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EXCELENTÍSSIMO SENHOR CORREGEDOR REGIONAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL Distribuição por dependência ao processo Cautelar nº 18.2006 (Classe 04). Relator: Desembargador Marcelo Bandeira Pereira – Corregedor Regional Eleitoral. Apensamento dos autos do supra-referido processo Cautelar aos autos desta ação principal – CPC arts. 796 c/c 809. O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, pelo Procurador Regional Eleitoral Substituto, no uso das suas atribuições legais, vem perante Vossa Excelência, forte no art. 14, §9º, da Constituição e nos arts. 19, 21, 22 e 23 da Lei Complementar nº 64/90, ajuizar AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (ação principal do processo cautelar nº 18.2006 - classe 04) em face de GIOVANI CHERINI, Deputado Estadual e candidato reeleito nas eleições gerais do dia 1º/10/2006, pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), já devidamente qualificado no Processo de Registro de Candidatura n.º 311.2006 (Classe 15), pelas razões e fundamentos e nos termos em que passa a expor:

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR CORREGEDOR REGIONALTRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL

Distribuição por dependência ao processo Cautelar nº 18.2006 (Classe 04).Relator: Desembargador Marcelo Bandeira Pereira – Corregedor Regional Eleitoral.Apensamento dos autos do supra-referido processo Cautelar aos autos desta ação principal – CPCarts. 796 c/c 809.

O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, peloProcurador Regional Eleitoral Substituto, no uso das suas atribuições legais, vemperante Vossa Excelência, forte no art. 14, §9º, da Constituição e nos arts. 19, 21, 22e 23 da Lei Complementar nº 64/90, ajuizar

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL(ação principal do processo cautelar nº 18.2006 - classe 04)

em face de GIOVANI CHERINI, Deputado Estadual e candidato reeleito naseleições gerais do dia 1º/10/2006, pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), jádevidamente qualificado no Processo de Registro de Candidatura n.º 311.2006(Classe 15), pelas razões e fundamentos e nos termos em que passa a expor:

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IPRELIMINARES

1. Ação principal. Ação cautelar. Apensamento dosautos. A presente inicial inaugura Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE)por uso indevido, desvio e abuso do poder econômico e de autoridade em benefíciode candidato, a afetar a normalidade e legitimidade das eleições, já referidos na açãocautelar nº 18.2006 (Classe 04), cujos autos deverão ser apensados ao da presenteação principal, nos termos dos arts. 796 e 809 do Código de Processo Civil (CPC).

2. Representação pelas infrações dos arts. 41-A e 73da Lei nº 9.504/97. É de se referir também que os fatos aqui narrados deram causa arepresentação do MPE pelas infrações eleitorais dos arts. 41-A (captação desufrágio) e 73 (conduta vedada a agente público em campanha eleitoral) da Lei nº9.504/97 (Processo 294.2006 – Classe 16 – Rel. Juíza Auxiliar DesembargadoraFederal Marga Inge Barth Tessler).

3. Competência e procedimento. A teor do art. 22 daLei Complementar nº 64/90, a instrução e relatoria da AIJE é da competência doCorregedor Regional Eleitoral, conforme o procedimento ali indicado.

4. Tempestividade. Consoante reiterados julgados doEgrégio Tribunal Superior Eleitoral, a investigação judicial eleitoral pode serproposta até a data da diplomação dos candidatos eleitos:

DIREITO ELEITORAL E PROCESSUAL. RECURSOORDINÁRIO. REGISTRO DE CANDIDATO. IMPUGNAÇÃO.ART. 3º, LC Nº 64/90. INELEGIBILIDADE. ABUSO DEPODER. VIA PRÓPRIA. POSSIBILIDADE DE AJUIZAR-SEAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ATÉ A DATA DADIPLOMAÇÃO. ORIENTAÇÃO DA CORTE. PROVIDOS OSRECURSOS.Não é próprio apurar-se a ocorrência de abuso em impugnação deregistro de candidatura, uma vez que a Lei Complementar nº64/90 prevê, em seu art. 22, a ação de investigação judicial para

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esse fim, a qual, não estando sujeita a prazo decadencial, podeser ajuizada até a data da diplomação do candidato1. (grifei)

IIFATOS: OS ALBERGUES/POUSADAS CASAS SOLIDÁRIAS

5. O deputado estadual e candidato à reeleição GIOVANICHERINI, fato público, notório, por ele amplamente divulgado em seu site epropaganda eleitoral, criou e mantém em funcionamento três albergues ou pousadasdenominados “Casas Solidárias”, nas cidades de Porto Alegre (Rua Duque deCaxias, 624), Passo Fundo (Rua Eduardo de Brito, 308) e Santa Maria (Rua Erly deAlmeida Lima, 595), onde oferece, sem contraprestação pecuniária, estadia e outrasvantagens, tais como alimentação ou equipamentos para cozinhar, a pessoas deoutros municípios ou da zona rural que se dirigem a essas cidades (centros dereferência em saúde no Estado) para, entre outros objetivos, comparecerem aconsultas médicas ou prestarem exames clínicos no âmbito do Sistema Único deSaúde.

6. No site www.giovanicherini.com (acessado em 05-08/SET – os documentos referidos estão juntados nos autos da cautelar 18.2006 emapenso), de sua responsabilidade (divulgado inclusive em sua propaganda eleitoral –fls. 65-66 da cautelar), instrumento de promoção pessoal (fotos e currículo),divulgação parlamentar (leis e projetos), e, em especial, de sua campanha eleitoralpara deputado estadual (12125), o candidato ressalta que criou e mantém a rede de

Casas Solidárias, fazendo expressa divulgação dos “serviços” por ele prestados aoeleitorado através dessas pousadas. Acessando no referido site o título Casas

Solidárias abre a chamada Casas Solidárias do Cherini já atenderam 32.954pessoas em Porto Alegre, Passo Fundo e Santa Maria, seguindo-se os respectivosendereços e telefones e o texto O deputado Giovani Cherini mantém emfuncionamento três casas para atender pessoas com problemas de saúde, que

integram a rede de Casas Solidárias. (...) Parte da alimentação é obtida naspalestras proferidas pelo deputado e preparada pelas pessoas que utilizam o 1 RO n. 593, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 03.09.2002 – Revista de Jurisprudência doTSE, vol. 13, tomo 4, p. 91.

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serviço. Palestras e correntes de oração são realizadas regularmente para

entusiasmar os hóspedes e acelerar o processo de cura. Adiante, constadepoimentos de seus usuários, dos quais destacamos o primeiro, bastante elucidativodo efeito causado pelo serviço prestado pelo deputado candidato (fls. 16-19 – todaindicação de folhas constante nesta inicial refere-se à numeração da apensacautelar 18.2006):

“É pela 2º vez que eu estou passando pela Pousada do Cherini –

Passo Fundo. Não sei o que seria de mim se não tivesse esta casa

de acolhimento, de carinho e de apoio para as pessoas que por

aqui precisam passar. Eu penso assim: não importa os dias que

as pessoas que por aqui permaneçam, 20, 30 dias ou um dia, não

importa, pois só quem aqui chega pode dar o valor que esta casa

tem. Por exemplo: cada pessoa que passar por aqui, tem que pôr

a mão na consciência, pois é de pessoas como o deputado

Giovani Cherini que precisamos para nos representar na política.

