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FERNANDA DE SOUZA FERNANDES REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE A TERMINALIDADE INFANTO-JUVENIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva [Mestrado Profissional] da Universidade do Extremo Sul Catarinense, como requisito para o título de Mestre em Saúde Coletiva Orientador: Prof. Dr. Jacks Soratto. CRICIÚMA 2017

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FERNANDA DE SOUZA FERNANDES

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DE

SAÚDE SOBRE A TERMINALIDADE INFANTO-JUVENIL

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Saúde Coletiva [Mestrado

Profissional] da Universidade do

Extremo Sul Catarinense, como

requisito para o título de Mestre em

Saúde Coletiva

Orientador: Prof. Dr. Jacks Soratto.

CRICIÚMA

2017

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Bibliotecária Eliziane de Lucca Alosilla – CRB 14/1101

Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC

F363r Fernandes, Fernanda de Souza.

Representações sociais dos profissionais de saúde sobre a

terminalidade infanto-juvenil / Fernanda de Souza Fernandes. -

2017.

138 p. : il.; 21 cm.

Dissertação (Mestrado) - Universidade do Extremo Sul

Catarinense, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva,

Criciúma, 2017.

Orientação: Jacks Soratto.

1. Representações sociais. 2. Adolescentes - Morte. 3.

Cuidados paliativos. 4. Assistência terminal. 5. Câncer em

adolescentes. 6. Pessoal da área médica e pacientes. I. Título.

CDD 23. ed. 616.029

FERNANDA DE SOUZA FERNANDES

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DE

SAUDE SOBRE A TERMINALIDADE INFANTO-JUVENIL

Esta dissertação foi julgada e aprovada para obtenção do Grau de

Mestre em Saúde Coletiva na área de Educação e gestão do cuidado em

saúde no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Mestrado

Profissional) da Universidade do Extremo Sul Catarinense.

Criciúma, 18 de dezembro.de 2017

Dedico às crianças, familiares e

colegas que encontrei em minha

caminhada no hospital São José,

eles ressignificaram a minha

história.

GRADECIMENTOS

Agradeço a Deus inteligência suprema causa primária de todas as

coisas, ponto de partida e de chegada da referencia da existência

humana.

A minha mãe Zélia Fernandes e pais, Dante de Oliveira, [pai 1]

que junto a minha mãe me deu a vida, e João de Souza in memoriam

[pai 2] que me adotou. Aos demais familiares sou grata por me

compreenderem e tolerarem minha ausência em razão da dedicação a

este trabalho.

Ao querido marido Joel, agradeço por sua compreensão, amor,

apoio e motivação para tudo que faço.

Aos amigos/colegas, Marjana Monteiro das Silva, Heloisa Helena

Beirão, Dipaula Minotto da Silva, Priscila Shochat e Luciano Silveira

Pacheco de Medeiros gratidão por sua presença, apoio, escuta, trocas e

incentivos nos diversos momentos dessa trajetória.

Aos inspiradores professores do PPGSCol, sou grata!

Especialmente a professora Ingrid Schweigert Perry que me acolheu

amorosamente no início dessa jornada.

A profa. Fabiane Ferraz com apoio maternal me apresentou ao

meu orientador.

A Jacks Soratto que com sua seriedade e acolhimento aceitou o

tema proposto, e facilitou a minha caminhada, orientando e conduzindo

tal qual o mestre conduz o aprendiz. E compartilhando seus preciosos

conhecimentos possibilitou meu mergulho num universo

teórico/qualitativo antes desconhecido. Sou grata por esta oportunidade

de construção neste caminho.

Aos participantes dessa pesquisa, que amorosamente doaram seu

de tempo e as suas representações sobre este tema, eles e elas

contribuíram significativamente para essa pesquisa.

Às avaliadoras deste trabalho profa. Fabiane Ferraz, em minha

gratidão por sua presença cabem muitos obrigadas, desde os encontros

nas disciplinas, qualificação do projeto, acolhimentos nos momentos de

angustia, e para este momento seu aceite torna ainda mais intensa minha

gratidão.

E Profa Giovana Ilka Jacinto Salvaro minha gratidão por sua

presença também está preenchida de significados, desde a indicação

deste curso de mestrado e as suas preciosas contribuições no momento

de qualificação deste trabalho. Me expresso grata pela oportunidade de

sua presença.

Suas presenças tornam este momento ainda mais solene, intenso

repleto de representações para mim. Gratidão

“Algumas flores desabrocham

apenas por alguns dias. Todos as

admiram e amam por serem um

sinal de primavera e de esperança.

Depois, essas flores morrem. Mas

já fizeram o que tinham a fazer”

(KUBLER-ROSS, 2008).

RESUMO

A terminalidade e a morte infanto-juvenil são acontecimentos que

podem gerar significados e representações de potencial intensidade. O

presente estudo teve por objetivo compreender as representações sociais

dos profissionais de saúde sobre a terminalidade infanto-juvenil em

diferentes cenários de trabalho. Trata-se de um delineamento

exploratório descritivo com abordagem qualitativa que utilizou como

referencial teórico a Teoria das Representações Sociais. A pesquisa foi

realizada na cidade de Criciúma Estado de Santa Catarina com 10

profissionais de saúde que assistiram crianças em situação de

terminalidade infanto-juvenil os quais foram selecionados por meio da

técnica de snow ball. Os instrumentos de coleta de dados utilizados

foram entrevistas semiestruturadas e rede associativa. A análise de

dados foi realizada conforme o preconizado pela análise de conteúdo, e

teve como auxílio para organização subsidiada pelo software para

análise de dados qualitativos Atlas.ti. Os preceitos éticos para pesquisa

com seres humanos foram respeitados tendo como parecer nº 2.157.987

Os resultados foram organizados em três categorias, a primeira

subdividida em experiências, estratégias e consequências do convívio

com a terminalidade, E destacaram que as experiências com situações de

terminalidade, dispõem de sentimento de fracasso; limitações da equipe;

e sentimento de dever cumprido, As estratégias de superação no

convívio com a terminalidade, associam-se a autosuperação e

religiosidade. As consequências da vivência com situações de

terminalidade foram definidas como ampliação do sentido da vida e

aprendizado pessoal, Na segunda categoria, a missão e amorosidade em

situação terminal foram descritas como uma manifestação de missão e

manifestação de amor. E a terceira categoria, término da vida

demonstrou terminalidade interrupção prematura da vida e morte.

Conclui-se que trabalhar com terminalidade possibilita a reconexão com

a essência mais profunda de humanidade pela certeza de finitude. É

trabalhar com a dor, sofrimento e muito amor. São necessários maiores

incentivos que reforcem as politicas publicas para ampliação do acesso

ao cuidado integral proposto nos cuidados paliativos. Informação e

formação para os profissionais trabalharem e lidarem com a

terminalidade e a morte.

Palavras-chave: Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida.

Cuidado Terminal. Doente Terminal. Cuidado Infantil Integralidade em

Saúde.

ABSTRACT

The terminality and infant-juvenile death are events that can generate

meanings and representations of potential intensity. The present study

aimed to understand the social representations of health professionals

about child and adolescent terminology. This is a descriptive

exploratory design with a qualitative approach that used as theoretical

reference the Theory of Social Representations. The research was

carried out in the city of Criciúma State of Santa Catarina with 10 health

professionals who attended children in terminally ill children and

adolescents who were selected through the technique of snow ball. The

instruments of data collection used were semi-structured interviews and

associative network. The data analysis was performed as recommended

by the content analysis, and was aided by an organization subsidized by

the Atlas.ti qualitative data analysis software. The aspects ethical

precepts for research with human beings were respected having as

opinion 2.157.987. The results were organized into three categories, the

first subdivided into experiences, strategies and consequences of living

with terminality, and emphasized that experiences with terminality

situations have a sense of failure; limitations of the team; and a sense of

duty fulfilled, The strategies of overcoming in conviviality with the

terminality, are associated with self-improvement and religiosity. The

consequences of living with terminal situations were defined as an

extension of the meaning of life and personal learning. In the second

category, mission and amorousness in a terminal situation were

described as a manifestation of mission and manifestation of love. And

the third category, termination of life has shown terminality premature

interruption of life and death. We conclude that working with

terminality makes it possible to reconnect with the deepest essence of

humanity by the certainty of finitude. It is working with pain, suffering

and lots of love. Greater incentives are needed to reinforce public

policies to increase access to comprehensive care offered in palliative

care. Information and training for professionals to work and deal with

terminality and death.

Key words: Palliative Care in the Terminal of Life. Terminal Care. Sick

Terminal. Child Care Health Integrality

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Distribuição mundial dos estudos sobre terminalidade. ....... 33 Figura 2 - Participantes da pesquisa ...................................................... 71 Figura 3 - Elementos constituintes das representações sociais da

terminalidade infanto-juvenil ................................................................ 79 Figura 4 - Palavras evocadas pelos profissionais de saúde relacionadas a

terminalidade infanto-juvenil ................................................................ 81

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Descrição do perfil dos participantes do estudo (n=10). ...... 72 Tabela 2 - Descrição das categorias, subcategorias e códigos de acordo

com o número de trechos de narrativas relacionadas as representações

sociais da terminalidade infanto-juvenil. ............................................... 80

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DCNT – Doenças Crônicas não Transmissíveis

FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

INCA – Instituto Nacional do Câncer

OMS – Organização Mundial de Saúde

PNPCC – Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer na Rede

de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas

RHC – Registro Hospitalar do Câncer

RS - Representações Sociais

SISREG – Sistema Nacional de Regulação

SUS – Sistema Único de Saúde

TRS – Teoria das representações sociais

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 29 1.1 PRESSUPOSTOS ........................................................................... 36 1.2 OBJETIVOS ................................................................................... 36 1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................ 36 1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................. 36 2 FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA ................................................... 37 2.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: ASPECTOS HISTÓRICOS E

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ............................................................. 37 2.2 PRINCIPAIS TEORIAS E ABORDAGENS DAS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ........................................................... 43 2.2.1 Abordagem Dimensional ........................................................... 44 2.2.2 Abordagem estrutural ................................................................ 45 2.2.3 Abordagem dinâmica ................................................................. 46 2.2.4 Abordagem Societal ................................................................... 47 2.3 REPRESENTAÇÕES SOCAIS DA TERMINALIDADE E MORTE

............................................................................................................... 48 2.3 INTEGRALIDADE EM SAÚDE E A TERMINALIDADE .......... 56 2.4 O CÂNCER INFANTO-JUVENIL E A TERMINALIDADE ....... 60 2.4.1 A morte infanto-juvenil e a integralidade na assistência ........ 62 2.5 CUIDADOS PALIATIVOS NA TERMINALIDADE INFATO

JUVENIL .............................................................................................. 64 3 MÉTODO .......................................................................................... 68 3.1 TIPO DE ESTUDO ......................................................................... 68 3.2 LOCAL E PARTICIPANTES DO ESTUDO ................................. 69 3.2.1 Critérios de Inclusão .................................................................. 69 3.2.2 Critérios de Exclusão ................................................................. 69 3.2.3 Procedimentos para seleção dos participantes ......................... 69 3.3 COLETA DE DADOS .................................................................... 72 3.3.1 Entrevista Semiestruturada....................................................... 73 3.3.2 Rede associativa .......................................................................... 73 3.3.3 Procedimentos para Coleta de Dados ....................................... 74 3.4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ 74 3.5 ASPECTOS ÉTICOS ...................................................................... 77 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................... 79 4.1 REPRESNETAÇÕES DAS EXPERIÊNCIAS, ESTRATÉGIAS E

CONSEQUÊNCIAS DO CONVÍVIO COM A TERMINALIDADE .. 81 4.1.1 Representações das experiências com situações que envolvem

terminalidade ....................................................................................... 81

4.1.2 Representação da terminalidade como estratégias de

autossuperação. ................................................................................... 89 4.1.3 Consequências da vivência com situações de terminalidade .. 96 4.2 MISSÃO E AMOROSIDADE NA REPRESNETAÇÃO DA

TERMINALIDADE .............................................................................. 99 4.3 TERMINALIDADE COMO TÉRMINO DA VIDA .................... 103 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 108 REFERÊNCIAS ................................................................................ 111 APÊNDICE(S) ................................................................................... 127 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS .......................... 128 APÊNDICE B – REDES ASSOCIATIVAS .................................... 130 REDE ASSOCIATIVA (ROSA, 2005) ............................................ 130 APÊNDICE C – CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO NA

PESQUISA ......................................................................................... 132 APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO ............................................................................... 134 ANEXO(S) ......................................................................................... 137 ANEXO A – CARTA DE APROVAÇÃO DO CEP – UNESC ...... 138

29

1 INTRODUÇÃO

A motivação para a composição deste estudo originou-se das

discussões acadêmicas, profissionais e principalmente pela vivência e

acompanhamento da assistência de profissionais de saúde a crianças

com doença oncológica em fase de terminalidade.

O processo de terminalidade infanto-juvenil, observam-se

dificuldades referentes aos aspectos que resultam das manifestações

comportamentais e emocionais dos profissionais de saúde ao acessarem

a representação simbólica do sofrimento do paciente e seus cuidadores.

Por mais que esses profissionais sintam-se preparados

tecnicamente para realizar suas atividades assistenciais, as emoções e

sentimentos emergentes diante do sofrimento, e da sensação de

impotência na iminência de morte, parecem dificultar o exercício do

cuidado.

As representações sociais dos profissionais de saúde sobre a

terminalidade pode ter um impacto significativo na capacidade de

enfrentamento no que se refere assistir o paciente1 que necessita da

prestação de cuidados em saúde.

Portanto torna-se crescente a pretensão de entender sobre os

reflexos das representações sociais dos profissionais de saúde sobre

terminalidade e como podem influenciar na integralidade do cuidado aos

pacientes infanto-juvenis em tratamento oncológico e seus familiares.

Os pacientes, em processo de terminalidade, podem ser

encontrados em dois cenários: no domicílio, entendido como local de

permanência e não somente de residência, e principalmente no hospital

(OLIVEIRA, 2010). Há alguns anos era praticamente predominante que

o processo de morte, a morte propriamente dita, o preparo do corpo e o

velório aconteciam em casa no ceio familiar.

O hospital, na sua origem se configurava como um lugar de

internamento que reunia doentes, loucos, criminosos, devassos e

prostitutas (FOUCAULT, 1979).

A partir do século XX, gradativamente e junto com os avanços

tecnológicos o hospital foi se consolidando na área da saúde como locus para manifestação de determinados fenômenos relacionados ao ciclo

1 Ao longo deste estudo optou pela utilização do termo “paciente”, porém

ao reportar-se a esta palavra entende-se que significa um usuário do Sistema

Único de Saúde que possui direitos e deveres, e um sujeito que deve ser

assistido nas suas diversas concepções, seja elas fisiológicas, psíquicas,

sociais econômicas culturais e espirituais.

30

vital do ser humano, dentre os quais, nascimento e em especial a morte

(ARIES, 2003).

Na sociedade ocidental, principalmente ao compreender-se que

acontecimentos inesperados, esperados e naturais gerariam a

possibilidade de morte, a mesma passou a ser enfocada como um evento

que deveria ocorrer, predominantemente, no contexto hospitalar,

remetendo a um morrer solitário. Assim, o que costumava acontecer,

naturalmente no domicílio, passou a ser institucionalizado no ambiente

hospitalar (WHO, 2011).

A partir disso a morte passou a ser institucionalizada e

medicalizada nos hospitais (COSTA, LIMA 2005) onde aparelhos de

alta tecnologia são utilizados para diagnósticos e tratamento de agravos.

Por consequência disso, o tecnicismo se estabeleceu entre os

profissionais de saúde, por meio de uma valorização excessiva da

técnica, que colaborou ainda que indiretamente, para tornar o paciente

um objeto (OLIVEIRA, 2010), consequentemente desmerecendo os

aspectos subjetivos e desumanizando a relação entre profissional de

saúde e paciente (COLLIÈRE, 1989).

É importante ressaltar que há diversas iniciativas com objetivo de

proporcionar a desinstitucionalização hospitalar. A mais recente e que se

associa em partes aos aspectos relacionados ao objeto de investigação

dessa pesquisa [terminalidade], foi a redefinição da atenção domiciliar

no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2016,).

A atenção domiciliar passa a ser uma modalidade de atenção à

saúde por meio de suas equipes multiprofissionais voltadas a ações de

paliativas. Neste sentido o processo de terminalidade começa também a

ser contemplado como política fora do ambiente hospitalar.

A terminalidade ganha maior importância ao considerar que

muitos países têm experimentado o processo de urbanização, e um

significativo aumento das condições sociais e da expectativa de vida.

Isso tem colaborado para melhores condições de saúde refletido em um

processo de transição epidemiológica que se materializa principalmente

no declínio das doenças infecto-parasitárias, aumento de incidência de

problemas crônicos degenerativos e também de neoplasias (DUARTE;

BARRETO, 2012).

No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) reforça que as

neoplasias tornaram-se um problema de saúde pública, especialmente

entre os países em desenvolvimento, nos quais é esperado que, nas

próximas décadas, o impacto do câncer na população corresponda a

80% dos mais de 20 milhões de casos novos estimados para 2025

(BRASIL, 2016)

31

A estimativa mundial, realizada em 2012, apontou que, dos 14

milhões de novos casos estimados, mais de 60% ocorreram em países

em desenvolvimento. Para a mortalidade, a situação se agrava ao

constatar-se que a previsão de 8 milhões de óbitos sendo 70% nos

referidos países (BRASIL, 2016)

A estimativa no próximo ano para o Brasil indica a ocorrência de

cerca de 600 mil casos novos de câncer em todas as faixas etárias. Essa

situação exigirá uma resposta governamental com políticas de

enfrentamento e exercício profissional mais qualificado para assistência

a pessoas em situação de doença crônica e terminalidade (BRASIL,

2016).

Diante deste cenário de aumento do aparecimento de neoplasias,

destaca-se, em especial, o público infanto-juvenil [crianças e

adolescentes], cujo percentual mediano dos tumores pediátricos

observados nos registros de câncer de base populacional dos brasileiros

encontra-se próximo de 3%, portanto, ocorrerão nos próximos anos

aproximadamente 12.600 casos novos de câncer em crianças e

adolescentes até os 19 anos (BRASIL, 2016).

O surgimento desse agravo para esse grupo etário tem exigido

dos profissionais que prestam a assistência em saúde um preparo

específico para lidar com as situações, em especial a terminalidade por

paliação ou prematura, que podem surgir durante o tratamento.

A terminalidade da vida se estabelece quando se esgotam as

possibilidades de resgate das condições de recuperação da saúde2 e a

possibilidade de morte iminente parece inevitável e previsível

(GUTIERREZ, 2001). Ou seja, a pessoa em situação grave e

irreversível, em que se prevê a morte em um curto espaço de tempo e

para quem as profissões de saúde não oferecem nenhuma chance de cura

(GARCIA, 2007; KIPPER, 1999).

Em se tratando de definição de terminalidade discute-se que além

da impossibilidade de interrompimento da iminência de morte pela

minimização ou anulação da resposta a tratamentos, também está

presente a progressão de sintomas intensos e em alguns casos de

sofrimento, resultando em um impacto emocional ao paciente, as

pessoas que o circundam e aos profissionais de saúde que o assistem

(PESSINI; BERTACHINI, 2006; TSUCHIDA-FERNANDEZ;

BANDRÉS-SANCHEZ, 2002).

2 A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a saúde como um estado

de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de

afeções e enfermidades.

32

O processo de terminalidade deve ser valorizado, com ofertas de

cuidados que oportunizem o máximo de qualidade de vida a pessoa em

fase terminal e também aos envolvidos no cuidado (GARCIA, 2007;

PAZIN FILHO, 2005; BATISTA, 2011).

Em 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou

uma definição voltada para cuidados paliativos na pediatria, como o

cuidado ativo e total oferecido à criança, nas dimensões física, social,

emocional e espiritual, bem como o suporte oferecido a toda a sua

família (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998).

A OMS refere que o cuidado paliativo deve ser iniciado quando a

doença crônica é diagnosticada, devendo peregrinar concomitantemente

com o tratamento curativo. A avaliação e o alívio do sofrimento são

prioridades nessa abordagem e devem ultrapassar o campo biológico,

alcançando as esferas psíquica e social (VALADARES, MOTA;

OLIVEIRA, 2013).

Para que isso se torne possível, a OMS afirma a necessidade da

equipe multidisciplinar, e que ela inclua no processo de acolhimento

toda a família e o meio em que a criança está inserida. Os cuidados,

diante da necessidade da criança e dos envolvidos devem ser prestados

em centros de atenção primária, terciária e até mesmo no domicílio do

paciente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998).

O debate que permeia os cuidados paliativos no âmbito da

política do SUS, necessariamente depende de uma compreensão mais

profunda do seu próprio significado e de suas dimensões. Diante desse

contexto, o Ministério da Saúde brasileiro idealizou um plano de ações

estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT) entre 2011 a 2022 prevendo a ampliação,

fortalecimento e qualificação da assistência oncológica no SUS, tendo

em vista, um aumento crescente da demanda e do número de pessoas

vinculadas a Rede de Assistência à Saúde (RAS) que estão precisando e

precisarão de cuidados paliativos (BRASIL, 2011).

A partir de uma busca no banco de dados no Gopubmed [um

serviço gratuito disponível na web que consulta a base PubMed], com a

seguinte estratégia de busca Terminally Ill AND Palliative Care AND Terminal Care, encontrou-se 1202 artigos, com destaque para Estados

Unidos [130], Reino Unido [44] e Canada [41]. A figura 1 ilustra a

distribuição desses estudos.

33

Figura 1 - Distribuição mundial dos estudos sobre terminalidade.

Fonte: Gopubmed (2017).

Há também estudos que utilizam o referencial teórico das

representações sociais vinculado aos profissionais de saúde.

Silva e Cruz (2011) apresentam a relação entre as implicações

que a doença oncológica imprime na saúde do paciente e a importância

do planejamento da assistência, que determinam prioridades, definem

intervenções, organizam e orientam ações assistenciais de sua equipe

com vistas a resultados pretendidos na qualidade de vida dos pacientes.

O estudo ainda indicou para a necessidade de ampliação dessas

reflexões e reconhecimento das condições e processos de trabalho que

exprimam e articulem a relação entre a objetividade da prática e a

subjetividade dos profissionais envolvidos (SILVA, CRUZ 2011).

Existe também um número considerável de estudos que associam

a TRS a termalidade. Coelho (2015) apresenta a análise das

representações sociais de 70 enfermeiros de clínica médica não

especializada sobre o pacientes com doença oncológica, em cuidados

paliativos, apontando que a representação social destes enfermeiros está

predominantemente com teor negativo, vinculada a ideia de morte,

finitude, terminalidade, dor e sofrimento que são questões contrárias à

filosofia dos cuidados paliativos.

Ainda indica que são necessárias atividades de capacitação na

área e ampliação do debate sobre o tema na intenção de promover

melhorias na assistência prestada a pacientes oncológicos em cuidados

paliativos (COELHO, 2015)

Alguns desses estudos além de apresentarem as dificuldades

encontradas pelos profissionais para lidarem com a morte demonstram a

fragilidade do ensino no tocante a terminalidade da vida, de modo que

34

um número insignificante de escolas de medicina norte americanas

contempla esse tema em suas grades curriculares, situação esta que

também refletem nos programas de residência médica (SIQUEIRA,

2003). Identificou-se também que profissionais em formação

[estudantes de enfermagem] apresentam dificuldades em lidar com os

sentimentos que emergem após a morte do paciente; referem que o

apego pode gerar sentimentos de culpa, impotência, tristeza, medo e

indiferença e a crença de que o distanciamento poderia amenizar a

situação, havendo dificuldade em expressar os sentimentos

(OLIVEIRA; BRETAS; YAMAGUTI, 2007).

