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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ROBERTA BERJAS DE BARROS A RELAÇÃO ENTRE ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO E A MATURIDADE PARA A ESCOLHA PROFISSIONAL DOS JOVENS DO ENSINO MÉDIO SÃO PAULO 2016

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS … · sequência da vida do indivíduo, que compreende suas atitudes e comportamentos relacionados às experiências ocorridas em

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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ROBERTA BERJAS DE BARROS

A RELAÇÃO ENTRE ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO E A MATURIDADE PARA A

ESCOLHA PROFISSIONAL DOS JOVENS DO ENSINO MÉDIO

SÃO PAULO

2016

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ROBERTA BERJAS DE BARROS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Administração do Centro Universitário das Faculdades

Metropolitanas Unidas como requisito para obtenção do

título de Mestre em Administração.

Profa. Orientadora: Profa. Dra. Daielly Melina Nassif

Mantovani.

SÃO PAULO

2016

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Barros, Roberta Berjas de A relação entre estereótipos de gênero e a maturidade para a escolha profissional dos jovens do ensino médio / Roberta Berjas de Barros. – São Paulo: R. B. Barros, 2016.

105 f. : il. ; 30 cm Orientadora: Daielly Melina Nassif Mantovani Dissertação (Mestrado) – Faculdades Metropolitanas

Unidas, Mestrado em Administração, 2016. 1. Estereótipos profissionais. 2. Escolha profissional. 3.

Maturidade. 4. Estereótipos de gênero. I. Título. II. Orientador. CDD 658

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ROBERTA BERJAS DE BARROS

A RELAÇÃO ENTRE ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO E A MATURIDADE PARA A

ESCOLHA PROFISSIONAL DOS JOVENS DO ENSINO MÉDIO

Data de aprovação: _______de __________________ de 2016.

Banca Examinadora:

Presidente: Profa. Dra. Daielly Melina Nassif Mantovani – Orientadora Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)

___________________________________________________________________________ Membro Externo: Prof. Dr. Rodrigo Cunha da Silva

Universidade Anhembi Morumbi (UAM)

Membro Interno: Profa. Dra. Elza Fátima Rosa Veloso Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)

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AGRADECIMENTOS

São muitas as pessoas que colaboraram para o desenvolvimento desta pesquisa. Será difícil

mencionar todas elas sem correr o risco de esquecer alguém. Deste modo, agradeço a todos

que direta ou indiretamente colaboraram a para realização deste estudo.

Em primeiro lugar agradeço minha orientadora, Profa. Dra. Daielly Melina Nassif

Mantovani, por toda paciência, ensinamentos e dedicação. À banca examinadora, composta

pelo Prof. Dr. Rodrigo Cunha da Silva e pela Profa. Dra. Elza Fátima Rosa Veloso, que muito

contribuíram para o delineamento desta pesquisa.

Agradeço minha amiga e revisora deste trabalho, Eliane Herrero, por toda sabedoria e

disponibilidade em me ajudar nos momentos de aflição.

Agradeço à direção dos colégios que participaram da pesquisa e aos alunos por colaborarem

com a mesma.

Agradeço ao meu pai, meu grande exemplo de retidão, por acreditar em mim, ser meu

incentivador e meu assistente de pesquisa; à minha mãe por todo amor e por me fazer uma

pessoa melhor a cada dia; às minhas irmãs agradeço por todo carinho e companheirismo.

Ao meu marido, o meu muito obrigada pela paciência, admiração e amor durante este período

de dedicação aos estudos e em todos os outros.

E, finalmente, agradeço aos meus colegas de trabalho, Fabiana Sousa e Fabricio Pertile, e

minha gestora, Cidinha, que me apoiaram e incentivaram, além de compreenderem meu

momento de dedicação ao mestrado.

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RESUMO

Pesquisar com o objetivo de compreender as transformações sociais e os estereótipos de

gênero, que de modo geral delineiam as características das profissões, fazendo com que nos

deparemos com profissões tipicamente femininas e masculinas, é importante não só na esfera

acadêmica, mas, principalmente para os indivíduos que precisam optar por uma carreira

quando é chegado o momento e para as empresas que recebem esses profissionais no futuro.

Os padrões desenhados ao longo da história podem exercer influência no momento da escolha

profissional do jovem, por isso se faz necessário entender o quanto os estereótipos

profissionais podem afetar a escolha profissional dos jovens. Nesta pesquisa, classificada

como quantitativa e descritiva, a coleta de dados ocorreu por meio de survey. Os sujeitos da

pesquisa são estudantes do 3º ano do ensino médio de uma escola pública e outra privada do

município de São Paulo, totalizando 391 casos válidos. A Análise de dados demonstrou que,

em uma escala de 1 a 5, as dimensões da maturidade recebem em geral escore médio variando

entre 3 e 4, o que indica maturidade com tendência favorável. A escala de estereótipos de

gênero demonstrou visão estereotipada apenas para as profissões de executivo e engenheiro,

vistas como mais masculinas. Ao se avaliar as variáveis de perfil do aluno e a maturidade e

percepção de estereótipos profissionais, no geral, não se observa relação significante. Estes

achados são relevantes para as instituições de ensino superior que receberão estes jovens para

a vida universitária, podendo contribuir para o planejamento de estratégias de acolhimento e

socialização mais adequadas, podendo-se impactar os níveis de desistência e evasão dos

cursos superiores.

Palavras-chave: estereótipos profissionais; maturidade para a escolha profissional;

estereótipos de gênero, trabalho.

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ABSTRACT

THE RELATIONSHIP BETWEEN GENDER STEREOTYPES AND MATURITY

FOR PROFESSIONAL CHOICE OF SECONDARY EDUCATION OF YOUTH

Understanding social transformations and gender stereotypes that generally outline

characteristics of professions, which are typically perceived as either female or male

professions, is important. It is important not only in the academic sphere, but also to

individuals when opting for a career and for companies that receive these professionals in the

future. Patterns throughout history can exert influence upon young professionals’ choices, so

it is necessary to understand how occupational stereotypes can affect the career choices of

young people. This research is classified as quantitative and descriptive data collection which

occurred through a survey. Research subjects are students in their 3rd year of high school in a

public school and a private school in São Paulo, totaling 391 valid responses. Data analysis

has shown that on a scale of 1 to 5, the dimensions of maturity receive a mean score ranging

between 3 and 4, which indicates favorable tendency maturity. The scale of gender

stereotypes demonstrated stereotypical view only to the professions of executive and

engineer, which are seen as more masculine. When evaluating profile variables of the student

and the maturity and a sense of professional stereotypes in general, a significant relationship

was not observed. These findings are relevant to higher education institutions that receive

these young people to university life and may contribute to the planning and introduction of

more appropriate socialization strategies, and we can positively impact the dropout levels and

avoidance of higher education.

Keywords: professional stereotypes, maturity for professional choice, gender stereotypes,

work.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fases da carreira 35

Figura 2 – Modelo tridimensional de uma organização 38

Figura 3 – Modelo para Escolha Profissional da EMEP 69

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Modelos de carreira 28

Quadro 2 – Tipos de carreira 28

Quadro 3 – Transformações nos contextos em que as carreiras se desenvolvem 31

Quadro 4 – Síntese do diálogo entre a carreira proteana e as carreiras sem

fronteiras

33

Quadro 5 – Características das Inclinações Profissionais 50

Quadro 6 – Referências para as técnicas de análise de dados 74

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Perfil da amostra 76

Tabela 2 – Resultados da AFC para a escala EMEP 78

Tabela 3 – Distribuição por gênero nos cursos 77

Tabela 4 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Ensino público e privado 81

Tabela 5 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Período noturno e matutino 82

Tabela 6 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Ensino regular e técnico 82

Tabela 7 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Gênero 83

Tabela 8 – Percepção de igualdade de gêneros nas profissões

Tabela 9 – Correlações entre igualdade de gêneros e maturidade para a escolha

profissional

Tabela 10 – Teste de Mann-Whitney para percepção de estereótipos e

maturidade

Tabela 11 – Relação entre igualdade de gênero e variáveis de perfil

83

85

85

86

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

1.1 Justificativa do estudo 13

1.2 Pergunta de pesquisa 14

1.3 Objetivos geral e específicos 15

1.4 Estrutura da dissertação 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO 16

2.1 Papel de gênero na construção do feminino e do masculino 16

2.2 As transformações no mundo do trabalho e suas contribuições para a

caracterização das sociedades e dos trabalhadores

22

2.2.1 Os conceitos de carreira e profissão 25

2.3 O conceito de identidade e identidade profissional

2.4 Estereótipos das profissões

2.5 Escolha profissional do jovem e a orientação vocacional

2.6 O ensino médio no Brasil

2.7 Escalas: EMEP e Estereótipos Profissionais

40

43

48

64

68

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 71

3.1 Definição da pesquisa 71

3.2 Coleta de dados 72

3.3 População e amostra 73

3.4 Plano de análise dos dados 74

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Preparação dos dados e perfil da amostra

4.2 Análise Fatorial Confirmatória

4.3 Maturidade para a escolha profissional

4.4 Estereótipos de gênero

5 CONCLUSÕES

76

76

77

80

83

87

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1 INTRODUÇÃO

A principal marca da passagem para a vida adulta é a inserção do jovem no mercado

de trabalho, sendo que este tende a se tornar central na vida de uma pessoa. Diante disso, é

possível compreender o quão pressionado sente-se o jovem nessa fase, que é considerada de

grande decisão. De modo geral, isso remete a todas as influências que vão pressioná-lo e

transportá-lo para a vida adulta (BICHARA, 2001).

Até o final da adolescência, a identidade individual de um jovem vai sendo

constituída, até que, chegado o momento da decisão por uma carreira, a identidade

profissional se desponta e começa a se fundir com a individual. Pode-se afirmar que é na

individualidade que reside a identidade profissional que, por sua vez, fica incumbida pelas

escolhas das atividades para o convívio social. Acredita-se que a profissão e o trabalho são tão

importantes na vida de uma pessoa que é possível considerar que a identidade profissional

completa a identidade pessoal e seja coadjuvante para a constituição da personalidade

(NETTO et al., 2007).

As diferenças das características entre homens e mulheres podem influenciar nas

definições da trajetória dos indivíduos, assim como podem reduzir a escolha aos estereótipos

impostos pela sociedade, ou seja, essas diferenças culminam numa formação social e cultural

do homem e da mulher. Ao analisar-se a história, identificam-se quais atividades são

destinadas aos homens e quais são às mulheres. Aos primeiros, destinam-se atividades

relacionadas à força física e à prática do poder em relação aos outros; já às mulheres, são

atribuídas atividades voltadas aos cuidados com o lar e família (SHIMADA, 2013).

Ao olharmos para as empresas, também identificamos homens e mulheres em cargos

e áreas em que se espera encontrá-los, ou seja, há um movimento repetido do contexto da

história. Em geral, mulheres estão na área de Recursos Humanos e homens, na Contabilidade,

por exemplo.

Diante desses fatos, faz-se necessário compreender como se dá a construção das

diferenças entre homens e mulheres na vida social. Para tanto, o estudo da teoria de gênero

pode ser uma das alternativas para as pesquisas das categorias de comportamentos

pertencentes aos seres feminino e masculino. Como a teoria de gêneros também se volta a

analisar o trabalho e os valores que contemplam as diferenças entre homens e mulheres,

considerá-la será prática contributiva desta pesquisa (PINTO, 2000).

Abarcando os construtos escolha profissional e estereótipos profissionais, também se

faz necessário pesquisar acerca do tema carreira, este definido por Hall (2002) como uma

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sequência da vida do indivíduo, que compreende suas atitudes e comportamentos relacionados

às experiências ocorridas em meio ao trabalho.

Para Veloso et al. (2012), construir uma carreira significa tomar atitudes e decisões

que vão movimentar vários outros aspectos da vida de uma pessoa e é por isso que escolher e

iniciar essa atividade é considerado um dos momentos mais importantes, além de ser causador

de grande tensão na vida de um jovem. Ao escolher, ele ou ela precisará se desenvolver e

amadurecer para que ocorra sua adaptação social. Diante de tantas transformações, o jovem é

chamado à responsabilidade de decisão, a qual é considerada um marco em sua vida.

Quitete (2010) traz que, além do delineamento social trazido às profissões quanto ao

gênero, o comportamento das pessoas, que reproduzem aquilo que lhes é atribuído e esperado,

também reforça os padrões estabelecidos, sendo interessante verificar que os indivíduos agem

como se fosse por conta própria, como se não sofressem nenhuma influência dos grupos de

referência (família e amigos).

Com o avançar da pesquisa, foi possível verificar que há diferença entre como são

classificadas socialmente as profissões, sendo algumas categorias caracterizadas como

femininas e outras, como masculinas. Sendo assim, em meio a tantas transformações

históricas e sociais, em relação aos papéis atribuídos aos gêneros, os jovens se constituem

protagonistas da sua própria história e, na chegada à vida adulta, são chamados à escolha

profissional (BARRETO et al., 2007).

Com base nessas referências, neste estudo, pretende-se analisar as características

construídas acerca dos estereótipos de gênero das profissões, bem como os impactos e

importância no momento da decisão profissional dos jovens que, em breve, estarão inseridos

no mercado de trabalho e contribuirão para o delineamento do perfil que permeia as

organizações.

1.1 Justificativa do estudo

As mudanças sociais e dos papéis de gênero reconfiguram e transformam as

características das profissões, de maneira que nos deparamos com ocupações tipicamente

femininas ou masculinas e com os padrões e estereótipos delineados ao longo da história e

que podem exercer influência direta no momento da escolha profissional do jovem

(BARRETO et al., 2007). Com isso, torna-se necessária a compreensão do quanto a influência

dos estereótipos de gênero pode afetar a escolha profissional dos jovens e contribuir para o

delineamento do perfil das empresas.

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Esta pesquisa apresenta-se relevante e contributiva socialmente por analisar o

fenômeno dos estereótipos acerca das profissões, assunto que requer estudos mais

aprofundados e capazes de identificar e explicar a existência e influência dessas ocorrências.

O tema é também relevante ao buscar a compreensão da cultura e de como os mecanismos

dos conhecimentos adquiridos e vivenciados influenciam na decisão sobre à qual profissão o

jovem vai se dedicar, bem como sobre a maneira como essa escolha pode contribuir para o

delineamento do perfil das empresas.

O público da amostra da pesquisa é composto por alunos do 3º ano do ensino médio

regular e profissionalizante, por tratar-se do público que, em maioria, está na fase da escolha

profissional (NEIVA, 2014).

Optou-se por realizar a pesquisa com alunos de dois colégios, sendo um público e um

privado, para que fosse possível comparar se há diferença nos resultados quanto à maturidade

e visão estereotipada das profissões dentro desses dois universos.

De modo geral, vê-se nas empresas que as contratações são realizadas de forma

estereotipada. Em sua experiência profissional, a autora se depara com esta questão

rotineiramente, por atuar na área de Recrutamento e Seleção. É mais comum um gestor da

área de exatas como Tesouraria, Risco de Mercado, Risco de Crédito e outras, solicitar

profissionais para comporem suas equipes que sejam Engenheiros ou Estatísticos, por

exemplo, e do gênero masculino. Por vezes, esse é um pré-requisito e não apenas uma

característica desejável.

Por sua experiência profissional, a autora desta pesquisa verifica que as empresas

podem realizar suas contratações pautadas no gênero, pois, como mencionado, é comum, no

contexto no qual está inserida, a exigência de contratação de homens ou mulheres em

determinadas áreas.

Além das contribuições acima descritas, esta pesquisa também tem potencial para ser

uma contribuição acadêmica voltada à coleta de informações e análise de dados estatísticos

acerca da percepção sobre os estereótipos de gênero e como esses se relacionam a um dos

momentos considerados mais importantes na vida de um jovem.

Pretende-se, finalmente, contribuir para a desmistificação das influências das

questões de gênero na escolha profissional, ampliando-se a discussão dos assuntos abordados.

1.2 Pergunta de pesquisa

Diante da necessidade de compreensão das influências que abarcam o estereótipo das

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profissões para a escolha profissional de um jovem, constituiu-se a pergunta de pesquisa: qual

a influência da maturidade e dos estereótipos das profissões sobre a escolha profissional

dos jovens pertencentes ao ensino público e privado?

1.3 Objetivos geral e específicos

Com a finalidade de investigar e responder à pergunta de pesquisa, delineou-se o

objetivo geral deste estudo, que é identificar o nível de maturidade e avaliar sua relação

com a percepção sobre estereótipos profissionais entre jovens do 3ºano do ensino médio

pertencentes ao ensino público e privado.

Para direcionar esta pesquisa, têm-se os seguintes objetivos específicos:

1) identificar a relação entre maturidade para escolha profissional e a percepção de

estereótipos nas profissões;

2) identificar o nível de maturidade dos estudantes em relação à escola privada e

pública, período de estudo (matutino ou noturno), tipo de ensino (regular e

técnico/profissionalizante) e ao gênero;

3) verificar a influência dos estereótipos de gênero na escolha profissional dos jovens

pertencentes ao ensino público e privado.

1.4 Estrutura da dissertação

Esta pesquisa está estruturada em quatro partes, sendo a primeira a introdução. Na

segunda parte, está contemplado o referencial teórico, alicerce desta pesquisa, no qual

encontra-se o levantamento em relação aos construtos maturidade para a escolha profissional

e percepção dos estereótipos profissionais, bem como os temas: papéis de gênero, trabalho,

profissão, carreira, identidade, estereótipos das profissões, orientação vocacional e escolas no

contexto brasileiro.

Na terceira parte, encontram-se os procedimentos metodológicos que foram

realizados com o objetivo de responder à pergunta de pesquisa e para confirmação das

hipóteses identificadas.

Na quarta parte, encontram-se a análise de resultados e discussões e na quinta parte,

apresentam-se as conclusões, limitações do estudo e sugestões para pesquisas futuras.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Ao longo deste trabalho, serão abordados os construtos maturidade para a escolha

profissional e percepção dos estereótipos profissionais. Em relação a esses, se faz necessário

contemplar a historicidade dos temas: papel de gênero, trabalho, profissão, carreira,

identidade, estereótipos das profissões, orientação vocacional e escolas no contexto brasileiro.

2.1 Papel de gênero na construção do feminino e do masculino

O sexo de um bebê é um aspecto importante para o seu desenvolvimento e, ao

classificar-se um indivíduo como masculino ou feminino, há a referência ao sexo e,

consequentemente, ao gênero. Entretanto, se o sexo está relacionado às características

biológicas, em contrapartida, o gênero se refere ao modo como as sociedades construíram a

rotulação para descrever as diferenças entre o feminino e o masculino. Gênero não se refere às

diferenças entre homens e mulheres, mas àquilo que é fruto da construção social e cultural e

que, desta forma, poderá influenciar o indivíduo a constituir o sentido de identidade no meio

no qual está inserido e à medida que interage com as outras pessoas. O gênero de uma pessoa

reproduz os seus traços físicos e psíquicos, que vão influenciar diretamente a maneira como

essa pessoa interage com o mundo, ao mesmo tempo em que tem respostas dele (PINTO,

2000).

Na tenra infância, as características físicas dos sexos têm semelhanças, contudo, à

medida que ocorre a interação com os pais, inicia-se a construção do gênero da criança, por

meio da atribuição do nome, cores das roupas e distância estabelecida entre meninos e

meninas, de modo que é possível caracterizar o sexo não só como um fator biológico, mas

também como cultural e social, fato verificado pelo modo como as pessoas costumam reagir

de forma diferente quando diante de uma criança do gênero feminino ou masculino. A

diferença no tratamento dispensado se dá na forma de dialogar, afagar e também no que é

esperado da criança. Não é incomum ver um adulto esperando que um menino que tenha

caído no chão se levante depressa e sem chorar, enquanto que, com uma menina, a reação é

mais afetuosa ao vê-la cair (NOGUEIRA, 2011).

Para Nogueira (2011), a partir do momento que o indivíduo toma conhecimento das

suas características biológicas, a trajetória para sua formação em relação ao pensar e agir o

leva às crenças dos atributos individuais e àquilo que se espera do sujeito masculino e

feminino, culminando nos estereótipos que vão sendo depositados e instituídos pela

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sociedade. Desde a infância, os estímulos dados a meninas e meninos são diferentes, o que

contribui para a construção da identidade da pessoa. Os brinquedos dados às meninas, tais

como maquiagem, panelas e bonecas não contribuem diretamente para elaboração da

criatividade, por terem significação e funcionamento esperados; já os brinquedos de meninos,

tais como bola, quebra-cabeças, autorama, entre outros, tendem a estimular mais a

criatividade (NOGUEIRA, 2011).

Diante do exposto, pode-se afirmar que o brinquedo dado a uma criança deixa de ser

neutro e acaba por delinear comportamentos e um modus operandi social e cultural, definindo

papéis e responsabilidades no meio no qual o sujeito está inserido. Transferir esse fator,

baseado nas diferenças, ao aspecto profissional e ao momento da formação cognitiva e da

identidade, poderá fazer com que, na idade adulta, as mulheres busquem atividades voltadas

ao relacionamento, ciências sociais e assistenciais, enquanto aos homens restará uma escolha

voltada às áreas que requerem raciocínio lógico (NOGUEIRA, 2011).

Em relação ao estudo da história do trabalho, observa-se que, até meados do século

XX, a mulher exercia um papel voltado exclusivamente à família e com uma participação

tímida no mercado de trabalho, de modo que, antes mesmo de se considerarem os estereótipos

das profissões, trabalhar era considerado um ato masculino. É possível afirmar que ainda há

divisão dos papéis e comportamentos esperados na interação com a sociedade, visto que

muitas mulheres escolhem profissões relacionadas ao atendimento, limpeza e ao ensino e os

homens, por sua vez, buscam profissões que se relacionam à condução de máquinas,

construção, mecânica e raciocínio lógico (PINTO, 2000).

Rosa et al. (2015) realizaram uma pesquisa com crianças com idade entre seis e oito

anos, do ensino fundamental, cujo objetivo foi o de verificar os significados quanto às

relações de gênero e como estas relações são constituídas enquanto interagem nas

brincadeiras e nas tarefas mais lúdicas.

As autoras propuseram que as crianças levassem brinquedos de sua preferência para

a sala de aula e se depararam com uma menina que levou um tablete da Barbie e que, quando

questionada sobre o motivo da escolha daquele brinquedo, respondeu que era “muito legal, ele

ensina escrever, fazer conta, ensina cantar e a fazer comida, e eu posso escolher qual bolo que

vou fazer”. As alunas ficaram impressionadas com o brinquedo e o único menino que prestou

atenção disse, ao final, que seria um chefe cozinheiro em Paris. O ponto de atenção é o fato do

menino se apresentar como chefe de cozinha e não como um cozinheiro, tal como poderia ser

sua mãe, tia ou avó, por exemplo. Fato é que nos deparamos com grandes chefes de culinária

no mundo do gênero masculino, já quanto às mulheres, é mais comum vê-las em restaurantes

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de menor prestígio (ROSA et al., 2015).

Na mesma pesquisa, foi observado que, ao formarem grupos para as brincadeiras, as

crianças o fizeram de acordo com o gênero e quando fora solicitado que se misturassem, um

dos grupos de meninos não recebeu bem uma das meninas, afirmando que ela atrapalharia a

brincadeira, pois “menina não sabe brincar de carrinho e por isso não pode brincar” (ROSA et

al., 2015).

As autoras concluíram que quando as crianças vão para a escola a divisão entre o

feminino e masculino já está estabelecida, de modo que apenas reproduzem comportamentos

baseados em seu contexto social, sendo que a escola, por sua vez, não realiza um trabalho de

desmistificar e desconstruir este arcabouço arraigado nas crianças.

De acordo com Scott (1986), na década de 1970, o tema gênero começou a ganhar

mais importância, sendo caracterizado como um arquétipo social para o entendimento da vida

particular do homem e da mulher. As discussões sobre o tema se desdobram para a

compreensão da sociedade que se constrói baseada nas relações de gênero e que torna genuína

a sistemática em relação à dominação e subordinação.

De acordo com Scott (1986), o termo gênero surgiu, primeiramente, entre as

feministas americanas que desejavam defender uma peculiaridade imprescindível de

diferenciações pautadas no termo sexo, que se reduz às diferenças biológicas entre homens e

mulheres. A palavra gênero passou a ser utilizada para proporcionar uma noção associativa

em nosso vocabulário analítico, tendo como características sociais as diferenças sobre o sexo

e a recusa da utilização desta palavra, que tem sua origem no latim sexus e que significa o

estado de ser macho ou fêmea. A palavra gênero se refere ao estudo das relações de gênero

em todas as suas direções, seja na sociologia, na antropologia ou na psicologia, como

resultante da cultura obtida e transmitida nas interações sociais.

