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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA PERCEÇÃO DO SUPORTE ORGANIZACIONAL E BURNOUT: SER BOMBEIRO OU SER BANCÁRIO Fábio Filipe Estêvão Gomes MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações) 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

PERCEÇÃO DO SUPORTE ORGANIZACIONAL E

BURNOUT: SER BOMBEIRO OU SER BANCÁRIO

Fábio Filipe Estêvão Gomes

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações)

2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

PERCEÇÃO DO SUPORTE ORGANIZACIONAL E

BURNOUT: SER BOMBEIRO OU SER BANCÁRIO

Fábio Filipe Estêvão Gomes

Dissertação orientada pela Prof. Doutora Maria José Chambel

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações)

2017

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Agradecimentos

Começo por agradecer aos pilares da minha vida que são os meus pais e o meu irmão. É

para vocês que dedico esta dissertação. Sem o vosso sacrífico nada disto seria possível,

pois sei que o caminho não foi fácil e se sou o que sou hoje é porque tive uma educação

fantástica. O vosso apoio ao longo dos anos foi incansável e é graças a vocês que

cheguei onde estou hoje. Um muito obrigado por tudo o que fizeram por mim ao longo

da minha vida e por estarem sempre por perto para celebrar as minhas conquistas, sejam

elas académicas, desportivas ou profissionais.

À professora Maria José Chambel, agradeço a orientação, acompanhamento e a

disponibilidade constante para o esclarecimento de cada dúvida que foi surgindo ao

longo do tempo, tendo sido o seu feedback bastante importante para que conseguisse ir

melhorando certos aspetos cruciais por forma a conseguir enriquecer esta dissertação.

Não posso também deixar de referir o apoio dado pela Sílvia Lopes em relação à análise

de dados, pois a sua ajuda foi muito importante para uma melhor compreensão e

interpretação dos resultados. Agradeço também a todos os professores com que tive a

oportunidade de aprender, em particular aos professores do núcleo de Psicologia dos

Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações, pois esta área será no futuro a

minha área de atuação.

Por último, deixo também um agradecimento especial a todos os meus amigos que ao

longo do presente ano letivo me incentivaram para a conclusão desta dissertação. Sei

que devido ao meu compromisso profissional no mundo do Padel, tendo estado a dar

aulas de manha e à noite, não consegui poder privar de muitos momentos convosco

quanto eu gostaria, mas o que retiro disto tudo é que mesmo assim, os verdadeiros

continuam a meu lado, e por isso é bom saber que posso contar convosco e com o vosso

apoio, pois apesar de ter sido um ano atribulado a nível pessoal e profissional, é sempre

bom sentir o carinho e incentivo para a conclusão desta dissertação.

A todos os contribuíram para conclusão desta etapa, direta ou indiretamente,

Um Muito Obrigado!

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Índice

Resumo 5

Abstract 6

1. Introdução 7

2. Enquadramento teórico 9

2.1. Burnout 9

2.2. Evidências sobre Burnout em Bombeiros 10

2.3. Evidências sobre Burnout em Bancários 12

2.4. Suporte Social no Trabalho 13

2.5. Bombeiros vs Bancários 16

3. Método 17

3.1. Amostra 17

3.2. Procedimento 17

3.3. Medidas 18

3.4. Métodos de Análise de dados 19

4. Resultados 20

Médias, Desvios-Padrão e Correlações 20

Análise fatorial confirmatória 21

Teste de hipóteses 22

5. Discussão dos Resultados 24

Implicações para a Gestão de Recursos Humanos 25

6. Referências Bibliográficas 26

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Resumo

Nos dias de hoje a profissão de Bombeiro é uma das consideradas profissões de risco.

Os fatores de risco aos quais estes profissionais se encontram frequentemente expostos

determinam que os mesmos estejam mais vulneráveis à incidência da síndrome de

Burnout. Por outro lado, a atividade bancária apresenta igualmente um cenário de

situações que são favoráveis para o desenrolar de quadros como os de Burnout. No que

respeita às consequências do Burnout, estas são graves e não só afetam o indivíduo

como também se refletem a nível organizacional e nas interações que se estabelecem,

prejudicando o sujeito a nível individual tendo implicações na sua produtividade

enquanto membro da organização. A Perceção de Suporte Organizacional (POS) tem

um papel importante no cumprimento das necessidades sentidas pelos funcionários e

deve diminuir o stresse, o Burnout e os seus componentes. Assim, o objetivo do

presente estudo é analisar a relação entre a POS e as duas dimensões do Burnout

(Exaustão emocional e Cinismo) e tentar perceber se esta relação é mais forte no caso

dos Bombeiros ou nos Bancários. O estudo foi aplicado através de um questionário a

uma amostra de 557 Bombeiros e 426 Bancários. Os resultados obtidos demonstraram

apoio nas evidências teóricas e, neste sentido, observou-se que a POS tem uma relação

negativa com o Burnout sentido quer pelos Bombeiros quer pelos Bancários, sendo esta

mais forte no caso dos Bancários.

Palavras-chave: Perceção de Suporte Organizacional, Burnout, Bombeiros,

Bancários.

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Abstract

Nowadays, firefighting is considered a risk profession. The risk factors to which these

professionals are frequently exposed determine that they are more vulnerable to the

incidence of Burnout syndrome. Similarly, the banking activity also presents a scenario

of situations that are favorable for the development of frameworks such as Burnout.

With regards to the consequences of Burnout, these are serious and not only affect the

individual but also reflect on the organizational level and the interactions that are

established, harming the subject at an individual level and having implications for their

productivity as a member of the organization. Perceived Organizational Support (POS)

plays an important role in meeting the needs felt by employees and should decrease

stress, Burnout and its components. Thus, the objective of the present study is to verify

the relationship between POS and the two dimensions of Burnout (emotional exhaustion

and cynicism) and try to understand if this relationship is stronger in the case of

Firefighters or Bankers. The study involved the application of a questionnaire to a

sample of 557 Firefighters and 426 Bankers. The results obtained supported theoretical

evidences and, in this sense, it was observed that POS has a negative relation with

Burnout in both samples, sustaining a stronger relationship in the Bankers case.

Key words: Perceived Organizational Support, Burnout, Firefighters, Bankers.

