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Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Fundação Educacional Lucas Machado - FELUMA Terapia Ocupacional Trabalho de Conclusão de Curso - TCC POSSIBILIDADES DE UTILIZAÇÃO DA TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS (TAA) NA TERAPIA OCUPACIONAL Claudia de Toledo Barros Belo Horizonte 2008

Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Fundação …files.terapiaocupacional.webnode.com/200000030-409cf41970... · 4 RESUMO Este trabalho visa compreender como a Terapia

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Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

Fundação Educacional Lucas Machado - FELUMA

Terapia Ocupacional

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

POSSIBILIDADES DE UTILIZAÇÃO DA TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS

(TAA) NA TERAPIA OCUPACIONAL

Claudia de Toledo Barros

Belo Horizonte

2008

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Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

Fundação Educacional Lucas Machado - FELUMA

Terapia Ocupacional

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

Claudia de Toledo Barros

POSSIBILIDADES DE UTILIZAÇÃO DA TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS

(TAA) NA TERAPIA OCUPACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC do Curso de Terapia Ocupacional, da Fundação Educacional Lucas Machado, da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.

Orientadora: Andrea Luiza Drumond

Chagas

Belo Horizonte

2008

3

“Chegará o dia em que os homens

conhecerão o ínt imo dos animais, e

neste dia, um crime cont ra um animal

será considerado um crime cont ra a

humanidade”.

(Leonardo Da Vinci)

“Só damos passos quando realmente

nos dispomos a ir um pouco além do

que estaria ao nosso alcance”.

(Trigueirinho)

4

RESUMO

Este trabalho visa compreender como a Terapia Assistida por Animais, a TAA,

configurada através de estudos teóricos e práticos, pode tornar-se uma aliada

eficiente à prática da Terapia Ocupacional. Num cenário contemporâneo, onde as

doenças e necessidades humanas se aguçam devido às condições precárias de

qualidade de vida, faz-se necessário identificar as possibilidades que a Terapia

Ocupacional possui, principalmente quando propõe a utilização de novas práticas

e recursos terapêuticos de auxílio ao homem. Para tanto, buscamos neste

trabalho, ampliar e evidenciar o trabalho terapêutico com animais, por meio da

realização de pesquisas bibliográficas, no intuito de rastrear uma maior utilização

da Terapia Assistida por Animais no campo científico e prático da Terapia

Ocupacional, tendo como fundo uma visão de integração e proximidade entre

homem x animal.

Palavras-chaves: Terapia Assistida por Animais – Terapia Ocupacional – Práticas

– Recursos Terapêuticos – Homem – Animal

5

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................08

JUSTIFICATIVA.....................................................................................................10

OBJETIVOS...........................................................................................................11

OBJETIVOS GERAIS.........................................................................................11

OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................11

METODOLOGIA.....................................................................................................12

CAPÍTULO 1: A BUSCA DO ENTENDIMENTO DA RELAÇÃO HOMEM -

ANIMAL E A APRESENTAÇÃO DA ATIVIDADE E TERAPIA ASSISTIDA POR

ANIMAIS (A/TAA)..................................................................................................13

1.1 O MEIO AMBIENTE COMO UM INÍCIO...........................................................13

1.2 O ANIMAL E SUA EVOLUÇÃO........................................................................13

1.3 A RELAÇÃO HOMEM X ANIMAL.....................................................................14

1.3.1 Seres diferentes evoluem juntos.........................................................15

1.3.2 Capacidades do Reino Animal............................................................16

1.3.2.1 O animal a serviço do homem...............................................17

6

1.3.3 A domesticação do animal..................................................................18

1.3.3.1 O cão e suas virtudes............................................................18

1.3.3.2 O gato: sua domesticação e suas virtudes............................19

1.4 ATIVIDADE E TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS - A/TAA ........................21

1.4.1 Terminologia da A/TAA.......................................................................21

1.4.1.1 AAA (Atividade Assistida por animais)..................................22

1.4.1.2 TAA (Terapia Assistida por Animais).....................................23

1.4.2 História da A/TAA................................................................................24

1.4.2.1 Início da A/TAA no Brasil.......................................................25

1.4.3 Efeitos Fisiológicos causados pelaTAA..............................................28

1.4.4 Funcionamento e contra-indicação da A/TAA.....................................31

1.4.5 Principais enfoques da A/TAA e área de atuação...............................33

1.4.6 Resultados positivos e a expansão desta idéia: a mídia e os projetos

em andamento no Brasil..............................................................................35

CAPÍTULO 2: A TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS NA TERAPIA.................39

CONCLUSÃOES GERAIS.....................................................................................50

7

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................53

8

INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso - TCC apresenta como idéia central entender

e discorrer sobre a utilização do animal pelo profissional de Terapia Ocupacional,

tanto num contexto clínico, quanto em instituições, verificando suas possibilidades

e restrições encontradas nos procedimentos padrões de tratamento. Para tanto

buscaremos identificar toda a trajetória da atividade terapêutica com animais,

principalmente quando aplicada na Terapia Ocupacional. A Atividade e Terapia

Assistida por Animais é hoje um tema importante apesar de ainda pouco discutido

em nosso país.

Os animais, ao longo da história da evolução do planeta, sempre tiveram mesmo

que parcialmente contatos e relacionamentos com o ser humano; seja de forma

primitiva, suprindo as necessidades humanas ou de maneira afetuosa, criando

assim vínculos de identificação entre as espécies. Justamente por isso, buscamos

neste trabalho ressaltar o benefício da relação sadia entre homem x animal.

Devido à possibilidade ainda maior de proximidade, partimos então da utilização

de animais domesticados, como início de um contato com o ser humano, uma vez

que os mesmos já possuem uma vivência prática de convívio, o que facilita em um

tratamento terapêutico. Acredita-se que as espécies mais indicadas, de maior

acesso, e que possuem uma maior identificação com os seres humanos, são as

caninas e felinas, especificamente cães e gatos, os quais serão enfatizados ao

longo deste estudo.

Com esta visão levantada torna-se essencial refletirmos sobre a possibilidade da

aplicação da Terapia Assistida por Animais em pacientes com diferentes

necessidades. Justamente pelo fato do animal oferecer afetividade, emoção,

virilidade e alegria de uma forma tão pura, além de outros importantes estímulos,

ele torna-se um mecanismo facilitador de proximidade com o paciente, muitas

vezes tão carente desses sentimentos.

9

Para que a Atividade Assistida por Animais alcance sua maior efetividade, este

estudo vem relatar a possibilidade do seu uso como um recurso terapêutico na

prática da Terapia Ocupacional. Busca ainda suprir algumas limitações

encontradas, às quais estão expostos os profissionais da área de saúde que

utilizam esta prática, assim como expandir esse campo de atuação.

Devido à Terapia Ocupacional se apresentar como um campo da área de saúde

que utiliza-se da atividade para avaliar e tratar na busca da melhoria da qualidade

de vida do paciente, fica evidente que, uma recurso possível a ser utilizada é

justamente o animal doméstico na qual entre outras coisas, ativa sensações de

interatividade e aproximação, facilitando e muito a atuação do profissional.

Portanto, passamos a refletir sobre as potencialidades do uso dos animais

enquanto facilitadores no contexto clínico, e/ou nas instituições onde o Terapeuta

Ocupacional se faça necessário, de forma individual ou em uma equipe

multidisciplinar.

Com tais questões levantadas, nosso principal objetivo é ampliar o campo da

Terapia Ocupacional introduzindo e ampliando o conceito de Terapia Assistida por

Animais como um possível recurso terapêutico.

10

JUSTIFICATIVA

Os motivos da realização deste estudo são vários, mas aqui buscamos ressaltar

alguns mais relevantes. Antes de tudo, o interesse pessoal com relação aos

animais, devido ao convívio e ligação estreita com as questões da natureza,

particularmente com o reino animal.

Outro motivo é a procura em dar um maior enfoque buscando correlações ao

tema, dentro da área da Terapia Ocupacional. Percebemos que a Atividade e

Terapia Assistida por animais ainda é pouco aprofundada no Brasil; então ao

enfatizar essa questão, possivelmente ajudaremos a ampliar os estudos e

recursos para melhor atender a população na área de saúde.

Contudo, estudos mostram que quando existe uma relação entre homem e animal,

ocorrem mudanças fisiológicas, emocionais, comportamentais e sociais no

indivíduo, levando assim a uma maior autonomia do mesmo. Podemos desta

maneira enfatizar a relevância que um recurso terapêutico ampliado e

diferenciado, dentro do tratamento de Terapia Ocupacional, pode propiciar uma

melhor qualidade de vida para a população de uma maneira geral.

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OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Ampliar possíveis atuações no campo da Terapia Ocupacional introduzindo e

ampliando o conceito de Terapia Assistida por Animais como um possível recurso

terapêutico.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Empreender uma maior visibilidade e discussão em torno da Terapia Assistida

por Animais no meio acadêmico.

Apresentar os benefícios que a Atividade e Terapia Assistida por Animais pode

proporcionar às pessoas.

12

METODOLOGIA

O procedimento metodológico adotado para a realização deste trabalho

proporcionará um melhor direcionamento na tentativa de introduzir e disseminar a

Atividade e Terapia Assistida por Animais como um possível recurso terapêutico

ocupacional, uma vez que é um tema pouco desempenhado nesta prática.

Foi adotado, portanto, o método de Revisão Bibliográfica, que consiste em colher

materiais e dados publicados cientificamente. Esta escolha se deu ao fato de hoje

existir pouca difusão no Brasil sobre a Atividade e Terapia Assistida por Animais

na Terapia Ocupacional.

De acordo com MAZZOTTI(2006) a Revisão Bibliográfica consiste em uma análise

crítica meticulosa e ampla das publicações correntes em uma determinada área

do conhecimento. De um modo geral, a Revisão Bibliográfica é realizada como

parte inicial de um estudo científico, no nível de graduação.

Utilizamos como fontes de pesquisa deste trabalho, livros sobre a Terapia

Assistida por Animais e a Terapia Ocupacional, artigos de revistas especializadas,

periódicos, entre outros, mencionados em nossa referência bibliográfica.

