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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA DE BELÉM/PA, A QUE COUBER POR DISTRIBUIÇÃO. PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO (art. 1º, VIII, do Provimento 12/2008 CMB/TJPA) “O promotor de justiça não deve continuar omisso diante da impunidade dos criminosos ricos, que prendem ou mandam prender os criminosos pobres, nem da dos que, à sombra do Poder, arrombam o erário e se apoderam de seu dinheiro. Deve sair de seu comodismo burocrático e ouvir a voz do inconformismo que parte da sociedade, que lhe cumpre defender, sem temer os agentes da violência oficial e da corrupção e a prepotência dos poderosos, que estão decompondo o organismo social e político da Nação.” (Francisco Vani Benfica) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, por meio do Promotor de Justiça que atua na 1º Promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa, DANIEL HENRIQUE QUEIROZ DE AZEVEDO, com estribo legal no art. 37, caput e inc. XXI, 127, caput, 129, inc. II e III, todos da CF, nas Leis federais 8.666/93, 7.347/85 e Lei 8.625/93, vem propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, COM MEDIDA LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS. Em desfavor de: 1- WALTER WANDERLEY DE PAULA PENA, brasileiro, nascido em 04/08/1965, portador do CPF nº 189.743.092-20, residente na Rodovia Augusto Montenegro, Condomínio Cidade Jardim, nº 5595, Rua Dalia, casa 48, bairro Castanheira, Belém - PA, CEP 66811-000 e Tel (91) 81353563; 2- AGOSTINHO QUEIROZ SOARES, brasileiro, nascido em 23/03/1962, portador do CPF nº 128.702.262-68, residente na Rodovia Mario Covas, Conjunto Residencial ADÉLIA HACHEM, nº 4901, BLOCO 4, APTO 304, Bairro Coqueiro, BELEM PA, CEP 66670-902, tel (91) 41027548; 3- PATRICIA REGINA LEOTTY DA CUNHA (Pregoeira e Presidente da Comissão de Licitação), servidora pública estadual comissionada, portadora do RG nº. 2745097, inscrita no CPF sob o nº. 595.593.812-53,

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE …3... · Moralidade Administrativa, por meio do inquérito civil 002132-116/2013, porque não se verificou, de pronto, que ambos

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA DE BELÉM/PA, A QUE

COUBER POR DISTRIBUIÇÃO.

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO

(art. 1º, VIII, do Provimento 12/2008 –

CMB/TJPA)

“O promotor de justiça não deve continuar omisso diante da impunidade dos

criminosos ricos, que prendem ou mandam prender os criminosos pobres, nem

da dos que, à sombra do Poder, arrombam o erário e se apoderam de seu

dinheiro. Deve sair de seu comodismo burocrático e ouvir a voz do

inconformismo que parte da sociedade, que lhe cumpre defender, sem temer

os agentes da violência oficial e da corrupção e a prepotência dos poderosos,

que estão decompondo o organismo social e político da Nação.” (Francisco

Vani Benfica)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, por meio do Promotor de

Justiça que atua na 1º Promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e da

Moralidade Administrativa, DANIEL HENRIQUE QUEIROZ DE AZEVEDO, com estribo legal

no art. 37, caput e inc. XXI, 127, caput, 129, inc. II e III, todos da CF, nas Leis federais

8.666/93, 7.347/85 e Lei 8.625/93, vem propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,

COM MEDIDA LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS.

Em desfavor de:

1- WALTER WANDERLEY DE PAULA PENA, brasileiro, nascido em 04/08/1965,

portador do CPF nº 189.743.092-20, residente na Rodovia Augusto

Montenegro, Condomínio Cidade Jardim, nº 5595, Rua Dalia, casa 48,

bairro Castanheira, Belém - PA, CEP 66811-000 e Tel (91) 81353563;

2- AGOSTINHO QUEIROZ SOARES, brasileiro, nascido em 23/03/1962,

portador do CPF nº 128.702.262-68, residente na Rodovia Mario Covas,

Conjunto Residencial ADÉLIA HACHEM, nº 4901, BLOCO 4, APTO 304,

Bairro Coqueiro, BELEM – PA, CEP 66670-902, tel (91) 41027548;

3- PATRICIA REGINA LEOTTY DA CUNHA (Pregoeira e Presidente da

Comissão de Licitação), servidora pública estadual comissionada,

portadora do RG nº. 2745097, inscrita no CPF sob o nº. 595.593.812-53,

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residente no Conjunto Maguary, Alameda 11, casa 10, Coqueiro,

Belém/PA, CEP 66823-073;

4- ANTONIO VILLAR PANTOJA JUNIOR, brasileiro, procurador autárquico,

inscrito na OAB/PA sob o nº. 1.049, com endereço na Rua dos

Tupinambás 131, nº. 4582, Batista Campos, CEP 66.025-610, Belém/PA e

endereço funcional no DETRAN/PA, sito à Rodovia Augusto

Montenegro, Km 03, s/n, Mangueirão, CEP 66.640-000, Belém/PA;

5- SERVI-SAN VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA., inscrita no

CNPJ sob o nº. 12.066.015/0006-46 (FILIAL), com endereço na Travessa

Angustura, nº 1921, Bairro Pedreira, Belém-Pa, CEP 66087-710,

representada pelo gerente geral e procurador JOSÉ CLOVES

RODRIGUES, portador do CPF nº 302.378.903-72 e RG nº 472.871-82,

residente na Avenida Augusto Montenegro, nº 5000, Bairro Parque

Verde, Belém Pará. Porém, tal empresa é parte integrante da MATRIZ

com mesmo nome e CNPJ: 12.066.015/0001-31, localizada na Av.

Miguel Rosa, nº 3680, bairro Centro, Teresina-Pi, CEP: 64.001-490, cujo

sócio administrador é FRANCISCO DE ASSIS VERAS FORTES, brasileiro,

portador do RG nº 38.163-PI e CPF nº 001.546.523-34, residente na

AVENIDA LINDOLFO MONTEIRO, nº 1752, bairro Fátima, TERESINA – PI,

CEP 64049440;

pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir:

I – SÍNTESE DOS ACONTECIMENTOS.

A Coordenação das Promotorias de Defesa do Patrimônio Público e da

Moralidade Administrativa apontou possíveis irregularidades nas dispensas de licitação

nº 2/2013 e nº 15/2013, fundamentadas no art. 24, IV, da Lei Federal 8.666/93, no valor

de R$ 7.116.178,80 (sete milhões, cento e dezesseis mil, cento e setenta e oito reais e

oitenta centavos) e R$ 7.129.585,44 (sete milhões, cento e vinte e nove mil, quinhentos

e oitenta e cinco reais e quarenta e quatro centavos), respectivamente, ambas para

Prestação de Serviços de Guarda e Vigilância Armada dos Prédios e Áreas de

Propriedade do Estado do Pará, sob utilização do DETRAN/PA.

Na época da dispensa de licitação nº 2/2013, o cargo de Diretor Geral

do DETRAN/Pa era ocupado por Walter Wanderley de Paula Pena, que foi nomeado

em 01 de junho de 2012 e exonerado em 11 de junho de 2013, conforme publicações

no Diário Oficial do Estado do Pará (fls. 5763/5764), de modo que ele foi o agente

público diretamente responsável, neste caso. Por sua vez, no período em que ocorreu

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a dispensa nº 15/2013, o cargo de Diretor Geral do DETRAN/Pa já era exercido por

Agostinho Queiroz Soares, o qual assumiu tal função em 11 de julho de 2013 e ali

permaneceu até 04 de junho de 2014, quando foi exonerado, conforme Diários oficiais

colacionados as fls. 5764/5765, deste procedimento apuratório.

Apurou-se que as referidas dispensas de licitação foram realizadas para

dar continuidade à prestação do serviço, anteriormente desenvolvido pela Empresa

Pará Segurança LTDA, a qual havia celebrado o contrato administrativo nº 13/2008 (fl.

4740/4749 do IC nº 000177-116/2013, em anexo) com o Departamento de Trânsito do

Estado do Pará – DETRAN/PA, decorrente da concorrência nº 02/2007, iniciado em

06/03/2008, com vigência de 12 meses e possibilidade de prorrogação em até 60

meses, com fulcro no art. 57, II, da Lei 8.666/93.

Vale observar que, inicialmente, apenas a apuração da dispensa nº

2/2013, datada de 05/03/2013 – que resultou no contrato emergencial nº 17/2013 –

coube ao 1ª Promotor do Patrimônio e Moralidade Administrativa, o qual instaurou o

inquérito civil nº 000177-116/2013, para esta finalidade. Por sua vez, a dispensa n°

15/2013, datada de 03/09/2013, da qual decorreu o contrato emergencial nº 64/2013,

começou a ser apurada pelo promotor vinculado à 4ª Promotoria do Patrimônio e

Moralidade Administrativa, por meio do inquérito civil 002132-116/2013, porque não se

verificou, de pronto, que ambos tratavam do mesmo objeto e que a segunda

dispensa era continuidade da primeira, ocorrida seis meses após.

De fato, ao ser verificada a correlação entre as duas referidas dispensas,

a 4ª Promotoria do Patrimônio e Moralidade Administrativa encaminhou o inquérito

civil de nº 002132-116/2013, para ser apensado ao procedimento de I.C. nº 000177-

151/2013, o qual já tramitava na 1ª Promotoria do Patrimônio e Moralidade

Administrativa, conforme despacho de fl. 221, devidamente cumprido, de acordo

com a certidão de fl. 4415 dos autos que instruem essa exordial.

Neste contexto, foi determinada a reunião dos referidos procedimentos,

que já estavam instruídos com diversos documentos, de modo que o 1ª Promotor do

Patrimônio e Moralidade Administrativa – o qual passou a atuar com exclusividade no

caso – resolveu encaminhar os autos para a análise da assessoria técnica do Ministério

Público, especializada em licitações (despacho de fl. 5731), cujo objetivo era

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identificar se houve condutas de agentes públicos do DETRAN, que tivessem dado

causa à possíveis contratações emergenciais ilegais.

Na análise detalhada, minuciosa e brilhante, feita pela Assessoria

Técnica Especializada do Ministério Público, por meio da Nota Técnica nº 03-

2018/PJDC/DPP/MA – ASS ESP (fls. 5733/5761), restou constatado que nenhuma das

referidas contratações emergenciais foram “fruto” de dispensas justificadas e

legalmente fundamentadas, pois decorreram de “urgências fabricadas”, por atos dos

administradores do DETRAN/PA, à época, com auxílio de servidores da procuradoria

jurídica e da comissão de licitação, daquele órgão público.

Ademais, foram aprofundadas as investigações sobre a forma como o

DETRAN/PA deu continuidade à contratação dos serviços de guarda e vigilância

armada, após o término da vigência dos contratos decorrentes das dispensas de

licitação nº 2/2013 e nº 15/2013, momento em que se constatou, absurdamente, que

entre os períodos de 11/03/2014 a 21/09/2014 a Empresa SERVI-SAN prestou tal serviço

e recebeu valores do erário estadual, sem a formalização de qualquer contrato

administrativo, ou seja, sem que existisse algum instrumento jurídico que disciplinasse a

situação e, inclusive, com burla a obrigatoriedade de prévio procedimento licitatório.

Os vultuosos valores pagos pelo DETRAN e recebidos pela Empresa SERVI-

SAN VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA, sem qualquer contrato formal, foram

apurados a partir de pesquisas no sistema SIAFEM do Estado – conforme documentos

colacionados as fls. 5768/5776 do procedimento em anexo – e demonstraram um

prejuízo de R$ 6.565.046,48 ao erário, de acordo com o detalhamento a seguir:

SIAFEM2014-EXEFIN,CONSULTAS,LISOB ( LISTA ORDEM BANCARIA ) ________________

CONSULTA EM 22/03/2018 AS 15:25 USUARIO: LAIDE RAIOL

FAVORECIDO : 12066015000646 - SERVI-SAN VIG. E TRANSPORTE DE VALORES LTDA.

OP DATA UG GESTAO DOCUMENTO V A L O R BCO CONTA SIT

3 16/abr 660201 66000 2014OB02067 687.604,58 37 UNICA EV

4 09/mai 660201 66000 2014OB02729 1.031.130,22 37 UNICA EV

5 03/jun 660201 66000 2014OB03497 1.031.130,22 37 UNICA EV

6 04/jul 660201 66000 2014OB04149 1.031.130,22 37 UNICA EV

7 11/ago 660201 66000 2014OB05424 1.031.130,22 37 UNICA EV

8 17/set 660201 66000 2014OB06971 1.031.130,22 37 UNICA EV

9 10/nov 660201 66000 2014OB08839 721.790,80 37 UNICA EV

TOTAL ........... 6.565.046,48

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OBSERVAÇÕES:

1 - Pagamentos efetuados pelo Departamento de Trânsito do Estado do Pará - DETRAN-,

[UNIDADES GESTORA - UG: 660201], à Empresa SERVI-SAN VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA.

