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FACULDADE CEARENSE
CURSO DE DIREITO
VLÁDIA DE SOUSA FERREIRA
O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA
PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL
FORTALEZA
2013
VLÁDIA DE SOUSA FERREIRA
O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA
PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Direito da Faculdade Cearense, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientador: Prof. Ms. Homero Bezerra Ribeiro.
FORTALEZA
2013
F383p Ferreira, Vládia de Sousa.
O Princípio da Proteção Integral e suas Implicações na
prevenção da Alienação Parental / Vládia de Sousa Ferreira. – Fortaleza, 2013.
55 f. Monografia (Graduação) – Faculdades Cearenses – FaC, Curso de Direito, 2013. Orientador: Prof. Ms. Homero Bezerra Ribeiro 1. Proteção integral. 2. Constituição Federal. 3. Direito da Criança e do Adolescente. 4. Lei da Alienação Parental. 5. Estatuto da Criança e do Adolescente. I. Ribeiro, Homero Bezerra. II. Faculdade Cearense. III. Título.
CDD 342.164
VLÁDIA DE SOUSA FERREIRA
O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA
PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Direito, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca
examinadora composta pelos professores.
DATA DE APROVAÇÃO
___/___/______
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________
Professor Ms. Homero Bezerra Ribeiro
Orientador temático e metodológico
______________________________________________________________
Professora Ms. Kílvia Souza Ferreira
Examinador
______________________________________________________________
Professor Esp. Giovanni Augusto Baluz Almeida
Examinador
AGRADECIMENTOS
A Deus, em primeiro lugar, por toda a força de vontade, coragem e
persistência durante minha vida e ao longo desta caminhada acadêmica.
Aos meus pais, Antonio e Francimeire, minha irmã Vanessa, nossa
cachorrinha Luna, além de todos os meus familiares que, com muito carinho e apoio,
não mediram esforços para que eu chegasse até aqui e concluísse mais este
desafio.
Ao meu orientador temático e metodológico, Professor Homero Bezerra,
por sua disponibilidade, dedicação e orientação primorosa no decorrer deste
trabalho e durante os ensinamentos dados em sala de aula enquanto cursava minha
graduação.
Ao coordenador do curso de Direito da FaC, Professor Júlio Pontes, pelo
convívio, pelo auxílio, pela compreensão e pela amizade.
Aos professores do curso de Direito, pois todos foram de suma
importância na minha vida discente. Desde os primeiros passos na faculdade, vocês
me fizeram sentir acolhida, auxiliada e preparada para enfrentar o mercado de
trabalho e vivenciar a profissão que escolhi.
Aos meus amigos, Gilberto, Leidiane, Lara, Marielson, Anastácio, Clores
Rafaela, Dr. Castelo, Ana Paula, Gustavo, Tayana e Marcelo, pelo convívio diário e
todo o suporte necessário ao meu crescimento pessoal e profissional.
Agradeço, ainda, à minha amiga Wigna, pelo incentivo, pela amizade,
pelo apoio constante, pela compreensão e por estar ao meu lado em vários
momentos difíceis de minha vida.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram com minha
formação e o desenvolvimento do meu trabalho. Meus mais sinceros
agradecimentos.
"Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao
princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência
contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra."
(Bandeira de Mello – Jurista Brasileiro)
RESUMO
Este trabalho apresenta o Princípio da Proteção Integral, bem como a evolução histórica do direito da criança e do adolescente levando em consideração um dos seus principais norteadores, a Constituição de 1988, não deixando de apresentar também o Estatuto da Criança e do Adolescente. Aborda como se deu o surgimento da Síndrome da Alienação Parental (SAP), através da pontuação dos seus principais fatos históricos, mostrando também quais são os tipos de alienação parental existentes e quais as principais consequências dessa prática, além disso, como esse processo passou a ser reconhecido e combatido no direito brasileiro. Expõe as implicações legais do Princípio da Proteção Integral em relação à alienação parental, onde apresenta os direitos da criança e do adolescente que são feridos pela pratica da alienação parental. Mostra como se prevenir da alienação parental através do principio da proteção integral através do Estatuto da Criança e do Adolescente e também da Lei 12.318 (Lei da Alienação Parental – LAP) Palavras-chave: Proteção Integral. Constituição Federal. Direito da Criança e do Adolescente. Lei da Alienação Parental. Estatuto da Criança e do Adolescente.
RESUMEN
Este trabajo presenta el principio de la protección integral, así como la evolución histórica del derecho del niño y del adolescente llevando en consideración uno de sus principales norteadores, la Constitución de 1988, no dejando de presentar también el Estatuto del Niño y del Adolescente. Abordan como se dio el surgimiento del síndrome de la alienação parental (SAP), a través del puntaje de sus principales hechos históricos, mostrando también cuáles son los tipos de alienação parentais existentes y cuáles las principales consecuencias desala practica, además de eso, como ese proceso pasó a ser reconocido y combatido en el derecho brasileño. Expone las implicancias legales del principio de la protección integral en relación a la alienação parental, donde presenta los derechos del niño y del adolescente que son heridos pela practica de la alienação parental. Muestra como prevenirse de la alienação parental a través del principio de la protección integral a través del Estatuto del Niño y del Adolescente y también de la Ley 12.318 (Ley de la Alienação Parental – LAP) Palabras clave: Protección Integral. Constitución Federal. Derecho del Niño y del Adolescente. Ley de la Alienação Parental. Estatuto del Niño y del Adolescente.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 O PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL: CONCEITUAÇÃO E TEORIA
JURÍDICA ................................................................................................................ 14
2.1 OS PRIMÓRDIOS DO DIREITO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE NO
BRASIL .................................................................................................................. 14
2.2 A DOUTRINA DO PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL ........................... 20
2.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE EM CONSONÂNCIA COM O PRINCIPIO DA PROTEÇÃO
INTEGRAL ............................................................................................................. 23
3 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP): ORIGEM, ASPECTOS
CONCEITUAIS E GERAIS ....................................................................................... 25
3.1 ASPECTOS EVOLUTIVOS E HISTÓRICOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL .... 27
3.2 FORMAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL .......................................................... 32
3.3 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA
ALIENAÇÃO PARENTAL ...................................................................................... 35
4 AS IMPLICAÇÕES LEGAIS DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL EM
RELAÇÃO A ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................................. 37
4.1 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA
ALIENAÇÃO PARENTAL ...................................................................................... 39
4.2 A PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL ATRAVÉS DO PRINCIPIO DA
PROTEÇÃO INTEGRAL ........................................................................................ 41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 47
6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 49
ANEXOS .................................................................................................................. 53
11
1 INTRODUÇÃO
A sociedade brasileira, nas últimas décadas, assistiu a rápidas transformações
no cenário econômico, político, demográfico, social e cultural do País, bem como
participou da mudança constante de paradigmas que implicaram numa reavaliação de
definições estáticas e na evolução de valores e conceitos concebidos desde os
primórdios da civilização, como por exemplo, no que diz respeito ao conceito de família.
Paulatinamente, a mudança na dinâmica familiar acarretou a necessidade de reflexão da
ideia tradicional apresentada sobre a estrutura familiar e sua composição (pai, mãe e
filhos), assim como sua questão social, que deu lugar a uma descrição mais abrangente
do que estamos acostumados a considerar como sendo um núcleo familiar. Devido à
desagregação da unidade familiar, a perda do pai como a figura central no ambiente
doméstico e a nova configuração da interação entre pais separados, lares desfeitos,
relação de convívio entre madrastas/padrastos e enteados, aumentaram o interesse por
discussões e debates acerca das implicações da separação na vida da prole gerada.
Consequentemente, tornou-se necessário que leis e estatutos fossem criados
para resguardar e proteger a integridade física e psicológica daqueles indivíduos
provenientes de uniões consensuais dissolutas, mas também para fundamentalmente
amparar os direitos das crianças e adolescentes que são os maiores prejudicados com
processos traumáticos e, por que não dizer, dramáticos causados por uma separação.
Quando, do decurso judicial de separação do casal, pais, mães e até mesmo outros
parentes próximos à criança passam a demonstrar elementos sistemáticos que
caracterizam má conduta e vitimização para praticar atos de violência velada através de
abuso psicológico, comportamento ofensivo e condenável, medidas jurídicas deverão
ser tomadas para afastar o menor em questão do fogo cruzado entre os genitores e
prover formas de amenizar o sofrimento utilizando os instrumentos cabíveis por
determinação formal.
Sendo assim, por tais motivos, apresentamos no presente estudo, uma breve
revisão de literatura com o intuito de contextualizar a prática da alienação imposta a
indivíduos indefesos, algo que frequentemente vêm sendo praticado por cônjuges que,
ao se separar seja de forma litigiosa ou consensual, usam seus filhos como meio de
12
obter vingança e atingir a outra parte, sem atentar para os sentimentos e o abandono
afetivo da criança ou adolescente. Propomos também a pesquisa teórica sobre o tema
baseados no argumento de que discutir tal assunto tão divulgado em diferentes áreas, é
extremamente pertinente para acompanharmos os rumos que os debates, as pesquisas
e as fontes bibliográficas apontam. Ao lançarmos um olhar sobre a Lei 12.318/2010,
tentamos não só compreender a doutrina, mas aprofundar os conhecimentos relativos
ao alcance da norma e sua eficácia.
Estruturamos nossa pesquisa em cinco capítulos, enfocando o nosso objeto de
estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, da seguinte
maneira:
O primeiro capítulo traz a contextualização e nossas considerações iniciais
acerca do tema abordado, bem como justifica nosso interesse em desenvolver um
estudo de modo a entender com o Estado ampara o sujeito em desenvolvimento, de
forma preventiva de atos alienação parental através de artefatos jurídicos.
No segundo capítulo, explanamos sobre a evolução histórica do Direito da
Criança e do Adolescente, pontuando alguns dos principais acontecimentos no Direito
Brasileiro em consonância com o Princípio da Proteção Integral, considerando o mais
importante dos norteadores dos direitos da criança e do adolescente em nosso país, a
Constituição Federal de 1988.
No terceiro capitulo, apresentamos como surgiu o conceito do termo Síndrome da
Alienação Parental, quais perspectivas levaram ao seu reconhecimento como condição a
ser matéria para que a legislação brasileira viesse a criar normas para regulamentar a
situação com o intuito de prevenir e combatê-la. Salientamos, também, as formas
cometidas comumente de alienação parental e que são classificadas de acordo com a
intensidade e gravidade da prática. Além disso, também mostraremos as consequências
da alienação parental na formação emocional e interpessoal da criança e do adolescente,
ressaltando como esse comportamento pode trazer consequências destrutivas e
prejudiciais estendidas até mesmo à vida adulta do filho.
