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FACULDADE CEARENSE – FAC
CURSO DE DIREITO
VANQUES ANTÔNIO GOMES DE MELO
NULIDADE POR AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO NOS
CRIMES NÃO TRANSEUNTES
FORTALEZA
2013
VANQUES ANTÔNIO GOMES DE MELO
NULIDADE POR AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE
DELITO NOS CRIMES NÃO TRANSEUNTES
Monografia apresentada ao Curso de
Direito das Faculdades Cearenses - FAC,
como requisito parcial para obtenção de
grau de bacharel em Direito, sob
orientação da Profª. Teresa Cristina Pinto
Moreira./
FORTALEZA
2013
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
M528n Melo, Vanques Antônio Gomes de
Nulidade por ausência do exame de corpo de delito nos crimes
não transeuntes / Vanques Antônio Gomes de Melo. Fortaleza –
2013.
65f.
Orientador: Profª. Teresa Cristina Pinto Moreira.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Direito, 2013.
1. Nulidade. 2. Exame de corpo de delito. 3. Infrações -
vestígios. I. Título
CDU 343
VANQUES ANTÔNIO GOMES DE MELO
NULIDADE POR AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE
DELITO NOS CRIMES NÃO TRANSEUNTES
Monografia apresentada ao Curso de
Direito da Faculdade Cearense - FAC,
como requisito parcial para obtenção
de grau de bacharel em Direito, sob
orientação da Profª. Teresa Cristina
Pinto Moreira.///
Fortaleza (CE) ______ de fevereiro de 2014
Teresa Cristina Pinto Moreira//
Profª. Orientadora da Faculdade Cearense
Ms. José Hugo de Alencar Linard Filho
Prof. Examinador da Faculdade Cearense
Ms. Prof. José Péricles Chaves
Prof. Examinador da Faculdade Cearense
José Júlio da Ponte Neto
Coordenador do Curso de Direito
De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto
ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer
a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a
ter vergonha de ser honesto.
RUI BARBOSA
Ao Deus todo poderoso, que direciona os meus passos;
Aos meus pais, Antônio e Marinete, que me conceberam;
Ao meu avô Din, fonte de onde colhi algumas sementes de honestidade, ética e moral;
À minha sábia e ajudadora amada esposa Márcia;
Aos meus queridos e amados filhos Vanderson, Vladerson, Vandebergue, Wanques Emanoel e
Samuel, bênçãos recebidas de Deus; e
Ao meu irmão e amigo Zé.
AGRADECIMENTO
A profª Tereza Cristina e o Prof. Hugo, pela dedicação em todas as etapas deste
trabalho.
À minha família, pela confiança e motivação.
Aos professores e colegas de Curso de Direito da FAC, pois juntos trilhamos uma etapa
importante de nossas vidas.
A todos que, de algum modo, colaboraram para a realização e finalização deste trabalho.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar as hipóteses de ocorrência de nulidade por ausência do exame
de corpo de delitos nos crimes não transeuntes conforme as disposições do ordenamento jurídico
brasileiro.
O Código de Processo Penal brasileiro determina que nas infrações que deixam vestígio, ou seja,
crimes não transeuntes, será indispensável a realização do exame de corpo de delito (art. 158),
podendo ocorrer nulidade (Art. 564, III, ―b‖) caso referido exame não seja realizado ou nas
hipóteses de haverem desaparecido os vestígios, e a prova testemunhal não for capaz de supri-lo
(art. 167).
Palavras-chave: Nulidade. Exame de corpo de delito. Infrações que deixam vestígios.
ABSTRACT
The objective of this work is to analyze the chances of occurrence of invalidity for lack of
examining body offenses in non passers crimes under the provisions of Brazilian law.
The Brazilian Code of Criminal Procedure provides that the offenses that leave traces, ie no passers
crimes, will be essential to the examination of corpus delicti (art. 158), invalidity may occur (Art.
564, III, "b" ) if examination is not performed or the assumptions they had traces gone, and
witnesses are not able to supply him (art. 167).
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 15
CAPÍTULO 1 - NULIDADE ........................................................................................................... 17
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................................................... 17
1.2 CONCEITO DE NULIDADE .................... ................................................................................ 17
1.3 SISTEMAS DE LEGALIDADE DAS NULIDADES ................................................................. 18
1.4 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ÀS NULIDADES ......................................................................... 19
1.4.1 - Princípio do Prejuízo ou ―pas de nullité sans grief‖ .......................................................... 19
1.4.2 - Princípio da Instrumentalidade das Formas ....................................................................... 20
1.4.3 - Princípio da convalidação ................. ................................................................................ 21
1.4.4 - Princípio do livre convencimento motivado do juiz ou ―da persuasão racional‖ .............. 21
1.4.5 - Princípio da causalidade ou da sequencialidade ................................................................ 22
1.4.6 - Princípio da conservação .................. ................................................................................ 22
1.4.7 - Princípio do interesse ........................ ................................................................................ 23
1.4.8 - Princípio da reformatio in pejus ........ ................................................................................ 23
1.5 EXTENSÃO DAS NULIDADES ................................................................................................ 24
1.6. ESPÉCIES DE NULIDADES .................................................................................................... 25
1.6.1 - Nulidade absoluta ............................................................................................................... 25
1.6.2 - Nulidade relativa ................................................................................................................ 26
1.6.2.1 Características das nulidades relativas ..................................................................... 27
a) Necessidade de demonstração do prejuízo ............................................................... 27
b) Momento de arguição .............. ................................................................................ 27
1.6.3 – Diferenças entre nulidade absoluta de nulidade relativa ................................................... 28
1.7. NULIDADES SANÁVEIS ........................................................................................................ 29
1.8 ATOS DEFEITUOSOS ............................................................................................................... 31
1.9 CONVALIDAÇÃO DAS NULIDADES..................................................................................... 32
1.10 DECLARAÇÃO DE NULIDADES PELO JUIZ ...................................................................... 32
1.11 NULIDADES EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................................... 33
1.12 O INQUÉRITO POLICIAL ....................................................................................................... 34
1.13 NULIDADES EM ESPÉCIEIS ................................................................................................. 36
CAPÍTULO 2 - EXAME DE CORPO DE DELITO
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................................................... 38
2.2 CONCEITO DO EXAME DE CORPO DE DELITO ................................................................. 38
2.3 OBJETIVO DO EXAME DE CORPO DE DELITO .................................................................. 39
2.3 A FORMAÇÃO DO CORPO DE DELITO ................................................................................ 40
2.4 PREVISÃO LEGAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.................................. 40
2.5 NECESSIDADE DE PERITO OFICIAL ... ................................................................................ 41
2.6 MOMENTO PARA A REALIZAÇÃO DO EXAME DE CORPO DE DELITO ...................... 42
2.7 AS PROVAS INADMISSÍVEIS NO EXAME DE CORPO DE DELITO ................................. 43
CAPÍTULO 3 - NULIDADE POR AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO NOS
CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.................................................................................................... 45
3.2 CONCEITO DE VESTÍGIO ........................................................................................................ 45
3.3 CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS ...................................................................................... 46
3.3.1 Crimes materiais e formais ................................................................................................... 47
3.2.1.1 Crime de homicídio ...................................................................................................... 47
3.2.1.2 Crimes contra a propriedade imaterial .......................................................................... 48
3.2.1.3 Crimes de falsidade documental ................................................................................... 49
3.2.1.4 Crimes de lesão corporal .............................................................................................. 50
3.2.1.5 Crimes contra a liberdade sexual .................................................................................. 50
3.2.1.6 Crimes de violência doméstica – Lei Maria da Penha .................................................. 51
3.2.1.7 Crimes de Trânsito........................................................................................................ 52
3.3 A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO ........................................... 53
3.4 DA NULIDADE POR FALTA DE FÓRMULAS ...................................................................... 56
3.5 AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO ................................................................. 56
CONCLUSÃO ................................................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 63
15
INTRODUÇÃO
O homem, na sua incansável busca pela sobrevivência, quando diante de uma
adversidade, usa de todos os meios necessários e disponíveis para sagrar-se vencedor. Algumas
vezes, para contra-atacar; outras, para defender-se. Na sua ação, ou mesmo omissão, os meios
utilizados muitas vezes ultrapassam aos limites permitidos, ocasionando um resultado danoso ao
seu oponente, à sociedade e, como sujeito constante, ao próprio Estado.
Quando tal resultado é contrário ao direito, ou seja, ilícito, por exemplo, morte, aborto,
lesão corporal etc., surge para o Estado o jus puniendi.
Ocorre que, mesmo sendo o Estado um ente soberano, a prerrogativa de punir que lhe é
conferida alcança certas limitações que esbarram na ideia de Estado Democrático de Direito. Logo,
para exercer o seu ―direito de castigar‖, o Estado deve dispor de elementos suficientes que
demonstrem de forma contundente a materialidade do delito praticado pelo agente. É aí que surge o
instituto das ―provas‖, que devem seguir obrigatoriamente o procedimento determinado pelo
ordenamento jurídico.
Como em regra, o resultado ocasionado pelo infrator deixa vestígio, há a necessidade de
se fazer uma análise mais minuciosa do fato delituoso. Nessa hipótese, o ordenamento jurídico
brasileiro prevê a obrigatoriedade de se fazer o exame de corpo de delito (art. 158 do CPP), quando
não for possível por meio de outra prova ser demonstrada a materialidade do fato (art. 167 do CPP).
Logo, se não for feita a perícia, ou essa seja feita de forma que infrinja alguma norma legal para sua
realização, estaremos diante de uma possível nulidade.
A justificativa para este trabalho é que pretendemos com este estudo levantar
questionamentos sobre o tema.
Em relação aos aspectos metodológicos, esta proposta de pesquisa monográfica tem por
objetivo geral analisar o atual posicionamento da legislação, da doutrina e da jurisprudência.
Quanto aos objetivos específicos, busca-se analisar e compreender algumas situações
mais importantes possíveis de nulidades.
Nesta proposta de trabalho monográfico, adotaremos o método científico, o que implica
a procura das possíveis causas de um acontecimento e a busca da compreensão ou explicação da
realidade, apresentando os fatores que determinam a existência de um evento.
16
Em relação aos aspectos metodológicos, as hipóteses foram realizadas mediante uma
análise descritivo-analítica, desenvolvida com base na pesquisa bibliográfica, por meio de livros,
publicações especializadas, artigos e dados publicados na Internet.
Quanto à utilização dos resultados será pura, pois terá como único fim a ampliação dos
conhecimentos; já quanto à abordagem será qualitativa, à medida que se aprofundará na
compreensão dos assuntos, nas relações, condições e frequências de determinadas situações
jurídicas.
