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7ª Promotoria de Justiça de Goiânia Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA – GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS , por sua Promotora de Justiça que ao final assina, com fundamento nos artigos 1º, inciso IV, 5º e 21, da Lei nº 7.347/1985 (Lei de Ação Civil Pública), no artigo 25, inciso IV, alínea "a”, da Lei nº 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), e artigos 127 e 129, incisos II e III, da Constituição Federal, vem propor na forma da legislação civil e processual em vigor, a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA em face de: MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público interno, representado por seu Prefeito, instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito na Av. do Cerrado, nº 999, Quadra APM9, Park Lozandes, nesta Capital; AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE - AMMA, pessoa jurídica de direito publico interno, representada por seu Presidente, localizada à Rua 75, esq. c/ Rua 66, nº 137, Centro, Goiânia, Goiás; SPE INCORPORAÇÃO OPUS FLAMBOYANT 01 LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 09.267.529/0001-40, localizada à Rua 14-A, Qd. B-31, Lts. 12/14-19/21, Setor Jardim Goiás, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante legal, responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL IMPERADOR DO PARK; Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 1 de 36 CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª VARA DA FAZENDA

PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA – GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora

de Justiça que ao final assina, com fundamento nos artigos 1º, inciso IV, 5º e 21, da

Lei nº 7.347/1985 (Lei de Ação Civil Pública), no artigo 25, inciso IV, alínea "a”, da Lei

nº 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), e artigos 127 e 129,

incisos II e III, da Constituição Federal, vem propor na forma da legislação civil e

processual em vigor, a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA

PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

em face de:

MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público

interno, representado por seu Prefeito, instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito

na Av. do Cerrado, nº 999, Quadra APM9, Park Lozandes, nesta Capital;

AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE - AMMA, pessoa jurídica

de direito publico interno, representada por seu Presidente, localizada à Rua 75,

esq. c/ Rua 66, nº 137, Centro, Goiânia, Goiás;

SPE INCORPORAÇÃO OPUS FLAMBOYANT 01 LTDA, pessoa jurídica

de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 09.267.529/0001-40, localizada à Rua 14-A,

Qd. B-31, Lts. 12/14-19/21, Setor Jardim Goiás, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu

representante legal, responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL IMPERADOR

DO PARK;

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 1 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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PLANO ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA, pessoa jurídica de

direito privado, inscrita no CNPJ nº 33.578.204/0001-63, localizada à Ru 54 Q B6, lote

12, Goiânia, Goiás, CEP: 74810-220, na pessoa de seu representante legal,

responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL JARDINS DO LAGO;

SPE INCORPORAÇÃO OPUS FLAMBOYANT 03 LTDA., inscrita no

CNPJ/MF nº 12.034.215/0001-02, localizada à Avenida 136, Qd. C-8, Lt. 17, Jardim

Goiás, Goiânia, CEP: 74.810-170, na pessoa de seu representante legal, responsável

pelo empreendimento PARQUE HOUSE FLAMBOYANT;

TCI INPAR – PROJETO IMOBILIÁRIO PREMIER UNIQUE, pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 09.262.181/0001-07, localizada à Rua

15 com Rua 49, quadra C-02, lote 01, Jardim goiás, Goiânia, Goiás, na pessoa de

seu representante legal, responsável pelos empreendimentos RESIDENCIAL PREMIER

DU PARC, CONDOMÍNIO RESIDENCIAL PREMIER VISION e CONDOMINÍO RESIDENCIAL

PREMIER UNIQUE;

SOCIEDADE RESIDENCIAL BOSQUE FLAMBOYANT S/A EBM

INCORPORAÇÕES S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº

03.025.881/0002-74, localizada à Av 136, nº 960, Andar 16, 18 E 19

Setor Marista, Goiânia, Goiás, CEP 74180-040, na pessoa de seu representante legal,

responsável pelos empreendimentos CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO RESERVA DU PARC e

RESERVA GRANN PARC;

ENEC EMPRESA NACIONAL DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA,

pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 02.779.429/0001-54, localizada

à Rua 17A, nº 722, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante legal,

responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL LANDSCAPE;

R DINIZ INCORPORADORA E CONSTRUTORA, inscrita no CNPJ nº

03.853.579/0001-23, localizada à Avenida Presidente João Goulart, Aria Shopping,

Bloco A, Sala 06, Aparecida de Goiânia, Goiás, CEP: 74968-890, na pessoa de seu

representante legal, responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL CHABLIS;

PRUMUS CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA, pessoa jurídica

de direito privado, inscrita no CNPJ nº 05.835.650/0001-70, localizada à Rua T-30, nº

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 2 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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839, Setor Bueno, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante legal, responsável

pelo empreendimento CONDOMÍNIO RESIDENCIAL FLAMBOYANT PARC;

LOFT CONSTRUTORA E INCORPORADORA LTDA, pessoa jurídica de

direito privado, inscrita no CNPJ nº 02.633.437/0001-98, localizada à Rua T-63, nº

3182, Qd.147 Lotes 1 e 2, Sala 803, Edifício Aquarius Center EMPR, Setor Bueno, na

pessoa de seu representante legal, responsável pelo empreendimento

CONDOMÍNIO LOFT GYN;

BROOKFIELD TOWERS INCORPORAÇÕES, pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNPJ nº 21.253.507/0001-27, localizada à Av. Deputado Jamel

Cecílio, S/N, Quadra B-27, Jardim Goiás, Goiânia, Goiás, CEP: 74810-100, na pessoa

de seu representante legal, responsável pelo empreendimento CONDOMÍNIO

BROOKFIELD TOWERS;

EUROAMÉRICA INCORPORAÇÕES, pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNPJ nº 08.470.614/0001-49, localizada à Rua 56, quadra B25,

lote 05, Jardim Goiás, Goiânia ou Rua 1, esquina com rua 02, nº 116, Chácara Alto

da Glória II, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante legal, responsável pelo

empreendimento GENIALE RESIDENCIAL;

CONSTRUTORA EMISA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita

no CNPJ nº 02.297.927/0001-60, localizada à Av. Brasil Sul, 3130, Setor Sul Jamil

Miguel, CEP: 75124-820, Anápolis, Goiás, na pessoa de seu representante legal,

responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL CARAÍBAS;

BRASAL INCORPORAÇÕES E CONSTRUÇÕES DE IMÓVEIS LTDA,

pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 00.323.063/0001-89, localizada

à Rua 1139, quadra 248, lote: 22, Setor Marista, Goiânia, Goiás, CEP: 74180-180 na

pessoa de seu representante legal, responsável pelo empreendimento FLAM PARK

RESIDENCIAL CLUB;

CONSTRUTORA REGIONAL, pessoa jurídica de direito privado,

inscrita no CNPJ nº 02.3238.480/001-87, localizada à Rua 55, Qd. B-13, Lt. 9, nº 298,

CEP: 74.810-230, Setor Jardim Goiás, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante

legal, responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL VERMONT;

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 3 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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1. DOS FATOS

Esta Promotoria de Justiça instaurou Inquérito Civil nº 450/2014, protocolo

Atena nº 201000012627, a fim de averiguar denúncia, datada de 03/02/2015,

referente à possível lançamento contínuo de água emergente de lençol freático,

diretamente em via pública, com consequente desgaste do capeamento urbano,

proveniente de diversos empreendimentos localizados na Zona de Amortecimento

do Parque Flamboyant, Jardim Goiás, nesta Capital.

No bojo da investigação civil, apurou-se, por meio do Ofício nº 086/2012

de lavra da Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA (fls. 33/62), que diversos

empreendimentos localizados na zona de amortecimento do parque (até 100m de

distância deste) realizavam o rebaixamento do lençol freático, e, inclusive, que tal

rebaixamento já estava comprometendo a zona de saturação que mantém a

lâmina d'água dos lagos existentes no parque.

Com o afloramento do lençol freático, a água proveniente deste estava

sendo lançada em via pública, sem nenhuma destinação, água límpida e própria

para utilização.

Foi sugerido, na ocasião, a instalação de um sistema de infiltração e

retenção no entorno da área, e, ainda, que para concessão de uso do solo de

novos empreendimentos fosse detalhadamente avaliado o índice de

permeabilidade mínima e impermeabilização da superfície. Os problemas quanto à

destinação da água servida utilizada pelos usuários dos imóveis também foram

mencionados e também estavam sendo lançadas diretamente em via pública.

Na tentativa de solucionar tais problemas e conforme orientado pela

Agência Municipal do Meio Ambiente (fls. 61/62 e 70/74), foi celebrado um Termo

de Ajustamento de Conduta entre o Ministério Público de Goiás, representado pela

8ª PJ, e as construtoras responsáveis por 12 (doze) empreendimentos localizados na

Zona de Amortecimento do Parque (fls. 76/78). Nesta oportunidade, as

compromissárias ficaram obrigadas a contratar empresas para instalação de

trincheiras de infiltração, no prazo de 120 dias, prorrogados por mais 60 dias,

conforme projetos apresentados e aprovados pela AMMA (fls. 77- verso). A fim de

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 4 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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minimizar os impactos dos empreendimentos sobre a drenagem, foram propostas a

captação das águas pluviais de cobertura e, ainda, o aproveitamento das águas

de afloramento em subsolo, direcionando-as às trincheiras, realimentando o lençol

freático e contribuindo para a manutenção da lâmina d'água dos lagos do Parque,

para o equilíbrio ambiental em geral.

