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EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS Santo Inácio de Loyola Anotações Título Pressuposto Princípio e Fundamento Exame Particular Exame Geral - Pensamentos, Palavras, Obras Modo de fazer o Exame Geral Confissão Geral e Comunhão Primeira Semana Segunda Semana Terceira Semana Quarta Semana Mistérios da Vida de Cristo Regras Apêndices 1 - Orações Vocais 2 - Outras Referências

Exercicios Espirituais Inacio Loyola 2

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Livro do Inacio Loyola

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Page 1: Exercicios Espirituais Inacio Loyola 2

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

Santo Inácio de Loyola

• Anotações

• Título

• Pressuposto

• Princípio e Fundamento

• Exame Particular

• Exame Geral - Pensamentos, Palavras, Obras

• Modo de fazer o Exame Geral

• Confissão Geral e Comunhão

• Primeira Semana

• Segunda Semana

• Terceira Semana

• Quarta Semana

• Mistérios da Vida de Cristo

• Regras

• Apêndices1 - Orações Vocais2 - Outras Referências

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ANOTAÇÕES

1 - ANOTAÇÕES PARA FACILITAR A COMPREENSÃO DOS EXERCÍCIOSESPIRITUAIS QUE SE SEGUEM, E PARA AJUDAR TANTO QUEM OS DÁ COMOQUEM OS RECEBE

1ª Anotação. Por esta expressão, Exercícios Espirituais, entende-se qualquer modo de examinar aconsciência, meditar, contemplar, orar vocal ou mentalmente, e outras atividades espirituais, de que adiante falaremos. Porque, assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais,também se chamam exercícios espirituais os diferentes modos de a pessoa se preparar e disporpara tirar de si todas as afeições desordenadas, e, tendo-as afastado, procurar e encontrar a vontadede Deus, na disposição da sua vida para o bem da mesma pessoa.

2 - 2ª Anotação. A pessoa que propõe a outra o assunto e o método para meditar ou contemplardeve narrar fielmente a história de tal contemplação ou meditação, apresentando apenas os pontoscom um comentário breve ou sumário. Porque aquele que faz a contemplação acha nela mais gostoe fruto espiritual quando, partindo do fundamento verdadeiro da história, refletindo e raciocinandopor si mesmo, encontra como explicar ou sentir um pouco melhor o assunto, seja por sua própriareflexão, seja pela graça divina que lhe ilumina o entendimento; mais do que se, quem dá osexercícios tivesse explicado e desenvolvido com pormenores o sentido da história. Porque não é omuito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente.

3 - 3ª Anotação. Em todos os exercícios espirituais seguintes, usamos dos atos do entendimento,quando raciocinamos e dos atos da vontade, quando despertamos os afetos. Note-se que, nos atosda vontade, em que falamos vocal ou mentalmente com Deus Nosso Senhor, ou com os seus santos, se requer da nossa parte maior respeito do que quando usamos simplesmente o entendimento refletindo.

4 - 4ª Anotação. Os exercícios seguintes dividem-se em quatro partes, a que correspondem quatrosemanas: a primeira destina-se à consideração e contemplação dos pecados; a segunda, àcontemplação da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo até o dia de Ramos inclusive; a terceira, à contemplação da sua Paixão; a quarta, à contemplação da sua Ressurreição e Ascensão, com ostrês modos de orar.

Não se julgue, porém, que cada semana deva necessariamente compor-se de sete ou oito dias. De fato acontece que na primeira semana uns são mais lentos que outros em achar aquilo que procuram, isto é, contrição, dor e lágrimas pelos seus pecados; outros são mais diligentes, ou maisagitados e provados pelos diversos espíritos, e, por isso, algumas vezes torna-se necessárioabreviar, outras, prolongar esta semana. O mesmo se diga das semanas seguintes, procurandosempre tirar o fruto conforme a matéria que se propõe. Mas os exercícios acabarão todos mais ou menos em trinta dias.

5 - 5ª Anotação. Muito aproveita ao exercitante entrar neles com grande ânimo e liberalidade paracom seu Criador e Senhor, oferecendo-lhe todo o seu querer e liberdade, para que sua divinaMajestade se sirva de sua pessoa e de tudo quanto possui, conforme a sua santíssima Vontade.

6 - 6ª Anotação. Quando o que dá os Exercícios percebe que ao exercitante não lhe vêm à almaalgumas noções espirituais quer de consolação, quer de desolação, nem é agitado pelos diversosespíritos, deve interrogá-lo com cuidado sobre os Exercícios, se os faz nos tempos marcados ecomo. Assim também a respeito das adições, se as faz com diligência. Indagará sobre cada um

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destes pontos em particular. Fala-se de consolação e desolação nos números 316-324; e dasadições nos números 73-90.

7 - 7ª Anotação. Se o que dá os Exercícios nota que o exercitante está desolado e tentado, não se mostre duro e severo com ele, mas bondoso e suave. Dê-lhe coragem e forças para ir adiante;descubra-lhe as astúcias do inimigo da natureza humana, e leve-o a preparar-se e a dispor-se para a consolação que há de vir.

8 - 8ª Anotação. O que dá os Exercícios poderá explicar ao que os recebe as regras da primeira esegunda semanas acerca do discernimento dos vários espíritos , conforme sentir nele a necessidadede ser instruído sobre as desolações e astúcias do inimigo, ou sobre as consolações.

9 - 9ª Anotação. É de notar que quando o que faz os Exercícios está na primeira semana, se se tratade pessoa pouco versada em coisas espirituais, e é tentada grosseira e abertamente, por exemplo,vendo nos trabalhos, na vergonha, no respeito humano etc., outros tantos obstáculos que aimpedirão de avançar no serviço de Deus Nosso Senhor, aquele que os dá não lhe fale das regrasda segunda semana sobre o discernimento dos espíritos; porque tão úteis lhe serão as da primeirasemana como prejudiciais as da segunda, visto estas tratarem de matéria sutil e elevada demaispara que possa compreendê-la.

10 - 10ª Anotação. Quando quem dá os Exercícios nota que o exercitante é tentado sob a aparênciade bem, é então o momento de lhe explicar as regras da segunda semana. Porque ordinariamente o inimigo da natureza humana tenta mais sob a aparência de bem quando alguém se exercita na viailuminativa, que corresponde aos exercícios da segunda semana. Na via purgativa, que corresponde aos exercícios da primeira semana, não costuma tentar tanto.

11 - 11ª Anotação. É bom para o que faz os exercícios da primeira semana não saber cousa alguma do que fará na segunda. Mas trabalhe na primeira para alcançar aquilo que pretende, como se nada de bom esperasse encontrar na segunda.

12 - 12ª Anotação. Quem dá os Exercícios há de advertir muito o exercitante de que deveempregar uma hora em cada um dos cinco exercícios ou contemplações que faz por dia. E assim,procure sempre que o espírito fique satisfeito com o pensamento de que esteve uma hora inteira no exercício, e antes mais do que menos. Porque o inimigo costuma sempre fazer com que se abrevieo tempo da contemplação, meditação ou oração.

13 - 13ª Anotação. É preciso notar ainda que, se no tempo da consolação é coisa fácil e leve estarna contemplação uma hora inteira, no tempo da desolação, pelo contrário, é muito difícil completá-la. Portanto o exercitante, a fim de reagir contra a desolação e vencer as tentações, deve prolongarsempre um pouco a hora marcada, para que se habitue não só a resistir ao adversário, mas ainda a derrotá-lo.

14 - 14ª Anotação. Se o que dá os Exercícios vê que o exercitante está consolado e com grandefervor, previna-o para não fazer promessa nem voto algum inconsiderado e precipitado. E quantomais reconhecer nele um temperamento instável tanto mais o deve prevenir e acautelar. Porque,embora tenhamos direito a animar alguém a entrar na vida religiosa, na qual se fazem os votos deobediência, pobreza e castidade, e embora uma boa ação feita em virtude de um voto seja maismeritória do que a que se faz sem voto, contudo deve-se considerar atentamente o caráter e acapacidade da pessoa, a facilidade ou os inconvenientes que poderá encontrar no cumprimentodaquilo que deseja prometer.

15 - 15ª Anotação. O que dá os Exercícios não deve mover quem os recebe a escolher o estado depobreza ou a fazer alguma promessa, de preferência a outra, nem a escolher um estado ou gênero

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de vida em lugar de outro. Porque, ainda que, fora do tempo dos Exercícios, podemos, lícita emeritoriamente, mover todas as pessoas, que mostrem com probabilidade as disposiçõesnecessárias a escolher a continência, a virgindade, o estado religioso e qualquer outra forma deperfeição evangélica, contudo, durante os Exercícios, quando o exercitante busca a vontade divina,é mais conveniente e muito melhor que o Criador e Senhor se comunique por sí mesmo a quem lhe é todo dedicado, atraindo-o ao seu amor e louvor, e dispondo-o a seguir pelo caminho em que O poderá servir melhor no futuro. Assim, aquele que dá os Exercícios não se volte nem incline a umaparte ou a outra, mas se mantenha no meio, como o fiel duma balança, deixando agir diretamente oCriador com a criatura, e a criatura com o seu Criador e Senhor.

16 - 16ª Anotação. Para este fim, isto é, para que o Criador e Senhor atue mais certamente na suacriatura, se a pessoa estiver afeiçoada ou inclinada a uma cousa desordenadamente, convém muitomover-se, empregando todas as suas forças em chegar ao contrário daquilo a que se vê afeiçoada.Se se inclina, por exemplo, a procurar obter um ofício ou benefício, não pela honra e glória de Deus Nosso Senhor, nem pelo bem espiritual das almas, mas por seu próprio interesse e vantagenstemporais, deve procurar afeiçoar-se à resolução contrária. Insista em orações e outros exercíciosespirituais, e peça o contrário a Deus Nosso Senhor, a saber, que não quer tal ofício, nembenefício, nem qualquer outra coisa, a não ser que sua divina Majestade, ordenando-lhe os seusdesejos, mude-lhe as primeiras afeições. De forma que a causa de desejar e conservar uma coisa ououtra, seja unicamente o serviço, honra e glória da divina Majestade.

17 - 17ª Anotação. É muito proveitoso que aquele que orienta os Exercícios, sem querer perguntarnem saber os pensamentos ou os pecados do exercitante, seja informado fielmente das moções e pensamentos que os diferentes espíritos despertam nele. Porque, conforme julgar mais ou menosproveitoso, pode dar-lhe exercícios espirituais mais apropriados e adaptados às suas necessidadessubjetivas.

18 - 18ª Anotação. É necessário adaptar os Exercícios Espirituais às disposições das pessoas queos querem fazer, tendo em conta a idade, a ciência, o talento, e não dar ao que é ignorante, oumediocremente dotado, coisas que não possa facilmente entender, e de que não possa tirarproveito. Do mesmo modo se deve dar a cada um aquilo que melhor o poderá ajudar e maisaproveitará, conforme as suas disposições interiores. Portanto, àquele que está disposto a instruir-se sobre os seus deveres e a atingir certo grau de paz interior, pode-se propor o exame particular,depois o exame geral e ao mesmo tempo o método de orar sobre os mandamentos, pecadosmortais, etc. , para meia hora de meditação matutina. Recomenda-se também a confissão de oitoem oito dias, e a comunhão eucarística, a cada quinze dias, se lhe for possível, ou melhor ainda, se a devoção a isso o levar, de oito em oito dias. Esta maneira de proceder convém mais aos simples e iletrados. Expliquem-se os mandamentos da lei de Deus, os pecados mortais, os mandamentos daIgreja, os cinco sentidos , e as obras de misericórdia. Do mesmo modo, se quem orienta osExercícios vê que o exercitante é de pouca disposição ou capacidade, e é pessoa de quem não sepode esperar muito fruto, é mais conveniente dar-lhe alguns destes exercícios fáceis, até fazer a confissão dos seus pecados. Em seguida, indique-se ao exercitante algum método de exame deconsciência, e algumas regras a seguir para se confessar mais vezes do que costumava, a fim deconservar o fruto que alcançou. Não se trate das matérias da eleição nem dos outros exercícios que não são da primeira semana, sobretudo quando de outras pessoas se pode obter maior fruto, e o tempo não chega para todas.

19 - 19ª Anotação. Quem estiver ocupado em cargos públicos ou negócios importantes, sendopessoa culta e inteligente, reserve hora e meia cada dia para fazer os exercícios. Explique-se-lheprimeiro para que fim o homem foi criado. Pode-se-lhe explicar também durante meia hora o exame particular, depois o exame geral, e o modo de se confessar e receber o sacramento da

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Eucaristia. Durante três dias, fará, todas as manhãs, durante uma hora, a meditação sobre o primeiro, o segundo e o terceiro pecados; depois, nos três dias seguintes, e à mesma hora, a meditação sobre o processo dos pecados; e enfim, por outros três dias, à mesma hora, a meditaçãosobre as penas que correspondem aos pecados. Em cada uma destas três meditações dêem-se-lheas dez adições. Para a contemplação dos mistérios de Cristo Nosso Senhor, siga-se o mesmométodo que adiante se explica longamente nestes Exercícios.

20 - 20ª Anotação. Se alguém tem o tempo mais livre e deseja aproveitar o mais possível, dêem-sea esse exercitante todos os Exercícios espirituais, guardando com exatidão a ordem aqui seguida.Neles, de ordinário, tanto mais se aproveitará, quanto mais o exercitante se separar de todos osamigos e conhecidos, e de todas as ocupações temporais. Mudando-se, por exemplo, da casa onde mora e escolhendo outra, ou outro quarto, para nele viver o mais retirado possível, de maneira quepossa ir todos os dias à missa e às vésperas, sem temor de que os conhecidos o impeçam.

Esta separação oferecer-lhe-á, entre muitas outras, três vantagens principais:

A primeira: ao afastar-se uma pessoa de muitos amigos e conhecidos e de ocupações não bemordenadas, para servir e louvar a Deus Nosso Senhor, tem grande merecimento diante da suadivina Majestade.

A segunda: achando-se assim separado e não tendo o espírito dividido por muitas coisas, o exercitante põe toda a atenção numa só, a saber, no serviço de seu Criador e no proveito da sua alma, e usa mais livremente das faculdades naturais para procurar com diligência o que tantodeseja.

A terceira: quanto mais o exercitante se acha só e retirado, tanto mais apto se torna para se aproximar de seu Criador, e de unir a Ele. E quanto mais assim se aproxima dele, tanto melhor sedispõe para receber graças e dons de sua divina e suma Bondade.

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TÍTULO21 - EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS PARA O HOMEM SE VENCER A SI MESMO E ORDENAR A PRÓPRIA VIDA SEM SE DETERMINAR POR NENHUMA AFEIÇÃO DESORDENADA.

PRESSUPOSTO22 - 22ª Anotação. Para que, tanto o que dá os Exercícios como o que os recebe, se ajudemmutuamente e tirem maior proveito, deve-se pressupor que todo bom cristão está mais pronto ajustificar uma proposição do próximo do que a condená-la. Se não pode justificá-la, perguntecomo é que ele a entende; se a entende mal, corrija-o com amor; se isso não basta, procure todosos meios convenientes para que a entenda bem e assim se salve.

PRINCÍPIO E FUNDAMENTO23 - PRINCÍPIO E FUNDAMENTO

O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a suaalma. E as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem aalcançar o fim para que é criado. Donde se segue que há de usar delas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim, e há de privar-se delas tanto quanto dele o afastem. Pelo que é necessário tornar-nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha donosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido. De tal maneira que, de nossa parte, não queiramos maissaúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e assim por diante em tudo o mais, desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduz ao fim para quesomos criados.

EXAME PARTICULAR24 - EXAME PARTICULAR E COTIDIANO

Compreende três tempos e dois exames

1º Tempo. Pela manhã, logo ao levantar, deve-se propor evitar com diligência aquele pecadoparticular ou defeito que se quer corrigir e emendar.

25 - 2º Tempo. Depois da refeição do meio-dia, pedir a Deus nosso Senhor o que se quer, a saber,graça para se recordar quantas vezes se caiu naquele pecado particular ou defeito e para seemendar para o futuro. Em seguida, faça-se o primeiro exame, pedindo conta a si mesmo daqueleponto particular previsto de que se quer corrigir e emendar. Percorrerá cada uma das horas da manhã, ou cada espaço de tempo, começando desde o momento de levantar até a hora e instante doexame atual. E, marque na primeira linha da letra g = tantos pontos quantas forem as vezes queincorreu naquele pecado particular ou defeito. Depois, proponha de novo emendar-se até fazer osegundo exame.

26 - 3º Tempo. Depois da refeição da noite, far-se-á o segundo exame, percorrendo-se tambémhora por hora, começando desde o primeiro exame até este segundo. E se marcará na segundalinha da letra g = tantos pontos quantas forem as vezes que incorreu naquele pecado particular ou defeito.

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27 - SEGUEM-SE QUATROS ADIÇÕES PARA CORRIGIR MAIS DEPRESSA O PECADO OU DEFEITO PARTICULAR

1ª adição. Consiste em levar a mão ao peito cada vez que se cai no pecado ou defeito particular,arrependendo-se de ter caído. Isto pode fazer-se mesmo na presença de muita gente sem se notar.

28 - 2ª adição. Como a primeira linha da letra g indica o primeiro exame e a outra o segundo,observar, à noite, se houve emenda da primeira linha para a segunda, isto é, do primeiro para o segundo exame.

29 - 3ª adição. Comparar o segundo dia com o primeiro, isto é, os dois exames do dia presentecom os dois do dia precedente, e ver se houve emenda de um dia para o outro.

30 - 4ª adição. Comparar igualmente uma semana com a outra e ver se emendou na semanapresente, em comparação com a semana anterior.

31 - Note-se no quadro que se segue, a primeira letra maiúscula G indica o domingo; a segundaminúscula g marca a segunda-feira, a terceira, a terça-feira, e assim por diante.

Ggggggg

EXAME GERAL - PENSAMENTOS, PALAVRAS E OBRAS32 - EXAME GERAL DE CONSCIÊNCIA PARA SE PURIFICAR E SE CONFESSARMELHOR

Pressuponho haver em mim três espécies de pensamentos, a saber: um que é propriamente meu, e procede da minha liberdade e querer; e outros dois que vêm de fora, um do bom espírito e outro do mau.

33 - PENSAMENTOS

Há duas maneiras de merecer num mau pensamento que vem de fora.

1ª - Vem, por exemplo, o pensamento de cometer um pecado mortal. Resisto prontamente a esse pensamento, e ele fica vencido.

34 - 2ª - Quando me vem aquele mesmo mau pensamento e eu lhe resisto, e torna a vir, uma e outra vez, e eu resisto sempre, até que o pensamento fica vencido. Esta segunda maneira é de mais merecimento do que a primeira.

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35 - Peca-se venialmente, quando vem o mesmo pensamento de pecar mortalmente, e a pessoa lhedá atenção, demorando-se algum tempo nele ou recebendo algum deleite sensível, ou havendoalguma negligência em rejeitar esse pensamento.

36 - Peca-se mortalmente de dois modos. Primeiro, quando se consente num mau pensamento,com a intenção de agir em seguida conforme consentiu, ou de o realizar se fosse possível.

37 - Segundo, quando se executa, de fato, esse pensamento. Isto é mais grave por três motivos:primeiro, por causa de sua maior duração; segundo, pela sua maior intensidade; terceiro, pelomaior dano para as duas pessoas.

38 - PALAVRAS

Não se deve jurar nem pelo Criador, nem pela criatura, a não ser com verdade, por necessidade ecom reverência."Por necessidade" entendo, não quando se afirma com juramento uma verdadequalquer, mas quando essa verdade é de certa importância para o proveito da alma, ou do corpo ou dos bens temporais. "Com reverência" entendo, quando ao proferir o nome de seu Criador eSenhor se considera e se rende a honra e o respeito que lhe são devidos.

39 - Note-se que, embora o juramento em vão seja mais grave quando se jura pelo Criador do quepela criatura, contudo, é mais difícil jurar pela criatura, com verdade, necessidade e reverência, do que pelo Criador, pelas razões seguintes:

1ª - Quando queremos jurar por alguma criatura, o fato de querer tomá-la por testemunha não nos faz estar tão atentos e advertidos para dizer a verdade ou para afirmá-la com necessidade, como ao querermos ter por testemunha o Criador e Senhor de todas as coisas.

