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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
EXCELENTÍSSIMO SENHOR GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE,
EXCELENTÍSSIMO SENHOR CONSULTOR GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio dos
Procuradores da República com atuação na área ambiental, mormente na região
costeira do Estado do Rio Grande do Norte e o INSTITUTO BRASILEIRO DO
MEIO AMBIENTE DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS, por sua
Superintendência no Rio Grande do Norte, vem a presença de Vossa Excelência, expor
as razões que, ao nosso entender, justificariam o veto ao PROJETO DE LEI 063/2015,
que dispõe sobre desenvolvimento sustentável da carcinicultura no Estado do Rio
Grande do Norte e dá outras providências
I. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
O artigo 49, parágrafo 1° da Constituição do Estado do Rio
Grande do Norte prescreve que se o Governador do Estado considerar o projeto, no
todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, pode vetá-lo,
total ou parcialmente, no prazo de 15 (quinze) dias úteis...
Em análise ao indicado projeto, evidenciam-se, ao sentir das
razões abaixo indicadas, inúmeros questionamentos atinentes a sua
constitucionalidade, e outros que contrariam o interesse público, mormente, os
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últimos, em razão das múltiplas contendas judiciais que poderá ensejar, de modo a
justificar o veto ao indicado projeto.
Sugere-se, outrossim, na mesma oportunidade, a formação por
Vossa Excelência de um GRUPO DE TRABALHO interdisciplinar, composto de
técnicos, produtores, cientistas, representantes de classes profissionais, órgãos públicos
de fomento e controle da atividade, representantes do Estado, da OAB, de
ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS e membros do Ministério Público, de
modo a, de fato, regular de forma adequada e sustentável a atividade de carcinicultura
no Estado do Rio Grande do Norte, de modo a permitir seu desenvolvimento, em
observância aos princípios da preservação do meio-ambiente e da livre iniciativa.
II. DAS INCONSTITUCIONALIDADES OBSERVADAS
Em análise aos dispositivos previstos no PROJETO DE LEI
063/2015, evidencia-se a necessidade de impugnação dos seguintes dispositivos:
art.2º, inciso I, artigo 5º, caput e parágrafos 1° e 2°, art.8º, parágrafo 3º, art.9°,
art.10, caput e parágrafo único, art.11 e seus incisos, art.12, art.13, caput e seu
parágrafo único, art.16, art.18 e seu parágrafo único, artigo 19 e seus parágrafos,
artigo 21, artigo 22 e artigo 23.
De fato, depreende-se que tais dispositivos violam, já a uma
primeira análise, o disposto nos artigos 22, IV, VII E VIII, 23, IX, 24, parágrafo 4º,
225, caput e parágrafo 1°, inciso III e VII da Constituição Federal, bem como os
artigos 150, parágrafo 1º, IV, V e VII, parágrafo 3º, parágrafo 5º e 152, todos da
Constituição do Estado do Rio Grande do Norte.
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ART.2º, INCISO I DO PROJETO DE LEI – CONCEITO DE ATIVIDADE
AGROSSILVOPASTORIL
O dispositivo titulado possui a seguinte redação:
Art. 2º. Para os efeitos desta lei, ficam estabelecidos os seguintes conceitos:
I – atividade agrossilvopastoril: são as atividades desenvolvidas em conjunto ou
isoladamente relativadas à agricultura, à aquicultura, à carcinicultura, à pecuária, à
silvicultura e demais formas de exploração e manejo de fauna e da flora, destinados
ao uso econômico ou à preservação e à conservação dos recursos naturais renováveis
Depreende-se, nesse caso, que o dispositivo legal pretende
estabelecer um conceito que açambarcaria enquanto AGROSSILVOPASTORIL a
atividade de carcinicultura, com o nítido propósito de permitir-lhe em seu favor a
aplicação dos artigos 61A e 61B do Código Florestal (Lei Federal n° 12.651/2012),
que permite o desenvolvimento de atividade agrossilvopastoril ao longo de áreas de
preservação permanente – ao lado do turismo ecológico e do turismo agrário – em
razão da nítida sustentabilidade de tais atividades.
A par de se permitir ao legislador regular a atividade humana, de
forma a minorar conflitos, sua capacidade legiferante não se estende ao ponto de
modificar a própria natureza das coisas, podendo-se, quando tanto, apenas transparecer
nos textos legislativos, a fim de pleno conhecimento, os principais caracteres de um
termo técnico produzido.
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A atividade de carcinicultura, a par de sua importância na pauta
de exportações do Estado do Rio Grande do Norte não pode ser tida, tecnicamente,
como de baixo, mínimo potencial ofensivo ao meio ambiente, em razão da necessidade
de empreender a devastação do local de instalação dos tanques – no caso, específico, a
vegetação característica do bioma manguezal – não se permitindo guarnecer, de
qualquer forma, a integridade dos atributos dessa vegetação, de modo a se depreender,
já a um primeiro instante, que nulifica completamente a tais espaços territoriais
especialmente protegidos (artigo 225, parágrafo 1º, inciso III da CF/88).
Depreende-se, inclusive, já a um primeiro instante, que o
dispositivo contraria, inclusive, o disposto no artigo 11A do Código Florestal (Lei
12.651/2012), que para fins de permitir a carcinicultura em áreas de apicuns e
salgados – sucessionais a vegetação de mangue, e, portanto, já não portadoras de
várias das características compreendidas no manguezal – exige a garantia da
manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas de Preservação
Permanente (artigo 11A, parágrafo 1°, inciso V do Código Florestal). Assim, por
força do dispositivo estadual, nulificar-se-ia completamente a proteção a área de
manguezal, permitindo-se, inclusive, a sua ocupação com atividade de
carcinicultura com um número menor de exigências do que a atividade realizada
em área de apicuns e salgados.
Importante lembrar que as áreas salinizadas e manguezais
são considerados formações pioneiras e parte integrante do Bioma Mata
Atlântica, como muito bem colocado no Art. 2º da Lei n.o 11.428/2006, que
estabelece o Regime Jurídico Especial da Mata Atlântica, e o Art. 1º Decreto n. o
6.660/2008, que regulamenta a Lei. Portanto tem o manguezal e suas áreas
salinizadas proteção estendida pelo regime de proteção deste Bioma:
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Lei n.o 11.428/2006:
“Art. 2o Para os efeitos desta Lei, consideram-se integrantes
do Bioma Mata Atlântica as seguintes formações florestais na-
tivas e ecossistemas associados, com as respectivas delimita-
ções estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística - IBGE, conforme regulamento: Floresta Om-
brófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada
de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta
Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem
como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de al-
titude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste. “
Decreto n.o 6.660/2008:
Art. 1o O mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, previsto no art. 2 o da Lei n o 11.428, de 22 de
dezembro de 2006, contempla a configuração original das
seguintes formações florestais nativas e ecossistemas
associados: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila
Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta
Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; Floresta
Estacional Decidual; campos de altitude; áreas das formações
pioneiras, conhecidas como manguezais, restingas, campos
salinos e áreas aluviais; refúgios vegetacionais; áreas de tensão
ecológica; brejos interioranos e encraves florestais,
representados por disjunções de Floresta Ombrófila Densa,
Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual e
Floresta Estacional Decidual; áreas de estepe, savana e
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savana-estépica; e vegetação nativa das ilhas costeiras e
oceânicas. “
Por outro lado, a problemática também, conforme acima
reportado, reside na contrariedade a natureza técnica do termo (agrossilvopastoril),
perfeitamente transplantado pelo relator EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR nos
autos da Apelação Cível n° 0800464-44.2014.4.05.8400, em julgamento realizado, por
unanimidade, pela 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em 26 de
maio de 2015, verbis:
Abordando o conceito de atividade agrossilvipastoril, mediante
o emprego do termo agroflorestal, João Ambrósio de Araújo
Filho, Nilzemary Lima da Silva, Francisco Mavignier
Cavalcante França, Mônica Matoso Campanha e Jaime Martins
de Sousa Neto, em escrito de autoria comum, expõem:
"Portanto, o sistema de produção agroflorestal (SAFs) é
definido como sendo o conjunto harmônico de práticas
sustentáveis de manejo de recursos naturais em que se
combinam espécies florestais, cultivos agrícolas e/ou criação de
animais numa mesma área em exploração, de forma simultânea
ou sequencial temporal. (ALTIERI, 1995)" (Sistema de produção
agrossilvipastorial no semiárido do Ceará. Fortaleza: Governo
do Estado do Ceará - Secretaria dos Recursos Hídricos,2010.
Cartilhas temáticas, Volume 10, p. 14).
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Por outro, e inclusive conforme já perfeitamente elucidado no
mesmo julgado, haver conceito também inadequado por parte da Resolução
CONAMA n° 483/2013, aplicável somente a assentamentos de terra para fins de
reforma agrária, depreende-se que o legislador federal não furtou-se a, na sua
condição de editor de regras gerais, a apenas transplantar legislativamente o conceito
tecnicamente estabelecido, conforme se deduz do artigo 1º, parágrafo 2º, inciso II da
Lei Federal n° 12.805, de 29 de abril de 2013, verbis:
Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta, cujos objetivos são:
I - melhorar, de forma sustentável, a produtividade, a qualidade
dos produtos e a renda das atividades agropecuárias, por meio
da aplicação de sistemas integrados de exploração de lavoura,
pecuária e floresta em áreas já desmatadas, como alternativa
aos monocultivos tradicionais;
II - mitigar o desmatamento provocado pela conversão de áreas
de vegetação nativa em áreas de pastagens ou de lavouras,
contribuindo, assim, para a manutenção das áreas de
preservação permanente e de reserva legal;
III - estimular atividades de pesquisa, desenvolvimento e
inovação tecnológica, assim como atividades de transferência
de tecnologias voltadas para o desenvolvimento de sistemas de
produção que integrem, entre si, ecológica e economicamente, a
pecuária, a agricultura e a floresta;
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IV - estimular e promover a educação ambiental, por meio de
ensino de diferentes disciplinas, em todos os níveis escolares,
assim como para os diversos agentes das cadeias produtivas do
agronegócio, tais como fornecedores de insumos e matérias-
primas, produtores rurais, agentes financeiros, e para a
sociedade em geral;
V - promover a recuperação de áreas de pastagens degradadas,
por meio de sistemas produtivos sustentáveis, principalmente da
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta - ILPF;
VI - apoiar a adoção de práticas e de sistemas agropecuários
conservacionistas que promovam a melhoria e a manutenção
dos teores de matéria orgânica no solo e a redução da emissão
de gases de efeito estufa;
VII - diversificar a renda do produtor rural e fomentar novos
modelos de uso da terra, conjugando a sustentabilidade do
agronegócio com a preservação ambiental;
VIII - difundir e estimular práticas alternativas ao uso de
queimadas na agropecuária, com vistas a mitigar seus impactos
negativos nas propriedades químicas, físicas e biológicas do
solo e, com isso, reduzir seus danos sobre a flora e a fauna e a
emissão de gases de efeito estufa;
IX - fomentar a diversificação de sistemas de produção com
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inserção de recursos florestais, visando à exploração comercial
de produtos madeireiros e não madeireiros por meio da
atividade florestal, a reconstituição de corredores de vegetação
para a fauna e a proteção de matas ciliares e de reservas
florestais, ampliando a capacidade de geração de renda do
produtor;
X - estimular e difundir sistemas agrossilvopastoris aliados às
práticas conservacionistas e ao bem-estar animal.
§ 1o A ILPF, para os dispositivos desta Lei, é entendida como a
estratégia de produção sustentável que integra atividades
agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em
cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, buscando
efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema,
com vistas à recuperação de áreas degradadas, à viabilidade
econômica e à sustentabilidade ambiental.
§ 2o A estratégia da ILPF abrange 4 (quatro) modalidades de
sistemas, assim caracterizados:
I - Integração Lavoura-Pecuária ou Agropastoril: sistema que
integra os componentes Art. 1o Esta Lei institui a Política
Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, cujos
objetivos são:
I - melhorar, de forma sustentável, a produtividade, a qualidade
dos produtos e a renda das atividades agropecuárias, por meio
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da aplicação de sistemas integrados de exploração de lavoura,
pecuária e floresta em áreas já desmatadas, como alternativa
aos monocultivos tradicionais;
II - mitigar o desmatamento provocado pela conversão de áreas
de vegetação nativa em áreas de pastagens ou de lavouras,
contribuindo, assim, para a manutenção das áreas de
preservação permanente e de reserva legal;
III - estimular atividades de pesquisa, desenvolvimento e
inovação tecnológica, assim como atividades de transferência
de tecnologias voltadas para o desenvolvimento de sistemas de
produção que integrem, entre si, ecológica e economicamente, a
pecuária, a agricultura e a floresta;
IV - estimular e promover a educação ambiental, por meio de
ensino de diferentes disciplinas, em todos os níveis escolares,
assim como para os diversos agentes das cadeias produtivas do
agronegócio, tais como fornecedores de insumos e matérias-
primas, produtores rurais, agentes financeiros, e para a
sociedade em geral;
V - promover a recuperação de áreas de pastagens degradadas,
por meio de sistemas produtivos sustentáveis, principalmente da
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta - ILPF;
VI - apoiar a adoção de práticas e de sistemas agropecuários
conservacionistas que promovam a melhoria e a manutenção
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dos teores de matéria orgânica no solo e a redução da emissão
de gases de efeito estufa;
VII - diversificar a renda do produtor rural e fomentar novos
modelos de uso da terra, conjugando a sustentabilidade do
agronegócio com a preservação ambiental;
VIII - difundir e estimular práticas alternativas ao uso de
queimadas na agropecuária, com vistas a mitigar seus impactos
negativos nas propriedades químicas, físicas e biológicas do
solo e, com isso, reduzir seus danos sobre a flora e a fauna e a
emissão de gases de efeito estufa;
IX - fomentar a diversificação de sistemas de produção com
inserção de recursos florestais, visando à exploração comercial
de produtos madeireiros e não madeireiros por meio da
atividade florestal, a reconstituição de corredores de vegetação
para a fauna e a proteção de matas ciliares e de reservas
florestais, ampliando a capacidade de geração de renda do
produtor;
X - estimular e difundir sistemas agrossilvopastoris aliados às
práticas conservacionistas e ao bem-estar animal.
