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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO FERNANDO HENRIQUE DE MIRANDA VASCONCELLOS AVALIAÇÃO DO MÉTODO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO COMO INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE RISCOS À SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO João Pessoa – PB 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

FERNANDO HENRIQUE DE MIRANDA VASCONCELLOS

AVALIAÇÃO DO MÉTODO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO COMO INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO E

ANÁLISE DE RISCOS À SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

João Pessoa – PB 2006

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FERNANDO HENRIQUE DE MIRANDA VASCONCELLOS

AVALIAÇÃO DO MÉTODO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO COMO INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE

DE RISCOS À SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal da Paraíba, em convênio com o Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Celso Luiz Pereira Rodrigues.

João Pessoa – PB 2006

V331d Vasconcellos, Fernando Henrique de Miranda

Avaliação do método da análise ergonômica do trabalho como instrumento de identificação e análise de riscos à Segurança e Saúde no Trabalho / Fernando Henrique de Miranda Vasconcellos - João Pessoa, 2006.

141fls.: il. Orientador: Prof. Dr. Celso Luiz Pereira Rodrigues Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)

UFPB/CT/PPGEP 1. Conservação de Pavimento Asfáltico 2. Segurança e Saúde no

Trabalho 3. Análise Ergonômica do Trabalho I.Título.

CDU 65.015.11 (043)

FERNANDO HENRIQUE DE MIRANDA VASCONCELLOS

AVALIAÇÃO DO MÉTODO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO COMO INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE

DE RISCOS À SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção, na área de concentração de Gestão da Produção, em 12/05/2006, sob avaliação da banca examinadora composta dos seguintes membros:

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Celso Luiz Pereira Rodrigues, Dr.

Orientador

__________________________________________________ Profa. Nelma Mirian Chagas de Araújo, Dra.

Examinadora

_____________________________________________________ Prof. Ricardo José Matos de Carvalho, Dr.

Examinador

Dedico este trabalho aos meus pais, Fernando e

Zenaide, a minha esposa Tâmara, e aos

meus filhos Victor, Henrique e Lucas, pelo

amor, carinho e dedicação.

A G R A D E C I M E N T O S

Ao meu orientador, Professor Celso Luiz Pereira Rodrigues, pelos

ensinamentos, orientações e incentivo na realização deste trabalho.

Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de

Produção, que durante o curso de mestrado passaram os seus conhecimentos e

experiência de maneira cordial e correta.

À UFPB e ao CEFET/AL pelo suporte de recursos acadêmicos e

financeiros necessários à realização do mestrado.

Aos colegas de turma, pela ajuda, colaboração e amizade, desenvolvidas

durante o mestrado.

R E S U M O

O objetivo desta dissertação é avaliar a aplicabilidade da metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho – AET, como método prospectivo de identificação e análise de risco à Segurança e Saúde no Trabalho – SST, através da apresentação do diagnóstico ergonômico no trabalho de conservação de pavimentação asfáltica nas vias urbanas da cidade de Maceió - AL. O estudo baseou-se em uma pesquisa de campo realizada nas frentes de trabalho da SOMURB, órgão público municipal responsável pela execução dos serviços de conservação de pavimentos na cidade de Maceió-AL, utilizando-se como técnica de coleta de dados a observação sistemática, com registro através de filmagem e fotografias, utilização de planilha de levantamento de dados e lista de verificação, aplicação de entrevistas estruturadas e questionários, com o objetivo de identificar riscos ocupacionais e de fatores relacionados à AET, tendo como fundamentação teórica o rastreamento de informações das referências específicas ao conteúdo do trabalho apresentado. Os resultados deste estudo mostram que os riscos identificados e analisados através da AET nas atividades pesquisadas, poderiam ser eliminados, minimizados ou controlados, se o órgão cumprisse a legislação relativa à SST e utilizasse essa legislação como base para adoção de uma gestão de SST, e que o método da AET utilizado na identificação e análise de riscos à SST é mais abrangente e complexo que os métodos convencionais. Palavras-chave: Conservação de Pavimento Asfáltico. Segurança e Saúde no

Trabalho. Análise Ergonômica do Trabalho.

A B S T R A C T

The aim of this dissertation is to evaluate the applicability of the methodology of work ergonomic analysis as a prospective method for risk identification and examination of HSW through the presentation of an ergonomic diagnosis of the work of urban roads asphalt pavement recovering conservation in Maceió, Al. The study is based on a field research done with workers of SOMURB Company that is responsible for the execution of services for Maceió asphalt pavement conservation. Data collection was made through a systemic observation, photo and film register, the use of data collecting spreadsheets and verification lists, structured interviews and questionnaires, with the purpose of identifying occupational risks and factors related to the ergonomic analysis of the work activity cited above, based on the tracking of information of the specific reference to the contents of the work presented. The results show that the risks that were identified and analyzed ergonomically could be eliminated, minimized or controlled if the company accomplished the law related to the HSW and used this law as basis for an adoption of a HSW management. It was concluded also that the ergonomic method to the identification and analysis to HSW risks is more extensive and complex than the conventional methods.

Key – words: Asphalt Pavement Conservation. Work Risks to Safety and Heath. Ergonomic Diagnosis.

L I S T A S D E F I G U R A S

Figura 1 – Corte do pavimento ...............................................................................83

Figura 2 – Escavação e remoção do material ........................................................84

Figura 3 – Varredura da área a ser trabalhada.......................................................84

Figura 4 – Aplicação da pintura de ligação.............................................................84

Figura 5 – Descarregamento de material asfáltico do caminhão basculhante........85

Figura 6 – Descarregamento de material asfáltico do caminhão basculhante........85

Figura 7 – Transporte da mistura asfáltica na pista................................................85

Figura 8 – Enchimento da mistura asfáltica da área a ser recuperada...................86

Figura 9 – Espalhamento e nivelamento da mistura asfáltica com rastelo .............86

Figura 10 – Compressão da mistura asfáltica com rolo compactador ......................86

Figura 11 – Varredura da área a ser recapeada.......................................................88

Figura 12 – Aplicação da pintura de ligação com caneta manual na área a ser

recapeada ..............................................................................................89

Figura 13 – Aplicação da pintura de ligação com caneca na área a ser recapeada.89

Figura 14 – Descarregamento da mistura asfáltica na vibro-acabadora ..................89

Figura 15 – Distribuição da mistura asfáltica através da vibro-acabadora ...............90

Figura 16 – Espalhamento e nivelamento da mistura asfáltica com rastelo .............90

Figura 17 – Carregamento de mistura asfáltica a ser transportada no carro de mão

..................................................................................................................................90

Figura 18 – Transporte da mistura asfáltica através de carro de mão......................91

Figura 19 – Alinhamento e nivelamento dos bordos e juntas de faixas com rastelo 91

Figura 20 – Compressão da mistura asfáltica com rolo compactador ......................91

Figura 21 – Espalhamento da mistura asfáltica com motonivelador.........................92

Figura 22 – Espalhamento e compactação da mistura asfáltica com motonivelador e

rolo compactador....................................................................................92

Figura 23 – Aplicação de micro-revestimento asfáltico com usina móvel.................92

Figura 24 – Distribuição do micro-revestimento asfáltico na pista, com espalhamento

e nivelamento manual ............................................................................93

L I S T A D E G R Á F I C O S

Gráfico 1 – Distribuição de acidentes de trabalho de trabalho registrado, por motivo,

no estado de Alagoas – 2003.................................................................27

Gráfico 2 – Número de óbitos no trabalho nas ocupações da CBO.........................63

Gráfico 3 – Número de vítimas não fatais em acidentes de trabalho nas ocupações

da CBO ..................................................................................................64

L I S T A D E Q U A D R O S

Quadro 1 – Variáveis e fatores ergonômicos investigados.......................................70

Quadro 2 – Classificação dos Riscos Ocupacionais ................................................74

Quadro 3 – Ferramentas e máquinas utilizadas nas atividades desenvolvidas na

operação tapa buraco com os principais fatores de riscos.....................97

Quadro 4 – Levantamento das posturas, movimentos e riscos relativos, nas

atividades desenvolvidas na operação tapa buraco.............................100

Quadro 5 – Ferramentas e máquinas utilizadas nas atividades desenvolvidas na

operação recapeamento com os principais fatores de riscos...............103

L I S T A D E T A B E L A S

Tabela 1 – Média do número de acidentes e óbito para cada 100 mil

trabalhadores nos anos, 70, 80, 90 e 2000. ......................................21

Tabela 2 – Comparativo das certificações de empresas em SST no Brasil em

2004/2005 ............................................................................................23

Tabela 3 – Resumo das informações de certificações em SST por estado .....23

Tabela 4 – Dados estatísticos do Brasil dos números de acidentes de trabalho

ocorridos nas atividades de preparação de terreno, construções

de edifícios e outras obras de engenharia.......................................24

Tabela 5 – Dados estatísticos de Alagoas dos números de acidentes de

trabalho ocorridos nas atividades de preparação de terreno,

construções de edifícios e outras obras de engenharia. ...............25

Tabela 6 – Cadastro de Pavimentação de Maceió ..............................................28

Tabela 7 – Número de óbitos relativos à ocupação ...........................................63

Tabela 8 – Número de acidentes não-fatais relativos à ocupação....................64

Tabela 9 – Rede Rodoviária Federal Pavimentada – 1979 – 40.000 Km ...........65

Tabela 10 – Rede Rodoviária Federal Pavimentada – 1984 – 46.000 Km ...........66

Tabela 11 – Rede Rodoviária Federal Pavimentada – 1992 – 49.162 Km ...........66

Tabela 12 – Tipos de intervenções e com faixa de variação de custos por km.68

Tabela 13 – Exposição diária estimada ao ruído ..................................................94

Tabela 14 – Ferramentas e equipamento de transporte de carga utilizados na

operação tapa buraco com respectivas dimensões e peso ...........98

Tabela 15 – Idade, altura, peso e grau de instrução dos trabalhadores que

desenvolvem atividades na operação tapa buraco.........................98

Tabela 16 – Acidentes de Trabalho Registrado por Idade ...................................99

L I S T A S D E S I G L A S

ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas AET – Análise Ergonômica do Trabalho ANSI – American National Standards Institute ASTM – American Society for Testing Materials BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento BPF - Baixo Ponto de Fluidez BSI – British Standards Institution BS 8800 – British Standards 8800 CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho CBO – Classificação Brasileira de Ocupação CBUQ – Concreto Betuminoso Usinado a Quente CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CNAE – Classificação Nacional de Atividade Econômica DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes DRT – Delegacia Regional do Trabalho EPI - Equipamento de Proteção Individual EPC – Equipamento de Proteção Coletiva ERS – Ergonomics Researche Society GTs – Grupos Técnicos IBUTG – Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade industrial INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social IPR – Instituto de Pesquisa Rodoviária ISO - International Organization of Standardization MTE – Ministério do Trabalho e Emprego NB – Norma Brasileira NBR – Norma Brasileira Registrada NPS – Nível de Pressão Sonora NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health NR – Norma Regulamentadora OHSAS – Occupational Health and Safety Assessment Series OIT – Organização Internacional do Trabalho PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PIB – Produto Interno Bruto PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais QSP – Centro da Qualidade, Segurança e Produtividade para o Brasil e América Latina SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho SESI – Serviço Social da Indústria SISCEB – Sistema de Certificação do Ergonomista Brasileiro SST – Segurança e Saúde no Trabalho SOMURB – Superintendência Municipal de Obras e Urbanização

S U M Á R I O

C A P I T U L O I – I N T R O D U Ç Ã O ................................ 16

1.1 TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA .............................................................16

1.2 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA......................................................................20

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA............................................................................29

1.3.1 Objetivo geral ..................................................................................................29

1.3.2 Objetivos específicos .....................................................................................30

C A P Í T U L O I I – E S T A D O D A A R T E ................. 31

2.1 HISTÓRICO DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO .............31

2.2 ACIDENTE DO TRABALHO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.......................33

2.3 RISCOS: MEIOS DE GERAÇÃO E SUA PREVENÇÃO NA LEGISLAÇÃO ...34

2.4 ERGONOMIA NA SEGURANÇA DO TRABALHO..........................................38

2.4.1 Definição e objetivo da ergonomia................................................................38

2.4.2 Origens da ergonomia....................................................................................40

2.4.3 Evolução da ergonomia .................................................................................42

2.4.4 Abordagens e aplicações da ergonomia ......................................................45

2.4.5 Ergonomia nas normas e legislação de segurança do trabalho ................47

2.4.6 A ergonomia dos sistemas de produção – antropotecnologia...................48

2.4.7 Identificação e análise dos riscos ergonômicos..........................................51

2.5 PAVIMENTAÇÃO: DEFINIÇÕES E MATERIAIS UTILIZADOS ......................53

2.5.1 Descrição das tarefas na execução da pavimentação em Concreto

Betuminoso Usinado a Quente – CBUQ .......................................................56

2.5.1.1 Regularização do subleito ............................................................................56

2.5.1.2 Reforço do subleito.......................................................................................57

2.5.1.3 Sub-base e base estabilizada granulometricamente ....................................57

2.5.1.4 Imprimação...................................................................................................57

2.5.1.5 Revestimento em Concreto Betuminoso Usinado a Quente - CBUQ ...........58

2.6 CONSERVAÇÃO DE PAVIMENTO ASFÁLTICO............................................58

2.6.1 Definições e terminologias ............................................................................58

2.6.2 Principais problemas/defeitos mais comuns em pavimentos asfálticos...60

2.6.3 Descrição das atividades de conservação relativas à pesquisa ................61

2.6.4 Gestão da manutenção/conservação de pavimentos..................................65

C A P I T U L O I I I – O P E R A Ç Õ E S

M E T O D O L Ó G I C A S D A P E S Q U I S A ..................... 69

3.1 TIPOS E NATUREZA DO ESTUDO.................................................................69

3.2 VARIÁVEIS INVESTIGADAS...........................................................................69

3.3 DADOS DA PESQUISA ...................................................................................71

3.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA....................................................................71

3.5 UNIVERSO DA PESQUISA..............................................................................72

3.6 ORDENAMENTO E TRATAMENTO DOS DADOS .........................................72

C A P Í T U L O I V – I D E N T I F I C A Ç Ã O D E D E

R I S C O S E A N Á L I S E E R G O N Ô M I C A D O

T R A B A L H O ............................................................................... 74

4.1 RISCOS IDENTIFICADOS DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO DE

SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO..........................................................74

4.2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO.....................................................77

4.2.1 Análise da demanda .......................................................................................77

4.2.2 ANÁLISE DA TAREFA ....................................................................................79

4.2.2.1 Postos de trabalho........................................................................................80

4.2.2.2 Descrição da tarefa.......................................................................................82

4.2.2.2.1 Remendos ou tapa-buracos ....................................................................82

4.2.2.2.2 Recapeamentos ........................................................................................87

4.2.2.2.3 Condições ambientais .............................................................................93

4.3 ANÁLISE DE ATIVIDADE................................................................................96

4.3.1 Atividades desenvolvidas na operação tapa-buraco...................................97

4.3.2 Análise relativa às posturas e movimentos..................................................99

4.3.3 Atividades desenvolvidas no recapeamento..............................................103

4.3.4 Análise relativa às posturas e movimentos................................................103

C A P Í T U L O V – D I A G N Ó S T I C O

E R G O N Ô M I C O ......................................................................106

5.1 DIAGNÓSTICO RELATIVO À DEMANDA.....................................................106

5.2 DIAGNÓSTICO RELATIVO ÀS TAREFAS....................................................107

5.3 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL.........................................................................108

5.4 DIAGNÓSTICO RELATIVO ÀS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ...............109

5.5 RECOMENDAÇÕES ......................................................................................110

5.5.1 Recomendações relativas à demanda ........................................................110

5.5.2 Recomendações relativas à tarefa e ao ambiente .....................................111

5.5.3 Recomendações relativas às atividades desenvolvidas...........................114

C A P I T U L O V I – A V A L I A Ç Ã O D A

M E T O D O L O G I A D E A N Á L I S E

E R G O N Ô M I C A .......................................................................116

6.1 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DA DEMANDA ........................116

6.2 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DA TAREFA ............................117

6.3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES...................119

6.4 FACILIDADES X DIFICULDADES NA UTILIZAÇÃO DA METODOLOGIA..122

C A P I T U L O V I I – P R I N C I P A I S

C O N C L U S Õ E S D A P E S Q U I S A ..............................123

R E F E R Ê N C I A S .....................................................................127

APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA .........................................................131

APÊNDICE B - CHECK – LIST PARA IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS

OCUPACIONAIS NOS POSTOS OU FRENTES DE TRABALHO NA

CONSTRUÇÃO E CONSERVAÇÃO DOS PAVIMENTOS ASFÁLTICOS.............134

APÊNDICE C - LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA ANÁLISE ERGONÔMICA DO

TRABALHO ............................................................................................................136

C A P I T U L O I – I N T R O D U Ç Ã O

1.1 TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA

A utilização da ergonomia como ferramenta para a identificação e

análise de riscos à segurança do trabalhador em serviços executados na construção

civil requer um estudo abrangente, em função do nível de diversidade de tarefas,

precariedade e improvisação encontrados dentro do ambiente de trabalho, porém

necessário, já que a melhoria das condições de trabalho é um fator significativo para

alcançar-se bons níveis de qualidade e produtividade, além de preservar a saúde do

trabalhador, evitando os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais.

Atualmente existe uma discussão sobre a competência profissional de

quem pode realizar a Análise Ergonômica do Trabalho – AET, como método de

identificar riscos à segurança e à saúde do trabalhador: o engenheiro de segurança

do trabalho e o médico do trabalho, como diz a legislação, ou o ergonomista, como

quer a Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO. A partir do ano 2002, no

Congresso Brasileiro de Ergonomia, a ABERGO criou o processo de certificação em

ergonomia, com cursos de especialização, formando ergonomistas, que antes

estavam fazendo parte ou eram parte específica de outras áreas do saber, que

reivindicam independência, reconhecimento profissional e maior participação no

mercado. Esta discussão e a competição em torno da qualificação profissional para

atuar no mercado que demanda conhecimento em ergonomia, demonstram a

importância desta tanto na produção como no produto, para melhorar a segurança, a

saúde e a qualidade de vida do trabalhador.

A ergonomia, do ponto vista legal, como foi observado anteriormente,

está incluída no campo de saber da engenharia de segurança do trabalho no Brasil,

tendo inclusive norma regulamentadora própria, a NR-17, que estabelece

parâmetros ergonômicos, que devem ser atendidos no sentido de proporcionar o

máximo de conforto e segurança ao trabalhador, para a obtenção de um

desempenho eficiente. Essa engenharia de segurança do trabalho do Brasil, onde se

aplicam os conhecimentos em ergonomia, tem características próprias, em função

tanto da cultura nacional como das experiências profissionais dos que trabalham

nesta área, mas também sofrem a influência de países com conhecimentos

17

tecnológicos mais avançados, e continuará a permanecer esta influência até que

acumulemos conhecimentos e experiências próprias para passarmos de

importadores a exportadores de conhecimentos tecnológicos. Ocorre na área

técnica, um modelo com maior influência da cultura inglesa e da norte-americana,

resultando na utilização de novos termos para expressar os mesmos conhecimentos,

ou o que é mais delicado, introduzindo conceitos diferentes para os termos

existentes, gerando confusão no entendimento dos conceitos. Para uma análise

ergonômica relativa aos riscos à segurança do trabalhador é necessária a

uniformização dos conceitos e termos técnicos, já que o problema da influência da

língua é reconhecido, inclusive pela Organização Internacional do Trabalho - OIT,

em que os termos Hazard e Risk não possuem o mesmo significado em todas as

línguas.

Em português, o termo risco pode ser explicado ou entendido de duas

maneiras fundamentais:

Risco, traduzido da palavra Hazard, é uma ou mais variáveis com potencial necessário para causar danos. Esses danos podem ser entendidos como lesões a pessoas, danos a equipamentos ou estruturas, perda de material em processo, ou redução da capacidade de desempenho de uma função pré-determinada. Havendo um risco, persistem as possibilidades de efeitos adversos (DE CICCO; FANTAZZINI, 1985). Risco, traduzido da palavra Risk, expressa uma probabilidade de possíveis danos dentro de um período específico de tempo ou número de ciclos operacionais. Pode ser indicado pela probabilidade de um acidente multiplicada pelo dano em dinheiro, vidas ou unidades operacionais (DE CICCO; FANTAZZINI, 1985).

Baseado na primeira explicação do termo Risco (Hazard), temos que

Riscos do Trabalho são definidos “como agentes presentes nos ambientes de

trabalho que, caso não sejam detectados e eliminados a tempo, provocam os

acidentes de trabalho e as doenças profissionais, isto é, são fatores nocivos ao

trabalho e à segurança do trabalhador” (MELO, 1997). Os Riscos classificam-se em:

Mecânicos, que são causas diretas do acidente do trabalho, e estão presentes em

ferramentas defeituosas, máquinas, equipamentos ou partes destes, que, através de

falhas, defeitos ou irregularidades, põem em risco a integridade física do trabalhador;

de Ambientes, que são determinados pelos Agentes Ambientais e são responsáveis

pelas doenças profissionais e do trabalho, variando de acordo com a atividade

18

profissional, são classificados em Físicos, Químicos, Biológicos e Ergonômicos

(MELO, 1997).

De acordo com Taralli (2002), o QSP – Centro Brasileiro de Qualidade,

Segurança e Produtividade define a identificação de riscos/perigos como o processo

de reconhecimento de que um risco/perigo existe, e da definição de suas

características. O mesmo QSP define a avaliação do grau de importância destes

riscos, como o processo de estimativa de magnitude dos riscos/perigos em função

de sua significância, que pode levar ou não à elaboração de um plano de ação para

seu controle, eliminação ou minimização, considerando-se as legislações aplicáveis

e regulamentações que especificam condições que, se não atendidas, trarão

penalidades.

O objeto desta pesquisa foi a ergonomia bem como a sua utilização

como instrumento de identificação e análise de riscos do trabalho, em função da

abrangência da ergonomia, que segundo Dul e Weerdmeester (1995), trata de um

ramo do conhecimento que se aplica ao projeto de máquinas, equipamentos,

sistemas e tarefas, com objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e

eficiência no trabalho.

Para Rodrigues (1997), “Os riscos Ergonômicos são introduzidos no

processo de trabalho por agentes inadequados às limitações dos seus usuários,

caracterizando-se por terem uma ação em pontos específicos do ambiente, e por

atuarem apenas sobre pessoas que se encontram utilizando o agente gerador do

risco, provocando, em geral, lesões crônicas, que podem ser de natureza

psicofisiológica”.

A Ergonomia, que é a base de estudo desta pesquisa, de acordo com

Couto (1995a), “é o conjunto de ciências e tecnologias que procuram fazer um ajuste

confortável e produtivo entre o ser humano e o seu trabalho, basicamente

procurando adaptar as condições de trabalho às características do ser humano”. A

ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Isso envolve não

somente o ambiente físico, mas também os aspectos organizacionais de como esse

trabalho é programado e controlado para produzir os resultados desejados (IIDA,

1993).

Do ponto de vista da Legislação de Segurança e Medicina do Trabalho,

com base no que determina a Portaria n.º 3.751, de 23/11/90, que alterou a NR-17,

que trata da ergonomia, estabelece parâmetros que devem ser estudados e

19

implantados de forma a permitir a adaptação das condições de trabalho às

características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um

máximo de conforto, segurança e desempenho eficientes. Nos casos em que os

trabalhadores estejam submetidos às condições de trabalho que não atendam às

recomendações ergonômicas estabelecidas da NR-17, os mesmos estão expostos a

agentes ergonômicos.

Esta pesquisa particularizou o setor de obras viárias da construção civil

e dentro deste setor utilizou como objeto de estudo e pesquisa, os serviços de

conservação de pavimentos com revestimentos asfálticos nas vias urbanas da

cidade de Maceió, a operação tapa - buraco e o recapeamento, em função da

importância desses serviços no contexto da administração municipal e para o

conforto e segurança da população usuária da vias públicas municipais.

A indústria da construção civil, na Norma Regulamentadora Nº 4 (NR-4),

da Portaria 3.214 de 08/06/78, em seu Quadro I, que determina a Classificação

Nacional de Atividades Econômicas - CNAE, é classificada como uma atividade

econômica de grau de risco 4, isto é, o grau máximo de risco, devido à complexidade

que envolve o seu processo produtivo, que tem como principais características:

produto único, processo produtivo parcelado, operações não padronizadas, pouca

organização do trabalho, alta rotatividade de mão-de-obra, elevados índices de

perdas, mão-de-obra de baixa instrução, grande gerador de empregos e

conseqüente elevado número de acidentes de trabalho.

Obras Viárias é um setor da construção civil que tem como finalidade ou

função a construção e manutenção de Rodovias, Ferrovias, Hidrovias, construções

portuárias, assim como suas infra-estruturas, conforme classificação do projeto SESI

(1990) na construção civil. Dentro deste setor de atividade da construção civil,

encontram-se os serviços de pavimentação e conservação de pavimentos com

revestimentos asfálticos em vias urbanas, que será o objeto de nosso estudo,

usando como parâmetro a execução destes serviços na cidade de Maceió-AL.

Pavimento é a superestrutura, constituída por um sistema de camadas

de espessuras finitas, assentadas sobre uma infra-estrutura ou terreno de fundação,

e tem a finalidade de resistir e distribuir, convenientemente, ao subleito, as

solicitações oriundas dos veículos, como também, melhorar as condições de

rolamento dos veículos quanto à comodidade e à segurança (SOUZA, 1980, p.9).

20

Conservação de pavimento constitui ou compreende serviços e

operações destinados a manter o pavimento com as características iniciais de

quando o mesmo foi construído (MÉLO, 1996).

A freqüência da realização dos serviços de conservação facilitou as

coletas de dados em relação aos riscos ocupacionais ergonômicos, em que estão

envolvidos os trabalhadores em tarefas específicas, através do acompanhamento

sistemático nos locais da realização dos serviços, como também a aplicação da

metodologia de análise homem-tarefa como instrumento de identificação e análise

de risco à segurança e à saúde do trabalhador.

Este trabalho faz o diagnóstico ergonômico dos riscos à segurança do

trabalho, partindo dos conhecimentos obtidos através da AET, e com o diagnóstico

estabelecido sobre as disfunções do sistema homem-tarefa, relativo aos serviços de

conservação de pavimentos com revestimento asfáltico, nas vias urbanas da cidade

de Maceió. Faz-se a avaliação da aplicabilidade do método da AET, como um

instrumento para identificação dos riscos à segurança e saúde do trabalhador, como

opção às metodologias prevencionistas do tipo prospectivas utilizadas pela

engenharia de segurança do trabalho, no sentido da identificação, avaliação,

eliminação ou controle de riscos.

Sendo assim, o tema do estudo e de pesquisa foi definido como

“Avaliação do método da análise ergonômica do trabalho como instrumento de

identificação e análise de risco à Segurança e Saúde no Trabalho”

1.2 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

A indústria da Construção civil, em que o setor de Obras Viárias está

incluído, inclusive dentro deste setor os serviços de conservação e manutenção,

pela sua capacidade de geração de empregos diretos e indiretos, tem grande

importância econômica para o Brasil, mas apresenta grandes problemas em relação

às condições de trabalho, com trabalhadores de baixa qualificação e altos índices de

acidentes de trabalho.

Acidente de Trabalho, como definido pela Lei 8213/91, artigo 19, é

referente ao plano de benefício da previdência social, como o que ocorre pelo

exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou

21

perturbação funcional que cause morte, ou perda, ou redução permanente, ou

temporária, da capacidade para o trabalho.

Os acidentes de trabalho, no âmbito da estatística da Previdência, são

agrupados em dois grandes blocos:

� Acidentes de Trabalhos Registrados (Total), que correspondem ao

número de acidentes cujos processos foram abertos administrativa e

tecnicamente pelo Instituto de Seguridade Social (INSS). São dados

provenientes das Comunicações de Acidentes de Trabalho (CAT), que

são registradas nos postos do INSS e se dividem em Acidentes Típicos,

de Trajeto, Doença do Trabalho e Profissional.

� Acidentes Liquidados (Total) representa o número de processos de

acidentes liquidados, em determinado ano. Há sempre uma diferença

entre o número de acidentes registrados e o número de liquidados, em

função da duração dos procedimentos e de processos que são

reavaliados. As conseqüências são: Simples Assistência Médica,

Incapacidade Temporária, Incapacidade Permanente, Óbito.

Nos números divulgados pelo Ministério da Previdência Social, e

publicados no Anuário Brasileiro de Proteção (2005, p. 20-33), quando se observa o

número de acidentes do trabalho ocorrido nos últimos 34 anos, verificando-se como

parâmetros os números de acidentes para cada100 mil trabalhadores, e bem como o

número de óbitos para o mesmo universo, temos os números indicados na Tabela 1.

Tabela 1 - Média do número de acidentes e óbito para cada 100 mil trabalhadores nos anos, 70, 80, 90 e 2000.

Anos Acidentes / 100 mil trabalhadores Óbitos / 100 mil trabalhadores Média anos 70 (1970 até 1979) 13.696 30

Média anos 80 (1980 até 1989)

5.388 22

Média anos 90 (1990 até 1999)

1.998 17

Média anos 00 (2000 até 2003) 1.332 10

Fonte: Anuário Brasileiro de Proteção (2005).

