51
Fernando Henrique Dos Santos EMBRIAGUEZ E RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA Centro Universitário Toledo Araçatuba 2018

Fernando Henrique Dos Santos

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Fernando Henrique Dos Santos

Fernando Henrique Dos Santos

EMBRIAGUEZ E RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2018

Page 2: Fernando Henrique Dos Santos

Fernando Henrique Dos Santos

EMBRIAGUEZ E RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel

em Direito à Banca Examinadora do Centro

Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Me

Jefferson Jorge da Silva

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2018

Page 3: Fernando Henrique Dos Santos

Fernando Henrique Dos Santos

EMBRIAGUEZ E RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel

em Direito à Banca Examinadora do Centro

Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Me.

Jefferson Jorge da Silva

BANCA EXAMINADORA

Prof. Thiago de Barros Rocha

Prof. Luiz Gustavo Boiam Pancotti

Prof. Jefferson Jorge da Silva

Centro Universitário Toledo

Page 4: Fernando Henrique Dos Santos

Acima de tudo, gostaria de agradecer à Deus por mais essa conquista. Agradeço a

todos os professores, especialmente ao orientador Jeferson Jorge. Manifesto aqui minha

gratidão eterna por compartilhar sua sabedoria, o seu tempo e sua experiência. Agradeço

ainda aos meus pais pelo apoio, força e amor incondicional. Sem vocês a realização desse

sonho não seria possível. A todos os amigos, especialmente à Bianca Akemi, minha melhor

amiga, meu muito obrigado. Vocês foram fundamentais para minha formação, por isso

merecem o meu eterno agradecimento.

Page 5: Fernando Henrique Dos Santos

RESUMO

O Presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre a problemática relacionada a

embriaguez ao volante. Alguns doutrinadores defendem a tese de que a lei deve punir o

indivíduo que consome de maneira voluntária bebidas ou produtos contendo álcool que

poderá responder por dolo eventual, culpa consciente, caso fortuito e força maior. Neste

estudo serão tratadas as mudanças introduzidas pela Lei 11.705/08, Lei Seca, indicando a

diminuição de casos relacionados a acidente de trânsito nos últimos anos e algumas lacunas

existentes.

Palavras-chave: embriaguez; Código de Trânsito Brasileiro; acidentes de trânsito; Código

Penal Brasileiro.

Page 6: Fernando Henrique Dos Santos

ABSTRACT

The present work aims to discuss the problems related to driving drunkenness. Some writers

defend the thesis that the law should punish the individual who voluntarily consumes

beverages or products containing alcohol, but when analyzing the facts, the agent may

respond for eventual fraud, conscious guilt, fortuitous event and force majeure. It will deal

with the legislative changes of Law 11,705 / 08, Dry Law, indicating the decrease in cases

related to traffic accidents in recent years and some existing gaps.

Keywords: Drunkenness, Brazilian Traffic Code, traffic accidents, Brazilian Penal Code

Page 7: Fernando Henrique Dos Santos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 07

I O CONCEITO DE CRIME ....................................................................................... 08

II DOLO E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .................................. 10

2.1 Noções gerais sobre dolo ............................................................................................. 10

2.2 Elemento intelectivo e volitivo do dolo ..................................................................... 10

2.3 Teorias do dolo ............................................................................................................ 11

2.4 Espécies de dolo ........................................................................................................... 11

2.4.1 Dolo natural ou neutro ................................................................................................... 11

2.4.2 Dolo normativo ou hibrido ............................................................................................ 12

2.4.3 Dolo direto ..................................................................................................................... 12

2.4.4 Dolo indireto ................................................................................................................. 12

2.4.5 Dolo dano ..................................................................................................................... 13

2.4.6 Dolo de perigo .............................................................................................................. 13

2.4.7 Dolo específico ............................................................................................................. 13

2.4.8 Dolo geral ..................................................................................................................... 13

2.4.9 Dolo eventual ................................................................................................................ 14

III CULPA E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ................................ 16

3.1 Culpa como conduta voluntária e violação de um dever de cuidado objetivo ....... 17

3.1.1 Imprudência .................................................................................................................. 17

3.1.2 Negligencia ................................................................................................................... 18

3.1.3 Imperícia ....................................................................................................................... 18

3.2 Espécies de culpa ........................................................................................................ 18

3.2.1 Culpa inconsciente ........................................................................................................ 20

3.2.2 Culpa consciente ............................................................................................................ 20

3.2.3 Culpa impropria ............................................................................................................ 21

3.2.4 Culpa presumida ............................................................................................................ 21

3.2.5 Culpa indireta ................................................................................................................ 22

IV EMBRIAGUEZ E O ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO ................... 23

4.1 A imputabilidade penal ............................................................................................... 23

4.2 Critérios de imputabilidade e de inimputabilidade .................................................. 24

4.2.1 Critério biológico ........................................................................................................... 24

4.2.2 Critério psicológico ....................................................................................................... 25

Page 8: Fernando Henrique Dos Santos

4.2.3 Critério biopsicologico .................................................................................................. 25

4.3 Inimputabilidade penal ............................................................................................... 26

4.3.1 Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica ........................................................ 26

4.3.2 Imputabilidade em razão a idade do agente................................................................... 27

4.3.2 Imputabilidade em razão da embriaguez ....................................................................... 28

4.4 Espécies de embriaguez .............................................................................................. 31

4.4.1 Embriaguez não acidental .............................................................................................. 31

4.4.2 Embriaguez acidental .................................................................................................... 32

4.4.3 Embriaguez patológica .................................................................................................. 33

4.4.4 Embriaguez preordenada ............................................................................................... 33

V TEORIA DA ACTIO LIBERA IN CAUSA E A APLICAÇÃO AOS CRIME DE

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ................................................................................ 36

5.1 Actio libera in causa e os crimes dolosos .................................................................... 37

5.2 Actio libera in causa e os crimes culposos ................................................................... 37

5.3 Reflexos da teoria da actio libera in causa nos crimes de embriaguez .................... 38

5.4 Crime de embriaguez ao volante .................................................................................. 38

5.5 Teoria da actio libera in causa nos casos de embriaguez acidental .......................... 40

5.6 Teoria da actio libera in causa nos casos de embriaguez preordenada .................... 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 45

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 47

Page 9: Fernando Henrique Dos Santos

7

INTRODUÇÃO

A embriaguez ao volante é um tema muito polêmico, ampliando atualmente o seu

cenário nas mídias, redes sociais e jornais ao se tratar da Lei nº11.705/08, a Lei Seca.

No ano de 1997 a Legislação Brasileira já se direcionava à fiscalização do álcool

juntamente com o volante, mas foi apenas em 2008 que a Lei Seca entra em vigor, porém

possui algumas lacunas o qual alguns motoristas conseguiram driblar.

Pode-se dizer, que a embriaguez ao volante é assunto de grande relevância para a

sociedade, onde houve momentos em que, ocorreram questionamentos sobre os efeitos que a

Lei trazia para os condutores embriagados. A Lei Seca no ano de 2012 passou por algumas

alterações, onde modificou-se o índice de teor alcoólico, sendo assim, é intolerável perante lei

o uso de bebida alcóolica para qualquer condutor.

Surge então, controvérsias sobre o tema e tais efeitos se são realmente aplicados. É de

suma importância, discutir o assunto para esclarecer a teoria da Actio Libera In Causa e a

aplicação da Lei.

Page 10: Fernando Henrique Dos Santos

8

I O CONCEITO DE CRIME

O conceito de crime está relacionado a classificação da teoria neoclássica, ou seja, o

crime se define a partir de três elementos que vão constituí-lo, sendo a ação típica, antijurídica

e culpável, como relata Cezar Roberto Bitencourt (2013, p. 276).

“Enfim, a teoria neoclássica do delito caracterizou-se pela reformulação do velho

conceito de ação, nova atribuição à função do tipo, pela transformação material da

antijuricidade e redefinição da culpabilidade, sem alterar, contudo, o conceito de

crime, como ação típica, antijurídica e culpável.”

Seguindo as definições de crime, é importante saber sobre as diferenças existentes nos

elementos constituintes do delito.

O fato típico ou ação típica está relacionada a ação ou omissão do agente, ou seja, é

uma conduta que resulta em um fato incriminador, que está presenta na lei, aquele crime

praticado pelo agente, previsto expressamente no Código Pena. Neste tocante, podemos falar

sobre a condição do dogma constitucional (art. 5º XXXIX da CF): "não há crime sem lei

anterior que o defina, não há pena sem prévia definição legal".

Afirma Rogério Sanches (2013, p.157):

“Fato típico, portanto, pode ser conceituado como ação ou omissão humana,

antissocial que, norteada pelo princípio da intervenção mínima, consiste numa

conduta produtora de um resultado que se subsume ao modelo de conduta proibida

pelo Direito Penal, seja crime ou contravenção. Do seu conceito extraímos seus

elementos: conduta, nexo causal, resultado e tipicidade.”

O conceito de antijuricidade está relacionado a contrariedade do fato com o

ordenamento jurídico. É necessário a violação daquele bem jurídico protegido pelo

ordenamento. Assim afirma Cezar Roberto Bitencourt:

“Dessa forma, uma vez afirmada a tipicidade da conduta, o seguinte degrau

valorativo corresponde à análise da antijuridicidade, em cujo âmbito corresponde

determinar se a conduta típica é contrária ao Direito, isto é, ilícita, e constitui um

injusto. O termo antijuridicidade expressa, portanto, um juízo de contradição entre a

conduta típica praticada e as normas do ordenamento jurídico.” (BITENCOURT, p.

388, 2013)

Page 11: Fernando Henrique Dos Santos

9

Entretanto a culpabilidade está relacionada a responsabilidade penal, ao valor adotado

na conduta do agente. A sua caracterização está relacionada ao estágio de reprovabilidade da

conduta, e também pela possível modificação da conduta.

Considerando que o agente ingere bebida alcóolica, e depois vai dirigir, ocasionando

um acidente de trânsito com vítima. Posteriormente a vítima do acidente ocasionado veio a

óbito.

Neste caso narrado, o agente é conhecedor que tal conduta é proibida, e age ciente de

que pode acontecer tal fato, sendo que poderia ter tomando outra atitude, a de não dirigir

depois de ingerir bebida alcóolica.

