7
Eugênio Aragão foi crítico à Lava Jato e cobrou um maior controle das ilegalidades ocorridas pelos órgão jurisdicionados. Foto Marcelo Auler EXCLUSIVO: Eugênio Aragão analisa criticamente a Lava Jato, suas ilegalidades e o prejuízo à democracia 16 de junho de 2016 Marcelo Auler EXCLUSIVO Marcelo Auler Uma seleta plateia de pouco menos de cem pessoas, composta basicamente por alunos e professores da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) presenciou Eugênio Aragão, subprocurador da República e ex ministro da Justiça da presidente afastada Dilma Roussseff, analisar criticamente a crise no país provocada pela Operação Lava Jato. No debate promovido pela professora Margarida Lacombe Camargo, ele abordou o tema “O Ministério Público na crise de 2016“. Foi na segundafeira, (13/06) quando, por aproximadamente três horas, expôs suas ideias, muitas delas que provocarão polêmica, sem cansar os ouvintes – poucos saíram antes do final – e acabou recebendo aplausos e elogios pela maneira franca, dura e às vezes sarcástica, com que analisou o momento político do país e, obviamente, a Operação Lava Jato:

EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

Embed Size (px)

DESCRIPTION

LUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa

Citation preview

Page 1: EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

Eugênio Aragão foi crítico à Lava Jato e cobrou um maior controle dasilegalidades ocorridas pelos órgão jurisdicionados. Foto Marcelo Auler

EXCLUSIVO: Eugênio Aragãoanalisa criticamente a Lava Jato,suas ilegalidades e o prejuízo àdemocracia16 de junho de 2016 Marcelo Auler

EXCLUSIVOMarcelo AulerUma seleta plateia depouco menos de cempessoas, compostabasicamente por alunose professores daFaculdade Nacional deDireito da UniversidadeFederal do Rio deJaneiro (UFRJ)presenciou EugênioAragão, subprocuradorda República e ex­ministro da Justiça dapresidente afastadaDilma Roussseff,analisar criticamente acrise no país provocadapela Operação LavaJato. No debate promovido pela professora Margarida Lacombe Camargo, ele abordou o tema “OMinistério Público na crise de 2016“.

Foi na segunda­feira, (13/06) quando, por aproximadamente três horas, expôs suas ideias, muitasdelas que provocarão polêmica, sem cansar os ouvintes – poucos saíram antes do final – e acabourecebendo aplausos e elogios pela maneira franca, dura e às vezes sarcástica, com que analisou omomento político do país e, obviamente, a Operação Lava Jato:

Page 2: EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

Uma seleta plateia, composta de alunos e professores da Faculdadede Direito , além de dois procuradores da República, assistiu Eugênio

Aragão falar por cerca de três horas. Foto Marcelo Auler

“Todo mundo fica caladinho. Do Moro você não pode falar mal, se você falarmal da Lava Jato, vira sacrilégio. E aí, pronto, você já está sujeito a levar umachapuletada…. Infelizmente“.

Ataque aos métodos – Antes que alguns mais afoitos corram a apontá­lo como candidato acoveiro da Lava Jato e do combate à corrupção, deixa­se claro que ele não se posicionou contra ocombate à corrupção, mas foi bastante crítico à maneira como isto está acontecendo. Classificou,por exemplo, de ilegais, as gravações que estão sendo feitas por envolvidos como forma de sebeneficiar, através das delações premiadas; criticou os vazamentos de gravações, como dasconversas privadas da ex­primeira dama Mariza Letícia da Silva;

Cobrou dos órgãosjurisdicionais,uma

posição mais firme diantedestas ilegalidades;

criticou – e muito – seuspróprios colegas doMinistério Público

Federal, e até mesmo aforma de escolha pelos

governos do PT doProcurador Geral da

República – através deeleição

“corporativa”; tambémnão passou em brancas

nuvens a atuação daPolícia Federal tendo, emcerto momento, deixado

claro que seu antecessor no ministério da Justiça, José Eduardo Cardoso, poderia ter agido maisfirmemente com relação à instituição.