O meu muito obrigado por tudo.” Lourdes Maria Felipe ChielaEspumoso(sem destaques no original – fl.18)

7. Em Notícias 28/4/2006 – Boletim Eletrônico – Abril II,do mesmo site, consta a notícia Giovani Cherini disponibiliza três Casas Solidáriaspara atendimento na área da saúde, destacando-se ali que possuem capacidadepara atender até 170 pessoas diariamente, (...) São com esses predicados que ele

define o trabalho solidário que realiza em Santa Maria, Porto Alegre e PassoFundo e que fica a disposição de pessoas que necessitam de tratamento médico e

seus familiares, 32.129 pessoas de todo o Estado já foram atendidas. “Acredito queeste número deve-se ao trabalho diferenciado que realizamos, feito com carinho e

atenção para ajudar as pessoas no momento de maior dificuldade de suas vidas: adoença”, diz Cherini. Nas Casas Solidárias mantidas por Cherini, as pessoas

recebem gratuitamente, cama, comida, amor e carinho (fl. 20-23).

8. No mesmo site, acessando-se notícias consta adivulgação das novas instalações da Casa Solidária do deputado Giovani Cherini

em Passo Fundo, com cerca de 600 m², com capacidade para atender cem pessoasdiariamente, com dependência para os motoristas de ambulância, auditório para

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cursos e palestras, bem como que Passo Fundo é referência no Estado na área

médica, etc. (fl. 24-25). Observe-se que a capacidade da casa coincide com onúmero certificado pelo Oficial de Justiça quando do cumprimento naquela cidadedo mandado de busca e apreensão (“A capacidade da casa é de abrigar 102 pessoas,sendo que no momento da diligência, existiam 32 pessoas hospedadas.” – certidãode fls. 91-2).

9. Já no Jornal do Cherini, ainda no mesmo sítio, constanotícia sobre a Casa Solidária de Santa Maria, na Rua Erly de Almeida Lima, 595,no Bairro Camobi, próximo ao Hospital Universitário (fl. 25).

10. Já na edição de 29/05/2005 do Jornal Zero Hora(página 10 – Rosane de Oliveira), conforme consta no site www.insanus.org, constaa matéria O inimigo dos pitbulls, onde após referência a projeto de lei do deputadopara proibir a criação de cães da raça pitbull e a outras referências sobre suabiografia, o texto anota que Eleito deputado em 1994, está no terceiro mandato. Tem

uma verdadeira fábrica de votos: as pousadas onde hospeda pessoas carentes queprecisam de tratamento médico em Passo Fundo, Porto Alegre e Santa Maria.(...)

(fl. 26-27).

11. Por sua vez, o Jornal Extra Classe (edição nº 91 – maio2005 – www.sinpro-rs.org.br), publicação mensal do Sindicado dos Professores doEnsino Privado – SINPRO/RS, na matéria O voto por favor!, que trataespecificamente dos albergues mantidos em Porto Alegre por deputados, fazexpressa referência às Casa Solidárias mantidas pelo deputado Cherini (fls. 30-1;fotos do deputado e da fachada – com o placa com o nome do deputado – da suaCasa de Porto Alegre) e lhe atribui a seguinte frase: “Não sou hipócrita, sei que issome traz votos. Mas eu faria mesmo que não trouxesse um sequer”, (e segue amatéria) afirma o deputado Giovani Cherini, PDT, (...). Cherini criou as CasasSolidárias em Porto Alegre, Santa Maria e Passo Fundo. (...) Cherini conta que

tudo é mantido por ele. (...) Sobre os recursos financeiros para manutenção daCasa, o deputado diz serem reduzidos por não haver despesas com pessoal, pois os

funcionários são CCs do seu próprio gabinete. Além disso, apesar de não ofereceralimentação aos seus hóspedes-eleitores, costuma disponibilizar os alimentos não-

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perecíveis que ele próprio recebe em troca de palestras que concede no interior

(grifei - fls. 29-31 e cópia da matéria impressa em anexo).

IIIFUNCIONAMENTO DAS CASAS ANTES E DEPOIS DO REQUERIMENTODE REGISTRO DE CANDIDATURA – OSTENSIVA PROPAGANDAPESSOAL E ELEITORAL DO DEPUTADO NAS 03 CASAS SOLIDÁRIAS – DIVULGAÇÃO DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELOSESTABELECIMENTOS NA PROPAGANDA ELEITORAL DISTRIBUÍDAAOS ELEITORES

12. Além de continuar oferecendo (propaganda eleitoralimpressa e na internet) e propiciando vantagem em forma de hospedagem aoseleitores em pleno período eleitoral através das referidas Casas Solidárias, ocandidato veicula nesses estabelecimentos ostensiva indicação de seu nome e cargo,bem como propaganda eleitoral de sua candidatura à reeleição à AssembléiaLegislativa, não deixando nenhuma dúvida a vinculação que faz das vantagensconcedidas aos eleitores com o seu cargo e, conseqüentemente, com sua campanhaseleitoral.

13. Na Casa Solidária de Porto Alegre, localizada naAvenida Duque de Caxias, 624, nas proximidades Tribunal Regional Eleitoral, ocandidato fixou sobre a porta de entrada, na fachada do Albergue, placa deaproximadamente 4m² com a propaganda típica de sua campanha 2006, semelhanteà que aparece na página inicial de seu site e nos panfletos distribuídos ao eleitorado,com fundo amarelo e letras verdes e vermelhas, foto, número de campanha (12125),o cargo para o qual concorre e a frase “Juntos fazendo MAIS”, havendo propagandasimilar em adesivos colados em sua porta de entrada e janelas, conforme fotostiradas em 23/08/06(fotos fls. 31-40).

14. Servidora desta Procuradoria Regional Eleitoral lácompareceu em 29/08/06, sendo recebida pelo Sr. Dimas José Riginatti, AssessorParlamentar do Deputado, conforme cartão de apresentação por ele entregue na

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oportunidade, com telefone para informação sobre a existência de vagas na pousada,certificando a existência de propaganda no exterior e interior do estabelecimento,bem como que algumas pessoas lá albergadas ostentavam em sua roupa adesivoscom propaganda eleitoral do candidato, conforme certidão e cartão de visita (fls. 41-42).

15. Posteriormente, em 08/09/2006 foi efetivada ligaçãotelefônica desta Procuradoria Regional Eleitoral para o telefone (51) 3210.2280,indicado como sendo da Casa Solidária tanto no site do candidato como no verso dosupra-referido cartão de visita, sendo a ligação atendida como sendo do Gabinete doDeputado Cherini, por pessoa que se identificou como Diana, que prestouinformações sobre a Casa Solidária de Porto Alegre e, indagada, informou dapossibilidade de ser providenciado transporte para os usuários da rodoviária até oreferido albergue (certidão fl. 43).

