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* Mestranda em História Social e graduanda em Filosofia, ambos na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. O FAZER HISTORIOGRÁFICO DE MARTIN JAY. CECÍLIA MAGALHÃES E RIBEIRO PENTEADO* Apresentam-se aqui a trajetória intelectual de Martin Jay e o debate historiográfico no qual ele se insere. Esse amplo debate será abordado com o intuito de evidenciar que o percurso intelectual de Jay, pelo menos em sua fase madura, é marcado pela interação profissional com outros historiadores estadunidenses; no sentido de que é essa interação que impulsiona o autor a tomar posições teóricas e propor conceitos, modelos e metodologias para a História enquanto disciplina. Assim, a trajetória intelectual de Jay será aqui utilizada para empreender uma reflexão sobre o caráter biográfico e coletivo do fazer historiográfico de modo geral. Para além das posições e opiniões do autor, importa principalmente que é do diálogo entre profissionais historiadores que emergem os diferentes modelos de análise e explicação histórica, os quais definem, no caso, o campo da História Intelectual estadunidense. I. A trajetória de Martin Jay, historiador intelectual. Martin Jay nasceu em 1944 na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Ele se formou em 1965 na Union College da mesma cidade, após ter estudado durante um ano (1963-64) na London School of Economics, em Londres. Em 1971, concluiu seu PhD sobre a história intelectual do Instituto de Pesquisas Sociais 1 , na Universidade de Harvard, sob orientação de H. Stuart Hughes. Atualmente, Martin Jay é titular da cadeira de Ehrman Professor de História da Europa no campus de Berkeley da Universidade da Califórnia. Os cursos já ministrados por ele em tal instituição foram: Habermas: Critical Debates (2011 e 2012); European Intellectual History from the Enlightenment to 1870 (2011 e 2013); The Third Generation of the Frankfurt School (2012); European Intellectual History from 1870 to the Present (2012); The Idea of Reason (2013 e 2015); e Critical Theory Writ Small (2014) 2 . 1 O título da tese era The Frankfurt School: An Intellectual History of the Institut für Sozialforschung, 1924-1950, a thesis. Harvard University, 1971. Foi publicada como JAY, Martin. The Dialectical Imagination: The History of the Frankfurt School and the Institute of Social Research, 1923-50. Boston, Massachusetts: Little Brown and Company, 1973. 2 Informações acessíveis em: http://history.berkeley.edu/people/martin-e-jay .

FAZER - ANPUH · História Intelectual; ou então produzem uma história intelectual de algum autor, como Theodor Adorno, Leo Löwenthal ou Herbert Marcuse. 4 II. A História Intelectual

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* Mestranda em História Social e graduanda em Filosofia, ambos na Faculdade de Filosofia, Letras

e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

O FAZER HISTORIOGRÁFICO DE MARTIN JAY.

CECÍLIA MAGALHÃES E RIBEIRO PENTEADO*

Apresentam-se aqui a trajetória intelectual de Martin Jay e o debate historiográfico no qual

ele se insere. Esse amplo debate será abordado com o intuito de evidenciar que o percurso intelectual

de Jay, pelo menos em sua fase madura, é marcado pela interação profissional com outros

historiadores estadunidenses; no sentido de que é essa interação que impulsiona o autor a tomar

posições teóricas e propor conceitos, modelos e metodologias para a História enquanto disciplina.

Assim, a trajetória intelectual de Jay será aqui utilizada para empreender uma reflexão sobre o caráter

biográfico e coletivo do fazer historiográfico de modo geral. Para além das posições e opiniões do

autor, importa principalmente que é do diálogo entre profissionais historiadores que emergem os

diferentes modelos de análise e explicação histórica, os quais definem, no caso, o campo da História

Intelectual estadunidense.

