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Rua Bela Cintra, 756, Conjunto 12, São Paulo, SP CEP 01415-002 – Tel/fax: (11) 2679-3500 Setor Hoteleiro Sul, Quadra 06, Conjunto A, Bl. E, Edifício Brasil XXI, Salas 1020 e1021, Brasília, DF CEP 70316-902 - Tel/fax: (61) 3323-2250 EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES PÚBLICOS – ANADEP, entidade de classe de âmbito nacional, inscrita no CNPJ/MF 03.763.804/0001-30, com sede estatutária em Brasília, na SCS Quadra 01, Bloco M, Edifício Gilberto Salomão, conjunto 1301, CEP 70305-900, por seus advogados (Doc. 1), vêm à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 102, I, “l”, da Constituição da República e art. 156 do RISTF, apresentar a presente RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL (com pedido de medida liminar) contra ato produzido no âmbito do Estado de Santa Catarina que violou a autoridade de julgado desse Egrégio Supremo Tribunal adotado como solução da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4270/SC, conforme exposição de fatos e fundamentos que passa a expor.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES

PÚBLICOS – ANADEP, entidade de classe de âmbito nacional, inscrita no

CNPJ/MF 03.763.804/0001-30, com sede estatutária em Brasília, na SCS Quadra

01, Bloco M, Edifício Gilberto Salomão, conjunto 1301, CEP 70305-900, por seus

advogados (Doc. 1), vêm à presença de Vossa Excelência, com fundamento no

artigo 102, I, “l”, da Constituição da República e art. 156 do RISTF, apresentar a

presente

RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL

(com pedido de medida liminar)

contra ato produzido no âmbito do Estado de Santa Catarina que violou a

autoridade de julgado desse Egrégio Supremo Tribunal adotado como solução da

Ação Direta de Inconstitucionalidade 4270/SC, conforme exposição de fatos e

fundamentos que passa a expor.

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1-DO CABIMENTO DA PRESENTE RECLAMAÇÃO

A fim de garantir o efetivo cumprimento das decisões

emanadas pelo Supremo Tribunal Federal, foi instituído no art. 102, I, “l” da

Constituição Federal e também pelo Regimento interno da Suprema Corte, em seu

art. 156, a Reclamação Constitucional.

Assim, quando se descumprir decisão de turma ou do

plenário, seja por ato do próprio STF (Ministro; Turma, quanto à decisão do

Plenário; órgão administrativo) ou por ato externo ao tribunal, o STF, de ofício ou

mediante reclamação do interessado, pode determinar o quê de direito para a

garantia de sua autoridade.

Da mesma forma, quando outra entidade ou órgão do

Poder Judiciário, Legislativo ou Executivo, agir invadindo a esfera da competência

constitucional do STF, cabe a reclamação para que o STF determine medida

tendente a preservar sua competência. Este modelo federal tem sido aplicado por

outros tribunais do País.

Admite-se então a ação de reclamação contra atos do

Tribunal tendentes a descumprir ação direta de inconstitucionalidade. É caso de

preservação da autoridade da decisão prolatada pelo Supremo Tribunal Federal.

Sobre esta questão:

EMENTA: RECLAMAÇÃO. PRELIMINAR:

CABIMENTO DE RECLAMAÇÃO POR DESRESPEITO

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A DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PROLATADA EM AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE. MÉRITO: ALCANCE

DA DECISÃO PROLATADA NA ADI Nº 598, QUANTO

AO EDITAL DE CONCURSO, E DESCONSTITUIÇÃO

E CASSAÇÃO DE ATOS EXORBITANTES DESTE

JULGADO. I - Preliminar. A jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal admite, excepcionalmente, reclamação

para preservar a autoridade de decisão prolatada em

ação direta de inconstitucionalidade, desde que haja

identidade de partes e que a prática de atos concretos

fundados na norma declarada inconstitucional promane

do órgão que a editou. Precedentes. II - Mérito. Inteligência da

decisão prolatada na ADI Nº 598-7-TO, a qual declarou

inconstitucionais: a expressão "inclusive para fins de concurso público de

títulos e provas", contida no par. único do art. 25 da Lei nº 157/90; o

art. 29 e seu pár. único do Decreto nº 1.520/90; e todo o Edital do

Concurso "Pioneiro do Tocantins" e, conseqüentemente, do concurso

realizado. 2. Reclamação conhecida e julgada procedente, em parte, para

declarar a nulidade do "Termo de Acordo" firmado entre o Estado e o

Sindicato dos Funcionário do Fisco do Estado do Tocantins -

SINDIFISCO nos autos da Ação Cautelar Inominada nº 10/93 e do

Decreto nº 123/95 e, ainda, para cassar o acórdão proferido na Medida

Cautelar Inominada nº 10/93 e a decisão que homologou o referido

Termo de Acordo, por serem exorbitantes do julgado desta Corte na

ADI nº 598. 3. Reclamação julgada improcedente quanto: ao Decreto

nº 124/95; aos pedidos genéricos e não especificados, por serem

incompatíveis com a natureza do processo reclamatório; e quanto aos

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demais atos locais, cuja existência não foi comprovada nos autos.

