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Página 1 de 17 EXCELENTÍSSIMA SENHORA PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – PGR Representante: Sociedade Civil Organizada do Estado do Tocantins Representado: Tribunal de Contas do Estado do Tocantins (legitimidade passiva reflexa 1 art. 6º c/c art. 10º, da Lei Federal nº 9868/99) Objeto: Representação para fins de aferição sobre viabilidade jurídica, objetivando promover a deflagração de Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI A CORRUPÇÃO NO BRASIL É PARTE DE UM PACTO OLIGÁRQUICO, celebrado entre boa parte da classe política, boa parte da classe empresarial e BOA PARTE DA BUROCRACIA ESTATAL, UM PACTO DE SAQUE AO ESTADO BRASILEIRO, de desvio de dinheiro. E agora há a reação oligárquica ao enfrentamento dessa corrupção. E ESTA GENTE TEM ALIADOS EM TODA PARTE: NOS ALTOS ESCALÕES DOS PODERES DA REPÚBLICA, NA IMPRENSA E ATÉ ONDE MENOS SE PODERIA ESPERAR . ( Luís Roberto Barroso , Ministro do Supremo Tribunal Federal 2 ). A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA DO ESTADO DO TOCANTINS, com espeque no art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a” c/c art. 103, inciso VI, na forma do art. 129, inciso IV, todos da Constituição da República Federativa do Brasil/1988, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, valendo-se ainda das disposições elencadas no art. 6º, inciso I, c/c art. 45, parágrafo único, inciso I, ambos da Lei Complementar Federal nº 75/93 na forma do art. 2º, inciso VI, da Lei Federal nº 9.868, de 10 de novembro de 1999, apresentar REPRESENTAÇÃO OBJETIVANDO A DEFLAGRAÇÃO DE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – ADI, COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR, EM FACE DOS ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS ADIANTE DECLINADOS Mediante os argumentos fáticos e jurídicos a seguir deduzidos. 1 – DO ESCOPO DA REPRESENTAÇÃO A presente REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVA , tem por objeto, provocar a PGR—PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , objetivando aferir sobre a viabilidade jurídica de se deflagrar Ação Direta de 1(...) “Tampouco podem ser consideradas partes passivas os responsáveis pela elaboração do ato questionado, haja vista que as ações diretas não são propostas contra alguém ou determinado órgão, mas sim em face de uma lei ou ato normativo supostamente considerado inconstitucional ”. Constituição Federal por Júnior, Dyrlei da Cunha Júnior e Novelino, Marcelo Novelino– 2ª ed. rev. ampliada e atualizada: Saraiva, 2011. PG. 564. 2 https://veja.abril.com.br/blog/noblat/frase-do-dia-45/

EXCELENTÍSSIMA SENHORA PROCURADORA-GERAL DA … · previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição da República Federativa do Brasil; 3 – ATO Nº 20, de 19 de janeiro de 2016,

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA PROCURADORA-GERAL DAREPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – PGR

Representante: Sociedade Civil Organizada do Estado do TocantinsRepresentado: Tribunal de Contas do Estado do Tocantins(legitimidade passiva reflexa1 art. 6º c/c art. 10º, da Lei Federal nº 9868/99)Objeto: Representação para fins de aferição sobre viabilidade jurídica,objetivando promover a deflagração de Ação Direta deInconstitucionalidade – ADI

A CORRUPÇÃO NO BRASIL É PARTE DE UM PACTOOLIGÁRQUICO, celebrado entre boa parte da classe política,boa parte da classe empresarial e BOA PARTE DA BUROCRACIAESTATAL, UM PACTO DE SAQUE AO ESTADO BRASILEIRO, dedesvio de dinheiro. E agora há a reação oligárquica aoenfrentamento dessa corrupção. E ESTA GENTE TEM ALIADOS EMTODA PARTE: NOS ALTOS ESCALÕES DOS PODERES DAREPÚBLICA, NA IMPRENSA E ATÉ ONDE MENOS SE PODERIAESPERAR. (Luís Roberto Barroso, Ministro do Supremo TribunalFederal2).

A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA DO ESTADO DOTOCANTINS, com espeque no art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a” c/c art. 103,inciso VI, na forma do art. 129, inciso IV, todos da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil/1988, vem, respeitosamente, à presença de VossaExcelência, valendo-se ainda das disposições elencadas no art. 6º, inciso I,c/c art. 45, parágrafo único, inciso I, ambos da Lei Complementar Federal nº75/93 na forma do art. 2º, inciso VI, da Lei Federal nº 9.868, de 10 denovembro de 1999, apresentar

REPRESENTAÇÃO OBJETIVANDO A DEFLAGRAÇÃO DE AÇÃO DIRETADE INCONSTITUCIONALIDADE – ADI, COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR,

EM FACE DOS ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS ADIANTE DECLINADOS

Mediante os argumentos fáticos e jurídicos a seguir deduzidos.

1 – DO ESCOPO DA REPRESENTAÇÃO

A presente REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVA , tempor objeto, provocar a PGR—PROCURADORIA-GERAL DAREPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , objetivando aferir sobre aviabilidade jurídica de se defl agrar Ação Direta de

1(...) “Tampouco podem ser consideradas partes passivas os responsáveis pela elaboraçãodo ato questionado, haja vista que as ações diretas não são propostas contraalguém ou determinado órgão, mas sim em face de uma lei ou ato normativosupostamente considerado inconstitucional”. Constituição Federal por Júnior, Dyrlei daCunha Júnior e Novelino, Marcelo Novelino– 2ª ed. rev. ampliada e atualizada: Saraiva, 2011.PG. 564.2 https://veja.abril.com.br/blog/noblat/frase-do-dia-45/

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Inconstitucionalidade , impugnando-se os atos normativosoriundos do Tribunal de Contas do Tocantins, adiante declinados:

1 – RESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO,publicado à pg. 34 da edição nº 850 do Boletim Oficial doTCE/TO, veiculada em data de 27 de dezembro de 2012,dispondo sobre o pagamento de auxílio-moradia, aser pago em pecúnia, correspondente a 10% (dezpor cento) do subsídio mensal do Auditor, substitutode Conselheiro, para Conselheiros, Auditores e membrosdo Ministério Público Especial do Tribunal de Contas doEstado do Tocantins, violando, em tese, o princípio dareserva legal, previsto no caput do art. 37 na forma doseu inciso X, ambos da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil, pois a remuneração dosservidores públicos e o subsídio de que trata o § 4ºdo art. 39 somente poderão ser fixados oualterados por lei específica, o que não se verificou nocaso noticiado, assim como o instituto do subsídio,previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição Federal;

2 – ATO Nº 19, de 19 de janeiro de 2016, publicado àpg. 01 da edição nº 1.545 do Boletim Oficial do TCE/TO,veiculada em data de 19 de janeiro de 2016, dispondosobre a concessão aos Conselheiros, ConselheirosSubstitutos e aos Procuradores de Contas, a partirde dezembro de 2012, alcançando os 60 (sessenta)meses anteriores ao início da instituição daRESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO, publicado à pg.34 da edição nº 850 do Boletim Oficial do TCE/TO,veiculada em data de 27 de dezembro de 2012,assegurando o pagamento dos efeitos financeirosoriundos da regulamentação do auxílio-moradia,violando, em tese, o princípio da reserva legal,previsto no caput do art. 37 na forma do seu inciso X,ambos da Constituição da República Federativa do Brasil,pois a remuneração dos servidores públicos e o subsídiode que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixadosou alterados por lei específica, o que não se verificou nocaso noticiado, assim como o instituto do subsídio,previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil;

3 – ATO Nº 20, de 19 de janeiro de 2016, publicado àpg. 02 da edição nº 1.545 do Boletim Oficial do TCE/TO,veiculada em data de 19 de janeiro de 2016, dispondosobre a concessão ao Conselheiro Manoel Pires dosSantos, a partir de dezembro de 2012, alcançandoos 60 (sessenta) meses anteriores, o pagamento do

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retroativo dos efeitos financeiros oriundos daregulamentação do auxílio-moradia, violando, emtese, o princípio da reserva legal, previsto no caput doart. 37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituiçãoda República Federativa do Brasil, pois a remuneração dosservidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art.39 somente poderão ser fixados ou alterados por leiespecífica, o que não se verificou no caso noticiado,assim como o instituto do subsídio, previsto no § 4º, doart. 39 da Constituição Federal.

2 – DA CONTEXTUALIZAÇÃO FÁTICA

Em data de 27 de dezembro de 2012, no apagar das luzesdaquele ano, de forma obscurantista e oportunista, foi editado peloPleno do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, a RESOLUÇÃO Nº862/2012-TCE/TO PLENO, publicada à pg. 34 da edição nº 850 doBoletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de 27 de dezembro de2012, dispondo sobre o pagamento do famigerado auxílio-moradia, aser dispendido em pecúnia, correspondente a 10% (dez por cento)do subsídio mensal do Auditor, substituto de Conselheiro, paraConselheiros, Auditores e membros do Ministério Público Especialdo Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, violando, em tese, oprincípio da reserva legal, previsto no caput do art. 37 na forma do seuinciso X, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil, pois aremuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art.39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, o que nãose verificou no caso noticiado, além de afrontar o instituto do subsídio,previsto no § 4º, do art. 39, da Constituição Federal.

E o despautério não se encerrou, pois, em data de 19 dejaneiro de 2016, foi editado o ATO Nº 19, de 19 de janeiro de 2016,publicada à pg. 01 da edição nº 1.545 do Boletim Oficial do TCE/TO,veiculada em data de 19 de janeiro de 2016, dispondo sobre a concessãoaos Conselheiros, Conselheiros Substitutos e aos Procuradores deContas, a partir de dezembro de 2012, alcançando os 60 (sessenta)meses anteriores, o pagamento do retroativo dos efeitos financeirosoriundos da regulamentação do auxílio-moradia, violando, em tese, oprincípio da reserva legal, previsto no caput do art. 37 na forma do seuinciso X, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil, pois aremuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art.39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, o que nãose verificou no caso noticiado, assim como o instituto do subsídio, previstono § 4º, do art. 39, da Constituição Federal.

Para encerrar o trem da alegria referente ao MEU AUXÍLIO,MINHA VIDA, em data de 19 de janeiro de 2016, foi editado o ATO Nº 20,de 19 de janeiro de 2016, publicado à pg. 02 da edição nº 1.545 doBoletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de 19 de janeiro de 2016,

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dispondo sobre a concessão ao Conselheiro Manoel Pires dosSantos, a partir de dezembro de 2012, alcançando os 60 (sessenta)meses anteriores, o pagamento retroativo3 dos efeitos financeirosoriundos da regulamentação do auxílio-moradia, violando, em tese, oprincípio da reserva legal, previsto no caput do art. 37 na forma do seuinciso X, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil, pois aremuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art.39, somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, o que nãose verificou no caso noticiado, assim como o instituto do subsídio, previstono § 4º, do art. 39 da Constituição Federal.

Segundo matéria jornalística veiculada no Jornal o Estadão4,veiculada em data de 22/01/2016, o pagamento, operando efeitosretroativos à 27 de dezembro de 2012, do auxílio-moradia, no âmbito doTribunal de Contas do Tocantins, instituído pela RESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO, publicada à pg. 34 da edição nº 850 do BoletimOficial do TCE/TO, veiculada em data de 27 de dezembro de 2012,custará aos cofres púbicos o importe vultoso de R$ 6.800.000,00 (seismilhões e oitocentos mil reais), a ser dispendido em 47 vezes de R$5.588,60 (cinco mil, quinhentos e oitenta e oito reais e sessenta centavos),além do pagamento regular do benefício, atualmente no importe de R$4.377,73 (quatro mil, trezentos e setenta e sete reais e setenta e trêscentavos), denotando a lesividade ao erário.