I. A trajetória de Martin Jay, historiador intelectual.

Martin Jay nasceu em 1944 na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Ele se formou em

1965 na Union College da mesma cidade, após ter estudado durante um ano (1963-64) na London

School of Economics, em Londres. Em 1971, concluiu seu PhD sobre a história intelectual do Instituto

de Pesquisas Sociais1, na Universidade de Harvard, sob orientação de H. Stuart Hughes. Atualmente,

Martin Jay é titular da cadeira de Ehrman Professor de História da Europa no campus de Berkeley da

Universidade da Califórnia. Os cursos já ministrados por ele em tal instituição foram: Habermas:

Critical Debates (2011 e 2012); European Intellectual History from the Enlightenment to 1870 (2011

e 2013); The Third Generation of the Frankfurt School (2012); European Intellectual History from

1870 to the Present (2012); The Idea of Reason (2013 e 2015); e Critical Theory Writ Small (2014)2.

1 O título da tese era The Frankfurt School: An Intellectual History of the Institut für Sozialforschung, 1924-1950, a

thesis. Harvard University, 1971. Foi publicada como JAY, Martin. The Dialectical Imagination: The History of the

Frankfurt School and the Institute of Social Research, 1923-50. Boston, Massachusetts: Little Brown and Company, 1973. 2 Informações acessíveis em: http://history.berkeley.edu/people/martin-e-jay .

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Cabe ressaltar ainda que sua esposa, Catherine Gallagher, fundadora da revista Representations,

associada ao novo historicismo, também é professora dessa universidade, no departamento de Crítica

Literária.

De maneira geral, os artigos e livros publicados por Jay durante as décadas de 1970 e 80

abordam a Teoria Crítica e os autores associados às suas três primeiras gerações, além de alguns

aspectos da teoria marxista. O fato de sua formação profissional ter início com o estudo da Teoria

Crítica é importante para o estudo das ideias de Jay, porque em muitas de suas concepções subjazem

influências diretas dessa tendência do pensamento alemão: sua concepção de contexto, para citar

como exemplo um conceito importante para historiadores, está assentada na dialética e no modelo de

constelações do pensamento crítico de Theodor Adorno. Ademais, ainda na década de 1980, Jay

mostra um crescente interesse pela filosofia francesa contemporânea 3 e por seu impacto na

historiografia europeia e estadunidense, uma vez que artigos sobre esses assuntos começam a ser

publicados com maior frequência. A partir de 1990, esses serão temas muito mais recorrentes em seus

livros e artigos do que assuntos ligados à Teoria Crítica, ainda que este continue sendo um tema de

seu interesse – como os títulos de seus cursos sugerem.

A respeito dos artigos publicados no período de 1990 até a atualidade, é difícil delimitar a

gama de interesses do autor, pois sua produtividade escrita é bastante constante e variada. Jay escreve

periodicamente em sua coluna Forcefields, na revista Salmagundi, onde aborda muitos temas

diferentes, como antissemitismo, nazismo, Teoria Crítica, marxismo, modernismo, fatos da

contemporaneidade (como, por exemplo, o atentado de 11 de setembro), revisões de livros, entre

outros temas. Quando escreve em periódicos que não Salmagundi – como Theory and Society,

American Historical Review, New Literary History, Comparative Studies in Society and History –,

torna-se mais evidente seu interesse em discutir métodos e modelos da História Intelectual. Em

relação aos livros publicados no mesmo período, as discussões sobre a História Intelectual, tanto

3 Com “pensamento francês contemporâneo” me refiro, como Jay, ao “o contexto discursivo do pensamento francês do

século XX, [...] desde Bergson, Sartre e Merleau-Ponty até Foucault, Barthes e Lyotard” (tradução nossa). Cf. JAY, M.

Still Waiting to Hear From Derrida. In. Salmagundi. Nº. 150/151, 2006. p. 26.

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estadunidense como europeia, despontam também como os temas centrais 4 de sua produção

intelectual.

Para além do conteúdo específico de suas publicações, mas considerando-as enquanto

conjunto, pode-se dizer que, desde seu PhD até a atualidade, Jay dedicou sua carreira à História

Intelectual; ou ainda, ao estudo histórico dos mais diversos intelectuais – de Karl Marx, Theodor

Adorno e Max Horkheimer até Paul De Man, Jacques Derrida e Jean-François Lyotard. Os artigos e

livros de Jay que, na prática, fazem uma história intelectual de algum dos autores supracitados são

menos relevantes para a reflexão aqui proposta, pois apenas servem de exemplos de seu método de

análise histórica. Mais importantes são as publicações que discutem as questões teórico-

metodológicas da História Intelectual, sendo a maioria destas publicadas entre 1990 e 2011. Em geral,

tais publicações problematizam a associação direta e irrestrita entre os textos e os respectivos

contextos históricos dos quais emergem.