Por fim, quanto aos objetivos será descritiva, pois buscará descrever, explicar,
esclarecer e interpretar o fenômeno observado; e exploratória, pois objetiva aprimorar as ideias por
meio de informações sobre o tema em foco.
No primeiro capítulo, apresenta-se um contexto geral sobre o instituto das Nulidades,
exposto por meio de conceitos doutrinários, que são imprescindíveis para o conhecimento do tema.
Inicia-se com a explanação acerca do objetivo das nulidades, apresentando-se, em seguida, o
conceito, o sistema de legalidade, os princípios aplicáveis, as espécies, as nulidade que podem ser
sanadas, as nulidades em face da Constituição Federal e, por fim, apontam-se as nulidades em
espécies previstas no Código de Processo Penal brasileiro.
No segundo capítulo, analisa-se a questão do exame de corpo de delito, buscando-se,
primeiramente, apresentar a importância da realização do exame e, em seguida, a definição do
instituto, sua formação, espécies, previsão legal, necessidade da perícia, momento da realização do
exame e as provas admissíveis, destacando-se, para isso, os principais fundamentos que alguns
doutrinadores levantam para consolidar o assunto.
No terceiro capítulo, buscou-se analisar as hipóteses de nulidade por ausência do exame
de corpo de delito nos crimes não transeuntes, mencionando o conceito de vestígio, bem como quais
crimes deixam vestígios, a obrigatoriedade da realização e a repercussão da ausência do exame de
corpo de delito, dando ênfase, sobretudo ao atual posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal
Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça.
O ponto principal deste trabalho é, portanto, analisar as hipóteses de ocorrência de
nulidade por ausência do exame de corpo de delitos nos delitos que deixam vestígios.
17
CAPÍTULO 1
1 NULIDADES NO PROCESSO PENAL
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Inicialmente, antes de adentrar ao assunto do nosso tema, é importante fazermos
algumas considerações sobre o instituto das nulidades previstas no ordenamento Processual Penal
brasileiro, por se tratar de entendimento necessário à compreensão do assunto a ser abordado neste
trabalho.
O Direito Processual Penal em seu caráter objetivo tem como finalidade a busca pela
verdade real, e tal meta se alcança por intermédio das provas que se produzem e se valoram em
conformidade com as normas prescritas em lei, e cuja finalidade é formar a convicção do Juiz sobre
os elementos necessários à solução da causa, sem muito formalismo, mas observando as exigências
legais.
Ocorre, porém, que se tais exigências não forem observadas no momento da realização
de determinado ato processual, estaremos diante de uma possível nulidade processual.
O Instituto das nulidades está previsto nos Arts. 563 a 573 do Código de Processo Penal
e tem amparo no princípio constitucional do ―devido processo legal‖ (Art. 5º, LIV, da Constituição
Federal).
1.2 CONCEITO DE NULIDADE
Feitoza Pacheco (2005, p.265) conceitua nulidade como
“o defeito do ato processual ou do processo, que pode ter como sanção a ineficácia.
Portanto, nulidade é característica, qualidade, do ato processual ou do processo, enquanto
a ineficácia é a sanção aplicada pela inobservância da forma prescrita em lei”.
18
Segundo Frederico Marques (2005, p.265), “A nulidade é uma sanção que, no processo
penal, atinge a instância ou o ato processual que não estejam de acordo com as condições de
validade impostas pelo Direito objetivo”.
Conforme se depreende dos conceitos apresentados, podemos definir nulidade como
uma sanção imposta em decorrência da inobservância de um vício do ato processual que foge aos
ditames legais, podendo ocasionar a invalidade do ato ou mesmo a nulidade de todo o processo.
Observa Nassif (///online) que ―o legislador adota a expressão „sanção‟ como a medida
tomada para eliminar o vício do contexto processual, expungindo ou renovando o ato viciado”.
1.3 SISTEMAS DE LEGALIDADE DAS NULIDADES
Nestor Távora e Rosmar Alencar (2010, p.942) apresentam uma classificação histórico-
evolutiva dos sistemas de nulidades em três critérios, quais sejam:
1) Sistema Privatista: as partes devem reclamar a invalidade do ato, que só será
declarado nulo se resultar prejuízo.
2) Sistema Legalista ou Formalista: o juiz fica subordinado à lei, tendo em vista que
essa traça os elementos essenciais a serem observados;
3) Sistema Judicial ou Instrumental: tal sistema permite que o juiz valore a
essencialidade do requisito não observado do ato processual.
Borges (2003, online), citando Nestor Távora e Rosmar Alencar (Apud), expõe que “o
Brasil adotou um sistema eclético que contempla tanto o „sistema legal e judicial‟ quanto o
„sistema instrumental‟”.
Tal argumento se justifica porque o Art. 564 do Código de Processo Penal traz um rol
exemplificativo de hipóteses que podem acarretar nulidades.
Lima (2013, p.1579) entende que
“no estudo da teoria das nulidades, o que deve ser evitado é o excessivo formalismo,
exigindo-se dos sujeitos do processo a observância de formas inúteis que nada contribuem
para a solução da demanda, nem tampouco para a existência de um processo penal justo,
sob pena de desvirtuamento da própria finalidade do processo, que é a de servir como
instrumento para a aplicação do direito penal objetivo.”
19
Afirma Paulo Rangel (2009, p.785) que o sistema adotado foi o da instrumentalidade
das formas com resquícios do sistema legalista.
Para Mirabete (2010, p.615) ―o Código de Processo Penal ficou em um meio-termo
entre os sistemas formalista (legalista) e da instrumentalidade das normas, procurando ser
restritivo em matéria de nulidades ao afastar um formalismo excessivo‖.
Portanto, em matéria de nulidades, conforme BADARÓ (2008, p.177), busca-se evitar o
formalismo excessivo já que ―o legislador processual adotou o princípio da legalidade dos atos
processuais‖.
1.4 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ÀS NULIDADES
Assim como todo e qualquer instituto jurídico, as nulidades também são regidas por
princípios que explicam suas regras e seu funcionamento. Logo, não se pode falar em nulidades sem
analisar seus princípios.
Dentre os princípios processuais penais relativos às nulidades destacam-se os seguintes:
1.4.1 - Princípio do prejuízo ou “pas de nullité sans grief”
Este princípio é um dos primeiros que devem ser observados, pois se o ato não causa
prejuízo, não há que se falar em nulidade. É o que reza o Art. 563 do Código de Processo Penal, In
verbis:
―Art. 563 Nenhum ato processual será declarado nulo, se da nulidade não tiver resultado
prejuízo para uma das partes.”
O CPP determina que o ato irregular inofensivo que não influiu para apuração dos fatos
ou da decisão da causa, isto é, não afetou o convencimento do juiz, não deve ser declarado nulo. É o
que reza o Art. 566, se não vejamos:
Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.
20
A aplicação de tal princípio está previsto também na Súmula 523 do STF:
"No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o
anulará se houver prova de prejuízo para o réu".
Esse princípio aplica-se à nulidade relativa, devendo ser demonstrado o prejuízo.
1.4.2 - Princípio da instrumentalidade das formas
Não se declara a nulidade se o ato, embora eivado de defeito acidental, se não houver
interferido na apuração da verdade substancial, atingido os fins a que foi proposto, devendo, assim
ser sanada a nulidade. É o que prevê os Arts. 566 e 572, II do CPP.
Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.
Art. 572. As nulidades previstas no Art. 564, Ill, „d‟ e „e‟, segunda parte, „g‟ e „h‟, e IV,
considerar-se-ão sanadas:
(...)
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim...
Deste modo, tem-se que, se o ato tiver atingido o seu fim, mesmo que praticado de outra
forma, as nulidades previstas no Art. 564, II, ―d‖ e ―e‖ (2ª parte), ―g‖ e ―h‖, e IV são consideradas
sanadas. Vejamos os dispositivos citados:
“Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
II - por ilegitimidade de parte;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos
da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não
permitir o julgamento à revelia;
21
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.”
1.4.3 - Princípio da convalidação
O princípio da convalidação dos atos processuais está elencado em vários dispositivos
do CPP (p. ex. Arts. 568, 569, 570, 571) e tem como finalidade sanear o vício constante no ato (Art.
572 do CPP). Está ligado aos princípios da economia processual, da razoável duração do processo
e da conservação dos atos processuais (Távora, 2010, p.959)
O Art. 571 do diploma processual estabelece o momento em que as nulidades relativas
devam ser alegadas, sob pena de convalidação do ato viciado, conforme veremos mais adiante.
Entretanto, tratando-se de denúncia ou queixa, o Art. 569 dispõe que "as omissões da
denúncia ou da queixa poderão ser supridas a todo tempo, antes da sentença final".
1.4.4 - Princípio do livre convencimento motivado do juiz ou “da persuasão racional”
Ao juiz é livre formar sua convicção pessoal, desde que de forma motivada (Art. 93, IX
da CF), podendo fundamentar suas decisões com base nas provas existentes nos autos, sem se
sobrepor ao formalismo excessivo da norma.
Aponta Portanova (1999, p. 245) que ―... o juiz é livre para basear seu convencimento
tanto naquilo que as partes fazem (ativamente) no processo, como no que elas deixam de fazer”.
Destaca-se que o juiz, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, tem a
faculdade para apreciar livremente a prova, ainda que não alegados pelas partes, entretanto deverá
indicar na sentença os motivos que lhe formaram o convencimento (Art. 130 do CPC).
Vejamos a redação do Art. 130 do CPP:
“Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas
necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente
protelatórias.”
22
1.4.5 - Princípio da causalidade ou da sequencialidade
Qualquer ato processual tem como finalidade uma sentença. Assim, há uma conexão
entre eles.
Se outros atos foram gerados em razão de um ato viciado, aqueles também estarão
contaminados pelo vício deste. Logo, ocorrendo nulidade de um, os demais que dele dependam
também serão nulos.
É, portanto, dever do juiz declarar expressamente quais são os atos contaminados. É o
que prevê o Art. 573 do CPP:
“Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores,
serão renovados ou retificados.
§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente
dependam ou sejam consequência.”
§ 2º O juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.
Portanto, pelo princípio da causalidade, a nulidade de um ato ocasionará a nulidade de
todos os demais que dele forem decorrentes ou consequentes.
1.4.6 - Princípio da conservação
Quando a nulidade é aplicada, ela deve alcançar somente o ato viciado, devendo
permanecer os atos que forem íntegros, conforme prevê o Art. 573, § 1º.
Art. 573.
(...)
§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente
dependam ou sejam consequência.
Alguns doutrinadores entendem que o princípio da conservação é um corolário do
princípio da causalidade. Assim, mesmo que reconhecida a nulidade de determinado ato
23
irregularmente praticado, os demais atos que guardam relação de dependência ou continuação
deveram ser aproveitados, como é o caso dos atos praticados por juiz incompetente (art. 5671).