Desse modo, os estudos de gênero levam em consideração as diferenças entre os

sexos na construção social. Essas diferenças não devem servir de arcabouço para desigualdade

e sim para a pesquisa e análise das particularidades dos dois sexos, sem levar em consideração

somente as diferenças pautadas na esfera da biologia (SCOTT, 1986).

Rabelo (2010), por sua vez, argumenta que, embora no princípio o estudo de gênero

tenha sido relacionado aos estudos feministas que retratam uma mudança dos arquétipos, este

não pode ser remetido somente ao estudo da mulher ou do feminismo. Deve-se considerar que

gênero é partilhado por ambos os sexos e deve ser compreendido como uma construção

social, da história e da cultura que é elaborada com base nas desigualdades sexuais. Assim, a

autora afirma que:

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...os estudos de gênero são importantes, por exemplo, para a análise dos homens em

atividades sociais socialmente consideradas como femininas. Deste modo, o seu

trabalho ou tarefa entra em conflito com as expectativas e pode mostrar exceções aos

padrões de gênero ou tentativas de reafirmação. Enfim, os estudos de gênero

entendidos de uma forma ampla ajudam a compreender os conflitos, resistências,

reafirmações, satisfações e sucesso destes homens (e vice-versa). (RABELO, 2010,

p. 164).

Desse modo, torna-se necessário compreender como se dá a construção das

diferenças entre homens e mulheres nas diversas esferas, ou seja, na vida social, privada,

pública, em meio à família, ao trabalho, dentre outras.

Feitosa et al. (2013) relatam que o termo gênero foi absorvido pelo feminismo e

pelos estudos sobre os temas relacionados à mulher nos anos 1970 e, ao longo do tempo,

passou a ter outros significados nas várias correntes do feminismo. Durante aquela década,

ocorreu um grande crescimento industrial e de urbanização, acarretando numa maior

participação das mulheres no mercado de trabalho e trazendo um novo delineamento às

características dos trabalhadores.

O estudo da teoria de gênero aparece não para ser um modelo único, e sim mais uma

alternativa para os estudos das categorias de comportamentos pertencentes ao ser feminino e

masculino e aos papéis que dão relevância ao gênero. Também pousa sua ótica nos princípios

do trabalho e dos valores, que contemplam as diferenças entre homens e mulheres, que se

refletem em todas as estruturas sociais. Em sua gênese, o estudo de gênero está relacionado à

construção social da feminilidade e da masculinidade como grupos contraditórios e com

diferenças de valores sociais (PINTO, 2000).

De acordo com os estudos da autora, os pesquisadores que se atêm aos papéis de

gênero dos indivíduos no singular olham apenas a fatia do processo psicossocial que se dá na

socialização e nas relações sociais, quando pesquisam a acomodação dos homens e mulheres

em papéis determinados na família, no trabalho e na vida social. Entretanto, existem outros

pesquisadores que consideram a questão do gênero como uma teoria de “organizações de

gênero”, para perenizar as relações que fazem parte das práticas das organizações e da

socialização na interação com o meio. No tocante à relação com o meio, o gênero se constrói

e se reconstrói à medida que a história de uma sociedade é vivida e desenhada pelos sujeitos

que dela fazem parte.

Para Rabelo (2010), é possível admitir que o sexo e o gênero são construídos,

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entretanto, para que não haja confusão quanto às diferenças dos conceitos, se fazem

necessárias diferenciações. Acerca desse fato, Scott (1986) argumenta que o gênero passou a

ser considerado como uma maneira de diferenciar a prática do sexo dos papéis sexuais

esperados dos homens e mulheres e aponta para um conjunto de relações que pode também

considerar o sexo sem ser, no entanto, estabelecido por ele. A autora considera ainda que não

se deve ligar o gênero exclusivamente à biologia, considerando-o um ato social que tem a ver

com os corpos, mas não se limita a eles, uma vez que o gênero existe na medida em que a

biologia não consegue definir o social.

Minha definição de gênero tem duas partes e vários subgrupos. Eles são inter-

relacionados, mas devem analiticamente ser distintos. O núcleo da definição repousa

sobre uma conexão integral entre duas proposições: a de que sexo é um elemento

constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças entre os sexos e o gênero é

uma forma primária que dá significado às relações de poder (SCOTT, 1986, p. 23).

Considerando esta visão, Rabelo (2010) argumenta que, para pesquisar o emaranho

que envolve as relações de gênero, é preciso destacar as diversas nuances que vão desde as

relações entre mulheres e homens até as construções que englobam a família, a política, as

regras sociais, as organizações, a identidade e muito mais. A dicotomia entre o gênero

feminino e o masculino é deveras mais profunda do que aquilo que é veiculado. Em síntese, o

gênero está impregnado pelas relações de poder. Os homens, considerados como pertencentes

ao grupo dominante, interessam-se por conservar o poder, enquanto que as mulheres se

interessam por mudanças.

Para Ferreira (2012), o gênero se refere a uma maneira de especificar a organização

social dos sexos feminino e masculino, que visa esclarecer a discriminação que a mulher

sofre, uma vez que a ela são impostos papéis que a diminui, apoiando-a na sua função de

reprodutora, enquanto ao homem cabe a força física. Em geral, a classificação gênero deixa de

lado as concepções que cindem os sexos. O esforço se volta a deixar de considerar o estudo

como isolado, focando na relação entre mulheres e homens e na superação das desigualdades.

De modo geral, as diferenças dos atributos entre homens e mulheres contribuem para

as definições da trajetória dos indivíduos e podem restringir a escolha aos estereótipos

impostos pela sociedade, gerando assim discriminação, quando o caminho traçado foge ao

esperado. Essas diferenças levam a uma formação social e cultural do homem ou mulher. Ao

considerar-se a história, identificam-se atividades destinadas aos homens, as quais se destinam

à conquista, que remetam à bravura, que requerem força física e a prática do poder em relação

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aos outros; já às mulheres, são atribuídas atividades voltadas à vida doméstica, educação dos

filhos e reprodução (SHIMADA, 2013).

Ainda para Shimada (2013), as transformações sociais geradas pelo aumento da

participação da mulher no mercado de trabalho resultam em mudanças nos papéis

desempenhados pelos indivíduos na sociedade e, sobretudo, no campo da orientação

profissional. Tais transformações levam às diferenças de gênero no momento da escolha

profissional.

O ato de atribuir aos indivíduos determinados comportamentos relacionados ao sexo

biológico significa impor-lhes que existe uma tirania de gênero, a qual culmina na hierarquia

do masculino em relação ao feminino, uma vez que as atividades masculinas são tidas como

mais relevantes do que as femininas. Esses dois fatores levam às diferenciações entre ambos

na esfera do trabalho, da vida social, da própria família e nas relações de poder. Homens e

mulheres assumem um padrão comportamental que é esperado naturalmente deles no

convívio com o meio, o que reforça a diferença que existe entre ambos. As características

femininas e masculinas são instauradas na relação entre os sexos e na condição de os

indivíduos compartilharem os estereótipos, tanto os internalizando como reproduzindo os

traços comportamentais impostos, o que significa que reforçam a existência da desigualdade

(RABELO, 2010).

Ferreira (2012) aponta que discutir sobre profissão está estritamente relacionado às

diferenças das condições econômicas e do poder que se tem, de modo que a posição que se

ocupa é fundamental e a profissionalização não fica disponível ao coletivo, mas a favor de

uma minoria tida como prestigiada individualmente. Assim sendo, é preciso compreender

aquilo que gera a valorização e desvalorização das profissões, o que contribuirá para refutar o

estabelecimento de estereótipos que são oriundos da cultura de gênero e que, por vezes,

atribuem benefícios aos homens.

Acerca do conceito de papéis de gênero, identifica-se uma parte que é considerada

um processo natural na construção da história e da sociedade, tendo em vista que existe uma

construção social dos papéis exercidos por homens e mulheres no ambiente no qual estão

inseridos. Historicamente, pode-se ponderar que há profissões consideradas tipicamente

femininas e outras, masculinas, e o que se constrói acerca dos estereótipos pode afetar

diretamente a construção do feminino e do masculino (RABELO, 2010).

Em se tratando do tema escolha profissional, é preciso que se esteja munido de

conhecimento e maduro o suficiente para que as influências externas sejam atenuadas, deste

modo levanta-se uma das hipóteses desta pesquisa:

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H1: Há relação entre a maturidade na escolha profissional e a percepção de

estereótipos. Quanto mais maduro é o indivíduo, mais fraca é a percepção de

estereótipos.

Além das diferenças entre os gêneros estabelecidas nas sociedades, é importante

considerar as transformações no mundo do trabalho, pois essas também contribuem para a

construção social dos homens e mulheres, bem como para o delineamento das profissões a

serem escolhidas por esses.

2.2 As transformações no mundo do trabalho e suas contribuições para a caracterização

das sociedades e dos trabalhadores

A etimologia da palavra trabalho advém do latim tripaliare, que, por sua vez, deu

origem à ferramenta agrícola tripalium, um instrumento de tortura. Numa breve pesquisa

acerca do tema, é possível encontrar duas vertentes de significados do termo que são

contrárias entre si. A primeira associa o trabalho ao sacrifício, esforço, fardo esgotante e à

punição, enquanto que a segunda traz uma conotação positiva, que enxerga o trabalho como

facilitador das capacidades humanas para dispor de seu domínio da natureza, esta responsável

pela condição humana que traz consigo a percepção de empenho e esforço para o alcance de

objetivos. Nessa vertente, trabalhar significa fazer com cuidado e se aperfeiçoar na realização

de uma atividade (BASTOS et al., 1995).

Ao longo da história, o trabalho passou por muitas transformações e foi considerado

crucial para o acontecimento de mudanças, tais como o capitalismo, que foi instaurado no

início do século XIX e contribuiu para transformar os homens em trabalhadores livres para

negociar sua força de trabalho, de modo que a categoria trabalho se tornou uma atividade

social mais valorizada. Ao final do século XIX, ocorreu o processo de internacionalização do

capital, que culminou no início da globalização, fase em que as empresas multinacionais

ganharam destaque, devido à integração do mundo numa nova rede de relações. Nos anos

1970, a partir da Terceira Revolução Industrial, ocorreram novas influências para o mundo do

trabalho, tais como o avanço da globalização e a revolução tecnológica, que contribuíram

diretamente para uma nova configuração global, tornando o mundo menor. Diante da

globalização, ocorreu a reestruturação mundial do capitalismo e o novo paradigma de

produção industrial, sendo necessários ajustes estruturais na economia e na flexibilização do

trabalho. O sistema de produção em massa foi substituído pela produção racional, que passou

a ser praticada nas empresas dos países ricos (GOULART et al., 2002).

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Os autores apontam que as mudanças ocorridas atingem diretamente a sociedade e,

de maneira especial, o mundo do trabalho. Até aquela fase, o trabalho trazia consigo

características que valorizavam o esforço físico para a realização de atividades tidas como

operacionais. Havia a figura do especialista, normalmente chefe de setor, que detinha o

conhecimento das novas tecnologias, enquanto a grande massa executava atividade braçal.

Ainda de acordo com Goulart et al. (2002), esse tipo de trabalho beneficiava o ofício para o

homem, devido aos seus atributos de masculinidade. À mulher, restavam os trabalhos

administrativos e considerados menos importantes na época, numa sociedade que estava a

todo vapor, tal qual as indústrias com suas produções em massa (GOULART et al., 2002).

Na década de 1990, ocorreu uma nova reestruturação no universo do trabalho, por

conta dos efeitos trazidos pela globalização em todo o mundo, sendo aquela uma fase de

rápidas mudanças tecnológicas, econômicas e sociais. Diante dos desafios trazidos pela

economia globalizada, o terceiro milênio teve início, colocando o trabalho como uma

categoria central, uma vez que a competitividade, já sem fronteiras, exigia uma produção de

qualidade e, para isso, se fez necessário o emprego de trabalhadores bem qualificados

(GOULART et al., 2002).

O principal fator para a mudança nas características do trabalho foi a transferência do

foco do elemento manual da atividade para o elemento intelectual, reforçando a necessidade

de qualificação profissional por parte dos trabalhadores, os quais precisam desenvolver

competências de leitura, interpretação de textos, raciocínio criativo, capacidade para trabalhar

em grupos, comunicação, dentre outros. Mesmo nas funções tidas como chão de fábrica,

passou-se a exigir escolaridade mínima. Com uma mão de obra qualificada, enfatizou-se com

primazia o êxito, a qualidade, a alta produtividade e baixos custos na produção dos produtos.

Com esse espírito, se instaurou um sistema de rendimento extremo com o menor custo

possível, reforçando a necessidade de qualificação profissional e, por sua vez, do

enxugamento das empresas (GOULART et al., 2002).

Segundo Goulart et al. (2002), o processo de reestruturação do trabalho impulsionou

a procura por qualificação e estudo por parte dos trabalhadores, contribuindo para que

buscassem por formação, ou seja, a transformação das exigências do mundo do trabalho

moldou, mais uma vez, o perfil profissional das pessoas e estabeleceu, cada vez mais,

categorias de trabalho.

Devido aos modernos processos de produção, de gestão e à qualificação dos

profissionais, ocorreu o enxugamento das empresas, que optaram por ficar com os

profissionais mais eficientes. As empresas passaram a terceirizar setores considerados menos

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importantes para sua atividade fim, realizando o processo conhecido por downzing, dentre

outras práticas, que visavam o corte de pessoal, de salários e de despesas em geral. Dentro

daquele contexto, foram gerados o problema do desemprego e o crescimento das

desigualdades socioeconômicas, sobretudo em países menos desenvolvidos como o Brasil,

onde o alicerce social traz traços de exclusão e desigualdade, fazendo com que se elevasse a

precariedade do emprego, das novas formas de trabalho e da representação sindical. Esses

aspectos fizeram com que fosse instaurado um ambiente de trabalho em que a incerteza e a

insegurança se elevaram, reforçando a desagregação social e pessoal (GOULART et al.,

2002).

Diante de tantas transformações e com diretrizes que privilegiam a alta velocidade, a

partir dos anos 1990, começou uma nova modificação das características das carreiras e dos

trabalhadores. As exigências se concentraram ainda mais no indivíduo, que precisava

conhecer as novas tecnologias, ser veloz, competitivo e fazer a autogestão da carreira, o que

fez com que a mão de obra almejada ficasse escassa. As pessoas não cultivavam o desejo de

permanecerem perenes a uma mesma organização e, naquele ponto da história, surgiram as

carreiras sem fronteiras, que imprimiram novas formas habituais de trabalho (VELOSO et al.,

2011).

De modo geral, as carreiras e as organizações foram impactadas pelas mudanças no

decorrer da história, acentuando-se com a globalização, com a entrada de novas tecnologias e

com a diversidade na categoria trabalho (VELOSO et al., 2012). Ao mesmo tempo, é possível

afirmar que também ocorreram transformações nas características dos profissionais, uma vez

que, para se manterem empregáveis, precisaram se moldar às necessidades e exigências do

seu tempo. Os conceitos e ideias que se formaram, a despeito das transformações do mundo

do trabalho, ditaram o ambiente laboral de cada época da história, bem como as características

dos trabalhadores (GOULART et al., 2002).

Em seu estudo, Kubo et al. (2013) trazem que fatores financeiros são importantes na

decisão de trabalhar, mas não são decisivos. Além de suprir necessidades de cunho

econômico, o trabalho traz satisfação, realização e sensação de status. A pesquisa que os

autores realizaram teve como objetivo identificar quais são os fatores que se relacionam ao

significado do trabalho. O resultado encontrado revelou que o significado é contemplado por

sua centralidade, objetivos e resultados e, finalmente, pelas normas sociais, respectivamente.

Para a amostra pesquisada, o trabalho refletiu e atribuiu significado para a vida em todos os

seus aspectos, sendo, portanto, considerado fundamental para a constituição da vida do

sujeito.

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Complementando essas teorias, Haar et al. (2014) encontraram, em sua pesquisa,

que a satisfação com o equilíbrio entre vida cotidiana e trabalho também é um fator decisivo

na escolha e manutenção de carreiras e trabalhos, especialmente em culturas que têm maior

tendência à igualdade de gênero nestes aspectos.

Pode-se considerar, assim, que o trabalho ocupa um espaço central na vida das

pessoas e, por esta razão, acaba sendo norteador do ritmo de outras atividades. Além de

regulador de outras esferas da vida, o trabalho também define, na maioria das vezes, a classe

social de um indivíduo. Esse fato pode levar à reflexão sobre todas as influências exercidas

sobre uma pessoa no momento da escolha profissional (BICHARA, 2001).

Ao repassar a história das transformações do mundo do trabalho, também se faz

necessário pesquisar acerca do conceito de profissão e carreira, os quais também se

remodelaram ao longo dos acontecimentos históricos.

2.2.1 Os conceitos de carreira e profissão

As ideias sobre carreira, trabalho e profissão estão em constante mudança e são

continuamente desafiadas por uma sociedade em movimento. Se as carreiras tradicionais eram

baseadas em um sistema contínuo e hierarquicamente mais específico, dentro de organizações

mais estruturadas desse ponto de vista, carreiras lineares e de longo termo não são mais

adequadas para incorporar as escolhas e decisões de muitos dos empregados. Os novos

conceitos e evolução das organizações espelham os profissionais que assumem

responsabilidade pela gestão de suas próprias carreiras e empregabilidade. Assim, talentos

individuais, resistência e adaptabilidade se tornaram importantes peças do comprometimento

organizacional de ambos os lados do ambiente de trabalho (SULLIVAN; BARUCH, 2009).

Entretanto, Sullivan (1999) já apontava que alguns fatores, tais como gênero, variação

de contexto social, trabalho de imigrantes, minorias, entre outros, ainda levam os indivíduos a

procurarem carreiras mais tradicionais.

O conceito de carreira traz consigo uma ambivalência que está relacionada ao fato de

esse possuir uma série de definições. Em linhas gerais, pode significar emprego em troca de

salário ou atividade não remunerada, fazer parte de um grupo profissional, vocação, dom,

ocupação, posição em uma empresa, a trajetória de uma pessoa que trabalha por conta própria

ou ainda um roteiro pessoal para autorrealização dos desejos. Todos esses significados são

frutos do fato da história ter voltado sua ótica para as questões que envolvem o trabalho e suas

transformações. A sociologia e psicologia do trabalho contribuíram para a concepção que se

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tem atualmente sobre carreira. Discorrer sobre o tema significa direcionar os olhos às

questões mais complexas que se dão nas relações de trabalho, nas relações interpessoais, nas

organizações e na sociedade; com isso, carreira pode ser considerada um conceito moderador

capaz de unir muitas das dimensões da experiência humana, no que se refere ao trabalho

(BENDASSOLLI, 2009).

Segundo Hall (2002), se o termo carreira for apresentado num teste, vai trazer como

resultado uma série de significados, por estar relacionado à política, às relações dos homens,

aos funcionários das empresas privadas, dos governos, entre outros.

Para o autor, se o termo for considerado sob a ótica do dito popular, pode-se chegar a

dois diferentes significados: a) avanço da carreira, em que o crescimento é vertical na

hierarquia das organizações decorrentes de promoções; e b) carreira como profissão, quando

somente as ocupações que passam por movimentos de crescimento progressivo são

consideradas uma construção de carreira. Já sob a ótica da ciência do comportamento, temos

outros dois significados: a) carreira ao longo da vida, como uma sequência de empregos que

define que a carreira de um indivíduo é a sua história e todas as posições ocupadas em sua

trajetória, independente dos níveis ou tipo de trabalho; e b) carreira como uma sequência de

experiências em funções relacionadas ao longo da vida, que se refere à forma como o

indivíduo vivencia a sucessão de trabalhos e atividades que estabelecem sua história

profissional (HALL, 2002).

De modo geral, Hall (2002) define carreira como sendo a continuidade individual

compreendida por atitudes e comportamentos que se associam às experiências vividas pelas

pessoas no âmbito do trabalho.

Com as transformações do trabalho, saímos de uma sociedade do emprego, do

trabalho com salário, com horários e papéis definidos para um cenário em que o

conhecimento e as competências são valorizados. A carreira no passado era estável,

previsível, enquanto que nos dias atuais está mais voltada para novos formatos e estruturas. A

segurança do passado deu lugar à insegurança, da previsibilidade caminhou-se para a

imprevisibilidade, da estrutura hierarquizada, para uma estrutura que pode conduzir o

profissional a uma atuação como gestor de pessoas ou para um eixo técnico (carreira em Y),

ou em rede, matricial, autônoma ou liberal; enfim, há diferentes formas e modelos para a

trajetória profissional (GORZ, 2005).

Chanlat (1995) aponta que a gestão de carreira é um tema em evidência, sobretudo

em empresas que, nos anos 1990, se destacaram naquilo que tange a gestão de recursos

humanos. No meio acadêmico, essa gestão levantou inquietações há algum tempo,

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demonstrando que, de fato, não é uma preocupação tão recente assim. De todo modo, o tema

faz parte da pauta de grandes empresas que se preocupam com a evolução dos seus

colaboradores.

No dicionário, a palavra carreira apresenta alguns significados, dentre eles: “corrida

veloz, trilha, curso, trajetória, profissão, meio ou modo de proceder, o decurso da existência”

(MICHAELIS, 2016).

Foi no capitalismo que nasceu a ideia de carreira, diferente da época feudal, na qual

foi assinalada a divisão social e expressiva de desigualdade entre o clero, a nobreza e a classe

de camponeses e artesãos, bem como a ideia de igualdade entre todas as camadas e pessoas

que a elas pertencem. Diante da possibilidade de progresso para todos, fazer carreira está ao

alcance de cada um. Com isso, nos anos 1980, surgiu a ideia de que cabe às empresas a

preocupação da gestão de carreira dos seus colaboradores, que têm como papel produzir da

melhor maneira os interesses das partes (empresa e seu pessoal). Esta prática precisa ser

realizada, levando-se em consideração tudo aquilo que está arraigado na esfera social das

carreiras. Por esta ótica, entende-se que fazer carreira é possível para todos, entretanto, sabe-

se que a realidade é bem diferente, pois o valor que se dá ao sucesso está no cerne da regra

social da atualidade (CHANLAT, 1995).

O autor ainda ressalta que o capitalismo incentivou o crescimento social e o sucesso,

reforçando o surgimento da carreira contemporânea. Até então cada pessoa se dedicava à

função que possuía, de acordo com a posição social que ocupava, não sendo possível obter

ascensão social, exceto pelo desejo da monarquia, que optava por manter a aristocracia. Como

exemplo, há o caso de Mozart, que era considerado um doméstico no século XVIII, mesmo

com todo seu talento. No século seguinte, esse fato não ocorreu mais, pois passou a ser

possível que um artista de talento fizesse sua própria carreira sem precisar contar com a boa

vontade do monarca para evoluir, ou seja, a carreira deixou de depender da aristocracia.

Chanlat (1995) observa que, mesmo diante das diferenças culturais e transformações

históricas, há traços que são comuns quando o tema se refere à carreira, sendo possível

apontar dois modelos e quatro tipos de carreiras. De modo geral, os modelos se referem às

peculiaridades de carreira na sociedade e os tipos, ao fator profissional, que são as diferentes

direções que uma pessoa pode seguir na esfera do trabalho.

Os modelos de carreira estão expostos no Quadro 1, elaborado por Chanlat (1995).

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Quadro 1 – Modelos de carreira

Modelo Tradicional Modelo Moderno

Um homem: - pertencente aos grupos socialmente dominantes - estabilidade - progressão linear vertical

Um homem e/ou uma mulher: - pertencente a grupos sociais variados - instabilidade - progressão descontínua vertical e horizontal

Fonte: extraído de Chanlat (1995, p. 71) - Quais carreiras e para qual sociedade? (I)

Ainda conforme o autor, o modelo de carreira tradicional é formado por um homem

que pertence aos grupos sociais dominantes e tem uma característica mais linear. Na

atualidade, esse modelo é muito disseminado nas sociedades, sendo que em algumas mais do

que em outras, bem como em áreas como engenharia e finanças. Diante das mudanças sociais,

já na década de 1970, o modelo moderno de carreira surge, trazendo novas características,

como a intensificação da presença da mulher no mundo do trabalho, melhoria na formação

das pessoas e a globalização. Esse modelo traz consigo mudanças sociais e sexuais, bem

como carreiras com menos estabilidade, produzindo, desta forma, novos comportamentos,

como trabalhar e estudar, cuidar dos filhos e estudar, mudar de carreira, o que era menos

comum num modelo tradicional de carreira (CHANLAT, 1995).

O Quadro 2, também elaborado por Chanlat (1995), traz os tipos de carreira.

