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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU – FURB CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE EDUCAÇÃO: SOCIEDADE E CULTURA O DESPORTO NA CONTRA - MÃO DAS ARTES MARCIAIS: CAMINHANDO PELA ESSÊNCIA DO EDUCAR NAS ANTIGAS TRADIÇÕES MARCIAIS JAPONESAS. FABRICIO VEGINI BLUMENAU 2007

Fabricio

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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU – FURB

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE EDUCAÇÃO: SOCIEDADE E CULTURA

O DESPORTO NA CONTRA - MÃO DAS ARTES MARCIAIS:

CAMINHANDO PELA ESSÊNCIA DO EDUCAR NAS ANTIGAS

TRADIÇÕES MARCIAIS JAPONESAS.

FABRICIO VEGINI

BLUMENAU

2007

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FABRICIO VEGINI

O DESPORTO NA CONTRA - MÃO DAS ARTES MARCIAIS:

CAMINHANDO PELA ESSÊNCIA DO EDUCAR NAS ANTIGAS

TRADIÇÕES MARCIAIS JAPONESAS.

Monografia apresentada à especialização em Educação: Sociedade e Cultura da FURB – Fundação Universidade Regional de Blumenau – como requisito parcial à obtenção do título de Especialista.

Orientador:Prof. Dr. Fabio Zoboli.

BLUMENAU 2007

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho é dedicado aos Professores que perceberam ser a sala de aula uma estrada onde o passo inicial é extremamente importante, ao meu Orientador, pela paciência e grande humildade em saber que ensinar a aprender é tão nobre quanto saber, à minha esposa que é uma fonte de luz mediante os momentos de escuridão na estrada da vida, e... aqueles que serviram somente para atrapalhar, e muito, agradeço também, pois foi um incentivo à parte, e vos falo: Quanto mais estrume à sua volta, mais bela a flor de Lótus ergue-se.

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“Seja a mudança que você quer ser no mundo, pois a luz passa pela lama sem se sujar”.

(DaLai Lama)

ii

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Nasu Waza wo onoga chikara to hito ga yuu. Kami no michibiku mi to shirazu shite..1 (Hatsumi Masaaki)

iii 1 As pessoas dizem que sua própria força se encontra nas técnicas que realizam. Não se dão conta que são os Deuses que guiam seus corpos.

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RESUMO

O propósito deste trabalho, foi desenvolver uma análise quanto à essência das antigas tradições marciais japonesas, numa tentativa de estabelecer relações com os objetivos direcionados à educação. Nas antigas tradições Marciais sabe-se que antes de aprender a técnica, aprende-se a etiqueta; antes de praticar as artes marciais, pratica-se a moral e a formação educacional. Durante a longa história, além de teorias e técnicas, as artes marciais antigas formaram também um sistema educacional bem ligado a elas, que é chamado de "a educação como alicerce espiritual e provedora da libertação". Todas as escolas consideram a educação a primeira missão dos praticantes de artes marciais. Na educação das artes marciais tradicionais, há conteúdos originados do ambiente da sociedade feudal e limitados por ela, por exemplo: as artes marciais eram ensinadas por ocasião de uma necessidade de sobrevivência e conquista da liberdade. Nos esportes baseados em artes marciais, essa caracterização foi desperdiçada por almejar conceitos e objetivos relacionados ao ego, ou seja, a vencer um oponente que na realidade não é seu oponente, e sim um fantoche. No entanto, através deste trabalho, visualiza-se a parte educacional nas antigas artes marciais, que é extrema referencia até os dias atuais, desde que praticada corretamente, e com o cerne exposto à verdadeira essência e não a promoção do ego onde sua real essência tomba-se ao esquecimento.

Palavras-chave: Artes Marciais, Educação, Desporto.

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ABSTRACT

The propose of this work was developed an analysis as the old Japanese traditional martial essence, in a trying to establish relations with the objectives addressed to education. In the old traditional martial know before to learn the technique you learn the ethic, before practice martial arts you practice moral and education formation. During the long history, besides the theory and techniques, the olds martial arts also formatted an education system pretty linked to them called “education as foundation spiritual and supplying of freedom”. All the schools consider the education the first mission of the martial arts practicing. In education of the traditional martial arts there are contents originated of feudal society ambient and limited by it, for example, the martial arts were taught by occasion the survivals needs and freedom conquest. In the sports based on martial arts this characterization was wasted by crippling concepts and objectives related to ego, I mean, to win an opponent who in the reality isn’t your opponent but a puppet. However, though this work, visualize the education part in the olds martial arts which is extreme reference until nowadays, since that practicing correctly, and with the duramen expose the true essence and not a promotion of the ego where its real essence falls down to the forgetting.

Key-words: Martial Arts, Education, Sports.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... i

EPÍGRAFE ...................................................................................................................... ii

RESUMO ....................................................................................................................... iv

ABSTRACT ................................................................................................................... v

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11

1.1 Apresentação do tema e problemática ................................................................... 11

1.2 Justificativa............................................................................................................... 19

1.3 Objetivos .................................................................................................................. 19

1.3.1 Objetivos gerais ................................................................................................... 19

1.3.2 Objetivos específicos ........................................................................................... 19

1.4 Metodologia ............................................................................................................. 19

1.5 Sistematização da monografia ................................................................................. 25

CAPÍTULO II

A OCIDENTALIZAÇÃO DAS ARTES MARCIAIS ….............................................. 26

2.1 Artes Marciais: O real significado ........................................................................... 26

2.2 O Período Meiji ....................................................................................................... 27

2.3 Bugei e Bujutsu ....................................................................................................... 28

2.4 Budo ......................................................................................................................... 30

2.5 Budo Moderno ......................................................................................................... 31

CAPÍTULO III

O NASCIMENTO DAS ANTIGAS TRADIÇÕES ...................................................... 34

3.1 Um pouco de história ............................................................................................... 34

3.2 Hattori Hanzo e Hattori Ryu .................................................................................... 39

3.3 Momochi Sandayu e Momochi Ryu ........................................................................ 41

3.4 Iga Ryu .....................................................................................................................43

3.5 Koga Ryu Ninjutsu ...................................................................................................47

3.6 Conceitos históricos e características gerais em antigas escolas de Artes Marciais..50

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3.6.1. TOGAKURE RYU NINPO 戸隠流忍法 ............................................................ 51 3.6.2. KOMUGAKURE RYU NINPO 雲隠流忍法 ................................................... 52 3.6.3. GYOKUSHIN RYU NINPO 玉心流忍法 ......................................................... 53 3.6.4. GYOKKO RYU KOSSHI JUTSU 玉虎流骨指術 ............................................ 54 3.6.5. KOTO RYU KOPPO JUTSU 虎倒流骨法術 ................................................... 55 3.6.6. SHINDEN FUDO RYU DAKENTAI JUTSU 神伝不動流打拳体術 .............. 56 3.6.7. KUKISHINDEN RYU HAPPO BIKENJUTSU 九鬼神伝流八法秘剣術 ...... 57 3.6.8. TAKAGI YOSHIN RYU JUTAIJUTSU 高木揚心流柔体術 .......................... 59 3.6.9. GIKAN RYU KOPPO JUTSU 義鑑流骨法術 ................................................. 61

CAPÍTULO IV

AS ANTIGAS TRADIÇÕES MARCIAIS COMO MEIO DE PACIFICAÇÃO PARA O

CAMINHO EDUCACIONAL ...................................................................................... 63

CAPÍTULO V

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 65

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 68

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O DESPORTO NA CONTRA - MÃO DAS ARTES MARCIAIS: CAMINHANDO PELA ESSÊNCIA DO EDUCAR NAS ANTIGAS

TRADIÇÕES MARCIAIS JAPONESAS

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Na antiga filosofia a essência da educação estava associada ao quinto elemento. Algo profundamente sutil que se considerou onde já se falava na criação do universo. Entre os alquimistas, dita essência era o princípio fundamental da composição da matéria, o mais puro e intrínseco de algo. Poderíamos criar um vínculo inseparável entre a essência e o espírito, ambos são intangíveis e às vezes necessários. É como estabelecer uma relação entre o homem, como parte masculina ou espírito, e a mulher, como parte feminina ou essência. Na ciência podemos ver continuamente representados como o positivo e o negativo, na filosofia oriental se mostra como o Ying (陰) e Yang (陽)2: São princípios universais que surgiram do Tao (道 o caminho) absoluto. São opostos e complementares. O Yin é feminino e representa escuridão, passividade, água, frio, centrífugo-entrópico; Yang é masculino e representa luz, atividade, montanha (pedra), calor, concreto (palpável), grande, ruidoso, centrípeto. Representam o bem e o mau, são inclusos em diversas religiões como o céu ou paraíso e o inferno. Ambos são iguais necessariamente, sendo que qualquer um deles não pode conceber-se sem a existência do outro. Algumas palavras são carregadas de preconceitos que dificultam a sua compreensão. Estamos tão acostumados a compreender “filosofia” na educação como pessoas velhas discutindo coisas incompreensíveis e sem nenhuma finalidade prática, que rejeitamos automaticamente o seu estudo, como desnecessário para a prática das Artes Marciais. Nada mais falso. Mediante o estudo da filosofia e da educação mergulhamos de cabeça no desenvolvimento do educar. Graças à vontade, as pessoas canalizam e dirigem sua energia para o mundo ou para uma ação específica. Este é um tema que, na cultura ocidental, foi sempre mal entendido e mal interpretado. Sabe-se que a filosofia e a educação estão intimamente ligadas nas Artes Marciais, como em nossa vida, onde o desenvolvimento pessoal atem-se na continuidade da educação dentro ou fora da pratica das Artes Marciais.

1.1. Apresentação do Tema e problemática

A descaracterização Sócio-Educativa das Lutas e Artes Marciais é uma

característica iminente. Nos dias atuais, somos forçados a engolir histórias e contos, que

na realidade nunca existiram e sim, foram criados por praticantes que não tiveram a

oportunidade de um conhecimento mais próximo com a verdadeira essência das Artes

Marciais ou quem sabe, não quiseram ter. Desde a restauração Meiji no Japão, o

ocidentalismo infiltrou-se de tal forma neste país, que ostentou-se um perda de

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identidade constante as antigas tradições marciais. O não entendimento referente ao

Bugei(武芸)3 e o Bujutsu (武術) 4 antigo foi a faísca que ocasionou o rompimento das

antigas tradições com o ocidente. Praticantes e mestres começaram a dar maior

importância aos resultados obtidos em competições do que seu engrandecimento como

pessoa. As raízes profundas das antigas tradições começaram a secar, restando-nos

somente a certeza de que a cada pôr do sol sofreríamos ao ver as artes Marciais antigas

serem mortas, onde criaram-se esportes e desportos baseados nas mesmas, e estes

vangloriam-se por achar-se como Artes Marciais. Através disto, resta uma pergunta:

Qual a correta conceitualização no que difere desportos e Artes Marciais, onde as

mesmas são descaracterizadas e confundidas por influência da cultura ocidental?

O filósofo, assim como o educador, é aquele que procura compreender o mundo

e a melhor forma de viver nele. Ou seja, uma filosofia a qual nos referimos é aquela que

podemos colocar em prática e melhorar a qualidade de nossas vidas. A essência

educativa de uma arte marcial é melhorar o ser humano, adaptá-lo melhor às condições

do dia a dia e fazê-lo compreender as causas e os motivos das coisas. Recebemos da Era

Vitoriana o legado de conceber a educação exclusivamente como “força de aprender”,

como um angustiante e doloroso esforço que não tem qualquer relação com os diversos

aspectos da verdadeira educação. O verdadeiro conceito de educação está estritamente

vinculado ao conceito de intenção, pretender fazer algo, decidí-lo, executá-lo,

encaminhar-se a ele, são ações que implicam aplicação. Em certo sentido poderia dizer

que é algo mental e não conceitual ou intelectual. Isto é, não se trata de uma pessoa

pensar em algo ou falar consigo mesmo sobre isso, trata-se antes de conhecer o

compromisso pessoal estabelecido com essa coisa pensada. Entrando no campo das

Artes Marciais, encontramos o Budo Tai Jutsu, no qual é uma Arte Marcial não

competitiva, pois se acredita que seus estudantes não estão atrás de honrarias pessoais e

por isso não se submetem a provas de demonstração de força e/ou superioridade, e

tecnicamente, por se tratar de uma Arte Marcial de finalização real e sem regras

específicas. O Budo Tai Jutsu é uma ciência Marcial que oferece um meio de

treinamento que coloca corpo, mente e espírito juntos, essencial para o desenvolvimento

do ser humano, coloca o homem em harmonia com a natureza, derrotando suas próprias

ineficiências, melhorando sua autoconfiança e a capacidade de viver amplamente.

Educar nas Artes Marciais, não é simplesmente um sentimento, embora pudessem dar

2 Yin e You no Japão 3 Arte da Guerra, referente ao uso de armas. 4 Técnicas necessárias para a luta.

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oportunidades ao surgimento de diversos sentimentos, tão pouco é algo físico, embora

pudesse ter efeitos físicos, mas sim uma prática freqüente para a vida.

Ao longo do tempo, determinadas idéias e conceitos foram sendo desvirtuadas

de tal forma que, atualmente, o seu sentido real já se encontra totalmente deturpado.

Artes Marciais, vale tudo, briga de rua, lutas, MMA (Mixed Martial Arts)5, etc.. Há uma

enorme confusão sobre o significado das disciplinas citadas. Algumas pessoas ficam

muito chocadas ao saber que o Karate, Taekwondo, “Jiu Jitsu”, Kendo e outras

modalidades conhecidas, não são Artes Marciais, mas desportos, esportes ou sistemas

de lutas baseados em Artes Marciais, isto é, não praticam mais suas modalidades como

formas totalizantes, envolvendo aspectos filosóficos, de “defesa pessoal, de táticas

defensivas e estratégias” e de estudo integral, mas se limitam a parte competitiva,

treinando intensivamente para campeonatos. Não vai nisto uma crítica, pois foi este o

caminho que escolheram, mas apenas uma constatação de que o treino intensivo para

competições não lhe dá tempo para treinar os outros aspectos das suas disciplinas. Aliás,

já chegamos a tal ponto, que há uma enorme dificuldade em encontrar professores que

possam ensinar tais aspectos, como o treinamento energético (Ki). O Judô, por sua vez,

já foi criado pelo seu fundador, Jigoro Kano, com vistas à competição e, portanto, desde

o início já havia abandonado os aspectos integrais das antigas formas de Ju Jutsu.

O conceito de luta/competição está no cerne de tais problemas. As antigas

tradições marciais (Ko ryu) eram voltadas para a formação do caráter, para a educação e

para a eficiência prática. Uma luta deveria ser decidida em frações de segundo, num

contra ataque devastador. Qualquer luta que durasse mais de 10 segundos era

considerada prova de incapacidade. Os kata (formas) e as chaves secretas para a sua

aplicação prática, as diversas modalidades de luta simulada, e o treinamento da mente e

da energia psicofísica (shin e ki) eram consideradas as chaves para a eficiência na luta

real. As modalidades que passaram a adotar lutas competitivas se preocuparam em

eliminar todos os aspectos mais perigosos e criaram regras destinadas a proteger os

atletas. Mesmo no assim chamado, “Vale Tudo”, existem regras mínimas destinadas a

evitar que tais encontros se transformem em simples carnificina. É por isso que tais

modalidades esportivas não são eficientes em um Vale Tudo real ou em uma luta de

morte na rua. Elas precisam ter suas técnicas modificadas de forma a torná-las aptas a

enfrentar a realidade das ruas. E, mesmo assim, seria necessário treinar com “sparring”

profissionais e não com colegas de academia, de forma a usar de maior violência. O

mesmo acontece com algumas modalidades mais tradicionais, artes como o Aikido,

5 MMA (Mixed Martial Arts) = Artes Marciais Misturadas.

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Aikijujutsu, Hakko Ryu Jujutsu e as formas não competitivas do Karate (o chamado

Karate Jutsu ou Karate Dō). Nos tempos antigos, para testar a sua eficiência em

combate, o praticante deveria aplicá-las no campo de batalha ou contra marginais de

forma a comprovar a validade de seu treinamento. Lutadores de Karate famosos como

Choki Motobu, de Okinawa, venceram várias lutas somente treinando de forma

tradicional, através dos Kata e lutas combinadas. Nos dias atuais, contudo, tais condutas

são impossibilitadas pelas leis e regulamentos em vigor. Esta é a realidade, o resto é

fantasia.

O caminho das Artes Marciais requer de seus peregrinos um contínuo sacrifício

e uma eterna resignação. A perseverança como âmago, o brotar dos sentimentos como o

fluir do sangue, nosso contínuo caminhar como o pulsar do coração e as palavras sábias

do mestre como o ar que inalamos são referenciais das Artes Marciais. Como

guerreiros, a solidão é nosso valor. Como homens, a amizade sincera é o início de nossa

iniludível sucessão. As amizades marciais têm uma origem dramática, em que

dissimulam os corações, se entrelaçam às almas e unem-se os espíritos. Dois

praticantes, dois homens e um pensamento comum. É essa trilogia, sanshin6,

imprescindível para conceber o que a palavra Buyû encarna: Amizade marcial ou irmãos

marciais é a simples tradução desta palavra, ainda que a profundidade de seu significado

encerra um novo sentimento, que não é uma amálgama de todos aqueles sentimentos

reconhecidos já pelo ser humano. A fundamentação educativa nas Artes Marciais

encontra-se em seus memoráveis ensinamentos filosóficos, onde têm-se seus saberes

como forma diferenciada do todo. Todos como praticantes de Artes Marciais, Budôka,

todos como homens, todos como seres humanos e principalmente todos como

professores, necessitam conhecer ou descobrir nossas verdadeiras funções educacionais

na docência das Artes Marciais e desportos, e através disto conhecer nossos verdadeiros

Buyû.

