130
FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO DEMONSTRAÇÃO DE VALOR ADICIONADO E BALANÇO SOCIAL: CONTRIBUIÇÃO DE EVIDENCIAÇÃO PARA AS EMPRESAS NA REGIÃO DE UBERABA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SP São Paulo 2007

FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

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Page 1: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO

DEMONSTRAÇÃO DE VALOR ADICIONADO E BALANÇO SOCIAL:

CONTRIBUIÇÃO DE EVIDENCIAÇÃO PARA AS EMPRESAS NA RE GIÃO

DE UBERABA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SP

São Paulo

2007

Page 2: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO

DEMONSTRAÇÃO DE VALOR ADICIONADO E BALANÇO SOCIAL:

CONTRIBUIÇÃO DE EVIDENCIAÇÃO PARA AS EMPRESAS NA RE GIÃO

DE UBERABA

Dissertação apresentada à banca examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo – PUC/SP, como exigência parcial para a

Obtenção do título de Mestre em Ciências

Contábeis e Financeiras, sob orientação do

Prof. Dr. Roberto Fernandes dos Santos.

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS GRADUADOS EM

CIÊNCIAS CONTÁBEIS E FINANCEIRAS - MESTRADO

São Paulo

2007

Page 3: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

iii

FICHA CATALOGRÁFICA

(Elaborada pela Biblioteca da F. Ciências Econômicas Triângulo Mineiro.) Elisa Augusta Basso de Carvalho – Bibliotecária – CRB/6 1040

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e cie ntíficos, a

reprodução total ou parcial desta dissertação por p rocessos de

fotocopiadoras ou eletrônicos.

São Paulo (SP), _ _ _ de _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ de 2007.

Fernando Rodrigues de Carvalho

658.151 Carvalho, Fernando Rodrigues de C323d Demonstração do Valor Adicionado e Balanço Social: Contribuição de evidenciação para as empresas na Região de Uberaba./ Fernando Rodrigues de Carvalho. São Paulo, 2007.

130 p. Área de Concentração: Ciências Contábeis Orientador: Dr. Roberto Fernandes dos Santos

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo. Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis e Financeiras. 1. Demonstração do Valor Adicionado 2. Balanço Social 3. Evidenciação. Contabilidade Gerencial I. Santos, Roberto Fernandes. II. Carvalho, Fernando Rodrigues de. III. Demonstração do Valor Adicionado.

Page 4: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

iv

Reitora da Pontifícia Universidade Católica De São Paulo – PUC SP

Profª Maura Pardini Bicudo Véras, Drª

Presidente da Pós Graduação

Profª Anna Maria Marquês Cintra, Drª

Coordenador do Programa de Estudos Pós Graduados

em Ciências Contábeis e Financeiras

Prof. Roberto Fernandes dos Santos, Dr.

Vice-Coordenadora do Programa de Estudos Pós Graduados

em Ciências Contábeis e Financeiras

Profª Neusa Maria Bastos F. dos Santos, Drª

Page 5: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

v

FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO

DEMONSTRAÇÃO DE VALOR ADICIONADO E BALANÇO SOCIAL:

CONTRIBUIÇÃO DE EVIDENCIAÇÃO PARA AS EMPRESAS NA RE GIÃO

DE UBERABA

Esta dissertação foi julgada e aprovada para obtenção do grau de Mestre

em Ciências Contábeis e Financeiras no Programa de estudos Pós-Graduados em

Ciências Contábeis e Financeiras da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

– PUC/SP.

São Paulo – SP

2007

Prof. Roberto Fernandes dos Santos, Dr.

Coordenador do Programa

Banca Examinadora:

_______________________________________

Prof. Dr. Roberto Fernandes dos Santos

_______________________________________ Profª Drª Ana Cristina de Faria

_______________________________________ Prof. Dr. José Carlos Marion

Page 6: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

vi

Ao meu pai, José Geraldo de Carvalho (in memorian), que partiu cedo e lutou a vida toda... À minha mãe, Romilda Silva de Carvalho, minha força, meu norte... A vocês devo tudo que eu sou. À minha companheira Fabiana, por entender minha ausência e acreditar nos meus ideais.

Page 7: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

vii

AGRADECIMENTOS

A Deus, Entidade Maior, que direciona meus passos, concedendo-me

dádivas como saúde, serenidade e paz, iluminando os meus caminhos para que eu

estude e tenha forças para trabalhar.

Aos meus pais, José Geraldo e Romilda, que sempre primaram por meus

estudos e formação, esta vitória também é de vocês.

A Fabiana, minha companheira, pela paciência, compreensão em meus

momentos de ansiedade e angústia, motivando-me na conclusão deste.

Ao Prof. Dr. Roberto Fernandes dos Santos, cuja orientação ultrapassou as

barreiras acadêmicas, na sala de aula ou na Coordenação do Programa de Pós

Graduação em Ciências Contábeis, do qual me orgulho fazer parte.

À Profª Drª Ana Cristina de Faria pelas indicações de dissertações, artigos

e material complementar. Pelas palavras de apoio e valiosas contribuições por

ocasião do exame de qualificação.

Ao Prof. Dr. José Carlos Marion, cuja admiração e ensinamentos valiosos

proviam desde os tempos da Fundace, em Ribeirão Preto, e que me incentivou a

seguir em frente e me fascinar pelo mundo da Contabilidade.

Aos meus irmãos Denise, Júlio César e Amarildo, agradeço a confiança e a

força ao acreditarem nos meus estudos.

A Júlia e a Maria Eduarda que são a luz da nova geração, nossa luz.

A Isabella que me fez descobrir um novo galhinho na árvore da vida.

À Drª Esther Luísa Hercos Fatureto, minha segunda mãe, você me permitiu

sonhar em ser alguém na vida, minha eterna gratidão.

Page 8: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

viii

Ao Prof. Dr. Marcelo Miguel Hueb, Prof. Dr. Alexandre Assaf Neto, Profª Drª

Tânia Regina Sordi Relvas, vocês são minhas inspirações e exemplos para que eu

continue a estudar e buscar o conhecimento.

Aos Professores Evaldo José Espíndola e Sérgio Silva Martins, a vocês

credito o mérito de me tornar um “professor”.

Aos colegas da Procuradoria da Fazenda Nacional em Uberaba: Vera,

Maria do Carmo, Solange, Laura, Tarcísio, Vicente, Guido, Drª Celine e Drª Maria

do Socorro, por acreditarem no meu sonho.

À Associação Comercial e Industrial de Uberaba, na pessoa de seus

presidentes Marcos Felipe Abud, Carlos Humberto Rocha, Gilberto Resende, por

compreenderem meus propósitos profissionais e acadêmicos.

Aos professores das disciplinas cursadas: Dr. Sérgio de Iudícibus, Drª

Neusa Maria Bastos F. dos Santos, Dr. Carlos Hideo Arima, Dr. João Carlos Hopp,

Dr. Rubens Famá, obrigado por compartilharem seus ensinamentos.

Ao Sr. Carlos Alberto Souza e todos os colaboradores da Black & Decker,

cujo privilégio tenho de chamar de amigos.

Aos meus amigos e colegas de trabalho, Prof. Msc Cássio Silveira da Silva

e Prof. Msc Marcelo Henrique Consoli, pelas sugestões e apoio desde o início do

curso.

Às Profªs Mariângela Castejon e Ângela Maria Fraga Azor, pelo apoio,

sugestões e revisões de língua portuguesa e inglesa.

Á Sra. Márcia Marion, pelas dicas essenciais à conclusão deste trabalho.

À Sra. Elisabete Cardoso Coelho, mais do que a Secretária do Programa

de Pós Graduação se tornou uma amiga nesta trajetória.

Page 9: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

ix

RESUMO

CARVALHO, Fernando Rodrigues de. Demonstração d Valor Adicionado e Informações Sociais: Contribuição de Evidenciação p ara as Empresas na Região de Uberaba. 2007, 130 p. Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras - Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Contábeis e Financeiras da Faculdade de Economia e Administração – FEA – da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP O presente trabalho objetiva mostrar a importância e a contribuição das informações sociais contempladas no Balanço Social e, principalmente, na Demonstração de Valor Adicionado. Acredita-se, com a evidenciação destas demonstrações, na possibilidade de se avaliar os efeitos gerados no meio social e a remuneração atribuída aos diversos fatores de produção. A riqueza dos dados gerenciais e financeiros se mostra em um nível de relevância, perceptível ao se utilizar dados inspirados em uma empresa, neste trabalho, a Black & Decker do Brasil, referência utilizada, exatamente por se tratar de uma multinacional, de grande porte no tocante ao seu faturamento e de responsabilidade limitada sem a obrigatoriedade de publicação das demonstrações contábeis. Porém, com o Anteprojeto de Lei nº 3741/2000, e existindo entre seus artigos a obrigatoriedade de publicação de informações contábeis, financeiras, econômicas e também de aspecto social, desejou-se com este trabalho verificar a aplicabilidade quando da publicação dos relatórios descritos e dos indicadores de análise normalmente empregados. Valendo-se de referências bibliográficas, busca de informações na Internet e pesquisa por meio de um questionário aplicado junto a um dos Diretores da empresa, foi verificada a aplicabilidade das ferramentas gerenciais de análise mencionada. A diversidade de material oriundo da Demonstração do Valor Adicionado e das Informações Sociais, derivando-se em análises, cálculos e conclusões, podem expressar a importância e a responsabilidade dos empreendimentos produtivos em publicá-los não somente para o cliente interno, mas também para uma sociedade consciente a cada dia do papel responsável destas empresas no contexto econômico. Percebe-se assim, a relevância da publicação dessas demonstrações, não apenas pelas sociedades anônimas, mas por todas as empresas, expressando a sua idoneidade e o seu papel politicamente correto junto aos demais stakeholders. Palavras-chave : Evidenciação, Demonstração do Valor Adicionado, Balanço Social, Contabilidade Gerencial.

Page 10: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

x

ABSTRACT

CARVALHO, Fernando Rodrigues de. Demonstração d Valor Adicionado e Informações Sociais: Contribuição de Evidenciação p ara as Empresas na Região de Uberaba. 2007, 130 p. Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras - Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Contábeis e Financeiras da Faculdade de Economia e Administração – FEA – da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

The aim of this paper is to show the relevance and contribution of the social data pertaining to the Social Report and mainly to the Added Value Statement. It is credited that its disclosure may help evaluate its effects upon the social environment as well as the remuneration attributed to several production factors. The wealth of management and financial data available is evidenced through the magnitude of the company of choice- Black & Decker do Brasil, a high income multi-national firm with limited responsibility and no obligation to publish its accounting reports. However, the 3.741/2000 bill which states that it is mandatory to make the accounting, financial , economic and social, led us to verify the applicability of such publications and the indexes of analysis commonly used. A bibliographic study, the Internet and a questionnaire given to one of the directors of the company were used to evaluate the applicability of such management tools. The diversity of material found in the Added Value Statement and the Social Report, which was used in the analyses, figures and conclusions, outstands the need of commitment of the productive sector in publishing their reports not only to their own clients but also to aware the general public of the responsibility of such companies in the economic context. Also, they would assure their reliability together with their politically correct role regarding the other stakeholders. Key words: Disclosure, Added Value Statement, Social Report, Managerial Accounting

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xi

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................ xv

LISTA DE GRÁFICOS.............................................................................. xvi

LISTA DE QUADROS ............................................................................. xvii

LISTA DE TABELAS ............................................................................... xviii

1. CONTEXTUALIZAÇÃO ...................................................................... 01

1.1 Problema de Pesquisa ................................................................. 02

1.2 Objetivos........................................................................................ 02

1.2.1 Objetivo Geral ....................................................................... 03

1.2.2 Objetivo Específico............................................................... 03

1.3 Justificativa .................................................................................. 03

1.4 Delimitação da Pesquisa ............................................................. 04

1.5 Metodologia da pesquisa ............................................................. 04

1.6 Revisão da Literatura.................................................................... 05

1.7 Estrutura do Trabalho.................................................................... 08

2 EVIDENCIAÇÃO – A RELEVÂNCIA DAS INFORMAÇÕES

CONTÁBEIS ........................................................................................ 10

2.1 A informação contábil como um referencial à tomada

de decisões.................................................................................... 10

2.2 O usuário da informação Contábil ................................................. 12

2.3 Objetivos da Informação Contábil ................................................. 13

2.4 A Evidenciação - simples divulgação obrigatória

ou uma demonstração de transparência....................................... 15

2.5 A responsabilidade social dos empreendimentos......................... 21

3 BALANÇO SOCIAL............................................................................. 24

3.1 Dados e Informações sobre o Balanço Social .............................. 24

3.2. Elaboração de demonstrativos sociais – ausência de

normatização ............................................................................... 31

3.3 Auditoria Social - preocupação com as informações sociais........ 34

3.4 Demonstração do Valor Adicionado – DVA ................................. 37

3.4.1 Importância conceitual e aspectos históricos ...................... 37

3.4.2 A Estrutura e Modelo da Demonstração do

Valor Adicionado – DVA – ................................................. 40

Page 12: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

xii

3.4.3 Indicadores de análise da Demonstração do

Valor Adicionado e do Balanço Social.................................. 46

a. Quociente entre Gastos com Pessoal e Valor

Adicionado ..................................................................... 46

b. Quociente entre gastos com Tributos

(Impostos, Taxas e Contribuições) e Valor Adicionado.. 47

c. Quociente entre Gastos com Juros e Aluguéis e

Valor Adicionado ............................................................ 48

d. Quocientes de Juros s/ Capital Próprio e Dividendos

e Valor Adicionado........................................................... 48

e. Quocientes de Lucros Retidos e Prejuízo do Exercício

e Valor Adicionado ......................................................... 49

f. Quociente do Valor Adicionado ........................................ 49

g. Taxa de variação do Valor Adicionado Bruto .................. 49

h. Taxa de variação Total do Valor Adicionado Bruto ......... 50

i. Utilização do Valor Adicionado como medida

de geração de riqueza....................................................... 50

j. Indicador de Produtividade por Empregado ..................... 51

k. Indicador de Lucro por Empregado ................................. 51

l. Índice de Custo Benefício ................................................ 51

3.4.4 Ponderações sobre alguns componentes da

Demonstração do Valor Adicionado .................................. 52

4. DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO E INFORMAÇÕES

SOCIAIS: FONTE ADICIONAL DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS 60

4.1 Metodologia do Trabalho........................................................... 60

a) Contexto do trabalho........................................................... 61

b) A escolha da empresa tida como referência para o

trabalho .............................................................................. 61

c) Objetivo do Trabalho............................................................ 62

d) Procedimentos do Trabalho ................................................ 63

4.2 Município de Uberaba ............................................................. 64

4.2.1 Origens e trajetória histórica de Uberaba ....................... 64

4.2.2 Perfil Sócio Econômico e Estratégico do Município de

Uberaba .......................................................................... 65

Page 13: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

xiii

4.3 Black & Decker –Contexto histórico e Operacional ................. 68

4.3.1 Aspectos quantitativos e qualitativos da empresa ................. 70

a) Quantitativo de Pessoal ..................................................... 70

b) Qualificação profissional .................................................... 72

4.3.2 Benefícios Sociais ................................................................. 74

4.3.3 Informações e Projetos ambientais ...................................... 75

4.4 As Demonstrações Financeiras..................................................... 76

4.4.1 A Empresa Alfa .................................................................... 76

4.4.2 Análise e interpretação de algumas informações

sociais na Demonstração do Valor Adicionado................... 82

a. Análise Horizontal ............................................................ 82

b. Quociente entre Gastos com Pessoal e Valor Adicionado 83

c. Quociente entre gastos com Tributos (Impostos, Taxas

Contribuições) e Valor Adicionado.................................. 83

d. Quociente entre Gastos com Juros e Aluguéis e

Valor Adicionado ............................................................. 84

e. Quocientes de Juros s/ Capital Próprio e Dividendos

e Valor Adicionado ......................................................... 85

f. Quocientes de Lucros Retidos, Prejuízo do Exercício

e Valor Adicionado .......................................................... 85

g. Quociente do Valor Adicionado ....................................... 86

h.Taxa de variação do Valor Adicionado Bruto ................... 87

i. Taxa de variação Total do Valor Adicionado Bruto .......... 87

j. Utilização do Valor Adicionado como medida

produtividade por empregado ........................................... 88

k. Indicador de Produtividade por Empregado .................... 89

l. Indicador de Lucro por Empregado .................................. 90

m. Índice de Custo Benefício ............................................. 91

m.1. Peculiaridades do Índice de Custo Benefícios ...... 92

4.5. Considerações finais ................................................................... 93

CONCLUSÃO ..................................................................................... 97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 102

SITES CONSULTADOS E UTILIZADOS ........................................... 105

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA......................................................... 107

Page 14: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

xiv

ANEXO 1 QUESTIONÁRIO .............................................................. 109

ANEXO 2 INFORMATIVO DE DESEMPENHO

BLACK & DECKER 2006 ................................................. 111

Page 15: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

xv

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Resumo da Evolução Contábil .............................................. 20

Figura 02 Localização Estratégica da cidade de Uberaba .................... 67

Page 16: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

xvi

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Participação na Receita por área....................................... 69

Gráfico 02 Regime de Contratação de Pessoal .................................. 71

Gráfico 03 Faixa Etária dos Empregados da Black & Decker ............. 72

Gráfico 04 Nível de Formação dos Funcionários da Black & Decker... 73

Page 17: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

xvii

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Exemplo de Relação Empresa versus Cidade .................. 21

Quadro 02 Estrutura do Balanço Social .............................................. 28

Quadro 03 Demonstração do Valor Adicionado ................................. 41

Quadro 04 Ponderações sobre a Demonstração do Valor Adicionado 58

Quadro 05 Número de funcionários Terceirizados ............................. 72

Quadro 06 Programas de incentivo a formação do profissional ......... 74

Quadro 07 Benefícios Sociais ............................................................ 75

Page 18: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

xviii

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Demonstrativo de Itens Observados .................................. 16

Tabela 02 Itens recomendados para evidenciação ............................. 18

Tabela 03 Infra-estrutura do município de Uberaba ............................ 65

Tabela 04 Número de funcionários na empresa por sexo ................... 70

Tabela 05 A evolução temporal dos fatores de produção .................... 82

Tabela 06 Relação Valor Adicionado versus Incentivos Fiscais .......... 91

Tabela 07 Comparativo Valor Adicionado versus Incentivos Fiscais ... 92

Tabela 08 Comparativo Valor Adicionado versus Incentivos Fiscais II . 93

Page 19: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO

Apesar do perfil capitalista da contemporânea economia mundial, cada vez

mais os aspectos sociais têm merecido destaque junto à sociedade. A forma como

se explora a atividade econômica e os reflexos no meio social podem representar

divisores de águas entre os empreendimentos que lograrão sucesso ou não.

Observam-se, entre os empreendimentos, exigências para a prestação de

serviços sociais (filantrópicos), preocupação com os efeitos que a atuação da

empresa terá no meio ambiente. Os investimentos em qualificação dos

colaboradores, entre outros, estão, inclusive, servindo de parâmetro para denotar o

planejamento e a visão de futuro das empresas. Surge, neste contexto, o Balanço

Social, que tende a refletir indicadores, como o próprio nome sugere, sociais.

Este demonstrativo foi defendido por Herbert de Souza, o Betinho (Souza,

1997), como uma publicação obrigatória, o que ainda não foi votado nas alterações

da Lei das Sociedades Anônimas. Visualiza-se que, em um quantitativo mínimo,

algumas organizações empresariais estão espontaneamente efetuando a sua

publicação e, com isso, atraindo atenção de clientes, fornecedores, investidores,

governo, instituições de crédito e de fomento (nacionais e internacionais),

expressando, assim, uma preocupação não somente com o resultado para os

acionistas, mas uma interação com todo o meio externo.

Dentre as informações possíveis de serem obtidas com o Balanço Social, a

Demonstração do Valor Adicionado – DVA – merece um destaque especial. Isto

porque vem mostrar sob uma nova ótica que os itens anteriormente tratados como

simples despesas na Demonstração do Resultado do Exercício, são mais do que

isso. Na verdade, são distribuições de riqueza que afetam e influem todo o meio

externo.

Atualmente, tem-se em mente que, nas diversas economias modernas,

predomina como meta principal das empresas a realização de lucros. Porém, a

empresa, qualquer que seja o seu tamanho, provoca reflexos no meio onde se

localiza, tais como, a remuneração das famílias (salários) até a parcela transferida

ao setor público sob a forma de impostos.

Page 20: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

2

Deste modo, o Balanço Social, com atenção especial à Demonstração de

Valor Adicionado, tende a refletir que as empresas não são “ilhas”, mas

componentes–chave da sociedade que, ao seu modo, direta ou indiretamente,

promovem o crescimento e, por conseqüência, o desenvolvimento e a melhoria da

qualidade de vida dos agentes econômicos a sua volta.

Alerta-se que o Balanço Social e a Demonstração de Valor Adicionado,

mesmo não sendo demonstrações financeiras obrigatórias por lei, tendem a ser as

informações expressas em suas estruturas de grande valia para todos os

envolvidos no processo produtivo, tais como: acionistas, fornecedores, clientes,

colaboradores etc.

Com a proposta de alteração da Lei 6.404/76, Lei das Sociedades

Anônimas (Brasil, 2000), há, entre os artigos do Anteprojeto apresentado ao então

Ministro da Fazenda, Pedro Malan, a proposta de obrigatoriedade de publicação

das demonstrações contábeis por parte das empresas de grande porte, ou seja,

aquelas com faturamento superior a R$ 150 milhões, independentemente de serem

Sociedades Anônimas ou de Responsabilidade Limitada.

1.1 Problema da Pesquisa

Pela importância das informações sociais, questiona-se: como seria

distribuída a riqueza gerada aos fatores de produção, proporcionados a partir de

dados de aspectos sócio-econômicos (contábeis e financeiros) de uma empresa?

A problemática é identificar as informações sobre o valor adicionado

(agregado), obtido por meio de dados contábeis e outros itens de âmbito sócio-

econômico de uma empresa, de tal forma a possibilitar que estes dados motivem a

publicação destas demonstrações contábeis, financeiras e sociais.

1.2 Objetivos

O objetivo deste trabalho é contribuir, sugerindo, a publicação de

Informações Sociais e a Demonstração do Valor Adicionado

Page 21: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

3

1.2.1 Objetivo Geral

Mostrar algumas das informações possíveis de serem obtidas com a

divulgação da Demonstração do Valor Adicionado, tornando-se essa Demonstração

mais uma fonte de dados sobre os aspectos sociais e econômicos da empresa.

1.2.2 Objetivo Específico

Para o estudo, escolheu-se, como referência, a empresa Black & Decker

do Brasil Ltda., uma multinacional do setor de ferramentaria e eletrodomésticos,

objetivando mostrar quão informativo, em termos de externalidades econômicas,

podem ser gerados dados de âmbito social, tais como, por exemplo, a geração de

empregos e, até mesmo, o volume de tributos arrecadados, a partir de sua

publicação pelas empresas de um modo geral.

Portanto, este trabalho pretende mostrar a contribuição e a relevância de

um empreendimento produtivo, para a comunidade, utilizando algumas informações

contidas no Balanço Social e na Demonstração do Valor Adicionado e as análises

decorrentes desses dados.

1.3 Justificativa

O interesse em realizar este trabalho é pela ausência de informações sobre

os aspectos sociais, no que se refere à divulgação pelas empresas de grande porte

na cidade de Uberaba. A título de referência, pensou-se na empresa Black &

Decker do Brasil, empresa de responsabilidade limitada, sem a obrigatoriedade de

publicar suas informações contábeis, financeiras e sociais.

Pensou-se, ainda, que por diferenciar-se do meio econômico onde se

localiza e quanto ao seu segmento de atuação, essa empresa tradicional no setor

de eletrodomésticos e ferramentaria, e que apresenta, desse modo, uma trajetória

de sucesso, com matérias referenciadas em revistas de circulação nacional, tal

como a Exame (1995), da Editora Abril.

