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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Curso de Direito FATORES DO CRIME BRAGANÇA PAULISTA 2011

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

Curso de Direito

FATORES DO CRIME

BRAGANÇA PAULISTA

2011

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Michele Martins da Veiga

FATORES DO CRIME

Monografia apresentada ao Curso de

Direito da Universidade São

Francisco, Campus de Bragança

Paulista, como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em

Direito, sob orientação da Professora

Ms. Márcia Cáceres.

BRAGANÇA PAULISTA

2011

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_____________________________

Prof. Orientador

Prof. Examinador

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Dedico o presente trabalho ao meu pai Lineu

Veiga, por ser aquele que sempre acreditou em

mim e ao meu noivo Adalberto Arrebola que é

meu porto seguro, amigo e confidente, pelo

apoio incondicional em todos os momentos da

vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu Deus que em todos os momentos de fraqueza me

aperfeiçoou tornando-me forte.

Ao meu pai, que és ídolo e herói, sempre disposto a me ajudar e me entender.

Ao meu noivo que sempre me ajudou, me aconselhou me acalmando nos momentos difíceis

e por estar ao meu lado nesta caminhada da vida.

A minha família pela paciência e apoio que a mim conferiram.

Ao meu superior Roberto Lenzini pela compreensão que teve comigo durante esta reta final

do curso.

Aos colegas de classe pelas discussões incessantes, principalmente após o período de

provas, bem como compartilharem o saber jurídico.

Agradeço a Educafro, por intermédio da bolsa de estudos, tornar este sonho possível.

Agradeço a ilustre orientadora Márcia Cáceres, que acompanhou e se preocupou com este

trabalho se mostrando sempre disposta a sanar dúvidas e compartilhar conhecimento.

A vocês todos, muito obrigada!

.

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“Postergar a justiça é negar a democracia”.

(Robert Fitzgerald Kennedy)

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RESUMO

A presente monografia tem por escopo demonstrar os fatores do crime, fatores estes que levam o indivíduo a criminalidade, fatores que são determinantes para a prática do ato ilícito. O trabalho se divide em três capítulos, apresenta breve histórico da origem do crime, as escolas clássicas e positivistas e suas principais características, bem como tratando sobre a vítima, o delinquente, o delito e controle social. Aborda os três fatores determinantes que levam o indivíduo ao crime que são: Fatores Biológicos, Fatores Psicológicos e Fatores Sociológicos, conceituando – os respectivamente. Finalmente, aborda-se a questão referente à prevenção do delito, onde são demonstradas estruturas para se prevenir o crime, onde estas estruturas não são adequadas somente ao poder público como também a comunidade, uma vez que a criminalidade é um problema de toda sociedade.

Palavras chave: Criminologia, Fatores do Crime, Fatores Sociais, Prevenção ao Crime, Controle Social.

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ABSTRACT

The present monograph has a target to demonstrate the factors of the crime, factors that take the individual to commit a crime, factors that are determined by the practiced illegal act. The work is divided in three chapters, where the first chapter presents a brief history of the origin of the crime, the classic and positivists schools and its main characteristics, as well as treating on the victim, the delinquent, the criminal act and social control. Already as the second chapter approaches the three factors that take the individual to the crime are: Biological Factors, Psychological Factors and Sociological Factors, appraising-respectively. Finally in the third chapter, it is an approached referring question to the prevention of the crime, where structures are demonstrated to prevent the crime, where these structures are not only adjusted to the public power as well as the community, a time that crime is a problem in all societies. Words key: Criminology, Social Factors of the Crime, Prevention to the Crime, Social Control.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................

CAPÍTULO I -.HISTÓRIA DO CRIME .................................................................................

10

12

1.1 HISTÓRIA BÍBLICA..................................................................................................... 12

1.2..HISTÓRIA MITOLÓGICA .......................................................................................... 13

1.3 VIOLÊNCIA FUNDAMENTAL....................................................................................... 13

1.4 TEORIA DO DELITO..................................................................................................... 13

1.4.1 Conceito Clássico do Delito .................................................................................. 14

1.4.2 O Conceito Neocláss ico de Delito ...........................................................................

1.4.3 O Conceito de Delito no Finalismo .........................................................................

15

15

1.5 ESCOLAS .................................................................................................................... 16

1.5.1 Iluminismo. A Escola Clássica ................................................................................

1.5.2 Escola Positiva ..........................................................................................................

1.5.3 A Escola Moderna Alemã .........................................................................................

16

17

19

1.6 O MÉTODO DA CRIMINOLOGIA..................................................................................

1.6.1 Do Delito ....................................................................................................................

1.6.2 Do Delinquente .........................................................................................................

1.6.3 A Vítima .....................................................................................................................

1.6.4 O Controle Social ......................................................................................................

19

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21

22

23

CAPÍTULO II – A MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA E OS MODELOS

TEÓRICOS..........................................................................................................................

24

2.1 A CRIMINOLOGIA MODERNA E CIENTÍFICA ............................................................ 24

2.2 MODELO DE CUNHO BIOLÓGICO.............................................................................. 25

2.3 MODELO DE CUNHO PSICOLÓGICO......................................................................... 35

2.4 MODELO SOCIOLÓGICO............................................................................................. 38

CAPÍTULO Ill - PREVENÇÃO DO DELITO........................................................................ 51

3.1 PREVENÇÃO DO CRIME NO ESTADO SOCIAL E DEMOCRÁTICO DE DIREITO... 51

3.1.1 Conceito de Prevenção e Seus Conteú dos ........................................................... 52

3.3 REFERÊNCIA AOS PRINCIPAIS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DO CRIME.........

3.3.1 Programas de Prevenção sobre determinadas áre as geográficas .....................

3.3.2 Programas de Prevenção do Delito por meio do desenho Arquitetônico e

Urbanístico .........................................................................................................................

3.3.3 Programas de Prevenção Vitimária. ........................................................................

3.3.4 Programas de Prevenção do Delito de inspiraçã o Político –Social .....................

3.3.5 Programas de Prevenção da Criminalidade dirig idos a reflexão axiológica ......

55

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3.3.6 Programas de Prevenção da Criminalidade de or ientação Cognitiva ................. 60

3.3.7 Programas de Prevenção da Reincidência ........................................................... 60

3.4 BASES DE UMA MODERNA POLITICA CRIMINAL DE PREVENÇÃO AO CRIME..... 61

CONCLUSÃO...................................................................................................................... 63

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 65

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INTRODUÇÃO

A criação de um mundo de justiça, progresso e paz é o sonho da maioria das

pessoas, principalmente para as que amam a área de Direito. Seria fácil se o homem, essa

máquina física perfeita, não fosse tão complexo emocionalmente e psicologicamente.

Mesmo com todo o progresso científico, jamais conheceremos completamente a mente

humana. Então, se por um lado temos o círculo trágico do analfabetismo, do desemprego,

da fome, da exploração, da doença, da discriminação, do abandono de menores, da

dependência química, do aperfeiçoamento dos meios de destruição em massa, de outro

lado temos os distúrbios patológicos de personalidade que podem igualmente levar ao

crime. Portanto, para se ter esse mundo perfeito, seria fascinante se pudéssemos dissecar a

mente do ser humano e prever seu comportamento, tanto nas comunidades do lar, da

escola, do trabalho, na sociedade e, principalmente, quando empossados em cargos de

responsabilidade sobre a vida das pessoas.

Como isso não é possível devemos entender o que leva o homem ao crime e, se

possível, prevení-lo

A presente monografia tem por objetivo descobrir quais são os fatores que levam o

indivíduo ao crime. Descoberto esses fatores, como eles atuam e atingem o indivíduo.

Sendo assim o objetivo principal desta monografia é descobrir os fatores do crime,

tendo por meta defini-los e encontrar a melhor forma de prevenção em relação a cada fator

apontado pela pesquisa.

O Capitulo I concentra se na origem do crime e sua evolução, de modo a demonstrar

o surgimento do crime na história e de que forma houve seu crescimento. Em segundo

momento se aduz aos conceitos das Escolas Clássicas e Positivistas, constando seus

princípios e as demais categorias que lhe são inerentes.

O Capitulo II integra os fatores potenciais da criminalidade, onde em primeiro

momento conceitua a Criminologia Moderna e o seu objeto. Logo após passa a tratar de

fatores ligados a ciência da Criminologia, que são os aspectos biológicos, psicológicos e

sociológicos, conceituando-os e realizando conexão com a criminalidade.

O Capitulo III revela a prevenção do delito, apresentando programas e estruturas de

modo a prevenir, de forma eficaz, a criminalidade ora vivenciada pela sociedade,

demonstrando formas primárias, secundárias e terciárias de prevenção, seus conceitos

práticos e também o custo benefício proporcionado por cada um deles.

Por fim, o crime se apresenta por fatores intrínsecos e extrínsecos a pessoa,

cabendo a pesquisa demonstrar estas formas. A decisão de escolher esse tema como

pesquisa partiu da curiosidade acadêmica que foi despertada nas aulas de Direito Penal,

Filosofia e Sociologia, por envolver questões jurídicas, políticas e sociológicas.

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Justifica-se a razão da importância deste trabalho por tratar de tema que aflige

diretamente a sociedade, possuindo em sua estrutura questões políticas, culturais,

patológicas e sociais, adquirindo posteriormente cunho jurídico.

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CAPÍTULO I

HISTÓRIA DO CRIME

1.1 HISTÓRIA BÍBLICA

O crime está presente na sociedade desde seus primórdios. Encontramo-lo presente

no propriamente dito livro sagrado “Bíblia” que tem mais de dois mil anos de escritura e na

mitologia grega.

Observamos nas duas ocasiões, que a violência foi decorrente de uma tirania

existente por aqueles que dominavam, denotando impossibilidade de igualação entre os

dominados e seu dominador, gerando assim profunda rivalidade entre o homem e o poder

que o domina; rivalidade entre o homem e uma divindade e entre os próprios homens.

A primeira violência sofrida pelo homem aparece nos textos bíblicos onde o trecho de

Genesis diz: “não comerás desta fruta”, o que serviu de razão pra seu primeiro crime, que

levou o homem a sua grande punição, que lemos ser a expulsão do paraíso. O fato é que o

homem não chegou a praticar violência, mas a razão sim foi um ato de violência.

A partir disso segue-se uma infindável seqüência de crimes na história bíblica, todos

decorrentes de reações às violências (razões) que os precederam, também seguidos de

severas punições, o que no decorrer do tempo levou a sociedade ao extremo do crime e da

violência tendo como expressão máxima a morte do próprio filho de Deus, Jesus Cristo.

Este diante da cruz pede perdão de seus algozes alegando que os mesmos não

sabiam o que faziam; é o mesmo que alegar inimputabilidade do criminoso. Isso se deu por

conhecer a cultura, a história e a condição pessoal deste povo que apesar dos mesmos não

apresentarem problemas psíquicos, viviam em uma sociedade onde o poder dominante os

oprimia com violência gerando, desta forma, violência.

Acontece que as violências foram aumentando e aguçando-se pelo passar dos

séculos, trazendo as mesmas condições de aflições e violências sempre vividas deste os

tempos mais remotos.

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1.2 HISTÓRIA MITOLÓGICA

A história bíblica não se apresenta isoladamente, encontramos também a história na

versão da mitologia grega.

A mitologia grega se apresenta rica em guerras de divindades contra divindades,

divindade contra o homem e pais contra filhos.

Para o autor Bergeret (1990) as violências sexuais seriam uma forma de tornar mais

compreensíveis e aceitáveis outros crimes. Para o referido autor as razões de criminalidade

estão fomentadas no desejo de poder, rivalidade de pais e filhos, o medo de ser subjugado

e destruído e tudo isso pautado juntamente no instinto de sobrevivência.

Na tragédia grega tudo acontece pelo desejo do homem se livrar dos limites lhes

impostos pelos deuses e transcender pelo êxtase, comungando com a imortalidade.

Esta conduta gera o ciúme nos deuses e leva o homem a uma punição imediata.

Encontramos desta forma a punição do Deus, (pais) onde não se deve comer do

fruto, onde não se devem transcender os próprios limites, tudo isso calcado no próprio

desejo de poder e soberania, tendo o homem uma reação contra essas regras arbitrárias,

onde há somente um privilegiado, que é aquele que detém o poder e domínio.

1.3 VIOLÊNCIA FUNDAMENTAL

A palavra violência vem do grego bi que mais tarde se tornou bias (violência) da

mesma palavra oriunda palavra bios que significa vida, (BERGERET, 2000). A palavra

violência e vida têm a mesma raiz etimológica.

Bergeret, (2000) apresenta uma teoria que ele denomina de Violência Fundamental,

em que no homem existe em seu instinto. Não é um instinto de atacar e sim de garantir e

preservar a própria vida.

Ocorre que muitas vezes (para algumas pessoas), outras pessoas são o obstáculo a

ser transpassado. Daí estamos diante de mera rivalidade.

1.4 TEORIA DO DELITO

Há a evolução do crime pelo decorrer do tempo. Neste decorrer o crime passou por

três fases que serão explicadas a seguir. Mesmo assim as três fases apresentam entre si

uma integração tendo em vista que elas não tiveram em si um marco de interrupção por

completo. Desta forma se faz necessário um estudo histórico dogmático para melhor

compreender essas fases. As fases do delito são : o conceito clássico, o neoclássico e o

finalista , que estudaremos a seguir.

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A atual concepção do delito a elenca como ação típica, antijurídica e culpável, esta

definição é a mais recente vinda do final do século XVIII.

Anteriormente se compreendia o conceito de injusto partindo da distinção de

objetivo-subjetivo, devendo pertencer ao injusto os elementos objetivos da ação e os

elementos subjetivos deviam compor a culpabilidade.

A partir da segunda metade do século XIX seguindo a classificação tripartida que

significa ação, antijuricidade e culpabilidade; realizada por Luden, que mais tarde foi

sistematizado por Von Liszt e Beling , este incluindo a tipicidade do fato.

O último elemento a fazer parte da construção foi à tipicidade, formado a forma

quadripartida do conceito do delito.

Desta forma Beling (apud BITENCOURT, 1997) conceituou: “delito é a ação típica,

antijurídica, culpável, submetida a uma cominação penal adequada e ajustada às condições

de dita penalidade”.

A definição que temos atualmente de crime é produto da elaboração inicial da

doutrina alemã , que através do estudo analítico e do apoio de outros países como Itália,

Espanha e Portugal, foram trabalhando e aperfeiçoando os elementos que compõem o

delito.

1.4.1 Conceito Clássico de delito

O conceito clássico de delito foi elaborado por Von Liszt e Beling onde há um

movimento corporal denominada ação que no mundo exterior produz uma modificação

denominado resultado.

Essa estrutura simples e direta funda se no conceito de ação naturalístico vinculando

a conduta ao resultado através do nexo causal

A estrutura clássica se divide de forma objetiva; representado pela tipicidade e

antijuricidade e a forma subjetiva; representada pela culpabilidade.

O conceito Clássico baseou-se no pensamento positivista científico, desta forma sua

interpretação de um tratamento exageradamente formal ao comportamento humano.

São quatro os elementos estruturais no conceito clássico que se seguem:

a) Ação: conceito absolutamente objetivo. Preocupava-se somente com o aspecto

objetivo causado pelo resultado exterior.

b) Tipicidade: compreende somente ao fato objetivo descrito na lei.

c) Antijuricidade: Se define como um valor negativo dado a ação, juízo valorativo

formal.

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d) Culpabilidade: aspecto subjetivo do crime. As diversas formas de intensidade

entre o fato e o autor do fato , faz surgir às formas de culpabilidade dolosa e

culposa.

1.4.2 O Conceito Neoclássico de Delito

A estrutura clássica sofreu grandes modificações em sua estrutura, mesmo não

abandonando seus princípios fundamentais. Desta forma estudaremos o conceito

neoclássico.