De maneira geral, autores refletem que o profissional de saúde

em formação é preparado com maior ênfase para lidar com a vida no

que tange os aspectos técnicos e práticos da função profissional.

Demonstra-se pouca ênfase em questões emocionais e na

instrumentalização para o duelo constante entre a vida e a morte, no

qual, muitas vezes, deve prestar assistência para que o paciente possa ter

uma morte digna (OLIVEIRA; BRETAS; YAMAGUTI, 2007).

Há ainda resultados que evidenciam como necessário vivenciar a

terminalidade, uma vez que oportuniza transformações no entendimento

que o ser humano tem sobre a morte (SALOUM; BOEMER, 1999).

Existe também sentimentos de impotência, não envolvimento

emocional, conformismo, compaixão, identificação com o ser que morre

e seus familiares, fracasso e despreparo acadêmico para enfrentar a

morte (LIMA; MARQUES, 2011).

Outra pesquisa, destaca que o sofrimento psicológico que a

atenção aos pacientes de câncer em processo terminal pode suscitar luto

nos profissionais de saúde e, consequentemente, limitar o potencial de

sua atuação profissional (SILVA, 2009).

Um estudo realizado sobre a abordagem da enfermagem diante da

morte infantil conclui que os profissionais e os estudantes sentem-se

despreparados para lidar com a situação da terminalidade de crianças

oncológicas, bem como nos cursos de graduação este tema ainda,

mesmo que transversal e transdisciplinar, é incipiente. (SANTOS;

SILVEIRA; PORTELLA, 2013).

No estudo Cuidados paliativos em oncologia pediátrica (SILVA

et al., 2015), a equipe sofre, com a morte da criança de forma

semelhante à família, move-se em direção à construção de mecanismos

de enfrentamento para a elaboração do luto. Paradoxalmente, a equipe

compartilha saberes para delinear as bases do projeto terapêutico

singular a ser implementado e insere a família nesse processo para que

possa assumir o protagonismo do cuidado à criança.

35

As discussões sobre a terminalidade, embora seja um

acontecimento presente na prática cotidiana dos serviços de saúde, ainda

identifica-se dificuldades dos profissionais em saber lidar com essa

situação (REGO; PALÁCIOS, 2006).

Assim, falar de terminalidade e morte na saúde parece-nos difícil,

porquanto possa parecer conflitivo trabalhar diariamente próximo a essa

realidade e lidar com os significados dela todos os dias.

Mesmo com a existência de um número considerável de estudos

que tratam das TRS e sua vinculação os profissionais de saúde e

também com a terminalidade, constata-se uma carência de associação da

TRS a profissionais que atuam na assistência infanto-juvenil.

Para lidar com os significados da terminalidade, em especial de

crianças e adolescentes em tratamento oncológico se torna indispensável

que o profissional de saúde se sinta com as condições técnicas e

psicológicas satisfatórias. Também há necessidade desses profissionais

estarem integralmente conectados com o espaço profissional que

habitam, o ambiente social em seu entorno, seu trabalho e os

sentimentos e emoções emergentes das experiências vividas.

Este trabalho reforça a discussão da necessidade dos profissionais

de saúde estarem envolvidos em sua tarefa sim, mas acolhidos nas

dimensões que lhes causam sofrimento resultante das dificuldades de

executar o trabalho e as ações planejadas ou limitações na prática do

cuidado que tanto é prezada pelos profissionais de saúde, e com isso

transformar o trabalho em tarefa satisfatória que consolidam aspectos da

subjetividade humana (DEJOURS, 2009).

Com o intuito de compreender o fenômeno da terminalidade

vivenciado pelos profissionais de saúde em suas ações assistenciais, esta

pesquisa contará com suporte de base do referencial das representações

sociais que são constituídas de idéias, imagens, concepções e visões de

mundo que os grupos sociais possuem sobre a realidade, podendo se

manifestar em condutas (MOSCOVICI, 2011).

A vivência experimentada no cenário acadêmico e profissional

despertou alguns questionamentos que moveu este estudo, a saber:

Como os profissionais de saúde lidam com os sentimentos emergentes

no processo de terminalidade? Como vivenciam processo de luto, suas

dificuldades e facilidades? Quais estratégias usam para lidar com esses

sentimentos diante da terminalidade?

Diante do exposto, o presente estudo possui a seguinte questão

norteadora: Quais as representações sociais dos profissionais de saúde

sobre a terminalidade infanto juvenil?

36

1.1 PRESSUPOSTOS

Os pressupostos desse estudo são:

a) Os profissionais de saúde têm dificuldade de aceitação da

terminalidade infanto-juvenil.

b) Os profissionais de saúde necessitam de qualificações para

lidar com o enfrentamento da terminalidade infanto-juvenil.

c) Os profissionais de saúde desenvolvem estratégias de

enfretamento devido ao luto para conseguirem lidar com as

eventuais situações futuras.

d) Os profissionais de saúde sofrem com as perdas, acumulam

sentimentos, mas não expressam, porque em seguida precisam

atender outros pacientes e sua família, e, portanto, receiam

não realizar as atividades com a atenção técnica devida.

e) As concepções dos profissionais de saúde atribuídas a morte,

saúde e doença influenciam na prática assistencial e na

humanização do cuidado no processo de terminalidade.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Compreender as representações sociais dos profissionais de saúde

sobre a terminalidade infanto-juvenil em contextos laborais diversos.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Analisar o processo de ancoragem e objetivação das

representações sociais dos profissionais de saúde sobre a

terminalidade infanto-juvenil;

b) Identificar as dificuldades e facilidades enfrentadas pelos

profissionais de saúde na assistência a pacientes em situação

de terminalidade infanto-juvenil.

37

2 FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA

A presente seção contemplará o alicerce teórico e a construção

dos achados da literatura que objetivam fornecer uma sustentação para o

objeto de investigação dessa pesquisa. O alicerce teórico será

estruturado com ênfase em alguns preceitos que perpassam a TRS, por

seguinte, também será reforçado as discussões que norteiam a

integralidade em saúde, terminalidade e morte de pacientes infanto-

juvenil

2.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: ASPECTOS HISTÓRICOS E

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

O conceito de Representações Sociais, desenvolvido no século

passado, transitou pela filosofia e sociologia e foi adotado mais tarde,

pela psicologia social que entendia o psiquismo como reflexo da

realidade social (FERREIRA; BRUM, 2000).

A origem da psicologia social é encontrada preferencialmente, na

sociologia, em Durkheim [1858-1917], Simmel ou Toennies, e na

antropologia, não apenas na psicologia. Psicólogos como Wundt, Tarde,

Freud, McDougall, Baldwin, Mead ou Lewin, considerados pais

fundadores da psicologia social, impetram por uma continuidade da

relação à outras ciências sociais, sobretudo, a antropologia (DOISE,

2002).

O primeiro autor a tratar sobre a TRS foi Emile Dukheim,

inicialmente chamando de representações coletivas para se referir ao

modo como uma sociedade pensa, elabora e expressa sua realidade

(MINAYO, 2008). Durante muitos séculos, o conhecimento produzido

pelo senso comum foi considerado confuso, inconsciente, desarticulado

e fragmentado, sem validade. Tanto o Iluminismo quanto o Marxismo

acreditavam que a superação do erro e da ignorância se dava pela via do

pensamento científico (ARRUDA, 2002). Durkheim apresentou a teoria

de Representações Coletivas como formas estáveis de compreensão

coletiva, oferecendo por meio dela a possibilidade, de integrar a

sociedade como um todo (DUVEEN, 2011).

As representações coletivas são reconhecidas como maneiras de

exercer sobre o ser humano uma coerção exterior, esses fatores, que se

dividem em três caracterizas básicas: a coerção social, exterioridade e

generalidade (MOSCOVICI, 2001).

A coerção social é um conjunto de leis e normas que irão

determinar e dirigir o comportamento das pessoas que vivem em uma

38

sociedade. A interioridade a existência das regras sócias exteriores ao

individuo, ou seja, como uma criança que quando nasce e já existem

comportamentos que serão impostos a essa criança para que ela os siga

(MOSCOVICI, 2001).

A generalidade é a determinação de que todos os membros de

uma sociedade seguem as regras gerais. Sendo assim essas

representações são externas aos membros da sociedade, elas existem

apesar e além do ser humano. Essas ações coletivas definem como as

pessoas vão agir pensar e sentir (MOSCOVICI, 2001).

Contudo, o psicólogo romeno, naturalizado francês Serge

Moscovici [1925-2014] cunha as Representações Sociais com interesse

maior pela variação e diversidade das ideias coletivas, por entender que

estas refletem a heterogeneidade dentro das sociedades contemporâneas,

além da distribuição desigual de poder e, consequentemente, diferenças

entre as representações (DUVEEN, 2011).

A TRS tem seu início em 1961 em sua tese de doutorado

intitulada La Psychanalyse, son image et son publique, onde o autor

inaugura um novo campo de investigação psicossociológica (SÁ, 2004).

A teoria surge diante da necessidade de mudança, emergindo em

um período histórico, no qual a valorização exacerbada do modelo

científico positivista que se estruturava no comportamento observável,

como o potencial behaviorismo, deferia menor importância aos saberes

culturais e em especial de senso comum (ROCHA, 2014).

O conceito de representação coletiva de Durkheim, para

Moscovici, vai além dos aspectos sociológicos que, em sua visão,

reduzem a representação a uma reprodução do social (VILLAS BOAS,

2004).

Diante disso, Moscovici busca reforçar a ideia de social em

detrimento do coletivo, e propõe que as representações sociais sejam

construídas pelas pessoas em compartilhamento do conhecimento,

estando em continua reorganização dependendo das demandas sociais

vigentes.

Neste sentido, a teoria das representações sociais difere das

representações coletivas durkheimianas na forma como especifica a base

dos pensamentos e das comunicações entre as pessoas (SÁ, 2004).

As Representações Sociais são, portanto, oriundas da capacidade

do ser humano de se mover em busca de compreender o mundo e a

realidade a sua volta. É uma forma de apropriação da realidade social,

onde a pessoa internaliza aquilo que é social do que se encontra em seu

entorno. E os frutos dessa relação dialética entre homem e mundo, que

considera aspectos individuais e sociais, são sempre partilhadas, devido

39

à orientação em relação ao mundo e as pessoas que o compõe (ROCHA,

2014).

De acordo com Moscovici (2003, p.23)

As Representações Socais emergem, não apenas

como um modo de compreender um objeto em

particular, mas também como uma forma em que

o sujeito [indivíduo ou grupo] adquire uma

capacidade de definição, uma função de

identidade, que é uma das maneiras como as

representações expressam um valor simbólico.

A TRS é uma reflexão filosófica que significa a reprodução de

uma percepção anterior da realidade ou conteúdo do pensamento

(MINAYO, 2003). A teoria transita pelo individual e são construídas

coletivamente por meio de conceitos, ideias, imagens, compartilhadas

entre um grupo social, a respeito de temas específicos (MOSCOVICI,

2011)

As representações sociais são compreendidas e percebidas como

entidades quase tangíveis que circulam, cruzam-se e se cristalizam

incessantemente através do discurso, gestos, e encontros das pessoas no

e com o universo cotidiano onde os comportamentos sociais,

conhecimentos e também a comunicação sofrem intervenções destas

representações (ARRUDA, 2002).

As relações, propostas na TRS são maneiras de compreender e

comunicar o conhecimento já instituído com objetivo de abstrair o

sentido do mundo, introduzindo nele ordem e percepções. Duas

constituições, uma icônica e uma simbólica compõem as duas faces na

TRS, sendo a representação imagem e significação, ou seja, “[...] a

representação iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma

imagem” (MOSCOVICI, 2011, p. 46).

Embora possa hajam dificuldades em caracterizar as

Representações Sociais, a primeira compreensão consensual científica

da teoria, admite o entendimento de que esta é forma de pensamento, de

conhecimento, de construção cognitiva, socialmente elaborada e

compartilhada.

As representações sociais têm objetivo prático na edificação de uma realidade comum a um grupo social, esta “igualmente designada

como saber do senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta

forma de conhecimento distingue-se, dentre outros, do conhecimento

científico” (JODELET, 2009, p. 35). No entanto, é considerada um

40

objeto de estudo legítimo, tendo em vista a importância das

representações sociais na vida cotidiana, nos comportamentos sociais e

nos processos cognitivos (JODELET, 2009).

As representações sociais são compreensões coletivas,

compartilhadas e entrelaçadas em temas sociais de relevância, em

muitos momentos já estudados e adaptados a realidade social cotidiana.

São ainda, compartilhadas entre as pessoas de um mesmo grupo, que

conjugam características sociais compatíveis e por isso se conectam

também por suas representações. E são mutáveis e adaptáveis

dependendo das demandas sociais vivenciadas e dos grupos sociais

compartilhados.

[...] as representações são sempre um produto da

interação e comunicação e elas tomam sua forma

e configuração especificas a qualquer momento

como uma consequência do equilíbrio especifico

desses processos de influência social

(MOSCOVICI, 2011, p. 21).

Neste sentido as representações sociais oportunizam o estudo das

ideias, imagens, concepções e visões de mundo que os grupos sociais

possuem sobre a realidade, manifestadas em condutas (MOSCOVICI,

2011).

Possibilitar a familiarização do não familiar e tornar o familiar o

não familiar é a primeira tarefa de um estudo cientifico sob a ótica das

representações, para que possam ser compreendidas como fenômenos

descritos e adequados em suas circunstancia por meio de técnicas

metodológicas.

As representações sociais contribuem para tornar científico o

senso comum. E para tal a TRS possui mecanismos que se encontram na

base da origem e do funcionamento da metodologia desta teoria, que são

a ancoragem e a objetificação. De acordo com Moscovici (2011) a

ancoragem é um processo que transforma algo estranho, intrigante e

perturbador para o sujeito e o familiariza a uma categoria considerada

apropriada. Ancorar é então classificar, dar nome a alguma coisa.

(MOSCOVICI, 2011).

O objetivo do segundo mecanismo é objetificar essa

classificação, transformar o que estava abstrato em algo quase concreto,

ou seja “[...] transferir algo que esta na mente em algo que exista no

mundo físico” (MOSCOVICI, 2011, p. 61)

41

Na RS Moscovici transcende a tentativa de descrever, analisar e

compreender um dado objeto social, ele busca entender os seres

humanos na magnitude do contexto social.

Nas Representações Sociais “o elemento social, é algo

constitutivo dela e não uma entidade separada. O social não determina a

pessoa, mas é parte fundamental dela. O ser humano é essencialmente

social” (GUARESCHI, 2007, p. 203). Moscovici (1984) salienta que na

sociedade existem dois tipos de universos de pensamento: o universo

consensual e o universo reificado.

O universo consensual é o senso comum e se encontra nas

práticas cotidianas, onde se constroem as representações sociais, na

realidade do dia-a-dia, sendo o senso comum versões contemporâneas

de um determinado saber, que se torna familiar e comum (MOSCOVICI

1984).

O universo reificado é o mundo das ciências, da objetividade e

das teorizações abstratas, é o espaço que na maioria das vezes, não nos é

familiar. Da mesma forma que o senso comum afeta a ciência e a ciência

afeta o senso comum, o universo consensual está dialeticamente

relacionado ao universo reificado (MOSCOVICI, 1984).

A partir destes pensamentos [consensual e reificado], Moscivici

define que para lidar com algo que não é familiar é necessário torná-lo

familiar esse movimento que se processa internamente é decorrente dos

dois processos denominados ancoragem e objetificação.

A função central das Representações Sociais é

ancorar os sujeitos no mundo, permitindo que se

possa dar sentido a realidade. Dar sentido a nós

mesmos e que possamos nos movimentar no

mundo de forma mais ou menos tranquila [...] Por

isso as representações sociais têm como função

transformar o que não é familiar em algo que se

possa lidar (MOSCOVICI, 1994).

As representações sociais são criadas pelos mecanismos de

ancoragem e objetificação. Primeiramente estes mecanismos transferem

o “objeto” até então desconhecido para a esfera particular, tornando

possível interpretá-lo e compará-lo, depois ele é reproduzido entre

coisas que podemos tocar, ver e controlar (MOSCOVICI, 2015 p. 60-

61).

A ancoragem e a objetificação não acontecem em momentos

diferentes, na verdade desenvolvem-se simultaneamente, relacionando-

42

se entre si dando sentido assim à representação social (MOSCOVICI,

2015).

A ancoragem é um processo que se dá por meio da assimilação e

acomodação das informações. Sua função é fornecer um contexto

compreensível ao objeto e então interpretá-lo (SÁ, 1993, p.34). A

ancoragem tenta ancorar pensamentos estranhos os transformando em

imagens comuns por meio de um contexto familiar, por exemplo, uma

pessoa religiosa tenta relacionar o comportamento de um estranho ou

uma teoria nova, a sua escala religiosa de valores Serge Moscovici

(2015, p. 60-61),

A objetificação tem a função materializar um objeto abstrato

buscando reproduzir um conceito em uma imagem do mesmo, “[...] é

uma operação imaginante e estruturante, pela qual se dá uma forma (ou

figura) especifica ao conhecimento acerca do objeto, tornando-o

concreto, quase tangível, o conceito abstrato, materializando a palavra”

(SÁ, 1993, p. 39).

As Representações Sociais na sua estrutura possuem uma dupla

natureza a conceptual e figurativa. No pensamento conceptual é possível

conceber o objeto mesmo em sua ausência, simbolizando-o. Na

figurativa a atividade perceptiva aborda a recuperação desse objeto, com

o intuito de “dar-lhe uma concretude, torná-lo tangível” (SÁ, 1993, p.

33).

As Representações Sociais são concebidas como uma rede de

conceitos e imagens interativas, pois correspondem à ordem do

imaginário enquanto imagens que condensam significados e se

constituem em sistemas de referência, que permitem interpretar e

classificar uma realidade, cujos conteúdos evoluem continuamente

através do tempo e do espaço Duveen (2011).

Neste sentido a representação funciona como um sistema de

interpretação da realidade, que dirige as relações dos indivíduos com seu

entorno físico e social, determinando seus comportamentos, condutas e

práticas. É um guia para a ação, que orienta tanto ações nas relações

sociais, como também um sistema de pré-modificação da realidade.

As representações sociais são construídas e difundidas por meio

da interação pública entre atores sociais, em práticas de comunicação do

cotidiano (MOSCOVICI, 1961; 2003). Por meio da comunicação que

ocorre dentro dos grupos e também num contexto intergrupal são

negociadas convenções para lidar com os eventos da realidade.

Na origem as RS não são representações de pessoas e sim

representações dos grupos [conjunto de relações a que pertencem] sobre

um objeto. Estuda-se como esses grupos se utilizam da comunicação,

43

que envolve a fala, a indumentária, o gestual, etc. para comunicar suas

representações. Essa teoria não se preocupa de analisar acertos ou erros

do conhecimento, mas se esforça em entender qual a função do

conhecimento e como ele se dá nas relações cotidianas (FERREIRA;

BRUM, 2000).

É na ótica da TRS, que parece-nos fundamental pensar na

possibilidade de visualizar e compreender a representação dos

profissionais de saúde sobre a terminalidade de pacientes infanto-

juvenis. A teoria ajusta-se perfeitamente a este estudo por possibilitar a

análise do quanto essas representações tornam-se sociais, ao se expandir

para as esferas coletivas das relações.

Os profissionais de saúde tem o direito de vivenciarem o processo

de terminalidade das pessoas que lhe assistem, expressando-se das mais

diversas formas, com vistas a se sentir suficientemente paramentados

para oferecer o máximo de humanização do cuidado no fornecimento da

assistência as pessoas que necessitam.

2.2 PRINCIPAIS TEORIAS E ABORDAGENS DAS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Para o psicólogo social francês Serge Moscovici que, em 1961,

começava a desenvolver uma psicossociologia do conhecimento, é na

vida com os outros que, pensamento, sentimento e motivação humanos

se ampliam (FERREIRA; BRUM, 2000). “o termo Representações

Sociais designa tanto um conjunto de fenômenos quanto o conceito que

os engloba e a teoria construída para explicá-los, identificando um vasto

campo de estudos psicossociológicos” (SÁ, 1993, p. 19).

Diferentemente de como ocorria nas sociedades tradicionais,

onde as representações coletivas eram fatos sociais coercitivos e

partilhados pelos integrantes de uma civilização, na era moderna houve

uma descentralização dos detentores de poder, agentes sociais

responsáveis pela legitimação e produção do conhecimento social

(DUVEEN, 2003).

Com o desenvolvimento dos métodos e das tecnologias de

comunicação, características da sociedade moderna, surgiram às

possibilidades de averiguação de fenômenos dinâmicos ligados a

contextos sociais específicos onde a TRS também se ocupam a

investigar e interferir (MOSCOVICI, 2003).

Na psicologia tradicional rejeitava-se o saber social, pois o centro

da análise era o sujeito individual, visto no modo cartesiano, era

desconsiderado o seu contato com a realidade exterior. A noção de

44

representação social para Moscovici emerge como uma forma

sociológica da Psicologia Social, que busca entender como as relações

sociais se constroem e influenciam as atitudes, opiniões e

comportamentos de um grupo (FERREIRA; BRUM, 2000).

Sendo assim a noção de representação social possibilita

atravessar o campo da análise individual transbordando para o campo da

análise social. Através desta abordagem pode-se entender de forma

abrangente como são produzidos os saberes sociais e como esses saberes

se manifestam quotidianamente nas relações. (FERREIRA; BRUM,

2000).

A noção de Representação Social possui três pilares básicos, a

sociologia de Durkhein, o construtivismo de Piaget e as teorias de

Freud3 [dinâmicas do inconsciente] (JOVCHELOVITH, 1996)

Por ser uma teoria de possibilidades inúmeras de averiguação dos

fenômenos sociais, a TRS possui algumas abordagens, a Dimensional

postulada por Serge Mocovici, a Estrutural por Abric, Dinâmica por

Joselet e Societal Doisé.

Sabe-se que atualmente a Escola Brasileira de RS se estrutura,

principalmente, em torno de três das abordagens teóricas desenvolvidas

a partir da TRS, a abordagem processual-dinâmica, de Denise Jodelet, a

estrutural, estudada por Jean-Claude Abric e também conhecida como a

Escola do Midi; a abordagem societal, de Willem Doise, esta última

identificada nos meios acadêmicos como Escola de Genebra

(ALMEIDA, 2009). A seguir está exposta uma breve discussão a

respeito de cada uma das abordagens das RS.

2.2.1 Abordagem Dimensional

Esta abordagem iniciou com Moscovici, trabalhando com três

dimensões, a saber, a informação, que procura identificar e estudar

todos os dados, quantidade e qualidade, que os indivíduos-grupo têm

sobre o objeto de pesquisa; a atitude, verificando os indivíduos, suas

atitudes favoráveis ou não ao objeto estudado exprimindo a orientação

geral do grupo; o campo de pesquisa, que permite visualizar o conjunto

de conhecimentos que o grupo possui a respeito do objeto e a

articulação destes conhecimentos (CAMARGO, 1998).

3 Sigmund Freud [1856-1939] psiquiatra austríaco que fundou a ciência da

psicanálise. Freud desenvolveu técnicas psicanalíticas como a interpretação

de sonhos e a livre associação, em que o paciente é induzido a falar sobre

tudo que lhe vem à mente.