§ 1o A ILPF, para os dispositivos desta Lei, é entendida como a
estratégia de produção sustentável que integra atividades
agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em
cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, buscando
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efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema,
com vistas à recuperação de áreas degradadas, à viabilidade
econômica e à sustentabilidade ambiental.
§ 2o A estratégia da ILPF abrange 4 (quatro) modalidades de
sistemas, assim caracterizados:
I – omissis
II - Integração Lavoura-Pecuária-Floresta ou
Agrossilvopastoril: sistema que integra os componentes
agrícola, pecuário e florestal, em rotação, consórcio ou
sucessão, na mesma área;
Desse modo, a par de considerações outras sobre a nulificação
dos atributos da área de preservação permanente indicada, bem como por se tratar de
norma menos protetiva do que a do próprio Código Ambiental – característica que se
estende, inclusive por arrastamento, ao disposto nos artigos 5º, 10, 11, 12 e 18 do
mesmo PROJETO DE LEI ESTADUAL 063/2015 – o conceito apresentado confronta
com CONCEITO LEGAL enunciado por norma federal, DE CUNHO GERAL, de
modo a apresentar-se inconstitucional também por essa razão (artigo 24, parágrafo 1º
da CF/88).
Apresenta-se, de fato, ilógico e incongruente imaginar-se tal
dispositivo legal como regra SUPLEMENTAR a LEGISLAÇÃO GERAL emitida pelo
ente federal central. Não há como se conceber ser a atividade de carcinicultura
AGROSSILVOPASTORIL no Rio Grande do Norte e não ser no restante do país.
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Por outro, em casos outros, em conflitos entre normas ambientais
estaduais com normas ambientais gerais federais o Supremo Tribunal Federal tem se
pronunciado pela DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE da norma
estadual, conforme se evidencia dos julgados abaixo transcritos, verbis:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ARTIGO 182, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL.
CONTRAIEDADE AO ARTIGO 225, § 1º, IV, DA CARTA DA
REPÚBLICA.
A norma impugnada, ao dispensar a elaboração de estudo
prévio de impacto ambiental no caso de áreas de florestamento
ou reflorestamento para fins empresariais, cria exceção
incompatível com o disposto no mencionado inciso IV do § 1º do
artigo 225 da Constituição Federal.
Ação julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade
do dispositivo constitucional catarinense sob enfoque.
(ADIN 1086-7/SC, Relator Ministro Ilmar Galvão, Plenário,
07.06.2001)
EMENTA: Medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade. 2. Lei n° 1.315/2004, do Estado de
Rondônia, que exige autorização prévia da Assembléia
Legislativa para o licenciamento de atividades utilizadoras de
recursos ambientais consideradas efetivas e potencialmente
poluidoras, bem como capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental. 3. Condicionar a aprovação de
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licenciamento ambiental à prévia autorização da Assembléia
Legislativa implica indevida interferência do Poder Legislativo
na atuação do Poder Executivo, não autorizada pelo art. 2º da
Constituição. Precedente: ADI n° 1.505. 4. Compete à União
legislar sobre normas gerais em matéria de licenciamento
ambiental (art. 24, VI, da Constituição. 5. Medida cautelar
deferida.
(Medida Cautelar em ADIN n° 3252-6, Relator Ministra Rosa
Weber, Plenário, j.06.04.2005)
Depreende-se, portanto, que a definição da carcinicultura como
atividade AGROSSILVOPASTORIL, ao tempo que viola o disposto no artigo 225,
caput e parágrafo 1º, IV da CF/88 e artigo 151, caput e parágrafo 1º, IV da
Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, também viola o previsto no artigo 24
da CF/88, ao pretender enunciar, em moldes diversos ao da legislação federal geral, o
conceito de ATIVIDADE AGROSSILVOPASTORIL.
DA VIOLAÇÃO A NORMAS TÉCNICAS QUE REGULAM
GENERICAMENTE A MATÉRIA. TRANSGRESSÃO AO DISPOSTO NO
ARTIGO 225, PARÁGRAFO 1º, INCISO IV DA CF/88. DA IMPOSSIBILIDADE
DE OCUPAÇÃO DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
(MANGUEZAL) COM ATIVIDADE DE CARCINICULTURA E DA DISPENSA
DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL PARA A REALIZAÇÃO DE
ATIVIDADE POTENCIALMENTE POLUIDORA
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A par da inconstitucionalidade por arrastamento dos artigos 5º,
10, 11, 12 e 18 do mesmo PROJETO DE LEI ESTADUAL 063/2015, vez que
claramente dependentes da manutenção do conceito da carcinicultura como atividade
agrossilvopastoril, razões outras indicam pela necessidade da declaração de sua
inconstitucionalidade.
São os seguintes os dispositivos sob análise:
Art.5º. Os empreendimentos de carcinicultura caracterizados como de microporte não
estão obrigados ao licenciamento ambiental e a inexigibilidade deverá ser declarada
pelo órgão ambiental competente, com base na autodeclaração do empreendedor, na
qual o mesmo assume a responsabilidade civil e penal pelas informações prestadas.
Parágrafo 1°. A inexigibilidade de licenciamento ambiental não desobriga o
empreendedor de cumprir a legislação ambiental aplicável a seu empreendimento ou
atividade.
Parágrafo 2º. A declaração de inexigibilidade será emitida eletronicamente pelos
órgãos ambientais que adotarem o Sistema Informatizado de Licenciamento
Ambiental nos termos da Lei Complementar Estadual n° 495, de 05 de novembro de
2013.
Art.10. Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, nos termos do
parágrafo 6º do artigo 4º da Lei Federal n° 12.651, de 25 de maio de 2012 instalados
nas áreas de que trata os incisos I e II do caput do artigo 4º da Lei Federal 12.651, é
admitida a prática da carcinicultura e a instalação da infraestrutura física
diretamente a ela associada, desde que:
I – sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de recursos
hídricos, garantido sua qualidade e quantidade, de acordo com as normas do
Conselho Nacional e dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;
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II – seja realizado o respectivo licenciamento pelo órgão ambiental competente;
III – o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural – CAR;
IV – a implantação do empreendimento não implique em novas supressões de
vegetação nativa
Parágrafo único. Para a implantação da infraestrutura necessária à atividade de
carcinicultura nas áreas de preservação permanente será considerado o disposto no
artigo no art.8º da Lei Federal 12.651, de 25 de maio de 2012, observados as
disposições da alínea e do item IX do art.3º da mesma Lei.
Art.11. Para a implantação de empreendimentos de carcinicultura, a intervenção e
supressão de vegetação nativa em áreas de preservação permanente visando
implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes
tratados ou dentro dos parâmetros definidos na legislação ambiental será permitida
na forma do artigo 8º da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012, desde que:
I – seja assegurada a estabilidade das encostas e margens dos cursos d´água,
inclusive com a exigência de realização de medidas mitigadoras com essa finalidade;
II – haja acompanhamento técnico por profissional habilitado para a condução dos
projetos de engenharia
Art.12. Nos termos do parágrafo 1º do artigo 4º da Lei Federal nº 12.651, de 25 de
maio de 2012, não será considerado área de preservação permanente, o entorno de
tanques, viveiros, bacias de sedimentação, canais de abastecimento e drenagem das
unidades de carcinicultura.
Art.18.O licenciamento deve identificar as áreas de produção em área de preservação
permanente, já consolidadas, nos termos do Capítulo XIII da Lei Federal n°
12.651/2012, para utilização preferencial.
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Parágrafo único. A continuidade da exploração da carcinicultura em áreas de
preservação permanente é autorizada exclusivamente em áreas consolidadas até 22
de julho de 2008, nos termos do art.61-A da Lei 12.651/2012, devendo o órgão
ambiental competente invocar o carcinicultor para assinatura do termo de
compromisso de que trata o parágrafo 5º do art.59 da Lei 12.651/2012, no prazo de
até 120 (cento e vinte) dias, contados a partir da vigência desta Lei.
Todos os dispositivos acima dimensionados partem,
necessariamente, das premissas que: a) a atividade de carcinicultura seria
AGROSSILVOPASTORIL, o que é nitidamente inconstitucional, por força do disposto
no artigo 24 da CF/88, vez que discrepa de norma geral federal regulamentadora da
matéria e ainda que, nessa condição, mormente quando de pequeno porte, não seria
potencialmente poluidora (inexigibilidade de licenciamento ambiental); ou b) que seria
atividade de aquicultura, e que, nessa condição, permitir-se-ia a ocupação de área de
preservação permanente, mormente manguezal.
No caso do licenciamento ambiental, depreende-se, já a primeiro
instante, que o artigo 10 da Lei Federal 6.938/81, alterado pela Lei Complementar
Federal n° 140/2011 prevê que a construção, instalação, ampliação e funcionamento
de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental. (Redação dada pela Lei
Complementar nº 140, de 2011).
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
A par do dispositivo não indicar claramente a carcinicultura
como atividade causadora de degradação ambiental, importa destacar que, para fins de
instalação do empreendimento, valer-se-á necessariamente de desmatamento da área a
ser utilizada – no caso, área de preservação permanente, manguezal – além da
necessidade de utilização de volumes de água em grande quantidade, as quais são
acrescidos significativo volume de pesticidas e antibióticos, além de outros produtos
químicos, de modo a permitir o cultivo do camarão.
Inclusive, com o simples propósito de regulamentar o
legalmente disposto, por lei federal, prevê a Resolução CONAMA 312/2012 a
OBRIGATORIEDADE de licenciamento ambiental para TODA a atividade de
carcinicultura, qualquer que seja a sua dimensão e, mais do que isso, proíbe a
realização de carcinicultura em área de manguezal, em razão da nítida fragilidade do
bioma indicado, conforme se extrai do seu texto, verbis:
RESOLUÇÃO CONAMA nº 312, de 10 de outubro de
2002Publicada no DOU no 203, de 18 de outubro de 2002,
Seção 1, páginas 60-61
Dispõe sobre o licenciamento ambiental dos empreendimentos
de carcinicultura na zona costeira.
O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA,
tendo em vista as competências que lhe foram conferidas pela
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo
Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, alterado pelo Decreto
nº 3.942, de 27 de setembro de 2001, e tendo em vista o disposto
nas Resoluções CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997, e
nº 1, de 23 de janeiro de 1986 e em seu Regimento Interno, e
Considerando que a Zona Costeira, nos termos do § 4o, art. 225
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da Constituição Federal, é patrimônio nacional e que sua
utilização deve se dar de modo sustentável e em consonância
com os critérios previstos na Lei nº 7.661, de 16 de maio de
1988;
Considerando a fragilidade dos ambientes costeiros, em especial
do ecossistema manguezal, área de preservação permanente nos
termos da Lei nº 4.771, de 15 de setembro 1965, com a defi
nição especifi cada no inciso IX, art. 2o da Resolução do
CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, e a necessidade de
um sistema ordenado de planejamento e controle para preservá-
los;
Considerando a função sócio-ambiental da propriedade,
prevista nos artigos 5o, inciso XXIII, 170, inciso VI, 182, § 2o,
186, inciso II e 225 da Constituição Federal;
Considerando os Princípios da Precaução, da Prevenção,
Usuário-Pagador e do Poluidor-Pagador; Considerando a
necessidade de serem editadas normas específi cas para o
licenciamento ambiental de empreendimentos de cultivo de
camarões na zona costeira;
Considerando que a atividade de carcinicultura pode ocasionar
impactos ambientais nos ecossistemas costeiros; Considerando
a importância dos manguezais como ecossistemas exportadores
de matéria orgânica para águas costeiras o que faz com que
tenham papel fundamental na manutenção da produtividade
biológica;
Considerando que as áreas de manguezais, já degradadas por
projetos de carcinicultura, são passíveis de recuperação;
Considerando as disposições do Código Florestal, instituído
19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
pela Lei nº 4.771 de 1965, do Decreto Federal nº 2.869, de 9 de
dezembro de 1998, do Zoneamento Ecológico- Econômico, dos
Planos de Gerenciamento Costeiro, e da Resolução CONAMA nº
303, de 2002, resolve:
Art. 1o O procedimento de licenciamento ambiental dos
empreendimentos de carcinicultura na zona costeira obedecerá
o disposto nesta Resolução, sem prejuízo de outras exigências
estabelecidas em normas federais, estaduais e municipais.
Art. 2o É vedada a atividade de carcinicultura em manguezal.
Art. 3o A construção, a instalação, a ampliação e o
funcionamento de empreendimentos de carcinicultura na zona
costeira, defi nida pela Lei nº 7.661, de 1988, e pelo Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro, nos termos desta
Resolução, dependem de licenciamento ambiental.
Parágrafo único. A instalação e a operação de empreendimentos
de carcinicultura não prejudicarão as atividades tradicionais de
sobrevivência das comunidades locais.
