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Falincias em sirie Recessao leva 277 industrias a fecharem as portas. Multinacionais reduzem opera96es no pals L UCIANO Trabal hadores da Mabe em assembl eia na fa bric a de Campinas. F uncionarios ocupam ha um mes as instalagoes da empresa, que teve fa lencia decretada em fevereiro ROBEHTA SCHIVANO, JoAo SOHi MA NETO, GLAUCE CAVALCANTI E MAHCELLO COHHEA econ om i a@og l obo.com .br ·sAO PAULOERlo- Nwn cenario de recessao, mais e m- presas brasileiras estao sendo obri gadas a f echar as portas. Em 2015, houve aumen to de 12,6% no total de indust rias que tiveram a falencia decreta- da pela Justi<;a na co mpara<;ao com o ano a nt e li- or, seg undo l eva n tamento da Boa Vista SCPC (Servic;o Central de Prote<;ao ao Credito). No to- tal, 277 fabricas f ech aram, contra 246, em 2014. Quando se incluem na co nt a as empresas de co- m ercio e servic;os, o total de falencias decretadas cresce 16,6% - de 924, em 2014, p ara 1.078. Tra- ta -se da maior taxa de expa n sao desd e 2005, quando foi promulgada a nova Lei de Falencias. - A industria ja mostra fraqueza ha mais de qua- tro an os. 0 r es ult ado e o a umento das falencias. Mas, o que pr eocup a e que, no ano passado, as fa - lencias de comercio e servic;o t ambem tiveram cres- cime nt o expressivo, com a queda no consumo, per- da da re nda e do emprego. A crise e significativa - avali a Flavio Calife, economista da Boa Vista SCPC. Som ente no ano passado, quase cem mil lojas encerr aram as atividades, segundo a Conf edera<;ao Nacional do Comercio. Em Sao Pa ulo, diante da procura, um a d as du - as Varas de Palenc ia da capital pauli sta determi - nou uma pericia p revia n as empresas que en- tram co m pedido de recuperac;ao. Na pratica, funciona como uma especie de triagem . Como u so d esse fi ltro, 30% dos pedidos sao recusados. -E uma perfcia para avali ar sea empresa e invi- avel. A recupera<;ao judicial tern como foco prot e- ger o interesse socioeconomico da companhia: em- pregos, receit a, recolhiment o de tributos, servic;os. Sem contrapartida social, o processo vai proteger apenas o interesse do devedor - diz o juiz Daniel Costa, titular da I nVara de Falencias do Tribunal de Justi<;a de Sao Paulo, q ue di z que, entre os processos homologados, 70% sao con cl uidos com exito. ' CREDIBILIDADE DO GOVERNO ESTA COMPROMETIDA' Em um caso dramatico de falencia, funcionarios ocupam duas unidades da Mabe - multinacional com sede no Mexico, qu e fabrica fogoes e geladei- ras das marcas Dako e Continental - em Hortolan- dia e Campinas, em Sao Pa ulo, desde fevereiro, quando a empresa teve a falencia d ecretada. Os empregados reivindicam o pagamento de direit os trnbalhistas e atrasados e a reativa<;ao das opera- c;oes. A empresa entrou em recuperac;ao judicial em 2013. Em dezembro, deu ferias coletivas de um m es aos funcionarios, mas n ao retomou atividades. - Realizamos assembleia e d ecidimos manter a ocup a<;ao, embora tenhamos recebido notificac;ao judi cial pedindo a desocupa c;a o da fabrica de Hor- tolandia. Queremos discutir com o administrador da massa falida - afin na Sidalino Orfi Jr., presiden- te do Sindicato dos Metalurgicos d e Campinas. Uma soluc;ao em est udo, segundo fontes, e usar rec ur s os refere nt.es a dois processos que a Mabe abrira antes da falencia e que somam R$ 45 mil hoes depositados em juizo para quitar dividas com tra- balhador es e fornecedores. A liberac;ao do montan- te depe nderia de a utori za<;ao da Fazenda Nacional. Para Cri st6 vao Pereira de Souza, especiali sta em Fina nc;as e professor da FGV-Rio, s up erar o qu adro atual de cri se na industria re qu er mu- d anc;a n o ce n ario politico: - Nos ultimos anos, o governo adoto u uma ser ie de me didas equivocadas e qu e levaram 0 pals a recessao. Com o impeachme nt, isso po- deria comec;ar a muda r. A credibilidade do go- verno esta muito comprometida. E economi a se b aseia em co nfian c;a . Sem confianc;a, n ao ha re- c ur sos. Sem rec ursos, n ao ha investime ntos. Para o advogado Roger io Nicola, do