Quadro 2 – Tipos de carreira Tipos de carreira

Recursos principais

Elementos central de ascensão

Tipos de organização Limites Tipos de sociedades

Burocrática Posição hierárquica

Avanço de uma posição hierárquica à outra

Organizações de grande porte

O número de escalões existentes

Sociedade de empregados

Profissional Saber e reputação

Profissão, perícia Habilidades profissionais

Organizações de peritos Burocracia Profissional

O nível de perícia e reparação

Sociedade de peritos

Empreendedora Capacidade de criação Inovação

Criação de novos valores

Pequenas e médias empresas Empresas artesanais, culturais, comunitárias e de caridade

A capacidade pessoal As exigências externas

Sociedade que valoriza a iniciativa individual

Sociopolítica

Habilidades sociais Capital de relações

Conhecimento Relações Parentesco (Rede social)

Familiar Comunitária de Clãs

O número de relações conhecidas e ativas

Sociedade de clãs

Fonte: extraído de Chanlat (1995, p. 72) - Quais carreiras e para qual sociedade? (I)

Em relação aos tipos de carreira, o autor traz que cada uma aponta para um padrão de

atividade e trajetória a ser percorrida. O tipo burocrático tem características relacionadas à

hierarquia, relações impessoais e à concentração do poder. Nas empresas burocráticas, o

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crescimento se dá em formato de pirâmide, na qual o salário, responsabilidades e poder se

elevam a cada nível. Na atualidade, esse tipo de carreira pode ser considerado uma ameaça

para as empresas pelo fato de achatar a criatividade e inovação (CHANLAT, 1995).

A carreira de tipo profissional é pautada no saber e com um crescimento que ocorre

de forma vertical, à medida que o conhecimento e a experiência evoluem, culminando em

uma reputação reconhecida. A movimentação, nesse tipo de carreira, é maior do que na

burocrática, por estar mais centrada no sujeito e dele depender sua especialização, de modo

que as pessoas são mais leais à profissão do que à empresa. Nesse eixo, as carreiras técnicas e

de especialistas são mais valorizadas, como as da área de tecnologia, por exemplo

(CHANLAT, 1995).

A carreira de tipo empreendedor é centrada no indivíduo e seu principal indicador é o

sucesso de uma pessoa. As carreiras comuns são as de artista, empresário, dentre outras com

caráter individual. Em meados do século XX, as carreiras empreendedoras ficaram latentes,

porém parecem ter ressurgido com força face às crises vivenciadas no mundo contemporâneo

e à elevação das taxas de desemprego (CHANLAT, 1995).

A carreira sociopolítica está pautada na capacidade de uma pessoa se relacionar

socialmente e no poder que possui para isso. A principal característica é o nível de

conhecimento, de relacionamentos e a classe social a qual pertence. As empresas familiares,

de clãs e comunitárias compõem esse tipo. Embora o capital das relações seja fortemente

valorizado neste tipo de carreira, e até substitua o valor de um diploma, pode-se considerar

que a carreira de um indivíduo, seja ela de qualquer tipo, também depende do quanto ele ou

ela planeja suas relações (CHANLAT, 1995).

O modelo de carreira tradicional e os tipos supramencionados foram verificados até a

década de 1970, sendo o modelo moderno mais facilmente percebido na sociedade

contemporânea. A partir da década de 1970, começaram as mudanças, o índice de

desemprego se elevou, a educação entrou em crise e aumentou a concorrência por parte das

multinacionais. Em meio a essa turbulência, pensar em carreira tornou-se cada vez mais

incongruente, pelo fato de terem sido diretamente afetadas. Já nos anos 1980, ocorreu o

regresso à liberdade econômica, com pouca intervenção do governo no mercado de trabalho e

caracterizada pelas políticas de privatização das empresas estatais. Nos dias atuais, verifica-se

o quão danoso é para a sociedade o resultado do capitalismo financeiro, pois a maioria das

empresas que passou por esse processo está enfraquecida (CHANLAT, 1996).

Com todas essas transformações, tem sido possível identificar, nos últimos trinta

anos, as mudanças na economia, e ainda mais intensamente no campo tecnológico, de modo

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que carreira e indivíduos precisam se transformar também (DE ARAUJO FERREIRA et al.,

2013).

De modo geral, é possível compreender que a carreira passa por uma sequência de

posições ocupadas pelo indivíduo ao longo de sua trajetória profissional, não possuindo a

conotação de uma forma linear, mas sim de pressões sobre o indivíduo, oriundas tanto dele

próprio quanto do ambiente no qual está inserido. Percebe-se que falar de carreira na

atualidade é pensar em compartilhar os objetivos profissionais com a empresa e, sendo assim,

cabe ao profissional assumir a responsabilidade pela gestão. Ressalta-se que, no passado, a

responsabilidade da gestão da carreira, em sua totalidade, era transferida à empresa e os

profissionais ficavam à mercê dos interesses desta, não sendo respeitados os seus desejos,

habilidades e competências profissionais, diferentemente dos dias atuais, nos quais o

profissional tem um papel de protagonismo na gestão da própria carreira (VELOSO et al.,

2012).

Para os autores, construir uma carreira implica na necessidade de tomar atitudes e

decisões que vão refletir em vários outros aspectos da vida de uma pessoa, como, por

exemplo, no fato de que, para se desenvolver profissionalmente, é necessário que ocorram

adaptações do trabalhador e de sua família também. De modo geral, a escolha de uma

profissão e o início de uma carreira clamam por decisões que envolvem diversos aspectos da

vida de uma pessoa que, para se desenvolver profissionalmente, precisa se adaptar

socialmente. Todas essas pressões pesam contra o indivíduo, quando é chegado o momento da

escolha profissional, esta considerada um marco na vida de uma pessoa, sobretudo no

contexto atual marcado pelo dinamismo (VELOSO et al., 2012).

As noções de carreira têm se requintado e modificado com o passar do tempo. As

carreiras de estilo tradicional trouxeram exemplos clássicos de mútuo benefício entre as

empresas e os empregados, porém os cenários cada vez mais competitivos têm alterado a

viabilidade de carreiras mais tradicionais. Para Rodrigues, Guest e Oliveira (2014), as

carreiras encontram-se “encapsuladas” dentro de descrições proteanas ou sem fronteiras. Os

achados destes autores mostram que as carreiras ditas proteanas promovem mais atitudes que

trazem benefícios tanto aos empregados como para as empresas. Já a carreira sem fronteiras

parece trazer perdas tanto para o empregado como para a companhia. Os achados ainda

permitem concluir que as práticas de recursos humanos altamente comprometidas trazem

resultados com empregados que procuram as carreiras tradicionais, apesar de haver limitações

quando este cenário acontece em contextos com carreiras sem fronteiras (RODRIGUES;

GUEST; OLIVEIRA, 2014).

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A história sempre está acompanhada de mudanças, entretanto o ritmo com o qual essas

mudanças vêm ocorrendo está cada vez mais acelerado. Empresas de diferentes setores

experimentam o rápido desenvolvimento e alterações em diversas áreas. As implicações

acarretadas não se referem apenas aos indivíduos e suas carreiras, que se modificam e se

adaptam, mas, principalmente, às organizações e no modo como realizam a gestão de pessoas

no âmbito do trabalho (KILIMNIK, 2011).

O Quadro 3, elaborado por Kilimnik (2011), demonstra as transformações nos

contextos em que as carreiras se desenvolvem.

Quadro 3 – Transformações nos contextos em que as carreiras se desenvolvem Dimensão Negócio Tradicional Negócio Transformado

Característica do ambiente Estabilidade Dinamismo

Escolha da carreira Poucas, em uma fase inicial da carreira Repetida em estágios diferentes

Responsabilidade principal Organização Indivíduo

Horizonte de carreira (local

de trabalho)

Uma organização

Diversas organizações

Horizonte de carreira

(tempo)

Longo

Curto

Escopo da Mudança Incremental Transformacional

Expectativa do

empregador/Retribuição do

empregado

Lealdade e compromisso

Muitas horas de trabalho

Expectativa do

empregado/Retribuição do

empregador

Segurança profissional

Investimento em empregabilidade

Critérios do progresso Avanço de acordo com o cargo Avanço de acordo com o resultado

e conhecimento

Significado do sucesso Ganhando a competição, isto é,

progresso na escada hierárquica

Sentimento interno de realização

Treinamento Programas formais não especialistas No trabalho específico da

organização

Essência da direção da

carreira

Linear

Multidirecional

Fonte: extraído de Kilimnik (2011, p. 18) - Transformações e transições nas carreiras: estudos nacionais e internacionais sobre o tema.

Gerir pessoas no contexto atual requer a prática de novas estratégias que possibilitem

o crescimento dos indivíduos em suas carreiras. Faz-se necessário conciliar as necessidades

por demanda e resultado das organizações com as perspectivas de crescimento dos

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trabalhadores, entretanto a responsabilidade pela carreira recai muito mais sobre o indivíduo

do que sobre a empresa (VELOSO, 2012).

Além dos modelos de carreira tradicional e moderno, há os modelos de carreira

proteana e sem fronteiras, mencionadas anteriormente, que surgem em resposta às mudanças

advindas da história. Esses novos modelos de carreira surgem a partir dos anos 1990 e, para

Veloso (2012), esse novo contexto requer que os profissionais sejam mais flexíveis e

responsáveis pelo gerenciamento de suas carreiras.

No modelo proteano, a gestão da carreira se dá pelo indivíduo e não mais pela

empresa. A palavra proteana faz referência ao deus grego do mar, chamado de Proteu, que

tinha o poder de alterar seu formato de acordo com sua vontade, tal qual a carreira proteana,

que se caracteriza por mudanças constantes, autonomia e independência na direção da vida

pessoal e profissional, além de acentuadas habilidades para o aprendizado e a constituição de

relações. O cerne desta carreira está em atender as necessidades pessoais e o sucesso

psicológico (VELOSO, 2012).

A autora aponta que o modelo de carreiras sem fronteiras surge em meio ao contexto

de mudanças comportamentais dos profissionais e também das empresas que buscam

continuar competitivas com um número de colaboradores que se reduz cada vez mais. Diante

desse aspecto, o fator flexibilidade impera ao profissional que precisa, mais do que em

qualquer outra época da história, planejar a própria carreira para um crescimento que seja

independente das organizações. O cerne das carreiras sem fronteiras está voltado ao indivíduo

que precisa ser responsável por sua carreira, cultivar networks para obter e fornecer

conhecimento, além de assumir uma postura de empreendedor. As empresas, por sua vez,

oferecem empregos cujos períodos são mais curtos e sem garantias de estabilidade, sendo o

crescimento profissional baseado na entrega de projetos (VELOSO, 2012).

Veloso (2012) relata que esses dois modelos de carreira não estão relacionados às

carreiras tradicionais e a fronteira entre as duas é frágil, tanto que são complementares. No

Quadro 4, encontram-se as perspectivas da carreira proteana e das carreiras sem fronteiras que

foram elaboradas pela autora.

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Quadro 4 – Síntese do diálogo entre a carreira proteana e as carreiras sem fronteiras Pontos selecionados Perspectiva da carreira proteana Perspectivas das carreiras sem

fronteiras

As fronteiras organizacionais Fronteiras são mais permeáveis,

com movimento entre elas

essencial, mais frequente e

aceitável.

Não só as organizações, mas o

mundo, tornam-se sem fronteiras e

a organização tem seus tempos

balizados pelos tempos de

projetos.

A função da organização Empregadores são responsáveis

por prover oportunidades para

aprendizagem contínua.

Organizações geram episódios

descontínuos de crescimento,

durante os quais as pessoas se

auto-organizam para aprender.

A relação com o empregador Empregadores e empregados

aceitam que a outra parte

permaneça somente durante

necessidades imediatas.

O trabalhador permanece com o

mesmo empregador não pela

lealdade, mas pelo aprendizado

pessoal.

A aprendizagem A pessoa deve aprender a como

aprender sobre ela mesma e sobre

o trabalho.

A pessoa auto-organiza-se para

aprender e ganha experiência com

esse processo. A aprendizagem

acontece por meio do movimento

entre projetos e das

descontinuidades da carreira.

As competências O indivíduo deve desenvolver

metacompetências: competências

de autoconhecimento e

adaptabilidade que habilitam a

pessoa a adquirir novas

competências e a lidar com as

demandas do ambiente.

O indivíduo deve desenvolver três

competências: knowing why,

knowing how e knowing whom,

que se acumulam como um capital

de carreira.

A identidade O conjunto maior de

oportunidades torna necessário um

claro senso de identidade pessoal

para que a pessoa siga o caminho

profissional escolhido.

O movimento entre ocupações faz

com que o investimento

acumulado cristalize a identidade.

Pontos críticos • Nem todos os

trabalhadores têm os

requisitos necessários

para realizar mudanças

em direção à carreira

proteana.

• Não se tem certeza das

proporções em que as

carreiras transcendem as

fronteiras

organizacionais;

• Há o questionamento

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• Algumas pessoas gostam

da autonomia

proporcionada por esse

tipo de carreira e outras a

sentem como uma lacuna

de suporte externo.

sobre os benefícios desse

tipo de carreira para os

trabalhadores que não

têm habilidades raras e

valiosas e sobre o seu

custo emocional e físico;

• Em países como o Brasil

não se tem certeza de que

esse tipo de carreira seja

desejado ou se é fruto das

condições de trabalho.

Fonte: extraído de Veloso (2012, p. 57 e 58) - Carreiras sem fronteiras e transição profissional no Brasil: desafios e oportunidades para pessoas e organizações.

Diante desse contexto, pensar em carreira só é possível levando-se em consideração

as transformações históricas, das sociedades e das culturas, sendo o grande paradoxo do tema

o fato de as pessoas buscarem atividades além da vida profissional, mas encontrarem, no

trabalho, o local no qual se deparam com desafios, responsabilidades e poder, o que lhes

permite desenvolver a identidade profissional (CHANLAT, 1996).

Carreira é uma palavra que pode ser utilizada de diferentes formas e ter diversos

significados. Em geral “seguir uma carreira” significa se referir a uma pessoa com uma

profissão bem desenvolvida e idealizada, com crescimento contínuo. Já no âmbito

profissional, carreira se refere à maneira como a trajetória profissional de um indivíduo

progride com o tempo e como é interpretada por ele (SCHEIN, 1993).

Schein (1993) descreve as dez fases mais relevantes da carreira de uma pessoa que,

de forma geral, são identificadas por ela e pelo mercado de trabalho. As fases estão

representadas na Figura 1 e serão descritas na sequência.

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Figura 1 – Fases da carreira

Fonte: extraído de Schein (1993, p. 21) - Identidade profissional: como ajustar suas inclinações a suas opções de trabalho.

- Fase 1: crescimento, fantasia, exploração. Normalmente, esta fase está relacionada

à infância e início da adolescência, momentos em que a carreira não tem muito sentido a não

ser pelo desejo de se obter sucesso. É quando um indivíduo dá início à fase de aprendizado e

aprimoramento para sua escolha profissional, mesmo que esta seja provisória.

- Fase 2: educação, treinamento. Esta fase pode ser breve ou levar anos para se

concretizar, dependendo da profissão a ser seguida. Trata-se de uma fase na qual há várias

possibilidades e pode ser necessário se começar cedo para garantir que as exigências sejam

cumpridas.

- Fase 3: ingresso no mundo profissional. Trata-se de um momento de adequação

frente ao novo que, neste caso, é o universo do trabalho e de tudo aquilo que se transforma em

conhecimento, provocando comportamentos e sentimentos. É nesse momento, que as aptidões

Fase 1 Crescimento, fantasia, exploração

Fase 2 Educação, treinamento

Fase 3 Ingresso no mundo profissional

Fase 4 Treinamento básico, socialização

Fase 5 Admissão como membro

Fase 6 Estabilização no emprego, permanência como membro

Fase 7 Crise no meio da carreira, reavaliação

Fase 8 Avanço, recomeço e estabilização

Fase 9 Desligamento

Fase 10 Aposentadoria

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e valores são testados frente à realidade da convivência com a escolha profissional.

- Fase 4: treinamento básico e socialização. A depender da simplicidade,

complexidade e responsabilidade da profissão esta fase pode ser mais ou menos duradoura.

Nesse momento, a profissão/empresa começa a exigir que a pessoa entregue de acordo com o

que se espera dela, então poderá acontecer um questionamento sobre seguir adiante com a

escolha. A resposta dependerá do processo de socialização que o indivíduo vai vivenciar.

- Fase 5: admissão como membro. A partir de um determinado momento, o próprio

indivíduo identifica que a fase de treinamento foi concluída e passa a ser visto efetivamente

como um membro. Nessa fase, a autoimagem de um profissional consolidado e pertencente a

uma organização se estabelece. Começa aqui a percepção das aptidões e dos aspectos

positivos e negativos que geram comportamentos com relação aos desafios com os quais se

depara.

- Fase 6: estabilização no emprego e permanência como membro. Na primeira

década da carreira, uma empresa demonstra se o indivíduo pode ou não fazer planos

duradouros dentro dela. Esta segurança pode ser via contrato formal ou de maneira simbólica,

mas só existe se o emprego continuar existindo. Não há tanta rigidez nesse processo, mas

existem algumas regras quanto ao tempo de trabalho.

- Fase 7: crise no meio da carreira e reavaliação. A maioria das pessoas passa por

questionamentos e faz uma reavaliação das suas escolhas, quando a carreira está mais

adiantada. As questões em geral são: “será que fiz a escolha certa?”, “será que consegui

realizar tudo o que pretendi?”, “devo seguir ou mudar de caminho/profissão?”. Esta fase pode

trazer traumas, mas a maioria das pessoas passa por ela com normalidade. Frequentemente,

gera uma confirmação dos objetivos que deixaram escondidos com o passar do tempo e dá a

sensação de grandes mudanças na carreira.

- Fase 8: avanço, recomeço ou estabilização: A fase de reavaliação faz com que o

indivíduo decida se vai prosseguir ou não na carreira escolhida. A decisão que tomar é a que

vai guiar os próximos passos, que poderão ocasionar o crescimento na carreira estabelecida ou

mudança profissional. Uma difícil situação psicológica poderá ser enfrentada, no caso de o

indivíduo perceber que suas aptidões não colaboram mais para seu crescimento. De modo

geral, as pessoas se deparam com o fato de que suas aptidões não lhes fornecem maiores

ambições.

- Fase 9: desligamento. Com o passar do tempo, o ritmo de trabalho e o

envolvimento com a carreira reduzem. Nesse momento, começa-se a pensar na aposentadoria.

Durante esta fase, o indivíduo pode passar pela negação e dar continuidade ao trabalho,

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evitando falar a respeito e preparando-se para esta fase.

- Fase 10: aposentadoria. Ainda que o indivíduo não a aceite, a empresa não terá

mais uma posição significativa para ele, logo terá de aceitar. O que acontece com o

profissional nesta fase depende de cada indivíduo. Alguns podem aposentar-se cedo e iniciar

outras carreiras, para outros poderá ser muito traumática, culminando em não aceitação,

problemas de saúde e até a própria morte.

Cada uma dessas fases pode ser mais ou menos longa, poderá se repetir se houver

mudança na carreira e não estão relacionadas à idade propriamente dita (SCHEIN, 1993).

Para Schein (1993), os elementos que medem o sucesso de uma pessoa são diferentes

daqueles que a sociedade e outro indivíduo utilizam. De modo geral, a definição de sucesso

está atrelada à inclinação profissional ou ao estabelecimento da carreira interna das pessoas.

Todo crescimento pode ser verificado diante de três dimensões básicas, que demonstram a

movimentação dentro de uma empresa ou carreira. Essas estão representadas como um cone

na Figura 2.

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Figura 2 – Modelo tridimensional de uma organização

Fonte: extraído de Schein (1993, p. 26) - Identidade profissional: como ajustar suas inclinações a suas opções de trabalho.

Schein (1993) cita, ainda, três movimentos que podem ocorrer à carreira de um

indivíduo, sendo eles:

1- Movimento horizontal através de funções: desenvolvimento da capacidade e

aptidões. Ocorre em linha com os movimentos da carreira e de acordo com a

capacidade de execução e à medida que as competências vão se alterando. Esse

crescimento pode estar vinculado ao esforço do indivíduo ou estar relacionado a

algum treinamento e/ou capacitação. A movimentação horizontal permite a

Função Função

Hierarquia Hierarquia

MKT Etc.

Produção

Inclusão ou Centralidade

Vendas

Vendas

Produção Etc. MKT

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mudança de função que gera rotatividade e alterações no trabalho que a pessoa

realiza, bem como a troca de emprego propriamente dita. Na remuneração,

também há diferença, pois as organizações pagam o profissional de acordo com

aquilo que oferece.

2- Movimento hierárquico através de níveis: subindo os degraus. A hierarquia está

presente em todas as organizações e carreiras e o sucesso pode ser identificado à

medida que um profissional progride e/ou transcende o ponto que almeja.

A autoavaliação de cada um é o que prevalece, pois uma pessoa que está no nível

de média gerência pode considerar-se bem-sucedida, se em sua família ninguém

chegou a tal nível, enquanto que um diretor pode se considerar um fracasso, uma

vez que tenha uma irmã que está presidente em outra organização e se compare a

ela.

Para compreender os critérios de sucesso de um indivíduo se faz necessário

entender a profissão na qual está inserido e as referências que possui.

3- Movimento de penetração: alcançando influência e poder. Outra forma de medir

o sucesso é compreender até que ponto um indivíduo foi aceito e exerce poder

em sua profissão ou empresa. Esta aceitação não está relacionada somente com o

crescimento na hierarquia, mas ao saber, tempo de casa, entre outros. As

secretárias, em geral, exercem tal poder e influência por conta do relacionamento

que estabelecem com o passar do tempo.

Este movimento pode não ser tangível e, necessariamente, requer que seja

remetido ao indivíduo para ser medido. Uma pessoa pode se julgar bem-sucedida

apenas pelo fato de pertencer ao grupo que exerce influência e poder.

De maneira geral é possível que o movimento na profissão se dê em linhas horizontais,

verticais e laterais. As carreiras se desenvolvem diante da relação desses três movimentos e as

pessoas se sensibilizam com as representações desses em sua trajetória, por causa da

autoimagem que possuem (SCHEIN, 1993).

Para abordar a autoimagem, Schein (1993) traz o conceito de “Inclinação

Profissional”. O conceito de si em uma pessoa vai encorpando à medida que o

desenvolvimento na carreira ocorre e ela responde questões do tipo: “quais meus pontos fortes

e fracos?”, “qual a minha real motivação e objetivos de vida?”, “quais meus valores?”, “vou

trabalhar e ocupar cargos em linha com meus objetivos?”, “tenho orgulho da minha profissão

e carreira?”.

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Esse conceito da própria imagem se forma por meio da autopercepção, que é adquirida

com as experiências da juventude, na educação e com a profissão/carreira. O

autoconhecimento se estabelece com o passar do tempo e depende dos feedbacks que trazem

significado ao longo da trajetória, podendo levar até dez anos ou mais para acontecer. À

medida que as experiências na carreira ocorrem, as pessoas realizam escolhas de acordo com

aquilo que julgam importante e, para cada um, vai prevalecer o que adquiriu como valor

(SCHEIN, 1993).

Diante desse contexto que envolve o indivíduo e sua carreira, estão as empresas, a

influência das estratégias para retenção de talento e a intenção de permanecer na companhia

por parte dos empregados, que tem sido verificada em pesquisas. Em um estudo publicado em

2014, junto a duas empresas bem-sucedidas no quesito “boa empresa para se trabalhar”,

relacionaram-se os fatores de retenção de pessoal com intenção dos empregados em

permanecer na empresa. De acordo com os resultados obtidos, os autores sugerem que as

companhias devem entender a influência do cenário macroeconômico no mercado de trabalho

e a influência das expectativas sociais de carreira, além dos fatores ligados à personalidade

dos indivíduos (VELOSO et al., 2014).

2.3 O conceito de identidade e identidade profissional

A carreira também faz parte da construção da identidade pessoal, visto que

proporciona a fusão entre a vida familiar e o trabalho, o emergir de características pessoais

que conduzem os indivíduos na lida com as diferentes esferas da vida (FRIEDMAN;

GREENHAUS, 2000).

Uma vez que a questão da identidade aparece em qualquer situação da vida cotidiana

de uma pessoa, considerá-la é um fator crucial ao referir-se à escolha profissional,

desenvolvimento de carreira e posicionamento no mundo.

A palavra identidade vem do latim identitas, que significa “a mesma coisa”, e vem

de “idem”, “o mesmo”. Refere-se às marcas da história de vida que são incorporadas à

biografia da pessoa e sugere que esta é diferente das outras (ENNE, 2007). No dicionário, o

termo identidade aparece como “qualidade de idêntico” e também como o “conjunto dos

caracteres próprios de uma pessoa, tais como nome, profissão, sexo, impressões digitais,

defeitos físicos, etc.” (MICHAELIS, 2016). Esses significados qualificam aquilo que é

comum ao outro e não só o que é único, bem como a busca dos traços individuais de uma

pessoa, o que está estritamente relacionado à inserção social dos indivíduos (ENNE, 2007).

