96
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA PROGRAMA INTEGRADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL E RECURSOS NATURAIS Exploração Madeireira Familiar no Rio Cuieiras, Baixo Rio Negro, Amazônia Central LEONARDO PEREIRA KURIHARA Manaus, Amazonas Setembro de 2011

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA

PROGRAMA INTEGRADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL E

RECURSOS NATURAIS

Exploração Madeireira Familiar no Rio Cuieiras, Baixo Rio

Negro, Amazônia Central

LEONARDO PEREIRA KURIHARA

Manaus, Amazonas

Setembro de 2011

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II

LEONARDO PEREIRA KURIHARA

Exploração Madeireira Familiar no Rio Cuieiras, Baixo Rio

Negro, Amazônia Central

Orientador - Victor Py-Daniel

Co - Orientador - Henrique dos Santos Pereira

Dissertação apresentada ao Instituto Nacional

de Pesquisa da Amazônia, como parte dos

requisitos para obtenção do título de Mestre

em Ciências Biológicas, área de concentração

em Agricultura no Trópico Úmido.

Manaus, Amazonas

Setembro de 2011

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III

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IV

Ficha Catalográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

K96 Kurihara, Leonardo Pereira

Exploração madeireira familiar no rio Cuieiras, baixo rio Negro,

Amazônia Central / Leonardo Pereira Kurihara. --- Manaus : [s.n.],

2011.

xii, 81 f. : il. (algumas color.)

Dissertação (Agricultura no Trópico Úmido)--INPA, Manaus, 2011.

Orientador: Dr. Victor Py Daniel

Co-orientador: Dr. Henrique dos Santos Pereira

Área de concentração: Ciências Biológicas, Agrárias e Humanas

1.Madeira - Exploração - Amazônia 2.Manejo florestal - Amazônia

3.Produtos florestais I.Título

CDD 19ª ed. 634.98

Sinopse

Estudou-se, através de abordagens metodológicas participativas, os sistemas de

exploração madeireira, da região do rio Cuieiras, Baixo Rio Negro, Amazônia

Central. Contextualizando os aspectos socioeconômicos e analisando as

relações das famílias madeireiras da região com o ambiente.

Palavras-chave:

Extrativismo, Exploração Madeireira Pequena Escala, Múltiplo Uso.

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V

Dedico esse trabalho a todas as pessoas que vivem

“embaixo das lonas” na invisibilidade, em especial às

famílias extrativistas madeireiras de pequena escala, que vem

ao longo de muitos anos fornecendo madeira e influenciando

na qualidade de vida dos centros urbanos.

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VI

AGRADECIMENTOS

Queria começar agradecendo a todas as pessoas que contribuíram, ao longo de minha

vida, para minha formação. Agradeço aos meus pais, Celeste e Kuri, por toda criação que me

foi dada e por me amarem tanto, ao ponto de realizarem seus sonhos através dos meus; a

Pequena, minha companheira, que sempre ao meu lado possibilitou que tudo fosse mais fácil;

aos Arimatea, por existirem e por toda irmandade! Aos curupiras, libertários que hoje, mesmo

estando cada um no seu canto, ainda guardamos nossos ideais. Aos meus novos amigos

manauaras!

Agradeço em especial as pessoas que contribuíram para o resultado desse trabalho.

Primeiramente aos meus orientadores, os professores Py, pela confiança e liberdade, e ao

professor Henrique, por todo debate e ensinamento. A seu Praxedes, o compadre Chiquinho e

sua linda família, todos moradores do rio Cuieiras, que tanto contribuíram para meu

aprendizado diário sobre a Amazônia. Ao IPÊ e toda equipe, em especial a Mari, Oscar,

Thiago a Rafito, amigos que facilitam que parte do meu projeto de vida se torne realidade.

Agradeço também a Aurely e a vivenda verde, a Marcelino e a Duka, companheira de campo,

que juntos compartilhamos parte da angustia e amadurecimento necessário no mestrado. Sou

imensamente grato a Bruno Marchena, o portuga velho de guerra, irmão de luz que me

ajudou, de forma numérica, a expressar esse trabalho. Queria também agradecer ao seu Zé

Ramos, pela identificação Botânica. Ao casal Samuca e Carol. A FAPEAM, pela bolsa

concedida, ao INPA, em especial a Bia, professores e colegas do programa de mestrado

Agricultura do Trópico Úmido. Por fim, gostaria de agradecer aos consultores, moradores do

rio Cuieiras, amigos, que participaram da pesquisa e desde minha primeira visita sempre me

receberam de braços abertos, compartilhando além de sabedorias, um pouco de suas

privacidades, tudo da forma mais natural possível.

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VII

Salve As Folhas

Sem folha não tem sonho

Sem folha não tem vida

Sem folha não tem nada

Quem é você e o que faz por aqui

Eu guardo a luz das estrelas

A alma de cada folha

Sou Aroni

Cosi euê

Cosi orixá

Euê ô

Euê ô orixá

Sem folha não tem sonho

Sem folha não tem festa

Sem folha não tem vida

Sem folha não tem nada

Eu guardo a luz das estrelas

A alma de cada folha

Sou aroni

Cosi euê

Cosi orixá

Euê ô

Euê ô orixá

Poema: Mario de Andrade

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VIII

RESUMO

O Baixo Rio Negro é composto na sua maioria por indígenas e ribeirinhos. Estas populações habitam

as margens dos rios e a terra-firme e reproduzem todo um saber-fazer na convivência com os rios e

com os elementos da floresta. Uma notável atividade econômica que vem sendo amplamente praticada

e influenciando a dinâmica de uso dos recursos na região do Baixo Rio Negro é a exploração

madeireira. Desde 1965, com a criação do Código Florestal brasileiro, esses sistemas e toda sua

dinâmica são considerados totalmente ilegais e predatórios por não seguirem os padrões oficiais

brasileiros de manejo florestal sustentável. Essa ilegalidade ainda é o grande gargalo que compromete

não apenas a sustentabilidade econômica, como também influencia na sustentabilidade ecológica e

sociocultural. Um dos principais empecilhos para a implantação do manejo florestal comunitário é a

marginalidade da atividade, refletida pelo desconhecimento das dinâmicas econômicas, ecológicas e

socioculturais dos sistemas de extração madeireira na região. Neste sentido, esta pesquisa teve como

objetivo caracterizar e entender a exploração madeireira da região a partir da perspectiva local,

procurando dar visibilidade aos sistemas de extração e toda dinâmica que envolve a atividade. O

histórico de exploração madeireira da região do Baixo Rio Negro mostra que a atividade teve vários

ciclos e sempre esteve associada ao desenvolvimento e crescimento da cidade de Manaus. Até o final

dos anos 70, toda madeira beneficiada na região era lavrada no machado. No inicio da década de 80,

com o aparecimento da moto-serra, a atividade começa a viver uma nova dinâmica, aumentando não

só o rendimento da mão de obra local, como também a variedade de espécies madeireiras exploradas.

Atualmente a exploração madeireira acontece por meio da madeira serrada para embarcação,

movelaria, construção de casa, madeira branca e na extração de árvores para produção de espeto.

Neste estudo, foram identificadas 93 espécies madeireiras exploradas, sendo que desse total 48

espécies são utilizadas na comercialização da madeira para construção de casa, 21 espécies

madeireiras são utilizadas em embarcações, 20 são destinadas à movelaria, 19 espécies utilizadas na

atividade da madeira serrada branca e 16 usadas na produção de espeto. Os sistemas de exploração

madeireira da região é considerado de pequena escala e de intensidade sazonal. A lógica do

extrativismo madeireiro na região não está associado apenas na relação entre a escassez de matéria

prima e a viabilidade econômica. Os diferentes ciclos, assim como as dinâmicas de exploração

madeireira, passaram por estratégias de adaptação relacionadas a um conjunto de fatores não apenas

econômico, como também políticos, ambientais e sociais. Em geral, essas famílias madeireiras da

bacia do rio Cuieiras usam e manejam mais de 200 diferentes espécies entre plantas e animais. Apesar

da exploração da madeira ser uma das principais alternativas econômicas da região, não existe uma

especialização da atividade e sim diferentes formas de múltiplo uso dos recursos e diversas atividades

de geração de renda. Com base nas características demográficas e nas diferentes estratégias de uso e

renda de cada família foi possível identificar na região dois grupos de famílias madeireiras, os

madeireiros tecnicamente qualificados e os madeireiros de baixa qualificação.

Palavras-chave: Extrativismo, Exploração Madeireira de Pequena Escala, Múltiplo Uso

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IX

ABSTRACT

The lower Rio Negro is populated mainly by indigenous and other traditional people (rubber tappers

descendants and natural resources collectors). These populations live very close or by the rivers and

represent the accumulated knowledge through generations by the relation they have developed with

the forest and rivers. Wood extraction is a very important economic activity widely practiced,

influencing the dynamic of how indigenous and traditional people use the natural resources in the

lower Rio Negro. Since the creation of the Brazilian Forest Law, in 1965, this practice and related

dynamics are considered predatory and illegal, once they do not follow patterns of sustainable forest

management established in the law. The illegal condition is the bottle neck that compromises not only

the economic, but also social and ecological sustainability. One of the main drawbacks implementing

the community forest management is the illegality of which locals are classified and reflects the lack

of information about the economic, ecological, social and cultural dynamics of wood extraction

system in the region. In this sense, this study has the objective to characterize and understand the

wood exploration from the local perspective, promoting a different look at the wood extraction system

and the entire dynamic associated. The wood extraction history in the Lower Rio Negro shows us that

there were many different cycles for this activity and was always related to the development and

growth of the city of Manaus. Until the end of the 70s, all processed wood in the region were still

made with axes. In the beginning of the 80s, wood extractors start using chainsaws, not only

increasing production per worker, but also utilizing different varieties of tree species. Timber has been

used to build boats, furniture, houses, and spit for roasting meat in the market of Manaus. This study

indicates that 93 tree species are being used, including 48 tree species for building houses, 21 tree

species for boats, 20 tree species for furniture, 16 tree species for spit and 19 tree species for other

uses as soft wood. The wood extraction system in the region is classified as low scale and seasoned,

not only associated with resources scarcity and economic viability, but strategies and adaptations

related to political, environmental and social aspects as well. In general, families extracting wood in

the Cuieiras river use and manage more than 200 different plant and animal species. Despite wood

extraction is one of the main economic alternatives, there is not a specialization for this activity, but

different practices for multiple use of natural resources and income generation. It was possible to

identify two different groups of wood extractors: the ones technically very well qualified and those

with low qualification.

Keywords: Extractivism (Traditional people who collects natural resources from the forest), low scale

wood extraction, multiple use.

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X

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 01

2. OBJETIVO 05

2.1 Objetivo Geral 05

2.2 Objetivos Específicos 05

3. METODOLOGIA 06

3.1 Área de Estudo 06

3.2 Materiais e Métodos 09

3.2.1 “História e Mobilidade no Baixo Rio Negro” - Manaus e a

influencia nos ciclos de exploração madeireira da região. 11

3.2.2 Sistemas de Exploração Madeireiro no Rio Cuieiras 12

3.2.3 Socioeconomia das famílias madeireiras do rio Cuieiras. 14

4. RESULTADOS 16

4.1 “História e Mobilidade no Baixo Rio Negro” - Manaus e a influencia nos

ciclos de exploração madeireira da região. 16

4.2 Sistemas de Exploração Madeireiro no Rio Cuieiras 25

4.2.1 Relação entre os Sistemas de Extração Madeireira com base nas

principais espécies exploradas no rio Cuieiras. 26

4.2.1.1 Madeira Serrada para Embarcação 28

4.2.1.2 Madeira Serrada para Movelaria 30

4.2.1.3 Madeira Serrada para Construção de casas 30

4.2.1.4 Madeira Serrada Branca 32

4.2.1.5 Extração de Madeira para produção de Espeto 32

4.3 Socioeconomia das Famílias Madeireiras do Rio Cuieiras 35

4.3.1 Procedência das famílias 35

4.3.2 Perfil Demográfico 37

4.3.3 Outros Sistemas Produtivos 38

4.3.3.1 Agricultura 39

4.3.3.2 Pesca 42

4.3.3.3 Caça 44

4.3.3.4 Uso múltiplo da Biodiversidade 45

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XI

4.3.4 Principais Fontes de Renda 45

4.3.5 Perfil socioeconômico das famílias madeireiras estudadas: Análise

de Coordenadas Principais e Análise de Agrupamento. 47

4.3.5.1 Relação entre a diferenciação das práticas dos sistemas

produtivos / principais fontes de renda com a procedência das famílias

estudadas (ANOVA).

50

4.3.5.2 Relação entre a diferenciação das práticas dos sistemas

produtivos / principais fontes de renda com o Tempo de Moradia e N0 de

Pessoas por Família.

50

4.3.5.3 Famílias Madeireiras Tecnicamente Qualificadas (FTQ). 53

4.3.5.4 Famílias Madeireiras com Baixa Qualificação (FBQ) 54

5. CONCLUSÃO 56

6. RECOMENDAÇÕES 57

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 60

8. ANEXOS 74

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XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Dimensões das principais peças produzidas na madeira serrada 25

Tabela 02 – Scores dos sistemas produtivos gerados a partir das espécies

madeireiras associadas, resultantes da Análise de Coordenadas Principais

(PCoA)

27

Tabela 03 – Tempo de residência das famílias madeireiras 36

Tabela 04 – Scores dos sistemas produtivos / principais fontes de renda das

famílias estudadas nas coordenadas resultantes da Análise de Coordenadas

Principais (PCoA)

48

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Imagens das localizações das sedes do rio Cuieiras 06

Figura 02 – Pluviometria média, máxima e mínima levantada em Manaus no

período de 1901 a 2003 07

Figura 03 – Toposequência típica da área de estudos com os principais tipos de

solos 08

Figura 04 – Triangulação de Informação 11

Figura 05 – Foto da Cidade Flutuante 18

Figura 06 – Porcentagem da variância explicada de cada eixo resultante da

Análise de Coordenadas Principais (PCoA) das espécies madeireiras exploradas

nos sistemas de extração da madeira serrada.

27

Figura 07 – Relação entre os dois primeiros eixos (Coordenada 1 e Coordenada

2) da Análise de Coordenadas Principais (PCoA) das espécies madeireiras

exploradas nos sistemas de extração da madeira.

28

Figura 08 – Dendrograma resultante de uma Análise de Agrupamento

calculado com o índice de Sørensen a partir da matriz de presença ou ausência

das espécies madeireiras exploradas nos diferentes sistemas de extração da

madeira.

28

Figura 09 – Procedência dos Responsáveis pelas Famílias Madeireiras. 35

Figura 10 – Faixa Etária das Famílias Madeireiras 37

Figura 11 – Escolaridade dos Responsáveis das Famílias Madeireiras 38

Figura 12 – Calendário dos principais sistemas produtivos 39

Figura 13 – Calendário Sazonal das Atividades realizada nas roças durante o

ano 40

Figura 14 – Principais Fontes de Renda das Famílias Madeireiras 46

Figura 15 – Porcentagem da variância explicada de cada eixo resultante da

Análise de Coordenadas Principais (PCoA) dos sistemas produtivos / principais

fontes de renda praticados pelas famílias estudadas.

48

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XIII

Figura 16 – Relação entre os dois primeiros eixos (Coordenada 1 e Coordenada

2) da Análise de Coordenadas Principais (PCoA) dos sistemas produtivos /

principais fontes de renda praticados pelas famílias estudadas.

49

Figura 17 – Dendrograma resultante de uma Análise de Agrupamento

calculado com o índice de Sørensen a partir da matriz da prática (presença ou

ausência) dos sistemas produtivos /principias fontes de renda praticados pelas

famílias estudadas.

50

Figura 18 – Relações parciais entre os scores da Coordenada 1 da Análise de

Coordenadas Principais (PCoA) dos sistemas produtivos das famílias estudadas

e A) o tempo de moradia e B) o número de pessoas por família.

51

Figura 19 – Ordenação da ocorrência dos sistemas produtivos em relação ao

tempo de moradia de cada família estudada. 52

Figura 20 – Ordenação da ocorrência de sistemas produtivos em relação ao

número de pessoas em cada família estudada. 52

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1

1. INTRODUÇÃO

Estima-se que há dois milhões de anos as florestas tropicais ocupavam 12% da

superfície do planeta (16 milhões de km²). Na última década, esse valor não passa de 70% da

área original, correspondendo a 11,2 milhões de km² que cobrem pouco mais de 9% da

superfície terrestre (Meirelles, 2006). As causas mais freqüentes que vêm contribuindo para

mudança da cobertura da terra, principalmente das regiões tropicais, estão relacionados à

crescente capacidade humana de transformar vastas áreas de paisagem florestal por meio da

expansão agrícola e da pecuária, mineração, expansão da infra-estrutura (represas,

hidrelétricas, estradas), o processo de urbanização e a exploração madeireira (Geist e Lambin,

2001; Moran, 2009; Tucker e Southwrth, 2009). Os fatores subjacentes que condicionam

essas causas incluem os fatores econômicos, políticos, mudanças tecnológicas, processos

demográficos, características e preferências socioculturais (Geist e Lambin, 2001).

A Amazônia brasileira possui cerca de 40% de toda floresta tropical do mundo

(Laurance, 2001). Fisionomicamente, o domínio amazônico associa-se às bacias hidrográficas

do Solimões-Amazonas, do Tocantins e parte da bacia do rio Orinoco, estendendo-se por

nove países: Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana Francesa,

Suriname e Guiana. Ocupa uma área total de 7,01 milhões de km², dos quais 64,9% em

território brasileiro, cerca de 4,55 milhões de km² (Meirelles, 2006). No Brasil, a Amazônia

Legal, estabelecida no artigo 2° da lei nº 5.173, de outubro de 1966, abrange os estados do

Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do

Maranhão. Ela representa 49% do território brasileiro, cerca de cinco milhões de km²,

distribuídos por 771 municípios, onde vivem pouco mais de 23 milhões de pessoas de acordo

com o IBGE (2009).