A presente escolha na realização da conduta está relacionada com a valoração do grau

de culpabilidade que será admitida no caso em comento. Assim afirma Cezar Roberto

Bitencourt:

“A culpabilidade, por sua vez, não se esgota nessa relação de desconformidade entre

ação e ordem jurídica, mas, ao contrário, a reprovação pessoal contra o agente do

fato fundamenta-se não na omissão da ação contrária ao Direito ainda e quando

podia havê-lo omitido, pois dele se espera uma motivação concorde com a norma

legal. A essência da culpabilidade reside nesse “poder em lugar de...”, isto é, no

“poder agir de outro modo” do agente referentemente à representação de sua

vontade antijurídica, e é exatamente aí – nessa liberdade de ação, nessa possibilidade

de agir diferente – onde se encontra o fundamento da reprovação pessoal, que se

levanta contra o autor por sua conduta contrária ao Direito.” (BITENCOURT, págs.

451 e 452, 2013)

O professor Damásio E. de Jesus assim descreve:

Não há diferença antológica, de essência, entre crime (ou delito) e contravenção. O

mesmo fato pode ser considerado crime ou contravenção pelo legislador, de acordo

com a necessidade da prevenção social. Assim, um fato que hoje é contravenção

pode no futuro vir a ser defino como crime. (1999, p.52)

O artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal traz a definição de crime como:

Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou

detenção, quer isoladamente, quer alternativamente ou cumulativamente com a pena

de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina isoladamente, pena de

prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Page 12: Fernando Henrique Dos Santos

10

Desta forma, fica claro que não há uma definição mais aprofundada, um conceito mais

formal. Não explica-se muito além de que as penas correspondem aos crimes e as

contravenções penais.

Page 13: Fernando Henrique Dos Santos

11

II DOLO E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Uma das formas de conduta do agente é a dolosa, referente a voluntariedade. A

conduta dolosa possui previsão no artigo 18, inciso I do Código Penal dizendo que a conduta

será dolosa "quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo". Haverá,

portanto, uma vontade consciente, a qual não deve se confundir com desejo.

2.1 Noções gerais sobre o dolo

A vontade consciente do agente está no sentido de realizar ou até mesmo aceitar

realizar uma ação incriminadora prevista no tipo penal.

Flávio Monteiro de Barros explica:

“cumpre ainda esclarecer que a noção de dolo não se esgota na realização da

conduta e do resultado, devendo a vontade do agente projetar-se sobre todas as

elementares, qualificadoras, agravantes e atenuantes (em regra) do crime. Todavia,

para caracterização do crime, em sua forma simples, é suficiente que o dolo

compreenda apenas os elementos da figura típica fundamental. Mas a incidência dos

tipos qualificados, privilegiados, das agravantes e atenuantes dependem da projeção

do dolo do agente sobre essas circunstâncias”

Dessa forma, temos que “o dolo é, de certo modo, a imagem reflexa subjetiva do tipo

objetivo, a situação fática apresentada normativamente” (PRADO, 2008, p. 219). Além disso

a vontade que o agente possui em realizar o ato criminoso permite que este seja punido de

forma mais grave, visto que o nosso Código Penal pressupõe a finalidade do agente ao

praticar o crime, sendo esta denominada teoria da finalidade.

2.2 Elemento intelectivo e volitivo do dolo

O dolo trata-se de um implícito subjetivo da conduta do agente, pertencente ao fato

típico, sendo adotado dois elementos, o volitivo e o intelectivo.

Page 14: Fernando Henrique Dos Santos

12

O elemento volitivo “consiste em resolver executar a ação típica, estendendo-se todos

os elementos objetivos conhecidos pelo autor que servem de base à sua decisão em praticá-la”

(CAPEZ, 2008, p.200)

Já no elemento intelectivo deve “a consciência do autor referir-se a todos os

componentes do tipo, prevendo ele os a dados essenciais dos elementos típicos futuros, em

especial o resultado e o processo casual” (CAPEZ, 2008, p.200).

2.3 Teorias do dolo

São três as teorias sobre o dolo.

A primeira é a teoria da vontade, onde há a vontade consciente de praticar o ato

infracional.

A segunda teoria é a da representação, ou seja, haverá o dolo quando o agente

consegue prever a possibilidade do resultado e mesmo assim mantém sua conduta.

A terceira e última corrente é a do consentimento ou assentimento, aqui haverá uma

evolução da teoria anterior, pois o agente prevê a possibilidade, mantém sua conduta e assume

o risco de causar uma infração.

No nosso ordenamento jurídico, adota-se a teoria da vontade (dolo direto) e do

consentimento, (dolo indireto) excluindo apenas a da representação.

2.4 Espécies de dolo

Neste tópico, serão analisadas as espécies mais relevantes de dolo.

2.4.1 Dolo natural ou neutro

A primeira espécie é o dolo natural ou neutro, este irá integrar o fato típico, tendo

como principais elementos a consciência e a vontade, ou seja, o agente sabe o que está

Page 15: Fernando Henrique Dos Santos

13

fazendo e quer ou aceita sua voluntariedade. Neste caso, ao ter consciência da ilicitude haverá

afetação na culpabilidade, visto que é adotado pela teoria finalista.

2.4.2 Dolo Normativo ou híbrido

O dolo normativo ou híbrido é aquele que possui consciência da voluntariedade e da

ilicitude, dessa forma, além dos elementos de consciência e vontade haverá a consciência

atual da ilicitude, ou seja, o agente sabe que aquela conduta é ilícita. É adotado pela teoria

neoclássica, devendo o crime ser um fato típico, ilícito e culpável. Temos assim que, o dolo

está diretamente ligado à culpabilidade sendo o elemento normativo nesta espécie.

2.4.3 Dolo Direto

Outra espécie de dolo é o dolo direto, neste haverá uma vontade de realizar a conduta

delituosa e a previsão de seu resultado, podendo ser de primeiro grau, onde “não existem

efeitos colaterais necessários à consecução da vontade do agente em razão dos meios

escolhidos” (CUNHA, 2011, p. 46) ou de segundo grau, onde “a vontade do agente abrange

os efeitos colaterais necessários em virtude dos meios escolhidos pelo agente, para realizar o

fim almejado” (CUNHA, 2011, p.47).

2.4.4 Dolo indireto

Há também o dolo indireto, que, segundo Capez (2008, p.208) é quando “apesar de

querer o resultado, a vontade não se manifesta de modo único e seguro em direção a ele, ao

contrário, do que sucede com o dolo direto”. Esta espécie possui duas subespécies, a

alternativa e a eventual.

No dolo indireto alternativo “o agente prevê uma pluralidade de resultados, dirigindo

sua conduta para perfazer qualquer deles com a mesma intensidade de vontade (ex.: quero

Page 16: Fernando Henrique Dos Santos

14

ferir ou matar, tanto faz)” (CUNHA, 2017, 215). Dessa forma, o agente irá responder pelo

crime mais grave pois havia intenção nos dois sentidos, tanto mais grave como mais leve.

Já no dolo indireto eventual “o agente também prevê a pluralidade de resultados,

dirigindo sua conduta para realizar um determinado evento, mas assumindo o risco de

provocar outro (ex.: quero ferir, mas aceito matar” (CUNHA, 2017, p.215). Diferente do dolo

alternativo, o agente não possui a intenção de realizar a conduta mais grave, porém assume o

risco de produzi-la.

2.4.5 Dolo Dano

Há também o dolo dano, onde a vontade refere-se a causar uma lesão a determinado

bem jurídico tutelado.

2.4.6 Dolo de perigo

O dolo de perigo fundamenta-se na vontade de colocar o bem jurídico tutelado a uma

situação de perigo de lesão,

2.4.7 Dolo específico

No dolo específico a vontade do agente está voltada a um fim específico, ele pratica o

elementar do tipo penal a fim de uma condição, vontade específica.

Page 17: Fernando Henrique Dos Santos

15

2.4.8 Dolo geral

O dolo geral o agente realiza uma conduta com um dolo, e após acreditar que esta

surtiu resultado, prática outra conduta, sendo que nesta houve a efetiva consumação.

Trata-se, em verdade, de uma hipótese de engano quanto ao meio de execução do

delito, mas que termina por determinar o resultado visado. É um erro sobre a causalidade, mas

jamais quanto aos elementos do tipo, nem tampouco quanto à ilicitude do que se pratica

(NUCCI, 2014, p.186).

2.4.9 Dolo eventual

Após estas sucintas analises, passamos ao dolo eventual nos crimes de trânsito.

Segundo Cleber Masson (2012, p.268) “a jurisprudência posiciona-se no sentido de

existir o dolo eventual na conduta do agente responsável por crimes graves praticados na

direção do veículo automotor”.

Entretanto, apesar de esta ser a jurisprudência majoritária, Cleber Masson (2012, p.

269) ainda nos alerta:

No tocante ao homicídio cometido na direção de veículo automotor, encontrando-se

o condutor em estado de embriaguez, a análise da situação concreta é fundamental

para a tipificação da conduta. Com efeito, a conclusão pelo dolo (direto ou eventual)

acarreta na incidência do crime definido no artigo 121 do CP, ao passo que a

presença da culpa resulta no delito previsto no artigo 302 da lei 9.503/1997-CTB.

Art. 121, CP: Matar alguém

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos

§ 1 - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou

moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação

da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

§ 2 - Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

II - por motivo fútil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio

insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que

dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro

crime.

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

§ 3 - Se o homicídio é culposo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Page 18: Fernando Henrique Dos Santos

16

§ 4 - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime

resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente

deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências

do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a

pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de

14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 17

§ 5 - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as

conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a

sanção penal se torne desnecessária. (Acrescentado pela L-006.416-1977).

Art. 302, CTB: Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a

permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor

Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a

pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do

acidente;

IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de

transporte de passageiros. (grifos nosso)

Nucci (2014, p.186) nos ensina sobre o dolo eventual nos graves crimes de trânsito:

Tem sido posição adotada, atualmente, na jurisprudência pátria considerar a atuação

do agente, em determinados delitos cometidos no trânsito, não mais como culpa

consciente e sim como dolo eventual. As inúmeras campanhas realizadas,

dmeosntrando o perigo da direção perigosa e manifestamente ousada, são suficientes

para esclarecer os motoristas da vedação legal de certas condutas, tais como o racha,

a direção em ala velocidade, sob embriaguez, entre outras.