Tendo em vista que a questão acerca da autonomia ou dependência entre os significados de

um texto e o seu respectivo contexto histórico é bastante recorrente entre os historiadores da História

Intelectual estadunidense – pelo menos desde 1940 (SHAPIN, 1992: 333-335); e com bastante

evidência e novos contornos a partir de 1980-90 (VASCONCELOS, 2005: 49-50) –, o problema que

se coloca aqui é sobre a relação de Martin Jay com esse amplo debate, que consiste em diversas

discussões travadas nas páginas de periódicos como Theory and Society, Salmagundi, Comparative

Studies in Society and History, American Historical Review e New Literary History. Entre os autores

que se inserem na discussão estão Quentin Skinner, Hayden White, David Harlan, David Hollinger,

Russerl Jacoby, John G. A. Pocock, Dominick LaCapra, Fritz Ringer, o próprio Martin Jay e tantos

outros. Esse amplo debate será apresentado a seguir, com o objetivo de evidenciar que o percurso

intelectual de Jay, quando inserido em seu campo intelectual, é definido por sua interação com outros

historiadores estadunidenses. Essa interação, ao mesmo tempo, impulsiona-o a tomar posições

teóricas, propor conceitos, modelos e metodologias para sua a área de atuação, a História Intelectual.

4 De acordo com o levantamento das obras de Martin Jay, 60% dos seus livros tratam da teoria ou metodologia da

História Intelectual; ou então produzem uma história intelectual de algum autor, como Theodor Adorno, Leo Löwenthal

ou Herbert Marcuse.

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II. A História Intelectual estadunidense pós 1980 e a inserção de Jay nesse amplo debate

historiográfico.

De acordo com Roger Chartier, o termo História Intelectual, nos Estados Unidos, designa um

campo de investigação da historiografia que se contrapõe à História Social das Ideias – representada

por historiadores como Arthur Lovejoy e Perry Miller –, a qual designa uma disciplina com objeto,

metodologia e programas próprios (CHARTIER, 1990: 29-32). Ao contrário, a História Intelectual

estadunidense não consiste em uma disciplina coesa, mas define-se por diferentes posicionamentos

em relação a alguns pressupostos teórico-metodológicos, os quais despontam no cenário

historiográfico da pós-modernidade e provocam uma espécie de crise epistemológica, marcada pela

fragmentação e superprodução da historiografia (VASCONCELOS, 2005: 51-52). Exemplos de

diferentes modelos que representam essa fragmentação da historiografia pós-1980, nos Estados

Unidos, são: a história pós-estruturalista; a história anti-narrativa; a história estrutural; o estilo dos

Annales (3ª geração); a história do cotidiano (à moda de Norbert Elias e Michel de Certeau); a

“história vista de baixo para cima”, isto é, histórias feminista, familiar, étnica, racial, etc.,

influenciadas principalmente por Edward P. Thompson; a própria história intelectual, entre outros

modelos (GALLAGHER, C.; GREENBLATT, S., 2005: 64-65). Entre os pressupostos pós-modernos

que acarretam essa fragmentação, José Antônio Vasconcelos identifica pelo menos três

(VASCONCELOS, 2005: 86-90) que repercutem com maior intensidade na historiografia.

O primeiro coloca que toda representação sobre a realidade é historicamente construída, seja

aquela encontrada na fonte ou na reconstrução histórica: não há, portanto, uma realidade primordial

a ser “objetivamente” reconstruída pelo historiador. O segundo, tendo como pressuposto o anterior,

pensa a história submergida na literatura, definindo não apenas a forma, mas o conteúdo da narrativa

histórica como uma “ficção” – se questiona aqui a relação entre literatura, retórica e discurso histórico.

O terceiro pressuposto afirma que deve haver, na análise dos significados de um texto, por exemplo,

um esmaecimento das fronteiras entre os textos e seus respectivos contextos, pois o contexto passado

só é acessível para os historiadores através de textos (fontes orais, escritas, arte, etc.); e, além disso,

contextos (inclusive do presente) são, em si, uma trama de forças a serem interpretadas da mesma

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maneira que textos. Martin Jay se insere nesse debate ao discutir, principalmente, este último

pressuposto teórico-metodológico.

