Upload
anthonny-gabryell-lima
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Aula 13
Extensoes de corpos; regua ecompasso (Anterior: grau da resultante. )
13.1 o grau de uma extensao
1. Definicao. Seja L um corpo e seja K ⊆ L um subanel. Se K e umcorpo, dizemos que L e uma extensao de K e que este e um subcorpo de L.
Seja L ⊇ K uma extensao d corpos e seja S ⊆ L um subconjunto. Osubcorpo de L gerado por S sobre K e o menor subcorpo de L contendo K, S,denotado K〈(S)〉.
A extensao L ⊇ K e finitamente gerada se existir um subconjunto finitoS ⊆ L tal que L = K〈(S)〉.
2. exercıcios.
1. Se S = {s1, . . . , sn}, escrevemos K〈(S)〉 = K(s1, . . . , sn).Se f, g ∈ K[X1, . . . , Xn] sao polinomios e g(s1, . . . , sn) 6= 0, entao
f(s1, . . . , sn)/g(s1, . . . , sn)e um elemento de K(s1, . . . , sn), e todo elemento de K(s1, . . . , sn) e dessaforma.
2. Mostre que todo elemento de Q(√
2) se escreve na forma a + b√
2 coma, b ∈ Q.
Se L ⊇ K e uma extensao de corpos, L e naturalmente um espaco vetorialsobre o corpo K; a dimensao desse espaco e chamada o grau de L ⊇ K,denotado [L : K]; quando finita, dizemos que L ⊇ K e uma extensao finita.
2 Extensoes de corpos
Evidentemente toda extensao finita e finitamente gerada. Vale a recıprocapara extensoes algebricas que discutiremos a seguir.
Seja L ⊇ K uma extensao de corpos. Dizemos que um elemento α ∈ Le algebrico sobre K se existir f(X) ∈ K[X] polinomio nao constante tal quef(α) = 0. Equivalentemente, a sequencia 1, α, α2, . . . gera um subespaco deL de dimensao finita. Se α nao e algebrico, diremos que e transcendente.Dizemos que L ⊇ K e uma extensao algebrica se todo α ∈ L e algebricosobre K.
3. exercıcios.
3. Calcule o grau da extensao Q(√
2) ⊃ Q; idem para Q( 3√
p) ⊃ Q, p primo.
4. Proposicao. Seja L ⊇ K uma extensao de corpos e seja α ∈ L. Entaoα e algebrico sobre K se e so se o subanel K[α] ⊆ L e um subcorpo de L.
Prova. Observemos logo que o subanel K[α] e, por definicao, o menor su-banel de L contendo K e α. E o conjunto formado por todas as combinacoeslineares, a0 +a1α+ · · ·+amαm, de potencias de α, com coeficientes em K. Eigualmente o conjunto de todos os valores p(α) de polinomios p(X) ∈ K[X](note que, enquanto X e uma indeterminada, α denota o elemento pre-fixado de L.)
Suponhamos α algebrico sobre K. Seja y ∈ K[α], y 6= 0. Devemosmostrar que y−1 ∈ K[α]. Como K[α] e um espaco vetorial de dimensao finitasobre K (pela hipotese de algebricidade de α sobre K), existe n ≥ 1 tal que1, y, . . . , yn sao linearmente dependentes. Tomando n mınimo, obtemos umarelacao
yn + an−1yn−1 + · · ·+ a1y + a0 = 0,
com ai ∈ K e necessariamente a0 6= 0 (por que?). Daı obtemosy(yn−1 + · · ·+ a1) = −a0
e portanto,y−1 = (−a0)
−1(yn−1 + · · ·+ a1)que pertence a K[y] ⊆ K[α].
Reciprocamente, se K[α] e um corpo e α 6= 0, temos α−1 ∈ K[α], i.e.,vale uma relacao
α−1 = anαn + · · ·+ a0
com ai ∈ K seguindo-se evidentemente que α e algebrico sobre K. 2
5. exercıcios.
13.2 o polinomio mınimo 3
4.√
2 e algebrico sobre Q; idem√
2 +√
3.
