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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/ PEDIDO LIMINAR O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu Promotor de Justiça do GAESP - Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do Consumidor que essa subscreve, com fundamento e legitimado pelos arts. 1º, inciso III, 3º, 5º, caput e § 2º, 6º, 127, caput, 129, incisos II e III, 196 da Constituição Federal; arts. 1º, caput e 25, inciso IV, alínea a, da Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); arts. 91, caput, 97, III e parágrafo único, 217 e 219 da Constituição do Estado de São Paulo; arts. 1º, caput e 103, incisos I, VII, alínea a e VIII, da Lei Complementar Estadual n.º 734/93 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA.

 

 

AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/ PEDIDO LIMINAR

 

 

 

 

 

 

 

 

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu Promotor de Justiça do GAESP - Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do Consumidor que essa subscreve, com fundamento e legitimado pelos arts. 1º, inciso III, 3º, 5º, caput e § 2º, 6º, 127, caput, 129, incisos II e III, 196 da Constituição Federal; arts. 1º, caput e 25, inciso IV, alínea a, da Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); arts. 91, caput, 97, III e parágrafo único, 217 e 219 da Constituição do Estado de São Paulo; arts. 1º, caput e 103, incisos I, VII, alínea a e VIII, da Lei Complementar Estadual n.º 734/93 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo); arts. 1º, inciso IV, 5º, caput, 12 e 21, da Lei Federal n.º 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública); arts. 81, parágrafo único, incisos I, II e III, 82, inciso I, 113, 116 e 117 da Lei Federal nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor); arts. 2º, caput, 5º e 6º da Lei n.º 8.080/90 e art. 2º, caput e o seu § 1º, da Lei Complementar Estadual nº 791/95, vem ajuizar a presente

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA, observando-se o procedimento comum ordinário, em face do MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, que deverá ser citado na pessoa do Excelentíssimo Sr. Procurador Geral do Município, em seu Gabinete, situado a rua Maria Paula nº 270, Centro, nesta Capital e do HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL, que deverá ser citado na pessoa de seu Superintendente, em seu Gabinete, situado na Rua Castro Alves, n. 60, 3o. andar, pelos motivos de fato e de direito a seguir descritos.

 

I - DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

 

A Constituição Federal, em seu artigo 129, II, determina competir ao Ministério Público, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição Federal, promovendo as medidas necessárias a sua garantia.

A Carta Magna conceituou em seu artigo 197 que "são de relevância pública as ações e serviços de saúde". Essa conceituação teve como móvel possibilitar a atuação do Ministério Público frente aos Poderes Públicos em prol da sociedade.

A Constituição Federal, igualmente, em seus artigos 127, caput, 129, inciso III; a Constituição do Estado de São Paulo, em seu artigo 91; a Lei Federal nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) em seu art. 25, inciso IV, alínea "b"; e a Lei Complementar Estadual nº 734, de 26 de novembro de 1993 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo), em seu art. 103, inciso VIII, cometem ao Ministério Público legitimação para o ajuizamento da ação civil pública para a defesa, em juízo, dos interesses difusos e coletivos.

Ressalte-se que a conclusão da Organização Pan-americana da Saúde e do Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde, enumerada na Série Direito e Saúde nº 1 - Brasília, 1994,

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afirmou que "O conceito de ações e serviços de relevância pública, adotado pelo artigo 197 do atual texto constitucional, norma preceptiva, deve ser entendido desde a verificação de que a Constituição de 1988 adotou como um dos fundamentos da República a dignidade da pessoa humana. Aplicado às ações e aos serviços de saúde, o conceito implica o poder de controle, pela sociedade e pelo Estado, visando zelar pela sua efetiva prestação e por sua qualidade. Ao qualificar as ações e serviços de saúde como de relevância pública, proclamou a Constituição Federal sua essencialidade. Por "relevância pública" deve-se entender que o interesse primário do Estado, nas ações e serviços de saúde, envolve sua essencialidade para a coletividade, ou seja, sua relevância social. Ademais, enquanto direito de todos e dever do Estado, as ações e serviços de saúde devem ser por ele privilegiados. A correta interpretação do Artigo 196 do texto constitucional implica o entendimento de ações e serviços de saúde como conjunto de medidas dirigidas ao enfrentamento das doenças e suas seqüelas, através da atenção médica preventiva e curativa, bem como de seus determinantes e condicionantes de ordem econômica e social. Tem o Ministério Público a função institucional de zelar pelos serviços de relevância pública, dentre os quais as ações e serviços de saúde, adotando as medidas necessárias para sua efetiva prestação, inclusive em face de omissão do Poder Público".

Dessa forma, está o Ministério Público legitimado para a propositura da presente ação civil pública.

II – DOS LEGITIMADOS PASSIVOS – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

Afigura-se inegável a adequação de constarem no pólo passivo da presente ação civil pública a autarquia e a municipalidade. Realmente, por primeiro, verifica-se que há solidariedade nas obrigações resultantes das omissões e ações impróprias apontadas, ou seja, os dois entes estarão obrigados solidariamente à reparação e correção das situações irregulares e lesivas à saúde e à vida de um número indeterminado de pessoas.

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É verdade que as autarquias dispõem de patrimônio próprio - que inicialmente é formado com a transferência de bens móveis e imóveis da entidade matriz (por exemplo: Municipalidade) - mas, considerando a Jurisprudência e a Doutrina, esgotados os recursos autárquicos, que fazem parte do denominado patrimônio público, deve a Fazenda Pública da entidade mãe responsabilizar-se pelas obrigações pendentes. Nesse sentido de mencionar-se Tito Prates da Fonseca (Autarquias Administrativas, São Paulo, 1938, págs. 111 e segs.), Celso Antônio Bandeira de Mello (Natureza e Regime Jurídico das Autarquias, São Paulo, 1968, págs. 465 e segs.) e Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Brasileiro, 16a. ed., RT, págs. 305 e segs.).

