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01 Professor Luciano Literatura 18/02/2013 Aluno (a): _____________________________________ TROVADORISMO Cantiga de amigo Canto lírico mais genuíno da região da Galícia e de Portugal, a cantiga de amigo é anterior a qualquer influência estrangeira. O eu poemático, o sujeito da enunciação, é uma moça que exprime sua coita (dor, aflição), a mágoa pela ausência ou pela indiferença de seu amado. Tal queixa amorosa é dirigida à mãe, a uma irmã ou a uma amiga com quem o eu poemático estabelece a tenção, um diálogo acalorado. O ambiente onde se dá tal confissão amorosa é o campo ou outro espaço da natureza, distinguindo-se, assim, a pastorela (a moça que fala é uma pastora), a barcarola (a moça dirige-se às ondas do mar ou às águas do rio), a serranilha (diálogo entre um fidalgo e uma camponesa), a alva, alba ou alvorada (ao raiar do sol a moça la- menta a ausência do namorado ou regozija-se pela noite de amor), a bailada (cantiga coral e festiva, predominando o elemento da dança) e a cantiga de romaria (o cenário é um santuário, onde a moça se encontra com o namorado ou reza para que ele volte). A este último tipo pertence a cantiga do jogral galego Martim de Guinzo, apre- sentada no texto original e na transcrição em português moderno feita por Natália Correia (129, p. 151): Cantiga d’amigo Non poss’eu, madre, ir a Santa Cecilia ca me guardades a noit’e o dia do meu amigo. Non poss’eu, madr’, aver gasalhado, ca me non leixades fazer mandado do meu amigo. Ca me guardades a noit’e o dia; morrer-vos ei com aquesta perfia por meu amigo. Ca me non leixades fazer mandado; morrer-vos ei con aqueste cuidado por meu amigo. Morrer-vos ei con aquesta perfia, e, se me leixassedes ir, guarria con meu amigo. Morrer-vos ei con aqueste cuidado, e, se quiserdes, irei mui de grado con meu amigo. Cantiga de amigo Não posso, mãe, ir a Santa Cecília, porque me guardais de noite e de dia do meu amigo. Sempre desolada me havereis de ver, enquanto a vontade não puder fazer do meu amigo. Se não me guardásseis de noite e de dia, com este cuidado eu não morreria por meu amigo. Se a sua vontade não puder fazer, com este cuidado me vereis morrer por meu amigo. Com este cuidado eu não morreria, pois, se me deixásseis, bem me salvaria com meu amigo. Com este cuidado me vereis morrer; mas se me deixardes, feliz hei-de ser com meu amigo. Cantiga de amor Cantiga de amor é a poesia lírica em português arcaico que so- freu as influências da escola provençal. Aqui, o trovador já não fala em nome da amada, como na cantiga de amigo, mas em seu próprio nome, assumindo o papel do eu poemático que confessa sua paixão não-correspondida, pois sua amada é uma senhora casada e pertence à aristocracia feudal. O costume da vassalagem, próprio do sistema feudal de vida que existiu na Idade Média, encontra-se espelhado no convencionalismo da lírica trovadoresca: o menestrel presta seu serviço à dama (enaltece-lhe as virtudes), sendo obrigado à mesura (o autodomínio das emoções) e ao segredo (a discrição sobre a identidade da senhora), merecendo assim o merci (a compaixão da dama que, mesmo não podendo corresponder ao seu amor, lhe será benévola). A poesia trovadoresca, como se vê, introduz um novo conceito de amor, revolucionário e contraditório: de um lado, trata-se de um amor idealizado, apenas espiritual, pois não há esperança de posse do objeto amado tido como inatingível; de outro lado, o desejo amoroso é adúltero, pois a mulher cantada é uma senhora casada. Na tentativa de explicar as origens dessa surpreendente concepção amorosa várias teses foram apresentadas: a tese retórica das in- fluências da lírica latina (Catulo, Tibulo, Propércio, Ovídio) nos cléricos provençais; a tese do conceito platônico do amor como idéia, introduzido no sul da França pelas traduções árabes dos filósofos gregos; a tese folclórica das festas da primavera que erotizavam o amor; a tese litúrgica do culto a Maria, Nossa Senhora: o trovador prosterna-se perante a amada como o cristão adora a Virgem; a tese cátara da sublimação do instinto sexual, pois tudo o que é material provém do princípio do mal. Todas essas teorias, consideradas separadamente, são falhas, porque cada qual, embora apresente alguma verdade, por si só não consegue explicar o complexo fenômeno da concepção trovadoresca do amor. Recentemente, veio a público uma tese mais sugestiva, elaborada por Natália Correia, na Introdução à edição dos Cantares dos trovadores galego-portugueses (129): recorrendo ao mito do andrógino e à psicologia do subconsciente, ela vê no amor trovado- resco a exaltação da mulher como o elemento estável da natureza, a que o homem recorre toda vez que sua individualidade está ameaçada pelas forças castradoras do patriarcalismo machista. O amor que o trovador sente pela senhora, figura feminina altamente idealizante, o faz sofrer porque o coloca numa situação dilemática: de um lado, ele não pode viver sem ela, sendo a razão de sua segu- rança existencial, a outra metade de seu ser; de outro lado, ele vive um sonho impossível: a figura do marido, personificação do poder social inibidor, o impede de aproximar-se da amada. Vejamos um exemplo dessa modalidade lírica no poema de D. Dinis (1261-1325), rei de Portugal e um dos mais importantes poetas líricos da península Ibérica. www.cursosimbios.com.br 1

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01 Professor • Luciano

Literatura

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Aluno (a): _____________________________________