22

É possível perceber que no período de 1970 a 2003, ocorreu uma

redução gradativa dos acidentes de trabalho registrados, que diminuiu

significativamente de intensidade a partir dos anos 90, o que poderia indicar o

esgotamento dos mecanismos tradicionais de prevenção de acidente do trabalho.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) trabalhava desde 1998 com

uma meta de redução de 40% de acidentes e doenças ocupacionais para o período

de 1999-2003, e obteve uma redução de 31,92 % no número de acidentes

ocupacionais fatais nos últimos seis anos, abaixo do previsto (40%), de 3.793, em

1998, para 2.582, em 2003, sendo que esses dados de 2003, no momento em que

foram obtidos, ainda eram um dado preliminar, sujeito à correção. Esses dados são

contestados por profissionais de Segurança e Saúde no Trabalho, que vêem

incoerência nesses números, em função das realidades distintas das regiões, e do

crescimento do trabalho informal, enquanto os dados referem-se apenas ao setor

formal (emprego celetista), que representa apenas um terço da massa trabalhadora

do país (ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO, 2003, 2005).

No Brasil, essa melhora de indicadores em relação à segurança e saúde

no trabalho, além de uma política governamental, pode ter a ver, nos últimos anos,

com a adoção, pelas empresas, em número cada vez maior de sistemas de gestão

de segurança e saúde no trabalho, que resolvem encarar o desafio de proporcionar

e manter um ambiente adequado ao trabalhador, com menos riscos de acidentes e

doenças, com um crescimento ano a ano de empresas certificadas com normas de

segurança e saúde no trabalho, a OHSAS 18001 e BS 8800 (ANUÁRIO

BRASILEIRO DE PROTEÇÃO, 2005).

Um dado importante a ser observado é que, apesar do crescimento de

certificações no Brasil, de empresas que adotam sistemas de gestão de segurança e

saúde no trabalho, o estado de Alagoas não está incluído entre os estados que têm

empresas certificadas, demonstrando um atraso em relação à política empresarial de

segurança do trabalho, quando comparada ao Brasil como um todo, de acordo com

os números indicados nas Tabelas 2 e 3.

23

Tabela 2 – Comparativo das certificações de empresas em SST no Brasil em 2004/2005

2004 2005 EMPRESAS 217 350

Nº DE CERTIFICAÇÕES 225 378 CERTIFICADORAS 6 10

UF 16 16 Fonte: Anuário Brasileiro de Proteção (2005).

Tabela 3 – Resumo das informações de certificações em SST por estado

UF EMPRESAS CERTIFICAÇÕES CERTIFICADORAS

AM 11 11 5

BA 23 23 5

CE 1 1 1

ES 5 7 2

MA 1 1 1

MS 3 3 2

MG 30 31 6

PA 7 7 2

PR 12 12 8

PE 6 6 4

PI 1 1 1

RJ 69 77 8

RS 25 28 3

SC 25 11 3

SP 144 158 9

SE 1 1 1 Fonte: Anuário Brasileiro de Proteção (2005).

Os acidentes de trabalho no Brasil em comparação ao resto do mundo,

com base em dados da Organização Internacional do Trabalho, no ano de 2001

apresentaram uma Taxa de Mortalidade de Acidentes de 12,10, sendo esta taxa

128% maior que dos Países de economia estável (5,30), ligeiramente menor que a

média mundial (14,00) e a média da América Latina (13,50) e cerca de 53,7% da

média dos países em desenvolvimento (22,50).

Nos últimos anos no Brasil, período de 2001/2003, o setor da indústria

como um todo, teve os percentuais de 47,03%, 45,24% e 36,13%, respectivamente

aos anos 2001, 2002 e 2003, em relação ao total de Acidentes de Trabalho

24

registrados no período (340.251, 393.071 e 390.180) segundo o setor de atividade

econômica, e para estes percentuais do período citado, a Indústria da Construção

contribuiu com os percentuais de 7,48% (2001), 7,25% (2002) e 5,63% (2003). Por

estes dados, que têm como fonte a DATAPREV e as CATs, o segmento da

construção, dentro do setor de atividade econômica que abrange a indústria, ficou

atrás apenas das indústrias de transformação, no número de Acidentes do Trabalho

no período de 2001/2003, apesar de apresentar uma queda significativa no

percentual do ano de 2003.

Na atividade econômica da construção, as quantidades de acidentes de

trabalho registrados, por motivo, no período 2001/2003, estão distribuídos por

setores desta atividade econômica, conforme Tabela 4 que traz as informações

relativas às atividades de preparação de terreno, construções de edifícios e obras de

engenharia civil.

Tabela 4 – Dados estatísticos do Brasil dos números de acidentes de trabalho ocorridos nas atividades de preparação de terreno, construções de edifícios e outras obras de engenharia.

CNAE Nº de acidentes do trabalho no período 2001/2003

4511 – Demolição e preparação de terreno 256

4512 – Perfurações e execuções de fundações destinadas à construção civil 1158

4513 – Grandes movimentações de terra 1022

4521 – Edificações (residenciais, industriais, comerciais e de serviços) – inclusive ampliação e reformas completas

33847

4522 – Obras viárias – inclusive manutenção 6150

4523 – Grandes estruturas e obras de arte 1643

4524 – Obras de urbanização e paisagismo 1939

4525 – Montagens industriais 2920

4529 – Obras de outros tipos 6996

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (2004).

25

É importante observar que a atividade relativa a edificações é disparada

a primeira em número de acidentes, mas a atividade obras viárias, inclusive

manutenção, que é o objeto da pesquisa, está em terceiro lugar e muito próximo do

segundo, em número de acidentes do trabalho registrados, por motivo, no Brasil,

conforme dados da previdência social, publicados pelo Ministério do Trabalho e

Emprego através do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho de 2003. Quando

observamos os dados relativos às mesmas atividades econômicas no estado de

Alagoas, obtidos na mesma fonte, constatamos que, de acordo com a Tabela 5, o

número de acidentes do trabalho na atividade de edificações, continua em primeiro,

com uma diferença proporcionalmente bem maior em relação ao número de

acidentes das outras atividades, comparando-se com os números nacionais, e que a

atividade de obras viárias, incluindo a manutenção, cai para o quarto lugar em

número de acidentes do trabalho.

Tabela 5 – Dados estatísticos de Alagoas dos números de acidentes de trabalho ocorridos nas atividades de preparação de terreno, construções de edifícios e outras obras de engenharia.

CNAE Nº de acidentes do trabalho no período 2001/2003

4511 – Demolição e preparação de terreno -

4512 – Perfurações e execuções de fundações destinadas à construção civil 1

4513 – Grandes movimentações de terra 1

4521 – Edificações (residenciais, industriais, comerciais e de serviços) – inclusive ampliação e reformas completas

176

4522 – Obras viárias – inclusive manutenção. 7

4523 – Grandes estruturas e obras de arte -

4524 – Obras de urbanização e paisagismo 7

4525 – Montagens industriais 25

4529 – Obras de outros tipos 15

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (2004).

26

Esses dados demonstram que no setor da construção civil, a atividade

de construção de edificações é a de maior risco. Por outro lado, também verificou-se

na pesquisa que, em Alagoas e principalmente na capital, Maceió, esta atividade é

mais fiscalizada, no setor da construção pelo órgão responsável, no caso a

Delegacia Regional do Trabalho - DRT, o que pode tornar esses dados, pelo menos

em relação ao estado de Alagoas, não compatíveis com a realidade, em função das

empresas que trabalham nas outras atividades da construção não se sentirem

pressionadas ou obrigadas a fazer a Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT,

principalmente quando não ocorre o afastamento do trabalho.

Em diversas pesquisas que vêm sendo realizadas nas capitais

brasileiras e suas regiões metropolitanas, constatou-se que os acidentes de trabalho

estão migrando para as vias públicas, e pior que isto, estão tornando-se violentos, e

esta violência urbana está cada vez mais presente como risco do processo produtivo

de trabalho. Analisando-se os dados da situação no Brasil, verifica-se que o trânsito

vem ganhando espaço como o grande vilão na epidemiologia dos acidentes,

estimando-se que 40% a 50% dos acidentes de trabalho sejam acidentes de trajeto,

mas na estatística oficial os números são outros, já que as ocorrências no trânsito

referentes ao setor informal não são notificadas como acidente de trabalho, mas

como acidente de trânsito (ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO, 2003, p. 22-

24).

Outro dado emblemático, em relação à atuação da DRT no estado de

Alagoas, em que, apesar do Acidente de Trabalho registrado por motivo, trajeto,

estar em segundo lugar em ocorrências, como em todo o Brasil, atrás dos acidentes

típicos e na frente das doenças do trabalho, o percentual estatístico em Alagoas de

acidentes de trajeto, é o menor do Brasil, conforme os dados do Ministério do

Trabalho e Emprego, publicados no Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho

2003, indicados na Gráfico 1.

27

DISTRIBUIÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO REGISTRADOS, POR MOTIVO, NO ESTADO DE

ALAGOAS - 2003

91,6

7,1 1,3

Típico (%)

Trajeto (%)

Doença de Trabalho (%)

Gráfico 1 – Distribuição de acidentes de trabalho de trabalho registrado,

por motivo, no estado de Alagoas – 2003. Fonte –Ministério do Trabalho e Emprego (2004).

No Brasil, a tendência é de agravamento do número de acidentes de

trajeto, visto que o transporte rodoviário, de acordo com os dados obtidos no Instituto

de Pesquisa Rodoviária – IPR, continua sendo o principal fator de integração

nacional, regional e municipal, interligando as localidades e as diversas regiões

urbanas e rurais. Circulam nestas rodovias cerca de 60% do volume de cargas

produzidas no país, equivalente a 80% do seu valor comercial, sendo o sistema

rodoviário também responsável por 95% do transporte de passageiros, estimando-se

que essas operações correspondem a 200 bilhões de dólares ou aproximadamente

70% do Produto Interno Bruto – PIB – brasileiro, e que 90% do comércio depende

das rodovias.

Os dados mais recentes do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de

Transportes - DNIT ressaltam a importância da atividade de conservação de

pavimento nas rodovias no Brasil. De acordo com esses dados, uma rodovia em

mau estado de conservação representa 58% a mais de consumo de combustível,

40% no custo de manutenção dos veículos, o dobro do tempo da viagem e um

aumento de 50% no número de acidentes, representando um gasto anual de R$ 1,7

bilhão, devido ao acréscimo dos custos operacionais e do custo com perda de vidas

humanas (78 mil pessoas/ano). Considerando-se essa má conservação nas vias

urbanas dos municípios, teríamos de forma proporcional à extensão da malha viária

urbana e ao volume de tráfego os mesmos problemas em relação ao aumento do

28

consumo de combustível, dos custos de manutenção dos veículos, do tempo de

viagem e do número de acidentes, tornando, nas grandes cidades, um dos principais

fatores que contribuem para o custo elevado da tarifa dos transportes públicos

coletivos.

Na cidade de Maceió-AL, de acordo com cadastro de pavimentação

fornecido pela Superintendência Municipal de Obras e Urbanização - SOMURB, os

dados relativos à malha viária urbana são os indicados na Tabela 6.

Tabela 6 – Cadastro de Pavimentação de Maceió RESUMO DO CADASTRO DE PAVIMENTAÇÃO DE MACEIÓ

TIPO DE PAVIMENTO COMPRIMENTO (m) ÁREA (m² ) %

ASFALTO 469.361,7 3.285.531,61 29,61 BLOQUETE 6.340,5 44.383,24 0,40 CONCRETO 2.643,0 18.501,18 0,17 PARALELEPÍPEDO 372.916,7 2.610.416,63 23,53 OUTROS 4.469,7

858.731,5

52.287,70

6.011.120,36

0,47 TERRA 726.194,3 726.194,3 5.083.360,14 5.083.360,14 45,82 TOTAL 1.584.925,8 11.094.480,50 100.00

OBS.: Utilizou-se a largura média de 7m Fonte: SOMURB (2005).

Observa-se nesses dados que a maior extensão de área pavimentada

da malha viária urbana de Maceió-AL, concentra-se em pavimento com revestimento

asfáltico, inclusive os principais corredores de tráfego. Dessa forma, as vias em

pavimentação asfáltica, em função da sua magnitude e sua importância para

funcionamento do trânsito na cidade, requerem serviços permanentes e rotineiros de

conservação de pavimentos com revestimento asfáltico.

Conforme um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID), são US$ 76 bilhões o valor desperdiçado com acidentes de trabalho nas

empresas e organizações públicas latino-americanas, e no Brasil, segundo o

economista José Pastore, da Universidade de São Paulo, o valor estimado desse

desperdício é de R$ 20 bilhões para o país, dos quais 12,5 bilhões para empresas

(ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO, 2003).

Os dados estatísticos demonstram um avanço do Brasil na área de

Segurança e Saúde do Trabalho, com cada vez mais empresas adotando sistema de

gestão de Segurança e Saúde no Trabalho, com certificações OHSAS 18001 e BS

29

8800, mas é preciso avançar mais ainda nesta área para alcançar os níveis de

Segurança do Trabalho dos países desenvolvidos. Para isso são exigidos estudos e

pesquisas que forneçam dados confiáveis do número dos acidentes de trabalho, dos

tipos de acidentes e suas ocorrências nos diversos tipos de atividades econômicas,

contribuindo para uma diminuição do prejuízo à produção com os custos do Acidente

do Trabalho. Assim, justificam-se o estudo e a pesquisa relativos à avaliação da

aplicação de metodologia para identificação e análise dos riscos à segurança e à

saúde do trabalhador a partir de um diagnóstico ergonômico dos serviços de

conservação de pavimento com revestimento asfáltico em vias urbanas da cidade

de Maceió-AL.

Esses serviços estão incluídos no setor de obras viárias, que no Brasil

está em 3º lugar em ocorrências de acidentes do trabalho na construção civil.

Também se justifica a pesquisa pela importância dessa atividade de conservação e

manutenção das vias urbanas na prevenção dos acidentes de trânsito onde estão

incluídos os acidentes de trajeto.

Também é importante como justificativa lembrar que o trabalho deve ser

adaptado ao homem e não o contrário e que é só através do diagnóstico encontrado

na análise de uma atividade do trabalhador em seu local de trabalho que é possível

atingir mais rapidamente, de forma mais segura e a um menor custo, os objetivos

para a melhoria das condições de trabalho e, principalmente, em termos

operacionais relativos à confiabilidade, qualidade e produtividade.

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1 Objetivo geral

Avaliar a aplicabilidade do método da análise ergonômica do trabalho,

como instrumento de identificação e análise de riscos à segurança e saúde do

trabalhador, nos serviços de conservação dos pavimentos com revestimentos

asfálticos em vias urbanas na cidade de Maceió-AL.

30

1.3.2 Objetivos específicos

1. Identificar e analisar ergonomicamente os riscos à segurança do trabalho

baseados nas posturas corporais, movimentos e aplicação de forças,

associadas às frentes de trabalho, onde se desenvolvem as operações de

conservação dos pavimentos com revestimentos asfálticos em vias urbanas.

2. Identificar e analisar ergonomicamente os riscos à segurança do trabalho

baseado na organização do trabalho para a execução dos serviços de

conservação dos pavimentos com revestimentos asfálticos nas vias urbanas.

3. Identificar e analisar ergonomicamente os riscos à segurança do trabalho

baseado nas condições ambientais de trabalho, na execução dos serviços de

conservação dos pavimentos com revestimento asfáltico nas vias urbanas.

4. Identificar e analisar ergonomicamente os riscos associados às operações

das máquinas pesadas, equipamentos, ferramentas utilizados para a

execução dos serviços de conservação de pavimentos asfálticos nas vias

urbanas.

5. Diagnosticar ergonomicamente os riscos à segurança do trabalho nos

serviços de conservação dos pavimentos com revestimentos asfálticos nas

vias urbanas da cidade de Maceió.

C A P Í T U L O I I – E S T A D O D A A R T E

2.1 HISTÓRICO DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Segurança é freqüentemente definida como isenção de risco. Entretanto,

é praticamente impossível a eliminação completa de todos os riscos. Segurança é,

portanto, um compromisso acerca de uma relativa proteção da exposição a riscos

(DE CICCO; FANTAZZINI, 1985).

A segurança do trabalho compreende primeiro o estudo e a prevenção

dos acidentes, isto é, dos acontecimentos que provocaram uma lesão corporal. Mas

inclui também os incidentes, isto é, os acontecimentos que atingem apenas objetos.

Os acidentes têm uma dimensão de extrema gravidade, pois determinam ainda em

grande parte a condição operária. Os incidentes não têm a mesma significação

humana, porém custam 10 vezes mais caro. O conjunto dos acidentes e dos

incidentes representa 4 e 5% do orçamento da empresa. Suas causas são comuns,

e eles devem ser objeto de uma prevenção comum (WISNER, 1987).

Conforme Faverge ( apud WISNER, 1987, p.34), os acidentes são sinais

de mau funcionamento da organização, e é sobre esta que é necessário agir para

preveni-los, sendo as situações mais perigosas caracterizadas por:

� Situações não previstas (acidentes que se seguem a um incidente);

� Situações de co-atividade (empresa principal e empresa externa

trabalhando no mesmo local, serviço de fabricação e manutenção);

� Atividades sucessivas no mesmo local (passagem de uma equipe para

outra no serviço postal, de uma profissão para outra no setor de

construção civil);

� Situações nas quais as comunicações são insuficientes ou ambíguas.

A partir do século XX, com o desenvolvimento da chamada

“Administração Cientifica” de Taylor e das contribuições de outros estudiosos, a

preocupação com os Acidentes de Trabalho passou a ser incorporada pelos

32

gerentes industriais, por serem eventos que comprometiam a previsibilidade do

sistema produtivo. Passou-se a usar mais constantemente técnicas de engenharia

para a prevenção ou controle dos acidentes, gerando uma habilitação específica

dentro da engenharia, designada de Engenharia de Segurança do Trabalho

(RODRIGUES, 1997).

A Engenharia de Segurança do Trabalho foi desenvolvida para combater

o problema dos Acidentes de Trabalho e, assim, reduzir as perdas por eles geradas,

podendo ser definidas como sendo um conjunto de técnicas e métodos oriundos das

diversas áreas da engenharia, que têm como objetivos: identificar, avaliar, eliminar

ou controlar os riscos do Acidente do Trabalho (RODRIGUES, 1997).

No Brasil, a Lei nº 7.410, de 27/11/1985, dispõe sobre a especialização

de Engenheiros e Arquitetos em Engenharia de Segurança do Trabalho, a profissão

de Técnico de Segurança do Trabalho e dá outras providências. Define, também, em

seu artigo 1º, que o exercício da especialização de Engenheiro de Segurança de

Trabalho será permitido, exclusivamente ao Engenheiro ou Arquiteto, portador de

certificado de conclusão de curso de especialização em Engenharia de Segurança

do Trabalho. Esse curso deve ser ministrado no País, em nível de pós-graduação,

ao portador de certificado de curso de especialização em Engenharia de Segurança

do Trabalho, realizado em caráter prioritário, pelo Ministério do Trabalho e ao

possuidor do registro de Engenheiro de Segurança do Trabalho, expedido pelo

Ministério do Trabalho, até a data fixada na regulamentação desta Lei.

Atualmente existem normas direcionadas para os sistemas de gestão da

Segurança e Saúde no Trabalho, a BS 8800 (British Standards), que constam de um

guia de diretrizes de um sistema de gestão de SST e OHSAS 18000 (Occupational

Health and Safety Assessment Series), constituída da OHSAS 18001, que define os

requisitos de um sistema de gestão da SST para fins de certificação e OHSAS

18002 que é o guia de diretrizes que explica em detalhes os princípios da

especificação OHSAS 18001. Juntas, essas diretrizes são consideradas como o que

há de mais atual em todo o mundo para a implantação de um sistema eficaz de

gerenciamento das questões relacionadas à prevenção de acidentes e doenças

ocupacionais, tendo estas normas para a área de Segurança do Trabalho, a mesma

importância que as normas ISO 9000 para a área de Qualidade Total e ISO 14000

para a área de Gestão Ambiental.

33

2.2 ACIDENTE DO TRABALHO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

De acordo com a legislação trabalhista brasileira, Decreto 83.080, de

24/01/79, Art.221, o Acidente de Trabalho é o que decorre do exercício do trabalho a

serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause

a morte, ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade de

trabalho, e classifica estes acidentes em três tipos: Acidentes típicos, aqueles que

provocam lesões imediatas; Doenças Profissionais, inerentes aos ramos de

atividade do trabalhador, que são contraídas em função da exposição continuada a

algum agente agressor presente no local de trabalho e o Acidente de Trajeto, que é

sofrido pelo empregado ainda que fora do local e horário de trabalho. A Legislação

Previdenciária, através da Lei 8.213, de 24 /06 / 91, em seu Capítulo II, seção I,

artigos 19, 20 e 21, trata dos acidentes de Trabalho e dos casos de Acidentes

equiparados a Acidente do Trabalho, para efeitos desta Lei Previdenciária.

A lei previdenciária estabelece quais categorias têm direito aos

benefícios, decorrentes dos Acidentes de Trabalhos:

I. Os empregados, exceto o doméstico;

II. O trabalhador avulso – aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço

de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem vínculo

empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-

de-obra ou sindicato da categoria;

III. O segurado especial- como o produtor, o parceiro, o meeiro, o

arrendatário rural, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam

suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar,

ainda que com auxílio eventual de terceiros, bem como seus

respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de dezesseis

anos ou a ele equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente,

como grupo familiar respectivo.

De acordo com a NB (Norma Brasileira) 18 da ABNT (Associação

Brasileira de Normas Técnicas), existem duas causas de acidentes: Atos Inseguros

e Condições Inseguras. O Ato Inseguro é um termo técnico utilizado em prevenção

de acidentes, que se entende como todos os procedimentos que contrariem normas

de prevenção de acidentes. Condições Inseguras é um termo técnico utilizado em

34

prevenção de acidentes, que tem como definição as circunstâncias externas de que

dependem as pessoas para realizar seu trabalho que sejam incompatíveis ou

contrárias às normas de segurança e prevenção de acidentes (PIZA, 1997).

Seguindo a diretriz das causas de acidentes, entende-se que o acidente

sempre ocorre como resultado da soma de Atos e Condições Inseguras que são

oriundas de problemas de ordem psicológica (depressão, tensão, excitação,

neurose, etc.), social (problemas de relacionamentos, preocupações com as

necessidades sociais, educação, dependência química, etc.), congênitos ou de

formação cultural que alteram o comportamento do trabalhador permitindo que

cometa Atos Inseguros. Esses fatores que levam às falhas humanas, são

denominados Fatores Pessoais de Insegurança.

Os Fatores Pessoais de Insegurança são um dos motivos que

determinam, hoje em dia, que durante uma investigação e análise de acidentes, os

profissionais envolvidos não utilizem os termos Atos Inseguros ou Condições

Inseguras, na busca das causas de acidentes. Recomenda-se descrever o risco sem

que haja a necessidade de classificá-lo como Ato ou Condição Insegura.

A definição legal de Acidente de Trabalho é questionável, do ponto de

vista prevencionista, por exigir que haja lesão para a caracterização do Acidente,

sendo que vários estudos, comprovam que os acidentes com vítimas são em

números pequenos, quando comparado com o número muito maior de casos que

ocorrem gerando apenas perda de tempo e de materiais. Como estes casos não

cobertos pela legislação provocam perdas e contêm vários elementos causadores de

acidentes com vítima, é mais correto trabalhar com o conceito prevencionista de

Acidente do Trabalho, segundo o qual o Acidente do Trabalho é todo o evento

inesperado e indesejável, que interrompe a rotina normal de trabalho, podendo gerar

perdas pessoais, de materiais, ou pelo menos de tempo (RODRIGUES, 1997).

2.3 RISCOS: MEIOS DE GERAÇÃO E SUA PREVENÇÃO NA LEGISLAÇÃO

Para uma Análise de Risco é preciso uniformizar os conceitos e os

termos técnicos, oriundos dos países mais desenvolvidos que influenciam a

Engenharia de Segurança no Brasil, relativos às expressões HAZARD, RISK e

DANGER. Em português, essas expressões são entendidas como: Risco (Hazard)

35

que é uma ou mais condições de uma variável com potencial necessário para causar

danos. Esses danos podem ser entendidos como lesões a pessoas, danos a

equipamentos ou estruturas, perda de material em processo, ou redução da

capacidade de desempenho de uma função pré-determinada; Risco (Risk), que é a

probabilidade de ocorrência de um evento que cause dano; Perigo (Danger) a

situação ou condição em que o risco seja acentuado. Neste estudo, serão

concentradas as pesquisas aos riscos ergonômicos relativos à segurança do

trabalhador, detectando-se os agentes presentes nos ambientes de trabalho que

possam vir a provocar Acidentes do Trabalho e as Doenças Profissionais e do

Trabalho, caso não sejam eliminados.

Cada agente ou causa de acidentes tem o seu próprio meio de

manifestar a sua nocividade ou gera um tipo de risco, dentre os seguintes: Riscos

Mecânicos, que são gerados pelos agentes que demandam o contato físico direto

com a vítima para manifestarem sua nocividade. Riscos Físicos, que são gerados

por agentes que têm a capacidade de modificar as características do ambiente.

Riscos Químicos que são gerados por agentes que modificam a composição química

do meio ambiente. Riscos Biológicos que são introduzidos nos processos de

trabalho pela utilização de seres vivos (em geral micro organismo) como parte

integrante do processo produtivo, tais como: vírus, bacilos, bactérias, etc. Risco

Ergonômico, por sua vez, é introduzido no processo por agentes (máquinas,

equipamentos, métodos, etc.) inadequados às limitações dos seus usuários. Já os

Riscos Sociais são introduzidos pela forma de organização do trabalho adotado na

empresa, que podem provocar os comportamentos sociais (dentro e/ou fora do

ambiente de trabalho) incompatíveis com a preservação da saúde.

A prevenção aos Riscos do Trabalho na Legislação Brasileira aplica-se

de uma forma geral a partir da Lei 6.514, de 22/12/77 , lei esta que altera o Capítulo

V do Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e

Medicina do Trabalho e a suas Normas Regulamentadoras, NR, aprovadas pela

Portaria Nº 3.214, de 08/06/78, com suas modificações posteriores, como também

cumprindo as Convenções da Organização Internacional do Trabalho ratificadas

pelo Brasil.

A Norma Regulamentadora, NR-6, relativa ao uso de Equipamento de

Proteção Individual - EPI, diz no seu item 6.2:

36

A empresa é obrigada a fornecer aos empregados , gratuitamente, EPI adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento , nas seguintes circunstâncias : a) sempre que as medidas de proteção coletiva forem tecnicamente inviáveis ou não, oferecerem completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho e/ou doenças profissionais e do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; c) para atender situações de emergências.

A Norma Regulamentadora, NR-7 obriga, por parte das empresas e

instituições que admitam trabalhadores como empregados, a elaboração do

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, que é parte

integrante do conjunto mais amplo de iniciativas da empresa no campo da saúde

dos trabalhadores, devendo estar articulado com o disposto nas demais NR. Em

relação à prevenção dos riscos, citamos os seguintes pontos, dentre outros, como

importantes no referido programa:

� Seu caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos

agravos à saúde relacionados ao trabalho.

� Seu planejamento e implementação deverão ser baseados nos riscos à

saúde dos trabalhadores, especialmente os identificados nas avaliações

previstas nas demais NR.

A Norma Regulamentadora, NR-9, no seu subitem 9.1.1 diz: esta NR

estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os

empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da

saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento,

avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou

que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do

meio ambiente e recursos naturais. As empresas que exercem as atividades na

Indústria da Construção devem obedecer à NR-18, que estabelece no seu item 18.3,

o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção

- PCMAT, que conforme subitem 18.3.1, é obrigatório nos estabelecimentos com 20

(vinte) trabalhadores ou mais e no subitem18.3.1.1, diz que o PCMAT deve

contemplar as exigências contidas na NR-9 - Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais.

37

A CLT, em seu artigo 189 da seção XIII, do capítulo V, Título II ,

estabelece:

Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição.

O artigo 192 da CLT, da mesma Seção e Capítulo, determina que “O

trabalho em condições insalubres, assegura a percepção de adicional de

40%(quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário

mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo”

A regulamentação dada à CLT prevê na NR-15, quatorze anexos que

estabelecem limites de tolerância para os agentes ambientais, determinando os

graus de insalubridade. A eliminação ou neutralização da insalubridade segundo o

que estabelece o artigo 191 da CLT, Seção XIII, do Capítulo V, Título II ocorrerá: a)

com adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites

de tolerância; b) com utilização de equipamentos de proteção individual pelo

trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância.

De acordo com o estabelecido pelo artigo 193 da Seção XIII, do Capítulo

V, Título II da CLT:

São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo MTb, aquelas que por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

Este mesmo artigo 193, em seu parágrafo 1º determina que o trabalho

em condições de periculosidade assegura um adicional de 30% (trinta por cento)

sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou

participações nos lucros da empresa.

A caracterização da Insalubridade e Periculosidade é feita, conforme

determina o artigo 195, da Seção XIII, do Capítulo V, Título II da CLT, “Através de

perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrado no

Ministério do Trabalho”.

