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MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS, por seus Promotores de Justiça, vem perante Vossa Excelência ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA por atos de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA com pedido de liminar de indisponibilidade de bens contra AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO, brasileiro, médico, NELSON TADEU FILIPPELLI, brasileiro, engenheiro eletricista, na JORGE LUIZ SALOMÃO, brasileiro, empresário, 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 8ª VARA DA ...FILIPELLI), além de danos causados ao patrimônio público, relacionados à execução do contrato de reforma e construção

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA VARA DAFAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E

TERRITÓRIOS, por seus Promotores de Justiça, vem perante Vossa Excelência

ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA por atos de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVAcom pedido de liminar de indisponibilidade de bens

contra

AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO, brasileiro, médico,

NELSON TADEU FILIPPELLI, brasileiro, engenheiro eletricista, na

JORGE LUIZ SALOMÃO, brasileiro, empresário,

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LUIZ CARLOS BARRETO DE OLIVEIRA ALCOFORADO, brasileiro, advogado,

VIA ENGENHARIA S/A – em recuperação judicial, CNPJ 00.584.755/0001-80, com

endereço no SIA Trecho 3, Lotes 1705-1715, Brasília-DF, CEP 71.200-030;

FERNANDO MÁRCIO QUEIROZ, brasileiro, empresário,

SÚMULA

A presente Ação Civil Pública de responsabilidade por atos de

Improbidade Administrativa cuida de enriquecimento ilícito (AGNELO e

FILIPELLI), além de danos causados ao patrimônio público, relacionados à execução

do contrato de reforma e construção do Estádio Nacional de Brasília.

Esses os ilícitos foram praticados junto à ANDRADE GUTIERREZ

S/A (beneficiária em Acordos de Leniência) e à VIA ENGENHARIA S/A, cujo sócio-

administrador, FERNANDO QUEIROZ, atuou para além do contrato social da

empresa, envolvendo-se pessoalmente nos atos ilegais praticados no âmbito do

consórcio construtor do estádio.

Para consumação desse enriquecimento ilícito, AGNELO contou com

a participação de JORGE SALOMÃO e de ALCOFORADO, que receberam valores

encaminhados pelas empresas para favorecer o agente público.

Os eventos tratados nesta ação ocorreram durante a execução do

contrato de construção do estádio, quando foram solicitados e pagos valores indevidos a

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título de vantagens indevidas e agregadas despesas ilícitas nos custos da obra, violando

os princípios e deveres de impessoalidade, lealdade e moralidade administrativa.

Os fatos somente foram informados ao Ministério Público (ao

Ministério Público Federal, inicialmente) em janeiro/2016, quando a ANDRADE

GUTIERREZ e seus executivos resolveram firmar Acordos de Leniência e de

Colaboração Premiada, revelando os ilícitos que se envolveram e as circunstâncias

desses eventos. As provas que instruem esta ação foram compartilhadas pelo juízo

Federal criminal, tratando-se em sua essência do material coligido no Inquérito Policial

nº 1095/2016 da Polícia Federal e feitos correlatos.

OS FATOS E AS IMPROBIDADES ADMINISTRATIVAS

os acordos ilícitos que antecederam ao certame

Com a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo FIFA 2014,

que também envolvia sediar a Copa das Confederações da FIFA de 2013, foram

iniciados diversos procedimentos de contratação de obras de reforma e construção dos

estádios de futebol.

Para tanto, grandes empresas de engenharia, que já vinham unidas em

cartel, ajustaram a divisão dessas obras para acolher seus interesses, mediante a

simulação de disputa dos preços e dos futuros contratados.

Esses acordos ilícitos contaram, no Distrito Federal, com a

intervenção e participação de agentes públicos, que se envolveram i) na indicação de

empresa local para alinhar-se às componentes do cartel, ii) na construção partilhada,

com as empresas, dos termos do edital da futura licitação e iii) na solicitação e

recebimento de propinas.

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Assim, entre 2008 e 2009, a ANDRADE GUTIERREZ ajustou com a

Construtora Norberto Odebrecht e a OAS – todas integrantes do cartel – sua escolha

para execução das obras o Estádio Nacional de Brasília e acertou com governador do

Distrito Federal daquela época a divisão do objeto contratado com a VIA.

Nesse ponto, Rodrigo Ferreira Lopes da Silva e Clóvis Renato Numa

Peixoto Primo, ambos da ANDRADE GUTIERREZ (com os quais foram celebrados

Acordos de Leniência), relataram:

… QUE o governo de JOSÉ ROBERTO ARRUDA tomou a decisão decontratar a reforma através de licitação pública; QUE CLÓVIS PRIMOcomunicou ao colaborador que a Andrade Gutierrez seria uma das empresasconstrutoras do Estádio Nacional de Brasília (Contrato ASJUR/PRES n.º523/2010), na qual ficou combinado que as empresas CNO e OAS fariama “cobertura” da proposta comercial; QUE para a conquista desse contratoa Andrade Gutierrez firmou uma parceria em consórcio com a empresaVia Engenharia, por indicação do então governador JOSÉ ROBERTOARRUDA; QUE a parceria com a empresa Via Engenharia foi determinantepara a conquista do contrato, uma vez que essa empresa tinha acesso irrestritoà NOVACAP, órgão licitante; (...) (Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, fls. 397-400 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos).

… QUE ratifica a narrativa descrita no anexo XX-Copa do Mundo-Edital nº.001/2009, aprentado (sic) pelo seu patrono, conforme descrito no item 2despacho de fls. 389; (…) QUE esclarece que era subordinado diretamente aoSr. CLOVIS PRIMO, este por sua vez subordinado a ROGÉRIO NORA,sendo CARLOS JOSÉ subordinado ao declarante; QUE em 2009 eraSuperintendente Comercial da Andrade Gutierrez no Centro Oeste; QUEnessa função era responsável pela captação e contratação de obras na regiãodo Centro Oeste; QUE ratifica que em meados de 2009 foi à residênciaoficial localizada em Águas Claras, participar de reunião com o Sr.ARRUDA, na presença do Sr. CLOVIS e do Sr. CARLOS JOSÉ, tendo sidotratado sobre licitação do contrato responsável pela obra vinculada ao estádioMané Garrincha; QUE nessa reunião já havia sido realizado a pré-qualificação do edital em referência, sendo pré-qualificados o Consório (sic)Brasil 2014, a Odebrecht e a OAS; QUE como se sabe, já havia tratativacom a Odebrecht de cobertura da licitação do estádio Mané Garrincha eem contrapartida caberia à Andrade Gutierrez realizar a mesmacobertura na arena Pernambuco; (...) (Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, fls.612-614 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos).

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… EM RELAÇÃO AO ESTÁDIO NACIONAL, EM BRASÍLIA, disse QUEa OAS) havia estudado a realização de uma PPP com o então GovernadorArruda; QUE isso não foi pra frente e a opção passou a ser a obra pública;QUE a AG associou-se com Via Engenharia para formar um consórcio paraparticipar da concorrência; QUE, nesta ocasião, acredita que em 2009, veio aBrasília e reuniu-se com o Governador Arruda mais Rodrigo Lopes,superintendente comercial da AG no Centro-Oeste e Carlos José, gerentecomercial para o GDF; QUE essa reunião foi na residência oficial doGovernador; QUE o depoente mencionou o interesse da OAS conflitantecom o interesse da AG e da Via; QUE Arruda ligou então para JoséLunguinho Filho, diretor da OAS, pedindo para que a AG e a Via fossemrecebidas; QUE, no mesmo dia, o depoente reuniu-se com a OAS na sede daVia em Brasília e acertou que a obra ficaria com a AG e a Via; QUE a OAS ea Odebrecht, já acertada previamente, cobririam o consórcio da AG eVia na licitação, ou seja, ofereceriam propostas artificiais; QUE, em trocaao acerto com a OAS, seria feito algum acordo para que ela ganhasse algumaobra futura em Brasília; QUE não sabe se isto aconteceu; QUE o governadorArruda teve ciência deste acerto, sendo dele a ideia dessa composição,tendo inclusive dito "procure a OAS que juntos vocês são mais fortes” (…)(Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, fls. 29-35 do IPL 1095/2016 da PolíciaFederal; destacamos)

Correspondente a essas informações, João Antônio Pacífico Ferreira,

da Odebrecht, confessou:

(…) que é Engenheiro Civil; que ingressou na Construtora NorbertoOdebrecht em março de 1978, como engenheiro de produção; que entre 1991e março de 2017 ocupou a função de Diretor Superintendente da região Nortee Centro-Oeste da Construtora Norberto Odebrecht; que entretanto, em 2008ou 2009, houve uma divisão da empresa, com a criação de diversas unidadesespecializadas, entre as quais a Odebrecht Infraestrutura, onde o Declarantepassou a desempenhar suas funções; que por oportunidade da escolha doBrasil como sede da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, oGoverno Federal anunciou que os contratos para reforma e construção deestádios para os eventos seriam realizados mediante parceiras privadas ou pormeio de concessões; que houve uma reunião no Grupo Odebrecht para tratarda atuação da empresa nessa área, quando ficou decidido que a empresa nãoparticiparia de licitações realizadas com base da Lei 8.666, mas apenas decontratos de Parcerias Público-Privadas ou de concessões; que, após apublicação dos chamamentos respectivos, a empresa analisaria a viabilidadedos projetos de PPP ou de concessão, mas recusaria de antemão contratoscom base na Lei 8.666; que por volta de 2009, o Declarante recebeu umaligação telefônica de RODRIGO LOPES, Diretor da Andrade Gutierrez,solicitando que a Odebrecht apresentasse uma proposta de cobertura nalicitação para construção do Estádio Nacional de Brasília; que, como essalicitação não era de interesse da Odebrecht, por ser baseada na Lei 8.666,anuiu à solicitação; que, então, contatou Ricardo Ferraz, Diretor de Contratoda Odebrecht e o autorizou a entrar em contado com RICARDO LOPES para

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que fosse apresentada a proposta de cobertura; que isso foi efetivado, sendovencedoras as empresas Andrade Gutierrez e Via Engenharia; (…) (JoãoAntônio Pacífico Ferreira, depoimento prestado ao MPDFT; destacamos -documento anexo)

As obras do Estádio Nacional de Brasília foram realizadas mediante o

Convênio NUTRA/PROJU nº 323/2009 – TERRACAP/NOVACAP/SO, de 18/12/2009,

firmado entre a TERRACAP e a NOVACAP, que atribuiu a essa a responsabilidade pela

realização do processo licitatório e pelo acompanhamento da execução das obras.

