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EXPANSÃO DA MALHA URBANA EM MARINGÁ Glaucia Maguetas Gonçalves Teixeira 1 Mena Cristina Marcolino 2 Fernanda Antonio Simões 3 Renato Leão Rego 4 Marcela Paula M. Z. Meneguetti 5 RESUMO Maringá, cidade planejada localizada a noroeste do Estado do Paraná, tem seu traçado urbano criado pelo engenheiro Jorge de Macedo Vieira, sendo objeto de estudo de diversos autores, os quais emitiram um parecer positivo sobre a influência de sua malha urbana na qualidade de vida da população. Com o crescimento demográfico acelerado, em 1959 a prefeitura do município criou uma legislação específica para atender a demanda. Ao longo de 40 anos, desde a década de 60, os princípios que norteavam o plano original foram sendo abandonados. Através de estudo do anteprojeto da cidade, visita exploratória em campo, levantamento fotográfico in loco; levantamento iconográfico junto ao Museu da Bacia do Paraná; cartográfico, legislativo e estatístico na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação da Prefeitura Municipal de Maringá (SEDUH, 2006), revisão dos autores Lamas e Lynch, Zamuner, Boeira, Rego, Bonfato, Silva, Andrade e Vercezi, foi possível analisar a influência que o espaço exerce em seu usuário, a formação da cidade de Maringá e a modificação do espaço urbano. A partir desses dados, discute-se na presente pesquisa a diferença de traçado entre o plano original e o primeiro grande bairro a se desenvolver nos anos 1960, o Jardim Alvorada. Além disso, neste trabalho é feita uma investigação da malha de dois loteamentos recentes, meados da década de 1990, o Conjunto Habitacional Guaiapó e o Jardim Andrade; e a comparação desta malha com o desenho do Jardim Alvorada. Os resultados demonstraram que os loteamentos pós-plano original não levaram em consideração a topografia do sítio e não tem projetos paisagísticos para as vias públicas, entre outros fatores observados. Palavras-chave: Desenho urbano. Expansão urbana. Malha urbana. Maringá. 1 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana- PEU, [email protected] 2 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana- PEU, [email protected] 3 Prof a . Drª., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, [email protected] 4 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Arquitetura e Urbanismo-DAU, [email protected] 5 Prof a . Dr a ., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, [email protected]

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EXPANSÃO DA MALHA URBANA EM MARINGÁ

Glaucia Maguetas Gonçalves Teixeira 1

Mena Cristina Marcolino 2

Fernanda Antonio Simões 3

Renato Leão Rego 4

Marcela Paula M. Z. Meneguetti 5 RESUMO Maringá, cidade planejada localizada a noroeste do Estado do Paraná, tem seu traçado urbano criado pelo engenheiro Jorge de Macedo Vieira, sendo objeto de estudo de diversos autores, os quais emitiram um parecer positivo sobre a influência de sua malha urbana na qualidade de vida da população. Com o crescimento demográfico acelerado, em 1959 a prefeitura do município criou uma legislação específica para atender a demanda. Ao longo de 40 anos, desde a década de 60, os princípios que norteavam o plano original foram sendo abandonados. Através de estudo do anteprojeto da cidade, visita exploratória em campo, levantamento fotográfico in loco; levantamento iconográfico junto ao Museu da Bacia do Paraná; cartográfico, legislativo e estatístico na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação da Prefeitura Municipal de Maringá (SEDUH, 2006), revisão dos autores Lamas e Lynch, Zamuner, Boeira, Rego, Bonfato, Silva, Andrade e Vercezi, foi possível analisar a influência que o espaço exerce em seu usuário, a formação da cidade de Maringá e a modificação do espaço urbano. A partir desses dados, discute-se na presente pesquisa a diferença de traçado entre o plano original e o primeiro grande bairro a se desenvolver nos anos 1960, o Jardim Alvorada. Além disso, neste trabalho é feita uma investigação da malha de dois loteamentos recentes, meados da década de 1990, o Conjunto Habitacional Guaiapó e o Jardim Andrade; e a comparação desta malha com o desenho do Jardim Alvorada. Os resultados demonstraram que os loteamentos pós-plano original não levaram em consideração a topografia do sítio e não tem projetos paisagísticos para as vias públicas, entre outros fatores observados. Palavras-chave: Desenho urbano. Expansão urbana. Malha urbana. Maringá.