A instituição do malfadado Auxílio-Moradia no âmbito do Tribunalde Contas do Estado do Tocantins, por intermédio da RESOLUÇÃO Nº862/2012-TCE/TO PLENO, publicada à pg. 34 da edição nº 850 doBoletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de 27 de dezembro de2012, violou, em tese, o princípio da reserva legal, previsto no caput doart. 37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil, pois a remuneração dos servidores públicos e o subsídiode que trata o § 4º do art. 39, assim como benefícios funcionais desse jaez,somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, o que não severificou no caso noticiado, pois se valeram de Resolução, além deafrontar o instituto do subsídio, previsto no § 4º, do art. 39 da Constituiçãoda República Federativa do Brasil.

Por outro prisma, mesmo o Tocantins enfrentado um gravequadro de asfixia financeira, em que sequer consegue disponibilizarserviços essenciais, como saúde, educação e segurança pública, o Tribunalde Contas, valendo-se de Resolução, usurpando a Reserva de Lei,estabelecida pelo caput do art. 37 da Constituição da República Federativado Brasil, instituiu o malsinado Auxílio-Moradia, tendo um dispêndio vultoso,

3 http://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2016/01/tce-paga-r-68-milhoes-de-auxilio-moradia-retroativo-servidores.htmlhttps://politica.estadao.com.br/noticias/geral,tribunal-de-contas-e-ministerio-publico-do-to-ignoram-crise-e-pagam-auxilio-moradia,100000130844 https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,tribunal-de-contas-e-ministerio-publico-do-to-ignoram-crise-e-pagam-auxilio-moradia,10000013084

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pois, conforme matéria veiculada pelo Jornal do Tocantins5, às despesas coma benesse, consumiram entre os anos de 2015 até o mês de junho de2017, o estratosférico valor de R$ 13.777.156,42 (treze milhões,setecentos e setenta e sete mil, cento e cinquenta e seis reais e quarenta edois centavos), traduzindo-se em enorme gesto de desprezo pelo povotocantinense.

Essa situação, flagrantemente inconstitucional, no âmbito doTribunal de Contas do Estado do Tocantins, gerou ao erário estadual,somente no ano de 20176, em relação ao custeio do PAGAMENTO DOCENSURADO AUXÍLIO-MORADIA, o importe vultoso de R$1.300,000,00 (um milhão e trezentos mil reais), a despeito de toda situaçãode penúria financeira vivenciada por esta unidade federativa.

5https://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/noticias/politica/r-47-milh%C3%B5es-pagos-em-aux%C3%ADlio-moradia-1.1310832http://g1.globo.com/to/tocantins/videos/t/todos-os-videos/v/auxilio-moradia-para-conselheiros-do-tce-somam-mais-de-r15-milhoes/5240206/6 https://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/noticias/aux%C3%ADlio-moradia-acima-de-r-13-7-mi-1.1473014

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Diante desse contexto, em que o Tribunal de Contas do Estado doTocantins, instituiu o malfadado Auxílio-Moradia, por intermédio daRESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO, publicada à pg. 34 daedição nº 850 do Boletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de 27de dezembro de 2012, violando, em tese, o princípio da reserva legal,previsto no caput do art. 37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituiçãoda República Federativa do Brasil, é que a sociedade civil resolveu aportar-seno píer desta Procuradoria-Geral da República – PGR, com o escopo deprovocá-la a aferir sobre a viabilidade do exercício ao controle abstrato deconstitucionalidade dos dispositivos censurados, via STF.

3 – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

3.1 – DA POSSIBILIDADE DE SE EXERCER O CONTROLE DECONSTITUCIONALIDADE DE RESOLUÇÃO – PRECEDENTESDO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – STF

O Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, instituiu omalfadado Auxílio-Moradia, por intermédio da RESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO, publicada à pg. 34 da edição nº 850 do BoletimOficial do TCE/TO, veiculada em data de 27 de dezembro de 2012,violando, em tese, o princípio da reserva legal, previsto no caput do art.37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituição Federal.

Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, aResolução é, por sua vez, ato normativo primário e autônomo, o que permitea abertura da via concentrada de controle, mediante o manejo de AçãoDireta de Inconstitucionalidade. Nesse sentido, confira-se:

EMENTA - STF: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.RESOLUÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ QUEDISCIPLINA O EXERCÍCIO POR MAGISTRADOS DE CARGOS DE

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MAGISTÉRIO SUPERIOR. IMPOSSIBILIDADE. RESERVA DE LEICOMPLEMENTAR DE INICIATIVA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.PROCEDÊNCIA DA AÇÃO DIRETA. 1. Padece deinconstitucionalidade formal Resolução de Tribunal que, apretexto de disciplinar o exercício, por magistrados, de cargode magistério superior, disponha sobre matéria afeta à LeiOrgânica da Magistratura Nacional. 2. Ação direta julgadaprocedente. (ADI 3544, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, TribunalPleno, julgado em 30/06/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-174DIVULG 07-08-2017 PUBLIC 08-08-2017).

Sob esse prisma, é possível o exercício do controle deconstitucionalidade de Resolução, como no caso em discussão, por secuidar de ato normativo primário e autônomo, mediante o manejode Ação Direta de Inconstitucionalidade.

3.2. DA APLICABILIDADE DA TEORIA DAINCONSTITUCIONALIDADE POR ATRAÇÃO EARRASTAMENTO – PRECEDENTES DO STF

A teoria da inconstitucionalidade por atração, construídapelo Supremo Tribunal Federal7, ocorre quando há uma relação de de-pendência de certos preceitos com os que foram especificamenteimpugnados, de maneira que as normas declaradas inconstitucio-nais sirvam de fundamento de validade para aquelas que não per-tenciam ao objeto da ação.