A agropecuária, mineração e a exploração de madeira são as principais atividades

econômicas da região Amazônica (Lentini et al., 2005). Dados da Agencia das Nações Unidas

para Agricultura (FAO), em 2005, revelaram que a Amazônia brasileira era a segunda

principal região produtora de madeira do mundo. Em 2009, o setor madeireiro gerou uma

renda bruta de aproximadamente 4,9 bilhões de reais e 204 mil empregos (SFB e Imazon,

2010). Das mais de 3.100 espécies madeireiras encontradas na Amazônia brasileira, cerca de

350 são utilizadas comercialmente (Martini et al., 1998). Estudos realizados em 2009 pelo

Imazon identificaram que a produção madeireira da Amazônia legal brasileira foi de

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aproximadamente 14,2 milhões de metros cúbicos. Neste período, cerca de 7,5 mil Km² de

florestas foram desmatadas na Amazônia brasileira (Inpe, 2009).

Do ponto de vista econômico, o pesquisador Alfredo Homma (1993) chama atenção

para os fatores limitantes do extrativismo como a base econômica para o desenvolvimento

regional. Para ele, esse modelo depende de um ciclo econômico, constituído de três fases

distintas. Na primeira fase, verifica-se um crescimento na extração, quando os recursos

naturais são transformados em recursos econômicos com o crescimento da demanda. Na

segunda fase, se atinge o limite da capacidade de aumentar a oferta, em face dos estoques

disponíveis e do aumento no custo da extração, uma vez que as melhores áreas tornam-se

cada vez mais difíceis. Na terceira fase, inicia-se o processo de declínio na extração

decorrente do aumento na demanda, induzindo ao início dos plantios domesticados, desde que

a tecnologia de domesticação, iniciada nos quintais e nas instituições de pesquisa, esteja

disponível e seja viável economicamente (Homma, 2000). Segundo estudo de Veríssimo

(2002), as duas primeiras fases desse modelo vêm se confirmando para atividade madeireira

em algumas regiões da Amazônia, principalmente em terras devolutas1, onde os exploradores

não têm intenção de fixar residência. Nessas áreas, o modelo de exploração madeireira

implantado é de grande crescimento econômico inicial, seguido de um rápido colapso e uma

constante tendência de migração para novas fronteiras.

O desmatamento por meio da exploração madeireira também vem chamando atenção

para suas implicações socioambientais. Na Amazônia, acredita-se que cerca de 70% da

madeira não tem origem definida (Observatório Social, 2009). Em sua maioria, os sistemas de

extração têm sido realizados de forma ilegal e insustentável (sem emprego de técnicas de

manejo), gerando grandes danos ecológicos à floresta (Veríssimo et al., 1992; Veríssimo e

Amaral, 1996). A dinâmica dos sistemas de exploração implantados na região norte, além das

implicações ambientais, também vem afetando as comunidades locais. O manejo florestal

comunitário ainda é insipiente e enfrenta grandes entraves legais (Pacto de Parintins2).

Os sistemas de exploração madeireira não ocorrem de forma homogênea na região

Amazônica. Os estados do Pará e Mato Grosso apresentam as maiores taxas de desmatamento

1 Terras devolutas são terrenos de propriedade pública que nunca pertenceram a um particular mesmo estando

ocupadas. Diferenciam-se destes por não estarem sendo aplicadas a algum uso público federal, estadual ou

municipal, que não hajam sido legitimamente incorporadas ao domínio privado (Art 5º do Decreto-Lei nº

9.760/46) enquanto que as terras públicas pertencentes ao patrimônio fundiário público são aquelas inscritas e

reservadas para um determinado fim (Ibrahim et al., 2010).

2 Documento construído no Grande Encontro de Parintins – em defesa da floresta, dos povos e da produção

sustentável, realizado durante os dias 15 e 16 de abril de 2011.

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3

(Inpe, 2009). As outras áreas de exploração encontram-se no entorno de capitais estaduais,

cidades de médio porte ou associadas a grandes projetos, com características especificas. Os

principais fatores que influenciam o crescimento dessa atividade nessas capitais são as

demandas de matéria-prima dos grandes centros urbanos e conseqüentemente o aumento no

valor comercial das espécies (Veríssimo et al., 2002).

Dentre os principais estados da região Norte do Brasil, o Amazonas se destaca por ser

o maior estado brasileiro, com uma área de 1.559.161,682 Km² (IBGE, 2010). Segundo dados

do Inpe (2009), 97,6% de sua cobertura vegetal permanecem intactas. Apesar do alto índice

de conservação do estado, o município de Manaus, maior centro econômico da região Norte

do país, vem exercendo pressão na região do Baixo Rio Negro, onde a proximidade e

facilidade de acesso por via fluvial aliada à grande abundância de matéria prima contribuem

para a crescente demanda de recursos naturais, principalmente madeira, desta região para a

capital.

Apesar da importância econômica, não apenas para as famílias locais, que dependem

diretamente da atividade, mas também para a cidade de Manaus, que necessita da matéria

prima para o seu crescimento e desenvolvimento, os sistemas de exploração madeireiro da

região e a dinâmica que envolve a atividade são marginalizados. Desde 1965, com a criação

do Código Florestal Brasileiro, os sistemas de exploração florestal do Baixo Rio Negro vêm

sendo considerados totalmente ilegais e predatórios por não seguirem os padrões oficiais

brasileiro de manejo florestal sustentável. Essa ilegalidade ainda é o grande gargalo que

compromete não apenas a sustentabilidade econômica, como também influencia a

sustentabilidade ecológica e sociocultural da região.

As coibições das atividades de extração e de seus principais agentes, os madeireiros,

se acirraram com o fortalecimento das políticas ambientais na região, que aconteceram num

primeiro momento com as criações das unidades de conservação federais, na década de 80, e

estaduais na década de 90. Posteriormente, tais ações se consolidaram com o fortalecimento

institucional dos órgãos ambientais federais e estaduais no inicio do século XXI, ocasionado

principalmente pela contratação de novos técnicos e criação de programas governamentais,

como os projetos Corredores Central da Amazônia3 e Programa de Áreas Protegidas da

3 O Projeto Corredor Ecológico foi concebido no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas

Tropicais do Brasil (PPG7) como uma área extensa de grande importância ecológica, composto por ecossistemas

prioritários para a conservação da biodiversidade, unidades de conservação, terras indígenas e áreas de

interstício. O Projeto Corredores Ecológicos vem sendo construído dentro do MMA desde 1997. A região do

Baixo Rio Negro foi escolhida como área piloto do Projeto Corredores Ecológicos da Amazônia Central. (MMA,

2007)

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4

Amazônia4, que investiram recurso na implementação e fiscalização dessas unidades de

conservação da região.

Os principais empecilhos para a implantação do manejo florestal comunitário na

região sempre foram as questões fundiárias e a marginalidade da atividade, refletida pela

invisibilidade das dinâmicas ecológicas, econômicas e socioculturais dos sistemas de extração

madeireiro na região. Porém, em 2005, o direito de concessão de uso da terra, com a criação

de um assentamento do INCRA, abre a possibilidade para a regularização da atividade em

parte dessa região.

Diante desse contexto, averiguar a dinâmica socioeconômica do extrativismo

madeireiro familiar, entendendo os sistemas de exploração e o significado do valor da floresta

a partir da perspectiva dos moradores locais é essencial não apenas para analisar e

compreender a racionalidade de suas decisões, como também para contribuir para a

sustentabilidade e a gestão territorial da região. Neste sentido, o presente projeto buscou

caracterizar e entender a exploração madeireira da região, procurando dar visibilidade aos

sistemas de extração e à dinâmica socioeconômica que envolve a atividade.

4 O ARPA – Programa Áreas Protegidas da Amazônia é um programa do Governo Federal, iniciado em 2002,

com objetivo de expandir, consolidar e manter uma parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação

(SNUC) no Bioma Amazônia, protegendo pelo menos 60 milhões de hectares e promovendo o desenvolvimento

sustentável da região. (FUNBIO, 2011)

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2. OBJETIVO

2.1 Objetivo Geral

O presente estudo visa caracterizar a exploração madeireira familiar na região do rio

Cuieiras contextualizando os aspectos socioeconômicos das famílias envolvidas na atividade.

2.2 Objetivos Específicos

I. Descrever um histórico do Baixo Rio Negro, relacionando a influência da cidade de

Manaus com os diferentes sistemas de exploração madeireira na região;

II. Levantar informações sobre os sistemas de exploração madeireira atual, descrevendo a

dinâmica dos principais sistemas de extração madeireira, identificando as principais

espécies utilizadas por sistemas de exploração madeireira e apontando os principais

fatores que influenciam nas atividades;

III. Caracterizar os aspectos demográficos das famílias madeireiras da bacia do rio Cuieiras;

IV. Identificar e descrever, além dos sistemas de exploração madeireira, outras formas de

uso e manejo dos recursos naturais (sistemas produtivos) e principais fontes de renda

das famílias madeireiras do rio Cueiras;

V. Traçar o perfil socioeconômico dos extrativistas madeireiros da região com base em

características sociais, nas práticas dos sistemas produtivos e principais fontes de

renda das famílias madeireiras estudadas.

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3. METODOLOGIA

3.1 Área de Estudo.

O presente estudo foi realizado na bacia do rio Cuieiras, afluente da margem esquerda

do Baixo Rio Negro, a cerca de 50 km da cidade de Manaus (Figura 01).

Figura 01 – Imagem do Baixo Rio Negro, com destaque das localizações das sedes das comunidades do

rio Cuieiras

As bacias dos rios de águas pretas, dentre as quais se inclui a bacia do rio Cuieiras, são

caracterizadas por apresentarem solos bastante ácidos e pobres em nutrientes (Goulding et al.,

1988). As águas ditas pretas, originadas nos escudos das Guianas e do Brasil Central,

apresentam pouco material sólido em suspensão e dissolvido, pH ácido e alta concentração de

ácidos húmicos e naturalmente pouco férteis. A cor da água varia de marrom-oliváceo até

tons de café, e o pH é menor que 4,3 (Sioli, 1964). A oligotrofia (deficiência de nutrientes)

dos solos e rios de água preta não só influenciou a composição da paisagem vegetativa – com

sua alta diversidade florística, contrastando com a homogeneidade fisionômica (IPÊ, 2007) –

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como também influenciou as populações locais a obterem conhecimentos distintos de

apropriação e manejo da agrobiodiversidade5.

A bacia do rio Cuieiras drena uma área total da ordem de 3.200 km². A forte

sazonalidade dos regimes hídricos da região também influenciam diretamente as formas de

uso dos recursos pela população moradora da região. O período chuvoso vai de janeiro a abril,

sendo março e abril os meses mais intensos, com médias de 294,7 e 289 mm. O período seco

vai de junho a setembro, sendo o pico da estação seca o mês de agosto, com média de 63,3

mm (Figura 02).

0.0

100.0

200.0

300.0

400.0

500.0

600.0

700.0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Pre

cip

itação

(m

m)

Máxima

Média

Mínima

Figura 02: Pluviometria média, máxima e mínima levantada mensalmente em Manaus no período de 1901 a

2003 (Fonte: ANA apud IPÊ, 2008).

No rio Cuieiras, é possível observar cinco ordens de solos predominantes: os

Latossolos, ocupando os interflúvios ou as porções mais elevadas da paisagem; os Argissolos,

ocupando as vertentes ou áreas de interflúvios; os Espodossolos, presentes nas áreas de

acumulação secundária de perfis arenosos; os Neossolos e Gleissolos, que se localizam sobre

os solos anfíbios e em formação das planícies de inundação (IPÊ, 2008). Na região, encontra-

se também manchas de solo antropogênico, conhecido com a Terra Preta de Índio (IPÊ, 2008;

Cardoso 2008). A vegetação do rio Cuieiras está relacionada com os tipos de solos, como

mostra a figura 03.

7 Segundo a Convenção da Diversidade Biológica - CDB, agrobiodiversidade é um termo amplo que inclui todos

os componentes da biodiversidade que têm relevância para a agricultura e alimentação, e todos os componentes

da biodiversidade que constituem os agroecossistemas: as variedades e a variabilidade de animais, plantas e

microorganismos, nos níveis genéticos, de espécies e ecossistemas, os quais são necessários para sustentar

funções chaves dos agroecossistemas, suas estruturas e processos.

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Figura 03 – Toposequência típica da área de estudos com os principais tipos de solos (IPÊ, 2007).

A bacia do rio Cuieiras é habitada por uma população de 96 famílias, segundo dados

socioeconômicos do IPÊ (2007). Essas famílias organizam-se de forma nuclear, onde a média

de pessoas, por unidade domestica6 é de 3,9 (IPÊ, 2007). A maioria dos moradores

compartilha um histórico de vida que tem como traço comum o fato de terem sido

trabalhadores rurais nos ciclos econômicos do extrativismo na região. As famílias são

originadas de migrantes principalmente da região nordeste do Brasil ou de grupos indígenas

da região do Médio e Alto Rio Negro (dos municípios de Santa Isabel e São Gabriel da

Cachoeira). Atualmente, as famílias da região vivem da agricultura, da caça, pesca, da venda

de artesanato e do extrativismo, principalmente madeireiro (Campos, 2008; Cardoso, 2008;

Dantas, 2010).

A região do rio Cuieiras apresenta uma estrutura agrária mal definida que se agrava

pela sobreposição de ações de regularização fundiária decorrentes de um “excesso” de

ordenamento territorial da área. Ações de ordenamento territorial vêm sendo fomentadas pelas

diferentes estâncias governamentais, com seus diversos modelos. Em 1995, foi decretado na

região o Parque Estadual Rio Negro Setor Sul, com uma abrangência geográfica de

aproximadamente 157.807,00 hectares. O Parque é uma unidade de conservação de proteção

integral que não permite o uso direto. Na ocasião, o referido parque foi criado sem consulta

pública e estudos técnicos aprofundados, tendo seus limites sobrepostos à área de uso de

quatro comunidades localizadas no rio Cuieiras.

O parque foi criado pelo estado do Amazonas em área situada em uma gleba federal

sem que tenha sido feita a transferência de dominialidade ou a sua destinação pelo órgão

gestor ao INCRA – Instituto Nacional da Reforma Agrária. Dez anos depois, em 2005, o

INCRA, não reconhecendo o Parque Estadual Rio Negro (PERN) Setor Sul e seus limites,

8 Por unidade domestica entende-se a unidade residencial de coabitação de uma ou mais famílias nucleares em

comunidade.

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criou na região um projeto especial de assentamento, segundo modelo especifico para região

Norte do Pais, o Programa de Desenvolvimento Sustentável – PDS. O PDS Apuaú –

Anavilhanas foi criado com uma área de aproximadamente 210.000,00 hectares. Esse

assentamento, da forma com que foi delimitado, se sobrepôs à área do PERN Setor Sul em

aproximadamente 70.710.00 hectares. A ausência de uma articulação ou negociação prévia

entre os gestores do Parque Estadual e do Assentamento, provocou o acirramento das entre os

objetivos das duas unidades territoriais, aumentando ainda mais as irregularidades fundiárias

na região. No PDS, o INCRA pôs em prática ações de apoio às famílias que considera como

beneficiários da reforma agrária, tais como o crédito instalação e o crédito moradia. No

entanto, famílias indígenas e aquelas que ocupam áreas do parque não poderiam receber tais

benefícios. Motivos para mais tensões e conflitos entre moradores e gestores. Existe ainda na

região uma academia da Polícia Federal, além de uma área, utilizada pela marinha brasileira,

para treinamentos de guerra. Corre ainda perante a FUNAI – Fundação Nacional do Índio,

uma reivindicação por parte de famílias indígenas que moram na região para a realização de

estudos de identificação e delimitação de Terra Indígena. Desta forma, observa-se na região

que as políticas estatais muitas vezes se conflitam com as regras e o modo de vida das

comunidades locais, gerando embates que foram denominados metaforicamente de “guerra

dos mapas” (Almeida, 1995; Cardoso et al., 2008).

Além, a região é assistida pelo Território da Cidadania, programa de desenvolvimento

local do governo federal coordenado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), e

também pelas secretarias estaduais, em particular a SEPROR – Secretaria de Estado da

Produção Rural e pelo seu órgão estadual de assistência técnica, o IDAM – Instituto de

Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas. A

multiplicidade desordenada de atores governamentais e a sobreposição de suas ações tornam

confusa e desarticulada a atuação do Estado naquela região.

3.2 Materiais e Métodos.

As estratégias e instrumentos para coleta de dados foram desenvolvidos com base no

protocolo de coletas de dados do Cipec - Centro para estudos de Instituições, Populações e

Mudança Ambiental da Universidade Indiana (Cipec – Center for the Study of Institutions,

Populations and Environmental Change at Indiana University) e nas abordagens e técnicas da

pesquisa participativa (Chambers, 1991; Huizer 1997; McAllister, 1999; Pádua et al., 1999;

Seixas, 2005; Vieira et al., 2005). O Cipec tem enfatizado os questionamentos e métodos das

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ciências sociais para tentar unir e entender como instituições humanas e fatores populacionais

interagem com ecossistemas florestais (Moran e Ostrom, 2009). As abordagens e técnicas da

pesquisa participativa vêm sendo utilizadas para o entendimento, monitoramento e avaliação

da gestão dos recursos naturais, a partir da perspectiva local (Chambers, 1991; Huizer 1997;

McAllister, 1999;). A pesquisa participativa reconhece a existência, o valor e a legitimidade

dos diferentes tipos de conhecimento, em particular o conhecimento “popular”, “local” e

“nativo” (McAllister, 1999).

O estudo foi realizado com 23 famílias madeireiras da região. Segundo o levantamento

socioeconômico realizado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (2007), o rio Cuieiras

apresenta aproximadamente 37 famílias que vivem do extrativismo madeireiro. Desta forma,

foi realizado um cálculo de estimativa do tamanho da amostra mínima, baseado nos estudos

de Costa et al. (2006), onde se concluiu que 23 famílias seriam um número satisfatório para a

execução da pesquisa. O tamanho da amostra foi estimado com a precisão de 8% e intervalo

de confiança de 95%, levando em consideração 15% dos extrativistas.