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Segundo a autora, ao se pensar na identidade, deve-se levar em consideração que

essa só é definida em relação ao outro. Considera que é uma esfera de transição que pode, ao

mesmo tempo, significar semelhança e diferença, de maneira que a construção da identidade,

naquilo que tange a inserção social, é a forma como uma pessoa se vê e deseja que os outros a

vejam, ou seja, não se dá no âmbito individual e sim no da coletividade. A identidade

necessita do outro para ser endossada e construída, pois é na interação com o outro que ela

passa a fazer sentido (ENNE, 2007).

Para Ciampa (1984), antes de nascermos, nos é atribuída nossa identidade, que é

determinada pelo lugar no qual somos recebidos. Para a psicologia social, a pessoa nasce com

um lugar social, por exemplo, nascer mulher no Brasil ou numa cultura árabe são realidades

sociais muito diferentes. Esse elemento social contribui para a definição do indivíduo.

De acordo com o autor, toda identidade precisa ser confirmada pelo outro. Não

sobrevivemos sem essa confirmação, ou seja, somos marcados por esse processo, que é um

dos mais importantes para a formação da identidade. Ainda pequenos, os indivíduos são

marcados como filhos, já crescidos, acrescentam-se a ele ou ela outras marcas, como a de

estudante, até que então, com todos os elementos e marcas obtidos ao longo da vida, é

chegado o momento da decisão de qual carreira seguir.

Já a identidade profissional pode ser entendida como um compromisso social, pois

desde a tenra infância espera-se saber o que o indivíduo vai ser quando crescer e, mais que

isso, espera-se que este saiba o que vai ser (NETTO et al., 2007). Com esta questão todas as a

maioria das pessoas é educada, encaminhada e preparada até que, mais ou menos aos18 anos,

chega-se ao momento da decisão. Nessa fase, espera-se que a pessoa tenha reunido elementos

ao longo da vida para tomar a decisão, e a expectativa é grande. Coetzee e Harry (2014)

acrescentam que os indivíduos com características como inteligências interpessoal e

emocional bem desenvolvidas realizam escolhas de carreira mais assertivas e têm um grau de

adaptabilidade às situações de trabalho e profissão mais elevadas.

Para Netto et al. (2007), a individualidade do sujeito constrói a identidade

profissional, que é responsável por suas escolhas e atividades no convívio social. A profissão

de uma pessoa é tão importante na vida pessoal e social que, quando um indivíduo se

apresenta a alguém, em primeiro lugar fala seu nome e, em seguida, a profissão. Desse modo,

a identidade profissional pode ser considerada um complemento da identidade pessoal e

contribui para a integração da personalidade.

Uma boa escolha profissional é avaliada pela forma como é tomada e pelas

consequências cognitivas e afetivas que produz. A escolha envolve mudanças, perdas, medo

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do fracasso e da desvalorização. O futuro de um indivíduo não depende exclusivamente de

sua opção profissional e, mesmo sabendo que esta opção pode ser modificada, as questões

vocacionais têm se tornado cada vez mais importantes para as pessoas (NETTO et al., 2007).

Para o autor, a identidade profissional se constrói ao longo da vida do sujeito e é

indispensável à constituição do homem e do ser social. Torna-se central em sua vida,

passando a ser a marca do indivíduo.

O conceito de identidade traz a ideia de permanência e, abarcando a identidade

profissional, tem-se a estabilidade; isso posto, é mais que uma simples concepção abstrata, é

viver privilegiando a permanência e a estabilidade, a mudança e a transformação. Identidade

profissional é desenvolvimento, metamorfose e constante movimento, não sendo considerada

como estática, isto é, sofre alterações de acordo com as mudanças dos valores, crenças e

experiências que a pessoa adquire ao longo da sua vida. Então, conclui-se que a identidade

profissional nunca estará pronta, nem terá uma definição, acompanhando o vai e vem da

realidade (BOCK, 1999).

Assim, o ser social, dotado de interesses, aptidões, competências e possuidor de uma

identidade profissional, é alocado em um ambiente organizacional, no qual exercerá uma

atividade de cunho profissional, respeitando a identidade do local no qual está inserido,

ganhando, desta forma, a conceituação da identidade ocupacional (NETTO et al., 2007).

As pessoas não se sentem confortáveis com o controle que as empresas exercem em

suas vidas como um todo. Ao mesmo tempo, esses mesmos indivíduos buscam a sensação de

segurança e a estabilidade que as organizações podem trazer (ARTHUR; HALL;

LAWRENCE, 1989). Para Dalton, Thompson e Price (1977), há quatro estágios que explicam

as consequências positivas e negativas que existem no crescimento corporativo que um

indivíduo alcança dentro das empresas: identidade, competência, interdependência e

liderança. Para os autores, os indivíduos são fortemente influenciados por essas fases e podem

apresentar resultados mais ou menos positivos no trabalho, de acordo com o grau de qualidade

que cada estágio proporciona e com o grau de importância que o indivíduo remete a cada um.

A percepção pessoal do quanto a carreira pode proporcionar de crescimento e qualidade de

trabalho é um dos elementos que guia a decisão pela carreira do indivíduo e que vai contribuir

para o estabelecimento da sua identidade.

Uma vez inserida no ambiente e de posse de tudo aquilo que lhe foi depositado, é

possível que uma pessoa realize sua escolha pautada nos estereótipos das profissões.

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2.4 Estereótipos das profissões

Mesmo com as mudanças advindas da história, no que diz respeito ao trabalho, ainda

nos deparamos com discriminação entre os gêneros, no momento da escolha profissional.

Chama a atenção o fato dessas escolhas pautadas no gênero terem uma característica natural e

universal (FEITOSA et al., 2013).

Bichara (2001) afirma que o alicerce dos homens para as relações sociais, dentro da

família e na sociedade como um todo, são as atividades econômicas e, para as mulheres, as

atividades esperadas estão relacionadas aos cuidados com a família e voltadas às relações

sociais. Em resumo, ao homem é atribuído o papel de provedor e à mulher, o de mãe e esposa.

Essa distinção entre os papéis de gênero sempre existiu, influencia e delineia as profissões até

os dias atuais, fazendo com que existam profissões tipicamente femininas ou masculinas.

Em Ferreira (2012), verifica-se o mesmo ponto de vista, acrescentando-se ainda o

fato de que sobre alicerces como esses está a base de preconceitos e estereótipos relacionados

a diversas esferas da vida, o que inclui o trabalho, culminando na expectativa de quais

atividades devem ser executadas por homens ou por mulheres.

Leong (2014) acredita que a maioria das pesquisas sobre escolha e desenvolvimento

de carreira realizada nos Estados Unidos foca seus esforços para estudar a população

consistente de homens brancos e de classes média e média alta norte-americana. O autor

considera que as minorias étnicas e raciais, tais como os hispânicos, afrodescendentes,

indígenas, entre outros, enfrentam obstáculos em sua formação escolar e profissional, quando

comparados à raça considerada branca. Contribuindo com as teorias de Leong (2014), Brown

(1995) acrescenta que as mulheres, apesar de não serem minoria, trazem um estereótipo que

impõe os mesmos obstáculos para o sucesso profissional. Quando se trata da sociedade norte-

americana, aponta-se que mulheres afrodescendentes, independentemente de outros fatores,

muito provavelmente não serão candidatas consideradas adequadas para ocupar as “boas

vagas” de emprego oferecidas. De modo semelhante, outras culturas, incluindo as latinas,

apresentam dados semelhantes aos encontrados nos Estados Unidos (BROWN, 1995).

Para Gallos (1989), as mulheres constroem os conceitos de si próprias, de suas vidas e

do mundo que nos cerca de maneira distinta da dos homens. As crenças do que é essencial

para a vida e, consequentemente, para o trabalho pode variar na concepção entre homens e

mulheres e o equilíbrio entre carreira, sucesso e amor aparece como desafio crucial da vida

adulta moderna. Três questões permeiam a distinção pela qual as mulheres se desenvolvem. A

primeira é a preocupação estrutural, socialmente dirigida, que contribui para a maneira como

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as organizações identificam as diferenças entre homens e mulheres. A segunda questão diz

respeito à cultura na qual a organização e as mulheres estão inseridas, pois esta dimensão diz

está relacionada a como a mulher e a empresa desenvolvem e encaram os papéis de gênero. O

terceiro enfoque diz respeito às características psicológicas e cognitivas que orientam de

maneiras diversas homens e mulheres. As questões psicológicas são também influenciadas

pelos aspectos biológicos femininos, uma vez que a natureza da maternidade perpassa por

corpo, mente e sociedade. Geralmente, as mulheres idealizam carreiras que as permitam

realizar a vida de seus sonhos, seja combinando carreira com papéis relacionados à

maternidade e a relacionamentos, seja obtendo a qualidade de vida almejada (GALLOS,

1989).

Powell, Dainty e Bagilhole (2012), ao realizarem um estudo com mulheres com

carreiras em tecnologia e engenharia, explanam sobre a natureza das narrativas de escolha de

carreiras. Os autores estendem seus achados a outras culturas, que não apenas à britânica,

alegando que a escolha de carreira das jovens, ao optarem por setores como tecnologia e

engenharia ainda na universidade, mantém um discurso contraditório, pois elas afirmam que

estão inseridas em carreiras que são sabidamente dirigidas ao masculino. Para essas

representantes do feminino em meio ao trabalho estereotipado como masculino, a construção

de uma autoimagem autônoma e de um senso do eu foi fundamental. Ainda assim, os

resultados obtidos demonstram que as mulheres inseridas em carreiras idealizadas como

masculinas enfrentam problemas de normas de gênero para alcançarem a igualdade de

posições no trabalho (POWELL; DAINTY; BAGILHOLE, 2012).

Pelo histórico das transformações no mundo do trabalho, é possível identificar as

mudanças nas características dos trabalhadores face às mudanças das exigências em cada fase

da história; do mesmo modo é possível identificar como as profissões vão se delineando de

acordo com o gênero (FEITOSA et al., 2013).

Nas discussões do estudo de Quitete (2010), verifica-se a evolução da história das

profissões, levando-se em consideração a entrada da mulher no mercado de trabalho desde as

guerras e a industrialização. Com base nisso, conclui-se que as relações de poder entre

homens e mulheres vão além das relações sociais, afetando, inclusive, a composição

profissional.

A autora aborda o fato de que as profissões, em geral, trazem vários aspectos,

incluindo os papéis de gênero e, para tanto, se faz necessária uma melhor compreensão do

assunto. As representações sociais acerca do que é esperado dos homens e das mulheres

estabelecem estereótipos para aquilo que se tem de expectativa para cada um, sendo que a

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construção da compreensão de gênero vem contribuindo paras as transformações das práticas

profissionais.

Quitete (2010) relata que, na Idade Média, as profissões se estabeleciam em volta da

fé cristã, pelo fato de uma profissão surgir em meio a uma crença e ideologia, que tinham

como objetivo estabelecer a ordem social e ditar o que era bom ou ruim. Essa ordem pode ser

identificada até os dias atuais, pois estar vinculado a uma profissão significa fazer parte de

uma classe social e de uma posição na hierarquia dos poderes que regulam a sociedade. Os

padres e os clérigos garantiam, na época, o estabelecimento da ordem social e, em torno deles,

desenvolveram-se outras profissões, como a de médico e de juiz, que também detinham o

poder que está relacionado de forma direta com a vida e a morte, logo, também decidiam

sobre o que era bom ou ruim. Em torno dessas profissões, ainda são estabelecidas categorias

sociais e originam-se vários grupos relacionados ao poder de decisão.

Com a chegada da Revolução Industrial, no final do século XIX, outros grupos de

profissões se iniciaram e, para que obtivessem destaque e segurança econômica, buscaram o

apoio do Estado para se garantirem. No século XX, aconteceu uma aproximação entre

profissão e ofício, de modo que as profissões precisaram utilizar mais instrumentos e

conhecimentos que, na maior parte das vezes, foram encontrados e descobertos pelas pessoas

que detinham o ofício (QUITETE, 2010).

Diante dos novos conhecimentos adquiridos, as profissões foram provando sua

necessidade de prestação de serviço à sociedade. No pós-guerra, ter uma ocupação fazia com

que se tivesse o status de deter uma profissão, mas alguns trabalhos foram monopolizados,

como a profissão de médico, na qual se detinha o monopólio de conhecer acerca da saúde e da

doença. Com base na ideologia do monopólio, surgiram estudos que levaram em consideração

as suposições marxista e weberiana, que estudavam as profissões a partir do ponto de vista de

classes das sociedades capitalistas, nas quais se profissionalizar significava ter flexibilidade

coletiva, enquanto que as ocupações visavam melhorar a posição econômica e social

(QUITETE, 2010).

Alguns estudiosos dos anos 1980 relatam que o Estado teve papel determinante na

constituição de algumas profissões, principalmente por ser um expressivo empregador

(QUITETE, 2010).

Ao trazer mais detalhes sobre a história das profissões, Quitete (2010) destaca que a

resistência da inserção das mulheres na vida pública advém da religião, sobretudo pelo fato de

pregar-se que Deus criou primeiro o homem e depois a mulher, para servi-lo. A pregação

passou a ser permitida aos homens e, à mulher, era permitido apenas que escutasse.

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Mantiveram-se as mulheres afastadas dos clérigos para afastar desses a possibilidade do

pecado da carne e ainda usou-se a maternidade para privar ainda mais as mulheres do mundo

público, pois delas se esperava apenas o papel de mãe e do lar.

No século XIX, passou-se a admitir que as mulheres pertencentes às classes menos

favorecidas desempenhassem um ofício, desde que este fosse uma extensão daquilo que era

esperado de uma mulher e que fosse executado num ambiente que não tivesse a presença de

homens. As mulheres mais abastadas não deveriam trabalhar, pois isso significava ser menos

feminina, que a família estava em dificuldades e que o marido estava fracassado (QUITETE,

2010).

Alguns fatores, como a economia ruim para os burgueses e a migração para o

campo, contribuíram para a mulher começar a participar mais do mercado de trabalho e, com

a Revolução Industrial, a divisão do trabalho de acordo com o sexo se acentuou, fato que pode

ser observado em todas as sociedades, contando-se ainda que as tarefas conferidas a cada um

variam, de acordo com as necessidades do momento histórico. Do homem é esperado que aja

pela razão, com instrumentalidade e objetividade e da mulher esperam-se reações pautadas na

emoção, no afeto e delicadeza, então atribuindo-se a elas funções ligadas às tarefas

domésticas e cuidado com idosos e crianças, assim ficando instauradas as tarefas ditas

femininas ou masculinas. Esse tipo de expectativa permeou nossa sociedade até os dias atuais.

Já no século XX, ocorreram diversas mudanças que corroboraram para o aumento da

participação da mulher no mundo do trabalho, mas em atividades ditas femininas (QUITETE,

2010).

A autora argumenta que não só os estereótipos sociais instituídos socialmente

delineiam as profissões acerca dos gêneros, mas também o comportamento dos indivíduos

que, para não fugirem ao que lhes é atribuído, agem de maneira a seguir e reforçar os

parâmetros estabelecidos. Homens e mulheres acreditam fazer suas escolhas de carreira como

se agissem por conta própria, sem as influências do meio no qual estão inseridos e, no entanto,

reproduzem exatamente o que é esperado deles.

Outro ponto que precisa ser levado em consideração quanto ao delineamento das

profissões, refere-se ao que está arraigado nas sociedades, pois todas em suas histórias

oferecem subsídios para que as profissões surjam e desapareçam. Dever-se-á considerar

também a estrutura e cultura de cada uma das sociedades que delineiam e modificam as

profissões. Como exemplo, pode-se citar a empresa japonesa, na qual poucas mulheres fazem

carreira, os executivos precisam fazer um revezamento nas diversas áreas da empresa e não

veem com bons olhos japoneses que trabalharam no exterior. Nesse exemplo, é possível

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identificar uma cultura que privilegia os homens em detrimento das mulheres. Nas empresas

alemãs há uma grande diferença salarial entre os operários e os executivos e há uma forte

valorização da formação de primeira linha. Já nas francesas, ocorre o inverso, fato que

assegura que os operários sejam beneficiados com uma formação de qualidade. A Suécia é um

país cuja desigualdade entre homens e mulheres é menor, o desequilíbrio de renda é reduzido,

bem como as diferenças entre as classes sociais. Com esses exemplos, é possível verificar que

as diferenças acerca das profissões podem ser identificadas em cada cultura, na educação e no

modus operandi de cada sociedade (CHANLAT, 1995).

Briscoe, Hall e Mayrhofer (2011) realizaram, em seu livro, a reunião de algumas

pesquisas acerca de carreiras e perspectivas pessoais sobre o assunto, procurando contemplar

características culturais de inserção de carreiras, porém ampliando a discussão para os pontos

em comum que todas as culturas e contextos oferecem no que diz respeito ao tema. Mais

profundamente, os autores indagam se os diferentes tipos de culturas em lugares diversos

influenciam a escolha e a carreira de maneira similar.

De acordo com o modelo proposto por Hofstede (2001), as culturas trazem cinco

dimensões que permeiam as práticas de gerenciamento de recursos humanos e carreiras:

individualismo-coletivismo, masculinidade-feminilidade, distância de poder (grau que mede o

quanto os membros menos poderosos das instituições aceitam a desigualdade do poder),

invalidação da incerteza (que mede a aceitação de um grupo quanto à ambiguidade e à

incerteza) e orientação de longo prazo versus de curto prazo (orientação com foco no passado

e presente ou no futuro).

Para Hofstede (1984), em países onde o feminino influencia o contexto cultural mais

fortemente, caso do contexto brasileiro, o significado simbólico da carreira é maior. Essa

visão é corroborada por Alves et al. (2006), pois, para os autores, as relações sociais e os

processos mais emocionais são os motivadores que impulsionam o trabalho. Assim, em países

com culturas altamente influenciadas pelo feminino, o ambiente de trabalho impulsiona a

prática de criação de relacionamentos pessoais entre chefia e empregados, colocando

importância nos aspectos subjetivos das relações, como o cuidado e o cultivo de bons

relacionamentos. Assim também, em culturas mais orientadas pelo feminino, as mulheres

ocupam cargos de chefia com mais frequência que em países com orientação social mais

masculina.

Em geral, as profissões, considerando-se os seus tipos e status, podem representar a

qualidade pessoal de um indivíduo e, diante desse aspecto, estabelece-se uma relação direta

com os estereótipos sociais, que, por sua vez, estão impregnados com os papéis sexuais e tudo

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que se tem de expectativa em relação a eles. Assim, pode-se afirmar que esses aspectos

ligados à identidade de gênero influenciam a escolha de carreira (LOBATO, 2003).

Com base nesse contexto, surge mais uma hipótese para esta pesquisa:

H2: As profissões mais procuradas nos vestibulares brasileiros possuem

percepção estereotipada.

Com base nos dados supramencionados e na revisão da história, é possível identificar

que ainda há diferença na divisão das atividades realizadas entre homens e mulheres e em

meio a essas diferenças e transformações históricas os jovens se constituem, sendo que, na

chegada à vida adulta, são chamados à escolha profissional.

2.5 Escolha profissional do jovem e a orientação vocacional

O trabalho pode ser considerado um acontecimento carregado de grandes

dificuldades, quando analisado à luz de todas as mudanças das sociedades, sobretudo no

último século. Considerando que o trabalho é fundamental na vida do ser humano, a escolha

profissional traz consigo uma série de complexidades. Entre uma consideração e outra, o

trabalho pode ser considerado um produto social que fica à mercê das mudanças advindas do

período e comunidade na qual uma pessoa está inserida (BARRETO et al., 2007).

Schein (1993) relata sobre um estudo realizado com 44 ex-alunos de um curso de

mestrado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), conduzido para se compreender

com mais clareza como se dava o crescimento em carreiras administrativas e como os

indivíduos adquirem conhecimentos e valores acerca das empresas nas quais trabalhavam.

Desse estudo, foi possível chegar a conclusões sobre como uma carreira interna se estabelece

e revelar oitos categorias com relação ao conceito “Inclinação Profissional”, este exposto no

item 2.2.1 desta pesquisa.

As oito categorias da inclinação ou âncora profissional são:

- Aptidão técnico-funcional: os profissionais com esta propensão valorizam a

especialização e não uma posição mais elevada na hierarquia. Podem até aceitar evoluir para

um cargo gerencial, desde que este seja técnico e lhes permita continuar na área que

considerem como sua especialidade. No início da carreira esta é a inclinação que prevalece e

faz com que um indivíduo consiga um emprego, no entanto, pode ser uma etapa necessária e

transitória para alguns, enquanto outros preferem permanecer nela.

- Aptidão administrativa geral: aqui encontram-se as pessoas que desejam assumir a

diretoria geral de uma organização e que sabem que possuem pré-requisitos para isso. O que

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as diferencia das pessoas da inclinação anterior é o fato de terem a clareza de que serem

especialistas não fará com que atinjam uma posição em nível mais elevado, ao contrário,

precisam conhecer bem diversas áreas, além de terem boa capacidade para detectar e

solucionar problemas, boa capacidade de relação interpessoal e equilíbrio emocional, para que

sejam bons diretores.

- Autonomia/independência: em geral, as pessoas que se encaixam nesta inclinação

consideram as empresas limitadas e irracionais por interferirem em sua vida pessoal, pois há

uma grande necessidade de realizarem as coisas do seu modo e a seu tempo. Invariavelmente,

irão optar por algo que lhes dê autonomia e independência à algo que lhes obrigue ao

contrário. Neste caso, esta necessidade é primordial a todas as outras.

- Segurança/estabilidade: pessoas com essas necessidades precisam se organizar

profissionalmente, de modo que isso lhes traga segurança e que as possibilidades futuras

sejam todas previstas. Para aqueles para quem esses fatores prevalecem, podem fazer escolhas

de profissões e trajetórias, de acordo com o que mais vão lhes trazer segurança. Atingem esta

satisfação identificando-se com a organização da qual fazem parte, ainda que não ocupem

uma posição de destaque no nível hierárquico.

- Criatividade empreendedora: há pessoas que identificam que precisam abrir seu

próprio negócio e criar novos produtos. De modo geral, vão em busca dos ideais que possuem

desde muito cedo, para que fique provada ao mundo sua capacidade. Permanecem em

organizações apenas enquanto precisam para atingirem seus objetivos e logo se desvinculam

por precisarem de autonomia. A fixação por ser bem-sucedido é tamanha que, por vezes, a

autonomia e estabilidade são sacrificadas. Podem, inclusive, até fracassar face à fixação por

criatividade.

- Vontade de servir, dedicação a uma causa: algumas pessoas escolhem carreiras que

estejam relacionadas aos valores que acreditam e desejam exercer. Valores como trabalhar em

prol das pessoas e dedicação à nação permeiam esta inclinação, pois o desejo de melhorar o

mundo e servir prevalece diante das aptidões e competências.

- Puro desafio: as pessoas com esta inclinação acreditam que podem conquistar tudo o

que almejam. O sucesso é obtido à medida que conseguem vencer oponentes que consideram

fortes e ultrapassar barreiras tidas como impossíveis. Quando enxergam mais complicação é

quando se sentem melhor e mais à vontade para realização do desafio. Em geral, a

competitividade também é um fator predominante.

- Estilo de vida: de modo geral, indivíduos com esta inclinação valorizam mais o estilo

de vida que podem levar à própria carreira e, por vezes, não dão a devida importância à

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profissão. Vai além de equilibrar vida profissional e pessoal, o objetivo é a integração das

necessidades da pessoa, de sua família e carreira, assim a flexibilidade tem valor essencial.

Neste caso, as organizações que respeitam os interesses pessoais do colaborador são mais

atraentes.

Para cada uma das inclinações acima há o tipo de trabalho, remuneração e benefícios,

sistema de promoção e tipo de reconhecimento que complementam sua caracterização, todas

descritas no Quadro 5.

Quadro 5 – Características das Inclinações Profissionais

Inclinação Tipo de trabalho Remuneração e

benefícios

Sistema de

promoção

Tipo de

reconhecimento

Aptidão técnico-funcional Desafiador e com

liberdade para

agir.

De acordo com

suas aptidões que

são definidas pela

formação e

experiência

profissional.

Valoriza-se o

plano de

promoção

paralelo a uma

trajetória

administrativa

comum.

Reconhecimento

vindo de um

colega do mesmo

nível ou um

subordinado que

sabe da

dificuldade do

trabalho ao

reconhecimento de

um superior que

desconhece o que

foi feito.

Aptidão administrativa

geral

Responsabilidade

elevada, trabalho

diversificado e

integrador com

possibilidade de

liderar e contribuir

para o sucesso da

organização.

Substancialmente

mais elevada

daqueles que estão

em nível abaixo.

Valorizam o

pagamento de

bônus e compra de

ações da empresa.

