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2015 VOLUME I Sasha Lamounier FAQ LIBERALISMO CLÁSSICO 2015 VOLUME I Perguntas Frequentes Respostas Liberais Clássicas

FAQ Liberalismo Clássico - Vol 1 - por Sasha Lamounier

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FAQ sobre perguntas frequentes sobre o que é o Liberalismo Clássico e porque ele não é "neoliberalismo", por exemplo. E muito mais.

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2015 VOLUME I

Sasha Lamounier

FAQ – LIBERALISMO CLÁSSICO

2015 VOLUME I

Perguntas Frequentes – Respostas Liberais Clássicas

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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ÍNDICE

ÍNDICE ................................................................................................................ 2

Introdução ............................................................................................................ 3

Origens do Liberalismo Clássico ......................................................................... 3

Quais são os princípios Liberais Clássicos? ........................................................ 4

RESPOSTAS LIBERAIS CLÁSSICAS ............................................................. 6

Liberalismo e os mais Pobres .............................................................................. 6

Liberalismo e nacionalismo ................................................................................. 6

Liberalismo e conservadorismo ........................................................................... 7

Liberalismo e Socialismo .................................................................................... 8

Liberalismo e a terceira via (socialdemocracia) .................................................. 9

Liberalismo e “neoliberalismo” ......................................................................... 10

Liberalismo e Libertarianismo ........................................................................... 11

Liberalismo e Ordoliberalismo .......................................................................... 12

Liberalismo Clássico e Liberalismo Social ....................................................... 13

Liberalismo e Monarquia ................................................................................... 14

Liberalismo e República .................................................................................... 15

Liberalismo e Democracia (direta e indireta) .................................................... 16

Liberalismo e confederacionismo ...................................................................... 17

Liberalismo e Parlamentarismo ......................................................................... 18

Liberalismo e Presidencialismo ......................................................................... 18

ANEXO – Literatura Recomendada .................................................................. 20

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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INTRODUÇÃO

Para desenvolver este FAQ, devemos primeiro compreender o que é o liberalismo

clássico. Ao compreender os princípios norteadores do pensamento filosófico e suas

bases históricas, percebemos melhor como cada questão deve ser tratada por um liberal,

de modo a ampliar o horizonte das liberdades individuais e o perfeito entendimento

social da mesma. Este FAQ será constantemente atualizado, tanto com respostas mais

completas, como com outras perguntas e questões fundamentais.

Origens do Liberalismo Clássico

Historicamente, poderíamos fazer uma ampla rememoração das origens do liberalismo,

citando diversos eventos, fatos e processos que levaram ao desenvolvimento do que

viria a ser liberalismo. Contudo, como este FAQ tem o interesse de introduzir o leigo ao

liberalismo, de modo a apresentar os princípios gerais do liberalismo e sua forma de

conceber o mundo, o resumo histórico será basicamente isso: um resumo. Portanto, não

é uma rememoração completa, estando listados aqui os principais eventos que

culminariam no liberalismo.

A história do liberalismo começa na Idade Média, com os comerciantes. Esta época é

conhecida como o sistema onde três classes dominavam a vida social. Tratava-se dos

servos, dos nobres e do clero. Este período histórico perdurou entre os séculos IV d. C.

e XIV d. C, aproximadamente. A partir do século XIV começa o que é conhecido como

Idade Moderna.

Na idade média surge à burguesia, a semente do que viria a ser o liberalismo clássico. A

burguesia, outrora conhecida apenas como membros dos burgos, ou, comerciantes,

começaram a ter maior penetração social na Baixa Idade Média (período medieval onde

os estados foram formados, em contraposição aos feudos dispersos da alta idade média).

Através das guildas (corporações de ofício), comerciantes se uniram para promover seus

interesses diante da nobreza (até então, único poder político legítimo). Além disso, foi

através de casamentos com nobres, que estes comerciantes começaram a ascender

socialmente, levando-os progressivamente as funções de Estado. Isso levará o poder

absoluto do rei a ser desafiado, primeiro na Inglaterra e depois na França. Foi também

através de rotas comerciais que europeus tiveram acesso a textos da Grécia antiga, ao

antropocentrismo de Aristóteles e a filosofia clássica. Foi isso que levou doutores da

Igreja a desafiar os dogmas católicos e desenvolverem suas próprias religiões

(Luteranismo e Calvinismo, por exemplo). Surge o protestantismo.

Entre o renascimento (período que compreende o século XIV e o século XVII) e o

iluminismo (século XVII e XVIII) não há separação temporária e tampouco conceitual.

Basicamente, pode-se afirmar que o iluminismo foi à segunda onda do renascimento,

ou, o processo final do renascimento. Ambos eram basicamente a mesma coisa, mas em

períodos históricos e contextos diferentes.

Compreendido isso, há aqui um contexto de ruptura no começo do século XVII. Por um

lado, os comerciantes começam a assumir funções cada vez mais penetrantes no Estado

absoluto monárquicos, levando seus interesses comerciais a chocar-se com os interesses

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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do absolutismo. Ao mesmo tempo, novas ideias circulavam pela Europa através dos

próprios comerciantes, o que leva o poder do clero (dízimos e infalibilidade papal) a ser

ameaçado. O sistema absoluto como um todo se encontrava num momento de clara

tendência revolucionária, pois suas bases eram ameaçadas e suas prerrogativas também.

É neste momento que os principais autores da filosofia política e econômica nascem.

Durante as guerras civis inglesas e a Revolução Gloriosa, surge Thomas Hobbes e sua

teoria a cerca do Estado absoluto. Aparece também Francis Bacon e seu empirismo. E

neste processo, surge posteriormente aquele que seria o fundador do liberalismo: John

Locke. Na filosofia econômica e social, surge Adam Smith, David Ricardo, David

Hume, Jeremy Bentham etc. Na França, surge Voltaire, Montesquieu, Diderot,

Descartes, Rousseau e tantos outros que contribuiriam de alguma forma, para o

desenvolvimento dos princípios do liberalismo.

Este liberalismo, aqui contextualizado, é conhecido como liberalismo clássico para

diferenciar-se de DERIVAÇÕES do pensamento original. Surgido no século XVII, o

liberalismo foi repensado e reorientado muitas vezes ao longo dos séculos subsequentes.

Por isso, aqui o que será exposto é o liberalismo em sua essência, em sua formação e

originalidade.

Quais são os princípios liberais clássicos?