(Rcl 556, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal

Pleno, julgado em 11/11/1996, DJ 03-10-1997 PP-49230

EMENT VOL-01885-01 PP-00049)

Desta forma, frente ao flagrante descumprimento da

determinação insculpida na ADI 4270/SC, cabe a presente Reclamação

Constitucional para determinar o imediato cumprimento daquela decisão.

2-DA LEGITIMIDADE DA REQUERENTE

A Associação Nacional dos Defensores Públicos é

entidade de classe de âmbito nacional, com associados em todos os estado-membros

da Federação (com exceção apenas de Goiás, Paraná)1, fundada em 03 de julho de

1984 e, nos termos de seu estatuto “congrega defensores públicos do país, aposentados ou não,

para a defesa de suas prerrogativas, direitos e interesses”.

No que se refere à pertinência temática, também

presentes os requisitos necessários à legitimidade. O estatuto da Requerente define

suas finalidades, nos termos que se seguem:

1 A ausência de associados nesses estados se explica exatamente pela inexistência da instituição da Defensoria Pública.

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“Art. 2º - São finalidades da Associação Nacional de Defensores

Públicos – ANADEP:

I- representar e promover, por todos os meios, em âmbito nacional,

a defesa das prerrogativas, dos direitos e interesses individuais e

coletivos dos seus associados efetivos, em juízo ou fora dele,

velando pela unidade institucional da Defensoria

Pública, nos termos do art. 5º, inciso XXI, da

Constituição Federal, após prévia aprovação e autorização

assemblear;

II- prestar apoio às Associações de Defensores

Públicos dos Estados, da União, do Distrito

Federal e dos Territórios;

(...)

IV- colaborar com os Poderes Constituídos no

aperfeiçoamento da ordem jurídica, fazendo

representações, indicações, requerimentos ou sugestões à legislação

existente ou a projetos em tramitação;

(...).”

Considerando ser função da ANADEP velar pela

unidade institucional da Defensoria Pública e prestar apoio aos defensores públicos

estaduais, é evidente o seu interesse em garantir a existência de Defensoria Pública,

organizada e efetivamente implantada de acordo com os preceitos constitucionais,

em todos os estados da Federação. Trata-se de tema de grande relevância, não

apenas por sua importância institucional e política, mas por representar a

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concretização da autonomia do órgão, consagrada na Constituição Federal da EC

45/04.

Assim, frente a flagrante legitimidade da Reclamante

para representar os defensores públicos, foi a ANADEP quem intentou a Ação

Direta de Inconstitucionalidade nº 4270/SC, que culminou na decisão não cumprida

pelo Estado de Santa Catarina, decisão esta que legitima o cabimento da presente

Reclamação.

Por conseguinte, requer-se o reconhecimento da

Requerente como legitimada a acionar esta E. Corte pelo mecanismo da Reclamação

previsto no artigo 102, I, “l”, da Constituição da República e art. 156 do RISTF.

3 -DOS FATOS

Trata-se, na origem, da ação direta de

inconstitucionalidade de nº 4270/SC, em face do art. 104 da constituição e da lei

complementar 155/1997 do Estado de Santa Catarina. Os dispositivos impugnados

autorizavam e regulamentavam a prestação de serviços de assistência judiciária pela

Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Santa Catarina (OAB/SC), em

substituição à defensoria pública.

Ocorre que, o resultado prático das normas

questionadas era a inexistência do cargo de defensor público na estrutura do Estado

de Santa Catarina: o serviço de assistência judiciária era, e ainda é, prestado por

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advogados particulares, escolhidos sem processo de seleção prévia, pela própria

OAB/SC.

As disposições impugnadas naquela ADI também

representavam contra o descumprimento do dever de criar e manter serviço público

de assistência jurídica por meio de órgão de Estado (art. 5º, LXXIV, e art. 134,

caput e parágrafos 1º e 2º, da Constituição federal).

A situação normativa existente no Estado de Santa

Catarina também representava violação aos princípios da competência legislativa dos

entes federados, uma vez que conforme exposto as razões da ANADEP o art. 134

dispunha que lei complementar federal – no caso a LC 80/1994 – disporia sobre as

normas gerais aplicáveis à defensoria pública dos Estados. Lembrando ainda que a

LC 80/1994 previa, em seus artigos 110 e 112, a criação de cargos efetivos de

defensor público, preenchidos mediante aprovação em concurso público. Essas

regras, de nítido caráter impositivo, não poderiam deixar de ser observadas pelo

Estado de Santa Catarina, requerendo sua análise à esse Ínclito Tribunal.

