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01 Professor Sabbath Geografia 15/02/2013 Aluno (a): _____________________________________ Guerra Fria e descolonização As sombras da Guerra Fria O então presidente norte-americano, Barack Obama, e o então presidente russo, Dmitri Medvedev, assinam o Tratado de Redução de Armas Estratégicas no Castelo de Praga. República Tcheca, 2010. O Tratado é um avanço nas negociações para redução de ogivas nucleares. Analistas acreditam, contudo, que o Tratado também servirá para pressionar países interessados em desenvolver programas nucleares. Em 8 de abril de 2010, os então presidentes dos Estados Unidos (Barack Obama) e da Rússia (Dmitri Medvedev) renovaram o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês). Considerado um momento histórico, os dois países se comprometeram em ter, no máximo, 1.550 ogivas nucleares cada um. O tratado também previa um limite de mísseis balísticos in- tercontinentais. Há pouco mais de vinte anos, Estados Unidos e União Soviética eram superpotências inimigas que dividiam o mundo em dois blocos de influência. Buscando o domínio global, iniciaram uma corrida armamentista caracterizada pela construção de armas nucleares e equipamentos de guerra que, se usados, poderiam acabar com a vida do planeta. Essa disputa perdeu sentido com o fim da União Soviética, em 1991, que inaugurou a era da supremacia política e militar norte- americana sobre o mundo. O arsenal bélico dos dois países, porém, ainda constitui uma sombra desse período e um perigo em potência para a humanidade. Com o Start, Estados Unidos e Rússia deram um importante passo nas relações diplomáticas e no processo de desarmamento, principalmente das ogivas nucleares. A Guerra Fria E Depois das guerras, a Guerra Fria Em termos gerais, a consequência mais importante do final da Segunda Guerra Mundial foi o fim da hegemonia mundial europeia. Estados Unidos e União Soviética passaram a disputar a supremacia econômica, militar, política e cultural. Em torno dessas novas superpotências foram criados dois blocos de poder e de atuação internacional, que dividiram o mundo em capitalista e socialista. Dessa oposição derivou uma imensa corrida armamentista, ideológica e territorial, que colocou o mundo à beira do extermínio total. De 1945 a 1991, a crescente polarização e tensão entre esses dois blocos e suas implicações em todo o mundo caracterizaram a chamada Guerra Fria. O desenvolvimento do capitalismo no Ocidente, nesse período, aconteceu diante e em confronto com o crescimento comunista. Da disputa entre os blocos surgiram desde o crescimento econômico, científico e tecnológico, até as guerras, invasões e disputas mais violentas, além de um clima de pânico constante. Assim, a grande novidade do século XX desde a Revolução Russa de 1917 foi que o socialismo impulsionou transformações dentro do capitalismo, mas pagando um preço alto: anos de instabilidade e crise constante que colocavam o mundo diante da expectativa de uma nova guerra, maior que as anteriores. A criação da ONU Quando a Segunda Guerra Mundial terminou em agosto de 1945, o saldo foi devastador: cerca de 55 milhões de mortos, mais de 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. Para a maioria das nações vencedoras, era preciso criar um mecanismo de controle internacional que evitasse não só uma Terceira Guerra Mundial, mas principalmente o início de uma nova e potencialmente pior: a guerra nuclear. Foi com essas preocupações que, em 24 de outubro de 1945, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU). Reunindo representações da maioria dos países do mundo, a ONU nascia com a obrigação de manter a paz mundial, garantir a defesa dos direitos humanos e a igualdade entre os diferentes povos [doc. 1], Embora a ONU tenha nascido com esses objetivos, durante a Guerra Fria, quem ditava o ritmo dos acontecimentos eram os blocos formados e dominados por Estados Unidos e União Soviética. DOC 01. Carta Geral das Nações Unidas (1945) "Artigo 1 Os propósitos das Nações Unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; [...] 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião [...]." Nações Unidas no Brasil. Disponível em www.onu-brasil.org.br. Acesso em 28 abr. 2010. www.cursosimbios.com.br 1