Cálculo da Amostra:

A coleta de dados geral foi desenvolvida em 15 saídas de campo, com um período de

permanência que variou entre 04 a 20 dias. No total, foram somados pouco mais de 120 dias

de coleta de dados. Optou-se pela permanência ao longo de todo o ano para aprofundar o

entendimento das diferentes atividades praticada pelas famílias estudadas e sua relação com a

sazonalidade e o regime dos rios. As ferramentas utilizadas para coleta de dados incluíram

entrevistas formais e informais, avaliações rurais participativas e observação participante.

A pertinência das informações foi verificada mediante a técnica de triangulação, criada

por Freire e colaboradores (2005). A metodologia consiste em utilizar mais de uma

fonte/informante – geralmente três – para obter as mesmas informações, permitindo checar

sua pertinência (Figura 04).

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Figura 04 – Triangulação de informações a partir de (a) três coletas de dados e ou (b) três ou mais informantes

(adaptado de Vieira et al., 2005).

A análise dos dados quantitativos foi dividida em duas fases, a etapa da transcrição do

material, que consistiu na tabulação dos dados em planilhas eletrônicas, e a fase do tratamento

dos resultados, que foram analisados por meio da estatística descritiva, estatística

multivariada, análise de variância e análise de regressão linear múltipla. Os resultados foram

apresentados em forma de tabelas e figuras. A análise dos dados qualitativos foi dividida em

três etapas: a pré – análise, fase que consiste numa leitura superficial dos resultados, momento

onde aconteceu a triangulação dos resultados para averiguação da pertinência das

informações. A etapa da transcrição do material, que consistiu na tabulação dos dados em

planilhas eletrônicas e transcrição e armazenamento das gravações digitais. A terceira fase é a

de tratamento dos resultados, que consiste em organizar os comentários e respostas de acordo

com os principais sistemas de uso de recurso.

3.2.1 “História e Mobilidade no Baixo Rio Negro” - Manaus e a influência nos sistemas

de exploração madeireira da região.

Para realizar a coleta de dados sobre os sistemas de exploração madeireira na região

do Baixo Rio Negro e assim relacionar com os dados históricos de Manaus e do Baixo Rio

Negro foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com as famílias madeireiras da região,

com objetivo de obter-se um registro da história oral das fases de exploração madeireira local.

A história oral é uma ferramenta da metodologia participativa que facilita a compreensão não

apenas da situação atual, como também dos processos que levaram a tal condição (Seixas,

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2005). A coleta de dados de campo sobre o histórico de exploração foi realizada entre os

meses de junho de 2009 a janeiro 2010, sendo complementada nos meses subsequentes ao ano

de 2010. Dados bibliográficos de escalas regionais, nacionais e internacionais foram

pesquisados visando correlacionar com os dados locais coletados, facilitando a análise e

entendimento das mudanças e da dinâmica da atividade ao longo do tempo.

3.2.2 Sistemas Atuais de Exploração Madeireira no rio do Cuieiras

As principais técnicas utilizadas na coleta de dados para a descrição dos sistemas de

exploração madeireira no rio Cuieiras foram entrevistas informais, observação participante e

rotina diária. A escolha das famílias aconteceu por meio da técnica “bola de neve” (Bailey,

1982), onde a cada entrevista eram identificados outros “informantes chave” que

posteriormente eram procurados, esclarecidos sobre o estudo e consultados sobre interesse em

participar da pesquisa. Num total, foram entrevistadas, das 23 que participaram do estudo,

apenas 10 famílias madeireiras identificadas como “informantes chave”. A coleta de dados

aconteceu entre os meses de fevereiro até maio de 2010. As entrevistas foram realizadas de

forma aberta, seguindo uma agenda pré-determinada, durante as visitas das casas e em

excursões guiadas aos locais explorados pelos extrativistas madeireiros (Martin, 1995;

Alexiades, 1996). Naqueles momentos, foram coletados dados sobre os diferentes sistemas de

exploração e as principais espécies madeireiras a eles associadas. Conversas informais e

observação participante (Viertler, 2002) complementaram a base de dados coletados.

A partir da lista das principais espécies e com a ajuda dos madeireiros locais, foram

coletados pelo menos uma amostra botânica, fértil ou não, de todas as espécies madeireiras

listadas pelos extratores. As coletas aconteceram nos meses de junho a agosto de 2010.

Posteriormente, essas amostras foram encaminhadas ao herbário do INPA, onde foram

identificadas pelo seu nome cientifico.

Dentre as espécies vegetais coletadas foi possível observar que pouco mais de

31% eram utilizadas em mais de um sistema de extração. Assim, para analisar as relações

entre os diferentes sistemas de extração da região através das principais espécies madeireiras

exploradas por sistemas, foram utilizados dois métodos complementares de estatística

multivariada: Análise de Coordenadas Principais (PCoA) e Análise de Agrupamento (Cluster

Analysis).

A PCoA é uma técnica de ordenação multivariada que reduz a dimensionalidade da

matriz de dados através da localização de eixos que representem as maiores extensões da

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nuvem de pontos no espaço multidimensional (Legendre e Legendre, 1998). Os resultados da

PCoA (scores) podem ser positivos ou negativos, pois são valores relativos ao eixo N-

dimensional analisado (Valentin, 2000). Essa técnica é similar à Análise de Componentes

Principais (PCA), com a diferença que a PCoA pode ser utilizada com diversas medidas de

distância, incluindo medidas não-euclidianas (não lineares). Portanto, a linearidade entre as

variáveis não é uma premissa da PCoA (Legendre e Legendre, 1998; Valentin, 2000). A

PCoA foi realizada tendo como base uma matriz de dissimilaridade (índice de Sørensen)

gerada a partir de dados de presença ou ausência das espécies madeireiras exploradas nos

diferentes sistemas de extração da madeira. O índice de Sørensen, coeficiente binário

equivalente ao índice de Bray-Curtis, foi selecionado por excluir a dupla ausência e valorizar

a ocorrência simultânea de dois sistemas produtivos (Valentin, 2000).

A formação de agrupamentos dos sistemas de extração madeireiro da região, baseados

nas espécies madeireiras exploradas, foi representado em um gráfico bidimensional das duas

primeiras coordenadas principais (PCoA 1 x PCoA 2), que explicam a maior porcentagem da

variância dos dados.

Com o objetivo de facilitar a interpretação dos agrupamentos detectados através do

gráfico da PCoA 1 x PCoA 2, foi gerado também um dendrograma resultante de uma Análise

de Agrupamento (Cluster Analysis), utilizando-se o método Wards (Romesburg, 2004) que

une grupos de forma a proporcionar o menor aumento possível da variância intra-grupo

(Valentin, 2000). Para esta análise também foi utilizado o índice de Sørensen.

Por fim, para entender a produção/rendimento de algumas atividades madeireiras, foi

utilizada a técnica da rotina diária (Seixas, 2005). Em dez dias, entre os meses de setembro e

outubro de 2010, foram acompanhadas as atividades de exploração da madeira serrada de três

famílias madeireiras diferentes. Nesse período, foram extraídas e beneficiadas seis árvores,

três destinadas a madeira de embarcação e a outra metade destinada a extração de madeira

para construção de casas. O rendimento da madeira foi calculado através da razão entre

volume obtido após o beneficiamento pelo volume comercial da tora. Os volumes das toras

das 06 árvores beneficiadas foram calculados por meio da cubagem, seguindo a formula de

Smalian. O volume serrado foi obtido por meio das dimensões das peças em m3, multiplicado

pelo número de peças produzidas.

Para quantificar a produção de espeto de uma pessoa por hora trabalhada foi

desenvolvido um calendário de produção diária, onde informantes das famílias quantificavam

o tempo de trabalhado, o número de pessoas envolvidas e a produção diária. A metodologia

foi aplicada em três famílias diferentes, quantificando um total de 26 dias de produção. Com

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base nos resultados foi calculado o valor médio produção de uma hora de trabalho por pessoa.

Os critérios de escolha das famílias extrativistas para o registro da rotina diária foram:

envolvimento, interesse e disponibilidade em participar da pesquisa.

3.2.3 Socioeconomia das famílias madeireiras do rio Cuieiras.

Com o objetivo de caracterizar os aspectos demográficos e levantar informações

referentes às formas de uso e manejos dos recursos naturais e principais fontes de renda das

famílias madeireiras do rio Cuieiras, foram aplicados questionários formados por questões

fechadas, mediante entrevistas estruturadas. Nas entrevistas, todas as 23 famílias que

participaram da pesquisa foram submetidas às mesmas perguntas e às mesmas alternativas de

respostas, previamente definidas. A coleta de dados foi realizada nos meses de setembro a

dezembro de 2010. As conversas informais e a observação participante complementaram os

dados que ajudaram a descrever as formas de uso e manejo dos recursos naturais das famílias

madeireiras estudadas.

Para identificar padrões entre os sistemas produtivos e as principais fontes de renda

desenvolvidos pelas unidades domésticas e assim traçar o perfil socioeconômico das famílias

madeireiras da região, foram utilizados dois métodos complementares de estatística

multivariada: Análise de Coordenadas Principais (PCoA) e Análise de Agrupamento (Cluster

Analysis).

A PCoA é uma técnica de ordenação multivariada que reduz a dimensionalidade da

matriz de dados através da localização de eixos que representem as maiores extensões da

nuvem de pontos no espaço multidimensional (Legendre e Legendre, 1998). Os resultados da

PCoA (scores) podem ser positivos ou negativos, pois são valores relativos ao eixo N-

dimensional analisado (Valentin, 2000). Essa técnica é similar à Análise de Componentes

Principais (PCA), com a diferença que a PCoA pode ser utilizada com diversas medidas de

distância, incluindo medidas não-euclidianas (não lineares). Portanto, a linearidade entre as

variáveis não é uma premissa da PCoA (Legendre e Legendre, 1998; Valentin, 2000). A

PCoA foi realizada tendo como base uma matriz de dissimilaridade (índice de Sørensen)

gerada a partir das práticas (presença e ausência) dos diferentes sistemas produtivos e

principais fontes de renda desenvolvidos pelas unidades domésticas estudadas. Nessa matriz,

as variáveis: turismo, aposentadoria e assalariados foram excluídas por serem fontes de renda

praticadas por menos de 20% das unidades domésticas estudadas. O índice Sørensen,

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coeficiente binário equivalente ao índice de Bray-Curtis foi selecionado por excluir a dupla

ausência e valorizar a ocorrência simultânea de dois sistemas produtivos (Valentin, 2000).

A formação de agrupamentos dos diferentes sistemas produtivos e principais fontes de

renda desenvolvidos pelas unidades domésticas estudadas foi expressa a partir de um gráfico

bidimensional das duas primeiras coordenadas principais (PCoA 1 x PCoA 2), que explicam a

maior porcentagem da variância dos dados.

Com o objetivo de facilitar a interpretação dos agrupamentos detectados através do

gráfico da PCoA 1 x PCoA 2 foi gerado também um dendrograma resultante de uma Análise

de Agrupamento (Cluster Analysis), utilizando-se o método Wards (Romesburg, 2004) que

une grupos de forma a proporcionar o menor aumento possível da variância intragrupo

(Valentin, 2000). Para esta análise foi utilizado também o índice de Sørensen.

A análise de Variância (ANOVA) foi utilizada para verificar se há distinção na

diferenciação das práticas dos sistemas produtivos / principais fontes de renda entre as

famílias de diferentes procedências. Nesta análise, a variável dependente foi o score do

primeiro eixo da PCoA e os fatores utilizados para categorizar as origens das famílias foram:

a) Baixo Rio Negro; b) Médio e Alto Rio Negro; c) outros municípios.

Análise de regressão linear múltipla foi realizada para verificar se há relação entre

a diferenciação das práticas dos sistemas produtivos / principais fontes de renda e o tempo de

moradia e o número de pessoas por família. A análise de Correlação Simples (Pearson) foi

realizada previamente para verificar se há real independência entre as variáveis preditoras.

Para melhor interpretar os resultados das análises de regressão, foram elaborados gráficos de

ordenação da ocorrência dos sistemas produtivos e principais fontes de renda das famílias em

relação às variáveis: tempo de moradia e número de pessoas.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 “História e Mobilidade no Baixo Rio Negro” - Manaus e a influência nos sistemas de

exploração madeireira da região.

Acredita-se que os principais cursos da região do Baixo Rio Negro, até o começo do

século XVII, época do inicio da colonização, eram habitados por milhares de índios da etnia

Tarumã, Manaós e Baré (Ferreira, 1786; Nimuendajú, 1982; Neves, 2006). Com a chegada

dos europeus ao baixo rio Negro teve início um processo genocida de massacre das

populações indígenas dessa região acarretado principalmente por envolvimento em conflitos e

epidemias. Neste período etnias foram dizimadas, como os Manaós e os Tarumã (Leonardi,

1999). Outras, como os Barés, foram obrigadas a fugir para regiões remotas e inabitadas na

porção mais acima do rio Negro.

Os poucos indígenas sobreviventes, que não fugiram, foram incorporados pelo sistema

colonial, sendo muitos escravizados. Neste período, mais precisamente em 1669, na região da

foz do rio Negro foi criada a primeira guarnição militar portuguesa no interior da Amazônia, o

Forte de São José do Rio Negro, que mais tarde veio dar origem a cidade de Manaus. Essa

ocupação, junto com a missão Santo Elias de Jaú, hoje conhecida como Airão Velho e a

missão carmelita no rio Branco, afluente do rio Negro, constituíam-se os únicos povoamentos

portugueses no Amazonas ao final do século XVII (Reis, 1989).

Na metade do século XVIII, durante o governo do Marquês de Pombal (1750-77),

Portugal adotou medidas que modificaram o processo de colonização na parte ocidental da

Amazônia. Desta forma, no ano de 1755 foram criadas a Capitania de São José do Rio Negro,

a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Muitas aldeias foram transformadas em vilas e

povoados, sendo abolida a administração temporal que os religiosos exerciam nas missões

indígenas, que passaram a ficar sob responsabilidade de administradores leigos (Corrêa,

1989).

Contudo, a ocupação portuguesa da Amazônia nos séculos XVII e XVIII não pode ser

vista apenas como uma questão política para estabelecer o domínio espacial de um vasto

território. Embutida na estratégia de defesa estava uma questão econômica motivada pelo

mercantilismo português que colocava a Amazônia como uma alternativa para a reconstrução

de "seu empório asiático", perdida para outras nações europeias (Dias, 1977). Nesse período

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predominou na Amazônia a exploração de madeiras finas7, das drogas do sertão8 e a

agricultura, sendo o cacau, o principal produto de exportação na segunda metade do século

XVIII. Entretanto, não se pode dizer que nessa época tenha ocorrido a interiorização de

atividades econômicas e nem um significativo povoamento na perspectiva do colonizador

(Oliveira, 2006).

Em meados do século XIX, vários acontecimentos contribuíram para a modificação da

paisagem da Amazônia e determinaram, em linhas gerais, o arcabouço do que viria a ser a

malha urbana do Amazonas. Dentre os acontecimentos estão: a elevação do Amazonas à

categoria de Província em 1850, a introdução da navegação a vapor em 1853 e a exploração

extensiva dos seringais. A introdução da navegação a vapor, além de melhorar a comunicação

decorrente da facilidade de transporte, transformou os povoados e vilas em pontos de paradas

obrigatórias não apenas para desembarque e embarque de cargas, mas também para o

abastecimento de lenha que servia de combustível para os vapores (Oliveira, 2006).

Com o “boom” da borracha (1860-1910), intensificou-se a ocupação por população

não indígena da parte mais a oeste da Amazônia. Nos rios Madeira, Purus e Juruá foram

criados e/ou recriados povoados visando servir de apoio à exploração do látex e que

posteriormente se transformaram em vilas e mais tarde cidades, tais como Manicoré e

Humaitá no rio Madeira; Lábrea, Boca do Acre e Canutama no rio Purus; Carauari e Eirunepé

no rio Juruá; Codajás no rio Solimões (Bitencourt, 1926). Nesse período, houve uma redução

no povoamento da porção mais baixa do rio Negro que por volta de 1890 contava com apenas

dezoito povoados dos trinta e dois existentes no final do século XVIII (Leonardi, 1999). Em

todo o rio Negro, em meados do século XIX, não havia mais de 7.000 habitantes não

indígenas, com um decréscimo de aproximadamente 20% da população em 60 anos (Loureiro,

1978).

Apesar de a economia da borracha ter representado no período de 15 anos (1898 a

1912) no mínimo 20% das exportações brasileiras anualmente (Santos, 1980), os benefícios

ficaram reduzidos a duas cidades: Belém e Manaus onde uma minoria reteve parte do

excedente econômico, transformando-as nas mais importantes cidades da Região. Porém, o

ano de 1913 marca o inicio do declínio na comercialização da borracha amazônica, que já 7 O Cedro, Piquiá, Pau-Santo, Pau-óleo, Pau-D’arco, Ipê, Jenipapo eram algumas espécies solicitadas pelo reino

para utilização na marcenaria e construção de casas e navios. Sua exploração, cuidadosamente manejadas, como

se pode observar a seguir: “nos minguantes das luas, pondo-se o maior cuidado de sustentar e amparar com

cordas, de sorte que quando vier ao chão não lasque no corte, porque destes incidentes é muito prejudicial às

referidas madeiras” – Carta de 1775. Correspondência da Metrópole com os governadores, 1765-1777. Códice

670. Biblioteca a arquivo público do Pará. 8 Cacau, Cravo-do-maranhão, Canela, óleo de copaíba, salsaparrilha e baunilhas eram alguns dos principais

produtos conhecidos como as drogas do sertão (Leonardi, 1999).