A requerente acrescentou ainda àquele pleito que a

promulgação da lei complementar estadual impugnada, por resultar da derrubada de

veto total oposto pelo Governador de Santa Catarina a projeto de Lei aprovado pela

Assembleia Legislativa daquela unidade da Federação, representaria, também,

violação ao princípio da simetria, uma vez que, dispondo sobre defensoria pública,

conteria matéria de iniciativa legislativa privativa do Chefe de Estado, conforme art.

61, § 1º, II, d, da Constituição.

O pedido da ora Reclamante foi apoiado pelo

Advogado-Geral da União que sustentou que a criação e implantação da defensoria

pública de âmbito estadual, organizada em instituição própria e com carreira

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específica, seria norma constitucional de observância obrigatória, lembrando ainda

que já subsistia lei complementar nacional que estabelecia normas gerais sobre a

constituição da defensoria pública (LC 80/1994), promulgada com fundamento em

competência concorrente, fato que torna obrigatória a observância, pelo Estado-

Membro, da respectiva norma geral (art. 24, XIII, e § 3º).

Também o Ilmo. Procurador-Geral da República

apontou omissão do Estado de Santa Catarina na prestação de assistência jurídica.

Tendo como apoio precedentes desta Corte, afirmando ainda que a Constituição

impunha aos Estados-membros o dever de criar e manter órgão de assistência

judiciária organizado sob a forma de defensoria pública.

As seguintes entidades e pessoas foram admitidas como

amicus curiae: Conectas Direitos Humanos, Instituto Pro Bono, Instituto Terra,

Trabalho e Cidadania, Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Santa Catarina, e

Associação Juízes para a Democracia.

Após trâmite regular, com a manifestação de diversos

interessados, o processo foi julgado do dia 14 de março de 2012, sendo que, por

maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente a ação direta, com

eficácia diferida a partir de 12 (doze) meses, a contar da data do julgamento –

Publicação em 14/03/2012 (Doc. 3) - conforme o inteiro teor que se segue:

Ementa: ART. 104 DA CONSTITUIÇÃO DO

ESTADO DE SANTA CATARINA. LEI

COMPLEMENTAR ESTADUAL 155/1997.

CONVÊNIO COM A SECCIONAL DA ORDEM

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DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB/SC)

PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE

“DEFENSORIA PÚBLICA DATIVA”.

Inexistência, no Estado de Santa Catarina, de

órgão estatal destinado à orientação jurídica e à

defesa dos necessitados. Situação institucional que

configura severo ataque à dignidade do ser

humano. Violação do inc. LXXIV do art. 5º e do

art. 134, caput, da redação originária da

Constituição de 1988. Ações diretas julgadas

procedentes para declarar a inconstitucionalidade

do art. 104 da constituição do Estado de Santa

Catarina e da lei complementar estadual 155/1997 e

admitir a continuidade dos serviços atualmente

prestados pelo Estado de Santa Catarina mediante

convênio com a OAB/SC pelo prazo máximo de 1

(um) ano da data do julgamento da presente ação,

ao fim do qual deverá estar em funcionamento

órgão estadual de defensoria pública estruturado

de acordo com a Constituição de 1988 e em estrita

observância à legislação complementar nacional

(LC 80/1994).

(ADI 4270, Relator(a): Min. JOAQUIM

BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em

14/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-188

DIVULG 24-09-2012 PUBLIC 25-09-2012).

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Assim, foi determinado ao Estado de Santa Catarina, na

pessoa de seu governador, que criasse a Defensoria Pública Estadual e a colocasse

em pleno funcionamento no prazo de 12 meses, entretanto, a determinação judicial

está sendo desrespeitada e desconsiderada, sendo cumprida somente em parte, tal

desrespeito à determinação da Suprema corte não pode subsistir, conforme

passamos a evidenciar.

4– DA VIOLAÇÃO DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Este Colendo Supremo Tribunal Federal, no julgamento

da ADI 4270/SC, reconheceu, no controle concentrado com efeitos vinculante e

erga omnes, a inconstitucionalidade do art. 104 da constituição do Estado de Santa

Catarina e da lei complementar estadual 155/1997.

Nesta oportunidade, restou fixado o entendimento da

necessidade de criação da Defensoria Pública no Estado de Santa Catarina dentro

do prazo de 12 meses contados a partir da publicação do acórdão. Todavia, os

contornos estreitos da reclamação constitucional exigem o abandono de discussões

outras, com a fixação no ponto específico em que houve a violação da decisão erga

omnes e vinculante do Supremo Tribunal. Assim, a presente reclamação é,

simplesmente, o meio apropriado para determinar a extensão da determinação e o

cumprimento da decisão na sua totalidade.