45

Serge Moscovici usou conceitos psicopáticos fora da psicanálise,

ou seja, dentro da sociedade como um todo. Em sua tese buscou

entender como a sociedade representava a psicanálise.

Nesta abordagem os estudos se direcionam a compreender as

representações dos grupos sociais sobre um objeto.

2.2.2 Abordagem estrutural

A noção de campo da abordagem dimensional influenciou a

criação da abordagem estrutural. Que foi estudada por Jean-Claude

Abric [1941-2012] que foi professor de psicologia social e chefe do

Laboratório de Psicologia Social da Universidade de Aix-Marselha, na

França realizou grande contribuição para a teoria da representações

sociais identificando os elementos estruturais de uma representação

social e distinguindo os elementos centrais dos periféricos.

Seu primeiro estudo sobre representações sociais foi baseado em

artesãos e artesanato. Em 1994 publica o livro Núcleo Central das RS,

ampliando a visão sobre a Teoria do Núcleo Central. Além disso

também publicou manuais sobre a psicologia da comunicação. Um dos

principais pulverizadores dos estudos de Abric noBrasil foi Celso de Sá

[1941-2016] (MAZZOTTI, 2017).

Nesta abordagem as Representações Sociais funcionam como um

sistema de interpretação da realidade determinando comportamentos

(ABRIC, 1998). Nesta concepção definem-se quatro funções para as RS:

a) Saber - quadro compreensível, função cognitiva;

b) Identitária - situam os indivíduos no grupo;

c) Orientação - guias de comportamento e práticas sociais;

d) Justificadora. Organiza a abordagem estrutural

correspondentemente a teoria de Moscovici, trabalhando com

a teoria do núcleo central das representações.

Na perspectiva da abordagem estrutural Abric (1998) revela que

as Representações Sociais são organizadas num duplo sistema o central

e o periférico.

O sistema central ou núcleo central pode ser identificado através

de palavras que são primeiramente evocadas e possuem alta frequência.

Este sistema funciona como gerador do significado das representações

sociais determinando sua organização e possui como características a

ligação com a memória coletiva, normas e a história do grupo.

Além de ser consensual [define a homogeneidade do grupo]. O

ser estável; o ser coerente e rígido [resiste às mudanças, pouco sensível

ao conteúdo imediato]. (CAMARGO, 1998).

46

O sistema periférico é identificado através das demais palavras

evocadas, possui variedade maior e uma constância menor. Representa o

resultado dentre as interações das experiências quotidianas dos

indivíduos, a função é permitir a adaptação à realidade concreta

respeitando a diferença de conteúdo. Uma de suas características é

permitir a integração de experiências e histórias individuais. Por

exemplo, tolerar a heterogeneidade do grupo [tolera as contradições]; ser

flexível [sensível ao conteúdo imediato] e evolutivo. (CAMARGO,

1998).

As periferias do sistema são dinâmicas e acrescentam novos

elementos, novas informações que podem confirmar ou desconfirmar o

núcleo central, gerando a mudança do núcleo. Neste sentido as periferias

[opinião] afetam o núcleo central [crença-atitude] e as representações

em si (CAMARGO, 1998).

2.2.3 Abordagem dinâmica

Nesta abordagem encontra-se Denise Jodelet, como uma das

principais pesquisadoras que aprofundaram a abordagem. Em 2009, a IV

CBRS [Conferencia Brasileira das Representações Sociais], realizada na

cidade do Rio de Janeiro, teve como tema central “A Escola Brasileira

de Representações Sociais”, inspirada nos estudos de Denise Jodelet.

Denise Jodelet ao estudar como pode ser socialmente

representada a loucura à luz da teoria das representações sociais

moscoviciana, a pesquisadora tornou-se divulgadora e explanadora da

obra de Moscovici. Seu interesse genuíno pelos latino-americanos, com

quem estabeleceu comunicação científica e humana, foi acompanhado

por seu trabalho insistente de explicar e propor a TRS como alternativa

teórica às análises sobre fatos sociais (ALMEIDA, 2009).

Utilizando em suas pesquisas a abordagem

Processual/Direcional/Dinâmica Denise Jodelet ressalta que as

representações sociais têm a comunicação de massa como condição de

possibilidade e determinação, pois é por meio da comunicação em larga

escala que ideias podem difundir-se extensivamente e chegar a membros

de grupos sociais, gerando debate na esfera pública (JODELET, 2001).

As Representações Sociais são para Jodelet:

[...] uma forma de conhecimento, socialmente

elaboradas e partilhadas, tendo uma visão prática

e concorrendo para a construção de uma realidade

comum a um conjunto social (SÁ, 1993, p. 32).

47

Desta forma se torna possível conectar a elementos que tornam as

representações sociais dinâmicas possibilitando a explicação da

realidade, além disso, possui um conceito relacional que considera

aspectos históricos e ideológicos e estão nas mentes das pessoas e no

meio social.

Em seus estudos destacou os dois elementos centrais das

Representações Sociais: a objetificação e a ancoragem. Como descrito

anteriormente, esses elementos têm como função dar materialidade a um

objeto e possui três fases, são elas: seleção e descontextualização do

objeto [questões culturais, normativas]; formação do núcleo figurativo

[tornar o abstrato concreto, onde a imagem ganha uma referência, por

meio de metáforas]; e a naturalização dos elementos do núcleo

figurativo [tornar as o abstrato mais palpável]. (CAMARGO, 1998).

A ancoragem é o enraizamento, a significação das ideias, neste

processo é que será atribuída a utilidade, a um determinado objeto

(CAMARGO, 1998). É o processo de classificar informações sobre um

objeto social em relação a estruturas de conhecimento anteriormente

existentes, assim as representações sociais dependem de uma memória

coletiva (MOSCOVICI, 2003).

Nas Representações Sociais os processos de objetificação e

ancoragem articulam três funções básicas, a função cognitiva e de

integração da novidade, de interpretação da realidade e de orientação

das condutas do grupo social. (CAMARGO, 1998).

A abordagem dinâmica utiliza-se de instrumentos de coleta de

dados tais como questionários e entrevistas semiestruturadas

(CAMARGO, 1998).

2.2.4 Abordagem Societal

A linha Societal de Willem Doise (2002), das representações

sociais, também pautada numa abordagem psicossocial, impõe

definitivamente um redimensionamento do que se entende por

experimentação em Psicologia Social.

A abordagem assegura que o sujeito reaja a uma realidade

representada, isto é, a uma realidade apropriada e ressignificada a priori,

pelos sistemas de pensamento pré-existentes e pelos sistemas

interpretativos (ALMEIDA, 2009).

As contribuições de Willem Doise para o desenvolvimento da

teoria das representações sociais centram-se nos seguintes pontos:

a) a TRS como a grande teoria;

48

b) a criação do Laboratório de Psicologia Social Experimental na

Universidade de Genebra por Willem Doise (2002);

c) os estudos experimentais sobre o desenvolvimento social da

inteligência;

d) os estudos experimentais das RS;

e) os quatro níveis de análise em Psicologia Social;

f) as relações grupais;

g) o paradigma das três fases;

h) a pesquisa sobre os direitos humanos (ALMEIDA, 2009).

Articular explicações de ordem individual com explicações de

ordem Societal; de mostrar como o indivíduo dispõe de processos que

lhe permitem funcionar em sociedade e, de maneira complementar,

como dinâmicas sociais, particularmente interacionais, posicionais ou de

valores e de crenças gerais, orientam o funcionamento desses processos

(DOISE, 2002).

O presente estudo não assumirá unicamente um determinado tipo

de abordagem, uma vez que transita pelas diversas concepções

existentes. Porém o predomínio teórico se sustenta com maior

intensidade na abordagem dinâmica, considerando que esta oferece a

possibilidade de compreensão e de análise do fenômeno coerentes ao

que se busca.

2.3 REPRESENTAÇÕES SOCAIS DA TERMINALIDADE E MORTE

Ao se retratar como era a imagem Antiga do Mundo, no sistema sócio-

cultural no ocidente, Podeur (1977) descreve que a mesma se dava pela

universalidade e confinidade do Sagrado, assim como a localização do

divino no mundo4, a determinação das atitudes humanas, a influência do

relacionamento estabelecido com o divino pode ser facilmente

observada nos ritos5 e nos mitos

6 (NASCIMENTO; ROAZZI, 2007).

4 Localização do Divino no mundo: todo ambiente que poderia ser

denominado como um local sagrado. 5 Através do rito, o homem se incorpora ao mito, beneficiando-se de todas

as forças e energias que jorraram nas origens. Em resumo: o rito é a praxis

do mito. É a práxis do mito. O mito rememora, o rito comemora.

(BRANDÃO, 1986, p. 39). 6 Mito são narrativas utilizadas pelos povos gregos antigos para

explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e

49

Não é fácil lidar com a morte, mas ela espera por

todos nós... Deixar de pensar na morte não a

retarda ou evita. Pensar na morte pode nos ajudar

a aceitá-la e a perceber que ela é uma experiência

tão importante e valiosa quanto qualquer outra.

(ARIÈS, 2003, p. 20).

Culturas tradicionais, apresentam em seus crenças desde os

primórdios que a morte não é vista como como um fim, mas como uma

mudança de status, uma transição da terra dos vivos para o mundo dos

mortos.

Nas consciências arcaicas em que as experiências

elementares do mundo são as das metamorfoses,

das desaparições e das reaparições, das

transmutações, toda morte anuncia um

renascimento, todo nascimento provém de uma

morte - e o ciclo da vida humana inscreve-se nos

ciclos naturais de morte-renascimento. O conceito

cosmomórfico primitivo da morte é o da morte-

renascimento, para o qual o morto humano,

imediatamente a seguir ou mais tarde, renasce

num novo vivo, criança ou animal. (MORIN,

1988, p. 103).

A morte na antiguidade, então carregava a consideração de um

fenômeno natural e era aceita sem apreensões e medos. A morte passa a

ser temida, devido a associação com prováveis julgamentos e

penalidades, que após a morte viriam, e que deveriam reparadas.

No decorrer do desenvolvimento da civilização Ocidental

surgirão outros medos começaram em relação a morte começaram a

surgir. Kastenbaum (1983) conta sobre o medo da extinção um temos

básico que sugeriria a destruição do ego.

A mitologia grega apresneta ensinamentos sobre os receios

humanos em relação a morte através dos escritos de Esopo quando conta

sobre Hipnos e Tanatos, Eros e Psique, que representam,

respectivamente, o sono [uma espécie sonho ou de morte] e a morte e o

amor e a alma (SANTOS, 2009).

do homem, que não eram compreendidos por eles. Os mitos se utilizam de

muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e heróis.

50

Os povos gregos idealizaram a existência de lugar além-túmulo,

denominada Hades, onde habitavam os mortos. O acesso ao local se

dava através de Caronte7 (SANTOS, 2009).

Platão (427-347 A.C), discípulo de Sócrates, conta através do

Fédon, que as palavras de Sócrates, a respeito da morte e do morrer,

refletiam que a missão da filosofia era descobrir o sentido da vida em

relação a morte, e buscar entender a natureza da alma. Sócrates definia a

morte como uma separação da alma e do corpo, momento em que o

corpo se extinguia e alma seguia sua jornada (SANTOS, 2009).

Para Sócrates, o medo da morte associava-se a ideia de que se

saber o que aconteceria no momento da morte. E que para extinguir este

medo seriam necessárias as certezas do que acontece após a morte.

Sem a convicção de que vou me encontrar

primeiramente junto de outros deuses, sábios, e

bons, e depois de homens mortos que valem mais

do que os daqui, eu cometeria um grande erro não

me irritando contra a morte (SÓCRATES apud

PLATÃO, 2004, p. 25)

Em tempos contemporâneos a imagem moderna do mundo

deslocou o estatuto da religião na cultura. As crenças religiosas deixam

de ser o eixo privilegiado de leitura do mundo e de organização do real.

Deus é banido do cosmos quando aparecem às ideologias cientificas que

colocam a natureza técnica, fruto da ciência e da tecnologia humanas, no

lugar de Deus. Com isso, o poder da voz da ciência aumenta, ampliando

consequentemente o sentimento de desamparo humano e a difícil tarefa

de situar-se frente à eternidade da matéria (PODEUR, 1977).

Nesse momento considerado histórico, da modernidade tardia ou

pós-modernidade, a morte e seus signos foi transferida para a velhice,

insulada no ambiente, vivenciada sob controle tecnológico e

descontextualizada (KASTENBAUM; AISENBERG, 1983 apud

NASCIMENTO; ROAZZI, 2007).

A morte é uma da situações que propõe a evocação da

aproximação com o divino por meio dos ritos, que se configuram neste

momento como uma forma representar, simbolizar e viver o sentimento

7 O barqueiro que era encarregado de levar a alma dos mortos ao seu

destino. Caronte cobrava pelos seus serviços e por isso, nesta época os

mortos eram sepultados ou cremados com uma moeda na boca. Assim o

barqueiro poderia os conduzir até Hades.

51

emergente. Em a “Morte Domada” a morte comparece circunscrita pelos

signos religiosos, demonstrando a vivência da morte e do morrer como

um fato, totalmente familiar (ARIÈS, 1977).

Ao final do século XIX e início do século XX muitas foram as

tentativas em esclarecer o fenômeno da morte, mas ao desvendá-la ou

entendê-la, muitas dessas teorias tornam-na ainda mais enigmática,

potencializando sua negação e o sentimento de medo em relação a ela

(SANTOS, 2009).

A morte é, segundo as escalas existenciais individuais, a única

certeza absoluta no domínio da vida (RODRIGUES, 2006). Nada

transforma tanto o ser humano quanto a constatação de que seu fim

possa estar próximo (VARELLA, 2004). Embora a humanidade venha

transitando por inúmeras transformações ao longo da história, há duas

verdades que seguem em paralelo, a saber, o nascimento e a morte.

A morte não é apenas o fim do corpo físico, biológico, mas

ruptura da interação da pessoa com as suas relações, consigo mesma,

com suas crenças, sua comunidade e com sua cultura (RODRIGUES,

2006).

A possibilidade da morte traz ao ser humano uma das reflexões

filosóficas mais antigas, pautada na necessidade de buscar a

compreensão do sentido da vida, de qual seu papel no mundo, e o faz

tentando buscar explicações por meio dos conhecimentos filosóficos,

científicos e religiosos (CARSSOLA, 2009). A morte a “[...] faz com

que nossa vulnerabilidade seja explicitada, sendo assim ela nos

aproxima da nossa porção mortal” (MORIN, 1997, p. 173).

Diante da iminência de morte há que se vivenciar momentos de

profundas reflexões e conexão com sofrimentos intensos que podem

estar associados a diversas situações, cultural, social, familiar,

psicológica e espiritual configurando a dor total conceito de configurado

por Dame Cecicly Saunders a matriarca dos cuidados paliativos

(PESSINI; BERTACHINI, 2006).

Neste contexto de dor, Kübler Ross estudiosa sobre o processo de

morrer e a morte que a partir de seus estudos definiu reações comuns

diante da ameaça de morte, são eles a negação, raiva, barganha,

depressão e aceitação que se apresentam sintomas diversos surgem

como uma defesa que auxilia na inevitável travessia pelo sofrimento.

Comumente a negação é uma defesa temporária,

sendo logo substituída por uma aceitação parcial.

A negação assumida nem sempre aumenta a

tristeza, caso dure até o fim, o que, ainda,

52

considero uma raridade. (KÜBLER-ROSS, 1996,

p. 26).

A partir do contato com a negação, que conduz a busca de

compreensão do contexto vivido, começa a emergir o sentimento de

raiva. Que traz consigo posturas de revolta que surgem em todas as

relações estabelecidas pela pessoa adoecida.

O estado de barganha surge como uma forma de adiar o

sofrimento através do “bom comportamento”. A maior parte das

barganhas é feita com Deus, em segredo e indica uma realização de uma

meta auto imposta a ser cumprida.

Psicologicamente, as promessas podem estar

associadas a uma culpa recôndita. Portanto, seria

bom se as observações feitas por esses pacientes

não fossem menosprezadas pela equipe hospitalar

(KÜBLER-ROSS, 1996, p. 97).

Outro estágio conhecido, possível de ser vivido na fase terminal é

o estagia da depressão. Uma delas a pessoa reflete sobre sua vida, seus

feitos e anseios, aumentando a sua tristeza e o seu sentimento de culpa

por medo da morte iminente. No outro tipo há necessidade da

submissão, da impotência diante da necessidade de se preparar para a

morte. Neste último tipo de depressão a consideração está nas perdas

iminentes, na primeira se encontram sentimentos associados a perdas

passadas (KÜBLER-ROSS, 1996).

É neste momento que a escuta é remédio significativo

É esta a hora em que o paciente pede para rezar,

em que começa a se ocupar com coisas que estão

a sua frente e não com as que ficaram para trás. É

a hora em que a interferência excessiva de

visitantes que tentam animá-lo retarda sua

preparação emocional, em vez de incentivá-la

(KÜBLER-ROSS, 1996, p. 101-102).

A compreensão de quem se encontra a volta do paciente é

fundamental, sabendo que:

Este tipo de depressão é necessário e benéfico, se

o paciente tiver de morrer num estágio de

aceitação e paz. Só os que conseguiram superar

53

suas angústias e ansiedades são capazes de

alcançar este estágio. Se esta angústia pudesse ser

dividida com seus familiares, seria evitada muita

angústia (KÜBLER-ROSS, 1996, p. 102).

O acolhimento profissional, familiar dos cuidadores adequado,

que proporciona o auxílio para superação de cada dia diante seu estado

emerge o estágio da aceitação. Sendo assim passa a conviver com a

situação presente externalizando seus sentimentos, suas expectativas

Não significa ser certo tipo de felicidade, mas uma fuga de sentimentos

que não possíveis ser vivenciados integralmente (KÜBLER-ROSS,

1996, p. 126).

Há pacientes em que este tipo de estágio não ocorre, devido a não

aceitação da doença, então eles começam a lutar e se debaterem e a se

agarrarem a esperança (KÜBLER-ROSS, 1996, p. 127).

Não importa o nome que tenha; descobrimos que

todos os nosso pacientes conservaram essa

sensação que serviu de conforto em ocasiões

especialmente difíceis; [...]. Mantínhamos com

eles uma esperança firme, que não lhes era

imposta, quando finalmente desistiam sem

desespero, mas num estágio de aceitação final

(KÜBLER-ROSS, 1996, p. 153).

Seria de grande valia se as pessoas conversassem mais sobre a

morte e o morrer, como parte intrínseca da vida, do mesmo modo em

que não temem ao falar no nascimento de um bebê (KÜBLER-ROSS

1996, p. 155).

A contribuição da psicologia para com o doente em fase terminal

é de suma importância, visto que sendo ele o profissional que muito se

utiliza da ferramenta da escuta. O Psicólogo também poderá ajudar a

família e a equipe de saúde a compreender a importância da fala do

paciente nessa sua fase final evitando assim, que o mesmo seja

negligenciado em relação em suas necessidades.

A proximidade da morte traz sofrimento psíquico para todos os

envolvidos a pessoa em processo terminal, a sensação das incertezas, da

impotência eu torna o ambiente de vida incerto e inseguro, diante da

vulnerabilidade.

Portanto, a presença dos familiares expressando o seu amor na

forma de zelo e cuidado, revigora as forças do paciente e torna

suportável a experiência do morrer.

54

Se não levarmos devidamente em conta a família

do paciente em fase terminal, não poderemos

ajudá-lo com eficácia. No período da doença, os

familiares desempenham papel preponderante, e

suas reações muito contribuem para a própria

reação do paciente (KLÜBER-ROSS, 1996, p.

171).

Terminalidade in termini o fim, decisão final que encerra o

processo (FERREIRA, 1987).

A definição de terminalidade, além da impossibilidade de

interrompimento da iminência de morte pela minimização ou anulação

da resposta a tratamentos, também está presente a progressão de

sintomas intensos e em alguns casos de sofrimento, resultando em um

impacto emocional ao paciente, as pessoas que o circundam e aos

profissionais de saúde que o assistem (PESSINI; BERTACHINI, 2006;

TSUCHIDA-FERNANDEZ; BANDRES-SANCHEZ, 2002;

ZUAZABAL, 2007).

A terminalidade da vida acontece quando se esgotam as

possibilidades de resgate das condições de recuperação da saúde e a

possibilidade de morte iminente parece inevitável e previsível

(GUTIERREZ, 2001).

A pessoa em situação grave e irreversível, em que se prevê a

morte em um curto espaço de tempo e para quem as profissões de saúde

não oferece nenhuma chance de cura (GARCIA, 2007; KIPPER, 1999).

Os profissionais de saúde estão entre as populações mais sujeitas

a agravos psíquicos e somáticos devido à natureza de sua rotina

ocupacional. Os ambientes insalubres, com rotinas exaustivas,

aproximação com o sofrimento, à dor e a morte. Isso pode os expor

cotidianamente a problemas de saúde em especial geniturinários,

psicossomáticos, osteomusculares, sintomas psíquicos dos mais diversos

em natureza e intensidade de expressão (PITTA, 1991).

Na questão apontada surge o interesse do conhecimento sobre o

funcionamento dos profissionais de saúde, e de como são impactados a

partir de representações específicas da terminalidade e da morte.

Considerar essas questões torna-se de fundamental importância na

prevenção de agravos psicológicos a esses profissionais. Contudo, é reconhecida há alguns anos percebe-se a escassez de

trabalhos sobre a psicologia da morte e as representações sociais da

mesma com esta população, sendo que nas raras coletâneas existentes

sobre a Morte no Brasil (CASSORLA, 1991; 1998; KOVÁCS, 1992;

55

OLIVEIRA, CALLIA, 2005) nota-se de forma geral a ausência de

amostras mais abrangentes do nosso país.

De alguma forma este silêncio no horizonte de trabalhos sobre a

atuação profissional diante da terminalidade e morte no Brasil revela a

dificuldade [sintoma de evitação] em se mergulhar nos seus significados

evocados pela morte e o que ela representa. Dentre as poucas pesquisas

sobre a representação da terminalidade e da morte para profissionais de

saúde encontra-se uma relação associada a: morte como Fim, Passagem,

Mistério, Perda, Sono, Corte, Retorno, Macabra, Experiência Natural,

Experiência Abstrata, Experiência Triste e Encontro com a Verdade

(NASCIMENTO, 2001).

A representação da morte têm evidenciado rica imagem,

implícitas às dimensões simbólicas e conceituais do objeto de estudo

representação da morte e uma complexa polifasia8 cognitiva na

construção de seus significados Nascimento e Roazzi (2002; 2003).

A polifasia cognitiva na representação da morte comprova o

caráter recriador das representações sociais, as quais se alimentam e se

encontram na convergência de discursos de naturezas diferentes em

conteúdo e lógica de estruturação, deduzindo que na terminalidade e na

morte encontra-se material científico reciclado junto a themata9 da vida

cotidiana (MOSCOVICI, 1976).

A Themata, corresponde a ideias centrais, Temas gerais, a partir

dos quais se cria uma RS. São ideias universais que se perdem no

decorrer do tempo das sociedades. São autônomas e dissociadas da

estrutura social. Segundo Moscovici e Vignaux “a noção de tema indica

que a possibilidade efetiva de sentido vai sempre além daquilo que foi

concretizado pelos indivíduos, ou realizado pelas instituições”

(MOSCOVICI; VIGNAUX. 2003, p. 224).

