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68ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA PROMOTORIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS , por sua Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde do Trabalhador – 68ª Promotoria de Goiânia, com fundamento legal no art. 6º, VIII, da Lei Complementar nº 75/93 c/c o art. 80 da Lei nº 8.625/93, bem como nos arts. 129, II e 5º, LXXI, d a Constituição Federal do Brasil, e, ainda com fulcro nos documentos anexos , extraídos dos autos dos Inquéritos Civis Públicos nº 18/2011, 52/2011 e 30/2012 (convertido em PA Nº 201200149027), todos desta 68ª Promotoria, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, propor o presente MANDADO DE INJUNÇÃO, com PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR contra o ESTADO DE GOIÁS , Pessoa Jurídica de Direito Público Interno, com sede na Praça Cívica (Praça Pedro Ludovico Teixeira), nº 03, Setor Central, nesta Capital, representado pelo Sr. PROCURADOR GERAL DO ESTADO , Dr. ALEXANDRE EDUARDO FELIPE TOCANTINS , com base nos fatos e fundamentos a seguir aduzidos: Sede do Ministério Público - Rua 23, esq. c/ Av. B, Qd. 06, Lt. 15/24, Sala T-35/ Ala B, Jardim Goiás, CEP 74.805-100 - Fone: 3243-8107/3243-8108/ Fax:3243-8091 1

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA … · mandado de injunÇÃo, com pedido de medida liminar contra o ESTADO DE GOIÁS , Pessoa Jurídica de Direito Público Interno,

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68ª PROMOTORIA DE JUSTIÇAPROMOTORIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua

Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde do Trabalhador – 68ª Promotoria de Goiânia, com

fundamento legal no art. 6º, VIII, da Lei Complementar nº 75/93 c/c o art. 80 da Lei nº 8.625/93,

bem como nos arts. 129, II e 5º, LXXI, da Constituição Federal do Brasil, e, ainda com fulcro

nos documentos anexos, extraídos dos autos dos Inquéritos Civis Públicos nº 18/2011,

52/2011 e 30/2012 (convertido em PA Nº 201200149027), todos desta 68ª Promotoria, vem

respeitosamente perante Vossa Excelência, propor o presente

MANDADO DE INJUNÇÃO, com PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR

contra o ESTADO DE GOIÁS, Pessoa Jurídica de Direito Público

Interno, com sede na Praça Cívica (Praça Pedro Ludovico Teixeira), nº 03, Setor Central, nesta

Capital, representado pelo Sr. PROCURADOR GERAL DO ESTADO, Dr. ALEXANDRE EDUARDO FELIPE TOCANTINS, com base nos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

Sede do Ministério Público - Rua 23, esq. c/ Av. B, Qd. 06, Lt. 15/24, Sala T-35/ Ala B, Jardim Goiás, CEP 74.805-100 - Fone: 3243-8107/3243-8108/ Fax:3243-8091 1

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1. LEGITIMIDADE E COMPETÊNCIA.

O interesse que o Ministério Público visa proteger na presente

ação é concernente à saúde física e mental, bem como à dignidade no trabalho dos bombeiros

militares do Estado de Goiás. Portanto, interesse difuso, vez que os serviços prestados a toda

a população são indiretamente atingidos quando ocorre a precarização da saúde desses

profissionais que prestam atividade de segurança pública.

Além disso, conforme precedentes do Egrégio Tribunal de Justiça

do Estado de Goiás, o Ministério Público tem legitimidade para impetrar mandado de injunção.

Nesse sentido :

“I - A legitimidade do Ministério Público para impetrar mandado de injunção, além de se coadunar com o art. 129, II, da Constituição Federal, está expressamente prevista no art. 6º, VIII, da Lei Complementar nº 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União), que se aplica subsidiariamente aos Ministérios Públicos dos Estados, conforme disposto no art. 80 da Lei nº 8.625/93, para defender direitos difusos, cujo exercício está inviabilizado por ausência de norma regulamentadora.” (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDICAO 469997-04.2008.8.09.0000, Rel. DES. ALAN S. DE SENA CONCEICAO, 5A CAMARA CIVEL, julgado em 08/07/2010, DJe 649 de 26/08/2010).

2. FATOS QUE ENSEJARAM A PROPOSITURA DA PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

Esta 68ª Promotoria da Capital – Promotoria de Saúde do

Trabalhador – tem recebido frequentes denúncias nas quais bombeiros militares do Estado de

Goiás reclamam de excesso de jornada de trabalho (DOCS. 02 a 02-C). A título de ilustração,

transcrevemos alguns trechos :

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“99,5% do efetivo de Praças atuam na área operacional... ; por outro lado, 99,55 dos oficiais trabalham na área administrativa... o pessoal do serviço administrativo tem uma carga de 8h diárias, à exceção da quarta-feira que o expediente é de apenas 4h diárias; … a maioria dos bombeiros militares Praças faz escala de 24X48; que essa escala soma em um mês 240h e 264h,

cuidando-se de mês com 30 e 31 dias respectivamente; que isso dá

aproximadamente 60h semanais de trabalho... a maioria dos oficiais em regra trabalha … em média 160h mensais... que no final de 30 anos de serviço as Praças, no sistema de escala 24X48, terão trabalhado quase o dobro do número de horas que os servidores administrativos... ; que, em verdade, a disposição do Estatuto da Polícia Militar que prevê uma carga horária mínima, está sendo invocada para impor, de forma permanente, a algumas categorias de bombeiros militares, uma carga horária excessiva; que o declarante solicita

providências para que a carga horária dos bombeiros militares seja devidamente

regulamentada com exclusão do critério da escala 24X48; que na visão do

declarante...compromete a saúde do bombeiro que trabalha 24h ininterruptas, com sérios reflexos na qualidade do serviço prestado...”(1º SGT QPC RG

01.071 ALANIR Pereira Caetano – ACA/BSE-CBMGO).

“...o problema ... mais grave da nossa Corporação, as horas excessivas trabalhadas. Somos pais e mães de família que saem cedo de casa com a missão

de ajudar a população em casos graves onde nosso físico e nosso psicológico são

colocados a prova. São totalizadas 72 horas semanais, sem contar com as

famosas 'formaturas' que são reuniões cívico-militares ... Vejo que deveriam ser contadas como tempo trabalhado porque todo militar é obrigado a deslocar de

sua casa, no meio da folga, para participar, aumentando assim para 77,80 horas semanais...” (BOMBEIRO MILITAR ANÔNIMO, por e-mail). Destaquei

“...no trabalho operacional estamos cumprindo absurdas 240 h de trabalho mensal (240 / 4 = 60 hs semanais). Nossa escala é de 24 h de trabalho por 48 h de

descanso ... atendemos as mais diversas ocorrências, entre elas: acidentes de

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trânsito, salvamento de animais e pessoas, incêndios em vegetação e urbano...