13

CAPÍTULO 1: A BUSCA DO ENTENDIMENTO DA RELAÇÃO HOMEM -

ANIMAL E A APRESENTAÇÃO DA ATIVIDADE E TERAPIA ASSISTIDA POR

ANIMAIS (A/TAA)

1.1 – O MEIO AMBIENTE E O ANIMAL

Antes de iniciarmos o presente estudo, apresentaremos um breve conceito do que

é o meio ambiente, já que o possível recurso terapêutico (o animal) e nós seres

humanos, estamos diretamente inseridos neste contexto ambiental.

“é o conjunto de forças e condições que cercam e influenciam os seres vivos e as coisas em geral. Ele representa na essência da palavra, a realidade física e orgânica de um determinado espaço, que pode compreender tanto um ecossistema como toda a biosfera. O meio ambiente é tudo o que cerca o ser vivo, que o influencia e que é indispensável à sua sustentação. Tal entendimento propicia uma visão de que o meio ambiente não é constituído apenas do meio físico e biológico, mas também do meio sócio-cultural e sua relação com os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem”. (DELTA UNIVERSAL, 1990, vol.10, p.5216).

Justamente por isso, e num sentido mais amplo, meio ambiente representa as

formas de vida das espécies. A maneira como é feito esse relacionamento entre

espécies, pode então determinar o meio físico e biológico em que vivemos

refletindo em nossa cultura e sociedade.

1.2 – O ANIMAL E SUA EVOLUÇÃO

Dentro desse meio ambiente, focaremos o animal que será o alvo principal como

um possível recurso terapêutico dentro da prática da Terapia Ocupacional.

14

Lembrando que não devemos tratar o animal como uma simples ferramenta, mas

sim como um importante integrante fazendo parte do tratamento, sempre tratando-

o com ética e respeito, como a qualquer ser vivo. Segue então uma breve

definição de animal.

“Os animais compreendem desde criaturas simples, unicelulares, como os protozoários, até macacos complexos e semelhantes ao homem”. (DELTA UNIVERSAL, vol. 1, p.470)

Charles Darwin, famoso por ter convencido a comunidade científica da ocorrência

da evolução

e por ter proposto uma teoria para explicar como ela se dá, nos

sugere que o homem é o resultado da evolução biológica dos primatas.

“Como todas as espécies biológicas conhecidas, a espécie humana surgiu por evolução”. (JÚNIOR E SASSON, 2002, p.282)

Seguindo esse raciocínio, nos leva a pensar que o ser humano pode, portanto,

ainda conter características semelhantes às do animal, uma vez que veio de sua

evolução. Dessa forma fica evidente que nessa linha de evolução, o ser humano

ainda tem muito que aprender e ensinar às outras espécies.

1.3 – A RELAÇÃO HOMEM x ANIMAL

Antes de darmos início de como se deu à relação Homem X Animal, cabe colocar

que daremos ênfase em especial aos cães e gatos, pelo simples fato de serem

hoje animais de grande acesso à humanidade e os mais domesticados.

15

1.3.1 – Seres diferentes, evoluem juntos

Segundo os autores Goebel e Glockler (2002) ao compararmos a evolução do

homem e do animal, observamos que, a perda das capacidades inatas

representam um passo significativo. O animal tem a capacidade de andar logo

após seu nascimento, a partir do reflexo de marcha. Já o ser humano, durante o

primeiro ano de vida está ocupado com a estruturação de seu cérebro e do

restante do corpo, submetendo-se a um penoso aprendizado até erguer-se e

andar. O estudo comparativo do desenvolvimento dos diversos animais revela

claramente que quanto mais rápido for o desenvolvimento de um animal, todas

suas habilidades serão mais dependentes dos órgãos e menos `aprendidas´.

Quanto mais lento é esse processo, mais os animais podem ampliar o leque de

suas possibilidades durante a fase de crescimento e formação, mediante

aprendizagem.

Como o homem tem de aprender tudo por si próprio, o que o torna um ser

humano, sua amplitude de aptidões pessoais amplia-se a cada nova capacidade

adquirida. Por isso, em contraste com os animais, o amadurecimento corpóreo do

ser humano se dá ao longo de dezesseis a vinte anos. Para os autores:

“(...) nós, seres humanos, diferenciamo-nos dos animais justamente por apresentarmos um desenvolvimento pessoal, que sempre oscila entre mais cedo e muito tarde, em seus aspectos somáticos e anímico-espiritual. Fazer o certo no momento adequado é a característica mais elevada da arte de viver, e cada ser humano ruma, consciente ou inconscientemente, em direção a essa meta”. (GOEBEL e GLOCKLER, 2002, p.305)

Dentro desta diferença de capacidades entre as espécies, podemos ainda obter

grandes aprendizagens das duas partes, quando há uma inter-relação entre elas.

Veremos que o reino animal pode contribuir muito para nós humanos, e da mesma

forma, nós seres humanos, tratando-os com amor e respeito, colaboramos com

sua evolução.

16

1.3.2 – Capacidades do reino animal

Para uma maior compreensão e até valorização do reino animal, podemos citar

algumas de suas capacidades mais desenvolvidas, capacidades essas podendo

ultrapassar às dos seres humanos. A exemplo disso falaremos sobre como os

animais atingiram um nível de desenvolvimento alto de alguns de seus sentidos

vitais, como o olfato, audição, e intuição. Basta observarmos de perto o

comportamento de um animal e veremos as grandes capacidades que obtêm.

Essas capacidades aproximam mais ainda o homem do animal, podendo

estabelecer um relacionamento de troca e aprendizagem mútua.

Grogan (2006), colunista do jornal Philadelphia Inquirer na Pensilvânia, conta o

comportamento que seu cão Labrador passou a ter após sua esposa perder o

neném em um aborto espontâneo ainda no início da gestação.

“Nosso cão elétrico colocara seus ombros entre os joelhos de Jenny, e apoiou docemente sua grande cabeça quadrada em seu colo. Seu rabo estava caído entre as pernas, que eu me lembre era a primeira vez que não o balançava ao estar perto de qualquer um de nós. Ele a olhava e soluçava baixinho”. (GROGAN, 2006, p.57)

Grogan ressalta ainda que, seu cão com todas as características impulsivas e

descontroladas de um labrador com energia inesgotável, agia completamente

diferente diante de Patrick, seu filho recém nascido.

“Marley, nosso bronco selvagem, comportava-se de modo diferente com Patrick. Ele parecia entender que este era um pequeno ser humano, frágil e indefeso; ele se movia lentamente toda vez que estava próximo dele, lambendo seu rosto e orelhas delicadamente”. (GROGAN, 2002, p.109)

Os animais podem também pressentir quando algo ruim está por acontecer ou

quando uma pessoa tem a intenção de agir com má fé, latindo bravejadamente

17

como que se alertando de algo. É o diz Grogan sobre a atitude que Marley teve

pouco antes de um assalto em sua rua:

“De algum modo ele sabia que algo sério estava acontecendo. Ele simplesmente sabia. Ele pressentiu o perigo, e agiu como um cão completamente diferente”. (GROGAN, 2002, p.119)

Como visto o exemplo do cão, ele apresenta uma certa sensibilidade, que sendo

percebida pelo humano, pode facilitar para um bom relacionamento entre eles,

assim como até alertá-lo em situações de perigo.

1.3.2.1 – O animal a serviço do homem

No segundo aspecto citado anteriormente, entramos no assunto dos animais que

servem como fonte de recursos para as necessidades humanas, não apenas nos

trabalhos no campo, mas também em cidades grandes. São denominados cães de

serviço; que são os cães de assistência, cães guias, cães de alerta, cães para

deficientes auditivos, cães farejadores e outros. De acordo com a lei federal

americana o termo Animal de Serviço é definido como “qualquer animal que é

individualmente treinado para trabalhar ou executar tarefas para o benefício de

pessoas deficientes” (Wilson, Turner, 1998). Cães de alerta tem a capacidade, por

exemplo, de identificar um possível ataque de pânico, cardíaco, epilético, ou

também em crises de hipoglicemia, através dos sinais comportamentais presentes

na pessoa, ou pelas alterações químicas e eletroquímicas presente no corpo.

Como sugere o cientista britânico Dr. Ruppert Sheldrake (2000), pesquisador

muito respeitado da Universidade de Cambridge, Inglaterra, e autor de diversas

obras científicas, os cães podem perceber também a mudança em nossas auras

(energia com coloração emanada de nosso corpo, perceptível apenas por algumas

pessoas e por muitos animais), por meio dos campos mórficos.

18

Fica evidente, após serem feitas grandes pesquisas, que os animais realmente

apresentam uma intuição e ou percepção diferente que a dos seres humanos. E

podemos ver que hoje o cão pode auxiliar também pessoas que precisem de

cuidados especiais, devido a alguma patologia.

1.3.3 – A domesticação do animal

Para chegar ao tamanho grau de familiaridade existente hoje entre o homem e o

animal, veremos que esse foi um resultado de um tipo de relacionamento muito

antigo que começou a se dar segundo Dotti (2005), entre 10 mil e 20 mil anos

atrás, sendo que há controvérsias sobre o estudo de DNA que afirmam que a

descendência dos cães ocorreu há mais de 100 mil anos. O homem teve o

primeiro contato com os animais ao caçá-los para se alimentar ou, ao contrário, ao

ser atacados por eles quando famintos. Um dos primeiros grandes passos em

direção a civilização ocorreu quando o homem primitivo e o cão se tornaram

companheiro. O cão foi provavelmente o primeiro animal domesticado pelo

homem. Algumas teorias sugerem que esta interação começou a se dar pela

relação de mutualismo exercida pelo homem o ancestral do cão doméstico, o lobo.

1.3.3.1 – O cão e suas virtudes

Dentro das características do cão, além dele ser considerado amigo do homem,

transmitindo então um companheirismo e lealdade, ele pode auxiliar também nas

questões emocionais do ser humano, sendo um refúgio de emoções. Pode ajudar

a desenvolver um equilíbrio emocional, fazendo um elo com a realidade,

quebrando barreiras, e ajudando na sociabilidade. O cão pode ser uma fonte de

conforto e companhia para a pessoa que obtém um contato com ele, pois escuta

19

sem julgar. Pode contribuir para resgatar valores, atribuindo regras,

responsabilidade, e respeito com os seres vivos. Contribui também na atenção e

memória e tendo em vista o físico, pode ajudar nos processos da reabilitação,

obtendo uma forma mais lúdica de se tratar.