A respeito das representações sociais da terminalidade e da morte

é considerável apresentar que a gênese societária das RS de modo geral

e as RS da morte em particular, por serem formas de conhecimento

socialmente elaboradas e partilhadas (Jodelet, 1989), enquanto produto e

processo de uma atividade mental de construção de significados

(ABRIC, 1987), confirmam o caráter estruturante dessas representações

a partir do curso incessante das comunicações e práticas sociais,

colocando-as como construtos psicossociológicos de negociação de

8 Polifasia - Termo usada pela psicologia para definir imagens mentais.

9 Themata, entendido como princípio organizador, máxima, ideia central (ou

universal) de onde podemos criar uma Representação Social. (AMARAL;

ALVES, 2013)

56

intergrupos e responsáveis pela inteligibilidade das comunicações

cotidianas (MOSCOVICI, 1988; NASCIMENTO; ROAZZI, 2003).

Neste sentido, os autores propõem que a representação da morte

pode ser conjecturada a partir das comunicações dos profissionais na

equipe de saúde, especialmente em seu movimento de estruturação num

campo de conhecimento e possíveis sentidos comuns, ordinários.

Tal como é sugerido pelo conceito de themata referido por

Moscovici (2004), ou seja, aquilo que a partir da matriz social se

tornasse um depositário de significações possíveis a um grupo social

tendo seus discursos epistêmicos, incluindo-se discursos religiosos com

suas crenças específicas sobre a terminalidade e a morte observadas no

discurso científico, transmutados em algo novo e orgânico no seio das

RS.

2.3 INTEGRALIDADE EM SAÚDE E A TERMINALIDADE

O SUS é regido por princípios e diretrizes com ações de saúde

nos mais diversos níveis de assistência. Os princípios organizativos

[regionalização, hierarquização, participação do cidadão e

descentralização] orientam a forma como o sistema deve funcionar. Por

seguinte, os princípios doutrinários do SUS traduzem a ideologia do

novo modelo de saúde proposto para o Brasil, que envolve a garantia

dos direitos à saúde de todos os cidadãos (BRASIL, 1990).

Na sua definição legal e institucional, o SUS, possui o

compromisso do acesso universal e resolubilidade do sistema de saúde,

com o propósito de contemplar uma assistência integral que respeite a

individualidade de cada paciente [usuário], em qualquer nível de

atendimento, independentemente de sua complexidade (CONSELHO

NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE, 2007; SOARES;

MISHIMA; MEINCKE, 2010).

A integralidade de assistência pode ser entendida como um

conjunto de sentidos articulados e permanentes, contemplando

assistência preventiva e curativa, individual e coletiva, exigida para cada

caso em todos os níveis de complexidade do sistema (BRASIL, 1990).

O homem é um ser integral, bio-psico-social, e

deverá ser atendido igualmente nessa perspectiva

integral por um sistema de saúde também integral,

voltado a promover, proteger e recuperar sua

saúde (RONCALLI, 2003, p. 11).

57

Pode-se dizer, que a integralidade é uma das diretrizes básicas do

Sistema Único de Saúde (SUS). Na trajetória do sistema e de suas

práticas no que se refere aos princípios e diretrizes do SUS, a

integralidade parece ser o menos visível (MATTOS, 2004).

Apesar estar descrita implicitamente, mas na Constituição

brasileira consta que é dever do Estado garantir “o acesso universal e

igualitário aos serviços de saúde para sua promoção, proteção e

recuperação” e “atendimento integral, com prioridade para as atividades

preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais” (BRASIL, 1988,

art. 198). Apesar disso, sabe-se que ainda são muitas as barreiras de

acesso que privam brasileiros dos serviços de saúde que necessitam isso

quer dizer que temos muito caminho a diante para construir e ampliar a

igualdade do acesso (MATTOS, 2001; 2004).

Historicamente a integralidade está ligada a um movimento de

medicina integral, que denunciava a especialização crescente dos

profissionais de saúde. Com a Reforma Sanitária, a atenção integral se

tornou uma das diretrizes do SUS (MATTOS, 2004; PINHEIRO, 2009).

O termo integralidade é então usado para designar um dos

princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), (MATOS, 2004) e

expressa uma das bandeiras de luta do chamado movimento sanitário.

De forma sintética a imagem-objetivo da integralidade segundo o autor,

indica caracterizas desejáveis do SUS para as práticas que nele são

exercidas.

A integralidade engloba eticamente a articulação das ações nos

diferentes níveis de atenção, implícito a todos os seus sentidos se

encontra o princípio de direito universal ao atendimento das

necessidades de saúde.

A integralidade como definição legal e

institucional é concebida como um conjunto

articulado de ações e serviços de saúde,

preventivos e curativos, individuais e coletivos,

em cada caso, nos níveis de complexidade do

sistema. Ao ser constituída como ato em saúde

nas vivencias cotidianas dos sujeitos nos serviços

de saúde, tem germinado experiências que

produzem transformações na vida das pessoas,

cujas praticas eficazes de cuidado em saúde

superam os modelos idealizados para sua

realização (PINHEIRO, 2009, p. 256).

58

No Brasil, foi lançado o Plano de Ações Estratégicas para o

Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), para

o decênio 2011-2022, que as aponta como um problema de saúde de

grande magnitude. Este plano tem como principal objetivo ações que

visam o fortalecimento da capacidade de resposta do Sistema Único de

Saúde (SUS), e à ampliação das ações de cuidado integral para a

prevenção e o controle das DCNT articulando as diversas ações nos três

níveis de gestão do SUS (BRASIL, 2011, 2013; COSTA MENDES;

FADEL DE VASCONCELOS, 2015).

O objetivo central dessas ações é contribuir para a melhoria da

qualidade de vida das pessoas acometidas por DCNT, em especial as

pessoas com diagnóstico de câncer, por meio de ações de promoção,

prevenção, detecção precoce, tratamento oportuno e cuidados paliativos.

Por ser a integralidade um dos pilares de sustentação da

institucionalidade do SUS, também está estritamente ligada aos

cuidados paliativos, perpassando pela articulação entre as ações de

promoção da saúde, prevenção dos agravos e de fatores de risco,

assistência a danos, reabilitação e principalmente um olhar ampliado

sobre a dinâmica do processo saúde e doença (PINHEIRO, 2009).

Outra dimensão da integralidade, na prática se expressa

exatamente na capacidade dos profissionais em responder por meio da

assistência ao sofrimento manifesto pelo paciente [usuário]. Para os

profissionais, isso significa incluir no seu cotidiano de trabalho rotinas

ou processos de busca sistemática vinculadas à experiências individuais

do sofrimento, incluindo ás necessidades mais silenciosas (PINHEIRO,

2009).

Para os serviços essa dimensão significa, acolher a partir das

experiências individuais de sofrimentos, criando dispositivos e adotando

processos coletivos de trabalho que permitam oferecer, além das ações

demandadas pela própria população a partir de experiências individuais

de sofrimento, ações voltadas para a prevenção (MATTOS, 2001;

2004).

Neste aspecto não se trata de simplesmente desenvolver

protocolos ou rotinas capazes de identificar e oferecer ações que

contribuam com o alívio do sofrimento diante de uma necessidade

apresentada, trata-se sim de compreender-se o contexto específico de

59

cada encontro10

que acontece entre membros da equipe de saúde e as

pessoas que as buscam (MATTOS, 2004).

Significa adotar uma postura que identifica e materializa na

prática, o conhecimento técnico para as necessidades de prevenção e

assistência, e, portanto possibilita selecionar as intervenções a serem

ofertadas no contexto de cada encontro.

Nesta perspectiva a equipe que se dispõe a atender, na

perspectiva da integralidade, deve ser capaz de identificar na doença os

fatores que causam o sofrimento manifesto, dar uma resposta imediata à

dor física sim, mas reconhecer a necessidade de uma conversa sobre os

fatores que estejam ampliando o sofrimento em todas as dimensões do

Ser. Aqui a integralidade se manifesta na postura desses profissionais

que além das ações de assistência prática medicalizada, mas também no

empenho nas respostas, não apenas ás manifestações da doença que

suscita o sofrimento manifesto, mas também aos fatores implícitos e que

muitas vezes sustentam o sofrimento como um todo (MATTOS, 2004).

Na integralidade, conta-se ainda com propostas de ações que

tenham significado de cunho preventivo para o sofrimento humano, tais

como os projetos terapêuticos individuados, que na perspectiva da

integralidade, levam em conta também as ações voltadas para a

prevenção de doenças e prevenção de agravos.

Os projetos terapêuticos assim entendidos não são

produto da simples aplicação dos conhecimentos

sobre a doença. Na perspectiva da integralidade,

eles emergem do diálogo (e porque não falar, da

negociação) entre profissionais de saúde e os

usuários dos serviços de saúde A característica

chave para a existência desse diálogo é a

capacidade de compreender o contexto específico

dos diferentes encontros Compreensão que

envolve por parte dos profissionais o esforço de

selecionar num encontro os elementos relevantes

para a elaboração do projeto terapêutico, tanto os

evocados por ele com base em seus

conhecimentos, quanto os trazidos pelo outro a

partir de seus sofrimentos, de suas expectativas,

9 Encontro: encontrar(-se), de chegar um diante do outro ou uns diante de

outros, amigos. Junção de pessoas ou coisas que se movem em vários

sentidos ou se dirigem para o mesmo ponto.

60

de seus temores e de seus desejos (MATTOS,

2004, p. 1415).

O princípio da universalidade, também são contemplados na ótica

dos cuidados paliativos, uma vez que todos, independentemente de sua

classe econômica e social, devem ser acolhidos para um cuidado com

qualidade em situação de terminalidade (GOMES; VASCONCELOS,

2015, p. 888)

Por fim, reconhece-se a necessidade de que sejam desenvolvidas

ações que fortaleçam a gestão, que está possa ser produtora e

facilitadora de profissionais de saúde sensíveis, atentos, integrados, para

assumir as posturas mais adequadas frente a morte e de como lidar com

os embates deste cotidiano de delicadezas e iminentes despedidas

(SOUZA, 2009).

2.4 O CÂNCER INFANTO-JUVENIL E A TERMINALIDADE

As discussões sobre o câncer ultimamente vem ganhando

destaque, principalmente no que diz respeito a inovações que ampliam

as possibilidades de tratamento, sobrevida e cura.

O câncer é considerado uma doença crônica, progressiva e

incurável, é a principal causa de incapacidades funcionais, sofrimento e

morte, sendo definida como um conjunto de doenças, cujas células

crescem sem uma ordem, de forma incontrolável e muito agressiva, em

alguns casos, espalhando-se por todo corpo [metástases] (MENDES;

VASCONCELOS, 2015; BRASIL, 2016).

As doenças crônicas são principais responsáveis por 72% das

causas de morte, com destaque para doenças do aparelho circulatório

(31,3%) e o câncer (16,3%), e atingem pessoas de todas as idades e

camadas socioeconômicas (MENDES; VASCONCELOS, 2015, p. 883).

O câncer infanto-juvenil é um termo universal que diz respeito a

um grupo de diferenças estruturas/funções de doenças que apresentam

taxas de morbi-mortalidade, dependendo do tipo e da expansão dessa

doença, da idade da criança e do efeito de resposta ao tratamento inicial

(CIRQUEIRA; RODRIGUES, 2010).

No público infanto-juvenil, o câncer é uma patologia com certa

raridade, atingindo uma em cada dez mil crianças com idade entre 0 a 19

anos (ANDRÉA, 2008 apud COSTA, 2012).

O câncer infanto-juvenil representa a principal doença causadora

de morte entre crianças e adolescentes e vem sendo considerado como a

61

primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a

19, em todas as regiões, no total de 7% (BRASIL, 2012; 2016).

Estima-se que ocorrerão cerca de 12.600 casos

novos de câncer em crianças e adolescentes no

Brasil por ano em 2016 e em 2017. As regiões

Sudeste e Nordeste apresentarão os maiores

números de casos novos, 6.050 e 2.750,

respectivamente, seguidas pelas regiões Sul

[1.320], Centro-Oeste [1.270] e Norte [1.210]

(BRASIL, 2016, p. 1).

A doença quando detectada ainda no início, apresenta

possibilidade de até 70% de cura. Porém, para tal ressalta-se a

necessidade de medidas preventivas e que possibilitem um diagnóstico

no início da doença para que durante o tratamento os pacientes reajam

bem ao tratamento e apresentem melhores chances de recuperação caso

hajam intercorrências mitigando a possibilidade de óbito prematuro

(LIMA, 2004).

Embora hajam significativas tecnologias e inovações que

ampliem as possibilidades de tratamento, sabe-se que por vezes quando

não há respostas do organismo do paciente ao tratamento com recidivas

sucessivas e metástases a cura torna-se impossível, e portanto, a morte

inevitável. Nos casos de câncer infanto-juvenil o óbito ocorre, porque a

doença é silenciosa, ou seja, vai se desenvolvendo no organismo sem

manifestar sintomas incomuns ou quando as células neoplásicas não são

detectadas pelo sistema imunológico como células estranhas (LIMA,

1994).

A criança acometida pelo câncer começa a se sentir desprotegida,

mais frágil do que o habitual, mesmo com a família ofertando o suporte

(MENEZES et al., 2007).

O câncer infanto-juvenil e o tratamento têm um impacto

generalizado sobre toda a estrutura familiar, deixando a criança e a

família frágil e muitas vezes incapaz de lidar com o sofrimento psíquico

que atinge a todos os envolvidos.

O paciente infanto-juvenil estabelece um vínculo e uma

familiaridade com o ambiente hospitalar e os profissionais de saúde que

a acompanham devido às internações recorrentes e a duração delas.

Deste modo os profissionais de saúde se vinculam aos pacientes e suas

famílias, conhecendo suas particularidades e com isso podem melhor

identificar suas necessidades (BARROS, 2016).

62

2.4.1 A morte infanto-juvenil e a integralidade na assistência

A morte na infância é considerada um paradoxo, pois a infância e

adolescência são considerados fases de vitalidade na existência humana.

O fato de uma criança ou adolescente morrer, representa prematuridade

e extemporâneo com significado de uma trajetória interrompida ou de

um projeto não concretizado (CARVALHO, 2005; AZEREDO, 2007).

Para as famílias que se despedem de suas crianças ou

adolescentes, a morte é uma mutilação. Para o profissional de saúde que

presencia esse processo é algo tão horrível que conduz a pensar e sentir

sobre o quanto é terrível despedir-se de alguém, tão pequenino, frágil e

que pelo curso da vida deveria, naturalmente partir depois dos seus pais

(AZEREDO, 2007).

Ao se encontrar com pacientes em situação da possibilidade da

morte medidas técnicas precisam ser enfatizadas pela equipe. No

contexto do hospital essas medidas precisam estar diretamente

relacionadas com o adoecimento ou processo de terminalidade da

criança internada, quando previsível, as medidas técnicas devem

direcionar a opção sem embate, nenhuma ressuscitação será tomada e os

cuidados paliativos serão vigorados. Quando a morte é com embate, ou

seja, quando há possibilidade de terapêutica é travada uma batalha

contra a morte, mesmo que isso possa ocasionar sofrimento para o

paciente [distanásia] e para a família (KOVÁCS, 2003).

A distanásia é uma ação que visa prolongar a vida de pacientes

em estado terminal significa morte lenta, com grande sofrimento

(HOUAISS, 2001). Este conceito também é conhecido como obstinação

terapêutica na Europa ou medical futility nos Estados Unidos e “[...]

trata-se do prolongamento exagerado da morte de um paciente terminal

ou tratamento inútil. Não visa prolongar a vida, mas sim o processo da

morte” (DINIZ, 2006, p. 399).

A distanásia surge num contexto da medicina avançada que,

diante de uma doença incurável transforma-se em obsessão a cura da

morte. O empenho dos profissionais de saúde em impedir ou retardar a

morte é consequência lógica do seu legítimo esforço em lutar em favor

da vida (KOVÁCS, 2003).

Por outro lado ao pensar em uma morte digna, tem sido associada

ao conceito de ortotanásia, que etimologicamente, significa morte

correta, ou seja, orto [certo] e thanatos [morte]. Para que isso aconteça,

os pacientes que vivenciam situação de terminalidade são conduzidos

pelos profissionais de saúde que o assistem para uma morte sem

63

sofrimento, descartando a utilização de ações [procedimentos invasivos]

que objetivem o prolongar da vida (CARLOS FELIX et al., 2013).

Na contemporaneidade, onde se tem vivenciada a morte

medicalizada e a suspensão das grandes cosmovisões religiosas (ARIÈS,

1977; LYON, 1998; VOVELLE, 1996) encontram-se os germens de

uma nova imagem plasmadora da vivência da morte nesse início de

milênio.

A partir dessas reflexões e da necessidade de reharmonizar o

sentido da vida, do morrer e da morte entre a ciência e as crenças sócio-

culturais, na necessidade da pratica bioética, através da chamada

ortotanasia ou a boa morte, segundo alguns de seus defensores oriundos

do campo dos cuidados paliativos que reivindicam um uso mais

equilibrado do saber técnico da biomedicina, incluindo neste fazer os

avanços das ciências farmacológicas no controle desconfortos ligados às

situações terminais. A partir disso emerge o reconhecimento de que a

morte é parte de nossa condição humana, é sim uma etapa que precisa

ser vivida e não uma inimiga a ser combatida. (BYOCK, 1997;

HENNEZEL, 1995).

Neste sentido discute-se em prolongar vida aos anos do paciente e

não anos à sua vida, dando ênfase humana por meio da qualidade de

vida e de um morrer com dignidade (MENEZES, 2003).

O processo de morrer, se for acompanhado deve ser coerente,

digno e oportuno a este nomeasse ortotanásia (TORRES, 2003). A

morte deve acontecer naturalmente, em seu tempo, nem abreviada como

na eutanásia, nem tão pouco prolongada distanásia que propõe uma

obstinação terapêutica que tem confrontado os profissionais de saúde

sobre as posições assumidas quanto ao tempo diante da situação de vida

e de morte dos pacientes (PESSINI, 2004).

A ortotanásia contemporaneamente conhecida como a boa morte

exige dos profissionais de saúde altos requisitos técnicos, morais e

humanos a lidar com as complexas questões decorrentes da transição

entre a vida, o morrer e a morte (TORRES, 2003). Tendo estes que

facilitar a transferência de poder ao paciente terminal, o qual passa nesse

novo modelo a ter autonomia nas escolhas em relação à própria vida nos

seus momentos finais (KOVÁCS, 2003).

Portanto no equacionamento das dificuldades nos espaços de

atuação profissional de saúde que se depara com o morrer e a morte, é

valido ressaltar que diante do período de transição pelo qual se transita,

urge a necessidade de maior compreensão da circulação da compreensão

dos sentidos da terminalidade na dinâmica interna à equipe de saúde, um

levantamento de suas representações sobre a morte, em seu nível mais

64

próprio o magma do senso comum e interfaciá-lo com o conhecimento

cientifico que norteia a prática dos profissionais.

Se a morte é parte do ciclo da vida humana, então cuidar do corpo

que está morrendo deve ser parte integral dos objetivos dos profissionais

de saúde. A morte é o foco em torno do qual os cuidados devem ser

direcionados desde o início da doença, declínio das capacidades físicas e

mentais (PESSINI; HORTA, 1992).

2.5 CUIDADOS PALIATIVOS NA TERMINALIDADE INFATO

JUVENIL

A assistência profissional ofertada no processo de terminalidade

nomeasse cuidados paliativos, ou seja:

[...] é uma abordagem que aprimora a qualidade

de vida dos pacientes e famílias que enfrentam

problemas associados com doenças ameaçadoras

da vida, através da prevenção e alívio do

sofrimento, por meio de identificação precoce,

avaliação correta e tratamento da dor e outros

problemas de ordem física, psicossocial e

espiritual (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2002, p. 84).

Os cuidados paliativos não se restringem aos hospitais, podendo

ser realizados em centros especializados e até mesmo no domicilio do

paciente (BRASIL, 2016). As dimensões que devem ser contempladas

na atenção integral aos pacientes necessitam de cuidados paliativo são

(MENDES; VASCONCELOS, 2015):

a) física: envolve cuidados ativos e integrais centrados no

paciente e em sua família, acolhendo seus desejos;

b) psicológica: envolve a avaliação do impacto da doença,

acolhimento nas emoções emergentes e auxilio diante dos sentimentos

de ameaça a vida no paciente e em seus familiares;

c) social: avaliação das necessidades sociais do paciente e de sua

família numa uma abordagem individualizada e integrada; apresentação

e discussão com a comunidade sobre a importância dos cuidados

paliativos; inclusão da proposta de cuidados paliativos na formulação de

políticas sociais e de saúde pública;

65

d) espiritual: institui respeito e consideração aos dogmas e/ou

crenças religiosas, reconhecendo-as; suporte espiritual e religioso para o

paciente e familiares;

e) cultural: atendimento às necessidades culturais dos pacientes e

familiares, por parte dos serviços de cuidados paliativos, que devem

refletir a diversidade cultural da comunidade a qual serve; instituição de

programas educacionais para os profissionais que atendam a essa

diversidade cultural;

f) estrutural: formação de equipes interdisciplinares,

incorporando voluntários; incorporação de atividades de melhoria da

qualidade dos serviços; de pesquisa clínica e de processos gerenciais.

Os cuidados paliativos perpassam pelo fomento a equidade do

cuidado através da garantia de ações e serviços em todos os níveis da

assistência de acordo com a complexidade exigida pelos cidadãos em

suas necessidades distintas (BRASIL, 1990).

A prática em cuidados paliativos tende a crescer no Brasil,

estima-se que a cada ano, cerca de 650 mil pessoas necessitem recorrer a

essa modalidade de atenção, uma média de 80% desse número

corresponde a pacientes com câncer (BRASIL, 2014).

Para uma assistência diferenciada as pessoas em situação de

terminalidade, tem-se a necessidade de uma profunda reflexão nos

modos como se operam as práticas de saúde. Estas ações devem

priorizar uma prestação da assistência com qualidade e digna, onde os

princípios do SUS venham ser efetivamente respeitados de forma a

garantir o modelo integral, universal, igualitário e equânime (GOMES;

VASCONCELOS, 2015, p. 890).

Em 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou

uma definição específica para cuidados paliativos na pediatria, ou seja, o

cuidado ativo e total oferecido à criança, nas dimensões física,

emocional e espiritual, bem como o suporte oferecido a toda a sua

família (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998).

A OMS refere que o cuidado paliativo deve ser iniciado quando a

doença crônica é diagnosticada, necessitando peregrinar

concomitantemente com o tratamento curativo ou não. A avaliação e o

alívio do sofrimento são precedências nessa abordagem e precisam

ultrapassar o campo biológico, alcançando as esferas psíquica, social e

espiritual (VALADARES; MOTA; OLIVEIRA, 2013).

Para que os cuidados paliativos diante da terminalidade sejam

efetivos e possíveis a OMS afirma a necessidade da equipe de

profissionais de saúde multidisciplinar, ou seja, medicina, medicina

paliativsta, enfermagem, psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional,

66

serviço social e nutrição. Esses profissionais deverão incluir no processo

de acolhimento toda a família e o meio em que a criança ou adolescente

está inserida. Os cuidados, diante da necessidade da criança e dos

envolvidos devem ser prestados em centros de atenção primária,

terciária e se possível até mesmo no domicílio do paciente (WHO,

1998).