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01 Professor • Sabbath

Geografia

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13

Aluno (a): _____________________________________

Guerra Fria

e descolonização

As sombras da Guerra Fria

O então presidente norte-americano, Barack Obama, e o então presidente russo, Dmitri Medvedev, assinam o Tratado de Redução de Armas Estratégicas no Castelo de Praga. República Tcheca, 2010. O Tratado é um avanço nas negociações para redução de ogivas nucleares. Analistas acreditam, contudo, que o Tratado também servirá para pressionar países interessados em desenvolver programas nucleares. Em 8 de abril de 2010, os então presidentes dos Estados Unidos

(Barack Obama) e da Rússia (Dmitri Medvedev) renovaram o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês). Considerado um momento histórico, os dois países se comprometeram em ter, no máximo, 1.550 ogivas nucleares cada um. O tratado também previa um limite de mísseis balísticos in-tercontinentais.

Há pouco mais de vinte anos, Estados Unidos e União Soviética eram superpotências inimigas que dividiam o mundo em dois blocos de influência. Buscando o domínio global, iniciaram uma corrida armamentista caracterizada pela construção de armas nucleares e equipamentos de guerra que, se usados, poderiam acabar com a vida do planeta.

Essa disputa perdeu sentido com o fim da União Soviética, em 1991, que inaugurou a era da supremacia política e militar norte-americana sobre o mundo. O arsenal bélico dos dois países, porém, ainda constitui uma sombra desse período e um perigo em potência para a humanidade. Com o Start, Estados Unidos e Rússia deram um importante passo nas relações diplomáticas e no processo de desarmamento, principalmente das ogivas nucleares.

A Guerra Fria

E Depois das guerras, a Guerra Fria

Em termos gerais, a consequência mais importante do final da Segunda Guerra Mundial foi o fim da hegemonia mundial europeia. Estados Unidos e União Soviética passaram a disputar a supremacia econômica, militar, política e cultural. Em torno dessas novas superpotências foram criados dois blocos de poder e de atuação

internacional, que dividiram o mundo em capitalista e socialista. Dessa oposição derivou uma imensa corrida armamentista, ideológica e territorial, que colocou o mundo à beira do extermínio total. De 1945 a 1991, a crescente polarização e tensão entre esses dois blocos e suas implicações em todo o mundo caracterizaram a chamada Guerra Fria.

O desenvolvimento do capitalismo no Ocidente, nesse período, aconteceu diante e em confronto com o crescimento comunista. Da disputa entre os blocos surgiram desde o crescimento econômico, científico e tecnológico, até as guerras, invasões e disputas mais violentas, além de um clima de pânico constante. Assim, a grande novidade do século XX desde a Revolução Russa de 1917 foi que o socialismo impulsionou transformações dentro do capitalismo, mas pagando um preço alto: anos de instabilidade e crise constante que colocavam o mundo diante da expectativa de uma nova guerra, maior que as anteriores.

A criação da ONU

Quando a Segunda Guerra Mundial terminou em agosto de

1945, o saldo foi devastador: cerca de 55 milhões de mortos, mais de 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. Para a maioria das nações vencedoras, era preciso criar um mecanismo de controle internacional que evitasse não só uma Terceira Guerra Mundial, mas principalmente o início de uma nova e potencialmente pior: a guerra nuclear.

Foi com essas preocupações que, em 24 de outubro de 1945, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU). Reunindo representações da maioria dos países do mundo, a ONU nascia com a obrigação de manter a paz mundial, garantir a defesa dos direitos humanos e a igualdade entre os diferentes povos [doc. 1], Embora a ONU tenha nascido com esses objetivos, durante a Guerra Fria, quem ditava o ritmo dos acontecimentos eram os blocos formados e dominados por Estados Unidos e União Soviética.

DOC 01.

Carta Geral das Nações Unidas (1945)

"Artigo 1

Os propósitos das Nações Unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e,

para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; [...]