1.3.3.2 – O gato: sua domesticação e suas virtudes

Podemos falar bastante sobre os gatos, seres também sensitivos e muito

domesticado hoje. Segundo Falabela (2004), não existe nenhum outro animal que

desperta sentimentos tão antagônicos. Com os gatos, não há meio termo, ele

suscita ódio ou paixão, desprezo ou adoração. Apenas a três mil anos antes de

cristo é que nós temos provas que o gato doméstico existiu. Já foi tratado como

Deus pelos egípcios, tendo uma relação muito grande com o gato e a mitologia,

tanto é que existia a Deusa Bastet que tinha cabeça de gato e corpo de mulher.

Foi queimado vivo em fogueiras na época da Idade Média, porque uniu-se a idéia

dos gatos com as bruxas. Já livrou a humanidade de pragas na época da Peste

Negra, assim que a população percebeu o quanto era importante ter um gato em

casa para controlar a invasão dos ratos.

Os gatos têm uma profundidade no relacionamento com o ser humano e

proporcionam uma excelente companhia. Seu jeito silencioso e discreto inspira

grandes mestres escritores e pintores. Leonardo Da Vinci dizia que o gato é uma

obra de arte. A pessoa que tem contato com um gato pode tornar sua vida melhor

e mais saudável pela simples observação. Eles nos ensinam a ter mais equilíbrio,

pois são calmos e serenos até em seu jeito de andar. Ensinam a respeitar os

limites alheios e a fazer com que nossos limites sejam respeitados, pois adoram

liberdade, é um ser livre e independente, são autênticos e não aceitam ser

“adestrados”. Nos ensinam a sermos corajosos, pois são exploradores e atentos.

Assim como a sermos tolerantes, pacientes, dignos, e até a cuidar melhor do

20

nosso físico, pois são extremamente limpos e elegantes naturalmente. Eles agem

como incensos dentro de casa, e neutralizam as energias que por ventura estão

negativas.

Ainda existem muitos mitos e preconceitos em relação aos gatos, principalmente

de serem seres amaldiçoados, e que se apegam com o local em que vivem e não

com o seu dono. E para desmistificar esse mito colocaremos em questão que o

fato de ele ter vida própria não tem a ver com ele não ser sociável com as

pessoas. O Dr. Walter Melo Jr., Psicólogo da Casa das Palmeiras, R.J. diz que

para Nise da Silveira as pessoas pegam as dificuldades que elas tem, internalizam

aquilo e projetam no gato, jogam nele tudo que elas tem de ruim, então o gato

passa a ser maléfico, ruim e perigoso. E que quando passamos a conviver com

um gato, vemos que ele é companheiro do jeito dele. Walter (2004) diz ainda: “Na

opinião de Nise da Silveira, o ser humano não gosta do gato porque ele é muito

dono de si, tem muita autonomia. E o ser humano não gosta muito de quem tem

autonomia”.

“...o gato é um ser essencialmente livre, e essa liberdade desafia o homem” (SILVEIRA, 1998, p.27)

De tudo o que vimos é possível inferir que dentro das características específicas

existentes no comportamento de cães e gatos, o cão nos remete à prosa, e o gato

nos remete à poesia. E quando falamos na utilização dos mesmos em um

processo terapêutico, de acordo com essas características específicas de cada

espécie, podemos adequar à necessidade de cada indivíduo.

21

1.4 – ATIVIDADE E TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS - A/TAA

1.4.1 – Terminologia da Atividade e Terapia Assistida por Animais - A/TAA

Como colocado por Dotti (2005), nas décadas de 60, 70 e 80, muitos foram os

termos utilizados para se definir a realização de trabalhos com animais e muitos

nomes foram dados à interação entre o homem e o animal. Com o intuito de

profissionalizar e dar credibilidade a este trabalho tornou-se necessário

estabelecer um padrão, uma definição para certos termos que vinham sendo

empregados, muitas vezes, de maneira inadequada. Muitos termos antigos ainda

constam em artigos e trabalhos da década passada tais como: Pet Terapia,

Terapia com Animais, Terapia Facilitada por Animais, Terapia Mediada por

Animais, Visitas com Animais, Zooterapia, Cinoterapia (apenas com cães) etc.

Estes termos não devem mais ser utilizados, pois, são ultrapassados e a sua

utilização pode comprometer, limitar e até invalidar o conteúdo do próprio trabalho

no qual forem mencionados.

A utilização dos termos internacionais facilita a comunicação entre as instituições

e faz com que, por exemplo, os trabalhos realizados no Brasil utilizem uma

terminologia única. A partir de então, podem ser divulgados e, posteriormente,

estabelecer um possível intercâmbio de informações, convênios e parcerias, em

nível mundial.

A confusão causada pela má utilização das terminologias relacionadas ao trabalho

com animais é clara. Pet Terapia, por exemplo, pode sugerir uma terapia para

animais de estimação, com problemas comportamentais, trabalho este que é

desenvolvido por profissionais como psicólogos comportamentais e zootecnistas.

Como a tradução de Pet sugere animais de estimação, a terminologia empregada

exclui um trabalho com qualquer outro tipo de animal, por exemplo, os de fazenda.

Zooterapia pode significar a utilização de elementos químicos de animais ou

22

insetos, para uso da medicina. Os outros termos utilizados também estão fora dos

padrões internacionais que foram criados com bases sólidas, resultado de

trabalhos e pesquisas.

Sendo assim “Delta Society”, uma organização internacional sem fins lucrativos,

criada em 1997, com a finalidade de fomentar a melhora da saúde do homem,

promover a sua independência e melhorar a má qualidade de vida utilizando-se do

auxílio dos animais, definiu de uma forma um tanto quanto objetiva a interação

entre homens e animais. Diferenciando bem a AAA - Atividade Assistida por

Animais e TAA – Terapia Assistida por Animais.

1.4.1.1 – AAA (Atividade Assistida por Animais)

Abrange a visitação, recreação e distração através do contato entre animais e

pessoas. Segundo Dotti (2005), esse tipo de atividade pode ser reproduzido com

pessoas diferentes, sem obrigatoriamente utilizar-se de um programa oficial. São

atividades na qual profissionais treinados, donos ou “condutores”, levam seus

animais às instituições, ou locais públicos esporadicamente sem um objetivo claro,

sem o resultado de uma análise dos pacientes, seu histórico (ocupacional, escolar

familiar) e seu perfil. Estas atividades desenvolvem o início de um relacionamento

e estabelece uma contingência de divertimento, brincadeira, passa tempo,

oportunidades de motivação, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida,

tornando a pessoa mais alegre, e saudável. Essas atividades têm um grande

potencial para se transformarem em Terapia Assistida Por Animais.

23

1.4.1.2 – TAA (Terapia Assistida por Animais)

Envolve uma equipe multidisciplinar, ou seja, serviços profissionais da área de

saúde e educacional como médica, psicológica e outras, que utilizam o animal

como parte do trabalho e do tratamento. Nesse tipo de trabalho que tem como

objetivo promover a saúde física, mental, social, emocional e/ou melhorar as

funções cognitivas, é necessariamente acompanhada pelo proprietário ou

condutor, tem objetivos claros e dirigidos, é um processo terapêutico formal com

procedimentos e metodologia, amplamente documentado, planejado, tabulado,

medido e seus resultados avaliados. Todos os progressos são verificados,

documentado e reavaliados com a finalidade de se atingir os objetivos de

tratamento. Pode ser desenvolvida em grupos ou de forma individual.

Dra. Nise da Silveira já falava sobre essas duas práticas separadamente, sem

citar terminologias:

“Há animais que permanecem no hospital em sua função de co-terapeutas e outros que participam de visitas organizadas a hospitais a fim de levar vida e calor a esses frios lugares”. (SILVEIRA, 1992, p. 53).

Para maiores esclarecimentos, podemos perceber que sempre é citado “animais”

para o uso da A/TAA, em um sentido mesmo bem amplo. Podem então participar

nesse contexto animais domésticos como cães, gatos, passarinhos, coelhos;

animais de fazenda, como bois, cavalos (prática denominada como Equoterapia) e

até granjeiros ; animais aquáticos como golfinhos e peixes; e também com répteis,

anfíbios e artrópodes que são animais exóticos e silvestres (serpentes, lagartos,

quelônios, jacarés, caranguejeiras, escorpiões, baratas gigantes). Vale ressaltar

que os últimos citados devem ser animais impreterivelmente de origem legal. O

biólogo professor Del Nero (2006), acrescenta que o ato de acalmar um animal

amedrontado e conseguir sua confiança e tranqüilidade é a melhor forma de se

trabalhar com nossos próprios temores e ansiedades, e que estudos mostram que

24

para determinado grau de autismo e outras enfermidades, em que o temor

domina, se amenizam quando o paciente entra em contato com um ser mais

assustado do que ele.

1.4.2 – História da Atividade e Terapia Assistida por Animais - A/TAA

Gérson Dotti (2005), conta que existem registros no século IX a.C., nos quais

Hommer escreveu sobre Asklépios, o Deus Grego da saúde. Asklépios e seus

cães sagrados tinham o poder divino, acreditava-se naquela época que a cegueira

poderia ser curada depois que a pessoa fosse lambida por um cão sagrado.

Havia uma crença também, na época Medieval, que, se uma pessoa pudesse ficar

louca, carregando um cão, esta podia se prevenir desse mal. Há registros, no

século IX sobre a utilização de animais em Gheel, na Bélgica, em uma região de

fazendas, muitas famílias residentes na cidade transferiam as pessoas com

deficiências para esta região, na qual elas tinham como atividade cuidar de

animais. Alguns registros mostram, no decorrer do tempo, o uso de animais em

terapias com pacientes em condições sub-humanas e em asilos com pessoas

esquizofrênicas (William Tuke na Inglaterra, Yorkshire). Em 1972 pela Society of

friends, the York Retreat, aprender a controlar o animal era à base do tratamento,

The York Retreat tornando-se um modelo para outras entidades. Na Alemanha em

Bielefeld, no ano de 1867 foi fundado um centro de tratamento residencial para

epiléticos que segundo registros oficiais também utilizava animais. Em 1919, nos

EUA, o Hospital St. Elizabet, em Washington D.C., desenvolveu trabalhos com

animais para auxiliar o tratamento de homens com problemas mentais.

