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Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Introdução a abordagem fenomenológica da sociologia A obra da Alfred Schutz Nome: Iago Vinícius Avelar Souza Professor: Ronaldo de Noronha Matéria: Sociologia II

Fenomenologia e Relações Sociais - Alfred Schutz

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Trabalho sobre a fenomenologia de Alfred Schutz

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Page 1: Fenomenologia e Relações Sociais - Alfred Schutz

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Introdução a abordagem fenomenológica da sociologia

A obra da Alfred Schutz

Nome: Iago Vinícius Avelar Souza

Professor: Ronaldo de Noronha

Matéria: Sociologia II

Belo Horizonte, dois de Julho de 2012.

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1. O mundo do senso comum

Segundo a abordagem fenomenológica, os indivíduos constroem seu próprio mundo.

Este mundo é de certa forma pré-estruturado, sua construção depende dos materiais e

métodos que são ofertados por outros indivíduos. “O mundo da vida é um mundo social

que aparece ao indivíduo de forma pre-estruturada” (WAGNER, 2012:27). A análise de

Schutz consiste em compreender a relação entre o esforço de um indivíduo para

entender o mundo ao seu redor e a pré-estruturação desse mundo.

Os indivíduos tratam o mundo ao redor como algo dado. Ou seja, a existências, as

escolhas, as interpretações sobre os fenômenos e as relações do mundo social são

construídas e desenvolvidas pelo seu “grupo cultural interno”. Essas interpretações do

mundo fazem parte da “concepção relativamente natural do mundo”.

Diferente de Durkheim e Sumner (WAGNER, 2012), Schutz não considera essa

estrutura cultural como um mecanismo determinista e coercitivo, ele fez questão de

frisar o significado subjetivo da participação da pessoa em seu grupo cultural. Para o

sociólogo, esse significado surge do esforço que os indivíduos fazem em busca de uma

definição de seu lugar e seu papel dentro dessa comunidade, mais especificamente,

dentro dos subgrupos os quais ele pertence.

Todavia, o que realmente é importante é como que essas múltiplas interpretações do

mundo natural de cada comunidade em particular unem-se de modo a formar uma visão

de mundo comum. Como explicou Schutz, os grupos internos possuem uma

autocompresão coletiva sobre a comunidade e a sustentam no decorrer do tempo

(WAGNER, 2012). Dessa forma, os membros de uma comunidade cultural vizinha,

possuindo suas próprias concepções de mundo relativamente natural, enxergam a

primeira por meio de uma visão externa, e vice e versa.

Em seus estudos, Schutz analisou o problema da adaptação que afetam os indivíduos

que tendo sido criados em uma comunidade cultural são transferidos a outra. Segundo

Schutz, mesmo que eles cheguem com uma imagem já esquematizada da comunidade

que os recebem, se sentiram desorientados. Todas as suas antigas concepções de como

deveria ser a vida cotidiana são inúteis, assim, eles são obrigados a tornarem-se

observadores e reconstruírem aos poucos pelo menos as regras básicas da nova vida

cotidiana.

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Dessa forma, apesar da tentativa de adaptação por partes dos “estrangeiros”, o seu lugar

é considerado como um não envolvimento, ele é tratado como alguém em quem não se

pode confiar; sua lealdade ao grupo permanece em dúvida. Contudo, somente por meio

do “desapego” o “estrangeiro” enquanto um observador torna-se apto a oferecer uma

visão “objetiva” dessa comunidade.

Portanto, para Schutz, se o indivíduo constrói sua própria visão do mundo ao seu redor,

ele não o faz sem a colaboração da “matéria-prima” que os outros lhe oferecem nesse

relacionamento constante com os seus semelhantes (WAGNER, 2012). Nas relações

sociais, temos necessidade de interpretar os outros, mais é algo acontece em todas as

relações, é de forma espontânea.

2. A reciprocidade de Perspectivas

Schutz, ao considerar os aspectos cognitivos e ativos da vida cotidiana, demonstrou que

as orientações e a conduta dos seres humanos no mundo da vida são influências pelas

orientações culturais e formas linguísticas já existentes e a existência de outros seres

humanos. “A interação social envolve a ação social de pelo menos duas pessoas que se

orientam umas em relação à outra. E viver no mundo da vida cotidiana geralmente

significa vivenciar situações de interação com muitas pessoas, em complexas redes de

relações sócias.” (WAGNER, 2012:42).

Ou seja, o problema fenomenológico mais simples tratado aqui, é o da

intersubjetividade. Segundo Schutz, o próprio Hursserl (WAGNER, 2012) já havia

percebido que a resposta este problema era fundamental para sua filosofia. Entretando,

Schutz percebeu que a maneira de abordagem de Hursserl era equivocada, então ele

sugeriu que a intersubjetividade deveria ser tomada como uma condição para toda

experiência humana imediata no mundo da vida. Ela deveria ser aceita como algo dado

e inquestionável “com a apercepção da aparição física de outros indivíduos”

(WAGNER, 2012:42)

Assim, argumenta Schutz que no mundo da vida, a intersubjetividade não consiste em

um problema, ela é dada e não é questionada, ela está no começo de tudo. O indivíduo

aceita como dado a existência de outros indivíduos, ele percebe os seus corpos, seus

movimentos, seus sons, todos esses elementos são diretamente apresentado aos outros

indivíduos.