Tendo em vista que estas ocorrências se dão durante dia e a madrugada, afetando

nosso ciclo biológico; outro fator que concorre para nossa futura debilidade física e mental são os chamados extras durante as 48 h de descanso …

durante a época de seca, pois temos de ficar de sobreaviso...” (BOMBEIRO

MILITAR ANÔNIMO, por e-mail).Destaquei.

“...a Portaria nº 42/2013-CG na verdade piorou a situação do Bombeiro Militar que

trabalha no serviço operacional, aumentando a desigualdade de tratamento em

relação ao serviço administrativo … dentre as escalas ordinárias existem aquelas

destinadas a outras atividades como formaturas (reuniões para tratar de assuntos

internos, de caráter obrigatório) e cursos de aperfeiçoamento, sendo que o

Bombeiro do serviço administrativo, quando é convocado para esse tipo de

atividade, realiza-a dentro de sua jornada de trabalho normal, pois são atividades

que ocorrem geralmente durante o dia; enquanto que o Bombeiro do serviço

operacional que saiu de um plantão de 24 horas pode ser convocado para essa

atividade, o que significará uma escala extra, que não é computada na regra geral

prevista no art. 1º da Portaria 42/2013; que, as operações na época da estiagem

(que abrange aproximadamente 6 meses do ano), também são consideradas

escalas ordinárias, quando o Bombeiro pode ser convocado e trabalhar

ininterruptamente por vários dias, não havendo uma regulamentação sobre um

prazo indicado para substituição de equipes...; que, existem situações que fazem

parte do calendário anual do Bombeiro (ou seja, não são situações extraordinárias

imprevistas), e que também expõem os Bombeiros a escalas desumanas por

determinado período de tempo, como por exemplo : 1- Operação férias no Rio

Araguaia, principalmente em Aruanã, em que a escala praticada é 12X12 durante a

permanência da equipe na Cidade...; 2- Operação Romaria de Muquém, com

escala de 24x24 por 10 dias; 3- Operação da Festa de Trindade, em que o Quartel

de Trindade fica em escala 24X24 por 15 dias; que, os declarantes também

esclarecem que … existem atividades regulares dentro das unidades (quando não estão atendendo ocorrência), tais como : 1- serviço de ronda/guarda do

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quartel, de dia e de noite (24 horas do plantão), que também faz o atendimento das

ligações telefônicas recebidas pela unidade, fazendo o trabalho de call center ou

PABX; 2- atendimento/recepção ao público, pois o primeiro atendimento é feito por

um militar do serviço operacional, que encaminha a pessoa para o administrativo,

quando for o caso; 3- Atividade de educação física...; 4- As formaturas já

referidas...; que, os declarantes afirmam que o serviço militar não é um serviço

que se possa considerar livre de estresse quando o Bombeiro não está atendendo a uma ocorrência, pois, além das atividades já mencionadas, o

simples fato de estar no ambiente do quartel exige uma postura, comportamento, obediência, enfim, um conjunto de atitudes e tratativas com

militares de patentes superiores, com rígidas hierarquia e disciplina, o que inviabiliza uma situação que poderia ser considerada como um momento

prolongado de relaxamento e descanso...” (SGT BM UILLIAM RIBEIRO DA

COSTA e CB BM CARLOS WALHESTEIN VAZ DA SILVA). Destaquei.

Esta Promotoria instaurou procedimentos investigatórios para

requisitar das Corporações Militares a realização de estudos para definição da jornada máxima

de trabalho ordinário, vez que a Lei nº 8.033/75, que instituiu o Estatuto dos Policiais Militares, só estabelece a jornada semanal mínima de 40 (quarenta) horas, sem, contudo, definir o limite máximo.

O Comando da Polícia Militar do Estado de Goiás atendeu à

orientação do Ministério Público, instituindo grupo de estudos que ao final propôs a fixação da

jornada ordinária máxima de trabalho em 42 horas semanais. A proposta do grupo foi

submetida às associações dos militares e, após consenso, foi acatada pelo Comando Geral da PMGO, que editou as Portarias nº 2.550/2012 e 3.507/2013 (que promoveu alterações na primeira), fixando, em seu art. 2º, § 1º, a jornada “máxima” de 42 horas semanais, “para o emprego

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operacional e administrativo do policial militar, em situações

normais” (DOC. 01) .

Para melhor entendimento e detalhamento das escalas, constou

na Portaria :

“Art. 3º- Fica estabelecida, no âmbito desta Corporação, a

jornada máxima diária de 12 (doze) horas trabalhadas com,

no mínimo, 12 horas de descanso.

§ 1º O efetivo operacional da Corporação obedecerá escalas

uniformes de 12X24 por 12X48 em rodízio de escala (diurna e

noturna), respeitadas as exceções constates nesta Portaria.

§ 2º A escala de serviço para o Comando da 8ª CIPM, o

Comando Ambiental, o Comando Rodoviário e para os

destacamentos da Polícia Militar – DPM será de 24X72.

§ 3º A escala de serviço para o Comando de Operações de

Divisa será de 72X144 horas, garantindo o descanso de 10

(dez) horas diárias intercaladas durante o serviço.

§ 4º na jornada de 12X24 por 12X48 em rodízio de escala

(diurna e noturna) o serviço extra-remunerado poderá ser

cumprido antecipando 6 (seis) horas do serviço quando a

escala ordinária for noturna, bem como prorrogando 6 (seis)

horas de serviço ao final da escala ordinária diurna.

§ 5º A escala do Comando do entorno será de 12X48 horas.

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§ 6º Qualquer outro tipo de escala que, por sua natureza, não

se enquadrar às normas aqui estabelecidas, estará sujeita à

autorização expressa do Comando da Corporação.

§ 7º A responsabilidade pelo cumprimento da presente

portaria é do Comandante imediato do Policial Militar,

respondendo solidariamente os demais níveis de comando.”

