55
FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE SOUSA FERREIRA O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL FORTALEZA 2013

FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

  • Upload
    vothuan

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE DIREITO

VLÁDIA DE SOUSA FERREIRA

O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA

PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

FORTALEZA

2013

Page 2: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

VLÁDIA DE SOUSA FERREIRA

O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA

PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Direito da Faculdade Cearense, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientador: Prof. Ms. Homero Bezerra Ribeiro.

FORTALEZA

2013

Page 3: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

F383p Ferreira, Vládia de Sousa.

O Princípio da Proteção Integral e suas Implicações na

prevenção da Alienação Parental / Vládia de Sousa Ferreira. – Fortaleza, 2013.

55 f. Monografia (Graduação) – Faculdades Cearenses – FaC, Curso de Direito, 2013. Orientador: Prof. Ms. Homero Bezerra Ribeiro 1. Proteção integral. 2. Constituição Federal. 3. Direito da Criança e do Adolescente. 4. Lei da Alienação Parental. 5. Estatuto da Criança e do Adolescente. I. Ribeiro, Homero Bezerra. II. Faculdade Cearense. III. Título.

CDD 342.164

Page 4: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

VLÁDIA DE SOUSA FERREIRA

O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA

PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Direito, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca

examinadora composta pelos professores.

DATA DE APROVAÇÃO

___/___/______

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________

Professor Ms. Homero Bezerra Ribeiro

Orientador temático e metodológico

______________________________________________________________

Professora Ms. Kílvia Souza Ferreira

Examinador

______________________________________________________________

Professor Esp. Giovanni Augusto Baluz Almeida

Examinador

Page 5: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

AGRADECIMENTOS

A Deus, em primeiro lugar, por toda a força de vontade, coragem e

persistência durante minha vida e ao longo desta caminhada acadêmica.

Aos meus pais, Antonio e Francimeire, minha irmã Vanessa, nossa

cachorrinha Luna, além de todos os meus familiares que, com muito carinho e apoio,

não mediram esforços para que eu chegasse até aqui e concluísse mais este

desafio.

Ao meu orientador temático e metodológico, Professor Homero Bezerra,

por sua disponibilidade, dedicação e orientação primorosa no decorrer deste

trabalho e durante os ensinamentos dados em sala de aula enquanto cursava minha

graduação.

Ao coordenador do curso de Direito da FaC, Professor Júlio Pontes, pelo

convívio, pelo auxílio, pela compreensão e pela amizade.

Aos professores do curso de Direito, pois todos foram de suma

importância na minha vida discente. Desde os primeiros passos na faculdade, vocês

me fizeram sentir acolhida, auxiliada e preparada para enfrentar o mercado de

trabalho e vivenciar a profissão que escolhi.

Aos meus amigos, Gilberto, Leidiane, Lara, Marielson, Anastácio, Clores

Rafaela, Dr. Castelo, Ana Paula, Gustavo, Tayana e Marcelo, pelo convívio diário e

todo o suporte necessário ao meu crescimento pessoal e profissional.

Agradeço, ainda, à minha amiga Wigna, pelo incentivo, pela amizade,

pelo apoio constante, pela compreensão e por estar ao meu lado em vários

momentos difíceis de minha vida.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram com minha

formação e o desenvolvimento do meu trabalho. Meus mais sinceros

agradecimentos.

Page 6: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

"Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao

princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou

inconstitucionalidade conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência

contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu

arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra."

(Bandeira de Mello – Jurista Brasileiro)

Page 7: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

RESUMO

Este trabalho apresenta o Princípio da Proteção Integral, bem como a evolução histórica do direito da criança e do adolescente levando em consideração um dos seus principais norteadores, a Constituição de 1988, não deixando de apresentar também o Estatuto da Criança e do Adolescente. Aborda como se deu o surgimento da Síndrome da Alienação Parental (SAP), através da pontuação dos seus principais fatos históricos, mostrando também quais são os tipos de alienação parental existentes e quais as principais consequências dessa prática, além disso, como esse processo passou a ser reconhecido e combatido no direito brasileiro. Expõe as implicações legais do Princípio da Proteção Integral em relação à alienação parental, onde apresenta os direitos da criança e do adolescente que são feridos pela pratica da alienação parental. Mostra como se prevenir da alienação parental através do principio da proteção integral através do Estatuto da Criança e do Adolescente e também da Lei 12.318 (Lei da Alienação Parental – LAP) Palavras-chave: Proteção Integral. Constituição Federal. Direito da Criança e do Adolescente. Lei da Alienação Parental. Estatuto da Criança e do Adolescente.

Page 8: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

RESUMEN

Este trabajo presenta el principio de la protección integral, así como la evolución histórica del derecho del niño y del adolescente llevando en consideración uno de sus principales norteadores, la Constitución de 1988, no dejando de presentar también el Estatuto del Niño y del Adolescente. Abordan como se dio el surgimiento del síndrome de la alienação parental (SAP), a través del puntaje de sus principales hechos históricos, mostrando también cuáles son los tipos de alienação parentais existentes y cuáles las principales consecuencias desala practica, además de eso, como ese proceso pasó a ser reconocido y combatido en el derecho brasileño. Expone las implicancias legales del principio de la protección integral en relación a la alienação parental, donde presenta los derechos del niño y del adolescente que son heridos pela practica de la alienação parental. Muestra como prevenirse de la alienação parental a través del principio de la protección integral a través del Estatuto del Niño y del Adolescente y también de la Ley 12.318 (Ley de la Alienação Parental – LAP) Palabras clave: Protección Integral. Constitución Federal. Derecho del Niño y del Adolescente. Ley de la Alienação Parental. Estatuto del Niño y del Adolescente.

Page 9: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2 O PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL: CONCEITUAÇÃO E TEORIA

JURÍDICA ................................................................................................................ 14

2.1 OS PRIMÓRDIOS DO DIREITO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE NO

BRASIL .................................................................................................................. 14

2.2 A DOUTRINA DO PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL ........................... 20

2.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE EM CONSONÂNCIA COM O PRINCIPIO DA PROTEÇÃO

INTEGRAL ............................................................................................................. 23

3 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP): ORIGEM, ASPECTOS

CONCEITUAIS E GERAIS ....................................................................................... 25

3.1 ASPECTOS EVOLUTIVOS E HISTÓRICOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL .... 27

3.2 FORMAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL .......................................................... 32

3.3 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA

ALIENAÇÃO PARENTAL ...................................................................................... 35

4 AS IMPLICAÇÕES LEGAIS DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL EM

RELAÇÃO A ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................................. 37

4.1 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA

ALIENAÇÃO PARENTAL ...................................................................................... 39

4.2 A PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL ATRAVÉS DO PRINCIPIO DA

PROTEÇÃO INTEGRAL ........................................................................................ 41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 47

6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 49

ANEXOS .................................................................................................................. 53

Page 10: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a
Page 11: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

11

1 INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira, nas últimas décadas, assistiu a rápidas transformações

no cenário econômico, político, demográfico, social e cultural do País, bem como

participou da mudança constante de paradigmas que implicaram numa reavaliação de

definições estáticas e na evolução de valores e conceitos concebidos desde os

primórdios da civilização, como por exemplo, no que diz respeito ao conceito de família.

Paulatinamente, a mudança na dinâmica familiar acarretou a necessidade de reflexão da

ideia tradicional apresentada sobre a estrutura familiar e sua composição (pai, mãe e

filhos), assim como sua questão social, que deu lugar a uma descrição mais abrangente

do que estamos acostumados a considerar como sendo um núcleo familiar. Devido à

desagregação da unidade familiar, a perda do pai como a figura central no ambiente

doméstico e a nova configuração da interação entre pais separados, lares desfeitos,

relação de convívio entre madrastas/padrastos e enteados, aumentaram o interesse por

discussões e debates acerca das implicações da separação na vida da prole gerada.

Consequentemente, tornou-se necessário que leis e estatutos fossem criados

para resguardar e proteger a integridade física e psicológica daqueles indivíduos

provenientes de uniões consensuais dissolutas, mas também para fundamentalmente

amparar os direitos das crianças e adolescentes que são os maiores prejudicados com

processos traumáticos e, por que não dizer, dramáticos causados por uma separação.

Quando, do decurso judicial de separação do casal, pais, mães e até mesmo outros

parentes próximos à criança passam a demonstrar elementos sistemáticos que

caracterizam má conduta e vitimização para praticar atos de violência velada através de

abuso psicológico, comportamento ofensivo e condenável, medidas jurídicas deverão

ser tomadas para afastar o menor em questão do fogo cruzado entre os genitores e

prover formas de amenizar o sofrimento utilizando os instrumentos cabíveis por

determinação formal.

Sendo assim, por tais motivos, apresentamos no presente estudo, uma breve

revisão de literatura com o intuito de contextualizar a prática da alienação imposta a

indivíduos indefesos, algo que frequentemente vêm sendo praticado por cônjuges que,

ao se separar seja de forma litigiosa ou consensual, usam seus filhos como meio de

Page 12: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

12

obter vingança e atingir a outra parte, sem atentar para os sentimentos e o abandono

afetivo da criança ou adolescente. Propomos também a pesquisa teórica sobre o tema

baseados no argumento de que discutir tal assunto tão divulgado em diferentes áreas, é

extremamente pertinente para acompanharmos os rumos que os debates, as pesquisas

e as fontes bibliográficas apontam. Ao lançarmos um olhar sobre a Lei 12.318/2010,

tentamos não só compreender a doutrina, mas aprofundar os conhecimentos relativos

ao alcance da norma e sua eficácia.

Estruturamos nossa pesquisa em cinco capítulos, enfocando o nosso objeto de

estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, da seguinte

maneira:

O primeiro capítulo traz a contextualização e nossas considerações iniciais

acerca do tema abordado, bem como justifica nosso interesse em desenvolver um

estudo de modo a entender com o Estado ampara o sujeito em desenvolvimento, de

forma preventiva de atos alienação parental através de artefatos jurídicos.

No segundo capítulo, explanamos sobre a evolução histórica do Direito da

Criança e do Adolescente, pontuando alguns dos principais acontecimentos no Direito

Brasileiro em consonância com o Princípio da Proteção Integral, considerando o mais

importante dos norteadores dos direitos da criança e do adolescente em nosso país, a

Constituição Federal de 1988.

No terceiro capitulo, apresentamos como surgiu o conceito do termo Síndrome da

Alienação Parental, quais perspectivas levaram ao seu reconhecimento como condição a

ser matéria para que a legislação brasileira viesse a criar normas para regulamentar a

situação com o intuito de prevenir e combatê-la. Salientamos, também, as formas

cometidas comumente de alienação parental e que são classificadas de acordo com a

intensidade e gravidade da prática. Além disso, também mostraremos as consequências

da alienação parental na formação emocional e interpessoal da criança e do adolescente,

ressaltando como esse comportamento pode trazer consequências destrutivas e

prejudiciais estendidas até mesmo à vida adulta do filho.

Page 13: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

13

No quarto capitulo, expomos as implicações legais do Principio da Proteção

Integral em relação à Alienação Parental, assim como apontamos quais direitos da

criança e do adolescente são feridos mediante tal prática abusiva e egoísta. Por fim,

apresentamos como se dá a prevenção da Alienação Parental amparada pelo Princípio

da Proteção Integral presente na Lei 12.318/2010.

No quinto capítulo, apresentamos nossas considerações finais e reflexões

resultantes das leituras realizadas para delinear e delimitar os assuntos abordados na

construção da pesquisa.