Para apresentar o amplo debate em torno desses três pressupostos pós-modernos – sendo que

aqui o foco de análise é o terceiro, a respeito da autonomia ou dependência entre os textos e seus

respectivos contextos –, é interessante recorrer à categorização elaborada por Jay. Ele identificou

quatro principais tendências explicativas entre os diferentes historiadores da História Intelectual

estadunidense (JAY, 1993: 160-163): uma vertente que ele denomina de “contextualista”,

influenciada principalmente por Skinner; e outras três vertentes “textualistas”, influenciadas pelas

ideias de i. Clifford Geertz (hermenêutica I, ou vertente “culturalista”), ii. Hans-Georg Gadamer

(hermenêutica II) e iii. Derrida (desconstrucionismo). Também o novo historicismo, associado ao

departamento de Crítica Literária do campus de Berkeley da Universidade da Califórnia, se insere

nesse debate em torno dos pressupostos teórico-metodológicos apresentados.

A vertente contextualista da História Intelectual, de maneira geral, enfatiza a relação de

dependência entre o texto, seu autor e o contexto, e busca no último a base para a explicação histórica

dos textos. Seus representantes mais conhecidos são Skinner, Pocock e Jacoby. O modelo de Skinner,

em particular, serve de influência para os demais e busca recuperar as intenções que definem um texto,

isto é, recuperar o que ele chama de forças locucionária, ilocucionária e perlocucionária. A primeira

refere-se à intenção do autor propriamente dito, isto é, ao que ele tencionou dizer, caracterizando

assim um elemento consciente e interno ao texto. A força ilocucionária, ou ainda, performativa,

remete às convenções históricas, culturais e aos modismos, por exemplo. Trata-se, portanto, de um

elemento inconsciente e externo ao texto, mas que se manifesta em seus significados de forma

intrínseca. Por último, a força perlocucionária refere-se ao que o texto de fato transmite aos seus

leitores, para além da intenção consciente do autor. Para Skinner, o objetivo do conhecimento

histórico é reconstruir esse conjunto de intenções (SKINNER, 1975-75: 218), para que então se

recupere o significado primordial que determinado texto possuía em seu contexto (seja social, cultural,

político ou econômico) original. O modelo de Skinner, portanto, propõe investigar a realidade passada

de determinado autor como um conjunto de intenções, conscientes e inconscientes, que então se

manifestam no texto produzido. O contexto do autor, dessa forma, é fundamental tanto para a

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produção do texto desde sua origem, quanto para a reconstrução histórica de seus significados – e por

isso esse modelo é chamado de contextualista.

Ao contrário do que propõe esse paradigma, as vertentes textualistas tendem, de maneira geral,

a buscar no texto (e não no contexto) a base para a explicação histórica. Entre seus representantes

estão, por exemplo, White, LaCapra, Harlan e Allan Megill. Enquanto conjunto de “textualistas”,

esses autores compilam sete objeções ao contextualismo: o contexto passado, o qual Skinner pretende

reconstruir, só é acessível para o historiador em forma de texto; esse contexto é ainda lido com as

categorias do presente, de forma que a reconstrução, tanto dos significados do texto quanto do seu

contexto, será sempre marcada por esse “anacronismo”; contextualizações, por si só, não são neutras;

pois e além disso, coexistem múltiplos contextos em um mesmo período e local; um mesmo contexto

pode, inclusive, possuir diferentes significados e características, dependendo da escala (individual,

social, de classe, global, etc.) de análise a que é submetido pelo historiador; em cada contexto estão

implícitos uma ideologia e racionalidade específicas, difíceis de serem propriamente reconstruídas

historicamente. Por fim, o diálogo entre contextos, textos e intenções autorais para eles não é

unidirecional como propõe o modelo de Skinner5, pois interpretações, produzidas nos mais diversos

contextos, a todo momento transpassam as intenções de um autor, transformando os significados

originais de seu texto.