Adiante adentraremos nos conceitos de culpa do nosso ordenamento jurídico.

Page 19: Fernando Henrique Dos Santos

17

III CULPA E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Segundo o Defensor Público Gerson Aragão (2015) a Lei só poderá punir agente

imputável, que tenha total consciência da ilicitude, quando dele é exigível conduta diversa.

Pode-se entender que o princípio da culpabilidade garante ao agente que ele seja

julgado e posteriormente condenado pela conduta realizada por ele, não sendo julgado pela

pessoa que é.

Júlio Fabbrini Mirabete (1992) refere que:

“Hoje cresce a ideia de que do conceito de culpabilidade não se pode excluir

definitivamente o dolo e a culpa. Como se tem afirmado, o dolo ocupa dupla

posição: em primeiro lugar, como realização consciente e volitiva das circunstâncias

objetivas (no fato típico), e em segundo, como portador do desvalor da atitude

interna que o fato expressa. Nosso Código, por exemplo, o art. 59, ao mencionar

como circunstância para afixação da pena “a culpabilidade” do agente, inclui a

apreciação da intensidade do dolo e do grau de culpa”.

Como pode ser analisado o artigo 13 Caput, do Código Penal Brasileiro: “o resultado,

de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe ofereceu causa.”.

Sendo assim, apenas será condenado quem cometeu o crime, não podendo transferir a

pena designada ou ser condenado pelo fato diverso daquele praticado.

Para Rogério Sanches Cunha (2017, p.102) o princípio da culpabilidade:

Trata-se de um postulado limitador do direito de punir. Assim, só pode o Estado

impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial

consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do seu

comportamento), quando dele exigível conduta diversa (podendo agir de outra

forma).

A culpa segundo Fernando Capez (2008, p.207):

Não está descrita, nem especificada, mas apenas prevista genericamente no tipo. Isso

se deve ao fato da absoluta impossibilidade de o legislador antever todas as formas

de realização culposa, pois seria mesmo impossível, por exemplo, tentar elencar

todas as maneiras de se matar alguém culposamente. Por essa razão, sabedor dessa

impossibilidade, o legislador limita-se a prever genericamente a ocorrência da culpa,

sem defini-la. Com isso, para a adequação típica será necessário mais do que

simples correspondência entre conduta e descrição típica.

Page 20: Fernando Henrique Dos Santos

18

Dessa maneira, temos que a culpa, para ser caracterizada, deve passar por um juízo de

valor, pois será através deste que serão analisadas a prudência do homem médio e a conduta

realizada pelo agente.

Para aqueles que adotam a teoria finalista, “a culpa fundamenta-se na aferição do

cuidado objetivo exigível pelas circunstâncias em que o fato aconteceu, o que indica a

tipicidade da conduta do agente. A seguir, deve-se chegar a culpabilidade pela análise da

previsibilidade subjetiva” (DELMANTO, 2007, p.80), ou seja, além de ser uma forma de

cautela cujos deveres são objetivos, a culpa deve ser analisada sob a luz da previsibilidade que

o agente possuía para com a conduta praticada.

3.1 Culpa como conduta voluntária e violação de um dever de cuidado objetivo

Os dois elementos da culpa são a conduta voluntária e a violação de um dever de

cuidado objetivo.

O primeiro, trata-se da ação ou omissão que o agente realiza de forma voluntária

consistente em realizar uma conduta ou deixar de realizar algo em uma situação ilícita que irá

gerar um resultado.

No segundo elemento, haverá um comportamento que não condiz com os do homem

médio, ou seja, haverá uma inobservância de regra comportamentais, sendo elas a

imprudência, a negligência e a imperícia.

3.1.1 imprudência

A imprudência ocorre quando “o agente atua com afoiteza, ignorando os cuidados que

o caso requer” (CUNHA, p.48). O agente pratica uma ação, uma conduta sem as devidas

cautelas.

Para Greco (2008, p.205):

Imprudente seria a conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar o

seu deve de cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe era previsível. Na definição

de Anibal Bruno „consiste a imprudência na prática de um ato perigoso sem os

Page 21: Fernando Henrique Dos Santos

19

cuidados que o caso requer‟. Por exemplo, imprudente é o motorista que imprime

velocidade excessiva em seu veiculo ou o que desrespeita um sinal vermelho em um

cruzamento, etc. imprudência é, portanto, um fazer alguma coisa.

3.1.2 Negligência

A negligência ocorre quando o agente, não realiza uma conduta que gera o

descumprimento de um dever de cuidado, que está previsto no homem médio, haverá a

ausência de precaução, visto que se trata de uma omissão.

“A negligência, ao contrário, é um deixar de fazer aquilo que a diligência normal

impunha. É o caso, por exemplo, do motorista que não conserta os freios já gastos de seu

automóvel ou o do pai que deixa a arma de fogo ao alcance de seus filhos menores” (GRECO,

2008, p. 205)

3.1.3 Imperícia

Por fim, temos a imperícia, nesta modalidade haverá uma ação, porém, o agente que a

realiza não possui aptidão para tanto, sendo a imperícia caracterizada pela inaptidão técnica

para a profissão ou arte, pois não há conhecimentos técnicos e nem habilidades para tanto.

Uma característica importante da modalidade culpa é que a ação ou omissão do agente

se caracteriza pela involuntariedade, ou seja, o agente não possuía a vontade de realizar o ato,

porém este ocorre e é provado através do nexo de causalidade.

Segundo Rogério Greco (2008, p. 205):

Fala-se em imperícia quando ocorre uma inaptidão, momentânea ou não, do agente

para o exercício da arte, profissão ou ofício. Diz-se que a imperícia está ligada,

basicamente, à atividade profissional do agente. Um cirurgião plástico, v.g., durante

um ato cirúrgico pode praticar atos que, naquela situação específica, conduzam a

imperícia. Com isso não estamos querendo dizer que esse profissional seja imperito,

mas, sim, que naquele caso concreto, atuou com imperícia. Um motorista pode gozar

de excelente conceito profissional, mas, em determinada manobra, pode ter atuado

sem a sua reconhecida habilidade, agindo com imperícia.

Page 22: Fernando Henrique Dos Santos

20

Os crimes culposos são crimes materiais, onde o nexo causal, a conduta e o resultado

estão previstos no tipo penal. Cleber Masson (2012, p.28) explica:

No âmbito jurídico, a afirmação da causalidade deve estar respaldada em elementos

empíricos que demonstrem que o resultado não ocorreria, com um grau de

probabilidade nos limites da certeza, se a ação devida fosse efetivamente evitada ou

realizada, tal como o contexto o determinava. Não demonstrada empiricamente essa

relação é , de se negar a causalidade.

Outro elemento da culpa é a previsibilidade, onde haverá uma possibilidade, não uma

previsão, de que ocorra o fato delituoso. Quando se tratar de culpa consciente, haverá previsão

da ocorrência do resultado danoso. Quando se tratar de culpa inconsciente, haverá a

possibilidade de ocorrência do resultado danoso.

Tanto a culpa consciente como a culpa inconsciente integram a previsibilidade

objetiva e a previsibilidade subjetiva. A previsibilidade objetiva leva em conta o homem

médio, ou seja, uma prudência que qualquer pessoa deveria ter ao prever o resultado. Já a

previsibilidade subjetiva trata do autor do delito, como sua vida social, sua cultura, costumes,

intelectualidade, entre outros. Não será utilizado para a culpa em sim, mas influenciará no

juízo de culpabilidade.

O elemento tipicidade encontra-se previsto no artigo 18, parágrafo único do Código

Penal:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência

ou imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato

previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

Capez (2007, p. 207) nos ensina:

“para a adequação típica será necessário mais do que simples correspondência entre

conduta e descrição típica. Torna-se imprescindível que se proceda a um juízo de

valor sobre a conduta do agente no caso concreto, comparando-a com a que um

homem de prudência média teria na mesma situação. A culpa decorre, portado, da

comparação que se faz entre o comportamento realizado pelo sujeito no plano

concreto e aquele que uma pessoa de prudência normal, mediana, teria naquelas

mesmas circunstâncias.

Page 23: Fernando Henrique Dos Santos

21

Com isso, temos que pelo fato de a culpa ser genérica, deve-se analisar o caso

concreto para constatar a sua existência ou não.

3.2 Espécies de culpa

A culpa pode ser classificada em 5 espécies:

3.2.1 Culpa inconsciente

A primeira espécie é a culpa inconsciente, ou seja, é uma culpa que não possui

previsão, o agente não prevê a ocorrência de seu resultado

3.2.2 Culpa consciente

A segunda espécie de culpa é a culpa consciente ou culpa com previsão, Capez (2007,

211) diz que “é aquela em que o agente prevê o resultado, embora não o aceite. Há no agente

a representação da possibilidade do resultado, mas ele a afasta, de pronto, por entender que

evitará e que a sua habilidade impedirá o evento lesivo previsto”.

“O autor não quer o resultado, mas por erro ou excesso de confiança (imprudência),

por não empregar a diligência necessária (negligência), ou por não estar suficientemente

preparado para um empreendimento cheio de risco (imperícia), fracassa e vem a ocasioná-lo.”

(Assis Toledo, 1994, p.302)

Válido observar que ambas as espécies de culpa não possuem tratamento diferenciado

no tocante das penas, devendo assim, na o magistrado, em sua primeira fase da dosimetria da

pena, elevar a sanção daquele que agiu com culpa consciente, pois este possuía maiores

chances de evitar o resultado danoso.

Outra observação importante é a de que a culpa consciente não deve se confundir com

o dolo eventual, pois este prevê o resultado e não se importa com a sua ocorrência ou não, ao

Page 24: Fernando Henrique Dos Santos

22

contrário daquele que prevê a possibilidade, mas acredita que a mesma não vá ocorrer e não

deseja que ela ocorra.

Nucci (2014, p.187-188) faz uma distinção entre a culpa inconsciente e a culpa

consciente:

A primeira modalidade é a culpa por excelência, ou seja, a culpa sem previsão do

resultado. O agente não tem previsão (ato de prever) do resultado, mas mera

previsibilidade (possibilidade de prever). A segunda é chamada culpa com previsão,

ocorrendo quando o agente prevê que a sua conduta pode levar a um certo resultado

lesivo, embora acredite, firmemente, que tal evento não se realizará, confiando na

sua atuação (vontade) para impedir o resultado.