No caso em discussão, acaso Vossa Excelência repute que osatos adiante declinados, não sejam considerados atos normativos primáriose autônomos, passíveis de serem impugnados mediante deflagração de AçãoDireta de Inconstitucionalidade, que seja aplicada a Teoria da Inconsti-tucionalidade por Atração, de forma que, em se declarando a inconstituci-onalidade material da RESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO, publica-do à pg. 34 da edição nº 850 do Boletim Oficial do TCE/TO, veiculada emdata de 27 de dezembro de 2012, dispondo sobre o pagamento de auxílio-moradia, que seja reconhecida a necessidade da declaração de inconstitucio-nalidade consequencial ou por arrastamento dos atos:

ATO Nº 19, de 19 de janeiro de 2016, publicado à pg. 01 daedição nº 1.545 do Boletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de19 de janeiro de 2016, dispondo sobre a concessão aosConselheiros, Conselheiros Substitutos e aos Procuradores deContas, a partir de dezembro de 2012, alcançando os 60(sessenta) meses anteriores ao início da instituição daRESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO, publicado à pg. 34 da ediçãonº 850 do Boletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de 27 dedezembro de 2012;

ATO Nº 20, de 19 de janeiro de 2016, publicado à pg. 02 daedição nº 1.545 do Boletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de19 de janeiro de 2016, dispondo sobre a concessão ao

7 (ADI 3645, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 31/05/2006, DJ 01-09-2006PP-00016 EMENT VOL-02245-02 PP-00371 RTJ VOL-00199-02 PP-00633 LEXSTF v. 28, n. 334, 2006)

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Conselheiro Manoel Pires dos Santos, a partir de dezembro de2012, alcançando os 60 (sessenta) meses anteriores, opagamento do retroativo dos efeitos financeiros oriundos daregulamentação do auxílio-moradia.

Sob essa nuance, torna-se possível, no caso vertente, a apli-cabilidade da Teoria da Inconstitucionalidade por Atração, conforme prece-dentes do Supremo Tribunal Federal8.

3.3. DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DOS ATOSNORMATIVOS IMPUGNADOS – PRECEDENTES DO STF

Veja-se que a inconstitucionalidade de uma norma ou atonormativo, de acordo com os ensinamentos solidificados na perfeita doutrinapátria, pode ocorrer tanto pela violação substancial de preceitos da LeiFundamental – inconstitucionalidade material ou nomoestática, quanta pelanão observância de aspectos técnicos no devido processo legislativo do qualderivou sua formação – inconstitucionalidade formal, orgânica ounomodinâmica9.

Respaldando esta tese, revelam-se valiosos os ensinamentos doMinistro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal – STF:

Costuma-se proceder à distinção entre inconstitucionalidade materiale formal, tendo em vista a origem do defeito que macula o atoquestionado. Os vícios formais afetam o ato normativo singularmenteconsiderado, independentemente de seu conteúdo, referindo-se,fundamentalmente, aos pressupostos e procedimentos relativos à suaformação. Os vícios materiais dizem respeito ao próprioconteúdo do ato, originando-se de um conflito com princípiosestabelecidos na Constituição.

Nessa toada de pensamento, segundo o magistério doconstitucionalista Uadi Lammêgo Bulos10, as normas derivadas, ao seremcriadas podem padecer da inconstitucionalidade material, que infringeo conteúdo da manifestação constituinte originária pelo desvio ouexcesso do poder de legislar.

Nesse caso, as consequências são danosas, porque ainconstitucionalidade repercute em toda a ordem jurídica, corrompendo asubstância das normas supremas do Estado.

Com efeito, um ato jurídico inconstitucional é aquele cujoconteúdo ou forma se contrapõe, de maneira expressa ou implícita, aoconteúdo do preceito constitucional, como o que ora combatemos.

Partindo-se dessa premissa jurídica, percebe-se que a

8(ADI 4707, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 30/06/2017,PROCESSO ELETRÔNICO DJe-195 DIVULG 30-08-2017 PUBLIC 31-08-2017).9http://ww3.lfg.com.br/artigo/20080604195014930_direito-constitucional_descubra-o-que-e-inconstitucionalidade-nomodinamica-e-inconstitucionalidade-nomoestatica.html10Bulos, UadiLammêgoBulos. – 7ª ed. rev. e atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012. PG. 266.

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RESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO, publicada à pg. 34 daedição nº 850 do Boletim Oficial do TCE/TO, veiculada em data de 27de dezembro de 2012, dispondo sobre o pagamento do famigeradoauxílio-moradia, a ser dispendido em pecúnia, correspondente a10% (dez por cento) do subsídio mensal do Auditor, substituto deConselheiro, para Conselheiros, Auditores e membros do MinistérioPúblico Especial do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, viola,em tese, o princípio da reserva legal, previsto no caput do art. 37 naforma do seu inciso X, ambos da Constituição da República Federativa doBrasil, pois a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que tratao § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por leiespecífica, o que não se verificou no caso noticiado, além de afrontar oinstituto do subsídio, previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição Federal.

Desse entendimento perfilha-se o Supremo Tribunal Federal:

EMENTA – STF: A Ç Ã O DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÕESDA CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL QUE DISPÕEM SO-BRE O REAJUSTE DA REMUNERAÇÃO DE SEUS SERVIDORES. RESERVADE LEI. I. PRELIMINAR. REVOGAÇÃO DE ATOS NORMATIVOS IMPUGNA-DOS APÓS A PROPOSITURA DA AÇÃO DIRETA. FRAUDE PROCESSUAL.CONTINUIDADE DO JULGAMENTO. Superveniência de Lei Distrital que convali-daria as resoluções atacadas. Sucessivas leis distritais que tentaram revogaros atos normativos impugnados. Posterior edição da Lei Distrital n° 4.342, de22 de junho de 2009, a qual instituiu novo Plano de Cargos, Carreira e Remu-neração dos servidores e revogou tacitamente as Resoluções 197/03, 201/03,202/03 e 204/03, por ter regulado inteiramente a matéria por elas tratadas, eexpressamente as Resoluções n°s 202/03 e 204/03. Fatos que não caracteri-zaram o prejuízo da ação. Quadro fático que sugere a intenção de burlar a ju-risdição constitucional da Corte. Configurada a fraude processual com a revo-gação dos atos normativos impugnados na ação direta, o curso procedimentale o julgamento final da ação não ficam prejudicados. Precedente: ADI n°3.232/TO, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ 3.10.2008. II. REMUNERAÇÃO DOS SERVI-DORES PÚBLICOS. PRINCÍPIO DA RESERVA DE LEI. A Emenda Constitucional19/98, com a alteração feita no art. 37, X, da Constituição, instituiu areserva legal para a fixação da remuneração dos servidores públicos.Exige-se, portanto, lei formal e específica. A Casa Legislativa ficaapenas com a iniciativa de lei. Precedentes: ADI-MC 3.369/DF, RelatorMin. Carlos Velloso, DJ 02.02.05; ADI-MC 2.075, Rel. Min. Celso de Mello, DJ27.06.2003. As resoluções da Câmara Distrital não constituem lei emsentido formal, de modo que vão de encontro ao disposto no textoconstitucional, padecendo, pois, de patente inconstitucionalidade,por violação aos artigos 37, X; 51, IV; e 52, XIII, da Constituição Fe-deral. III. A Ç Ã O DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDEN-TE. (ADI 3306, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em17/03/2011, DJe-108 DIVULG 06-06-2011 PUBLIC 07-06-2011).

