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Seu José de Jesus Macedo, 89 anos, é o patriarca da família, viúvo e filho de agricultores, ele conta que junto com os irmãos herdou parte da terra que era dos pais, e quando casou comprou uma outra parte. Hoje ele possui 70 tarefas, no município de Baixa Grande. Dos sete filhos que teve apenas um mora com ele, que é seu Valdomiro, casado com, Dona Marinalva, vive com os quatro filhos Danilo, Ricardo, Márcia e Adriane. A família desenvolve na propriedade diversas atividades, mais o ponto forte é a produção de beiju, passada através de gerações, como conta Seu Valdomiro. Tem 60 anos que a gente lida com beiju, meus pais deixaram e a gente continuou, desde quando casei, há 15 anos, a gente vive disso. Junto com a esposa ele produz toda semana, vende na feira do município e para Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que repassa o beiju para a alimentação escolar. O beiju de tapioca é o que garante a renda da família, a gente vive disso, também trabalhamos com o beiju colorido, para fazer passa a cenoura e a beterraba no liquidificador, o suco a gente mistura com a goma, dá um colorido tão bonito, mas como é uma coisa nova, as pessoas ainda não estão acostumadas, diz Seu Valdomiro. Com a ajuda de Dona Marinalva, eles plantam mandioca e depois fazem todo o trabalho na casa de farinha, ela ensina como se faz. Primeiro raspa a mandioca, depois rala, mistura no cocho com água, coloca no saco e põe numa prensa para separar a água da massa, depois a gente côa água, e deixa assentar, coloca outra água, deixa assentar de novo, até a goma ficar no jeito de peneirar, não pode ficar úmida demais e nem seca, se não o beiju não resseca. Ela explica que durante a produção do beiju mistura a goma e sal com a própria água da mandioca, que é para dar mais sabor. O litro da quebradinha é vendido de um real e vinte e cinco centavos e o quilo a oito reais, já o saquinho com oito beijus é um real. Além do beiju tradicional, eles fazem o beiju com coco e o beiju viradinho. Seu Valdomiro criou uma caixa para sevar a goma, que ele colocou em volta do triturador para proteger a mão. Alguns dos irmãos que moram vizinhos também trabalham com o beiju em suas casas, mostrando que o beiju é uma tradição de família. Da mandioca eles aproveitam tudo, Bahia Ano 04| nº 66| maio| 2010 Serrinha-Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Família sobrevive da tradição de fazer beiju 1 Seu Valdomiro e Dona Marinalva sevando a massa juntos Família reúnida na frente da Casa de Farinha

Família sobrevive da tradição de fazer beiju

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Page 1: Família sobrevive da tradição de fazer beiju

Seu José de Jesus Macedo, 89 anos, é o patriarca da família, viúvo e filho de agricultores, ele conta que junto com os irmãos herdou parte da terra que era dos pais, e quando casou comprou uma outra parte. Hoje ele possui 70 tarefas, no município de Baixa Grande. Dos sete filhos que teve apenas um mora com ele, que é seu Valdomiro, casado com, Dona Marinalva, vive com os quatro filhos Danilo, Ricardo, Márcia e Adriane.

A família desenvolve na propriedade diversas atividades, mais o ponto forte é a produção de beiju, passada através de gerações, como conta Seu Valdomiro. Tem 60 anos que a gente lida com beiju, meus pais deixaram e a gente continuou, desde quando casei, há 15 anos, a gente vive

disso. Junto com a esposa ele produz toda semana, vende na feira do município e para Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que repassa o beiju para a alimentação escolar.

O beiju de tapioca é o que garante a renda da família, a gente vive disso, também trabalhamos com o beiju colorido, para fazer passa a cenoura e a beterraba no liquidificador, o suco a gente mistura com a goma, dá um colorido tão bonito, mas como é uma coisa nova, as pessoas ainda não estão acostumadas, diz Seu Valdomiro.

Com a ajuda de Dona Marinalva, eles plantam mandioca e depois fazem todo o trabalho na casa de farinha, ela ensina como se faz. Primeiro raspa a mandioca, depois rala, mistura no cocho com água, coloca no saco e põe numa prensa para separar a água da massa, depois a gente côa água, e deixa assentar, coloca outra água, deixa assentar de novo, até a goma ficar no jeito de peneirar, não pode ficar úmida demais e nem seca, se não o beiju não resseca.

Ela explica que durante a produção do beiju mistura a goma e sal com a própria água da mandioca, que é para dar mais sabor. O litro da quebradinha é vendido de um real e vinte e cinco centavos e o quilo a oito reais, já o saquinho com oito beijus é um real. Além

do beiju tradicional, eles fazem o beiju com coco e o beiju viradinho. Seu Valdomiro criou uma caixa para sevar a goma, que ele colocou em volta do triturador para proteger a mão. Alguns dos irmãos que moram vizinhos também trabalham com o beiju em suas casas, mostrando que o beiju é uma tradição de família. Da mandioca eles aproveitam tudo,

Bahia

Ano 04| nº 66| maio| 2010Serrinha-Bahia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Família sobrevive da tradição de fazer beiju

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Seu Valdomiro e Dona Marinalva sevando a massa juntos

Família reúnida na frente da Casa de Farinha

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além de fazer o beiju, a quebradinha e a farinha, o que sobra vai para os animais. A caspa, a rama da mandioca e a massa que fica quando separa a goma, serve para a alimentação de cachorro, galinha, porco e da vaca que dá o leite para a família.

Produção de Mel Além do plantio da mandioca, milho, feijão, pinha, amendoim, melancia, acerola, eles ainda produzem o mel, e já possuem 40 colmeias. Seu Valdomiro conta que em 2009, produziu 300 litros, e em janeiro desse ano coletou 250 litros. Quando a gente consegue vender todo dá para lucrar entre dois e três mil reais, por enquanto a gente vende para a CONAB na merenda escolar, e para algumas pessoas, estamos nos organizando em uma cooperativa em Ruy Barbosa, já temos Associação dos Apicultores de Baixa Grande, explica, ele que também faz parte da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, e tem uma atuação forte junto as causas da agricultura familiar no município.

Na área da barragem que ele ganhou através do Programa Uma Terra e Duas Águas, ele pretende plantar legumes, cenoura, abobrinha, pimenta e alface. A gente produz um pouco, mais para ter uma quantidade maior para vender na feira tem que ter água, fala seu Valdomiro. Através da participação durante intercâmbio do P1+2, ele aprendeu uma técnica para manter a área em que planta melancia molhada por mais tempo, ele pega uma garrafa pet e fura com alfinete para que ela libere a água de pouco a pouco. Participei de vários cursos, para entender como trabalhar aqui na nossa região, sei que não é bom queimar, a gente não usa agrotóxico, é mais o esterco orgânico de curral.

Garantindo o amendoim para o São

João

Uma das experiências interessantes de seu Valdomiro, foi plantar amendoim. Ele conta que em 2009 foi o único a plantar na região de Baixa Grande. O feijão deu pouco nesse ano, aí tive a idéia de plantar amendoim, a produção cobriu a safra do feijão, aí deu para fazer quase mil reais na passagem do São João, aqui ninguém tinha o costume de plantar amendoim, nesse ano não ganhei dinheiro com o feijão, mais o amendoim compensou.

Uma outra história sobre ele é a participação política, desde jovem ele se envolveu com o movimento de base da igreja católica, como conta Seu Valdomiro. A gente discutia todas problemáticas sobre a vida no campo, o tempo, a seca, conversava também sobre os nossos direitos no meio político e social.

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e Combate à Fome

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