Art. 4o Para efeito desta Resolução, os empreendimentos
individuais de carcinicultura em áreas costeiras serão classifi
cados em categorias, de acordo com a dimensão efetiva de área
inundada, conforme tabela a seguir:
PORTE ÁREA EFETIVAMENTE INUNDADA (ha)
Pequeno Menor ou igual a 10,0
Médio Maior que 10,0 e menor ou igual a 50,0
Grande Maior que 50,0
§ 1o Os empreendimentos com área menor ou igual a 10 (dez)
ha poderão ser licenciados por meio de procedimento de
20
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licenciamento ambiental simplifi cado, desde que este
procedimento tenha sido aprovado pelo Conselho Ambiental.
§ 2o No processo de licenciamento será considerado o potencial
de produção ecologicamente sustentável do estuário ou da bacia
hidrográfica, definida e limitada pelo ZEE.
§ 3o Os empreendimentos com área maior que 10 (dez) ha,
ficam sujeitos ao processo de licenciamento ambiental
ordinário.
§ 4o Os empreendimentos localizados em um mesmo estuário
poderão efetuar o EPIA/RIMA conjuntamente.
§ 5o Na ampliação dos projetos de carcinicultura os estudos
ambientais solicitados serão referentes ao novo porte em que
será classificado o empreendimento.
Art. 5o Ficam sujeitos à exigência de apresentação de
EPIA/RIMA, tecnicamente justificado no processo de
licenciamento, aqueles empreendimentos:
I - com área maior que 50 (cinqüenta) ha;
II - com área menor que 50 (cinqüenta) ha, quando
potencialmente causadores de significativa degradação do meio
ambiente;
III - a serem localizados em áreas onde se verifique o efeito de
adensamento pela existência de empreendimentos cujos
impactos afetem áreas comuns.
Art. 6o As áreas propícias à atividade de carcinicultura serão
definidas no Zoneamento Ecológico- Econômico, ouvidos os
Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e em
conformidade com os Planos Nacionais, Estaduais e Municipais
de Gerenciamento Costeiro.
21
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Art. 7o Nos processos de licenciamento ambiental, o órgão
licenciador deverá exigir do empreendedor, obrigatoriamente, a
destinação de área correspondente a, no mínimo, 20% da área
total do empreendimento, para preservação integral.
Art. 8o O empreendedor ao solicitar a Licença Prévia - LP,
Licença de Instalação – LI e Licença de Operação - LO para
empreendimentos de carcinicultura deverá apresentar no
mínimo os documentos especificados no anexo I.
Art. 9o O órgão licenciador deverá exigir obrigatoriamente no
licenciamento ou regularização de empreendimentos de
carcinicultura as outorgas de direito de uso dos recursos
hídricos.
Parágrafo único. Fica vedada a instalação de empreendimentos
em áreas de domínio da União nas quais não exista registro de
ocupação ou aforamento anterior a fevereiro de 1997, nos
termos do artigo 9o da Lei nº 9.636, de 15 de maio de 1998.
Art. 10. O Órgão Ambiental licenciador deverá comunicar ao
respectivo Conselho Ambiental, no prazo máximo de trinta dias,
as Licenças Ambientais expedidas para carcinicultura.
Art. 11. Quando da etapa de Licença de Instalação - LI será
exigido Plano de Controle Ambiental - PCA, contendo no
mínimo o que consta do anexo II desta Resolução.
Art. 12. Quando da etapa de Licença de Operação será exigido
Plano de Monitoramento Ambiental - PMA, contendo no mínimo
o que consta do anexo III desta Resolução.
Art. 13. Esta Resolução aplica-se também aos empreendimentos
já licenciados, que a ela deverão se ajustar. Parágrafo único. Os
empreendimentos em operação na data de publicação desta
22
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Resolução deverão requerer a adequação do licenciamento
ambiental, no prazo de noventa dias, a partir da data de
publicação desta Resolução, e ajustar-se no prazo máximo de
trezentos e sessenta dias contados a partir do referido
requerimento.
Art. 14. Os projetos de carcinicultura, a critério do órgão
licenciador, deverão observar, dentre outras medidas de
tratamento e controle dos efl uentes, a utilização das bacias de
sedimentação como etapas intermediárias entre a circulação ou
o deságüe das águas servidas ou, quando necessário, a
utilização da água em regime de recirculação.
Parágrafo único. A água utilizada pelos empreendimentos da
carcinicultura deverá retornar ao corpo d’água de qualquer
classe atendendo as condições definidas pela Resolução do
CONAMA nº 20, de 18 de junho de 1986193.
Art. 15. O descumprimento das disposições desta Resolução
sujeitará o infrator às penalidades previstas na Lei nº 8.974, de
5 de janeiro de 1995, 194, na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de
1998, e outros dispositivos legais pertinentes.
Art. 16. Sem prejuízo das sanções penais e administrativas
cabíveis, o órgão licenciador competente, mediante decisão
motivada, poderá alterar os condicionantes e as medidas de
controle e adequação, inclusive suspendendo cautelarmente a
licença expedida, dentre outras providências necessárias,
quando ocorrer:
I - descumprimento ou cumprimento inadequado das medidas
condicionantes previstas no licenciamento, ou desobediência
das normas legais aplicáveis, por parte do detentor da licença;
23
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
II - fornecimento de informação falsa, dúbia ou enganosa,
inclusive por omissão, em qualquer fase do procedimento de
licenciamento ou no período de validade da licença;
III - superveniência de informações adicionais sobre riscos ao
meio ambiente, à saúde, e ao patrimônio sócio-econômico e
cultural, que tenham relação direta ou indireta com o objeto do
licenciamento.
Art. 17. A licença ambiental para atividades ou
empreendimentos de carcinicultura será concedida sem prejuízo
da exigência de autorizações, registros, cadastros, entre outros,
em atendimento às disposições legais vigentes. Art. 18. No
processo de licenciamento ambiental, os subscritores de estudos,
documentos pareceres e avaliações técnicas são considerados
peritos, para todos os fi ns legais.
Art. 19. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
publicação.
JOSÉ CARLOS CARVALHO - Presidente do Conselho
Conforme exposto acima, foi intenção ministerial junto
CONAMA, o controle ambiental total da atividade, dada a forte conotação de
insustentabilidade da atividade, situação esta que não pode passar despercebida
da legislação estadual, ainda mais por ter sido expressamente consignada no novo
Código Florestal (Lei n.o 12.6151/2012), em especial no Inciso III, Art. 11, que trata
das condições obrigatórias para a ocupação de apicuns e salgados pela carcinicultura:
III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão
ambiental estadual, cientificado o Instituto Brasileiro do Meio
24
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e, no
caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da União,
realizada regularização prévia da titulação perante a União;
Depreende-se assim, que ao dispensar a realização de
licenciamento ambiental para a atividade de carcinicultura, a par de se tratar de
atividade hábil a causar, concreta ou potencialmente, degradação ambiental, violou o
PROJETO DE LEI ESTADUAL 063/2015 o disposto no artigo 24 da CF/88 – a par de
também transgredir o artigo 225 da CF/88 e 151 da CONSTITUIÇÃO DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO NORTE.
Quanto ao disposto nos artigos 10, 11, 12 e 18 do PROJETO DE
LEI ESTADUAL 063/2015, os quais pretendem equiparar a atividade de carcinicultura
quer a agrossilvopastoril, quer a aquicultura em geral, para fins de permitir a ocupação
e desmatamento do manguezal, exige-se, a um primeiro momento, proceder a expressa
e parcial transcrição da petição inicial da ADIN 4903 que questiona a
constitucionalidade dos artigos 4º, caput e parágrafos 1º e 6º e artigo 8º da Lei
12.651/2012, ora utilizados como paradigmas pelo presente PROJETO EM ANÁLISE:
21. Assim como fez a Lei n 4.771/65, a Lei 12.651/12 manteve
no ordenamento jurídico nacional as áreas de preservação
permanente como categoria de espaço territorial especialmente
protegido, definindo-as como
"área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com
afimção ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade. o fluxo
gênico de fauna e .flora. proteger o solo e assegurar o bem-estar
das populações humanas".
25
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
22. Com efeito, a legislação brasileira já preceituava, desde a
publicação do Código Florestal de 1934, a necessidade de
proteção de determinados espaços territoriais, com a finalidade
de preservar o ciclo hidrológico, a biodiversidade, bem como o
solo e a estabilidade geológica".
23. o Código Florestal de 1965, por sua vez, estabeleceu serem
áreas de preservação permanente a faixa marginal de cursos
d'água, o entorno de lagos e lagoas naturais, dos reservatórios
artificiais, da~ nascentes e olhos d'água, os topos de morro,
montes, montanhas e serras, as encostas ou partes destas (com
declividade superior a 45°), as restingas fixadoras de dunas ou
estabilizadoras de mangues, as bordas dos tabuleiros ou
chapadas e as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e
oitocentos) metros.
24. Em tal contexto, conforme explica José Gustavo de Oliveira
Franco "a Constituição Federal recepcionou o Código Florestal
e o instituto das áreas de preservação permanente. como
elemento essencial, em mais de uma das descrições do
parágrafo 1°do art, 225, para atingir os objetivos pretendidos
quanto à efetividade do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado'" ,
26.Os estudos técnicos juntados à presente ação, especialmente
aquele produzido pelas duas maiores organizações científicas
nacionais (a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência) demonstram, de forma
inconteste, a importância das áreas de preservação permanente
para o cumprimento dos deveres fundamentais do poder público
quanto à proteçào ambiental (doc. 02). Segundo excerto do
26
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
citado documento (tls. lli12):
"Entre os pesquisadores, há consenso de
que as áreas marginais a corpos d'água
sejam elas várzeas ou florestas ripárias -e
os topos de morro ocupados por campos
de altitude ou rupestres são áreas
insubstituíveis em razão da biodiversidade
e de seu alto grau de especialização e
endemismo, além dos serviços
ecossistêmicos essenciais que
desempenham tais como a regularização
hidrológica, a estabilização de encostas, a
manutenção da população de
polinizadores e de ictiofauna, o controle
natural de pragas, das doenças e das
espécies exóticas invasoras.
Na zona ripária, além do abrigo da
biodiversidade com seu provimento de
serviços ambientais, os solos úmidos e sua
vegetação nas zonas de influência de rios e
lagos são ecossistemas de reconhecida
importância na atenuação de cheias e
vazantes, na redução da erosão
superficial, no condicionamento da
qualidade da água e na manutenção de
canais pela proteção de margens e
redução do assoreamento. Existe amplo 27
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
consenso científico de que são
ecossistemas qne. para sua estabilidade e
funcionalidade. precisam ser conservados
ou restaurados. se historicamente
degradados. Quando ecossistemas
naturais maduros ladeiam os corpos d'
água e cobrem os terrenos com solos
hidromórficos associados, o carbono e os
sedimentos são taxados, a água em
excesso é contida, a energia erosiva de
correntezas é dissipada e os fluxos de
nutrientes nas águas de percolação
passam por filtragem química e por
processamento microbiológico, o que
reduz sua turbidez e aumenta sua pureza.
(... )
A presença de vegetação em topos de
morro e encostas tem papel importante no
condicionamento do solo para o
amortecimento das chuvas e a
regularização hidrológica, diminuindo
erosão, enxurradas, deslizamento e
escorregamento de massa em ambientes
urbanos e rurais."
27. A constitucionalização dos espaços territoriais
especialmente protegidos trouxe consequências vinculantes ao
sistema jurídico como um todo, inclusive com restrições
28
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
explicitamente dirigidas ao legislador.
28. De início, a criação de espaços territoriais especialmente
protegidos é prevista no texto constitucional como um dos
deveres do poder público para assegurar a efetividade do direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
articulando-se tal dever com os demais deveres fundamentais
atribuídos ao Estado Brasileiro no art. 225, § 1" , verbis:
Art. 225. Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso Comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações.
§ I" -Para assegurar a efetividade desse
direito, incumbe ao Poder Público:
I -preservar e restaurar os processos
ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
11 -preservar a diversidade e a integridade
do patrimônio genético do Pais e fiscalizar
as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético;
111 -definir, em todas as unidades da
Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente
29
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
protegidos, sendo li alteração e a
supressão permitidas somente através de
lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção;
IV -exigir, na forma da lei, para instalação
de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do
meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V . controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas,
métodos c substâncias que comportem
risco para a vida. a qualidade de vida e o
meio ambiente;
VI -promover a educação ambiental em
todos os níveis de ensino c a
conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;
VII -proteger a fauna e a flora, vedadas,
na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem
a extinção das espécimes ou submetam os
animais a crueldade.
29. Conforme conclusão compartilhada pela unanimidade da
doutrina constitucional, a Constituição Federal de 1988
30
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
consagrou um "dever constitucional geral de não degradação".
Segundo explica o Ministro do Superior Tribunal de Justiça,
Antônio Hermann Benjamin,
Traia-se de dever constitucional
autossuficiente e com força vinculante
plena, dispensando, na sua aplicação
genérica, a atuação do legislador
ordinário. É, por outro lado, dever
inafastável, tanto pela vontade dos sujeitos
privados envolvidos, corno a pretexto de
exercício da discricionariedade
administrativa. Vale dizer: é dever que, na
estrutura do edifício jurídico, não se insere
na esfera de livre opção dos indivíduos,
públicos ou não.",
30.Quanto ao poder público, além do dever geral de não
degradação ambiental, há também deveres fundamentais
específicos, explicitamente mencionados no § ]0 do ar!. 225. Da
análise dos deveres fundamentais atribuídos ao Estado para
assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, pode ser inferida a existência de
um verdadeiro regime jurídico-constitucional dos espaços
territoriais especialmente protegidos, contendo mandamentos
explícitos e vinculantes ao poder público em todas as suas
esferas.