Ademais, o § 4º do art. 39 da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil preleciona que, o membro de Poder, o detentor demandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais eMunicipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado emparcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécieremuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.(incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

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O Supremo Tribunal Federal, ao promover o julgamento daAção Direta de Inconstitucionalidade nº 4.587-GO, em caso análogo ao queora se retrata, consignou que o Texto Constitucional é expresso, no art. 39, §4º, ao vedar o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono,prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória aosubsídio percebido por agentes políticos. A propósito, confira-se oentendimento esposado pela Corte Constitucional:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 147, § 5º,DO REGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADODE GOIÁS. PAGAMENTO DE REMUNERAÇÃO AOSPARLAMENTARES EM RAZÃO DA CONVOCAÇÃO DE SESSÃOEXTRAORDINÁRIA. AFRONTA AOS ARTS. 39, § 4º, E 57, § 7º, DACONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE VEDAM O PAGAMENTO DE PARCELAINDENIZATÓRIA EM VIRTUDE DESSA CONVOCAÇÃO. AÇÃO JULGADAPROCEDENTE. I – O art. 57, § 7º, do Texto Constitucional veda opagamento de parcela indenizatória aos parlamentares emrazão de convocação extraordinária. Essa norma é dereprodução obrigatória pelos Estados-membros por força doart. 27, § 2º, da Carta Magna. II – A Constituição é expressa,no art. 39, § 4º, ao vedar o acréscimo de qualquergratificação, adicional, abono, prêmio, verba derepresentação ou outra espécie remuneratória ao subsídiopercebido pelos parlamentares. III–Ação direta julgadaprocedente. (ADI 4587, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,Tribunal Pleno, julgado em 22/05/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-117 DIVULG 17-06-2014 PUBLIC 18-06-2014).

Vale ressaltar que, a despeito da benesse impugnada tersido instituída como verba de caráter indenizatória, o STF, em casoanálogo, decidiu que, o benefício impugnado possui naturezaremuneratória, independentemente do ato que o instituiu ter lheatribuído caráter indenizatório. A propósito, confira-se:

EMENTA - STF: Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. Açãodireta de inconstitucionalidade estadual. Parâmetro de controle.Regime de subsídio. Verba de representação, 13º salário e terçoconstitucional de férias. 1. Tribunais de Justiça podem exercer controleabstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando comoparâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate denormas de reprodução obrigatória pelos Estados. Precedentes. 2. Oregime de subsídio é incompatível com outras parcelasremuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso dodécimo terceiro salário e do terço constitucional de férias, pagos atodos os trabalhadores e servidores com periodicidade anual. 3. A“verba de representação” impugnada tem naturezaremuneratória, independentemente de a lei municipalatribuir-lhe nominalmente natureza indenizatória. Comoconsequência, não é compatível com o regime constitucionalde subsídio. 4. Recurso parcialmente provido. (RE 650898,Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 01/02/2017,ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-187DIVULG 23-08-2017 PUBLIC 24-08-2017).

Nessa mesma linha de intelecção, o Tribunal de Justiça doEstado de São Paulo, ao julgar o Agravo de Instrumento nº 0036191-

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93.2013.8.26.0000 e a Apelação nº 0004165-77.2013.8.26.005311,decorrente de Ação Civil Pública manejada pelo Ministério Público Paulistaem face da Assembleia Legislativa daquela Unidade Federativa,impugnando a concessão do auxílio-moradia, suspendeu aconcessão do referido benefício, por reputar ser inconstitucional,violando o § 4º, do art. 39, da Constituição Federal:

EMENTA – TJSP - AGRAVO DE INSTRUMENTO - Decisão interlocutóriaque suspendeu o pagamento de Auxílio-Moradia aparlamentares, vantagem esta prevista em lei estadual.Declaração de inconstitucionalidade, incidenter tantum, em sede deação civil pública, que figura como causa de pedir, e não como pedidoAdmissibilidade, segundo parte da doutrina - Há entendimento deque só podem conviver subsídio e vantagem de naturezaindenizatória no caso de se tratar de verba destinada acompensar despesas de mudança do servidor designado paraservir em local fora da sede - Decisão agravada que busca, adcautelam, assegurar a aplicação do princípio da moralidadepública, inscrito na regra constitucional. Recurso improvido.Agravo de Instrumento 0036191-93.2013.8.26.0000 Comarca de SãoPaulo; Agravante: Mesa e Assembleia Legislativa do Estado de SãoPaulo; Agravado: Ministério Público do Estado de São Paulo. Relator,LUIZ SÉRGIO FERNANDES DE SOUZA.