38

A Norma Regulamentadora, NR-5, da Portaria 3.214 de 08/06/78 do

MTb, no item 5.16, diz que uma das atribuições da CIPA (Comissão Interna de

Prevenção de Acidente), é a elaboração do Mapa de Risco, que é uma

representação gráfica dos riscos existentes nos diversos locais de trabalho da

empresa, com base nas orientações constantes no anexo IV, da NR-5, incluído

como parte da portaria nº 25 do MTE de 29/12/1994, e classifica os Riscos

Ocupacionais em : Riscos Físicos (ruídos, vibrações, radiações ionizantes ou não

ionizantes, frio, calor, pressões anormais, umidade, etc.); Riscos Químicos ( poeiras,

fumos, névoas, neblinas, gases, vapores, substâncias e compostos químicos em

geral); Riscos Biológicos (vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas, bacilos,

etc.); Riscos Ergonômicos( esforço físico intenso, levantamento e transporte de

peso, postura inadequada, ritmos excessivos, monotonia, repetitividade, etc.) e

Riscos de Acidentes (máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas

defeituosas e inadequadas, eletricidade, animais peçonhentos, etc.)

A Portaria 3.311 de 29/11/89, do MTb, dá instruções para elaboração de

Laudo de Insalubridade e Periculosidade, estabelecendo as regras para elaboração

destes Laudos, conforme segue: identificação do local periciado , descrição do

ambiente de trabalho, análises quantitativas e qualitativas dos riscos, conclusão com

estabelecimento do fundamento legal e proposta técnica para correção.

2.4 ERGONOMIA NA SEGURANÇA DO TRABALHO

2.4.1 Definição e objetivo da ergonomia

A palavra ergonomia vem do grego: ergon = trabalho e nomos =

legislação, normas. De forma abreviada, a ergonomia pode ser definida como a

ciência da configuração de trabalho adaptado ao homem, tendo como alvo o

desenvolvimento de bases científicas para adequação das condições de trabalho às

capacidades e realidade das pessoas que trabalham (GRANDJEAN, 1998).

A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Isso

envolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos organizacionais

39

de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os resultados

desejados (IIDA, 1993). A ergonomia procura inverter o processo predominante de

adaptar o homem ao trabalho, pois ao contrário, ela procura adaptar o trabalho ao

homem da melhor forma possível. Para tanto, o estudo da ergonomia deve abranger

diversos aspectos do comportamento humano no trabalho, que são (IIDA, 1993):

� Homem – características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais do

trabalhador; influência do sexo, idade, treinamento e motivação.

� Máquina – equipamentos, ferramentas, mobiliário e instalações.

� Ambiente – temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores, gases e outros.

� Informações – refere-se às comunicações existentes entre os

elementos de um sistema, à transmissão de informações, ao

processamento e tomadas de decisões.

� Organização – horários, turnos de trabalho e formação de equipes.

� Conseqüências do trabalho – questões de controle, estudo de erros e

acidentes, estudo sobre o gasto energético, fadiga e stress.

A Ergonomia tem como objetivo principal reduzir doenças ocupacionais,

cansaço do operário, possibilidade de erros, acidentes de trabalho, ausência no

trabalho e custos operacionais; aumentar o conforto do trabalhador, produtividade e

rentabilidade. Para atingir este objetivo deve-se, portanto, conhecer as capacidades

e limitações humanas, os “dados fundamentais anatomo-fisiológicos” e os “ dados

básicos antropométrico e biomecânico”, que possibilitem o projeto ou correção

adequada das áreas de trabalho, e o alcance do objetivo geral, que é de adaptar de

forma possível, o trabalho às características humanas (SILVA; CARTAXO, 2002).

A Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao

homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos

que possam ser utilizados com o máximo conforto, segurança e eficácia. Este

conhecimento baseia-se essencialmente no campo das ciências do homem

(antropometria, fisiologia, psicologia, uma pequena parte da sociologia), mas

constitui uma parte da arte do engenheiro, à medida que seu resultado se traduz no

dispositivo técnico, cujo resultado é avaliado principalmente por critérios que

pertencem às ciências do homem relativas à saúde, sociologia e economia

(WISNER,1987).

40

A Ergonomia tem uma importância fundamental que deve ser

considerada dentro da nossa realidade, a partir do momento que intervém

diretamente em pontos tais como: acidente de trabalho, problemas associados à

doença do trabalho, questões relativas à redução de produtividade nos locais de

trabalho e na qualidade de vida no trabalho. Mas devemos ter consciência de que as

situações de trabalho não são determinadas unicamente por critérios ergonômicos.

A organização do trabalho, a concepção de ferramentas e máquinas, a implantação

de sistema de produção são, também, determinados por outros fatores, tanto

técnicos como econômicos e sociais (FIALHO; SANTOS, 1995).

No projeto do trabalho e nas situações cotidianas, a ergonomia focaliza

o homem. As condições de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência

são eliminadas quando adequadas às capacidades e limitações físicas e

psicológicas do Homem. A Ergonomia estuda vários aspectos: a postura e os

movimentos corporais (sentado, em pé, empurrando, puxando e levantando pesos),

fatores ambientais (ruídos, vibrações, iluminação, clima, agentes químicos),

informação (informações captadas pela visão, audição e outros sentidos), controles,

relação entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas (tarefas

adequadas, cargos interessantes). A conjugação adequada desses fatores permite

projetar ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto no trabalho

quanto na vida cotidiana (DUL; WEERDMEESTER, 1995).

A ergonomia constitui uma parte importante, mas não exclusiva, da

melhoria das condições de trabalho em seu sentido restrito, devendo ser levados em

consideração os dados sociológicos e psicossociológicos que se traduzem no

conteúdo e na organização geral da atividade de trabalho, como divisão do trabalho,

divisão das tarefas, etc (WISNER, 1987).

2.4.2 Origens da ergonomia

A Ergonomia desenvolveu-se durante o Período das Duas Guerras

Mundiais, com intensificação dos diversos setores da economia, principalmente a

indústria bélica, com prolongadas jornadas de trabalho com ritmo acelerado, que

provocaram fadiga no trabalhador e geraram acidentes em grande proporção. Em

virtude deste quadro, na Inglaterra foi formado, em 1915, um comitê integrado por

41

médicos, fisiologistas, psicólogos e engenheiros, que estudaram várias questões de

inadaptação entre o trabalho e os trabalhadores envolvidos na Produção. Os

resultados foram considerados razoáveis e este comitê transformou-se em um

Instituto para pesquisa da Fadiga Industrial. Durante a Segunda Guerra Mundial os

problemas voltaram a ser sentidos na falta de compatibilidade entre os projetos das

máquinas e os operadores , ocorrendo acidentes terríveis durante as operações.

Foram formados, novamente, diversos grupos interdisciplinares, nos Estados Unidos

e Inglaterra com o objetivo de adaptar as máquinas e os equipamentos de guerra às

características psicofisiológicas dos operadores (IIDA, 1993).

Após a Segunda Guerra, em 1949, foi fundada a “Ergonomics

Researche Society” – ERS, (Sociedade de Pesquisa em Ergonomia), que tinha como

objetivo melhorar as condições de trabalho produtivo nas indústrias. A definição

oficial adotada pelos fundadores da ERS foi a seguinte :

Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia, na solução dos problemas resultantes desse relacionamento.

O termo ergonomia (do grego ergon = trabalho + nomos = lei) foi

proposto na segunda reunião da ERS, em 16 de fevereiro de 1950, mas já tinha sido

anteriormente usado pelo polonês Woitej Yastembowsky em 1857, que publicou um

artigo intitulado “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseado nas leis

objetivas da ciência sobre a natureza”, mas foi só a partir da fundação da ERS na

Inglaterra, que a ergonomia se expandiu para o mundo civilizado (IIDA, 1993;

PORTO, 1994).

Em 1961, foi criada a Associação Internacional de Ergonomia (IEA, na

sigla em inglês como é conhecida internacionalmente), que atualmente representa

as associações de ergonomia de quarenta diferentes países, com o total de quinze

mil sócios. No Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia foi fundada em 1983 e

também é filiada à Associação Internacional de Ergonomia (IIDA, 1993; DUL;

WEERDMEESTER, 1995).

Nos Estados Unidos foi criada a Human Factor Society em 1957 e até

hoje o termo mais usual naquele país continua sendo human factors (fatores

humanos), embora ergonomia seja aceito como sinônimo. Podemos dizer então que

42

a ergonomia se aplica ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas,

com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho

(IIDA, 1993; DUL; WEERDMEESTER, 1995).

A Ergonomia baseia-se em conhecimentos de outras áreas científicas,

como a antropometria, biomecânica, fisiologia, psicologia, toxicologia, engenharia

mecânica, desenho industrial, eletrônica, informática e gerência industrial. Ela

amealhou, selecionou e integrou os conhecimentos relevantes dessas áreas,

desenvolvendo métodos e técnicas específicas para aplicar esses conhecimentos na

melhoria do trabalho e das condições de vida. Por esse caráter interdisciplinar e pela

natureza aplicada, a ergonomia difere de outras áreas de conhecimento. O caráter

interdisciplinar significa que a ergonomia se apóia em diversas áreas de

conhecimento humano e a natureza aplicada configura-se na adaptação do posto de

trabalho e do ambiente às características e necessidades do trabalhador. (DUL;

WEERDMEESTER, 1995).

2.4.3 Evolução da ergonomia

A Ergonomia atualmente está sendo estudada e aplicada a praticamente

todas as atividades humanas, e estes estudos e aplicações podem ser classificados

em duas grandes categorias: ergonomia do produto, que estuda os objetos,

máquinas, equipamentos com que os seres humanos realizam suas atividades, e a

ergonomia da produção que estuda as condições nas quais as atividades humanas

são realizadas.

Conforme Hendrick (1993), podem ser destacados quatro componentes

do desenvolvimento da ergonomia através dos anos, que são:

• Tecnologia da interface homem-máquina ou Ergonomia do hardware. Esta

tecnologia começou a se desenvolver durante a segunda Guerra Mundial, e

representou o começo da prática e ciência formal “fatores humanos”.

Primeiramente se ocupava com o estudo das características físicas e de

percepção humana e a aplicação destes dados para o projeto de controles,

displays e arranjos do espaço de trabalho. Isto permanece hoje como

específico e mais amplo aspecto do ergonomista profissional, e

provavelmente permanecerá assim no futuro. Dentro deste contexto, a

43

ergonomia, como uma vertente da ciência /tecnologia que tem como

preocupação central a interface entre o ser humano e o(s) sistemas(s)

tecnológico(s), pode ser concebida como uma disciplina(sub-sistema)

integrante do esforço mais amplo do desenvolvimento da Engenharia de

Produção.

• Tecnologia da interface homem-ambiente ou Ergonomia ambiental. Durante as

últimas décadas, a importância de entender a relação dos homens com os

seus ambientes naturais e construídos, tem ganho cada vez mais atenção e

uma tecnologia ergonômica, a isto relacionada tem sido constantemente

desenvolvida. Um outro, bastante recente e bem diferente, desenvolvido, tem

sido a aplicação de uma cisão ecológica para modelagem do desempenho

humano e para métodos ergonômicos clássicos como análise de tarefa. Uma

consciência internacional progressivamente de grande importância das

questões ecológicas para a saúde e eficiência humana assegurará a

continuada expansão da pesquisa em tecnologia homem-ambiente e sua

aplicação mundo afora.

• Tecnologia da interface usuário-sistema, ou Ergonomia do sowftware. Esta

tecnologia começou a aparecer na terceira década da ergonomia, e

representa uma mudança da natureza do trabalho físico e perceptivo para

cognitivo. Devido ao crescimento contínuo em tecnologia software e suas

aplicações, e a crescente realização da importância da tecnologia de interface

usuário-sistema para o projeto efetivo do software continuará a ser uma forte

área de crescimento em nível internacional da ergonomia.

• Tecnologia de interface máquina-organização, ou macroergonomia. Esta fase

pode ser rotulada como “tecnologia de interface máquina-homem-

organização”. O foco central, entretanto, está na interface do projeto

organizacional como um todo e do sistema de trabalho com a tecnologia

empregada, ou a ser empregada no sistema para otimizar o funcionamento

homem-sistema.

A ergonomia difundiu-se em praticamente todos os países do mundo,

existindo muitas instituições de ensino e pesquisa atuando na área e anualmente se

realizam muitos eventos de caráter nacional ou internacional para apresentação e

discussão dos resultados das pesquisas (IIDA, 1993).

44

É possível fazer cursos de graduação em ergonomia em alguns países.

Já em outros países, os profissionais como engenheiros, desenhistas industriais,

médicos e psicólogos, podem adquirir conhecimentos e treinamentos em ergonomia,

sendo que muitos desses profissionais podem ser chamados ergonomistas, em

função dos conhecimentos e experiências adquiridas por eles, ao longo de vários

anos (DUL; WEERDMEESTER, 1995).

Ergonomistas profissionais atuam no ensino (universidades e escolas

técnicas), instituições de pesquisa, órgãos normativos (legislação), prestação de

serviços (consultorias) e no setor produtivo (departamentos de projeto, pesquisa e

desenvolvimento, saúde ocupacional, treinamento e outros). Entretanto, muitos que

atuam no setor produtivo, trabalham na interface, de um lado, com os projetistas e,

de outro, com operadores ou usuários dos sistemas de produção, procurando nesta

função, orientar projetistas, compradores, gerentes e trabalhadores sobre questões

ergonômicas, adaptando os respectivos trabalhos às características e limitações do

ser humano. Os conhecimentos de ergonomia são aplicados por outros profissionais

além dos ergonomistas, entre os quais se incluem os desenhistas industriais,

médicos de trabalho, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos industriais (DUL;

WEERDMEESTER, 1995).

No Brasil, desde a fundação da Associação Brasileira de Ergonomia (

ABERGO) em 1983, que esse ramo de conhecimento no país vem evoluindo de

forma constante. O primeiro grande passo foi a criação do Sistema de Certificação

do Ergonomista Brasileiro (SISCEB) pelo Congresso Brasileiro de Ergonomia em

2002, iniciando-se com o processo transitório, que durou dois anos, chamado de

processo de Certificação por Remissão Postulada, em que pessoas com mais de

cinco anos de trabalho como ergonomista poderiam se certificar a partir do momento

em que submetessem um dossiê para avaliação. Atualmente, no processo regular

de certificação é exigido que o profissional tenha cursado a especialização em

ergonomia. O segundo passo foi a criação do Conselho Cientifico da ABERGO,

composto hoje por vinte professores-doutores e o terceiro passo foi a criação dos

Grupos Técnicos (GTs), que têm atividades especificas nas quais determinados

tópicos, como educação, ergodesign, normalização de produtos, fisioterapia do

trabalho, biomecânica, acessibilidade, etc., são estudados com mais profundidade.

De acordo com Iida (1993, p. 4) “os conhecimentos já disponíveis em

ergonomia, se fossem dominados e aplicados pela sociedade, certamente dariam

45

uma contribuição importante para reduzir o sofrimento dos trabalhadores e melhorar

a produtividade nas condições de vida em geral”.

2.4.4 Abordagens e aplicações da ergonomia

A abordagem ergonômica de sistemas procura mostrar que o projeto de

qualquer tipo de máquina, equipamento ou produto não é uma atividade isolada,

mas destina-se a desenvolver certas funções e habilidades que complementem

aquelas do ser humano (IIDA, 1993).

Do ponto de vista ergonômico, uma situação de trabalho é um sistema

complexo e dinâmico, cujas entradas (as exigências de trabalho) determinam a

atividade do trabalhador (os comportamentos de trabalho) e cujas saídas resultam

destas atividades (os resultados do trabalho). Esta abordagem sistêmica em

ergonomia, aplica-se tanto a um posto de trabalho com um único operador, como a

uma instalação complexa com vários operadores (FIALHO; SANTOS, 1995).

O sistema produtivo pode ser definido como um conjunto de elementos

ou subsistemas que interagem entre si, tendo um objetivo comum e que evoluem

com o tempo. Os elementos que constituem um sistema são: fronteira (limites,

delimitação), subsistemas, entradas (“inputs”), saídas(“outputs”) e processamento

(IIDA, 1993). Conforme Montmollin (apud FIALHO; SANTOS, 1995, p.68), pode-se

distinguir uma ergonomia do posto de trabalho (sistema que compreende um homem

e uma máquina) e uma ergonomia de sistemas (que compreende vários homens e

várias máquinas), entretanto, não existem diferenças fundamentais entre estes dois

tipos de sistemas, na medida em que se pode considerar os sistemas homens-

máquinas como um conjunto de postos de trabalho, inter-relacionados entre si.

Na visão ergonômica, pode-se dizer que um sistema é um conjunto de

componentes: homem, tecnologia, organização e meio ambiente de trabalho,

dinamicamente relacionados em uma rede de comunicações, formando uma

atividade, para atingir um objetivo, agindo sobre sinais, energia e matérias primas,

para fornecer informação, energia ou produto (FIALHO; SANTOS, 1995).

O movimento ergonômico é extremamente complexo devido a sua

múltipla origem cientifica e sua extensão mundial, tendo sua prática variado de um

46

país para o outro, e às vezes, de um grupo a outro, mas mantendo os seguintes

aspectos originais:

� A utilização de dados científicos sobre o homem.

� A origem multidisciplinar desses dados.

� A aplicação sobre o dispositivo técnico e, de modo secundário, sobre a

organização do trabalho e a formação.

� A perspectivas de uso desse dispositivo pela população normal de

trabalhadores disponíveis, sem uma severa seleção (WISNER, 1987).

Em função da grande importância das posturas e movimentos na

ergonomia, diversos princípios ergonômicos derivam-se de outras áreas do

conhecimento como a biomecânica, fisiologia e antropometria. Com a biomecânica

podem-se estimar as tensões que ocorrem nos músculos e articulações durante uma

postura ou um movimento. Com a fisiologia pode-se estimar a demanda energética

do coração e dos pulmões, exigida por um esforço muscular. A antropometria ocupa-

se das dimensões e proporções do corpo humano, o que interessa à ergonomia para

os projetos dos postos de trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas,

mobiliário, em que devem ser consideradas as diferenças individuais do corpo entre

os seus usuários potenciais (DUL; WEERDMEESTER, 1995).

O estudo ergonômico, partindo de uma análise biomecânica, pode ser

conduzido a partir de duas perspectivas. A primeira, cinemática, enfocando a

quantidade e o tipo de movimento, a direção do movimento e a velocidade ou

mudança de velocidade do corpo ou de um objeto. A segunda, cinética que enfoca a

causa do movimento, isto é, tenta definir as forças que provocam o movimento

(HAMILL; KNUTZEN, 1999).

A grande questão a ser respondida pela ergonomia, é “... se os seus

critérios tratam apenas de assegurar sem grande problemas o funcionamento do

sistema produtivo, ou de obter primeiramente, ou pelo menos simultaneamente, a

saúde plena dos trabalhadores” (WISNER, 1987, p. 26).

Conforme Grandjean (1998), ergonomia é a ciência da configuração do

trabalho ajustada para o homem, tendo como objetivos o desenvolvimento de bases

científicas para adequação das condições de trabalho às capacidades e realidades

da pessoa que trabalha. São estudados e levados em consideração para este

desenvolvimento os seguintes pontos: o trabalho muscular, o comando nervoso dos

47

movimentos, medidas do corpo como parâmetro para o projeto, trabalho pesado,

trabalho de precisão, sistema Homem-Máquina, atividade mental, a fadiga, a

monotonia, o estresse, jornada de trabalho, trabalho noturno e por turno, percepção

visual, iluminação, ruído, vibrações, o clima ambiente no local de trabalho.

A ergonomia pode contribuir para solucionar um grande número de

problemas sociais relacionados com a saúde, segurança, conforto e eficiência, e

evitar muitos acidentes que podem ser causados por erros humanos, devido ao

relacionamento inadequado entre os operadores e suas tarefas. A probabilidade de

ocorrência dos acidentes pode ser reduzida quando se consideram adequadamente

as capacidades e limitações humanas durante o projeto do trabalho e de seu

ambiente. Um princípio importante na aplicação da ergonomia é que os

equipamentos, sistemas e tarefas devem ser projetados para uso coletivo;

considerando-se as diferenças individuais em uma população, os projetos, em geral,

devem atender a 95% da população, significando que existem 5% dos extremos da

população, para os quais os projetos de uso coletivo não se adaptam bem, sendo

necessários realizar projetos específicos para atender às pessoas nesses casos

(DUL; WEERDMEESTER, 1995).

2.4.5 Ergonomia nas normas e legislação de segurança do trabalho

Com objetivo de estimular a aplicação dos conhecimentos em

ergonomia, alguns conhecimentos foram convertidos em normas oficiais, como as

normas ISO (International Standardization Organization), as normas européias EN

da CEN (Comitê Européen de Normalisation), a norma ANSI (American National

Standards Institute) nos Estados Unidos e BSI (British Standards Instituition) na

Inglaterra (DUL; WEERDMEESTER, 1995).

Atualmente, os conhecimentos ergonômicos são aplicados nas normas

direcionadas para os Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho,

sendo as normas BS 8800 e OHSAS 18000 as que representam o que há de mais

atual em todo o mundo para a implantação de um sistema eficaz de gerenciamento

das questões relacionadas à prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.

Apesar de, oficialmente, não representarem o pensamento da OIT, estas normas

48

abordam a questão da segurança e saúde nos ambientes de trabalho, segundo

linhas de ação que, nesse ponto, não diferem das seguidas pelas diretrizes da OIT.

No Brasil foram estabelecidos parâmetros ergonômicos através da

Norma Regulamentadora NR –17, incluindo nas condições de trabalho os aspectos

relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos

equipamentos e às condições ambientais de trabalho e à própria organização do

trabalho.

A Norma Regulamentadora NR – 5, que trata da Comissão Interna de

Prevenção de Acidentes – CIPA, através da redação dada pela Portaria nº 25, de

29/12/1994, em seu anexo IV- Mapa de Riscos, classifica como os principais riscos

ocupacionais ergonômicos : esforço físico intenso, levantamento e transporte manual

de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade,

imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno noturno, jornadas de trabalho

prolongadas, monotonia e repetitividade, outras situações causadoras de stress

físico e/ou psíquico.

Contextualizando a aplicação da Ergonomia à legislação na área de

relações de trabalho no Brasil, em linhas gerais, pode-se delimitar esta aplicação

aos seguintes momentos específicos: publicação da Consolidação das Leis do

Trabalho – CLT, em 1943; a Lei nº 6.514, de 22/12/1977, que altera o Capítulo V da

CLT, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho; a elaboração da Portaria nº

3.214, de 08/06/1978, que institui as Normas Regulamentadoras de Medicina do

Trabalho; o estabelecimento da Portaria nº 3.751, de 23/11/1990, que deu nova

redação à NR-17; e em 2000, a determinação do Departamento de Segurança e

Saúde no Trabalho, de ampliar e intensificar a fiscalização em Ergonomia por todo o

Brasil, de acordo com a política do Ministério do Trabalho, que, reconhecendo a

importância da Ergonomia na transformação das situações do trabalho, enfatiza o

papel da Análise Ergonômica do Trabalho na identificação das causas e soluções

dos problemas.

2.4.6 A ergonomia dos sistemas de produção – antropotecnologia

No contexto da globalização, os processos de transferência de

tecnologia, nas suas diversas configurações apresentam uma importância crescente,

49

considerando-se a premissa de que a tecnologia representa um fator essencial para

o desenvolvimento da competitividade. Seguindo ainda este raciocínio, temos como

efeitos e objetivos da introdução de inovação tecnológica, o aumento da

produtividade, melhor aproveitamento de insumos, melhoria do produto, economia

de energia e diminuição de riscos como acidentes do trabalho (SANTOS et al.,

1997).

Para Rodrigues e Ornellas (1987), na sociedade industrial o progresso

técnico apresenta pelo menos três metas básicas, que são: a redução do esforço de

trabalho, aumento de produtividade e a melhoria da qualidade do produto. Em

qualquer das três metas citadas, a tecnologia aparece como determinante, desde o

modo de execução e organização do trabalho, até o objetivo de melhorar a eficácia

da empresa.

Dentre as diversas definições de tecnologia, tem-se a de Rosenthal e

Moreira (1992) que destacam dois pontos: o primeiro envolve a consideração de que

tecnologia é, antes de tudo, conhecimento útil no sentido a ser aplicado, ou

aplicável, às atividades humanas, especialmente, mas não exclusivamente àquelas

ligadas ao processo de produção, distribuição e utilização de bens e serviços, e de

contribuir para a elevação quantitativa e/ou qualitativa dos resultados de tais

atividades e processo; o segundo diz respeito à origem destes conhecimentos, que

pode ser, em grande medida, científica, mas que abrange também uma importante

parcela de experiências e conhecimentos práticos, adquiridos e acumulados no

exercício da atividade à qual a tecnologia se refere.

Considerando uma perspectiva mais ampla, Wisner (apud SANTOS et

al, 1997), ressalta que a tecnologia não é somente uma questão de máquinas ou de

ciências aplicadas, sendo, essencialmente, uma interface na interação do homem

com o seu ambiente, uma ferramenta que, por sua vez, o ajuda na conquista da

natureza e tem um efeito direto na sua vida em sociedade.

A transferência de tecnologia entre países é um processo definido pela

OIT (1988), como a exportação de tecnologia de um país a outro, segundo diversas

modalidades, tais como construção de fábricas e plantas industriais completas,

importação de equipamentos e componentes, financiamento de projetos de

industrialização e infra-estrutura, envio de especialistas estrangeiros como

consultores e formadores de pessoal local.

50

Os resultados obtidos com o processo de transferência de tecnologia

nem sempre satisfazem às expectativas do comprador, uma vez que a tecnologia

transferida, muitas vezes, ou funciona de modo degradado, ou só funciona no

momento da operação piloto. No primeiro caso, o funcionamento de modo

degradado, a tecnologia sofre freqüentes rupturas, causando sérios problemas sobre

a eficiência da produção e especialmente sobre as condições de trabalho (SANTOS

et al., 1997).

Na relação de transferência de tecnologia entre países, destaca-se como

o processo considerado mais problemático, aquele realizado desde os Países

Desenvolvidos Industrialmente (PDI) até os Países em Vias de Desenvolvimento

Industrial (PVDI), onde está incluído o Brasil. Atualmente, existe uma grande

preocupação por parte das empresas privadas ou públicas dos PVDI com a

conquista da qualidade e da produtividade, buscando uma maior competitividade

diante da concorrência estrangeira. Em função dessa necessidade, a ação de

transferir tecnologias de PDI para PVDI tornou-se bastante comum, já que a

competição globalizada não pode esperar que os cidadãos dos PVDI criem base de

conhecimento exigidas para projetar as tecnologias necessárias ao seu

desenvolvimento industrial, e esses conhecimentos já existem nos PDI.

Wisner (apud SANTOS et al., 1997), a partir do conhecimento e análise

de vários casos de transferência de tecnologia, relaciona os sérios problemas que

podem ocorrer em virtude de processos mal conduzidos como, por exemplo,

produção inferior em qualidade e em quantidade ao que foi previsto, desgaste do

material transferido e até mesmo atrofia do sistema técnico. No plano humano, os

riscos apresentam-se igualmente elevados, quais sejam, acidentes de trabalho e

doenças profissionais muito freqüentes, catástrofes ecológicas, enfermidades

relacionadas com o desenvolvimento e o urbanismo predatório, que provocam o

aparecimento de várias doenças (paludismo, amebíase, tuberculose, perturbações

mentais). A inadaptação ocorre pela não consideração dos diversos aspectos

relativos à situação do local onde se instala o empreendimento do país importador,

que estão muito além das análises econômico financeiras, estando na origem de

tantos fracassos a não realização de um estudo mais aprofundado, preliminar à

aquisição da tecnologia, não negligenciando características do pais comprador

(geográficas, climáticas, econômicas e sociais), bem como as características dos

seus trabalhadores (antropométricas, culturais, cognitivas), à quais a tecnologia deve

51

ser adaptada para se obter uma maior taxa de sucesso, destacando-se ainda a

importância das condições de trabalho.

No contexto de avaliação e busca de melhores condições de trabalho

em que se insere a ergonomia e, especificamente, em processos que envolvam

transferência de tecnologia, a sua ampliação até a antropotecnologia, que é uma

área de conhecimento que busca adaptar a tecnologia à realidade do país

importador, analisa-se em que condições os sistemas produtivos importados podem

melhorar o seu funcionamento no local para onde será transferido. Nesse

caso,consideram-se variáveis de ações que envolvem, além dos aspectos básicos

da ergonomia, a influência que os denominados tecidos industrial, social e cultural

possam representar para o funcionamento do sistema.

Em analogia à ergonomia que procura a adaptação do trabalho ao

homem com o objetivo de preservar, simultaneamente, a produtividade e a saúde

dos trabalhadores, desenvolveu-se um novo campo de estudo denominado

antropotecnologia, que pode ser definida como a adaptação da tecnologia a ser

transferida a uma determinada população, considerando a influência de fatores

geográficos, econômicos, sociológicos e antropológicos. Este termo foi criado com o

intuito de aumentar a abrangência do campo de ação da ergonomia, sendo que a

ergonomia procura usar e criar conhecimentos sobre o homem em atividade de

trabalho, a partir de disciplinas como a antropometria, biomecânica, a fisiologia do

trabalho e a psicologia cognitiva. A antropotecnologia amplia esta abordagem,

procurando desenvolver conhecimentos sobre o homem em atividade coletiva de

trabalho, a partir de disciplinas como a ergonomia, a sociologia do trabalho, a

organização do trabalho, a antropologia cultural e cognitiva, com o mesmo objetivo

de incrementar a busca de soluções às dificuldades na implantação de sistemas de

produção (SANTOS et al., 1997).