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A experiência sensorial de uma pessoa por outra é dotada de consciência e sentimento,

semelhantes a consciência e os sentimentos das pessoas que percebe. “Nos termos

técnicos da fenomenologia, a apresentação dada da aparência física do outro é

necessariamente acompanhada da apresentação não dada sensorialmente de sua natureza

humana” (WAGNER, 2012:43).

Schutz ainda tratou de explicar que as experiências dos outros aparecem em um “meio

comunicativo comum”, em um ambiente compartilhado por duas ou mais pessoas que

são capazes de se comunicar mutualmente (WAGNER, 2012). Este ambiente, apesar de

ser composto por diferentes pontos de vistas subjetivos ele ainda é preenchido por

objetos e eventos, que são percebidos por ambos e entre eles permitem a compreensão e

consentimentos mútuos. Essa situação possui dois focos subjetivos. Cada um dos

indivíduos a vivencia em consideração as suas próprias experiências da situação, da

qual, o outro também é parte. “Mas ela não apenas experiencia a si mesma na situação,

mas também experiencia ao experenciar da situação do outro.” (WAGNER, 2012: 43).

Trata-se do que Schutz chamou de a experiência do “Nós”, e ele juntou esse fenômeno

em sua “tese geral do alter ego”. Segundo Schutz “o alter ego é aquele fluxo de

consciência cujas atividades eu posso apreender mediante minhas próprias atividades

simultâneas” (WAGNER, 2012:43). Ainda frisou que essa tese geral constitui o quadro

referencial fundamental tanto para a psicologia quanto para a sociologia

fenomenológicas.

É nessa perspectiva que se encontra a reciprocidade de perspectivas, nós nos vemos no

olhar dos outros, e para compreendermos os indivíduos em suas relações sociais

devemos ter a capacidade de nos colocar no lugar do outro onde o objeto é a

compreensão mútua das ações.

3. A interpretação da ação

Schutz inicialmente trata de analisar o conceito de “compreensão”, lidando

primeiramente com as ambiguidades referentes ao uso comum do termo. Ele apresenta

três maneiras pelas quais podem-se afirmar que a ação de alguém é “compreendida”

quando não existe nenhuma intenção de se comunicar com os outros; e cinco maneiras

que acontecem quando se usa signos linguísticos com a intenção de comunicar.

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Analisando o “único significado escrito do termo”, compreensão refere-se a apreender

aquilo que se passa na mente do outro. Dessa forma o “tu” se transforma em um “outro

eu”. “Durante o processo de envolvimento de alguém em um meio de comunicativo

comum, o outro eu ocorre em uma vívida experiência imediata. Isso transcende a

própria empatia na medida em que o outro é experienciado como sendo ele próprio, e

não um reflexo do eu da própria pessoa que experiencia. A empatia é reduzida a um

mínimo quando a compreensão da outra pessoa é tentada retrospectivamente.”

(WAGNER, 2012:44). Para Schutz, essa é a única forma para que uma pessoa lide com

outras com quem não tem intensão de criar uma relação comunicativa. A compreensão

do outro se da sob a forma de uma atribuição de significados para o curso da ação da

qual se observa.

A análise de Schutz ainda vai além. Ele também se pergunta sobre a compreensão

subjetiva. Ele Afirma que o que deve ser compreendido são as motivações dos outros,

ou seja, a compreensão subjetiva é uma compreensão motivacional. Assim, num nível

mínimo, as relações meramente fatuais, os atores buscam os motivos típicos dos atores

típicos, produzem concepções de certa forma predefinidas. E em um nível máximo, nas

relações mais pessoas, a compreensão subjetiva afasta-se da tipificação e se aproxima

de um nível elevado de intimidade humana.

Dessa forma, o padrão para o entendimento mútuo é “a reciprocidade de motivos” ,

quando um ator se dirige a outro se espera que o outro ator responda com uma ação,

assim, a reação esperada é desejada e então é “o motivo com-a-finalidade-de” do

primeiro ator. Quando o outro ator percebe essa intenção e reponde a ela, esse “o motivo

com-a-finalidade-de” do primeiro ator passa a ser o seu “motivo porque”.

Schutz ainda complementou essa tesa da reciprocidade de motivos com aquela referente

a reciprocidade de perspectivas, dessa maneira, ainda podemos afirmar que essa

segunda opera como o quadro geral para a primeira. Como já disse, o meio

comunicativo comum cria uma situação com duas perspectivas. “Cada uma das pessoas

envolvidas lida com essa característica da situação assumindo que, se ela estivesse no

lugar da outra, ela experimentaria essa situação a partir da perspectiva dela, e vice versa.

Ademais, ele afirma ainda que as relevâncias conectadas a seus propósitos comuns ou

complementares revelam as diferenças individuais coexistentes nas duas perspectivas

ao domínio da irrelevância relativa” (WAGNER, 2012:45).

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4. Bibliografia

WAGNER, H. T. R. Introdução a abordagem fenomenológica da Sociologia.

Fenomenologia e Relações Sociais. Petrópolis. Vozes. 2012 pag 11-62.