escrit6rio Ni- cola, Saragossa e Campos, especializado em recu- perac;ao judicial, o a ument o do numero de fal enci- as reflete a falta de confian<;a do empr esariado: - 0 empr esario luta ate o fim para n ao per- mitir qu e a falencia seja d ecretada. Isso esta no DNA do emp r esa riado. Fo i o caso da filial brasileira da alema Bekum, que desde 1975 at u ava fabri cando lume de vendas, arrocho no credito e desvalori - zac;ao cambial. Os dois primeiros dificultam a en trada de dinheiro nos caixas da s e mpresas, enquanto o d6l ar mais caro pressio na os custos. Resultado: enc urralados, muitos n ao resi stem. - No atual es tagio, a desvaloriza<;3o do cambio e favoravel porque amplia a competitividade do pro- duto nacional, mas tambem e um elemento de cus- to, porque muitos ramos p rodutivos tern uma pa11i- cipac;ao de compone nt es importados muito rele- vantes em sua es trutura de despesas - diz Cagnin. Enquanto a recuperac;ao n ao ch ega, Renata M onteiro, pr es idente da Apsis Cons ultoria, es - p eciali za da em avali ac;ao de ativos, diz que a de- manda cr esceu 50% no primeiro trimestre em relac;ao ao periodo de outubro a d ezembro: - Ha mais r ec up erac;oes judi ciai s, ma s tam- bem h a m ais e mpresas em at ividade ven den do ativos para gerar caixa. E um momento interes- sa n te para quern pode investir. Os estragos da crise nao poupam grupos multi- nacionais. A Rhodia anunciou em abril do a no pas- sado o fechame nto da unidade de Ja carei, onde produzia fios texteis de poliamida. Foram demiti- dos 129 funcionarios, e a empr e- sa informou que con ce nt raria a produ c;ao de fios na fabrica de Santo Andre, no ABC paulista. Em nota, ela atribui a decisao a queda no consumo de produtos m aquinas sopradoras de plasti- co , usadas na produ<;ao de garra- fas PET. Como real sobrevalori- zado, em 2012 equipamentos si- milares passaram a ser impmta- dos. A prod uc;ao da industria apresen ta queda men sal desde mar c;o de 2014, segundo o IBGE. 0 agravamen to da crise derru - bou a Bektu n, que tentou a recu- pera<;ao judicial por duas vezes, sem sucesso, e teve a falencia de- cretada em marc;o de 2015, com a demissao de 85 funcionarios. "O emp r esario l uta ate o fi m para nao perm itir a fa l enc i a" industrializados. "Houve acresci- mo s ub sta ncial dos cu stos de produc;ao, que foram agravados em 2015 pelo aumento excessivo do custo de ener gia'; diz. A Alcoa, especializada na pm- du<;ao de metais !eves, se ajustou Ro gerio Ni cola ao ambie nte me nos favor avel. Segund o a Serasa Experia n, e ntr e 2014 e 2015, 1. 292 industr i- Advogado especia li zado e m rec uperagiio judi cial Em marc;o do a no passado, ela suspen deu a produ<;3o de alumi - nio primario, num momento de as tiveram pedidos de falencia apresentados a Jus- ti<;a. Os credores p odem pedir a falencia quando a di vida liq uida vencida e n ao paga supera o valor de 40 salarios minimos, dizem especialistas. Para Flavio Castello Branco, gerente de politica economica da Confedera<;ao Nacional da Industria (CNI), o que mias afeta as empresas do set or e uma combina<;ao de pressao de dividas e dificuldade pa- ra conseguir credito. Com a Selic em 14,25% ao ano e o m edo da inadimplencia, a taxa de juros do capi- tal de giro subiu de 22,5% ao ano em janeiro do ano passado para 29,2% em janeiro deste ano. - Ha um refluxo dos emprestimos a e mpr esas que comec;am a apresentar dific uldade. Entao, o credito flea dificil, mais caro - diz Castello Branco, que avalia que s6 a ret omada do crescime nto da econ omia podera tirar a industria da crise. Para Rafael Cagni n, econ omista do lnstituto de Es tudos para o Desenvolvi mento Indust rial (Iedi), tres fa. tores co ntribu em para o a umen to do numero de falencias no setor: queda no vo- alta das tarifas de energia. Na ocasiao, cmtou 74 mil toneladas da produ<;ao da us ina Alumai; em Sao Luis, no Maranhao, e parou de produzir aluminio primario no pais. Procurada, informou que n ao tern pianos de retomai· estas atividades. In stalada d esde 1964, em sao Jose dos Campos, a