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! Fármacos no meio ambiente: uma preocupação crescente Moção apresentada no Conselho Regional da JSD Lisboa de 20 de janeiro de 2014 Os compostos farmacêuticos constituem um vasto grupo de compostos com objectivos médicos e medicinais potencialmente representativos de uma classe de contaminantes ambientais de proporção e toxicidade preocupante. Podem ser de origem natural ou sintética e ter os mais variados objectivos terapêuticos como analgésicos, antibióticos ou anticonvulsivos (Morley, 2008). Embora não estejam reduzidos a fármacos prescritos em farmácias hospitalares e comunitárias, estes compostos incluem fármacos animais e compostos utilizados em suplementos alimentares para o benefício da saúde humana Os fármacos não sendo completamente degradados pelo metabolismo humano ou animal, serão parcialmente excretados, podendo ter sido ou não modificados, pelo que poderão entrar para o meio ambiente, nomeadamente o aquático, de diversas formas, designadamente associados a efluentes agrícolas ou a águas residuais urbanas. Devido à insuficiente remoção nas estações de tratamento de águas residuais urbanas ou industriais, foram já encontrados diferentes tipos de fármacos em águas superficiais e até mesmo em águas subterrâneas. Hoje em dia, o impacto da presença de fármacos nos meios hídricos assumiu uma nova dimensão, tendo-se inclusive constituído como uma preocupação prioritária. No Reino Unido, estudos realizados em massas de água receptoras de águas residuais demonstraram alterações nas comunidades de peixes com especial relevo no aumento de incidência de hermafroditismo. Estas mesmas evidências foram corroboradas, no Canadá, por Kidd et al. (2007) que mostraram que a exposição a longo prazo a concentrações baixas de fármacos (neste caso o 17α-etinilestradiol) num lago, afectava os animais, em termos individual e a nível hormonal, mas também o comportamento das populações em termos globais. Seguiram-se diversos estudos, onde se relacionaram a presença destes fármacos no ambiente com Fármacos Consumo Humano, Indústria farmacêu6ca Efluentes urbanos, industriais e hospitalares ETAR Cursos de água ETA

Fármacos no meio ambiente - uma preocupação crescente

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Moção de David Silva, Vice Presidente da JSD Oeiras, no Conselho Regional da JSD Lisboa de dia 20 de Janeiro de 2014.

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Fármacos no meio ambiente: uma preocupação crescente

Moção apresentada no Conselho Regional da JSD Lisboa de 20 de janeiro de 2014

Os compostos farmacêuticos constituem um vasto grupo de compostos com objectivos

médicos e medicinais potencialmente representativos de uma classe de contaminantes

ambientais de proporção e toxicidade preocupante. Podem ser de origem natural ou sintética e

ter os mais variados objectivos terapêuticos como analgésicos, antibióticos ou anticonvulsivos

(Morley, 2008). Embora não estejam reduzidos a fármacos prescritos em farmácias

hospitalares e comunitárias, estes compostos incluem fármacos animais e compostos utilizados

em suplementos alimentares para o benefício da saúde humana

Os fármacos não sendo completamente degradados pelo metabolismo humano ou animal,

serão parcialmente excretados, podendo ter sido ou não modificados, pelo que poderão entrar

para o meio ambiente, nomeadamente o aquático, de diversas formas, designadamente

associados a efluentes agrícolas ou a águas residuais urbanas. Devido à insuficiente remoção

nas estações de tratamento de águas residuais urbanas ou industriais, foram já encontrados

diferentes tipos de fármacos em águas superficiais e até mesmo em águas subterrâneas.

Hoje em dia, o impacto da presença de fármacos nos meios hídricos assumiu uma nova

dimensão, tendo-se inclusive constituído como uma preocupação prioritária. No Reino Unido,

estudos realizados em massas de água receptoras de águas residuais demonstraram

alterações nas comunidades de peixes com especial relevo no aumento de incidência de

hermafroditismo. Estas mesmas evidências foram corroboradas, no Canadá, por Kidd et al.