Page 14: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

14

2 O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL: CONCEITUAÇÃO E TEORIA JURÍDICA

A teoria da proteção integral que permeia a fundamentação e a orientação

doutrinária do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, recentemente estabeleceu-

se como conjectura indispensável para a compreensão do Direito da Criança e do

Adolescente no Brasil. A partir do final do século XX, a teoria da proteção integral passou

por um período de transição no país e sofreu mudanças em seu campo científico

substituindo o Direito tradicional, que não percebia a criança como indivíduo, tornando-se

referencial paradigmático para construir um substrato teórico constitutivo e fomentador

dos direitos fundamentais da criança e do adolescente como verdadeiros sujeitos de

direito, em condição peculiar de desenvolvimento.

Em suma, a proteção integral ao ser vista como um dos efeitos da mudança

paradigmática do novo Direito da Criança e do Adolescente, exige uma prática

continuada com a efetiva entrega dos direitos inerentes à criança e ao adolescente. Por

isso, a teoria jurídica é traduzida dessa forma, pois tem como função proporcionar o

desenvolvimento igualitário, seguro e sem conflitos de interesse, baseado-se em valores,

princípios e regras próprias.

Diante disso, abordaremos a evolução da doutrina da proteção integral

observando brevemente os primórdios do direito da infância e da juventude no Brasil, a

doutrina do principio da proteção integral e, para finalizarmos o capítulo, faremos algumas

ponderações sobre a Constituição Federal de 1988 e os Direitos da Criança e do

Adolescente em consonância com o Principio da Proteção Integral.

2.1 OS PRIMÓRDIOS DO DIREITO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE NO BRASIL

Antes da codificação acerca do direito da infância e da juventude, o discurso

jurídico-social no Brasil não contemplava as necessidades, tampouco, as idiossincrasias

inerentes aos indivíduos compreendidos na faixa etária de zero a dezoito anos. Tornou-

se, então, inevitável repensar e criar normas para tutelar e impor penalidades

Page 15: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

15

administrativas por infração às normas de proteção à criança e ao adolescente. Amaral

(2008) define o novo ramo especializado para tratar da área da infância e juventude como

sendo o:

Sistema de métodos de estudo e aplicação dos princípios jurídicos e das normas referentes aos sujeitos do Direito Especial de proteção integral, pessoas de menos de dezoito anos de idade, consideradas pela Constituição e pela Lei em estágio de desenvolvimento biopsicossocial. (AMARAL, 2008, n.p)

Agências especializadas e organizações internacionais que se dedicam ao bem

estar da criança ressaltam em alguns tratados internacionais de proteção infanto-juvenil,

bem como em documentos elaborados para salientar a importância da cooperação e do

empenho para a melhoria das condições de vida dos infantes em todos os países, que

particularmente em países em desenvolvimento, onde se concentra um grande número

de crianças social e economicamente marginalizadas, deve-se oferecer maior atenção à

infância e à juventude, trazendo nas entrelinhas um alerta para a vulnerabilidade desses

sujeitos de direito.

A necessidade de proporcionar proteção especial à criança foi enunciada na

Declaração de Genebra, em 1924, considerada a precursora de novas perspectivas nas

décadas seguintes, conquistou marcos importantes nas discussões entre as nações

sobre os direitos de crianças e adolescentes, destacando como foco principal a

necessidade de proteção especial dos mesmos, pois trata-se de sujeitos de direito em

condições peculiares de desenvolvimento. Entretanto, somente com a criação da ONU

(Organização das Nações Unidas) e da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a

Infância) após a Segunda Guerra Mundial, que os direitos dos menores foram

reconhecidos e ratificados.

Em 1948, como já havia sido enunciado anteriormente na Declaração de

Genebra sobre os Direitos da Criança, a Declaração Universal dos Direitos Humanos,

disposta em dez princípios (SCHREIBER, 2001, p. 56), os quais reafirmam o direito a

cuidados e assistência à infância, sendo “considerada a maior prova histórica do

consensus omnium gentium sobre um determinado sistema de valores” (BOBBIO, 2004

apud AZAMBUJA, 2011), veio reforçar o pedido de igualdade e solidariedade aos

Page 16: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

16

menores em um documento que elencou os direitos humanos e fundamentais que

proclamavam direitos à infância e à juventude.

Em 1959, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no caminho para

o reconhecimento dos direitos de crianças e adolescentes, foi aprovada a Declaração

Universal dos Direitos da Criança, inspirada na Declaração de Genebra de 1924. Delfino

(2009), transcreve um trecho extraído da supracitada onde é apresentada a definição

que expressamente elucida o que seria a proteção especial à criança:

[...] a criança, em decorrência de sua imaturidade física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, antes e depois do nascimento. Afirma, ainda, que a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços. Apela a que os pais (grifo nosso), cada indivíduo de per si, as organizações voluntárias, as autoridades locais e os governos reconheçam esses direitos e liberdade enunciados, empenhando-se todos pela sua observância, mediante medidas legislativas de outra natureza. (DELFINO, 2009, p.10)

Ainda em seu preâmbulo, a referida declaração expressa o pensamento de que

os países signatários devem adotar e incorporar às suas leis, normas que assegurem aos

menores, no mínimo, o compromisso, a responsabilidade do Estado, pais e responsáveis,

enfim, de toda a sociedade, e a garantia de que serão inclusos mecanismos necessários

à fiscalização do cumprimento de suas disposições e obrigações concernentes à

manutenção saudável de sua infância e adolescência, ou seja, pessoas menores de 18

anos. Foi reconhecida também no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e no

Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966.

Em 1989, foi a vez da Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada no

Brasil por intermédio do Decreto nº 99.710, de 21 de setembro de 1990, após ratificação

pelo Congresso Nacional, em 14 de setembro do mesmo ano pelo Decreto Legislativo n°

28. Conforme dispõe em seu preâmbulo, foi concebida tendo em vista a necessidade de

garantir a proteção e cuidados especiais à criança, incluindo proteção jurídica

apropriada, antes e depois do nascimento. Levando em consideração que em todos os

países do mundo existem crianças vivendo em condições extremamente adversas e

necessitando de proteção especial, fixou como meta incentivar os países membros a

efetivarem o desenvolvimento pleno e harmônico da personalidade de suas crianças,

favorecendo o seu crescimento em ambiente familiar, preparando-as para viverem uma

Page 17: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

17

vida individual em sociedade e serem educadas no espírito dos ideais difundidos na

Carta das Nações Unidas.

Os tratados internacionais afastaram ainda os conflitos culturais entre os países

para oferecer às crianças e aos adolescentes garantias de caráter universal. Como bem

explica Maria Regina Fay de Azambuja:

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança vem reforçar a ideia da não exclusão das crianças e dos adolescentes, possibilitando a aplicação de seus princípios em países com culturas diferentes, a partir da ratificação quase universal hoje verificada, sinalizando para o fato de que as particularidades culturais devem ficar em segundo plano sempre que entrarem em conflito com os direitos humanos. (AZAMBUJA, 2004, p. 47)

No Brasil, a primeira norma especifica a proteger a criança e o adolescente foi o

Código de Menores de 1927, que consolidou toda a legislação sobre crianças. Tinha por

objetivo legislar sobre as crianças de 0 a 18 anos, em situação de abandono, moradia

incerta, pais falecidos, desaparecidos, que se tornaram incapazes de cuidar de uma

criança, inclusive os pais presos por um período superior a dois anos, ou seja, o Código

visava proteger a criança que estivesse em situação de risco junto do convívio familiar.

Atribui ao Estado a tutela sobre os órfãos, os abandonados e os pais presumidos como

ausentes, tornando disponível os seus direitos de pátrio poder.

Sob a proteção do Código Civil de 1916, os direitos pertinentes à criança

inserida em uma família padrão, em moldes socialmente aceitáveis para a época,

continuou merecendo a proteção do Código Civil Brasileiro, sem alterações substanciais.

O Código de Menores de 1927 estabelecia que:

Art. 136° - A autoridade pública encarregada da proteção nos menores pode visitar as escolas, oficinas e qualquer outro lugar onde se achem menores, e proceder a investigações, tomando as providencias que forem necessárias.

Diante do exposto, percebe-se que o Estado apresentou um grande avanço,

adotando uma política intervencionista nas relações no âmbito familiar. Porém, com

algumas restrições, pois não abrangiam as crianças e adolescentes em situação de

risco. Outro aspecto importante no Código de Menores de 1927 é a garantia de sigilo às

Page 18: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

18

entidades de acolhimento de menores e aos cartórios de registro de pessoas naturais o

em relação aos genitores que quisessem abandonar os seus filhos, inclusive, garantindo

o sigilo da mãe quanto ao seu estado civil e a ocasião na qual aquela criança foi gerada.

Tudo ocorria em segredo de justiça e de forma gratuita.

O Código de Menores de 1979 instituiu uma política assistencialista com leis

voltadas para os menores que cometeram algum delito e tinham problemas de amparo

social. Consta que os fundamentos do Código de 1979, eram opostos aos preceitos do

Princípio da Proteção Integral. O instrumento jurídico protético do menor de 1979

abrangia apenas as situações de patologia social. Não havia rigor procedimental, com

inobservância, inclusive, ao Princípio do Contraditório. E, portanto, o que prevalecia nos

ditames processuais era um elevado grau de discricionariedade da autoridade judiciária.

Suas características provinham da ideia de que o mundo adulto era suficientemente bom

para as crianças e adolescentes e que os adultos sabiam o que seria melhor para eles.

Logo, a prevenção limitava-se a disciplinar medidas de vigilância.

Os códigos vigentes tratavam das funções do Estado quando das medidas as

quais deveriam ser tomadas para resguardar o direito à integridade física, se contemplar

aspectos subjetivos inerentes ao sujeito. Com a criação do Estatuto da Criança e do

Adolescente (Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990), mudanças significativas foram

introduzidas com relação à legislação anterior. A terminologia “menor” foi substituída por

“criança e adolescente”. Além disso, passaram a ser considerados cidadãos, com

direitos pessoais e sociais garantidos, exigindo da União, Estados e Municípios a

implementação de políticas públicas, especialmente dirigidas a esse segmento. Também

estabeleceu a criação do Conselho Tutelar, que nada mais é do que o:

Órgão relacionado à sociedade quanto ao dever de assegurar os direitos dos menores. Neste diapasão, a lei em questão trouxe as mudanças. [...] Inclusão em suas atribuições de representação ao Ministério Público a fim de que este promova as ações de perda ou suspensão do poder familiar; inclusão do dever de comunicar imediatamente ao Ministério Público os casos em que entender necessário o afastamento familiar. (LOPES & FERREIRA, n.p)

Além de atender crianças e adolescentes, aplicar medidas de proteção

aconselhar os pais ou responsável legal e aplicar as medidas pertinentes previstas no

Estatuto da Criança e do Adolescente, o Conselho Tutelar tem como principais deveres:

Page 19: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

19

a) promover a execução de suas decisões, podendo requisitar serviços públicos

e entrar na Justiça quando alguém, injustificadamente, descumprir suas

decisões;

b) levar ao conhecimento do Ministério Público, fatos que o Estatuto tenha como

infração administrativa ou penal;

c) encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes;

d) tomar providências para que sejam cumpridas as medidas sócio-educativas

aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores;

e) expedir notificações em casos de sua competência;

f) requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e adolescentes,

quando necessário;

g) assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária

para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do

adolescente;

h) entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para que estas se

defendam de programas de rádio e televisão que contrariem princípios

constitucionais bem como de propaganda de produtos, práticas e serviços

que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente;

i) levar ao Ministério Público os casos que demandam ações judiciais de perda

ou suspensão do pátrio poder;

j) fiscalizar as entidades governamentais e não governamentais que executem

programas de proteção e socioeducativos (KAMINSKI apud LAUREANO, s.d).