TROVADORISMO

Cantiga de amigo Canto lírico mais genuíno da região da Galícia e de Portugal, a

cantiga de amigo é anterior a qualquer influência estrangeira. O eu poemático, o sujeito da enunciação, é uma moça que exprime sua coita (dor, aflição), a mágoa pela ausência ou pela indiferença de seu amado. Tal queixa amorosa é dirigida à mãe, a uma irmã ou a uma amiga com quem o eu poemático estabelece a tenção, um diálogo acalorado. O ambiente onde se dá tal confissão amorosa é o campo ou outro espaço da natureza, distinguindo-se, assim, a pastorela (a moça que fala é uma pastora), a barcarola (a moça dirige-se às ondas do mar ou às águas do rio), a serranilha (diálogo entre um fidalgo e uma camponesa), a alva, alba ou alvorada (ao raiar do sol a moça la-menta a ausência do namorado ou regozija-se pela noite de amor), a bailada (cantiga coral e festiva, predominando o elemento da dança) e a cantiga de romaria (o cenário é um santuário, onde a moça se encontra com o namorado ou reza para que ele volte). A este último tipo pertence a cantiga do jogral galego Martim de Guinzo, apre-sentada no texto original e na transcrição em português moderno feita por Natália Correia (129, p. 151):

Cantiga d’amigo Non poss’eu, madre, ir a Santa Cecilia ca me guardades a noit’e o dia do meu amigo. Non poss’eu, madr’, aver gasalhado, ca me non leixades fazer mandado do meu amigo. Ca me guardades a noit’e o dia; morrer-vos ei com aquesta perfia por meu amigo. Ca me non leixades fazer mandado; morrer-vos ei con aqueste cuidado por meu amigo. Morrer-vos ei con aquesta perfia, e, se me leixassedes ir, guarria con meu amigo. Morrer-vos ei con aqueste cuidado, e, se quiserdes, irei mui de grado con meu amigo. Cantiga de amigo Não posso, mãe, ir a Santa Cecília, porque me guardais de noite e de dia do meu amigo. Sempre desolada me havereis de ver, enquanto a vontade não puder fazer do meu amigo. Se não me guardásseis de noite e de dia, com este cuidado eu não morreria por meu amigo.

Se a sua vontade não puder fazer, com este cuidado me vereis morrer por meu amigo. Com este cuidado eu não morreria, pois, se me deixásseis, bem me salvaria com meu amigo. Com este cuidado me vereis morrer; mas se me deixardes, feliz hei-de ser com meu amigo. Cantiga de amor Cantiga de amor é a poesia lírica em português arcaico que so-

freu as influências da escola provençal. Aqui, o trovador já não fala em nome da amada, como na cantiga de amigo, mas em seu próprio nome, assumindo o papel do eu poemático que confessa sua paixão não-correspondida, pois sua amada é uma senhora casada e pertence à aristocracia feudal. O costume da vassalagem, próprio do sistema feudal de vida que existiu na Idade Média, encontra-se espelhado no convencionalismo da lírica trovadoresca: o menestrel presta seu serviço à dama (enaltece-lhe as virtudes), sendo obrigado à mesura (o autodomínio das emoções) e ao segredo (a discrição sobre a identidade da senhora), merecendo assim o merci (a compaixão da dama que, mesmo não podendo corresponder ao seu amor, lhe será benévola).

A poesia trovadoresca, como se vê, introduz um novo conceito de amor, revolucionário e contraditório: de um lado, trata-se de um amor idealizado, apenas espiritual, pois não há esperança de posse do objeto amado tido como inatingível; de outro lado, o desejo amoroso é adúltero, pois a mulher cantada é uma senhora casada. Na tentativa de explicar as origens dessa surpreendente concepção amorosa várias teses foram apresentadas: a tese retórica das in-fluências da lírica latina (Catulo, Tibulo, Propércio, Ovídio) nos cléricos provençais; a tese do conceito platônico do amor como idéia, introduzido no sul da França pelas traduções árabes dos filósofos gregos; a tese folclórica das festas da primavera que erotizavam o amor; a tese litúrgica do culto a Maria, Nossa Senhora: o trovador prosterna-se perante a amada como o cristão adora a Virgem; a tese cátara da sublimação do instinto sexual, pois tudo o que é material provém do princípio do mal.

Todas essas teorias, consideradas separadamente, são falhas, porque cada qual, embora apresente alguma verdade, por si só não consegue explicar o complexo fenômeno da concepção trovadoresca do amor. Recentemente, veio a público uma tese mais sugestiva, elaborada por Natália Correia, na Introdução à edição dos Cantares dos trovadores galego-portugueses (129): recorrendo ao mito do andrógino e à psicologia do subconsciente, ela vê no amor trovado-resco a exaltação da mulher como o elemento estável da natureza, a que o homem recorre toda vez que sua individualidade está ameaçada pelas forças castradoras do patriarcalismo machista. O amor que o trovador sente pela senhora, figura feminina altamente idealizante, o faz sofrer porque o coloca numa situação dilemática: de um lado, ele não pode viver sem ela, sendo a razão de sua segu-rança existencial, a outra metade de seu ser; de outro lado, ele vive um sonho impossível: a figura do marido, personificação do poder social inibidor, o impede de aproximar-se da amada. Vejamos um exemplo dessa modalidade lírica no poema de D. Dinis (1261-1325), rei de Portugal e um dos mais importantes poetas líricos da península Ibérica.

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Cantiga d’amor Proençais soen mui ben trobar e dizen eles que é con amor, mays os que troban no tempo da flor e non en outro sey eu ben que non am tam gran coyta no seu coraçon qual m’eu por mha senhor vejo levar. Pero que troban e saben loar sas senhores o mays e o melhor que eles podem, sõo sabedor que os que troban, quand’a frol sazon á e non ante, se Deus mi perdon, non an tal coyta qual eu sey sen par. Ca os que troban e que ss’alegrar van eno tempo que ten a color a frol consigu’e, tanto que se fôr aquel tempo, logu’en trobar razon non an, non viven (en) qual perdiçon oj’eu vyvo, que poys m’á de matar. Cantiga de amor Os provençais que bem sabem trovar! e dizem eles que trovam com amor, mas os que cantam na estação da flor e nunca antes, jamais no coração semelhante tristeza sentirão qual por minha senhora ando a levar. Muito bem trovam! Que bem sabem louvar as suas bem-amadas! Com que ardor os povençais lhes tecem um louvor! Mas os que trovam durante a estação da flor e nunca antes, sei que não conhecem dor que à minha se compare. Os que trovam e alegres vejo estar quando na flor está derramada a cor e que depois quando a estação se for, de trovar não mais se lembrarão, esses, sei eu que nunca morrerão de desventura que vejo a mim matar.