16. Na Casa Solidária de Passo Fundo, localizada na RuaEduardo de Brito, 308, o candidato, para não deixar dúvidas aos que lá procuramabrigo sobre quem a mantém, pintou seu nome e cargo em toda a lateral do prédioem letras garrafais (fl.51), fixou no imóvel ostensiva placa com os mesmos dizeres(fl. 52-53), bem como fixou cartazes com sua propaganda eleitoral, conformecertidão e fotos de 05/09/06 (fls. 44-56).

17. Não é diferente na Casa Solidária de Santa Maria,localizada na Rua Erly de Almeida Lima, 595, Camobi, nas cercanias do HospitalUniversitário, com ostensiva placa com o nome e cargo do representado na frente doestabelecimento (fl. 59 e 61) e propaganda eleitoral fixada nas paredes e janelas,conforme certidão e fotos de 11/09/06 (fls. 57-63).

18. Para não restar qualquer dúvida sobre a utilizaçãoostensiva na sua campanha eleitoral das ajudas, vantagens e serviços que prestagratuitamente aos eleitores, o candidato incluiu na sua propaganda eleitoraldistribuída na rua em seus comitês de campanha – conforme impressos em anexorecebidos por esta PRE em 14/09/06 em quiosque do candidato montado na esquinada Rua dos Andradas e Avenida Borges de Medeiros (Esquina Democrática –

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certidão fl. 64 e foto fl. 67) – expressa referência aos serviços oferecidos em suastrês pousadas, nestes termos (os destaques em vermelhos constantes no texto dapropaganda, abaixo transcritos, foram efetivados por esta PRE) (certidão, impressose foto em anexo - fls. 64-67), todas com referência ao supracitado sitewww.giovanicherini.com:

a) impresso maior – fl. 65 (6 páginas, 19x19cm ): na capa consta GIOVANI CHERINI –DEPUTADO ESTADUAL – PDT – 12125, bem como um símbolo em forma de cruz (sinal de+) onde consta na parte superior a inscrição Casas Solidárias. Na segunda folha o texto“Fazendo Mais. Entrei na política disposto a contribuir mais, principalmente na área social.

Criei uma Casa Solidária em Porto Alegre para atender pessoas de diversas regiões do Estado

que buscam atendimento médico especializado na capital. A demanda determinou a abertura de

outras duas casas, em Passo Fundo e Santa Maria. Esses locais serviram de abrigo para 32.985

pessoas, tanto doentes quantos seus familiares. (...) a seguir, na quarta folha do impresso, constauma foto da pousada de Passo Fundo, com o seguinte texto “32.954 pessoas atendidas nas Casas

Solidárias. As Casas Solidárias representam um dos trabalhos mais importantes do mandato do

deputado Giovani Cherini. Os locais disponibilizam abrigo aos que buscam tratamento de saúde

em Passo Fundo, Santa Maria e Porto Alegre. Através de uma ação solidária, as casas oferecem

cama e cozinha, (...) Até o dia 30 de maio, foram atendidas 32.954 pessoas (...). Consta oendereço dos três estabelecimentos e o número de vagas de cada uma (Passo Fundo 102 vagas,Santa Maria (42 vagas) e Porto Alegre (26 vagas);

b) impresso menor – fl. 66 (4 páginas): na capa as mesmas características acima apontadas, nasegunda folha o texto: (...) Criou e mantém a rede de Casas Solidárias onde já passaram 32.954

pessoas nos municípios de Passo Fundo, Porto Alegre e Santa Maria.

c) Cartão – fl.66: mesmas características constantes na capa das propagandas acima citadas, comnome, cargo almejado, número de campanha e a expressão Casas Solidárias no interior da partesuperior do símbolo de campanha (cruz ou sinal de +)

19. Ou seja, o candidato não apenas presta vantagem aoseleitores na forma de hospedagem gratuita, tanto antes como depois do períodoeleitoral, como também oferece o gozo de tais vantagens a todo o eleitorado atravésda divulgação ostensiva desses serviços em seu site e em sua propaganda eleitoraldistribuída à população, com o objetivo lógico de angariar votos, desequilibrando acorrida eleitoral em face dos outros candidatos que não lançam mão de tais práticasirregulares.

IV

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BUSCA E APREENSÃO EFETUADA NAS REFERIDAS CASASSOLIDÁRIAS (CAUTELAR 18.2006) EM 19/09/06 – PRESENÇA DEHÓSPEDES NAS CASAS – PROPAGANDA ELEITORAL E OUTROSDOCUMENTOS APREENDIDOS

20. Em 19/09/06, em face de liminar (fls. 70-71) deferidanos autos da Ação Cautelar nº 18.2006, foi cumprido mandado de busca e apreensãonas três pousadas do representado, cujos documentos anexos comprovam a presençanaqueles locais de grande número de pessoas hospedadas (mesmo que às 16h e navéspera do feriado do dia 20/09), quantidade significativa de propaganda eleitoralfixada na parte externa e interna (nas paredes, sobre as mesas) da pousada, inúmerapropaganda depositada para distribuição (panfletos, adesivos, fitas, etc.) aoseleitores, bem como listas e cadernos com nome de hóspedes, comprovantes degastos do estabelecimento em nome do candidato, cartazes, etc. (certidões e fotosfls. 85-115, bem como nas fotos e vídeo registrados pelo Ministério Público ejuntadas a partir da fls. ).

21. Especificamente na Casa de Porto Alegre, conformeanexa certidão de cumprimento de referido mandado de busca e apreensão (fls. 94-97), certidão desta PRE que acompanhou e documentou a diligência, além dapropaganda externa acima referida, foi certificada a existência de 28 leitos, apresença naquela tarde véspera de feriado de 10 hóspedes (abaixo nominados – fls.96-7), residentes em vários municípios do Estado, a apreensão de inumerávelpropaganda eleitoral do candidato no interior do estabelecimento, tanto fixada nasparedes (2 banners, 10 cartazes, adesivos, quadros, etc., ) como em cima das mesase estantes para distribuição ( aproximadamente 1.500 folders/panfletos, 2.000santinhos, 100 adesivos p/carro, 500 fitas tipo Senhor do Bonfim, c), fita de vídeo-cassete com clip/vídeo do candidato, todos com as referências eleitorais docandidato (nome, número, foto, cargo almejado, legenda, slogans de campanha,etc.), bem como correspondência e documentos relacionados à hospedagem depessoas no albergue (caderneta de endereços, listas de pessoas, agendamento dehospedagem, agradecimento de pessoas que passaram pela hospedagem, etc.),material impresso da Assembléia Legislativa (envelopes, folhas, cartões de visita,

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etc.), conforme certidões, fotos e vídeo (fls. 94-97 e documentos juntados pelo MPEa fls. ).