5. Seja L um corpo finito. Mostre que existe um numero primo p e umsubcorpo K ⊆ L isomorfo a Zp. Mostre que a extensao L ⊇ K e algebrica.
6. Proposicao. Sejam M ⊇ L ⊇ K extensoes de corpos. Entao vale aregra da multiplicatividade dos graus,
[M : K] = [M : L][L : K].
Em particular se M ⊇ L e L ⊇ K sao extensoes finitas, entao M ⊇ L efinita.
Prova. Sejam {αi}i∈I , {yj}j∈J bases de L sobre K e M sobre L. Verifica-se facilmente que a colecao dos produtos, {αi · yj}(i,j)∈I×J e uma base de Msobre K. 2
7. exercıcios.
6. Detalhe a prova acima.
8. Proposicao. Seja L ⊇ K uma extensao de corpos. Entao o subconjuntode L formado pelos elementos algebricos sobre K e um subcorpo de L.
Prova. Sejam α, y ∈ L algebricos sobre K. Seja K ′ = K[α]. Entao K ′ ⊇ Ke uma extensao finita. Como y e claramente algebrico sobre K ′, segue queM = K ′[y] ⊇ K ′ e finita e portanto M ⊇ K tambem o e. Logo todo elementode M e algebrico sobre K; em particular, α ± y, α · y sao algebricos sobreK, completando assim a verificacao. 2
13.2 o polinomio mınimo
Se α ∈ L ⊃ K e algebrico sobre K, entao existe um polinomio nao constantep(X) ∈ K[X] tal que p(α) = 0. Logo, o ideal
{f(X) ∈ K[X] | f(α) = 0}
e nao nulo e admite um unico gerador monico. Este sera denotado pα(X),chamado o polinomio mınimo de α sobre K.
4 Extensoes de corpos
9. exercıcios.
7. deg pα = 1 se e so se α ∈ K.
8. Ache os polinomios mınimos de√
2 sobre Q; idem para i =√−1; que tal√
2 + i?
9. Mostre que se f ∈ K[X] e f(α) = 0 entao pα divide f .
10. Prop. Seja α um elemento algebrico sobre K. Seja f(X) ∈ K[X]monico. Entao
f(X) = pα(X) se e so se
{f(α) = 0 ef(X) e irredutıvel em K[X].
Prova. A informacao relevante nesse enunciado e que pα(X) e o unico po-linomio monico irredutıvel em K[X] que anula α. Primeiro, vejamos quepα(X) e irredutıvel. Ora, se pα = gh em K[X], entao vale 0 = pα(α) =(gh)(α) = g(α)h(α). Logo g(α) = 0 ou h(α) = 0. Mas g(α) = 0 implicag ∈ 〈pα〉. Daı segue, como de habitude, que h e constante e pα e irredutıvel.Seja por fim f ∈ K[X] monico irredutıvel tal que f(α) = 0. Segue quef ∈ 〈pα〉; logo, f = pαg para algum g ∈ K[X]. Por irreducibilidade, segueque f e multiplo constante de pα; monicos ⇒ iguais. 2
11. Prop. Seja α um elemento algebrico sobre K. Temos entao
[K(α) : K] = deg pα.
Em palavras, o grau da extensao K(α) ⊃ K e igual ao grau do polinomiomınimo de α.
Prova. Seja d = deg pα. Basta mostrar que 1, α, . . . , αd−1 e uma base deK(α) sobre K. Por conta da prop. 4, sabemos que todo elemento y de K(α) ecombinacao linear de um numero finito de potencias de α. Em sımbolos, y =a0+a1α+amαm com os coeficientes ai ∈ K. Ora, o polinomio mınimo permiteescrever αd como combinacao de potencias menores. Logo, 1, α, . . . , αd−1
geram. Para mostrar que sao l.i., escreva a0 +a1α+ad−1αd−1 = 0. Isto exibe
um polinomio de grau aparente1 d− 1 que anula α. Mas o mınimo tem graud, logo todos os ai sao nulos.
1as aparencias irmanam.