O primeiro programa organizado nos EUA que utilizou animais, foi em 1944 no

Army Air Corps Convalescent Center, em Pauling, Nova Iorque. Este programa,

que tinha como objetivo a reabilitação de soldados era patrocinado pela cruz

25

vermelha, trabalhava utilizando diversos tipos de animais, como cães, cavalos e

animais de fazenda para tratamento de seus pacientes. Estes eram encorajados a

interagirem com os animais, como forma de diversão nos intensos programas

terapêuticos, onde o mesmo acabou após a segunda guerra mundial.

Em tempos mais recentes foi o psicólogo norte-americano Boris M. Levinson, na

década de 60, mais precisamente em 1972, quem trouxe para a ciência e a

prática, a riqueza do potencial terapêutico das relações entre crianças e animais.

Em seu trabalho ele observou que a natureza do vínculo entre pessoas e animais

era de uma qualidade diferenciada. Boris foi considerado o precursor da A/TAA.

1.4.2.1 – Início da Atividade e Terapia Assistida por Animais - A/TAA no

Brasil

No Brasil, a psiquiatra Nise da Silveira conduziu nos anos 50 um trabalho pioneiro

com pacientes esquizofrênicos introduzindo animais, aos quais ela chamou de co-

terapeuta no tratamento. Ela relatou a facilidade com que pacientes com

dificuldade de contato com o mundo externo se vinculavam a cães. A partir daí

todo um campo de atuação e pesquisa foi inaugurado, e se encontra atualmente

em amplo crescimento.

“Excelentes catalisadores são os co-terapeutas não humanos. Desde a adoção da pequena cadela Caralâmpia (1955) por um doente que freqüentava uma de nossa oficinas, verifiquei as vantagens da presença de animais no hospital psiquiátrico. Sobretudo o cão reúne qualidades que o fazem muito apto a tornar-se um ponto de referência estável no mundo externo. Nunca provoca frustrações, dá incondicional afeto sem nada pedir em troca, traz calor e alegria ao frio ambiente hospitalar. Os gatos têm um modo de amar diferente. Discretos, esquivos, talvez sejam muito afins com os esquizofrênicos na sua maneira peculiar de querer bem”. (SILVEIRA, 1981, p. 81)

26

De acordo com a citação de Nise da Silveira, autora de importância fundamental

para o pioneirismo inclusive da Terapia Ocupacional, podemos perceber o quanto

um animal pode ajudar em um processo de cura.

O projeto de trabalho no Centro Psiquiátrico Pedro II não tinha a intenção de

proteger o animal. O propósito era colocá-lo em relação com o homem. Doar afeto

aqueles seres solidários aos quais muito poucos homens e mulheres sequer

dirigiam uma palavra ou um gesto amigo. Foi observado que os resultados

terapêuticos das relações afetivas entre animal e o doente, infelizmente ainda não

era cultivada. A preocupação dos terapeutas, ao contrário, afastava o animal do

doente, sob alegações inconscientes. Compensadoramente, amigos distantes da

Dra. Nise foram solidários: o prof. Boris Levinson, psicanalista americano,

comentou por carta esses fatos ocorridos no Brasil, como a expulsão, o

envenenamento ou morte contra os animais. Eis um trecho da carta: “Sem dúvida,

para muitos desses doentes, os animais eram sua única linha de vida para a

saúde mental” (Levinson,1956). Outro pesquisador, da universidade do estado de

Ohio, prof. S. Corson, enviou resultados de pesquisas com esquizofrênicos e cães

desenvolvidas por ele e sua equipe “com extremo rigor para estabelecer princípios

e limites no uso de animais em psicoterapias” (Corson, S. Pet – Psycbotherapy,

Departament of Psychiatry, Ohio State University, EUA, 1974). Apenas dois não

melhoraram, dentre trinta casos citados.

O que se tem observado é que animais como cães, gatos, peixes e pássaros são

requisitados como novos co-terapeutas em hospitais franceses, canadenses,

americanos e suíços, depois de ter sido constatado que eles são indispensáveis à

melhora ou a cura de portadores de várias doenças. (Ferraz, S. – Jornal do Brasil,

10/05/1990).

Na década de 50, Dra Nise fez especialização na Suíça, onde conheceu Jung, o

mestre dos símbolos, este troca informações com Dra. Nise, o que segundo Dotti,

facilita a compreensão da dinâmica dos processos internos do ser humano,

27

tratando do estudo dos temas míticos, os quais foram fundamentais para o avanço

do trabalho com esquizofrênicos na Terapia Ocupacional de pintura que ela

também havia criado.

Dra Nise, era amiga do Dr. Boris, e ambos discípulos de Jung. A teoria Jungiana

foi um instrumento em comum nos dois trabalhos, além de outras informações em

comum. Trabalha com diversos conceitos pertinentes aos símbolos que os

animais representam à humanidade, utilizando-se bastante da mitologia. Como

uma forma ilustrativa, daremos alguns exemplos a este respeito. Segunda Jung o

simbolismo do gato é a inteligência, e o do cavalo a força vital e instintiva do ser

humano. No Cristianismo também encontramos alguns símbolos. O burro aparece

nas cenas do nascimento de Jesus, e na entrada de Cristo em Jerusalém,

simbolizando a humildade. O camelo é a realeza e a dignidade. O cordeiro

simboliza o próprio filho de Deus. O galo a encarnação da vigilância. Da paz e da

pureza, o símbolo é a pomba. E o cão simboliza a fidelidade verdadeira, surgindo

junto a S. Domingos, frade da ordem dos dominicanos, cuja palavra Domini canes

significa ´cães do senhor`. Podemos inclusive usar dessas informações para fazer

uma análise de atividade realizada em uma cessão terapêutica, mesmo não

utilizando o animal como recurso. Onde através desses simbolismos a pessoa

assistida pode transmitir algo do inconsciente.

Dotti (2005) sugere, então, que o trabalho de Dra Nise influenciou o Dr. Boris que

posteriormente, dedicou todos os seus estudos a este campo da prática da

Psicoterapia com a inserção do animal junto às crianças.

Diante desta vasta informação, Dotti levanta uma questão: porque a Dra Nise da

Silveira nunca foi considerada em nenhuma literatura fora do Brasil? Porque o Dr.

Boris, não faz menção aos seus conhecimentos dos estudos feitos no Brasil, visto

que no livro Imagens do Inconsciente há um relato no qual ele e o Dr. Corson

mostram claro interesse pelos co-terapeutas do Engenho de Dentro?

28

Trata-se de um fato digno de nota o trabalho da Dra. Nise da Silveira, hoje,

considerada a pioneira na Atividade e Terapia Assistida por Animais - A/TAA no

Brasil, ela fez também parte do pioneirismo internacional nesta área. E dentro

dessa constatação grandiosa cabe a nós questionar: Se a própria pioneira da

Terapia Ocupacional em Saúde Mental no Brasil é também a pioneira da Atividade

e Terapia Assistida por Animais - A/TAA no Brasil, porque esse tema não é

abordado na metodologia de ensino e não está na grade curricular dos estudantes

da área de Terapia Ocupacional ao menos como um dos recursos possíveis a

serem utilizados nas terapêuticas?

A professora Maria de Fátima Martins (2004) ressalta a necessidade de que mais

trabalhos sejam desenvolvidos, trabalhos estes que comprovem através de

parâmetros fisiológicos cientificamente mensurados e que atestem os benefícios

de Terapia Assistida por animais.

No Brasil alguns grupos vêm se estruturando no decorrer dos últimos oito anos e,

se comparados aos quarenta anos de registros pelo mundo afora, fica fácil

observar como estamos um tanto quanto aquém destes números e o quanto ainda

precisa ser feito.

1.4.3 – Efeitos fisiológicos causados pela Atividade e Terapia Assistida por

Animais - A/TAA

Dotti (2005) ressalta em seu livro alguns estudos mais complexos que têm

confirmado efeitos fisiológicos positivos nas pessoas que interagem com animais.

“As investigações sobre os efeitos positivos que os animais podem ter no ser humano é um trabalho que ainda merece muita pesquisa e deve ser desenvolvido com todas as implicações científicas. Por mais que tenhamos a convicção, dos efeitos positivos do relacionamento com os animais

29

devemos ter uma avaliação científica para validar o processo perante a comunidade médica e descobrir que estas emoções positivas não acontecem acidentalmente e sim são resultados de uma transmutação química em nosso organismo e geram processos psicológicos. A comunidade científica precisa de dados fisiológicos e parece que estamos num patamar em que o homem vai poder comprovar fisiologicamente todas as implicações do homem com o animal”. (DOTTI, 2005, p.?)

Segundo Dotti (2005): O Journal of the American Association of human-animal

bond veterinarian –AAHABV, de 2001, menciona alguns resultados já alcançados

pelas pesquisas de dois médicos da África do Sul. O prof. Johannes Odendaal e a

Dra. Suzan Lehmann obtiveram ótimas respostas sobre estes mecanismos. Tanto

nos humanos quanto em cães há uma mudança hormonal benéfica que ocorre

nas endorfinas Beta, phenilatalamina, prolactina, dopamina e oxitocina dentro de

uma interação positiva de quinze minutos com um animal. A liberação dessas

substâncias químicas não somente faz as pessoas felizes, mas também diminuem

o hormônio de estresse, que é o cortisol.

Num estudo piloto eles começaram a caracterizar os efeitos normalizantes que o

animal associado à terapia, tem sobre os aminoácidos dos neurotransmissores em

pessoas deprimidas. Pode-se observar uma alteração química no organismo do

paciente, onde endorfinas são produzidas pelo sistema imunológico. Numa

situação de estresse ocorre justamente o contrário, onde há uma eliminação pelo

organismo dessas substâncias. Essas descobertas poderão ser empregadas em

futuro próximo para um diagnóstico mais profundo do Câncer, que está

diretamente ligado à saúde do sistema imunológico.