13
No quarto capitulo, expomos as implicações legais do Principio da Proteção
Integral em relação à Alienação Parental, assim como apontamos quais direitos da
criança e do adolescente são feridos mediante tal prática abusiva e egoísta. Por fim,
apresentamos como se dá a prevenção da Alienação Parental amparada pelo Princípio
da Proteção Integral presente na Lei 12.318/2010.
No quinto capítulo, apresentamos nossas considerações finais e reflexões
resultantes das leituras realizadas para delinear e delimitar os assuntos abordados na
construção da pesquisa.
14
2 O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL: CONCEITUAÇÃO E TEORIA JURÍDICA
A teoria da proteção integral que permeia a fundamentação e a orientação
doutrinária do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, recentemente estabeleceu-
se como conjectura indispensável para a compreensão do Direito da Criança e do
Adolescente no Brasil. A partir do final do século XX, a teoria da proteção integral passou
por um período de transição no país e sofreu mudanças em seu campo científico
substituindo o Direito tradicional, que não percebia a criança como indivíduo, tornando-se
referencial paradigmático para construir um substrato teórico constitutivo e fomentador
dos direitos fundamentais da criança e do adolescente como verdadeiros sujeitos de
direito, em condição peculiar de desenvolvimento.
Em suma, a proteção integral ao ser vista como um dos efeitos da mudança
paradigmática do novo Direito da Criança e do Adolescente, exige uma prática
continuada com a efetiva entrega dos direitos inerentes à criança e ao adolescente. Por
isso, a teoria jurídica é traduzida dessa forma, pois tem como função proporcionar o
desenvolvimento igualitário, seguro e sem conflitos de interesse, baseado-se em valores,
princípios e regras próprias.
Diante disso, abordaremos a evolução da doutrina da proteção integral
observando brevemente os primórdios do direito da infância e da juventude no Brasil, a
doutrina do principio da proteção integral e, para finalizarmos o capítulo, faremos algumas
ponderações sobre a Constituição Federal de 1988 e os Direitos da Criança e do
Adolescente em consonância com o Principio da Proteção Integral.
2.1 OS PRIMÓRDIOS DO DIREITO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE NO BRASIL
Antes da codificação acerca do direito da infância e da juventude, o discurso
jurídico-social no Brasil não contemplava as necessidades, tampouco, as idiossincrasias
inerentes aos indivíduos compreendidos na faixa etária de zero a dezoito anos. Tornou-
se, então, inevitável repensar e criar normas para tutelar e impor penalidades
15
administrativas por infração às normas de proteção à criança e ao adolescente. Amaral
(2008) define o novo ramo especializado para tratar da área da infância e juventude como
sendo o:
Sistema de métodos de estudo e aplicação dos princípios jurídicos e das normas referentes aos sujeitos do Direito Especial de proteção integral, pessoas de menos de dezoito anos de idade, consideradas pela Constituição e pela Lei em estágio de desenvolvimento biopsicossocial. (AMARAL, 2008, n.p)
Agências especializadas e organizações internacionais que se dedicam ao bem
estar da criança ressaltam em alguns tratados internacionais de proteção infanto-juvenil,
bem como em documentos elaborados para salientar a importância da cooperação e do
empenho para a melhoria das condições de vida dos infantes em todos os países, que
particularmente em países em desenvolvimento, onde se concentra um grande número
de crianças social e economicamente marginalizadas, deve-se oferecer maior atenção à
infância e à juventude, trazendo nas entrelinhas um alerta para a vulnerabilidade desses
sujeitos de direito.
A necessidade de proporcionar proteção especial à criança foi enunciada na
Declaração de Genebra, em 1924, considerada a precursora de novas perspectivas nas
décadas seguintes, conquistou marcos importantes nas discussões entre as nações
sobre os direitos de crianças e adolescentes, destacando como foco principal a
necessidade de proteção especial dos mesmos, pois trata-se de sujeitos de direito em
condições peculiares de desenvolvimento. Entretanto, somente com a criação da ONU
(Organização das Nações Unidas) e da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a
Infância) após a Segunda Guerra Mundial, que os direitos dos menores foram
reconhecidos e ratificados.
Em 1948, como já havia sido enunciado anteriormente na Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança, a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
disposta em dez princípios (SCHREIBER, 2001, p. 56), os quais reafirmam o direito a
cuidados e assistência à infância, sendo “considerada a maior prova histórica do
consensus omnium gentium sobre um determinado sistema de valores” (BOBBIO, 2004
apud AZAMBUJA, 2011), veio reforçar o pedido de igualdade e solidariedade aos
16
menores em um documento que elencou os direitos humanos e fundamentais que
proclamavam direitos à infância e à juventude.
Em 1959, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no caminho para
o reconhecimento dos direitos de crianças e adolescentes, foi aprovada a Declaração
Universal dos Direitos da Criança, inspirada na Declaração de Genebra de 1924. Delfino
(2009), transcreve um trecho extraído da supracitada onde é apresentada a definição
que expressamente elucida o que seria a proteção especial à criança:
[...] a criança, em decorrência de sua imaturidade física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, antes e depois do nascimento. Afirma, ainda, que a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços. Apela a que os pais (grifo nosso), cada indivíduo de per si, as organizações voluntárias, as autoridades locais e os governos reconheçam esses direitos e liberdade enunciados, empenhando-se todos pela sua observância, mediante medidas legislativas de outra natureza. (DELFINO, 2009, p.10)
Ainda em seu preâmbulo, a referida declaração expressa o pensamento de que
os países signatários devem adotar e incorporar às suas leis, normas que assegurem aos
menores, no mínimo, o compromisso, a responsabilidade do Estado, pais e responsáveis,
enfim, de toda a sociedade, e a garantia de que serão inclusos mecanismos necessários
à fiscalização do cumprimento de suas disposições e obrigações concernentes à
manutenção saudável de sua infância e adolescência, ou seja, pessoas menores de 18
anos. Foi reconhecida também no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e no
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966.
Em 1989, foi a vez da Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada no
Brasil por intermédio do Decreto nº 99.710, de 21 de setembro de 1990, após ratificação
pelo Congresso Nacional, em 14 de setembro do mesmo ano pelo Decreto Legislativo n°
28. Conforme dispõe em seu preâmbulo, foi concebida tendo em vista a necessidade de
garantir a proteção e cuidados especiais à criança, incluindo proteção jurídica
apropriada, antes e depois do nascimento. Levando em consideração que em todos os
países do mundo existem crianças vivendo em condições extremamente adversas e
necessitando de proteção especial, fixou como meta incentivar os países membros a
efetivarem o desenvolvimento pleno e harmônico da personalidade de suas crianças,
favorecendo o seu crescimento em ambiente familiar, preparando-as para viverem uma
17
vida individual em sociedade e serem educadas no espírito dos ideais difundidos na
Carta das Nações Unidas.
Os tratados internacionais afastaram ainda os conflitos culturais entre os países
para oferecer às crianças e aos adolescentes garantias de caráter universal. Como bem
explica Maria Regina Fay de Azambuja:
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança vem reforçar a ideia da não exclusão das crianças e dos adolescentes, possibilitando a aplicação de seus princípios em países com culturas diferentes, a partir da ratificação quase universal hoje verificada, sinalizando para o fato de que as particularidades culturais devem ficar em segundo plano sempre que entrarem em conflito com os direitos humanos. (AZAMBUJA, 2004, p. 47)
No Brasil, a primeira norma especifica a proteger a criança e o adolescente foi o
Código de Menores de 1927, que consolidou toda a legislação sobre crianças. Tinha por
objetivo legislar sobre as crianças de 0 a 18 anos, em situação de abandono, moradia
incerta, pais falecidos, desaparecidos, que se tornaram incapazes de cuidar de uma
criança, inclusive os pais presos por um período superior a dois anos, ou seja, o Código
visava proteger a criança que estivesse em situação de risco junto do convívio familiar.
Atribui ao Estado a tutela sobre os órfãos, os abandonados e os pais presumidos como
ausentes, tornando disponível os seus direitos de pátrio poder.
Sob a proteção do Código Civil de 1916, os direitos pertinentes à criança
inserida em uma família padrão, em moldes socialmente aceitáveis para a época,
continuou merecendo a proteção do Código Civil Brasileiro, sem alterações substanciais.
O Código de Menores de 1927 estabelecia que:
Art. 136° - A autoridade pública encarregada da proteção nos menores pode visitar as escolas, oficinas e qualquer outro lugar onde se achem menores, e proceder a investigações, tomando as providencias que forem necessárias.
Diante do exposto, percebe-se que o Estado apresentou um grande avanço,
adotando uma política intervencionista nas relações no âmbito familiar. Porém, com
algumas restrições, pois não abrangiam as crianças e adolescentes em situação de
risco. Outro aspecto importante no Código de Menores de 1927 é a garantia de sigilo às
18
entidades de acolhimento de menores e aos cartórios de registro de pessoas naturais o
em relação aos genitores que quisessem abandonar os seus filhos, inclusive, garantindo
o sigilo da mãe quanto ao seu estado civil e a ocasião na qual aquela criança foi gerada.
Tudo ocorria em segredo de justiça e de forma gratuita.
O Código de Menores de 1979 instituiu uma política assistencialista com leis
voltadas para os menores que cometeram algum delito e tinham problemas de amparo
social. Consta que os fundamentos do Código de 1979, eram opostos aos preceitos do
Princípio da Proteção Integral. O instrumento jurídico protético do menor de 1979
abrangia apenas as situações de patologia social. Não havia rigor procedimental, com
inobservância, inclusive, ao Princípio do Contraditório. E, portanto, o que prevalecia nos
ditames processuais era um elevado grau de discricionariedade da autoridade judiciária.
Suas características provinham da ideia de que o mundo adulto era suficientemente bom
para as crianças e adolescentes e que os adultos sabiam o que seria melhor para eles.
Logo, a prevenção limitava-se a disciplinar medidas de vigilância.