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sofria a forte concorrência do produto asiático. Manaus, que até então tinha crescido como um

centro de comércio e entreposto para escoamento de borracha e entrada de artigos

manufaturados, não encontrou caminhos para desenvolver o capital comercial e o setor

industrial, e entrou em crise com o declínio da comercialização do látex. (Oliveira, 2006)

Como conseqüência da crise da borracha a população de Manaus, mesmo que ainda

timidamente, começa a crescer com a chegada principalmente de muitos seringueiros vindos

do interior do estado. Somente em 1922, chegaram cerca de 10 mil migrantes, vindos da zona

rural, especialmente dos vales do Madeira, Purus e Juruá, rios considerados “Seringueiros”

(Oliveira, 2003). Entre 1920 a 1940, a população da cidade de Manaus passa de 75.704 para

93.748 habitantes, sendo que nesta época a população do estado era de 459.747 habitantes

(IBGE, 1942). Embora, nesse período, o crescimento da população de Manaus não fosse

significativo, aumentaram os problemas habitacionais, pois a maioria das casas era feita de

palha e taipa e localizada em locais insalubres, próximo aos igarapés e sem infra-estrutura.

No inicio da década de 1940, bem em frente ao centro da cidade, e estendendo-se para

foz do igarapé do Educandos, surge a cidade flutuante (Figura 05). As casas da cidade

flutuante tinham um tamanho médio de 45m² e eram construídas sobre toras de açacu,

“amarradas” com vigas de espécies madeireiras resistentes a água, o piso de assoalho e as

paredes eram de madeira e os telhados cobertos com palha ou telha de zinco. Segundo Salazar

(1985), a cidade flutuante, que teve seu fim a partir de 1965, não significou uma questão

cultural de relação do homem da Amazônia com a água, mais sim, uma alternativa mais

barata de moradia àqueles que não tinham condições de habitar a terra. Pois, ao contrário da

terra, na água não se constitui uma propriedade privada.

Figura 05 – Foto da Cidade Flutuante localizada em frente

a cidade de Manaus (Fonte: Andrade, 1984).

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19

Entre 1950 até meados da década de 60, a cidade de Manaus não apresentou grandes

mudanças, sua população era em torno de 108.400 habitantes em 1950, chegando a 175.343

habitantes em 1960. Desse total, 21.303 habitantes moravam na zona rural da cidade (Anuário

Estatístico do Estado do Amazonas, 1966). Nesta época, Manaus ainda era uma cidade

essencialmente comercial e administrativa, onde foram instaladas apenas algumas fábricas de

beneficiamento de produtos extrativistas, como exemplo das fábricas de juta nos bairros da

Matinha e Educandos.

Neste período inicia-se um processo de reocupação da região do Baixo rio Negro, que

acontece pela migração de famílias com histórico de terem trabalhado com extrativismo,

principalmente na produção da borracha e que retornam às áreas rurais. Esses emigrantes, de

forma geral, tiveram um período de vivência na cidade de Manaus, porém na época, sem

muitas opções econômicas, passavam temporadas no entorno da cidade com intuito de

explorar os recursos, principalmente madeireiro, para serem comercializado na capital. Com o

tempo, essas famílias foram se fixando cada vez mais no interior (década de 50),

estabelecendo moradia na zona rural, dentre elas a região do rio Cuieiras (Cardoso, 2008). Os

principais sistemas de exploração madeireira desta época eram a produção de lenha e madeira

em tora, lavrada e roliça (Gachot et al., 1966) e a exploração do pau-rosa (Vial-Debas, 2003).

Box 01 - Sistemas de Exploração Madeireira no Baixo Rio Negro de 1950 até 1970.

Produção de Lenha

Um dos primeiros sistemas de exploração madeireira da região do Baixo rio Negro foi o da

extração para produção de lenha (Oliveira, 2006). Só na década de 50, a produção registrada de lenha

foi de 120.000 m³, no estado do Amazonas (Gachot et al., 1966). Essa madeira era comercializada por

tonelada/metro e geralmente transportada em batelões para abastecer principalmente a navegação a

vapor, as olarias, algumas indústrias e usinas térmicas da cidade de Manaus. A extração de lenha

deixou marcas visíveis na paisagem do Baixo rio Negro, pois durante muitos anos, principalmente no

período de seca, a atividade era realizada em partes do igapó conhecidas como as Pontas de Lenha.

Nessas regiões é possível identificar, até os dias de hoje, a paisagem degradada, com inúmeros tocos

de árvores cortados na época, pelo machado.

A produção de lenha foi marcada pelas péssimas condições de trabalho e baixa remuneração

da mão de obra. Na década de 50, o próprio governo enviava e mantinha prisioneiros para o trabalho

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forçado na extração de madeira para produção de lenha (Cardoso, 2008). A atividade começou a entrar

em declínio quando as usinas termoelétricas e a navegação a vapor começaram a substituir a lenha por

óleo combustível. Porém, mesmo com a diminuição da intensidade, a extração de lenha é demandada

até hoje pelas indústrias de oleira-cerâmica da região, principalmente dos municípios de Iranduba e

Manacapuru (IBGE, 2009).

Madeira em Tora

A extração de madeiras em toras foi outra atividade de exploração existente na região do

Baixo rio Negro. Todo o trabalho era manual, as árvores eram cortadas no machado e serrote,

deslocadas pela mata do seu local de extração até as margens dos rios e igarapés, onde eram

transportadas por meio de jangadas1 que desciam o rio Negro até a cidade de Manaus, para abastecer

as serrarias da região. A extração era realizada por madeireiros e ajudantes, geralmente financiados

por serrarias de Manaus, que lhes ofereciam mercadorias durante o tempo de coleta, sendo descontado,

posteriormente, do recurso a receber pelo serviço realizado. Todo o processo da atividade era penoso e

lento e, pela dificuldade do transporte, geralmente era realizada nos períodos de cheia. As principais

espécies exploradas nessa atividade eram: a sucupira (Andira sp.), jacareúba (Calophyllum sp.), uma

variedade de louro (Ocotea spp.) e ucuúba (Virola ssp) (Gachot et al., 1966).

Extração do Pau-Rosa

O Baixo rio Negro, principalmente os rios e igarapés localizados na margem esquerda,

tiveram um histórico de exploração do pau-rosa para obtenção de essência de linalol, matéria prima

muito solicitada na indústria de perfumes, águas de colônias, ceras, loções, cremes, batons (Alencar e

Fernandes, 1978). A essência foi bastante explorada, chegando a ocupar o terceiro lugar na pauta de

exportação da região Amazônica, seguindo a borracha e a castanha, primeiro e segundo lugares,

respectivamente (Marques, 2001).

Na região, a atividade de extração do pau-rosa iniciou-se no decorrer da década de 50, e

possuía características muito especificas quando comparada a outras atividades extrativistas da época,

principalmente pela infra-estrutura. Nas áreas de extração do pau-rosa eram montadas pequenas

destilarias, a mão de obra era especializada e na maioria das vezes assalariada. As árvores de pau-rosa

eram derrubadas, os troncos eram serrados em toras e em seguida reduzidos a cavacos, que

posteriormente eram submetidos à destilação para obtenção da essência.

A denominação do pau-rosa é dada a aproximadamente quinze espécies, dentre as quais a

Aniba roseadora Ducke é a espécie mais explorada (Vial-Debas, 2000; Marques, 2001; Spironello,

2004). Essa espécie possui também fraca regeneração, aliada a um crescimento diametral lento

(3,8mm/ano). Essas limitações, aliadas à intensa exploração, fizeram com que as populações locais de

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Aniba roseadora fossem levadas à beira da extinção (Vieira, 1970; Costa et al., 1995). No final da

década de 50, com o surgimento da essência sintética e a dificuldade cada vez maior ao acesso da

matéria prima, a atividade entrou em declínio na região (Vial-Debas, 2003).

Madeira Lavrada

No decorrer da década de 1950, como conseqüência da demanda da cidade flutuante, e

posteriormente, com o crescimento no número das embarcações regionais de madeira na cidade de

Manaus, a comercialização de madeiras resistentes à água aumentou na região, principalmente a

Itaúba (Mezilaurus itauba). Nesta mesma época, também era comum na região a comercialização de

outras espécies madeireiras utilizadas como carreira de barcos nos estaleiros e para compor carrocerias

de caminhão. Estas espécies eram madeiras densas e resistentes. Dentre as principais estavam o Pau

D’arco (Tabebuia ssp.), a Maçaranduba

(Manilkara sp.) e o Cumaru (Dipteryx sp.). Neste período, a madeira passou a ser beneficiada na

própria região, geralmente por serradores e ajudantes que começaram a fixar residência no local.

Segundo os registros de campo, toda a produção era manual, sendo a madeira lavrada com auxílio de

machados. As peças eram comercializadas apenas por encomenda, vendidas por m³ e tinham tamanhos

que variavam de acordo com a solicitação.

_____________________________

1 Jangada - é o método rudimentar de transporte fluvial de madeira em toras, flutuante ou submerso, utilizado pelos

madeireiros, na região da Amazônia. (Conceito de jangada, segundo o Art 1°, do Decreto Nº 97.592, 27 de março de 1989).

Manaus, que parecia estática e sem muitas perspectivas, deu uma reviravolta no final

dos anos 60. Em pouco mais de trinta anos, teve sua população aumentada quase três vezes,

passando de 93.748 habitantes em 1940, para 311.622 habitantes em 1970 (IBGE, 1991). O

advento da Zona Franca9, em 1967, foi um dos principais responsáveis por esse cenário,

criando um vigoroso pólo de atração de mão-de-obra. A explosão demográfica da década de

1970 traduz-se na expansão do sítio urbano da cidade. Na periferia de Manaus são planejados

bairros residenciais destinados a nova classe média, constituída de empregados do setor

industrial e dos serviços públicos (Carneiro, 2000).

9 Em 28 de fevereiro de 1967, por força do Decreto - lei n° 288, o governo revolucionário do General Castelo

Branco alterou as disposições da Lei no 3.173, de 6 de junho de 1957, e regulamentou a Zona Franca de Manaus

(ZFM). Instrumentos usados convencionalmente para induzir e dirigir o comportamento do setor privado com

relação ao processo de desenvolvimento, as zonas francas proliferaram em países do terceiro mundo a partir de

1965, quando entraram em atividade as de Hong Kong e Kandla, na Índia – contexto no qual se implementou a

ZFM. Esta foi definida como uma “área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais

especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia, um centro industrial, comercial e

agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e

da grande distância que se encontram os centros consumidores de seus produtos” (Art. 1°). (Barreto, 2001).

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Porém, com as crises econômicas dos anos 80 e 90, a Zona Franca entra numa fase de

declínio, aumentando os cortes dos incentivos fiscais, queda de produção e conseqüentemente

baixa demanda de mão-de-obra e desemprego. Neste período, inicia-se um segundo ciclo de

migração para região do Baixo rio Negro. A falta de condições de moradia e o aumento do

desemprego na cidade de Manaus por conseqüência das crises levaram muitas famílias a

migrarem para diversas áreas rurais o Baixo Rio Negro, dentre elas, a bacia do rio Cuieiras

(Cardoso, 2008). Nesse período, a exploração da madeira serrada atinge o seu auge, sendo que

também se comercializava intensamente madeira de pau de escora, que mais tarde veio a ser

substituída pela produção de espeto.

Nos últimos 10 anos, a Zona Franca voltou a crescer. A população de Manaus

aumentou aproximadamente 30%, passando de 1.405.835 habitantes em 2000 para 1.802.525

habitantes em 2010. Quase a metade da população do estado encontra-se na região

metropolitana de Manaus. No ano de 2006, segundo o IBGE, Manaus foi a sexta capital do

país com melhor PIB per capita, apresentando um índice de 34.403. Neste contexto, Manaus,

que até certo tempo foi o entreposto comercial da exploração de vários produtos florestais,

vive desde a década de 70, até os dias de hoje, mesmo com as crises nos anos 80 e 90,

essencialmente do seu setor industrial.

Box 2 - Sistemas de Exploração Madeireira do Baixo Rio Negro: De 1970 até 2010

Madeira Roliça

No inicio da década de 70, cresce na região do Baixo rio Negro a extração de madeira roliça

utilizada como esteio de casas e poste para iluminação das ruas. Em geral, a atividade, exigia mão de

obra pouco especializada e investimento prévio. Na mata, eram selecionadas as espécies densas e

resistentes. Além disso, as escolhas das árvores também dependiam da altura e diâmetro

encomendados. Dentre as principais espécies exploradas a Acariquara (Minquartia guianensis Aubl)

era a mais comercializada na região.

A durabilidade da madeira da Acariquara pode chegar a 150 anos, sendo resistente ao ataque

de uma grande variedade de organismos deteriorantes presente no solo (Santos 1987). Mesmo em

ambientes aquáticos marinhos ou fluviais foi comprovada a longevidade da madeira (Ledoux e

Lobato, 1976). A árvore apresenta porte médio, podendo alcançar até 30m (Camargo, 2004).

Madeira Serrada

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A exploração da madeira serrada intensificou-se no baixo rio Negro por volta da década de 80,

principalmente com aperfeiçoamento da motosserra2,3. Até recentemente, toda a produção madeireira

local era lavrada no machado ou vendida em tora. Com o aparecimento da motosserra, esses produtos

madeireiros entraram em declínio. O advento da motosserra não apenas mudou a dinâmica de

exploração madeireira, mas também aumentou a produtividade da madeira beneficiada, principalmente

pelo aumento no rendimento da mão-de-obra, além da variedade de espécies madeireiras exploradas

na terra-firme. Nesse período, intensificou-se na

região o beneficiamento de madeiras destinadas a embarcações (que antes era lavrada no machado),

movelaria e construção civil, principalmente de casas.

No inicio da década de 90, inicia-se na região o ciclo de exploração de madeira branca

serrada. A atividade acontece principalmente por meio da produção de tábuas de azimbre, utilizadas na

sustentação das construções civis de alvenaria e na venda de pranchas de madeira branca para

fabricação de paletes4 demandados pelo pólo industrial de Manaus.

Pau de Escora

Neste período (década de 80-90) intensificou-se também a exploração de árvores jovens,

comercializadas como varas para serem utilizadas como pau de escoramento na construção civil.

Nessa atividade eram aproveitados indivíduos de várias espécies, desde que dentro do padrão de

diâmetro e comprimento adequados ao uso nas construções. As zonas preferenciais para extração de

varas geralmente eram as áreas de regeneração natural e antigos roçados (capoeiras), onde ocorre

maior abundância de árvores jovens. A atividade não exigia muita habilidade e investimento prévio,

dependendo apenas da força braçal para o corte das varas. A extração de varas de pau-de-escora era

praticada por homens, mulheres e jovens das famílias e foi umas das principais atividades econômicas

de muitas famílias da bacia do Rio Cuieiras. Na região era comum a passagem dos “vareiros”

(comerciantes), que passavam de barco pelo rio comprando semanalmente as varas dos moradores ou

trocando por produtos da cidade.

Fim da era do pau-de-escora e início da extração de madeira para produção de espeto

A partir de 2007, principalmente depois do fim do ciclo do pau-de-escora, entrou em ascensão

na região a atividade de produção de espeto, voltada principalmente para abastecer a demanda da

cidade de Manaus. Na época, o declínio do ciclo do pau de escora não foi associado à escassez de

matéria-prima, e muito menos de oferta e demanda. Os relatos coletados no campo indicam que a

intensificação das fiscalizações dos órgãos ambientais a partir de 2005 foi fazendo com que as famílias

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extratoras substituíssem o pau-de-escora por outras atividades. Com o declínio do ciclo do pau-de-

escora muitas famílias encontraram na produção do espeto uma alternativa econômica de baixo

investimento e pouca qualificação para suprir a atividade.

__________________________

2 McCulloch aperfeiçoou a motosserra inventada por Andreas Stihl em 1927 e por Joe Cox em 1947, produzindo uma que

pesava apenas 11 kg. O aperfeiçoamento da moto-serra continuou nas décadas de 50 e 60, sendo o último modelo bem mais

leve do que os anteriores. No final da década de 60, foi fabricada a primeira motosserra com dispositivo que isolava as

intensas vibrações do seu motor, permitindo a sua utilização durante um tempo maior e, na década de

1970, as serras passaram a ter correias mais aperfeiçoadas, dispositivos de segurança e redução de peso (Homma, 2003).

3 Segundo relato dos moradores locais, a motosserra chegou na região do Baixo rio Negro no início dos anos 80, porém nesse

período ela era usada apenas para derrubar as árvores, só a partir de 1985 é que ela passa a ser utilizada no beneficiamento da

madeira.

4 Palete - é um estrado de madeira, sua função é otimizar o transporte de cargas, conseguido através da empilhadeira e a

paleteira (Fernandes, 1981).

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4.2 Sistemas de Exploração Madeireira no Rio Cuieiras

De forma geral, a extração madeireira na bacia do rio Cuieiras acontece no interior da

floresta ou em áreas de igapó, por meio da derrubada da árvore e desdobro da tora em peças

quadrangulares e/ou retangulares de menor dimensão. As principais peças produzidas são

pranchas, pranchões, tábuas, vigas, caibros e ripas. Cada uma dessas peças possui padrão

médio de espessura e largura, variando no comprimento (Tabela 01). As peças são

transportadas manualmente, geralmente para as margens dos rios e igarapés, onde são

embarcadas em canoas ou barcos regionais. Toda a prática é realizada de forma manual,

sendo a motosserra o único incremento tecnológico utilizado. Assim como observaram Freitas

et al. (1998), ao estudar pequenos produtores nos municípios de Manacapuru, Itacoatiara,

Itapiranga, Novo Airão e Tefé, a produção madeireira das famílias analisadas nesse estudo é

caracterizada como uma atividade de pequena escala, onde a extração madeireira local é

manual, voltada basicamente para o complemento da renda familiar e necessidades

domésticas.