Durante muito tempo, de maneira dogmática, manifestou-se um

pensamento de que a empresa havia deslocado praticamente toda a sua estrutura

fabril e, posteriormente, administrativa, devido ao ganho efetivo de redução de

Page 22: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

4

custos de mão-de-obra, piso salarial menor em uma cidade do interior mineiro em

relação à Grande São Paulo. Mas a pergunta é: houve um ganho para a cidade? E

o ganho social? A empresa, que pelas demonstrações contábeis convencionais

chamaria de despesa, na verdade não seria uma transferência de recursos para a

remuneração dos diversos agentes que compõem os fatores de produção? E a sua

relevância? Ao tentar se aproximar destas respostas, acredita-se que a compilação

de informações de diversas empresas poderia oferecer uma base sólida para o

planejamento do crescimento e conseqüente desenvolvimento da cidade de

Uberaba.

Assim, utilizando o material publicado, almeja-se mostrar a partir da

Demonstração do Valor Adicionado e do Balanço Social, sua relevância, em termos

de evidenciação e possibilitando-se, também, a análise dessas informações para os

mais diversos tipos de usuários dos elementos contábeis, econômicas e

financeiras, entre eles as autoridades governamentais, instituições financeiras etc.

Aportados nesses conceitos é que se declinou pela elaboração deste

trabalho de pesquisa científica na cidade de Uberaba MG, um município com

aproximadamente 280.000 habitantes, cuja economia é predominantemente voltada

para a agroindústria.

1.4 Delimitação da Pesquisa

Esta pesquisa versará sobre o estudo do Balanço Social, mais

especificamente sobre a Demonstração do Valor Adicionado, sua elaboração como

fonte de informação para os usuários externos e internos, que demandam dados

para a tomada de decisão em toda a sua amplitude.

Os dados e informações foram desenvolvidos, inspirados na empresa

Black & Decker do Brasil Ltda., situada no Distrito Industrial II, na cidade de

Uberaba.

1.5 Metodologia da Pesquisa

A elaboração deste trabalho orientar-se-á por referências bibliográficas,

artigos, livros, dissertações e teses, tendo como seu fechamento o estudo de uma

situação com dados inspirados na empresa Black & Decker do Brasil, com a

Page 23: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

5

finalidade de se verificar se é possível auferir conclusões e opiniões com a

evidenciação dos itens acima mencionados.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa-ação, pois, segundo

Richardson (2007) e Thiollent (2004, p. 18), deseja sugerir mudanças e despertar a

compreensão por parte da empresa e da sociedade com relação à importância da

existência daquela empresa nesta comunidade.

A proposta almejada é verificar algumas das informações que podem ser

obtidas a partir da publicação de informações de âmbito social, a saber: o Balanço

Social e a Demonstração do Valor Adicionado, e sugerir a sua evidenciação.

Para este estudo serão criados, de maneira fictícia, porém inferida, o

Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e a Demonstração

do Valor Adicionado. Essas informações serão embasadas com referencial teórico

e prático, para se mostrar os dados que podem ser extraídos a partir da publicação

dessas demonstrações, alcançando os mais variados usuários das informações

sociais justificando, desse modo, a sua divulgação.

1.6 Revisão de Literatura

Tinoco, em sua obra “Balanço Social: Uma Abordagem da Sócio-

Econômica da Contabilidade” (1984), aborda a metodologia de elaboração do

Balanço Social e as suas principais vertentes Recursos Humanos, a Demonstração

de Valor Adicionado e o Balanço Ambiental e Ecológico. Comenta a forma de

publicação das informações sociais em países da Europa e nos Estados Unidos da

América, inclusive se a divulgação é obrigatória ou não.

Mesmo o autor apresentando com uma ênfase maior as informações

ligadas aos recursos humanos, alguns pontos interessantes chamam a atenção

como definições de Contabilidade Ambiental (a utilização de recursos naturais

limitados e as medidas realizadas para evitar sua exaustão), valor adicionado

negativo (que consiste nos gastos incorridos para corrigir as externalidades

negativas, como poluição, exploração das florestas etc.).

Já em seu trabalho “Balanço Social: Uma Abordagem da Transparência e

da Responsabilidade Pública das Organizações” (2001), Tinoco reconhece, porém,

as dificuldades de elaboração desse esse tipo de demonstrativo de informação, e

Page 24: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

6

pela deficiência de bases que permitam avaliação, mensuração e ponderação sobre

as causas-efeito ambientais.

Luca (1998), por sua vez, menciona em seu trabalho “Demonstração do

Valor Adicionado: do Cálculo da Riqueza Criada pela Empresa ao Valor do PIB”,

sobre esta demonstração, que se complementa com o Balanço Social, mas se faz

possível, sem perder o valor de seu conteúdo, sua publicação de maneira isolada.

Abordando como foco a geração de riquezas das empresas, sugere, em seu

trabalho, a mensuração do Produto Interno Bruto, o PIB, a partir da publicação de

maneira responsável, séria e informativa da DVA.

Com esses pontos em destaque, faz-se possível à visualização da riqueza

total de um país, isto é, com as devidas adequação e normatização de

procedimentos, ter-se-á o cálculo da riqueza gerada (produzida) no país a partir das

somas das DVA’s de todas as empresas. Um detalhe relevante é o fato de a autora

tratar como base de cálculo para a riqueza o que foi efetivamente produzido no

País pelos empreendimentos produtivos e, a partir daí, a atribuição e remuneração

dos diversos componentes dos fatores de produção.

Já Kroetz (2000), mostra em sua obra ”Balanço Social: Teoria e Prática”, a

importância do Balanço Social, não somente como uma demonstração contábil,

mas como um instrumento de qualidade da existência da empresa para o meio

externo, refletindo na sociedade e no meio ambiente. Menciona, ainda, a relevância

dos dados sociais e ausência de normas reguladoras, no sentido de se publicar não

somente os fatos escolhidos pelas entidades empresariais, mas também todas as

situações incorridas durante o exercício social.

Surge, desta reflexão, a sugestão de uma auditoria das informações sociais

em que se submeteria a mesma formalidade atual das demais informações

societárias. Cita esse o autor, no entanto, existirem situações ainda de difícil

mensuração, como custos ambientais, capital intelectual etc. Lembra, ainda, as

dificuldades de implementação de um modelo rígido e único para o Balanço Social,

devido à diversidade de empreendimentos e às diferenças culturais das regiões

onde estão localizadas estas empresas.

Kroetz (2000) cita, também o ponto chave para se desenvolver a cultura de

divulgações das informações sociais, ambientais e ecológicas antes da

Page 25: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

7

implementação de qualquer legislação. Mostrar-se-ia o conhecimento que as

empresas têm de seu papel no meio social e, aos usuários da informação contábil,

o quão importantes são estes empreendimentos econômicos.

Santos (2003), em seu estudo “Demonstração do Valor Adicionado. Como

Elaborar e Analisar a DVA”, efetua de modo prático um comparativo entre a

Demonstração do Valor Adicionado e a Demonstração do Resultado do Exercício,

dando um direcionamento contábil ao tema. Aborda a utilização de indicadores para

análise da empresa a partir dos dados fornecidos pela Demonstração de Valor

Adicionado. Mais que informações financeiras é realmente a distribuição de riqueza

entre diversos componentes diretos e indiretos na atividade. Mostra, também, a

composição desses fatores na riqueza gerada e as diversidades da DVA em vários

setores de atuação da economia.

O Global Reporting Initiative – GR - (2006), órgão internacional, por sua

vez, tem se primado pela difusão dos modelos de relatórios de desempenho

econômico, social e ambiental. Este esforço em divulgar e criar um modelo de

relatório de uso global foi reconhecido e elogiado pelo secretário das Nações

Unidas, cujas palavras eram a necessidade de se ter os relatórios de negócios e

reflexos sociais caminhando juntos. Os indicadores e informações provenientes

desses relatórios tinham e têm o intuito de fornecer subsídio na análise de impacto

do negócio na sociedade.

Semelhante ao GRI, o Instituto Ethos (2006), no Brasil, esforça-se em

difundir, entre outras coisas, a Responsabilidade Social Empresarial (RSE),

oferecendo auxílio não somente na divulgação das informações de âmbito social,

mas também consultoria e orientação no desenvolvimento de projetos socialmente

responsáveis.

Possui, ainda, uma gama de indicadores denominados Indicadores Ethos,

permitindo-se avaliar, comparar e pontuar as ações sociais praticadas pela

empresa.

Gomes (2005) leva a reflexão à medida que desenvolve seu estudo,

“Contribuição a divulgação de ações de Responsabilidade Social: Estudo de Caso

Page 26: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

8

do UNIARAXÁ”, percebendo que os steakeholders (neste caso, os colaboradores)

envolvidos diretamente na atividade em questão podem receber de maneira muito

mais favorável e gratificante as atividades sociais abraçadas pela organização da

qual participam. Isto decorre, principalmente dos reflexos positivos que estas

atividades obtêm na comunidade onde residem.

Vieira (2006), em sua obra “Evidenciação e responsabilidade social nas

maiores empresas por segmento na economia”, no entanto, expressa a ausência de

direcionamento concreto sobre as normas de evidenciação por parte de órgãos e

entidades internacionais, o que pode ter refletido diretamente no resultado de seu

trabalho onde o índice de empresas, mesmo as consideradas de grande porte, com

a obrigatoriedade de divulgação de suas demonstrações contábeis, não divulgam

informações de aspecto social.

E mencionando estes e outros autores, deseja-se estruturar o embasamento teórico

deste trabalho de pesquisa.

1.7 Estrutura do Trabalho

O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro – A

Contextualização - apresenta-se o tema proposto, o problema de pesquisa, os

objetivos a serem alcançados, a justificativa, a delimitação da pesquisa, a

metodologia utilizada e a revisão da literatura.

O segundo capítulo aborda a importância da informação contábil e o

quanto se deseja fornecer de informação para o maior leque possível de “clientes”

externos, tanto ao desempenho operacional quanto aos reflexos possíveis de

serem captados pela existência da entidade empresarial.

No terceiro capítulo, conhece-se o Balanço Social e a importância que lhe

vem sendo atribuída, mesmo não sendo uma demonstração obrigatória, definida e

instituída por lei, mas no sentido de dar à comunidade uma satisfação pela

“convivência” com os diversos empreendimentos produtivos.

Nesse capítulo, abordar-se-á também a Demonstração do Valor

Adicionado, uma das vertentes do Balanço Social, seus conceitos, sua elaboração

e informações sócio-econômicas. Expõe-se a importância dessas para a sociedade,

remunerando os diversos fatores de produção, e por que não, serem empregadas

Page 27: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

9

como instrumentos analíticos de desempenho, contribuindo para a gestão do

empreendimento. Também se mostram as dificuldades quanto a alguns itens de

sua composição.

No quarto capítulo, abordam-se as informações sócio-econômicas do

município de Uberaba, apresentam-se dados inspirados na empresa Black &

Decker do Brasil, escolhida por ser uma empresa díspar dos ramos de atuação das

demais, com a intenção de se sugerir a relevância de se publicar as informações

econômicas, financeiras e sociais.

Apresenta-se, ainda, neste capítulo, um estudo de informações de uma

empresa protótipo, com a finalidade de se verificar as informações e indicadores a

serem obtidos com a Demonstração do Valor Adicionado e outras informações de

caráter social, intencionando-se conhecer, por meio dos dados, os

empreendimentos instalados ou a se instalarem na localidade. Apresenta-se,

também as considerações finais sobre as análises empreendidas.

No quinto e último capítulo, tem-se as conclusões verificadas no decorrer do

trabalho.

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10

CAPITULO 2

EVIDENCIAÇÃO – A RELEVÂNCIA DAS INFORMAÇÕES CONTÁBE IS

Na atualidade, a interação do meio empresarial com o mundo externo tem

se mostrado de grande importância para todos os agentes envolvidos.

Dentre as várias ciências de cunho empresarial, a Contabilidade como

fonte de dados estratégicos abarca mercado e suas inter-relações, tal como se

apresenta nos itens a seguir.

2.1 A informação contábil como um referencial à tom ada de decisões

Ao se falar em Contabilidade, vem à mente uma enorme quantidade de

informações, controles e números, cujo entendimento tende a ser dúbio ou

improvável para uma boa quantidade de agentes econômicos.

A obrigatoriedade da publicação tende a atingir um universo de usuários de

modo mais amplo para preencher e atender todas as brechas de ausência de

dados possíveis.

Ao se tentar visualizar o cerne da informação contábil, defrontar-se-á com o

seu conceito em toda a sua amplitude com uma rica fonte de informações para os

seus usuários, conforme mencionado pela Fundação Instituto de Pesquisas

Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) (2003, p. 42):

Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado a prover seus usuários com demonstrações e análise de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização (...).

O prover, no sentido de atender, no entanto, em determinados momentos,

quando da publicação dos demonstrativos contábeis, por exemplo, parece não

satisfazer às necessidades do usuário da informação contábil. Isso porque os

elaboradores da informação tendem a confeccionar essas demonstrações sem a

devida clareza, dificultando, assim, o entendimento e acesso aos dados por parte

do usuário.

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11

Neste aspecto, conforme menciona Hendriksen e Van Breda (1999, p. 29),

tem-se a contabilidade, como uma forma de linguagem, denominada em

determinados momentos por linguagem de negócios.

Existem, deste modo, três perguntas a serem feitas a respeito dessa

linguagem (HENDRIKSEN e VAN BREDA, p. 29):

1. Que efeitos terão as palavras sobre aqueles que têm acesso a estas

informações?

2. Que significado terão essas palavras, se houver algum?

3. As palavras fazem sentido lógico?

Desse modo, percebe-se a amplitude da assimilação das informações

dispostas em relatórios ditos contábeis, podendo ter significados diversos para cada

leitor.

Menciona-se, dentre uma das principais funções da informação contábil, o

conhecer e possibilitar a tomada de decisões diante da estrutura patrimonial

disponível, observando os vários acontecimentos ocorridos no exercício social

anterior. Hendriksen e Van Breda (1999, p. 135) questionam, se conhecidos

fossem os dados, quais as informações alicerçariam a base da tomada de decisões

e com que relevância estas informações seriam publicadas. E avaliam que dar-se-ia

prioridade as informações essenciais.

Martins (2000, p. 29) discorre sobre as discussões conceituais (e conflitos

daí provenientes), críticas sobre relevância e utilidade, exatamente por apresentar

pontos de vista e de defesa tão divergentes.

Acredita-se, assim, que os responsáveis pela divulgação estariam

dispostos a evidenciar apenas os pontos, desejados e de importância para aqueles

que buscam a informação.

Hendriksen e Van Breda (1999, p. 22), denotam ainda outras

características defendidas pelo Financial Accounting Standard Board (FASB), tais

como confiabilidade e oportunidade e relevância. Estes autores, por sua vez, fazem

duas abordagens bastante sutis e de grande importância para a desejada

explanação sobre a praticidade da informação contábil: a Contribuição da Economia

da Informação e a Teoria da Agência (Agency Teory). A primeira se dá no sentido

da utilidade, e somente ela define o quão importante é tal informação.

Para se tomar decisões, no entanto, as informações contábeis baseiam-se

em preceitos há muito defendidos pelo pessoal da área de economia: o conceito do

Page 30: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

12

conhecimento, e, com um certo grau de certeza (em algumas situações menciona-

se até 100%), como se comportará o mercado, clientes, fornecedores, concorrentes

e governo e, ainda, o meio externo (mercado internacional), dadas determinadas

decisões da empresa (VASCONCELLOS e GARCIA, p. 36-81). Isto é muito

semelhante à abordagem comportamental e macroeconômica relatada por

Iudícibus (2004 p. 26 e 31) e complementada por sua abordagem, a chamada

Teoria Positiva.

A incerteza referenciada pela economia da informação vem se somar ao

fato da preferência por um número maior de informação, se houver ausência de

custo ou se este for menor.

Sob o aspecto da Teoria de Agência, a informação tende a ser conflitante,

pois, por exemplo, o entendimento das informações por parte dos avaliadores e dos

proprietários tomadores de decisões podem ser divergentes. Ou melhor dizendo,

ou seja, enquanto os proprietários contemplam oportunidades de ampliar a

rentabilidade dentro do empreendimento assumindo determinado investimento, os

gestores podem apresentar receios quanto a essas decisões devido o risco a ser

admitido na deliberação, que poderá afetar, até mesmo, as atividades futuras da

empresa.

Isso ocorre até mesmo pela continuidade do empreendimento em vias de

risco assumido pela tomada de decisões: enquanto os avaliadores são mais

temerosos, pois podem ter sua segurança (empregabilidade) afetada por uma série

de fatores e contingências, os proprietários podem estar dispostos a assumir certos

riscos, estes admitidos como uma contrapartida, às remunerações mais elevadas e

maiores retornos de seu capital investido. Em uma citação à Teoria do Risco,

James Tobin, Lopes e Rossetti (2005, p.81) mencionam o fato de os detentores de

recursos monetários (agentes econômicos) estarem dispostos a assumirem

maiores riscos se, em troca, receberem um retorno total maior.

2.2 O Usuário da Informação Contábil

A qualidade da informação contábil tem sido uma constante discussão,

tanto no meio acadêmico quanto no mercado profissional.

Menciona a FIPECAFI (2003, p. 31) que a Contabilidade tem entre os seus

objetivos prover o usuário da informação contábil de dados que permitam a

Page 31: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

13

avaliação e progresso de determinada entidade. Mas, afinal de contas, a quem se

destinam todos os dados publicados pelas demonstrações contábeis em seus

quesitos obrigatórios de publicação (evidenciação) como o Balanço patrimonial,

Demonstração do Resultado do Exercício, Mutação do Patrimônio Líquido, de

Origem e Aplicação de Recursos, Notas Explicativas e Contexto Operacional e/ou

Relatório da Administração)?

Iudícibus (2004, p. 22) argumenta ter se mantido inalterado o objetivo da

Contabilidade ao longo do tempo, e as mudanças, cuja relevância se apresenta,

ocorreram nos tipos de usuário e nas informações almejadas. Isto é, o perfil do

usuário mudou e a sua necessidade de informação também se alterou. Graças a

esta grande diversidade de usuários, a tarefa da Contabilidade tornou-se mais

difícil, em função da amplitude e dos desejos específicos.

Segundo a FIPECAFI (2003, p. 34), os usuários da informação contábil

dividem-se em dois grandes grupos: os usuários internos e os usuários externos.

Os usuários internos são aqueles que fazem parte da estrutura e valem-se

da informação para adequar seu planejamento gerencial e (re) definir diretrizes e

metas para o bom desempenho do empreendimento, implementando projetos,

adequando desempenho etc., tais como os administradores, supervisores,

gerentes, colaboradores, entre outros.

Os usuários externos são aqueles que, mesmo não estando ligados

diretamente ao dia-a-dia da empresa, possuem interesses na estrutura econômico-

financeira do empreendimento, tais como: clientes, fornecedores, instituições

financeiras, acionistas, concorrentes etc.

2.3 Objetivos da Informação Contábil

Como usuário e/ou cliente da informação contábil, Hendriksen e Van

Breda (1999, p. 94) citam os mais diferentes tipos e finalidades ao se buscar esses

dados contábeis, o que vem a contribuir pelo número expressivo das formas de

publicação dos relatórios. Desse modo, uma série de informações relevantes para

grupos distintos poderiam(ão), se tornar inócuas por não abordarem quesitos de

interesse e de pessoal relevância.

Hendriksen e Van Breda (1999, p. 96) argumentam que o volume de

informação a ser publicada depende do leitor que a recebe, e citam o seguinte

Page 32: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

14

posicionamento adotado pelo FASB sobre as informações divulgadas nos

chamados relatórios:

Compreensível para os que possuem um conhecimento razoável de negócios e atividades econômicas e estão dispostos a estudar a informação com diligência razoável (numa situação de custo zero, mais informação é sempre melhor do que menos, podendo ser desprezada a informação irrelevante).

Assim, por esta linha de raciocínio, referenciando Hendriksen e Van Breda

(199, p. 95), o nível de divulgação, também depende do padrão considerado mais

desejável, se dividindo em três categorias:

Divulgação adequada é a mais comumente usada, pois acredita em um volume

mínimo de informações, compatível com o pressuposto de que as demonstrações

ali informadas não estejam deturpadas.

A divulgação justa , por sua vez, nivela todos aqueles que terão acesso à

informação, isto é, o que está expresso é de interesse, aceitação e compreensão

de todos. Já a divulgação completa parte do princípio em que se acredita serem

importantes todas as informações.

Antecipando-se um pouco mais a menção de informações, em um volume

além da obrigatoriedade de sua divulgação, tende a somar pontos em relação aos

outros empreendimentos, exatamente por demonstrar ações, medidas de

desempenho, indicadores e perspectivas operacionais não exigidas, seja pelo fisco

ou pela legislação societária.

Conforme cita Iudícibus (2004, p. 31):

(...) deveríamos conscientizar os leitores de que nenhuma obra, nenhum autor, parece ser capaz por enquanto de satisfazer todos os requisitos de uma abordagem essencialmente lógica, pois muita pesquisa ainda se fará necessária antes de delinearmos as necessidades principais de cada tipo de usuário. (...) Pesquisar as necessidades de cada um deles (dos usuários) e fornecer-lhes um conjunto de informações relevantes, em cada caso, não parece, apesar de tudo um ideal inatingível.

Vale refletir sobre qual seria tipo de informação que agradaria ao usuário,

questionando-se, ainda, se as informações obrigatórias exigidas pelos órgãos

legisladores atendem plenamente aos desejos de quem demanda informes sobre

um empreendimento. E na posição dos empreendimentos poderiam e/ou estariam

dispostos a anteciparem a publicação de informações não obrigatórias.

Page 33: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

15

Discorre-se, a seguir, sobre a evidenciação cada vez maior de informações

não obrigatórias, com a finalidade de atingir a maior amplitude possível de usuários.

2.4 A Evidenciação - simples divulgação obrigatória ou uma demonstração de

transparência

Ao se falar de evidenciação, a preocupação não é somente a apresentação

das informações contábeis, conforme os preceitos delineados pelos órgãos que se

vêem na obrigatoriedade de legislar sobre as sociedades anônimas. Como o Banco

Central do Brasil, para as Instituições ligadas ao setor financeiro, a Comissão de

Valores Mobiliários, que legisla, também sobres todas os diferentes tipos de

sociedades anônimas, deve ter como finalidade a total transparência para o maior

número de usuários (stakeholders) possíveis.

Parafraseando Iudícibus (2004, p. 131), ver-se-á uma dificuldade de

avaliação muito maior nas chamadas informações qualitativas, pois têm

julgamentos, análises e avaliações subjetivas. Silva e Moura (2000, p. 02), pro sua

vez, mencionam a relevância em se discutir as informações contábeis e o novo

enfoque a ser dado à ciência contábil rumo ao Terceiro Milênio, isto é, a facilidade

de acesso e o entendimento da informação por parte do usuário.

Ao se falar em evidenciar, percebe-se um sem número de

empreendimentos a oferecer um volume de informações muito além do solicitado.

Iudícibus (2004, p. 131) cita que: “A evidenciação, (...), é uma condição que está

acima dos próprios princípios e que está intimamente ligada às necessidades

informativas dos usuários, variáveis no tempo e no espaço”.

Além das publicações tradicionais, em pesquisas recentes, as empresas

têm expressado, por meio dos informes, a tendência crescente de divulgação de

dados, em volume superior ao das expectativas legais.

As pesquisas demonstram um volume crescente de empresas

preocupando-se e tendendo a fornecer informações extras, de modo a colaborar

com os dados tradicionais. Gonçalves e Ott (2003) fundamentaram seu artigo com

a análise de empresas que prezam a evidenciação das informações financeiras e

suas correlações. A fonte de dados para esse trabalho foi o banco de dados da

CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Com dados de 744 (setecentas e

Page 34: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

16

quarenta e quatro) empresas escolhidas de modo aleatório, com intuito de mostrar

o interesse em evidenciar informações não obrigatórias, mas de relevância.