Os códigos vigentes tratavam das funções do Estado quando das medidas as
quais deveriam ser tomadas para resguardar o direito à integridade física, se contemplar
aspectos subjetivos inerentes ao sujeito. Com a criação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990), mudanças significativas foram
introduzidas com relação à legislação anterior. A terminologia “menor” foi substituída por
“criança e adolescente”. Além disso, passaram a ser considerados cidadãos, com
direitos pessoais e sociais garantidos, exigindo da União, Estados e Municípios a
implementação de políticas públicas, especialmente dirigidas a esse segmento. Também
estabeleceu a criação do Conselho Tutelar, que nada mais é do que o:
Órgão relacionado à sociedade quanto ao dever de assegurar os direitos dos menores. Neste diapasão, a lei em questão trouxe as mudanças. [...] Inclusão em suas atribuições de representação ao Ministério Público a fim de que este promova as ações de perda ou suspensão do poder familiar; inclusão do dever de comunicar imediatamente ao Ministério Público os casos em que entender necessário o afastamento familiar. (LOPES & FERREIRA, n.p)
Além de atender crianças e adolescentes, aplicar medidas de proteção
aconselhar os pais ou responsável legal e aplicar as medidas pertinentes previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente, o Conselho Tutelar tem como principais deveres:
19
a) promover a execução de suas decisões, podendo requisitar serviços públicos
e entrar na Justiça quando alguém, injustificadamente, descumprir suas
decisões;
b) levar ao conhecimento do Ministério Público, fatos que o Estatuto tenha como
infração administrativa ou penal;
c) encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes;
d) tomar providências para que sejam cumpridas as medidas sócio-educativas
aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores;
e) expedir notificações em casos de sua competência;
f) requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e adolescentes,
quando necessário;
g) assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária
para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente;
h) entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para que estas se
defendam de programas de rádio e televisão que contrariem princípios
constitucionais bem como de propaganda de produtos, práticas e serviços
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente;
i) levar ao Ministério Público os casos que demandam ações judiciais de perda
ou suspensão do pátrio poder;
j) fiscalizar as entidades governamentais e não governamentais que executem
programas de proteção e socioeducativos (KAMINSKI apud LAUREANO, s.d).
Igualmente, ficou estabelecido que nenhuma criança ou adolescente será
negligenciada, discriminada, explorada, oprimida, tratada com crueldade ou violência
sem que aqueles que praticarem esses atos opressivos ou que se tornarem omissos
diante de uma situação de violência contra uma criança ou adolescente, deverá ser
punido por lei. Por exemplo, os Conselhos de Direitos foram criados por determinação
do Estatuto da Criança e do Adolescente e existem nas instâncias Municipal, Estadual e
Federal para coibir e punir este tipo de infração.
Os Conselhos de Direitos têm por atribuição principal criar, fazer funcionar,
garantir o direito de participação do cidadão na definição das ações de atendimento às
20
crianças e adolescentes. Da mesma forma, objetiva construir novas relações entre
governo e sociedade, para dividir as responsabilidades na construção de políticas
públicas adequadas ao contexto social e as necessidades de cada município.
A Constituição Federal de 1988 marcou o Direito Brasileiro com um indelével
avanço no campo da normatização de direitos e garantias fundamentais. Neste contexto,
ao lado dos princípios e normas instituídos pela Constituição Federal de 1988, a
Convenção dos Direitos da Criança, adotada em 1989 e ratificada pelo Brasil em 1990,
serviu de fonte de inspiração na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
n° 8.069, de 13 de julho de 1990, que entrou em vigor na data de 14 de outubro de 1990.
O texto constitucional de 1988 antecipou tendências e trouxe em seus artigos os
preceitos da Doutrina da Proteção Integral.
Vale salientar que, é importante observar que durante décadas a proteção
oferecida por lei à criança e ao adolescente ficou um tanto quanto negligenciada, tendo
em vista que até a promulgação da Constituição de 1988, a criança e o adolescente eram
tratados de forma discriminatória e sem nenhum cuidado real especializado. Sendo
assim, a partir do momento em que eles adquiriram a condição de sujeitos de direito
reconhecido, passaram a reivindicar seus direitos plenos: moradia, lazer, educação,
dentre outros. Fica claro também, que outras medidas devem ser estabelecidas para que
haja a evolução desses direitos dada as novas configurações que permeiam a hodierna e
contínua dinâmica social.
2.2 A DOUTRINA DO PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL
O Principio da Proteção Integral busca conferir direitos ao sujeito que está em
processo de desenvolvimento. Quando a autoridade parental age de má fé e aproveita-
se da vulnerabilidade do próprio filho, promovendo uma campanha denegritória contra o
outro genitor e infligindo abuso emocional à criança que precisa de prioridade absoluta e
proteção integral, este princípio norteador é ferido.
21
Vercelone (2000), em sua obra “Estatuto da Criança e do Adolescente:
comentários jurídicos e sociais” postula que:
Deve-se entender a proteção integral como o conjunto de direitos que são próprios apenas aos cidadãos imaturos; estes direitos, diferentemente daqueles fundamentais reconhecidos a todos os cidadãos, concretizam-se em pretensões nem tanto em relação a um comportamento negativo (abster-se da violação daqueles direitos) quanto a um comportamento positivo por parte da autoridade pública e dos outros cidadãos, de regra adultos encarregados de assegurar esta proteção especial. Por força da proteção integral, crianças e adolescentes têm o direito de que os adultos façam coisas em favor deles. (VERCELONE, 2000 apud CURY, 2005, p. 33)
A Proteção Integral é fundamentada em três pilares, a saber: 1) a criança
adquire a condição de sujeito de direitos; 2) a infância é reconhecida como fase especial
do processo de desenvolvimento; e, 3) a prioridade absoluta a esta parcela da
população passa a ser principio constitucional, conforme o artigo 227 da Constituição
Federal de 1988.
Podemos perceber, à vista disso que, com a elaboração da Constituição da
Republica Federativa do Brasil, um passo decisivo para o estabelecimento da proteção
integral foi tomado em direção àqueles que, de certa forma, não se encontravam
devidamente amparados pela lei, garantindo a criança e ao adolescente um conjunto de
princípios e regras que irão salvaguardar a sua existência como ser humano atuante e
pensante dentro da sociedade democrática em que estão inseridos, dando aos mesmos,
voz e vez para que possam atuar e vivenciar plenamente seu papel social.
Sobre esse aspecto, Custódio (2008, n.p) assevera que
A Constituição da República Federativa do Brasil e suas respectivas garantias democráticas constituíram a base fundamental do Direito da Criança e do Adolescente inter-relacionado os princípios e diretrizes da teoria da proteção integral, que por consequência provocou um reordenamento jurídico, político e institucional sobre todos os planos, programas, projetos ações e atitudes por parte do Estado, em estreita colaboração com a sociedade civil, nos quais os reflexos se (re) produzem sobre o contexto sócio-histórico brasileiro.
Em contrapartida, consideramos o pensamento de Ramidoff (2007, p. 21) em
sua tese de mestrado a respeito da constituição de uma base epistemológica
consistente, pois
22
A pretensão de integração sistemática da teoria e da pragmática pertinentes ao direito da criança e do adolescente certamente se constitui num dos objetivos primordiais a serem perseguidos pela teoria jurídica infanto-juvenil. Até porque uma das principais funções instrumentais oferecidas pela proposta da formatação daquela teoria jurídico-protetiva é precisamente oferecer procedimentos e medidas distintas por suas necessidades e especificidades no tratamento de novas emergências humanas e sociais, procurando-se, desta maneira, estabelecer outras estratégias e metodologias para proteção dos valores sociais democraticamente estabelecidos – como, por exemplo, direitos e garantias individuais fundamentais – pertinentes à infância e à juventude. (RAMIDOFF, 2007, p. 21 apud CUSTÓDIO, 2008, n.p)
Recapitulando, a sociedade em sua totalidade vem passando por um processo
contínuo cujas transformações, nas quais muitas regras que norteavam o
comportamento dos seres humanos foram substituídas e outras acabaram por ser
estabelecidas, modificaram o modelo tradicional de família constituído por cônjuges e
prole. Tais distintas alterações, afetaram a condição da criança e do adolescente que
necessita de todo o aparato legal, bem como o apoio para lidar da forma mais tranquila
possível com a nova realidade da dissolução do lar e de suas relações familiares. Sendo
assim, os interesses da criança e do adolescente devem ser postos como prioridade,
uma vez que
[...] os atos relacionados ao atendimento das necessidades da criança e do adolescente devem ter como critério a perspectiva dos seus melhores interesses. Essa perspectiva é orientadora das ações da família, da sociedade e do Estado, que nos processos de tomada de decisão, sempre, devem considerar quais as oportunidades e facilidades que melhor alcançamos interesses da infância. (CUSTÓDIO, 2008, n.p).
Consequentemente, é notório que os direitos da criança e do adolescente, bem
como a proteção integral dos mesmos devem ser cumpridos de fato e não apenas
estabelecidos nos documentos que regularizam a situação destes indivíduos, ou seja, é
preciso que o Estado e a família efetivem esses princípios determinados por lei de forma
plena e satisfatória, do mesmo modo que a Constituição Federal também venha ser
respeitada em tal grau que o bem estar e a qualidade de vida individualizada de cada
criança e cada adolescente sejam atendidos.
Por conseguinte, é evidente o fato que os princípios que norteiam os direitos da
criança e do adolescente muitas vezes são desrespeitados ou simplesmente não são
aplicados nos casos concretos devido à dificuldade de mensurar e de visualizar tais
situações antes que o juiz a quo reconheça o caso em juízo. Porém, o Estado e a
23
Justiça, seguem unindo esforços e trabalho para alcançar, através de políticas públicas
e normas regulamentadoras, a garantia de estender a segurança jurídica a todos esses
sujeitos de direito, proporcionando condições mínimas para que se desenvolvam
plenamente, tenham moradia, lazer, saúde, dentre outros preceitos básicos.
Destarte concordarmos com a seguinte afirmativa:
Sabe-se que pouca efetividade será alcançada sem o compromisso firme com o princípio da tríplice responsabilidade compartilhada, segundo o qual a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar os direitos fundamentais da criança e do adolescente. Neste contexto, a articulação dos princípios do Direito da Criança e do Adolescente para sua aplicação na realidade concreta pode desempenhar um papel pedagógico, verdadeiramente provocador da cidadania, da democracia e das necessárias transformações sociais e políticas. Esse é o fundamento emancipatório da Teoria da Proteção Integral. (CUSTODIO, 2008, n.p).