2ª - Ao jurar pela criatura, não é tão fácil mostrar reverência e acatamento ao Criador, comoquando se jura pelo mesmo Criador e Senhor e se profere o seu nome; porque o querer proferir onome de Deus nosso Senhor leva a maior acatamento e reverência do que tomar por testemunhauma simples criatura.

Por isso, aos perfeitos mais facilmente se concede jurar pela criatura do que aos imperfeitos.Porque os perfeitos, pela contemplação assídua e pela iluminação do entendimento são maislevados a considerar, meditar e contemplar como Deus nosso Senhor está em todas as criaturas,por sua própria essência, presença e poder; e assim, quando juram pela criatura estão mais aptos emelhor preparados que os imperfeitos, para render a seu Criador e Senhor acatamento e reverência.

3ª - No juramento freqüente pelas criaturas há de temer-se mais a idolatria nos imperfeitos do quenos perfeitos.

40 - Não devemos dizer nenhuma palavra ociosa. Por palavra ociosa entendo aquela que não temutilidade nem para mim, nem para outrem, nem se ordena a tal fim. De forma que não é palavraociosa falar daquilo que aproveita, ou se diz com intenção de aproveitar à própria alma, ou à deoutro, ao corpo ou aos bens temporais, mesmo que se fale de assuntos estranhos à própriaprofissão, como um religioso a tratar de guerras ou de comércio. Em resumo, podemos dizer quehá mérito quando as palavras são inspiradas por uma boa intenção, e pecado quando por umaintenção repreensível ou se se falar em vão.

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41 - Nada se deve dizer para difamar ou murmurar, porque se se revela um pecado mortal que nãoseja público, peca-se mortalmente; e venialmente, se se revela um pecado venial; e se se descobreum defeito, mostra-se um defeito próprio.

Se é reta a intenção, em dois casos se pode falar do pecado ou falta de outrem:

1º - Quando o pecado é público, por exemplo, tratando-se de uma pessoa de má vida e conhecidapor tal, ou de uma sentença dada em juízo; ou de um erro público que corrompe as almas daquelescom quem se trata.

2º - Quando se revela a alguém um pecado oculto, para que ele ajude o pecador a levantar-se,desde que haja esperança ou razões fundadas de que ele possa ser útil.

42 - OBRAS

Tomando por objeto de exame os dez mandamentos, os preceitos da Igreja e as ordens dossuperiores, tudo o que se faz contra qualquer destas três matérias é pecado mais os menos grave,conforme for maior ou menor a sua importância.

Por "ordens dos superiores" entendo, por exemplo, as Bulas da Cruzada e outros indultos, como as indulgências pela paz, concedidas aos fiéis que se confessam e recebem o Santíssimo Sacramento.Pois não pode ser falta pequena ir contra ou induzir outros a irem contra estas exortações edisposições tão santas dos nossos Superiores.

MODO DE FAZER O EXAME GERAL43 - MODO DE FAZER O EXAME GERAL

Consta de cinco pontos

1º ponto: dar graças a Deus nosso Senhor pelos benefícios recebidos;

2º ponto: pedir graças para conhecer os pecados e rejeitá-los;

3º ponto: pedir conta a si mesmo desde a hora em que se levantou até o exame presente, hora por hora ou tempo por tempo, primeiro dos pensamentos, depois das palavras e em seguida das obras,pela mesma ordem que se disse no exame particular;

4º ponto: pedir perdão a Deus nosso Senhor das faltas;

5º ponto: propor emendar-se com a sua graça. Pai-nosso.

CONFISSÃO GERAL E COMUNHÃO44 - CONFISSÃO GERAL E COMUNHÃO

Quem quiser voluntariamente fazer uma confissão geral, encontrará, entre outras, estas trêsvantagens:

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1ª - É certo que aquele que se confessa todos os anos não é obrigado a fazer uma confissão geral;contudo, se o fizer, colherá dela maior proveito e mérito, pela maior dor atual de todos os pecadose malícias de toda sua vida.

2ª - No tempo dos Exercícios espirituais, o exercitante adquire um conhecimento mais íntimo dos pecados e da sua malícia, do que em qualquer outro tempo, em que não se dava assim à vidainterior. Conseguindo agora mais conhecimento e dor deles, obterá maior proveito e mérito do que antes.

3ª - Estando o exercitante melhor confessado e disposto, acha-se consequentemente mais apto emais preparado para receber o Santíssimo Sacramento, cuja recepção ajuda não somente a nãorecair em pecado, mas ainda a conserva-se no aumento de graça.

A ocasião mais conveniente para se fazer a confissão geral é logo após os exercícios da primeirasemana.

PRIMEIRA SEMANA

45 - PRIMEIRO EXERCÍCIO - MEDITAÇÃO COM AS TRÊS POTÊNCIAS SOBRE OPRIMEIRO, O SEGUNDO E O TERCEIRO PECADO.

Compreende, depois da oração preparatória e dois preâmbulos, três pontos principais e um colóquio.

46 - A oração preparatória consiste em pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam dirigidas unicamente ao serviço e louvor de sua divinaMajestade.

47 - O primeiro preâmbulo é a composição do lugar. É de notar aqui que, se o assunto dacontemplação ou da meditação for uma coisa visível, como na contemplação de Cristo nossoSenhor, que é visível, esta "composição" consistirá em representar, com o auxílio da imaginação, olugar material onde se encontra o objeto que quero contemplar. Lugar material, digo, como otemplo, ou o monte onde se encontram Jesus Cristo ou Nossa Senhora, conforme o mistério que escolhi para a contemplação.

Se o assunto da meditação for coisa invisível, como são nesta os pecados, a composição do lugarconsistirá em ver com os olhos da imaginação, e em considerar a minha alma encarcerada nestecorpo corruptível, e a mim mesmo, isto é, o meu corpo e a minha alma neste vale (de lágrimas),como desterrado entre brutos animais.

48 - O segundo preâmbulo, consiste em pedir a Deus nosso Senhor o que quero e desejo. Estapetição deve ser conforme o assunto da meditação. Na contemplação da Ressurreição, porexemplo, pedirei alegria com o Cristo inundado de alegria; na da Paixão pedirei dor, lágrimas,sofrimentos com Cristo torturado.

Na meditação presente pedirei vergonha e confusão de mim mesmo, vendo quantos têm sido condenados por um só pecado mortal, e quantas vezes eu mereceria ser condenado para semprepor meus pecados tão numerosos.

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49 - Nota. Antes de cada contemplação ou meditação, deve-se fazer a oração preparatória, que serásempre a mesma, e os dois preâmbulos que variam conforme o assunto.

50 - 1º ponto. O primeiro ponto será aplicar a memória ao primeiro pecado, que foi o dos anjos, e a seguir o entendimento, que refletirá sobre o mesmo, e finalmente, a vontade. Procurarei recordar eentender tudo isto, para mais me envergonhar e confundir: comparando com um só pecado dosanjos, tantos pecados meus. E considerando como eles, por um só pecado, foram para o inferno, equantas vezes eu o mereci por tantos pecados.

Trarei, pois, à memória o pecado dos anjos como, tendo sido criados em estado de graça,recusaram ajudar-se da sua liberdade para render a seu Criador e Senhor a homenagem e aobediência que lhe eram devidas; encheram-se de soberba, e, por isso, passaram do estado de graçaao de malícia e do Céu foram precipitados no Inferno.

E assim, em seguida, discorrerei sobre tudo mais em particular com o entendimento, e finalmentemoverei mais os afetos com a vontade.

51 - 2º ponto. Seguir o mesmo processo, isto é, aplicar as três potências ao pecado de Adão e Eva.Trarei à memória como por este pecado fizeram tão longa penitência e quanta corrupção veio ao gênero humano, indo tanta gente para o inferno.

Hei de, pois, avivar na memória o segundo pecado: o de nossos primeiros pais. A saber, comoAdão foi criado no campo Damasceno e posto no Paraíso terrestre, e como Eva foi formada deuma das suas costelas, e como, apesar de lhes ser proibido comer da árvore da ciência, contudocomeram e por isso pecaram. Depois vestidos de túnicas de peles e expulsos do paraíso, viveramtoda a vida em muitos trabalhos e muita penitência, sem a justiça original, que tinham perdido. A seguir refletirei com o entendimento mais em particular e exercitarei a vontade, como se explicouno primeiro ponto.

52 - 3º ponto. Proceder do mesmo modo sobre o terceiro pecado, isto é, o pecado particular de qualquer pessoa, que por uma só culpa mortal foi para o inferno e de muitas outras, sem conta, que lá estão por menos pecados dos que eu tenho cometido.

Procederei do mesmo modo sobre o terceiro pecado particular: isto é, trarei à memória a gravidadee malícia do pecado contra o seu Criador e Senhor. Refletirei com o entendimento, como por pecare agir contra a bondade infinita, este homem foi justamente condenado para sempre. Concluireipelos atos da vontade, como foi dito.

53 - Colóquio. Imaginando, diante de mim, Cristo nosso Senhor, crucificado, farei um colóquio,ponderando como Ele sendo Criador veio a fazer-se homem, e como da vida eterna chegou à mortetemporal, e desta forma veio a morrer por meus pecados. Olhando depois para mim mesmo,perguntar-me-ei o que fiz por Cristo, o que faço por Cristo, e o que devo fazer por Cristo.

E vendo-O assim pregado na cruz, refletirei sobre o que me ocorrer.

54 - O colóquio, propriamente dito, se faz falando, como um amigo fala com outro, ou um servocom o seu senhor. Ora pedindo alguma graça, ora acusando-se por alguma má ação, oracomunicando as suas coisas e querendo conselho nelas. E rezar um pai-nosso.

55 - SEGUNDO EXERCÍCIO - MEDITAÇÃO DOS PECADOS.

Compreende, depois da oração preparatória e dois preâmbulos, cinco pontos e um colóquio.

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A oração preparatória seja a mesma.

O 1º preâmbulo será a mesma composição de lugar.

O 2º preâmbulo consiste em pedir o que quero. Nesta meditação será pedir grande e intensa dor elágrimas dos meus pecados.

56 - 1º ponto. É o processo dos pecados, a saber, trarei à memória todos os pecados da vida,considerando ano por ano, ou período por período. Para isto será útil recordar três coisas: 1º) ver olugar e a casa onde vivi, 2º) as relações que tive com outras pessoas, 3º) a profissão que exerci.

57 - 2º ponto. Ponderarei os pecados, considerando a fealdade e a malícia que cada pecado mortalcometido tem em si, ainda que não fosse proibido.

58 - 3º ponto. Olharei quem sou eu, diminuindo-me por meio de comparações. 1º) Que sou eu emcomparação com todos os homens? 2º) Que são os homens em comparação com todos os anjos esantos do Paraíso? 3º) Que são todas as criaturas em comparação com Deus? E eu só, que possoser? 4º)Considerarei toda a minha corrupção e miséria do meu corpo. 5º) Ver-me-ei como umachaga e tumor de onde saíram tantos pecados e tantas maldades e veneno tão hediondo.

59 - 4º ponto. Considerarei quem é Deus contra quem pequei, segundo os seus atributos,comparando-os aos seus contrários em mim: a sua Sabedoria a minha ignorância, a sua Onipotência a minha fraqueza, a sua Justiça a minha iniqüidade, a sua Bondade a minha maldade.

60 - 5º ponto. Exclamação de admiração com intenso afeto, discorrendo por todas as criaturas.Como me têm deixado com vida e conservado nela! Os anjos que são a espada da justiça divina,como me têm suportado, guardado e rezado por mim! Os santos, como têm intercedido e rogadopor mim! E os céus, o sol, a lua, as estrelas, e os elementos, os frutos, as aves, os peixes e osanimais! E a terra como não se abriu para me tragar, criando novos infernos para neles penar parasempre!

61 - Colóquio. Terminarei com um colóquio de misericórdia, ponderando bem e dando graças aDeus nosso Senhor, porque me deu vida até agora, e proporei emenda para o futuro com a sua graça. Pai-nosso.

62 - TERCEIRO EXERCÍCIO - REPETIÇÃO DO PRIMEIRO E SEGUNDO EXERCÍCIO

Com três colóquios.

Depois da oração preparatória e dos dois preâmbulos, repetir o 1º e o 2º exercícios, dando especialatenção e detendo-se nos pontos em que tenha sentido maior consolação ou desolação ou maiorsentimento espiritual.

Farei, em seguida, três colóquios da seguinte maneira:

63 - 1º colóquio. A nossa Senhora, para que me alcance estas três graças de seu Filho e Senhor: 1ª) que sinta interno conhecimento de meus pecados e aborrecimento deles; 2ª) que sinta a desordemdas minhas ações, afim de que, aborrecendo-a, emende-me e me ordene; 3ª) pedir conhecimentodo mundo, para que, aborrecendo-o, aparte de mim as coisas mundanas e vãs. Depois disto rezar uma ave-maria.

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2º colóquio. Pedirei o mesmo ao Filho para que me alcance do Pai as mesmas três graças. Depois disto rezar "Alma de Cristo".

3º colóquio. Pedirei o mesmo ao Pai para que o Senhor eterno me conceda. Terminar com um Pai-nosso.

64 - QUARTO EXERCÍCIO - RESUMO DO TERCEIRO.

Este exercício é um resumo do terceiro, para que a inteligência, sem se afastar do assunto, reflitaatentamente, recordando as verdades contempladas nos exercícios precedentes. Fazer os mesmostrês colóquios.

65 - QUINTO EXERCÍCIO - MEDITAÇÃO DO INFERNO

Compreende, depois da oração preparatória e dois preâmbulos, cinco pontos e um colóquio.

A oração preparatória seja a costumeira.

O 1º preâmbulo é a composição de lugar.

Consiste nesta meditação em ver com os olhos da imaginação o comprimento, a largura e aprofundidade do inferno.

O 2º preâmbulo será pedir a graça que quero. Pedirei sentimento interno da pena que padecem oscondenados, para que, se me esquecer, por minhas faltas, do amor do Senhor eterno, ao menos, otemor das penas me ajude para que não venha a cair em pecado.

66 - 1º Ponto. Verei, com os olhos da imaginação, os grandes fogos e as almas como que emcorpos incandescentes.

67 - 2º Ponto. Escutarei com os ouvidos, prantos, alaridos, gritos, blasfêmias contra Cristo e contratodos os seus santos.

68 - 3º Ponto. Sentirei com o olfato, o cheiro de fumo, enxofre, imundície e podridão.

69 - 4º Ponto. Procurarei com o gosto saborear coisas amargas, assim como lágrimas, tristezas e oremorso(l) da consciência.

70 - 5º Ponto. Tocarei com o sentido do tato essas chamas, sentindo como elas envolvem eabrasam as almas.

71 - Colóquio. Farei um colóquio a Cristo nosso Senhor, trazendo à memória as almas que estãono inferno; umas porque não creram na sua vinda, outras, porque crendo, não procederam segundoos seus mandamentos, dividindo-as em três grupos:

1º grupo, antes da vinda de Cristo;

2º grupo, durante a sua vida e

3º grupo, depois da sua vida neste mundo.

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Dar-lhe-ei graças porque não me deixou cair em nenhum destes grupos, pondo fim a minha vida, e também porque até agora sempre tem tido tanta piedade e misericórdia para comigo. Concluireicom um Pai-nosso.

72 - Nota.

O 1º exercício far-se-á à meia-noite.

O 2º, logo ao levantar pela manhã.

O 3º, antes ou depois da Missa, mas que seja, em qualquer caso, antes do almoço.

O 4º, à hora de vésperas.

O 5º, uma hora antes do jantar. Este horário permanece sempre o mesmo durante as quatrosemanas, com mais ou menos rigor, conforme a idade, as disposições e o temperamentoaconselharem os cinco ou menos exercícios.

73 - ADIÇÕES PARA MELHOR FAZER OS EXERCÍCIOS E PARA MELHOR OEXERCITANTE ENCONTRAR O QUE DESEJA.

1ª Adição. Depois de deitado e antes de adormecer, pensarei pelo espaço de uma Ave-maria, a que horas tenho de me levantar e para quê, e resumirei o exercício que tenho de fazer.

74 - 2ª Adição. Quando acordar, sem me deter em pensamentos que distraem, pensarei logo noassunto de contemplação do exercício da meia-noite, exercitando-me à confusão por meus pecados tão numerosos. Propor-me-ei algumas comparações, como, por exemplo, a de um cavaleiro que seencontrasse diante do seu rei, e de toda a corte, envergonhado e confundido, por haver ofendidoenormemente aquele de quem antes recebera numerosos benefícios e favores.

Do mesmo modo, no segundo exercício, considerar-me-ei como um grande pecador, carregado degrilhões, prestes a comparecer diante do Supremo e Eterno Juiz, tal como os encarcerados e jácondenados à morte comparecem diante do seu juiz temporal.

Com estes pensamentos me irei vestindo, ou com outros semelhantes, conforme a matéria ameditar.

75 - 3ª Adição. A um ou dois passos do lugar onde farei a contemplação ou meditação, ficarei de pé, por espaço de um Pai-nosso, e levantando ao alto o pensamento, considerarei como Deus nosso Senhor me vê etc., e farei um ato de reverência ou de humildade.

76 - 4ª Adição. Começarei a contemplação, ora de joelhos, ora prostrado em terra, ora deitado, orasentado, ora de pé, procurando sempre encontrar aquilo que quero.

Observarei duas coisas:

a 1ª é que se acho o que quero, de joelhos, não mudarei de posição, e, do mesmo modo, seprostrado etc.

A 2ª, no ponto da meditação em que achar o que quero, aí pararei, sem ter ânsia de passar adiante,até que me satisfaça.

77 - 5ª Adição. Acabada a contemplação ou meditação, examinarei por espaço de um quarto dehora, sentado ou passeando, como é que nelas me saí. Se mal, indagarei a causa, e depois de a

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descobrir, me arrependerei, para me corrigir no futuro. E se bem, darei graças a Deus nosso Senhore continuarei a proceder do mesmo modo.

78 - 6ª Adição. Não me deterei em nenhum pensamento capaz de me causar prazer ou alegria,como a lembrança do céu ou da Ressurreição, porque toda consideração de gozo e alegria meimpediria de sentir pena e dor e de derramar lágrimas pelos meus pecados. Pelo contrário,procurarei alimentar o desejo de sentir dor e arrependimento, tendo presente na memória alembrança da morte e do juízo.

79 - 7ª Adição. Para o mesmo efeito, privar-me-ei inteiramente da luz, fechando janelas e portas,quando estiver no quarto, a não ser para rezar (o ofício divino), ler ou tomar a refeição.

80 - 8ª Adição. Abster-me-ei de rir ou de proferir qualquer palavra que provoque o riso.

81 - 9ª Adição. Refrearei os olhos, não os levantando senão para receber ou despedir as pessoascom quem falar.

82 - 10ª Adição. Penitência. Ela pode ser interior e exterior. A penitência interior consiste na dordos próprios pecados, com o firme propósito de nunca mais cometer esses, nem quaisquer outros.

A penitência exterior, fruto da primeira, consiste em se castigar pelos pecados cometidos. Pratica-se principalmente de três modos:

83 - 1º) Com respeito à alimentação. Subtrair o supérfluo não é penitência, mas temperança. Hápenitência quando nos privamos do conveniente. E tanto melhor e maior será a penitência, quantomais nos privarmos, contanto que não se prejudique a pessoa, nem se siga nenhuma enfermidadenotável.

84 - 2º) Com respeito ao modo de dormir. Ainda aqui, não é penitência subtrair do supérfluo emcoisas delicadas e moles. Mas há penitência quando, no modo de dormir, tira-se alguma coisa do que convém. E quanto mais tirarmos tanto melhor é a penitência, contanto que não se prejudique a pessoa, nem se siga nenhuma doença notável.

Do sono conveniente, porém, não se deve tirar nada, a não ser que se tenha o mau hábito de dormirdemasiado, para assim se chegar a uma justa medida.