Tabela 01 - Dimensões das principais peças produzidas na madeira serrada

(Fonte: NBR 7203,1982)

Peças Espessura (mm) Largura (mm) Comprimento (m)

Prancha >70 >200 Variável

Pranchão 40-70 >200 Variável

Tábua 40-70 >100 Variável

Viga >40 110-200 Variável

Caibro 40-80 50-80 Variável

Ripa <20 <100 Variável

A exploração madeireira praticada na região além de ser considerada de pequena

escala é uma atividade sazonal, que se intensifica no período da cheia, devido à facilidade de

acesso e transporte das madeiras. As práticas dos sistemas produtivos na bacia do rio Negro,

geralmente seguem um calendário de atividades influenciado pelas estações e pelo regime das

águas (Silva, 2003; Sobreiro, 2007).Vários autores têm enfatizado a influência da

sazonalidade dos sistemas hídricos na dinâmica de uso dos recursos pelas comunidades da

região estudada (Campos, 2008; Cardoso, 2008; Dantas, 2010).

Atualmente, a exploração madeireira se concentra na produção de madeira serrada e

na extração de árvores para produção de espeto. Na região, a madeira serrada atende a quatro

tipos diferentes de demanda: a) Madeira Serrada para Embarcação; b) Madeira Serrada para

Movelaria; c) Madeira Serrada para Construção Civil; d) Madeira Branca - Azimbre.

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4.2.1 Relação entre os Sistemas de Extração Madeireira com base nas principais espécies

exploradas no rio Cuieiras

Acredita-se que aproximadamente 350 espécies de árvores da bacia Amazônica sejam

utilizadas como recurso madeireiro (Martini et al., 1998; Smeraldi e Veríssimo, 1999). Neste

estudo, segundo os levantamentos realizados com as famílias madeireiras do rio Cuieiras,

foram identificadas 93 espécies de árvores exploradas. Esse valor equivale a 27% do número

total de espécies madeireiras estimado na bacia Amazônica. Pouco mais da metade das

espécies levantadas neste estudo são de utilidade para construção de casas principalmente

regionais. Do total das espécies mapeadas, 21 são usadas nas construções de barcos e canoas,

e 20 das espécies madeireiras identificadas na região têm demanda da indústria moveleira.

Neste estudo, foram identificadas também 19 espécies madeireiras utilizadas na prática da

madeira branca serrada e 16 espécies exploradas para produção de espeto.

Muitas das espécies madeireiras que foram levantadas são utilizadas para múltiplos

propósitos, servindo para mais de um sistema de extração madeireiro. Para analisar as

possíveis relações entre os diferentes sistemas de extração da região caracterizados pelas

principais espécies madeireiras exploradas foram utilizados dois métodos complementares de

estatística multivariada: Análise de Coordenadas Principais (PCoA) e Análise de

Agrupamento (Cluster Analysis).

Os agrupamentos dos sistemas de extração madeireiro da região foram identificados a

partir de um gráfico bidimensional das duas primeiras coordenadas principais (PCoA 1 x

PCoA 2). Os dois primeiros eixos resultantes da PCoA foram os que explicaram a maior

porcentagem da variância original (Figura 06). Os demais eixos representaram cerca de 10%

ou menos da variância dos dados originais. Os scores dos eixos da PCoA estão representados

na tabela 02.

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0 1 2 3 4 5

Coordenada (PCoA)

0

10

20

30

40

50

60

va

riâ

ncia

exp

lica

da

(%

)

57,5

21,6

11,1 9,8

Figura 06 - Porcentagem da variância explicada de cada eixo resultante da Análise de Coordenadas Principais

(PCoA) das espécies madeireiras exploradas nos sistemas de extração da madeira serrada.

Tabela 02 - Scores dos sistemas produtivos gerados a partir das espécies madeireiras associadas, resultantes da

Análise de Coordenadas Principais (PCoA).

SISTEMA PRODUTIVO COORD. 1 COORD. 2 COORD. 3 COORD. 4 COORD. 5 COORD. 6

Madeira construção -0,26992 0,042505 0,060983 0,32284 -0,26992 0,042505

Madeira embarcação -0,32476 -0,04689 0,34189 -0,19016 -0,32476 -0,04689

Madeira movelaria -0,30206 -0,05332 -0,40954 -0,10968 -0,30206 -0,05332

Madeira branca 0,49437 -0,46817 0,011979 0,016484 0,49437 -0,46817

Espeto 0,40236 0,52587 -0,00531 -0,0395 0,40236 0,52587

Com base nas análises de agrupamento dos sistemas de exploração madeireiro da

região (Figura 07 e 08) é possível observar que existe uma aproximação entre as práticas da

madeira serrada para embarcação, movelaria e construção de casas. Esse agrupamento indica

que algumas espécies são de múltiplos propósitos, sendo utilizadas por mais de uma dessas

atividades. Entretanto, destaca-se que o grupo madeira branca e o grupo espeto estão isolados

dos demais. Desta forma, é possível concluir que as espécies utilizadas no sistema madeira

branca e no sistema de produção de madeiras destinadas para produção de espeto são na sua

maioria de uso especifico para cada uma dessas atividades.

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Figura 07 - Relação entre os dois primeiros eixos (Coordenada 1 e Coordenada 2) da Análise de Coordenadas

Principais (PCoA) das principais espécies madeireiras exploradas nos sistemas de extração da madeira.

Figura 08 - Dendrograma resultante da Análise de Agrupamento calculado com o índice de Sørensen a partir da

matriz de presença ou ausência das principais espécies madeireiras exploradas nos diferentes sistemas de

extração da madeira.

4.2.1.1 Madeira Serrada para Embarcação

É o sistema mais antigo da região, sendo a Itaúba (Mezilaurus itauba) a espécie mais

utilizada (Freitas et al., 1996). A madeira de Itaúba possui boas propriedades física, químicas

e mecânicas, sendo bastante resistente ao intemperismo (Nogueira et al., 2001; Silva et al.,

2006). A árvore Itaúba é de grande porte, chegando a 40 m de altura e 80 cm de diâmetro.

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Pouco se conhece sobre as suas características ecológicas. Relatos indicam que a

superexploração da espécie tem dificultado cada vez o acesso e a produção de sua madeira na

região.

Assim como a Itaúba, as espécies madeireiras tradicionalmente demandadas no

mercado para construção de barcos, canoas e flutuantes, segundo os moradores locais, são as

mais raras de se encontrar na região. Atualmente, na bacia do rio Cuieiras, não existe uma

cadeia produtiva para madeira de embarcação e a atividade acontece apenas por encomenda,

voltada basicamente para atender a demanda local. Na maioria das vezes, a extração de

madeira para embarcação está associada ao trabalho de carpintaria naval, onde o próprio

prestador de serviço da construção naval se encarrega de tirar a madeira.

A madeira destinada para embarcação é a que possui maior valor dentre as madeiras

serradas vendidas na região. O custo de 1m3 da madeira serrada para embarcação, a depender

da qualidade da madeira, pode chegar até R$ 1.250,00. As peças são vendidas em pranchas,

negociadas por palmo (20cm x 20cm com 3 cm de espessura), sendo R$ 1,50, o valor

equivalente de um palmo. No referido estudo foram levantadas 21 espécies madeireiras

utilizadas nas construções de casco de barcos e canoas (Anexo I).

Em geral, essas espécies são de média ou alta densidade e conseqüentemente

crescimento lento. O volume aproveitado das árvores serradas para embarcação também é

baixo, pois se utiliza apenas a parte central do tronco, o cerne10 da madeira. Neste estudo foi

realizado um acompanhamento do processo de derrubada e desdobro de algumas espécies

madeireiras para embarcação com intuito de calcular o aproveitamento da madeira serrada em

relação ao volume total da tora (Anexo VI). O rendimento médio do volume serrado em

relação ao volume da tora comercial foi de 34,3%. Esse valor foi superior ao rendimento

médio das microsserarias do estuário do Pará e Amapá no ano de 2004, que segundo Lentini

(2005) foi de 28%.

O baixo aproveitamento de volume, as limitações ecológicas e a pressão na exploração

de determinadas espécies, podem ser fatores que expliquem, não apenas o alto custo, como

também a escassez da matéria-prima, refletindo nas limitações da atividade, que hoje atende

apenas a demanda local. Essa dinâmica, já vem sendo alertada pelo economista Homma

(2000), ao relatar os fatores limitantes do extrativismo, como a base da economia local.

10 O cerne é a designação dada à parte do xilema do tronco que já não participa ativamente na condução de água,

assumindo uma função essencialmente de suporte mecânico da estrutura da planta.

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4.2.1.2 Madeira Serrada para Movelaria

O sistema da madeira serrada para movelaria teve seu auge no inicio da década de 80,

principalmente com a explosão demográfica da cidade de Manaus decorrente do advento da

Zona Franca. No final da década de 90, com o aumento das fiscalizações e a competição com

outros sistemas de exploração madeireira, a atividade entrou em declínio. Atualmente, não

existe uma cadeia produtiva constante desse sistema de extração, que acontece

esporadicamente por encomenda ou necessidade da unidade doméstica. Neste estudo foram

identificadas 20 espécies madeireiras utilizadas na região com potencial de uso na movelaria

(Anexo II). As peças são vendidas geralmente em pranchas ou pranchões, basicamente para o

mercado consumidor de Manaus. O fato de essas peças serem utilizadas com fins decorativos

faz elevar o padrão de qualidade exigido da matéria-prima. Na região, o preço do 1m3 varia

entre R$ 400,00 a 800,00 dependendo da qualidade da madeira.

A extração de madeira destinada a movelaria, devido a exigência no padrão de

qualidade, requer elevado cuidado, desde o desdobro das toras até o transporte. Aumentando

conseqüentemente o investimento prévio relacionado à logística dos desdobros da tora e

transporte. Devido aos riscos com fiscalização, a venda de madeira destinada à movelaria vem

perdendo lugar ao competir com a comercialização local da madeira para embarcação e

construção de casas. Do total de espécies identificadas com potencial de uso para movelaria,

apenas 35% das espécies são de uso especifico da atividade. As espécies restantes, 65%, têm

múltiplos propósitos, podendo também serem usadas como madeira de embarcação ou nas

construções de casas.

4.2.1.3 Madeira Serrada para Construção de casas

A madeira serrada para construção de casas é um dos principais sistemas de

exploração madeireira, principalmente em razão da alta demanda local. As peças destinadas à

construção são divididas em quatro tipos: a) estrutura da cobertura; b) parede da casa; c)

assoalho doméstico; d) estrutura de sustentação. Essas peças possuem utilidades de acordo

com suas características físicas e mecânicas. As peças da estrutura de cobertura são de

preferência peças que possuem características densas, que não racham com facilidade e

dificilmente empenam. As peças destinadas à estrutura de sustentação possuem a

característica de serem resistentes ao contato com água. Há menos exigência quanto à

qualidade em se tratando de madeiras destinadas a servir como parede de casas em razão de

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essas madeiras ficarem mais protegidas do intemperismo. Por isso, uma maior variedade de

espécies é aproveitada nesse sistema. Já as espécies madeireiras destinadas ao assoalho

doméstico são as que produzem madeiras mais resistentes e de melhor qualidade.

Na última década, a produção de madeira serrada para construção de casas esteve

voltada basicamente a atender a demanda local e, assim como no caso da madeira serrada para

embarcação, existe uma forte relação entre a atividade da madeira para casa e o trabalho de

carpintaria. Nos acordos, geralmente os madeireiros contratados ficam responsáveis por todo

trabalho, desde a derrubada da madeira até a construção das casas. O preço do m3 varia em

torno de R$ 350,00 por peça destinada à estrutura de cobertura, parede e assoalho doméstico e

R$ 450,00 é o valor médio do m3 comercializado para estrutura de sustentação. Apesar de

esses valores serem menores do que o valor do m3 da madeira para movelaria e embarcação,

muitas famílias afirmaram preferir trabalhar na produção da madeira destinada a essa

atividade, pois o número de espécies madeireira utilizadas na construção de casas é maior,

além de terem melhor aproveitamento. De acordo com os dados coletados nesse estudo, o

rendimento médio do volume beneficiado da madeira para construção de casas em relação ao

volume da tora comercial foi de 47,8%. Esse valor corresponde a mais de 10% do valor do

rendimento encontrado na madeira serrada para embarcação (Anexo VI).

Na região, foram identificadas 47 espécies madeireiras diferentes destinadas a

construção de casas. Do total de espécies levantadas, 23 são utilizadas como estrutura da

cobertura, 29 como parede da casa, 22 espécies como assoalho doméstico e 15 como estrutura

de sustentação (Anexo III).

A dinâmica do sistema de exploração da madeira serrada para casa se assemelha ao

sistema de exploração da madeira serrada para embarcação. Segundo as famílias madeireiras

da região, nos últimos anos, houve um aumento no número de espécies alternativas de menor

qualidade, o que repercute no período de vida útil das casas construídas. A substituição de

espécies madeireiras tradicionalmente utilizadas por espécies alternativas de qualidade

inferior, assim como a limitação da atividade, que hoje é destinada apenas ao atendimento da

demanda local e se associa ao trabalho de carpintaria para agregar valor, pode ser uma

estratégia de adaptação para diminuir os custos e suprir a escassez do estoque madeireiro de

interesse comercial disponível. Alguns outros autores (Ayres, 1993; Schongart et al., 2007) já

comprovaram a substituição de espécies madeireiras de interesse econômico em áreas de

várzea por espécies alternativas de qualidade inferior em decorrência da pressão da

exploração.

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4.2.1.4 Madeira Serrada Branca

A madeira branca é o sistema de madeira serrada mais recente da região, surgindo

praticamente na década de 90. O principal produto comercializado na atividade é a tabua de

azimbre, madeira descartável, utilizada apenas como sustentação da construção civil de

alvenaria. Neste estudo foram identificadas 19 espécies madeireiras utilizadas na atividade

(Anexo IV). A dúzia da tábua de azimbre é vendida na região por R$ 30,00, o que equivale a

R$ 150,00 por metro cúbico (m3) da madeira. Em geral, as espécies de madeira branca são de

baixa densidade quando comparadas as outras espécies madeireiras da região, sendo por isso

mais fáceis de serem serradas. As espécies da madeira branca não concorrem com espécies

madeireiras dos outros sistemas da região, elas geralmente são de uso especifico.

Apesar do menor preço, quando comparada à venda da madeira de outros sistemas na

região, a madeira branca é o único sistema de madeira serrada que vem sendo constantemente

comercializado fora da bacia do rio Cuieiras. Está dinâmica pode estar relacionada ao

histórico recente desse sistema de exploração, repercutindo pela maior abundância de matéria

prima em relação às espécies de madeira dos outros sistemas de exploração de madeira

serrada. Além disso, as espécies madeireiras destinadas ao comércio de tábuas de azimbre são

produtos que não exigem um elevado padrão de qualidade e em geral possuem baixa

densidade. Esses fatores geram menos investimentos e maior facilidade na extração e

transporte da matéria prima em relação à madeira densa. A escolha de exploração desse

sistema madeireiro, pela facilidade na extração e transporte de madeira branca em relação à

madeira densa, também foi observada por Uhl et al. (1997), ao estudar sistemas de exploração

madeireira nas áreas de várzea na Amazônia oriental.

4.2.1.5 Extração de Madeira para produção de Espeto

Outra atividade madeireira bastante importante e que vem sendo amplamente

desenvolvida na região é a extração de madeira para produção do espeto, 83% das famílias

estudadas produzem espeto. A atividade entrou em ascensão na região a partir de 2007,

principalmente depois do declínio da venda de pau-de-escora na região. Nesse período, muitas

famílias encontraram na produção de espeto uma alternativa econômica no curto prazo, com

baixo investimento prévio para substituir a atividade de extração do pau-de-escora. Todo o

processo, desde a derrubada da madeira até a confecção dos espetos, é desenvolvido no

próprio local.

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A fase inicial da atividade consiste na derrubada da árvore e desdobro da tora em

pedaços menores no próprio local de abate para facilitar o transporte. Em geral, essas

pequenas toras possuem o comprimento de 37cm, que é o tamanho médio dos espetos

produzidos. As famílias que não possuem motosserra geralmente pagam o valor de R$ 15,00

para o serrador, que tem o trabalho de derrubar a árvore e desdobrar a tora em pedaços

menores. O transporte da matéria prima fica sob a responsabilidade da família contratante,

que leva as pequenas toras para o local de beneficiamento das madeiras, geralmente os

quintais ou a casa de farinha de sua propriedade.

A segunda fase consiste no beneficiamento da madeira, onde as pequenas toras são

partidas no machado, em pedaços menores, formando as tabuletas. Em seguida, as tabuletas

são desfiadas no terçado/facão em pedaços reduzidos já para serem confeccionados os

espetos. O acabamento final é realizado com uma ferramenta artesanal, feita com uma lâmina

de faca bem amolada, presa a uma haste de madeira comprida. Nessa fase, os espetos são

apoiados numa base de borracha, e continuam sendo desfiados por esta ferramenta artesanal,

ganhando formas cilíndricas com uma das extremidades afiadas.

A produção de espeto absorve quase toda mão-de-obra familiar. Na atividade é

comum o trabalho de homens e mulheres, jovens e adultos, assim como crianças a partir de

oito anos de idade. Na região, a produção do espeto está intercalada a outros sistemas

produtivos, não apresentando empecilho aos estudos, principalmente dos jovens e crianças.

Os espetos são vendidos semanalmente, em unidade de medida conhecida localmente

como “milheiro”, o que equivale a um montante de 250 espetos. O valor pago pelo milheiro

varia de R$ 2,50 no período chuvoso e R$ 5,00 no período seco, onde a procura pelo produto

é maior. A produção de espeto é comercializada localmente nos barcos regionais (recreios),

nos comércios locais (tabernas) ou vendida para um comprador intermediário, morador do

próprio rio, que leva os produtos ao mercado central da cidade de Manaus.