Valoriza-se a

promoção por

mérito,

desempenho e

alcance de

resultados.

Promoções para

cargos com maior

responsabilidade,

levando-se em

conta a posição na

hierarquia, título,

número de

subordinados.

Esperam

promoções

constantes.

Autonomia/Independência Bem planejados,

com prazo para

começar e

terminar e com

metas bem

Preferência pela

remuneração de

acordo com o

mérito e

desempenho ao

Valorizam-se

promoções

baseadas em fatos

passados. A

promoção é bem

Reconhecimentos

móveis satisfazem

mais, tais como:

prêmios, cartas de

referência e outras

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definidas. final do trabalho ao

que pode ser

decorrente da

estabilidade.

vista desde que

proporcione mais

liberdade e

autonomia.

formas da mesma

categoria.

Segurança/Estabilidade Previsível e

estável. O

contexto do

trabalho tem mais

valor do que sua

natureza.

Aumentos salariais

previsíveis e

constantes.

Preferem

benefícios em

relação à

aposentadoria do

que com outra

finalidade.

Valoriza-se a

promoção por

tempo de trabalho

e bom.

Reconhecimento

pela lealdade e

tempo de serviço,

e que de referência

tragam alguma

garantia de

estabilidade.

Criatividade

empreendedora

Necessidade de

criação de novos

produtos e/ou

serviços

constantemente,

correndo o risco

de perder o

interesse caso não

seja assim.

O que mais importa

é a

propriedade/patente

daquilo que criou.

Valoriza-se a

possibilidade de

estar no nível que

precisam e terem

o poder e

liberdade para

desempenharem o

que é considerado

essencial, sem

deixar a

criatividade de

lado.

Criar

empreendimentos

expressivos e

grande fortuna,

além de obter

reconhecimento.

Vontade de

servir/Dedicação a uma

causa

Que seja possível

influenciar

pessoas, a

empresa na qual

trabalham e, sendo

possível, a política

social para

convergirem com

seus valores.

O dinheiro não é o

essencial. Almejam

uma remuneração

justa e em linha

com os benefícios

móveis atingidos.

Valoriza-se a

possibilidade de

ocupar cargos nos

quais possam

exercer suas

funções com mais

influência e

liberdade.

Reconhecimento

vindo dos colegas

e superiores é

importantes para

que tenham a

certeza de que

seus valores são

partilhados.

Puro desafio Submetido à

condição de

proporcionar

constantes

possibilidades de

provar sua

Submetidos à

condição de

proporcionar

constantes

possibilidades de

provar sua

Submetida à

condição de

proporcionar

constantes

possibilidades de

provar sua

Submetido à

condição de

proporcionar

constantes

possibilidades de

provar sua

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capacidade. capacidade. capacidade. capacidade.

Estilo de vida Que permita a

integração das

necessidades da

pessoa, da família

e carreira.

Creches para os

filhos, licenças-

prêmio, horário

flexível e trabalho

em casa.

Que permita a

integração das

necessidades da

pessoa, da família

e carreira.

Pessoal e familiar.

Fonte: elaborado pela autora com base em Schein (1993).

Para planejar bem sua escolha profissional e carreira é de grande importância que o

jovem tenha clareza da sua inclinação profissional, podendo isso significar meio caminho

trilhado na trajetória desse momento considerado crítico.

Jovens das últimas gerações, influenciados pelas mudanças dos meios social e

corporativo, realizam escolhas de carreira, levando em conta vários elementos. Da Silva et al.

(2016) realizaram uma pesquisa na qual encontraram relação significativa entre as âncoras de

carreira e os valores identificados em uma amostra de jovens da geração Y. A âncora de

carreira/estilo de vida e os valores hedônicos foram predominantes entre os respondentes do

estudo. Os resultados da pesquisa mostraram que os jovens líderes direcionam as propostas de

estrutura de trabalho para a obtenção de atividades que gerem aprendizado, prazer, satisfação

e conciliação entre trabalho e vida pessoal. Portanto, as gerações atuais parecem buscar, ao

decidirem por suas carreiras, o quadro completo de elementos que correspondam tanto ao

trabalho quanto à uma vida pessoal satisfatória.

O fator geracional pode exercer forte influência nas tendências profissionais e

comportamento das pessoas no trabalho e se faz necessário que as empresas modifiquem seu

ambiente de trabalho e a própria cultura para que as necessidades dos colaboradores mais

jovens sejam atendidas; caso contrário o índice de insatisfação, perda de pessoal e de negócios

só aumentará (WESTERMAN; YAMAMURA, 2007).

Cordeiro et al. (2013) apontam que o fator geração pode ser definido como o processo

histórico compartilhado por pessoas da mesma idade. O período de nascimento não define,

mas influencia uma geração diante de alguns aspectos, tais como: ocorrência de fatos que

alteram a continuação da história e a vivência dos fatos pelas pessoas pertencentes à mesma

faixa etária, durante o seu processo de socialização, como na adolescência e começo da fase

adulta. O principal aspecto dos indivíduos nascidos no mesmo período é a possibilidade de

vivenciarem os mesmos acontecimentos, obtendo experiências parecidas e, mormente,

absorvendo os fatos e experiências de maneira similar.

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Washburn (2000), apud Chiuzi (2011), apontam as características de cinco gerações

encontradas em pesquisas internacionais:

- Geração da Infantaria: se refere aos nascidos de 1901 a 1925. As pessoas desta

geração lutaram na Segunda Guerra Mundial, que foi determinada pelo heroísmo, o que

reforça a grandeza do indivíduo e seu movimento social. A principal marca daquele período

está relacionada à cidadania.

- Geração Silenciosa: se refere aos nascidos de 1926 a 1945. Considerados jovens para

lutar na Segunda Guerra, eram admiradores daqueles da geração anterior que lutaram.

Conviveram muito próximos do sentimento de patriotismo e sacrifício para o bem maior e de

um mundo melhor. Apenas estendiam esses sentimentos, sem tentar mudá-los. A principal

característica é definida pela ordem, lei, fé e patriotismo.

- Geração Baby Boomer: se refere aos nascidos de 1945 a 1964. Em geral possuem

características de moralistas e não aceitam autoritarismo. São tradicionais em relação à

carreira. A principal característica das pessoas desta geração está relacionada à cooperação e

participação no trabalho.

- Geração X: se refere aos nascidos de 1965 a 1981. Geração que percebeu que

receberia menos bens materiais que a anterior e com isso ficou mais próxima da família. A

principal marca dos nascidos nesta fase é a insegurança e desconfiança. No geral, valoriza-se

mais a experiência e trabalhar em prol de si ao das organizações.

- Geração Y: se refere aos nascidos de 1982 a 2003. Esta é a geração que se

desenvolveu em meio à tecnologia, assim como a geração baby boomer se desenvolveu com o

telefone e a geração X com a televisão. Não conhecem o mundo sem a existência da

tecnologia. Em geral não gostam da hierarquia e precisam de atenção, autonomia e

flexibilidade para que trabalhem bem.

- Geração Z: se refere aos nascidos a partir da segunda metade dos anos 1990. São

indivíduos que conhecem profundamente as tecnologias digitais mais modernas e não têm

nenhuma dificuldade em se adaptar às novidades que surgem diariamente. Buscam tudo num

“zap”, que significa “fazer algo muito rápido”, com “energia” e “entusiasmo”. Por conta da

facilidade e rapidez em assimilar as novas tecnologias, parecem até que nascem com um chip

no cérebro (KÄMPF, 2011). Mesmo com o crescimento do número de pessoas desta geração

e de sua importância para a contemporaneidade, foram encontrados poucos estudos e

contribuições teóricas que focam especificamente este público.

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Em geral, os estudos acerca das gerações são de estudiosos estrangeiros e podem ser

considerados limitados quanto ao cenário brasileiro, pelo fato de aqui não haver pesquisas que

comprovem a legitimidade dessas definições (VELOSO et al., 2012).

Para a maioria dos jovens das gerações contemporâneas, em idade de escolha

profissional para adentrar no mundo do trabalho, esta é uma época, principalmente, de

adaptação, na qual eles tomam conhecimento da realidade do trabalho e de suas próprias

reações. O processo educacional pouco prepara ou dá ao indivíduo subsídios para escolha,

sendo que o principal aprendizado da esfera pessoal começa nesse aspecto e o conceito

profissional que cada um tem a seu respeito começa a evoluir quando as aptidões e objetivos e

valores são testados em meio às angústias da fase (MELO-SILVA et al., 2004).

Quando as escolhas de carreira são realizadas em idade muito jovem, pode acontecer,

inclusive, de os profissionais mostrarem arrependimento pela decisão no futuro. Ibarra (2013)

publicou o livro Working identity: Unconventional strategies for reinventing your career, no

qual descreve histórias de profissionais que enfrentaram o processo de mudança de carreira

após alguns anos atuando em áreas ou em profissões que não os satisfaziam. A autora aponta

que a maioria das pessoas precisa decidir pela escolha de carreira quando são ainda muito

jovens e que as motivações intrínsecas nesses indivíduos sofrem transformações de acordo

com as experiências e vivências de cada um. Além disso, ao decidir por profissões após o

término do ensino médio, a maioria dos jovens enfrenta pressões sociais e de estereótipos de

carreiras impostos pela sociedade, em maior ou menor grau. Dessa forma, ao decidir pela

mudança de carreira, ainda que esta seja estável e financeiramente atraente, o profissional já

adulto procura responder às questões de autoconhecimento e reconhecimento de identidade

mais profundas.

Em sua obra, Ibarra (2013) coloca etapas que direcionam o planejamento da

autodescoberta e da mudança consciente de carreiras das pessoas que a ela se dispõem, que

visam ir ao encontro do indivíduo em sua totalidade, como ser biopsicossocial.

Durante a vida de um indivíduo, são tomadas diversas decisões impactantes, sendo que

a primeira grande decisão ocorre na adolescência com a escolha de qual profissão seguir. De

modo geral, o jovem é pouco preparado para esse momento e fatores externos, como a

família, escola, grupo de pares e sociedade acabam decidindo por ele, mas quando é chegado

o momento da decisão são esses fatores que exigem do jovem uma decisão com relação a qual

profissão decidir. Assim, o adolescente se depara com a difícil tarefa sem ao menos saber

como realizar o processo de escolha (NEIVA, 2013).

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Para a autora, a escolha de uma profissão não se limita apenas à decisão do que fazer,

mas sim decidir quem ser. Ao realizar a escolha por uma profissão esta não está limitada

apenas à escolha da ocupação, pois escolhe-se qual lugar do mundo se ocupará dali em diante.

A implantação de um sistema de programas de desenvolvimento de carreiras desde o

ensino médio e durante a idade em que os jovens realizam suas opções de carreira torna-se,

assim, relevante. Um estudo conduzido em um instituto de orientação de carreiras nos Estados

Unidos demonstrou que um trabalho sistematizado de orientação vocacional operado em

conjunto com atendimento ao desenvolvimento pessoal e acadêmico pode ser de grande

relevância para o momento da escolha por uma carreira. No estudo, ficou demonstrado que

estudantes que participaram das atividades de orientação puderam relacionar partes

importantes de suas vidas pessoais e sociais ao desenvolvimento acadêmico e, por

consequência, ao desenvolvimento de planos de carreira. Os estudantes demonstraram serem

mais proativos em relação à decisão de carreira, tornaram-se mais reflexivos acerca das

oportunidades de mercado e, ainda, tornaram-se mais colaborativos para auxiliar na

orientação de outros estudantes na mesma situação de estudo e escolha profissional

(SCHAEFER; RIVERA, 2012).

Além da orientação vocacional, técnicas e ferramentas de desenvolvimento pessoal e

profissional podem auxiliar no momento de escolha de carreira, e mais, podem desempenhar

papel de aprendizagem e estruturação de futuros relacionamentos tanto sociais quanto

profissionais, levando o jovem a entrar preparado no mundo do trabalho, com direcionamento

não só para o momento da escolha como para a condução de sua vida profissional ampla e

futura. Técnicas como o mentoring e o peer coaching, por exemplo, podem trazer ao

indivíduo o aprimoramento nos relacionamentos, o sucesso nas relações e a internalização de

táticas de aprendizagem imediata e para o futuro relacional no trabalho (PARKER; HALL;

KRAM, 2008).

Traverso-Yépez et al. (2005) afirmam que considerar a feminilidade e masculinidade

nas relações de gênero significa aceitar que as diferenças vão além das questões anatômicas e

envolve vários outros aspectos da vida. Diante disso, as relações de gênero influenciam as

relações sociais e fazem com que o indivíduo ocupe seu lugar de acordo com o seu sexo, ou

seja, de acordo com o seu gênero. Os papéis de gênero também constroem uma hierarquia que

permeia a rotina da vida, as brincadeiras, os projetos e o futuro das pessoas. Todas as

mudanças ocorridas com a inserção da mulher no mundo do trabalho repercutem na vida

familiar e estão expostas a esses aspectos da socialização, sendo que as crianças crescem, se

constituem e reproduzem o que foi depositado nelas. De modo geral, os papéis atribuídos aos

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homens e mulheres são facilmente identificados nas famílias do século XXI, pois, em geral,

cabe à mulher os cuidados ligados à casa e aos filhos e, aos homens, cabe o papel de

provedor.

Berlato (2015) relata que existem dois aspectos que organizam a vida de um

indivíduo, sendo o primeiro o trabalho e o outro a família, e que ambos vêm passando por

várias mudanças, que ocorreram nas últimas décadas. Um dos fatores para essas mudanças é o

incremento da participação das mulheres no mercado de trabalho o que, por sua vez, levanta

questões sobre os papéis atribuídos ao homem e à mulher, deixando mais evidentes as

diferenças entre um e outro.

Pode-se afirmar que há diversas maneiras de um indivíduo se estabelecer diante da

vida, bem como encarar os fatos e crises que ocorrem a sua volta e, à medida que compreende

os fatos, se desenvolve pessoalmente, o que permite a progressão e constituição desse

indivíduo (DUARTE, 2000).

O tema vocacional está relacionado à vocação, termo que, por sua vez, vem do latim

vocatione e se refere à ação de chamar, escolher, ter aptidão. Ao conceito profissional é

atribuído o ato de executar uma atividade profissional ou ofício. Já a orientação profissional,

partindo do ponto de vista da psicologia, se refere a toda ajuda prestada a uma pessoa para

que esta solucione questões relacionadas à escolha de uma profissão e trajetória de carreira.

De modo geral, os termos vocacional, profissional e educacional estão relacionados ao fato de

se ter um ofício, ocupação e trabalho (MELO-SILVA et al., 2004).

O trabalho existe desde o início das sociedades, porém a possibilidade de escolha de

qual carreira seguir é relativamente recente. Durante muitos séculos, a ocupação de uma

pessoa era determinada pelo clã ao qual pertencia. Com a vinda da industrialização foram

criadas diferentes formas de trabalho e ocupações, a partir de então surgiu a possibilidade e

necessidade de escolha, fazendo-se necessária a orientação para decisão (NEIVA, 2013).

A autora relata que a psicologia vocacional surgiu em 1902, com a abertura do

primeiro escritório de orientação profissional em Munique. Na sequência, outros foram

abertos em outros países como na França, em 1906, na Suíça, em 1916, Inglaterra, em 1920,

entre outros. O Brasil e Argentina foram os primeiros países da América Latina a realizarem

abertura de escritórios com tal finalidade. Em 1924, surgiu no Brasil um trabalho sobre

orientação profissional no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, realizado pelo Professor

Roberto Mange e, no ano de 1931, foi elaborado o primeiro serviço de orientação profissional,

por Lourenço Filho.

É possível dividir a história da psicologia vocacional em duas, sendo a primeira de

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1900 a 1950 e a segunda de 1950 aos dias autuais. A primeira, marcada pela psicometeria e a

ideia de colocar o homem certo no lugar certo, ou seja, unir as aptidões do homem às

oportunidades de trabalho. Aquela foi uma época em que foram criados muitos testes para

medir aptidões e interesses. A psicologia vocacional era impregnada pela Teoria de Traços e

Fatores, cujo determinismo vocacional era predominante. Vale destacar que, nessa primeira

fase, a psicologia vocacional serviu às grandes crises econômicas, como a crise pós-

Revolução Industrial, as Primeira e Segunda Guerras Mundiais e a grande crise econômica de

1929. Alguns autores tiveram destaque durante esse período, tais como Parsons, que, em

1909, publicou Choosing a Vocation, Strong, que criou e publicou o Inventário de Interesses

Vocacionais e Hull, que criou uma máquina prognosticadora para identificar o resultado de

uma pessoa em várias ocupações (NEIVA, 2013).

Dos anos 1950 em diante, surgiram diversas teorias que forneceram à psicologia

vocacional novas perspectivas da problemática que envolve a escolha profissional. Três das

correntes que podem ser citadas são: Psicodinâmica, Decisional e Desenvolvimental (NEIVA,

2013).

Na Corrente Psicodinâmica, o que mais tem valor para a escolha profissional

relaciona-se ao fator motivacional, ou seja, o que motiva o indivíduo a se comportar de

determinada maneira e, em consequência, a escolher uma determinada profissão. Este grupo

abrange as teorias psicanalíticas que defendem que toda vocação é uma forma de sublimação

(NEIVA,2013).

A Corrente Decisional tem sua contribuição voltada ao entendimento do problema.

Durante o processo de escolha, o indivíduo analisa as oportunidades que possui, as possíveis

consequências e a probabilidade de essas consequências ocorrerem. Analisando todas as

decisões que possui, o indivíduo chega a sua decisão (NEIVA, 2013).

A Corrente Desenvolvimental, dos anos 1950, considera que a escolha por uma

profissão é um processo de desenvolvimento que começa na infância e passa por diversas

fases, se estendo por um longo período da vida. Ao longo das fases, o indivíduo faz

compromissos entre suas necessidades e as oportunidades que surgem de acordo com o meio

e realidade social a qual pertence. Durante esse processo, ocorre a conceituação de si mesmo,

que vai influenciar a escolha profissional e satisfação gerada com esta escolha (NEIVA,

2013).

Há diversas definições para orientação profissional e a de Ribeiro (2011) pode ser

considerada a mais representativa em relação à visão contemporânea:

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...um processo de ajuda de caráter mediador e cooperativo entre um profissional

preparado teórica e tecnicamente com as competências básicas exigidas e

desenvolvidas para um orientador profissional e um sujeito ou grupo de sujeitos, que

necessite auxílio quanto à elaboração e consecução do seu projeto de vida

profissional/ocupacional com todos os aspectos envolvidos do seu comportamento

vocacional (conhecimento de seu processo de escolha, autoconhecimento,

conhecimento do mundo do trabalho e dos modelos de elaboração de projetos).

(RIBEIRO, 2011, p. 52-53).

Atualmente, identifica-se que não é possível separar o projeto profissional do projeto

de vida e, com isso, o objetivo da orientação profissional precisa abarcar diversos fatores da

vida de uma pessoa, bem como da realidade educativa e socioprofissional em que esta

interage. Diante do exposto, é possível encontrar propostas de orientação conduzidas por

organizações educativas e profissionais especializados, sendo algumas mais eficazes e

completas do que outras (NEIVA,2013).

A autora aponta algumas modalidades para realização da orientação profissional,

sendo elas:

1) Modalidade Atuarial ou Estatística: originou-se no início da Psicologia

Vocacional e se baseia em realizar um diagnóstico de vocação com base em

testes psicológicos. Aplicam-se uma série de testes psicológicos no indivíduo

para avaliar sua capacidade intelectual, aptidões, personalidade, interesses

profissionais e valores. Aqui, espera-se a resposta do orientador, ou seja, o

indivíduo não assume a responsabilidade para o processo de escolha.

2) Modalidade Clínica: criada por psicólogos da Universidade de Buenos Aires,

sendo um deles Rodolfo Bohoslavsky. Nesta modalidade, a gênese é a de que o

indivíduo tem a capacidade de realizar sua escolha profissional, isso se for

possível que compreenda a situação que está confrontando e elabore as

ansiedades, medos e conflitos relacionados ao processo de decisão. Aqui o

objetivo é colaborar para que o orientando elabore sua identidade vocacional e o

mobilizar para uma escolha independente (BOHOSLAVSKY, 1977). O

orientando exerce um papel ativo e o orientador tem como papel facilitar o

processo de decisão.

3) Modalidade do Desenvolvimento Vocacional: criada pelos estudiosos Super e

Ginzberg, esta modalidade objetiva instrumentar a pessoa naquilo que tange suas

tarefas vocacionais, havendo quatro delas: exploração (leva a pessoa a reconhecer

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o problema da escolha da profissão); cristalização (que organiza as informações

sobre si, elimina opções e chega a uma preferência de profissão provisória);

especificação (quando transforma a preferência provisória em definitiva); e

realização (realização da escolha profissional iniciando estudos e buscando

emprego na opção que escolheu) (NEIVA, 2013).

Neiva (2013) aponta que, recentemente, algumas outras modalidades foram inseridas

no contexto brasileiro, sendo elas:

1) Abordagem Sócio-histórica: traz como objetivo facilitar o entendimento e fazer

com que o indivíduo se aproprie daquilo que vai determinar sua decisão, tais

como seus valores, mercado de trabalho, gênero, experiência pessoal e escolar,

conhecimento das profissões, situação social e econômica, expectativas pessoais,

entre outros. Faz uso de dinâmicas de grupo, discussões e reflexões.

2) Abordagem Psicopedagógica: baseada nas teorias desenvolvimentistas, do

construtivismo, Gestalt e modalidade clínica. Tem como objetivo praticar

conteúdos e informações que estão em linha ao processo de aprendizagem que

facilitam o aprendizado e seleção, escolha e decisão de uma profissão, que por

sua vez vão possibilitar que o indivíduo perceba, pense, sinta e aja. Faz uso de

técnicas participativas, pesquisas, dramatizações e debates.

3) Abordagem Comportamental: baseada na teoria comportamental de Skinner. Tem

como objetivo fazer com que o indivíduo enxergue os fatores do contexto no qual

está inserido, tais como família, amigos, sociedade, cultura e às quais o

comportamento de decidir fica exposto; também objetiva possibilitar a

identificação de informações significativas sobre as profissões pelas quais o

indivíduo se interessa de maneira a relacioná-las consigo, e elevar a ocorrência de

comportamentos que estejam ligados à escolha profissional. Faz uso de

discussões, dramatizações e exercícios específicos (NEIVA, 2013).

Nesta pesquisa não se pretende apresentar todas as demais teorias utilizadas na

orientação profissional, sendo as supramencionadas com as quais mais nos deparamos no

Brasil e no mundo.

Segundo Brown (2002), os enfoques sociológicos e psicológicos que estudam as

decisões de escolha de carreira concordam em vários pontos, apesar de as linhas de sociologia

pesquisarem mais profundamente os aspectos relacionados à influência de papéis de gênero,

ocupação parental, contexto social, etnia, entre outros. As influências ligadas às questões

psicológicas relacionam aspectos de personalidade do indivíduo e como estes são moldados

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de acordo com os contextos e experiências de vida e profissionais pelos quais passam ao

longo dos anos de carreira. Por exemplo, não é incomum que muitos jovens optem por

profissões consideradas mais prestigiadas pela sociedade, como juízes, médicos e advogados.

Ainda que estas opções possam ser guiadas por motivações intrínsecas relacionadas à

identificação com o cuidado social, a preocupação com a saúde populacional ou o senso de

direito e justiça e o fator de influência de prestígio social podem ser fundamentais na hora da

decisão por uma dessas carreiras.

Ao mesmo tempo, pode acontecer que, durante o percurso dessas carreiras, os

indivíduos queiram optar por outras profissões relacionadas à motivação, mas que não tenham

necessariamente a ver com a influência da família ou da aceitação social. Por exemplo, um

advogado que, após anos de trabalho jurídico criminal, pode decidir guinar sua carreira para a

instância familiar ou de aconselhamento. Cabe a um bom processo de orientação vocacional

abraçar as linhas sociológicas e psicológicas para atender ao público a que se destina

(BROWN, 2002).

Em seu artigo, Duarte (2000) traça o histórico da orientação vocacional, apontando

que, no começo do século XX, a teoria surgiu em diversos países. Analisando a história, o

autor verificou que, até os anos 1950, a orientação buscava mais objetivar a escolha de uma

profissão e o sucesso relacionado à ela. Ao orientador de carreira cabia o papel de analisar as

características do perfil da pessoa, comparando-as às exigidas em cada profissão para

identificar às que mais se adequavam. Nesse modelo, a escolha não era dinâmica, se limitando

apenas a um processo cristalizado que procurava definir a conexão entre as aptidões do

indivíduo e a sua escolha de profissão. À medida que surgem novas necessidades para a

sociedade e para as pessoas, que à época despontaram com a crescente industrialização e a

formação de novas empresas, novos empregos e profissões, foi necessário o avanço da

ciência, para responder às questões de adaptação à profissão. Surgem assim outras teorias

sobre orientação vocacional, conduzindo-a a mover-se do protótipo de profissão para o de

carreira, tornando a escolha profissional dinâmica e considerando que sua constituição

começa na infância e vai até a idade adulta. A orientação passa a ter sua ótica ampliada,

deixando de ser apenas “orientação profissional” e passando para “orientação de carreira”

(DUARTE, 2000).