3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião [...]."

Nações Unidas no Brasil. Disponível em www.onu-brasil.org.br. Acesso em 28 abr. 2010.

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Representantes de vários países na conferância de fundação das Nações Unidas no Opera House. São Francisco, Estados Unidos, 1995

O mundo dividido em dois

A divisão do mundo entre socialismo e capitalismo começou a

se delinear na Conferência de Ialta, cidade da Crimeia, na região do Mar Negro, em fevereiro de 1945, antes mesmo do fim da Segunda Guerra Mundial. Ali, os líderes dos Estados Unidos (Franklin D. Roosevelt), da Grã- Bretanha (Winston Churchill) e da União Soviética (Josef Stálin) se reuniram para delimitar suas zonas de influência. Os acordos resultantes desse encontro delinearam o mapa do mundo sob a Guerra Fria. A União Soviética impôs seu controle sobre os países do Leste europeu e os Estados Unidos assumiram a hegemonia política e econômica da maior parte do mundo capitalista, como a Europa Ocidental, a América Latina e o Japão [doc. 2].

O grande símbolo da repartição do mundo aconteceu na Alemanha. Após a Segunda Guerra Mundial, o país foi ocupado pelos vencedores e dividido em duas áreas, uma capitalista outra socialista. O país e a capital, Berlim, foram repartidos entre a União Soviética, de um lado, e Estados Unidos, França e Grã-Bretanha do outro. Em 1949, a Alemanha foi dividida em dois países: nascia a República Democrática da Alemanha, com capital em Berlim, situada na zona de influência soviética, e a República Federal da Alemanha, com capital em Bonn, sob a influência dos países capitalistas [doc. 3]. A cidade de Berlim também foi dividida em duas partes, mas as pessoas podiam ainda transitar de um lado a outro da cidade. Em 1961, foi construído o Muro de Berlim, que separava fisicamente o lado oriental do lado ocidental.

DOC 02.

A "cortina de ferro"

Leia o discurso feito em 1946 pelo então primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, sobre a influência da União Soviética sobre o Leste europeu.

"Uma sombra caiu sobre as cenas tão

recentemente iluminadas pela vitória aliada. Ninguém sabe o que a Rússia Soviética e a sua Organização Comunista Internacional pretendem fazer em futuro imediato, ou quais são os limites de suas tendências expansionistas e proselitistas.

De Stettin, no Báltico, a Trieste, no Adriático, uma cortina de ferro desceu através do continente.

Além daquela linha ficam as capitais dos antigos Estados da Europa Central e Oriental. Varsóvia, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sofia, todas essas cidades famosas e as populações adjacentes estão sujeitas à influência soviética e ao crescente controle de Moscou.

Os partidos comunistas, que eram muito pequenos em todos esses países da Europa Oriental, foram colocados em preemi- nência e poder muito além de seu número e estão procurando obter em toda frente o controle totalitário.

Eu não acredito que a Rússia soviética deseje a guerra. 0 que eles querem são os frutos da guerra e uma indefinida expansão do seu poder e doutrinas. [...]"

CHURCHIL, Winston. Discurso no Westminster College, de Fulton, Missouri. [5 maio 1946]. In: Coletânea de documentos históricos para o l9 grau - 5- a 8S

séries. São Paulo: SE/Cenp, 1980. p. 95.

DOC 03.

Fonte: CHALIAND, Gérard; RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas strategíque. Paris: Complexe, 1988. P. 40 e 97

A reconstrução capitalista

Antes mesmo do final da Segunda Guerra Mundial, uma

conferência conhecida como Bretton Woods (1944) decidiu que era preciso criar instituições e normas para administrar a economia mundial e salvar o capitalismo. Assim, nasceram instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. No pós-guerra, o poder econômico, político e militar dos Estados Unidos impôs o dólar como a moeda internacional, e o país assumiu a responsabilidade de prover a liquidez internacional, tornando-se o grande empresta- dor de dinheiro para o mundo capitalista.