Um dos últimos estudos do Dr. Odendaal envolveu seis participantes clinicamente

depressivos, os quais receberam a visita de cães por trinta minutos diariamente. O

sangue das pessoas do grupo, antes de receberem a visita dos cães, foi medido e

apresentou baixo nível de aminoácidos, de precursores químicos, que criam o

prazer e a alegria, a serotonina, phenylethylamine e dopamina. Após a introdução

dos cães no trabalho, os precursores do aminoácido dessas substâncias químicas

30

aumentaram no soro do sangue. As pessoas relataram que se sentiam menos

deprimidas. É o que relata Dr.Marty Becker sobre os animais domésticos:

“Os bichos de estimação diminuem nosso estresse, baixando a freqüência cardíaca, a pressão arterial e até o colesterol. Quem os possui faz menos visitas médicas, permanece menos tempo no hospital e tem mais facilidade de adaptação a uma nova rotina de recuperação, depois de uma doença. Os bichos combatem a depressão e o isolamento, favorecendo a aproximação entre as pessoas e proporcionando-lhes um assunto que não a doença”. (BECKER, 2002, p.17)

Uma aproximação forte entre o homem e animal se dá através do toque que

desencadeiam várias reações importantes no corpo. A pele é o maior órgão do

corpo e a mais complexa fonte sensorial que envia informações ao cérebro. Além

de informar o toque, anuncia também dor, temperatura e pressão. Com base em

todos estes elementos combinados, o cérebro libera hormônios endócrinos que,

em última instância, controlam o sistema imunológico. Um cérebro confuso e

ansioso envia mensagens desarranjadas, confundindo o sistema imunológico. Um

cérebro relaxado e equilibrado permite que o corpo e a mente trabalhem em

natural harmonia. Esse mecanismo explica porque o sentimento de amor tem o

poder de cura. (Becker, 2002).

O professor Warwik Anderson observou, num estudo com a amostra de mais de

6.000 pessoas, que os proprietários de cães e gatos tinham significativamente

menos taxas de trigliceres e colesterol do que os não proprietários. Considerando,

nos dois grupos, outros fatores de risco como: hábito de fumar, exercícios, etc.

Um estudo de grande escala na Austrália mostra a interação entre os proprietários

de animais de estimação e vantagens para a saúde física e fisiológica. Foi

reportada uma associação entre os proprietários e os baixos índices de fatores

para doenças cardiovasculares. Níveis mais baixos de plasma, trigliceres,

colosterol e pressão sanguínea sistólica foram descobertos em proprietários

principalmente entre os homens.

31

Um estudo realizado por Friedmann e Tomas (1983), possibilitou que fosse

observado que, proprietários de cães tinham uma sobrevida maior depois de um

ataque do coração do que não proprietários.

Todos estes estudos recentes indicam que a interação homem-animal tem como

conseqüência favorável níveis de lipídeos no sangue, glicose, bem como

influencia positivamente a produção pelo corpo de substâncias que estimulam o

sistema imunológico e auxiliam no alívio da dor, promove uma sensação de bem

estar, diz o professor Sam Ahmedzai, da Palliative Medicine at Sheffield Universit

Medical School.

1.4.4 – Funcionamento e contra-indicação da Atividade e Terapia Assistida

por Animais - A/TAA

Como hoje ainda existe uma certa resistência e até preconceito na utilização de

animais principalmente em instituições como Hospitais, onde é grande o risco de

contaminação e infecção caso não se mantenha um forte controle de higiene, já

que estamos falando de pessoas imune deprimidas, segue a seguir

esclarecimentos para desmistificar condutas pré-estabelecidas.

A organização “Delta Society”, oferece certificado a voluntários que queiram

trabalhar com AAA (Atividade Assistida por Animais) ou TAA (Terapia Assistida

por Animais). Os voluntários, tanto homens quanto cães, são treinados de seis

meses a um ano e recebem seu credenciamento após serem avaliados em uma

série de itens, como o comportamento do cão, sua relação com o dono, etc. São

chamados de Pet Partnes e podem trabalhar isoladamente ou em grupo.

32

Os animais que participam do atendimento como co-terapeutas são sempre

acompanhados por um veterinário ou adestrador que ficará responsável pelo

animal, sendo que o profissional da área de saúde ou educacional ficará

responsável estritamente pelo cliente, podendo claro haver uma inter-relação entre

eles. O responsável pelo animal acompanha o comportamento e sinais do mesmo,

podendo inclusive evitar possíveis acidentes. O Médico veterinário responsável

pelo animal fica incumbido de atualizar sempre as vacinas e acompanhar a saúde

do animal. E é importante ressaltar que antes de todos os atendimentos o animal

passa pelo processo de um banho. Todo esses processos evitam qualquer

possibilidade de má condição da saúde e higiene do animal, ficando assim apto

para entrar inclusive em áreas de grande risco como CTI´s.

Assim como durante essa prática da Atividade e Terapia Assistida por Animais -

A/TAA, visamos o bem estar e um aprimoramento no comportamento humano,

tanto físico, emocional e social, não podemos nos esquecer de também visar o

bem estar do animal. Ele exerce um precioso trabalho ao homem, e não deve ser

tratado apenas como uma simples ferramenta de trabalho, e sim pelo que ele é,

um ser vivo de altíssima sensibilidade. A pessoa responsável pelo animal saberá

medir quando o animal precisa beber água por exemplo, ou quando precisa sair

um pouco do ambiente por estar cansado, e outros, respeitando também suas

necessidades básicas.

“O animal é mais um recurso terapêutico e é importantíssimo para a terapia. Contribui muito para a modificação de comportamento. Por tudo isso, devemos tratá-lo com profundo respeito”. (DOTTI, 2005)

Precavendo possíveis acidentes tanto para o bem estar animal quanto do humano,

entramos na parte de contra indicações do uso da Atividade e Terapia Assistida

por Animais - A/TAA. Sendo assim, é contra indicado para aqueles pacientes que

não conseguem de forma alguma aceitar animais, têm medo ou não gostam,

reagindo de forma agressiva podendo denegrir a saúde do animal. E ainda assim

pode ser feito um trabalho de adaptação em relação a essa não aceitação do

33

animal, uma vez que esse sentimento pode ser uma projeção de algo interno da

pessoa, algo que não dá conta de falar. É também contra indicado àqueles

pacientes com problemas respiratório e alergia à proteína que existe na saliva do

gato, ou a pêlos. À pacientes em que a família apresenta um pré-conceito com

animais, podendo também ser trabalhando, incluindo inclusive o contexto familiar

no tratamento. Inicialmente é contra indicado também para pacientes com

tendências à possessão por objetos e animais, por ser um ser vivo e colocando

em risco a vida do animal, porém, com um bom monitoramento e

acompanhamento, esse fator pode ser desconsiderado.

1.4.5 – Principais enfoques da A/TAA e área de atuação

Dotti (2005) ressalta dois enfoques importantes e distintos que devem ser tratados

na A/TAA:

1- Os efeitos que os animais exercem sobre os aspectos físicos e mentais do

paciente, aspectos estes que podem ser medidos, mensurados, possibilitando um

resultado preciso e uma direção a um determinado objetivo e acompanhamento

profissional.

2- Os efeitos sobre os aspectos emocionais e sociais são mais espontâneos e

muitas vezes até inesperados pois, o simples fato da presença do animal, pode

gerar algum resultado. Este processo pode acontecer independentemente do

primeiro aspecto citado.

“O animal é o agente facilitador para a terapia, ele pode ser considerado a ponte entre o tratamento proposto e o paciente. E é nessa ponte que se dá o encontro entre os profissionais, colaboradores e pessoas. O animal é o instrumento mais valioso entre o mundo isolado da pessoa e o mundo social em que ela vive, é ele quem dá ressonância aos sentimentos e abre portas. É aquela parte de todos nós que ainda não está contaminada por conceitos imposições, é espontânea, e de algum modo transforma sentimentos”.(DOTTI, 2005, p.34).

34

A convivência com o animal, e a experiência adquirida com o tempo de trabalho

com A/TAA, possibilita que o profissional, independente da área: Terapeuta

Ocupacional, Psicólogo, Fisioterapeuta, Adestrador, Médico, etc., desenvolva um

sentimento, uma emoção, uma habilidade na lida com os animais, e cada vez mais

estes profissionais conseguem se utilizar das opções terapêuticas que estes

animais oferecem tanto nos aspectos mensuráveis, quanto nos aspectos

espontâneos.

Estes dois enfoques acima citados funcionam, promovendo mudanças nos

comportamentos através dos animais, mudando o ambiente e influenciando

positivamente a utilização e descobertas de novas técnicas para determinados

objetivos.

“Existem muitos relatos de pessoas que não pronunciavam uma palavra sequer durante uma sessão inteira de psicoterapia e logo após a introdução de um cão na sala, ou outro animal, começaram a travar uma conversa isolada com o animal, e depois aceitaram a participação do profissional”. (DOTTI, 2005)

Jérson Dotti, fundador do projeto cão do idoso, mostra claramente um exemplo de

uma situação na qual o animal funcionou, literalmente, como um facilitador na

sessão terapêutica. Situações deste tipo, ou seja, situações nas quais um animal

auxiliaria na busca de um objetivo terapêutico, podem acontecer de inúmeras

formas, tanto em nível clínico, quanto em nível institucional. Vale lembrar que

muitas vezes os pacientes de uma determinada instituição já possuem animais de

estimação em seus lares e, tendo em vista o conhecimento acerca dos benefícios

trazidos pela interação homem-animal, a instituição pode utilizar da presença

destes animais, na casa dos pacientes, como uma forma de buscar estes

benefícios, de uma força em potencial, que pode estar sendo desperdiçada, ou

mal utilizada.

35

Martins (2004) aponta em seu artigo, que são três as áreas em que a terapia

assistida por animais pode atuar. São elas: A área da saúde, para pessoas

portadoras de deficiência física, mental ou genética; Na área educacional, para

pessoas com necessidades educativas especiais ou não; E/ou na área social, para

pessoas estressadas ou com distúrbios comportamentais.

1.4.6 – Resultados positivos e a expansão desta idéia: A mídia e os projetos

em andamento no Brasil

O auxílio de animais em terapias e nas práticas cotidianas sociais é um assunto

que vem sendo aos poucos discutido e veiculado pelos meios de comunicação.

Têm mostrado resultados eficientes e cada vez mais, aparecem como uma

realidade próxima, porém ainda pouco explorada no Brasil. A estatística de 2007

faz referência a 15.000 grupos atuando em 50 estados norte-americanos e quatro

países, ajudando cerca de um milhão de pessoas. Estima-se que nos EUA haja

cerca de 18.000 cães registrados para o trabalho com Atividade e Terapia

Assistida por Animais - A/TAA (Site: Therapy Dogs International, Inc.). Sendo

assim, é importante haver pesquisas buscando mostrar as possibilidades da

inserção do animal no tratamento de Terapia Ocupacional, podendo possibilitar

uma continuidade deste processo de crescimento desta prática no Brasil, abrindo

cada vez mais este leque de alternativas que existem neste “novo” campo de

atuação.

