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a lei posterior afasta a anterior (princípio da posterioridade) __________________________________________________________________________ 1 Excelentíssimo Presidente do Conselho Nacional de Justiça A grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes . Frase de Ulysses Guimarães ADELAR JOSÉ DRESCHER, Tabelião da Comarca de Itaqui-RS, já qualificado no sistema do processo eletrônico do CNJ (e-CNJ), vem respeitosamente requerer CONSULTA acerca da questão Jurídica que segue com influência em toda a categoria de Notários e Registradores do Rio Grande do Sul e também com reflexos em toda a categoria de Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul – acerca da legislação correta a ser aplicada: 1. Esta Consulta é ACERCA dos dispositivos da lei nº 5.256/66 acerca do Processo Administrativo Disciplinar em trâmite no Poder Judiciário do Rio Grande do Sul onde a Administração iterativamente se vale deste instrumento legal fabricado na época dos “anos de chumbo”. Citam-se de antemão as palavras do saudoso Ministro MENEZES DIREITO quando do julgamento daquela Lei de Imprensa (editada em 1967 e essa do TJRS é de 1966 ). Segundo o nobre Ministro, que votou pela revogação, a legislação era incompatível com o sistema constitucional de 1988: “Os regimes totalitários podem conviver com o voto, jamais com a liberdade de expressão”, 2. Requer caráter normativo acerca do tema – ex vi do RICNJ (art. 89 § 2º: A resposta à consulta, quando proferida pela maioria absoluta do Plenário, tem caráter normativo geral). O tema abrange uma enorme gama de pessoas (classe dos Notários e Registradores e classe dos Servidores Públicos propriamente ditos). Ainda segundo o quarto artigo do Regimento cabe ao Plenário:

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a lei posterior afasta a anterior (princípio da posterioridade) __________________________________________________________________________

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Excelentíssimo Presidente do Conselho Nacional de Justiça

A grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes. Frase de Ulysses Guimarães

ADELAR JOSÉ DRESCHER, Tabelião da Comarca de Itaqui-RS, já

qualificado no sistema do processo eletrônico do CNJ (e-CNJ), vem respeitosamente requerer CONSULTA acerca da questão Jurídica que segue com influência em toda a categoria de Notários e Registradores do Rio Grande do Sul e também com reflexos em toda a categoria de Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul – acerca da legislação correta a ser aplicada:

1. Esta Consulta é ACERCA dos dispositivos da lei nº 5.256/66 acerca do Processo Administrativo Disciplinar em trâmite no Poder Judiciário do Rio Grande do Sul onde a Administração iterativamente se vale deste instrumento legal fabricado na época dos “anos de chumbo”. Citam-se de antemão as palavras do saudoso Ministro MENEZES DIREITO quando do julgamento daquela Lei de Imprensa (editada em 1967 e essa do TJRS é de 1966 ). Segundo o nobre Ministro, que votou pela revogação, a legislação era incompatível com o sistema constitucional de 1988:

“Os regimes totalitários podem conviver com o voto, jamais com a liberdade de expressão”,

2. Requer caráter normativo acerca do tema – ex vi do RICNJ (art. 89 § 2º: A resposta à consulta, quando proferida pela maioria absoluta do Plenário, tem caráter normativo geral). O tema abrange uma enorme gama de pessoas (classe dos Notários e Registradores e classe dos Servidores Públicos propriamente ditos). Ainda segundo o quarto artigo do Regimento cabe ao Plenário:

Consulta ao Conselho Nacional de Justiça – Leis Gaúchas: Lei Ordinária nº 5.256/1966 X Lei Complementar nº 10.098/1998 No Processo Administrativo Disciplinar – Administração do TJRS ___________________________________________________________________________________

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Art. 4º Ao Plenário do CNJ compete o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos magistrados, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, o seguinte: XXXII - decidir sobre consulta que lhe seja formulada a respeito de dúvida suscitada na aplicação de dispositivos legais e regulamentares concernentes à matéria de sua competência, na forma estabelecida neste Regimento;

3. Há um conflito instaurado entre a lei da época dos “anos de chumbo”,

a lei nº 5.256/66 e a “novel”1 LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL nº 10.098/1994;

4. Desde já, informa para fins de consulta que tal lei de 1966 que é iterativamente aplicada pela portentosa Administração do TJRS e s.m.j. esse vetusto instrumento (quiçá até de opressão) não reflete de nenhuma maneira os anseios democráticos e libertários do Regime Militar posto com afinco no Texto Maior, sobretudo o princípio da AMPLA DEFESA. Aqui se chama o CNJ, pois a ele cabe:

II - zelar pela observância do art. 37 da Constituição Federal e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União e dos Tribunais de Contas dos Estados;

5. Essa lei de 1966 aplicada pelo TJRS padece do mesmo vício de

INCONSTITUCIONALIDADE da lei de imprensa derrubada recentemente no STF na sua totalidade eis que é visivelmente autoritária e até cerceatória da livre expressão pois pune até com pena de demissão quem supostamente “injuria” as autoridades que serão os algozes julgadores no Conselho da Magistratura do TJRS.

6. O argumento comum entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal

foi o de que a Lei de Imprensa: 5.250/67 foi criada a partir de uma ótica punitiva e cerceadora da liberdade de expressão. Por isso, não pode sobreviver na atual ordem jurídica. Tal ótica punitivista e cerceadora da liberdade de expressão está vicejantemente presente no texto da lei gaúcha nº 5.256/66 amplamente aceita pela Administração do TJRS como legítimo instrumento de apurar faltas disciplinares (e a utilizam em contraponto a outro instrumento jurídico mais democrático – a Lei Complementar de 1994 nº 10.098/1994 – em alguns casos: os Notários e Registradores. Há até um afastamento do claro texto de lei - o art. 20 da lei nº 11.183/98 não é aplicado, na prática é posto de lado para dar anseio e ensejo ao texto de 1966 (super restritivo da defesa e com tipos sancionadores ultra-kafkanianos).

7. Essa consulta cinge-se exclusivamente na questão da aplicabilidade

1 Em comparação com a vetusta do tempo de antanho, do tempo “da baioneta”. No tempo de ferimento das garantias de expressão e sobretudo de Defesa.

Consulta ao Conselho Nacional de Justiça – Leis Gaúchas: Lei Ordinária nº 5.256/1966 X Lei Complementar nº 10.098/1998 No Processo Administrativo Disciplinar – Administração do TJRS ___________________________________________________________________________________

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ou não da lei nº 5.256/66 no processo Administrativo Disciplinar dos Notários e Registradores (que não são Servidores Públicos) e também alcançam os Servidores propriamente ditos2, ambos do Estado do Rio Grande do Sul. Requer que o CNJ analise como CONSULTA acerca da correta aplicação do instrumento normativo mais consentâneo com o Texto Maior. Na opinião do Consulente (sabendo que “uma só andorinha não faz verão”), é exclusivamente a Lei Complementar nº 10.098/1994.

8. A Administração, sobretudo a Administração do Poder Judiciário

do Estado do Rio Grande do Sul tem sistematicamente utilizado os preceitos da lei vetusta produzida sob a égide do período militar sob a alegação de que é uma lei plenamente em vigor, pois é ESPECIAL.

9. Entendimento este que não comunga o Consulente que considera tal

entendimento especialmente retrógrado e sobretudo alvejante ao Preceito Constitucional da Ampla Defesa, de matiz maior.

10. Por incrível que pareça, essa lei de 1966 está sendo placitada em Juízo

(vários Julgados do TJRS) e isso gera uma insegurança jurídica enorme eis que os propósitos do Legislador Estadual de 1994 (após a Constituição Cidadã) na prática não têm valia.

11. Ainda, acerca da atividade do Consulente de Notário/Registrador há

uma Lei explicitamente mandando aplicar o contido na Lei Complementar nº 10.098/1994 , a saber, Lei Estadual nº 11.183/1998 (como diziam os Romanos: in claris cessat interpretatio):

Art. 20 - Aplicam-se, por analogia, ao processo administrativo-disciplinar, no que não conflitar com as disposições da Lei n° 8.935/94, o contido na Lei Complementar n° 10.098, de 3 de fevereiro de 1994 (Estatuto e Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis do Estado do Rio Grande do Sul).

12. Porém, a Administração do TJRS que é adstrita a LEGALIDADE aplica no processo administrativo disciplinar a lei de 1966 que é indiscutivelmente mais severa aos anseios punitivistas e restringe de sobremaneira os prazos e todos os atos da Defesa (há até supressão de fases que há na Lei de 1994 – Sindicância que depois vira em Inquérito Administrativo).

MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. INSTAURAÇÃO DE SINDICÂNCIA. OFICIAL DE JUSTIÇA QUE DESCUROU DE RESPONDER ÀS DETERMINAÇÕES QUE LHE FORAM ENCAMINHADAS PARA A DEVOLUÇÃO DE MANDADO QUE ESTAVA EM SEU PODER. APLICAÇÃO DE PENA DE ADVERTÊNCIA. APRESENTAÇÃO DE PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO QUE RESTOU INDEFERIDO. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO QUE TEVE SEU SEGUIMENTO NEGADO DIANTE DA SUA INTEMPESTIVIDADE. APLICAÇÃO DA LEI-RS nº 5.256/66 EM DETRIMENTO DA LEI-RS nº 10.098/94. LEI ESPECIAL QUE DISCIPLINA ACERCA DOS PRAZOS RECURSAIS. DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO DEMONSTRADO. SEGURANÇA DENEGADA. A pretensão do impetrante é a de que seja recebido o recurso interposto contra a decisão que aplicou a pena de advertência em sindicância instaurada em razão do não atendimento às três determinações para que devolvesse o mandado que se encontrava em seu poder. Recurso interposto no 20º dia após a ciência da decisão. Intempestividade diante do disposto na lei especial (Lei-RS nº5.256/66) que prevê o prazo de 5 dias a contar da data em que o interessado teve ciência da

2 Notários e Registradores não são Servidores do Estado segundo entendimento consolidado no STF.

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decisão. Não aplicação da LC-RS nº 10.098/94 por se tratar de lei geral. Lex posterior generalis non derogat legi priori speciali. Direito líquido e certo não demonstrado. SEGURANÇA DENEGADA. (Mandado de Segurança Nº 70018200188, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio Monteiro Pacheco, Julgado em 12/04/2007)

13. O entendimento da Administração do TJRS é no sentido de que a lei nº

5.256/66 é ESPECIAL, o qual o Consulente guarda severíssimas reservas e requer consulta ao CNJ ante a elevada amplitude da questão (afeta várias e várias pessoas). O entendimento Administrativo das altas autoridades do TJRS acerca da colidência dos diplomas legais (lei de 1966 X lei de 1994) pode ser explicado e entendido no trecho do voto abaixo - (Mandado de Segurança Nº 70018200188, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio Monteiro Pacheco, Julgado em 12/04/2007):

(...) Desta forma, correta a aplicação da Lei-RS nº 5.256/66 (Estatuto dos Servidores da Justiça)

em detrimento da Lei-RS nº 10.098/94 (Estatuto dos Servidores Públicos Civis Estaduais), pois se

trata de legislação especial acerca dos servidores da Justiça, mormente em vista do disposto na

própria Lei-RS nº 10.098/94, in verbis:

Art. 1º - Esta lei dispõe sobre o estatuto e o regime jurídico dos servidores públicos civis do Estado do Rio Grande do Sul, excetuadas as categorias que, por disposição constitucional, devam reger-se por estatuto próprio.

Assim, mesmo que haja previsão de prazo diferenciado para interposição de recurso

na referida lei, conforme pretende fazer valer o impetrante, prevalece a norma especial própria aos

servidores da Justiça, pois não revogada pela lei posterior. A propósito, aplica-se o conhecido

brocardo segundo o qual lex posterior generalis non derogat legi priori speciali.

Neste sentido, correto também o entendimento exarado pela Procuradora de Justiça,

que referiu precedente desta Corte, o qual ora transcrevo:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. TUTELA ADMINISTRATIVA ANTECIPADA. PRORROGAÇÃO. ESTATUTO DOS SERVIDORES DA JUSTIÇA. VIGÊNCIA. ESTATUTO DOS SERVIDORES DO ESTADO. LEI GERAL. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. AUSÊNCIA DE DIREITO LIQUIDO E CERTO. SEGURANÇA DENEGADA. O ESTATUTO DOS SERVIDORES DA JUSTIÇA, LEI ESTADUAL N° 5.256/66 ESTA PLENAMENTE EM VIGOR QUANDO DISCIPLINA A POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DE TUTELA ADMINISTRATIVA DISCIPLINAR ANTECIPADA, NÃO SE APLICANDO O ESTATUTO DOS SERVIDORES DO ESTADO - LEI COMPLEMENTAR N° 10.098/94, EIS QUE ESTA E REGRA GERAL E AQUELA, REGRA ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA DENEGADO. (MS nº 598329837, 2º Grupo de Câmaras Cíveis, rel. Des. Wellington Pacheco Barros, julgado em 10SET99).

Neste diapasão, não demonstrado direito líquido e certo, não há como se acolher a

insurgência do impetrante no presente mandado de segurança.

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Ademais, ressalto apenas que o pedido de reconsideração formulado pelo impetrante

na via administrativa (fl. 58) respeitou o prazo de 3 dias disposto no parágrafo único do artigo 795

da Lei-RS nº 5.256/66, pois protocolizado em 10JUL06, enquanto a ciência da decisão ocorreu em

05JUL06, considerando-se a suspensão do prazo pelo seu término no final de semana e a sua

prorrogação para o próximo dia útil (10JUL06). Dessa forma, não há como agora na via estreita e

célere do mandado de segurança, o impetrante alegar a aplicação da LC-RS nº 10.098/94 para se beneficiar do alargamento do prazo recursal lá disposto, a fim de que seja recebido o seu

recurso interposto a destempo. O fato é que o servidor na condição de Oficial de Justiça está

regido pelo Estatuto dos Servidores da Justiça. (...)

14. A Administração do TJRS considera, via de regra, os prazos estabelecidos na LC Nº 10.098/94 como um “benefício” ilegal e ilegítimo. Essa interpretação da Corte Gaúcha (aqui se fala da Administração, eis que de Jurisdição não se pode falar...) é “uma selva hermenêutica", pois restringe de sobremaneira a Defesa.

15. Os preceitos legais claros na Lei Complementar votada pelo legislador

gaúcho em 1994 são vistos e tratados como BENESSES ESPÚRIAS e não como Direitos Subjetivos dos Administrados. Não considera a Administração do TJRS a LC em questão como o único Estatuto dos Servidores de Justiça vigente, pelo contrário: A Administração na prática a subordina ao de 1966 – infalivelmente mais restritivo a todos os prazos e a todos os tópicos da defesa.

16. A Ação Administrativa Disciplinar é de uma legalidade super

questionável (eufemismo). Não seria demasiado dizer que é até uma interpretação retorcida em prol do punitivismo inconsequente – despido das necessárias garantias penais e Constitucionais. É regra do Direito Penal já de longa data: interpreta-se em prol do acusado, em prol da ampla Defesa, em prol do alargamento e não da restrição da Defesa.

17. A Administração se vale de somente alguns artigos da lei de 1966 e

quase na sua totalidade aqueles que restringem a Defesa, aqueles que impõem penas severas tipo: demitido por supostamente injuriar as autoridades.

18. Embora alguns artigos da lei de 1966 pudessem ser recepcionados na Constituição (mas seriam pouquíssimos – eis que o viés autoritário é bem flagrante) é de se registrar que pela organicidade do Direito não se pode viver com dois estatutos jurídicos, isto é: um de 1966 e outro de 1994. Sobre a lei de imprensa, o Ministro Cezar Peluso ressaltou que alguns artigos da atual Lei de Imprensa foram perfeitamente recepcionados pela Constituição. Mas, para o Ministro, manter apenas alguns artigos faria a norma “perder sua organicidade”. Para Peluso, “até que o Congresso edite, se entender que deva, uma lei de imprensa nos termos dessa própria Constituição, se deve deixar ao Judiciário a competência para decidir direito de resposta e outros direitos correlatos”. Vale registrar que a Assembléia Legislativa em 1994 trouxe outra Lei Específica, mas que é afastada pela Administração do TJRS – talvez não consentaneamente com os parâmetros do Texto Farol.

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19. Não se pode valer dos artigos da lei de 1966, nem que alguns deles sejam porventura recepcionados pelo Texto Farol (se é que isso é possível ante o fortíssimo viés autoritário do tal diploma legal). Em processo Administrativo Disciplinar é corrente e muito visível que a maioria absoluta fere a Ampla Defesa.

20. Ao que se avista, a Administração do TJRS está muito longe do

respeito às Garantias dos acusados e muito longe da Garantia da AMPLITUDE e AMPLIAÇÃO da DEFESA. Ou seja, a Administração do TJRS não respeita na sua plenitude as disposições do art. 37, caput, da Constituição Federal e que se resolve nominar hoje, até em termos internacionais, pelo codinome de Boa Administração.

21. Utilizar se sistematicamente de uma lei revogada e, sobretudo uma lei

que severamente restringe a Defesa não parece nem um pouco consentânea com a BOA ADMINISTRAÇÃO e por isso a Consulta ao CNJ.

22. Sebastião JOSÉ LESSA3, ao ensinar que "o direito disciplinar, como já dito, não é infenso à analogia penal, ainda mais quando se cogita de pena de natureza grave, conforme se vê do entendimento do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, manifestado no RE 78.917 (RTJ 71/284): ‘O direito disciplinar não é infenso à analogia penal, ao que ensina Themístocles B. Cavalcanti nos casos das penas puramente administrativas, os mesmos princípios podem também ser aplicados por analogia (Direito e Processo Disciplinar, p. 179)’. Então vigoram no âmbito administrativo os mesmos princípios observados na esfera processual penal."