31. De início, tem -se que a criação de espaços territoriais
especialmente protegidos decorre do dever de preservar e
restaurar os processos ecológicos essenciais, de forma que essa
31
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
deve ser uma das finalidades da instituição desses espaços.
Segundo explica Reline Silvini Ferreira,
"quando se referiu a processos ecológicos
essenciais, quis o constituinte garantir a
proteção dos processos vitais que tornam
possíveis as inter-relações entre os seres
vivos e o meio ambiente. ( ... ) Nessa
perspectiva. portanto, é dever do Poder
Público preservar e restaurar as condições
indispensáveis à existência, à
sobrevivência digna e ao desenvolvimento
dos seres vjvos~'').
32. A criação dos espaços territoriais especialmente protegidos
articula-se, por fim, com os deveres fundamentais de
preservação da diversidade e integridade do patrimônio
genético do País, bem como da proteção da fauna e da flora.
33. o texto constitucional prevê ainda, vedações explícitas no
que se refere aos espaços territoriais especialmente protegidos.
O próprio dispositivo normativo que prevê o dever fundamental
de instituir tais espaços preceitua que sua alteração e supressão
somente serão permitidas através de lei (ar!. 225, § 1°, 1lI).
34. No mesmo dispositivo normativo, a Carta da República
ainda estabelece ser vedada qualquer utilização dos espaços
territoriais especialmente protegidos que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem a sua proteção.
35.O texto, uma vez mais, é de clareza solar: instituído um
espaço territorial especialmente protegido, sua utilização não
32
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
poderá comprometer a integridade dos atributos que
justificaram a sua proteção, ou seja, a sua função ecológica.
36. Tal mandamento constitucional vincula o Poder Público em
todas as esferas: o Poder Executivo deverá observá-lo em seus
atos administrativos e, especificamente, no licenciamento
ambiental; o Poder Judiciário não poderá chancelar a
utilização predatória dos espaços protegidos,
37.As inconstitucionalidades suscitadas na presente ação
decorrem da afronta, consubstanciada em diversos dispositivos
legais referentes às áreas de preservação permanente, ao regime
constitucional dos espaços territoriais especialmente protegidos,
notadamente, aos deveres fundamentais que impõem ao poder
público: (i) a vedação de que espaços territoriais especialmente
protegidos sejam utilizados de forma que comprometa os
atributos que justificam sua proteção; (ii) o dever de preservar e
restaurar os processos ecológicos essenciais; (iH) o dever de
proteger a diversidade e a integridade do patrimônio genético e
(iv) o dever de proteger a fauna e a flora, com a vedação de
práticas que coloquem em risco sua função ecológica.
38.Os prejuízos ambientais decorrentes das modificações
legislativas ora propostas e a importância de que fossem
mantidos, ao menos, os padrões de proteção existentes foram
comunicados ao Congresso Nacional pela comunidade
científica. No já citado documento produzido pela Academia
Brasileira de Ciência e pela Sociedade Brasileira para o
Progresso Científico, os parlamentares foram alertados de que
(fi. 43):
"Entre os impactos negativos da redução
33
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
de MPs e de RL estão a extinção de
espécies de muitos grupos de plantas e
animais (venebrados e invertebrados); o
aumento de emissão de C02; a redução de
serviços ecossistêmicos, tais como o
controle de pragas, a polinização de
plantas cultivadas ou selvagens e a
proteção de recursos hídricos; a
propagação de doenças (hantavírus e
outras transmitidas por animais silvestres,
como no caso do carrapato associado à
capivara); intensificação de outras
perturbações (incêndios. caça,
extrativismo predatório, impacto de cães e
gatos domésticos e ferais, efeitos de
agroquímicos); o assoreamento de rios,
reservatórios e portos, com claras
implicações no abastecimento de água,
energia e escoamento de produção em
todo o país."
39.E, ao fragilizar o regime de proteção das áreas de
preservação permanente e, em alguns casos, extingui-las, o
legislador infraconstitucional violou integralmente os
mandamentos constitucionais acima mencionados. Se, na lição
de Konrad Hesse, "direitos fundamentais não podem existir sem
deveres", é forçoso reconhecer que o legislador
infraconstitucional atingiu o núcleo fundamental do direito ao
34
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
meio ambiente ecologicamente equilíbrado, negando-lhe
vigência e retirando sua força normativa'".
40. Além de afrontar os deveres fundamentais, as normas
impugnadas violam o princípio da vedação de retrocesso social,
pois, de forma geral, estabelecem um padrão de proteção
ambiental manifestamente inferior ao anteriormente existente.
41. Além da diminuição direta dos padrões de proteção, pela
redução das faixas de preservação e até mesmo extinção de
outras, merece especial atenção dessa Corte Constitucional a
sem precedentes fragilização dos instrumentos de proteção
ambiental e a autorização para consolidação dos danos
ambientais já perpetrados, ainda que praticados com afronta à
legislação anteriormente vigente.
42.De fato, conforme será exposto, diversos dispositivos legais,
em franca contrariedade ao dever geral de não degradação e ao
dever de restaurar os processos ecológicos essenciais, admitem
a consolidação de danos ambientais praticados até 22 de julho
de 200S". Em tal contexto, a definição "área rural consolidada"
é utilizada pela Lei 12.651/12 em diversos dispositivos,
objetivando, em síntese, isentar os causadores de danos
ambientais da obrigação de reparar o dano, sem exigir qualquer
circunstância razoável para a dispensa desta reparação.
43.Outros dispositivos legais estabelecem uma verdadeira -e
sem precedentes "anistia" àqueles que praticaram crimes e
infrações ambientais, excluindo o dever de pagar multas e
impedindo a aplicação das sanções penais eventualmente
cabíveis.
44. A iniciativa contraria de forma explícita o § 3° do art. 225
35
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
da Constituição Federal segundo o qual "as condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados ",
45. Se a própria Constituição estatui de forma explícita a
responsabilização penal e administrativa, além da obrigação de
reparar os danos, não se pode admitir que o legislador
infraconstitucional exclua tal princípio, sob pena de grave
ofensa à Lei Maior.
46. Adernais, corno será evidenciado na análise específica de
cada dispositivo impugnado, a Lei 12.651/12, em relação às
áreas de preservação permanente, consagra patente
inconstitucionalidade decorrente da proteção insufIciente do
direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
47. Em tal contexto, válido citar os ensinamentos de !ngo Sarlet
e Tiago Fensterseifer, acerca do necessário controle judicial da
legislação infraconstitucional, à luz dos deveres fundamentais
estatuídos pela Constituição Federal quanto à proteção do meio
ambiente:
"Diante da insuficiência manifesta da
proteção, há violação do dever de tutela
estatal, c portanto, está caracterizada a
inconstitucionalidade da medida, tenha ela
natureza omissiva ou comissiva, sendo
possível seu controle j adieial, de la1 sorte
que, nesse contexto, ganha destaque a
36
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
própria vinculação do Poder Judiciário
(no sentido de um poder-dcver) aos
deveres de proteção, de modo que se lhe
impõe o dever de rechaço da legislação e
dos atos administrativos inconstitucionais,
ou, a depender das circunstâncias, o dever
de correção de tais atos mediante uma
interpretação conforme a Constituição e
de acordo com as exigências dos deveres
de proteção e proporcionalidade. A
vinculação do Poder Judiciário aos
direitos fundamentais, e portanto, aos
deveres de proteção, guarda importância
singular para a garantia de proteção do
retrocesso, posto que, tamhém no que diz
respeito a atos do poder público que
tenham por escopo a supressão ou redução
dos níveis de proteção social (cujo
controle igualmente implica consideração
dos critérios da proporcionalidade na sua
dupla perspectiva) caberá aos órgãos
jurisdicionais a tarefa de identificar a
ocorrência de prática inconstitucional c,
quando for o caso, afastá-Ia ou corrigi-
Ia." 12
…..
(i) Das inconstitucionalidades decorrentes da violação do dever
37
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
de vedar qualquer utilização do espaço territorial
especialmente protegido que comprometa a integridade dos
atributos que justificam sua proteção.
a) Das intervenç6es em áreas de preservação permanente na
hipótese de utilidade pública e interesse social.
49.Conforme salienta o Ministro do Superior Tribunal de
Justiça, Antônio Herman Benjamin, a Área de Preservação
Permanente (APP) "como sua própria denominação demonstra
-é área de "preservação" e não de "conservação"-, não permite
exploração econômica direta (modere ira. agricultura ou
pecuária), mesmo que com manejo ", tudo com objetivo de
favorecer sua função ambiental, qual seja, a preservação dos
recursos hídricos, da paisagem, da estabilidade geológica, da
biodiversidade e a proteção do solo.
50.Inobstante, alguns usos e intervenções em áreas de
preservação permanente foram excepcionalmente admitidos
pela legislação, em casos de utilidade pública, interesse social
ou de intervenções de baixo impacto ambiental, tal como prevê a
Lei 12.651/12 e já estabelecia a Lei 4.771í65. Acerca da
utilização das áreas de preservação permanente, a Lei
12.651/12, em seus artigos 3°, VIII e IX, 4°, li 6° e 8° prevê o
seguinte:
…
Art. 4° Considera-se Área de Preservaçáo
Permanente, em zonas rurais ou urbanas.
para os efeitos desta Lei:
(...)
38
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
§ 6" Nos imóveis rurais com até 15
(quinze) módulos fiscais, é admitida, nas
áreas de que tratam Os incisos I e 11 do
caput deste artigo, a prática da
aquicultura e a infraestrutura física
diretamente a ela associada, desde que:
I -sej am adotadas práticas sustentáveis de
manejo de solo e água e de recursos
hídricos, garantindo sua qualidade e
quantidade, de acordo com norma dos
Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;
II -esteja de acordo com os respectivos
planos de bacia ou planos de gestão de
recursos hídricos:
lI! -seja realizado o licenciamento pelo
órgão ambiental competente;
IV -o imóvel esteja inscrito no Cadastro
Ambiental Rural CAR.
V -, não implique novas supressões de
vegetação nativa.
Art. 8.A intervenção ou a supressão de
vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente somente ocorrerá nas
hipóteses de utilidade pública, de interesse
social ou de baixo impacto ambiental
previstas nesta Lei.
(...)
39
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§ 2" A intervenção ou a supressão de
vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente de que tratam os incisos 4QVI
e VII do caput do art. poderá ser
autorizada, excepcionalmente, em locais
onde a função ecológica do manguezal
esteja comprometida, para execução de
obras habitacionais e de urbanização,
inseridas em projetos de regularização
fundiária de interesse social, em áreas
urbanas consolidadas ocupadas por
população de baixa renda.
(... )
51. Ocorre que algumas das hipóteses de utilização das áreas de
preservação permanente previstas na Lei 12.651/12
comprometem os atributos que justificam sua proteção,
violando, por consequência, o art. 225, § 1°, UI, da Constituição
Federal.
52. Quanto às hipóteses de intervenção em casos de utilidade
pública ou interesse social (incisos VIII e IX do art. 3°), deve ser
ressaltado que, ao contrário do que estabelecia a legislação
anterior, a Lei n° 12.651/12 não prevê, de forma explícita, que
quaisquer intervenções serão justificadas apenas
excepcionalmente, na hipótese de inexistência de alternativa
técnica e/ou locacional'-', o que é essencial para que não seja
descaracterizado o regime de proteção legal dessas áreas.
53.De fato, a lei limitou·se a mencionar a necessidade de
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comprovação de inexistência de alternativa técnica e locacional
para "outras atividades similares" (art. 3°, vm, "e" e IX, "g")
que sejam consideradas de utilidade pública ou interesse social,
deixando de mencionar tais critérios para as demais hipóteses.
54. A omissão da lei acaba por autorizar interpretações segundo
as quais a intervenção em áreas de preservação permanente é
regra e não exceção, permitindo, na prática, o comprometimento
das funções ecológicas de tais áreas c, portanto, dos atributos
que justificam sua proteção.
55.É imprescindível, portanto, que seja conferida interpretação
conforme a Constituição aos incisos VIII e IX do art. 3" da Lei
12.651/12, no sentido de que, todas as hipóteses de intervenção
excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública,
previstas exemplificativa mente nos incisos VIII e IX do art. 3°,
sejam condicionadas à inexistência de alternativa técnica e/ou
locacional, comprovada mediante processo administrativo
próprio, conforme alínea "e" do inciso VIII e alínea "g" do
inciso IX,
…
b) Da previsão normativa acerea das atividades de aquicultura
em área de preservação permanente.
62.Ainda sobre as autorizações legislativas para a utilização
das áreas de preservação permanente, é igualmente
inconstitucional o conteúdo do art. 4°, § 6° da Lei 12.651/12,
que permite o uso de áreas de preservação permanente às
margens de rios (art. 4", I) e no entorno de lagos e lagoas
naturais (ar!. 4", 11) para implantação de atividades de
aquicultura'" a depender de licenciamento ambiental (que já é
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obrigatório para tal atividade) e da inscrição do imóvel no
Cadastro Ambiental Rural
63.De forma genérica, os incisos I, 11 e V do aludido dispositivo
legal estabelecem que a atividade deverá também adotar
"práticas sustentáveis de manejo de solo e água", estar de
acordo com os respectivos planos de bacia ou de gestão dos
recursos hídricos e, ainda, "não implicar novas supressões de
vegetação nativa". de onde se depreende que atividades já
instaladas em áreas de preservação permanente degradadas não
deverão ser removidas.