22. Ainda em relação ao albergue de Porto Alegre, foicertificado pela Oficial de Justiça que “perguntado à Sra. Maria Puntel Pavanato

quem era o responsável ou proprietário da casa, a mesma declarou ser o dono oDeputado Cherini. Perguntamos ainda aos presentes (lista 2 e 3) se a estadia nacasa era paga ou gratuita, sendo que os mesmos responderam que a estadia era

gratuita.” (fl. 94).

23. Já na casa de Santa Maria, também em cumprimentoao referido mandado de busca e apreensão, além da propaganda externa já referida,foi certificado a existência de 40 leitos, a presença, naquela tarde véspera de feriado,de 08 hóspedes (abaixo nominados), residentes em várias localidades, grandequantidade de propaganda eleitoral na área interna da pousada (cartazes, bandeiras,santinhos, etc.), material relativo à hospedagem e às despesas do estabelecimento,material da Assembléia Legislativa (envelopes de correspondência, cartões devisitas, agendas, etc. - certidão e fotos fls. 85-90).

24. Na Casa Solidária de Passo Fundo, no cumprimentodo mesmo mandato, além da já referida ostensiva propaganda eleitoral externa, foicertificada a existência de 102 leitos e, no momento, a presença de 32 pessoashospedadas (certidão de fls. 92-3), inumerável propaganda eleitoral do candidato nassalas e corredores internos (cartazes, banners, bandeiras, santinhos, adesivos),material da Assembléia Legislativa (envelopes, convites), listas de telefones depessoas que lá hospedadas, 32 fichas cadastrais dos hóspedes que estavam napousada (com nome, endereço e RG), notas fiscais de fornecedores e de serviços dapousada (em nome de Pousada Cherini, Cherini ou Giovani Cherini eacondicionados em envelope da Assembléia Legislativa), etc. (certidões e fotosanexas – fls. 91-92 e docs. juntados pelo MPE a partir das fls.).

25. Eis a relação das 50 pessoas certificadas comohospedadas nas Casas Solidárias em 19/09/06, mesmo que, por óbvio, considerandoque o mandado foi cumprido à tarde (aproximadamente 16h30), é de se concluir que

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grande parte das pessoas lá hospedadas não se encontravam no local no momento,haja vista a própria natureza dos serviços prestados em hotéis, pousadas econgêneres, onde as pessoas normalmente durante o dia cumprem as tarefas que asfizeram viajar e retornam ao estabelecimento para dormir apenas no fim do dia:Pessoas hospedadas nas Casas Solidárias do Deputado Giovani Cherini 19/09/2006 (mandadocumprido aproximadamente às 16h30, em véspera de feriado estadual - 20/09, RevoluçãoFarroupilha):- Porto Alegre (Rua Duque de Caxias nº 624): 28 leitos. 10 hóspedes: 1. Carlos Roberto de

Freitas (, 2. Eliane Maria Rodrigues Missio, 3. Aldino Ost, 4. Maria Hilária Ost, 5. Jardeci MariaOro, 6. Luiz Antonio dos Santos, 7. Selestina Finatto Ross, 8. Maria Puntel Pavanato, 9. EriceldaMedianeira Kohler Pavanato e 10. Lilita Nicolodi – qualificados (RG, CPF, endereço) nacertidão do oficial de justiça das fls. 95-98.

- Santa Maria: (Rua Erly de Almeida Lima nº 595): 40 leitos. 08 hóspedes: 1. Ademir Moreirada Rocha (Pinhal Grande/RS), 2. Volmar Paulo da Silva (Jaguari/RS), 3. Mara Cleonice deSouza Freitas (São Francisco de Assis/RS), 4. Maria Elizabeth Larette dos Santos (SãoBorja/RS), 5. Rejane Rosa da Costa (Jari/RS), 6. Eva Dornelles Maretoli (Itaqui/RS), 7. MariaBelânia Dotto (Alegrete/RS) e 8. Cleusa Suzana de Souza Ferreira (Itaqui/RS) – qualificados(RG, CPF, endereço) na certidão do oficial de justiça das fls. 86-91.

- Passo Fundo (Rua Eduardo de Britto nº 308): 102 leitos. 32 hóspedes: conforme certidão defl. 91 qualificados nas “32 fichas cadastrais de controle de pessoas que ora estão utilizando aCasa Solidária, com nome, endereço e RG”, cuja juntada aos autos da cautelar já foi requeridopelo MPE nas fls.

VABUSO DO PODER ECONÔMICO OU POLÍTICO EM DETRIMENTO DA

LIBERDADE DE VOTO – PROTEÇÃO DA NORMALIDADE ELEGITIMIDADE DAS ELEIÇÕES

(CONSTITUIÇÃO, LC nº 64/90 E L. nº 9.504/97)

26. A Constituição Brasileira define a RepúblicaFederativa do Brasil Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, caput) onde todo

poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos (art. 1º,parágrafo único), sendo que a soberania popular será exercida pelo sufrágio

universal e pelo voto direto e secreto (art. 14, caput), bem como determinou aolegislador a edição de salvaguardas à normalidade e legitimidade das eleições contraa influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função pública, nestestermos:

Constituição Federal

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Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágiouniversal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos,e, nos termos da lei, mediante:§9º Lei complementar estabelecerá outros casos deinelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger aprobidade administrativa, a moralidade para o exercício domandato, considerada a vida pregressa do candidato, e anormalidade e legitimidade das eleições contra a influência dopoder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ouemprego na administração direta ou indireta.

27. Concretizando a nível legislativo o comandoconstitucional de preservar a normalidade e a legitimidade das eleições contra ainfluência do poder econômico, a Lei Complementar nº 64/90 estabeleceu,especialmente através da Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE, prevista emseu artigo 22, salvaguardas quanto ao abuso, uso indevido ou desvio de podereconômico, do poder de autoridade, ou utilização indevida de meios de comunicaçãosocial, em benefício de candidato ou partido:

Lei Complementar nº 64/90

Art. 19. As transgressões pertinentes á origem de valorespecuniários, abuso de poder econômico ou político, em detrimentoda liberdade de voto, serão apuradas mediante investigaçõesjurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral e CorregedoresRegionais Eleitorais.Parágrafo único. A apuração e a punição das transgressõesmencionados no caput deste artigo terão o objetivo de proteger anormalidade e legitimidade das eleições contra a influência dopoder econômico ou do abuso do exercício de função, cargo ouemprego na administração direta, indireta e fundacional da União,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ouMinistério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral,diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos eindicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura deinvestigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso depoder econômico ou do poder de autoridade, ou utilizaçãoindevida de veículos ou meios de comunicação social, embenefício de candidato ou de partido político, obedecido oseguinte rito:

28. Com o mesmo desiderato constitucional de afastar adeturpadora influência do poder econômico nas eleições, a legislação eleitoral proíbe