Os pacientes infanto-juvenis que recebem diagnóstico de doença

oncológica, que ameace à vida, tem o direito de receber cuidados

paliativos. Pensando nisso Hilmelstein (2006), estruturou a

sistematização da assistência em cuidados paliativos para este público e

destaca quatro princípios básicos para a sua concretização:

a) Condições para os tratamentos com falhas terapêuticas,

ainda que a doença seja controlável;

b) Condições de qualidade de vida quando hajam

necessidades de longa permanência hospitalar;

c) Condições de dignidade aos pacientes e familiares

quando diante progressão da doença em que o acompanhamento

paliativo torna-se a principal terapêutica. E por fim a quarta condição;

d) condições graves, não reversíveis, que implicam em

vulnerabilidade.

O cuidado deve ser focado na criança, norteado a toda família e

construído com uma boa relação entre a equipe-família. Neste particular

deve-se avaliar individualmente cada criança, e respectiva família,

respeitando suas crenças e valores e facilitando a comunicação. Além

disso, esse cuidado deve estender-se após a morte do paciente e durante

o luto familiar (HILMELSTEIN, 2006).

Uma boa assistência a esse público de pacientes, não deve se

limitar a especialistas em cuidados paliativos, mas sim, necessita de um

trabalho multiprofissional, visando o controle da dor e de outros

sintomas, a atenção individualizada e integral a cada paciente

(VALADARES, 2013).

Para tanto, se torna indispensável que o profissional de saúde se

sinta com as condições técnicas e psicológicas harmonizadas. Ou seja,

integralmente conectado com o espaço onde transita: o ambiente social

em seu entorno, seu trabalho e os sentimento e emoções emergentes das

representações das experiências vividas. Neste contexto o Ser que cuida

precisa estar em contato com a essência humana senti-la internalizada

para então externalizá-la através do cuidar. A saber, que o cuidar

integral e humanizado, envolve por parte do cuidador a compreensão do

significado da vida, a capacidade de perceber e compreender a si mesmo

67

e ao outro, que se encontra no mesmo mundo que ele (a), e como ele (a)

sujeito de sua própria história (PESSINI; BERTACHINI, 2014).

Portanto, enquanto profissional de saúde, parece justo pensar

sobre como se tem percebido a terminalidade e morte de pacientes

infanto-juvenis na perspectiva das representações sociais. Bem como

levantar possibilidades de ações em saúde para que profissionais possam

assumir uma postura integral diante das pessoas que presta a assistência.

68

3 MÉTODO

3.1 TIPO DE ESTUDO

A pesquisa consistiu em um estudo do tipo exploratório

descritivo, com uma abordagem qualitativa, alicerçado nos preceitos

teóricos da teoria das representações sociais proposta por Serge

Moscovici, na sustentação teórica de Kübler-Ross (1996, 2008, 2017) e

nas reflexões sobre a importância da integralidade da atenção aos

pacientes infanto-juvenil em terminalidade.

O estudo exploratório foi escolhido por proporcionar maior

familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a

construir hipóteses. Além disso a grande maioria dessas pesquisas

envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que

tiveram experiências práticas com o fenômeno pesquisado; e (c) análise

de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2017).

A pesquisa descritiva contribuiu, facilitando a descrição dos fatos

e fenômenos da realidade estudada, pois este tipo de pesquisa tem como

ênfase a elucidação de significados, que permitem a consideração de

aspectos diferentes de uma situação ou problema (GIL, 2017).

A escolha da abordagem qualitativa para pesquisa se deu em vista

de sua aplicabilidade no estudo das representações, percepções,

pensamentos, crenças e opiniões que as pessoas constroem, elaboram e

significam a partir das interpretações que fazem do mundo ao seu redor,

a respeito de como vivem e se relacionam umas com as outras

(MINAYO, 2010).

Para estudar as Representações Sociais da terminalidade dos

profissionais de saúde, houve a necessidade de investigar as percepções,

elaborações e construções [reconstruções] individuais e coletivas,

partilhadas a respeito do referido fenômeno. Tema este que pode ser

amplamente compreendido a partir da abordagem qualitativa, visto que

esta analisa em profundidade aspectos das vivências humanas.

A abordagem qualitativa trabalha com o universo dos

significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das

atitudes e propicia a análise da história, das relações, das representações,

das crenças, opiniões, produtos das interpretações que os humanos

fazem a respeito de como vivem, sentem, pensam e constroem seus

artefatos e a si mesmos (MINAYO, 2010).

Na perspectiva da pesquisa qualitativa esse conjunto de

fenômenos são entendidos como parte da realidade social, sendo que o

ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz

69

e por interpretar suas ações no contexto e a partir da realidade vivida

compartilhada com seus semelhantes (MINAYO, 2010).

3.2 LOCAL E PARTICIPANTES DO ESTUDO

A pesquisa foi realizada com profissionais de saúde no município

de Criciúma/SC, por meio dos seguintes critérios:

3.2.1 Critérios de Inclusão

Os participantes incluídos foram:

a) Profissionais de saúde que integram ou integraram equipes

multiprofissionais de assistência;

b) Profissionais de saúde que já tiveram experiência assistencial

de pelo menos seis na assistência oncológica infantil;

3.2.2 Critérios de Exclusão

Para a exclusão dos participantes foram adotados os seguintes

critérios:

a) Profissionais de saúde residentes ou trabalhadores que

integram funções administrativas;

a) Profissionais de saúde que integram a mesma instituição em

que a pesquisadora trabalha.

b) Profissionais de saúde que vivenciaram situação terminalidade

infantil na sua família.

3.2.3 Procedimentos para seleção dos participantes

Para a seleção dos participantes adotou-se a técnica de coleta de

dados de amostragem em rede ou o snow ball [bola de neve] (FLICK,

2009; POLIT; BECK, 2011).

Neste tipo de abordagem solicitasse que os primeiros membros da

amostra indiquem outras pessoas que atendam os critérios de

elegibilidade, sendo geralmente usado quando a população se restringem

a participantes com características que podem ser difíceis de identificar

(POLIT; BECK, 2011, p. 344). Essas dificuldades podem ser

encontradas nos mais variados tipos de população, mas em especial em

grupos que contem poucos membros e ou que estão espalhados por uma

grande área (VINUTO, 2014).

70

A execução do processo de amostragem em rede se materializou

da seguinte forma:

a) Recrutamento do informante-chave ou primeiro participante,

mediante a anúncio (APENDICE C) em redes sociais e ou

contatos de e-mails dos pesquisadores envolvidos, verificando

a possibilidade de profissionais de saúde em participar da

referida pesquisa que atendam os critérios de seleção dos

participantes;

b) Depois da seleção do informante-chave, o mesmo indicou

novos contatos com as características desejadas, a partir de

sua própria rede pessoal de conhecimento;

c) Foi estabelecido contato com os nomes indicados pelo

informante-chave, com vistas a confirmar o atendimento dos

critérios de seleção.

A partir do anúncio, cerca de 03 [três] informantes chaves

retornaram o e-mail sinalizando que se enquadrariam nos critérios de

inclusão. A escolha de um desses três informantes bem como dos

demais informantes foi pautada nos critérios de intencionalidade

(POLIT; BECK, 2011) por proximidade geográfica. Ao total foram

inseridos no estudo 10 participantes, conforme a figura a seguir:

71

Figura 2 - Participantes da pesquisa

Fonte: dados da pesquisa.

Os três últimos participantes não indicaram mais nenhum

informante, por sua vez a quantidade de 10 participantes na pesquisa foi

considerada suficiente pelo critério de saturação dos dados, ou seja,

quando constatado que elementos novos para subsidiar a teorização

almejada não são mais possíveis (FONTANELLA; RICAS; TURATO,

2008; FONTANELLA et al., 2011; MINAYO, 2017).

A saturação teórica acontece a partir de uma amostra feita por um

processo contínuo de análise dos dados, iniciando no princípio do

processo de coleta. Essa análise preliminar busca o momento em que

algo substancialmente novo aparece, considerando cada um dos tópicos

abordados [ou identificados durante a análise] e o conjunto dos

entrevistados (FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008;

FONTANELLA et al., 2011). A saturação é uma ferramenta conceitual de inequívoca

aplicabilidade prática, podendo nortear a finalização da pesquisa, a

partir de sucessivas análises paralelas à coleta de dados. O momento de

saturação da amostra depende indiretamente do referencial teórico, do

recorte do objeto e diretamente dos objetivos definidos para a pesquisa.

72

Além disso, o nível de profundidade a ser explorada e da

homogeneidade da população estudada (FONTANELLA, 2008; 2011).

O perfil dos participantes do estudo estão descritos na tabela 1:

Tabela 1 - Descrição das características dos participantes do estudo

Variáveis n %

Gênero Masculino 2 20

Feminino 8 80

Faixa etária 21 a 30 anos 4 40

31 a 40 anos 4 40

41 a 50 anos 2 20

Profissão Enfermeiro (a) 3 30

Psicólogo (a) 3 30

Médico (a) 1 10

Assistente social 1 10

Nutricionista 1 10

Téc. em enfermagem 1 10

Experiência profissional

[em anos]

1 a 4 anos 1 10

5 a 9 anos 5 50

10 a 14 anos 1 10

> de 15 anos 3 30

Experiência com a

terminalidade [em anos]

< de 1 ano 1 10

1 a 4 anos 3 30

5 a 9 anos 4 40

10 a 14 anos 2 20

Fonte: Dados da pesquisa.

3.3 COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada por meio de duas técnicas

utilizadas em estudos qualitativos: entrevista semiestruturada e rede associativa ou Associação Livre de Palavras (ALP).

73

3.3.1 Entrevista Semiestruturada

A entrevista semiestruturada é considerada uma conversa com

finalidade, o modo semiestruturado tem como objetivo que o

entrevistado discorra sobre o tema proposto, sem perder de vista os

objetivos da pesquisa, seguindo um roteiro ou estrutura previamente

elaborada (MINAYO, 2014). As entrevistas foram compostas de duas

partes e seguirá um roteiro (APENDICE A). A primeira com perguntas

predominantemente fechadas referentes as características do participante

e a sua motivação para o trabalho com o tema. A segunda parte

composta por perguntas abertas que centralizam na temática investigada.

As entrevistas foram gravadas por meio de um gravador digital e

realizadas em local e hora acordado com o participante de modo

garantindo o sigilo das informações. As entrevistas tiveram duração

média de 45 minutos, foram transcritas pelo autor deste estudo em

documento de texto no Microsoft Word® extensão doc e posteriormente

validadas pelos participantes por meio de e-mail.

3.3.2 Rede associativa

A Associação Livre de Palavras (ALP) ou rede associativa foi

adotada nesse estudo como técnica de coleta de dados complementar,

porém, não menos importante, visando uma maior compreensão do

fenômeno investigado.

A rede associativa foi desenvolvida pelo psiquiatra e

psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung, consiste na utilização de

estímulos indutores [palavras, expressões] que buscam, a partir de sua

proposição, fazer emergir associações livres, que expressem estereótipos

sociais partilhados pelos sujeitos em seus grupos sociais (OSÓRIO;

QUEIROZ, 2007; COUTINHO; NÓBREGA, 2003).

A rede associativa tem como objetivo as expressões verbais

espontâneas, menos controladas e mais autênticas (NASCIMENTO;

NERY; SILVA, 2013). Esta técnica auxilia na identificação dos

elementos das representações sociais, através da configuração que

constitui a trama ou rede associativa dos conteúdos evocados em relação

a cada estímulo indutor (SPINK, 1995). Ainda, evidencia-se a

importância desta técnica para captação de um conteúdo rico em

espontaneidade, livre de contaminação prévia por parte do pesquisador

(BANCHS, 2005).

Nesta perspectiva foi fornecida uma palavra-estímulo, a saber,

terminalidade infanto-juvenil para que os participantes associassem

74

palavras ou expressões que emergissem em suas mentes de forma

espontânea, a partir da menção do estímulo indutor (BANCHS, 2005).

A rede associativa seguiu um roteiro (APENDICE B) que está

sustentado nos passos preconizados por Rosa (2005). Cabe destacar que

foram realizados algumas adaptações ao roteiro da rede associativa.

Primeiro, por se tratar de objeto de investigação que oportunizava

alguns desconfortos emocionais como choro, o preenchimento da rede

associativa foi realizado pelo autor e não pelo participante.

3.3.3 Procedimentos para Coleta de Dados

Após as aprovações éticas necessárias que serão melhores

detalhadas na seção seguinte, foi colocado um anúncio nas redes sociais

e enviado e-mail para os contatos do pesquisador deste estudo com vista

a sensibiliza-los para participação da pesquisa, conforme descrito no

tópico 3.2.3.

Depois da definição do primeiro informante chave, e a checagem

de que o mesmo atenderia os critérios pré-estabelecidos para

participação da pesquisa, foi proposto agendamento para coleta de

dados, situação esta que se repetiu com os demais informantes.

O local e hora para coleta de dados foi condicionado a

disponibilidade do participante.

No local para realização da coleta de dados foi apresentado o

objetivo da pesquisa bem como se procedeu a leitura e assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual continha

as informações sobre a pesquisa e os direitos dos participantes.

Para iniciar o processo de investigação foi aplicado a rede

associativa, com vistas a aproximar o participante do objeto investigado,

e na sequência realizou-se a da entrevista.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram analisados qualitativamente, com vistas a

oportunizar a compreensão do fenômeno investigado utilizou como

método a análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

A análise de conteúdo se configura como um conjunto de técnicas

de análise das comunicações, e utiliza procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. A técnica adotada

nesse estudo é análise categorial (BARDIN, 2011).

75

Esse método é composto por três fases (BARDIN, 2011, P. 125):

pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados,

inferência e a interpretação.

A pré-análise, é definida por como a fase de organização

propriamente dita. Objetiva operacionalizar e sistematizar as ideias para

conduzir um esquema preciso do desenvolvimento das operações

sucessivas do plano de analises. No contexto desta fase seguiu-se os

seguintes passos:

a) A leitura flutuante: que contribui com o contato com os

documentos permitindo-se levantar impressões e orientações a

respeito dos dados apresentados.

b) A escolha dos documentos: o universo de escolha dos

documentos de analise podem ser escolhidos a priori. Nesta

etapa são selecionados o universo de documentos que são

suscetíveis de fornecer informações sobre o problema que

originou o estudo. Para isso se faz necessário a construção do

corpus [conjunto de documentos que serão analisados]. Ainda

nessa fase, objetiva-se:: “a escolha dos dados para a análise,

formulação das hipóteses e objetivos e por fim formulação dos

indicadores que fundamentam a interpretação final”

(BARDIN, 2011, p. 125-26).

Para essa escolha encontra-se a necessidade de transitar-se

através das regras a seguir: Regra da Exaustividade, diante do corpus,

não deixar de fora nenhum dos elementos que compõem a análise;

Regra da Representatividade, os dados devem representar uma parte do

universo inicial e mais tarde possa representar o todo da população

estudo de forma geral; Regra da Homogeneidade, os documentos

retidos, devem obedecer aos critérios de escolha, ou seja ser

homogêneos.; Regra da Pertinência, os documentos retidos devem ser

ajustados para se tornarem fonte de informação e corresponderem ao

objetivo da analise (BARDIN, 2011).

c) Formulação das hipóteses e objetivos: nesta fase pode-se

confirmar ou infirmar os objetivos e hipóteses do estudo, por

meio da exploração dos documentos.

d) Redefinição dos índices e elaboração dos indicadores.

Quando a análise explicita a manifestação dos conteúdos dos

textos, é neste momento que se deve escolhe-los. Foram

determinados recortes dos textos em unidades comparáveis ou

categorias para analises temáticas de codificação para o

registro dos dados.

76

e) Preparação do material nesta etapa o material foi preparado

para edição dos dados coletados (BARDIN, 2011, p. 127-

130).

Na fase seguinte foi realizada a exploração do material, esta

etapa é longa e fastigiosa onde são realizadas incansavelmente os

padrões de classificação, decomposição, codificação, enumeração com a

influência de regras previamente formuladas Bardin (2011, p.131).

Por fim, o tratamento dos resultados, foram ajustados para serem

validados de modo que traduzam os resultados do estudo.

As informações obtidas nas entrevistas foram relacionadas rede a

associativa, objetivando, através da triangulação de dados, fortalecer

ainda mais a análise e a discussão das informações advindas da

investigação (MINAYO; ASSIS; SOUZA, 2005; MINAYO, 2010).

A triangulação de dados é utilizada por possibilitar a combinação

de mais de um método qualitativo (FLICK, 2005) e se sustenta no

[...] uso de múltiplas fontes de dados para validar

conclusões. [...] A variedade de métodos de coleta

de dados fornece uma oportunidade de avaliar até

que ponto emerge um quadro coerente e

consistente do fenômeno (POLIT; BECK, 2011,

p. 541).

O emprego da triangulação permite interação, comparações

teóricas e critica intersubjetiva amplificando o teor dos dados e

potencializado os resultados do trabalho (MINAYO, 2010).

Neste sentido, a rede associativa foi relacionada com as

entrevistas semiestruturadas com vistas validar os achados do objeto de

investigação. É importante destacar que na rede associativa foram

considerados apenas as evocações provenientes da palavra estímulo que

foi materializada por meio de uma nuvem de palavras [word cloud]

reforçadas dentro das categorias.

O uso de dois instrumentos que contribuem para materialização

do pensamento, sentimentos, significados do fenômeno investigado

torna-se de significativa importância para um estudo pautado no enfoque

teórico, uma vez que a materialização da imagem é essencial para as

representações sociais (MOSCOVICI, 2011).

A imagem, a tipificação de um pensamento transformado em

palavras o seu significado são considerados objetos de estudo legítimos,

tendo em vista a sua importância para materialidade das representações

77

sociais na vida cotidiana, nos comportamentos sociais e nos processos

cognitivos (JODELET, 2009)

Para o processo de organização dos dados contou-se com o

auxílio do software para análise de dados qualitativos Atlas.ti (FRIESE,

2014).

As entrevistas semiestruturadas e rede associativa após transcritas

e ajustadas ortograficamente foram inseridas no software Atlas.ti em

arquivos .doc [document], selecionados os trechos de narrativas

[quotations], sendo que cada trecho foi atribuído um código [code] que

continha de uma a cinco palavras que representasse o referido

fragmento.

Os códigos foram agrupados em categorias e subcategorias [code

groups]. Para tipificar as categorias e subcategorias e seus repectivos

códigos associados foi utilizado uma rede de visualização [network]. A

seleção dos trechos de narrativas para compor a descrição resultados e

discussão foi proposital, de modo a melhor representar o código ou os

conjuntos de códigos.

É importante destacar que os preceitos da análise de conteúdo

associado aos recursos do software Atlas.ti subsidiou para centralizar o

fenômeno investigativo e oportunizar uma análise inferencial mais

precisa. De modo que no inicio do processo analítico, eram 125 códigos,

265 trechos de narrativas; posteriormente os refinamentos ortográficos,

teóricos e conceituais, isso reduzir para 68 códigos e 171 trechos de

narrativas; por fim, o material liquido que utilizou-se com resultados

deste estudo foram 11 códigos e 115 trechos de narrativas.

3.5 ASPECTOS ÉTICOS

O estudo respeitou todas as diretrizes legislativas vigentes que

tangem sobre os aspectos éticos em pesquisa que envolvam seres

humanos, seguindo os ditames das resoluções do Conselho Nacional de

Saúde (CNS) Nº 466 de 2012 e 510 de 2016 (BRASIL, 2013).

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

com o número 2.157.987 (ANEXO A) Os profissionais de saúde que

aceitaram participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE D), composto por duas vias,

sendo uma via ficou com o pesquisador e a outra foi fornecida ao

participante.

O sigilo das informações foi respeitado, logo, as entrevistas

foram realizadas em locais de preferência dos participantes, acontecendo

na casa do participante, ou em locais públicos.

78

O anonimato dos participantes foi garantido por meio de um

código alfanumérico composto pelas letras P seguido de um número

cardinal que expressa a numeração da entrevista e na rede associativa,

exemplo: P1, P2, etc.

Durante as entrevistas os participantes fizeram menção a nomes

dos pacientes e familiares os quais prestaram assistência, com objetivo

de preservar o anonimato os pacientes serão nomeados com nomes de

estrelas.

As entrevistas, como já mencionado, foram gravadas e

posteriormente transcritas, elas foram validadas por todos os

participantes através de e-mail. As entrevistas ficarão de posse dos

pesquisadores envolvidos durante o prazo de cinco anos.

Essa pesquisa não ofereceu riscos físicos, porém, pela natureza

interacional das entrevistas, o processo de coleta de dados poderia

ocasionar riscos mínimos relacionados ao surgimento de emotividade.

Entretanto, foi reforçado que caso o participante sentir-se desconfortável

ao lembrar-se de situações que gerassem emergências emocionais,

constrangimento, ou qualquer outro tipo de desconforto, seria prestado

acolhimento situações bem como ofertado a possibilidade do

participante desistir da entrevista.

Os benefícios desta pesquisa destinam-se a colaborar para que as

práticas profissionais das instituições de saúde valorizem a

terminalidade como algo de significativa importância no processo de

trabalho em saúde; auxiliar os profissionais de saúde a construção de

estratégias de enfrentamento para lidarem com as situações de

terminalidade e morte. Além de proporcionar a esses profissionais

compreensão da importância de suas ações assistenciais no momento

que precede a morte.

Após realização da pesquisa se procederá a devolutiva dos dados

aos participantes do estudo e posteriormente publicação dos resultados

em periódicos.

79

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados indicaram a existência de 115 trechos de narrativas,

condensados em 11 códigos os quais foram agrupados em 3 categorias.

A figura a seguir ilustra a síntese dos resultados:

Figura 2 - Elementos constituintes das representações sociais da

terminalidade infanto-juvenil

Fonte: Dados obtidos pela pesquisa.

A categoria experiências, estratégias e consequências do

convívio com a terminalidade, foram subdivididas em três

subcategorias:

a) Experiências com situações que envolvem terminalidade, que

dispõem dos seguintes códigos: sentimento de fracasso [20];

limitações da equipe [9]; e sentimento de dever cumprido

[12], totalizando 41 trechos de narrativas;

b) Estratégias de superação no convívio com a terminalidade,

que dispõem dos seguintes códigos: Autosuperação [12],

Religiosidade [19] totalizando 31 trechos de narrativas;

c) Consequências da vivência com situações de terminalidade,

que dispõem dos seguintes Ampliação do sentido da vida [5] e

Aprendizado pessoal [12], totalizando 19 trechos de narrativas.

Por seguinte, a categoria missão e amorosidade em situação

terminal contaram com os seguintes códigos: manifestação de missão

[7], manifestação de amor [6] totalizando 13 trechos narrados; A terceira

80

categoria, término da vida, contou com os seguintes códigos:

Terminalidade interrupção prematura da vida [8] e morte [5], totalizando

12 trechos de narrativas.

A tabela a seguir, descreve a síntese geral dos achados neste

estudo.

Tabela 2 - Descrição das categorias e códigos de acordo com o número

de trechos de narrativas relacionadas as representações sociais da

terminalidade infanto-juvenil.

Fonte: Dados da pesquisa.

As palavras evocadas resultado da rede associativa foram

materializadas por meio de uma nuvem de palavras [word cloud], com

vistas a fortalecer os achados provenientes das entrevistas

semiestruturadas.