No decorrer da execução do TAC diversos problemas foram observados,

especialmente com relação às irregularidades de obras, como utilização de

material argiloso, que impossibilitaria a real função das trincheiras, que é a

infiltração das águas; retirada de cobertura vegetal das áreas onde houve

intervenções; abandono de resíduos de construção civil na área de preservação;

valas de instalação destampadas, potenciando ocorrências de acidentes, entre

outras questões levantadas pelo Relatório Técnico nº 271/2012 e 342/2012.

Novos fatos foram conhecidos por esta Especializada em setembro de

2014, denunciando o desgaste do pavimento asfáltico e ausência de manutenção

deste, em decorrência do assoreamento do asfalto causado pela água em diversas

vias públicas nos arredores do Parque, agravando, progressivamente, o desgaste

asfáltico (fls. 232/233).

Continuadamente, esta Promotoria requisitou e, reiterou por diversas

vezes, informações quanto à atual situação dos projetos de drenagem de TODOS os

empreendimentos inseridos na Zona de Amortecimento, considerando que o TAC

realizado em 2012 contemplou apenas 12 (doze) edificações e, atualmente,

conforme informações da Agência Municipal Do Meio Ambiente – AMMA,

aproximadamente 47 (quarenta e sete) empreendimentos estão construídos na

Zona de Amortecimento do Parque, destes, 21 (vinte e um) realizam o

rebaixamento permanente do lençol freático e portanto, necessitam de

interligação ao sistema de infiltração para que destinem adequadamente a água

aflorada do lençol (fls. 360/379), nos termos da Lei Municipal nº 9.511/2014.

Conforme a própria Agência afirma, há, ainda, edificações prontas que não

possuem, sequer, licenciamento ambiental.

No entanto, apesar das mencionadas requisições, os pareceres

encaminhados pela AMMA, apesar de estarem relacionados à investigação em

curso, não contribuem para o andamento do procedimento, tendo em vista queRua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 5 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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apenas reiteravam informações já fornecidas, sem realizar nova análise da

situação.

A faixa lindeira ao Parque está ocupada por edifícios que chegam à

trinta pavimentos de altura, alguns com até dois pavimentos de subsolo. Em

decorrência do rebaixamento do lençol freático, poderá ocorrer uma diminuição

significativa da quantidade de água disponível no solo e, consequentemente,

diminuição da vazão das nascentes, sobretudo nos períodos de seca.

Mesmo buscando uma solução e acompanhamento extrajudicial aos

diversos problemas atinentes à preservação do Parque, sobretudo com relação ao

afloramento do lençol freático, visando uma amenização e prevenção de severos

danos causados pela ocupação desenfreada nos arredores da Unidade de

Conservação, a certo momento, a Agência Municipal do Meio Ambiente, deixou

de atender as requisições ministeriais, fornecendo informações incompletas,

insatisfatórias e insuficientes.

Até o momento, não se sabe quantos edifícios realizam o rebaixamento

do lençol, mas estão interligados ao sistema de trincheiras, quais não estão

interligados, mas procederão a ligação e quais não apresentaram projeto de

drenagem.

Assim, restou prejudicada a efetividade e conclusão do objetivo da

então investigação, qual seja, zelar pelo meio ambiente em convívio social,

cumprindo as disposições legais, garantindo o direito ao meio ambiente de todos

ecologicamente equilibrado no que tange ao impactos dos arredores do Parque

Flamboyant.

2. DO DIREITO

2.1. Da legitimidade ministerial para propositura da presente ação civil

pública

A Lei nº 7.347/1985 – Lei da Ação Civil Pública – é clara ao dispor em seu

artigo 1º, inciso VI, que:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular,as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:I – ao meio ambiente;(…)

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 6 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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O Ministério Público está constitucionalmente legitimado para mover

Ações Civis Públicas que visem tutelar o meio ambiente, conforme expressa o artigo

129, inciso III, da Constituição Federal de 1988:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (…)III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção dopatrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusose coletivos.

No mesmo sentido, preceitua o artigo 117, inciso III, da Constituição do

Estado de Goiás:

Art. 117. São funções institucionais do Ministério Público:III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção dopatrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusose coletivos;

Luís Paulo Sirvinskas preconiza que “o Ministério Público e os co-

legitimados poderão agir para a defesa dos seguintes interesses transindividuais: a)

meio ambiente (...) É função do Ministério Público a promoção do inquérito civil e

da ação civil pública para a proteção do meio ambiente, dentre outros. Vê-se,

pois, que o Ministério Público tem legitimidade para defender o meio ambiente de

maneira expressa e clara”.

Resta, portanto, comprovada a legitimidade ministerial para promover a

presente ação judicial.

2.2. Da violação ao direito difuso

Os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos tem sua

definição insculpida no art. 81 do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas

poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos para efeitos deste Código,

os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas

indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste

Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo,

categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por

uma relação jurídica de base;

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 7 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os

decorrentes de origem comum.

O lençol freático que está sendo progressivamente deteriorado é

definido por Caroline Faria como “um reservatório de água subterrânea decorrente

da infiltração da água da chuva no solo nos chamados locais de recarga”.

Quando ocorre a infiltração da água, está perfaz-se por entre as rochas,

filtrando as impurezas, tornando-a portável. A água proveniente do lençol freático é

admissível para consumo humano, sem necessidade de tratamento.

Sendo a água o objeto aqui discutido, para além do direito

constitucionalmente tutelado ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, do

qual a água é elemento indispensável, legislações específicas, também, cuidaram-

se de resguardar esse bem vital, como será visto a seguir.

A Lei 9.433/1997 definiu a água como bem de domínio público, bem de

uso comum do povo assim definido por Maria Sylvia di Pietro:

“Consideram-se bens de uso comum do povo aqueles que, por

determinação legal ou por sua própria natureza, podem ser utilizados por

todos em igualdade de condições, sem necessidade de consentimento

individualizado por parte da administração”

Sendo assim, quando o lençol freático, que resguarda a água potável, é

disposto indevidamente, e a água é inutilizada, por conseguinte, inutilizável,

proibindo um futuro consumo de outrem, toda a coletividade é lesada.

Rizzato Nunes pontua:

Os chamados direitos difusos são aqueles cujos titulares não sãodetermináveis. Isto é, os detentores do direito subjetivo que se pretenderegrar e proteger são indeterminados e indetermináveis.

Nesse diapasão, os inúmeros malefícios ocasionados com afloramento do

lençol, violam o meio ambiente equilibrado, gerando, a longo prazo, disfunções

sociais que serão grave e diariamente, como já o são, sofridas por toda sociedade.

2.3. Do direito constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado está amparado

pelo art.225 da Constituição Federal, nos seguintes termos:

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 8 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

Quando dito “ecologicamente equilibrado”, o constituinte quis

garantir o direito de um bem essencial à vida, prezando pela conservação de

propriedades e das funções naturais, de forma a permitir sua natural existência,

evolução e desenvolvimento ecológico. Possuir o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado equivale a afirmar que há um direito aos recursos da

natureza essenciais à vida, bem como sua manutenção para uma vida digna: sol,

solo, ar e água, sem que haja prejuízo a qualquer um destes.

Assim, tal garantismo para Édis Milaré é: “uma extensão do direito à

vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos,

quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência – a qualidade de vida –,

que faz com que valha a pena viver”.

É necessário perceber que a vida humana está intrinsecamente

ligada aos recursos naturais e a necessidade de manutenção destes, se o equilíbrio

se desfizer o primeiro a sentir as consequências é o ser humano.

O mencionado estado de equilíbrio não visa à obtenção de uma

situação de estabilidade absoluta, sem nenhum tipo de alteração, considerando

que a natureza possui os próprios ciclos de evolução constante, porém, quer

repudiar a interferência das ações antrópicas prejudiciais.

Em relação à sadia qualidade de vida constante, esta não está

associada a viver em uma região bem localizada ou de alto valor imobiliário, pelo

contrário, a sadia qualidade de vida relaciona-se com a locação adequada dos

recursos naturais, de maneira à zelá-los e preservá-los com fim de proporcionar

melhor qualidade de vida a toda coletividade. A construção irregular de imóveis

desconsidera as prerrogativas para resguardar essa sadia qualidade de vida,

prejudica toda a coletividade, principalmente as gerações futuras, ainda mais, com

o desperdício da água proveniente do afloramento do lençol.