64.Deve ser destacado que a prática de aquicultura pode ter
grande impacto ambiental, envolvendo a introdução de espécies
exóticas, a utilização de produtos químicos, nocivos à vegetação
e outras espécies aquáticas, entre outros. Ademais, as atividades
de aquicultura não precisam ser desenvolvidas em locais
próximos a cursos d'água, podendo ser realizadas em tanques
ou açudes construídos para essa finalidade.
65.Assim, a permissão genérica para atividades de aquicultura
em áreas de preservação permanente descaracteriza o regime de
proteção de tais espaços territoriais e viola o dever geral de
proteção ambiental previsto no art. 225 da Constituição da
República.
66.Por conseguinte, deve ser declarada a inconstitucionalidade
do § 6° do art. 4° da Lei 12.651/12.
d) Das intervenções em mangues e restingas
67. o art. 8°, § 2°, da Lei 12.651/12 permite a intervenção em
mangues e restingas para implementação de projetos
habitacionais, nos seguintes termos:
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Art. 8° A intervenção ou a supressão de
vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente somente ocorrerá nas
hipóteses de utilidade pública, de interesse
social ou de baixo impacto ambiental
previstas nesta Lei.
(...)
§ 2" A intervenção ou a supressão de
vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente de que tratam os incisos VI e
VII do caput do art. 4" poderá ser
autorizada. excepcionalmente, em locais
onde a fnnção ecológica do manguezal
esteja comprometida, para execução de
obras habitacionais e de urbanização,
inseridas em projetos de regularização
fundiária de interesse social, em áreas
urbanas consolidadas ocupadas por
população de baixa renda.
68.Tal dispositivo também é patentemente inconstitucional, pois
afronta o dever fundamental de restaurar os processos
ecológicos essenciais, explicitamente previsto no art. 225, § 1°,
I, da Constituição Federal. A única hipótese aceitável,
autorizadora da ocupação de manguezais, ocorreria caso
atestada de forma irrefutável a completa impossibilidade de
restauração dos processos ecológicos essenciais que o
caracterizam.
69.Nessa hipótese, teria havido a completa descaracterização
43
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do ambiente, que sequer poderia ser considerado área de
preservação permanente, restando, apenas, a responsabilização
civil e penal dos responsáveis. Em tal situação, o dispositivo
legal em comento seria até mesmo dispensável.
70.As hipóteses de intervenção acima descritas levam à
completa descaracterização do regime de proteção das áreas de
preservação permanente, violam o dever geral de proteção do
meio ambiente (art. 225, caput) e a vedação de utilização de
espaço especialmente protegido de modo a comprometer os
atributos que justificam sua proteção (art. 225, §1°, III). Por
isso, deve ser declarada a inconstitucionalidade do art. 8°, § 2°,
da Lei 12.651/12.
Tratam-se os referidos dispositivos, por certo, de dispositivos
baseados em outros já tidos pela Procuradoria Geral da República como
inconstitucional, encontrando-se ao aguardo da análise do Supremo Tribunal Federal.
De outra parte, o artigo 12 do indicado PROJETO DE LEI ESTADUAL 063/2015
ainda padece de uma segunda inconstitucionalidade, ao simplesmente EXCLUIR a
existência de área de preservação permanente no entorno de tanques, viveiros, bacias
de sedimentação, canais de abastecimento e drenagem das unidades de conservação,
no que resulta o claro confronto com o artigo 225, parágrafo primeiro, IV da CF/88 e
do artigo 24, também do texto constitucional, em razão do seu claro confronto com o
texto do Código Florestal, que considera área de preservação permanente o manguezal
em toda a sua extensão.
DOS DEMAIS DISPOSITIVOS ATACADOS. DOS
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APICUNS E SALGADOS COMO PARTE DO BIOMA
MANGUEZAL.
Os demais dispositivos constantes do PROJETO DE LEI Nº
063/2015 (artigos 9º e 19) também padecem de questionamentos sobre sua
constitucionalidade, considerando-se o seu paradigma, no caso o artigo 11A do Código
Florestal em vigor.
De fato, uns e outros pretendem permitir e regular a atividade de
carcinicultura em área de manguezal, estabelecendo vários regramentos, mormente a
observância de regras de preservação de áreas de preservação permanente,
potabilidade dos mananciais e proteção do solo. Em ambos os casos, porém, parte-se
de uma premissa básica inadequada, qual seja, a consideração do apicum e salgado
como bioma diverso, distinto do bioma manguezal.
Nesse particular, façam-se expressa referência a expediente
recentemente encaminhado pelo Procurador da República VICTOR ALBUQUERQUE
DE QUEIROGA ao Procurador Geral da República, a título de representação para fins
de oferta de AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE:
Excelentíssimo Procurador-Geral da República,
Em razão do disposto no art. 103, VI, da CRFB/881, represento a
Vossa Excelência, para que adote as providências que julgar
cabíveis quanto à possível inconstitucionalidade dos §§ 1º a 7º
do art. 11-A, da Lei n.º 12.651/2012, incluído pela Lei n.º
12.727/2012.
1 Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004): […] VI - o Procurador-Geral da República.
45
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Os referidos dispositivos tentam apartar as zonas de apicum e
salgados do bioma manguezal, de modo a conferir-lhes proteção
inferior àquela patrocinada a este último2. O conceito de
manguezal não é jurídico, mas científico. É dizer, não cabe ao
Direito estabelecer o que é o manguezal, mas apenas
conformar a sua caracterização à legislação protetiva de
regência.
Assim, a doutrina científica caracteriza a
zona do apicum como integrante do ecossistema manguezal,
sendo parte importante dele e merecendo igual proteção, o que,
infelizmente, foi olvidado pelo Código Florestal vigente, em seu
art. 11-A, incidindo em mais uma de suas várias
inconstitucionalidades3 – no caso, por desrespeito ao princípio da
proibição de proteção deficiente e da vedação de retrocesso em
matéria de direitos fundamentais.
No sentido de que a zona de apicum
representa parte do ecossistema manguezal:
O apicum como parte do ecossistema manguezal
Apicum ou salgado, ocorre na porção mais interna do
manguezal, na interface médio/supra litoral, raramente em
pleno interior do bosque. Seu limite é estabelecido pelo
nível médio das preamares de sizígia e o nível das
preamares equinociais (Maciel, 1991).
Amostras de sedimento coletadas por Nascimento (1993),
ao longo de uma transversal da linha d’água até o apicum,
2 Os manguezais, em toda a sua extensão, constituem área de preservação permanente, consoante o art. 4º, VII, da Lei n.º 12.651/2012.3 As inconstitucionalidades do Novo Código Florestal foram objeto de ADIs ajuizadas por Vossa Excelência, sem que, contudo, as ações
tenham abordado os dispositivos atacados na presente representação, conforme se verifica da seguinte notícia: http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticias-do-site/copy_of_constitucional/pgr-questiona-novo-codigo-florestal.
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apresentaram os seguintes resultados para o teor de matéria
orgânica: ¾ na superfície, há um decréscimo em direção ao
apicum, à 20 e aos 40cm de profundidade; ¾ a partir dos
60 cm de profundidade, as concentrações de matéria
orgânica no apicum foram mais elevadas que aquelas da
superfície do manguezal. Na estação chuvosa ocorre uma
inversão em relação à estação seca; ¾ as camadas
inferiores do sedimento do apicum são tipicamente de
manguezal, inclusive com restos de material botânico e
valvas de ostras, denotando claramente sua origem à partir
de um bosque de mangue assoreado naturalmente,
caracterizando o apicum como área sucessional. A
salinidade influencia a distribuição dos organismos no
apicum, atuando como fator limitante (Nascimento, op.
cit.). A salinidade intersticial, nos meses de verão (estação
seca), apresentou valores crescentes da margem do rio para
o apicum, ocorrendo o inverso no inverno (estação
chuvosa), enquanto no manguezal foi mantido o equilíbrio
da salinidade, registrando-se um decréscimo acentuado
desses valores no apicum. Ao revolver constantemente o
sedimento das galerias no inverno, os caranguejos Uca
como outros animais escavadores estão enriquecendo a
superfície com nutrientes retirados das camadas mais
inferiores da vasa, desempenhando função vital na ecologia
do manguezal. Esses nutrientes são carreados pelas águas
da chuva para o manguezal, contribuindo para o equilíbrio
orgânico-mineral do ecossistema (Nascimento, 1993).
Esses resultados caracterizam a região do apicum como
47
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um reservatório de nutrientes, no contexto do
ecossistema manguezal, mantendo em equilíbrio os
níveis de salinidade e a constância da mineralomassa
(Nascimento, op. cit.)4.
No mesmo norte:
O apicum corresponde à área geralmente arenosa,
ensolarada, e normalmente ocorre na porção mais interna
do manguezal, na interface médio-supralitoral. Seu limite é
estabelecido pelo nível médio das preamares equinociais
(PROST, 2001). É desprovido de cobertura vegetal –
apicum vivo (tanne vif, segundo Lebigre, 2007) – ou abriga
vegetação herbácea, sendo, neste caso, designado apicum
herbáceo (tanne herbacé).
Os apicuns são encontrados em áreas litorâneas
intertropicais em todo o mundo, sempre associados a
manguezais. Apicuns ocorrem em Madagascar, Senegal,
Índia, Gabão, Austrália, Honduras, Papua-Nova-Guiné,
Nicarágua, Equador, Nova Caledônia e México (MARIUS,
1985; DUKE, 2006; LEBIGRE, 2007). Esses ambientes
são caracterizados pela elevada salinidade e estão
relacionados à ocorrência de climas com regime de
precipitação que comporta uma estação seca. Apesar de
serem incluídos, pelo menos em parte, no contexto dos
grandes conjuntos de ambientes hipersalinos (os
sabkhas , depressões salinas em ambientes áridos), a
4 SCHAEFFER-NOVELLI, Yara. Situação atual do grupo de ecossistemas: Manguezal, Marisma e Apicum. In: <http://www.anp.gov.br/meio/guias/5round/refere/manguezal_marisma_apicum.pdf>. Acesso em 12 de maio de 2015, às 19h12.
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obrigatoriedade de estarem associados a manguezais os
difere de outros ambientes com elevada salinidade
(LEBIGRE, 2007) 5 .
Ou seja, o apicum, conforme sólido entendimento científico, é
manguezal e, como tal, conforme já anteriormente ressaltado,
deve ter a mesma proteção conferida a esse ecossistema. Na
hipótese, mesmo diante do Novo Código Florestal e seu recuo na
proteção ao meio ambiente, toda a extensão do manguezal
constitui área de preservação permanente (conforme art. 4º, VII,
da Lei n.º 12.651/2012), o que deve ser estendido à zona de
apicum, consoante o entendimento científico anteriormente
explicitado, sob pena de vulneração do princípio da proibição do
retrocesso na proteção ambiental6.
Desse modo, tratando-se o apicum ou salgado como parte do
ecossistema manguezal, depreende-se que sua ocupação com atividade nitidamente
degradadora, como é o caso da carcinicultura, comprometem a integridade dos
atributos que justificam a proteção dessa área de preservação permanente (artigo 225,
parágrafo 1º, IV da CF/88), de modo a impedir, nesse caso, sua utilização.
Por essa ordem, quaisquer dispositivos que visem a regular a
atividade de carcinicultura em área de apicum e salgado sujeita-se a mesma
probabilidade de questionamento de sua constitucionalidade, de modo a justificar,
também por essa razão, a declaração de sua inconstitucionalidade.
DE DISPOSITIVOS FORMALMENTE INCONSTITUCIONAIS. DA INVASÃO
DA COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO
5 HADLICH, Gisele Mara; UCHA, José Martin. Apicuns: Aspectos Gerais, evolução recente e mudanças climáticas globais. Revista Brasileira de Geomorfologia. Vol. 10, n. 02, p. 13-20, 2009.
6 Sobre o tema da proibição de retrocesso ambiental: PRIEUR, Michel. Princípio da Proibição de Retrocesso Ambiental. In: O Princípio da Proibição de Retrocesso Ambiental. Brasília: SENADO, 2012, p. 15.
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
A par das irregularidades materiais – e formais –
supramencionadas, o PROJETO DE LEI ESTADUAL 063/2015 padece de vícios
outros, mormente por invasão da esfera legiferante da União.
São os seguintes dispositivos:
Art.7º, parágrafo 3º. Para os empreendimentos de carcinicultura que captam e
drenam suas águas diretamente do mar, desde que seus processos produtivos sejam
contempladas as boas práticas de manejo e o uso de probióticos, fica dispensada a
exigência de bacias de sedimentação.
Art.13. A maturação e reprodução artificial de espécies de camarão marinho utilizadas
na carcinicultura, que se destinam à produção de nauplios, larvas e pós-larvas, puras
ou híbridas, deverão ocorrer em laboratórios devidamente licenciados para este fim
pelo órgão ambiental competente, com ciência e de acordo do MPA – MINISTÉRIO
DA PESCA E AQUICULTURA.
Parágrafo único. Na hipótese da necessidade de importação de matrizes,
exclusivamente para reprodutores certificados como SPF ou SPR, deve-se adotar
impreterivelmente os procedimentos de quarentena e biossegurança do MAPA, com
ciência e de acordo do Ministério da Pesca e Aquicultura.
Art.16. Os empreendimentos de carcinicultura instalados em áreas de estuário (água
salgada ou salobra) devem observar quanto ao descarte de suas águas de drenagem, os
condicionantes previstos no parágrafo 1º, inciso V do art.11-A da Lei 12.651/2012
Art.21. Em defesa da sanidade na atividade de carcinicultura, exigir-se-á dos produtos
50
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pesqueiros oriundos de cada país, a declaração de isenção de enfermidades de
notificação obrigatória pela Organização Internacional de Epizootias – OIE no
respectivo país, como condicionante para a concessão de autorização de entrada destes
produtos destinados à comercialização no território do Estado do Rio Grande do Norte.