No caso, porém, a hipótese é ímpar. A autarquia em tela vive com os recursos repassados pela Municipalidade decorrentes dos descontos em folhas de pagamentos dos servidores municipais, bem como de verbas Municipais repassadas diretamente (subvenções), isto é, a vida econômica da entidade, no aspecto receita, é diretamente regida pela Municipalidade.

Pode ser definida uma autarquia como a pessoa jurídica de direito público, legalmente instituída, com capacidade de auto-administração, para o desempenho de serviço público descentralizado, mediante controle administrativo ou tutela administrativa do ente centralizado.

A autarquia, vale referir, possui direitos e obrigações em relação à administração centralizada, no caso a Municipalidade. Obrigações consistentes em bem desempenhar suas funções, estas que seriam de forma primária pertencentes ao Estado, pelo que a administração central tem que exercer controle para assegurar que o serviço público seja prestado adequadamente. Assim não agindo a administração (a Municipalidade), omitindo-se nesse controle, máxime quando destina verba pública para a realização das funções, surge também sua responsabilidade solidária no restaurar, corrigir e contornar situações apontadas como ilegais, irregulares e que coloquem em risco à saúde de um número indefinido de pessoas.

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Como se verá, a não destinação de recursos suficientes e a utilização irregular dos existentes, inclusive por falta de controle e eficiência da entidade mãe, levaram o hospital a uma situação caótica, sendo responsáveis pela situação a Municipalidade e a própria autarquia.

III – DOS FATOS

O Hospital do Servidor Público Municipal é uma autarquia que tem por obrigação atender em potencial cerca de 550.000 pessoas, sendo que entre elas estão os servidores públicos municipais, seus dependentes e, no que concerne ao Pronto Socorro, todos os munícipes indiscriminadamente. Sobrevive às custas das contribuições dos servidores e de transferências de dotações do Tesouro Municipal.

O Ministério Público do Estado de São Paulo instaurou o inquérito civil que instrui a presente (dois volumes principais e quatro apensos) para apuração de diversas irregularidades e deficiências no atendimento desse Hospital.

Conforme demonstram as peças integrantes do inquérito civil foram constatados problemas graves na prestação dos serviços de saúde, sendo que foram realizadas várias visitas fiscalizatórias ao Hospital. Forneceram relatórios o Conselho Regional de Medicina, o Conselho Regional de Enfermagem, o Conselho Regional de Farmácia, o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, o Ministério Público, uma Comissão Constituída pelo próprio Hospital e o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais.

Conhecida e provada a situação caótica a partir dos dados angariados nas visitas e consubstanciados nos relatórios, indagou o Ministério Público da Municipalidade, da Secretaria Municipal de Saúde e da Superintendência da Autarquia (Hospital do Servidor Público Municipal) sobre as providências levadas a efeito para contornar e superar os problemas encontrados, ao que obteve resposta omissa da Secretaria Municipal da Saúde (fls. 240), indiferença da Municipalidade que não se dignou a prestar esclarecimentos e informações não consistentes da Superintendência, que acenou com algumas

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providências não implementadas, utilizando-se de discurso evasivo e que, conclui-se, não resolve e não resolverá os problemas em tela (fls. 243 e seguintes). Aliás, totalmente tendenciosas as argumentações levantadas a fls. 245 e a fls. 246 pelo Hospital, pois obviamente existiram situações em que medicamentos vencidos foram utilizados por pacientes e, de outra parte, por óbvio, são totalmente irregulares as relações do Hospital com a Droga Laffer. Ora, as próprias Comissões internas do Hospital não negam o que o Superintendente não confirma.

De referir-se que as situações irregulares há muito tempo são do conhecimento da administração do Hospital e da própria Municipalidade, mas a inércia e o descaso para com os problemas da saúde persistiram e persistem. Inegavelmente se os problemas até agora não encontraram solução é porque urge a solução judicial para a questão, como último e mais eficaz remédio a tutelar os interesses dos destinatários dos serviços de saúde.

Flagrante, pois, a intenção do Poder Público Municipal e da Autarquia de ganhar tempo, sem procurar solução para problema tão grave relacionado à vida e a saúde daqueles que habitam no Município de São Paulo.

Necessário, pois, a intervenção do Poder Judiciário, para que a Prefeitura Municipal de São Paulo e o Hospital exerçam suas funções de acordo com a Constituição Federal e o ordenamento jurídico em vigor e prestem um serviço ao menos minimamente digno.

IV – DOS GRAVES PROBLEMAS CONSTATADOS

O que a seguir será analisado e demonstrado constou dos diversos relatórios dos diversos órgãos que realizaram visitas fiscalizatórias no Hospital (fls. 17/58 – Comissão Interna Portaria 07/2000; fls. 174/178 – Conselho Regional de Farmácia; fls. 186/8 e fls. 238/9 Grupo e Centro de Vigilância Sanitária; fls. 190/3 – Conselho Regional de Medicina e fls. 199/200 – Conselho Regional de Enfermagem).

A) - quanto ao serviço de farmácia

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A fiscalização realizada pela mencionada Comissão interna teve como plano de atuação a análise de procedimentos vigentes na Seção de Farmácia. Apuraram-se, de forma criteriosa, alguns aspectos administrativos como a aquisição, estocagem e a dispensação dos medicamentos. Em visita recente no Serviço de Farmácia do Hospital, os técnicos da Comissão constataram, inicialmente, a ausência de manual de procedimento e protocolo que formalizasse a rotina da mencionada seção, bem como a falta de um sistema seguro e eficiente de distribuição de medicamentos de forma a suprir as unidades de assistência.

Apurou-se que os medicamentos estocados não são armazenados de maneira adequada e satisfatória, não havendo respeito às condições físico-químicas, já que não há registro do controle de temperatura. Constatou-se também a ausência de um sistema informatizado, o que impede o controle eficiente da aquisição, distribuição interna, do consumo mensal efetivo e do estoque de medicamentos. Tal condição de armazenagem deficiente foi confirmada em depoimento da atual Chefe deste Serviço (Dra. Laura Nakano – fls. 202/3 ).