Amplimatic, fabricante de pe<;as de aluminio, fe- chou as portas em agosto e demitiu 57 funcionari- os. Se m caixa, teve ate a energia e o gas cortados. Mauricio Souza de Oliveira, ligado ao Sindicato dos Metal ur gicos de Sao Jose dos Campos, diz que ele e os outros empregado s n ao receb eram os direitos trabalhistas. Em dezembro, a fabrica voltou a funci- onar com 30 funcionarios sem ca1 teira assinada. Procu rada, a Amplimatic informou qu e see n- co ntra em rec up era<;ao judicial e que reini ciou as atividades de ntro da l egalidade, garantindo qu e os novo s fun c iona rios estao contratados so b o regime CLT. Sobre o pagamento das ver - bas r escis6ri as do s a ntigos funcionarios, a em- presa n ao qui s se pronuncia r. • Leader Magazine deve ser vendida ate o fim de abril Banco BTG Pactual, acionista control ador, e a familia Gouvea deixarao o negocio, dizem fo ntes A Leader vai trocar 100% de m aos ate o fim de abril. Fabio Carvalho, pres ide nte do Conselho de Administrac;ao da Casa & Video, e a fre nte de uma companhia de investimento, devera assumir a em- presa, afirmam fontes pr6ximas as ne- gociac;oes. Pelas t ratat ivas, o BTG Fac - tual, que a dqu iriu a varejista fluminen- se em 2012 por R$ 1 bilhao, ea familia Go uvea, funda dora da e mpresa e qu e ma ntem 30% de p articipac;ao, d eixar ao a comp a nhia. A operac;ao ainda n ao tern valor definido. - A L eader acumula, hoje, divida su- perior a R$ 1,3 bilh ao. Dificil mente, o BTG tera qualquer r etorno com a venda do ativo. Mas o investidor vai assumir o passivo da varejista. Por ora, o foco esta em re du<;ao do endividamento. A recu- perac;ao e viavel, m as h avera fech amen- to de lojas e ajus te no foco do neg6cio, que d evera se con centrar no segme nto de conf ecc;ao - explicou um executivo que acompanha as conversas. No inicio do ano, o comentario no mer- cado era que a vare ji sta entra1ia em recu- perac;ao judicial. Opto u, por em, pe la reest rutura<;ao, a car go da Alvar ez & Mar- sal. 0 trabalho da consultoria - que, de 2006 a 2009, comandou um primeiro pro- cesso de reest rut ura<;ao da Leader e que impulsionou a expan sao da empresa nos a nos seguintes - esta n a m elhora da sau- de financeira, corta ndo divida s. - Somen te com fo rnecedore s, ha R$ 100 milhoes em pagamentos at rasados . Todos estao sendo proc ura do s para ne- gociac;oes que te rn por o bj etivo garantir es toqu e na r ede de l ojas, ma nt e ndo o p erac;:oes e gerand o caixa e r esultado - explicou essa fonte. Uma pa.rte import ante da divida esta atrelada a conclusao de um pagamento pela compra da varejista paulista Selle r. Em 2013, a familia Furlan ve nd e u a Sel- ler a Leader, e ficou acertado qu e o pa- ga me nto seri a parcel ado. Em janeiro, os Furlan e ntraram co m um pedido de falencia da Leade r pelo n ao rec e bi - me nto de dividas. DISPUTA J UDICIAL A Alvarez & Marsal, conta uma fonte pr6- xima a consultoria, vem atuando judicial- ment e para que a Leader nao seja obriga- da a fazer o dep6sito em juizo da quantia devida a Selle1: Em paralelo, estaria ja em conversas com a farm li a Furl an para che- gar a um acordo e por Jim a disputa. Car valho ja trabalhou para a Alvarez & Marsal em processos de recuperac;ao judicial como os da Varig e Casa & Vi - d eo. Passo u a presi dente do co n selho desta ultima e, hoje, det em 49% da compa nhi a. Ele re c onhece participar de co nv ersas sobre a Leader, mas n ao come nta detalh es das n egociac;oes. A s ituac;ao da Leader se agravou de - pois que o BTG Pactua l, acioni sta con- trolador, d ecidiu r eduzir ou se desfazer de sua fatia na empresa. 0 banco vem ve nde ndo ativos e pa1 t icipac;6es societa- rias desde que Andre Esteves, fundador e ex-di ret or executivo, foi preso en volvi - do em investigac;oes da Operac;ao Lava- Jato. A familia Gouvea chego u a cogit ar a recompra da p ar te do ba nco no neg6cio, mas desistiu, ap6s conduzir estudo que mostrou que n iio seri a possivel assumir a divi da ea readeq u ac;ao da varejista, que m a ntem uma rede de mais de 90 lo- jas. (Glauce Cavalcanti)