(2007) que mostraram que a exposição a longo prazo a concentrações baixas de fármacos

(neste caso o 17α-etinilestradiol) num lago, afectava os animais, em termos individual e a nível

hormonal, mas também o comportamento das populações em termos globais. Seguiram-se

diversos estudos, onde se relacionaram a presença destes fármacos no ambiente com

Fármacos  

Consumo  Humano,  Indústria  

farmacêu6ca  

Efluentes  urbanos,  industriais  e  hospitalares  

ETAR  

Cursos  de  água  

ETA  

 

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bactérias ultra-resistentes, populações aquáticas de um só sexo e impedidas de se

reproduzirem bem como alterações de foro neurológico em diversas espécies. Foram ainda

detectados fármacos em águas para consumo humano, nomeadamente na EPAL.

Os mecanismos e modo de acção destes compostos quando presentes no meio aquático não

são totalmente conhecidos. Sem este conhecimento é difícil determinar quais os testes de

toxicologia adequados para a avaliação do risco representado por cada fármaco. Existe

igualmente um desconhecimento relativamente à própria interacção dos fármacos entre si

quando presentes no meio hídrico.

A Directiva Quadro Água (Directiva 2000/60/EC) da União Europeia teve como principal

objectivo o enquadramento da qualidade das massas de água europeias, em particular as

superficiais, e de prevenir a sua degradação e promover a sua protecção ou mesmo

melhoramento. Nesse sentido, numa primeira tentativa de categorizar substâncias de alto risco

para o ambiente, a directiva inclui o anexo X, o chamado anexo das substâncias prioritárias, no

qual identifica um conjunto de substâncias com especial ênfase para os pesticidas. Nenhuma

dessas substâncias é um fármaco. A Directiva 2013/39/EU de 12 de agosto de 2013 veio

alterar a anterior, apontando para a contaminação das águas e dos solos por resíduos

farmacêuticos como uma preocupação ambiental nova, sendo que a sua avaliação e controlo

de risco deverão ser incluídos em medidas de gestão ambiental e objectivos de qualidade. É

estabelecida uma lista de vigilância para as quais devem ser recolhidos dados de

monitorização, dentro da qual se integram três fármacos: o diclofenac, o 17-α-etinilestradiol e o

17 – β – estradiol.

Em Portugal, a Lei da Água (Decreto-lei nº 58/2005) transpôs para a ordem jurídica interna a

Directiva Quadro Água, estabelecendo as bases e o Quadro institucional para a gestão

sustentável das águas, a protecção dos ecossistemas aquáticos e zonas húmidas e

salvaguardando as futuras utilizações de água. Nenhuma meta é estipulada para

contaminantes emergentes como, por exemplo, os fármacos. Especificamente para as águas

residuais, os valores limite de descarga nas águas e nos solos são regulados pelo Decreto-Lei

nº236/98 e pelo 152/97 não existindo nenhum referente a fármacos ou a microcontaminantes.

Esta moção não se baseia nem se revê em radicalismos ou fundamentalismos

ecológicos, mas sim numa perspectiva de conservação dos recursos naturais e da

aplicação do princípio de prevenção, com base em factos cientificamente comprovados.

Pretende ser uma primeira iniciativa política de sensibilização para a problemática.

 

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Tendo em conta as preocupações crescentes em relação a este problema ambiental, e á sua

relevância para a qualidade de vida a nível nacional e internacional, a JSD Oeiras propõe:

1. Uma listagem dos fármacos prioritários relativamente à contaminação do ambiente em

Portugal;

2. Uma avaliação do estado da arte da contaminação destes nas massas de água

portuguesas;

3. O estabelecimento de metas de gestão desses fármacos em ETAR e ETA;

4. Um observatório dos efeitos dos principais fármacos no ambiente em Portugal;

5. Uma estratégia de sensibilização de modo a alertar as pessoas do uso e disposição

dos fármacos;

Autor

David Alexandre da Silva

Vice-Presidente da Concelhia da JSD Oeiras

20 de Janeiro de 2014

Alexandre Poço

Presidente da Concelhia da JSD Oeiras