Quando nossa vida se rodeia de elos, a de outra pessoa se completará com a

nossa. Não é mais do que a simples lei da natureza, a lei da evolução, da transmissão da

própria essência. Dentre essas pessoas, uma aporta a força, a coragem... outra aumenta o

desenvolvimento da técnica, a forma... outro sensibiliza os sentimentos, a parte

humana... outro desenvolve a música, o ritmo da vida... e assim até completar nosso

total desenvolvimento. Sem embargo somente há um que, sendo igualmente especial

que os demais, é o único facultado para iluminar com sua magia nosso mais profundo

intelecto, sendo esta sua clara entrega. Esta virtude não é possivelmente adquirida,

6 A essência dos três corações.

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simplesmente se nasce com ela, e quando esta pessoa, este Buyû emerge, não somente

se reconhece ele senão que, se sente com a mais pura certeza, a plenitude necessária

para empreender o verdadeiro caminho de nossa vida, a resposta a nossa existência.

Amizade, amor, arte e sensibilidade são entre outras coisas o produto da magia chamada

educar. O verdadeiro segredo das Artes Marciais reside em sua própria essência, aquilo

que faz o ser humano ser o que é e sentir o que sente, o permanente e o invariável.

Um ponto que poucos percebem é que a essência seja das formas jutsu (Ken

Jutsu), seja das formas do (Aikido), seja das formas pō (Ninpo), era o bom senso. O

artista marcial não deveria ser um grande lutador, mas ter uma grande cultura e

educação (Bum Bu ryu Dō). Desta forma o máximo da técnica marcial era vencer uma

luta antes que ela começasse ou impedir, pela educação, que o ambiente propício à luta

frutificasse. A luta começava na mente, na estratégia, na percepção do clima negativo

crescente e competia ao artista marcial agir antes que o conflito iniciasse. O Budoka que

precisasse lutar era já um derrotado, pois não impediria o conflito. Funagoshi Gishin, o

codificador do Karate no Japão foi, até a sua morte, contrário à idéia de competições no

Karate. Por este motivo, é que, em todas as artes marciais a idéia de ataque é

inconcebível. Devemos treinar a reação, de forma que o nosso contra – ataque seja

definitivo (“um golpe, uma vida”). Desta forma, fica claro que uma arte marcial não é

uma “briga de rua”, nem se destina a “bater nos outros”, mas deve ser promotora de

bem – estar, de equilíbrio e da formação de homens sensatos e melhores.

Sabemos que um artista marcial é uma pessoa correta quando as suas ações e as

suas atitudes estão de acordo com o bom-senso e com a boa educação, sem jamais ferir

ou agredir aos outros. Um professor que fala mal dos outros para seus alunos ou se

engaja em disputas com os demais, é um mau exemplo. Se estivemos junto de alguém,

em alguma fase de nossas vidas, e depois nos afastamos, é incorreto falar mal de tais

pessoas. Se elas têm defeito, cairão por si sós. Não será necessário que falemos mal

delas.

Existe uma diferença fundamental – para a qual não se dá a devida importância –

entre a arte marcial e uma simples briga, uma diferença que não tem qualquer relação

com a eficácia ou com a técnica. Todas as artes marciais fazem parte originalmente de

um sistema completo de aprendizagem, cujo verdadeiro objetivo consiste em

transformar radicalmente a própria essência do praticante. Embora com muita

freqüência se ignorem, subvalorizem-se ou se menosprezem por inteiro estas raízes, a

dimensão espiritual constitui a essência das artes marciais. Em todas as culturas, existe

uma tradição marcial que em geral está de alguma forma, ligada ao desenvolvimento

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espiritual (os gregos incluíam a luta em seus jogos Olímpicos e a figura do herói

vencendo um monstro, um demônio ou um rei impiedoso é um dos arquétipos principais

da mitologia). Foi todavia no Oriente onde a prática destas artes atingiu os mais

elevados níveis e também sua maior evolução.

Acredita-se que as artes marciais tenham começado a serem praticadas na Índia

(embora seja muito pouco que sabemos sobre esta longínqua primeira etapa) e tenham

de difundido posteriormente (como o Budismo) chegando a China. Ali encontraram

uma terra perfeitamente propícia, a atitude pragmática do povo chinês e o Taoísmo,

religião mística que ressalta a importância da natureza e do corpo, contribuíram para o

desenvolvimento de uma grande profusão de técnicas de combate estreitamente

relacionadas com as escolas de formação espiritual. Dali, as artes marciais, tanto no seu

aspecto físico, quanto espiritual, estenderam-se a outras regiões como Mongólia,

Indonésia, Java, Filipinas, Coréia, Okinawa e Japão, desta forma, misturaram-se com os

sistemas marciais e religiosos dos habitantes autóctones de cada região, dando lugar a

outras práticas novas e originais.

Por volta do século XIX aproximadamente, as artes marciais começaram a

infiltrar-se pela Europa e América do Norte. Uma das pioneiras, procedente do Japão,

era o Judô. A partir da segunda Guerra Mundial tornaram-se conhecidas muitas outras

formas, porque era cada vez mais fácil ter acesso às tradições secretas (ainda que, com

freqüência se tratasse de versões dulcificadas), ao mesmo tempo em que aumentava o

interesse pela cultura e pela sabedoria orientais. Na década de 50 o “Jiu Jitsu” e o Judô

eram as artes do momento. Na década de 60 surgiu o Karate. Na década de 70, o Kung

Fu, e aos anos 80 o Ninjutsu. Ainda foi possível surgirem novas formas a partir daquela

imigração relativamente recente. O Jeet Kune Dō, de Bruce Lee, foi muito influenciado

pelo Boxe, pela luta Greco-Romana e pela esgrima do Ocidente, esta técnica oferece

uma imagem muito própria do século XX, posto que menospreza tradições estéreis e

insiste na eficácia, na economia de meios e na efetividade de prática.

O desporto é uma atividade física geralmente sujeita a determinados

regulamentos para que ocorra uma competição. Pode-se pensar com isso: Uma arte

totalmente fundamentada para a guerra, para o combate real, pode dar-se ao luxo de

haver regras específicas para seus praticantes? As únicas regras que possam existir é do

engrandecimento espiritual através do desenvolvimento constante e estudo de si mesmo.

Perante um combate real, ou uma guerra, as regras serviriam somente para atrapalhar

tais combatentes. Durante o combate valeria uma única regra: Cumprir o objetivo

proposto, mesmo que isso pudesse levar o combatente à morte, pois a morte o tornaria

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liberto desde que sua luta fosse por uma causa justa. A única competição que um

praticante da Arte da Guerra se propõe a fazer, é a competição consigo mesmo. Os

métodos psicoterapêuticos e educativos do Ocidente experimentaram também uma

integração similar, tendo incrementado enormemente o número de técnicas de

desenvolvimento pessoal e de autoconhecimento. Para conhecer corretamente o que são

artes marciais é necessário considerar não apenas o aspecto técnico, mas também o

psicológico e o metafísico. É fundamental, sobre tudo, entender que uma atividade

física - ao que parece estreitamente ligada ao campo do esporte, como o boxe ou a luta –

pode estar vinculado a temas como a transformação psico-espiritual, educativa e a

natureza da realidade. As artes marciais sempre fascinaram o homem ocidental, pela sua

disciplina e energia, mas quem realmente pratica uma Arte Marcial?

Referente a palavra “marcial” podemos dizer que deriva de Marte, deus da

guerra, no panteão romano, irmão de Minerva, deusa da sabedoria. Quando falamos de

guerra é necessário prestar muita atenção ao termo, visto que representa muitos

símbolos. Marte, dentro do panteão romano, simbolizava a guerra interior, tal qual seu

irmão na velha Índia, o deus Kartykeya, também irmão do deus Ganesha, símbolo da

sabedoria. Voltando-nos para a América pré-colombiana encontraremos o deus

Tezcatlipoca, que é justamente a representação dessa guerra interna, a qual todos os

sábios sacerdotes das antigas civilizações honravam quotidianamente. Todos esses

deuses são, sob diferentes formas, aspectos e nomes, a mesma representação que se dá

em dois níveis: O interno ou esotérico, que está representado nos símbolos que

consideramos mais adiante, e o externo ou esotérico que conhecemos muito bem e se

caracteriza pela guerra propriamente dita. O interno manifesta-se no externo, é o motor

do que vemos quotidianamente.

Nos mistérios de Marte, nome comum dado em Roma aos cultos que se

celebravam ao deus da guerra, entendia-se que todo caminho guerreiro levava o

oficiante à reunificação final. Essa busca interior que o homem desde tempos

imemoriais empreende se dá justamente porque ele percebe, consciente ou

inconscientemente, que perdeu dentro de si mesmo algo que possuía um grande valor.

Hoje, mais do que nunca alienado do real, sente a necessidade imperiosa de reunir-se

consigo mesmo, de encontrar, por todos os meios um caminho que o leve outra vez para

seu real domicílio. É então que a arte marcial ou, como se denominava no Japão, a arte

mística, aparece desde a noite dos tempos para nos brindar novamente, como já muitas

vezes o fez, com um acesso a mais parece esse reencontro consigo mesmo.

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O caminho é duro e sobretudo muito áspero, mas para aquele que realmente

sente a necessidade de ser completo, em toda a extensão da palavra, ele se abre para

proporcionar não somente uma preparação física, mas também uma compreensão

filosófica. Esta filosofia marcial se fundamenta na existência de duas forças de contínua

luta. Os chineses as denominam Ying e Yang e, os Japoneses de Yin e You; o feminino e

o masculino, o ódio e o amor, o passivo e o ativo, etc. O movimento contínuo destas

duas forças determina o que se chama de luta de opostos. Através desta luta, o homem

chega a ter plena consciência do justo meio, o equilíbrio, da harmonia interior que se

manifestará como tranqüilidade e bem estar na vida diária.

É relevante ter em mente, se no âmbito das Artes Marciais encontramos diversos

estilos, podemos afirmar com toda segurança que o espírito que anima todos eles

(sempre e quando sejam bem ensinados) é o mesmo que inspirou os velhos sacerdotes,

tanto no Oriente como no Ocidente. Mas estes velhos sacerdotes já não existem mais,

deixando um legado que nos dias atuais são raros vermos alguém cumprindo-os. Com

toda certeza, uma das causas mestra do que ocasiona um mau entendimento referente às

Artes Marciais foi a culturalização ocidental, aonde vimos na aurora do

desenvolvimento industrial uma pedra sendo atirada contra os antigos mestres.

1.2. – Justificativa

Nos dias atuais, vemos muitos praticantes de lutas e esportes baseados em Artes

Marciais repassando um conhecimento não apropriado referente a conceitualização das

antigas tradições. Através de pesquisas in loco 7, juntamente com uma extensa pesquisa

bibliográfica, apresentar-se-á correta conceitualização no que refere-se a desportos

baseados em antigas Artes Marciais, e os mesmos não sendo considerados como tal,

onde o aprendizado errôneo de tais conceitos podem ter prejuízos à educação dos

praticantes.

7 Resultante de várias viagens ao continente Europeu e Asiático, principalmente Japão, para obter consideráveis documentos e instruções de estudiosos e historiadores, onde a pesquisa aprofundou-se em museus, fundações, institutos e escolas voltadas para a prática e ensino de Lutas e Artes Marciais.

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1.3. – Objetivos

1.3.1 – Objetivos Gerais

Proporcionar a conceitualização, bem como sua essência educacional, no que

difere desportos e Artes Marciais, onde às mesmas são descaracterizadas e confundidas

por influência da cultura ocidental, ocasionando uma desvinculação de sua essência

educacional como praticantes.

1.3.2. Objetivos Específicos

• Analisar e compreender as diferenças entre Artes Marciais e esportes baseados

nas mesmas. Compreender de que maneira isso influência conceitos errôneos

referentes à prática de lutas e esportes de combate nos dias atuais.

• Analisar e descrever os termos Bugei, Bujutsu e Budo8 para uma melhor

compreensão da significância referente às Artes Marciais e sua função

educativa.

• Analisar e compreender as Antigas tradições marcias e conceitos filosóficos que

levam a um melhor entendimento das mesmas, no que tange a Educação.

1.4 – Metodologia

Por muito tempo o modelo de investigação científica foi o modelo positivista,

muito particular das ciências naturais e exatas. Este modelo se preocupa basicamente

em quantificar, fracionar e controlar as variáveis estudadas com o fim de buscar um

conhecimento universalmente válido e transferível no espaço e no tempo, também

procura ser objetivo e fidedigno dentro de um ideal de ciência.

Os fenômenos sociais, por seu caráter subjetivo e complexo, não conseguiram

seguir à risca muito dos valores pregados pelo modelo positivista, fazendo surgir a

necessidade de uma metodologia que respeitasse a sua natureza. A partir desta

realidade, a pesquisa qualitativa aparece como uma nova alternativa para os estudos

8 Atualmente entende-se como Budo, “o caminho de fazer parar a guerra e as armas.”

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dentro das ciências humanas e sociais. Pela presente pesquisa se enquadrar nas ciências

sociais, mais precisamente em educação, foi utilizada para sua realização uma

abordagem qualitativa. Esta abordagem tem como finalidade de investigação, buscar a

compreensão dos fenômenos e a formação dos que participam neles para que sua

atuação seja mais reflexiva, rica e eficaz.

Na pesquisa qualitativa se busca compreender os significados, pois os

fenômenos sociais e educativos existem, sobretudo na cultura dos grupos e nos hábitos

das pessoas que interagem neste grupo. Para atingir a compreensão de tais significados

deve-se ao menos entender os valores e as idéias dos que nele participam. Assim,

acreditou-se que a abordagem qualitativa era coerente, pois vinha ao encontro do

contexto da pesquisa, das questões levantadas e dos objetivos que se pretendia alcançar.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica na menção de

Barros e Lehfeld (2004, p. 51), “[...] é de grande valia e eficácia ao pesquisador porque

ele permite obter conhecimentos já catalogados em bibliotecas, editoras, internet, e

outros”. Através da pesquisa bibliográfica procura-se adquirir conhecimentos sobre um

objeto de pesquisa a partir da busca de informações advindas das fontes acima citadas.

Na pesquisa bibliográfica estivemos atentos basicamente em autores tais como:

Hatsumi Masaaki: PhD, médico, escritor, ator e artista. Dr. Masaaki Hatsumi

é mundialmente conhecido como soke9 em Budo Tai jutsu e fundador da Bujinkan

Dojō10. Atualmente, o Budo Tai Jutsu é praticado mundialmente, sendo umas das cinco

Artes Marciais mais praticadas no mundo. Dr. Hatsumi graduou-se na Universidade de

Meiji, em Tóquio, como Hone Tsugui (Médico Ortopedista), sendo um dos mais

famosos do Japão. Além disso, é um praticante respeitado mundialmente de antigas

artes marciais Japonesas e de técnicas medicinais japonesas denominadas Seikotsu

(formas naturais de cura). Além das artes marciais, sensei11 Hatsumi pinta quadros no

estilo Nihonga12. Suas obras estão em exposição na Galeria Nagai em Tóquio e em

Paris. Dr. Hatsumi também é escritor, tendo escrito dezenas de livros sobre cultura

marcial japonesa, filosofia, artigos sobre artes marciais que foram traduzidos para várias

línguas. Semanalmente ele escreve uma coluna para o jornal local do distrito de Chiba e

regularmente contribui para a revista de artes marciais Hiden. Tanto no Brasil como no

9 Herdeiro. 10 Associação do Divino Guerreiro. 11 Professor, aquele que veio primeiro. 12 Estilo milenar japonês que utiliza materiais extraídos da natureza, composto de vegetal e animal. O estilo Nihonga se desenvolveu como um resultado da introdução da estética ocidental no Japão na segunda metade do século XIX.

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21

mundo, ele é famoso por ter sido diretor, ator e escritor da série Jiraya. Ele também

dirigiu notáveis atores japoneses como Sonny Chiba e Toshiro Mifune em diversos

filmes. Pelos seus esforços em divulgar as antigas artes marciais japonesas Dr. Hatsumi

é atualmente reconhecido mundialmente por muitos governos, instituições privadas e

indivíduos distintos, sendo inclusive intitulado patrimônio cultural vivo pelo Imperador

do Japão. Dr. Hatsumi detêm muitos títulos e prêmios, como o título de Todo Hanshi

(mestre supremo do caminho da espada), título outorgado por Nakazawa Toshi,

presidente da Zen Todo Renmei (Federação Japonesa da Espada), detêm o título de

Cavaleiro na Alemanha, além de reconhecimento pela Federação de Cultura e História

da Alemanha, recebeu a Medalha do Sol do Rei Juan Carlos da Espanha, membro

especial honorário da Manchester University Institute of Bone Medicine, título cedido

uma vez ao ano para uma única pessoa, detêm também vários títulos de PhD, entre eles,

PhD em Ciências e em Filosofia pela Euro Technical Research University, prêmio por

contribuições culturais e educacionais cedido pela cidade de Noda, além de

reconhecimentos e agradecimentos de agências e pessoas ilustres como a NSA, FBI,

Pentágono, SAS de Londres, cartas de agradecimento do Presidente Bill Clinton,

Mitterand da França, primeiro ministro da Alemanha, Rei Juan Carlos da Espanha,

assim como também é cidadão honorário de diversas localidades que vão desde Los

Angeles até Dublin passando pelo Vale do Jordão. É o primeiro Budoka13 da história a

receber uma condecoração do Vaticano. Dr. Hatsumi recebeu recentemente o “World

Cultural Grand Prize”, que é a maior honra dada pelo Governo Japonês por intercâmbio

cultural. O prêmio foi dado ao Dr. Hatsumi por um membro da Casa Imperial Japonesa,

sendo este prêmio uma grande honra, cedido graças ao esforço de Hatsumi sensei em

divulgar as artes tradicionais filosóficas japonesas ao mundo, assim pregar os preciosos

ensinamentos destas e contribuir para um intercâmbio cultural muito rico.

Kacem Zoughari é estudioso da história e da cultura japonesa, é um dos

maiores especialistas em Artes Marciais antigas no Ocidente. É PhD em estudos

japoneses pelo renomado Instituto Nacional de Língua e Civilização Orientais

(INALCO), da França, recebeu o prêmio de melhor pesquisa da Fundação Toshiba, ao

estudar as artes marciais japonesas. Além de ministrar aulas em universidades

japonesas, americanas e européias, Zoughari viaja o mundo para esclarecer as tradições

marciais nipônicas por meio de palestras e conferências. Também dá treinamentos a

13 Praticantes de Artes Marciais

Page 22: Fabricio

22

grupos de policiais de elite de diversos países. Nos Estados Unidos, recebeu a medalha

da Marine Corps, divisão do exército norte-americano.