Falincias em sirie - apsis.com.br · Santo Andre, no ABC paulista. Em nota, ela atribui a decisao a queda no consumo de produtos ... Como real sobrevalori zado, em 2012 equipamentos

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Falincias em sirie Recessao leva 277 industrias a fecharem as portas. Multinacionais reduzem opera96es no pals

LUCIANO CLAUOIN0~9-2·2016

Ocupa~o. Trabalhadores da Mabe em assembleia na fabric a de Campinas. Funcionarios ocupam ha um mes as instalagoes da empresa, que teve falencia decretada em fevereiro

ROBEHTA SCHIVANO, JoAo SOHi MA NETO,

GLAUCE CAVALCANTI E MAHCELLO COHHEA

econ om [email protected] .br

·sAO PAULOERlo- Nwn cenario de recessao, mais em­presas brasileiras estao sendo obrigadas a fechar as portas. Em 2015, houve aumento de 12,6% no total de industrias que tiveram a falencia decreta­da pela Justi<;a na compara<;ao com o ano anteli­or, segundo levantamento da Boa Vista SCPC (Servic;o Central de Prote<;ao ao Credito). No to­tal, 277 fabricas fecharam , contra 246, em 2014. Quando se incluem na conta as empresas de co­mercio e servic;os, o total de falencias decretadas cresce 16,6% - de 924, em 2014, para 1.078. Tra­ta -se da maior taxa de expan sao desde 2005, quando foi promulgada a nova Lei de Falencias.

- A industria ja mostra fraqueza ha mais de qua­tro anos. 0 resultado e o aumento das falencias. Mas, o que preocupa e que, no ano passado, as fa­lencias de comercio e servic;o tambem tiveram cres­cimento expressivo, com a queda no consumo, per­da da renda e do em prego. A crise e significativa -avalia Flavio Calife, economista da Boa Vista SCPC.