Todas as mudanças da história também contribuíram para estabelecer as novas

direções quanto ao desenvolvimento e orientação de carreira, sendo possível sua contribuição

para a vida das pessoas, à medida que as ajuda a terem consciência daquilo que almejam e

desejam perseguir. Com a evolução da teoria, é possível identificar que a carreira se

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desenvolve, não somente na adolescência, mas ao longo de toda vida, por conta das mudanças

a que estão expostos os sujeitos. Desse modo, a orientação de carreira precisa levar em

consideração todas as esferas que geram o conhecimento de novos modelos de trabalho para,

de fato, estabelecer uma orientação que ajude no autoconhecimento e que culmine numa

escolha e no desenvolvimento de carreira mais adequado às expectativas do orientado

(DUARTE, 2000).

A orientação de carreira proteana, amplamente utilizada nos últimos anos, parece, em

muitos casos, proporcionar atividades de planejamento de carreira relacionadas ao acúmulo de

capitais humano, social e psicológico. Os capitais sociais e psicológicos estão associados à

alta empregabilidade e ao equilíbrio entre vida cotidiana e carreira, ou seja, este tipo de

orientação está voltado a perspectivas mais amplas de carreira (DIRENZO; GREENHAUS;

WEER, 2015).

Os testes usados para orientação vocacional traziam como característica a orientação

para escolha do jovem, de acordo com suas aptidões e, sobretudo, com vistas a uma maior

eficiência no processo produtivo. Direcionava os jovens para as diversas profissões, de acordo

com suas capacidades demonstradas, sem levar em consideração a história de vida e a classe

social à qual o indivíduo estava inserido, sendo um processo que simplesmente convertia o

que era esperado pela sociedade em peculiaridades pertencentes à pessoa (ABADE, 2005).

A autora traz que, na década de 1980, a orientação profissional passou a ser

interpretada como um método que contribui para uma escolha, por levar em consideração

aspectos que compreendem a realidade psíquica, os problemas e dilemas acerca da identidade

e escolha profissional, sendo esses aspectos o cerne sobre os estudos do tema. Já na década

de 1990, nota-se que a orientação profissional se focou em três diferentes concepções, sendo a

psicométrica, a clínica e a que considera o trabalho um modo de produção de capital. Ao final

do século XX, o mercado de trabalho passou por uma grande mudança oriunda da quebra do

paradigma estabelecido entre as indústrias e a tecnologia e essas transformações

influenciaram a orientação profissional, no que se refere à técnica empregada. Desse modo, o

método não pode considerar apenas a referência psicossocial, mas sim considerar todos os

aspectos relevantes e inerentes ao processo de escolha (ABADE, 2005).

Duarte (2000) aponta que a psicologia voltada à escolha de carreira leva em

consideração quatro aspectos que precisam ser analisados com atenção: “a exploração, de si

próprio e do meio, o planejamento, a formação da identidade e a maturidade vocacional, que

engloba componentes cognitivos e afetivos” (DUARTE, 2000, p. 132) e que a psicologia faz

uso de instrumentos que visam à obtenção de resultados para que o jovem conheça mais sobre

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suas tendências profissionais, bem como integre outros aspectos, tais como o cognitivo, que

colabora para uma escolha mais realista e que gere mais satisfação e possíveis melhorias na

qualidade de vida.

Assim, se faz necessário que, ao longo dos anos escolares, que influenciam na

trajetória a ser seguida, o processo de escolha e suas implicações estejam pautados no

desenvolvimento vocacional e pessoal. Logo, o processo precisa ser concentrado na pessoa,

para que se estimule e procure buscar elementos que vão constituir as experiências do jovem e

que servirão como arcabouço para direcioná-lo a qual caminho percorrer. A escolha

profissional e o estilo de vida do jovem interferem e permeiam as possibilidades de satisfação

ligadas ao trabalho e à vida pessoal, servindo para integração da relação com o meio ao qual

faz parte e é vital para a trajetória a ser seguida. Até que se esteja na trajetória escolhida, o

jovem vivencia um verdadeiro drama (DUARTE, 2000).

O fato é que o tema da escolha profissional se torna importante cada vez mais cedo

na vida do jovem que se adianta para ingressar no mercado de trabalho. Entender a opção pelo

que se deseja ser no futuro significa ter que se conhecer quem o jovem foi, quem é no

momento atual e reconhecer quais foram as influências recebidas ao longo da vida, pois

aquilo que foi depositado nele forma as suas percepções, afetos, discernimentos, medos e

inseguranças (LOBATO, 2003).

Para Lobato (2003), o passo para vida adulta é marcado pela capacidade da

realização profissional de uma pessoa que, ao encarar esta tarefa na idade esperada, passa a

ser identificado como um ser humano ativo e produtivo, capaz de constituir seus bens e prover

o próprio sustento, bem como o da sua família. É por meio do trabalho que as pessoas usam a

criatividade para expressar o que possuem de melhor e, assim, se aproximam dos outros. Esta

interação permite o autoconhecimento e o conhecimento sobre os outros. Sendo assim, pode-

se afirmar que o trabalho estabelece a ligação com a realidade da vida e, não em vão, é a

segunda identificação de uma pessoa que, ao se apresentar a alguém, declara o próprio nome

seguido da profissão que exerce (LOBATO, 2003).

De modo geral, é na adolescência que as pessoas passam por um período de busca e

planejamento e, por essa razão, esta fase pode ser classificada como um período de

exploração, que propicia o desenvolvimento vocacional. Essa experiência permite ao jovem

construir uma base que vai ajudá-lo na preparação e na escolha profissional, possibilitando a

transição para uma nova fase da vida (LOBATO, 2003).

Ao final da adolescência, o jovem é chamado à escolha profissional, quando é

chegado o momento do vestibular, que por sua vez significa “porta principal”, ou seja, é a

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porta de entrada para a escolha profissional. No Brasil, a procura por universidades públicas é

grande, pelo fato da questão econômica ter significativa influência e também porque a rede

superior pública conta com um ensino de melhor qualidade. Jovens, cujas famílias podem

arcar com as despesas de estudo, têm um leque maior de escolhas, se comparados aos que não

contam com famílias mais abastadas. Pertencer a uma determinada classe social também pode

influenciar na escolha profissional, bem como ser do gênero feminino ou masculino (MELO-

SILVA et al., 2004).

Diante do tema gestão de carreira na atualidade, em que a característica principal é a

menor dependência entre o profissional e a empresa, entre os jovens com idade entre 18 e 25

anos, é comum identificar a ansiedade gerada quanto ao progresso da carreira. Entretanto,

ingressar no mercado de trabalho mostra-se mais simples atualmente do que em décadas

anteriores (VELOSO et al., 2014).

Neiva et al. (2005) aponta que a escolha profissional não pode ser reduzida a um

único fator, pelo fato de que diversos aspectos estão envolvidos na definição da escolha do

jovem e nos tipos de elos que ele ou ela vão estabelecer com o trabalho, podendo estes serem

político, sociais, econômicos, psicológicos, dentre outros. No elo psicológico, encontram-se

aspectos relacionados aos interesses e habilidades pessoais, personalidade, valores

desenvolvidos e a própria perspectiva relacionada ao futuro.

A autora aponta que a escolha profissional está estreitamente vinculada à maturidade,

que, por sua vez, contempla duas perspectivas, que são as atitudes e conhecimentos. Na

perspectiva das atitudes, encontram-se três aspectos: 1) determinação para a escolha, que diz

respeito à segurança e definição do sujeito para a seleção; 2) responsabilidade para a escolha

profissional, que diz respeito ao quanto o sujeito está comprometido com sua decisão; 3)

independência, que diz respeito ao nível de influência em relação ao meio, família e amigos

para a escolha.

Já na perspectiva dos conhecimentos, há dois aspectos a serem considerados: 1)

autoconhecimento, relacionado aos interesses e habilidades pessoais, ou seja, o quanto o

indivíduo sabe de si próprio; e 2) conhecimento da realidade educacional e socioprofissional,

que está relacionado ao conhecimento externo, ou seja, do mercado no qual pretende seguir

sua trajetória (NEIVA et al., 2005).

No momento atual, torna-se essencial considerar ainda mais a ligação entre trabalho

e educação, quando o assunto se refere à escolha profissional, sendo necessário melhorar a

preparação do jovem para esse momento, que, como mencionado, é um dos passos mais

relevantes para o ingresso na vida adulta (OLIVEIRA et al., 2013).

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2.6 O ensino médio no Brasil

Conforme especificado anteriormente, para a amostra desta pesquisa foram

considerados alunos do 3º ano do ensino médio, por estarem em momento mais próximo da

escolha profissional. Este fato traz a necessidade de que o contexto do sistema educacional no

Brasil seja abordado neste referencial teórico.

Ao buscar a história acerca do tema, identifica-se que, antes da década de 1930,

quando começou a implantação do sistema de ensino profissionalizante no Brasil, o ensino

médio era um nível escolar destinado quase que exclusivamente à formação da elite social. A

partir daí, o ensino voltado à formação profissional, nesse nível de ensino, passou a procurar

atender a demanda das classes sociais mais carentes. Com o decreto n. 19.890/1931,

consolidou-se o ensino chamado secundário e, em 1942, o decreto-lei n. 4.244/42 dividiu o

ensino médio em duas etapas: o ginásio de quatro anos, e o colegial de três anos de duração.

Os processos seletivos, ou exames de admissão da época, eram filtros exigentes para a entrada

no nível de ensino. Para a massa menos favorecida da população, cabia, em absoluta maioria,

o ensino profissionalizante, que preparava a mão de obra para as novas indústrias que

chegavam e se expandiam no Brasil (MOEHLECKE, 2012).

Alguns anos mais tarde, a LDB (lei n. 4.024/1961) estabeleceu que os cursos

profissionalizantes também proporcionassem ao estudante a validade no ingresso ao ensino

superior, até então apenas autorizado a quem cursasse o ensino médio comum. Em 1971, a lei

n. 5.692 estabeleceu a profissionalização compulsória e a unificação do antigo ginásio com o

primário, condensados, assim, num bloco denominado como primeiro grau.

A Constituição de 1988 trouxe algumas alterações às leis do ensino, sendo a mais

importante a obrigatoriedade do estado em proporcionar ensino superior gratuito a todos.

Ainda que este seja um ponto não completamente atendido, não só no Brasil como em outros

países, a inserção da obrigatoriedade na lei foi um avanço significativo para a história da

educação no país (NAKANO; ALMEIDA, 2007).

A emenda à constituição n. 14/1996 trouxe a alteração do termo “obrigatoriedade” por

“universalização” e criou o FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério, órgão que também passou a se responsabilizar

pela destinação de recursos para o ensino dito regular e obrigatório (MOEHLECKE, 2012).

De acordo com a autora, A LDB de 1996 consolidou o ensino médio como etapa final

da educação básica brasileira, atribuindo-lhe a formação dos estudos, o desenvolvimento da

cidadania, do senso crítico e a preparação técnica para o trabalho. Já o decreto n. 2.208/97,

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definiu a formação técnica no grau para o país, devendo essa ser organizada de acordo com

cada estrutura curricular própria, de acordo com cada região e necessidade local. A lei n.

11.741/08 passou a permitir ações integradas entre ensino médio e formação profissional.

Apesar de toda a legislação e da evidente expansão do ensino médio no Brasil,

atualmente, ainda há grande problema de fluxo na passagem entre anos e séries, o que adia a

conclusão dos níveis de ensino e a consequente entrada tanto para o ensino superior como

para o mercado de trabalho. Estima-se que apenas metade dos alunos que ingressam no ensino

fundamental consegue concluí-lo em um tempo médio de dez anos. O Censo Escolar de 2007

aponta que apenas 56% dos alunos matriculados no ensino médio estavam na idade regular,

pois 37% tinham entre 18 e 24 anos e 7%, mais de 25 anos. Por causa desse quadro, é possível

compreender o aumento da busca por cursos de ensino médio noturnos, uma vez que muitos

alunos precisam trabalhar mesmo antes de concluírem essa etapa da formação escolar

(MOEHLECKE, 2012; SPOSITO; SOUZA, 2014).

Ao se considerar todos esses dados, é importante ainda ater-se à análise do

desempenho escolar dos alunos e da qualidade do ensino ofertada pelas instituições. Índices e

provas de avaliação têm apontado um panorama geral do desempenho geral. O IDEB – Índice

de Desenvolvimento da Educação Básica combina análise de desempenho escolar com fluxo e

evasão.

A permanência do estudante no ensino médio depende de vários fatores, tais como

idade, inclusão no mercado de trabalho, desempenho escolar, repetência, infraestrutura

oferecida pelas unidades, qualidade docente etc. Assim, o debate acerca das mudanças,

sucessos e fracassos, evoluções e retrocessos do ensino médio no Brasil deve passar pela

análise de diversos fatores culturais, sociais, econômicos e tecnológicos (SPOSITO; SOUZA,

2014).

Segundo Castro, Torres e França (2013), o número de estudantes do ensino básico no

país tem aumentado significativamente, sendo que, no período entre 1999 e 2011, passou de

50,4 milhões para 55,5 milhões. Por volta de 94,4% das crianças e adolescentes estão

matriculados em algum tipo de escola. Em termos absolutos, o aumento do número de alunos

não acompanha em proporção o aumento da população, porém houve melhora no fluxo

escolar, com aumento expressivo de alunos frequentando o ensino médio no Brasil.

A expectativa principal dos jovens, ao cursarem o ensino médio, além do preparo e

possibilidade de acesso à universidade e formação técnica profissionalizante, é a esperança de

ascensão social, de mais chances às boas oportunidades de trabalho e prestígio. Há uma

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utopia, não presente apenas no caso brasileiro, de uma universalização do ensino, com acesso

de todos a boas escolas e ensino de qualidade (NAKANO; ALMEIDA, 2007).

A organização curricular do ensino médio apresenta uma base nacional comum e uma

parte diversificada. Segundo a Resolução Básica n. 2 de 2012, essas partes não devem

constituir-se como passos distintos, mas como um todo integrado e coerente, para a garantia

dos conhecimentos e saberes comuns necessários a todos os estudantes. Assim, o currículo

nacional será sempre organizado por áreas de conhecimento, abordadas por disciplinas:

Linguagens (Língua Portuguesa, Língua Materna, para populações indígenas, Língua

Estrangeira moderna, Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e,

obrigatoriamente, a musical, e Educação Física), Matemática, Ciências da Natureza (Biologia,

Física e Química) e Ciências Humanas (História, Geografia, Filosofia e Sociologia). Entre as

áreas, devem estar garantidos a multidisciplinariedade, a interdisciplinariedade, o

planejamento, a contextualização e a intervenção na realidade (MEC, 2012).

O acesso dos jovens a uma escola de qualidade continua sendo uma questão a ser

resolvida pela sociedade brasileira. Alguns números apontam, entretanto, questões que ainda

demandam atenção e ações para sua solução: a proporção dos jovens entre 15 e 17 anos

cursando o ensino médio foi inferior a 51%, no ano de 2011; entre 1999 e 2011, dobrou a

proporção dos que abandonaram a escola no ensino médio (o salto foi de 7,4% para 16,2%);

em 2012, a proporção dos que nem trabalham, nem estudam (conhecidos como nem-nem)

atingiu 24% dos jovens com 18 anos de idade e 25% daqueles com 20 anos. Os indicadores de

desempenho escolar praticamente não se alteraram na comparação entre 1999 e 2011, apesar

dos esforços realizados pelo setor público nesse campo (PEREIRA; ARAÚJO, 2015).

O ensino médio, assim como os outros níveis de educação brasileiros, vem

apresentando várias transformações nos moldes de organização, mas não de execução.

Objetivos, estrutura, projetos têm se alterado, mas integrar práticas e conhecimentos no ensino

médio tem sido um desafio para as práticas de educação do país, assim como em sua

estrutura, nos seus objetivos e currículos (MOEHLECKE, 2012; PEREIRA; ARAÚJO, 2015).

Ainda que o acesso ao último nível da educação básica tenha mostrado sinais de

evolução na última década, a proporção de jovens versus população brasileira tem estado

estancada (TORRES et al., 2014). Assim, Pereira e Araújo (2015) apontam para a necessidade

de novos modelos e práticas para representar o jovem estudante do ensino médio, inclusive

apoiando a ideia de uma extensão do número de horas que o jovem e o adolescente passam na

escola.

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Além de todos esses fatores, existe outra discussão pertinente no que se refere ao

ensino médio e à ampliação de ações que visem sua evolução e acesso a todos. O ingresso

posterior à próxima etapa do ensino, o ensino superior, não é contemplado por todos os

estudantes que eventualmente conseguem obter o certificado do ensino médio. Apesar do

aumento expressivo de instituições de ensino superior, que têm ampliado acesso e

permanência dos estudantes nesse nível de ensino, as universidades públicas e as melhores

universidades privadas têm como instrumento de processo seletivo o vestibular (RIBEIRO,

2013).

Para Ribeiro (2013), há relação direta entre baixas condições econômicas e gênero na

escolha dos jovens por carreiras como em Letras e Educação. Sendo assim, há a elitização de

instituições que oferecem vagas em uma variedade de cursos também considerados mais

elitizados. Esses cursos estariam destinados aos alunos que, ao longo de sua vida escolar

egressa, tiveram mais oportunidades de frequentar as escolas privadas avaliadas com

melhores desempenhos. O vestibular, segundo o autor, seleciona, processa e afunila o

ingresso ao ensino superior de qualidade, não oportunizando aos alunos de classes sociais

menos favorecidas e a depender do gênero a escolha real de carreiras futuras.

Diante do histórico do estabelecimento do ensino no Brasil, levantam-se as hipóteses:

H3: As variáveis de perfil influenciam o nível de maturidade do estudante.

H3a: Alunos do ensino privado são mais maduros do que os do ensino

público

H3b: Alunos do período noturno são mais maduros do que alunos do

período matutino.

H3c: Alunos do ensino técnico são mais maduros dos que os do ensino

regular.

H3d: Alunas do gênero feminino são mais maduras do que os do gênero

masculino.

H4: Os estudantes de escola privada sofrem menos influência de estereótipos de

gênero, quando comparados aos estudantes de escola pública.

A próxima seção traz as escalas utilizadas neste estudo, para mensuração dos dados a

que se propõe esta investigação.

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2.7 Escalas: EMEP e Estereótipos Profissionais

Um dos interesses, neste estudo, é medir a maturidade e o quanto a escolha

profissional de um jovem do ensino médio pode ser afetada pelos estereótipos das profissões.

Na busca por uma escala validada que tratasse essas problemáticas não foi localizada uma que

cumprisse tal papel. Para tanto, a utilização e análise dos resultados de duas escalas validadas

colaboraram para o interesse fim da pesquisa.

Uma das escalas utilizadas é a EMEP (Escala de Maturidade para a Escolha

Profissional), elaborada pela autora Doutora Kathia Maria Costa Neiva, que é especialista em

orientação vocacional. Esta escala tem como objetivo medir o grau de maturidade para a

escolha profissional e também cinco aspectos: Determinação, Responsabilidade,

Independência, Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade Educativa e

Socioprofissional (Neiva, 2014). A autora indica o uso da EMEP para pessoas cursando o

nono ano do ensino fundamental, primeiro, segundo e terceiro anos do ensino médio, em

indivíduos que tenham concluído o ensino médio e ainda estejam na fase de escolha

profissional e, ainda, naqueles que estão na faculdade e necessitam de reorientação.

Em seu livro, a autora traz que os testes mais utilizados para medir a maturidade

vocacional no cenário internacional, sendo esses o Inventário de Desenvolvimento de Carreira

(Career Development Inventory – CDI), elaborado por Super e colaboradores (1957), e o

Inventário de Maturidade de Carreira (Career Maturity Inventory – CMI), apresentado por

Crites (1961), sendo o CMI a ferramenta que serviu como referência para construção da

EMEP (Neiva, 2014).

O CMI é composto por dois subtestes, sendo: Teste de Competências (TC) e a Escala

de Atitudes (EA). O TC visa medir o nível de informação sobre a carreira e as competências

de planejamento e de decisão. A EA permite calcular uma medida de maturidade e possui

cinco componentes: decisividade, envolvimento, independência, orientação e compromisso.

Foi a Escala de Atitudes que conduziu a criação da EMEP (Neiva, 2014).

O modelo para escolha profissional da escala EMEP, demonstrada na Figura 3, se

baseia em duas dimensões que abarcam os cinco aspectos supramencionados, sendo Atitudes

e Conhecimentos. A dimensão Atitudes é composta por três subdimensões:

1) Determinação para a escolha, que vai indicar o grau de segurança e definição

com relação à escolha profissional.

2) Responsabilidade para a escolha, que vai indicar a preocupação e ações para a

efetividade da escolha.

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3) Independência na escolha, que vai indicar o quanto a escolha é realizada de

forma independente da influência do meio externo.

A dimensão Conhecimentos é composta por duas subdimensões:

1) Autoconhecimento, que verifica o quanto o indivíduo conhece seus aspectos

internos, tais como características pessoais, interesses e habilidades

2) Conhecimento da realidade educativa e socioprofissional, que indica o nível de

conhecimento com relação às profissões, faixas salariais, cursos, mercado de trabalho, entre

outros (Neiva, 2014).

Figura 3 – Modelo para Escolha Profissional da EMEP

Fonte: extraído de Neiva (2014, p. 21) - Escala de maturidade para a escolha profissional (EMEP).

A EMEP contém 45 assertivas e é do tipo Likert. As dimensões dessa escala, já

tratadas na revisão da literatura, são Determinação (10 itens), Responsabilidade (10 itens),

Independência (8 itens), Autoconhecimento (7 itens) e Conhecimento da realidade (10 itens).

A resposta para cada assertiva pode variar de 1 a 5, sendo: 1 = nunca, 2 = raramente, 3 = às

vezes, 4 = frequentemente e 5 = sempre.

Desde sua concepção, em 1999, a EMEP vem sendo utilizada em pesquisas com

diversos objetivos. Algumas das pesquisas se referem à Maturidade para a Escolha

Profissional em função do sexo, do nível escolar, do tipo de escola, do turno de estudos, do

nível socioeconômico, da região demográfica, dentre outros.

Maturidade para a

Escolha Profissional

Atitudes frente à

Escolha Profissional

Conhecimentos necessário à Escolha

Profissional

Determinação

Responsabilidade

Independência

Autoconhecimento

Conhecimento da Realidade

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70

Nos anos de 1999 e meados de 2013, a autora realizou estudos psicométricos que

evidenciam a validade e fidedignidade da escala.

Por questão de sigilo, a escala não será apresentada nesta pesquisa.

O construto de percepção de estereótipos profissionais será mensurado por meio dos

itens adaptados da escala de Igualdade de Papéis de Gênero (Sex-role egalitarianism scale) de

Beere et al. (1984). Para tanto, pesquisaram-se os cursos com maior procura no Sisu (Sistema

de Seleção Unificada – Ministério da Educação) no ano de 2015, tendo-se Administração,

Direito, Pedagogia, Medicina, Educação Física, Engenharia Civil, Ciências Biológicas,

Enfermagem, Psicologia, Ciências Contábeis, Matemática e Agronomia (MEC, 2015).

A partir dessas profissões, os itens foram adaptados tal como exposto no Apêndice E.

Para Beere et al. (1984), há quatro perfis diferentes de atitude: a) aqueles que consideram a

igualdade entre as profissões (acreditam que homens e mulheres são igualmente capazes de

exercer quaisquer profissões); b) aqueles que consideram a desigualdade entre as profissões

(acreditam que algumas profissões são mais masculinas e outras mais femininas); c) aqueles

que possuem viés feminista (consideram que as mulheres são melhores do que os homens em

quaisquer profissões); e d) aqueles que possuem viés machista (acreditam que os homens são

melhores do que as mulheres em quaisquer profissões).

A escala de Estereótipos Profissionais, disponível no Apêndice E, possui 12

assertivas e será mensurada em escala Likert de quatro pontos, em que 1 = discordo

totalmente, 2 = discordo em parte, 3 = concordo em parte e 4 = concordo totalmente,

conforme sugerido pelos autores. Após a coleta de dados, foi realizada a recodificação da

escala, em que as respostas voltadas para igualdade de gênero receberam código 1 e as

respostas voltadas para desigualdade receberam código zero, de forma que, quanto maior o

escore geral do indivíduo, maior a sua percepção sobre a igualdade de gêneros nas profissões.