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 9 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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Incumbe ao Poder Público proteger e prezar pela permanência do

equilíbrio, interditando as práticas que coloquem em risco sua função ecológica ou

provoquem a extinção dos recursos.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais assim dispôs:

REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ESTAÇÃODE TRATAMENTO DE ESGOTO (ETE) - NÃO IMPLEMENTAÇÃO - LANÇAMENTODOS DEJETOS 'IN NATURA' EM CURSOS D'ÁGUA - PROTEÇÃO CONSTITUCIONALAO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - NÃO VIOLAÇÃO AOPRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES - MULTA COMINATÓRIA -POSSIBILIDADE - TERMO INICIAL. - A Constituição Federal, em seu artigo 225,caput, impõe ao Poder Público o dever de defender e preservar o meioambiente ao dispor que "Todos têm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade odever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações." - Acoleta e destinação dos esgotos urbanos é espécie de serviço público geralou universal, o qual é prestado a todos os cidadãos e, por se tratar deserviço essencial, inserido no direito social ao saneamento básico, deverá serprestado de forma adequada à saúde pública e à proteção do meioambiente, evitando-se que o esgoto sanitário atinja cursos d'água, com o fitode perpetuar os recursos naturais para as próximas gerações. - Não há quese falar em ingerência do Poder Judiciário na esfera do Poder ExecutivoMunicipal, de forma que estaria configurado o desrespeito ao princípio daseparação dos poderes e da razoabilidade, porquanto não hádiscricionariedade do administrador público frente a direitos consagradosconstitucionalmente. - Constatada a obrigação da concessionária deconcluir a construção de estação de tratamento de esgoto, que consiste emetapa final da ligação do Município de Capelinha à rede de esgoto compossibilidade efetiva de seu tratamento, não há como estabelecer prazosdiversos para a conclusão da obra e a obrigação de não despejar naságuas do córrego que cruza o Município os resíduos sem tratamento, sobpena de impor-se ao ente público e à concessionária obrigação inexequível(Des. Edgard Penna Amorim)(TJ-MG - AC: 10123100004407002 MG, Relator:Paulo Balbino, Data de Julgamento: 18/02/2016, Câmaras Cíveis / 8ªCÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 02/03/2016)

In casu, com a ausência da devida fiscalização, bem como com a

emissão de licenças sem considerar os gravíssimos impactos ambientais de

determinados empreendimentos, o serviço público essencial não tem sido prestado

com fins de preservação do parque/nascente e da água, que é inutilizada com

consequência do afloramento do lençol sem drenagem de recirculação.

A obrigação de fiscalizar, reparar e sancionar sobre matéria

ambiental é indisponível ao Poder Público, sendo que, as ações dos órgãos e

entidades públicas devem ser concretizadas através do exercício do poder de

polícia, visando ao bem-estar da coletividade. Quanto aos agentes poluidores, o

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Poder Público deverá estabelecer um molde de ajustamento de conduta que leve

à cessação das atividades nocivas. Ainda, se não forem suficientes, far-se-á

necessária a imposição judicial para o cumprimento das demandas. O poder

público, neste caso, não conseguiu sanar ou ao menos mitigar os impactos dos

empreendimentos que rebaixam o lençol freático, tornando-se imprescindível a

atuação jurisdicional.

Ainda extraído das prerrogativas constitucionais, o Princípio do

Poluidor-Pagador trata da intolerância com a poluição e qualquer tipo de

degradação ambiental. Para que haja condenação à tais práticas, busca-se, por

meio de sanções econômicas, interromper qualquer interesse individual que tente

prevalecer ao do coletivo, com relação ao meio ambiente.

Quando um empreendimento polui ou degrada o meio ambiente

deve-se aplicar a ele não apenas medidas mitigadoras do problema, mas também

punições que o impeça de realizar novamente. Não se fala em tolerar um impacto

negativo ao meio ambiente por um preço, tampouco não deve haver valor para

autorização de atividades que degradem o ambiente. O valor econômico não é o

fim das obrigações, é um meio, inclusive, educativo a fim de evitar novas práticas.

Quando se fala em questão econômica, tanto os grandes empresários quanto o

cidadão comum poluidor, pensarão duas vezes, principalmente, porque esta

medida será ainda cumulada com outros tipos de sanções e/ou punições previstas

no ordenamento jurídico.

A intenção é tentar reverter qualquer ideia de impunidade no

âmbito do Direito Ambiental com aplicação de valores significativos ao invés da

ideia de exigir verba para autorização de atividades que se contradizem com a

manutenção da qualidade do ambiente natural. Refere-se ao princípio poluidor-

pagador (poluiu, paga os danos).

Nesse sentido, este é o entendimento jurisprudencial do Tribunal Regional

Federal da 1ª Região, consagrando a disposição de que o meio ambiente não

pode ser refém da motivação econômica privada:

AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DEPRESERVAÇÃO PERMANENTE (RIO GRANDE). SUSPENSÃO DE ATIVIDADESAGRESSORAS AO MEIO AMBIENTE. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL E DO

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POLUIDOR-PAGADOR. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER (REPARAÇÃODA ÁREA DEGRADADA E DEMOLIÇÃO DE EDIFICAÇÕES), DE NÃO FAZER(INIBIÇÃO DE QUALQUER AÇÃO ANTRÓPICA SEM O REGULAR LICENCIAMENTOAMBIENTAL). POSSIBILIDADE. IRRETROATIVIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTALPOR IMPERATIVO DO PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICOEM DEFESA DO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO. ORIENTAÇÃO DA CARTAENCÍCLICA SOCIAL-ECOLÓGICA LAUDATO SI, DO SANTO PADRE FRANCISCO,NA ESPÉCIE DOS AUTOS. I - "Na ótica vigilante da Suprema Corte, "aincolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interessesempresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramenteeconômica, ainda mais se tiver presente que a atividade econômica,considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentreoutros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente"(CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções demeio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambienteartificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral (...) O princípio dodesenvolvimento sustentável, além de impregnado de carátereminentemente constitucional, encontra suporte legitimador emcompromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representafator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e asda ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado,quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionaisrelevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometanem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitosfundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bemde uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favordas presentes e futuras gerações"(ADI-MC nº 3540/DF - Rel. Min. Celso deMello - DJU de 03/02/2006). Nesta visão de uma sociedade sustentável eglobal, baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais,na justiça econômica e numa cultura de paz, com responsabilidades pelagrande comunidade da vida, numa perspectiva intergeracional, promulgou-se a Carta Ambiental da França (02.03.2005), estabelecendo que "o futuro ea própria existência da humanidade são indissociáveis de seu meio naturale, por isso, o meio ambiente é considerado um patrimônio comum dos sereshumanos, devendo sua preservação ser buscada, sob o mesmo título que osdemais interesses fundamentais da nação, pois a diversidade biológica, odesenvolvimento da pessoa humana e o progresso das sociedades estãosendo afetados por certas modalidades de produção e consumo e pelaexploração excessiva dos recursos naturais, a se exigir das autoridadespúblicas a aplicação do princípio da precaução nos limites de suasatribuições, em busca de um desenvolvimento durável. A tutelaconstitucional, que impõe ao Poder Público e a toda coletividade o deverde defender e preservar, para as presentes e futuras gerações, o meioambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida,como direito difuso e fundamental, feito bem de uso comum do povo (CF,art. 225, caput), já instrumentaliza, em seus comandos normativos, o princípioda precaução (quando houver dúvida sobre o potencial deletério de umadeterminada ação sobre o ambiente, toma-se a decisão maisconservadora, evitando-se a ação) e a consequente prevenção (pois umavez que se possa prever que uma certa atividade possa ser danosa, eladeve ser evitada), exigindo-se, assim, na forma da lei, para instalação deobra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradaçãodo meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se darápublicidade (CF, art. 225, § 1º, IV)" (AC 0002667-39.2006.4.01.3700/MA, Rel.DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.172de 12/06/2012). II - Na visão holística da Carta Encíclica Social-EcológicaLaudato Si, do Santo Padre Francisco, datada de 24/05/2015, "Toda aintervenção na paisagem urbana ou rural deveria considerar que os

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diferentes elementos do lugar formam um todo, sentido pelos habitantescomo um contexto coerente com a sua riqueza de significados. Assim, osoutros deixam de ser estranhos e podemos senti-los como parte de um" nós"que construímos juntos. Pela mesma razão, tanto no meio urbano como norural, convém preservar alguns espaços onde se evitem intervençõeshumanas que os alterem constantemente. (...) Neste contexto, sempre sedeve recordar que"a proteção ambiental não pode ser assegurada somentecom base no cálculo financeiro de custos e benefícios. O ambiente é umdos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou apromover adequadamente". Mais uma vez repito que convém evitar umaconcepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas seresolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dosindivíduos. Será realista esperar que quem está obcecado com amaximização dos lucros se detenha a considerar os efeitos ambientais quedeixará às próximas gerações? Dentro do esquema do ganho não há lugarpara pensar nos ritmos da natureza, nos seus tempos de degradação eregeneração, e na complexidade dos ecossistemas que podem sergravemente alterados pela intervenção humana". IV- Na hipótese dos autos,a edificação descrita nos autos foi erguida, sem o prévio, regular ecompetente licenciamento ambiental e sem observância dos marcosregulatórios da legislação ambiental, aplicável na espécie, no interior deÁrea de Preservação Permanente (APP Rio Grande), assim definida nalegislação e atos normativos de regência, a caracterizar a ocorrência dedano ambiental, impondo-se, assim, além da sua demolição, a adoção demedidas restauradoras da área degradada, bem assim, a inibição da práticade ações antrópicas outras, desprovidas de regular autorização do órgãoambiental competente, apurando-se o quantum indenizatório do danomaterial ao meio ambiente agredido através de competente prova pericial,na fase de liquidação do julgado, por arbitramento (CPC, arts. 475-C e 475-D). Precedentes da Primeira e Segunda Turmas do STJ. "A recusa deaplicação, ou aplicação truncada, pelo juiz, dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum arrisca projetar, moral e socialmente, anociva impressão de que o ilícito ambiental compensa, daí a respostaadministrativa e judicial não passar de aceitável e gerenciável" risco oucusto normal do negócio". Saem debilitados, assim, o caráter dissuasório, aforça pedagógica e o objetivo profilático da responsabilidade civilambiental (=prevenção geral e especial), verdadeiro estímulo para queoutros, inspirados no exemplo de impunidade de fato, mesmo que não dedireito, do degradador premiado, imitem ou repitam seu comportamentodeletério" (REsp 1145083/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDATURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 04/09/2012). VI - Apelação desprovida.Sentença confirmada. (TRF-1 - AC: 00048563820074013802, Relator:DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, Data de Julgamento:09/09/2015, QUINTA TURMA, Data de Publicação: 16/09/2015).