Somente no ano passado, quase cem mil lojas encerraram as atividades, segundo a Confedera<;ao Nacional do Comercio.

Em Sao Paulo, diante da procura, um a das du­as Varas de Palencia da capital paulista determi­nou uma pericia previa nas empresas que en­tram com pedido de recuperac;ao. Na pratica, funciona com o uma especie de triagem . Como uso desse fi ltro, 30% dos pedidos sao recusados.

- E uma perfcia para avaliar sea empresa e invi­avel. A recupera<;ao judicial tern como foco prote­ger o interesse socioeconomico da companhia: em­pregos, receita, recolhimento de tributos, servic;os. Sem contrapartida social, o processo vai proteger apenas o interesse do devedor - diz o juiz Daniel Costa, titular da In Vara de Falencias do Tribunal de Justi<;a de Sao Paulo, que diz que, entre os processos homologados, 70% sao concluidos com exito.

'CREDIBILIDADE DO GOVERNO ESTA COMPROMETIDA' Em um caso dramatico de falencia, funcionarios ocupam duas unidades da Mabe - multinacional com sede no Mexico, que fabrica fogoes e geladei­ras das marcas Dako e Continental - em Hortolan­dia e Campinas, em Sao Paulo, desde fevereiro, quando a em presa teve a falencia decretada. Os empregados reivindicam o pagamento de direitos trnbalhistas e atrasados e a reativa<;ao das opera­c;oes. A empresa entrou em recuperac;ao judicial em 2013. Em dezembro, deu ferias coletivas de um mes aos funcionarios, mas nao retomou atividades.

- Realizamos assembleia e decidimos manter a ocupa<;ao, embora tenhamos recebido notificac;ao judicial pedindo a desocupac;ao da fabrica de Hor­tolandia. Queremos discutir com o administrador da massa falida - afinna Sidalino Orfi Jr., presiden­te do Sindicato dos Metalurgicos de Campinas.

Uma soluc;ao em estudo, segundo fontes, e usar

recursos referent.es a dois processos que a Mabe abrira antes da falencia e que somam R$ 45 milhoes depositados em juizo para quitar dividas com tra­balhadores e fornecedores. A liberac;ao do montan­te dependeria de autoriza<;ao da Fazenda Nacional.

Para Crist6vao Pereira de Souza, esp ecialista em Financ;as e professor da FGV-Rio, superar o quadro atual de crise na industria requer mu­danc;a no cenario politico:

- Nos ultimos anos, o governo adotou uma serie de m edidas equivocadas e que levaram 0

pals a recessao. Com o impeachment, isso po­deria comec;ar a mudar. A credibilidade do go­verno esta muito comprometida. E economia se baseia em confianc;a. Sem confianc;a, n ao ha re­cursos. Sem recursos, nao ha investimentos.

Para o advogado Rogerio Nicola, do escrit6rio Ni­cola, Saragossa e Campos, especializado em recu­perac;ao judicial, o aumento do numero de falenci­as reflete a falta de confian<;a do empresariado:

- 0 empresario luta ate o fim para nao per­mitir que a falencia seja decretada. Isso esta no DNA do empresaria do.

Foi o caso da filial brasileira da alema Bekum, que desde 1975 atuava fabricando

lume de vendas, a rrocho no credito e desvalori­zac;ao cambial. Os dois primeiros dificultam a entrada de dinheiro nos caixas das empresas, enquanto o d6lar mais caro pressiona os custos. Resultado: encurralados, muitos nao resistem .

- No atual estagio, a desvaloriza<;3o do cambio e favoravel porque amplia a competitividade do pro­duto nacional, mas tambem e um elemento de cus­to, porque muitos ramos produtivos tern uma pa11i­cipac;ao de componentes importados muito rele­vantes em sua estrutura de despesas - diz Cagnin.