3.2.3 Culpa imprópria

A culpa imprópria é a terceira espécie de culpa, ela ocorrerá quando, mesmo o agente

agindo com dolo, será punido com culpa em razão de política criminal, ou seja, o agente, em

virtude de erro, acredita estar agindo de forma lícita.

“Há uma má apreciação da realidade fática, fazendo o autor supor que está acobertado

por causa de uma exclusão da ilicitude. Entretanto, esse erro poderia ter sido evitado pelo

emprego da diligência mediana, subsiste o comportamento culposo” (CAPEZ 2007, p.212).

Apesar da modalidade culposa não admitir tentativa, quando se trata de culpa

imprópria, estamos diante uma exceção. Por possuir um aspecto híbrido, sendo o crime

metade doloso e metade culposo, admite-se a modalidade tentada.

3.2.4 Culpa presumida

Como quarta espécie, temos a culpa presumida que trata-se de uma espécie de

responsabilidade objetiva, não possui previsão na legislação atual, tendo vigorado apenas no

Código Penal de 1940. Atualmente, deve a culpa ser comprovada, inexistindo a possibilidade

de presunção de culpa.

Page 25: Fernando Henrique Dos Santos

23

3.2.5 Culpa indireta

Por fim, temos a culpa mediata ou indireta, nesta espécie, o agente dá causa a um

resultado culposo e de maneira indireta.

Para que esta seja configurada, deve o resultar estar presente na linha de

desdobramento causal da conduta e deve ser atribuído ao autor de forma culposa.

Capez (2007, p,214) nos dá o seguinte exemplo:

Um motorista se encontra parado no acostamento de uma rodovia movimentada,

quando é abordado por um assaltante. Assustado, foge para o meio da pista e acaba

sendo atropelado e morto. O agente responde não apenas pelo roubo, que

diretamente realizou com dolo, mas também pela morte da vítima, provocada

indiretamente por sua atuação culposa (era previsível a fuga em direção à estrada).

Concluímos aqui então que o agente agiu de forma dolosa contra a vítima, entretanto,

não agiu com dolo no resultado posterior, sendo caracterizada a culpa consciente ou

inconsciente.

Page 26: Fernando Henrique Dos Santos

24

IV EMBRIAGUEZ E O ORDENAMENTO JURÍDICO

BRASILEIRO

A embriaguez é tratada no nosso ordenamento jurídico dentro do título imputabilidade,

a qual esta diretamente ligada a culpabilidade. Senão vejamos:

4.1 A imputabilidade penal

No Código Penal não há um conceito específico para a imputabilidade, apenas foram

elencadas algumas hipóteses para a sua aplicação.

Por não haver um conceito expresso em lei, coube aos doutrinadores conceituar a

imputabilidade.

Sanzo Beodt (apud, GRECO, 2008, p. 396) diz:

A imputabilidade é constituída por dois elementos: um intelectual (capacidade de

entender o caráter ilícito do fato), outro volitivo (capacidade de determinar-se

acordo com esse entendimento). O primeiro é a capacidade (genérica) de

compreender as proibições ou determinações jurídicas. Bettiol diz que o agente deve

poder „prever as repercussões que a própria são poderá acarretar no mundo social‟,

deve ter, pois, „a percepção do significado ético-social do próprio agir‟. O segundo,

a „capacidade de dirigir a conduta de acordo com o entendimento ético-jurídico.

Conforme Bettiol, é preciso que o agente tenha condições de avaliar o valor do

motivo que o impele à ação e, do outro lado, o valor inibitório da ameaça penal.

Para Cleber Masson (2012, p.452) trata-se da “capacidade mental, inerente ao ser

humano de, ao tempo da ação ou omissão, entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de

acordo com esse entendimento.”

Segundo Capez (2008, p.307) “o agente deve ter condições física, psicológicas, morais

e mentais de saber que está realizando um ilícito penal. Mas não é só. Além dessa capacidade

plena de entendimento, deve ter totais condições de controle sobre a sua vontade”

Temos então a imutabilidade como um pressuposto da culpabilidade, sendo a

responsabilidade penal mera consequência.

De acordo com Bitencourt (2015, p. 451-452):

Page 27: Fernando Henrique Dos Santos

25

A culpabilidade, por sua vez, não se esgota nessa relação de desconformidade entre

ação e ordem jurídica, mas, ao contrário, a reprovação pessoal contra o agente do

fato fundamenta-se não na omissão da ação contrária ao Direito ainda e quando

podia havê-lo omitido, pois dele se espera uma motivação concorde com a norma

legal. A essência da culpabilidade reside nesse “poder em lugar de...”, isto é, no

“poder agir de outro modo” do agente referentemente à representação de sua

vontade antijurídica, e é exatamente aí – nessa liberdade de ação, nessa possibilidade

de agir diferente – onde se encontra o fundamento da reprovação pessoal, que se

levanta contra o autor por sua conduta contrária ao Direito.

Como pode ser analisado na citação acima, temos a imputabilidade como elemento

que a integra. A Imputabilidade, como já foi mencionado no presente capítulo está assegurada

no art. 28 do Código Penal e se delimita pela sua não exclusão. Dessa maneira, cabe destaca

que a imputabilidade ou não se dará a partir das definições dos estágios de embriaguez.

A capacidade de culpabilidade apresenta dois momento os específicos: um

cognoscivo ou intelectual, e outro volitivo ou de vontade, isto é, a capacidade de

compreensão do injusto e a determinação da vontade conforme essa compreensão,

acrescentando que somente os dois momentos constituem, pois, a capacidade de

culpabilidade. (WELZEL, Derecho Penal alemán, cit., p.216, apud Bitencourt, 2015,

p. 457)

Concluindo assim, o entendimento de Welzel e ficando caracterizado que a ausência

de qualquer um dos aspectos mencionados acima é o suficiente para ficar caracterizado o

afastamento da culpabilidade, isto é, imputabilidade penal.

4.2 Critérios de imputabilidade e de inimputabilidade

São três os critérios utilizados para definir a imputabilidade e a inimputabilidade.

4.2.1 Critério biológico

Neste critério, será levado em conta o desenvolvimento mental do agente, ou seja,

doenças mentais e idade, independentemente se possuía ou não a capacidade de entendimento

e autodeterminada à época dos fatos. O agente será considerado inimputável.

Page 28: Fernando Henrique Dos Santos

26

“Nesse critério basta, para inimputabilidade, a presença de um problema mental,

representado por uma doença mental, ou então por desenvolvimento mental incompleto ou

retardado” (MASSON, 2012, p.453).

“Há uma presunção de que a deficiência ou doença mental impede o sujeito de

compreender o crime ou comandar sua vontade, sendo irrelevante indagar acerca de suas reais

e efetivas consequências no momento da ação ou omissão (CAPEZ, 2008, p. 311).

4.2.2 Critério psicológico

A imputabilidade neste caso irá depender da condição do agente quando praticou a

conduta, se possuía capacidade de entendimento e autodeterminação, independente da sua

condição mental ou idade.

Será analisado então a saúde metal do agente à época dos fatos, não precisando,

necessariamente, ser portador de anomalia psíquica.

Trata-se do oposto do critério biológico.

Segundo Capez (2008, p.311):

Enquanto o sistema biológico só se preocupa com a existência da causa geradora da

inimputabilidade, não se importando se ela efetivamente afeta ou não o poder de

compreensão do agente, o sistema psicológico volta suas atenções apenas para o

momento da prática do crime.

4.2.3 Critério biopsicológico

Trata-se de um critério misto, levando em consideração tanto a presença da doença

mental como a sua capacidade de entendimento e autodeterminação no momento em que

realiza da conduta delituosa.

Dessa forma, temos que até o doente metal pode tornar-se imputável se ao momento

em que praticou a conduta, estivesse com sua devida capacidade de entendimento e

autodeterminação.

O Brasil não optou por apenas um critério, dependendo da causa de inimputabilidade

para que seja definido.

Page 29: Fernando Henrique Dos Santos

27

4.3 Inimputabilidade penal

Vimos o que é a imputabilidade através do contrário sensu, visto que por outro lado

temos os casos de inimputabilidade, ou seja, casos em que a lei definiu aquelas pessoas que

não irão ser punidas penalmente. As hipóteses são:

4.3.1 Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica

Possui previsão no caput do artigo 26 do Código Penal:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento

mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente

incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento.

O critério adotado nesta imputabilidade é o biopsicológico, portanto, nessa hipótese,

para que o doente mental possa ser considerado inimputável, este deve ter a sua

autodeterminação ou capacidade intelectiva comprometida.

Ademais, se sua doença mental permite que o agente tenha momentos de lucidez, se

este praticar o ato delituoso conscientemente, será punido como imputável. Paulo Queiroz

(apud Cunha, 2017, p.313) nos ensina:

A expressão doença mental deve ser entendida em sentido amplo, a fim de

compreender toda e qualquer alteração mórbida da saúde metal apta a

comprometer, total ou parcialmente, a capacidade de entendimento de seu

portador, como esquizofrenia, psicose maníaca-depressiva, psicose alcóolica,

paranoia, epilepsia, demência senil, paralisia progressiva, sífilis cerebral,

arteriosclerose cerebral, histeria, etc., pouco importando a causa geradora de

semelhante estado, se natural ou tóxica (v.g uso de droga lícita ou ilícita),

por exemplo.

Apesar de não serem punidos penalmente, haverá ainda, a fase de inquérito policial,

representação do Ministério Público e a seu respectivo oferecimento de denúncia ao judiciário

cuja sentença final será de absolvição, chamada de absolvição imprópria pois será esta

Page 30: Fernando Henrique Dos Santos

28

cumulada com uma medida de segurança. Cuja previsão encontra-se no artigo 96 do Código

Penal

Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro

estabelecimento adequado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem

subsiste a que tenha sido imposta. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Entretanto ainda no artigo 26, no seu parágrafo único, haverá também o semi-

imputável, pois será um imputável com a pena reduzida:

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em

virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto

ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de

determinar-se de acordo com esse entendimento.

Neste caso, o semi-imputável terá a pena reduzida ou ter a pena substituída pela

medida de segurança, a depender da finalidade que o juiz julgar adequada, trata-se do sistema

unitário.

4.3.2 Inimputabilidade em razão da idade do agente

A previsão do inimputável menor de 18 anos encontra-se no artigo 27 do Código

Penal: “Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando

sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.”