Vida, liberdade e propriedade;

Foi com John Locke e Adam Smith que o liberalismo clássico estabeleceu parâmetros

básicos de sua conceituação e existência formal. Locke em “Dois Tratados sobre o

Governo”, expõe pela primeira vez de modo político o conceito de direito natural. Para

Locke, o homem nasce com direitos inalienáveis, dados pela natureza, tais como a vida,

a liberdade e a propriedade. O Estado é uma formação humana dedicada a preservar

estes princípios. Portanto, todo Estado torna-se ilegítimo a partir do momento em que

ele fere os direitos naturais. Todo Estado é legítimo, contudo, a partir do momento em

que respeita os direitos naturais. Ou seja, o respeito aos direitos naturais é de interesse

público.

Adam Smith reforça esta ideia em “Teoria dos Sentimentos Morais”. Diz ele que os

indivíduos são dominados pelas paixões e instintos de auto-preservação e auto-interesse,

porém controlados por valores interiores que aprovam ou desaprovam suas ações,

evitando que a liberdade e o auto-interesse joguem os homens uns contra os outros.

Smith, porém, reconhece que devem existir limites à busca do auto-interesse e que o

Estado deve exercer a “benevolência pública”.

Com base nisso, podemos classificar o liberalismo como uma filosofia que busca limitar

o poder para dar maior liberdade ao indivíduo. Seu objetivo é cada vez mais permitir

que o indivíduo expresse-se livremente. Para tanto, o liberal advoga em favor de um

governo sempre o mais limitado possível, porém existente (estado mínimo – provedor

de segurança e justiça) e uma sociedade a mais livre possível (expressa economicamente

no conceito de livre-mercado e ordem espontânea), gerando assim a paz social.

Cabe aqui uma compreensão. Se a busca pela maior liberdade individual e uma

consequente paz social derivada disso é o objetivo máximo do liberalismo, todo tipo de

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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questão, seja de ordem social, cultural, filosófica ou econômica deve ser orientada com

base numa pergunta fundamental. Esta pergunta é:

- Isso (problema) aumenta ou diminui a liberdade do indivíduo?

Fazendo-se esta pergunta a toda questão, o liberal estará sempre agindo de acordo com

os princípios básicos do liberalismo. Pelo interesse de preservar a vida, a liberdade e a

propriedade universalmente, busca-se a maior liberdade individual. Mas esta liberdade

individual PRECISA gerar uma paz social. Daí que os princípios tornam pesos e

contrapesos uns contra os outros. Uma liberdade não pode suplantar a liberdade alheia.

Do mesmo modo que uma liberdade não pode, jamais, ferir uma vida. Ou ainda, uma

propriedade não pode ferir a liberdade de outrem. E assim por diante. Mas como

alcançar este equilíbrio? Quais são os métodos de maximizar os ganhos individuais na

sociedade gerando paz social?

Compreendido isso, passemos agora a responder as mais constantes dúvidas e questões

referentes ao liberalismo clássico, unificadas neste FAQ, de modo que o leigo possa

entender o pensamento liberal.

Resumo:

O liberal clássico defende, portanto, a vida, a liberdade e a propriedade como princípios

centrais. Advoga em favor de um Estado Limitado e de uma economia laissez-faire.

Promove as liberdades individuais, a limitação do poder e a paz social.

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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RESPOSTAS LIBERAIS CLÁSSICAS:

Liberalismo e os mais pobres

Nada limita mais a liberdade do indivíduo, do que a pobreza. Se um homem ou mulher

é pobre, não tem como exercer sua liberdade em sociedade, não tem como consumir os

produtos ofertados pelo mercado e não tem como gerar riqueza, criando novos postos de

trabalho para outras pessoas, então ele não tem como estar inserido no sistema liberal. O

liberalismo é conhecido desde o século XVII como a ideologia que promove a

mobilidade social. Ou seja, se um homem nasce pobre, no liberalismo ele pode muito

bem morrer rico. Se um homem nasce rico, pode ele também morrer pobre. Portanto, a

ideia medieval de pré-destinação do servo e do nobre cai por terra. Não é do interesse

do liberalismo manter o status quo, mas pelo contrário, é do interesse maior do

liberalismo garantir o direito de mudança. Posto isso, dentro do sistema de pensamento

liberal, a pobreza é um problema que deve ser superado através da mais ampla liberdade

possível. E para isso, o Estado deve também voltar-se a suas funções clássicas,

deixando a sociedade se auto-organizar livremente. Queremos que todos estejam

inseridos no mercado, que todos tenham condições de gerar riqueza para si e suas

famílias. Quem afirma que o liberalismo é uma filosofia pró-rico e contra pobres, é um

ignorante. E ignorante no sentido de ignorar os fatos. Foi com o capitalismo que a

capacidade de produção de alimento aumentou no planeta inteiro. Foi com o mercado

que a pobreza diminuiu em termos globais intensamente. Um trabalhador comum é

muito mais rico hoje do que um trabalhador comum de 50 anos atrás. Logo, é infundado

crer que o liberalismo promove pobreza. É o contrário. Limitando o Estado,

promovendo livre-mercado, livre concorrência, liberdade de ação e de trabalho, o liberal

é o maior incentivador da riqueza para todos. Indiscriminadamente. Quem quer manter

o status quo e utiliza o Estado para isso são ANTILIBERAIS e devem ser combatidos.

Por isso o liberal é contra o corporativismo. Quando uma empresa se alia com o Estado,

mantendo relações espúrias com os governantes, ele está buscando manter seu status

quo, sua “classe” elevada na sociedade. Somos contra isso. O bom empreendedor, o

bom milionário, o bom homem de riqueza é aquele que se mantêm rico através do

próprio mercado, através das trocas voluntárias, sem ajuda de nenhum recurso estranho

as leis do mercado (como o governo). Em suma, o liberalismo é pró-riqueza para todos.

E é por isso que defendemos o máximo de liberdades individuais possível.

Liberalismo e nacionalismo

As nações, entendidas modernamente como territórios com um governo próprio, surgiu

como conceito após a Revolução Francesa. Em contraposição aos feudos dispersos da

idade média, no absolutismo renascentista surgem estruturas complexas, territórios com

governos centrais. Mas só após a Revolução Francesa e a queda do antigo regime

(monarquia absoluta) e com o conceito de cidadania, que as nações surgem como

entidades reais. Até então, o país era um território pertencente ao monarca. Agora, com

o conceito de cidadania, o país é um território pertencente a quem vive nele (os

cidadãos). Nasce aqui o individualismo liberal.

Portanto, cidadania e individualismo são conceitos políticos intimamente ligados. Não

há indivíduo sem um composto social que o respeite. O liberalismo nunca negou o

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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conjunto de indivíduos (sociedade). É um erro considerar o contrário. O liberalismo na

verdade é um pensamento filosófico que limitou o poder do rei absoluto para dar maior

liberdade aos indivíduos (três poderes de Montesquieu). Daqui surge o nacionalismo

moderno.