1 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-

PEU, [email protected] 2 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-

PEU, [email protected] 3 Profa. Drª., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC,

[email protected] 4 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Arquitetura e Urbanismo-DAU,

[email protected] 5 Profa. Dra., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC,

[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

A ocupação do Município de Maringá é marcada por lançamentos constantes de novos loteamentos e empreendimentos imobiliários, motivados pelo forte processo de crescimento populacional. A expansão urbana, ao longo das décadas, teve como antecedentes alterações do perímetro urbano, determinadas por Leis Complementares do Município, justificadas pela necessidade de ampliação.

Como herança das políticas urbanas, tem-se alta nos preços dos imóveis, atendendo aos interesses especulativos do passado que deixaram extensos e numerosos vazios urbanos a resolver. Outro legado foram os bairros sem infraestrutura, loteamentos cujo traçado compromete a preservação de áreas frágeis ambientalmente, tais como fundos de vale. A ocupação, mesmo ordenada, implantada em áreas com declividade acentuada gerou malhas incompatíveis com o tratamento dado à cidade a partir da sua origem.

Diante desse contexto, propõe-se comparar a malha de três bairros implantados no processo expansivo da cidade aos princípios que nortearam o desenho original, que por ora preocupou-se com a qualidade do espaço urbano. Para tanto, serão resgatadas questões acerca da origem e formação do Município de Maringá, levantando-se dados sobre a proposta inicial e sobre os bairros estudados, bem como visitação dos mesmos in loco.

2. A CIDADE E SUA ORIGEM

Cidade da região noroeste do Estado do Paraná, Maringá possui coordenadas 23°25’ de Latitude Sul do Equador e 51°55’ de Longitude Oeste de Greenwich, na linha do Trópico de Capricórnio (ZAMUNER; NÓBREGA; MARTONI, 2002).

Fruto de um grande empreendimento feito pela Companhia de Terras Norte do Paraná (Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – CMNP - a partir de 1951), Maringá estava entre os quatro núcleos de maior importância criados pela CMNP. Desenhada pelo engenheiro Jorge de Macedo Vieira, a cidade foi projetada nos moldes das cidades-jardim inglesas (REGO; MENEGUETTI, 2006). Em 14 de dezembro de 1952, institui-se o município de Maringá, entretanto, a cidade comemora como dia de sua criação 10 de maio de 1947, data em que deixa de ser patrimônio do município de Mandaguari para se tornar distrito (VERCEZI, 2001).

No plano inicial, a cidade teria 600 alqueires, aproximadamente 5 quilômetros de comprimento por 3 quilômetros de largura, 44 alqueires foram destinados a reservas florestais divididas em dois bosques (SILVA, 2006).

3. METODOLOGIA Para entender a malha urbana original de Maringá e sua expansão, necessitou-se do emprego de alguns métodos, são eles: a) estudo do anteprojeto da cidade, por Jorge de Macedo Vieira, datado de 1949; b) visita exploratória em campo, do sítio selecionado; c) levantamento fotográfico in loco; d) levantamento iconográfico do Museu da Bacia do Paraná; e) levantamento na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação da Prefeitura Municipal de Maringá (SEDUH, 2006), dos mapas base cartográfica constantes do parcelamento dos bairros e das curvas de níveis, e da Lei Complementar 331/99 que regula o Uso e Ocupação do Solo Urbano deste município; f) revisão dos autores Lamas e Lynch, para se entender a influência do espaço em seu usuário, dos autores Zamuner, Nóbrega, Martoni, Boeira, Rego, Meneguetti, Bonfato, Silva, que discorreram acerca do desenho urbano de Maringá, da formação da cidade de Maringá e modificação do espaço urbano de Maringá, e, também, Andrade, Cordovil e Vercezi que estudaram a expansão urbana.

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4. O PLANO INICIAL E A EXPANSÃO DA MALHA URBANA Macedo Vieira usou como condicionante do traçado para a Cidade de Maringá a posição da futura linha férrea, a topografia do terreno e os dois vales existentes, hoje chamados de Parque do Ingá e Parque dos Pioneiros (ver Figura 1). Isso resultou em um desenho ora orgânico a fim de diminuir a velocidade das águas da chuva (acompanhando a topografia dos vales), ora ortogonal, assentado sobre as áreas cujo relevo é quase plano (ZAMUNER; NÓBREGA; MARTONI, 2002).