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O Plano Marshall A Guerra Fria gerou outra alternativa de transferência de

recursos para a Europa, sem as restrições políticas das instituições de Bretton Woods: o Plano Marshall, um programa de ajuda econômica dos Estados Unidos para reconstruir países europeus destruídos pela guerra [doc. 4], Seu objetivo principal era evitar a influência comunista na Europa Ocidental e garantir a hegemonia norte-americana sobre a região. Em resposta à iniciativa dos Estados Unidos, em 1949, a União Soviética criou o Conselho para Assistência Econômica Mútua (Comecon), com o objetivo de garantir auxílio mútuo entre os países socialistas.

Elaborado pelo general George Catlett Marshall, o Plano Marshall permitia aos Estados Unidos oferecer à Europa matérias-primas, produtos e capitais, na forma de créditos e doações. Em contrapartida, o mercado europeu não podia impor qualquer restrição à atividade das empresas norte-americanas. Estima-se que entre 1948 e 1952, por meio do Plano Marshall, os Estados Unidos forneceram cerca de US$ 13 bilhões para a reconstrução europeia, o que, em valores atuais reajustados, equivaleria a mais de 130 bilhões de dólares [doc. 5]. Depois da vitória da revolução comunista na China, os Estados Unidos estenderam o Plano Marshall ao Japão, incentivando a reforma agrária e a formação de grandes indústrias. Isso permitiu a fantástica recuperação econômica japonesa a partir dos anos 1950, sua ocidentalização e a dependência em relação à economia norte-americana.

Os Estados Unidos eram quem fornecia diretamente empréstimos bilaterais e doações para reconstruir a Europa e o Japão. Como o dólar era a moeda das trocas internacionais, ter dólares era essencial para as economias em reconstrução.

Duas grandes fontes de dólares foram a instalação de bases militares, cuja construção e pagamentos aos soldados eram feitos em moeda norte-americana, e a instalação de empresas dos Estados Unidos, as "multinacionais", nos países situados na sua área de influência.

DOC 04.

Cartaz alemão de 1950 em que está escrito: “Passagem livre para o Plano Marshall”

DOC 05.

Fonte: História do século 20: 1942-1956. São Paulo: Abril Cultural, 1968, p.2.327

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O Estado de bem-estar social

A reconstrução do capitalismo na Europa não foi feita respeitando os princípios do liberalismo. No pós--guerra, a reconstrução dos países europeus contou, além do dinheiro do Plano Marshall, com um novo papel atribuído ao Estado como regulador da economia e da vida social.

O programa de reconstrução da Europa combinou princípios da economia de mercado, capitalista, com as exigências de justiça social, o bem-estar social, que era a principal bandeira do socialismo. O Estado de bem-estar social, também chamado de Welfare State, foi estabelecido principalmente nos países da Europa Ocidental, como Grã-Bretanha, França, Alemanha Ocidental e nos países escandinavos. Ele priorizava a educação, a saúde e os direitos sociais dos trabalhadores.

Na Europa, durante a Guerra Fria, o Welfare State garantiu a permanência da democracia e do capitalismo, agora transformado pela idéia de prioridade para o bem- estar social [doc. 6].

DOC 06.

Definindo o Estado de bem-estar social

"Se a investigação mais recente permitiu [...] esclarecer melhor a complexa rede de determinações econômicas, ideológicas e políticas que definem e diferenciam o Estado de bem-estar social contemporâneo dos sistemas anteriores de organização das políticas sociais governamentais, ela também explicitou melhor as diferenças que separam as várias experiências nacionais do mesmo Welfare State [Estado de bem-estar social]. Já não cabe a menor dúvi da, por exemplo, de que o modelo norte-americano tem muito pouco a ver com o modelo nórdico, e este com o da Europa continental, e de todos eles com o Japão. Para não falar de sua diferença com o welfare [bem-estar] que fo sendo construído em algumas periferias capitalistas, em particular no caso latino-americano. [...]"