85 - 3º) Castigando a carne, isto é, causando-lhe dor sensível, por meio de cilícios ou cadeias deferro sobre a pele, flagelando-se, ferindo-se ou praticando outros gêneros de austeridades.

86 - Notas. O que parece mais conveniente e prudente é que a dor seja sensível na carne, mas não penetre nos ossos, de forma que a penitência cause dor, mas não enfermidade. E assim, parecepreferível flagelar-se com cordas finas que magoem superficialmente, a fazê-lo de outro modo, quepossa produzir lesões internas notáveis.

87 - 1ª nota. As penitências exteriores praticam-se por três motivos principais:

O primeiro, para satisfazer pelos pecados passados. O segundo, para vencer-se a si mesmo, isto é,para obrigar a sensualidade a obedecer à razão, e as tendências inferiores estarem mais sujeitas àssuperiores.

O terceiro, para solicitar e obter de Deus alguma graça ou dom que a pessoa quer e deseja, por exemplo, a de sentir contrição íntima de seus pecados, de os chorar amargamente, de derramarlágrimas pelas penas e dores que Cristo nosso Senhor padeceu na sua paixão, ou enfim, para achara solução de alguma dúvida em que se encontra.

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88 - 2ª nota. A primeira e a segunda adições só dizem respeito aos exercícios da meia-noite e damanhã, e não aos que fazem em outros tempos. E a quarta adição não se fará nunca na igreja, empresença de outras pessoas, mas unicamente quando se está só, por exemplo, na própria casa, etc.

89 - 3ª nota. Quando o exercitante ainda não obteve o que deseja, como lágrimas, consolações,etc., é muitas vezes vantajoso introduzir alguma mudança na alimentação, no sono, e em outrasespécies de penitências. Varie, pois, fazendo penitência dois ou três dias, e outros dois ou três, não.Porque a alguns convém fazer mais penitência, e a outros, menos. Muitas vezes, também,omitimos as práticas de penitência, por causa do nosso comodismo, ou por um juízo err&orcic;neoque nos faz crer que não poderemos suportá-las sem dano notável para a saúde.

Outras vezes, pelo contrário, fazemos demasiada penitência, persuadindo-nos de que a podemossuportar. E como Deus nosso Senhor conhece infinitamente melhor a nossa natureza, muitas vezes,nas tais mudanças, dá-nos a sentir o que nos convém.

90 - 4ª nota. O exame particular faça-se para corrigir defeitos e negligências nos exercícios eadições. E do mesmo modo na 2ª, 3ª e 4ª semanas.

SEGUNDA SEMANA

91 - O CHAMAMENTO DO REI TEMPORAL AJUDA A CONTEMPLAR A VIDA DOREI ETERNO

A oração preparatória como de costume.

O 1º preâmbulo é a composição do lugar.

Consistirá, aqui, em ver, com os olhos da imaginação, as sinagogas, cidades e aldeias que Cristo nosso Senhor percorreu a pregar.

O 2º preâmbulo consiste em pedir a graça que quero. Será, aqui, pedir a Nosso Senhor a graça de não ser surdo ao seu chamamento, mas pronto e diligente em cumprir a sua santíssima vontade.

Primeira Parte

92 - 1º ponto. Representar-me-ei um rei humano, escolhido pela mão de Deus nosso Senhor, aquem prestam reverência e obedecem todos os príncipes e todos os homens cristãos.

93 - 2º ponto. Verei como este rei fala a todos os seus, dizendo: "É minha vontade conquistar todaa terra de infiéis. Portanto, quem quiser vir comigo, há de contentar-se de comer como eu, etambém com beber e vestir como eu, etc., do mesmo modo há de trabalhar comigo durante o dia, e vigiar durante a noite, etc., para que depois tenha parte comigo na vitória, assim como a teve nostrabalhos".

94 - 3º ponto. Considerarei o que devem responder os bons súditos a rei tão generoso e tãohumano. E, por conseguinte, se algum não aceitasse a proposta de um tal rei, quão digno seria deser desprezado por todo mundo e tido por perverso cavaleiro.

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95 - Segunda Parte

A segunda parte deste exercício consiste em aplicar a Cristo nosso Senhor os três pontos daparábola precedente.

1º ponto. Se considerarmos o chamamento do rei temporal a seus súditos, quanto mais digno de consideração é contemplar Cristo nosso Senhor, Rei eterno, e diante dEle o universo inteiro e cadahomem em particular, a quem chama com este convite: "A minha vontade é conquistar todo o mundo e todos os inimigos, e assim entrar na glóa de meu Pai. Portanto, quem quiser vir comigodeve trabalhar comigo, a fim de que, seguindo-me nos trabalhos, acompanhe-me também naglória".

96 - 2º ponto. Considerarei que todos os homens dotados de razão e de bom senso se oferecerãototalmente ao trabalho.

97 - 3º ponto. Os que quiserem aspirar a mais e assinalar-se em todo o serviço do seu Rei eterno eSenhor universal, não somente oferecerão as suas pessoas ao trabalho, mas ainda, agindo contra a sua própria sensualidade e contra o seu amor carnal e mundano, farão oblações de maior estima evalor dizendo:

98 - "Eterno Senhor de todas as coisas, eu faço a minha oblação com o vosso favor e ajuda, dianteda vossa infinita bondade, e diante da vossa Mãe gloriosa e de todos os santos e santas da cortecelestial. Eu quero e desejo e é minha determinação deliberada, contanto que seja vosso maiorserviço e louvor, imitar-Vos em passar por todas as injúrias e todas as humilhações e toda apobreza, assim atual como espiritual, se Vossa Santíssima Majestade me quiser escolher e receberem tal vida e estado".

99 - 1ª nota. Este exercício far-se-á duas vezes neste dia: de manhã depois de levantar, e uma horaantes do almoço ou do jantar.

100 - 2ª nota. Durante a segunda semana e as seguintes, será muito útil ler, por alguns momentos,passagens da Imitação de Cristo, ou dos evangelhos e vidas de santos.

101 - PRIMEIRO DIA

PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO - A ENCARNAÇÃO

Compreende a oração preparatória, três preâmbulos, três pontos e um colóquio.

A oração preparatória costumeira.

102 - O 1º preâmbulo consiste em recordar a história do mistério que se deve contemplar.

Aqui recordarei como as Três Pessoas divinas, lançando os olhos sobre toda a redondeza da terracheia de homens, e vendo como todos se precipitavam no inferno, decretaram em sua eternidadeque a segunda Pessoa da SS. Trindade se fizesse homem para salvar o gênero humano, e assim,chegada a plenitude dos tempos, o Arcanjo S. Gabriel foi enviado a N. Senhora (262).

103 - O 2º preâmbulo é a composição do lugar.

Aqui será ver a imensa extensão e redondeza da terra, povoada de tantas e tão diversas gentes.Depois, em particular a casa e os aposentos de N. Senhora, na cidade de Nazaré, na província daGaliléia.

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104 - O 3º preâmbulo é pedir o que quero.

Nesta contemplação pedirei o conhecimento interno do Senhor que por mim se fez homem, paraque mais o ame e o siga.

105 - Nota. Nesta semana e nas seguintes, deve-se fazer a mesma oração preparatória como foidito no princípio (46). O mesmo se diga dos três preâmbulos, modificando-os, porém, conforme oassunto que se medita.

106 - 1º ponto. Verei sucessivamente as pessoas. Primeiramente os homens que vivem na face daterra, tão diversos nos trajes e nas atitudes: uns brancos, outros negros; uns em paz, outros emguerra; uns chorando, outros rindo; uns com saúde, outros sem ela; uns nascendo, outrosmorrendo, etc.

Em segundo lugar, verei e considerarei como as Pessoas divinas, assentadas no trono de sua divina Majestade, contemplam na vasta superfície da terra todos os povos mergulhados em tão profundacegueira, como morrem e descem ao inferno.

Em terceiro lugar, verei N. Senhora e o Anjo que a saúda.

Depois refletirei, para tirar desta cena algum proveito.

107 - 2º ponto. Escutarei as palavras. Primeiro as dos homens na face da terra, o que dizem uns aosoutros, como juram, blasfemam, etc. Depois o que dizem as Pessoas divinas, a saber: "Façamos aredenção do gênero humano", etc.

Finalmente as palavras do Anjo e de N. Senhora.

E refletirei para tirar proveito de tudo quanto ouvi.

108 - 3º ponto. Considerarei o que fazem os homens na face da terra, ferindo, matando e caindo no inferno, etc.

Depois o que fazem as Pessoas divinas, a saber, como realizam a Santíssima Encarnação, etc.

Enfim o que fazem o Anjo e N. Senhora, a saber, como o Anjo se desempenha da sua missão deembaixador, e N. Senhora se humilha e dá graças à divina Majestade. Em seguida refletirei paratirar de cada um destes fatos algum proveito.

109 - Colóquio. Por fim farei um colóquio, pensando no que devo dizer às três Pessoas divinas, ou ao Verbo Encarnado, ou à Sua Mãe e Senhora nossa, pedindo, conforme o que sinto em mim, agraça de seguir e imitar melhor Nosso Senhor recém-encarnado. Pai-nosso.

110 - SEGUNDA CONTEMPLAÇÃO - A NATIVIDADE

A oração preparatória habitual.

111 - O 1º preâmbulo é a história do mistério.

Será aqui como N. Senhora, grávida de quase nove meses, partiu de Nazaré, sentada (como se pode piedosamente meditar) numa burrinha, acompanhada de José e de uma criada, levando um boi, para ir a Belém pagar o tributo que César lançou por toda aquela região (264).

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112 - O 2º preâmbulo é a composição do lugar.

Nesta contemplação verei com os olhos da imaginação o caminho de Nazaré a Belém,considerando a sua extensão e largura, se é plano, se segue por vales ou por encostas. Do mesmomodo verei o lugar ou a gruta onde nasce o Salvador: se é grande ou pequena, se é alta ou baixa, ecomo está preparada.

113 - O 3º preâmbulo será o mesmo, e na mesma forma que na contemplação precedente.

114 - 1º ponto. Verei as pessoas: N. Senhora, S. José, a criada e o Menino Jesus, quando tivernascido. Fazendo-me semelhante a um pobrezinho e pequeno escravo indigno, ficarei em sua presença - como se ali estivesse presente - olhando-os, contemplando-os e servindo-os em suas necessidades, com todo o acatamento e reverência possível.

Refletirei, sem seguida, para tirar algum proveito.

115 - 2º ponto. Hei de olhar, advertir e contemplar o que dizem. E refletirei para tirar algumproveito.

116 - 3º ponto. Olharei e considerarei o que fazem, por exemplo, como viajam, como trabalhampara que o Senhor venha a nascer em extrema pobreza, e depois de tantos trabalhos, depois de terpadecido fome, sede, calor, frio, injúrias e afrontas, venha finalmente a morrer na cruz, e tudo istopor mim!

Em seguida refletirei para tirar algum proveito espiritual.

117 - Colóquio. Terminarei com um colóquio, como na contemplação precedente, e recitarei umPai-nosso.

118 - TERCEIRA CONTEMPLAÇÃO - REPETIÇÃO DO 1º E DO 2º EXERCÍCIO

Depois da oração preparatória e dos três preâmbulos, far-se-á a repetição do primeiro e do segundoexercício, insistindo sempre nas passagens principais, em cuja meditação o exercitante encontroualgum conhecimento, consolação ou desolação. E terminará do mesmo modo por um colóquio epela recitação do Pai-nosso.

119 - Nesta repetição e em todas as seguintes, guardar-se-á o mesmo método que se observa nasrepetições da primeira semana, mudando a matéria e conservando a forma.

120 - QUARTA CONTEMPLAÇÃO - REPETIÇÃO DO 1º E DO 2º EXERCÍCIO

Como se fez na repetição precedente.

121 - QUINTA - APLICAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS SOBRE A 1ª E A 2ª CONTEMPLAÇÃO

Depois da oração preparatória e dos três preâmbulos, será útil exercitar os cinco sentidos da imaginação sobre a 1ª e a 2ª contemplação, da maneira seguinte:

122 - 1º ponto. Verei com os olhos da imaginação, as pessoas, considerando e contemplando emparticular as circunstâncias em que se encontram, procurando tirar algum proveito.

123 - 2º ponto. Pelo sentido da audição escutarei o que dizem ou podem dizer, e refletindo comigomesmo, procurarei tirar algum proveito.

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124 - 3º ponto. Pelo sentido do olfato e do gosto, hei de sentir e saborear a suavidade e doçurainfinitas da divindade, da alma, de suas virtudes e de tudo o mais, conforme for a pessoa que se contempla. E refletindo comigo mesmo, procurarei tirar algum proveito.

125 - 4º ponto. Exercitarei o sentido do tato, abraçando, por exemplo, e beijando os lugares queestas pessoas tocaram com os pés, ou onde se detiveram, procurando sempre tirar algum proveito.

126 - Colóquio. Terminarei com um colóquio como na 1ª e na 2ª contemplação, rezando por fimum Pai-nosso.

127 - 1ª nota. Durante esta semana e as seguintes, devo ler só o mistério que corresponde à contemplação que no momento tenho de fazer. Não devo ler nenhum outro de que não tenha de meocupar neste dia ou nesta hora, para que a consideração de um não venha prejudicar a de outro.

128 - 2ª nota. O primeiro exercício da Encarnação se fará à meia-noite. O segundo, ao amanhecer.O terceiro, à hora da missa. O quarto, à hora de vésperas. E o quinto, antes da refeição da noite.Cada um destes cinco exercícios durará uma hora. Esta é a ordem que se seguirá daqui por diante.

129 - 3ª nota. Se o exercitante for idoso ou fraco de saúde, ou embora robusto, tenha-se debilitadode qualquer forma pelos exercícios da primeira semana, é melhor que, nesta segunda semana, nãose levante, ao menos algumas vezes, à meia-noite. Faça então uma contemplação pela manhã,outra à hora da missa, outra antes do almoço, uma repetição destes três exercícios à hora devésperas e a aplicação dos sentidos antes da ceia.

130 - 4ª nota. Nesta segunda semana, entre as dez adições indicadas na primeira semana, devemmodificar-se a 2ª, a 6ª, a 7ª e em parte a 10ª.

Quanto à segunda: assim que despertar, porei diante dos olhos a contemplação que vou fazer,desejando conhecer melhor o Verbo eterno encarnado, para mais fielmente o servir e seguir.

Quanto à sexta: repassarei freqüentemente pela memória a vida e os mistérios de Jesus Cristo nosso Senhor, desde a Encarnação até o mistério que presentemente contemplo.

Quanto à sétima: escolherei a luz ou a escuridão, aproveitar-me-ei do bom ou do mau tempo,conforme sentir que isso me aproveitará e ajudará a encontrar o que desejo.

Quanto à décima: o exercitante deve conformar-se com a natureza dos mistérios que contempla.Porque uns pedem penitência e outros não.

As dez adições serão, pois, observadas com muito cuidado.

131 - 5ª nota. Em todos os exercícios, exceto no da meia-noite e no da manhã, far-se-á o equivalente da segunda adição (74) desta maneira: chegada a hora do exercício que tenho de fazer,antes de o começar, considerarei onde vou e diante de quem vou comparecer, e recordareibrevemente o exercício. Em seguida, depois de cumprida a terceira adição (75), começarei oexercício.

132 - SEGUNDO DIA

TOMAR PARA 1ª E 2ª CONTEMPLAÇÃO A APRESENTAÇÃO NO TEMPLO (268) E A FUGA PARA O EGITO, COMO PARA O EXÍLIO (269)

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Sobre estas duas contemplações far-se-ão duas repetições, e a aplicação dos sentidos, como no diaprecedente.

133 - Nota. Embora o exercitante se sinta forte e bem-disposto, ser-lhe-á útil algumas vezes, paramais eficazmente encontrar o que deseja, modificar o seu horário, desde o segundo dia até o quartoinclusive. Poderá fazer só uma contemplação ao amanhecer, e outra à hora da missa. Repeti-las-á à hora de vésperas, e antes do jantar fará uma aplicação dos sentidos.

134 - TERCEIRO DIA

COMO O MENINO JESUS ERA OBEDIENTE A SEUS PAIS EM NAZARÉ (271) E COMODEPOIS O ACHARAM NO TEMPLO (272)

Far-se-ão do mesmo modo as duas repetições e a aplicação dos cinco sentidos.

135 - PREÂMBULO PARA CONSIDERAR OS ESTADOS DE VIDA

Acabamos de considerar o exemplo que Cristo nosso Senhor nos deu para o primeiro estado, queconsiste na observância dos mandamentos, quando vivia na obediência a seus pais. Do mesmomodo, o exemplo para o segundo estado, o da perfeição evangélica, quando ficou no Templo,deixando seu pai adotivo e sua mãe para se ocupar no serviço de seu eterno Pai. Começaremosagora, ao mesmo tempo que contemplamos a sua vida, a procurar e a perguntar-lhe em que estadoou gênero de vida quer sua divina Majestade servir-se de nós.

Como introdução, veremos no primeiro dos exercícios seguintes, de um lado, a intenção de Cristonosso Senhor, e do outro, a do inimigo da natureza humana, e como nos devemos dispor parachegar à perfeição em qualquer estado ou gênero de vida que Deus nosso Senhor oferecer à nossaescolha.

136 - QUARTO DIA

MEDITAÇÃO DAS DUAS BANDEIRAS UMA DE CRISTO, CHEFE SUPREMO E SENHORDE TODOS NÓS, A OUTRA DE LÚCIFER, INIMIGO MORTAL DE NOSSA NATUREZAHUMANA

A oração preparatória habitual.

137 - O 1º preâmbulo é recordar a história. Será aqui como Cristo chama e quer a todos os homens sob a sua bandeira. E Lúcifer, ao contrário, debaixo da sua.

138 - O 2º preâmbulo é a composição do lugar.

Será aqui ver um grande campo em toda aquela região de Jerusalém, onde o supremo chefe dos bons é Cristo, nosso Senhor. Outro campo, na região de Babilônia, onde o caudilho dos inimigos é Lúcifer.

139 - O 3º preâmbulo consiste em pedir o que quero.

Neste exercício, será pedir conhecimento dos enganos do mau caudilho e auxílio para deles medefender; e conhecimento da verdadeira vida que revela o Supremo e o verdadeiro chefe, com agraça de o imitar.

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Primeira Parte140 - 1º ponto. Imaginarei o caudilho de todos os inimigos nesse vasto campo de Babilônia, comoque sentado num grande trono de fogo e de fumo, com aspecto hediondo e terrível.

141 - 2º ponto. Considerarei como convoca inumeráveis demônios e os dispersa, uns por umacidade, outros por outra, e assim por todo o mundo, sem esquecer províncias, nem lugar algum,nem estado de vida, nem pessoa alguma em particular.

142 - 3º ponto. Considerarei o discurso que lhes faz. Como os admoesta a lançar redes e correntes.Primeiro, hão de tentar com cobiça de riquezas, como costuma fazer ordinariamente, para quecheguem à honra vã do mundo, e depois à grande soberba. De maneira que o 1º grau de tentaçãoseja de riquezas, o 2º de honra, o 3º de soberba, e destes três graus induz a todos os outros vícios.

Segunda Parte143 - Do mesmo modo, em contraposição se há de imaginar a respeito do supremo e verdadeirochefe que é Cristo nosso Senhor.

144 - 1º ponto. Considerarei como Cristo nosso Senhor se apresenta numa grande planície dessa região de Jerusalém, num lugar humilde, belo e gracioso.

145 - 2º ponto. Considerarei como o Senhor do mundo inteiro escolhe tantas pessoas, apóstolos,discípulos, etc., e como os envia por todo o universo a espalhar a sua sagrada doutrina entre oshomens de todos os estados e condições.