1.4.7 - Princípio do interesse
Tal princípio está previsto no Art. 5652 do CPP. Segundo dispõe o referido artigo,
somente pode arguir nulidade à parte prejudicada. A parte que deu causa não poderá alegá-la, pois
assim estaria agindo de má-fé.
Este princípio só aplica às nulidades relativas; pois, como já sabemos, sendo a nulidade
absoluta, o juiz pode declará-la de ofício.
1.4.8 - Princípio da reformatio in pejus
A reformatio in pejus consiste no agravamento da situação jurídica do réu em face de
recurso que interpôs.
O Art. 6173 do CPP veda a agravação da pena quando apenas o réu apelar da sentença
condenatória.
Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts.
383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando
somente o réu houver apelado da sentença.
Em se tratando de sentença penal condenatória anulada em decorrência de recurso
exclusivo da defesa, está vedado aplicar pena mais grave (reformatio in pejus indireta) que a da
decisão anulada, devendo o processo ser declarado nulo caso seja aplicada penal mais gravosa.
1 Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a
nulidade, ser remetido ao juiz competente.
2 Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou
referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.
3 Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for
aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.
24
A título de esclarecimento, ressalta-se que, em caso do tribunal agravar a situação da
defesa quando só esta recorreu da decisão, deve-se recorrer dessa decisão por meio do Recurso
Ordinário, quando tal decisão fere lei federal.
1.5 EXTENSÃO DAS NULIDADES
Tovo (2008, p.13) esclarece que a nulidade pode ser do processo, do procedimento, de
ato processual ou de parte deste.
No primeiro caso, o vício atinge toda a atividade processual desde o início, como no
caso de suspeição ou suborno do juiz ou nas hipóteses do inciso III, do Art. 564 do CPP, In verbis:
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
(...)
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a
portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador
ao menor de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos
da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei
não permitir o julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua
incomunicabilidade;
25
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e
despachos de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quórum legal para o
julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Já no caso de nulidade do procedimento, tal ocorre quando o vício atinge apenas a parte
da atividade processual.
Quanto à nulidade de ato ou de parte deste, ocorre a nulidade quando o vício não
contamina os demais atos.
1.6. TIPOS DE NULIDADES
As nulidades são divididas pela doutrina em absolutas e relativas.
1.6.1 - Nulidade absoluta
Neste tipo de nulidade temos um dano evidente, cujo vício atinge o próprio interesse
público, não havendo, portanto, necessidade de demonstração do prejuízo, devendo ser declarada de
ofício pelo juiz.
Por se tratar de nulidade absoluta, o ato não poderá ser sanado, não sendo possível sua
convalidação, devendo ser renovado por inteiro.
Tais nulidades estão previstas no Art. 564, I, II e III, ‗a‘, ‗b‘, ‗c‘, 'e' (1ª parte), e ‗f‘, as
quais são as seguintes:
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
26
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a
portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador
ao menor de 21 anos;
(...)
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
1.6.2 - Nulidade relativa
Trata-se da espécie de nulidade que confronta com o texto de norma infraconstitucional,
devendo as partes demonstrar o prejuízo (Art. 563). Por não ser reconhecida de ofício, admite
convalescimento. Tais hipóteses estão previstas nos Arts. 572 e 568, 569 e 570 do CPP, In verbis:
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo
sanada, mediante ratificação dos atos processuais.
Art. 569. As omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou, nos processos das
contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas
a todo o tempo, antes da sentença final.
Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada,
desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz
para o único fim de argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do
ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, „d‟ e „e‟, segunda parte, „g‟ e „h‟, e IV,
considerar-se-ão sanadas:
I - se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo
anterior;
27
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
Nos termos do Art. 565 do CPP, temos os seguintes tipos de nulidades relativas:
a) a falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele
intentada e nas ações intentadas pela parte ofendida, quando se tratar de crime de
ação pública (Art. 564, III, d);
b) a não concessão dos prazos legais à acusação ou à defesa, para manifestação ou
produção de algum ato (Art. 564, III, alínea ‗e‘, 2ª parte);
c) a falta de intimação do réu para a sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, quando
a lei não permitir o julgamento à revelia (Art. 564, III, g).
d) a ausência de intimação das testemunhas arroladas na fase do Art. 422 (Art. 564, III,
h).
e) a omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato (Art. 564, IV).
1.6.2.1 Características das nulidades relativas
As nulidades relativas apresentam duas características fundamentais:
a) Necessidade de demonstração do prejuízo
Diferentemente da nulidade absoluta em que o prejuízo é presumido, para que seja
reconhecida a nulidade relativa o prejuízo exige sua demonstração.
O Art. 563 do Códex Processual determina que ―nenhum ato será declarado nulo, se da
nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa‖.
Logo, se o ato não causa prejuízo, este será plenamente válido. Todavia, havendo
prejuízo, a parte deve demonstrá-lo.
b) Momento de arguição
A nulidade relativa deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de preclusão.
28
Nos termos do art. 571 do CPP, as nulidades devem ser arguidas nos seguintes
momentos:
Art. 571. ...
I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se
refere o art. 406;
II - as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos
especiais, salvo os dos Capítulos V e Vll do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere
o art. 500;
III - as do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois
desse prazo, logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes;
IV - as do processo regulado no Capítulo VII do Título II do Livro II, logo depois de aberta
a audiência;
V - as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e
apregoadas as partes (art. 447);
VI - as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal e
dos Tribunais de Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500;
VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo
depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de
ocorrerem.
1.6.3 – Diferenças entre nulidade absoluta de nulidade relativa
Paulo Rangel (2009, p. 794), ao apresentar a diferencia nulidade absoluta de nulidade
relativa, expõe:
“a) Nulidade absoluta. Pode ser decretada de ofício, independente de manifestação das
partes. Não convalesce. Para a doutrina majoritária, não necessita demonstrar prejuízo
(discordamos). Não se aplicam a ela os princípios do interesse e do prejuízo. Pode ser
invocada em qualquer tempo e grau de jurisdição. Se houver sentença condenatória, não é
acobertada pela coisa julgada, pois pode ser objeto de revisão criminal ou de habeas
corpus. Entretanto, se houver sentença absolutória e não for alegada em grau de recurso,
ficará acobertada pela coisa julgada, pois não há revisão pro societate.
b) Nulidade relativa. A parte a quem interessa a nulidade pode abrir mão da formalidade
estabelecida em lei. Somente se decreta a nulidade se houver prejuízo. Não arguida no
29
momento oportuno, haverá a preclusão, portanto, há prazo para ser declarada. Se houver
sentença (condenatória ou absolutória) e a nulidade não houver sido alegada pela parte
interessada, ficará acobertada pela coisa julgada. Há convalescimento (art. 572). O
princípio do interesse somente se aplica à nulidade relativa.”
De maneira sintética, pode-se dizer que na nulidade absoluta há violação do interesse
público; que o prejuízo é presumido por lei; que pode ser reconhecida a qualquer tempo, inclusive
de ofício e não se convalida.
Já na nulidade relativa há violação de interesse das partes, exigindo-se a demonstração
do prejuízo; se não alegada no momento oportuno, é convalidada automaticamente e somente pode
ser reconhecida mediante provocação das partes.
1.7 NULIDADES SANÁVEIS E NÃO SANÁVEIS
Nulidades não sanáveis são as previstas no Art. 564, I, II e III, a, b, c, e (1ª parte), f, i, j,
k, l, m, n, o e p. Nesse tipo de nulidade não há preclusão e podem ser arguidas a qualquer tempo,
mesmo havendo sentença transitada em julgado, obedecidas as regras dos Art. 565 a 569, que
tratam de casos especiais.
Vejamos os dispositivos citados:
Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a
acusação ou para a defesa.
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a
portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador
ao menor de 21 anos;
30
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua
incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e
despachos de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quórum legal para o
julgamento;
Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que
tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária
interesse.
Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.
Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo,
quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo
sanada, mediante ratificação dos atos processuais.
Art. 569. As omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou, nos processos das
contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas
a todo o tempo, antes da sentença final.
Já o art. 572 do CPP apresenta as espécies de nulidades que podem ser sanadas, ou seja,
serão consideradas relativas. Vejamos então:
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV,
considerar-se-ão sanadas:
31
I - se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo
anterior;
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
Assim, são sanáveis as nulidades 1) previstas nos Art. 564, III, e (1ª parte), d e e (2ª
parte), g, h e as do inciso IV conforme prevê o Art. 570 do CPP; 2) a prevista no Art. 568; 3) as
previstas no Art. 569 do CPP.
Tomemos como exemplo o Art. 570, que preceitua que se a parte ainda não foi intimada
da sentença, mas de alguma forma tiver ciência do fato e apresenta recurso, estará sanada a falha.
Deste modo, só será declarada a nulidade se o ato não puder ser aproveitado.
1.8 ATOS DEFEITUOSOS
Para se evitar que todo um processo possa ser declarado nulo, o Código de Processo
Penal, no Art. 5734, § 1º, previu que ―a nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a nulidade
dos atos subsequentes que daquele tiveram dependência”, ou seja, se um ato inicial está eivado de
vícios, os atos subsequentes também estarão contaminados, isso porque todos os atos processuais
são entrelaçados entre si. Logo, se um ato é nulo, os demais que dele dependam também o serão.
Trata-se do principio da contaminação como já foi exposto. Caso o ato não seja refeito, o processo
dever ser declarado nulo.
Acerca do assunto, a lição de ARES (online)///:
“Ocorrendo a nulidade absoluta ou a nulidade relativa que não veio a ser sanada, índice
em “error in procedendo” e, por conseguinte, o magistrado estará impedido de julgar o
mérito da causa, determinando, outrossim, que ato seja novamente praticado ou corrigido,
conforme determina o artigo 573 do Código de Processo Penal.”5
4 Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores, serão renovados ou retificados.
§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam
consequência.
§ 2º O juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende. 5 ARES, Regis Cardoso. A nulidade absoluta no processo penal. http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1084
32
Entende MIRABETE (2009, p. 628) que o aperfeiçoamento do ato viciado pode ser por
renovação, sendo realizado novamente; ou por retificação, sendo alterado, ou completado de acordo
com os preceitos legais violados.
1.9 CONVALIDAÇÃO DAS NULIDADES
Convalidação significa admitir que o ato defeituoso seja integrado aos atos não
viciados, tornando-o, assim, válido como os demais.
Nucci (2013, p. 844) entende que a existência de vício que cause uma nulidade relativa,
havendo a possibilidade do vício ser sanado ou superado pela falta de pedido da parte interessada, a
nulidade se convalida.
