costeira e um alerta para uma situação social,

política e económica bastante grave.

As questões sobre a habitabilidade dos povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça foram um ponto

de partida para perceber a ocupação costeira. Pela experiencia e conhecimento sobre o local e

apoiado também em elementos históricos criou-se uma ideia, baseada no próprio conceito, dos

elementos que influenciavam a sazonalidade dos locais, não oferecendo desta forma condições

óptimas de habitabilidade.

Desde a fundação dos povoados costeiros de Esmoriz e Cortegaça que a sua ocupação era feita de

forma sazonal. A atracção deste local para ocupação permanente deste sector da costa era bastante

reduzida, tendo sido a exploração piscatória o primeiro impulsionador dessa ocupação. Ainda assim,

devido às condições climáticas pouco aprazíveis, chuva, frio e ventos fortes, durante o inverno essa

actividade era apenas feita nos meses de verão, altura em que o mar estava mais calmo.

A sazonalidade da ocupação destes aglomerados estendeu-se aos dias de hoje, ocorrendo alteração

no motor de desenvolvimento e atractividade do local em estudo, actualmente assente no turismo

balnear. Outra grande alteração entre a ocupação anterior e actual prende-se com a arquitectura dos

edifícios, sendo que na primeira havia adaptação das construções às características arenosas do

local. Assim, o estilo de construção dos palheiros permitia a sua deslocação para zonas afastadas do

mar e para o topo das dunas, de modo a protegerem-se das investidas do mar, mostrando desde logo

o conhecimento e o respeito pelas dinâmicas marinhas já nessa altura.

Nesse sentido, é de difícil compreensão os motivos que levaram a um planeamento que permitiu a

consolidação dos povoados costeiros numa fase em que já se registavam taxas de recuo da linha de

costa bastante assinaláveis e já se tinha conhecimento científico suficiente para prever os problemas

que o avanço do mar poderiam significar naquele sector da costa. Contudo, antes de se abordar as

questões do planeamento é relevante referir o aparecimento do “Bairro dos Pescadores”.

É impossível falar do crescimento urbano nas praias de Esmoriz e Cortegaça sem referir o “Bairro dos

Pescadores”, isto porque até à altura em que esse bairro começa a crescer, a ocupação naquele

sector da costa estava contida em torno das duas vias de acesso à praia. A sua origem deveu-se

essencialmente ao “clima político” que se viveu naquela época da história de Portugal e aos

problemas de habitação aos quais o não se conseguiu dar resposta pela via legal.

Page 96: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  84  

Desta forma, crescem sobre o local onde se encontravam antigos palheiros, do tempo dos primeiros

povoados de pescadores, várias construções clandestinas. Eram assim construções à margem da lei,

apesar de em muitos casos as pessoas terem adquirido o terreno onde construíram, com condições

bastante precárias mas que serviu para colmatar os problemas da falta de alojamento. Assim, pode-

se dizer que a necessidade se sobrepôs a ter condições de melhor habitabilidade do espaço.

Quando surgem os primeiros instrumentos de gestão do território no início da década de 90 e se dá

maior atenção ao planeamento da orla costeira, já a frente de mar dos dois povoados se encontrava

com inúmeras habitações no bairro e no final das duas vias que efectuam a ligação entre os

povoados interiores e os da praia de Esmoriz e Cortegaça. É também por essa altura que começam a

agravar-se os problemas de erosão costeira pondo em risco toda essa frente de mar.

Ao mesmo tempo que estão a ocorrer estes acontecimentos surgem os principais planos de

ordenamento do território para aqueles locais. Ao nível dos PEOT, é apresentado o POOC Ovar-

Marinha Grande em 1993, e ao nível dos PMOT é aprovado em 1994 o PDM de Ovar. O POOC teve

uma incidência na regulamentação do domínio público marítimo, sendo muito direccionado para a

criação de planos de praia, tendo ficado para o PDM o objectivo de regulamentar estas áreas ao nível

das características e índices de construção e edificação.