Defendeu a necessidade de se despolitizar o Supremo Tribunal Federal e de que a sociedademantenha um controle sobre seus ministros; alertou para o risco à economia não apenas do Brasil,como de toda a América Latina, com a possível quebra das empresas de construção civil brasileiras.

Em um dos pontos que certamente gerará polêmica, Aragão citou o estudo de um economista doBanco Mundial no qual seu autor defende que:

“às vezes, até, para certo tipo de corrupção, você tem que ser leniente (…) em

Page 3: EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

alguns estados extremamente burocratizados, com alto custo da economia,uma tese de que um certo nível de corrupção funciona como graxa nasengrenagens e bota a economia para funcionar“.

Ao lembrar este estudo – frisando sempre que esta defesa é do ponto de vista econômico, jamaisético ou juridicamente falando – ele criticou seus colegas que vangloriam­se de terem internalizadovalor altos, como R$ 2 bilhões, mas sem notarem que geraram prejuízos muito maiores aoparalisarem economicamente o país. Para ele, toda a crise gerada teve um único objetivo:

“Tirá­la (a Dilma) do poder. Tirar o PT do poder. Não tenho dúvida nenhumadisso“.

Esclarecimento e agradecimento – O editor do blog foi o único jornalista presente à palestra queera aberta ao público e foi devidamente anunciada. Gravamos em áudio quase toda a fala do ex­ministro e fizemos algumas filmagens, muitas delas com problemas técnicos que devem seratribuídos ao amadorismo de quem as filmou. Desde já nos desculpamos com todos por defeitosque surgirão, mas que mantivemos para evitar maiores cortes. Assim como lamentamos não terfilmado outros trechos do encontro. A edição destes vídeos coube ao experiente repórterfotográfico Américo Vermelho (*) a quem renovamos nossos agradecimentos. O áudio dapalestra está sendo compilado pela jornalista Lara Vieira Faria, a quem também agradecemos acolaboração. Os assuntos abordados serão publicados em diversas reportagens, a partir destaquinta­feira (16/06).

No início da semana em que veio à público a integra da delação premiada feita pelo ex­presidenteda Transpetro, Sérgio Machado, o ex­ministro foi bastante crítico com as gravações que o políticofez junto a outros colegas parlamentares e ao ex­presidente José Sarney. Ele parte da constataçãoque estas gravações não foram tiveram o objetivo de serem usadas na defesa de Machado – únicahipótese em que o Supremo Tribunal Federal considera válidas. Na verdade, atenderam ànecessidade do Ministério Público Federal, sendo feitas para beneficiar quem as gravou com adiminuição da pena. Por isso, segundo Eugênio, precisariam de autorização judicial prévia, sem oque correm o risco de serem provas nulas.

Questionando as delações – Suas críticas, porém, começam com as delações premiadas.Lembra que elas são feitas debaixo de torturas psicológicas e, por serem obtidas sob tortura pela leinão têm validade judicial. Reclama que a Lava Jato não se preocupa com isto.

“É curioso, porque a medida que você coloca as pessoas suspeitas em custódiae deixa elas mofarem lá dentro para abrir a boca, elas acabam entregando atéa mãe. Principalmente se essa pressão é acompanhada também pela

Page 4: EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

destruição da reputação da pessoa pela imprensa e pressões em cima dafamília, então não tem ninguém que resista. As pessoas começaram a“cantar”, como se dizia na linguagem da ditadura militar, começaram a“cantar” como se estivesse em um pau de arara“.