23. Cotejando ambos os Estatutos não se infere essa especialidade da lei

(“militar” – Estatuto dos Servidores) de 1966, pelo contrário, data maxima venia, a eventual especialidade, se existisse, é inclusive da Lei (democrática) de 1994 eis que tratou o assunto com muito mais minúcias e na sua inteireza e ainda posteriormente! (Princípio da Posterioridade). Daí a pertinência da consulta, pois pode haver confusão de conceitos com severas implicações para os Administrados. Eis o exemplo abaixo (o instrumento de 1966 ataca fortemente a Defesa):

Lei de 1966

Lei de 1994

Art. 782 - O indiciado dentro de dois dias, após o interrogatório, poderá requerer diligência, produzir prova documental e arrolar testemunhas. § 1º - Havendo no processo mais de um indiciado, o número de testemunhas de cada um não excederá de três. (...)

Art. 232 - O indiciado, dentro do prazo de 5 (cinco) dias úteis após o interrogatório, poderá requerer diligência, produzir prova documental e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito). (...)

Art. 788 - Encerrada a instrução o indiciado terá vista dos autos, em mãos do secretário, por três dias, para a apresentação de razões

Art. 244 - Ultimada a instrução do processo, intimar-se-á o indiciado, ou seu defensor legalmente constituído, para, no prazo de 10 (dez) dias, contados da data da intimação, apresentar defesa por escrito, sendo-lhe facultada vista aos autos na forma da lei.

3 Lessa, Sebastião José. Do Processo Administrativo Disciplinar e da Sindicância de Acordo com as Leis 8.112/90, 8.429/92 e

9.784/99. 3.ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2001, p. 152

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Art. 790 - A pedido do juiz processante ou de ofício poderá o Corregedor Geral ordenar a suspensão preventiva do servidor, até noventa dias desde que a sua permanência no cargo possa prejudicar a investigação dos atos. Parágrafo único - A suspensão preventiva poderá ser prorrogada. Decisão do TJRS- nº Mandado de Segurança Nº 70038743563, Segundo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Luiz Reis de Azambuja, Julgado em 12/11/2010 : clique aqui: Íntegra da decisão A alegação de que a suspensão preventiva prevista no artigo 790 da Lei 5.256/66 limita-se a noventa dias, esbarra frontalmente no permissivo de seu § 2º, que expressamente admite a prorrogação do prazo sem limitação, desde que haja fundada necessidade

Art. 204 - Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da irregularidade ou infração funcional, a autoridade instauradora do processo administrativo disciplinar poderá determinar o afastamento preventivo do exercício das atividades do seu cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração. Parágrafo único - O afastamento poderá ser prorrogado por igual período, findo o qual cessarão definitivamente os seus efeitos, mesmo que o processo administrativo disciplinar ainda não tenha sido concluído.

24. O quadro acima por si só já denota que a lei de 1966 fere de

sobremaneira o Princípio Constitucional da Ampla Defesa, mas a Administração do TJRS iterativamente busca aplicar a lei de 1966 com afetação e atingimento negativo aos mais comezinhos preceitos fundamentais insculpidos no Texto Maior que é o princípio da AMPLA DEFESA e inclusive o Princípio da LEGALIDADE. Ora, pensar que existem dois ESTATUTOS JURÍDICOS DOS SERVIDORES vigentes ao mesmo tempo já é algo que ressoa com forte indício de antijuridicidade.

25. Ademais, é da própria Corte Gaúcha o escólio de que a DIGNIDADE DA

PESSOA HUMANA se atinge quando garantida a AMPLA DEFESA. A Adoção da lei de 1966 em face da lei de 1994 não permite o respeito a amplitude da defesa, pois a lei dos tempos idos é bem mais restritiva:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. INADMISSIBILIDADE. 1. A relevância da exigência da motivação das decisões criminais se justifica na previsão expressa da Constituição Federal, em seu artigo 93, IX, combinado com a adoção do Estado Democrático de Direito, pela carta magna, tendo na proteção da dignidade da pessoa humana um de seus pilares básicos. A motivação racional da decisão permite aos envolvidos no processo e ao cidadão a sua fiscalização (controle interno e externo), excluindo o caráter meramente subjetivo da prestação jurisdicional. 2. Uma decisão judicial está bem fundamentada quando arrazoada de forma motivada de tal maneira a permitir o exercício da garantia da ampla defesa. 3. No caso concreto, foi homologado o auto de prisão em flagrante e mantida a prisão do acusado pela garantia da ordem pública, sem referência às circunstâncias fáticas ("deixo de conceder liberdade provisória, para garantia da ordem pública"). Precedentes do STF acerca do tema. ORDEM CONCEDIDA. POR MAIORIA. (Habeas Corpus Nº 70039033485, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nereu José Giacomolli, Julgado em 28/10/2010)

26. Sem esquecer que a Lei de 1994 contém artigo que nem precisava

conter, mas que vem ao amparo da tese aqui defendida, a saber: a lei de 1966 está revogada – mas é aplicada diuturnamente pela Administração do TJRS nos Processos Disciplinares de todos os seus Servidores (e até aos Tabeliães que não são Servidores):

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Art. 289 - Ressalvados os direitos adquiridos, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, são revogadas as disposições em contrário.

27. Imagine-se a OAB (ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA OAB

Lei nº 8.906 de 04 de julho de 1994) - gerida concomitantemente por dois Estatutos – seria caos jurídico imanente e permanente e seria uma balbúrdia total, um retrocesso ao tempo do “canhão nas ruas”. O perigo de saber que isso seria um grande problema fez com que o legislador do Estatuto da OAB fosse bem pontual quanto à necessidade de revogar explicitamente os textos do tempo do militarismo, eis que sabe dos seus efeitos deletérios do autoritarismo impregnado nos textos legais e, portanto, colidentes ao sistema Democrático do Estado de Direito:

Art. 86. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 87. Revogam-se as disposições em contrário, especialmente a Lei nº 4.215, de 27 de abril de 1963, a Lei nº 5.390, de 23 de fevereiro de 1968, o Decreto-lei nº 505, de 18 de março de 1969, a Lei nº 5.681, de 20 de julho de 1971, a Lei nº 5.842, de 6 de dezembro de 1972, a Lei nº 5.960, de 10 de dezembro de 1973, a Lei nº 6.743, de 5 de dezembro de 1979, a Lei nº 6.884, de 9 de dezembro de 1980, a Lei nº 6.994, de 26 de maio de 1982, mantidos os efeitos da Lei nº 7.346, de 22 de julho de 1985. Brasília, 4 de julho de 1994; 173º da Independência e 106º da República.

28. Causa verdadeiro espanto (eufemismo) a postura do TJRS, diga-se: – um Tribunal via de regra garantista em se tratando de Direito Penal - de aplicar às escâncaras a norma dos tempos tacanhos (idos da “revolução” militar). Isso fatalmente é uma regra interpretativa injusta e que prejudica de sobremaneira a ampla defesa e portanto INCONSTITUCIONAL (mais prejudicial à defesa e portanto ilegal, imoral e retrocedente na penalística moderna). Quando a regra UNIVERSAL em Direito Processual Penal é de aplicação sempre e sempre da norma que favoreça ao acusado, e não o inverso como preconiza a Administração togada do TJRS, pasmem. Sobre a regra da melhor interpretação, eis parte do Texto do Penalista LUIZ FLÁVIO GOMES que dá uma aula de Hermenêutica Constitucional no texto: Normas, regras e princípios: conceitos e distinções (parte 1) : íntegra do Texto na Internete - clique aqui – publicado em 03.02.2010 é elucidativo acerca da necessária interpretação a favor do réu:

(...) “Conflito” versus “colisão”: as regras (normalmente) disciplinam uma situação determinada; quando ocorre essa situação, a norma tem incidência; quando não ocorre, não tem incidência. Para as regras vale a lógica do tudo ou nada (Dworkin). Quando duas regras colidem, fala-se em “conflito”; ao caso concreto uma só será aplicável (uma afasta a aplicação da outra). O conflito entre regras deve ser resolvido pelos meios clássicos de interpretação: a lei especial derroga a lei geral (princípio da especialidade), a lei posterior afasta a anterior (princípio da posterioridade), a norma superior prepondera sobre a norma inferior (princípio da hierarquia).

Consulta ao Conselho Nacional de Justiça – Leis Gaúchas: Lei Ordinária nº 5.256/1966 X Lei Complementar nº 10.098/1998 No Processo Administrativo Disciplinar – Administração do TJRS ___________________________________________________________________________________

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Muitas vezes, é um princípio que entra em ação para resolver o conflito entre duas regras. Por exemplo: o art. 2º, º 2º da Lei 9.613/1998 (lei de lavagem de capitais), que dispensa a aplicação do art. 366 do CPP (que manda suspender o processo quando o réu é citado por edital), conflita com o art. 4.º, § 3.º, da mesma lei, que manda aplicar o referido art. 366. Esse conflito se resolve (em favor do art. 4.º, § 3.º) pela aplicação do princípio da ampla defesa (aplica-se a norma mais favorável à defesa). (...)

29. Veja-se que a Lei de 1966 é especialmente e indiscutivelmente

restritiva à defesa (cerceatória), pois o intuito na época dos militares era perseguir e punir politicamente quem quer que fosse o “escolhido” para o Estado (LEGALIDADE da época) então vigente investigar. Não é por menos que o STJ em se tratando do tempo dos militares tem a questão da prova de maneira totalmente diferente ao normal (ônus probatório), isso de dá porque era bem retrógrada e bem escamoteada a filosofia da época – que buscava aniquilar seus “investigados”.

30. Na verdade, a defesa pouco ou nada importava naquela época, eis

que a condenação não raro já nascia antes de se apurarem os fatos e não interessavam os fatos, interessava tão-somente quem era o investigado: “o escolhido” (direito penal do inimigo), esse era ao pensamento reinante da época e esse pensamento nefasto também, por óbvio, impregnava a legislação produzida na época. Dessa maneira está impregnada a filosofia funesta “da baioneta” no texto utilizado pela Administração do TJRS até os dias de hoje em contraposição ao texto moderno votado pelo Legislador Gaúcho (LCnº 10.098/1994), infelizmente. Essa lei de 1966 é uma excrescência ditatorial da caserna e não reflete nem um pouco os anseios democráticos modernos, tanto que o STJ tem uma visão incomum acerca do ônus probatório (porque os tempos eram incomuns: tempos de aniquilação de Direitos – eram os tempos “dos anos de chumbo”).

DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. ANISTIA.DEMISSÃO POR MOTIVAÇÃO POLÍTICA. PROVA DIRETA OU MATERIAL.

IMPOSSÍVEL. ATO DEMISSÓRIO DISSIMULADO. CONTEXTO DEMONSTRATIVO DA NOTA POLÍTICA DA DEMISSÃO DO RECORRENTE. PROVA EM CONTRÁRIO QUE COMPETE À ADMINISTRAÇÃO. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 7/STJ. VALORAÇÃO DA PROVA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

1. A prova, nos casos de concessão de anistia para fins de reintegração ao serviço público, é sempre indireta e deve decorrer da interpretação do contexto e das circunstâncias do ato apontado como de motivação política.

2. A prova direta, material ou imediata é rigorosamente impossível em caso dessa espécie. Impor ao autor que a faça significa, em verdade, impor-lhe a chamada prova diabólica, de produção impossível, porque os afastamentos dos cargos, à época, eram disfarçados; assim, por exemplo, quando militar o servidor, afastava-se por indisciplina ou insubordinação; quando civil, por ato de abandono e outras alegações com a mesma finalidade e do mesmo teor. Dest'arte, compete à

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Instituição que promoveu o ato demissionário demonstrar a inexistência de motivação política.

3. Na presente hipótese, o contexto da demissão do recorrente, revelado pela (I) sua participação ativa em movimentos então denominados esquerdistas ou subversivos, (II) a perseguição e a demissão de pessoas próximas, inclusive familiares, (III) o forte conceito que mantinha na Universidade, sem qualquer mácula em sua conduta profissional e acadêmica, bem como (IV) o fato de ter sido anistiado pelo Ministério do Trabalho em face de sua demissão da Petrobras, demonstram a motivação política do seu afastamento dos quadros da UNB.

4. Não se cuida, aqui, de mero reexame de matéria fático-probatória, realmente incabível em sede recursal especial, mas de valoração da prova, abstratamente considerada, passível de realização nesta instância.

5. A questão da prova direta não é a nuclear no processo de anistia e nem mesmo constitui o fulcro do pedido, porque em hipótese que tal a avaliação do pleito há de seguir a trilha do art. 8o. do ADCT e da Lei 10.559/02 (Lei de Anistia), elaborada com o ânimo de pacificar o espírito nacional, aproximar os contrários e instalar o clima de recíprocas confianças entre grupos d'antes desentendidos.

6. Recurso Especial conhecido e provido.

(REsp 823.122/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Rel. p/ Acórdão Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 14/11/2007, DJ 18/02/2008, p. 59)

31. Há um precedente atual do TJRS acerca de um processo

administrativo de um Registrador de Imóveis da Comarca de Porto Alegre onde claramente se infere o emprego do Estatuto vetusto e ultrapassado de 1966 (cita o artigo nº 777 da lei 5.256/66 na própria ementa). clique aqui para acessar o inteiro teor da decisão

MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. REGISTRADOR DE IMÓVEIS. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DESCUMPRIMENTO REITERADO DE REQUISIÇÕES JUDICIAIS. APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE SUSPENSÃO POR 90 DIAS. COMPETÊNCIA DA AUTORIDADE PROCESSANTE. LEGITIMIDADE PASSIVA DO PROCESSADO. AUSÊNCIA DE NULIDADE NA PORTARIA INSTAURADORA E NO RESPECTIVO PROCESSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO. DESCABIDA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ADMINISTRATIVO PERANTE O CONSELHO DA MAGISTRATURA APÓS APRECIAÇÃO DE ANTERIOR IRRESIGNAÇÃP PELO CORREGEDOR-GERAL DA JUSTIÇA. VIA PROCESSUAL ELEITA QUE NÃO SE PRESTA A DISCUTIR EVENTUAL LACUNA NORMATIVA. 1. A Lei Federal nº 8.935/94 (que dispõe sobre os serviços notariais e de registro) remete à lei estadual a definição do juízo competente para fiscalização dos atos notariais e registrais, tendo a Lei Estadual nº 11.183/94 destinado essa atribuição ao Juiz de Direito Diretor do Foro da Capital, que é competente para instauração, processamento e julgamento de processo administrativo disciplinar. 2. O impetrante, na condição de titular da serventia, é parte legítima para figurar no polo passivo do processo administrativo disciplinar em que se apura o desatendimento reiterado de requisições judiciais, pois que encarregado pelo fiel cumprimento dos atos notariais e de registros (art. 21 da Lei Federal nº 8.935/94 e art. 15 da Consolidação Normativa Notarial e Registral). 3. Inexiste nulidade na portaria instauradora que reuniu expedientes administrativos para formação de um único processo administrativo disciplinar, pois contém a devida narrativa dos fatos e das faltas funcionais

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imputadas ao servidor, bem como o respectivo enquadramento legal, dando-lhe plena oportunidade ao exercício de defesa. 4. Instado a adequar o número de testemunhas arroladas ao número legalmente previsto (art. 777 da Lei nº 5.256/66), com a advertência de que o silêncio seria tomado como desistência, o impetrante quedou-se inerte, com o que não há que se falar em cerceamento de defesa em razão do indeferimento da produção de prova testemunhal. Ademais, as imputações foram fundamentadas em ofícios requisitórios, com o que cumpria ao processado comprovar, documentalmente, o seu efetivo cumprimento, não se vislumbrando prejuízo pela falta de inquirição de testemunhas. 5. Tendo o impetrante interposto recurso administrativo ao Corregedor-Geral da Justiça da decisão disciplinar proferida pelo Juiz Diretor do Foro, é descabida nova irresignação dirigida ao Conselho da Magistratura, a teor do disposto no art. 19 da Lei nº 11.183/98. 6. Inocorrente causa de extinção da pretensão punitiva da Administração Pública, o que não consagra suposto desatendimento do prazo de conclusão do processo administrativo disciplinar, no caso inexistente. 7. A via processual eleita pelo insurgente não se presta a discutir eventual lacuna normativa, sendo impertinente o pleito de determinação de regulamentação pelas autoridades apontadas como coatoras da forma como devem ser cumpridas as requisições judiciais pelos registradores e das despesas decorrentes destas diligências. SEGURANÇA DENEGADA. (Mandado de Segurança Nº 70028807055, Segundo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 13/08/2010)

32. Não se discute aqui os teores das iterativas decisões judiciais do

TJRS albergando a tal lei do tempo dos militares (ditatorial). Decisão judicial é para ser cumprida. Mas essas decisões repercutem entre as partes as quais é exclusivamente dada. Cada Juiz dentro do seu processo é indiscutivelmente o senhor da sua Consciência Jurídica.