Um exemplo claro de veiculação do assunto na mídia, foi a novela da Globo,

América, onde o personagem Jatobá, vivido pelo ator Marcos Frota teve o auxílio

de um cão para guiá-lo, auxiliando-o a superar as dificuldades impostas pela sua

deficiência visual.

36

Um estudo britânico revelou que os cães podem ser o segredo da saúde e da

felicidade porque estimulam seus donos a levá-los para passear diariamente

quaisquer que sejam as circunstâncias ou seu humor, é o que diz uma matéria do

Jornal Hoje em Dia, publicada no dia 08/11/2006, Cães, o segredo da saúde e da

felicidade.

Nathália Bini escreve uma matéria falando sobre a criação de uma ONG – Cães

de Terapia de Minas Gerais, onde os animais auxiliam tanto as pessoas

hospitalizadas (às sextas-feiras no Hospital da Baleia - BH), quanto em crianças

em escolas (Bairro Carlos Prates - BH).

Uma grande matéria na revista Veja – Humanos & Caninos – Uma história de

amor, publicada em Janeiro de 2007, revela claramente os benefícios que um

animal pode exercer ao humano, citando inclusive grandes pesquisas sobre o

assunto:

“Para os humanos, o convívio com os cães gera benefícios hoje mais que comprovados à saúde e à mente. Nos últimos anos, os cientistas trouxeram à tona fartas evidências disso. Já se mostrou que as crianças que interagem com eles desenvolvem a coordenação motora e as habilidades sócio-emocionais mais rapidamente. Os idosos também tiram proveito desse relacionamento. Uma pesquisa americana revelou que, para as pessoas entre 65 e 78 anos, a companhia de um cão contribui decisivamente para evitar a depressão e o isolamento. E, por fim, essa amizade pode ser útil para os doentes. Um exemplo: a pesquisadora Karen Allen, da Universidade do Estado de Nova York em Buffalo, verificou que pessoas com hipertensão que têm cachorros sofrem menos crises em situações de stress”. (TEIXEIRA, 2007, p.72)

Outra grande reportagem foi publicada no jornal Estado de Minas, no domingo, 20

de Janeiro deste mesmo ano, com o título de Cães Terapeutas, falando sobre um

projeto desenvolvido na Universidade de Brasília. O responsável pela implantação

do projeto foi o geriatra Renato Maia, Chefe do Centro de Medicina do Idoso e

presidente da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria. Ele afirma que

37

os animais têm lugar de destaque na reabilitação de idosos e, fundamentalmente,

na promoção do bem-estar dos mais velhos. (Maia, 2008)

Outro aspecto interessante citado na mesma reportagem é que após trinta minutos

de atividade proposto para o grupo acometidos pela doença de Alzheimer, de

jogar bolinhas pro cão, dar biscoito, ver a foto do animal e lembrar seu nome,

entre outras, percebeu-se grandes mudanças no comportamento dos idosos

inclusive no âmbito de interesse geral, é o que comprova o relato:

”o restante melhorou sensivelmente a participação no grupo, o que se refletiu na socialização. Todos apresentaram maior disposição para outras atividades terapêuticas, como estimulação cognitiva, a partir do cultivo de plantas em vasos, terapia ocupacional e fisioterapia”. (JANUZZI, 2008, p.3)

Na revista Veja no dia 24 de novembro de 2004, Thereza Venturoli escreve uma

belíssima reportagem com o título de Dez mil anos de amizade – Esse é o tempo

comprovado da aproximação entre homens e cães – símbolo da relação

complexa, apaixonada, utilitária ou até cruel dos humanos com as outras espécies

animais.

“Pesquisas demonstram que crianças que têm um bichinho por companhia desenvolvem mais rapidamente suas habilidades cognitivas e sócio-emocionais: as mascotes incentivam a comunicação e a responsabilidade dos filhotes humanos e facilitam sua convivência com os demais membros de seu grupo” (VENTUROLI, 2004, p.116)

É importante que o assunto tratado se expanda ao máximo na mídia, chegando

inclusive ao conhecimento dos possíveis interessados a serem assistidos por essa

idéia. E assim, quebrando inclusive preconceitos já estabelecidos , encontrados

nos métodos tradicionais de tratamento.

Como já falado anteriormente, a A/TAA abrange qualquer animal que seja

capacitado para atender as demandas necessárias em um atendimento

38

terapêutico, e diante disso um novo projeto está sendo ampliado para mais uma

expansão de possibilidades dentro da A/TAA. Trata-se do Projeto Dr. Escargot1

como catalisador do ensino em escolas. O mesmo prevê a expansão para os

serviços de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, juntamente com o

de Psicologia, para crianças e adolescentes.

1 Projeto Fundado em Agosto de 2000, tendo como coordenadora a Professora Maria de Fátima Martins com o objetivo de desenvolver a A/TAA, na USP / São Paulo, S.P.

39

CAPÍTULO 2: A TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS NA TERAPIA

OCUPACIONAL

Antes de falarmos sobre a relação da Terapia Assistida por Animais e a Terapia

Ocupacional, daremos uma breve definição sobre a profissão de forma que facilite

a compreensão para o leitor.

Dentro de um modelo reducionista, segue definições de Terapia Ocupacional:

“É um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia das pessoas que, por razões ligadas à problemática especifica, físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e/ou sociais, apresentam, temporariamente ou definitivamente, dificuldade na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso da atividade, elemento centralizador e orientador, na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico”. (CAVALCANTE E GALVÃO, 2007, p.70)

O tratamento da Terapia Ocupacional tem como objetivo maior, desenvolver e

melhorar as habilidades das pessoas no desempenho das atividades que são

importantes para elas. A Terapia Ocupacional pode realizar uma diversidade de

procedimentos e intervenções durante o tratamento, desde o desenho e

desenvolvimento de uma tala até a coordenação de um grupo de controle de

estresse, isso tudo dependerá da necessidade geral da pessoa a ser tratada.

“Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de ajudar pessoas a realizar as atividades diárias que são importantes para elas, apesar de debilidades, incapacidades ou deficiências. Ocupação em Terapia Ocupacional não se refere simplesmente a profissões ou a treinamentos profissionais; ocupação em Terapia Ocupacional refere-se a todas as atividades que ocupam o tempo das pessoas e dão sentido às suas vidas. Na terminologia da Terapia Ocupacional, essas atividades são denominadas áreas de performance ocupacional (...) que podem ser divididas em atividades diárias, atividades

40

laborativas e produtivas, e atividade de lazer e diversão.” (WILLARD E SPACKMAM, 2002, p.3)

Conforme definição dada pela Organização Mundial da Saúde – OMS, a Terapia

Ocupacional é a ciência que estuda a atividade humana e a utiliza como recurso

terapêutico para prevenir e tratar dificuldades físicas e/ou psicossociais que

interfiram no desenvolvimento e na independência do cliente em relação às

atividades de vida diária, trabalho e lazer. É a arte e a ciência de orientar a

participação do indivíduo em atividades selecionadas para restaurar, fortalecer e

desenvolver a capacidade, facilitar a aprendizagem daquelas habilidades e

funções essenciais para a adaptação e produtividade, diminuir ou corrigir

patologias e promover e manter a saúde.

A Terapia Ocupacional está presente nas mais diversas áreas dos serviços de

saúde, sendo então uma profissão muito abrangente. Atua na área da Psiquiatria,

Pediatria, Geriatria, Reabilitação Física e mais recente passou a atuar também no

campo Educacional, na Reabilitação Profissional, com Portadores de HIV e em

Penitenciárias. Podendo trabalhar em diferentes locais, como Consultórios,

Domicílio, Escolas, Creches e Orfanatos, Asilos, Clínicas Especializadas,

Hospitais Gerais, Especializados, ou de Pronto Socorro, Ambulatórios, Instituições

Penais, Centro de Reabilitação, Centro de Saúde, Centros Comunitários entre

outros.

Como dito anteriormente, a Terapia Ocupacional baseia-se fundamentalmente no

princípio da atividade, pois é através dela que é realizada a avaliação e o plano de

tratamento. A atividade sempre é escolhida de acordo com o interesse do

paciente, apresentando um significado e tendo uma finalidade para tal realização.

Dentro dessas atividades podem conter ferramentas e equipamentos como por

exemplo fogão, geladeira, martelo, vassoura, computador, e são utilizados vários

41

recursos terapêuticos como os jogos, teatro, dança, música, brinquedos,

brincadeiras, livros, histórias, atividades artesanais, plásticas educacionais,

profissionalizantes, atividades de vida diária (vestuário, higiene, locomoção,

alimentação, comunicação), atividades de vida práticas (fazer compra, pegar

ônibus, lavar o carro), e outras. E nesse contexto vale acrescentar um animal,

como forma integrante do tratamento. Podemos dar início a essa relação de

Terapia Assistida por Animais X Terapia Ocupacional dizendo que de uma

maneira informal, esse processo já existe. A equoterapia é uma atividade hoje

presente na prática de Terapia Ocupacional, e sendo um recurso terapêutico que

utiliza o animal como facilitador desse meio, faz parte então da Terapia Assistida

por Animais. É reconhecido e prestigiado principalmente pelo benefício que o

cavalo remete através de sua andadura, que ao se deslocar promove estímulos

crânio/caudal, látero/lateral, antero/posterior, além de proporcionar várias

atividades lúdicas. Porém apresenta uma limitação por ser um recurso de alto

custo, onde poucas são as pessoas que conseguem ter acesso. Uma grande

vantagem de se trabalhar com um animal como cão e gato, é que além do seu

manejo ser fácil, o animal pode ser levado ao local de tratamento, sendo clínicas,

instituições, escolas, domicílio, e outros.

Podemos citar inúmeras questão possíveis a serem trabalhadas pelo profissional

da área, tendo o animal como um recurso terapêutico. Porém, nosso objetivo não

é definir e exemplificar a Terapia Assistida por Animais - TAA em toda a dimensão

dessa profissão, uma vez que, como já dito anteriormente, as áreas de atuação, o

tipo de patologia e necessidades especiais com que a Terapia Ocupacional lida, é

muito abrangente. Lembrando que o profissional usando da criatividade, pode

incluir a Terapia Assistida por Animais - TAA em toda essa dimensão, claro indo

de acordo com a demanda de cada plano de tratamento.