Cantiga de escárnio Em painéis satíricos e humorísticos do cotidiano, a cantiga de

escárnio critica a vaidade feminina, a rivalidade entre trovadores, a imitação da moda poética estrangeira, a pretensão de ascender na hierarquia social, a burrice, a feiúra e outros defeitos e vícios hu-manos. Quando o sarcasmo ultrapassa o plano da generalidade e ataca diretamente as pessoas, estamos perante a chamada cantiga de maldizer. Semelhante a esse tipo de cantiga é o serventês, de ori-gem provençal, o canto do servo para defender seu senhor e atacar seus inimigos.

Vejamos, por exemplo, um poema de D. Pedro, filho bastardo

de D. Dinis, chamado de Conde de Portugal ou Conde de Barcelos.

Cantiga d’escarneo Natura das animalhas que son dua semelhança é de fazerem criança, mais des que son fodimalhas. Vej’ora estranho talho qual nunca cuidei que visse:

que emprenhass’ e parisse a camela do bodalho. As que son dua natura juntan-s’ a certas sazões e fazen sas criações; mais vejo já criatura ond’eu non cuidei veê-la; e poren me maravilho de bodalho fazer filho, per natura, na camela. As que son, per natureza, corpos dua parecença juntan-s’ e fazem nacença, — esto é sa dereiteza: mais non coidei en mia vida que camela se juntasse con bodalh’ (e) emprenhasse (e) demais seer d’el parida. Cantiga de escárnio É próprio dos animais que da mesma espécie são fazer filhos; para a função têm órgãos naturais. Mas vejo eu um caso raro o qual não cuidei que visse: que emprenhasse e que parisse a camela do bodalho. Os de idêntica natura juntam-se em certos momentos para engendrar seus rebentos; mas eis que uma criatura vejo onde não cuidei vê-la e com tal me maravilho: Bodalho fazer um filho naturalmente a camela. Esses a que a natureza deu igual conformação unem-se e nessa união fazem filhos com justeza. Mas não vi em minha vida camela que se juntasse com bodalho, engravidasse e dele fosse parida.

EXERCÍCIOS

Há, a seguir, duas cantigas: uma, de amigo; outra de amor. Os textos, escritos em galego- português, são acompanhados de uma tradução livre, que não mantém as características estilísticas. Não deixe de ler os textos originais.

TEXTO I ORIGINAL: Mandad' ei comigo, ca ven meu amigo: e irei, madr' , a Vigo Comigu' ei mmandado, ca ven meu amado: e irei, madr' , a Vigo

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Ca ven meu amigo e ven san' e vivo: e irei, madr' , a Vigo Ca ven meu amado e ven viv' e sano: e irei, madr' , a Vigo Ca ven san' e vivo e d' el-rei, amigo: e irei, madr' , a Vigo Ca ven viv' e sano e d' el-rei privado: e irei, madr' , a Vigo. TRADUÇÃO: Tenho notícias de que hoje chega meu namorado: e irei, mãe, a Vigo Tenho notícias de que hoje chega meu amado: e irei, mãe, a Vigo Hoje chega o meu namorado e está são e vivo: e irei, mãe, a Vigo Hoje chega o meu amado: e está vivo e são: e irei, mãe, a Vigo Está são e vivo e amigo do rei: e irei, mãe, a Vigo Está vivo e são e é da confiança do rei: e irei, mãe, a Vigo Martin Codax TEXTO II ORIGINAL: Vós mi defendestes, senhor, que nunca vos dissesse rem de quanto mal mi por vós vem; mais fazede-me sabedor, por Deus, senhor, a quem direi quam muito mal levei por vós, se nom a vós, senhor? Ou a quem direi o meu mal, se o eu a vós nom disser, pois calar-me nom m'é mester e dizer-vo-lo nom m'er val? E pois tanto mal sofr'assi se convosco nom falar i por quem saberedes meu mal? Ou a quem direi o pesar que mi vós fazedes sofrer se o a vós nom for dizer, que podedes conselh'i dar? E por em, se Deus vos perdom, coita deste meu coraçom, a quem direi o meu pesar?

TRADUÇÃO: Você me proibiu, senhora, de que lhe dissesse qualquer coisa sobre o quanto morro por sua causa. Mas então me diga, Por Deus, Senhora: a quem falarei o quanto sofro e já sofri por você senão a você mesma? Ou a quem direi o meu amor Se eu não o disser a você? Calar-me não é o que quero Mas dizê-lo também não adianta. Sofro tanto de amor por você. Se eu não lhe falar sobre isso Como saberá o que sinto? Ou a quem direi o sofrimento que me faz sofrer, se eu não for dizê-lo a você? Diga-me: o que faço? E, assim, se Deus lhe perdoa, coita do meu coração, a quem direi o meu amor?

D. Dinis

01. O Texto I é uma cantiga de amigo, e o II, uma cantiga de amor.

Comparando os dois textos, responda: a) Quem é o eu lírico, isto é, o emissor da mensagem de

cada um dos textos? b) Com quem fala e de quem fala o lírico de cada um dos

textos? c) Qual dos textos apresenta o emprego da técnica do

paralelismo e do leixa-pren? d) Qual dos textos apresenta maior complexidade de ideias

e maior profundidade de sentimentos? e) Como é tratado o sentimento amoroso em cada um dos

textos? 02. Nas cantigas de amigo é comum a presença de uma

confidente, a mãe, ou uma amiga, a quem a jovem namorada segreda os seus sofrimentos amorosos. Contundo, em razão da ausência do homem, que ia lutar contra os mouros, por vezes a mãe aparece com autoridade para vigiar e controlar os namoros da filha. a) No texto I, com que objetivo a jovem informa à mãe que

vai a Vigo ao encontro do namorado? b) No mesmo texto, que versos da cantiga poderiam

despertar na mãe o interesse em que a filha fosse a esse encontro? Justifique sua resposta.