Figura 1 - Anteprojeto da cidade de Maringá, 1940

Fonte: Acervo do Museu da Bacia do Paraná, 2009. Adaptado pelos autores. Em seu projeto, Vieira criou um zoneamento rigoroso, dividindo a cidade em diversos setores, são eles: a) Núcleos comerciais; b) Zona residencial popular; c) Zona comercial; d) Zona industrial; e) Armazéns; f) Zona residencial principal; g) Zona residencial operária; h) Edifícios públicos; e i) Estação ferroviária. Ele confessa que essa era sua intenção ao escrever que pretendia desenvolver um traçado que ‘acompanhasse o terreno o mais possível’ e que a cidade tivesse um “zoneamento estudado” (BONFATO, 2003).

Rego et al (2004) apontam como característica positiva da morfologia urbana, a personalidade da cidade, sua forma particular e peculiaridade. Ainda acrescentam que, as rótulas definem pontos de articulação do traçado irregular, conhecidas como ‘redondos’, sendo locadas em pontos estratégicos a fim de definirem os centros de cada bairro. Além disso, no setor onde o traçado é ortogonal as vias são proporcionalmente mais curtas que as vias curvas e irregulares, menos monótonas e mais variadas.

Nota-se que houve preocupação com o paisagismo por se plantar em cada via uma espécie de árvore distinta das vias vizinhas, criando individualidade e identidade a elas (REGO, 2001). Lynch (1999) destaca a importância que a vegetação exerce sobre a formação da imagem da cidade e sua legibilidade, princípio este seguido por Macedo Vieira em seu projeto.

Zamuner, Nóbrega e Martoni (2002) afirmam que o crescimento acentuado da população de Maringá, ocorrido a partir dos anos 1960, levou ao rompimento dos princípios que norteavam o plano inicial para a cidade. Esse crescimento se deu rapidamente, contava-se com uma população de

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7.270 habitantes em 1950, que saltou para 47.592 em 1960, chegando a 168.239 nos anos 1980. Dados colhidos na prefeitura de Maringá indicam a explosiva expansão da cidade por registrar a criação de 13, 70, 48 e 96 novos loteamentos em um período de respectivamente quatro décadas, 1960 a 1990 (SEDUH, 2009). A Figura 2 indica a evolução da cidade por décadas, desde 1960 até o ano 2000.

Figura 2 - Mapa de expansão da malha urbana de Maringá (1960 a 2000) Fonte: Elaborado pelos autores, 2009.

O desenho urbano desenvolvido durante essa fase foi baseado na legislação criada pela Prefeitura Municipal de Maringá em 1959, a qual estimulava mudanças nos índices urbanísticos, nos usos do solo e a criação de novos loteamentos, mesmo havendo a existência de “inúmeros vazios urbanos no plano inicial”, situação que, segundo Andrade e Cordovil (2008), mostra o caráter especulativo do espaço urbano.

A especulação imobiliária teve origem com a própria CMNP, pois, segundo Vercezi (2001), adotou-se “uma política de vendas que favoreceu a existência de vazios urbanos, principalmente em alguns loteamentos do plano inicial, visando à valorização futura deles”. Jaqueline ainda afirma que “a expansão inadequada do sítio urbano apresenta muitos problemas de ordem urbanística, que poderiam ser evitados se o plano inicial fosse seguido sem interrupções” (VERCEZI, 2001).

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Boeira (2003) atenta para os problemas urbanísticos resultantes da fuga do plano de Vieira no desenho de expansão da cidade:

O dinamismo do início da cidade e das dificuldades impostas pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná na compra dos lotes, a fim de garantir a rápida urbanização, estimularam outras empreendedoras a lotearem glebas rurais próximas, adquiridas da CMNP. Estes loteamentos realizados em paralelo a cidade oficial e comercializados para população menos favorecida, já possuíam um padrão urbanístico diferenciado com ruas, quadras e lotes menores em dimensões, sem continuidade viária com o Projeto de Jorge Macedo.

