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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE ANÁPOLIS– GOIÁS. Ação Civil Pública nº 201600670851 Autor: Ministério Público do Estado de Goiás Requeridos: Estado de Goiás e outros O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela Promotora de Justiça signatária, vem perante Vossa Excelência, com fundamento nos permissivos inscritos na Constituição Federal e nas Leis 7.347/85, 8.069/90 e 8.625/93, requerer: REEXAME DA MEDIDA LIMINAR, INAUDITA ALTERA PARS, EM FACE À SUPERVENIÊNCIA DE FATOS NOVOS, a seguir expostos: 1) EXPRESSA VIOLAÇAO DO PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DA PUBLICIDADE E EFICIÊNCIA DOS ATOS ADMINISTRATIVOS POR PARTE DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE DE GOIÁS – SEDUCE: Conforme Ofício anexo, o Ministério Público requisitou à Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Goiás - SEDUCE/GO cópia de todo processo Chamamento n 01/2016, digitalizado. No entanto, esta ignorou a requisição e não encaminhou qualquer tipo de documento sem ou menos justificar – demonstrando total desrespeito e menoscabo para com as instituições públicas e para com a justiça. Sem a posse das cópias destes documentos, não é possível o Ministério Público e a sociedade fiscalizar atos e documentos juntados ao

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA … · “Os princípios básicos da administração pública estão consubstancialmente em doze regras de observância permanente

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA

INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE ANÁPOLIS– GOIÁS.

Ação Civil Pública nº 201600670851

Autor: Ministério Público do Estado de Goiás

Requeridos: Estado de Goiás e outros

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela

Promotora de Justiça signatária, vem perante Vossa Excelência, com

fundamento nos permissivos inscritos na Constituição Federal e nas Leis

7.347/85, 8.069/90 e 8.625/93, requerer: REEXAME DA MEDIDA

LIMINAR, INAUDITA ALTERA PARS, EM FACE À SUPERVENIÊNCIA DE

FATOS NOVOS, a seguir expostos:

1) EXPRESSA VIOLAÇAO DO PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DA

PUBLICIDADE E EFICIÊNCIA DOS ATOS ADMINISTRATIVOS POR

PARTE DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE DE

GOIÁS – SEDUCE:

Conforme Ofício anexo, o Ministério Público requisitou à

Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Goiás - SEDUCE/GO cópia

de todo processo Chamamento n 01/2016, digitalizado. No entanto,

esta ignorou a requisição e não encaminhou qualquer tipo de

documento sem ou menos justificar – demonstrando total

desrespeito e menoscabo para com as instituições públicas e para

com a justiça.

Sem a posse das cópias destes documentos, não é possível o

Ministério Público e a sociedade fiscalizar atos e documentos juntados ao

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procedimento de chamamento, maculando o princípio constitucional da

Publicidade/transparência, moralidade pública, nos termos do artigo 37,

caput da CF/88.

Denota-se que a negativa de encaminhar documentos

requisitados pelo Ministério Público demonstra que Estado de Goiás

pretende implantar a gestão compartilhada da Educação com a OS às

escuras e sem dar ampla publicidade/transparência de seus atos.

E mais, sem análise dos documentos e atos, não há meios de

aferir a eficiência e a proposta mais vantajosa, que se impõe à

Administração Pública, de modo que há flagrante violação destes princípios

constitucionais. Vejamos:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: “

Em relação aos princípios constitucionais, Meirelles (2000,

p.81) afirma que:

“Os princípios básicos da administração pública

estão consubstancialmente em doze regras de

observância permanente e obrigatória para o bom

administrador: legalidade, moralidade,

impessoalidade ou finalidade, publicidade, eficiência,

razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa,

contraditório, segurança jurídica, motivação e

supremacia do interesse público. Os cinco primeiros

estão expressamente previstos no art. 37, caput, da CF

de 1988; e os demais, embora não mencionados,

decorrem do nosso regime político, tanto que, ao

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daqueles, foram textualmente enumerados pelo art. 2º da

Lei federal 9.784, de 29/01/1999.”

“A publicidade, como princípio da administração

pública, abrange toda atuação estatal, não só sob o

aspecto de divulgação oficial de seus atos como,

também, de propiciação de conhecimento da conduta

interna de seus agentes” (MEIRELLES, 2000, p.89).

Como demonstrado acima, é necessário que os atos e

decisões tomados sejam devidamente publicados para o conhecimento de

todos, o sigilo só é permitido em casos de segurança nacional.