Igualmente, ficou estabelecido que nenhuma criança ou adolescente será

negligenciada, discriminada, explorada, oprimida, tratada com crueldade ou violência

sem que aqueles que praticarem esses atos opressivos ou que se tornarem omissos

diante de uma situação de violência contra uma criança ou adolescente, deverá ser

punido por lei. Por exemplo, os Conselhos de Direitos foram criados por determinação

do Estatuto da Criança e do Adolescente e existem nas instâncias Municipal, Estadual e

Federal para coibir e punir este tipo de infração.

Os Conselhos de Direitos têm por atribuição principal criar, fazer funcionar,

garantir o direito de participação do cidadão na definição das ações de atendimento às

Page 20: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

20

crianças e adolescentes. Da mesma forma, objetiva construir novas relações entre

governo e sociedade, para dividir as responsabilidades na construção de políticas

públicas adequadas ao contexto social e as necessidades de cada município.

A Constituição Federal de 1988 marcou o Direito Brasileiro com um indelével

avanço no campo da normatização de direitos e garantias fundamentais. Neste contexto,

ao lado dos princípios e normas instituídos pela Constituição Federal de 1988, a

Convenção dos Direitos da Criança, adotada em 1989 e ratificada pelo Brasil em 1990,

serviu de fonte de inspiração na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei

n° 8.069, de 13 de julho de 1990, que entrou em vigor na data de 14 de outubro de 1990.

O texto constitucional de 1988 antecipou tendências e trouxe em seus artigos os

preceitos da Doutrina da Proteção Integral.

Vale salientar que, é importante observar que durante décadas a proteção

oferecida por lei à criança e ao adolescente ficou um tanto quanto negligenciada, tendo

em vista que até a promulgação da Constituição de 1988, a criança e o adolescente eram

tratados de forma discriminatória e sem nenhum cuidado real especializado. Sendo

assim, a partir do momento em que eles adquiriram a condição de sujeitos de direito

reconhecido, passaram a reivindicar seus direitos plenos: moradia, lazer, educação,

dentre outros. Fica claro também, que outras medidas devem ser estabelecidas para que

haja a evolução desses direitos dada as novas configurações que permeiam a hodierna e

contínua dinâmica social.

2.2 A DOUTRINA DO PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

O Principio da Proteção Integral busca conferir direitos ao sujeito que está em

processo de desenvolvimento. Quando a autoridade parental age de má fé e aproveita-

se da vulnerabilidade do próprio filho, promovendo uma campanha denegritória contra o

outro genitor e infligindo abuso emocional à criança que precisa de prioridade absoluta e

proteção integral, este princípio norteador é ferido.

Page 21: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

21

Vercelone (2000), em sua obra “Estatuto da Criança e do Adolescente:

comentários jurídicos e sociais” postula que:

Deve-se entender a proteção integral como o conjunto de direitos que são próprios apenas aos cidadãos imaturos; estes direitos, diferentemente daqueles fundamentais reconhecidos a todos os cidadãos, concretizam-se em pretensões nem tanto em relação a um comportamento negativo (abster-se da violação daqueles direitos) quanto a um comportamento positivo por parte da autoridade pública e dos outros cidadãos, de regra adultos encarregados de assegurar esta proteção especial. Por força da proteção integral, crianças e adolescentes têm o direito de que os adultos façam coisas em favor deles. (VERCELONE, 2000 apud CURY, 2005, p. 33)

A Proteção Integral é fundamentada em três pilares, a saber: 1) a criança

adquire a condição de sujeito de direitos; 2) a infância é reconhecida como fase especial

do processo de desenvolvimento; e, 3) a prioridade absoluta a esta parcela da

população passa a ser principio constitucional, conforme o artigo 227 da Constituição

Federal de 1988.

Podemos perceber, à vista disso que, com a elaboração da Constituição da

Republica Federativa do Brasil, um passo decisivo para o estabelecimento da proteção

integral foi tomado em direção àqueles que, de certa forma, não se encontravam

devidamente amparados pela lei, garantindo a criança e ao adolescente um conjunto de

princípios e regras que irão salvaguardar a sua existência como ser humano atuante e

pensante dentro da sociedade democrática em que estão inseridos, dando aos mesmos,

voz e vez para que possam atuar e vivenciar plenamente seu papel social.

Sobre esse aspecto, Custódio (2008, n.p) assevera que

A Constituição da República Federativa do Brasil e suas respectivas garantias democráticas constituíram a base fundamental do Direito da Criança e do Adolescente inter-relacionado os princípios e diretrizes da teoria da proteção integral, que por consequência provocou um reordenamento jurídico, político e institucional sobre todos os planos, programas, projetos ações e atitudes por parte do Estado, em estreita colaboração com a sociedade civil, nos quais os reflexos se (re) produzem sobre o contexto sócio-histórico brasileiro.

Em contrapartida, consideramos o pensamento de Ramidoff (2007, p. 21) em

sua tese de mestrado a respeito da constituição de uma base epistemológica

consistente, pois

Page 22: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

22

A pretensão de integração sistemática da teoria e da pragmática pertinentes ao direito da criança e do adolescente certamente se constitui num dos objetivos primordiais a serem perseguidos pela teoria jurídica infanto-juvenil. Até porque uma das principais funções instrumentais oferecidas pela proposta da formatação daquela teoria jurídico-protetiva é precisamente oferecer procedimentos e medidas distintas por suas necessidades e especificidades no tratamento de novas emergências humanas e sociais, procurando-se, desta maneira, estabelecer outras estratégias e metodologias para proteção dos valores sociais democraticamente estabelecidos – como, por exemplo, direitos e garantias individuais fundamentais – pertinentes à infância e à juventude. (RAMIDOFF, 2007, p. 21 apud CUSTÓDIO, 2008, n.p)

Recapitulando, a sociedade em sua totalidade vem passando por um processo

contínuo cujas transformações, nas quais muitas regras que norteavam o

comportamento dos seres humanos foram substituídas e outras acabaram por ser

estabelecidas, modificaram o modelo tradicional de família constituído por cônjuges e

prole. Tais distintas alterações, afetaram a condição da criança e do adolescente que

necessita de todo o aparato legal, bem como o apoio para lidar da forma mais tranquila

possível com a nova realidade da dissolução do lar e de suas relações familiares. Sendo

assim, os interesses da criança e do adolescente devem ser postos como prioridade,

uma vez que

[...] os atos relacionados ao atendimento das necessidades da criança e do adolescente devem ter como critério a perspectiva dos seus melhores interesses. Essa perspectiva é orientadora das ações da família, da sociedade e do Estado, que nos processos de tomada de decisão, sempre, devem considerar quais as oportunidades e facilidades que melhor alcançamos interesses da infância. (CUSTÓDIO, 2008, n.p).

Consequentemente, é notório que os direitos da criança e do adolescente, bem

como a proteção integral dos mesmos devem ser cumpridos de fato e não apenas

estabelecidos nos documentos que regularizam a situação destes indivíduos, ou seja, é

preciso que o Estado e a família efetivem esses princípios determinados por lei de forma

plena e satisfatória, do mesmo modo que a Constituição Federal também venha ser

respeitada em tal grau que o bem estar e a qualidade de vida individualizada de cada

criança e cada adolescente sejam atendidos.

Por conseguinte, é evidente o fato que os princípios que norteiam os direitos da

criança e do adolescente muitas vezes são desrespeitados ou simplesmente não são

aplicados nos casos concretos devido à dificuldade de mensurar e de visualizar tais

situações antes que o juiz a quo reconheça o caso em juízo. Porém, o Estado e a

Page 23: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

23

Justiça, seguem unindo esforços e trabalho para alcançar, através de políticas públicas

e normas regulamentadoras, a garantia de estender a segurança jurídica a todos esses

sujeitos de direito, proporcionando condições mínimas para que se desenvolvam

plenamente, tenham moradia, lazer, saúde, dentre outros preceitos básicos.

Destarte concordarmos com a seguinte afirmativa:

Sabe-se que pouca efetividade será alcançada sem o compromisso firme com o princípio da tríplice responsabilidade compartilhada, segundo o qual a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar os direitos fundamentais da criança e do adolescente. Neste contexto, a articulação dos princípios do Direito da Criança e do Adolescente para sua aplicação na realidade concreta pode desempenhar um papel pedagógico, verdadeiramente provocador da cidadania, da democracia e das necessárias transformações sociais e políticas. Esse é o fundamento emancipatório da Teoria da Proteção Integral. (CUSTODIO, 2008, n.p).

É imprescindível que observemos a necessidade de atentar para o fato de que se

trata de uma questão que ultrapassa os limites legais, mas também abrange a própria

sociedade e seu conjunto de regras que não necessariamente estão inseridos em um

contexto jurídico e sim sociológico. Vale relembrar que, as discussões sobre o tema e a

temática da alienação parental englobam outras áreas. O assunto requer um bom tempo

de dedicação e pesquisa para que possa se desenvolver tanto na prática, assim como

também na teoria tratada nos meios acadêmicos.

2.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE EM CONSONÂNCIA COM O PRINCIPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

O ordenamento jurídico brasileiro acolheu crianças e adolescentes para o mundo

dos direitos e dos deveres, apresentando a eles o mundo da cidadania.

O artigo 227 da Constituição Federal Brasileira assevera que

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de

Page 24: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

24

toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988, n.p).

Não há como deixar de mencionar a postura vanguardista do Brasil ao assumir,

em 1988, o compromisso com a Doutrina da Proteção Integral, que promulgada antes da

aprovação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, assegurou à

criança, direitos fundamentais como: direito à vida, à saúde, à educação, à liberdade, ao

respeito, à dignidade, o direito à convivência familiar, dentre outros já citados. Isto

direcionou as futuras legislações infraconstitucionais que versam sobre a temática da

proteção da criança e do adolescente no Brasil.

Isso vem ao encontro do pensamento de Veronese & Oliveira (2008, n.p) que

considera que

A Convenção definiu a base da Doutrina da Proteção Integral ao proclamar um conjunto de direitos de natureza individual, difusa, coletiva, econômica, social e cultural, reconhecendo que criança e adolescente são sujeitos de direitos e, considerando sua vulnerabilidade, necessitam de cuidados e proteção especiais. Exige a Convenção, com força de lei internacional, que os países signatários adaptem as legislações às suas disposições e os compromete a não violarem seus preceitos, instituindo, para isto, mecanismos de controle e fiscalização.

As normas jurídicas que amparam as crianças e os adolescentes devem

concebê-los como cidadãos plenos, porém sujeitos à proteção prioritária, tendo em vista

que são pessoas em desenvolvimento moral, psicológico e físico. Não devem, de

maneira alguma, ser vistos como cidadãos latentes e potenciais. Sua cidadania é plena,

sendo-lhes conferidos todos os direitos. Inclusive, há o estímulo à participação de

crianças e adolescentes na política estudantil, como vistas a organização escolar e a

valorização efetiva da participação política a partir dos 16 anos, quando se faculta o voto.

