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48 ALEX VILAÇA A procura constante dos con- sumidores pelo estilo de vida mais saudável abriu espaço para uma nova série de empreendi- mentos. Amparado pela produção de alimentos agroecológicos, orgânicos, sem lactose, sem glúten, sem gordura e mais naturais, o mercado nacional de alimentos e bebidas saudáveis já ocupa o quinto lugar no mundo, com volume de vendas de 27,5 bilhões de dólares em 2015, segundo levanta- mento da Euromonitor. Esse aumento do interesse por alimentos mais saudáveis também fomentou o desenvolvimento de fei- ras de pequenos produtores em Belo Horizonte. Iniciativa interessante é a Feira Fresca, que surgiu do desejo de estreitar laços entre quem faz e quem come. Para a coordenadora Izado- ra Delforge, confiança e justiça são indispensáveis para a realização do mercado itinerante. “Na contramão das relações distantes entre quem consome e quem produz, propuse- mos a relação de confiança entre os polos. Além disso, ao comprar dire- to de um produtor local, paga-se um preço justo pelo produto, diferente Fotos: Luiza Bongir FEIRA FRESCA: laços estreitos entre produtor e consumidor Feiras ecológicas são tendência na cidade e trazem mais economia para o consumidor Em prol da saúde VIVER Março 3 - 2017 SUSTENTABILIDADE ESTEFANE SIQUEIRA: produção de própolis e mel 100% orgânicos e sem conservantes

FEIRA FRESCA: Fotos: Luiza Bongir Em prol da saúde · Empresa lança marca de pão de queijo 100% natural Mineiro no Rio VIVER Janeiro 20 - 2017 GASTRONOMIA e depois de pro-var muitos

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Page 1: FEIRA FRESCA: Fotos: Luiza Bongir Em prol da saúde · Empresa lança marca de pão de queijo 100% natural Mineiro no Rio VIVER Janeiro 20 - 2017 GASTRONOMIA e depois de pro-var muitos

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ALEX VILAÇA

A procura constante dos con-sumidores pelo estilo de vida mais saudável abriu espaço

para uma nova série de empreendi-mentos. Amparado pela produção de alimentos agroecológicos, orgânicos, sem lactose, sem glúten, sem gordura e mais naturais, o mercado nacional de alimentos e bebidas saudáveis já ocupa o quinto lugar no mundo, com volume de vendas de 27,5 bilhões de dólares em 2015, segundo levanta-mento da Euromonitor.

Esse aumento do interesse por alimentos mais saudáveis também

fomentou o desenvolvimento de fei-ras de pequenos produtores em Belo Horizonte. Iniciativa interessante é a Feira Fresca, que surgiu do desejo de estreitar laços entre quem faz e quem come. Para a coordenadora Izado-ra Delforge, confiança e justiça são indispensáveis para a realização do mercado itinerante. “Na contramão das relações distantes entre quem consome e quem produz, propuse-mos a relação de confiança entre os polos. Além disso, ao comprar dire-to de um produtor local, paga-se um preço justo pelo produto, diferente

Fotos: Luiza Bongir

FEIRA FRESCA: laços estreitos entre produtor e consumidor

Feiras ecológicas são tendência na cidade e trazem mais economia para o consumidor

Em prol da saúde

VIVER Março 3 - 2017

SUSTE NTAB I LI DADE

ESTEFANE SIQUEIRA: produção de própolis e mel 100% orgânicos e sem conservantes

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FEIRA TERRA VIVA trabalha com agroecologia e economia solidária

VIVER Março 3 - 2017

dos aplicados pelos super-mercados”, conta Izadora.

Com cerca de 150 pro-dutores cadastrados, a fei-ra conta com outros itens além dos tradicionais hor-tifrutis. A bióloga Estefane Siqueira foi uma das pro-dutoras que viu na feira a possibilidade de ampliar seu negócio. Ela trabalha há 12 anos com abelhas e decidiu criar a Verde Vivo M e l , e m p r e s a que produz pró-polis e mel 100% orgânicos e sem c o n s e r v a n t e s . “Era um grande sonho mostrar para as pesso-as que é possível consumir, a um preço acessível, um mel que res-peita o meio am-biente”, declara. Um dos diferenciais é a análise po-línica em laboratório, que revela em que flores as abelhas buscaram o pólen e possibilita diferenciar os produtos por florada. “Os clientes adoram essa va-riedade e sempre querem saber quais propriedades terapêuticas a próxima flo-rada irá trazer”, comenta.

Outro empreendimen-to de destaque é a Feira Terra Viva, no bairro Flo-resta. Ela surgiu em 2005 por meio da iniciativa de consumidores que se vi-ram carentes de produtos agroecológicos no merca-do. A partir do contato com associações, cooperativas, assentamentos e agricul-

tores familiares, a feira pôde cres-cer e conquis-tar um público fiel. “Esse arranjo de organizações permite levar um p r o d u t o m a i s saudável para o consumidor. So-mos uma rede que trabalha em d o i s r a m o s : a agroecologia e a economia so-lidária. Nossos

produtores resistem ao agronegócio com uma produção que não degrada o ambiente, tampouco en-venena pessoas”, explica Fernando Rangel, secretá-rio executivo da rede.