Outro aspecto da RESOLUÇÃO Nº 862/2012-TCE/TO PLENO,publicada à pg. 34 da edição nº 850 do Boletim Oficial do TCE/TO, veiculadaem data de 27 de dezembro de 2012, assegurando o recebimento de ajudade custo para moradia, denominada de auxílio-moradia, a ser pago empecúnia, correspondente a 10% (dez por cento) do subsídio mensal doAuditor, substituto de Conselheiro, para Conselheiros, Auditores e membrosdo Ministério Público Especial do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins,que merece ser impugnado, se refere ao seu art. 2º, por permitir, de formaindiscriminada, sem exigir qualquer comprovação dos gastos eprestação de contas pelo parlamentar beneficiado, acaba, por destoar,inclusive, do parâmetro estabelecido pelo art. 2º, parágrafo único do ATO DAMESA Nº 104/8812, de autoria da Câmara Federal, que assim preconiza:

Art. 2º, Parágrafo único. A comprovação da despesa será feita medianteapresentação da nota fiscal emitida pelo estabelecimento hoteleiroprestador dos serviços, referente à diária do hotel ou através derecibo emitido pelo locador do imóvel objeto do contrato de locação.(Artigo com redação dada pelo Ato da Mesa nº 34, de 31/3/1992 etransformado em § 1º pelo Ato da Mesa nº 41, de 30/6/1992).

O renomado doutrinador administrativista José dos SantosCarvalho Filho, em artigo publicado em data de 02 de janeiro de 2017, sob o

11 (TJSP; Apelação 0004165-77.2013.8.26.0053; Relator (a): Luiz Sergio Fernandes de Souza; ÓrgãoJulgador: 7ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 13ª Vara de FazendaPública; Data do Julgamento: 28/04/2014; Data de Registro: 29/04/2014)12http://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/diretorias/diretoria-geral/estrutura-1/deapa/portal-da-posse/atos-da-mesa-auxilio-moradia

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título “Auxílio-moradia13: Legitimidade e dissimulação”, retratou, de formacirúrgica, sob o desvirtuamento do instituto, como no caso vertente:

AUXÍLIO-MORADIA: LEGITIMIDADE E DISSIMULAÇÃO

1.Além da endemia de antiética que abate o país empraticamente todos os setores, a sociedade ainda tem quedefrontar-se com algumas situações inquinadas de flagrantefavorecimento ou imoralidade.Uma dessas situações diz respeito à vantagem pecuniáriaconhecida como “auxílio-moradia”, que beneficia algumascategorias de agentes públicos.[…] 6.Um desses casos é a vantagem denominada de “auxílio-moradia”. A inspiração da vantagem foi a de proporcionar aoservidor, em situações especiais, a restituição, total ouparcial, de sua despesa com moradia. Significa, pois, que talvantagem nasceu com a natureza indenizatória, pois que visa aindenizar o servidor pelo dispêndio com sua moradia.7.A Lei nº 8.112/1990, já citada, é bem clara quanto aoobjetivo do legislador relativamente a esse benefício. Assimdispõe a lei:“Art. 6º-A. O auxílio-moradia consiste no ressarcimento dasdespesas comprovadamente realizadas pelo servidor comaluguel de moradia ou com meio de hospedagemadministrado por empresa hoteleira, no prazo de 1 (um) mêsapós a comprovação da despesa pelo servidor.”8.Ao ler o texto, não se precisa fazer nenhum grande esforçointerpretativo para concluir que a vantagem pecuniária tem notórianatureza indenizatória. Para fazer jus a ela, o servidor há defazer a despesa e comprová-la junto ao órgão a que pertencepara fins de reembolso.9.Além disso, a disciplina da vantagem encontra limites restritos paraa aquisição do direito de percebê-la. De fato, a lei impõe uma série derequisitos, como, por exemplo, a inexistência de imóvel funcional, ouo uso deste por cônjuge ou companheiro, e, principalmente, nãoser o servidor proprietário ou promitente comprador deimóvel no local onde exerça suas funções. (3)Outros requisitos são ainda exigidos, mas citamos apenas essesporque revelam nitidamente que o legislador não pretendeu conferiramplitude à vantagem, incongruente com sua natureza e fins.10.A despeito do modelo inspirador do benefício, algumascategorias – usualmente as que constituem a elite dofuncionalismo – passaram a admitir que o auxílio-moradia sejapago de forma genérica, vale dizer, convertendo sua naturezaem vantagem remuneratória.Só para comprovar o equívoco e a distorção dessa linhainterpretativa, o auxílio-moradia é pago até mesmo aservidores que residem em imóvel próprio, sendo, portanto,isentos das despesas de locação imobiliária.11.O fato, aliás, não é órfão na conturbada literatura sobre arelação funcional estatutária. Já anotamos que, sedeterminada vantagem, seja qual for o seu rótulo, é destinadaindiscriminadamente a todos os servidores, ela representa, naverdade, uma forma dissimulada de remuneração, ainda querotulada para indicar indenização.[...] (4) - NOTAS EREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1) JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO

13http://genjuridico.com.br/2017/01/02/auxilio-moradia-legitimidade-e-dissimulacao/

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FILHO, Manual de direito administrativo, Gen/Atlas, 30ª ed., 2016, p.786. 2) MAURO ROBERTO GOMES DE MATTOS, Lei nº 8.112/1990Interpretada e Comentada, América Jurídica, 2005, p. 259. (3) Art. 60-B. (4) JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO, Manual cit., p. 788. (5)STF, AI 437.175, Min. Sepúlveda Pertence, j. 12.8.2003. (6) TJ-RJ, MS870/1998, Des. Sérgio Cavalieri, publ. DO 23.3.1999.

Partindo-se dessa premissa, há entendimento de que sópodem conviver subsídio e vantagem de natureza indenizatória nocaso de se tratar de verba destinada a compensar despesas de mu-dança do servidor designado para servir em local fora da sede, parase assegurar a aplicação dos princípios da moralidade pública e im-pessoalidade, inscritos na regra constitucional com topografia no caput doart. 37, da Carta Magna, além de ter que ser instituído, alterado e fixado, so-mente por lei específica, o que não se verificou in casu, afrontando, ainda,o instituto do subsídio, previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição Federal,padecendo de inconstitucionalidade material.

3.4. DA POSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO DE VERBAS PÚ-BLICAS PERCEBIDAS DE FORMA MANIFESTAMENTE IN-CONSTITUCIONAL COMO IN CASU – EQUIVALÊNCIA À PER-CEPÇÃO DE MÁ-FÉ - PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNALFEDERAL14 – AO – AÇÃO ORIGINÁRIA Nº 506/AC

A jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal, mani-festa-se no sentido de que às quantias recebidas como verba alimentar, porsua natureza, seriam irrepetíveis, desde que recebidas de boa-fé.

Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados:

EMENTA - STF: SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SE-GURANÇA. ACÓRDÃO DO TCU QUE DETERMINOU A IMEDIATA INTER-RUPÇÃO DO PAGAMENTO DA URP DE FEVEREIRO DE 1989 (26,05%).EXCLUSÃO DE VANTAGEM ECONÔMICA RECONHECIDA POR DECISÃOJUDICIAL COM TRÂNSITO EM JULGADO. NATUREZA ALIMENTAR E APERCEPÇÃO DE BOA-FÉ AFASTAM A RESTITUIÇÃO DOS VALO-RES RECEBIDOS ATÉ A REVOGAÇÃO DA LIMINAR. AGRAVO REGI-MENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A jurisprudência desta Cortefirmou entendimento no sentido do descabimento da restituição devalores percebidos indevidamente em circunstâncias, tais como a dosautos, em que o servidor público está de boa-fé. (Precedentes: MS26.085, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 13/6/2008; AI490.551-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJe 3/9/2010) 2. A boa-fé na percepção de valores indevidos bem como a natureza alimentardos mesmos afastam o dever de sua restituição. 3. Agravo regimentala que se nega provimento. (MS 25921 AgR-segundo, Relator(a): Min.LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 08/09/2015, ACÓRDÃO ELE-TRÔNICO DJe-193 DIVULG 25-09-2015 PUBLIC 28-09-2015);

EMENTA – STF - ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVODE INSTRUMENTO. NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO. SÚMULA STF

14 https://www.conjur.com.br/dl/gilmar-juizes-acre.pdf

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473. PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DA BOA FÉ. RESSARCI-MENTO AO ERÁRIO DE VALORES RECEBIDOS A MAIOR. HORAS EX-TRAS. DESNECESSIDADE. PRESCRIÇÃO. MATÉRIA PRECLUSA. 1. A Ad-ministração pode, a qualquer tempo, rever seus atos eivados de erroou ilegalidade (Súmula STF 473), porém o reconhecimento da ile-galidade do ato que majorou o percentual das horas extras in-corporadas aos proventos não determina, automaticamente, arestituição ao erário dos valores recebidos, uma vez compro-vada a boa-fé da impetrante, ora agravada. Precedentes. 2. En-contra-se preclusa a questão envolvendo o não- reconhecimento deprescrição do ressarcimento em relação às parcelas pretendidas eque são posteriores ao qüinqüênio que antecederam à propositura daação. 3. Agravo regimental improvido. (AI 490551 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 17/08/2010, DJe-164DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT VOL-02413-04 PP-00753 LEXSTF v. 32, n. 381, 2010, p. 94-102).

Entretanto, em situações como a debatida no caso vertente, emque se instituiu o auxílio-moradia por intermédio da RESOLUÇÃO Nº862/2012-TCE/TO PLENO, publicada à pg. 34 da edição nº 850 do BoletimOficial do TCE/TO, veiculada em data de 27 de dezembro de 2012, violando,em tese, o princípio da reserva legal, previsto no caput do art. 37 na for-ma do seu inciso X, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil,pois a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4ºdo art. 39, SOMENTE PODERÃO SER FIXADOS OU ALTERADOS POR LEIESPECÍFICA, o que não se verificou no caso noticiado, além de afrontar oinstituto do subsídio, previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição Federal, obenefício não se revela apenas ilegal, como também descaradamente in-constitucional, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar em data de 28 de agos-to de 2017, a Ação Originária nº 506 – AC, decidiu que, sob essa ótica, a per-cepção de verbas manifestamente inconstitucionais equivale a recebê-las demá-fé, uma vez que esta é ínsita à própria inconstitucionalidade.

No caso em discussão, DIANTE DO NOTÓRIO SABER JURÍDICODOS MEMBROS E INTEGRANTES do Tribunal de Contas do Estado doTocantins, TORNA-SE INVEROSSÍMIL à tese de que DESCONHECIAM ANECESSIDADE de Lei em Sentido Formal para INSTITUÍREM O MALFA-DADO AUXÍLIO-MORADIA, sob pena de se violar, em tese, o princípio dareserva legal, previsto no caput do art. 37, na forma do seu inciso X, am-bos da Constituição da República Federativa do Brasil, pois a remuneraçãodos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39, SOMEN-TE PODERÃO SER FIXADOS OU ALTERADOS POR LEI ESPECÍFICA, de-notando, assim, a flagrante MÁ-FÉ, apta a justificar a restituição dosvalores percebidos de forma ilegítima, ao arrepio da Carta Magna.

A despeito disso, vale ressaltar que, a necessidade de existênciade Lei em Sentido Formal, para instituir benesse dessa natureza, cuida-sede algo tão elementar no âmbito do ordenamento jurídico brasileiroque, tomando por empréstimo às palavras do Ministro Gilmar Mendes, assimconsignou: “Então, veja, não passa na prova dos 9 do jardim de infân-cia do direito constitucional. É, realmente, do ponto de vista da solução ju-rídica, realmente extravagante".

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4 – DA LEGITIMIDADE ATIVA DA SOCIEDADE CIVILORGANIZADA DO ESTADO DO TOCANTINS, PARAAPRESENTAR ESTA REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVA –PRECEDENTES – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

O art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a”, da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil, estabelece que a todos são assegurados,independentemente do pagamento de taxas, o direito de Petição aosPoderes Público em defesa de direitos ou contra ilegalidade ouabuso de poder.