146 - 3º ponto. Escutarei o discurso que Cristo nosso Senhor dirige a todos os seus servos eamigos, que envia a esta empresa. Recomenda-lhes que queiram ajudar a todos os homens,trazendo-os primeiro à luz suma pobreza espiritual, e não menos à pobreza atual, se sua divina Majestade aprouver elegê-los para esse estado. Segundo, ao desejo de opróbios e desprezos,porque destas duas coisas nasce a humildade. Há pois, três graus:1º) a pobreza oposta às riquezas,2º) os opróbios ou desprezos opostos à honra mundana,3º) a humildade oposta à soberba. Por estes três graus induzirão os homens a todas as outrasvirtudes.147 - 1º Colóquio. Um colóquio com N. Senhora para me alcançar graça de seu Filho e Senhor, para que eu seja recebido sob a sua bandeira:1º) em suma pobreza espiritual, e, se sua divina Majestade for servida e me quiser escolher,também em pobreza atual;2º) em passar opróbios e injúrias para nelas mais o imitar, contanto que as possa levar, sem pecadode nenhuma pessoa nem desprazer de sua divina Majestade. A seguir, uma Ave-maria.

2º Colóquio. Pedir a mesma graça ao Filho, para que ma alcance do Pai. Depois rezar Alma deCristo.3º Colóquio. Pedir a mesma graça ao Pai, para que ele ma conceda. Dizer um Pai-nosso.

148 - Nota. Este exercício se fará à meia-noite, e depois, outra vez, pela manhã. E se farão duasrepetições deste mesmo exercício, à hora da missa e à hora de vésperas, acabando sempre com ostrês colóquios, a Nossa Senhora, ao Filho e ao Pai.

O exercício seguinte das "três classes" se fará antes do jantar.

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149 - NO MESMO QUARTO DIA MEDITAÇÃO DAS TRÊS CLASSES DE HOMENSPARA ABRAÇAR O QUE É MELHOR

A oração preparatória habitual.

150 - O 1º preâmbulo é a história de três classes de homens. Cada uma delas adquiriu dez milducados não pura e devidamente por amor de Deus. Querem todos eles salvar-se e achar em paz aDeus nosso Senhor, tirando de si o peso e impedimento que têm para isso na afeição à quantiaadquirida.

151 - O 2º preâmbulo é a composição vendo o lugar.

Será aqui ver-me a mim mesmo, como estou na presença de Deus nosso Senhor, e de todos os seus Santos, para desejar e conhecer o que for mais agradável à sua divina Bondade.

152 - O 3º preâmbulo consiste em pedir o que quero.

Aqui suplicarei a graça para escolher o que mais contribuir para a glória de sua divina Majestade e salvação de minha alma.

153 - A primeira classe quereria deixar o afeto que tem pela cousa adquirida, para achar em paz aDeus nosso Senhor, e poder assim se salvar. Mas não emprega meio algum até a hora da morte.

154 - A segunda classe quer acabar com este apego, mas com a condição de conservar consigo acousa adquirida de modo que Deus se conforme com o que ela quer. E não se resolve a abandonaro que possui para ir a Deus, embora este fosse para ela o melhor estado.

155 - A terceira classe quer também libertar-se deste apego. E de tal modo o quer que não seimporta com conservar ou não a quantia adquirida. Deseja unicamente guardá-la ou não, conformeo querer que Deus nosso Senhor lhe der, e conforme o que lhe parecer preferível para o serviço elouvor de sua divina Majestade. Entretanto determina fazer conta de que tudo abandona decoração, esforçando-se por não desejar nem uma coisa nem outra se não a mover unicamente oserviço de Deus nosso Senhor. Assim somente o desejo de melhor poder servir a Deus nosso Senhor a poderá decidir a reter este dinheiro ou a despojar-se dele.

156 - Três colóquios. Fazer os mesmos três colóquios, que se fizeram na contemplação precedentedas duas bandeiras.

157 - Nota. É de notar que, quando nós sentimos afeição ou repugnância contra a pobreza atual,quando não estamos indiferentes à pobreza ou à riqueza, muito ajuda, para extinguir essa afeiçãodesordenada, pedir nos colóquios, apesar da repugnância da natureza, que o Senhor nos escolhapara a pobreza atual. Que nós assim queremos, pedimos e suplicamos, contanto que isso sejaserviço e louvor de sua divina Bondade.

158 - QUINTO DIA

CONTEMPLAÇÃO A PARTIR DE CRISTO NOSSO SENHOR DE NAZARÉ PARA ORIO JORDÃO, E O SEU BATISMO

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159 - 1ª nota. Esta contemplação se fará a primeira vez à meia-noite, a segunda pela manhã. Far-se-ão depois duas repetições, uma à hora da missa, outra à hora de vésperas. E por fim a aplicaçãodos sentidos antes do jantar.

Antes de cada um destes exercícios se há de fazer a oração preparatória habitual, e os trêspreâmbulos, conforme se explicou na contemplação da Encarnação e do Nascimento . E terminarcom os três colóquios como nas três classes, observando-se a nota que segue aquele exercício.

160 - 2ª nota. O exame particular, depois do almoço e depois do jantar, se fará sobre as faltas e negligências e adições deste dia, e assim também nos dias seguintes.

161 - SEXTO DIA

CONTEMPLAÇÃO NOSSO SENHOR INDO AO RIO JORDÃO ATÉ O DESERTO,INCLUSIVE.

Seguir em tudo a mesma forma do quinto dia.

SÉTIMO DIA - SANTO ANDRÉ E OUTROS SEGUIRAM A CRISTO NOSSO SENHOR

OITAVO DIA - O SERMÃO DA MONTANHA - AS OITO BEM-AVENTURANÇAS

NONO DIA - A APARIÇÃO DE CRISTO NOSSO SENHOR A SEUS DISCÍPULOS SOBREAS ONDAS DO MAR

DÉCIMO DIA - PREGAÇÃO DO SENHOR NO TEMPLO

UNDÉCIMO DIA - A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

DUODÉCIMO DIA - O DIA DE RAMOS

162 - 1ª nota. Nesta segunda semana, conforme o tempo que cada um quiser empregar nascontemplações ou conforme o proveito que tirar, pode-se prolongar ou abreviar [a semana].

Se prolongar, tome os mistérios da Visitação de N. Senhora a Santa Isabel, os pastores, a circuncisão do Menino Jesus e os três reis, e ainda outros.

E se abreviar, poderá ainda omitir dos que estão assinalados. Porque isto foi só para dar umaintrodução e método, para depois contemplar melhor e mais completamente.

163 - 2ª nota. A matéria das eleições começará a tratar-se desde a contemplação de Nazaré ao Jordão, isto é, desde o quinto dia, inclusive, conforme se diz a seguir.

164 - 3ª nota. Antes de entrar nas eleições, para o exercitante se afeiçoar bem à doutrina de Cristo nosso Senhor, será muito útil considerar atentamente os seguintes "três graus de humildade",refletindo sobre eles, de tempos em tempos, por todo o dia, e fazendo os colóquios, como a seguirse dirá.

TRÊS GRAUS DE HUMILDADE165 - O primeiro grau de humildade é necessário para a salvação eterna.

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Consiste em me abater e humilhar o mais possível para obedecer em tudo à lei de Deus nosso Senhor. Ainda que me fizessem senhor de todas as coisas criadas neste mundo, ou tivesse de perder a vida temporal, eu não pensaria em transgredir um mandamento divino ou humano que me obrigasse sob pecado mortal.

166 - O segundo grau de humildade é mais perfeito que o primeiro.

Consiste num grau de indiferença tal da minha vontade, que não quero nem me inclino mais às riquezas do que à pobreza, às honras do que à desonra, a desejar uma vida longa do que uma vidabreve, supondo que tudo isto seja de igual glória para Deus nosso Senhor e de igual vantagem para a salvação da minha alma. E que assim, nem para ganhar todo o mundo, nem para salvar a própriavida, eu tenha a deliberar se cometerei ou não um pecado venial.

167 - O terceiro grau de humildade é o mais perfeito.

Inclui os dois primeiros e consiste no seguinte: sendo igual o louvor e glória da divina Majestade,para imitar e parecer-me mais atualmente com Cristo nosso Senhor, eu quero e escolho maispobreza com Cristo pobre que riqueza; injúrias com Cristo cheio delas que honras; e desejo maisser estimado por ignorante e louco por Cristo, que primeiro foi tratado assim, do que por sábio ou prudente neste mundo.

168 - Nota. Para quem deseja alcançar o terceiro grau de humildade será muito útil fazer os trêscolóquios da meditação das duas bandeiras (147), pedindo a Nosso Senhor queira chamá-lo a estaterceira humildade, maior e melhor, para mais fielmente o imitar e servir, se isso for igual oumaior serviço e louvor de sua divina Majestade.

169 - PARA FAZER ELEIÇÃOPREÂMBULO

Em toda boa eleição, quanto de nós dependa, a nossa intenção deve ser simples, olhando somenteo fim para que fui criado, a saber, o louvor de Deus nosso Senhor e a salvação da minha alma.Portanto, qualquer que seja o objeto da minha eleição, deve ser tal que me ajude a obter este fim,não subordinando ou ordenando o fim ao meio, mas o meio ao fim.

Acontece que muitos elegem primeiro casar-se, o que é um meio, e depois servir nesse estado a Deus nosso Senhor, o que é o fim. Assim também há outros que primeiro querem ter benefícioseclesiásticos e depois servir a Deus neles. Tais pessoas não vão diretamente a Deus, mas queremque Ele venha diretamente às suas afeições desordenadas. E por conseguinte fazem do fim meio, edaquilo que é meio fim. Põem em último lugar aquilo que primeiramente deveriam ter vista.Porque o primeiro objetivo das nossas intenções deve ser servir a Deus, que é o nosso fim, e sódepois aceitar um benefício ou casar-se, se mais nos convém, como meios para o fim.

Nenhum motivo deve portanto determinar-me a escolher ou rejeitar tais meios, senão o serviço elouvor de Deus nosso Senhor e a salvação eterna da minha alma.

170 - ESCLARECIMENTOS SOBRE AS MATÉRIAS DE QUE SE DEVE FAZER A ELEIÇÃO

Compreende quatro pontos e uma nota.

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1º ponto. Todas as coisas, sobre as quais pretendemos fazer uma eleição, devem ser indiferentes ouboas em si mesmas e conformes à santa Madre Igreja hierárquica e não más nem contrárias a ela.

171 - 2º ponto. Há certas coisas que caem sob o âmbito de uma eleição imutável, como o são o sacerdócio ou o casamento, etc. E há outras que podem ser objeto de uma eleição mutável, comoaceitar ou renunciar a benefícios eclesiásticos ou a bens temporais.

172 - 3º ponto. Quando se fez uma eleição de natureza imutável como exemplo para o sacerdócioou matrimônio, etc., não há mais que escolher, porque é irrevogável.

Note-se apenas que se alguém não fez uma eleição como devia, por motivos retos, sem se moverpor motivos desordenados, deve, arrependido, procurar viver bem a sua eleição. Esta eleição nãofoi ao que parece uma vocação divina, porque foi desordenada e oblíqua. Há muitas pessoas que seenganam tomando como vocação divina uma eleição oblíqua e defeituosa. A vocação divina ésempre pura e limpa, sem mistura de motivos naturais nem de afeição desordenada alguma.

173 - 4º ponto. Se alguém, devida e ordenadamente, fez eleição de coisas que são objeto de eleiçãomutável, sem ceder à carne e ao mundo, não tem motivo para fazer nova eleição, mas deveaperfeiçoar-se quanto puder na que escolheu.

174 - Nota. Se a eleição mutável não se fez com intenção reta e de maneira bem-ordenada, será deproveito fazê-la agora devidamente, se o exercitante deseja produzir frutos insignes e agradáveis aDeus nosso Senhor.

175 - TRÊS TEMPOS EM QUE SE PODE FAZER UMA BOA E SÃ ELEIÇÃO

O 1º tempo é aquele em que Deus nosso Senhor move e atrai de tal modo a vontade, que, semduvidar, nem poder duvidar, a alma fiel segue o caminho que Ele lhe mostra. Assim fizeram a S.Paulo e S. Mateus ao seguirem a Cristo nosso Senhor.

176 - O 2º tempo é aquele em que se adquire bastante clareza e conhecimento através daexperiência de consolações e desolações, bem como experiência do discernimento dos váriosespíritos (313-336).

177 - O 3º tempo é um tempo tranqüilo.

O homem considerando, primeiro, para que é que nasceu, isto é, para louvar a Deus nosso Senhor e salvar a sua alma, e desejando isto, escolhe, como meio, um estado ou gênero de vida entre osaprovados pela Igreja a fim de ser ajudado no serviço a seu Senhor e na salvação de sua alma.

Chamo tempo tranqüilo àquele em que a alma não é agitada por diversos espíritos, e usa das suasportências naturais livre e tranqüilamente.

178 - Se no 1º ou 2º tempo não se fez eleição, seguem-se dois modos para fazê-la, conforme este3º tempo.

PRIMEIRO MODOPARA FAZER UMA BOA E SÃ ELEIÇÃO

Compreende seis pontos1º ponto. Consiste em pôr diante de mim o objeto da eleição que pretendo fazer, por exemplo, umemprego ou benefício que posso aceitar ou recusar, ou qualquer outra coisa que caia sob o âmbitode uma eleição mutável.

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179 - 2º ponto. Devo ter bem presente o fim para que fui criado, a saber: louvar a Deus nossoSenhor e salvar a minha alma. Devo além disso permanecer numa inteira indiferença, sem nenhuma afeição desordenada, de forma que não esteja mais inclinado ou afeiçoado a escolher oobjeto proposto do que a deixá-lo, ou mais a deixá-lo do que a escolhê-lo, achando-me emequilíbrio, como o fiel de uma balança, a fim de seguir aquilo que sentir ser para maior glória elouvor de Deus nosso Senhor e a salvação da minha alma.

180 - 3º ponto. Pedirei a Deus nosso Senhor se digne mover-me a vontade e pôr na minha alma oque devo fazer quanto ao objeto proposto para sua maior glória e louvor, discorrendo bem efielmente com o meu entendimento e escolhendo conforme à sua santíssima vontade e beneplácito.

181 - 4º ponto. Considerarei, refletindo, por uma parte, quantas vantagens ou utilidades devemresultar para mim da aceitação deste emprego ou deste benefício, com relação unicamente aolouvor de Deus nosso Senhor e à salvação da minha alma. Por outra, os inconvenientes e riscos aque me exporei com essa mesma aceitação.

Procederei do mesmo modo quanto à hipótese contrária, examinando as vantagens e utilidades,bem como os inconvenientes em não os aceitar.

182 - 5º ponto. Depois de ter assim refletido e considerado o objeto proposto, sob todos os seus aspectos, examinarei para que lado mais se inclina a razão. E assim, guiado pela moção da razão e não por qualquer moção da sensibilidade, farei a escolha sobre o objeto proposto.

183 - 6º ponto. Terminada assim a eleição ou deliberação, deve o que a fez colocar-se com toda adiligência em oração diante de Deus nosso Senhor, e oferecer-lhe a decisão tomada, para que suadivina Majestade se digne aceitá-la e confirmá-la, se ela for para seu maior serviço e louvor.

184 - SEGUNDO MODO

PARA FAZER UMA BOA E SÃ ELEIÇÃO

Compreende quatro regras e uma nota

1ª regra. O amor que me leva e determina a escolher tal coisa deve vir do alto, do amor do mesmoDeus. Devo portanto, antes da eleição, verificar se o amor maior ou menor que sinto por ela tempor único motivo o meu Criador e Senhor.

185 - 2ª regra. Imaginarei diante de mim um homem a quem nunca vi, nem conheci e a quemdesejo toda a perfeição. E pensarei que conselho lhe daria que fizesse ou escolhesse para maiorglória de Deus nosso Senhor e maior perfeição de sua alma. E procedendo do mesmo modo nomeu caso, tomarei para mim a regra que fixei para o outro.

186 - 3ª regra. Considerarei, como se estivesse no momento da morte, de que maneira e com que cuidado eu desejaria ter então feito esta eleição. E fá-la-ei agora, regulando-me pelo que naquelahora quereria ter feito.

187 - 4ª regra. Considerarei atentamente como estarei no dia do juízo. E pensarei o que é que eudesejaria então ter deliberado acerca deste assunto. Que eu siga agora a regra que desejaria entãoter seguido, para que naquele dia possa inundar-me de gozo e contentamento.

188 - Nota. Observadas as mencionadas regras para minha salvação e tranqüilidade eterna, farei aminha eleição e oblação a Deus nosso Senhor, conforme ao 6º ponto do primeiro modo de eleição.

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189 - PARA CORRIGIR E REFORMAR A PRÓPRIA VIDA E ESTADO

Com referência aos que ocupam cargo eclesiástico ou estão casados (quer possuam muitos benstemporais, quer não), deve-se notar o seguinte: quando não houver oportunidade ou vontade bemfirme para eleger as coisas possíveis de eleição mutável, aproveita muito, em lugar de fazereleição, indicar a maneira e o método para corrigir e reformar a própria vida e estado, a saber,ordenando o seu ser, vida e estado, para glória e louvor de Deus nosso Senhor e salvação de suaalma.

Para chegar a este fim, deve-se, com o auxílio dos exercícios e modos de eleição, expostos acima,considerar diligentemente que tipo de casa e número de empregados deve ter, como a deve reger egovernar, como os deve ensinar com a palavra e exemplo. Do mesmo modo, de seus bens, quantodeve tomar para sua casa e familiares e quanto para distribuir aos pobres e outras obras pias, nãoquerendo nem buscando outra coisa, senão em tudo e por tudo, o maior louvor e glória de Deus nosso Senhor. Porque cada um deve persuadir-se que na vida espiritual tanto mais aproveitaráquanto mais sair do seu próprio amor, querer e interesse.

TERCEIRA SEMANA

190 - PRIMEIRO DIA

PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO

À MEIA-NOITE

CRISTO NOSSO SENHOR VAI DE BETÂNIA A JERUSALÉM PARA A ÚLTIMA CEIA,INCLUSIVE

Compreende a oração preparatória, três preâmbulos, seis pontos e um colóquio.

A oração preparatória habitual.

191 - O 1º preâmbulo consiste em recordar a história.

Aqui hei de lembrar como Cristo nosso Senhor enviou de Betânia a Jerusalém dois dos seusdiscípulos a preparar a ceia. Como para lá se dirigiu Ele mesmo, depois, com os outros discípulos.Como, depois de comerem o cordeiro pascal e terminada a ceia, lhes lavou os pés e lhes deu o seuSantíssimo Corpo e Precioso Sangue. E como finalmente lhes falou, depois de Judas sair paravender o seu Senhor.

192 - O 2º preâmbulo é a composição de lugar.

Aqui consistirá em considerar o caminho de Betânia a Jerusalém. É largo ou estreito? Plano? etc.Do mesmo modo ver o lugar da ceia. Amplo ou pequeno? Disposto desta ou daquela maneira?

193 - O 3º preâmbulo é a petição do que quero.

Aqui pedirei dor, sentimento e confusão, porque por meus pecados é que o Senhor vai à Paixão.

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194 - 1º ponto. Verei as pessoas da ceia. Depois refletindo comigo mesmo procurarei tirar algumproveito.

2º ponto. Ouvirei o que elas dizem e procurarei igualmente tirar algum proveito disso.

3º ponto. Olharei para o que fazem a fim de tirar disso algum proveito.

195 - 4º ponto. Considerarei o que Cristo nosso Senhor sofre ou quer sofrer em sua humanidade,conforme a cena da Paixão que contemplo. E aqui começarei a esforçar-me com muito empenhopor chegar à dor, à tristeza e às lágrimas. Trabalharei assim nos outros pontos que se seguem.

196 - 5º ponto. Considerarei como a Divindade se esconde, a saber, como ela poderia aniquilar os seus inimigos e não o faz. E como deixa a sacratíssima humanidade sofrer tão cruelmente.

197 - 6º ponto. Considerarei que padece tudo isto por meus pecados, etc. E o que devo eu fazer epadecer por Ele.

198 - Colóquio. Terminarei com um colóquio a Cristo nosso Senhor e um Pai-nosso.