É imprescindível que observemos a necessidade de atentar para o fato de que se
trata de uma questão que ultrapassa os limites legais, mas também abrange a própria
sociedade e seu conjunto de regras que não necessariamente estão inseridos em um
contexto jurídico e sim sociológico. Vale relembrar que, as discussões sobre o tema e a
temática da alienação parental englobam outras áreas. O assunto requer um bom tempo
de dedicação e pesquisa para que possa se desenvolver tanto na prática, assim como
também na teoria tratada nos meios acadêmicos.
2.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE EM CONSONÂNCIA COM O PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL
O ordenamento jurídico brasileiro acolheu crianças e adolescentes para o mundo
dos direitos e dos deveres, apresentando a eles o mundo da cidadania.
O artigo 227 da Constituição Federal Brasileira assevera que
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
24
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988, n.p).
Não há como deixar de mencionar a postura vanguardista do Brasil ao assumir,
em 1988, o compromisso com a Doutrina da Proteção Integral, que promulgada antes da
aprovação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, assegurou à
criança, direitos fundamentais como: direito à vida, à saúde, à educação, à liberdade, ao
respeito, à dignidade, o direito à convivência familiar, dentre outros já citados. Isto
direcionou as futuras legislações infraconstitucionais que versam sobre a temática da
proteção da criança e do adolescente no Brasil.
Isso vem ao encontro do pensamento de Veronese & Oliveira (2008, n.p) que
considera que
A Convenção definiu a base da Doutrina da Proteção Integral ao proclamar um conjunto de direitos de natureza individual, difusa, coletiva, econômica, social e cultural, reconhecendo que criança e adolescente são sujeitos de direitos e, considerando sua vulnerabilidade, necessitam de cuidados e proteção especiais. Exige a Convenção, com força de lei internacional, que os países signatários adaptem as legislações às suas disposições e os compromete a não violarem seus preceitos, instituindo, para isto, mecanismos de controle e fiscalização.
As normas jurídicas que amparam as crianças e os adolescentes devem
concebê-los como cidadãos plenos, porém sujeitos à proteção prioritária, tendo em vista
que são pessoas em desenvolvimento moral, psicológico e físico. Não devem, de
maneira alguma, ser vistos como cidadãos latentes e potenciais. Sua cidadania é plena,
sendo-lhes conferidos todos os direitos. Inclusive, há o estímulo à participação de
crianças e adolescentes na política estudantil, como vistas a organização escolar e a
valorização efetiva da participação política a partir dos 16 anos, quando se faculta o voto.
O Estatuto da Criança e do Adolescente ressaltou a ideia da cidadania plena,
com base na teoria da proteção integral considerando que deve haver prioridade no
atendimento às necessidades infanto-juvenis e se organiza em um sistema em que as
leis reconhecem garantias a esse segmento social, tutelando seus interesses peculiares,
bem como criando instrumentos para a efetivação de seus direitos individuais frente à
família, à sociedade e ao Estado. Como podemos perceber na transcrição abaixo, de
acordo com artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente:
25
Art. 53° - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II- direito de ser respeitado por seus educadores;
III- direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV- direito de organização e participação em entidades estudantis;
V- acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (BRASIL, 1990)
Um dos aspectos observados na transcrição acima é o direito da criança a
convivência familiar, além de ser um dever da família, da sociedade e do Estado. É uma
necessidade vital para toda criança se desenvolver perfeitamente, no mesmo grau de
importância do direito fundamental à vida. Por isso, encontra previsão legal na
Constituição Federal de 1988, no artigo 227, o que ratifica o compromisso do Brasil com
a Doutrina da Proteção Integral, garantindo à infância brasileira a condição de sujeitos
de direitos e de prioridade absoluta.
Para Irene Rizzini (2006), entende-se como convivência familiar e comunitária,
“a possibilidade da criança permanecer no meio a que pertence, preferencialmente junto
a sua família, seus pais e/ou outros familiares e, caso não seja possível, em outra família
que a acolher”. Portanto, a convivência familiar é essencial para a formação da
integridade física, psicológica e emocional da criança e do adolescente. O afastamento
do convívio familiar deve ser uma situação excepcional, quando ordenada pelo juiz.
3 A SINDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP): ORIGEM, ASPECTOS
CONCEITUAIS E GERAIS
A Alienação Parental é o “processo de lavagem cerebral ou a programação das
reações da criança ou adolescente pelo alienador” (LAGRASTA NETO, 2009, p. 38); é
ainda “a prática adotada por um genitor de afastar o outro genitor da vida do filho”; ou as
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campanhas de desqualificação da figura parental, o esforço do alienador em causar
algum prejuízo ao vínculo entre o ex-cônjuge e o filho caracteriza pelo exercício abusivo
do direito de guarda” (COSTA, 2010, p. 65). Os efeitos negativos ou reações adversas
desse processo de alienação, foram denominadas de Síndrome da Alienação Parental.
O termo Síndrome da Alienação Parental surgiu a primeira vez na literatura
especializada quando o médico e professor de psiquiatria infantil, Richard Gardner,
propôs em 1985 a definição de que “quando uma mãe ou um pai de determinada criança
a incentiva, bem como a instiga a romper todo e qualquer laço afetivo que a mesma
mantenha com o outro cônjuge, despertando nessa criança sentimentos que não se
fazem necessários em determinadas etapas de sua vida como ansiedade e/ou temor com
relação ao seu outro genitor”, seriam sintomas de abuso emocional e psicológico
característicos da síndrome (DELFINO, 2009, n.p).
Quando falamos em Síndrome da Alienaçao Parental, estamos nos referindo a
“uma patologia psíquica e jurídica que não pode ser ignorada” (COSTA, 2010, p. 78),
algo diretamente ligado ao lado psicológico do filho que passa a ser afetado mediante as
atitudes de um de seus progenitores. Lagrasta Neto (2009, p. 38), por sua vez, a define
como “[....] o conjunto de sintomas diagnosticados”. O que fica claro é que a síndrome
está totalmente ligada aos sentimentos negativos que os filhos passam a desenvolver
em relação ao seu pai ou mãe no nível de convivência familiar.
A situação torna-se tão extrema que até mesmo casos de acusação de abusos
sexuais, dentre outros efeitos surgem para incriminar o genitor alienado, algo bastante
prejudicial para alguém que está começando a desenvolver seus sentidos de percepção
do mundo.
Para Mazzoni (2011, p.45),
“Algumas vezes a Síndrome da Alienação Parental vem sob a forma de falsas denúncias de abuso sexual envolvendo o genitor vítima, podendo chegar ao ponto de criar na criança falsas memórias do suposto abuso.” Por insistência do alienador o filho é convencido de que realmente o fato existiu, sendo levado a repetir o que lhe foi dito pelo alienador, muitas vezes sem conseguir ver que está sendo manipulado.
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É importante ter em mente, o quanto esta prática deve ser julgada de forma rígida
e imediata pelo Poder Judiciário, uma vez que é uma responsabilidade muito grande
prejudicar o desenvolvimento sadio de um filho e as consequências de atos como esses
são muitas vezes incontáveis. Dito isto, abordaremos a seguir, aspectos evolutivos, de
incidência e conduta dos agentes causadores da síndrome.
3.1 ASPECTOS EVOLUTIVOS E HISTÓRICOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL
Conforme citamos anteriormente, o termo Síndrome da Alienação Parental –
SAP foi cunhado por Richard Gardner (psiquiatra americano, chefe do departamento de
Psiquiatria Infantil da Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de Columbia,
em Nova York, nos Estados Unidos), no ano de 1985. Gardner (1985, n.p) postulou que
A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável.
Estudiosos como Rand (1997) apud Sousa & Brito (2010, p. 44), souberam
exemplificar como se deu o processo de “criação” desse termo por Gardner, que
[...] ao longo dos anos 70, Gardner trabalhou como psiquiatra forense, conduzindo avaliação de crianças e famílias em situações de divórcio. No início dos anos 80, Gardner teria observado um aumento do número de crianças que exibiam rejeição e hostilidade exacerbada por um dos pais, antes querido.
A autora Analicia Martins de Sousa (2010, p. 99) analisa que Gardner começou
a vislumbrar que
[...] pensou se tratar de uma manifestação de brainwashing (lavagem cerebral), termo que, segundo o autor, serve para designar que um genitor de forma sistemática e consciente influência a criança para denegrir o outro responsável (s/p, tradução nossa). Contudo, logo depois, concluiu que não seria simplesmente uma lavagem cerebral, fazendo uso então do termo síndrome da alienação parental (SAP) para designar o fenômeno que se observava.
28
Ao realizar essas pesquisas com famílias que passavam por uma situação
delicada como um divórcio nos anos 70, Gardner observou em meados dos anos 80,
que tanto crianças como adolescentes provenientes de relações que acabam tendo esse
desfecho passaram a rejeitar e agredir o pai e/ou mãe alienado sem um motivo aparente
e convincente. A partir do momento em que a SAP se torna inerente à criança, momento
esse em que a criança aprende a odiar o genitor alienado por influência do alienador,
aquele passa a ser um estranho para ela. Nesta linha, Costa (2010) afirma que
A SAP é comum em crianças de até 06 (seis) anos de idade, sendo possível o direcionamento da alienação também para adolescentes, quando o pai, mãe ou até mesmo um terceiro (avó ou avô) a manipular a ponto de fazê-la crer que vivenciou algo que nunca ocorreu de fato. (COSTA, 2010, p.62)
É interessante que não só os pais são responsáveis por desenvolver na criança
ou adolescente esse estado de alienação, mas também outros parentes próximos
podem participar ativamente disso, como os próprios avós. Sendo assim, podemos
afirmar que mesmo sem a presença dos pais a Síndrome da Alienação Parental pode vir
a se desenvolver.
Por meio de decisão jurisprudencial julgada em 2007, pelo desembargador Luiz
Felipe Brasil Santos no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, e divulgada em
acórdão feito pelo mesmo, a decisão corrobora com o fato de que nem sempre os
progenitores são os responsáveis pelo desenvolvimento da SAP. Vide trecho desta
decisão transcrita abaixo:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. MÃE FALECIDA. GUARDA DISPUTADA PELO PAI E AVÓS MATERNOS. SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL DESENCADEADA PELOS AVÔS. DEFERIMENTO DA GUARDA AO PAI. 1. Não merece reparos a sentença que, após o falecimento da mãe, deferiu a guarda da criança ao pai, que demonstra reunir todas as condições necessárias para proporcionar a filha um ambiente familiar com amor e limites, necessários ao seu saudável crescimento. 2. A tentativa de invalidar a figura paterna, geradora da síndrome de alienação parental, só milita em desfavor da criança e pode ensejar, caso persista, suspensão das visitas aos avôs, a ser postulada em processo próprio. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70017390972, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 13/06/2007).