Christopher Bates. Há mais de vinte e cinco anos Christopher Bates tem se

interessado pela Ásia, principalmente pelas Artes Marciais. Treina Artes Marciais

chinesas há mais de trinta anos, incluindo Shaolin do Norte, hsing-i e Tai Chi. Ele

também está familiarizado com várias artes marciais japonesas tradicionais, e é perito

no uso de Kukri, antiga faca usadas pelos Gurkhas do Nepal. Desde que se formou em

estudos asiáticos e administração internacional, Bates passou mais de vinte e cinco anos

viajando pela Ásia, inclusive residiu em Cingapura e Taiwan. Atualmente mora em

Cingapura com a esposa Taiwanesa e os três filhos. Autor de artigos sobre artes e lutas

Birmanesas, Bates é fluente em mandarim e traduziu vários contos e livros para o

inglês. Agora, está preparando seu novo livro, que é dedicado a Educação e filosofia no

treinamento marcial para crianças.

William M. Bodiford: Professor do Departamento de Idiomas asiáticos

Orientais e Culturas na Universidade de Califórnia, Los Angeles (UCLA). Ele é o autor

do livro Soto Zen in Medieval Japan (1994) como também do livro “Religion and

Spiritual Development: Japan" e "Written Texts: Japan in Martial Arts of the World:

An Encyclopedia”. Como praticante de Arte Marcial, Bodiford obteve a licença para

ensinar a antiga escola Kashima-Shinryu.

Stephen M. Fabian : Antropólogo sociocultural, Fabian fez o doutorado pela

Universidade de Illinois em 1987. Antes de ir para o Japão, ele e sua esposa viveram

entre os índios Bororo aqui no Brasil, logo após esta experiência, viajou e trabalhou em

várias outras áreas da América Latina. Fluente em português e espanhol, tem várias

publicações, incluindo um livro, e espera escrever mais, especialmente em relevância as

Artes Marciais.

Romulus Hillsborough: Californiano nativo, morou no Japão durante mais de

quinze anos. Fluente em japonês falado e escrito, ele trabalhou na edição de uma revista

semanal japonesa em Tóquio e como correspondente norte-americano para a imprensa

japonesa. Ele passou sete anos pesquisando e escrevendo o seu primeiro livro, Ryoma:

Life of a Renaissance Samurai (Ridgeback Press, 1999), o único romance biográfico

sobre Sakamoto Ryoma em inglês. O segundo livro de Hillsborough, Samurai Sketches:

Page 23: Fabricio

23

From the Bloody Final Years of the Shogun, publicado em 2001, seu último trabalho

foi Shinsengumi: Shogun's Last Samurai Corps (2005). Hillsborough atualmente vive

em São Francisco.

A educação e a formação são cruciais para o desenvolvimento do indivíduo na

prática das Artes Marciais. A melhoria dos conhecimentos e das competências são

fatores de desenvolvimento pessoal, social, sensibilidade cultural e civismo. Uma

educação de elevada qualidade e acessível é essencial a todos os cidadãos –

empresários, trabalhadores, professores, etc., ou seja, a todos os que contribuem para o

desenvolvimento da sociedade como um todo. A proposta de pesquisar as antigas

tradições marciais veio através de um desejo onde a verdade era a principal busca. Foi

uma pesquisa especial que reuniu as vertentes da educação, da investigação, da

inovação e principalmente da audácia. As ações culturais realizadas à escala desta

pesquisa foram indispensáveis para promover os valores corretos comuns do que são

realmente Artes Marciais e o sentimento de busca através de uma identidade como

praticante da mesma, onde com isso servem de base a uma identidade plural em

evolução. Em concreto, houve uma busca por melhorar a compreensão das diferentes

culturas agregadas a esta busca e em alargar o reconhecimento de um conhecimento

comum, no pleno respeito da diversidade cultural. A partir de outubro de 1999, a

designação deste pelouro passou a conter uma menção explícita à busca pelo concreto

conhecimento em vertente as antigas tradições marciais. A educação concede cada vez

maior atenção aos jovens e praticantes em geral. Muitos conhecimentos errôneos e mal

transmitidos têm um impacto gigantesco na evolução histórica de determinadas artes no

país que não é seu berço, e que correspondem a um desígnio muito profundo de futura

“ignorância”. O objetivo durante as viagens foi de assegurar que os conceitos concretos

e sinceros fossem resgatados e transmitidos, visto a necessidade pelo desconhecimento

histórico-educacional da maioria dos praticantes. As competências abrangem

igualmente o desporto, a educação e as relações com a sociedade. Existe um tema

recorrente em todos estes domínios: as artes e sistemas de lutas que ensejam o título de

Artes Marciais. A construção de um enquadramento favorável aos praticantes esteve no

centro de toda a pesquisa. Acredita-se que o desporto constitui uma ferramenta

educativa extremamente valiosa para a promoção de valores como a tolerância e o

espírito de equipe, mas sabe-se que uma prática voltada para a disciplina é uma forma

de libertação do ser humano, e isto encontramos na essência das Artes Marciais antigas,

onde o maior objetivo é vencer a si próprio e não aos outros. São raros os vencedores

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em um desporto, em ocasiões maiorais, os dois saem como fracassados. Por este

motivo, vemos o desporto na contra-mão da verdadeira essência das Artes Marciais, é

uma agressão com as mesmas:

Artes Marciais desportivas? Arte Marcial é um âmago que não pertence ao esporte e muito menos ao desporto. Uma essência milenar não pode ser desrespeitada e muito menos diminuída pelo desconhecimento histórico de alguns que se dizem mestres. E o que falar de praticantes sem o devido conhecimento no que fazem ou buscam fazer? (MATSURADA, 2003, p. 129).

A decisão final de seguir com a pesquisa, deu-se com a oportunidade de conhecer o Dr.

Hatsumi Masaaki na cidade de Noda – Japão, onde o mesmo é considerado lenda viva e

tesouro nacional do Japão, uma pessoa como poucas que além de sua espiritualidade

que impregna, possui um vasto conhecimento referente à estrutura, forma de ensino e

transmissão das antigas tradições Marciais, onde é possuir de um grandioso acervo de

pergaminhos, pinturas e livros, alguns com mais de novecentos anos. Pela primeira vez,

sentiu-se a sensação de estar presente no passado, e graças à bondade deste senhor que

com paciência e resignação, doou seu valioso tempo por nos receber durante as viagens

a seu país, e sempre por mais de sessenta dias, onde em seus olhos, via-se que ele queria

fechar enormes buracos de dúvidas e falta de conhecimento vivente que possuíamos.

Ao iniciar a conduta da pesquisa, incluiu-se o que chamamos de

“multilingüísmo” no que tange a forma e esforço compenetrado a busca por respostas

sinceras, e os achados durante esta andança aumentava a importância que a nova busca

concedia. A busca continuou pelo continente Europeu, França, Inglaterra e Espanha e

vai-se até os dias atuais. Na França, professores e Drs. do Instituto Nacional de Línguas

e Civilizações Orientais (INALCO) foram os caminhos das pedras, onde através de

pesquisas em documentos originais acessados pelos mesmos foi muito satisfatório.

Desde 2002, com novas respostas a integração entre praticantes japoneses, europeus e

brasileiros deu-se uma forma avassaladora de busca pelo conhecimento, em congressos

realizados no Brasil (Blumenau/SC). Estamos convictos de que o multilingüísmo é um

valor perene da união entre praticantes. Na qualidade de pesquisadores, esperamos dar

novo impulso à busca de conhecimento, contribuindo com a experiência e as idéias de

um cidadão com o coração de uma criança, onde a busca pelo saber faz-se de uma

forma natural e bela.

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25

1.5 – Sistematização da Monografia

Este trabalho encontra-se dividido em quatro partes: no primeiro capítulo –

introdução – é apresentado o tema, sua problematização e sua justificativa. Nesta parte

apresenta-se a questão principal de pesquisa juntamente como os objetivos a serem

alcançados. Na apresentação da metodologia – ainda nesta primeira parte – se procura

deixar clara a abordagem e os métodos da pesquisa, se fala também dos sujeitos

envolvidos na mesma, além dos instrumentos para a coleta de dados.

No capítulo II apresenta-se uma contextualização referente à ocidentalização

das Artes Marciais e o resultado educacional no ensino ao praticante. Serão discutidos

alguns conceitos, também se contextualiza filosófica e historicamente as diferenciações

entre o que é artes marciais e esportes baseados nas mesmas. O conceito errôneo que

tem-se referente ao que é arte marcial, observa-se como uma forma oculta de

transmissão e fundamentação por parte de mestres que visam somente a evolução

prática dentro das mesmas.

No capítulo III é feita a fundamentação teórica. Esta apresenta algumas

análises e reflexões sobre as relações históricas, sobretudo na evolução das antigas

tradições marciais, principalmente o Ninjutsu14, perante o contexto educacional até o

atual herdeiro e divulgador dos antigos ensinamentos. Ao final deste capítulo,

apresenta-se, de forma sucinta, características gerais de antigos ryu15 .

No capítulo IV discute-se as possíveis causas e reconstrução para trilhar um

caminho correto onde o mesmo poderá torna-se a senda educacional das Artes Marciais

antigas nos dias atuais. Mais adiante, no mesmo capítulo, são apresentados os benefícios

para a educação nas escolas através da prática correta juntamente com o ensinamento

austero da filosofia educacional das antigas tradições. São discutidas algumas

possibilidades a partir de novas interpretações que visam (re)pensar o real ensinamento

das antigas artes marciais japonesas, sem máscaras ou suposições.

Por fim, nas considerações finais apresenta-se algumas apreciações e

considerações sobre o todo da pesquisa. Nesta parte, sintetiza-se algumas conclusões

parciais além, de algumas indagações que ainda farão parte de estudos posteriores até

porque este trabalho não se propõe a apresentar conclusões de caráter generalizador.

14 Arte da perseverança, da resistência, do oculto 15 Escola

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26

CAPÍTULO II

A OCIDENTALIZAÇÃO DAS ARTES MARCIAIS

Em todos os países que visitamos, sempre, encontramos o mesmo problema: a

maioria dos praticantes de artes de combate, artes marciais, sistemas de lutas ou

esportes de combate, não conhecem a arte praticam. Eles são controlados como

marionetes, pelos tão chamados mestres. As tradições marciais antigas, assim como a

maioria das artes que enfatizam o treinamento na arte da guerra foi criada para ter uma

escolha crucial entre a vida e a morte. Para encontrar uma forma dentro do caos da

guerra ou hoje nos problemas da sociedade, conhecendo o perigo para evitá-lo e

controlá-lo, para viver livremente em paz e observar o que as pessoas fazem… isto é o

que realmente traz a prática nas artes tradicionais clássicas em geral. É incrível como

encontramos praticantes usando frases do tipo “meu Shihan (師範)16 disse para mim…”,

ou “de acordo com o meu shihan…”, “de acordo com meu mestre...”, para dar “peso” à

suas palavras e explicações confusas. O real mestre ou shihan tem que ajudar o aluno a

se tornar livre e não seu escravo. Mas hoje em dia, quem realmente entende o coração

sincero no mundo do desporto e nas artes marciais? Quem realmente quer abrir os seus

olhos do coração para ver como são as reais artes?

É muito difícil pois para isto, requer uma capacidade de questionar a nós

mesmos interiormente, como, por que eu faço isto? Por que eu sigo isto? Eu estou

errado? A real arte é para ser sincera com nós mesmos, e não para seguir cegamente

alguém ou um tal chamado shihan. Quem realmente quer praticar uma arte marcial,

onde não há dinheiro, graduação, fama? O resultado desta prática é somente um coração

puro… e é onde procuramos a verdadeira arte.

2.1. Artes Marciais: O real significado

Quando alguém pergunta a um instrutor de lutas no Japão ou para um japonês

comum o que é arte marcial, fica-se surpreso pela reação dos mesmos. Para aqueles

que afirmam ter conhecimento das técnicas japonesas de combate, budō, eles

16 É um título japonês. A palavra pode significar mestre (professor) ou modelo. Cada arte ou organização tem requerimentos diferentes para o uso deste título, mas em geral é uma graduação muito alta, que leva décadas para ser atingida. É às vezes associado a certos direitos, como por exemplo: o de outorgar graduações dan ( níveis de faixa preta) em nome da organização. Aquele digno de ser copiado.

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27

parecem descrever algo que vai além de seu próprio conhecimento. Normalmente

enfatizam que as artes marciais são todas as formas de lutas e combate que podemos

encontrar, com regras ou sem regras. Infelizmente, eles acham-se um cientista, um

sábio, e que a resposta exata seria nada mais nada menos do que judô, karate-dō,

aikidō, kendō, jiu jitsu, jô-dō, etc. De fato, poderia-se acreditar que essas disciplinas

são artes marciais... mas, isto está longe de ser verdadeiro. Atualmente, e sempre foi

assim, as artes marciais não caracterizam-se a nenhum esporte conhecido ou

categoria desportiva, porque sua evolução sempre permaneceu na maior integridade

perante a margem de uma pessoa em constante desenvolvimento. Porém, antes de

aproximar a pergunta do que é realmente Artes Marciais, é necessário para nós,

primeiramente, definir a prática real de combate ou artes marciais do Japão. É difícil

de compreender completamente o que é arte marcial, sem ter um conhecimento

preliminar claro e firme das bases históricas das técnicas reais de combate, das quais

deram origem aos esportes baseados nas artes marciais, onde o cerne principal deste

processo deu-se no período Meiji.

2.2. O Período Meiji

O Período Meiji (明治時代, Meiji-jidai) ou Era Meiji constitui-se no período de

quarenta e cinco anos do reinado do Imperador Meiji do Japão, que se estendeu de 1968

a 1912. Nessa fase, o Japão conheceu uma acelerada modernização, vindo a constituir-

se em uma potência mundial.Por volta de 1853 ao final do Período Edo (1603-1868), o

Japão era um país feudal, economicamente atrasado, e que permanecia isolado em

termos de Relações Internacionais. Em 1853, os EUA invadiram a baía de Uraga e

forçaram o Japão a abrir-se ao comércio internacional. A partir de então iniciou um

período de turbulência que perdurou até à chamada Restauração Meiji. Em 03 de

fevereiro de 1867, Mushito, então com quinze anos de idade, sucedeu ao seu pai, o

Imperador Komei, e uma nova era de Meiji (regime iluminado) foi proclamada. A

restauração Meiji, que teve lugar em 1868, terminou com o sistema feudal de duzentos e

cinqüenta e seis anos dos xogunatos Tokugawa O último xogum, Tokugawa Yoshinobu,

renunciou em 1867 e, em 1868, o império foi restaurado. Os exércitos dos feudos de

Satsuma, Choshu e Tosa, que agora compunham as forças imperiais, dominaram os

seguidores dos Tokugawa e, pouco depois, asseguraram a restauração Meiji. O governo

Meiji assegurou às potências internacionais que iría seguir os antigos tratados

negociados pelo bakufu ("governo da tenda", o grande quartel general do governo

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28

militar do xogum) e anunciou que iria agir de acordo com a lei internacional. Mutsuhito

selecionou o novo título para seu regime (Meiji), para marcar o início de uma nova era

da historia do Japão. No Período Meiji, iniciou-se o processo que acarretou com o

declínio das artes marciais, onde começou a urgir um novo processo educacional. A

partir disto, deu-se lugar as disciplinas baseadas nas extintas tradições marciais.

O propósito deste passo é evitar a falsa combinação, muito importuna, entre

esportes contemporâneos de combate e artes marciais. Para termos um entendimento

correto referente a artes marciais, os termos bujutsu, bugei e budo terão que ser muito

bem entendidos. Esses termos transportam a história dos ensinamentos da classe do

guerreiro japonês. Levaria volumes de páginas e excessiva quantidade de tempo para

explicar a história desses três termos, no entanto, nós nos restringiremos com o

essencial.

2.3. Bugei e Bujutsu

De acordo com uma obra intitulada Suikoden (水 滸 伝: Na Margem da Água),

escrito no começo da dinastia Ming (segunda metade do século XV), o termo bugei

(literalmente: “gei: 芸” artes, perícia, destreza; “bu : 武” guerra, marcial, luta) faz

referência ao uso das armas, tal como o arco, a espada, a lança, a alabarda, o machado,

etc... e o bujutsu (literalmente: “jutsu :術” técnicas; “bu : 武” da guerra) caracterizando-

se por “todas as técnicas necessárias para a luta”. Pode-se incluir a isto, todas

habilidades das quais aprende –se com o corpo, como por exemplo, natação e equitação.

No Japão, é com a dominação do poder pelas classes dos samurais no período

Kamakura (1192-1333) que as práticas de combate começaram a ser classificadas. De

fato, a prática de artes marciais como um treinamento de combate real, incluía todas as

técnicas de combate chamadas de bugei jûhappan (武芸十八般 - as 18 disciplinas de

combate), reunindo todo o repertório ativo e vasto do combate com a espada, corpo à

corpo, equitação, lança, e assim por diante. Categorizar essas habilidades é a fundação

do bujutsu, da qual fez possível para as famílias dos guerreiros serem hábil a proteger-se

um ao outro. Cada família de samurai desenvolveu essas alternativas e inovações

técnicas e, a partir desses experimentos que começaram no campo de batalha, as escolas

de combate, ryû-ha foram criadas, estabelecidas.

O bujutsu era uma prática solitária, e sua transmissão restringia-se aos membros

de elite da classe guerreira. As escolas foram de longe numerosas e não tinham lugares

para praticar, dojo ou qualquer localização pública. O conhecimento técnico permanecia

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29

somente com o fundador, ou mestre, não sendo difundido em larga escala. Quando

demonstrava sua sabedoria, era sempre para os mais poderosos comandantes militares

da época. A principal razão das técnicas particulares de um determinado estilo não

serem normalmente distribuída nem compartilhada com a população em geral, mas até

certo ponto somente para as classes da elite, foi com a intenção de preservar-se durante

um conflito com outros guerreiros. O conhecimento especial por trás de qualquer escola

particular ou ryu sobrevive exclusivamente nas mãos do mestre corrente ou fundador do

estilo. Nós vemos que a distribuição dos estilos particulares do bujutsu ryû-ha por todo

país começou quando os mestres começaram a viajar durante o Japão para testá-los

contra outros. Foi uma forma de evolução e verificação na qual os praticantes aplicaram

seus conhecimentos contras outros para ver a validade do estilo, e para provar seu

entendimento através da expressão física.