Apesar de parecerem sinônimos, agroecologia e agricultura orgânica são termos diferentes. Para ser reconhecido como

NÚMERO

4,93

milhões de hectares é o total de área destinada

exclusivamente ao cultivo de orgânicos em todo o Brasil

Patrícia Pádua

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produtor orgânico, o sistema de pro-dução deve ser certificado pelo Mi-nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A legislação, em vigor desde 2011, exige registro no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, que ainda é inacessível aos pequenos agricultores em ra-zão dos custos elevados da certifica-ção. “É muito burocrático conseguir o selo orgânico. Demorei oito meses para ter a certificação”, confessa Es-tefane. O cadastro testifica o sistema de produção, que deve ser compro-metido com a saúde dos solos, dos ecossistemas e das pessoas. “O custo para conseguir o selo orgânico ain-da é alto. E, de alguns anos para cá, o produto orgânico se tornou uma espécie de ‘grife’. Muitas vezes, o alimento orgânico é produzido por poucos e para poucos”, esclarece Fernando Rangel.

A agroecologia, por sua vez, é uma teoria de gestão de sistemas agrícolas com vistas à produtividade e sustentabilidade dos recursos lo-cais, ao cultivo da fertilidade do solo de maneira biológica e à regulação natural de pragas, por meio da pro-moção da biodiversidade e da re-dução dos impactos ambientais e socioeconômicos negativos das tec-nologias modernas. Em oposição à necessidade de certificação dos or-gânicos pelo Mapa, a agroecologia não reclama uma regulação. Ao con-trário, define-se também como um movimento sociopolítico e socioam-biental de empoderamento do agri-cultor familiar, que tem autonomia para agregar saberes populares e tra-dicionais à sua produção, sempre visando a uma agricultura ambien-talmente sustentável, economica-mente eficiente e socialmente justa.

Esse é o caso de Antônio Ribei-ro, o Toninho, produtor agroecoló-gico do assentamento Ho Chi Minh, no município de Nova União, na Região Metropolitana de Belo Ho-

50 VIVER Março 3 - 2017

ASSENTAMENTO HO CHI MINH: plantio sustentável de banana, ervas e maracujá, entre outros

O aplicativo Mapa de Feiras Orgâni-cas no Brasil, disponível para Android e iOS, é uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e que identifi ca as feiras que vendem produtos orgânicos e agroe-cológicos em todo o país. Ele identifi ca o ponto de venda mais próximo com a ajuda da geolocalização, traçando ro-tas para se chegar ao local escolhido.

APLICATIVO

Divulgação

Divulgação

rizonte. Junto com a esposa Nar-li Barbosa, Toninho faz o plantio sustentável de hortaliças, ervas, ba-nana, mandioca e maracujá. Eles conheceram a feira em 2011 e es-tão há quatro anos participando efetivamente com sua produção. “Trabalhamos num lote de nove hec-tares no assentamento, que já tem 37 famílias. Optamos pela agroecolo-gia porque temos um compromisso com a qualidade de vida e com a saú-de do consumidor e de nós mesmos.

Ter uma vida saudável deveria ser um direito acessível a todos”, expõe.

Para quem procura uma feira ecológica perto de casa, a prefeitura também promove feiras de orgâni-cos, que comercializam leguminosas, folhosos, frutas, ovos, cereais e com-potas de frutas, entre outros pro-dutos. O programa é realizado em parceria com a Empresa de Assistên-cia Técnica e Extensão Rural de Mi-nas Gerais (Emater-MG). Ao todo, são oito feiras que acontecem se-manalmente em bairros das regiões Centro-Sul, Oeste e Pampulha. Para participar da feira, todos os produto-res precisam ter o certificado de pro-dução orgânica.

O mercado é promissor: o cresci-mento do segmento no país, de 20% em média em 2012, contra 8% no resto do mundo, explica o bom po-sicionamento do Brasil entre os pro-dutores mundiais. O relatório The World Organic Agriculture, elabora-do pelo Research Institute of Organic Agriculture e pela International Fe-deration of Organic Agriculture Mo-vements, coloca os brasileiros entre os maiores produtores de orgânicos, com 4,93 milhões de hectares de área destinada exclusivamente ao cultivo de produtos orgânicos, segundo o úl-timo Censo Agropecuário do IBGE.