03. A relação amorosa observada no texto II pode ser associada às

relações de vassalagem existentes na sociedade medieval. a) A quem corresponde a figura do suserano, no caso do

texto? b) A quem corresponde a figura do vassalo? c) Que regra do jogo amoroso foi quebrada?

Há, a seguir, duas cantigas trovadorescas satíricas. Leia-as com atenção, atentando para as diferenças de linguagem e enfoque critico.

TEXTO I Uma dona, não vou dizer qual, teve um forte agouro,

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pelas oitavas de Natal: saia de casa para ir à missa mas ouviu um corvo carniceiro. E não quis mais sair de casa. A dona, de um coração muito bom, ia à missa para ouvir seu sermão. mas veja o que a impediu: ouviu um corvo sobre si. e não quis mais sair de casa. A dona disse: - E agora? O padre já está pronto e irá maldizer- me se não me vir na igreja. E disse o corvo: - Quá a cá. e ela não quis mais sair de casa. Nunca vi tais agouros. desde o dia em que nasci. como o que ocorreu neste ano por aqui: ela quis tentar partir, mas ouviu um corvo sobre si, e não quis mais sair de casa. Joan Airas de Santiago TEXTO II Quem a sua filha quiser dar uma profissão com que possa prosperar, há de ir a Maria Dominga. que lhe saberá muito bem mostrar. e vos direi o que lhe fará antes de um mês lhe ensinará. como rebolar as ancas. E já a vejo a ensinar e sustentar uma filha sua: e quem observar bem suas artes pode afirmar isto: que, de Paris até aqui não há mulher que rebole melhor. E quem deseja enriquecer não ponha sua filha a fazer trabalhos manuais, enquanto esta mestra aqui estiver, ela lhe ensinará a profissão certa para que seja uma mulher rica. a não ser que lhe faltem homens. Deve-se saber disso. para aprender essa artes; além disso, pode-se aprimorar cada vez mais na profissão; e, depois que aprender tudo muito bem, irá sustentar-se como puder sustentar-se com seu próprio trabalho

Pero da Ponte

04. Ambos os textos fazem uma crítica moral a determinada

senhora da sociedade portuguesa da época. O que se critica nessas mulheres em cada uma das cantigas?

05. Embora haja semelhança no assunto, os textos diferem entre si

pela forma como fazem a crítica.

a) Qual cantiga emprega uma linguagem mais direta e vulgar? Qual faz uso de uma linguagem cheia de ambiguidades, trocadilhos e insinuações?

b) Em qual predomina a ironia leve e sutil? E qual a zombaria?

c) Em qual delas o nome da pessoa satirizada é identificado?

06. Sabendo que a cantiga de maldizer é mais agressiva e gorsseira

do que a cantiga de escárnio, e com base nas respostas anteriores, identifique o tipo de cantiga representado pelos dois textos.

07. Leia os textos a seguir e responda.

Ai, flores, ai, flores do verde pino – Ai, flores, ai, flores do verde pinheiro, Sabe alguma notícia do meu namorado? Ai, Deus, onde está? Ai, flores, ai, flores do verde ramo, Sabe notícias do meu amado? Ai, Deus, onde está? Sabe que é o meu namorado? Aquele que mentiu sobre o combinado... Ai, Deus, onde está? Sabe notícias do meu amado, Aquele que traiu nosso juramento? Ai, Deus, onde está? – Perguntas pelo seu namorado? E eu bem digo que está são e vivo. Ai, Deus, onde está? E eu bem digo que está são e vivo. E voltará antes do prazo combinado, Ai, Deus, onde está? Está vivo e são! Voltará antes do prazo! Ai, Deus, onde está? Sozinho Composição: Peninha Às vezes, no silêncio da noite Eu fico imaginando nós dois... Eu fico ali sonhando acordado, juntando O antes, o agora e o depois. Por que você me deixa tão solto? Por que você não cola em mim? Tô me sentindo muito sozinho! Não sou nem quero ser o seu dono... É que um carinho às vezes cai bem! Eu tenho meus desejos e planos secretos Só abro pra você mais ninguém! Por que você me esquece e some? E se eu me interessar por alguém? E se ela, de repente, me ganha? Quando a gente gosta é claro que a gente cuida Fala que me ama, só que é da boca pra fora Ou você me engana, ou não está madura! Onde está você agora?

D. Dinis

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O segundo texto é a transcrição da letra Sozinho, de Peninha, compositor de músicas popular brasileira. O primeiro é uma cantiga medieval, de autoria do rei-trovador português D. Dinis. Mais de 600 anos separam as duas composições; no entanto, o tema delas é essencialmente o mesmo. As mesmas características líricas de manifestação do “eu” vistas na música contemporânea Sozinho podem ser encontradas nas primeiras cantigas que dão início à literatura em Portugal. a) Qual é a base do questionamento do “eu” nas duas

canções? b) Na música de Peninha, um “eu” sozinho conjetura sobre

o futuro de seu relacionamento amoroso. È possível afirmar que se trata de um “eu” masculino. Na cantiga de D. Dinis, o “eu” feminino e também apresenta um quadro de sua relação. Como são os relacionamentos amorosos evidenciados nessas canções?