1.10 DECLARAÇÃO DE NULIDADES PELO JUIZ
Nos termos do Art. 251 do CPP, o magistrado tem o dever de resguardar a regularidade
do processo, podendo dispor de todos os meio possíveis para que este atinja seu fim. Isto significa
dizer que o juiz pode proclamar a nulidade de um ato a qualquer tempo.
Vejamos a redação do dispositivo supracitado:
Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no
curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.
A esse respeito, Tourinho Filho (2009, p.369), com maestria que lhe é peculiar, leciona
que:
“O Juiz, a qualquer momento, pode proclamar a nulidade, mesmo porque, nos termos do
art. 251 do CPP, cabe-lhe prover à regularização do processo. Quanto à defesa, é preciso
fazer-se uma distinção: em se tratando de nulidade absoluta, nada impede possa ser ela
arguida mesmo após o trânsito em julgado da sentença, se condenatória for, seja através
de revisão, seja por meio de habeas corpus. Tratando-se de nulidade atinente a ato não
essencial, deverá ser ela arguida na primeira oportunidade a que se refere o art. 571.
Respeitante à acusação, as nulidades devem ser arguidas na mesma oportunidade. Após o
trânsito em julgado de sentença absolutória, não, mesmo porque estaria havendo, por via
33
oblíqua, revisão pro societate, o que não se admite. Mesmo após a fase do art. 571, se a
parte arguir a nulidade, nada impede que o Juiz a acolha, nos termos do art. 251. É como
se ele próprio houvesse detectado”.
Frisa-se que na hipótese da nulidade a ser arguida pela defesa, tratando-se de nulidade
absoluta, essa pode ser arguida até mesmo após a sentença condenatória transitada em julgado, por
meio de revisão criminal ou habeas corpus.
Todavia, se a nulidade for relativa, deve ser arguida tanto pela defesa como pela a
acusação, conforme previsão legal do Art. 571 do CPP, como bem já explanou o Tourinho
Filho(2009, p.369).
Sobre o assunto, o STF se manifestou nos seguintes termos:
No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o
anulará se houver prova de prejuízo para o réu" (Súmula 523 do STF). AUTO DE EXAME
DE CONJUNÇÃO CARNAL. LAUDO SUBSCRITO POR UM PERITO. PERÍCIA
REALIZADA POR OCASIÃO DA COMUNICAÇÃO AO JUIZ DA PRISÃO EM
FLAGRANTE. REMESSA POSTERIOR DO RESPECTIVO AUTO, ACOMPANHADO DO
LAUDO ASSINADO POR DOIS EXPERTOS. PROVA VÁLIDA. Não há ilegalidade no fato
do laudo resultante do exame de conjunção carnal ter sido subscrito por apenas um perito
na oportunidade da comunicação ao juiz da prisão em flagrante se, posteriormente, o
respectivo auto se fizer acompanhar do assinado por dois expertos. REVISÃO CRIMINAL.
ESTUPRO. DECISÃO CONTRÁRIA À EVIDÊNCIA DOS AUTOS. REEXAME DA PROVA.
INVIABILIDADE. SENTENÇA CONDENATÓRIA ALICERÇADA NAS PROVAS DO
PROCESSO. PEDIDO INDEFERIDO. "O juízo revisional não comporta nova avaliação
da prova, devendo o tribunal limitar-se a verificar se a condenação tem base em algum dos
elementos probatórios ou se é divorciado de todos eles" (RT 624/348-9).
1.11 NULIDADES EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Além das hipóteses de nulidades prevista no art. 564 do CPP, outros podem ocorrer
caso sejam violadas normas ou princípios constitucionais. Assim, se um ato praticado violar
dispositivos da Constituição, tal ato deve ser imediatamente declarado nulo em decorrência de sua
inconstitucionalidade.
Machado (2013, p.564) apresenta como exemplos de atos processuais contrários à
Constituição Federal a falta de fundamentação da sentença (art. 93, IX); a falta de publicidade dos
34
atos processuais (art. 5º, LX); o processo perante o juiz ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII); a
ausência de contraditório e ampla defesa no processo penal (art. 5º , LV); e a utilização de provas
ilícitas (art. 5º, LVI).
1.12 O INQUÉRITO POLICIAL
Por possuir conteúdo apenas informativo, o inquérito policial não é peça obrigatória
para que o Ministério Público possa se valer para o oferecimento de denúncia ou queixa, desde que
demonstrada a verossimilhança da acusação ele(inquérito) pode ser dispensado.
Neste sentido é o entendimento do STF, que enuncia:
"O inquérito policial não é imprescindível ao oferecimento de denúncia ou queixa, desde
que a peça acusatória tenha fundamento em dados de informação suficiente à
caracterização da materialidade e autoria da infração penal (STF, RTF 76/741; TRF 3ª
Reg., HC 98.03.010696, 1ª Turma, Rel. des. Fed. Roberto Haddad, RT 768/719)". (p. 08).
A corte maior do país (STF) tem entendido não ser possível o trancamento da ação
penal pelo fato do inquérito policial está eivado de vícios. Vejamos seu entendimento:
"PENAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CONDUÇÃO SOB A
INFLUÊNCIA DE ÁLCOOL (ART. 306, CBT). PROVA MATERIAL.
PRESCINDIBILIDADE DE TESTE OU EXAME PERICIAL. ART. 158 DO CPP.
DISCUSSÃO SOBRE A NATUREZA DA INFRAÇÃO. EXAME DE PROVA.
IMPOSSIBILIDADE. INDEPENDÊNCIAS DAS INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVA E
PENAL.
I - Afigura-se insuscetível de análise na célere via do writ a alegação de nulidade de prova
relativa ao teste de dosagem alcoólica (teste do bafômetro), haja vista que a mesma
reclama o revolvimento de questões fático-probatórias não demonstradas, de plano, na
impetração.
II - Havendo outros elementos probatórios, de regra, lícitos, legítimos e adequados para
demonstrar a verdade judicialmente válida dos fatos, não há razão para desconsiderá-los
sob o pretexto de que o art. 158 do CPP admite, para fins de comprovação da conduta
delitiva, apenas e tão-somente, o respectivo exame pericial.
III - Existindo nos autos elementos que evidenciem, a princípio, a perpetração da
infração delineada no art. 306 do CPP, não há como trancar a ação penal, sob a
35
argumentação de atipicidade do delito, sem o necessário cotejo analítico do material
cognitivo.
IV - A propositura de ação penal não se vincula, na espécie, à decisão proferida na esfera
administrativa, haja vista a independência das instâncias.
Writ denegado. " (STJ, RHC 13.215/SC, 5.ª Turma, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ de
26/05/2003.) (Destaque nosso)
No mesmo sentido é o que já tem decido o STJ:
PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS. CRIME DE LESÕES CORPORAIS.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPRESTABILIDADE DO RECONHECIMENTO
FEITO EM SEDE INQUISITORIAL. INVOCADA NULIDADE QUE NÃO ALCANÇA A
FASE JUDICIAL.
É entendimento dominante neste Superior Tribunal de Justiça que eventual nulidade do
inquérito policial não contamina a ação penal superveniente, vez que aquele é mera peça
informativa, produzida sem o crivo do contraditório.
Inviável o trancamento da ação penal sob a alegação de que o reconhecimento feito pela
Autoridade Policial, na fase do inquérito policial, estaria eivado de vício a ponto de
nulificar o processo ab initio, de vez que tal providência ensejaria dilação probatória,
incompatível na via estreita do writ. - Recurso ordinário desprovido. (STJ, RHC 13691 SP
2002/0156195-6, 6ª turma, Rel. Ministro Vicente Leal, DJ 17.03.2003 p. 288)
Assim, caso ocorra algum vício na fase de inquérito, a ação penal não estará
contaminada.
Corroborando com esse entendimento, CAPEZ (2011, p.71) argumenta que
"Não sendo o inquérito policial ato de manifestação do Poder Jurisdicional, mas mero
procedimento informativo destinado à formação da “opinio delicti” do titular da ação
penal, os vícios por acaso existentes nessa fase não acarretam nulidades processuais, isto
é, não tingem a fase seguinte da persecução penal: a da ação penal. A irregularidade
poderá, entretanto, gerar a invalidade e a ineficácia do ato inquinado, v.g., do auto de
prisão em flagrante como peça coercitiva; do reconhecimento pessoal, da busca e
apreensão etc". (grifo nosso)
36
NAGIMA (online), ao explanar sobre o assunto, tem o seguinte entendimento:
“Note-se, ainda que qualquer vício existente no procedimento administrativo policial não
conduzirá em viciado o processo criminal existente, pois, ao contrário da teoria dos frutos
da árvore envenenada, o inquérito policial é meramente peça informativa, que dá ao
"parquet" notícias sobre os indícios de materialidade e de autoria, para que, então, possa
promover a respectiva ação penal”.
Portando, em sede inquisitória eventual vício do inquérito policial não contamina a ação
e consequentemente não gera nulidade.
1.13 NULIDADES EM ESPÉCIEIS
As hipóteses de nulidades estão previstas no ordenamento jurídico brasileiro nos artigos
563 a 573 do Código de Processo. Sendo que o Art. 564 apresenta um rol exemplificativo de
nulidade absolutas e relativas, podendo ocorrer outras por inobservância de princípios gerais do
direito ou de normas e princípios constitucionais, como bem frisa Machado (2013, p.554).
Dispõe o art. 564 do CPP:
“A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a
portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao
menor de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos
da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
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f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não
permitir o julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua
incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos
de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o
julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas
respostas, e contradição entre estas. (Grifamos)
Neste trabalho restringirmo-nos a analisar apenas o inciso III, letra ―b‖ do citado Art.
564 do CPP. É o que será abordado no próximo capítulo.
38
CAPÍTULO 2
2 EXAME DE CORPO DE DELITO
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Feitas as considerações preliminares sobre o instituto das nulidades, com o fito de
lançar o alicerce da presente monografia, também é mister que se analise o instituto do ―exame de
corpo de delito‖, que será o ponto de partida para a delimitação do nosso tema.
A prova pericial tem fundamental importância para análise e construção dos fatos que
constituem o processo. O exame de corpo de delito, como uma das modalidades de provas previsto
no Título VII do Código de Processo Penal, tem uma importância significativa, pois se trata de meio
de prova indispensável nas infrações que deixam vestígios, conforme prevê o Art. 158 do CPP:
“Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.”
Na impossibilidade da realização da perícia de forma direta, por haverem desaparecido
os vestígios, o CPP possibilitou que essa possa ser feita de forma indireta ou substituída pela prova
testemunhal, conforme o Art. 167 do CPP:
“Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.”