Dessarte, o direito fundamental-constitucional à moradia digna (art. 1º,

inc. III, c/c art. 6º, ambos da CF/88) e o direito à cidade sustentável constituem-se

nos parâmetros norteadores da promoção da política urbana idealizada pelos arts.

182 e 183 da Constituição, a qual, impõe ao Município o dever de evitar e corrigir as

distorções do crescimento urbano desordenado e seus efeitos negativos sobre o

meio ambiente, ou seja, deve o Poder Público direcionar, da melhor maneira, o

direito a moradia e desenvolvimento urbano e social, resguardando o direito ao

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meio ambiente ecologicamente equilibrado, à cidade sustentável e, quando e se

necessário, realizar as devidas inspeções de maneira a ajustar os problemas

emergidos.

2.4. Da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei 6.931/1981

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída com objetivo

de preservar, melhor e recuperar a qualidade ambiental propícia à vida, buscando

propiciar condições para o necessário desenvolvimento socioeconômico,

considerando a segurança nacional e a dignidade da pessoa humana.

Neste sentido, assim prevê o art. 9º da Lei de Política Nacional do Meio

Ambiente:

Art. 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental;

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente

poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou

absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder

Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção

ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;

(Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989).

Quando parâmetros ambientais são positivados, busca-se direcionar o

crescimento econômico associado à preservação/recuperação ambiental. Nesta

perspectiva que são estabelecidos parâmetros de qualidade ambiental; avaliação

das consequências de determinados projetos; o devido licenciamento e a revisão

de atividades poluidoras, considerando os impactos e viabilidade do projeto.

Quando os empreendimentos localizados na Zona de Amortecimento do

Parque afloram o lençol freático, políticas tais as quais mencionadas precisam ser

aplicadas.

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Assim, carece de incentivos à instalação de equipamentos, no caso de

um sistema de drenagem que reabasteça o lençol, para efetiva melhoria da

qualidade ambiental, uma vez que quando não utilizada a água essencial à vida

biótica, não apenas os seres humanos sofrem agressivamente, diretamente, as

consequências são no meio ambiente de seres vivos como um todo.

Da Política Nacional do Meio Ambiente, o princípio da prevenção e

reparação está explícito no artigo 2º da lei 6.938/81, no que diz respeito à proteção

da área ambiental:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à

vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento

socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da

dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas

representativas;

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

O dever de proteger, expressamente elencado, demonstra a

responsabilidade do Poder Público em evitar a consumação de danos ao meio

ambiente, conforme pacificado em convenções, declarações e sentenças de

tribunais internacionais.

Será uma prevenção eficaz aquela que se fizer de dados,

pesquisas, informações específicas e organizadas a fim de identificação científica

do local e de possíveis irregularidades. A prevenção impõe-se em razão do caráter,

como neste caso, irreversível dos prejuízos causados ao meio ambiente e da difícil

reparação deste tipo de dano.

No Brasil, é adotado por meio da lei de Política Nacional do Meio

Ambiente, a responsabilidade objetiva ambiental, tendo a Carta Magna já

pacificado como imprescindível a obrigação de reparação dos danos causados

ao meio ambiente.

Para Paulo Affonso (Direito Ambiental Brasileiro, p.355), o Direito

Ambiental engloba as duas funções da responsabilidade civil objetiva: a função

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preventiva – procurando por meio eficazes, evitar o dano – e a função reparadora –

tentando reconstituir e/ou indenizar os prejuízos ocorridos.

Ainda, como sabido e mencionado, assevera José Juste Ruiz “O

princípio mesmo da responsabilidade e reparação dos danos ambientais constitui,

sem dúvida, um dos princípios reconhecidos no Direito Internacional do Meio

ambiente”.

Assim, poderão ser concedidas medidas jurisdicionais com escopo

de fortalecer tais princípios, conforme decisão a seguir:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AMINISTRATIVO. AMBIENTAL. COLETA E ANÁLISE

DE AMOSTRAS DAS ÁGUAS MARÍTIMAS. FEPAM. - Os termos do artigo 225 da

Constituição Federal, é direito de todos o meio ambiente ecologicamente

equilibrado, já que constitui bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever

de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. - O

deferimento de tutelas de urgência em matéria ambiental, além de

concretizar mandamento constitucional, encontra apoio no artigo 12 da Lei

7.347/85, a qual regula a ação civil pública. Segundo citado dispositivo, o juiz

poderá conceder mandado liminar, constatadas a presença de periculum in

mora, ou seja, o risco de dano, e de fumus boni iuris, que diz respeito à

plausibilidade do direito material. - Razoável que a FEPAM seja impedida de

repassar à CORSAN os serviços de coleta e análise da de amostras das

águas marítimas do litoral norte gaúcho para monitoramento de

balneabilidade, alterando, por meio de Convênio, e sem prévio estudo e

amplo debate, procedimento que há muitos anos é de responsabilidade do

próprio órgão ambiental. (TRF-4 - AG: 50534543020154040000 5053454-

30.2015.404.0000, Relator: RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, Data de

Julgamento: 09/03/2016, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: D.E.

10/03/2016).

Neste sentido, é imperiosa e medida urgente de levantamento geral de

todos os empreendimentos, pela AMMA com apoio da SEPLANH, que realizam o

rebaixamento do lençol freático, especialmente na Zona de Amortecimento do

Parque Flamboyant, mas não redirecionam à água de forma a reabastecer a

bacia, e seguidamente, ordenar os empreendimentos à obrigação de fazer de se

adequarem ao sistema de drenagem, nos termos da Lei Municipal 9.511/2014 a

seguir explicitada.

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2.4.1. Da Unidade de Conservação do Parque Flamboyant

O Parque Flamboyant é um Parque Municipal, é uma Unidade de

Conservação resguardada nos termos da Lei 6.931/1981- Lei de Sistema Nacional

de Unidades de Conservação, localizado no Setor Jardim Goiás, entre as ruas 46, 15,

12, 55, 56, 73, 58 e Avenida H, com área de 125.572,71m² e 1.937,53 m de perímetro.

As Unidades de Conservação são respaldadas pelo art. 225, §1º, inciso III,

da Constituição Federal de 1988, pela Lei Federal nº 9.985/00, pelo Decreto Federal

nº 4.340/02 e Lei Estadual nº 14.247/02, tem a seguinte definição nos termos do art.

2º, inciso I, Lei Federal nº 9.985/00:

Art. 2º Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais,

incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,

legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e

limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam

garantias adequadas de proteção;

Toda Unidade de Conservação tem ao seu redor uma área de proteção,

as Zonas de Amortecimento. Tem por objetivo “filtrar” os impactos negativos das

atividades que ocorrem da Unidade, tais como: poluição e avanço da ocupação

humana, especialmente nas unidades próximas a áreas intensamente ocupadas.

Na situação fática, a Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant

não tem prestado à sua função de amenização de impactos negativos,

especialmente quanto à ocupação humana. Os prédios localizados na ZA do

Parque afloram o lençol freático, desperdiçam água proveniente deste,

descumprem determinação legal e, sobretudo, contribuem para o desequilíbrio do

meio ambiente.

Ademais, o afloramento do lençol, diminui, gradativamente, a força das

nascentes próximas, estas que abastecem o parque, principalmente a nascente do

Córrego Sumidouro, afluente da margem direita do córrego Botafogo, responsável

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pelo abastecimento de água do Parque. Com esta diminuição contínua, a longo

prazo, tempo este que não consideram, a lâmina d'água diminuirá cada vez mais

até que a nascente se desative, consequentemente os lagos do parque secarão.

Sem água, a unidade de conservação será um amontoado de terras ao redor de

uma escavação seca.

2.5. Do Estatuto das Cidades – Lei 10.257/2001

O dispositivo legal Lei Federal nº 10.257 de 10 de julho de 2001, a fim de

ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da

propriedade urbana determinou algumas diretrizes previstas no art. 2º do

dispositivo:

(…)VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ouinadequados em relação à infraestrutura urbana;g) a poluição e a degradação ambiental;

Da análise do dispositivo, depreende-se que o legislador preocupou-se

em positivar diretrizes a fim de melhor orientar a expansão urbana, de modo a,

entre demais circunstâncias, tanto evitar parcelamentos, edificações e usos

excessivos ou inadequados em relação à estrutura urbana, como a poluição e

degradação ambiental.