Sintomática é a situação vivida pelo Hospital, máxime porque as portas da Farmácia permanecem abertas, de forma a possibilitar a entrada de pessoas estranhas ao quadro de funcionários do Hospital. Umas das práticas que se revela rotineira é a dos funcionários não pertencentes ao Setor de Farmácia, entrarem em seu interior (estoque), ostentando nas mãos receituários, e separarem os medicamentos prescritos pelos médicos, sem que haja qualquer impedimento por parte dos funcionários lotados no Serviço de Farmácia. Surpreendentemente, os pacientes também adentram no local destinado ao estoque da farmácia e aguardam, sem a menor formalidade, a separação dos seus medicamentos. Os próprios representantes de laboratórios farmacêuticos entram na seção de farmácia sem qualquer acompanhamento e permanecem circulando livremente pelo estoque. Diante de tais fatos lamentáveis encontra-se a razão pela qual os remédios desaparecem "inexplicavelmente" da farmácia, conforme relato dos próprios funcionários do hospital.

Com relação ao espaço físico, a farmácia conta com uma precária ventilação, de modo a tornar o ambiente abafado. O

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setor não tem termômetro para medição da temperatura ambiente. Os técnicos detectaram temperatura superior à preconizada para conservação dos medicamentos. Constataram-se, inclusive, remédios estocados em prateleiras superiores, em contato direto com as luminárias do teto, de forma a provocar um superaquecimento da medicação. Verificou-se também a existência de soro estocado nos corredores do Hospital.

O CRF – Conselho Regional de Farmácia, de sua parte, informou, inexistir protocolo para uso de medicamentos de notificação compulsória (tubercolostáticos, hansenostáticos, etc), bem como serem inadequadas as condições de higiene e limpeza do setor de farmácia. Aduziu inexistir Comissão de Farmácia e Terapêutica.

O CRM – Conselho Regional de Medicina apurou que muitos medicamentos estão em falta no estoque, enquanto outros apresentam estoque abaixo do mínimo exigido. O COREN- Conselho Regional de Enfermagem, da mesma forma, destacou a falta de medicamentos.

A1) - quanto aos medicamentos.

A aquisição de medicamentos (requisição externa) não se dá de maneira criteriosa, mas de forma aleatória, pois não há controle da requisição interna (distribuição), do consumo mensal efetivo e do estoque dos medicamentos. Tal situação, evidentemente, resulta em prejuízo ao erário público. As requisições externas emitidas não possuem controle, o que faz com que o Hospital adquira medicamentos desnecessários, que existem em quantidade suficiente no estoque, e deixe de adquirir outros, de primeira necessidade, e que se encontram em falta. Medicamentos que apresentam um prazo de validade exíguo são adquiridos, de forma imprudente, razão pela qual se constatou a existência de um número elevado de remédios vencidos. Mesmo havendo a extinção do prazo de validade os medicamentos são ministrados aos pacientes. A manipulação de álcool 70 o .C dá-se com a utilização de água de torneira , em razão da inexistência de destilador em perfeitas condições de funcionamento.

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O Conselho Regional de Farmácia (fls. 173/8) também constatou inúmeros problemas, correspondentes aos elencados pela Comissão interna Constituída pelo Hospital. São eles: vários medicamentos com datas de validade ultrapassadas estavam sendo utilizados na dispensação, bem como matérias primas vencidas ou sem prazo de validade utilizadas na manipulação magistral; inadequado gasto de dinheiro público na aquisição de medicamentos, pois eram adquiridos remédios existentes no estoque e deixados de adquirir outros que estavam em falta e considerados de primeira necessidade. Essa situação calamitosa é provocada pela falta de infra-estrutura organizacional do próprio Hospital, evidenciada em razão da ausência de controle dos medicamentos. Tal Conselho apurou também que as condições de estocagem dos medicamentos são inadequadas e os procedimentos de manipulação de medicamentos não são documentados, não havendo controle de qualidade da matéria prima e dos produtos manipulados.

O Conselho Regional de Medicina – CRM constatou, de modo a confirmar as diligências fiscalizatórias dos outros órgãos, que vários medicamentos estavam com os prazos de validade esgotados.

A2) - quanto ao aspecto administrativo referente à aquisição de medicamentos

Apenas para ilustrar o descaso administrativo e como é tratado o dinheiro público – o que será objetos de outras ações no âmbito da cidadania (improbidade administrativa) e penal - oportuno é colocar que a ausência de infra-estrutura do Hospital guarda nexo de causalidade com a sua própria administração, que se revela desastrosa. Com base na análise de um contrato administrativo firmado entre o Hospital e a "Droga Laffer" foi apurada pela Comissão interna uma série de irregularidades no processo licitatório para aquisição de medicamentos. Acrescente-se que diversos remédios, que não fizeram parte do objeto do contrato, foram adquiridos sem o devido processo licitatório. Constatou-se também que no edital de compras de medicamentos não havia nenhuma cláusula relativa às exigências legais e prazos de validade dos remédios no ato da entrega.

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Interessante é verificar o ocorrido no processo n. 849/97 que teve por objeto a contratação da aquisição de medicamentos de urgência (Tomada de Preços 77/97 – Droga Laffer).

O valor do contrato referente ao ano de 1999 foi de R$300.000,00, ao passo que o valor total das notas fiscais, desse mesmo ano, foi de R$282.530,23. Com base nesses valores, apurou-se uma diferença de execução da ordem de R$17.469,77.

Em que pese o valor total executado ter sido de R$282.530,23, o valor gasto com medicamentos que constavam como objeto do contrato foi de somente R$930,02, ao passo que o valor gasto com medicamentos que não foram objeto do contrato foi de R$281.600,21.

Depreende-se, todavia, que do valor de R$281.600,21, foi gasta, com medicamentos que já faziam parte de outros contratos, uma quantia de R$143.061,54. Caso tivessem sido adquiridos pela modalidade mais vantajosa o custo seria da ordem de R$29.946,79. Desse modo, pode-se concluir que houve um gasto inadequado de R$113.114,75. Com relação aos gastos de outros itens que deveriam ter sido licitados e não foram, ou seja, que nem passaram por processo licitatório, tem-se um valor de R$138.538,97.