Como podemos depreender da fl. 8 do voto do E.

Relator do decisium aqui defendido ficou acertada a continuidade dos serviços

prestados pela OAB/SC pelo prazo de 12 meses, sendo que após, deveria estar em

pleno funcionamento a Defensoria Estadual Catarinense, conforme trecho do voto:

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Em outras palavras, a argumentação das requerentes é suficiente

para infirmar o conteúdo das modificações supervenientes, não

havendo que se falar em convalidação de qualquer

espécie após o presente juízo pela

inconstitucionalidade total dos dispositivos.

Em linha com a proposta formulada pelas requerentes e com o

precedente da ADI 3.819, rel. min. Eros Grau, DJe

28.03.2008, sugiro que a Corte exija a continuidade

da prestação dos serviços atualmente ofertados

com fundamento nas normas questionadas durante

o prazo de seis meses, ao fim do qual deve estar

definitivamente criada e em funcionamento a

defensoria pública do Estado de Santa Catarina.

(ADI 4270/SC, fl. 8)(grifo e corte nossos).

Em suposta obediência à ordem emanada por este Eg.

Supremo Tribunal Federal, o Governador do Estado de Santa Catarina enviou e,

posteriormente, foi aprovada a lei complementar estadual nº 575/2012, que veio à

luz com inúmeros vícios constitucionais.

Com a lei complementar estadual acima referida, foi

então criada a defensoria pública do Estado de Santa Catarina, tendo ainda sido

realizado o I Concurso de ingresso na carreira de Defensor Público do Estado de

Santa Catarina. Entretanto, além dos equívocos na norma, em desrespeito à

determinação para colocação em funcionamento do órgão, foram previstas apenas

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60 (sessenta) cargos de Defensor Público, número esse, bem inferior aos 509

(quinhentos e nove) cargos necessários para o Estado, conforme recente estudo

elaborado pelo IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em parceria com

a ANADEP, denominado Mapa da Defensoria Pública do Brasil.

Destaca-se que, até mesmo a Ordem dos

Advogados do Brasil, Seccional de Santa Catarina, reconhece que a

Defensoria Pública em Santa Catarina ainda não foi efetivamente

implantada. (Doc. 4)2

Ainda, em total desrespeito à decisão que se busca

cumprimento, após o término do I Concurso de ingresso na carreira de Defensor

Público do Estado de Santa Catarina, a Reclamante teve ciência da nomeação de

apenas 45 (quarenta e cinco) Defensores Públicos do total de 157 (cento e cinquenta

e sete) aprovados no certame.

Ora Excelências, tem-se que a nomeação de apenas 60

(sessenta) Defensores Públicos não atende à parte final do acórdão, conforme pode-

se depreender de trecho da ementa, in verbis: “(...) ao fim do qual deverá estar em

funcionamento órgão estadual de defensoria pública (...)” , uma vez que um

número tão exíguo de Defensores é insuficiente à implantação da Defensoria, tendo

em vista a grande quantidade de jurisdicionados que necessitam de seus serviços e a

grande quantidade de comarcas que estes devem atuar, sendo que a nomeação de

apenas 45 deles, é violação ainda mais latente ao Mandamus.

Com a nomeação de apenas 45 Defensores Públicos,

percebe-se a inércia do Governo de Santa Catarina em implantar corretamente a

Defensoria Pública no Estado, mantendo em vigor a Defensoria Dativa e

2 http://www.conjur.com.br/2013-jul-15/oab-sc-recomenda-advogados-dativos-nao-atuem-

pagamento-divida

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desafiando a decisão desta Corte Suprema, mantendo intacta a estrutura daquilo que

este Supremo chamou de “substituição do interesse público pelo interesse corporativo dos

membros da OAB”, sob o pretexto de implantação de convenio suplementar.

Em recente entrevista ao programa jornalístico

“Fantástico3”, da Rede Globo, o Defensor Público Geral demonstrou publicamente

o interesse na manutenção do convênio. Por outro lado, o Conselheiro da OAB,

Eduardo de Melo e Souza, afirmou que o convênio suplementar está em retrocesso,

pois os advogados dativos tem medo de não receber seus honorários, ainda que o

processo de implantação da Defensoria Pública local não tenha sido concluído.

A Situação da Defensoria/SC é extremamente precária,

eis que, em 9 de abril de 2013, foram nomeados Defensores Públicos para servir

apenas 7 (sete) unidades regionais das 21 (vinte e uma) previstas na mencionada Lei

Complementar, quais sejam, Florianópolis, Joinville, Itajaí, Lages, Chapecó,

Blumenau e Criciúma. Isto significa que apenas 7 (sete) comarcas de um total

de 110 (cento e dez) possuem assistência jurídica aos necessitados.