Na citada pesquisa, algumas informações repetem-se na mesma empresa,

por isso o número de respostas ultrapassa o volume de empreendimentos

pesquisados, cujos resultados resumidos foram os seguintes, conforme se

apresenta na Tabela 01.

TABELA 01

DEMONSTRATIVO DE ITENS OBSERVADOS

Item Observado Nº de observações Participação

1 Programa de Recursos Humanos 189 25,4%

2 Avaliação 158 21,2%

3 EBITDA1 /LAJIDA2 131 17,6%

4 Investimentos 125 16,8%

Indicadores de Desempenho 93 12,5%

6 Receita por produto, mercado ou setor 89 12,0%

7 Informações sobre o mercado 82 11,0%

8 Demonstração do Valor Adicionado 75 10,1%

9 Relatório Social 62 8,3%

10 Detalhes operacionais 59 7,9%

11 Descontinuidade 58 7,8%

12 Balanço Social 45 6,0%

13 Medidas tomadas 43 5,8%

14 Certificados de qualidade 41 5,5%

15 Demonstrações de Fluxo de caixa 38 5,1%

16 Informações sobre Gestão 35 4,7%

17 Novos produtos 27 3,6%

18 Balanço Ambiental 23 3,1%

19 Planos 22 3,0%

20 Resultado por Atividade / Segmento 20 2,7%

21 Outras observações 172 23%

Adaptado de Gonçalves e Ott (2003, p. 10).

Como visto na Tabela 01, o máximo das informações normalmente

divulgado em Notas Explicativas visa a atender o maior número de usuários e

1 EBITDA -Earning Before Interest, Taxes, Depreciation And Amortization (ASSAF NETO, 2002, p 206) 2 LAJIDA – Lucro Antes dos Juros, Imposto de Renda, Depreciação e Amortização. (ASSAF NETO 2002, p 206)

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17

necessidades possíveis. Dentre os vários questionamentos feitos às empresas,

baseando-se nas informações obtidas, destaca-se a menção feita, como segue:

(...) o nível de disclosure usado é uma iniciativa pró-ativa da Companhia de se antecipar a melhores práticas de governança, assim como de seus administradores e, também, uma maneira de seguir as tendências do mercado internacional. Todas as opções listadas contam para a decisão de disseminação das informações ao mercado, acionistas e comunidade. (GONÇALVES E OTT, 2003, p.10).

Tem-se na pesquisa, assim, um volume de informações não obrigatórias

cujo desejo de divulgar tende a alcançar os usuários das informações contábeis.

Dentre estas, um destaque especial as relacionadas aos itens de cunho social e

ambiental, isto é: uma participação no volume de divulgação, entre as empresas de

10,1% para a Demonstração do Valor Adicionado; 6% de participação das que

divulgam o Balanço Social; e 3,1% entre as que divulgam o Balanço Ambiental.

Na conclusão apresentada no referido estudo, mencionam a Contabilidade

como um valioso instrumental, não podendo ser um fim em si mesma, mas por

meio da divulgação das demonstrações contábeis e outros relatórios, em apoio às

administrações das entidades, deve ser possível conhecer o estágio atual do

empreendimento, tanto em termos patrimoniais e financeiros quantoo da

lucratividade e aplicação de recursos.

Conclui-se o desejo de algumas empresas evidenciarem informações de

cunho social e ambiental, mesmo com a ausência de normas obrigatórias, com o

intuito de mostrar o comprometimento dos investimentos produtivos e os efeitos

produzidos junto à comunidade. E, o mais importante, a intenção de manifestar tais

dados está ocorrendo de maneira espontânea.

Ponte e Oliveira (2004), por sua vez, apresentaram um trabalho, possuidor

de informações decorrentes de uma amostragem aleatória de noventa e cinco

empresas, com dados originalmente publicados na Gazeta Mercantil, no período de

Janeiro a Março de 2003, com exercício social encerrado em dezembro de 2002.

Na pesquisa denominada “Evidenciação das Demonstrações Contábeis das

empresas brasileiras de informações avançadas e não obrigatórias” foi percebido o

grande interesse das empresas em divulgarem não apenas as informações de

caráter financeiro e econômico, mas também dados cujo foco oscila entre os

aspectos sociais, ambientais e de distribuição de riqueza, e mais, da continuidade e

perspectivas futuras do empreendimento.

Page 36: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

18

Vale mencionar que na pesquisa efetuada, 31% das empresas são de capital

fechado e 69% de capital aberto.

Um aspecto merece ser citado: a atenção dada aos projetos sociais,

conforme desejou-se ressaltar nesta pesquisa, foi destaque percebido em relação

às informações de aspecto social, como se vê na Tabela 02:

TABELA 02

Itens recomendados para evidenciação

Item de evidenciação Nº de empresas que

divulgaram

Percentual de

empresas que

divulgaram

1 Projetos sociais 42 44%

2 EBITDA 35 37%

3 Maior ênfase às demonstrações consolidadas 33 35%

4 Nota sobre valor de mercado de bens... 29 31%

5 Demonstração de Fluxo de Caixa 27 28%

6 Demonstração de Valor Adicionado 26 27%

7 Notas sobre resultado por linha de produto 26 27%

8 Balanço Social 16 17%

9 Elaboração de informações consolidadas

independente do volume dos investimentos

15 16%

10 Maior ênfase às demonstrações com correção

integral

3 3%

Fonte: Ponte e Oliveira (2004, p. 18).

Relevante citar os resultados observados nesta pesquisa, com

demonstrações publicadas em dois exercícios sociais (anos) após a primeira

menção e o tratamento diferenciado dados as informações não obrigatórias. Mesmo

em um quantitativo menor, percebe-se o diferencial de tratamento oferecido a estes

dados.

Ponte e Oliveira (2004, p. 19) revelam que deste universo pesquisado, 76%

das empresas publicam pelo menos uma informação não obrigatória, mas que

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19

tendem a demonstrar o desejo de a empresa em estar inserida nos preceitos de

Governança Corporativa3.

Gonçalves e Ott (2003, p. 17), relatam que a divulgação deliberada de

informação da empresa para o mercado, seja quantitativa ou qualitativa, obrigatória

ou voluntária, via canais formais ou informais é uma tendência e está cada vez mais

sendo requerida.

Viu-se, nas duas publicações, o foco dado às informações de aspecto

sócio-econômico-financieras, percebendo-se a amplitude do respaldo e dos

resultados a serem propiciados pelas empresas, como células de ativas de uma

sociedade em constante movimento.

Arnosti (2000, p. 03) escreve que:

(...) apesar da eficiência econômica ser fundamental para a sobrevivência das entidades, essa eficiência muitas vezes é insuficiente para sozinha demonstrar que seu papel é indispensável e insubstituível para uma sociedade que cada vez mais e com maior relevância analisa e determina condutas éticas, participação social e cuidados ambientais cada vez mais rígidos das entidades, em seu papel na construção da cidadania.

Percebe-se, nos dias atuais, a importância das empresas para a

sociedade, mas vale pensar no quanto a sociedade é importante para o

empreendimento, pois é condição fundamental para o seu aval, aprovação e

aceitação dependendo disso, também sua continuidade.

Nas palavras de Herbert de Souza, o Betinho, citado por Tinoco:

As empresas, públicas ou privadas, queiram ou não, são agentes sociais no processo de desenvolvimento. A dimensão delas não se restringe apenas a uma determinada sociedade, cidade, país, mas no modo com que se organiza e principalmente atua, por meio de atividades essenciais (...) (...) há cada vez mais a necessidade de demonstrar a sociedade que não se progride sem a pureza do ar, a preservação das florestas e a dignidade da população (TINOCO, 2001, p. 13).

3 Governança corporativa – é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade. A expressão é designada para abranger os assuntos relativos ao poder de controle e direção de uma empresa, bem como as diferentes formas e esferas de seu exercício e os diversos interesses que, de alguma forma, estão ligados à vida das sociedades comerciais. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC ). 2006

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20

Kroetz (2001, p. 56) demonstra a evolução da Contabilidade e para onde

caminham os desejos em termos de informação contábil, conforme Figura 01.

Expõe, resumidamente, os vários questionamentos dos desejos do

empreendimento e da sociedade, já que não só os empresários possuem interesse

no comportamento e desempenho da empresa, mas também a sociedade, como

consumidora responsável, se envolve e influencia a atuação da empresa.

As informações, ainda segundo Kroetz (2001, p. 56-57), deixaram de ser

um aparato para o público interno, e já demonstram ansiedade por usuários

externos, principalmente no que concerne aos investimentos nos âmbitos sociais e

ambientais.

FIGURA 01

Resumo da Evolução Contábil

Fonte: KROETZ (2001 p.56)

Enfoque

Períodos Abordagem

Necessidades do proprietário

Contabilidade Como instrumento de Controle Interna

Necessidades governamentais

Externa Contabilidade Financeira

Necessidades das Entidades

Contabilidade Gerencial

Interna

Necessidades da Entidade e da

Sociedade

Contabilidade Sociogestorial

Interna e externa

Page 39: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

21

2.5 A responsabilidade social dos empreendimentos

Tem sido cada vez mais notória a preocupação das empresas acerca as

relações destas com a sociedade e com o meio ambiente.

O lucro, sob a percepção de autores como o Eliseu Martins (2001. p. 01-

03), Sérgio de Iudícibus (2004, p. 87-91), deixou de ser um fim em si mesmo.

Verifica-se, cada vez mais nas notas explicativas, informações de cunho social e

ambiental, inclusive para justificar as externalidades4, criadas por estas empresas.

A empresa há muito não é mais uma ilha com resultados destinados

apenas aos acionistas, mas uma célula social, cujo maior reflexo é a mudança

gerada nas vidas dos agentes econômicos a sua volta.

Não é de se estranhar no interior do Sudeste, mais precisamente na região

Minas-São Paulo, conforme mostra o Quadro 01, a existência de alguns municípios,

em uma citação aleatória, cuja origem é proveniente de economia e recursos

gerados por empresas, suas atividades e efeitos. A existência destas cidades se

vincula a estas empresas não somente pela arrecadação de tributos, mas por toda

a influência a sociedade: dos empregos oferecidos, planos de saúde, reflexos no

meio ambiente etc.

QUADRO 01

Exemplo de Relação Empresa versus Cidade. Empresa Cidade Setor

CEMIG Nova Ponte MG Energia

Cimento Ponte Alta Ponte Alta MG Cimento

Usina Junqueira Igarapava SP Açúcar e Álcool

Usina Caeté Delta e Conceição das alagoas MG Açúcar e Álcool

Fonte: Elaborado pelo autor (2007).

Com este quadro, deseja-se mostrar que algumas cidades são

dependentes, na sua quase totalidade econômica e financeira, de um ou dois

empreendimentos instalados na localidade. Estes empreendimentos, por sua vez,

4 Externalidades: impacto criado pela empresa ou obra pública cujo reflexo tende atingir o meio sócio ambiental a sua volta. A geração de empregos, de impostos, pavimentação são alguns dos benefícios que podem ser gerados. A contrapartida é a geração de poluição (sonora, do ar ou das águas), desmatamento e exploração desordenada, estes são os chamados custos sociais. (SANDRONI, 2004, p. 243).

Page 40: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

22

representam uma elevada participação nos níveis de emprego, de arrecadação de

tributos e fomento indireto de outras atividades produtivas.

Segundo a ótica de Glautier e Underdown (2000, p. 812), a situação de

causa-efeito é muito além dos resultados apresentados nos relatórios de Lucros e

Perdas; isto é, não afetam apenas o próprio empreendimento, mas têm reflexos na

comunidade a sua volta. As firmas, como denominam os autores, são ou devem ser

socialmente responsáveis e, ainda, que a responsabilidade social se distingue em

três abordagens, a seguir descritas.

A primeira abordagem, que teve origem na Teoria Econômica Clássica5,

menciona a maximização do lucro e, por conseguinte, a maximização da riqueza

dos acionistas. Isto ocorrendo dentro dos preceitos legais e éticos estará o

empreendimento atuando no melhor interesse da sociedade.

Esta visão foi defendida por Milton Friedman6, apud Glautier e Underdown,

(2000, p. 812):

(...) há uma e só uma responsabilidade social da firma – usar os seus recursos e empreender atividades com o fim de aumentar os seus lucros, enquanto isso está dentro das regras do jogo, o que quer dizer, empenhar-se em competição livre e aberta sem engano ou fraude... Poucas tendências podiam tão firmemente minar os próprios alicerces da nossa sociedade livre como uma responsabilidade social que não seja fazer tanto dinheiro quanto possível para os acionistas.

A existência de uma empresa é muito maior do que os seus resultados

positivos auferidos. É, também um conjunto de relações com a sociedade,

influenciada por decisões que poderão alterar a rotina da comunidade na qual está

inserida.

A segunda abordagem, conforme Glautier e Underdown, (2000, p. 813),

elaborada na década de setenta, diz respeito ao conhecimento dos objetivos sociais

decorrentes da decisão de maximização do lucro. Ou seja, os gestores devem estar

atentos às conseqüências de suas decisões com a finalidade de maximizar o lucro,

seja na vida dos empregados, nas relações com os fornecedores, com os clientes

ou com o governo. Deste modo, visualiza-se na empresa uma associação de

5 A Teoria Clássica teve origem com os pensadores clássicos como Adam Smith, na Inglaterra e François Quesnay, na França. Com idéias semelhantes ofereceram a base teórica para o que hoje se denomina capitalismo (ROSSETTI, 2003). 6 Milton Friedman, Economista norte americano, cuja base do pensamento teórico é a regulação da oferta de moeda na economia (SANDRONI, 2004, p. 252).

Page 41: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

23

interesses e o extenuante trabalho do gestor é manter o equilíbrio desta relação de

interesse, pois somente dessa forma poderá a empresa garantir a maximização do

lucro no longo prazo.

A terceira abordagem é a que vê o lucro como um meio de se atingir um

fim, e não um fim em si mesmo, isto é, o esforço dos gestores deve se concentrar

na seleção de alternativas (decisões) socialmente responsáveis. Assim, o lucro, de

um modo geral, e o resultado final devem ser compatíveis com um volume de

metas sociais. Essa abordagem parece ser certamente uma inovação a tudo que

diz respeito às diversas classificações do capitalismo - o lucro acima de tudo -.

Apresentar-se-á, no próximo capítulo, as publicações sociais e estas, por

sua vez, tendem a estar em conformidade com o desejo de transparência e os

preceitos das empresas fazerem e tomarem decisões politicamente corretas. Tal

postura é a desejável pelos usuários das informações não obrigatórias de aspectos

sociais e deve se mostrar como um diferencial por quem publica este tipo de

informação.

Page 42: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

24

CAPÍTULO 3

BALANÇO SOCIAL

Diferente das definições normais, o termo Balanço atribuído a esta

demonstração diverge, em muito, das demonstrações contábeis tradicionais, o qual

possui em sua estrutura, além dos dados quantitativos, aspectos qualitativos, como

apresentado a seguir.

3.1 Dados e Informações sobre o Balanço Social

De uma maneira diferente, o balanço social não apresenta apenas valores

monetários como vislumbrado nas tradicionais demonstrações financeiras, sua

amplitude tende a ser mais ampla, com detalhes antes desconhecidos ou fora do

alcance da sociedade.

Segundo o site de mesmo nome, este relatório define:

(...) como um “demonstrativo publicado anualmente pela empresa reunindo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício de responsabilidade social corporativa”.

Nessa linha, percebe-se a importância desta “ferramenta” quando

constituída por múltiplos profissionais, pois denota a preocupação das entidades

empresariais com as pessoas e a vida no planeta.

Razzolini Filho (2007, p. 01) menciona o que as primeiras notícias sobre a

preocupação com o social, reportam-se à década de 1960, nos Estados Unidos, na

época da Guerra do Vietnã. Os cidadãos americanos, em razão de um mercado

acionário muito forte, passaram a exigir a divulgação de informações relativas às

ações sociais das empresas que fabricavam armamento para a guerra.

Segundo Torres (2003, p.01), a idéia de responsabilidade social das

empresas popularizou-se, nos anos 70 na Europa, tendo sido na Holanda as

primeiras publicações de relatórios sociais. Desta idéia, a companhia alemã Steag,

Page 43: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

25

produziu, em 1971, uma espécie de relatório social, um balanço de suas atividades

sociais. Mas o marco histórico do Balanço Social deu-se na França em 1972, com a

publicação do primeiro relatório com esta denominação pela empresa SINGER.

Em 1977, na França, em virtude de análise mais sistemática por parte das

empresas no âmbito social, aprovou-se em 12 de julho a Lei 77.769, tornando

obrigatória a realização de balanços sociais periódicos para todas as empresas

com mais de setecentos funcionários, reduzindo-se posteriormente para trezentos

funcionários (TORRES, 2003, p. 01).

No Brasil, os desejos por estas informações qualitativas já davam sinais do

valor destes dados, podendo ser notada na “Carta de Princípios do Dirigente

Cristão de Empresas”, desde sua publicação em 1965, pela Associação de

Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil).

Na década de 1980, a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial

e Social (FIDES) chegou a elaborar um modelo (TORRES, 2003, p.01). Menciona o

Balanço Social da Nitrofértil, empresa estatal localizada na Bahia, publicado em

1984, como o primeiro documento brasileiro do gênero.

Em meados da década de 1980, o Sistema Telebrás tem o seu balanço

publicado, sendo seguido pelo Banespa em 1992, compondo assim, a lista de

empresas pioneiras na elaboração e divulgação do Balanço Social.

A notoriedade e importância do Balanço Social foi percebida em 1997 com

a campanha lançada pelo sociólogo Herbert de Souza e o Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas, o IBASE, na qual se enfatiza a necessidade de

informações de cunho social, ambiental e econômico, em um modelo único (para

todas as empresas) e simples. A idéia era a simplificação da exposição das

informações de modo a permitir a aceitação e envolvimento do maior número de

empreendimentos possíveis.

Com o desejo envolver sempre um número cada vez mais expressivo de

empresas, o IBASE cria em 1998 o selo IBASE/Betinho, cuja finalidade é identificar

as companhias que estavam publicando o balanço social, no modelo sugerido pelo

instituto. Este selo caracterizava estas como empresas cidadãs, as quais

destinavam recursos para saúde, educação, cultura, meio ambiente, etc.

Conforme menciona Kroetz, (2000, p. 78):

Page 44: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

26

O Balanço Social teve sua origem não só nas pressões sociais, mas também na intenção das entidades em alcançar determinados objetivos, constituindo-se em um instrumento gerencial de identificação de problemas e oportunidades e conseqüentemente de apoio para a administração.

Percebeu-se, assim, um desejo da sociedade em conhecer as empresas

estabelecidas em seu meio, e mais, identificar o seu papel neste contexto social,

com suas contribuições e, por que não, seus efeitos negativos (poluição,

degradação do solo etc.).

A resolução Norma Brasileira de Contabilidade - NBC - T 15, aprovada em

19.08.2004 e que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2006, vem demonstrar a

relevância e a ênfase a serem dadas em termos de ações sociais e a publicação

desses relatórios por parte das empresas.

Nesta NBC T 15, contemplam-se os procedimentos para evidenciação de

informações de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar à

sociedade a participação e a responsabilidade das entidades. Com ela, surge o

desejo de proporcionar ao usuário da informação contábil, dados além dos obtidos

pelas demonstrações contábeis usuais, ou seja, acrescenta-se aos itens

quantitativos, dados qualitativos de natureza social e ambiental.

No Brasil, além do IBASE, o Instituto Ethos é outra organização, e uma de

suas metas é orientar pessoas e empresas para o trabalho voluntário, o mesmo tem

realizado constantes esforços para a difusão da responsabilidade social.

Instituto Ethos somando forças ao Global Reporting Initiative7, instituição

que tem como finalidade tornar usual a divulgação de relatórios de sustentabilidade

realizou, no Brasil, em junho de 2006, a Conferência Internacional e teve por tema

“O papel da empresa socialmente responsável em uma sociedade sustentável”.

Entre os vários temas tratados, vale mencionar o debate ocorrido em torno

da Responsabilidade Social Empresarial (RSE), no qual empresários dos mais

diversos segmentos e representantes de entidades argüiram sobre as vantagens e

dificuldades de se publicar os relatórios sociais, norteando-se, por exemplo, pelo

modelo elaborado pelo GRI. (ETHOS, 2006, p.13).

Como se percebe, o Balanço e as Informações Sociais são uma realidade

e um desejo da sociedade, seja para conhecer as atitudes com reflexos sócio- 7 O GRI, Global Report Initiative, foi reunido originalmente em 1997 pela Coalizão para as Economias Ambientais Responsáveis (CERES), tendo como finalidade desenvolver, promover, disseminar uma estrutura geralmente aceita para o relatório de sustentabilidade (Global Reporting Initiative). www.gri.org. Acesso em 10.01.2007

Page 45: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

27

ambientais das empresas, seja para conhecer a importância do empreendimento

para a localidade onde está estabelecido.

Gomes (2005 p. 192) comenta o desejo de se conhecer a realidade das

instituições e seus reflexos para com a sociedade, seja por parte daqueles atuantes

no processo produtivo ou os demais agentes econômicos ao redor das empresas.

O Balanço Social, em sua estrutura, possui dados, cujos resultados podem

afetar desde recursos humanos até mesmo ter reflexos e impactos sócio-

ambientais.

Santos (2003, p. 11) menciona:

Atualmente, o Balanço Social é estudado em quatro vertentes que resumidamente são: 1. o Balanço Ambiental onde se reflete a postura da empresa em relação aos recursos naturais, compreendendo os gastos com a preservação, proteção e recuperação destes recursos, os investimentos voltados para a área ambiental e os passivos ambientais; 2. o Balanço de Recursos Humanos evidenciando-se o treinamento e os gastos em benefícios da sociedade circunvizinha; 3. a Demonstração do Valor Adicionado onde se objetiva evidenciar a contribuição da empresa para o desenvolvimento econômico e social da região onde está instalada, discriminando os valores agregados de riqueza a economia local e, em seguida, na DVA, a forma como distribui tal riqueza e o que a empresa faz em termos de benefícios sociais como contribuições a entidades assistenciais e filantrópicas, preservação de bens culturais, educação de necessitados etc.

Tinoco (2001, p.199) apresenta, no Quadro 02, o modelo do Balanço Social

sugerido pelo IBASE em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e

que tem sido usado por várias empresas no Brasil.

Page 46: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

28

QUADRO 02

Estrutura do Balanço Social

1) Base de Cálculo 2005 2004

1.1 Receita Líquida

1.2 Lucro Operacional

1.3 Folha de Pagamento Bruta

2) Indicadores Laborais Valor

R$

%sobre

1.2

%sobre

1.1

Valor

R$

%sobre

1.2

%sobr

e

1.1

2.1 Alimentação

2.2 Encargos sociais compulsórios

2.3 Previdência privada

2.4 Saúde

2.5 Educação

2.6 Creches/Auxílio Creches

2.7 Participação nos Lucros ou resultados

2.8 Outros Benefícios

Total Indicadores Laborais ( 2.1 a 2.8 )

3) Indicadores Sociais Valor

R$

%sobre

1.2

%sobre

1.1

Valor

R$

%sobre

1.2

%sobr

e

1.1

3.1 Tributos (excluídos encargos sociais)

3.2 Contribuições para sociedade/

investimentos na cidadania

3.2.1 Educação e cultura

3.2.2 Saúde e Saneamento

3.2.3 Habitação

3.2.4 Esporte e Lazer

3.2.5 Creches

3.2.6 Alimentação

3.2.7 Outros

3.3 Investimentos em Meio Ambiente

3.3.1 Relacionados com a operação da

empresa

3.3.2 Em programas/projetos externos

Total Indicadores sociais (3.1 a 3.3 )

Page 47: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

29

4) Indicadores do Corpo Funcional Total Total

4.1 Nº de empregado ao final do período

4.2 Nº de admissões durante o período

4.3 Nº de mulheres que trabalham na

empresa

4.4 Percentual de cargos de chefia ocupados

por mulheres

4.5 Nº de empregados portadores de

deficiência

5. Outras informações relevantes quanto ao exercício da responsabilidade social

Fonte: TINOCO (2001 p. 199).