Entretanto, pode ocorrer que nenhuma testemunha tenha presenciado o fato e os
vestígios desaparecidos. Assim, obrigatoriamente há de ser realizada a perícia, sob pena de nulidade
do processo ou mesmo absolvição do acusado por falta de provas, como veremos mais adiante.
Como a regra é que seja realizado o exame de corpo de delito, se por algum motivo não
for possível sua realização e também não houve prova testemunhal, caso a infração praticada não
seja crime contra a dignidade sexual – já que nestes crimes a palavra da vítima é suficiente – a
defesa deverá requerer a absolvição do acusado por falta de provas nos temos do Art. 386, II ou VII,
do CPP.
39
2.2 CONCEITO DO EXAME DE CORPO DE DELITO
Antes de apresentarmos o conceito de exame de corpo de delito, frisa-se que corpo de
delito não se referente ao corpo da vítima, mas ao conjunto de todos os vestígios materiais
diretamente relacionados com o fato criminoso, como, por exemplo, o próprio corpo da vítima, as
lesões, a arma do crime, projéteis, marcas de sangue, pegadas, objetos diversos etc.
Já o exame no corpo de delito é uma espécie de perícia que incorre sobre os objetos
ligados ao delito ou ao local em que esse ocorreu.
Lima (2013, p.627) explanando sobre o assunto leciona
“A palavra corpo não significa necessariamente o corpo de uma pessoa. Significa sim o
conjunto de vestígios sensíveis que o delito deixa para trás, estando seu conceito ligado à
própria materialidade do crime. Exemplificado, suponha-se que haja um delito de
latrocínio no interior de um apartamento. Nessa hipótese, o corpo de delito não se resume
ao cadáver, abrangendo também todos os vestígios perceptíveis pelos sentidos humanos,
tais como eventuais marcas de sangue deixadas no chão, a arma de fogo utilizada para a
prática do delito, eventuais sinais de arrombamento da porta do apartamento etc.”
(grifamos)
Ainda sobre o assunto, de suma importância mencionar MIRABETE (2007, p.265),
“Corpo de delito é um conjunto de vestígios materiais deixados pela infração penal, a
materialidade do crime, aquilo que se vê, apalpa, sente, em suma, pode ser examinado
através dos sentidos. Há infrações que deixam vestígios materiais (delicta facti
pemanentis), como os crimes de homicídio, lesões corporais, falsificação, estupro etc. Há
outros, porém, que não os deixam (delicta facti transeuntis), como os de calúnia,
difamação, injúria e ameaças orais, violação de domicílio, desacato etc.”
2.3 OBJETIVO DO EXAME DE CORPO DE DELITO
O objetivo do corpo de delito é delimitar fatores como autoria, temporalidade, extensão
de danos etc., que são alcançados por meio da prova pericial.
40
Para Mirabete (2009, p///323) “o exame destina-se à comprovação, por perícia, dos
elementos objetivos do tipo, que diz respeito, principalmente, ao evento produzido pela conduta
delituosa, ou seja, do resultado, de que depende a existência do crime”.
Portanto, a finalidade do exame de corpo de delito é comprovar a existência dos
elementos que produzem o fato criminoso.
2.3 A FORMAÇÃO DO CORPO DE DELITO
Barbosa (2011, online), citando Almeida Júnior, esclarece que a questão da prova está
diretamente ligada à formação do corpo de delito.
O autor citado ainda explana que a formação do corpo de delito seria a observação e a
recomposição dos vestígios ou elementos percebidos pelos sentidos que, dispostos e conjuntos,
constituem o fato criminoso e o dano causado.
Conforme previsão do Art. 6º, VII, do CPP, a formação do corpo de delito é tarefa da
autoridade policial, que o deve realizá-lo de forma imediata, objetivando lograr, ao menos por
indícios veementes, a autoria da infração. Vejamos, pois, a redação do citado artigo:
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer
outras perícias;
2.4 PREVISÃO LEGAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
O exame de corpo de delito está previsto no ordenamento jurídico brasileiro no capítulo
II, do Título VII, do Código de Processo Penal Brasileiro, mais precisamente nos artigos 158 a 184.
Estabeleceu o legislador no Art. 158 do CPP que ―Quando a infração deixar vestígios,
será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
do acusado.”
41
Posto que a regra nas provas seja a busca da verdade real, o legislador estabeleceu uma
exceção ao princípio da liberdade probatória e do livre convencimento do juiz ao exigir a
obrigatoriedade da realização do exame de corpo de delito nas infrações não transeuntes.
Embora a confissão do acusado (Art. 158 do CPP) não possa suprir a ausência do exame
pericial, por terem desaparecido os vestígios, previu ainda o legislador no Art. 167 do CPP que
“Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta.”
A ideia do legislador ao admitir a prova testemunhal para suprir o exame de corpo de
delito, quando desaparecidos os vestígios, não foi desprezar a prova pericial, mas possibilitar a
produção de outros meios de provas quando não for mais possível a realização do exame pericial.
O STF tem entendido em suas decisões que nos delitos materiais de conduta e resultado,
desde que desaparecidos os vestígios, a prova testemunhal pode suprir o exame de corpo de delito
direto. Nesse sentido é o HC 69.302:
"PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 334, CAPUT, C/C O
ART. 29 E ART. 318 DO CÓDIGO PENAL. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. VIOLAÇÃO
AO ARTS. 158 E 564, B DO CPP. VIOLAÇÃO AO ART. 334 DO CÓDIGO PENAL.
ILEGITIMIDADE DO PARQUET PARA PROCEDER INVESTIGAÇÕES.
IMPOSSIBILIDADE DO MEMBRO DO PARQUET QUE ACOMPANHOU AS
INVESTIGAÇÕES OFERECER A DENÚNCIA. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 252 E 258 DO
CPP. VIOLAÇÃO AO ART. 319 DO CP.
...
III - O exame de corpo de delito direto pode ser suprido, quando desaparecidos os
vestígios sensíveis da infração penal, por outros elementos de caráter probatório existentes
nos autos, notadamente os de natureza testemunhal ou documental. (Precedentes desta
Corte e do Pretório Excelso).
(ECrim 85.089, DJU 19.11.76, p. 10033; HC 69.302, RTJ 143/921 e HC 72.283 , RTJ
160/938).
Entretanto, na eventual possibilidade da prova testemunhal vir a substituir a prova
pericial, a testemunha deve ter presenciado o crime ou ao menos percebido o vestígio deixado.
Contudo, observa-se que só será aplicado o disposto no Art. 167 do CPP nos casos em
que não for possível a realização da perícia ao tempo do descobrimento do crime; isso porque, após
42
certo período de tempo, os vestígios desaparecem e, neste caso, o único meio de se provar a
materialidade da infração será através de depoimento testemunhal.
2.5 NECESSIDADE DE PERITO OFICIAL
O laudo pericial é prova de significativa importância para formação da convicção do
juiz; o exame, por isso, deverá ser realizado por perito oficial conforme prevê o Caput do Art. 159
do CPP: “exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador
de diploma de curso superior”.
Na impossibilidade da realização de referido exame por perito oficial, o legislador
condicionou que o mesmo possa ser realizado por dois profissionais com formação superior, de
preferência na área específica, conforme § 1º do art. 159, que dispõe:
“na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”.
No que se refere à hipótese do § 1º do art. 159, TOURINHO FILHO (2010, p.564) cita
como exemplo o ―Município ou Comarca onde não há peritos oficiais‖. Neste caso, a realização da
perícia deve ocorrer nos termos do citado parágrafo, sob pena de nulidade do processo.
2.6 MOMENTO PARA A REALIZAÇÃO DO EXAME DE CORPO DE DELITO
Sempre que haja obrigatoriedade da realização do exame, ele deverá ser realizado em
qualquer dia, a qualquer hora e em qualquer local, ou seja, pode ser realizado em domingos ou
feriados e durante o dia ou à noite. É o que comanda o CPP, em seu Art. 161:
Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
Deste modo, havendo obrigatoriedade da realização da perícia, ela deverá ser feita
imediatamente, independentemente do horário, dia ou local onde ocorreu a infração.
43
Na impossibilidade de sua realização por algum motivo, por exemplo, obstrução, o
perito deverá imediatamente comunicar à autoridade policial para que adote as medidas cabíveis.
2.7 AS PROVAS INADMISSÍVEIS NO EXAME DE CORPO DE DELITO
Estabelece o Art. 5º, LVI, da Constituição Federal, que ―são inadmissíveis, no processo,
as provas obtidas por meios ilícitos‖, devendo ser desentranhadas do processo as obtidas em
violação a normas constitucionais ou legais conforme dispõe o Art. 157 do CPP:
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem
ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008)
Neste sentido é o entendimento do STJ:
O corpo de delito, na clássica definição de João Mendes, é o conjunto de elementos
sensíveis do fato criminoso. (...) A Constituição da República resguarda serem admitidas
as provas que não forem proibidas por lei. Restou, assim, afetada a cláusula final do art.
158 do CPP, ou seja, a confissão não ser idônea para concorrer para o exame de corpo de
delito. No processo moderno, não há hierarquia de provas, nem provas específicas para
determinado caso. Tudo que lícito for, idôneo será para projetar a verdade real.6
Portanto, em sede constitucional, apenas as provas ilícitas devem ser desprezadas,
restando certo que toda prova produzida licitamente pode influenciar para formar o convencimento
do Juiz.
6 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, habeas corpus nº 1.394/RN, 6a Turma, Relator: Ministro Luiz Vicente
Cernicchiaro, julgamento em 08/02/1993. Disponível na internet, no sítio www.stj.gov.br, Art. 158. Quando a
infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado. Acessado em 23/07/3013.
44
Assim, caso o processo tenha se originado em provas ilícitas, estará caracterizada a
contaminação de todo o ato processual, surgindo o que a doutrina denomina de teoria da arvore do
fruto contaminado, devendo o processo ser declarado nulo ―ab initio‖.
45
CAPÍTULO 3
3 NULIDADE POR AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO NOS
CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Já vimos que no direito processual penal ocorrendo um delito não transeunte, ou seja,
que deixa vestígio, há necessariamente a obrigatoriedade da realização da perícia, caso não seja
suprida pela prova testemunhal (Art. 167 do CPP), sob pena de nulidade do ato ou mesmo de todo o
processo (Art. 654 do CPP).
Vimos também que a perícia, para ser realizada, deve obedecer aos parâmetros legais
estabelecidos pelo ordenamento jurídico.
Ocorre que há certas situações em que não mais é possível a realização da perícia, ou
por terem desaparecidos os vestígios, ou mesmo não haver prova testemunhal. Ocorrendo tais
hipóteses haverá nulidade, que deverá ser arguida pela defesa.
Mas antes de adentrarmos no contexto de nosso tema, vamos entender o que é vestígio e
quais delitos deixam vestígios.