O Estatuto da Criança e do Adolescente ressaltou a ideia da cidadania plena,

com base na teoria da proteção integral considerando que deve haver prioridade no

atendimento às necessidades infanto-juvenis e se organiza em um sistema em que as

leis reconhecem garantias a esse segmento social, tutelando seus interesses peculiares,

bem como criando instrumentos para a efetivação de seus direitos individuais frente à

família, à sociedade e ao Estado. Como podemos perceber na transcrição abaixo, de

acordo com artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Page 25: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

25

Art. 53° - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II- direito de ser respeitado por seus educadores;

III- direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV- direito de organização e participação em entidades estudantis;

V- acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (BRASIL, 1990)

Um dos aspectos observados na transcrição acima é o direito da criança a

convivência familiar, além de ser um dever da família, da sociedade e do Estado. É uma

necessidade vital para toda criança se desenvolver perfeitamente, no mesmo grau de

importância do direito fundamental à vida. Por isso, encontra previsão legal na

Constituição Federal de 1988, no artigo 227, o que ratifica o compromisso do Brasil com

a Doutrina da Proteção Integral, garantindo à infância brasileira a condição de sujeitos

de direitos e de prioridade absoluta.

Para Irene Rizzini (2006), entende-se como convivência familiar e comunitária,

“a possibilidade da criança permanecer no meio a que pertence, preferencialmente junto

a sua família, seus pais e/ou outros familiares e, caso não seja possível, em outra família

que a acolher”. Portanto, a convivência familiar é essencial para a formação da

integridade física, psicológica e emocional da criança e do adolescente. O afastamento

do convívio familiar deve ser uma situação excepcional, quando ordenada pelo juiz.

3 A SINDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP): ORIGEM, ASPECTOS

CONCEITUAIS E GERAIS

A Alienação Parental é o “processo de lavagem cerebral ou a programação das

reações da criança ou adolescente pelo alienador” (LAGRASTA NETO, 2009, p. 38); é

ainda “a prática adotada por um genitor de afastar o outro genitor da vida do filho”; ou as

Page 26: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

26

campanhas de desqualificação da figura parental, o esforço do alienador em causar

algum prejuízo ao vínculo entre o ex-cônjuge e o filho caracteriza pelo exercício abusivo

do direito de guarda” (COSTA, 2010, p. 65). Os efeitos negativos ou reações adversas

desse processo de alienação, foram denominadas de Síndrome da Alienação Parental.

O termo Síndrome da Alienação Parental surgiu a primeira vez na literatura

especializada quando o médico e professor de psiquiatria infantil, Richard Gardner,

propôs em 1985 a definição de que “quando uma mãe ou um pai de determinada criança

a incentiva, bem como a instiga a romper todo e qualquer laço afetivo que a mesma

mantenha com o outro cônjuge, despertando nessa criança sentimentos que não se

fazem necessários em determinadas etapas de sua vida como ansiedade e/ou temor com

relação ao seu outro genitor”, seriam sintomas de abuso emocional e psicológico

característicos da síndrome (DELFINO, 2009, n.p).

Quando falamos em Síndrome da Alienaçao Parental, estamos nos referindo a

“uma patologia psíquica e jurídica que não pode ser ignorada” (COSTA, 2010, p. 78),

algo diretamente ligado ao lado psicológico do filho que passa a ser afetado mediante as

atitudes de um de seus progenitores. Lagrasta Neto (2009, p. 38), por sua vez, a define

como “[....] o conjunto de sintomas diagnosticados”. O que fica claro é que a síndrome

está totalmente ligada aos sentimentos negativos que os filhos passam a desenvolver

em relação ao seu pai ou mãe no nível de convivência familiar.

A situação torna-se tão extrema que até mesmo casos de acusação de abusos

sexuais, dentre outros efeitos surgem para incriminar o genitor alienado, algo bastante

prejudicial para alguém que está começando a desenvolver seus sentidos de percepção

do mundo.

Para Mazzoni (2011, p.45),

“Algumas vezes a Síndrome da Alienação Parental vem sob a forma de falsas denúncias de abuso sexual envolvendo o genitor vítima, podendo chegar ao ponto de criar na criança falsas memórias do suposto abuso.” Por insistência do alienador o filho é convencido de que realmente o fato existiu, sendo levado a repetir o que lhe foi dito pelo alienador, muitas vezes sem conseguir ver que está sendo manipulado.

Page 27: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

27

É importante ter em mente, o quanto esta prática deve ser julgada de forma rígida

e imediata pelo Poder Judiciário, uma vez que é uma responsabilidade muito grande

prejudicar o desenvolvimento sadio de um filho e as consequências de atos como esses

são muitas vezes incontáveis. Dito isto, abordaremos a seguir, aspectos evolutivos, de

incidência e conduta dos agentes causadores da síndrome.

3.1 ASPECTOS EVOLUTIVOS E HISTÓRICOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Conforme citamos anteriormente, o termo Síndrome da Alienação Parental –

SAP foi cunhado por Richard Gardner (psiquiatra americano, chefe do departamento de

Psiquiatria Infantil da Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de Columbia,

em Nova York, nos Estados Unidos), no ano de 1985. Gardner (1985, n.p) postulou que

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável.

Estudiosos como Rand (1997) apud Sousa & Brito (2010, p. 44), souberam

exemplificar como se deu o processo de “criação” desse termo por Gardner, que

[...] ao longo dos anos 70, Gardner trabalhou como psiquiatra forense, conduzindo avaliação de crianças e famílias em situações de divórcio. No início dos anos 80, Gardner teria observado um aumento do número de crianças que exibiam rejeição e hostilidade exacerbada por um dos pais, antes querido.

A autora Analicia Martins de Sousa (2010, p. 99) analisa que Gardner começou

a vislumbrar que

[...] pensou se tratar de uma manifestação de brainwashing (lavagem cerebral), termo que, segundo o autor, serve para designar que um genitor de forma sistemática e consciente influência a criança para denegrir o outro responsável (s/p, tradução nossa). Contudo, logo depois, concluiu que não seria simplesmente uma lavagem cerebral, fazendo uso então do termo síndrome da alienação parental (SAP) para designar o fenômeno que se observava.

Page 28: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

28

Ao realizar essas pesquisas com famílias que passavam por uma situação

delicada como um divórcio nos anos 70, Gardner observou em meados dos anos 80,

que tanto crianças como adolescentes provenientes de relações que acabam tendo esse

desfecho passaram a rejeitar e agredir o pai e/ou mãe alienado sem um motivo aparente

e convincente. A partir do momento em que a SAP se torna inerente à criança, momento

esse em que a criança aprende a odiar o genitor alienado por influência do alienador,

aquele passa a ser um estranho para ela. Nesta linha, Costa (2010) afirma que

A SAP é comum em crianças de até 06 (seis) anos de idade, sendo possível o direcionamento da alienação também para adolescentes, quando o pai, mãe ou até mesmo um terceiro (avó ou avô) a manipular a ponto de fazê-la crer que vivenciou algo que nunca ocorreu de fato. (COSTA, 2010, p.62)

É interessante que não só os pais são responsáveis por desenvolver na criança

ou adolescente esse estado de alienação, mas também outros parentes próximos

podem participar ativamente disso, como os próprios avós. Sendo assim, podemos

afirmar que mesmo sem a presença dos pais a Síndrome da Alienação Parental pode vir

a se desenvolver.

Por meio de decisão jurisprudencial julgada em 2007, pelo desembargador Luiz

Felipe Brasil Santos no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, e divulgada em

acórdão feito pelo mesmo, a decisão corrobora com o fato de que nem sempre os

progenitores são os responsáveis pelo desenvolvimento da SAP. Vide trecho desta

decisão transcrita abaixo:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. MÃE FALECIDA. GUARDA DISPUTADA PELO PAI E AVÓS MATERNOS. SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL DESENCADEADA PELOS AVÔS. DEFERIMENTO DA GUARDA AO PAI. 1. Não merece reparos a sentença que, após o falecimento da mãe, deferiu a guarda da criança ao pai, que demonstra reunir todas as condições necessárias para proporcionar a filha um ambiente familiar com amor e limites, necessários ao seu saudável crescimento. 2. A tentativa de invalidar a figura paterna, geradora da síndrome de alienação parental, só milita em desfavor da criança e pode ensejar, caso persista, suspensão das visitas aos avôs, a ser postulada em processo próprio. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70017390972, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 13/06/2007).

Complementando, por entender que qualquer um que tenha uma convivência

com a criança e o adolescente pode se tornar um agente ativo no desenrolar desse

Page 29: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

29

processo, é importante que seja realizado um levantamento detalhado do histórico

familiar, assim como dos parentes para revelar todas as nuances de cada caso.

A partir da definição de Gardner, outros estudiosos resolveram aprofundar e

tentar compreender mais a fundo o termo e a síndrome, dentre eles podemos citar

também François Podevyn que define

[...] alienação de forma mais objetiva: programar uma criança para que odeie um de seus genitores, enfatizando que, depois de instalada, contará com a colaboração desta na desmoralização do genitor (ou de qualquer outro parente ou interessado em seu desenvolvimento) alienado. (PODEVYN apud ALMEIDA JÚNIOR, s/d.)

O Brasil foi o primeiro país a ter uma legislação para coibir tal prática alienante.

Sancionada em 26 de agosto de 2010, pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, a

Lei nº 12.318-10, denominada Lei de Alienação Parental, conceitua a alienação parental

como a “interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida

ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou

adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que

cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. (BRASIL,

2010).

Na Lei nº 12.318/2010, está contido tanto a definição de alienação parental

disposta no art. 1º, como quais são os sujeitos que podem exercê-la, dispostas no art.

2º, vide trecho escrito abaixo

Art. 2º - Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com o auxílio de terceiros:

I- realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício

da paternidade ou maternidade;

II- dificultar o exercício da autoridade parental;

III- dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV- dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

Page 30: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

30

V- omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre

a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de

endereço;

VI- apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou

contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança

ou adolescente;

VII- mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a

dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,

com familiares deste ou com avós. (BRASIL, 2010)

A lei busca ainda, resguardar os aspectos inerentes aos direitos fundamentais

de crianças e adolescentes visivelmente violados com a prática de alienação (art. 3º), a

explicar como será a realização do processo quando percebido algum indício de prática

de alienação parental (arts. 4º e 5º), além das punições previstas para o alienador (art.

6º).

Com relação à forma de tramitação do processo, fica estabelecido nos artigos 4°

e 5° da lei 12.318/2010 que

Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de

ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Art. 5º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. (BRASIL, 2010)

De acordo com a gravidade do caso, formas mais severas podem ser aplicadas,

caso o juiz ache necessário, podemos citar como exemplo de decisões a determinação

da inversão da guarda, passando a guarda do filho para o genitor alienado com o fim de

proteger o menor ou modificá-la pra guarda compartilhada, podendo até suspender o

poder familiar do genitor alienador, uma vez que “penalidades como a multa e a perda

da guarda estão previstas”, para punir quem pratica a alienação, não importa se são os

“pais e demais familiares [os] alienadores” (COSTA, 2010, p. 77).

Page 31: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

31

A esse respeito, o art. 6º da LAP estabelece que

Art. 6º. Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

I- declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II- ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III- estipular multa ao alienador;

IV- determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V- determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua

inversão;

VI- determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII- declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. (BRASIL, 2010)

Além disso, diversos pesquisadores acabaram por cunhar suas próprias

definições como, por exemplo, Denise Maria Perissini da Silva (2010), que afirma que tal

conduta se trata de

Um distúrbio que surge principalmente no contexto das disputas pela guarda e custódia das crianças. A sua primeira manifestação é uma campanha de difamação contra um dos genitores por parte da criança, campanha essa que não tem justificação. (SILVA, 2010, p. 43 apud MAZINI 2011)

Nitidamente, apesar de ser um assunto recente, a Síndrome da Alienação

Parental acabou por constituir-se em um tema bastante relevante para ser discutido

tendo em vista que ele se reflete na instituição familiar detentora da representação da

sociedade como um todo. Mesmo sendo um conceito que de certa forma é guiado

principalmente pelos alicerces da Psicologia e do Direito, sendo definido e conceituado

por vários autores, há de se atentar para o fato de que a alienação pode se subdividir ou

mesmo se ramificar apresentando diversas nuances.