A nuvem de palavras totalizou 32 palavras, com 52 evocações, e

segui um formato espiral, cujas mais evidenciadas [dor com 6

evocações] ficam ao centro e as que tiveram a menor frequência de

repetição na extremidade, conforme a figura a seguir:

Categorias Códigos n %

Representações das

experiências, estratégias e

consequências do convívio

com a terminalidade

Fracasso 20 17,4

Religiosidade* 19 16,5

Aprendizado pessoal 12 10,4

Autossuperação 12 10,4

Dever cumprido 12 10,4

Ampliação do sentido da

vida 9 7,8

Limitações da equipe 5 4,3

Missão e amorosidade em

situação terminal

Realização de uma missão 7 6,1

Manifestação de amor 6 5,2

Terminalidade como término

da vida

Interrupção do ciclo vital 8 7,0

Morte 5 4,3

Total 115 100

81

Figura 3 - Palavras evocadas pelos profissionais de saúde relacionadas à

terminalidade infanto-juvenil

Fonte: Dados da pesquisa.

4.1 REPRENSETAÇÕES DAS EXPERIÊNCIAS, ESTRATÉGIAS E

CONSEQUÊNCIAS DO CONVÍVIO COM A TERMINALIDADE

4.1.1 Representações das experiências com situações que envolvem

terminalidade

As experiências do profissional de saúde frente a terminalidade

infanto-juvenil tem sido discutidas amplamente, especialmente por

tratarem de aspectos repletos de representações relacionadas as

vivencias diárias com situações de sofrimentos dos pacientes e

familiares.

Essas experiências parecem transitar pelo desenvolvimento de

potencialidades ou facilidades que o profissional amplia ao lidar com a

terminalidade e também pelas fragilidades ou dificuldades sustentadas

muitas vezes por afastamento ou evitação, e/ou sentimentos de

impotência associados à ideia de fracasso diante da assistência que no caso da terminalidade infanto-juvenil, se manifesta na tentativa de evitar

a morte do paciente (FRANCO, 2009; KOVÁCS, 2002).

82

As narrativas dos participantes a seguir demonstram essas

experiências associadas a sentimentos de evitação, afastamento e

impotência.

[...] às vezes tu querer fazer alguma coisa e tu não

poder, eu falo como assistente social de uma

instituição, que a gente queria poder buscar

qualquer recurso para poder salvar. Então, assim,

tem muitas coisas que é muito bom na teoria, mas

na prática, mesmo que se tiver dinheiro tu vai

fazer o que? (P10)

[...] dificuldades em prestar assistência, para ele,

(Sirio) toda dificuldade do mundo. Na verdade

encontrei dificuldade porque sentei do lado dele e

fiquei, eu não entendi eu acho que não aceitei.

Imagina eu tinha 18 anos, pensava: eu vou ser

enfermeiro e vou mudar o mundo, vou salvar todo

mundo. Ai de repente não tem nada para fazer, só

sentar e ficar do lado até o menino morrer. Qual

foi o sentido de estudar para isso? (P1)

Os participantes revelaram dificuldades pela sensação de

impotência diante do processo terminal das crianças que acompanharam,

não podendo evitar, nem retira-las da despedida.

O sentimento de impotência, fracasso, com a sensação que

poderiam fazer algo mais foi materializado também no momento da

evocação de palavras quando os mesmos mencionaram: dor [6]11

,

sofrimento [5], tristeza [2], descrença [1], incredulidade [1], insensatez

[1], término [1], manifestando o quão arraigado se encontra a ideia sobre

a terminalidade e a morte como algo transmissor de negatividade. As

Representações Socais emergem também como um modo de dar um

valor simbólico compreender, um objeto em particular, de defini-lo, dar-

lhe identidade (MOSCOVICI, 2003).

Em se tratando das narrativos conceitos das representações

sociais, ancorar é classificar, dar nome a alguma coisa (MOSCOVICI,

2011). Notou-se no conteúdo das narrativas dos participantes a

materialização que o processo de terminalidade e morte representa para

eles. Ou seja, ancorados na sensação de impotência, fracasso de que o

11

O número entre colchetes refere-se a quantidade de vezes que essas

palavras foram evocadas pelos participantes.

83

momento é de dor e sofrimento, vislumbram a necessidade de

assistência da presença, do estar junto em momento em que a vida

reserva o grande desafio da despedida.

A presença e a escuta que o profissional realiza, são fundamentais

para os alívios do sofrimentos no momento da terminalidade e da morte

e alcançam espaços da dimensão humana que nenhum outro tipo de

remédio consegue acessar (ROSS, 2017).

A busca incessante da cura muitas vezes impede o profissional de

saúde de reconhecer, que a morte também faz parte do processo de cura,

e que a cura por sua vez não impede a presença da morte. A tendência

por outro lado é de medicalizar, de racionalizar a morte, de modo a

retratá-la em tendência relacionada a uma autodefesa do profissional, a

fim de não afetar as suas atividades, daí a postura de se distanciar para

então suportar a vivencia diária com a morte (VICENSI, 2016)

O mecanismo de defesa ou distanciar-se também é um fator que

merece ser considerado. O profissional de saúde que não se coloca

diante da própria morte, terá dificuldades em compreender a morte do

outro [daquele que assiste] e, portanto, assistir na terminalidade se

tornará desafiador (KÜBLER-ROSS, 2016). Além disso, essas

fragilidades poderão se disfarçar na necessidade de afastamento e

evitação, transformando-se em sentimento de fracasso e impotência.

A morte para o profissional de saúde que atua nos hospitais deve

ser encarada como um processo que é parte do cotidiano da profissão, de

modo a facilitar a convivência com os sentimentos que emergem e que

estão naturalmente associados ao momento da terminalidade (VICENSI,

2016).

Sobre os sentimentos comuns ao processo terminal, notou-se a

sensação de perda, de tristeza, de ausência. Como observado nas

narrativas dos participantes:

Para mim é triste, não tem coisa pior que ver uma

criança sofrendo em fase terminal tem toda vida

pela frente e acaba encerrando logo no começo, eu

acho muito triste. É uma coisa que sempre me

abala bastante. (P7).

Difícil é pensar que no outro dia eles não vão estar

mais ali, que eles vão fazer falta porque eles

preencheram de certa forma, um certo carinho de

apego que a gente tem por aquelas crianças. Tu

sempre vai fechar o olho e vai lembrar-se

daquelas famílias, daquelas crianças que já se

84

foram, do sofrimento que ela passou. Claro que a

gente sempre tenta pensar nas lembranças boas,

mas eu acho que isso é difícil, de saber que aquela

criança não vai mais estar ali, que tu não vai mais

ter convívio com ela (P2).

[...] de que a gente sente também assim, a gente

fica com o nosso psicológico bastante abalado, a

gente tem que ser forte diante da família. Diante

das pessoas da família que perdeu um filho e a

gente acompanha do começo até o fim, então a

gente se apega, [...] porque não é uma carga fácil,

é uma carga bem pesada (P10).

Nessas expressões pode-se também reconhecer sentimentos

comuns ao processo de enlutamento. Essa afirmação reporta a pensar

que os sentimentos em relação a perda são naturais e devem ser

vivenciados já que não podem ser evitados.

No ambiente de trabalho se faz necessário um espaço de

segurança cultivado na relação entre os membros da equipe. Os

participantes da pesquisa também mencionaram fragilidades que se

materializavam em limitações de alguns profissionais colegas da

equipe, em lidar com a terminalidade infantil conforme as descrições a

seguir:

A dificuldade que eu tenho às vezes é com outras

pessoas que interferem nesse momento, e de

conter as outras pessoas essa é um pouco da

dificuldade que eu tenho eu não consigo ser muito

incisiva nesse momento, porque as vezes eu quero

aparar a situação, mas eu não consigo (P5).

Outra grande dificuldade é de como a equipe não

tem estrutura para lidar com isso, ninguém sabe

fazer isso. Ao mesmo tempo aquele ser humano

ali, em desespero, choque, e levar um afago que

fosse um acalento que não tem palavra, que não

tem gesto, então eu agi com meu coração. Sem

técnica, mas de coração, de coração bem aberto

(P4).

O despreparo da equipe de saúde ao lidar com situações de

terminalidade pode gerar consequências, embora tenham recebido

85

preparo técnico para realização da assistência, diante dos seus próprios

sentimentos, emergentes ao presenciar o sofrimento das crianças e

familiares assistidos no processo de terminalidade, os profissionais

podem apresentar dificuldades que refletirão no sistema de cuidado que

precisa estar em sintonia com as necessidades totais [física, social,

familiar, psicológica e espiritual] do paciente e sua família.

O profissional conseguirá colocar em prática seu potencial

técnico aprendido, mas terá dificuldades em reconhecer as necessidades

mais complexas das pessoas assistidas, da mesma forma que também

terá de reconhecer os seus sistemas internos, despertados por suas

histórias de perdas, que foram tocadas pela relação com essas pessoas

neste momento de entrelace de vidas em que a relação humana se

amplifica e clama pela dignidade de ser ouvida.

As consequências do lidar com a terminalidade (PERES, et al.,

2006), primeiramente é representada pela sensação de fracasso do que

seria a sua missão, ou seja, curar o doente, evitar a sua morte. E por

conseguinte, a consequência se manifesta no afastamento que impede o

profissional de conhecer o universo desse paciente, suas queixas, suas

esperanças e desesperanças, em suma, tudo o que ele sente e pensa nesse

período de sua vida. Desse modo a disposição para a escuta, o ajudaria a

se aproximar mais do paciente terminal.

A dificuldade dessa aproximação pelos membros da equipe

também pode ser entendida como parte de um processo de luto. O luto

pode ser vivenciado a partir do momento da perda, como também

simultaneamente a terminalidade, porém, em razão de aspectos velados

e pouco compreendidos por todos os envolvidos no processo de cuidado

na terminalidade, por serem produzidos numa relação de vínculo

ambivalente [profissional-pessoal] e que transita entre afeto e

implicações de uma relação hierárquica.

No processo de terminalidade o profissional é cientemente “[...]

colocado diante das suas perdas potenciais e temido” (FRANCO, 2014

p. 302). Assim os vínculos vividos são reedições dos vínculos passados,

da mesma forma que os rompimentos podem provocar reações como as

já vividas em perdas anteriores como se pode observar na narrativa a

seguir.

[...] eu provavelmente digo isso muito

emocionada, eu tive num processo depressivo

quando estive na UTI Neo porque a vida acabava

ali [...]. Então, o fim e a perda e não saber para

onde olhar é não saber como continuar vivendo,

86

você não encontra uma forma de continuar

vivendo a vida (P3).

Os problemas que prejudicam o andamento da assistência,

sobretudo as limitações de comunicação entre os profissionais que

compõe a mesma equipe, necessita de treinamento “informativo e

formativo” (CARVALHO apud PESSINI; BERTACHINI, 2014, p.

318). Há necessidade ainda de formação baseada no preparo intelectual

e afetivo para a tarefa, onde o profissional poderá refletir sobre

autoconhecimento e daí então a ampliação das habilidades de

relacionamento.

As dificuldades em lidar com a maneira em que os profissionais

da equipe reagem e comunicam o seu entendimento e sentimentos sobre

a partida da criança, pode ser evidenciado na narrativa a seguir:

[...] e ai no corredor veio uma pessoa, eu ali do

lado acompanhava eles onde quisessem ir. E uma

pessoa passou, que trabalhava ali e sabia do caso,

da história, parou e perguntou para mãe, falou

assim “mãe calma vocês ainda tem os outros

filhos” eu achei que eu fosse matar aquela pessoa

eu dissociei, eu não sei se a mãe ouviu, o pai

ouviu, mas eu ouvi e estranhei ela vindo seguindo

a mãe, quando escutei dissociei, saí porque se eu

ficasse ali para defender ou proteger para falar

alguma coisa, eu lembro que vi tudo branco, não

vi mais nada eu só lembro de depois que fui me

dar conta desse sentimento de novo na outra

semana quando voltei e ai botei o chão (P3).

A expressão da colega de trabalho disparou na participante

revolta potencial num misto de sentimentos que lhe alteraram os

sentidos.

Sabe-se que no processo de enlutamento a revolta é uma das

reações que podem ser acessadas pela pessoa que esteja envolvida no

processo de terminalidade ou morte.

Este mecanismo possibilita que sejam expressos, conteúdos

internos associados a dificuldade de aceitação da situação de perda

(ROSS, 2008). Pode ser desencadeado em qualquer momento da

terminalidade, na morte ou pós perda, surgindo reações de irritabilidade,

sentimento de revolta, inveja, questionamentos, irritabilidades em

situações especificas ou não. Normalmente essas manifestações

87

despertam conteúdos associados ao arcabouço da história pessoal do ser

humano (FRANCO, 2002).

O sentimento de estar sendo útil, benéfico e de estar presente,

somado à sensação de paz emitida pela interpretação de que o paciente

descansou, que apesar da despedida do paciente houve libertação dos

laços da dor e agonia. Nas narrações a seguir materializam os achados

sobre as representações da terminalidade como o cumprimento de um

dever:

[...] e o que foi fácil numa palavra só, é a

presença, é estar ali nessa hora, logico faz 24 anos

que comecei, mas hoje eu enxergo, se não fosse

eu que tivesse ali seria uma outra pessoa

independente de ser eu ou outra pessoa [...] (P1)

Fácil ver que elas pararam de sofrer, eu penso que

elas foram para um lugar melhor, que a gente

tenta se confortar dessa maneira em pensar que o

sofrimento acabou (P7).

[...] E ao mesmo tempo foi como é que eu vou te

dizer, muito bonito, assim apesar da dor daquela

situação, ver a força da mãe, a garra da mãe de

independente de tudo, até o último suspiro:

[exemplo] eu estou junto e faço o que tiver que

fazer, aquilo me marcou muito. Foi forte pra mim

foi o que mais me marcou (P6).

As experiências com a terminalidade e a aproximação da morte

também podem ensinar grandes lições. Kübles-Ross (2016) referiu que

depois que o paciente morre, se o profissional o tiver escutado, assistido

integralmente e intervindo de modo aliviar o seu momento de dor12

, este

terá os dias seguintes leves e bons, sentido a paz do dever cumprido.

Esses achados se confirmaram nas narrativa a seguir:

Que foi mais fácil? Para mim o gostoso na história

do Capella foi poder aproveitar com ele tudo. O

que ele queria fazer eu apoiava, eu brincava. Com

12

Conceito desenvolvido por Cicely Saunders [1918-2005] percursora dos

cuidados paliativos no mundo, para definição da dor em uma visão

multidimensional: físico, emocionais, sociais e espirituais.

88

a mãe eu criei um vínculo muito forte com aquela

família, aquilo foi muito fácil e muito gotoso (P9).

Os desafios exigidos diariamente para realização das práticas em

cuidados paliativos, diante do processo de relacionamento com os

familiares, torna intenso o desejo do profissional em oferecer

materializado em sua técnica de trabalho o sentido da amorosidade por

este fazer.

A partir disso emerge a sensação de dever cumprido que sustenta

a realização profissional e pessoal. Almeida, Sales e Marcon (2014) em

sua pesquisa sobre o processo de cuidado em terminalidade, refletem

que esses sentimentos motivam a equipe a prosseguir exercendo a arte

de cuidar.

Com isso faz-se referência à filosofia dos cuidados paliativos que

norteiam o fazer digno nas práticas em saúde, especialmente no que

tange a terminalidade, sendo esta a abordagem

[...] que aprimora a qualidade de vida dos

pacientes e famílias que enfrentam problemas

associados com doenças ameaçadoras da vida,

través da prevenção e alívio do sofrimento, por

meio de identificação precoce, avaliação correta e

tratamento da dor e outros problemas de ordem

física, psicossocial e espiritual (WORLD

HEALTH ORGANIZATION, 2002, p. 84).

Embora o ambiente em torno das pessoas envolvidas com a

terminalidade infantil esteja construído sob muitos significados

associados a dor, perda e sofrimento, há também, afeto, carinho,

compaixão e amor impressos na relação intima do vínculo estabelecido

entre quem cuida e quem está recebendo o cuidado.

Esta afirmação conduz a reflexão realizada por Dame Cécily

Saunders (1999, p. 7) de que “[...] o sofrimento só é intolerável quando

ninguém cuida”, ou seja, aos profissionais cuidadores há um importante

sentido na aproximação afetuosa estabelecida com os pacientes e seus

familiares, conforme descrito na fala de P7.

Eu procuro fazer a minha parte, fazer de tudo para

ajudar, para dar conforto, tudo para dar agilidade,

para ver a criança ou a mãe melhor, se sentirem

um pouco melhor. Dar carinho, atenção e mostrar

89

que a gente está ali, que a pessoa pode contar com

a gente para o que der e vier (P7).

Com isso observa-se que o profissional de saúde emergido na lida

com a terminalidade demonstra compromisso, carinho e preocupação

amorosa com quem esta cuidando. Isto se reflete na atenção e se

expande para além dos paramentos técnicos, não menos importantes e

necessários. Porém, quando realizados na perspectiva de cuidado

integral promove além dos alívios físicos, segurança e acalento para as

demais dores, onde na maioria da vezes os remédios convencionais não

alcançam.

4.1.2 Representação da terminalidade como estratégias de

autossuperação.

As estratégias que o profissional de saúde acessa para superação

da demanda de sentimentos emergem junto a cada etapa na

terminalidade infantil, estão vinculadas a autossuperação que aparece

em uma tríade, ou seja, ligada ao sentido do cuidado, ao afastamento ou

evitação e a religiosidade.

As palavras evocadas que se vinculam a esta categoria foram:

esperança [2], perseverança [1], fé [1], confiança [1] e força [1].

A autossuperação diz respeito a uma força que conduz o ser

humano a criar alternativas que gerem a satisfação.

Nesta perspectiva a autossuperação indica a superação de si

próprio, ou seja, dos seus limites, medos etc. (DICIO, 2017). Na

concepção de Victor Frankl13

(1989), o ser humano necessita de

autosuperação; isto é, estar fundamentalmente aberto ao universo que

busca além de si mesmo, ou seja, valores e papéis que estejam em

conformidade com o sentido a que essa busca foi atribuídas. Em outras

palavras é adaptar-se as situações vivenciadas desde que isso lhe

possibilite ou lhe mantenha o sentido, algo que mantenha acomodadas

as inquietações diante de situações incômodas.

13

Viktor Emil Frankl (1905 - 1997). Neurologista, psiquiatra, filósofo e

judeu, conhecido por fundar a terceira escola vienense de psicoterapia: a

Logoterapia, que considera o ser humano na totalidade tridimensional de

corpo, psiquismo e espírito. Teoria: subtraída de suas vivências, percebendo

os horrores que enfrentaria, concluiu que, apesar das circunstâncias, o novo

sentido de sua vida estava em sobreviver (FRANKL, 1997).

90

A autossuperação embora esteja intrincada a resiliência, difere-se

desta última por ser o conjunto de capacidades para adaptar-se ás

dificuldades diárias (MASTEN, 2001; MARTINEAU, 1999; YUNES,

2001).

Pode-se observar que a autossuperação diante do sentido de

cuidar, se encontra nítida para os entrevistados P5 e P2 que

comunicaram no momento de despedida dos pacientes, buscam a

superação de sua dor [mantendo-se no sentido do cuidado] mostrando-se

fortes, abstendo-se, abrindo possibilidades para dar espaço à família

viver a sua dor.

Essa eu acho que é uma facilidade minha de

entender que aquele é o momento da família não é

o meu momento, não é o momento de mais

ninguém é deles então eu tenho que me manter e

me abster daquele momento (P5).

Porque muitas vezes tu precisa se vestir de forte.

Quantas vezes tu vai ao quarto e depois tu sai

chorando. Então acho que é isso, acho que às

vezes tu acaba criando uma certa barreira para ti

não esmorecer totalmente na frente daquele

familiar. Acho que é isso (P2).

O ambiente de sofrimento e dor é algo frequente aos profissionais

de saúde que atuam na assistência a pacientes em terminalidade, assim

como na maioria desses momentos é vedado ao profissional expressar a

sua dor, visto que alguns não conseguem reconhecê-la e a outros está

presente o receio de serem incompreendidos (DOKA; 1989; KOVÁCS,

2014).

O debate em torno da situação dos profissionais frente à

terminalidade e a morte revelam que na atualidade as posturas de

superação que os membros de uma equipe cuidadora desenvolvem para

lidar com situações de sofrimento, sobre tudo no ambiente infanto-

juvenil, estão associadas as representações que os mesmos

desenvolveram a partir de sua história de sua vida (KOVACS, 2014).

Há profissionais que, diante da iminência de morte dos pacientes,

embutem em seu sofrimento sentimentos de apego e afeto, como que

por um ente querido (VARELLA, 2004). Dessa aproximação podem

surgir possibilidades de sentimentos de enlutamento ou de fuga e

evitação (COSTA; LIMA 2005; COSTA; CEOLIM, 2010)

91

Como pode ser observado nas narrativas dos participantes existe

a tendência de autossuperação que lhes direcionam ao cuidado, porém,

ao mesmo tempo, há o sofrimento deles, suprimido na evitação de sentir

o enlutamento, isso possivelmente gera o afastamento, não do paciente e

da família, mas de si mesmo, uma vez que “[...] a representação iguala

toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem” (MOSCOVICI,

2011, p. 46).

As estratégias de enfrentamento que envolvem a permissão do

profissional em sentir o que resulta da vivência com a terminalidade,

passam, pelo reconhecimento de que a morte existe não somente para o

outro, mas, para si próprio. Em algum momento da vida, a morte

chegará, e para que este momento valha a pena, é preciso que os dias da

vida também tenham válido.

Por outro lado, caso o profissional acesse o mecanismo de fuga

do sentir pelo receio da conexão com o que a morte negativamente lhe

representa, poderão emergir suas fragilidades, incertezas,

vulnerabilidades etc. Não são todos os momentos da atuação

profissional que o mesmo se autoriza sentir, ou não tem autorização para

expressar ou compartilhar o que sente (KOVÁCS, 2010). Nestes casos,

muitos desconfortos ou até mesmo o adoecimento, físico e emocional

podem ser inevitáveis como descrito pelo participante P8:

E eu ficava pilhadaço [ansioso], ficava com

taquicardia, ficava pensando na criança, direto,

direto. Até me acostumar, bom acabei saindo de lá

e não acostumei. [...] Porque querendo ou não eles

precisam da gente, que de força, se tu chorar um

dia com um pai ou com uma criança eles vão

chorar contigo, mas se tu te mostrares forte perto

deles, eles vão se estimular, vão se sentir mais

fortes (P8).

A desconsideração dos sentimentos relacionados ao luto refere-se

aqui como a estratégia de fuga, que pode estar reforçada pelo

aprendizado na formação, que muitas vezes ensina que o não

envolvimento com o paciente e a família do doente será protetivo ao

profissional. Porém, podem surgir mecanismos de defesa inconscientes

com potencial, para se transformarem em psicossomatizações, que com

o tempo podem culminar para agravos significativos na saúde do

profissional (LIBERATO; CARVALHO 2008).

92

Outro aspecto presente nas representações dos participantes em

relação às estratégias de convívio com a terminalidade foi a

religiosidade, surgidas como empenho dos profissionais em realizar a

travessia pela convivência com a terminalidade e morte com as

condições necessárias para auxiliar as crianças e a família a passarem

pelo momento de despedida da forma mais digna. As tentativas ligadas a

busca de sentido para a terminalidade vinculadas a religiosidade se

apresentam nas falas a seguir:

Eu, trabalho a minha fé, trabalho a minha fé

porque a gente tendo fé em Deus, para gente

buscar uma melhor resposta, então a gente sempre

busca uma resposta para nos confortar, se não

ficou é porque tem algo melhor, porque era uma

pessoa muita boa para ficar na terra tendo

sofrimento. Então assim eu tento trabalhar a fé, e

fortificar minha fé e minha relação com Deus

(P10).