FIORI, José Luís. Estado do bem-estar social: padrões e crises.Disponível em www.iea.usp.br. Acesso em 3 maio 2010. p. 5-6.

"Qualquer que seja o tempo, somente alcançaremos o bem -estar social juntos" cartaz de 1947. O financiamento do Estado de bem-estar social pelo Plano Marshall também foi uma maneira de impediro avanço soviético no continente europeu.

A perseguição ao "inimigo"

Nos Estados Unidos, o período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial assistiu a uma perseguição violenta e sistemática a tudo que pudesse representar antiamericanismo ou simpatia pelo socialismo e, sobretudo, pelo comunismo soviético. Nos Estados Unidos, essa perseguição sistemática ficou conhecida como macartismo, em alusão a Joseph McCarthy, senador anticomunista.

A campanha de perseguição teve como alvo tanto pessoas ligadas à arte e à cultura quanto trabalhadores e sindicalistas. Durante o macartismo, as pessoas consideradas suspeitas eram presas, demitidas de seus empregos, proibidas de trabalhar, além de passar por interrogatórios, muitos deles transmitidos pela televisão para todo o país.

Na União Soviética, o Partido Comunista, utilizando a justificativa de se defender da propaganda capitalista e de seus agentes, organizou uma grande máquina de perseguição, prisão e assassinato de todos aqueles que eram considerados dissidentes, tanto os de direita quanto aqueles de esquerda que tivessem opiniões e princípios diferentes do partido.

As agências de espionagem

Um sistema de investigação e espionagem fortíssimo foi criado,

tanto na União Soviética quanto nos Estados Unidos. No caso norte-americano, esse sistema era organizado pela Agência Central de Inteligência (CIA). Na União Soviética, esse papel cabia à KGB, que agia em vários países do bloco socialista, associada também às polícias políticas e agências de espionagem locais, como a temida Stasi, da Alemanha Oriental.

A Grã-Bretanha também manteve uma vasta rede de espionagem pelo mundo, associada aos interesses dos Estados Unidos. O governo inglês usou a imagem de sua espionagem internacional para criar uma eficiente máquina de propaganda por meio do cinema. É o caso dos filmes estrelados pelo personagem 007, um espião a serviço da Coroa britânica que, em seus primeiros filmes, basicamente lutava contra comunistas e fazia propaganda de produtos (carros, roupas etc) ingleses [doc. 7], Os filmes de 007 continuam até hoje, constituindo-se um resquício do tipo de propaganda ideológica da Guerra Fria.

A corrida espacial

A disputa entre Estados Unidos e União Soviética em torno da corrida espacial não foi apenas uma forma de investimento econômico, mas significava também uma hegemonia política e cultural. Com a conquista do espaço, cada um dos blocos queria se mostrar mais "avançado" e moderno, portanto mais ligado ao futuro, do que o outro.

A corrida espacial era parte da máquina de propaganda da Guerra Fria e teve seus momentos espetaculares. Em 1957, a União Soviética lançou o foguete Sputnik, "tripulado" pela cadela Laika, que se tornou o primeiro ser vivo a ir ao espaço. O último grande episódio dessa disputa aconteceu em 1969, quando boa parte do mundo assistiu ao vivo pela televisão à chegada do homem à Lua, com a missão espacial norte-americana Apollo 11 [doc. 8].

DOC 07.

Cena do filme Moscou contra 007, de Terence Young, Grã-Bretanha, 1964. Nesse filme, o agente britânico James Bond tem a missão de ajudar uma agente espiã soviética desertora.

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A corrida armamentista

Tanto nos Estados Unidos quanto na União Soviética, a economia interna foi direcionada para uma economia de guerra. A corrida armamentista, tecnológica (voltada para a energia nuclear) e aeroespacial animava a economia, absorvia boa parte dos empregos e da mão de obra. União Soviética e Estados Unidos se tornaram verdadeiras máquinas de guerra voltadas para o controle de seus satélites e para o desenvolvimento interno de suas economias.