No âmbito da NOVACAP, a licitação foi processada nos autos nº

112.002.292/2009, que resultou no Contrato ASJUR/PRES nº 523/2010 com o Consócio

Brasília 2014, formado pelas empresas ANDRADE GUTIERREZ e VIA.

A obra foi contratada inicialmente por R$696.648.486,00, mas, após

25 Termos Aditivos, o valor final alcançou R$1.184.874.854,00, com acréscimos que

representaram 70% superiores à estimativa inicial, tornando o empreendimento mais

caro entre os estádios construídos para aquele mundial de futebol e um dos mais caros

do mundo.

Em declarações prestadas à Polícia Federal, Eduardo Alcides

Zanelatto, executivo da ANDRADE GUTIERREZ, afirmou:

QUE o responsável inicial pela elaboração dos estudos referentes ao EstádioNacional de Brasília era MÁRIO BOTINHA DA CUNHA; QUE, quandoingressou nos estudos do estádio, integrou um Comitê de Estudo juntamentecom ROBERTO XAVIER e por representantes da VIA, lembrando daparticipação de um Rafael, cujo sobrenome não se recorda; QUE esse grupofoi constituído em 2009 e ficava sediado no edifício America Office Tower,no Setor Cornercial Norte (sic); QUE o declarante era o representante da AGresponsável pela interface com a NOVACAP, incluindo o seu PresidenteJOSÉ LUIS ABORIHAM; (…) QUE o projetista contratado pela NOVACAPpara a elaboração do projeto básico do estádio, para a licitação da obra, foi oescritório Castro Mello; QUE com base nos quantitativos apresentados poresse escritório, em articulação com o Consórcio, foram elaborados oselementos técnicos e qualificações do Edital para a reforma do Estádio;(…) (Eduardo Alcides Zanelatto, fls. 809-811 do IPL 1095/2016 da PolíciaFederal; destacamos – documento anexo)

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Esse evento foi retratado por Carlos José de Souza, outro executivo da

ANDRADE GUTIERREZ, da seguinte forma:

… QUE no ano de 2008 foi instado pelo seu Superintendente, Sr. RODRIGOLOPES, para tratar de assuntos referentes à construção do estádio ManéGarrincha; QUE (…) RODRIGO LOPES informou ao declarante sobre apretensão de realização de consórcio com a VIA ENGENHARIA para esseempreendimento, o que de fato foi realizado; QUE os representantes da VIAque trataram dessa matéria foram os senhores LUIZ FELIPE e JOSÉRONALDO ou LUIZ RONALDO; QUE como a implantação da PPP foiconsiderada inviável, RODRIGO LOPES informou ao declarante que seriaconfeccionada proposta para a concorrência pública sobre o objeto citado, namodalidade da Lei 8.666; QUE houve a formação de um grupo detrabalho composto por EDUARDO ALCIDES ZANELATTO, da AG,JOSÉ ou LUIZ RONALDO e outras pessoas que não sabe precisar,encarregados de formalizar o edital que seria utilizado na concorrênciada NOVACAP; QUE sabe que a minuta desse edital foi entregue àNOVACAP, visando beneficiar o consórcio Brasília 2014 … (Carlos Joséde Souza, fls. 156-157 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos –documento anexo)

Roberto Xavier de Castro Júnior declarou o seguinte:

… QUE a interface com a NOVACAP não era feita pelo declarante e sim porEDUARDO ZANELATO; QUE esse grupo de estudos era formado por maisdois engenheiros e um técnico da AG, além do declarante; QUE osengenheiros eram MARIO BOTINHA e CECÍLIA SAMPAIO e o técnico erao Sr. MURILO SANTOS; QUE por parte da VIA havia um engenheiro, Sr.MARCELO BERTIN, e dois técnicos, Sr. SÉRGIO e Sra. UYARA; QUEtodos ocupavam uma sala localizada no Setor Comercial Norte, salvo enganoAMERICA OFFICE TOWER; (…) QUE essas exigências iriam constar doedital do estádio Mané Garrincha; QUE os debates referentes a confecção do edital bem como o atendimento das exigências citadas no projeto que seria apresentado foram debatidas com a NOVACAP durante todo esse período;(…) QUE os preços da planilha do edital eram definidos primeiramente pelatabela de preços da NOVACAP; QUE os insumos que não constavam nestatabela eram procurados na tabela do SICRO e do SINAP e encaminhadospelo grupo de estudos para a NOVACAP; QUE ao final o grupo de estudosencaminhou para a NOVACAP a planilha de preço e as exigências dequalificação técnica para a confecção e publicação do edital do estádioMané Garrincha; QUE no edital publicado constavam exatamente essasinformações repassadas pelo mencionado grupo de estudo; … (RobertoXavier de Castro Júnior, fls. 390-396 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal;destacamos – documento anexo)

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Além das declarações dos envolvidos, arquivo eletrônico com os

escritos que formaram o CADERNO TÉCNICO PRÉ QUALIFICAÇÃO, cuja data de

última alteração antecede à publicação do edital do certame, comprova que a

ANDRADE GUTIERREZ e a VIA atuaram na confecção dos expedientes da futura

licitação.

Submetido o dispositivo de armazenamento de dados à perícia da

Polícia Federal, o Laudo nº 1041/2017-SETEC/SR/PF/DF (documento anexo)

comprovou que a data da última modificação do documento é anterior à do edital.

Ainda corroborando as declarações prestadas pelos envolvidos,

também foi comprovada a posse, pelas empresas, de planilhas de Excel (“Planilha valor

total” e “Planilha NOVACAP”), com a descrição dos quantitativos do projeto que seria

licitado, contendo a redução da proposta original que envolvia o fornecimento de

assentos, guarda-corpo, gramado, placar eletrônico e cobertura. A perícia também

constatou a antecedência da data de última atualização frente a publicação do edital –

Laudo nº 1041/2017-SETEC/SR/PF/DF.

Outro documento que se soma ao corpo de evidências é o contrato de

locação em nome da ANDRADE GUTIERREZ, que teve por objeto a sala 1607 do

Edifício América Office Tower (SCN Quadra 0, bloco F, Brasília-DF), local onde

ocorreram as reuniões do grupo formado pelos representantes da ANDRADE

GUTIERREZ, VIA e da NOVACAP (documento anexo).

Os parâmetros da “disputa” foram cunhados à “quatro mãos” com as

empresas que seriam vencedoras da licitação (mediante ajuste ilícito), inclusive quando

o Tribunal de Contas instou a NOVACAP a fazer adequações na peça de chamamento

do certame:

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(…) QUE salvo engano, no início de dezembro de 2009 o TCDF suspendeu oedital para adequações; QUE o declarante chegou a ir à NOVACAP paraauxiliar a Sra. MARUSKA no atendimento dessas adequações do TCDF.… (Eduardo Alcides Zanelatto, fls. 809-811 do IPL 1095/2016 da PolíciaFederal; destacamos – documento anexo)

(...) QUE após a publicação do edital em dezembro de 2009 o TCDFsuspendeu o edital apresentando diversos questionamentos sobre restrição decompetitividade e preço; QUE então o declarante juntamente comEDUARDO ZANELATO foi à NOVACAP por duas vezes, visando auxiliarna elaboração de respostas desses questionamentos junto à servidora MARLI;QUE após a apresentação dessa defesa foram realizados ajustes no edital comdiminuição do valor global, sendo então autorizado pelo TCDF a feitura docertame; … (Roberto Xavier de Castro Júnior, fls. 390-396 do IPL 1095/2016da Polícia Federal; destacamos – documento anexo)

Também aqui há elemento externo que confirma as declarações,

tratando-se de um arquivo eletrônico no formato de planilha Excel (“Composições

Justificativas TCDF”), contendo os elementos utilizados para a resposta apresentada ao

TCDF, elaborados pelos representantes das empresas. Da mesma forma, a perícia

constatou a antecedência da data da última atualização no arquivo – Laudo nº

1041/2017-SETEC/SR/PF/DF – o que condiz com as revelações.

O acesso aos elementos para a confecção do futuro edital era tamanho,

que a própria ANDRADE GUTIERREZ, antes de se submeter à concorrência para a

construção da obra, contratou a análise dos Projetos Arquitetônico e Estruturais do

futuro estádio pelas empresas alemãs Schlaich Bergermann und Partner-SBP e Gerkan

Marg und Partner-GMP, a fim de verificar a necessidade de adequações dos

expedientes às exigências da FIFA.

Isso foi revelado no depoimento de Roberto Xavier de Castro Júnior,

Engenheiro da ANDRADE GUTIERREZ, que declarou:

(…) QUE a NOVACAP contratou as empresas ETALP e CASTRO MELLOARQUITETOS para confecção do projeto e por dispensa de licitação,considerando que se tratava da empresa responsável pelo projeto original doestádio: QUE de posse do projeto dessas empresas, a AG o encaminhoupara as empresas alemãs SBP e GMP visando verificar necessidade de

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adequações voltadas a atender as exigências da FIFA; QUE as exigências daFIFA elevaram o custo da obra para aproximadamente um bilhão e duzentosmilhões de reais: QUE essas exigências iriam constar do edital do estádioMané Garrincha; QUE os debates referentes a confecção do edital bem como o atendimento das exigências citadas no projeto que seria apresentadoforam debatidas com a NOVACAP durante todo esse período; … (RobertoXavier de Castro Júnior, fls. 390-396 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal;destacamos – documento anexo)

Análise realizada pelo Instituto Nacional de Criminalística também

identificou a participação das empresas alemãs nos documentos que serviram de base

para a contratação e execução da obra, corroborando o testemunho.