Portanto, as três vertentes textualistas da História Intelectual estadunidense compartilham

entre si a crítica ao contextualismo que pretende recuperar algo do passado, pois para eles a filosofia

contemporânea francesa solapou a crença na possibilidade de reconstruir um sentido primordial do

texto. A vertente desconstrucionista do textualismo, em particular, influenciada pelas ideias de

Derrida, radicaliza essa crença quando entende que não há nada fora do texto, tudo o integra. Assim,

esse paradigma historiográfico circunscreve a análise histórica exclusivamente ao texto, pois entende

que só a representação é realidade; sendo o contexto, em si, também um conjunto de representações

“textuais”. Aqui, portanto, está de fato pressuposto o esmaecimento das fronteiras entre texto e

contexto.

5 Esse compilado de objeções que historiadores textualistas empreendem a respeito do contextualismo está organizado

em JAY, M. Historical Explanation and the Event: Reflections on the Limites of Contextualization. In. New Literary

History. Vol. 42, nº. 4. 2011. pp. 559-562.

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Na Hermenêutica II, historiadores influenciados pelas ideias de Gadamer salientam,

principalmente, o papel do leitor na construção dos significados de um texto. Assim, os contextos de

recepção de uma obra, por exemplo, tornam-se muito mais relevantes para a análise histórica do que

o contexto original do autor. Também o que este tenciona dizer (consciente ou inconscientemente)

importa menos para essa hermenêutica do que os diferentes significados e interpretações que as ideias

“originais” adquirem no contato com o leitor. Portanto, nesse caso não há exatamente o esmaecimento

das fronteiras entre texto e contexto, mas uma mudança do foco explicativo do segundo em direção

ao primeiro. Segundo Jay, quando esse paradigma é radicalizado, só o contexto de recepção importa

para a análise histórica dos significados de um texto – como acontece no modelo de Stanley Fish

(JAY, 1993: 160).

Na Hermenêutica I, ou modelo “culturalista”, os historiadores influenciados pelas ideias do

antropólogo Geertz entendem a própria cultura como um texto; isto é, como um conjunto de

significados a serem identificados, lidos e descritos. O método de análise histórica, aqui, propõe uma

“descrição densa” do objeto de investigação em suas inter-relações, sendo que quanto mais detalhada

a descrição, mais complexo o conhecimento histórico produzido. Além disso, aqui está proposto um

certo distanciamento entre o historiador e seu objeto de estudo. Assim, nessa hermenêutica também

não se pressupõe o esmaecimento das fronteiras entre texto e contexto, e sim uma nova abordagem

para o conceito de contexto, mais voltado para a ideia de cultura.

Ademais, pela extensa discussão sobre a concepção de cultura e sobre o modelo metodológico

de Geertz que Catherine Gallagher e Stephen Greenblatt empreendem em A Prática do Novo

Historicismo, conclui-se certa afinidade teórica entre tal tendência6 da Crítica Literária e o modelo

culturalista da vertente hermenêutica (I) da historiografia estadunidense. Segundo os autores, essa

afinidade não consiste em um alinhamento teórico-metodológico propriamente dito, mas na simpatia

pelo conceito de cultura como texto, o qual amplia em muito “a gama de construções imaginativas a

serem interpretadas” (Cf. GALLAGHER, GREENBLATT, 2005: 39) por historiadores e críticos

literários.

6 C. Gallagher e S. Greenblatt atentam para a pouca coesão entre os críticos literários que se denominam novo-

historicistas. Entretanto, a discussão acerca da cultura como um texto é uma constante na área e, dessa forma, pode ser

generalizada para fins de apresentação. Sobre a definição de novo historicismo, ver GALLAGHER, C.; GREENBLATT,

S. A Prática do Novo Historicismo. São Paulo: Martins Fontes, 2005. pp. 12-21.

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Em suma, no cerne do debate estão aqueles três pressupostos pós-modernos apresentados

anteriormente. Todas as quatro vertentes de historiadores ligados à História Intelectual, além dos

críticos literários do novo historicismo, especulam sobre a relação entre os significados de um texto

e seu contexto de produção; assim como discutem as possibilidades de reconstruir historicamente tais

significados e contextos: há uma relação de dependência, de forma que só se apreende um em relação

ao outro? Reconstruir ou analisar historicamente um texto significa, necessariamente, fazer o mesmo

com seu contexto? Ou ambos possuem autonomia?