As limitações de ordem pública relativas a uso e ocupação do solo e a

funcionalidade e estética da cidade, objetivam propiciar melhor qualidade de vida

à população. Tais preceitos atendem à coletividade como um todo, uma vez que

preservam os recursos naturais destinados ao conforto da população e, para o

bem-estar geral, consagram os critérios de desenvolvimento do Município.

Tais preocupações não foram analisadas para permissão de construção

nos arredores do Parque Flamboyant, na sua Zona de Amortecimento, legalmente

protegida.

A especulação imobiliária, gerando uma ocupação desenfreada na

região, supervalorizou os interesses lucrativos do local, sem considerar os impactos

ambientais altamente relevantes.

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O mesmo art. 2, inciso XIII do Estatuto das Cidades, dispõe também como

diretriz:

(…)XIII – audiência do Poder Público Municipal e da populaçãointeressada nos processos de implantação de empreendimentos ouatividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meioambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança dapopulação;

O Poder Público Municipal deve reunir-se com a população interessada,

em audiência pública, para discutir a implantação de projetos potencialmente

negativos sobre o meio ambiente, neste caso, meio ambiente natural, adequado

para o lazer de todos, com a criação do Parque.

A quem possa interessar a excessiva concentração demográfica na

região, não considera as diretrizes previstas no Estatuto das Cidades. Reunir-se com

a população interessada para discutir os impactos de determinados

empreendimentos na região é de suma importância. Discutir quais serão os efeitos

sofridos com esta demasiada construção de empreendimentos nos arredores do

Parque. Se estes efeitos foram ponderados para autorização da construção, se, ao

menos, foram solicitados os documentos necessários para esta análise. No caso dos

arredores do Pq. Flamboyant, pensou-se, em algum momento, nas diretrizes

determinadas pelo Estatuto das Cidades, em busca do regular desenvolvimento

urbano?

A desordenada ocupação do solo, resultante da não-observância às

normas urbanísticas, traz como consequências graves problemas para o adequado

ordenamento das atividades no espaço urbano, com comprometimento da

qualidade de vida e do meio ambiente, como por exemplo, a falta de sistema de

captação e drenagem de águas e impermeabilização dos terrenos, que impede a

recarga do lençol freático, podendo ocasionar, inclusive, a concentração das

águas no solo, provocando enchentes, o que acaba por afetar a circulação, a

habitação e a saúde pública. A não-observância às normas edilícias que

estabelecem afastamentos frontais e laterais dos imóveis impede a circulação do ar

e a iluminação das residências, colocando, em questão, mais uma vez, o direito

constitucionalmente garantido ao meio ambiente equilibrado.

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 19 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Os impactos já sentidos diariamente vão desde o intenso tráfico na

região, com péssimas condições do capeamento asfáltico, a falta de segurança

pública, até os não percebíveis socialmente como o impacto à reserva de água,

pelo afloramento do lençol freático.

Novamente, o dispositivo aqui discorrido, determina maneiras para

melhor viabilização do adensamento populacional, estes que, não foram

observados para a devida construção dos empreendimentos. O Município de

Goiânia, a Agência Municipal do Meio Ambiente e as Construtoras não estão,

sequer, procurando medidas para amenização dos impactos ambientais e

urbanísticos, de conhecimento geral e notório, cotidianamente vividos. A quem

possa interessar a supervalorização da região, com certeza, não considera os

interesses coletivos, são interesses, exclusivamente, lucrativos.

2.6. Do Plano Diretor Do Município de Goiânia

Para garantir os objetivos previstos no Estatuto das Cidades, o

planejamento municipal deve se dar através do Plano Diretor.

O Plano Diretor de Goiânia assim prevê no art. 168:

Art. 168. A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e

operação de empreendimentos e atividades utilizadores de recursos

ambientais considerados, efetiva ou potencialmente, poluidores, bem como

empreendimentos e atividades capazes, sob qualquer forma, de causar

significativa degradação ambiental, dependerão da análise da tabela de

incomodidade e a depender do porte do empreendimento, de prévio

licenciamento do órgão municipal competente, nos termos desta Lei.

Afere-se do respectivo dispositivo legal que a instalação de

empreendimentos utilizadores de recursos ambientais potencialmente poluidores,

como os prédios localizados na Zona de Amortecimento do Parque, carecem de

prévio licenciamento ambiental do órgão competente, no caso, da Agência

Municipal do Meio Ambiente.

Embora a emissão do licenciamento ambiental para construções

potencialmente poluidoras seja obrigatória, a autorização de edificação destes

empreendimentos foi emitida sem a devida observância da lei. O órgão fiscalizador,

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 20 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

AMMA, sabendo de todos os problemas causados pela excessiva e complexa

exploração da Unidade de Conservação, não se ateve a conter as emissões, ao

contrário, sem saber se pressionada pelo setor imobiliário, concedeu tais licenças

sem considerar as consequências aqui levantadas.

Ainda em atenção ao Plano Diretor do Município, foram estabelecidas

áreas de restrição à ocupação, para as quais foram determinadas normas de

restrição parcial ou absoluta para a ocupação humana. Assim dispõe o art. 122, §2º

do Plano Diretor de 2007:

Art. 122. Os parâmetros urbanísticos admitidos na Macrozona Construída,

referentes ao Índice de Ocupação, à altura máxima e aos afastamentos

frontal, lateral e de fundo resultarão da aplicação de uma progressão

matemática gradual por pavimentos, conforme estabelecido na Tabela de

Recuos, constante do Anexo X, desta Lei.

§ 2º Os parâmetros urbanísticos a serem admitidos para as Unidades de Uso

Sustentável, integrantes da unidade territorial definida como Áreas de

Restrição à Ocupação Urbana são considerados especiais e de baixa

densidade, preponderantes sobre os demais e sujeitar-se-ão ao seguinte:

I – dimensão mínima dos lotes de 360m² (trezentos e sessenta metros

quadrados), admitindo-se duas economias por unidade imobiliária;

II – Índice de Ocupação máximo do terreno, igual a 40% (quarenta por

cento);

III – Índice de Permeabilidade do terreno, igual ou maior que 25% (vinte e

cinco por cento);

IV – recuos ou afastamentos, frontal, lateral e de fundo –atender a Tabela de

Recuos sem admissão de excepcionabilidades;

V – altura máxima da edificação, igual 9,00 m² (nove metros).

VI – garantia de 10% (dez por cento) de área de cobertura vegetal interna

ao lote.

O Parque Flamboyant como uma Unidade de Conservação, detém de

prerrogativas especiais de preservação, ora descritos anteriormente. No entanto, os

empreendimentos ao seu redor sustentam aproximada e absurdamente mais de

100m de altura, como bem comprovam o número de pavimentos dos

empreendimentos informados no Ofício nº 0214/2015 (cópia anexa).

Ainda mais, a ocupação dos terrenos é elevadíssima, bem como a

permeabilidade do solo é insuficiente, tanto que a região enfrenta problemas com

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 21 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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escoamento da água da chuva, o que evidencia, mais uma vez, a preocupação

com o destino da água na região. Além do desperdício da água do lençol freático,

os empreendimentos não detém um sistema de infiltração para captação

adequada das águas pluviais.

A urbanização é tarefa eminentemente pública e o empresário deve

submeter seu intento às conveniências da coletividade, para que este seja tido por

viável, dentro da obrigação das determinações legais.

Finalmente, o Plano Diretor contemplou o Parque Flamboyant como área

especial sujeita às medidas de preservação, nos termos do art. 133:

Art. 133. As Áreas de Programas Especiais de Interesse Ambiental

compreendem trechos do território sujeitos a programas de intervenção de

natureza ambiental, visando a recuperação e conservação de áreas

degradadas, de ecossistemas aquáticos, de fragmentos de vegetação

nativa, de recuperação de solos e contenção de processos erosivos, por

meio da implantação de projetos públicos, ou parcerias público-privadas,

compreendendo:

(...)

IV – Parque Flamboyant;

(…)

Assim, a obediência ou a ofensa aos padrões urbanísticos

necessariamente projeta seus efeitos por toda a parte, alcançando

indiscriminadamente quem more ou, eventualmente, transite pela cidade. Está em

causa a defesa de condições adequadas para a vida coletiva, instaurando-se

entre os possíveis interessados “tão firme união que a satisfação de um só implica

de modo necessário a satisfação de todos; e, reciprocamente, a lesão de um só

constitui, lesão da inteira coletividade”.

Neste sentindo, a fim de evitar ou recuperar destas lesões, cabe ao Poder

Público buscar maneiras de intervir na região a fim de preservar o bem precioso no

lençol freático, a água, tentar amenizar os impactos decorrentes dos problemas

atuais e, ainda, contribuir para recuperação da região como um todo, observando

a questão do assoreamento do solo e dos cuidados com a conservação do

Parque.