2 - Período de 15ABRIL A 31DEZEMBRO/2014.

3 - FONTES DE RECURSOS: Recursos Próprios Diretamente Arrecadados pela Administração Indireta

CÓDIGO EXERCÍCIO ANTERIOR: 0661 (*); CÓDIGO NO EXERCÍCIO: 0261

Nota: (*) Fonte utilizada quando incorporada o valor do superávit no Orçamento em vigor Fontes de Informações: SIAFEM (Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios)

Releva notar, que tal descoberta é impensável e quase inacreditável,

considerando a importância e visibilidade do órgão público onde as ilegalidades

ocorreram, ao que se soma o fato de que isso foi praticado após mais de 20 anos da

criação e difusão da Lei 8.666/93, bem como da norma constitucional que exige que

qualquer contratação pública seja precedida de procedimento licitatório, como

regra, ou, no mínimo, dispensas e inexigibilidades devidamente fundamentadas,

porém, jamais, por meio de contratos verbais ou sem qualquer formalidade, pois isso

não se coaduna com uma forma aceitável e transparente de gastar o dinheiro

público, correspondendo a fonte de claras imoralidades e corrupção.

Em meio a todas essas gravíssimas ilegalidades, ao norte narradas, foi

designada a Sra. Glaura Iolanda Brito Pires, para assumir a função de Diretora Geral

do DETRAN/Pa, em 04 de julho de 2014 (D.O.E, de fls. 5765), a qual, certamente, tomou

conhecimento da situação e já no dia 11 de setembro de 2014, exarou a Portaria nº

2770, (conf. fls. 5758 dos autos), a seguir transcrita, in verbis:

“PORTARIA N° 2.770/2014 Número de Publicação: 742498

CONSIDERANDO que o atual cenário evidencia a necessidade de uma solução imediata e legal,

caracterizado pelo iminente risco à segurança das pessoas, equipamentos e outros bens públicos

particulares, situação perfeitamente configurada na imprescindibilidade imediata da contratação

dos serviços contínuos de vigilância armada,

CONSIDERANDO que a descontinuidade dos serviços prestados vai gerar os graves e sérios prejuízos

ao patrimônio e servidores desta Entidade,

CONSIDERANDO que o valor da coleta de preços anexada evidencia a realidade atual de

mercado,

CONSIDERANDO ainda, o dever de apurar a responsabilidade a quem deu causa a ilegalidade

praticada.

RESOLVE

Art. 1° Determinar a imediata contratação por emergência da empresa C&S VIGILÂNCIA

PATRIMONIAL LTDA., por ter oferecido a melhor vantagem de preço à Administração

Pública, pelo prazo máximo e improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias, nos termos do

art. 24, IV da Lei n° 8.666/93, com necessária inclusão de cláusula resolutiva, em

conformidade com o princípio da economicidade, resguardando o interesse público e as

finanças públicas.

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Art. 2° Determinar a imediata elaboração de termo de referência com as especificações

técnicas necessárias para atender as demandas do DETRAN/Pa, no prazo máximo de 45

(quarenta e cinco) dias, para o competente processo licitatório, o qual deverá ser

autorizado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, após

exposição à mesma da gravidade da situação.

Art. 3° Fica determinada a criação de comissão de sindicância, cujos nomes serão

definidos em ato próprio, tendo como objetivo apurar as responsabilidades a quem deu

causa a ilegalidade dos procedimentos de contratação por indenização. Art. 4° Esta

portaria entra em vigor na data de sua publicação. Registre-se, publica-se e cumpra-se.

Belém, 10 de setembro de 2014.

GLAURA IOLANDA BRITO PIRES Diretora Geral DOE 32.678”

Destarte, essa conduta da Sra. Glaura Iolanda Brito Pires, de exarar a

referida Portaria nº 2770, demonstrou sua aparente boa-fé, pois mesmo celebrando um

novo contrato emergencial, sob o nº 61/2014 – possivelmente para obstar a

mencionada prestação de serviço pela SERVI-SAN, sem contrato formal – já no dia 17

de dezembro de 2014, ela ASSISNOU um outro instrumento contratual, agora

decorrente de licitação pública devidamente finalizada (concorrência 05/2014),

conforme D.O.E, colacionado a fl. 5761 dos presentes autos.

Na administração da Sra. Glaura Iolanda Brito Pires, portanto, o contrato

emergencial nº 61/2014, foi substituído apenas três meses após sua celebração, o que

demonstrou que era possível ser iniciada e concluída licitação para contratação de

serviço prestação de serviços de guarda e vigilância armada, desenvolvido

ilegalmente pela SERVI-SAN, no prazo total de menos de QUATRO MESES,

corroborando a negligência e má-fé com que agiram os antecedentes Diretores do

DETRAN, Walter Wanderley de Paula Pena e Agostinho Queiroz Soares, responsáveis

diretos pelas improbidades aqui já delineadas.

Em resumo, no final das presentes apurações sobre as contratações

posteriores ao contrato administrativo nº 13/2008, para Prestação de Serviços de

Guarda e Vigilância Armada dos Prédios e Áreas de Propriedade do Estado do Pará

sob utilização do DETRAN/PA, restou constatado, em síntese*, o seguinte:

CONTRATAÇÃO Empresa Contratada Período 1º Contratação emergencial: Contrato emergencial nº 17/2013, SEM justificativa para dispensa.

SERVI-SAN

06/03/2013 a 02/09/2013

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2º Contratação emergência Contrato emergencial nº 64/2013, SEM justificativa para dispensa

SERVI-SAN

11/09/2013 a 10/03/2014

3º “Contratação” emergencial SEM formalização de contrato

SERVI-SAN

11/03/2014 a 21/09/2014

4º Contratação emergencial Contrato emergencial nº 61/2014, com justificativa para dispensa

C&S Vigilância

30/09/2014 a 29/03/2015

5ª Contratação: COM prévio procedimento licitatório

C&S Vigilância

17/12/2014

*Percebe-se que entre a primeira e a segunda contratação emergencial houve uma lacuna 8 dias para a formalização de um novo contrato e entre a terceira e quarta mais uma lacuna de 9 dias.

Posto isto, cabem serem feitas análises individualizadas e cronológica dos

acontecimentos que comprovam as improbidades aqui apuradas. Senão vejamos:

II - DO DETALHAMENTO DAS APURAÇÕES

II.1 – DA ANÁLISE SOBRE A DISPENSA DE Nº 02/2013. Aflora, prima facie, que nas folhas 4941, do I. C. nº 000177-116/2013,

consta o memorando nº 151/2012, datado de 27/08/2012, no qual o fiscal do contrato

administrativo nº 13/2008 – relativo a Prestação de Serviços de Guarda e Vigilância

Armada – informou ao Núcleo de Segurança Orgânica do DETRAN, que faltavam

apenas seis meses para o término de vigência de tal ajuste, o que fez com que fosse

dado início ao obrigatório processo licitatório, de nº 2012/411257, para subsidiar uma

nova contratação, a qual precisaria ser concluída, impreterivelmente, até o dia

05/03/2013.

Os primeiros atos do procedimento licitatório nº 2012/411257 seguiram seu

trâmite natural, até que no dia 06/12/2012, o feito foi encaminhado à Procuradoria

Jurídica, para análise da minuta do edital. Daí, no dia 18/12/2012 (fl. 5107, do I. C. nº

000177-116/2013) a advogada do do Departamento Jurídico do DETRAN exarou

parecer afirmando que sua análise sobre o edital do certame estava prejudicada, pois

a modalidade adotada pela CPL estava equivocada, considerando que a

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contratação de “serviços comuns” deve ser realizada por “pregão eletrônico”, e não

por meio de “concorrência”, tal como estava sendo feito.

O processo foi devolvido no dia 20/12/2012 para CPL, presidida por

Patrícia Leotty, que, por sua vez, tornou a enviar para o Departamento Jurídico, no dia

14/01/2013, (fl. 5126, do I. C. nº 000177-116/2013), anexando um parecer do ano de

2007, que apontava a modalidade Concorrência para o serviço em questão.

Absurdamente, contudo, esse processo nº 2012/411257 só voltou para a CPL em

21/06/2013, aproximadamente cinco meses depois, indicando novamente que a

modalidade licitatória a ser seguida, deveria ser o “pregão”, o que foi feito por meio

de um despacho de apenas duas linhas, sem qualquer fundamentação, conforme

consta na fl. 5126, do I. C. nº 000177-116/2013, que instrui essa exordial.

Esse retardo injustificado de dar tramitação adequada ao processo nº

2012/411257, praticado pelo procurador chefe do DETRAN, de nome Antônio Villar P.

Júnior – que propositadamente passou a atuar diretamente no feito – por si só, já

provocou a perda do prazo para realização de novo contrato administrativo pelo

DETRAN, o qual findava em 05/03/2013, conforme já dito.

Tramitação Inicial do Processo 2012/411257, resumida:

Setor Data de Recebimento

Data de Tramitação

Tempo aproximado de Permanência no setor1

Diretoria Geral/ Chefia de Gabinete

27/09/2012 05/09/2012 7 dias (fl. 4942)

Diretoria Administrativa Financeira

05/09/2012 10/10/2012 35 dias (fl. 4944)

Núcleo de Segurança Orgânica

10/10/2012 11/10/2012 1 dia (fl. 4951)

Diretoria Administrativa Financeira

11/10/2012 15/10/2012 4 dias (fl. 4951)

Gerência de Compras 15/10/2012 30/10/2012 15 dias (fl. 4951 verso) Diretoria Administrativa Financeira

30/10/2012 01/11/2012 2 dias (fls. 4951 verso e 4969)

GCOF 01/11/2012 01/11/2012 0 dia (fl. 4969) GCC 01/11/2012 05/11/2012 4 dias (fl. 4969) Comissão Permanente de Licitação

05/11/2012 05/11/2012 0 dia (fl. 4970)

Gerência Orçamentária 05/11/2012 07/11/2012 2 dias (fl. 4970)

1 As folhas indicadas são referentes ao procedimento apensado nº 002132-116/2013

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Comissão Permanente de Licitação

07/11/2012 06/12/2012 29 dias (fl. 5106)

Procuradoria Jurídica 06/12/2012 20/12/2012 14 dias (fls. 5107/5108) Comissão Permanente de Licitação

20/12/2012 14/01/2013 24 dias (fl. 5126)

Procuradoria Jurídica 14/01/2013 21/06/2013 156 dias (fl. 5126)

Na análise da documentação encaminhada ao Ministério Público,

constatou-se, inclusive, que o Gerente de um setor cuja sigla é “GCC” chegou a

solicitar, no dia 29/01/2013, através do memorando 027/2013 – GCC (fl. 4735), a

prorrogação do contrato administrativo nº 13/2008, por mais 180 dias, com base no art.

57, §4º, da Lei 8.666/93 – que trata de uma excepcionalidade ao prazo máximo de 60

meses, previsto no art. 57, II, da Lei 8.666/93 – no entanto, a empresa Pará Segurança

LTDA não aceitou (fl. 4886)), o que afastou a última possibilidade dos agentes públicos

responsáveis camuflarem a sua inércia e negligências.

Desta feita, essa injustificada perda do prazo para conclusão do

procedimento licitatório devido, fez com que fosse realizada a DISPENSA DE Nº

02/2013, baseada, portanto em “urgência fabricada”, a qual resultou no contrato

emergencial nº 17/2013, firmado com a empresa SERVI-SAN, cuja vigência seria de

06/03/2013 a 02/09/2013.

II.2 – DA ANÁLISE SOBRE A DISPENSA DE Nº 15/2013. A realização do contrato emergencial nº 17/2013, ao norte referido,

deveria ter tornado a conclusão do processo licitatório nº 2012/411257 uma questão

de óbvia prioridade, para que fossem evitadas novas contratações sem licitação, por

parte do DETRAN/PA.

Ocorre que na análise da documentação que instrui esse feito, verificou-

se que essa não foi a postura adotada pelos agentes públicos responsáveis, os quais,

absurdamente, foram ainda mais lentos nas práticas dos atos que lhes cabiam, bem

como adotaram medidas que transpareceram clara intenção de obstar a finalização

oportuna do certame.