O neoclassicismo substituiu a coerência formal de um pensamento jurídico

circunscrito em si mesmo, para um conceito em que o delito esta voltado para os fins que

são pretendidos pelo Direito Penal e pelas perspectivas valorativas que o embasam.

Desta forma todos os elementos do crime passaram por transformação começando

pelo elemento ação, onde por se constituir em concepção naturalística , era o ponto mais

fraco do conceito de crime, isso se dera nos crimes omissivos, culposos e na tentativa.

A antijuricidade apresentava contradição formal à norma, na nova teoria ela se

apresenta necessitando um dano social. Desta forma onde não houver dano ou lesão de

interesse de qualquer que seja, o fato não pode ser tido como antijurídico.

O conceito neoclássico do delito reformulou o conceito clássico no conceito de ação ,

dando novas redefinições aos elementos isso sem alterar o conceito de crime como a ação

típica, antijurídica e culpável.

1.4.3 Conceito de delito no Finalismo

A partir dos anos trinta, Wenzel (apud BITENCOURT, 1997), abandonando o

pensamento logicista e abstrato das concepções anteriores e corrigindo falhas e

contradições então existentes, foi preenchendo algumas lacunas, desta forma foi

conduzindo a ação do homem ao conceito central da teoria do delito, considerando sob um

ponto de vista ontológico.

Conforme Bitencourt (1997) a teoria final da ação é o mérito de eliminar a

injustificável separação dos aspectos objetivos e subjetivos da ação e do próprio injusto,

transformando, assim, o injusto naturalístico em injusto pessoal.

A teoria do delito encontra seu maior marco com o finalismo. Um dos fatos mais

marcantes na teoria finalista é que todos os elementos subjetivos que integravam a

culpabilidade foram retirados, nascendo se assim uma concepção que é puramente

normativa.

O finalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto, retirando-os de sua localização

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que era a culpabilidade, levando então desta forma a finalidade para o centro do injusto,

concentrando na culpabilidade somente circunstâncias que condicionam a reprovabilidade

da conduta contrária ao Direito.

Essa nova estrutura sustentada pelo Finalismo trouxe diversas conseqüências, entre

as quais deve se destacar a distinção entre tipos dolosos e culposos. Estes não integram

mais os elementos que formam a culpabilidade, mas são integrantes da ação e do injusto.

Para Welzel (apud BITENCOURT 1997), um crime só está completo com a presença

de culpabilidade. Sendo assim para o finalismo, crime continua sendo a ação típica,

antijurídica e culpável.

1.5 ESCOLAS

A palavra “crimen”, conforme Fragoso (2006), no direito penal romano, se refere ao

processo em casos de acusação pública passando a designar os crimes públicos e

extraordinários. Delictum no período clássico designava delitos de caráter privado como

furto, injúria.

Nesta época (753 A.C) o direito e a religião eram confundidos. Com a República (509

A.C) acontece a separação da igreja e o Estado.

Entre os anos de 82 a 80 a.c são promulgadas numerosas leis penais que se devem

a Cornélio Sila, Cesar e Augusto. Este conjunto de lei constitui o núcleo do Direito Penal

Romano Clássico.

Nesta época reduzem-se os crimes privados e a vingança privada desaparecem.

É o Estado que exclusivamente exerce o magistério penal. Os crimes de caráter

públicos são julgados por tribunais de jurados permanentes que estão encarregados de

fazer o inquérito, substituindo os julgamentos populares por comícios.

Nesta época as penas são mitigadas, sendo a pena de morte praticamente abolida.

Distingue se nitidamente nesta época a culpa, o dolo e o caso, considerando-se na

aplicação da pena, circunstâncias agravantes e a atenuantes.

1.5.1 Iluminismo. A Escola Clássica

O movimento de idéias que constituiu o iluminismo foi precursor das reforma nas leis

e na administração da justiça penal surgido ao fim do século XVIII.

Conforme Thomas Greenwood (apud BITENCOURT 1997) Iluminismo significa a

auto-emanicipação do homem da simples autoridade, preconceito, convenção e tradição,

com insistência no livre pensamento sobre problemas que tais instâncias consideravam

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incrimináveis.

Pensadores e publicistas de varias tendências, fundados em concepções filosóficas

oriundas do empirismo e do ceticismo e também nas descobertas grandiosas de Copérnico,

Galileu, Kepler e Newton, impulsionaram o livre pensamento em matéria política e social,

estimulando a cultura geral e a ciência empírica.

As idéias políticas dominantes começaram a ser revistas com a obra de Hugo

Grotius sobre o Direito natural, em que deu se início a luta sobre os fundamentos do direito

penal do Estado, dando a pena um fundamento racional.

Após isso vêm os enciclopedistas franceses, chegando propriamente o período

chamado Iluminismo. Destacam-se as obras de Montesquieu, Jean-Jacques Rosseau e

Voltaire.

Nesta mesma época Cesar Beccaria publica em Milão , em 1764, sua famosa obra

Dei Delitti e Delle pene, no qual propõe reforma completa do direito penal vigente. Escreve

páginas corajosas contra o arbítrio e a tirania que estava vigente pelo poder daquela época.

Beccaria defendia a conveniências de leis claras e objetivas não permitindo ao juiz o

poder de interpretá-las, desta forma ele opunha se ao arbítrio que prevalecia na justiça

penal.

O movimento de reforma teve grande repercussão com a obra de Beccaria, tendo

este sido chamado de humanitário, pois ele lança idéia da personalidade humana e funda-

se em pensamentos de piedade e compaixão pelas pessoas submetidas ao processo penal

e ao regime carcerário já existente.

Encontramos na doutrina o seguinte conceito:

As idéias básicas do iluminismo em matéria de justiça penal são as da proteção da liberdade individual contra o arbítrio judiciário; a abolição da tortura; abolição ou limitação da pena de morte e a acentuação do fim estatal da pena, com afastamento das exigências formuladas pela Igreja ou devidas puramente à moral, fundadas no principio da retribuição (LISZT- SCHIMIDT apud FRAGOSO, 2006).

1.5.2 Escola Positiva

A escola positivista se desenvolve no fim do século XVIII numa época de franco

predomínio do pensamento positivista no campo da filosofia.

As teorias de evolução de Darwin, Lamarck e Haeckel eram as idéias predominantes

na época, diferentes do racionalismo que determinava o período anterior, introduzindo assim

uma concepção naturalística, que se vira para os fatos da vida social e individual, explicando-

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os cientificamente, seguindo o princípio da causalidade.

O programa da Escola Positivista tem em reforma a ineficácia do sistema penal

clássico, como meio de repressão a criminalidade, defendendo a substituição do principio de

retribuição por um sistema de prevenção especial, com base em estudo antropológico do

homem delinquente e do crime como fato social.

O movimento positivista, conforme Fragoso (2006) iniciou-se com estudos do médico

Cesar Lombroso. Ele começou a publicar seus estudos sobre o criminoso em 1874 e em 1876

o seu livro L`uomo delinquente. Ele parte da idéia se de existir um criminoso nato e acentuas

as anomalias que um delinqüente apresenta. Lombroso sucessivamente modificou a

fundamentação dessa teoria passando pelo atavismo, epilepsia, loucura moral, que sofreu

refutação por parte dos estudos de Baer e Goring.

O jurista da primeira fase da Escola positiva é Raffaele Garofalo, em 1877 ele publica

um estudo sobre mitigação das penas nos crimes de sangue. A obra fundamental de Garofalo

é sua obra Criminologia, 1885, na qual procura estabelecer um conceito naturalístico de crime

e assim colocando a violação de norma a consistir em sentimentos altruístas de piedade e

probidade.

Destaca-se também entre os fundadores da Escola Positiva Enrico Ferri. Em 1878 com

sua obra La negazione Del libero arbítrio e La teoria della imputabilita, ele nega o livre-arbítrio

defendendo a impossibilidade de fundar-se no mesmo magistério punitivo que se encontra o

princípio da retribuição.

Ferre acolhe as idéias de Garofalo sobre prevenção especial e também ao estudo

antropológico de Lombroso, estabelecendo desta forma o corpo doutrinal que mais tarde se

tornou nos princípios fundamentais da Escola Positiva.

Esta corrente impulsionou os estudos antropológicos e criminológicos, considerando o

crime e o criminoso como realidade social e biológica.

A fase mais propriamente jurídica chegou com Eugenio Florian, autor de várias obras

de grande valor doutrinário, bem como Altavilla, Puglia etc. Conforme Fragoso (2006) os

princípios básicos da Escola Positiva são os seguintes:

a) Crime como fenômeno natura e social estando sujeito as influências do meio e aos

múltiplos fatores que atuam sobre o comportamento.

b) A responsabilidade penal é responsabilidade social tendo por base a

periculosidade do agente.

c) A pena é exclusivamente medida de defesa social, visando à recuperação do

criminoso ou a sua neutralização nos casos irrecuperáveis

d) O criminoso é sempre um anormal de forma temporária ou permanente,

apresentando também muitas vezes defeitos físicos e os criminosos podem ser

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classificados em tipos (ocasionais, habituais, natos, passionais e enfermos da

mente).

1.5.3 A Escola Moderna Alemã

Segundo Fragoso (2006) é uma notável corrente eclética a contribuição do vienense

Franz Von Liszt. Um movimento que muito se assemelha ao positivismo, tendo seu

conteúdo eclético.

Também foi conhecido este movimento como escola sociológica alemã ou escola de

política criminal, contando com a principal contribuição de Adolphe Prins e Von Hammel que

juntamente com Von Liszt criam a União internacional de Direito em 1888.

Tal criação sobreviveu até a primeira Guerra Mundial após isso, em 1924 os

trabalhos dessa organização foi retomado, agora pela a Associação Internacional de Direito

penal, a maior entidade internacional de Direito Penal, em atividade, que tem por finalidade,

através de congressos e seminários, promover estudos científicos sobre temas de interesse

das ciências penais.

Von Liszt além de grande jurista foi também grande político se destacando na sua

juventude no Partido Nacional Alemão da juventude acadêmica austríaca, sendo autor de

inúmeras obras, publicando o Tratado do Direito Penal Alemão em 1881, tendo vinte e duas

edições, sendo consagrado como o dogmático e sistematizador de Direito Penal Alemão.

Von Liszt em 1882 apresenta Programa De Manburgo- A idéia do fim no Direito

Penal , que foi um grande divisor de águas na reforma do Direito Penal moderno, trazendo

consigo grandes mudanças de política criminal, revolucionando os conceitos de Direito

penal positivo, dando uma complexa e completa estrutura ao Direito penal admitindo se

assim a junção com outras disciplinas , como exemplo a criminologia e política criminal.

1.6 O MÉTODO DA CRIMINOLOGIA

A Criminologia é uma ciência que reúne informações válidas, confiáveis e que são

contrastadas com o problema criminal, que são obtidas pelo método empírico que se baseia

na análise e observação da realidade.

Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre gênese, dinâmica e variáveis principais do crime - contemplado este como problema individual e como problema social -, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente. (GARCIA-PABLOS, 1997).

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Tradicionalmente as investigações criminológicas versaram sobre a pessoa do

delinquente e sobre o delito. Porém, encontramos em descoberta o redescobrimento da

vítima e os estudos sobre o controle social do crime, que representam significativamente

uma positiva extensão da análise científica para âmbitos antes desconhecidos.

Desta forma a Criminologia toma uma nova compreensão assumindo um enfoque

mais dinâmico e pluridimensional.

1.6.1 Do Delito

Não existe uma definição ou conceito único para o delito. Como é assunto que

interessa a outras ciências como, a saber: á Filosofia, ao Direito Penal etc. impõe-se à

Criminologia delimitar o conceito e também a permissão para determinar seu próprio objeto

sem ter que submeter se a definições de outras instâncias.

Existem diversas noções de delito. O direito penal usa de conceito formal e

normativo, seguindo normas de legalidade e segurança jurídica, onde, “delito é toda conduta

prevista na lei penal e somente a que a lei penal castiga” (GARCIA-PABLOS, 1997).

O positivismo criminológico criou a expressão imprecisa sobre delito natural, onde

tais atitudes lesionárias são ocasionadas partindo do sentido moral de sentimentos altruístas

fundamentais.

A Sociologia usa o conceito de conduta desviada, que parte do critério de referência

às experiências sociais.

Ainda existe a tese interacionista que alega negar a existência de um conceito de

delito pois entende que esta só tem um natureza “definitorial”, tratando se apenas de

etiqueta que o sistema legal atribui a certos autores e não das qualidade negativas de certos

comportamentos.

No entanto a Criminologia não pode utilizar nenhum destes conceitos de delito, sem

maiores implicações.

Para o penalista delito é um modelo típico descrito na norma legal, uma

possibilidade. Já para o patologista social trata-se de uma doença, para o moralista um

castigo do céu, para estatísticos trata-se de números. Para o sociólogo é uma conduta

desviada e irregular.

Mas a Criminologia contempla o delito não somente como um comportamento

individual mas também como problema social.

Pois como definiu OuCharchyn-Dewitt (apud GARCIA- PABLOS,1997):

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“Um fato ou fenômeno deve ser defendido como problema social somente se concorrerem às seguintes circunstâncias: que tenha uma incidência massiva na população; que referida incidência seja dolorosa, aflitiva, persistência espaço-temporal; falava de um inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e eficazes técnicas de intervenção no mesmo e consciência social generalizada a respeito de sua negatividade.”

Podemos perceber sem nenhuma dúvida que todas essas circunstâncias são

observadas no delito, sendo, portanto um problema social, afetando toda a sociedade. É um

problema que nasce na comunidade e é um problema da comunidade e deve se encontrar

nela (comunidade) fórmulas de solução positivas.

1.6.2 Do Delinquente

Na etapa positivista o delinquente alcançou o papel de protagonista nas

investigações criminológicas. Sendo ele então centro da atenção científica.

Já na moderna Criminologia o delinquente passou a ser um segundo plano, o centro

de estudo das investigações deslocou-se prioritariamente para a conduta delitiva, para a

vítima e para o controle social, sem abandonar a pessoa do infrator.

O mundo clássico partiu da ideia de uma imagem sublime, homem como centro do

universo, como dono absoluto de seus atos.

No esquema clássico, o dogma de liberdade tornou iguais todos os homens na forma

qualitativa, tanto delinquentes como não delinquentes, fundamentando que o

comportamento delitivo é mau uso da liberdade não razões internas nem influências

externas que justifiquem tal comportamento.

Já o positivismo criminológico destrona o homem negando a possibilidade de

controle sobre seus atos e seu protagonismo no mundo natural.

O positivismo coloca o comportamento delituoso sob enfoque de causas e efeitos

que regem o mundo natural e mundo social através de estímulos e respostas, fatores

internos e externos, biológicos e sociais .

O positivismo criminológico trata o infrator como um prisioneiro de si mesmo, de sua

própria patologia ou causas alheias a ele mesmo.

A filosofia correcionalista tem diferentes imagens do infrator. O delinquente aparece

como um menor de idade, inválido, um ser inferior, deficiente, incapaz de dirigir a si mesmo.

O marxismo apresenta um infrator frágil e vítima de determinadas estruturas

econômicas, tornando culpada a sociedade.

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O homem é um ser aberto e inacabado. Aberto aos demais em um permanente e dinâmico processo de comunicação, de interação condicionado com efeito muito condicionado (por si mesmo, pelos demais e pelo meio), porem com assombrosa capacidade para transformar e transcender o legado que recebeu e, ou no futuro alheio. Esse homem, que cumpre as leis ou as infringe, não é o pecador dos clássicos, irreal e insondável; nem o animal selvagem e perigoso do positivismo, que inspira temor; nem o inválido da filosofia correcional, que necessita tutela e assistência; nem a pobre vítima da sociedade, mero pretexto para reclamar radical reforma das suas estruturas, como proclamam as teses marxistas. É o homem real e histórico do nosso tempo, que pode acatar as leis ou não cumpri-las por razões nem sempre acessíveis à nossa mente; um ser enigmático, complexo, torpe ou genial, herói ou miserável, porém, em todo caso, mais um homem como qualquer outro. (GARCIA – PABLOS, 1997)

.