Neste estudo foram identificadas 16 espécies madeireiras utilizadas na atividade

(Anexo V). As madeiras destinadas à produção do espeto, além de serem espécies distintas

das exploradas nos demais sistemas, são madeiras que até então, segundo os madeireiros

locais, não possuíam valor comercial. Essas espécies possuem alta densidade, porém, segundo

os madeireiros locais são espécies sem “nó”, fáceis de desfiar. A metade das espécies

identificadas neste estudo que são utilizadas na produção de espeto pertence à família

Lecythidaceae, sendo mais de 90 % das espécies dessa família do gênero Eschweilera,,

árvores conhecidas localmente como Matá-Matá ou Ripeira. Acredita-se que as árvores de

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Matá-Matá sejam as espécies mais comuns das florestas de terra-firme (Mori e Lepch-Cunha,

1995)

Neste estudo a produção média das famílias foi calculada em 85 espetos por

pessoa/hora. Isso equivale a uma remuneração de aproximadamente R$ 1,05 por hora de

trabalho se a produção for vendida no verão, período em que o valor do milheiro possui maior

valor (Anexo VII). Apesar do baixo valor agregado, principalmente quando relacionado ao

esforço de trabalho, a produção de espeto tem sido a atividade madeireira mais praticada na

região. As principais razões para isso podem ser atribuídas à facilidade na obtenção de

matéria prima, à facilidade de venda do produto, ao baixo investimento prévio para realização

da atividade, à amplitude de absorção da mão-de-obra familiar e à praticidade e facilidade de

a atividade poder ser realizada de forma intercalada com outros sistemas produtivos.

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4.3 Socioeconomia das Famílias Madeireiras do Rio Cuieiras

4.3.1 Procedência das famílias

Os responsáveis das famílias11 madeireiras do rio Cuieiras que participaram do estudo

são na sua maioria (84%) de origem da própria bacia do rio Negro (Figura 09). Apenas 16%

das famílias entrevistadas, são procedentes de outros municípios, principalmente de regiões

com histórico de intensa produção de borracha. 44% vieram da porção baixa do rio Negro,

sendo que desse total, quase metade dos entrevistados nasceu na própria bacia do Rio

Cuieiras. O restante, 40% dos responsáveis pelas famílias madeireiras da região, é de origem

da porção média e alta do rio Negro.

Figura 09 – Porcentagem da procedência dos responsáveis pelas

famílias madeireiras da bacia do Rio Cuieiras.

Pouco mais de 30% das famílias entrevistadas vivem na região há mais de 30 anos. A

maior parte das famílias madeireiras que participaram do estudo (69%) chegou no rio Cuieiras

há menos de 30 anos (Tabela 03).

Tabela 03: Tempo de residência das famílias madeireiras estudadas

no Rio Cuieiras.

Tempo de Residência Famílias Extrativistas Madeireiras

11 Os responsáveis das famílias em geral são o casal de adultos responsáveis pela família. Em caso de pessoas

solteiras, viúvas ou separadas, o responsável pela família pode ser apenas o homem ou a mulher, a depender do

caso.

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(em anos) FA FR

> 01 - -

01 – 05 - -

06 – 15 7 30,4

16 – 30 9 39,2

< 30 7 30,4

Total 23 100

Média (anos) 25 anos - (FA – Freqüência Absoluta e FR – Freqüência Relativa)

A bacia do Rio Cuieiras recebeu duas grandes levas de imigrantes, a primeira no inicio

da década de 50, onde a maioria das famílias era procedente de regiões com histórico de

intensa produção de borracha, principalmente de origem dos rios Juruá e Purus (Cardoso,

2008). Acredita-se que com a queda da borracha, na década de 40, muitas famílias que viviam

da borracha nessa região acabaram migrando para Manaus (Oliveira, 2003). Na época, sem

muitas opções econômicas, passavam temporadas no entorno da cidade com intuito de

explorar os recursos, principalmente madeireiro, para serem comercializados na capital. Com

o tempo, essas famílias foram se fixando cada vez mais no interior (década de 50),

estabelecendo moradia em áreas rurais, dentre elas a região do rio Cuieiras. Nesse período, as

novas gerações nascidas na própria zona rural foram se multiplicando, construindo suas

próprias famílias e se inserindo na dinâmica econômica e cultural do local. Assim é que no

Cuieiras, 21% das famílias estudadas são de origem da própria bacia. Segundo o antropólogo

Goody (1958), esse seria o estágio de dispersão da unidade doméstica.

A segunda grande leva de migrantes chegou ao rio Cuieiras depois da década de 80,

em mais uma onda de migração para a região (Cardoso, 2008). Mais da metade da população

madeireira que migrou para o Cuieiras nessa época e que ainda se encontra na região é de

procedência do baixo rio Negro, principalmente do entorno do Arquipélago de Anavilhanas e

das bacias rio Jaú e rio Unini. Essas famílias chegaram ao rio Cuieiras há pouco menos de 30

anos, justamente depois do período de criação do Parque Nacional do Jaú, em 24 de setembro

de 1980 pelo Decreto Federal 85.200 (MMA, 1998) e da criação da Estação Ecológica de

Anavilhanas, em 02 de julho de 1981 pelo Decreto Federal 86.061 (MMA, 1999), que mais

tarde veio a ser recategorizada para Parque Nacional em 29 de outubro de 2008, pelo Decreto

nº 6409/05 (ISA, 2009).

A sobreposição entre os limites das unidades de conservação de proteção integral

citadas acima com a área de uso das famílias residentes nesses locais geraram muitos

conflitos, induzindo as famílias, em desvantagem frente ao poder estatal, a abandonarem suas

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terras (Barreto, 2001; Vianna, 2009). Sem muitas alternativas, as famílias acabaram migrando

para as periferias das cidades de Novo Airão e Manaus. Posteriormente com as crises da zona

franca e não adaptados aos modos de vida na cidade, retornaram para regiões rurais, como a

do rio Cuieiras. Neste mesmo período, década de 80, foram chegando também à região do

Cuieiras, os migrantes procedentes de outras localidades do alto e médio rio Negro, que

também num primeiro momento haviam migrado para capital do estado do Amazonas.

(Cardoso, 2008).

4.3.2 Perfil Demográfico

Atualmente, a distribuição etária da população estudada é caracterizada pela presença

de um grande número de crianças e adolescentes de até 14 anos, poucos jovens entre a faixa

etária dos 20-34 anos e raríssimas pessoas com idade superior a 55 anos (Figura 10). O padrão

encontrado na distribuição etária das famílias estudadas é semelhante ao de outras populações

rurais do país (IBGE, 2010). Essa configuração da pirâmide demográfica sugere taxas

significativas de natalidade e migração de jovens adultos, para os centros urbanos em busca

de educação e emprego. O baixo índice de idoso pode estar associado as limitações das

condições físicas mínimas que a atividade madeireira exige.

Figura 10 – Faixa Etária em (%), da população madeireira estudada na

bacia do Rio Cuieiras.

Dentre as famílias entrevistadas, a média de pessoas por unidade doméstica foi 5,2.

Pouco mais de 65% das famílias entrevistadas moram em agrupamentos residenciais.

Entretanto, a formação de agrupamentos, que se iniciou na região do rio Negro nos anos 50,

não se caracterizou pela solidariedade e sim por questões políticas, sob a influência

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principalmente pela igreja católica (Lescure, 1960). Todas as famílias estudadas participam de

algum tipo de organização comunitária: clube de mães, associação comunitária, conselho

gestor ou cooperativa. Quase 65% dos responsáveis pelas famílias madeireiras pesquisadas

possuem no mínimo o ensino fundamental completo (Figura 11). Apenas 11% do total

estudado não tiveram acesso a nenhum tipo de educação.

Os dados de escolaridade das famílias extrativistas madeireiras chama a atenção pela

grande proporção de alfabetizados. Essa constatação também foi observada por Sobreiro

(2007) ao estudar pescadores na região do médio rio Negro e por Silva (2003), que estudou

comunidades rurais do médio rio Negro. A diminuição do analfabetismo na região rural pode

estar associada à programas governamentais de alfabetização para jovens e adultos e, mais

recente, aos programas governamentais de transferência de renda, que condicionam o

recebimento dos benefícios à manutenção dos filhos nas escolas.

Figura 11 – Escolaridade em (%), dos responsáveis pelas Famílias Madeireiras

Estudada na bacia do Rio Cuieiras.

4.3.3 Outros Sistemas Produtivos

As famílias madeireiras estudadas, além da prática do extrativismo madeireiro, estão

engajadas em outros sistemas produtivos baseados em diferentes estratégias de acesso e

manejo de recursos naturais. Essas práticas acontecem por meio do manejo de cultivos

agrícolas, da criação de pequenos animais e do extrativismo animal com base na caça e na

pesca. A dinâmica de uso desses recursos e do manejo dos sistemas cultivados é influenciada

diretamente pela sazonalidade do clima e do sistema hídrico do rio (Figura 12). Essa

influência dos regimes pluviais e fluviais das águas no calendário de atividades do homem

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amazônico já foi analisada por diversos pesquisadores (Moran, 1990; Fraxe, 2000; Noda et

al., 2001; Pereira, 2011).

Ao contrário dos sistemas de exploração madeireira cujas produções são destinadas à

comercialização, os demais sistemas produtivos são voltados principalmente para a produção

de alimentos do consumo da unidade doméstica. O excedente produzido muitas vezes é

doado, podendo ser também trocado e às vezes vendido, principalmente no caso dos produtos

das roças e pequenas criações.

Figura 12 – Calendário sazonal, relacionando os meses do ano e os regimes

fluviais das águas com a prática dos principais sistemas produtivos das

famílias estudadas no Rio Cuieiras (Fonte: IPÊ 2008).

4.3.3.1 Agricultura

Os sistemas agrícolas das famílias estudadas são divididos em dois subsistemas, a

agricultura de pousio (roça e a capoeira) e os quintais (Sítios). A agricultura de pousio,

também chamada de coivara, é um espaço que nasce de um distúrbio: o corte e queima da

floresta. A agricultura de corte e queima é um tipo de agricultura tradicional amplamente

praticada por povos tradicionais dos trópicos úmidos, constitui-se como uma das mais antigas

e tradicionais formas de uso do solo desenvolvidas por povos indígenas e não-indígenas da

Amazônia, sendo aperfeiçoada com o tempo, como por exemplo, pela inserção dos

instrumentos de metal na atividade, após a chegada dos colonizadores europeus (Denevan,

1992).

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As famílias madeireiras da região cultivam as roças geralmente entre 1 a3 anos e

depois são “abandonadas” para o restabelecimento da vegetação e descanso do solo, fase

conhecida como capoeira. O tempo de descanso pode durar entre 5 a 20 anos e a vegetação

estabelecida nesse período é conhecida como capoeira.

A primeira etapa na abertura de um roçado consiste na escolha da área. Geralmente o

responsável, homem da família, diante de seu conhecimento e preferências, escolhe o lugar

para iniciar o roçado. Em seguida, vem a fase da broca (corte das ervas, cipós e arbustos) e

derrubada (abate das árvores maiores). Essa fase geralmente acontece durante o período seco,

que tem início no final do mês de maio, podendo se estender até setembro. A broca e a

derrubada geralmente são realizadas pela mão-de-obra disponível na família, sendo um

trabalho principalmente dos homens. Em alguns casos, utiliza-se de mutirão comunitário ou

prestação de serviços temporários (diárias). A fase da queima acontece, no mínimo, depois de

10 dias de sol, a partir do último dia da derrubada. O primeiro plantio ocorre logo nos dois

primeiros meses do período chuvoso e é feito de uma só vez de modo a ocupar toda a área

preparada. No sistema de roçado, o replantio é feito em parcelas na medida em que as plantas

do primeiro plantio são colhidas em etapas (Figura13). A limpeza do roçado é realizada

periodicamente, a fim de evitar a proliferação de espécies vegetais que não seja de interesse.

Esse trabalho é realizado pela família, podendo recorrer-se à prestação de serviços

temporários (diárias). Após dois ou três anos, os roçados são abandonados dando lugar às

capoeiras para que os solos recuperem a fertilidade.

FASES J F M A M J J A S O N D Broca/Derrubada

Queima Plantio

Colheita

Limpeza

Figura 13 – Calendário Sazonal das atividades realizadas nas roças pelas

famílias estudadas no rio Cuieiras, durante o ano todo.

82% das famílias entrevistadas cultivam a roça, principalmente para o abastecimento

da unidade doméstica e o excedente produzido, na maioria das vezes, é comercializado. Os

tamanhos médios dos roçados das famílias estudadas variam de 0,5 a 01 quadra (1 quadra = 1

hectare). Geralmente, nos roçados se plantam espécies de ciclo curto. A mandioca (Manihot

esculenta) é a principal planta cultivada. Nos levantamentos realizados foram registradas mais

de 16 variedades de mandiocas das quais 13 variedades bravas e 03 variedades mansas. Assim

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como ao longo de todo rio Negro, nas, a mandioca é também a principal planta cultivada pelas

famílias madeireiras da região do rio Cuieiras. Na bacia do rio Negro foram documentadas

mais de 100 variedades de mandioca, consequência do longo tempo de manejo e seleção por

populações humanas (Dufour, 1983; Balick et al., 1996; Peroni, 2001). Outras espécies

comuns nos roçados do rio Cuieiras são: cará (Dioscorea ssp), banana (Musa sp), abacaxi

(Ananas sp), cana (Saccharum officinarum), pimenta (Caspiscum sp), cubiu (Solanum

sessiliflorum), batata doce (Ipoema batatas), maracujá do mato (Passiflora sp) e gerimum

(Curcubita ssp).

Segundo estudo realizado por Cardoso (2008), nos roçados das famílias indígenas da

região do rio Cuieiras são cultivadas quase 70 variedades diferentes de mandioca, esse valor é

quatro vezes maior que o número de variedades manejadas pelas famílias madeireiras

estudadas. No estudo realizado por Cardoso (2008) foi possível identificar que as famílias que

possuem maior número de espaços simultaneamente cultivados e em tempos distintos têm

uma tendência de manter uma maior riqueza de variedades. As famílias indígenas da região

têm a roça como o principal sistema produtivo, não competindo com o extrativismo e

possivelmente explicando o maior número de variedades cultivadas. Além disso, as causas da

erosão da diversidade podem também estar ligadas aos processos históricos, principalmente

com a perda territorial, integração ao mercado e a políticas públicas inadequadas (Clement,

1999; Perrings et al., 2006).

Os quintais agroflorestais ou sítios podem também ser chamados de pomar ou terreiro.

O quintal é definido como uma área de produção localizada perto da residência, onde é

cultivada uma mistura de espécies agrícolas e florestais, envolvendo também a criação de

pequenos animais domésticos (Dubois, 1996). Os quintais e as pequenas criações garantem

frutos e outros alimentos, em diferentes épocas do ano (Adams, 2000). Em muitos casos,

esses sistemas funcionam também como um campo de experimentação de novas espécies e

variedades (Garrote, 2004).

Os quintais das famílias estudadas, assim como a criação de pequenos animais, são

voltados basicamente para atender as necessidades domésticas. A produção de excedentes

pode até significar um ganho econômico extra, mas essas atividades não são vistas como

fontes de renda pelas famílias estudadas. Em consonância com o estudo de Leeuwen (1995),

os quintais das famílias madeireiras também possuem pouca importância econômica.

Entretanto, esses quintais, como outros estudados por Fernandes e Nariz, citado por Lok

(1998), possuem grande importância na complementação da dieta familiar. Os quintais da

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região também possuem valores medicinal, estético e até mesmo cultural, como também

identificou Oliveira e Scarazatti (2009).

Apesar de quase todas as famílias possuírem espaços cultivados ao redor de suas

casas, a maioria dos entrevistados possui seu quintal nas áreas comunitárias, que em geral são

de pequeno tamanho. Apenas 35% moram em sítios isolados nos igarapés ou margem do rio,

onde possuem grandes áreas cultivadas ao redor de suas residências. 48% possuem pequenas

criações de galinhas, pato ou porco. 13% das famílias madeireiras entrevistadas estão

iniciando a criação de abelhas sem-ferrão e 17% de peixes em tanque-rede. Todas as famílias

entrevistadas que possuem quintal fazem constantemente a manutenção desses espaços.

Dentre as principais atividades foram identificadas as podas nas árvores, a capina anual e a

constante retirada de folhas ao redor das casas. A criação de animais funciona como reserva

de proteína animal da unidade doméstica. A atividade requer um mínimo de dedicação e

investimentos, principalmente de alimentos. A criação de peixes, entre as pequenas criações é

a atividade que mais necessita de investimento. O valor gasto por família para alimentação e

manutenção da criação de peixes é em média R$ 100,00 por mês.

Neste estudo, foi observado que as famílias madeireiras da região do rio Cuieiras

manejam em seus quintais mais de 36 espécies vegetais, a grande maioria frutífera (Anexo

VIII). Quanto à criação dos pequenos animais, foram registradas duas espécies de galinha, a

caipira (Gallus gallus domesticu) e a galinha d'angola (Numida meleagris), uma espécie de

pato (Cairina moschata) e uma de porco (Sus domesticus). Nos tanques redes são criados

tambaquis (Colossoma macropomum). As abelhas sem ferrão manejadas são a jandaíra

(Melipona fulva), a nariz de anta (Melipona lateralis) e a uruçu boca de renda (Melipona

seminigra merrilae) (Kurihara, 2009).

4.3.3.2 Pesca

O Rio Negro, apesar das baixas taxas de nutrientes e biomassa animal, possui uma

grande riqueza de peixes. Estima-se que existam mais de 500 espécies na bacia do rio Negro

(Goulding et al. , 1988). Apesar disto, a Bacia do rio Negro possui uma das menores taxas de

captura/área de pescado da bacia Amazônica (Bayley e Petrere, 1989). No entanto, a pesca é

um dos sistemas produtivos mais importantes da bacia do rio Cuieiras. Assim como em outros

locais do rio Negro, a atividade rende mais por hora aplicada do que a caça (Moran, 1990),

representando a principal fonte de proteína animal consumida pelas populações desta região

(Bayley e Petrere, 1989; Moran, 1990). Estudos realizados na bacia do rio Cuieiras

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identificaram 119 espécies de peixes diferentes (IPE, 2007). Segundo Dantas (2010), pelo

menos 40 dessas espécies são capturadas e consumidas pelas populações que habitam essa

bacia.