SUSTE NTAB I LI DADE

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34 VIVER Fevereiro 17 - 2017

ESPECIALCAPA

BAIANAS OZADAS, FOLIA DE MILHARES

A expectativa do Baianas Oza-das é tão grande que sequer pode ser mensurada. Desde a primeira apre-sentação, em 2012, a projeção do bloco tem aumentado exponencial-mente. “Em 2013, quando cadastra-mos na Belotur, pensando em 500 pessoas, tivemos 15 mil. No ano se-guinte, dobrou. Em 2015 já eram 100 mil de foliões e no último, em 2016, chegamos a 300 mil”, lembra Geo Cardoso, fundador do bloco. Tama-nho sucesso não veio fácil. O grupo investiu, desde outubro e dezembro, em oficinas que apresentaram ao público os instrumentos e ritmos da musicalidade baiana. Desde janeiro, os ensaios acontecem rigorosamen-te toda semana. No ensaio do dia 3 de fevereiro, o repertório afinado dos quase 120 instrumentistas da bateria fez o Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR) sacudir ao rit-mo do axé nordestino. Com surdos, repiniques, agogôs e xequerês, o blo-co desponta como o mais baiano da capital mineira e o maior de todos em público. “O crescimento se deu porque a cidade era carente de uma festa popular como o Carnaval. É um

fenômeno que favorece a capital como um todo, com o aquecimento da economia”, expli-ca Geo.

Quem não per-de a folia do bloco é Débora Mesquita, 34. Há três anos a assis-tente administrativa acompanha todos os ensaios e apre-sentações do blo-co. A paixão pelo Baianas teve origem no gosto pelo gêne-ro musical mais famoso da Bahia: o axé. Ansiosa para pular o Carnaval nas ruas de BH, Débora acredita que este ano vai ser ainda me-lhor. “A expectativa é a melhor possível, espero que lote bas-tante. O público gosta mui-to do bloco. Agora tem até uma ala de crianças”, conta.

Além de foliã, Débora também com-põe a bateria tocando o repique,

um instrumento solista importante na con-

d u ç ã o m u s i c a l das escolas de

samba. O tema

do Baianas Ozadas des-

te ano homena-geia o músico Moraes Morei-

ra, que completa 70 anos de idade e outros tantos de

carreira. Ele foi o pri-meiro cantor de trio

elétrico, cantando, em 1975, no trio de Dodô e

Osmar, os inventores do trio elétrico do Carnaval baiano. “O tema do Baianas deste ano é Salve Moraes dos Eternos Carnavais, que revi-sita este Carnaval saudoso de Dodô e Osmar, com o frevo baiano instrumental, que foi uma inovação na época”, ex-plica Geo. (Alex Vilaça)

BAIANAS OZADASvai homenagear Moraes Moreira

DÉBORA MESQUITA: presença constante

nos ensaios e desfi les

Fotos: Juliana Flister/Agência i7

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50

ALEX VILAÇA

De origem incerta, mas de tra-dição incontestável, o pão de queijo se espalhou por todo o

país a partir do século 18, tornando-se popular em meados da década de 1950. Ainda assim, há quem sinta fal-ta do quitute produzido no interior do estado. Esse foi o caso de Rafae-la Gontijo, mineira e filha de fazen-deiros. Residente no Rio de Janeiro, matava saudade dos pães de queijo trazendo remessas consigo para a ci-dade maravilhosa. Logo começou a receber encomendas de amigos e foi aí que percebeu uma oportunidade no mercado.

Rafaela deixou a carreira corpo-rativa para dar início a uma jornada pelos municípios do estado. A recei-ta de polvilho, queijo, ovos, leite e banha de porco passou de geração por geração, com modificações aqui e acolá. Margarina, farinha de trigo e glúten foram sendo acrescentados ao preparo, afastando-se cada vez mais da fórmula original do pão de queijo. Ao visitar fazendas de Patos de Minas

Empresa lança marca de pão de queijo 100% natural

Mineiro no Rio

VIVER Janeiro 20 - 2017

GASTRONOM IA

e depois de pro-var muitos pães de queijo, uma coisa tor-nou-se clara. “Fizemos uma imersão e experimentamos mais de 100 tipos. O que a gente viu foi que não era preciso mudar a receita sim-ples e característica do pão de quei-jo”, conta.

Ela se juntou aos colegas Luisa Sá e Erik Nako, chef de cozinha, para criar a Nuu, marca de pão de queijo 100% natural e sem glúten. “Quando o pão de queijo se industrializou, ba-ratearam o produto em detrimento da qualidade”, explica. A empresa, com

fazenda n a s e r r a

do Salitre, no Triângulo Mineiro,

produz diariamente os queijos cura-dos usados na receita.

Com linguagem típica e design moderno, a Nuu destaca-se pelo tra-tamento diferenciado do rebanho em todo o processo de produção. A Nuu também abre espaço para pequenos produtores de queijo, favorecendo a agricultura familiar.

Os produtos já podem ser encon-trados em restaurantes, cafés, delica-téssen e hotéis butique do Rio e, em breve, ganharão uma pop up store na rua Dias Ferreira, no Leblon. “Esta-mos abrindo um novo ponto de ven-da, onde vamos vender pão de queijo recheado e no cone, entre outras op-ções. Também vamos lançar duas novas linhas de produtos nesse pri-meiro trimestre”, conclui Rafaela. A Nuu também já chegou a São Paulo e deve fazer sua estreia em Minas ainda em 2017.

Bruno Bernardes

Tomas Rangel

RAFAELA GONTIJO: foco na qualidade