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 22 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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2.7 Do Plano de Drenagem Municipal – Lei Municipal nº 9.511/2014

A Lei Municipal nº 9.511 de 15 de dezembro de 2014, postulou

determinadas condições para empreendimentos que rebaixam o lençol freático, a

saber:

Art. 18. O rebaixamento do lençol freático indicado nos projetos de

edificações, a serem aprovados pelos órgãos municipais de

planejamento urbano, de meio ambiente, de obras e infraestrutura,

deverá seguir as condições subsequentes:

I - em caráter provisório, somente no período de fundação da obra e

obras correlatas, desde que não ultrapasse 180 (cento e oitenta)

dias, a drenagem da água poderá ser lançada diretamente em

galerias pluviais e, em casos excepcionais, buscar outra alternativa,

conforme orientações técnicas dos órgãos municipais de meio

ambiente, de obras e infraestrutura;

II - em caráter permanente desde que condicionado a:

a) Projeto de Drenagem comprovando a viabilidade técnica de

recirculação adequada da água na mesma microbacia

hidrográfica, de forma a mitigar o impacto através da infiltração da

água resultante da drenagem do lençol, em estruturas como poços

de recarga ou vala de infiltração, situados, prioritariamente, a

montante, observando-se a direção e sentido do escoamento do

manancial, de uma nascente e ou áreas verdes públicas, para

conservação e renovação da lâmina dos espelhos d’água e

manutenção da qualidade da água;

b) Laudo Técnico de Sondagem a ser realizado preferencialmente no

final da estação de maior precipitação pluviométrica ou em

qualquer época, desde que comprovada tecnicamente a oscilação

do lençol freático;

Embora a lei seja datada de 2015 e muitos empreendimentos tenham se

concretizado anteriormente, os edifícios devem se adequar à nova determinação

legal. Ademais, aqueles que ainda estão em fase de aprovação para construção e

realizarão o rebaixamento do lençol, deverão apresentar seu projeto de drenagem

como condição para emissão do alvará, nos termos legais apresentados.

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 23 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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Ainda que as aprovações dos empreendimentos em questão tenham

ocorrido em tempo sem a existência da Lei de Drenagem 9.511/2014, o Plano

Diretor, o Estatuto das Cidades e a Política Nacional do Meio Ambiente garantiam

políticas de preservação ao meio ambiente e, alternativas encontradas para

conservação das águas do lençol freático são primordiais para o equilíbrio deste

meio natural.

Como comprova a documentação anexa, as edificações em questão

realizam o rebaixamento permanente do lençol do freático, porém, não executam

métodos para recirculação da água de maneiras a reabastecer o lençol. Não

tentam, pela infiltração da água proveniente do lençol, mitigar os inúmeros

impactos já relatados.

Ainda, como afere notícia anexa do Jornal “O Popular”, datada em

12/03/2016, os prédios que precisam realizar a drenagem da água proveniente do

rebaixamento do lençol freático, a drenam e a direcionam para o logradouro

público, descumprindo a proibição do inciso IV, do art. 18 da Lei 9.511/2014, a

saber:

(…)

IV - fica proibido o lançamento de qualquer água resultante de

drenagem permanente do lençol na estrutura pluvial urbana e

diretamente no corpo d’água natural, bem como não será admitido

sua utilização para outros fins que não a infiltração de acordo com

análise técnica da situação ou condição da infiltração, exceto a

vazão ocorrida no extravasor como mecanismo de segurança;

Apesar das multas aplicadas pela inadequação à disposição legal, o

problema persiste, os prejuízos se multiplicam, o meio ambiente sofre e, apesar de

não parecer, a coletividade arca e arcará com as consequências.

Extrajudicialmente, as tentativas foram infrutíferas, à adequação a um

sistema que devolva à água drenada à bacia hidrográfica do local é

determinação em lei, é prerrogativa urgente para assegurar esse bem tão precioso,

para garantir o direito ao meio ambiente equilibrado.

Ressalta-se que o problema do afloramento do lençol freático é

agravado na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant em razão de tratar-se

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 24 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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de região de Unidade de Conservação, próxima à nascente e objeto de

prerrogativas específicas. No entanto, rebaixar o lençol sem observar as

determinações do Plano de Drenagem em comento é descumprir a lei. Por tal que,

a apresentação do Plano de Drenagem é condição para autorização de

construção para QUALQUER, OU SEJA, TODOS, os empreendimentos do município

que realizam o rebaixamento do lençol freático.

Ora, os impactos negativos são agravados nos arredores das Unidades

de Conservação, como por exemplo, o Parque Flamboyant, mas não só neste. Em

Goiânia, todos os parques têm prerrogativas especiais determinadas no Plano

Diretor e todos enfrentam problemas idênticos ao aqui explicitado: Parque Areião,

Parque Cascavel, Parque das Rosas, Parque Vaca Brava e Bosque dos Buritis.

Ainda que não seja ao redor dos Parques, qualquer empreendimento

que aflora o lençol e não reabastece a bacia hidrográfica, não utilizando a água

desviada, não observa as garantias legais aqui descritas e, sobretudo, viola o direito

ao meio ambiente equilibrado.

No âmbito do município de Goiânia, com a atual vigência da Lei

9.511/2014 – Lei de Drenagem, todos os alvarás para construção devem ser

concedidos com observância à determinação do Plano de Drenagem da capital.

Desviar água do lençol freático sem qualquer destinação é infringir direito

constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, violar bem de

domínio público juridicamente tutelado e, principalmente, desconsiderar uma das

maiores (já raras), riquezas do mundo, a água. Trata-se de água límpida do lençol

freático que tem sido irracionalmente violada, enquanto vive-se, em todo país, crise

de racionamento de água potável.

2.7.1. Do Plano de Manejo do Parque Flamboyant

O Plano de Manejo do Parque Flamboyant foi instituído a fim de

descrever as condições do parque e projetar objetivos com vista à máxima

conservação da estrutura natural da Unidade de Conservação. Deste modo, o

Plano de Manejo preocupou-se em assegurar as prerrogativas do meio natural,

associada ao desenvolvimento econômico-social da região. Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 25 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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Dentre as disposições do Plano, há determinação de que as construções

deverão estar em harmonia com a paisagem natural e as nascentes encontradas

no interior do Parque deverão ser preservadas com adoção de medidas tais quais:

- coibir escavação de subsolos, em períodos críticos, onde o perfil do lençol

freático possa atingir a cota de pico;

- separação de águas servidas das águas de drenagem, acumulando-as em

reservatórios independentes para a elevação por bombas elétricas;

- aumento da permeabilidade do solo, nos novos e antigos

empreendimentos do entorno, tanto a 100 m do Parque, quanto nos grandes

empreendimentos, como Supermercados, Shopping Centers entre outros

estabelecimentos comerciais;

- aumento de vegetação às margens da nascente e redução de pisoteio em

suas margens.

A impermeabilização do solo e a gradativa interferência no lençol

freático, decorrentes das inúmeras construções no entorno do Parque, ameaçam

gravemente as nascentes, podendo levar, ao longo do tempo, o desaparecimento.

A alimentação dos lagos tem diminuído gradativamente, causando diversos

problemas à fauna e flora local, ao meio ambiente como um todo e conforme dito

anteriormente, à valorização imobiliária na região.

O Poder Público e as construtoras dos empreendimentos devem-se

atentar as prerrogativas do Plano de M anejo, especialmente na questão de

preservação às nascentes, tanto para início das construções, tanto para

adequação dos edifícios face às disfunções emergentes.

2.8. Da Responsabilidade da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA)

Com fim de garantir o direito constitucional ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, exaustivamente descrito, para desempenhar a

função de fiscalizar a política pública ambiental no Município de Goiânia, a Lei

Complementar Municipal nº 8.537, de 20 de junho de 2007, definiu as funções da

Agência Municipal do Meio Ambiente:

Art. 27. Fica criada a Agência Municipal do Meio Ambiente - AMMA,autarquia integrante da administração indireta do Município de Goiânia,dotada de personalidade jurídica de direito público interno, com autonomiaadministrativa, financeira e patrimonial, sede e foro na Cidade de Goiânia,prazo e duração indeterminado, com a finalidade de formular, implementare coordenar a execução da Política Municipal do Meio Ambiente, voltada

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 26 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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ao desenvolvimento sustentável, no âmbito do território municipal,competindo-lhe especificamente:I - o licenciamento, controle, monitoramento e fiscalização de todas asatividades, empreendimentos e processos considerados, efetiva oupotencialmente poluidores, bem como daqueles capazes de causardegradação ou alteração significativa do meio ambiente, nos termos dasnormas ambientais vigentes;(...)VIII - a aplicação de penalidades aos infratores da legislação ambientalvigente, inclusive definindo medidas compensatórias, bem como exigindomedidas mitigadoras, de acordo com a legislação ambiental vigente;

A atribuição da Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, é

cumprir a legislação ambiental no âmbito do Município de Goiânia, conforme

dispõe o Art. 5º, VIII, do Regimento Interno desta (Decreto nº 1878, de 31 de julho de

2014):

VIII – cumprir e fazer cumprir a legislação, normas e resoluções de caráter

ambiental no âmbito do Município, fiscalizando e promovendo a aplicação

de penalidades e/ou multas cabíveis, definindo medidas compensatórias e

as ações administrativas e judiciais necessárias ao cumprimento da

legislação, exigindo medidas mitigadoras e compensatórias do infrator;

O art. 30 do referido dispositivo, assim determina as funções do

Departamento de emissão de Licença Ambiental da Agência Municipal de

Goiânia:

Art. 30.A Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental - DIRLAQ é a

unidade da AMMA que tem por finalidade promover a coordenação,

execução e controle das ações referentes ao Licenciamento Ambiental e ao

monitoramento da qualidade do meio ambiente, no âmbito da

competência municipal. Parágrafo único.