O animal pode facilitar no processo de atenção e acolhimento ao paciente, pois

quando a pessoa assistida percebe que o “animal é do bem” cria automaticamente

uma confiança pelo terapeuta, dando o aval de que o mesmo também é do bem,

42

surgindo uma boa transferência Paciente X Terapeuta. Segundo a autora Eliane

Dias de Castro apud Cavalcanti e Galvão (2007), a atenção e o acolhimento

remetem ao terapeuta à imagem de uma porta, momento em que se abre no

relacionamento com o outro uma maneira de falar, de escutar e de proceder.

Apenas pelo fato de ter um animal nesse acolhimento, já faz com que surjam

interesses e assuntos. O animal atua e muda o ambiente de cura, e a presença de

um terceiro promove uma descontração. E partindo do pressuposto que a Terapia

Ocupacional auxilia pessoas muitas vezes discriminadas por suas dificuldades

e/ou limitações, o melhor e maior conforto encontrado é que o animal ouve, sem

julgar, e não faz qualquer restrição, transmitindo um conforto enorme. É o que

enriquece Grogan fazendo inclusive uma crítica sobre o que deveria ser realmente

importante na vida para os seres humanos:

“um cão não julga os outros por sua cor, credo, classe, mas por quem são por dentro. Um cão não se importa se você é rico ou pobre, educado ou analfabeto, inteligente ou burro. Se você lhe der seu coração, ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas mesmo assim, nos humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não”. (GROGAN, 2006, p.258).

Como na prática da Terapia Ocupacional o recurso é a atividade humana para

avaliar e tratar os pacientes, essas atividades precisam ser adequadas e

interessantes para os mesmos, de forma a prenderem sua atenção. Assim como

tantas outras já são, as atividades realizadas com animais, sugere uma forma

lúdica, diferente e até real de lidar com as situações e tratamento.

O animal também pode favorecer na auto-expressão e relaxamento do paciente.

Segundo a autora Cavalcanti (2007), o brincar e o lazer são atividades

desempenhadas espontaneamente e estão presentes nas áreas de ocupação

tanto das crianças como dos adultos, sendo executadas a partir de uma motivação

interna do indivíduo. Uma vez que o paciente adere à situação proposta, o

43

atendimento passa então a ser divertido e dinâmico. E a presença do animal,

emerge emoções e idéias.

Dentro da intervenção da disfunção ocupacional, o animal pode auxiliar no

processo das Atividades de vida diária – AVD´s de uma forma lúdica e real. Como

por exemplo, fazer a higiene do cão, alimentá-lo, vestí-lo, penteá-lo, dar banho,

podendo auxiliar também para uma melhor mobilidade funcional. Uma vez feito e

aprendido com o outro, passa a internalizar aquele ato, podendo então fazer em si

próprio. Em algumas Atividades Instrumentais da Vida Diária – AIVD´s

(Cavalcante, Galvão, 2002, p. 49) no que diz respeito a cuidado com o outro,

cuidado de animais de estimação e domésticos, pode-se cozinhar uma comida

para o animal, harmonizar o ambiente (alguns animais podem soltar pêlos),

arrumar “uma caminha” do animal, entre outras. E principalmente nas Atividades

de Diversão e Lazer – ADL´s (Willard e Spackman, 2002, p. 03) onde o animal

pode fazer parte da mesma e até promovê-las.

O animal pode auxiliar indiretamente no contexto social do indivíduo, uma vez que

ele favorece um relacionamento entre as pessoas, por exemplo, ao sair na rua

para passear. É um primeiro passo para conseguir um bom relacionamento na

família, escola, emprego e grupos em geral.

No que diz respeito ao contexto cultural, o animal pode ser uma boa referência de

padrões de comportamento e leis vigentes pré-estabelecidas, pois há lugares

determinados em que não é permitida a entrada do mesmo, sendo que o condutor

precisa aceitar essa condição.

No campo da reabilitação física são inúmeras as formas em que o animal pode

participar e auxiliar, incluindo membro superior e inferior. Citaremos algumas

idéias. Quando o paciente afaga, penteia, lança objetos, passeia, massageia, dá

banho no animal, sempre com um direcionamento e acompanhamento, favorece

44

então a estimulação sensorial, propriocepção, a amplitude de movimento, o ganho

de força muscular, auxilia a marcha, o treino de pinça e preensão palmar.

No campo da Pediatria esse recurso fica inclusive mais satisfatório e compensador

para àquele que conduz o atendimento, pois a criança com seu jeito espontâneo

de ser, chega a incluir o animal em sua própria vida, passando a fazer parte de

seus contos de fadas e sua realidade. Segundo Becker (2003), crianças do mundo

inteiro recorrem aos seus bichos de estimação em momentos de tensão

emocional. De acordo com essa informação, podemos dizer então que essas

criaturas são um aliado para as crianças, tornando seu “portal seguro”, fato que

muitos adultos não conseguem tal confiança. O mesmo autor acrescenta que é

importante que a criança aprenda uma lição desde cedo: pôr as necessidades de

outra criatura na frente das suas, levando então a uma melhor interdependência

emocional. Em um estudo realizado no Japão e na Austrália, professores relatam

que as crianças que já havia contato mais íntimo com seu animal de estimação

apresentavam índices mais altos de liderança e altruísmo, nos sugerindo que em

um contexto de tratamento, o animal pode auxiliar crianças com características de

retraimento e depressão por exemplo. É um fato que crianças recebem cuidados,

orientações, ordens e proteções o tempo todo, mas raramente têm a oportunidade

de oferecer o que aprendem ao outro. E nesse contexto, o animal passa a ser um

aprendiz da criança, tornando-a um ser especial, importante, favorecendo sua

auto-estima, sentido de competência, auto-afirmação e senso de domínio. A

criança afasta do seu ponto de vista egocêntrico quando compreende que há uma

criatura com sentimentos diferentes do seu, e essa compreensão é a base do

desenvolvimento da personalidade. O animal favorece na decodificação e

compreensão da linguagem corporal exigindo que a criança aprenda sinais não

verbais, através da observação e atenção. Favorece para uma maior

compreensão dos sentimentos e motivos alheios sendo estimulado para “servir ao

próximo” atendendo devidamente às necessidades que são solicitadas pelos

animais. Cria uma noção de que somos seres distintos, com capacidades e

características diferentes e ainda assim podemos nos relacionar bem, sem criar

45

preconceitos devido a essas diferenças. E dentro da fantasia da criança, o animal

pode aparecer como sendo aquele personagem a quem a mesma tem dificuldades

de falar, sendo um sentimento, pessoa especifica ou acontecimento. Todas as

crianças podem ser beneficiadas com esse recurso terapêutico, independendo do

motivo de seu encaminhamento, indo desde a disfunção física, sensorial e

cognitiva como PBO - Paralisia Braquial Obstétrica, PC - Paralisia Cerebral,

(considerar também os benefícios citados na reabilitação física), Síndromes,

Atraso do desenvolvimento, até àquelas portadoras de Distúrbio de

Comportamento e Emocional como TDA - Transtorno de Déficit de Atenção,

Ansiedade, e outros. Para enriquecer e resumir sobre essa “simbiose” entre a

criança e os animais, a autora Waligora acrescenta:

“Não é à toa que as crianças se identificam com os animais porque ambos vivem tudo de forma completa, intensa, sem idéias preconceituosas e sem rigidez... É a vida na sua expressão mais pura, sem tentar agradar, sem “o que vão pensar de mim?”” (WALIGORA, 2008, p.25)

Passamos agora ao campo da geriatria onde, no decorrer do trabalho, citamos

alguns benefícios da utilização do animal com idosos. Chegada a terceira idade, a

maioria das pessoas deparam-se com uma série de sentimentos e emoções,

dúvidas, incertezas, inúmeras perdas e arrependimentos. Deparar com o

envelhecimento, dificuldades antes não existentes e doenças que aparecem, não

é um momento fácil e agradável de se viver, a menos que a pessoa passe a ter

uma outra postura e visão diante a vida. Grogan, passa-nos os aprendizados

adquiridos à medida que seu cão foi envelhecendo:

“Nunca se deter, nunca olhar para trás, viver cada dia com impulso, vivacidade, curiosidade e disposição adolescente”. Pg 178 “Marley me fez pensar na brevidade da vida, em suas alegrias efêmeras e nas chances perdidas.” (GROGAN, 2006, p.224)

46

Temos um exemplo claro de que é possível viver uma velhice com dignidade e

felicidade, é o que a maioria dos animais nos ensina enquanto vive a própria

velhice. O animal pode nos ajudar nesse processo. Tentar usar a própria

inteligência como fonte benéfica a nós humanos, ainda é mais um desafio a ser

adquirido. Ou, seja, o animal além de auxiliar em atividades, promover

descontração, gerar motivação e trazer lembranças à memória, ele ainda pode ser

referência de vida, quando utilizado na geriatria, principalmente sendo um animal

também idoso.

A presença do animal cria toda uma esfera de uma nova vivência de afeto, de

contato de uma troca verdadeira. Então podemos perceber que a presença do

animal no tratamento da Terapia Ocupacional, vai além, ultrapassa os limites já

pré-estabelecidos de conceitos e teorias, extrapola as ferramentas já existentes

pré-concebidas, vai além de um resultado mais específico. Porque a partir do

momento que se encontra a pureza do sentimento, do gesto, do carinho, do

envolvimento, surge um sentimento de igualdade no ser humano, que é um

primeiro passo para tirar o paciente do posicionamento de doente, de debilidade,

emana enfim a capacidade e as possibilidades.

Sabemos e não desconsideramos a grande importância dos métodos já

existentes, o que propomos aqui na verdade é enxergarmos a potencialidade que

o animal proporciona. A Terapia Assistida por Animais ultrapassa as ferramentas

convencionais já utilizadas pela Terapia Ocupacional, não sendo apenas um

objeto, mas sim uma vida que propicia, estimula proximidade, contato, uma troca,

uma interatividade, um vínculo, um relacionamento, uma amizade, proporcionando

um retorno mais real, fatores esses que podem estar em carência no ser humano

e em um objeto inanimado.