Art.22. Nos termos do art.74 da Lei Federal 12.651/2012, o Estado do Rio Grande do
Norte adotará medidas de restrições à importação de bens de origem pesqueira,
produzidos em países que não observem normas e padrões de proteção do meio
ambiente compatíveis com as estabelecidas pela referida legislação florestal brasileira.
Parágrafo único. Para a efetividade do disposto no caput, as situações em que se
apresente a necessidade de impor restrições às importações de bens de origem aquícola
ou pesqueira, produzidos em países que não observem normas e padrões de proteção
do meio ambiente, compatíveis com as estabelecidas pela legislação do Rio Grande do
Norte e do Brasil (Lei 12.651/2012), serão comunicadas à Câmara de Comércio
Exterior.
Art.23. São considerados produtores rurais e beneficiários da política agrícola
brasileira de que trata o artigo 187 da Constituição Federal, inclusive para benefícios
fiscais e de crédito rural, as pessoas físicas e jurídicas que desenvolvam atividade de
carcinicultura nos termos desta Lei.
Depreende-se, de fato, a um primeiro instante, que o artigo
7º, parágrafo 3º, ao dispensar o uso de bacias de sedimentação no caso do manejo de
águas marinhas, e que, nessa condição, são de propriedade da União, viola
frontalmente o disposto no artigo 22, IV da CF/88, que estipula que cabe
privativamente a União legislar sobre águas, mormente o uso daquelas de sua
51
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propriedade. Do mesmo vício padece o disposto no artigo 11 do mesmo PROJETO DE
LEI ESTADUAL N° 063/2015, também inclusive por equiparar o uso e drenagem das
águas de carcinicultura em manguezal aquelas existentes em apicuns e salgados,
mormente as últimas sejam sujeitas a regramentos mais rigorosos, quanto menos nos
termos do indicado projeto de lei.
O artigo 13, por sua vez, deseja regular matéria já regulada por
meio de legislação federal própria.
De fato, no que concerne ao seu caput, a matéria indicada já
encontra plena regulação no disposto na Lei 11.105/2005 e em seus regulamentos (Lei
que regula os organismos geneticamente modificados) e dos seus regulamentos, não
podendo a legislação estadual ser mais simplificada, impondo requisitos, critérios e
regramentos mais simplificados que a legislação federal.
Por outro, a importação de animais exóticos, inclusive matrizes,
regula-se ainda pelo disposto em vasta legislação própria, abaixo transcrita:
CONFERÊNCIA DAS NACÕES UNIDAS SOBRE MEIO
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO AGENDA 21
Capítulo 17 - Proteção dos Oceanos, de Todos os Tipos de
Mares Inclusive mares fechados e semifechados - e das zonas
costeiras, e proteção, uso racional e desenvolvimento de seus
recursos vivos.
17.30. Os Estados, atuando individualmente, bilateralmente,
regionalmente ou multilateralmente e no âmbito da IMO e
52
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
outras organizações internacionais competentes, sejam elas
sub-regionais, regionais ou globais, conforme apropriado,
devem avaliar a necessidade de serem adotadas medidas
adicionais para fazer frente à degradação do meio ambiente
marinho.
a) Provocada por atividades de navegação:
(vi) Considerar a possibilidade de adotar normas apropriadas
no que diz respeito à descarga de água de lastro, com vistas a
impedir a disseminação de organismos estranhos.
17.83. Os Estados costeiros, com o apoio, conforme apropriado,
de organizações internacionais, devem empreender análises do
potencial de aqüicultura em zonas marinhas e costeiras sob
jurisdição nacional e aplicar salvaguardas adequadas no que
diz respeito à introdução de novas espécies.
CONVENCÃO DAS NACÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO
DO MAR
Artigo 43º. Instalações de segurança e de auxílio e outros
dispositivos. Prevenção, redução e controle da poluição.
Os Estados usuários e os Estados ribeirinhos de um estreito
deveriam cooperar mediante acordos para:
a) O estabelecimento e manutenção, no estreito, das instalações
53
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
de segurança e auxílio necessárias à navegação ou de outros
dispositivos destinados a facilitar a navegação internacional; e
b) A prevenção, redução e controle da poluição proveniente de
navios.
Artigo 145º Proteção do meio marinho
No que se refere às atividades na área devem ser tomadas as
medidas necessárias, de conformidade com a presente
Convenção, para assegurar a proteção eficaz do meio marinho
contra os efeitos nocivos que possam resultar de tais atividades.
Para tal fim, a Autoridade adotará normas, regulamentos e
procedimentos apropriados para, inter alia:
a) Prevenir, reduzir e controlar a poluição e outros perigos para
o meio marinho, incluindo o litoral, bem como a perturbação
do equilíbrio ecológico do meio marinho, prestando especial
atenção à necessidade de proteção contra os efeitos nocivos de
atividades, tais como a perfuração, dragagem, escavações,
lançamento de detritos, construção e funcionamento ou
manutenção de instalações, duetos e outros dispositivos
relacionados com tais atividades;
b)Proteger e conservar os recursos naturais da área e prevenir
danos à flora e à fauna do meio marinho.
Artigo 196º - Utilização de tecnologias ou introdução de
espécies estranhas ou novas
1- Os Estados devem tomar todas as medidas necessárias para
prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho
resultante da utilização de tecnologias sob sua jurisdição ou
54
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
controle, ou a introdução intencional ou acidental num setor
determinado do meio marinho de espécies estranhas ou novas
que nele possam provocar mudanças importantes e prejudiciais.
2- O disposto no presente artigo não afeta a aplicação da
presente Convenção no que se refere à prevenção, redução e
controle da poluição do meio marinho.
CONVENCÃO PARA A PROTECÃO DA FLORA. DA FAUNA E
DAS BELEZAS CÊNICAS NATURAIS DOS PAÍSES DA
AMÉRICA (CONVENCÃO DE WASHINGTON. 12.10.1940):
Texto aprovado pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo N°
03/48 e ratificado pelo Decreto Federal Nº 58:054. de
23.03.1966). "[...] Art. V, inciso 1 - Os Governos Contratantes
resolvem adotar ou recomendar aos seus respectivos corpos
legislativos competentes, a adoção de leis e regulamentos que
assegurem a proteção e conservação da flora e fauna (todas as
espécies e gêneros, incluindo aves migratórias) dentro de seus
respectivos territórios."
CONVENCÃO SOBRE ZONAS ÚMIDAS DE IMPORTÂNCIA
INTERNACIONAL. ESPECIALMENTE COMO HABITAT DE
AVES AQUÁTICAS (CONVENCÃO DE RAMSAR. IRÃ.
02.02.1971) :
55
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Texto original emendado em 1982 e em 1987, com objetivo
principal de promover a proteção das áreas úmidas,
reconhecendo seu valor econômico, cultural, científico e
recreativo. O Brasil aprovou as emendas, mas somente ratificou
a convenção em 1992 que entrou em vigor em 1993.
CONVENCÃO SOBRE "ZONAS ÚMIDAS DE IMPORTÂNCIA
INTERNACIONAL. ESPECIALMENTE PARA AVES
MIGRATÓRIAS" (RAMSAR. IRÃ. 1971), COP-7. SAN JOSE.
COSTA RICA. 1999: RESOLUCÃO VII-21
"IMPLEMENTANDO A CONSERVACÃO E O USO RACIONAL
DAS ZONAS ÚMIDAS DO ENTREMARÉS":
"[...] 15. ALSO URGES all Contracting Parties to suspend the
promotion, creation of new facilities, and expanson of
unsustainable aquaculture activities harmful to coastal wetlands
until such time as assessments of the environmental and social
impact of such activities, together with appropriate studies,
identify measures aimed at establishing a sustainable system of
aquaculture that is in harmony both with the environment and
with local communities" (COP-7, 1999; in: Convention on
Wetlands "People and Wetlands: The Vital Link" - Resolutions
and Recommendations).
56
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
CONVENCÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA CCDB.
1992), RATIFICADA PELO BRASIL EM 03.02.1994:
"[...] Art. 3º do Convênio sobre a Diversidade Biológica, de
acordo com a carta das Nações Unidas e com os princípios do
direito internacional, os Estados têm o direito soberano de
explorar seus próprios recursos ao aplicar sua própria política
ambiental [...], desde que não prejudiquem o meio ambiente de
outros Estados ou de zonas situadas fora da jurisdição
nacional' (in: COP-6, 2002, Decisão V1I23, Anexo, p. 7/12).
* CDB - COP-6 (2002; Decisão VI/23; IV. Outras Opções; c)
Avaliação, informação e instrumentos)
"[...] 27 - Insta às Partes, governos e as organizações
pertinentes, nos níveis apropriados, a desenvolver e tornar
acessíveis instrumentos técnicos e a informação correspondente
para apoiar os esforços de prevenção, imediata detecção,
vigilância, erradicação e controle das espécies exóticas
invasoras e, na medida do possível, prestar apoio à
sensibilização e à educação pública em relação ao meio
ambiente".
* CDB - COP-7 (2004, Cooperação Internacional, p.3/12
"[...] Insta às Partes, aos governos, às organizações
multilaterais e a outros órgãos pertinentes, a estudar os efeitos
57
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
potenciais das mudanças climáticas globais sobre o risco das
espécies exóticas invasoras à diversidade biológica e aos bens e
serviços correspondentes dos ecossistemas". Sendo que, para a
CDB os ecossistemas, devem ser considerados como sistemas
"dinâmicos com o tempo e, por conseguinte, a distribuição
normal das espécies pode variar sem que haja intervenção de
um agente humano" (COP-6, Decisão VI/23, Anexo).
* CDB - COP-7 (2004; Decisão VI/23, IV. Outras Opções 12.):
Que as Partes Contratantes e os demais governos, ao preparar
medidas prioritárias que estudem a necessidade de U[...] b.
Elaborar medidas financeiras, e outras políticas e instrumentos
para fomentar as atividades destinadas a reduzir a ameaça das
espécies exóticas invasoras" (considerando o enfoque por
ecossistema - § 6° da Decisão V/8 da COP-5).
Comitê Veterinário Permanente do Cone Sul - Foi realizada
busca na internet (em 5 sites) para averiguar qual(is) o(s)
tipo(s) de informação e de providências cabíveis, constantes do
Comitê Veterinário Permanente do Cone Sul, com relação ao
status sanitário dos camarões marinhos cultivados no Brasil
(para exportação), reconhecidamente infectados por um ou
mais patógenos. Nenhuma referência foi encontrada.
LEIS
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Lei n° 5.197. de 03 de janeiro de 1967
Dispõe sobre a Proteção à Fauna
Artigo 4° - Nenhuma espécie poderá ser introduzida no País,
sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida na
forma da Lei.
Artigo 5° - O Poder Público criará:
a) Reservas Biológicas Nacionais, Estaduais e Municipais, onde
as atividades de utilização, perseguição, caça, apanha, ou
introdução de espécimes na fauna e flora silvestre e domésticas,
bem como modificações do meio ambiente a qualquer título são
proibidas, ressalvadas as atividades científicas devidamente
autorizadas pela autoridade competente;
Art. 14º Poderá ser concedida a cientistas, pertencentes a
instituições científicas, oficiais ou oficializadas, ou por estas
indicadas, licença especial para a coleta de material destinado
a fins científicos, em qualquer época.
Parágrafo 1º Quando se tratar de cientistas estrangeiros,
devidamente credenciados pelo país de origem, deverá o pedido
de licença ser aprovado e encaminhado ao órgão público
federal competente, por intermédio de instituição científica
oficial do país.
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Parágrafo 2º As instituições a que se refere este artigo, para
efeito da renovação anual da licença, darão ciência ao órgão
público federal competente das atividades dos cientistas
licenciados no ano anterior.
Parágrafo 3º As licenças referidas neste artigo não poderão ser
utilizadas para fins comerciais ou esportivos.
Parágrafo 4º Aos cientistas das instituições nacionais que
tenham por lei a atribuição de coletar material zoológico para
fins científicos, serão concedidas licenças permanentes.
Constituição da República Federativa do Brasil (1988),
Capítulo VI, Do Meio Ambiente):
"[...] Art. 225 "Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-Io e preservá-Io
para as presentes e as futuras gerações; § 1°, inciso V -
controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente."
* Art. 225, § 4º da Constituição da República Federativa do
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Brasil (1988):
"[...] A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a
Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira
são Patrimônio Nacional (grifo nosso). e sua utilização far-se-
á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto aos recursos
naturais".
Lei Federal Nº 7.661/88 que instituiu o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (PNGC):
"[...] Art. 3° O PNGC deverá prever o zoneamento de usos e
atividades na Zona Costeira e dar prioridade à conservação e
proteção. entre outros, dos seguintes bens: inciso I - recursos
naturais, renováveis e não renováveis; recifes, parcéis e bancos
de algas; ilhas costeiras e oceânicas; sistemas fluviais,
estuarinos e lagunares, baías e enseadas; praias; promontórios,
costões e grutas marinhas; restingas e dunas; florestas
litorâneas, manguezais e pradarias submersas".
* Decreto No 5.300/04, regulamenta a Lei Federal Nº 7.661/88:
"[...] Art. 5° do Decreto No 5.300/04 que regulamenta a Lei
Nº7.661/88, dispondo sobre regras de uso e ocupação da zona
costeira e estabelece critérios de gestão da orla marítima:
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
"São princípios fundamentais da gestão da zona costeira. além
daqueles estabelecidos na Política Nacional de Meio Ambiente
(Lei Federal No 6.938/81), na Política Nacional para os
Recursos do Mar e na Política Nacional de Recursos Hídricos:
inciso I - a observância dos compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil na matéria; [...]; inciso III- a utilização
dos recursos costeiros em observância aos critérios previstos
em lei e neste Decreto".