No Laudo n° 1490/2017 – INC/DITEC/PF, os Peritos registraram:

(...)

51. A carência de capacidade técnica do escritório Castro Mello écorroborada pela necessidade de associação com a equipe do escritório SBP-SCLAICH BEGERMANN UNO PARTNER localizado em Stuttgart naAlemanha, de acordo com o exposto em correspondência dirigida pela CastroMello para a NOVACAP, datada de 20/01/2009. De fato, a empresa SBPapresenta em seu portfólio de projetos na Internet a obra do Estádio Nacionalde Brasília (ENB).

(...)

54. Apesar da empresa Alemã SBP ter efetivamente elaborado parte doprojeto estrutural (Figura 63) não se identificou a sua correspondente ART,apenas a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do projeto estruturalfoi registrada no CREA-SP sob o número 92221220080098177, datada de08/02/2008 (Figura 64), em nome de Arthur Luiz Pitta. … (documentoanexo)

Como se vê, diversas pessoas envolvidas nessa contratação revelaram

a participação das empresas ANDRADE GUTIERREZ e VIA na elaboração dos

parâmetros do futuro edital de licitação.

Vale registrar que a VIA, de FERNANDO QUEIROZ, era o que se

chamava de “parceiro local”: a empresa estabelecida no Distrito Federal com

capacidade de articulação com os agentes econômicos, políticos e administrativos

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locais. Tanto assim que ela fora indicada pelo então governador para formar o consórcio

com a ANDRADE GUTIERREZ:

“QUE o governo de JOSÉ ROBERTO ARRUDA tomou a decisão decontratar a reforma através de licitação pública; QUE CLÓVIS PRIMOcomunicou ao colaborador que a Andrade Gutierrez seria uma das empresasconstrutoras do Estádio Nacional de Brasília (Contrato ASJUR/PRES n.º523/2010), na qual ficou combinado que as empresas CNO e OAS fariam a“cobertura” da proposta comercial; QUE para a conquista desse contrato aAndrade Gutierrez firmou uma parceria em consórcio com a empresaVia Engenharia, por indicação do então governador JOSÉ ROBERTOARRUDA; QUE a parceria com a empresa Via Engenharia foi determinantepara a conquista do contrato, uma vez que essa empresa tinha acesso irrestritoà NOVACAP, órgão licitante; … (Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, fls. 397-399 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos).

Como consortes, a ANDRADE GUTIERREZ e a VIA, por

FERNANDO QUEIROZ (e outros executivos) dividiam as despesas com o pagamento

de propinas, fazendo um encontro de contas para distribuir esses ônus entre ambas:

(…) QUE esse encontro de contas se dava quando a VIA apresentavarecibos, notas fiscais, apontamento de mão de obra, despesas diversas parapagamento da AG e, assim a AG realizava aportes maiores do que a VIApara compensação do pagamento das propinas … (Rodrigo Ferreira Lopesda Silva, fls. 612-614 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos).

o enriquecimento ilícito mediante solicitações e recebimentos de vantagens indevidas

AGNELO e FILIPELLI assumiram os cargos de Governador e de

Vice-Governador do Distrito Federal em 1º/1/2011, quando passaram a influenciar de

forma direta o destino das contratações públicas locais, em especial do Contrato

ASJUR/PRES nº 523/2010 com o Consócio Brasília 2014, formado pelas empresas

ANDRADE GUTIERREZ e VIA, de reforma e construção do Estádio Nacional de

Brasília.

Sobre esse ponto, AGNELO afirmou em depoimento à Polícia

Federal:

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(…) QUE no início de seu mandato convidou os representantes doconsórcio que estava realizando as obras do Estádio Nacional de Brasíliapara uma reunião; QUE visava conhecer a real situação das obras, já quehavia um compromisso internacional para ser cumprido para realização daCopa das Confederações e Copa do Mundo; QUE então compareceram àreunião CARLOS JOSÉ DE SOUZA e FERNANDO QUEIROZ; QUEnessa reunião que conheceu CARLOS JOSÉ DE SOUZA; QUE não conheceFLÁVIO GOMES MACHADO FILHO, executivo da ANDRADEGUTIERREZ; (…) QUE não conhece ROGÉRIO NORA DE SÁ, executivoda ANDRADE GUTIERREZ; (…) QUE conhece RODRIGO LEITEVIEIRA, executivo da ANDRADE GUTIERREZ, desde aproximadamente oano de 2012; QUE não recorda quando o conheceu, mas seguramente foi emuma reunião para tratar das obras do Estádio Nacional de Brasília; QUEparticipou de diversas reuniões com representantes das construtoras doconsórcio para tratar da obra do Estádio MANÉ GARRINCHA; QUE essasreuniões ocorreram depois da formalização do processo licitatório econtratação do consórcio; QUE a primeira reunião provavelmente ocorreuna residência oficial de Águas Claras/DF; QUE a maioria das demaisreuniões ocorreram no próprio Estádio Nacional de Brasília; QUE em geral,participavam das reuniões os seguintes representantes do consórcio:CARLOS JOSÉ DE SOUZA, FERNANDO QUEIROZ e RODRIGOLEITE VIEIRA; … (Agnelo Santos Queiroz Filho, fls. 213-218 do IPL1095/2016 da Polícia Federal; destacamos – documento anexo)

Correspondente à condição de titulares dos relevantes cargos de

governador e vice-governador, com poderes para interferir na dinâmica do contrato de

edificação do estádio, AGNELO e FILIPELLI solicitaram e receberam vantagens

indevidas dessas empresas consorciadas.

Ao tempo em que governaram o Distrito Federal, inclusive, fora

necessário alterar o objeto social da Companhia Imobiliária de Brasílio – TERRACAP

para acolher a possibilidade dessa empresa custear a edificação do Estádio Nacional de

Brasília (Lei Distrital nº 427/2011)

Nesse contexto, Rodrigo Leite Vieira, gerente comercial da

ANDRADE GUTIERREZ, declarou o seguinte à Polícia Federal:

(…) QUE em 2012 na função de gerente comercial subordinado àSuperintendência de RODRIGO LOPES, ficou responsável pelas tratativasde assuntos referentes a obra do Estádio Nacional de Brasília; (…) QUE jáem 2012, quando iniciou sua atuação junto à obra do estádio, foi informado

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por RODRIGO LOPES e CARLOS JOSÉ, que compunham a equipe da AGno DF, da existência de pagamentos de propina em face doempreendimento; QUE a época não sabia percentual dessa propina, mas quehoje pode precisar que se tratava de cerca de quatro por cento, provavelmentesobre o valor líquido da obra; … (Rodrigo Leite Vieira, fls. 158-159 do IPL1095/2016 da Polícia Federal; destacamos – documento anexo)

Em relação essas tratativas ilícitas, Carlos José de Souza, executivo da

ANDRADE GUTIERREZ, afirmou em depoimento:

(…) QUE as obras do estádio foram iniciadas em 2011, na gestão AGNELOQUEIROZ; (…) QUE já em 2011, na gestão de AGNELO, o declarante foiinformado por RODRIGO LOPES e CLÓVIS PRIMO sobre tratativas parapagamento de propina de três por cento para o PT, na pessoa deAGNELO e um por cento para o PMDB, na pessoa de FILIPELLI,calculados pelo valor efetivamente recebido pela AG; Que também a partirde 2011 CLOVIS determinou que o declarante atendesse pedidos deAGNELO; QUE então o declarante foi pessoalmente instado diversas vezespelo Sr. AGNELO QUEIROZ para o custeio de demandas variadas; QUEessas demandas eram pagamento de fornecedores e prestadores de serviços,pagamento de camarote para a copa das confederações, pagamento dequermesse, camisas para time de futebol, patrocínio do livro “nasce umgigante” e outras (…) QUE confirma a realização de pagamentos em espécie,solicitadas pelo governador AGNELO e autorizadas por CLOVIS PRIMO;(…) QUE sobre TADEU FILIPELLI, então Vice-Governador do GDF,respondeu que o acerto de pagamento de propina em razão do estádioMané Garrincha foi pago pela AG por meio de doações de campanha doPMDB; QUE contudo foi chamado por TADEU FILIPELLI em suaresidência oficial no ano de 2012/2013, tendo recebido reclamação donominado em face da ausência de pagamento da propina acertada nomontante de um por cento; QUE então nessa ocasião FILIPELLI informouque teria acertado com a VIA o pagamento da propina, conforme acordado eque a AG deveria depois resolver essa questão junto a VIA; QUE gostaria deconsignar que a AG não cumpriu com os três por cento de propina prometidoa AGNELO, apesar de ter repassado ao nominado valores significativos; …(Carlos José de Souza, fls. 1888-1889 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal;destacamos – documento anexo)

Nesse ponto, Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, então Superintendente

Comercial da ANDRADE GUTIERREZ no Centro-Oeste, declarou:

(…) QUE ratifica que CARLOS JOSÉ atendia a pedidos do Sr. AGNELOQUEIROZ; QUE CARLOS JOSÉ chegou a apresentar JORGE SALOMÃOcomo operador de AGNELO QUEIROZ; QUE essa apresentação se deu nocanteiro do estádio; QUE tanto o declarante como JORGE SALOMÃO tinhamacesso ao citado canteiro; QUE perguntado sobre registro desses encontros,respondeu que acredita que há esses dados nos registros do edifício Financial

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Corporate Center, local de funcionamento da AG até dezembro de 2015, sala 201;(…) QUE sobre TADEU FILIPELLI ratifica que os pagamentos de valores depropina ao nominado era feito por meio da VIA ENGENHARIA através de“encontro de contas”; QUE esse encontro de contas se dava quando a VIAapresentava recibos, notas fiscais, apontamento de mão de obra, despesasdiversas para pagamento da AG e, assim a AG realizava aportes maiores do que aVIA para compensação do pagamento das propinas dirigidas a Tadeu Filipelli;… (Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, fls. 612-614 do IPL 1095/2016 da PolíciaFederal; destacamos).