Os considerandos insertos na parte introdutória de ambas as

portarias esclarecem as razões da jornada diária máxima e da regulamentação das escalas, na

forma como foi feita :

“Considerando orientação emanada do Ministério Público do Estado de Goiás,

através da Promotoria da Saúde do Trabalhador;

Considerando os resultados da Comissão composta por profissionais de saúde da

Polícia Militar que realizaram estudos sobre a jornada de trabalho do policial militar

e da Comissão composta por policiais militares do quadro de combatente que

realizou estudos sobre as escalas de serviço aplicadas na Corporação;

Considerando os resultados de levantamento e apresentação de sugestões

realizadas junto a todas as unidades da Corporação;

Considerando a existência de disparidades entre as cargas horárias de Policiais

Militares empregados nas diversas frentes de serviço da Polícia Militar do Estado

de Goiás;

(…)

Considerando que o Estatuto dos Policiais Militares (Lei 8033/75) estabelece a

jornada semanal mínima de 40 (quarenta) horas semanais, sem, contudo, definir o

limite máximo;

Considerando a necessidade de estabelecimento de critérios uniformes para a

jornada de trabalho e do descanso;” (PORTARIA 2550/2012).

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“Considerando que o Comando recebeu por parte da tropa e dos representantes

das associações a reivindicação de viabilizar o serviço extraordinário evitando

novos deslocamentos residência-trabalho;

Considerando que os estudos sobre índices de acidente de trajeto recomendam

que se minimize, sempre que possível, tais deslocamentos;

Considerando que os estudos realizados pela Organização Mundial do Trabalho

orientam que a vontade do trabalhador deve ser considerada no momento de definir

sua jornada de trabalho;

Considerando que na 8ª CIPM a especificidade do serviço de guarda de muralha...

Considerando que no Comando de Operações de Divisas a especificidade do

serviço de patrulhamento em rodovias nas proximidades das divisas entre

Estados...

Considerando que no Comando do Entorno a especificidade da situação...

Considerando que o objetivo principal da presente regulamentação é não extrapolar

a jornada máxima de 42 (quarenta e duas) horas semanais, na média mensal, nas

escalas ordinárias.”

Do teor dos dispositivos das Portarias e dos seus considerandos,

extrai-se que a regulamentação da PMGO foi na direção correta, pois : 1- Fixou a jornada

máxima semanal em quantidade aceitável de horas; 2- Levou em consideração a opinião não

só dos comandos, mas também da tropa e de seus representantes classistas; 3- Orientou-se

pelas recomendações da equipe de saúde, para : 3.1- evitar escalas fixas de trabalho noturno;

3.2- estabelecer descansos mínimos entre as jornadas; 3.3- flexibilizar, diante de um risco

maior (acidentes de trajeto), mas impondo certos limites, como, por exemplo, evitando a

flexibilização para além das 12 horas diárias quando é impossível o descanso intra-jornada,

como no serviço de rádio-patrulha (RP).

Todavia, ao contrário da PMGO, o Comando do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás, apresentou um estudo (DOC. 04) que foi previamente direcionado para concluir no sentido de que as atuais jornadas de mais de 60 horas, com

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escala de 24 X48 não prejudicam a saúde dos bombeiros. A alegação de insuficiência de

contingente foi o que direcionou o estudo, que de tão tendencioso, chegou a conter afirmações

consideradas absurdas pela literatura especializada em saúde no trabalho, como por exemplo

no sentido de que um determinado estudo “não evidenciou uma sobrecarga negativa em

trabalhadores em turno noturno comparados com os de turno diurno” . Conforme veremos na

fundamentação jurídica abaixo exposta, não há dúvida que tanto o trabalho noturno como o

trabalho em turnos, praticados nas corporações militares, são prejudiciais à saúde, o que já foi

reconhecido em diversos estudos da Organização Internacional do Trabalho e na própria

Constituição Federal de 1988, que prevê a indenização do trabalho noturno com pagamento de

adicional.

Estudos da própria equipe de saúde da Polícia Militar já

concluíram que as jornadas excessivas de trabalho contribuem para o estresse que gera

violência policial e reduz a produtividade do militar. A CAP QOSPM ROSANA CRISTINA DE

OLIVEIRA, médica do trabalho, Presidente do SESMT-PMGO, analisando, por solicitação

desta Promotoria, a relação entre a jornada de trabalho e a saúde dos militares, afirmou :

“Tais alterações (no ciclo sono-vigília, que provocam distúrbios de saúde) são

observadas e identificadas em qualquer função desempenhada ou profissão onde

o trabalho em turnos é adotado. No caso específico dos bombeiros, a

situação é ainda mais agravada visto que a atividade é

considerada a segunda profissão mais estressante por

natureza, perdendo apenas para as atividades das forças armadas em geral,

segundo pesquisa da Universidade de Wisconsin-Madison, publicada pela

CareerCast.com (Vide cópia do trabalho anexo).” Destaquei. (DOC. 05)

Outra afirmação inverídica do estudo feito pelo CBM-GO. foi no

sentido de que os bombeiros ficam ociosos no período em que ficam aquartelados. Conforme

Relatório da CEEI anexo (DOC. 06), elaborado pelo próprio CBM-GO. em março/2009 para

identificar as funções atualmente exercidas por bombeiros, mas que poderiam ser exercidas

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por civis, foram descritas as seguintes atividades/funções exercidas pelo bombeiro que se

encontra aquartelado : 1- telefonista/recepcionista; 2- Auxiliar administrativo; 3- Auxiliar de

copa/cozinha; 4- Auxiliar de limpeza; 5- Auxiliar de manutenção de instalações; 6- Auxiliar de

manutenção de veículos; 7- Auxiliar de Segurança (vigilante) “com atribuições de vigilante

diurno e/ou noturno”. No relatório, foram apresentadas algumas considerações sobre essas

funções, tais como : “o serviço de plantão apresenta características... Uma dessas

características é a definição, dentro das equipes de trabalho, de responsáveis por algumas tarefas … como alimentação, limpeza das dependências, viaturas e

equipamentos etc.” E mais : “O Corpo de Bombeiros … possui atualmente 31 unidades operacionais e, historicamente, a construção e reforma dessas unidades somente foi

possível graças à contribuição dos militares integrantes dessa Corporação... sempre contando com o voluntariado interno para a execução das tarefas de pedreiro, pintor,

carpinteiro, eletricista, servente etc.”. “CONCLUSÃO : A Comissão Especial de Estudo Interno, … conclui que existem 'tarefas atípicas' … que poderiam ser executadas por

civis, por não configurarem como atividade-fim da Corporação … No entanto, a Comissão entende também que o fato de algumas tarefas serem executadas por

militares... não configura desvio de função, uma vez que essas tarefas são realizadas para manutenção do ambiente de trabalho e são executadas sem prejuízo da função

para a qual o militar está escalado” (destaquei). Vide, no DOC. 08 anexo, as ordens de serviço e fotos de bombeiros trabalhando em serviço de reforma, durante as escalas ordinárias (plantões).