199 - Nota. É de notar, como já em parte ficou dito, que nos colóquios devemos ponderar e pedirsegundo a matéria proposta. A saber, conforme me acho tentado ou consolado, e conforme desejoadquirir uma virtude ou outra, conforme quero tomar uma resolução ou outra, conforme querosentir dor ou gozo da coisa que contemplo, pedindo aquilo que mais eficazmente desejo acerca dealguns pontos particulares.

Desta maneira, pode-se fazer um só colóquio a Cristo nosso Senhor, ou se, a matéria o convida ou a devoção o move, pode-se fazer três colóquios: um à Mãe, outro ao Filho, outro ao Pai, pelomesmo método indicado na segunda semana, na meditação das duas bandeiras com a nota que sesegue às três classes.

200 - SEGUNDA CONTEMPLAÇÃO

PELA MANHÃ - DA CEIA AO HORTO, INCLUSIVE

A oração preparatória habitual.

201 - O 1º preâmbulo é a história.

Aqui recordarei como Cristo nosso Senhor desceu com os doze discípulos do monte Sião, onde acabara de celebrar a ceia, ao vale de Josafá. Deixou lá oito deles e os outros três ficaram numaparte do jardim. E pondo-se em oração, começou a transpirar um suor como gotas de sangue. Depois de ter, por três vezes, orado ao Pai, desperta os três discípulos. Os seus inimigos caem por terra ao som da sua voz. Judas dá-lhe o beijo da paz. São Pedro corta uma orelha a Malco e Cristo a repõe curada no seu lugar. É preso como um malfeitor, arrastam-no descendo o vale, e depoissubindo a encosta, até a casa de Anás.

202 - O 2º preâmbulo. Ver o lugar.

Aqui considerarei o caminho desde o monte Sião até o vale de Josafá, e o jardim, a sua extensão, a sua largura, e a sua configuração.

203 - O 3º preâmbulo é pedir o que quero.

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Na Paixão trata-se de pedir dor com Cristo doloroso, angústia com Cristo angustiado, lágrimas,pena interna de tanto sofrimento que Cristo passou por mim.

204 - 1ª nota. Nesta segunda contemplação, depois da oração preparatória e dos três preâmbulos jáditos, conserva-se nos pontos e colóquio a mesma forma de proceder que se teve na primeiracontemplação da ceia.

E à hora da Missa e vésperas se farão duas repetições sobre a 1ª e a 2ª contemplação. E antes dojantar se aplicarão os sentidos sobre essas contemplações, começando sempre pela oraçãopreparatória e os três preâmbulos, conforme o assunto da contemplação, como se disse e explicouna segunda semana.

205 - 2ª nota. Conforme a idade, as disposições e o temperamento, o exercitante fará cada diacinco exercícios ou menos.

206 - 3ª nota. Nesta terceira semana modificar-se-ão, em parte, a segunda e a sexta adição.

Segunda adição: logo ao despertar, pensarei onde vou e para que, e resumirei brevemente oassunto da contemplação conforme o mistério que me propus. Ao levantar-me e vestir-me,esforçar-me-ei por me entristecer e doer diante das dores e sofrimentos tão grandes de NossoSenhor Jesus Cristo.

A sexta adição mudar-se-á deste modo: procurarei não me ocupar em pensamentos de alegria,embora santos e bons, como seriam os da Ressurreição e da Glória. Procurarei antes a dor, a tristeza, a aflição, recordando muitas vezes as penas, as fadigas e dores que Nosso Senhor JesusCristo padeceu, desde o seu nascimento até o mistério da Paixão, em que agora me encontro.

207 - 4ª nota. O exame particular deve ser feito, como na semana passada, sobre os exercícios esobre as presentes adições.

208 - SEGUNDO DIA

À MEIA-NOITE - CONTEMPLAÇÃO DO HORTO À CASA DE ANÁS, INCLUSIVE

PELA MANHÃ - DA CASA DE ANÁS ATÉ A DE CAIFÁS, INCLUSIVE

Em seguida, as duas repetições e a aplicação dos sentidos, como se disse.

TERCEIRO DIA

À MEIA-NOITE - DA CASA DE CAIFÁS ATÉ O PRETÓRIO DE PILATOS, INCLUSIVE

PELA MANHÃ - DE PILATOS A HERODES, INCLUSIVE

Depois, as repetições e a aplicação dos sentidos, do mesmo modo.

QUARTO DIA

À MEIA-NOITE - DE HERODES A PILATOS CONTEMPLANDO A METADE DOS MISTÉRIOS QUE SE PASSARAM NO PRETÓRIO

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PELA MANHÃ - OS OUTROS MISTÉRIOS QUE ALI SE REALIZARAM

E do mesmo modo, as repetições e a aplicação dos sentidos.

QUINTO DIA

À MEIA-NOITE - DA CASA DE PILATOS ATÉ A CRUCIFICAXÃO

PELA MANHÃ - DA ELEVAÇÃO SOBRE A CRUZ ATÓ QUE EXPIROU

Depois as duas repetições e a aplicação dos sentidos.

SEXTO DIA

À MEIA-NOITE - DO DESCENDIMENTO DA CRUZ ATÉ A SEPULTURA, EXCLUSIVE

PELA MANHÃ - DA SEPULTURA, INCLUSIVE ATÉ A CASA PARA ONDE FOI NOSSASENHORA DEPOIS DO ENTERRO DE SEU FILHO

SÉTIMO DIA

À MEIA-NOITE E PELA MANHÃ - CONTEMPLAÇÃO DE TODA A PAIXÃO

Em vez das duas repetições e da aplicação dos sentidos, considerar-se-á por todo o dia, o maisfreqüentemente possível, como o sagrado corpo de Cristo nosso Senhor ficou separado da alma, e onde e como foi sepultado. Considerar-se-á também a soledade de Nossa Senhora, em tão grandedor e aflição. E finalmente também a dos discípulos.

209 - Nota. Se alguém quiser demorar-se mais na contemplação da Paixão, tomará menosmistérios para cada exercício. Por exemplo, para a primeira contemplação somente a ceia. Para asegunda, o lava-pés. Para a terceira, o dom do Santíssimo Sacramento. Para a quarta, o discursoque Cristo fez aos seus discípulos. E assim das outras contemplações e mistérios.

Do mesmo modo, terminada a meditação da Paixão, poderá o exercitante gastar um dia inteiro arepassar a primeira parte dela, e mais outro para a segunda parte, e um terceiro para toda a Paixão.

Quem, pelo contrário, quiser abreviar, poderá tomar para o exercício da meia-noite os mistérios da ceia. Para os da manhã, os do jardim das Oliveiras. À hora da Missa, os da casa de Anás. À horade vésperas, os da casa de Caifás. Antes do jantar, os do pretório de Pilatos. Assim, omitindo asrepetições e as aplicações dos sentidos fará cada dia cinco exercícios distintos, tomando de cadavez um novo mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Meditada assim toda a Paixão, poder-se-á ter uma contemplação de conjunto em um só dia, numexercício ou em vários, como parecer de maior proveito.

210 - REGRAS PARA ORDENAR-SE DORAVANTE NA ALIMENTAÇÃO

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1ª regra. De pão não há tanta conveniência de abster-nos, porque não é alimento para o qual oapetite se costuma inclinar tão desordenadamente como para outros manjares, nem é ocasião dasmesmas tentações.

211 - 2ª regra. Parece mais conveniente a abstinência na bebida do que no pão. Deve, portanto,cada um considerar cuidadosamente o que lhe é útil para tomar, e o que lhe é prejudicial para se abster dele.

212 - 3ª regra. A respeito de outros alimentos, deve-se guardar a maior e mais inteira abstinência,porque neste ponto o apetite é mais fácil em se desordenar, como a tentação mais pronta eminstigar. E assim a abstinência nos outros alimentos pode, para evitar a desordem, ser praticada de duas maneiras: primeiro, habituando-se a tomar alimentos triviais; em seguida, se eles foremdelicados, em pequena quantidade.

213 - 4ª regra. Contanto que não se prejudique a saúde, quanto mais o homem se abstiver doconveniente, tanto mais depressa virá a achar o meio-termo que se deve guardar na comida e nabebida. E isto por dois motivos: primeiro, porque ajudando-se e dispondo-se assim, sentirá muitasvezes mais luzes interiores, consolações e inspirações divinas que lhe mostrarão o meio-termo.Segundo, porque se em tal regime de abstinência não sentir forças corporais nem disposição para se dar aos exercícios espirituais, facilmente virá a encontrar a medida da alimentação que maisconvém ao sustento do corpo.

214 - 5ª regra. Enquanto a pessoa come, veja a Cristo nosso Senhor comendo com os seus apóstolos, e considere como bebe, como olha, como fala; e procure imitá-lo. De maneira que a parte principal do entendimento se ocupe na consideração de nosso Senhor e a secundária, nasustentação corporal; e assim alcance mais dignidade e ordem sobre a maneira de se comportar nocomer.

215 - 6ª regra. Poderemos também durante a refeição ocupar-nos em alguma outra consideração,como da vida dos santos ou de alguma piedosa contemplação, ou de algum assunto espiritual que temos em vista. Porque estando ocupados nestes pensamentos, teremos menos prazer e satisfaçãosensível na alimentação do corpo.

216 - 7ª regra. Importa, sobretudo, que o espírito não se ocupe totalmente no que comemos e quese evite a sofreguidão do apetite, mas seja senhor de si, tanto na maneira de comer como naquantidade que se toma.

217 - 8ª regra. Para corrigir qualquer desordem, muito aproveita, depois do almoço ou depois do jantar ou em outra hora em que não sinta apetite, determinar consigo para o almoço ou para o jantar seguintes, e assim sucessivamente cada dia, a quantidade que convirá comer. E esta não seexceda por nenhum apetite ou tentação. Ao contrário, para melhor vencer qualquer apetitedesordenado e tentação do inimigo, se é tentado a comer mais, comer menos.

QUARTA SEMANA

218 - PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO COMO CRISTO NOSSO SENHOR APARECEU ANOSSA SENHORA

A oração preparatória habitual.

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219 - O 1º preâmbulo é a história.

Recordarei aqui como, tendo Cristo expirado na cruz, seu corpo ficou separado de sua alma, massempre unido à Divindade, e como sua alma bem-aventurada desceu à mansão dos mortosigualmente unida à Divindade. E como, tendo libertado as almas dos justos, voltado ao sepulcro eressuscitado, apareceu em corpo e alma à sua bendita Mãe.

220 - O 2º preâmbulo é a composição de lugar.

Nesta contemplação representar-me-ei a disposição do santo sepulcro e o lugar ou a casa onde se encontra Nossa Senhora, considerando em particular as suas diversas partes, o seu quarto, oratório,etc.

221 - O 3º preâmbulo: pedir o que quero.

Aqui pedirei graça para me alegrar e gozar intensamente por tanta glória e gozo de Cristo nossoSenhor.

222 - 1º, 2º e 3º pontos. Serão os mesmos que os da contemplação da ceia de Cristo nosso Senhor(194).

223 - 4º ponto. Considerarei como a Divindade, que parecia ocultar-se na Paixão, aparece agora e se manifesta em sua Santíssima Ressurreição, de uma maneira tão miraculosa, por seus próprios esantíssimos efeitos.

224 - 5º ponto. Considerarei como Nosso Senhor Jesus Cristo exerce o ofício de consolador, àmaneira como os amigos costumam consolar-se uns aos outros.

225 - Colóquio. Terminarei por um ou vários colóquios conformes com o assunto da meditação e recitarei um Pai-nosso.

226 - 1ª nota. Nas contemplações seguintes, da Ressurreição até a Ascensão inclusive, proceda-seem todos os mistérios da maneira indicada abaixo, seguindo o observando em toda a semana daRessurreição a mesma forma e método que em toda a semana da Paixão.

Nesta primeira contemplação sobre a Ressurreição, o exercitante procederá, quanto aospreâmbulos, conforme o assunto proposto. Quanto aos cinco pontos, que sejam os mesmos Asadições que a seguir se indicam sejam também as mesmas.

E assim para todo o resto, como para as repetições, aplicação dos sentidos, contemplação maisbreve ou prolongada dos mistérios, etc., proceda-se como na semana da Paixão.

227 - 2ª nota. Como regra geral, nesta semana, mais que nas três precedentes, é mais convenientecontentar-se o exercitante com quatro exercícios em vez de cinco. O primeiro, pela manhã,imediatamente depois de levantar. O segundo, à hora da Missa ou antes do almoço, em vez daprimeira repetição. O terceiro, à hora de vésperas, em lugar da segunda repetição. O quarto, que será uma aplicação dos sentidos sobre os três exercícios do mesmo dia, antes do jantar, notando efazendo pausa nos pontos mais importantes e onde tenha sentido maiores moções e gostosespirituais.

228 - 3ª nota. Embora em todas as contemplações se tenha proposto um determinado número depontos, três, cinco, etc., o exercitante poderá tomar mais ou menos conforme se sentir melhor. Para isso, ser-lhe-á muito útil, antes de começar a contemplação, prever e fixar o número preciso depontos que percorrerá.

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229 - 4ª nota. Nesta quarta semana modificar-se-ão a segunda, a sexta, a sétima e a décima das dezadições.

Segunda adição: logo ao despertar porei diante de mim a contemplação que irei fazer, querendocomover-me e alegrar-me com tanto gozo e alegria de Cristo nosso Senhor.

Sexta adição: entreter-me-ei com pensamentos de prazer, alegria e gozo espiritual, como, por exemplo, da glória do céu.

Sétima adição: aproveitar-me-ei da claridade ou do agradável da estação, como da sombra noverão, do calor do sol ou do fogo no inverno, conforme julgar ou me parecer ser de ajuda para meregozijar em meu Criador e Senhor.

Décima adição: em vez de me dar à penitência, procurarei observar a temperança e a justa medidaem todas as coisas, a não ser que ocorram dias de jejum ou abstinência de preceito impostos pelaIgreja, porque estes só por legítimo impedimento podem deixar de ser guardados.

CONTEMPLAÇÃOPARA ALCANÇAR O AMOR

Nota: Convém, em primeiro lugar, notar duas coisas:

A primeira, que o amor deve consistir mais em obras do que em palavras.

231 - A segunda, que o amor consiste na comunhão mútua, a saber, a pessoa que ama dá ecomunica à pessoa amada aquilo que tem ou parte do que tem, e o que pode. E esta procede domesmo modo com relação àquela que a ama. Deste modo, se uma possui ciência, comunica-aàquela que não a tem; e se dispõe de honras e riquezas, do mesmo modo. E assim reciprocamenteuma para com a outra.

A oração preparatória habitual.

232 - O 1º preâmbulo é a composição do lugar.

Considerar-me diante de Deus nosso Senhor, dos Anjos e dos Santos que intercedem por mim.

233 - O 2º preâmbulo: pedir a graça que quero.

Aqui pedirei um conhecimento interno de tantos benefícios que recebi de Deus a fim de que,reconhecendo-os inteiramente, possa amar e servir em tudo a sua divina Majestade.

234 - 1º ponto. Passarei pela memória os benefícios recebidos como a Criação, a Redenção e os dons particulares, ponderando com muito afeto quanto Deus nosso Senhor fez por mim, quanto me deu daquilo que tem, e conseqüentemente como este mesmo Senhor deseja dar-se a si mesmo,quanto dele depender, conforme os seus divinos desígnios. E em seguida, refletindo comigomesmo, considerarei como é de toda a razão e justiça que eu ofereça a dê à sua divina Majestadetodos os meus bens e a mim mesmo com eles, como quem oferece um presente, com toda aafeição:

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• "Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, a minha inteligênciae toda a minha vontade, tudo que tenho e tudo o que possuo. Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso; de tudo disponde segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e a vossa graça, que isso me basta".

235 - 2º ponto. Considerarei como Deus está presente nas criaturas. Nos elementos, dando-lhes oser. Nas plantas, dando-lhes a vida vegetativa. Nos animais, a vida sensitiva. Nos homens, a vidaintelectual. Em mim, dando-me a existência, a vida, a sensibilidade e a inteligência: e tendo-mecriado à imagem e semelhança de sua divina Majestade, fez de mim um templo seu.

E aqui refletirei de novo comigo mesmo, como se disse no primeiro ponto, ou de qualquer outromodo que me parecer preferível.

O mesmo se fará em cada um dos pontos seguintes.

236 - 3º ponto. Considerarei como Deus age e trabalha por mim em todas as coisas criadas sobre a terra, isto é, procede à semelhança de quem trabalha. E isso nos céus, nos elementos, nas plantas,nos frutos, nos animais etc., dando-lhes e conservando-lhes o ser vegetativo, sensitivo etc.

Depois refletirei comigo mesmo.

237 - 4º ponto. Considerarei como todos os bens e todos os dons vêm do alto: a minha potêncialimitada, por exemplo, da potência soberana e infinita do alto. E do mesmo modo a justiça, abondade, a piedade, a misericórdia etc., assim como os raios derivam do sol e as águas, de sua fonte etc.

Terminarei depois refletindo comigo mesmo, como se disse.

Colóquio. Por fim o colóquio e um Pai-nosso.

238 -TRÊS MODOS DE ORAR.

PRIMEIRO MODO

O primeiro modo de orar consiste em refletir sobre os dez mandamentos, os sete pecados capitais,as três potências da alma e os cinco sentidos corporais. Esta maneira de orar não constitui tanto um modelo ou método de oração, mas apenas oferece uma fórmula, método e exercícios com os quaiso exercitante se disponha e aproveite e a sua oração seja aceita.

239 - Em primeiro lugar, far-se-á o equivalente à segunda adição da segunda semana (131), a saber: antes de começar a orar, repousar um pouco o espírito, sentado ou passeando como melhorlhe parecer, considerando aonde se vai e a quê.

Esta mesma adição se fará em todos os modos de orar.

240 - Em seguida, uma oração preparatória.

Pedirei, por exemplo, a Deus nosso Senhor a graça de conhecer em que é que faltei aos dez mandamentos. Suplicarei também a graça e o Socorro necessários para me corrigir no futuro, e o conhecimento perfeito dos seus preceitos para os guardar mais fielmente, para maior glória elouvor de sua divina Majestade.

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241 - 1. SOBRE OS MANDAMENTOS

Quanto ao primeiro mandamento, hei de considerar e examinar como é que o observei e em que otransgredi.

Este exame durará, como regra geral, por espaço de três Pais-nossos e três Ave-marias.

Se neste tempo descubro faltas, pedirei perdão por elas e recitarei a oração dominical.

O mesmo farei em cada um dos dez mandamentos.

242 - 1ª nota. Quando me examino sobre um mandamento em que não costuma cair, não énecessário deter-me nele por tanto tempo. Mas em geral gastarei mais ou menos tempo naconsideração e exame das culpas sobre um mandamento, conforme me encontrar mais ou menosculpado.

O mesmo se diga dos pecados capitais.

243 - 2ª nota. Depois de acabar a consideração de todos os mandamentos e de me ter acusado amim mesmo, pedirei a graça e o auxílio necessários para me corrigir para o futuro.

E terminarei com um colóquio a Deus nosso Senhor, conforme o exercício que acabo de fazer.

244 - 2. SOBRE OS PECADOS CAPITAIS

Depois da adição, far-se-á a oração preparatória, como acaba de se explicar.

A única diferença é que aqui se trata de pecados que se devem evitar e antes se tratava demandamentos que se devem observar.

De resto, seguir-se-ão a ordem e as regras já indicadas.

Terminar com um colóquio.

245 - Nota. Para obter um conhecimento mais claro das culpas cometidas, considerem-se asvirtudes opostas aos pecados capitais. E para melhor os evitar proponha e procure o exercitante,com santos exercícios, alcançar e possuir as sete virtudes a eles contrárias.

246 - 3. SOBRE AS FACULDADES DA ALMA

Para as três faculdades da alma, seguir-se-ão a mesma ordem e as mesmas regras que para osmandamentos: fazendo a adição, a oração preparatória e o colóquio.

247 - 4. SOBRE OS CINCO SENTIDOS

Para os cinco sentidos corporais, o método é sempre o mesmo. Só muda a matéria.

248 - Nota. Aquele que no uso dos seus sentidos quer imitar a Jesus Cristo nosso Senhor,encomendar-se-á na oração preparatória à sua divina Majestade. Depois de se ter examinado sobre cada um dos cinco sentidos dirá uma Ave-Maria ou um Pai-nosso.