O enriquecimento ilícito de AGNELO , correspondente às obras do

Estádio Nacional de Brasília, ocorreu mediante a intermediação de JORGE

SALOMÃO, que recolhia valores em espécie em nome do então governador, e de

ALCOFORADO, que atendeu demandas advocatícias de AGNELO mediante

remuneração efetuada pelo consórcio ANDRADE GUTIERREZ/VIA,

preferencialmente por intermédio da primeira, além do acolhimento de valores em

espécie.

Apenas para iniciar os registros, nos parcos controles de acesso à

Residência Oficial de Águas Claras encontrados no período, consta a presença de

JORGE SALOMÃO, exatamente no dia em que estiveram no local FERNANDO

QUEIROZ, da VIA, e Carlos José de Souza, da ANDRADE GUTIERREZ (Ofício nº

0357/2017 – CJDF/GAG - documento anexo):

Carlos José de Souza, da ANDRADE GUTIERREZ, declarou:

(…) QUE o operador de AGNELO era JORGE LUIZ SALOMÃO; QUEfoi apresentado a JORGE LUIZ na residência oficial de AGNELO entreos anos de 2011 e 2012; QUE reconhece JORGE LUIZ como sendo a pessoaque consta em foto retirada no site dos SINDUSCONDF, neste atoapresentado pelas autoridades policial; QUE as entregas da propina eramrealizada (sic) por RODRIGO LEITE ao Sr. JORGE SALOMÃO (CarlosJosé de Souza, fls. 1888-1889 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal;destacamos)

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Rodrigo Leite Vieira, gerente comercial da ANDRADE GUTIERREZ,

ficou responsável por encaminhar os valores de propina destinados a AGNELO e o fez

na pessoa de JORGE SALOMÃO em 12 entregas realizadas pessoalmente:

(…) QUE realizou doze pagamentos de valores a título de propina no anode 2014 referente à obra do estádio; QUE esses valores eram pagos aooperador do governador AGNELO QUEIROZ, Sr. JORGE SALOMÃO;QUE no dia 07/07/2014 entregou cento e cinquenta mil reais a JORGESALOMÃO no estacionamento do canteiro de obras do estádio ManéGarrincha; QUE no dia 11/07/2014 entregou cinquenta mil reais também aJORGE SALOMÃO; QUE os demais valores entregues ao longo de 2014serão especificados por meio de registro que indica as datas, os locais e osvalores pagos a título de propinas e entregues no interesse desse inquérito;QUE JORGE SALOMÃO entrava em contato como (sic) o declarante viatelefone (61-996130474 e 981287878) para a cobrança desses valores emarcação de local de entrega; … (Rodrigo Leite Vieira, fls. 158-159 do IPL1095/2016 da Polícia Federal; destacamos)

Essas entregas foram relacionadas pela ANDRADE GUTIERREZ

numa planilha que indica as quantias e as datas das entregas dos valores em espécie

destinados a AGNELO, recolhidos por JORGE SALOMÃO (Listagem de fls. 177-185 do

IPL 1095/2016 da Polícia Federal; documento anexo):

Sobre os detalhes de cada inscrição dessa planilha, Rodrigo Leite

Vieira declarou:

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(…) a coluna 1 "data de entrega" refere-se a data de entrega dos valores aoSr. JORGE SALOMÃO; QUE na coluna 2 "fonte de busca do recurso"refere-se ao local onde o declarante buscava os recursos (propina) que seriaentregue ao Sr. JORGE SALOMÃO; QUE na coluna 3 "local de entrega dorecurso" é extamente (sic) o local da entrega da propina em referência; QUEna coluna 4 "destinatário e receptor do recurso" é exatamente a pessoa querecebia a propina em referência; QUE na coluna 5 "valor entregue" refere-seao valor da propina vezes mil; QUE sobre a sigla RML constante em fls. 178,esclarece que se refere a sigla "ROCHA MARTINS E LEITE", salvo engano;QUE era nesse escritório (RML) que o declarante ia buscar os recursos(propina) entregues por GUSTAVO ROCHA; QUE o escritório localiza-seEQRSW 7/8, Lote 1, sala 106; QUE esclarece que a sigla JS constante emfls. 178 de fato refere-se ao Sr. JORGE SALOMÃO; QUE esclarece que asigla ALC de fls. 179 refere-se ao Sr. LUIS CARLOS ALCOFORADO;QUE esclarece que as siglas constantes em fls. 180 significam JS - JORGESALOMÃO, EN - Estádio Nacional (local de entrega), VIA (por meio de) eRML - o escritório supra citado; QUE essas siglas se repetem em fls. 181,esclarecendo que PJT significa Projeto Gama, RF - Rodrigo Ferreira Lopes, eENB - Estádio Nacional de Brasília; QUE ratifica que os valores constantesnestas anotações são multiplicados por mil, ou seja, o número 60 contanteem fls. 182 refere-se a sessenta mil; … (Rodrigo Leite Vieira, fls. 273-274 doIPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos)

Corroborando as declarações feitas por Rodrigo Leite Vieira quanto

à entrega dos valores em espécie, análise dos registros telefônicos de JORGE

SALOMÃO e do executivo da ANDRADE GUTIERREZ, acessadas por ordem do

juízo Federal, revelou que:

(...) ao confrontar as datas de pagamentos de propina relatadas pelo ex-executivo da ANDRADE GUTIERREZ com os dados do afastamento dosigilo telefônico dos investigados, observa-se que os terminaisatribuídos/pertencentes a RODRIGO LEITE/AG e o terminal 556181287878atribuído a JORGE SALOMÃO mantiveram contatos telefônicos entre si emtodas as datas de pagamento de propina, corroborando-se, deste modo, anarrativa do colaborador (Relatório de Análise nº 041/2019 – ASSPA/PR-DF – grifamos e destacamos; documento anexo).

Apenas a título de exemplo, vejamos parte do relatório em

referência:

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Além de manterem contatos telefônicos entre si em todos os dias em

que foram repassados os valores de propina, os registros de localização dos aparelhos

de telefonia celular de JORGE SALOMÃO e do executivo da ANDRADE

GUTIERREZ ainda revelaram proximidades com os locais de entrega das propinas

em horários semelhantes. O relatório de análise desses registros anotou:

Além disso, ressalta-se que, em 05 dos 10 pagamentos de propinarelatados, terminais atribuídos a RODRIGO LEITE e a JORGESALOMÃO acionaram ERBs situadas nas proximidades dos locais ondeteriam ocorrido a entrega da propina, tais como o Estádio Nacional deBrasília e a Residência Oficial da Vice-governadoria do DF.

(…)

Cumpre ainda destacar os contatos mantidos por terminais atribuídos aJORGE SALOMÃO junto a terminais telefônicos pertencentes a Casa Civildo da Governadoria do DF e outros órgãos e entidades do Governo doDistrito federal nas datas de pagamento de propina, ratificando-se, destemodo, os depoimentos dos colaboradores/lenientes no sentido de que JORGESALOMÃO atuaria em nome do então governador do Distrito Federal,AGNELO QUEIROZ. Ao todo, foram realizadas 408 chamadas de voz etexto, conforme anexo deste relatório. (Relatório de Análise nº 041/2019 –ASSPA/PR-DF – destacamos).

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Também como exemplo:

Esses dados revelam a localização aproximada do terminal telefônico,

a partir da sensibilização que o aparelho faz nas antenas das operadoras de telefonia

quando do acionamento do equipamento.

Os elementos coligidos demonstram o enriquecimento ilícito de

AGNELO, com o relevante auxílio de JORGE SALOMÃO, no importe de

R$1.750.000,00, vantagem indevida relacionada ao contrato de edificação do Estádio

Nacional de Brasília, correspondente ao cargo de governador do Distrito Federal.

Além de receber valores em espécie via JORGE SALOMÃO,

AGNELO também auferiu vantagens indevidas da ANDRADE GUTIERREZ mediante

a remuneração de LUIZ CARLOS ALCOFORADO, correspondente a serviços

advocatícios prestados ao então governador, que, inclusive, acolheu vasta quantidade de

dinheiro em espécie relacionada à obra do estádio.

Sobre esse ponto, Carlos José de Souza, da ANDRADE

GUTIERREZ, declarou à Polícia Federal:

(…) que também foi formalizado em contrato de LUIZ CARLOSALCOFORADO, sem prestação efetiva de serviço, apenas para realizar o

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pagamento dos valores que haviam sido solicitados pelo governador; …(Carlos José de Souza, fls. 1888-1889 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal;destacamos)

Consoante documentos apreendidos e apresentados durante a

investigação policial, foi identificado um contrato de prestação de serviços firmado

entre a ANDRADE GUTIERREZ e o escritório ALCOFORADO E BARRETO,

CONSULTORES JURÍDICOS ASSOCIADOS, com prazo de 12 meses, no valor de 50

mil reais mensais, datado de 20/10/2011. As informações da empresa são de que o

objeto envolveu alguma prestação de serviços, mas também alcançou o repasse de

valores no interesse de AGNELO.

Durante o cumprimento de Mandado de Busca e Apreensão no

escritório de advocacia, foi localizada uma lista contendo a relação de valores recebidos

da ANDRADE GUTIERREZ, totalizando R$2.050.622,50 líquidos, correspondentes à

2,85 milhões de reais, muito além do ajuste formalizado:

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A análise de documentos permitiu identificar a elaboração de 1

Parecer de 10 laudas, datado de dezembro de 2011, além da posse de documentos

relacionados a um projeto de Centro Financeiro Internacional e a uma parceria público-

privada na área de saúde (Arquivo eletrônico Apenso I, Volumes I e II do IPL 1095/2016 da Polícia

Federal).

Há entre os documentos relacionados a esse projeto de Centro

Financeiro Internacional indicação de que a relação de ALCOFORADO com o tema

estava vinculado muito mais a agentes políticos locais do que à própria ANDRADE

GUTIERREZ.