As conclusões da Comissão interna formalizada pela Portaria n. 07/2000 não destoou do que foi apurado pela Comissão Multiprofissional de Averiguação Interna constituída pelas Portarias de números 32 e 33/2000 (apenso IV). Apurou-se que medicamentos de primeira linha, como a albumina humana e antibióticos de uso exclusivo hospitalar, eram intercambiados com a "Droga Laffer", de forma ilegal. Tais medicamentos eram sempre colocados em veículos dessa empresa e retirados do hospital, tudo em obediência às determinações emanadas do próprio setor de farmácia. Constatou-se, a confirmar as irregularidades criminosas, consumo exagerado de albumina humana. Ora, por exemplo, em setembro de 1999 foi emitida requisição para compra de 3.700 frascos do produto quando o estoque existente na seção de farmácia era de 5.208 frascos e o consumo médio mensal, calculado nos três primeiros meses de

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2000, era de 282 frascos. Apurou-se que eram retiradas, ao dar entrada no Hospital, as identificações das caixas de medicamentos. Explica-se: ao chegar ao Hospital, as caixas de medicamentos são identificadas com etiquetas onde constam o nome do hospital, o nome do medicamento, a validade e o número do lote, individualizando-as. Para possibilitar o uso diverso do original, facilitando a sua saída, os servidores eram orientados a retirar as etiquetas. Os medicamentos também eram desembalados, o que inviabilizava o usuário ou consumidor saber se estava utilizando remédio dentro do prazo de validade. Concluiu a Comissão inegavelmente que aconteceram situações de entregas a pacientes de medicamentos com prazos de validade expirados, inclusive a morfina, comprometendo o tratamento a que se submetia o usuário. Para "acerto" no estoque – que apresentava situação obviamente irregular – eram realizadas requisições, camuflando-se as saídas. Constataram-se situações criadas artificialmente para justificar compras junto à "Droga Laffer", refaturamentos, ou seja, medicamentos que a empresa recebia em pagamento do próprio Hospital, retornavam ao mesmo, refaturados, bem como furto de medicamentos. No item Conclusão (fls. 254 do apenso+ V) colocou-se que "pelas oitivas e documentos constantes deste processo, averiguou que na Seção de Farmácia havia sido criada uma rede composta por alguns de seu funcionários, que procurava manter um clima de insegurança, desconfiança, caos na armazenagem de medicamentos e criação de situações que conduzissem obrigatoriamente à necessidade de aquisições, ainda que irregulares, dos medicamentos da droga Lafer Ltda".

A3) - quanto à padronização dos medicamentos

A última relação padronizada de medicamentos deu-se nos anos de 1997, e as alterações processadas a partir dessa data não foram devidamente oficializadas. Verificou-se que a farmácia reserva-se o direito de substituir, de forma imprudente, o medicamento prescrito pelo médico, em todas as situações em que há carência do remédio.

B) - quanto aos recursos materiais

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A Comissão constituída pela Portaria HSPM n. 07/2000 (comissão interna), diligenciando na farmácia, evidenciou uma completa desorganização estrutural. Os documentos referentes ao expediente administrativo não foram localizados. O último alvará de funcionamento encontrado é datado de 18.03.77.

No que tange aos materiais de informática, não foram encontrados os arquivos do programa "Word" referentes aos procedimentos administrativos, o programa de controle anti-retrovirais do Ministério da Saúde e o controle paralelo, feito em programa "Excel".

Os aparelhos e instrumentos médicos estão em péssimo estado de conservação e funcionamento. Os destiladores, utilizados para a manipulação de medicamentos, encontram-se quebrados, conforme constatação tanto da Comissão quanto do Conselho Regional de Farmácia.

O Centro de Vigilância Sanitária, em visita fiscalizatória no "HSPM", constatou as péssimas condições de higiene do Hospital e a ausência de esterilização dos materiais (instrumentos médico cirúrgicos) utilizados para atendimento às emergências, pois se encontravam misturados aos demais, possibilitando a contaminação de um pelo outro. Os materiais insatisfatórios, que precisam ser descartados (pérfuro-cortantes), não são depositados em local apropriado e isolado do público, podendo colocar em risco não só os pacientes como também os próprios funcionários do Hospital.

O CRM-Conselho Regional de Medicina verificou que as sondas de entubação, material básico em um Hospital, estão com os prazos de validade esgotados. A Maternidade e o Berçário não possuem incubadoras em número suficiente.

O Conselho Regional de Enfermagem apurou que vários equipamentos encontram-se deteriorados, ou seja, em péssimo estado de conservação. Deve ser ressaltado que dos monitores disponíveis, dois deles estavam quebrados.

C) – Quanto aos recursos humanos

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O Conselho Regional de Enfermagem informou que a equipe de enfermagem do Hospital é composta por 130 enfermeiros, 559 auxiliares de enfermagem e 114 atendentes de enfermagem.

A Comissão constituída pela Portaria do "HSPM" n. 07/2000 constatou que os funcionários da farmácia são hierarquizados apenas em seu aspecto formal, já que na prática impera a ausência de qualquer disciplina e divisão funcional, máxime porque funcionários ausentam-se em horário de expediente sem prévio aviso e desconhecem suas atribuições, devendo ser ressaltado que as rotinas de trabalho são elaboradas por eles próprios sem a supervisão de superior hierárquico. Prática que se revela rotineira é a de um auxiliar de serviços gerais separar uma requisição e prestar informações sobre medicamentos, bem como um auxiliar técnico administrativo exercer funções específicas de um farmacêutico.

D) – Quanto ao Pronto Socorro e outros setores correlatos.

O espaço físico do Hospital é insuficiente. Há uma única sala para atendimento cumulado de urgências e emergências. Para essa sala são conduzidos os pacientes em estado extremamente grave, enquanto os demais permanecem aguardando vagas no setor de observação.

Em que pese o reduzido espaço da sala de emergência, os materiais necessários aos atendimentos emergenciais não estavam organizados de maneira a permitir um adequado e fácil manuseio pelos médicos e enfermeiros, ou seja, não estavam dispostos em bandejas e carrinhos próprios, mas amontoados em um canto do balcão.