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os candidatos de oferecerem ou prestarem ajuda ou vantagem de qualquer natureza apessoas físicas ou jurídicas:

Lei nº 9.504/97

Art. 23. (...)§ 5º Ficam vedadas quaisquer doações em dinheiro, bem como detroféus, prêmios, ajudas de qualquer espécie feitas por candidato,entre o registro e a eleição, a pessoas físicas ou jurídicas.(parágrafo acrescentado pela Lei nº 11.300/06)

Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ouindiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro,inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedentede:(enumera onze incisos com entidades vedadas de contribuir paraas campanhas, alguns acrescidas pela Lei nº 11.300/06)

Art. 39. (...)§ 6º É vedada na campanha eleitoral a confecção, utilização,distribuição por comitê, candidato, ou com a sua autorização, decamisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas básicas ouquaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionarvantagem ao eleitor.(parágrafo acrescentado pela Lei nº 11.300/06)

Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos,constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidatodoar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim deobter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza,inclusive emprego ou função pública, desde o registro dacandidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa demil a cinqüenta mil UFIR, e cassação do registro ou do diploma,observado o procedimento previsto no art. 22 da LeiComplementar no 64, de 18 de maio de 1990.(artigo acrescentado pela Lei nº 9.840/99)

Código Eleitoral (Lei 4.737/65)

Art. 237. A interferência do poder econômico e o desvio ou abusodo poder de autoridade, em desfavor da liberdade do voto, serãotolhidos e punidos.

Art. 243. Não será tolerada propaganda:V – que implique oferecimento, promessa ou solicitação dedinheiro, dádiva, rifa, sorteio ou vantagem de qualquer natureza.

29. A Constituição Federal e a legislaçãoinfraconstitucional que regem o processo eleitoral não possuem um preceitonormativo que conceitue in abstracto condutas que caracterizem abuso de poder

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econômico ou político. Não obstante, a Constituição Federal, no art. 14, §§ 9º e 10, ea LC n. 64/90, nos seus arts. 19 e 22, estabelecem que a coibição destas formas deabuso deverão observar as seguintes finalidades: (a) a proteção da normalidade elegitimidade das eleições, (b) da liberdade do voto, (c) da probidade administrativa e(d) da moralidade para o exercício do mandato.

30. Desta forma, a identificação dos atos queconsubstanciem abuso de poder econômico deverá ser realizada a partir do casoconcreto – e não de condutas previamente tipificadas –, tarefa esta que, à luz dasnormas legais e constitucionais que regem a matéria, deverá ser norteada semprepelas finalidades mencionadas, que derivam, em última análise, dos princípiosdemocrático e republicano.

31. O abuso de poder na seara eleitoral pode, a princípio,apresentar-se de duas formas: (a) ele pode consistir no uso indevido ou exorbitantede um direito que é conferido ao candidato; ou então (b) apresentar-se sob a formade atos que, desde a origem, estão em desconformidade com o ordenamento jurídico.

32. No caso dos autos, a conduta do investigadocaracteriza abuso de poder econômico na medida em que apta para afetar anormalidade e legitimidade das eleições, pois praticada de forma permanente e comalcance sobre significativo contingente de eleitores, violando dispositivos expressosda legislação eleitoral.

33. Primeiro, ao disponibilizar as casas solidárias aeleitores durante o período eleitoral, o investigado violou o supratranscrito § 5º doart. 23 da Lei n. 9.504/97 que veda doações em dinheiro, bem como de troféus,ajudas de qualquer espécie feitas por candidato, entre o registro e a eleição, a

pessoas físicas ou jurídicas.

34. Possivelmente também tenha infringido algum dosincisos do art. 24 da mesma lei, caso as referidas pousadas sejam vinculadas, mesmoque pro forma, a entidade beneficente ou religiosa ou organização civil de interesse

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público, instituições impedidas de direta ou indiretamente fazerem doação emdinheiro ou estimável em dinheiro a partido ou candidato, e, com muito mais razão,de servirem de instrumento de campanha eleitoral.

35. Infringiu com certeza o art. 41-A da Lei das Eleições,que estabelece que constitui captação de sufrágio o candidato doar, oferecer,prometer, ou entregar, ao eleitor com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagempessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro

da candidatura até o dia da eleição, fato objeto do já referido processo 294.2006 –Classe 16.

36. Ao oferecer aos eleitores hospedagem gratuita nasreferidas pousadas através de sua propaganda pessoal e eleitoral, como acimasobejamente demonstrado, violou também o art. 243 do Código Eleitoral quedetermina que não será tolerada propaganda que implique oferecimento devantagem de qualquer natureza.

37. Ao manter, inclusive após o registro de candidatura,albergues em Porto Alegre, Santa Maria e Passo Fundo, nos quais era oferecidahospedagem gratuita a pessoas que se dirigiam a estas cidades – via de regra, pararealização de tratamento de saúde –, o investigado indiscutivelmente entregoubenesses a eleitores, o que desequilibrou a igualdade entre os candidatos e afetou aliberdade de sufrágio.

38. Ressalte-se, e isto merece destaque, que ashospedagens prestadas nas Casas Solidárias do Deputado começaram a desequilibrara igualdade entre os candidatos desde o dia seguinte ao pleito de 2002, situaçãoexponencializadora de seu nefasto efeito eleitoral na eleições realizadas em1º.10.2006.39. É ilustrativo desse desequilíbrio o fato do MinistérioPúblico já ter nestas eleições, até o presente momento, representado contra novedeputados em face da manutenção desses albergues. Como é fácil de perceber que oscandidatos que patrocinadores de albergues geralmente se elegem entre os maisvotados, o vício parece vir multiplicando-se no Rio Grande do Sul, situação que

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torna urgente a devida repressão da conduta por parte do Estado-Juiz, sob pena derestar comprometida não só a normalidade e a legitimidade dessas eleições de 2006mas também as dos próximos pleitos. Em sua edição de 04/10/06 o Jornal Zero Hora(p.04 – Reportagem Especial – A nova Assembléia, Times Reforçados) ao repercutira formação da Assembléia Legislativa eleita em 1º/10/2006 a divide em vários“times”, denominando um deles como “ALBERGUEIROS”, entre eles incluído odeputado investigado reeleito, com o seguinte texto: Os albergues mantidos pelosoito deputados estaduais que tentavam a reeleição renderam a eles 72.047 votos amais neste ano do que em 2002. As instituições acolhem pacientes que precisam sedeslocar para tratamento em outra cidade e seus familiares. (doc. anexo).