Martin Jay insere-se nesse debate, que define a História Intelectual estadunidense, ao discutir

exatamente esse ponto. O levantamento da sua produção escrita aponta que, durante o período de

1990-2011, ele escreve muitos artigos sobre essas questões que estão sendo debatidas entre

historiadores textualistas e contextualistas, sendo possível identificar ao menos três discussões claras

a esse respeito. A primeira discussão acontece entre Ringer, Lemert e Jay, em 1990, no 3º número do

volume 19 do periódico Theory and Society; e consiste em uma sequência de quatro artigos que

conversam entre si. Nas páginas 269-294, um artigo de Ringer intitulado The Intellectual Field,

Intellectual History and the Sociology of Knowledge; nas páginas seguintes, 295-310, um artigo de

Lemert, The Habits of Intellectuals: Response to Ringer; seguido de um artigo de Jay, Fieldwork and

Theorizing in Intellectual History: A Reply to Fritz Ringer, nas páginas 311-321. Como se não

bastasse, as páginas seguintes, 323-334, traziam a dupla réplica de Ringer, em um artigo intitulado

Rejoinder to Charles Lemert and Martin Jay.

Nesses artigos, os autores discutem o conceito de campos intelectuais de Pierre Bourdieu e as

implicações teórico-metodológicas desse conceito para as pesquisas em História Intelectual e

Sociologia do Conhecimento. Ali, Ringer, Lemert e Jay expõem três interpretações diferentes do

conceito de Bourdieu: o primeiro enfatiza o caráter coletivo da produção de conhecimento; o segundo,

o caráter individual e “criativo”; enquanto Jay enfatiza a necessidade dialética entre as dimensões

coletiva e individual do conhecimento. Em termos de modelo histórico, para Ringer os campos

intelectuais são objetos da História; para Lemert, podem ser objetos da História ou Sociologia, tanto

quanto podem o ser os autores ou obras em suas individualidades; e, para Martin Jay, os campos

intelectuais (pelo menos como Ringer descreve) servem mais como ferramentas que auxiliam os

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historiadores na busca pelos diversos elementos que constituem a constelação que define cada texto,

isto é, cada objeto da História Intelectual (JAY, 1990: 312). O nível de dependência entre os textos,

seus autores e o “contexto intelectual”, portanto, é amplamente discutido por Ringer, Lemert e Jay;

cujas posições, em relação ao que seja produzir a história de um intelectual, mostram-se como

bastante diferentes.

A segunda discussão identificada acontece em torno do livro Downcast Eyes: The Denigration

of the Vision in the Twentieth-Century French Thought, publicado em 1993 por Martin Jay. A

discussão foi travada em 1996, também em uma clara sequência de artigos de Lloyd Kramer, Craig

Calhoun e Jay, no volume 38 do periódico Comparative Studies in Society and History. Os artigos

encontram-se na seção de revisões de livros e abordam questões teóricas na medida em que discutem

as repercussões históricas e historiográficas do pensamento que Jay chama de antiocularcêntrico,

uma aglutinação entre as palavras anti, ocular e centrismo. Para ele, o termo designa “o contexto

discursivo do pensamento francês do século XX, caracterizado pela penetrante crítica a hiper-

visualidade – ou ocularcentrismo –, desde Bergson, Sartre e Merleau-Ponty até Foucault, Barthes e

Lyotard” (Cf. JAY, 2006: 26). Essa sequência de artigos é interessante porque ali Jay discute muitos

dos princípios de autores chamados desconstrucionistas: sua interpretação, receptividade e críticas

ao pensamento antiocularcêntrico – de um modo bastante diferente, mas de natureza similar à

influência da Teoria Crítica – influi na maneira como ele conceitualiza contextos históricos, textos, a

própria história e o conhecimento; e levanta, assim, nuances do seu modelo de conhecimento histórico.