Ao se propagar a imagem do município, a prefeitura de Maringá divulga apenas o desenho inicial da cidade, deixando-o disponível no portal do município na internet (ver Figura 3). Não há qualquer iniciativa em se divulgar a malha de expansão, mesmo pela sua ausência de identidade e abandono na criação de marcos.

Figura 3 - Mapa disponibilizado pela prefeitura de Maringá para divulgar a cidade.

Fonte: Site oficial do Município de Maringá, 2009.

4.1. Estudo de Caso

Entre os anos 1960 e 1970 surgiram o Jardim Alvorada, a Vila Valdelina, o Jardim Aclimação, a Vila Bosque, o Jardim Tropical, o Jardim Los Angeles, entre outros, além de se registrar a existência de favelas (SILVA, 2006). Comparado com os outros referidos loteamentos, o Jardim Alvorada foi o maior empreendimento. Fundado em 1962, o bairro possui área total de 2.269.716,00 m2, sendo a área dos lotes igual a 1.473.375,00 m2, a área de equipamento comunitário 113.893,00 m2 (inclusas áreas verdes com 89.725,00 m2) e a área do sistema viário (arruamento) 683.148,00 m2; correspondentes a 64,92%, 5% e 30% do total do loteamento, respectivamente (SEDUH, 2009).

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Pouco mais de três décadas após a criação do Jardim Alvorada, surgem outros dois bairros na malha de expansão de Maringá, o Conjunto Residencial Guaiapó (1995) e o Jardim Andrade (1997), sendo pertinente a investigação destes. No caso do Conjunto Residencial Guaiapó, este foi um dos últimos investimentos do setor público na criação de grandes conjuntos para atender a demanda por habitação, com 618.754,07 m2, parcelado em 57 quadras e 1056 lotes. Tendo por área líquida dos lotes 377.046,47 m2 (61,14%), área de equipamento comunitário 86.742,83 m2 (13,81%) e área do sistema viário 154.964,77 m2 (25,04%) (SEDUH, 2009).

Quanto ao Jardim Andrade, trata-se de um dos poucos bairros lançados pela iniciativa privada que ainda se encontra sem pavimentação (atualmente a lei 334/99, artigo 16 torna obrigatória a realização de obras de infraestrutura em novos loteamentos, incluindo a pavimentação asfáltica). Pertencente à Zona 46, foi aprovado como loteamento no ano de 1997, com 122.963,79 m2, parcelado em 09 quadras e 183 lotes, sendo a área líquida das datas 74.16,27 m2 (60,31%), a área de equipamento comunitário 12.344,16 m2 (10,03%) e a área do sistema viário 36.454,36 m2 (29,64%) (SEDUH, 2009).

A Figura 4 contém a localização dos três bairros estudados e, em destaque, está o centro da cidade com o formato peculiar presente no traçado de Jorge Macedo Vieira.

Figura 4 - Mapa de localização dos bairros e malha do plano inicial de Maringá.

Fonte: SEDUH, 2006. Adaptado pelos autores. Mapa sem escala.

Conforme a Figura 5 nota-se que o Jardim Alvorada não segue as mesmas diretrizes

adotadas por Vieira. Seu traçado ortogonal se estende por todo o loteamento, mesmo em setores próximos aos vales, cuja declividade é maior. Entretanto, há uma tentativa de conformação à topografia do sítio por se projetarem quadras mais alongadas no sentido das curvas de nível, tendo sua dimensão menor quando perpendicular a elas. Tal princípio é desconsiderado no traçado das

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quadras com lotes comerciais lindeiros à Avenida Alexandre Rasgulaeff, criando uma via com inclinação mais acentuada. O traçado ortogonal com longas quadras produz uma paisagem monótona que somente é diversificada próxima ao vale, devido à via paisagística sinuosa criada no local.

Ao se visualizar lado a lado os desenhos, do plano inicial para Maringá e do loteamento Jardim Alvorada, fica evidente o pequeno número de marcos referenciais criados, as rotatórias têm um tamanho reduzido e são menores em número, em proporção ao tamanho do bairro. Não há muitos equipamentos comunitários, sendo os existentes construídos em anos recentes.

Figura 5 – À esquerda: em destaque, Planta do núcleo que deu origem a Maringá.