Page 32: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

32

3.2 FORMAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL

A alienação parental acabou por se transformar em um instrumento de vingança

de antigos cônjuges ou parceiros, cujos próprios filhos viram armas para atingir seus

objetivos egoístas, muitas vezes motivado por um ódio irracional e descabido,

culminando em condutas reprováveis. Segundo Gardner (1985), os estágios ou formas

de alienação parental podem ser de caráter leve, moderado e grave, onde o ápice de

diversas sucessões de acontecimentos pode até mesmo culminar em casos de

homicídios ou suicídios.

A ação que envolve a alienação parental tem dois agentes importantes que a

representam: o agente alienador e os agentes alienados. Mazini (2011) postula que o

genitor-alienador nada mais é do que

[...] aquele que faz tudo para a atuação da alienação parental, ou seja, esse sujeito na maioria das vezes revela-se como o guardião da criança, e denigre a imagem do outro progenitor. Assim, pode-se confirmar que o alienador por vezes é tido como o guardião da criança, mas também poderá se dar por aquele que

não tem a guarda. (MAZINI, 2011, p.74)

Por outro lado, Mazini (2011) descreve o genitor-alienado como sendo

[...] aquele quem sofre com toda a conduta desenvolvida pelo agente alienador, são de fato os agentes alienados, que são na maioria das vezes as crianças e o progenitor denegrido. Afinal, com a campanha difamatória realizada pelo agente alienador, o outro progenitor se vê por vezes recebendo um tratamento diferente de seu filho, além de que por diversas vezes é tratado com aversão, e outras ocasiões nem ao menos querendo o ver. Já os maiores prejudicados e alienados com toda essa conduta, são as crianças, afinal essas passam a acreditar cegamente no que o seu guardião diz, tendo como consequência o afastamento e isolamento em relação ao seu outro progenitor. (MAZINI, 2011, p.74)

Para Longano (2011, n.p), o genitor responsável por alienar a criança utiliza-se

de certas “artimanhas” como

[...] denegrir a imagem do outro genitor; criticar negativamente a competência profissional do ex-parceiro; obrigar a criança ou adolescente escolher um dos genitores; fazer comentários desagradáveis sobre os presentes dados pelo genitor; controlar excessivamente o horário de visitas; interceptar ligações telefônicas ou correspondências; externar seu desagrado diante das manifestações de carinho do filho para o genitor alienado, permitir falsas acusações de abuso sexual, podendo ocorrer aqui a implantação de falsas memórias, onde a criança é levada a acreditar em fatos inverídicos, etc. Cumpre

Page 33: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

33

nos ressaltar que a alienação parental não se caracteriza apenas com a prática de um ato isolado, o que levaria a sua banalização.

Vale ressaltar que, não há uma regra para o tipo de comportamento e reação do

genitor-alienador ou parente-alienador. Entretanto, é importante destacar algumas das

mais comuns características e atitudes tomadas pelo alienador, pois mesmo que não

possamos prever a ação, podemos identificar alguns traços e formas de agir.

Motta (2008, p. 39) apud Mazzoni (2011, p. 43-44) exemplifica, a título de

esclarecimento, algumas formas e comportamentos típicos do genitor alienador que

podem manifestar de diversas maneiras

a) recusar-se a passar as chamadas telefônicas aos filhos;

b) organizar várias atividades com os filhos durante o período que o outro

genitor deve normalmente exercer o direito de visitas;

c) apresentar o novo cônjuge aos filhos como sua nova mãe ou seu novo pai e

por vezes insistir que a criança utilize esse tratamento pessoal;

d) interceptar as cartas e os pacotes mandados aos filhos;

e) desvalorizar e insultar o genitor na frente dos filhos;

f) recusar informações ao outro genitor sobre as atividades em que os filhos

estão envolvidos (esportes, atividades escolares, grupos teatrais, etc.)

g) falar de maneira descortês ao novo cônjuge do outro genitor;

h) impedir o outro genitor de exercer seu dirieito de visita;

i) “esquecer” de avisar o outro genitor de compromissos importantes (dentista,

médicos, psicólogos);

j) envolver pessoas próximas (sua mãe, seu novo cônjuge, etc.) na lavagem

cerebral de seus filhos;

k) tomar decisões importantes a respeito dos filhos sem consultar o outro genitor

(escolha da religião, escolha da escola, etc.);

l) trocar (ou tentar) trocar seus nomes e sobrenomes;

m) impedir o outro genitor de ter acesso ás informações escolares e/ou médicas

de seus filhos;

Page 34: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

34

n) sair de férias sem os filhos e deixá-los com outras pessoas que não o outro

genitor, ainda que este esteja disponível e queria ocupar-se dos filhos;

o) falar aos filhos que a roupa que o outro genitor comprou é feia e proibi-los de

usá-la;

p) ameaçar punir os filhos se eles telefonarem, escreverem ou se comunicarem

com o outro genitor de qualquer maneira.

Sendo assim, no sentido de ampliar a visibilidade acerca da responsabilização

do genitor alienante, citamos o exemplo do caso apresentado no site da Associação de

Pais e Mães Separados – APASE, divulgado num artigo publicado no Correio

Brasiliense:

João Jr., hoje com 7 anos, passa por momentos terríveis na escola – briga com todo mundo, xinga colegas e professores, isola-se. Até a separação dos pais, há quase quatro anos, convivia intensamente com o pai. Depois, veio a regulamentação das visitas, e o contato entre os dois diminuiu. Recentemente, por decisão judicial, João foi impedido de levar o filho à escola, coisa que ele fazia com gosto todos os dias. A mãe argumentou junto ao juiz que o fato de ela não levar a criança até o colégio interferia no relacionamento com seu filho. Mas logo depois da sentença, ela contratou uma kombi que deixa o menino todos os dias no colégio. O pequeno não entendeu nada e o pai se sente frustrado. ' Tive que explicar a ele o que é um juiz. E que já não o levava para a escola porque não me deixavam fazer isso'', lembra João, funcionário público. Ele cita ainda os problemas que tem quando o coração aperta de saudade e tenta falar com o filho por telefone: ''Ela (a mãe) às vezes diz 'agora ele não pode, está fazendo o dever'; 'não dá, está jantando'. 'sinto muito, já está dormindo.' Pela Justiça, não tenho como reagir. Fico sem poder fazer nada, quando tudo o que quero é ouvir a voz dele. Isso tudo é muito revoltante''. João se queixa de que a Justiça tende a acreditar nos argumentos da mulher, sem questionar se são verdadeiros ou não. E jamais faz um acompanhamento para saber como está a situação depois do despacho do juiz. ''Se ela conta uma história qualquer, ninguém vai verificar o que está realmente acontecendo. (Correio Braziliense – Brasília, DF - 28 de setembro de 2003)

O alienador busca deliberadamente todas as formas possíveis para atrapalhar

as situações em que seus filhos terão contato com um dos alienados (ex-cônjuge),

simplesmente com o intuito de afastar a criança de uma convivência saudável com

aquele que também deve fazer parte e participar ativamente de sua vida. Tudo aquilo

que estiver ao seu alcance no sentido de dificultar uma proximidade, ele não exitará em

fazer.

O autor Marcos Duarte (2009) explica que “para o alienador, obrigação e

compromissos nada significam”. Por isso,

Page 35: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

35

São incapazes de serem confiáveis e responsáveis. Não honram compromissos formais ou implícitos, nem perante o juiz ou outra autoridade. Nunca devemos acreditar em acordos escritos ou verbais firmados com eles, pois certamente nunca cumprirão em sua totalidade. (DUARTE, 2009, p. 36)

Duarte (2009) também explica que o alienador não mede esforços para alcançar

os seus objetivos, atingindo o propósito de separar seu filho do seu ex-companheiro

A mentira é uma constante nas relações com essas pessoas, que mentem com competência e de maneira fria e calculada. Em todos os casos de alienação parental com os quais temos lidado, envolvendo crianças ou adolecentes no Brasil ou exterior, percebemos no alienador o perfil característico dos psicopatas, cujas vítimas são as pessoas mais sensíveis, mais puras de alma e de coração. E o que é pior, com a complacência de magistrados para reconhecer e lidar com as ciladas armadas em juízo por estes indivíduos, verdadeiros predadores sociais. (DUARTE, 2009, p. 36)

Utilizar da manipulação é um comportamento extremamente comum nesses

casos, pois estas pessoas não se preocupam e nem mesmo se importam com a opinião

e situação dos próprios filhos, que deveriam ser os mais importantes e reguardados em

momentos como esse (separação, divórcio dos pais). Isso traz uma carga dramática

muito grande para a criança e o adolescente, que rejeitados e despreparados não

sabem lidar com situações como essas, resultando em danos em sua estrutura

emocional e psicológica. Sentimentos de mágoa e frustração, bem como de abandono

podem se instalar e se tornarem irreversíveis para as crianças e adolescentes que

passam por situações adversas como essas.

3.3 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA ALIENAÇÃO

PARENTAL

A família constitui uma parte importante do desenvolvimento do ser humano.

Cada família, independente de sua condição e configuração, tem o dever de cuidar para

que seus membros possam exercer seus direitos e deveres, respeitando as diferenças,

sejam elas de gênero, personalidade ou até mesmo a idade de cada um. O divórcio seja

ele litigioso ou consensual, não deveria causar um grande impacto nessa concepção

social de vida. Contudo, junto com ele, muitas vezes são despertados os piores

sentimentos que um ser humano possa vir a apresentar: a raiva, o rancor, as mágoas,

Page 36: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

36

acabam por trazer danos psicológicos que podem vir a se manifestar muitos anos

depois.

Sendo assim, quando um cônjuge passa a praticar a alienação parental com

seus filhos, acaba por submeter a criança à distúrbios ligados à ansiedade, depressão,

agressividade, transtornos do sono e de alimentação, etc. Ao atingir a fase adulta,

poderão ainda

[...] desenvolver outras patologias, como transtornos da personalidade, baixa autoestima, insegurança etc., com reflexos nas relações pessoais. Além disso, é possível que venha a padecer de sentimentos de culpa por ter cooperado - ainda que em decorrência de manipulação - para o seu afastamento do outro genitor, sendo comum o abuso de drogas e álcool. Comumente, a vítima se volta contra o alienante, chegando a romper o relacionamento com ele. Diante das gravíssimas consequências dessa prática nefasta, cabe ao Poder Judiciário, quando identificados os elementos que a caracterizam, determinar as medidas que se fizerem necessárias para assegurar à criança um desenvolvimento saudável. (SOUSA DIAS, 2010, p. 46-47).