Mais do que regulamentar o território, a política de ordenamento do território e urbanismo deve ter a

capacidade de definir boas estratégias de desenvolvimento e os locais apropriados para cada tipo de

actividade do quotidiano das pessoas. É exigível que um documento deste tipo corresponda às

características do território, incluindo os cenários expectáveis, e que seja explícito ou explicado à

população em geral. Não sendo espectável que o cidadão comum, conheça as características de um

determinado local, não identificando num primeiro momento a que elementos possa estar exposto, é

importante que os técnicos responsáveis pela elaboração destes instrumentos consigam traduzir

todos os elementos relevantes do território à população.

Nesse aspecto, o PDM de Ovar ao classificar e qualificar aquele território como urbano deu, apesar

do aumento da exposição aos riscos costeiros daqueles povoados, aptidão para se aumentar a

construção naqueles povoados, mesmo sem antes solucionarem as ilegalidades já presentes. Com

isto “abriu-se a porta” para a urbanização e consolidação dos povoados costeiros de Esmoriz e

Cortegaça. Posto isto, e sabendo da evolução que o povoado teve ao longo do tempo, um dos

princípios gerais da política de ordenamento do território e urbanismo não é cumprido, o princípio da

sustentabilidade.

A necessidade de se ter que realizar grandes investimentos em obras de protecção costeira, não só

para a protecção de pessoas e bens mas também por questões ambientais e defesa do território,

torna necessário rentabilizar esses investimentos de modo a tornar o território sustentável. Contudo,

face a evolução dos povoados tem-se assistido a um decréscimo das actividades que geravam

emprego no local, começou por desaparecer o sector primário (pesca) e mais tarde com o sector

secundário a perder importância face a terciário, o que significa que se perdeu postos de trabalho na

área do comércio e restauração obrigando as pessoas a trabalhar fora daquele local.

Page 97: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  85  

Em suma, dos elementos que influenciam o desenvolvimento dos povoados, a habitabilidade e o

planeamento, destaca-se este último como o que teve uma maior contribuição ou um contributo

positivo, no sentido em que ocorreu crescimento. Ao longo dos anos em que não houve planeamento,

o desenvolvimento foi sendo moderado, sendo que a ocupação foi feita de forma sazonal, pela

necessidade de explorar as potencialidades locais e pelo oportunismo, primeiro com a pesca depois

com a “fuga” à fiscalização na zona do bairro, que os locais ofereciam. Ao longo desse período o

clima agressivo durante o Inverno e a falta de infraestruturas tornava o local pouco apetecível e com

pouca habitabilidade. Com a entrada do planeamento, deu-se um claro sinal afirmativo à ocupação

urbana, ocorrendo um crescimento no número de edifícios que acabam por consolidar os povoados.

Apesar de ao nível das infraestruturas os povoados terem melhorado, o tipo de clima que se manteve

e o aumento dos riscos costeiros não garantem um boa habitabilidade do local, o que leva a afirmar o

planeamento como o principal motivador do crescimento urbano daqueles locais.

O povoado necessitou do planeamento para se organizar na sua fase inicial, a sua matriz em

quarteirão definida em 1913 prolongou-se até à actualidade, contudo não teve capacidade de

regularizar e conter a ocupação clandestina nas frentes de mar de Esmoriz e Cortegaça, pois à altura

não havia qualquer instrumento. Com o aparecimento dos instrumentos de gestão territorial, como já

foi dito, deu-se a consolidação do povoado tendo ficado o caso das habitações clandestinas por

resolver.

Com estas informações se conclui a investigação que tem sido apresentada. Todavia, o tema da

erosão costeira nunca está concluído, existindo sempre questões por resolver, dada a dinâmica

destas zona e à necessidade de gerir e monitorizar estas zonas constantemente. Nesse sentido,

começa a ser importante pensar em alternativas à actual gestão. Será pertinente continuar a manter

os povoados? Ou já se justifica, em alguns casos a necessidade de retirada? A linha de costa poderá

atingir um limite máximo de recuo e estabilizar? Se isso acontecer, com o aumento do nível médio do

mar não poderá implicar inundações permanentes nas áreas junto à linha de costa? Tendo em conta

o investimento realizado no turismo balnear em vários locais em que as praias estão a desaparecer,

será relevante procurar novas formas de explorar este mercado? São estas algumas ideias que ficam

para objectivos futuros.

“Diante do mar, só uma construção transitória, uma barraca, é que fica bem.”

Raul Brandão, 1923

Page 98: Evolução de povoações costeiras - caso de estudo de Esmoriz e Cortegaça

 

  86  

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