Cabe aqui relembrar que, além dos serviços de limpeza das

instalações, preparo de alimentação, auxílio na construção e reforma dos quartéis, limpeza de

veículos e equipamentos, vigilância, os militares que estão no plantão são obrigados a

participar das chamadas “formaturas”, que são cursos e reuniões realizadas no horário de

expediente. Caso não estejam no plantão, são convocados para tais formaturas nos seus

horários de folga. Restou comprovado, portanto, que o Estudo fez afirmações falsas, tanto do ponto de vista científico da saúde como

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das tarefas exercidas pelos bombeiros durante o plantão, o que torna inconfiáveis suas conclusões sobre a jornada.

A despeito disso, o Comando Geral do Corpo de Bombeiros editou

a Portaria nº 42/2013-CG (DOC. 03), na qual não foi fixada uma jornada máxima para o serviço ordinário do bombeiro militar e ainda reafirma que “em regra, no âmbito do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, o regime de escala de plantão operacional é de 24 horas trabalhadas por 48 horas de descanso”. Ou seja, manteve sua principal escala que alcança 60 horas mensais ou mais (nos meses de 31 dias); e ainda sem nela incluir uma série de convocações (vide declarações supra transcritas) que elevam a jornada semanal para além das 72 horas semanais, mas que são consideradas “serviço ordinário”, para fins de não serem remuneradas como serviço extraordinário.

Cabe acrescer que, em razão dos defasados contingentes de

bombeiros, o CBM pratica como rotina a convocação para o trabalho extraordinário, seja ele

voluntário ou obrigatório, elevando ainda mais a jornada de trabalho diária dos seus

integrantes. Portanto, como a escala padrão já adota as 60 horas, ao somar as convocações ordinárias e extraordinárias (inclusive quando o Bombeiro está de sobreaviso na época da estiagem, que dura aproximadamente 6 meses do ano) ela chega a 70, 80 e até mais horas semanais.

Outro aspecto distorcido no CBM é que, enquanto os bombeiros que atuam no serviço administrativo trabalham apenas 36

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horas semanais (às quartas-feiras o expediente é das 08:00 às 12:00 hs. - não há serviço vespertino) os do operacional trabalham acima de 60 horas, como já referido. Só a correção ou redução dessa injustiça poderia racionalizar o serviço, destinando um maior contingente ao serviço operacional !

É apropriado ainda, fazer a seguinte comparação : tanto os

médicos dos serviços de saúde pública como os militares exercem serviços essenciais. Porém,

os médicos têm sua jornada de trabalho definida e, ao final dou expediente, caso não estejam

no meio de um atendimento de emergência, podem ir tranquilamente para suas casas. Porém,

é comum acontecer de o militar (especialmente o bombeiro) que já cumpriu sua escala de

serviço ordinária ser convocado, contra sua vontade, para escalas extraordinárias de serviço

em jogos de futebol, festas agropecuária, festas de axé, de santo, de rock, desfiles cívicos, na Capital, ou qualquer outra festividade promovida por uma Prefeitura do Interior. Também são convocados para cursos e reuniões de trabalho, que deveriam ser realizados exclusivamente no horário de expediente, e não em convocações extraordinárias, como é frequente acontecer (vide declarações anexas – DOC. 02, 02-A, 02-B, 02-C).

E aqui, o sacrifício é para garantir a diversão de outras pessoas ! Ninguém pensa : ora, se não há policiais suficientes, então a festa não deve ser realizada ! Ou que os organizadores contratem segurança privada ! Enquanto uns se divertem, os militares são privados do convívio com suas famílias, seus filhos crescem sem a presença paterna ou materna, contribuindo decisivamente para os altos índices de afastamento de policiais por transtornos mentais, num círculo vicioso, que sobrecarrega os colegas

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em atividade e aumenta os registros de casos de violência policial, não

raro praticada contra seus próprios colegas, quando um ceifa a vida do

outro num ato de loucura.

Ninguém em sã consciência irá dizer que essa realidade brutal e

inegável está de acordo com nossa Constituição Federal Cidadã. Mas, a pretexto da Lei 8.033/75 (Estatuto dos Militares), INSTITUÍDA LOGO APÓS O GOLPE MILITAR, EM PLENA DITADURA, que só estabeleceu limite mínimo para a jornada dos militares, como se

estes humanos não fossem, o Estado de Goiás continua insanamente não só afirmando como

exigindo dos militares, principalmente dos Bombeiros, jornadas extenuantes, em completa

afronta à Carta Magna de 1988 cujos dispositivos não admitem que qualquer pessoa seja

submetida a trabalho por tempo indefinido, o que constitui condição degradante e indigna de

trabalho.

Como se não bastasse, recentemente foi anunciada a aquisição

de mais viaturas para a Corporação (DOC. 07), sendo que no estudo supra mencionado, feito

pelo próprio CBMGO, foi apresentada uma planilha que “traz um estudo comparativo, do efetivo operacional e quantidade de viaturas existente ... O cálculo demonstra o efetivo

necessário para completar as escalas de serviço atualmente existentes visando ativar todas as viaturas, portanto existe uma demanda de aumento do efetivo atual em 1.083

bombeiros, para ativar todas as viaturas do CBMGO na escala de 24X48” (DOC. 04).

CONSIDERANDO QUE O ESTUDO FOI APRESENTADO NO INÍCIO DE 2013, REVELA-SE UM REMATADO ABSURDO, EM QUE O GOVERNO DESPERDIÇA O DINHEIRO PÚBLICO COMPRANDO AINDA MAIS VIATURAS, QUANDO PARA UTILIZAR AS ATUAIS AINDA SERIAM NECESSÁRIOS MAIS 1.083 HOMENS TRABALHANDO ACIMA DE 60 HORAS SEMANAIS !