O Bujutsu requer, e tem sempre requerido, uma profunda e sincera devoção de

nós mesmos. Durante este período, as conseqüências do falso ensinamento não

necessariamente significaram a morte dos praticantes. Até certo ponto o mestre

introduziu com vigor, mas gradualmente, os maiores princípios da escola ôgi (奥義) ou

gokui (極意), ao discípulo. O treinamento era muito difícil, porque não existiam

métodos específicos unificados para transmitir o conhecimento, não havia uma forma

específica ou pedagógica para ensinar. Era necessário que o discípulo desenvolvesse

uma acuidade particular em função de “roubar” a técnica do mestre, olhando a

movimentação, ação e formas de execução, até que o “ladrão” pudesse imitar o que era

observado para chegar à perfeição. O Bujutsu inclui o uso e domínio de várias armas e

técnicas. Essas técnicas foram desenvolvidas devido a imprevisível natureza no período

histórico aonde existiram constantes guerras e combates pessoais no Japão. De fato, o

bujutsu constitui uma variedade de técnicas marciais que endereçam confrontações com

ou sem armadura, chamada gekitô (撃刀) kumitachi (組太刀), tachi uchi (太刀打ち) ou

yoroi kumiuchi (鎧組討ち). Era uma prática extremamente comum no Japão pela qual

os discípulos do bujutsu encaminhavam-se para a reprodução das técnicas de combate

resultando na experimentação de seus mestres particulares. Estas técnicas eram

relativamente simples, mas poderosas, porque a maioria dos combates eram feitos

enquanto se vestia a armadura. Os mestres de bujutsu deste período, além de todos os

membros de classe guerreira, o usaram enquanto empreendiam uma pesquisa pessoal

nas mais eficazes técnicas das quais eram baseadas nas experiências vividas através do

combate.

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A forma de transmissão da base do conhecimento da escola de bujutsu era

atestada por três documentos dados para o discípulo. Eles eram: kiri-gami (切紙: carta

atestando o primeiro nível prático), inka (印可 : certificado de completa licença),

mokuroku (目録 : índice contendo os nomes e descrições das técnicas da escola) ou e-

mokuroku (絵目録 : tudo descrito previamente mas incluindo pinturas técnicas). Os

conteúdos destes documentos escritos pelo mestre representavam as transmissões

técnicas, e pensamentos da escola desde a criação, e as diretivas a serem seguidas assim

como a técnica léxica. O Bujutsu foi uma evolução lógica da prática primitiva que os

prevíeis guerreiros do período Kamakura desenvolveram para eles mesmos. As técnicas

de combate usadas anteriormente, durante e depois do período Héian (782-1190), foram

à expressão direta de um impulso destrutivo. Em inúmeros casos e escolas estudadas,

percebeu-se que a prática do bujutsu passou de mão em mão com a pesquisa espiritual.

Neste caso, foi permitindo encontrar o último nível técnico da arte. A maioria das

escolas foram todas criadas depois de um tipo de sonho ou visão onde o futuro fundador

recebe uma iniciação técnica e espiritual.

Pode ser concluído que o bujutsu é toda a abrangência técnica de combate, do

qual inclui um grande número de habilidades corporais focadas primeiramente na arte

da guerra, e onde espiritualmente deteve um lugar único. A quantidade de

espiritualidade variava de acordo com o grau de habilidade e fé do praticante.

Aprofundando-se mais no estudo das artes marciais, tem-se a necessidade para poder

entender as intenções dos adversários potenciais que em toda a probabilidade estudaram

com o mesmo zelo. Não é surpreendente que viver neste fio da navalha com a morte

abra para si mesmo a importância do espiritual. Isto era tão prevalecente nas várias

escolas de bujutsu que não pode ser deixado de lado.

2.4. Budo

Budo (literalmente: “do: 道” o caminho “bu: 武” da guerra) fica difícil explicar,

porque a direção deste termo é muito ambígua, até mesmo para os japoneses e artistas

marciais. O termo é relativamente recente, tendo sido formado no começo do período

Meiji (1868-1912) num clima dominado pela necessidade de defesa do estado ameaçado

japonês. Budo, no período Meiji, extrai os conceitos de treinamento dos guerreiros do

bujutsu no período Edo (1603-1867). De fato, durante o período Edo, o shôgun da

Família Tokugawa estabeleceu e estabilizou seus controles por todo o Japão. Eles

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31

impuseram um governo central e forte, assegurando um longo período de paz

permanecendo até a reabertura do país para os poderes estrangeiros do século XIX.

Durante este longo período de paz, os guerreiros gradualmente tiveram de se

acostumar com a época e procurar outras direções para colocar em prática e aperfeiçoar

suas técnicas de combate. Esta também foi uma profunda mudança no modo iniciatório

de transmitir o conhecimento técnico e, dessa forma, a maneira de ensinar. Realmente, a

prática, da qual até agora foi transmitida somente para uma classe de elite, abriu

caminho para o ensinamento das massas. Esta abertura para o ensinamento das artes

marciais para todas as classes sociais foi feito através do estabelecimento de escolas

formais, demonstrações públicas e a formação de seguidores e discípulos. Um paralelo a

ser nota é que com a proliferação de novas escolas, o delinear da transmissão de

documentos se tornou progressivamente sofisticado, das quais pesquisas mostram a

ajuda de movimentos de escolas para com a especialização.

A pesquisa do dō, o caminho, o conceito do “dō” desenvolve um pouco a

associação com o sentimento profundo da responsabilidade para com cada senhor do

guerreiro. O guerreiro, que aceitava este conceito de “dō”, portanto tinha que procurar

como avançar no bujutsu sem realmente matar o adversário, contrariamente com a

ideologia do bujutsu, do qual consiste em matar. As técnicas marciais se tornaram, por

isso, progressivamente sofisticada e coexiste com a espiritualidade. As artes do budo se

tornam menos e menos fatais. Sutilmente, as técnicas do budo foram desenvolvidas

começando da liberdade do movimento da qual a época de vestir oferecia; o estilo de se

vestir mudou a aplicação técnica do budo. Dessa forma, pouco a pouco, certas

disciplinas do bujutsu (kenjutsu, bôjutsu, jôjutsu, etc.) alcançaram todo o alto grau do

refinamento, mas sem as conseqüências mortais, ou seja, as artes voltadas para a guerra

estariam desaparecendo.

A prática destas disciplinas através do conceito do budo intencionam para o

treinamento físico e psicológico, dois aspectos das práticas dos quais ficam

inseparáveis.

2.5. Budo Moderno

Hoje, no Japão, o significado da palavra budo tem se tornado mais e mais vaga,

ao mesmo tempo as disciplinas que declaram ter uma parte, por exemplo, o iai-dô,

battô-dô, jôdô, tai-dô etc, têm multiplicado. Os seguidores do budo moderno se

justificam na asserção que as diferenças com o “esporte de combate” e a educação física

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32

eram manchadas porque todas as práticas de artes marciais tinham sido confinadas pelo

General Douglas MacArthur e pelo Comando Superior do Poder Aliado (SCAP),

durante a ocupação do Japão, autorizando-se somente atividades não consideradas

“militaristas” ou “marcial”. Interessantemente, no Japão, como no resto do mundo, as

filosofias das artes marciais parecem ter uma forma de budo. Muitas destes esforços,

pós – Meiji, reinvidicam a autenticidade de uma tradição do budo, mas eles aparecem

incompletos pois tentam compensar suas lacunas do espírito do bujutsu que o budo

redigiu. Alguns podem encontrar escolas que insistem na austeridade, violência e até

mesmo em atitudes sangrentas. Os esforços, até mesmo sofrimento físico, são evidentes

em suas práticas. De fato, eles frequentemente tem orgulho da quantia de dor e

sofrimento que eles tem que tolerar. Outras escolas exigem uma aproximação espiritual

e até mesmo mística para o combate, com uma atitude de passar pela agressividade, e

são críticas com as escolas mais rigorosas como seres primitivos e indignos da tradição

do budo. Entre estes modernos, a pobre sombra do budo, são as filosofias vacilantes que

misturam no dialeto do “esporte”, colorindo com vários “esclarecimentos” pregando o

bem estar e a saúde. Algumas dessas escolas ensinavam a aproximação para a

competição, focando somente na demonstração do torneio, estilo e “flash”, enquanto

outras, pesquisam a efetividade de seus estilos se tornando superior, pregando o

“espírito do budo” ou “a vontade do espírito do samurai” combinada com um

espartano e perigoso regime físico como eles lutam para entender a não mencionada,

não documentada intenção de seus fundadores.

Nas análises finais, qual benefício vem desta aproximação? Uma dor destruiu o

aluno, com um corpo quebrado pelos efeitos posteriores de uma pratica de regime muito

severo para a época, não conquista uma forma de esclarecimento espiritual já que o seu

corpo está sempre danificado. Ninguém precisa construir calos nas articulações de seus

dedos no mundo de hoje, mas você encontrará praticantes, ainda jovens nos seus trinta

anos, destruídos pelas artrites e vivendo com danos físicos permanentes por causa de

alguns, assim chamados, de “mestre das artes marciais” que pensa que quebrando

camadas de gelo com uma das mãos ou quebrando bastões de basebol com suas tíbias é

um fundador de uma habilidade marcial.

Então existe a compulsão de correr atrás das medalhas e da honra recebida por

uma variedade de campeonatos e esporte de competição. Muitas escolas espremem isto

como uma validação de suas artes, porque suas escolas têm a maioria dos vencedores

por um período de tempo. Este enfoque, que, pouco a pouco, reforça os alunos a

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33

acreditar que suas rotinas rápidas de formas pré-estabelecidas, “kata”, os fazem um

“Power Ranger” da vida-real com um ego do tamanho do Fuji-yama.

Em todas essas idas e vindas da prática marcial e história, bem no centro disto

exige um começo na prática humilde. Talvez nossa tendência ocidental, tão

prevalecente nas artes marciais hoje, tenha simplesmente perdido a importância do

prazer e do bem-estar individual.

Um Santo uma vez disse: “...existem tantos caminhos (para a salvação) como

peregrinos” . Cada escola filosófica nas artes de combate, tem que encontrar o que é

mais apropriado e realizante, mas sem esquecer de manter “aberto os olhos do coração”

em função de evitar todos os desvios, até mesmo se o caminho não é tão certo como ele

possa parecer. E, através deste ensejo histórico conclui-se algo de extrema importância:

As práticas referentes a lutas, sistemas de luta, artes de defesa, artes de combates

entre outras, que vivenciamos nos dias atuais (Judô, Jiu Jitsu, Karate, Aikido, Kendo,

etc), referem-se a esportes e desportos BASEADOS em Artes Marciais antigas, não

sendo considerados como tal, pois as artes marciais possuem em seu treinamento

características voltadas para a estratégia, espionagem, lutas com diversas armas,

defesa, ataque, ou seja: seu treinamento com ênfase no combate real, para o campo

de batalha, para a Guerra. (grifo nosso). Mas, ainda podemos perguntar: Existem

artes marciais nos dias atuais? Sim, existem... e são nove as tradições antigas: Togakure

ryu Ninjutsu; Gyokko ryu Kosshijutsu; Kukishinden ryu Happo Biken jutsu; Shinden

Fudo ryu Dakentaijutsu; Gyokushin ryu Ninjutsu; Koto ryu Koppojutsu; Takagi

Yoshin ryu Jutai Jutsu; Gikan ryu Koppo jutsu e Kumogakure ryu Ninjutsu. Estas

Antigas Artes Marciais são praticadas de uma forma tradicional onde o objetivo não e é

vencer ao outro e sim a si próprio. As batalhas sangrentas e épocas de guerras

terminaram, o legado das antigas tradições marciais trouxe para os dias atuais um só

objetivo: o de conhecermos a fundo nossas limitações e superá-las, onde o praticante

pode até estar preparado para atuar em uma guerra, a matar, mas tem um constante

aperfeiçoamento filosófico e educacional que os antigos mestres nos deixaram sendo

isso a lição mais penetrante que temos que aceitar.

No próximo capítulo, segue um pouco da história, sobretudo para a evolução das

tradições marciais, entre elas o Ninjutsu (a mais conhecida nos dias atuais), perante o

contexto histórico-educacional, até o atual herdeiro e divulgador dos antigos

ensinamentos. “Matando nosso próprio ego, podemos nos banhar com a essência das

antigas tradições”. (HATSUMI, 2006, p. 89).

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34

CAPÍTULO III

O NASCIMENTO DAS ANTIGAS TRADIÇÕES

Bujinkan é o nome da organização responsável, filosófica e tecnicamente, pela

disseminação das antigas tradições marciais japonesas em todo o mundo, sendo sua sede

(Hombu Dojo) na cidade de Noda no Japão. O nome Bujinkan literalmente significa

Fundação do Deus Guerreiro. A Bujinkan é hoje a única organização oficialmente

reconhecida pelo Império Japonês como extensiva e disseminadora das Antigas Artes

Marciais Japonesas no mundo, não existindo outra. A unificação das antigas tradições

nos dias atuais, deu origem ao termo Budo Tai Jutsu. É importante lembrar que estas

antigas tradições de artes marciais foram criadas antes da restauração Meiji em 1868.

Umas das características primordiais destas escolas tradicionais, é que durante toda sua

existência, tem sido levado uma linha de transmissão direta ou sistema de ensinamentos

onde o Patriarca passava a ensinar o seu discípulo nos mínimos detalhes. A proposta

educacional na prática das antigas tradições, é de oferecer uma Arte Marcial flexível e

adaptável à realidade de cada praticamente, pois é um sistema de combate que se adapta

ao estudante de forma realmente eficiente numa situação eminente de confronto, pois

desenvolve os instintos naturais de autopreservação do mesmo, onde o principal

objetivo não é vencer o combate, mas vencer a si próprio e descobrir que todos nós não

temos tamanhos diferentes e sim o mesmo tamanho.

3.1. Um pouco de história

De acordo com a historiografia, as Artes Marciais têm sua origem entre os anos

4000 e 300C a.C. As tradições mitológicas remetem-nos, pôr sua vez, aos tempos ainda

mais remotos da lendária civilização atlante. Do ponto de vista místico, no entanto, não

existem divergências: As artes marciais são as artes do conflito permanente, e este só se

dá quando o homem alcança a consciência de si próprio. Desde os primórdios dos

tempos em que o homem primitivo buscava meios estratégicos para sobreviver, já

existia literalmente, uma antiga tradição marcial: O Ninjutsu. O Ninjutsu sempre foi

baseado em princípios de sobrevivência humana, assim, podemos dizer que, a arte dos

guerreiros das sombras, ou seja, o Ninjutsu vem a ser o estudo das vulnerabilidades

humanas e meios para se vencer tais problemas sem afetar a harmonia natural do

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Universo em que o shinobi 17 se encontrava. A estratégia operacional utilizada pelos

antigos shinobi, buscava manter a supremacia íntegra corporal na execução das missões

a que o guerreiro era designado, pois sua descoberta seria fatal na maioria das vezes,

tanto pela negligência do não cumprimento da missão quanto por suicídio, uma vez que,

o shinobi não aceitava a derrota, e o suicídio significava para ele a purificação do

espírito. Os shinobi na maioria das vezes executavam as missões a que era designado,

sozinho ou em pequenos grupos de no máximo seis guerreiros, pois grande parte de suas

missões centralizava-se na arte da espionagem, o campo mais importante na

movimentação de um Exército na Arte da Guerra, pois jamais haverá em todo o

Exército relações mais íntimas que as mantidas com espiões. Nenhuma outra relação

deverá ser mais liberalmente recompensada. Em nenhuma outra deverá haver mais

segredo. Os antigos shinobi não podiam ser empregados utilmente sem um certo grau de

sagacidade intuitiva. Antes de empregá-los, seus superiores deveriam ter a certeza de

sua integridade de caráter e do tamanho de sua experiência e habilidade. Um rosto

atrevido e uma disposição ladina, é mais perigoso que montanhas e rios, é preciso ser

gênio para penetrar em ambos, e os shinobi sem a menor sombra de dúvidas eram.

As origens combativas e marciais do Ninjutsu tiveram como matriarca a antiga

China, em especial o Templo de Shaolin. Em certa época em que existiam os monges

ortodoxos de Shaolin, existia também muito sofrimento entre o povo de médio e baixo

nível social, sendo unicamente responsável, o governo Chinês, o mesmo humilhava e

massacrava o povo injustamente de maneira cruel e impune; autos impostos e morte

sumária para o não pagamento dos impostos, e qualquer motivo que viesse a desabonar

os cofres públicos e a integridade do governo, contribuindo assim para o crescimento da

miséria e da fome. Toda via, vendo tal situação, os monges de Shaolin vieram a se

tornar guerreiros da noite, tanto que, seus trajes que antes eram de cores claras vieram a

se tornar de cores escuras, possibilitando o deslocamento dos mesmos durante a noite,

camuflando-se nas sombras da escuridão, onde exerciam atos de espionagem e

sabotagem, visando descobrir e erradicar os planos governamentais contra o povo, tal

acontecimento teve inicio durante a invasão Manchu, antes da caída da dinastia Ming e

o início da dinastia Chin. Tal evidência com relação à filosofia Shaolin e as cores dos

uniformes é marcada até hoje pelas escolas de Kung-Fú que adotam em sua maioria,

uniformes negros. No final os Manchus vieram a descobrir os atos que eram cometidos

17 Shinobi ( 忍のび ) - Guerreiro, onde o seu objetivo era lutar pela vida, pela sobrevivência, um guerreiro que persevera mediante as dificuldades. Também conhecido como ninja. Suas características diferem-se ao Samurai, que era uma casta guerreira voltada para servir.