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1. Introdução

Ao longo das últimas décadas ocorreram transformações significativas no mundo

laboral que resultaram em riscos emergentes nos setores da segurança e saúde no

trabalho e levaram além dos riscos físicos, químicos e biológicos, ao surgimento de

riscos psicossociais. O risco está presente nos locais de trabalho e é algo que todos os

trabalhadores têm de enfrentar no seu quotidiano laboral. Cada profissão detém um

conjunto de atividades e tarefas à qual estão associados riscos específicos que os

distinguem das diversas ocupações laborais. Os Bombeiros e os Bancários são dois dos

grupos profissionais considerados de maior risco quando comparados com outras

profissões, estando estes expostos a sérios riscos, sejam eles físicos ou psicológicos.

Durante as suas atividades profissionais, tanto Bombeiros como Bancários, lidam com

situações de risco e, por consequência, estão mais expostos a condições que afetam o

seu bem-estar físico e emocional. Os Bombeiros atuam em condições e ambientes

adversos e estão sujeitos a inúmeros fatores de risco onde se destacam os riscos

biológicos, químicos, físicos, ergonómicos e psicossociais. Por outro lado, os fatores

psicossociais de risco do ambiente de trabalho dos Bancários estão relacionados com a

grande pressão exercida por parte das chefias e clientes, as horas extra frequentes, o

medo constante de demissão, os movimentos repetitivos e o risco de sequestro e assaltos

a bancos.

Em ambos os contextos profissionais o stresse é uma constante, pois estamos de modo

contínuo sujeitos a vários tipos de pressão. Desta forma, e de acordo com Grau, Suñer e

Garcia (2005) a síndrome de Burnout aparece perante uma resposta contínua ao stresse

laboral, provocando consequências para a saúde física e mental do trabalhador. Assim, o

Burnout é visto como uma experiência individual e específica do contexto de trabalho

(Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001). A definição de Burnout mais influente é a de

Leiter e Maslach (1988), que o definem como uma síndrome constituída por três

dimensões: Exaustão emocional, Despersonalização (ou Cinismo) e reduzida realização

pessoal. Schaufeli e Enzman (1988; cit. em Queirós, 2005) enumeram possíveis

sintomas de Burnout ao nível organizacional e descrevem cinco categorias de sintomas,

sendo eles sintomas afetivos, cognitivos, físicos, comportamentais e motivacionais. Na

categoria de sintomas afetivos encontra-se a insatisfação no trabalho. No que concerne

aos sintomas cognitivos é possível encontrar os seguintes sintomas: cinismo em relação

às tarefas no trabalho e sentimentos de desconfiança na direção, colegas e supervisores.

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Os sintomas físicos estão relacionados com dores musculares, distúrbios do sono, fadiga

crónica, exaustão física, lesões por comportamentos de risco, entre outros. Em termos

de sintomas comportamentais estão associados sintomas como redução da eficiência,

baixo rendimento no trabalho, baixa produtividade, absentismo, entre outros. Por fim,

no grupo de sintomas motivacionais é possível assinalar sintomas como perda de

motivação para trabalhar, resistência na ida para o trabalho, diminuição da iniciativa no

trabalho e baixa moral.

Uma variável importante para o desenrolar de quadros de Burnout é o Suporte

Organizacional, sendo que a falta de Suporte Organizacional está associada a níveis

elevados de Burnout (Tamayo & Tróccoli, 2002). Espera-se que a Perceção de Suporte

Organizacional, mencionado ao longo deste trabalho como POS - Perceived

Organizational Support - possa ter um papel relevante para contrariar o

desenvolvimento do Burnout e os seus componentes. A POS parece exercer influência

nas atitudes e nos comportamentos dos colaboradores (Riggle, Edmondson, & Hansen,

2009). Por outro lado, os estudos demonstram que baixos níveis de Perceção de Suporte

Organizacional aumentam os sintomas de Burnout e de stresse (Cropanzano, Howes,

Grandley, & Toth, 1997), promovem o absentismo e aumentam as intenções de saída

(Shanock & Eisenberger, 2006).

Neste seguimento, o presente estudo tem como objetivo analisar a relação entre a POS e

as duas dimensões do Burnout (Exaustão emocional e Cinismo) e tentar perceber se esta

relação é mais forte no caso dos Bombeiros ou nos Bancários.

Com este trabalho esperamos poder contribuir para uma melhor compreensão por parte

dos Gestores destes dois grupos em particular, alertando para o facto de que a Perceção

de Suporte Organizacional é relevante para contrariar o desenvolvimento do Burnout,

promovendo desta forma uma preocupação alargada com o bem-estar do trabalhador.

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2. Enquadramento teórico

2.1. Burnout

Inicialmente, o Burnout foi considerado uma síndrome caracterizada pela resposta a

stressores interpessoais crónicos no trabalho, que é prolongada ao longo do tempo,

sendo composta por três dimensões chaves: exaustão emocional, despersonalização e

redução da eficácia profissional (Maslach, 1993; Maslach, 2007; Brito, 2013). No

entanto, e mais recentemente foi alargado a outras profissões, considerando-se que se

carateriza pela resposta a stressores crónicos no trabalho, não necessariamente de

carácter interpessoal. Sendo esta uma temática de interesse no âmbito laboral, Campos

(2005) concluiu que o Burnout não é apenas um problema do indivíduo, mas sim do

ambiente social em que este trabalha. A definição de Burnout mais comummente

utilizada é a dos autores Leiter e Maslach (1988), que a definem como uma síndrome

constituída por três dimensões: Exaustão emocional, Despersonalização e baixa

realização pessoal/ineficácia. Estas três dimensões do Burnout são explicadas por

Maslach, Schaufeli e Leiter (2001). A primeira dimensão, Exaustão emocional, é

caraterizada por cansaço extremo e sensações de falta de energia face às exigências

emocionadas relacionadas com o trabalho. A Despersonalização ilustra a adoção de

atitudes de insensibilidade, cinismo ou hostilidade face às pessoas que recebem o

serviço/cuidado. Por fim, a baixa realização pessoal/ineficácia está relacionada com

sentimentos de incompetência e de frustração pessoal e profissional. De acordo com

Demerouti, Bakker, Nachreiner e Schaufeli (2001) as principais dimensões do Burnout

são a Exaustão emocional e o Cinismo (a dimensão Cinismo passa a refletir indiferença

ou atitude de distanciamento em relação ao trabalho, e não em relação a

relacionamentos interpessoais no trabalho, como na despersonalização) e, assim sendo,

são estas dimensões que se optam por estudar na presente dissertação.