Existem infratores anormais assim como existem anormais que não cometem delitos,

buscar uma patologia no criminoso para encontrar uma razão para o ato delituoso é uma

estratégia tranquilizadora. Estratégia esta que carece de apoio real, pois são tantos os

sujeitos que são anormais e nem por isso são delinquentes.

É impossível afirmar que somente um ser patológico pode violar leis, pois a

experiência e as estatísticas demonstram o contrário, os indivíduos normais são os que mais

delinqüem.

Toda sociedade formada em qualquer que seja seu grau de organização produz uma

taxa que é inevitável de crime, desta forma percebemos que o delito é, portanto previsível

típico e esperada. Em outras palavras é normal.

1.6.3 A Vítima

A vítima de delitos durante um século experimentou a fase da abandonada, sendo

pelo sistema legal moderno neutralizada.

A Vitimologia buscou uma revisão no papel da vítima do delito, demonstrando que

são três as fases da vítima do delito: protagonismo, neutralização e redescobrimento.

O abandono da vítima é fato presentes em todos os âmbitos, tanto no Direito penal,

na política criminal e social.

A linguagem abstrata e simbólica do Direito e o formalismo existente na intervenção

jurídica transformaram a vítima em um mero conceito.

Desta forma o infrator considera que seu único enfrentamento é com o sistema legal

e somente com ele é que contrai responsabilidades.

A Criminologia tradicional polarizou em torno do infrator todas as investigações,

desta forma desconsiderando a vítima.

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A vítima então é considerada como nada que contribui para a explicação do

acontecimento criminal.

1.6.4 O Controle Social

O controle social do delito é também uma preocupação presente na Criminologia

moderna, tendo em vista uma orientação cada vez mais dinâmica e sociológica.

A Criminologia positivista, polarizando atenção sobre a pessoa do infrator, pouca

importância direcionou aos problemas de controle social.

Faz-se necessário que toda sociedade ou grupo social tenha uma disciplina que assegure a

coerência interna de seus agentes, motivo pelo qual existem vários meios que asseguram a

conformidade das normas e pautas de condutas.

O controle social é entendido, assim, como o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover e garantir referido submetimento do indivíduo aos modelos e normas comunitários. (GARCIA- PABLOS, 1997).

Existem diversos meios que formam os sistemas normativos de controle social.

Como exemplo, podemos citar a religião; o costume; o direito, a família, a igreja os partidos.

Essas trabalham com estratégias que variam de repressão, socialização e prevenção.

O Direito Penal é um meio de controle social onde o delito é um dos elementos da

conduta desviada e a pena significa uma opção para sancionar a conduta desviada.

Os componentes fundamentais de qualquer controle social são a norma, processo e

sanção, orientando desta forma a disciplina da sociedade.

Conforme Garcia-Pablos (1997), o controle social penal é um subsistema dentro do

sistema global do controle social; difere deste último por seus fins (prevenção ou repressão

do delito), pelos meios dos quais se serve (penas ou medidas de segurança) e pelo grau de

formalização que exige.

Porém o controle social penal tem certas limitações que versam sobre sua natureza

e função, não sendo possível exacerbar sua efetividade.

Uma maior efetividade do controle social não tornará mais eficaz à prevenção de

crimes e sim uma integração maior e melhor do controle social formal e informal.

A taxa de criminalidade, porém tem aumentado, não em razão do fracasso do

controle social, e sim vindo o controle social a falhar porque o crime devido a várias outras

variáveis tem aumentado.

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CAPÍTULO II

A MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA E OS MODELOS TEÓR ICOS

O presente capítulo, busca demonstrar o estudo da criminologia moderna e os

modelos existentes, demonstrando seus conceitos e principais características e diferenças.

Para tanto serão abordados assuntos de modelos biológicos, psicológicos e

sociológicos.

2.1 CRIMINOLOGIA MODERNA

Com a lutas das Escolas surgiram então no panorama do estudo criminológico três

modelos de orientação definidos como modelo biológico, psicológico e sociológico.

No modelo biológico estamos diante de um delinqüente, onde a se busca localizar e

identificar em alguma parte de seu corpo ou em seu funcionamento o fator diferencial que

explica sua conduta delitiva, entendendo-se que esta conduta é proveniente de alguma

patologia , disfunção ou transtorno orgânico.

Neste modelo as hipóteses são tão variadas assim como são as disciplinas e

especialidades que há no âmbito das ciências, como exemplo as: endocrinológicas,

genéticas, neurofisiológicas, bioquímicas entre outras.

No Modelo Psicológico busca-se a explicação do comportamento delitivo no mundo

anímico do homem, sejam nos processos psíquicos anormais ou nas vivências do

subconsciente que tem a sua origem no passado remoto do ser humano e que só podem

ser capitadas através de tratamento como a Psicanálise.

Ademais, conforme Garcia-Pablos (1997), acredita-se que o comportamento do

delinquente está na sua gênese, ou seja, aprendizagem, estrutura e dinâmica e se rege pelo

mesmo processo que passa o comportamento não delitivo.

Outro Modelo é o Sociológico que contempla o fato delitivo como um “fenômeno

social”, tendo a sua análise em vários marcos teóricos como: ecológico, estrutural-

funcionalista, subcultural, conflitual, etc.

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2.2 MODELO DE CUNHO BIOLÓGICO

A Biologia é o estudo dos seres vivos e das leis da vida, estuda o ser vivo com um

todo. O estudo do modelo biológico tem por fim demonstrar o comportamento delitivo

através dos conceitos da Biologia.

Existe um nível muito elevado de empirismo neste modelo, pois a vocação que se

encontra é clinica e terapêutica se sobrepondo a outras projeções do saber científico.

(GARCIA-PABLOS, 1997).

Este modelo está próximo das ideias do positivismo criminológico, partindo ambos da

premissa de que o homem delinquente é distinto do não delinquente e que no referido fator

diferencial reside a explicação do comportamento delitivo. Buscando assim um transtorno,

uma patologia, uma disfunção ou anormalidade que justifique a conduta criminosa.

Mesmo tendo suas limitações e condicionamentos, o modelo biológico tem seu lugar

dento da Criminologia científica e interdisciplinar, isso porque o substrato biológico do

indivíduo representa um valioso e relevante potencial, pois o código genético que cada

indivíduo carrega é um dos componentes do contínuo e fecundo processo de interação no

qual ocorre a conduta do homem.

Ocorre que, do ponto de vista político, as concepções biológicas radicais refletem a

visão arrogante da ordem social, que advêm de grande superioridade atribuindo ao delito as

patologias do indivíduo, desta forma não permitindo questionar o sistema (social e político)

que se julga perfeito e legitimado pelo consenso.

Os modelos biológicos estão evolucionando para paradigmas cada vez mais

complexos e estruturados, capazes então de ponderar a pluralidade de fatores que atuam

juntamente com o ato delitivo em vez da figura do homem vinculado a sua hereditariedade,

da carga biológica e genética que recebe e faz do mesmo um produto terminado. O modelo

onde o mesmo era incapaz de decidir por si e transformar sua história e da sociedade que o

condiciona, caiu por terra. Este pensamento faz parte da teoria radical do determinismo

biológico que se encontra dentro do pessimismo antropológico.

A seguir vejamos uma breve exposição das principais áreas em que se realizam as

investigações biológicas e sua síntese.

a) Antropometria

Inicialmente a Criminologia se identificava com a Antropometria, pois todos os seus

esforços se orientavam para a fundamentação de uma suposta correlação entre

determinadas características ou medidas corporais e a delinqüência.

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Foi Bertillion o principal responsável pelos progressos no campo da Antropometria.

Ele criou um complexo sistema de medidas corporais, que juntamente com a fotografia dos

delinqüentes servia como instrumento para identificação destes.

Este sistema usava medida de estatura, comprimento da cabeça, do dedo médio,

dos braços, podendo assim identificar muitos delinquentes que tivessem escapado da

Justiça. Este sistema também conhecido como “ bertilonagem”, despertou muitas críticas e

reprovações porém foi adotado pela polícia e pelos presídios do mundo todo.

Este sistema só pode ser compreendido como método de identificação do

delinquente unido a outras técnicas mais modernas e sempre seguindo a Criminalística. Mas

de modo nenhum reflete uma teoria explicativa do fato criminoso. (GARCIA-PABLOS, 1997).

b) Antropologia

É vinculada à herança lombrosiana, tendo como hipótese fundamental a existência

de um tipo humano inferior, degenerado, dotado de características singulares, distintos dos

demais indivíduos não delinquentes e com poderosa carga hereditária. Na Antropologia

Criminal de destacam o médico de prisões o inglês Goring e o antropólogo de Haward, E.A.

Hooton.

O primeiro usando de base a tese da inferioridade e hereditariedade do delinquente,

negou a existência de um tipo físico de criminoso. O segundo contrariamente admitiu não só

haver estigmas na população criminal como também a possibilidade de características

degenerativas diferencias para os respectivos subgrupos de delinquentes, abraçando a

doutrina lombrosiana.

Já Goring conforme Garcia-Pablos(1997) em seus estudos refutou o método e as

teses de Lombroso. Neste seu estudo biométrico, com sólido respaldo estatístico, Goring

lançava um célebre desafio as teses de Lombroso. Para o autor, Lombroso utilizou um

método anatomopatológico, baseado na observação direta, porém não utilizando

instrumentos de medição objetivos, como consequência diminuindo a suposta normalidade

ou anormalidade do indivíduo com os estigmas assim detectados.

Goring se mostrou partidário de um método que poderia precisar e de forma

confiável com independência de possíveis prejuízos do investigador.

Obteve duas conclusões: em primeiro lugar que a tese lombrosiana carecia de

fundamento científico em sentido antropológico, não encontrando estigmas degenerativos

nem diferenças sensíveis entre o grupo de criminosos e os não criminosos. Em segundo

lugar, que não havia base empírica para sustentar a inferioridade do agente, assim também

como o caráter hereditário deste. (GARCIA-PABLOS, 1997).

A inferioridade e o déficit psíquico de inteligência não devem ser interpretados como

problema patológico, como expressão da anormalidade do delinquente.

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Já o antropólogo Hooton, em suas obras, rebate as teses de Goring. Para Hooton

todo criminoso é um ser organicamente inferior; sendo o delito o produto ou resultado do

impacto do meio sobre um organismo humano inferior de modo que não podendo suprimir

se exterioriza através do crime.

Para este, existem diferenças entre os criminosos e não criminosos e de forma bem

significativa. A inferioridade física seria relevante, por aparecer associada à inferioridade

mental, sendo causa daquela hereditariedade e não fatores circunstanciais ou situacionais

(GARCIA-PABLOS, 1997).

Segundo a investigação de Hooton, os delinquentes seriam inferiores aos não

delinquentes em quase todas as medidas corporais. Demonstrando alguns dados sobre o

traço físico que refletia a inferioridade como: pouca fronte e inclinada, pescoço comprido e

delgado, ombros caídos, lábios finos, breves ângulos mandibulares, maxilares pouco

ajustados, orelhas pequenas com as borda ligeiramente torcidas, rostos tensos, secreção

nasal abundante, predomínio de olhos azuis acinzentados e sobrancelhas escassas. A

tatuagem seria mais frequente entre os delinquentes.

Ademais ele correlacionou o tipo de físico com o tipo de delito, onde os indivíduos

altos e delgados teriam inclinação para o cometimento de homicídios e roubos; os altos e

corpulentos para falsificações e enganos; já os baixos para furtos; os baixos e gordos para

violações e abusos sexuais etc.

c) Biotipologia

Essa disciplina versa sobre o “tipo humano” e destaca se sobre um órgão ou sobre

uma função.

Conforme Pablo- Garcia (1997) a premissa das investigações biotipológicas é a

existência de uma correlação entre as características físicas do indivíduo e suas

características psicológicas, entre tipo somático ou corporal e tipo mental, caráter e

temperamento.

Existe uma correlação entre determinadas características morfológicas ou

constitucionais típicas e específicas manifestações delitivas entre a constituição física e

temperamento. Existem diversas tipologias segundo as diversas Escolas e classificações

variadas utilizados por elas.

A Escola Francesa distingue a tipologia em quatro tipos humanos segundo o sistema

que predominasse neles como exemplo: o respiratório, digestivo, muscular e cerebral.

Já na Escola Italiana predominam três autores tais qual Pende, Viola e Bárbara. Para

Viola se distingue em dois tipos fundamentais qual são o brevilíneo e o longilíneo, onde no

primeiro o desenvolvimento do corpo é horizontal, onde o predomínio do sistema vegetativo

produz indivíduos enérgicos e vitais; já no tipo longilíneo é o contrário, há prioridade da vida

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de relação, isto é, trata se de pessoas de maior estatura e com tendências a introversão e

fantasia.

Já a autora Bárbara considera que o tronco é que expressa a vida vegetativa e as

extremidades a de relação, motivo pelo qual ela distingue dois tipos extremos e um terceiro

intermediário.

Finalmente , Pende, considerando fatores endocrinológicos, distingue o tipo

longilíneo-esténico (pessoas fortes, com hiperfunção de tireóide e supra-renais), o

longilíneo-asténico (débeis, com escasso desenvolvimento da estrutura muscular e

hipofunção das supra-renais), o brevelineo-esténico (pessoas fortes, musculosos, com

reações lentas, com hipotireoidismo e com hiperfunção das supra-renais) e por fim

brevilíneo-asténico ( gordos, débeis, lentos em suas reações e com hipofunção de tireóide).

Porém maior importância tem as tipologias que as Escolas Alemãs trouxeram neste

campo.

O autor mais conhecido da Escola Alemã é Krestschner. Ele elaborou uma dupla

tipologia, sendo ela constitucional e caracterológica, distinguindo-os.

A primeira tipologia é a do tipo leptossomático, com corpo comprido e delgado,

cabeça pequena, nariz pontiagudo.

O tipo atlético tem grande desenvolvimento do esqueleto e musculatura, tórax e

cabeça grande

O tipo pícnico tem grande desenvolvimento das cavidades viscerais e abdômen

proeminente, cabeça redonda e larga, as extremidades são curtas e tem tendência a

obesidade.

O tipo displástico tem características muito exageradas que não se encaixam com os

tipos anteriores citados, tendo trás variáveis que são o gigantismo, obeso e infantilismo.

O tipo misto que é o mais freqüente procede de uma combinação dos anteriores

citados pela via hereditária.

Relacionando-se estes tipos constitucionais com as características psicológicas

encontramos outra tipologia, que se distinguem como os tipos; esquizotímico, ciclotímico e

viscoso.

O tipo esquizotímico denota-se em indivíduos de temperamento introvertido. Estes se

subdividem em hiperestésicos (pessoas nervosas, irritáveis e idealistas), intermediários

(frias, enérgicas, serenas) e anestésicos (apáticas, solitárias, indolentes).

Quando existe um agravamento no tipo, surge a modalidade esquizóide: onde a

enfermidade mental correspondente seria a esquizofrenia.

Ao tipo ciclotímico correspondem às pessoas extrovertidas, estas podem oscilar de

um extremo a outra tanto da alegria como da tristeza. Existem três subcategorias: indivíduos

hipomaníacos (contínua alegria, em contínuo movimento), sintônicos (realistas, prático,

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humoristas) e fleumáticos (tranqüilos, silenciosos, tristes).

Quando o tipo se exacerba aparece a modalidade ciclóide e a enfermidade mental

correlativa, aciclofenia (maníaco-depressivo).