(...) "Para fazer do magistrado uma impotência equivalente, criaram a novidade da doutrina, que inventou para o Juiz os crimes de hermenêutica, responsabilizando-o penalmente pelas rebeldias da sua consciência ao padrão oficial no entendimento dos textos. Esta hipérbole do absurdo não tem linhagem conhecida: nasceu entre nós por geração espontânea. E, se passar, fará da toga a mais humilde das profissões servis, estabelecendo, para o aplicador judicial das leis, uma subalternidade constantemente ameaçada pelos oráculos da ortodoxia cortesã. Se o julgador, cuja opinião não condiga com a dos seus julgadores na análise do Direito escrito, incorrer, por essa dissidência, em sanção criminal, a hierarquia judiciária, em vez de ser a garantia da justiça contra os erros individuais dos juízes, pelo sistema dos recursos, ter-se-á convertido, a benefício dos interesses poderosos, em mecanismo de pressão, para substituir a consciência pessoal do magistrado, base de toda a confiança na judicatura, pela ação cominatória do terror, que dissolve o homem em escravo." (Obras Completas de Rui Barbosa, Vol. XXIII, Tomo III, pág. 228)

33. Respeita-se: a consciência pessoal de cada julgador dentro do devido processo legal. A Consulta aqui, repita-se, é para nortear a atividade administrativa e os próprios administrados que sempre (não raro) “são pegos de surpresa” pelo texto de 1966 quando crêem que o aplicável é de 1994 – e daí o prazo para recurso se escoou e a sanção tida como injusta se petrifica, sem o Respeito a um processo justo e límpido. É uma questão de previsibilidade do Direito Sancionador, um direito muito importante ante o Princípio da Legalidade e o da não-surpresa.

34. Não se quer desrespeitar a consciência dos nobres julgadores, apenas

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quer-se uma interpretação bem segura acerca dos dispositivos sancionadores. Cabe ao CNJ nortear a legalidade da atividade dos Administradores e há grandes dúvidas acerca da possibilidade de aplicação de uma legislação antiquada e autoritária de 1966 em detrimento de uma LEI de 1994 legitimamente aprovada pelo Legislador Gaúcho. Há diversas pessoas envolvidas neste tópico.

35. O fato é que se estabelecem sanções e se tramita processos

administrativos disciplinares com base em lei revogada e ainda não recepcionada ao Texto Farol. Em Direito Penal não se pode cogitar em punição em tipos revogados e nem tampouco em processo em desacordo com o Direito atual – Carta Maior. Os Princípios do Direito Penal calham:

(...) O poder sancionador, antes restrito aos domínios do Direito Penal, adentra a teoria da sanção e ganha corpo no Direito Administrativo, passando a avançar ostensivamente sobre a teoria assente do poder de polícia. Ocorre, nesse caso, autêntico recorte do poder de polícia, que perde uma fatia de seu conteúdo para o Direito Administrativo Sancionador. [...]. O Direito Administrativo Sancionador é mais próximo do Direito Penal do que do Direito de Polícia (...) MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Infrações e Sanções nos Serviços Públicos. Disponível em http://www.telebrasil.org.br/diogo.pdf :. Acesso em: 30 Abril 2011.

36. O que se discute e isso está dentro do Direito Constitucional de

Petição a maneira de como a Administração – sobretudo a do próprio TJRS – age, eis que pode estar em desacordo com os Princípios Maiores do Texto Farol: Legalidade e Ampla Defesa (mormente esses). Isto é, se a tal postura de aplicar a lei nº 5.256/66 está dentro dos princípios vetores da Administração como da LEGALIDADE, MORALIDADE, AMPLA DEFESA, CONSTITUCIONALIDADE e outros tantos.

37. Da fundamentação extraída dos autos mencionados (Mandado de

Segurança Nº 70028807055) se infere que a Administração trata os Notários e Registradores como SERVIDORES PÚBLICOS quando é pacífico na Suprema Corte que não mais o são, mormente quando não se aposentam mais compulsoriamente (ADI 2601-MG) e entende a Administração de que se aplicam os preceitos lei nº 5.256/66 para disciplinar o processo administrativo disciplinar em contrariedade frontal aos propósitos do legislador - art. 20 da lei nº 11.183/1998. Eis a fundamentação que se extrai do voto da ação mandamental em tela:

(...) 3.3. Cerceamento de Defesa – Rol de Testemunhas O impetrante arrolou testemunhas. Todavia, em número considerado excessivo pelo Magistrado. E, nessa senda, intimado para readequar o rol ao número de 5 testemunhas, não adotou tal providência. Neste passo, entendo irrepreensíveis os fundamentos nos quais assentou-se a Autoridade Processante, quanto ao ponto (fls. 188/189):

“O pedido de inquirição de oito testemunhas, também não procede. O artigo 20 da Lei 11.183/98 estabelece a possibilidade de aplicação da analogia ao Estatuto dos Servidores do Estado do Rio Grande do Sul do que não contraria a Lei 8.395/94. Em verdade, a terminologia da lei é inadequada vez que ela não prevê um caso de analogia e, sim, de interpretação extensiva. Tal método hermenêutico funda-se na obtenção de um resultado previsto e querido pelo legislador, razão pela qual, não se consubstancia em mera forma de integração do direito. Difere, pois, da analogia: método pelo qual se preenche uma lacuna no ordenamento se aplicando uma

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lei a um caso similar ao nela previsto. (...) Diante disso, apenas se aplica a Lei Complementar 10.098/94 aos casos em que não há previsão em norma específica. Os serviços Auxiliares da Justiça são constituídos pelos ofícios que integram o Foro Judicial e o Extrajudicial, pertencendo aos serventuários deste à classe de servidores extrajudiciais sendo, pois, regulados pelo Estatuto dos Servidores da Justiça, norma específica, por força do disposto nos arts. 647 e 649 da Lei 5256/66. Assim, dispondo a Lei 5256/66 expressamente acerca do número de testemunhas, cinco (5), deve este ser o observado razão pela qual mantenho a decisão de fl. 65.”

E mais. Na conclusão final sobre o processo, o Magistrado Diretor do Foro destacou (fl. 392):

“Não procede, também a alegação de cerceamento de defesa vez que o registrador foi regularmente intimado para adequar o rol de testemunhas ao número legal, com a devida advertência de que o silêncio seria tomado como desistência, o que acabou acontecendo. Outrossim, os fatos descritos nas portarias são eminentemente documentais, não se vislumbrando qualquer prejuízo advindo da falta de inquirição de testemunhas, sendo que sempre foi possível, se a idéia era a de abonar conduta, a apresentação de declarações por escrito neste sentido.”

Não há, pois, o alegado cerceamento de defesa. (...)

38. A consulta é no sentido de que se é correta e portanto legal o

enquadramento administrativo dado pela Administração do TJRS no sentido de que os Notários e Registradores são Servidores extrajudiciais regulados pelo Estatuto de 1966. Salvo melhor juízo, os Notários e Registradores não são Servidores e nem tampouco passíveis do processo administrativo disciplinar transcrito na lei de 1966.

39. Preocupa ao Consulente que a Administração do TJRS possa se valer

indiscriminadamente e assim arbitrariamente de legislação revogada e que reflete a filosofia de antanho, do tempo em que os “tanques” e não o Direito estava nas ruas...

40. O fato de o TJRS julgar desta ou daquela forma não é matéria para a

CONSULTA aqui formulada e nem tampouco empeço ao CNJ que está subordinado somente ao Supremo Tribunal Federal na sua atividade. Não há óbice nenhum a consulta, pelo contrário, serve a um enormíssimo número de pessoas interessadas na paz e na segurança jurídica que provir de uma interpretação não obscura dos textos legais, mormente no Direito Administrativo Sancionador que não convive com a falta de previsão e nem previsibilidade do modus operandi estatal.

41. Mas o mais importante é que esta objeção através de consulta surta efeito para defender a classe como um todo, e que essa defesa, seja a todos os Tabeliães e Registradores e também aos Servidores Públicos dirigida, pois um saudoso Tabelião Paulista de

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nome Antônio Albergaria Pereira ao propor o decálogo dos Tabeliães (aprovado pelo Departamento de Notas dos Serventuários de Justiça do Estado de São Paulo) assim verberou no décimo ato4:

“(...) 10. Pugnar por leis justas que assegurem os direitos da classe em geral e não de um notário em particular (...)”.

42. Note-se que o art. 20 da Lei nº 11.183/98 mandou aplicar o contido na Lei Complementar nº 10.098/1994 e não disse em nenhum momento, s.m.j, que os Notários seriam Servidores Extrajudiciais. Essa interpretação (Notário como Servidor) parece uma verdadeira ANALOGIA IN MALAM PARTEM para fins penais.

43. Seguramente o Registrador no caso em tela estava crente de que teria

direito a ouvir 8 testemunhas (art. 232 da Lei Complementar de 1994), porém o entendimento da Administração é que só cabem 3 testemunhas forte no art. 782 §1º da lei de 1966. A priori, há uma restrição de Defesa quando a Lei Maior manda com todas as letras: AMPLIAR a DEFESA.

44. Pois bem, a não aplicação da Lei Complementar nº 10.098/1994 pela

Administração do TJRS no tópico do Processo Administrativo Disciplinar traz enormes prejuízos a segurança jurídica de todos os Servidores do Estado do Rio Grande do Sul e também dos Notários e Registradores que não são Servidores mas tem interesse no tema, ante o art. 20 da Lei nº 11.183/1998. É muito inseguro ver uma interpretação clara do texto – IN CLARIS CESSAT INTERPRETATIO – ceder a um critério muito questionável de que a lei de 1966 é especial.

45. Quanto à diferença entre o critério da especialidade e da

posterioridade cuja CONSULTA se ora postula com base em ensinamentos doutrinários de escol, calham as palavras mutatis mutandis5 do insigne Penalista Luiz Flávio Gomes no seu texto intitulado STF: Cabe Liberdade Provisória em Tráfico de Drogas publicado em 24.11.2009 (conferível na internete -clique aqui para acessar o inteiro conteúdo da decisão):

(...) Se o princípio regente é o da posterioridade (lei posterior revoga a anterior), jamais poderia a decisão ter invocado (como invocou) o da especialidade, que pressupõe a vigência concomitante de duas ou mais leis, aparentemente aplicáveis ao caso concreto.

Confundiu-se, como se nota, o instituto da sucessão de leis (conflito de leis no tempo) com o conflito aparente de leis.

A diferença entre o conflito aparente de leis penais (ou de normas penais) e a sucessão de leis penais

4 PEREIRA, Antonio Albergaria. Comentários à Lei 8935/1994, dos Serviços Notariais e Registrais/ Antonio Albergaria Pereira. Bauru/SP , EDIPRO 1995, pg. 8. 5 Entendimento que tem pertinência total com a questão posta pela Administração que diz que LEI GERAL NÃO REVOGOU a LEI ESPECIAL.

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(conflito de leis penais no tempo) é a seguinte: o primeiro pressupõe (e exige) duas ou mais leis em vigor (sendo certo que por força do princípio ne bis in idem uma só norma será aplicável); no segundo (conflito de leis penais no tempo) há uma verdadeira sucessão de leis, ou seja, a posterior revoga (ou derroga) a anterior. Uma outra distinção: o conflito aparente de leis penais é regido pelos princípios da especialidade, subsidiariedade e consunção. O que reina na sucessão de leis penais é o da posterioridade.

Na teoria do direito em geral (logo, também no Direito penal), consoante lições clássicas de Ross e Bobbio (citados por COBO DEL ROSAL e VIVES ANTÓN, Derecho penal-PG, 4. ed., Valencia: Tirant lo blanch, 1996, p. 155), são inconfundíveis os princípios da especialidade, hierarquia e posterioridade. Quando uma lei nova (geral) cuida da mesma matéria contemplada na lei especial antiga, não paira nenhuma dúvida sobre a incidência do princípio da posterioridade, que implica a revogação (ou derrogação) da lei anterior. Em outras palavras: lei posterior geral (é o caso da Lei 11.464/2007, que cuida dos crimes hediondos e equiparados) revoga (ou derroga) a lei anterior específica (art. 44 da lei de drogas - Lei 11.343/2006).

A questão se torna complexa apenas quando a lei posterior é especial. Isso se deu com a Lei 9.455/1997 (lei da tortura), que passou a permitir progressão de regime. A jurisprudência da época (que hoje perdeu sentido em razão do advento da Lei 11.464/2007) acabou se firmando no sentido de que "não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura" (Súmula 698 do STF, que perdeu sentido a partir do momento em que o próprio STF julgou inconstitucional a proibição de progressão de regime nos crimes hediondos - HC 82.959). Nessa súmula assentou-se a inaplicabilidade do princípio da posterioridade quando a lei posterior é especial. Ou seja: lei posterior especial (Lei 9.455/1997) não revoga a lei anterior geral (Lei 8.072/1990), isto é, só vale para os casos específicos nela definidos.

O inverso é diferente: lei posterior geral revoga lei anterior especial. É por isso que a nova lei geral dos crimes hediondos (Lei 11.464/2007) vale para o caso de tortura (regida por lei especial), inclusive no que diz respeito à exigência de 2/5 ou 3/5 (primário ou reincidente) para a progressão de regime, ressalvados os fatos precedentes (ocorridos até 28.03.07), que continuam admitindo progressão depois de 1/6 da pena (art. 112 da LEP).

Com a Lei 11.464/2007 (nova lei geral dos crimes hediondos e equiparados), frente à Lei 11.343/2006 (lei de drogas), deu-se a mesma coisa. Cuida-se de uma lei nova posterior que é geral, que revoga (ou derroga) a anterior especial. Tendo havido derrogação do art. 44 da Lei 11.343/2006 (na parte em que proibia a liberdade provisória), desde 29.03.07, ele já não pode ser utilizado. A decisão ora comentada (HC 81.241) não só aplicou texto legal já derrogado, como invocou princípio incorreto (o da especialidade, que pressupõe duas ou mais leis vigentes). No caso o princípio regente é o da posterioridade (a lei posterior afasta a lei anterior).

Os equívocos prosseguem: o segundo fundamento da decisão reside no art. 5º, inc. XLIII, da Carta Magna, que proíbe a concessão de fiança nos crimes hediondos ou equiparados: "se proibiu a fiança também não cabe liberdade provisória". As incorreções da tese são múltiplas: (a) fiança não se confunde com liberdade provisória; (b) a proibição de uma não afasta a outra (os textos restritivos de direitos devem ser interpretados restritivamente); (c) agora a lei nova dos crimes hediondos (Lei 11.464/2007) já não proíbe a liberdade provisória nesses delitos; (d) a jurisprudência do STF invocada na decisão (HC 86.814-2 etc.), não só já era questionável como agora está ultrapassada depois do advento da Lei 11.464/2007. Quantos equívocos! Espera-se que sejam corrigidos prontamente, seja pelo próprio STJ, seja pela Corte Suprema do país (STF) (...).

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46. Ao que parece a Interpretação da Administração do TJRS fere inclusive a TEORIA GERAL DO DIREITO acima transcrita: Quando uma lei nova (geral) cuida da mesma matéria contemplada na lei especial antiga, não paira nenhuma dúvida sobre a incidência do princípio da posterioridade, que implica a revogação (ou derrogação) da lei anterior(...). Dessa maneira também se ferem e se atacam visceralmente os direitos dos Servidores que estão diariamente expostos aos processos injustos do ponto de vista jurídico. O mais curioso é que essa Injustiça parte “justamente” de quem se espera mais Justiça (porque a Administração é togada, não são Administradores despidos da cultura jurídica). Talvez aqui caibam as palavras do Doutrinador Luiz Flávio Gomes: Quantos equívocos! Espera-se que sejam corrigidos prontamente (...). A questão seria complexa se a Lei Complementar de 1994 não fosse geral, fosse especial (não é o que acontece).

47. A Administração do TJRS aduz que a Lei de 1966 é vigente pelo

critério da ESPECIALIDADE embora pareça muito claro que a Lei de 1994 tratou do processo administrativo na sua inteireza (e de forma generalizante: todos os tópicos) e assim chama o critério da POSTERIORIDADE. Aqui reside a consulta. Sem contar que a Lei de 1994 AMPLIA A DEFESA e portanto essa é uma Lei consentânea com os Princípios do Texto Maior e não aquela gestada na época dos anos sombrios da ditadura, da qual pode (quiçá: deve)6 a Administração togada (teoricamente mais técnica com o Direito) se desgarrar.

48. A Administração do TJRS pode estar descurando de clássicas lições

de Direito e assim trazendo prejuízos ilegais e imorais a uma enormíssima gama de pessoas envolvidas, cabe ao CNJ analisar a consulta.

49. Quiçá a Administração do TJRS esteja incorrendo no assunto do

Processo Administrativo Disciplinar quando aplica a lei nº 5.256/66 “do tempo dos militares” de 1966 no mesmo problema levantado pelo sapiente e renomado penalista: (...) Confundiu-se, como se nota, o instituto da sucessão de leis (conflito de leis no tempo) com o conflito aparente de leis. (...). Sobre essa possível confusão, a consulta se requer. Salvo melhor juízo, a confusão conceitual interpretativa de qual lei deve ser aplicada como aqui preconizada na seara administrativa da portentosa Administração do TJRS se avizinha, fortemente.