De uma forma geral, a pesca possui, na bacia do rio Negro, um caráter voltado

principalmente para subsistência, exceto as atividades de pesca esportiva e pesca ornamental

(Batista e Petrere, 2003; Barthem e Goulding, 2007). A atividade de pesca realizada pelas

famílias madeireiras também pode ser classificada como pesca artesanal difusa ou de

subsistência12. Nesta modalidade, o objetivo principal da atividade é atender a unidade

doméstica, onde o excedente pode ser doado, trocado e ocasionalmente vendido. O pico da

atividade (época de maior ocorrência de captura) acontece no período da seca. A escolha dos

locais de pesca, assim como os apetrechos utilizados, depende da sazonalidade dos rios, da

experiência pessoal e do hábito alimentar de cada pescador.

Entre os meses de janeiro e agosto, período de cheia do rio Cuieiras, os principais

apetrechos utilizados pelas famílias madeireiras são as malhadeiras (90%) e zagaias (44%).

As malhadeiras são redes feitas de monofilamento de fibras sintéticas de dimensões e

tamanhos de malhas variados. As pescarias com malhadeira possuem baixa seletividade e as

atividades geralmente são realizadas nos rios, igapós, lagos e praias. Quanto maior a

seletividade das técnicas de pesca, menor será o impacto sobre os estoques pesqueiros

(Barbosa e Freitas, 2006). A zagaia é uma haste fixada a um tridente de metal, cada um com

dentes laterais para segurar à presa. A pescaria de zagaia é uma atividade que é realizada em

lagos e igapós e possui alta seletividade.

No período seco, geralmente de setembro a dezembro, os principais apetrechos

utilizados são as linhas, os curricos e o caniço (100% das famílias) e também as malhadeiras

(90%) e zagaias (44%). A pescaria de linha é realizada por uma linha comprida, clara, de

monofilamento com um único anzol na ponta, de número que varia entre 06 a 08. A atividade

é altamente seletiva e geralmente acontece nos canais dos rios e pontas de praias. Assim como

a pesca de linha, a pescaria de currico é também muito utilizada na região. O currico é uma

isca artificial, geralmente feita de pano com cores vermelha, amarela e branca, preso a uma

linha e um anzol. A atividade é altamente seletiva e bastante praticada em lagos. A pescaria

com caniço é também um tipo de pesca que acontece no período seco. O caniço nada mais é

que uma linha com anzol presa a uma haste de madeira. A pesca com caniço é muito seletiva

12 Pesca artesanal difusa ou de subsistência é definida por Barthem et al. (1997), como uma pesca realizada pelo

pescador do interior ou indígena, mas pode também ser realizada pelo pescador da cidade. Utiliza pequenas

embarcações motorizadas ou não, em geral, próximas a sua moradia.

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e geralmente acontece nos lagos. Além destes, a malhadeira e as zagaias são outros apetrechos

também utilizados no período seco.

4.3.3.3 Caça

A caça de subsistência é uma atividade sazonal relevante para algumas populações

amazônicas. A atividade, associada à pesca, constitui a principal fonte de proteína e gordura

para essas populações (Robinson e Redford, 1992, Moran, 1993; Bodmer et al., 1994).

Diferentemente da pesca, que foi observada em todas as famílias madeireiras entrevistadas, a

caça é uma atividade praticada por pouco mais da metade das famílias entrevistadas (52%).

Na região do rio Cuieiras, a prática da caça é voltada basicamente para o abastecimento da

unidade doméstica (Campos, 2008). O excedente, segundo os entrevistados, geralmente é

doado para parentes e vizinhos. A atividade é realizada por homens adultos ou jovens com

idade superior a 15 anos e o principal apetrecho utilizado é a espingarda. Na região do rio

Cuieiras, a atividade da caça intensifica-se nos períodos de cheia, podendo ocorrer de forma

intencional ou oportunista.

Geralmente, na caça intencional o caçador se prepara para atividade, que pode ser

realizada por meio de caminhadas na mata, às vezes com auxilio de cachorros, onde as presas

são localizadas através de pegadas, vocalizações ou imitações, sendo perseguidas até sua

captura. Outra forma de caça intencional é a de espera em locais de atração de animais, como

por exemplo, árvores com frutos nas matas, nas capoeiras, quintais ou nos roçados. Existem

também as caçadas intencionais realizadas em canoas a remo durante a noite, onde o caçador

foca as margens dos igarapés, com auxilio da lanterna, procurando os animais. A caça

oportunista geralmente é realizada em paralelo a outras atividades. Nessa modalidade, o

caçador aproveita a ida aos roçados, nas áreas de coleta, nas atividades de exploração

madeireira ou nas pescarias, principalmente a pesca de zagaia, para levar a espingarda e caçar

alguma presa, caso avistada durante a realização da atividade.

Segundo este estudo, as famílias madeireiras da região consomem 22 espécies

diferentes de animais. Do total, 13 espécies são mamíferos, sendo 04 espécies da ordem

xenarthra, 03 espécies de roedores, 05 espécies de ungulados, 01 espécie de carnívoros.

Também foram registradas 03 espécies de aves e 05 espécies de répteis (Anexo IX). Esse

número se aproximou ao valor registrado por Campos (2008), num estudo específico com

caçadores da bacia do rio Cuieiras, onde foram levantadas 29 espécies diferentes (incluindo

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mamíferos, aves e répteis) de animais consumidos. 22 espécies diferentes de animais caçados

também foi o número registrado por Ramos (2005) no alto Juruá.

4.3.3.4 Uso múltiplo da Biodiversidade

As formas de uso e manejo dos sistemas dependem muito do conhecimento local e

habilidade de cada família, da mão de obra familiar disponível, da renda econômica familiar,

das necessidades domésticas e da dependência ao mercado. Em geral, as famílias madeireiras

da bacia do rio Cuieiras usam e manejam mais de 200 diferentes espécies entre plantas e

animais. Com base no levantamento realizado nessa pesquisa sobre as formas de uso e manejo

dos sistemas produtivos é possível considerar que as famílias madeireiras estudadas utilizam

estratégias de uso múltiplo da biodiversidade não estando especializadas somente em um

sistema produtivo.

Diferentemente da lógica ocidental, as estratégias dos extrativistas madeireiros é

maximizar a diversidade e o número de opções possíveis para garantir a subsistência e

minimizar os riscos (Toledo et al., 2003). Essas práticas podem ser chamadas de manejo

adaptativo e envolvem múltiplos usos das espécies, rotação de recursos, manejo de paisagens

e manejo sucessional (Berkes et al., 2000). Vários estudos apontam que quanto maior for a

variedade de estratégias utilizadas, maior é a resiliência do sistema para se recuperar de

eventuais perturbações (Noda et al., 1997; Berkes, 1999; McGoodwin, 2002; Silva, 2003;

Sobreiro, 2007).

4.3.4 Principais Fontes de Renda

As famílias estudadas apresentam diferentes formas de expansão do capital monetário

(Figura 14), sendo importante salientar que as diferentes fontes de renda podem ser

cumulativas e não excludentes. Aproximadamente 35% das famílias entrevistadas arrecadam

em média até um salário mínimo mensal, a renda média mensal de 39% das famílias

madeireiras varia entre um até no máximo dois salários mínimos e 26% dos entrevistados

arrecadam de dois até no máximo três salários. Os principais gastos monetários da unidade

doméstica são com rancho (café, açúcar, óleo, arroz, feijão, macarrão), educação (compra de

material escolar), transporte (gasolina, passagem ou frete no barco regional), bens duráveis,

serviços (taxas comunitárias, contratação de serviços temporários), instrumentos de trabalho,

roupas e lazer.

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Figura 14 – Porcentagem das práticas (presença ou ausência) das principais

fontes de renda das famílias madeireiras estudadas no Rio Cuieiras.

A exploração madeireira é a principal atividade remunerada das famílias estudadas. A

produção de espeto, apesar de não ter o maior valor agregado, é a atividade mais freqüente

(83%). Pouco mais da metade das famílias estudadas serram e comercializam localmente

madeira para embarcação e construção de casas. Aproximadamente 35% das famílias

madeireiras serram madeira ocasionalmente para a indústria moveleira e apenas 22% das

famílias estudadas trabalham com madeira branca serrada.

Persiste na região, assim como em outras partes do rio Negro, uma forte relação entre

o extrativismo e a agricultura (Emperaire, 2000; Kurihara e Cardoso, 2009). Segundo dados

obtidos neste estudo, 70% das famílias possuem roça para subsistência, porém vendem o

excedente da produção, principalmente a farinha. Essa imbricação entre os sistemas agrícolas

e a exploração de produtos da floresta para fins comerciais também foi vista por outros

pesquisadores na região Amazônica (Pereira, 1992; Freitas et al., 1998; Oliveira et al., 1998;

Cardoso, 2008).

As famílias estudadas desenvolvem ainda outras atividades relacionadas ao

complemento da renda familiar. Dentre elas, foram identificados o trabalho assalariado

(17%), a aposentadoria (9%), o comércio (13%), o turismo/artesanato (13%) e a prestação de

serviços temporários, principalmente as diárias de roça (39%), diárias de madeira (43%) e o

trabalho de carpintaria (39%). Somando-se a essas atividades, vale mencionar também como

importante fonte de renda monetária, o programa governamental de transferência de renda,

por meio de bolsas, que apresentou um índice expressivo, contribuindo com a renda de 87%

das famílias estudadas.

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Com base nos dados é possível considerar que as famílias estudadas utilizam diversas

estratégias de obtenção de fontes de renda, num fenômeno conhecido como pluriatividade

(Kageyama 1998; Lopes, 1999; Alves, 2002). A pluriatividade representa as estratégias

familiares adaptativas que os grupos elaboram para assegurar as flutuações ambientais e

econômicas que historicamente ocorreram na Amazônia (Moran, 1993; Castro, 2000). Essa

diversificação é uma forma de minimizar os riscos e aproveitar os períodos de entressafra

(Diegues, 1993) permitindo a sobrevivência econômica durante um período crítico em curto

prazo e minimizando a alta dependência de um único produto em longo prazo (McGoodwin,

2002; Silva, 2003).

4.3.5 Perfil socioeconômico das famílias madeireiras estudadas: Análise de Coordenadas

Principais e Análise de Agrupamento.

Para analisar os possíveis padrões de combinações de estratégias econômicas e uso de

recurso entre as famílias madeireiras da região e assim traçar o perfil socioeconômico destas

foram utilizados dois métodos complementares de estatística multivariada: Análise de

Coordenadas Principais (PCoA) e Análise de Agrupamento (Cluster Analysis). As análises

foram geradas a partir da matriz de dissimilaridade das práticas (presença e ausência) dos

diferentes sistemas produtivos e principais fontes de renda desenvolvidos pelas unidades

domésticas estudadas (Principais eixos resultantes da PCoA).

Os dois primeiros eixos resultantes da PCoA foram os que explicaram a maior

porcentagem da variância original (52% e 19,5% respectivamente). Cada um dos demais

eixos explicou menos de 8% da variância original (Figura 15). Os scores dos eixos resultantes

da PCoA dos sistemas produtivos e principais fontes de renda das famílias estudadas estão

representados na tabela 04.

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48

1 2 3 4 5 6 7

Coordenada (PCoA)

0

10

20

30

40

50

60

va

riâ

ncia

exp

lica

da

(%

)

52,0

19,5

8,0

4,2

1,2 0,4 0,0

Figura 15 - Porcentagem da variância explicada de cada eixo resultante da Análise de Coordenadas Principais

(PCoA) dos sistemas produtivos / principais fontes de renda praticados pelas famílias estudadas.

Tabela 04 - Scores dos sistemas produtivos / principais fontes de renda das famílias estudadas nas coordenadas

resultantes da Análise de Coordenadas Principais (PCoA)

SISTEMA PRODUTIVO COORD. 1 COORD. 2 COORD. 3 COORD. 4 COORD. 5 COORD. 6

Madeira Branca 0,20297 -0,53544 0,063692 0,061041 0,032404 0,004428

Madeira Embarcação 0,32152 -0,06678 -0,01209 -0,09615 -0,01073 0,001917

Madeira Construção de Casa 0,32152 -0,06678 -0,01209 -0,09615 -0,01073 0,001917

Madeira Movelaria 0,40237 0,001663 -0,10742 0,18333 -0,00966 -0,00511

Espeto -0,21893 -0,06037 -0,10733 -0,01667 -0,10007 -0,03507

Carpintaria 0,38251 0,19462 -0,04884 0,002824 0,053823 -0,02226

Roça -0,13701 0,17499 -0,08232 -0,07512 0,10477 0,002509

Diária madeira -0,53401 -0,20638 0,075118 -0,08159 0,012329 0,004338

Diária roça -0,64296 0,06822 -0,07369 0,13953 0,017565 6,34E-05

Bolsas -0,06764 0,001432 -0,07594 -0,04246 -0,01263 0,065127

Pequenas Criações 0,088889 0,20679 0,08245 0,082211 -0,04462 0,043391

Caça 0,039411 0,19899 0,1293 -0,08517 -0,05049 -0,00803

Pesca -0,10122 0,002153 -0,15644 -0,0314 -0,00186 -0,02901

Sítio -0,05741 0,086902 0,3256 0,055758 0,019894 -0,02421

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Com base nos gráficos das figuras 16 e 17, é possível indicar a existência, entre as

famílias estudadas, de dois grupos com perfis socioeconômicos diferentes. O primeiro grupo

foi denominado neste estudo como Famílias Madeireiras Tecnicamente Qualificadas (FTQ).

Neste grupo estão principalmente as famílias mais especializadas em atividades relacionadas

ao sistema de extração e beneficiamento da madeira serrada, associado também ao trabalho de

carpintaria. O outro grupo foi denominado de Famílias Madeireiras com Baixa Qualificação

(FBQ), que são as famílias cujas principais atividades monetárias estão associadas à prestação

de serviços temporários, essencialmente diária com madeira e diária com roça.

As demais atividades formam um grande grupo intermediário de sistemas comuns aos

dois grupos distintos supracitados. No entanto, nota-se que as práticas de criação de pequenos

animais, a caça e os sítios cultivados estão mais próximos do grupo FTQ, indicando que a

atividade seja mais comum neste grupo que no grupo FBQ. As atividades de roça, bolsa,

pesca e principalmente o espeto têm uma maior aproximação ao grupo FBQ.

Figura 16 - Relação entre os dois primeiros eixos (Coordenada 1 e Coordenada 2) da Análise de Coordenadas

Principais (PCoA) dos sistemas produtivos / principais fontes de renda praticados pelas famílias estudadas.

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Figura 17 - Dendrograma resultante da Análise de Agrupamento calculado com o índice de Sørensen a partir da

matriz da prática (presença ou ausência) dos sistemas produtivos e principais fontes de renda praticadas pelas

famílias estudadas

4.3.5.1 Relação entre a diferenciação das práticas dos sistemas produtivos / principais

fontes de renda com a procedência das famílias estudadas (ANOVA).

Com objetivo de identificar se existe relação entre a diferenciação das práticas dos

sistemas produtivos e principais fontes de renda e as famílias de diferentes procedências foi

utilizada a análise de variância (ANOVA). Nesta análise, a variável dependente foi o score do

primeiro eixo da PCoA e os fatores utilizados para categorizar as origens das famílias foram:

a) Baixo Rio Negro; b) Médio e Alto Rio Negro e c) Outros municípios.

O resultado da analise de Variância (ANOVA) não demonstrou diferença significativa

da variância dos scores da Coordenada 1 da PCoA entre as categorias de procedência das

famílias estudadas (F = 0,304; p = 0,742). Portanto, pode-se concluir que a procedência das

famílias não explica a diferenciação das famílias quanto aos sistemas produtivos e principais

fontes de renda.

4.3.5.2 Relação entre a diferenciação das práticas dos sistemas produtivos / principais

fontes de renda com o Tempo de Moradia e N0 de Pessoas por Família.

A análise de correlação simples associada à probabilidade de Bonferroni foi realizada

para verificar se existe independência entre as variáveis TEMPO DE MORADIA e N0 DE

PESSOAS POR FAMÍLIA (Força de Trabalho Disponível). A Matriz de Correlação de

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Pearson não identificou associação significativa entre as variáveis tempo de moradia e

número de pessoas por família (r = 0,267; p = 0,218), permitindo que estas fossem utilizadas

num mesmo modelo de regressão linear múltipla.

Desta forma, foi realizada, em seguida, uma Análise de Regressão Linear Múltipla

para verificar se existe relação entre a diferenciação das práticas dos sistemas

produtivos/fontes de renda e o tempo de moradia mais o número de pessoas por família

(Figura 18). A diferenciação na prática dos sistemas produtivos / principais fontes de renda

(scores da Coordenada 1 da PCoA) foi afetada de forma positiva (F = 12,678; R2 = 0,559)

pelo tempo de moradia (p = 0,036) e pelo número de pessoas por família (p 0,001).

Figura 18 - Relações parciais entre os scores da Coordenada 1 da Análise de Coordenadas Principais (PCoA)

dos sistemas produtivos das famílias estudadas e A) o tempo de moradia e B) o número de pessoas por família.

Para melhor interpretar os resultados das análises de regressão foram elaborados

gráficos de ordenação da ocorrência dos principais sistemas produtivos/fontes de renda das

famílias em relação às variáveis tempo de moradia e número de pessoas (Figura 19 e 20).

Nota-se que o uso qualificado da madeira está mais relacionado às famílias com maior tempo

de moradia na região e com maior número de pessoas na família (força de trabalho

disponível), ao contrário do que acontece com o uso não qualificado da madeira.