A relação entre liberalismo e nacionalismo vai para além disso quando compreendemos

que só é possível livre mercado e desenvolvimento industrial quando os cidadãos são

todos RECONHECIDOS como indivíduos com poder político. Neste sentido, não existe

liberdade de comércio sem democracia. E não existe liberdade individual sem poder

limitado. Por isso as constituições são uma das mais latentes e notórias conquistas do

liberalismo clássico.

O nacionalismo começa a se distanciar do liberalismo, quando a nação se torna mais

importante do que o indivíduo. Neste caso, aquilo que o liberal combate (o problema do

poder absoluto) volta à tona e se torna uma ameaça as liberdades individuais. O

nacionalismo não é um problema quando é entendido como uma relação jurídica e de

identidade individual. Mas torna-se um problema quando a nação se torna mais

importante do que o indivíduo.

Liberalismo e conservadorismo

Intelectualmente, pode-se dizer que o conservador (corrente surgida principalmente

através de Edmund Burke) defende a tese de que “o homem é lobo do homem” e que,

portanto, é importante preservar determinadas instituições que limitem a maldade

humana. Burke faz estas afirmativas como uma crítica efusiva contra a Revolução

Francesa e o “Reino do Terror”, estipulado após a queda do antigo regime (absoluto).

Burke defende que uma revolução deveria ser feita como a Revolução Gloriosa na

Inglaterra, quando houve uma troca de governo através de um movimento político e não

violento.

OBS: É importante frisar que, nesta análise de Burke, não foi levado em conta que antes

da Revolução Gloriosa houve duas guerras civis na Inglaterra intimamente ligadas com

o desfecho “glorioso”, o que poderia demonstrar a clara violência de uma revolução

com um final “pacífico”. Em suma, Edmund Burke acaba ignorando as diferenças dos

processos políticos na Inglaterra e na França.

O liberal clássico parte de um pressuposto lockeano, de que a sociedade se organiza

para maximizar seus ganhos e não apenas para limitar homens maus. Locke não

considerava que a sociedade é formada por homens maus ou bons. Mas por homens

com auto-interesse. E este auto-interesse se “auto-limita” com o objetivo de aumentar os

ganhos para todos. Para Locke, é assim que surge o Estado e é este Estado que deve ser

preservado.

Portanto, o conservadorismo muda a depender das definições do que é conservador.

Stricto sensu o conservador busca conservar, preservar alguma coisa. Portanto, cabe

aqui definir o que o conservador quer preservar.

1º. Se o conservador quiser preservar apenas o Estado limitado, o Estado de direito e as

liberdades individuais, então este conservador é, na verdade, um liberal clássico.

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2º. Se o conservador, no entanto, quer preservar princípios religiosos, ou costumes

culturais próprios através do Estado, então ele NÃO é um liberal.

Como explicado na introdução deste FAQ, o liberalismo defende princípios de valor

universal. Ou seja, princípios que vão além da cultura, da religião, da nação, da

geografia etc. É incompatível com o liberalismo clássico um conservador desejar usar o

Estado para preservar seus valores restritos, ignorando assim a universalidade natural

dos princípios liberais.

Uma pessoa, contudo, pode querer preservar costumes culturais e religiosos de forma

privada, sem o uso do Estado. Se uma pessoa, portanto, é conservador na vida privada,

mas defende o liberalismo na vida social, então este indivíduo é um liberal.

O que lhe define como um liberal ou conservador é sua postura perante o Estado

(sociedade) e sua função para preservar as liberdades individuais. O liberalismo, como

já dito, defende valores universais. Se você é capaz de defender estes valores,

independente dos seus particulares, então você é um liberal clássico. Caso queira levar

para o Estado seus princípios, você é um conservador não liberal.

Liberalismo e socialismo;

O liberalismo clássico surgiu no século XVII. Os primeiros socialistas surgiram no

século XVIII. Portanto, há aqui um hiato de um século entre os primeiros liberais e os

primeiros socialistas. John Locke (1632-1704), por exemplo, fundador mais importante

do liberalismo clássico faleceu 56 anos antes de nascer o primeiro socialista. E é Saint

Simon (1760-1825) um dos primeiros fundadores do socialismo clássico (ou utópico

segundo Marx). Notoriamente, esta corrente do pensamento surgiu como uma resposta

ao liberalismo clássico, que foi ganhando críticos especialmente no final do século

XVIII e por todo o século XIX.

A diferença básica entre liberalismo e socialismo é no entendimento do conjunto social

e sua formação. Enquanto o liberal tem como base John Locke e o direito de

propriedade, a tese principiologica dos socialistas é de Jean Jacques Rousseau: o mito

do bom selvagem. A maior parte dos socialistas partem do pressuposto de que a

propriedade privada, apesar de importante para o desenvolvimento social, é também um

entrave para a vida humana e deve ser constantemente repensada tendo em vista a

preservação da igualdade entre os homens. Surge aqui a ideia de justiça social. Para o

socialista, a liberdade é consequência da igualdade. Já para o liberal, a igualdade é

consequência da liberdade. São duas mentalidades distintas.

Os socialistas clássicos (Saint Simon, Charles Fourier e Robert Owen) defendiam a

manutenção do Estado de direito liberal, porém, propondo uma busca por maior justiça

social. Não eram revolucionários no sentido de por abaixo o estado liberal, mas eram

reformistas. Buscavam modificar a lógica de livre-mercado para preservar os menos

abastados pelo sistema mercadológico. Assim, os primeiros socialistas buscavam uma

sociedade ideal a partir daquela em que viviam.

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No século XIX surge Karl Marx e, fazendo uma crítica aos socialistas clássicos, ele

propõe o que chamaria de socialismo científico. E científico, pois, para Marx, o erro dos

socialistas clássicos era o de buscar uma utopia com base no estado burguês (liberal).

Daí que Marx os denomina como “socialistas utópicos”. Marx propõe que, ao invés de

buscar uma sociedade socialista através do Estado burguês, deve-se buscar uma ruptura

completa com o estado burguês para promover a libertação dos proletários. Marx

compõe, portanto, duas etapas. O primeiro é o proletário assumir o comando do Estado,

criando assim sua “ditadura do proletário”. A segunda etapa seria esta ditadura

maximizar a socialização da propriedade privada dos meios de produção, de modo a

alcançar o estágio final do comunismo (ou, anarquia dos comuns).

Como fica óbvio, o socialismo foi uma tentativa de resolver “problemas” que,

teoricamente, o liberalismo não havia resolvido. Contudo, ao longo do século XX as

teses socialistas demonstraram tremendo equívoco, ao diminuir as liberdades

individuais e criar uma elite ligada ao Estado que, tanto ou mais, cometiam os mesmos

erros que outrora os socialistas acusavam de serem erros da burguesia, tais como:

engessar o arco de possibilidade individual, gerar pobreza, impedir a geração de

riqueza, atrapalhar o desenvolvimento do empreendedorismo etc.