Aliás, a viagem arguida como de interesse da empresa fora, na

verdade, uma Missão Oficial e o convite feito a ALCOFORADO para participar desse

vento foi pela relação havida com o então governador AGNELO, conforme

documentos acostados nos autos (v. g. página 43 do arquivo eletrônico Apenso I, Volume II, Parte

1, e página 56 e 63 do arquivo eletrônico Apenso I, Volume II, Parte 2, ambos do IPL 1095/2016 da

Polícia Federal):

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A relação existente entre AGNELO e ALCOFORADO era antiga,

construída na prestação de serviços advocatícios desde a campanha que disputou ao

Senado Federal em 2006 (…), posteriormente continuou advogado de AGNELO nas

ações de improbidade, quando foi Ministro dos Esportes (…), também foi advogado

eleitoral de AGNELO no período de 2010 a 2014, quando foi candidato a Governador

(Depoimento prestado à Polícia Federal, fls. 258-261 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal).

Exatamente nesse contexto, a análise de um dos itens de informática

apreendido por ordem judicial no escritório de ALCOFORADO revelou uma extensa

relação de feitos judiciais de interesse de AGNELO (Relatório Circunstanciado nº 1010/2017,

fls. 258-1745 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal – documento anexo):

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ALCOFORADO relatou que do final de novembro de 2014 a começo

de dezembro de 2014, já não mais conseguiu manter contado com AGNELO, o qual

estava devedor do declarante no valor superior a 400 mil reais, referente a honorários

advocatícios. E arrematou: era AGNELO quem devia dinheiro para o declarante, de

modo que, se recebesse dinheiro da ANDRADE GUTIERREZ ou da VIA ENGENHARIA

para ser entregues àquele, poderia ficar com o dinheiro, a fim de quitar a dívida pré-

existente ... (Depoimento prestado à Polícia Federal, fls. 258-261 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal -

grifamos).

Antes dessa relatada divergência sobre dívidas de honorários

advocatícios, a ANDRADE GUTIERREZ, por seus advogados, relatou que:

(...) entre os meses de Julho e Agosto do ano de 2012, na residência oficial, oGovernador AGNELO QUEIROZ solicitou que fosse repassado ao Sr. LUIZCARLOS ALCOFORADO o montante de R$800.000,00 (oitocentos milreais). Tendo em vista a dificuldade da Andrade Gutierrez em atender a essademanda por meio da disponibilização do valor em espécie, a AndradeGutierrez operacionalizou o repasse solicitado utilizando-se de um contratode Consultoria firmado com o Escritório Alcoforado e Barreto. Assim, emdepósitos mensais, com emissão de notas fiscais superiores ao valor mensalcontratado (R$ 50.000,00), conseguiu-se atender ao repasse.(Esclarecimentos da ANDRADE GUTIERREZ à Polícia Federal, fls. 813-827 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal - grifamos).

Correspondente a essa indicação, foram identificadas a emissão de 7

notas fiscais extraordinárias pelo escritório de ALCOFORADO à ANDRADE

GUTIERREZ para além dos 50 mil reais previstos no contrato, a saber:

Nota Fiscal Data Valor bruto (R$) Valor Líquido (R$)

117 24/09/12 190.000,00 178.315,00

139 09/11/12 170.000,00 159.545,00

143 03/12/12 185.000,00 173.622,50

148 08/01/13 185.000,00 173.622,50

156 06/02/13 185.000,00 173.622,50

168 04/03/13 185.000,00 173.622,50

184 11/04/13 185.000,00 173.622,50

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Em valores líquidos, foram repassados pouco mais de 1,2 milhão de

reais pela ANDRADE GUTIERREZ à ALCOFORADO, para atender despesas

pessoais de AGNELO, valendo registrar que esses valores superaram a quantia mensal

de 50 mil reais ordinária prevista no contrato com o escritório de advocacia.

Ainda em 2013, antes da relatada divergência de ALCOFORADO e

AGNELO sobre dívidas de honorários advocatícios, a ANDRADE GUTIERREZ

encaminhou outros 660 mil reais, em espécie, a ALCOFORADO:

(…) QUE em 2013 CARLOS JOSÉ demandou o declarante que realizassepagamentos a título de propina em nome de AGNELO para o advogadoSr. LUIZ CARLOS BARRETO DE OLIVEIRA ALCOFORADO, tendosido entregues quatro pagamentos totalizando seiscentos mil reais noescritório desse advogado, localizado no America Office Tower; QUE ovalor dessa propina saiu do caixa 2 da AG, não tendo sido firmado contratofictício com o escritório de advocacia e a AG; QUE inclusive irá apresentarno interesse desse IPL cartão de acesso ao edifício em referência, entreguepelo Sr. ALCOFORADO ao declarante; QUE também chegou a entregaroutros sessenta mil reais para ALCOFORADO também em seu escritório,visando a aquisição de camisas para o time de futebol BRASÍLIA; …(Rodrigo Leite Vieira, fls. 158-159 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal;destacamos)

A partir dessas declarações, inclusive anotações encontradas no

aparelho de celular do engenheiro da ANDRADE GUTIERREZ, foram identificados os

dias e as quantias em espécie entregues a ALCOFORADO (Listagem de fls. 177-185 do

IPL 1095/2016 da Polícia Federal; documento anexo):

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A quantia de 60 mil reais em espécie, que diz respeito ao custeio de

camisas de futebol para o time Brasília, é parte de uma sequência de despesas feitas sob

demanda de AGNELO como enriquecimento ilícito de terceiros (inclusive

ALCOFORADO, como será visto mais à frente) à custa de dinheiro público.

Correspondente às informações desse engenheiro da ANDRADE

GUTIERREZ, foi entregue e devidamente aprendido um cartão de acesso com o

timbre America Office Tower, usuário nº 12803, em relação ao qual a análise das

informações encaminhadas pelo condomínio permitiu concluir que o referido cartão é

de acesso permanente, confeccionado em 26/11/2012, vinculado à sala 1817, Escritório

de Advocacia Alcoforado (Relatório Circunstanciado nº 947/2017, fls. 459-460 do IPL nº 1095/2016

da Polícia Federal; documento anexo).

Esse cartão de acesso estava na posse do responsável da ANDRADE

GUTIERREZ pelos pagamentos de propinas em espécie demandadas ao consórcio

construtor do Estádio Nacional, também formado pela empresa VIA, de FERNANDO

QUEIROZ.

Além disso, corroborando as declarações de Rodrigo Leite Vieira,

análise dos registros telefônicos de ALCOFORADO e do executivo da ANDRADE

GUTIERREZ, acessadas por ordem do juízo Federal, revelou que (Relatório de Análise nº

041/2019 – ASSPA/PR-DF – grifamos e destacamos; documento anexo):

(…) Quando confrontadas as datas de pagamentos de propinasupostamente entregue a LUIZ CARLOS ALCOFORADO com os dados dosigilo telefônico dos investigados, verifica-se que os terminaisatribuídos/pertencentes a RODRIGO LEITE e a LUIZ CARLOSALCOFORADO realizaram chamadas telefônicas entre si em todas asdatas de pagamento de propina, corroborando-se, deste modo, a narrativado leniente.

Vamos à listagem contida no relatório em referência:

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Ainda sobre a relação com esse dinheiro, os dados do afastamento do

sigilo telefônico ainda revelam que em todas as datas de pagamentos de propina,

terminais vinculados a LUIZ CARLOS ALCOFORADO mantiveram contato com

terminais pertencentes a Casa Civil da Governadoria do DF e de outros órgãos

subordinados ao então governador AGNELO QUEIROZ. … (Relatório de Análise nº

041/2019 – ASSPA/PR-DF – grifamos e destacamos; documento anexo)

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Esses elementos de prova demonstram que AGNELO, com a efetiva

participação de ALCOFORADO, auferiu vantagem indevida em razão do cargo de

governador do Distrito Federal no importe de R$1.860.000,00, vantagem indevida

custeada pelo consórcio construtor do Estádio Nacional de Brasília formado pela

ANDRADE GUTIERREZ e pela VIA, de FERNANDO QUEIROZ.

AGNELO ainda demandou e recebeu vantagem difusas do consórcio

construtora do estádio, correspondente no custeio de despesas diversas destinadas a

ampliar seu capital político e atender interesses patrimoniais de terceiros, tudo custeado

com valores provenientes do orçamento público da TERRACAP.

Sobre esse ponto, Carlos José de Souza, gerente comercial da

ANDRADE GUTIERREZ, esclareceu:

(…) QUE a partir de 2011 CLOVIS determinou que o declarante atendessepedidos de AGNELO; QUE então o declarante foi pessoalmente instadodiversas vezes pelo Sr. AGNELO QUEIROZ para custeio de demandasvariadas; QUE essas demandas eram pagamento de fornecedores eprestadores de serviços, pagamento de camarote para a copa dasconfederações, pagamento de quermesse, camisas para time de futebol,patrocínio do livro “nasce um gigante” e outras que serão detalhadas eapresentadas pelo declarante para instrução desse IPL; (Carlos José de Souza,fls. 156-157 do IPL nº 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos)

A ANDRADE GUTIERREZ trouxe uma relação de gastos realizados

sob demanda de AGNELO, todas sem nenhuma relação com os limites do contrato

administrativo firmado para a obra do Estádio Nacional, como constataram os Peritos da

Polícia Federal no Laudo nº 1534/2017 – INC/DITEC/PF (fls. 2498-2533 do IPL nº

1095/2016).

Muito embora estivessem desvinculados com o objeto do contrato,

essas solicitações de vantagens indevidas a terceiros, feitas pelo então governador,

foram acolhidas pelo consórcio formado pela ANDRADE GUTIERREZ e pela VIA

como custos do empreendimento, suportados ao final com recursos públicos.