Complementando, por entender que qualquer um que tenha uma convivência
com a criança e o adolescente pode se tornar um agente ativo no desenrolar desse
29
processo, é importante que seja realizado um levantamento detalhado do histórico
familiar, assim como dos parentes para revelar todas as nuances de cada caso.
A partir da definição de Gardner, outros estudiosos resolveram aprofundar e
tentar compreender mais a fundo o termo e a síndrome, dentre eles podemos citar
também François Podevyn que define
[...] alienação de forma mais objetiva: programar uma criança para que odeie um de seus genitores, enfatizando que, depois de instalada, contará com a colaboração desta na desmoralização do genitor (ou de qualquer outro parente ou interessado em seu desenvolvimento) alienado. (PODEVYN apud ALMEIDA JÚNIOR, s/d.)
O Brasil foi o primeiro país a ter uma legislação para coibir tal prática alienante.
Sancionada em 26 de agosto de 2010, pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, a
Lei nº 12.318-10, denominada Lei de Alienação Parental, conceitua a alienação parental
como a “interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida
ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que
cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. (BRASIL,
2010).
Na Lei nº 12.318/2010, está contido tanto a definição de alienação parental
disposta no art. 1º, como quais são os sujeitos que podem exercê-la, dispostas no art.
2º, vide trecho escrito abaixo
Art. 2º - Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com o auxílio de terceiros:
I- realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício
da paternidade ou maternidade;
II- dificultar o exercício da autoridade parental;
III- dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV- dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
30
V- omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre
a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;
VI- apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança
ou adolescente;
VII- mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,
com familiares deste ou com avós. (BRASIL, 2010)
A lei busca ainda, resguardar os aspectos inerentes aos direitos fundamentais
de crianças e adolescentes visivelmente violados com a prática de alienação (art. 3º), a
explicar como será a realização do processo quando percebido algum indício de prática
de alienação parental (arts. 4º e 5º), além das punições previstas para o alienador (art.
6º).
Com relação à forma de tramitação do processo, fica estabelecido nos artigos 4°
e 5° da lei 12.318/2010 que
Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de
ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.
Art. 5º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. (BRASIL, 2010)
De acordo com a gravidade do caso, formas mais severas podem ser aplicadas,
caso o juiz ache necessário, podemos citar como exemplo de decisões a determinação
da inversão da guarda, passando a guarda do filho para o genitor alienado com o fim de
proteger o menor ou modificá-la pra guarda compartilhada, podendo até suspender o
poder familiar do genitor alienador, uma vez que “penalidades como a multa e a perda
da guarda estão previstas”, para punir quem pratica a alienação, não importa se são os
“pais e demais familiares [os] alienadores” (COSTA, 2010, p. 77).
31
A esse respeito, o art. 6º da LAP estabelece que
Art. 6º. Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I- declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II- ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III- estipular multa ao alienador;
IV- determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V- determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua
inversão;
VI- determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII- declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. (BRASIL, 2010)
Além disso, diversos pesquisadores acabaram por cunhar suas próprias
definições como, por exemplo, Denise Maria Perissini da Silva (2010), que afirma que tal
conduta se trata de
Um distúrbio que surge principalmente no contexto das disputas pela guarda e custódia das crianças. A sua primeira manifestação é uma campanha de difamação contra um dos genitores por parte da criança, campanha essa que não tem justificação. (SILVA, 2010, p. 43 apud MAZINI 2011)
Nitidamente, apesar de ser um assunto recente, a Síndrome da Alienação
Parental acabou por constituir-se em um tema bastante relevante para ser discutido
tendo em vista que ele se reflete na instituição familiar detentora da representação da
sociedade como um todo. Mesmo sendo um conceito que de certa forma é guiado
principalmente pelos alicerces da Psicologia e do Direito, sendo definido e conceituado
por vários autores, há de se atentar para o fato de que a alienação pode se subdividir ou
mesmo se ramificar apresentando diversas nuances.
32
3.2 FORMAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL
A alienação parental acabou por se transformar em um instrumento de vingança
de antigos cônjuges ou parceiros, cujos próprios filhos viram armas para atingir seus
objetivos egoístas, muitas vezes motivado por um ódio irracional e descabido,
culminando em condutas reprováveis. Segundo Gardner (1985), os estágios ou formas
de alienação parental podem ser de caráter leve, moderado e grave, onde o ápice de
diversas sucessões de acontecimentos pode até mesmo culminar em casos de
homicídios ou suicídios.
A ação que envolve a alienação parental tem dois agentes importantes que a
representam: o agente alienador e os agentes alienados. Mazini (2011) postula que o
genitor-alienador nada mais é do que
[...] aquele que faz tudo para a atuação da alienação parental, ou seja, esse sujeito na maioria das vezes revela-se como o guardião da criança, e denigre a imagem do outro progenitor. Assim, pode-se confirmar que o alienador por vezes é tido como o guardião da criança, mas também poderá se dar por aquele que
não tem a guarda. (MAZINI, 2011, p.74)
Por outro lado, Mazini (2011) descreve o genitor-alienado como sendo
[...] aquele quem sofre com toda a conduta desenvolvida pelo agente alienador, são de fato os agentes alienados, que são na maioria das vezes as crianças e o progenitor denegrido. Afinal, com a campanha difamatória realizada pelo agente alienador, o outro progenitor se vê por vezes recebendo um tratamento diferente de seu filho, além de que por diversas vezes é tratado com aversão, e outras ocasiões nem ao menos querendo o ver. Já os maiores prejudicados e alienados com toda essa conduta, são as crianças, afinal essas passam a acreditar cegamente no que o seu guardião diz, tendo como consequência o afastamento e isolamento em relação ao seu outro progenitor. (MAZINI, 2011, p.74)
Para Longano (2011, n.p), o genitor responsável por alienar a criança utiliza-se
de certas “artimanhas” como
[...] denegrir a imagem do outro genitor; criticar negativamente a competência profissional do ex-parceiro; obrigar a criança ou adolescente escolher um dos genitores; fazer comentários desagradáveis sobre os presentes dados pelo genitor; controlar excessivamente o horário de visitas; interceptar ligações telefônicas ou correspondências; externar seu desagrado diante das manifestações de carinho do filho para o genitor alienado, permitir falsas acusações de abuso sexual, podendo ocorrer aqui a implantação de falsas memórias, onde a criança é levada a acreditar em fatos inverídicos, etc. Cumpre
33
nos ressaltar que a alienação parental não se caracteriza apenas com a prática de um ato isolado, o que levaria a sua banalização.
Vale ressaltar que, não há uma regra para o tipo de comportamento e reação do
genitor-alienador ou parente-alienador. Entretanto, é importante destacar algumas das
mais comuns características e atitudes tomadas pelo alienador, pois mesmo que não
possamos prever a ação, podemos identificar alguns traços e formas de agir.
Motta (2008, p. 39) apud Mazzoni (2011, p. 43-44) exemplifica, a título de
esclarecimento, algumas formas e comportamentos típicos do genitor alienador que
podem manifestar de diversas maneiras
a) recusar-se a passar as chamadas telefônicas aos filhos;
b) organizar várias atividades com os filhos durante o período que o outro
genitor deve normalmente exercer o direito de visitas;
c) apresentar o novo cônjuge aos filhos como sua nova mãe ou seu novo pai e
por vezes insistir que a criança utilize esse tratamento pessoal;
d) interceptar as cartas e os pacotes mandados aos filhos;
e) desvalorizar e insultar o genitor na frente dos filhos;
f) recusar informações ao outro genitor sobre as atividades em que os filhos
estão envolvidos (esportes, atividades escolares, grupos teatrais, etc.)
g) falar de maneira descortês ao novo cônjuge do outro genitor;
h) impedir o outro genitor de exercer seu dirieito de visita;
i) “esquecer” de avisar o outro genitor de compromissos importantes (dentista,
médicos, psicólogos);
j) envolver pessoas próximas (sua mãe, seu novo cônjuge, etc.) na lavagem
cerebral de seus filhos;
k) tomar decisões importantes a respeito dos filhos sem consultar o outro genitor
(escolha da religião, escolha da escola, etc.);
l) trocar (ou tentar) trocar seus nomes e sobrenomes;
m) impedir o outro genitor de ter acesso ás informações escolares e/ou médicas
de seus filhos;
34
n) sair de férias sem os filhos e deixá-los com outras pessoas que não o outro
genitor, ainda que este esteja disponível e queria ocupar-se dos filhos;
o) falar aos filhos que a roupa que o outro genitor comprou é feia e proibi-los de
usá-la;
p) ameaçar punir os filhos se eles telefonarem, escreverem ou se comunicarem
com o outro genitor de qualquer maneira.
Sendo assim, no sentido de ampliar a visibilidade acerca da responsabilização
do genitor alienante, citamos o exemplo do caso apresentado no site da Associação de
Pais e Mães Separados – APASE, divulgado num artigo publicado no Correio
Brasiliense:
João Jr., hoje com 7 anos, passa por momentos terríveis na escola – briga com todo mundo, xinga colegas e professores, isola-se. Até a separação dos pais, há quase quatro anos, convivia intensamente com o pai. Depois, veio a regulamentação das visitas, e o contato entre os dois diminuiu. Recentemente, por decisão judicial, João foi impedido de levar o filho à escola, coisa que ele fazia com gosto todos os dias. A mãe argumentou junto ao juiz que o fato de ela não levar a criança até o colégio interferia no relacionamento com seu filho. Mas logo depois da sentença, ela contratou uma kombi que deixa o menino todos os dias no colégio. O pequeno não entendeu nada e o pai se sente frustrado. ' Tive que explicar a ele o que é um juiz. E que já não o levava para a escola porque não me deixavam fazer isso'', lembra João, funcionário público. Ele cita ainda os problemas que tem quando o coração aperta de saudade e tenta falar com o filho por telefone: ''Ela (a mãe) às vezes diz 'agora ele não pode, está fazendo o dever'; 'não dá, está jantando'. 'sinto muito, já está dormindo.' Pela Justiça, não tenho como reagir. Fico sem poder fazer nada, quando tudo o que quero é ouvir a voz dele. Isso tudo é muito revoltante''. João se queixa de que a Justiça tende a acreditar nos argumentos da mulher, sem questionar se são verdadeiros ou não. E jamais faz um acompanhamento para saber como está a situação depois do despacho do juiz. ''Se ela conta uma história qualquer, ninguém vai verificar o que está realmente acontecendo. (Correio Braziliense – Brasília, DF - 28 de setembro de 2003)
O alienador busca deliberadamente todas as formas possíveis para atrapalhar
as situações em que seus filhos terão contato com um dos alienados (ex-cônjuge),
simplesmente com o intuito de afastar a criança de uma convivência saudável com
aquele que também deve fazer parte e participar ativamente de sua vida. Tudo aquilo
que estiver ao seu alcance no sentido de dificultar uma proximidade, ele não exitará em
fazer.