Em resumo, pode-se afirmar que o liberalismo clássico tem como foco principiologico a

liberdade. Neste sentido, a igualdade deve ser apenas formal (pela lei), onde todos serão

igualmente livres. Esta é, para o liberal, a única igualdade. A finalidade, contudo, é a

liberdade. Para o socialista, a finalidade é a igualdade, pois somente com ela se alcança

a liberdade e a felicidade. Para alcançar isso, o socialista, defende não apenas uma

igualdade formal, mas também material. Trata-se da justiça social. É através dela que se

gera riqueza, prosperidade e liberdade. Esta tese, apesar de tratar dos mesmos

princípios, coloca hierarquias distintas do liberalismo. Por isso o socialismo e o

liberalismo são antagônicos por natureza.

Liberalismo e a terceira via (socialdemocracia);

A social-democracia, ou, terceira via, é o que pretende ser o caminho “do meio”, entre

liberalismo e socialismo. Muitas vezes confundido com liberalismo social, a social-

democracia na verdade é um “retorno” ao socialismo clássico, ou, democrático, em

contraposição ao socialismo marxista que dominou todo o século XX.

Durante o século XX e começo do século XXI, as ideologias passaram por

resignificações diversas que antedessem as necessidades de cada época. No começo do

século XX o liberalismo estava em alta, até surgir à crise de 1929, que colocou o

liberalismo em xeque por parte de teóricos críticos. Foi a partir daqui que surgiu a tese

do Estado do Bem Estar Social de John Maynard Keynes.

Antes da Segunda Guerra Mundial, a social democracia estava muito alinhada com

princípios e preceitos marxistas. Daqui surge, por exemplo, partidos trabalhistas e novos

encontros da Internacional Socialista. Após a Segunda Guerra, com o advento da Guerra

Fria, a social democracia fica mais próxima do liberalismo, ganhando um escopo

socialista clássico. Apoiando-se também nas teses do Estado do Bem Estar Social e no

direito trabalhista, a social democracia acaba tornando-se, portanto, o que conhecemos

hoje por terceira via.

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O liberalismo clássico se distancia da social democracia, pois faz parte de nosso

objetivo de maximização da liberdade individual e da paz social SEM um Estado

inchado, que atue demasiadamente em questões alheios a sua função clássica (segurança

e justiça). Para garantir a liberdade individual, é prerrogativa liberal um Estado

limitado, diminuto, enxugado e que atue apenas pontualmente, quando for necessário.

Mais nada. O resto é livre-mercado.

Liberalismo e “neoliberalismo”;

Durante o século XX, o socialismo e a social democracia prevaleceram de forma

contundente. O liberalismo começou a ser esquecido como proposta política e

chegaram, inclusive, a considera-lo superado, visto que por muito tempo a tese do

Estado do Bem Estar Social (welfare state) de Keynes dominava as agendas políticas.

Foi através disso que liberais do século passado começaram a se organizar em prol de

uma agenda mais liberal na sociedade.

Por um lado a Escola Austríaca se organizava encabeçada por Ludwig Von Mises e

demais autores, como Friedrich Hayek (Nobel de Economia de 1974). Hayek, em

especial, foi um dos grandes críticos de Keynes e polarizaram por muito tempo as duas

visões ideológicas, sendo Keynes defensor do Estado de Bem Estar e Hayek defendendo

a tese clássica do Estado Mínimo. Junto deles, Milton Friedman (Nobel de Economia de

1976), um dos pais da moderna Escola de Chicago de economia, incentivava e

popularizava cada vez mais teses do liberalismo clássico, combatendo o inchaço do

Estado e defendendo uma política de livre mercado.

Por influência principalmente da Escola de Chicago, muitos governos adotaram

políticas consideradas liberais, de diminuição do Estado e incentivo ao livre mercado,

fazendo ressurgir, assim, as bandeiras liberais. Notoriamente os governos de Margaret

Thatcher (1979-1990) e Ronald Reagan (1981-1989) foram os principais governos

influenciados por esta nova onda liberal, mais contundentemente, pela influência da

Escola de Chicago. Através destes governos, foi proposta em 1989 em Washington uma

série de medidas que incentivariam o desenvolvimento dos mercados em todo o mundo.

Trata-se do famoso “Consenso de Washington”, onde 10 medidas foram estabelecidas

como metas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com o objetivo de ajustamento

macroeconômico. Nasce aqui o que viria a ser chamado pela esquerda de

“neoliberalismo”.

No entanto, os liberais rejeitam esta denominação, pois não há, efetivamente, um

“novo” liberalismo. Logo, não faz sentido se referir ao processo como “neoliberalismo”.

O que aconteceu foi uma série de medidas promovedoras de maior liberdade econômica

e responsabilidade fiscal, assim como de privatizações, que fazem parte do ideário

liberal. Portanto, pode-se dizer que o Consenso de Washington foi efetivamente liberal,

e não neoliberal.

O processo liberal do século XX foi uma busca por reafirmar as teses liberais clássicas

do século XVIII e XIX. Os resultados desta reafirmação do liberalismo no século

passado geraram importantes efeitos. A Grã-Bretanha saiu da crise que vivia por conta

das políticas trabalhistas de governos anteriores, assim como os EUA ganhou mais força

em todo o mundo, forçando o Muro de Berlin a cair e o capitalismo superar a dicotomia

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com o comunismo soviético. O Consenso de Washington, como medida neste novo

mundo pós Muro de Berlin, garantiu por muito tempo elevado crescimento das nações

emergentes, assim como o controle dos gastos públicos. No entanto, devido à alta

resistência da esquerda socialista e social democrata e, mais importante, devido à falta

de incentivos civis junto das econômicas, muitas as medidas “neoliberais” não surtiram

o efeito necessário, devendo o liberalismo ser reafirmado mais efetivamente para que

possa, enfim, desenvolver efeitos de longo prazo.

Liberalismo e Libertarianismo;

O libertarianismo é uma corrente do pensamento liberal, muito influenciada pela Escola

Austríaca que se divide em dois nichos: libertarianismo minarquista e libertarianismo

anarcocapitalista.

Muitos costumam confundir o termo “libertário” com o “liberalismo clássico”. Então

vamos compreender a questão. Libertário é um termo surgido nos EUA para diferenciar

o liberal social (ou mesmo o social democrata, o progressista, a esquerda norte-

americana) do liberal clássico. Portanto, nos EUA, libertarianismo é o nome que

inventaram para tratar do liberalismo clássico, mantendo seu sentido original. Nesse

sentido, o libertário minarquista é a mesma coisa que o liberal clássico e vice-versa.