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Entre esse custeio indevido demandado por AGNELO estavam

despesas com uma empresa denominada POLLOCK 8, de mídia digital, para a qual o

consórcio, pela ANDRADE GUTIERREZ, transferiu 1,8 milhão de reais, dos quais

metade (900 mil reais) foram sacados em espécie por um dos envolvidos (Sérgio

Alexandre Monteiro de Bragança Saad), como revelado pelo sócio da empresa (Termo de

Declarações de Fabrício Souza Batista à Polícia Federal, fls. 1164-1165 do IPL nº 1095/2016).

Aliás, Sérgio Saad foi pessoalmente à residência oficial de Águas

Claras apresentar à AGNELO um software de acompanhamento de mídia social,

revelando a interação prévia que resultou na vantagem indevida demandada às custas da

obra do estádio (Termo de Declarações de Sérgio Alexandre Monteiro de Bragança Saad à Polícia

Federal, fls. 1133-1134 do IPL nº 1095/2016).

Sobre a dinâmica da solicitação da vantagem em favor da POLLOCK

8, a ANDRADE GUTIERREZ informou o seguinte:

Entre outubro e novembro do ano de 2011, na Residência Oficial de ÁguasClaras, o então Governador Agnelo Queiroz informou a Carlos José queprecisava de serviços de mídias sociais e que a Andrade Gutierrez deveriaacertar o valor de R$1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil reais) com aPOLLOCK8. Orientou que este pagamento deveria ser feito mensalmenteem 12 parcelas de R$150.000,00 (Cento e cinquenta mil reais) e que CarlosJosé seria procurado por Representante da Pollock8 para as questões deformalização de contrato e pagamentos, o que ocorreu no escritório da AG,sito ao Setor Comercial Norte, Edifício Corporate Financiai Center, 20 Andar,sala 201, Brasília-DF. Em reunião com o Diretor da Pollock8, Sr. Sérgio Saadocasião onde foi firmado o compromisso de efetuar os pagamentos àPollock8. (fls. 813-819 do IPL nº 1095/2016 - destacamos)

Outra vantagem indevida em favor de terceiro demandada por

AGNELO ao consórcio ANDRADE GUTIERREZ/VIA consistiu na transferência de

300 mil reais à Federação Brasiliense de Futebol, supostamente para sustentar a

aquisição de ingressos para a partida da final do Campeonato Candango de 2013, entre

as equipes Brasiliense e Brasília.

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O Brasília pertencia a ALCOFORADO e a Federação não vendia

ingressos, como é possível conferir no Termo de Declarações de Erivaldo Alves Pereira

às Polícia Federal (fls. 1143-1144 do IPL nº 1095/2016).

Constatou-se que, a partir do depósito realizado na conta da

Federação, parte dessa quantia, no importe de R$ 123.518,50, foi transferida para a

pessoa jurídica INÁCIA COMÉRCIO E SERVIÇO DE GASTRONOMIA LTDA. e o

restante para duas outras empresas, conforme documentos apresentados pela Federação

de Futebol (Termo de Declarações de Erivaldo Alves Pereira às Polícia Federal, fls. 1143-1144 do IPL

nº 1095/2016):

Pois a empresa Inácia Comércio e Serviço de Gastronomia Ltda.

pertencia a ALCOFORADO. (Relatório Circunstanciado nº 1089/2017- NO / DELEINQUE / SR /

DPF/DF, fls. 1395-1402 do IPL nº 1095/2016).

Além disso, outros R$67.749,92 foram custeados pelo consórcio, por

intermédio da ANDRADE GUTIERREZ, com a aquisição de uniformes de futebol em

favor do time Brasília de ALCOFORADO, e mais R$4.315,20 com despesas de

bebidas alcoólicas servidas naquela jogo de futebol, conforme recibos coligidos no

Inquérito Policial que instruem o presente feito.

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Mais uma vez, 372 mil reais foram encaminhados para o

enriquecimento ilícito (porque dissociados do objeto do contrato administrativo) de

terceiros por demanda ilegal de AGNELO, ato qualificado de improbidade

administrativa.

Não parou por aí!

Por oportunidade da partida de futebol Santos e Flamengo, ocorrida

em 25/05/2013, AGNELO demandou ao consócio ANDRADE GUTIERREZ/VIA, o

pagamento de despesas o importe de 300 mil reais relacionadas a camarotes instalados

no Estádio Nacional de Brasília, o que envolveu uma série de despesas, todas com a

mesma nódoa da ilicitude.

Demandados a fornecedor do Estado, sem qualquer relação com o

objeto do contrato administrativo, foram custeados como enriquecimento ilícito um total

de R$186.200,00 à Golden Goal Sports Ventures Gestão Esportiva Ltda. por ingressos

em camarotes; mais R$74.400,00 à AC Bar Varejista de Bebidas Ltda. referente a

bebidas servidas nesses camarotes; outros R$65.624,00 à Cristina Roberto Buffet e

Produções Culturais Ltda.-EPP, relativos ao serviço de buffet para os camarotes; e

ainda R$4.000,00 à empresa Donaflor Manoela Fialho Fernandes Santiago pelo

aluguel de vasos de decoração para esses camarotes.

Outros 300 mil reais foram demandados por AGNELO em favor do

Partido dos Trabalhadores, transformado em doação nas eleições municipais de 2012,

mediante recibo eleitoral, outra vantagem indevida a terceiro demandada às custas do

contrato administrativo de obra do estádio.

Sobre esse ponto, a identificação de doações eleitorais como meio

para pagamento de vantagens indevidas constitui crime (no presente caso,

improbidade administrativa por enriquecimento ilícito), como decidiu o STF ao receber

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denúncia e promover a abertura da Ação Penal nº 1015 (INQUÉRITO 3.982 Distrito Federal,

Rel. Ministro EDSON FACHIN, DJE 05/06/2017, divulgado em 02/06/2017).

Vale destacar, no caso, que essa vantagem ilícita solicitada em razão

das despesas públicas com a edificação do estádio envolveram uma eleição municipal,

que não ocorre neste Distrito Federal por força de noma da Constituição da República,

reforçando o caráter ilegal do gesto.

O consórcio ANDRADE GUTIERREZ/VIA ainda custeou mais 300

mil reais em enriquecimento ilícito demandado por AGNELO em favor da Paróquia

São Pedro, desta Capital, correspondente à festa de Pentecostes do ano de 2014 (ano

eleitoral), à qual ele compareceu (https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2014/06/08/

interna_cidadesdf,431583/cerca-de-400-mil-pessoas-foram-ao-ultimo-dia-da-celebracao-de-pentecostes.shtml) para angariar

dividendos político-eleitorais, revelando mais uma despesa absolutamente distinta do

objeto contratado e indevida, assim como as demais, sob a égide das sujeições próprias

do regime jurídico administrativo.

Em resumo, na condição de governador do Distrito Federal, com

poderes para interferir na dinâmica do Contrato ASJUR/PRES nº 523/2010 com o

Consócio Brasília 2014, formado pelas empresas ANDRADE GUTIERREZ e VIA,

AGNELO enriqueceu-se de forma ilícita, pessoalmente, com a concorrência de

JORGE SALOMÃO no importe de 1,75 milhão de reais e com a participação de

ALCOFORADO no importe de 1,86 milhão de reais, e a terceiros, no importe de

3,072 milhões de reais, totalizando 6,682 milhões de reais em improbidade

administrativa conforme o art. 9º, inciso I, da Lei 8.429/1992.

Por se tratar de atos ilícitos, para além do contrato social da empresa,

junto com a VIA, como beneficiária direta dos valores da contratação pública, consorte

da ANDRADE GUTIERREZ nesses eventos ímprobos, seu proprietário, FERNANDO

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QUEIROZ também deve responder, por ser a face humana desses conchavos,

consertos e acertos que resultaram no enriquecimento ilícito do então governador e

terceiros.

Não por outra razão, a prática de atos ilícitos de qualquer natureza

constitui desvio de finalidade da pessoa jurídica, conforme expressa disposição

contida no art. 50, §1º, do Código Civil.

O enriquecimento ilícito de FILIPPELLI , correspondente às obras do

Estádio Nacional de Brasília, ocorreu mediante doações eleitorais relacionadas ao

contrato de edificação do estádio, dissimulando o enriquecimento ilícito do então Vice-

governador.

Vale destacar, como já tivemos oportunidade de indicar, que doações

eleitorais como meio para pagamento de vantagens indevidas constitui crime (no

presente caso, improbidade administrativa por enriquecimento ilícito), como decidiu o

STF ao receber denúncia e promover a abertura da Ação Penal nº 1015 (INQUÉRITO

3.982 Distrito Federal, Rel. Ministro EDSON FACHIN, DJE 05/06/2017, divulgado em 02/06/2017).

Rememorando a cadeia de eventos, Rodrigo Ferreira Lopes da Silva,

da ANDRADE GUTIERREZ, declarou:

(…) QUE sobre TADEU FILIPELLI ratifica que os pagamentos de propinaao nominado era feito por meio da VIA ENGENHARIA através de“encontro de contas”; QUE esse encontro de contas se dava quando a VIAapresentava recibos, notas fiscais, apontamento de mão de obra, despesasdiversas para pagamento da AG e, assim, a AG realizava aportes maioresdo que a VIA para compensação do pagamento das propinas dirigidas aTadeu Filipelli; ... (Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, fls. 613-614 do IPL1095/2016 da Polícia Federal; destacamos)

No entanto, Carlos José de Souza, executivo da ANDRADE

GUTIERREZ, afirmou em depoimento:

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(…) QUE as obras do estádio foram iniciadas em 2011, na gestão AGNELOQUEIROZ; (…) QUE já em 2011, na gestão de AGNELO, o declarante foiinformado por RODRIGO LOPES e CLÓVIS PRIMO sobre tratativas parapagamento de propina de três por cento para o PT, na pessoa de AGNELO eum por cento para o PMDB, na pessoa de FILIPELLI, calculados pelovalor efetivamente recebido pela AG; (...) QUE sobre TADEUFILIPELLI, então Vice-Governador do GDF, respondeu que o acerto depagamento de propina em razão do estádio Mané Garrincha foi pago pelaAG por meio de doações de campanha do PMDB; QUE contudo foichamado por TADEU FILIPELLI em sua residência oficial no ano de2012/2013, tendo recebido reclamação do nominado em face da ausênciade pagamento da propina acertada no montante de um por cento; QUEentão nessa ocasião FILIPELLI informou que teria acertado com a VIA opagamento da propina, conforme acordado e que a AG deveria depoisresolver essa questão junto a VIA; … (Carlos José de Souza, fls. 1888-1889do IPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos)

Correspondendo a essa descrição, foram identificados depósitos e

transferências realizados pela ANDRADE GUTIERREZ e pela VIA em favor do

Diretório local do PMDB, então presidido por FILIPPELLI, totalizando 6,185

milhões de reais.