Compete ao Diretor de Licenciamento e Qualidade Ambiental:

I - emitir parecer técnico e realizar análises e estudos para o licenciamento

da localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação

de empreendimentos e/ou atividades utilizadores de recursos ambientais,

consideradas efetivas e potencialmente poluidoras, bem como capazes, sob

qualquer forma, de causar significativa degradação ambiental;

Como provado, é instituída em lei a competência da AMMA para

emissão de parecer técnico para localização, construção, instalação,

consequentemente, acompanhamento de empreendimentos que causem

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 27 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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significativa degradação ambiental, como é o caso daqueles que afloram o lençol

freático.

Em se tratando de localização, as análises para os licenciamentos dos

empreendimentos nos arredores do Parque não observaram as prerrogativas de

construção em Zona de Amortecimento de uma Unidade de Conservação. Apesar

de alguns empreendimentos não possuírem licença ambiental, muitos a possuem e,

se possuem quem a emitiu foi a Agência Municipal do Meio Ambiente. O art. 122,

§2º do Plano Diretor determina as condições para construção em Unidade de

Conservação, no entanto, apesar dos empreendimentos não dotarem de tais

prerrogativas, possuem licença ambiental, alguns, até, sem nenhum tipo de

compensação.

A fiscalização sobre as atividades relacionadas à proteção do meio

ambiente e dos recursos naturais também é atribuição direta desta Agência,

conforme dispõe o Art. 36, do Regimento Interno da Agência Municipal do Meio

Ambiente:

Art. 36. A Diretoria de Fiscalização Ambiental - DIRFS, é a unidade da

Agência Municipal do Meio Ambiente - AMMA, que tem por finalidade

programar, coordenar e controlar as atividades relacionadas à fiscalização

e a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, coibindo quaisquer

ações/atividades poluidoras ou de degradação ambiental.

(...)

V - fiscalizar o uso e a exploração de recursos naturais;

(...)

XIV - fiscalizar o cumprimento dos termos da Licença Ambiental e/ou outros

termos de autorizações e licenciamento, tendo em vista os padrões e usos

permitidos;

(...)

Desta feita, resta claro que é dever da AMMA fiscalizar, autuar e

impedir o exercício de atividades potencialmente poluidoras, no caso, de

empreendimentos que exploram inadequadamente o uso do solo, com

desatenção ao recurso natural da água.

Com relação à integração ao sistema de drenagem, o artigo 26 do

Regimento da AMMA, Decreto nº 1878/2014, determina:Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 28 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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Art. 26. Compete à Divisão de Controle de Drenagem Urbana, unidade

integrante da Gerência de Contenção e Recuperação de Erosões e Afins, e

a sua chefia:

I - coordenar a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana e da

concepção de projetos de drenagem urbana sustentável, executando os

serviços necessários à implantação dos mesmos;

Os projetos de drenagem apresentados pelas construtoras para

instalação das edificações devem ser coordenados pela Agência Municipal do

Meio Ambiente – AMMA, realizando, ainda, os serviços necessários para

implantação dos projetos.

No caso dos empreendimentos do Parque que ainda não estão

interligados ao sistema de drenagem/infiltração, devem elaborar o projeto,

apresentar à AMMA para aprovação, a Agência deve coordenar sua execução,

auxiliando no que for necessário.

O Regimento Interno da AMMA (Decreto nº 1878, de 31 de julho de 2014),

dispões, ainda, sobre as Unidades de Conservação:

Art. 51. Compete à Gerência de Unidades de Conservação – GEUNC,

unidade integrante da Diretoria de Áreas Verdes e Unidades de

Conservação:

IV - proteger as Unidades de Conservação do Município, preservando sua

biodiversidade, sua estrutura e o funcionamento dos ecossistemas para

manter e recuperar os serviços ambientais;

VI - promover ações de recuperação, conservação e preservação das Áreas

Verdes e Unidades de Conservação do Município de Goiânia, através de

manutenções adequadas, plantios e outras medidas mitigadoras;

No Ofício nº 0214/2015 verifica-se que muitos empreendimentos, não

se adequaram ao sistema de infiltração pelas trincheiras ou o fez de maneira

inadequada (conforme atesta o Parecer nº 01/2013 – GECRE/AMMA em anexo),

desconsideraram, ainda, as advertências provenientes da fiscalização,

prosseguindo na infringência às questões exaustivamente descritas.

Apesar das requisições ministeriais, há mais um de um ano a

Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, não apresenta um relatório eficaz

sobre a atual situação da região. Quais e quantos empreendimentos estão

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 29 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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adequados ao sistema trincheira ou qualquer sistema que recircule a água aflorada

de maneira a reabastecer a bacia, quantos e quais operam de forma regular, quais

as providências adotadas e o prazo para adequação. Os pareceres encaminhados

pela AMMA aduzem apenas que o sistema funciona regularmente, no entanto, as

reportagens aferem o contrário e, ainda, como notório e facilmente percebível por

quem conhece a região, há, constantemente, água escorrendo pelas ruas das

imediações do Parque.

Desta forma, a AMMA, não se ateve a tomar as medidas necessárias

para solução dos problemas, tampouco responder satisfatoriamente as requisições

ora realizadas por este órgão ministerial.

Não há óbice em relação à omissão da Agência Municipal do Meio

Ambiente em efetuar suas devidas atribuições, contribuindo para a permissão do

afloramento do lençol freático na região, sem nenhum tipo de compensação,

consequentemente colaborando para o desequilíbrio ambiental, bem como para o

regular desenvolvimento social de toda coletividade. Neste sentindo, a doutrina de

José Carlos de Freitas é incisiva ao dispor que: o Executivo promove a tutela da

ordem urbanística na medida em que aplica corretamente a respectiva legislação

e fiscaliza seu cumprimento pelos administrados. Mas pode ocorrer negligência

nessa conduta, gerando danos à coletividade, quando deixa de exercer seu poder

de polícia, na contenção das irregularidades.

2.9. Da Responsabilidade do Município de Goiânia – Secretaria Municipal de

Planejamento Urbano e Habitação

Entre as diversas competências legais da Secretaria Municipal de

Planejamento Urbano e Habitação - SEPLANH, assim disciplina o art. 31, do Decreto

nº 2869 de 26 novembro de 2015:

Art. 31. Compete à Diretoria de Análise e Aprovação de Projetos, unidade

integrante da estrutura da Superintendência da Ordem Pública, e ao seu

Diretor:

I- analisar e emitir parecer técnico conclusivo versando sobre a aprovação

de projetos de arquitetura e licenças para construção de edificações, obras

de grande porte e empreendimentos de impacto, reformas, modificação,

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 30 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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reconstrução, acréscimo, aceite, regularização e demolição de edificações,

visando à emissão do respectivo alvará ou autorização;

Os alvarás de construção são concedidos pela Secretaria Municipal de

Planejamento Urbano e Habitação, à época chamada de SEMDUS, se tais

concessões não estão sendo emitidas à luz das legislações ambientais

minuciosamente discorridas, a Secretaria tem exercido sua competência aquém

das disposições legais, tanto federais, quanto municipais, e ainda, em inobservância

aos preceitos ambientais constitucionais.

Quando a Secretaria consente o alvará de construção, sabendo do

afloramento do lençol realizado pelos empreendimentos, mas não exige

apresentação do plano de drenagem, não remete ao órgão competente para

análise e não questiona a viabilidade da edificação naquele determinado lugar

ante aos problemas ambientais surgidos, não considera nenhuma das legislações

ambientais analiticamente desenvolvidas e nas perspectivas de evitar/amenizar

impactos ambientais devastadores.

Ademais, mesmo quando o alvará é concedido desconhecendo o

afloramento do lençol realizado pelo empreendimento, mas não é realizado sua

função fiscalizadora, e quando o é e passa a ter conhecimento do problema mas

não providencia a medida cabível para mitigação do desgaste ambiental

ocorrente, a Secretaria descumpre competência prevista no art. 4º, inciso IX, do

Decreto nº 2869/2015:

Art. 4º São competências legais da Secretaria Municipal de Planejamento

Urbano e Habitação – SEPLANH, nos termos dos art. 29, da Lei Complementar

nº 276/2015, dentre outras atribuições previstas nos incisos XXIX a XLIV deste

Regimento:

IX - a fiscalização das posturas municipais, pertinentes à legislação municipal

sobre edificações, parâmetros urbanísticos e localização e as relativas ao

desenvolvimento de atividades, procedendo às autuações e interdições,

quando couberem;

O último parecer nº 0214/2015, fl.01/41, de lavra desta Secretaria, apenas

reafirmam as informações já fornecidas pela Agência Municipal do Meio Ambiente

– AMMA, porém, como já relatado, os pareceres da AMMA são insuficientes ao

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 31 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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discorrer com veracidade a atual situação da região. A Secretaria, integrante da

entidade Município, como dispõe o dispositivo acima mencionado, desempenha

função fiscalizadora e punitiva, devendo realizar a devida inspeção in loco, verificar

se procede conforme as legislações descritas, e se necessário, autuar ou interditar a

construção/empreendimento.