A Administração tem o dever de manter plena transparência

de todos os atos e condutas de seus agentes, inclusive apresentar

informações que estejam armazenadas em seus bancos de dados, quando

solicitadas por quem de direito, em razão das garantias asseguradas na

carta politica de 1988.

“A lei disciplinará as formas de participação do usuário na

Administração direta e indireta, regulando especialmente o acesso dos

interessados a registros administrativos e a informações sobre atos de

governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII” (art. 37, §3º, II da

CF).

A ausência de meios de aferir, ainda na fase interna do

chamamento público, a vantajosidade ou vantagem econômica do

pretendido contrato de gestão, além de causar potencial dano ao

erário, estará em flagrante afronta aos princípios insculpidos no

artigo 7º da Lei Federal nº 9.637/98, in verbis:

“Art. 7º. Na elaboração do contrato de gestão, devem

ser observados os princípios da legalidade,

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impessoalidade, moralidade, publicidade,

economicidade e, também, os seguintes preceitos:

I - especificação do programa de trabalho proposto

pela organização social, a estipulação das metas a

serem atingidas e os respectivos prazos de

execução, bem como previsão expressa dos critérios

objetivos de avaliação de desempenho a serem

utilizados, mediante indicadores de qualidade e

produtividade;

II - a estipulação dos limites e critérios para despesa

com remuneração e vantagens de qualquer natureza

a serem percebidas pelos dirigentes e empregados

das organizações sociais, no exercício de suas

funções.

Como observado, a demora do provimento jurisdicional

poderá causar dano ao erário e a ordem jurídica de tal modo a

comprometer o direito a educação pública de qualidade aos estudantes

desta Comarca.

Cumpre salientar que na escolha da proposta mais

vantajosa, deve o gestor estar incumbido de honestidade e probidade para

cuidar da coisa pública, não dispendendo, ao seu talante, recursos

desnecessários.

Neste sentido, vale mencionar os ensinamentos de Marçal

Justen Filho, no tocante ao princípio da economicidade assim afirma “...

Não basta honestidade e boas intenções para validação de atos

administrativos. A economicidade impõe adoção da solução mais

conveniente e eficiente sob o ponto de vista da gestão dos recursos

públicos”. (Justen Filho, 1998, p.66).

Economicidade e eficiência visam o combate do mau uso

dos recursos públicos, bem como, a ausência de planejamento. Permite

avaliar se, em face do recurso aplicado, foi obtido o melhor resultado, em

beneficio dos interesses da coletividade.

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Na mesma ótica, preleciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

“O princípio da eficiência apresenta, na realidade,

dois aspectos: pode ser considerado em relação ao

modo de atuação do agente público, do qual se

espera o melhor desempenho possível de suas

atribuições, para lograr os melhores resultados; e em

relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a

Administração Pública, também com o mesmo

objetivo de alcançar os melhores resultados na

prestação do serviço público.” (DI PIETRO, 2002, p.

83).

Carlos Pinto Coelho, citando o Professor Hely Lopes, assim

resume o entendimento:

“ ... dever de eficiência é o que se impõe a todo o

agente público de realizar suas atribuições com

presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais

moderno princípio da função administrativa, que já não se

contenta em ser desempenhada apenas com a

legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço

público e satisfatório atendimento das necessidades da

comunidade e de seus membros”. (Carlos Pinto Motta,

1998, p.35)

Pelo aspecto jurisprudencial, o Tribunal de Contas da União –

TCU, já firmou entendimento pela necessidade de estudos precedentes que

demonstrem a vantajosidade em relação a contratação pelo ente publico,

inclusive com inclusão de planilha detalhada com a estimativa de custos a

serem incorridos na execução dos ajustes, conforme se observa decisão

proferida no Acórdão 352/2016 – TCU – Plenário:

“9. Acórdão:

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VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Relatório

de Auditoria consolidando Fiscalização de Orientação

Centralizada, que teve como objetivo avaliar a

regularidade dos ajustes firmados pelos governos

municipais e estaduais com entidades privadas para

terceirização de profissionais de saúde com recursos

financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS),

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União,

reunidos em sessão do Plenário, ante os motivos

expostos pelo Relator, em:

9.1. determinar ao Ministério da Saúde com fulcro no art.