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pelos monges de Shaolin e veio então a ocorrer a invasão e destruição dos Templos

Shaolin (norte e sul). Com isto muitos monges foram mortos, mas os que conseguiram

escapar, fugiram para outros países e levaram consigo seus conhecimentos marciais e

filosóficos. Muitos chegaram até o arquipélago japonês, e com medo de serem

descobertos e perseguidos pela doutrina religiosa que seguiam, fugiram para as

montanhas, mais propriamente na região de lga e Koga, onde o acesso era de difícil

descoberta e entrada. Nas montanhas japonesas, esta semente deu seus maiores frutos,

sendo uma sociedade guerreira religiosa, viviam para os estudos esotéricos e práticas

marciais, fortalecendo dia a dia suas fileiras combativas, pois com o decorrer dos anos,

os povoados ao redor ficaram sabendo da existência desta sociedade, contribuindo para

que novos adeptos viessem a surgir e estruturar ainda mais o início de uma poderosa

arte marcial de guerra que seria conhecida no futuro como Ninjutsu.

Porém o Japão antigo estava dividido em feudos que lutavam constantemente

entre si para obterem o domínio total das terras. A ditadura militar da época era

conhecida pelo nome de Shogunato, e com isto, a mesma articulava como queria tanto o

povo quanto os Daymios, ou seja, os Senhores Feudais. Tal influência governamental

do Shogunato, veio também a intervir na filosofia e modo de vida dos antigos Samurais,

cujo significado literal vem a ser, “servir e proteger”.

Os Samurais andavam livremente pelo povo, cultivando e levando o senso de

justiça como padrões de suas vidas, eles eram como policiais, porém a influência do

Shogunato fez com que os Samurais se voltassem contra o povo, a que deviam respeito

e devoção; tal influência negativa, resultou de maneira que começaram a exercer seus

poderes sociais de forma monstruosa e revoltante, onde muitas mortes foram cometidas

injustamente pelo simples fato do não cumprimento das leis do Shogunato.

Neste ponto de extrema violência e injustiça, veio a aparecer os monges

guerreiros das montanhas, conhecidos como Yamabushi, tais monges possuíam no

íntimo, um sentido diferente de justiça, cujo código de honra estava relacionado com a

liberdade por excelência do homem e da benevolência para com o Universo, este

sentido é conhecido no Ninjutsu como ninja no Kokoro, constituindo-se em um grande

perigo para o Império Shogunato, e para a classe Samurai, pois para eles, os monges

nada mais eram do que rebeldes sociais. O vocábulo Nin, utilizado no Ninjutsu, significa

justamente isto; resistência, paciência, força interior, oculto e sombras, o problema para

o Shogunato começou então neste ponto, a descoberta dos valores humanos pelo povo,

por intermédio dos Yamabushi. Porém, estes mesmos monges vieram a receber apoio de

muitos Daymios, que desejavam a unificação do Japão em uma só nação. Já nesta

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época, os Yamabushi possuíam grandes conhecimentos marciais, e, quando vieram a

trabalhar para os Daymios ficaram conhecidos como ninjas, pois exerciam atos de

espionagem, sabotagem e desmembramento das fileiras militares do Shogunato. Tal

soberania técnica operacional dos ninjas teve forte apoio dos conhecimentos guerreiros

dos Ronins e também dos Samurais, que por algum motivo vieram a subir as montanhas

onde viviam os Yamabushi e tornaram-se membros efetivos da causa, talvez pelo fato,

de verem que realmente o Japão necessitava de uma unificação pacifica para o

fortalecimento da nação, uma vez que, já começava a ocidentalização do arquipélago

japonês.

Desde o ano de 593 D.C. têm-se referências de linhas de espionagem ninja a

serviço do Príncipe Shotôku Taishi, que em muito contribuiu para a popularidade do

guerreiro Ninja como um ser humano capaz do impossível aos olhos humanos, porém,

tudo não passava de técnicas de ilusionismo operacional iniciada pelos ninja no governo

do Príncipe Shotôku Taishi, baseando-se unicamente nas lendas populares e crendices

religiosas, constituindo-se uma imagem de invulnerabilidade e soberania sobre humana.

Todavia o auge do Ninjutsu veio a ocorrer durante o período Heian, de 795 a 1185, onde

o Ninjutsu se estruturou como uma temível arte de guerra, onde não existia a palavra

“derrota”. Tudo em favor da unificação do Japão em uma grande e soberana nação.

Contudo, durante o período Kamakura, de 1192 a 1333, o Ninjutsu viveu sua idade de

ouro e de incontáveis vitórias em campo de batalha real, onde ainda se submetiam as

ditaduras militares de Shogun, todavia, muito mais enfraquecida em virtude da

capacidade estratégica que o antigo guerreiro ninja tinha de sabotar e desmembrar

gradativamente as fileiras militares da ditadura Shogunato. O poder do Ninjutsu veio a

molestar de forma desastrosa o General Oda Nobunaga, militar de grande prestigio, na

atividade plena no ano de 1562, vindo a se tornar Shogun em 1568, onde passou a

perseguir todas as seitas Budistas para acabar com o poder religioso, vindo a destruir os

templos Heizan e executar cruelmente todos os monges e seguidores budistas que os

soldados de Nobunaga encontravam.

Treze anos depois de se tornar Shogun, Oda Nobunaga conseguiu por intermédio

de traidores da comunidade ninja, descobrir a localidade da montanha Iga, localizada

próxima à província de Edo, hoje cidade de Tóquio, e com isto, no dia 03 de Novembro

de 1581, Oda Nobunaga entrou na província de Iga com cerca de 46.000 bushis, ou seja,

guerreiros do império, sitiando apenas a 4.000 ninjas sob o comando do Jonin Sandoyu

Momoshi, iniciando neste dia a maior batalha de toda a história do Ninjutsu nomeada de

Teno lga No Ran, batalha esta que durou uma semana, acabando com a resistência do

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Jonin Sandoyu Momoshi, todavia, em proporção estratégica de guerra, a maioria dos

Bushis do Império morreram, enquanto a maioria dos ninjas sobreviveu. Estes ninjas

sobreviventes vieram a se misturar com o inimigo, com o povo e inclusive com a

própria corte do General Oda Nobunaga. Porém depois da Teno Iga No Ran ter sido

finalizada, ainda sobreviveu oculto nas florestas e montanhas, pequenos grupos ninjas,

que continuaram os estudos do Ninjutsu, porém com mais experiência e sigilo. Contudo,

grupos menores, e menos conhecidos não intervieram em batalha aberta com as tropas

do General Oda Nobunaga, e trocando sua estrutura de grupo, trabalharam para o fim da

repressão. Final este consolidado somente com a morte do General Oda Nobunaga,

morto em Kyoto por um de seus rivais, o Daimio Mitsuhide Akeushi; existem

referências de que o Ninjutsu teve total influência na morte de Nobunaga, porém, são

apenas referências históricas. Com a morte de Nobunaga, o General Leyasu Tokugawa,

braço direito de Nobunaga, conseguiu o poder de Shogun em 1603, graças à erradicação

total dos rivais em seus domínios, sendo uns decapitados e outros deportados. O

General Leyasu Tokugawa havia solicitado os serviços do Jonin Hanzo Hatori, depois

do ataque de Nobunaga aos domínios de Iga, pois com os serviços deste ninja, pode

Tokugawa alcançar o Shogunato. O General Leyasu Tokugawa protegia firmemente os

guerreiros Ninja, possuindo ele uma guarda pessoal formada por 300 ninjas em seu

castelo na província de Edo, hoje Tóquio, guardas estes considerados por ele os mais

fieis e implacáveis para com a segurança dos domínios de Tokugawa.

E em pouco tempo, o General Leyasu Tokiigawa conseguiu unificar o Japão,

restaurando a paz e a ordem, então os ninjas começaram a trabalhar para o Império

Japonês como policiais e detetives, todavia a capacidade ninja de atuar como agente

secreto no campo da espionagem continuou, trabalhando a serviço do Império Japonês

na guerra Chino-Japonesa, participando ativamente, também na guerra contra a Rússia

em 1905 e na segunda grande guerra mundial, em 1945. O antigo guerreiro das sombras

japonês, gerou por muito tempo, medo e terror, pois atacaram o lado mais vulnerável do

ser humano, a emoção. Com tudo, mesmo utilizando o ilusionismo operacional em

missões, os ninjas eram totalmente voltados para o esquema de totalidade universal,

para a unificação do homem junto ao Senhor do Universo criador de tudo e todos,

justamente pelo falo de terem sido descendentes diretos dos antigos monges Budistas e

Xintoístas. Os conceitos religiosos e esotéricos do Ninjutsu, tiveram suas origens da

doutrina religiosa denominada Mikyô, baseada numa filosofia de vida voltada para a

simplicidade e contato pleno com a natureza, que por sua vez, descendente da religião

Tântrica Tibetana, uma das mais antigas filosofias religiosas do mundo antigo; em uma

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metáfora de entendimento, torna-se difícil à compreensão para o ocidental, do modo de

vida do antigo guerreiro ninja, pois além de tais influências, tiveram primordialmente,

forte influência religiosa quando os monges budistas chineses emigrarão para o Japão

trazendo seus conhecimentos esotéricos e espirituais, originando através da evolução de

pensamentos, idéias e novas culturas, as seitas Shingon e Shugendo; tal inovação

religiosa se deu no século VI, onde se estruturou definitivamente após tanta influência

vinda de toda a Ásia, a base religiosa e esotérica do antigo guerreiro ninja.

Hoje, o Ninjutsu é uma arte marcial reconhecida pelo Império Japonês como

uma prática que visa manter o bem estar geral do corpo, da mente e das emoções, e

principalmente através da prática diária, alcançar o autoconhecimento técnico e

filosófico. Sendo adotado pelas maiores forças militares do mundo por intermédio de

seus oficiais; porém, as tradições do Ninjutsu se mantêm intactas até hoje, mantendo

uma essência pura e tradicional, onde muitos ocidentais encontraram harmonia, terapia

e uma maravilhosa arte marcial adaptada para os dias de hoje e para todo o tipo de

pessoa, sendo uma extensão cultural dos costumes, tradição e filosofia Zen Japonesa,

contribuindo em muito para o crescimento e aprofundamento do “EU” junto ao

universo, conhecendo a si mesmo e tornando-se um ser pacificamente feliz, adaptando-

se melhor ao meio ambiente e a todos que estão a nossa volta.

3.2. Hattori Hanzo e Hattori Ryu

Uma das maiores famílias shinobi de Iga foi sem dúvida à família Hattori. Eles

vieram de Otomo Hosoto, um alto membro de uma das mais importantes famílias

japonesas, e da China. A família Otomo estava a serviço da família real principalmente

em função de seus conhecimentos de combate. Os filhos de Hattori foram permitidos

mais tarde de construir suas próprias linhagens de família. De acordo com outras fontes

foi Iga Heinazaemon No Jo Ienaga (o fundador da Kumogakure ryu) que deu ao filho

mais velho, Hatton Heitaro Koreyuki, o direito de usar o nome da família Kamihattori.

O filho do meio, Hattori Heitaro Yasuyon, fundou o nome da família Nakahattori, e o

mais novo fundou o nome da família Shimohattori.

Cada família tinha seu próprio Mon (escudo), onde o Kamihattori Mon era

Yahazn Nihon (duas cabeças de flecha), Nakahattori foi Ichitomoe (um arco), e

Shimohattori Mon foi Yagunuma (oito cabeças de flecha num anel). A condição de

cada família ter seu próprio escudo aponta para o fato de que eles tiveram a mesma

classificação como um Samurai. De acordo com os livros de história moderna no Japão,

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Hattori Hanzo foi um Samurai de Iga. Quando Oda Nobunaga invadiu Iga., só 80

pessoas das três famílias Hattori sobreviveram. Eles fugiram para diferentes partes do

Japão. A família KamiHattori escapou para a vila de Nagaoka em Echigo. A família

Shimohattori recebeu proteção da família Tokugawa em Mikawa ou da família Ochi na

vila de Takatori na província de Yamato. Nakahattori fugiu para as montanhas Takano.

O mais famoso shinobi da história foi, sem sombra de dúvida, Hattori Hanzo

Masashige (1541-1596). Ele foi o filho de Hattori Nazo Yasunaga, que por meio de

hereditariedade foi um vassalo da família Tokugawa, neste período Tokugawa era

conhecido como Matsudaira. Eles vieram da linhagem da família Kamihattori, se ele

vieram da família Heitaro ou Chigachi, não se sabe. Hatton Hanzo foi praticamente

criado com as Artes marciais como sua principal ocupação na vida. Em 1557 quando

Hattori Hanzo tinha dezesseis anos ele foi pela primeira vez em sua vida lutar no campo

de batalha. Foi à noite, quando Tokugawa leyeasu atacou Uzichigo em Migawa (o

castelo em Udo). Ele ganhou sua primeira recompensa em função de suas

extraordinárias técnicas de combate no campo de batalha. Ele ganhou o apelido de

“Hanzo o fantasma”, e Tokugawa também reconheceu suas habilidades depois que ele

participou da batalha de Anagawa em 1570, e da batalha em Mikata Ga Hara em 1572.

Outro apelido que ele ganhou por causa de sua habilidade foi “Hanzo o diabo” A

família Hatton não foi Watari Ninja (ninja que vendiam seus serviços pela maior

oferta), eles eram fiéis para com Tokugawa. Quando Oda Nobunaga foi assassinado por

Akechi Mitsuhide, Tokugawa estava em urna vila perto de Osaka e foi ameaçado pelas

tropas de Akechi.

Tokugawa então teve a assistência de Hattori Hanzo e Taro Shiro, um ninja de

Koga. Juntos com 300 ninjas eles ajudaram Tokugawa escapar de Okazakijo usando

Goton Jutsu (técnicas de se esconder na natureza) e técnicas especiais de como avançar

com segurança. Os muitos méritos de Hattori Hanzo deram a ele um grande

reconhecimento e ele foi condecorado com o comando dos Samurais de Hassenshi.

Hattori Hanzo morreu em batalha em 4 de Dezembro de 1596, quando ele tinha o

comando de uma tropa que iria aterrorizar os ninjas da Fuma ryu em Kanagawa. Hanzo

e sua tropa tinham seguido os Ninja da Fuma ryu no mar em barcos, mas os ninjas da

Fuma Ryu utilizaram técnicas aquáticas para destruir o leme em seus barcos. E quando

Hanzo e seus homens pularam na água para nadar para a costa os ninjas de Fuma tinham

enchido a água de óleo e botaram fogo nela. Todos eles morreram queimados. Hattori

Hanzo foi sucedido por Hattori Iwami No Kamí Masanari.

A população japonesa ainda conta sobre Hanzo, nas áreas em volta de

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Kawauchi ele também foi conhecido como “O Grande lanceiro”, um guerreiro muito

forte. Não é muito o que liga ele ao Ninjutsu, ele foi mais conhecido como um Bushi

(um Samurai) de Iga. Durante o comando de Tokugawa Iemitsu muitos ninjas não

gostavam do jeito que eles eram desonrados e tratados. Então eles escolheram preparar

uma revolta contra os descendentes de Hattori Hanzo, que continuavam a serviço do

Shogun. A revolta foi conhecida como “o incidente no templo de Sasa”, a revolta foi

vencida pelas tropas do Shogun e os líderes foram capturados e executados. A revolta

foi o fim da grande era da família Hattori, eles perderam todo o seu status por causa de

suas faltas em lidar com a situação.

Durante a grande era da família Hatori, antes da invasão de Oda Nobunaga,

existiam muitos membros que foram bem sucedidos no clã da família Hatori Ryu.

Alguns deles foram conhecidos como:

* Hattori Gensuke * Hattori Magohei * Hattori Shichikuro * Hattori Denjiro * Hattori Maizo * Hattori Jinroku * Hattori Denemon * Hattori Shinkuro * Yamaoka Sobei * Yamaoka Suketaro * Yamanaka Ichinosuke *Yamaoka Jintaro * Yamaguchi Suketaro * Yamanaka Kakubei * Fukunokami Teisainyudo * Hanchi Hansuke * Iga Naruto *Akimoto Kassai * Yamanaurchi Keitaro * Sera Gonroku * Otsuka Bansaku

Como conclusão do clã de família Hattori, pode-se mencionar que Ishitani

Matsutaro Takakage teve um antepassado que era um Chunin no clã ninja de Hattori

Hanzo. Ishitani Matsutaro Takakage foi o sensei de Takamatsu Toshitsugu, e

Takamatsu foi o sensei de Masaaki Hatsumi, o 28o soke na Kukishinden ryu Happo

Hiken jutsu. Ishitani morreu no lapso de Takamatsu no início do século 20, Takamalsu

morreu em 1972. Hatsumi ainda está vivo como provavelmente você já sabe.

3.3. Momochi Sandayu e Momochi ryu

Exceto pela família Hattori, as famílias Momochi e Fujibayashi são as mais

conhecidas famílias ninjas da província de Iga. De acordo com algumas fontes eles

também vieram de Otomo Hosoto e da família Otomo. Também é dito que a família

Momochi controlava a parte sul de Iga, a família Hattori o meio, e a Fujibayashi a parte

norte da província. Momochi Sandayu foi um dos mais conhecidos ninja jonin (líder)

antes de Hattori Hanzo.

Momochi Sandayu foi, durante a era Tembun (1542-1555), o soke (grande

mestre, ou cabeça da família) da Momochi ryu, Koto ryu e Gyokko ryu. Ele era muito

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conhecido como um ninja muito habilidoso. Para esconder sua identidade ele tinha nada

menos que três casas diferentes, uma delas era em Ryugu Sanbonmatsu na província de

Yamato, que foi fundada por Daimyo Kitabaiake Tomonori, as outras em Hojiro

Yamato e Takiguchijo. Ele também tinha três diferentes famílias que ele alternava entre

elas. O principal lugar que ele viveu durante a década de 1570 parece ser Ryugu

Sanbonmatsu, desde que ele foi considerado um dos homens que liderava naquela vila.

Algumas fontes atestam que Momochi Sandayu e o terceiro mais famoso líder

ninja, Fujibayashi Nagato, eram a mesma pessoa. Isto deveria ser confirmado nas

premissas que quando Oda Nobunaga invadiu Iga em 1581 não existia evidências que

ele estava ativo, mas aquele Momochi estava. Outra razão é que a família Momochi

não está listada entre as 45 principais famílias ninja do sistema Ninjutsu.