08. Leia o texto a seguir e responda.

Não Quero Dinheiro Composição: Tim Maia Vou pedir pra você ficar Vou pedir pra você voltar Eu te amo, Eu te quero bem Vou pedir pra você me amar Vou pedir pra você gostar Eu te amo, eu te adoro, meu amor! A semana inteira fiquei esperando Pra te ver sorrindo Pra te ver cantando Quando a gente ama Não pensa em dinheiro Só se quer amar, se quer amar, se quer amar De jeito maneira Não quero dinheiro ! Quero amor sincero, Isso que eu espero. Digo ao mundo inteiro: Não quero dinheiro, Eu só quero amar! Espero para ver se você vem, Não te troco nessa vida por ninguém ! Porque eu te amo, eu te quero bem ! Acontece que na vida a gente tem Que ser feliz por ser amado por alguém Porque eu te amo, eu te adoro, meu amor

Essa letra de música contemporânea apresenta características de cantiga lírico-amorosa.Tanto podemos classificá-la como uma cantiga de amor (voz masculina) quanto como uma cantiga de amigo (voz feminina). Justifique essa dupla possibilidade com elementos do texto.

09. Leia atentamente a cantiga de autoria de Fernando Esguio.

Vaiamos, irmana, vaiamos dormir nas ribas do lago, u eu andar vi a las aves meu amigo. Vaiamos, irmana, vaiamos folgar nas ribas do lago, u eu vi andar a las aves meu amigo. Nas ribas do lago, u eu andar vi, seu arco na mão as aves ferir,

a las aves, meu amigo. Nas ribas do lago, u eu vi andar, seu arco na mão a las aves tirar, a las aves, meu amigo. Seu arco na mão as aves ferir, e las que cantavan leixá-las guarir, a las aves, meu amigo. Seus arco na mão a las aves tirar, e las que cantavan non nas quer matar, a las aves, meu amigo.

a) Classifique a cantiga. Justifique sua resposta. b) A moça sofre porque o amigo está ausente. Qual o

motivo da ausência? Quem a moça pega como confidente?

10. Leia. TEXTO 01

Canção da Ribeirinha No mundo nom me sei parelha, mentre me for como me vai, ca ja moiro por vós e ai! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia. Mao dia que me levantei que vos enton nom vi fea! E, mia senhor, des aquelha me foi a mi mui mal di'ai! E vós, filha de dom Pai Moniz, e bem vos semelha d'aver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d'alfaia nunca de vós ouve nem ei valia d'ua correa .

TEXTO 02

Atrás da porta Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei, eu te estranhei Me debrucei sobre teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos Nos teu peito, teu pijama Nos teus pés ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que ainda sou tua

(Chico Buarque & Francis Haime)

a) Como se classifica a “Canção da Ribeirinha” (texto 01)? Percebe-se a vassalagem amorosa? Em caso afirmativo, Justifique sua resposta. Destaque uma passagem que caracterize a sociedade patriarcal.

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b) Relacionando “Atrás da porta” com as cantigas medievais, como você a classificaria? Justifique sua resposta?

Novelas de cavalaria.

A seguir você lerá dois textos, ambos fragmentos de

novelas de cavalaria. O primeiro é parte de A demanda do Santo Graal, obra do século XII, de autoria desconhecida. O tema central dessa novela é a busca do Graal, o vaso sagrado, em que, segundo a lenda, José de Arimatéia teria depositado o sangue de Cristo no momento do martírio.

O segundo trecho foi escrito por Italo Calvino - publicado no Brasil em 1993 - chamado O cavaleiro inexistente. Nessa novela são retratadas as aventuras de Agilulfo, um cavaleiro inexistente (há somente uma amardura, dentro da qual soa uma voz metálica), servindo nos exércitos de Carlos Magno.

Observe as ações dos cavaleiros que buscam o Santo Graal nos dois fragmentos.

Texto I

Neste fragmento, os cavaleiros Heitor, Meraugis e Galaaz, depois de serem traídos, são aprisionados no castelo de Felão. Galaaz, contudo, faz uma prece Deus pedindo que o liberte.

Depois daquela tempestade e aquele tempo

durou desde a hora de prima até a hora de terça, aconteceu então uma tão grande maravilha, que bem deve ser metida em conto, porque, sem falha, foi um dos formosos milagres, que alguma vez aconteceu no reino de Logres no tempo das aventuras, pois a torre, que era forte à maravilha, aquela onde três cavaleiros estavam, fendeu-se de alto a baixo, assim que uma parte dela caiu à direita e outra, à esquerda e matou muita daquela gente má. Quando os três cavaleiros que na prisão estavam, viram a torre cair, tiveram tão grande pavor, que caíram em terra esmorecidos. Sabei que a torre caiu de modo que não fez mal a nenhum deles. E depois que acordaram e viram que tinham nenhum mal, e viram que poderiam sair dali, ficaram de joelhos em terra e estenderam suas mão para o céu e agradeceram muito de coração a Nosso Senhor. E depois que ficaram muito em oração, Galaaz lhes disse:

– Ora para cima e tome cada um suas armas e

matemos quantos acharmos neste castelo, e deixemos as donzelas que estão presas, porque Nosso Senhor assim o quer.

[...] Bem como Galaaz o disse fizeram eles, porque

saíram dali sãos e corajosos e foram para onde deixaram as armas. E quando chegaram ao paço, acharam todos os cavaleiros e os homens que jaziam esmorecidos pelo grande pavor que tiveram.

– Ai, Deus! disse Galaaz, que farei sem minha

espada? Senhor Jesus Cristo, apraza-vos que a tenha. E isto dizendo, veio a ele uma muito formosa

donzela que lhe disse:

– Meu senhor Galaaz, sede bem-vindo e bendito seja Deus que vos aqui trouxe, porque por vós serão livres as donzelas presas.

Então lhe deu sua espada e disse-lhe: – Vedes aqui vossa espada, guardai-a bem de

hoje em diante. E ele tomou sua espada e agradeceu muito. E

depois disse-lhe: – Sabeis onde estão vossas irmãs? E ela os levou a uma câmara onde estavam. E

depois que foram armados, voltaram aos do paço, que se levantaram, e começaram a derribar e a ferir e a fazer tal mortandade que maravilha. E depois que mataram todos aqueles, foram à vila e puseram-lhe fogo de todos os lados, de modo que em pouco tempo ficou toda queimada e os que escapavam do fogo, matavam-nos a todos, assim que até a hora de vésperas não ficou ninguém vivo.