Para melhor esclarecimento do que foi dito, basta compreender a

necessidade de qualquer edificação urbana atender determinados critérios, tais

como taxa de ocupação, índice de permeabilidade e apresentação de plano de

drenagem para estabelecimentos que realizam o rebaixamento do lençol freático,

fixados em lei, conforme o zoneamento levado a efeito no plano diretor e em leis

municipais específicas. Não sendo observados esses requisitos, não poderá o poder

público conceder alvará de construção, o que acarretará irremediavelmente em

irreversíveis prejuízos ao meio ambiente, ao direito de toda coletividade.

Nesse contexto, o Poder Público municipal tem papel preponderante a

realizar, quer fiscalizando todas as áreas urbanas que compõe o município, para

detectar, debelar, coibir e determinar a correção de irregularidades, neste caso no

que tange à não implantação de um sistema de drenagem; quer analisando,

corrigindo e só então aprovando projetos de construção.

É exatamente pela existência de tamanha responsabilidade do

Município que a Constituição da República Federativa do Brasil prevê, em seu art.

182 que compete à Administração Municipal disciplinar, no âmbito de seu território,

o uso da propriedade com vistas ao cumprimento de sua função social.

É omissa, a SEPLANH, ao liberar alvarás de construção sem considerar os

prováveis impactos ambientais gerados pelos empreendimentos, bem como é

ineficaz em não realizar as devidas fiscalizações e adotar as medidas pertinentes à

mitigação dos impactos ambientais causados.

2.10. Da Tutela Provisória de Urgência Antecipada

Nos termos do artigo 12, da Lei nº 7.347/1985 Ação Civil Pública, é

permissivo ao Juiz conceder mandado liminar, com a possibilidade de cominação

de multa em caso de descumprimento (§ 2º), a fim de evitar dano irreparável ou

ameaça de danos.

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 32 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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In casu trata-se de tutela provisória de urgência em caráter

antecedente, prevista do artigo 300 do Código de Processo Civil:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos queevidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco aoresultado útil do processo.

O deferimento da medida ocorre para evitar um dano irreparável ou de

difícil reparação, ou seja, necessidade de que haja situação de emergência.

As reincidentes condutas exercidas pelas empresas em questão

causaram e continuam causando, além de um dano irreparável ao meio ambiente,

atingindo toda a coletividade (interesse difuso), dano irreversível e imensurável ao

meio ambiente. Desequilibram o meio natural constitucionalmente resguardado,

tutelado pelo Estado Democrático de Direito, previsto na Constituição Federal e nos

dispositivos próprios, tem caráter imaterial e material e dada a essa duplicidade,

causar-lhe dano é atingir o meio físico em suas características próprias, é violar o

direito da coletividade em desfrutar adequadamente do meio ambiente, é avariar

a sadia qualidade de vida das gerações futuras.

O fumus boni iuris está materializado nos fundamentos de direito

expostos, que demonstram de forma inequívoca a obrigação legal e constitucional

da Agência Municipal do Meio Ambiente, titular de políticas públicas, de realizar a

devida análise dos prováveis impactos ambientais de empreendimentos

potencialmente poluidores, bem como de fiscalizar a postura ambiental no

município, acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos das edificações. De igual

modo, resta demonstrada as exigências legais das construtoras em questão que, ao

gerar danos ao meio ambiente e à coletividade, descumprem determinações

legais, estabelecidas tanto pela Política Nacional do Meio Ambiente, Estatuto das

Cidades, Plano Diretor de Goiânia e Plano de Drenagem do Município, bem como

ferem preceitos ora mencionados previstos na Suprema Carta.

O periculum in mora materializa-se no contínuo agravamento dos danos

ocasionados ao coletivo, ao meio ambiente natural, decorrentes da omissão e

ineficiência administrativa por parte da AMMA, que a certo momento deixou de

realizar as devidas inspeções nos empreendimentos degradadores, ou quando o fez

não a realizou com eficiência, contribuindo, dia após dia, para deturpação das

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 33 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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águas provenientes do lençol freático. O dano causado é irreparável e imensurável

ao meio ambiente físico e aos direitos difusos e futuros de toda sociedade. A cada

vez que a água drenada do rebaixamento do lençol freático é direcionada

inadequadamente, seja para o logradouro público, seja para os lagos, o direito

constitucionalmente resguardo ao meio ambiente equilibrado é violado.

O meio ambiente natural não pode suportar, diariamente, a demora por

demais extensa do julgamento deste feito. O Poder Público e as empresas precisam

fiscalizar e se adequar urgentemente.

O futuro e a própria existência da humanidade são indissociáveis de seu

meio natural, o meio ambiente é um patrimônio comum dos seres humanos, sua

preservação deve ser buscada sob o mesmo título que os demais interesses

fundamentais da nação, pois a diversidade biológica, o desenvolvimento da

pessoa humana e o progresso das sociedades são violados quando há exploração

excessiva dos recursos naturais como ocorre quando, ora já descrito, os

empreendimentos direcionam a água drenada do lençol inadequadamente, sem

reabastecê-lo, apenas retirando e saturando.

Considerando as alegações e o fundado receio de dano irreparável ou

de difícil reparação, em outras palavras, a plausibilidade do direito invocado, o

dano diário decorrente da drenagem do lençol freático, consequentemente, a

necessidade do provimento jurisdicional em caráter de urgência, consagra-se

evidentes os requisitos do art. 300, caput do Código de Processo Civil.

Pleiteia-se, o Ministério Público, pela concessão da tutela provisória de

urgência em caráter liminar a fim de compelir a AMMA à efetivamente adotar todos

os meios necessários para levantamento de TODOS os empreendimentos que

realizam o rebaixamento do lençol freático na Zona de Amortecimento do Parque

Flamboyant e não estão interligados a um sistema de drenagem, nos termos das

legislações expostas e, concomitantemente, que estes empreendimentos se

adéquem a rede de interligação ou promovam sua imediata construção com fim

de reabastecer o lençol freático ora degradado.

3. DOS PEDIDOS

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 34 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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Diante do exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás, requer em

sede liminar:

a) seja concedida liminar inaudita altera parte, em desfavor da Agência

Municipal do Meio Ambiente – AMMA, determinando a identificação de todos os

empreendimentos situados na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant,

construídos e em construção, bem como a apresentação de relatório/parecer

apontando as irregularidades ambientais daqueles, discriminando os que realizam o

rebaixamento do lençol freático, mas não realizam à recirculação da água

drenada com fins de realimentar o lençol, no prazo de 60 dias, sob pena de multa

diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais);

b) após a identificação dos empreendimentos irregulares que sejam

todos estes imediatamente compelidos a apresentarem o devido projeto de

drenagem que deverá ser submetido à aprovação da AMMA, em prazo mínimo ora

estabelecido, e, em seguida, que promovam a imediata ligação à rede de

interligação ou realizem as respectivas obras com fins de reabastecer o lençol

freático ora degradado, com prazo a ser determinado.

Quanto ao mérito, requer-se:

a) sejam os réus citados para, querendo, contestarem o pedido, sob os

efeitos da revelia;

b) sejam confirmados os pedidos da tutela provisória de urgência;

c) seja determinado que todos os empreendimentos que realizam o

rebaixamento do lençol freático, em caráter provisório ou permanente, localizados

na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant, promovam as adequações nos

termos das leis discorridas;

d) seja determinado que os empreendimentos existentes e futuros

localizados na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant, bem como o Poder

Público, observem as prerrogativas determinadas no Plano de Manejo do Parque,

sobretudo no que tange à preservação das nascentes, realizando as adequações

necessárias para garantir o meio natural no Plano definido;

e) seja determinado o dever de observância, especialmente pela

SEPLANH, às normas estabelecidas no Plano Diretor de Goiânia – Lei Complementar

nº 171/2007, bem como no Plano de Drenagem Municipal – Lei Municipal nºRua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 35 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.

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9.511/2014, a todas as obras (futuras e em andamento), para emissão de alvará de

construção, referente às Unidades de Conservação;

f) seja a Ré Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, condenada

na obrigação de fazer consubstanciada em apresentar mensalmente a este juízo,

pelo período de 6 (seis) meses, relatórios técnicos referente a regularidade

ambiental de todos os empreendimentos existentes na Zona de Amortecimento do

Parque Flamboyant;

g) seja a Ré Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, condenada

na obrigação de fazer consubstanciada em monitorar a execução de todas as

obras que serão realizadas na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant,

promovendo as medias necessárias para melhor eficácia das obras;

h) seja publicado edital, com prazo de 15 (quinze) dias, para dar

conhecimento a terceiros interessados e ao público em geral, considerando,

notadamente, o caráter erga omnes da Ação Civil Pública;

i) sejam os réus condenados ao pagamento de emolumentos e demais

cominações do estilo.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito

admitidos, com especial atenção às perícias, testemunhas e documentos, bem

como por possível emenda, retificação e complementação da presente inicial, se

porventura necessário.

Ressaltando que a causa tem valor inestimável e observando as

determinações da legislação processual, dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00

(um milhão de reais) para efeitos fiscais.

Goiânia, aos 11 (onze) dias do mês de julho de 2016.

Alice de Almeida FreirePromotora de Justiça

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 36 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.