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Há graves indícios de improbidade administrativa pois se eram

necessários 1083 homens para ativar as viaturas existentes, quem e por que foi autorizada a

compra de mais viaturas ?! Além disso, mostra o absoluto desprezo pela saúde dos bombeiros,

que sofrerão maiores pressões para jornadas ainda mais exaustivas para “ativar as viaturas

existentes” e agora as novas viaturas adquiridas !

Diante de todo o exposto, requer seja fixado no julgamento do

presente mandado de injunção, para os militares do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás,

a jornada máxima de 42 horas semanais (que permite as escalas uniformes de 12x24 por

12x48 em rodízio de escala (diurna e noturna), prevista no art. 2º, § 1º, da Portaria nº

2550/2012 do Comando Geral da PMGO, nos termos dos pedidos elencados no último tópico

desta exordial.

3. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO.

MANDADO DE INJUNÇÃO E FALTA DE LIMITE MÁXIMO DE JORNADA DE TRABALHO NO SERVIÇO MILITAR - PRECEDENTES

A omissão em estabelecer, na legislação

infraconstitucional que rege o serviço militar, um jornada máxima que garanta

efetividade ao disposto no art. 1º, inciso III c/c 7º, XIII, da Constituição Federal, é

sanável por mandado de injunção. Nesse sentido :

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO. PRELIMINAR ILEGITIMIDADE ATIVA SOERGUIDA. REJEIÇÃO. PRELIMINAR DE AUDÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL E DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO SUSCITADA. REJEIÇÃO. MÉRITO. ASSOCIAÇÃO REPRESENTATIVA DE POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. APONTADA OMISSÃO LEGISLATIVA QUANTO À LIMITAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO DOS SERVIDORES REPRESENTADOS. LEI DE INICIATIVA DO

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CHEFE DO PODER EXECUTIVO ESTADUAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA REGRA INSERTA NO ART. 19 DO REGIME JURÍDICO ÚNICO DOS SERVIDORES CIVIS ESTADUAIS (LEI COMPLEMENTAR Nº 122/94), ATÉ A EDIÇÃO DA NORMA ESPECÍFICA. NECESSIDDE DE INTEGRAÇÃO LEGISLATIVA. PLAUSIBILIDADE DOS ARGUMENTOS SUSCITADOS. RECONHECIMENTO DA MORA LEGISLATIVA E DETERMINAÇÃO DE PRAZO PARA O SUPRIMENTO DA LUCNA. EFEITO ERGA OMNES. CONCESSÃO DA ORDEM INJUNCIONAL. Verificada a lacuna na legislação estadual no que diz respeito à regulamentação da jornada de trabalho de Policiais e Bombeiros Militares, é admissível a concessão de mandado de injunção para assegurar aos tutelados da impetrante o cumprimento da carga horária estabelecida no regime jurídico a que se submetem os Servidores Civis, até a edição da norma específica.” (MANDADO DE INJUÇÃO Nº 2010.010916-5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA – Cópia à fl. 46 destes autos).

Verifica-se, portanto, que a omissão ilegal corrigida no Estado

do Rio Grande do Norte é a mesma existente em Goiás, ou seja, fixar a jornada máxima

de trabalho para o serviço ordinário dos militares. É que essa omissão inviabiliza o

exercício do Direito Fundamental da Pessoa Humana consistente em ter condições dignas

de trabalho, especialmente quanto aos aspectos da saúde e da garantia de tempo para a

família e aprimoramento intelectual e/ou profissional, nos temos do que é juridicamente

aceito em âmbito nacional.

Assim, se a omissão inviabiliza o exercício de direito

fundamental, é sanável por mandado de injunção. Nesse sentido :

MANDADO DE INJUNÇÃO. ART. 5º, LXXI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. CONCESSÃO DE EFETIVIDADE À NORMA VEICULADA PELO ARTIGO 37, INCISO V, DA CF. (…) III - As normas constitucionais que autorizam a utilização do mandado de injunção por omissão do Poder Público são as de eficácia limitada, a saber, aquelas que prescrevem o direito, mas inviabilizam eficaz e diretamente o seu exercício, posto que dependentes de regulamentação de norma infraconstitucional. IV - Consoante o artigo 5º, LXXI, da CF, os requisitos que devem ser obedecidos para a propositura do mandado de injunção são, a falta de norma reguladora de uma previsão constitucional (mora de legislar); a inviabilização do exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; e a existência de nexo de causalidade entre a

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omissão normativa do Poder Público e a inviabilidade do exercício do direito. IV - Diante da mora do legislativo municipal, cumpre ao Poder Judiciário decidir no sentido de suprir a omissão referente ao ... RECURSO DE APELAÇÃO E REMESSA CONHECIDOS E IMPROVIDOS. (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDICAO 469997-04.2008.8.09.0000, Rel. DES. ALAN S. DE SENA CONCEICAO, 5A CAMARA CIVEL, julgado em 08/07/2010, DJe 649 de 26/08/2010)

JORNADA MÁXIMA DE TRABALHO PREVISTA NO ART. 7º, XIII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA – PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE DAS GARANTIAS REFERENTES AOS DIREITOS DE PERSONALIDADE

A República Federativa do Brasil definiu que é direito social

a “duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro

semanais, facultada a compensação de horários” (CF, art. 7º, inciso XIII).

“Objetiva-se, com o inciso (XIII), proteger a saúde do

trabalhador, evitando explorações e agressões à sua própria personalidade. Daí a

jornada normal de trabalho durar oito horas diárias, lapso temporal sujeito a reduções

através de acordo ou convenção coletiva de trabalho.” (UADI LAMMÊGO BULOS,

Constituição Federal Anotada, 9ª edição, 2009, Saraiva - destaquei).

Disso conclui-se, naturalmente, que se a jornada extrapola os

limites Constitucionais, há agressão aos direitos de personalidade, e, por consequência,

também há infração ao disposto no art. 1º, inciso III da Constituição Federal, que protege

a “dignidade da pessoa humana” incluindo-a entre as Cláusulas Pétreas, posto que um

dos fundamentos da República Federativa do Brasil.