2.4.7 Identificação e análise dos riscos ergonômicos

A identificação de riscos é o processo através do qual, contínua e

sistematicamente, são identificadas perdas potenciais às pessoas, à propriedade e

por responsabilidade da empresa, isto é, situações de risco de acidentes que podem

afetar o trabalhador e a organização (DE CICCO; FANTAZZINI, 1985).

52

A melhor estratégia para identificação de riscos é a combinação de

vários métodos existentes, obtendo-se assim, o maior número possível de

informações sobre os riscos, evitando-se que a empresa seja, inconscientemente,

ameaçada por eventuais perdas decorrentes de acidentes. Os meios mais

freqüentes para identificação de riscos são as utilizações de “check-lists”

(questionários), roteiros, que podem ser obtidos em publicações especializadas em

Engenharia de Segurança. Utiliza-se também como meio para identificação de riscos

a inspeção de segurança ou a inspeção de riscos, que consiste na procura de riscos

já conhecidos teoricamente, o que facilita a prevenção de acidentes, em função de

que as soluções possíveis foram estudadas anteriormente e constam de extensa

bibliografia. Outro meio empregado para identificação dos riscos é a investigação de

acidentes, que no caso especifico desta pesquisa não foi utilizado, já que a proposta

da pesquisa tem o caráter preventivo, com desenvolvimento de ações de prevenção,

anteriores à ocorrência de perda.

De acordo com Fialho e Santos (1995, p. 13), “só existe a ergonomia se

existir uma análise ergonômica do trabalho e só existe uma análise ergonômica se

ela for realizada empiricamente numa situação real do trabalho”. Esta análise

ergonômica do trabalho divide-se em três fases: análise da demanda, análise da

tarefa e análise das atividades, sendo que na prática ergonômica, estas fases

podem ocorrer de forma simultânea, sem contudo, prejudicar a seqüência

metodológica.

Utilizando-se as definições de Fialho e Santos (1995), temos que:

� Análise da demanda é a definição do problema a ser analisado.

� Análise da tarefa é o que o trabalhador deve realizar e as condições

ambientais, técnicas e organizacionais desta realização.

� Análise de atividade é o que o trabalhador, efetivamente, realiza para

executar a tarefa.

Observa-se que para cada uma das análises citadas acima, é

necessário uma descrição precisa, observações e medidas sistemáticas de variáveis

pertinentes com relação às hipóteses formuladas, utilizando-se técnicas especificas

para análise dos modos operativos, das posturas, das atividades visuais, dos

deslocamentos, etc.

53

No livro Ergonomia Prática, Dul e Weerdmeester (1995) abordam vários

fatores que devem ser levados em consideração e observados para a realização de

uma análise ergonômica do trabalho, que são os apresentados abaixo e que estão

discriminados detalhadamente em lista de verificação apresentada em anexo a este

projeto de pesquisa:

� Fatores relacionados com a tarefa e o cargo.

� Fatores biomecânicos, fisiológicos e antropométricos.

� Fatores relativos à postura.

� Fatores relacionados com o movimento.

� Fatores ambientais.

� Fatores relacionados com informação e controle.

A análise ergonômica deve conduzir e orientar modificações para

melhorar as condições de trabalho sobre os pontos críticos evidenciados, e

promovendo uma melhora de produtividade e de qualidade dos produtos ou serviços

que serão produzidos ou realizados (FIALHO; SANTOS, 1995).

Para Wisner (1987), a metodologia da análise do trabalho ergonômica,

que é uma abordagem do trabalho real, aparece então como instrumento de medida

de distância entre o trabalho prescrito e o trabalho real.

Nesta pesquisa foram levantados os dados, para identificação e análise

dos riscos ergonômicos, além de uma observação sistemática dos serviços

realizados, registrados através de fotos e filmagem. Foram, ainda, utilizadas as

planilhas de levantamento de dados ergonômicos, apoiadas em Fialho e Santos

(1995), no Manual de Análise Ergonômica no Trabalho, e foram considerados e

principalmente observados os fatores ergonômicos abordados por Dul e

Weerdmeester (1995), como também outras informações obtidas nas outras

referências, que não estavam contempladas nas planilhas e foram importantes para

a pesquisa.

2.5 PAVIMENTAÇÃO: DEFINIÇÕES E MATERIAIS UTILIZADOS

Chama-se pavimento a estrutura construída após a Terraplenagem e

destinada, em seu conjunto, a:

54

� Resistir e distribuir ao subleito os esforços verticais oriundos do tráfego.

� Melhorar as condições de rolamento, quanto ao conforto e à segurança.

� Resistir aos esforços horizontais, tornando mais durável a superfície de

rolamento.

É definido como subleito o terreno de fundação do pavimento e como

leito a superfície obtida pela terraplenagem ou obra de arte e conformada ao seu

greide e seção transversal. Os principais elementos constituintes do pavimento

podem ser definidos de acordo com o Manual de Pavimentação do DNER (1975) da

seguinte forma:

� Regularização: é a operação destinada a conformar o leito, transversal

e longitudinalmente.

� Reforço do subleito: é a camada e espessura constante em seção

transversal, variável longitudinalmente com o dimensionamento e

integrante do pavimento que, por circunstâncias técnico - econômicas,

será executada sobre o greide de regularização projetado.

� Sub-base: é a camada complementar à base, que será executada

quando, por circunstâncias técnico - econômicas, não for aconselhável

construir a base diretamente sobre o leito regularizado ou sobre reforço.

� Base: é a camada destinada a suportar e distribuir esforços oriundos do

trânsito e sobre a qual se construíra o revestimento.

� Revestimento: é a camada destinada a receber diretamente a ação do

trânsito, devendo ser, tanto quanto possível, impermeável, resistente ao

desgaste e suave ao rolamento.

Seguindo as definições do Manual de Pavimentação do DNER (1975), o

reforço de subleito, a sub-base e a base terão sempre a espessura constante em

seção transversal, podendo a mesma variar longitudinalmente de acordo com o

dimensionamento. A regularização e o reforço do subleito deverão ter larguras

abrangendo a pista e os acostamentos. A sub-base e a base terão larguras

menores, em relação à regularização. O revestimento será feito apenas na largura

da pista de rolamento, ou seja na parte destinada ao trânsito de veículos.

Em relação aos serviços de pavimentação asfáltica nas vias urbanas,

que será objeto da pesquisa, relativa à identificação dos riscos, pode-se definir

55

esses tipos de pavimentos como flexíveis, que são constituídos por um revestimento

betuminoso delgado sobre camadas puramente granulares (SOUZA, 1980). Os

revestimentos betuminosos são constituídos por associação de agregados e

materiais betuminosos, que podem ser feitas de duas maneiras clássicas: por

penetração (tratamentos superficiais de penetração invertida, macadame

betuminoso por penetração direta) e por mistura (concreto asfáltico, pré - misturado

a frio, pré - misturado a quente).

Os materiais empregados na execução do pavimento asfáltico são

classificados por Souza (1980) e pelo Manual de pavimentação do DNER (1975)

em: Solos (materiais terrosos), Agregados (materiais pétreos), Materiais

Betuminosos e Materiais Diversos (aglomerantes hidráulicos, produtos químicos

etc.).

Solo significa em engenharia todo o material não consolidado, próximo à

superfície da terra, incluindo-se ar, água, matéria orgânica e outras substâncias nele

contidas, sendo produto do intemperismo, por ações químicas e mecânicas, das

rochas da crosta terrestre. O solo é um material poroso e não homogêneo, cujo

comportamento é grandemente afetado pelo seu teor de umidade e

compactacidade. Os solos podem ocorrer sob as formas de turfas, argilas moles,

materiais silto-argilosos, pedregulhos, areias e suas diversas combinações.

A American Society for Testing Materials (ASTM) define Agregados

como “materiais minerais inertes que podem ser aglutinados por um ligante, para

formar argamassas , concretos, mastics, etc.”. Os Agregados usados em

pavimentação podem ser classificados como naturais ou artificiais. Os primeiros, são

aqueles utilizados como se encontram na natureza, como o pedregulho, os seixos

rolados , areias etc. , ao passo que os segundos compreendem os que necessitam

uma operação de afeiçoamento para a sua utilização, como pedra britada graduada

ou corrida e o pó de pedra.

Os materiais betuminosos são, por definição, associações de

hidrocarbonetos solúveis em bissulfeto de carbono e que têm propriedades de

aderência aos agregados. Existem duas grandes categorias de materiais

betuminosos: os asfaltos e os alcatrões. Os asfaltos se originam do petróleo e os

alcatrões, do carvão, madeira etc. Os asfaltos podem ser encontrados em estado

natural ou obtidos através da refinação do petróleo.

56

São empregados correntemente em pavimentação os seguintes tipos de

asfalto: a) cimentos asfálticos; b) asfaltos diluídos; c) emulsões ou asfaltos

emulsionados. Os cimentos asfálticos são os produtos básicos provenientes da

destilação de certos tipos de petróleo. São semi-sólidos à temperatura ambiente,

pelo que necessitam de aquecimento para que adquiram consistência apropriada ao

envolvimento de agregados, à trabalhabilidade e compactação das misturas

betuminosas, contribuindo com a coesão necessária após o resfriamento. Os

asfaltos diluídos são diluições de cimentos asfálticos em solventes de petróleo de

volatilidade apropriada. Emulsões asfálticas são suspensões, relativamente estáveis,

de materiais asfálticos finamente divididos em pequenos glóbulos, numa fase

contínua, constituída pela água.

O Manual de Pavimentação do DNER (1975) apresenta como Materiais

Diversos de uso mais freqüente que não se inclui nas relações de Materiais já

citadas (solo, agregados e material betuminoso) os Aglomerantes Hidráulicos, cal

hidráulica e cimento portland, cuja propriedade principal é de, por ação da água em

proporções e condições adequadas, apresentarem o fenômeno de pega e

endurecimento e os Produtos Químicos para diversas finalidades e principalmente

para estabilização das camadas das sub-base e base do pavimento asfáltico.

2.5.1 Descrição das tarefas na execução da pavimentação em Concreto

Betuminoso Usinado a Quente – CBUQ

2.5.1.1 Regularização do subleito

Operação destinada a conformar o leito da via, quando necessário,

transversalmente e longitudinalmente, compreendendo cortes e aterros até 20cm de

espessura. Toda a vegetação e material orgânico são removíveis do leito da via e

após a execução de cortes e aterros necessários para atingir o greide de projeto,

proceder-se-á a uma escarificação geral, na profundidade de 20cm, seguida da

pulverização, umedecimento ou secagem, compactação e acabamento.

57

2.5.1.2 Reforço do subleito

É a camada de espessura constante transversalmente e variável

longitudinalmente, de acordo com o dimensionamento do pavimento, fazendo parte

integrante deste e que por circunstância técnico-econômica, é executada sobre o

Subleito regularizado. Compreende as operações de espalhamento, pulverização,

umedecimento ou secagem, compactação e acabamento do material importado, na

pista já regularizada, obedecendo à espessura indicada no dimensionamento do

pavimento, em camadas individuais de, no mínimo, 10cm e, no máximo, 20cm de

espessura, após a compactação.

2.5.1.3 Sub-base e base estabilizada granulometricamente

Estas Bases e Sub-Bases granulares são constituídas de camadas de

solos, misturas de solos e materiais britados, ou produtos totais de britagem. A

execução compreende as operações de espalhamento, mistura e pulverização,

umedecimento ou secagem, compactação e acabamento dos materiais importados,

realizados na pista, devidamente preparada na largura desejada, nas quantidades

que permitam, após a compactação atingir a espessura projetada.

2.5.1.4 Imprimação

Consiste na aplicação de uma camada de material betuminoso sobre a

superfície de uma base concluída, antes da execução de um revestimento

betuminoso qualquer, objetivando: a) aumentar a coesão da superfície da base, pela

penetração do material betuminoso empregado; b) promover condições de

aderência entre a base e o revestimento; c) impermeabilizar a base. Na execução,

procede-se à varredura da superfície da base, de modo a eliminar o pó e o material

solto existentes, aplicando-se a seguir, o material betuminoso adequado, na

temperatura compatível com o seu tipo, na quantidade certa e de maneira uniforme.

58

2.5.1.5 Revestimento em Concreto Betuminoso Usinado a Quente - CBUQ

É o revestimento flexível, resultante da mistura a quente, em usina

apropriada, de agregado mineral graduado, material de enchimento (filler) e material

betuminoso, espalhada e comprimida a quente. O concreto asfáltico produzido é

transportado, da Usina ao ponto de aplicação, nos caminhões basculantes e

distribuídos nos leitos das vias por máquinas acabadoras de asfalto, tendo,

imediatamente após a distribuição do concreto asfáltico o início da rolagem visando

à compressão da mistura.

2.6 CONSERVAÇÃO DE PAVIMENTO ASFÁLTICO

2.6.1 Definições e terminologias

Conservação de pavimentos é o conjunto de operações destinado a

manter as características técnicas e operacionais de uma rodovia, rua ou avenida,

assegurando de forma permanente seu funcionamento em condições de conforto,

segurança e economia de operação para os usuários, previstas em projeto. Dessa

forma, conservar é manter nas rodovias, ruas ou avenidas, as condições existentes,

logo após a construção da pavimentação (SENÇO, 2001).

De acordo com Hindermann (apud SENÇO, 2001, p. 445), a

conservação é definida como a arte de manter o pavimento em total serviço com o

mínimo de despesa e com o menor inconveniente de tráfego.

Os objetivos da Conservação da Pavimentação das vias urbanas são os

seguintes:

� Manter sob controle o desgaste que a via normalmente sofre com o uso,

reduzindo o ritmo de deterioração e contribuindo para o prolongamento

de sua vida útil.

� Manter normais as condições de rolamento, diminuindo os custos

operacionais dos veículos que utilizam a rodovia.

� Acompanhar o comportamento de todos os componentes da rodovia,

tomando providências que se antecipem aos problemas, de modo a

59

manter a confiabilidade e possibilitar maior pontualidade, regularidade e

segurança aos serviços de transporte de passageiros e de cargas.

Mélo (1996) classifica os tipos de Conservação de pavimentação como a

seguir:

� Conservação Corretiva Rotineira: é aquela que se desenvolve a cada

dia, predominantemente por serviços manuais e que visa corrigir

pequenos defeitos, tão logo eles ocorram. Ela procura manter em boas

condições de funcionamento os diversos componentes da via urbana,

tais como: o pavimento, o sistema de drenagem superficial e

subterrâneo, a infra-estrutura, as obras de arte especiais correntes etc.

� Conservação Preventiva: é aquela que se realiza periodicamente

visando, na maioria dos casos rejuvenescer o revestimento, de modo a

evitar uma deterioração generalizada iminente e adiar reinvestimento

de maior vulto para reforçar a estrutura do pavimento, ou mesmo,

restaurá-lo por completo.

� Conservação de Emergência: engloba uma série de atividades não

previsíveis e, conseqüentemente, não programáveis;

� Restauração: compreende o conjunto de serviços que visam

restabelecer as condições estruturais da via urbana, compatíveis com o

tráfego que a solicita.

� Melhoramentos: compreendem o conjunto de serviços que realizados,

em geral, quando da restauração, restabelecem ou aprimoram as

condições de funcionamento estrutural ou operacional da via urbana.

No Manual de Pavimentação DNER (1996), em seu capítulo 12,

referente à manutenção do pavimento, e suas tarefas e atividades típicas, procura-

se unificar a terminologia de manutenção rodoviária, onde são separadas as

operações de conservação, por sua vez, divididas em conservação preventiva

periódica e conservação corretiva rotineira, de outras operações de manutenções

como: remendos, recuperação superficial, reforço estrutural, restauração,

melhoramentos, ações emergenciais e serviços eventuais. Dessa forma, a

conservação de pavimento é tratada como uma parte integrante da operação de

manutenção do pavimento, e não como um todo, em que se confunde o termo

60

conservação e manutenção de pavimento com o mesmo sentido e abrangência visto

em publicações de outros autores sobre o assunto.

Em função do universo da pesquisa limitar-se às operações de

conservação em ruas pavimentadas com revestimentos asfálticos na área urbana,

especificamente, na pista de rolamento, também procurou-se, dentro do possível,

sem prejuízo aos estudos, adequar a fundamentação da pesquisa a essas

atividades, onde os estudos de conservação demonstram que se deve dar,

igualmente, atenção a conservações corretivas rotineiras, os tapa buracos, e as

periódicas preventivas, os recapeamentos superficiais.Essas operações visam

corrigir falhas assim que apareçam, pois a rapidez na execução dos reparos sempre

torna a conservação mais econômica, evitando as intervenções do tipo restauração,

que envolvem valores significativos, além de exigir elaboração prévia de projeto.

Utilizam-se nos reparos de revestimentos asfálticos pré-misturados a quente ou a

frio, dependendo do tipo de correção a ser executada no pavimento.

2.6.2 Principais problemas/defeitos mais comuns em pavimentos asfálticos

Os principais defeitos/problemas mais comuns nas pistas de rolamento

pavimentadas com revestimento asfáltico relacionados à Manutenção Rodoviária

podem ser agrupados da seguinte maneira: a) fissuração/fendilhamento da

superfície; b) deformação transversal; c) sulcamento, ondulação e corrugamento; d)

exsudação; e) formação de panelas; f) abrasão, desagregação, esburacamento e

oxidação; g) separação de camadas de base.

A fissura/fendilhamento são defeitos (fendas) que aparecem no

revestimento asfáltico tendo como causa as falhas da mistura betuminosa, falta de

suporte do subleito ou espessura insuficiente do pavimento, que se não for corrigida

em tempo hábil, pode propagar-se, produzindo a desagregação completa do

pavimento. A deformação transversal e recalques são problemas que têm como

conseqüência o afastamento das superfícies do pavimento de sua seção transversal

original, que pode ter como causa recalques de aterros recentemente construídos

que, por deficiência de compactação, quer por adensamento, quer por volume de

tráfego superior ao previsto no projeto, como também uma drenagem inadequada

pode levar a deformações acentuadas.

61

O sulcamento, ondulação e corrugamento são defeitos que ocorrem no

pavimento, mais comumente devido ao excesso de asfalto, granulometria do

agregado inadequada, compactação ou imprimadura deficientes. A exsudação é um

defeito que resulta do excesso de asfalto, que provoca a movimentação do material

betuminoso verticalmente, formando placas de asfalto na superfície, tendo como

conseqüência uma superfície com aspecto deprimente e escorregadia. A formação

de panelas é um defeito do pavimento atribuído geralmente à fragilidade estrutural

do pavimento, através de uma desintegração progressiva da superfície e da base,

que pode ter como causa a segregação de agregados, a falta de material

aglutinante, excesso de vazios ou deficiências de drenagem.

Abrasão, desagregação, esburacamento e oxidação são defeitos que

provocam a desintegração excessiva da superfície e libertação das partículas de

agregado, devido ao desgaste pela ação do tráfego, resultantes de misturas

betuminosas com teor muito baixo de ligante. A separação da camada de base é um

defeito também chamado de deslocamento, com a camada de revestimento

separando-se da base, devido à ação do tráfego, fissurando-se nos bordos e

desagregando-se a seguir, que pode ter como causa a má execução da

imprimadura, ou por estar a base molhada por ocasião da pintura de ligação, ou por

estar a superfície da base suja e com excesso de material solto.

2.6.3 Descrição das atividades de conservação relativas à pesquisa

A fundamentação teórica descrita para embasar a pesquisa teve como

objetivo a relação com o tipo de atividade de conservação que serviu como objeto de

pesquisa e observação para realização desta dissertação, não sendo abordadas

neste estado da arte, as descrições de atividades de conservação que são

necessárias e realizadas, mas não fazem parte do foco em estudo.

Dentro da abordagem do estudo, existe a conservação corretiva

rotineira, que tem como atividade a selagem de trincas, que consiste no enchimento

manual de trincas e fissuras no revestimento betuminoso, com material asfáltico para

impedir a penetração de água nas camadas inferiores do pavimento. Outras

atividades são os remendos ou reparações localizadas, que são operações

realizadas normalmente ao nível do revestimento asfáltico que são discriminadas em

62

dois tipos: o remendo superficial ou tapa-buraco, que consiste em reparar

degradações localizadas (panelas, depressões secundárias, etc.) no revestimento,

de modo a se evitar maiores danos ao pavimento e se obter uma superfície de

rolamento segura e confortável. O segundo tipo é o remendo profundo, que consiste

em operações corretivas localizadas de um porte um pouco maior, onde pode estar

incluída, em certos casos extremos, a remoção de frações de camadas granulares

subjacentes.

As recuperações superficiais são atividades de conservação de

pavimentos betuminosos que também foram observadas na pesquisa, e são

operações concebidas com finalidade de corrigir falhas superficiais (fissuração,

desagregação, perda de agregados, polimentos das asperezas, exsudação, etc.)

exteriorizadas pelo revestimento existente, tendo como principal operação neste

contexto de conservação de pavimento, o recapeamento do revestimento existente,

com misturas asfálticas usinadas em espessuras bastante delgadas na ordem de

2,5cm, podendo ser executadas com pré-misturados a frio, areias-asfalto a frio ou a

quente, ou ainda concretos asfálticos, espalhados com vibro-acabadoras e/ou com

motoniveladora.

Outras atividades desenvolvidas no serviço de conservação é a

aplicação de lama asfáltica/ micro revestimento no pavimento, que consiste em uma

mistura fluida de agregado miúdo, “filler”, emulsão asfáltica e água, em proporções

pré-definidas, tendo espessuras delgadas, inferiores a 1,0 cm no caso da lama

asfáltica, e inferiores a 2,0 cm no caso do micro revestimento, e também a capa

selante, que consiste de um banho de ligantes asfálticos, seguido de imediata

cobertura com agregados finos (tipo areia ou pó de pedra, que deverão ser

espalhados de forma uniforme.

Os serviços manuais e pesados são realizados pelos serventes que são

a maioria na equipe, e são os que estão diretamente mais expostos aos riscos

envolvidos na execução das tarefas, e para dar ênfase à necessidade de uma

política de segurança por parte da empresa, apresentamos estatísticas dos

acidentes de trabalho analisados no ano de 2003, com o número de óbitos e de

vítimas não fatais relativos à ocupação do trabalhador ou aos cargos ocupados,

conforme está apresentado nas Tabelas 7 e 8, e Gráficos 2 e 3.

63

Tabela 7 – Número de óbitos relativos à ocupação CBO DESCRIÇÃO FATAL

95932 Servente em obras 76

95990 Outros trabalhadores da construção civil e trabalhadores assemelhados não-classificados sob outras epígrafes

35

95110 Pedreiro, em geral. 29

72990 Outros trabalhadores metalúrgicos e siderúrgicos não-classificados sob outras epígrafes.

21

62120 Trabalhador agrícola polivalente. 20

99150 Outros trabalhadores braçais não-classificados sob outras epígrafes.

17

85510 Eletricista de instalações, em geral. 14

55215 Trabalhadores de serviços gerais (serviços de conservação, manutenção e limpeza)

13

87210 Soldado, em geral. 13 95120 Pedreiro (edificações) 13

Fonte: SFIT – Sistema Federal de Inspeção do Trabalho – Acidentes Analisados no Brasil, (2005) • CBO – Classificação Brasileira de Ocupação.

Gráfico 2 – Número de óbitos no trabalho nas ocupações da CBO Fonte: SFIT – Sistema Federal de Inspeção do Trabalho – Acidentes Analisados no

Brasil, (2005)

64

Tabela 8 – Número de acidentes não-fatais relativos à ocupação CBO DESCRIÇÃO FATAL

95932 Servente em obras 75

95990 Outros trabalhadores da construção civil e trabalhadores assemelhados não-classificados sob outras epigrafes

57

95110 Pedreiro, em geral. 44

72990 Outros trabalhadores metalúrgicos e siderúrgicos não-classificados sob outras epigrafes.

41

62120 Trabalhador agrícola polivalente. 23

99150 Outros trabalhadores braçais não-classificados sob outras epigrafes.

21

85510 Eletricista de instalações, em geral. 21

55215 Trabalhadores de serviços gerais (serviços de conservação, manutenção e limpeza)

16

87210 Soldado, em geral. 15 95120 Pedreiro (edificações) 15

Fonte: SFIT – Sistema Federal de Inspeção do Trabalho – Acidentes Analisados no Brasil, (2005)

• CBO – Classificação Brasileira de Ocupação.

Gráfico 3 – Número de vítimas não fatais em acidentes de trabalho nas

ocupações da CBO Fonte: SFIT – Sistema Federal de Inspeção do Trabalho – Acidentes Analisados no

Brasil,(2005).

65

2.6.4 Gestão da manutenção/conservação de pavimentos

A Gestão da Manutenção de pavimentos das vias públicas,

independentemente da competência e da responsabilidade da jurisdição, seja

federal, estadual ou municipal, é uma necessidade premente, ou os órgãos de

governo em cada esfera de atuação adotam uma gestão responsável em relação à

conservação do sistema viário existente ou o mesmo entrará em colapso, conforme

descreve Balbo (2005), em seu trabalho Gestão da Manutenção de Pavimentos e

seus Benefícios para a Cidade de São Paulo.

De acordo com estudos apresentados pelo Instituto de Pesquisas

Rodoviárias – IPR, o impacto sobre os custos aos usuários é significativo, pois para

cada US$ 1 (um dólar) gasto em manutenção economiza-se US$ 3 (três dólares)

para os usuários. No Brasil, as rodovias, mesmo as que se encontram em mau

estado de conservação, continuam sendo utilizadas pelos usuários, pois na maioria

dos casos não existe outra opção, portanto não ocorre redução no tráfego, e essa

situação onera diretamente os usuários e indiretamente toda a sociedade, em

virtude de que o custo do transporte rodoviário sobe e afeta o preço das mercadorias

e passagens. Quando não se fazem os investimentos necessários na conservação,

criam-se custos muito superiores aos valores que seriam dispendidos para manter e

restaurar as rodovias.

A título de ilustração, apresenta-se, a seguir a, situação da malha federal

pavimentada nos anos de 1979, 1984 e 1992, mostrando o aumento de deterioração

das condições de conservação.

Tabela 9 – Rede Rodoviária Federal Pavimentada – 1979 – 40.000 Km

Condição Km %

Boa 10 000 24,0

Regular 23 000 58,0

Má 7 000 18,0

Fonte: Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, (2005).

66

Tabela 10 – Rede Rodoviária Federal Pavimentada – 1984 – 46.000 Km Condição Km %

Boa 14 000 30,0

Regular 19 000 42,0

Má 13 000 28,0

Fonte: Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, (2005)

Tabela 11 – Rede Rodoviária Federal Pavimentada – 1992 – 49.162 Km Condição Km %

Boa 23 662 48,1

Regular 9 500 19,3

Má 6 000 32,60

Fonte: Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, (2005)

Esse estudo estima que se os serviços de conservação preventiva e

restaurações das rodovias em condições má e regular, tivessem sido executados no

ano de 1979, teriam custado ao governo a quantia de US$ 1,8 bilhões e com atraso

na execução dos serviços de conservação esses valores cresceram para US$ 2,4

bilhões no ano de 1984 e continuaram crescendo no último ano pesquisado, em

1992.

A Gestão de Manutenção, segundo Balbo (2005), trata-se de um

processo de acompanhamento sistêmico do desempenho oferecido pelos

pavimentos de um sistema viário. O processo é definido como um conjunto de

atividades sempre em desenvolvimento e que se estabelece no tempo, num trabalho

ordenado de administração de seus componentes. E o caráter sistêmico do processo

deve-se ao fato de que se trata de algo que é realizado de maneira metódica,

orientada e envolve toda uma rede viária, sendo seus diversos atributos e

equipamentos devidamente cadastrados e monitorados. Para Balbo (2005), as

exigências para uma Gestão Viária moderna são as seguintes:

� Priorização dos serviços de manutenção sobre bases técnicas (índices

de qualidade funcional ou estrutural, demandas de tráfego, custos

operacionais, análise econômica e social de projeto, etc).

� Os bons parâmetros políticos deverão estar equacionados, posto que

em diversas situações a priorização poderá considerar aspectos não

67

diretamente relacionados às condições de pavimentos (atendimento de

zonas industriais ou turísticas de uma cidade são exemplos

relativamente comuns).

� Deveriam investir na capacitação e qualificação de seu pessoal das

agências viárias, relacionado à construção viária.

� As atividades de manutenção devem ser obrigatoriamente planejadas,

se possível a longo prazo.

� Elaboração de leis que obriguem o planejamento e gerenciamento das

malhas viárias para a justificativa de quaisquer intervenções que

mereçam ocorrer ao longo dos anos.

� As agências viárias necessitam investir no desenvolvimento de novas

tecnologias de manutenção (materiais, métodos, equipamentos) e

estabelecer critérios decisórios para a escolha de um tipo específico de

intervenção, baseada em parâmetros técnicos e em custos.