Ainda, segundo Tinoco (2001), para o preenchimento do Balanço Social,

alguns itens devem obedecer as seguintes instruções:

1.1 Receita Líquida

Consiste na Receita Bruta excluída dos impostos e contribuições, devoluções,

abatimentos e descontos comerciais.

1.3 Folha de Pagamento Bruta

Valor total das remunerações dos colaboradores.

2.1 Alimentação

Restaurante, tíquete-refeição, lanches, cestas básicas e outros gastos com a

alimentação dos empregados.

2.3 Previdência Privada

Planos especiais de aposentadoria, fundações previdenciárias, complementações

de benefício aos aposentados e seus dependentes.

2.4 Saúde

Plano de saúde, assistência médica, programa de medicina preventiva, programas

de qualidade de vida e outros gastos com saúde, inclusive dos aposentados.

Page 48: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

30

2.5 Educação

Treinamentos, programas de estágios (excluídos salários), reembolso de educação,

bolsas, assinaturas de revistas, gastos com biblioteca (excluído pessoal) e outros

gastos com educação e treinamento de funcionários.

2.6 Creche / auxílio creche

Creche no local ou auxílio creche aos funcionários.

2.7 Participação nos lucros ou resultados

Participações que não caracterizem complemento de salários.

2.8 Outros benefícios

Seguros (parcela paga pela empresa), empréstimo (só o custo), gastos com

atividades recreativas, transportes, moradia e outros benefícios oferecidos aos

empregados.

3.1 Tributos (excluídos encargos sociais)

Impostos, contribuições e taxas federais, estaduais e municipais.

3.2 Contribuições para a sociedade / investiment os na cidadania

Investimentos na comunidade (não inclusos gastos com empregados).

3.3.1 Relacionados com a operação da empresa

Despoluição, gastos com a introdução de métodos não poluentes e outros gastos

que visem à maior qualidade ambiental na operação da empresa.

3.3.2 Em programas / projetos externos

Despoluição, conservação de recursos ambientais, campanhas ambientais e outros.

5. Outras informações

Espaço disponível para que a empresa agregue outras informações que considere

reveladoras de sua ação social.

Page 49: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

31

Apesar do desejo de expressar a relevância das informações sociais a

partir dos empreendimentos, depara-se com a ausência de uma legislação em que

se padronize os procedimentos e se formalize a obrigatoriedade de sua publicação.

A Comissão de Valores Mobiliários, em sua proposta de revisão da Lei

6.404/76, Lei das Sociedades Anônimas, com o Anteprojeto de Lei nº 3.741/2000,

propõe a inserção do Balanço Social no hall das demonstrações financeiras

obrigatórias, prevendo, ainda, segundo Tinoco (2001, p. 201), a elaboração da

Demonstração do Valor Adicionado, permitindo-se desse modo uma maior

qualidade da informação divulgada.

Nessa linha, da obrigatoriedade versus espontaneidade, percebe-se uma

preocupação quanto a lisura e o desejo de evidenciar a informação social, não só

para atender aos desejos e anseios dos usuários, mas também para estar de

acordo com a conveniência da entidade divulgadora.

3.2 Elaboração de Demonstrativos Sociais – Ausência de Normatização

Como se mencionou anteriormente, uma das dificuldades percebidas

constitui-se na ausência de normatização quanto a elaboração dos demonstrativos

sociais. Pelo fato de não estarem entre as demonstrações obrigatórias, não há uma

padronização sobre quais informações se apresentam de modo essencial para sua

elaboração.

O IBASE vem disponibilizando modelos e sugestões para que as empresas

apresentem informações de seus atos que afetam não apenas o meio sócio-

ambiental, como também as políticas adotadas pelas estruturas produtivas para

contribuir com melhores condições de vida da população.

Segundo Ribeiro e Lisboa (1999, p. 2),

Em termos ideais uma empresa somente poderia exercer suas atividades se o custo-benefício da sua existência fosse positivo. A empresa que agride o meio ambiente, conseqüentemente coloca em risco a continuidade da vida humana ou reduz a qualidade desta; aquela que não propicia condições adequadas de trabalho contribui para a degeneração psicológica e social dos trabalhadores; e aquelas que não adicionam valor à economia local fazem com que a aplicação de recursos governamentais não resulte nos benefícios esperados na região onde estão situadas.

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32

Visualiza-se, então, que toda empresa estabelecida em determinada

comunidade poderia gerar alguns custos para o meio ambiente, mas os benefícios

gerados por sua instalação deveriam ser superiores. Em uma situação inversa, a

sua instalação seria questionada pela comunidade que, com certeza, apresentaria

recusa ao seu estabelecimento.

Para Kroetz (2000, p. 108), alguns princípios devem ser considerados ao

se elaborar o Balanço Social, dentre os quais destacam-se:

1. Princípio da objetividade: parte-se da premissa que todas as informações

são fidedignas, isto é, não há juízo de valor interferindo no relatório a ser

elaborado.

2. Princípio da continuidade: garantia de comparabilidade das informações em

diferentes períodos de tempo, devendo assim, haver constantemente a

coleta de dados.

3. Princípio da pertinência: aqui se define a relevância da informação para os

stakeholders8. A relação entre o custo da elaboração e a divulgação do

demonstrativo e o retorno propiciado deve ser positivo ou favorável.

4. Princípio da uniformidade: é necessária a existência de padronização dos

procedimentos metodológicos para elaboração do balanço social, assim

como a publicação de notas explicativas quando da mudança destes

procedimentos.

5. Princípio da certificação: o relatório deve permitir uma certificação por parte

de agentes externos, tencionando–se garantir, assim, credibilidade das

informações prestadas.

Com a observância destes princípios, as empresas podem passar a ter um

instrumento de grande valia, ampliando as relações entre a estrutura empresarial e

seus colaboradores (empregados), por exemplo, obtendo, a partir daí, participações

mais ativas e espontâneas, tendo como conseguinte uma maior qualidade nos

produtos e serviços oferecidos.

8 Usuários da informação contábil: Instituições Financeiras, Governo, Fornecedores, Clientes, Trabalhadores, Acionistas, Diretores, Administradores, Sociedade, Concorrentes, Estudiosos etc. (GLAUTIER e UNDERDOWN, 2000 p. 813).

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33

Vale citar, no entanto, que o Balanço Social pode apresentar algumas

limitações consideradas no tocante às informações, a serem trabalhadas,

lembrando-se tratar das informações da empresa com o meio social.

Kroetz (2000, p. 83), em sua obra, aborda algumas destas limitações:

1. Privacidade: as informações devem ter a autorização das partes interessadas,

exceto em casos nos quais se impõem cláusulas legais. Busca-se oferecer

informações complementares às não obtidas por meio de indicadores ecômicos e

financeiros.

2. Sigilo: respeitar as informações essenciais da organização, de modo que sua

divulgação não se torne vantagem comparativa, ameaçando, inclusive sua

continuidade no mercado.

3. Subjetividade: a retratação da realidade é fundamental para a credibilidade do

Balanço Social, descartando-se até mesmo os aspectos subjetivos (opiniões) e

especulativos dos dados a serem trabalhados.

4. Uniformidade: a informação deve ser de fácil entendimento, evitando-se assim,

dúvidas e interpretações errôneas e obtendo a sociedade o real valor qualitativo do

Balanço Social. Ainda, dentro deste quesito, a uniformidade no sentido de manter-

se a mesma metodologia e técnica de elaboração, permitindo a real comparação e

evolução dos indicadores obtidos ao longo dos exercícios sociais.

5. Utilidade: destaca-se, neste ponto a qualidade da informação e a reação do meio

social ao recebê-la, pois a sociedade deve, entre seus objetivos, satisfazer o desejo

dos diversos tipos de usuários no tocante a informações sobre a empresa.

6. Economicidade: as informações devem possuir aspectos abrangentes sem,

contudo, incorrer a empresa em custos superiores aos benefícios proporcionados

pelas informações.

Nesta linha de pensamento, Siqueira e Vidal (2003, p. 5-7) expõem em seu

trabalho o Balanço Social como um “viés positivo9”, isto é, um instrumento de

divulgação de realizações por parte das empresas para com os seus

colaboradores, meio ambiente e com a comunidade.

9 Viés positivo seria a divulgação nas demonstrações e informativos com dados sociais com apenas os seus aspectos positivos, isto é, mesmo que a empresa tenha incorrido em dados sociais negativos eles se justificariam no decorrer da vida e da rotina da empresa. Expõem se a título de exemplo “a demissão na Light como um feito e os acidentes ecológicos da Petrobrás transforma-se na busca por um novo padrão de excelência” (SIQUEIRA e VIDAL; 2003, p. 06).

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34

Dessa maneira, as demonstrações com informações e dados sociais são,

na verdade, a prestação de contas pela sua existência à sociedade como um todo,

devendo, inclusive, apresentar não somente as informações de aspecto positivo,

mas também as de aspecto negativo.

Citam, ainda, em seu trabalho, o baixo índice de auditoria, também das

informações sociais, pois, em virtude da legislação, redirecionam-se os aspectos de

comprometimento, formalidade e responsabilidade (com a identificação do

responsável técnico pelas informações) para as demonstrações societárias

obrigatórias.

Siqueira e Vidal (2003, p. 11) valem-se de uma amostra de vinte e duas

empresas sendo que nenhuma delas fazia-se menção, em seu parecer de auditoria,

sobre as informações de cunho social, e apenas uma apresentava identificação do

responsável técnico pela elaboração dos dados referentes aos aspectos sociais.

Mas o que seria auditoria das demonstrações sociais, um “atestado” da

autenticidade das informações? Ou como Siqueira e Vidal (2003, p. 6) comentam,

seria uma formalidade para evitar a mudança das informações sociais e a

transformação do Balanço Social em um instrumento de marketing com viés

positivo?

A ausência de normas referentes a publicações sociais, assim como

procedimentos que permitam sua conferência e atestem sua idoneidade pode vir a

representar uma preocupação para os usuários da informação.

A formalidade, e até mesmo a verificação da autenticidade com os dados

divulgados já é uma realidade e já existem manifestações sobre a auditoria das

informações sociais, como será observado no tópico a seguir.

3.3 Auditoria Social - preocupação com as informaçõ es sociais

Apesar de não constituir o foco deste trabalho, vale mencionar, de modo

breve, a importância atribuída à auditoria das informações contábeis, financeiras e

sociais.

Ao se mencionar Auditoria, tem-se em mente a técnica contábil utilizada

para aferir os resultados das demonstrações financeiras tradicionais, direcionando-

se para os requisitos da Lei 6.404/76 – Lei das Sociedades por Ações (FIPECAFI,

2003, p.30):

Page 53: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

35

... é o estudo e avaliação sistemáticos de transações procedimentos, operações e das demonstrações financeiras – acrescenta-se sociais e ecológicas (Balanço Social) – resultantes. Sua finalidade é determinar o grau de observância dos critérios estabelecidos e emitir um parecer (relatório de opinião e recomendações, no caso do Balanço Social), sobre o assunto.

Nesse sentido, a idéia é oferecer ao aglomerado de dados sociais, solidez,

seriedade e o crivo da idoneidade das informações. Faz-se um comentário

pertinente sobre os anseios no tocante às informações sociais, isto é, devido à

pressão por maior responsabilidade das empresas, caminha-se para o dia em que,

além do balanço financeiro anual certificado por auditores independentes, as

empresas terão que publicar um Balanço Social também certificado por auditores.

Porém, qual o interesse em se auditar o balanço social? Haveria alguma

informação vantajosa para a empresa divulgadora e para o usuário em busca de

informação?

Ainda, citando Kroetz (2000, p. 94), dentre os possíveis benefícios a serem

percebidos com a auditoria das informações sociais, mencionam-se alguns para a

instituição e para o meio social:

* redução dos riscos ambientais e sociais;

* redução do custo - implantação de modelos de prevenção;

* novas oportunidades de mercado;

* maior confiança na estrutura empresarial, pelos credores, investidores e

sociedade como um todo;

* avaliação dos procedimentos de cálculos tributários;

* maior envolvimento e comprometimento dos empregados e

* maior qualidade organizacional e social.

Mesmo ao citar alguns aspectos relevantes do Balanço Social, defronta-se

com a ausência de regulamentação e legislação própria para a formalização de sua

publicação.

Ao se sugerir uma auditoria das demonstrações sociais, tem-se o

reconhecimento da necessidade de uma metodologia especial, alterando-se,

inclusive, sua definição e conceitos tradicionais em que a função do auditor

reconhecida como positivamente orientadora para as decisões gerenciais,

transforma-se numa tecnologia capaz de não somente avaliar, mas de emitir

opiniões que venham somar, contribuindo com a prosperidade da organização e da

própria sociedade.

Page 54: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

36

Ambrósio (2006, p.1), no entanto, ressalta que:

Não existe no mundo nenhum padrão de certificação oficial de relatórios de certificação oficial de relatórios de responsabilidade social, como acontece com uma auditoria clássica das demonstrações contábeis, que segue regras claras tanto no Brasil quanto no exterior. O que existe são critérios e padrões para elaboração desses relatórios, entretanto também não há uma unificação (...).

Assim, constata-se que uma entidade organizacional surge do desejo em

se estruturar, seja da vontade individual seja da vontade coletiva. Seu intuito

fundamental é obter resultados positivos – financeiros e sociais.

A formalização de padrões, normas e diretrizes para a elaboração e

disposição das informações sociais, assim como a análise de sua idoneidade

ofereceria para a sociedade uma tranqüilidade quanto a sua continuidade e atitudes

e decisões no meio sócio-ambiental.

Numa visão sistematizada, visualiza-se a organização como um

agrupamento de recursos interdependentes e interligados, com objetivos comuns,

formando um contrato entre várias partes.

Lisboa e Souza (1999, p.18) conduzem a uma reflexão em que se tem uma

empresa consumindo os recursos acessíveis em uma economia, propiciando como

único benefício o emprego dos moradores da cidade, e não adicionando nenhum

valor durante o processo de produção.

Em suma, esta situação configuraria pouca alternativa a sua continuidade,

pois a necessidade de reinvestimento, considerando a auto-sustentação do

empreendimento, somente se faria possível com a agregação de valores,

justificando-se um sobre-preço (receita) que permitisse sua continuidade. Nessa

linha, tem-se que a empresa é capaz de gerar riqueza não somente para os seus

acionistas, mas também distribuir valores para outros componentes de sua

produção.

Uma das vertentes do Balanço Social, ponto chave deste estudo, é

exatamente entender a geração e distribuição de valor, tanto para os acionistas

quanto para a sociedade como um todo. Tem–se na Demonstração do Valor

Adicionado uma visão contextual de como isso ocorre. A seguir, apresenta-se a

DVA com seus conceitos e peculiaridades.

Page 55: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

37

3.4 Demonstração do Valor Adicionado - DVA

Pode-se ter entre as vertentes do Balanço Social, conforme já visto, um

conjunto de informações denominado Demonstração de Valor Adicionado. Apesar

de não ser uma demonstração (grupo de informações) obrigatória, vem corroborar,

em caráter explicativo, com a relevância de se possuir em determinada

comunidade, aquele empreendimento produtivo, oferecendo oportunidade de

remuneração não somente para o empreendedor, mas também para os demais

agentes econômicos participantes diretos ou não de sua atividade. Antes, porém,

cabe a menção de algumas definições da Demonstração do Valor Adicionado e sua

evolução histórica.

3.4.1 Importância conceitual e aspectos históricos

Buscar-se-á, primeiramente, conceituar o que vem a ser Demonstração do

Valor Adicionado, para, de posse dessa informação, discutir-se seu real valor e

melhor compreendê-la.

Para Luca (1998, p. 28) “... é um conjunto de informações de natureza

econômica. É um relatório contábil que visa demonstrar o valor da riqueza gerada

pela empresa e a distribuição para os elementos que contribuíram para sua

geração”. Cosenza (2003, p.10), por sua vez: apresenta a seguinte definição:

O conceito de DVA pode ser delimitado no âmbito de uma informação econômica financeira de natureza histórica, que evidencia a circulação real do patrimônio e mostra o valor econômico que foi gerado por uma entidade durante um certo período de tempo e, simultaneamente, descreve como este valor entre aqueles que contribuíram para sua criação.

Ou ainda: “é a demonstração contábil que divulga a geração de valor

produzido pela própria empresa, mediante sua próprias atividades e a retribuição

aos componentes econômicos que formaram esse valor adicionado”. (COSENZA e

KROETZ, 2003 P. 05)

Conselho Federal de Contabilidade (2005, p.01), assim conceitua a DVA:

Page 56: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

38

… expressa o valor calculado a partir da diferença entre o valor de sua produção e dos bens produzidos por terceiros utilizados no processo de produção. A atual e potencial utilização do valor adicionado mostram os aspectos social e econômico a partir da avaliação de desempenho na geração de riquezas ao medir a eficiência na utilização dos fatores de produção, comparando-se o valor das saídas com o valor das entradas. E ainda se apresenta como índice de avaliação de desempenho social, a medida que demonstra, na distribuição da riqueza gerada, a participação dos empregados, acionistas, dos agentes financiadores, do Governo e dos Acionistas.

Complementa, ainda, Sousa (2003, p. 22) “... parece ter ficado evidente

que a riqueza gerada ou valor adicionado pela empresa, possui valor monetário

superior ao do lucro, pois este é uma das parcelas constitutivas daquele”.

Diante das definições mencionadas, percebe-se na Demonstração do Valor

Adicionado uma abordagem carregada de pontos que nos remetem a visão dos

economistas (o PIB mensurado a partir da produção).

Segundo Cosenza (2003, p. 08), conceitualmente, o Valor Adicionado é

conhecido há aproximadamente duzentos anos em seus aspectos

macroeconômicos. Cita, ainda, que as primeiras aplicações do mesmo têm suas

origens nos Estados Unidos, quando foi utilizado como base para cálculo dos

sistemas de pagamento de incentivos governamentais.

Contudo, no campo empresarial, as referências sobre o assunto são mais

recentes, datando dos anos cinqüenta do século XX, quando o valor adicionado

começou a ser empregado em uma perspectiva microeconômica, sendo usado por

algumas empresas da Inglaterra. Posteriormente, na década de setenta, o uso do

valor adicionado foi disseminado nas empresas britânicas, com o intuito de instituir-

se uma via de diálogo junto aos empregados, com a finalidade de aumentar a

produtividade.

No entanto, o trabalho desenvolvido pelo Comitê de Normas de Contabilidade do

Reino Unido (Accounting Standards Steerring Committee – ASSC), em 1975, foi

considerado um marco no tocante à normatização da DVA. Ressaltava a

importância do lucro para a economia de mercado como um todo, porém, com a

Demonstração do Valor Adicionado, permitir-se-ia à comunidade tomar

conhecimento de sua função (do lucro) na criação de resultados para a sociedade

como um todo.

O intuito do Comitê, ao propor mais esta demonstração contábil era gerar

informações acessórias, possibilitando ao usuário da informação a identificação da

Page 57: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

39

riqueza gerada pela empresa; aos empregados, o valor adicionado criado pelo seu

próprio esforço; e, ainda, a sociedade mostrando como se aplicou este valor

adicionado para remunerar os responsáveis por sua criação. É lamentável, porém,

não ter sido entendido o desejo informativo deste demonstrativo como ansiava o

Comitê pela comunidade contábil britânica. Isso ocorreu por não considerarem

relevante esta informação para as divulgações anuais efetuadas pelas empresas

mercantis inglesas.

Na atualidade, ocorre situação semelhante em todo o contexto

internacional, pois a DVA é um informe facultativo, mesmo estando em grande

consideração pela International Accouting Standards Board - IASB -, aconselha as

empresas a apresentá-la adicionalmente.(IASC apud COSENZA, 2003, p. 09).

No Brasil, o Conselho Federal de Contabilidade tem editado resoluções,

como a de nº 1003, de 19.08.2004, publicada no Diário Oficial da União (D.O.U) em

06.09.2004 e a de nº 1010, de 21.01.2005, publicada no D.O.U em 25.01.2005.

A primeira resolução, de maneira mais ampla, apresenta a Norma

Brasileira de Contabilidade (NBC) T 15, com Informações de natureza Ambiental e

Social. Já a segunda resolução apresentando a Norma Brasileira de Contabilidade

(NBC) T 3.7, trata exclusivamente da Demonstração do Valor Adicionado e faz uma

descrição de sua estrutura.

Há, também, conforme menciona Santos (2003, p. 12), um modelo

idealizado pelos pesquisadores da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis,

Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), já com a estrutura pronta para atender os

requisitos legais do Projeto de Lei nº 3.741 de 2.000, de alteração da Lei. 6.404/76

(Lei das Sociedades Anônimas). Vale citar, que o uso deste modelo vem sendo

recomendado pela Comissão de Valores Mobiliários (C.V.M.), conforme Ofício

Circular CVM/SNC/SEP/nº 01/2000.

Por se tratar de uma demonstração informativa facultativa, qual o modelo a

seguir? Qual a amplitude e possíveis restrições existentes quanto a sua

publicação? Poderá realmente este arcabouço de dados ser de real interesse da

comunidade?

A tentativa de expor algumas informações tem o intuito de colaborar com a

formulação de opiniões, de modo a retirar o maior volume de subsídios oriundos da

Demonstração de Valor Adicionado.

Page 58: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

40

3.4.2 A Estrutura e Modelo da Demonstração do Valo r Adicionado – DVA –

Reportando ao início do capítulo, mencionou-se o interesse dos

economistas na elaboração do valor adicionado, pois o mesmo permite a

verificação e cálculo do Produto Interno Bruto, PIB, de uma economia em um

determinado período de tempo.

Luca (1998, p. 66) e Santos (2003, P. 32) apontam que a metodologia para

o cálculo do Valor Adicionado diferencia-se em termos de enfoque: enquanto os

Economistas consideram o valor da produção para fins de identificar-se a riqueza

gerada, para os Contadores se toma como base o montante da Receita Bruta no

período considerado.

Santos (2003, p. 32-33) por sua vez comenta que:

(...) o critério contábil na apuração do valor adicionado, poderá ser superior ao econômico. Essa superioridade materializa-se através de práticas contábeis consistentes e da utilização de valores reais. Os valores estimados na Contabilidade através de provisões sempre em algum momento futuro, são confrontados e ajustados aos valores reais. A isso deve ser adicionado o fato de os valores da contabilidade poderem se submeter a processos permanentes de auditoria.

Neste trabalho, não se tem a pretensão de avaliar qual método se

apresenta de modo mais correto, mas sim verificar com este estudo, sob a ótica

contábil, a importância microeconômica do conceito de valor adicionado ao se

propor a sua publicação pela empresa, independente de sua classificação

comercial (sociedade anônima ou limitada) e a possível valorização por parte da

sociedade e das autoridades governamentais por estes empreendimentos existirem

em seu contexto econômico.

Com este ponto de partida definido, o próximo passo é visualizar como se

constitui a estrutura da Demonstração do Valor Adicionado e as informações daí

decorrentes.

Como mencionado por Cosenza e Kroetz (2003, P.03), a DVA é a

demonstração cujo sistema de informações contábeis configura importante

ferramenta para análise das atividades da empresa e a remuneração das partes

envolvidas na atividade.