Nesse contexto, a ANDRADE GUTIERREZ creditou em 01/08/2014

as quantias de R$1.210.000,00 e R$350.000,00 e, em 04/08/2014, a quantia de

R$925.000,00.

A VIA, sob comando de FERNANDO QUEIROZ, cumprindo sua

parte no acerto relacionado à obra do estádio, efetuou as seguintes operações de

crédito: em 12/08/2014, R$500.000,00, em 22/09/2014, R$1.000.000,00, em

16/10/2014, mais R$1.200.000,00, e em 03/11/2014, outros R$1.000.000,00.

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O caixa do diretório distrital do partido político foi utilizado para

acolher valores ajustados como vantagens indevidas vinculadas à execução da obra

pública do Estádio Nacional de Brasília, conforme combinação ilícita realizada por

FILIPPELLI, na condição de Vice-governador.

Como destacou Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, Diretor-Geral de

obras/operações da ANDRADE GUTIERREZ, destacou:

(…) QUE sobre TADEU FILIPELLI recorda-se que chegou a seuconhecimento pedido de doação de campanha do nominado para o PMDB;QUE a doação de campanha estava associada a construção do estádioMané Garrincha; QUE RODRIGO LOPES, Superintendente local ouCARLOS JOSÉ, gerente comercial, podem detalhar as circunstânciasenvolvendo TADEU FILIPELLI; … (Clóvis Renato Numa Peixoto Primo,fls. 153-155 do IPL 1095/2016 da Polícia Federal; destacamos)

Para arrematar, segue trecho do voto do Ministro CELSO DE

MELLO, referente à utilização da justiça Eleitoral para acoitar valores provenientes de

vantagem indevida solicitada e recebida por agentes públicos:

(…) A gravidade da corrupção governamental, notadamente aquelapraticada no Parlamento da República, evidencia-se pelas múltiplasconsequências que dela decorrem, tanto as que se projetam no plano dacriminalidade oficial quanto as que se revelam na esfera civil (afinal o atode corrupção traduz um gesto de improbidade administrativa) e, também, noâmbito político-institucional, na medida em que a percepção de vantagensindevidas representa um ilícito constitucional, pois, segundo prescreve o art.55, § 1º, da Constituição, a percepção de vantagens indevidas revela um atoatentatório ao decoro parlamentar, apto, por si só, a legitimar a perda domandato legislativo, independentemente de prévia condenação criminal.

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(…)

Torna-se importante advertir, neste ponto, Senhor Presidente, que, com ainstauração deste e de outros procedimentos de persecução penal, não se estáa incriminar a atividade política, mas, isso sim, a promover aresponsabilização penal daqueles que não se mostraram capazes de exercê-la com honestidade, integridade e elevado interesse público, preferindo, aocontrário, longe de atuar com dignidade, transgredir as leis penais de nossoPaís, com o objetivo espúrio de conseguir vantagens indevidas e decontrolar, de maneira absolutamente ilegítima e criminosa, o própriofuncionamento do aparelho de Estado.

(…)

4. A utilização criminosa da Justiça Eleitoral como estratégia de lavagemde dinheiro referente a doações oficiais

(…)

Assentadas tais premissas, tenho para mim, por relevante, que a prestaçãode contas à Justiça Eleitoral pode constituir meio instrumental viabilizadordo crime de lavagem de dinheiro se os recursos financeiros doadosoficialmente a determinado candidato ou a certo partido político tiveremorigem criminosa, resultante da prática de outro ilícito penal, adenominada infração penal antecedente, como os crimes contra aAdministração Pública, pois, configurado esse contexto, que traduzengenhosa estratégia de lavagem de dinheiro, a prestação de contas atuarácomo típico expediente de ocultação ou de dissimulação da naturezadelituosa das quantias doadas em caráter oficial oriundas da prática do crimede corrupção, p. ex..

Esse comportamento, mais do que ousado, constitui gesto de indizívelatrevimento e de gravíssima ofensa à legislação penal da República, namedida em que os agentes da conduta criminosa, valendo-se do próprioaparelho de Estado, objetivam, por intermédio da Justiça Eleitoral emediante defraudação do procedimento de prestação de contas, conferiraparência de legitimidade a doações compostas de recursos financeirosmanchados, em sua origem, pela nota da delituosidade. … (INQUÉRITO3.982 Distrito Federal, Rel. Ministro EDSON FACHIN, DJE 05/06/2017,divulgado em 02/06/2017)

Assim, na condição de Vice-governador do Distrito Federal,

compartilhando do poder de interferir na dinâmica do Contrato ASJUR/PRES nº

523/2010 com o Consócio Brasília 2014, formado pelas empresas ANDRADE

GUTIERREZ e VIA, FILIPPELLI enriqueceu-se de forma ilícita no importe de 6,185

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milhões de reais, em improbidade administrativa conforme o art. 9º, inciso I, da Lei

8.429/1992.

Da mesma forma, por se tratar de atos ilícitos, para além do contrato

social da empresa, junto com a VIA, como beneficiária direta dos valores da

contratação pública, consorte da ANDRADE GUTIERREZ nesses eventos ímprobos,

seu proprietário, FERNANDO QUEIROZ também deve responder, por ser a face

humana desses conchavos, consertos e acertos que resultaram no enriquecimento ilícito

do então governador e terceiros, sendo prática de atos ilícitos de qualquer natureza que

constitui desvio de finalidade da pessoa jurídica, conforme art. 50, §1º, do Código Civil.

O DANO MORAL COLETIVO

Além dos danos materiais suportados pelo patrimônio público da

TERRACAP, a conduta dos réus também causou danos que transcendem os valores da

Administração Pública, passíveis de restauração, mitigação ou compensação material.

Os valores imateriais da coletividade foram frontalmente atingidos em

razão do enriquecimento ilícito dos envolvidos, a mais profunda lesão ao patrimônio

moral da sociedade na dimensão da administração pública.

Pode-se asseverar que os danos imateriais atingiram toda a sociedade

brasiliense, que se viu obrigada a assistir ao impassível conluio de agentes públicos e

particulares visando a obtenção de lucros ilícitos com a atividade administrativa,

inviabilizando a coletividade de se beneficiar com uma administração pública honesta,

com reflexos na quitação de preços justos pela execução da obra e não inflados para

acoitar enriquecimentos ilícitos.

Essa situação foi efetivamente lesiva à integridade moral coletiva,

que, após a divulgação dos eventos ilícitos que permearam a construção do estádio

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local, reforçou o entendimento social de que as contratações públicas são

inevitavelmente deficientes e superfaturados.

A coletividade, apesar de ente despersonalizado, possui valores morais

e um patrimônio ideal que exige proteção. A responsabilidade pela violação desse

patrimônio moral é prevista como garantia fundamental e cláusula pétrea na

Constituição Federal, que, em seu art. 5º, inciso V, elenca:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes:

(…) V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além daindenização por dano material, moral ou à imagem.

A proteção ao patrimônio imaterial também encontrou resguardo no

art. 186 do Código Civil, que destacou a autonomia do dano moral para fins de

responsabilização, dispondo: “Aquele que, por ação ou omissão voluntaria, negligencia

ou imprudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente

moral, comete ato ilícito”.

Precisamente no que toca à condenação por danos morais coletivos, a

própria Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) estabelece textualmente em seu art.

1º, VIII: “Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações

de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (...) ao patrimônio

público e social”.

Aliás, a reparação pecuniária em dano moral coletivo decorrente de

ilícitos detectadas em contratações públicas envoltas por corrupção é medida que se

impõe, notadamente se considerados os princípios do interesse público (em sua vertente

primária), da moralidade, da impessoalidade e, especialmente, da gestão democrática

dos recursos públicos.

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O STJ tem consagrado a função pedagógica da indenização por dano

moral:

A extensão do dano moral sofrido, é que merece ser fixado guardandoproporcionalidade não apenas com o gravame propriamente dito, maslevando-se em consideração também suas consequências, em patamarescomedidos, ou seja, não exibindo uma forma de enriquecimento para oofendido, nem, tampouco, constitui um valor ínfimo que nada indenize e quedeixe de retratar uma reprovação à atitude imprópria do ofensor, consideradaa sua capacidade econômico-financeira. Ressalte-se que a reparação dessetipo de dano tem tríplice caráter: punitivo, indenizatório e educativo, comoforma de desestimular a reiteração do ato danoso. (STJ, Ministro MASSAMIUYEDA, 26/05/2008 – AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.018.477 – RJ(2008/0039427-3)

Desse modo, em razão de todas as condutas ilícitas praticadas por

AGNELO, FILIPELLI, JORGE SALOMÃO, ALCOFORADO, VIA e

FERNANDO QUEIROZ e descritas nesta Ação Civil de Responsabilidade por Atos de

Improbidade Administrativa, é imperiosa a condenação deles pelo dano moral coletivo à

sociedade brasiliense, cujo montante deve levar em conta a extensão e gravidade dos

eventos, na quantia de 30 milhões de reais.

A LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DOS BENS

Os fatos tratados nesta ação possuem gravidade em nível extremo, o

que demanda medida proporcional ao evento, em especial considerando o volume de

recursos públicos envolvidos, os meios ilícitos utilizados para a efetivação da lesão e o

enriquecimento ilícito.