250, inciso II, do Regimento Interno do Tribunal de

Contas da União, que oriente todos os entes federativos

a observarem as seguintes diretrizes na celebração de

ajustes com entidades privadas visando a prestação de

serviços de saúde:

9.1.1. A contratação de entidades para

disponibilização de profissionais de saúde deve ser

precedida de estudos que demonstrem as suas

vantagens em relação à contratação direta pelo ente

público, com inclusão de planilha detalhada com a

estimativa de custos a serem incorridos na execução

dos ajustes, além de consulta ao respectivo Conselho

de Saúde;

...............................................................

9.1.3. devem ser realizados estudos que indiquem

qual sistema de remuneração dos serviços prestados

é mais adequado para o caso específico do objeto do

ajuste a ser celebrado, levando em consideração que

a escolha da forma de pagamento por tempo, por

procedimentos, por caso, por capitação ou a

combinação de diferentes métodos de remuneração

possui impacto direto no volume e na qualidade dos

serviços prestados à população...”

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No mesmo sentido o Acórdão nº 1852/2015 – TCU -

Plenário:

9.6. Dar ciência ao Município de Candeias acerca das

seguintes irregularidades identificadas:

9.6.1. os contratos de gestão nºs. 224/2013, 73/2013 e

51/204 foram celebrados sem que fossem antecedidos por

estudos detalhados que demonstrassem que a

transferência do gerenciamento para organizações sociais

mostrava-se a melhor opção;

9.6.2. a opção de celebração dos contratos de gestão nºs

224/2013, 073/2013 e 224/2013, não foi devidamente

debatido junto ao Conselho Municipal de Saúde, em

afronta aos art. 1º, §2º, da Lei 8.142/1990;

(...)

9.6.4. a escolha da organização social para celebração

de contrato de gestão deve, sempre que possível, ser realizada

a partir de chamamento público, devendo constar dos autos do

processo administrativo correspondente as razões para sua

não realização, se for esse o caso, e os critérios objetivos

previamente estabelecidos utilizados na escolha de

determinada entidade, a teor do disposto no art. 7º da Lei

9.637/1998 e no art. 3º combinado com o art. 116 da Lei

8.666/1993;

A medida liminar, inaudita altera pars, deve ser

decretada com urgência e de imediato com vistas a suspenção do Edital

de chamamento para que o Ministério Público e a sociedade possa tomar

conhecimento dos atos, documentos, decisões tomadas pelos agentes da

Administração Pública, sob pena de potencial dano ao erário com reflexo

direto na qualidade das escolas publicas desta Comarca, em razão da

homologação do certame, adjudicação e contratação do objeto.

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2) A SEDUCE ignorou a recomendação do MINISTÉRIO DA

EDUCAÇÃO – MEC/ FNDE, desde 22 DE JANEIRO DE 2016 (ANEXO)

em que expressamente informa a impossibilidade dos recursos

transferidos a conta dos programas PNAE – Programa Nacional de

Alimentação Escolar, PNATE – Programa Nacional de Transporte

Escolar e PDDE serem geridos por organizações sociais que venham

a realizar a gestão administrativa das unidades escolares estaduais.

Inicialmente, torna-se oportuno reportar-se ao VIII –

DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA, do edital de chamamento publico 001/2016 que

previu que a despesa com a celebração do futuro ajuste correra a conta dos

recursos provenientes do FUNDEB (E.C. Nº 53, DE 19/12/2006).

Conforme Minuta do CONTRATO DE GESTÃO constante do

Edital de Chamamento nº 01/2016 descreve no item 2.46, os seguintes

termos:

“2.46. Restituir à conta do PARCEIRO PÚBLICO o

valor repassado, atualizado monetariamente e

acrescido de juros legais na forma da legislação

aplicável aos débitos para com a Fazenda Estadual,

contados da data do seu recebimento, nos seguintes

casos:

a) Quando não forem apresentadas, nos prazos

exigidos, as prestações de contas parciais e finais,

bem como as exigidas pelo FNDE;

b) Quando os recursos forem utilizados para

finalidade diversa da estabelecida no presente

CONTRATO DE GESTÃO. .”

Colacionamos ainda, itens das Obrigações do PARCEIRO

PÚBLICO neste contrato de gestão:

“CLÁUSULA TERCEIRA – DAS OBRIGAÇÕES E

RESPONSABILIDADES DO PARCEIRO PÚBLICO

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................................................................

3. Para a execução das atividades de relevância

pública objeto do presente

CONTRATO DE GESTÃO, o PARCEIRO PÚBLICO

obriga-se a:

3. 1. Efetuar repasses mensais, devendo a 1ª parcela

ser transferida logo no início da relação de

emparceiramento, nos termos previamente ajustados

para a execução das atividades e/ou serviços de

relevância pública, conforme orçamento e cronograma de

desembolso, previsto no Plano de Trabalho, que integra

este instrumento;

.................................................................