40. As Casas Solidárias possuem capacidade para atender

até 170 pessoas diariamente, onde recebem gratuitamente cama e comida(conforme informa o site do deputado – fl. 22). Tais estabelecimentos estãolocalizados em Porto Alegre, Passo Fundo e Santa Maria, capital e cidades-pólo desuas regiões (indústria, comércio e serviços), centros universitários e de referênciamédica. O custo de tais imóveis (aluguel, compra), ressaltado pela sua área (a dePasso Fundo, por exemplo, possui 600 m²) e localização, sua manutenção (impostos,pintura, serviços, limpeza, materiais, etc.), seus custos com água, luz, telefone, gás,etc., sua mobília e equipamentos (camas, colchões, eletrodomésticos), salários deseus colaboradores (administradores, empregados, etc.), não deixam dúvidas sobre oalto custo mensal do empreendimento, suportado exclusivamente pelo deputado, quedestaca esse fato tanto em seu site (fls. 18, 22, 24, 26), em sua propaganda eleitoralimpressa distribuída aos eleitores na campanha eleitoral de 2006 (fls. 65-6), fatotambém transmitido aos usuários das casas e ao público em geral pela ostensivacolocação do nome do Deputado na fachada desses estabelecimentos (fls. 33-6/PortoAlegre, 48-53/Passo Fundo e 59-61/Santa Maria), e, como já visto acima, fatopúblico divulgado pela imprensa (fls. 27/ZH, 29-31/Jornal Simpro e docs. anexos –ZH e edição impressa do Jornal Simpro).

41. Para a configuração do abuso e uso indevido do podereconômico bastaria a comprovação de que, mesmo que de uma forma mais discretae sutil, fosse dado conhecer aos usuários das pousadas o nome de seu benfeitor, ouseja, permaneceria a conduta desequilibradora do pleito mesmo que o Deputado, ad

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argumentandum tantum, não tivesse levado à cabo a acima referida e comprovadaostensiva utilização das mesmas para a sua promoção pessoal e eleitoral, situaçõesque no caso concreto se confundem.

42. Assim, não resta dúvida que os serviços prestados peloDeputado aos eleitores nesses estabelecimentos, tanto antes como depois deregistrada sua candidatura, tem como objetivo principal a obtenção de votos em seubenefício, de modo a desequilibrar a corrida eleitoral em face dos candidatos quenão lançam mão de tais expedientes, afetando dessa forma, sobremaneira, anormalidade e legitimidade dessas eleições de 2006, situação a se devidamentetolhida e punida (Código Eleitoral, art. 237), sob pena de se legitimar a conduta,ratificar o desequilíbrio do pleito em prejuízo aos candidatos que não praticaramesse abuso, bem como desautorizar o cumprimento das regras eleitorais para ospróximos pleitos no Rio Grande do Sul.

43. A potencialidade da conduta influir no resultado dopleito. Um dos elementos para a caracterização do abuso de poder econômico é apotencialidade do ilícito afetar a normalidade e legitimidade das eleições. Não setrata de nexo de causalidade a exigir a demonstração de causa e efeito entre a ação eo resultado das urnas. Basta que o ato, tomando-se em consideração ascircunstâncias e a conjuntura em que foi praticado, seja apto a influir sobre a livrevontade popular. Daí falar-se em potencialidade e não em nexo de causalidade.

44. No caso, a potencialidade da conduta do investigadoTer desequilibrado a igualdade de oportunidades entre os candidatos é manifestadiante da magnitude do empreendimento, três pousadas em três das cidades maisimportantes do Estado, 170 pessoas atendidas diariamente, milhares de hospedagensmensais, sendo que o próprio Deputado ressalta ter atendido mais de 32.954 (aindaem junho de 2006 – fl. 18) pessoas nesses estabelecimentos (fl. 18), devendo aindaser somado a esses números o efeito multiplicador de familiares e amigos e apotencialização pelo fato da “ajuda” ser prestada a pessoas em momento de especialfragilidade pessoal: quando em busca de atendimento na rede pública de saúde.

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45. O efeito eleitoral causado nos usuários do serviço dehospedagem e alimentação ofertados pelo candidato nas Casas Solidárias é tãointenso quanto óbvio, como aliás se percebe no já transcrito depoimento da Sra.Lourdes Maria Felipe Chiela, divulgado com destaque no site do candidato: “(...)cada pessoa que passar por aqui, tem que pôr a mão na consciência, pois é de

pessoas como o deputado Giovani Cherini que precisamos para nos representar napolítica. O meu muito obrigado por tudo” (fl. 18).

46. Quanto à desnecessidade de comprovação do nexo decausalidade entre a conduta abusiva e o resultado do pleito em favor do conceito depotencialidade, trazemos exemplificativamente as seguintes decisões do TSE:

RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÃO 2002. AÇÃO DEINVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ABUSO DOPODER ECONÔMICO E USO INDEVIDO DOS MEIOS DECOMUNICAÇÃO. POTENCIALIDADE. NÃO-CARACTERIZAÇÃO. NEGADO PROVIMENTO.I - Segundo a jurisprudência desta Corte, alterada desde ojulgamento do REspe nº 19.571/AC, rel. Min. SepúlvedaPertence, DJ de 16.8.2002, na ação de investigação judicialeleitoral, deixou de se exigir que fosse demonstrado o nexo decausalidade entre o abuso praticado e o resultado do pleito,bastando para a procedência da ação a "indispensáveldemonstração - posto que indiciária - da provável influênciado ilícito no resultado eleitoral (...)".II - O TSE admite que os jornais e os demais meios impressos decomunicação possam assumir posição em relação à determinadacandidatura, sendo punível, nos termos do art. 22 da LC nº 64/90,os excessos praticados. Precedente.2

(destaquei)

Recurso Especial. Investigação Judicial(LC 64/90, arts. 1º, "d",19, § único, 22, XIV e XV e 24 c/c L. 9.504/97, art. 41-A) -Ausência de prova e de nexo de causalidade.I. É certo bastar a potencialidade de influência no resultadodo pleito para a procedência da investigação judicial: averificação dessa probabilidade, no entanto, pressupõe provacabal da existência dos fatos abusivos ou de captação ilícita desufrágios delatados.II. Impossibilidade de reexame e valoração do conjunto probatóriona via do recurso especial (Súmula 279 -STF).III. Fortes indícios de configuração, em tese, do crime decorrupção (Cód. El. art. 299): extração e remessa de cópia dosautos ao MPE para as providências cabíveis.

2 RO n. 758, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j. 12.08.2004, DJ 03.09.2004, p. 108.

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IV. Recurso não conhecido.3

(destaquei)

47. Dessa forma, para a configuração do abuso de podereconômico não é necessário que a conduta ilícita alcance o resultado eleitoralpretendido, bastando que a mesma tenha potencialidade para influir no pleito. Obem protegido é a legitimidade e a moralidade das eleições e o que se pune é autilização indevida ou abusiva do poder econômico que afete esses valores com oobjetivo de favorecer determinada candidatura. Ou seja, a ação resta cometidamesmo que não consiga atingir seu objetivo, mesmo que o candidato não se eleja(restando, nesse caso, a punição de inelegibilidade), ou mesmo que obtenha votaçãoinferior à obtida em pleito anterior. Tal conclusão fica clara diante da possibilidade,perfeitamente viável, da Justiça Eleitoral condenar candidato por abuso do podereconômico mesmo antes da realização do pleito, hipótese em que será cassado oregistro de sua candidatura (LC nº 64/90, art. 22, XIV e XV).