Lei Federal n° 9.985 - DE 18 DE JULHO DE 2000
Regulamenta o art. 225, § 1°, incisos I, lI, III e VII da
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza e da outras providências.
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza - SNUC, estabelece critérios e
normas para a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação.
CAPÍTULO II - do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza - SNUC
Art. 4º O SNUC tem os seguintes objetivos:
I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos
recursos genéticos no território nacional e nas águas
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito
regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da
diversidade de ecossistemas naturais;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa
científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
CAPÍTULO IV - da criação, implantação e gestão das unidades
de conservação
Art. 31. É proibida a introdução nas unidades de conservação
de espécies não autóctones.
§ 1º Excetuam-se do disposto neste artigo as Áreas de Proteção
Ambiental, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas e
as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, bem como os
animais e plantas necessários à administração e às atividades
das demais categorias de unidades de conservação, de acordo
63
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
com o que se dispuser em regulamento e no Plano de Manejo da
unidade.
§ 2º Nas áreas particulares localizadas em Refúgios de Vida
Silvestre e Monumentos Naturais podem ser criados animais
domésticos e cultivadas plantas considerados compatíveis com
as finalidades da unidade, de acordo com o que dispuser o seu
Plano de Manejo.
Art. 44. As ilhas oceânicas e costeiras destinam-se
prioritariamente à proteção da natureza e sua destinação para
fins diversos deve ser precedida de autorização do órgão
ambiental competente.
Parágrafo único. Estão dispensados da autorização citada no
caput os órgãos que se utilizam das citadas ilhas por força de
dispositivos legais ou quando decorrente de compromissos
legais assumidos.
Lei nº 9.605. de 12 de Fevereiro de 1998 ("Lei dos Crimes
Ambientais")
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências.
"[...] Art. 2° Quem, de qualquer forma, concorre para a prática
dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes
64
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o
diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de
pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem,
deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-
Ia."
Seção III - Da Poluição e Outros Crimes Ambientais
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais
que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou
que provoquem a mortandade de animais ou a destruição
significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1°. Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2°. Se o crime:
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção
do abastecimento público de água de uma comunidade;
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou
gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em
desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 3°. Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior
quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade
competente, medidas de precaução em caso de risco de dano
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
ambiental grave ou irreversível.
Capítulo V - Dos Crimes contra o Meio Ambiente
Seção III - Da Poluição e outros Crimes Ambientais
Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam
causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos
ecossistemas:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 70: considera-se infração administrativa ambiental toda
ação ou missão que viole regras jurídicas de uso, gozo,
promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
§ 10 ° São autoridades competentes para lavrar auto de
infração ambiental e instaurar processo administrativo os
funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema
Nacional de Meio Ambiente SISNAMA, designados para as
atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias
dos Portos, do Ministério da Marinha."
Lei nº 6.938/1981 (Política Nacional de Meio Ambiente)
Esta lei definiu poluição, de forma abrangente, visando
proteger não só o meio ambiente, mas também, a sociedade, a
saúde e a economia. Desta feita, a referida lei definiu em seu
artigo 3°, inciso iii, a poluição como:
"(...) Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
de atividades que direta ou indiretamente
a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população;
b) Criem condições adversas as atividades sociais e
econômicas;
c) Afetem desfavoravelmente a biota;
d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente;
e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos.
DECRETOS:
DECRETO N° 4.339. DE 22 DE AGOSTO DE 2002
ANEXO
Da Política Nacional da Biodiversidade
Dos Princípios e Diretrizes Gerais da Política Nacional da
Biodiversidade
2. A Política Nacional da Biodiversidade reger-se-á pelos
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
seguintes princípios:
VII - a manutenção da biodiversidade é essencial para a
evolução e para a manutenção dos sistemas necessários à vida
da biosfera e, para tanto, é necessário garantir e promover a
capacidade de reprodução sexuada e cruzada dos organismos;
VIII - onde exista evidência científica consistente de risco sério
e irreversível à diversidade biológica, o Poder Público
determinará medidas eficazes em termos de custo para evitar a
degradação ambiental;
IX - a internalização dos custos ambientais e a utilização de
instrumentos econômicos será promovida tendo em conta o
princípio de que o poluidor deverá, em princípio, suportar o
custo da poluição, com o devido respeito pelo interesse público
e sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais;
XVII - os ecossistemas devem ser entendidos e manejados em
um contexto econômico, objetivando:
a) reduzir distorções de mercado que afetam negativamente a
biodiversidade;
4 A Política Nacional da Biodiversidade reger-se-á pelas
seguintes diretrizes:
IV - é vital prever, prevenir e combater na origem as causas da
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
sensível redução ou perda da diversidade biológica;
Do Componente 1 da Política Nacional da Biodiversidade -
Conhecimento da Biodiversidade
10.1 Primeira diretriz: Inventário e caracterização da
biodiversidade. Levantamento, identificação, catalogação e
caracterização dos componentes da biodiversidade
(ecossistemas, espécies e diversidade genética intra-específica),
para gerar informações que possibilitem a proposição de
medidas para a gestão desta.
Objetivos Específicos:
10.1.8 Inventariar e mapear as espécies exóticas invasoras e as
espécies-problema, bem como os ecossistemas em que foram
introduzidas para nortear estudos dos impactos gerados e ações
de controle.
10.3 Terceira diretriz: Promoção de pesquisas para a gestão da
biodiversidade. Apoio à produção de informação e de
conhecimento sobre os componentes da biodiversidade nos
diferentes biomas para subsidiar a gestão da biodiversidade.
Objetivos Específicos:
10.3.6. Promover e apoiar pesquisas para subsidiar a
prevenção, erradicação e controle de espécies exóticas
invasoras e espécies-problema que ameacem a biodiversidade,
69
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
atividades da agricultura, pecuária, silvicultura e aqüicultura e
a saúde humana.
Do Componente 2 da Política Nacional da Biodiversidade -
Conservação da Biodiversidade
11 .1. Primeira diretriz: Conservação de ecossistemas.
Promoção de ações de conservação in situ da bidiversidade e
dos ecossistemas em áreas não estabelecidas como unidades de
conservação, mantendo os processos ecológicos e evolutivos e a
oferta sustentável dos serviços ambientais.
Objetivos Específicos:
11.1.11. Estabelecer uma iniciativa nacional para conservação
e recuperação da biodiversidade de águas interiores, da zona
costeira e da zona marinha.
11.1.12. Articular ações com o órgão responsável pelo controle
sanitário e fitossanitário com vistas à troca de informações
para impedir a entrada no país de espécies exóticas invasoras
que possam afetar a biodiversidade.
11.1.13. Promover a prevenção, a erradicação e o controle de
espécies exóticas invasoras que possam afetar a biodiversidade.
11.2. Segunda diretriz: Conservação de ecossistemas em
unidades de conservação. Promoção de ações de conservação
70
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
in situ da biodiversidade dos ecossistemas nas unidades de
conservação, mantendo os processos ecológicos e evolutivos, a
oferta sustentável dos serviços ambientais e a integridade dos
ecossistemas.
Objetivos Específicos:
11.2.3. Apoiar as ações do órgão oficial de controle
fitossanitário com vistas a evitar a introdução de pragas e
espécies exóticas invasoras em áreas no entorno e no interior
de unidades de conservação.
11.3. Terceira diretriz: Conservação in situ de espécies.
Consolidação de ações de conservação in situ das espécies que
compõem a biodiversidade, com o objetivo de reduzir a erosão
genética, de promover sua conservação e utilização sustentável,
particularmente das espécies ameaçadas, bem como dos
processos ecológicos e evolutivos a elas associados e de manter
os serviços ambientais.
Objetivos Específicos:
11.3.1. Criar, identificar e estabelecer iniciativas, programas e
projetos de conservação e recuperação de espécies ameaçadas,
endêmicas ou insuficientemente conhecidas.
11.3.7. Promover e aperfeiçoar as ações de manejo de espécies-
problema em situação de descontrole populacional.
71
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
11.4. Quarta diretriz: Conservação ex situ de espécies.
Consolidação de ações de conservação ex situ de espécies e de
sua variabilidade genética, com ênfase nas espécies ameaçadas
e nas espécies com potencial de uso econômico, em
conformidade com os objetivos específicos estabelecidos nas
diretrizes do Componente 5.
Objetivos Específicos:
11.4.2. Desenvolver, promover e apoiar estudos e estabelecer
metodologias para conservação e manutenção dos bancos de
germoplasma das espécies nativas e exóticas de interesse
científico e comercial.
11.4.18. Apoiar as ações de órgão oficial de controle sanitário e
fitossanitário no que diz respeito ao controle de espécies
invasoras ou pragas.
Do Componente 4 da Política Nacional da Biodiversidade -
Monitoramento, Avaliação, Prevenção e Mitigação de Impactos
sobre a Biodiversidade.
13.1. Primeira diretriz: Monitoramento da biodiversidade.
Monitoramento do estado das pressões e das respostas dos
componentes da biodiversidade.
Objetivos Específicos:
72
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
13.1.1. Apoiar o desenvolvimento de metodologias e de
indicadores para o monitoramento dos componentes da
biodiversidade dos ecossistemas e dos impactos ambientais
responsáveis pela sua degradação, inclusive aqueles causados
pela introdução de espécies exóticas invasoras e de espécies-
problema.
13.1.5. Instituir sistema de monitoramento do impacto das
mudanças globais sobre distribuição, abundância e extinção de
espécies.
13.1.8. Apoiar as ações do órgão oficial responsável pela
sanidade e pela fitossanidade com vistas em monitorar espécies
exóticas invasoras para prevenir e mitigar os impactos de
pragas e doenças na biodiversidade.
13.2. Segunda diretriz: Avaliação, prevenção e mitigação de
impactos sobre os componentes da biodiversidade.
Estabelecimento de procedimentos de avaliação, prevenção e
mitigação de impactos sobre os componentes da biodiversidade.
Objetivos Específicos:
13.2.6. Apoiar a realização de análises de risco e estudos dos
impactos da introdução de espécies exóticas potencialmente
invasoras, espécies potencialmente problema e outras que
ameacem a biodiversidade, as atividades econômicas e a saúde
73
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
da população, e a criação e implementação de mecanismos de
controle.
13.2.7. Promover e aperfeiçoar ações de prevenção, controle e
erradicação de espécies exóticas invasoras e de espécies-
problema.
13.2.8. Apoiar estudos de impacto da fragmentação de habitats
sobre a manutenção da biodiversidade.
DECRETO N° 2.519. de 16 de marco de 1998
Promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada
no Rio de Janeiro, em 05 de junho de 1992. Observando
igualmente que a exigência fundamental para a conservação da
diversidade biológica é a conservação in-situ dos ecossistemas
e dos habitats naturais e a manutenção e recuperação de
populações viáveis de espécies no seu meio natural.
Artigo 7 Identificação e Monitoramento
c) Identificar processos e categorias de atividades que tenham
ou possam ter sensíveis efeitos negativos na conservação e na
utilização sustentável da diversidade biológica, e monitorar
seus efeitos por meio de levantamento de amostras e outras
técnicas; e
74
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Artigo 8 Conservação I n-Situ
b) Desenvolver, se necessário, diretrizes para a seleção,
estabelecimento e administração de áreas protegidas ou áreas
onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a
diversidade biológica;
d) Promover a proteção de ecossistemas, habitats naturais e
manutenção de populações viáveis de espécies em seu meio
natural;
g) Estabelecer ou manter meios para regulamentar, administrar
ou controlar os riscos associados à utilização e liberação de
organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia que
provavelmente provoquem impacto ambiental negativo que
possa afetar a conservação e a utilização sustentável da
diversidade biológica, levando também em conta os riscos para
a saúde humana;
h) Impedir que se introduzam, controlar ou erradicar espécies
exóticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espécies;
Artigo 10 Utilização Sustentável de Componentes da
Diversidade Biológica
b) Adotar medidas relacionadas à utilização de recursos
biológicos para evitar ou minimizar impactos negativos na
diversidade biológica;
Artigo 13 Educação e Conscientização Pública
A)Promover e estimular a compreensão da importância da
conservação da diversidade biológica e das medidas
necessárias a esse fim, sua divulgação pelos meios de
75
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
comunicação, e a inclusão desses temas nos programas
educacionais.
Artigo 14 Avaliação de Impacto e Minimização de Impactos
Negativos
a) Estabelecer procedimentos adequados que exijam a
avaliação de impacto ambiental de seus projetos propostos que
possam ter sensíveis efeitos negativos na diversidade biológica,
a fim de evitar ou minimizar tais efeitos e, conforme o caso,
permitir a participação pública nesses procedimentos;
b) Tomar providências adequadas para assegurar que sejam
devidamente levadas em conta as conseqüências ambientais de
seus programas e políticas que possam ter sensíveis efeitos
negativos na diversidade biológica;
DECRETO N° 4.339. DE 22 DE AGOSTO DE 2002
Institui princípios e diretrizes para a implementação da Política
Nacional da Biodiversidade.
10.1.8. Inventariar e mapear as espécies exóticas invasoras e as
espécies problema, bem como os ecossistemas em que foram
introduzidas para nortear estudos dos impactos gerados e ações
de controle.
11.1.13. Promover a prevenção, a erradicação e o controle de
76
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
espécies exóticas invasoras que possam afetar a biodiversidade.