Os conflitos políticos e econômicos do período foram marcados por um perigo iminente, que foi progressivamente usado como pressão e ameaça internacional: a bomba atômica. De uma certa forma, a manipulação e a produção de arsenal bélico nuclear mudou a configuração e a política internacional e, consequentemente, o equilíbrio político do período, além de efetivamente colocar em risco a vida no planeta.

Depois dos norte-americanos, que usaram a bomba nuclear duas vezes contra o Japão, a União Soviética fabricou sua bomba em 1949. Em 1952, a Grã-Bretanha fabricou a sua e, nos anos 1960, foi a vez da China comunista e da França anunciarem sua capacidade nuclear. A rivalidade fez com que as superpotências passassem a acumular um arsenal nuclear capaz de aniquilar o planeta várias vezes.

DOC 08.

O astronauta Edwin E. Aldrin Jr. Posa ao lado da bandeira norte-americana na Lua, em 24 de julho de 1969. À esquerda, é possível reconhecera sombra do módulo lunar da Apollo 11 Otan e Pacto de Varsóvia

A polaridade política, a nova tecnologia militar destrutiva e a

fraqueza da ONU resultaram em outra repartição de poderes e zonas de influência. Decididos a ter controle total sobre sua área de influência, no mesmo ano em que a União Soviética anunciou sua bomba atômica, os Estados Unidos comandaram a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) [doc. 9], O objetivo declarado era garantir a defesa dos países associados no caso de um ataque da União Soviética. Mesmo com o fim da Guerra Fria e da União Soviética, a Otan ainda existe, demonstrando que não se tratava apenas de um acordo ocasional, mas de uma estratégia de domínio global.

Em contrapartida, em 1955, a União Soviética criou o Pacto de Varsóvia, reunindo os Estados do Leste europeu sob seu domínio. A única exceção foi a Iugoslávia, então dirigida pelo Marechal Tito, cuja política era tentar uma certa independência em relação a Moscou. As principais ações do Pacto foram internas e não externas ao bloco. As forças do Pacto de Varsóvia foram usadas para reprimir manifestações populares que exigiam abertura política ou criticavam as imposições do regime soviético, como ocorreu na Hungria e na Polônia, em 1956, e na Tchecoslováquia, em 1968.0 Pacto de Varsóvia foi extinto com o fim da União Soviética e do socialismo no Leste europeu a partir de 1991.

DOC 09.

Caricatura russa de 1949 que representa o Tio Sam (Estados Unidos) forçando os países da Europa Ocidental a assinar o Tratado do Atlântico Norte.

Os países não alinhados

Uma terceira associação internacional tentou criar um bloco de

países que pretendia permanecer fora do jogo entre União Soviética e Estados Unidos, reivindicando uma certa neutralidade. Em 1955, um grupo de países afro-asiáticos se reuniu na Conferência de Bandung, formando o bloco que ficou conhecido como de países não alinhados. Esses países, liderados pela índia, lutavam também para conseguir sua emancipação política, econômica e cultural dos antigos impérios europeus [doc. 10].

DOC 10.

Comunicado final da Conferência de Bandung (1955)

"[. .] As nações deveriam praticar a tolerância, viver em paz num espírito de boa vizinhança e desenvolver uma cooperação amigável na base dos seguintes princípios: [...] 2. Respeito da soberania e integridade territorial de

todas as nações; 3. Reconhecimento da igualdade de todas as raças

e da igualdade de todas as nações, pequenas e grandes;

4. Não intervenção e não ingerência nos negócios dos outros países; [...]

6. a) Recusa de recorrer a acordos de defesa coletiva destinados a servir aos interesses particulares das grandes potências, quaisquer que sejam elas. [...]"

In: MATTOSO, Kátia M. de Queirós (Org.). Textos e documentos para o estudo da história

contemporânea: 1789-1963.São Paulo: Hucitec/Edusp, 1977. p. 202. www.cursosimbios.com.br 5