Enquanto a recuperac;ao nao ch ega, Renata Monteiro, presidente da Apsis Consultoria, es­p ecializada em avaliac;ao de ativos, diz que a de­manda cresceu 50% no primeiro trimestre em relac;ao ao periodo de outubro a dezembro:

- Ha mais recuperac;oes judiciais, mas tam ­bem h a m ais empresas em atividade ven den do a tivos para gerar caixa. E um momento interes­sante para quern pode investir.

Os estragos da crise nao poupam grupos multi­nacionais. A Rhodia anunciou em abril do ano pas­sado o fecham ento da unidade de Jacarei, onde produzia fios texteis de poliamida. Foram demiti-

dos 129 funcionarios, e a empre­sa informou que concentraria a produc;ao de fios na fabrica de Santo Andre, no ABC paulista. Em nota, ela atribui a decisao a queda no consumo de produtos

maquinas sopradoras de plasti­co, usadas na produ<;ao de garra­fas PET. Como real sobrevalori­zado, em 2012 equipamentos si­milares passaram a ser impmta­dos. A produc;ao da industria apresen ta queda m ensal desde marc;o de 2014, segundo o IBGE. 0 agravamento da crise derru­bou a Bektun, que tentou a recu­pera<;ao judicial por duas vezes, sem sucesso, e teve a falencia de­cretada em marc;o de 2015, com a demissao de 85 funcionarios.

"O empresario luta ate o fi m para nao permit ir a falencia"

industrializados. "Houve acresci­mo substancial dos custos de produc;ao, que foram agravados em 2015 pelo aumento excessivo do custo de energia'; diz.

A Alcoa, especializada na pm­du<;ao de metais !eves, se ajustou

Rogerio Nicola ao ambiente m enos favoravel.

Segundo a Serasa Experian, entre 2014 e 2015, 1.292 industri­

Advogado especia lizado em recuperagiio judicial

Em marc;o do ano passado, ela suspendeu a produ<;3o de alumi­nio primario, num momento de

as tiveram pedidos de falencia apresentados a Jus­ti<;a. Os credores podem pedir a falencia quando a divida liquida vencida e nao paga supera o valor de 40 salarios minimos, dizem especialistas.

Para Flavio Castello Branco, gerente de politica economica da Confedera<;ao Nacional da Industria (CNI), o que mias afeta as empresas do setor e uma combina<;ao de pressao de dividas e dificuldade pa­ra conseguir credito. Com a Selic em 14,25% ao ano e o medo da inadimplencia, a taxa de juros do capi­tal de giro subiu de 22,5% ao ano em janeiro do ano passado para 29,2% em janeiro deste ano.

- Ha um refluxo dos em prestimos a empresas que comec;am a apresentar dificuldade. Entao, o credito flea dificil, mais caro - diz Castello Branco, que avalia que s6 a retomada do crescimento da economia podera tirar a industria da crise.

Para Rafael Cagnin, econ omista do lnstituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tres fa.tores contribuem para o aumento do numero de falen cias no setor: queda no vo-

alta das tarifas de energia. Na ocasiao, cmtou 74 mil toneladas da produ<;ao da usina Alumai; em Sao Luis, no Maranhao, e parou de produzir aluminio primario no pais. Procurada, informou que nao tern pianos de retomai· estas atividades.

Instalada desde 1964, em sao Jose dos Campos, a Amplimatic, fabricante de pe<;as de aluminio, fe­chou as portas em agosto e demitiu 57 funcionari­os. Sem caixa, teve ate a energia e o gas cortados. Mauricio Souza de Oliveira, ligado ao Sindicato dos Metalurgicos de Sao Jose dos Campos, diz que ele e os outros empregados nao receberam os direitos trabalhistas. Em dezembro, a fabrica voltou a funci­onar com 30 funcionarios sem ca1teira assinada.