No meio do castelo havia uma grande torre que

tinha muito grande campo. Naquela torre estavam as donzelas presas; e aquela torre ficou firme e sãs todas as donzelas que lá estavam, porque o Nosso Senhor não aprazia que ainda morressem. E quando Galaaz viu que todas as cousas do castelo estavam destruídas, menos a torre, disse aos outros:

– Vamos ver o que há naquela torre. Então foram lá e acharam num paço bem

trezentas donzelas que estavam esmorecidas com pavor do tempo feio que fizera; e acordaram-nas todas e disse-lhes que não tivessem pavor, porque havia acabado o mau tempo e elas estavam livres, e depois disseram-lhes quem eram e por que chegaram lá; e depois foram ao outro paço, e acharam lá bem duzentas donzelas, muitas vivas, muitas esmorecidas e muitas mortas e acordaram umas e igualmente confortaram-nas como às outras.

(Heitor Megale, org. São Paulo, Edusp, 1988. p.383-6.)

Texto II

Neste fragmento, o cavaleiro Torrismundo, um dos homens do exército de Carlos Magno, depois de longa procura, encontra os cavaleiros do Graal. Seu objetivo é descobrir qual deles poderia ser o seu pai, possibilidade que põe em dúvida a tradicional castidade dos referidos cavaleiros.

Torrismundo, arrastado pela corrida dos

cavaleiros, estava transtornado. – Alguém me diga, por quê? – gritava para o

ancião, indo atrás dele, como se fosse o único que podia ouvi-lo. – Então não é verdade que estejam cheios de amor pelo todo! Ei! Atenção, estão atacando aquela velha! Como têm coragem de investir sobre restos humanos? Socorro, as chamas atingem aquele berço! Mas o que estão fazendo?

– Não queira interferir nos desígnios do Graal,

noviço! – advertiu o ancião. – Não somos nós quem

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faz isso; é o Graal, que está em nós, que nos move! Entregue-se ao seu amor fuiroso!

Mas Torrismundo descera da sela, preparava-se

párea socorrer uma mãe, devolver-lhe aos braços uma criança caída.

– Não! Não me levem toda a colheita! Trabalhei

tanto! – berrava o velho. Torrismundo ficou ao lado dele. – Largue o saco, bandido! – E atirou-se sobre um

cavaleiro, arrancando-lhe o que roubara. – Bendito seja! Está conosco! Disseram alguns

daqueles infelizes que ainda tentavam com forcados, facões e machados, armar a defesa atrás de um muro.

– Coloquem-se em semicírculo, vamos atacá-los

todos juntos! – berrou-lhes Torrismundo e se colocou à frente da milícia civil curvalda.

Agora expulsava os cavaleiros para fora das

casas. Encontrou-se frente a frente com o ancião e outros dois armados de tochas.

(São Paulo, Companhia das Letras, 1993. p.117.)

11. A respeito do texto I:

a) Destaque uma situação que comprove serem os cavaleiros do Graal protegidos de Deus.

b) Aponte algumas características das personagens que sejam exemplares do comportamento do cavaleiro medieval.

12. Compare o tipo de ação dos cavaleiros do Graal dos textos I e II:

a) Em que se assemelham? b) Em que diferem? c) Em que aspecto a visão de Italo Calvino modifica a

versão tradicional? Texto para a questão 13.

Hun tal home sei eu, ai, bem talhada, que por vós tem a sa morte chegada; vedes quem é e seed’ em nembrada: eu, mia dona! Hun tal home seu eu que preto sente de si morte chegada certamente: vedes quem é e venha-vos em mente: eu, mia dona! Hun tal home sei eu, aquest’ óide: que por vós morr’ e vo-lo em partide; vedes quem é, non xe vos obride: eu, mia dona!

13. No poema acima o final dos últimos versos mia dona! Caracteriza um cantar medieval, que se classifica como: a) Cantiga satírica b) Cantiga de escárnio c) Cantiga de amigo d) Cantiga de maldizer e) Cantiga de amor

14. Assinale a alternativa que substitui corretamente os _ de forma

a completar as informações abaixo:

I. As cantigas de _ são poesias de sabor provençal, em que quem fala é o apaixonado , que consagra à sua dona um amor torturado e sem esperança.

II. As cantigas de _ são poesias de origem nacional (galego-portuguesa), de caráter acentuadamente feminino, com sentimentos imaginariamente expressos por uma mulher, geralmente solteira.

III. AS cantigas de _ são poesias satíricas em que se criticam pessoas, costumes e acontecimentos. Diz-se mal, mas encobertamente (sem revelar o nome da pessoa ou pessoas visadas), com expressões irônicas e ambíguas. Quando se diz mal abertamente, pondo-se o nome da pessoa ou pessoas visadas, as cantigas são chamadas de_ .

a) cantiga de amor, cantiga de amigo, cantiga de maldizer,

cantiga de escárnio. b) cantiga de amigo, cantiga de amor, cantiga de maldizer,

cantiga de escárnio. c) cantiga de amigo, cantiga de amor, cantiga de escárnio,

cantiga de maldizer. d) cantiga de amor, cantiga de amigo, cantiga de escárnio,

cantiga de maldizer. e) Cantiga de amor, cantiga de escárnio, cantiga de amigo,

cantiga de maldizer. 15. Indique a opção correta sobre os versos. [...] Princesa Surpresa Você me arrasou Serpente Nem sente que me envenenou Senhora, e agora Me diga onde vou [...]

a) não existe neles a noção da força do poder sedutor feminino.

b) A situação da mulher neles referida é a mesma que encontramos nas cantigas de amigo do Trovadorismo.

c) Apresentam a mulher com a mesma carga de sensualidade que lhes atribui boa parte da poesia parnasiana.

d) Seguem o modelo descritivo típico do Simbolismo, apresentando a figura feminina com traços vagos, imprecisos, esfumaçados.

e) Lembram-nos aquela situação de vassalagem que marca as relações amorosas das cantigas de amor do Trovadorismo.