3.2 CONCEITO DE VESTÍGIO
Já apresentamos o conceito de ―exame no corpo de delito‖, expondo que se trata de uma
espécie de perícia que incorre sobre os objetos ligados ao delito ou ao local em que esse ocorreu.
Assim, como também explanamos que ―corpo de delito‖ difere de ―exame de corpo de delito‖, pois
aquele ―não se refere ao corpo da vítima, mas ao conjunto de todos os vestígios materiais
diretamente relacionados com o fato criminoso‖.
Mas o que é vestígio?
46
Horcaia (Apud Novo Dicionário da Língua Portuguesa), define vestígio como ―Sinal
que homem ou animal deixa no lugar onde passa; rastro, pista; no sentido figurado, indício, pista,
sinal, (...).”
Mallmith (online///) define vestígio como todo e qualquer tipo de objeto, marcas ou sinais
sensíveis que possam, de alguma forma, ter relação com o fato investigado.
Menciona Barbosa (Apud Mendes de Almeida, 1973, p.35) que “tudo o quanto se pode
ver, ouvir, tocar, sentir em geral, atribuível ao delito, antes, na durante ou depois de sua execução,
é o seu corpo, o corpo de delito”.
3.3 CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS
Crimes que deixam vestígios são classificados pela doutrina como delitos não
transeunte ou ainda, delicta factis permanentis, como, por exemplo, o homicídio, lesão corporal,
furto qualificado pelo arrombamento etc.
O Código de Processo Penal dispõe em seu Art. 158 que ―quando a infração deixar
vestígios será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.”
Da leitura do dispositivo acima se extrai uma indagação: existe crime que não deixa
vestígio? A resposta é ―não!‖ Em regra, conforme PEREIRA (online///), todo delito deixa vestígio,
seja vestígio material, seja imaterial.
O que vai confirmar se ficou vestígio ou não é a realização da perícia. Isto porque,
conforme frisa o autor, ―crime sem vestígio é crime inexistente‖.
Aduz ainda o citado autor que
“alguns crimes deixam vestígios obrigatoriamente aferíveis por peritos e outros deixam
vestígios em que não é necessária a aferição por peritos. Alguns deles, em face de sua
complexidade e para que não se percam, necessitam da atuação de experts. Outros são
examinados diretamente pelo juiz por outros meios de prova”.
47
Conforme Santos (online), “todos os crimes materiais deixam vestígios, pois nestes
delitos existem a necessidade de um resultado externo à ação, sendo relevante o resultado material
para que os mesmos existam”.
Diferentemente de Santos, Tourinho Filho (2010, p.564) sustenta que ―há crimes que
deixam vestígios e outros que não os deixam.‖ Para este autor, os crimes que deixam vestígios são
denominados de delicta factis permanentis, sendo obrigatório o exame de corpo de deleito em tais
crimes, sem demora, pois muitas vezes os vestígios desaparecem sem que os peritos possam
examiná-los a tempo.
A obrigatoriedade da realização do exame de corpo de delito, conforme prevê o Art. 158
do CPP — o que será analisado mais adiante — deve ocorrer nos crimes materiais e, em algumas
situações, nos formais, pois tais crimes também podem deixar vestígios, sendo necessária a
realização do exame de corpo de delito. É o que ocorre, por exemplo, no homicídio, nas lesões
corporais, na falsificação de moeda e na extorsão mediante sequestro, no estupro, entre outros.
3.2.1 Crimes materiais e formais
Noronha (2009, P.107) define crimes materiais como aqueles em cujo tipo se
descrevem a ação e o resultado. Já os crimes formais, também conhecidos como de mera conduta
ou sem resultado, são, segundo o renomado jurista, ―os que não exigem a produção de um resultado
estranho ou externo à própria ação do delinquente.‖
Mirabete (2011) nos ensina que
“No crime material há a necessidade de um resultado externo à ação, descrito na lei, e
que se destaca lógica e cronologicamente da conduta. No crime formal não há necessidade
de realização daquilo que é pretendido pelo agente, e o resultado jurídico previsto no tipo
ocorre ao mesmo tempo em que se desenrola a conduta, havendo separação lógica e não
cronológica entre conduta e resultado...”.(Grifo nosso)
3.2.1.1 Crime de homicídio
Por ser um crime material, o homicídio (Art. 121 do Código Penal) exige
necessariamente um resultado externo à ação descrita na norma legal, ou seja, ―matar alguém‖.
48
A conduta do crime de homicídio para que possa ser atribuída a alguém, exige-se a
confecção do indispensável exame de corpo de delito, não podendo a confissão do acusado suprir a
prova pericial, uma vez que o suspeito pode ser coagido a confessar um crime que não cometeu.
Entretanto, a prova testemunhal pode suprir a ausência do exame de corpo de delito.
Nesse sentido tem decidido o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
Senão vejamos:
"APELAÇÃO CRIME. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO CONTRA
DESCENDENTE, OCULTAÇÃO DE CADÁVER E ABANDONO DE MENOR. A
materialidade, na falta do corpo de delito, pode ser comprovada pela prova
testemunhal. Inteligência do art. 167 do Código de Processo Penal. [...]" (Apelação
Crime Nº 70013588066, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Manuel José Martinez Lucas, Julgado em 29/03/2006) (grifamos)
Desse modo, se há nos autos elementos probatório que convençam o magistrado da
existência do crime, mesmo que seja prova testemunhal, cabível a decisão de pronúncia, a qual
levará o acusado a julgamento pelo Tribunal do Júri.
3.2.1.2 Crimes contra a propriedade imaterial
Quanto aos crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígios, como, por
exemplo, a violação de direito autoral (Art. 184 do Código Penal), o Código de Processo Penal
prevê a necessidade de realização de exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito,
ressaltando-se que o respectivo laudo deverá instruir a ação penal (RHC 27964/RS). Tais delitos
acarretam a reprodução do bem jurídico protegido (música, filme, texto, etc), sendo, portanto,
indispensável a realização da perícia para comprovar a contrafação.
O CPP, no art. 524 determina que “No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa
ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que
constituam o corpo de delito.”
Conforme leciona Mossin (2005, p.990), a denúncia ou queixa é condição específica de
procedibilidade, não podendo haver sem ela persecutio criminis in indicium.
A regra é que se o crime deixa vestígio, obrigatoriamente há de feita a perícia.
Entretanto, se o delito não deixa vestígio, o exame é dispensável (BADARÓ, 2008).
49
Por conseguinte, o Art. 530-A do citado diploma processual, com redação dada pela
Lei 10.596/2003, dispõe que “O disposto nos arts. 524 a 530 será aplicável aos crimes em que se
proceda mediante queixa.” Logo, a referência à denúncia, como explica Badaró, não mais tem
aplicação.
Quanto ao prazo para oferecimento da queixa, o CPP estabeleceu o seguinte:
Art. 529. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com
fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a
homologação do laudo.
Mirabete(1995, p. 546), citado por Romano (Online), entende que o prazo envolve um
instituto inominado no processo penal pátrio em que decorrido o prazo fixado na lei, deixa de existir
uma condição para o exercício de queixa.
3.2.1.3 Crimes de falsidade documental
A falsidade documental (Art. 296 a 311 do CP), desde que a adulteração ―seja idônea
‗em si mesma‟ para iludir indeterminado número de pessoas‖ (Cattani, 2012, online) também deixa
vestígios, sendo, portanto, indispensável o exame de corpo delito de forma direta, sendo obrigatória
a apresentação do documento falsificado.
Cumpre aqui fazer uma distinção entre o falso material e o falso ideológico.
No falso material a própria forma do documento é que é adulterada, sendo o aspecto
externo forjado.
Já no falso ideológico, o documento é formalmente correto, verdadeiro; porém a ideia
nele expressa o conteúdo é falso. Portanto, dispensa o exame de corpo de delito.
Exemplo de alguns crimes de falso:
Falsificação e Documento Público (Art. 297, CP)
Falsificação de Documento Particular (Art. 298, CP)
Falsidade Ideológica (Art. 299, CP)
Uso de Documento Falso (Art. 304, CP)
50
3.2.1.4 Crimes de lesão corporal
O delito de lesão corporal previsto no Art. 129 do Código Penal também é um crime
material que exige exame de corpo de delito.
Sobre o assunto a Turma Recursal do TJMG se manifestou nos seguintes termos:
Lesão corporal - Crime material - Exame de corpo delito - Prova. Lesão corporal - Crime
de natureza material - Ausência de exame de corpo de delito, boletim médico ou prova
equivalente - Materialidade não demonstrada - Reforma da sentença com a absolvição do
acusado com base no artigo 386, III, do Código de Processo Penal. O crime de lesão
corporal é de natureza material e, portanto, exige para a sua comprovação prova do
exame de corpo delito. O exame de corpo delito, realmente, pode ser dispensado, nos
termos do artigo 7º, § 1º, da Lei nº 9.099/1995, mas desde que haja um boletim médico ou
prova equivalente, vale dizer, continua sendo indispensável que haja pronunciamento de
um técnico, o médico e, quando isto não for possível, pelo menos que as lesões sejam
demonstradas de forma insofismável, por meio de outras provas permitidas no direito. Não
havendo prova da materialidade do delito, impõe-se a absolvição do acusado com base no
artigo 386, III, do Código de Processo Penal. (1ª Turma Recursal de Divinópolis - Rec. nº
223.05.159166-5 - Rel. Juiz José Maria dos Reis). Boletim nº94. (Destaque nosso)
3.2.1.5 Crimes contra a liberdade sexual
Quanto aos crimes contra a liberdade sexual, necessariamente não se exige a
obrigatoriamente do exame de corpo de delito direto. Isso porque, quando praticados com violência
moral ou com violência ficta, tais delitos nem sempre deixam vestígios materiais.
É entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência que a palavra da vítima e a
testemunhal idônea e/ou em outros meios de prova consistentes se revelem legítimos.
O STJ, no HC 85955 RJ de 2008, adotou o seguinte entendimento:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. NULIDADE DA
SENTENÇA. PROVA PERICIAL. PERÍCIA INDIRETA. CRIMES CONTRA OS
COSTUMES. DENEGAÇÃO.
1. A questão de direito arguida neste habeas corpus corresponde à possível nulidade da
perícia realizada na pretensa vítima dos crimes previstos nos arts. 213 e 214, ambos
do Código Penal, a contaminar a sentença e o acórdão que concluíram no sentido da
condenação do paciente.
2. Nos crimes contra a liberdade sexual cometidos mediante grave ameaça ou com
violência presumida, não se exige, obrigatoriamente, o exame de corpo de delito direto,
51
porque tais infrações penais, quando praticadas nessas circunstâncias (com violência
moral ou com violência ficta), nem sempre deixam vestígios materiais.