[...] por não ter filho e por ter essa doutrina

[Doutrina espírita] do meu lado eu acho que não

encaro como um nunca mais vou te ver. Para mim

é daqui a pouco assim é uma coisa, é muito louco,

é como se eles tivessem ido viajar. Eu acho que eu

busco na própria, na espiritualidade (P6).

[...] Eu acho que pensamento positivo, tipo, Deus

proteja a minha mente, me de força porque eu

preciso não transparecer que eu estou em pedaços

(P2).

[...] E a questão de uma crença religiosa por que

eu me percebi fazendo isso e me ajudou muito, eu

sempre falava isso quando as pessoas

questionavam, [...] (P3).

Nos aspectos da religiosidade pode-se constatar que por estarem

diante da terminalidade como um fenômeno irreversível, apegam-se a

suas crenças e sua fé [ideia de eternidade] como forma de enfrentamento e melhor convivência com essa realidade no dia a dia. A fé é uma

manifestação de espiritualidade e pode ser considerada uma estratégia

de superação para o convívio com a terminalidade e morte, seja talvez

um dos sentidos da vida e do viver (SANTOS; CORRAL-MULATO;

93

BUENO, 2014), uma vez que a convivência com a iminência da morte

convida seus participes a potencializar o seus sentidos, despertar para o

amor como seres divinos (SANTOS, 2009).

Sobre os aspectos da ideia do divino, da religiosidade como

estratégia de autossuperação os participantes vinculam a terminalidade e

morte da criança a imagens celestiais.

Aos serem convidados a pensar sobre uma imagem que

desenhariam sobre o tema, os profissionais tipificaram e associaram o

momento da terminalidade e da morte da criança como um momento de

transição, onde as crianças se transformam em seres celestiais como

descritos nas narrações dos participantes P1, P2, P6 e P10.

Acho que não tem figura melhor que a figura de

Um anjo, um anjinho mesmo (P1).

Anjinhos confortáveis (P2)

Um anjo, um anjo bem bonito com as asas bem

grandes assim. [abre os braços] (P6).

Porque eu acho que são anjos. Porque eu acho que

eles estarão num lugar melhor do que nessa vida

que sofrem bastante, passam por tantas coisas

ruins né (P7).

A morte da criança, um anjo, um anjo de luz

(P10).

Segundo a tradição judaico-cristã, a mais divulgada no ocidente a

palavra anjo vem do latim ângelus e do grego ángelos [ἄγγελος,

mensageiro]. Na iconografia comum, os anjos geralmente têm asas de

ave, um halo/auréola, beleza delicada, infantil e emanam forte brilho

(SERRES, 1995).

Algumas vezes são representados por crianças, em razão de sua

inocência e equidade. Segundo relatos bíblicos e a hagiografia cristã os

anjos são/foram autores de fenômenos milagrosos e uma de suas

missões é ajudar a humanidade em seu processo de aproximação a Deus (BERKHOF, 2008).

O pensamento representado na imagem de anjo parece também

estar vinculado a ideia dos profissionais de que a criança nasce com a

missão [como um anjo missionário] de transformar vidas ou de passar

94

por uma prova divina. Além contribuir com a humanidade, tornando-a

em mais bondosa e empática afim de também merecer a vida eterna.

Diante do exposto reflete-se que para os participantes da pesquisa

as crianças ao finalizarem sua trajetória pela vida que tiveram, elas não

morreram de fato, mas continuaram em forma de anjo.

Remetendo a discussão realizada por Ross (2014) sobre a

esperança que transita por todas as fases da dor da partida e do

enlutamento. Nas fases iniciais a esperança permite a expectativa de

uma cura, mesmo que esta seja impossível. E nos últimos momentos da

vida a esperança se direciona a possibilidade do reencontro num

provável céu, relembrando o sentido religioso de cada um.

Alguns participantes da pesquisa, apresentaram a ideia angelical

como representação da terminalidade infanto-juvenil de forma

secundária, ou seja, em suas expressões relataram a ideia de céu, um

lugar confortável, seguro, onde há libertação do espirito do corpo físico.

Um paraíso onde vivem seres alados, montanhas altas, horizontes,

paraíso etc.

Além disso referiram-se ao alivio dos familiares sob a idéia de

que as crianças estão no céu, por suporem que são anjos, e passarão

então a viver no céu, aliviados da dor e do sofrimento recebendo o que

necessitam para serem plenamente felizes eternamente.

Para suportar a morte da criança, é necessário significa-la como

uma partida para um lugar melhor, ou seja, “morrer é como mudar-se de

casa para outra mais bonita” (KUBLER-ROSS, 1991 p.11).

Essa reflexão conduz à metáfora do casulo e a borboleta cuja

lagarta cansada de sua trajetória se prepara para entrar no casulo onde

passará alguns instantes até se libertar dele e se transformada em

borboleta (ROSS, 1991).

Na internalização da despedida pela morte, é observada a

necessidade de depositar o ser amado [já que a separação não pode ser

evitada] em local onde, este possa continuar vivo [na imaginação ou

memória] e se sentir feliz. A ideia de um céu, como uma promessa de

reencontro foi um aspecto muito reforçado nesta pesquisa.

Para mim, a partida deles, eu acho que é um daqui

a pouco a gente se vê, é mais ou menos assim fico

com aquela sensação, é meio louco porque, tu tens

a razão que diz que esse daqui a pouco pode ser

muito gigante, mas tu tens esse lado, tipo daqui a

pouco vou estar com eles, eu não sei, é louco (P6).

95

Independente de crença religiosa o céu ou o paraíso é onde se

espera viver após a morte do corpo físico, e encontrar tranquilidade, paz,

beleza, amparo, amor divino, alivio do sofrimento Etc (DIAS, 2011).

Nas afirmações pode-se ainda inferir que os participantes

desenvolvem a autossuperação através de estratégias que transitam entre

afastamento e evitação da conexão com os seus sentimentos, sensação

de cumprimento do dever, autocuidado e na sua fé e religiosidade.

Os participantes do estudo extraem dessas estratégias o suporte

que necessitam para conviver cotidianamente com a terminalidade,

dando-lhe sentido suficiente para que possam recomeçar suas atividades,

acalentados [conforme suas crenças] pela esperança e fé de que há uma

explicação de que a vida não cessa com o termino biológico e que se

mantém de muitas formas. Seja na memória das relações, na saudade e

na esperança do reencontro, reforçando a compreensão de que esta vida

é em muitos sentidos eterna e contínua (SANTOS, 2009).

A partir dessas considerações é válido sustentar que ao atribuir

um sentido para situação vivenciada com a terminalidade infanto-

juvenil, os profissionais se oportunizam a acomodação dos sentimentos

de sofrimento que aparecem diante da terminalidade e da morte, que por

hora precisam ficar em segundo plano para que eles possam conectar-se

a tarefa do cuidado.

O sentido da tarefa realizada no trabalho com a terminalidade

infanto-juvenil reforça no profissional de saúde a necessidade de

ampliação de suas ações para um cuidado que pressupõe, colocar-se ao

lado, acompanhar, inclinar-se para ouvir e atender as diversas dores

daqueles que clamam auxílio, mesmo que para isso, seja necessário

momentaneamente abster-se das suas dores (VOLICH, 2014).

Há necessidade também dos profissionais sentirem-se parte do

trabalho que executam de se verem na obra, ou seja, “[...] aquilo que

faço, que construo, em que me vejo, minha criação, na qual crio em mim

mesmo na medida em que crio no mundo” (CORTELLA, 2012, p. 21).

Essas afirmações reportam a reflexão de que para sustentar uma

prática que gere satisfação e portanto possibilite a autossuperação

pautada em condições de autocuidado e cuidado aos pacientes e

familiares, os profissionais de saúde, em suas possibilidades, devem

atuar sobre o enfoque da integralidade do cuidado (BRASIL, 1990;

MATTOS, 2004).

O objetivo central das ações de integralidade é contribuir para a

melhoria da qualidade de vida das pessoas [em qualquer faixa etária]

acometidas por DCNT, em especial no diagnóstico de câncer, por meio

96

de ações de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento

oportuno e cuidados na terminalidade, morte e luto.

Nos cuidados paliativos a integralidade deve perpassar pela

articulação entre as ações que se ocupam em atender as necessidades da

criança e da família, com um olhar ampliado sobre a dinâmica do

processo saúde e doença (MATTOS, 2004; PINHEIRO, 2009).

A outra dimensão da integralidade se expressa na capacidade dos

profissionais em responderem através da assistência ao sofrimento

manifesto pelo paciente e sua família incluindo no seu cotidiano de

trabalho práticas que englobem acolher as experiências individuais dos

sofrimentos apresentados pelos que buscam e necessitam de assistência

(MATTOS, 2001; 2004).

4.1.3 Consequências da vivência com situações de terminalidade

As consequências da vivência com a terminalidade para os

profissionais deste estudo são repletas de sentido, de vida e de viver que

se reproduzem na revisão da sua própria vida e do seu viver e colaboram

para as suas representações sociais.

Sobre esta questão os participantes da pesquisa referiram que

conviver com a terminalidade lhes apresentou a ampliação do sentido da

vida e aprendizado pessoal. No envolvimento, na relação próxima com

as crianças e os familiares houve ensinamentos produzidos pelo

encontro e convivência, conforme as narrativas de P10, P9 e P7 que

expressam as representações da terminalidade como mudanças no

sentido da vida e aprendizado:

Com certeza a gente começa dar valor ás

pequenas coisas da vida, porque a gente está

vendo uma criança um adolescente que não tem

pecado passando por tudo aquilo ali, e como eles é

ficam felizes com as coisas simples, quando eles

estão dentro do hospital sendo furados, quando

estão fora e mesmo dentro do hospital, muitas

vezes eu cheguei lá para fazer uma visita eles

estavam sorrindo. E assim eles podem estar com

muita dor, para eles não te expressar um sorriso é

bem difícil, eles tem sempre algo de bom. Então

eu valorizo as coisas mais simples da vida (P10).

97

[...] Muita, eu comecei a dar mais valor para

minha vida, aos pequenos momentos, pequenas

situações, a ouvir mais as pessoas (P9).

[...] eu acho que a gente fica mais sensível, bem

mais sensível eu evolui muito, de uns tempos para

cá eu comecei a tirar lição de tudo, ver os pontos

negativos e os pontos positivos. E pensar pelo

lado mais positivo também, á porque tem que isso

acontecer? Uma coisa ruim aconteceu, bom mais

tem uma coisa, um lado bom daquela coisa ruim

que aconteceu tu tira um lado bom, tu tira uma

lição de tudo que acontece na vida da gente e

quando comecei a ver minha vida desse ponto de

vista tudo melhorou tanto no lado profissional

quanto do lado pessoal (P7).

O contato com pacientes que passam pela trajetória da

terminalidade da vida e da morte pode transformar quem cuida, pois

desperta o sentido humano do contato, da aproximação, da amorosidade

que nascem no cuidado onde também ocorre a troca de experiências

entre essas vidas (LOFTUS, 1998).

No encontro entre essas pessoas onde entrelaçam-se histórias,

afetos, anseios, desejos e sonhos, ambos guardam para si o perfume

desse contato, que se torna íntimo desde a primeira relação. É neste

cenário que lança-se mão do que é supérfluo, e olha-se para a própria

vida, propondo a si mesmo um término melhor, projetando na vida

cotidiana de forma nova.

Essa reflexão remete a pensar no provérbio Chinês que reflete

sobre as trocas que acontecem no momento do cuidado generoso,

amoroso que acontece no encontro, no contato com o outro “sempre fica

um pouco de perfume nas mãos de quem oferece flores”.

Os profissionais que vivenciam a partida dos seus pacientes,

oportunizando-se sentir a vida presente nesta passagem, ou seja, atribuir

um sentido a vida que transpassa as janelas dessa existência, aprendem

com a experiência de morte do outro e desenvolvem a tendência de

repensar os seus valores no que diz respeito a forma de sentir e viver a

vida (PENHA, 2009).

Aliada a construção e reconstrução do sentido de viver os

profissionais apresentaram que a convivência com a terminalidade lhes

pontuou aprendizado de profundidade, transformando o significado a

respeito das suas vivências cotidianas, atribuindo maior valor nas

98

situações simplórias da vida assim como observa-se nas narrativas de P2

e P8

Eu acho que é uma forma de aprendizado, eu acho

que quem trabalha na área da saúde sempre acaba

criando um escudo no sentido, às vezes até um

pouco mecanizado, porque tu sabes que nossa

vida é ciclo a gente nasce, cresce, vive e tem a

morte. Então tu sempre tenta se remeter pelo lado

bom da morte, mas eu acho que é sempre um

aprendizado, acho que tu acaba se tornando um

pouco mais forte por ter passado por essa vivencia

toda [...] (P2).

Assim depois que comecei a trabalhar no

UNACON eu comecei a ver a vida, não só de

criança, mas de adulto também. Porque a gente às

vezes reclama: isso aqui de novo? Mas o que eu

via, poxa o paciente vinha de onde o vento faz a

curva, muitas vezes com a traqueia e garganta

toda aberta porque estava com a sonda etc. Aquilo

ali me serviu para ver a vida diferente (P8).

O aprendizado dos profissionais a partir da vivencia com a

terminalidade infanto-juvenil possibilita a conexão com a experiência do

seu enlutamento, mesmo que momentâneo. Isso os permite ao

profissional de saúde valorizar o tempo que dispõem e passam a

enxergar a vida de maneira mais plena o favorecendo sua melhor

adaptação e resiliência (GUITIERREZ; CIAMPONE, 2007).

Os profissionais de saúde que atuam com a terminalidade

necessitam de um espaço onde possam se sentir ouvidos e se conectem

de forma segura com as suas histórias pessoais de perdas, para então

legitimar a experiência do luto que certamente viverão ao acompanhar

pacientes em processo de partida (FRANCO, 2014).

A consciência das perdas pessoais além de possibilitar-lhes a

produção de novos sentidos e aprendizados sobre a vida, o viver e a

morte, podem promover e ampliar as habilidades da ação profissional e

sua vida pessoal.

Sobre as consequências da experiência com a terminalidade

infanto-juvenil para os participantes deste estudo, no que se refere as

expressões nas palavras evocadas durante a rede associativa, as mesmas

reforçam o conjunto de significados apresentados em toda a entrevista, a

99

saber: aprendizado [2], esperança [2], apoio [1], crescimento [1], força

[1], futuro [1], perseverança [1], vida [1] e vontade [1].

Na TRS encontra-se o ser humano capaz de se mover em busca

de compreender o mundo e a realidade a sua volta. Ele se apropria da

realidade social e internaliza aquilo que é social e que pode ser

compartilhado em seu entorno, com todos os que fazem parte de seu

mundo (ROCHA, 2014).

4.2 MISSÃO E AMOROSIDADE NA REPRESNETAÇÃO DA

TERMINALIDADE

A presente categoria agrega trechos de narrativas vinculadas as

expressões dos profissionais em relação ao cumprimento de um missão

e a manifestação de relações afetivas pautadas na amorosidade a partir

da convivência com a criança, sua família e suas histórias.

A expressão que inclui a missão nesta pesquisa se refere a forma

como os profissionais de saúde significam o sofrimento das crianças e

das famílias, diante da terminalidade e morte. Sobre este aspecto

apresenta-se as narrações dos profissionais de saúde P1, P2 e P6

Eu acho que o que ele [a criança] tem para fazer

aqui, a tarefa que ele tem que cumprir é tão

pequena, é tão pouco o que ele deixou a desejar, a

desejar não, mas que ele deixou para terminar

nessa vida, que ele vem passa esse período bem

curtinho com a gente e vai, ele conclui e vai (P1).

Tudo que a gente passa na terra a gente vem por

uma missão, seja para nossa família ou para nosso

espirito. E a pureza e inocência das crianças por

que muitas vezes elas não entendem aquele

processo todo, o que está acontecendo, então ela é

inocente em todo processo (P2).

Para mim a terminalidade infantil, vem como uma

prova, uma prova, e não é uma prova dela, é uma

prova dos pais então ela vem para revolver

algumas questões, às vezes físicas de outras vidas

ou questões de relacionamento dos pais dessa

vida. Vem como uma lição, eu vejo nessa ótica a

terminalidade infantil, mas é muito dolorido. Que

é difícil a gente entender, quem não tem essa, até

para a gente que tem um pouco dessa evolução

100

espiritual é difícil entender que uma criança venha

com essa missão tão dolorida, mas, eu acho que

são as que menos sofrem ainda (P6).

Dar um sentido de missão ao processo vivido pelas crianças

parece ser, portanto inevitável, embora poder-se-ia esperar que

houvessem outros sentimentos associados a essa ideia. Mas ao

profissional, resta buscar acomodar tudo isso, buscando em seu

entendimento, baseado muitas vezes nos conhecimentos adquiridos e

relacionados ao seu caminho espiritual ou sua religiosidade (KÜBLER-

ROSS, 2016).

Apresenta-se a relação dos dados apresentados com a TRS

ressaltando o que foi percebido nas expressões dos participantes do

estudo, sendo para eles a terminalidade também, um momento de amor.

E a missão como ideia de que as crianças passam pelo processo

de adoecimento, terminalidade e morte como uma prova para evolução

espiritual para si ou para a família, contribuem para que o profissional se

conecte a aceitação e prossiga a sua jornada atuando no cuidado em

conexão com compaixão (KÜBLER-ROSS, 2017).

Sobre as palavras evocadas que associam-se ao amor e missão

apresenta-se: amor [4], afeto [2], conforto [2], família [2], missão [2],

atenção [1], carinho [1], compaixão [1], confiança [1].

Relacionando esses achados com a TRS sabendo que para a

construção das representações sociais a teoria transita pelo individual e

se constroem coletivamente. Sobre a missão na terminalidade, a teoria

direciona a discussão de que as ideias materializadas em palavras,

compartilhadas entre este grupo social, possibilita a ancoragem e

objetificação.

A ideia de que a terminalidade é um processo de prova e missão

se ancora no campo das ideias e significados que ao serem

caracterizados, materializados e transformados em palavras

compreendem a objetificação. Isto descreverá uma parte do conjunto das

demais representações sobre a terminalidade infanto-juvenil, que

compõe este trabalho (MOSCOVICI, 2011).

O amor é um dos sentimentos mais nobres e inexplicavelmente

fundamentais. A busca pelo entendimento da terminalidade infanto-

juvenil passa por muitos sentidos, dentre eles o sentido da amorosidade

que durante o processo de cuidado se apresenta na práxis (GRÜDTNER,

2010). Outro sentido é de quão a terminalidade infanto-juvenil acontece

porque a criança ou os familiares precisam “passar” por uma prova em

razão de uma missão.

101

Sobre o amor neste processo, parece que é justamente pela

relação de carinho e amorosidade que se estabelece entre o profissional,

paciente e família a necessidade de uma explicação sobre os sentimentos

emergentes da vivência.

No que se refere ao entendimento que o processo de

terminalidade evidencia, a partir das expressões dos participantes pode-

se observar a necessidade de dar um sentido para o cenário da

terminalidade do qual esses profissionais, também fazem parte.

No cenário com a terminalidade encontra-se a necessidade de ir

acomodando esses sentimentos que emergem da vivencia até chegar na

aceitação. Na aceitação, embora possa-se se confundi-la com um

momento de alivio e felicidade, este estado é na verdade um momento

em que há “...quase uma fuga dos sentimentos. É como se a dor tivesse

se esvanecido, a luta tivesse cessado e fosse chegando o momento do

repouso derradeiro antes da grande viagem” (KUBLER-ROSS, 2008

p.118).

A aceitação dos profissionais de saúde parece ser construída a

partir da relação de amorosidade estabelecida entre os envolvidos no

processo de morrer. Como indicado pelos participantes P4, P1, P6 e P2.

[...] e ai tu percebe que aquilo [morte] é um

livramento é para aquele serzinho ali, para aquela

família é uma libertação de um sofrimento de uma

dor. E isso não é ruim, então quando eu olho para

isso, eu consigo tentar pelo menos compreender, e

isso me faz sentir melhor, sabendo que de alguma

forma, de uma pequena forma, um pequeno gesto

eu pude contribuir para um processo de

crescimento. Isso é o que me faz sentir melhor

(P4).

A terminalidade é um período da vida em que a

pessoa tem que ter o conforto da família, tem que

ter a confiança do profissional tem que estar

inserida num ambiente de amor para poder passar

por aquilo ali, que é uma coisa, uma fase que não

tem como pular ou deixar de passar, no caso das

crianças e adolescentes que vão passar por aqui ali

de maneira mais suave (P9)

A terminalidade infantil representa compaixão. O

amor me refiro ao modo de tratar, é um ponto

positivo e o ponto negativo é a tristeza. Não que

102

tristeza não seja importante, ela leva a pessoa a

sentir compaixão para tratar melhor (P7).

Conectar-se a essa relação é conseguir perceber o amor que pulsa

na vida, mesmo quando a vida está finalizando seu curso na

terminalidade ou na morte.

A experiência com o processo de morrer conduz a reflexão

presente na afirmação de Zarastutra14

“Eu vô-los digo: é preciso ter um

caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”. Ou seja, mesmo

diante do sofrimentos pungente na despedida há amorosidade que cintila

como uma estrela que auxilia a iluminar a noite escura. As falas a seguir

demonstram essa sustentação.

E ai depois na hora de arrumar ela, a mãe queria

que fosse uma coroa de flores, mas uma coisa bem

simples e que o peito dela não ficasse muito

aparente que podia colocar tipo um lenço, ou

alguma coisa assim, e ai eu tive que ir ver se

estava do jeito que ela queria. [...] Foi outra cena

assim que quando eu olhei assim, eu disse meu

Deus, quantos detalhes só muito amor eu acho,

muito amor envolvido é coisa de além, não tem

como dizer, é um amor interminável. E eu a senti

muito plena, muito feliz porque estava realizando

realmente tudo que ela queria, foi outra cena bem

forte bem chocante (P6).

[...] é trabalhar muito com a questão do amor,

porque esse é um momento de apego da mãe com

a criança, que é muito amorosa essa relação. E

que é reforçado muito em função do momento da

doença. É o que eu posso dizer, é um momento sui

generis, não existe igual, não tem nada no mundo

que se compare aquele momento ali. Então eu

vejo como um momento muito rico, que ninguém

está preparado e que cada situação é diferente,

porque vai depender da mãe e daquela criança, é

claro dos outros atores que tiverem envolvidos né,

14

Personagem profético de grande saberia criado por Friedrich Nietzsche,

que durante trinta anos viveu isolado em uma montanha, e após isso

peregrinou nas terras da Pérsia com o intuito de despertar a humanidade

para as novas verdades.

103

o pai, se tiver irmão junto, mas geralmente é mais

dessa dinâmica da criança coma mãe. Mas apesar

de toda carga emocional que tem ali, eu entendo

como um momento muito rico. E que a gente pode

trazer e fazer aflorar muito, muita emoção ali,

emoção que pode ser produtiva para aquela

família que vai sobreviver àquela perda [...] (P5).

A compaixão e o amor emergem da dor e do sofrimento, como se

o primeiro e o segundo se entrelacem com num elo de ligação entre o

paciente e seus familiares. Os participantes ao estarem envolvidos nesse

contexto, referem que é justamente a conexão com a amorosidade do

envolvimento do paciente e seus entes que lhes geram esses sentimentos

de incentivo para realização de suas práticas de trabalho diária.

A compaixão que possibilita vínculo entre as pessoas, ferramenta

fundamental para a humanização do cuidado.