De fato, mesmo o procedimento licitatório nº 2012/411257 tendo

retornado às mãos da Comissão de Licitação, no dia 21/06/3013, após uma

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10

paralização de 156 dias no setor jurídico, conforme já dito, isso não fez com que fosse

atribuída qualquer prioridade em sua tramitação, considerando que somente na data

de 29/07/2013, sofreu nova movimentação.

Portanto, apenas no dia 29/07/2013, a presidente da CPL, Patrícia Leotty,

remeteu o edital do certame para análise jurídica, que novamente devolveu o feito

com lentidão, juntando o seu parecer no dia 19/08/2013, o que, finalmente, permitiu

com que o edital de pregão eletrônico, sob o nº 21/2013, fosse publicado dia

21/08/2013, ou seja, quase ao final do prazo máximo para a renovação da necessária

contratação.

Ocorre que mesmo sendo uma das principais causadoras da lenta

tramitação do pregão eletrônico nº 21/2013 (procedimento licitatório nº 2012/411257),

a representante da CPL, Patrícia Leotty (pregoeira), exarou despacho, colacionado à

fl. 4425 do I. C. nº 000177-116/2013, no qual atestou que até o término do contrato

emergencial nº 17/2013 – mais uma vez – não concluiria o certame licitatório, de modo

que solicitou autorização ao Diretor Geral Agostinho Queiroz Soares para cotar preços

com intuito de firmar um novo contrato emergencial, com dispensa de licitação!!!!.

Enquanto isso, o pregão nº 21/2013, que teve seu edital publicado e

deveria ocorrer em dia 04/09/2013, acabou por receber pedidos de esclarecimentos e

impugnações, os quais resultaram em sua suspensão pela pregoeira Patrícia Leotty (fl.

5438, do I. C. nº 000177-116/2013), a qual, no dia 17/09/2013, que encaminhou –

novamente – os autos para outra manifestação da Procuradoria Jurídica sobre tema

já exaustivamente tratado, em duas oportunidades anteriores do certame, qual seja, a

modalidade licitatória adequada.

Ora, tão somente em decorrência do fato da impugnação interposta

pelo Sindicato das Empresas de Vigilância, Transporte de Valores, Curso de Formação

e Segurança Privada do Estado do Pará - SINDESP/PA, ter alegado que a modalidade

compatível para a contratação era a concorrência, isso foi a justificativa usada pela

referida pregoeira para mais um atraso na tramitação do certame, pois ela reenviou

os autos para análise do setor jurídico, o qual, reitere-se, por duas vezes anteriores, já

tinha sedimentado o lógico entendimento de que deveria ser adotado o Pregão

Eletrônico, como adequado ao caso.

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11

Desta feita, como se já não bastasse essa incompreensível atitude da

pregoeira Patrícia Leotty, o Procurador Chefe do Departamento Jurídico Antônio Villar

P. Júnior avocou o procedimento para si, e emitiu um parecer sem data (fls. 5571 a

5575, do I. C. nº 000177-116/2013), manifestando-se – em dissonância com tudo aquilo

que defendeu anteriormente – pois, agora, concluiu pela necessidade de revogação

do Pregão Eletrônico nº 21/2013, SOB O FUNDAMENTO DA NECESSIDADE DE

SANEAMENTO DE QUESTÕES TÉCNICAS E POR RAZÕES DE CONVENIÊNCIA E

OPORTUNIDADE, sem maiores esclarecimentos, o que foi seguido pelo Diretor Geraldo

DETRAN, no dia 06/12/2013 (fl. 5577, do I. C. nº 000177-116/2013).

Tramitação Final do Processo 2012/411257 (pregão nº 21/2013) resumida Setor Data de

Recebimento Data de Tramitação

Tempo aproximado de Permanência no setor2

Comissão Permanente de Licitação

21/06/2013 29/07/2013 38 dias (fl. 5310)

Diretoria Geral 29/07/2013 14/08/2013 16 dias (fl. 5312) Comissão Permanente de Licitação

14/08/2013 14/08/2013 0 dia (fl. 5310)

Procuradoria Jurídica 14/08/2013 19/08/2013 5 dias (fl. 5323) Publicado aviso do Pregão Eletrônico 21/2013

21/08/2013 -------------------

Suspensão do Pregão Eletrônico 21/2013

27/08/2013 -------------------

Revogação do Processo Licitatório

06/12/2013 -------------------

Por fim, ante o cancelamento injustificado e inoportuno do certame

licitatório, ao norte mencionado, foi realizado novo procedimento de dispensa de

licitação, sob o nº 15/2013, pelo DETRAN, que resultou em outro contrato emergencial,

agora de nº 64/2013, novamente com a empresa SERVI-SAN VIGILÂNCIA E

TRANSPORTE DE VALORES LTDA, cuja vigência se iniciou no dia 11/09/2013 e deveria

perdurar até 10/03/2014.

2 As folhas indicadas são referentes ao procedimento apensado nº 002132-116/2013

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12

II.3 – DA CONTINUIDADE DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO AO DETRAN, COM O

RECEBIMENTO DE VALORES EM CONTRAPARTIDA, SEM A EXISTÊNCIA DE QUALQUER

CONTRATO FORMAL OU LICITAÇÃO PRÉVIA.

O objeto de investigação do Ministério Público nos inquéritos civis que

subsidiaram essa exordial, incialmente, cingiu-se as contratações decorrentes das duas

dispensas de licitação, nº 2/2013 e nº 15/2013, fundamentadas no art. 24, IV, da Lei

Federal 8.666/93, ao norte já detalhadas.

Ocorre que, ao serem aprofundadas as investigações restou

comprovada a maior de todas as ilegalidades, que apenas corrobora a má-fé com a

qual os agentes públicos responsáveis vinham agindo no caso. De fato, ficou provado

que a prestação de serviço de vigilância armada, oferecido pela empresa SERVI-SAN

VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA, continuou mesmo após o encerramento

do contrato nº 64/2013, decorrente da dispensa nº 15/2013.

Em outras palavras, mesmo depois de finalizado o referido contrato

emergencial, no dia 10/03/2014, a mencionada empresa continuou a desempenhar

seus serviços ao DETRAN/PA, pelo período de 11/03/2014 a 21/09/2014 (MAIS DE SEIS

MESES), sem formalização de qualquer novo contrato administrativo ou procedimento

licitatório prévio ou mesmo sem novas dispensas licitatórias, conforme comprovam os

documentos denominados “declaração de prestação de serviço” (fl. 4184 e 4391),

emitidos pelo senhor Afonso Palma da Paixão e Silva, bem como os despachos

exarados pelo Controle Interno do DETRAN/PA (fls, 4186/4189 e 4393/4397), todos

insertos nas cópias dos processos de pagamento, encaminhadas pelo próprio DETRAN

ao Ministério Público.

Ora tal absurda situação contraria, em especial, os arts. 603 e 624 da Lei

8.666/93, bem como inúmeras manifestações do TCU, que são no sentido de que “não

3 Art. 60. Os contratos e seus aditamentos serão lavrados nas repartições interessadas, as quais

manterão arquivo cronológico dos seus autógrafos e registro sistemático do seu extrato, salvo

os relativos a direitos reais sobre imóveis, que se formalizam por instrumento lavrado em cartório

de notas, de tudo juntando-se cópia no processo que lhe deu origem.

Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de

pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor não superior a

5% (cinco por cento) do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei, feitas em

regime de adiantamento. 4 Art. 62. O instrumento de contrato é obrigatório nos casos de concorrência e de tomada de

preços, bem como nas dispensas e inexigibilidades cujos preços estejam compreendidos nos

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

13

se aceita prorrogação tácita na administração pública uma vez que isso implica em

contrato verbal, que pela legislação que rege os contratos administrativo é nulo”5.

Reitere-se que os documentos denominados “declaração de prestação

de serviço”, bem como os despachos exarados pelo Controle Interno do DETRAN,

fazem parte dos processos de PAGAMENTO para empresa SERVI-SAN VIGILÂNCIA E

TRANSPORTE DE VALORES LTDA e foram encaminhados ao Ministério Público através do

ofício 1115/2017-PROJUR/DETRAN/PA, ou seja, além de prestar serviços sem contrato

ou licitação prévia, a referida empresa ainda recebeu vultuosas quantias do erário por

isso, porém, sem que fosse possível adequada fiscalização pelos órgãos de controle,

por não existir instrumento que delimitasse as exatas obrigações e prazos que

deveriam ser cumpridos, em contrapartida aos pagamentos efetuados.

Sobre o tema, merecem transcrição as palavras da melhor doutrina:

“Na seara administrativa, os contratos, por regra, devem ser escritos, em

obséquio ao princípio da indisponibilidade do interesse público, em vista

do qual os agentes administrativos, por não disporem da coisa pública,

não podem proceder em relação a ela tal qual procedem em relação

aos seus assuntos particulares. Por isso, em tributo ao aludido princípio,

impõe-se aos agentes administrativos uma série de formalidades para o

gerenciamento da coisa pública, a fim de evitar distorções e

deturpações, a fim de protegê-la.6

Posto isto, não restam dúvidas de que a manutenção de prestadora de

serviço, sem qualquer contrato administrativo firmado, corresponde a ilegalidade de

extrema gravidade, que deve ser atribuída ao Diretor Geral do DETRAN, Agostinho

Queiroz Soares, o qual autorizou os pagamentos e se quedou inerte, diante de tal

absurda situação.

II.4 – DA ANÁLISE SOBRE A DISPENSA DE Nº 11/2014.

Depois de todas as absurdas situações aqui já delineadas, uma nova

Diretora Geral do DETRAN/PA, Sra. Glaura Iolanda Brito Pires, foi empossada e logo

limites destas duas modalidades de licitação, e facultativo nos demais em que a Administração

puder substituí-lo por outros instrumentos hábeis, tais como carta-contrato, nota de empenho

de despesa, autorização de compra ou ordem de execução de serviço. 5 TCU - Decisão nº 344/1995 - Plenário 6 NIEBUHR. Joel de Menezes. Licitação pública e contrato administrativo. Belo Horizonte: 4ª ed.

Fórum, 2015 p.833.

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14

teve que realizar mais uma dispensa de licitação, sob o nº 11/2014, baseada, também,

no art. 24, IV, da Lei Federal 8.666/93, que resultou no contrato emergencial nº 61/2014,

agora com a Empresa C&S Vigilância, assinado em 30/09/2014, conforme publicação

no D.O. E, acostada a fl. 5759, do Inquérito civil que instrui essa exordial.

Tal dispensa de licitação ocorreu menos de 03 meses depois que a Sra.

Glaura Iolanda Brito Pires Pires assumiu o cargo de Diretora Geral do DETRAN/Pa,

quando já havia sido estabelecida pelo seu antecessor a absurda situação da

empresa SERVI-SAN estar recebendo dinheiro público para realizar serviços de guarda

e vigilância armada dos prédios e áreas do DETRAN/PA, sem qualquer procedimento

licitatório prévio ou, pior, sem contrato administrativo firmado. Assim, é certo que essa

prestação de serviço essencial, sem contrato formal, se tratava de uma situação que

precisava de solução jurídica imediata, ainda que precária, o que justificou, portanto,

a realização de nova dispensa e contrato emergencial, tal como foi acima descrito.

Vale observar que a Sra. Glaura Iolanda Brito Pires não se utilizou dessa

forma de contratação excepcional para prosseguir nas ilegalidades iniciadas pelos

seus antecessores, pois, ao invés disso, adotou medidas para sanear, em definitivo, a

situação, exarando a Portaria 277/2014, publicada no D. O. E. em 11/09/2014 (fl. 5758),

na qual ela determinou a criação de comissão de sindicância para apurar as

responsabilidades de quem de direito, bem como ordenou o início do trâmite de um

novo e urgente procedimento licitatório, sem prejuízo da imediata substituição da

Empresa prestadora de serviço SERVI-SAN, que vinha obtendo benefícios a mais de UM

ANO E MEIO, com base nas contratações ilícitas aqui delineadas.

Por fim, em 23/12/2014, foi publicado no D. O. E. (fl. 5761), o extrato do

contrato nº 104/2014, decorrente da Concorrência nº 05/2014, em que foram

contratados serviços de guarda e vigilância armada pelo DETRAN/PA, sendo a

vencedora do certame a empresa C&S Vigilância e Segurança Patrimonial LTDA, o

que pôs fim à sequência de graves ilegalidades aqui descritas, não obstante a

modalidade ideal para o caso fosse a realização de pregão eletrônico, tal como

determina o Decreto Estadual nº 0199/20037.