16. Assinale a alternativa incorreta a respeito do Trovadorismo em

Portugal. a) Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação entre

poesia e a música. b) Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros

ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros. c) Nas cantigas de amor, há o reflexo do relacionamento

entre o senhor e vassalo na sociedade feudal: distância e extrema submissão.

d) Nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do ponto de vista feminino.

e) A influência dos trovadores provençais é nítida nas cantigas de amor galego-portuguesas.

17. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas de

amor. a) O ambiente é rural ou familiar. b) O trovador assume o eu - lírico masculino: é o homem

quem fala. c) Têm origem provençal.

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d) Expressam a "coita" amorosa do trovador, por amar uma dama inacessível.

e) A mulher é um ser superior, normalmente pertencente a uma categoria social mais elevada que a do trovador.

18. Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO

afirmar que: a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo

teocentrismo, o feudalismo e valores altamente moralistas.

b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser representada por setores mais baixos da sociedade.

c) pode ser dividida em lírica e satírica. d) em boa parte de sua realização, teve influência

provençal. e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores,

expressam o eu - lírico feminino. Textos para as questões de 19 e 20. Texto I

Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! E ai Deus, se verrá cedo!

Martim Codax

Obs.: verrá = virá levado = agitado Texto II

1. Me sinto com a cara no chão, mas a verdade precisa 2 ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava 3. a admirável forma lírica da canção paralelística 4. (…). 5. O “Cantar de amor” foi fruto de meses de leitura 6. dos cancioneiros. Li tanto e tão seguidamente aquelas 7. deliciosas cantigas, que fiquei com a cabeça 8. cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”; 9. sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias 10. a San Servando. O único jeito de me livrar da 11. obsessão era fazer uma cantiga.

Manuel Bandeira 19. Assinale a afirmativa correta sobre o texto I.

a) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta a Deus seu sofrimento amoroso.

b) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-se a Deus para lamentar a morte do ser amado.

c) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta às ondas do mar sua angústia pela perda do amigo em trágico naufrágio.

d) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino dirige-se às ondas do mar para expressar sua solidão.

e) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino dirige-se às ondas do mar para expressar sua ansiedade com relação à volta do amado.

20. No texto II, o autor.

a) manifesta sua resistência à obrigatoriedade de ler textos medievais durante o período de formação acadêmica.

b) utiliza a expressão cabeça cheia (linha 08) para depreciar as formas lingüísticas do galaico-português, como “mha senhor” e “nula ren” (linhas 08 e 09).

c) relata circunstâncias que o levaram a compor um poema que recupera a tradição medieval.

d) emprega a palavra cancioneiros (linha 06) em substituição a “poetas”, uma vez que os textos medievais eram cantados.

e) usa a expressão deliciosas cantigas (linha 07) em sentido irônico, já que os modernistas consideraram medíocres os estilos do passado.

21. Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo.

a) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e mulheres camponesas.

b) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura antropocêntrica.

c) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da Renascença, época em que alcançou níveis estéticos insuperáveis.

d) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a função de facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente.

22. O Trovadorismo, quanto ao tempo em que se instala:

a) tem concepções clássicas do fazer poético. b) é rígido quanto ao uso da linguagem que, geralmente, é

erudita. c) estabeleceu-se num longo período que dura 10 séculos. d) tinha como concepção poética e epopéia, a louvação dos

heróis. e) reflete as relações de vassalagem nas cantigas de amor.

Leia o texto a seguir.

Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente. Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Releia com atenção a última estrofe: Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.

23. Tomemos a palavra amigo. Todos conhecem o sentido com que

esta forma lingüista é usualmente empregada no falar atual. Contudo, na Idade Média, como se observa nas cantigas medievais, a palavra amigo significou: a) colega b) companheiro c) namorado d) simpático e) acolhedor

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24. Os gêneros literários, constituem modelos aos quais se deve submeter a criação artística. Deles NÃO se deve considerar como verdadeiro:

a) Segundo concepção clássica, são três os gêneros literários.

b) Embora a obra literária possa encerrar emoções diversas, podendo haver intersecção de elementos líricos, narrativos e dramáticos, há sempre.a prevalência de uma destas modalidades.

c) A criação poética, de caráter lírico, privilegiará os diálogos dos personagens.

d) Novelas, crônicas, romances e contos são espécies literárias de caráter narrativo.

e) O discurso literário é considerado dramático quando permite, em principio, ser representado.

25. Assinale a opção correta sobre os versos.

"(...) Princesa Surpresa Você me arrasou Serpente Nem sente que me envenenou Senhora, e agora Me diga onde vou (...)"

(Queixa - Caetano Veloso) a) Não existe neles a noção da força do poder sedutor

feminino. b) A situação da mulher neles referida é a mesma que

encontramos nas cantigas de amigo do trovadorismo. c) Apresentam a mulher com a mesma carga de

sensualidade que lhes atribui boa parte da poesia parnasiana.

d) Seguem o modelo descritivo típico do simbolismo, apresentando a figura feminina com traços vagos, imprecisos, esfumaçados.

e) Lembram-nos aquela situação de vassalagem que marca as relações amorosas das cantigas de amor do trovadorismo.

Leia. Texto 1

Atrás da porta Quando olhaste bem nos olhos meus E teu olhar era de adeus Juro que não acreditei Eu te estranhei Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei e me agarrei nos teus cabelos Nos teus pelos Nos teus pés Ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta

(Chico Buarque e Francis Hime) Texto 2

Queixa Um amor assim delicado Você pega e desprezado Não devia ter desprezado ajoelha e não reza dessa coisa que mete medo pela sua grandeza Não sou o único culpado Disso eu tenho certeza

Princesa Surpresa Você me arrasou

(Caetano Veloso) Texto3

Cantiga da Ribeirinha (versão atualizada) No mundo não conheço quem se compare a mim enquanto eu viver como vivo, pois eu morro por vós - ai! pálida senhora de face rosada, quereis que vos descreva (retrate) quando vos vi sem manto! (saia: roupa íntima) Infeliz o dia em que acordei, que então eu vos vi linda!