Os profissionais que sofrem desta síndrome não demonstram apreço pela organização

nem pelos colegas de trabalho e exibem no dia-a-dia de trabalho alguns sintomas tais

como: intenção de abandonar o emprego, turnover, absenteísmo, níveis baixos de

produtividade, atrasos, injúrias pessoais e baixo nível de comprometimento

organizacional (de Andrade, Hoch, Vieira & Medianeira, 2012).

Para Cordes e Dougherty (1993), as altas expectativas ou expectativas não atingidas

com relação a desafios no trabalho, a recompensas, ao reconhecimento, a progressão na

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carreira e a outros aspetos laborais podem ser geradores de stresse e Burnout. As

expectativas dos funcionários acerca da profissão, da organização e da sua autoeficácia

podem ter também um contributo importante para o Burnout.

2.2. Evidências sobre Burnout em Bombeiros

A atividade de Bombeiro supõe lidar com muitos perigos e estar sujeito a muitos riscos

biopsicossociais. Os perigos são considerados como ameaças ao bem-estar das pessoas

e a toda a sua envolvência perante estas, enquanto que o risco é a análise e avaliação

dessas mesmas ameaças e das suas possíveis consequências. De facto, a Norma

Portuguesa NP 4397 (2008: 8-10) descreve o risco como a “combinação da

probabilidade de ocorrência de um acontecimento ou de exposição(ões) perigosos e da

gravidade de lesões ou afeções da saúde.

Sem dúvida que a atividade dos Bombeiros é bastante exigente, tanto a nível físico

como a nível psicológico. Os profissionais que trabalham em situações de emergência

estão mais propensos a encarar eventos traumáticos e, consequentemente, estão mais

expostos a condições que afetam o seu bem-estar físico e emocional (Riolli, & Savicki,

2012). Por exemplo, num estudo realizado com Bombeiros americanos relativamente às

fontes de stresse que são vividas no local de trabalho, foram apontadas como principais

fontes de stresse a morte ou o acidente com colegas de trabalho em serviço, a prestação

de ajuda a jovens gravemente feridos ou mortos, enfrentar problemas sobre os quais não

se tem controlo e que continuam a persistir sem que sejam solucionados (Murta &

Troccoli, 2007). Por outro lado, neste contexto, os fatores laborais considerados de risco

na profissão em questão são inúmeros e, destacam-se os seguintes: a privação do sono

devido a trabalho por turnos, longos períodos de trabalho, exposição a sangue

contaminado, desconforto térmico, ruído, agentes biológicos, riscos cardiorrespiratórios

e acidentes como cortes, entorses, queimaduras, entre outros. O desconforto térmico

está relacionado com ao facto de os Bombeiros desempenharem atividades físicas

intensas debaixo de temperaturas elevadas. Além de enfrentarem elevadas temperaturas

a nível ambiental, em situações que assim o exigem, estes profissionais podem ter que

usar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) porque assim a profissão o requer,

dado a mesma potenciar risco físico para os trabalhadores. Estes EPI’s são pesados,

quentes e/ou fechado e estimulam o desconforto térmico e, por sua vez, a desidratação

(Quintal, 2012; Wright, Larose, McLellan, Miller, Boulay & Kenny, 2013; McEntire,

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Suyama, & Hostler, 2013). O ruído é apontado como outro dos fatores de risco. As

exposições prolongadas ao ruído têm impacto na saúde, nomeadamente no que diz

respeito à perda de audição, danificando assim o ouvido interno. No caso dos

Bombeiros, a perda de audição é neurossensorial (Taxini, 2013) e o ruído mais violento

é oriundo da sirene do camião e de determinados alarmes do equipamento utilizado

(Hong, Chin & Ronis, 2013). Os Bombeiros sendo profissionais de prestação de

cuidados, sobretudo em relação ao socorro concedido a vítimas de acidentes e ao

transporte de doentes, estão mais suscetíveis às patologias associadas aos principais

agentes biológicos que são, neste contexto, as hepatites B e C e SIDA (Contrera-

Moreno, de Andrade, Motta-Castro, Pinto, Salas & Stief, 2012; Boal, Hales & Ross,

2005). Por serem chamados a atuar em momentos onde se requer uma rápida

intervenção, é mais difícil fazerem um uso correto dos seus próprios EPI’s, o que por

sua vez pode constituir um risco visto que, por exemplo, nos procedimentos de

desinfeção dos utensílios, parte dos Bombeiros não usam qualquer EPI por pensarem

que não existe qualquer tipo de risco, estando desta forma mais suscetíveis a estes

agentes biológicos. Trabalhar sob condições adversas é uma das particularidades desta

profissão, e um dos exemplos é o caso dos Bombeiros que prestam auxílio nos fogos

florestais. O facto de trabalharem de forma tão intensa debaixo de temperaturas

elevadas, em turnos bastante prolongados e sujeitos a uma grande quantidade de

inalação de fumo dos incêndios, pode mesmo justificar o aumento da ocorrência de

paragens cardiorrespiratórias e mortes súbitas (Wright-Beatty, McLellan, Larose, Sigal,

Boulay & Kenny, 2014). Por fim, e como em todas as profissões, existe sempre a

possibilidade de ocorrência de qualquer tipo de incidente, seja ele de maior ou menor

relevo. No entanto, a incidência de acidentes nos Bombeiros é superior quando

comparada com outras atividades profissionais (Jahnke, Poston, Haddock & Jitnarin,

2013; Poplin, Harris, Pollack, Peate & Burgess, 2011) e neste contexto estão mais

vulneráveis a sofrerem de entorses, lesões músculo-esqueléticas, cortes e queimaduras

(Jahnke, Poston, Haddock & Jitnarin, 2013).

De acordo com a literatura, os fatores de risco aos quais os Bombeiros se encontram

frequentemente expostos, determinam que os mesmos estejam mais vulneráveis ao

desenvolvimento de doenças cardíacas, stresse pós-traumático e Burnout (Silva, Lima &

Caixeta, 2010). De facto, a investigação tem mostrado que os profissionais de

emergência pré-hospitalar, nos quais estão incluídos os Bombeiros, representam um dos

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grupos profissionais em que os níveis de stresse são dos mais elevados quando

comparados com outras profissões (Huynh, Xanthopoulou & Winefield, 2013;

McLennan, Birch, Cowlishaw & Hayes, 2009). Por exemplo, num estudo com 101

Bombeiros Franceses, foi identificado uma relação positiva entre a Exaustão emocional

e as exigências do trabalho, e negativa com o controlo de trabalho (Lourel, Abdellaoui,

Chevaleyre, Paltrier, & Gana, 2008).