50. Sem contar que a Administração do TJRS está ampliando um texto restritivo dos tempos de antanho até para “passar por cima” de um preceito da LEI dos Notários e Registradores de 1998 – art. 20. Mister registrar que tal projeto de lei é de autoria do Próprio Poder Judiciário, o que se pode ver no site da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

51. Curioso (e muito) que a Administração não aplique a Lei gestada no

seu próprio “ventre” (O artigo nº 20 da lei nº 11.183/1998 que manda aplicar em Processo Administrativo Disciplinar a Lei Complementar de 1994)

PL 184/1997 proposição pelo TJRS em 04.08.1997 na Assembléia Legislativa. Processo na Assembléia Número 21751.01.00/97-7. lei sancionada em 29.06.1998. DISPÕE SOBRE OS CONCURSOS DE INGRESSO E REMOÇÃO NOS SERVIÇOS NOTARIAL E REGISTRAL, NESTE ESTADO, E SOBRE A AÇÃO DISCIPLINAR, RELATIVA

6 Depende do resultado da Consulta.

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AOS MESMOS SERVIÇOS, CONFORME PREVISÃO DA LEI FEDERAL Nº 8.935, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1994, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. JUSTIFICATIVA do TJRS A Lei Federal nº 8.935, de 18 de novembro de 1994, ao regulamentar o artigo 236 da Constituição Federal, instituiu o sistema nacional de serviços notariais e de registro, apresentando diversas inovações, destacando-se a nova sistemática dos concursos. Além do concurso de ingresso na atividade notarial e de registro, criou-se o concurso de remoção de uma Serventia para outra, atribuindo-se a lei estadual a fixação das normas e critérios (art. 18 da citada Lei). O presente projeto de lei objetiva a regulamentação dessas duas novas modalidades de concursos. Nas disposições preliminares, criou-se uma Comissão Permanente de Concursos, ligada a Corregedoria-Geral da Justiça, com participação da OAB, do Ministério Publico e dos notários e registradores, cumprindo-se a determinação da lei federal (art. 15), que auxiliara na realização dos concursos. Os concursos de ingresso e de remoção foram regulamentados separadamente, em face das peculiaridades de cada um. As provas de conhecimentos e de títulos igualmente receberam regulamentação individualizada. Finalmente, nas disposições finais, previu-se a possibilidade de aproveitamento de candidatos aprovados em concurso de ingresso para o preenchimento de serventias em que não haja interessados no concurso de remoção. O objetivo e o preenchimento das serventias menos atraentes do ponto de vista econômico, mas de notável importância do ponto de vista social, como ocorre com os Ofícios Distritais e de Sede Municipal. Enfim, a nova lei dos concursos dos serviços notariais e registrais preenchera uma lacuna na legislação estadual, conferindo o máximo de transparência em todas as fases da seleção de candidatos interessados no ingresso ou na remoção nos serviços notariais ou de registro. Poder Judiciário.

52. Cada Juiz é dono de sua Consciência Jurídica e julga conforme o seu entendimento pessoal do assunto. Mas o Administrador não está despido do Poder Diretivo e Corretivo do Conselho Nacional de Justiça.

53. Quer seja, as decisões judiciais não condicionam a atividade do

Administrador Gaúcho e nem tampouco o CNJ está “manietado” as opiniões dadas em casos concretos pelos julgadores do TJRS. O CNJ tem de analisar as consultas com a independência necessária, o que é de regra, a atuação do órgão administrativo máximo.

54. Note Bene: As decisões judiciais aqui citadas apenas servem como elemento de prova e de informação de que a Administração – mormente a Administração do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – está a aplicar a lei vetusta (de 1966) sob a alegação de que esta é LEI ESPECIAL. Não se questionam as decisões judiciais, eis que as partes podem e deviam, segundo as suas próprias conveniências, lá recorrer.

55. A utilização de uma LEI impregnada da visão recrudescente do tempo do militarismo (sobretudo perto de 1964) pode ser considerada uma atividade não ZELOSA e, portanto IMORAL do ponto de vista Administrativo. Mormente quando há uma confusão como a pespegada pelo Doutrinador Luiz Flávio Gomes acima mencionado.

56. O Doutrinador Antonio Carlos Alencar Carvalho7 proclama pela

7 CARVALHO, Antonio Carlos Alencar. Manual de processo administrativo disciplinar e sindicância: à luz da jurisprudência dos

Tribunais e da casuística da Administração Pública. Brasília: Fortium, 2008. 1069 p.

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atuação séria e zelosa na processualística administrativa, com a preservação do interesse público e da moralidade no serviço público, mas, paralelamente, “o respeito à afligida figura humana do funcionário processado, muitas vezes tratado com humilhação e injustiça:

'Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!' (Fernando Pessoa)”.

57. Desconsiderar a cognoscibilidade e os parâmetros fixados pelo

legislador é atividade que não pode ser produzida pelo Administrador e nem tampouco pelo Juízo, pois sua nobre função é de aplicar o DIREITO ao caso em concreto e não deturpar o Direito ao mesmo, mormente em se tratando de penalidades onde a subsunção tem de ser recheada de prudência e de todas as garantias insculpidas no Texto Farol. O ilustre Min. GILMAR FERREIRA MENDES, do Supremo Tribunal Federal, traz importante ensinamento acerca da matéria:

"o princípio da segurança jurídica, elemento fundamental do Estado de Direito, exige que as normas restritivas sejam dotadas de clareza e precisão, permitindo que o eventual atingido possa identificar a nova situação jurídica e as conseqüências dela decorrem. Portanto, clareza e determinação significam cognoscibilidade dos propósitos do legislador." (MENDES, Gilmar Ferreira, Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade - Estudos de Direito Constitucional, Celso Bastos Editor, São Paulo, 1999.)

58. Repita-se à exaustão: esta CONSULTA é para nortear a Atividade Administrativa que tem se utilizado de uma lei vetusta de 1966 que ao sentimento do Consulente tem diversos cerceamentos de Defesa e não é compatível com o Princípio Maior da Ampla Defesa do Texto Farol de 1988.

59. A Consulta ora formulada se resume em saber qual é a Lei a ser

aplicada no Processo Administrativo Disciplinar quando tramita na seara Administrativa.

60. Repita-se: Essa consulta é para a Seara Administrativa e sobretudo a Seara Administrativa do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul que tem se valido da tal lei nº 5.256/66 em detrimento da lei Complementar Estadual nº 10.098/1998, sobretudo nos processos que envolvam os Notários e Registradores (que não são Servidores Públicos) e também nos Processos Administrativos Disciplinares dos Servidores Propriamente ditos, é o que se infere nos julgados do TJRS onde se chega a conclusão de que a tal lei do tempo do antanho (1966) é sistematicamente utilizada e isso causa severas dúvidas ao Consulente pois o argumento é de que essa lei está plenamente em vigor, pois é “ESPECIAL”.

61. Dúvidas há no Consulente se o Princípio a ser aplicado não deveria

ou deve ser o da POSTERIORIDADE, pois a Lei Complementar nº 10.098/94 tratou do processo administrativo disciplinar na sua inteireza.

62. Para bem aquilatar a importância do tema em consulta, mister se faz

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citar um trecho de um acórdão recente do TJRS (sem adentrar na justiça da decisão judicial – a discussão aqui é abstrata: qual diploma deve gerir o processo administrativo disciplinar) que denota a extrema diferença entre os tratamentos dos diplomas legais (o de 1966 e o de 1994, esse feito sob a égide do Texto Maior de 1988). Diz trecho do acórdão Mandado de Segurança Nº 70038743563 clique aqui para acessar a íntegra da decisão, Segundo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Luiz Reis de Azambuja, Julgado em 12/11/2010:

(...) A alegação de que a suspensão preventiva prevista no artigo 790 da Lei 5.256/66

limita-se a noventa dias, esbarra frontalmente no permissivo de seu § 2º, que expressamente admite a prorrogação do prazo sem limitação, desde que haja fundada necessidade. (...)

63. Pois bem, o artigo da Lei Gaúcha de 1994 – Lei Complementar nº

10.098/1994 - tem limitação expressa e muito clara acerca do tempo do afastamento da atividade em patente conflito (dispõe de maneira diversa) com o art. 790 da lei do tempo da ditadura (feita em 1966):

Do Afastamento Preventivo

Art. 204 - Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da irregularidade ou infração funcional, a autoridade instauradora do processo administrativo disciplinar poderá determinar o afastamento preventivo do exercício das atividades do seu cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração. Parágrafo único - O afastamento poderá ser prorrogado por igual período, findo o qual cessarão definitivamente os seus efeitos, mesmo que o processo administrativo disciplinar ainda não tenha sido concluído.

64. Certo que o Estado tem o Poder-Dever de investigar e punir eventuais infratores. Porém, no Estado Democrático de Direito atual há limites ao Poder Investigatório e Instrutório das autoridades. O Texto Maior trouxe parâmetros muito claros e não é por menos que a nossa Constituição começa o seu Texto calcado nos Direitos dos Cidadãos, pois sabe da mácula que foi os tempos de antanho, onde o Poder sem parâmetros vitimou injustamente inúmeras pessoas (lembremos que até nossa novel Presidenta era uma assaltante de banco e terrorista na Legalidade da época).

65. A nossa Constituição começa afirmando Princípios. Há no artigo

primeiro da Constituição o dispositivo que diz: são Princípios Fundamentais da República Federativa brasileira e o primeiro é exatamente o Princípio da Dignidade da pessoa humana, justamente pelo fato de que nos tempos militares não havia o respeito aos Direitos e Garantias Fundamentais, incluindo-se aí os Direitos e Deveres Individuais e Coletivos ele é o primeiro capítulo do Título II da Constituição.

66. Em contraposição ao regime anterior (“da baioneta”) nossa Carta Magna trouxe o capítulo que trata dos Direitos e Garantias Fundamentais no início da Constituição,

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por motivos estratégicos, pois os tempos da “Revolução Golpista” trouxeram muitos cerceios aos Direitos e Garantias Individuais. Incrivelmente ainda há resquícios muito fortes da filosofia ditatorial até dentro de alguns Tribunais, embora vários e vários anos se passaram e a mentalidade haveria de mudar para os tempos democráticos para os tempos onde a ampla Defesa e principalmente os cidadãos é que são o centro e a razão de ser do Estado. Muito se lutou em face do Poder Estatal Arbitrário “dos anos de chumbo”.

67. A Administração, sobretudo a togada (de onde se espera mais

garantias constitucionais), não se pode valer, salvo melhor juízo, de diplomas impregnados de uma filosofia onde a Ampla Defesa era vista como algo de somenos8 (como um entrave ao punitivismo enorme – vide o art. 781 daquele horrendo diploma de 1966 que bem denota o espírito de toda aquela lei absolutamente restritora da ampla Defesa). O Estado tem de ter uma limitação legal, ético-jurídica. É o que diz a Suprema Corte deste País.

68. Eis um clássico da jurisprudência da Suprema Corte deste País. Essa

estupenda jurisprudência manda aplicar o DEVIDO PROCESSO LEGAL, o CONTRADITÓRIO e a AMPLA DEFESA ainda que em sede meramente Administrativa, ei-lo:

E M E N T A: PROCESSO ADMINISTRATIVO - RESTRIÇÃO DE DIREITOS - OBSERVÂNCIA NECESSÁRIA DA GARANTIA CONSTITUCIONAL DO "DUE PROCESS OF LAW" (CF, ART. 5º, LV) - REEXAME DE FATOS E PROVAS, EM SEDE RECURSAL EXTRAORDINÁRIA - INADMISSIBILIDADE - RECURSO IMPROVIDO. RESTRIÇÃO DE DIREITOS E GARANTIA DO "DUE PROCESS OF LAW". –

O Estado, em tema de punições disciplinares ou de restrição a direitos, qualquer que seja o destinatário de tais medidas, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de sua atividade, o postulado da plenitude de defesa, pois o reconhecimento da legitimidade ético-jurídica de qualquer medida estatal - que importe em punição disciplinar ou em limitação de direitos - exige, ainda que se cuide de procedimento meramente administrativo (CF, art. 5º, LV), a fiel observância do princípio do devido processo legal.

8 Como se a Defesa fosse algo de embaraço a pretensão punitivista – art. 781 do tal diploma é bem forte.

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A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reafirmado a essencialidade desse princípio, nele reconhecendo uma insuprimível garantia, que, instituída em favor de qualquer pessoa ou entidade, rege e condiciona o exercício, pelo Poder Público, de sua atividade, ainda que em sede materialmente administrativa, sob pena de nulidade do próprio ato punitivo ou da medida restritiva de direitos. Precedentes. Doutrina.

NÃO CABE REEXAME DE FATOS E DE PROVAS EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. - Não cabe recurso extraordinário, quando interposto com o objetivo de discutir questões de fato ou de examinar matéria de caráter probatório, mesmo que o apelo extremo tenha sido deduzido em sede processual penal. (AI 241201 AgR/SC - SANTA CATARINA, AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Julgamento: 27/08/2002, Órgão Julgador: Segunda Turma, Publicação: DJ DATA-20-09-2002 PP-00109 EMENT VOL-02083-03 PP-00589)

69. Ademais, a lei de 1966 acaba por restringir de sobremaneira os

prazos dados a defesa e mais uma enorme gama de benesses da defesa trazidas na Lei de 1994. A Carta Maior manda aplicar a AMPLA DEFESA e assim uma aplicação de uma lei dos tempos de antanho poderá atacar um indescurável Princípio da Carta Maior – dar azo a interpretação Constitucional que privilegia a amplitude da Defesa (sem prejuízo da tese de que o Princípio é o da Posterioridade).

70. A Atividade estatal é condicionada aos parâmetros legais e qualquer

interpretação que fuja aos parâmetros da AMPLA DEFESA e da menor restrição aos Direitos dos acusados deve ser prontamente banida.

71. Quanto a essa conclusão de a lei de 1966 ser considerada plenamente

vigente e especial que tem seu nascedouro na Administração do TJRS9 (e é placitada em juízo do próprio Tribunal), o Consulente guarda severas reservas e como isso atinge uma enorme categoria dos Servidores do Estado do Rio Grande do Sul a consulta, s.m.j, é assaz pertinente ao CNJ, pois bem balizada a questão irão se prevenir uma enorme gama de litígios e sem contar que a segurança jurídica será alcançada pois a interpretação do Colegiado (bem heterogêneo) do CNJ é um interpretação segura, sem dúvidas.

72. Há quem diga que esta lei é ESPECIAL e não DERROGA a lei geral o

Estatuto do Servidor feito sob a égide do Texto Maior:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. TUTELA ADMINISTRATIVA ANTECIPADA. PRORROGAÇÃO. ESTATUTO DOS SERVIDORES DA JUSTIÇA. VIGÊNCIA. ESTATUTO DOS SERVIDORES DO ESTADO. LEI GERAL. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. AUSÊNCIA DE DIREITO LIQUIDO E CERTO. SEGURANÇA DENEGADA. O ESTATUTO DOS SERVIDORES DA JUSTIÇA, LEI ESTADUAL N° 5.256/66 ESTA PLENAMENTE EM VIGOR QUANDO DISCIPLINA A POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DE TUTELA ADMINISTRATIVA DISCIPLINAR ANTECIPADA, NÃO SE APLICANDO O ESTATUTO DOS SERVIDORES DO ESTADO - LEI COMPLEMENTAR N° 10.098/94, EIS QUE ESTA E REGRA GERAL E AQUELA, REGRA ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA DENEGADO. (MS nº 598329837, 2º Grupo de Câmaras Cíveis, rel. Des.

9 Somente sobre essa atividade se formula a Consulta.

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Wellington Pacheco Barros, julgado em 10SET99) 73. Entende este CONSULENTE que a Lei Complementar nº

10.098/1994 tratou inteiramente da matéria e exaustivamente e assim DERROGOU (melhor: AB-ROGOU) todo o ordenamento do tempo dos “anos de chumbo”, a saber a lei nº5.256/1966.

74. Sob o argumento de que tal lei é especial em relação a LC nº

10.098/1994 se poderá reviver até os preceitos um tanto assustadores, sobretudo a classe advocatícia, vide a lei 5.256/66 numa época onde predominava o arbítrio total:

Art. 781 - O juiz poderá determinar o afastamento do defensor que criar embaraços ou procurar prejudicar o andamento do processo.

75. Quem defende que a lei 5.256/66 vive para o Processo Administrativo Disciplinar e a considera perfeita e plenamente aplicável, mister se faz reler as palavras do saudoso e eterno Ulysses Guimarães que lutou contra o Regime Militar que minava as vigas mestras da Democracia (sobretudo perto de 1964) colacionadas no início desta peça.

76. Assim, qualquer ato de um causídico que desagrade o Juízo (garantia

do Estatuto da Advocacia) poderá ser subjetivamente classificado como “criar embaraços ou procurar prejudicar o andamento do processo”.

77. Aqui há que se estabelecer o ponto nodal da questão. O subscrevente

informa que iterativamente as autoridades do TJRS (sobretudo a Corregedoria-Geral de Justiça) tem se utilizado quase que exclusivamente da lei gestada em 1966, anos de recrudescimento do regime militar.

78. Eis a Obra dos “anos de chumbo”. A lei 5.256/66 na parte que trata

integralmente do PROCESSO ADMINISTRATIVO.

SEÇÃO III - Do Processo Administrativo Art. 768 - As autoridades judiciárias, advogados e os agentes do Ministério Público, sempre que tiverem conhecimento de faltas funcionais, praticadas por servidor que possam determinar a aplicação das penas previstas no art. 756, inciso VI e VII, deverão comunicar, por escrito, ao Corregedor Geral da Justiça. Parágrafo único - O juiz que não cumprir o disposto no artigo será punido com a pena de suspensão, até sessenta dias.

Art. 769 - O Corregedor Geral, à vista da comunicação de que trata o artigo anterior ou em virtude de representação, solicitará ao diretor do fôro, sindicância a respeito, suspendendo ou não preventivamente, até noventa dias, ao servidor indiciado, ou, desde logo, nomeará magistrado para instaurar o processo administrativo. Art. 770 - O processo administrativo será promovido: I - obrigatòriamente, quando a falta possa determinar a aplicação das penas previstas nos incisos VI e VII do artigo 756; II - facultativamente, quando fôr o caso de imposição de pena de suspensão até sessenta dias.