Procurada, a Amplimatic informou que seen­contra em recupera<;ao judicial e que reiniciou as atividades d entro da legalidade, garantindo que os novos funcionarios estao contratados sob o regime CLT. Sobre o pagamento das ver­bas rescis6rias dos antigos funcionarios, a em -presa nao quis se pronunciar. •

Leader Magazine deve ser vendida ate o fim de abril

Banco BTG Pactual, acionista controlador, e a familia Gouvea

deixarao o negocio, dizem fontes

A Leader vai trocar 100% de maos ate o fim de abril. Fabio Carvalho, presidente do Conselho de Administrac;ao da Casa & Video, e a frente de uma companhia de investimento, devera assumir a em­presa, afirmam fontes pr6ximas as ne­gociac;oes. Pelas tratativas, o BTG Fac­tual, que adquiriu a varejista fluminen­se em 2012 por R$ 1 bilhao, ea familia Gouvea, funda dora da empresa e que mantem 30% de participac;ao, deixarao a compa nhia. A operac;ao ainda nao tern valor definido.

- A Leader acumula, hoje, divida su­perior a R$ 1,3 bilhao. Dificilmente, o BTG tera qualquer retorno com a venda do ativo. Mas o investidor vai assumir o passivo da varejista. Por ora, o foco esta em redu<;ao do endividamento. A recu­perac;ao e viavel, m as havera fechamen­to de lojas e ajuste no foco do neg6cio, que devera se concentrar no segmento de confecc;ao - explicou um executivo que acompanha as conversas.

No inicio do ano, o comentario no mer­cado era que a varejista entra1ia em recu­p er ac;ao judicial. Optou, porem , pela reestrutura<;ao, a cargo da Alvarez & Mar­sal. 0 trabalho da consultoria - que, de 2006 a 2009, comandou um primeiro pro­cesso de reestrutura<;ao da Leader e que impulsionou a expansao da empresa nos anos seguintes - esta na m elhora da sau­de financeira, cortando dividas.

- Somente com fornecedores, ha R$ 100 milhoes em pagamentos atrasados. Todos estao sendo procurados para ne­gociac;oes que tern por objetivo garantir estoque n a rede de lojas, m antendo operac;:oes e gerando caixa e resultado - explicou essa fonte.

Uma pa.rte importante da divida esta atrelada a conclusao de um pagamento pela compra da varejista paulista Seller. Em 2013, a familia Furlan vendeu a Sel­ler a Leader, e ficou acertado que o pa­gamento seria parcelado. Em jan eiro, os Furla n entraram com um pedido d e falencia d a Leader pelo n ao rece bi ­m ento de dividas.

DISPUTA JUDICIAL A Alvarez & Marsal, conta uma fonte pr6-xima a consultoria, vem atuando judicial­mente para que a Leader nao seja obriga­da a fazer o dep6sito em juizo da quantia devida a Selle1: Em paralelo, estaria ja em conversas com a farmlia Furlan para che­gar a um acordo e por Jim a disputa.

Carvalho ja trabalhou para a Alvarez & Marsal em processos de recuperac;ao judicial como os da Varig e Casa & Vi­deo. Passou a presidente do conselho desta ultima e, h o je, detem 49% da companhia. Ele reconhece participar de conversas sobre a Le ader, mas nao com enta detalhes das negociac;oes.

A situac;ao da Leader se agravou de­pois que o BTG Pactual, acionista con­trolador, decidiu reduzir ou se desfazer de sua fatia na empresa. 0 banco vem vendendo ativos e pa1t icipac;6es societa­rias desde que Andre Esteves, fundador e ex-diretor executivo, foi preso envolvi­do em investigac;oes da Operac;ao Lava­Jato. A familia Gouvea chegou a cogitar a recompra da parte do banco no neg6cio, mas desistiu, ap6s conduzir estudo que mostrou que n iio seria possivel assumir a divida ea readequac;ao da varejista, que m antem uma rede de mais de 90 lo­jas. (Glauce Cavalcanti) •

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