Sabemos que por mais que o terapeuta tenha ética, e trate o paciente com

respeito, por mais que ele ainda consiga transmitir um carinho, cuidado e

preocupação pelo mesmo, ainda assim há uma certa distância entre ambos, pois a

47

partir do momento que existe um “papel de tarapeuta” e um “papel de paciente”, já

conota uma diferença e uma certa autoridade. E sendo um mediador, um co-

terapeuta, o animal acrescenta um sentimento de amor incondicional, fato que

alguma vezes há carência até pelos próprios pais dos assistidos. E o animal

acelera incrivelmente esse sentimento de igualdade, ajudando o paciente a sair

desse papel de doente e iniciar um processo de cura.

Nos deparamos então com um recurso surpreendente, onde no ano de 1973, dito

por Dra. Nise da Silveira, foi o que transformou o velho conceito de Terapêutica

Ocupacional para Emoções de Lidar.

“Se foi um gato que levou a transformar o velho conceito de Terapêutica Ocupacional em Emoções de Lidar, surpreendentemente agora é uma gata, pintada pelo surrealista Victor Brauner, que nos oferece o mais exato conceito de esquizofrenia: uma figura feminina é metade mulher, metade gata e de seu seio nasce uma flor. Victor Brauner revela assim que conhecia as profundezas do inconsciente”. (SILVEIRA, 1998, p.31)

Citaremos por fim três artigos americanos que falam da utilização de animais na

prática de Terapia Ocupacional com o intuito de acrescentar e enriquecer esse

tema.

Velder, Cipriani e Fisher (2005), fizeram um estudo científico sobre a utilização da

A/TAA na prática da Terapia Ocupacional. Foi realizado o mesmo estudo em dois

lugares diferentes, Greenville - North Carolina e Dallas – Pennsylvania, onde em

cada um foram entrevistados seis Terapeutas Ocupacionais e três estagiários da

mesma área. O foco era pacientes idosos com problemas mentais e dificuldade de

locomoção. Os pacientes foram divididos em dois grupos, um era tratado apenas

com as medicações, o outro incluía também a TAA. Nas entrevistas, foi citado em

comum que a motivação dos idosos aumentou com a presença do animal,

pessoas que tinham recusado a participarem das atividades começaram a se

interessar quando via que tinha animais. E que os que tiveram a prática com os

animais, apresentou tolerância maior à dor e à atividade, ficando mais atentos. Os

48

autores deixam uma sugestão de que nos próximos estudos sejam avaliados

também os benefícios dessa prática de um ponto de vista dos pacientes.

Outro estudo começou através de um programa piloto , em Dezembro de 1998,

onde eram realizadas sessões mensais de Terapia Ocupacional com a presença

de cães, em um pequeno grupo de crianças, no Mary’s Hospital for Children em

Nova Iorque. Nos últimos dois anos o programa foi se desenvolvendo e passou as

visitas para três a quatro vezes por mês. E para àqueles mais acamados, é

realizada sessões individuais. Cada sessão a criança trabalha com sua Terapeuta

Ocupacional na cadeira de rodas, ou em grupo. O profissional usa uma variedade

de técnica de tratamento permitindo que a criança trabalhe com objetivos

enquanto interage com o cão. Oakley e Bardin falam sobre as crianças com

traumatismo craniano que apresentam dificuldade motora no braço, e com esse

membro escovam e alimentam o cão, como um exemplo. Falam também que

ainda podem colocar um peso para ajudar na propriocepção e no aumentar de

força muscular. Relatam que a criança fica muito motivada, ajudando a atingir e

alcançar as metas e objetivos mais rápido, com uma maior facilidade. A sessão

utilizando o cachorro facilita o desenvolvimento das habilidades necessárias para

a criança alcançar o objetivo e ter independência. Reagem com emoção e

entusiasmo e sempre aguardam com expectativa o cão terapeuta.

Allenby (2006), apresenta um outro artigo, onde logo no início questiona, se o

tratamento com a participação dos animais deve continuar auxiliando no

tratamento da saúde ou se isso é coisa do passado ficando apenas nos livros? E

se vamos dar continuidade a esse método, o que tem a ver com a Terapia

Ocupacional? Como isso pode ajudar na prática da Terapia Ocupacional? No

decorrer no estudo feito, além de citar os vários benefícios da Terapia Assistida

por Animais, mostra também como o animal auxilia no cotidiano, promovendo

responsabilidade, auxiliando nas atividades, e no campo social. O autor acredita

que os animais têm uma importante colaboração no cuidado com a saúde, e se é

aceita, os animais tem grande potencial para a saúde, bem estar e vitalidade. Diz

49

que precisamos de um novo conceito de animais, e para que isso se dê, são

necessárias mais provas, evidências, resultados de intervenções feitas pela

Terapia Ocupacional utilizando o animal como facilitador.

“If OT’s fail to keep on top of the developments in the world of ATT then we are potentially leaving the door wide open for helpers monkeys to take over our jobs”. (ALLENBY, 2006).

O autor conclui fazendo uma crítica que se a Terapia Ocupacional falhar ou não

conseguir manter o desenvolvimento da Terapia Assistida por Animais, então

estará deixando a porta aberta para que macacos ajudantes assumam os seus

empregos. (Tradução Livre)

50

CONCLUSÕES GERAIS

A partir da análise de todos os tópicos que foram abordados ao longo desse

estudo, especificamente no que diz respeito à Atividade e Terapia Assistida por

Animais - A/TAA, juntamente à atividade da Terapia Ocupacional, torna-se

possível e necessário uma conclusão mais abrangente em torno da utilização de

animais como recurso no tratamento na Terapia Ocupacional.

De forma mais ampla, podemos concluir que a Terapia Assistida por Animais é um

recurso importante para a Terapia Ocupacional, pois transpassa as barreiras

convencionais conhecidas no meio acadêmico e profissional, promovendo desta

forma uma experiência enriquecedora e dinâmica.

Com relação aos animais, pudemos perceber que o mesmo pode atuar como um

agente facilitador da relação terapeuta-paciente, a partir da escolha adequada do

animal para o público que irá atuar. Por exemplo, uma pessoa mais agitada e

nervosa, necessita provavelmente de um animal mais calmo e tranqüilo, como um

gato, que deve ser escolhido já com essas características. Claro, tudo isso

alinhado a um estudo clínico aprofundado do paciente em questão.

A Terapia Ocupacional tem seus eixos na relação atividade – paciente – terapeuta

– material – objeto, porém neste modelo apresentado o que dirige o pêndulo do

atendimento (Chamone,) é o animal; portanto cria-se assim uma nova leitura do

processo terapêutico ocupacional.

A partir disso, vimos a importância do papel do profissional de Terapia

Ocupacional, que possui os conhecimentos e bagagens adequadas para conduzir

tal processo de tratamento. Este profissional pode atuar na Terapia Assistida por

Animais - TAA, juntamente com outros profissionais da área de saúde, como

psicólogos, fisioterapeutas, entre outros, fazendo um acompanhamento

51

multidisciplinar com o paciente, o que torna a experiência enriquecedora para

todos, pois passa a existir dentro de uma atividade, a possibilidade de um

tratamento múltiplo, dinamizando o processo de cura do mesmo.

Entretanto, percebemos que a Terapia Assistida por Animais, ainda no campo da

Terapia Ocupacional, é hoje, pouco difundida de uma forma em geral. Isso se

deve talvez, ao fato da prática em questão não ser uma proposta de estudo

acadêmico, mas apenas voluntariosa ou informal. Podemos citar que em várias

pesquisas bibliográficas realizadas, praticamente não encontramos nada a

respeito da Atividade e Terapia Assistida por Animais - A/TAA no campo

acadêmico, lembrando ainda, que é neste importante campo, que se dá a

visibilidade inicial a um tema de suma importância, como esse. Faz-se necessário

assim, uma reavaliação de algumas grades escolares, visando talvez, a inclusão

do animal como forma de tratamento em pacientes com diferentes enfermidades

ou necessidades específicas. A partir desta inclusão, a tendência é que mais

profissionais possam debater a respeito do tema, proporcionando dessa forma

uma maior difusão e amplitude do assunto.

Com essas perspectivas, deparamos então com algumas situações de limitações

durante o trabalho. A primeira delas é que buscamos dar mais ênfase à Terapia

Assistida por Animais como um tema contundente à atividade de Terapia

Ocupacional. Ou seja, buscamos não focalizar o papel do profissional neste

processo, assim como as demais atividades da Terapia Ocupacional. Optamos em

dar maior visibilidade à Atividade e Terapia Assistida por Animais - A/TAA, devido

à suas possibilidades práticas e interativas de inserção do paciente em um

contexto ainda mais vivencial, além das já existentes. Assim buscamos evidenciar

a Terapia Ocupacional de maneira mais abrangedora e ampla, envolvendo

também os fatores de relacionamento com a natureza, aqui representada pelos

animais.

52

Outra situação é a metodologia adotada nesta monografia. Optamos pela revisão

bibliográfica, realizada por pesquisas de estudos científicos já existentes, a qual

nos permitiu obter uma análise mais profunda e abrangedora e até universalizada

do tema em questão. Identificamos porém, que outras informações poderiam ter

sido obtidas, através de uma pesquisa de campo, mas devido à pouca utilização

da TAA no Brasil, tornou-se um meio de difícil acesso na prática.

Durante as pesquisas, percebemos que já existe modalidades de atendimentos

que incluem o animal como um recurso terapêutico, mas que não foram

metodologicamente denominadas como prática de Atividade Assistida por

Animais, tampouco documentadas cientificamente.

Por fim, torna-se possível então afirmar que a relação homem x animal, aqui

sugerida através da Terapia Assistida por Animais e aplicada pela Terapia

Ocupacional, proporciona efetivas melhoras na autonomia do indivíduo, a partir da

estimulação física, emocional, comportamental, social, e educacional, fato que

colabora para que o paciente obtenha uma melhor inserção e recolocação em seu

cotidiano, além de propiciar uma melhora na qualidade de sua vida.

53

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Filme: Vida de Cavalo. Realização Instituto Nina Rosa - Projetos por amor à vida. Manaus, AM, 2006.

DOTTI, Jerson: Curso de Atividade Educação e Terapia Assistida por Animais A/E/TAA. Organização Brasileira de Interação Homem – Animal Cão Coração / OBIHACC, “Apostila Prática”.

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