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71

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, são apresentados a definição da pesquisa e os procedimentos de

coleta e de análise de dados.

3.1 Definição da pesquisa

Esta pesquisa, de acordo com seu objetivo geral, pode ser classificada como

quantitativa e descritiva. Uma pesquisa descritiva é, com frequência, utilizada para coletar

dados que descrevem características de fenômenos, pessoas ou situações de interesse do

estudo. Pesquisas dessa natureza podem ser tanto quantitativas quanto qualitativas. Pesquisas

descritivas quantitativas coletam dados, tais como percepções, opiniões e atitudes, focos deste

trabalho. São úteis também quando o objetivo da pesquisa é descobrir associações entre

variáveis e descrever características de populações e fenômenos (SEKARAN; BOUGIE,

2013).

A estratégia de coleta de dados selecionada para esta pesquisa foi do tipo survey, ou

levantamento, que pode ser definida como: “um sistema para coletar informações de ou sobre

pessoas para descrever, comparar ou explicar suas atitudes e comportamentos” (SEKARAN;

BOUGIE, 2013, p.102).

Segundo os autores, as surveys são muito utilizadas nas pesquisas da área de

negócios e, em geral, fazem uso de questionários e escalas para mensuração das variáveis.

Trata-se de uma estratégia bastante rica, pois permite coletar dados qualitativos e

quantitativos, fazendo uso de múltiplos tipos de perguntas.

A presente pesquisa fez uso de dois questionários como instrumento de coleta de

dados. Para os autores acima mencionados, um questionário é um conjunto de perguntas pré-

formuladas, nas quais o respondente é solicitado a assinalar sua resposta dentro de um

conjunto pré-determinado de alternativas.

Esse instrumento é bastante eficiente para pesquisas descritivas, por meio da

estratégia survey, que será aplicada neste trabalho, como forma de coleta de dados menos

complexa e que consome menor tempo do que entrevistas e grupos focais. Por outro lado, os

questionários podem apresentar grande incidência de não resposta.

Um questionário pode ser aplicado pessoalmente ou eletronicamente. Nesta

dissertação, propõe-se a aplicação presencial, a fim de garantir a compreensão adequada das

assertivas pelos adolescentes, objetos do estudo, assim como para minimizar a taxa de não

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72

respostas.

3.2 Coleta de dados

A pesquisa trata de dois construtos teóricos: maturidade para escolha profissional e

percepção de estereótipos profissionais.

Neiva (2005) traz que a escolha profissional está relacionada à maturidade e que esta

reflete duas dimensões, sendo a primeira a das atitudes, que, por sua vez, contempla três

subdimensões, sendo a) a determinação para a escolha; b) responsabilidade para escolha

profissional; e c) independência. A segunda dimensão se refere ao conhecimento que

contempla duas subdimensões, sendo o autoconhecimento e o conhecimento da realidade

educacional e socioprofissional. Essas estão supramencionadas no item acerca das escalas.

Este construto será avaliado por meio da escala da autora, denominada EMEP

(Escala de Maturidade para a Escolha Profissional) (NEIVA, 2014).

O construto de percepção de estereótipos profissionais pode ser definido como o

conjunto das características percebidas e relacionadas ao papel que se espera que seja

desempenhado por um homem ou mulher, de acordo com sua profissão, por exemplo. De

modo geral, essa percepção define e limita as pessoas em sua interação com o meio, pois, de

certa forma, representa a qualidade pessoal do indivíduo, culminando numa relação direta aos

estereótipos sociais, nos quais estão arraigados os papéis sexuais e tudo aquilo que se cria de

expectativa em relação a eles (LOBATO, 2003).

Este construto será mensurado por meio dos itens adaptados da escala de Igualdade

de Papéis de Gênero (Sex-role egalitarianism scale) de Beere et al. (1984).

A coleta de dados ocorreu presencialmente em dois colégios do município de São

Paulo, cujos nomes serão mantidos em sigilo por questões éticas. O colégio de ensino

particular localiza-se na cidade de Guarulhos e o de ensino público, na região norte de São

Paulo. Ao primeiro, será dado o nome de Alfa e ao segundo, o nome de Beta. Ambos foram

escolhidos por conveniência da pesquisadora, que possui relacionamento com professoras dos

colégios, facilitando a entrada para realização da pesquisa.

A abordagem aos colégios ocorreu por meio do contato por e-mail com as diretoras,

às quais foram direcionadas uma carta de apresentação criada especificamente para esta

pesquisa, disponível no Apêndice C. Após este primeiro contato e com a concordância das

partes envolvidas, a data para a realização da pesquisa foi agendada.

No colégio Alfa, a pesquisa foi realizada no dia 12/09/2016 e, no colégio Beta, em

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19/09/2016. No Alfa, a coleta ocorreu no período matutino e no Beta, nos períodos matutino e

noturno, por estudarem os alunos do perfil almejado em ambos os períodos.

No dia da realização da pesquisa, foi apresentado o Termo de Consentimento,

elaborado exclusivamente para este estudo, disponível no Apêndice D, e realizada a coleta das

assinaturas.

Os questionários foram respondidos pelos alunos dos Colégios Alfa e Beta em sala

de aula, após as devidas orientações de preenchimento e devolução. A todos os participantes

foi assegurado o sigilo da identidade e do tratamento dos dados.

As escalas do estudo foram aplicadas a 24 alunos do 2º ano do ensino médio, como

pré-teste. Os estudantes não relataram dificuldades no preenchimento e na compreensão das

assertivas, de forma que não foram realizadas alterações no questionário para a aplicação final

aos alunos do 3º ano. As médias das variáveis no pré-teste foram correlacionadas às médias

das variáveis da coleta de dados final, obtendo-se um coeficiente de correlação r = 0,94, o que

ratifica a adequação das escalas.

Os valores das estatísticas descritivas para o pré-teste e coleta final encontram-se no

Apêndice A.

3.3 População e amostra

A amostra é não probabilística por conveniência, pois utiliza apenas instituições nas

quais a pesquisadora possui autorização de acesso. Estudantes do 3º ano do ensino médio

foram submetidos aos questionários, em detrimento dos alunos dos demais anos, por serem

eles que se deparam com o conflito da escolha profissional. Diante do exposto, os resultados

representam apenas as características da amostra estudada, não sendo possível realizar

generalizações para a população de estudantes de São Paulo ou do Brasil

O total de questionários preenchidos foi 405, dos quais 391 foram considerados na

amostra, pois 14 apresentaram erros de preenchimento, tais como afirmativas sem respostas

e/ou resposta dupla na mesma afirmativa, o que inviabilizou a utilização, tanto na escala

EMEP quanto na escala de Estereótipos Profissionais.

No colégio Alfa, foram coletados 41,2% dos questionários, abrangendo quatro salas

de aula dos cursos Regular, Informática, Mecatrônica e Administração. No colégio Beta,

foram coletados 58,8%, abrangendo sete salas dos cursos Regular (três salas), Mecânica (uma

sala), Logística (uma sala), Eletrônica (uma sala) e Administração (uma sala).

Da população total, 58,1% pertencem ao gênero ao masculino e 41,9% ao feminino;

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possuem idade entre 16 e 21 anos, tendo como média 17,1 anos; 91% estudam no período

matutino e 9% no noturno; 54,2% cursam ensino técnico e 45,8%, ensino regular; os que

cursam ensino técnico estão divididos em Administração, com 15,1%, Informática com

11,5%, Mecatrônica com 10,2%, Logística com 8,7%, Mecânica com 4,6% e Eletrônica com

4,1%.

3.4 Plano de análise dos dados

Os dados serão analisados por meio de estatísticas descritivas e multivariadas. Foi

aplicada à escala EMEP a análise fatorial confirmatória, a fim de confirmar as propriedades

psicométricas da escala estudada. Adicionalmente, foram aplicados testes de significância,

que permitiram a avaliação das hipóteses de pesquisa. O Quadro 6 apresenta as diretrizes de

avaliação das técnicas estatísticas utilizadas nas análises.

Quadro 6 – Referências para as técnicas de análise de dados Indicador Descrição Valor de

referência

Confiabilidade

Alfa de

Cronbach

Indicador de confiabilidade baseado nas intercorrelações entre os

indicadores; considera que todos os indicadores são igualmente confiáveis.

É sensível à quantidade de variáveis no fator e tende a subestimar a

consistência interna (HAIR JR.; HULT; RINGLE; SARSTEDT, 2014,

p.101).

Maior que 0,6

Confiabilidade

composta

Indicador de confiabilidade que leva em consideração as cargas fatoriais

dos indicadores.

Maior que 0,6

Validade convergente

AVE Variância média extraída: média das cargas fatoriais ao quadrado. Indica

quanto da variância dos indicadores é explicada pelo construto (HAIR JR.;

HULT; RINGLE; SARSTEDT, 2014, p.103).

Deve ser

maior que 0,5

Cargas fatoriais Indicam a relação da variável com o fator; altas cargas indicam que os

indicadores do fator possuem muito em comum, o que é capturado pelo

construto (HAIR JR.; HULT; RINGLE; SARSTEDT, 2014, p.102).

Deve ser

significante e

igual ou

superior a

0,708

Mínimo

aceitável =

0,4

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75

Validade discriminante

Critério de

Fornell –

Larcker

Compara a raíz quadrada da AVE com a correlação entre as variáveis

latentes. A raíz da AVE deve ser superior às correlações, ou seja, os

construtos devem compartilhar maior variância com seus indicadores do

que com outros construtos (HAIR JR.; HULT; RINGLE; SARSTEDT,

2014, p.105).

Raiz da AVE

maior que as

correlações

entre

variáveis

latentes

Cagas cruzadas Examina as cargas fatoriais dos indicadores tanto no construto ao qual

pertencem quanto nos demais construtos do modelo. É necessário que os

indicadores tenham maior carga em seu próprio fator (HAIR JR.; HULT;

RINGLE; SARSTEDT, 2014, p.105).

Carga mais

alta em seu

próprio fator

Testes de significância

Teste de

Kruskall-Wallis

Teste não-paramétrico equivalente à Análise de Variância, que tem como

objetivo determinar se k amostras independentes provém de populações

diferentes (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006, p. 235).

H0: as k

amostras

provém da

mesma

população ou

de

populações

com

medianas

iguais.

Teste Mann

Whitne

Teste não-paramétrico para duas amostras independentes (SIEGEL;

CASTELLAN JR., 2006, p. 220).

H0: não há

diferença

entre os

alunos da

rede pública e

da privada

em relação

aos

construtos

Fonte: adaptado de Mantovani e Silveira (2016, p.8) e Mantovani (2012).

Foram utilizados, nas análises de dados, os softwares Smart PLS 2.0 e SPSS 18.0.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo descreve os resultados obtidos na fase empírica desta pesquisa.

4.1 Preparação dos dados e perfil da amostra

Inicialmente, os dados foram examinados para identificação da presença de missing

values, sendo que esses valores faltantes foram substituídos pelo valor da mediana das

variáveis. Após a substituição, as variáveis com sentido negativo tiveram seu escore invertido,

tal como se observa na Tabela 2.

A amostra selecionada contemplou dois colégios, sendo um público (58,8% da

amostra) e um particular (41,2% da amostra). Em ambos os colégios foram consideradas as

turmas de 3º ano do ensino médio regular e técnico, havendo predomínio de estudantes do

período matutino (91% da amostra) e do gênero masculino (58,1%). A distribuição das idades

foi de 16 a 21 anos, com média de 17, 1 anos, ou seja, a idade esperada para estudantes do 3º

ano (Tabela 1).

Tabela 1 – Perfil da amostra Variável Frequência

Ensino Particular= 41,2%

Público=58,8%

Colégio Beta=58,8%

Alfa=41,2%

Período Matutino= 91%

Noturno=9,0%

Tipo Regular = 45,8%

Técnico= 54,2%

Curso Regular= 45,8%

Mecatrônica= 10,2%

Informática= 11,5%

Administração= 15,1%

Eletrônica= 4,1%

Mecânica= 4,6%

Logística= 8,7%

Gênero Feminino= 41,9%

Masculino= 58,1%

Idade Mínimo= 16 anos

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Máximo= 21 anos

Média= 17,1 anos

Dp= 0,8 anos

Fonte: dados da pesquisa

Foi possível identificar, na amostra da pesquisa, que, nos cursos técnicos de

Mecatrônica, Informática, Eletrônica e Mecânica, a maioria dos alunos é composta por

meninos, sendo sequencialmente: duas meninas e 38 meninos, 12 meninas e 33 meninos, duas

meninas e 14 meninos, duas meninas e 16 meninos. Já nos cursos técnicos de Administração e

Logística, deparou-se com uma maioria do gênero feminino, sendo sequencialmente: 34

meninas e 25 meninos, 23 meninas e 11 meninos.

O curso regular foi o único que apresentou equilíbrio em sua distribuição, sendo

composto por 89 meninas e 90 meninos, conforme demonstra a Tabela 3.

Tabela 3 – Distribuição por gênero nos cursos

Curso Gênero

Total F M

Regular 89 90 179

Mecatrônica 2 38 40

Informática 12 33 45

Administração 34 25 59

Eletrônica 2 14 16

Mecânica 2 16 18

Logística 23 11 34

Total 164 227 391 Fonte: dados da pesquisa

4.2 Análise Fatorial Confirmatória

Aplicou-se a análise fatorial confirmatória (AFC) às cinco dimensões da escala

EMEP e observa-se confiabilidade satisfatória, mensurada pela Confiabilidade Composta e

Alfa de Cronbach, validade discriminante adequada, pois os valores da raiz quadrada de AVE

são superiores às correlações entre as variáveis latentes e não se observa problemas de carga

cruzada.

Contudo, houve problemas de validade convergente, pois muitas das cargas

apresentaram valores menores do que 0,70. Apesar disso, a escala original apresenta

limitações parecidas, por isso, os itens foram mantidos para as análises subsequentes, de

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forma a se manter a validade de conteúdo. Após a aplicação da AFC, os escores gerais das

dimensões foram obtidos pela média aritmética dos itens em cada fator. A normalidade foi

avaliada por meio do teste de Kolmogorov- Smirnov e não se observa normalidade, de forma

que optou pelos testes não-paramétricos para as análises subsequentes.

As tabelas com as cargas cruzadas e avaliação da validade discriminante encontram-

se no Apêndice B.

Tabela 2 – Resultados da AFC para a escala EMEP Dimensão Item Carga

fatorial

Valor

p

AVE Confiabilidade

Composta

Alfa

Cronbach

K-S (valor

p)

Determinação EMEP2* 0,66

(0,640)

0,000 0,50 0,91 0,89 0,103(0,000)

EMEP4 0,58

(0,721)

0,000

EMEP11* 0,81

(0,462)

0,000

EMEP16* 0,75

(0,639)

0,000

EMEP17 0,63

(0,770)

0,000

EMEP19 0,84

(0,832)

0,000

EMEP26* 0,74

(0,673)

0,000

EMEP29* 0,72

(0,560)

0,000

EMEP35 0,71

(0,691)

0,000

EMEP40 0,61

(0,574)

0,000

Responsabilidade EMEP1 0,60

(0,601)

0,000 0,25 0,77 0,67 0,077

(0,000)

EMEP9 0,48

(0,584)

0,000

EMEP13* 0,33

(0,374)

0,000

EMEP14* 0,56

(0,575)

0,000

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EMEP21* 0,39

(0,522)

0,000

EMEP25* 0,59

(0,617)

0,000

EMEP36 0,65

(0,483)

0,000

EMEP42 0,56

(0,694)

0,000

EMEP43 0,38

(0,527)

0,000

EMEP45* 0,41

(0,330)

0,000

Independência EMEP6* 0,69

(0,572)

0,000 0,29 0,73 0,70 0,070

(0,000)

EMEP10 0,26

(0,482)

0,038

(a)

EMEP20 0,35

(0,521)

0,016

(a)

EMEP30* 0,54

(0,613)

0,000

EMEP33 0,22

(0,595)

0,159

(NS)

EMEP37* 0,77

(0,719)

0,000

EMEP39* 0,81

(0,665)

0,000

EMEP44 0,25

(0,494)

0,088

(b)

Autoconhecimento EMEP5 0,75

(0,601)

0,000 0,44 0,85 0,79 0,056

(0,005)

EMEP7 0,61

(0,260)

0,000

EMEP8* 0,65

(0,544)

0,000

EMEP12 0,67

(0,660)

0,000

EMEP23 0,70 0,000

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80

(0,711)

EMEP27* 0,68

(0,604)

0,000

EMEP32* 0,58

(0,544)

0,000

Conhecimento da

realidade

EMEP3 0,47

(0,375)

0,000 0,37 0,85 0,81 0,073

(0,000)

EMEP15 0,60

(0,596)

0,000

EMEP18 0,57

(0,409)

0,000

EMEP22 0,66

(0,677)

0,000

EMEP24 0,64

(0,502)

0,000

EMEP28* 0,58

(0,605)

0,000

EMEP31* 0,64

(0,711)

0,000

EMEP34* 0,63

(0,621)

0,000

EMEP38* 0,63

(0,678)

0,000

EMEP41* 0,61

(0,611)

0,000

Nota 1: *itens negativos que tiveram seu escore invertido. Nota 2: a validade discriminante foi avaliada pela comparação da raiz quadrada da AVE com as correlações entre as variáveis latentes, observando-se que a raiz da AVE é maior do que essas correlações em todos os casos, logo, não se observa problemas de validade discriminante. Nota 3: os valores entre parênteses indicam as cargas fatoriais da escala original. Nota 4: (a) p<0,05; (b) P<0,10; (NS) não significante.

4.3 Maturidade para a escolha profissional

Aplicaram-se testes não-paramétricos para avaliar a diferença entre a maturidade dos

alunos de diferentes modalidades de ensino (público e particular), gênero, período (matutino e

noturno), tipo de curso (regular ou técnico) e curso (Regular ou Mecatrônica, Eletrônica,

Logística, entre outros). Utilizou-se o teste de Mann-Whitney para duas amostras

independentes e o teste de Kruskall-Wallis para k amostras independentes. Não se observou

diferença significante nas dimensões de maturidade para alunos do colégio público e do

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colégio privado, com exceção da dimensão conhecimento da realidade, na qual alunos do

colégio privado apresentam maior média (Tabela 4). Possivelmente não há diferença de

médias devido ao fator geração, ou seja, os estudantes possuem idades próximas em ambos os

colégios, de forma que, por pertencerem à mesma geração, podem não apresentar diferença de

maturidade. Desta forma, a hipótese H3a foi apenas parcialmente comprovada.

Tabela 4 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Ensino público e privado

Dimensão

Particular Público Mann-Whitney (valor p)

Total

Média dp Média dp Média dp

Determinação

3.80 .90 3.67 .90 .151 3.73 .90

Responsabilidade

3.89 .59 3.88 .59 .882 3.88 .59

Independência

3.48 .74 3.60 .71 .148 3.55 .72

Autoconhecimento

3.56 .75 3.51 .81 .779 3.53 .79

Conhecimento da realidade

3.36 .62 3.13 .69 .002 3.23 .67

Fonte: dados da pesquisa

O teste de Mann-Whitney tampouco demonstrou diferença de maturidade entre os

estudantes do período matutino e noturno, fato que pode estar relacionado, analogamente, ao

fator geracional (Tabela 5). Desta forma, a hipótese H3b não pode ser comprovada.

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Tabela 5 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Período noturno e matutino

Dimensão Noturno Matutino Mann-

Whitney (valor p)

Total

Média dp Média Dp Média dp

Determinação 3.70 .84 3.73 .91 .696 3.73 .90

Responsabilidade

3.81 .62 3.89 .59 .394 3.88 .59

Independência 3.36 .51 3.57 .74 .099 3.55 .72

Autoconhecimento

3.47 .60 3.54 .80 .517 3.53 .79

Conhecimento da realidade

3.07 .55 3.24 .68 .156 3.23 .67

Fonte: dados da pesquisa

Ao se comparar o ensino médio regular com o técnico, observa-se diferença

significante apenas para a dimensão Independência, na qual os estudantes do ensino regular

apresentam maior média. Esta dimensão trata da independência percebida pelo estudante ao

escolher a profissão. Desta forma, o aluno do ensino médio regular mostrou-se mais

independente, isto é, recebeu menor influência de fatores externos para essa escolha. Este

resultado é coerente, pois o aluno do ensino técnico, ao optar por essa modalidade, já fez uma

escolha prévia da área a seguir como carreira e, tendo realizado esta escolha antecipadamente,

pode ter recebido influência dos grupos de referência (familiares e amigos) (Tabela 6). Assim,

a hipótese de pesquisa H3c não pode ser comprovada.

Tabela 6 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Ensino regular e técnico

Dimensão Regular Técnico Mann-Whitney

(valor p) Total

Média dp Média Dp Média dp

Determinação 3.73 .88 3.72 .92 .931 3.73 .90

Responsabilidade

3.86 .59 3.90 .59 .592 3.88 .59

Independência 3.74 .72 3.39 .69 .000 3.55 .72

Autoconhecimento

3.53 .81 3.53 .77 .897 3.53 .79

Conhecimento da realidade

3.22 .71 3.23 .63 .775 3.23 .67

Fonte: dados da pesquisa.

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Para a variável gênero observa-se diferença para as dimensões Responsabilidade,

Independência e Autoconhecimento, sendo que as meninas apresentam maior escore médio

para Responsabilidade e Independência e os meninos, maior escore médio para

autoconhecimento (Tabela 7).

Assim, a hipótese H3d foi apenas parcialmente confirmada.

Tabela 7 – Descritivas e teste de Mann-Whitney – Gênero

Dimensão F M Mann-Whitney

(valor p) Total

Média Dp Média Dp Média Dp

Determinação 3.75 .89 3.71 .91 .61 3.73 .90

Responsabilidade

4.03 .58 3.78 .58 .00 3.88 .59

Independência 3.65 .71 3.48 .73 .03 3.55 .72

Autoconhecimento

3.44 .76 3.60 .80 .04 3.53 .79

Conhecimento da realidade

3.24 .64 3.22 .69 .65 3.23 .67

Fonte: dados da pesquisa

4.4 Estereótipos de gênero

A escala de estereótipos de gênero demonstra igualdade de gênero para as profissões:

enfermagem, direito, pedagogia, biologia, psicologia, medicina, educação física, matemática,

contabilidade e agronomia. Observa-se estereótipo, ou seja, desigualdade de gênero, apenas

para as profissões de executivo e engenheiro. Assim, a hipótese H2 foi parcialmente

confirmada, pois houve visão estereotipada apenas para executivos e engenheiros, profissões

para as quais os homens foram considerados majoritariamente mais aptos do que as mulheres.

Tabela 8 – Percepção de igualdade de gêneros nas profissões Profissão Igualdade e

Desigualdade

Média (desvio-

padrão)

1. Executivos homens são mais

valorizados nas empresas do

que as executivas mulheres.

I=23,0%

D=77,0%

2.97 (0,94)

2. Um enfermeiro homem não é I= 89,3% 1.43 (0,77)

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tão eficiente quanto uma

enfermeira mulher.

D= 10,7%

3. Homens e mulheres são

igualmente qualificados para as

carreiras na área do direito.

I= 91,0%

D= 9,0%

3.67 (0,75)

4. As mulheres são pedagogas

mais competentes do que os

homens.

I= 78,3%

D= 21,7%

1.65 (0,92)

5. Engenheiros civis do sexo

masculino são mais respeitados

do que as engenheiras

mulheres.

I= 25,1%

D= 74,9%

2.92 (0,98)

6. Mulheres e homens são

igualmente valorizados para a

carreira de biólogo.

I= 68,3%

D= 31,7%

3.00 (1,01)

7. Psicólogas mulheres são

mais bem sucedidas do que

psicólogos homens.

I= 66,0%

D= 34,0%

2.02 (1,00)

8. Médicos homens são mais

valorizados nos hospitais do

que as médicas mulheres.

I= 59,3%

D=40,7%

2.16 (1,06)

9. Homens e mulheres são

igualmente qualificados para a

carreira na educação física.

I= 84,7%

D=15,3%

3.50 (0,90)

10. Homens são melhores

matemáticos do que as

mulheres.

I= 89,8%

D= 10,2%

1.40 (0,76)

11. Homens e mulheres

contadores são igualmente

valorizados nas empresas.

I= 51,2%

D= 48,8%

2.57 (1,07)

12. As mulheres não são

agrônomas tão competentes

quantos os homens.

I= 85,7%

D=14,3%

1.49 (0,90)

Fonte: dados da pesquisa

Cada uma das variáveis da escala de estereótipos foi recodificada, de acordo com os

procedimentos informados no item 2.7, sendo que pessoas que apresentaram viés de igualdade

de gêneros nas profissões receberam código 1 e aquelas que apresentaram viés de

desigualdade de gênero receberam código zero em cada uma das questões.