7 Art. 2º Os contratos celebrados pelo Estado, para a aquisição de bens e serviços comuns,

serão precedidos, prioritariamente, de licitação na modalidade de pregão, que se destina a

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

15

III – DO DIREITO

III.1) DA ILEGALIDADE DAS DISPENSAS DE LICITAÇÃO AQUI APURADAS: “EMERGÊNCIAS

FABRICADAS”.

A licitação tem um perfil constitucional e, como instituto jurídico, os seus

traços e contornos estão fixados na Lei Maior. Desse modo, o traço mais importante da

licitação, à luz da Constituição, é o de representar um DEVER, conforme disposto no

inc. XXI, do art. 37, da Carta Magna.

Como forma de regular, especificamente, o instituto da licitação, adveio

a Lei 8.666/93, a qual estabeleceu que a Administração Pública, inclusive na esfera

estadual, deve observar o regime licitatório para a contratação de serviços.

Ressalte-se, contudo, que a teor do artigo 2º da Lei 8.666/93, é possível

que, somente nos casos excepcionais, por ela especificados, poderia o poder público

efetuar contratações diretamente, sem que realizasse o procedimento licitatório, por

meio de dispensas e inexigibilidades.

Dentre as causas de dispensa do procedimento licitatório, vale ser posta

em relevo, aquela que se fundamenta em situações de emergência, descrita no inc.

IV, do art. 24 da Lei 8.666/93, a seguir transcrito:

“Art. 24. É dispensável a licitação:

[…]

IV – nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando

caracterizada urgência de atendimento de situação que possa

ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança das pessoas, obras,

serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente

para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou

calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser

concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e

ininterruptos, contados da ocorrência da emergência ou calamidade,

vedada a prorrogação dos respectivos contratos” (grifei).

A lei estabeleceu, dessa forma, que para o Administrador dispensar a

licitação, com fundamento no inciso IV do Artigo 24, da Lei 8.666/93, deve o mesmo

obedecer todos os seus requisitos, quais sejam: a) a existência de uma situação de

garantir, por meio de disputa justa entre os interessados, a compra mais econômica, segura e

eficiente.

SERVIÇOS COMUNS

30. Serviços de Vigilância e Segurança Ostensiva

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16

emergência; b) observância do prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias e; c)

improrrogabilidade do respectivo contrato.

Trata-se, portanto, de uma hipótese legal que deve ser interpretada de

forma prudente, pois vários administradores utilizam da mesma, como meio de fraudar

a obrigatoriedade de licitação, tal como ocorreu no caso das dispensas nº 2/2013 e nº

15/2013. É o que nos ensina a doutrina mais autorizada:

“A hipótese merece interpretação cautelosa. A contratação

administrativa pressupõe atendimento às necessidades coletivas e supra-

individuais. Isso significa que a ausência da contratação representaria

um prejuízo para o bem público. Se inexistisse um interesse em risco, nem

caberia intervenção do Estado. A atividade pública não pode ser

suprimida ou diferida para o futuro. Afinal, essa são características

inerentes à Administração Pública. Na generalidade dos casos em que o

Estado dispõe-se a contratar, é motivado a atuar para evitar dano

potencial. Toda e qualquer contratação administrativa retrata a

necessidade e a conveniência de uma atuação conjugada entre o

Estado e terceiros. Uma interpretação ampla do inc. IV acarretaria, por

isso, a dispensa de licitação como regra geral. O argumento da urgência

sempre poderia ser utilizado. Ora, a ausência de licitação não constitui a

regra, mas a exceção. O inc. IV deve ser interpretado à luz desse

princípio.”8

Assim, percebe-se que a situação de emergência, que autoriza a

contratação direta é aquela excepcional, que realmente necessite de pronto

atendimento, pois a demora poderia por em risco valores relevantes tutelados pelo

ordenamento, tais como, a vida, a segurança ou integridade física das pessoas.

Todavia, não se confunde com situação de emergência, aqueles casos

em que a própria incúria do Administrador gera o risco de sacrifício aos bens jurídicos

ou quando se trata problema pertencente a realidade ordinária, inerente a qualquer

administração, ou seja, incapaz de justificar, à luz da razoabilidade, a inobservância

da regra geral, correspondente ao dever de licitar.

Sobre o assunto bem anota o administrativista e procurador do Ministério

Público de Contas, Lucas Rocha Furtado9:

8 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos. 11ª edição. Dialética. São

Paulo: 2005. p.238. 9 FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos administrativos, 4ª ed. atual. Belo

Horizonte, Editora Fórum, 2012.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

17

“É preciso que a situação de urgência ou de emergência seja

imprevisível. Seria absolutamente descabido que o administrador,

sabendo que determinada situação iria ocorrer, e que sua ocorrência

obrigaria a celebração do devido contrato, não adotasse as medidas

necessárias à realização do procedimento licitatório. Jamais a inércia do

administrador poderá justificar a adoção de contratos emergenciais,

conforme já observamos.”

Outra lição que não pode passar ao largo, é a de Marçal Justen Filho10:

“(...) a urgência deve ser concreta e efetiva. Não se trata de urgência

simplesmente teórica. Deve ser evidenciada a situação concreta

existente, indicando-se os dados que evidenciam a urgência. Suponha-

se, por exemplo, uma aquisição de medicamentos a ser efetivada pela

Administração Pública. Colocada a questão em termos gerais, nunca

caberia a licitação. Sempre seria possível argumentar que a demora na

aquisição de medicamentos traria prejuízos à saúde pública. Como

decorrência, a aquisição de medicamentos nunca se sujeitaria a prévia

licitação. A solução é claramente equivocada, eis que o fundamental

reside na relação entre a necessidade a ser atendida e a solução

concreta adequada. Em muitos casos, a Administração dispõe de tempo

suficiente para realizar a licitação e promover o contrato que atenderá à

necessidade. O problema reside na impossibilidade de aguardar o

tempo necessário à licitação para adquirir os remédios. A demonstração

da necessidade concreta significa que a Administração deve indicar as

quantidades necessárias de medicamentos para atender aos doentes e

as quantidades de que dispõe em estoque.”

Dos escólios acima transcritos se extraem conclusões que se entrelaçam,

quais sejam: a dispensa emergencial terá vez quando o prazo para o atendimento do

interesse público não for compatível com o tempo de dar cabo a um procedimento

licitatório, devendo a situação de urgência ter a nota da imprevisibilidade, bem como

se configurar como urgência concreta e efetiva, devidamente comprovada nos

autos.

No caso em lume, contudo, conforme já descrito minuciosamente nos

tópicos acima, os serviços de guarda e vigilância armada dos prédios e áreas de

propriedade do Estado do Pará, sob utilização e administração do DETRAN/PA, eram

prestados de maneira continuada e sem interrupções, no mínimo, desde a celebração

do contrato administrativo nº 13/2008, oriundo de licitação prévia, o qual, inclusive,

10 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos, 12ª ed., São

Paulo, Editora Dialética, 2008.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

18

teve o final de sua vigência prorrogado múltiplas vezes, de modo que isso dava toda a

condição de ser realizada licitação em tempo hábil, desde que os agentes públicos e

servidores responsáveis não tivessem agido com incúria ou com o objetivo de

privilegiar a empresa SERVI-SAN VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA, para que

continuasse a se beneficiar com dinheiro público.

Com efeito, as dispensas nº 2/2013 e nº 15/2013 e os contratos

emergenciais daí decorrentes, não foram resultados de situações imprevisíveis e

emergenciais, pois o que se percebe com a evolução do processo licitatório nº

2012/411257 – incialmente instaurado para subsidiar a contratação posterior ao

contrato administrativo nº 13/2008 – é que não houve o mínimo cuidado para tratá-lo

com a celeridade devida, ficando parado em alguns setores por mais de 30 dias, para

um mero despacho, o que ocorreu, principalmente, quando estava sob os cuidados

da CPL, com a Pregoeira Patrícia Regina Leotty da Cunha, ou no setor jurídico do

DETRAN, com o seu procurador chefe Antônio Villar P. Júnior.

De fato, o Requerido Antônio Villar P. Júnior foi, inclusive, o responsável

direto pela mantença do processo licitatório nº 2012/411257, por 156 dias na

Procuradoria Jurídica, apenas para ratificar que a modalidade a ser adotada era o

Pregão (fl. 5126, do I. C. nº 000177-116/2013 – Vol. 16), dando ensejo a considerável

diminuição do tempo hábil para conclusão deste feito.

Nesse ponto, vale frisar, que o fiscal do contrato nº 13/2008, conforme

esclarecido em tópicos acima, informou sobre o término do contrato administrativo nº

13/2008, COM SEIS MESES DE ANTECEDÊNCIA, o que seria prazo razoável para que

houvesse a licitação, conforme demonstrado, inclusive, pela velocidade com que a

Diretora Geral do DETRAN, Glaura Iolanda Brito Peres, conseguiu regularizar a situação

das múltiplas dispensas já delineadas nesta exordial, pois finalizou certame licitatório

em menos de quatro meses, a partir do início da sua fase interna. A situação em

comento é, portanto, bem típica e enquadrável em uma “urgência fabricada”.

Corroborando tudo quanto exposto, merece transcrição a seguinte

doutrina sobre o tema:

“Mais tarde, vai distinguir a emergência ‘real’, resultante do

imprevisível, daquela resultante da incúria ou inércia administrativa, ou

seja, ‘a emergência fabricada’. A ambas a Lei dá idêntico tratamento,

no que se refere à possibilidade de contratação direta. Porém, não

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

19

exime o responsável pela falha administrativa de sofrer as sanções

disciplinares compatíveis, nos casos de ‘emergência fabricada’ ou

produzidas por negligência. Em nosso entender, somente dessa forma

ficaria satisfeito o princípio da moralidade administrativa: isto é, se

realmente, responsabilizado for o funcionário que deu causa à

situação surgida.11”

Outrossim, mesmo levado em consideração o fato de que os certames

para serviço de vigilância são tumultuados por conta do alto valor envolvido e da

forte pressão do sindicato que representa as empresas, isso não configura surpresa de

nenhuma espécie, de modo que são comuns e previsíveis os pedidos de

esclarecimentos e impugnações, o que deixa inconteste o fato de que faltou um

mínimo de planejamento e priorização nas contratações que aqui foram objeto de

apuração. Corroborando o exposto, merece ser destacado o seguinte:

“Como se sabe, a realização de qualquer atividade pela

Administração Pública, bem como as despesas dela decorrentes,

devem ostentar planejamento prévio, não sendo dado ao

administrador de verbas públicas aguardar período próximo à

realização de evento para justificar eventual dispensa de licitação em

face da urgência da contratação, acaso não tenha procedido com as

cautelas para que essa urgência não ocorresse.

Veja-se que tal situação, de “urgência provocada”, não se confunde

com a ocorrência de uma intempérie natural ou mesmo uma

catástrofe provocada pela atividade humana, sendo estas

justificativas, sim, plausíveis para a dispensa do procedimento

licitatório em razão da urgência.”12

No mais, causa estranheza o imbróglio que girou em torno da

modalidade de licitação a ser escolhida, já que desde no ano de 2003, por força do

Decreto Estadual nº 0199/200313, a prioridade é que os órgãos do Estado do Pará

utilizassem a modalidade pregão para aquisição de bens e serviços comuns, sendo o

11 FIGUEIREDO, Lúcia Valle; FERRAZ, Sérgio, IN: NIEBUHR. Joel Menezes. Dispensa e Inexigibilidade

de Licitação Pública. Belo Horizonte: 4ª ed. Fórum, 2015, p.264. 12 BRASIL. Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Apelação cível nº 0001536-49.2009.8.08.0061.

Apelante: Renato Afonso Zucollotto e Elieser Rabello. Apelado: Ministério Público Estadual.

Relator: Desembargador Substituto Lyrio Regis De Souza Lyrio. 2 de setembro de 2014. 13 Art. 2º Os contratos celebrados pelo Estado, para a aquisição de bens e serviços comuns,

serão precedidos, prioritariamente, de licitação na modalidade de pregão, que se destina a

garantir, por meio de disputa justa entre os interessados, a compra mais econômica, segura e

eficiente.

SERVIÇOS COMUNS

30. Serviços de Vigilância e Segurança Ostensiva

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20

serviço de vigilância e segurança ostensiva, taxado como comum no item “30” do

mencionado Decreto. Ainda em 2008, o Decreto Estadual 967/200814, tornou o Pregão

Eletrônico obrigatório para aquisição de bens e serviços comuns, não havendo,

portanto, no ano de 2012/2014, motivo para tanto questionamento por parte do setor

de licitação quanto a modalidade a ser adotada15.