Porém, e é aqui que começa o problema, o anarquista começou a também se denominar

libertário nos EUA. E começou mesmo lá a criar uma grande confusão conceitual e

terminológica.

Quando o termo migrou para o Brasil, especialmente através do Instituto Mises Brasil,

“libertário” ficou associado apenas com a parte “anarco” do termo norte-americano. A

parte liberal clássica foi praticamente esquecida e o libertário brasileiro tornou-se ou um

anarcocapitalista ou um minarquista que queria ser anarquista (minarquista sem

convicção liberal).

No Brasil nunca existiu efetivamente o liberalismo. Portanto, não precisamos utilizar o

termo “libertário”, que para nós não representa o ideário liberal. Milton Friedman,

Mises, Hayek e tantos outros liberais norte-americanos, por exemplo, nunca se

consideraram “libertarians” (libertários), mas sim “liberals in the classical sense”

(liberais no sentido clássico).

Os libertários minarquisas defendem a limitação ao mínimo do Estado, resumindo-o as

funções de segurança e justiça, promovem o livre mercado, assim como promovem a

maximização das liberdades individuais. Contudo, devido à influência anarquista,

podem-se subdividir os minarquistas em dois subgrupos: os minarcos pragmáticos e os

minarcos dogmáticos.

No libertarianismo brasileiro (devido à influência anarcocapitalista), grande parte dos

minarquistas costumam ser dogmáticos, não aceitando mais nada que não seja o Estado

mínimo e o livre mercado. Este subgrupo afasta-se do liberalismo clássico, por negarem

e ignorarem entraves e precondições culturais e sociais que impedem a radicalização do

minarquismo na prática. O liberal clássico sempre foi um pragmático, que luta pela

liberdade individual dentro do contexto social em que ele vive. “Melhor alguma

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liberdade do que nenhuma”. Por isso o radicalismo é uma posição que se afasta da

postura dos liberais clássicos mais reconhecidos, como Adam Smith, Stuart Mill, Milton

Friedman etc.

Os libertários pragmáticos aproximam-se mais dos liberais clássicos puros, pois também

defendem o Estado mínimo e o livre mercado, contudo, fazem concessões para que seja

possível alcançar esta meta de forma progressiva e gradual. Os pragmáticos entendem

que o estado mínimo e o livre mercado são duas metas e não receitas de bolo. Para se

alcançar uma meta, é necessário fazer um percurso. E é este percurso que o liberalismo

clássico promove.

Finalmente, os libertários anarcocapitalistas não são liberais. Na verdade, são

antagônicos ao próprio liberalismo. Apesar de defenderem o livre mercado e as

liberdades individuais (teses liberais), os anarcos são contrários ao Estado limitado,

argumento central de todo o liberalismo clássico. Esta posição radical e utópica faz com

que o liberalismo clássico seja igualmente contrário ao anarquismo de mercado, do

mesmo modo que o liberalismo é contra qualquer tipo de anarquismo (seja o clássico ou

comunista).

O Libertarianismo Bleeding-Heart (o famoso left-lib) é uma variante do libertarianismo

considerado mais a esquerda. Defendem as mesmas teses do libertarianismo, contudo,

promovendo também uma preocupação com a justiça social. Pode ser considerada uma

espécie de “liberalismo social” entro do libertarianismo. É igualmente diferente do

liberalismo clássico.

Resumo:

1. Libertarianismo minarquista pragmático: é a mesma coisa que liberalismo

clássico.

2. Libertarianismo minarquista dogmático: é parecido com o liberalismo clássico,

mas diferencia-se pelo dogmatismo e pela falta da concepção prática do

liberalismo clássico.

3. Libertarianismo anarco-capitalista: não é liberalismo clássico e está bem

distante do mesmo.

4. Libertarianismo Bleeding-Heart (left-lib): é uma versão social do libertarianismo

e não condiz com o liberalismo clássico.

Liberalismo e ordoliberalismo;

O ordoliberalismo é uma corrente do pensamento liberal surgida na Alemanha através

de economistas e juristas, também muito por influência da Escola de Friburgo entre os

anos 1930 e 1950. Sua intenção é funcionar como um novo tipo de “terceira via” entre

socialismo e liberalismo clássico. Alguns nomes chave são Wilhelm Röpke, Walter

Eucken, Franz Böhm, Hans Großmann-Doerth, Alfred Müller-Armack e Alexander

Rüstow. Por tentar diferenciar-se e servir como terceira via, já se diferencia do

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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liberalismo clássico. Contudo, há outros motivos para esta diferenciação. Os

ordoliberais promovem uma economia social de mercado, onde é fundamental uma

“ordem” que impeça as falhas de mercado e dificulte os abusos de poder econômico. Ao

mesmo tempo, incentivam a organização de mercados eficientes e competitivos onde o

Estado controla um ambiente legal para o aprimoramento do próprio mercado.

Alguns consideram o ordoliberalismo uma versão do “neoliberalismo” alemão.

Contudo, tanto os próprios ordoliberais como os liberais em geral rejeitam esta tese.

Primeiro porque o neoliberalismo não é uma “nova” corrente do pensamento liberal. É

apenas uma reafirmação do liberalismo. Assim como, o ordoliberalismo não é liberal

clássico, diferenciando-se pela sua concepção ordenadora que não está presente na tese

inicial do laissez-faire.

Liberalismo Clássico e Liberalismo Social;

O Liberalismo Social é uma corrente do liberalismo surgido no começo do século XX.

Sua fundamentação teórica, apesar de liberal, diferencia-se do liberalismo clássico na

finalidade e nos meios. O liberalismo clássico defende a liberdade individual, um

Estado mínimo e o máximo possível de livre mercado. Já o liberal social acredita que o

Estado tem uma função na garantia e manutenção das liberdades individuais, aceitando,

inclusive a interferência do Estado na economia.

O liberal social também defende uma economia de mercado, contudo, mas aceita que o

Estado diretamente ofereça alguns serviços básicos quando necessário.

Por princípio, o liberal social se diferencia do liberalismo clássico. Mas de um ponto de

vista pragmático, pode ser compreendido também como um meio para se atingir as

finalidades gerais e centrais do liberalismo clássico.

Liberalismo e Monarquia;

O Liberalismo Clássico surgiu na Revolução Gloriosa, na Inglaterra e na Revolução

francesa. Em ambos os casos, seu nascimento tinha o intuito original de limitar o poder

real e aumentar a liberdade individual. No caso inglês, após duas guerras civis, foi

possível depor um monarca sem mata-lo e sem gerar outra guerra. De modo pacífico, os

ingleses conseguiram trocar de Rei e, com isso, estabelecer o parlamentarismo como

sistema de governo oficial da Grã-Bretanha. Desde então, os monarcas perderam seu

poder absoluto e precisam dividir com o Parlamento o comando do país. Esta foi,

claramente, uma das primeiras conquistas efetivas do liberalismo perante as

Monarquias, até então, absolutas. A pequena experiência republicana inglesa, com

Oliver Cromwell não foi suficiente para convencer os ingleses de que uma república é

um bom sistema, fazendo o povo inglês e suas elites optarem definitivamente por um

sistema monárquico parlamentarista.