E o que no uso dos seus sentidos deseja imitar a Nossa Senhora, pedir-lhe-á na oração preparatóriaque lhe obtenha esta graça de seu divino Filho e Senhor. E depois do exame de cada sentidorecitará uma Ave-Maria.

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249 - SEGUNDO MODO DE ORAR CONTEMPLAR O SENTIDO DE CADA PALAVRADE UMA ORAÇÃO

250 - Adição. Neste segundo modo de orar, a adição será a mesma que no primeiro modo.

251 - A oração preparatória será conforme a pessoa a quem se dirige a oração.

252 - De joelhos ou sentado, conforme a disposição do corpo ou a devoção do espírito, com osolhos fechados ou fixos no mesmo lugar, sem os deixar vagar um lado para o outro, direi aprimeira palavra do Pai-nosso e deter-me-ei nela por todo o tempo em que achar pensamentos,comparações, gosto e consolação interior na consideração do título de Pai.

O mesmo farei para cada palavra da oração dominical ou de qualquer outra fórmula que tiverescolhido para orar deste modo.

253 - 1ª regra. Empregarei uma hora em meditar assim todo o Pai-nosso. Terminando esse,recitarei vocal ou mentalmente, da maneira ordinária, a Ave-Maria, o Credo, a Alma de Cristo e aSalve-Rainha.

254 - 2ª regra. Se ao contemplar o Pai-nosso eu achar, numa só ou em duas palavras, suficientematéria para refletir e gosto e consolações, não tenho que preocupar-me de passar adiante, aindaque fique nelas toda a hora. Terminado o tempo, recitarei da maneira habitual o resto do Pai-nosso.

255 - 3ª regra. Se me detive a hora inteira numa ou duas palavras do Pai-nosso, no dia seguinte,quando quiser retomar a mesma oração, direi da maneira ordinária a palavra ou as duas palavras jámeditadas e começarei a contemplar sobre a palavra que segue imediatamente, como se disse na segunda regra.

256 - 1ª nota. Acabado o Pai-nosso em um ou em muitos dias, farei o mesmo com a Ave-Maria. E depois com as outras orações, de modo que por algum tempo sempre me exercite numa delas.

257 - 2ª nota. No fim da oração, dirigir-me-ei à pessoa a quem orei e pedir-lhe-ei, em poucaspalavras, as virtudes ou graças de que mais necessitado me sinta.

258 - TERCEIRO MODO DE ORAR POR COMPASSO

A adição será a mesma que no primeiro e no segundo modo de orar.

A oração preparatória como no segundo.

O terceiro modo consiste em orar mentalmente dizendo a cada respiração(t) uma palavra do Pai-nosso ou de qualquer outra oração, de forma a pronunciar uma só palavra entre uma respiração eoutra. E durante o tempo decorrido entre duas respirações atenda-se especialmente à significaçãodesta palavra ou à pessoa a quem a oração se dirige, ou à própria indignidade, ou à diferença entretanta grandeza de um lado e tanta baixeza do outro. Pronunciar-se-ão, do mesmo modo e conformeas mesmas regras, todas as palavras do Pai-nosso. E depois hão de recitar-se, na forma ordinária de orar, as outras orações, isto é, a Ave-maria, a Alma de Cristo, o Credo e a Salve-Rainha.

259 - 1ª regra. No dia seguinte ou em outra hora em que se queira orar deste modo, recitar-se-á aAve-maria compassadamente, e as outras orações como de costume. Do mesmo modo se procederá depois com elas.

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260 - 2ª regra. Se alguém quisesse orar mais longamente por este terceiro modo, poderia recitarem seguida várias das orações indicadas ou todas elas, seguindo o mesmo modo de respiraçãocompassada, como foi explicado.

MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO261 - OS MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO NOSSO SENHOR

Nota. Nos mistérios seguintes, só as palavras entre aspas são do próprio Evangelho. A maior partedos mistérios terão três pontos para com maior facilidade se poder meditar e contemplá-los.

262 - A ANUNCIAÇÃO DE NOSSA SENHORA. Lc 1,26-38

1º ponto. O anjo S. Gabriel, saudando Nossa Senhora, anunciou-lhe que havia de conceber a Cristo Nosso Senhor: - "E entrando o Anjo onde ela estava, saudou-a, dizendo: - Deus te salve, cheia de graça; eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho".

2º ponto. O Anjo confirma o que tinha dito, anunciando-lhe a conceição de S. João Batista,dizendo: - "Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice".

3º ponto. Nossa Senhora respondeu ao Anjo: - "Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mimsegundo a tua palavra".

263 - VISITAÇÃO DE NOSSA SENHORA À SUA PRIMA SANTA ISABEL. Lc 1,39-56

1º. Quando Nossa Senhora visitou Isabel, sentiu-lhe a presença S. João Batista, ainda no ventre desua mãe: - "E aconteceu que apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou no seuventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo; e exclamou em alta voz, dizendo: - "Bendita és tuentre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre".

2º. Nossa Senhora entoa um cântico, dizendo: - "A minha alma glorifica ao Senhor".

3º. -"Ficou Maria com Isabel cerca de três meses e depois voltou, para sua casa".

264 - NASCIMENTO DE CRISTO SENHOR NOSSO. Lc 2,1-14

1º. Nossa Senhora e José, seu esposo, vão de Nazaré a Belém. "E José subiu da Galiléia paraprestar sujeição a César juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida".

2º. "E deu à luz seu filho primogênito e enfaixou-o e reclinou-o numa manjedoura".

3º. "Apareceu uma multidão da milícia celeste que dizia: - "Glória a Deus no mais alto dos céus".

265 - A ADORAÇÃO DOS PASTORES. Lc 2,8-20

1º. O Anjo anuncia aos pastores o nascimento de Cristo Nosso Senhor: - "Dou-vos uma grandenova, porque nasceu hoje o Salvador do mundo".

2º. Os pastores foram a Belém: - "E foram com grande pressa e encontraram Maria, José e o menino deitado numa manjedoura".

3º. "Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus".

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266 - A CIRCUNCISÃO DO SENHOR. Lc 2,21

1º. Circuncidaram o Menino Jesus.

2º. "Foi-lhe posto o nome de Jesus, como o tinha chamado o Anjo, antes que fosse concebido noventre materno".

3º. Restituem o Menino a sua Mãe, compadecida do sangue que seu Filho derramava.

267 - OS TRÊS REIS MAGOS. Mt 2,1-12

1º. Os três Reis Magos, guiados pela estrela, vieram adorar Jesus, dizendo: - "Vimos a sua estrelano Oriente e viemos adorá-lo".

2º. Adoraram-no e ofereceram-lhe presentes: - "Prostrados por terra adoraram-no e ofereceram-lhepresentes, ouro, incenso e mirra".

3º. "Tendo sido avisados em sonhos para não voltarem a Herodes, regressaram por outro caminhopara o seu país".

268 - PURIFICAÇÃO DE NOSSA SENHORA E APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS.Lc 2,22-39

1º. Trazem o Menino Jesus ao Templo, para ser apresentado ao Senhor como primogênito, e oferecem por ele "um par de rolas ou dois pombinhos".

2º. Simeão tendo vindo ao templo "tomou-o em seus braços", dizendo: "Agora, Senhor, deixapartir o teu servo em paz".

3º. Ana "sobrevindo em seguida, louvava ao Senhor e falava dele a todos os que esperavam aRedenção de Israel".

269 - FUGA PARA O EGITO. Mt 2,13-18

1º. Herodes que queria matar o Menino Jesus mandou matar os inocentes; porém, antes da mortedeles, um Anjo avisou a S. José, que fugisse para o Egito: - "Levanta-te, toma o menino e sua mãee foge para o Egito".

2º. Partiu para o Egito: - "E ele levantando-se de noite partiu para o Egito".

3º. "E esteve lá até a morte de Herodes".

270 - CRISTO NOSSO SENHOR VOLTA DO EGITO. Mt 2,19-23

1º. O Anjo avisa a S. José que volte a Israel: - "Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para aterra de Israel".

2º. "Levantando-se, veio para a terra de Israel".

3º. Retirou-se para Nazaré, porque reinava Arquelau, filho de Herodes, na Judéia.

271 - VIDA DE CRISTO NOSSO SENHOR DESDE OS 12 AOS 30 ANOS. Lc 2,51-52

1º. Era obediente a seus pais: - "Crescia em sabedoria, em idade e graça".

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2º. Parece que exercia a arte de carpinteiro, como o dá a entender S. Marcos no cap. 6,3:"Porventura não é este o carpinteiro?"

272 - IDA DE CRISTO AO TEMPLO, QUANDO TINHA 12 ANOS. Lc 2,41-50

1º. Cristo Nosso Senhor, na idade de 12 anos, subiu de Nazaré a Jerusalém.

2º. Cristo Senhor nosso ficou em Jerusalém sem que seus pais o soubessem.

3º. Passados três dias, encontraram-no no Templo, sentado no meio dos doutores da Lei,discutindo com eles, e perguntando-lhe seus pais onde tinha estado, respondeu: - "Não sabeis queme devo ocupar das coisas que são do meu Pai?"

273 - BATISMO DE CRISTO. Mt 3,13-17

1º. Cristo Nosso Senhor, tendo-se despedido de sua bendita Mãe, foi de Nazaré para o rio Jordão,onde estava S. João Batista.

2º. S. João batizou Cristo Nosso Senhor, mas tendo-se antes escusado, por se considerar indigno de o batizar, respondeu-lhe Cristo: - "Deixa por agora, porque é necessário que cumpramos assimtoda a justiça".

3º. O Espírito Santo desceu sobre Ele e do Céu ouviu-se a voz do Pai que dizia: - "Este é o meuFilho muito amado em quem pus as minhas complacências".

274 - TENTAÇÃO DE CRISTO. Lc 4,1-13; Mt 4,1-11

1º. Depois de batizado foi Jesus para o deserto, onde esteve jejuando quarenta dias e quarentanoites.

2º. Ali foi tentado por três vezes pelo inimigo: - "Chegando-se a Ele o tentador, disse-lhe: - Se és o Filho de Deus manda que estas pedras se transformem em pão: lança-te daqui para baixo; tudo o que vês te darei, se, prostrado em terra, me adorares".

3º. "Vieram os Anjos e serviram-no".

275 - CHAMAMENTO DOS APÓSTOLOS

1º. Três vezes parecem ter sido chamados S. Pedro e Santo André: - a primeira a um certoconhecimento de Jesus (Jo 1,35-42); a segunda a seguir de alguma forma a Cristo com intenção de voltar ao que tinham deixado (Lc 5, 1-11.27-32); a terceira, enfim, para seguirem a Cristo NossoSenhor (Mt 4,18-20; Mc 1,16-18).

2º. Chamou os outros apóstolos de cuja vocação especial não faz menção o Evangelho. Considerartambém estas três coisas: primeira, a condição rude e humilde dos apóstolos; segunda, a dignidadea que foram tão suavemente chamados; terceira, os dons e graças pelos quais foram elevadosacima de todos os Padres do Novo e Velho Testamentos.

276 - PRIMEIRO MILAGRE DE JESUS NAS BODAS DE CANÁ, DA GALILÉIA. Jo 2,1-11

1º. Cristo Nosso Senhor foi convidado com os seus discípulos para as bodas.

2º. A Mãe de Jesus avisou-o da falta de vinho, dizendo-lhe: - "Não tem vinho", e mandou aoscriados: - "Fazei tudo o que Ele vos disser".

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3º. "Converteu Jesus a água em vinho manifestando assim a sua glória, e os seus creram nEle".

277 - CRISTO EXPULSA OS VENDILHÕES DO TEMPLO. Jo 2,13-22

1º. Com um chicote de cordas Jesus expulsou do Templo todos os vendilhões.

2º. Lançou por terra as mesas e o dinheiro dos banqueiros que estavam no Templo.

3º. Aos pobres que vendiam pombas disse mansamente: - "Tirai daqui isto e não façais da minhacasa uma casa de comércio".

278 - SERMÃO DA MONTANHA. Mt 5

1º. Falou à parte com os seus discípulos prediletos acerca das bem-aventuranças: "Bem-aventurados os pobres de espírito, os mansos, os misericordiosos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os limpos de coração, os pacíficos e os que sofrem perseguição".

2º. Exortou-os a que usassem bem os seus talentos: - "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens,para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus".

3º. Cristo mostrou que não transgredia a Lei, mas que a completava, declarando os preceitos denão matar, guardar castidade, não levantar falsos testemunhos e de amar os inimigos: - "Eu vos digo que ameis os vossos inimigos e façais bem aos que vos odeiam".

279 - CRISTO NOSSO SENHOR SERENA A TEMPESTADE NO MAR. Mt 8,23-27

1º. Estando Cristo Nosso Senhor dormindo no mar, levantou-se uma grande tempestade.

2º. Os seus discípulos, aterrorizados, despertaram-no e Ele repreendeu-os pela falta de fé, dizendo-lhes: - "Porque temeis, homens de pouca fé?"

3º. Mandou aos ventos e ao mar que se acalmassem e cessou o vento, e o mar tornou-se calmo;pelo que, os homens ficaram maravilhados e diziam: - "Quem é este a quem os ventos e o marobedecem?"

280 - CRISTO ANDA SOBRE AS ÁGUAS. Mt 14,22-33

1º. Estando Cristo Nosso Senhor no monte fez embarcar os seus discípulos, e, tendo despedido amultidão, começou a orar sozinho.

2º. A barca era batida pelas ondas, e Jesus Cristo dirigiu-se a ela caminhando sobre o mar; e os discípulos pensaram que fosse um fantasma.

3º. E Jesus disse-lhes: - "Sou eu, não temais". Então S. Pedro, por sua ordem, foi ter com Ele,andando sobre as águas e, porque duvidou, começou a afundar-se; mas Cristo Nosso Senhorsalvou-o e repreendeu-o pela sua pouca fé. Depois entrando ambos na barca, cessou o vento.

281 - OS APÓSTOLOS FORAM ENVIADOS A PREGAR. Mt 10,1-16

1º. Cristo chama os seus amados discípulos e dá-lhes poder para expulsar os demônios dos corposhumanos e curar todas as enfermidades.

2º. Ensina-lhes a prudência e a paciência: - "Eis que vos mando como ovelhas para o meio de lobos. Sede, pois, prudentes como serpentes e simples como pombas".

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3º. Ensina-lhes o modo como devem ir: - "Não queirais possuir ouro nem prata. Dai de graça o que de graça recebestes". E deu-lhes o assunto da pregação: - "E pregai dizendo: Já está próximo oReino dos Céus".

282 - CONVERSÃO DE MADALENA. Lc 7,36-50

1º. Estando Cristo Nosso Senhor sentado à mesa em casa do fariseu, entra Madalena trazendo umvaso de alabastro, cheio de perfume.

2º. Pondo-se atrás do Senhor, a seus pés, começou a banhá-los com lágrimas, a enxugá-los com os cabelos, a beijá-los e a ungi-los com perfumes.

3º. Como o fariseu acusasse Madalena, Jesus saiu em sua defesa, dizendo: - "Muitos pecados lhesão perdoados, porque amou muito. E disse à mulher: - a tua fé te salvou, vai em paz".

283 - COMO CRISTO NOSSO SENHOR DEU DE COMER A CINCO MIL HOMENS. Mt14,13-21

1º. Os discípulos, vendo que se fazia tarde, pedem a Jesus que despeça a multidão que com Ele estava.

2º. Cristo Nosso Senhor mandou que lhe trouxessem os pães, abençoou-os, partiu-os, e ordenandoà multidão que se sentasse, deu-os a seus discípulos para os distribuírem a todos.

3º. Comeram, até a saciedade, e sobraram ainda doze cestos de pães.

284 - TRANSFIGURAÇÃO DE CRISTO. Mt 17,1-9

1º. Cristo Nosso Senhor, tendo tomado consigo os seus queridos discípulos Pedro, Tiago e João,transfigurou-se, ficando o seu rosto resplandecente como o sol, e as suas vestes brancas como aneve.

2º. Falava com Moisés e Elias.

3º. Dizendo S. Pedro que se fizessem três tendas, ouviu-se uma voz do Céu que dizia: - "Este é o meu filho muito amado, ouvi-o ". Ao ouvirem esta voz, os discípulos caíram de bruços com medo,porém Cristo Nosso Senhor tocou-os e disse: - "Levantai-vos e não temais. Não digais a ninguémo que vistes, até o Filho do Homem ressuscitar dos mortos".

285 - A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO. Jo 11,1-45

1º. Marta e Maria mandam dizer a Cristo Nosso Senhor que Lázaro está enfermo. Sabendo isto,Jesus ficou ainda dois dias no mesmo lugar, para que o milagre fosse mais evidente.

2º. Antes de o ressuscitar pede a uma e a outra que tenham fé, dizendo: - "Eu sou a Ressurreição ea Vida. O que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá".

3º. Depois de ter chorado e orado, ressuscitou-o, ordenando-lhe: "Lázaro, vem para fora".

286 - CEIA EM BETÂNIA. Mt 26,6-10

1º. O Senhor ceia em casa de Simão, o leproso, juntamente com Lázaro.

2º. Maria derrama perfumes sobre a cabeça de Jesus.

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3º. Judas murmura, dizendo: - "Para que este desperdício de perfumes?" Mas Jesus defende-a denovo, dizendo: - "Por que molestais esta mulher? Ela faz-me verdadeiramente uma boa obra".

287 - DOMINGO DE RAMOS. Mt 21,1-17

1º. O Senhor manda buscar a burra e o jumento, dizendo: - "Desatai-os e trazei-mos, e se alguémvos disser alguma coisa respondei que o Senhor precisa deles e logo os devolverá".

2º. Montou sobre a jumenta, coberta com as vestes dos apóstolos.

3º. As multidões saem para recebê-lo, estendendo sobre o caminho os seus mantos e ramos deárvores, clamando: - "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto dos Céus!"

288 - PREGAÇÃO NO TEMPLO. Lc 19,47-48

1º. E todos os dias ensinava no Templo.

2º. Acabada a pregação, voltava a Betânia, por não não haver quem o recebesse em Jerusalém.

289 - ÚLTIMA CEIA. Mt 26,20-30; Jo 13,1-30

1º. Comeu o cordeiro pascal com os doze apóstolos aos quais predisse a sua morte: - "Em verdadevos digo que um de vós me há de vender".

2º. Lavou os pés aos discípulos, mesmo a Judas, começando por S. Pedro; este, considerando amajestade do Senhor e a sua própria baixeza, não o podendo consentir, dizia: - "Tu Senhor,lavares-me os pés a mim?" E como S. Pedro não visse naquela ação um exemplo de humildade,disse-lhe Jesus: - "Dei-vos o exemplo para que façais como eu fiz".

3º. Instituiu o Santíssimo Sacrifício da Eucaristia numa prova suprema do seu amor, dizendo: - "Tomai e comei". Acabada a Ceia, Judas sai para vender Cristo Nosso Senhor.

290 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CEIA AO HORTO, INCLUSIVE. Mt 26,30-46; Mc 14,26-42

1º. Acabada a ceia e cantado o hino, foi o Senhor com os seus discípulos, cheios de medo, para omonte das Oliveiras. Deixou oito no Getsêmani, dizendo-lhes: - "Sentai-vos aqui enquanto vouorar".

2º. Acompanhado de S. Pedro, S. Tiago e S. João, orou três vezes ao Senhor, desta maneira: - "Pai,se é possível, que passe de mim este cálice; porém não se faça a minha vontade, mas sim a tua". E estando em agonia, orava ainda com mais instância.

3º. Foi invadido de tão grande temor que dizia: - "A minha alma está triste até à morte". E suousangue tão copiosamente, que diz S. Lucas: - "O seu suor era como gotas de sangue que corre até à terra. Fato este que já supõe estarem as suas vestes ensopadas em sangue.