Aqui, vale transcrever a mensagem de veto nº 638 de 17 de julho de

2002, alterando a legislação que pretendia excluir serviço de vigilância da seara de

“bens e serviços comuns”:

“Senhor Presidente do Senado Federal,

Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do §1º do art. 66 da

Constituição Federal, decidi vetar parcialmente o Projeto de Lei de

Conversão no 19, de 2002 (MP no 2.182-18/01), que “Institui, no âmbito

da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 37,

inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação

denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá

outras providências”. O Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão propõe veto ao seguinte dispositivo: Caput do art. 2 “Art. 2º

Pregão é a modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços

comuns pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme

disposto em regulamento, qualquer que seja o valor estimado da

contratação, na qual a disputa pelo fornecimento é feita por meio de

propostas e lances em sessão pública, vedada sua utilização na

contratação de serviços de transporte de valores e de segurança

privada e bancária. ..........................................................”

Razões do veto “A redação adotada implicará na proibição da

contratação de serviços de vigilância por meio do pregão, com

impacto indesejável sobre os custos e a agilidade de procedimentos

que estão atualmente em plena disseminação. Com efeito, a

utilização do pregão na contratação desses serviços é praticada com

sucesso desde sua criação, por Medida Provisória, em agosto de 2000.

Ressalte-se que os serviços de vigilância são item de expressiva

importância nas despesas de custeio da Administração Federal, o que

impõe a busca de procedimentos que intensifiquem a competição e

possibilitem a redução de custos. No âmbito da administração direta,

autárquica e fundacional, avultam a R$295,95 milhões anualmente,

conforme dados de 2001. Não existe impedimento de ordem técnica

14 Art. 4° Na aquisição de bens e serviços comuns no âmbito da Administração Direta e Indireta,

deverá ser utilizada obrigatoriamente a modalidade licitatória de pregão eletrônico. 15 Alguns pregões presenciais: nº 11/2008/Defensoria Pública, 07/2008/SECTET – Secretaria de

Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica, 05/2008/ EGPA – Escola de

Governança Pública do Estado do Pará. Pregões Eletrônicos: nº 06/2009/COHAB – Companhia

de Habitação, nº 6/2009/SEMA – Secretaria de Meio Ambiente, nº 8/2009/SEAD – Secretaria de

Administração.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

21

à aplicação do pregão, uma vez que há larga experiência de

normatização e fixação de padrões de especificação do serviço e de

acompanhamento do seu desempenho. A Administração Federal tem

regulamentação específica a respeito, por meio da Instrução

Normativa MARE no 18/97, que orienta as licitações de serviços de

vigilância. O Decreto nº 3.555/00, que regulamentou o pregão, incluiu

no rol dos bens e serviços comuns, os serviços de vigilância ostensiva.

Dessa forma, o pregão tem sido opção adotada cada vez mais pelos

gestores de compras. Já foram realizados 103 pregões para

contratação de serviços de vigilância em 30 órgãos, representando

valores de R$37,86 milhões. Mesmo a forma mais avançada do pregão

eletrônico, que pressupõe o encaminhamento de planilhas e de

documentação por meio eletrônico, já tem sido adotada para a

contratação de vigilância, registrando-se até esta data a realização

de 4 certames, pela Advocacia-Geral da União – AGU, Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Ministério dos Transportes e

Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Estes dados são consistente

evidência da conveniência e viabilidade de aplicação da nova

modalidade de licitação aos serviços de vigilância.” Estas, Senhor

Presidente, as razões que me levaram a vetar o dispositivo acima

mencionado do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada

apreciação dos Senhores Membros do Congresso Nacional.”

Nesse contexto, é perceptível que mais do que negligência dos

Requeridos – sejam os Diretores Gerais do DETRAN, ora processados, ou os servidores

que diretamente deram causa ao retardo injustificado, também responsabilizados

neste processo – existem fortes elementos de convicção que indicam verdadeiro dolo

no cometimento das ilegalidades aqui constatadas. Essa percepção de que havia

uma intenção de beneficiar a empresa SERVI-SAN, com a prática de todas essas

ilegalidades foi corroborada pela absurda admissão pelo Diretor Geral do DETRAN

Agostinho Queiroz Soares de que tal empresa prestasse serviço, sem ter celebrado

qualquer contrato administrativo.

Releva observar, que é predominante o entendimento doutrinário,

jurisprudencial e do TCU de que o contrato, ainda que para uma situação

emergencial, tem que ser sempre realizado, pois causaria um prejuízo muito maior

para a sociedade não o fazer, de modo que não restam dúvidas de que o gestor

deve ser responsabilizado por ter dado causa à situação.

“Havendo risco de lesão a interesses, a contratação deve ser

realizada, punindo-se o agente que não adotou as cautelas

necessárias. A questão apresenta relevância especialmente no

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

22

tocante à comumente denominada “emergência fabricada”, em que

a Administração deixa de tomar tempestivamente as providências

necessárias à realização da licitação previsível.16

A dispensa de licitação também se mostra possível quando a situação

de emergência decorrer da falta de planejamento, da desídia

administrativa ou da má gestão dos recursos púbicos, pois a inércia do

gestor, culposa ou dolosa, não pode vir em prejuízo de interesse

público maior tutelado pela Administração. Nessas situações, contudo,

o reconhecimento da situação de emergência não implica convalidar

ou dar respaldo jurídico à conduta omissiva do administrador, a quem

cabe a responsabilidade pela não realização da licitação em

momento oportuno.17

A jurisprudência, outrora admitindo amplamente a caracterização da

emergência, vem restringindo a sua amplitude de tal modo que, na

atualidade, o balizamento sobre a sua utilização está bastante

definido. Mais recentemente, na última década firmou-se a tese de

que é necessário apurar responsabilidade quando a emergência tem

causa na negligência ou má gestão.18

Por último, não é demais mencionar que no Inquérito Civil nº 002132-

116/2013, o ofício nº 53/2017 – DBM/MPC/PA, de fl. 1316, expedido pelo Ministério

Público de Contas do Estado do Pará, encaminhando, através de CD-ROM, o Parecer

MPC – DBM nº 135/2017, Relatório de Fiscalização referente a auditoria programada

realizada no DETRAN (pasta 6, volume II) e outros documentos, há afirmação expressa

de que as dispensas de licitação emergenciais nº 02/2013 e 15/2013 foram realizadas

em decorrência da falta de planejamento e indicando a responsabilização dos

gestores.

III.2) DA POSSIBILIDADE DE SER RESPONSABILIZADO CONSULTOR JURÍDICO QUE ATUA EM

DISPENSAS INDEVIDAS de LICITAÇÃO.

Inicialmente, deve ser esclarecido e sedimentado, que é plenamente

possível a responsabilização do Procurador-Chefe do DETRAN, ANTONIO VILLAR

PANTOJA JUNIOR, em decorrência de suas decisivas condutas, que resultaram nas

contratações irregulares aqui descritas. De fato, além de procrastinar

16 JUSTEN FILHO. Op. Cit. pag. 479 17 Acórdão 2240/2015 - 1ª Câmara - TCU 18 JACOBY FERNANDES. Jorge Ulisses. Contratação direta sem licitação. Belo Horizonte: 10ª ed.

Fórum, 2016 p.261.

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23

consideravelmente os atos que lhe cabiam, chegando a ficar absurdos 156 (cento e

cinquenta e seis) dias para emitir simples parecer sobre questão já avaliada (fl. 5126) –

anteriormente e no mesmo processo – pelo departamento jurídico do DETRAN, ele

também acabou produzindo pareceres sem adequada fundamentação, que foram

favoráveis à realização das ilegais dispensas de licitação nº 2/2013 e nº 15/2013.

Some-se a isso, inclusive, que tal consultou jurídico ainda exarou parecer

no sentido de que fosse anulado o procedimento licitatório nº 2012/411257, porém,

sem justificativas mínimas para tanto (fls. 5571/5575), o que, ressalte-se, foi situação de

fundamental importância para a “fabricação de urgências”, aqui já delineadas,

usadas para embasar as ilegalidades cometidas pelos demais envolvidos.

Não se olvida, também, que os pareceres técnicos emitidos pelos

consultores jurídicos, no âmbito dos procedimentos administrativos, via de regra, têm

apenas caráter opinativo, exceto, contudo, quando tal manifestação for de existência

obrigatória, pois, nesse caso, sua ausência pode, inclusive, dar ensejo à nulidade do

ato final. Essa foi, portanto, exatamente a situação em comento, pois em

procedimentos de dispensa de licitação, é essencial a expedição de parecer

jurídico, ex vi do disposto no art. 38, VI, da Lei nº 8.666/93.

O artigo 50 da Lei 9.784/99, que regula procedimento administrativos,

traz, inclusive, uma lista de atos em que a motivação é obrigatória, prevendo

expressamente, em seu inciso IV, os atos que declarem a dispensa de processo

licitatório. Ademais, no parágrafo primeiro do referido dispositivo, consta, inclusive,

que: “a motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em

declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações,

decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato”.

Não há como desconsiderar, portanto, que no caso de dispensas de

licitação, o parecer técnico embasa a decisão do Gestor Público, de modo que é ato

de enorme relevância, além de ser obrigatório.

Nesse contexto, é oportuno destacar que a Suprema Corte, no âmbito

do Mandado de Segurança nº 24.584/DF, de relatoria do Ministro Marco Aurélio,

reconheceu a responsabilidade do advogado, no tocante à prestação de

esclarecimentos perante o Tribunal de Contas, nas hipóteses do parágrafo único do

art. 38 da Lei de Licitações (Art. 38. [...] Parágrafo único. As minutas de editais de

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24

licitação, bem como as dos contratos, acordos, convênios ou ajustes devem

ser previamente examinadas e aprovadas por assessoria jurídica da

Administração.), in verbis:

EMENTA: ADVOGADO PÚBLICO - RESPONSABILIDADE - ARTIGO 38 DA

LEI Nº 8.666/93 - TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO -

ESCLARECIMENTOS.Prevendo o artigo 38 da Lei nº 8.666/93 que a

manifestação da assessoria jurídica quanto a editais de licitação,

contratos, acordos, convênios e ajustes não se limita a simples opinião,

alcançando a aprovação, ou não, descabe a recusa à convocação do

Tribunal de Contas da União para serem prestados esclarecimentos. (STF,

MS 24.584/DF, Pleno, Rel. para acórdão Min. Ricardo Lewandoski, j.

09/08/2007, DJ 20/06/2008).

Nessa oportunidade, os Ministros da Corte Suprema enveredaram pela

discussão acerca da responsabilidade do parecerista, ressaltando, na ocasião, que os

advogados não haviam proferido “simples peça opinativa”, mas sim, peça de

“aprovação [...] de convênios e aditivos”, aplicando-se à situação o disposto no art.

38, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93. O Ministro Joaquim Barbosa, em seu voto,

cuidou de extremar as situações. Vejamos:

“[...] no atual momento da jurisprudência do STF, eu acredito que seja

possível formular as seguintes premissas para o exame de questões como

a presente:

a) Nos casos de omissão legislativa, o exercício de função

consultiva técnico-jurídica meramente opinativa não gera

responsabilidade do parecerista. [...]

b) Nos casos de definição, pela lei, de vinculação do ato

administrativo à manifestação favorável no parecer técnico-

jurídico, a lei estabelece efetivo compartilhamento do poder

administrativo de decisão, e assim, em princípio, o parecerista

pode vir a ter que responder conjuntamente com o administrador,

pois ele é também administrador nesse caso.”

O Professor Marçal Justen Filho19, por sua vez, assim comenta a finalidade

da exigência do parágrafo único do art. 38:

[...] O parecer jurídico é um ato de controle de legalidade e

conveniência da atividade administrativa licitatória e contratual.

Portanto, a exigência da manifestação prévia da assessoria jurídica tem

duas finalidades jurídicas.

Em primeiro lugar, trata-se de impedir que uma atuação defeituosa seja

consumada. O asssessor jurídico tem o dever de identificar os defeitos de

19 JUSTEN FILHO, 2014, op cit, p. 689.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

25

legaldiade, avaliar o cumprimento das exigências formais e outras

questões, que serão adiante mais bem expostas. Desse modo, o parecer

confirmará a presença dos requisitos de validade ou identificará a sua

ausência, permitindo que a autoridade competente adote a decisão

mais conforme a ordem jurídica.

Por outro lado, a necessidade de manifestação da assessoria jurídica

desincentivará a prática de atos irregulares, precipitados, não

satisfatórios. Tal se passará porque os demais integrantes da esfera

administrativa terão consciência de que a assessoria jurídica reprovará

práticas defeituosas.