3. O exame de corpo de delito indireto, fundado em prova testemunhal idônea e/ou em
outros meios de prova consistentes (CPP, art. 167) revela-se legítimo, desde que, por não
mais subsistirem vestígios sensíveis do fato delituoso, não se viabilize a realização do
exame direto.
4. A despeito da perícia inicial haver sido realizada apenas por um profissional nomeado
ad hoc pela autoridade policial, atentou-se para a realização da perícia com base no
art. 167, do Código de Processo Penal, ou seja, a realização do exame de corpo de delito
indireto.
5. O juiz de direito não está adstrito às conclusões do laudo pericial, especialmente em se
referindo a juízo de constatação de fatos.
6. Os impetrantes pretendem, na realidade, que haja reavaliação dos elementos
probatórios que foram produzidos durante a instrução criminal, o que se revela
inadmissível em sede de habeas corpus, notadamente na ação de competência originária
do Supremo Tribunal Federal, eis que a ação constitucional não pode servir para
mascarar conhecimento e julgamento de pretensão que na realidade somente poderia ser
deduzida via recurso extraordinário.
7. Habeas corpus denegado.
Entretanto, nos casos em que for possível a realização da pericia, a sua falta implicará
na nulidade de todas as provas produzidas em sua substituição, embora a jurisprudência do STJ e
STF entenda que se existe outros elementos de prova, não considera imprescindível a perícia,
conforme esclarece Rodrigues (online).
3.2.1.6 Crimes de violência doméstica – Lei Maria da Penha
Indubitável que a regra expressa no ordenamento jurídico brasileiro é que, se a infração
penal deixa vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não
podendo supri-lo nem mesmo a confissão do acusado (artigo 158 do CPP).
Ocorre que nos crimes de violência doméstica, o legislador tipificou no § 3º do art. 12
da Lei 11.340/2006 a possibilidade de se admitir provas por meio de prontuários médicos
fornecidos pelos hospitais e postos de saúde.
Art. 12. (...)
52
(...)
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos
por hospitais e postos de saúde.
Entretanto deve-se usar de cautelar quando da interpretação do dispositivo da citada lei.
Explica Amaral (online) que
“os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde revestem-se
como prova hábil unicamente para o juízo acautelatório cível no que diz respeito ao pedido
da ofendida de medidas protetivas de urgência, para a formação do fumus boni iuris.
Devendo quanto à denúncia ser observada a regra da necessidade do exame de corpo de
delito, direto ou indireto, para as infrações penais que deixam vestígios”.
Assim, para que se possa embasar a ação penal, prevalece a regra da necessidade do
exame de corpo de delito, direto ou indireto, já que laudos ou prontuários médicos fornecidos por
hospitais e postos de saúde revestem-se como prova hábil unicamente para o juízo cível.
3.2.1.7 Crimes de Trânsito
Os crimes ocorridos na direção de veículo automotor também devem ser periciado, sob
pena de nulidade do processo.
O Código de Trânsito Brasileiro, em seu art. 277 dispõe que:
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for
alvo de fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou
outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo
Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que
determine dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012). (grifamos)
A perícia em acidentes de trânsito tem por finalidade reconstituir o acidente, bem como
atribuir sua causa.
O CTB possibilitou a aplicação subsidiária tanto do CPP, do CP, bem como da Lei
9.099/1995, dispondo que:
53
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste
Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se
este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro
de 1995, no que couber.
Assim, as normas relativas às nulidades prevista nos diplomas citados, no caso de
omissão do CTB, devem ser aplicadas aos crimes de trânsitos.
No que diz respeito à ausência do auto de exame de corpo de delito nos ditos delitos, o
TJ-RS, no Recurso Crime RC 71001593466 RS (TJ-RS), assim se manifestou:
APELAÇÃO CRIME. LESÃO CORPORAL CULPOSA NA DIREÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. ART. 303 DA LEI Nº 9.503 /97. AUSÊNCIA DO AUTO DE EXAME DE
CORPO DE DELITO. PROVA ORAL INCONCLUSIVA. Examinada a prova dos autos, não
emerge de forma clara como a colisão ocorreu, não havendo demonstração conclusiva da
culpa do apelante para o evento, o que, aliada a ausência do auto de exame de corpo de
delito conduz ao provimento da apelação, com absolvição do recorrente. Atestado médico
ambulatorial que não atende aos requisitos exigidos pelo artigo 159 , do Código Penal,
sendo suficiente apenas para o oferecimento da denúncia (art. 77 , § 1º , da Lei nº 9.099
/95). APELAÇÃO PROVIDA. (Recurso Crime Nº 71001593466, Turma Recursal Criminal,
Turmas Recursais, Relator: Ângela Maria Silveira, Julgado em 31/03/2008)
3.3 A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO
Já se frisou que nas hipóteses da infração deixar vestígios é indispensável que se faça
uma comprovação dos vestígios materiais por ela deixados, ou seja, que se realize o exame do corpo
de delito.
Entende Barbosa(online) que ―tal indispensabilidade se trata, como se percebe, de uma
reminiscência inaceitável do superado sistema da certeza moral do legislador que se afastou, sem
sombra de dúvida, do sistema da livre convicção motivada”.
No ordenamento jurídico brasileiro, mais precisamente no Art. 158 do CPP, está
expresso que “quando a infração penal deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo nem mesmo a confissão do acusado”.
Conforme se desprende da leitura do artigo 158, deixando a infração vestígios, é
obrigatória a realização da perícia, pois seu laudo constitui prova da materialidade do delito. Sendo
54
que nas demais perícias há uma faculdade da autoridade judicial ou das partes para a sua realização,
conforme art. 184 do CPP In verbis:
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a
perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.
Fernando Capez (2011, p.234) entende que
"A regra do art. 158 do CPP, tornando obrigatória a realização do exame de corpo de
delito quando a infração deixar vestígios, excepciona o princípio da livre apreciação da
prova pelo juiz (CPP, art. 157), bem como o da verdade real. Trata-se de adoção
excepcional do sistema da prova legal, não podendo o julgador buscar a verdade por
nenhum outro meio de prova, seja pela confissão do acusado, robusta documentação ou
depoimentos testemunhais idôneos, pois a lei se apega ao formalismo de exigir a prova
pericial como único meio de comprovar a materialidade delitiva. Assim, quando possível a
realização da perícia, a sua falta implica a nulidade de qualquer prova produzida em sua
substituição (CPP, art. 564, III, b) e, por conseguinte, a absolvição do imputado com
fundamento no art. 386, VI, do CPP.”
Somente na ausência completa de possibilidade de realização do exame de corpo de
delito, seja ele direto ou indireto, é que a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta, nos termos
preconizados pelo Art. 167 do CPP.
Comunga do mesmo entendimento Freitas (online)
“quando o crime deixa vestígios, isto é, deixa sinais visíveis, físicos, sensíveis de sua
efetiva ocorrência, o juiz não pode dispensar o exame sobre o corpo de delito, seja tal
exame direto (quando se reúnem os elementos objetivos apreciados na realização do
exame) ou indireto (quando, por qualquer outro meio, se demonstra a materialidade do
fato, sem, contudo, apresentar os elementos sensíveis resultantes da conduta). A norma do
art. 158 é tão incisiva que impede o juiz de, nas hipóteses aventadas, substituir o exame de
corpo de delito pela confissão do acusado.” 7
Esclarece Pacelli (2013) que
“deixando vestígios a infração, a materialidade do delito e/ou a extensão de suas
consequências deverão ser objeto de prova pericial, a ser realizada diretamente sobre o
objeto material do crime, o corpo de delito, ou, não mais podendo sê-lo, pelo
7 A indispensabilidade do exame de corpo, http://jusvi.com/artigos/1014 > Acessado em 26/06/2013.
55
desaparecimento inevitável do vestígio, de modo indireto. O exame indireto será feito
também por meio de peritos, só que a partir de informações prestadas por testemunhas ou
pelo exame de documentos relativos aos fatos cuja existência se quiser provar, quando
então se exercerá e se obterá apenas um conhecimento técnico por dedução”.
Conforme entendimento do STF, na hipótese do magistrado deixar de observar a
obrigatoriedade de realização de perícia direta, estará caracterizado a nulidade prevista no art. 564,
III, ‗b‘ do CPP:
“HÁBEAS CORPUS. ESTELIONATO. Ausência de exame de corpo de delito nos
documentos falsificados para obtenção da vantagem indevida. Nulidade.
Indispensabilidade da diligência nos crimes que deixam vestígios, enquanto esses existirem
(art. 158 do CPP). Princípio da verdade real. Ordem concedida para anular as decisões da
justiça estadual, devendo ser proferida nova sentença após a realização do exame
pericial”(RT 672/388).
Deste modo, conclui-se que, nos "delitos de fato permanentes" como também são
conhecidas as infrações que deixam vestígios, a prova pericial é essencial e obrigatória. Frisando-se
que sua ausência implica a absolvição do acusado por falta de prova nos termos do Art. 386, II, do
CPP, In verbis:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:
(...)
II - não haver prova da existência do fato;
Por se tratar de infrações que deixam vestígios, importante salientar que a confissão do
acusado não supre a ausência do exame de corpo de delito, conforme preceitua o Art. 158 do CPP,
gerando, portanto a nulidade do processo nos termos do art. 564, III, ―b‖ do citado diploma
processual, como veremos a seguir.
56
3.4 DA NULIDADE POR FALTA DE FÓRMULAS
Dispõe o CPP:
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto
no Art. 167; (grifamos).
Conforme se observa no Art. 564, III, b, do CPP, haverá nulidade se não for feito o
exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios. Portanto, conclui-se que a perícia nas
infrações que deixam vestígio é obrigatória (Art. 158 do CPP), gerando nulidade a sua ausência.
Salienta-se que a denúncia ou a queixa não deve nem sequer ser recebida, pois lhe falta
pressuposto, caso não seja instruída com o exame pericial, conforme prevê o Art. 525 do CPP: “No
caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for
instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.”