O autor Marcos Duarte (2009) explica que “para o alienador, obrigação e
compromissos nada significam”. Por isso,
35
São incapazes de serem confiáveis e responsáveis. Não honram compromissos formais ou implícitos, nem perante o juiz ou outra autoridade. Nunca devemos acreditar em acordos escritos ou verbais firmados com eles, pois certamente nunca cumprirão em sua totalidade. (DUARTE, 2009, p. 36)
Duarte (2009) também explica que o alienador não mede esforços para alcançar
os seus objetivos, atingindo o propósito de separar seu filho do seu ex-companheiro
A mentira é uma constante nas relações com essas pessoas, que mentem com competência e de maneira fria e calculada. Em todos os casos de alienação parental com os quais temos lidado, envolvendo crianças ou adolecentes no Brasil ou exterior, percebemos no alienador o perfil característico dos psicopatas, cujas vítimas são as pessoas mais sensíveis, mais puras de alma e de coração. E o que é pior, com a complacência de magistrados para reconhecer e lidar com as ciladas armadas em juízo por estes indivíduos, verdadeiros predadores sociais. (DUARTE, 2009, p. 36)
Utilizar da manipulação é um comportamento extremamente comum nesses
casos, pois estas pessoas não se preocupam e nem mesmo se importam com a opinião
e situação dos próprios filhos, que deveriam ser os mais importantes e reguardados em
momentos como esse (separação, divórcio dos pais). Isso traz uma carga dramática
muito grande para a criança e o adolescente, que rejeitados e despreparados não
sabem lidar com situações como essas, resultando em danos em sua estrutura
emocional e psicológica. Sentimentos de mágoa e frustração, bem como de abandono
podem se instalar e se tornarem irreversíveis para as crianças e adolescentes que
passam por situações adversas como essas.
3.3 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA ALIENAÇÃO
PARENTAL
A família constitui uma parte importante do desenvolvimento do ser humano.
Cada família, independente de sua condição e configuração, tem o dever de cuidar para
que seus membros possam exercer seus direitos e deveres, respeitando as diferenças,
sejam elas de gênero, personalidade ou até mesmo a idade de cada um. O divórcio seja
ele litigioso ou consensual, não deveria causar um grande impacto nessa concepção
social de vida. Contudo, junto com ele, muitas vezes são despertados os piores
sentimentos que um ser humano possa vir a apresentar: a raiva, o rancor, as mágoas,
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acabam por trazer danos psicológicos que podem vir a se manifestar muitos anos
depois.
Sendo assim, quando um cônjuge passa a praticar a alienação parental com
seus filhos, acaba por submeter a criança à distúrbios ligados à ansiedade, depressão,
agressividade, transtornos do sono e de alimentação, etc. Ao atingir a fase adulta,
poderão ainda
[...] desenvolver outras patologias, como transtornos da personalidade, baixa autoestima, insegurança etc., com reflexos nas relações pessoais. Além disso, é possível que venha a padecer de sentimentos de culpa por ter cooperado - ainda que em decorrência de manipulação - para o seu afastamento do outro genitor, sendo comum o abuso de drogas e álcool. Comumente, a vítima se volta contra o alienante, chegando a romper o relacionamento com ele. Diante das gravíssimas consequências dessa prática nefasta, cabe ao Poder Judiciário, quando identificados os elementos que a caracterizam, determinar as medidas que se fizerem necessárias para assegurar à criança um desenvolvimento saudável. (SOUSA DIAS, 2010, p. 46-47).
Neste contexto, a autora Beatrice Marinho Paulo (2011) colabora com sua
descrição das consequências causadas por situações negativas resultantes de relações
familiares desfeitas na fase adulta da criança, que podem vir a apresentar
[...] vida polarizada e sem nuances; depressão crônica; doenças psicossomáticas; ansiedade ou nervosismo sem razão aparente; transtornos de identidade ou de imagem; dificuldade de adaptação em ambiente psicossocial normal; insegurança; baixa autoestima; sentimento de rejeição, isolamento e mal-estar; falta de organização mental; comportamento hostil ou agressivo; transtorno de conduta; inclinação para o uso abusivo de álcool e drogas e para o suicídio; dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais, por ter sido traído e usado pela pessoa que mais confiava; sentimento incontrolável de culpa, por ter sido cúmplice inconsciente das injustiças praticadas contra o genitor alienado. (PAULO, 2011, p. 9)
Com o tempo, o alienado passa a se afastar cada vez mais do filho, participando
menos ainda da sua vida, desconhecendo seus costumes e tendo uma convivência
quase nula com o mesmo. O filho, por sua vez, acaba muitas vezes por desenvolver um
sentimento de remorso e culpa, ao perceber que foi apenas um instrumento de vingança
por parte de seu outro progenitor. Ainda que a alienação comece a ser tratada desde o
início, “ela pode ainda perdurar por várias gerações, em uma repetição incessante e
nefasta de modelos de educação e de construção de afetos assimilados durante o
processo de manipulação” (COSTA, 2010, p. 70).
37
Para Mazini (2011)
É cediço, que ninguém sai ganhando com a prática abusatória da alienação parental, afinal a criança vitimada por tal conduta cresce insegura com toda a sociedade, acreditando que tudo pode se resolver em seu benefício, não consegue enfrentar os problemas cotidianos como qualquer outra pessoa. Além de que o agente alienado não vê seu direito de exercício do pátrio poder resguardado, já que através do meio jurisdicional não conseguiu reverter à situação no seu início, e acabou sendo vítima de um amor egoístico do genitor alienador, que na realidade poderia ser caracterizado como um psicopata familiar. Portanto, é ainda de boa técnica que tratemos do apoio jurisdicional que a legislação brasileira está dando para a não ocorrência e o possível combate a essa conduta alienadora. (MAZINI, 2011, p.85)
Em síntese, podemos deduzir que é enorme a importância da intervenção do
Estado para frear essa prática, pois não se pode aceitar que crianças e adolescentes
passem por isso sem que nada seja feito, isso sem contar com o risco dessas crianças
ou adolescentes vitimados virem a se tornar futuros alienadores, já que, em sua fase de
crescimento, teve como principal modelo de conduta o genitor alienador.
4 AS IMPLICAÇÕES LEGAIS DO PRINCIPIO DA PROTECAO INTEGRAL EM
RELAÇAO A ALIENAÇÃO PARENTAL
A Constituição Federal de 1988 iniciou na Doutrina Constitucional, a Declaração
dos Direitos Fundamentais, proclamando a Doutrina da Proteção Integral. Com o
Estatuto da Criança e do Adolescente, que se baseou no artigo 227 da Constituição
Federal de 1988, o princípio da proteção integral alcançou reconhecimento no
ordenamento jurídico brasileiro.
A doutrina estabelece que, toda criança e todo adolescente, deve ter
assegurado os direitos fundamentais para a sua sobrevivência e desenvolvimento,
principalmente, o direito à saúde, educação, alimentação, esporte e lazer, além de
estabelecer que tanto a família, a sociedade, como o poder público tem o dever de
assegurar que esses direitos sejam cumpridos. É o que preconiza a doutrina da proteção
integral da criança.
38
Para a autora Tânia da Silva Pereira (2010), os mecanismos de viabilização
desses direitos podem ser garantidos de acordo com esta Doutrina, pois
[...] a população infanto-juvenil, em qualquer situação, deve ser protegida e seus direitos, garantidos, além de terem reconhecidas prerrogativas idênticas às dos adultos. A proteção, com prioridade absoluta, não é mais obrigação exclusiva da família e do Estado: é um dever social. As crianças e os adolescentes devem ser protegidos em razão de serem pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. (PEREIRA, 2011 apud TORRES, 2010, p. 14)
Deste modo, a Constituição Federal juntamente com o Estatuto da Criança e do
Adolescente, foram os alicerces para que fosse instituída a doutrina da proteção integral
no que diz respeito ao direito da criança e do adolescente e assim foi possível atentar
para a importância de se preservar esses direitos para os indivíduos que ainda não
podem responder por si mesmos.
Por sua vez, em se tratando de proteção à criança e ao adolescente, essa
doutrina estabelece que, dentre outras coisas, como sujeitos de direitos em estágios de
desenvolvimento, fica determinado aos indivíduos de zero a dezoito anos
[...] (a) a condição especial de pessoa em desenvolvimento como parâmetro hermenêutico; (b) a normatização de um leque exemplificativo de direitos fundamentais para garantia do satisfatório desenvolvimento, demandando uma priorização do atendimento – especialmente na oferta de políticas públicas – e uma consideração ao melhor interesse – com ênfase nos litígios judiciais; (c) exigibilidade da participação de terceiros (adultos/instituições) para a evolução satisfatória do desenvolvimento e efetivação plena de seus direitos, acometendo a estes medidas fiscalizatórias e punitivas, caso venham a proceder de maneira que prejudique o desenvolvimento satisfatório; (d) normatização dos múltiplos aspectos humanos que precisam ser contemplados pela lógica do desenvolvimento e da proteção integral: físico, mental, espiritual, moral, social e sexual. (OLIVEIRA, 2008, p.6627)
Em conjunto com a Constituição Federal e o ECA, temos a Lei nº 12.318/2010,
que dispõe sobre a Alienação Parental, para reforçar e garantir que os direitos básicos
da criança e do adolescente sejam respeitados pelos mecanismos anteriormente
citados.