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Art. 771 - O processo administrativo será realizado por um magistrado, preferencialmente por juiz corregedor, designado pelo Corregedor Geral. Art. 772 - O Corregedor Geral, ao baixar portaria, designará o juiz processante e mencionará o motivo do processo e o tempo em que deverá ser ultimado. Art. 773 - O juiz processante designará servidor para exercer as funções de secretário. Art. 774 - O Conselho Superior da Magistratura ou o Corregedor Geral, à vista do processo administrativo revelador do fato penal punível, remeterá os autos ao juiz diretor do fôro da comarca de origem, para os fins convenientes. Art. 775 - Aplicam-se no processo administrativo as disposições da legislação penal, na matéria. SEÇÃO IV Dos Atos e Têrmos do Processo Administrativo Art. 776 - O processo administrativo será iniciado no prazo de três dias contados do recebimento da designação e concluído dentro de trinta dias, salvo prorrogação concedida pelo Corregedor Geral. Parágrafo único - Sòmente por motivos excepcionais poderá ser autorizada mais uma prorrogação. Art. 777 - Iniciando o processo, o juiz processante fará citar o indiciado, devendo constar no respectivo mandato o resumo o fato a apurar o direito de constituir defensor e de arrolar testemunhas, em número não superior a cinco, bem como o dia, hora e local da audiência inicial. § 1º - Achando-se o indiciado ausente do lugar em que corre o processo, será citado por via postal, em carta como aviso de recebimento, juntando-se ao processo o comprovante. § 2º - Não sendo encontrado o indiciado ou ignorando-se o seu paradeiro, a citação se fará por edital, com o prazo de dez dias, inserto duas vêzes no órgão oficial. § 3º - O prazo a que se refere o § 2º será contado da primeira publicação, certificando o secretário, no processo, as datas em que as publicações foram feitas. Art. 778 - Feita a citação, sem que compareça o indiciado, o processo seguirá à sua revelia, com defensor designado pelo juiz. Art. 779 - O indiciado tem direito de, pessoalmente ou por intermédio de defensor, assistir aos atos probatórios, requerendo o que julgar conveniente aos seus interêsses. Parágrafo único - O juiz denegará requerimento impertinente ou manifestamente protelatório ou de nenhum interêsse para o esclarecimento de fato. Art. 780 - No dia designado, o juiz ouvirá o representante e o prejudicado, se houver, e interrogará o indiciado, passando a inquirir as testemunhas. Art. 781 - O juiz poderá determinar o afastamento do defensor que criar embaraços ou procurar prejudicar o andamento do processo.10 Art. 782 - O indiciado dentro de dois dias, após o interrogatório, poderá requerer diligência, produzir prova documental e arrolar testemunhas. § 1º - Havendo no processo mais de um indiciado, o número de testemunhas de cada um não excederá de três. § 2º - Não encontradas as testemunhas de defesa, e não indicando o indiciado, no prazo de três dias, outras em substituição, prosseguir-se-á nos demais têrmos do processo. Art. 783 - A testemunha não poderá eximir-se de depôr, salvo nos casos previstos no Código de Processo Penal.

10 Uma verdadeira pérola que denota TODO o Espírito do tal ORDENAMENTO retrógrado e maculado de sobremaneira pelo arbítrio do militarismo funesto.

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Art. 784 - Os servidores públicos arrolados como testemunhas serão requisitados aos respectivos chefes de serviço e os militares, ao comando a que estejam subordinados. Art. 785 - Durante o processo poderá o juiz ordenar qualquer diligência que tenha requerida ou se lhe afigure necessária ao esclarecimento do fato. Parágrafo único - Havendo necessidade de concurso de técnicos ou peritos oficiais, a autoridade processante os requisitará a quem de direito. Art. 786 - É permitido ao juiz tomar conhecimento de argüições novas que surgirem contra o indiciado, caso em que êste poderá produzir outras provas em sua defesa. Art. 787 - A fôlha de serviço do indiciado constará dos autos do processo. Art. 788 - Encerrada a instrução o indiciado terá vista dos autos, em mãos do secretário, por três dias, para a apresentação de razões. Art. 789 - Findo o prazo do artigo anterior, o juiz apresentará o seu relatório, no prazo de cinco dias. § 1º - No relatório, o juiz apreciará as irregularidades e faltas funcionais imputadas ao indiciado, as provas colhidas, as razões de defesa, propondo a absolvição ou a punição e, neste caso, indicará a pena a ser aplicada. § 2º - Poderá o juiz sugerir quaisquer outras providências que lhe parecerem necessárias. § 3º - Findo o processo, será remetido para julgamento, ao Corregedor Geral, ou ao Conselho Superior da Magistratura, conforme o caso. § 4º - O órgão competente proferirá a decisão no prazo de dez dias. SEÇÃO V Da Suspensão Preventiva Art. 790 - A pedido do juiz processante ou de ofício poderá o Corregedor Geral ordenar a suspensão preventiva do servidor, até noventa dias desde que a sua permanência no cargo possa prejudicar a investigação dos atos. Parágrafo único - A suspensão preventiva poderá ser prorrogada. Art. 791 - O servidor suspenso preventivamente terá direito a: I - contagem do tempo de serviço relativo ao período de suspensão preventiva, quando do processo não resultar punição, ou quando esta se limitar às penas de advertência, censura ou de conversão da suspensão em multa; II - contagem de tempo de serviço correspondente ao período de afastamento que exceder o prazo de suspensão, quando esta fôr a pena aplicada; III - vencimentos do cargo ou função. SEÇÃO VI Dos Recursos das Penas Disciplinares Art. 792 - Da aplicação da pena disciplinar caberá recurso à autoridade imediatamente superior a que impôs a sanção. § 1º - O prazo de interposição de recurso é de cinco dias, a contar da data em que o interessado tiver conhecimento da decisão. § 2º - O recurso será interposto, mediante petição fundamentada, à autoridade julgadora. § 3º - Se a decisão fôr mantida, o recurso subirá, no prazo de cinco dias, à autoridade competente, que o julgará dentro de dez dias. § 4º - Os recursos previstos neste estatuto terão efeito suspensivo, podendo a autoridade, em casos especiais, recebê-los com efeito meramente devolutivo, justificando, à instância

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administrativa superior, as razões da exceção. TÍTULO V Do Direito de Petição e do Recurso dos Atos Administrativos CAPÍTULO I Do Direto de Petição Art. 793 - Ao servidor da Justiça é assegurado o direito de requerer, representar, recorrer e pedir a reconsideração de decisões, observado o disposto neste estatuto. Art. 794 - Sempre que o servidor ingressar em juízo contra o Estado, deverá comunicar o fato ao Presidente do Conselho Superior da Magistratura. CAPÍTULO II Dos Recursos dos Atos Administrativos Art. 795 - A autoridade judiciária que determinar medida administrativa é competente para reconhecer e decidir do pedido de reconsideração. Parágrafo único - O pedido de reconsideração não tem efeito suspensivo e deverá ser apresentado até três dias depois do conhecimento do ato, para a sua decisão no prazo de dez dias.

79. Por sua vez, O Estatuto dos Servidores LEI COMPLEMENTAR Nº 10.098, DE 03 DE FEVEREIRO DE 1994 dispôs integralmente acerca do processo Administrativo Disciplinar, repetindo alguns artigos da lei dos textos autoritários e dando uma nova roupagem ao preceito Constitucional da AMPLA DEFESA. Quer seja a DEFESA pelo Texto Maior tem de ser AMPLIADA e muitas autoridades julgadoras acabam por RESTRINGIR a DEFESA chamando um texto revogado dos tempos de antanho.

80. Eis o Estatuto dos Servidores LEI COMPLEMENTAR Nº 10.098, DE 03

DE FEVEREIRO DE 1994:

TÍTULO V Do Processo Administrativo Disciplinar CAPÍTULO I Das Disposições Gerais Art. 198 - A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público estadual ou prática de infração funcional é obrigada a promover sua apuração imediata, mediante meios sumários ou processo administrativo disciplinar, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de se tornar co-responsável, assegurada ampla defesa ao acusado. Art. 199 - As denúncias sobre irregularidades serão objeto de averiguação, desde que contenham a identidade do denunciante e sejam formuladas por escrito, para fins de confirmação de autenticidade. Parágrafo único - Quando o fato narrado não configurar evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia deverá ser arquivada por falta de objeto material passível de ensejar qualquer punição consignada nesta lei. Art. 200 - As irregularidades e as infrações funcionais serão apuradas por meio de: I - sindicância, quando os dados forem insuficientes para sua determinação ou para apontar o servidor faltoso ou, sendo este determinado, não for a falta confessada, documentalmente provada ou manifestamente evidente; II - inquérito administrativo, quando a gravidade da ação ou omissão torne o autor passível das penas disciplinares de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, demissão, cassação de aposentadoria ou de disponibilidade, ou ainda, quando na sindicância ficar comprovada a ocorrência de irregularidades ou falta funcional grave, mesmo sem indicação de autoria.

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CAPÍTULO II Da Sindicância Art. 201 - Toda autoridade estadual é competente para, no âmbito da jurisdição do órgão sob sua chefia, determinar a realização de sindicância, de forma sumária, a qual deverá ser concluída no prazo máximo de 30 (trinta) dias úteis, podendo ser prorrogado por até igual período. § 1º - A sindicância será sempre cometida a servidor de hierarquia igual ou superior à do implicado, se houver. § 2º - O sindicante desenvolverá o encargo em tempo integral, ficando dispensável de suas atribuições normais até a apresentação do relatório final, no prazo estabelecido neste artigo. Art. 202 - O sindicante efetuará diligências necessárias ao esclarecimento da ocorrência e indicação do responsável, ouvido, preliminarmente, o autor da representação e o servidor implicado, se houver. § 1º - Reunidos os elementos coletados, o sindicante traduzirá no relatório as suas conclusões gerais, indicando, se possível, o provável culpado, qual a irregularidade ou transgressão praticada e o seu enquadramento nas disposições da lei reguladora da matéria. § 2º - Somente poderá ser sugerida a instauração de inquérito administrativo quando, comprovadamente, os fatos apurados na sindicância a tal conduzirem, na forma do inciso II do artigo 200. § 3º - Se a sindicância concluir pela culpabilidade do servidor, será este notificado para apresentar defesa, querendo, no prazo de 3 (três) dias úteis. Art. 203 - A autoridade, de posse do relatório do sindicante, acompanhado dos elementos que instruírem o processo, decidirá pelo arquivamento do processo, pela aplicação da penalidade cabível de sua competência, ou pela instauração de inquérito administrativo, se estiver na sua alçada. Parágrafo único - Quando a aplicação da penalidade ou a instauração de inquérito for de autoridade de outra alçada ou competência, a esta deverá ser encaminhada a sindicância para apreciação das medidas propostas. CAPÍTULO III Do Afastamento Preventivo Art. 204 - Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da irregularidade ou infração funcional, a autoridade instauradora do processo administrativo disciplinar poderá determinar o afastamento preventivo do exercício das atividades do seu cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração. Parágrafo único - O afastamento poderá ser prorrogado por igual período, findo o qual cessarão definitivamente os seus efeitos, mesmo que o processo administrativo disciplinar ainda não tenha sido concluído. CAPÍTULO IV Do Processo Administrativo Disciplinar em Espécie Art. 205 - O processo administrativo disciplinar é o instrumento utilizado no Estado para apurar responsabilidade de servidor por irregularidade ou infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação direta com o exercício do cargo em que se encontre efetivamente investido. Art. 206 - O processo administrativo disciplinar será conduzido por comissão composta de 3 (três) servidores estáveis, com formação superior, sendo pelo menos um com titulação em Ciências Jurídicas e Sociais, designados pela autoridade competente, que indicará, dentre eles, o seu presidente. § 1º - O presidente da comissão designará, para secretariá-la, um servidor que não poderá ser escolhido entre os componentes da mesma. § 2º - VETADO § 3º - Não poderá integrar a comissão, nem exercer a função de secretário, o servidor que tenha feito a denúncia de que resultar o processo disciplinar, bem como o cônjuge ou parente do acusado, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até 3º grau. Art. 207 - A comissão exercerá suas atividades com independência e imparcialidade, assegurando o sigilo absoluto e necessário à elucidação do fato, ou exigido pelo interesse da Administração. Parágrafo único - As reuniões e as audiências das comissões terão caráter reservado. Art. 208 - O servidor poderá fazer parte, simultaneamente, de mais de uma comissão, podendo esta ser incumbida de mais de um processo disciplinar. Art. 209 - O membro da comissão ou o servidor designado para secretariá-la não poderá fazer parte do processo na qualidade de testemunha, tanto da acusação como da defesa. Art. 210 - A comissão somente poderá deliberar com a presença absoluta de todos os seus membros. Parágrafo único - A ausência, sem motivo justificado, por mais de duas sessões, de qualquer dos membros da comissão ou de seu secretário, determinará, de imediato, a substituição do faltoso, sem prejuízo de ser passível de punição disciplinar por falta de cumprimento do dever funcional. Art. 211 - O processo administrativo disciplinar se desenvolverá, necessariamente, nas seguintes fases: I - instauração, ocorrendo a partir do ato que constituir a comissão;

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II - processo administrativo disciplinar, propriamente dito, compreendendo a instrução, defesa e relatório; III - julgamento. Art. 212 - O prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar não poderá exceder a 60 (sessenta) dias, contados da data da publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por igual período, quando as circunstâncias de cunho excepcional assim o exigirem. § 1º - Sempre que necessário, a comissão desenvolverá seus trabalhos em tempo integral, ficando seus membros e respectivo secretário, dispensados de suas atividades normais, até a entrega do relatório final. § 2º - As reuniões da comissão serão registradas em atas, detalhando as deliberações adotadas. Art. 213 - O processo administrativo disciplinar, instaurado pela autoridade competente para aplicar a pena disciplinar, deverá ser iniciado no prazo de 5 (cinco) dias úteis, contados da data em que for publicada a designação dos membros da comissão. Art. 214 - Todos os termos lavrados pelo secretário da comissão, tais como, autuação, juntada, intimação, conclusão, data, vista, recebimento de certidões, compromissos, terão formas processuais, resumindo-se tanto quanto possível. Art. 215 - Será feita por ordem cronológica de apresentação toda e qualquer juntada aos autos, devendo o presidente rubricar as folhas acrescidas. Art. 216 - Figurará sempre, nos autos do processo, a folha de antecedentes do indiciado. Art. 217 - No processo administrativo disciplinar, poderá ser argüida suspeição, que se regerá pelas normas da legislação comum. Art. 218 - Quando ao servidor se imputar crime praticado na esfera administrativa, a autoridade que determinar a instauração do processo administrativo disciplinar providenciará para que se instaure, simultaneamente, o inquérito policial. Parágrafo único - Idêntico procedimento compete à autoridade policial quando se tratar de crime praticado fora da esfera administrativa. Art. 219 - As autoridades administrativas e policiais se auxiliarão, mutuamente, para que ambos os inquéritos se concluam dentro dos prazos fixados nesta lei. Art. 220 - A absolvição do processo crime, a que for submetido o servidor, não implicará na permanência ou retorno do mesmo ao serviço público se, em processo administrativo disciplinar regular, tiver sido demitido em virtude de prática de atos que o inabilitem moralmente para aquele serviço. Art. 221 - Acarretarão a nulidade do processo: a) a determinação de instauração por autoridade incompetente; b) a falta de citação ou notificação, na forma determinada nesta lei; c) qualquer restrição à defesa do indiciado; d) a recusa injustificada de promover a realização de perícias ou quaisquer outras diligências convenientes ao esclarecimento do processo; e) os atos da comissão praticados apenas por um dos seus membros; f) acréscimos ao processo depois de elaborado o relatório da comissão sem nova vista ao indiciado; g) rasuras e emendas não ressalvadas em parte substancial do processo. Art. 222 - As irregularidades processuais que não constituírem vícios substanciais insanáveis, suscetíveis de influírem na apuração da verdade ou decisão do processo, não determinarão a sua nulidade. Art. 223 - A nulidade poderá ser argüida durante ou após a formação da culpa, devendo fundar-se a sua argüição em texto legal, sob pena de ser considerada inexistente. CAPÍTULO V Do Inquérito Administrativo SEÇÃO I Das Disposições Gerais Art. 224 - O inquérito administrativo obedecerá ao princípio do contraditório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a utilização de todos os meios de prova em direito admitidos, podendo as mesmas serem produzidas "ex-officio", pelo denunciante ou pelo acusado, se houver, ou a requerimento da parte com legitimidade para tanto. Art. 225 - Quando o inquérito administrativo for precedido de sindicância, o relatório desta integrará a instrução do processo como peça informativa. Parágrafo único - Na hipótese de o relatório da sindicância concluir que a infração praticada consta capitulada como ilícito penal, a autoridade competente providenciará no encaminhamento de cópias dos autos ao Ministério Público, independentemente da imediata instauração do processo disciplinar. Art. 226 - Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada de depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis, objetivando a coleta de provas, recorrendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir a completa elucidação dos fatos.