[...]

Assim, admite-se a inclusão do parecerista como demandado na ação

de improbidade, quando este tem o dever de controlar previamente a

legalidade dos atos a ele submetidos para análise. Incumbe ao Consultor

Jurídico o dever de identificar a ilegalidade e MANTER-SE FIRME EM SEU

POSICIONAMENTO, pois do contrário subsidiará o ato administrativo

ímprobo.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça caminha no sentido da

possibilidade de responsabilização do advogado público pelos pareceres jurídicos que

elabora (REsp 1183504/DF).

O parecer jurídico obrigatório pela legislação responsabiliza o causídico,

o procurador; e, sem dúvida nenhuma, esta repercussão ante a Lei resguarda a

probidade administrativa, aliás, alerta e compromete o exercício do procuratório

jurídico, no âmbito dos entes públicos.

Observa-se que no caso em lume, o procurador chefe do DETRAN, ora

demandado, foi conivente com seus superiores, facilitando a burla ao princípio da

obrigatoriedade da licitação, ou, no mínimo, suas manifestações caracterizaram o

chamado erro crasso, que faz incidir ao menos a culpa na situação, a qual encontra,

do mesmo modo, enquadramento no art. 10 da Lei n. 8.429/92, conforme será melhor

delineado nos tópicos seguintes dessa peça processual.

O advogado e professor Fábio Medina Osório, em esplêndida obra

resultante de sua tese de doutorado, analisa a repercussão dos chamados atos de

opinião, no âmbito da matéria objeto da Lei n. 8.429/92, nestes termos:

“Com relação aos atos de opinião, cabe dizer que não só os atos de

decisão podem produzir improbidade administrativa, mas também os

atos que, transbordando os limites razoáveis do engano funcional

possível, penetram no campo da ilegalidade com o presumível propósito

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26

ilícito de dar base indevida a uma decisão desonesta, distorcida ou

intoleravelmente incompetente.

Não é possível descartar a responsabilidade dos pareceres na produção

da improbidade administrativa. Pelo contrário, em uma Administração

Pública crescentemente especializada, com assessoria técnica de toda

índole, é necessário ampliar o leque de potenciais responsáveis, sob

pena de que se construam barreiras de imunidade, partindo de

roupagens oferecidas por uma assessoria viciada e irresponsável, para

dizer o mínimo, quando não coautora e cúmplice dos ilícitos perpetrados.

Negar a responsabilidade dos pareceristas, especialmente quando forem

funcionários públicos, insertos, pois, na estrutura da chamada advocacia

pública, equivaleria a consagrar imunidade ilegal e inconstitucional aos

gestores públicos, reforçando nichos de impunidade.

Não se vê nenhum fundamento normativo, nos textos ou na

jurisprudência, para excluir, a priori, toda e qualquer possibilidade de

responsabilidade dos pareceristas, na prática de atos ímprobos em

concurso de pessoas. O princípio constitucional da responsabilidade,

ínsito à República e à isonomia dos cidadãos perante o ordenamento

jurídico, não exclui determinadas transgressões tão somente em razão de

suas roupagens formais. Sabe-se que um parecer, num contexto real de

funcionamento da Administração Pública, pode ser equivalente a uma

decisão. Basta notar a plausibilidade das razões jurídicas invocadas na

peça redigida pelo parecerista. Como se pode reparar há um conjunto

de fatores que merece análise, não se podendo descartar de plano a

responsabilidade desses atores funcionais tão relevantes.

A relação causal admite, pois, perfeitamente, o encaixe dos atos

opinativos, desde que assumam relevância tal que justifique esse

enquadramento. É claro que, diferentemente dos atos decisórios, os

pareceres exigem uma valoração mais aprofundada sobre seu

significado e impacto na produção do resultado injusto. Quer dizer que

os atos decisórios também ensejam tal processo valorativo, porém seu

encaixe na LGIA é mais direto, em face da própria natureza do ato, ao

passo que os pareceres demandam uma análise mais sofisticada e

onerosa do ponto de vista argumentativo. Pode-se dizer que a relação

causal, nessa última hipótese, se dá num plano mais indireto, assumindo

importância a dimensão do parecer no contexto geral da ilicitude,

inclusive no bojo de uma coautoria ou participação de terceiros20.

O Professor Marçal Justen Filho21 comentando a responsabilidade da

assessoria jurídica assim se pronuncia:

[...] Ao examinar e aprovar os atos da licitatção, a assessoria jurídica

assume responsabilidade pessoal solidária pelo que vier a ser praticado,

20 OSÓRIO, Fábio Medina. Teoria da Improbidade Administrativa – Má gestão pública,

Corrupção, Ineficiência, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, pgs. 253/254. 21 JUSTEN FILHO, op cit, pp. 691/692.

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27

nos limites do desempenho das funções técnico-jurídicas. Como todo e

qualquer profissional, o advogado responde pela correção técnica dos

seus atos. Não existe situação de irresponsabilidade profissional para o

assessor jurídico. Isso não significa, no entanto, que o assessor possa ser

responsabilizado por defeitos ou falhas a ele não imputáveis.

[...] Em face do caso concreto, o parecerista deve examinar a

orientação prevalente da doutrina e da jurisprudência. Cabe-lhe o dever

de informação e de atualidade, de modo a conhecer, de modo

completo e exaustivo, as diversas alternativas admitidas como aceitáveis

pelos órgãos de pacificação do direito.

[...] O assessor jurídico tem o dever de conhecer tecnicamente o direito,

de dominar as variáveis existentes e de prever as decorrências das

alterantivas disponíveis.

[...] Não existirá atuação satisfatória se o assessor jurídico afirmar a

validade de uma solução que, em face da doutrina e da jurisprudência,

é reputada como defeituosa.

E, continua, citando a jurisprudência do Tribunal de Contas da União,

destacando-se os seguintes arestos:

Ao completo arrepio das exigências legais, sem que restasse

caracterizada a urgente necessidade de realização das obras para a

salvaguarda da segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos ou

outros bens, os pareceristas jurídicos manifestaram concordância com a

contratação emergencial por dispensa. Ademais, relatórios técnicos

anteriores à manifestação dos responsáveis davam conta de que o

escopo contratual não estaria restrito às obras de reforma nos elementos

estruturais do estádio.

De fato, diferente seria o cenário se os serviços contratados por dispensa

a título de emergência fossem aqueles efetivamente adstritos ao controle

e à prevenção de eventual colapso estrutural, como os serviços de

escoramento. Contudo, o objeto do contrato emergencial não deixa

dúvidas de que a abrangência das intervenções ultrapassa aquela

atinente à situação emergencial indicada pelos responsáveis. Juízo de

baixo teor técnico, que não poderia fugir aos pareceristas.

É relevante ainda para caracterizar a culpabilidade dos responsáveis, o

fato de que as patologias verificadas no estádio foram fruto da ausência

de manutenção ao longo dos anos, situação essa constatada por laudos

técnicos registrados no processo de contratação.

Considero, nesse cenário, que as manifestações aduzidas pelos

pareceristas foram determinantes para a consumação da irregular

dispensa licitatória. Devem, portanto, ser apenados com a multa prevista

no artigo 58 da Lei 8.443/92 [...] (TCU, Acórdão nº. 513/2013, Plenário, rel.

Min. Ana Arraes, 13/03/2013).

[...] Muito embora esse mesmo parecer alerte para a necessidade de

observância dos requisitos estabelecidos no mencionado artigo 26,

parágrafo único, da Lei de Licitações, ao final concluiu pela inexistência

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

28

de óbices na contratação direta em questão, conquanto inexistissem nos

autos as referidas justificativas exigidas em lei, conforme alertado pelo

Núcleo Setorial de Controle Interno (...) Assim, entendo caracterizada a

responsabilidade do recorrente (...) o ato do queixante contribuiu para

consumação da irregularidade praticada pelo gestor (TCU, Acórdão

1.964/20010, 1ª Câmara, rel. Min. Augusto Nardes, 20/04/2010).

Na mesma esteira, o CPC/2015 passou a dispor expressamente a respeito

da responsabilidade do advogado público:

Art. 182. Incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e

promover os interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios, por meio da representação judicial, em todos os

âmbitos federativos, das pessoas jurídicas de direito público que

integram a administração direta e indireta.

(...)

Art. 184. O membro da Advocacia Pública será civil e regressivamente

responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício de suas

funções

No mesmo sentido, a Instrução Normativa Conjunta AGE/SEFA n°.

002/2013, de 06 de dezembro de 2013, “dispõe sobre a definição de procedimentos

adicionais a serem observados pelos Órgãos/Entidades integrantes do Poder Executivo

Estadual por ocasião da Prestação de Contas de Gestão de Recursos Públicos

Estaduais Anual junto ao Tribunal de Contas do Estado – TCE”, e informa do rol de

responsáveis, para sua apreciação e deliberação final:

CAPÍTULO I - ROL DE RESPONSÁVEIS (Art. 4º do RITCEPA)

Art. 2º. Serão considerados responsáveis pela gestão de recursos

públicos estaduais os titulares e seus substitutos que desempenharem,

durante o período a que se referirem as contas, as funções inerentes a, se

houver:

I. Dirigente máximo da Unidade Gestora;

II. Ocupante de cargo de direção no nível de hierarquia

imediatamente inferior e sucessivo ao do Dirigente de que trata o

inciso anterior;

III. Ordenador(es) de despesa designado(s);

IV. Responsável(is) pela Consultoria, Procuradoria ou Assessoria

Jurídica;

V. Gestor financeiro, tesoureiro ou equivalente;

VI. Contador responsável pela gestão contábil do respectivo

Órgão/Entidade;

VII. Responsável pela Unidade de Controle Interno;

VIII. Agentes Públicos de Controle – APC’s;

IX. Contador Responsável;

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29

X. Responsáveis pela conformidade de registro de gestão;

XI. Responsável pelo setor de patrimônio;

XII. Responsável pelo setor de almoxarifado;

XIII. Responsável pelo setor de arrecadação, quando a UG for

detentora de receita;

XIV. Gestor responsável pela “alimentação” do Sistema SISPAT;

XV. Gestor responsável pela “alimentação” do Sistema GPPARÁ;

Parágrafo único. O rol de responsáveis acima não é exaustivo e

deverá ser elaborado com base na estrutura de cargos da Unidade

Gestora, e a ela deverá ser adaptado.

Por todas as razões acima expostas, não há dúvida sobre a possibilidade

de responsabilização do Procurador-Chefe do DETRAN, ANTONIO VILLAR PANTOJA

JUNIOR, que participou diretamente das dispensas licitatórias ora analisada.

III.3) DO ENQUADRAMENTO DAS CONDUTAS APURADAS, COMO IMPROBIDADES

ADMINISTRATIVAS.

III. 3.1) – Improbidade por violação de Princípios Constitucionais.

A Constituição Federal estabelece que os agentes públicos, responsáveis

por gerir o erário e os bens públicos, deverão obedecer aos princípios da legalidade,

moralidade e eficiência, dentre outros (Artigo 37, caput CF/88).

O mestre Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que:

“Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A

desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico

mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais

grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão

do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o

sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível

a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.” (Curso de

Direito Administrativo, Malheiros Editores, pag. 136).

Nesse sentido, a Constituição Federal, no artigo 37, dispõe que:

“Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência e, também, ao seguinte...”

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

30

Só o fato dos Gestores Walter Wanderley de Paula Pena e Agostinho

Queiroz Soares, ora Requeridos, realizarem reiteradas contratações diretas, fora da

hipótese de situação emergencial, e justificá-las em indevidas dispensas de licitação,

baseadas em “urgências fabricadas”, o que foi feito com o auxílio de Patrícia Regina

Leotty da Cunha e Antônio Villar P. Júnior, servidores de setores estratégicos do

DETRAN, isso já configura uma clara improbidade, notadamente, por ter ocorrido por

02 (duas) vezes seguidas, em um curto espaço de tempo. Aliás, pior que isso e,

portanto, bem mais grave – enquanto elemento definidor da ilegalidade – foi a

prestação de serviços, sem qualquer contrato formal, com o recebimento de vultuosos

valores, o que fere frontalmente as disposições da Lei 8.666/93 e o art. 37, inc. XXI, da

Constituição Federal.

Claro está, portanto, que estas contratações diretas foram, no mínimo,

uma forma de atender negociatas imorais, já que foram feitas fora das exceções

legais e de maneira constante, de modo que os Requeridos, talvez, acreditassem na

falta de fiscalização dos órgãos competentes ou na impunidade, que alimenta esse

tipo de conduta, em todas as esferas públicas.