Além disso, a Constituição Federal e a Convenção Americana de Direitos Humanos

também preveem a sua hipótese em seus artigos 228 e 5º, §5º, respectivamente: "art. 228. São

penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação

especial.”

Artigo 5. Direito à integridade pessoal

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e

moral.

Page 31: Fernando Henrique Dos Santos

29

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis,

desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com

o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em

circunstâncias excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua condição

de pessoas não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos

adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para

seu tratamento.

6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma

e a readaptação social dos condenados.

Adotou-se aqui o critério biológico em razão do desenvolvimento mental do agente,

pois não depende da autodeterminação e da capacidade de entendimento.

Devido a presunção absoluta, nenhum menor de 18 anos será considerado imputável,

tendo em que vista que possui previsão no Estatuto da Criança e do Adolescente e

fundamentação na política criminal. Válido observar que a inimputabilidade se exaure no dia

que o menor completa 18 anos.

Para Victor Gabriel Rodriguez (apud Cunha, 2017, p.315):

A principal razão da presunção de inimputabilidade é a política criminal, como

reconhecida pela doutrina desde Tobias Barreto. Atualmente, o ponto 23 da

Exposição de Motivos da Parte Geral do instituto faz referência clara à oportunidade

de educação que deve ser dada ao jovem, ao convívio social „sem sua necessária

submissão ao tratamento do delinquente adulto, expondo-o À contaminação

carcerária. Em outras palavras (...), é de dizer-se que legislação penal decidiu

consagrar ao jovem a oportunidade de estar afastado das garras do Direito Penal, ou

ao menos daquele Direito penal idêntico ao aplicado ao adulto, embora ele possa ser

de fato responsável por seus atos, embora em última análise seu desenvolvimento

mental não seja de fato incompleto.

Referida menoridade deve ser devidamente comprovada através de documento hábil

para tanto.

3.2.3 Imputabilidade em razão da embriaguez

O surgimento da bebida alcoólica remonta ao período Neolítico, com o

desenvolvimento da agricultura e a invenção das cerâmicas que facilitaram o processo de

fermentação natural de frutas e cereais que deu origem ao álcool. Surgindo assim, a vontade

do consumo de bebidas alcoólicas.

Page 32: Fernando Henrique Dos Santos

30

Segundo a jurista Maria Helena Diniz, a embriaguez seria:

Perturbação psíquico-somática passageira, em razão de intoxicação aguda e

transitória, provocada por excessiva ingestão de bebidas alcoólicas, podendo

liberar impulsos agressivos, estimular a libido e levar o indivíduo a causar

acidentes ou a praticar ações delituosas. (DINIZ, 1998, p. 46)

Durante o consumo de bebidas alcóolicas há uma proporcionalidade entre a

quantidade consumida e o nível de embriaguez. O álcool no nosso organismo possui efeito

inibidor da função de determinado receptor.

Incialmente serão apresentados os níveis de embriaguez existentes, bem como seus

efeitos.

No primeiro estágio de embriaguez temos poucos mililitros em nosso organismo,

sendo de 0,2 gramas a 0,3 gramas de álcool por litro de sangue (cálculo baseado em uma

pessoa de 70 quilos). Esses mililitros atingem a parte cortical do cérebro, fazendo com que a

pessoa fique extrovertida ou introvertida de forma exagerada. Além disso, as funções mais

complexas também ter sua função comprometida, como é o caso do raciocínio,

comportamento, percepções. Nesse nível os impulsos primitivos prevalecem.

O segundo nível se inicia quando há de 0,3 gramas a 0,5 gramas de álcool por litro de

sangue. Além dos efeitos do primeiro estágio, a partir desse momento haverá um relaxamento

do corpo do indivíduo, ou seja, a pessoa se sente satisfeita e relaxada.

Após ingerir o equivalente a 0,51 gramas a 0,8 gramas de álcool por litro de sangue,

entramos no terceiro nível de embriaguez e é nesse momento que serão afetadas as

habilidades motoras, ou seja, coisas simples como pegar um copo, pegar algo no bolso,

destrancar uma porta passam a serem feitas com dificuldade.

Os efeitos continuam se acumulando e no quarto nível de embriaguez o álcool que

passou a ser de 0,8 gramas a 1,5 gramas de álcool por litro de sangue, irá atingir a

coordenação motora da pessoa que está ingerindo álcool, afetando assim o equilíbrio, a fala, o

andar. O indivíduo alcoolizado tende a ficar mais violento, tem o senso de risco minimizado,

visão turva, reflexos retardados e passa a superestimar possibilidade.

Prosseguindo, no quinto estágio de embriaguez, a quantidade de álcool por litro de

sangue está entre 1,51 e 2 gramas, consequentemente as funções básicas serão atingidas como

ficar acordado, falas sem sentido, visão dupla e falta de coordenação. Consequentemente,

haverá, por exemplo, haverá dificuldade em dirigir um automóvel.

Vale ressaltar que, para chegar a este nível, não há uma quantidade de álcool exata a

ser ingerida para ser aplicada a todos, visto que vários fatores como frequência do consumo,

Page 33: Fernando Henrique Dos Santos

31

peso, metabolismo, grau de absorção e até mesmo as funções hepáticas influenciam, assim,

cada pessoa tem sua quantidade de consumo para chegar ao quinto estágio.

Esse nível de embriaguez a pessoa não irá mais responder a sons ou estímulos algum.

Essa fase é a mais conhecida como “apagão”, pois, a pessoa irá dormir profundamente e

dificilmente será possível despertá-la. Os níveis de álcool no sangue está entre 2,0 e 5,0

gramas aproximadamente.

O sétimo e último estágio de embriaguez é o coma. Quando a absorção do álcool for

equivalente a mais de 5,0 gramas de álcool por litro, haverá o comprometimento das funções

vitais do embriagado, podendo ocorrer uma parada cardiorrespiratória. dessa forma, deve

atentar à pessoa que está no estágio anterior, pois, a depender da quantidade de álcool

consumida, ainda está ocorrendo a sua absolvição, devendo ser observada a temperatura e

palidez do indivíduo

A embriaguez, segundo o doutrinador Cleber Masson (2014, p. 544), está relacionada

a ingestão de álcool, causando intoxicação resultando na incapacidade de entendimento e

dificuldades para assimilar o que é ilícito ou lícito. Assim afirma:

É a intoxicação aguda produzida no corpo humano pelo álcool ou por substância de

efeitos análogos, apta a provocar a exclusão da capacidade de entender o caráter

ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Como

exemplos de substâncias de efeitos análogos podem ser apontados o éter, a morfina,

o clorofórmio e quaisquer outras substâncias entorpecentes, ainda que não previstas

na Portaria do Ministério da Saúde responsável por essa tarefa, dependendo, no

caso, de perícia.

Continuando com o raciocínio do doutrinador Cleber Masson, o mesmo afirma que o

conceito acima descrito está relacionado ao da não exclusão da imputabilidade penal, assim

segue afirmando: “a embriaguez acima definida, que não exclui a imputabilidade penal (CP,

art. 28, II), é chamada de embriaguez aguda, embriaguez simples ou embriaguez fisiológica”.

Ainda sobre o conceito de embriaguez, temos o estudo do jurista Roberto Cesar

Bitencourt (2015, p. 491), que além de conceituar, classificou de forma bem sucinta e objetiva

a classificação dos estágios de embriaguez, assim segue afirmando:

A embriaguez pode ser definida como a intoxicação aguda e transitória provocada

pela ingestão do álcool ou de substância de efeitos análogos. Segundo a

classificação mais tradicional, a embriaguez apresenta três estágios: 1º inicial – de

excitação; 2º intermediário – de depressão; 3º final – de embriaguez letárgica (sono

profundo ou coma).

Page 34: Fernando Henrique Dos Santos

32

Assim como a imputabilidade em razão da anomalia psíquica, na imputabilidade pela

embriaguez, também é adotado o critério biopsicológico, tendo sua previsão expressa no

artigo 28, §1º do Código Penal:

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Embriaguez

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos

análogos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1 º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso

fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz

de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2 º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez,

proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da

omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se

de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

4.3 Espécies de embriaguez

A embriaguez é classificada em 4 espécies e grau.

4.3.1 Embriaguez não acidental

Nessa espécie de embriaguez temos como principais elementos a presença da

voluntariedade, onde o agente quer se embriagar ou a presença da forma culposa, quando o

agente agindo com negligência se embriaga.

Embriaguez voluntária é aquela em que o agente, de forma dolosa ou culposa, ingere

substância capaz de lhe causar perturbação psicossomática. Tratando-se de embriaguez dolosa

ou culposa, no âmbito penal, não importa. Em tese, é aquela em que o agente ao consumir

bebida alcoólica, assumi o risco de praticar um ato ilícito, seja doloso ou culposo, vez que

somente exclui a culpabilidade a embriaguez acidental.

O agente, no caso de embriaguez voluntária, poderá ser condenado e responsabilizado

pelo ilícito praticado. Alguns doutrinadores defendem que na embriaguez voluntária o autor

Page 35: Fernando Henrique Dos Santos

33

assume o risco, sendo dolo eventual. Outros defendem que o indivíduo não tinha a intenção

de ocasioná-lo, sendo culposo.

Seja a embriaguez completa, seja incompleta, quando não acidental, o sujeito não

ficará isento de pena tendo em vista a aplicação da teoria actio libera in causa onde haverá

um deslocamento da analisa da imputabilidade para o momento em que o agente ainda

possuía consciência e possuía livre vontade. Temos então um afastamento da responsabilidade

objetiva visando não punir aquele que não age culposamente ou dolosamente, analisando a

conduta anterior do agente.

4.3.2 Embriaguez acidental

Embriaguez Involuntária é quando o agente não tem o discernimento apto para

entender o que está ocorrendo, desconhecendo qualquer substância que possa ocasionar tal

fato, ou quando o agente fica alienado a consumir a bebida não sabendo que contém

elementos que possam prejudicá-lo.

Ficam caracterizadas como caso fortuito ou força maior situações em que o agente é

embriagado de forma involuntária, sendo assim, aquelas que o agente desconhece, excluindo a

culpabilidade do delito.

Será caso fortuito quando a agente não possui conhecimento do efeito inibidor da

substância e será caso de força maior quando o agente ingere a substância de forma

obrigatória.