48. Entretanto, mesmo assim, é de ressaltar que no caso doDeputado Cherini os indícios demonstram que os serviços prestados gratuitamenteaos eleitores nas Casas Solidárias repercutiram positivamente nas eleições de 2006,onde obteve 64.523 votos, o que importou em um acréscimo de 16,92% em relaçãoaos 55.185 votos obtidos para o mesmo cargo nas eleições de 2002, sem com isso,por óbvio, estar se afirmando que esses números decorrem prioritariamente daprática aqui combatida, até mesmo porque tal avaliação é imensurável face ànatureza do voto e, como já dito, irrelevante para a imputação jurídica aqui referida(docs. anexos).

49. Num tempo em que se proíbe a doação de qualquerbrinde feita por candidato a eleitor, quando a lei, de modo a não deixar dúvida,estabelece que ficam vedadas quaisquer doações em dinheiro, bem como de troféus,

prêmios, ajudas de qualquer espécie feitas por candidato, entre o registro e aeleição, a pessoas físicas ou jurídicas parece-nos ofensivo à própria administraçãoda justiça eleitoral, que mobiliza todo um universo de juízes, servidores,equipamentos e recursos públicos de toda espécie para garantir a lisura do pleito,

3 RESPE n. 19.553, rel. Min. José Paulo Sepúlveda Pertence, j. 21.03.2002, DJ 21.06.2002, p. 244.

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que candidato mantenha, inclusive durante a campanha eleitoral, albergues paraoferecer e prestar hospedagem gratuita a centenas ou até mesmo milhares deeleitores todo mês, e que, além de tudo, de tais fatos faça ostensiva publicidade àcomunidade Rio-Grandense.

50. Impressiona a sofisticação do sistema criado. Aspessoas são atendidas/visitadas nas pousadas pelo parlamentar e/ou por seusassessores, que, por vezes lá residem, como é o caso do assessor Daniel Correia dosSantos, que reside na Casa Solidária de Porto Alegre, na Rua Duque de Caxias nº624, por sinal, há duas quadras da sede do Tribunal Regional Eleitoral do RioGrande do Sul (certidão da fl. 95). Os nomes e endereço dos usuários sãodevidamente cadastrados para, obviamente, terem sua memória reativada sobre adívida de gratidão que fica pelo serviço prestado. Durante a campanha eleitoral, oserviço prossegue normalmente, com a diferença que nesse período há largo materialde propaganda do candidato nos albergues, como demonstra o material láapreendido, ficando os usuários hospedados como que dentro de um comitê decampanha.

51. Os albergues, a concessão de hospedagem, e por vezeso transporte de eleitores da rodoviária até esses locais, a utilização de servidorespúblicos na administração das casas, já é uma ação por si só notável a revelar umaaposta temerária na impunidade da conduta, ou, o que talvez seja ainda maispreocupante, um completo descaso pelas supracitadas normas constitucionais elegais que regulam o processo eleitoral, bem como pelos poderes públicosconstituídos para zelar pela sua regularidade.

52. Conforme antes referido, denotando a real finalidadedestas “casas de apoio”, a manchete de capa da edição Maio 2005 (Ano 10, número91) do Jornal Extra Classe, do SINPRO-RS (Sindicado dos Professores do EnsinoPrivado do RS), cuja edição eletrônica foi antes citada, ao se referir às “casas depassagem” mantidas por deputados em Porto Alegre, foi precisa ao captar a

finalidade de tais estabelecimentos: Trocam-se votos por favores – Oassistencialismo praticado nos albergues mantidos por deputados estaduais é umacampanha eleitoral permanente. A matéria jornalística apreende bem a situação

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quando ressalta (p. 12) que o assistencialismo é uma prática medieval que sobrevive

até os dias de hoje e funciona, na prática, como uma campanha eleitoralpermanente com uma relação custo-benefício comprovada (fl. 29-31/cópia damatéria na internet - e doc. anexo/cópia da jornal impresso com fotos do deputado eda fachada – com o placa com o nome do deputado – da sua Casa de Porto Alegre nap. 13 do jornal).

53. O Jornal Zero Hora, que na edição de 29/05/2005,como acima visto (Coluna Página 10 – Rosane de Oliveira) já tinha se referido àspousados do Deputado Cherini como uma verdadeira fábrica de votos, na edição de19/09/06 (p. 12 – Seção Política), na mesma coluna (Página 10), ao se referir àpousada congênere mantida pelo candidato à reeleição à Assembléia LegislativaVilson Covatti (PP), também objeto de representação por esta PRE, as nomeoucomo albergues eleitorais (doc. anexo).

54. O Tribunal Superior Eleitoral, julgado em 23/05/2006,dando provimento a recurso do Ministério Público Eleitoral, invalidou diplomaexpedido em nome de candidato eleito para o cargo de deputado estadual em virtudede abuso do poder econômico consubstanciado na apreensão de quinze cestasbásicas na residência de um cabo eleitoral do candidato e que seriam distribuídas aeleitores, ou seja, por fato que, embora relevante, é muito menos expressivo e lesivoà legitimidade e normalidade das eleições do que a manutenção confessa pelodeputado investigado, durante os 04 anos que separam as eleições de 2006 das de2002, de três pousadas através das quais ofereceu a todo o eleitorado e prestouefetivamente hospedagem gratuita a milhares de cidadãos, sendo do amploconhecimento dos usuários e do público em geral que tais estabelecimentos são porele mantidos, fato ensejador de incomensurável desequilíbrio entre os candidatos:

RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA.PRELIMINARES. AFASTADAS. MÉRITO. ABUSO DOPODER ECONÔMICO. POTENCIALIDADE. PROVIMENTO.1. Apontamento pelo Ministério Público do fato de terem

sido apreendidas quinze cestas básicas na residência deum cabo eleitoral do candidato, que seriam distribuídas aeleitores.

2. Apreensão ocorrida no Município de rio Branco, onde ocandidato obteve alta concentração de votos (77,30%), de umtotal de 3.304 votos.

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3. O abuso de poder econômico foi reconhecido por decisãodeste Tribunal (RO nº 741, rel. Min. Gomes de Barros,julgado em 22.2.2005).