Tratando-se de um dos fundamentos da República, tal

princípio é aplicável a todas as pessoas e/ou instituições existentes em nosso território,

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sejam civis ou militares, e não há como negar que um trabalho ordinariamente exercido

sem limite máximo de tempo afronte tal princípio.

A criação desse limite se deu - independentemente do tipo de

vínculo empregatício do trabalhador (se estatutário ou celetista) - em face da

necessidade de fixar um tempo máximo de trabalho diário e/ou semanal recomendável

para preservação da saúde física e mental do ser humano, incluindo, naturalmente, o

tempo necessário para que o ser humano possa ter saudável convívio familiar, para

preservação de sua saúde mental/emocional e de sua família.

Nesse sentido, cabe aqui citar trechos de substancial estudo da

Organização Internacional do Trabalho sobre o tema em pauta :

“ Quase um século se passou desde a adoção da primeira norma internacional sobre jornada de trabalho, que estabelece o princípio das oito horas por dia e 48 horas por semana; e 70 anos desde que a semana de 40 horas foi adotada como padrão que os países deveriam almejar. (...)“7.2.2 Duração salutar do trabalhoPreservar a saúde do trabalhador e a segurança do local de trabalho é o mais fundamental dos objetivos subjacentes às políticas de duração do trabalho e tem sido, desde o início, um dos propósitos centrais das medidas que tratam das jornadas longas. De fato, a limitação da jornada semanal pode ser vista como a resposta básica à advertência da literatura sobre saúde e segurança contra jornada regular de trabalho superior a 50 horas por semana, tanto na forma de um limite de 48 horas com restrições severas ao trabalho extraordinário quanto na de um limite mais baixo (ver, p. ex., SPURGEON, 2003; DEMBE et al., 2005). Como vimos no Capítulo 2, houve progresso importante, ao redor do mundo, na decretação de limite para a jornada estatutária durante o século passado. Como resultado, a maioria dos países tem

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agora limites legais abaixo de 48 horas e a semana de 40 horas é uma realidade em cerca de metade deles. Entretanto, como vimos no Capítulo 3, informação mais ampla sobre os países em desenvolvimento, disponibilizada pelo recente exercício de coleta de dados da OIT sobre a distribuição das jornadas de trabalho, confirmou que desvios dos limites das jornadas de trabalho são generalizados em muitos países e podem ser relacionados com jornadas muito extensas. (...)Quando acrescentamos o fato de que o trabalho em turnos, incluindo o noturno, é utilizado de modo extensivo nos serviços – particularmente nos subsetores em que as jornadas já são extensas, como comércio, hotéis e restaurantes –, os impactos negativos potenciais, tanto na saúde dos trabalhadores quanto na segurança do local de trabalho, se mostram substanciais e necessitam, portanto, constituir um foco das políticas destinadas a promover a “duração salutar do trabalho”.(...) é necessário encorajar a adesão a limites básicos de jornadas. De modo claro, leis e regulamentos que estabelecem limites para as jornadas de trabalho – como o limite de 48 horas da Convenção sobre as Horas de Trabalho (Indústria), 1919 (n.º 1) e da Convenção sobre as Horas de Trabalho (Comércio e Escritórios), 1930 (n.º 30), e o limite de 40 horas da Convenção sobre as Quarenta Horas, 1935 (n.º 47) – representam uma condição mínima necessária para restringir jornadas de trabalho excessivamente longas. Exceções e exclusões em legislações nacionais que permitam desvios substanciais dos limites das jornadas são raras atualmente, e o princípio da universalidade da proteção ao trabalhador deve ser preservado. Ademais, esse princípio se estende além da jornada normal, para esforços para impedir frequentes recursos ao trabalho extraordinário. Está claro que o trabalho além do normal ou até dos limites das horas extras deve ser permitido

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em certas circunstâncias, como o é tanto pelos padrões internacionais quanto pelas legislações nacionais, para enfrentar circunstâncias tais como sobrecargas de trabalho, acidentes ou emergências inesperadas ou excepcionais. Mas além dessas exceções, e se for necessário impedir jornadas longas, o trabalho em horas extraordinárias, de forma regular e substancial, deve ser evitado, como parte de esforço conjunto para reduzir jornadas em toda a economia ou em setores e ocupações nos quais se mostram elevadas. (...)É, portanto, indispensável salientar que as jornadas regulares longas, e a competição nelas baseada, são improdutivas e ao mesmo tempo danosas para os trabalhadores. (…) (...) ganhos de produtividade resultam não apenas de fatores fisiológicos, como redução da fadiga (no caso de trabalhadores que cumprem jornadas longas em bases regulares), mas também da melhoria nas atitudes e no estado de espírito dos empregados. Os maiores ganhos potenciais de produtividade podem resultar da diminuição de jornadas de trabalho “excessivas” – isto é, de mais de 48 horas por semana –, o que igualmente ajuda a promover os outros objetivos da duração decente do trabalho. Há robusta evidência empírica de que reduções em jornadas de trabalho “excessivamente” longas – vinculadas, tipicamente, a mudanças na organização laboral, nos métodos de produção e em fatores similares – têm resultado em ganhos expressivos de produtividade ao longo dos anos (ver, p.ex., BOSCH e LEHNDORFF, 2001; WHITE, 1987). (Duração do trabalho em todo o mundo: tendências de jornadas de trabalho, legislação e políticas numa perspectiva global comparada, livro editado pela Secretaria Internacional de Trabalho. − Brasília: OIT, 2009, subscrito por Sangheon Lee, Deirdre McCann e John C. Messenger – http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/work_hours/pub/ duracao_trabalho_284.pdf)

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Conforme referido no estudo da OIT, no caso dos trabalhos em

turno e noturno (ex: militares), a ocorrência de jornadas extenuantes é ainda mais preocupante,

pois a associação dessas duas condições de risco faz haver uma sobreposição de fatores

danosos à saúde. Vejamos o que diz a doutrina :

“ O trabalho em turnos e noturno está associado a efeitos negativos na saúde e no trabalho. Os sintomas vão desde sinais sub-clínicos... (como as variações não normais dos ritmos biológicos … mal-estar, insônia, sonolência excessiva durante o trabalho, dor de cabeça, irritabilidade, lapsos de memória, …) até o desenvolvimento de doenças crônico degenerativas (COSTA, 1996). Estes sintomas e doenças, ao longo dos anos de trabalho não diurno, vão se agravando (COSTA e DI MILIA, 2008).