Page 59: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

41

Apresenta-se, no Quadro 03, o modelo para empresas em geral elaborado

pela FIPECAFI e apresentado por Santos (2003, P.39) e o Conselho Federal de

Contabilidade na Norma Brasileira de Contabilidade na NBC T 3.7:

QUADRO 03

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

Empresa: Em milhares de Reais

Descrição Pela Legislação

Societária

Em moeda

Constante

1. RECEITAS

1.1 Vendas de mercadorias, produtos e serviços

1.2 Provisão para devedores duvidosos

(reversão / Constituição)

1.3 Não operacionais

2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS

(inclui os valores dos impostos – ICMS e IPI)

2.1 Matérias primas consumidas

2.2 Custo das Mercadorias e serviços consumidos

2.3 Materiais, energia, serviços de terceiros e outros

2.4 Perda / Recuperação de valores ativos

3. VALOR ADICIONADO BRUTO (1 – 2)

4. RETENÇÕES

4.1 Depreciação, amortização e exaustão

5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA

ENTIDADE (3 – 4)

6 VALOR RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA

6.1 Resultado de Equivalência Patrimonial

6.2 Receitas financeiras

7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5 + 6)

8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO

8.1 Pessoal e Encargos

8.2 Impostos, Taxas e Contribuições

8.3 Juros e Aluguéis

8.4 Juros sobre Capital Próprio e Dividendos

8.5 Lucros retidos / prejuízo do exercício

Fonte: Santos (2003, p. 39).

Para melhor entendimento da estrutura da DVA, apresentada no Quadro

03, mostra-se uma abordagem breve sobre os conceitos, baseando-se em Santos

Page 60: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

42

(2003, p.40-43 e 46-50), Santos e Silva (2003, p. 04-05), Conselho Federal de

Contabilidade (2005), Comissão de Valores Mobiliários, CVM, (2000, p. 01):

1. Receitas

1.1 Venda de mercadorias, produtos e serviços

O Item receita bruta é formado pelas vendas de mercadorias, produtos e

serviços incluindo os valores dos tributos incidentes sobre as receitas, ou seja, o

valor da Receita Bruta, deduzindo-se as devoluções, os abatimentos incondicionais

e os cancelamentos.

Os registros das receitas nas empresas devem obedecer ao princípio da

competência de exercícios, respeitando-se as peculiaridades de cada segmento10.

1.2 Provisão para devedores duvidosos

Esta conta é elaborada com a finalidade de cobrir as perdas (estimadas)

com clientes. Deve-se ter em conta, no entanto, que a reversão desta conta por

excesso de provisão constitui uma receita já criada devendo compor a DVA. Em

síntese, provisão (subtrai)/reversão (soma-se) na demonstração.

1.3 (resultados) Não operacionais

Este item inclui os valores considerados fora das atividades principais da

empresa, tais como: ganhos ou perdas gerados com a baixa de ativos de longo

prazo a exemplo dos imobilizados, investimentos e outros.

2. Insumos Adquiridos de Terceiros

2.1 e 2.2 Matérias primas, mercadorias, materiai s consumidos na produção e

geração de receita (um dos Princípios Fundamentais de Contabilidade),

considerando-se o seu valor, para fins de cálculo, no momento de sua

transformação em despesas do período. Incluem-se neste os valores dos impostos,

mesmo havendo posteriormente a sua recuperação.

10 A título de exemplo citam-se as companhias de água e energia que têm suas receitas reconhecidas pela sua realização e não faturamento, isto é, quando seu respectivo produto chega até o seu consumidor. (DEMONSTRAÇÃO, 2005 p. 07)

Page 61: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

43

2.3 Custo dos serviços vendidos, energia e serviç os de terceiros

Não inclui o custo com pessoal próprio, mas os valores relativos às

aquisições e pagamentos a terceiros. Consideram-se, também, seus valores no

momento das compras, isto é, incluso IPI e ICMS, se for o caso, sendo

recuperáveis ou não.

2.4 Perda/Recuperação de Ativos

Tem se o valor relativo aos ajustes a valor de mercado, de estoques, de

investimentos etc.

3. Valor adicionado Bruto Diferença entre o total de contas dos grupos 1 e 2

4. Retenções

4.1 Depreciação, Amortização e Exaustão

Referem-se às despesas e custos calculados no período. Abordar-se-á em

momento oportuno algumas opiniões polêmicas para esta conta.

5. Valor Adicionado Líquido produzido pela Entid ade Diferença entre o total

de contas dos grupos 3 e 4;

6. Valor Recebido em Transferência

Seguem abaixo as possibilidades de valores recebidos em transferência:

6.1 Resultado de Equivalência Patrimonial

Este valor pode ser:

a) o resultado positivo ou negativo de equivalência patrimonial;

b) os valores registrados como dividendos relativos a investimentos avaliados ao

custo.

6.2 Receitas Financeiras

Aqui são classificados os valores relativos a quaisquer operações com

instituições financeiras, entidades do grupo ou entidades do grupo.

Page 62: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

44

Ressalta-se que, na elaboração da DVA para instituições financeiras, a

estrutura deve ser adequada. Menciona-se, ainda, segundo a NBC 3.7, que fazem

parte desse grupo os valores de receitas de aluguéis e royalties, quando se tratar

de entidade que não tenha como objeto essa atividade.

7. Total do Valor Adicionado a Distribuir

É o somatório do total do item 5 + total do item 6.

8. Distribuição do Valor Adicionado

Cosenza (2003, p. 14) comenta que após identificar o valor adicionado do

período, como este valor será repartido com todos aqueles que ajudaram a gerá-lo,

ou seja, deve-se determinar a retribuição aos grupos, lembrando que os critérios de

atribuição de valor são os estabelecidos pelo ambiente da entidade.

8.1 Pessoal e Encargos

Para Luca (1998, p. 69), este se define como um dos mais importantes

grupos a participar do valor adicionado.

Observando o delineado na NBC nº 3.7 (2005), devem ser incluídos neste

grupo os salários, férias, 13º salário, FGTS, seguro de acidente do trabalho,

assistência médica, alimentação, transporte etc., apropriados ao custo do produto

ou ao resultado do período. Fazem parte desse conjunto, também, os valores

representativos de comissões, gratificações, participações, planos privados de

aposentadorias e pensão e seguro de vida.

8.2 Impostos, Taxas e Contribuições

Tem-se aqui a remuneração do Governo. Questiona-se a sua participação

efetiva na criação do valor adicionado para a empresa. Este deve ser visto como o

agente econômico responsável pelo oferecimento de infra-estrutura de um modo

geral (pavimentação, saneamento), tornando-se possível a realização de

investimentos produtivos.

Concentram-se neste grupo os impostos sobre o lucro (de renda e

contribuição social) e sobre as vendas (ICMS, ISS, PIS, COFINS e IPI), taxas e

contribuições inclusive às devidas ao INSS, CPMF e demais tributos. São

Page 63: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

45

adicionados aos tributos, multas, juros e correção monetária, subtraindo-se as

isenções, abatimentos e devoluções por cobrança indevida.

Segundo Santos (2003, p. 41), o ideal em termos de divulgação desta

rubrica seria a melhor evidenciação, especificando-se os tributos conforme sua

competência, ou seja: União, Estado ou Município, ou ainda, se for o caso, de um

País estrangeiro, quando o pagamento se realiza fora da fronteira onde a empresa

realiza suas atividades.

8.3 Juros e Aluguéis

Este grupo, também é denominado remuneração do Capital de Terceiros

ou dos Credores. Representam a remuneração dos recursos de terceiros, sob a

forma de custo financeiro, por conta do fornecimento de capital para aplicações na

atividade produtiva da empresa.

Mencionam-se os juros (remuneração de empréstimos, obrigações,

depósitos a prazo, títulos negociáveis etc.), aluguéis (pelo uso de ativos diversos),

royalties (pelo uso de marcas e patentes).

8.4 Juros sobre o Capital Próprio e Dividendos

Aqui se destaca a remuneração do capital próprio ou dos acionistas.

Sobressai-se a parcela que remunera aqueles que aplicaram os recursos próprios.

Luca (1998, p. 72/75) e Cosenza (2003, p.15) divergem de Santos (2003,

p.43) e da NBC 3.7 (2005). Os dois primeiros se preocupam em demonstrar os

lucros retidos como uma parcela da remuneração dos acionistas; no segundo

grupo, os autores preocupam-se em identificar somente os valores pagos ou

creditados aos acionistas.

Santos (2003, p. 45) faz uma alusão à situação em que os juros sobre o

capital próprio, registrados na Contabilidade como reservas, devem fazer parte do

item “Lucros Retidos”.

Cosenza citando Martins (2003, p.15) alega ser este ponto negativo “pois

pode trazer ao usuário uma imagem que, intencionalmente se está desejando

esconder uma parcela do valor adicionado que, também pertence ao acionista,

mesmo se tratando de uma parcela retida para fins de reinvestimento”.

Page 64: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

46

8.5 Lucros retidos/ prejuízo do exercício

Devem ser incluídos nesta rubrica os lucros destinados a reserva de lucros

e eventuais parcelas ainda sem destinação específica.

Observa-se, à medida que mais detalhes são conhecidos da Demonstração

de Valor Adicionado, as dificuldades naturais decorrentes de diversas

interpretações em virtude de não existir, ainda, normas quanto a sua estruturação.

A diversidade de noções particulares adotadas sobre um mesmo conceito termina por diminuir a compreensão das informações nele contidas e dificulta que se disponha de dados estandardizados para efeito de análise comparativa. Tal inconveniente joga por terra o principal argumento para se sustentar a utilidade desta demonstração contábil sobre riqueza criada, de forma ‘simples e objetiva’ para o entendimento de qualquer tipo de usuário, conhecedor ou não de contabilidade. COSENZA (2003, p. 10).

Assim como outros demonstrativos, a demonstração do valor adicionado

pode possuir pontos, no mínimo, conflitantes, merecendo menção de modo

objetivo.

A seguir, apresentam-se alguns indicadores possíveis de serem obtidos a

partir da DVA, com os mais diversos fins informativos.

3.4.3 Indicadores de Análise da Demonstração do Val or Adicionado e do

Balanço Social

Assim como ocorre nas demonstrações financeiras convencionais alguns

indicadores são passíveis de serem obtidos com a finalidade de analisar o

desempenho da empresa e de suas informações de cunho social, como será citado

a seguir:

a. Quociente entre Gastos com Pessoal e Valor Adici onado

Santos (2003, p. 227) evidencia que este indicador demonstra a parcela da

riqueza gerada pela empresa e direcionada aos trabalhadores.

Relação percentual dos Gastos com Pessoal na = DVA

Gastos com Pessoal Valor Adicionado

x 100

Page 65: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

47

Esta informação deve atenuar e colaborar com os debates entre as classes

patronais e os sindicatos, pois demonstra a participação da remuneração e dos

encargos sociais no valor gerado. Vale mencionar que o indicador não deve ser

tido como a única fonte de informações, mas como mais um dado a ser trabalhado

no momento de negociações trabalhistas.

b. Quociente entre Gastos com Tributos (Impostos, T axas e Contribuições) e

Valor Adicionado

Este indicador, por sua vez, expressa o quanto da riqueza é distribuída aos

governos Federal, Estaduais e Municipais, sob a forma de tributos.

Relação percentual dos Gastos com Tributos na = DVA

Santos (2003, p. 227) levanta um ponto polêmico sobre a participação do

Governo na distribuição da riqueza como um dos fatores de produção ou se

considerado como um valor a ser pago a terceiros, como algum dos fatores

participantes do custo.

Fundamentando-se em diversos manuais de economia, esta discussão cai

por terra, exatamente pelo fato de o Governo ser um dos agentes responsáveis

pelo funcionamento da empresa. Ou seja, é responsável pela infra-estrutura a ser

(pré) estabelecida para que a empresa possa vir a funcionar.

Um outro ponto relevante, destacado por Santos (2003, p. 227) ao se

analisar a participação dos diversos tributos na composição da riqueza, é a forma

como ocorre a tributação no país, (discussão antiga entre acadêmicos e

parlamentares): a tributação no volume e proporção que ocorre se dá sob os fatores

de produção, e não sobre os lucros gerados.

Gastos com Tributos Valor Adicionado

x 100

Page 66: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

48

c. Quociente entre Gastos com Juros e Aluguéis e Va lor Adicionado

Um outro ponto importante, possível de identificação com a DVA, é a

verificação da remuneração do capital de terceiros. Sua relevância se dá pelo

financiamento da estrutura produtiva e evidenciando o grau de endividamento do

empreendimento (ASSAF NETO, 2002 p. 194-196).

Relação percentual dos Gastos com Remuneração = de Terceiros na DVA

Com a separação das fontes de financiamento entre capital de terceiros e

próprio pode se identificar o quanto da riqueza gerada foi distribuída ao capital

externo da empresa.

Não cabe discutir nesse momento se a empresa utiliza mais ou menos

capital de terceiros, mas verificar e identificar a parcela da remuneração desse

capital e sua relevância no financiamento processo produtivo.

d. Quocientes de Juros s/ Capital Próprio e Dividen dos e Valor Adicionado

Neste ponto, tem-se a transferência da riqueza aos sócios e acionistas do

empreendimento, tornando-se uma alternativa de analisar a rentabilidade dos

valores atribuídos aos detentores do capital próprio.

Relação percentual da Remuneração do Capital = Próprio na DVA

Santos (2003, p. 228) menciona a possibilidade de verificar a evolução

histórica desta remuneração aos acionistas, bem como a tornar visível a

atratividade e captação de recursos a custos reduzidos para o empreendimento.

Gastos com Pessoal Valor Adicionado

x 100

Juros s/ Capital Próprio e Dividendos Valor Adicionado

x 100

Page 67: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

49

e. Quocientes de Lucros Retidos e Prejuízo do Exerc ício Valor Adicionado

Nos valores retidos, por sua vez, pode-se ter as informações sobre a

reaplicação de valores no próprio investimento e, entre outras, com a finalidade de

garantir a continuidade do empreendimento produtivo.

Relação percentual do Lucro Retido na DVA

De modo contrário à distribuição de lucro, esse item expressa os valores

mantidos na empresa e sua recondução a estrutura da empresa. No caso de

prejuízo, terá como significado uma fatia maior da riqueza atribuída a algum outro

dos fatores de produção.

f. Quociente do Valor Adicionado

Este indicador demonstra, segundo Tinoco (2001, p. 221), o quanto foi

criado de riqueza a partir do montante de vendas.

Taxa de Valor Adicionado Bruto

Verifica-se aqui a geração efetiva de riqueza e, posteriormente, a sua

distribuição aos fatores de produção, a partir das vendas efetivamente realizadas.

g. Taxa de Variação do Valor Adicionado Bruto

Este indicador mede a taxa de incremento ou de redução do Valor

Adicionado Bruto de um período em relação a outro.

Valor Adicionado Bruto Venda de Mercadorias e ou Serviços

x 100 =

Lucros Retidos /Prejuízo do Exercício Valor Adicionado

x 100 =

Page 68: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

50

Taxa de Valor Adicionado Bruto

Como na Análise Horizontal, demonstra-se por este indicador o seu

desempenho de um ano para outro.

h. Taxa de Variação Total do Valor Adicionado Bruto

Este indicador mede a taxa de incremento ou de redução do Valor

Adicionado Bruto, de um período em relação a outro, relacionando, no entanto, com

as vendas desse mesmo período. Tinoco (2001, P.222) ressalta ser este indicador

mais abrangente do que o anteriormente mencionado.

Taxa de Variação Total do Valor Adicionado Bruto

i. Utilização do Valor Adicionado como Medida de Ge ração de Riqueza

De acordo com Santos (2003, p. 221), este quociente expressa o quanto

cada funcionário produziu de riqueza para a empresa, valendo citar a importância

do valor trabalho para o contexto econômico.

O seu cálculo ocorreria da seguinte maneira:

Riqueza gerada por empregado

Santos (2003, p. 221), no entanto, alerta sobre cuidados a serem tomados

ao interpretar estas informações. Por exemplo, poderá haver diferenças entre

empresas que empreguem de maneira mais intensiva fatores como mão-de-obra e

Valor Adicionado Bruto Valor Adicionado Bruto Anterior

x 100 =

Valor Adicionado Bruto Atual /Vendas Atuais Valor Adicionado Bruto Anterior/Vendas Anteriores

x 100

==

Valor Adicionado Número de empregados

=

Page 69: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

51

aquelas que utilizam fatores de capital (máquinas, equipamentos e automação de

um modo geral).

j. Indicador de Produtividade por Empregado

Este indicador, segundo Tinoco (2001, p. 223), mede a relação das vendas

efetuadas e o número médio de empregados (início e final do período dividido por

dois). É uma medida de produtividade dos trabalhadores da empresa.

Produtividade da mão de obra

k. Indicador de Lucro por Empregado

Possibilita mensurar o lucro médio por empregado no período em que se

realiza a análise. Também se define, segundo Tinoco (2001, p. 223), como um

indicador de produtividade.

Lucro por empregado

l. Índice de Custo Benefício

Como se verificou anteriormente, os dados da DVA podem se desdobrar

em várias vertentes de indicadores e resultados. Porém, uma pergunta se faz

presente: Como a autoridade governamental pode decidir sobre atrair

investimentos? E mais, será que realmente há possibilidade de um ganho para todo

o macro-ambiente?

Rodrigues Junior (2003, p.116) apresenta uma ponderação sobre os

recursos e a política de benefícios oferecidos, por exemplo, benefícios fiscais,

Vendas do período Número médio de empregados

=

Lucro no período Número de empregados

=

Page 70: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

52

incentivos concedidos comumente pelos diversos Estados e Municípios com a

finalidade de atrair investimentos.

Furtado (1995, p. 150) comenta a relevância dos benefícios fiscais

concedidos às empresas de financiamentos com taxas de juros reduzidas às

isenções de IPTU e ISS por prazos de até dez anos: “... mesmo não sendo um item

muito importante na seleção das cidades, esse tipo de financiamento acaba

colocando os municípios mineiros em vantagem quando a comparação é feita com

as cidades paulistas”. Essa política, apesar de produzir efeito no sentido de

angariar capital fixo para a região tende a ser impopular, pois normalmente atraem-

se as empresas que estavam em determinado município para outro, que está

oferecendo uma melhor ou maior compensação.

Alguns estudiosos, conforme menciona Rodrigues Junior (2003, p. 90-94),

a oferta de benefícios diferentes entre as diversas localidades do país, proporciona

um verdadeiro leilão entre as empresas, com uma possível perda de arrecadação

como um todo, pois é preciso ter que abrir mão de parte desta arrecadação

tributária para a região se tornar interessante.

Assim o índice de Custo Benefício, segundo Rodrigues Junior (2003, p.

115) seria o quanto de riqueza pode ser criada com a concessão do benefício fiscal

em um determinado município. Esse índice é calculado da seguinte maneira:

Índice de Custo Benefício (ICB)

Contudo, algumas ponderações devem ser feitas sobre determinados itens

da DVA, passíveis de polêmica, por sua própria constituição e de interpretações

divergentes, como segue.

3.4.4 Ponderações sobre alguns componentes da Demon stração do Valor

Adicionado

Existem, ainda, alguns itens que podem trazer dúvidas no momento da

elaboração da DVA. Estes itens são independentes entre si, mas de grande

Demonstração do Valor Adicionado Incentivos Fiscais Concedidos

=

Page 71: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

53

relevância informativa na elaboração da demonstração. Dentre os vários itens da

DVA, destacam-se:

Base de Cálculo

Ao elaborar-se a DVA, o responsável pode se defrontar com essa divisão

de alternativas, podendo se valer do valor das vendas ou do valor da produção.

Luca (1998, p. 37-38) e Cosenza (2003, 17) acreditam na possibilidade de

realização de ajustes com os valores do estoque, por exemplo, podendo ir da DVA

utilizando o valor das vendas para a DVA com informações sobre a produção.

Cosenza (2003, p.17) não deixa de opinar, porém, sobre o critério usado

pela Contabilidade, consideram-se os princípios de Contabilidade, ponto no qual se

assemelha a Santos (2003, p. 46), um respaldo maior, devido à possibilidade de

reconciliação com Demonstração de Resultado do Exercício dando assim, maior

confiabilidade a Demonstração do Valor Adicionado.

Santos e Machado (2003, p.09), inclusive advertem para, na elaboração da

DVA, se referenciarem nas outras demonstrações financeiras “(...) evitando-se

erros e retrabalho”.

Depreciação

Aqui se encontra um dos pontos mais polêmicos da Demonstração do

Valor Adicionado. A polêmica ocorre no tratamento a ser dado à depreciação dentro

da DVA.

Luca (1998, p. 38-39) e Santos (2003, p. 48-49) abordam as diferentes

interpretações para esta conta, destacando-se três vertentes: a primeira a

considera como parte do valor adicionado, defendendo não se tratar de um simples

elemento de custo, mas a constituição de um fundo, com a finalidade, principal, de

autofinanciamento. Esta corrente é defendida por entidade da França e do Reino

Unido (SANTOS 2003, p. 48).

Gray e Maunders citados por Cosenza (2003, 18), por sua vez, têm o

seguinte argumento:

Page 72: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

54

O problema de considerar a depreciação como uma distribuição é que os cálculos tradicionais de depreciação implicam na distribuição do custo dos ativos de acordo com os benefícios esperados durante sua vida útil. Tendo em vista o fato da rápida obsolescência dos produtos dependentes de tecnologia, surge o problema da valoração futura de tais bens e da subjetividade que os gestores determinarão para o mesmo.

A segunda considera a depreciação não como parte do valor adicionado,

mas sim como um valor a ser tratado a parte, como se apresenta no modelo

FIPECAFI mostrado nesse trabalho.

Aqui se argumenta, conforme Santos (2003, p.48), na diferença entre a

depreciação e os outros insumos adquiridos de terceiros, pois enquanto os insumos

normais no processo produtivo são consumidos em períodos curtos de tempo a

depreciação, representando o consumo de ativos fixos, ocorre em prazos mais

longos.

Quanto ao terceiro conceito, este define a depreciação como um item que

não deve fazer parte nem do cálculo nem da distribuição de valor adicionado.

Santos (2003, p. 48) acredita ser esta corrente a pior das três por não possuir

embasamento teórico.

Devido a sua imprecisão, Luca (1998, p. 39) e Santos (2003, p. 49)

concordam que há necessidade de revisão do cálculo da depreciação ao invés de

preocupar-se em refazer o seu conceito.

Com a apresentação das três formas de se considerar a depreciação,

acredita-se que a sua melhor definição na DVA seja a retenção de valor para

futuros reinvestimentos e ou outras destinações. E bem sabido que este valor

acaba se incluindo no giro cotidiano da empresa.

Provisões

Conceituada por FIPECAFI (2003, p 247) como sendo “a expectativa de

ganho ou perda em função de uma determinada situação de risco” e observando o

princípio do conservadorismo, são aquelas contingências passivas cuja

possibilidade de cálculo de seu valor, e cuja perda eminente deve ser registrada

contabilmente.

Luca (1998, p. 42-43) afirma, ainda, que em não se conhecendo tal valor, a

provisão deve ser deduzida do cálculo do valor adicionado.

Page 73: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

55

Resultados Negativos

Santos e Parmezzano (1999, p. 7) comentam da viabilidade de se divulgar

a DVA de uma empresa cujo resultado ao fim do exercício tenha sido prejuízo.

A publicação desta demonstração é, e continua sendo, muito importante.

Vale ressaltar que o fato de a empresa ter apresentado resultados negativos

(prejuízos), não significa não ter gerado e distribuído riquezas como a remuneração

do pessoal, o pagamento ao governo de tributos sobre as vendas e contribuições

sociais e a remuneração a credores pelo uso de capital de terceiros.

Leasing

Esta conta é outra em que seus aspectos conceituais se mostram bastante

conflitantes. O leasing é considerado uma forma de financiamento, no entanto, a

legislação brasileira o considera uma forma de aluguel sendo direcionado ao

resultado do exercício.

Santos (2003, p. 49) sugere que o leasing seja tratado de acordo com suas

peculiaridades, no qual o leasing operacional11 seria tratado como aluguel; já o

leasing financeiro12 seria contabilizado como o valor do bem adquirido; e a parte

correspondente aos juros de cada exercício contabilizada como a remuneração do

capital de terceiros que permitiu sua aquisição.

Ganhos Financeiros

Apesar de não terem origem na atividade normal da empresa (produção

e/ou venda de mercadorias/serviços), as receitas financeiras e o resultado de

equivalência patrimonial, boa parte das instituições insistem em inseri-las como

parte da riqueza gerada.