Os elementos trazidos a estes autos demonstram a ocorrência dos fatos

descritos nesta inicial, seja quanto à existência de fraudes na definição dos parâmetros

da licitação, seja no pagamento e recebimento de propina, seja no dano deliberado

causado ao patrimônio público.

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Releva salientar que foi imposto ao patrimônio público um expressivo

desfalque financeiro, para cuja reparação deverá ser tomada medida acautelatória

proporcional ao evento, evitando-se o prolongamento do perigo ínsito ao dano.

Sobre esse ponto, trazemos à colação o seguinte julgado:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS.DILAPIDAÇÃO DOS BENS. RECEIO DO JULGADOR. SÚMULA 7/STJ.INVIABILIDADE DO RECURSO ESPECIAL E DA CAUTELARVINCULADA.

I – Para se aferir se presentes ou não as condições que permitiram adecretação da indisponibilidade de bens do requerente, inevitável seria orevolvimento do panorama probatório, o que é vedado a teor da Súmula 7 doTribunal Superior.

II – A indisponibilidade dos bens não é indicada somente para os casos deexistirem sinais de dilapidação dos bens que seriam usados para pagamentode futura indenização, mas também nas hipóteses em que o julgador, a seucritério, avaliando as circunstâncias e os elementos constantes dos autos,demonstra receio a que os bens sejam desviados dificultando eventualressarcimento.

III – Neste panorama, para avaliar o baldrame em que foi esteiada aconvicção do julgador pelo ‘receio’ em desfavor da integridade de futuraindenização, faz-se impositivo revolver os elementos utilizados para atingir oconvencimento demonstrado, o que é insusceptível no âmbito do recursoespecial, inviabilizando a cautelar vinculada a tal recurso.

IV – A indisponibilidade recairá sobre tantos bens quantos forem necessáriosao ressarcimento do dano resultante do enriquecimento ilícito, ainda queadquiridos anteriormente ao suposto ato de improbidade. Também por esteviés faz-se de rigor o exame do conjunto probatório para aquilatar talincidência. Precedente: REsp nº 401.536/MG, Rel. Min. DENISE ARRUDA,DJ de 06/02/2006, p. 198.

V – Agravo regimental improvido.” (AgRg na MC nº 11.139/SP, RelatorMinistro Francisco Falcão, 1ª Turma do STJ, unânime, in DJU de27/03/2006, pág. 152.)

Os elementos probatórios são sólidos na demonstração dos eventos

ilícitos tratados nesta ação, contando com relatos esclarecedores e detalhados,

evidências apreendidas, dados de corroboração, relatórios, perícias e análises dessas

ocorrências, tudo de absoluta concretude.

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Em face disso e diante das especificidades do caso, entende o

MINISTÉRIO PÚBLICO como presentes os requisitos necessários à concessão de

medida assecuratória de indisponibilidade dos bens dos envolvidos, no valor objeto

desta ação – enriquecimento ilícito e danos –, visando a que seja garantido o resultado

útil do processo ao tempo da condenação definitiva.

Assim, com fundamento no art. 7º, caput e parágrafo único, da Lei

8.429/1992, e art. 12 da Lei 7.347/1985, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO

FEDERAL E TERRITÓRIOS requer seja decretada a indisponibilidade dos bens de:

a) AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO e JORGE LUIZ SALOMÃO,

em solidariedade, pelo enriquecimento ilícito, no valor de 1,75 milhão,

mais 5,25 milhões reais relacionados à multa civil, totalizando R$7.000.000,00;

b) AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO, e LUIZ CARLOS BARRETO

DE OLIVEIRA ALCOFORADO, em solidariedade, pelo enriquecimento

ilícito, no valor de 1,86 milhão, mais 5,58 milhões reais relacionados à multa

civil, totalizando R$7.440.000,00;

c) AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO pelo enriquecimento ilícito de

terceiros, no valor de 3,072 milhões, mais 9,216 milhões de reais relacionados à

multa civil, totalizando R$12.288.000,00;

d) NELSON TADEU FILIPPELLI, pelo enriquecimento ilícito, no

valor de 6,185 milhões, mais 18,555 milhões reais relacionados à multa civil,

totalizando R$24.740.000,00;

e) VIA ENGENHARIA S/A – em recuperação judicial, CNPJ

00.584.755/0001-80, e FERNANDO MÁRCIO QUEIROZ,

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, em solidariedade, pelo enriquecimento ilícito dos servidores públicos, no

valor de R$19.300.500,00 relacionados à metade da multa civil.

Para efetividade da medida, requer-se o bloqueio das aplicações

financeiras, via BACENJUD, dos recebíveis junto ao Governo do Distrito Federal,

por todas as suas unidades orçamentárias, bens imóveis mantidos neste Distrito Federal,

oficiando-se aos Cartórios de Registro de Imóveis, e de veículos, com a expedição de

ofícios ao DETRAN/DF, sem prejuízo do bloqueio de outros bens, caso necessário.

OS PEDIDOS FINAIS

Diante do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO

DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS requer:

1. a notificação da Companhia Imobiliária de Brasília – TERRACAP (Ed.

Sede da TERRACAP, no SAM Bloco F, Brasília-DF), para atuar ao lado do

Ministério Público ou se abster de fazê-lo, na forma do disposto no art. 17,

§3º, da Lei 8.429/92;

2. a notificação dos requeridos para apresentarem suas manifestações, na

forma do disposto no art. 17, § 7º, da Lei 8.429/92;

3. prestadas ou não, que seja recebida a presente ação e citados os réus

para apresentarem resposta (art. 17, § 9º, da Lei 8.429/92);

4. após a instrução do feito, que sejam julgados procedentes os pedidos,

confirmando as liminares de indisponibilidade de bens, para, conforme o

disposto no art. 12, incisos I e II, da Lei 8.429/92:

4.1.a) condenar AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO por

improbidade administrativa correspondente ao enriquecimento ilícito no

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MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃOMINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL

importe de 1,75 milhão reais, e JORGE LUIZ SALOMÃO, pelo auxílio

prestado ao primeiro, decretando a perda solidária desses valores acrescidos

ilicitamente, com correção e juros; perda da função pública ou da

aposentadoria; suspensão dos direitos políticos por dez anos; pagamento

solidário de multa civil de 5,25 milhões reais, correspondente a três vezes o

valor do acréscimo patrimonial; e proibindo a contratação com o Poder

Público ou o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,

direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual

sejam sócios majoritários, pelo prazo de dez anos;

4.1.b) condenar AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO por

improbidade administrativa correspondente ao enriquecimento ilícito no

importe de 1,86 milhão de reais, e LUIZ CARLOS BARRETO DE

OLIVEIRA ALCOFORADO, pelo auxílio prestado ao primeiro,

decretando a perda solidária desses valores acrescidos ilicitamente, com

correção e juros; perda da função pública ou da aposentadoria; suspensão

dos direitos políticos por dez anos; pagamento solidário de multa civil de

5,58 milhões reais, correspondente a três vezes o valor do acréscimo

patrimonial; e proibindo a contratação com o Poder Público ou o

recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam

sócios majoritários, pelo prazo de dez anos;

4.1.c) condenar AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO por

improbidade administrativa correspondente ao enriquecimento ilícito de

terceiros no importe de 3,072 milhões de reais, decretando a perda desses

valores acrescidos ilicitamente, com correção e juros; perda da função

pública ou da aposentadoria; suspensão dos direitos políticos por dez anos;

pagamento solidário de multa civil de 9,216 milhões reais, correspondente a

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MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃOMINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL

três vezes o valor do acréscimo patrimonial; e proibindo a contratação com

o Poder Público ou o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou

creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual sejam sócios majoritários, pelo prazo de dez anos;

4.1.d) condenar NELSON TADEU FILIPPELLI por improbidade

administrativa correspondente ao enriquecimento ilícito no importe de

6,185 milhões de reais, decretando a perda desses valores acrescidos

ilicitamente, com correção e juros; perda da função pública ou da

aposentadoria; suspensão dos direitos políticos por dez anos; pagamento

solidário de multa civil de 18,555 milhões reais, correspondente a três

vezes o valor do acréscimo patrimonial; e proibindo a contratação com o

Poder Público ou o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou

creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual sejam sócios majoritários, pelo prazo de dez anos;

4.1.e) condenar VIA ENGENHARIA S/A – em recuperação judicial

e FERNANDO MÁRCIO QUEIROZ pelo enriquecimento ilícito dos

servidores públicos decretando a suspensão dos direitos políticos dos dois

últimos por dez anos; no pagamento de multa civil (metade) de

R$19.300.500,00, correspondente a três vezes o valor do acréscimo

patrimonial; e proibindo a contratação com o Poder Público ou o

recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam

sócios majoritários, pelo prazo de dez anos;

4.2) condenar AGNELO SANTOS QUEIROZ FILHO, NELSON

TADEU FILIPPELLI, JORGE LUIZ SALOMÃO, LUIZ CARLOS

BARRETO DE OLIVEIRA ALCOFORADO, VIA ENGENHARIA S/A

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL

– em recuperação judicial, e FERNANDO MÁRCIO QUEIROZ no

pagamento de dano moral coletivo à sociedade do Distrito Federal, no

importe de 30 milhões de reais.

Protesta pela produção de todos os meios de prova em direito

admitidos, como documentos novos, testemunhos e outros elementos.

Deixamos, nesta oportunidade, de promover o ajuizamento de Ação

contra a ANDRADE GUTIERREZ S/A e demais envolvidos em observância aos termos

do Acordo de Leniência atualmente em vigor.

Dá-se à causa o valor de R$100.768.500,00.

Brasília, 16 de dezembro de 2019.

Eduardo Gazzinelli VelosoPromotor de Justiça

Sérgio Bruno Cabral FernandesPromotor de Justiça

Lenna Nunes DaherPromotora de Justiça

Alexandre Sales de Paula e SouzaPromotor de Justiça

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