Atualmente os hipossuficientes do interior do Estado

não dispõem de qualquer forma de assistência, não tendo “direito de ter direitos”.

Ou seja, quem não reside nas 7 (sete) referidas cidades e não tem condições de pagar

um advogado em Santa Catarina não tem acesso à Justiça, direito fundamental

previsto na Constituição.

Em contrariedade à decisão aqui reclamada tem-se que

a recente criada Defensoria Pública que deveria atuar de forma efetiva, não foi ou

não vem sendo devidamente estruturada e instalada pelo Governo Estadual.

3 http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/t/edicoes/v/falta-de-defensores-publicos-

afeta-a-vida-de-milhares-de-brasileiros/2464822/

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A violação à determinação do deste E. STF é tão frontal

que, em encontro com o Presidente da OAB catarinense, o Ilmo. Secretário da

Fazenda do Estado, Antônio Gavazzoni, afirmou que “o modelo de Defensoria Dativa de

Santa Catarina funcionava muito bem. Queremos manter a parceria, pois não tenho dúvida que

99% da assistência judiciária gratuita no Estado será feita com apoio da OAB, pois a Defensoria

Pública não terá como atender às demandas”4

Entretanto, esse posicionamento mudou, pois

conforme as manifestações constam na Carta de Rio do Sul, emitida pelo colégio de

presidentes subseções da entidade em Santa Catarina, os advogados repudiam a

postura do governador Raimundo Colombo (PSD) pelo que chamam de "desrespeito

ao devido acesso à Justiça do cidadão5", recomendando ainda que os advogados do estado

não aceitem nomeações feitas por magistrados nos processos de assistência

judiciária. (Doc 4).

Com o presente writ não se busca a discussão sobre

estrutura, tempo hábil ou mesmo orçamento para a implantação imediata da

Defensoria, mas se busca, pelo menos, a nomeação dos aprovados no 1º Concurso

Público para Defensores do Estado de Santa Catarina, tratando-se in casu de respeito

à decisão reclamada a fim de verem respeitados os direitos fundamentais dos

Hipossuficientes.

Sob os mantos da Constituição, é questão de ordem

pública que haja Defensores Públicos em número suficiente para o atendimento,

com qualidade, de quem não tem recursos suficientes para pagar um advogado. E,

pelo visto, o Estado tem orçamento para tanto, pois, enquanto direciona R$ 12

milhões para a criação da Defensoria Pública, ao mesmo tempo, destina R$ 22

4 http://www.oab-sc.org.br/noticia/8149

5 http://www.conjur.com.br/2013-jul-15/oab-sc-recomenda-advogados-dativos-nao-atuem-

pagamento-divida

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milhões para a contratação de advogados para exercerem a mesma função dos

Defensores, usurpando, sem necessidade, uma função essencial à Justiça,

questionamento retratado nas fls. 5 do voto do Relator na ADI 4270/SC:

“À primeira vista, é muito pouco provável que se possa afirmar

que o cidadão catarinense esteja plenamente satisfeito com a

prestação de assistência judiciária por meio de advogados dativos

indicados pela seção estadual da Ordem dos Advogados. As cifras

apresentadas pelo Governo do Estado e pela própria OAB

sugerem, apenas, que a proporção de advogados dativos em relação

à população total do Estado seria maior em Santa Catarina do

que em outros estados nos quais foi criada a defensoria pública.

Esses números não trazem, entretanto, qualquer possibilidade de

juízo seguro sobre a qualidade dos serviços efetivamente prestados,

até porque não existe comparação possível em razão da

inexistência de defensoria naquele Estado.”

Essa diferença de tratamento orçamentário, em

total descumprimento da determinação judicial encampada, por si só já

retrata que a Defensoria Pública está servindo como um mero suplemento de

um modelo que foi declarado inconstitucional por esta Corte Suprema, feito

por intermédio de convênio com a OAB/SC. O certo seria o contrário, se o

convênio fosse apenas um complemento da atuação institucional da

Defensoria Pública.

Deste modo, é evidente que a nova lei complementar

catarinense descumpre a determinação desta egrégia Corte, uma vez que com o

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orçamento destinado para a Defensoria Pública, assim como pela quantidade ínfima

de cargos de Defensores Públicos, na prática mantém de forma primária o convênio

com a OAB/SC.

Inclusive, neste ponto, ainda durante a tramitação do

projeto de lei complementar na Assembleia Legislativa catarinense, o douto

Procurador-Geral da República, por meio do Ofício PGR/GAB/N 972, de 16 de

julho de 2012 (Doc 6), expediu recomendação ao Governador alegando que aquele

projeto em tramitação não respeitava a decisão do STF na ADIs 3.892 e 4.270 nos

seguintes termos:

“[...] Em conclusão, considerando o número de comarcas

existentes nesse Estado, aliado a um quadro diminuto de

Defensores Públicos, é inevitável concluir que a assistência

judiciária aos necessitados, em Santa Catarina, continuará a ser

prestada mediante convênio com a OAB, modelo claramente

proscrito pelo STF.