13.3 construcao com regua e compasso 5
13.3 construcao com regua e compasso
Um ponto (a, b) ∈ R2 e construtıvel se a, b ∈ {0, 1} ou se puder ser obtidopor uma sequencia finita de operacoes do tipo:
1. intersecao de retas construtıveis, i.e., ligando pontos construtıveis;
2. intersecao de cırculos construtıveis i.e., com centro um ponto constru-tıvel e passando por outro ponto construtıvel;
3. intersecao de reta e cırculo construtıveis.
Um numero real α e dito construtıvel se aparecer como ordenada ou abscissade um ponto construtıvel.
Todo numero inteiro e construtıvel: centre um cırculo em (1,0) e passandopor (0,0). . . e repita.
Dado um ponto construtıvel P e uma reta construtıvel L, a perpendiculara L passando por P e construtıvel. De fato, se P ∈ L, certamente existeQ ∈ L distinto de P ; centro em P e raio PQ constroi o simetrico Q′ ∈ L deQ com respeito a P ; centro em Q e raio QQ′; depois centro em Q′...acha-seR com RP ⊥ L.
...........
.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
.......................................................................................... ...........
.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
........................................................................................... ..........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
.
..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
◦◦
•
◦
R
Q
P
Q′L
12. exercıcios.
10. Caso P 6∈ L?
6 Extensoes de corpos
Toda soma de numeros construtıveis e construtıvel. Idem para o produtoe para o inverso. Para o produto, estude a figura abaixo.
O 1 b• •a
ab
. ................................................................................................................................................................................................................ .
........................................... .
.............................................................................................................................
...............................................................................................................................................................................................................................................................
O segmento de comprimento a e tracado perpendicularmente a reta Ob.
13. exercıcios.
11. Invente uma figura analoga para o calculo de 1/a.
Vemos assim que o conjunto dos numeros construtıveis forma um corpo.Segue da definicao que, para cada numero construtıvel α, existe uma se-quencia α1, α2, . . . , αn = α tal que α1 ∈ Q e, em cada etapa subsequente,αi+1 se calcula como raiz de uma equacao de grau ≤ 2 com coeficientes nocorpo gerado pelos anteriores. Em resumo, podemos garantir que, se α forconstrutıvel, entao existe uma extensao L de Q de grau da forma 2n.
Como aplicacao, podemos deduzir daı que a trissecao de um angulo e, emgeral, impossıvel de se construir com regua e compasso. Vejamos por exemploa impossibilidade para o angulo de 60◦. (Note que este e construtıvel, poisvoce sabe fazer triangulos equilateros.)
Pelas formulas de adicao temos,
cos 2a = cos2 a− sen2 a = 2 cos2 a− 1;sen 2a = sen a cos a + sen a cos a = 2 sen a cos a;
cos 3a = cos 2a cos a− sen 2a sen a=(2 cos2 a− 1) cos a− 2(sen a cos a) sen a =
2 cos3 a− cos a− 2 cos a(1− cos2 a) =4 cos3 a− 3 cos a.
Faca a = 20◦ nas formulas acima. Seja α = cos 20◦. Temos assim
cos 3a = cos 60◦ =1
2= 4α3 − 3α.
13.3 construcao com regua e compasso 7
Seja p(X) = 8X3 − 6X − 1. Nao tem raiz racional. Logo, e irredutıvel emQ[X]. Portanto, o polinomio mınimo de α tem grau tres e vale [Q(α) : Q] = 3.
Argumento final: se fosse possıvel fazer a trissecao do angulo de 60◦ comregua e compasso, entao α = cos 20◦ seria igualmente construtıvel. Istoacarretaria a existencia de uma extensao L ⊇ Q de grau d = 2n e tal queα ∈ L. Daı terıamos L ⊇ Q(α) ⊃ Q. Pela multiplicatividade do grau,seguiria que 3 e divisor de d. Assim nao da!!
14. exercıcios.
12. Leia em algum lugar a lista dos n-agonos regulares construtıveis e repro-duza em poucas linhas o argumento central.
Proximo: transcendencia.