� As agências rodoviárias devem se obrigar a monitorar, de forma

ordenada e periódica, a rede de sob sua jurisdição.

Entre componentes desse sistema de gestão temos um banco de dados,

com indicadores estruturais, funcionais e de tráfego. Histórico de tensões; histórico

de serviços de manutenção, tipo estruturas, drenagens e ocupação marginal da via,

que têm como objetivo diagnosticar a situação doa pavimentos e permitir o

entendimento dos padrões de intervenção necessários, tipo de materiais e

equipamentos a serem considerados na manutenção das vias, como também indica

preliminarmente os volumes e custos de serviços de manutenção e serve como

ferramental simplificado para hierarquização dos problemas ocorrentes.

Outro componente da Gestão da Manutenção Viária é a monitoração do

sistema, que deve ser realizada ao longo dos anos de serviços dos pavimentos,

verificando como se comportam sob ação do tráfego. De maneira metódica, com

periodicidade definida deve-se fazer um diagnóstico das condições da via, sendo um

termômetro bastante útil para se avaliar as mudanças de estado de sistema,

permitindo inferir sobre adequabilidade de uma dada solução de pavimentação

dentro do contexto de utilização, e através também da monitoração, se cria o

conhecimento sobre o desempenho de estruturas de pavimentos e se sabe se um

68

dado tipo de ação resultou nos objetivos esperados, além de ser um instrumento

político para prestação de contas da administração aos usuários do sistema viário.

O último componente da Gestão de Manutenção Viária é a definição de

estratégias de manutenção, definir qual o tipo de intervenção a ser realizada na via :

manutenção de rotina, manutenção periódica, reabilitação, reconstrução,

restauração, melhoramento. Muitas vezes a definição da estratégia esbarra no fato

de que as agências responsáveis pela manutenção de pavimentos não possuem

uma ampla gama de alternativas para intervenções no sistema. A definição e o

emprego de índice de qualidade consistente para os pavimentos de uma malha

viária são de fundamental importância na aplicação de estratégias de manutenção

condizentes com as necessidades técnicas e econômicas. Cada alternativa de

intervenção está associada a um custo, conforme Tabela 10, que por sua vez deverá

estar amarrado a uma especificação de serviços e de materiais a serem

empregados.

Tabela 12 – Tipos de intervenções e com faixa de variação de custos por km

Tipo de Intervenção Faixa de Variação de Custo

(por km de rodovia)

Manutenção de Rotina US$ 300,00 a US$ 5.000,00 Manutenção Periódica US$ 8.000,00 a US$ 40.000,00 Reabilitação US$ 30.000,00 a US$ 200.000,00 Reconstrução US$ 45.000,00 a US$ 300.000,00 Fonte: Balbo, (2005)

C A P I T U L O I I I – O P E R A Ç Õ E S M E T O D O L Ó G I C A S D A P E S Q U I S A

3.1 TIPOS E NATUREZA DO ESTUDO

Este trabalho é um estudo de caso, de natureza especulativa, realizado

através de pesquisa de campo, focada na situação dos trabalhadores da SOMURB

relativa às condições ergonômicas no desenvolvimento das tarefas e atividades

durante a execução dos serviços de conservações de pavimentos asfálticos, dos

tipos tapa-buraco e recapeamento, observando-se diversos fatores que podem

contribuir para os riscos à segurança e à saúde do trabalhador, como: fatores

relacionados com a tarefa e o cargo, fatores biomecânicos, fisiológicos e

antropométricos, fatores relativos postura e ao movimento, fatores ambientais.

Realizou-se também, uma pesquisa teórica de natureza explicativa, que teve a

função de explicar o fenômeno ou objeto da pesquisa, no caso específico, os riscos

ergonômicos ocupacionais ou do trabalho, verificados e observados, durante a

pesquisa de campo, referentes aos serviços de pavimentação asfáltica e

conservação das vias urbanas da cidade de Maceió, constituindo-se fundamento

teórico necessário para a formulação do diagnóstico ergonômico do trabalho e para

o processo de identificação dos riscos ocupacionais e da análise ergonômica do

trabalho que foi realizada durante a pesquisa de campo.

3.2 VARIÁVEIS INVESTIGADAS

As variáveis de investigação da pesquisa foram feitas e analisadas

qualitativamente.

A investigação e análise qualitativa devem ser realizadas nas seguintes etapas: a) a

função de cada trabalhador no processo operacional; b) analisar as etapas do

processo operacional; c) investigar e analisar os possíveis Riscos Ergonômicos

Ocupacionais; d) observar o tempo de exposição ao risco do trabalhador quando for

o caso.

70

As variáveis e os fatores ergonômicos investigados e que foram objeto

de observações na pesquisa estão explicitados no quadro 1:

VARIÁVEL RISCOS ERGONÔMICOS

FATORES INVESTIGADOS

OBSERVAÇÕES

• Esforço físico intenso

� Biomecânicos

� Fisiológicos

� Antropométricos

� Posições das articulações, exigências de posturas inclinadas do corpo e da cabeça, exigência de movimentos bruscos, alternâncias de posturas e movimentos, restrições da duração do esforço muscular contínuo, distribuições das pausas ao longo da jornada de trabalho.

� Existência de limitação da energia gasta em cada tarefa, descanso para a recuperação após um trabalho pesado.

� São consideradas as diferenças individuais das medidas corporais

• Exigência de postura inadequado

� Postura � Trabalho sentado, trabalho em pé, mudanças de posturas, posturas das mãos e braços.

• Levantamento e transporte manual de Peso

� Movimento � Levantamento de peso, transporte de carga, puxar e empurrar carga.

• Controle rígido de Produtividade

• Ritmos excessivos

• Trabalho em turno noturno

• Jornadas de trabalho prolongadas

� Organização do trabalho

� Normas de produção, modo operatório,

exigência de tempo, determinação do conteúdo de tempo, ritmo de trabalho.

• Monotonia e repetitividade tarefa e cargo

� Tarefa e cargo � Critério de distribuição de tarefa, conteúdo das tarefas, trabalho composto por mais de uma tarefa, envolvimento dos trabalhadores na solução dos problemas, tempo de ciclo dos trabalhos repetitivos, alternâncias de tarefas.

• Outras situações causadoras de stress físico e/ou psíquico ambientais

� Ambientais � Ruídos, vibrações, iluminação, clima, substâncias químicas e Temperatura.

Quadro 1 – Variáveis e fatores ergonômicos investigados

71

3.3 DADOS DA PESQUISA

Os dados utilizados para pesquisa foram basicamente os dados

primários, definidos como sendo dados a serem coletados no âmbito do processo de

pesquisa e/ou, ainda, dados que não estão publicados, mas representam

informações no tratamento do fenômeno investigado, como dados referentes às

condições físico-ambientais em que é realizado o trabalho relativo à pesquisa, dados

referentes às posturas, esforços, intensidade e freqüência dos esforços na

realização desse trabalho, e a organização do trabalho. Foram utilizados também os

dados secundários, coletados através de livros técnicos, apostilas, legislação,

periódicos, relatórios, publicações diversas, ou seja, dados coletados nas referências

que estão apresentados nesta pesquisa, que representam informações importantes

nas identificações dos potenciais de Riscos e da Análise Ergonômica do Trabalho,

que serviu de base para o Diagnóstico Ergonômico relativo aos riscos à segurança e

saúde do trabalhador, objeto desta pesquisa.

3.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

3.4.1 Observação sistemática

A técnica de observação foi utilizada através de método prospectivo, que

tem como ferramenta básica, a inspeção no local. Foi desenvolvida nas frentes de

trabalho, durante a execução dos serviços objeto da pesquisa, através de uma

observação direta, com registro através de fotos e filmes, de forma a poder utilizar a

planilha de levantamento de dados utilizadas na abordagem ergonômica de Fialho e

Santos (1995) e da verificação de fatores indicados por Dul e Weerdmeester (1995)

como: biomecânicos, fisiológicos, antropométricos, posturas, movimentos,

organização do trabalho, tarefa e cargo, ambientais, e de outros dados relacionados

à atividade do trabalhador, que serviram de instrumento fundamental para a

identificação e análise dos Riscos Ergonômicos.

72

3.4.2 Entrevistas estruturadas

Foram desenvolvidas na sede do órgão SOMURB e nos locais de

pesquisa de campo (frentes de trabalho), com os profissionais envolvidos nas

operações referentes ao objeto da pesquisa (APÊNDICE A).

3.4.3 Questionário

Foi utilizado, pelo pesquisador, o check-list para identificação dos riscos

ocupacionais nas frentes de trabalho, durante as vistorias nos locais pesquisados

(APÊNDICE B).

3.5 UNIVERSO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida em uma autarquia pertencente à Prefeitura

de Maceió, SOMURB, responsável pela conservação das obras viárias da cidade de

Maceió-AL, e o universo estatístico do projeto de pesquisa se resumiu às frentes de

trabalho dos serviços de conservação das vias urbanas de pavimentos com

revestimentos asfálticos, do tipo tapa buraco e recapeamento, que são executados

por administração direta.

3.6 ORDENAMENTO E TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados coletados foram agrupados em categorias, de acordo com o

interesse da pesquisa, de forma a permitir sua melhor análise e interpretação.

Os dados qualitativos coletados foram agrupados de acordo com os

fatores relacionados aos riscos ergonômicos que estavam sendo observados, ou

seja, das variáveis investigadas como: esforço físico intenso, levantamento e

transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de

produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno,

73

jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade, outras situações

causadoras de stress físico e/ou psíquico.

C A P Í T U L O I V – I D E N T I F I C A Ç Ã O D E D E R I S C O S E A N Á L I S E E R G O N Ô M I C A D O T R A B A L H O

4.1 RISCOS IDENTIFICADOS DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO DE

SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

Para a identificação dos riscos na pesquisa, utilizamos a classificação

dos principais Riscos Ocupacionais apresentados no Quadro 3.

Riscos Físicos

Riscos Químicos

Riscos Biológicos

Riscos Ergonômicos

Riscos de Acidentes

Ruídos Poeiras Vírus Esforço físico intenso

Arranjo físico inadequado

Vibrações Fumos Bactérias Levantamento e transporte de peso

Máquinas e equipamentos sem proteção

Radiações ionizantes Névoas Protozoários

Exigência de postura inadequada

Ferramentas inadequadas ou defeituosas

Radiações não ionizantes

Neblinas Fungos Controle rígido de produtividade

Iluminação inadequada

Frio Gases Parasitas Imposição de ritmos excessivos Eletricidade

Calor Vapores Bacilos Trabalho em turno e noturno

Probabilidade de incêndio ou explosão

Pressões anormais

Substâncias, compostos ou produtos químicos em geral

Jornadas de trabalho prolongadas

Armazenamento inadequado

Umidade Monotonia e repetitividade

Animais peçonhentos

Outras situações causadoras de stress físico e/ou psíquico

Outras situações de riscos que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes

Quadro 2 – Classificação dos Riscos Ocupacionais Fonte: Tabela I, anexo IV da NR-5, Portaria nº 25 do MTE de 29/12/1994, Manuais de

Legislação Atlas (1997)

75

Utilizando a instrução dada pela portaria Nº 3.311 de 29/11/89, relativa à

elaboração de laudo de insalubridade e periculosidade e que conseqüentemente

estabelece a identificação dos Riscos Ocupacionais e Análise do tempo de

exposição a estes Riscos, foram realizadas as pesquisas em diversas frentes de

trabalho, durante as execuções dos serviços de conservações de pavimentos

asfálticos, fazendo-se uma Análise Qualitativa dos potenciais de Riscos

Ocupacionais nestes locais.

4.1.1 Riscos ocupacionais no processo operacional nas frentes de trabalho

Analisando os serviços realizados nas frentes de trabalho verificou-

se que havia os seguintes Riscos:

FÍSICO

� Ruídos – Os trabalhadores nas frentes de trabalho estão expostos

aos ruídos das máquinas pesadas (motoniveladora, rolo

compactador, trator pá-carregadeira, acabadora, etc.),

equipamentos (martelete, placa vibratória, compressor, vibrador

etc.), caminhões basculantes e o tráfego em geral.

� Vibrações – Os operadores das máquinas pesadas e

equipamentos supracitados.

� Radiações não ionizantes – Os trabalhadores estão expostos à

radiação solar durante as execuções dos serviços, já que os

mesmos são realizados a céu aberto.

� Calor – Os trabalhadores trabalham a céu aberto, normalmente

durante o dia, submetidos a altas temperaturas ambientais, calor

este agravado pela proximidade com o material betuminoso, que

na maioria dos casos tem que ser trabalhado com temperatura

elevada.

76

QUÍMICOS

� Poeiras – Os operadores das máquinas pesadas utilizadas nos

serviços de terraplenagem, regularização do subleito, reforço de

subleito, sub-base e base, ficam expostos a poeiras minerais (

sílica livre cristalizada ).

� Gases – Os trabalhadores das frentes de trabalho ficam expostos

aos gases tóxicos produzidos pela combustão de motores de

explosão das máquinas, equipamentos e veículos em geral.

� Vapores – Os trabalhadores que trabalham diretamente com os

materiais betuminosos ficam expostos à evaporação dos elementos

voláteis que compõem estes materiais, tóxicos ao organismo

humano.

� Substâncias Químicas – Os trabalhadores que trabalham em

contato direto com os materiais betuminosos, principalmente os

rasteleiros e serventes que fazem operações manuais nas tarefas

de imprimação, pintura de ligação e espalhamento de pré-

misturado, ficam expostos às substâncias químicas.

ERGONÔMICOS

Foram verificados nos serviços das frentes de trabalho, os seguintes

agentes de riscos ergonômicos: esforço físico intenso, levantamento e

transporte de peso (principalmente os serventes nas operações

manuais), exigência de postura inadequada (rasteleiros, serventes e

operadores de máquinas e equipamentos), imposição de ritmos

excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho

prolongadas e trabalho repetitivo.

DE ACIDENTES

Como as operações são realizadas nas vias públicas, onde o trânsito é

intenso, mesmo com o isolamento da área e sinalização, principalmente

nos serviços realizados durante a noite, o risco de acidente é

considerável, levando-se em conta também a necessidade nestes tipos

de serviços de improvisar arranjos físicos, iluminação e em alguns casos

máquinas, equipamentos e ferramentas na sua execução. Outro risco de

77

acidente observado com freqüência, é o que ocorre no transporte dos

trabalhadores para as frentes de trabalho, transporte este que não

atende à NR 18, item 18.25, relativa ao Transporte de Trabalhadores em

Veículos Automotores, fazendo-se este transporte normalmente em

caminhão basculante, juntamente com equipamentos e ferramentas,

sem a mínima segurança para o trabalhador.

4.1.2 Tempo de exposição ao risco

Durante as tarefas específicas para a conservação de um pavimento

asfáltico nas vias urbanas da cidade de Maceió, os trabalhadores ficam expostos

aos riscos verificados na pesquisa de campo, em uma situação que se caracteriza

exposições de natureza de intermitência para determinadas tarefas e contínuas

para outras.

4.2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

4.2.1 Análise da demanda

O problema apresentado para pesquisa é o diagnóstico ergonômico, a

partir de um estudo e de uma análise ergonômica do trabalho na execução dos

serviços de conservação de pavimentos asfálticos das vias urbanas na cidade de

Maceió-AL, especificamente os serviços de tapa buraco e recapeamento dos

revestimentos asfálticos.

Os serviços de conservação de pavimentos nas vias urbanas da cidade

de Maceió-AL, são de responsabilidade da Prefeitura Municipal e de competência da

Superintendência Municipal de Obras e Urbanização – SOMURB, sendo a execução

dos serviços dentro do organograma da SOMURB, uma das atribuições da Diretoria

de Obras e Serviço, através do Departamento de Vias Urbanas e Produção

Industrial, que tem a Coordenadoria de Vias Urbanas e Divisão de Manutenção de

Vias diretamente subordinadas na execução desses serviços.

78

Esses serviços estão enquadrados na classificação nacional de

atividades econômicas, no setor construção civil, com grau de risco 4, o que é o grau

máximo na graduação apresentada na classificação do Quadro 1 da Norma

Regulamentadora nº 4, relativa à segurança e medicina do trabalho, e em que estão

envolvidos na atividade afim de campo, trabalhadores com baixo grau de instrução.

A maioria desses trabalhadores é formada de analfabetos funcionais, como pode ser

verificado na pesquisa, pouca qualificação é necessária para a realização dos

serviços, onde se observa a predominância de trabalhos manuais e pesados,

facilitando os rodízios na execução das tarefas, como também facilita a rotatividade

da mão de obra por parte da empresa executora dos serviços.

Esse serviço, além da característica de mão-de-obra com baixa

qualificação, tem outro aspecto importante, o conservadorismo na forma

organizacional para a sua realização bem como no tipo de tecnologia utilizada. Em

relação às máquinas, equipamentos e ferramentas, verificou-se na pesquisa que não

ocorreram ao longo do tempo, mudanças significativas na forma de organização e

gestão desses serviços, devido aos seguintes fatores a serem observados: os tipos

de serviços de conservação asfáltica escolhidos para a análise ergonômica desta

pesquisa estão sendo executados, tanto em vias urbanas, como em rodovias,

seguindo os mesmos procedimentos, normas e especificações, materiais, máquinas,

equipamentos, ferramentas, há muito tempo, sem inovações que possam ser

consideradas, porque as existentes são pouco conhecidas e utilizadas, pelo menos

no estado de Alagoas e especificamente na cidade de Maceió. O segundo fator a ser

considerado é que a execução desses serviços são de competência da SOMURB,

um órgão público municipal, que tem toda uma burocracia que caracteriza o serviço

público, pouco afeito a mudanças, dificuldade de logística, com a equipe de

engenheiros, técnicos, e encarregados, que são funcionários efetivos; isto significa

que quem faz a organização e a gestão dos serviços em sua maioria, permanece

longos períodos nessas atividades, o que facilita o conhecimento e a prática do

serviço, mas provoca resistência às mudanças dos métodos organizacionais e de

gestão.

Verifica-se, nesta análise de demanda que, apesar da importância da

manutenção de pavimentos para a administração municipal, a gestão desses

serviços ainda é incipiente dentro do conceito do que representa o termo gestão,

porque não se observa, por parte da SOMURB, um processo de acompanhamento

79

sistêmico do desempenho oferecido pelos pavimentos do sistema viário. Não se

verifica,por parte da administração, um conjunto de atividades pré-estabelecidas de

maneira metódica e orientada, de forma a cadastrar e monitorar a rede viária urbana,

no sentido do planejamento e da priorização dos serviços de conservação a serem

realizados. Dessa forma, baseia-se a gestão atual na realização dos serviços de

acordo com as urgências e emergências que surgem no dia a dia, tornando as

intervenções pontuais e isoladas de um contexto macro, em que as ações têm que

ser planejadas e baseadas em um diagnóstico prévio, advindo de dados estatísticos

e monitoramento da malha viária, que permitam um melhor entendimento técnico

dos padrões e dos tipos de intervenções necessárias para recuperação ou

conservação da via. É necessário também hierarquizar os problemas ocorrentes,

melhorando a organização do trabalho em relação às normas de produção, ao

modo operatório, à exigência de tempo, determinação do conteúdo do tempo, ritmo

de trabalho e conteúdo das tarefas.

Ressalte-se que a SOMURB, além da precariedade na sua gestão para

realizar os serviços, incorre no fato mais grave, que é a não adoção de nenhum

sistema de gestão de segurança e saúde no trabalho, estando inclusive não

atendendo à legislação em vários pontos que serão abordados, durante a análise

das tarefas e atividades, que deverão ser atendidos de modo a proporcionar o

máximo de conforto e segurança ao trabalhador para que o mesmo possa

desempenhar o seu trabalho de forma eficiente.

4.2.2 ANÁLISE DA TAREFA

Nesta análise, considera-se o que o trabalhador deve realizar, a

organização para a realização das tarefas e em que condições ambientais são

realizadas estas tarefas. As tarefas analisadas são relativas à execução da

conservação da pavimentação asfáltica nas vias urbanas da cidade de Maceió, pelo

órgão público SOMURB, especificamente os tipos de conservações denominadas na

terminologia técnica de remendos ou tapa buracos e recuperações superficiais ou

recapeamento, serviços esses que visam à correção do buraco ou defeito superficial

do revestimento asfáltico, de modo a evitar maior dano ao pavimento e obter uma

superfície de rolamento segura e confortável. Nesses serviços são utilizados

80

materiais usinados a frio e também materiais usinados a quente, como foi observado

e documentado através de fotografias e filmes.

4.2.2.1 Postos de trabalho

A pesquisa de campo foi realizada, através de visitas e

acompanhamento, nos diversos locais ou postos de trabalho da SOMURB, órgão

pertencente à Prefeitura Municipal de Maceió, responsável pelas execuções de

conservação das pavimentações asfálticas, nas vias urbanas da cidade de Maceió-

AL.

A SOMURB utiliza duas áreas de trabalho fixas e permanentes,

destinadas ao apoio às operações necessárias a execuções dos serviços

supracitados. Na primeira, onde funciona a Coordenadoria de Transportes,

Máquinas e Equipamentos que é chamada de “Garagem”, ficam guardadas e em

manutenção as máquinas pesadas (motoniveladoras, rolos compactadores, pás-

carregadeiras, acabadora de asfalto etc.), equipamentos (distribuidores de materiais

betuminosos, distribuidores de agregados, carro tanque distribuidor de água, placas

vibratórias, martelete pneumático, grade de disco, etc.), veículos de transporte de

pessoal e de carga (caminhões de carroceria e basculante, caminhonetes, carros

pequenos etc.), ferramentas (pás, picaretas, chibanca, enxada, rastelo ou ancinho ,

carro de mão, etc.). Nesta área ficam também lotados os trabalhadores que

executam os serviços e funciona a oficina de consertos e manutenção.

Na segunda área citada funcionam a Coordenadoria de Vias Urbanas e

a Coordenadoria de Produção Industrial, onde estão instaladas as usinas de asfalto

e são usinadas as massas dos revestimentos betuminosos, pré-misturados a frio e

os pré-misturados a quente, principalmente o Concreto Betuminoso Usinado a

Quente (CBUQ) ou Concreto Asfáltico. A Usina de pré-misturado a frio, é do tipo

DRUM MIXER 40/60 tonelada/hora, está equipada com uma unidade classificadora

de agregados após o secador, dispõe de misturador com duplo eixo conjugado,

provido de palhetas reversíveis e removíveis, capazes de produzir uma mistura

uniforme. O misturador possui dispositivo de descarga, de fundo ajustável e

dispositivo que controla o ciclo completo de mistura. Possui ainda um termômetro

com proteção metálica e escala de 90 a 210 graus centígrados, fixado na linha de

81

alimentação do asfalto, próximo à descarga do misturador e também um termômetro

de mercúrio, colocado na descarga do secador, para registrar a temperatura dos

agregados. A usina de pré-misturado a frio é do tipo gravimétrica, modelo VA/2 de

30/40 toneladas/hora. Nesta área também está instalada e funcionando uma fábrica

de pré-moldado, onde se fabricam diversos produtos utilizados em obras de

pavimentação, drenagem e urbanização.

Na área das usinas de asfalto, ficam armazenados ou estocados os

materiais necessários para a constituição das misturas. Os materiais betuminosos

como: cimentos asfálticos, asfaltos diluídos, emulsões asfálticas, ficam armazenados

em tanques de aço. Os agregados graúdos (britas), agregados miúdos (areia, pó de

pedra), ficam estocados a céu aberto. O material de enchimento ou filler (cimento

portland, cal extinta), fica armazenado em local protegido das intempéries. Os

materiais como solos, britas corridas e graduadas, utilizados nas camadas do

pavimento abaixo do revestimento, normalmente por se tratar de obras dentro da

cidade, quando da necessidade de grandes volumes, estes materiais são trazidos

diretamente dos fornecedores para as vias onde estão localizadas as Frentes de

Trabalho.

A execução dos serviços de conservação, mesmo quando terceirizada e

independentemente do volume de serviço, é planejada, organizada e fiscalizada pela

SOMURB, que utiliza frentes de trabalho móveis e temporárias, principalmente em

função de os serviços tratarem basicamente de conservação de pavimentos, dos

tipos rotineira e corretiva, que se realiza nas vias da cidade, de maneira contínua,

seguindo-se uma programação pré-determinada, não sendo necessária a instalação

de canteiros de obras, já que existem os locais fixos, como a Usina de Asfalto e a

Garagem, onde se desenvolvem as operações de apoio para a execução dos

supracitados serviços.

Os postos de trabalho, objeto de nossa pesquisa para a realização da

análise ergonômica do trabalho de conservação de pavimento asfáltico, foram

especificamente as frentes de trabalho instaladas nas vias públicas durante a

execução dos serviços, onde se desenvolviam as tarefas e atividades do trabalhador

na execução do tapa-buraco e no recapeamento das vias.

82

4.2.2.2 Descrição da tarefa

4.2.2.2.1 Remendos ou tapa-buracos

Os operários que formam as equipes de tapa-buraco são transportados

da garagem onde funciona a Coordenadoria de Transportes, Máquinas e

Equipamentos da SOMURB, chefiados pelos encarregados, que recebem a

programação com a relação das vias em que serão realizados os serviços, por meio

do engenheiro coordenador de vias urbanas que, por sua vez, recebeu esta ordem

de serviço do diretor do Departamento de Vias Urbanas, após prévia autorização do

diretor de obras e serviço, responsável geral pelo o planejamento e execução dos

serviços.

Os trabalhos nas frentes de serviços ou vias têm uma forma de

execução conhecida e muito praticada pelos trabalhadores, que formam equipes que

variam de seis a oito componentes, mais o encarregado, que comanda e dita o ritmo

dos trabalhos.

As equipes, dependendo da área, do local e do volume de material a ser

aplicado, chegam antecipadamente nas vias, isto é, antes da chegada do material

asfáltico, para realizar os serviços preliminares, demarcando e interditando o trecho

da via que vai sofrer a intervenção, através de sinalização, cones, cavaletes, placas

e máquinas etc., e em certos casos é necessária a atuação de guardas de trânsitos

para viabilização dos serviços.

Os serviços de manutenção para correção de defeitos em pavimentos de

asfalto, incluem remendos, selagem de trincas, selagem superficial e recapeamento.

A principal operação executada pela SOMURB, principalmente após os períodos de

chuvas, é a operação TAPA-BURACO, que tem o objetivo de recuperar as fissuras,

fendas, buracos superficiais e profundos, causados pela desagregação do

revestimento, processo que se agrava em função das águas das chuvas. A

SOMURB tapa os buracos através de remendos superficiais ou profundos, de

acordo com a situação como se apresenta a via. O material betuminoso utilizado

pela SOMURB nesta operação é principalmente o pré-misturado a frio, que na

composição da mistura utiliza os materiais betuminosos, emulsão asfáltica ou asfalto

diluído apropriado, agregados (areia e brita) e filler (cal hidratada). Quando o

83

agregado do pré-misturado é só areia lavada, o mesmo é chamado de Areia de

Asfalto a Frio. Dependendo do tipo de via, do estado em que se apresenta e do

tráfego da mesma, a SOMURB utiliza na operação o Concreto Betuminoso Usinado

a Quente, por sua maior resistência e durabilidade.

Os remendos superficiais selam temporariamente as trincas superficiais,

prevenindo a penetração da água através da estrutura do pavimento, impedindo o

progresso da deterioração. Os Remendos profundos são usados para fazer os

reparos permanentes no pavimento, quando a profundidade do buraco atingiu as

camadas abaixo do revestimento, comprometendo no local, a estrutura do

pavimento.

Na execução dos serviços de tapa-buraco a tarefa é prescrita nos

seguintes passos: a) demarcar a área a ser removida; b) cortar o pavimento a ser

removido com auxilio de picareta ou martelete pneumático; c) escavar e remover o

material comprometido; d) aplicar a pintura de ligação para promover a aderência

entre o revestimento asfáltico e a camada subjacente; e) encher a trincheira com

pré-misturado; f) espalhar a mistura asfáltica com o rastelo; g) Comprimir a mistura

com compactador placa vibratória ou rolo compactador.

As figuras de 1 a 10 ilustram a execução da operação tapa-buraco nas

suas diversas etapas, representando a tarefa induzida ou a tarefa real, como

também a tarefa atualizada, em função dos imprevistos e das condicionantes de

trabalho observados nas vias urbanas da cidade de Maceió, durante a citada

operação.

Figura 1 – Corte do pavimento Fonte: Pesquisa de campo (2005).

84

Figura 2 – Escavação e remoção do material Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 3 – Varredura da área a ser trabalhada Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 4 – Aplicação da pintura de ligação Fonte: Pesquisa de campo (2005).

85

Figura 5 – Descarregamento de material asfáltico do caminhão

basculhante Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 6 – Descarregamento de material asfáltico do caminhão

basculhante. Fonte: Pesquisa de campo (2005)

Figura 7 – Transporte da mistura asfáltica na pista Fonte: Pesquisa de campo (2005).

86

Figura 8 – Enchimento da mistura asfáltica da área a ser recuperada Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 9 – Espalhamento e nivelamento da mistura asfáltica com

rastelo Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 10 – Compressão da mistura asfáltica com rolo compactador Fonte: Pesquisa de campo (2005).