39
4.1 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA ALIENAÇÃO
PARENTAL
Antes da criação da Lei da Alienação Parental – LAP, houve uma proposta de
um anteprojeto de lei apresentado em 07 de outubro de 2008 (PL 4053/2008) para os
casos de alienação parental, de autoria do Deputado Federal Regis de Oliveira. A
justificativa apresentada na ocasião foi que
[…] Deve-se coibir todo ato atentatório à perfeita formação e higidez psicológica e emocional de filhos de pais separados ou divorciados. [...] A alienação parental merece reprimenda estatal porquanto é forma de abuso no exercício do poder familiar, e de desrespeito aos direitos de personalidade da criança em formação. Envolve claramente questão de interesse público, ante a necessidade de exigir uma paternidade e maternidade responsáveis, compromissadas com as imposições constitucionais, bem como com o dever de salvaguardar a higidez mental de nossas crianças. (OLIVEIRA apud GUILHERMANO, 2012, n.p).
Nascia ali o embrião para a criação da Lei da Alienação Parental – LAP em
2010, um instrumento legal para reprimir a prática da alienação parental nos lares das
famílias brasileiras. A criação da LAP, Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, trouxe
uma definição para o que é a alienação parental, as formas como ela pode ser praticada,
as características que determinam que um indivíduo esteja praticando abuso afetivo
direcionado ao antigo parceiro, além de mostrar medidas que podem e devem ser
tomadas pelo Poder Judiciário brasileiro como forma de punição.
O artigo 3º dessa lei mostra alguns dos direitos da criança e do adolescente que
são descumpridos ou violados por determinados genitores praticantes da alienação
parental. O referido artigo expressa que
Art. 3º - A prática de ato de alienação parental fere o direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e o descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. (BRASIL, 2010)
À vista disso, é possível constatar o quanto a morosidade judicial em alguns
casos, muitas vezes afasta ainda mais pais e filhos, pois facilita o contato entre alienador
40
e alienado e contribui para incitar falsas memórias, inventar mentiras e o afastamento do
filho de um dos genitores. Quando comprovada a alienação parental, possivelmente as
vítimas venham necessitar de ajuda de profissionais que possam tentar amenizar os
traumas criados com esse tipo de ação. Vale lembrar que o alienador responsável por
tais atos está diretamente infringindo a Constituição como também a Lei da Alienação
Parental.
Segundo Guilhermando (2012), a lei também apresenta em seu artigo 4° que
qualquer indício de alienação parental serve para iniciar uma ação autônoma que
investigue a mesma. Isso foi feito para assegurar a convivência e reaproximação da
vítima de alienação com o alienado e tornar o processo mais célere, pois uma demora
processual poderia acarretar um maior afastamento entre os mesmos. Já no parágrafo
único desse artigo há a garantia mínima da visitação, assistida por um profissional
designado pelo juiz ao genitor, quando necessário. (BRASIL, 2010)
A Constituição Federal, a Lei da Alienação Parental e também o Estatuto da
Criança e do Adolescente são instrumentos capazes de ajudar a barrar e amenizar e a
Síndrome da Alienação Parental e todas as consequências ruins que ela pode acarretar
na vida de alguém. O Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta os seguintes
pontos, que são contrários e que combatem esse tipo de postura por parte de familiares
e principalmente genitores, são eles
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (BRASIL, 1990)
41
Neste contexto, Dias apud Torres (2002, p. 45) corrobora ao afirmar que
Flagrada a presença da Síndrome da Alienação Parental, indispensável a responsabilização do genitor que age desta forma por ser sabedor da dificuldade de aferir a veracidade dos fatos e usa o filho com finalidade vingativa. Mister que sinta que há risco, por exemplo, de perda da guarda, caso reste evidenciada a falsidade da denúncia levada a efeito. Sem haver punição a posturas que comprometem o sadio desenvolvimento do filho e colocam em risco seu desenvolvimento emocional, certamente continuará aumentando esta onda de denúncias levadas a efeito de forma irresponsável.
Diante de tantos elementos, também é de suma importância lembrar que assim
que for comprovada e identificada a prática da alienação parental por parte de um dos
genitores, a criança deve ser preservada e o contato com o outro genitor vitima da
alienação deve ser restabelecido para que se mantenha o acesso ao referencial dos dois
genitores naturalmente (pai e mãe). Ao fazer uso dos artifícios que caracterizam a
alienação parental e havendo a comprovação de desrespeito à lei, cabe ao legislador
dispor que o indício da mesma seja averiguado. Assim, segundo o artigo 5º da Lei
12.318/2010, havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação
autônoma ou incidental, o juiz, poderá determinar uma perícia psicológica ou
biopsicossocial.
4.2 A PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL ATRAVÉS DO PRINCIPIO DA
PROTEÇÃO INTEGRAL
Com o intuito de prevenir e combater a prática da alienação parental, ao longo
dos anos, medidas judiciárias foram criadas para instituir mecanismos para amenizar e
frear as atitudes nocivas da SAP. Primeiro, com o estabelecimento dos direitos das
crianças na Constituição Federal, que por sua vez serviram de base para a criação do
Estatuto da Criança e do Adolescente, depois com a criação da Lei n°12.318/2010 que
aconteceu num momento em que “a aprovação da lei sobre a alienação parental ocorre
em contexto de demanda social por maior equilíbrio na participação de pais e mães da
formação de seus filhos” (MAZINI, 2011, p.86).
42
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no que diz respeito a
advertência ficou estabelece que
A advertência é a medida aplicável aos pais ou responsáveis em caso de Síndrome da Alienação Parental. Prevista no art. 129, inciso VII,131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, visa aconselhar o alienador potencial sobre os danos que as suas atitudes estão causando aos filhos e adverti-lo para as consequências que aqueles atos podem acarretar, inclusive com sanções mais severas. (TORRES, 2010)
Essa é uma medida básica a ser tomada e que também aparece na LAP. Serve
mais como um aviso ao genitor alienador para que o mesmo possa efetuar mudanças
em seu comportamento e assim evitar prejudicar o relacionamento da criança com o seu
outro genitor. Geralmente, é uma medida tomada nos casos identificados mais leves de
alienação parental.
Depois temos a ação de encaminhar a criança e/ou adolescente para um
tratamento psicológico ou psiquiátrico, previsto no artigo 129, inciso III do ECA.
Muitas vezes, sozinho, o genitor alienador não é capaz de perceber que o seu comportamento está sendo prejudicial ao filho e à relação deste com o outro genitor. Não consegue, dessa forma, interromper o processo de alienação parental. Sendo assim, se faz necessário o tratamento psicológico para orientá-lo e auxiliá-lo a agir no melhor interesse dos filhos, interrompendo a síndrome de maneira eficaz. (TORRES, 2010, p. 36)
Nesse caso a ajuda de profissionais especializados servirá de grande ajuda,
pois eles serão capazes de identificar as deficiências no que diz respeito aos
relacionamentos afetivos e interpessoais entre os cônjuges, no que tange a sua
representação enquanto família, os seus papéis na criação e desenvolvimento dessa
criança e como as atitudes apresentadas por eles irão interferir no desenvolvimento
intelectual das mesmas.
Outro ponto destacado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, diz respeito
ao pagamento de uma multa que deverá ser paga quando o genitor alienador não
permitir que o genitor alienante tenha o seu direito de visitas prejudicado ou impedido.
Para Rosana Barbosa Cipriano Simão apud Torres (2012, p.16)
Enquanto poder/dever, a visitação pode ser exigida e o seu não cumprimento implica inobservância de dever judicialmente imposto, podendo o Juízo
43
determinar providências que assegurem o resultado prático do adimplemento, inclusive com estipulação de multa e determinação de acompanhamento psicológico. Observe-se que a previsão de norma sem sanção inviabiliza a efetividade do direito previsto. A sugestão ora aventada é no sentido de impor multa cominatória para o caso de inadimplemento, multa essa que, in casu, assume natureza jurídica de medida coercitiva, com vistas ao cumprimento de determinação judicial em geral e regulamentação de visitas em especial. Possível também o encaminhamento do (a) genitor (a) inadimplente a tratamento psicológico ou pais e filhos a terapia familiar.
A multa serve como forma de impedir que o alienador consiga privar a criança de
uma convivência com o genitor alienado, pois se o mesmo não cumprir o que foi
estabelecido no caso, que o genitor alienado possa realizar visitar regulatórias e
autorizadas à criança em questão, a multa deverá ser paga.
Em casos mais extremos, poderá haver a perda da guarda da criança prevista
no artigo 129, inciso VIII do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Para os
autores Nazir Milano Filho e Rodolfo Milano apud Torres (2012, p. 63)
A perda da guarda é medida que retira provisoriamente o menor de seu guardião; pode ser considerada como forma transitória para a colocação do menor em lar substituto, com a gradual integração em sua nova relação. Assim, descuidando-se o guardião, maltratando ou não dispensando os cuidados necessários à criação e educação da criança e do adolescente criando situação difícil para o seu bem estar, a perda da guarda é medida A perda da guarda é medida que retira provisoriamente o menor de seu guardião; pode ser considerada como forma transitória para a colocação do menor em lar substituto, com a gradual integração em sua nova relação. Assim, descuidando-se o guardião, maltratando ou não dispensando os cuidados necessários à criação e educação da criança e do adolescente, criando situação difícil para o seu bem estar, a perda da guarda é medida.
Como uma forma de punir os genitores alienadores, a questão da perda da
guarda da criança é uma das mais delicadas, porém bastante válida já que
[...] quando constatados indícios de Síndrome da Alienação Parental. Tal medida deve ser aplicada visando atender o melhor interesse da criança ou adolescente. Sendo certo que, quando observado que o afastamento do genitor alienador pode ser prejudicial à criança, devem-se buscar outros meios de interromper a
alienação parental. (MILANO FILHO & MILANO apud TORRES, 2012, p. 64)
Mediante a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, nascia o embrião
que iria determinar, posteriormente, a criação da Lei de Proteção Integral como forma de
combater as práticas da alienação parental, prática essa de extremo egoísmo, mas que
agora tem o reconhecimento do judiciário brasileiro, da sociedade como um todo que
44
passa a conhecer a existência desse mal dentro dos lares brasileiros e que está
presente até mesmo em veículos midiáticos, sendo apresentada de forma sutil e sem
maiores responsabilidades ao telespectador que muitas vezes não tem acesso a internet
e vê na televisão seu grande veiculo de comunicação.
Com o desenvolvimento do tema no Direito Brasileiro, chegou-se à lei da
alienação parental que, como foi citado anteriormente, apresenta um grau de
semelhança muito grande com o ECA, o que poderá ser avaliado a seguir, onde
apresentaremos os principais pontos dessa lei.