11 Leasing operacional: é aquele em que, normalmente, o arrendatário não é responsável pelas despesas com manutenção, e a opção de compra, em geral não é exercida, porque não existe contratualmente ou porque o preço é muito próximo ao do mercado. SANTOS (2003, p. 50) 12 Leasing Financeiro: é aquele no qual, normalmente, as despesas com manutenção ou assistência técnica são por conta da arrendatária e, na maioria das vezes, a opção de compra é exercida. SANTOS (2003, p. 50)

Page 74: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

56

Luca (1998, p. 42) sugere sua apresentação em separado “permitindo-se a

avaliação da riqueza gerada pela entidade em suas atividades operacionais

normais bem como a riqueza gerada pelos seus negócios totais”.

Subvenções

Cosenza (2003, p. 18) questiona a respeito de valores recebidos pela

empresa proveniente de entidades públicas, com o intuito de financiar a atividade

com interesses sociais decorrentes da atividade econômica.

Conclui-se que por se tratar de ajuda externa, não deve ser incluso no

cálculo do valor adicionado. Aquelas subvenções decorrentes de compensações

por perdas passadas, por exemplo, seriam compensadas em termos de informação

nos conceitos de valor adicionado bruto e líquido.

Ativos construídos na própria empresa

Para uma melhor compreensão, vale relembrar o entendimento simplificado

de valor adicionado: a empresa adquire materiais, contrata pessoal, paga juros para

financiar a estrutura etc. Posteriormente, tem-se a venda do imobilizado e a

geração da riqueza pela diferença entre os gastos incorridos na sua elaboração e o

valor da venda.

Santos e Parmezzano (1999, 7-11) levantam a possibilidade da empresa

fabricar o seu próprio imobilizado, para fins da elaboração da DVA. A primeira

alternativa sugerida por eles, seria o reconhecimento do valor do bem como receita

não operacional na sua conclusão, como se o bem fosse vendido à própria

empresa, e o valor da remuneração dos gastos mencionados apropriados na DVA

à medida que o bem vai sendo fabricado . A depreciação, por sua vez, terá o

tratamento normal com a ativação do bem no imobilizado.

A principal crítica apresentada por Santos e Parmezzano (1999, 10) é que

essa receita não poderá ser localizada na Demonstração do Resultado do

Exercício.

A segunda alternativa seria o reconhecimento dos gastos na fabricação do

bem nas efetivas contas de pessoal, juros, materiais durante a vida útil do bem, e

Page 75: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

57

não como depreciação. Essa seria usada apenas como referência para distribuir os

valores ao longo do tempo.

A dificuldade desse método é o controle paralelo para sua distribuição,

ressaltando-se existirem bens com mais de vinte anos de vida útil.

Depreciação de ativos reavaliados

O ponto de interrogação nesta situação é o aumento de valor de um item

do ativo imobilizado tangível por meio de reavaliação, não tendo havido a

movimentação de recursos ou aquisição de bens.

Nesta situação, caberá ajustes nos valores da depreciação, da reserva de

reavaliação que deverão sofrer ajustes, pois as informações, se baseadas apenas

na DRE, parafraseando Santos e Parmezzano (1999, p. 4), jamais identificariam

esta situação, pois se trata de transações ocorridas somente no balanço

patrimonial.

Com todas as dificuldades existentes quanto a melhor forma de se fazer

chegar às informações aos usuários, percebe-se um crescente número de

empresas desejando publicar a informação para atender a todo tipo de usuário,

sendo não obrigatória, e podendo, ainda, não estar regulamentada por alguma

legislação, conforme visualizou-se nas Tabelas 01 (p. 17) e 02 (p. 19) deste

trabalho.

Cosenza (2003, p.16) apresenta no Quadro 04, segundo ele, um

comparativo com os pontos positivos e negativos a serem contemplados no tocante

a DVA:

Page 76: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

58

QUADRO 04

Ponderações sobre a Demonstração do Valor Adicionado

Pontos Positivos Pontos Negativos

� Permite obter uma dupla visão da realidade

empresarial: econômica, relativa ao valor

gerado correspondente às rendas distribuídas.

� Possibilita desenvolver um efetivo sistema de

avaliação dos gestores e unidades.

� Tem uma linguagem aceita por todos os seus

destinatários, e que se faz compreensível ao

conhecimento de qualquer usuário.

� Reflete a lucratividade e a eficiência das

operações e atividade da companhia, como

também a evolução econômica em seu

conjunto.

� Fornece dados para tomada de decisão e o

sistema de controle de desempenho.

� Permite conhecer a contribuição econômica

da empresa para a renda nacional ou para o

seu ambiente econômico.

� Apresenta dificuldades de entendimento por

causa de sua não normatização.

� Pode levar à tomada de decisões incorretas

quanto à maximização do valor adicionado, em

lugar dos lucros.

� Está sujeita à incorporação de distorções

provocadas por sua subjetividade e forma

própria de estimativa.

� Pode motivar uma certa dificuldade na hora

de se realizarem análises de desempenho

empresarial no setor econômico a que a

companhia pertence.

� Necessita de informações contábeis

atualizadas e confiáveis, e, se possível,

auditadas.

� Pode ser demasiado trabalhoso em

ambientes de grandes incertezas e

complexidades monetárias, tributárias e

econômicas.

� É limitada para medir e informar a eficácia

alcançada na distribuição social de lucros

gerados.

Fonte COSENZA (2003, p. 16)

Pela exposição, notadamente há algumas dificuldades a serem trabalhadas

e adequação de vários pontos técnicos, passando a ter apenas uma interpretação:

Page 77: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

59

muito trabalho ainda deve ser feito, no sentido de tornar viável e desejável a

publicação da Demonstração do Valor Adicionado.

A geração da riqueza e as outras informações de aspecto social soam e

tornam relevante a presença de uma empresa em uma localidade.

Assim, ter-se-ia informação do quanto cada empresa contribui para a

riqueza gerada no município, e a DVA tornar-se-ia um ponto de partida para o

estudo quanto à atratividade de investimentos, observando-se todos os pontos

positivos e negativos desta instalação.

No próximo capítulo, apresentar-se-ão as demonstrações contábeis da

empresa Alfa e uma análise de seus dados sociais e da Demonstração do Valor

Adicionado com a expectativa de verificar a possibilidade de obtenção de

informações sociais a partir da publicação destes dados.

Com o foco na instalação de novos investimentos locais, discorrer-se-á,

também, a seguir sobre o contexto econômico da cidade de Uberaba e as

possibilidades de análise gerencial e econômica de um empreendimento, utilizando-

se não apenas as demonstrações contábeis convencionais, mas também a DVA.

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CAPÍTULO 4

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO E INFORMAÇÕES SOCI AIS

FONTE COMPLEMENTAR DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS

Apresenta-se a seguir a elaboração de alguns indicadores, possíveis de

serem obtidos com informações da DVA. Antes, porém, descreve-se a metodologia

utilizada na sua elaboração.

4.1 Metodologia utilizada

Quando se pensou no presente trabalho, tinha-se em mente a postura de

que algumas empresas, que mesmo sendo de grande porte, não possuíam a

obrigatoriedade de publicar suas demonstrações contábeis nem as suas

informações de aspecto social, ambiental e econômico.

O cerne do trabalho é a título de contribuição, a divulgação, por parte das

empresas, ainda que seja apenas dos dados sociais, por possuírem relevância

perante a comunidade.

Roclin (Ethos, 2006) menciona que “a responsabilidade social tem a ver

com maneira pela qual as organizações encaram seus valores, levando em conta

os valores da sociedade”. Mas como conciliar os interesses da entidade em ter

maior rentabilidade com os anseios da sociedade em conhecer a empresa instalada

em sua localidade? Como identificar, a partir de dados contábeis e financeiros, que

uma instituição com fins lucrativos, acaba por direta ou indiretamente promover a

distribuição de riqueza, contribuindo ainda para o desenvolvimento da localidade

onde está inserida?

A partir destas inquietações, buscou-se respondê-las, objetivando mostrar

a riqueza de informações e dados que podem ser extraídos das demonstrações

contábeis convencionais: Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do

Exercício e, também, da Demonstração do Valor Adicionado com sua análise e

interpretação.

Para a elaboração do trabalho, valeu-se da metodologia da Pesquisa-Ação.

A pesquisa-ação é entendida “como um tipo de pesquisa com base empírica que é

Page 79: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

61

concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução

de um problema individual ou coletivo (...)” (THIOLLENT, 2004, p. 14).

Richardson (2006, p. 01) ao ponderar, etimologicamente comenta, a

palavra, elucidando seu conceito passa a compreender que pesquisa-ação visa

produzir mudanças (ação) e compreensão (pesquisa).

Segundo Holanda e Riccio (2006, p 01),

Os problemas das organizações empresariais são mais voltados à aplicação do conhecimento. Conhecimento este, algumas vezes, oriundo das pesquisas básicas. No entanto, a aplicação do conhecimento não constitui simplesmente uma seqüência operacional da pesquisa de base. Esta aplicação reclama sua própria ciência: a ciência ação.

Desse modo, a pesquisa-ação permite análise e sugestão para um

problema ou situação real, sem, no entanto, perder a fundamentação teórica e

científica que embasa os resultados alcançados.

a) Contexto do trabalho

Este trabalho desenvolveu-se na cidade de Uberaba/MG, cidade, cuja

atratividade para os negócios tem sido mencionada em revistas de circulação

nacional como a Revista Exame.

b) A escolha da empresa tida como referência para o trabalho

A empresa Black & Decker do Brasil Ltda. foi escolhida, para referenciar

este trabalho, por se tratar de uma empresa diferente das outras instaladas no

município de Uberaba MG, e por não possuir vínculo direto ou indireto ao setor de

agro-negócio, possuindo ainda características de uma multinacional, e se

constituindo em um empreendimento de responsabilidade limitada.

Porém, ao se analisar o Anteprojeto da Lei 6.404/76, o Projeto de Lei 3.741

de 2.000 (Brasil, 2000), percebe-se o enquadramento de empresas como a Black &

Decker como empresas de grande porte, devido ao seu faturamento.

Nesse Projeto de Lei, um dos pontos polêmicos é a evidenciação

(publicação) das informações contábeis e das informações de aspectos sociais

como o Balanço Social e a Demonstração do Valor Adicionado.

Page 80: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

62

A escolha da empresa, como referência e inspiração ao objeto de estudo,

foi comunicada a sua diretoria na pessoa do senhor Carlos Alberto de Souza,

Diretor Financeiro, sendo a ele exposto em documento escrito o intuito do trabalho,

seguindo em anexo uma cópia do projeto da dissertação e, também, a necessidade

de informações e o seu fechamento com uma possível entrevista.

O Sr. Souza, no entanto, deixou claro que pelo fato de a empresa não ser

uma sociedade anônima, e sim uma empresa de responsabilidade limitada, alguns

elementos de caráter financeiro não poderiam ser apresentados por motivo de

sigilo, e por se tratar de um empreendimento desobrigado de publicação das

informações financeiras e sociais.

c) Objetivo do trabalho

Propõe-se, neste trabalho, um estudo vinculando-se informações e dados

empíricos à teoria sobre o Balanço Social e à Demonstração do Valor Adicionado.

A proposta é verificar se a simulação de dados de uma empresa-modelo

fictícia poderia, observando-se todas as regras de análise e formalidades de

pesquisa, com a divulgação de suas demonstrações financeiras fornecer elementos

para a análise de dados de aspectos sociais e de geração de valor.

Segundo Thiollent (2004, p. 18), a pesquisa-ação consiste em relacionar

dois tipos de objetivos: os objetivos práticos e os de conhecimento.

Com os objetivos práticos almeja-se contribuir para o melhor

equacionamento possível, auxiliando o agente na atividade de transformar a

situação, sem deixar de ter em mente que nem todos os problemas têm soluções a

curto prazo.

Já nos objetivos de conhecimento deseja-se, por meio de procedimentos,

aumentar o conhecimento de determinadas situações. Objetiva-se, neste trabalho,

mostrar a relação entre alguns indicadores de análise da Demonstração do Valor

Adicionado e do Balanço Sociais aqui mencionados e a realidade de um

empreendimento produtivo.

Busca-se, assim, relacionar alguns pontos da teoria sobre o Balanço Social

e a Demonstração do Valor Adicionado, e verificar se é possível obter-se

conclusões como a participação do colaborador na riqueza a ser gerada, e a ser

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63

distribuída aos fatores de produção, o custo-benefício de incentivos fiscais, entre

outras, a partir da relação de dados financeiros e gerenciais.

d) Procedimentos metodológicos

Primeiramente, foi realizado um questionário contendo questionamentos de

aspectos sociais da Black & Decker. Este questionário segue, descrito na íntegra

com suas respostas, em anexo, e algumas transcrições usadas no decorrer do

trabalho, para se fazer possível algumas análises e ponderações.

O questionário, aplicado sob a forma de uma entrevista, teve como

referência os quesitos básicos da estrutura do Balanço Social e da Demonstração

do Valor Adicionado apresentados por Tinoco (2001, p. 199, 235-236), Kroetz

(2000, p. 139-140) e Santos (2003 p. 39). O Sr. Souza, auxiliado por sua equipe,

discorreu sobre o conteúdo do questionário e dados adicionais, cuja relevância

acreditou merecer ponderação.

Além do questionário, conseguiu-se um informativo de desempenho da

empresa em estudo, fornecido com o intuito de contribuir com a identificação do

empreendimento e seu contexto operacional.

Em um segundo momento, foram elaborados o Balanço Patrimonial e a

Demonstração do Resultado do Exercício (Assaf Neto, 2002) e a Demonstração do

Valor Adicionado (Santos, 2003). Contudo, os dados apresentados nas

demonstrações financeiras não são efetivamente as informações da empresa, mas

uma adequação para o estudo, obedecendo todos os aspectos normativos para a

sua elaboração e divulgação. Essa empresa, a partir das demonstrações, será

denominada empresa Alfa.

Antes, porém, de expor as demonstrações contábeis e a ponderação dos

tópicos relevantes a este trabalho, segue-se de maneira sucinta a história da

localidade, Uberaba em Minas Gerais, onde está inserida a empresa Black &

Decker, a qual será situada em termos de seu contexto operacional.

Posteriormente, relacionar-se-ão as informações sociais reais coletadas

junto à empresa Black & Decker e às demonstrações financeiras da empresa Alfa,

para se verificar a possibilidade, com a divulgação (evidenciação) das informações

sociais, os stakeholders teriam à sua disposição, um volume maior de dados e

informações e se a empresa estaria (ou não) contribuindo para o social da

Page 82: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

64

comunidade - pessoas empregadas, melhoria da qualidade de vida, a participação

em projetos comunitários patrocinados pelas empresas, incentivo em se melhorar o

nível de formação dos colaboradores etc.

Faz-se, a seguir, uma breve menção a estrutura econômica e histórica da

cidade de Uberaba.

4.2 MUNICÍPIO DE UBERABA

A escolha do município de Uberaba como referência deste trabalho se

deve por ser uma cidade com características peculiares, como será mostrado a

seguir, com vantagens estruturais, no mínimo, atrativas para investimentos

produtivos.

4.2.1 Origens e trajetória histórica de Uberaba

Conforme menciona Casanova (2005), Uberaba tem sua origem na

ocupação do Triângulo Mineiro, que ficou sob a jurisdição de Goiás até 1816. A

cidade foi crescendo e as terras foram ocupadas, formando-se extensas

propriedades devido o baixo valor da terra e isenção de impostos sobre elas.

Em pouco tempo reuniu-se seleta população de agricultores, pecuaristas e

comerciantes e outras profissões, fato que viabilizou o Governo Provincial de Minas

Gerais a criar o Município de Santo Antônio de Uberaba em 1836.

A importância regional da Vila de Santo Antônio de Uberaba era tão

próspera que mereceu o título de Cidade, em 1856, tornando-se um importante

centro comercial, acentuada com a inauguração da Estrada de Ferro em 1889,

acontecimento facilitador da imigração européia para a cidade e do

desenvolvimento da pecuária zebuína (CASANOVA, 2005). A riqueza econômica

refletiu-se na estrutura urbana, onde surgiram requintadas construções de estilo

eclético.

No século XX, a cidade demonstrou um crescimento da agricultura, da

pecuária, da indústria e do comércio, atendendo às demandas nos aspectos

econômicos, culturais e de serviços essenciais à população (CASANOVA, 2005).

Hoje, Uberaba representa um centro comercial dinâmico, uma agricultura

produtiva, um parque industrial diversificado e uma planejada estrutura urbana.

Page 83: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

65

4.2.2 Perfil Sócio Econômico e Estratégico do Munic ípio de Uberaba

As informações a seguir delineadas tendem a contribuir para traçar um

perfil sobre a estrutura do município.

a) População e Suporte Educacional

Segundo o IBGE, em 2005 estimou-se para julho do mesmo ano, uma

população de 280.060 (duzentos e oitenta mil e sessenta) habitantes.

Com uma formação educacional contemplada por nove faculdades,

oferece, aproximadamente noventa e quatro cursos de graduação, e quarenta e

nove de pós-graduação (Lato Sensu e Stricto Sensu).

A formação de base oferecida pelo município se consolida com trinta e

quatro escolas municipais, com um corpo docente de um mil quinhentos e trinta

quatro professores (UBERABA, 2005).

b) Infra-estrutura

A infra-estrutura e a mensuração de alguns dados econômicos são

formados a partir dos números disponibilizados na Tabela 03, a seguir:

TABELA 03

Infra-estrutura do município de Uberaba

Características Informações em Percentual

Vias da cidade são pavimentadas 98%

Residências são abastecidas pela rede pública de água 99%

Residências são abastecidas pela rede de esgoto 98%

Casas urbanas são ligadas à rede elétrica da CEMIG 99,97%

Casas rurais são ligadas à rede elétrica da CEMIG 98,75%

Telefone para cada 2,5 habitantes 01

Veículo para cada 2,7 habitantes 01

Fonte: Adaptado de UBERABA (2005)

Acredita-se que esta infra-estrutura seja um fator de definição quando da

opção por se instalar no município, somando-se às outras características e aos

pontos positivos.

Page 84: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

66

c) Distritos Industriais

Conforme disposto pela Prefeitura Municipal (UBERABA, 2005), a cidade

possui três Distritos Industriais: ocupando 22 milhões de m² dotados de infra-

estrutura completa, incluindo fibra ótica.

Os Distritos I e II localizam-se às margens da Rodovia BR-050 e o Distrito

Industrial III, na fronteira entre o município e o Estado de São Paulo, às margens da

Via Anhanguera. No Distrito II serão implantados os Arranjos Produtivos

Organizados (APO): móveis e moda. A cidade de Uberaba está ligada às cidades

de São Paulo e Rio de Janeiro, totalmente em pista dupla.

d) Transporte Aéreo, Ferroviário e Fluvial

Em Uberaba está o entroncamento Norte/Sul e leste da FCA - Ferrovia

Centro Atlântica S.A., facilitando o escoamento de mercadorias para os principais

portos do País. Terminal Intermodal projetado para o Distrito II.

Duas empresas aéreas servem Uberaba: Total Linhas Aéreas e Pantanal

Linhas Aéreas Sul Matogrossenses S.A., a cidade conta com 11 vôos diários,

atendendo Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Araraquara e Uberlândia.

É a cidade mineira de porte médio mais próxima da Hidrovia do Mercosul.

e) Gás Natural

Há grande possibilidade de Uberaba ser contemplada com um ramal de

Gasoduto, com a perspectiva de agregar um pólo gás-químico ao Distrito III. Será a

primeira cidade do Triângulo Mineiro a ser alcançada pelo ramal do gasoduto

Brasil-Bolívia.

f) Porto Seco

As empresas de Uberaba e região contam, no Distrito Industrial II, com um

Porto Seco, um dos tipos de Estação Aduaneira de Interior (EADI), administrada

pela Empresa de Transportes Líder Ltda. A EADI é uma alfândega que oferece

serviços de desembaraço aduaneiro, entrepostagem, movimentação de contêineres

Page 85: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

67

e mercadorias em geral, destinadas à importação e à exportação, proporcionando

uma redução de cerca de 30% nos custos, se comparados às mesmas operações

realizadas nas alfândegas do litoral. A EADI, além da redução drástica nos prazos

de desembaraço, posterga pagamento de impostos, proporciona, ainda, um

tratamento personalizado às empresas usuárias. Entre os principais clientes estão a

FOSFERTIL, Black & Decker, Valmont, FMC, Bell Soft, Sauder, Uby Agroquímica,

SIPCAM Agro, Mac Alumínios entre outros. (UBERABA, 2005)

g) Localização Estratégica

Uberaba está eqüidistante 500 km de Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e

Goiânia, sendo o seu acesso possível por algumas das principais vias de acesso,

como se pode observar na FIGURA 2, a seguir:

FIGURA 02

Localização estratégica da cidade de Uberaba

Fonte: UBERABA (2005).

Page 86: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

68

Possivelmente para tomar a decisão inicial da escolha de uma cidade onde

se instalar, uma empresa leva em conta os fatores humanos, de localização, entre

outros. Para a sociedade, no entanto que receberá o empreendimento qual seria ou

quais seriam os empreendimentos produtivos mais atrativos e que poderiam

receber incentivos ou mesmo a estrutura básica de seu estabelecimento no

município?

Acredita ser, esta pergunta, o ponto de partida de uma situação na qual

não apenas o município será de grande valia para a empresa lhe oferecendo toda a

estrutura básica (vias de acesso pavimentadas, energia ao alcance, saneamento

básico, local para a sua instalação); mas, também para empresa em relação ao

município, gerando empregos, trazendo cultura e tecnologia, distribuindo riquezas

etc.

Segundo Furtado (1995, p 147), foi pensando exatamente nisso que a

empresa Black & Decker do Brasil analisou ao escolher Uberaba, no interior de

Minas, para sediar seus negócios.

Antes de verificar a riqueza informativa dos relatórios, sugere-se conhecer

o contexto operacional da Black & Decker com suas informações sociais,

financeiras e sócio-econômicas, que inspirou a realização desse trabalho.

4.3 Black & Decker – Contexto histórico e Operacion al

Segundo Black e Decker (2006), a empresa fundada em 1910, na cidade

de Towson, nos Estados Unidos da América do Norte, recebeu o nome de seus

fundadores S Duncan Black e Alonzo G Decker. Atualmente, a Black & Decker é a

maior corporação multinacional e líder mundial no setor de ferramentas elétricas,

seu principal segmento de atuação.

Presente no Brasil desde 1946, a Black & Decker destaca-se por sua

atuação e pelo desenvolvimento de produtos inovadores no ramo de ferramentas e

eletroportáteis. Ao se decidir por instalarem a segunda planta em Uberaba,

segundo Furtado (1995 p. 147), a empresa levou em consideração alguns fatores

peculiares e essenciais para o meio onde se instalaria a nova fábrica: transporte

acessível, mão-de-obra qualificada, infra-estrutura de telecomunicações, serviço de

atendimento médico-hospitalar, foram aspectos essenciais para a decisão de se

instalar na cidade.

Page 87: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

69

O Diretor Financeiro da empresa, por sua vez, cita que as pressões

constantes dos Sindicatos do ABC Paulista e a impossibilidade de se repassar os

expressivos custos de mão-de-obra para o preço final dos produtos contribuíram

para a saída definitiva de toda a estrutura produtiva e administrativa de São Paulo,

remanescendo ali apenas os escritórios de Vendas.

Com um leque diversificado de produtos de ferramentas de lazer (hobby),

industrial e de eletrodomésticos, a empresa tem alcançado resultados operacionais

positivos, decorrentes de constantes investimentos em inovações e

aperfeiçoamento tecnológico, além de um custo competitivo de mão-de-obra.