Na sua análise, ele vai além e questiona:

“Até que ponto você pode usar o confinamento de uma pessoa em uma cadeia,para ele falar? Uma coisa é a pessoa falar por, naturalmente, ter receio daconsequência dos seus atos, porque a Justiça já sabe de quase tudo e ele nãovai escapar de uma sanção e ele gostaria de diminuir a sua sanção. Outracoisa é quando o sujeito não disse nada, ele sabe que a Justiça não sabe denada e a Justiça o confina, sine die, dentro de uma cela, para ele “cantar”. Sefaz isso com os poderosos, imagina o que faz com o pequeninho. O poderosofica na cadeia dois a três meses, o pequeninho vai direto para o pau de arara“.(ouça no vídeo)

Ocorreu um erro.

Tente assistir o vídeo em www.youtube.com, ou ative o JavaScript caso ele esteja desativado em seunavegador.

Não há ganho para a democracia ­ Ele também questionou a legalidade de gravações comoas que Sérgio Machado fez com políticos como Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá,embora sem citar o nome de nenhum deles. Atentou para um detalhe do prejuízo para o EstadoDemocrático de Direito.

“Existe muito, atrás disso, a aparência de um baixo nível de ética pública,condenável. Porque, o estado se valer do maucaratismo de uns, que vão ali,

Page 5: EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

sorrateiramente, gravando seus amigos, para entregá­los à polícia, isso dealguma forma estimula o estado policial. Estimula o estado policial de umaforma que hoje, por exemplo, em Brasília, as pessoas têm medo de falar, até nocelular, até com seus amigos (…) do ponto de vista da democracia, isto não foinenhum ganho“. (ouça no vídeo)

Ocorreu um erro.

Tente assistir o vídeo em www.youtube.com, ou ative o JavaScript caso ele esteja desativado em seunavegador.

Logo depois, ao avançar neste assunto, expôs seu entendimento de que estas gravações devem serdesconsideradas como provas, pois não foram feitas com o objetivo de defesa de quem as gravou,mas em um trabalho encomendado pelo Ministério Público. Por isso, são provas ilícitas. Ele dizMachado serviu como uma “longa­manus” do Ministério Público, e nesse caso, seria necessárioautorização judicial:

“Se você é uma longa­manus do Ministério Público, só pode fazer o que a leiautoriza a fazer e a autorização está condicionada a uma autorizaçãojudicial.para escuta. Se não tiver autorização judicial para escuta, babau, não vale isso. Mas hoje ninguém mais está preocupado com isso. basta aescuta em si, e não o processo em que a escuta foi obtida“. (ouça no vídeo)

Page 6: EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

Estratégia de desconstrução de reputação – Ao abordar os vazamentos das gravações feitascom ou sem autorização legal, ele apontou a estratégia de desconstrução de reputação das pessoas.Citou a divulgação do grampos feitos nos telefone da ex­primeira dama, Mariza Letícia, em quecaptaram ela falando com o filho, momento em que além de utilizar palavrões, fez críticas aoscoxinhas. O ex­ministro lembrou que, pela lei, gravações como estas não podem ser usadas edeveriam ser destruídas, não divulgadas. Em seguida ele cobra:

“Isso é criminoso. Isso é para destruir reputações. Cadê o procurador­geral daRepública? Cadê o Supremo Tribunal Federal? Cadê os órgãos jurisdicionaisse opondo a este abuso? Não, todo mundo fica paradinho. Do Moro não sepode falar mal. Se você falar mal da Lava Jato será um sacrilégio. E aí, pornto,você está sujeito a levar uma chapuletada“. (ouça no vídeo)

Page 7: EXCLUSIVO_ Eugênio Aragão Analisa Criticamente a Lava Jato, Suas Ilegalidades e o Prejuízo à Democracia _ Marcelo Auler

Ocorreu um erro.

Tente assistir o vídeo em www.youtube.com, ou ative o JavaScript caso ele esteja desativado em seunavegador.

(*) Os vídeos aqui apresentados foram filmados pelo editor do blog que assume a responsabilidadepelos erros cometidos. Gentilmente foram editados pelo nosso companheiro, repórterfotográfico/editor de vídeos, Américo Vermelho – da Luz e Som, fotografia e vídeos – , a quempublicamente agradecemos a ajuda prestada inclusive melhorando o que era possível melhorar.