O artigo 6º da Lei 12.318/2010 trata das sanções que o juiz poderá impor em
casos de Alienação Parental. O caráter de tais medidas é de prevenção e proteção à
integridade do menor. Assim, o caput do artigo citado dispõe sobre a aplicabilidade das
medidas que podem ser utilizadas de forma independente ou cumulativa. Já os incisos e
o parágrafo único dispõem sobre as medidas em si, as quais são, por exemplo, quando
constatada alienação parental, advertir o alienador; ampliar a convivência familiar com o
alienado, alterar a guarda ou para o outro genitor ou para guarda compartilhada, entre
outras.
No inciso II, foi estabelecido que a criança deve passar a conviver e restabelecer
os laços com o genitor alienado. A penalidade do inciso III estabelece que o alienador
pague uma multa. Essa multa, de caráter judicial (civil), é uma medida que busca impor
ao alienador o receio e assim servir como um ponto importante quando o mesmo pensar
ou começar a realizar a alienação parental. No inciso IV, é estabelecido que a criança
passe a ter um acompanhamento psicológico e biopsicossial. Segundo Eveline de
Castro Correira apud Guilhermano (2012, p.19)
Baseado no direito fundamental de convivência da criança ou do adolescente, o Poder Judiciário não só deverá conhecer esse fenômeno, como declará-lo e interferir na relação de abuso moral entre alienador e alienado. A grande questão seria o acompanhamento do caso por uma equipe multidisciplinar, pois todos sabem que nas relações que envolvem afeto, uma simples medida de sanção em algumas vezes não resolve o cerne da questão.
Abaixo, podemos apresentar as explanações feitas por Guilhermano (2012) com
relação aos incisos V, VII e VIII, bem como o parágrafo único do artigo 6° dessa lei:
45
As medidas previstas nos incisos V, VI e VII, assim como a do parágrafo único são aplicadas em casos mais graves de Alienação Parental. São meios mais drásticos para pôr fim aos atos empregados para gerar o afastamento entre o genitor alienado e o filho. Segundo Hugo, Pires e Coelho, o inciso quinto “dá notável efetividade ao instituto da guarda compartilhada, e, por ser o grande temor do ente alienador, tende a desestimulá-lo a praticar atos de alienação parental”. A guarda compartilhada está prevista nos artigos 1.583 e 1.584 do Código Civil vigente. Conforme Ana Maria Frota Velly, “Guarda compartilhada é a igualdade de direitos e deveres que os pais têm em relação aos seus filhos menores, direito de conviver e o dever de proteger. O inciso VI refere-se à fixação cautelar do domicílio da criança ou do adolescente, segundo Hugo, Pires e Coelho, “com intuito de evitar mudanças abruptas de endereço com fins exclusivos de afastar a prole do ente alienado”. Já o inciso VII destina-se à suspensão da autoridade parental. Esta última medida merece destaque, pois para as autoras é “a mais grave consequência para o alienador”. A suspensão da autoridade está prevista no artigo 1.637 do Código Civil vigente. Isso ocorre caso os pais estejam abusando da função do mesmo em prejuízo do filho ou não estejam cumprindo os fins a que tal poder se destina, deixando o menor sem condições para atingir seu pleno desenvolvimento. Por fim, o parágrafo único do artigo 6º da Lei 12.318 alude às mudanças abusivas de residência, com o intuito de obstruir ou tornar inviável o convívio familiar com o genitor alienado. Nesses casos, conforme disposto, o juiz poderá “inverter a obrigação de levar ou retirar a criança ou o adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar” .Os demais artigos da Lei, o 7º e o 8º, “vêm para dar arremate às medidas previstas”, conforme Hugo, Pires e Coelho.
No seu artigo 7º, podemos ver na lei uma das formas de punição contra o genitor
alienador
Art. 7º. A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada. (BRASIL, 2010)
Para Analicia Martins de Sousa (2010, p.42) apud Mazini (2011)
Frente à imposição de fazer valer a proteção e o interesse dos menores de idade nas situações de rompimento conjugal, nos juízes de família tem-se encaminhado a questão no sentido de averiguar qual dos responsáveis detém melhores condições de permanecer com a guarda unilateral dos filhos, como dispunha o artigo 1.584 do Código Civil (2002).
A par disso, nesse caso, faz-se justiça e a criança passa a ser resguardada pela
pessoa que tem melhores condições para criá-la, aquela que pode e deve oferecer um
ambiente de segurança, saudável, onde seus direitos estabelecidos por lei são
reconhecidos pela sociedade e irão ser de fato cumpridos.
De acordo com estes artigos, caberá ao juiz determinar quais as medidas a
serem tomadas levando em consideração a gravidade do caso. Mas mesmo que haja
46
punição através da lei, a possibilidade do alienador responder civil e criminalmente não
serão descartadas. Uma das vantagens dessa possibilidade é a de advertir o infrator.
Em alguns casos, o fato do juiz tomar conhecimento que a ação está sendo praticada,
faz com que ele possa rapidamente interrompê-la, fazendo com que dessa forma a
criança já possa ter todo o acompanhamento, bem como possa se desvencilhar dos
sentimentos que lhe foram inseridos e que passaram a fazer parte do seu caráter.
A LAP é bastante clara no que diz respeito às punições e medidas contra o
alienador. No decorrer dos anos, foi possível aperfeiçoar as sanções apresentadas como
medidas punitivas e de advertência para com o alienador. Cabe ao juiz responsável
avaliar qual delas se encaixará em determinado caso, já que os níveis de alienação
parental possuem uma graduação, desde aqueles mais leves e que não ferem tanto os
direitos da criança e do adolescente, quanto àqueles que são responsáveis por
desequilibrar o relacionamento da criança, prejudicar a sua vida como um todo, afetando
todo o “mundo”, impedindo que a mesma viva de acordo com as experiências
compatíveis com a sua idade, com os seus anseios.
Torres (2012) assevera que a “sanção do genitor alienador é viável no
ordenamento jurídico brasileiro e está fundamentada no Código Civil, no Estatuto da
Criança e do Adolescente” e na lei da alienação parental.
E também mostrou que
[...] As sanções aplicáveis são as medidas de advertência, encaminhamento para
tratamento psicológico ou psiquiátrico, multa, prisão por descumprimento de
decisão judicial, perda da guarda e suspensão ou destituição do poder familiar.
Estas medidas estão em consonância com a jurisprudência dos nossos tribunais
e atendem o melhor interesse da criança e a doutrina da proteção integral.
(TORRES, 2012, p. 56)
Por fim, podemos afirmar que o reconhecimento do judiciário brasileiro a Lei
12.318/2010 vieram para “alentar as famílias” que sofrem com a Alienação Parental e
também para “conferir ao Poder Judiciário maior credibilidade na aplicação da Lei, haja
vista que as demandas envolvendo casos com esta problemática crescem
expressivamente e necessitam de instrumento legal
47
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A instituição da família através do casamento deixou de ser um dos grandes
pilares da sociedade ao longo dos anos. A sociedade que busca resguardar a
convivência familiar através da instauração de uma união saudável e harmoniosa foi
substituída como principal modelo vigente. A vida familiar já não é a mesma para todos
os segmentos da população brasileira e mesmo não sendo fruto de uma união
matrimonializada, a criança precisa ser preservada na separação e as leis devem ser
aplicadas nesse sentido.
O casamento, a união consensual, a união estável, a família simultânea, a família
recomposta, são alguns dos exemplos de como a ideia da família tradicional não
representa mais a maior das instituições familiares. A dissolução de um lar nem sempre
é perfeita e nem sempre respeita as regras da boa convivência. É ai que os casos de
alienação parental passam a ser praticados pelos progenitores, que muitas vezes não
aceitam o fim da relação e/ou do compromisso (casar), nutrindo o desejo de que fosse
para sempre. Infelizmente, os filhos acabam pagamento pelos erros cometidos pelos
pais, já que independente da forma como um casamento ou um relacionamento chega
ao fim, o filho como parte mais importante deve ter seus direitos assegurados, coisa que
muitas vezes não acontece, tendo em vista todos os exemplos e argumentos que
abordamos ao longo desta pesquisa.
Dessa forma, a alienação parental passou de uma forma de desrespeito dos
direitos da criança e do adolescente contidos na Constituição Federal, a algo definido e
regulamentado para ser punido tanto à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
como à luz da lei n° 12.318/2010, criada com o propósito de penalizar aqueles que
praticam esse ato. O reconhecimento de que a alienação parental existe e deve ser
combatida, serviu para que a sociedade busque o desenvolvimento positivo para essa
nova família brasileira.
O Direito de convivência familiar ampla e a saúde física/emocional da criança são
necessidades básicas a serem defendidas pelo judiciário. Os reiterados atos de
alienação parental culminam em situações incorrigíveis quando não coibidos a contento.
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A criança não precisa ter lado. O lado dela é de ambos seus genitores, independente se
eles não vivam mais sob o mesmo teto, independente se eles não se gostem, toda
criança tem o direito de conviver com seus familiares.
Se medidas corretivas não tivessem sido criadas, o mal causado a esses
indivíduos, vítimas de abusos afetivos, emocionais e psicológicos, trariam como
consequências, adultos inseguros, sem perspectivas de criar uma família e, caso
criassem, poderiam repetir os mesmos erros dos seus pais criando assim um ciclo de
sofrimento.
Pretendeu-se avaliar de forma sucinta um panorama da SAP e a doutrina sobre o
tema. Embora o assunto seja bastante comentado, a quantidade de fontes bibliográficas
confiáveis e legislação, é bastante difícil. Sendo assim, podemos ver que o a produção
acadêmica acerca da temática da alienação parental demonstra um avanço positivo para
a contribuição e fomentação de avaliações e análises sobre o combate da alienação
parental através do princípio da proteção integral, sua pertinência para a realidade dos
lares e da jurisdição brasileira, além de contribuir para uma sociedade mais justa.
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6 REFERÊNCIAS
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ANEXOS
ANEXO A – A Lei N° 12.318/2010 sobre a Alienação Parental
LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010.
Mensagem de veto
Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236
da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.
Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do
adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e
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com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.
Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em
qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.
Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas.
Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou
incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.
§ 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,
conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.
§ 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,
exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada.
Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII - declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.
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Art. 7o A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que
viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada.
Art. 8o A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a
determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial.
Art. 9o (VETADO)
Art. 10. (VETADO)
Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 26 de agosto de 2010; 189o da Independência e 122o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Paulo de Tarso Vannuchi José Gomes Temporão
Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.8.2010 e retificado no DOU de 31.8.2010