A última discussão identificada não consiste, como as outras, em sequências de artigos que

explicitamente conversam entre si – no sentido de que levantam questões sobre textos de autores que,

literalmente, respondem aos comentários feitos. Trata-se, sim, de um único artigo de autoria de Jay,

intitulado Historical Explanation and the Event: Reflections on the Limits of Contextualization (2011),

o qual traz um debate declarado com a vertente contextualista da História Intelectual estadunidense,

na medida em que aponta limites e lacunas no modelo de Skinner. A crítica a um modelo incide

também aos historiadores metodologicamente influenciados pelo mesmo, como no caso Jacoby e

Pocock – estes, sim, contemporâneos a Martin Jay. O texto foi então publicado no número 4 do

volume 42 do periódico New Literary History, em 2011. Ali, Jay também define o que entende por

forcefields, “campo de forças”; conceito fundamental para a sua concepção de contexto – e,

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consequentemente, para sua proposta de análise histórica dos textos. Ao desenvolver esse conceito, o

autor deixa evidências de sua formação em Teoria Crítica, pois as ideias adornianas de constelação,

não-identidade, dialética negativa e história, estão por toda a parte nesse artigo: às vezes de maneira

indireta, como uma palavra (como constelações) seguida de uma nota de rodapé sobre as ideias de

Adorno como um modelo de pensamento teórico (JAY, 2011: 561 e nota nº 1); e às vezes de maneira

direta, citando suas próprias análises sobre Adorno como exemplos de modelo do fazer historiográfico

(JAY, 1990: 316).

III. Conclusão: O fazer historiográfico de Martin Jay.

Conforme apresentado, o amplo debate entre historiadores contextualistas e textualistas define

o campo da História Intelectual estadunidense, na medida em que delineia uma série de posições em

relação a determinados pressupostos teórico-metodológicos. Essas posições, como visto, implicam

diferentes modelos de análise histórica: a posição de historiadores skinnerianos sobre a relação entre

texto e contexto implica um modelo que pretende reconstruir os significados primordiais de um texto;

a posição de historiadores culturalistas, por sua vez, implica um modelo de descrição histórica; a dos

gadamerianos, um modelo fundamentalmente hermenêutico; a dos desconstrucionistas, uma análise

textual. Ainda que cada uma dessas “vertentes” historiográficas contenha diferenças internas, dada a

diversidade de autores que as integram, é possível falar em “modelos” de conhecimento histórico,

referentes a cada uma dessas vertentes. Esse amplo debate é formado por dezenas ou centenas de

discussões específicas, as quais são travadas por diferentes historiadores nas páginas de periódicos

especializados. Assim, é no desenvolver dessas discussões particulares que se constroem e se

delimitam as posições, os métodos e os modelos de análise, explicação ou exposição histórica – pelo

menos no que se refere à História Intelectual estadunidense.

Nesse sentido, foram apresentadas três discussões nas quais Martin Jay participa ao discutir

exatamente os pressupostos e modelos colocados por seus colegas (como Skinner, Jacoby e Ringer,

por exemplo). Os argumentos utilizados por Jay nessas discussões (assim como os de seus colegas)

implicam seu entendimento pessoal sobre conceitos como o de contexto, texto e história, além de

suas “inter-relações”. É esse entendimento pessoal que delineia um modo específico (em um sentido

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quase biográfico) de se inserir na discussão, isto é, de pensar e realizar o fazer historiográfico. Para a

reflexão aqui proposta não cabe desenvolver o conteúdo dos argumentos de Jay propriamente dito,

mas sim evidenciar que ele se insere no seu campo profissional a partir da interação direta e explícita

com as posições de outros historiadores.

Portanto, está sendo aqui proposto que o conhecimento histórico é produzido no debate entre

profissionais da área e, ao mesmo tempo, pelas particularidades de cada participante, alguns

“excepcionais”. Perde-se algo da individualidade de um autor quando se entende que a produção do

conhecimento advém unicamente de sua dimensão coletiva. À exemplo de Jay, o entendimento sobre

conceitos fundamentais e sobre a própria discussão em si trazem implícitas as marcas de sua trajetória

pessoal, de suas influências teóricas particulares, de suas companhias e experiências individuais. O

fazer historiográfico enquanto coletivamente realizado só tem sentido se consideradas, com igual

importância, as particularidades de cada historiador: do contrário, as “vertentes” historiográficas não

seriam formadas por uma rica heterogeneidade de opiniões, mas por uma estranha unanimidade.