Na França não ocorreram duas guerras civis, mas todo o processo revolucionário foi

extremamente violento. Desde 1789 e a Assembleia Geral, até 1799 e o governo do

Diretório, milhares de franceses, aristocratas ou plebeus, membros do clero ou da

família real, foram mortos pela famosa guilhotina. Apesar do terror, contudo, a

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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Revolução Francesa deixou para a posterioridade uma contribuição significativa para as

liberdades individuais. Primeiro Montesquieu desenvolveu o modelo moderno de

democracia e governo representativo, dividindo o poder do Rei em três poderes

fundamentais: executivo, legislativo e judiciário. Além disso, foi na Revolução Francesa

que nasceu a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Este documento, junto

da Constituição norte-americana, estabeleceram as bases do que entenderíamos hoje por

direitos inalienáveis, ou, direitos individuais naturais: vida, liberdade, propriedade e

igualdade.

Compreendido isso, cabe a pergunta: qual é hoje a relação do liberalismo com a

monarquia?

Toda monarquia ocidental (com exceção do Vaticano) é uma monarquia constitucional

e parlamentarista. Herdando as bases do liberalismo, toda monarquia hoje tem

fundamentações democráticas, legítimas e populares. O monarca deixou de ser visto

como “alguém com poder divino” e tornou-se um servidor público. Os outrora súditos

deixaram de lado o título de serviçais do Rei e tornaram-se cidadãos, com direitos

políticos e voz política.

Se o liberalismo busca um governo limitado ao mínimo possível e o aumento das

liberdades individuais, com a Monarquia Constitucional o liberal conseguiu grande

parte de suas conquistas. A monarquia tornou-se um sistema enxuto, eficiente e direto.

Diminuiu a máquina pública, ao restringir a representatividade do Estado em uma só

família e um monarca (ao invés de diversos Presidentes da República diferentes). Ao

mesmo tempo, as monarquias modernas garantem certa constância e segurança jurídica

na manutenção do tamanho do Estado. Grande parte do agigantamento dos Estados

modernos se deve a políticos populistas, que para demonstrar seu “serviço público”,

incentivam o gasto público e a arrecadação de impostos. A monarquia moderna

conseguiu a façanha de ser um dos melhores sistemas anticorrupção, pois havendo um

só monarca vigiado por toda a sociedade, diminui também o risco da máquina pública

aumentar a gosto do político. A estabilidade política, portanto, da monarquia

constitucional é algo que interessa profundamente ao liberalismo clássico.

Porém, não podemos definir a Monarquia como o único sistema eficiente para uma

sociedade liberal. A depender da cultura de cada povo, a monarquia pode ser tanto um

bom sistema como uma desculpa para o paternalismo. Tudo depende da mentalidade de

cada país. Um povo que tende a colocar na figura do monarca algo de paternal estará

fadado a diminuir suas responsabilidades individuais e a coletivizar os interesses

nacionais. Isso pode ter um efeito contrário ao esperado pelo liberal e gerar certa onda

de conservadorismo, o que diminuiria as liberdades individuais.

Contudo, há de se destacar que o constitucionalismo monárquico é também uma grande

oportunidade de limitar o governo e garantir estabilidade suficiente para o povo ganhar

maturidade política. Neste sentido, não há restrições por parte do liberalismo clássico as

monarquias modernas, desde elas sejam desenvolvidas com amplo debate popular e

respeito aos interesses individuais.

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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Liberalismo e República (republicanos);

As repúblicas (do latim, res publica, ou coisa pública) modernas nasceram

conjuntamente das monarquias modernas (pós-absolutismo). Uma república surge

quando não há, por parte do povo e das elites políticas, qualquer interesse da

manutenção ou da criação de uma monarquia. Seja por motivos históricos, como a falta

de tradição monárquica, ou ainda, pela descrença na última família real. Portanto, a

república é um sistema que, pode-se dizer, nasceu como alternativa a monarquia. As

primeiras repúblicas modernas foram à norte-americana (EUA) e a francesa.

No caso francês, a conturbada revolução criou aparatos que diminuíram drasticamente a

estabilidade política da França pós-absolutismo. Por conta disso, os franceses

necessitavam ao final da revolução de um governo mais estável e seguro. Graças a isso

surgiu Napoleão Bonaparte. Após a queda de Napoleão, Luis XVIII (irmão de Luis

XVI, o rei guilhotinado) assume o trono até sua morte, em 1824. Logo em seguida,

apenas mais dois monarcas franceses governariam. Até finalmente, na Revolução de

1848, nascer à segunda república francesa e determinar, de fato, o sistema que vigoraria

até hoje na França.

É também aqui que nasce o lema francês “Liberté, Égalité, Fraternité”.

Nos EUA, desde a guerra pela independência vigora uma república de caráter

presidencialista. Muitos costumam dizer que este sistema norte-americano foi baseado

na própria monarquia. Como os Estados Unidos não tinham uma família real, eles

adotaram um sistema republicano onde o presidente, com apoio do congresso, teria

poderes de comandante em chefe e líder do país, sendo chefe de Estado e Governo.

Sendo assim, tendo como parâmetros a França e os EUA, o sistema republicano nasce

como sistema válido e possível de governo estável. Durante todo o século XIX as

monarquias ainda prevaleceriam em toda a Europa e também na América (Brasil,

México e Haiti). As repúblicas tornar-se-iam populares a partir do século XX,

especialmente em Portugal (1910), Alemanha e a República de Weimar (1919),

Finlândia (1918), Irlanda (oficialmente em 1937), Itália (1946) e assim por diante. No

Brasil, seria adotada em 1889, através de um golpe de Estado liderado por Deodoro da

Fonseca.

Por isso, pode-se afirmar que o modelo republicano nasceu primeiro nos EUA, por lá

com notório sucesso e posteriormente na França, em 1848, quando os últimos monarcas

foram depostos e uma República assumiu o governo oficialmente.

Influenciados por estas duas nações, as demais foram assumindo modelos de repúblicas

baseados nas primeiras. Nas Américas, praticamente todas as repúblicas tem como

modelo a república norte-americana, enquanto que na Europa o modelo é o francês,

fundamentado num parlamentarismo e apresentando-se em suas variantes, como o

semipresidencialismo.