A sala de inalação, onde são também realizadas as medicações, conta com espaço físico limitado e apresentava péssimas condições de higiene. Como os bicos dos aparelhos de inalação são muito próximos e os pacientes acomodam-se em bancos comuns, permanecendo sentados, grande é a probabilidade da transmissão de agentes por via respiratória.

As duas salas de observação, quando da visita do Centro de Vigilância Sanitária, apresentavam a seguinte disposição: em

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uma delas havia 05 (cinco) macas colocadas uma ao lado da outra, de forma a impossibilitar o livre trânsito dos pacientes e a passagem dos funcionários para os atendimentos; na outra sala havia 05 (cinco) pacientes, dois deles estavam deitados em camas, um deles estava deitado em um colchão no chão e os outros dois estavam sentados em cadeiras. Os dois pacientes que se encontravam nas cadeiras recebiam medicação endovenosa, quando deveriam estar deitados. Situação deprimente que urge cessar.

Do exposto, conclui-se que tanto as salas de inalação e observação contam com espaço físico inadequado, com dimensões insuficientes, havendo superlotação de pacientes, o que dificulta sobremaneira o fluxo regular de serviços. Acrescente-se que tal ambiente favorece a veiculação de enfermidades de transmissão respiratória e de infecções hospitalares.

A higiene do setor de emergência também apresenta sérios problemas. Apesar de dois ventiladores manuais (ambus) terem sido utilizados em pacientes, não foram devidamente separados para esterilização, mas foram simplesmente colocados juntamente com outros materiais já esterilizados, o que constitui prática perigosa. A sala de emergência apresentava 02 (duas) pias balcão utilizadas na preparação da medicação, que estavam em precárias condições de higiene. Saliente-se que sobre as pias são colocados materiais de consumo e pertences pessoais de funcionários do Hospital. Assim, o preparo da medicação é realizado em um local sem mínimas condições de higiene e, após a confecção dos medicamentos, são eles ministrados aos pacientes.

Apesar de Seção do Pronto Socorro receber uma alta demanda de pacientes, o que gera um fluxo intenso de pessoas, não são tomados os cuidados necessários para preservação da saúde dos pacientes, acompanhantes e até mesmo dos funcionários do Hospital, pois todas as caixas para descarte dos materiais pérfuro-cortantes estavam com os limites ultrapassados, e as agulhas encontravam-se com suas pontas direcionadas para o exterior do compartimento.

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No que se refere à Seção de Raios-X do pronto-socorro, constatou-se a falta de procedimentos administrativos já que havia necessidade de solicitar à direção do Hospital os laudos radiométricos, dosimetria e exames periódicos dos técnicos.

As irregularidades são intermináveis: os medicamentos são acondicionados em armários antigos e com portas de madeira totalmente podres; as macas e suportes de soro estavam absolutamente enferrujados.

O Conselho Regional de Medicina (fls. 190/193) constatou uma série de problemas, de modo a confirmar as diligências realizadas pelo Centro de Vigilância Sanitária.

Há excesso de macas (ficam juntas, uma ao lado da outra) nas salas que compõem o setor de enfermaria, o que dificulta sobremaneira a circulação dos pacientes e o fluxo de funcionários. Como o espaço físico é extremamente insuficiente para atender demanda, há também improvisações de salas.

O Hospital não possui condições técnicas e estruturais para manter os pacientes com meningite e tuberculose em isolamento. No que tange aos procedimentos médicos, constatou-se que as suturas e drenagens de abscessos são realizadas em um mesmo local.

O Conselho Regional de Enfermagem também constatou uma série de irregularidades no setor do pronto socorro. Merecem destaque as seguintes: a sala de medicação possui pacientes mal acomodados, já que permanecem sentados desconfortavelmente recebendo medicação endovenosa; vários ambientes do pronto socorro estão improvisados; a rede de oxigênio é precária; a sala de emergência conta com 08 (oito) leitos, estando muito próximos uns dos outros, sendo esse espaço insuficiente para o atendimento de urgência; como não há carrinho de emergência os medicamentos e outros materiais são colocados em uma pia existente no setor.

E) – Quanto ao Serviço de Diálise.

O Centro de Vigilância Sanitária informou que os equipamentos desse setor não possuem dispositivos de controle adequados e

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necessários do procedimento dialítico, estando também ausentes os estoques de dialisadores e linhas arteriais e venosas.

A visita fiscalizatória realizada pelo Conselho Regional de Medicina apurou que havia apenas um filtro de diálise para reposição, fazendo com que eles fossem utilizados por diversas vezes, acima do permitido pela legislação, que é de doze vezes. O setor também apresenta falta de salas para emergência. Em que pese a água do Hospital ainda estar sendo analisada de maneira regular, o serviço poderá ser suspenso por falta de pagamento, o que demonstra de modo claro a ineficiência da administração hospitalar.

F) - quanto ao setor de radiologia.

O Centro de Vigilância Sanitária apurou que os equipamentos de Raios-X não apresentavam controle de dosimetria, laudo radiométrico, planos de radioproteção e de garantia de qualidade.

O Conselho Regional de Medicina constatou as seguintes irregularidades: dos três equipamentos radiológicos ("raios-X convencional"), somente um encontra-se em perfeitas condições de funcionamento; o ar condicionado do setor não funciona; há infiltrações no teto, mais precisamente na sala de ultra-som. As manutenções preventivas e corretivas dos equipamentos e aparelhos do Hospital foram suspensas por falta de pagamento.

O Conselho de Enfermagem asseverou que a sala de Raios-X possui vários equipamentos obsoletos que ainda estão em operação.

G) - Quanto ao Laboratório

O CRM verificou que os reagentes químicos, apesar de estarem com os prazos de validade vencidos, eram utilizados. O ar condicionado do setor estava quebrado e sem manutenção, fazendo com que diversos equipamentos não funcionassem (existem aparelhos que não operam em temperaturas acima de 20o.C). Constatou-se a presença de geladeiras com problemas de vedação e excesso de materiais acondicionados.