Esse é um problema que emerge com frequência na leitura de artigos ou livros de historiadores

intérpretes de Pierre Bourdieu. Os conceitos de campos intelectuais e de habitus, desenvolvidos por

esse autor em textos como Campo Intelectual e Projeto Criador (1966) e O Campo Científico (1976),

de fato enfatizam a dimensão coletiva do conhecimento (sociológico, no caso de Bourdieu).

Entretanto, o modelo de Bourdieu não nega a particularidade de um autor, do “criador”, no campo

intelectual no qual está inserido; mas entende ambos, particularidades e campo, em interação dialética

(BOURDIEU, 1966: 125). Esse aspecto passa muitas vezes como irrelevante em intérpretes de seus

textos, como Fritz Ringer, com quem Jay debate. Ringer tira dos conceitos de Bourdieu um modelo

de conhecimento histórico que propõe reconstruir objetivamente os campos intelectuais do passado,

compreendendo-os como unidades cujas particularidades pouco importam, pois o seu objeto de

investigação é unicamente a dimensão coletiva do conhecimento, isto é, o conhecimento enquanto

produzido no interior de um campo intelectual específico.

Aqui, entretanto, propõe-se algo bastante diferente: a dimensão coletiva do produzir

conhecimento só tem sentido se considerada também as particularidades da trajetória de cada autor.

As perguntas do coletivo são produzidas e respondidas por indivíduos, que as leem e respondem em

vistas de suas leituras prévias, seus conceitos prévios, entre outros elementos da sua trajetória

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intelectual pessoal, enfim. Do contrário, também não se pode entender a existência de autores

excepcionais e obras canônicas. Considerar as particularidades dos “criadores” e a existência de

“obras canônicas” ou “autores excepcionais” não significa, entretanto, reduzir o conhecimento às

intenções de seus autores; pois entender dialeticamente a dimensão particular e coletiva do

conhecimento significa dar a ambos igual importância: um existe em função do outro; isto é,

constituem-se e se definem sempre reciprocamente, um em vista do outro.

Com isso, conclui-se que a trajetória profissional de Jay, desde a época da especialização até

sua real inserção na comunidade de historiadores estadunidenses, acaba delimitando uma certa

maneira de elaborar análises e explicações históricas. Se sua inserção profissional é marcada pelos

pressupostos e problemas da História Intelectual, a fase da especialização é marcada pela Teoria

Crítica. Esta influi naquela na medida em que a ideia de história, de texto e de contexto de Jay, quando

já profissionalmente maduro por assim dizer, estão fundamentadas nas concepções que estudou

intensamente durante o período de sua especialização. Em outras palavras, Jay se insere na discussão

da História Intelectual à luz do modelo crítico e da dialética de Adorno; assim como à luz dos

problemas da filosofia francesa contemporânea, da influência de sua esposa ligada ao novo-

historicismo, da sua cadeira de professor emérito no campus de Berkeley, entre outras experiências

que influem na sua leitura dos argumentos de seus colegas. Isso significa que as perguntas e respostas

que Jay direciona aos problemas da historiografia contemporânea e conterrânea a ele trazem

implícitas as marcas de seus percursos intelectuais.

Portanto, a particularidade de cada percurso intelectual só desperta em relevância quando

inserida na dimensão coletiva da produção de conhecimento: um não pode estar dissociado do outro,

pois são como que “opostos complementares”. Assim, além da trajetória individual, são também de

suma importância o diálogo e as relações que Jay estabelece com colegas historiadores da mesma

área, sejam contextualistas ou textualistas; pois, como visto, é no jogo de problematizar e responder

os artigos de colegas que se constroem as delimitações teóricas da História Intelectual estadunidense.

Em outras palavras, é no diálogo entre Skinner, Ringer, Pocock, Jacoby, LaCapra, White, Jay, entre

outros, que são propostos diferentes modelos de explicação e análise histórica: modelos

contextualistas, hermenêuticos, culturalistas, e assim por diante. Nesse sentido, estudar as ideias de

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Jay, ou de qualquer outro autor, em sua dimensão biográfica, tanto individual (suas influências

particulares, etc.) quanto coletiva (diálogos, por exemplo), significa estudar também pressupostos,

posições teóricas, modelos, possibilidades e limites metodológicos do fazer historiográfico.

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