Uma das casas de Momochi Sandayu, em Takiguchi-Jo, perto de Iga-Ueno, foi

incendiada pela invasão de Oda Nobunaga em Iga, mas Momochi conseguiu escapar

com seus homens e esperou em Sanbonmatsu até chegar as notícias do massacre de Oda

Nobunaga em 10 de Junho de 1582. Sandayu Momochi provavelmente morreu não

muito depois da invasão de Iga, sua cova foi achada na década de 1960 no velho terreno

da família, perto da vila de Nabari, no pé da montanha Oka-One, aproximadamente 24

quilômetros de Iga-Ueno. Ela estava localizada em uma colina perto de uma de suas

casas.

Momochi Sandayu II herdou a Gyokko ryu e a Koto ryu na era Tensho (1570-

1592) de Momochi Sandayu. Quem foi o próximo soke da Momochi ryu ninguém sabe.

A Gyokko ryu e a Koto ryu foram passadas para Momochi Tanba Yasumitsu na era

Bunroku (1596-1615). Ele era também conhecido como Tanba no Kami e mestre do

castelo Ryugu. Momochi Tara Saemon, que foi mestre do castelo Ueno Shokudai na

província de Iga, pegou o trabalho de ser soke na era Gentis (1615-1624). Depois disso

as duas Ryu deixaram a família Momochi para perambular por outros caminhos pela

província de Iga.

Outras pessoas conhecidas na família Momochi foram Momochi Jindayu

Yasutatsu, Momochi Sannojo e Momochi Chuzaburo Yasumasu, entre outros. Pode-se

provar que os métodos eram muito efetivos através da Kunoichi (ninja mulher) que se

chamava Tanaka Sadako, que nunca foi descoberta quando trabalhava com disfarce. Os

descendentes de Momochi Saridayu ainda vivem em uma de suas casas, mas eles não

têm mais nenhuma conexão com a tradição ninja de Momochi Sandayu. Tudo o que

restou e as ferramentas ninjas foram vendidas para museus e colecionadores em torno

de duas ou três gerações atrás.

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3.4. Iga ryu

A origem da Iga ryu Ninjutsu pode ser melhor entendida estudando Iga como

uma região no Japão. No começo Iga pertencia à província de Ise, mas elas foram

separadas em algum lugar do ano de 680. Ise foi uma das mais importantes regiões do

Japão por causa da longa costa e também da estrada Tokaido, que cortava Ise, ligando

Kyoto a Edo (Tóquio). A província de Iga veio a se tornar uma região relativamente

isolada,cercada por montanhas por todos os lados, exceto no lado norte perto da região

de Koga no sul da província de Omi, aqui é onde a cultura ninpo foi desenvolvida.

Ambas as regiões de Iga e Koga estavam localizadas numa região relativamente segura

somente a sudeste de Kyoto, a capital do Japão na época, e a sul da estrada Tokaido.

Essas regiões foram centrais e participaram de uma importante parte do resto do Japão e

sua historia.

Para todas essas condições externas, acrescente General Ikai como um

catalisador, um refugiado da China com grande conhecimento de estratégia e artes

marciais. Assim, eles tiveram todas as oportunidades para o desenvolvimento dos seus

próprios e independentes ryu-ha (sistemas de artes marciais), como uma proteção para a

própria existência deles e um caminho para participar ativamente do desenvolvimento

político do Japão. Como um parêntese pode mencionar que em Sada (em Iga) existe

lugares chamados Tojin-Iwa (a pedra chinesa) e Karadobuchi (a porta para as águas

profundas da China) que ainda lembram a ligação com a China.

A sudeste de Iga, na montanha Yoshino, estava localizado um dos principais

líderes da seita Shugendo. E a sul de Iga, onde se localizava a montanha Kumano, era

outro lugar sagrado para a seita Shugendo. É muito provável que estes Yamabushi

trocavam filosofia e métodos com o povo de Iga.

Dentro de Iga ryu existia muitas outras ryu com suas diferentes especialidades e

tradições, mas as origens para todas as ryu de artes marciais de Iga são supostas terem

vindo de Ikai, que fugiu da China para uma caverna no monte Takeo, na região de Iga.

O que ele trouxe da China foi, em primeiro lugar, seu conhecimento de Koshi jutsu,

que, entre outros, ensinava para Gamon Doshi (doshi quer dizer moralista). Gamon

Doshi e seu estudante Garyu Doshi podem ser vistos como uma base para a maior parte

das artes marciais tradicionais que se desenvolveram em volta de Iga.

Existe um problema na teoria acima. Alguns historiadores como Masaaki

Hatsumi, comenta que Ikai fugiu da China em algum ano entre 1040 e 1050. A razão de

sua fuga foi que ele estava lutando com o povo de Kitan e Xia contra o rei Jinso

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(dinastia Song na China), e foi derrotado. De acordo com os livros de história, o estado

de Kitan e Xia saíram vitoriosos durante o período de tempo acima e a derrota não

aconteceu antes do imperador Hui Zong aliar-se com Aguda, dos Ruzhen, em 1123-

1125. Assim eles ficaram fortes o suficiente para acabar com os estados de KITAN e

XIA. Então, as datas de Hatsumi precisam ser reavaliadas, ou então nós precisamos

pesquisar a ligação entre Yo Gyokko e a queda da dinastia Tang um pouco mais para

achar quem trouxe o Koshi jutsu para o Japão (essa é uma das teorias básicas

conhecidas pela maioria na Bujinkan). Pode ser também que Yo Gyokko trouxe o Koshi

jutsu, e que Ikai trouxe Hicho Kakuregata e o conhecimento sobre estratégia, e isso foi

o que juntos formaram a base das artes marciais em Iga.

Para continuar, Garyu Doshi iniciou a Hakuun ryu, a escola que foi mais

desenvolvida e renomada por Hakuun Doshi Hachiryu Nyudo é outro nome que deve

ser mencionado, porque foi provavelmente ele que trouxe o conhecimento novo de

Garyu para Tozawa Hakuunsai, o primeiro oficial grande-mestre da Gyokko ryu.

Gyokko ryu é, na maioria das vezes, reconhecida como uma escola de Koshi jutsu, mas

também é oficialmente reconhecida como uma escola de ninpo.

Hakuun ryu foi transferida para Kagakure Doshi (Kain Doshi ou Kumogakure

Doshi), e foi Kagakure quem ensinou o sistema para Nishina Daisuke. Daisuke fundou a

Togakure ryu e a Togakure ryu é, juntamente com a Gyokko ryu, as duas mais velhas

tradições do ninjutsu em Iga, e elas têm ambas sido uma grande influência para a maior

parte das outras escolas de Iga.

No livro “A Essência do ninjutsu”, por Masaaki Hatsumi, é mencionado que Iga

Heinabe Yasukiyo era outro estudante de Gamon Doji. Foi dado um pedaço de terra,

Iga Hattori na região de Iga, como um agradecimento pela ajuda dada por Minamoto

Yorimoto (1147-1198) na luta contra o clã Taira. É dito que ele construiu um castelo

que veio a ser a origem para a Iga ryu. Mas desde que é suposto que Iga Heinabe

Yasukiyo viveu no fim do século XI e Minamoto Yorimoto no fim do século XII, essa

estória deve ser encarada como duvidosa. Na outra terra, Iga Heinabe Yasukio perece

ser à base do conhecimento que Iga Heinai Saemon no Jo Ienaga, seu descendente da

12a geração, usava quando ele fundou a escola também nomeada de Iga ryu, mas que

teve mais tarde seu nome trocado para Kumogakure ryu ninpo.

Existe outra estória que declara que Ise Saburo Yoshimoru aliou-se com o irmão

de Minamoto Yorimoto, Yoshitsune, na fuga de Yoritomo. Isso esta mais em linha com

as datas na historia, mesmo que isto não esteja verificado ainda. Todas as diferentes Iga

ryu tinham suas próprias linhagens de soke (o cabeça da família), mas a Iga ryu como

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um todo, tinha também uma linhagem de pessoas que estavam na panelinha que

liderava, chamados de jonin. Não é difícil achar nomes que também foram soke em

outras escolas da Iga ryu. Logo abaixo tem uma lista aproximada dos jonin da Iga ryu

ate o fim do século XVI. Os anos mencionados ou os anos que eles foram grandes-

mestres não são exatos, mas sim os anos que eles estiveram ativos.

1 Gamon Doji – Período Jiryaku, 1065 – 1068.

2 Garyu Doji – Período Shoho, 1074 – 1076. Fundou a Hakuun ryu.

3 Unryu Doji - Período Shoho. 1074-1076.

4 Higa Heinabe – Período Yasukio Eicho, 1096.

5 Tozawa Hakuunsai - Período Heiji, 1159. Fundou a Gyokko ryu.

6 Ise Saburo Yoshimoro - Período Heiji, 1159.

7 Togakure Duisuke - Período Shogen, 1207-1210. Fundou a Togakure ryu.

8 Kumogakure Gen-An - Período Kencho, 1249-1255.

9 Tozawanyodo Gen-Eisai - Período Shouou, 1334-1335.

10 Hachimon Hyouun -Período Kouryaku. 1379-1380.

11 Karyuzu Hakuun - Período Oiei, 1394-1427.

12 Tozawa Ryutaro - Período Chokyo, 1487-1488.

13 Momochi Sandayu I - Período Tenmon, 1532-1554.

14 Iga Heinai Saemon no Jo Ianega - Tenmon, 1532-1554. Fundou a

Kumogakure ryu.

15 Kamihattori Heitaro Koreyu - Período Tenmon, 1532-1554.

16 Família de Hattori Hanzo Nakahattori Heijiro Yasuyori - Período Tenmon,

1532- 1534.

17 Shimohattori Heijuro Yasunori - Período Tenmon, 1532-1554

18 Momochi Sandayu Ii- Período Tensho, 1573-1591.

Note a diferença entre cada ryu e a organização em torno da mesma esfera de

interesses, toda a região de Iga. Por exemplo: Gyokko ryu, Togakure ryu e Hakuun ryu,

que foram diferentes sistemas de especialidades e métodos, foram as únicas ferramentas

usadas para proteger a região de Iga e o interesse lá como um todo.

Os diferentes sistemas de conhecimentos que pertenceram a Iga ryu foram

desenvolvidos e protegidos por um total de 45 famílias. Estas famílias, que pertenceram

a Iga ninja ryu, são listadas por Masaaki Hatsumi como:

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*Tozawa * Fujiwara * Minamoto * Taira * Kuriyama * Momochi * Ishitani* Hattori *

Izumo *Kimura *Ohkuni * Tsutsumi *Arima *Hata * Kazama *Mizuhari *Hanbe

*Shima *Togakure * Sugino * Ise *Sakagami *Narita *Oda *Hisahara * Ooyama *

Mori * Abe * Ueno * Suzuki * Otsuka * Ibuki * Kaneko *Kotani *Kashiwabara

*Shindo *Iida *Kataoka *Kanbe *Fukii *Sawada *Kimata *Toyota *Toda *Iga

Alguns desses nomes são particularmente interessantes do ponto de vista da

Bujinkan. Por exemplo Tozawa (Tozawa Hakuunsai que foi o primeiro soke na Gyokko

ryu, uma das nove escolas do sistema Bujinkan).

A Família Toda é também interessante. A não ser por ter começado a existir

soke da Kumogakure ryu, eles herdaram a Togakure ryu, no inicio do século XVII, da

família Natori, que herdou de volta a Togakure ryu quando os principais da família

Toda tinham morrido. Toda, que foi uma das famílias que lideravam em Iga, também

era proximamente ligada à família Tozawa.

Momochi foi uma das famílias mais famosas e Momochi Sandayu foi sem

dúvida o mais famoso líder ninja, junto com Hanzo Hattori. Momochi Sandayu e três de

seus seguidores foram soke no século XVI em ambas Gyokko ryu e Kotto ryu. Eles

herdaram as escolas da família Sakagami. No século XVII Gyokko ryu, Kotto ryu,

Kumogakure ryu e Togakure ryu poderiam estar todas sob o controle da família Toda

por Toda Seiryu Nobutsuna. Mais tarde a Gyokushin ryu também foi trazida para dentro

da Família TODA. Outros nomes que também tem ligação direta com a Bujinkan como

Ishitzani, Izumo e Iga. Aqui esta uma lista de algumas ryu que fizeram parte da Iga ryu

e das tradições da província de Iga:

*Hakuun ryu * Togakure ryu * Kumogakure ryu * Genjitsu ryu * Tenton

Happo ryu * Goton Juppo ryu * Kadone ryu * Kukishinden ryu *Gyokko ryu * Koto

ryu * Rikyoku ryu * Tsuji Ichimu ryu * Hattori ryu *Taki ryu * Yoshimori ryu *

Uchikawa ryu * Gikan ryu * Gyokushin ryu * Takino ryu * Sawa ryu * Gen ryu *

Momochi ryu * Ryumon ryu * Iga ryu

Esta não é uma lista completa. Existem outras ryu que desapareceram durante a

história. Outro ponto interessante que merece nota é que Iga ryu e Kumogakure ryu, que

estão listadas acima, são na verdade a mesma ryu. Desde que Iga ryu trocou seu nome

para Kumogakure ryu. Ambas Gikan ryu e Gyokushin ryu foram desenvolvidas da

Gyokko ryu.

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Escrever exatamente como uma ryu apareceu em meio às famílias e na história

é quase impossível. Isso é assim por muitas razões. Por exemplo, a história das artes

marciais ora sempre ensinada em Kuden (ensino direto de boca em boca) e não escrita.

Outra coisa que faz ficar difícil é que o soke freqüentemente tinha mais de um Menkyo

Kaiden (tido como um mestre do sistema que tinha permissão para passar os

ensinamentos), o que fazia a ryu ter mais chances de sobreviver. Outras escolas só

foram ensinadas para uma pessoa, que seria o próximo soke, e se esta pessoa morresse,

morria junto com ela a ryu.

3.5. Koga Ryu Ninjutsu

Koga ryu Ninjutsu foi outro clã ninja de importância no Japão. Esta ryu

consistia de 53 famílias que provavelmente apareceram juntas no período Tonkyo, entre

938 a 946. Isso foi depois de Mochizuki Saburo Kameie ter ganhado a guerra, contra

Taira No Masakado, que ele recebeu um pedaço de terra a sudeste da província de Omo.

A área era chamada de Koga-Gun, mas Mochizuki trocou seu nome para Koga Oni No

Kami Kameie. Foi seu filho, Oni No Kami Iechika, um talento tanto militar como

literário, que foi aclamado ter sido o fundador de Koga ryu E dito que ele estudou

Genjutsu do monge Budista Tatsumaki Hoshj, que vivia na área.

A tradição continuou seguindo por sete gerações entre Oni No Kami Ienari,

lesada, Ienaga, Iekiyo, Ietoo, Ieyoshi e Yoshiyasu, antes de se espalhar para outras

famílias Mochizuki, Ugai, Naiki e Akutagawa. As tropas restantes do reino do norte e

do sul em Nambuko foram unidas para estas cinco famílias principais (1335-1395).

Com a ajuda da Koga ryu elas cresceram para 53 famílias. Algumas das ryu (famílias)

dentro da Koga ryu foram:

*Koga ryu

*Taro ryu

*Otomo ryu

*Shinpi ryu

*Kuruya ryu

*Hiryu ryu

*Taira ryu Tomoryu

*Fujiwara ryu Isshu ryu

*Tatara ryu

*Sasaki ryu

*Byaku ryu

*Sugawara ryu

*Techibana Hachi Tengu ryu

*Kawachi Yon Tengu ryu

Enquanto a Koga ryu crescia, existiam oito famílias (Koga Hachi Tengu) que

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queriam ser as mais fortes, liderando as outras ryu em Koga. As oito famílias foram :

Koga, Mochizuki, Ugai, Naikii, Akutagawa, Ueno, Ban e Nagano. Mas grupos em Koga

como Hiryugumi, Kakuryugumi, Tatchibana Hachitengu Gumi e Kawachi Yon Tengu

Gumi também tinham mestres de Ninjutsu de alto nível. Sob o período Hokuto (1441-

1451), os herdeiros mais importantes eram Koga Saburo, Mochizuki Goro, Ugai

Ryuhoshi, Naiki Fujibe e Akutagawa Kazuma. Sob o período Brunmei (1469-1487),

eles eram Koga Saburo Ii, Mochizuki Yajiro, Ugai Chiaki, Naiki Gohei e Akutagawa

Tenpei, que foi contratado pela família Sasaki - o Daimyo daquela área - para liderar

suas tropas contra Ashikaga Yoshizawa.

Quase 100 anos mais tarde a família Sasaki contratou ninjas novamente. Nessa

época eles eram ninjas de ambas as áreas de Koga e Iga (1570). Eles também

contrataram samurais de Koga sendo que o objetivo era destruir Oda Nobunaga. Os

samurais foram treinados intensivamente por um curto período de tempo para estarem

hábeis a lutar sob as estratégias que o ninja jonin tinha elaborado.

O exército de Sasaki foi dividido em três divisões. A primeira foi liderada por

ninjas de Mikumo ryu, Takanose ryu, Mizuhara ryu e Inui ryu. O outro exército foi

liderado pelas outras 53 famílias de Koga, e o terceiro pelos samurais de Sasaki. Na

batalha, Mikumo Iyo no Kami, que liderava um dos exércitos de Sasaki, repentinamente

trocou de lado e atacou o exército de Sasaki pelas costas. Isso provocou a derrota de

Sasaki, que por pouco não conseguiu fugir. Quando Tokugawa Ieyasu lutou pelo poder

no Japão, o castelo Fushima, perto de Kyoto, foi ocupado. Eles tinham de se defender

eles próprios contra os exércitos inimigos à Oeste, tempo o bastante para que o exército

de Tokugawa se reagrupasse para a luta em SekiGaHara, à Leste. Existiam também 400

ninja da Koga ryu que ajudavam eles na defesa - alguns deles no castelo, outros

aterrorizando o inimigo do lado de fora com diferentes tipos de pequenos ataques que só

visavam enfraquecer o inimigo. Mais ou menos 100 ninja morreram, e, depois da vitória

de Tokugawa, foi feita uma cerimônia em lembrança dos mortos, em meio os quais

Mochizuki e Arakawa foram mencionados por terem sido mortos. Em Shima-Bara No

Ran foi uma das últimas vezes que os ninja de Koga estiveram ativos numa batalha,

quando samurais Cristãos rebelaram-se e ocuparam o castelo Hara na província de

Shimabara, cm Kyushu. Dez ninjas da Koga ryu foram mandados por Izumo Kami

Nobutsuna para colherem informações para os samurais do Shogun, para prepararem

um ataque contra o castelo.