Neste contexto, a autora Beatrice Marinho Paulo (2011) colabora com sua

descrição das consequências causadas por situações negativas resultantes de relações

familiares desfeitas na fase adulta da criança, que podem vir a apresentar

[...] vida polarizada e sem nuances; depressão crônica; doenças psicossomáticas; ansiedade ou nervosismo sem razão aparente; transtornos de identidade ou de imagem; dificuldade de adaptação em ambiente psicossocial normal; insegurança; baixa autoestima; sentimento de rejeição, isolamento e mal-estar; falta de organização mental; comportamento hostil ou agressivo; transtorno de conduta; inclinação para o uso abusivo de álcool e drogas e para o suicídio; dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais, por ter sido traído e usado pela pessoa que mais confiava; sentimento incontrolável de culpa, por ter sido cúmplice inconsciente das injustiças praticadas contra o genitor alienado. (PAULO, 2011, p. 9)

Com o tempo, o alienado passa a se afastar cada vez mais do filho, participando

menos ainda da sua vida, desconhecendo seus costumes e tendo uma convivência

quase nula com o mesmo. O filho, por sua vez, acaba muitas vezes por desenvolver um

sentimento de remorso e culpa, ao perceber que foi apenas um instrumento de vingança

por parte de seu outro progenitor. Ainda que a alienação comece a ser tratada desde o

início, “ela pode ainda perdurar por várias gerações, em uma repetição incessante e

nefasta de modelos de educação e de construção de afetos assimilados durante o

processo de manipulação” (COSTA, 2010, p. 70).

Page 37: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

37

Para Mazini (2011)

É cediço, que ninguém sai ganhando com a prática abusatória da alienação parental, afinal a criança vitimada por tal conduta cresce insegura com toda a sociedade, acreditando que tudo pode se resolver em seu benefício, não consegue enfrentar os problemas cotidianos como qualquer outra pessoa. Além de que o agente alienado não vê seu direito de exercício do pátrio poder resguardado, já que através do meio jurisdicional não conseguiu reverter à situação no seu início, e acabou sendo vítima de um amor egoístico do genitor alienador, que na realidade poderia ser caracterizado como um psicopata familiar. Portanto, é ainda de boa técnica que tratemos do apoio jurisdicional que a legislação brasileira está dando para a não ocorrência e o possível combate a essa conduta alienadora. (MAZINI, 2011, p.85)

Em síntese, podemos deduzir que é enorme a importância da intervenção do

Estado para frear essa prática, pois não se pode aceitar que crianças e adolescentes

passem por isso sem que nada seja feito, isso sem contar com o risco dessas crianças

ou adolescentes vitimados virem a se tornar futuros alienadores, já que, em sua fase de

crescimento, teve como principal modelo de conduta o genitor alienador.

4 AS IMPLICAÇÕES LEGAIS DO PRINCIPIO DA PROTECAO INTEGRAL EM

RELAÇAO A ALIENAÇÃO PARENTAL

A Constituição Federal de 1988 iniciou na Doutrina Constitucional, a Declaração

dos Direitos Fundamentais, proclamando a Doutrina da Proteção Integral. Com o

Estatuto da Criança e do Adolescente, que se baseou no artigo 227 da Constituição

Federal de 1988, o princípio da proteção integral alcançou reconhecimento no

ordenamento jurídico brasileiro.

A doutrina estabelece que, toda criança e todo adolescente, deve ter

assegurado os direitos fundamentais para a sua sobrevivência e desenvolvimento,

principalmente, o direito à saúde, educação, alimentação, esporte e lazer, além de

estabelecer que tanto a família, a sociedade, como o poder público tem o dever de

assegurar que esses direitos sejam cumpridos. É o que preconiza a doutrina da proteção

integral da criança.

Page 38: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

38

Para a autora Tânia da Silva Pereira (2010), os mecanismos de viabilização

desses direitos podem ser garantidos de acordo com esta Doutrina, pois

[...] a população infanto-juvenil, em qualquer situação, deve ser protegida e seus direitos, garantidos, além de terem reconhecidas prerrogativas idênticas às dos adultos. A proteção, com prioridade absoluta, não é mais obrigação exclusiva da família e do Estado: é um dever social. As crianças e os adolescentes devem ser protegidos em razão de serem pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. (PEREIRA, 2011 apud TORRES, 2010, p. 14)

Deste modo, a Constituição Federal juntamente com o Estatuto da Criança e do

Adolescente, foram os alicerces para que fosse instituída a doutrina da proteção integral

no que diz respeito ao direito da criança e do adolescente e assim foi possível atentar

para a importância de se preservar esses direitos para os indivíduos que ainda não

podem responder por si mesmos.

Por sua vez, em se tratando de proteção à criança e ao adolescente, essa

doutrina estabelece que, dentre outras coisas, como sujeitos de direitos em estágios de

desenvolvimento, fica determinado aos indivíduos de zero a dezoito anos

[...] (a) a condição especial de pessoa em desenvolvimento como parâmetro hermenêutico; (b) a normatização de um leque exemplificativo de direitos fundamentais para garantia do satisfatório desenvolvimento, demandando uma priorização do atendimento – especialmente na oferta de políticas públicas – e uma consideração ao melhor interesse – com ênfase nos litígios judiciais; (c) exigibilidade da participação de terceiros (adultos/instituições) para a evolução satisfatória do desenvolvimento e efetivação plena de seus direitos, acometendo a estes medidas fiscalizatórias e punitivas, caso venham a proceder de maneira que prejudique o desenvolvimento satisfatório; (d) normatização dos múltiplos aspectos humanos que precisam ser contemplados pela lógica do desenvolvimento e da proteção integral: físico, mental, espiritual, moral, social e sexual. (OLIVEIRA, 2008, p.6627)

Em conjunto com a Constituição Federal e o ECA, temos a Lei nº 12.318/2010,

que dispõe sobre a Alienação Parental, para reforçar e garantir que os direitos básicos

da criança e do adolescente sejam respeitados pelos mecanismos anteriormente

citados.

Page 39: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

39

4.1 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERIDOS PELA ALIENAÇÃO

PARENTAL

Antes da criação da Lei da Alienação Parental – LAP, houve uma proposta de

um anteprojeto de lei apresentado em 07 de outubro de 2008 (PL 4053/2008) para os

casos de alienação parental, de autoria do Deputado Federal Regis de Oliveira. A

justificativa apresentada na ocasião foi que

[…] Deve-se coibir todo ato atentatório à perfeita formação e higidez psicológica e emocional de filhos de pais separados ou divorciados. [...] A alienação parental merece reprimenda estatal porquanto é forma de abuso no exercício do poder familiar, e de desrespeito aos direitos de personalidade da criança em formação. Envolve claramente questão de interesse público, ante a necessidade de exigir uma paternidade e maternidade responsáveis, compromissadas com as imposições constitucionais, bem como com o dever de salvaguardar a higidez mental de nossas crianças. (OLIVEIRA apud GUILHERMANO, 2012, n.p).

Nascia ali o embrião para a criação da Lei da Alienação Parental – LAP em

2010, um instrumento legal para reprimir a prática da alienação parental nos lares das

famílias brasileiras. A criação da LAP, Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, trouxe

uma definição para o que é a alienação parental, as formas como ela pode ser praticada,

as características que determinam que um indivíduo esteja praticando abuso afetivo

direcionado ao antigo parceiro, além de mostrar medidas que podem e devem ser

tomadas pelo Poder Judiciário brasileiro como forma de punição.

O artigo 3º dessa lei mostra alguns dos direitos da criança e do adolescente que

são descumpridos ou violados por determinados genitores praticantes da alienação

parental. O referido artigo expressa que

Art. 3º - A prática de ato de alienação parental fere o direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e o descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. (BRASIL, 2010)

À vista disso, é possível constatar o quanto a morosidade judicial em alguns

casos, muitas vezes afasta ainda mais pais e filhos, pois facilita o contato entre alienador

Page 40: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

40

e alienado e contribui para incitar falsas memórias, inventar mentiras e o afastamento do

filho de um dos genitores. Quando comprovada a alienação parental, possivelmente as

vítimas venham necessitar de ajuda de profissionais que possam tentar amenizar os

traumas criados com esse tipo de ação. Vale lembrar que o alienador responsável por

tais atos está diretamente infringindo a Constituição como também a Lei da Alienação

Parental.

Segundo Guilhermando (2012), a lei também apresenta em seu artigo 4° que

qualquer indício de alienação parental serve para iniciar uma ação autônoma que

investigue a mesma. Isso foi feito para assegurar a convivência e reaproximação da

vítima de alienação com o alienado e tornar o processo mais célere, pois uma demora

processual poderia acarretar um maior afastamento entre os mesmos. Já no parágrafo

único desse artigo há a garantia mínima da visitação, assistida por um profissional

designado pelo juiz ao genitor, quando necessário. (BRASIL, 2010)

A Constituição Federal, a Lei da Alienação Parental e também o Estatuto da

Criança e do Adolescente são instrumentos capazes de ajudar a barrar e amenizar e a

Síndrome da Alienação Parental e todas as consequências ruins que ela pode acarretar

na vida de alguém. O Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta os seguintes

pontos, que são contrários e que combatem esse tipo de postura por parte de familiares

e principalmente genitores, são eles

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (BRASIL, 1990)

Page 41: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

41

Neste contexto, Dias apud Torres (2002, p. 45) corrobora ao afirmar que

Flagrada a presença da Síndrome da Alienação Parental, indispensável a responsabilização do genitor que age desta forma por ser sabedor da dificuldade de aferir a veracidade dos fatos e usa o filho com finalidade vingativa. Mister que sinta que há risco, por exemplo, de perda da guarda, caso reste evidenciada a falsidade da denúncia levada a efeito. Sem haver punição a posturas que comprometem o sadio desenvolvimento do filho e colocam em risco seu desenvolvimento emocional, certamente continuará aumentando esta onda de denúncias levadas a efeito de forma irresponsável.

Diante de tantos elementos, também é de suma importância lembrar que assim

que for comprovada e identificada a prática da alienação parental por parte de um dos

genitores, a criança deve ser preservada e o contato com o outro genitor vitima da

alienação deve ser restabelecido para que se mantenha o acesso ao referencial dos dois

genitores naturalmente (pai e mãe). Ao fazer uso dos artifícios que caracterizam a

alienação parental e havendo a comprovação de desrespeito à lei, cabe ao legislador

dispor que o indício da mesma seja averiguado. Assim, segundo o artigo 5º da Lei

12.318/2010, havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação

autônoma ou incidental, o juiz, poderá determinar uma perícia psicológica ou

biopsicossocial.

4.2 A PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL ATRAVÉS DO PRINCIPIO DA

PROTEÇÃO INTEGRAL

Com o intuito de prevenir e combater a prática da alienação parental, ao longo

dos anos, medidas judiciárias foram criadas para instituir mecanismos para amenizar e

frear as atitudes nocivas da SAP. Primeiro, com o estabelecimento dos direitos das

crianças na Constituição Federal, que por sua vez serviram de base para a criação do

Estatuto da Criança e do Adolescente, depois com a criação da Lei n°12.318/2010 que

aconteceu num momento em que “a aprovação da lei sobre a alienação parental ocorre

em contexto de demanda social por maior equilíbrio na participação de pais e mães da

formação de seus filhos” (MAZINI, 2011, p.86).

Page 42: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

42

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no que diz respeito a

advertência ficou estabelece que

A advertência é a medida aplicável aos pais ou responsáveis em caso de Síndrome da Alienação Parental. Prevista no art. 129, inciso VII,131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, visa aconselhar o alienador potencial sobre os danos que as suas atitudes estão causando aos filhos e adverti-lo para as consequências que aqueles atos podem acarretar, inclusive com sanções mais severas. (TORRES, 2010)

Essa é uma medida básica a ser tomada e que também aparece na LAP. Serve

mais como um aviso ao genitor alienador para que o mesmo possa efetuar mudanças

em seu comportamento e assim evitar prejudicar o relacionamento da criança com o seu

outro genitor. Geralmente, é uma medida tomada nos casos identificados mais leves de

alienação parental.