É o direito que toda pessoa tem, perante a autoridadeadministrativa competente, de defender seus direitos ou noticiarilegalidades ou abuso de autoridade pública. Nesse espectro jurisprudencial,veja-se o entendimento do STF:

“O direito de petição, presente em todas as Constituiçõesbrasileiras, qualifica-se como importante prerrogativa decaráter democrático. Trata-se de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de qualquer interessado –mesmo daqueles destituídos de personalidade jurídica –, coma explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante asinstituições estatais, de direitos ou valores revestidos tantode natureza pessoal quanto de significação coletiva. Entidadesindical que pede ao PGR o ajuizamento de ação direta peranteo STF. Provocatio ad agendum . Pleito que traduz o exercícioconcreto do direito de petição. Legitimidade dessecomportamento.” (ADI 1.247-MC, Rel. Min. Celso de Mello,julgamento em 17-8-1995, Plenário, DJ de 8-9-1995.)

Patente, por fim, que a SOCIEDADE CIVIL TOCANTINENSE éparte legítima para apresentar esta REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVAcom o propósito de provocar a Procuradoria-Geral da República-PGR, paraque, resguardada a independência funcional, venha aferir sobre o cabimentode eventual Ação Direta de Inconstitucionalidade em face dos dispositivosimpugnados, pelas asserções fáticas e jurídicas acima delineadas.

5 – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO TRIBUNAL DE CONTASDO ESTADO DO TOCANTINS, POR TER EDITADO OS ATOSIMPUGNADOS – OBRIGATORIEDADE DE PRESTARINFORMAÇÕES.

Segundo o constitucionalista Uadi Lammêgo Bulos15, alegitimidade passiva na ação direta de inconstitucionalidade genérica recaisobre o órgão ou autoridade do qual emanou o ato que se pretendeimpugnar. Por seu turno, o art. 6º c/c art. 10º, da Lei Federal nº 9868/99,preconiza que o relator pedirá informações aos órgãos ou àsautoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.

15Bulos, Uadi Lammêgo Bulos. – 7ª ed. rev. e atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012. PG. 289.

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Aliais, observe-se:

Art. 6o O relator pedirá informações aos órgãos ou às autoridades dasquais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.Art. 10. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação diretaserá concedida por decisão da maioria absoluta dos membros doTribunal, observado o disposto no art. 22, após a audiência dos órgãosou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado,que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.

Nesse contexto, tendo em vista que a RESOLUÇÃO Nº862/2012-TCE/TO PLENO, publicado à pg. 34 da edição nº 850 do BoletimOficial do TCE/TO, dispondo sobre o pagamento de auxílio-moradia,emanou do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, ressoainequívoca a sua legitimidade passiva, na esteira jurisprudencial do SupremoTribunal Federal - STF.

EMENTA - STF: - DIREITO CONSTITUCIONAL. b) DE ILEGITIMIDADEPASSIVA "AD CAUSAM". MEDIDA CAUTELAR (ART. 170, § 1º, DOR.I.S.T.F.). 2. Não colhe, igualmente, a alegação de ilegitimidadepassiva " ad causam ", pois a Câmara Distrital, como órgão, deque emanou o ato normativo impugnado, deve prestarinformações no processo da A.D.I., nos termos dos artigos 6 e10 da Lei n 9.868, de 10.11.1999 Relator(a): Min. SYDNEYSANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 01/02/2002, DJ 22-03-2002 PP-00029 EMENT VOL-02062-01 PP-00167). Sem ênfases no original.EMENTA-STF: - Ação Direta de Inconstitucionalidade. Litisconsórciopassivo. Terceiro interessado. Inadmissibilidade. No processo decontrole concentrado de constitucionalidade só tem legitimi-dade passiva AD CAUSAM a AUTORIDADE ou órgão DO QUALEMANOU O ATO QUESTIONADO; (Pet 481 AgR, Relator(a): Min. CÉ-LIO BORJA, Tribunal Pleno, julgado em 19/09/1991, DJ 01-11-1991.

Partindo-se dessa premissa, torna-se inequívoca a legitimidadepassiva do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins para prestarinformações a respeito dos atos normativos impugnados.

6– DO PEDIDO

Em face de todo o exposto, A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADADO ESTADO DO TOCANTINS, com espeque no art. 5º, inciso XXXIV, alínea“a” c/c art. 37, incisos II e V, c/c art. 103, inciso VI, c/c art. 129, IV, todos daConstituição Federal, valendo-se ainda das disposições elencadas no art. 6º,inciso I, c/c art. 45, parágrafo único, inciso I, ambos da Lei ComplementarFederal nº 75/93 na forma do art. 2º, inciso VI, da Lei Federal nº 9.868, de 10de novembro de 1999, requer a Vossa Excelência que:

a) Seja recebida e autuada a presente representaçãoadministrativa, prosseguindo o seu itinerário formal eregular, protagonizando-se os efeitos pretendidos pelaSociedade Civil Organizada do Tocantins;

b) Caso entenda pertinente, resguardada a independência

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funcional e jurídica de Vossa Excelência, seja exercido ojuízo de admissibilidade desta REPRESENTAÇÃOADMINISTRATIVA, acolhendo-a e promovendo adeflagração da respectiva Ação Direta deInconstitucionalidade – ADI, perante a SupremaCorte, com pedido de concessão de medidacautelar, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº9.868/99, a fim de que seja declarada ainconstitucionalidade material da RESOLUÇÃO Nº862/2012-TCE/TO PLENO, publicado à pg. 34 da ediçãonº 850 do Boletim Oficial do TCE/TO, dispondo sobre ocusteio de auxílio-moradia, a ser pago em pecúnia,correspondente a 10% (dez por cento) do subsídiomensal do Auditor, substituto de Conselheiro, paraConselheiros, Auditores e membros do Ministério PúblicoEspecial do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins,violando, em tese, os princípios da reserva legal,impessoalidade e moralidade previstos no caput doart. 37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituiçãoda República Federativa do Brasil, pois a remuneraçãodos servidores públicos e o subsídio de que trata o§ 4º do art. 39 somente poderão ser fixados oualterados por lei específica, o que não se verificou nocaso noticiado, assim como o instituto do subsídio,previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil, extirpando-a do mundo jurídico,pelos fatos e motivos outrora consignados.

Nesses Termos,Pede deferimento.

De Palmas-TO para Brasília-DF, aos 27 de junho de 2018.

SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA DO ESTADO DO TOCANTINS