Há numerosos estudos publicados a respeito na literatura sobre as repercussões à saúde causadas pelo trabalho noturno (…) e, cada vez mais, só fazem confirmar que novos problemas de saúde acrescentam-se aos já conhecidos. Nas décadas de 70 e 80, os trabalhos de pesquisa narravam que os distúrbios gastrointestinais e distúrbios do sono eram os mais frequentemente observados (…) A estas revisões somam-se muitas outras publicações, concluindo que os trabalhadores em turnos e noturnos também estão sob maior risco de desenvolver outras doenças crônico-degenerativas, tais como : diabetes tipo II; doenças cardiovasculares; particularmente infarto do miocárdio (KNUTSSON et al., 1986 e 1999); distúrbios psiconeuróticos (COLE, LOVING e KRIPKE, 1990). Mais recentemente, estudos mostraram que também câncer de mama tem sido observado em mulheres que trabalham à noite (MEGDAL et al., 2005) ...” (FISCHER, FRIDA MARINA, et al; Trabalho em Turnos e Noturno: Repercussões Sobre a Saúde e Medidas de Intervenção. SAÚDE MENTAL NO TRABALHO: Coletânea do Fórum de Saúde e Segurança no Trabalho do Estado de Goiás, 2013).

Desse modo, verifica-se que tanto por uma análise

sistêmica da nossa Carta Magna, como numa visão internacional sobre a

duração do trabalho, especialmente o realizado em turnos e noturno, é

considerada desrespeitosa à dignidade da pessoa humana uma jornada média

ordinária de 60 horas semanais (escala de 24x48).

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4. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.

Estabelece o art. 273 do CPC que o juiz poderá, a “requerimento

da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial” ,

quando houver prova da “verossimilhança da alegação” e “fundado receio de dano irreparável

ou de difícil reparação”.

Tanto a verossimilhança do fato (jornadas de trabalho

extenuantes), como o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação à saúde dos

bombeiros estão cabalmente comprovados documentalmente, pois :

1- A Portaria nº 42/2013-CG (DOC. 03) do Comando Geral do

CBM-GO., que define a escala padrão de 24X48, comprova a prática da jornada semanal de 60

horas (meses de 30 dias) e até mais (nos meses com 31 dias);

2- O Relatório da Comissão Especial de Estudo Interno – CEEI

(DOC. 06) comprova que, além das chamadas para as ocorrências, durante o plantão os bombeiros executam serviços de “limpeza das dependências, preparo de alimentação e

auxílio na construção e reforma de instalações... sem prejuízo da função para a qual o militar está escalado”, bem como “limpeza das...viaturas e equipamentos etc.”. As

declarações dos militares (DOCs. 02) acrescentam que ainda é obrigatória a prática de atividade física e participação nos cursos e reuniões denominadas “formatura”, e que, “o

serviço militar não é um serviço que se possa considerar livre de estresse quando o Bombeiro não está atendendo a uma ocorrência, pois, além das atividades já

mencionadas, o simples fato de estar no ambiente do quartel exige uma postura, comportamento, obediência, enfim, um conjunto de atitudes e tratativas com militares de

patentes superiores, com rígidas hierarquia e disciplina, o que inviabiliza uma situação que poderia ser considerada como um momento prolongado de relaxamento e

descanso” (SGT BM UILLIAM RIBEIRO DA COSTA e CB BM CARLOS WALHESTEIN VAZ

DA SILVA). Portanto, resta comprovado que durante o plantão de 24 horas o bombeiro está

quase sempre em atividade e num ambiente estressor, o que torna sua jornada de 60 horas

extenuante, com riscos imediatos para sua saúde, ofensa à sua dignidade e danos emocionais

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para ele e sua família face ao distanciamento causado pela jornada e sistema de turnos;

3- Restou confirmado, pelo Estudo apresentado pela

Coordenadora do Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho – SESMT da PMGO, que “tais

alterações (no ciclo sono-vigília, que provocam distúrbios de saúde) são observadas e

identificadas em qualquer função desempenhada ou profissão onde o trabalho em turnos é

adotado. No caso específico dos bombeiros, a situação é ainda mais agravada visto que

a atividade é considerada a segunda profissão mais estressante por natureza, perdendo

apenas para as atividades das forças armadas em geral, segundo pesquisa da Universidade

de Wisconsin-Madison, publicada pela CareerCast.com (Vide cópia do trabalho anexo).”

Destaquei. (DOC. 05).

4- As declarações dos bombeiros revelam ainda (DOC. 02, 02-A,

02-B e 02-C) que além da escala padrão de 24X48, o bombeiro é convocado para muitas

outras atividades (tais como formaturas = cursos e reuniões, desfiles cívicos, convocações

extraordinárias em épocas de festas religiosas (ex: Trindade, Muquém etc.), pecuárias,

operações férias no Araguaia, sistema de sobreaviso para combate a queimadas em época de

estiagem etc.), elevando a jornada para além das 70 ou 80 horas semanais, RESTANDO COMPROVADA A DESUMANIDADE DAS JORNADAS VIGENTES !

O QUE PEDIMOS SEJA CESSADO COM URGÊNCIA É A

INVERSÃO DE VALORES : O SACRIFÍCIO INCONSTITUCIONAL DA SAÚDE E DO

CONVÍVIO FAMILIAR DE ALGUMAS PESSOAS, PARA A DIVERSÃO DE OUTRAS ! A

AGRESSÃO À DIGNIDADE PARA O DELEITE ALHEIO ! BEM COMO PARA REUNIÕES DE

TRABALHO OU EVENTOS MILITARES (FORMATURAS, CONDECORAÇÕES ETC.) FORA

DO EXPEDIENTE NORMAL !

Se tudo isso é prioridade para o Estado, o Governo deve realizar

mais concursos e aumentar o contingente atual, que mal dá para socorrer às verdadeiras

prioridades do serviço do bombeiro militar (resgates, combate a incêndios etc.).

Os Tribunais pátrios têm acatado a concessão de antecipação de

tutela ou medida liminar para fazer cessar agressão a direito fundamental da pessoa humana.