11.4.2. Desenvolver, promover e apoiar estudos e estabelecer
metodologias para conservação e manutenção dos bancos de
germoplasma das espécies nativas e exóticas de interesse
científico e comercial.
Objetivos Específicos:
13.1.1. Apoiar o desenvolvimento de metodologias e de
indicadores para o monitoramento dos componentes da
biodiversidade dos ecossistemas e dos impactos ambientais
responsáveis pela sua degradação, inclusive aqueles causados
pela introdução de espécies exóticas invasoras e de espécies-
problema.
PORTARIAS, NORMAS E INSTRUÇÕES NORMATIVAS:
RESOLUCÃO CONAMA N° 237 DE 19 DE DEZEMBRO DE
1997
Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes
definições:
I- Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo
qual o órgão ambiental competente licencia a localização,
instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais , consideradas
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob
qualquer forma, possam causar degradação ambiental,
considerando as disposições legais e regulamentares e as
normas técnicas aplicáveis ao caso.
ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS SUJEITOS AO
LlCENCIAMENTO AMBIENTAL
Uso de recursos naturais
- introdução de espécies exóticas e/ou geneticamente
modificadas
- uso da diversidade biológica pela biotecnologia
- atividade de manejo de fauna exótica e criadouro de fauna
silvestre
Art. 12 - O órgão ambiental competente definirá, se necessário,
procedimentos específicos para as licenças ambientais,
observadas a natureza, características e peculiaridades da
atividade ou empreendimento e, ainda, a compatibilização do
processo de licenciamento com as etapas de planejamento,
implantação e operação.
§ 1º - Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados
para as atividades e empreendimentos de pequeno potencial de
impacto ambiental, que deverão ser aprovados pelos
respectivos Conselhos de Meio Ambiente.
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
PORTARIA IBAMA nº 145-N /98. de 29 de outubro de 1998
Art. 1 ° - Estabelecer normas para a introdução, reintrodução e
transferência de peixes, crustáceos, moluscos, e macrófitas
aquáticas para fins de aqüicultura, excluindo-se as espécies
animais ornamentais.
Art. 4° - Para introdução de espécies aquáticas dos grupos dos
crustáceos, moluscos, macroalgas e peixes marinhos, o
interessado encaminhará ao IBAMA o pedido de Introdução e
Cultivo Experimental com as seguintes informações:
a) identificação do requerente com o respectivo número do
Registro de Aqüicultor junto ao IBAMA e cópia do documento
comprovante de pagamento da respectiva taxa, salvo nos casos
de introduções realizadas por universidades e centros de
pesquisa;
b) espécie a ser introduzida (nome científico e vulgar), sua
classificação taxonômica
e) local de origem do lote a ser importado;
c) principais características biológicas, ecológicas e
zootécnicas ou agronômicas;
d) número de indivíduos a serem importados e estágio evolutivo
(ovo, pós-larva etc), bem como indicação da infra-estrutura
disponível para cultivo;
e) distribuição mundial e importância econômica da espécie;
f) mercado potencial interno e para exportação;
79
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
g) indicação da entidade responsável pelo recebimento dos
exemplares, quarentena e pesquisas visando a liberação da
espécie para cultivo comercial;
h) local e metodologia para o cultivo experimental, cuja
duração deverá permitir aos indivíduos atingirem o tamanho
normalmente aceito para abate ou colheita.
Parágrafo Único - Os períodos e procedimentos de quarentena
obedecerão as normas emitidas pelo MAPA - Ministério da
Agricultura, Pecuária e do Abastecimento.
Art. 5° - A licença para cultivo comercial será emitida se
aprovados os resultados obtidos na fase de cultivo
experimental, os quais deverão constar em Relatório a ser
apresentado pelo interessado.
Art. 6 - Para reintrodução o interessado encaminhará ao
IBAMA o pedido de Reintrodução, com as seguintes
informações:
a) identificação do proponente, número de Registro de
Aqüicultor e cópia do documento comprovante de pagamento
da respectiva taxa, salvo nos casos de reintroduções realizadas
por universidade e centro de pesquisas;
b) espécie a ser reintroduzida (nome científico e vulgar);
c) número de indivíduos e estágio evolutivo;
d) local de origem do lote a ser reintroduzido;
e) indicação da entidade responsável pelo recebimento dos
exemplares e quarentena;
f)finalidade de reintrodução.
80
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Parágrafo Único - Somente será permitida a reintrodução de
exemplares que se destinarem às seguintes finalidades:
a. melhoramento genético ou formação de plantéis para
reprodução;
b. bio-ensaios;
c. bio-indicação.
Art. 7° - Fica proibida a reintrodução de formas jovens de
espécies animais destinadas à engorda e posterior abate, bem
como de macrófitas aquáticas de água doce em qualquer
estágio de desenvolvimento.
Parágrafo Único - Excetuam-se dessa proibição as formas
jovens de salmonídeos e, pelo prazo de 01 (um) ano a partir da
publicação da presente Portaria, as formas jovens de
crustáceos e moluscos.
Art.8° - Para transferência de espécies ainda não presentes nas
águas da UGR para onde serão translocadas, o interessado
encaminhará ao IBAMA Pedido de Transferência, com as
seguintes informações:
a) identificação do requerente com o respectivo número do
Registro de Aqüicultor junto ao IBAMA e cópia do documento
comprovante de pagamento da respectiva taxa salvo nos casos
de transferência realizadas por universidade e centros de
pesquisas;
81
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
b) espécie a ser transferida (nome científico e vulgar), sua
classificação taxonômica,
locais de origem e destino do lote a ser translocado;
c). principais características biológicas, ecológicas e
zootécnicas ou agronômicas;
d). número de indivíduos a serem importados e estágio
evolutivo (ovo, pós-larva,
etc) , bem como indicação da infra-estrutura disponível para
cultivo;
e). indicação da entidade responsável pelo recebimento dos
exemplares, quarentena e pesquisas visando a liberação da
espécie para cultivo comercial;
f.) local e metodologia para o cultivo experimental, cuja
duração deverá permitir aos indivíduos atingirem o tamanho
normalmente aceito para abate ou colheita.
§1° - Quando as espécies já se encontrarem na UGR, as
restrições ater-se-ão somente aos aspectos sanitários, sendo
proibidas as transferências de lotes oriundos de locais onde
existam enfermidades não detectadas na UGR destino.
Importante ponderar ainda que o camarão marinho cultivado no
Rio Grande do Norte (L. vannamei), constitui espécie exótica, estabelecida, a qual foi
recentemente reportada pelo MMA, na publicação “Espécies Exóticas Invasoras no
Brasil - Organismos que Afetam o Ambiente Marinho”, em 2009.
As informações apresentadas tratam com preocupação a presença
da espécie no litoral brasileiro, em vida livre, em especial pelo número de exemplares
capturados em ambiente estuarino e marinho, coincidindo como fato da espécie ser a
82
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE
mais utilizada pelos carcinicultores nordestinos.
Apesar de inexistirem estudos conclusivos, há uma grande
preocupação que espécie venha a se comportar como invasora, ou venha a transferir
enfermidades para espécies nativas, em especial de crustáceos, bem como venham a
competir com espécies nativas de camarões, por espaço e alimento.
As preocupações vem sendo ampliadas, dados a densidade dos
cultivos, o risco de escape de animais ser alto, podendo ocorrer liberações massivas
ao ambiente marinho, no caso de eventos de enchentes, com destruição de viveiros,
situação esta que ocorreu pontualmente no Estado do RN em 2008.
O problema de escape de indivíduos de L. vannamei para as
águas costeiras exige adoção de medidas estritas ao longo de toda a linha de produção,
que vem sendo negligenciadas, como controles mecânicos de contenção de tanques,
não havendo acompanhamento e fiscalização por parte dos órgãos públicos de
licenciamento ambiental.
Assim, o disposto no artigo 13 do PROJETO DE LEI
ESTADUAL n° 063/2015 viola o disposto no artigo 24 da CF/88, ao regular
diversamente da lei geral sobre a criação de organismos geneticamente modificados e
importação de matrizes para fins de realização da atividade de carcinicultura.
Por outro lado, os artigos 21 e 22 DO PROJETO DE LEI
ESTADUAL N° 063/2015 regula matéria afeiçoada ao comércio exterior
(importação e exportação), de modo a violar frontalmente o disposto no artigo 22,
inciso VIII da CF/88 que determina que compete privativamente a União legislar sobre
comércio exterior e interestadual.
Não se permite, outrossim, ao Estado regular sobre política de
crédito, câmbio, seguro e transferências de valores (artigo 22, VII da CF/88), por se
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tratar de matéria privativa a União, e, por tal razão padece de inconstitucionalidade o
artigo 23 do PROJETO DE LEI ESTADUAL Nº 063/2015, uma vez que pretendeu
conferir a condição de produtor rural e beneficiário da política agrícola brasileira,
inclusive para benefícios fiscais e de crédito rural, as pessoas físicas e jurídicas que
desenvolvam atividade de carcinicultura.
DAS RAZÕES DE INTERESSE PÚBLICO QUE JUSTIFICAM O VETO DO
PROJETO DE LEI ESTADUAL 063/2015
A par das inúmeras inconstitucionalidades supra indicadas, e da
imperfeita utilização de termos técnicos, tal qual se evidencia ainda nos artigos 2º,
incisos IX e XI, 4º, I, II, III, IV e V, já indicadas pelo deputado KELPS LIMA
quando da análise do diploma normativo indicado na COMISSÃO DE
CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, razões outras
justificam e amparam o veto ao PROJETO DE LEI ESTADUAL 063/2015 em razão
da insegurança jurídica que certamente gerará.
De fato, pretende-se, no caso, regular, em todos os aspectos, o
exercício da atividade de carcinicultura em área de preservação permanente
(manguezal), chegando, inclusive a indevidamente dispensá-la. Chega-se, inclusive, ao
propósito de regular o desmatamento da vegetação em área de preservação
permanente.
Prescreve a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 20,
inciso VII, que são bens da União: ...VII – os terrenos de marinha e seus acrescidos...
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Por sua vez, ao regular os bens imóveis da União, define o
Decreto-Lei n° 9.760, de 05 de setembro de 1946 que são terrenos de marinha, em
uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos horizontalmente, para a parte
da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831: a) os situados no
continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagos, até onde se faça sentir a
influência das marés; b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça
sentir a influência das marés.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, a influência das marés é caracterizada
pela oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que
ocorra em qualquer época do ano. (artigo 2°), conceituando ainda os terrenos
acrescidos de marinha como os que se tiveram formado, natural ou artificialmente,
para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha.
De uma breve leitura dos indicados dispositivos legais,
evidencia-se que os imóveis onde se pretende realizar a atividade de carcinicultura
regulada pelo citado PROJETO DE LEI ESTADUAL N° 063/2015 são, em grande
parte, pertencentes a União.
Por sua vez, para fins de concessão de inscrições de ocupação,
exige-se da Secretaria do Patrimônio da União, nos moldes dos artigos 9º e 10 da Lei
9.636/98 que:
Art.9°. É vedada a inscrição de ocupações que:
…
II – estejam concorrendo ou tenham concorrido para
comprometer a integridade das áreas de uso comum do povo,
de segurança nacional, de preservação ambiental ou
necessárias à preservação dos ecossistemas naturais …,
ressalvados os casos especiais autorizados na forma da lei.
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Art.10. Constatada a existência de posses ou ocupações em
desacordo com o disposto nesta Lei, a União deverá imitir-se
sumariamente na posse do imóvel, cancelando-se as inscrições
eventualmente realizadas.
Evidencia-se, no caso, que se tratando de órgão federal, a
legislação a qual se encontra vinculada a União é a legislação federal, no caso o
Código Florestal, que enuncia ser o manguezal, em toda a sua extensão, área de
preservação permanente, e a Lei 12.805/2013, que define no que consiste a atividade
agrossilvopastoril.
Desse modo, apenas tracejado nesses regramentos poderá a
União permitir ou manter a inscrição de ocupação, de forma que as demais
ocupações, que nulificam e desconsideram o teor da legislação federal, deverão ser
afastadas, tornando, assim, nulos de pleno direito todos os licenciamentos realizados
em manguezal, vez que realizados em discordância com a legislação federal de
regência.
Assim, também por essas razões, indica-se a necessidade de
VETO ao PROJETO DE LEI ESTADUAL N° 063/2015, vez que causador de
insegurança jurídica, criando uma multiplicidade de demandas para fins de anulação
de licenciamentos que podem alcançar mais de uma centena, resultando, ao final, em
desocupações de áreas já alcançadas em demais anteriores, bem como na perda de
investimentos públicos e privados, que poderiam ser realizados, por certo, em áreas
onde a atividade fosse permitida.
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DAS CONCLUSÕES
Requer, desse modo, e por todas as razões supraexpostas,
bem como de acordo com pareceres técnicos também aprestados nessa
oportunidade, o veto ao PROJETO DE LEI ESTADUAL N° 063/2015, pleiteando-
se ainda a formação de GRUPO DE TRABALHO MULTIDISCIPLINAR com a
finalidade de regular adequadamente a matéria, de forma a permitir o adequado
desenvolvimento de setor produtivamente tão importante para a pauta de exportações
do Estado do Rio Grande do Norte
Natal, 20 de julho de 2015
CLARISIER A C DE MORAIS
Procuradora da República
VICTOR MARIZ
Procurador da República
VICTOR ALBUQUERQUE DE
QUEIROGA
Procurador da República
LUIZ EDUARDO C. BONILHA
Coordenador de Gabinete do
IBAMA/RN
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