Se a embriaguez for completa o agente será considerado inimputável nos moldes do

artigo 28, parágrafo primeiro do Código Penal. Por outro lado, sendo a embriaguez

incompleta, o agente terá a pena diminuída nos termos do 28, parágrafo segundo do mesmo

Código.

Sobre a embriaguez completa Marques e Capez deram seus pareceres.

Frederico Marques (1997, p.246) afirma que “a embriaguez fortuita, a alcoolização

decorre de fatores imprevistos, enquanto na derivada de força maior a intoxicação provem de

força externa que opera contra a vontade de uma pessoa, compelindo-a a ingerir bebida”

Para Capez (2008, p.317) “não há que se falar em actio libera in causa, uma vez que

durante a embriaguez o agente não teve livre-arbítrio para decidir se consumia ou não a

substância. A ação de sua origem não foi nem voluntária, nem culposa”.

Page 36: Fernando Henrique Dos Santos

34

Sobre a embriaguez incompleta, Prado (2008, p.378) alega que a “embriaguez

incompleta-fase de excitação (a partir de 0,8g por litro de sangue)”. Portanto, temos que será

incompleta a embriaguez quando há perda parcial da capacidade de entendimento do agente.

4.3.3 Embriaguez patológica

A embriaguez patológica é aquela proveniente de uma doença, podendo ser

considerada uma anomalia psíquica e que, de acordo com o caso concreto, poderá gerar a

imputabilidade como nos moldes do artigo 26 do Código Penal ou a redução de sua pena

Se a embriaguez for completa, o agente se enquadrará nos termos do caput do artigo

26 do Código Penal:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento

mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente

incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento.

Em contrapartida, se a embriaguez for incompleta, poderá ser equiparada e aplicado o

parágrafo primeiro do artigo 26 do Código Penal:

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em

virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto

ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de

determinar-se de acordo com esse entendimento.

4.3.4 Embriaguez preordenada

A quarta e última espécie de embriaguez é a preordenada, cuja finalidade é cometer

um crime, o que faz com que o agente ingira bebida alcóolica ou outra substância com efeito

análogo.

De acordo com Rogério Sanches Cunha (2011, p.28): “é a hipótese em que o sujeito

embriaga-se propositalmente para cometer um crime. A teoria da actio libera in causa,

Page 37: Fernando Henrique Dos Santos

35

também nesta hipótese, impede a isenção da pena (mesmo que completa), determinando a

incidência de agravante de pena (art. 61, II, “l”).

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou

qualificam o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) por motivo fútil ou torpe;

b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de

outro crime;

c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que

dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;

d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou

cruel, ou de que podia resultar perigo comum;

e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de

coabitação ou de hospitalidade;

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de

coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei

específica; (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou

profissão;

h) contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida.

(Redação dada pela Lei nº 9.318, de 1996)

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; (Redação

dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;

j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou

de desgraça particular do ofendido;

l) em estado de embriaguez preordenada.

Não deve-se confundir a embriaguez não acidental com a embriaguez preordenada,

tendo em vista que nesta o agente se embriaga com a finalidade de cometer um delito,

enquanto aquela o agente visa apenas se embriagar, em intenção alguma de cometer uma

infração penal.

Rogério Greco (2008, p. 405) alega:

Pela definição da actio libera in causa de Narcélio de Queiroz, percebemos que o

agente pode embriagar-se preordenadamente, com a finalidade de praticar uma

infração penal, oportunidade em que, se vier a cometê-la, o resultado lhe será

imputado a título de dolo, sendo, ainda, agravada a sua pena em razão da existência

da circunstância prevista no art. 61, II, I, do Código Penal, ou, querendo ou não se

embriagar, mas sem a finalidade de praticar qualquer infração, se o agente vier a

causar um resultado lesivo, este lhe poderá ser atribuído, geralmente, a título de

culpa.

Para que esse problema seja solucionado temos que “a teoria da actio libera in causa

foi desenvolvida para a embriaguez preordenada, e para ela, se encaixa perfeitamente. O

Page 38: Fernando Henrique Dos Santos

36

agente embriaga-se com a intenção de cometer um crime em estado de inconsciência, e assim

o faz” (MASSON, 2012, p.472).

Diante o exposto temos a teoria da actio libera in causa como a solução para que haja

a devida punição do agente sem se valer da fundamentação pautada na responsabilidade

objetiva.

Page 39: Fernando Henrique Dos Santos

37

V TEORIA DA ACTIO LIBERA IN CAUSA E APLICAÇÃO AOS CRIMES DE

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

Segundo Luiz Flávio Gomes, a Teoria do actio libera in causa “vem solucionar casos nos

quais, embora considerado inimputável, o agente tem responsabilidade pelo fato”.

O autor refere o clássico exemplo da embriaguez preordenada, quando uma pessoa se

embriaga com o fim de cometer um delito.

José Frederico Marques ensina que o artigo 28, inciso II do Código Penal, trouxe uma hipótese

de imputabilidade legal: “é porque o texto que o indivíduo embriagado não tem sua imputabilidade

excluída, quando a embriaguez é voluntária e culposa, que ele responde pelo ato praticado nesse

estado de transtorno mental transitório”.

O doutrinador Capez (2009, p.339) defende a tese de que a embriaguez não acidental jamais

exclui a imputabilidade, seja voluntária, culposa completa ou incompleta.

Isso porque, no momento em que ele ingeria a substância, era livre para decidir se

devia ou não o fazer. A conduta, mesmo quando praticada em estado de embriaguez

completa, originou-se do ato de livre arbítrio do sujeito, que optou por ingerir a

substância quando tinha a possibilidade de não o fazer.

Em sentido diverso, Mirabete (2009) afirma que a teoria do Actio libera in causa é

válida caso o agente assuma o risco de, embriagado, cometer um crime ou praticar um delito

previsível, mas não será aplica a teoria nos casos em que o agente não quer ou nem ao menos

prevê a possibilidade de comete um ato ilícito.

Para o doutrinador Masson (2012, p.471):

[...] teoria da actio libera in causa, em claro e bom português teoria da ação livre na

causa. Fundamenta-se no princípio segundo o qual “a causa da causa também é a

causa do que foi causado, isto é, para aferir-se a imputabilidade penal no caso da

embriaguez, despreza-se o tempo em que o crime foi praticado.

Três elementos são essenciais para a melhor compreensão da teoria em questão.

Como primeiro elemento é a conduta. Tal conduta deve ser voluntária e anterior a

prática da infração penal. Essa conduta voluntária causa efeitos psíquicos no agente para que

assim, ele possa chegar ao resultado pretendido da infração penal.

Como segundo elemento, temos a definição de Haroldo da Silva (2004, p.80) que diz

que deve haver “um consequente processo de produção do fato, que seja a manifestação de

um dinamismo ideomotor, tornado incoerente por um ato de vontade do agente”.

Page 40: Fernando Henrique Dos Santos

38

Na posição de terceiro elemento, temos o nexo causal, o qual deve ligar a conduta

voluntária inicial ao resultado da infração penal. Ou seja, comprovar que houve a ingestão de

bebida alcóolica a fim de praticar o delito “inconscientemente”.

Vale ressaltar que a actio libera in causa não pode ser aplicada nos casos de

embriaguez acidental, quando houver caso fortuito ou de força maior em que se retira

completamente a capacidade de consciência. Caso a embriaguez seja incompleta, o agente

terá apenas a diminuição da pena.

5.1 Actio libera in causa e os crimes dolosos

Nessa modalidade, a teoria da actio libera in causa irá reconhecer que o agente se

submete de forma voluntária a um estado de incapacidade a fim de praticar um resultado de

uma ato delituoso, também de forma dolosa.

5.2 Actio libera in causa e os crimes culposos

Para que haja a aplicação da teoria da da actio libera in causa no caso de um crime

culposo, deve ser feita uma análise dos fatos do crime em questão e analisar como o agente

colocou-se em situação de incapacidade e violou a norma e o dever de cuidado objetivo

(negligencia, imprudência, imperícia).

Ademais, deve ter atenção redobrada nesse ponto, visto que a culpa consciente

ocorrerá quando o agente, mesmo sendo imputável, se coloca em um estado de incapacidade,

posteriormente causando um crime, porém possuía confiança de que o resultado não

ocorreria, enquanto a culpa inconsciente ocorre quando o agente, ao se colocar em estado de

incapacidade, não previa de forma alguma o cometimento de um delito, sendo a embriaguez

voluntária, porém não a causa do crime.

5.3 Reflexos da teoria da actio libera in causa nos crimes de embriaguez

Page 41: Fernando Henrique Dos Santos

39

Quando a capacidade de entendimento e a autodeterminação estão totalmente

comprometidas e sem consciência em razão da ingestão de álcool ou sustâncias com efeitos

análogos, a teoria da actio libera in causa irá deslocar do a constatação da imputabilidade

para o momento anterior em que o agente estava consciente, e será analisado o seu subjetivo

nesse momento.

Assim, temos as consequências da aplicação da teoria da actio libera in causa que irá

versar sobre os atos praticados anteriormente à conduta. Vejamos as situações:

Se no momento anterior à imputabilidade gerada pela ingestão de álcool, o agente era

imputável, prevê o resultado e quer que ele ocorra, se a conduta estiver prevista no tipo e

penal e ocorrer o seu resultado, o agente irá responder pela modalidade dolosa.

Se houver o resultado, irá o agente responder por dolo eventual quando este, imputável

anteriormente à inimputabilidade causa pela ingestão de álcool, prevê o resultado, aceita ou

assume o risco de que ele ocorresse.

Dessa forma, se no momento em que o agente é imputável, antes mesmo da ingestão

de álcool, prevê o resultado danoso, mas acredita que consegue evita-lo, haverá a incidência

da culpa consciente caso o resultado ocorra. Entretanto, se o agente não possuir essa previsão,

caso o resultado se concretize, ele responderá na modalidade de culpa inconsciente.

Por fim, temos a situação em que o agente imputável, antes mesmo da ingestão de

estar sob os efeitos do álcool, não prevê o resultado e este ocorre. Em razão da atipicidade, o

agente não irá responder por nada.

Observa-se que no último caso há a ausência de dolo e culpa e, por não haver o

elemento subjetivo, não haverá conduta e a tipicidade da infração penal será excluída.