Assim, cabe-me recomendar a substituição do referido projeto de

lei complementar por outro que esteja em harmonia com o art.

134 da Constituição Federal e especialmente que preveja (i)

número de cargos de Defensor Público compatível com as

necessidades do Estado e com as características de suas comarcas;

(ii) escalonamento para o provimento de todos esses cargos; (iii)

que todos os cargos de administração superior da instituição sejam

exercidos de forma privativa por membros da carreira.[...]”

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Apesar da recomendação feita pelo d. Procurador Geral

da República, o Governador manteve-se inerte, sendo aprovado o projeto de lei que

deu origem à Lei Complementar Estadual 575/2012.

Efetivamente, a nova legislação estadual é recalcitrante

no cumprimento do decisium do STF, uma vez que a prestação indireta dos serviços

típicos da Defensoria Pública por advogados permanecerá nos moldes proscritos

pelo STF.

A norma mantém previsão de convênios, para que,

mediante novo ajuste, continuem a ser contratados advogados e, conforme já

demonstrado, há no orçamento do Estado valores reservados para o pagamento de

“convênio” em valor superior ao destinado para Defensoria Pública.

Em vez de indicar a terceirização do serviço de

Defensoria Pública, a Lei deveria criar um número mínimo de vagas suficientes para

atender todas as 113 comarcas do Estado, sob pena de violação da decisão do STF,

uma vez que restou pacificada a impossibilidade de vir a ser exercida a função pela

Defensoria Dativa.

Incorre em erro, porque a decisão do STF não deixou

margens para discricionariedade na criação da Defensoria Pública. Por certo, não

se encontra na discricionariedade do legislador estadual a opção que fez de,

por exemplo, manter praticamente toda a assistência judiciária aos cuidados

da OAB.

Ainda, por mais que sejam possíveis convênios, para

encontrar coerência e coadunação com o entendimento consolidado deste STF

(ADI 4163/SP), eles deverão ser supervisionados por Defensores Públicos

concursados, devendo ser implementados apenas de forma suplementar.

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Também não há fundamento para uma eventual

alegação da reserva do possível (ausência de orçamento), pois o Governo

destinou a quantia de R$ 22 milhões para a contratação de advogados para

desempenharem parte das funções dos Defensores Públicos (sim, porque

resume-se à atuação judicial, litigiosa, sem preocupação com a prevenção ou

a solução extrajudicial dos conflitos). Portanto, não cabe o argumento de que

não há orçamento para contratar mais Defensores Públicos, pois o Governo

já demonstrou interesse claro em formalizar um convênio com a OAB/SC, o

que na prática é bem mais dispendioso.

Ademais, a assistência judiciária gratuita é direito

fundamental, compondo o núcleo essencial dos direitos humanos, como prevê o

inc. LXXIV do art. 5º e o art. 134, caput, da redação originária da Constituição de

1988, constituindo o mínimo existencial do indivíduo, não podendo a tese da

reserva do possível se sobrepujar a esse direito fundamental.

Além do não cumprimento quanto a estruturação do

órgão estadual, a Lei Orgânica Estadual da Defensoria Pública foi editada com

inúmeros vícios.

Merece destaque a previsão de que a Chefia da

Defensoria Pública, Subdefensoria e Corregedoria serão exercidas por

advogados comissionados, escolhidos dentre aliados políticos do Governador

do Estado. Ou seja, a Lei Complementar catarinense que cria a Defensoria

Pública estadual viola tanto a LC nº 80/94 quanto a Constituição da

República ao entregar a Chefia da nova DPE a pessoas estranhas a seus

quadros, preferindo garantir a supremacia do critério político na questão da

implantação da Defensoria Pública.

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Nesta seara, este Douto Supremo Tribunal Federal já

decidiu pela inconstitucionalidade da nomeação de pessoas estranhas aos quadros da

Defensoria para cargos de Defensor Público-Geral, seu substituto imediato e de

Corregedor-Geral da Defensoria Pública em ADI proposta pela Reclamante,

assentando entendimento no sentido de que tais cargos são privativos dos membros

de carreira, consoante extrato do julgamento da ADI 2903, relatado pelo Ministro

Celso de Mello, in verbis:

E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE – (...) FIXAÇÃO,

PELA UNIÃO, DE DIRETRIZES GERAIS E,

PELOS ESTADOS-MEMBROS, DE NORMAS

SUPLEMENTARES - LEI COMPLEMENTAR

ESTADUAL QUE ESTABELECE CRITÉRIOS

PARA INVESTIDURA NOS CARGOS DE

DEFENSOR PÚBLICO-GERAL, DE SEU

SUBSTITUTO E DE CORREGEDOR-GERAL DA

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO - OFENSA

AO ART. 134, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA, NA REDAÇÃO QUE LHE DEU A

EC Nº 45/2004 -LEI COMPLEMENTAR

ESTADUAL QUE CONTRARIA,

FRONTALMENTE, CRITÉRIOS MÍNIMOS

LEGITIMAMENTE VEICULADOS, EM SEDE DE

NORMAS GERAIS, PELA UNIÃO FEDERAL -

INCONSTITUCIONALIDADE CARACTERIZADA

- AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE.