2.3. Evidências sobre Burnout em Bancários

O setor bancário sofreu, ao longo dos anos, várias mudanças organizacionais e

inovações nos processos de trabalho por forma a fazer face à competitividade do

mercado global (Brandão, Horta & Tomasi, 2005; Jacques & Amazarray, 2006).

Araújo, Cartoni e Justo (2001) afirmam que os bancos exigem cada vez mais um maior

envolvimento dos seus trabalhadores por forma a atingirem as metas organizacionais,

assentando em padrões cada vez mais elevados em termos de produtividade, tendo por

consequência a grande competitividade entre os próprios colegas de trabalho numa

procura constante de reconhecimento ou, mais importante ainda, na manutenção das

suas funções ou do posto de trabalho. Face a estas mudanças estão associados vários

riscos psicossociais decorrentes dos processos de trabalho, nomeadamente regras e

regulamentos restritos, discriminação de salários e respetivos pagamentos, a pressão das

chefias e clientes, as horas extra frequentes, o medo constante de demissão, o número

insuficiente de funcionários, tarefas repetitivas, risco de sequestro e assaltos a bancos, a

pressão do grupo de pares, conflitos face ao cumprimento de metas e de objetivos,

estrutura organizacional centralizada e formal, redução nas oportunidades de

promoções, falta de participação dos funcionários na tomada de decisões, controlo

excessivo dos gestores sobre os seus subordinados e insegurança (Shukla & Garg,

2013). A convivência diária com estes riscos que podem pôr em causa a integridade

física dos trabalhadores e o stresse avassalador constante tem resultado num aumento

das doenças ocupacionais, nomeadamente; as doenças osteoarticulares do foro

psicossomático (as Lesões por Esforços Repetitivos - L.E.R. - e as Doenças

Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho - D.O.R.T.) que são bastante enfatizadas na

literatura quando esta profissão é mencionada; as doenças de carácter psicológico como

o Burnout.

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Para Jacques e Amazarray (2006), os Bancários apresentam duas características que

contribuem para o desenvolvimento do Burnout. A primeira característica é pelo facto

de o contexto de trabalho ser muito dinâmico e por ter vindo a passar por alterações e

reestruturações organizacionais. A segunda característica prende-se com o facto de os

funcionários destas instituições prestarem serviços ao público, expondo o trabalhador

aos problemas e dificuldades levantados por parte dos clientes. Este atrito diário pode

causar-lhes Exaustão emocional que, por sua vez, pode-lhes afetar o desempenho. No

estudo de Gorji e Vaziri (2011) foi explorada a relação entre o Burnout e o desempenho

dos funcionários de um banco no Irão. Os resultados mostraram que estes trabalhadores

apresentavam Burnout mais frequentemente e que a quantidade de Exaustão emocional

e Despersonalização que estes sentiam afetava o seu desempenho.

2.4. Suporte Social no Trabalho

O suporte social começou a ser estudado em meados da década de 70, de modo pioneiro

na literatura, na Psicologia e em outras áreas. Após os estudos de Cobb (1976) o

interesse pelo suporte social aumentou visto que nas organizações pode atuar como um

fator protetor face ao risco de doenças laborais causadas pelo stresse. Assim sendo,

pode dizer-se que o suporte social é um inibidor da síndrome de Burnout, dado que este

favorece a interação e a entreajuda entre os colaboradores da organização, melhorando

assim o ambiente organizacional e ajudando o profissional a fazer face às exigências do

seu trabalho (Carlotto & Câmara, 2006; Lopes, 2010; Filenga & Netto, 2012). De

acordo com de Andrade, Hoch, Vieira e Rodrigues (2012) o suporte social pode

promover a melhoria das relações entre os colaboradores, ampliando a quantidade de

informações úteis que auxiliam na atividade laboral, diminuindo as incertezas,

suavizando os efeitos de stresse e consequentemente o Burnout.

Numa organização, o suporte social é representado pelo apoio recebido por parte dos

colegas e, principalmente, o apoio que as chefias e gestores oferecem aos seus

subordinados. Devido à amplitude das relações sociais, existem diferentes tipos de

apoio que podem ser recebidos e, segundo Rodriguez e Cohen (1998), três deles

merecem destaque:

• Suporte emocional: refere-se ao que as pessoas dizem umas para as outras, como

dar conselhos, ser recetivo, ouvir problemas e ser confiável;

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• Suporte instrumental: diz respeito ao auxílio que pode ser proporcionado a

alguém, como por exemplo, assistência em algum tipo de tarefa ou cooperação em

tarefas do dia-a-dia;

• Suporte informacional: prende-se com informações dadas pelos indivíduos que

são necessárias para o desenvolvimento de ações e soluções de problemas ou tomada de

decisões no dia-a-dia laboral.

Vários estudos suportam a existência de uma correlação entre o suporte social e o

Burnout. Por exemplo, Jayaratne, Himle e Chess (1988) com uma amostra de 480

assistentes sociais, mostraram que uma maior perceção de suporte do supervisor e dos

colegas estava relacionada com índices menores de Exaustão emocional. Van Yperen

(1998) mostrou que um maior índice de Exaustão emocional estava relacionado com um

menor suporte informacional por parte da organização. Tamayo e Tróccoli (2002),

numa amostra de 369 trabalhadores, concluíram que a Exaustão emocional pode ser

reduzida melhorando o suporte social da parte dos colegas e supervisores. No estudo de

Oliveira, Tristão e Neiva (2006), sendo a amostra constituída por 30 funcionários de

uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI - Neonatal) de um Hospital

Universitário, os resultados demonstram que a dimensão suporte social no trabalho

apresentou correlações inversas significativas em relação às três dimensões do Burnout

e o suporte organizacional apresentou correlação negativa com a dimensão Exaustão

emocional.