Depois temos a ação de encaminhar a criança e/ou adolescente para um

tratamento psicológico ou psiquiátrico, previsto no artigo 129, inciso III do ECA.

Muitas vezes, sozinho, o genitor alienador não é capaz de perceber que o seu comportamento está sendo prejudicial ao filho e à relação deste com o outro genitor. Não consegue, dessa forma, interromper o processo de alienação parental. Sendo assim, se faz necessário o tratamento psicológico para orientá-lo e auxiliá-lo a agir no melhor interesse dos filhos, interrompendo a síndrome de maneira eficaz. (TORRES, 2010, p. 36)

Nesse caso a ajuda de profissionais especializados servirá de grande ajuda,

pois eles serão capazes de identificar as deficiências no que diz respeito aos

relacionamentos afetivos e interpessoais entre os cônjuges, no que tange a sua

representação enquanto família, os seus papéis na criação e desenvolvimento dessa

criança e como as atitudes apresentadas por eles irão interferir no desenvolvimento

intelectual das mesmas.

Outro ponto destacado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, diz respeito

ao pagamento de uma multa que deverá ser paga quando o genitor alienador não

permitir que o genitor alienante tenha o seu direito de visitas prejudicado ou impedido.

Para Rosana Barbosa Cipriano Simão apud Torres (2012, p.16)

Enquanto poder/dever, a visitação pode ser exigida e o seu não cumprimento implica inobservância de dever judicialmente imposto, podendo o Juízo

Page 43: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

43

determinar providências que assegurem o resultado prático do adimplemento, inclusive com estipulação de multa e determinação de acompanhamento psicológico. Observe-se que a previsão de norma sem sanção inviabiliza a efetividade do direito previsto. A sugestão ora aventada é no sentido de impor multa cominatória para o caso de inadimplemento, multa essa que, in casu, assume natureza jurídica de medida coercitiva, com vistas ao cumprimento de determinação judicial em geral e regulamentação de visitas em especial. Possível também o encaminhamento do (a) genitor (a) inadimplente a tratamento psicológico ou pais e filhos a terapia familiar.

A multa serve como forma de impedir que o alienador consiga privar a criança de

uma convivência com o genitor alienado, pois se o mesmo não cumprir o que foi

estabelecido no caso, que o genitor alienado possa realizar visitar regulatórias e

autorizadas à criança em questão, a multa deverá ser paga.

Em casos mais extremos, poderá haver a perda da guarda da criança prevista

no artigo 129, inciso VIII do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Para os

autores Nazir Milano Filho e Rodolfo Milano apud Torres (2012, p. 63)

A perda da guarda é medida que retira provisoriamente o menor de seu guardião; pode ser considerada como forma transitória para a colocação do menor em lar substituto, com a gradual integração em sua nova relação. Assim, descuidando-se o guardião, maltratando ou não dispensando os cuidados necessários à criação e educação da criança e do adolescente criando situação difícil para o seu bem estar, a perda da guarda é medida A perda da guarda é medida que retira provisoriamente o menor de seu guardião; pode ser considerada como forma transitória para a colocação do menor em lar substituto, com a gradual integração em sua nova relação. Assim, descuidando-se o guardião, maltratando ou não dispensando os cuidados necessários à criação e educação da criança e do adolescente, criando situação difícil para o seu bem estar, a perda da guarda é medida.

Como uma forma de punir os genitores alienadores, a questão da perda da

guarda da criança é uma das mais delicadas, porém bastante válida já que

[...] quando constatados indícios de Síndrome da Alienação Parental. Tal medida deve ser aplicada visando atender o melhor interesse da criança ou adolescente. Sendo certo que, quando observado que o afastamento do genitor alienador pode ser prejudicial à criança, devem-se buscar outros meios de interromper a

alienação parental. (MILANO FILHO & MILANO apud TORRES, 2012, p. 64)

Mediante a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, nascia o embrião

que iria determinar, posteriormente, a criação da Lei de Proteção Integral como forma de

combater as práticas da alienação parental, prática essa de extremo egoísmo, mas que

agora tem o reconhecimento do judiciário brasileiro, da sociedade como um todo que

Page 44: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

44

passa a conhecer a existência desse mal dentro dos lares brasileiros e que está

presente até mesmo em veículos midiáticos, sendo apresentada de forma sutil e sem

maiores responsabilidades ao telespectador que muitas vezes não tem acesso a internet

e vê na televisão seu grande veiculo de comunicação.

Com o desenvolvimento do tema no Direito Brasileiro, chegou-se à lei da

alienação parental que, como foi citado anteriormente, apresenta um grau de

semelhança muito grande com o ECA, o que poderá ser avaliado a seguir, onde

apresentaremos os principais pontos dessa lei.

O artigo 6º da Lei 12.318/2010 trata das sanções que o juiz poderá impor em

casos de Alienação Parental. O caráter de tais medidas é de prevenção e proteção à

integridade do menor. Assim, o caput do artigo citado dispõe sobre a aplicabilidade das

medidas que podem ser utilizadas de forma independente ou cumulativa. Já os incisos e

o parágrafo único dispõem sobre as medidas em si, as quais são, por exemplo, quando

constatada alienação parental, advertir o alienador; ampliar a convivência familiar com o

alienado, alterar a guarda ou para o outro genitor ou para guarda compartilhada, entre

outras.

No inciso II, foi estabelecido que a criança deve passar a conviver e restabelecer

os laços com o genitor alienado. A penalidade do inciso III estabelece que o alienador

pague uma multa. Essa multa, de caráter judicial (civil), é uma medida que busca impor

ao alienador o receio e assim servir como um ponto importante quando o mesmo pensar

ou começar a realizar a alienação parental. No inciso IV, é estabelecido que a criança

passe a ter um acompanhamento psicológico e biopsicossial. Segundo Eveline de

Castro Correira apud Guilhermano (2012, p.19)

Baseado no direito fundamental de convivência da criança ou do adolescente, o Poder Judiciário não só deverá conhecer esse fenômeno, como declará-lo e interferir na relação de abuso moral entre alienador e alienado. A grande questão seria o acompanhamento do caso por uma equipe multidisciplinar, pois todos sabem que nas relações que envolvem afeto, uma simples medida de sanção em algumas vezes não resolve o cerne da questão.

Abaixo, podemos apresentar as explanações feitas por Guilhermano (2012) com

relação aos incisos V, VII e VIII, bem como o parágrafo único do artigo 6° dessa lei:

Page 45: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

45

As medidas previstas nos incisos V, VI e VII, assim como a do parágrafo único são aplicadas em casos mais graves de Alienação Parental. São meios mais drásticos para pôr fim aos atos empregados para gerar o afastamento entre o genitor alienado e o filho. Segundo Hugo, Pires e Coelho, o inciso quinto “dá notável efetividade ao instituto da guarda compartilhada, e, por ser o grande temor do ente alienador, tende a desestimulá-lo a praticar atos de alienação parental”. A guarda compartilhada está prevista nos artigos 1.583 e 1.584 do Código Civil vigente. Conforme Ana Maria Frota Velly, “Guarda compartilhada é a igualdade de direitos e deveres que os pais têm em relação aos seus filhos menores, direito de conviver e o dever de proteger. O inciso VI refere-se à fixação cautelar do domicílio da criança ou do adolescente, segundo Hugo, Pires e Coelho, “com intuito de evitar mudanças abruptas de endereço com fins exclusivos de afastar a prole do ente alienado”. Já o inciso VII destina-se à suspensão da autoridade parental. Esta última medida merece destaque, pois para as autoras é “a mais grave consequência para o alienador”. A suspensão da autoridade está prevista no artigo 1.637 do Código Civil vigente. Isso ocorre caso os pais estejam abusando da função do mesmo em prejuízo do filho ou não estejam cumprindo os fins a que tal poder se destina, deixando o menor sem condições para atingir seu pleno desenvolvimento. Por fim, o parágrafo único do artigo 6º da Lei 12.318 alude às mudanças abusivas de residência, com o intuito de obstruir ou tornar inviável o convívio familiar com o genitor alienado. Nesses casos, conforme disposto, o juiz poderá “inverter a obrigação de levar ou retirar a criança ou o adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar” .Os demais artigos da Lei, o 7º e o 8º, “vêm para dar arremate às medidas previstas”, conforme Hugo, Pires e Coelho.

No seu artigo 7º, podemos ver na lei uma das formas de punição contra o genitor

alienador

Art. 7º. A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada. (BRASIL, 2010)

Para Analicia Martins de Sousa (2010, p.42) apud Mazini (2011)

Frente à imposição de fazer valer a proteção e o interesse dos menores de idade nas situações de rompimento conjugal, nos juízes de família tem-se encaminhado a questão no sentido de averiguar qual dos responsáveis detém melhores condições de permanecer com a guarda unilateral dos filhos, como dispunha o artigo 1.584 do Código Civil (2002).

A par disso, nesse caso, faz-se justiça e a criança passa a ser resguardada pela

pessoa que tem melhores condições para criá-la, aquela que pode e deve oferecer um

ambiente de segurança, saudável, onde seus direitos estabelecidos por lei são

reconhecidos pela sociedade e irão ser de fato cumpridos.

De acordo com estes artigos, caberá ao juiz determinar quais as medidas a

serem tomadas levando em consideração a gravidade do caso. Mas mesmo que haja

Page 46: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

46

punição através da lei, a possibilidade do alienador responder civil e criminalmente não

serão descartadas. Uma das vantagens dessa possibilidade é a de advertir o infrator.

Em alguns casos, o fato do juiz tomar conhecimento que a ação está sendo praticada,

faz com que ele possa rapidamente interrompê-la, fazendo com que dessa forma a

criança já possa ter todo o acompanhamento, bem como possa se desvencilhar dos

sentimentos que lhe foram inseridos e que passaram a fazer parte do seu caráter.

A LAP é bastante clara no que diz respeito às punições e medidas contra o

alienador. No decorrer dos anos, foi possível aperfeiçoar as sanções apresentadas como

medidas punitivas e de advertência para com o alienador. Cabe ao juiz responsável

avaliar qual delas se encaixará em determinado caso, já que os níveis de alienação

parental possuem uma graduação, desde aqueles mais leves e que não ferem tanto os

direitos da criança e do adolescente, quanto àqueles que são responsáveis por

desequilibrar o relacionamento da criança, prejudicar a sua vida como um todo, afetando

todo o “mundo”, impedindo que a mesma viva de acordo com as experiências

compatíveis com a sua idade, com os seus anseios.

Torres (2012) assevera que a “sanção do genitor alienador é viável no

ordenamento jurídico brasileiro e está fundamentada no Código Civil, no Estatuto da

Criança e do Adolescente” e na lei da alienação parental.

E também mostrou que

[...] As sanções aplicáveis são as medidas de advertência, encaminhamento para

tratamento psicológico ou psiquiátrico, multa, prisão por descumprimento de

decisão judicial, perda da guarda e suspensão ou destituição do poder familiar.

Estas medidas estão em consonância com a jurisprudência dos nossos tribunais

e atendem o melhor interesse da criança e a doutrina da proteção integral.