No Gráfico 01, mostrar-se-á a composição dos produtos e serviços da

Black e Decker no Faturamento de 2005, no qual percebe-se a participação

expressiva da venda de eletrodomésticos na composição da Receita da empresa,

característica, aliás, da empresa no país. Ou seja, a B & D - Brasil é a única da

organização em que prevalece a venda de eletrodomésticos, em relação à venda

de ferramentaria, carro chefe da empresa no restante do mundo.

GRÁFICO 01 Participação na Receita por área

Pariticipação do Faturamento por área - em 2005

59%18%

17%6%

Elertrodomesticos

Ferramentas Black & Decker (Hobby)

DeWalt

Acessórios, Peças e serviços

Fonte: Black e Decker (2006, p. 02).

Com a mudança da taxa cambial, a empresa tem se mostrado bastante

cautelosa quanto aos investimentos de curto prazo, optando por produtos

específicos e de desejo de consumo para o mercado latino-americano. Todavia, a

mesma mantém investimentos em todas as linhas de eletrodomésticos,

ferramentaria hobby e ferramentaria industrial, com o aperfeiçoamento de produtos

e desenvolvimento de laboratórios, reduzindo custos com a nacionalização de

Page 88: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

70

componentes e modernização do parque industrial. A empresa têm investido em

imédia US$ 4 milhões por ano. (BLACK & DECKER, 2006 p. 06).

Para os anos de 2006/2007, a B & D está lançando no mercado nacional a

linha de metais sanitários GEO by Black & Decker, que abrange acessórios de

lavatórios em geral, diversificando e se adaptando a um mercado cada vez mais

competitivo.

4.3.1 Aspectos quantitativos e qualitativos da empr esa

A B & D do Brasil, basicamente apresenta sua estrutura concentrada no

município de Uberaba, com escritórios de vendas distribuídos pelo país. Segue um

informativo sintético sobre a sua estrutura funcional, operacional e contábil,

menciona-se, porém, o fato de a empresa não efetuar demonstrativos com

informações de caráter sócio-ambiental.

a) Quantitativo de Pessoal

A partir do questionário (Anexo 01) é possível identificar algumas

informações de âmbito sócio-econômico: ela apresenta um quantitativo total de

1.085 funcionários em 2004 com uma redução, na composição de sua força de

trabalho, de 1,65%, resultando, em 2005, num total de 1.067 colaboradores.

Na estrutura total de colaboradores, a composição percentual se manteve

constante, conforme Análise Vertical do quadro de trabalhadores: tanto em 2004

quanto em 2005, ou seja, se mantiveram 83% de homens e 17% de mulheres.

Porém ao longo do ano a variação foi diferente, conforme se nota na TABELA 04:

TABELA 04

Número de funcionários na empresa por sexo

2005 AH AV 2005 AV 2004 2004 Homens 881 -2% 83% 83% 903 Mulheres 186 2% 17% 17% 182 Total 1067 -2% 100% 100% 1085

Fonte: Dados da Pesquisa·

Com os dados apresentados, foi possível perceber a redução do quadro de

pessoal, que foi compensada, posteriormente, em parte, pela contratação de

empregados do sexo feminino. A redução teve impacto maior sobre o número de

Page 89: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

71

homens, devido a diminuição desses empregados, que atuam em um volume

expressivo, no setor de produção.

Segundo, os dados coletados, a empresa trabalha com funcionários

temporários, mas não em uma proporção expressiva do total, devido às

especificidades do trabalho e as restrições impostas pela legislação trabalhista.

No Gráfico 02, faz-se a identificação da participação de pessoal temporário

e contratados por tempo indeterminado.

GRÁFICO 02 Fonte: Dados da Pesquisa.

Um outro dado importante no grupo de funcionários é o volume de pessoal

terceirizado, pois a empresa se vale de mão-de-obra contratada de terceiros para a

prestação de serviços.

A B & D utiliza pessoal terceirizado, mas nos suportes de segurança e

serviços gerais de apoio e conservação. No item C, do Anexo 01 do Questionário,

“se a empresa trabalha com empregados terceirizados”, percebeu-se a manutenção

do número de pessoas contratadas para determinadas funções, nessa modalidade

de mão-de-obra. Como a resposta sendo positiva, informou-se o número de

funcionários terceirizados, conforme Quadro 05:

Contratados porprazo

indeterminado

Temporários

8,5%

91,5%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

Regime de Contratação de Pessoal

Page 90: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

72

QUADRO 05

Número de funcionários Terceirizados

Ano de Referência Quantidade. Em 2004 15 Em 2005 15

Fonte: Dados da Pesquisa

Ainda, analisando a força de trabalho da empresa Black & Decker, tem-se

a distribuição do quadro de pessoal, de acordo com a faixa etária. Estes dados

permitem, se analisados de modo macro, verificar o desejo das empresas por

profissionais de determinada idade e, também, a faixa dos trabalhadores

atualmente em atividade.

GRÁFICO 03

Fonte: Dados da Pesquisa.

Conforme se visualiza no Gráfico 03, estas informações são relevantes no

sentido de identificar-se às tendências do mercado quanto a demanda por

profissionais. Existem comentários, nos quais se fala que profissionais acima de

determinada faixa etária já estão velhos para o mercado.

b) Qualificação profissional

Uma das informações de grande relevância para a empresa e para a

sociedade é o perfil e a qualificação do profissional que faz parte de seu quadro

operacional.

Faixa etária dos empregados da Black & Decker

358 347

169 174

37 36

171167

341352

0

100

200

300

400

18 a 25anos

26 a 33anos

34 a 39anos

40 a 47anos

Acima 48anos

Faixa etária

nº d

e em

preg

ados

2004

2005

Page 91: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

73

As atividades rotineiras e as metas a serem alcançadas, assim como a

qualidade e o bom atendimento dos clientes são influenciados pelo nível de

qualificação e formação dos profissionais em atividade no empreendimento.

GRÁFICO 04

Fonte: Dados da Pesquisa.

Por esse grupo de informações é possível identificar o nível de formação

dos profissionais empregados na empresa. Na B & D constata-se, por exemplo, a

inexistência de funcionários sem alfabetização, e na outra ponta um percentual

superior a 20% está passando ou já passou pelas salas de aula da universidade.

A motivação, em decorrência de promoções e ascensão profissional

interna, tem sido um fator motivador para que os trabalhadores, mesmo com alguns

anos de empresa, retomem os estudos e se esforcem em adquirir novos

conhecimentos e diversificação, e por que não, de experiências.

No entanto, quando se fala em qualificação e formação de conhecimentos,

é de conhecimento público as dificuldades encontradas pelos colaboradores no

sentido de honrarem os pagamentos de um curso de graduação ou especialização.

À medida que as autoridades governamentais não conseguem atender aos desejos

das empresas por mão-de-obra qualificada, cabe a própria empresa tentar motivar,

por meio de subsídios e incentivos (sob a forma de remuneração), os colaboradores

a buscarem sua qualificação, seja em salas de aulas convencionais, seja

treinamentos em cursos profissionalizantes.

No Quadro 06, tem-se alguns dos subsídios oferecidos com a finalidade de

formação de seus colaboradores. Esses benefícios, apesar de terem conotação de

Nível de formação dos funcionários da Black & Decker

421

143267

11486

6030 Analfabeto

Primeiro Grau incompleto

Primeiro Grau Completo

Segundo Grau Incompleto

Segundo Grau Completo

Curso Superior Incompleto

Curso Superior

Pós Graduação

Page 92: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

74

despesas para os empreendimentos, podem ser considerados investimentos e, em

uma linguagem mais atual, contribuição para a formação do capital intelectual da

empresa.

QUADRO 06

Programas de incentivo à formação do profissional:

Benefícios

Executa

Curso e Treinamento Profissional (reciclagem)*13

( x ) sim ( ) não

Programas de bolsa de Estudos – Ensino Médio / Graduação

( x ) sim ( ) não

Programas de bolsa de Estudos – MBA e especializações

( x ) sim ( ) não

Cursos de Línguas

( ) sim ( x ) não

Cursos e treinamentos na empresa.

( x ) sim ( ) não

Fonte: Dados da Pesquisa 4.3.2 Benefícios Sociais

Os benefícios sociais também fazem parte das informações de caráter

social, pois nestas verifica-se a contribuição dos empreendimentos para as

condições de bem-estar de seus colaboradores e, em algumas situações como

patrocínio a esportes, eventos culturais etc., para a sociedade a sua volta.

Tem-se, também, a partir do momento em que estas relações ocorrem, o

surgimento de uma relação de fidelidade, devoção, esforço e desejo de

perpetuidade da existência da empresa e de seus benefícios.

Estes podem ser denominados de resultados positivos, pois de certa forma,

compensam o meio social pela existência da empresa em sua proximidade.

No Quadro 07, verificam-se os benefícios concedidos aos colaboradores e,

também à sociedade. Ressalta-se, na medida do possível em que se possam

publicar informações sobre o montante dos recursos destinados a estes benefícios,

uma melhor análise pode ser obtida.

13 * voltados para a atividade cotidiana do funcionário, em instituições profissionalizantes fora da empresa.

Page 93: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

75

QUADRO 07

Benefícios Sociais

Benefícios

Executa

Auxílio Alimentação

( x ) sim ( ) não

Alimentação servida na empresa

( x ) sim ( ) não

Auxílio Transporte

( x ) sim ( ) não

Transporte oferecido pela empresa

( ) sim ( x ) não

Auxílio habitação

( ) sim ( x ) não

Auxílio Creche

( ) sim ( x ) não

Plano de Saúde

( ) sim ( x ) não

Incentivo ao esporte (na empresa)

( x ) sim ( ) não

Incentivo ao esporte (a entidades externas a empresa)

( x ) sim ( ) não

Incentivos a atividades culturais (na empresa)

( ) sim ( x ) não

Incentivos a atividades culturais (externas a empresa)

( ) sim ( x ) não

Fonte: Dados da Pesquisa Verifica-se a preocupação da empresa em oferecer benefícios com a finalidade de

se ter condições básicas de trabalho, além de motivar a prática esportiva por parte

dos colaboradores e da comunidade.

4.3.3 Informações e Projetos ambientais

Apesar de não ser o foco deste trabalho, poder-se-ia obter, ainda

informações ambientais, os custos e ativos da empresa, também com a finalidade

de se mensurar as relações de custos (poluição das águas, ar, geração de

resíduos, ruídos etc.) - benefícios (conscientização da importância do ambiente,

coleta seletiva, tratamento e reavaliação das águas etc.), os valores incidentes e a

preocupação da empresa para com o meio ambiente.

No caso da empresa pesquisada, não existem projetos ambientais por não

possuírem processos poluidores, conforme informado na última parte do Anexo 1.

Page 94: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

76

4.4. As Demonstrações Financeiras

Com a identificação das informações sociais de uma empresa real, no caso

a Black & Decker, seguem as informações da empresa Alfa, para verificar-se a

possibilidade de correlacioná-las com as informações financeiras tradicionais e,

então, se obter um volume de informações econômicas, sociais e financeiras

adicionais a partir dessa confrontação.

Neste arcabouço de dados, a finalidade é atender aos mais diversos tipos

de usuários: desde aqueles agentes econômicos desejosos de trabalhar em uma

empresa com benefícios e bônus, por exemplo, atraentes, até mesmo autoridades

governamentais com a finalidade de avaliar os empreendimentos que se instalarem

em sua jurisdição e os efeitos sociais, econômicos e ambientais, advindos em

função desta instalação.

Seguem as Demonstrações Contábeis (Balanço Patrimonial e

Demonstração do Resultado do Exercício), referentes a três exercícios sociais e

informações adicionais (no caso a Demonstração do Valor Adicionado) sobre a

empresa Alfa, com a finalidade de se visualizar a empresa e sua organização

econômico-financeira, e posteriormente, os seus reflexos sociais, com a finalidade

de se verificar a possibilidade informativa da relação informações financeiras e

sociais.

4.4.1 A empresa Alfa

Com a finalidade de se elaborar uma análise coerente a respeito das

informações contábeis foram elaborados os demonstrativos financeiros da empresa

Alfa. Essas informações apresentam-se interligadas, ou seja, vinculadas à

demonstração do resultado para o balanço e a partir dessas duas para o valor

adicionado.

Desse modo, Thiollent (2004, p. 35) argumenta que:

(...) pensamos que é perfeitamente viável a flexibilização do raciocínio hipotético de acordo com a qual a hipótese é uma suposição criativa que é capaz de nortear a pesquisa inclusive nos seus aspectos qualitativos. As hipóteses qualitativas orientam, em particular, a busca de informação pertinente e as argumentações necessárias.

Page 95: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

77

O modelo exposto como objeto de análise segue todas as regras

apresentadas na Lei 6.404/76, conseguindo reproduzir de modo coeso a estrutura

patrimonial e de desempenho de uma empresa real.

Lopes de Sá (s.d., p. 09), cometa a esse respeito:

(...) o desempenho de um sistema de funções patrimoniais, espelhado em

um modelo científico (teórico ou quantificado), deve estar definido em

termos de interações (relacionamentos recíprocos); quer entre seus

específicos componentes, quer em relação a outros sistemas (...) ainda

que a ótica comparativa possa variar, os aspecto diversificarem, o

importante é preservar uma ótica analógica ao do patrimônio com o

universo.

Hendriksen e Van Breda (1999, p. 80) comentam que um pronunciamento

do FASB14 , no seu SFAC15 nº 02, afirma que a contabilidade tem como objetivo

fornecer informações úteis para a tomada de decisões e para que isso ocorra

diversos objetivos qualitativos devem ser atingidos, como : a informação deve ser

relevante, compreensível, oportuna etc.

Em uma escala quantitativa menor, os demonstrativos não têm a pretensão

de se assemelhar em termos de valor com qualquer empresa real, mas a sua

estrutura qualitativa em termos de dados e estrutura organizada seguindo todos os

preceitos tem sim o intuito de fornecer a qualquer instante um informe sobre itens

que compõe o patrimônio, o resultado e o valor adicionado.

Parafraseando Lopes de Sá, (sd, p 09), interessa conhecer o que se passa

no agregado e nas relações, ou seja, dispostos os informativos, estudar-se-á se as

referidas informações poderiam contribuir de maneira informativa sobre a empresa

e sua estrutura social.

Thiollent (2004, p. 21), por sua vez, menciona:

Hoje em dia não existe um padrão de cientificidade universalmente aceito

nas ciências sociais. (...) o empiricismo, que prevalece na literatura do

mundo anglo-saxão, são contestadas até mesmo nos seus centros de

origem. Podemos optar por instrumentos de pesquisa não aceitos pela

maioria dos pesquisadores de rígida formação, sem por isso abandonar a

preocupação científica.

14 Financial Accounting Standards Board – Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira. Hendriksen e Van Breda (1999, p. 80) 15 Statement of Financial Accouting Concept – Pronunciamento de Conceitos de Contabilidade Financeira. Hendriksen e Van Breda (1999, p. 80)

Page 96: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

78

Assim, deseja-se com a empresa-modelo Alfa, relacionar os dados sociais

de qualquer empresa, neste trabalho os da empresa Black & Decker, com as

informações contidas nas demonstrações financeiras, mostradas a seguir. O intuito

é tentar mostrar que uma empresa seguindo os preceitos legais de Contabilidade

pode, com as informações sociais, ter um leque adicional de dados informativos,

tanto para os usuários internos como para os externos.

Uma observação relevante se faz necessária quanto aos números

dispostos nas Demonstrações Contábeis: apesar de serem números aleatórios,

fictícios, os valores possuem relação direta de uma demonstração para outra, como

por exemplo, as reservas de lucro provisionadas na DRE, são os valores dispostos

no Balanço Patrimonial e que influenciarão o capital próprio da empresa. Desse

modo, os valores utilizados para elaborar a Demonstração do Valor Adicionado,

como a Receita Bruta se originou da DRE da própria empresa Alfa, e assim por

diante.

Lopes de Sá (2007, p. 13) menciona que os modelos científicos

quantitativos são peculiares, só se aplicando a uma específica empresa ou

instituição, em um lugar certo e em um determinado tempo.

Assim, o que se deseja com a apresentação dessa estrutura financeira é

espelhar a realidade de um empreendimento em funcionamento, com valores

aleatórios, mas com uma inter-relação desses valores nas demonstrações.

A seguir o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado e

Demonstração do Valor Adicionado da empresa Alfa.

Page 97: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

79

Balanço Patrimonial

Empresa: ALFA Ltda.

ATIVO

2005 2004 2003 ATIVO CIRCULANTE R$ 2.799.128,00 R$ 1.754.710,00 R$ 1.558.964,00

DISPONIVEL R$ 65.200,00 R$ 183.796,00 R$ 148.210,00

APLICAÇÃO FINANCEIRA R$ 568.912,00 R$ 285.347,00 R$ 155.431,00

CLIENTES R$ 1.424.238,00 R$ 898.374,00 R$ 521.539,00

P.D.D. R$ (37.848,00) R$ (29.205,00) R$ (19.558,00)

DUPLICATAS DESCONTADAS R$ (48.209,00) R$ (146.973,00) R$ (112.203,00)

ESTOQUE MERCADORIAS R$ 524.873,00 R$ 321.341,00 R$ 605.545,00

ADIANTAMENTO A FORNECEDORES R$ 249.621,00 R$ 198.836,00 R$ 216.428,00

DESPESAS ANTECIPADAS R$ 52.341,00 R$ 43.194,00 R$ 43.572,00

ATIVO PERMANENTE R$ 1.319.812,00 R$ 1.231.813,00 R$ 465.950,00

INVESTIMENTOS

PARTICIPAÇÃO EM OUTRAS EMPRESAS R$ 163.405,00 R$ 132.390,00 R$ 102.693,00

IMOBILIZADO R$ 1.156.407,00 R$ 1.099.423,00 R$ 363.257,00

VEÍCULOS R$ 185.326,00 R$ 308.963,00 R$ 35.500,00

COMPUTADORES E PERIFÉRICOS R$ 146.628,00 R$ 98.450,00 R$ 42.120,00

MOVEIS E UTENSILIOS R$ 158.522,00 R$ 218.192,00 R$ 43.486,00

MAQUINAS E EQUIPAMENTOS R$ 566.402,00 R$ 372.847,00 R$ 167.625,00

INSTALAÇÕES R$ 178.090,00 R$ 147.806,00 R$ 109.500,00

DEPREC. ACUM. R$ (78.561,00) R$ (46.835,00) R$ (34.974,00)

TOTAL ATIVO R$ 4.118.940,00 R$ 2.986.523,00 R$ 2.024.914,00

PASSIVO 2005 2004 2003

PASSIVO CIRCULANTE R$ 1.575.436,00 R$ 1.400.138,00 R$ 1.187.323,00

FORNCEDORES R$ 517.315,00 R$ 465.123,00 R$ 254.789,00

IMPOSTOS A RECOLHER R$ 82.548,00 R$ 68.452,00 R$ 36.891,00

ADIANTAMENTO DE CLIENTES R$ 45.963,00 R$ 21.697,00 R$ 14.892,00

SALÁRIOS A PAGAR R$ 32.015,00 R$ 23.604,00 R$ 15.380,00

ENCARGOS SOCIAIS R$ 12.166,00 R$ 9.442,00 R$ 5.383,00

IMP DE RENDA E CONT SOCIAL R$ 296.119,00 R$ 209.695,00 R$ 110.491,00

DIVIDENDOS A PAGAR R$ 374.279,00 R$ 204.113,00 R$ 88.172,00

EMPRÉST.BANCÁRIOS PGR R$ 215.031,00 R$ 398.012,00 R$ 661.325,00

PASSIVO E LONGO PRAZO

FINANCIAMENTO A L PRAZO R$ 972.437,00 R$ 398.745,00 R$ 169.875,00

PATRIMÔNIO LÍQUIDO R$ 1.571.067,00 R$ 1.187.640,00 R$ 667.716,00

CAPITAL SOCIAL R$ 889.781,00 R$ 553.968,00 R$ 356.000,00

RESERVA LEGAL R$ 46.885,00 R$ 33.202,00 R$ 17.494,00

RESERVA ESTATUTÁRIA R$ 187.541,00 R$ 182.611,00 R$ 80.474,00

LUCROS ACUMULADOS R$ 446.860,00 R$ 417.859,00 R$ 213.748,00

TOTAL PASSIVO R$ 4.118.940,00 R$ 2.986.523,00 R$ 2.024.914,00

Fonte: Adaptado de ASSAF NETO (2002, p. 110)

Page 98: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

80

Demonstração do Resultado do Exercício (D.R.E.) 2005 2004 2003

FATURAMENTO BRUTO R$ 2.712.356,00 R$ 1.981.434,00 R$ 1.206.340,00

(-) IPI R$ (60.645,00) R$ (44.186,00) R$ (30.659,00)

RECEITA OPERACIONAL BRUTA R$ 2.651.711,00 R$ 1.937.248,00 R$ 1.175.681,00

(-) Impostos sobre vendas R$ (294.112,00) R$ (248.236,00) R$ (144.761,00)

(=)RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA R$ 2.357.599,00 R$ 1.689.012,00 R$ 1.030.920,00

(-) Custo de Mercadorias Vendidas R$ (800.145,00) R$ (586.504,00) R$ (331.743,00)

LUCRO BRUTO R$ 1.557.454,00 R$ 1.102.508,00 R$ 699.177,00

(-) Despesas c/ vendas R$ (218.963,00) R$ (143.220,00) R$ (123.421,00)

(-) Despesas administrativas R$ (141.997,00) R$ (108.326,00) R$ (89.478,00)

(-) Despesas Financeiras R$ (75.548,00) R$ (81.065,00) R$ (74.693,00)

(+) Receitas Financeiras R$ 112.638,00 R$ 61.865,00 R$ 51.369,00

(-) Outras despesas Operacionais R$ (39.490,00) R$ (13.270,00) R$ (12.987,00)

(+/-) Resultado de equivalência patrimonial R$ 31.015,00 R$ 29.697,00 R$ 17.693,00

(=)LUCRO OPERACIONAL R$ 1.225.109,00 R$ 848.189,00 R$ 467.660,00

(+) Receitas não operacionais R$ 22.069,00 R$ 34.895,00 R$ 21.465,00

(-) Despesas não operacionais R$ (13.353,00) R$ (49.352,00) R$ (28.746,00)

(=) RESULTADO ANTES DO IR E CONT SOCIAL R$ 1.233.825,00 R$ 833.732,00 R$ 460.379,00

(-) Contribuição Social R$ (111.045,00) R$ (78.635,00) R$ (41.434,00)

(-) Impostos de Renda R$ (185.074,00) R$ (131.060,00) R$ (69.057,00)

(=) RESULTADO ANTES DAS RESERVAS R$ 937.706,00 R$ 624.037,00 R$ 349.888,00

(-) Reserva Legal R$ (46.885,00) R$ (33.202,00) R$ (17.494,00)

(-) Reserva Estatutária R$ (187.541,00) R$ (182.611,00) R$ (80.474,00)

(=) RESULTADO ANTES DOS DIVIDENDOS R$ 703.280,00 R$ 408.224,00 R$ 251.920,00

(-) Dividendos propostos R$ (246.148,00) R$ (183.701,00) R$ (75.576,00)

(-) Participação dos empregados R$ (28.131,00) R$ (20.412,00) R$ (12.596,00)

(=)LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO R$ 429.001,00 R$ 204.111,00 R$ 163.748,00

Fonte: Adaptado de ASSAF NETO (2002, p. 111)

Page 99: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

81

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Empresa: Alfa Ltda.