Através da literatura é possível perceber que o suporte organizacional pode existir a três

níveis: colegas, chefes e empresa. O apoio percebido dos supervisores refere-se à visão

dos funcionários de que os seus supervisores valorizam as suas contribuições e se

preocupam com o bem-estar destes (Eisenberger, Stinglhamber, Vandenberghe,

Sucharski e Rhoades, 2002). Os colegas de trabalho, percebidos como uma extensão

natural da organização, têm claramente um papel importante a desempenhar na

organização. Quando vistos como agentes da organização, o suporte percebido dos

colegas de trabalho tem uma influência positiva sobre o apoio organizacional percebido

pelos funcionários (Ladd & Henry, 2000; Yoon & Lim, 1999). No entanto, os

supervisores e outros em cargos de liderança desempenham um papel fundamental no

fornecimento de recompensas e recursos organizacionais aos funcionários e, portanto,

devem ser vistos como uma fonte maior de suporte organizacional do que colegas de

trabalho (Wayne, Shore & Liden, 1997). Por último, o apoio organizacional descrito

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como POS, refere-se às opiniões globais que os trabalhadores formam em relação à

valorização que a organização faz das suas prestações e contribuições, bem como a

preocupação que esta manifesta sobre o bem-estar dos seus colaboradores, Embora o

suporte de todos os membros da organização esteja relacionado com a POS muitas

pesquisas até o momento encontraram fortes evidências da relação entre o apoio dos

supervisores e, mais amplamente, da organização, e o bem-estar dos funcionários

(Nielsen, 2014; Rhoades & Eisenberger, 2002; Shanock & Eisenberger, 2006).

Na presente dissertação usou-se o suporte da empresa (POS), pois consideramos ser o

suporte social mais relevante para contrariar o desenvolvimento do Burnout. Desta

forma, os trabalhadores desenvolvem crenças globais relacionadas com a perceção do

grau de valorização das suas contribuições e da atenção ao seu bem-estar que a

organização demonstra (Eisenberger, Hungtington, Hutchison & Sowa, 1986). Esta

tendência é denominada de Perceção de Suporte Organizacional (POS), segundo

Eisenberger e colaboradores (1986). A POS deve satisfazer as necessidades

socioemocionais, aumentar a antecipação da ajuda quando necessário e fortalecer a

expectativa de recompensa e autoeficácia, aumentando assim a satisfação no trabalho e

o equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar. É concebível que a POS possa diminuir o

nível geral de stresse dos funcionários, tanto em situações de alta como baixa exposição

aos vários stressores (Viswesvaran, Sanchez & Fisher, 1999). A POS deverá fortalecer

as crenças dos trabalhadores de que a organização reconhece e recompensa um melhor

desempenho; estes processos deverão ter resultados favoráveis para os trabalhadores

(como o aumento da satisfação no trabalho) e para a organização (como um aumento da

implicação afetiva) (Rhoades & Eisenberger, 2002). Rhoades e Eisenberger (2002)

reviram mais de 70 estudos sobre a POS. Esta meta-análise indicou que três categorias

principais de tratamento benéfico recebido pelos funcionários (i.e., equidade, apoio do

supervisor e recompensas organizacionais e condições de trabalho favoráveis) foram

associadas à POS. Esta mostrou relações negativas moderadas com tensões vividas e

fortes relações positivas com satisfação no trabalho e bem-estar (humor positivo). Estas

descobertas sugerem que a POS atende uma função socioemocional importante, além de

criar uma obrigação sentida de auxiliar a organização. Os funcionários com POS

elevado geralmente acham o seu trabalho mais agradável, estão em melhor estado de

espírito no trabalho e sofrem com menos sintomas de tensão, como fadiga, Burnout,

ansiedade e dores de cabeça.

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Com base nos estudos acima descritos, e perante as evidências dos mesmos, é possível

esperar que também no grupo de participantes deste estudo (Bombeiros e Bancários)

sejam encontradas relações significativas e negativas entre a POS e a síndrome de

Burnout.

Hipótese 1: A POS tem uma relação negativa com o Burnout (i.e. Exaustão e Cinismo)

sentido quer pelos Bombeiros quer pelos Bancários.

2.5. Bombeiros vs Bancários

Importa ressalvar que apesar dos dois contextos apresentarem riscos psicossociais, o

contexto dos Bombeiros é mais arriscado que o dos Bancários. Deste modo, podemos

considerar que um contexto com mais riscos e maior imprevisibilidade de riscos, o facto

dos colaboradores se sentirem apoiados, particularmente considerarem que trabalham

num contexto que está preocupado com o seu bem-estar e com os seus objetivos, pode

ser mais relevante e ter mais efeito no desenvolvimento do Burnout. Neste sentido

considerou-se que o suporte organizacional pode ser mais proveitoso e ajudar mais a

lidar com esses fatores de risco e consequentemente apresentar uma relação mais forte

com o Burnout no caso dos Bombeiros do que no caso dos Bancários.

Hipótese 2: O contexto profissional modera a relação entre a POS e o Burnout, sendo

esta mais forte no caso dos Bombeiros do que nos Bancários.

No modelo que se segue (ver Figura 1) é apresentado de forma esquemática as hipóteses

formuladas anteriormente no seguimento da revisão de literatura efetuada.

Em suma, o objetivo do presente estudo é verificar a relação entre a POS e as duas

dimensões do Burnout (Exaustão emocional e Cinismo) e tentar perceber se esta relação

é moderada pela profissão, considerando que a relação é mais forte no caso dos

Bombeiros do que nos Bancários.

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Figura 1. Modelo Conceptual Geral.

3. Método

3.1. Amostra

Tendo como objetivo o teste de hipóteses que foram apresentadas anteriormente no

enquadramento teórico, realizou-se um estudo correlacional com base na aplicação de

um questionário a duas amostras composta por dois grupos distintos. O primeiro grupo

é constituído por quinhentos e cinquenta e sete (n=557) Bombeiros e o segundo grupo é

composto por quatrocentos e vinte e seis (n=426) Bancários, contabilizando um total de

novecentos e oitenta e três (n=983) trabalhadores. Nesta amostra, para Bombeiros e

Bancários, as idades dos trabalhadores variam entre 20 anos e os 65 anos. No grupo dos

Bombeiros, as maiores percentagens pertencem à faixa etária entre os 26 e os 35 anos

(41,5%), sendo que para os Bancários regista-se uma maior percentagem para os

trabalhadores com idades compreendidas entre os 36 e os 45 anos (57,7%).

Relativamente ao sexo, no conjunto dos dois grupos, a amostra é composta

consideravelmente por elementos do sexo masculino (81,5% no caso dos Bombeiros e

59,9% para os Bancários). Em termos de antiguidade, em ambas as profissões a maior

percentagem pertence a trabalhadores que reportam ter mais de 10 anos de serviço

(72,7% e 60,8% para Bombeiros e Bancários respetivamente).