O liberalismo visa a um governo democrático (participação popular), onde o poder é

limitado ao máximo possível, diminuindo assim o tamanho do Estado e, igualmente,

onde o indivíduo tenha suas liberdades individuais maximizadas. Neste sentido, as

repúblicas podem funcionar bem se o país tiver maturidade política. Quando um povo

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não tem maturidade histórica suficiente para manter qualquer estabilidade política, é

comum que os governos mudem e os Estados alterem seus sistemas. Para o liberal, isso

é negativo, pois toda “revolução” é uma nova possibilidade de o Estado agigantar-se, de

modo a diminuir as liberdades individuais e aumentar a presença do Estado na vida

social. Em alguns casos isso é evitável, como nos Estados Unidos. A constituição

americana é um dos principais documentos liberais e toda a nação norte-americana é

fundada nos princípios liberais. Por isso, dependendo da maturidade política de cada

sociedade, uma República pode muito bem atender aos interesses do liberalismo.

Contudo, é importante frisar que os riscos são sempre maiores devido à natureza do

sistema, aberto ao público e dependente apenas das vontades populares (e não só da

tradição e da história).

Liberalismo e Democracia (direta e indireta);

Democracia significa governo do povo. Surgida na Grécia antiga, a democracia

primeiro foi direta, especialmente na cidade-estado Atenas, onde os cidadãos, nas

praças, decidiam os rumos da sociedade em conjunto, no mais amplo debate possível e

aberto. Com base neste modelo, onde não há intermediários entre o povo e a decisão da

coisa pública (res pública), filósofos iluministas e liberais fundamentaram aquilo que

viria a ser conhecido como a democracia moderna.

Vendo a necessidade de o povo ter mais liberdades individuais e, portanto, maior

presença nas decisões do Estado, pensadores como Montesquieu, Voltaire, o próprio

John Locke e Thomas Hobbes pensaram em formas de dar ao indivíduo, entendido

como cidadão, a prerrogativa de decidir as coisas do Estado direta e indiretamente. A

democracia direta funciona efetivamente em pequenas comunidades, onde não há

necessidade de eleger um representante da vontade popular. No caso de comunidades

maiores, a escolha de representantes tornou-se uma prerrogativa sine qua non. A fim de

garantir que a vontade pública será respeitada, Montesquieu criou um sistema de pesos e

contrapesos onde um poder vigiava o outro, de modo a garantir que nenhuma força iria

sobrepujar à outra e que a democracia seria, assim, respeitada.

Na democracia, rege o princípio de que cada cidadão tem o direito de participar dos

assuntos do Estado, direta ou indiretamente. Para isso, há dois poderes onde ele pode

atuar e um que regula a relação entre todos eles. Os poderes elegíveis são o executivo e

o legislativo. O judiciário tem a função de garantir a institucionalidade do país e o

respeito às leis.

Como demonstrado, a democracia moderna nasceu junto com o liberalismo clássico,

visto que seus fundadores principiológicos eram, igualmente, os fundadores do

liberalismo.

Se o projeto liberal é maximizar as liberdades individuais, limitar o poder, promover o

livre mercado gerando assim paz social, nenhum outro sistema é melhor do que a

democracia. Em primeiro lugar, cada cidadão será respeitado como indivíduo, pois cada

homem conta. Assim como, a vontade da maioria destes indivíduos será igualmente

respeitada, ao passo que a minoria continuará tendo voz ativa. Ninguém perde a voz na

democracia. Isso contribui para a limitação do Estado, pois expande e dispersa o poder

para todos os indivíduos, ao invés de concentrar o poder nas mãos de poucos.

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Os “erros” da democracia são, na verdade, erros da mentalidade dos povos. Em Human

Action, Ludwig Von Mises diz: “Por causa da paz doméstica o liberalismo visa a um

governo democrático. Democracia não é, portanto, uma instituição revolucionária. Pelo

contrário, ela é o próprio meio para evitar revoluções e guerras civis. Ela fornece um

método para o ajuste pacífico do governo à vontade da maioria. [...] Se a maioria da

nação está comprometida com princípios frágeis e prefere candidatos sem valor, não há

outro remédio além de tentar mudar sua mente, expondo princípios mais razoáveis e

recomendando homens melhores. Uma minoria nunca vai ganhar um sucesso duradouro

por outros meios”.

Por fim, em Socialism, Mises escreve: “A democracia não só não é revolucionária, mas

ela pretende extirpar a revolução. O culto da revolução, da derrubada violenta a

qualquer preço, que é peculiar ao marxismo, não tem nada a ver com democracia. O

Liberalismo, reconhecendo que a realização dos direitos econômicos objetivos do

homem pressupõe a paz, e procurando, portanto, eliminar todas as causas de conflitos

em casa ou na política externa, deseja a democracia”. Ele acrescenta ainda: “O

Liberalismo entende que não pode manter-se contra a vontade da maioria”.

Liberalismo e confederacionismo;

Uma confederação é um conjunto de Estados soberanos que, através de tratados,

constituem um bloco. Por vezes, podem adotar uma constituição em comum, uma

moeda em comum e até um Parlamento em comum. O melhor exemplo moderno de

uma confederação é a União Europeia.

O liberalismo não incentiva e nem desmerece as confederações. A rigor, se forem

constituídas através de processos políticos legítimos e democráticos, toda nação

independente tem o direito de se unir a quem quiser. Isso é autodeterminação dos povos.

Contudo, o liberalismo clássico como pensamento tende a preferir maior autonomia aos

povos a uniões de larga escala.

Se faz parte do projeto do liberalismo a maximização das liberdades individuais, a

promoção do livre mercado e a diminuição do Estado, de que modo uma confederação

pode ser boa ou má?

(A). Do ponto de vista positivo, uma confederação pode ajudar na derrubada de

barreiras alfandegárias e na geração de uma zona de livre mercado, o que ajuda na

circulação livre de mercadorias, investimentos e riqueza.

(B). Do ponto de vista negativo, uma confederação pode diminuir as liberdades políticas

de um povo, ao deixar a cargo de Parlamentos internacionais decisões de cunho

nacional. Ao mesmo tempo, isso pode aumentar o poder do Estado, que ganharia

proporções além das almejadas pelo liberal, que é segurança e justiça a priori.

Posto isso, depende de cada caso. Se o povo tiver garantias de sua liberdade e controle

perante o Estado, a confederação pode ser muito positiva para todos, principalmente

pela promoção do livre mercado. Mas se as liberdades políticas forem diminuídas de

algum modo, os cidadãos precisarão colocar na balança e ver o que vale mais a pena: se

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uma zona de livre comércio com a possível perda de algumas liberdades ou uma política

isolacionista, porém com a plena liberdade do país.