5.4 Crime de embriaguez ao volante

O artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro nos traz um crime de perigo abstrato:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em

razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine

dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se

obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1º. As condutas previstas no caput serão constatadas por:

Page 42: Fernando Henrique Dos Santos

40

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou

igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou

II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da

capacidade psicomotora.

§ 2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de

alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou

outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.

§ 3º. O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia

ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

(Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal segue no mesmo sentido:

Ementa: HABES CORPUS PENAL. DELITO DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE.

ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. ALEGAÇÃO DE

INCONSTITUCIONALIDADE DO REFERIDO TIPO PENAL POR TRATAR-SE

DE CRIME DE PERIGO ABSTRATO. IMPROCEDÊNCIA. ORDEM

DENEGADA. I - A objetividade jurídica do delito tipificado na mencionada norma

transcende a mera proteção da incolumidade pessoal, para alcançar também a tutela

da proteção de todo corpo social, asseguradas ambas pelo incremento dos níveis de

segurança nas vias públicas. II - Mostra-se irrelevante, nesse contexto, indagar se o

comportamento do agente atingiu, ou não, concretamente, o bem jurídico tutelado

pela norma, porque a hipótese é de crime de perigo abstrato, para o qual não importa

o resultado. Precedente. III - No tipo penal sob análise, basta que se comprove que o

acusado conduzia veículo automotor, na via pública, apresentando concentração de

álcool no sangue igual ou superior a 6 decigramas por litro para que esteja

caracterizado o perigo ao bem jurídico tutelado e, portanto, configurado o crime. IV

- Por opção legislativa, não se faz necessária a prova do risco potencial de dano

causado pela conduta do agente que dirige embriagado, inexistindo qualquer

inconstitucionalidade em tal previsão legal. V - Ordem denegada.

Em sua doutrina, Cleber Masson (2012, p. 470) concorda com a jurisprudência:

[...] esse delito insere-se no rol dos crimes de perigo abstrato, e sua descrição legal

não atenta contra princípios constitucionais, porque é cientifica e estatisticamente

comprovado que a condução de veículo automotor por quem ingeriu álcool ou

substâncias psicoativas em determinado patamar coloca em risco a incolumidade

física e a vida de terceiros, dada a diminuição dos reflexos, da percepção sensorial e

da habilidade motora.

Os crimes de perigo abstrato são duramente criticados e alvos de alegações de

inconstitucionalidade, entretanto, esse é o posicionamento majoritário do Supremo Tribunal

Federal. O fato de dirigir embriagado pode causar grandes danos irreversíveis, dai a

fundamentação de seu perigo ser abstrato, tais resultados lesivos merecem medidas mais

rigorosa.

Ainda sobre o artigo 306 do Código Penal, vale ressaltar que é necessário que o estado

de embriaguez seja comprovado, portanto, utiliza-se o exame de sangue como meio de prova

Page 43: Fernando Henrique Dos Santos

41

pericial ou outros métodos correspondentes, tais como o teste do bafômetro, devidamente

referenciado no artigo segundo do Decreto Federal n. 6.488/2008:

Art. 2º. Para os fins criminais de que trata o art. 306, da Lei n o 9.503, de 1997,

Código de Trânsito Brasileiro, a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia

é a seguinte:

I-exame de sangue: concentração igual ou superior a seis decigramas de álcool por

litro de sangue; ou

II-teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro): concentração de álcool

igual ou superior a três décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões.

Vemos então que há diversos meios de se comprovar que o agente conduzia veículo

automotor sob influência de bebida alcóolica, a fim de evitar possíveis resultados lesivos à

vida ou à integridade física da coletividade.

5.5 Teoria da actio libera in causa nos casos de embriaguez não acidental

Um dos motivos para que a Lei 11.705 de 2008 seja tão severa advém do grande

número de ocorrência de acidentes de trânsito, fazendo com que surjam diversos advogados

atuando nesta área.

Muitos dos advogados que atuam em casos de acidente de trânsito acabam por

tipificarem a conduta como dolosa em sua modalidade eventual, a qual não concordamos.

Visto que a teoria da actio libera in causa realiza o deslocamento do momento de

análise da imputabilidade e de seu elemento subjetivo, aquele pretendido pelo agente, para o

momento anterior à ingestão de bebida alcóolica, evitando assim, a aplicação da

responsabilidade penal objetiva.

Lembrando que, esta teoria não ocorre nos casos de embriaguez acidental, onde se ela

for completa, haverá a inimputabilidade ou se incompleta, redução da pena a ser aplicada.

Por outro lado, ao contrário do que ocorre com a embriaguez acidental, a embriaguez

não acidental, seja ela culposa ou voluntária, incompleta ou completa, será aplicada a teoria

da actio libera in causa, aplicando, consequentemente, a culpa consciente do agente e não o

dolo eventual como muitos afirmam.

Dessa forma, na culpa consciente, “o agente prevê o resultado, mas espera que ele não

ocorra, supondo poder evita-lo com sua habilidade ou sorte” (CUNHA, 2011, p.49).

Page 44: Fernando Henrique Dos Santos

42

Enquanto que, o dolo eventual é caracterizado pela teoria do consentimento, ou seja,

além do agente possuir a previsão do resultado, ele continua a sua conduta, assumindo o risco

previsto.

Fernando Capez (2012, p.212) nos traz a diferença entre o dolo eventual e a culpa

consciente: “o traço distintivo entre ambos, portanto, é que no dolo eventual o agente diz:

„não importa‟ enquanto na culpa consciente supõe: „é possível, mas não vai acontecer de

forma alguma1‟”.

Com a distinção dada acima pelo Capez, fica mais clara a diferença entre as duas

modalidades e torna mais fácil a comprovação de que a embriaguez não acidental, seja ela

culposa ou voluntária, em sua maioria, será culpa consciente. Oras, ao admitir que trata-se de

dolo eventual, estaria o agente colocar sua própria vida em risco, tendo em vista que a vida

humana é fragilizada diante acidentes com veículo automotor, com grandes chances de risco

tanto ao condutor quanto às supostas vítimas.

Entretanto, a controvérsia está na hipótese de resultado morte de crime de embriaguez

ao volante, se seria caracterizado o dolo eventual ou não. Se assim for considerado, o crime

vai à júri, onde há o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, ficando o condutor com seu

destino nas mãos dos jurados, que não possuem conhecimento jurídico para notar que há uma

linha tênue entre a culpa consciente e o dolo eventual, dando a eles a clara ilusão de que o

crime foi praticado dolosamente na espécie eventual.

Esse é o pensamento de Silvio Maciel (2011):

Se o condutor está embriagado ou em situação de “racha” lhe é imputado o crime de

homicídio doloso, ainda que nos autos não haja um elemento concreto sequer de que

o agente de fato tenha atuado com dolo eventual. E como o julgamento do homicídio

doloso é realizado por juízes leigos (jurados) torna-se muito fácil convencê-los de

que o réu “assumiu o risco” e por isso agiu com dolo eventual. É bem verdade que

essa diferença apontada acima, embora ontologicamente seja bem nítida, na prática é

muito sutil, o que torna muito difícil – quase um exercício de vidência – saber se o

agente atuou com culpa consciente ou dolo eventual. Não menos verdade, porém, é

que um dos axiomas mais importante do direito é o do “in dubio pro reo”, razão pela

qual não se pode, à mingua de qualquer elemento concreto de prova, imputar ao

agente o dolo eventual apenas para satisfazer verdades pessoais ou sentimentos

particulares de justiça (o que, aliás, ocorre muito na prática judicial deste país).

Somente as circunstâncias do caso concreto, devidamente comprovadas nos autos

permitem afirmar o elemento subjetivo do agente, razão pela qual não se pode

generalizar que nos acidentes de trânsito em situação de “racha” ou com o condutor

embriagado há, necessária e invariavelmente, dolo eventual.

Há detalhes não notados que dão maior embasamento à tipificação como culpa

consciente quando há resultado morte. Silvio Maciel (2011) alega que com a alteração da Lei

n. 11.705 de 2008, passou a ser admitida na lei seca a existência do crime na modalidade

culposa quando houver situação de embriaguez do condutor ou “racha”.

Page 45: Fernando Henrique Dos Santos

43

Essa previsão está contida no artigo 291, parágrafo 1º, inciso I e II do Código de

Trânsito Brasileiro:

Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código,

aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este

Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro

de 1995, no que couber. § 1- Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal

culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,

exceto se o agente estiver: (Alterado pela L-011.705-2008) I- sob a influência de

álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; II-

participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de

exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não

autorizada pela autoridade competente.

O Supremo Tribunal Federal já possui entendimento no sentido de que os crimes de

embriaguez ao volante cujo resultado será morte, será classificado como culpa consciente,

exceto nos casos em que for comprovado o dolo eventual do condutor.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, na tarde de hoje

(6), Habeas Corpus (HC 107801) a L.M.A., motorista que, ao dirigir em estado de

embriaguez, teria causado a morte de vítima em acidente de trânsito. A decisão da

Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de homicídio doloso (com

intenção de matar) para homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de

veículo, por entender que a responsabilização a título “doloso” pressupõe que a

pessoa tenha se embriagado com o intuito de praticar o crime. Ao expor seu

votovista, o ministro Fux afirmou que “o homicídio na forma culposa na direção de

veículo automotor prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio

doloso decorre de mera presunção perante a embriaguez alcoólica eventual”.