3.2. Procedimento

Para os Bombeiros, o estudo foi apresentado à Direção da Escola Nacional de

Bombeiros, a qual divulgou o estudo aos Bombeiros Profissionais que realizaram

formação entre janeiro e março de 2016. Os que aceitaram participar (88%) foi enviado

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um e-mail com o link de acesso ao questionário que estava alojado na plataforma Survey

Monkey. O anonimato era assegurado assim como a possibilidade de receber informação

pós-estudo.

Para os Bancários, o estudo foi apresentado à Direção de Recursos Humanos do banco,

a qual enviou um e-mail a todos os trabalhadores com os objetivos do estudo e o link de

acesso ao questionário a que estava alojado na plataforma Survey Monkey. O anonimato

era assegurado assim como a possibilidade de receber informação pós-estudo.

Participaram no estudo 73% da população do banco.

3.3. Medidas

POS. A variável POS foi medida através de 8 itens de uma versão reduzida da escala de

Eisenberger, Huntington, Hutchison e Sowa (1986). Esta escala é denominada de

Questionário de Perceção de Apoio Organizacional (Survey of Perceived

Organizational Support - SPOS) e é constituída originalmente por 36 itens. Esta versão

reduzida da escala foi utilizada anteriormente num estudo em Portugal (Chambel &

Sobral, 2011). Os participantes respondiam aos itens através de uma escala de Likert de

7 pontos, em que 1 corresponde a “Discordo totalmente” e 7 a “Concordo totalmente”.

Exemplos de itens são: “A empresa preocupa-se com as minhas opiniões” e “A empresa

estaria disposta a ajudar-me caso necessitasse de um favor especial”. O valor de alfa de

Cronbach verificado neste estudo é de .90 para Bombeiros e .93 para Bancários.

Valores mais elevados nesta escala significam uma perceção de mais apoio oferecido

pela organização.

Burnout. As dimensões do Burnout, Exaustão Emocional e Cinismo, foram medidas

através de uma adaptação para português do Maslach Burnout Inventory - General

Survey - MBI-GS - (Maslach, Jackson & Leiter, 1986), já utilizada em estudos

anteriores (e.g., Castanheira & Chambel, 2010a). A escala da Exaustão Emocional é

composta por 5 itens (e.g., “Sinto-me emocionalmente esgotado(a) com o meu

trabalho.”) e apresenta para a amostra de Bombeiros e Bancários um alfa de Cronbach

de .90 e .89 respetivamente. Igualmente composta por 5 itens, a escala do Cinismo (e.g.,

“Duvido do valor e utilidade do meu trabalho.”) apresenta um alfa de Cronbach de .76 e

.81 para Bombeiros e Bancários respetivamente. As respostas foram dadas numa escala

de 7 níveis de Likert, correspondente à frequência em que (1) corresponde a Nunca e (7)

a Todos os dias.

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Variáveis de controlo. Na análise de dados controlou-se as variáveis sexo, idade e

tempo de permanência na organização. A variável sexo foi codificada em 0 (Homem) e

1 (Mulher). Por sua vez, a idade foi codificada em 1 (Menos de 25 anos), 2 (Entre 26 e

35 anos), 3 (Entre 36 e 45 anos) e 4 (Mais de 46 anos). Por fim, controlámos também o

tempo de permanência na organização, que foi codificado em 1 (Menos de 1 ano), 2

(Entre 1 e 5 anos), 3 (Entre 6 e 10 anos) e 4 (Mais de 10 anos).

3.4. Métodos de Análise de dados

Numa fase inicial, foi utilizado o IBM Statistical Package for Social Sciences (SPSS

23.0) para realizar as análises descritivas da caracterização da amostra, para fazer o

cálculo das médias, desvios-padrão, correlações e os coeficientes de consistência interna

(alfas de Cronbach) das variáveis em estudo.

Numa fase seguinte, procedeu-se às análises no AMOS (AMOS 23.0). Com o programa

AMOS 23.0 foi feita uma análise fatorial confirmatória (AFC), de modo a testar o

modelo de medida que foi criado com as variáveis latentes (i.e., Burnout e POS) e

comparar com o Modelo de um só fator (uma variável latente). Em seguida, para

realizar o teste de hipóteses, utilizou-se a metodologia de análise dos Modelos de

Equações Estruturais (SEM) - em particular as análises multigrupo - no programa

AMOS, sendo que o principal objetivo foi comparar se as relações entre as variáveis em

estudo ocorriam de modo idêntico para ambos os grupos (Bombeiros e Bancários). Para

tal, em primeiro lugar, fomos analisar o ajustamento do modelo teórico em separado

para cada grupo. Este é um passo preliminar às análises multigrupo recomendado por

Byrne (2010). Após verificar o ajustamento do nosso modelo teórico demos inicio à

análise multigrupo com a construção de um modelo Baseline que inclui análise das duas

amostras ao mesmo tempo. Fomos confrontar este modelo Baseline com um modelo

Full Contrained onde todos os parâmetros do modelo teórico estão constrangidos. Esta

confrontação teve como objetivo perceber se existiam diferenças significativas entre as

duas amostras. Após esta verificação, fomos analisar em específico se estas diferenças

se encontravam ao nível da relação entre as variáveis em estudo. Com este objetivo,

com recurso ao AMOS 23, fomos verificar os valores de Z.

Para avaliar a qualidade do ajustamento dos modelos aos dados foram considerados

vários índices. Os modelos foram comparados com base nos testes de diferença do χ2 e,

ainda, em índices de ajuste adicionais, em particular o Standardized root mean square

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(SRMR), o Bentler Comparative Fit Index (CFI), o Incremental Fit Index (IFI) e o Root

Mean Square Error of Approximation (RMSEA). Para IFI e CFI, valores iguais ou

superiores a .90 representam um bom ajuste do modelo, e para SRMR, valores

inferiores a .06 indicam um bom ajuste do modelo (Hu & Bentler, 1999). Valores para

SRMR e RMSEA abaixo ou iguais a .08 indicam que o model fit são razoavelmente

bons (Arbuckle, 2003; Byrne, 2010).