87

4.2.2.2.2 Recapeamentos

Fundamentalmente, os recapeamentos destinam-se a impermeabilizar

revestimentos abertos e/ou fissurados, a protelar a perda de agregados, a minimizar

os efeitos maléficos decorrentes da oxidação dos ligantes betuminosos, a recuperar

a rugosidade de revestimentos desgastados pela ação abrasiva do tráfego ou pela

inadequabilidade dos agregados pétreos utilizados e, em certa medida, corrigir

deficiências do perfil transversal (trilhas de roda), utilizando-se nestas operações

espessuras, como no caso das desta pesquisa, entre 2,5 e 3,0 cm de CBUQ já

compactado.

O recapeamento, quando é executado no momento oportuno, é o reforço

na estrutura do pavimento, que restaura o pavimento e evita a necessidade da sua

reconstrução. O recapeamento consiste na execução de uma camada de

revestimento sobre o revestimento antigo e desgastado, utilizando-se normalmente o

Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), a partir da pintura de ligação feita

no pavimento antigo para promover a aderência com o novo revestimento. Na

execução, antes da pintura de ligação, procede-se à varredura da superfície do

pavimento antigo, de modo a eliminar o pó e o material solto existentes, aplicando-se

a seguir, o material betuminoso adequado, na temperatura compatível com o seu

tipo, na quantidade certa e de maneira uniforme.

O revestimento em Concreto Betuminoso Usinado a Quente – CBUQ, é

o revestimento flexível, resultante da mistura a quente, em usina apropriada, de

agregado mineral graduado, material de enchimento (filler) e material betuminoso,

espalhada e comprimida a quente. O concreto asfáltico produzido é transportado, da

Usina ao ponto de aplicação , nos caminhões basculantes e distribuído nos leitos

das vias por máquinas vibro-acabadoras de asfalto, ou espalhados através de

motoniveladoras, tendo, imediatamente após a distribuição do concreto asfáltico o

início da rolagem visando à compressão da mistura, com rolos compressores

pneumáticos e metálicos.

A organização desta operação pela SOMURB difere da utilizada na

execução do tapa buraco em sua magnitude, com maior número de trabalhadores

na equipe (20), incluindo os encarregados e operadores de máquinas pesadas,

maior número e tipos de máquinas pesadas e equipamentos a ser utilizados, maior

88

volume de material a ser consumido, uma produtividade bem maior, e com grandes

trechos contínuos de vias beneficiados.

Na execução dos serviços de recapeamento a tarefa é prescrita nos

seguintes passos: a) varrer a área a ser recapeada; b) aplicar a pintura de ligação na

área a ser recapeada com caneta ou caneca manual; c) distribuir a mistura asfáltica

através da vibro-acabadora ou espalhar a mistura asfáltica através de

motoniveladora; d) alinhar e nivelar os bordos e juntas das faixas de tráfego com

rastelo; e) comprimir a mistura asfáltica com rolos compressores pneumáticos e

metálicos.

As figuras de 11 a 24 ilustram a execução da operação de

recapeamento, nas suas diversas etapas, representando a tarefa induzida ou a

tarefa real, como também a tarefa atualizada, em função dos imprevistos e das

condicionantes de trabalho observados nas vias urbanas da cidade de Maceió,

durante a citada operação.

Figura 11 – Varredura da área a ser recapeada Fonte: Pesquisa de campo (2005).

89

Figura 12 – Aplicação da pintura de ligação com caneta manual na

área a ser recapeada Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 13 – Aplicação da pintura de ligação com caneca na área a

ser recapeada Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 14 – Descarregamento da mistura asfáltica na vibro-

acabadora Fonte: Pesquisa de campo (2005)

90

Figura 15 – Distribuição da mistura asfáltica através da vibro-

acabadora Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 16 – Espalhamento e nivelamento da mistura asfáltica com

rastelo Fonte: Pesquisa de campo (2005)

Figura 17 – Carregamento de mistura asfáltica a ser transportada no

carro de mão Fonte: Pesquisa de campo (2005).

91

Figura 18 – Transporte da mistura asfáltica através de carro de mão Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 19 – Alinhamento e nivelamento dos bordos e juntas de

faixas com rastelo Fonte: Pesquisa de campo (2005)

Figura 20 – Compressão da mistura asfáltica com rolo compactador Fonte: Pesquisa de campo (2005).

92

Figura 21 – Espalhamento da mistura asfáltica com motonivelador Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 22 – Espalhamento e compactação da mistura asfáltica com

motonivelador e rolo compactador Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Figura 23 – Aplicação de micro-revestimento asfáltico com usina

móvel Fonte: Pesquisa de campo (2005).

93

Figura 24 – Distribuição do micro-revestimento asfáltico na pista,

com espalhamento e nivelamento manual Fonte: Pesquisa de campo (2005).

4.2.2.2.3 Condições ambientais

Os trabalhos são realizados em vias públicas urbanas, geralmente

durante o período da manhã e da tarde e, por ser um trabalho a céu aberto, tem um

nível de iluminação nesses períodos natural, com grande exposição à radiação solar

durante as execuções dos serviços, e submetidos às altas temperaturas ambientais

em função do clima quente na região Nordeste onde se localiza a cidade de Maceió-

AL. Principalmente na estação do verão, e com o calor provocado por esta

exposição solar, agrava-se a situação dos trabalhadores quando o material utilizado

na execução dos serviços é o CBUQ, que chega ao local para ser aplicado a uma

temperatura superior a 119 ºC, temperatura mínima para usualmente espalhar o

material. Mas existem casos em que esses serviços são realizados à noite, quando o

tráfego da via a ser beneficiada não permite a intervenção durante o dia; nesses

casos melhoram as condições ambientais em relação ao calor, ruído, mas pioram

consideravelmente em relação à iluminação e ao risco de acidentes com os

equipamentos e máquinas.

O nível de ruído a que os trabalhadores estão expostos nas frentes de

trabalho é alto, é decorrente da presença de diversas fontes de ruído, como:

máquinas pesadas (motoniveladora, vibro-acabadoras, rolos compactadores, etc.),

caminhões basculantes e o tráfego em geral. Para ilustrar a pesquisa, foram

realizadas medições de níveis instantâneos de pressão sonora nas operações com

rolo compactador, onde se registrou o espectro de ação desses níveis, na faixa entre

94

94 e 98 dB(A), distribuídos ao longo do tempo de exposição do operador, e 84

dB(A), abaixo do limite de tolerância no restante da jornada. O instrumento utilizado

foi o decibelímetro digital, marca Realistic, tipo 2. A metodologia é baseada no

Anexo 1 da NR 15, com medição em decibéis (dB), com instrumento de nível de

pressão sonora operando no circuito de compensação A e circuito de resposta lenta

(slow), com as leituras próximas ao ouvido do operador. A Tabela 11 apresenta o

cálculo da dose de absorção diária para os níveis de pressão sonora registrados,

durante a jornada de trabalho, seguindo o seguinte roteiro para obtenção dos dados:

� quantificação dos níveis de pressão sonora aos quais o trabalhador

esteve exposto;

� tempo de exposição referente aos níveis mensurados, conforme

tabela do Anexo I da NR-15;

� tempo de permanência do trabalhador na atividade, relativo à cada

nível aferido;

� cálculo da dosimetria estimada, pela aplicação da fórmula :

C1/T1 + C2/T2 + C3/T3 ---------------------- + CN/TN

Tabela 13 – Exposição diária estimada ao ruído

ATIVIDADES NÍVEL DE

RÚIDO dB(A)

TEMPO DE EXPOSIÇÃO (Hora) Cn

EXP. MÁX. DIÁRIA

PERMISSÍVEL (Hora) Tn

DOSE EQUIVALENT

E Cn/Tn

94 1h 2h 15min 0,44 95 1h 2h 00min 0,50 96 1h 1h 45min 0,57

Nível de ruído variáveis, detectados em serviços de operação com rolo compactador

98 1h 1h 15min 0,80 Outras atividades 84 4h Abaixo L.T ---

DOSE DE ABSORÇÃO DIÁRIA 2,31 Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Observa-se que a dose de absorção diária estimada ao ruído durante a

jornada de trabalho do operador de rolo na operação tapa-buraco foi de 2,31,

excedeu a unidade, portanto a exposição está acima do limite de tolerância.

O cálculo do nível de pressão sonora equivalente para a exposição

diária observada, é dado pela fórmula:

(1)

95

∆⋅⋅= ∑ i

10

NPS

eq t10T

1 log 10 NPS

i

, onde: ( 2 )

� T – Tempo total de exposição em que o trabalhador ficou

submetido ao ruído;

� NPSi – Nível de pressão sonora a que o trabalhador ficou exposto

ao ruído durante o tempo it∆ ;

� it∆ – Intervalo de tempo em que o trabalhador ficou exposto ao

nível NPSi;

Aplicando-se a fórmula foi calculado um nível de pressão sonora

equivalente de 93,26 dB(A) durante a jornada de trabalho para o operador do rolo na

operação tapa-buraco, que significa uma exposição máxima diária permissível de 2

horas e 15 minutos, a partir da qual o trabalho se torna insalubre, de acordo com os

limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente do anexo nº 1 da NR-15.

Os trabalhadores também ficam expostos à movimentação do ar

(ventos) que, dependendo das condições climáticas do período da execução dos

serviços, podem ter uma maior ou menor velocidade, provocando um aumento no

levantamento de poeira existente no ambiente, agravando as condições existentes

em função das varreduras e cortes das superfícies dos pavimentos das ruas a serem

beneficiadas.

Existem no ambiente de trabalho vapores oriundos da evaporação dos

elementos voláteis que compõem os materiais betuminosos, utilizados na mistura

asfáltica, tóxicos ao organismo humano, e gases tóxicos provenientes da combustão

de motores de explosão das máquinas pesadas, veículos de transporte e veículos

do tráfego que circulam pelas vias durante as intervenções.

Nestes tipos de serviço os operários trabalham em contato direto com os

materiais betuminosos, principalmente os serventes e rasteleiros que fazem as

operações manuais nas tarefas de imprimação, pintura de ligação. Nestes casos, o

material usado é a emulsão asfáltica pura, e no transporte manual e na aplicação e

espalhamento do pré-misturado a quente e a frio em que os materiais betuminosos

constituem os ligantes das misturas, são o CAP e a emulsão respectivamente,

materiais estes constituídos de substãncias químicas como os hidrocarbonetos e

96

outros compostos de carbono, agentes químicos que põem em risco a saúde do

trabalhador.

Os serviços, por serem realizados em vias públicas, em frentes de

trabalhos provisórias e móveis, não permitem um tratamento do ambiente de

trabalho, com medidas que venham coletivamente minimizar o desconforto e o risco

ao trabalhador em relação aos diversos agentes observados no ambiente de

trabalho, como: ruído, calor, poeira, radiação solar, vibração, vapor, gases,

substâncias químicas, etc.

O que pode e deve ser feito para melhorar as condições de segurança

do trabalho do operário é a utilização dos EPIs adequados aos riscos a que o

mesmo está submetido, protegendo a sua saúde e integridade física (NR 6), o

controle da exposição do trabalhador ao risco obedecendo aos limites de tolerância

(NR 15), à sinalização de segurança (NR 26) adequada e efetiva nos trechos onde

ocorrem as intervenções.

Em certos casos, a presença dos guardas de trânsito é um fator

primordial para prevenção de acidentes, visto que os serviços ocorrem

principalmente nas ruas e avenidas que funcionam como corredores de transporte

urbano, onde é maior o volume e mais pesado o tráfego e que, além dos homens

fazendo as tarefas manuais do serviço com ferramentas e equipamentos, existe a

circulação no trecho de máquinas pesadas e veículos de transporte de material.

4.3 ANÁLISE DE ATIVIDADE

Nesta análise, foram estudadas as atividades desenvolvidas pelos

trabalhadores, avaliando-se o trabalho e não o trabalhador, procurando

compreender a relação existente entre o trabalhador, a tarefa e os meios para a

realização da mesma. A análise foi realizada nas atividades desenvolvidas na

execução da operação tapa-buraco e nos serviços de recapeamento, que envolvem

dimensionamento de equipes, máquinas e equipamentos, além de atividades

diferentes e, em função dessas características diferenciais foi realizada a análise

individual de cada tipo de serviço de conservação objeto da pesquisa.

97

4.3.1 Atividades desenvolvidas na operação tapa-buraco

Na operação tapa-buraco realizada pela SOMURB, são desenvolvidas

as seguintes atividades pelo trabalhador para execução dos serviços, utilizando-se

durante estas atividades as ferramentas, equipamentos e máquinas discriminadas

no Quadro 4, com o respectivo principal fator de risco à segurança e à saúde do

trabalhador.

Atividades Ferramentas/máquinas Fator de risco

Corte do pavimento Picareta/chibanca Postura/movimento

Escavação do pavimento Picareta/enxada Postura/movimento

Remoção do material Pá Postura/movimento

Varredura da superfície do fundo do buraco e do entorno

Vassoura Postura/ movimento

Imprimadura/pintura de ligação (emulsão asfáltica)

Caneta manual/caneca Contato direto com a substância química do asfalto

Retirada do PMF/CBUQ do caminhão basculante

Garfo/pá Postura/movimento

Colocação do PMF/CBUQ no carro de mão para transportar

Garfo / pá Postura/movimento

Transporte do PMF/CBUQ Carro de mão Postura/movimento

Preenchimento do buraco com PMF/CBUQ

Garfo /pá Postura/movimento

Espalhamento e nivelamento do PMF/CBUQ

Rastelo Postura/movimento

Compressão do PMF/CBUQ Rolo compactador /placa vibratória

Ruído/ vibração

Quadro 3 – Ferramentas e máquinas utilizadas nas atividades desenvolvidas na operação tapa buraco com os principais fatores de riscos. Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Foram levantados para a pesquisa os dados sobre as dimensões e os

pesos das ferramentas e equipamento de transporte de carga utilizados nas

atividades manuais relacionadas na Figura 5, que são os informados na Tabela 14.

98

Tabela 14 – Ferramentas e equipamento de transporte de carga utilizados na operação tapa buraco com respectivas dimensões e peso

FERRAMENTAS DIMENSÕES PESO ( kg )

Picareta c/ cabo 0,90 m 3,5 Chibanca c/ cabo 0,90 m 3,5 Enxada c/ cabo 1,49m 1,5

Pá c/ cabo 1,00 m 1,0 Garfo c/ cabo 1,00 m 2,0

Vassoura c/ cabo 1,28 m 1,0 Rastelo c/ cabo 1,46 m 3,0 Carro de mão 0,08 m³ 22,0

Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Levantaram-se, também, os dados sobre a idade, altura, peso e grau de

instrução dos trabalhadores da SOMURB, que se revezam nas atividades citadas na

tabela 11, para se ter uma base das características e padrões físicos dos operários,

conforme ilustrada na tabela 15.

Tabela 15 – Idade, altura, peso e grau de instrução dos trabalhadores que desenvolvem atividades na operação tapa buraco

Trabalhadores (nº) Idade (anos) Altura( m ) Peso (kg ) Grau de instrução

1 38 1,62 60 1º (incomp.) 2 41 1,56 58 1º 3 44 1,67 70 S/instrução 4 40 1,63 65 1º (incomp.) 5 35 1,78 78 1º (incomp.) 6 34 1,69 63 1º 7 57 1,60 72 1º (incomp.) 8 28 1,78 65 1º 9 29 1,66 60 1º (incomp.) 10 42 1,70 77 S/instrução 11 37 1,65 70 1º 12 20 1,69 59 1º 13 23 1,80 90 2º (incomp) 14 31 1,74 72 1º (incomp) 15 32 1,74 98 1º (incomp.)

Fonte: Pesquisa de campo (2005).

Fazendo-se um comparativo com os dados apresentados na tabela 16,

que traz o número de acidentes de trabalho registrado por grupos de idade, verifica-

se que a maioria dos trabalhadores está incluída nos grupos com maiores incidência

99

de acidentes, sendo mais um dado que deve ser incorporado à análise, já que as

atividades desenvolvidas na operação tapa-buraco são realizadas por trabalhadores

que estão dentro de grupos etários, em função do próprio tipo de atividade, com

maiores probabilidades de ocorrência de acidentes do trabalho.

Tabela 16 – Acidentes de Trabalho Registrado por Idade GRUPOS DE IDADE NÚMERO DE ACIDENTES

Até 19 anos 14.007 20 a 24 anos 73.125 25 a 29 anos 73.898 30 a 34 anos 61.383 35 a 39 anos 54.820 40 a 44 anos 44.586 45 a 49 anos 33.601 50 a 54 anos 20.001 55 a 59 anos 9.857 60 a 64 anos 3.696 65 a 69 anos 900

70 anos e mais 289 Ignorada 47

Total 390.180 Fonte: Anuário Brasileiro de Proteção (2005).

4.3.2 Análise relativa às posturas e movimentos

Posturas e movimentos têm uma grande importância na ergonomia,

sendo determinados pela tarefa e pelo posto de trabalho, pois, para suas realizações

são acionados diversos músculos, ligamentos e articulações do corpo que, sendo

executados de forma inadequada, produzem tensões mecânicas nos músculos,

ligamentos e articulações, que resultam em dores no pescoço, costas, ombros,

punhos e outras partes do sistema músculo-esquelético (DUL; WEERDMEESTER,

1995).

As posturas dos trabalhadores que têm a função na equipe de tapa-

buraco da SOMURB, de serventes e rasteleiro, que executam as atividades na

posição em pé, levantando pesos, empurrando e puxando cargas, verificadas na

pesquisa são as apresentadas no Quadro 5.

100

ATIVIDADES POSTURAS (EM PÉ) MOVIMENTOS RISCOS

Corte do pavimento

Tronco e cabeça inclinados; punhos

inclinados com pegas inadequadas.

Movimento de levantar os dois braços em

conjunto com peso de 3,5kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Escavação do pavimento

Tronco e cabeça inclinados; punhos

inclinados com pegas inadequadas

Movimento de levantar os dois braços em

conjunto com peso de 1,5 kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Remoção do material

Tronco e cabeça inclinados

Movimento de levantar os dois braços em conjunto com peso variável entre 1 e 6

kg.

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Varredura da superfície do

fundo buraco e do entorno

Tronco e cabeça inclinados; punhos

inclinados com pegas inadequadas

Movimento de empurrar com os dois braços com peso de

1kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Imprimadura/pintura de ligação

Tronco e cabeça inclinados com postura

de mãos e braços inadequadas

Movimento dos braços e mãos

Contato direto com substância química

Retirada do PMF/CBUQ do

caminhão basculante

Tronco e cabeça inclinados,

Movimento de empurrar com os dois braços com peso entre

2 e 10 kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Colocar PMF/CBUQ no carro de mão

para transportar

Tronco e cabeça inclinados

Movimento de levantar com os dois braços em

conjunto com peso entre 1 e 9 kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Transportar o PMF/CBUQ

Tronco e cabeça inclinados; mãos e

braços flexionados.

Movimento de levantar e empurrar com os

dois braços com peso entre 22kg e 147 kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Preencher o buraco com PMF/CBUQ

Tronco e cabeça inclinados;

Movimento de levantar com os dois braços em

conjunto com peso entre 1 e 9kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Espalhar e nivelar

PMF/CBUQ

Tronco e cabeça inclinados; punhos

inclinados com pegas inadequados

Movimento de empurrar com os dois braços em conjunto um peso mínimo de

3kg

Tensões prejudiciais aos músculos e

articulações

Compactação do PMF/CBUQ

Postura sentado, tronco e cabeça

torcidos

Movimentos rotacionais da cabeça

Tensões prejudiciais aos músculos lombares e torções prejudiciais a

coluna vertebral

Quadro 4 – Levantamento das posturas, movimentos e riscos relativos, nas atividades desenvolvidas na operação tapa buraco. Fonte: Pesquisa de campo (2005).

101

Conforme Dul e Weerdmeester (1995, p. 37), as ferramentas manuais

não devem exceder a 2 kg, verificando-se na pesquisa que três das ferramentas

manuais das mais utilizadas como as picaretas, chibancas e rastelos, têm as duas

primeiras 3,5 kg e a outra 3,0 kg, e o equipamento de transporte de carga utilizado, o

carro de mão, que tem 22 kg sem carga. Verificou-se também que não se leva em

consideração as dimensões antropométricas dos operários, na utilização das

ferramentas, não ocorrendo uma necessária variação do comprimento do cabo das

mesmas para uma melhor adaptação do trabalhador, em função das suas

dimensões, e não existe uma preocupação com as espessuras e um tratamento

adequados dos cabos das ferramentas, no sentido de uma melhora das pegas, parte

da ferramenta que é segurada pelas mãos, onde a forma e a localização possibilitam

uma boa postura para as mãos e braços.

O levantamento e transporte de carga são feitos através do carro de

mão, superando no caso do levantamento de peso, o limite recomendado

ergonomicamente que é de 23 kg, para atender os parâmetros recomendados pelo

National Institute for Occupational Safety and Health - NIOSH, vale ressaltar que só

carro de mão que é constituído de chapa de ferro pesa 22 kg, e quando está com

material asfáltico, fica entre 100 e 147 kg, dependendo do carregamento realizado

pelo operário que está executando a tarefa.

A legislação, segundo a lei nº 6.514, Seção XIV, Artigo 198, estabelece

60 kg, como o peso máximo que um empregado pode remover individualmente, não

estando incluída na proibição deste artigo a remoção de um peso acima de 60 kg,

realizado através de carro de mão. Verificou-se que não existe nenhuma

recomendação ou treinamento para que se execute este levantamento de peso com

uma postura adequada, evitando uma curvatura do dorso, mantendo a coluna reta e

usando a musculatura das pernas, e a carga o mais próximo possível do corpo, além

de evitar que obstáculos atrapalhem os movimentos durante o transporte.

Na execução das tarefas dos serventes e rasteleiros ocorrem atividades

com posturas e movimentos repetitivos, o que, por longo período, torna essas

atividades fatigantes, podendo produzir lesões nos músculos e articulações, que

devem ser prevenidas, nesse caso, com alternância das tarefas. Em função disso,

foi observada na pesquisa a existência de um rodízio de trabalhadores na execução

de tarefas, mas não organizada de maneira sistemática e periódica, para que se

possa controlar e avaliar os resultados.

102

Em termos fisiológicos, pode-se estimar a demanda energética do

coração e dos pulmões, exigidas por um esforço muscular. Nesses casos, a maioria

da população pode executar tarefas usuais por um longo tempo, sem sentir fadiga

pelo esgotamento energético, desde que essa demanda não exceda 250 Watts.

Funções que têm como exemplos de atividades com demanda menor que 250 watts:

datilografia, trabalhos domésticos, andar a passo normal ou pedalar por lazer (DUL;

WEERDMEESTER, 1995).

As tarefas manuais isoladas e/ou em conjunto na operação tapa-buraco,

excedem em muito a demanda energética máxima para a realização de tarefas sem

o risco da fadiga pelo esgotamento energético, devendo obrigatoriamente introduzir-

se um descanso para recuperação e a substituição dentro de um rodízio para uma

tarefa com atividades mais leves.

Na pesquisa pôde-se constatar que riscos classificados como

ergonômicos na Tabela I da NR 5, como controle rígido de produtividade e

imposição de ritmos excessivos de trabalho, não ocorrem na execução dos serviços

de tapa buraco realizados pela SOMURB, só em casos urgentes e isolados, pois,

normalmente as equipes trabalham com uma quantidade definida previamente de

massa quente (CBUQ) ou fria (PMF), que será utilizada em uma ou mais vias,

durante o dia, com um volume de material transportado em caminhão basculante

(6m³) com um peso de 10 toneladas de massa nos tapa-buracos típicos. Esse

material pode, com facilidade e sem imposição de grande produtividade ou de ritmos

excessivos de trabalho, ser utilizado durante a jornada de trabalho normal de oito

horas com as pausas necessárias de descanso e alimentação, isto é, considerando-

se a organização de trabalho existente atualmente.

O operador de rolo compactador que faz a compressão da massa

asfáltica, além de estar sujeito a ruídos, vibrações e calor, em maior intensidade que

os outros trabalhadores da operação, tem a necessidade de controlar

simultaneamente a direção, para frente, na faixa de rolamento que está sendo rolada

e observar atrás a faixa que já foi rolada, controlando a qualidade de execução dos

serviços, tanto na ida como na volta do rolo para completar a passada, com posturas

e movimentos do tronco e da cabeça que podem provocar fadiga e dores

musculares, que nesta operação tapa-buraco são amenizadas em função das

pequenas áreas a serem compactadas, diferentemente do recapeamento. Como as

áreas a serem compactadas são relativamente pequenas, e normalmente neste tipo

103

de operação espalhadas, utilizam-se compactadores manuais ou placas vibratórias,

inclusive para facilitar o transporte, não tendo sido utilizado durante a pesquisa pela

equipe da SOMURB.

4.3.3 Atividades desenvolvidas no recapeamento

Na operação de recapeamento realizada pela SOMURB, são

desenvolvidas atividades pelo trabalhador para execução dos serviços, utilizando-se

as ferramentas, equipamentos e máquinas discriminadas no quadro 6, com os

principais fatores de risco por atividade:

Atividades Ferramentas/máquinas Fator de risco Varredura do trecho Vassoura Postura/movimento Pintura de ligação Aspersor de asfalto /caneta

manual/caneca Contato direto com substancia química do asfalto

Distribuição / Espalhamento do CBUQ

Vibro-acabadora / Motoniveladora

Vibração / Ruído Postura / movimento

Espalhar manual, alinhar e nivelar bordos e juntas de faixas

Rastelo Postura/ movimento

Compressão do CBUQ Rolo metálico e de pneus Vibração/ Ruído Postura / movimento

Quadro 5 – Ferramentas e máquinas utilizadas nas atividades desenvolvidas na operação recapeamento com os principais fatores de riscos. Fonte: Pesquisa de campo (2005).

4.3.4 Análise relativa às posturas e movimentos

As atividades desenvolvidas para a execução das tarefas relativas aos

serviços de recapeamento asfáltico diferem essencialmente na distribuição do

material asfáltico, o CBUQ. Este é feito mecanicamente através de uma máquina, a

vibro-acabadora, que promove o espalhamento da massa na espessura e largura

desejadas, como também uma compactação inicial em função das vibrações,

abastecida diretamente pelos caminhões basculantes, e que percorre o trecho a ser

recapeado, movida pelo operador e com serventes em pé na mesa alisadora de

onde sai a massa controlando a espessura a ser distribuída. Importante destacar

que a máquina utilizada pela SOMURB tem 27 anos de fabricação, não existindo

104

uma regulação automática da espessura. Em alguns serviços de recapeamento, por

não ser possível, por algum motivo, a utilização da vibro-acabadora, ou por decisão

estratégica e técnica para execução de determinados serviços, o material asfáltico é

espalhado pela motoniveladora após o tombamento do material pelo caminhão

basculante diretamente no trecho da via a ser recapeada. Neste caso, o próprio

operador da máquina controla a altura da lâmina que define a espessura da capa,

sendo que nos dois casos existe a ajuda de um operário que utiliza uma haste de

ferro com escala em cm, que, introduzida na massa informa a espessura da capa

que está sendo distribuída ou espalhada. Outra diferença importante é na rolagem

para compactação da massa asfáltica, que no caso do recapeamento, a SOMURB

só utiliza o CBUQ e os rolos utilizados são maiores e mais pesados, tanto de chapa

metálico do tipo tandem, como o pneumático, tornando as atividades descritas na

compactação dos serviços tapa buraco e de recapeamento mais intensas. Já nas

grandes áreas, que são compactadas continuamente, a imposição de um ritmo

grande de trabalho e de um controle de produtividade e qualidade de serviço, os

níveis de ruído, vibrações, calor e stress são bem maiores para os operadores

nestes serviços, tanto quanto as posturas e os movimentos realizados nas

operações dos rolos durante uma jornada de trabalho que, normalmente, nestes

serviços, são prolongadas, incluindo o período noturno.

Nos serviços de recapeamento, em função do volume de material

asfáltico a ser utilizado na via ter que ser proporcional à capacidade de produção da

usina de asfalto e o material utilizado o CBUQ, tem que estar usualmente a uma

temperatura mínima de 119 ºC para o seu espalhamento na pista. Sendo uma

intervenção de conservação de pavimento de grande logística de material e

equipamento com um custo considerável para a empresa, com muita visibilidade, o

sucesso da operação depende da qualidade dos serviços, provocando em todas as

tarefas um ritmo que atenda à produção da usina de asfalto e que o CBUQ que

chegar nas vias seja imediatamente aplicado dentro da temperatura mínima de

aplicação, inclusive prolongando a jornada de trabalho caso o período normal não

seja suficiente para aplicação do material já fabricado, por não ter condições de

estocar para aproveitamento posterior. O ritmo de trabalho, o volume de material e a

área a ser trabalhada, as exigências de produtividade e a qualidade dos serviços

tornam as atividades desenvolvidas para a execução das tarefas semelhantes às

descritas na operação tapa buraco, mais pesadas e desgastantes, considerando-se

105

os fatores biomecânicos, fisiológicos e antropométricos, como: posturas,

movimentos, levantamentos de peso, demanda energética, ferramentas

inadequadas, etc.