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Index

0

47Tempo de moradia (anos)

Diária_madeira

Produção_de_espeto

Diária_roça

Madeira_branca

Pesca

Bolsa

Caça

Sítio

Roça

Criação_de_animais

Madeira_embarcação

Madeira_casa

Madeira_movelaria

Carpintaria

Figura 19 - Ordenação da ocorrência dos sistemas produtivos em relação ao tempo de moradia de cada família

estudada na bacia do Rio Cuieiras.

Index

0

9Número de pessoas por família

Diária_roça

Diária_madeira

Produção_de_espeto

Pesca

Roça

Bolsa

Criação_de_animais

Caça

Madeira_embarcação

Madeira_casa

Madeira_movelaria

Carpintaria

Sítio

Madeira_branca

Figura 20 - Ordenação da ocorrência de sistemas produtivos em relação ao número de pessoas em cada família

estudada na bacia do Rio Cuieiras.

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4.3.5.3 Famílias Madeireiras Tecnicamente Qualificadas (FTQ).

As famílias madeireiras tecnicamente qualificadas são em geral as famílias mais

antigas da Bacia do rio Cuieiras. Elas migraram para a região por volta da década de 50,

período de reocupação do baixo rio Negro (Leonardi, 1999). Essas famílias têm histórico de

trabalho com extrativismo, principalmente na produção da borracha e na sua maioria são

procedentes dos rios Juruá, Madeira e Purus (Oliveira, 2003). Com o declínio da economia da

borracha esses imigrantes tiveram um período de vivência na cidade de Manaus, porém a

carência de trabalho levou muitas dessas famílias, principalmente os homens, a passar

temporadas na região do entorno da cidade, com intuito de explorar os recursos madeireiros.

Essas atividades eram financiadas por serrarias de Manaus, que lhes ofereciam mercadorias

durante o tempo de extração, sendo descontado posteriormente do recurso a receber pelo

serviço realizado. Com o passar do tempo, os madeireiros e suas famílias foram se fixando

cada vez mais no interior, estabelecendo moradia nas áreas rurais, como a região do Cuieiras.

Durante esse período, as famílias foram gerando descendentes, nascidos na própria bacia do

rio Cuieiras, que foram crescendo, construindo suas próprias famílias e se inserindo na

dinâmica econômica e cultural do local.

Esses antigos madeireiros chegaram à região no auge dos ciclos da produção de lenha

(Gachot et al., 1966), da exploração do pau-rosa (Vial-Debas, 2003) e da madeira em tora e

roliça (Gachot et al., 1966). Em geral, eles residiam em sítios isolados nos igarapés ou ao

longo das margens da bacia do rio Cuieiras. Com um tempo, essas famílias foram se

estabilizando e eliminando o sistema de patronagem, principalmente na década de 80, depois

do surgimento da motosserra na região. Em paralelo ao extrativismo madeireiro, as famílias

foram praticando outras formas de uso e manejo de recursos na região, cultivando roçados,

quintais (sítios), praticando atividades de caça e pesca e investindo na criação de pequenos

animais. Neste período, os madeireiros também foram desenvolvendo outras habilidades,

principalmente na área de carpintaria.

Além do tempo de moradia, o número de pessoas com força de trabalho disponível é

outro fator que influencia o envolvimento das famílias nas atividades tecnicamente

qualificadas. Quanto maior o número de pessoas da unidade doméstica, maior a possibilidade

de as famílias acessarem uma diversidade de sistemas produtivos (caça, pesca, roça, sítios),

garantindo as necessidades domésticas básicas e alocando o excedente da força de trabalho

familiar nas atividades relacionadas à extração e venda da madeira serrada. Sistemas que

mesmo requerendo maior investimento prévio, dedicação e tempo de parte da força de

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trabalho da unidade doméstica possuem um maior retorno econômico que a produção de

espeto e diárias, por exemplo.

Atualmente, as famílias madeireiras tecnicamente qualificadas são peças fundamentais

na manutenção da cultura local, principalmente na garantia de formas tradicionais de moradia

e transporte. Elas é que são encarregadas de construir e manter as canoas, os barcos e as casas

de madeira da população local. Algumas dessas famílias qualificadas ainda dependem

economicamente do mercado externo, vendendo madeira, principalmente branca, ao centro

urbano de Manaus. Geralmente, as famílias que praticam essa atividade estão especializadas

na venda da madeira branca, não exercendo os outros sistemas de extração da madeira

serrada. A produção de espeto também é uma importante fonte de renda complementar para

muitas famílias qualificadas, principalmente nos últimos anos com o fortalecimento das

políticas ambientais na região. Como estratégia de assegurar ainda mais a subsistência da

unidade doméstica e para minimizar os riscos da atividade madeireira, muitas famílias

qualificadas alocam a força de trabalho familiar no uso e manejo de diversos sistemas

produtivos (múltiplo uso dos recursos) e desenvolvem diferentes estratégias de obtenção de

fontes de renda (pluriatividade).

4.3.5.4 Famílias Madeireiras com Baixa Qualificação (FBQ)

Na sua maioria, as famílias madeireiras classificadas nesse trabalho como as Famílias

com Baixa Qualificação chegaram à região do Cuieiras depois dos anos 80, durante a segunda

onda de migração para a região. Grande parte desses imigrantes que vieram para o rio

Cuieiras é procedente de locais onde foram implantadas as Unidades de Conservação do Jaú e

Anavailhanas e, por conflitos de sobreposição, acabaram deixando suas terras (Barreto, 2001;

Vianna, 2009). Outra grande leva foi a dos migrantes procedentes de localidades do alto e

médio rio Negro que no primeiro momento vieram para capital do estado do Amazonas

atraídos por expectativas de melhorias econômicas, educacional e de saúde. Porém, não

adaptados aos modos de vida dos grandes centros urbanos, acabaram por regressar à zona

rural (Cardoso, 2008).

Essas famílias chegaram à região do rio Cuieiras totalmente desestruturadas. A grande

maioria foi morar nos agrupamentos, em pequenos espaços comunitários cedidos pelos

moradores locais. Com poucas alternativas, muitas delas encontraram na atividade madeireira

uma oportunidade de ganho econômico mínimo, com baixo investimento prévio. Nesse

período, o auge era a exploração da madeira serrada, sendo que também se comercializava

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intensamente madeira de pau-de-escora. Com a limitação técnica e falta de habilidade, essas

famílias foram obrigadas a trabalhar cortando vara ou ganhando diárias na prestação de

serviços temporários. Com o declínio da exploração madeireira na região, principalmente da

venda de pau-de-escora, a partir de 2005, muitas famílias encontraram na produção de espeto

uma alternativa econômica.

O número reduzido de pessoas com força de trabalho na unidade doméstica também é

um fator preponderante nas atividades de baixa qualificação. As famílias com poucas pessoas,

ou seja, com reduzida força de trabalho na unidade doméstica, geralmente optam por alocar a

força de trabalho em atividades de retorno econômico rápido e baixo investimento prévio,

trabalhando na região principalmente na produção de espeto, prestando serviço carregando

madeira, auxiliando os carpinteiros nas construções/manutenções de casas e embarcações ou

limpando roçados. Os programas governamentais de transferência de renda por meio das

bolsas desempenham importante papel no complemento da fonte de renda dessas famílias.

Como estratégia de segurança alimentar, elas também alocam força de trabalho

desenvolvendo roçados e investindo na atividade da pesca.

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5. CONCLUSÃO

A MATEMÁTICA DA VIDA

Os sistemas de exploração madeireiro da região são considerados de pequena escala e

de intensidade sazonal. Apesar da exploração da madeira ser uma das principais alternativas

econômicas da região é possível concluir neste trabalho que, no Cuieiras, ela é uma atividade

artesanal e segue a lógica da produção familiar. Tanto no extrativismo como na agricultura, as

unidades familiares de produção não apresentam uma especialização de atividade mas sim

diferentes formas de múltiplos uso dos recursos e pluriatividades de geração de renda. Em

geral, as famílias madeireiras da bacia do rio Cuieiras usam e manejam mais de 200 diferentes

espécies entre plantas e animais. As estratégias das famílias madeireiras são orientadas para a

maximização da diversidade de atividades produtivas buscando minimizar os riscos e garantir

a subsistência das unidades domésticas.

As famílias madeireiras da região não possuem características socioculturais e

econômicas homogêneas. Com base na característica socioeconômica, as diferentes

estratégias de múltiplo uso e pluriatividade de cada unidade doméstica, foi possível traçar o

perfil geral das famílias estudadas e identificar dois grupos distintos de madeireiros na região:

Um grupo, denominado neste trabalho de Família Madeireira Tecnicamente Qualificada

(FTQ), e outro grupo denominado de Família Madeireira com Baixa Qualificação (FBQ).

Desta forma, pode-se concluir nesse trabalho que as formas de uso e manejo dos

sistemas produtivos não estão ligados apenas à lógica econômica, mas sim a um conjunto de

fatores que é resultado do que estamos chamando nesse trabalho da “MATEMÁTICA DA

VIDA.” Assim, aliadas à lógica econômica (matéria prima disponível, demanda do mercado,

custo com investimento prévio, facilidade para escoar o produto), as escolhas e estratégias de

uso dos recursos naturais pelas famílias estudadas dependem também da soma de um

conjunto de fatores políticos (risco com as fiscalizações, acesso à terra) e sociocultural

(conhecimento sobre as espécies, habilidades, técnicas e mão de obra familiar disponível).

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6. RECOMENDAÇÕES

Apesar da importância econômica, não apenas para as famílias locais, que dependem

diretamente da atividade, mas também para o mercado consumidor de Manaus, que necessita

da matéria prima para o seu crescimento e desenvolvimento, os sistemas de exploração

madeireiro da região são marginalizados. Os principais empecilhos para regularização dos

sistemas de extração sempre foram as questões fundiárias e a invisibilidade da atividade,

refletida pelo desconhecimento das dinâmicas ecológicas, econômicas e socioculturais dos

sistemas de extração madeireiro na região. Porém, o direito de concessão real de uso da terra

em 2005, com a criação do PDS Cuieiras-Apuaú pelo INCRA, resolve o problema fundiário

das famílias madeireiras da região, possibilitando também a regularização ambiental da

atividade de extração madeireira. Neste sentido, com base nos sistemas de extração e as

características socioeconômica das famílias madeireiras levantados nesse estudo, é possível

fazer uma reflexão e apontar possíveis caminhos que auxiliem para a sustentabilidade dos

sistemas de extração madeireira da região.

Atualmente os sistemas de extração da madeira serrada destinadas a embarcação e

construção de casa está voltado principalmente para o abastecimento local. A

RESOLUÇÃO/CEMAAM/N0 03, de 29 de outubro de 2008, mesmo que pouco

conhecida, possibilita que pequenos produtores rurais e moradores das comunidades

tradicionais do Amazonas possam utilizar a madeira dentro de suas propriedades ou

comunidades sem necessitar de licença ambiental. Essa resolução respalda o auto-

abastecimento de madeira para reforma de embarcações e casas da região. Porém, é

importante realizar inventários florestais nas áreas de extração, a fim de entender a

dinâmica populacional e planejar o uso das principais espécies de interesses desses

sistemas de extração. Além disso, os sistemas de extração local são realizados de

forma convencional, sem emprego de técnicas de manejo sustentável. Numa extração

típica de madeira, os danos ecológicos à estrutura da floresta são grandes. Acredita-se

que para cada árvore derrubada, cerca de 30 outras, com DAP maior que 10 cm, são

danificadas (Johns et al, 1997; Vidal et al, 1997). Com isso, além da possível perda de

outras espécies com potencial econômico, essas aberturas no dossel, deixam a floresta

remanescente susceptível ao vento e ao fogo (Veríssimo et al, 1992; Johns et al,

1997). Neste sentido, a fim de diminuir os danos ecológicos na floresta, aconselha-se

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que órgãos responsáveis pela gestão (SDS/CEUC, INCRA), fomento e assistência

técnica (MDA, SEPROR e SEPROR) da região incentivem e possibilitem (por meio

de oficinas, trocas de experiências e treinamentos) o emprego de técnicas de manejos

sustentáveis nas referidas atividades.

Na região, as espécies de Itaúba (Mezilaurus itauba), Acariquara (Minquartia

guianensis Aubl) e Pau-rosa (Aniba roseadora Ducke) foram espécies de alto interesse

econômico, com histórico de sobrexploração. Segundo Freitas et al., (1996), a

sobrexploração de uma única espécie leva à diminuição da produção de sementes de

qualidade e conseqüente a um empobrecimento genético dos povoamentos florestais,

comprometendo o futuro da regeneração da espécie. Neste sentido, aconselha-se a

elaboração de um plano de conservação específico voltado principalmente para o

entendimento ecológico de cada espécie e o incentivo para inserção dessas espécies

nos sistemas de cultivos (roçados, quintais e espaços comunitários).

Os sistemas de exploração da madeira serrada branca e da exploração madeireira para

produção de espeto indicam ter características mais favoráveis ao manejo florestal

madeireiro se comparados aos demais sistemas praticados na região. Nestes sistemas,

as espécies madeireiras são de uso específico e com histórico de exploração recente.

No caso da madeira destinada à fabricação de espetos, as principais espécies utilizadas

são as mais comuns nas florestas de terra-firma dessa região (Mori e Lepch-Cunha,

1995). Quanto às espécies destinadas a exploração de madeira branca, acredita-se que

sejam espécies de crescimento mais rápido, comparadas às espécies de madeira

pesada, o que permitiria diminuir o intervalo entre os ciclos de corte (Schongart,

2003). Porém, apesar da possibilidade da regularização da atividade, é preciso que a

formalização da exploração desses sistemas de exploração esteja associada a

estratégias para agregar de valor, pois, da forma como acontece atualmente, os

produtos são negociados a preços muito baixos, incapazes de remunerar

adequadamente o trabalho das famílias.

O pau-de-escora é outro sistema que foi bastante importante para economia local, mas,

por estar sendo realizado e comercializado de forma ilegal, entrou em declínio na

região com o aumento das fiscalizações. Esse sistema de extração geralmente ocorria

em áreas de regeneração florestal natural e/ou antigos roçados (capoeiras), onde a

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ocorrência de árvores jovens é maior. A extração de árvores jovens em áreas de

regeneração das florestas é uma atividade que não pode ser comercializada

legalmente, pois o diâmetro mínimo de corte previsto pela instrução normativa n0 112,

de 21 de agosto de 2006, que regulamenta os planos de manejo florestal sustentável, é

de 50 cm. Porém, a abertura de capoeira para a implantação de roçados possibilita que

o produtor, desde que autorizado pelo órgão ambiental competente, comercialize a

madeira resultante da abertura do roçado. Segundo o Plano de Utilização do PDS

Apuaú-Cueiras, realizado em 2006, cada família assentada tem direito a derrubar até

dois hectares de floresta secundária por ano para implantar novos roçados. Na região

estudada, observa-se que o pau-de-escora, que ocorre nas áreas de capoeiras

manejadas, não apenas está sendo desperdiçado, como transformado em fogo pelos

sistemas tradicionais de agricultura de corte-queima. Assim, aconselha-se que os

órgãos gestores da região implementem um sistema de mapeamento das áreas

cultivadas e que discuta-se participativamente normas e formas efetivas de

regulamentar a emissão de autorização para aberturas dos roçados e comercialização

das espécies madeireiras aproveitadas.

Finalmente, enfatizo que qualquer tentativa de intervenção a fim de melhorar a

qualidade de vida das famílias madeireiras da região e promover a sustentabilidade

dos sistemas de extração madeireiro da região devem levar em conta a pequena escala

e a intensidade sazonal das dinâmicas de extração local, além das diferentes

estratégias de múltiplos usos dos recursos das unidades familiares.

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Anexo I

Tabela: Nome Popular Local, Família, Nome Científico, Ambiente Encontrado e Densidade das principais

espécies madeireiras utilizadas na construção de casco de barcos e canoas.

1 Classificação dos moradores locais (TF – Terra-Firme e I – Igapó) ; 2 Fearnside (1997); 3 Wittmann (2010). 4 Loreiro et al., (1978)

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Anexo II

Tabela: Nome Popular Local, Família, Nome Científico, Ambiente e Densidade das principais espécies

madeireiras utilizadas na movelaria.

1 Classificação dos moradores locais (TF – Terra-Firme e I – Igapó) ; 2 Fearnside (1997); 3 Wittmann (2010). 4 Loreiro et al., (1978)

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Anexo III

Tabela: Nome Popular Local, Família, Nome Científico, Ambiente Encontrado, Densidade e Tipos de Peças das principais

espécies madeireiras utilizadas na construção de casas.

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1 Classificação dos moradores locais (TF – Terra-Firme e I – Igapó) ; 2 Fearnside (1997); 3 Wittmann (2010). Loreiro et al., (1978)

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Anexo IV

Tabela: Nome Popular Local, Família, Nome Científico, Ambiente Encontrado e Densidade das principais

espécies madeireiras utilizadas na madeira serrada branca.

1 Classificação dos moradores locais (TF – Terra-Firme e I – Igapó) ; 2 Fearnside (1997); 3 Wittmann (2010). Loreiro et al., (1978)

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Anexo V

Tabela: Nome Popular Local, Família, Nome Científico, Ambiente Encontrado e Densidade das principais

espécies madeireiras utilizadas na produção de espeto.

1 Classificação dos moradores locais (TF – Terra-Firme e I – Igapó) ; 2 Fearnside (1997).

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Anexo VI

Tabela: Cálculo da Porcentagem do Aproveitamento da Madeira Serrada (Embarcação e Casa)

Porcentagem média do aproveitamento de madeira serrada para Embarcação: 47,8%

Porcentagem média do aproveitamento de madeira serrada para Casa: 34,39%

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Anexo VII

Tabela: Cálculo da produção de espeto Pessoa/Hora

Média de Produção por Hora: 84 espetos

Rendimento Médio (R$) Pessoa/Hora Trabalhada: 1,05 reais

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Anexo VIII

Tabela: Lista das Espécies Vegetais Cultivadas nos Sítios e Quintais das famílias madeireiras.

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Anexo IX

Tabela: Principais de espécies de animais silvestres caçados e capturados na região estudada.