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H) - Quanto à Unidade de Tratamento Intensivo

O Conselho Regional de Medicina constatou a insuficiência de equipamentos: respiradores, oxímetros e bombas de infusão. Um dos problemas do setor é a dificuldade de transferência dos pacientes da UTI para a enfermaria (após a alta da UTI), bem como para a marcação de exames. Verificou-se que não havia fisioterapeuta fixo, imprescindível por tratar-se de uma Unidade de Tratamento Intensivo (fls. 192/3).

Conforme verificado pelo Conselho de Enfermagem, apesar do Hospital possuir enfermeiro responsável pelo setor, mantém, de maneira imprudente, atendentes de enfermagem prestando serviços na terapia intensiva. Cabe lembrar que o atendente de enfermagem é um profissional que exerce atividades de fácil execução e entendimento, não precisando ser alfabetizado. Essa atividade não exige conhecimento científico, requerendo apenas destreza manual. Necessário, pois, é atentar para o exato cumprimento da Portaria CVS-9.

I) - quanto ao Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME).

O CRM verificou inicialmente que o setor de arquivo médico possui um espaço físico insuficiente. Também não foram constatados quaisquer metodologias e procedimentos para a realização dos arquivos, já que os prontuários de óbitos (ano de 1997 e anteriores) estavam amontoados, sem qualquer ordem lógica. Todo o "arquivo morto" do Hospital foi desativado e nenhum funcionário do setor soube fornecer explicações sobre o destino dos prontuários dispensados.

J) - considerações gerais

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais realizou visita recente ao Hospital e constatou, basicamente, os mesmos problemas e irregularidades apontadas pelo CRM, CRF, COREN e CVS, bem como pela Comissão interna.

No entanto, algumas considerações merecem ser referidas que, obviamente, menos no aspecto técnico, dizem respeito à forma de ver os serviços do hospital pelos próprios usuários: -)

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dificuldade na marcação de consultas, máxime nas clínicas cardiológica, endocrinológica e ginecológica, bem como no setor de odontologia; -) condições de higiene insatisfatórias nos lavatórios, banheiros e salas de consultas, etc; -) a clínica psiquiátrica – localizada no exterior do hospital – apresenta péssimas condições de atendimento e tratamento aos pacientes. As paredes encontram-se mofadas, os prontuários estão mal armazenados, sujos e mofados, não havendo um mínimo de zelo; -) o centro cirúrgico não está desempenhando suas atividade de maneira normal e regular, porquanto não há luvas, gazes e sangue em quantidade suficientes; -) constatou-se falta de ambulância, sendo que as existentes encontram-se em péssimo estado de conservação.

 

 

V - DO DIREITO

 

Todos os problemas até agora elencados em muito prejudicam a prestação de serviços por parte do Hospital, inclusive, colocando em risco a vida e a saúde de seus usuários. Não fosse um Hospital tão importante seria o caso de pleitear-se a sua interdição até que fosse regularizada a situação. No entanto, esta solução resultaria em prejuízo aos destinatários dos serviços que preferem um serviço deficiente e perigoso a um inexistente, bem como na definitiva acomodação do poder público que com o fechamento do hospital economizaria dinheiro.

As condições do hospital foram denominadas "precárias" pelo GVS (fls. 188).

Fere-se, assim, na prestação do serviço público essencial de Saúde, o princípio constitucional da eficiência, colocando-se em risco a saúde e vida de inúmeros pacientes.

Cabe, portanto, ao Município de São Paulo e à Autarquia zelarem pela correta prestação do serviço público no Hospital do

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Servidor Público Municipal, pois conforme decidiu o Superior Tribunal de Justiça, ao Poder Executivo,

"cabe o poder indeclinável de regulamentar e controlar os serviços públicos, exigindo sempre sua atualização e eficiência, de par com o exato cumprimento das condições impostas para a sua prestação ao público (STJ - 1ª T - RMS nº 7.730/96 - RS - Rel. Min. José Delgado, Diário da Justiça, Seção I, 27 out. 1997, p. 54.720).

 

Dessa forma, a inércia da Municipalidade e da própria Autarquia vem gerando graves prejuízos e inúmeros riscos à saúde pública e os direitos daqueles que dela necessitam, competindo ao Judiciário a cessação na lesão desses direitos.

Não se trata, pois, de adentrar-se na discricionariedade administrativa, pois a eficácia material da administração traduz-se no adimplemento de suas competências ordinárias e na execução e no cumprimento pelos entes administrativos dos objetivos que lhe são próprios, o que não está ocorrendo na presente hipótese.

Trata-se, pois, de balizar a discricionariedade administrativa pelos preceitos constitucionais e legais, para que não se consagre a arbitrariedade e a ineficiência.

Como salientado por Tomás-Ramón Fernández, deve-se

"conceder à administração - nos limites casuisticamente permitidos pela Constituição - tanta liberdade quanto necessite para o eficaz cumprimento de suas complexas tarefas" (Arbitrariedad y discrecionalidad. Barcelona: Civitas, 1991. p. 117).

 

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Vislumbra-se, portanto, a necessidade do Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV), em defesa dos direitos fundamentais e serviços essenciais previstos pela Carta Magna - vida, dignidade da pessoa humana, saúde - garantir a eficiência dos serviços prestados pelo Hospital, inclusive responsabilizando as autoridades omissas, pois como salienta Alejandro Nieto,

"quando o cidadão se sente maltratado pela inatividade da administração e não tem um remédio jurídico para socorrer-se, irá acudir-se inevitavelmente de pressões políticas, corrupção, tráfico de influência, violências individual e institucionalizada, acabando por gerar intranqüilidade social, questionando-se a própria utilidade do Estado" (La inactividad material de la administración. Madri: Documentacion adminsitrativa nº 208, 1986. p. 16).

Repise-se que a Constituição Federal, em seu Art. 129, inciso II, confere ao Ministério Público a tarefa institucional de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos por ela assegurados.

O Ministério Público tem um dever irrenunciável e impostergável de defesa do povo, cabendo-lhe exigir dos Poderes Públicos e dos que agem em atividades essenciais o efetivo respeito aos direitos constitucionalmente assegurados na prestação dos serviços relevantes e essenciais.