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§ 1º - A designação dos peritos deverá obedecer ao critério da capacidade técnica especializada, observadas as provas de habilitação estabelecidas em lei, e só poderá recair em pessoas estranhas ao serviço público estadual, na falta de servidores aptos a prestarem assessoramento técnico. § 2º - Para os exames de laboratório, porventura necessários, recorrer-se-á aos estabelecimentos particulares somente quando inexistirem oficiais ou quando os laudos forem insatisfatórios ou incompletos. Art. 227 - É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o processo pessoalmente ou por intermédio de procurador habilitado, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de provas periciais. § 1º - Só será admitida a intervenção de procurador, no processo disciplinar, após a apresentação do respectivo mandato, revestido das formalidades legais. § 2º - O presidente da comissão poderá denegar períodos considerados impertinentes, meramente protelatórios, ou de nenhum interesse para os esclarecimentos dos fatos. § 3º - Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a comprovação do fato independer de conhecimentos especializados de peritos. SEÇÃO II Dos Atos e Termos Processuais Art. 228 - O presidente da comissão, ao instalar os trabalhos, autuará portaria e demais peças existentes e designará dia, hora e local para a audiência inicial, citando o indiciado, se houver, para interrogatório e acompanhamento do processo. § 1º - A citação do indiciado será feita, pessoalmente ou por via postal, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias úteis da data marcada para audiência, e conterá dia, hora, local, sua qualificação e a tipificação da infração que lhe é imputada. § 2º - Caso o indiciado se recuse a receber a citação, deverá o fato ser certificado, à vista de, no mínimo, 2 (duas) testemunhas. § 3º - Achando-se o indiciado em lugar incerto e não sabido, a citação será feita por edital, publicada no órgão oficial por 3 (três) vezes, com prazo de 15 (quinze) dias úteis, contados a partir da primeira publicação, juntando-se comprovante ao processo. § 4º - Quando houver fundada suspeita de ocultação do indiciado, proceder-se-á à citação por hora certa, na forma dos arts. 227 a 229 do Código de Processo Civil. § 5º - Estando o indiciado afastado do seu domicílio e conhecido o seu endereço em outra localidade, a citação será feita por via postal, em carta registrada, juntando-se ao processo o comprovante de registro e o aviso de recebimento. § 6º - A citação pessoal, as intimações e as notificações serão feitas pelo secretário da comissão, apresentado ao destinatário o instrumento correspondente em duas vias para que, retendo uma delas, passe recibo devidamente datado na outra. § 7º - Quando o indiciado comparecer voluntariamente junto à comissão, será dado como citado. § 8º - Não havendo indiciado, a comissão intimará as pessoas, servidores, ou não, que, presumivelmente, possam esclarecer a ocorrência, objeto do inquérito. Art. 229 - Na hipótese de a comissão entender que os elementos do processo são insuficientes para bem caracterizar a ocorrência, poderá ouvir previamente a vítima ou o denunciante da irregularidade ou infração funcional. Art. 230 - Feita a citação e não comparecendo o indiciado, o processo prosseguirá à revelia, com defensor dativo designado pelo presidente da comissão, procedendo-se da mesma forma com relação ao que se encontre em lugar incerto e não sabido ou afastado da localidade de seu domicílio. Art. 231 - O indiciado tem o direito, pessoalmente ou por intermédio de defensor, a assistir aos atos probatórios que se realizarem perante a comissão, requerendo medidas que julgar convenientes. Parágrafo único - O indiciado poderá requerer ao presidente da comissão a designação de defensor dativo, caso não o possuir. Art. 232 - O indiciado, dentro do prazo de 5 (cinco) dias úteis após o interrogatório, poderá requerer diligência, produzir prova documental e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito). § 1º - Se as testemunhas de defesa não forem encontradas e o indiciado, dentro do prazo de 3 (três) dias úteis, não indicar outras em substituição, prosseguir-se-á nos demais termos do processo. § 2º - No caso de mais de um indiciado, cada um deles será ouvido separadamente, podendo ser promovida acareação, sempre que divergirem em suas declarações. Art. 233 - As testemunhas serão intimadas a depor mediante mandado expedido pelo presidente da comissão, devendo apor seus cientes na segunda via, a qual será anexada ao processo. Parágrafo único - Se a testemunha for servidor público, a expedição do mandado será remetida ao chefe da repartição onde servir, com a indicação do dia, hora e local em que procederá à inquirição.

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Art. 234 - Serão assegurados transporte e diárias: I - ao servidor convocado para prestar depoimento, fora da sede de sua repartição, na condição de denunciante, indiciado ou testemunha; II - os membros da comissão e ao secretário da mesma, quando obrigados a se deslocarem da sede dos trabalhos para a realização de missão essencial ao esclarecimento dos fatos. Art. 235 - O depoimento será prestado oralmente e reduzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por escrito, sendo-lhe, porém, facultada breve consulta a apontamentos. § 1º - As testemunhas serão inquiridas separadamente, se possível no mesmo dia, ouvindo-se previamente, as apresentadas pelo denunciante; a seguir, as indicadas pela comissão e, por último, as arroladas pelo indiciado. § 2º - Na hipótese de depoimentos contraditórios ou divergentes entre si, proceder-se-á à acareação dos depoentes. § 3º - Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarando o nome, estado civil, profissão, se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas. Art. 236 - Ao ser inquirida uma testemunha, as demais não poderão estar presentes, a fim de evitar-se que uma ouça o depoimento da outra. Art. 237 - O procurador do acusado poderá assistir ao interrogatório, bem como à inquirição das testemunhas, sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas, facultando-se-lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio do presidente da comissão. Art. 238 - A testemunha somente poderá eximir-se de depor nos casos previstos em lei penal. § 1º - Se arrolados como testemunha, o Governador do Estado, os Secretários, os dirigentes máximos de autarquias, bem como outras autoridades federais, estaduais ou municipais de níveis hierárquicos a eles assemelhados, o depoimento será colhido em dia, hora e local previamente ajustados entre o presidente da comissão e a autoridade. § 2º - Os servidores estaduais arrolados como testemunhas serão requisitados junto às respectivas chefias e, os federais e os municipais, bem como os militares, serão notificados por intermédio das repartições ou unidades a que servirem. § 3º - No caso em que as pessoas estranhas ao serviço público se recusem a depor perante a comissão, o presidente poderá solicitar à autoridade policial competente, providências no sentido de serem elas ouvidas na polícia, encaminhando, para tanto, àquela autoridade, a matéria reduzida a itens, sobre a qual devam ser ouvidas. Art. 239 - Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do acusado, a comissão proporá à autoridade competente que ele seja submetido a exame por junta médica oficial, da qual participe, pelo menos, um médico psiquiatra. Parágrafo único - O incidente de sanidade mental será processado em autos apartados e apensos ao processo principal, após expedição do laudo pericial. Art. 240 - O indiciado que mudar de residência fica obrigado a comunicar à comissão o local onde será encontrado. Art. 241 - Durante o curso do processo, a comissão promoverá as diligências que se fizerem necessárias à elucidação do objeto do inquérito, podendo, inclusive, recorrer a técnicos e peritos. Parágrafo único - Os órgãos estaduais atenderão com prioridade às solicitações da comissão. Art. 242 - Compete à comissão tomar conhecimento de novas imputações que surgirem, durante o curso do processo, contra o indiciado, caso em que este poderá produzir novas provas objetivando sua defesa. Art. 243 - Na formação material do processo, todos os termos lavrados pelo secretário terão forma sucinta e, quando possível, padronizada. § 1º - A juntada de documentos será feita pela ordem cronológica de apresentação mediante despacho do presidente da comissão. § 2º - A cópia da ficha funcional deverá integrar o processo desde a indiciação do servidor, bem como, após despacho do presidente, o mandato, revestido das formalidades legais que permita a intervenção de procurador, se for o caso. Art. 244 - Ultimada a instrução do processo, intimar-se-á o indiciado, ou seu defensor legalmente constituído, para, no prazo de 10 (dez) dias, contados da data da intimação, apresentar defesa por escrito, sendo-lhe facultada vista aos autos na forma da lei. § 1º - Havendo 2 (dois) ou mais indiciados, o prazo será comum e de 20 (vinte) dias. § 2º - O prazo de defesa, excepcionalmente, poderá ser suprimido, a critério da comissão, quando esta a julgar desnecessária, face à inconteste comprovação da inocência do indiciado. Art. 245 - Esgotado o prazo de defesa, a comissão apresentará, dentro de 10 (dez) dias, minucioso relatório, resumindo as peças essenciais dos autos e mencionando as provas principais em que se baseou para formular sua convicção.

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§ 1º - O relatório será sempre conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do sindicado. § 2º - Se a defesa tiver sido dispensada ou apresentada antes da fluência do prazo, contar-se-á o destinado à feitura do relatório a partir do dia seguinte ao da dispensa da apresentação. § 3º - No relatório, a comissão apreciará em relação a cada indiciado, separadamente, as irregularidades, objeto de acusação, as provas que instruírem o processo e as razões de defesa, propondo, justificadamente, a absolvição ou a punição, sugerindo, nesse caso, a pena que couber. § 4º - Deverá, também, a comissão, em seu relatório, sugerir providências tendentes a evitar a reprodução de fatos semelhantes ao que originou o processo, bem como quaisquer outras que lhe pareçam de interesse do serviço público estadual. Art. 246 - O relatório da comissão será encaminhado à autoridade que determinou a sua instauração para apreciação final no prazo de 30 (trinta) dias. § 1º - Apresentado o relatório, a comissão ficará à disposição da autoridade que houver instaurado o inquérito para qualquer esclarecimento ou providência julgada necessária. § 2º - Quando não for da alçada da autoridade a aplicação das penalidades e das providências indicadas, estas serão propostas a quem de direito competir, no prazo marcado para julgamento. § 3º - Na hipótese do parágrafo anterior, o prazo para julgamento final será de 20 (vinte) dias. § 4º - A autoridade julgadora promoverá a publicação em órgão oficial, no prazo de 8 (oito) dias, da decisão que proferir, expedirá os atos decorrentes do julgamento e determinará as providências necessárias a sua execução. § 5º - Cumprido o disposto no parágrafo anterior, dar-se-á ciência da solução do processo ao autor da representação e à comissão, procedendo-se, após, ao seu arquivamento. § 6º - Se o processo não for encaminhado à autoridade competente no prazo de 30 (trinta) dias, ou julgado no prazo determinado no § 3º, o indiciado poderá reassumir, automaticamente, o exercício do seu cargo, onde aguardará o julgamento.

81. Mil vênias ao entendimento da Administração Corte Gaúcha, mas

o fato é que o Estatuto do Servidor de 1994 disciplinou o Processo Administrativo na sua inteireza e portanto não é lei especial. É isto sim, LEI REVOGADA.

82. Há dispositivos na lei de 1966 que decretam a perda do cargo

(DEMISSÃO) por suposta manifestação injuriosa contra as autoridades (nítido viés autoritário e essencialmente punitivista – como disse o STF acerca do julgamento da lei de imprensa: contexto de cerceamento de expressão e contexto punitivo). Penalidade nitidamente cerceatória da ampla defesa. Eis uma parte de um voto do TJRS – MS nº 70034638098 julgado no Tribunal de Justiça, cuja parte do Voto se transcreve veja íntegra da decisão:

Em que pese o art. 762, II11, do Estatuto dos Servidores da Justiça – Lei n. 5.256/66 –

prever como autoridade competente, para a aplicação da pena de suspensão até 60 dias e

perda de vencimentos e tempo de serviço, o Corregedor-Geral, o Diretor do Foro ou seu

11 Art. 756 - Os servidores da Justiça estão sujeitos às seguintes penas disciplinares: [...] IV - perda de vencimentos e tempo de serviço; V – suspensão até sessenta dias. Art. 762 - São competentes para a aplicação das penas previstas no art. 756: I - O Conselho Superior da Magistratura, nos casos previstos nos incisos VI e VII; II - O Corregedor Geral, o diretor do fôro ou seu substituto legal nos casos dos incisos I a V; [...]

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substituto legal, não vejo a violação apontada pelo impetrante, na medida em que o

Conselho da Magistratura aplicou pena mais branda.

Veja-se que a instauração do processo administrativo disciplinar baseou-se em falta funcional passível de demissão – art. 757, VI, “d” da Lei 5.256/66 (referência injuriosa, caluniosa ou difamatória à Justiça, autoridades públicas, às partes ou a seus

advogados), conforme a Portaria nº 12/2009, cuja competência para aplicação da pena é

do Conselho da Magistratura, ex vi art. 762, I, do Estatuto.

No entanto, ao final do procedimento administrativo, o Conselho entendeu pela aplicação

da pena de suspensão, pena mais branda, o que não se afigura irregularidade a ensejar a

nulidade do processo. Com efeito, não seria lógico nem razoável que a autoridade competente para a aplicação da pena de demissão, não o seja para, ao fim e ao cabo,

aplicar pena mais branda. (...)

83. Anota o Consulente que nem um delito criminal é passível de dar a DEMISSÃO, essa está condicionada a gravidade do ilícito penal. Somente a pena criminal (delitos mais graves) superior a quatro anos praticada pelo Servidor é passível de perda de cargo ou função pública – (art. 92, I “b”12 do Código Penal). Aqui se estabelece uma perda do cargo pela opinião. Não se pode esquecer que é justamente a opinião contrária ao Poder reinante que moveu a história em todos os tempos. Os militares saíram do Poder com passeatas do Povo, vale lembrar. Veja-se que nos países desenvolvidos há sempre a crítica até ácida aos governantes e autoridades e lembrem-se: são países desenvolvidos (é por acaso????).

Lei de 1966 – Demissão

Art. 757 da lei nº 5.256/1966

Lei de 1994 – Demissão Art. 191 da lei nº 10.098/1994

VI - a de demissão nos casos de: a) abandono de cargo, ou ausência do serviço, respectivamente, por mais de trinta dias consecutivos, ou de sessenta alternados, por ano sem licença da autoridade competente; b) recebimento de quaisquer vantagens, em dinheiro ou não, nos feitos em que funcionarem, além daquelas que lhes sejam devidas pelas partes;

Art. 191 - O servidor será punido com pena de demissão nas hipóteses de:

I - ineficiência ou falta de aptidão para o serviço, quando verificada a impossibilidade de readaptação; II - indisciplina ou insubordinação grave ou reiterada; III - ofensa física contra qualquer pessoa, cometida em serviço, salvo em legítima defesa própria ou de terceiros; IV - abandono de cargo em decorrência de mais de 30 (trinta) faltas consecutivas; V - ausências excessivas ao serviço em número superior a 60 (sessenta) dias,

12 b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

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c) indisciplina ou insubordinação reiteradas; d) referência injuriosa, caluniosa ou difamatória à Justiça, autoridades públicas, às partes ou a seus advogados; e) mais de duas suspensões passadas em julgado, no decurso de doze meses, ou cinco intercaladas, em qualquer tempo; f) violação de segrêdo de Justiça. VII - a de demissão a bem do serviço público nos casos de: a) procedimento irregular, condenação judicial punida com reclusão, falta grave ou defeito moral, que incompatibilize o servidor para o desempenho do cargo; b) a incontinência pública escandalosa, vício de jogos proibidos ou de embriaguez habitual; c) condenação a pena privativa de liberdade, por crime cometido com abuso de poder ou violação de dever inerente a função pública; d) condenação, por outro crime, à pena de reclusão por mais de dois anos ou de detenção por mais de quatro.

intercalados, durante um ano; VI - improbidade administrativa; VII - transgressão de quaisquer proibições dos incisos XVII a XXIV do artigo 178, considerada a sua gravidade, efeito ou reincidência; VIII - falta de exação no desempenho das atribuições, de tal gravidade que resulte em lesões pessoais ou danos de monta; IX - incontinência pública e conduta escandalosa na repartição; X - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; XI - aplicação irregular de dinheiro público; XII - reincidência na transgressão prevista no inciso V do artigo 189; XIII - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio estadual; XIV - revelação de segredo, do qual se apropriou em razão do cargo, ou de fato ou informação de natureza sigilosa de que tenha conhecimento, salvo quando se tratar de depoimento em processo judicial, policial ou administrativo-disciplinar; XV - corrupção passiva nos termos da lei penal; XVI - exercer advocacia administrativa; XVII - prática de outros crimes contra a administração pública. Parágrafo único - A demissão será aplicada, também, ao servidor que, condenado por decisão judicial transitada em julgado, incorrer na perda da função pública na forma da lei penal.

84. A predileção pelo Texto de 1966 pela Administração do TJRS não é

acidental, pois naquele texto “se consegue” impor por “delitos de opinião” a pena DEMISSÓRIA que seria alcançada somente com fatos gravíssimos. A tal lei de 1966 é indiscutivelmente uma “arma opressiva” contra a liberdade de opinião e reflete muito bem o tempo dos militares.

85. Quiçá esse famigerado artigo que pune a opinião não seja do mesmo

jaez (de certeza é do mesmo tempo – da mesma época) que a lei de imprensa. Tal artigo em nada enaltece a liberdade de expressão, pelo contrário, é instrumento de opressão.

86. Esse artigo em tudo está ligado a sua época, não é por menos que em

1966 ainda estávamos sob o olhar frio do AI-5. Esse tempo dos “Anos de Chumbo” já passou. - Após o golpe militar em 1964, muitos educadores passaram a ser perseguidos em função de posicionamentos ideológicos. Muitos foram calados para sempre, alguns outros se exilaram, outros se recolheram a vida privada e outros, demitidos, trocaram de função. A ditadura militar espelhou na educação e também na legislação (essa lei de 1966 que o TJRS aplica até hoje para punir) o caráter antidemocrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos, feridos, nos confrontos com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a

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União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores; o Ministro da Justiça declarou que "estudantes tem que estudar" e "não podem fazer baderna". Esta era a prática do Regime.