Neste contexto, as contratações diretas ou sem contrato formal, que

foram minuciosamente descritas e analisadas nesta exordial, configuram-se em atos

de improbidade, pela violação de princípios administrativos, nos termos do art. 11, inc.

I, da Lei 8.429/92, conforme a seguir transcrito:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra

os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que

viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade

às instituições, e notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou

diverso daquele previsto na regra de competência”

Dentre os princípios violados pelos Requeridos, podemos citar os

princípios da LEGALIDADE, da MORALIDADE, da ISONOMIA e da EFICIÊNCIA.

Violado está o princípio da legalidade, na medida que os Requeridos

deixaram de realizar ou contribuíram decisivamente para não realização de

procedimento licitatório, quando era sua obrigação atuar de forma diversa (feriu-se,

também, o princípio da OBRIGATORIEDADE DA LICITAÇÃO, previsto no Artigo 37, inciso

XXI da Constituição da República).

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31

Igualmente, ferida a legalidade, quando o Requerido Agostinho Queiroz

Soares violou o disposto nos arts. 6022 e 6223 da Lei 8.666/93, não formalizando contratos

administrativo e autorizando pagamentos para empresa que prestou serviços ao

DETRAN, sem qualquer vinculação formal com o órgão.

A moralidade administrativa, por sua vez, também foi transgredida de

forma abrupta pelos Requeridos, enquanto Diretores e servidores do DETRAN, pois a

eles cabia, além de cumprir a letra da Lei, atender ao espírito de conduta ética que

deve nortear seu comportamento funcional. No entanto, de forma contrária à boa-fé

efetuaram contratos diretos, ferindo o postulado básico da necessidade de buscar

sempre o bem comum, o que foi feito, certamente, para beneficiar a empresa SERVI-

SAN.

A ofensa ao princípio da isonomia não oferece dúvidas. Ao agirem no

sentido de inviabilizarem à realização de um processo licitatório, para, ao final,

efetuarem contratações diretas ou até sem contrato formal, os Requeridos deixaram

de dar reais oportunidades à todos os administrados que poderiam ter interesse em

prestar os serviços, notadamente por envolverem vultuosas quantias. De fato, isto é

tratar de forma desigual quem se encontra em uma mesma situação!. Se as licitações

tivessem ocorrido da forma que manda a lei, a todos seria dada a oportunidade de

participar dos certames e celebrar os contratos respectivos com o DETRAN. Todavia,

assim não foi feito e, consequentemente, não foi possível serem realizados os

contratos, que decorressem das propostas que melhor atendessem aos interesses

públicos.

22 Art. 60. Os contratos e seus aditamentos serão lavrados nas repartições interessadas, as quais

manterão arquivo cronológico dos seus autógrafos e registro sistemático do seu extrato, salvo

os relativos a direitos reais sobre imóveis, que se formalizam por instrumento lavrado em cartório

de notas, de tudo juntando-se cópia no processo que lhe deu origem.

Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de

pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor não superior a

5% (cinco por cento) do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei, feitas em

regime de adiantamento. 23 Art. 62. O instrumento de contrato é obrigatório nos casos de concorrência e de tomada de

preços, bem como nas dispensas e inexigibilidades cujos preços estejam compreendidos nos

limites destas duas modalidades de licitação, e facultativo nos demais em que a Administração

puder substituí-lo por outros instrumentos hábeis, tais como carta-contrato, nota de empenho

de despesa, autorização de compra ou ordem de execução de serviço.

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32

Ora, quando se realiza uma licitação afastam-se arbitrariedades na

seleção do contratante, pois se emprega tratamento igualitário às situações uniformes.

É objetivo da licitação assegurar a observância ao princípio da isonomia e, como nos

casos que aqui delineados não houve a licitação obrigatória, prejudicado está tal

princípio.

Não restou também cumprido o princípio constitucional que exige

eficiência do administrador em suas ações. O núcleo do princípio da eficiência se

resume na produtividade com economicidade. É evitar o desperdício do dinheiro

público, o que, não se coaduna com condutas como realizar procedimento licitatório,

durante vários meses, para, ao final, simplesmente anulá-lo, por razões de

oportunidade e conveniência, tampouco se adequa ao comportamento de realizar

contratações, sem procedimento licitatório, o qual permitiria ampla concorrência

entre os interessados e, por óbvio, a obtenção de melhores propostas. Some-se a isso,

que também viola a eficiência, a conduta de manter procedimentos por dezenas de

dias, para serem efetuados simples despachos, notadamente, em situações de

urgências, devidamente informadas, e nas quais a gravidade “salta aos olhos”.

Não restam dúvidas, portanto, que os atos dos Requeridos violaram

diversos princípios administrativos, o que por si só, já permite com que sejam

caracterizados como improbidades administrativas, conforme se manifesta a mais

abalizada jurisprudência sobre o tema:

“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA – CONTRATO VERBAL – URGÊNCIA – DISPENSA DE

LICITAÇÃO – NÃO COMPROVAÇÃO – ATO DE IMPROBIDADE

CONFIGURADO – EXPRESSA PREVISÃO LEGAL – ART. 10, VIII, LEI N. 8.429/92

– VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ISONOMIA –

LIVRE CONCORRÊNCIA – LEGALIDADE – EFICIÊNCIA – MORALIDADE – ART.

11, LEI N. 8. 429/92 – ATO DE IMPROBIDADE CONFIGURADO – RECURSO

IMPROVIDO Configura ato de improbidade a realização de contrato

verbal, sem obediência às regras de licitação. Os atos de improbidade

administrativa descritos no artigo 11, da Lei nº 8429/92, dependem da

presença do dolo genérico, mas dispensam a demonstração da

ocorrência de dano para a Administração Pública ou enriquecimento

ilícito do agente. (TJ-MS - APL: 08014494620118120007 MS 0801449-

46.2011.8.12.0007, Relator: Des. Marcelo Câmara Rasslan, Data de

Julgamento: 01/12/2015, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação:

02/12/2015)

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33

“Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA Improbidade administrativa – Prefeito

Municipal - Lei 8.429/92 - Aplicabilidade: - O prefeito municipal responde

por atos de improbidade na forma da Lei 8429/92 – AÇÃO CIVIL PÚBLICA

- Improbidade administrativa - Dispensa de licitação - Lesão ao erário -

Legalidade - Moralidade - Impessoalidade - Possibilidade: - Houve dano

material ao erário, no caso presente, a justificar a condenação com

fundamento no ari 10. VIII. da Lei de Improbidade - Mesmo quando

ausente lesão ao erário na dispensa de licitação, ficando provada a

ofensa aos princípios da legalidade, da moralidade e da

impessoalidade, a condenação se justifica com fundamento no art. 11

da mesma lei” grifei (TJ SP. Processo Apelação Com Revisão 6595315200.

Relatora: Teresa Ramos Marques. 10ª Câmara de Direito Público.

Julgamento: 10/08/2009).

Por sua vez, a má-fé dos Requeridos e o seu dolo de proceder com

violação de princípios, já foram delineados minuciosamente nos tópicos anteriores,

notadamente quando se observa a quantidade de dispensas ilegais realizadas e, ao

final, a prestação de serviços sem contrato, celebrado com empresa SERVI-SAN

VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA, que foi beneficiária direta dessas

ilegalidades e, portanto, totalmente envolvida nas improbidades aqui tratadas, pois

sabedora que realizava serviços sem ter assinado qualquer contrato administrativo e

sem jamais ter participado de licitação.

II.2.2.) – IMPROBIDADE PELA EXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO.

Estabelece o Artigo 10, inciso VIII da Lei nº 8.429/92:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao

erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda

patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos

bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e

notadamente:

[…]

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo

seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins

lucrativos, ou dispensá-los indevidamente;” (grifei).

Assim, na hipótese do agente frustrar a licitude de um processo licitatório

ou dispensá-lo indevidamente, tal como no caso em lume, será possível a aplicação

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34

das sanções decorrentes da prática do ato ímprobo, ainda que não pudesse ser feita

a exata quantificação da lesão ao erário.

De fato, o Superior Tribunal de Justiça entende, atualmente, que há dano

ao erário pela ausência do devido processo licitatório, na medida em que o Poder

Público deixa de, por condutas de administradores, contratar a melhor proposta.

Senão vejamos:

STJ: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.

IMPROBIDADE. FRAUDE À LICITAÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART.5º DA LEI

8.429/92. NÃO OCORRÊNCIA. ALEGADA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO

CONTRATADO. PERÍCIA. AUSÊNCIA DE CONSTATAÇÃO. DANO IN RE IPSA.

RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. POSSIBILIDADE. 1. No que tange à

possibilidade de imposição de ressarcimento ao erário, nos casos em

que o dano decorrer da contratação irregular proveniente de fraude a

processo licitatório, como ocorreu na hipótese, a jurisprudência desta

Corte de Justiça tem evoluído no sentido de considerar que o dano,

em tais circunstâncias, é in re ipsa, na medida em que o Poder Público

deixa de, por condutas de administradores, contratar a melhor

proposta. Precedentes: REsp 1.280.321/MG, Rel. Ministro Mauro

Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 9/3/2012. AgRg nos EDcl no

AREsp 419.769/SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,

julgado em 18/10/2016, DJe 25/10/2016. REsp 1.376.524/RJ, Rel.

Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 2/9/2014, DJe

9/9/2014.

2. O entendimento externado pelo Tribunal de origem alinha-se ao que

vem sendo perfilhado nesta Corte de Justiça sobre o tema.

3. Mesmo que assim não fosse, verifica-se dos autos que, em

cumprimento à diligência requerida, a perícia apontou irregularidade na

prestação de serviço de contabilidade, que foi executado de forma

indireta pelo Sr. Hélio Rubens Tavares Martinez, e não pela empresa

licitante. Ademais, apesar de o serviço ter sido iniciado e entregue no

prazo contratual, não havia atestado de recebimento emitido pelo

servidor responsável por conferir os serviços, conforme determina os arts.

62 e 63 da Lei Federal n. 4.320/1964, ficando, por isso, comprometida a

regular liquidação. Constata-se, dessa forma, que a prestação do serviço

não esteve imune a irregularidades.

4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 728.341/SP, Rel.

Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/03/2017, DJe

20/03/2017)

STJ: ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92. FRACIONAMENTO INDEVIDO DE

LICITAÇÃO. FRUSTRAÇÃO DE COMPETITIVIDADE. DANO AO ERÁRIO E

PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE. OCORRÊNCIA. MEMBRO DA

COMISSÃO DE LICITAÇÃO MUNICIPAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO

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35

PARA, EM CONSONÂNCIA COM O PARECER MINISTERIAL, RESTABELECER A

SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU, QUE RECONHECEU A PRÁTICA DE ATO

ÍMPROBO E A SITUAÇÃO IRREGULAR DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.

1. Pretende a União restabelecer a condenação de Paulo Eduardo

Martins por ato de improbidade administrativa, com a consequente

condenação de ressarcimento ao erário.

2. Em vez de realizar a licitação na modalidade Tomada de Preços,

compatível com os valores do convênio, a Comissão Licitante do

Município de São José da Laje fracionou o objeto da licitação, de modo

a tornar possível a adoção da modalidade convite, em dois

procedimentos apartados - convite nº 016/2002, para aquisição do

veículo tipo Van, e o convite nº 17/2002, para aquisição dos

equipamentos odontológicos para a ambulância, permitindo, assim, a

escolha das empresas participantes dos certames. Após realização de

auditoria, constataram-se diversas irregularidades no procedimento

licitatório.

3. Da análise dos autos, observam-se presentes elementos concretos

aptos a infirmar as conclusões adotadas no acórdão recorrido, através

de simples valoração da prova produzida nos autos, o que afasta a

incidência da Súmula 7/STJ.

4. Os autos reforçam a irregularidade apontada. Isso porque, quando

levado em consideração o fato de que a empresa DIVEPEL - Distribuidora

de Veículos e peças Ltda. participou de ambos os procedimentos

licitatórios (convite 016/2002 e convite 017/2002), sendo convidada

pela comissão licitante, evidencia-se a possibilidade de

procedimento licitatório único, a fim de garantir o melhor preço. A

situação denota não só a existência de empresa que forneça ambos os

objetos, como também o expresso conhecimento do fato por parte da

Comissão Licitante.

5. Tudo isso leva à conclusão inafastável da ocorrência de ato ímprobo,

uma vez que a Comissão Licitante, a fim de frustrar a competitividade

da licitação e os princípios que regem o tema, fracionou o

procedimento, ensejando dano ao erário.