Desta forma, cada aluno poderia obter escore geral entre 0 e 12 pontos, sendo que

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escore zero implica percepção total de desigualdade entre os gêneros nas profissões e escore

12 percepção total de igualdade de gêneros nas profissões. Este escore geral na amostra variou

entre 3 e 12 (média = 8,12; mediana = 8,00; dp = 1,99). A análise de correlação de Spearman

demonstrou correlações fracas e não significantes (Tabela 9) entre igualdade de gêneros nas

profissões e as dimensões de maturidade para a escolha profissional.

Com isso, conclui-se que a hipótese H1 não pode ser confirmada.

Tabela 9 – Correlações entre igualdade de gêneros e maturidade para a escolha profissional

Dimensão

Correlation

Coefficient

Sig. (2-

tailed)

Determinação .036 .478

Responsabilidade -.029 .563

Independência .039 .443

Autoconhecimento .025 .623

Conhecimento da realidade

-.003 .958

Fonte: dados da pesquisa

Em seguida, o escore geral foi categorizado, sendo que pessoas com valor igual ou

maior que a mediana foram consideradas como possuindo alto viés de igualdade de gêneros e

pessoas com escore menor que a mediana como detentoras de baixo viés de igualdade de

gêneros. Aplicou-se, então, o teste de Mann-Whitney para amostras independentes, cujo

resultado ratifica os achados da análise de correlação, ou seja, não há diferença de maturidade

para a escolha profissional entre alunos com maior e menor percepção de igualdade de gênero

nas profissões (Tabela 10).

Tabela 10. Teste Mann-Whitney para percepção de estereótipos e maturidade

Teste entre percepção de estereótipos e

dimensões da maturidade

Sig

Determinação

.704

Responsabilidade

.797

Independência

.473

Autoconhecimento

.811

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Conhecimento da realidade

.930

Fonte: dados da pesquisa

O teste Qui-quadrado foi aplicado a fim de verificar a relação entre percepção de

estereótipos e as variáveis de perfil do aluno. Não se observa relação entre percepção de

estereótipos de gênero e variáveis do perfil, por isso, a hipótese H4 não pode ser confirmada.

Tabela 11 – Relação entre igualdade de gênero e variáveis de perfil Teste Sig

Igualdade X Ensino Público/Privada 0,199

Igualdade X Período Diurno/Noturno 0,784

Igualdade X Ensino Regular/ Técnico 0,228

Igualdade X Gênero 0,211

Igualdade X Curso 0,074

Fonte: dados da pesquisa

O capítulo a seguir trará as conclusões desta pesquisa.

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5 CONCLUSÕES

Ao realizar a revisão da história dos construtos abarcados nesta pesquisa, foi possível

perceber o quanto as profissões podem dizer a respeito da qualidade pessoal de um indivíduo,

de modo a fazer um elo direto aos estereótipos sociais, nos quais se encontram arraigados os

papéis sexuais e tudo aquilo que se espera deles (LOBATO, 2003). Diante disso, vê-se a

possibilidade de fatores relacionados à identidade de gênero influenciarem a escolha

profissional de um jovem.

Os resultados obtidos indicam que os jovens da amostra não demonstram preconceito

com relação aos estereótipos das profissões, notando-se desigualdade de gênero apenas para

as profissões de executivo e engenheiro, tal qual exposto na Tabela 8. Entretanto, foi possível

identificar, na população da amostra, que nos cursos técnicos de Mecatrônica, Informática,

Eletrônica e Mecânica a maioria é composta por meninos, já nos cursos técnicos de

Administração e Logística, que preparam o aluno para trabalhar em áreas administrativas e de

atendimento, deparou-se com uma maioria do gênero feminino. O curso regular foi o único

que apresentou equilíbrio em sua distribuição, conforme resultado demonstrado na Tabela 3.

Diante do exposto, é possível que as inclinações profissionais dos jovens da amostra

possam estar relacionadas aos estímulos recebidos no contexto social no qual estão inseridos

desde a infância. Um dos aspectos explorados ao longo do referencial teórico é que os

brinquedos dados às crianças são sexistas, pois, às meninas, são destinados brinquedos cujo

funcionamento é óbvio e aos meninos são destinados brinquedos que exigem maior

raciocínio. Começa nessa fase a construção das diferenças que, por sua vez, repercutem nos

comportamentos e escolhas da vida (NOGUEIRA, 2011). Os papéis são cristalizados e se

tornam limitados ao fato de se ter nascido menina ou menino.

Ainda quanto às brincadeiras de meninos e meninas, em sua trajetória educacional, a

autora desta pesquisa, se recorda de que nas aulas de educação física tinha dois professores,

um homem que dava aula aos meninos e uma mulher que dava aula às meninas. Os meninos

jogavam futebol e as meninas vôlei. Sequer era dada a chance de escolha e a rigor os alunos

eram separados por gênero.

O que chama atenção é verificar que as escolhas de carreira são realizadas de forma

natural, ou seja, os jovens não identificam que podem estar prisioneiros ao gênero no

momento da escolha de carreira, tamanha é a cristalização dos papéis depositados e atribuídos

ao longo da vida.

Outro aspecto a se considerar em relação aos jovens não demonstrarem preconceito

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com relação aos estereótipos das profissões, pode estar relacionado ao fato de, em geral, não

estarem inseridos no mercado de trabalho, numa organização propriamente dita e, com isso,

ainda não se depararam com as típicas ocupações em cada cargo/área de uma organização.

Uma vez inseridos no mundo do trabalho, farão parte do contexto das empresas e contribuirão

para que a história se repita paulatinamente, na qual engenheiros, em maioria, são do gênero

masculino e psicólogas, do gênero feminino. Ratificando este fato, tem-se que, com relação a

este aspecto, os jovens apresentam desigualdade de gênero apenas para as profissões de

executivo e de engenheiro.

Com relação à maturidade para a escolha da profissão, não se observou diferença

significativa entre os alunos de escola pública e privada, bem como para o período em que

estudam, podendo isto estar relacionado ao fator geracional, ou seja, são todos pertencentes à

mesma geração. Conforme Cordeiro et al. (2013), o fator geração pode ser caracterizado

como o processo histórico que pessoas com a mesma idade vivenciam e compartilham.

O fato dos alunos do ensino privado terem apresentado média maior para a dimensão

conhecimento da realidade pode estar relacionado ao fato de, visivelmente, o colégio dispor

de mais tecnologias e laboratórios.

Os resultados podem ser relevantes para que se faça uma reflexão de como as

carreiras são escolhidas quando é chegado o momento de realizar o passo para a vida adulta.

Também para que se possa refletir sobre o papel da escola que, até então, apenas evidencia as

diferenças de gênero, ao invés de contribuir para que o jovem conteste tais questões e

provoque mudanças comportamentais.

Nas organizações, por sua vez, entrarão jovens com comportamentos que repetem o

contexto da história, quanto à divisão sexista dos papéis, e assim não ocorrerá quebra de

paradigmas.

Os profissionais de orientação vocacional podem aproveitar os achados para

desenvolverem mais trabalhos voltados à universalização de profissões e gêneros.

No que cabe às instituições de ensino superior, o conhecimento sobre a maturidade

dos estudantes ingressantes é relevante para que se possam planejar estratégias de

socialização e acolhimento dos alunos, a fim de reduzir os riscos da evasão no primeiro

período.

Além disso, a visão igualitária para a maioria das carreiras, ajuda as instituições a

criarem políticas para ampliação e disseminação da igualdade e diversidade dentro dos cursos,

oferecendo treinamentos aos docentes e promovendo atividades discentes que reforcem essa

percepção igualitária. Da mesma forma, para os cursos da área de negócios e engenharia, as

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instituições podem atuar a fim de desmistificar a masculinidade associada a essas profissões.

Desta forma, a mão de obra formada para o mercado de trabalho pode alterar-se e,

paulatinamente, modificar os antigos paradigmas.

Cabe ressaltar que não se deve generalizar os resultados expostos nesta pesquisa, por

se tratar de uma amostra não probabilística, limitada a dois colégios de São Paulo, que é uma

cidade cosmopolita.

Recomendam-se estudos futuros com abrangência maior de regiões e,

consequentemente, colégios, bem como estudar novamente a mesma população da amostra,

de modo a se comprovar se depois que adentrarem nas organizações/mercado de trabalho

continuarão sem a percepção estereotipada das profissões.

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97

APÊNDICES

Apêndice A

Estatísticas Descritivas – Pré-teste

N Minimum Maximum Mean Std. Deviation

EMEP1 24 2.00 5.00 3.1667 .81650

EMEP2 23 1.00 3.00 1.8696 .81488

EMEP3 22 1.00 5.00 3.2727 .93513

EMEP4 23 1.00 5.00 3.8261 1.30217

EMEP5 24 2.00 5.00 3.5417 .97709

EMEP6 24 1.00 3.00 1.5417 .65801

EMEP7 24 2.00 5.00 3.7083 1.16018

EMEP8 24 1.00 5.00 2.9167 1.17646

EMEP9 23 2.00 5.00 3.8696 .86887

EMEP10 24 1.00 5.00 3.1250 1.22696

EMEP11 24 1.00 5.00 2.3750 1.17260

EMEP12 24 2.00 5.00 3.7500 .73721

EMEP13 24 1.00 5.00 2.6250 1.40844

EMEP14 24 1.00 5.00 1.7917 1.06237

EMEP15 24 1.00 4.00 3.0000 .88465

EMEP16 24 1.00 5.00 2.2917 1.12208

EMEP17 24 1.00 5.00 3.7083 1.16018

EMEP18 24 1.00 5.00 3.2500 .98907

EMEP19 24 1.00 5.00 3.6250 1.17260

EMEP20 24 1.00 5.00 2.5833 1.44212

EMEP21 24 1.00 3.00 1.5417 .77903

EMEP22 23 1.00 4.00 2.8696 .86887

EMEP23 24 1.00 4.00 3.4167 .77553

EMEP24 24 1.00 5.00 3.2083 1.10253

EMEP25 23 1.00 5.00 2.1304 .91970

EMEP26 23 1.00 5.00 1.9565 1.26053

EMEP27 24 1.00 5.00 2.2083 1.06237

EMEP28 24 1.00 4.00 2.7083 .69025

EMEP29 24 1.00 5.00 2.6250 1.34528

EMEP30 24 1.00 5.00 3.0000 1.25109

EMEP31 24 1.00 4.00 2.7500 .94409

EMEP32 24 1.00 5.00 2.6250 1.01350

EMEP33 24 1.00 5.00 2.8333 1.49395

EMEP34 24 2.00 4.00 2.7500 .67566

EMEP35 24 1.00 5.00 3.3750 1.17260

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98

EMEP36 23 2.00 5.00 3.6957 1.10514

EMEP37 24 1.00 4.00 1.9167 .88055

EMEP38 22 2.00 4.00 2.7727 .75162

EMEP39 24 1.00 4.00 1.9167 .88055

EMEP40 24 2.00 5.00 4.0417 .85867

EMEP41 24 1.00 5.00 3.0000 .93250

EMEP42 24 1.00 5.00 3.8750 1.07592

EMEP43 24 2.00 5.00 3.4583 .65801

EMEP44 24 1.00 5.00 2.6667 1.37261

EMEP45 24 1.00 5.00 2.2500 1.03209

GEN1 24 1.00 4.00 2.7083 .75060

GEN2 24 1.00 4.00 1.6250 1.01350

GEN3 24 1.00 4.00 3.8333 .63702

GEN4 24 1.00 4.00 2.0417 .99909

GEN5 24 1.00 4.00 2.5417 1.02062

GEN6 24 1.00 4.00 3.3333 .81650

GEN7 24 1.00 4.00 2.4583 1.02062

GEN8 23 1.00 4.00 2.0000 1.04447

GEN9 24 1.00 4.00 2.8333 1.16718

GEN10 24 1.00 3.00 1.6250 .82423

GEN11 24 1.00 4.00 3.0417 .62409

GEN12 24 1.00 4.00 1.8333 .91683

Estatísticas Descritivas – Coleta de dados da amostra final

N Minimum Maximum Mean Std. Deviation

EMEP1 391 1.00 5.00 3.4118 1.08451

EMEP2 389 1.00 5.00 1.9897 1.07449

EMEP3 389 1.00 5.00 3.0000 .97916

EMEP4 390 1.00 5.00 3.7282 1.32524

EMEP5 390 1.00 5.00 3.6256 1.17312

EMEP6 391 1.00 5.00 2.0000 1.17452

EMEP7 390 1.00 5.00 3.9872 1.10262

EMEP8 391 1.00 5.00 2.8082 1.25536

EMEP9 391 1.00 5.00 3.8619 1.13289

EMEP10 389 1.00 5.00 3.3393 1.46717

EMEP11 390 1.00 5.00 2.6897 1.44786

EMEP12 389 1.00 5.00 3.5964 1.12794

EMEP13 390 1.00 5.00 2.4846 1.46195

EMEP14 390 1.00 5.00 1.9462 1.21460

EMEP15 390 1.00 5.00 3.4385 1.08273

EMEP16 390 1.00 5.00 2.2923 1.26316

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99

EMEP17 388 1.00 5.00 3.8093 1.31763

EMEP18 388 1.00 5.00 3.3325 1.12994

EMEP19 389 1.00 5.00 3.8175 1.31999

EMEP20 390 1.00 5.00 3.1000 1.41340

EMEP21 390 1.00 5.00 1.6256 1.06516

EMEP22 391 1.00 5.00 3.0870 1.19082

EMEP23 388 1.00 5.00 3.4588 1.12562

EMEP24 391 1.00 5.00 3.2660 1.06979

EMEP25 387 1.00 5.00 2.0233 1.21176

EMEP26 390 1.00 5.00 1.8154 1.10701

EMEP27 390 1.00 5.00 2.6077 1.27561

EMEP28 390 1.00 5.00 2.7538 1.08314

EMEP29 391 1.00 5.00 2.7187 1.35784

EMEP30 390 1.00 5.00 2.4282 1.30993

EMEP31 390 1.00 5.00 2.7513 1.17041

EMEP32 391 1.00 5.00 2.5422 1.24556

EMEP33 389 1.00 5.00 3.2828 1.47041

EMEP34 391 1.00 5.00 2.8900 1.17699

EMEP35 391 1.00 5.00 3.4604 1.33314

EMEP36 389 1.00 5.00 4.0000 1.05518

EMEP37 391 1.00 5.00 2.0512 1.09190

EMEP38 389 1.00 5.00 2.5321 1.06593

EMEP39 391 1.00 5.00 1.8363 .99939

EMEP40 390 1.00 5.00 3.9462 1.15381

EMEP41 390 1.00 5.00 2.9282 1.09684

EMEP42 391 1.00 5.00 4.1023 1.15903

EMEP43 391 1.00 5.00 3.7775 1.09970

EMEP44 391 1.00 5.00 2.9974 1.34259

EMEP45 391 1.00 5.00 2.2353 1.30124

GEN1 391 1.00 4.00 2.9744 .94155

GEN2 391 1.00 4.00 1.4297 .77097

GEN3 391 1.00 4.00 3.6726 .75123

GEN4 391 1.00 4.00 1.6496 .91567

GEN5 389 1.00 4.00 2.9229 .97875

GEN6 389 1.00 4.00 3.0026 1.01661

GEN7 391 1.00 4.00 2.0205 .99979

GEN8 390 1.00 4.00 2.1641 1.05808

GEN9 390 1.00 4.00 3.4974 .89772

GEN10 390 1.00 4.00 1.4026 .76188

GEN11 390 1.00 4.00 2.5692 1.07032

GEN12 390 1.00 4.00 1.4897 .90338

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100

Apêndice B

Cargas Cruzadas Autoconhecimento Conhecimento_realidade Determinação Independência Responsabilidade

EMEP10_1 0.04 -0.02 0.02 0.26 0.07

EMEP11_i 0.46 0.37 0.81 0.32 0.22

EMEP12_1 0.67 0.35 0.41 0.13 0.21

EMEP13_i 0.12 0.13 0.17 0.00 0.33

EMEP14_i 0.23 0.24 0.33 0.21 0.56

EMEP15_1 0.36 0.60 0.26 0.07 0.26

EMEP16_i 0.41 0.39 0.75 0.27 0.35

EMEP17_1 0.32 0.19 0.63 0.21 0.33

EMEP18_1 0.37 0.57 0.34 0.08 0.27

EMEP19_1 0.42 0.35 0.84 0.23 0.28

EMEP1_1 0.22 0.34 0.22 0.10 0.60

EMEP20_1 -0.02 -0.07 0.13 0.35 0.08

EMEP21_i 0.07 0.12 0.11 0.16 0.39

EMEP22_1 0.38 0.66 0.34 0.00 0.26

EMEP23_1 0.70 0.42 0.35 0.14 0.22

EMEP24_1 0.42 0.64 0.34 0.05 0.35

EMEP25_i 0.24 0.26 0.23 0.09 0.59

EMEP26_i 0.40 0.36 0.74 0.31 0.34

EMEP27_i 0.68 0.41 0.39 0.21 0.29

EMEP28_i 0.35 0.58 0.31 0.09 0.29

EMEP29_i 0.50 0.42 0.72 0.31 0.22

EMEP2_i 0.32 0.25 0.66 0.24 0.29

EMEP30_i 0.05 -0.01 0.13 0.54 -0.06

EMEP31_i 0.28 0.64 0.30 0.14 0.31

EMEP32_i 0.58 0.34 0.30 0.18 0.27

EMEP33_1 -0.01 -0.09 0.03 0.22 0.06

EMEP34_i 0.33 0.63 0.30 0.16 0.34

EMEP35_1 0.44 0.38 0.71 0.17 0.29

EMEP36_1 0.37 0.38 0.32 0.02 0.65

EMEP37_i 0.17 0.12 0.22 0.77 0.13

EMEP38_i 0.29 0.63 0.26 0.11 0.31

EMEP39_i 0.19 0.17 0.26 0.81 0.18

EMEP3_1 0.29 0.47 0.16 -0.03 0.23

EMEP40_1 0.48 0.39 0.61 0.16 0.37

EMEP41_i 0.29 0.61 0.29 0.19 0.27

EMEP42_1 0.17 0.21 0.14 0.08 0.56

EMEP43_1 0.16 0.19 0.05 -0.02 0.38

EMEP44_1 0.01 -0.05 0.08 0.25 -0.02

EMEP45_i 0.16 0.21 0.27 0.07 0.41

EMEP4_1 0.33 0.27 0.58 0.10 0.35

EMEP5_1 0.75 0.35 0.41 0.08 0.31

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101

EMEP6_i 0.21 0.10 0.29 0.69 0.02

EMEP7_1 0.61 0.40 0.49 0.16 0.38

EMEP8_i 0.65 0.32 0.31 0.16 0.23

EMEP9_1 0.18 0.20 0.13 -0.06 0.48

Autoconhecimento Conhecimento_realidade Determinação Independência Responsabilidade

Autoconhecimento 0.67 Conhecimento da

realidade 0.56 0.61

Determinação 0.58 0.49 0.71

Independência 0.23 0.15 0.33 0.54

Responsabilidade 0.42 0.48 0.43 0.14 0.50

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102

Apêndice C

Carta de Apresentação

Venho por meio desta solicitar apoio para a realização de minha pesquisa de Mestrado

(Stricto Sensu), abordando a temática A Influência dos Papéis de Gênero na Escolha Profissional dos Jovens do Ensino Médio. Sou aluna regularmente matriculada no Programa de Mestrado em Administração das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, na linha de pesquisa Marketing e Sociedade, sob orientação da Profa. Dra. Daielly Melina Nassif Mantovani.

Tendo em vista a representatividade do Colégio xxx na região, gostaria de incluí-lo em minha amostra de estudo.

O universo a ser pesquisado são alunos do 3º ano do Ensino Médio de escolas públicas e particulares do município de São Paulo. O estudo envolve o preenchimento anônimo e voluntário de dois questionários por parte dos alunos: 1) Maturidade para a Escolha Profissional e 2) Percepção sobre as Profissões.

A coleta de dados deverá ocorrer em sala de aula não sendo necessário que os alunos se desloquem. O tempo médio para os alunos respondentes concluírem os dois questionários é de cerca de 30 minutos. Os dados são confidenciais, serão mantidos em sigilo e serão utilizados apenas de maneira agregada e com finalidade acadêmica, de forma que a identidade das escolas não serão reveladas.

O relatório final de pesquisa pode ser enviado para a instituição, caso desejado. Fico à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários e

aguardando autorização para comparecer no melhor dia e horário para apresentar detalhadamente os objetivos da pesquisa e realizar a abordagem aos alunos.

Atenciosamente, Roberta Berjas de Barros [email protected] (11) 99786-3924 Profª Drª Daielly Melina N. Mantovani [email protected] (11) 97324-8820

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Apêndice D

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Convidamos o Colégio xxx, representado pelo Sr. Xxxxx a participar da pesquisa “A

Influência dos Papéis de Gênero na Escolha Profissional dos Jovens do Ensino Médio”, sob

responsabilidade da pesquisadora Roberta Berjas de Barros, RG 33.087.964-9, matrícula

1216250 e orientação da Profa. Dra. Daielly Melina Nassif Mantovani, a qual pretende avaliar

a relação entre a percepção sobre as profissões e a maturidade para escolha profissional entre

jovens do ensino médio. A pesquisa faz parte do projeto de Mestrado da pesquisadora, na

linha de pesquisa Marketing e Sociedade do Programa de Mestrado em Administração das

Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU.

A participação do Colégio implica a autorização para aplicação de dois questionários

não-identificados junto aos alunos do 2º e 3º ano do Ensino Médio, um deles trata da

Maturidade para Escolha Profissional e inclui 45 assertivas, o segundo aborda a Percepção

sobre as Profissões, contendo 12 assertivas. Em ambos os questionários os alunos deverão

apontar seu nível de concordância com cada assertiva, podendo recusar o preenchimento se

assim decidirem.

Caso aceite participar do estudo, estará auxiliando no mapeamento de uma relação

ainda pouco conhecida na área de formação profissional dos jovens, o que poderá ajudar a

identificar possibilidades de melhorias na orientação dos estudantes em sua decisão

profissional.

Caso após o consentimento o(a) Sr(a) desista de participar do estudo, tem o direito e

a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da

coleta de dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e instituição.

O(a) Sr(a) não terá nenhuma despesa ou remuneração. Os resultados da pesquisa serão

analisados e publicados, sem identificação do(a) Sr(a), do Colégio ou dos alunos respondentes

da pesquisa. Para qualquer informação o(a) Sr(a) poderá entrar em contato com as

pesquisadoras pelos e-mails [email protected] e [email protected] ou pelos

telefones (11) 99786-3924, (11) 97324-8820, (11)3346-6200.

Consentimento Pós-Informação:

Eu, __________________________________________, fui informado sobre os

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104

objetivos da pesquisa, sobre o escopo de minha colaboração e compreendi as informações.

Concordo em participar do projeto, ciente de que não haverá remuneração alguma das partes e

que posso retirar meu consentimento se assim o desejar. Este documento é emitido em duas

vias que serão ambas assinadas por mim e pelos pesquisadores responsáveis, ficando uma via

com cada um de nós.

_____________________________________ ______________________

Profª. Drª. Daielly Melina N. Mantovani Roberta Berjas de Barros

Orientadora Aluna Mestranda

_____________________________________

Colégio/Escola

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Apêndice E

Escala de Estereótipos Profissionais Igualdade Desigualdade Viés feminino Viés masculino Executivos homens são mais valorizados nas empresas do que as executivas mulheres.

Discorda Concorda Discorda Concorda

Um enfermeiro homem não é tão eficiente quanto uma enfermeira mulher.

Discorda Concorda Concorda Discorda

Homens e mulheres são igualmente qualificados para as carreiras na área do direito.

Concorda Discorda Discorda Discorda

As mulheres são pedagogas mais competentes do que os homens.

Discorda Concorda Concorda Discorda

Engenheiros civis do sexo masculino são mais respeitados do que as engenheiras mulheres.

Discorda Concorda Discorda Concorda

Mulheres e homens são igualmente valorizados para a carreira de biólogo.

Concorda Discorda Discorda Discorda

Psicólogas mulheres são mais bem sucedidas do que psicólogos homens.

Discorda Concorda Concorda Discorda

Médicos homens são mais valorizados nos hospitais do que as médicas mulheres.

Discorda Concorda Discorda Concorda

Homens e mulheres são igualmente qualificados para a carreira na educação física.

Concorda Discorda Discorda Discorda

Homens são melhores matemáticos do que as mulheres.

Discorda Concorda Discorda Concorda

Homens e mulheres contadores são igualmente valorizados nas empresas.

Concorda Discorda Discorda Discorda

As mulheres não são agrônomas tão competentes quantos os homens.

Discorda Concorda Discorda Concorda

Fonte: Adaptado de Beere et al. (1984)