Liberalismo e Parlamentarismo;

O parlamentarismo é um sistema onde o poder executivo está inteiramente subordinado

ao poder legislativo. Pelo menos, formalmente. Exemplos modernos são a Alemanha

(República) e a Grã-Bretanha (Monarquia). No parlamentarismo, as chefias de Estado e

Governo são divididas. A chefia do governo fica com o Primeiro-Ministro (ou

Chanceler, Premier) e a chefia do Estado com o Presidente (em caso de República) ou

Monarca (em caso de monarquias).

Como explicado nas respostas sobre Monarquia e República, cada povo e país tem

vocação para determinado tipo de sistema. Por isso, aqui trataremos do parlamentarismo

como forma de governo propriamente dito.

Uma das consequências naturais do parlamentarismo é que o poder fica bastante

disperso e controlado. Todos os congressistas são vigilantes do Estado em cada mínimo

detalhe, o que permite a promoção contundente do Estado mínimo (limitado) do liberal

clássico. Ao mesmo tempo, garante maior liberdade individual, pois os cidadãos elegem

seus parlamentares e tornam-se responsáveis por eles especificamente. Isso, porém,

pode ser visto também como um revés. O parlamentarismo elege o Presidente (em caso

de República) de forma indireta (os parlamentares elegem o chefe de Estado, na maior

parte das vezes), o que pode gerar certos conflitos de interesse político se o Primeiro-

Ministro (chefe de Governo) for de outro partido, por exemplo. Quanto a isso, o povo

não tem muito controle. Mas, é sempre bom lembrar, nações parlamentaristas tendem a

ter instituições capazes de garantir ao povo a livre manifestação de suas vontades e o

controle direto da política, seja por plebiscitos, referendos ou projetos populares.

Em casos de monarquias, quando o Chefe de Estado não é eleito, mas é o monarca

hereditário, há maior propensão à estabilidade política. Isso também contribui para o

liberalismo clássico, de modo a garantir a funcionalidade das instituições e da própria

democracia.

Em resumo, o parlamentarismo e sua aplicação dependerão da cultura de cada país. Mas

do ponto de vista liberal clássico, é uma boa forma de limitar o Estado e diminuí-lo.

Funcionaria bem tanto na República como na Monarquia, sendo que neste caso, o

sistema funcionaria melhor numa monarquia do que numa república.

Liberalismo e Presidencialismo;

Como dito na resposta a pergunta sobre Parlamentarismo, o presidencialismo é o

oposto. Ao invés da chefia de Estado e Governo ser dividido entre um presidente ou

monarca (Estado) e um primeiro-ministro ou chanceler (governo), ambos os poderes

ficam subordinados a uma só figura: o (a) Presidente da República.

Em algumas variações, há o semipresidencialismo, como na França, onde a chefia de

Estado é compartilhada entre o Presidente e o Primeiro-Ministro. Há diferenças neste

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compartilhamento, variando de país para país. Exemplos além da França são Portugal,

Romênia e Rússia.

Do ponto de vista liberal clássico, o presidencialismo pode ser um bom sistema a

depender da cultura de cada país. Nos EUA, uma república presidencialista com um

Parlamento bem ativo, funciona bem. Se há pesos e contrapesos entre o poder Executivo

(presidência) e o poder legislativo (Congresso), há, portanto formas de coibir qualquer

agigantamento do Estado. Mas há também alguns percalços que podem levar o Estado a

crescer. Com o poder muito centrado em uma só figura (o Presidente), as chances de um

político utilizar-se de políticas populistas e, através disso, criar desculpas para aumentar

o Estado, aumentar impostos e assim por diante são sempre muito maiores.

Como o liberalismo clássico visa um Estado Mínimo (limitado), onde as liberdades

individuais são maximizadas, o livre mercado é incentivado e a paz social é gerada, o

presidencialismo é visto com ceticismo pelo liberal, podendo ser reconhecido como um

bom sistema se a cultura do país onde o mesmo se aplica necessitar de uma figura

central como um Presidente para garantir a estabilidade do governo instituído.

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LITERADURA RECOMENDADA

Os quinze (15) primeiros títulos são os indicados como introdução ao liberalismo

clássico. Os demais, sem qualquer hierarquia, são indicações complementares para o

estudo a cerca do assunto deste FAQ.

1. O liberalismo, antigo e moderno - José Guilherme Merquior.

2. Liberalismo segundo a tradição clássica - Ludwig Von Mises.

3. Dois Tratados sobre o Governo Civil - John Locke.

4. Teoria dos Sentimentos Morais - Adam Smith.

5. A Riqueza das Nações - Adam Smith.

6. O Espírito das Leis, Barão de Montesquieu.

7. Tratado da Natureza Humana - David Hume.

8. Considerações sobre o Governo Representativo - John Stuart Mill.

9. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo - Max Weber.

10. Capitalismo e Liberdade - Milton Friedman.

11. A Lei - Fréderic Bastiat.

12. Princípios de Economia Política e Tributação - David Ricardo.

13. Carta a cerca da tolerância, John Locke.

14. Tratado de Economia Política - Jean-Baptiste Say.

15. As recompensas em matéria penal - Jeremy Bentham.

16. Leviatã - Thomas Hobbes.

17. Do Contrato Social - Jean Jacques Rousseau.

18. Utilitarismo - John Stuart Mill.

19. Cândito, ou o Otimismo – Voltaire.

20. A Liberdade – John Stuart Mill.

21. Liberdade de Escolher – Milton Friedman.

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FAQ - GRUPO LIBERALISMO CLÁSSICO

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22. Liberalismo Político – John Rawls.

23. An Essay on the Principle of Population – Thomas Malthus.

24. O Antigo Regime e a Revolução – Alexis de Tocqueville.

25. Teoria do Dever – Jeremy Bentham.

26. Ação Humana – Ludwig Von Mises.

27. Caminho da Servidão – Friedrich Hayek.

28. A Lógica da Pesquisa Científica – Karl Popper.

29. Crítica da Razão Pura – Immanuel Kant.

30. Crítica da Razão Prática – Immanuel Kant.

31. Crítica do Julgamento – Immanuel Kant.

32. O Mundo como Vontade e Representação – Arthur Schopenhauer.

33. Economia numa única lição – Henry Hazlitt.

34. As Seis Lições – Ludwig Von Mises.

35. Princípios de Economia Política – Carl Menger.

36. O Federalista – Thomas Paine.

37. Uma Crítica ao Intervencionismo – Ludwig Von Mises.

38. Sobre a Organização Interna e Externa das Instituições Científicas Superiores

em Berlin – Wilhelm Von Humboldt.

39. Fenomenologia do Espírito – Georg Wilhelm Friedrich Hegel.

40. Princípios da Filosofia do Direito – Georg Wilhelm Friedrich Hegel.

41. Enciclopédia das Ciências Filosóficas - Georg Wilhelm Friedrich Hegel.

42. Igualdade e Liberdade – Norberto Bobbio.