87. Parece que até hoje perdura em alguns Tribunais aquela velha

história (que deveria ser estória): “Servidor tem que trabalhar e não pode fazer baderna” “Demitido”, pois falou mal do governo! (referência injuriosa, caluniosa ou difamatória à Justiça, autoridades públicas, às partes ou a seus advogados). A triste história se repete.

88. O Ministro Relator Carlos Ayres Britto decidiu pela revogação da Lei

de Imprensa 5.520 sob o fundamento de que seria incompatível com normas constitucionais que enaltecem e garantem a liberdade de expressão (entre elas, o artigo 5º, incisos IV e V e artigo 220 e seguintes). Segundo o Ministro Relator, as únicas restrições admitidas ao direito à liberdade de expressão seriam justamente aquelas constitucionalmente previstas, como a vedação ao anonimato. Além disso, consignou que a Lei de Imprensa é contrária aos postulados da democracia, já que as restrições da lei abreviariam a democracia ao restringirem o acesso de toda a sociedade às ações dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).

89. Sem esquecer que esta lei de 1966 pode estar revogada segundo a

TEORIA GERAL DO DIREITO.

90. A consulta é no seguinte sentido: o FATO de sancionar “PENA CAPITAL” com perda do cargo e da função o SEGUINTE TIPO ABERTO13: referência injuriosa, caluniosa ou difamatória à Justiça, autoridades públicas, às partes ou a seus advogados – é permitido pelo Texto Maior? Não se está a cercear fortemente o sagrado e lídimo Direito de expressão de matiz maior?

13 - baseou-se em falta funcional passível de demissão – art. 757, VI, “d” da Lei 5.256/66 -

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91. Sem contar que é a própria Justiça quem julga se ela foi ou não

injuriada. O Presidente do TJRS vota no Conselho da Magistratura quando injuriado e tem voto de Minerva inclusive.

92. Pode haver sim injustiças enormes às autoridades nas críticas feitas

pelos servidores, mas como disse o Ministro da Suprema Corte o saudoso MINISTRO MENEZES DIREITO:

“o preço do silêncio é muito mais caro que o preço da livre circulação das ideias”. 93. Ora, uma pessoa quando coloca suas ideias num BLOG está a exercer

uma atividade jornalística (que segundo o Supremo Tribunal Federal) nem diploma precisa. É Direito Constitucional da Livre Imprensa o Direito de se manifestar, ainda que a crítica seja dura. Eis o que diz a Suprema Corte do nosso país acerca dos TIPOS que denotam fortíssima repressão estatal ao pensamento. Veja-se que verdadeiras liberdades públicas são cerceadas com a PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA no TJRS:

“Ninguém ignora que, no contexto de uma sociedade fundada em bases democráticas, mostra-se intolerável a repressão estatal ao pensamento, ainda mais quando a crítica – por mais dura que seja – revele-se inspirada pelo interesse coletivo e decorra da prática legítima, como sucede na espécie, de uma liberdade pública de extração eminentemente constitucional (CF, art. 5º, IV, c/c o art. 220). Não se pode desconhecer que a liberdade de imprensa, enquanto projeção da liberdade de manifestação de pensamento e de comunicação, reveste-se de conteúdo abrangente, por compreender, dentre outras prerrogativas relevantes que lhe são inerentes, (a) o direito de informar, (b) o direito de buscar a informação, (c) o direito de opinar e (d) o direito de criticar.

A crítica jornalística, desse modo, traduz direito impregnado de qualificação constitucional,

plenamente oponível aos que exercem qualquer atividade de interesse da coletividade em geral, pois o interesse social, que legitima o direito de criticar, sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar as pessoas públicas. (...)

É importante acentuar, bem por isso, que não caracterizará hipótese de responsabilidade

civil a publicação de matéria jornalística cujo conteúdo divulgar observações em caráter mordaz ou irônico ou, então, veicular opiniões em tom de crítica severa, dura ou, até, impiedosa, ainda mais se a pessoa a quem tais observações forem dirigidas ostentar a condição de figura pública, investida, ou não, de autoridade governamental, pois, em tal contexto, a liberdade de crítica qualifica-se como verdadeira excludente anímica, apta a afastar o intuito doloso de ofender.

Com efeito, a exposição de fatos e a veiculação de conceitos, utilizadas como elementos

materializadores da prática concreta do direito de crítica, descaracterizam o animus injuriandi vel diffamandi, legitimando, assim, em plenitude, o exercício dessa particular expressão da liberdade de imprensa. (...)

É preciso advertir, bem por isso, notadamente quando se busca promover, como no caso, a

repressão à crítica jornalística, mediante condenação judicial ao pagamento de indenização civil, que o Estado – inclusive o Judiciário – não dispõe de poder algum sobre a palavra, sobre as ideias e sobre as convicções manifestadas pelos profissionais dos meios de comunicação social.”

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(AI 505.595, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 11-11-2009, DJE de 23-11-2009.)

94. Ninguém pode exercer com denodo a Liberdade Pública de crítica ESSENCIAL A DEMOCRACIA com um tipo destes que contém na Legislação utilizada pela Administração do TJRS inclusive nos tempos de hoje. É um tipo super repressivo.

A liberdade de expressão constitui-se em direito fundamental do cidadão, envolvendo o pensamento, a exposição de fatos atuais ou históricos e a crítica.” (HC 83.125, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 16-9-2003, Primeira Turma, DJ de 7-11-2003.)

95. Ora, se a crítica é Direito Constitucional como essa liberdade poderá

ser reproduzida com o pesado fardo de perder o cargo, pois toda a crítica pode ser enquadrada como INJURIOSA?

96. Segundo a Corte Maior, restrição ao pensamento, sobretudo essa

constante no tom do Diploma de 1966 (passível de demissão) tem de estar expressamente previsto no Texto Maior para valer. Portanto é nitidamente Inconstitucional a demissão por manifestação do pensamento.

97. Ora, nem uma lei ordinária editada após a CF de 1988 pode

estabelecer restrições ao pensamento. O que se dirá deste resquício dos tempos da caserna posto na lei gaúcha? Claro que a Constituição não permite perda da função pública por justamente exercer uma crítica as autoridades que na verdade devem tolerar ainda mais a crítica e não cerceá-las com a Perda da Função Pública a quem os fala (contesta). Eis o escólio do STF que calha à tese de que a liberdade de pensamento é ampla:

“Divulgação total ou parcial, por qualquer meio de comunicação, de nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se atribua ato infracional. Publicidade indevida. Penalidade: suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como da publicação do periódico até por dois números. Inconstitucionalidade. A Constituição de 1988 em seu art. 220 estabeleceu que a liberdade de manifestação do pensamento, de criação, de expressão e de informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerá qualquer restrição, observado o que nela estiver disposto. Limitações à liberdade de manifestação do pensamento, pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar explícita ou implicitamente prevista na própria Constituição.” (ADI 869, Rel. p/ o ac. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 4-8-1999, Plenário, DJ de 4-6-2004.)

98. Repita-se, não se busca discutir a decisão judicial em si, o que se

discute é se a Administração pode se valer deste texto de 1966, quiçá até revogado e sem dúvida não recepcionado pelo Texto Maior, na maioria dos seus pontos (artigos).

99. Ora, as figuras públicas têm de ser necessariamente mais tolerantes

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com a crítica dos cidadãos, pois é ônus da sua atividade isso (é imanente a função). Assim como os artistas tem vida privada diferenciada, essa não é a mesma do que cidadãos comuns pelo fato de serem figuras públicas. Se o Servidor injuriar alguém e for condenado criminalmente não perde o cargo, mas se for a Justiça o perde. Legislação tipicamente da filosofia retrógrada da caserna, onde até as pessoas perdiam a vida por não ter opinião conforme a legalidade da época. Crítica sendo dura, mole ou injuriosa (toda crítica dura é injuriosa) é bom para a Democracia. Portanto, não se pode tachar a liberdade de expressão como se falar fosse algo que desse até perda da função pública.

100. Há uma espécie de “criminalização”14 da opinião dos servidores

com o intuito de censurar o debate de questões públicas. Esse tipo de legislação já deveria ser página virada na história Brasileira, há ainda resquícios muito fortes dos “porões ditatoriais” dos Tribunais. Ora, não existem no Brasil DOIS Códigos Penais, assim como não pode co-existir dois diplomas legislando sobre tipos que ensejam o ATO DEMISSÓRIO. A Administração do TJRS tem predileção para um Diploma Penal mais contusivo aos seus Servidores (isso tanto nas penas como no processo). A Administração desconsidera os parâmetros do legislador de 1994 e isso tem consequências graves.

101. Sobre a liberdade de EXPRESSÃO e OPINIÃO é bom fazer um registro pertinente de que as críticas a agentes públicos notórios (autoridades) é direito inerente do próprio exercício da cidadania. Utiliza-se de um texto Ditatorial para calar as críticas as autoridades e ainda com a pena capital (ATO DEMISSÓRIO).

102. O aborrecimento decorrente de crítica, ainda que se possa considerar

formulada contra as mais altas autoridades do TJRS, não teria o condão de caracterizar ofensa, mesmo que estes, por excesso de sensibilidade, pudessem se sentir ofendidos ou desprestigiados. Vale destacar, ainda, nesse diapasão, julgado da Suprema Corte Norte-Americana no caso “New York Times vs. Sullivan”, no qual o Juiz-condutor do aresto William Brennan pôs em destaque um landmark ruling desse Alto Tribunal, acerca do tratamento dispensando à garantia constitucional da liberdade de expressão:

“(...) o debate de assuntos públicos deve ser sem inibições, robusto, amplo, e pode incluir ataques veementes, cáusticos e, algumas vezes, desagradáveis ao governo e às autoridades governamentais.” (grifei)

103. A crítica as autoridades é um instrumento de construção e de controle

de Sociedade em face do Poder Estatal e os Administrados não podem ser inibidos e tampouco se mostra razoável a pena capital como forma de melhorar o serviço público. Lembremos que a nossa novel Presidenta era uma crítica da LEGALIDADE da época (lá por 1966 – data da lei nº 5.256/66) e vejam como ela era tratada pelo Estado então vigente.

14 Nem todos os crimes (que são delitos mais graves que os administrativos) são passíveis de perda do cargo.

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104. A Constituição de 1988 não se compatibiliza com afirmação do tipo

‘no Direito Administrativo Disciplinar admite-se a atipicidade da infração e a ampla discricionariedade na aplicação da sanção, que é renunciável pela Administração, possibilidade inconcebível em Direito Penal’. Afinal, o Princípio da Reserva Legal absoluta em matéria penal (5.°, XXXIX, da Constituição Federal) – nullum crimen, mulla poena sine lege – estende-se ao Direito Administrativo sancionador. TIPOS ABERTOS como o do art. 757, VI, “d” da Lei 5.256/66: referência injuriosa, caluniosa ou difamatória à Justiça, autoridades públicas, às partes ou a seus advogados .

105. Esses tipos que permitem uma enorme discricionariedade punitiva

não são benfazejos ao Sistema Democrático. A ampla discricionariedade nas sanções penais (infrações administrativas) é Inconstitucional. Critérios Subjetivos. Esse artigo é um supedâneo para se contornar na via arbitrária a necessária reserva legal. Tipo fluido e aberto não cabe no atual sistema do Direito Administrativo Sancionador. Uma crítica as autoridades é ato de cidadania e não de vilania a perder até a função pública (essa perda era típica filosofia dos tempos do AI-5).

Vide: DEZAN, Sandro Lúcio. O princípio da atipicidade do ilícito disciplinar. Efeitos jurídicos produzidos pelos princípios da culpabilidade e da imputação subjetiva. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 556, 14 jan. 2005. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/6154>. Acesso em: 02 de Maio de 2011: (...) Algumas dessas penas, quando aplicadas, podem ter repercussões irreversíveis na vida do

servidor público, com grau de correção ou repreensão, em determinados casos, superiores às

penas aplicadas por infrações penais, verbi gratia as infrações penais de menor potencial ofensivo,

justificando, assim, em louvor aos postulados aplicativos da proporcionalidade, da razoabilidade e

da segurança jurídica e, em fim, ao princípio da justiça do direito, a construção doutrinária de

garantias de direitos material e processual disciplinar que possam certificar a correta, justa,

aplicação do direito ao caso concreto, em sede dessa atribuição específica acometida ao Estado-

administração.

Nessa vertente, em que pese - com fundamento no princípio da atipicidade - ampla

difusão de prestigiosa doutrina em sentido contrário, a aplicação de sanção requer cominação legal

vinculada à tipificação legal (rectius lei ou ato administrativo normativo), para se fazer justo o

resultado de apuratório punitivo e o tipo disciplinar, para as faltas graves ou médias, deve ser

detalhado, descrevendo de forma analítica a conduta, em tese, reprovável.

Assim, por corolário, o julgador administrativo não está autorizado a aplicar, ao seu

livre entender, qualquer penalidade sem expressa e analítica previsão legal do ato tido como

contrário ao ordenamento. Nada mais lógico. Neste ponto não há que se falar em

discricionariedade derrogatória do princípio da legalidade. Não se pode aceitar como ilícita

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determinada conduta em certa época e, com a substituição da autoridade julgadora, pautar-

se, na aplicação de penalidade para o "mesmo fato", em casos posteriores e sem que haja

reforma legislativa ou administrativa – no caso de ilícitos previstos em atos da administração -,

pela licitude dessa conduta, simplesmente por se estar diante de tipo disciplinar vago,

indeterminado, complementável em sede processual por fundamentação de quem julga.

Com efeito, concluir-se-á ao final – afora vasta produção legislativa inconstitucional a

positivar, nos estatutos disciplinares do serviço público, comandos normativos ofensores de direitos

e garantias fundamentais - que, para uma justa apuração disciplinar há de se aceitar como válidos e

norteadores do ordenamento jurídico afeto ao tema determinados institutos de direito penal, v.g.,

o princípio da culpabilidade, referente à imputação pessoal, juízo de desvalor, de censura, da

conduta do agente público, e, por conseqüência, a imputação subjetiva, concernente à análise do

dolo e da culpa, como pressuposto (a) da subsunção do conceito do fato ao conceito do tipo

ilícito disciplinar e (b) da aplicação da pena administrativa. (...)

106. Esse modelo de Estado Ditatorial com suas leis opressivas é coisa do passado não muito distante, mas deve ser unicamente coisa do passado (lá deve ficar). As “armas legislativas” feitas sob aquela égide têm de serem enterradas e nunca podem ser aplicadas por aqueles que se propõe construir uma Sociedade de Acordo com o Texto Maior.

107. Temos de parar com essa filosofia retrocedente de quem questiona o

Poder comete INJÚRIA e é ASSALTANTE DE BANCO ou TERRORISTA. Esse é o sentimento legislativo daquela época.

108. O ranço punitivista do tempo dos militares não pode ser de

nenhuma forma mais produzido e reproduzido. Esses tipos penais trazem à tona sempre um tom ideológico unitário, quem não concorda com política do REI é punido, pois o Estado é totalitário e o Rei sempre deve ser respeitado e nunca contestado. Pensar em contestar já é crime. “Autoridade é autoridade”, “baderneiro é baderneiro”.

109. Coincidentemente na data do fim da Ditadura no Brasil: em 1985 o

professor alemão Günther Jakobs tentou fixar limites materiais a "criminalizações no estagio prévio à lesão a bem jurídico" por meio do par conceitual: direito penal do cidadão e direito penal do inimigo. Para Jakobs, é possível caracterizar o direito penal segundo a imagem de autor da qual ele parte. O direito penal pode ver no autor um cidadão, isto é, alguém que dispõe de uma esfera privada livre do direito penal, na qual o direito só está autorizado a intervir quando o comportamento do autor representar uma perturbação exterior; ou pode o direito penal enxergar no autor um inimigo, isto é, uma fonte de perigo para os bens a serem protegidos, alguém que não dispõe de qualquer esfera privada, mas que pode ser responsabilizado até mesmo por seus mais íntimos pensamentos. "O direito penal do inimigo optimiza proteção de bens jurídicos, o direito penal do

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cidadão optimiza esferas de liberdade". (...) O artigo de 1985 cunha, portanto, o conceito de direito penal do inimigo com propósitos primariamente críticos (...). O direito penal do inimigo "só se mostra legitimável com um direito penal de emergência, vigendo em caráter excepcional, e deve ser também visivelmente segregado do direito penal do cidadão, para reduzir o perigo de contaminação.

110. Há instrumentos que nitidamente ainda punem as pessoas pelos seus

pensamentos e todo o pensamento que não seja de acordo com as autoridades (Estado) já é motivo até de perda do cargo, pois pensar diferente do REI é um perigo enorme a esse e o Estado tem de criminalizar até o pensamento.

111. A Crítica das autoridades ainda é encarada pela Administração do

TJRS como algo capaz de expungir o dissidente ideológico do Poder Reinante dos quadros do funcionalismo. Ninguém diz: esta lei já se foi, é coisa do passado. Dizem assim: “Dê Graças que levou uma pena branda de suspensão por 60 dias com prejuízo da remuneração pois legem habemus até para lhe retirar o cargo!” clique e veja íntegra da decisão.

112. Uma interpretação mais apurada do Texto Maior conduziria a

conclusão de que não se pode punir alguém pela crítica e muito menos lhe aplicar uma sanção que nem a prática de muitos crimes lhe retiraria o cargo (a pena tem de ser maior que 4 anos de privação de liberdade).