Santos (online), ao dissertar sobre o assunto expôs que:
“O que se pretende demonstrar é o seguinte: caso a falta de realização do exame
direto seja levada a efeito por omissão do Estado investigador, se do ato resultar
prejuízo para a defesa, esvaziando a acusação, o procedimento de nulidade acima
colocado deve ser observado. O prejuízo à defesa parece evidente, quando o
Estado deixa de produzir a prova que seria útil ao processo. Certamente, a defesa
estará prejudicada, se o delito não foi praticado pelo réu denunciado e o órgão
técnico do Estado deixou de agir para demonstrar a realidade dos fatos
ocorridos”.8
3.5 AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO
Em determinados delitos, o legislador possibilitou que a prova testemunhal fosse
suficiente para a comprovação da materialidade. Citam-se como exemplo os crimes contra a
8
SANTOS, Pedro Luiz Mello Lobato dos. Nulidade absoluta pela não realização de prova pericial em delitos que
deixam vestígios. http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6207/Nulidade-absoluta-pela-nao-realizacao-de-prova-
pericial-em-delitos-que-deixam-vestigios. > Acessado em 27/06/2013
57
liberdade sexual cometidos mediante grave ameaça ou com violência presumida. Em tais delitos
não se exige a obrigatoriedade do exame de corpo de delito direto, isso porque, quando praticado
com violência moral ou com violência ficta, nem sempre eles deixam vestígios materiais.
Entretanto, há outros tipos de crime cuja prova testemunhal não é suficiente para que se
comprove a materialidade da infração, são os denominados crimes que deixam vestígios. Nesse tipo
de delito, quando não for possível ser suprida pela prova testemunhal, existe a obrigatoriedade da
realização da perícia, acarretando sua ausência nulidade insanável.
Sobre o assunto, o STJ tem assim decido:
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO.
ESCALADA. AUSÊNCIA DE EXAME DE CORPO DE DELITO. INCIDÊNCIA DE
QUALIFICADORA. CONFISSÃO DO RÉU. DEPOIMENTO DA VÍTIMA.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE LAUDO PERICIAL. PRECEDENTES.
1. O exame de corpo de delito é indispensável para comprovar a materialidade do crime,
sendo que sua realização de forma indireta somente é possível quando os vestígios tiverem
desaparecido por completo ou o lugar se tenha tomado impróprio para a constatação dos
peritos.
2. Sendo possível realizar a perícia de local, a prova testemunhal ou a confissão do
acusado – essa por expressa determinação legal – não se prestam a suprir o exame de
corpo de delito. Precedentes.
3. Impõe-se afastar a incidência das qualificadoras porque, na ausência de laudo pericial,
não existe prova concreta que comprove inequivocamente a materialidade do
arrombamento ou da escalada.
4. Ordem concedida para, reformando a sentença condenatória e o acórdão impugnado,
afastar da condenação do Paciente as qualificadoras do art. 155, § 4º, incisos I e II, do
Código Penal. (HC 85.901/MS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em
27/09/2007, DJ 29/10/2007 p. 294)
HABEAS CORPUS PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE LATROCÍNIO E
OCULTAÇÃO DE CADÁVER. ALEGAÇÃO DE DEMORA PELO TRIBUNAL A QUO
NO PROCESSAMENTO DO RECURSO ESPECIAL. INOCORRÊNCIA. PLEITO DE
ABSOLVIÇÃO COM FUNDAMENTO NA AUSÊNCIA DE EXAME DE CORPO
DELITO.
O recurso especial interposto na origem está sendo regularmente processado pelo Tribunal
a quo, aguardando, tão-somente, a apresentação das contra-razões ministeriais.
Acrescente-se, ademais, que eventual demora não prejudica o cumprimento de mandado de
58
prisão ou a execução provisória da pena, pois o apelo extremo é desprovido de efeito
suspensivo.
2. A simples ausência de laudo de exame de corpo de delito da vítima não tem o condão de
conduzir à conclusão de inexistência de provas da materialidade do crime, se nos autos
existem outros meios de prova capazes de convencer o julgador quanto à efetiva
ocorrência do delito, como se verifica na hipótese vertente.
3. Ordem denegada. (HABEAS CORPUS Nº 51.364 – PE - 2005/0210078-9)
Em igual sentido também já decidiu o TJ/RS no Acórdão nº 70025336975 da 2ª Câmara
Criminal, 21.01.2010:
APELAÇÃO-CRIME. CRIME CONTRA A PESSOA. ART. 129, §9º, DO CÓDIGO PENAL.
MATERIALIDADE. AUSÊNCIA. ABSOLVIÇÃO DECRETADA. A ausência de exame de
corpo delito não pode ser suprida pela prova testemunhal quando a vítima, por sua livre
discricionariedade, deixa de comparecer ao órgão estatal competente para a realização do
procedimento, pois o desaparecimento dos vestígios da infração penal se deu por desídia
da ofendida, a obstaculizar a flexibilização do preceito contido no art. 158 do CPP em
razão da incidência do art. 167 do referido diploma legal no caso concreto.
Apelo defensivo provido, à unanimidade. (Apelação Crime Nº 70025336975, Segunda
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marlene Landvoigt, Julgado em
21/01/2010)
Conforme Art. 564, III, ―b‖, do CPP, a falta do exame de corpo de delito caracteriza
nulidade absoluta.
Entretanto, havendo inobservância de formalidade, ou mesmo no caso de omissão,
poderá a autoridade judiciária determinar que essa formalidade seja suprida ou complementada. É o
que prevê o Art. 181 do CPP:
Art. 181. No caso de inobservância de formalidade ou no caso de omissões, obscuridade ou
contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade ou complementar ou
esclarecer o laudo.
Parágrafo único - A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.
Porém, o juiz não fica adstrito ao laudo pericial, consoante disposição expressa do Art.
182 do diploma processual.
59
Art. 182. O Juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou
em parte.
Embora o laudo pericial tenha significativa importância no processo penal, o juiz não
está obrigado a vincular seu convencimento à conclusão pericial, pois se assim o fizer estará
violando o princípio do livre convencimento do magistrado, conforme entendimento da doutrina e
jurisprudência.
Nesses termos já decidiu a 1ª Câmara Criminal do TJ de Mato Grosso: assim se
manifestou:
RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL – ACIDENTE DE TRÂNSITO – HOMICÍDIO
CULPOSO – RECURSO DA ACUSAÇÃO OBJETIVANDO A CONDENAÇÃO –
DESCONSIDERAÇÃO PELO MAGISTRADO A QUO DO LAUDO EM SENTIDO
INCRIMINADOR – POSSIBILIDADE – PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO
MOTIVADO – REUNIÃO DE OUTROS ELEMENTOS DE CONVICÇÃO QUE
CONTRARIAM A PROVA PERICIAL – CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA –
ABSOLVIÇÃO MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO.
Tendo o conjunto probatório revelado, em sentido oposto à conclusão do perito, que o
acidente ocorreu por culpa exclusiva da vítima, que se autocolocou perigosamente na
frente do veículo do apelado, poderá o magistrado, fundamentadamente, desconsiderar o
laudo técnico, sob a égide do Princípio do Livre Convencimento Motivado, permitindo seja
mantido o édito absolutório.(Apelação Nº 30075/2010)
Nesse mesmo sentido é a posição do STJ:
PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE RESPONSABILIDADE. PREFEITO. DL
201/67. EXAME PERICIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 158 DO CPP. INOCORRÊNCIA.
DEVIDO PROCESSO LEGAL. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. SUBSTITUIÇÃO DE
PENA. ART. 44, § 2º DO CP. PERDA DO CARGO. EXECUÇÃO. TRÂNSITO EM
JULGADO DA CONDENAÇÃO.
I - Havendo outros elementos probatórios, de regra, lícitos, legítimos e adequados para
demonstrar a verdade judicialmente válida dos fatos, não há razão para desconsiderá-los
sob o pretexto de que o art. 158 do CPP admite, para fins de comprovação da
materialidade da conduta delitiva, apenas e tão-somente, o respectivo exame pericial. (...)
60
Todavia, uma vez apresentado o laudo pericial, esse deve ser considerado. É a posição
do STJ.
“Não se deve recusar a perícia pela simples alegação de sua desnecessidade. Como prova
de grande capacidade de convencimento, deve ser realizada sempre que a defesa a
considere indispensável para a demonstração da verdade real. Ordem concedida.” (STJ,
HC 1.323, Min. José Candido. DJU 5.4.1993, p. 5.858)
61
CONCLUSÃO
A presente monografia foi desenvolvida com o intuito de realizar um breve estudo
acerca da nulidade pela ausência do exame de corpo de delito nas infrações não transeuntes.
Buscou-se traçar algumas considerações conforme as regras estabelecidas no Diploma Processual
Penal brasileiro e na jurisprudência atual
Examinando-se o trabalho apresentado, infere-se que o mesmo foi dividido em três
partes: a primeira parte versa sobre ―nulidades no processo penal‖, a segunda parte trata do ―exame
de corpo de delito‖ e a terceira (e última) parte buscou-se traçar algumas considerações importantes
sobre ―nulidade por ausência do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios ou não
transeuntes‖.
Das análises trazidas sobre os assuntos, constatou-se que:
O exame de corpo de delito tem uma importância significativa, pois se trata de meio de
prova indispensável nas infrações que deixam vestígios;
Embora o princípio do livre convencimento motivado do juiz permita ao juiz formar sua
convicção pessoal (Art. 130 do CPC), desde que devidamente fundamentada sua decisão (Art. 93,
IX da CF), tratando-se de infrações que deixam vestígios, a decisão não pode ser exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação (Art. 155 do CPP), devendo, necessariamente,
ser realizada a perícia (Art. 158 do CPP).
O Art. 158 do CPP que determina que ―quando a infração penal deixar vestígios será
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo nem mesmo a
confissão do acusado‖, é a regra no ordenamento jurídico brasileiro.
Embora a regra seja a realização do exame de corpo de delito, em algumas situações a
prova testemunhal supre sua ausência (Art. 168 do CPP), sob pena de nulidade do processo;
Por ser de significativa importância, o exame de corpo de delito deve ser realizado por
perito oficial, portador de diploma de curso superior (Art. 159 CPP);
As nulidades previstas no CPP consubstanciam rol exemplificativo, já ocorrendo
inobservância de princípios gerais do direito e princípios constitucionais, haverá também nulidade.
62
Tratando-se de nulidades relativas, as partes devem demonstrar o prejuízo, hipótese em
que, caso não arguidas, podem ser convalidadas;
Quanto às nulidades absolutas, tendo em vista que o vício atinge o próprio interesse
público, não há necessidade de demonstração do prejuízo, devendo ser declarada de ofício pelo juiz;
As provas obtidas por meios ilícitos não são inadmissíveis no exame corpo de delito;
Conclusão final: o exame corpo de delito é indispensável nos crimes que deixam
vestígios, e sua ausência gera nulidade absoluta do processo, devendo a parte requer a nulidade
deste o ato viciado, podendo, no entanto, a perícia ser suprida pela prova testemunhal idônea
quando esta tenha presenciado o fato e não mais seja possível a realização da perícia.
― É me l h o r f i c a r e m i mp u n e s mu i t o s c u l p a d o s d o q u e
s e r c o n d e n a d o u m ú n i c o i n o c e n t e . ‖
B e r r i e r
63
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