3. 12. Repassar ao PARCEIRO PRIVADO recursos do

FNDE correspondentes a merenda escolar, enquanto

os mesmos estiverem sendo creditados ao Estado,

correspondentes ao número de matrículas que integram o

Censo Escolar do período na rede estadual;

No entanto, a SEDUCE ao consultar o MEC acerca da

possibilidade de transferir recursos de fundo Constitucional para

Organizações Sociais, obteve a seguinte resposta nos termos do Ofício nº

19/2016-CABRIN/PRESIDENCIA/FNDE/MEC, conforme se transcreve

integralmente:

“Assunto: Encaminha resposta à consulta sobre

contrato de gestão com Organização Social.

Senhora Secretária,

1. Cumprimentando-a cordialmente, e fazendo

referência à demanda expressa no ofício nº 1945, de 09

de novembro de 2015, da Secretaria de Estado de

Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás, que

consulta se “Os recursos do FNDE podem ser

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administrados por organização social que realize a

gestão administrativa das unidades escolares

estaduais?”, após ouvidas as áreas técnicas dos

programas PNAE – Programa Nacional de Alimentação

Escolar, PNATE – Programa Nacional de Transporte

Escolar e PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola,

bem como a Procuradoria Jurídica do FNDE,

informamos a impossibilidade de os recursos

transferidos a conta destes programas serem geridos

por organizações sociais que venham a realizar a

gestão administrativa das unidades escolares

estaduais.

2. Esta impossibilidade está amparada nos

normativos legais dos respectivos programas. O

PNAD regido pela Lei n. 11.945, de 2009, e pela

Resolução CD/FNDE n. 26/2013, estabelece quem são

os participantes do programa, dentre elas, a Entidade

Executora (Estado, Município, Distrito Federal e

escolas federais) como responsável pela execução

do programa, complementação dos recursos

financeiros transferidos pelo FNDE, prestação de

contas e pelas ações de educação alimentar e

nutricional, bem como a Unidade Executora UEx,

entidade responsável pelo recebimento dos recursos

financeiros transferidos pela Entidade Executora em

favor da escola que representa. Cabe somente à

Entidade Executora e às Unidades Executoras a

gestão dos recursos financeiros do programa.

3. Já o PNATE, instituído pela Lei n. 10.880/2004,

regulamentada pela Resolução CD/ FNDE n. 5, de 2015,

consiste na transferência de recursos aos Estados, aos

Municípios e ao Distrito Federal, cabendo a estes entes

executores toda a gestão financeira transferida do

programa, inviabilizando o contrato de gestão com

quaisquer outras entidades de cunho social que não

estejam previstas em seus atos normativos.

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4. No caso do PDDE, regido pela Lei n. 11.947, de

2009, regulamentada pela Resolução CD/FNDE n. 10,

de 2013, sua execução é definida anualmente e os

recursos financeiras são repassados diretamente para as

Unidades Executoras representativas das escolas das

redes de ensino estadual ou municipal, cabendo-lhes o

dever de exercer plenamente a autonomia da gestão dos

recursos do PDDE, com a participação sistemática das

comunidades escolar e local. A Lei faculta, ainda, a

transferência dos recursos para Estado, Distrito Federal e

Município mantenedor do estabelecimento que não

possua Unidade Executória própria.

5. Desse modo, conforme posicionamento

exarado pelas áreas técnicas e pela Procuradoria

Federal do FNDE, a legislação dos referidos

programas não permite a descentralização desses

recursos para organização social sem fins lucrativos.

(grifo nosso).

Conforme observado, a SECRETARIA EDUCAÇÃO,

CULTURA E ESPORTE DE GOIÁS-SEDUCE mesmo sabendo da

vedação expressa pelo MEC quanto a possibilidade de transferência

de recursos de fundo constitucional da educação para OS, continua

dando sequencia a um procedimento administrativo com vistas a

celebrar contrato de gestão que não terá eficácia em decorrência de

vicio insanável.

Nesse diapasão, pode-se extrair que se esta diante de

provável ato de improbidade administrativa, pois, as pretensões do

Gestor enveredam pelos trilhos da ilegalidade, iludindo, inclusive as

proponentes do certame por não trazer a luz o posicionamento do MEC.

A lei de Improbidade Administrativa nº 8.429, de 1992,

previu no art. 10, VIII e art. 11, I, II, IV, VIII, diversos atos de agentes

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públicos tidos como improbos, que podem ser amoldadas ao caso que se

apresenta, conforme se ve:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que

causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou

culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou

haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e

notadamente:

(...)