E depois temos o tipo viscoso que pertence indivíduos com constituição atlética e

oscilam entre o tipo leptossomático e o pícnico (pessoas tranquilas, passivas, etc.).

Já em torno das relações entre o tipo de pessoa e a criminalidade, Krestschmer chegou à conclusão de que os pícnicos são responsáveis pelos índices mais baixos de delinqüência, sendo raras às vezes habituais; os leptossomáticos são de difícil tratamento e inclinados a reincidências, seguindo os atléticos nos percentuais de criminalidade: abundam entre os leptossomáticos os ladrões e estelionatários; os atléticos, conforme citado autor, são violentos e representam as cotas mais altas da delinqüência. (GARCIA-PABLOS, 1997)

Constatou-se também, através de fundamento endocrinológico, que há conexão

biológica profunda entre os tipos de estrutura corporal e o temperamento do indivíduo.

Este autor ainda iniciou as teorias somatotípicas. Em sua tese ele ressalta a

afinidade, estatisticamente comprovada, entre a constituição somática e os traços

caracterológico-temperamentais, sem usar de pretensões causais ou etiológicas.

d) Moderna Neurofisiologia

Com o descobrimento do eletroencefalograma , exame que permite o registro gráfico

das atividades elétricas do cérebro, também permitiu a possibilidade de investigações

científicas, podendo demonstrar uma clara correlação entre certas irregularidade ou

disfunções cerebrais e a conduta humana delituosa.

Há muitos estudos que correlaciona a conduta delitiva ou desviada com concretas

patologias cerebrais.

Alguns destes estudam usam de comparativo o exame eletroencefalograma,

realizando a leitura e interpretação do exame entre os delinquentes e não delinquentes.

Outros, mais confiáveis, confirmam os resultados com testes psicológicos.

Em outros estudos eletroencefalográficos, pretendeu-se demonstrar que muitos dos

crimes considerados como violentos sem motivo aparente estão vinculados a anomalias

cerebrais graves que só podem ser detectadas pelo eletroencefalograma e que em comum

exame clínico passariam despercebidas. E posteriormente que existe uma determinada

conexão entre fatos delitivos cometidos por jovens, sendo produto de personalidade imatura

e singulares disfunções cerebrais.

Outras investigações neurofisiológicas podem ser classificadas pelas disfunções:

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disfunção cerebral mínima, anomalias eletroencefalográficas e outras disfunções cerebrais.

- A disfunção cerebral mínima, MBD, é uma anomalia da estrutura cerebral, costuma

se associar os casos extremos da mesma: como comportamento anti-social, desajustes nos

mecanismos de controle e estimulo cerebrais, hiperatividade, agressividade etc.

As reações “explosivas” seriam uma manifestação específica de tal anomalia,

explicando desta forma eventuais comportamentos delitivos, como maus tratos ao cônjuge e

filhos, abusos sexuais de crianças, suicídio, homicídio sem motivo aparente etc.

- Anomalias Eletroencefalográficas (EEG Abnormality). Grupos de delinquentes

agressivos foram usados em teste, onde os grupos se dividiam em dois, os violentos

habituais e os ocasionais.

Observou se que o índice de anomalias eletroencefalográficas, eram superiores no

primeiro grupo.

- Outras Disfunções Cerebrais.

A hipótese que doenças cerebrais podiam explicar comportamentos delituosos

permitiu a verificação desta relação em concretas patologias, fundamentalmente em

tumores, em choques traumáticos, doenças do sistema nervoso central como a

arteriosclerose cerebral, epilepsia, demência, etc.

Estudos clínicos demonstram que pessoas, antes pacíficas, após passarem por

processos tumorais no cérebro se demonstraram violentas com as pessoas de sua família

ou seres antes queridos por ela, isso devido à mudança de personalidade e problemas

psicológicos provocados pelo processo.

Acontece também que choques traumáticos também podem alterar a personalidade

trazendo consigo graves transtornos de conduta.

As patologias do sistema nervoso central costumam virem associados à perda de

memória, do sentido da orientação, transtornos emocionais, irritabilidade e acessos de ira.

e) Sistema Nervoso Autônomo

Uma hipótese recente segundo Ensenck (apud GARCIA-PABLOS, 1997) é que o

sistema nervoso autônomo pode predispor a pessoa a um comportamento anti-social ou

delitivo, pela importância que tem no processo de socialização.

As psicopatias, as sociopatias são o âmbito preferido dos estudos realizados para

verificar esta possibilidade.

O sistema nervoso autônomo ou vegetativo tem papel primordial, pois é dele que

dependem certas reações existentes no corpo humano que não cabem o controle da

vontade.

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Nos psicopatas, a resposta do sistema nervoso autônomo em determinados

estímulos alcança algumas medidas em contra posto a de pessoas não-psicopatas. Existiam

baixos índices nos níveis de condutância epidérmica e reações espontâneas aos estímulos

ambientais e físicos, como ruído ou dor.

Desta forma, investigou-se se os psicopatas experimentam ou não a sensação de

ansiedade, ao antecipar mentalmente o possível castigo, como faz a pessoa normalmente

socializada e se são sensíveis à ameaça de serem penalizadas. Porém o processo de

socialização dependerá do funcionamento do sistema nervoso autônomo, sendo ele bom ou

mau. Sendo a reposta defeituosa, ou se ativar lentamente, ou se alcança baixos níveis de

resposta quando se antecipa o castigo, este processo de socialização poderá sofrer

dificuldades insuperáveis.

Ensenck (apud GARCIA-PABLOS, 1997) destacou a grande importância do sistema

nervoso autônomo, relacionando-o com os conceitos de introversão e extroversão.

Para ele, a ameaça intimidatória do castigo é muito mais eficaz potencialmente em relação ao introvertido, que mostra elevados níveis de ansiedade. A pessoa extrovertida, pelo contrário, experimenta menor ansiedade, tanto porque é menos sensível á dor, como porque na busca da estimulação que necessita, praticará comportamentos ou atividades proibidas. Ensenck concluiu que o psicopata-caso extremo de extroversão – não desenvolve uma consciência adequada precisamente em razão do modo como funciona seu sistema nervoso autônomo.

Porém não se pode afirmar que, está totalmente demonstrado de forma inequívoca

que existe uma correlação entre o sistema nervoso autônomo e a conduta delitiva.

Isto porque de um lado, as investigações versaram sobre a população reclusa, sendo

então limitada a metodologia aplicada, tendo então sensíveis implicações.

De outro lado, a possibilidade de que o mau funcionamento do sistema nervoso

autônomo seja consequência de certos tipos de personalidade e não como indicador ou

causa destes. Tudo indica um indivíduo sem a menor sensibilidade fisiológica e emocional

como psicopata, confirmando a hipoatividade emocional deste aos estímulos, tendo este

incapacidade de antecipar as conseqüências negativas provenientes de seus atos, tanto em

relação a si próprio, como em relação à pessoa da vítima.

Já outras investigações versam sobre a incapacidade do psicopata em aprender algo

do castigo, desta forma um substrato biológico o impede de criar uma consciência social.

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f) Endocrinologia

Diversas investigações trataram as condutas humanas em geral assim como a

conduta delitiva com processos hormonais e endócrinos patológicos, com certas disfunções,

sendo hiperfunções ou hipofunções das glândulas de secreção interna, ou seja, hormônios,

isto pela conexão existente entre elas e os sistema neurovegetativo e do neurovegetativo

com a vida instinto-afetivo.

Desta forma nasce a idéia de homem como ser químico, tendo como consequências

seus desajustes ou desequilíbrios que são significativos na balança química ou hormonal do

ser humano, que podem explicar transtornos em sua conduta e em sua personalidade.

As teses endocrinológicas se diferem do pensamento lombrosiano, pois não

sustentam o caráter hereditário de tais transtornos glandulares, consideram viável a cura de

quem sofre tais disfunções mediante oportuno tratamento hormonal e afirmam que a

influência eventualmente criminógena das mesmas não é direta, senão indireta: sendo o

sentimento de anormalidade ou inadequação e não a doença mesma, que provoca

agressividade e outras reações emocionais compensatórias e criminógenas.

Segundo Garcia-Pablos (1997), a década de 20 marca o início da endocrinologia

criminal, pois é quando Schlapp e Berman iniciam suas obras. O primeiro destacou que o

crime é conseqüência de uma perturbação emocional já derivada de um desajuste

hormonal. O segundo reuniu dados valiosos entre a inter-relação que há entre a atividade

glandular, a personalidade e os problemas de comportamento e ressaltou os espetaculares

êxitos clínicos que foram obtidos através de tratamentos hormonais.

Nos últimos anos em virtude da delinquência agressiva e sexual, aumentaram as

investigações tendentes a demonstrar alguns tipos de relação entre os níveis de

testosterona e a conduta criminal masculina, assim também como foi debate o êxito dos

tratamentos hormonais realizados em delinquentes sexuais.

Os tratamentos clínicos realizados a bases de drogas, em delinquentes sexuais do

sexo masculino, drogas tais que reduzem o nível de testosterona, deram resultados

positivos em curto prazo. Porém ignora se os efeitos a médio e longo prazo.

Já a criminalidade feminina é campo de prova da endocrinologia, pois estudos

demonstram a conexão existente entre o comportamento delitivo da mulher e desajustes

hormonais típicos da menstruação.

Não há evidência científica de que uma alteração hormonal seja isoladamente fator

determinante de tal comportamento na mulher, ao contrário, parece que referidas disfunções

são mais um fator que contribui junto com outros para a explicação destes atos.

A Endocrinologia comprovou a influência que há entre a atividade hormonal no

temperamento e caráter do indivíduo, isso porque há estreitos vínculos entre a glândula de

secreção interna, o sistema neurovegetativo e a vida instinto afetiva.

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Não há teoria criminológica com base exclusiva endocrinológica, uma vez que há

pessoas que sofrem de disfunções hormonais tanto quanto os delinquentes sofrem e nem

por isso são criminosos.

Tratamento com hormônios sintéticos em longo prazo têm demonstrado uma nova

expectativa na luta contra a enfermidade mental, porém não se pode esperar da

Endocrinologia mais do que está ao alcance dela oferecer, pois se corre o risco de tratar de

explicar o conhecido pelo desconhecido.

g) Sociobiologia e Bioquímica

Sociobiologia é acontecimento histórico na biologia, é o fator biológico, o ambiental e

o processo de aprendizagem que formam parte de um contínuo e dinâmico processo de

interação.

O homem não é somente biologia, senão um complexo organismo biossocial,

sofrendo a influência decisiva da interação de fatores físicos e ambientais.

Traça um novo conceito de aprendizagem, usando o produto da combinação do

código genético com o meio social em que se vive.

Para a Sociobiologia não existem duas pessoas idênticas, sendo a aprendizagem

capital importância nas condutas do homem assim como na criminal. Pois todo o

comportamento socializado é comportamento aprendido e referida aprendizagem não se

controla por processos sociais de interação, senão por outros meios de natureza celular e

bioquímica, onde o sistema nervoso e o cérebro desempenham intervenção básica.

Jeffery (apud GARCIA-PABLOS, 1997) refere-se:

Código genético e código cerebral são de natureza bioquímica e compreendem a estrutura bioquímica dos gens de transmissão nervosa ao cérebro. O tipo de comportamento (resposta) que exibe um organismo depende da natureza do meio (estímulo) e da forma pela qual referido estímulo se concretiza, se transmite e se percebe pelo cérebro e pelo sistema nervoso... não herdamos o comportamento, como se herda a estatura ou inteligência. Herdamos uma capacidade de interação com o meio social

Certas substâncias influenciam na conduta humana, cabe, portanto uma referência

bioquímica a esses componentes.

- Déficit de minerais e vitaminas

Necessários para o desenvolvimento cerebral, a sua falta pode gerar na pessoa

graves problemas físicos e psíquicos que se traduzem em transtornos na conduta.

Insuficiência da vitamina B pode gerar hiperatividade nos jovens, porque seu déficit

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produz intranquilidade e desassossego.

O ser humano é bioquímico, a dieta errônea, metabolização defeituosa ou

concentração inadequada pode determinar grandes desajustes na conduta humana. Sendo,

portanto muitos comportamentos delitivos não reações psicossociais mais sim

manifestações do desequilíbrio metabólico ou bioquímico.

- Hipoglicemia

O cérebro tem sua energia gerada pela combustão de hidratos de carbono. Se há um

déficit significativo de glicose no sangue pode deteriorar o funcionamento afetando o

metabolismo. Irritabilidade, ansiedade, depressão, aturdimento e confusionismo, costumam

ser sintomas da queda de açúcar, com grande relevância potencial criminológica.

Em investigações, muitos dos assassinatos e agressões sexuais estão relacionados

com crises hipoglicêmicas.

Porém faltam ainda evidências científicas que demonstrem que o delito foi cometido

pelo estado de hipoglicemia e não porque o delito foi cometido e este delinquente estava em

estado de hipoglicemia.

- Alergias

As alergias nervosas e as cerebrais podem influir no comportamento humano, pois é

uma reposta desmedida e enusual do organismo a certas substâncias que lhe são

estranhas. Mesmo assim a hiperemotividade, a hioeremocionabilidade ou a hostilidade que

alguns casos de alergia desencadeiam, não podem estabelecer uma relação causal

comprovada entre elas e o comportamento criminal.

- Contaminantes Ambientais.

Investigações relacionam determinados contaminadores ambientais com a conduta

criminosa. Como contaminadores ambientais, temos: o chumbo, o cádmio, o mercúrio,

clorina e o dióxido de nitrogênio etc.

- Outras investigações ambientalistas

Relevância a fatores térmicos, acústicos, luminosos, espaciais, urbanísticos etc.

Conforme Jeffery (apud Garcia- Pablos, 1997) a conduta humana deriva tanto de

variantes ambientais como genéticas. A aprendizagem é um processo psciobiológico que

inclui mudanças na estrutura bioquímica e celular do cérebro. Trata se de um sistema de

informação que flui do ambiente ao organismo, de acordo com a fórmula: código genético +

ambiente = código cerebral + ambiente = conduta.

Segundo Garcia – Pablos (1997), o prevencionismo político-criminal, do modelo

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biossocial de Jeffery entra em conflito com as idéias conservadoras dos dias atuais. Este

modelo critica a efetividade do castigo. Onde o efeito dissuasório da pena, opera de um

modo distinto, não no delinquente potencial, contramotivando-o, senão no legislador, no juiz,

na opinião publica. Tendo um efeito reforçador em vez de preventivo.

2.3 MODELO DE CUNHO PSICOLÓGICO

A seguir veremos conjuntos de modelos teóricos que explicam o comportamento

delitivo em decorrência de determinados processos psíquicos normais ou patológicos.

Mas antes se faz necessário um conceito para distinguir os âmbitos da Psicologia,

Psicopatologia e Psicanálise.

A Psicopatologia (Psiquiatria) se ocupa em estudar o fato psíquico patológico no

indivíduo psiquicamente enfermo. Contemplando a conduta delitiva a um transtorno

patológico da personalidade.

A Psicologia pelo contrário estuda em suas pesquisas, a conduta humana e o

comportamento. Interessando-lhe o comportamento delitivo como qualquer outro

comportamento.

A Psicanálise tem o crime como um comportamento simbólico funcional,

expressando desta forma conflitos psíquicos profundos, desequilíbrios da personalidade,

sendo estes apenas descobertos de modo introspectivo, aprofundando-se no inconsciente

do indivíduo.

São de foro da Psiquiatria ou Psicopatologia conceituar a enfermidade ou transtorno

mental e suas maneiras de manifestação. Formulando assim a correlação existente entre

determinadas categorias patológicas - como exemplo a psicopatia, a neurose, esquizofrenia

- e concretas manifestações delitivas.

Já ao âmbito da Psicologia cabe o estudo da estrutura, gênese e desenvolvimento da

conduta criminal e estudo dos fatores ou variáveis diferenciais das mesmas.