291 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE O HORTO ATÉ À CASA DE ANÁS,INCLUSIVE. Mt. 26,47-58.69-70; Lc 22,47-57; Mc 14,43-68

1º. Nosso Senhor deixa-se beijar por Judas e prender, como se fosse um ladrão, pelos soldados, aquem disse: - "Viestes com armas e varapaus para me prender como se fosse um ladrão. Todos os dias estava no meio de vós, ensinando no Templo, e não me prendestes". E perguntando "a quembuscais" os inimigos caíram por terra.

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2º. S. Pedro feriu um servo do Pontífice, mas Jesus disse-lhe com mansidão: - "Mete a espada na bainha", e curou a ferida do criado.

3º. Abandonado pelos discípulos, Cristo foi levado a Anás, onde S. Pedro, que o tinha seguido delonge, negou-o uma vez. (Um criado) deu uma bofetada em Jesus, dizendo: - "Assim respondes aoPontífice?"

292 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE ANÁS À DE CAIFÁS,INCLUSIVE. Mt 26; Mc 14; Lc 22; Jo 18

1º. Levam-no atado da casa de Anás à de Caifás, onde S. Pedro o negou duas vezes. Mas, tendo-lhe o Senhor lançado um olhar, o apóstolo saiu e chorou amargamente.

2º. Jesus esteve atado durante toda aquela noite.

3º. Além disso, os que o tinham prendido, zombavam dEle, feriam-no e, vendando-lhe o rosto,davam-lhe bofetadas, dizendo: - "Profetiza quem te bateu, e proferiam contra Ele blasfêmiassemelhantes".

293 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE CAIFÁS À DE PILATOS,INCLUSIVE. Mt 27,1-2.11-26; Lc 23,1-5.13-25; Mc 15,1-15

1º. Foi levado por toda a multidão dos judeus a Pilatos, diante do qual o acusavam, dizendo: -"Encontramos este homem deitando a perder a nação e proibindo pagar o tributo a César".

2º. Pilatos depois de o ter examinado uma e outra vez, disse: - "Não encontro (neste homem) crimealgum".

3º. A Cristo foi preferido Barrabás, um ladrão: - "Todo o povo gritava: 'Não soltes a este, mas aBarrabás'".

294 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ À DE HERODES.Lc 23,6-11

1º. Pilatos enviou Jesus Galileu a Herodes, Tetrarca da Galiléia.

2º. Herodes, por curiosidade, interrogou-o largamente, porém Ele nada respondia, apesar de os escribas e sacerdotes continuamente o acusarem.

3º. Herodes, com a sua guarda, desprezou-o, mandando-lhe vestirem uma túnica branca.

295 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CASA DE HERODES À DE PILATOS. Mt 27, 26-30; Lc 23, 11-26; Mc 15, 15-20; Jo 19, 1-6

1º. Herodes reenviou Jesus a Pilatos e desde esse momento ambos ficaram amigos, de inimigosque eram antes.

2º. Pilatos tomou Jesus e mandou-o açoitar. Os soldados fazendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe na cabeça, vestiram-no de púrpura e chegavam-se a Ele e diziam: "Deus te salve, Rei dosJudeus. E davam-lhe bofetadas".

3º. Trouxe-o fora diante de todo o povo: - "Saiu pois Jesus coroado de espinhos e vestido depúrpura. Disse-lhes Pilatos: - Eis aqui o Homem. E ao vê-lo os Pontífices vociferavam: - Crucifica-o, crucifica-o".

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296 - MISTÉRIOS SUCEDIDOS DESDE A CASA DE PILATOS ATÉ A CRUCIFIXÃO,INCLUSIVE. Jo 19,13-22

1º. Pilatos, sentado como juiz no tribunal, entregou Jesus aos judeus para o crucificarem, depois de eles o terem negado por seu rei, dizendo: - "Não temos outro rei senão César".

2º. Caminhava com a cruz às costas; e não a podendo levar, obrigaram Simão Cirineu a levá-laapós Jesus.

3º. Crucificaram-no em meio a dois ladrões, com esta inscrição (sobre a cruz): - "Jesus de Nazaré,Rei dos Judeus".

297 - MISTÉRIOS SUCEDIDOS NA CRUZ. Jo 19,23-37

1º. As sete palavras que Jesus disse na Cruz: - Rogou pelos que o crucificaram. Perdoou o ladrão.Encomendou S. João a sua Mãe e sua Mãe a S. João. Bradou em alta voz: - "Tenho sede". E deram-lhe fel e vinagre. Disse que estava desamparado. "Tudo está consumado". "Pai, em tuasmãos encomendo o meu espírito".

2º. O sol escureceu-se, as rochas fenderam-se, as sepulturas abriram-se e o véu do Templo rasgou-se de alto a baixo em duas partes.

3º. Blasfemavam, dizendo: - "Tu que destróis o Templo de Deus desce da cruz". Dividiram as suas vestes. Aberto o lado com a lança, dele brotou água e sangue.

298 - MISTÉRIOS REALIZADOS DESDE A CRUZ ATÉ O SEPULCRO, INCLUSIVE. Jo 19,38-42

1º. Foi descido da cruz por José e Nicodemos em presença de sua Mãe, amargurada de dor.

2º. O seu corpo foi levado ao sepulcro, ungido e sepultado.

3º. Puseram guardas (junto ao sepulcro).

299 RESSURREIÇÃO DE CRISTO SENHOR NOSSO E PRIMEIRA APARIÇÃO

1º. Apareceu primeiro à Virgem Maria, o que embora não esteja expresso na Sagrada Escritura, se subentende quando diz que apareceu a muitos outros. Porque a Escritura supõe que somosinteligentes, como está escrito: - "Também vós não tendes ainda entendimento?"

300 - SEGUNDA APARIÇÃO. Mc 16,1-11

1º. Maria Madalena, Maria mãe de Tiago, e Salomé vão bem de madrugada ao túmulo, dizendo: - "Quem removerá a pedra da boca do sepulcro?"

2º. Vêem a pedra removida e um Anjo que lhes diz: - "Buscais a Jesus de Nazaré? Ressuscitou,não está aqui".

3º. Apareceu a Maria que ficara perto do sepulcro, depois das outras se terem ido.

301 - TERCEIRA APARIÇÃO. Mt 28,8-10

1º. Retiram-se as Marias do sepulcro com medo e grande alegria, desejosas de anunciar aosdiscípulos a Ressurreição do Senhor.

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2º. Cristo Senhor Nosso apareceu-lhes no caminho, dizendo: - "Deus vos salve". Elas,aproximando-se, prostraram-se a seus pés e adoraram-no.

3º. Disse-lhes Jesus: - "Não temais. Ide, avisai meus irmãos para que vão à Galiléia. É lá que meverão".

302 - QUARTA APARIÇÃO. Lc 24,9-12.33-34

1º. Tendo São Pedro sabido pelas mulheres que Cristo ressuscitara, correu apressadamente aosepulcro.

2º. Entrando nele, viu somente os panos com que tinha sido coberto o corpo de Cristo NossoSenhor e mais nada.

3º. Estando S. Pedro a refletir nestas coisas, apareceu-lhe Cristo, e por isso os Apóstolos diziam: -"Verdadeiramente o Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão".

303 - QUINTA APARIÇÃO. Lc 24,13-35

1º. Apareceu aos discípulos que iam a Emaús falando dele.

2º. Repreendeu-os, mostrando pelas Escrituras que Cristo tinha de morrer e ressuscitar: - "Óestultos e tardos de coração para crer tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não eranecessário que Cristo sofresse e assim entrasse na sua glória?"

3º. A seu pedido ficou com eles até lhes dar a comunhão, e em seguida desapareceu. E eles,regressando (a Jerusalém), contaram aos discípulos como o tinham reconhecido na comunhão.

304 - SEXTA APARIÇÃO. Jo 20,19-23

1º. Os discípulos estavam todos reunidos "por medo dos judeus", menos S. Tomé.

2º. Apareceu-lhes Jesus apesar das portas estarem fechadas, e pondo-se no meio deles, disse-lhes: -"A paz esteja convosco!"

3º. Comunicou-lhe o Espírito Santo, dizendo-lhes: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quemperdoares os pecados, ser-lhes-ão perdoados".

305 - SÉTIMA APARIÇÃO. Jo 20,24-29

1º. S. Tomé, que não acreditava, por ter estado ausente na aparição anterior, disse: - "Se não o vir,não acreditarei".

2º. Daí a oito dias, apareceu-lhes Jesus, estando as portas fechadas, e disse a S. Tomé: - "Mete aqui o dedo, vê a verdade, e não sejas incrédulo, mas fiel".

3º. S. Tomé acreditou e disse: - "Meu Senhor e meu Deus!" Ao que Cristo respondeu: - "Bem-aventurados os que não viram e creram".

306 - OITAVA APARIÇÃO. Jo 21,1-17

1º. Apareceu Jesus a sete dos seus discípulos que estavam a pescar e não tinham apanhado nadadurante toda a noite. Lançando a rede por ordem de Jesus, "não podiam tirá-la por causa da grande abundância de peixes".

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2º. Por este milagre, S. João reconheceu Jesus e disse a S. Pedro: - "É o Senhor". Pedro lançou-seao mar e veio ter com Cristo.

3º. Cristo deu-lhes a comer uma posta de peixe assado e um favo de mel, e encomendou as suas ovelhas a S. Pedro, tendo-lhe antes perguntado por três vezes se o amava, dizendo: - "Apascenta asminhas ovelhas".

307 - NONA APARIÇÃO. Mt 28,16-20

1º. Os discípulos vão ao monte Tabor por ordem do Senhor.

2º. Cristo aparece-lhes e diz: - "Foi-me dado todo o poder no céu e na terra".

3º. Enviou-os a pregar por toda a terra, dizendo: - "Ide, e ensinai todas as gentes, batizando-as emnome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".

308 - DÉCIMA APARIÇÃO. 1 Cor 15,6

"Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos juntos".

309 - DÉCIMA PRIMEIRA APARIÇÃO. 1 Cor 15,7

"Depois apareceu a S. Tiago".

310 - DÉCIMA SEGUNDA APARIÇÃO

"Apareceu a José de Arimatéia como piamente se medita e se lê na vida dos santos."

311 - DÉCIMA TERCEIRA APARIÇÃO. 1 Cor 15,8

Apareceu a S. Paulo, depois da Ascensão. "Finalmente apareceu-me a mim como a um aborto."Apareceu também na sua alma aos Santos Padres do Limbo e, depois de os ter tirado de lá,voltando a revestir-se do seu corpo, apareceu muitas vezes aos discípulos e conversava com eles.

312 - ASCENSÃO DE CRISTO NOSSO SENHOR. At 1,1-12

1º. Depois de ter aparecido aos apóstolos durante quarenta dias, dando-lhes muitas provas e sinais,e falando-lhes do Reino de Deus, mandou-lhes que esperassem em Jerusalém o Espírito Santo quelhes tinha prometido.

2º. Levou-os ao monte das Oliveiras e "elevou-se nos ares à vista deles e uma nuvem o ocultou aos seus olhos".

3º. E estando eles a olhar para o céu, dizem-lhes os Anjos: - "Homens da Galiléia, por que estais aolhar para o céu? Este Jesus, que do meio de vós foi arrebatado ao céu, virá um dia, do mesmomodo que agora o vistes subir".

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REGRAS

313 - REGRAS PARA DE ALGUM MODO SENTIR E CONHECER AS VÁRIASMOÇÕES QUE SE PRODUZEM NA ALMA:

AS BOAS PARA AS ACEITAR E AS MÁS PARA AS REJEITAR.

São mais próprias para a primeira semana.

314 - 1ª regra. Às pessoas que vão de pecado mortal em pecado mortal, costuma normalmente o inimigo propor-lhes prazeres aparentes, fazendo com que imaginem deleites e prazeres sensuaispara que mais se conservem e cresçam nos seus vícios e pecados.

Com tais pessoas o bom espírito usa de um método oposto: punge-lhes e remorde-lhes a consciência pela sindérese da razão.

315 - 2ª regra. Nas pessoas que se vão purificando intensamente dos seus pecados e caminham noserviço de Deus nosso Senhor de bem a melhor, o bom e o mau espírito operam em sentido inversoao da regra precedente. Porque neste caso é próprio do mau espírito causar tristeza e remorsos deconsciência, levantar obstáculos e perturbá-las com falsas razões para as deter no seu progresso.

E é próprio do bom espírito dar-lhes coragem, forças, consolações e lágrimas, inspirações e paz,facilitando-lhes o caminho e desembaraçando-o de todos os obstáculos, para as fazer avançar naprática do bem.

316 - 3ª regra. A consolação espiritual. Chamo consolação quando na alma se produz algumamoção interior, pela qual ela vem a se inflamar no amor do seu Criador e Senhor e,conseqüentemente, quando a nenhuma cousa criada sobre a face da terra, pode amar em si, senãono Criador de todas elas.

Do mesmo modo, quando derrama lágrimas que a movem ao amor do seu Senhor, seja pela dordos seus pecados ou por causa da Paixão de Cristo nosso Senhor ou por outras coisas diretamenteordenadas ao serviço e louvor dEle.

Finalmente, chamo consolação a todo aumento de esperança, fé e caridade e a toda alegria interiorque eleva e atrai a alma para as coisas celestiais e para sua salvação, tranqüilizando-a epacificando-a em seu Criador e Senhor.

317 - 4ª regra. A desolação espiritual. Chamo desolação todo o contrário da terceira regra: comoescuridão da alma, perturbação, incitação a coisas baixas e terrenas, inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam à falta de fé, de esperança e de amor; achando-se a almatoda preguiçosa, tíbia, triste e como se separada do seu Criador e Senhor.

Porque, assim como a consolação é contrária à desolação, assim os pensamentos provenientes daconsolação são opostos aos provenientes da desolação.

318 - 5ª regra. No tempo da desolação não se deve fazer mudança alguma, mas permanecer firmee constante nos propósitos e determinações em que se estava no dia anterior a esta desolação, ou nas resoluções tomadas antes, no tempo da consolação.

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Porque, assim como na consolação é o bom espírito que nos guia e aconselha mais eficazmente,assim na desolação nos procura conduzir o mau espírito, sob cuja inspiração é impossível achar ocaminho que nos leve a acertar.

319 - 6ª regra. Uma vez que na desolação não devemos mudar os primeiros propósitos, muitoaproveita reagir intensamente contra a mesma desolação, por exemplo, insistindo mais na oração,na meditação, em examinar-se muito e em aplicar-se nalgum modo conveniente de fazerpenitência.

320 - 7ª regra. O que está em desolação considere como o Senhor, para o provar, o deixouentregue às suas potências naturais, a fim de resistir aos diversos impulsos e tentações do inimigo.

Porque pode resistir-lhes com o auxílio divino, que nunca lhe falta, embora não o sintadistintamente, por lhe ter tirado o Senhor o seu muito fervor, o grande amor e a graça intensa,restando-lhe contudo a graça suficiente para a salvação eterna.

321 - 8ª regra. O que está em desolação esforce-se por se manter na paciência, virtude oposta àsaflições que lhe sobrevêm. E pense que bem depressa será consolado, empregando contra taldesolação as diligências explicadas na sexta regra.

322 - 9ª regra. Três são as causas principais da desolação:

Primeiramente, a nossa tibieza, preguiça e negligência nos exercícios de piedade afastam de nós, por culpa própria, a consolação espiritual.

Em segundo lugar, para mostrar-nos quanto valemos e até que ponto somos capazes de avançar noserviço e louvor de Deus, sem tanta recompensa de consolações e maiores graças.

Em terceiro lugar, para nos ensinar e fazer conhecer em verdade, sentindo-o interiormente, que nãodepende de nós conseguir ou conservar uma grande devoção, um intenso amor, lágrimas, nemqualquer outra consolação espiritual, mas que tudo isso é um dom e uma graça de Deus nosso Senhor. E também para que não façamos ninho em casa alheia, permitindo que o nosso espírito se exalte com qualquer movimento de orgulho ou vanglória, atribuindo-nos a nós os sentimentos da devoção ou os outros efeitos da consolação espiritual.

323 - 10ª regra. Quem está em consolação preveja como se há de portar no tempo de desolação,que depois virá, tomando novas forças para esse tempo.

324 - 11ª regra. Quem está em consolação procure humilhar-se e abater-se tanto quanto possível,lembrando-se de quão pouco é capaz no tempo da desolação, quando privado dessa graça ouconsolação.

Pelo contrário, quem está desolado lembre-se que muito pode com a graça que lhe basta pararesistir a todos os seus inimigos, procurando forças em seu Criador e Senhor.

325 - 12ª regra. O inimigo procede como uma mulher, sendo fraco quando lhe resistimos, e forteno caso contrário.

Pois é próprio da mulher, quando disputa com algum homem, perder a coragem e pôr-se em fuga,quando este lhe resiste francamente. Pelo Contrário, se o homem começa a temer e a recuar,crescem sem medida a cólera, a vingança e a ferocidade dela.

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Do mesmo modo, é próprio do inimigo enfraquecer-se e perder o ânimo, retirando suas tentações,quando a pessoa que se exercita nas coisas espirituais enfrenta sem medo as suas tentações,fazendo diametralmente o oposto.

Ao invés, se a pessoa que se exercita começa a ter medo e a perder o ânimo ao sofrer tentações,não há animal tão feroz sobre a face da terra como o inimigo da natureza humana, na consecuçãode sua perversa intenção com tão grande malícia.

326 - 13ª regra. Também age como um sedutor, em querer ficar oculto e não ser descoberto.

Pois o homem corrupto, quando solicita por palavras para um fim mau a filha de um pai honradoou a mulher de um bom marido, quer que suas palavras e insinuações fiquem em segredo. Aocontrário muito se descontenta, quando a filha revela ao pai ou a mulher ao marido suas palavrassedutoras e intenção depravada, pois facilmente conclui que não poderá levar a termo o empreendimento começado.

Da mesma forma, quando o inimigo da natureza humana apresenta suas astúcias e insinuações àalma justa, quer e deseja que sejam recebidas e guardadas em segredo. Mas, quando a pessoatentada as descobre a seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual, que conheça seus enganos e malícias, isso lhe causa grande pesar, porque conclui que não poderá realizar o mal que começara,uma vez que foram descobertos seus enganos evidentes.

327 - 14ª regra. Procede também como um caudilho, para vencer e roubar o que deseja.

Pois assim como um capitão ou comandante de uma tropa, acampando e examinando as forças oudisposição de um castelo, ataca-o pelo lado mais fraco, da mesma maneira, o inimigo da naturezahumana, rondando à volta de nós, observa de todos os lados nossas virtudes teologais, cardeais emorais. Onde nos encontra mais fracos e mais necessitados quanto à nossa salvação eterna, por alinos combate e procura tomar-nos.

328 - REGRAS PARA O MESMO FIM COM MAIOR DISCERNIMENTO DE ESPIRITOS

São mais próprias para a segunda semana.

329 - 1ª regra. É próprio de Deus e de seus anjos, em suas moções, dar verdadeira alegria e gozoespiritual, tirando toda tristeza e perturbação que o inimigo costuma causar. Deste é própriocombater esta alegria e consolação espiritual com razões aparentes, sutilezas e freqüentes ilusões.

330 - 2ª regra. Somente Deus pode dar consolação à alma sem causa precedente. Porque é próprio do Criador entrar, sair, causar nela moções, levando-a toda ao amor de sua divina Majestade. Digo"sem causa", isto é, sem nenhum prévio sentimento ou conhecimento de algum objeto pelo qualvenha tal consolação, mediante seus atos de entendimento e vontade.

331 - 3ª regra. "Com causa", podem consolar a alma tanto o bom espírito como o mau, mas parafins contrários. O bom espírito para proveito da alma, para que cresça e suba de bem a melhor. Omau, para o contrário, e posteriormente para arrastá-la à sua perversa intenção e malícia.

332 - 4ª regra. É próprio do espírito mau, que se disfarça em anjo de luz, introduzir-se emconformidade com a alma devota e sair com proveito dele, isto é, suscitar pensamentos bons esantos, conforme com a tal alma justa, e depois procurar pouco a pouco atingir seus objetivos,atraindo a alma a seus enganos secretos e perversas intenções.