(TORRES, 2012, p. 56)

Por fim, podemos afirmar que o reconhecimento do judiciário brasileiro a Lei

12.318/2010 vieram para “alentar as famílias” que sofrem com a Alienação Parental e

também para “conferir ao Poder Judiciário maior credibilidade na aplicação da Lei, haja

vista que as demandas envolvendo casos com esta problemática crescem

expressivamente e necessitam de instrumento legal

Page 47: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A instituição da família através do casamento deixou de ser um dos grandes

pilares da sociedade ao longo dos anos. A sociedade que busca resguardar a

convivência familiar através da instauração de uma união saudável e harmoniosa foi

substituída como principal modelo vigente. A vida familiar já não é a mesma para todos

os segmentos da população brasileira e mesmo não sendo fruto de uma união

matrimonializada, a criança precisa ser preservada na separação e as leis devem ser

aplicadas nesse sentido.

O casamento, a união consensual, a união estável, a família simultânea, a família

recomposta, são alguns dos exemplos de como a ideia da família tradicional não

representa mais a maior das instituições familiares. A dissolução de um lar nem sempre

é perfeita e nem sempre respeita as regras da boa convivência. É ai que os casos de

alienação parental passam a ser praticados pelos progenitores, que muitas vezes não

aceitam o fim da relação e/ou do compromisso (casar), nutrindo o desejo de que fosse

para sempre. Infelizmente, os filhos acabam pagamento pelos erros cometidos pelos

pais, já que independente da forma como um casamento ou um relacionamento chega

ao fim, o filho como parte mais importante deve ter seus direitos assegurados, coisa que

muitas vezes não acontece, tendo em vista todos os exemplos e argumentos que

abordamos ao longo desta pesquisa.

Dessa forma, a alienação parental passou de uma forma de desrespeito dos

direitos da criança e do adolescente contidos na Constituição Federal, a algo definido e

regulamentado para ser punido tanto à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente

como à luz da lei n° 12.318/2010, criada com o propósito de penalizar aqueles que

praticam esse ato. O reconhecimento de que a alienação parental existe e deve ser

combatida, serviu para que a sociedade busque o desenvolvimento positivo para essa

nova família brasileira.

O Direito de convivência familiar ampla e a saúde física/emocional da criança são

necessidades básicas a serem defendidas pelo judiciário. Os reiterados atos de

alienação parental culminam em situações incorrigíveis quando não coibidos a contento.

Page 48: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

48

A criança não precisa ter lado. O lado dela é de ambos seus genitores, independente se

eles não vivam mais sob o mesmo teto, independente se eles não se gostem, toda

criança tem o direito de conviver com seus familiares.

Se medidas corretivas não tivessem sido criadas, o mal causado a esses

indivíduos, vítimas de abusos afetivos, emocionais e psicológicos, trariam como

consequências, adultos inseguros, sem perspectivas de criar uma família e, caso

criassem, poderiam repetir os mesmos erros dos seus pais criando assim um ciclo de

sofrimento.

Pretendeu-se avaliar de forma sucinta um panorama da SAP e a doutrina sobre o

tema. Embora o assunto seja bastante comentado, a quantidade de fontes bibliográficas

confiáveis e legislação, é bastante difícil. Sendo assim, podemos ver que o a produção

acadêmica acerca da temática da alienação parental demonstra um avanço positivo para

a contribuição e fomentação de avaliações e análises sobre o combate da alienação

parental através do princípio da proteção integral, sua pertinência para a realidade dos

lares e da jurisdição brasileira, além de contribuir para uma sociedade mais justa.

Page 49: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

49

6 REFERÊNCIAS

AMARAL, Luciana Lima. Anotações sobre o direito da infância e da juventude. 2008. Disponível em: <pt.scribd.com/doc/3830901/ANOTACOES-SOBRE-O-DIREITO-DA-INFANCIA-E-DA-JUVENTUDE >. Acesso em: 26 abr. 2013

ALMEIDA JÚNIOR, Jesualdo Eduardo de. Comentários à lei da alienação parental (Lei nº 12.318/2010). Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/17351/comentarios-a-lei-da-alienacao-parental-lei-no-12-318-2010#ixzz2Xkkx5Y00 Acesso em: 27 abr. 2013

AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. A criança, o adolescente e a lei: aspectos históricos, a infância como prioridade e os direitos da criança. Disponível em: <http://www.mp.rs.gov.br/infancia/doutrina/id615.htm>. Acesso em: 27 abr. 2013

___________. Violência sexual intrafamiliar: é possível proteger a criança? Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004, p.47.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: <

http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_13.07.2010/art_227_.shtm>. Acesso em: 10 maio 2013

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente (1990). Lei Federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 11 maio 2013

BREIER, Miki. Grande expediente especial: 18 anos do ECA. Disponível em: <jij.tj.rs.gov.br/jij_site/docs/DOUTRINA/GRANDE+EXPEDIENTE+ECA+REV+HTM>. Acesso em: 07 abr. 2013

COSTA, Ana Surany Martins. Alienação parental: o “jogo patológico” que gera o sepultamento afetivo em função do exercício abusivo da guarda. Revista Brasileira de Direito das famílias e sucessões. v. 12 n. 16, p. 62-81. Porto Alegre..

CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, Comentários Jurídicos e Sociais. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 33.

Page 50: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

50

CUSTÓDIO, André Viana. Teoria da proteção integral: pressuposto para compreensão do direito da criança e do adolescente. Disponível em: <http://online.unisc.br/seer/index.php/direito/article/viewFile/657/454.> Acesso em: 15 abr. 2013

DELFINO, Morgana. O Princípio do Melhor Interesse da Criança e o Direito à convivência familiar: os efeitos negativos da ruptura dos vínculos conjugais. Disponível em: <www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2009_1/morgana_delfino.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2013.

DUARTE, Marcos. Alienação parental: a morte inventada por mentes perigosas. Leis&Letras. Ano III, n. 18, p.34-37, 2009.

GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de alienação parental (SAP)?, 2010. Disponível em: < www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente > Acesso em: 23 mar. 2013

GUILHERMANO, Juliana Ferla. Alienação parental: aspectos jurídicos e psíquicos. Porto Alegre, 2012. Disponível em <

http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2012_1/juliana_guilhermano.pdf>. Acesso em: 16 maio 2013

LAUREANO, Clodomiro Wagner Martins. Conselho tutelar: funções, características e estrutura do órgão de efetivação dos direitos da criança. Disponível em: <

http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11303>. Acesso em: 14 maio 2013.

LAGRASTA NETO, Caetano. Parentes: guarda e alienar. Revista Brasileira de Direito das famílias e sucessões. v. 11 n. 11, p. 38-48. Porto Alegre. 08/2009 a 09/2009.

LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL. Lei n.° 12.318, de 26 de agosto de 2010: Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei n.° 8.069, de 13 de julho de 1990. Revista Trimestral de Direito Civil. v.11 n.44, p. 230-232. Rio de Janeiro: Padma, 2010.

LONGANO, Vanessa Arruda. Formas de Alienação Parental. Rev. Npi/Fmr. ago. 2011. Disponível em < www.fmr.edu.br/npi.html >. Acesso em: 14 maio 2013

LOPES, Jaqueline Paulino; FERREIRA, Larissa Monforte. Breve histórico dos direitos das crianças e dos adolescentes e as inovações do Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 12.010/09. Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v.7, n.7, 2010.

Page 51: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

51

LOPES, Jaqueline Paulino; FERREIRA, Larissa Monforte. A lei 12.010/2009 e as inovações no Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: < http://www.metodista.br/gestaodecidades/publicacoes/artigos/sippi-2010 2/A%20Lei%2012010.pdf >. Acesso em: 12 maio 2013

MAZINI, Maria Fernanda Benvindo. Síndrome De Alienação Parental: A Nova Ameaça Aos Direitos Da Criança. Presidente Prudente: 2011.

MAZZONI, Henata Mariana de Oliveira; MARTA, Taís Nader. Síndrome da Alienação Parental. Revista Brasileira de Direito das famílias e sucessões. v.13 n.21, p.33-51. Porto Alegre. 04/2011 a 05/2011.

NADU, Amílcar. Lei 12.318/2010: lei da Alienação Parental. Comentários e quadros comparativos entre o texto primitivo do PL, os substitutivos e a redação final da Lei 12.318/10. Disponível em: <http://www.direitointegral.com/2010/09/lei-12318-2010-alienacao-parental.html>. Acesso em 13 maio 2013.

OLIVEIRA, Assis da Costa. Implicações da doutrina da proteção integral na consideração das crianças e dos adolescentes como pessoas em desenvolvimento. In: Congresso Nacional do CONPEDI, 17, Brasília, 2008.

OLIVEIRA, Regis (de). Projeto de lei nº____ de 2008. Dispõe sobre Alienação Parental. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/601514.pdf>. Acesso em 15 abr. 2013

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. O trabalho das Nações Unidas em prol dos direitos humanos. New York, NY: [s.n.], [1975?], p. 21.

PINHO, Marco Antonio Garcia de. Nova Lei 12.318/10: Alienação Parental. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3329>. Acesso em: 16 abr. 2013

RIZZI, Irene. Reflexões sobre o direito à Convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes no Brasil, 2006. Disponível em: < http://www.cmddcamacae.rj.gov.br/download/capacitacao_conselheiro/reflexoes_convivencia_familiar.pdf > Acesso em: 17 maio 2013.

SCHREIBER, Elisabeth. Os direitos fundamentais da criança na violência intrafamiliar. Porto Alegre: Ricardo Lenz, 2001, p.56.

Page 52: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

52

SOUSA DIAS, Arlene Mara de. Alienação parental e o papel do judiciário. Revista Jurídica Consulex, Brasília. v. 14, n. 321, p. 46-47, 1 jun. 2010.

___________. Lei da Alienação Parental é realidade. Disponível em: <http://www.oabpa.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=383:lei-da-alienacao-parenteral-e-realidade-arlene-dias&catid=47:artigos&Itemid=109>. Acesso em: 17 abril. 2013.

SOUSA, Analicia Martins; BRITO, Leila Maria Torraca de. Algumas questões para o debate sobre síndrome da alienação parental. Revista Brasileira de Direito das famílias e sucessões. v.12 n.16, p.42-61. Porto Alegre. 06/2010-07/2010.

TORRES, Míria Pereira. Síndrome da alienação parental: sanções aplicáveis ao genitor alienador. Brasília, 2010. Disponível em: <

http://www.repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/653/1/20456310.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2013.

VELLY, Ana Maria Frota. A síndrome da alienação parental: uma visão jurídica e psicológica. In: Congresso de Direito de Família do MERCOSUL com apoio do IBDFAM, 2010. Disponível em: <http://www.vnaa.adv.br/artigos/ibdfam.pdf>. Acesso em: 13 maio 2013.

VERONESE, Josiane Rose Petry; OLIVEIRA, Luciane de Cássia Policarpo. Educação versus Punição: a educação e o direito no universo da criança e do adolescente. Blumenau: Nova Letra, 2008.

Page 53: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

53

ANEXOS

ANEXO A – A Lei N° 12.318/2010 sobre a Alienação Parental

LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010.

Mensagem de veto

Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236

da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da

criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do

adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Page 54: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

54

com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.

Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em

qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas.

Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou

incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.

§ 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,

conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.

§ 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,

exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.

§ 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de

alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada.

Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que

dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.

Page 55: FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO VLÁDIA DE … DA... · estudo e o principio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, ... se como conjectura indispensável para a

55

Art. 7o A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que

viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada.

Art. 8o A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a

determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial.

Art. 9o (VETADO)

Art. 10. (VETADO)

Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de agosto de 2010; 189o da Independência e 122o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto

Paulo de Tarso Vannuchi José Gomes Temporão

Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.8.2010 e retificado no DOU de 31.8.2010