Conforme o entendimento do ministro, a embriaguez que conduz à

responsabilização a título doloso refere-se àquela em que a pessoa tem como

objetivo se encorajar e praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo.O ministro

Luiz Fux afirmou que, tanto na decisão de primeiro grau quanto no acórdão da Corte

paulista, não ficou demonstrado que o acusado teria ingerido bebidas alcoólicas com

o objetivo de produzir o resultado morte. O ministro frisou, ainda, que a análise do

caso não se confunde com o revolvimento de conjunto fático-probatório, mas sim de

dar aos fatos apresentados uma qualificação jurídica diferente. Desse modo, ele

votou pela concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao acusado

para homicídio culposo na direção de veículo automotor, previsto no artigo 302 da

Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). (BRASIL, 2012c)

Silvio Maciel nos dá um exemplo que nos mostra quando será tipificado o dolo

eventual em um crime de embriaguez ao volante com resultado morte, o que diferencia cada

fez mais as duas espécies e está de acordo com a posição de que trata-se de culpa consciente

nos casos de embriaguez não acidental:

Em nossas aulas, fornecemos os seguintes exemplos aos alunos: em um caso real,

ocorrido na cidade de Curitiba, o agente, revoltado com o fim do namoro, passou a

efetuar manobras radicais com o automóvel na rua onde a ex-namorada residia;

antes de entrar no automóvel ele avisou algumas mulheres para recolherem os filhos

Page 46: Fernando Henrique Dos Santos

44

da calçada porque ele estava revoltado e não se importava se matasse alguma

criança; durante as manobras radicais ele perdeu o controle do automóvel, avançou

sobre a calçada, atropelou e matou uma criança; desceu do automóvel e disse “eu

avisei”. Nesse caso, diante das circunstâncias do caso concreto, evidenciado ficou o

dolo eventual; mas em outro exemplo, se um pai sai da festa de formatura da filha e

no trajeto causa um acidente matando a própria filha, não se pode afirmar que o

infrator agiu com dolo eventual apenas porque tomou dois copos de bebida alcoólica

durante o evento. Da mesma forma que não se pode afirmar que houve dolo eventual

na conduta de um filho que, socorrendo o pai para o pronto socorro, imprime

velocidade excessiva no automóvel e causa um acidente matando o próprio pai

(esqueçamos aqui a situação de estado de necessidade que não interessa no

momento). Veja-se que nos três exemplos acima, o agente previu o resultado; nos

três exemplos, um leigo diria com a maior certeza do mundo que os condutores

“assumiram o risco”. Mas certamente o que houve no primeiro exemplo foi dolo

eventual e nos dos últimos, culpa consciente.

Portanto, se não for devidamente comprovado o dolo eventual, o condutor embriagado

de forma não acidental que comete homicídio, terá sua conduta tipificada como culpa

consciente.

5.6 Teoria da actio libera in causa nos casos de embriaguez preordenada

A teoria da actio libera in causa se aplica perfeitamente aos casos de embriaguez

preordenada na direção de veiculo automotor.

Cleber Masson (2012, p.472) ensina:

O agente embriaga-se com a intenção de cometer um crime em estado de

inconsciência, e assim o faz. O dolo estava presente quando arquitetou o crime, e

por esse elemento subjetivo deve ser punido. Vale lembrar o clássico exemplo do

guarda chaves que se embriaga com a intenção de não acionar as chaves à chegada

do trem produzindo a catástrofe. No momento de beber, era ele imputável, mas já

não o era no momento do desastre. Na embriaguez preordenada o fundamento da

punição é a causalidade mediata. O agente atua como mandante, na fase anterior, da

imputabilidade, e faz executar o mandato criminoso, por si mesmo, como

instrumento, em estado de inimputabilidade.

Temos aqui, claro e evidente que o condutor se vale da embriaguez com a finalidade

de praticar um crime, transformando a condição de embriaguez como uma forma ser

considerado inimputável, porém, sua conduta será tipificada como dolo, pois, com base na

teoria finalista, houve dolo por parte o condutor.

Page 47: Fernando Henrique Dos Santos

45

CONSIDERÇÕES FINAIS

Com o passar dos anos, a legislação de trânsito brasileira vem sofrendo grandes

modificações, visando punir condutas que contrariam a lei.

Nos dias atuais, a quantidade de automóveis em circulação exorbitante, e tendência é

que o aumento seja cada vez maior e consequentemente o número de infrações de trânsito

também aumentam.

Diante à falta de conhecimento da sociedade em compreender os institutos penais, há

uma grande pressão para que o Estado imponha uma punição mais onerosa. O melhor

caminho a ser percorrido foi a criação do tipo penal autônomo do ébrio, colocando fim às

discussões acerca o assunto, fazendo com que o legislador, possa se basear inclusive na lei

ordinária para que seja feita a correta aplicação do direito e não em mera pressão realizada

pela sociedade.

Assim, há possibilidade de criminalizar o ébrio quando este conduz veículo automotor

em estado de embriaguez de forma voluntária e culposa, cuja execução é livre. Acabará assim,

os vestígios sobre a dúvida acerca a embriaguez não acidental, seja ela na modalidade

voluntária ou culposa, no que tange sua tipificação como dolo eventual ou como culpa

consciente.

Visando um melhor entendimento, narra-se o conceito de crime relacionado a

classificação da teoria neoclássica, ou seja, o crime se define a partir de três elementos que

vão constituí-lo, sendo a ação típica, antijurídica e culpável.

Para um esclarecimento ainda maior, a presente monografia aborda o dolo em si,

quando o agente sente a vontade de praticar o ato, apresentando noções gerais de dolo, suas

teorias e descrevendo todas as espécies do dolo.

Dando sequência ao conteúdo, relata-se o noções de culpa no ordenamento jurídico,

mostrando-a de forma voluntária e suas espécies.

É necessário o entendimento do que a embriagues em âmbito jurídico, e quando trará

sansões como consequência. Descreve-se então no presente trabalho monográfico todas as

espécies de embriaguez.

Temos então a teoria da actio libera in causa como meio mais adequado para

solucionar de forma justa os crimes praticados pelos ébrios habituais, a fim de que a

responsabilidade objetiva seja afastada. Ela deve ser afastada em razão de gerar

Page 48: Fernando Henrique Dos Santos

46

responsabilidade ao agente independe dele ter agido com dolo ou culpa, sendo incriminado

simplesmente pela sua conduta delituosa.

Além disso outro questionamento que surge nesse âmbito é acerca os crimes de perigo

abstrato, ou seja, aqueles crimes em que não é necessário comprovar o perigo de lesão, basta

ela ser presumida, como por exemplo o que ocorre no artigo 306 do Código de Trânsito

Brasileiro

Até com uma ficção jurídica como base para se aplicar o tipo subjetivo, os operadores

do direito não aplicam a teoria de actio libera in causa de forma correta, visto que, repetidas

vezes os Tribunais necessitam reiterar seus posicionamentos a fim de corrigir os erros de

interpretação pena nos casos concretos.

Page 49: Fernando Henrique Dos Santos

47

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 6.488, de 19 de junho de 2008. Regulamenta os artigos 276 e 306 do

Código Brasileiro de Trânsito. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,

DF, 20 jun. 2008. Disponível em: Acesso em: 10 mar. 2019.

______. Decreto nº 678, de 06 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana de

Direito Humanos (Pacto de São José da Costa Rica). Diário Oficial [da] República Federativa

do Brasil, Brasília, DF, 07 nov. 1992. Disponível em: Acesso em: 10 mar. 2019

______. Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Institui o Código penal. Diário

Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 08 dez. 1940. Disponível em:

Acesso em: 10 mar. 2019.

______. Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda executar o Código Criminal. CLBR, Brasília,

DF, 07 jan. 1831. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-16-12-

1830.htm>. Acesso em:10 mar. 2019.

______. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui Sistema Nacional Políticas

Públicas sobre as Drogas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,

24 ago. 2006. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006

/lei/l11 343.htm>. Acesso em: 10 mar, 2019.

______. Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008. Altera a Lei nº 9.503 - Código de Trânsito

Brasileiro. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 jun. 2008.

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11705.htm>.

Acesso em: 10 mar, 2019.

______. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Institui os Juizados Especiais Cíveis e

Criminais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 set. 1995.

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm>. Acesso em: 10 mar.

2019.

______. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro.

Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 set. 1997. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm>. Acesso em: 10 mar, 2019.

______. Superior Tribunal de Justiça. RHC nº 11.397. Requerente: Ricardo Gonçalves

Colletes. Requerido: Tribunal de Justiça de São Paula. Relator: José Arnaldo da Fonseca,

Brasília, Distrito Federal, 29 de outubro de 2001. Disponível em: <

http://www.stj.jus.br/webstj/processo/Justica/detalhe.asp?numreg=200100609474&pv=01000

0000000&tp=51>. Acesso em: 10 mar, 2019.

______. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 107.801. Paciente: Lucas de Almeida

Menossi. Coator: Superior Tribunal de Justiça. Relator: Carmen Lúcia, Brasília, Distrito

Federal, 06 de setembro de 2011. Disponível em: < http://www.stf.jus.br /portal /juris

prudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28HC%24%2ESCLA%2E+E+107801%2ENUME%

Page 50: Fernando Henrique Dos Santos

48

2E%29+OU+%28HC%2EACMS%2E+ADJ2+107801%2EACMS%2E%29&base=baseAcor

daos>. Acesso em: 10 mar, 2019.

______. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 110.258. Requerente: Defensoria

Pública da União. Requerido: Davi Sebastião de Almeida. Relator: Dias Toffoli, Brasília,

Distrito Federal, 08 de maio de 2012. Disponível em: < http: // www.stf. jus.br/portal /juris

prudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28embriaguez+e+perigo+abstrato%29&base=baseAc

ordaos>. Acesso em: 10 mar, 2019.

_______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF:

Senado, 1988. Disponível

em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acessado

em 10 mar. 2019.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal 1 – parte geral. 1999.

______. Presidencia da Republica. Decreto Lei 2.848, de 07 de Dezembro de 1940. Dispõe

sobre código penal. São Paulo: Saraiva, 2007.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2011.

CUNHA, Rogério Sanches. Código penal para concurso: parte geral. São Paulo: Jus

Podium, 2011.

DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 7. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007

GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus,

2011.

JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal: parte geral. 32. ed. São Paulo: Saraiva,

2011.

_____, Damásio Evangelista de. Direito penal. São Paulo: Saraiva, 1999.

MACIEL, Silvio. Acidentes de trânsito: dolo eventual ou culpa consciente. Atualidades do

direito. 09 set. 2011. Disponivel em:. Acesso em: 10 mar, 2019.

MARQUES, José Frederico. Tratado de direito penal. Campinas: Bookseller,1997.

MASSON, Cleber. Direito penal: parte geral. São Paulo: Método, 2012. 52

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10. Ed. Rio de Janeiro: Forense,

2014.

PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral.10. ed. São Paulo: RT.

SILVA, Haroldo Caetano da. Embriaguez e a Teoria da Actio Libera in Causa. Curitiba:

Juruá, 2004.

Page 51: Fernando Henrique Dos Santos

49

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed. São Paulo:

Saraiva, 1994.

ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal

brasileiro – parte geral. São Paulo: RT, 1997.