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Eles foram liderados por Mochizuki Heidayu, 63 anos, e Akutagawa

Kiyouemon, 60 anos, ambos veteranos da batalha de Sekigahara. Os outros de Koga

foram:

*Iwane Kanbei, 56 anos

*Kamogai Kanuemon, 56 anos

*Tomei Gohei, 53 anos

*Iwani Kanbei, 45 anos

*Natsumi Kakunosuke, 41 anos

*Akutagawa Shichirobei, 25 anos

*Yamanaka Jutayu, 24 anos.

Eles chegaram em 04 de Janeiro de 1638, e a primeira missão foi criar um mapa

da área em volta do castelo. Só 15 dias mais tarde eles mandaram um mapa detalhado

do castelo e de suas forças de proteção para o Shogun Tokugawa Iemitsu em Edo.

Também é dito que os ninjas de Koga, ou Ongyo no Mono (pessoas escondidas), como

eles também são chamados, infiltraram-se no castelo todas as noites, sem problemas. No

dia 21 de Janeiro eles roubaram comida do castelo, o que piorou as coisas para o

inimigo pois, eles já estavam com pouca comida. Eles também conseguiram pegar

algumas senhas secretas.

Em 27 de Janeiro, cinco ninjas conseguiram entrar no castelo disfarçados como

soldados. Eles eram Mochizuki Yoemon, Arakawa Shichirobei, Natsume Kakano-Suke,

Yamanaka Jutayu e Tomo Gohei. As tropas do lado de fora do castelo atiraram com

seus rifles, e automaticamente o inimigo no castelo apagou todas as tochas assim, então

não poderiam mais atirar contra eles. Mais à noite, quando os guardas começaram a

relaxar, o ninja pôde facilmente subir o muro do castelo com a proteção da escuridão.

Arakawa se descuidou-se e caiu num buraco. Ele teve imediatamente a ajuda de

Mochizuki. Mas por causo do barulho, os guardas acenderam as tochas novamente e a

presença deles foi descoberta. Ambos Mochizukj e Arakawa correram logo para o meio

das tropas, agarraram uma das bandeiras Cristãs no caminho, e então foram baleados.

Todos os cincos conseguiram escapar, mas ambos Mochizuki e Arakawa ficaram

feridos.

Quando o castelo foi atacado em 24 de Janeiro, os ninja de Koga serviram

como um gabinete de conexões em meio as duas tropas. Como um parêntese, pode ser

mencionado que Musashi Miyamoto (um dos mais famosos espadachins da história), foi

um dos fazedores de plano do lado do Shogun. Ele foi acertado por uma pedra jogada

por uma mulher do muro do castelo, então teve que retornar da batalha queixando-se da

perda de sua força juvenil. A Koga ryu sobreviveu no meio do século XX devido a um

homem, Fujita Seiko (1899-1966). Ele disse que ele era 14o Soke da Koga ryu, mas não

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existe prova alguma de que isto seja verdade. Ele liderou pequenas unidades especiais

nas matas na segunda guerra mundial. Existe um livro chamado “Ninjutsu no Gokui”

(Os segredos do Ninjutsu), escrito por Gingetsu, que aprendeu as técnicas e a história,

por um longo período de tempo, de Tanemura Ihachiro, um jonin na Koga ryu. As

técnicas descritas nesse livro são muito similares às técnicas da Togakure ryu de Iga.

Aqueles que afirmam serem “mestres” da Koga ryu hoje devem ser considerados

vigaristas e nada mais. Baseado no fato de que o movimento de corpo da Iga ryu e

Koga ryu são muito similares, a “suposta Koga ryu” que é ensinada hoje não tem muito

de similar com a Togakure ryu e os outros sistemas tradicionais de Iga e Koga.

3.6. Conceitos históricos e características gerais em antigas escolas de Artes

Marciais

As tradições antigas de Artes Marciais, colocam as escolas citadas abaixo, em

uma concepção muito mais genérica e ampla do que visualizamos nos esportes baseados

em artes marcias nos dias atuais. As antigas artes marciais baseiam-se na liberdade.

Aqueles que não apreciam o valor da liberdade não podem entender suas técnicas. O

sentimento que procuramos procede da liberdade de movimento.

A princípio um se move porque a mente (mente consciente) disse ao corpo que se mova dessa maneira. Mais tarde o subconsciente começa a funcionar, e um se move de uma maneira mais intuitiva. Porém não é demasiado bem, ainda que os movimentos corporais chegam a converter-se em simples movimentos condicionados; não obstante e ainda que deva existir um equilíbrio entre movimento consciente e movimentação subconsciente, sendo este último o mais importante. (MASAAKI, 1998, p. 69).

Os conceitos históricos e filosóficos das antigas tradições marciais, entre eles o

Ninjutsu, transportam-se há mais de três mil e quinhentos anos atrás. Como poderemos

observar haverá um primeiro grupo de 03 (três) escolas que possuem uma característica

em comum, Ninjutsu. Estas escolas nasceram especificamente como tal. O restante das

escolas, seis, são estilos de Artes Marciais que possuem características próprias. Nos

dias atuais as escolas têm como seu patriarca o Dr. Hatsumi Masaaki, herdeiro das

ultimas nove tradições marciais japonesa, que são:

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3.6.1. TOGAKURE RYU NINPO 戸隠流忍法

1. Primeiro soke: Daisuke Nishina o vassalo (também conhecido como

Togakure Daisuke).

2. Data de criação: Século XII

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 34º soke.

4. Características técnicas:

Os três segredos desta escola eram:

a) Senban Shuriken: Estrela para arremesso de quatro pontas exclusiva desta

ryu.

b) Shuko e Ashiko: Peça de metal com quatro ganchos de ferro, que se colocava

nas mãos e se prendia ao pulso com uma peça de metal, e também nos pés.

Utilizava-se para escalar e, em muitas ocasiões, como defesa diante aos

ataques com espada.

c) Shinodake: Tubo de bambu de pequenas dimensões usado para respirar

quando se ocultava debaixo da superfície da água. Em muitas ocasiões,

também foi utilizado como zarabatana, além de outras utilidades.

Existem 09 níveis básicos de treinamentos denominados Happo Biken Jutsu. Em

nível de (combate sem armas) os ataques se dirigiam, principalmente, aos olho, ouvidos

e genitais.

5. Principais ensinamentos:

“A violência deve ser evitada”.

“Somente se deve usar a espada para conseguir a paz, proteger o país, a família e

a natureza”.

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6. Conceitos históricos:

Daisuke, depois de combater e perder uma batalha, saiu através do Japão

levando as pessoas de Togakure. Ali encontrou a Kagakure Doshi, com quem estudou

Ninjutsu, além de Shugendo (antiga religião japonesa) com os ascetas que ali se

encontravam. É importante levar em consideração que Kagakure Doshi foi um guerreiro

de Hakuun ryu, escola fundada por Garyu Doji, que mais tarde foi completada por

Hakuun Doji, que foi o professor de Kagakure Doji. Falava-se que Hakuun ryu se

caracterizava pela utilização dos quatro demônios: O demônio das sombras, o demônio

do fogo, o demônio da terra e o demônio do vento ou ar.

Daisuke Nishina uniu os ensinamentos guerreiros de Kagakure com o

treinamento que havia recebido em Shugendo e desta maneira se estabeleceram os

princípios de Togakure ryu. O 32o soke (sucessor) desta escola, Toda Shiryunken

Masamitsu, foi, também, mestre de Bikenshin ryu, e durante a metade do século XIX

foi instrutor sênior de espada do Shogun Togukawa. Não obstante, sacrificou sua

posição porque seus estudantes estavam sendo obrigados a matar outros japoneses, e

isto ia contra as regras de Togakure ryu. Cabe destacar que a prova de 5o Dan (Sakki

Test) aparece nos pergaminhos de Togakure ryu.

3.6.2. KOMUGAKURE RYU NINPO 雲隠流忍法

1. Primeiro soke: Heinazaemon Ienaga Iga. (acredita-se que foi o criador de

Iga ryu ninpo).

2. Data de criação: Século XVI

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 14o soke.

4. Características técnicas:

O Tai Jutsu é muito similar ao usado pelos antigos guerreiros de Togakure ryu.

Esta escola possui algumas armas características como o Ippon Sugi Noburi, que

consiste em um tubo de metal de uns 25 cm de comprimento, com três filas de pontas

agudas no exterior e uma corrente sobre a metade, com um gancho metálico em cada

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extremo. Se usava principalmente para subir em árvores, ainda que também tenha sido

usado como arma. Outra das armas utilizadas era a Kamayari (lança, com gancho ou

foice). No princípio foi desenhada para subir pelas laterais dos barcos e lutar contra

espadachins. Posteriormente se desenvolveram uma grande quantidade de técnicas dada

a sua versatilidade.

A máscara do demônio, também era uma especialidade deste ryu. A

característica especial de combate sem armas (Tai Jutsu) de Komugakure ryu, é que os

guerreiros desta escola saltavam durante o combate e usavam golpes e bloqueios

duplos. Os guerreiros de Komugakure ryu utilizavam, habitualmente, em seus

combates, proteções de braço (como se fosse uma armadura). Isto explica, como em

muitas ocasiões, durante os combates, usavam os antebraços para golpear e proteger-se.

5. Conceitos históricos:

No pergaminho está mencionado que um guerreiro ninja chamado Sarutobi

Sasuke, saltava de árvore em árvore usando um KamaYari (lança com gancho ou foice)

que permitia balançar-se de um galho a outro, igual a um macaco.

3.6.3. GYOKUSHIN RYU NINPO 玉心流忍法

1. Primeiro soke: Sasaki Goeman Teruyoshi. (existe outra hipótese em que se

diz que o fundador foi Sasaki Orouemon Akiyari).

2. Data de criação: desconhecida

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 21o soke (sucessor)

4. Características técnicas:

As projeções com “sacrifício” do próprio corpo (SUTEMI), parecem ser a

principal característica desta escola, a nível técnico, ainda que realmente esta seja uma

das grandes escolas desconhecidas do ocidente. Esta escola se concentra mais nos

aspectos estratégicos e táticos do ninpo. Faz especial utilização de nage waza.

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5. Conceitos históricos:

Pensa-se que esta escola se concentrava principalmente na parte de recolhimento

de informações.

3.6.4. GYOKKO RYU KOSSHI JUTSU 玉虎流骨指術

1. Primeiro soke: Tozawa Hakkunsai

2. Data de criação: século XII

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 28o soke (sucessor)

4. Características técnicas:

A especialidade desta escola é o koshijutsu (ataque a músculos, nervos e órgãos

do corpo humano), e shitojutsu (utilização do dedo polegar e dos dedos), os bloqueios

poderosos, as distâncias compridas em combate, técnicas com muitos movimentos e o

uso de luxações e projeções.

5. Principais ensinamentos:

“O coração dos guerreiros é importante e belo”.

As 09 regras da Gyokko ryu :

1 - O caráter “nin” pretende guardar a nação como até mesmo sua vida.

2 - Esqueça do ego, seja paciente e não tema a morte.

3 - Em perigo, não diga e não demonstre nada.

4 - Quando se deparar com um inimigo forte, mantenha um espírito indomável.

5 - Serve e protege o mestre, como você deve a seus pais.

6 - Vícios dissipam sua proficiência.

7 – Ficar bêbado afeta seu julgamento e juízo.

8 - Destrua o poder do inimigo mas deixe sua vida.

9 - Não ensine outros sem a permissão do mestre.

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6. Conceitos históricos:

Há várias teorias sobre a origem das técnicas desta escola. Por um lado existe

uma teoria que foi criada por uma princesa da Corte Imperial da China, que utilizava

rápidos movimentos corporais, para atacar objetivos específicos no corpo. Por outro

lado, existe a teoria de que a Guarda da Corte Chinesa desenvolveram estas técnicas.

Esta escola se desenvolveu como tal no Japão através dos princípios estabelecidos por

CHO GYOKKO e YO GYOKKO que chegaram da China. Durante a era Tembun,

Sakagami Taro Kunishige organizou a escola e a denominou “GYOKKO RYU

SHITOJUTSU”. Posteriormente ele passou a escola a Ritsushi, o qual trocou o nome e

começou a chamá-la de “GYOKKO RYU KOSHIJUTSU”, que é como se conhece

atualmente. Em uma ocasião Toda Shinryuken Masamitsu, ao passar seus ensinamentos

Gyokko Ryu a seu neto Toshitsugu Takamatsu, salientou que a coisa mais importante

que tinha que aprender e estudar era o Kihon Happo (8 técnicas básicas).

3.6.5. KOTO RYU KOPPO JUTSU 虎倒流骨法術

1. Primeiro soke: Sakagami Taro Kunishige (acredita-se que quem organizou

realmente esta escola foi toda Sakyo Isshinsai – século XVI).

2. Data de criação: século XVI

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 18o soke (sucessor)

4. Características técnicas:

Utilização de curtas distâncias. Técnicas diretas e rápidas concentrando-se mais

nos métodos de golpes. Durante o combate se olha (mira) no meio das sobrancelhas do

oponente, intencionando que o olhar do oponente fique em branco, para evitar que os

movimentos possam ser detectados telepaticamente.

Deslocamentos cruzando as pernas e técnicas em que se pisa nos pés do

adversário. Na antiguidade o treinamento começava golpeando areia, rochas e movendo

grandes pedras, como condicionamento das mãos para o combate. Para ATEMI NO

TANREN (treinamento de fortalecimento dos métodos de golpes) se utilizava palha de

arroz que se enrolava em uma árvore e ao redor da palha de arroz peças de roupa.

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Deve-se expressar no punho a concentração do corpo, da mente e do espírito. A

denominação da escola faz referência à “demolir” o Tigre (adversário) com as pontas

dos dedos.

5. Principais ensinamentos:

“Os olhos são tudo”

6. Conceitos históricos:

Existe a teoria de que Koto ryu foi levado ao Japão através da Coréia, por Chan

Busho e várias gerações mais tarde passou a Sakagami Taro. Não obstante, as origens

exatas da escola são desconhecidas, ainda que saibam que esta se converteu em tal

através dos trabalhos de organização do fundador acima indicado.

Quando o segundo soke da escola morreu em batalha, a escola passou a

Sogyokkan Ritshushi que era, também, soke da escola Gyokko ryu. Desta forma as

escolas estiveram unidas durante este tempo, ainda que posteriormente tenham sido

transmitidas separadamente.

3.6.6. SHINDEN FUDO RYU DAKENTAI JUTSU 神伝不動流打拳体術

1. Primeiro soke: Izumo Kanjo Yoshiteru. (em uma publicação de Hatsumi

sensei, indica que o fundador desta escola foi Genpachiro Tameyoshi,

partindo das técnicas de Izumo Kanja Yoshiteru).

2. Data de criação: século XII.

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 26o soke.

4. características técnicas:

Uma vez que o fundador desta escola estudou Boxe Chinês (Kempo), pode-se

apreciar grande influência nas técnicas. Uma das características desta escola é o

reconhecimento do estilo natural como postura defensiva. Visualiza-se uma postura

defensiva na mente e de forma automática coloca-se em posição.

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5. Principais Ensinamentos:

O principal segredo desta escola é “O princípio da natureza”.

Na porta do dojo de Toda sensei existia uma série de regras que os estudantes

deveriam seguir:

1. Deves saber que a paciência é somente um único momento.

2. Deves caminhar em uma senda de retidão.

3. Esqueça os desejos e o orgulho.

4. O arrependimento e a verdade são as regras da natureza.

5. Obter a paz em teu coração através da compreensão do coração imutável, de

pensamentos sobre arrependimento e da verdade.

6. Concentre-se com fé, seja obediente e honrado com teus pais e converte teu

caminho (de estudo e treinamento) no caminho do bushi (guerreiro).

6. Conceitos históricos:

Parece que o fundador desta escola, foi também o fundador da escola

Kukishinden ryu.

3.6.7. KUKISHINDEN RYU HAPPO BIKENJUTSU 九鬼神伝流八法秘剣術

1. Primeiro soke: Izumo Kanja Yoshiteru.

2. Data de criação: século XII (em relação a este ryu, é necessário comentar

que a data de criação, que se indica, é a que corresponde a sua escola “pai”,

kukishin ryu. Segundo alguns pontos de vista, esta é a origem de kukishinden

ryu, ainda que posteriormente no século XIV, esta última tenha sido criada como

tal).

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 28o soke.

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4..Características técnicas:

Era usual que os guerreiros de Kukishinden ryu usassem armadura, pois como

pode ser visto, seus movimentos técnicos são bastante pesados, dirigindo os ataques,

principalmente, a zonas onde a armadura não possuía proteção alguma.

Diz-se que esta escola possui um grande repertório de armas bastante estranhas.

Algumas das armas mais característica desta escola são:

A) Hanbo- Também denominado sanyaku bo (bastão de pés). Procedente da

lança (yari), quando no campo de batalha foi cortada.

B) Rokushaku bo – Bastão de 06 pés.

C) Kaginawa – (gancho e corda), que foi usado por um pirata chamado Kuroda

Saneyuki.

D) Kusarikama – Que consiste em uma foice com uma corda ou corrente com

um peso no final da mesma. Esta arma foi criada a partir do Kaginawa

(descrito anteriormente).

E) Daisharin – Que consiste em uma peça circular de madeira de uns dez pés

de comprimento e três polegadas de grossura. É muito parecida com o eixo

de rodas de um carro. Utilizava-se para deslocar embarcações desde terra

firme até ao mar e vice – versa.

F) Bisento – Que consiste em uma alabarda (bastão de madeira com uma

lâmina no final) de grande peso. É similar a naginata, mas muito mais

pesada e comprida (a lâmina às vezes tinha 1 metro de comprimento).

Segundo a história de Kukishinden ryu o bisento foi levado da China ao Japão

por um guerreiro chamado Tetsujo. Este arma foi utilizada, em muitas ocasiões, pelos

pescadores japoneses para proteger-se contra piratas e isto influenciou enormemente as

técnicas da escola. Dizia-se que os guerreiros de Kukishinden ryu, durante os combates

utilizavam os mastros e utensílios em geral.