Paio Soares de Taveirós. In: TAVARES, J.P. Antologia de textos

medievais. Lisboa, Livraria Sá da Costa,1961 26. É evidente a presença da cultura trovadoresca nos nossos dias,

haja vista que: a) A "Cantiga da Ribeirinha" é uma cantiga de amigo como

"Atrás da Porta" de Chico Buarque, porque ambas são escritas por um homem que sofre de amor por uma mulher.

b) "Atrás da porta" de Chico Buarque pode ser comparada às cantigas de amor: autor masculino, mas sentimento feminino.

c) A música "Queixa" de Caetano Veloso apresenta algumas características das cantigas de amigo: o homem sofre em consequência de um amor não correspondido.

d) A "Canção da Ribeirinha" é uma cantiga de amigo medieval assim como "Queixa" de Caetano Veloso, porque em ambas se manifesta uma postura servil do homem diante da mulher.

e) Os compositores da Música Popular Brasileira escrevem músicas que se assemelham a cantigas de amigo, como Chico Buarque ("Atrás da Porta") ou a cantigas de amor, como Caetano Veloso. ("Queixa")

27. Ao lermos os textos 1,' 2 e 3, e confrontando essa leitura com

as nossas experiências. cotidianas com à música e a poesia, concluímos que: a) os três textos são líricos; têm sons, melodias, significados

e cadência, elementos da música. b) os três textos pertencem predominantemente ao gênero

dramático. c) as palavras ganham relevo pela sonoridade, apesar de

pertencerem ao gênero narrativo. d) os três textos são escritos em prosa, e pôr isso não

consideram o ritmo e a melodia das palavras. e) a comparação entre poesia e música não pode ser feita.

28. Leia.

Bailemos agora, por Deus, ai velidas [formosas], so [sob] aquestas [estas] avelaneiras frolidas [floridas] e quem for velida, como nós velidas, se amig' amar

só [sob] aquestas avelaneiras frolidas verrá [virá] bailar!

Bailemos agora, por Deus, ai loadas [louvadas], só aquestas avelaneiras granadas [em flor] e quem for loada, como nós loadas, se amig' amar

só [sob] aquestas avelaneiras granadas verrá bailar!

ZORRO, João. ln:CARDOSO, Wilton; CUNHA, Celso. Estilística e

Gramática Histórica. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1978. p. 300.

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Acerca do poema, é correto afirmar: a) Trata-se de uma cantiga de amor de refrão, visto que o

sujeito é feminino e o objeto, masculino. b) Observa-se o acatamento às regras do amor cortês,

sobretudo, no que diz respeito á vassalagem amorosa. c) O cenário, extremamente convencional, indica a

presença da cantiga de amor em que a natureza não se apresenta como amiga e confidente.

d) Embora haja uma caracterização da donzela como "velida" [formosa] e "loada" [louvada], o sentimento amoroso manifesta-se como "coita" de amor e amor infeliz.

e) Explora-se a temática da alegria de amar e de ser amada, ocorrendo o relacionamento entre o sujeito e o objeto num plano de igualdade.

"Quero eu em maneira provençal fazer um cantar

de amor e quererei mui louvar mia senhor, a quem prez nem formosura não fal, nem bondade, e mais vos direi em: tanto a Deus fez comprida de bem que mais do que todas do mundo val."

29. Sobre a cantiga é incorreto afirmar:

Há uma visível idealização da mulher amada, a qual além de muito formosa é também bondosa.

Pode-se perceber a vassalagem amorosa por meio do tratamento dado à mulher amada. Ela é tratada como a '"senhora", reflexo da relação de vassalagem do sistema feudal.

Trata-se de um "cantar de amor" feito por um homem para louvar a beleza de sua namorada.

O eu-lirico é masculino, o qual pretende fazer uma cantiga à maneira provençal.

Pode ser percebida uma certa religiosidade, uma vez que acredita-se que a mulher amada foi muito bem dotada de beleza por Deus, fazendo com que ela seja aquela que vale mais do que todas do mundo para ò amante.

30. Leia a Cantiga reproduzida abaixo e, em seguida, responda à

questão proposta no comando. Cantiga D.Afonso Sanches Dizia la fremosinha "al, deus , vai Com 'estou d'amor ferida! Diazia la bem talhada: "ai deus, vai" Com 'estou d'amor coirada! Ai, deus , vai Com 'estou d'amor ferida! "Ai, deus, vai!" Nom vem o que bem queria! Ai, deus, vai! Com 'estou d'amor coitada! "Ai, deus, vai!" Nom vem o que muit'amaval! "Ai, deus, vai" In Elsa Gonçalves. A lírica galego-portuguesa. Lisboa. Editorial comunicação, 1983.

fremosinha - formosinha; ai, Deus, vai! - ai, valha-me Deus!; ai, Deus me ajude!; bem talhada - bem feita, elegante, bonita; coitada - infeliz, cheia de sofrimento amoroso.

Sobre a cantiga acima, de D. Afonso Sanches, é correto afirmar: a) a voz que fala na cantiga é do homem apaixonado que

sofre por amor e dirige-se a Deus. b) a fremosinha (formosinha) lamenta seu sofrimento pela

ausência do amado. c) o paralelismo "ai, Deus, vai!" (ai, valha-me Deus!) é muito

comum nas cantigas de amor medievais. d) o homem sente-se muito ferido pela não correspondência

amorosa da fremosinha (formosinha). e) o objetivo da cantiga é elogiar, louvar a mulher amada.

31. Assinale a alternativa incorreta com respeito ao Trovadorismo em Portugal. a) Nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do

ponto de vista feminino. b) Nas cantigas de amor, há o ' reflexo do relacionamento

entre senhor e vassalo na sociedade feudal: distância e- extrema submissão.

c) A influencia dos trovadores provençais é nítida nas cantigas de amor galego-portuguesas.

d) Durante o trovadorismo, ocorreu a separação entre a poesia e à música.

e) Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros.

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