À direita: em vermelho, Jardim Alvorada. Fonte: SEDUH, 2006. Adaptado pelos autores.

Mapa sem escala.

Percebe-se na Figura 6 que se preserva certa preocupação com o paisagismo ao se plantar espécies arbóreas semelhantes nas vias principais, exemplo disso são os Flamboyants da Avenida Alexandre Rasgulaeff e as Sibipirunas na via paisagística.

Figura 6 – À esquerda: via paisagística. À direita: Avenida Alexandre Rasgulaeff.

Fonte: Arquivo pessoal. Fotos tiradas em 24 de maio de 2009.

Depois de trinta anos da criação do Jardim Alvorada, surgem mais dois bairros, o Conjunto Habitacional Guaiapó e o Jardim Andrade. Nestes dois casos, verifica-se que as diretrizes que permeavam o plano de Vieira para Maringá foram totalmente desconsideradas. A Figura 7 contém dois mapas com a implantação dos respectivos bairros e nela é possível ver a posição das curvas de nível e a sua relação com as quadras. Particularmente, no caso do Jardim Andrade, vê-se nitidamente o contraste entre a implantação dele e a do Condomínio Horizontal Andrade. Ouve maior preocupação com o perfil do sítio no segundo caso, entretanto, seguir esse procedimento demanda a criação de um maior número de vias, fator que provoca o aumento do custo da implantação das infraestruturas urbanas.

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Nos dois casos as quadras têm formato ortogonal em sua maioria, extensas e perpendiculares às curvas de nível em sua face maior, criando vias que dificultam a acessibilidade, induzindo os moradores a confeccionarem rampas nas calçadas para acessarem suas residências, impedindo a livre locomoção nos passeios (ver Figura 8). Tanto a iniciativa privada como a pública não atentaram para essas questões que são de suma importância, já que estas áreas encontram-se próximas a fundo de vale, ocasionando maior força no escoamento das águas pluviais, fator esse que demanda a criação e implantação de dissipadores a fim de amenizar o referido problema.

Figura 7 – Em destaque, à esquerda: Conjunto Residencial Guaiapó,

À direita: Jardim Andrade. Fonte: SEDUH, 2006. Adaptado pelos autores.

Mapa sem escala.

Figura 8 – Fotos de vias do Conjunto Residencial Guaiapó.

Fonte: Arquivo pessoal. Fotos tiradas em 9 de maio de 2009.

O Jardim Andrade é provido de água, luz e esgoto, porém não há pavimentação e calçamento, com inclinação que dificulta a acessibilidade devido às extensas quadras perpendiculares às curvas de nível. Tal fato pode ser visualizado na Figura 9, que mostra a principal via do bairro, a Rua Américo Bigatão.

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Figura 9 – Rua Américo Bigatão - Jardim Andrade

Fonte: Arquivo pessoal. Fotos tiradas em 9 e 24 de maio de 2009, respectivamente.

Característica presente nos dois casos (Conjunto Guaiapó e Jardim Andrade) é a despreocupação com a implantação de marcos ou a criação de identidade local, pois segundo Lamas (2000) a apreensão do espaço pelos usuários se dá pela caracterização que os elementos agregam aos lugares transformando-os em espaços vivenciados. Também não houve qualquer iniciativa de se criar um projeto paisagístico, a arborização foi efetuada em sua totalidade pelos moradores no Jardim Andrade e, parcialmente, no Conjunto Guaiapó, conforme a Figura 10.

Figura 10 – Arborização do Conjunto Residencial Guaiapó e do Jardim Andrade,

respectivamente. Fonte: Arquivo pessoal. Fotos tiradas em 24 de maio de 2009.

Alguns lotes são dedicados à instalação de equipamentos públicos e algumas sobras de lote

se transformam em praças (de acordo com a Lei Federal nº. 6.766, 35% do loteamento deve ser reservado para área pública). No Conjunto Guaiapó há apenas uma praça, instalada em “retalhos de lote” (Figura 11, à esquerda), que atende o Conjunto Guaiapó, o Conjunto Requião e os demais bairros próximos. A praça está contida em um pequeno espaço entre o posto de saúde e as dependências de dois colégios. Nas proximidades do Jardim Andrade não há praças ou locais para lazer e, somente cerca de dez anos depois de sua criação, a população, finalmente, recebeu a implantação de uma escola (Figura 11, à direita).