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113. Seria um acinte a inteligência do leitor esse subscritor mostrar

artigo por artigo da lei de 1966 que os mesmos foram reproduzidos na Lei de 1994 e com maior dilatação de prazos e de oportunidade de produzir provas. Somente os artigos altamente excrescentes é que saíram (não foram repetidos com nova roupagem do Texto Maior). Ressoa muito questionável dizer que aquela lei de 1966 é especial, quando na verdade é, isto sim, revogada na sua plenitude.

114. A única especialidade manifesta da lei de 1966 é ser retrógrada com

o Texto Maior atual e esse problema (retroceder) não pode contaminar a Administração do TJRS, é o que se espera.

115. Ademais, na esfera FEDERAL (Lei nº 8.112/90) sempre há a prévia

SINDICÂNCIA e depois o Processo Administrativo Disciplinar. Utilizar a lei de 1966 na esfera estadual seria uma enorme disparidade das fontes Legislativas Estaduais e das Federais – os

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Princípios Gerais do Direito seriam alvejados, eis que a Lei Federal tem tratamento igual ao da Lei Estadual de 1994 e não a de 1966. Eis o texto Federal:

Art. 144. As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração, desde que contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a autenticidade.

Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada, por falta de objeto.

Art. 145. Da sindicância poderá resultar:

I - arquivamento do processo;

II - aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias;

III - instauração de processo disciplinar.

116. Na Esfera Estadual a Lei (Estatuto do Servidor Público) também

aduz acerca da SINDICÂNCIA e depois o INQUÉRITO ADMINISTRATIVO.

Art. 199 - As denúncias sobre irregularidades serão objeto de averiguação, desde que contenham a identidade do denunciante e sejam formuladas por escrito, para fins de confirmação de autenticidade. Parágrafo único - Quando o fato narrado não configurar evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia deverá ser arquivada por falta de objeto material passível de ensejar qualquer punição consignada nesta lei. Art. 200 - As irregularidades e as infrações funcionais serão apuradas por meio de: I - sindicância, quando os dados forem insuficientes para sua determinação ou para apontar o servidor faltoso ou, sendo este determinado, não for a falta confessada, documentalmente provada ou manifestamente evidente; II - inquérito administrativo, quando a gravidade da ação ou omissão torne o autor passível das penas disciplinares de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, demissão, cassação de aposentadoria ou de disponibilidade, ou ainda, quando na sindicância ficar comprovada a ocorrência de irregularidades ou falta funcional grave, mesmo sem indicação de autoria.

117. Há um vocábulo latino: IN CLARIS CESSAT INTERPRETATIO, e

quem diz que a lei “dos militares” (do tempo deles) é especial, está na verdade, especialmente invertendo o processo. A novel lei repetiu todos os artigos da vetusta lei (5.256/66) ampliando prazos para a Defesa e aqueles artigos nitidamente Inconstitucionais foram banidos, oxalá.

118. Imagine-se a Justiça aplicando o artigo 781 da lei em comento em face

do defensor que pugna incessantemente pelo Devido Processo Legal! Assim como o disseram que a lei de 5.256/66 é especial acerca da LC de 1994, perfeitamente podem dizer que o Estatuto dos Servidores de 1966 é especial em relação ao Estatuto da OAB. Atenção OAB, hoje são os Servidores e os Notários as vítimas, amanhã o rol das vítimas pode aumentar...

119. Se for levado ao cabo, o critério de LEI ESPECIAL acerca do processo Administrativo Disciplinar seguramente e indiscutivelmente a Lei de 1994 é

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ESPECIALIZANTE em relação aquela verdadeira excrescência dos anos da ditadura.

120. Outra, a lei 5.256/66 é para os Servidores e os Delegatários do Serviço Público já não são Servidores há muitos anos. Desde 1988. Tanto que não são mais Servidores que nem se aposentam compulsoriamente mais aos 70 anos. Note-se que a lei manda aplicar analogicamente a LEI COMPLEMENTAR Nº 10.098, DE 03 DE FEVEREIRO DE 1994 no Processo Administrativo Disciplinar e isso não importa em dizer que os Tabeliães devem ser tratados como se Servidores Públicos fossem a chamar o texto de 1966 circunscrito aos Servidores.

121. Ainda, não existe ANALOGIA PENAL IN MALAN PARTEM. Ora, a Lei

11.183/98 fala em analogia. Dizer que o prazo é de 3 dias de uma lei autoritária e não de 10 dias de uma lei especial e ampla é um disparate interpretativo, com o máximo respeito a quem dissente.

122. Quem defende que a lei nº 5.256/66 está plenamente vigente na seara administrativa disciplinar acaba por dizer indiretamente que o REGIME MILITAR (que tachou a novel Presidenta da República como Assaltante de Banco) ainda vive. Portanto, é uma interpretação que traz uma enorme gama de arbitrariedades consigo. Essas coisas como o art. 781 da tal lei de 1966 são coisas do passado e que não devem mais voltar, sobretudo pelos julgadores que devem se portar com os olhos no Texto Maior: AMPLA DEFESA. Dizer que a lei nº 5.256/66 é plenamente vigente é um atentado contra o Estado Democrático de Direito, eis que ela é muito carregada do viés autoritário perseguitório.

123. Com a máxima vênia aos Doutos, a Lei nº 5.256/66 assim como os

dispositivos da lei nº 11.183/98 que o atual subscrevente levou ao STF através de representação ao Procurador-Geral da República na ADI 3522-3 são nitidamente inconstitucionais.

124. A lei 5.256/66 é especialmente REVOGADA na parte do Processo

Administrativo Disciplinar e não mais que isso. Aplicar essa lei hoje é reviver o tempo dos “anos de chumbo”, os quais devem ficar para os compêndios da história. Reviver (revisitar) essa lei autoritária em sede judicial é uma espécie de “estrepação judicial” evidente.

125. A Consulta com caráter normativo poderá poupar uma enorme gama

de feitos judiciais (discussões), pois: “Lutar contra a injustiça custa-me mais do que sofrê-la”. Jeanne Roland

126. Ainda, se o legislador teve o propósito de mandar aplicar a Lei

Complementar não podem os julgadores desconsiderar a COGNOSCIBILIDADE dos propósitos do legislador, sobretudo fazendo as vestes deste. Não pode haver essa inversão de papéis, julgador legislando, senão daqui a pouco o legislador estará nos julgando. Cada um tem o seu papel e esse não pode se extrapolado (fazer de conta que se está a julgar quando no fundo está a legislar).

127. Ademais, é regra do Texto Maior: A AMPLA DEFESA e entre uma lei que restringe a defesa (prazos) e uma novel Lei que amplia (maior Prazo), aquela do tempo dos “anos de chumbo” foi revogada. Mais tecnicamente nem recepcionada pelo Texto Farol vigente desde Outubro de 1988.

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CONSULTA

128. O CNJ tem papel preponderante em guiar as políticas dos

Tribunais, mormente aqueles que destoam dos preceitos maiores.

129. O processo Administrativo Disciplinar dos Notários e Registradores

do Rio Grande do Sul deve se reger unicamente e exclusivamente sob o pálio dos preceitos da Lei Complementar nº 10.098/94 (c/c art. 20 da Lei Ordinária Estadual nº 11.183/98) sem nenhum aproveitamento ou qualquer aplicação dos dispositivos constantes na vetusta lei nº 5.256/66 .

130. O Processo Administrativo Disciplinar dos Servidores do Poder

Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul também estão imunes e isentos da prevalência dos dispositivos revogados da lei estadual nº 5.256/66.

131. A aplicação da lei de 1966 em detrimento da lei posterior de 1994

fere a noção de ampla defesa e a noção constitucional da dignidade da pessoa humana (primeiro artigo do Texto Maior)?

132. A Aplicação ADMINISTRATIVA da lei estadual nº 5.256/66 em

confronto aberto com a Lei Complementar º 10.098/1994 viola a garantia CONSTITUCIONAL da AMPLA DEFESA eis que a lei de antanho é muito mais restritiva a defesa?

133. O Administrador deve sempre e sempre optar por solução que

privilegie de sobremaneira a AMPLA DEFESA quando está diante de dois instrumentos normativos e um deles (o de 1966) traz indícios de total revogação?

134. Resumindo a consulta e pedindo caráter normativo (art. 89 §1º

do RICNJ): A Lei Complementar revogou por completo o contido na lei Estadual n º 5.256/66?

135. É nulo o processo administrativo gerido exclusivamente sob égide dos artigos da lei Estadual n º 5.256/66? Isto é, sem levar em conta a prevalência dos dispositivos da Lei Complementar nº 10.098/1994.

136. A consulta é no seguinte sentido: o FATO - baseou-se em falta funcional

passível de demissão – art. 757, VI, “d” da Lei 5.256/66 - de sancionar “PENA CAPITAL” com perda do cargo e da função o SEGUINTE TIPO ABERTO: referência injuriosa, caluniosa ou difamatória à Justiça, autoridades públicas, às partes ou a seus advogados – é permitido pelo Texto Maior? Não se está a cercear fortemente o sagrado e lídimo Direito de expressão de matiz maior?

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Chamamento dos interessados

Uma andorinha só não faz Verão15

137. É preciso chamar a Corregedoria-Geral e a Presidência do TJRS para se manifestar acerca do assunto, pois essas é que Administram os procedimentos no Tribunal.

138. Além disso, requer a abertura de Edital para as pessoas se

manifestarem acerca do assunto eis que atinge uma enorme gama de interessados (classes Notarial e Registral e a classe dos Servidores propriamente ditos). Isso tudo com fundamento de um precedente – consulta sobre o NEPOTISMO do próprio CNJ – PP-200910000000060 – MT, relator RUI STOCO (decidido em Brasília, 12 de janeiro de 2009) cujo tratamento simétrico se requer (ei-lo):

PP- 200910000000060 – MT - REQUERENTES: Roberto Aparecido Turin; Célio Joubert Fúrio e Renee do O. SouzaVISTOS, a) Tendo em vista a importância da matéria e sua repercussão nacional, posto interessar a todas as serventias extrajudiciais do País, colha-se a manifestação das seguintes entidades representativas de classe, no prazo de quinze dias para cada qual: 1. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS REGISTRADORES DE PESSOAS NATURAIS - ARPEN/BRASIL: Praça João Mendes Jr., 52 - Conjunto 11 - Centro - São Paulo (Capital); 2. ASSOCIAÇÃO DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES DO BRASIL - ANOREG: SRTVS/BR - Quadra 701, Lote 5, Bloco "A" - Salas 601/604. Centro Empresarial Brasília - Brasília - DF. 3. COLÉGIO NOTARIAL DO BRASIL: Rua Bela Cintra, 746 – 11º andar – CEP 01415-000 – São Paulo (Capital). b) Faculto o ingresso de titulares de serventias extrajudiciais nos autos como terceiros interessados, bem como de outras associações nacionais e estaduais, no prazo de trinta dias; (...)

139. Dada a importância do tema afeta aos agentes delegatários, requer que sejam chamados a se manifestar, querendo, à Consulta os seguintes Órgãos (Notariais e Registrais): Rogério Portugal Bacellar – Presidente ASSOCIAÇÃO DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES DO BRASIL ANOREG/BR: SRTVS Quadra 701, Lote 5, Bloco A, Salas 601/604 - Centro Empresarial Brasília CEP:70340-906 - Brasília-DF / Telefone: (61) 3323-1555 - Fax: (61) 3226-5073 [email protected] Mario Pazutti Mezzari - Presidente - Colégio Registral RS Av. Borges de Medeiros nº 2105 - sala 1303 - Praia de Belas CEP 90.110-150 - Porto Alegre - RS

15 Andorinhas migram no verão e é comum vê-las em regiões mais quentes em bandos. Isso dá um sinal de que o verão está chegando. Se você vir uma única andorinha não significa que o verão está chegando, pois a mesma pode estar perdida ou coisa assim. O ditado se refere a que uma pessoa sozinha não consegue mudar coisas que estão supostamente erradas, a idéia nova tem que ser difundida e aceita por várias outras para que o movimento dê resultado. É algo como: "A união faz a força".

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Fone: (51) 3226 2976 www.colegioregistralrs.org.br Luiz Carlos Weizenmann - Presidente - Colégio Notarial do Brasil - Seção RS Av. Borges de Medeiros nº 2105 - sala 1303 - Praia de Belas CEP 90.110-150 - Porto Alegre - RS Fone: (51) 3028 3788 www.colnotrs.org.br

140. O Sindicato dos Servidores do Judiciário e do Ministério Público do

Rio Grande do Sul: Valter Assis Macedo - Coordenador Geral Sindicato dos Servidores da Justiça do RS Rua Quatro Jacós, 26. Fone: (051) 3224-2452 Fax: (051) 3224-3730 CEP 90.150-010, Porto Alegre - RS E-mail: [email protected] Cristiano Linhares de Menezes Borba - PRESIDENTE – APROJUS -Associação dos Servidores do Ministério Público do RS Rua Gen. Andrade Neves, 90, sala 32, Bairro Centro - Porto Alegre - RS, CEP 90010-210 - Fone (51) 3224-1966 www.aprojus.org.br Sérgio Augusto J. Arnoud - Presidente Maria Aparecida Duarte Hernandez - Diretor Jurídico Federação Sindical dos Servidores Públicos no Estado do Rio Grande do Sul Rua Dr. Flores, 307/ 5º,9º e 12º Andares – Centro – Porto Alegre –RS – CEP 90020-123 Fone (51)3224-7700 http://www.fessergs.com.br

141. Em face do art. 78116 da lei nº 5.256/66 também mister se faz chamar a OAB a se manifestar, querendo, no feito:

Claudio Pacheco Prates Lamachia Presidente – OAB/RS 22.356 Fone: (51) 3287.1882 Fax: (51) 3287.1889 Rua Washington Luiz, 1110 13º andar, Centro CEP: 90010-460 Porto Alegre – RS Fone: (51) 3287.1800 www.oabrs.gov.br E-mail: [email protected]

Last but No Least, Claro que poderão advir mais Perseguições da cúpula do

16 Pode também a Administração dizer que é uma LEI ESPECIAL e que o Estatuto da OAB é uma lei geral...

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portentoso TJRS – como sói acontecer - ao subscritor desta CONSULTA e sempre com Desvios de Poder (Aparência de Pureza) pois para o Estado Punitivista sempre interessa que seus “Servidores” sejam resignados a tudo como se a Administração fosse divina e com pureza absoluta (nem pode ser questionada). Qualquer crítica tem até um tipo DEMISSÓRIO com base numa lei ultrapassada (e até revogada).

"O bom desempenho do serviço público não pode prescindir da dignidade individual dos seus servidores, mas determinados administradores, fazendo tábula rasa dessa enobrecedora característica dos homens de bem, concebem que é dever do punido se resignar diante de tais reprimendas, ainda que elas sejam resultantes do ódio e da perseguição do chefe imediato do servidor injustiçado. Esses despreparados gestores da coisa pública acham que a sua verdade, por mais que seja frágil de realidade, deve ser acatada como se fosse algo divinal e sagrado. Querem tal realidade a todo custo, mesmo que em detrimento dos serviços que dirigem. Vale para esses arbitrários chefes o servidor resignado e obediente, mesmo que o seu avacalhamento redunde na sua baixa produtividade (...) (COSTA, José Armando da. Teoria e Prática do Processo Administrativo Disciplinar. 5. ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2005, p. 507)

Afinal, navegar é preciso. Como o próprio RUDOLF VON IHERING menciona em

sua obra, nem mesmo o sentimento de justiça mais vigoroso resiste por muito tempo a um sistema jurídico defeituoso: acaba embotando, definhando, degenerando. É que, a essência do direito está na ação. O que o ar puro representa para a chama, a ação representa para o sentimento de justiça, que sufocará se a ação for impedida ou constrangida. Não basta só querer, a ação é essencial. "Os navios estão a salvo nos portos, mas não foi para ficar ancorados que eles foram criados."

Claro que o TJRS vai mandar ainda mais a Perseguir o ora subscrevente, mas

esse lembra e lembrará das palavras de um saudoso Ministro, Carlos Alberto Menezes Direito (quando do julgamento da Lei de Imprensa – hoje revogada), “o preço do silêncio é muito mais caro que o preço da livre circulação das ideias”.

Essa consulta pode ser falível, mas melhor assim a viver no tempo de 1966 (de

onde saiu a lei gaúcha nº 5.256/66) e novamente aqui o subscritor volve as palavras pórticas do Grande Ulysses Guimarães cuja grande falta nos faz: (...) A grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes (...) Lembra o subscritor que o Regime Totalitário do tempo de 1966 não perdoava quem lhe ideologicamente se opunha, toda coincidência atual pode não ser mera semelhança... O regime é infalivelmente perseguitório eis que se julga (autojulga) perfeito e onipotente. Quiçá a Administração do TJRS não seja garantista (seja punivista) com os seus colaboradores (Servidores e quejandos)...

Consulta ao Conselho Nacional de Justiça – Leis Gaúchas: Lei Ordinária nº 5.256/1966 X Lei Complementar nº 10.098/1998 No Processo Administrativo Disciplinar – Administração do TJRS ___________________________________________________________________________________

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De Itaqui-RS, para Brasília-DF – 02 de Maio de 2011.

ADELAR JOSÉ DRESCHER

Anexos: Lei Ordinária Estadual - nº 5.256/1966 –clique aqui para acessar a íntegra do texto de lei Lei Complementar Estadual – nº 10.098/1994 – clique aqui para acessar a íntegra do texto de lei

Lei Ordinária Estadual - nº 11.183/1998 – art.20 - clique aqui para acessar a íntegra do texto de lei