A Psicanálise busca e examina a estrutura psicodinâmica da personalidade,

frustrações e conflitos vivenciados, processo que motivou o delinquente e a interpretação da

conduta delitiva sob a luz do inconsciente do indivíduo e uma análise introspectiva.

- Teorias Psiquiátricas da Criminalidade

Somente a partir do século XIX começou- se uma distinção entre os delinquentes e

os enfermos mentais, porém até esta época os enfermos mentais eram tratados como

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qualquer enfermo.

O delinquente era tratado, primitivamente, como ser endemoninhado, anormal e

maldito. O positivismo criminológico substitui a teoria da “loucura mental’ pela da

“personalidade criminal”, sendo esta a existência de um conjunto de características ou uma

estrutura psicológica delitiva.

O êxito desta teoria está em dois postulados, que são: o princípio da diversidade do

delinquente e a necessidade de isolar, mensurar e quantificar os fatores patológicos que

incidem no indivíduo e que determinam ao delito.

A moderna psiquiatria obteve sensível evolução. A psiquiatria somática mesmo

seguindo a práxis terapêutica, sofreu mudança significativa em seu marco teórico,

deslocando-se assim o centro da gravidade da psiquiatria pesada (psicose) à leve

(neurose).

Ao verificar possíveis conexões entre transtornos ou anomalias psíquicas e crime, o

conceito de psicopatia obteve papel fundamental apesar de que sua delimitação não

estimule consenso algum, isso se deve por não existir um psicopata em comum ou dois

psicopatas iguais, isto em razão do número das personalidades psicopáticas, a etiologia

diversificada e a complexidade do problema.

Psicopatia, sociopatia e personalidade anti-social freqüentemente são utilizadas

como sinônimas, merecendo amplo reconhecimento a definição que oferece o DSM

(Diagnostic and Statistical Manuakl of Mental Disorders), da Associação Americana de

Psquiatria: onde a expressão (psicopata) é reservada para indivíduos que estão

basicamente sem socializar-se e cujos padrões de conduta lhe levam a contínuos conflitos

com a sociedade. São incapazes de uma lealdade relevante com indivíduos, grupos e

valores sociais. São extremamente egoístas, insensíveis, irresponsáveis, impulsivos e

incapazes de se sentirem culpados e de aprender algo da experiência do castigo. Seu nível

de tolerância de frustrações é baixo. Inclinam-se a culpabilizar os outros ou a racionalizar

(justificar) de modo plausível sua própria conduta. (GARCIA- PABLOS,1997).

A personalidade psicótica sugere nos dias de hoje dois problemas, estes

fundamentais: a correlação orgânica ou fisiológica e a relevância criminôgena em relação à

mesma.

Já investigações neurofisiológicas e biossociais, podem comprovar a existência de

um condicionamento biológico na psicopatia. Certas anomalias cerebrais e do sistema

nervoso autônomo demonstrariam este condicionamento.

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- Modelos no âmbito da Psicologia Criminal

A Psicologia pela influência do positivismo cuidou de estudar a “personalidade

criminal”, mesmo suas investigações não tendo adquirido a desejável relevância teórico -

científica, pois se fundamentam ao âmbito clínico - forense e a metas terapêuticas.

Para o modelo da psicanálise, psicodinâmico, os fatores que contribuem para o

comportamento delitivo são forças motivacionais, tendências e impulsos que operam abaixo

do nível de consciência. No interior do próprio indivíduo estão enraizadas as fontes do delito

sendo o único método de investigação o introspectivo.

Já o comportamentalismo, conductismo, busca bases do comportamento com notório

rigor científico - experimental, nas forças do meio, despojando a tradicional soberania os

traços de personalidade, os motivos do infrator e fatores determinantes internos da conduta.

Para esta teoria o comportamento do delinqüente pode ser explicado como concatenação

de estímulos e respostas produzidos de acordo com a imagem do homem como máquina de

reflexos e hábitos.

A moderna Psicologia possui quatro modelos fundamentais que veremos a seguir:

a) Modelo biológico- condutuais

É um conjunto de construções teóricas que visam explicar não como se aprende o

comportamento criminal, e sim por que certas pessoas fracassam na paralisação eficaz das

condutas que são consideradas pela sociedade proibidas e que o resto das pessoas

aprende evitar.

b) Modelos sociocondutuais

Tentam explicar como o ser humano aprende o comportamento delitivo. Sua

premissa parte de modelos criminais que se concretizam através de processo de

aprendizagem evolutivo e se baseia na observação e imitação do comportamento delitivo

alheio (observação).

Neste modelo destaque-se a idéia que o homem não nasce delinquente, mas

aprende a sê-lo, a atuar de tal forma, seja por suas vivências diárias, ou por sua interação

com os demais. Os fatores biológicos e psicológicos podem predispor, porém a ativação

definitiva se dará pelas tendências criminais devidas ao meio social e ambiental que o

indivíduo estiver inserido.

c) Teorias do desenvolvimento moral e do processo cognitivo.

Esta teoria afirma que o comportamento delitivo não está condicionado ao defeituoso

processo de socialização do autor, nem a aprendizagem por ele de pautas delitivas e sim a

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certos processos cognitivos, ou seja, ao seu modo de perceber o mundo, ao seu próprio

contexto subjetivo, ao grau de e evolução e desenvolvimento moral, as suas normas,

valores e princípios e entre outras variáveis cognoscitivas da personalidade.

Tais processos são fatores determinantes internos da conduta, não meras vivências

do passado e tão pouco como traços da personalidade. Torna-se difícil o acesso e a

avaliação nestes casos, porém há um grande interesse em interpretar e compreender a

complexidade existente no comportamento delitivo.

Já Kohlbert (apud GARCIA-PABLOS, 1997) considera que a forma em que o

indivíduo organiza suas convicções em torno das leis e das normas gera padrões de

conduta eventualmente delitivos. Sob uma perspectiva evolutiva considera o autor três

grandes etapas no processo de formação dos padrões morais do individuo que determinam

sua maior ou menor maturidade: etapa pré-moral, onde se busca gratificações imediatas,

tratando o sujeito tão somente para evitar o castigo; etapa convencional, onde o indivíduo se

conforma com o mero acatamento formal das regras e o respeito à autoridade; etapa da

moralidade autônoma, caracterizada pelo profundo respeito às opiniões e direitos dos iguais

e aos princípios morais universais.

d) modelos fatorialistas de traços ou variáveis da personalidade

Este modelo trata de identificar traços da personalidade que estejam relacionados

com o comportamento delitivo, ou seja, dimensões da personalidade do delinquente que tem

validade transituacional, e não dependem de outras variáveis e tem poder preditivo.

Dentre os traços da personalidade de maior relevância etiológica podem ser citados:

a extroversão, a neurose, o autocontrole, a impulsividade, a ansiedade, a inteligência etc.

O modelo de traços da personalidade busca respaldo metodológico de instrumentos

de medição objetivos, tendo enfoque mais complexo, relativizador e melhor instrumentado,

permitindo realizar trabalhos de psicologia diferencial, e de base fatorialista, em grupo e

subgrupos de delinquentes, de inquestionável interesse.

2.4 MODELO DE CUNHO SOCIOLÓGICO

A Sociologia Criminal não se limita, ressaltando a importância do “meio” ou “entorno”

na gênese da criminalidade, contemplando o fato delitivo como fenômeno social.

A Sociologia Criminal contemporânea tem dois entroncamentos, o europeu e o norte-

americano.

O europeu está ligado a Durkheim e é de tipo academicista. Já o norte- americano

uma escola célebre, a Escola de Chicago, da qual nasceram progressivamente os diversos

esquemas teóricos. A Escola de Chicago destacou-se desde o princípio pelo seu

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“empirismo” e por sua finalidade pragmática, concentrando suas investigações nos

problemas sócias existentes na atualidade.

As teorias da criminalidade estão de inclinando progressivamente para a Sociologia,

mesmo diante de premissa filosóficas e metodológicas. O êxito dos modelos sociológicos

acontece muitas vezes na utilidade prática da informação que subministram para os efeitos

político-criminais. Pois somente essas teorias partem da premissa que a criminalidade é um

fenômeno social muito seletivo.

a) Teorias multifatoriais

São teorias multifatoriais e ecléticas, pois entendem que a criminalidade nunca é

resultado de um único fator ou causa, senão da ação combinada de muitos outros dados,

fatores e circunstâncias.

Muitos dos investigadores que seguem estes esquemas subsistem com claros

vestígios “biológicos” e não dispensam nunca a possibilidade de fatores individuais no crime.

Para a elaboração de um prognóstico os dados mais relevantes seriam, conforme

cita Glueck (apud GARCIA-PABLOS, 1997) a vigilância do jovem por sua mãe, a maior ou

menor severidade com que ela lhe eduque e o clima de harmonia ou de desavenças

familiares.

Outras variáveis eventualmente determinadoras que levam a criminalidsade são

males hereditários, anomalias mentais, constituição física anormal, conflitos, mau ambiente

familiar, amizades inadequadas, frustração de expectativa do indivíduo, condições

insatisfatória para o desenvolvimento infantil etc.

Garcia-Pablos(1997) em sua obra cita a opinião de Mabel A. Elliot e Francis E. Merril,

que se valeram de um método empírico indutivo, dando como explicação da conduta

desviada da criança a acumulação ou concurso de uma pluralidade heterogênea de fatos

que, talvez por si sós, não motivariam aquela.

A criança pode ate superar um ou dos “handicaps” (a morte de um dos seus pais, a

pobreza, por exemplo); mas se isto vier acrescentado do desemprego ou alcoolismo do

cabeça da família, ou a instabilidade da mãe que não sabe dar segurança ao filho, as

péssimas condições de moradia familiar e as más companhias , daí sim todos os fatores em

tal contexto surgem contra a criança. Se este se torna um criminoso, o é não por uma razão

única e sim pela acumulação de sete ou mais circunstâncias que lhes colocam em

desvantagem.

O empirismo que existe nas teorias plurifatoriais é grosseiro. Os fatores que intervêm

no crime são relacionados, mas não hierarquizados. Também não explica ou fundamenta de

que forma e por que influem no comportamento criminoso nem como interatuam entre si.

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O êxito dos enfoques plurifatoriais, se deu na clínica criminológica, porém não

adquiriu igual prestígio no campo teórico.

b) Escola de Chicago: teoria ecológica

O berço da moderna Sociologia americana é a Escola de Chicago, nela nasceram as

diversas teorias que serão aqui estudadas. Sua principal característica era o empirismo e

sua finalidade pragmática, ou seja, emprego da observação direta em todas as

investigações, e pela finalidade prática a que se orientavam: um diagnóstico confiável sobre

urgentes problemas sociais.

Seus representantes inicialmente eram jornalistas, predominando como setor de

procedência o amplo espectro das ciências do espírito.

A Escola de Chicago tinha como temática preferida a “sociologia da grande cidade”,

em análise o desenvolvimento urbano, da civilização industrial e também o surgimento e

crescimento da criminalidade neste novo meio.

A primeira teoria que surge na Escola de Chicago é a teoria ecológica. Entre seus

representantes podemos citar Park, Burgess, Mchenzie, Shaw entre outros. Em seus

estudos apresentam um claro paralelismo entre o processo de criação dos novos centros

urbanos e a sua criminalidade, a criminalidade urbana.

A teoria ecológica explica o efeito criminógeno da grande cidade, como causa dos

conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos e o

debilitamento do controle social nestes núcleos.

A deterioração das famílias, a modificação qualitativa das relações interpessoais, a

perda de raízes do lugar de residência, crise nos valores familiares e tradicionais, a

superpopulação criam um meio desorganizado e criminógeno.

Conforme Garcia-Pablos (1997), a primeira obra que assumiu o esquema ecológico

foi a de Psrk, Burgess e Mckenzie em 1928, os mesmos sustentam que o crime é produto

da desorganização própria da grande cidade, na qual se debilita o controle social e se

deterioram as relações humanas. Desta forma propaga se um clima de vício e corrupção

contagioso.

Outras teses semelhantes são de Shaw e Mckay, que demonstram que os índices de

criminalidade descendem em função direta do distanciamento do centro da cidade e de sua

zona industrializada. Sustentam também que a criminalidade potencial nas proximidades

dos grandes armazéns e estabelecimentos comerciais se concretiza pela ausência de

controle social, fenômeno que não se encontra nas redondezas e zonas residências dos

núcleos urbanos.

A teoria ecológica, porém, não pode explicar a criminalidade que se produz fora das

áreas delitivas, desta forma a análise estritamente ecológica tende a ser substituída pelo

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estudo da área social e por métodos estatísticos multivariados.

Esta nova análise busca relacionar a estrutura interna das cidades com as mudanças

ocorridas no seio global da sociedade, operando com três postulados; o nível social, a

urbanização e a segregação.

Sobre as investigações ecológicas temos a seguinte conclusão:

As investigações ecológicas parecem estar orientadas à prevenção do delito mediante o desenho arquitetônico do espaço urbano, buscando, ademais, uma correlação específica entre determinados lugares da cidade e intensas manifestações delitivas. (GARCIA- PABLOS , 1997).

O fator espacial, que são modelos de distância espacial vítima - delinquente em

relação ao lugar do crime; métodos de diferenciação e fatorialização de áreas de alta e

baixa taxa delitiva etc., é interessante não só para explicar o delito mas como peça

fundamental nos planos de prevenção. Prevenir como uma nova política arquitetônica e

urbanística.

Segundo Newman (apud GARCIA-PABLOS, 1997) certos dados físicos ao redor das

áreas públicas podem infundir em seus residentes um sentimento de comunidade, de

territorialidade, que lhes auto-responsabilizaria progressivamente com a defesa de seu

habitar frente ao delito.

Desta forma propõe medidas precisas, de subdividir as áreas publicas em zonas

menores potencializando a capacidade de observação destas, colocar nas zonas

concorridas algumas atividades que não são fontes de perigos, como exemplo, parques de

lazer infantil; construir áreas públicas de modo tal que seus eventuais visitantes se sintam

observados.

c) Teorias estrutural-funcionalistas

A normalidade e a funcionalidade do crime são os postulados que formam esta

teoria. Seria normal porque não tem sua origem em nenhuma patologia individual ou social,

senão no normal e regular funcionamento da ordem social, estando unido ao

desenvolvimento do sistema social e a fenômenos normais da vida cotidiana.

A tese de Durkhein (apud GARCIA – PABLOS, 1997), admite que o delito seja um

comportamento normal, não patológico, ubíquo (cometido por pessoas de qualquer estrato

da pirâmide social e em qualquer modelo de sociedade) sendo derivado não de anomalias

do indivíduo nem da própria desorganização social, senão das estruturas e fenômenos

cotidianos no seio de uma ordem social intacta.

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Para ele o crime cumpre função integradora e inovadora devendo ser contemplado

como produto normal do funcionamento de toda a sociedade. E o delinquente não é um

indivíduo patológico ou anti- social, e sim fator do funcionamento regular da vida social.

E até mesmo a pena não cumpre os fins metafísicos que já lhes são alternadas,

surge como outra instituição social das relações estrutural-funcionais.

A respeito das penas:

Eram necessários meios sensíveis e bastante poderosos para comprimir esse espírito despótico, que logo tornou a mergulhar a sociedade no seu antigo caos. Esses meios foram as penas estabelecidas contra os infratores das leis. (BECCARIA, 1999).

O pensamento estrutural funcionalista inspirou um conjunto de teorias que aparecem

nos estudos da Sociologia jurídica alemã moderna.

O ponto comum de todas as teorias é consistente no fato de que desloca o centro de

atenção para o sistema social subordinando, a seu bom funcionamento, a produção de um

eficaz consenso, qualquer valoração ético - política, individual ou coletiva.