5. Conceitos históricos:

Esta escola foi desenvolvida na província de Kumano. Parece que antes de

Kukishinden ryu, veio a Kukishin ryu. O nome de “Kuki” foi dado pelo Imperador Go-

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Daigo (1319 – 1339) ao fundador da escola, acredita-se que foi Yasushimaru, guarda do

Imperador.

Em 1330, Kusunoki Masashige, um samurai de alta graduação, leal ao

Imperador, teria baixado sua tutela a Yasushimaru Kurando, que tinha 16 anos. Naquele

momento o Imperador havia sido seqüestrado, e conhecendo suas destrezas e

habilidades em Ninjutsu e outras Artes Marciais, lhe deram a missão de resgatá-lo.

O Imperador estava preso em Kazan-in, uma residência real. Kurando chegou

até onde estava o Imperador, disfarçou ele de mulher e carregou-o em seu ombro para

levá-lo através de um chão de madeira, que é conhecido como o corredor Hizume, que

foi, especialmente construído para que produza um grande som quando se caminha

sobre ele. Kurando estava caminhando sobre este chão e o som alertou os guardas, que

correram atrás de Kurando e do Imperador. Então Kurando colocou o Imperador

debaixo de uma árvore e enfrentou os samurais com um naginata (alabarda). Kurando

pode desfazer-se de todos, exceto de um oficial samurai que era bastante habilidoso, e

quando Kurando o atacou, este cortou a sua naginata na parte da lâmina. Kurando então

teve que utilizar a naginata como se fosse um bo (bastão de madeira longo), e desta

forma venceu o samurai. Livrando o Imperador, voltou são e salvo a Kyoto. Depois

disto Kurando se deu conta de que a naginata veio antes do bo, porém este último é

mais importante.

Ishitani Matsutaro, o 24o soke, na batalha Tenchigumi no Ran, encontrou a Uryu

Gikan, ele soke de Gikan ryu, Ishitani estudou humildemente sua tutela e se converteu

no sucessor desta escola. Ishitani Matsutaro trabalhou como oficial de segurança na

fábrica de fósforos, que pertencia ao pai de Takamatsu em Kobe. Ali foi onde encontrou

Takamatsu sensei, que havia estudado com seu avô, Koto ryu, Gyokko ryu e Shinden

Fudo ryu.

3.6.8. TAKAGI YOSHIN RYU JUTAIJUTSU 高木揚心流柔体術

1. Primeiro soke: Takagi Oriemon Shigenobu. (em uma publicação, Hatsumi

sensei indica que o fundador deste ryu foi Takagi Setsuemon Shigetoshi).

2. Data de criação: século XVII.

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 17o soke.

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4. Características técnicas:

Evita que o adversário possa escapar rodando. Isso talvez seja devido que o

estilo se desenvolveu em interiores. As técnicas se desenvolveram a distância curta,

logo, se realizavam projeções, luxações, estrangulamentos sempre evitando que o

oponente pudesse escapar. Se olha (mira) nos olhos, e as técnicas são velozes.

5. Principais ensinamentos:

“Um galho é flexível, porém uma árvore alta é quebrável”.

6. Conceitos históricos:

As origens de Takagi Yoshin ryu que foram revisadas e organizadas (a partir das

técnicas que se havia estudado) por Takagi Oriemon Shigenobu foram as técnicas de

Amatsu Tatara Rinpo Hiden Makimono e de Sessho Hiden no jutsu.

Takagi teve vários duelos com membros de Yagyu ryu (instrutores de espada do

Shôgun Tokugawa) e depois de perder um dos combates partiu para o Monte Kurama,

onde permaneceu durante 37 dias. Ali foi onde descobriu a importância dos olhos do

oponente. Posteriormente Takagi voltou a lutar contra quem o havia derrotado em

combate anterior. Quando se olharam, Takagi ergueu sua espada apontando diretamente

aos olhos de seu oponente e então seu oponente supôs que não poderia vencer e que se

lutassem ambos perderiam a vida.

Umannosuke recebeu a escola de Takagi. O novo soke acrescentou algumas

técnicas de Jujutsu de Takauchi ryu. Há que ter em conta que ele tornou a escola como

“Takagi Yoshin ryu Dakentai jutsu”, Senban Nage, Bo jutsu, So jutsu e Naginata jutsu.

O filho de Umannosuke denominou a escola como Takagi Yoshin Ryu Jujutsu.

Este teve uma luta com Kihei Shigenobu de Kukishinden ryu para provar as habilidades

de ambos. Parece que Takagi Yoshin ryu foi superior a nível de combate sem armas,

porém Kukishinden ryu foi superior a nível bastão longo (Bo Jutsu). Posteriormente

Kihei Shigenobu de Kukishinden ryu foi convidado para ensinar aos membros de

Takagi Yoshin ryu e depois disso ambos os soke trocaram seus conhecimentos. O soke

de Takagi Yoshin ryu, ficou doente e morreu. Antes disto mandou chamar a Kihei

Shigenobu de Kukishinden ryu e lhe perguntou sobre a possibilidade dele seguir adiante

com este novo caminho. Kihei Shigenobu denominou, posteriormente, ambas as escolas

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como Hon Tai Takagi Yoshin ryu e Hon Tai Kukishinden ryu. Mais tarde as escolas se

separaram novamente, porém, Takagi Yoshin ryu havia conservado as técnicas de

bastão (Bo Jutsu).

Em 1841 Jigero Hisayashi abriu um dojo em Arashi. Ele passou a escola a três

estudantes e lhes entregou o Menkyo Kaiden (espécie de documento secreto que estuda

a parte espiritual da técnica). Estes eram Ishitani Takeoi, Ishibashi e Fujita Togoro.

Fujita recebeu a Takagi Yoshin ryu e passou a escola a Mizuta Yoshitaro, que passou a

Takamatsu Sensei.

3.6.9. GIKAN RYU KOPPO JUTSU 義鑑流骨法術

1. Primeiro soke: Uryu Hangan Gikanbo (Daimyo de Kawachi no Kuni).

2. Data de criação: século XVI.

3. Dr. Masaaki Hatsumi: 15o soke.

4. Características técnicas:

Esta escola possui chutes especiais, ataques de punho e projeções. assim mesmo

se caracteriza pelo uso dinâmico de trabalho dos pés.

5. Principais ensinamentos:

“O primeiro golpe não vem certamente deste lado”.

6. Conceitos históricos:

O 10o soke desta escola se encontrou com Ishitani Takeoi Masatsugu de

Kukishinden ryu em uma batalha denominada “TENCHIGUMI NO RAN”. O soke de

Gikan ryu foi ferido por arma de fogo e encontrou a Ishitani de Kukishinden ryu que lhe

ajudou a recuperar-se e mais tarde a chegar a província de Iga. Parece que uma grande

amizade se formou entre ambos. O soke de Gikan ryu ensinou a Ishitani as técnicas de

sua escola e este chegou a adquirir um alto nível de habilidades, que levaram-no a ser o

seguinte soke de Gikan ryu Koppo Jutsu.

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Takamatsu sensei deu o Menkyo Kaiden ( 免許皆伝 )18 a seu melhor amigo e

estudante sênior, Fumio Akimoto, que foi o 14o soke. Desgraçadamente este morreria

de uma doença e a escola passaria diretamente ao antigo soke que ainda estivesse com

vida (Takamatsu sensei), que então passou diretamente a Hatsumi sensei.

Através do que visualizamos acima, podemos entender que as antigas tradições

marciais japonesas, especialmente o Ninjutsu, nunca foram realmente entendidas ou

compreendidas pelas pessoas em geral. A principal razão, é porque existem muitas

informações erradas e incorretas em várias publicações e falsas concepções criadas e

inventadas para vender coisas, realizar sonhos e em certos casos, controlá-las,

esquecendo que a sombra do objetivo dentro destas tradições nada mais é do que a

Educação, onde a mesma promove a libertação do praticante.

18 Licença completa. É concedido quando o discípulo aprendeu os ensinamentos da escola por completo, e este pode continuar a transmissão.

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CAPÍTULO IV

AS ANTIGAS TRADIÇÕES MARCIAIS COMO MEIO DE PACIFICAÇÃO

PARA O CAMINHO EDUCACIONAL.

Nos últimos anos tem se notado uma onda de violência com os ditos praticantes

de lutas e artes marciais, fato que denigre totalmente a imagem daqueles que faz dessas

modalidades de lutas e combate uma forma de prática saudável, em que se exercita não

somente o corpo, mas também o espírito. Estes elementos que estão desvirtuando a

seriedade e a beleza das lutas e antigas tradições, não passam de protótipos de lutadores,

provavelmente frustrados pelo fato de não conseguirem alcançar êxito em competições

esportivas. O hábito de participar de campeonatos, com regras estabelecidas, certamente

causa grandes frustrações no competidor, pois perdedores é a maioria. Com toda certeza

o desporto traz benefícios para os praticantes, mas, conforme Jones (2004, p. 11), “[...]

causar um deslize na personalidade de um estudante através do desporto é fácil: basta

não discipliná-lo e fazer entender que o mais importante é a vitória”. O desporto é

causador de uma formalidade tradicional nas praticas de lutas e artes marciais: faz com

que esqueçamos a razão principal de estar ali, deixamos os contextos da

tradicionalidade, da honra, da lealdade, da promoção do bem-estar entre praticantes e a

sociedade em geral, e voltamos todo nosso empenho para a vitória.

Nas chamadas academias e escolas, podemos vivenciar professores dar ênfase

somente a vitória. Não há nenhuma preocupação na educação do praticante como ser

sociável, pelo contrário; o professor preocupa-se em achar campeões e esquece do real

sentido da prática de lutas e artes de combate. Preocupar-se em competir e a todo custo

querer vencer pode ser muito perigoso, pois com a derrota causa-se transformações

fortes nos praticantes, pode-se estar iniciando um aprendizado paralelo da luta para

utilizá-la com outros fins que não seja o correto, sem qualquer cuidado com os aspectos

educacionais para a formação da cidadania. É importante ressaltar que esse tipo de

violência urbana não é privilégio somente de nossa sociedade. Ela existe em qualquer

parte do mundo e com peculiaridades culturais bem específicas de seus países, sejam de

cunho religioso, político, racial, étnico etc. Cabe aos professores, ditos sensei, ser

responsáveis e preocupados com o bem estar de seus estudantes e procurarem a melhor

forma de tornar a prática dessas modalidades, mais próxima possível do que se

considere ideal para o desenvolvimento psico-social do praticante.

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Como sabemos, o termo marcial vem do latim “martiale” e significa, entre

outras definições, “próprio da guerra” ou “relativo a guerreiros”. Já arte é a capacidade

do homem, natural ou adquirida, de pôr em prática uma idéia. O binômio arte marcial

deve, então, ser entendido como a capacidade de se praticar e dominar os

ensinamentos guerreiros com fins próprios para a obtenção de resultados pacíficos

e educacionais (grifo nosso), vencer a si próprio e não aos outros. Com a pratica dos

esportes baseados em artes marciais, qualquer que seja a luta ou arte de combate, dentro

de instituições de ensino, deverá sempre atender aos aspectos formativos e educativos

como pontos prioritários (grifo nosso). As academias podem ter seus objetivos

voltados mais especificamente para os aspectos educacionais a que seus objetivos de

vitória ou derrota se direcionam, porém sempre através dos meios necessários para a

formação de um cidadão no seio da sociedade.

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CAPÍTULO V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Qualquer luta ou arte marcial traz, em suas origens, um sentido de luta entre o

bem e o mal, entre a preguiça e a vontade de superar-se, entre um veredicto existencial e

a possibilidade de transcendência, entre a saúde e a doença, entre justiça e injustiça,

entre dominação e liberdade, etc. Em cada uma, encontram-se ícones que demonstraram

supremacia física, mental ou espiritual. Pessoas comuns que se tornaram exemplos.

Desses mitos erigiram-se códigos de conduta, valores morais e éticos a serem seguidos.

O significado do guerreiro universal se perpetuou por meio dos seguidores das antigas

tradições em diversas culturas. A prática destas abrange uma ampla educação, onde

juntamente com esta, autoconfiança, assertividade, solidariedade, cortesia, cooperação e

a realização de si mesmo. A transformação pessoal e a autoliderança ampliam-se para o

meio social e a agressividade natural é utilizada construtivamente para benefício de

todos. No caminho marcial, o guerreiro passa do nível da luta técnica, para o nível

intermediário do aprimoramento, e depois para o nível mais elevado, que é o verdadeiro

espírito marcial, a comunhão espiritual .

A expressão do Espírito Marcial é o mais belo legado das antigas artes dos

mestres guerreiros. A terra por onde andaram e os livros que contam suas aventuras ao

longo dos séculos, reproduzem na mente e no coração dos leitores os rastros luminosos

de suas espadas, evocando sua bravura, determinação, conquista e a graça da

iluminação. É esse Espírito Marcial que dá sentido à formação educacional para o

praticante, mantém a motivação nas disciplinas e consagra a arte guerreira. Guerreiros

são movidos por ideais e por emoções. O ideal canaliza a energia e a torna produtiva,

além de significar a ação e trazer um sentimento de perseverança. Expressar as emoções

por meio do movimento consciente mantém a saúde. O próprio movimento reconfigura

no cérebro as posturas emocionais não funcionais. Através da busca das antigas

tradições marciais, a flexibilização vence a rigidez. A busca do equilíbrio corrige a

postura espiritual destruída pelas derrotas em competições desportivas, que se mantém

em constante recuo, temerosa, pessimista, impulsiva e hostil. A natureza oferece lições

de durabilidade e força como resultantes da pratica educativa através das antigas

tradições marciais, da capacidade de curvar-se e reerguer-se sem se quebrar, de se

misturar sem se perder e de manter sua especificidade diante das transformações do

processo evolutivo.

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Uma situação que anteriormente provocava o descontrole emocional ou uma

sensação de estar acuado, é resignificada, e o praticante que antes se sentia ameaçado,

agindo imprudentemente ou ficando impotente perante um adversário em uma luta

desportiva (que na realidade não é seu adversário), agora se coloca acima de tais

circunstâncias, dando-lhes um limite real, com o qual pode se relacionar e atuar

assertivamente. O caminhar do praticante, através da essência das antigas tradições

marciais, o prepara para os desafios da vida, dando consistência à relação mente-corpo,

podendo extrair o que há de melhor em sua potencialidade latente, manifestando-a em

suas interações com o meio e com as pessoas. Aprendendo as lições que a natureza

oferece e compreendendo que razão e sentimento caminham juntos, .e o que foi

supostamente banido clamará seus direitos por meio de outras vozes, que poderão ser

alguns órgãos do corpo geneticamente vulneráveis, situações ou pessoas com essas

características que, sem saber por que, atraímos. O praticante procura alcançar o cume

da montanha de sua consciência, ampliando a visão. Evita projetar sua própria

agressividade nas adversidades e nos inimigos circunstanciais, justificando uma

estratégia defensiva desnecessária. Equilibra, entrega, confiança e autoconfiança com

esforço, disciplina, força de vontade, alternando movimentos de expansão e contração,

feminino e masculino, ativo e passivo, fogo e água, silêncio e palavra. Respeita o tempo

necessário dos acontecimentos, reconhece os ciclos da natureza e sabe distinguir as

limitações superáveis dos limites que precisam ser simplesmente aceitos.

Assim como os antigos guerreiros, os praticantes são resilientes. São motivados

pela vontade de superar-se, pela vontade de ajudar a outros, pela vontade de cumprir o

propósito de sua vida. Servindo à intencionalidade da vida torna-se um legitimo

guerreiro. O dharma (dever) de um guerreiro funde-se com sua trajetória e é ao mesmo

tempo a força que o sustenta neste caminho. O dharma pressupõe um modo, uma

função, que, por sua vez, pressupõe um dharma. O dharma também pode ser visto

como uma vocação, um chamado, um percurso, um nobre ideal, uma causa, o sentido de

sua vida. O dharma se expressa de várias formas, e as principais são: lei universal, leis

sociais, obrigações vinculadas aos papéis desempenhados e lei pessoal. O dharma

compreende a natureza física, mental e emocional de cada indivíduo e utiliza também os

resultados positivos e negativos de suas ações, muito embora os efeitos negativos, como

tendências repetitivas, tornem-se adharma, desviando o guerreiro de sua meta. No

corpo, cada célula representa uma unidade autônoma, com funções específicas,

participando da totalidade do indivíduo. Podemos dizer que as células também possuem

dharma. Como pequenas unidades de consciência, precisam manter-se em harmonia

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com o conjunto. Se perderem a conexão educacional, que é sua função, criarão o caos, a

doença e o sofrimento. Por ser a doença um engano, um desvio da função natural,

alguns caminhos espirituais a consideram como uma mentira, um sonho. Entender a

função de cada órgão, observar a coerência entre o estilo de vida e o propósito de cada

pessoa pode ajudá-la a perceber onde ocorre o desvio na sua pratica educacional.

Qualquer indivíduo em sua caminhada existencial tem desafios a vencer,

potencialidades a despertar, feridas a curar, e o sentido de sua vida para descobrir e

realizar. O percurso é individualmente traçado, porém é interpenetrado como um todo e

através deste sabemos que o importante e não nos formarmos guerreiros e sim seres

humanos.

“Gostaria que todos os combates

pudessem demonstrar simpatia e amor, pois um homem violento, morrerá

de morte violenta”

(Filosofia Shinobi)

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REFERÊNCIAS

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Angeles: Budo Library, 2004.

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Encyclopedia (2001). 2 ed. Los Angeles: Budo Library, 2004.

FABIAN, M. Stephen. Antropologia sócio-cultural nas lutas. São Paulo: Cultrix,

2005.

HILLSBOROUGH, Romulus. Ryoma: Life of a Renaissance Samurai. São Francisco:

Ridgeback Press, 1999.

MASAAKI, Hatsumi. The essence of Ninjutsu: The nine traditions. Tokyo: Kodansha,

2001.

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Kodansha, 2001.

MASAAKI Hatsumi. Ninpo: Wisdom for Life. Tokyo: Kodansha, 1998.

MATSURADA, Onu. As Artes Marciais e o desporto contemporâneo. Lisboa:

Edições 56, 2003.

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