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES

PÚBLICOS (ANADEP) - ENTIDADE DE CLASSE

DE ÂMBITO NACIONAL - FISCALIZAÇÃO

NORMATIVA ABSTRATA - PERTINÊNCIA

TEMÁTICA DEMONSTRADA - LEGITIMIDADE

ATIVA "AD CAUSAM" RECONHECIDA. – (...)A

edição, por determinado Estado-membro, de lei que contrarie,

frontalmente, critérios mínimos legitimamente veiculados, em sede

de normas gerais, pela União Federal ofende, de modo direto, o

texto da Carta Política. Precedentes. ORGANIZAÇÃO DA

DEFENSORIA PÚBLICA NOS ESTADOS-

MEMBROS - ESTABELECIMENTO, PELA

UNIÃO FEDERAL, MEDIANTE LEI

COMPLEMENTAR NACIONAL, DE

REQUISITOS MÍNIMOS PARA INVESTIDURA

NOS CARGOS DE DEFENSOR PÚBLICO-

GERAL, DE SEU SUBSTITUTO E DO

CORREGEDOR-GERAL DA DEFENSORIA

PÚBLICA DOS ESTADOS-MEMBROS -

NORMAS GERAIS, QUE, EDITADAS PELA

UNIÃO FEDERAL, NO EXERCÍCIO DE

COMPETÊNCIA CONCORRENTE, NÃO

PODEM SER DESRESPEITADAS PELO

ESTADO-MEMBRO - LEI COMPLEMENTAR

ESTADUAL QUE FIXA CRITÉRIOS DIVERSOS

- INCONSTITUCIONALIDADE. - Os Estados-

membros e o Distrito Federal não podem, mediante legislação

autônoma, agindo "ultra vires", transgredir a legislação

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fundamental ou de princípios que a União Federal fez editar no

desempenho legítimo de sua competência constitucional, e de cujo

exercício deriva o poder de fixar, validamente, diretrizes e bases

gerais pertinentes a determinada matéria ou a certa Instituição,

como a organização e a estruturação, no plano local, da

Defensoria Pública. - É inconstitucional lei complementar

estadual, que, ao fixar critérios destinados a definir a escolha do

Defensor Público-Geral do Estado e demais agentes integrantes

da Administração Superior da Defensoria Pública local, não

observa as normas de caráter geral, institutivas da legislação

fundamental ou de princípios, prévia e validamente estipuladas em

lei complementar nacional que a União Federal fez editar com

apoio no legítimo exercício de sua competência concorrente. (...)

(ADI 2903, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,

Tribunal Pleno, julgado em 01/12/2005, DJe-177 DIVULG

18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-

01 PP-00064 RTJ VOL-00206-01 PP-00134) (grifo e corte

nosso)

Como recentemente lembrado pelo Ministério Público

Federal por meio do ofício n.º PRM-JOI/SC-GABPRM2-DLR (Doc. 7)

encaminhado à Procuradoria Geral da República, apenas a título exemplificativo,

atribuições estratégicas como a direção e coordenação da Defensoria Pública,

instauração de processos disciplinares contra membros e servidores, determinação

de correições extraordinárias, aplicação de pena de remoção compulsória,

apresentação de plano de atuação da instituição, acompanhamento e avaliação de

estágio probatório, exercício do poder normativo no âmbito interno, opinamento

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sobre matérias pertinentes à autonomia funcional e administrativa da instituição

serão concentradas exclusivamente nas mãos de pessoas que não integram os cargos

efetivos da carreira, o que por si só já contraria o entendimento deste E. Tribunal.

Sendo ainda que na formatação apresentada, os novos

Defensores Públicos serão privados de sua independência funcional, pois ficarão

subordinados a uma chefia composta por indicações inequivocamente políticas,

feitas, sempre, pelo Chefe do Executivo. Com isso, por certo os novos Defensores,

em especial por estarem em estágio probatório, não terão a necessária

independência para ingressar, por exemplo, com ações em face do Estado de Santa

Catarina, latente também nesse ponto a violação a Decisão, frente a impossibilidade

da correta implantação e respeito a LC 80/1994.