O funcionalismo despreza por completo o componente biopsicológico individual em

seu diagnóstico de problema criminal, mesmo sendo fator que condiciona ao menos a

transmissão de qualquer sistema de conduta.

Sendo teoria macrossociológica, relaciona o crime com as estruturas sociais, porém

não se faz capaz de precisar muito mais, não podendo fundamentar a relação existente

entre concretos setores ou subsetores das estruturas sociais e determinadas manifestações

delitivas.

d) Teorias do Conflito

Possui grande tradição na Sociologia Criminal norte – americana, a qual se mostrou

sempre preocupada como o problema específico da (i) migração, assim como a incidência

da mudança social e das diversas pautas de conduta.

As teorias de conflito a princípio denotam a existência na sociedade de uma

pluralidade de grupos e subgrupos que apresentam discrepâncias em suas pautas

valorativas.

Segundo Garcia-Pablos,(1997) o crime, em conseqüência, é contemplado como

expressão dos conflitos existentes na sociedade, conflitos, por certo, não necessariamente

nocivos para ela.

Para as teorias do conflito não-marxistas o crime é um produto normal das tensões

sociais e carece de significado patológico, já de acordo com a análise criminológica marxista

o delito é sempre um produto histórico, patológico e contingente da sociedade capitalista.

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Os teóricos do estudo do conflito renunciam a estabelecer à difícil, porém lógica

relação, falando do ponto de vista científico, entre um determinado conflito, cuja natureza e

forma deveriam ser mais precisadas e concretas formas de criminalidade.

e) Teorias Subculturais

Para a teoria subcultural a conduta delitiva não é produto da desorganização ou da

ausência de valores, e sim reflexo e expressão de outros sistemas de normas e de valores

distintos: os subculturais.

O infrator, em análise, reflete sua conduta o grau de aceitação e interiorização dos

valores da cultura ou subcultura à qual pertencem, valores que se interiorizam, isto diante de

idênticos mecanismos de aprendizagem e socialização, tanto para a conduta normal ou

regular como nas condutas irregulares ou desviadas.

A subcultura pressupõe a existência de uma sociedade pluralista, que aceita vários

sistemas de valores divergentes no qual outros tantos grupos desviados.

Passamos então é ter que ver o delito como opção coletiva, uma opção do grupo,

com um simbolismo ou significado particular.

Para esta teoria não interessa muito a formação interna dos “bandos” e organizações

e sim a origem, de onde estão estreitamente vinculados ao problema da estratificação

social.

O enfoque subcultural tem a seu respeito diversas opiniões. Um setor doutrinário a

considera como esgotada a sua contribuição, o qual afirma ambiguidade com abertura ás

idéias psicossociais. Outra parte diz que a realidade histórica atual mudou e modificou o

quadro interpretativo que inseria a delinquência juvenil subcultural a um setor concreto da

população, ou seja, as classes sociais baixas.

Esta teoria foi muito criticada por pretender explicar de forma generalizadora a

criminalidade, supervalorizando certas conclusões válidas somente em determinadas

manifestações da delinquência juvenil nos grandes centros urbanos.

Mesmo assim esta teoria contribuiu decisivamente para o enriquecimento da análise

do fenômeno criminológico sob o ponto de vista sociológico e mais tarde foram

complementadas com esquemas psicológicos.

Os riscos desta teoria provêm da tendência de conferir legitimidade idêntica a toda

conduta subcultural, mesmo em reflexo de alguns valores e normas tão válidos como os

oficiais e que se comunicam através dos mesmos mecanismos de socialização.

f) Teorias do Processo Social

Esta teoria é formada por um grupo de teorias psicossociológicas para as quais o

crime é uma fusão das interações psicossocias dos indivíduos e dos diversos processos da

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sociedade.

Sua importância cresce a partir dos anos 60, e pode se dizer que em boa medida

diante das limitações das teorias estruturalistas que se preocupam com a criminalidade

lower class ( criminalidade nas classes baixas) , não sendo capazes de explicar

satisfatoriamente os fatos de que , existe criminalidade nas classes médias e privilegiadas;

que muitos jovens das classes baixas ao se tornarem maduros abandonam o

comportamento criminal e que não todos os indivíduos da lower class resistem ao acesso

aos bens culturais , integrando-se a conduta criminal da mesma forma que muitos jovens

das classes média e alta rechaçam os valores convencionais e delinquem.

Todas as pessoas possuem potencial para se tornarem um criminoso em

determinados momento de suas vidas, apesar das chances serem maiores para membros

das classes baixas, isso em virtude de uma série de carências que se apresentam (pobreza,

status social, discriminação) e contra partida os indivíduos da classe média e alta também

podem se converter em delinquentes se o processo de interação com a sociedade ou

instituições resultarem pobres e destrutivos.

O processo social tem diversas respostas para o fenômeno da criminalidade,

vejamos:

a) teoria da aprendizagem social: sustenta que o comportamento ilícito é aprendido

da mesma foram que o comportamento lícito e através do mesmo processo, com interação

de pessoas e grupos e mediante a comunicação.

b) teoria do controle social: diz que todos podem atuar criminalmente, porem o

potencial delitivo é neutralizado por vínculos sociais que esperam dele uma conduta

conformista.

c) teoria do labelling approach: trata o crime como mero subproduto do controle

social. Para esta teoria o indivíduo se torna delinquente não por ter tido uma conduta

negativa, mas sim porque certas instituições etiquetaram tal atitude como tal, tendo ele

então assumido a forma de delinquente por ser assim o status que o controle social distribui

de forma seletiva e discriminatória.

Por este exposto a teoria do labelling approach não é uma teoria da criminalidade e

sim da criminalização.

Veremos agora uma referência de cada um destes modelos teóricos.

a) Teoria da Aprendizagem Social

As bases da conduta humana se encontram enraizadas na experiência vital de cada

dia que enseja ao indivíduo. Segundo esta explicação o comportamento do homem ocorre

de acordo com as reações que sua própria conduta recebe dos demais, desta forma o

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comportamento pessoal esta modelado pelas experiências da vida cotidiana.

O crime então é um comportamento ou hábito adquirido em respostas de situações

reais que o sujeito aprende.

As formulações mais conhecidas sobre a teoria da aprendizagem, conforme Garcia-

Pablos (1997), é a teoria da associação diferencial de Sutherland e Cressey; a teoria da

ocasião diferencial de Cloward e Ohlin; a teoria da identificação diferencial de Glaser; a

teoria do condicionamento operante de Akers; a teoria do reforço diferencial de Jeffery e a

teoria da neutralização de Sykes e Matza.

1- a teoria da associação diferencial foi formulada nos anos 30. Através das

investigações sobre a criminalidade do colarinho branco, sobre a delinqüência tanto

econômica e profissional e também sobre a inteligência do infrator, chegou se a conclusão

que a conduta desviada e transgressora não pode ser imputada a disfunções ou

inadaptação dos indivíduos lower class, e sim a aprendizagem efetiva que se dá aos valores

criminais, o que pode ocorrer em qualquer cultura.

Por aprendizagem, entende Sutherland (apud GARCIA-PABLOS, 1997), como é

lógico, não a aprendizagem em sua acepção pedagógica estrita - ação de ensinar e

aprender -, senão a própria gênese profunda do comportamento humano, enquanto

processo complexo e global do desenvolvimento psicológico e conductual do homem.

O crime não é hereditário, nem se pode imitar ou inventar, não é algo fortuito ou

irracional. O crime é algo que o ser humano aprende. A capacidade, destreza e motivação

necessárias para o delito se aprendem, nos processos de comunicação e interação do

indivíduo com seus semelhantes.

Tanto a conduta virtuosa como a delituosa são aprendidas através de mecanismos

idênticos em todos os casos.

A conduta delituosa se aprende com base na interação com outras pessoas através

do processo de comunicação, requerendo uma aprendizagem ativa por parte do indivíduo,

não é bastante este viver em um meio criminoso e nem manifestar traços de personalidade

associados ao delito.

Neste processo de aprendizagem, a parte decisiva está no seio das relações mais

íntimas do indivíduo com seus familiares ou pessoas do seu meio. A influência para o crime

depende do grau de intimidade que há dos contatos interpessoais.

Porém há várias objeções dirigidas contra esta teoria, isto pela sua ambiguidade,

déficit empírico e excessivos níveis de abstração. Questiona-se o valor etiológico da teoria

analisada, pois se os delinquentes se inclinem, se associem e se relacionem com outro

delinquente, isto não significa que estes contatos sejam precisamente o motivo do

comportamento criminoso. Sendo que o indivíduo sempre busca relacionar-se com outras

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pessoas que possuem idéias, atitudes e condutas muito semelhantes as suas. Desta forma

a questão muda de foco. Em todo caso se torna desmedido querer enquadrar todo ato

delituoso a um processo social normal de aprendizagem, isto porque há experiências que

não são aprendidas, assim como fatores ocultos e que fazem parte do inconsciente, que

influenciam na conduta.

2- a teoria da ocasião diferencial de Cloward afirma que a aprendizagem do

comportamento delitivo não se concretiza de modo uniforme e homogêneo, mas pelas

circunstâncias, ocasiões e oportunidade do indivíduo, assim também em relação as

subculturas a que ele pertence.

Nesta teoria distingue-se a subcultura conflitual que é integrada basicamente pelos

imigrantes ou migrantes e pelas pessoas que se encontram isoladas de todo o sistema

institucionalizado, situação tal que leva à violência como maneira de expressão e alívio ao

mesmo tempo contra a incomunicação e a frustração; a subcultura da fuga ou da evasão

que se forma por aqueles que renunciam à busca e obtenção de metas desejáveis, se

tornam usuários de álcool ou de drogas; e a subcultura criminal onde há abertura e

heterogeneidade dos grupos de pessoas que a compõem , existindo entre eles delinquentes

e não- delinqüentes.

3 – a teoria da identificação diferencial de Glaser é uma variante da teoria da

aprendizagem social. Segundo Garcia - Pablos (1997), este autor tem o mérito de ter

incorporado ao conceito de aprendizagem a teoria dos papéis e de ter sublinhado a

importância que os meios de comunicação de massa exercem na conduta do indivíduo.

Conforme Glaser (apud GARCIA-PABLOS, 1997) a aprendizagem da conduta

delitiva não ocorre pela via da comunicação ou interação pessoal, senão pela da

identificação. Uma pessoa inicia sua carreira no crime na medida em que ela se identifica

com pessoas reais ou fictícias, desde as perspectivas de sua própria conduta delitiva parece

aceitável.

O ponto frágil desta teoria está na notória carga especulativa na suposição da

realidade de que a conduta delitiva é produto de uma decisão prévia e previamente

analisado pelo ponto de vista intelectual e valorizado assim pelo infrator.

4- as teorias do reforço diferencial de Jeffery e do condicionamento operante de

Burgess e Akers apresentam grande reformulação nas teorias da aprendizagem social, pois

partem da ótica comportamental, ou seja, conductista.

Segundo a teoria do reforço diferencial, o crime é um comportamento aprendido

onde o mecanismo de aquisição é o denominado “condicionamento operante”, que significa

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a aprendizagem por meio das conseqüências da própria ação.

Para Jeffery (apud GARCIA-PABLOS, 1997), o comportamento delitivo é um

comportamento operante, em contínuo processo de interação com o meio.

Desta forma ele incorpora em seu modelo de aprendizagem os fatores bioquímicos e

biológicos.

Para a teoria do condicionamento operante de Akers, a conduta delitiva passa por

controle de vários estímulos aos quais sucede. Tal conduta é reforçada quando se obtêm

gratificações positivas ou evita castigos (reforço negativo); um mesmo comportamento se

fortalece ou se debilita por meio de estímulos negativos ou perda de gratificações.

Um comportamento surgirá ou persistirá dependendo do grau de vantagens ou

desvantagens associadas a esse comportamento e a outros comportamentos alternativos

(teoria do reforço diferencial).

5- a teoria da neutralização sustentada por Sykes e Mastza .

Processo pelo qual uma pessoa se torna delinquente está vinculado à experiência.

Sustentam que a maioria dos delinquentes comparte dos valores convencionais da

sociedade, desta forma eles criam certas técnicas para neutralizá-los desta forma

racionalizando e autojustificando a conduta delituosa fora dos padrões das classes médias.

Essas técnicas constituem em genuínos mecanismos de defesa, desta forma o

infrator neutraliza seu complexo de culpa e diminui a resposta social.

As principais técnicas de neutralização são: a exclusão da própria responsabilidade,

a negação da ilicitude e nocividade do comportamento, a desqualificação das pessoas

incumbidas de perseguir e condenar o crime, suposta inexistência de vítima e invocação de

instâncias ou motivações superiores.

b) Teorias Do Controle

Para esta teoria o indivíduo evita o delito porque é o primeiro interessado em manter

um comportamento de acordo com as pautas e expectativas da sociedade, pois tem uma

razão atual, efetiva e lógica para obedecer a suas leis, pois o cometimento de delitos traria

mais desvantagens do que vantagens.

Demonstrando um diagnóstico de comportamento delitivo válido em todas as classes

sociais. Entre os teóricos mais destacados na teoria do controle, cabe citar, Hirschi, Briar e

Piliavin, Reckless, Reiss e Glaser.

1- teoria do enraizamento social de Hirschi: para esta teoria todo ser humano é

infrator potencial e só o medo do dano irreparável que possa lhe causar o delito em suas

relações interpessoias e institucionais é que lhe freiam tal comportamento.

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Sendo então a causa da criminalidade, o enfraquecimento no jovem nesses laços ou

vínculos que lhe unem com a sociedade.

Conforme Hirschi (apud GARCIA-PABLOS, 1997) o enraizamento do indivíduo com a

sociedade depende de quatro fatores: o apego com e a consideração das pessoas; o grau

de identificação e compromisso com os valores convencionais; a maior ou menor

participação nas atividades sociais; as próprias crenças do indivíduo: a ausência de

enraizamento e de solidariedade, assim como o vazio moral, impede o desenvolvimento de

valores que atuam como freio decisivo da conduta criminosa.

2- teoria da conformidade diferencial. Para Briar e Piliavin, existe um grau variável de

compromisso e aceitação dos valores convencionais. Desta forma, em situações

equiparáveis, é mais provável que uma pessoa com grande grau de compromisso ou

conformidade com os valores convencionais, não assuma comportamentos delitivos em

comparação com outra pessoa com inferior nível de conformidade.

3- teoria da contenção. Teoria de Reckless, em que a sociedade produz uma série

de estímulos e de pressões que impelem o ser humano para a conduta desviada. Mas estes

impulsos são impedidos por certos mecanismos, tanto internos como externos, de

contenção que lhes isolam positivamente.

Entre os mecanismos internos de contenção o indivíduo pode contar com a solidez

da personalidade individual, um bom autoconceito, ego acentuado, alto grau de tolerância à

frustração etc.

E os mecanismos externos de contenção procedem de coação normativa imposta

pela sociedade e os diversos grupos sociais para controlar seus membros, desta forma

promovendo o sentimento de integração na comunidade.

4- teoria do controle interior de Reiss. Possui conexões com a psicanálise e com

cibernética, onde a delinquência é resultado da falta de normas e regras internalizadas, de

um desmoronamento de controles existentes com anterioridade e de um conflito entre as

regras e as técnicas sociais.

5- teoria da antecipação diferencial de Glaser. Onde o indivíduo toma a decisão de

cometer ou não um delito determinada pela consequência antecipada que ele mesmo faz,

inclinando-se para o comportamento que mais lhe traria vantagens, considerando seus

vínculos com a ordem social, com outras pessoas e com experiências precedentes.

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c) Teorias do Etiquetamento ( labelling approach)

De acordo com esta teoria, não se pode compreender o crime partindo da própria

reação social, do processo social de definição ou seleção de certas pessoas e condutas

etiquetadas como criminosas.

As expressões delito e reação social são interdependentes, recíprocas e

inseparáveis.