[...] eles [as crianças] se apropriam de uma

sabedoria e isso me faz olhar para terminalidade

infantil como algo não tão ruim, mas como um

processo, me faz olhar com compaixão. Tem dor,

tem sofrimento, mas tem muito mais que isso. A

compaixão é como se fosse uma sensação de

compreensão (P4).

Nesse encontro de produção do cuidado com compaixão,

encontra-se a relação com a humanização, que emerge essencialmente

da necessidade do profissional que cuida a compreensão. Dessa relação

há possibilidade da expansão dos valores que norteiam as ações e as

práticas em saúde (PESSINI; BERTACHINI, 2014).

Os esforços para o entendimento de que a terminalidade é um

processo inevitável, exigem dos profissionais de saúde uma postura de

aceitação para que possam seguir com ações de cuidado potencialmente

humanizadas.

4.3 TERMINALIDADE COMO TÉRMINO DA VIDA

As diferenças entre a terminalidade e a morte, embora estejam

intrincadas em um mesmo processo, na vida elas se apresentam de

forma diferente.

Os seres vivos estão biologicamente destinados a morte, sendo

que ao tentar defini-la, há a dificuldade em encontrar um conceito único

104

pois permanece em construção. Em muitas reflexões a morte é

fenômeno da natureza, constante e biologicamente necessário

(SANTOS, 2009).

A terminalidade da vida se estabelece quando se esgotam as

possibilidades de resgate das condições de recuperação da saúde e a

possibilidade de morte iminente parece inevitável e previsível

(GUTIERREZ, 2001). E ainda quando no campo das profissões de

saúde não se oferece nenhuma chance de cura ou de possibilidade de

evitar a morte (GARCIA, 2007; KIPPER, 1999).

Na compreensão dos entrevistados P1, P2, e P7 a terminalidade

e a morte se associam a interrupção de um ciclo da vida, essa

interrupção vem carregada de angústia e de negação de que este é um

processo que é parte da natureza e, portanto também humano.

Eu acho que é uma coisa triste. Não deixa de ser.

Eu acho que em qualquer fase da vida a morte é

triste, quando tu vê uma criança, que teria toda

vida pela frente, adolescência, fase adulta que ela

poderia se tornar pai, contribuir para construir

uma sociedade, então acho que tu acaba

visualizando como uma tristeza, porque

interrompeu muito jovem, aquele caminho que ela

teria todo a percorrer (P2).

Eu acho um desperdício, eu acho errado, não acho

certo, não acho correto, não é a ordem correta das

coisas. Tu nasce, tu cresce, tu fica adulto, tu fica

velho e morre, deveria ser assim com todos. E

quando tu pega uma criança que pula alguns

ciclos, alguns vários ciclos... Eu não acho natural

(P1).

O que representa, na verdade eu acho que não

deveria existir, não sei o que te dizer, representa

tristeza, é isso? Para mim é triste, não tem coisa

pior que ver uma criança sofrendo em fase

terminal tem toda vida pela frente e acaba

encerrando logo no começo, eu acho muito trise

(P7).

Neste sentido, entende-se que a morte é uma das etapas presente

no processo que costumeiramente chama-se de terminalidade.

Observou-se que há por parte dos profissionais a ideia de que a

terminalidade refere-se a antecipação da morte.

105

Os participantes P10 e P8, mesmo estando no dia a dia em

contato com a terminalidade, e, portanto, perceberem e atenderem nos

momentos em que aprofunda-se o sofrimento do paciente e da família, e

a morte da criança de fato anuncia-se próxima, os profissionais parecem

antecipar o sofrimento e a angustia, ou seja, enlutam-se

antecipadamente.

A terminalidade é a morte né? [...] eu acho que é

período desgastante de angustia, por saber que não

tem mais recurso pra ser feito pelos médicos aqui

na terra né, a gente sempre acredita que Deus

pode fazer um milagre. Mas pelos médicos não

tem mais o que fazer e tu vê o sofrimento, a

qualquer hora. Por exemplo, na ONG, tu ficas

naquela angustia, será que está melhor, será que

não tá. Ai as vezes a criança deu uma reagida, tu

fica alegre daqui a pouquinho já está ruinzinha de

novo. Eu falo que quando isso acontece é um

velório antecipado porque tu não quer, mas tais

vendo que é o que vai acontecer (P10)

A perda é considerada uma situação que gera potencial

sofrimento no ser que a vivência, em geral a intensidade da dor dessa

separação [entre outros fatores da relação] estará relacionada com a

importância do vínculo relacionado com o que foi perdido (FRANCO,

2002).

O luto e o enlutamento são considerados uma experiência

humana oriunda de um processo psíquico sustentado por dor emocional

ou agonia da perda por antecipação de uma separação ou afastamento

(FRANCO, 2002; PARKES, 1988).

Por sua vez, o luto antecipatório é parte do processo de

enlutamento e revela que há consciência da realidade da iminência da

perda. Esta experiência pode apresentar sintomatologias das comuns,

desde as primeiras fases da dor da perda concretizada, a saber: como

torpor e aturdimento, anseio e protesto, desespero, ansiedade

(WORDEN, 1998).

O processo de luto antecipatório acontece simultaneamente e

processual [conforme as possibilidades de cada ser humano] a

elaboração da sua perda (FONSECA; FONSECA, 2002).

Enlutar-se antecipadamente e após a perda e diante do sofrimento

alheio, pode produzir potencial angustia no profissional de saúde. Esse

tipo de sofrimento igualmente pode infundir temor, medo, pois o

106

profissional vê-se como que num espelho, onde conecta-se as suas

fragilidades, vulnerabilidades e mortalidade, finitude. Essas dimensões

da existência humana nem sempre são lembradas.

Para ampliar a reflexão apresenta-se a inspiração poética de

Cecilia Meireles sobre os medos humanos diante da finitude.

Tu tens um medo: Acabar. Não vês que acabas

todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na

dúvida. No desejo. Que te renovas todo o dia. No

amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és

sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que

morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer. E então serás

eterno (MEIRELES, 2001, não paginado).

O trecho da narrativa de P8, traduz-se o enlutamento, no seu

incomodo [sofrimento] que o conduziu a refletir, com compaixão sobre

o sofrimento dos familiares da criança.

Até hoje eu sinto bastante, mexe muito comigo, às

vezes fico uma semana pensando. De pensar que a

gente ouve dos pais, que o filho tem que enterrar

os pais e não os pais enterrarem os filhos. Então é

uma situação totalmente constrangedora (P8).

Na teologia e antropologia o sofrimento humano representa um

horizonte de sentidos que contribuem para formulação da essência do

cuidado humanizado e ético (PESSINI; BERTACHINI, 2014).

A compaixão é ferramenta preciosa para o atendimento sobre a

dor e o sofrimento humano. Diante do olhar fenomenológico os

sofrimentos são vistos como sintomas dolorosos e portanto exigem

intervenção urgente por parte dos profissionais de saúde (PESSINI,

2009).

Sendo o ser humano um todo uno, um nó de relações voltado para

todas as direções [física, social, familiar, psicológica e espiritual] ao

essa dor total no processo de terminalidade precisa ser cuidado com

compaixão em todos os aspectos desse nó de relações (BOFF, 2000,

BRASIL, 2017; PESSINI, 2004; SAUNDERS, 1993).

As políticas de humanização surgiram com interesse de

possibilitar aos profissionais de saúde intervenções [permeadas por

compaixão] que transcendam as tecnologias que burocratizam e

endurecem, ou seja, humanizem a tarefa do cuidado.

107

Neste campo de trabalho onde o amor e a dor se entrelaçam

constantemente, amplia-se a cada dia a necessidade de que os

profissionais sejam compreendidos e acolhidos no que tange esse

complexo de representações simbólicas e sociais sobre a terminalidade e

a morte apresentam.

De certa forma se materializam no dia a dia, no formato de

fragilidades pessoais ou profissionais. E emergem em razão do

sentimento de impotência e de fracasso pela impossibilidade de evitar a

morte. Somados a isso está o conjunto de potenciais desenvolvidos na

oportunidade de conviver com as experiências de afeto, amor, vinculo,

esperança e fé dos pacientes e seus entes durante sua travessia pela

terminalidade e morte.

Nesta categoria associa-se as seguintes palavras evocadas: Amor

[4], missão cumprida [2], afeto [2], compaixão [1], fé [1], vida [1],

término [1] e futuro [1]. Essas palavras reforçam os significados que os

profissionais direcionam ao cenário da terminalidade para atravessá-la

ocupando o lugar de cuidadores, participando de cenas que jamais serão

esquecidas.

Portanto, defende-se a importância de que os profissionais de

saúde sejam oportunizados ao preparo por meio de informação sobre a

importância da busca pelo autocuidado e formação para a compreensão

e entendimento sobre o morrer e a morte infanto-juvenil como uma

etapa da vida. E portanto alcançar melhor preparo para cuidar da vida no

transito da terminalidade e morte com humanização e competência.

108

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa possibilitou compreender que as representações

sociais dos profissionais de saúde sobre a terminalidade infanto-juvenil

se entrelaçam em significados e a revelam como um momento de

potencial envolvimento humano permeado pelo vínculo.

As experiências dos profissionais de saúde oportunizam vivencia

com os cuidados durante a terminalidade infantil e podem suscitar

dificuldades e limitações que potencializam sentimentos de fracasso e

impotência que conduzem a evitação da conexão com sentimentos de

enlutamento. As limitações dos membros da equipe em lidar e assistir

neste processo representa dificuldades, pois limita a plenitude do

cuidado e assistência produzindo angustias nos profissionais de saúde.

Entretanto, as facilidades são potencializadas pela sensação de

dever cumprido, resultando na satisfação pela práxis fato que

consequentemente, reflete no cuidado e assistência ás crianças e sua

família quando diante de um dos momentos de maior fragilidade

humana.

A partir dessa satisfação pela prática emergem as estratégias de

superação pelo convívio com a terminalidade a autossuperação e

religiosidade que se definiram como buscas para superação das

angústias que podem brotar da convivência com a terminalidade. A

necessidade de perceber seus sentimentos de buscar auxílio terapêutico,

para aliviar-se das angustias são representadas na autossuperação.

Por sua vez, a necessidade de atribuir um sentido de

espiritualidade representado pela fé, esperança de reencontro, de que há

um lugar seguro para sobreviver ao sofrimento da vida terrena na

eternidade e, sobretudo para a acomodação e acalento diante da iminente

separação pela morte.

Na estratégia da religiosidade também percebeu-se a

representação da partida da criança como mudança de moradia [da Terra

para o céu – paraíso] onde a criança transita pela vida, adoece, entra em

terminalidade, passa pela morte e é transformada em um ser celestial e

então sobrevive á morte cumprindo sua missão.

A representação da terminalidade como cumprimento de uma

missão, envolve-se na tentativa de justificar o porquê os pacientes e

seus familiares precisam atravessar todo processo de sofrimento que

evoluirá para a terminalidade e por fim a morte.

A partir dessa compreensão os profissionais se conectam com a

amorosidade produzida por este momento como uma ferramenta que

109

possibilita a criança, familiares e o próprio profissional a atribuírem um

sentido para o cenário e as cenas vividas nesta realidade.

Embora os participantes do estudo compreendam a terminalidade

como um processo e a morte um momento deste, o anuncio da

terminalidade, antecipa precipitações de enlutamento, ou seja, luto

antecipatório como preparatório para lidar com a morte daquele que esta

sendo assistido. Com isso identificou-se que os pressupostos para este

estudo foram confirmados.

No tocante as contribuições do estudo, este fortaleceu a

compreensão de como os profissionais de saúde convivem em seu

cotidiano com a terminalidade infanto-juvenil. Ainda colaborou para

entender como manejam os sentimentos que essas vivências produzem.

Portanto ficou explicita a necessidade de formação para realização do

trabalho com a terminalidade.

Não obstante, também possibilitou reflexões sobre o

desenvolvimento de estratégias que contribuam para a atenção a esses

profissionais, além do enlutamento que vivenciam pela convivência e

experiências com as crianças e suas famílias. Os participantes sugeriram

que houvessem momentos em um ambiente seguro [sigiloso, sem

julgamentos] em que pudessem explicitar seus sentimentos, serem

ouvidos, compartilhar a dor da perda.

As limitações encontradas emergiram em duas dimensões, uma

delas relacionadas na dificuldade de acolhimento e aceitação do tema

em diversos espaços onde a pesquisadora percorreu, deixando o

entendimento que a temática, embora considerada relevante, causa

impacto e evitação nas pessoas.

Outro aspecto a ser destacado dentro das limitações se refere há

algumas barreiras em relação aos aspectos éticos, uma vez que alguns

representantes por não conhecerem os preceitos epistemológicos da

pesquisa qualitativa e a legislação vigente dificultaram a realização da

investigação em cenários que talvez seriam mais potente para

compreensão do fenômeno investigado.

Existiram ainda limitações relacionadas a dimensão pessoal da

pesquisadora que ao escrever sobre o tema constantemente se conectava

com grande emoção. Essas lembranças foram ao mesmo tempo

oportunidade de reconectar-se a saudade das crianças e famílias e

ampliar o aprendizado que esses encontros proporcionaram.

Quanto às recomendações da pesquisa sugere-se que seja

ampliado o escopo investigativo proposto, contemplando especialmente

luto que os profissionais vivenciam neste processo. Infere-se ainda que

este tema seja difundido e aprofundado no ensino pesquisa e extensão, e

110

que a partir disso nasçam estratégias que reforcem ações ou politicas

públicas em cuidados paliativos, com vistas a beneficiar maior número

de pessoas para um eventual convívio coma terminalidade e a morte.

Nessa perspectiva vislumbra-se a criação de um laboratório da

terminalidade na integralidade da vida. Um espaço de estudos que

possibilite a criação de projetos de extensão universitária no intuito de

unir o pensar e o fazer da academia com a comunidade.

Um lugar onde possam ser acolhidas pessoas que desejem e

necessitem compartilhar as suas representações de dor, sofrimento,

enlutamento, amorosidade entre outros sentimento e expressões

produzidas pelo relacionamento e pela lida ou contato com situações e

pessoas/crianças em cuidados paliativos.

Além da produção de discussões que possam ser estudadas e

aprofundadas e então transformadas em recursos para o profissional de

saúde lidar com a terminalidade da vida e a morte.

Por fim, as recomendações destinadas aos gestores da saúde

especialmente do campo hospitalar, sugere-se que possibilitem ações e

desenvolvimento de programas que permitam ao profissional receber

educação permanente sobre o tema e ser atendido/ouvido em suas

necessidades quando o inevitável enlutamento do profissional acontecer.

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127

APÊNDICE(S)

128

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - UNASAU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA –

PPGSCol

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

I – Perfil do participante

Identificação do sujeito [codinome]: _____Data: ___/___/______

Hora:__h___

1. Sexo: ( )masculino ( ) feminino

2. Idade: ( ) 18 a 20 anos ( ) 21 a 30 anos ( ) 31 a 40 anos ( )

41 a 50 anos ( ) 51 a 60 ( ) mais de 60 anos.

3. Escolaridade: ( ) técnico ( ) graduação ( ) pós-graduação

4. Religião: ( ) Católica ( ) Evangélica ( ) espirita ( ) outra

5. Qual sua formação profissional ( ) Terapeuta Ocupacional ( )

Fisioterapeuta ( ) Assistente Social ( ) Psicólogo ( ) Médico (

)Enfermeiro ( ) Técnico de Enfermagem ( ) outros_______________

6. Tempo de experiência profissional: ( ) 1 a 4 anos ( ) 5 a 9

anos ( ) 10 a 14 anos ( ) 15 a 19 anos ( ) mais de 20 anos

7. Tempo de convívio com situações de terminalidade infantil: ( )

6 meses a 11 meses ( ) 1 a 4 anos ( ) 5 a 9 anos ( ) 10 a 14 anos ( )

15 a 19 anos ( ) mais de 20 anos

II – Entrevista

8. O que representa a terminalidade infantil para você?

9. Se fosse para desenhar algo que represente a terminalidade

infantil, qual desenho você faria?

10. Conte um pouco de suas experiências com situações que

envolvam a terminalidade infantil. Quais as facilidades [potencialidades]

e dificuldades [limitações] para realização da assistência a pacientes

infantis em processo terminal?

11. Quais as estratégias que você utiliza para superar possíveis

dificuldades diante da terminalidade infantil?

12. Ao lidar com as situações de terminalidade infantil você

percebeu mudanças em sua vida?

129

13. Você recebe ou já recebeu algum tipo de qualificação para lidar

com a terminalidade infantil? Você acharia importante a qualificação

profissional? Porque?

14. Gostaria de expressar algo mais que possa contribuir com a

pesquisa?

130

APÊNDICE B – REDES ASSOCIATIVAS

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - UNASAU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA –

PPGSCol

REDES ASSOCIATIVAS

REDE ASSOCIATIVA (ROSA, 2005)

1. Construa uma rede de associações relativa à terminalidade

apresentada dentro do circulo abaixo, escrevendo todos os termos

[adjetivos e nomes] que você pensar.

2. Tente fazer o mais rápido possível, utilizando a página inteira, e

colocando as palavras em volta da palavra terminalidade.

3. À medida que você for escrevendo as palavra, coloque um número ao

lado, para identificar a ordem em que a palavra foi pensada.

4. Observe a rede associativa que você construiu e, caso necessário,

indique outras ligações entre as palavras ou grupos de palavras em que

tenha pensado, ligando-as através de setas.

5. Olhe para as palavras que escreveu e marque cada uma delas com

positivo (+), negativo (-) ou neutro (0), de acordo com o significado

que elas têm para você neste contexto.

6. Finalmente, olhe mais uma vez para a rede associativa que você

construiu.

7. Classifique as palavras por ordem de importância, escrevendo I

junto da palavra que é mais importante para você nesse contexto, II para

a segunda mais importante, III para a terceira, IV para a seguinte, e por

aí em diante para todas as palavras que você escreveu.

131

8. Para isto utilize uma caneta vermelha.

Terminalidade

132

APÊNDICE C – CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO NA

PESQUISA

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - UNASAU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA –

PPGSCol

CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA

Convite para participação na pesquisa “Representações

sociais dos profissionais de saúde sobre terminalidade infanto

juvenil”.

A mestranda em Saúde Coletiva - UNESC, Fernanda de Souza

Fernandes, vinculada ao programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva

PPGSCol da Universidade do Extremo Sul Catarinense, lhe convida

para participar da pesquisa “Representações sociais dos profissionais de saúde sobre terminalidade infantil oncopediátrica” desenvolvida sob a

orientação do professor Dr. Jacks Soratto e Certificado de Apresentação

para Apreciação Ética nº 70028217.7.0000.0119

O objetivo da investigação é compreender as representações

sociais dos profissionais de saúde sobre a terminalidade infanto-juvenil.

Neste sentido, gostaríamos de convidar profissionais de saúde

que assistem ou assistiram situações de terminalidade infanto-juvenil.

Caso atenda esses critérios de inclusão

a) Profissionais de saúde que integram equipes

multiprofissionais de assistência;

b) Profissionais de saúde que já tiveram experiência

assistencial de pelo menos seis na assistência oncológica infantil;

Os critérios de exclusão são:

b) Profissionais de saúde residentes ou trabalhadores que

integram funções administrativas;

c) Profissionais de saúde que vivenciaram situação

terminalidade infantil na sua família;

133

d) Profissionais de saúde que integram a mesma

instituição em que a pesquisadora trabalha.

Pedimos que retorno este e-mail manifestando seu interesse em

participar da pesquisa e orientarmos sobre os próximos.

Mestranda Fernanda de Souza Fernandes

e-mail: [email protected] ou [email protected]

134

APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - UNASAU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA –

PPGSCol

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: Representações Sociais dos Profissionais de

Saúde sobre Terminalidade Infanto Juvenil.

Objetivo: Compreender as representações sociais dos profissionais de

saúde sobre a terminalidade infanto juvenil.

Período da coleta de dados: 01/07/2017 a 30/10/2017.

Tempo estimado para cada coleta: 01h00

Local da coleta: Local de preferência do participante.

Pesquisador/Orientador: Prof. Dr. Jacks Soratto Telefone:

(48) 999347881.

Pesquisador/Acadêmico: Mestranda Fernanda de Souza

Fernandes Telefone: (48) 99609 1280.

O (a) Sr (a) está sendo convidado (a) para participar

voluntariamente da pesquisa e objetivo acima intitulados. Aceitando

participar do estudo, poderá desistir a qualquer momento, bastando

informar sua decisão diretamente ao pesquisador responsável ou à

pessoa que está efetuando a pesquisa. Fica esclarecido ainda que, por ser

uma participação voluntária e sem interesse financeiro, não haverá

nenhuma remuneração, bem como o (a) senhor (a) não terá despesas

para com a mesma. Os dados referentes à sua pessoa serão sigilosos e

privados, preceitos estes assegurados pela Resolução nº 466/2012 do

CNS - Conselho Nacional de Saúde, podendo o (a) senhor (a) solicitar

informações durante todas as fases da pesquisa, inclusive após a

publicação dos dados obtidos a partir desta. Para tanto, esclarecemos

também os procedimentos, riscos e benefícios, a saber:

135

DETALHES DOS PROCEDIMENTOS QUE SERÃO UTILIZADOS NA

PESQUISA

As entrevistas serão compostas de duas partes. A primeira contém perguntas predominantemente fechadas referentes ao perfil do participante. A segunda parte será composta por perguntas abertas que centralizam na temática a ser investigada. Cada entrevista durará em média 30 minutos e será realizada em pessoalmente ou Skype em local adequado que garanta o sigilo das informações.

A rede associativa irá compor os instrumentos de coleta de dados, e será fornecida uma palavra-estímulo, a saber, terminalidade, para que o participante associe palavras ou expressões que emerjam em sua mente de forma espontânea, a partir da menção do estímulo indutor.

RISCOS

Essa pesquisa não terá riscos físicos, porém, pela natureza

interacional das entrevistas, o processo de coleta de dados pode

ocasionar riscos mínimos relacionados ao surgimento de emotividade.

Entretanto, caso o participante sinta-se desconfortável ao lembrar-se de

situações que gerem emergências emocionais, constrangimento, ou

qualquer outro tipo de desconforto, será prestado acolhimento situações

bem como ofertado a possibilidade do participante desistir da entrevista.

BENEFÍCIOS

Os benefícios desta pesquisa destinam-se a colaborar para que as

práticas profissionais das instituições de saúde valorizam a

terminalidade como algo de significativa importância no processo de

trabalho em saúde; auxiliar os profissionais de saúde na construção de

estratégias de enfrentamento para lidarem com as situações de

terminalidade e morte. Além de proporcionar a esses profissionais

compreensão da importância de suas ações assistenciais no momento

que precede a morte

Diante de tudo o que até agora fora demonstrado, declaro que

todos os procedimentos metodológicos e os possíveis riscos, detalhados

acima, bem como as minhas dúvidas foram devidamente esclarecidos,

136

sendo que para tanto, firmo ao final a presente declaração em duas vias

de igual teor e forma ficando na posse de uma e outra sido entregue ao

pesquisador responsável.

Em caso de dúvidas, sugestões ou denúncias, favor entrar em

contato com o Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/UNESC pelo

telefone (48) 3431-2723 ou pelo e-mail [email protected].

ASSINATURAS

Voluntário/Participante

___________________________

_

Assinatura

Nome:

________________________________

_

CPF: ______.______.______ -

____

Pesquisador

Responsável

___________________

______

Assinatura

Nome: Jacks Soratto

CPF: 00767472985

Criciúma (SC), ____ de __________ de 2017.

137

ANEXO(S)

138

ANEXO A – CARTA DE APROVAÇÃO DO CEP – UNESC