4. Resultados

Médias, Desvios-Padrão e Correlações

Na Tabela 1 são apresentadas as médias, desvios-padrão e correlações entre as variáveis

em estudo. Com base nos valores médios obtidos, verifica-se que os dois grupos têm

uma perceção relativamente neutra da POS (Bombeiros: M=3.99, DP=1.40; Bancários:

M=4.12, DP=1.15), atribuindo em média, valores a rondar os 4 pontos, numa escala de

Likert de 7 pontos. Estes valores demonstram que tanto Bombeiros como Bancários não

têm nem uma boa nem uma má perceção de apoio oferecido pela organização. No que

se refere às duas dimensões do Burnout, a Exaustão revela valores baixos para ambos os

grupos, dado que são valores que rondam os 3 pontos, numa escala de Likert de 7

pontos, sendo os Bancários o grupo que apresenta valores ligeiramente mais elevados de

Exaustão (Bombeiros: M=2.91, DP=1.59; Bancários: M=3.12, DP=1.47). Relativamente

ao Cinismo, os valores médios são baixos e não se afastam muito dos 2 pontos, numa

escala de Likert de 7 pontos, sendo estes ligeiramente mais altos no caso dos Bombeiros

(Bombeiros: M=2.34, DP=1.24; Bancários: M=2.23, DP=1.18).

Com base na matriz de correlações (ver Tabela 1) verificámos, como previsto, que a

POS apresenta uma correlação negativa com o Burnout, tanto para os Bombeiros como

para os Bancários. Por outro lado, e contra o que era esperado, esta correlação é mais

forte no caso dos Bancários do que nos Bombeiros.

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Tabela 1. Médias, Desvios-Padrão e Correlações para Bombeiros (abaixo da diagonal)

e Bancários (acima da diagonal).

Notas. DP - Desvio Padrão; r - Correlação; * = p < .05; ** = p < .01; n.s. - não significativo; Sexo (0 =

Homem, 1 = Mulher); Idade (1 = Menos de 25 anos, 2 = Entre 26 e 35 anos, 3 = Entre 36 e 45 anos, 4 =

Mais de 46 anos); Tempo de Permanência (1 = Menos de 1 ano, 2 = Entre 1 e 5 anos, 3 = Entre 6 e 10

anos, 4 = Mais de 10 anos).

Análise fatorial confirmatória

Através da Análise Fatorial Confirmatória (ver Tabela 2) verificámos que o nosso

modelo teórico com dois fatores tinha um bom ajustamento aos dados, tanto para a

amostra dos Bombeiros, como para a amostra dos Bancários (Bombeiros: χ2 (23) =

62.34, p < .01; SRMR =.03, IFI =.99; CFI =.99; RMSEA =.06; Bancários: χ2 (23) =

67.15, p < .01; SRMR =.03, IFI =.99; CFI =.99; RMSEA =.07). Confrontámos o nosso

modelo teórico com um modelo alternativo de um fator (Bombeiros: χ2 (24) = 291.29, p

< .01; SRMR =.08, IFI =.93; CFI =.92; RMSEA =.14; Bancários: χ2 (24) = 185.67, p <

.01; SRMR =.06, IFI =.94; CFI =.94; RMSEA =.13) e verificámos que o nosso modelo

teórico era aquele que tinha um melhor ajustamento aos dados (Bombeiros: Δχ2 (1) =

228.95, p < .01; Bancários: Δχ2 (1) = 118.52, p < .01).

Bombeiros

(N = 557)

Bancários

(N = 426)

r para Bancários (acima da diagonal) e para Bombeiros

(abaixo da diagonal)

Média DP Média DP 1. 2. 3. 4. 5. 6.

1. Sexo .18 .39 .40 .49 -.30** -.11* .06 -.01 -.07

2. Idade 2.51 .82 3.12 .69 -.22** .41** -.03 -.05 -.09

3. Tempo de

Permanência 3.61 .70 3.36 .87 -.18** .50** -.10* .09 .03

4. POS 3.99 1.40 4.12 1.15 .04 -.02 -.04 -.40** -.44**

5. Exaustão 2.91 1.59 3.12 1.47 .08 -.02 .05 -.33** .61*

6. Cinismo 2.34 1.24 2.23 1.18 -.04 -.07 .00 -.38** .65**

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Tabela 2. Análise Fatorial Confirmatória: Modelos de Qualidade de Medida de ambos

os grupos separadamente.

Modelos χ2 Δχ2 SRMR CFI IFI RMSEA

Bombeiros (N = 557)

M1 - Modelo Teórico (1) χ2 (23) =

62.34**

_____ .03 .99 .99 .06

M2 - Modelo de um fator (2)

χ2 (24) =

291.29**

Comparação

com Modelo

1

Δχ2 (1) =

228.95**

.08 .92 .93 .14

Bancários (N = 426)

M3 - Modelo Teórico (1) χ2 (23) =

67.15** _____ .03 .99 .99 .07

M4 - Modelo de um fator (2)

χ2 (24) =

185.67**

Comparação

com Modelo

3

Δχ2 (1) =

118.52**

.06 .94 .94 .13

Nota. ** = p < .01; (1) Modelo com dois fatores latentes - i.e. Burnout, POS; (2) Modelo de um fator -

com todos os itens, de cada variável estudada, carregados em um fator latente.

Teste de hipóteses

O modelo teórico teve um bom ajustamento aos dados em ambas as amostras conforme

é possível observar pela tabela 3. Como tal, demos início à análise multigrupo. O nosso

modelo Baseline que inclui a análise dos dois modelos ao mesmo tempo obteve um bom

ajustamento aos dados. Em seguida, com a confrontação do modelo Baseline com o

modelo Full Constrained verificámos que o modelo Full Constrained teve um pior

ajustamento aos dados do que o modelo Baseline. Tal significa que existem diferenças

significativas entre os dois grupos. Assim, o modelo Baseline foi considerado o modelo

final e é aquele onde fomos verificar se as hipóteses foram ou não suportadas. Na Figura

2, apresentamos as relações entre as variáveis do nosso modelo final. Tanto para os

Bombeiros como para os Bancários verificamos que existe uma relação negativa entre a

POS e o Burnout (Bombeiros: β = -.48**, p < .01; Bancários: β = -.58**, p < .01),

sendo a Hipótese 1 suportada. Por outro lado e como previsto na hipótese 2 verificamos

que esta relação é diferente para os Bombeiros e para os Bancários. No entanto, ao

contrário do esperado, verificámos que esta relação é mais forte para os Bancários do

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que para os Bombeiros (Z Bombeiros vs Bancários = - 2.40, p < .05). Como tal, a Hipótese 2 é

refutada.