O Art. 196 da Carta Magna estabelece a saúde um direito de todos e dever do Estado. O Art. 197, como já ressaltado, prescreve serem as ações e serviços de saúde como de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle. Como serviço essencial, dedução lógica é a de que devem ser observadas e cumpridas as normas vigentes, devendo um hospital ter organização e estrutura correlatas à sua condição,

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propiciando um atendimento adequado e satisfatório aos pacientes.

A situação é tão grave que a limpeza da enfermaria chegou a ser realizada por parentes dos pacientes. Saliente-se que os doentes, por determinados períodos, permaneceram internados em meio à sujeira, tendo em vista a interrupção dos serviços por empresa terceirizada devido à falta de pagamento (fls. 100).

No caso, a ausência de cumprimento de normas básicas, a realização de procedimentos incorretos vem causando sério perigo aos destinatários dos serviços do Hospital, o que deve ser superado o quanto antes.

 

VI - DO PEDIDO

 

 

Diante de todo o exposto, o Ministério Público do Estado de São Paulo requer a citação do MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DE SÃO PAULO), na pessoa do Excelentíssimo Procurador-Geral do Município e do HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL, na pessoa de seu superintendente, para que, contestem, no prazo legal, a presente ação, sob pena de suportarem os efeitos da revelia (CPC, art. 319), que deverá ser julgada inteiramente procedente, para condenar o MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (Fazenda Pública Municipal de São Paulo) e o HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL (autarquia) às obrigações de não fazer e de fazer, no prazo de trinta dias, consistentes na disponibilização definitiva de todos os recursos humanos e infra-estrutura material necessários, a realização de manutenção periódica (preventiva e corretiva) de todos os equipamentos do hospital bem como higienização geral e adequada, de forma a regularizar a prestação dos serviços do hospital que ora ocorre de maneira deficitária e de modo a causar perigo à vida e à saúde do usuário, ou seja, contornar toda a situação calamitosa

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insistentemente demonstrada nas letras A a J do item 3, especificando-se o seguinte:

a) organizar o setor de farmácia sob os aspectos controle de entrada e saída de medicamentos, rotinas, distribuição de medicamentos, não permitindo que pessoas estranhas ao setor por lá livremente transitem;

b) realizar a estocagem de medicamentos em temperatura adequada, fazer o controle de temperatura e providenciar sistema eficiente para manter a temperatura adequada. Propiciar suficiente ventilação no local e não armazenar medicamentos próximos das luminárias;

c) regularizar a limpeza e higiene no setor de farmácia;

d) estabelecer a Comissão de Farmácia e Terapêutica e criar protocolo para uso de medicamentos de notificação compulsória;

e) regularizar o estoque de medicamentos, suprindo todas as faltas e insuficiências;

f) não adquirir e não receber medicamentos cujos prazos de validade encontram-se com datas de vencimento próximas, considerado como padrão de comparação todo o tempo de validade específico de cada remédio, e não utilizar nos pacientes remédios com prazos de validades já vencidos;

g) não manipular álcool 70o.C com água de torneira, mas sim através de destiladores que deverão ser consertados (também os que são utilizados na manipulação de medicamentos);

h) não utilização de matérias primas vencidas ou sem prazo de validade (manipulação magistral);

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i) não retirar a identificação das caixas dos medicamentos (etiquetas em que consta o nome do Hospital do Servidor, validade e número do lote);

j) fixar como rotina a esterilização de materiais médicos-cirúrgicos utilizados para atendimento de emergência, não os cruzando com materiais "sujos";

k) providenciar que materiais descartáveis pérfuro-cortantes sejam depositados em local apropriado e isolado do público, não ultrapassando os limites das caixas;

l) substituir as sondas de entubação que estão com os prazos de validade esgotados;

m) adequar à demanda o número de incubadoras na maternidade e no berçário;

n) consertar os dois monitores quebrados dentre os disponíveis;

o) dispor na sala de emergência, os materiais necessários de forma organizada a permitir fácil e adequado manuseio por médicos e enfermeiros, dispondo-os em bandejas e carrinhos próprios;

p) higienizar adequadamente a sala de inalação, e melhor dispor os bicos dos aparelhos de inalação que não podem permanecer tão próximos;

q) propiciar a aplicação de medicação endovenosa fornecendo conforto ao doente, não o deixando sentado em cadeira desconfortável;

r) armazenar de forma correta o soro, não o deixando pelos corredores do hospital;

s) Na sala de emergência providenciar a esterilização dos ambus após cada utilização e não simplesmente os colocar junto a outros materiais já esterilizados;

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t) Higienizar sempre as duas pias balcão da sala de emergência e não permitir que pertences pessoais dos funcionários do hospital lá permaneçam;

u) Substituir ou reparar macas e suportes de soros enferrujados;

v) Tomar as providências necessárias de forma a permitir o adequado isolamento de pacientes com meningite e tuberculose.

w) Regularizar a disposição das macas na enfermaria, facilitando a circulação de pacientes e funcionários;

x) Providenciar reparos na rede de oxigênio que se encontra em estado precário;

y) Providenciar carrinho de emergência para a sala de emergência, de forma a não dispor medicamentos e materiais em uma pia existente no local;

z) No setor de diálise, passar a utilizar dispositivos de controle adequados e necessários ao procedimento dialítico, regularizar o estoque de dializadores e de linhas arteriais e venosas, além de regularizar o número de filtros de diálise para reposição, observando-se as normas existentes;

aa) No setor de "raios-X" providenciar o controle de dosimetria, planos de radioproteção e de garantia de qualidade e laudo radiométrico; reparar dois dos três equipamentos de "raios-X" que se encontram com defeito;

bb) No laboratório não utilizar reagentes químicos com prazos de validade vencidos; consertar o ar-condicionado e consertar as geladeiras com problemas de vedação, bem como providenciar a correta utilização das mesmas, impedindo o excesso de materiais acondicionados;

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cc) Na UTI adquirir em número suficiente, de forma a atender a demanda: oxímetros, bombas de infusão e respiradores (os existentes são insuficientes); providenciar a escala de fisioterapeuta fixo para o setor e, por fim, impedir que atendentes de enfermagem prestem serviços complexos no setor;

dd) Providenciar a reforma da clínica psiquiátrica.