C A P Í T U L O V – D I A G N Ó S T I C O E R G O N Ô M I C O

A formulação de um diagnóstico ergonômico, do ponto de vista da

metodologia, tem que ser vista como uma síntese da análise ergonômica do

trabalho, onde as hipóteses de trabalho que são formuladas nas diversas fases

desta análise e os diversos dados levantados são fundamentais para a formulação

do diagnóstico ergonômico do trabalho (FIALHO; SANTOS, 1995).

O diagnóstico ergonômico, objeto da pesquisa, está baseado nos dados

levantados nas diversas etapas da análise ergonômica do trabalho de execução de

conservação de pavimentos asfálticos na vias urbanas da cidade de Maceió-AL,

conservações do tipo tapa-buraco e recapeamento, realizadas pela SOMURB,

ocorrendo nas etapas citadas, a análise de demanda, a análise de tarefa e a análise

das atividades dos trabalhadores nas execuções das tarefas.

5.1 DIAGNÓSTICO RELATIVO À DEMANDA

A demanda considerada para análise nesta etapa foi a formulada

diretamente pela empresa responsável pela execução dos serviços, neste caso a

SOMURB. Através da análise desta demanda obteve-se o seguinte diagnóstico, na

execução dos serviços de conservação asfáltica na cidade se Maceió-AL:

� serviços executados em frente de trabalho;

� serviço permanente e rotineiro ( tapa buraco);

� serviço periódico (recapeamento)

� serviço enquadrado na legislação com grau de risco máximo;

� serviço com muita visibilidade social e política;

� serviço fundamental para a administração municipal;

� serviço com organização e modo operatório conhecidos;

� mão-de-obra com pouca instrução e qualificação;

� falta de inovação tecnológica nas execuções dos serviços;

� custo elevado da operação;

107

� necessidade de utilização de máquinas, veículos, equipamentos e

ferramentas;

� dificuldade de adoção de medidas de proteção coletiva.

� necessidade de utilização de diversos tipos de equipamentos de

proteção individual;

� demanda de serviço acima da capacidade de atendimento.

5.2 DIAGNÓSTICO RELATIVO ÀS TAREFAS

Este diagnóstico tem como base a análise ergonômica da tarefa, que

coincide com a análise das condições dentro das quais o trabalhador desenvolve

suas atividades de trabalho. Do ponto de vista ergonômico, a situação de trabalho é

um sistema, cujas exigências de trabalho que determinam as atividades do

trabalhador são a entrada, e as saídas do sistema são os resultados desta atividade.

Foram diagnosticadas, através da análise realizada na pesquisa de

campo, as seguintes características relativas às tarefas de execuções de

conservação da pavimentação asfáltica nas vias urbanas da cidade de Maceió-AL:

� trabalho composto por mais de uma tarefa;

� tarefas prescritas / induzidas/ atualizadas;

� tarefas realizadas em equipe;

� equipes compostas por trabalhadores com cargos de pouca

qualificação;

� tarefas executadas por trabalhadores com cargo com maiores

índices estatísticos de acidentes fatais e não fatais na Classificação

Brasileira de Ocupação - CBO ;

� tarefas realizadas com equipes com conhecimento e experiência do

serviço;

� o trabalho exige várias repetições das mesmas tarefas;

� não se observam fatores de enriquecimento do cargo;

� observa-se uma extensão do trabalho com o rodízio dos

componentes da equipe na execução dos serviços manuais de

mesma complexidade;

108

� utilização de máquina, equipamentos e ferramentas na execução

das tarefas;

� tarefa dos serviços de tapa-buraco realizada geralmente durante o

período das 9 horas diárias de trabalho, de segunda a quinta-feira, e

8 horas na sexta-feira.

� tarefas dos serviços de recapeamento normalmente tendendo a

prolongar as jornadas de trabalhos, e realização de trabalho noturno;

� tarefas do tapa-buraco realizadas em ritmo normal e baixa

produtividade;

� tarefas do recapeamento realizadas em ritmo puxado e com grande

produtividade;

� trabalhadores com período de descanso de 1 hora, durante a

jornada normal de trabalho;

� a empresa não atende ao estabelecido na NR 17, item 17.6, relativo

à organização do trabalho, no subitem 17.6.3, que estabelece

procedimentos para as atividades que exigem sobrecarga muscular

estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros

superiores e inferiores.

5.3 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL

Diagnosticou-se na análise das condições ambientais em que se

realizam os serviços de conservação de pavimentos asfálticos, do tipo tapa-buraco e

recapeamento, que os trabalhadores estão submetidos a fatores ambientais que são

riscos à segurança e saúde, fatores esses assim identificados:

� nível de ruído acima de 85 dB(A), principalmente os operadores de

máquinas pesadas;

� as condições ambientais de trabalho não atendem ao estabelecido

na NR 17, no item 17.5, que estabelece que as mesmas devem

estar adequadas às características psicofisiológicas dos

trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado;

� vibrações para os operadores de máquinas e principalmente para os

operadores de rolos compactadores;

109

� trabalhadores expostos ao calor em ambiente externo com carga

solar, acima dos limites de tolerância;

� trabalhadores expostos à radiação não ionizante, à radiação solar;

� trabalhadores expostos a poeiras, na execução das tarefas de

limpeza e varreduras das superfícies das vias onde ocorrerão as

intervenções;

� trabalhadores expostos a gases tóxicos produzidos pela combustão

dos motores de explosão das máquinas, equipamentos e veículos;

� trabalhadores expostos a vapores provenientes dos elementos

voláteis do material betuminoso (CAP) utilizado no prémisturado a

quente ( CBUQ);

� trabalhadores em contato direto com substâncias químicas que

compõem os materiais betuminosos;

� serviços executados em vias públicas, com arranjo físico

improvisado e quase sempre inadequado.

5.4 DIAGNÓSTICO RELATIVO ÀS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

O diagnóstico relativo à segurança e à saúde do trabalhador nas

atividades desenvolvidas pelo mesmo na execução das tarefas inerentes a

realizações de conservação de pavimento asfáltico, do tipo tapa buraco e

recapeamento, tem como base a análise das atividades, fundamentadas em fatores

biomecânicos, fisiológicos e antropométricos, assim relacionados:

� trabalhadores incluídos nos grupos etários, em que estatisticamente

ocorrem a maior incidência de acidentes do trabalho;

� trabalhos executados em pé, com exceção dos operadores de

máquinas;

� exigência de posturas com inclinações do tronco, cabeça e punhos;

� postura e movimentos repetitivos por longo período;

� nível de atividade com grande demanda energética;

� não se consideram fatores antropométricos, para realização das

atividades e nos usos e dimensões das ferramentas;

� ocorrência de movimentos com levantamento de peso;

110

� transporte de carga;

� movimento de puxar e empurrar carga;

� maior número de tarefas com cargas manuais;

� ferramentas pesadas e mau conservadas;

� ferramentas sem pegas adequadas.

5.5 RECOMENDAÇÕES

5.5.1 Recomendações relativas à demanda

A SOMURB deve qualificar melhor a sua mão-de-obra, inclusive com

treinamento adequado, para utilização de novos equipamentos existentes no

mercado, o kit compacto tapa-buraco, dotado de inovações tecnológicas, com

capacidade de 6 m³ de massa, com isolação térmica, sistema de aquecimento

elétrico, reservatório de emulsão, pulverizador manual, caneta manual para pintura

de ligação, rompedor hidráulico, placa vibratória, serra policorte, ente outras

tecnologias, que têm que ser adquiridos pela empresa no sentido de melhorar os

serviços de conservação em termos de qualidade e produtividade, e também

organizacional, já que o kit compacto tapa-buraco é constituído de equipamentos

que transportam materiais que não precisam ser transportados por outros veículos,

diminuindo a equipe necessária para execução da operação tapa-buraco,

substituindo ferramentas manuais que eram utilizadas para corte e rompimento do

pavimento por equipamentos, que exigem menos esforço do trabalhador com maior

produtividade, causando menos transtorno ou problemas nas vias de volume de

tráfego, em virtude da menor dimensão da área a ser interditada para a execução

dos serviços como também pela agilidade da execução dos mesmos.

Quanto à operação de recapeamento, a recomendação em relação à

mão-de-obra é a mesma, só que direcionada aos operadores das máquinas

pesadas, como vibro-acabadora, motoniveladora, rolos tandem e de pneus, devendo

a empresa adquirir novas máquinas, porque no momento só tem a vibro-acabadora,

com mais de 27 anos de fabricação e uso e com tecnologia ultrapassada e má

conservação. Da mesma forma também são as duas motoniveladoras existente,

111

antigas e mal conservadas, o que provoca um grande índice de quebras, exigindo o

aluguel de equipamentos com grande dificuldade, pois há falta deste tipo de

equipamento no mercado de Maceió para alugar; os rolos tandem e de pneus

antigos, também com atraso tecnológico, sendo necessário, devido à urgência com

com que as demandas surgem, a empresa adquirir estas máquinas com modernos

recursos tecnológicos, garantindo uma maior rentabilidade, praticidade e qualidade

na execução dos serviços, além de conforto e segurança para o operador, pois

esses novos equipamentos refletem uma preocupação do fabricante de dotar o

posto de comando de condições ergonômicas para execução dos trabalhos .

Em relação à política de segurança e à saúde do trabalhador, a empresa

SOMURB, em função do grau de risco da atividade econômica desenvolvida e do

número de empregados da empresa, deve manter os Serviços Especializados em

Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, conforme o estabelecido na

NR 4, composto de 1(um) engenheiro de segurança do trabalho, 1(um) médico do

trabalho, e 2(dois) técnicos de segurança do trabalho. A empresa deve elaborar e

implementar um Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO,

como estabelece a NR 7, fundamental para a prevenção e o controle dos problemas

relativos à saúde do trabalhador relacionados ao trabalho, através de diagnósticos

precoces que evitam o agravamento do mal, e com os dados clínico-

epidemiólogicos, poderão estabelecer a relação entre a doença e a atividade

desenvolvida pelo trabalhador, informação essa que será essencial para mudanças

de rumos na forma de prevenção e organização na busca da melhoria da segurança

e da saúde do trabalhador. A empresa deve elaborar o Programa de Prevenção de

Riscos Ambientais – PPRA, de acordo com a NR 9, com o objetivo de

implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos

processos e no meio ambiente de trabalho, no caso específico pesquisado, nos

serviços de conservação de pavimentação asfáltica.

5.5.2 Recomendações relativas à tarefa e ao ambiente

� As equipes devem ser qualificadas e treinadas para utilização de

novas tecnologias, para a realização das tarefas;

112

� Os cargos dos ocupantes da equipe devem sofrer um

enriquecimento e alargamento vertical, tornando o cargo mais

completo, acrescentando-lhe, onde for possível, tarefas mais

complexas;

� Adotar com critério e planejamento a alternância das tarefas entre

os componentes da equipe, de forma a evitar repetitividade e

monotonia, mas sempre observando o nível de instrução e a

experiência de cada elemento para a realização dessa alternância;

� Evitar, sempre que possível, o prolongamento das jornadas de

trabalho, verificado nos serviços de recapeamento;

� Deve-se atender ao estabelecido na NR 17, item 17.6, relativo à

organização do trabalho, subitem 17.6.3, que diz: “Nas atividades

que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço,

ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da

análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte: a)

todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de

remuneração e vantagens de qualquer espécie deve levar em

consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores; b)

devem ser incluídas pausas para descanso; c) quando do retorno ao

trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15

(quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno

gradativo aos níveis de produção vigente na época anterior ao

afastamento”.

� A empresa, dentro do possível, deverá atender à NR 17 no item

17.5, relativa às condições ambientais de trabalho, que no subitem

17.5.1 estabelece o seguinte : “As condições ambientais de trabalho

devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos

trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado”;

� Utilizar sempre equipamento medidor de nível de pressão sonora no

local que possibilite a verificação desse nível para utilização de EPIs

indicados para proteger a saúde do trabalhador exposto ao ruído

acima do limite de tolerância;

� Amenizar os efeitos prejudiciais à saúde dos operadores das

máquinas e o desconforto provocado pela vibração do corpo inteiro

113

na execução das tarefas, em que são utilizadas a vibro acabadora,

rolos compactadores e motoniveladoras, substituindo-se as mesmas

por máquinas novas, com mais recursos tecnológicos e conforto no

posto de comando do operador ou, dentro do possível, melhorar a

manutenção das máquinas atuais para que diminuam as vibrações

dos equipamentos, quando as mesmas não são necessárias para a

sua operação e diminuir o tempo de exposição à vibração do corpo

do operador, de modo que o nível de vibração e tempo de exposição

combinados não sejam desconfortáveis e prejudiciais à saúde dos

operadores;

� As vibrações das mãos e dos braços, que ocorrem quando do uso

de equipamentos e ferramentas pneumáticas como rompedor, serra

policorte e placas vibratórias, embora os dois primeiros não

estivessem sendo utilizados pela equipe da SOMURB durante a

pesquisa de campo, são necessários para uma melhor produtividade

e qualidade dos serviços. Para prevenir o problema de circulação de

sangue nos dedos, o “dedo branco”, deve-se fazer a combinação do

nível de vibração com o tempo de exposição do trabalhador com uso

do equipamento para uma faixa confortável e segura;

� Os trabalhos são realizados em ambiente externo com carga solar,

devendo, dentro do possível, os trabalhadores ficarem expostos ao

calor em regime intermitente com períodos de descanso no próprio

local, atendendo aos limites de tolerância da NR 15, anexo nº 3,

quadro nº 1, para tipo de atividade pesada, que define os períodos

de trabalho e descanso em função do IBUTG (Índice de Bulbo

Úmido – Termômetro de Globo);

� Os trabalhadores estão expostos, durante longo período do dia, à

radiação solar, devendo ter o corpo protegido pelo fardamento

adequado ao clima e, nas partes do corpo que ficam desprotegidas

devem ser passados cremes protetores contra radiação solar, de

acordo com a NR 6;

� Os trabalhadores que executam os serviços de limpezas e

varreduras das superfícies devem utilizar máscaras apropriadas para

proteção contra poeira. Convém ressaltar que não se verificou de

114

forma constante o uso deste EPIs durante a pesquisa, apesar do

fornecimento do mesmo pelo órgão público;

� Os trabalhadores, quando estão executando tarefas que envolvem o

contato ou a proximidade com a mistura betuminosa a quente, o

CBUQ, quando ocorre a vazão a ocorrência de vapores oriundos das

substâncias voláteis que constituem o ligante betuminoso, o CAP,

deverão utilizar máscaras com filtros adequados para combater a

absorção por vias respiratórias dos vapores tóxicos;

� Os trabalhadores que executam as tarefas de pintura de

ligação/imprimação, tanto com a caneta manual ou com a caneca,

têm que utilizar a máscara com filtro para combater a absorção do

vapor tóxico, como luvas e botas adequadas para evitar o contato

direto com a substância tóxica na forma líquida e sua absorção pela

pele, e óculos para evitar o contato com os olhos;

� Os trabalhos de conservação, principalmente o tapa-buraco, quando

as tarefas foram executadas em vias de grande volume de tráfego,

devem, além de utilizar uma sinalização de segurança padronizada e

de acordo com as normas vigentes de segurança e trânsito, evitar o

máximo de improvisações, para que se possa, dentro do possível,

nos trechos onde ocorrem as intervenções, fazer arranjos físicos

adequados às realizações das tarefas.

5.5.3 Recomendações relativas às atividades desenvolvidas

� O órgão, dentro do possível e necessário, deve atender o

estabelecido na NR 17, item 17.3, relativo ao mobiliário dos postos

de trabalho, que estabelece o seguinte: “Para as atividades em que

os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados

assentos para descanso em locais que possam ser utilizados por

todos os trabalhadores durante as pausas”;

� As ferramentas manuais não devem exceder a 2 kg;

� As empunhaduras das ferramentas devem ser curvas para não

torcer o punho, e colocação de cabos curvos nas ferramentas

115

manuais, em vez de cabos retos que provocam dores nas costa dos

usuários;

� A forma da pega da ferramenta e a sua localização têm que

possibilitar uma boa postura para as mãos e os braços;

� As ferramentas têm que estar bem conservadas;

� Devem ser evitadas dentro do possível atividades que provoquem

movimentos em que as mãos e os cotovelos fiquem acima do nível

dos ombros e para trás do corpo, substituindo a ferramenta por outra

que evite estes movimentos, ou oriente o trabalhador demonstrando

a postura correta para a execução dos movimentos;

� Restringir o número de tarefas que envolvam o movimento com

levantamento de pesos, substituindo a demarcação e o corte do

pavimento com a picareta, pela serra policorte e o martelete

rompedor;

� Devem ser atendidas as exigências da NR 17, ao item 17.2, que

estabelecem parâmetros para o levantamento, transporte e descarga

individual de materiais, nos sub-itens 17.2.2, 17.2.3 e 17.2.4;

� Criar condições favoráveis para o levantamento e transporte de peso

acima de 23 kg, com treinamento e orientação sobre as técnicas

corretas em relação à postura e aos movimentos a serem realizados

e à duração da tarefa que exija o levantamento e transporte de peso

acima de 23 kg. Essa duração não deve ser maior que uma hora,

devendo ser seguido por tarefas mais leves ou período de descanso

de 120 % de duração da tarefa de levantamento e transporte de

peso. Avaliar a possibilidade da utilização da Equação de NIOSH

para estimar a carga máxima;

� Deve-se levar em consideração para distribuição das tarefas,

principalmente as que requerem atividades mais desgastantes e

pesadas, as características físicas e a idade do trabalhador;

� Dentro do possível e do que o mercado disponha, deve-se ter

ferramentas de tamanhos e pesos diferenciados, para que se possa

adequar de melhor forma as ferramentas às diferenças individuais

do corpo do trabalhador, tornando o desenvolvimento das atividades

mais seguro e produtivo.

C A P I T U L O V I – A V A L I A Ç Ã O D A M E T O D O L O G I A D E A N Á L I S E E R G O N Ô M I C A

6.1 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DA DEMANDA

De acordo com Fialho e Santos (1995), a demanda é o ponto de partida

de toda análise ergonômica do trabalho e sua origem pode ocorrer nos diversos

atores sociais da empresa, direta ou indiretamente envolvidos pelos problemas

ergonômicos existentes na situação de trabalho analisada, onde pode-se distinguir

três grandes grupos de demandas de intervenção ergonômica.

� As demandas formuladas com objetivo de buscar recomendações

ergonômicas para implantação de um novo sistema de produção.

Neste caso, a intervenção ergonômica contribuirá no sentido de

integrar, no processo de concepção do projeto industrial, os

conhecimentos relativos ao homem em atividade de trabalho.

� As demandas formuladas com objetivo de resolver disfunções do

sistema de produção já implantado, relativas ao comportamento do

homem, da máquina, ou ainda, da organização, que se traduzem em

problemas ergonômicos (sofrimento físico e mental, doenças

profissionais, acidentes, incidentes, absenteísmo, baixa

produtividade, qualidade insuficiente). Neste caso, a partir de uma

análise ergonômica da situação existente, pode-se realizar um

diagnóstico dessas disfunções e propor uma série de

recomendações.

� As demandas formuladas com o objetivo de identificar as novas

condicionantes de produção, numa determinada situação de

trabalho, introduzidas pela implantação de uma nova tecnologia e /

ou pela introdução de novos modos organizacionais. Neste caso,

117

pode-se realizar uma análise ergonômica da situação de referência

(antes da implantação da nova tecnologia) e da situação já

modernizada, de modo a identificar as condicionantes que

desaparecerão, as condicionantes que permanecerão e as novas

condicionantes que surgirão, com a implantação da nova tecnologia.

No caso deste trabalho de pesquisa a demanda se enquadra no

segundo grupo, já que o mesmo apresenta um diagnóstico relativo aos riscos à

segurança e saúde do trabalhador na execução dos serviços de conservação de

pavimentos asfálticos, riscos estes que são disfunções do sistema produtivo já

implantado. Quanto à formulação da demanda, a metodologia teve que ser adaptada

para a sua utilização na realização deste trabalho, porque não ocorreu a formulação

da demanda prevista na metodologia, como: pela direção da empresa, diretamente

pelos trabalhadores, pelas organizações sindicais, pelo conjunto de atores sociais,

pelas instituições públicas legais.

A partida da demanda não prevista pela metodologia ocorreu através

do pesquisador, se não for considerada a previsibilidade do pesquisador estar

incluído dentro dos previstos formuladores de demanda. Neste caso o que pode ser

o diferencial ou facilitador para a utilização da metodologia é o campo a ser coberto

pela demanda, isto é, a sua delimitação, que fica ao critério do formulador. Manteve-

se inalterado o método de levantamento de dados desta fase, obtendo-se os dados

preliminares da situação de trabalho, serem considerados na realização do estudo:

tipo de tecnologia utilizada, organização do trabalho implantada, principais

características da mão de obra disponível, principais aspectos sócio-econômicos da

empresa, e outros pontos de vista á respeito do problema formulado pela demanda.

6.2 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DA TAREFA

Para Fialho e Santos (1995), a tarefa é um objetivo a ser atingido, neste

sentido, sua análise coincide com análise das condições dentro das quais o

trabalhador desenvolve suas atividades de trabalho.

Para utilizar a metodologia, deve-se analisar a tarefa ou as condições de

trabalho em três fases distintas, assim determinadas: a primeira fase delimita o

118

sistema homem-tarefa a ser analisado; na segunda fase procede-se a uma

descrição de todos os elementos que compõe este sistema, isto é, a uma

identificação dos componentes do sistema que condicionam as exigências do

trabalho. Na terceira fase, procede-se a uma avaliação destas exigências.

Os sistemas homens-tarefas, são sistemas mais abrangentes que os

sistemas homens-máquinas tradicionais, em função de que as tarefas englobam não

só as máquinas e suas condições técnicas de trabalho, mas também as condições

organizacionais e ambientais de trabalho, o que torna a sua utilização para a

realização deste trabalho, a mais adequada e confiável para a obtenção de um

diagnóstico ergonômico relativo aos riscos à segurança e saúde do trabalhador nos

serviços de conservação de pavimentos asfálticos.

Segundo Poyet (1990, apud FIALHO; SANTOS, 1995, p.76), pode-se

considerar três diferentes níveis de tarefa: prescrita, induzida e atualizada.

� A tarefa prescrita:

Trata-se do conjunto de objetivos, procedimentos, métodos e meios de

trabalho, fixados pela organização para os trabalhadores. É o aspecto formal e

oficial do trabalho, isto é, o que deve ser feito e os meios colocados à disposição

para sua realização.

� A tarefa induzida ou redefinida:

É a representação que o trabalhador elabora da tarefa, a partir dos

conhecimentos que ele possui das diversas componentes do sistema. É o que o

trabalhador pensa realizar. Pode – se falar, neste caso, em tarefa real ou efetiva.

� A tarefa atualizada:

Em função dos imprevistos e das condicionantes de trabalho, o

trabalhador modifica a tarefa induzida às especialidades da situação de trabalho,

atualizando assim, a sua representação mental referente ao que deveria ser feito.

Esta distinção da tarefa, em três níveis, é importante porque permite, ao analista,

compreender as distâncias que, normalmente, existem entre a definição formal e

oficial daqueles que concebem o trabalho e as representações ‘deformadas’ que o

trabalhador elabora.

119

Neste trabalho de pesquisa verificaram-se os três níveis de tarefas

(prescritas, induzidas e atualizada) na execução dos serviços de conservação de

pavimentos asfáltico, muito em função das improvisações que os trabalhadores são

obrigados a realizar nas frentes de trabalho, devido às situações de trabalho não

previstas.

No caso da descrição das componentes do sistema homens – tarefas,

que tem como finalidade a identificação das exigências do trabalho, materiais,

organizacionais e ambientais, esta realizou-se na análise de postos de trabalho/

frente de trabalho, descrição das tarefas de execução de tapa buraco e

recapeamento e na análise das condições ambientais, sem prejuízo ou necessidade

de adequação a metodologia proposta de análise ergonômica.

6.3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES

Segundo Fialho e Santos (1995), uma situação de trabalho é um

conjunto de cargas de trabalho de diversas naturezas: ergonômicas, sociais,

técnicas e organizacionais. Para a realização de uma determinada tarefa, frente a

essa situação, o homem coloca em funcionamento mecanismos de adaptação e de

regulação. Assim sendo, o que se mede da atividade é relativo à avaliação que pode

ser estabelecida dessas cargas de trabalho, suportadas pelo indivíduo na realização

desta tarefa.

No levantamento dos comportamentos do homem no trabalho são

consideradas as atividades desenvolvidas pelo trabalhador que possam ser

levantadas, através de métodos e de técnicas que sejam aplicáveis numa

determinada situação de trabalho. A partir deste levantamento, o analista será

levado a questionar sobre outros tipos de atividades desenvolvidas pelo homem

para realizar as tarefas prescritas, as quais ele deve identificar para completar sua

análise. O fato é que a ação ou as ações exercidas pelo trabalhador é o que

interessa ao analista, devendo o mesmo procurar compreender a relação existente

entre o trabalhador, a tarefa e seus meios de trabalho.

A escolha do método a ser empregado na análise ergonômica das

atividades de trabalho depende, basicamente, de dois aspectos:

120

� Das características da situação de trabalho a ser analisada:

Neste caso, a escolha está relacionada às exigências, às quais o

trabalhador está sujeito para desenvolver suas atividades de trabalho. Exigências

do tipo fisiológica indicam um método que contemple este componente da atividade.

Em contrapartida, exigências do tipo perceptiva e cognitiva direcionam a um método

que considere estes componentes da atividade.

� Dos objetivos do estudo:

Dependendo dos objetivos fixados pela demanda do estudo, o método a

ser utilizado estará praticamente definido. O método a ser utilizado na análise das

atividades de trabalho, visando a um simples arranjo físico das instalações

existentes, é totalmente diferente de um estudo aprofundado, visando à implantação

de novas instalações.

Neste trabalho de pesquisa foram considerados os dois aspectos, tanto

que se observaram as exigências às quais o trabalhador está exposto no

desenvolvimento de suas atividades em situação de trabalho, como também objetivo

do estudo que é a obtenção de diagnóstico relativo aos riscos da segurança e saúde

do trabalhador no desenvolvimento das atividades, na execução da tarefa de

conservação de pavimento asfáltico.

Do ponto de vista ergonômico, as atividades do homem no trabalho

podem ser analisadas, dentro de um sistema homens-tarefas, compreendendo duas

componentes principais, de um lado o homem (ou homens), e, de outro lado, as

tarefas que ele deve efetuar.

Este modelo é capaz de evidenciar as principais condicionantes que

afetam o desenvolvimento das atividades do homem no trabalho:

� Uma má concepção dos meios de trabalho: apresentação das

informações, coerência entre as modalidades de apresentação destas

informações, as modalidades de atividades das funções sensoriais e

mentais e os objetivos do trabalho (papel de sua disposição espacial,

temporal...).

121

� Características dos objetos, ferramentas, comandos de máquinas

sobre os quais o operador deve agir: dimensões, organização

espacial, peso, resistência, que determinarão as exigências em

termos de trabalho muscular.

� Características ambientais: Ambiente térmico, acústico, luminoso,

vibratório e toxicológico.

� Condicionantes temporais do trabalho: Cadência, duração e horário

de trabalho.

� Características da organização do trabalho: Hierarquia, turnos,

equipes, métodos, comunicação.

� O ambiente psicossociológico.

� Condições de vida extra-profissional.

Para Fialho e Santos (1995), o método de análise das atividades pode

ser definido como o conjunto de meios e procedimentos práticos de análise, que

permitem dar um conteúdo às categorias de um modelo, como no caso deste

trabalho, um modelo antropocêntrico, dentro de um sistema homens – tarefas.

A utilização de métodos e técnicas de análise, relativos a uma

determinada situação de trabalho, deve permitir a obtenção de resultados concretos,

a partir do conhecimento desta realidade do trabalho.

Os métodos de análise das atividades podem ser divididos da seguinte

forma:

� Método de análise do trabalho em termos de atividades gestuais;

� Método de análise do trabalho em termos de informação;

� Método de análise do trabalho em termos de regulação;

� Método de análise do trabalho em termos de processos cognitivos.

O método utilizado neste trabalho de pesquisa foi o de análise das

atividades em termos gestuais, em função da atividade motora ser preponderante

122

na execução da tarefa. No caso desta pesquisa, a operação tapa – buraco e o

recapeamento, e as atividades sensoriais, perceptivas e cognitivas, que estão

sempre presentes na execução da tarefa, podem ser relativamente negligenciadas.

Verificou-se no levantamento de dados para análise ergonômica tanto

das tarefas, como também das atividades, que a lista de verificação de fatores

ergonômicos do Dul e Weerdmeester (1995) é mais ampla e abrangente e menos

focada que a planilha de levantamento de dados utilizado na metodologia do Fialho

e Santos (1995), que nesta pesquisa especificamente, facilitou a coleta de dados,

mas que não inviabiliza a utilização da planilha de levantamento original da

metodologia, mas pode-se complementá-la utilizando-se outros instrumentos de

coleta de dados, dependendo do tipo de tarefa e atividade a ser analisada.

6.4 FACILIDADES X DIFICULDADES NA UTILIZAÇÃO DA METODOLOGIA

FACILIDADES :

� Metodologia prospectiva;

� Serviços com predominância de tarefas manuais;

� Estruturação da metodologia em etapas;

� Levantamento de dados para identificação qualitativa de risco.