O labelling approach, em consequência supera o paradigma etiológico tradicional, e

problematiza a própria definição de criminalidade. Vejamos:

Esta se diz não como um pedaço de ferro, como um objeto físico, não o resultado de um processo social de interação (definição e seleção): existe somente nos pressupostos normativos e valorativos, sempre circunstanciais, dos membros de uma sociedade. Não lhes interessam as causas da desviação, senão os processos de criminalização e sustenta que é o controle social que cria a criminalidade. Por isso, o interesse da investigação se desloca do desviado e do seu meio para aquelas pessoas ou instituições que lhe definem como desviado, analisando se fundamentalmente os mecanismos e o funcionamento do controle social ou a gênese da norma e não os déficits e carências do indivíduo, que outra coisa não é senão vítima dos processos de definição e seleção de acordo com os postulados do denominado paradigma de controle. (GARCIA-PABLOS, 1997).

Os principais postulados são:

a) Interacionismo simbólico e construtivismo social

A realidade social baseia-se sobre a construção de certas definições e pelo

significado atribuídos a elas mediante processos sociais de interação. Desta forma o

comportamento social não se separa da interação social e sua interpretação não pode

dispensar referida mediação simbólica.

b) ato de introspecção para se aproximar da realidade criminal com a finalidade de

compreendê-la a partir do mundo do criminoso e atribuir verdadeiro sentido à conduta.

c) natureza definitorial do delito

O caráter delitivo de uma conduta e de seu autor depende de processos sociais de

definição, que atribuem a eles este caráter e seleção que etiquetam o autor como

delinquente.

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d) caráter constitutivo do controle social

O controle social cria a criminalidade. Estas instituições do controle social não

declaram o caráter delitivo de um comportamento e sim o geram ou produzem ao etiquetá-

los.

e) Seletividade e discriminatoriedade do controle social

O controle social é naturalmente discriminatório e seletivo. Desta forma as chances e

risco de ser etiquetado por esse sistema de delinquente não depende tanto da conduta

delituosa e sim da posição do indivíduo na pirâmide social.

f) Efeito criminógeno da pena

A reação social é injusta assim como irracional e criminôgena. Seu impacto se torna

a pena como uma resposta irracional e criminôgena porque excerba o conflito social em

lugar de resolvê-lo, ensejando desta forma um terrível círculo vicioso.

As causas que levam ao crime são fatores intrínsecos e inerentes a complexidade

humana. Ligadas as condições psicológicas, biológicas e sociológicas que o indivíduo se

encontra. Mas do que criminalizar e punir, cabe ao Estado e a sociedade prevenir o crime,

se orientando de todas as formas para chegar a este objetivo.

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CAPÍTULO III

PREVENÇÃO DO DELITO

Depois de analisados os fatores que levam o indivíduo ao crime, o terceiro capítulo,

tem por finalidade, demonstrar meios de prevenção do delito, apresentando modelos que

venham contribuir para essa tão buscada prevenção.

3.1 A PREVENÇÃO DO DELITO NO ESTADO SOCIAL E DEMOCRÁTICO DE DIREITO.

O crime é um problema interpessoal e comunitário. Um problema que nasce na

comunidade, que é da comunidade e que deve ser resolvido pela comunidade.

A Criminologia Clássica contempla o delito como enfrentamento formal, simbólico e

direto entre o Estado e o infrator. Ambos lutam entre si solitariamente.

Dentro deste modelo a pena ( castigo ao infrator) esgota a resposta ao fator delitivo.

Desta forma prevalece a face patológica sobre o significado problemático e conflitual, onde o

dano causado a vítima não interessa e tampouco preocupa a efetiva ressocialização do

infrator.

A moderna Criminologia tem uma imagem mais complexa do acontecimento delitivo,

levando em conta o papel ativo e dinâmico que atribui aos seus protagonistas ( delinquente,

vítima, comunidade) e também com relevância de muitos outros fatores que interagem no

cenário criminal.

Para este modelo teórico a pena do infrator não esgota as expectativas que o ato

delitivo trouxe.

Ressocializar, reparar o dano e prevenir o crime são princípios e objetivos de

primeira atenção, e este é o foco cientificamente mais satisfatório e mais adequado para as

exigências de um Estado social e democrático de direito.

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3.1.1 O Conceito de Prevenção e Seus Diversos Conte údos

Todas as escolas criminológicas dizem que não basta reprimir o crime, que é

necessário se antecipar a ele e prevení-lo; são afirmações correntes, porém muitas vezes

equivocadas ou sem conteúdo, isso em razão do alto número de concepções que há em

relação ao conceito de prevenção.

a) Prevenção, dissuasão e obstaculização

Parte do setor doutrinário entende a prevenção como efeito dissuasório da pena

onde prevenir é o mesmo que dissuadir o infrator potencial com a ameaça de castigo,

contrativando-lhe.

Já outros autores, conforme Garcia-Pablos (1997), ampliam o conceito de

prevenção, salientando que ele compreende o efeito dissuasório mediato, indireto, que pode

ser conseguido por meio de instrumentos não penais, que alteram o cenário criminal

modificando alguns dos fatores ou elementos do mesmo.

Pretende-se desta forma, colocar obstáculos de todos os tipos a fim de o infrator não

poder executar seu plano criminal, mediante a intervenção seletiva no cenário do crime,

encarecendo desta forma para o infrator e assim obtendo o efeito inibitório.

Já para muitos penitenciaristas, a prevenção do delito não é o objetivo da sociedade

ou dos poderes públicos, o que há é a busca pelos programas de ressocialização e

reinserção do condenado; tratando se mais de evitar a reincidência do infrator do que evitar

o delito.

Prevenir é algo mais do que dissuadir o infrator ou dificultar o cometimento do delito.

Sobre a prevenção temos o seguinte posicionamento:

Sob o ponto de vista etiológico, o conceito de prevenção não pode se desvincular da gênese do fenômeno criminal, isto é, reclama uma intervenção dinâmica e positiva que neutralize suas raízes, suas causas. A mera dissuasão deixa essas raízes intactas. De outro lado, a prevenção deve ser contemplada, antes de tudo, como prevenção social, isto é, como mobilização de todos os setores comunitários para enfrentar solidariamente um problema social. (GARCIA-PABLOS, 1997).

Convém, porém distinguir o conceito de prevenção, sendo este exigente e

pluridimensional implicitamente associado ao conceito jurídico penal de prevenção especial,

que implica uma intervenção tardia no problema criminal, pois busca evitar a reincidência do

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condenado.

b) Prevenção primária, secundária e terciária

Nos programas de prevenção primária, orienta-se para a raiz do conflito criminal,

para assim neutralizá-los antes que o problema se manifeste.

Segundo Garcia-Pablos (1997), a educação e socialização, casa, trabalho, bem estar

social e qualidade de vida são os âmbitos essenciais para uma prevenção primária, que

opera sempre a longo e médio prazo e se dirige a todos os cidadãos.

Conforme Luderssen (apud GARCÍA-PABLOS, 1997), as exigências de prevenção

primária correspondem a estratégias de política cultural, econômica e social, cujo objetivo

último é dotar os cidadãos de capacidade social para superar eventuais conflitos.

Já a prevenção secundária atua na pergunta – o conflito criminal quando e onde se

manifesta ou se exterioriza. Orienta-se seletivamente a setores concretos da sociedade,

como grupos que ostentam risco de padecer ou protagonizar o problema social. Este

modelo se conecta com a política legislativa penal, juntamente com a ação policial

polarizada pelos interesses de prevenção geral.

E a prevenção terciária tem como destinatário o recluso, o condenado e tem por

objetivo evitar a reincidência. De todas as modalidades esta é a que possui maior caráter

punitivo tendo seus programas de ressocialização e reabilitação muito distantes das raízes

ultimas do problema.

Trata se de uma intervenção tardia e insuficiente, pois ocorre depois do cometimento

do crime e não neutraliza as causas do problema criminal.

c) um modelo “sui generis” de prevenção: o modelo socialista

A questão referente a prevenção sempre foi de grande interesse na Criminologia

Socialista, o qual sempre se autodefiniu como ciência prática, aplicada e comprometida com

o sistema.

A criminologia socialista tem como objetivo dar apoio imediato à “práxis” e colocar

seus conhecimentos e experiências a disposição dos órgãos de âmbito penal, reiterando

que a função prioritária desta ciência não seria interpretar a gênese da criminalidade e, sim,

transformar as causas sócio-econômicas que a produzem, erradicando-se assim a

criminalidade e contribuindo para total disseminação do socialismo nas diversas esferas da

vida em questão material e ideológica e também na vida cotidiana.

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3.2 MODELOS DE PREVENÇÃO DO DELITO: O MODELO CLÁSSICO E O

NEOCLÁSSICO

Ambos modelos acreditam que o meio mais adequado para prevenir o delito deve ter

natureza penal (ameaça de castigo) onde o meio dissuasório ou contramotivador são

expressões fiéis da essência da prevenção e que o único destinatário dos programas

dirigidos a tal fim é o infrator potencial.

O modelo clássico diz que em torno da pena e do seu rigor ou severidade está a

suposta eficácia preventiva do mecanismo intimidatório.

O modelo neoclássico preconiza que confia mais no funcionamento do sistema legal

e em como ele é percebido pelo infrator do que na severidade das penas, deslocando se

assim o centro de atenção da lei para o sistema legal, das penas que o ordenamento

prescreve à sua real efetividade e isso partindo da percepção do autor onde o processo

motivacional se torna mais complexo.

a) o modelo clássico

Existem muitas políticas criminais atuais que se identificam com modelos falaciosos

e simplificadores, assim manipulam o medo do delito e trata de ocultar o fracasso da política

preventiva e na real é repressiva, apelando para as “iras” da lei.

Segundo Garcia-Pablos (1997), a capacidade preventiva de um determinado meio

não depende de sua natureza seja ela penal ou não penal, e sim dos efeitos que ela produz.

Lembrando que os custos sociais que a intervenção penal traz são elevadíssimos e que a

execução efetiva esta longe de ser exemplar.

A pena na realidade não dissuade e sim atemoriza, refletindo mais a impotência, o

fracasso, a ausência de soluções, que a convicção e energia que são imprescindíveis para

abordar os problemas sociais.

Este modelo ainda demonstra uma análise primitiva e simplificadora do processo

motivacional e do próprio mecanismo dissuasório.

Em relação à pena encontramos:

Os castigos têm por fim único impedir o culpado de ser nocivo futuramente à sociedade e desviar seus concidadãos da senda do crime. Entre as penas e na maneira aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é mister, pois, escolher os meios que devem causar no espírito público a impressão mais eficaz e mais durável e ao mesmo tempo, menos cruel no corpo do culpado. (BECCARIA, 1999).

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Já em 1764, conforme Garcia-Pablos (1997), Beccaria já sustentava que o decisivo

não é a gravidade das penas e sim a rapidez com que são aplicadas, não o seu rigor ou

severidade do castigo e sim sua certeza e infalibilidade.

Desta forma concluímos que o que realmente intimida é a pena que se executa

prontamente e de forma implacável.

b) o modelo neoclássico

Para a escola neoclássica o efeito dissuasório preventivo está ligado mais ao efetivo

funcionamento do sistema legal do que necessariamente ao rigor da pena e da lei.

A melhor estratégia para prevenir a criminalidade seria melhorar a infra-estrutura e a

dotação orçamentária do sistema legal. Desta forma o efetivo policial seria maior, com mais

e melhores policiais, com mais e melhores juízes, mais e melhores prisões. Estando o

infrator diante de um sistema em pleno e perfeito estado de funcionamento não subsistiria o

plano criminal, pois encareceria para o infrator a prática.

Para a prevenção do delito é importante a efetividade do sistema legal, inclusive em

curto prazo; pois o sistema legal de hoje deixa intactas as causas que levam o crime e atua

tarde demais, quando o problema já se manifesta; não sendo mais viável atribuir a

criminalidade à efetividade maior ou menor do sistema legal, pois o problema é muito mais

complexo e obriga a ponderar por outras variáveis. Crer neste tipo de pensamento é obter o

fracasso em médio prazo.

Isto se dá pelo fato que não é o fracasso do sistema legal que produz a delinquência

e sim a criminalidade que traz a fragilidade e o fracasso do sistema legal.

Para García-Pablos (1997) toda política criminal que contempla o problema social do

delito em termos de mera dissuasão é ruim, ainda mais quando se desinteressa pela análise

etiológica e dos genuínos programas de prevenção que seria a prevenção sumária.

3.3 REFERÊNCIA AOS PRINCIPAIS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DO DELITO

O Êxito da Filosofia Prevencionista

Este modelo teve sua consolidação pelo próprio progresso científico e as diversas

informações que as disciplinas reúnem sobre a realidade delinquencial. Não sendo o crime

produto da fatalidade, não é um fenômeno casual e sim um acontecimento altamente

seletivo, onde o crime tem momento oportuno, sua vítima propícia etc. havendo variáveis do

delito se abre imensas possibilidades para uma prevenção mais eficaz.

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À Criminologia cabe identificar estas variáveis explicando como elas atuam e como

configuram o complexo e seletivo fato delitivo.

O progresso criminológico sugere novas estratégias de prevenção ampliando desta

forma o círculo de destinatários naturais para alcançar novos protagonistas do fenômeno

delitivo, assim como dados, fatores ou elementos que venham convergir de modo decisivo

para o ato criminoso.

Vejamos os principais programas de Prevenção

3.3.1. Programas de prevenção sobre determinadas ár eas geográficas.

Operam somente sobre o aspecto espacial. Consiste na existência e espaço

geograficamente e socialmente delimitado, onde se encontra os mais elevados índices de

criminalidade. Normalmente estas áreas são muito deterioradas, com péssimas condições

de vida, pobre infra-estrutura, com níveis de desorganização social e residência de grupos

humanos mais conflitivos.

Os teóricos da Escola de Chicago sugeriram uma atitude social de compromisso e

intervenção por parte dos poderes públicos nestas áreas marginalizadas, acreditando-se

assim, que aliviariam os problemas sociais das grandes cidades, diminuindo os índices de

delinquência.

Porém uma política prevencionista que opere somente com base no fator espacial

geográfico não convence. É obvio que o meio atrai, porém não cria o delito. Havendo uma

análise situacional mais sólida sobre tais variáveis, conclui-se que tal política criminal não

favorece a prevenção criminal e sim o desloca para outras áreas, não o evita, o

desconsidera ou adia.

3.3.2 Programas de Prevenção do delito por meio do desenho arquitetônico e

urbanístico.

Este programa se volta para a reestruturação urbana e utiliza o desenho

arquitetônico para influenciar positivamente no habitat físico e ambiental, procurando desta

maneira neutralizar o risco criminógeno e vitimário que certos lugares apresentam e assim

também modificar a estrutura comportamental e motivacional do vizinho ou habitante destes

lugares.

Esta concepção prevencionista busca intervir nos cenários criminógenos, nas

edificações remodelando desta forma sob outros parâmetros a convivência urbana.

De um lado pretende se dificultar o cometimento do delito, isto mediante a

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interposição de barreiras reais ou simbólicas, aumentando o risco para o infrator em

potencial; de outro lado busca-se atitudes positivas da comunidade, de responsabilidade e

solidariedade, isto em virtude de que as elevadas taxas de delinquência não são

exclusivamente em razão das características físicas e arquitetônicas de certos lugares e sim

também pelo anonimato e ausência do sentimento de comunidade de seus habitantes, que

em parte gera o próprio habitat urbano.

Como no outro programa, este também não previne o delito apenas o desloca para

outras áreas menos protegidas, ficando intactas as raízes profundas do problema criminal.

3.3.3 Programas De Prevenção Vitimária .

No modelo de política criminal clássica, a busca da prevenção do delito se dirige

para o infrator potencial ou na busca de programas para ressocializar o condenado, para

que não volte mais a delinquir.