 

Ao final, nos termos do Art. 11 da mencionada Lei, caso haja deferimento do pedido itens "a" a "dd" (envolvendo obviamente a disponibilização definitiva de todos os recursos humanos e infra-estrutura material necessários, a realização de manutenção periódica (preventiva e corretiva) de todos os equipamentos do hospital, bem como higienização geral e adequada, de forma a regularizar a prestação dos serviços do hospital que ora ocorre de maneira deficitária e de forma a causar perigo à vida e à saúde do usuário, ou seja, contornar toda a situação calamitosa insistentemente demonstrada nas letras A a J do item 3), requer-se sejam os requeridos condenados ao cumprimento das diversas obrigações de fazer e de não fazer já especificadas, determinando-se o cumprimento das atividades devidas e a cessação das atividades nocivas, sob pena de cominação de multa diária no valor de R$10.000,00 (dez mil reais) em caso de descumprimento de um ou alguns dos itens, quantias que deverão ser revertidas para o fundo de reconstituição dos interesses metaindividuais lesados, criado pelo Art. 13 da Lei Federal n. 7347/85. Os requeridos deverão responder solidariamente pelo pagamento da multa-diária.

 

Diante da urgência reclamada pela hipótese, aguarda-se pela concessão, inaudita altera parte, de medida liminar para que a Municipalidade e a Autarquia tomem as providências de forma a dar imediato cumprimento aos itens "a, b, c, f, h, i, j, k, l, o, r, s, t, w", bem como o item "p" no que respeita à higienização adequada da sala de inalação e, finalmente, o item "bb" no que concerne à não utilização

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no laboratório de reagentes químicos com prazos de validade vencidos. Também para que, no prazo de trinta (30) dias, tomem as providências de forma a dar cumprimento aos itens "q, y, z e bb", este último no que respeita aos consertos do ar-condicionado do laboratório e das geladeiras com problemas de vedação, bem como para que seja providenciada a correta utilização das mesmas, impedindo o excesso de materiais acondicionados. Finalmente, para que no prazo de 120 (cento e vinte) dias os demandados confiram adequados cumprimentos aos itens "d, e, g, m, n, u, v, x, aa, cc e dd".

A medida liminar urge e impera, porquanto o provimento da pretensão a final poderá ser inócuo para prevenir os danos causados ao público e à própria saúde pública, uma vez que a população destinatária está exposta aos riscos de um Hospital que presta um serviço de saúde inadequado. Relevante é o fundamento da lide, pois presentes estão o "fumus boni juris" e o "periculum in mora", nos termos do artigo 12 da Lei 7.347/85 e do artigo 460, parágrafo 3o. do Código de Processo Civil.

Presentes a aparência do bom direito e o perigo da demora. Conforme já foi exaustivamente ressaltado, a prestação do serviço de saúde é serviço de relevância pública, e por isto os requeridos devem exercê-lo de modo apropriado aos usuários. A obrigação da prestação adequada desse serviço essencial é princípio que deve ser cumprido plenamente a satisfazer a demanda. Neste sentido o art. 22 da Lei n. 8078/90, segundo o qual "Os órgão públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único – Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código".

O perigo da demora também está suficientemente ressaltado nesta petição inicial. Existe justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual é preciso que seja concedida liminarmente e com urgência a medida pleiteada. Há sério risco

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à vida e à saúde dos usuários, não é possível deixar acontecer a catástrofe para somente depois atuar.

Em caso do deferimento da liminar, não havendo atendimento integral por parte dos requeridos dentro dos prazos fixados, aguarda-se a cominação de multa diária de R$10.000,00 (dez mil reais), ou outro valor a ser arbitrado por Vossa Excelência, na forma do Parágrafo 2o. do Artigo 12 da Lei n. 7.347/85, devendo a Municipalidade (Fazenda Pública Municipal) e a Autarquia responderem solidariamente pelo valor.

Requer-se, finalmente, seja oficiado de forma circunstanciada ao Conselho Regional de Medicina, ao Conselho Regional de Enfermagem e ao Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo para que, decorridos trinta (30) dias, sejam providenciadas visitas para realização de perícias técnicas (relatórios), fornecendo-se ao Juízo dados concretos sobre o estado do nosocômio, dentro do âmbito da liminar concedida (ou tutela antecipada), ou seja, a fim de que se apure o efetivo respeito à medida judicial, obviamente se ela for concedida. O mesmo, requer-se, deverá ocorrer após 120 (cento e vinte) dias, para verificar o cumprimento dos outros itens (no caso de deferimento da liminar).

Subsidiariamente, requer-se a concessão de tutela antecipada (vide pedido principal), aplicando-se o disposto no Art. 84, Parágrafos 3o. e 4o. da Lei n. 8078/90.

Requer-se, por fim, que as intimações do Ministério Público sejam realizada pessoalmente, na forma da lei, na rua Major Quedinho nº 90, Centro, São Paulo.

Protesta-se pela produção de provas, por todos os meios admitidos em direito, sobretudo pela juntada de novos documentos e perícias, além de oitiva de testemunhas e peritos, caso se faça necessário.

Em virtude de expressa previsão legal de dispensa de custas, tanto para o demandante quanto para o demandado, e da vedação constitucional ao recebimento de honorários advocatícios por parte do Ministério Público, deixa-se de se postular nesse sentido.

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Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Termos em que,

P. e E.

Deferimento.

 

São Paulo, 09 de agosto de 2000.

 

 

 

 

 

João Luiz Marcondes Junior César Pinheiro Rodrigues

Promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do Consumidor – GAESP – Órgão de Execução do Ministério Público do Estado de São Paulo – Rua Major Quedinho, 90, Centro, São Paulo, tel. 2562287.

 

Cassiano Mazon

Estagiário do Ministério Público