DIFICULDADES:

� Não existência de demanda externa;

� Abrangência e complexidade da abordagem ergonômica;

� Caracterização dos riscos a partir de avaliação quantitativa, com

utilização de instrumental e equipamentos adequados;

� Planilha de levantamento de dados de Fialho e Santos (1995)

incompleta/inadequada em relação as tarefas e atividades

desenvolvidas na frente de trabalho;

� Serviços realizados em frentes de trabalho diversas, em situações

diferenciadas com difícil padronização das operações.

C A P I T U L O V I I – P R I N C I P A I S C O N C L U S Õ E S D A P E S Q U I S A

Esta pesquisa acadêmica apresenta um diagnóstico ergonômico relativo

aos riscos à segurança do trabalho nos serviços de conservação de pavimento

asfáltico nas vias urbanas da cidade de Maceió-AL, onde foi realizada pesquisa de

campo, com acompanhamento sistemático, através de observações, entrevistas,

fotografias e filmagens das operações de conservações de pavimento do tipo tapa-

buraco e recapeamento, chegando-se ao diagnóstico a partir da análise ergonômica

do trabalho, realizada em três fases, como recomendam Fialho e Santos (1995),

analisando a demanda, a tarefa e as atividades, e através destas análises foram

diagnosticados, em cada fase, os problemas ou as situações de trabalho que devem

ser corrigidas, de forma a eliminar, se possível, o risco ou potencial de risco à

segurança e à saúde do trabalhador. Apresentamos recomendações com sugestões

de soluções para cada caso observado e identificado como risco à segurança e à

saúde do trabalhador, utilizando para esta identificação a verificação durante a

pesquisa de fatores aplicados a métodos práticos de análise ergonômica, baseados

em Dul e Weerdmeester (1995), que são fatores relativos à tarefa e ao cargo,

biomecânicos, fisiológicos, posturas, movimentos e ambientais.

O diagnóstico, de uma forma geral, identifica a atividade de conservação

de pavimentação asfáltica como uma atividade de risco à segurança e à saúde do

trabalhador, onde as tarefas são executadas em ambientes hostis, com a presença

de agentes físicos como ruído, calor, vibrações, a presença de agentes químicos

como poeira, vapor, gases, substâncias químicas, agentes ergonômicos, levando-se

em consideração a NR 5, tabela I (anexo IV), que são: esforço físico intenso,

levantamento e transporte de peso, exigência de postura inadequada, imposições de

ritmos excessivos, jornadas de trabalhos prolongadas, monotonia e repetitividade. E

riscos de acidentes mecânicos, tais como: arranjo físico improvisado, ferramentas

inadequadas e mal conservadas, máquinas e equipamento sem proteção, etc.

Verifica-se no diagnóstico que o serviço é de caráter permanente e

rotineiro para a administração, com grande importância política e social, visto que

traz o conforto e a segurança aos usuários das vias e principalmente nos corredores

124

de transporte coletivo, e como tem muita visibilidade dá o retorno político à

administração municipal. Mas, em função da demanda e das urgências e

emergências na execução, e também da falta de estrutura do órgão municipal para

ter uma gestão de conservação de pavimentos que atenda a esta demanda de forma

planejada e organizada, não são observadas normas de segurança que são

prioritárias e básicas para a segurança e a saúde do trabalhador, como os usos de

EPIs adequados aos riscos. Dessa forma, a SOMURB não vem cumprindo a

legislação, de acordo com a NR 6, também não cumpre a NR 15, relativa às

atividades e operações insalubres, não se observando e monitorando a exposição

ao ruído, vibrações, ao calor, aos agentes químicos, no caso os hidrocarbonetos que

constituem os materiais asfálticos utilizados na conservação dos pavimentos, que

são substâncias consideradas cancerígenas.

Diagnosticou-se, através de uma pesquisa interna dentro do órgão, que

não se cumpre o que determina a NR 7, que estabelece o Programa de Controle

Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO, como parte integrante do conjunto mais

amplo de iniciativas das empresas no campo da saúde dos trabalhadores e que

deveria estar articulado com os dispostos nas demais NRs, verificando-se, ainda,

que não são realizados nem os exames médicos obrigatórios solicitados no item

7.4.1 da NR 7. A SOMURB, por desenvolver atividades relativas à Indústria da

Construção, deveria atender às diretrizes da NR 18, principalmente em seu item

18.3, que estabelece o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na

Indústria da Construção – PCMAT, mas no caso especifico dos serviços de

conservação de pavimento asfáltico nas vias urbanas de Maceió-AL, o PCMAT não

tem condições de aplicabilidade, devendo o órgão público municipal atender às

exigências contidas na NR 9, que por sua vez, estabelece o Programa de

Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA.

Os Dados Estatísticos que se referem aos Acidentes do Trabalho com

ou sem afastamento e Doenças Ocupacionais relativas às atividades de execução e

conservação de vias com pavimentos asfálticos da cidade de Maceió, são frágeis,

imprecisos e em função da rotatividade da mão- de- obra terceirizada, esses dados

podem ser considerados inexistentes.

O diagnóstico geral a que chegamos ao final desta pesquisa, é que os

riscos identificados e analisados através do método da AET, poderiam ser

eliminados, minimizados ou controlados se a SOMURB elaborasse o Programa de

125

Prevenção de Riscos Ambientais –PPRA, principalmente através de Medidas de

Controle, Nível de Ação, Monitoramento e do Registro de Dados, que são previstos

na NR 9, em seus itens 9.3.5, 9.3.6, 9.3.7 e 9.3.8 e seus subitens respectivamente.

É necessário que, na prática, a empresa cumpra a legislação relativa à Segurança e

Medicina do Trabalho, e utilize a legislação como base para adoção de uma gestão

de segurança e saúde do trabalho que leve a empresa a ser certificada pela norma

de segurança e saúde no trabalho OHSAS 18001, o que deveria ser uma meta a ser

atingida a médio ou longo prazo. É importante afirmar que o governo federal, através

do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE e seus Órgãos Fiscalizadores, as

Delegacias Regionais do Trabalho - DRT, devem fiscalizar o cumprimento destas

leis relativas à segurança e saúde do trabalhador, inclusive ou principalmente nas

empresas e órgão públicos, já que o trabalhador, devido ao baixo nível de instrução,

no caso da atividade pesquisada, fica dependendo da conscientização dos

empresários e seus dirigentes, e quando isto não ocorre, como na maioria dos

casos, os trabalhadores ficam expostos aos riscos que podem vir a provocar

Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais, que causam morte, perda ou

redução permanente ou temporária, da capacidade do trabalhador para o trabalho.

A avaliação da aplicabilidade da método da AET, como método

prospectivo de identificação e análise de risco à segurança e saúde do trabalhador,

demonstrou ser uma metodologia eficiente, em função da abrangência da

ergonomia, onde diversos fatores devem ser levados em consideração na análise

ergonômica do trabalho, como: biomecânicos, fisiológicos, antropométricos,

posturais, de movimentos, de organização de trabalho, de tarefa e cargo e

ambientais. Baseados nos critérios e parâmetros ergonômicos se identificam e

analisam os riscos à segurança e saúde do trabalhador, dividindo estas

identificações e análises em três etapas: análise da demanda, análise da tarefa e

análise das atividades desenvolvidas na execução da tarefa. Esta metodologia difere

das metodologias prospectivas convencionais na forma e na maior abrangência do

conteúdo, apesar de os dois tipos de metodologia, a convencional e a AET , terem

como ferramenta básica a inspeção com a observação sistemática para o

levantamento de dados, tendo como ponto de partida a situação atual, onde

procura-se perceber a existência de riscos nos locais analisados. Na metodologia

convencional da engenharia de segurança, utiliza-se a tipologia dos riscos como

eixo básico, verificando nas inspeções as existências dos mesmos ou adota-se a

126

fonte de risco como eixo de investigação. Na AET a percepção do risco é observada

durante a análise do posto de trabalho/frente de trabalho, da análise homem-tarefa e

das condições ambientais em que são realizadas as tarefas, e da análise das

atividades desenvolvidas pelo homem na execução da tarefa.

Os meios utilizados para o levantamento de dados na identificação de

riscos seguem a mesma instrumentação da metodologia convencional, utilizando-se

questionários, listas de verificação, roteiro de inspeção de segurança, etc., onde

procura-se os riscos comuns, já conhecidos teoricamente. As dificuldades

encontradas nesta metodologia ergonômica também se observa na metodologia

convencional, que é a caracterização dos riscos a partir de avaliações quantitativas

da exposição dos trabalhadores em relação aos limites de tolerância, que requer a

utilização de instrumentos de medição, como no caso de nível de ruído, calor,

vibrações, etc.

As vantagens do método da AET são visíveis no tocante à abrangência

do estudo, que é mais amplo que a simples caracterização dos riscos na visão da

legislação de segurança e medicina do trabalho, pois, principalmente em relação à

ergonomia é muito limitada. A partir da AET, em que se utiliza um ramo do

conhecimento multidisciplinar, esta análise é sintetizada através de um diagnóstico e

propõe-se sugerir recomendações baseadas em parâmetros ergonômicos e também

relativos à legislação de segurança e medicina do trabalho, que devem ser

atendidos não de forma excludente, apenas os relativos à legislação, mas de forma

conjunta, na busca de proporcionar aos trabalhadores o máximo de conforto,

segurança e eficiência na execução do trabalho.

R E F E R Ê N C I A S

ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO 2003. Novo Hamburgo: MPF Publicações, 2003. 146 p. Edição Especial da Revista Proteção. ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO 2005. Novo Hamburgo: MPF Publicações, 2005. 162 p. Edição Especial da Revista Proteção. ARAÚJO, G. M.; BENITO, J.; SOUZA, C. R. C. de. Normas regulamentadoras comentadas: legislação de segurança e saúde no trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: [s. e.], 2000. BALBO, José Tadeu. Gestão da manutenção de pavimentos e seus benefícios para a cidade de São Paulo. Disponível em <http://www.ptr.usp.br>. Acesso em: 28 nov. 2005. BATISTA, Ciro de Freitas Nogueira. Pavimentação. 3. ed. Porto Alegre: Globo, 1978. BUENO, J. Psicomotricidade: teoria & prática. São Paulo: Lovise, 1998. CAMPOS, Manuel F. Legislação e normas técnicas. João Pessoa: UFPB, 1996. (Apostila do Curso de Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho). CHAFFIN, B. D.; ANDERSON, G. Ocupational biomechanics. New York:: Wiley-Intercience, 1984. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho. O manual técnico da máquina humana. [ s. l. ]: ERGO, 1995a. v. 1. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho. O manual técnico da máquina humana. [ s. l. ]: ERGO, 1995b. v. 2. DE CICCO, Francesco M. G. A. F; FANTAZZINI, Mario Luiz. Técnicas modernas de gerências de riscos. São Paulo: IBGR, 1985.

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131

APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA

IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA

Razão social da empresa: _____________________________________________

Endereço: __________________________________________________________

Entrevistado: ________________________________________________________

Cargo: _____________________________________________________________

Data da entrevista : ___/ ___/ ____

1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

1.1 Qual tipo de Empresa?

( ) Pública ( ) Privada ( ) Mista

1.2 Há quantos anos atua nos serviços de manutenção/conservação de pavimentos

asfáticos?

( ) Menos de 5 ( ) Entre 5 e 10 ( ) Entre 10 e 20 ( ) Acima de 20

1.3 Qual a área de atuação da empresa?

( ) Local (Maceió) ( ) Estadual (Alagoas) ( ) Regional ( Nordeste)

( ) Nacional ( Brasil)

1.4 Qual o número de funcionários da empresa ?

( ) De 50 a 100 ( ) De 101 a 250 ( ) De 251 a 500

( ) De 501 a 1000

2 POLÍTICA DE SST DA EMPRESA

2.1 A empresa possui uma política de SST da empresa?

( ) Sim ( ) Não

2.2 Em caso afirmativo, qual a política de SST da empresa ?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

132

2.3 Tendo a empresa uma política de SST implantada, a mesma:

( ) É apropriada à natureza e escala dos riscos de SST da empresa.

( ) Inclui o comprometimento com o atendimento, no mínimo, às NR’ s aplicáveis.

( ) É documentada.

( ) É implementada.

2.4 A empresa possui objetivos explícitos quanto à SST ?

( ) Sim ( ) Não

2.5 A empresa tem, em seu quadro funcional, profissionais de segurança do

trabalho?

( ) Sim ( ) Não

2.6 Sendo a resposta afirmativa, qual(is)?

( ) Técnico de segurança do trabalho – Quantos ?

___________________________________________________________________

( ) Engenheiro de segurança do trabalho – Quantos ?

___________________________________________________________________

( ) Auxiliar de enfermagem no trabalho – Quantos ?

___________________________________________________________________

( ) Enfermeiro do Trabalho – Quantos ?

___________________________________________________________________

( ) Médico do Trabalho – Quantos ?

___________________________________________________________________

2.7 Quem são os responsáveis pela identificação, avaliação e controle de riscos da

empresa?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2.8 Existe na empresa os programas de gestão de SST, PPRA, PCMAT e PCMSO?

( ) Sim ( ) Não

2.9 Existe um monitoramento quanto à implementação das ações de identificações,

avaliações e controles de riscos?

( ) Sim ( ) Não

2.10 Sendo a resposta afirmativa, esse monitoramento:

( ) É efetuado periodicamente. Período de tempo :

___________________________________________________________________

133

( ) Por profissional(is) habilitado(s). Qual(is) seja(m) :

___________________________________________________________________

( ) É documentado.

___________________________________________________________________

2.11 Os riscos pertinentes às atividades de conservação de pavimentos asfálticos

constam no PPRA ou PCMAT?

( ) Sim ( ) Não

2.12 Sendo a resposta afirmativa, as ações recomendadas no PPRA ou PCMAT

para o controle dos mesmos estão sendo implementadas?

( ) Sim ( ) Não

2.13 A empresa dispõe de arquivo quanto à legislação e a outros requisitos de SST

aplicáveis à construção civil, ou especificamente ao setor de

manutenção/conservação de pavimento asfáltico?

( ) Sim ( ) Não

2.14 Sendo a resposta afirmativa, esse arquivo:

( ) Dispõe de todas as NR’s.

( ) Dispõe apenas de NR’s especificamente aplicáveis à construção civil, inclusive

ao setor de manutenção/conservação de pavimentos.

( ) Está localizado na sede da empresa. Setor:

___________________________________________________________________

( ) É disponibilizado para consulta pelas partes interessadas.

( ) É atualizado periodicamente. Responsável pela atualização :

___________________________________________________________________

2.15 A empresa disponibiliza recursos financeiros específicos para implementação

de medidas relativas à SST nos serviços de conservação de pavimento

asfático?

( ) Sim ( ) Não

2.16 Sendo a resposta afirmativa, esses recursos têm percentual fixo em relação

aos custos dos serviços?

( ) Sim ( ) Não

2.17 Sendo a resposta afirmativa, qual o percentual?

___________________________________________________________________

134

APÊNDICE B

CHECK – LIST PARA IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS OCUPACIONAIS NOS POSTOS OU FRENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO E CONSERVAÇÃO

DOS PAVIMENTOS ASFÁLTICOS.

1. IDENTIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO DO POSTO / FRENTE DE TRABALHO

� Denominação do posto;

� Setor ao qual o posto pertence;

� Número de trabalhadores.

2. ATIVIDADES, TAREFAS E OPERAÇÕES

� Definição das tarefas;

� Meios utilizados;

� Duração das tarefas;

� Descrição das tarefas.

3. MÉTODOS DE EXECUÇÃO DE TRABALHO

� Como são apresentados;

� Por quem os métodos são apresentados ?

4. ARRANJO FÍSICO DO POSTO / FRENTE / CANTEIROS

� Material utilizado;

� Existem avisos de alerta para entrada de saídas de veículos e máquinas?

� Existem avisos sobre normas de segurança?

� Os materiais são estocados em locais adequados ?

� O nº de extintores de incêndio é suficiente ?

� Existe fornecimento de água potável compatível com o nº de trabalhadores;

� Localização das ferramentas e equipamentos.

5. CONDIÇÕES AMBIENTAIS E ORGANIZACIONAIS

� Ruído;

� Vibrações;

� Iluminação;

� Radiação;

� Umidade;

� Calor;

� Agentes químicos;

� Ritmo de trabalho;

135

� Pausas;

� Jornada de trabalho;

� Postura;

� Esforço físico.

6. CONDIÇÕES DAS MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS

� O equipamento recebe manutenção?

� Tem proteção nas partes móveis?

� O equipamento é adequado ao homem?

� O equipamento pode ser considerado fonte de risco?

� As ferramentas são adequadas?

� As ferramentas são defeituosas?

7. EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA

� A empresa fornece EPI ao empregado?

� O EPI é adequado ao risco do trabalhador?

� A empresa forneceu treinamento para uso do EPI?

� O trabalhador conhece os risco a que está exposto?

� É necessário algum tipo de proteção coletiva?

8. A MÃO DE OBRA

� Seleção – verificar a idade;

� Treinamento;

� Remuneração;

� Possibilidade de promoção;

� Formação necessária – verificar grau de instrução.

9. CONDIÇÕES GERAIS DE H.S.T.

� Indicação das fontes de Prejuízo à saúde;

� Observação das condições Sanitárias de: banheiro, vestiário, cozinha, refeitório e

alojamento;

� Equipamentos de proteção contra incêndios;

� Recepção de material e processo de armazenagem;

� Organização dos serviços de saúde ocupacional;

� Verificar a existência e organização da CIPA e do SESMET;

� Treinamento em prevenção de acidentes e de combate de incêndios;

� Dados sobre doenças e acidentes do trabalho na empresa;

� Verificar o atendimento à NR 4 e NR 5.

136

APÊNDICE C

LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

1. FATORES RELACIONADOS COM A TAREFA E O CARGO

1.1 A distribuição de tarefas entre a máquina e o homem é feita criteriosamente?

1.2 O trabalho é composto por mais de uma tarefa?

1.3 Os trabalhadores estão envolvidos na solução de problemas?

1.4 O tempo do ciclo em trabalhos repetitivos é maior que um minuto e meio?

1.5 Há alternância entre tarefas difíceis e fáceis?

1.6 Os trabalhadores têm liberdade para decidir sobre o método e o ritmo para

realizar as suas tarefas?

1.7 Há oportunidades para realizar contatos sociais com os colegas?

1.8 As informações fornecidas são suficientes para o controle da tarefa?

1.9 O grupo pode tomar parte nas decisões?

1.10 Os trabalhadores semelhantes foram agrupados?

1.11 As produções do grupo são identificáveis com o mesmo?

1.12 Os trabalhadores em turno têm períodos de descanso suficientes para

recuperação?

2. FATORES BIOMECÂNICOS, FISIOLÓGIOCOS E ANTROPOMÉTRICOS

2.1 As articulações são mantidas sem estresse, na posição neutra?

2.2 O trabalho é mantido o mais próximo possível do corpo?

2.3 A inclinação do corpo para frente é evitada?

2.4 A postura com corpo retorcido é evitada?

2.5 Os movimentos e forças exercidas bruscamente são evitados?

2.6 Há possibilidades de variações freqüentes da postura e dos movimentos?

2.7 A contração estática do músculo é limitada no tempo?

2.8 Evita-se o esforço muscular que leve à sua exaustão?

2.9 Há pausas curtas por toda a jornada de trabalho?

2.10 O consumo de energia para cada tarefa está dentro dos limites?

2.11 Há descanso para recuperação após uma tarefa pesada?

2.12 São consideradas as diferenças individuais de medidas corporais?

2.13 São usadas tabelas antropométricas adequadas para os usuários do produto

ou sistema?

3. FATORES RELATIVOS À POSTURA

137

3.1 POSTURA SENTADA

3.1.1 A postura sentada é alternada com aquela em pé e andando?

3.1.2 As alturas do assento e do encosto são ajustáveis?

3.1.3 As possibilidades de ajustes são em número limitado?

3.1.4 São providenciadas instruções sobre o assento?

3.1.5 As características específicas do assento são adequadas à tarefa?

3.1.6 A altura da superfície de trabalho é adequada à tarefa?

3.1.7 Há conjugações entre a altura da superfície de trabalho e a do assento?

3.1.8 Há apoio para os pés no caso de trabalho com altura fixa?

3.1.9 Os alcances excessivos para as mãos e pés foram evitados?

3.1.10 Há inclinações da superfície para a leitura?

3.1.11 O espaço para as pernas, sob a superfície de trabalho, é suficiente?

3.2 TRABALHO EM PÉ

3.2.1 A postura em pé é alternada com aquela sentada e andando?

3.2.2 A altura da superfície de trabalho é adequada para o tipo da tarefa?

3.2.3 A altura da superfície de trabalho é ajustável?

3.2.4 O uso de plataformas foi evitado?

3.2.5 Há espaço suficiente para acomodar as pernas e os pés?

3.2.6 Os alcances excessivos para as mãos e os pés são evitados?

3.2.7 Há inclinação suficiente para as leituras?

3.3 MUDANÇA DE POSTURA

3.3.1 O trabalho é planejado para permitir freqüentes mudanças de postura?

3.3.2 Há postos de trabalho que permitem alternar as posturas sentado/em pé?

3.3.3 Há cadeira Balans para permitir eventuais mudanças de postura sentada?

3.3.4 Há um selim para permitir encostos eventuais na posição em pé?

3.4 POSTURAS DOS BRAÇOS E MÃOS

3.4.1 O equipamento escolhido é adequado para a tarefa?

3.4.2 A pega da ferramenta é curva para evitar tensões no punho?

3.4.3 As ferramentas manuais são muito pesadas?

3.4.4 Há boa manutenção e conservação das ferramentas?

3.4.5 A forma das pegas é adequada ao seu manejo?

3.4.6 O trabalho acima do ombro é evitado?

3.4.7 O trabalho com as mãos para trás do corpo é evitado?

4. FATORES RELACIONADOS COM O MOVIMENTO

138

4.1 LEVANTAMENTO DE PESOS

4.1.1 As tarefas com deslocamentos manuais de cargas são evitadas?

4.1.2 O levantamento de cargas é realizado com condições adequadas?

4.1.3 O levantamento de pesos é mantido abaixo e, se possível, bem abaixo

de 23 kg?

4.1.4 Foi aplicada a fórmula NIOSH para calcular a carga máxima?

4.1.5 As unidades de peso a serem levantadas são muito pequenas?

4.1.6 O posto de trabalho é adaptado para levantamento de pesos?

4.1.7 Há alças ou aberturas para os dedos nos volumes a serem carregados?

4.1.8 O volume tem forma adequada para o carregamento?

4.1.9 São usadas boas técnicas para o levantamento de pesos?

4.1.10 O levantamento é feito em equipe?

4.1.11 São usados acessórios para o levantamento?

4.2 CARREGAMENTO DE PESOS

4.2.1 O peso do carregamento é limitado?

4.2.2 A carga é mantida tão próxima do corpo quanto possível?

4.2.3 Há pegas adequadas para segurar a carga?

4.2.4 A dimensão vertical do volume é limitada?

4.2.5 O carregamento com uma só mão é evitado?

4.2.6 São usados equipamentos de transporte?

4.3 PUXAR E EMPURRAR

4.3.1 As forças para puxar e empurrar são limitadas?

4.3.2 O peso do corpo é usado a favor do movimento de empurrar ou puxar?

4.3.3 Os carrinhos são dotados de pegas?

4.3.4 Os carrinhos são dotados de duas rodinhas móveis?

4.3.5 O piso é firme?

5. FATORES AMBIENTAIS

5.1 RUÍDOS

5.1.1 O nível de ruídos é mantido abaixo de 80 decibéis?

5.1.2 O desconforto provocado pelo ruído é evitado?

5.1.3 Há um nível adequado de ruído ambiental?

5.1.4 Foi escolhido um método silencioso de trabalho?

5.1.5 São usados máquinas e equipamentos silenciosos?

5.1.6 Há uma boa manutenção das máquinas?

139

5.1.7 As máquinas barulhentas são confinadas em cabines acústicas?

5.1.8 Os trabalhos barulhentos são separados daqueles silenciosos?

5.1.9 As fontes de barulho são mantidas à distância?

5.1.10 O teto é revestido com material acústico?

5.1.11 Há biombos acústicos separando os ambientes?

5.1.12 Há equipamentos de produção de proteção individual adequados contra

ruídos?

5.2 VIBRAÇÔES

5.2.1 As vibrações incômodas são evitadas?

5.2.2 As vibrações dos braços que provocam “dedos brancos” são evitados?

5.2.3 Os choques e solavancos são evitados?

5.2.4 A vibração é isolada na fonte?

5.2.5 Há manutenção regular das máquinas?

5.2.6 Há barreiras para impedir transmissão das vibrações?

5.2.7 As medidas para proteger o indivíduo são deixadas como último recurso?

5.3 ILUMINAÇÃO

5.3.1 A intensidade luminosa de fundo é mantida entre 10 e 200 lux?

5.3.2 A intensidade luminosa sobre a tarefa é mantida entre 200 e 800 lux?

5.3.3 A intensidade luminosa para tarefas delicadas é mantida entre 800 e 3000

lux?

5.3.4 As grandes diferenças de brilho no campo visual são evitadas?

5.3.5 Há uma proporção adequada de diferenças de brilho entre a tarefa, o

ambiente imediato e o ambiente geral?

5.3.6 A informação é facilmente legível?

5.3.7 A luz ambiental é combinada com a iluminação localizada na tarefa?

5.3.8 A luz natural é usada também para a iluminação ambiental?

5.3.9 As fontes de luz são localizadas convenientemente?

5.3.10 As reflexões e sombras são evitadas?

5.3.11 É usada luz difusa?

5.3.12 É evitada a intermitência da luz fluorescente?

5.4 CLIMA

5.4.1 Há possibilidades de controlar o clima no ambiente de trabalho?

5.4.2 A temperatura do ar é adequada para o nível de esforço físico?

5.4.3 O ar não fica muito úmido ou muito seco?

140

5.4.4 São evitadas as superfícies radiantes muito quentes ou muito frias?

5.4.5 As correntes de ar são evitadas?

5.4.6 O clima não oscila entre muito quente muito frio?

5.4.7 Os materiais manuseados não são muito quentes ou muito frios?

5.4.8 As tarefas de exigências físicas semelhantes são agrupadas na mesma

sala?

5.4.9 As exigências físicas da tarefa são ajustadas ao clima?

5.4.10 A velocidade do ar é ótima?

5.4.11 As radiações muito quentes ou muito frias são evitadas?

5.4.12 A duração da tarefa em ambientes muito quentes ou muito frios é limitada?

5.4.13 Há roupas especiais para trabalhar em ambientes muito quente ou muito

frio?

5.5 SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS

5.5.1 A concentração de substâncias químicas no ar é mantida dentro dos limites

de tolerância?

5.5.2 As substâncias cancerígenas são evitadas?

5.5.3 A exposição dos trabalhadores aos picos de poluição é evitada?

5.5.4 A exposição à mistura de várias substâncias é evitada?

5.5.5 A concentração de substâncias químicas no ar fica muito abaixo dos limites

de tolerância?

5.5.6 As etiquetas das embalagens de produtos químicos informam sobre perigos

de seus conteúdos?

5.5.7 A fonte de poluição pode ser eliminada?

5.5.8 A liberação de substâncias pode ser reduzida na fonte?

5.5.9 A fonte de poluição pode ser isolada?

5.5.10 Pode-se evitar a propagação de poluentes no ar com uma exaustão junto à

fonte?

5.5.11 O sistema de exaustão de ar é eficiente?

5.5.12 A regulagem térmica de ambientes com ventilação ou exaustão é

considerada?

5.5.13 Há uma troca suficiente do ar no ambiente?

5.5.14 É possível aplicar medidas organizacionais para proteger o trabalhador?

5.5.15 Os equipamentos de proteção individual são disponíveis?

5.5.16 Existem máscaras de gás e de poeira para uma emergência?

141

5.5.17 Os filtros das máscaras de poeira são adequados ao tamanho dos grãos?

5.5.18 Existem aventais e luvas para proteção?

5.5.19 Presta-se atenção à higiene pessoal?

6. FATORES RELACIONADOS COM INFORMAÇÃO E CONTROLE

6.1 INFORMAÇÕES

6.1.1 É usado um método adequado para apresentar as informações?

6.1.2 As informações são apresentadas de forma tão simples quanto possível?

6.1.3 As informações sonoras são reservadas apenas para alarme?

6.1.4 O som tem intensidade correta?

6.1.5 As informações via tato, odor, temperatura são reservados apenas para

alarmes?

6.1.6 O tato é usado para feedback de controles?

6.2 CONTROLES

6.2.1 Os controles podem ser discriminados apenas pelo tato?

6.2.2 As localizações dos controles são adequadas e há espaços suficientes entre

os mesmos?

6.2.3 Os acionamentos acidentais são evitados?

6.2.4 Os controles situam-se dentro das áreas de alcance ótimas?

6.2.5 Os letreiros e símbolos são usados adequadamente?

6.2.6 O uso de cores é limitado?

6.2.7 As posições dos controles são compatíveis com os movimentos que eles

provocam?

6.2.8 Os pedais são usados para substituir as mãos apenas nos casos

necessários?

6.2.9 O movimento segue uma direção esperada pela maioria?

6.2.10 A posição do controle indica claramente o seu objetivo?

6.2.11 O controle duplo é usado para prevenir acidentes?

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