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Nesse sentido :

(…) I - A VIDA E A SEGURANCA DOS PRESIDIARIOS, ENQUANTO INTEGRANTES DO ROL DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, GERAM PARA O ESTADO O DEVER DA PLENA IMPLEMENTACAO DO TEXTO CONSTITUCIONAL (...) (TJGO, MANDADO

DE SEGURANCA 14759-6/101, Rel. DES. ABRAO RODRIGUES FARIA, 1A

SECAO CIVEL, julgado em 03/12/2008, DJe 255 de 15/01/2009). No mesmo sentido : (TJGO, AI 64577-6/180, Rel. DES. ALAN S. DE SENA

CONCEICAO, 2A CAM. CIVEL, DJe 240 de 19/12/2008); (TJGO, MS 16822-

0/101, Rel. DES. WALTER CARLOS LEMES, 2A SECAO CIVEL, DJe 194

de 10/10/2008).

“Ora, já é posicionamento assente no Supremo Tribunal Federal que embora

resida, primariamente, nos poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa

de formular e executar políticas públicas, revela-se possível no entanto, ao

Poder Judiciário, determinar ainda que em bases excepcionais que seja

implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão – por

importar em descumprimento dos encargos político-jurídicos que sobre eles

incidem em caráter mandatório – mostra-se apta a comprometer a eficácia e

a integralidade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura

constitucional.” (trecho da sentença da Juíza Suelenita Soares Correia, da 2ª

Vara da Fazenda Pública Estadual, nos autos Protocolo nº: 201104411630,

movido pelo Ministério Público contra o Estado de Goiás).

Diante do exposto, requer a antecipação parcial dos efeitos da

tutela, para o fim de proibir, liminarmente, a convocação de bombeiros militares para cumprirem escalas de serviço superiores a 42 horas semanais em eventos festivos como exposições agropecuárias, festivais e/ou shows musicais, religiosos, bem como para participar de cursos, reuniões de trabalho, atividades físicas e qualquer outra atividade

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tipicamente militar, que devem ser realizadas exclusivamente no horário de expediente, e não mediante convocações extraordinárias.

5. DOS PEDIDOS.

Diante do exposto, requer o Ministério Público :

5.1. O recebimento da presente ação, sua autuação e processamento na forma e rito ordinários, juntando, para tanto, os documentos anexos;

5.2. a citação do Estado de Goiás, na pessoa do Procurador

Geral do Estado, no endereço indicado no primeiro parágrafo desta exordial, nos moldes do

artigo 632, do Código de Processo Civil, para, querendo, contestar aos termos da presente

ação no prazo legal, sob pena de confissão quanto à matéria de fato e sob os efeitos da

revelia, facultando ao cumpridor do mandado a permissão estampada no art. 172, § 2º do CPC;

5.3. Pedido de Antecipação Parcial dos Efeitos da Tutela.

• Requer a antecipação parcial dos efeitos da tutela

principal, com fulcro no art. 273 do CPC, para proibir, liminarmente, a convocação de bombeiros militares para cumprirem escalas de serviço superiores a 42 horas semanais em eventos festivos como exposições agropecuárias, festivais e/ou shows musicais, religiosos, bem como para participar de cursos, reuniões de trabalho, atividades físicas e qualquer outra atividade tipicamente militar, no sentido de que sejam realizadas exclusivamente no horário de expediente restrito ao indicado limite de horas, e não mediante convocações extraordinárias, sob pena de multa de R$ 1.000,00 por cada convocação, devida solidariamente pelo Estado, pelo Comandante Geral do Corpo de Bombeiros e pelo Comandante autor da Convocação, bem como responsabilidade pelo crime de desobediência.

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5.4. Dos pedidos do mérito.

Sejam os pedidos da presente ação julgados procedentes, com

o fim de :

5.4.1. Declarar ou reconhecer a omissão por parte do Governo do Estado de Goiás em fixar, na legislação que rege os servidores militares do Estado de Goiás, a jornada máxima de trabalho semanal para o emprego operacional em escalas ordinárias, bem como para o serviço administrativo;

5.4.2. Deferir o mandado de injunção, para assegurar a todos os servidores militares do Estado de Goiás o cumprimento da jornada de 42 horas semanais estabelecida nos artigos 2º a 5º da Portaria nº 2550, de 09 de julho de 2012, do Comando Geral da PMGO, publicada no Diário Oficial Eletrônico nº 126/2012, com as alterações da Portaria nº 3507, de 25 de junho de 2013, publicada no Diário Oficial Eletrônico nº 143/2013, até a edição da lei específica, aplicando a regulamentação das escalas conforme esses dispositivos da Portaria, e para o fim de :

5.4.3. Estabelecer a escala de 12x24 por 12x48 em rodízio de escala (diurna e noturna) como padrão a ser adotado para cumprimento da jornada de 42 horas semanais, possibilitando o emprego de outras escalas, em caráter excepcional e devidamente fundamentado, para atender a necessidades específicas de determinados Comandos ou unidades;

5.4.4. Estabelecer o intervalo mínimo de descanso de 12 horas, que não pode ser excepcionado nem pelo serviço extraordinário remunerado;

5.4.5. Estabelecer a obrigatoriedade de decisão fundamentada, por escrito, para convocações para serviço extraordinário não remunerado, em razão da necessidade de pronto emprego ou mobilização da tropa em situações de emergência, calamidade pública ou outra situação que foge à normalidade.

5.4.6. Estabelecer que são consideradas situações de normalidade (serviço ordinário), e devem ser inseridas na jornada de 42 horas semanais,

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as escalas de serviço ou convocações para ou em razão de eventos esportivos, musicais, religiosos, comerciais (exposições agropecuárias etc.), bem como para a finalidade de participar de cursos, reuniões de trabalho, atividades físicas, dentre outras

atividades relacionadas ao interesse do serviço militar.

5.5. REQUER, AINDA :

• A comunicação pessoal dos atos processuais a este

Representante do Ministério Público, nos termos do art. 236, § 2º do CPC, e do art. 41, inciso

IV, da Lei nº 8.625/93;

• A produção de todas as provas legalmente admitidas, tais

como testemunhais, periciais e especialmente documentais, inclusive inspeções técnicas dos

órgãos fiscais;

Embora seja de valor inestimável a causa, dá-se à presente o

valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) para efeitos legais.

Goiânia, 02 de setembro de 2013.

Vilanir de Alencar Camapum JúniorPromotor de Justiça

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