4. Verifica-se a potencialidade da conduta e o conseqüentecomprometimento do processo eleitoral.

5. Recurso provido para, nos termos do art. 262, IV, do CódigoEleitoral, invalidar o diploma expedido em nome de RobertoBarros filho.4

(destaquei)

55. No mesmo sentido a seguinte decisão do TribunalSuperior Eleitoral:

RECURSO ORDINÁRIO. Eleições 2002. Abuso do podereconômico. Captação ilegal de sufrágio. Configuração.Provimento negado.Configurado o abuso do poder econômico, decorrente daprática de assistencialismo voltado á captação ilegal desufrágios, impõe-se a declaração da inelegibilidade, nos termosdo art. 22, VI, da LC nº 64/90.5

(destaquei)

56. Por fim, destacamos o disposto no artigo 23 da LeiComplementar nº 75/93:

Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciaçãodos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e provaproduzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que nãoindicados ou alegados pelas partes, mas que preservem ointeresse público de lisura eleitoral”(destaquei)

57. Diante do exposto, configurado e comprovada a práticade abuso de poder econômico do investigado pelos fatos acima narrados, é de ser aofim julgada procedente a presente ação de investigação judicial eleitoral, comaplicação das penas referidas no inciso XIV do art. 22 da LC nº 64/90.

VIPEDIDO

4 RCEd nº 616, rel. Ministro José Delgado, j.23.05.2006, DJ 23.082006, p. 107.

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ANTE O EXPOSTO, o Ministério Público Eleitoral

requer:

(a) que a presente ação de investigação judicial

eleitoral seja recebida e processada;

(b) seja a mesma distribuída por dependência ao

processo cautelar nº 18.2006 (Classe 04), ação preparatória desta AIJE, sendo

aqueles autos apensados aos desta ação, até julgamento final, conforme arts. 796 e

809 do CPC, haja vista constar naqueles autos toda a prova formada em virtude da

busca e apreensão autorizada por Vossa Excelência, e, cujo objetivo, é instruir a

presente ação principal;

(c) que seja notificado o investigado para, querendo,

oferecer defesa no prazo legal;

(d) seja determinado ao investigado (d.1) apresentar

demonstrativo das receitas e despesas em 2006, bem como os respectivos livros

fiscais, referentes aos três estabelecimentos; (d.2) apresentar cópia da matrícula dos

imóveis onde estão localizadas os três estabelecimentos, bem como os respectivos

contratos de locação;

(e) o depoimento pessoal do investigado, na forma do

art. 343 do CPC, constando do instrumento de intimação o disposto no seu § 1º;

quando da designação da audiência referida no inciso V do art. 22 da LC nº 64/90;

(f) as seguintes diligências (art. 22, VI):

(f.1) seja intimado o Presidente da Assembléia

Legislativa do Rio Grande do Sul, na Praça Marechal Deodoro, n. 101, CEP 90010-

300, nesta Capital, para que informe os nomes de todos os assessores parlamentares

do Deputado Giovani Cherini nos últimos 12 (doze) meses;

(f.2) seja requisitado à empresa EDITORA

EVANGRAF LTDA, CNPJ n. 01.530.830/0001-93, com sede à Rua Waldomiro

Schapcke nº 77, Bairro Partenon, em Porto Alegre, RS, para que remeta cópia de

5 RO nº 741, rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, j. 22.02.2005, DJ 06.05.2005, p. 151.

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todo impresso produzido para Giovani Cherini no ano de 2006, inclusive dos 03

impressos juntados nas fls. 65/66 da cautelar em anexo, apresentando, ainda, cópia

das respectivas notas fiscais e informando o número de exemplares produzido de

cada impresso;

(f.3) seja requisitado às Prefeituras dos municípios de

Porto Alegre, Santa Maria e Passo Fundo cópia do Alvará de funcionamento das

pousadas/albergues denominadas Casas Solidárias instaladas nos seguintes

endereços:

Porto Alegre: Rua Duque de Caxias, 624;

Passo Fundo: Rua Eduardo de Brito, 308;

Santa Maria: Rua Erly de Almeida Lima, 595;

(f.4) seja certificado nos autos pelo setor competente

do TRE a data do requerimento e do deferimento do registro de candidatura a

deputado estadual de Giovani Cherini (Processo 311.2006 Classe 15);

(f.5) seja certificado nos autos, pelo setor competente

do TRE, juntando-se cópia das “certidões eleitorais” (Nome, endereço, CPF e Título

de Eleitor) das 18 pessoas (hóspedes em Porto Alegre e Santa Maria) nominadas no

item 25 desta representação, bem como das indicadas nas 32 fichas cadastrais dos

hóspedes de Passo Fundo juntadas na cautelar em apenso;

(g) que sejam consideradas como desta ação todas as

provas juntadas na referida ação cautelar preparatória deste AIJE, com especial

destaque para as 32 fichas cadastrais com nome, endereço e RG das pessoas que

estavam hospedadas na Casa de Passo Fundo no dia 19/09/06, fichas estas

apreendidas em cumprimento da liminar da referida cautelar (certidão da fl. 91),

agenda apreendida em Passo Fundo com indicação do número de hóspedes por

município de origem e a votação obtida pelo investigado nas eleições de 2002,

exemplares de propagandas eleitorais, material da Assembléia Legislativa,

documentos das pousadas, etc.;

(h) que sejam ouvidas as testemunhas abaixo

arroladas, sendo facultado ao Ministério Público, caso não as apresente em

Page 25: EXCELENTÍSSIMO SENHOR CORREGEDOR REGIONAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO … · 2011-02-09 · do efeito causado pelo serviço prestado pelo deputado candidato (fls. 16-19 – toda

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audiência, juntar seus depoimentos que venham a ser proferidos no Processo Classe

16 n. 294.2006, que cuida de Representação Eleitoral por Captação Ilícita de

Sufrágio ajuizada pelo Ministério Público Eleitoral contra o investigado, como prova

emprestada, juntando-se aos presentes autos cópias autenticadas:

- REGINA CELIS LEONINI MACHADO – Servidora da Justiça em Porto Alegre (2ª Zona –

Oficial de Justiça ad hoc – certidão da fls. 95-98);

- JOSÉ DIMAS PASTORE DE MAGALHÃES – Servidor da Justiça em Porto Alegre (2ª Zona –

Oficial de Justiça ad hoc)

- KARLA MACHADO CUNHA – Servidora do Ministério Público Federal em Porto Alegre ;

- JOSÉ BONIFÁCIO MELLO MENDES – Servidor da Justiça em Santa Maria ;

- JODAR PEDROSO PRATES – Servidor do Ministério Público Estadual em Passo Fundo;

- SHAIANE TASSI MOUSQUER – Servidora do Ministério Público Federal em Porto Alegre;

(i) que, ao final, seja julgada inteiramente procedente

a presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral, reconhecendo-se a

responsabilidade do investigado por abuso de poder econômico e cominando-lhe a

sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 3 (três) anos

subseqüentes à eleição em que se verificaram os fatos, bem como para as demais

penas e providências previstas nos incisos XIV e XV do art. 22 da LC nº 64/90para

as eleições que se realizarem nos 3 (três) anos subseqüentes ao que foi cometido o

ilícito eleitoral;

Protesta, por fim, pela produção de todos os meios de

prova em direito admitidos.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Porto Alegre, 18 de outubro de 2006.

Vitor Hugo Gomes da CunhaProcurador Regional Eleitoral Substituto