333 - 5ª regra. Devemos atender muito ao curso dos pensamentos. Se o princípio, o meio e o fimsão todos bons, inclinados inteiramente para o bem, é sinal do bom espírito. Mas se a seqüência

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dos pensamentos sugeridos termina em alguma coisa má ou que distrai ou que é menos boa do que a que a pessoa se propusera anteriormente fazer, ou a enfraquece ou inquieta e conturba tirando-lhe a paz, tranqüilidade e quietude que antes possuía, então é sinal claro de que provém de mauespírito, inimigo do nosso proveito e salvação eterna.

334 - 6ª regra. Quando o inimigo da natureza humana for sentido e reconhecido por sua cauda deserpente e pelo mau fim a que induz, é útil para a pessoa que foi por ele tentada observar logo asucessão dos pensamentos bons que lhe trouxe e o princípio deles. E como, pouco a pouco,procurou fazê-la descer da suavidade e gozo espiritual em que se encontrava, até levá-la à suaintenção depravada, para que, com essa experiência conhecida e notada, a pessoa se guarde para ofuturo de seus costumeiros enganos.

335 - 7ª regra. Nos que progridem de bem para melhor, o bom espírito toca a alma doce, leve esuavemente, como a gota de água que penetra numa esponja. O mau toca-a com dureza, ruído einquietação, como a gota de água que cai na pedra.

Aos que procedem de mal a pior, os mesmos espíritos os tocam de maneira inversa. A causa dissoestá em ser a disposição da alma contrária ou semelhante a estes espíritos. Pois, quando écontrária, entram com estrépito, sendo bem notados e sentidos. E quando é semelhante, entram em silêncio, como em sua própria casa de porta aberta.

336 - 8ª regra. Quando a consolação é "sem causa", embora não exista nela engano, por procederunicamente de Deus nosso Senhor, como se disse, contudo a pessoa espiritual, a quem Deus dá talconsolação, deve com muita vigilância e atenção considerar e distinguir o tempo propriamente ditoda atual consolação, do tempo seguinte, em que a pessoa continua ardente e favorecida com o benefício da consolação anterior. Pois muitas vezes, neste segundo tempo, a pessoa, por efeito dospróprios hábitos e em conseqüência das suas idéias e seus juízos, ou sob a inspiração do bom ou domau espírito, é levada a diversas resoluções e opiniões, que não são dadas imediatamente por Deusnosso Senhor. Por isso, é necessário que sejam muito bem examinados, antes de se lhes dar inteirocrédito ou de serem postos em prática.

337 - REGRAS NO MINISTÉRIO DE DISTRIBUIR ESMOLAS

338 - 1ª regra. Se distribuo esmolas a parentes, amigos ou pessoas às quais me sinto afeiçoado,tenho de observar quatro coisas, já mencionadas na matéria da eleição (184-187).

A primeira é que o amor que me leva a dar esmolas a essas pessoas desça do alto, do amor de Deusnosso Senhor, de forma que eu sinta antes em mim que o amor mais ou menos vivo que lhes tenhoé por Deus, e que Deus resplandeça no motivo que me leva a amá-las mais.

339 - 2ª regra. Imaginarei um homem que nunca vi nem conheci e a quem desejo toda a perfeiçãono seu ministério e no seu estado. Farei, nem mais nem menos, aquilo que desejaria que ele fizessena distribuição das esmolas, tomando para mim a regra e a medida que desejaria que ele adotasse e que considero meio mais conforme à maior glória de Deus e à maior perfeição de sua alma.

340 - 3ª regra. Examinarei, como se estivesse na hora da morte, que maneira de proceder e quemedida desejaria ter adotado no exercício da minha administração. E em conformidade com isto,guardarei a mesma medida na distribuição das minhas esmolas.

341 - 4ª regra. Considerando como me acharei no dia do juízo, examinarei bem como desejariaentão ter usado deste ofício e ter desempenhado este ministério. E seguirei agora a mesma regraque quereria ter seguido, no dia do juízo.

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342 - 5ª regra. Quando alguém se sente inclinado ou afeiçoado a algumas pessoas às quais querdistribuir esmolas, detenha-se e reflita bem as quatro regras precedentes, examinando e verificando, à luz delas, a sua afeição. E não dê a esmola até que tenha totalmente tirado de si,conforme a estas regras, a sua afeição desordenada.

343 - 6ª regra. Ainda que não haja culpa em aceitar os bens de Deus nosso Senhor para os distribuir, quando a pessoa é chamada para este ministério, contudo no determinar a proporção e aquantidade do que deve tomar e reservar para si mesmo ou dar a outros pode haver dúvida de faltaou de excesso. Por isso, pode-se reformar em sua vida e estado pelas regras precdentes.

344 - 7ª regra. Pelas razões acima expostas, e por muitas outras, no que concerne à própria pessoae ao regime da casa procedermos sempre de uma maneira, tanto melhor e mais segura, quanto mais restringirmos e reduzirmos os gastos e quanto mais nos parecermos com o pontífice supremo,nossa regra e nosso modelo que é Cristo nosso Senhor.

Foi em conformidade com esta regra que o 3º concílio de Cartago, ao qual assistiu SantoAgostinho, determinou e ordenou que a mobília do bispo fosse comum e pobre. Isto deve aplicar-se a todos os estados, guardadas as proporções e tendo em conta a condição e nível das pessoas.Assim no estado matrimonial temos o exemplo de S. Joaquim e Sta. Ana que dividiam os bens emtrês partes: uma, davam-na aos pobres; outra, ao culto e ao serviço do Templo; e a terceirareservavam-na para a manutenção de si mesmos e de sua família.

345 - NOTAS PARA ENTENDER E SE ORIENTAR A RESPEITO DE ESCRÚPULOS E INSINUAÇÕES DO INIMIGO

246 - - 1ª nota. Chamam vulgarmente escrúpulo o que procede do nosso próprio juízo e liberdade,a saber: quando eu livremente julgo que é pecado o que não é pecado. Assim, por exemplo,acontece que alguém, depois de ter pisado casualmente uma cruz de palha, julga que pecou. Istopropriamente é juízo errôneo e não verdadeiro escrúpulo.

347 - 2ª nota. Depois de eu ter pisado aquela cruz, ou depois de ter pensado ou dito ou feitoalguma outra coisa, vem-me de fora o pensamento de que pequei. E, por outra parte, parece-menão ter pecado. No entanto sinto com isso perturbação, a saber, enquanto duvido e não duvido. Istoé propriamente escrúpulo e tentação do inimigo.

348 - 3ª nota. A primeira espécie de escrúpulo mencionada na primeira nota deve ser detestada,porque ela é falsidade.

Quanto ao outro escrúpulo, indicado na segunda nota, durante algum tempo não é de pequenautilidade para a pessoa que se dá a exercícios espirituais. Ajuda-a até mesmo muito a limpar-se e a purificar-se, separando-a inteiramente de toda a aparência de pecado, conforme esta palavra de S. Gregório: "É próprio das almas boas ver faltas onde as não há" (Bonarum mentium est ibi culpamagnoscere ubi culpa nulla est).

349 - 4ª nota. O inimigo observa muito se a pessoa é relaxada ou delicada. Se é delicada procuratorná-la ainda mais delicada para mais a perturbar e prejudicar. Por exemplo, se vê que uma pessoanão consente em pecado mortal nem venial nem aparência alguma de pecado deliberado, então o inimigo, que não pode fazê-la cair em coisa que pareça pecado, procura fazê-la imaginar pecadoonde não há, por exemplo, numa palavra ou num pensamento sem importância.

Se a pessoa é relaxada, o inimigo procura relaxá-la mais. E assim, se antes não fazia caso depecados veniais, procurará que dos mortais faça pouco caso. E se antes fazia algum caso, procuraráque agora faça muito menos ou nenhum.

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350 - 5ª nota. A pessoa que deseja aproveitar na vida espiritual, sempre deve proceder de modocontrário ao do inimigo. Se o inimigo quer relaxar a consciência, procure torná-la delicada. Do mesmo modo, se o inimigo procura torná-la delicada até ao excesso, a pessoa procure firmar-sesolidamente no meio-termo para tranqüilizar-se totalmente.

351 - 6ª nota. Quando uma pessoa boa quer dizer ou fazer alguma coisa dentro das normas da Igreja e das tradições dos nossos maiores, para a glória de Deus nosso Senhor, se lhe vem um pensamento ou tentação de fora, para que não diga nem faça essa coisa, trazendo-lhe razõesaparentes de vanglória ou de outra coisa, então deve levantar o pensamento a seu Criador e Senhor. E se vê ser um serviço que lhe é devido, ou ao menos, não lhe é contrário, deve agir demaneira diametralmente oposta contra essa tentação, respondendo-lhe como S. Bernardo: "Nempor ti comecei, nem por ti acabarei" (Nec propter te incepi, nec propter te finiam).

352 - REGRAS PARA SENTIR VERDADEIRAMENTE COMO SE DEVE NA IGREJAMILITANTE

353 - 1ª regra. Renunciando a todo juízo próprio, devemos estar dispostos e prontos a obedecer emtudo á verdadeira esposa de Cristo Nosso Senhor, isto é, à santa Igreja hierárquica, nossa mãe.

354 - 2ª regra. Louvar a confissão sacramental e a recepção do Santíssimo Sacramento pelo menos uma vez por ano, muito mais todos os meses, melhor ainda cada semana, com as disposiçõesdevidas que se requerem (18).

355 - 3ª regra. Louvar a assistência freqüente à missa, como também os cantos, salmos e longasorações dentro e fora da igreja. Da mesma forma, as horas ordenadas no tempo designado paratodo o ofício divino e para todas as orações e todas as horas canônicas.

356 - 4ª regra. Louvar muito as ordens religiosas, a virgindade e a continência. E não tanto omatrimônio, como qualquer destas.

357 - 5ª regra. Louvar os votos religiosos de obediência, pobreza e castidade e os outros votos deperfeição voluntária.

É de notar que o voto, tendo por matéria coisas que conduzem à perfeição evangélica, não se podefazer de coisas que afastam dela, como de ser comerciante ou de abraçar o estado matrimonial, etc.

358 - 6ª regra. Louvar relíquias dos Santos, venerando aquelas e rezando a estes, louvar as estações, as peregrinações, as indulgências, os jubileus, as bulas da cruzada, o costume de acendervelas nos templos.

359 - 7ª regra. Louvar as leis a respeito dos jejuns e abstinências da quaresma, dos quatro tempos,das vigílias, da sexta-feira e do sábado, assim como as penitências, não só interiores, mas mesmoexteriores.

360 - 8ª regra. Louvar o zelo pela construção e ornamentação das igrejas. Louvar o uso dasimagens, e venerá-las conforme o que representam.

361 - 9ª regra. Louvar finalmente todos os preceitos da santa Igreja, e estar disposto para procurarrazões em sua defesa, e nunca para os criticar.

362 - 10ª regra. Devemos ser mais prontos para aprovar e louvar as diretrizes, recomendações ecomportamento dos nossos superiores (do que para os criticar). Porque, supondo que algumas dassuas disposições não sejam, ou não tenham sido tais (que mereçam elogio), falar contra elas, querem sermões ao público, quer em conversas com os simples fiéis, originaria mais críticas e

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escândalo do que proveito: o povo viria a irritar-se contra os seus superiores, quer temporais querespirituais. Todavia, assim como é prejudicial falar mal dos superiores na sua ausência diante dopovo humilde, assim pode ser útil falar dos maus costumes às pessoas que podem remediá-los.

363 - 11ª regra. Louvar a teologia positiva e a teologia escolástica. Porque, como é mais própriodos doutores positivos, tais como S. Jerônimo, Sto. Agostinho, S. Gregório e outros mover os afetos e levar os homens a amar e a servir em tudo a Deus nosso Senhor, assim é mais próprio dos escolásticos como Sto. Tomás, S. Boaventura, o Mestre das Sentenças e outros definir e explicar,conforme as necessidades dos tempos modernos as coisas necessárias à salvação eterna, e refutar e explicar melhor todos os erros e todas as falácias. Com efeito, os doutores escolásticos, maisrecentes que os primeiros, não somente se servem do conhecimento da Sagrada Escritura e dosescritos dos santos doutores positivos, mas, esclarecidos e ensinados pela virtude divina, ajudam-se também dos concílios, dos cânones e constituições da nossa santa Mãe Igreja.

364 - 12ª regra. Evitemos fazer comparações entre pessoas ainda vivas e os santos que estão no céo. Porque há muito perigo de nos enganarmos neste ponto; quando dizemos, por exemplo, que este homem é mais sábio do que Sto. Agostinho, que é um outro S. Francisco ou maior ainda, queé um outro S. Paulo na bondade, na santidade, etc.

365 - 13ª regra. Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a crer que o que nos parecebranco é negro, se assim o determina a Igreja hierárquica; persuadidos de que entre Cristo Nosso Senhor - o Esposo - e a Igreja - sua Esposa - não há senão um mesmo Espírito, que nos governa edirige para a salvação das nossas almas. Porque é pelo mesmo Espírito e mesmo Senhor, autor dosdez mandamentos, que se dirige e governa a santa Igreja, nossa Mãe.

366 - 14ª regra. Embora seja muito verdade que ninguém se pode salvar sem estar predestinado esem ter a fé e a graça, contudo precisamos ter muito cuidado na maneira de falar e discorrer sobreeste assunto.

367 - 15ª regra. Habitualmente não devemos falar muito de predestinação. Mas se em algumaocasião se falar disso, faça-se de maneira que os simples fiéis não caiam em algum erro. Algumasvezes isso acontece, quando concluem: "Se já está determinado que me vou condenar ou salvar,não são as minhas ações boas ou más que hão de mudar esta determinação". E com este raciocíniotornam-se negligentes e descuidam as obras que conduzem à salvação e ao proveito espiritual dassuas almas.

368 - 16ª regra. Da mesma forma é de advertir que, por falar muito de fé e com muita insistência,sem nehuma distinção e explicação, não se dê ocasião ao povo de vir a ser negligente e preguiçosodo obrar, e isso... quer antes de a fé estar informada pela caridade, quer depois.

369 - 17ª regra. Igualmente não devemos insistir tanto na graça a ponto de se produzir o veneno que nega a liberdade. Pode-se com certeza falar da fé e da graça, mediante o auxílio divino, paramaior louvor de sua divina Majestade, mas não de tal forma nem por tais modos, mormente emnossos tempos tão perigosos, que as obras e o livre-arbítrio sejam prejudicados ou mesmonegados.

370 - 18ª regra. Embora devamos estimar acima de tudo o serviço de Deus nosso Senhor por puro amor, devemos contudo louvar muito o temor da divina Majestade. Porque não somente é piedosoe santíssimo o temor filial, mas até o mesmo temor servil, o qual ajuda muito a sair do pecadomortal, quando o homem não alcança coisa melhor ou mais útil. E quando sai dele, facilmente oajuda a alcançar o temor filial, que é totalmente querido e agradável a Deus, por ser inseparável do divino amor.

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APÊNDICE 1

ORAÇÕES VOCAIS

No nº 253, Santo Inácio propõe cinco orações vocais para a meditação do exercitante segundodiversos "modos de orar". São colocadas aqui na ordem em que são enumeradas. Três delas, aAve-maria, a Anima Christi e o Pai-nosso são freqüentemente utilizadas nos colóquios dos Exercícios.

PAI-NOSSO

Pai nosso,que estais no céu,santificado seja o vosso nome,venha a nós o vosso reino,seja feita a vossa vontadeassim na terra como no céu.O pão nosso de cada dia nos dai hoje,perdoai-nos as nossas ofensasassim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.Não nos deixeis cair em tentação,mas livrai-nos do mal. Amém.

AVE-MARIA

Ave, Maria,cheia de graça,o Senhor é convosco;bendita sois vós entre as mulherese bendito é o fruto do vosso ventre,Jesus.Santa Maria.Mãe de Deus,rogai por nós pecadores,agorae na hora de nossa morte.Amém.

CREDO

Creioem Deus,Pai todo-poderoso,Criador do céue da terra.E em Jesus Cristo, seu único Filho,nosso Senhor,que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,nasceu da Virgem Maria,

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padeceu sob Pôncio Pilatos,foi crucificado, morto e sepultado;desceu à mansão dos mortos;ressuscitou ao terceiro dia,subiu aos céus,está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,donde há de vira julgar os vivos e os mortos.Creio no Espírito Santo,na Santa Igreja católica,na comunhão dos santos,na remissão dos pecados,na ressurreição da carne,na vida eterna.Amém.

ALMA DE CRISTO (ANIMA CHRISTI)

Alma de Cristo, santificai-me.Corpo de Cristo, salvai-me.Sangue de Cristo, inebriai-me.Água do lado de Cristo, lavai-me.Paixão de Cristo, confortai-me.Ó bom Jesus, ouvi-me.Nas vossas chagas, escondei-me.Não permitais que me separe de vós.Do inimigo maligno, defendei-me.Na hora da minha morte, chamai-me.E mandai-me ir para vós.Para que vos louve com os vossos santosPelos séculos dos séculos.Amém.

SALVE-RAINHA

Salve, Rainha,Mãe de Misericórdia,vida, doçura e esperança nossa, salve!A vós bradamos, os degredados filhos de Eva.A vós suspiramos, gemendo e chorandoneste vale de lágrimas.Eia, pois, advogada nossa,esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,e depois deste desterro,mostrai-nos Jesus,bendito fruto de vosso ventre.Ó clemente,ó piedosa,ó doce sempre VirgemMaria.

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APÊNDICE 2

OUTRAS REFERÊNCIAS

Em diversos lugares dos "Exercícios" se faz referência aos mandamentos (238-243), às obras demisericórdia (351), aos pecados capitais (244-245), às faculdades da alma (246), aos sentidos do corpo (247-248), como objeto da meditação do exercitante, segundo os diversos "modos de orar".São colocados aqui, como ajuda para a memória do exercitante.

OS MANDAMENTOS

Os dez mandamentos da lei de Deus:

1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.2º - Não tomar o seu santo nome em vão.3º - Guardar domingos e festas.4º - Honrar pai e mãe.5º - Não matar.6º - Não pecar contra a castidade.7º - Não furtar.8º - Não levantar falso testemunho.9º - Não desejar a mulher do próximo.10º - Não cobiçar as coisas alheias.

Os cinco mandamentos da Igreja:

1º - Ouvir missa inteira nos domingos e festas de guarda.2º - Confessar-se ao menos uma vez cada ano.3º - Comungar pela Páscoa da Ressurreição.4º - Jejuar e abster-se de carne, quando manda a santa Mãe Igreja.5º - Pagar o dízimo, segundo o costume.

AS OBRAS DE MISERICÓRDIA

As obras de misericórdia espirituais:

1ª - Dar bom conselho.2ª - Ensinar os ignorantes.3ª - Corrigir os que erram.4ª - Consolar os aflitos.5ª - Perdoar as injúrias.6ª - Sofrer com paciência as fraquezas do próximo.7ª - Rogar a Deus pelos vivos e defuntos.

As obras de misericórdia corporais:1ª - Dar de comer a quem tem fome.2ª - Dar de beber a quem tem sede.

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3ª - Vestir os nus.4ª - Dar pousada aos peregrinos.5ª - Visitar os encarcerados.6ª - Remir os cativos.7ª - Enterrar os mortos.

OS SETE PECADOS CAPITAIS E AS VIRTUDES OPOSTAS

Os sete pecados capitais:

1º - Orgulho.2º - Inveja.3º - Ira.4º - Avareza.5º - Luxúria.6º - Gula.7º - Preguiça.As sete virtudes opostas:

1ª - Humildade.2ª - Caridade para com o próximo.3ª - Mansidão.4ª - Generosidade.5ª - Castidade.6ª - Temperança.7ª - Zelo.

AS VIRTUDESAs virtudes teologais:Fé.Esperança.Caridade.

As virtudes cardeais:Prudência.Justiça.Fortaleza.Temperança.

AS FACULDADES DA ALMAMemória.Inteligência.Vontade.

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OS CINCO SENTIDOS DO CORPOVisão.Audição.Olfato.Paladar.Tato.

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