6. O STJ possui o entendimento de que, em casos como o ora analisado,

o prejuízo ao erário, na espécie (fracionamento de objeto licitado, com

ilegalidade do procedimento licitatório), que geraria a lesividade apta a

ensejar a nulidade e o ressarcimento ao erário, é in re ipsa, na medida

em que o Poder Público deixa de, por condutas de administradores,

contratar a melhor proposta. Precedente: REsp 1.280.321/MG, Rel. Ministro

Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 9.3.2012.

7. Recurso Especial provido para, em consonância com o parecer

ministerial, restabelecer a sentença proferida em primeiro grau, que

reconheceu a prática de ato ímprobo e a situação irregular do

procedimento licitatório. (REsp 1622290/AL, Rel. Ministro HERMAN

BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 19/12/2016)

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36

Assim, por meio de simples interpretação gramatical, pode-se afirmar

que toda ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres dos entes

descritos no art. 1º da Lei de Improbidade Administrativa, constituirá ato de

improbidade administrativa que causa lesão ao erário, conforme expresso,

literalmente, no art. 10 da Lei n.º 8429/92.

No caso em lume, contudo, além de comprovadas as indevidas

dispensas de procedimento licitatório, conforme já delineado em tópicos anteriores,

também foram minuciosamente destacados os danos ao erário decorrente da

prestação de serviços ao DETRAN, sem qualquer contrato, ou seja, sem que pudesse

ser feita qualquer fiscalização sobre o cumprimento dos serviços acordados, pela fata

de instrumento formal.

Ora, como se paga por serviços de correntes de contrato inexistente!.

Todos os pagamentos à título de “indenizações” para SERVI-SAN VIGILÂNCIA E

TRANSPORTE DE VALORES LTDA, em decorrência de seus supostos serviços prestados,

foram feitos ilegalmente e, portanto, teriam que retornar aos cofres do DETRAN. Não se

trata, aqui de enriquecimento da administração pública, pois isso ao remunerar

serviços ilegalmente realizados, o DETRAN prejudicou duplamente os cofres públicos,

considerando que além de não contratar com aquele que daria a melhor proposta,

também pagou por algo que nem mesmo tinha como fiscalizar, já que não haviam

parâmetros contratualmente estabelecidos.

É esclarecedora a lição de Sérgio Ferraz e Lúcia Figueiredo, a seguir

transcrita:

“quem gastar em desacordo com a Lei, há de fazê-lo por sua conta,

risco e perigo. Pois, impugnada a despesa, a quantia gasta

irregularmente terá de retornar ao erário público. Não caberá a

invocação, assaz de vezes realizada, de enriquecimento da

Administração. Ter-se-ia, consoante essa linha de argumentação,

beneficiado com a obra, serviço e fornecimento, e, ainda mais, com o

recolhimento dos responsável ou responsáveis pela despesa

considerada ilegal”.24

24 Citado na Apelação Cível n. 570605 5/2-00, Comarca de Itaporanga, julgada no dia 28 de

abril de 2008, relator Desembargador Pires de Araújo.

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37

Releva frisar, também, que para incidência do art. 10, da Lei de

improbidade, nem mesmo se debate sobre o elemento subjetivo da conduta dos

agentes envolvidos, ou seja, se agiram por negligência ou intencionalmente, com

base em interesse escuso.

Assim, não se admite que aqueles que ocupantes de cargos e funções

públicas não assumam suas responsabilidades, face omissões, negligência ou desídia,

que causem danos ao erário. Assim entende o Superior Tribunal de Justiça: “Diante das

Leis de Improbidade e de Responsabilidade Fiscal, inexiste espaço para o

administrador "desorganizado" e "despreparado", não se podendo conceber que um

Prefeito assuma a administração de um Município sem a observância das mais

comezinhas regras de direito público. Ainda que se cogite não tenha o réu agido com

má-fé, os fatos abstraídos configuram-se atos de improbidade e não meras

irregularidades, por inobservância do princípio da legalidade” (REsp 708170/MG, Rel.

Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2005, DJ 19/12).

Ad argumentandum tantum, no mínimo, houve aqui, clara culpa dos

envolvidos nos danos ao erário decorrentes das contratações nulas de prestadora de

serviço beneficiária (empresa SERVI-SAN) por vultuosas quantias, pois é certo que os

gestores Walter Wanderley de Paula Pena e Agostinho Queiroz Soares, com o claro

auxílio e convivência de Patrícia Regina Leotty da Cunha e Antônio Villar Pantoja

Júnior, ora Requeridos, foram negligentes e desidiosos em não dar a celeridade

devida a procedimento licitatórios, gerando dispensas ilegais, bem como autorizando

o pagamento de serviços, se nem mesmo a realização de contrato formal.

Com efeito, conforme já exaustivamente descrito nas análises feitas em

tópicos anteriores, sobre as dispensas licitatórias e contratações sem instrumento

algum, celebradas com a empresa SERVI-SAN, o que se observou é que cada um dos

Requeridos atuou decisivamente e diretamente para concretização de tais

ilegalidades, seja autorizando expressamente com que fossem cometidas, ou

procrastinando absurdamente os atos que lhe cabiam, ainda que fossem simples

despachos, e até executando condutas desnecessárias e repetitivas, quanto a

questões já dirimidas (modalidade licitatória cabível, por exemplo), de modo que

jamais se concluísse algum procedimento licitatório e, com isso, continuasse a se

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38

perpetuar o beneficiamento indevido de empresa privada, com o recebimento de

vultuosas quantias.

Desta feita, sob qualquer prisma que se olhe, não restam dúvidas de que

os Requeridos devem responder, judicialmente, com base nos fatos e provas colhidas

e aqui historiadas, havendo, inclusive, elementos de convicção, já delineados, de que

agiam com dolo e má-fé durante as ilegalidades, porém, no mínimo, com clara culpa,

decorrente de suas absurdas negligências.

Posto isto, caracterizada está a incidência da lei de improbidade

também nessa situação, diante do efetivo prejuízo ao erário, decorrente das dispensas

indevidas de licitação e contratação sem instrumento formal, todas oriundas de atos e

omissões dos Requeridos, sendo que esse montante do prejuízo foi de R$ 20.810.810,7

(vinte milhões, oitocentos e dez mil, oitocentos e dez reais e sete centavos),

correspondente aos valores pagos pelo DETRAN em razão dos ilegais contratos

emergenciais nº 61/2014 e nº 17/2013, ao que se somaram, ainda, outras vultuosas

quantias pagas sem contrato, que foram devidamente quantificadas, conforme

lançamentos extraídos do sistema SIAFEM do ESTADO do PARÁ, descritos em tópico

anterior.

III – DO PEDIDO LIMINARES DE INDISPONIBLIDADE DE BENS

A medida liminar de Indisponibilidade de Bens está em consonância com

o art. 37, § 4°, da Constituição Federal, e veio regulada expressamente pela Lei

8.429/92, in verbis:

Artigo 7°. Quando o ato de improbidade causar lesão aopatrimônio

público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade

administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério

Público, para aindisponibilidade dos bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere ocaput deste

artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento

do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do

enriquecimento ilícito.

(...)

Artigo 16. Havendo fundados indícios deresponsabilidade, a comissão

representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que

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39

requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do

agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano

ao patrimônio público.

Os fundados indícios de responsabilidade do ato de improbidade

administrativa, representativos do fumus boni iuris da medida, encontram-se

devidamente comprovados no caso em lume, por meio dos documentos acostados

aos autos.

Quanto ao periculum in mora, a melhor doutrina entende seja ele

presumido, tratando-se de responsabilização por atos de improbidade. Nessa linha,

impende destacar o magistério do eminente Wallace Paiva Martins Júnior, in verbis:

A indisponibilidade de bens exige os pressupostos gerais da medida de

cautela (fumus boni juris epericulum in mora), considerando que o

periculum in mora é presumido porque o § 4° do artigo 37 da Constituição

Federal, ao determinar de modo expresso que 'os atos de improbidade

administrativa importarão... a indisponibilidade dos bens e o

ressarcimento ao erário...' (sublinha-se), e sendo a primeira figura

nitidamente acautelatória – diversamente da segunda -, evidentemente

manda presumir, em relação a ela, o requisito do 'periculum in mora'. O

dispositivo constitucional demonstra claramente a imprescindibilidade da

providência quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio

público. Daí a razão do artigo 7° da Lei n° 8.429/92 não esclarecer quais

os requisitos exigíveis para a sua concessão, diferentemente de outras

medidas acautelatórias.

Realmente, a indisponibilidade de bens dos Requeridos, em quantos

forem necessários ao ressarcimento integral do dano, no valor total de R$ 20.810.810,7

(vinte milhões, oitocentos e dez mil, oitocentos e dez reais e sete centavos), até o

julgamento definitivo do mérito da causa, nos termos admitidos pelo art. 18, da Lei

Federal 8.429/92, é medida imprescindível para evitar que haja ocultação de

patrimônio após iniciada essa demanda, ou até a produção de insolvência, para se

furtar à responsabilidade, impedindo que, ao final, o patrimônio seja recomposto.

Para execução da medida, requer, em consequência, a expedição de

ofícios à Secretaria da Receita Federal, ao Banco Central do Brasil, à Junta Comercial

do Pará, ao DETRAN-Pa e ao Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Belém,

com o fim de bloquear os valores ou bens patrimoniais que correspondam ao

montante do dano ao erário.

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IV- D O S P E D I D O F I N A I S

Face ao exposto, vem requerer se digne Vossa Excelência a:

1 – Deferir, inaudita altera pars, o pedido liminar apresentado em

epígrafe, em todos os seus termos, de modo a ser efetivada a

indisponibilidade dos bens dos Requeridos: WALTER WANDERLEY DE

PAULA PENA; AGOSTINHO QUEIROZ SOARES; PATRÍCIA REGINA

LEOTTY DA CUNHA; ANTÔNIO VILLAR PANTOJA JÚNIOR; e da

Empresa SERVI-SAN VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA

(filial), de CNPJ sob o nº. 12.066.015/0006-46, em quantidade e

valor suficientes para garantir o ressarcimento integral do dano

causado aos cofres públicos, aqui quantificado em R$ 20.810.810,7

(vinte milhões, oitocentos e dez mil, oitocentos e dez reais e sete

centavos);

2 – Julgar procedente a presente ação civil pública, com a imposição

cumulativa de todas as sanções previstas para o art. 10, VIII e 11, II,

delineadas no art. 12, inciso II e III, da Lei Federal 8.429/92, ante a

ocorrência de agressões aos princípios constitucionais e dano ao

erário, causados pelas condutas dos Requeridos, especialmente:

2.1 – Condenar WALTER WANDERLEY DE PAULA PENA, AGOSTINHO

QUEIROZ SOARES, PATRÍCIA REGINA LEOTTY DA CUNHA, e ANTÔNIO

VILLAR PANTOJA JÚNIOR a perda da função pública, a suspensão

dos direitos políticos de 05 (cinco) a 08 (oito) anos e ao

pagamento de multa civil, de até 02 (duas) vezes o valor do dano;

2.2 – Condenar WALTER WANDERLEY DE PAULA PENA, AGOSTINHO

QUEIROZ SOARES, PATRÍCIA REGINA LEOTTY DA CUNHA, e ANTÔNIO

VILLAR PANTOJA JÚNIOR e a Empresa SERVI-SAN VIGILÂNCIA E

TRANSPORTE DE VALORES LTDA (filial) ao ressarcimento integral do

dano, cujo montante correspondente a R$ 20.810.810,7 (vinte

milhões, oitocentos e dez mil, oitocentos e dez reais e sete

centavos), quantia essa, que deverá ser atualizada

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monetariamente pelos índices oficiais e acrescida dos juros legais,

desde o dia em que foi indevidamente gasta;

3 – A citação dos Requeridos para, querendo, contestarem a presente

ação, dentro do prazo legal, sob pena de revelia;

4 – A intimação pessoal do Ministério Público de todos os atos e termos

processuais, nos termos do art. 270, § único, do novo Código de

Processo Civil;

5 – A produção de todas as provas em Direito admitidas, a serem

requeridas oportunamente.

Dá-se a causa o valor de R$ 20.810.810,7 (vinte milhões, oitocentos e

dez mil, oitocentos e dez reais e sete centavos);

São os termos em que pede deferimento.

Belém, 06 de abril de 2018.

DANIEL HENRIQUE QUEIROZ DE AZEVEDO 1º Promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Moralidade Administrativa