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Figura 11 – À esquerda: equipamentos públicos no Conjunto Residencial Guaiapó.

À direita: centro de ensino no Jardim Andrade. Fonte: Arquivo pessoal. Fotos tiradas em 24 de maio de 2009.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo comparativo entre as malhas dos bairros selecionados e a malha proposta por

Vieira, demonstrou que, de uma forma geral, os loteamentos pós-plano original não levaram em consideração a topografia do sítio e suas potencialidades; os loteamentos da expansão simplificam o traçado ao optarem pela ortogonalidade; privilegiam o maior aproveitamento das quadras por se inserir diversos lotes nelas; herdam a perda de identidade do bairro pela ausência de projetos paisagísticos para as vias públicas; as áreas destinadas a equipamentos urbanos fazem parte de sobras de lotes, retalhos na malha, que favorecem a falta de marcos dos bairros; contribuindo para a baixa qualidade de vida da população destes locais.

A partir dos resultados da pesquisa sugere-se a continuidade do estudo e aplicação da metodologia em outros setores da cidade. Em um segundo momento, revisar as medidas e os instrumentos que as políticas urbanas municipais utilizam para a conformação e construção da malha. REFERÊNCIAS ANDRADE, C. R. M.; CORDOVIL, F. C. S. A cidade de Maringá, PR. O plano inicial e as “requalificações urbanas”. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, agosto de 2008, vol. XII, núm. 270 (53). Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-270/sn-270-53.htm>. Acesso em: 09 maio 2009 BOEIRA, J. Espaço urbano de uma metrópole regional de porte médio: Maringá. 2003. 129p. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2003. BONFATO, A. C. O. Orgânico e o Geométrico Na Prática Urbana (1920-1960). Estudos urbanos e regionais. V.5, n.2, p. 75 a 87, nov. 2003. LAMAS, J. Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Fundação Calouste Gulbenkian, 2000. LYNCH, K. A imagem da cidade. trad. Maria Cristina Tavares. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1999.

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LEI COMPLEMENTAR N. 331/99, de 23 de Dezembro de 1999. Uso e Ocupação do Solo no Município de Maringá. LEI COMPLEMENTAR N. 334/99, de 23 de Dezembro de 1999. Parcelamento do Solo no Município de Maringá. LEI FEDERAL N. 6.766, de 19 de Dezembro de 1979. Parcelamento do Solo. Mapa do Site Oficial da Prefeitura do Município de Maringá. Disponível em: <http://www.maringacvb.com.br/mapa_maringa.jpg>. Acesso em: 09 maio 2009. MUSEU DA BACIA DO NORTE DO PARANÁ. Álbum doado pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. 2009 PREFEITURA MUNICIPAL DE MARINGÁ. Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação – SEDUH. 2009 REGO, R. L. O desenho urbano de Maringá e a idéia de cidade-jardim. Acta Scientiarum Technology, Maringá, v.23, n. 6, p. 1569-1577, 2001. REGO, R. L.; MENEGUETTI, K. S. A forma urbana das cidades de médio porte e dos patrimônios fundados pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Acta Scientiarum Technology, Maringá, v.28, n. 6, p. 93-103, 2006. REGO, R. L.; MENEGUETTI, K. S.; NETO, G. A.; JABUR, R. S.; RISSI, Q. Reconstruindo a forma urbana: uma análise do desenho das principais cidades da Companhia de Terras Norte do Paraná. Acta Scientiarum Technology, Maringá, v.26, n. 2, p. 141-150, 2004. SILVA, M. A. C. Considerações sobre o espaço urbano de Maringá-Pr: do espaço de floresta a cidade-jardim, representação da “cidade ecológica”, “cidade verde”. 2006. 229p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. VERCEZI, J. T. Gênese e evolução da Região Metropolitana de Maringá. 2001. 178p. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2001. ZAMUNER, L. D.; NÓBREGA, M. T.; MARTONI, A. M. A urbanização e o desencadeamento de processos erosivos em área de preservação ambiental na cidade de Maringá, Estado do Paraná. Acta Scientiarum Technology, Maringá, v.24, n. 6, p. 1793-1800, 2002.