Conclui-se destarte não ter havido o cumprimento da

“imposição de substituição do modelo de prestação indireta do serviço social de

assistência jurídica aos necessitados”, como afirmado pela Procuradoria Regional da

República, em flagrante descumprimento da decisão da Corte Superior, para,

unicamente, prestigiar os interesses individuais e classistas, além de se criarem cargos

políticos para a Chefia da nova Defensoria.

Por todo o exposto, em respeito à decisão do Supremo

Tribunal Federal e à população carente catarinense, requer-se a adoção das

providências que reputar pertinentes, no intuito de impor ao Estado de Santa

Catarina obediência à decisão deste Supremo Tribunal Federal.

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5– DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR

A demonstração efetiva de que houve violação da

autoridade de decisão do Supremo Tribunal Federal, adotada na ADI 4270/SC, é

suficiente para autorizar a concessão do provimento judicial liminar consistente na

determinação do cumprimento da decisão descumprida pelo Estado de Santa

Catarina.

O fumus boni iuris resta quantum satis comprovado,

visto a desobediência ao mandamus, transitado em julgado, emitido por esta Suprema

Corte nos autos da ADI 4270/SC, violando diretamente a determinação de que no

prazo de 12 meses deveria estar em pleno funcionamento a Defensoria Pública do

Estado de Santa Catarina e dar fim ao convenio com a OAB/SC, configurando-se

ainda o crime de desobediência insculpido no art. 330 do Código Penal Brasileiro.

O periculum in mora decorre do fato de que a

manutenção do modelo adotado, em estrito descumprimento da determinação do

STF, deixa os cidadãos hipossuficientes de Santa Catarina em ímpar situação de

abandono e descaso.

Ainda porque a assistência judiciária gratuita é direito

fundamental, elencado no inc. LXXIV do art. 5º e o art. 134, caput, da Constituição

de 1988, constituindo o mínimo existencial do indivíduo, sendo que sem o respeito

a esse direito fundamental, os jurisdicionados correm sérios riscos de lesão.

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6- DOS PEDIDOS

Ante o exposto, frente ao flagrante descumprimento da

determinação judicial insculpida na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº

4270/SC e da inequívoca inconstitucionalidade perpetrada pela Lei Complementar

Estadual nº 575/2012 – Santa Catarina, pelos fundamentos acima expostos, requer:

i) A concessão de LIMINAR para determinar a imediata

convocação de no mínimo os 60 aprovados no I

Concurso de ingresso na carreira de Defensor Público

do Estado de Santa Catarina;

ii) A concessão de LIMINAR para afastar a eficácia do

artigo 9º da lei complementar estadual nº 575/2012, do

Estado de Santa Catarina;

iii) Seja, ao final, confirmada a medida liminar a fim de que

seja determinada a imediata convocação de todos os

aprovados no I Concurso de ingresso na carreira de

Defensor Público do Estado de Santa Catarina, ou

sucessivamente os 60 primeiros.

Pugna ainda, com fundamento no artigo 39, I, do

Código de Processo Civil, que todas as notificações de atos, termos processuais

e intimações sejam feitas exclusivamente em nome dos advogados IGOR

TAMASAUSKAS, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil OAB/SP sob o nº

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173.163 ou PIERPAOLO CRUZ BOTTINI, inscrito na Ordem dos Advogados do

Brasil OAB/SP sob o nº 163.657, ambos com escritório sito à Rua Bela Cintra,

756, Conjunto 12, CEP 01415-002, São Paulo – SP e Setor Hoteleiro Sul, Quadra

06, Conjunto A, Bl. E, Edifício Brasil XXI, Salas 1020 e 1021, CEP 70316-902,

Brasília – DF.

Atribui-se à causa, para fins fiscais, o mínimo de R$

1.000,00 (mil reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

Brasília, 17 de julho de 2013.

Pierpaolo Cruz Bottini Igor Tamasauskas

OAB/SP 163.675 OAB/SP 173.163

Renato Ferreira Moura Franco

OAB/DF 35.464

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ROL DE DOCUMENTOS:

Doc. 1: Procuração;

Doc. 2: Cópia do Estatuto da ANADEP, da ata de eleição e da ata de posse da atual

diretoria;

Doc. 3: Cópia do Acórdão da ADI 4270 – SC e transito em julgado;

Doc. 4: Notícia CONJUR – Recomendação OAB-SC e Carta de Rio Sul

(http://www.conjur.com.br/2013-jul-15/oab-sc-recomenda-advogados-dativos-

nao-atuem-pagamento-divida)

Doc. 5: Notícia CONJUR (http://www.conjur.com.br/2013-abr-22/notas-curtas-

defensoria-nao-dara-conta-demanda-secretario-sc)

Doc. 6: Ofício PGR/GAB/N 972, de 16 de julho de 2012; e

Doc. 7: Ofício n.º PRM-JOI/SC-GABPRM2-DLR- encaminhado à PGR.