Já a política criminal moderna enxerga o papel ativo e dinâmico que a vítima possui

no contexto criminógeno. Esta política conta com a vítima e sugere a intervenção nos

grupos ou até subgrupos de vítimas potenciais, pois estas ostentam maior risco de

vitimização.

O risco de ser vítima não é produto de azar ou fatalidade e sim, trata-se de risco

diferenciado, calculável, onde a maior ou menor probabilidade depende de muitas variáveis

pessoais, situacionais, sociais.

Segundo García-Pablos (1997), as estatísticas de risco demonstram que há grupos

de pessoas propensos a se converterem em vítimas de delito, como exemplo as crianças,

adolescentes, anciãos, marginalizados, estrangeiros etc. e ainda situações nas quais o

cidadão legitimamente, porém sem perceber, contribui para a própria vitimização.

Os programas de prevenção vitimária buscam informar e conscientizar as vítimas em

potencial sobre os riscos que elas próprias assumem, desta forma visando fomentar atitudes

maduras de responsabilidade, autocontrole, defendendo assim seus próprios interesses e

assim clarear na sociedade a idéia sobre a vítima do delito, obtendo-se uma maior

sensibilidade e solidariedade com que sofre as consequências do delito.

A estratégia então usada com maior resultado é através de campanhas, tanto

campanhas gerais dos meios de comunicação, campanhas técnicas e organização de

atividades comunitárias.

As campanhas gerais buscam mudanças de atitudes, hábitos e estilos de vida; as de

caráter técnico orientam em relação a determinados grupos de risco, que são mais

vulneráveis, para alertá-los sugerindo caminhos de prevenção elementares. Por último as

campanhas de orientação comunitária que são focadas para as pessoas de um bairro ou

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determinada zona territorial cuja finalidade é alcançar uma maior vigilância da área.

Estas campanhas de prevenção são, sem dúvida, simples e podem melhorar as

atitudes sociais vinculadas ao problema criminal. Porém em muitas vezes a própria

sociedade não as segue por não ter um motivo especifico (que motive) ou pelo incômodo de

seguir as orientações passadas.

Por outro lado, essas medidas de prevenção podem gerar inconvenientes onde

servem de instrumento fácil para interessadas cruzadas contra o crime, em que manipulam

o medo do delito, gerando assim mais medo na sociedade.

3.3.4. Programas De Prevenção Do Delito De Inspiraç ão Político-Social

Este programa luta pelo fim da pobreza, pela igualdade de oportunidades, bem estar

social e qualidade de vida.

Analisa-se que boa parte dos crimes que uma sociedade sofre está enraizada em

conflitos profundos da sociedade como situações de carência básica, desigualdade irritantes

etc. O crime é um mero indicador ou sintoma de uma sociedade desigual. Os programas de

orientação político-social são na verdade programas de prevenção primária.

Uma sociedade mais justa, que assegura a todos os seus membros uma qualidade

de vida mais satisfatória em todos os âmbitos, reduz correlativamente sua conflitividade,

reduzindo a taxa de criminalidade.

3.3.5. Programas De Prevenção Da Criminalidade Diri gidos A Reflexão Axiológica

Consistem na revisão de atitudes, valores e pautas sociais de comportamento.

Parte do conceito restrito da palavra prevenção, que trata os problemas em suas

raízes e não tardiamente após sua manifestação, parece que não podemos questionar que

os melhores resultados obtidos no controle da criminalidade não podem surgir de

incrementos do rigor da resposta ao delito, que chamamos de penas mais severas, nem

também melhorando o rendimento e a efetividade do sistema legal e sim através de uma

ação positiva na ordem social.

O ser humano tem seus comportamentos enraizados em atitudes, motivações e

valores. São estes fatores que são um marco referencial básico que guia e orienta o ser

humano em sua vivência.

Para evitar certos comportamentos futuros é necessário que se mude certos valores

sociais presentes ou se modifique determinadas mensagens e atitudes que tornam possível

uma leitura criminógenas de tais valores.

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Vejamos quatro estratégias.

a) reflexão axiológica

O crime é aprendido, por meio dos mesmos procedimentos que se aprende a

conduta positiva. O jovem infrator não cria e sim ele imita, ele repete o que aprende e faz o

que lhe foi ensinado e observa os modelos próximos e significativos com o qual ele se

identifica.

Portanto em relação aos jovens, a prevenção mais eficaz, se obriga a dirigir nossa

atenção para a sociedade adulta, para nossas próprias condutas, para nosso marco de

valores, onde o palco que é a sociedade exerce influência pedagógica sobre os jovens,

onde contradições geram atitudes negativas e leituras perversas.

Esta modificação de certos comportamentos dos adultos será a médio e longo prazo,

sendo a prevenção mais duradoura e estável.

b) Aprendizagem observacional e mensagens antipedagógicas

Certas mensagens equivocadas pela sociedade adulta podem, às vezes, tornarem-

se leitura criminógena pelo jovem.

No processo de aprendizagem certos procedimentos abreviados, não necessitam de

comunicação interpessoal ou persuasão racional, basta associar a conduta ao êxito

conseguido pelos outros que a praticam. Mesmo não sendo a intenção de o adulto transmitir

uma mensagem criminógena, pode ocorrer uma leitura simplificadora e equivocada por

parte do jovem, pois ele fará conexão da conduta que identifique triunfo e êxito econômico.

Conforme García-Pablos (1997), a própria sociedade que quer prevenir a

criminalidade dos jovens deve condenar de forma inequívoca o êxito econômico rápido, fácil

e medíocre, não associado ao esforço pessoal digno, de alguns adultos supostamente

triunfadores.

c) Criminalidade subcultural e a enfatização axiológica positiva

Para a prevenção eficaz, não basta evitar mensagens sociais antipedagógicas ou

neutralizar os valores negativos e sim levar a cabo um magistério positivo, oferecendo aos

jovens pautas de conduta que lhe entreguem um sentido à sua existência, lhe mostrem

alternativas e incentive seu compromisso e sua participação. Muitas das condutas dos

jovens são condutas subculturais, ou seja, simbólicas, significando uma fuga, rejeição

ostensiva e a rebeldia contras as pautas de condutas e atitudes oficiais por parte da

sociedade adulta.

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d) Uma nova cultura movida por políticas sociais

Nossa atual cultura consumista cria necessidades artificiais, não tem limites nem

restrições, onde a satisfação do prazer é insaciável.

O perfil da população reclusa dos nossos cárceres apresenta sintomas parecidos

com dos valores culturais dessa sociedade atual.

Cabe no contexto a seguinte colocação:

Uma sociedade que enfatiza o êxito como valor supremo e não lhe concebe nenhuma limitação, sofrimento, fracasso... como pode gerar indivíduos sãos que saibam assumir, como inerentes sua condição de seres humanos, a limitação, ou ate mesmo o fracasso? Não é de se estranhar, pois, que muitos dos seus jovens delinqüentes, jovens sobretudo, apresentem um baixo umbral de tolerância a frustração, se somente foram educados conforme a cultura do êxito,do triunfo a todo custo e a qualquer preço.(GARCIA-PABLOS,1997).

A política social ainda é a mais eficaz e justa forma de prevenção do delito. Portanto

uma nova cultura social só pode acontecer através de uma política social mais ambiciosa

em questão a educação, sanidade, moradia, lazer etc., pois os jovens mais oprimidos

delinquem mais e isso não é em razão de que professem valores genuinamente criminais e

nem ao discriminatório sistema legal e sim ao eterno problema da desigualdade de

oportunidade.

3.3.6. Programas De Prevenção Da Criminalidade De O rientação Cognitiva

Este programa é eficaz como técnica de intervenção ressocializadora, onde o

criminoso fica isolado de influências criminógenas. Desta forma parece que este mesmo

programa deva ser usado não somente para ressocializar como também prevenir o

comportamento delitivo. Conforme Garcia-Pablos (1997) este fundamento teórico esta

baseado em estudos realizados com menores e jovens pré-delinquentes, no âmbito da

intervenção familiar que confirmam a eficácia do referido treinamento em relação a condutas

desadaptadas que se associam ao comportamento delitivo, como exemplo a impulsividade e

agressividade.

3.3.7 Programas De Prevenção Da Reincidência

São programas de prevenção terciária, que não tratam de prevenir a desviação

primária e sim de evitar a reincidência do infrator.

Apesar de estes programas enfrentarem demasiadamente tarde o problema criminal,

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possuem grande interesse sob o ponto de vista preventivo.

Um dado peculiar sobre a criminalidade conforme García-Pablos (1997) é que na

grande cidade não existem tantos delinquentes quantos delitos são cometidos, o que ocorre

é que estes reincidem muito.

a) Programas que articulam mecanismos alternativos em lugar da intervenção do

sistema legal ou suavizam esta intervenção.

Substitui-se a intervenção do sistema legal por outros mecanismos que evitem

impacto criminógeno, porém o âmbito de aplicação deste programa é limitado aos infratores

primários, jovens a aos conflitos de pequena gravidade, onde é substituído o sistema formal

por prisão de fim de semana, dia-multa, prestação de serviços a comunidade etc.

b) Programas de intervenção

Pretende produzir efeito ressocializador ao condenado através de intervenção, com a

finalidade de que não reincida.

Esta intervenção é pedagógica ou terapêutica, não preventiva.

No âmbito penitenciário são variadas as técnicas de intervenção como exemplo

temos as de psicoterapia (terapia familiar, terapia de realidade, terapia corporal, psicodrama

etc.) e modificação da conduta (baseada no controle de contingências, habilidades sociais

etc.).

3.4 BASES DE UMA MODERNA POLÍTICA CRIMINAL DE PREVENÇÃO DO DELITO

Conforme García-Pablos (1997), uma política criminal de prevenção ao crime deve

levar em contas as bases que seguem abaixo.

1- uma política eficaz de prevenção não consiste em erradicar a criminalidade e sim

controlá–la razoavelmente, pois o total extermínio da criminalidade e as cruzadas contra o

delito são objetivos frutos de utopia que só trazem conflito com a normalidade do fenômeno

delitivo e do seu protagonista.

2- o controle eficaz da criminalidade não significa o emprego de todos os tipos de

programas de intervenção e prevenção e não confere justificação para o elevado custo

social que determinadas intervenções requerem.

3- prevenir é intervir na etiologia do problema criminal neutralizando as causas dela.

O delinquente tem de sentir-se contramotivado não somente pela a ameaça da pena em um

sistema legal em excelente funcionamento e sim porque as causas, as raízes do problema

foram atacadas e neutralizadas.

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4- a efetividade dos programas deve ser realizada a médio ou longo prazo. Pois o

programa é mais eficaz quando se aproxima mais das causas do conflito que o delito

exterioriza.

5- a prevenção deve ser vista como social e comunitária, em virtude de o crime ser

um problema social e comunitário. Não é um compromisso só do sistema legal ou das

autoridades puúlicas é também um compromisso comunitário.

6- somente reestruturando a convivência e formando-se uma relação positiva entre

os membros de uma sociedade poderemos esperar resultados satisfatórios em relação a

prevenção do delito.

7- o cenário criminal deve ser visto de forma estratégica e pluridimensional, pois o

infrator não é o único protagonista do fato delitivo, havendo, portanto outras variáveis e

fatores que configuraram este acontecimento. Os programas de intervenção devem ser

orientados para cada um destes fatores.

8- uma forma também de evitar o delito é mediante a prevenção da reincidência.

Porém melhor do que prevenir mais delitos é gerar menos criminalidade. Pois cada

sociedade tem o crime que ela mesma produz. Uma política de prevenção séria e honesta

deve partir de uma autocrítica revisando os valores e princípios que a sociedade

oficialmente pratica e proclama.

Enfim após pesquisa realizada percebemos que a Prevenção Primária é o melhor

programa de prevenção em que o sistema legal, as autoridades públicas e sociedade

podem investir. Todo o programa demonstra eficiência na sua implantação.

O estudo ora realizado, mostrou que nosso sistema legal se utiliza de um meio de

prevenção que não previne, baseado em leis e penas no sistema positivado. O crime,

porém, em seu caráter ofensivo, é resultante de vários fatores, sendo sua estrutura

complexa e não produto de uma única causa.

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CONCLUSÃO

A princípio, vale salientar que o presente trabalho buscou demonstrar os fatores que

levam o indivíduo ao crime, onde os estudos se pautam nas causas destes fatores e suas

influências para as práticas criminais.

Preliminarmente é necessário lembrar que desde a antiguidade já se questionavam

as práticas delitivas e suas causas.

É importante destacar no tocante sobre a violência fundamental que Jean Bergeret

alude, onde há no homem uma violência em seu instinto, próprio do seu ser.

Ainda vemos as Escolas Clássicas e Positivistas com seus métodos e princípios

distintos, porem ambas formando concepções sobre o crime, o criminoso e a pena. Onde a

corrente Positivista apóia a idéia de investigar os fatores que levam a prática do crime, se

identificando assim mais com a criminologia.

Buscando demonstrar estes fatores e suas causas, onde a criminologia como

ciência, estuda o homem criminoso. Desta forma, abordando assuntos intrínsecos aos

fatores biológicos, psicológicos e sociológicos, considerado por esta pesquisa os fatores da

criminalidade.

Abordando desta forma a personalidade e razões do comportamento delitivo.

É importante destacar mais um ponto na política criminal que é onde se percebe que

a criminalidade é um problema social, devendo ser resolvido pela sociedade.

Vislumbra-se as estruturas e programas de prevenção ao delito. Onde se salienta a

importância da prevenção primária.

O estudo demonstrou que os fatores externos sociais influenciam em grande parte

na formação delitiva, porém não podemos dizer que é o fator determinante tendo em vista

os outros aspectos levantados pela pesquisa.

Também demonstrou a pesquisa que a criminalidade sempre vai existir, pois ela faz

parte de uma sociedade em constante evolução, porém o seu crescimento desenfreado e

devastador é fruto de um controle social e prevencionista omisso. Omisso por parte das

autoridades públicas e omissa por parte da própria sociedade.

Dito isso é preciso asseverar que a presente pesquisa dos fatores da criminalidade é

de grande valia por demonstrar também meios de controle e prevenção da violência em

geral. Onde o Estado e a sociedade podem através destes programas de prevenção não

neutralizar, mas diminuir expressivamente novos delitos e suas conseqüências para a

coletividade.

A pesquisa demonstrou grande fundamento em relação ao fator social, onde uma

sociedade é responsável pelos crimes ao qual é acometida, pois ela própria (sociedade) cria

uma desigualdade.

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A humanidade está diante de pura desigualdade e esse é um fator forte para

“empurrar” o indivíduo à criminalidade. Tendo uma sociedade que alimenta esta

desigualdade contribuindo para ela ser cada vez mais desigual, está somente fomentando

mais a “indústria” do crime. Escurecendo cada vez mais a possibilidade de haver outra

opção para os potenciais criminosos, pois não é necessário estar na condição destes para

perceber que esta sociedade os exclui e que as oportunidades não são para todos.

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REFERÊNCIAS

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Janeiro. Ediouro, 1999. Título original: Dei delitti e delle pene. (Clássicos de Bolso).

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BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal-Parte geral. 4 ed. São Paulo

Editora Revista dos Tribunais, 1997.

CAIRES, Maria Adelaide de Freitas. Psicologia Jurídica . São Paulo: Vetor, 2003,.

CORDEIRO, José Carlos Dias. Psiquiatria Forense , Lisboa (Portugal): Fundação Calouste

Gulbenkian, 2003.

FRAGOSO, Heleno Claúdio, Lições de Direito penal , 17 ed. Rio de Janeiro: EdiForense

2006.

GARCIA-PABLOS M, Antonio; GOMES, Luis Flávio, Criminologia. 2 ed. São Paulo:Revista

Dos Tribunais,1997.