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de

processo seletivo para celebração de parcerias com

entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los

indevidamente.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que

atenta contra os princípios da administração pública

qualquer ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às

instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento

ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de

ofício;

(...)

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

(...)

VIII - descumprir as normas relativas à celebração,

fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas

pela administração pública com entidades privadas.”

No âmbito da Ação civil Pública em comento, o art. 22 da Lei

Federal n.° 11.494/2007, que regulamenta o FUNDEB, estipula que o

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pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação

com recursos do Fundo deve decorrer “do efetivo exercício em cargo,

emprego ou função, integrantes da estrutura, quadro ou tabela de

servidores do Estado", ou seja, que esteja “associada à sua regular

vinculação contratual, temporária ou estatutária, com O ente

governamental que o remunera".

Por conta desta norma, a princípio, os profissionais

vinculados à organização social que vier a celebrar o contrato de gestão

com o Estado de Goiás não poderão ser remunerados com recursos do

FUNDEB.

Desde já o Parquet salienta que os recursos do FUNDEB só

podem ser utilizados para remunerar os docentes e profissionais que

oferecem suporte pedagógico direto ao exercício da docência, aí

compreendida a direção ou administração escolar, planejamento, inspeção,

supervisão, orientação educacional e coordenação pedagógica.

3)Conforme matéria do Jornal de grande circulação no Estado de

Goiás, “O POPULAR” a Secretaria Estadual de Educação reconheceu

a fragilidade e pontos frágeis do Edital de Chamamento nº 01/2016

(ANEXO).

Destaca a notícia que o Superintendente Executivo de

Educação da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás – SEDUCE,

Sr. Marcos das Neves, que após a Recomendação expedida pelo Ministério

Público e também pela Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (ANEXA),

que : entende como um dos pontos frágeis é a confirmação de que

apenas 30 % dos professores da escola como professores efetivos.

E, MAIS, relata ainda que: “fizeram isso pensando

nas escolas do Entorno do do DF” que possuem o quadro de

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efetivos entre 10 a 15 % ( dez a quinze por cento). Mas Anápolis

esse índice é de 70% (setenta por cento).

Demonstra a notícia acima narrada o despreparo e

falta de planejamento da Secretaria Estadual de Educação para a

elaboração de um edital de chamamento. Eis que, visando a

realidade do entorno do DF, normatizaram regras para aplicação em

Anápolis?????? Ainda assim, restaria a regra inconstitucional, ainda que

para aplicação no Distrito Federal, violando o artigo 206 da CF/88.

Relata ainda o Superintendente que “após abertura dos

envelopes, restaram apenas cinco Organizações Sociais a serem

escolhidas. Caso a OS escolhida não cumpra todas as exigências do

edital, o contrato pode ser rompido. E que a duração prevista é de

três anos, mas o Estado pode trocar a administração caso ela não

esteja cumprindo metas..”

Cumpre salientar que embora reconhecendo as

inconstitucionalidades, deficiências e fragilidades, até o presente momento,

a SEDUCE encontra-se inerte em não suspender o malfadado edital, o que

demonstra o desperdício iminente de dinheiro público!!!

A comprovação do PERICULUM IN MORA, encontra-se

cabalmente demonstrado na fundada prova do dano irreparável ao erário,

na violação do princípio da publicidade/transparência e na violação do

princípio da eficiência, argumentos amplamente demonstrados.

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Em face ao exposto, presentes os requisitos legais, tendo sido

evidenciado a fumaça do bom direito e o perigo da demora, o Ministério

Público requer: o reexame da MEDIDA LIMINAR, para SUSPENDER O

EDITAL DE CHAMAMENTO PÚBLICO N° 01/2016. E, em caso de

descumprimento da medida, requer a fixação de multa diária de R$

10.000,00 (dez mil reais) imposta aos responsáveis diretos, ou seja, do

Procurador Geral do Estado e Secretária Estadual de Educação, a serem

pagas por cada um deles individualmente neste nesse valor.

Ratifica todos os demais pedidos formulados na peça

vestibular em epígrafe.

Requer a Juntada de recortes jornalísticos e publicações

oficiais do site da OAB/GO, julgados do TCU, a fim de instruir a presente

demanda.

Anápolis, 15 de março de 2016.

CARLA BRANT CORRÊA SEBBA RORIZ

PROMOTORA DE JUSTIÇA