Quanto às variáveis de controlo analisadas, verificámos a existência de relações

significativas na amostra dos Bancários (ver Figura 2), nomeadamente: (1) uma relação

negativa entre o tempo de permanência e a POS (β = -.13*, p < .05); e (2) uma relação

negativa entre a idade e o Burnout (β = -.15**, p < .01).

Tabela 3. Resultados do Modelo de Equações Estruturais (SEM) para amostra de

Bombeiros e Bancários separadamente e Análise Multigrupo com as amostras

combinadas.

Modelos χ 2 Δχ2 SRMR CFI IFI RMSEA

Modelo para Amostra Bombeiros (N = 557)

M1 - Modelo Teórico χ2 (23) =

62.34**

____ .03 .99 .99 .06

Modelo para Amostra Bancários (N = 426)

M1 - Modelo Teórico χ2 (23) =

67.15** ____ .03 .99 .99 .07

Análise Multigrupo (N = 983)

M5 - Modelo

Multigrupo/Baseline

χ2 (92) =

290.56** ______ .05 .97 .97 .05

M7 – Modelo Full

Constrained χ2 (124) =

741.97**

M7 comparado

com M5:

Δχ2 (32) =

451,41**

.05 .91 .91 .07

Nota: ** p < .01

Figura 2. Modelo Multigrupo

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5. Discussão dos Resultados

Os resultados deste estudo contribuíram para um entendimento acerca das relações que

se estabelecem relativamente às duas variáveis em estudo, a POS e o Burnout em duas

profissões distintas: bombeiros e bancários. O interesse em estudar a relação entre estas

variáveis é justificado pelo facto de se ter encontrado estudos que mostram que estes

dois grupos profissionais têm riscos de sofrer de Burnout. Como já foi mencionado

anteriormente, há estudos que indicam que estes profissionais sofrem de Burnout e,

desta forma, decidimos estudar uma variável - a POS - que pode ser importante para

reduzir esta síndrome de stresse profissional crónico. Através dos resultados foi possível

retirarmos duas conclusões: (1) tanto para os Bombeiros como para os Bancários

verificámos que existe uma relação negativa entre a POS e o Burnout, (2) esta relação é

mais forte para os Bancários do que para os Bombeiros.

De acordo com Riolli e Savicki (2012) os profissionais de emergência, face à sua

atividade profissional, estão frequentemente expostos a condições que afetam o seu

bem-estar físico e emocional. Além disso, os Bombeiros são um grupo profissional que

está vulnerável à ocorrência de Burnout face às exigências com que se deparam no dia-

a-dia (Silva, Lima & Caixeta, 2010). Paralelamente, Jacques e Amazarray (2006),

afirmam que os Bancários apresentam características que contribuem para o

desenvolvimento do Burnout. Como esperado, neste estudo verificou-se uma relação

negativa entre a POS e o Burnout quer para Bombeiros quer para Bancários. Este

resultado está de acordo com estudos anteriores (Tamayo & Tróccoli, 2002). Por

exemplo, Lee e Asforth (1996), realizaram uma meta-análise com 61 estudos, e

verificaram que a Exaustão emocional se correlacionava negativamente com o suporte

social em contexto de trabalho. Oliveira, Tristão e Neiva (2006) também analisaram a

relação entre o suporte organizacional percebido e os fatores da síndrome de Burnout

em 30 de profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal de um Hospital

universitário brasileiro, e verificaram correlações negativas altas entre estas variáveis.

No entanto, os resultados do presente estudo não foram ao encontro do que inicialmente

se esperava, pois acreditávamos que a relação POS-Burnout seria mais forte para o caso

dos Bombeiros e não para os Bancários, mas verificámos o contrário: esta relação é

mais forte para os Bancários. Uma possível explicação para este resultado assenta no

facto de que para os Bombeiros é mais valorizado o apoio dos colegas, sendo estes mais

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efetivos no apoio que podem dar para se ultrapassar as situações que desencadeiam o

stresse e, consequentemente o Burnout. Sendo uma instituição para-militar a instituição

no seu conjunto e o comando em particular, tradicionalmente não têm mecanismos de

apoio para ajudar os profissionais a lidarem com as situações de stresse. Pelo contrário,

podemos pensar que os Bombeiros primam mais pelo trabalho em equipa, seja no

quartel ou no terreno e, sendo profissionais de ajuda, que lidam com situações de grande

responsabilidade e eventos traumáticos, percecionam como mais importante o suporte

dos colegas. Estudos futuros poderão investigar se o suporte dos colegas de trabalho

exerce uma relação mais forte para Bombeiros ou para Bancários. Outra possível

explicação para este resultado inesperado, poderá estar relacionada com a natureza da

amostra de cada um dos grupos. No caso dos Bombeiros, a amostra inclui Bombeiros

profissionais de diversificados quartéis a nível nacional que por influência das

características vividas em cada um desses contextos poderão ter uma perceção muito

diversificada do suporte organizacional. De modo diferente, a amostra de Bancários

inclui apenas trabalhadores de um banco e, consequentemente, todos reportaram a sua

perceção de apoio ao mesmo contexto. Esta diversidade/homogeneidade de contexto de

referencia pode ter influenciado não só a POS, mas o seu relevo para explicar o

Burnout. Estes futuros poderão incluir uma amostra de Bombeiros de um determinado

quartel ou Bancários de vários bancos.

Implicações para a Gestão de Recursos Humanos

A Síndrome de Burnout tem claras implicações para os trabalhadores e para as

organizações. Os profissionais que sofrem desta síndrome não demonstram apreço pela

organização nem pelos colegas de trabalho e exibem no dia-a-dia de trabalho alguns

sintomas tais como: intenção de abandonar o emprego, turnover, absenteísmo, níveis

baixos de produtividade, atrasos, injúrias pessoais e baixo nível de comprometimento

organizacional (de Andrade, Hoch, Vieira & Medianeira, 2012). A GRH deve estar

atenta, preparada e recetiva para atenuar nesta síndrome. Com os resultados deste estudo

vimos que é fundamental atuar para aumentar a Perceção de Suporte Organizacional por

parte dos colaboradores. Em concreto, podem ser implementadas práticas de GRH que

permitam a ascensão e promoção dentro da organização, a prática de salários justos e

equitativos, a conciliação da vida pessoal e profissional e o desenvolvimento de

competências, de justiça e de confiança, porque desta forma se vai conseguir aumentar

a POS.

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