Descrição 2005 2004 2003

1. RECEITAS

R$ 2.696.577,00

R$ 1.993.124,00

R$ 1.208.247,00

1.1 Vendas de mercadorias, produtos e serviços

R$ 2.712.356,00

R$ 1.981.434,00

R$ 1.206.340,00

1.2 Provisão para devedores duvidosos

R$ (37.848,00)

R$ (23.205,00)

R$ (19.558,00)

1.3 Não operacionais

R$ 22.069,00

R$ 34.895,00

R$ 21.465,00

2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS

R$ 731.594,00

R$ 551.271,00

R$ 361.552,00

(inclui os valores dos impostos – ICMS e IPI) 2.1 Matérias primas consumidas

R$ 271.220,00

R$ 198.804,00

R$ 112.449,00

2.2 Custo das Mercadorias e serviços consumidos

R$ -

R$ -

R$ -

2.3 Materiais, energia, serviços de terceiros e outros

R$ 460.374,00

R$ 352.467,00

R$ 249.103,00

2.4 Perda / Recuperação de valores ativos

R$ -

R$ -

R$ -

3. VALOR ADICIONADO BRUTO (1 – 2)

R$ 1.964.983,00

R$ 1.441.853,00

R$ 846.695,00

4. RETENÇOES

R$ 31.726,00

R$ 17.861,00

R$ 10.991,00

4.1 Depreciação, amortização e exaustão

R$ 31.726,00

R$ 17.861,00

R$ 10.991,00

5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3 – 4)

R$ 1.933.257,00

R$ 1.423.992,00

R$ 835.704,00

6 VALOR RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA

R$ 143.653,00

R$ 91.562,00

R$ 69.062,00

6.1 Resultado de Equivalência Patrimonial

R$ 31.015,00

R$ 29.697,00

R$ 17.693,00

6.2 Receitas financeiras

R$ 112.638,00

R$ 61.865,00

R$ 51.369,00

7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5 + 6)

R$ 2.076.910,00

R$ 1.515.554,00

R$ 904.766,00

8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO

R$ 2.076.910,00

R$ 1.515.554,00

R$ 904.766,00

8.1 Pessoal e Encargos

R$ 355.923,00

R$ 265.476,00

R$ 165.961,00

8.2 Impostos, Taxas e Contribuições

R$ 698.267,00

R$ 537.466,00

R$ 308.007,00

8.3 Juros e Aluguéis

R$ 85.014,00

R$ 88.575,00

R$ 80.910,00

8.4 Juros sobre Capital Próprio e Dividendos

R$ 274.279,00

R$ 204.113,00

R$ 88.172,00

8.5 Lucros retidos / prejuízo do exercício

R$ 663.427,00

R$ 419.924,00

R$ 261.716,00

Fonte: Adaptado de ASSAF NETO (2002, p. 111-112) e SANTOS (2003, p. 62)

Conhecendo-se as informações financeiras e a Demonstração do Valor

Adicionado e, ainda, algumas informações sociais disponibilizadas, tentar-se-á, a

seguir, expor a identificação dos dados sobre a distribuição da riqueza e a

importância da DVA como uma fonte de informação adicional. A análise dos itens

pode ser utilizada, não apenas para a tomada de decisão dos gestores, mas

também para o fomento de investimentos em uma determinada localidade, em um

município, por exemplo.

Page 100: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

82

4.4.2 Análise e interpretação de algumas informaçõe s sociais na

Demonstração do Valor Adicionado

Desde o início deste trabalho, a proposta delineada foi o conhecimento da

informação e mais a real importância de um empreendimento produto para o meio

social onde está localizado.

Dessa forma, será desenvolvido na seqüência a elaboração de indicadores

obtidos por meio das demonstrações contábeis anteriormente elaboradas.

a. Análise Horizontal

A Análise Horizontal permite o entendimento da evolução histórica dos

dados analisados em questão. Avaliando-se os números obtidos na DVA, tem-se o

quanto da riqueza gerada evoluiu ao longo do tempo para remunerar os fatores de

produção especificados.

Observando-se os dados na Tabela 05, tem-se a noção do quanto estes

dados podem contribuir para análise do empreendimento e sua relevância no

contexto econômico e social da empresa em relação à sociedade.

Tabela 05

A evolução temporal dos fatores de produção

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

Empresa: Alfa Ltda

Descrição

2005 AH %

2004 AH%

2003 8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO

R$ 2.076.910,00

37%

R$ 1.515.554,00

68%

R$ 904.766,00

8.1 Pessoal e Encargos

R$ 355.923,00

34%

R$ 265.476,00

60%

R$ 165.961,00

8.2 Impostos, Taxas e Contribuições

R$ 698.267,00

30%

R$ 537.466,00

74%

R$ 308.007,00

8.3 Juros e Aluguéis

R$ 85.014,00

-4%

R$ 88.575,00

9%

R$ 80.910,00

8.4 Juros sobre Capital Próprio e Dividendos

R$ 274.279,00

34%

R$ 204.113,00

131%

R$ 88.172,00

8.5 Lucros retidos / prejuízo do exercício

R$ 663.427,00

58%

R$ 419.924,00

60%

R$ 261.716,00

Fonte: Dados da Pesquisa.

Cita-se, por exemplo, a participação da riqueza distribuída a título de

pessoal e as remunerações daí decorrentes, a sua elevação e a injeção destes

recursos no meio econômico a sua volta. Acredita-se, assim, que estejam

Page 101: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

83

contribuindo com a demanda por produtos e serviços e com o processo de

crescimento econômico.

b. Quociente entre Gastos com Pessoal e Valor Adici onado

Utilizando este indicador, tem-se o quanto da parcela gerada pela empresa

foi repassada aos trabalhadores.

Relação percentual dos Gastos com Pessoal na = DVA

2005 % 2004 % 2003 % Pessoal e Encargos

R$ 355.923,00

17%

R$ 265.476,00

18%

R$ 165.961,00

18%

Distribuição do Valor Adicionado R$ 2.076.910,00 R$ 1.515.554,00 R$ 904.766,00

Os índices encontrados permitem verificar que, mesmo havendo uma

variação crescente no Valor Adicionado a ser distribuído, a proporção da

remuneração de pessoal se manteve praticamente constante.

Para os colaboradores, de um modo geral, é importante a análise deste

dado, possibilitando a seguinte percepção: aumenta a riqueza a ser distribuída,

aumenta a remuneração, ou ainda, se o valor a eles atribuído está sendo reduzido

em função de outro fator de produção.

c. Quociente entre gastos com Tributos (Impostos, T axas e Contribuições) e

Valor Adicionado

Este indicador é de grande interesse para as autoridades governamentais,

pois demonstra a parcela da riqueza destinada aos cofres públicos.

Relação percentual dos Gastos com Tributos na = DVA

Gastos com Pessoal Valor Adicionado

x 100

Gastos com Tributos Valor Adicionado

x 100

Page 102: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

84

2005 % 2004 % 2003 % Impostos, Taxas e Contribuições

R$ 698.267,00

34%

R$ 537.466,00

35%

R$ 308.007,00

34%

Distribuição do Valor Adicionado R$ 2.076.910,00 R$ 1.515.554,00 R$ 904.766,00

Uma das informações de grande relevância é sobre a participação dos

impostos na produção: os dados devem ser usados para a reflexão no sentido de

planejamento pela empresa em busca de benefícios fiscais, por exemplo, e as

autoridades governamentais sobre o volume de arrecadação e o ônus incidente

sobre a cadeia produtiva.

No caso dos dados analisados, percebe-se a destinação de praticamente

1/3 da riqueza gerada sendo destinada aos cofres públicos Federal, Estaduais e

Municipais.

d. Quociente entre Gastos com Juros e Aluguéis e Va lor Adicionado

Aqui se identifica o quanto da riqueza se destina a remunerar os detentores

de capital de terceiros, sejam sob a forma de empréstimos ou ativos fixos.

Relação percentual dos Gastos com Remuneração = De Terceiros na DVA

2005 % 2004 % 2003 %

Juros e Aluguéis R$ 85.014,00

4%

R$ 88.575,00

6%

R$ 80.910,00

9%

Distribuição do Valor Adicionado R$ 2.076.910,00 R$ 1.515.554,00 R$ 904.766,00

Com a separação das fontes de financiamento entre terceiros e próprio,

pode-se identificar o quanto da riqueza gerada foi distribuída ao capital externo da

empresa.

No caso da empresa Alfa, percebe-se uma redução de capital oneroso

(financiamentos e empréstimos) no decorrer dos anos de 9% para 6% e depois

para 4%. Isto pode estar acontecendo não por desaceleração da produção, mas em

decorrência do uso de passivos operacionais (fornecedores, impostos, salários),

cujo custo é menor, no financiamento dos ativos.

Juros e Aluguéis Valor Adicionado

x 100

Page 103: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

85

e. Quocientes de Juros s/ Capital Próprio e Dividen dos e Valor Adicionado

Neste ponto, tem-se a transferência da riqueza aos sócios e acionistas do

empreendimento, tornando-se uma alternativa de analisar a rentabilidade dos

valores atribuídos aos detentores do capital do próprio.

Relação percentual da Remuneração do Capital = Próprio na DVA

2005 % 2004 % 2003 %

Juros s/ Capital Próprio e Dividendos

R$ 274.279,00

13%

R$ 204.113,00

13%

R$ 88.172,00

10%

Distribuição do Valor Adicionado R$ 2.076.910,00 R$ 1.515.554,00 R$ 904.766,00

Como já definido anteriormente, este indicador mostra a remuneração do

acionista e a sua evolução temporal em comparação com a receita gerada. Esta

informação pode se constituir num atrativo junto ao mercado para captação de

investimentos e participações acionárias, pois nada mais justo do que remunerar o

capital interno, como ocorre com o capital de terceiros.

No caso da empresa Alfa, aqui analisada, seus percentuais de

remuneração pelo uso do capital estão em ascensão, pois mesmo quando houve a

manutenção dos valores percentuais, os valores monetários se expandiram.

f. Quocientes de Lucros Retidos e Prejuízo do Exerc ício Valor Adicionado

Nos valores retidos, por sua vez, pode-se estar tendo as informações sobre

a reaplicação de valores no próprio investimento e, entre outras, com a finalidade

de garantir a continuidade do empreendimento produtivo.

Relação percentual do Lucro Retido na DVA

Juros s/ Capital Próprio e Dividendos Valor Adicionado

x 100

Lucros Retidos /Prejuízo do Exercício Valor Adicionado

x 100 =

Page 104: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

86

2005 % 2004 % 2003 % Lucros retidos / prejuízo do exercício

R$ 663.427,00

32%

R$ 419.924,00

28%

R$ 261.716,00

29%

Distribuição do Valor Adicionado R$ 2.076.910,00 R$ 1.515.554,00 R$ 904.766,00

Na empresa analisada, mantém-se quase em um mesmo patamar em

termos de índices percentuais, no tocante a parcela de retenção de riqueza,

pensando-se, assim, na continuidade da empresa. Sendo uma empresa de um

setor de produtos elétricos, requerendo seus produtos constante aperfeiçoamento,

tem-se aí uma explicação para a retenção desses valores.

Pode-se avaliar a preocupação dos gestores e diretores do

empreendimento em seu planejamento de reinvestir recursos e evitar, por exemplo,

descapitalizar a estrutura.

g. Quociente do Valor Adicionado

Comparativamente, este indicador estará mostrando a riqueza gerada a

partir do volume das vendas.

Taxa de Valor Adicionado Bruto

2005 %

2004 %

2003 % Valor Adicionado Bruto

$ 1.964.983,00

72

R$ 1.441.853,00

73

R$ 846.695,00

70 Vendas de Mercadorias e Serviços

R$ 2.712.356,00

R$ 1.981.434,00

R$ 1.206.340,00

Analisando, pode-se perceber o quanto gera de riqueza a partir da receita

bruta de uma determinada empresa, segmento, setor etc. A empresa Alfa tem a

riqueza gerada total de aproximadamente 72% a partir da sua receita bruta. Vale a

pena lembrar a necessidade de comparação com outras empresas do setor.

Valor Adicionado Bruto Venda de Mercadorias e ou Serviços

x 100 =

Page 105: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

87

h. Taxa de variação do Valor Adicionado Bruto

Este indicador mede a taxa de incremento ou de redução do Valor

Adicionado Bruto, de um período em relação a outro. Tem se, aqui, uma análise

dos dados ao longo do tempo.

Taxa de Valor Adicionado Bruto

Valor Adicionado Bruto 2004 1.441.853,00 70% Valor Adicionado Bruto 2003 846.695,00 Valor Adicionado Bruto 2005 1.964.983,00 36% Valor Adicionado Bruto 2004 1.441.853,00

Aqui se observa o crescimento ao longo dos exercícios sociais (70% e

36%) e percebe-se um crescimento, mesmo num nível menor. Pode-se analisar, de

modo paralelo à evolução dos custos de matérias-primas e outros custos

decorrentes de terceiros que podem afetar o valor adicionado bruto, fazendo com

que a riqueza a ser distribuída se eleve, mas em um nível menor; além é claro, da

evolução das vendas, decorrentes de contexto econômico etc.

i. Taxa de variação Total do Valor Adicionado Bruto

Este indicador pode ser preterido em relação ao anterior exatamente pelo

fato de avaliar-se o crescimento da riqueza bruta em relação às vendas, e em

relação ao ano anterior.

Taxa de Variação Total do Valor Adicionado Bruto

Valor Adicionado Bruto Valor Adicionado Bruto Anterior

x 100 =

Valor Adicionado Bruto Atual /Vendas Atuais Valor Adicionado Bruto Anterior/Vendas Anteriores

x 100

==

Page 106: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

88

Valor Adicionado Bruto 2004 1.441.853,00 Vendas de Mercadorias e Serviços 2004 1.981.434,00 72% 4%

Valor Adicionado Bruto 2003 846.695,00 70% Vendas de Mercadorias e Serviços 2003 1.206.340,00

Valor Adicionado Bruto 2005 1.964.983,00

Vendas de Mercadorias e Serviços 2005 2.712.356,00 72% -0,44% Valor Adicionado Bruto 2004 1.441.853,00 73%

Vendas de Mercadorias e Serviços 2004 1.981.434,00

Torna-se, assim, um dado mais completo, pois é possível visualizar, por

exemplo, neste caso, que mesmo tendo apresentado os percentuais de

participação nas receitas de vendas superiores a 70%, o crescimento efetivo da

riqueza foi de 3,68% com um decréscimo no ano de 2005 de 0,44%.

j. Utilização do Valor Adicionado como medida de pr odutividade por

empregado

Em um tópico anterior, avaliou-se a participação do pessoal na distribuição

da riqueza e o quão significativa é a força de trabalho no processo produtivo, para a

empresa e para a sociedade. Neste indicador, relaciona-se a riqueza média gerada

por funcionário do empreendimento.

Riqueza gerada por empregado

Observando o número de funcionários mencionados no item 5.3.1 e o valor

adicionado, tem-se:

2.005 2.004 Valor Adicionado

R$ 2.076.910,00

R$ 1.515.554,00

Nº de empregados 1.067 1.085 Riqueza gerada por empregado R$ 1.946,49 R$ 1.396,82

Valor Adicionado Número de empregados

=

Page 107: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

89

Vale mencionar, conforme referida no item g, a comparação de empresas

em mesmo nível de empregabilidade, isto é, empresas que possuam o mesmo

número de empregados e considerar o seu grau de automação.

No caso da empresa analisada, houve uma elevação do resultado gerado

por empregado na empresa Alfa, mas também se verifica uma redução do número

de empregados de 1,65% e uma elevação da riqueza de 37,04%. Conclui-se daí, a

existência de um ganho de produtividade, pois mesmo com a redução no volume de

pessoal, considerando-se as informações disponíveis, houve uma elevação nas

vendas.

k. Indicador de Produtividade por Empregado

Aqui se tem o esforço médio de vendas por empregado. Consideraram-se

as vendas efetuadas e o número médio de empregados (início e final do período

dividido por dois). Como se mencionou, é uma medida de produtividade dos

trabalhadores da empresa.

Produtividade da mão de obra

2.005 Venda de Mercadorias e Serviços 2.712.356,00 Nº médio de empregados 1.076 Vendas Médias por empregado R$ 2.520,78

No caso dos dados disponíveis, o esforço conjunto da equipe da empresa

Alfa, proporcionou um volume de R$ 2.520,78 em vendas por colaborador no ano

corrente de 2005. A elaboração de metas de vendas e avaliação do volume de

vendas alcançadas pode ser trabalhada, no sentido de se conseguir uma ampliação

das participações do mercado, a partir de um plano de atuação (estratégia, etc.).

Porém, considerando-se as seguintes informações:

Vendas do período Número médio de empregados

=

Page 108: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

90

2.005 2.004 AH Venda de Mercadorias e Serviços 2.712.356,00 1.981.434,00 36,89% Nº de empregados 1.067 1.085 -1,66% Vendas Médias por empregado R$ 2.542,04 R$ 1.826,21 39,20%

Não se utilizou o número médio de empregados, mas o seu quantitativo ao

final de cada exercício social, obtendo-se, assim, valores distintos para cada ano.

Comparando-se, desse modo, o número de funcionários ao fim de cada exercício e

as vendas, tem-se uma informação diferente: verifica-se que, devido a uma redução

no número de pessoas e uma elevação no volume de vendas, influencia-se em um

resultado na receita individual gerada pelos colaboradores.

l. Indicador de Lucro por Empregado

Este item trata da mensuração do lucro por funcionário. Avaliação esta que

pode vir a colaborar com a análise de desempenho e avaliação nos chamados

centros de resultados.

Lucro por empregado = Lucro no período Número de empregados

Lucro do Exercício R$ 429.001,00 110,18%

R$ 204.111,00

Nº de empregados 1.067 -1,66% 1.085 Riqueza gerada por empregado R$ 402,06 113,73% R$ 188,12

Nos cálculos encontrados anteriormente, verifica-se uma elevação no lucro

médio encontrado, porém menciona-se o fato da redução de pessoal, e mais uma

variação positiva no volume de vendas. Isso significa uma contribuição positiva no

resultado de itens não ligados à atividade operacional como equivalência

patrimonial, receitas financeiras e ganho com a venda de imobilizado, por exemplo.

Pode-se sugerir a avaliação deste item com o resultado encontrado no

EBITDA, por considerar apenas os itens e valores ligados a atividade operacional

da empresa.

Page 109: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

91

m. Índice de Custo Benefício

Este indicador pode ser um dos mais importantes a ser trabalhado pelas

autoridades governamentais. Valendo-se da seguinte fórmula:

Índice de Custo Benefício (ICB)

E, partindo-se dos dados referentes à empresa Alfa, a empresa do estudo

apresentado, observe-se a seguinte situação hipotética para se trabalhar o índice: o

Governo (Federal, Estadual e Municipal), de comum acordo entre as esferas,

decidiu conceder uma redução de sua tributação em um percentual de dez por

cento (10%) para a empresa, por um período de dez anos.

Para fins de exemplo, acredita-se que a riqueza economizada e não

distribuída ao Governo, seria atribuída aos outros fatores de produção, mas de

qualquer forma seria gerada. Tem-se, então, a seguinte situação a ser considerada

na Tabela 06:

Tabela 06

Relação Valor Adicionado versus Incentivos Fiscais

Período de tempo Valor Adicionado Incentivo Fiscal ICB

2003 R$ 904.766,00 R$ 30.800,70 29,374852

2004 R$ 1.515.554,00 R$ 53.746,60 28,198137

2005 R$ 2.076.910,00 R$ 69.826,70 29,743780

Fonte: Elaborada pelo autor.

Percebe-se, assim, pelo índice de custo/benefício o quanto seria

incrementado à riqueza de determinada sociedade (município), se houvesse a

concessão do incentivo fiscal.

Corroborado no estudo por Rodrigues Junior (2003 p.135-136), um ICB

superior a um (1) indica o volume ou o tamanho da capacidade de riqueza gerada a

partir de R$ 1 concedido à empresa a título de incentivo fiscal.

No caso da Empresa Alfa, a capacidade de gerar riquezas ficou no ICB

médio de 29, isto é, para cada R$ 1 concedido de incentivo fiscal, a empresa tem a

Demonstração do Valor Adicionado Incentivos Fiscais Concedidos

=

Page 110: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

92

capacidade de gerar R$ 29 a título de riqueza a ser contemplada pelos fatores de

produção.

Pode-se ter, então, uma ferramenta gerencial de grande utilidade para as

autoridades governamentais. Ao se deparar com projetos e prospectos de

investimentos, as autoridades governamentais tentariam motivar a sua instalação

em seu meio social, se valendo, por exemplo, de uma política de incentivos fiscais

em conformidade com seu potencial de gerar riquezas para os fatores de produção

a sua volta.

m.1 Peculiaridades do Índice de Custo/Benefícios

Uma certa preocupação, ainda apoiado no estudo de Rodrigues Junior

(2003), no que concerne ao uso da política de incentivos fiscais para a instalação

de empresas. Antes, porém, apresentam-se os seguintes dados, conforme Tabela

07:

Tabela 07 Comparativo Valor Adicionado versus Incentivos Fiscais I

Variação ao Longo do Tempo Valor Adicionado Incentivos Fiscais

2003 – 2004 67,5% 74,50%

2004 – 2005 37,04% 29,92%

Fonte: Dados da Demonstração do Valor Adicionado.

Fez-se o cálculo da variação da riqueza gerada de um ano para o outro e

também da variação do volume de recursos liberados sob a forma de incentivos

fiscais.

Ao se elaborar essa forma de análise, torna-se possível verificar o grau de

dependência da empresa em gerar riquezas em relação à política de incentivos

fiscais. Neste caso, uma variação positiva na concessão de incentivos fiscais está

possibilitando uma variação positiva no aumento da riqueza do empreendimento.

Valendo-se, no entanto, de uma situação adversa e contraditória ao

exposto, extraída do trabalho de apresentado por Rodrigues Júnior (2003), há

novos dados, conforme Tabela 08:

Page 111: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

93

Tabela 08

Comparativo Valor Adicionado versus Incentivos Fiscais II

Variação ao Longo do Tempo Valor Adicionado Incentivos Fiscais

1998 – 1999 -6,10% 169,57%

1999 – 2000 -6,67% 6,77%

Fonte: Rodrigues Junior, (2003, p. 135)

Nas informações da Tabela nº 08, a relação entre o Valor Adicionado e

incentivos fiscais é inversa, isto é, mesmo sendo liberados recursos sob a forma de

incentivos fiscais, a empresa em questão não estará aumentando o volume do valor

adicionado.

Assim, caberá à autoridade perceber por meio das informações, até então

analisadas, a continuidade do processo de incentivos, pois o risco dessa empresa

ser viável e operacional apenas com a liberação de recursos é muito amplo. Neste

caso, não é difícil de entender por que algumas empresas sujeitam-se ao leilão de

benefícios oferecidos por Estados e Municípios. Resta a estes Governos, porém,

ponderarem se vale para sua região a brevidade em que estes estabelecimentos

produtivos estarão operantes.

Por outro lado, para aqueles empreendimentos capazes de proporcionar

aumento de riquezas, poder-se-ia pensar a vitaliciedade de parcerias entre as

entidades públicas e empreendimentos privados.

4.5 Considerações finais sobre os benefícios e info rmações extraídas das

demonstrações sociais

Visualizou-se, assim, um volume adicional de informações e dados ao se

intuir por publicar as informações de aspecto social, Balanço Social e

Demonstração do Valor Adicionado, em conjunto com o Balanço Patrimonial e

Demonstração do Resultado.

Quando se depara com a possibilidade do estabelecimento de uma

empresa em uma localidade, certas perguntas poderiam e deveriam balizar as

autoridades governamentais e a sociedade como um todo, sobre o efeito destas

instalações em sua jurisdição.

Page 112: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

94

Ao se verificar o caso da empresa Alfa, algumas considerações são

passíveis de serem comentadas:

* diante de um projeto de constituição de uma empresa (estimativa ou orçamento)

em determinado município, a elaboração de demonstrativos financeiros,

econômicos e sociais pode contribuir para uma melhor aceitação ou não do

empreendimento, com a utilização dos indicadores da riqueza gerada e distribuída

aos empregados e aos outros componentes da produção;

* a análise do projeto e as expectativas da empresa, inclusive os seus planos

quanto a sua continuidade devem ser claros, pois toda uma estrutura de

investimentos em infra-estrutura (rodovias, saneamento, energia etc.), será

demandada, normalmente em função dos empreendimentos produtivos;

* a elaboração da Demonstração do Valor Adicionado e do Balanço Social tende a

refletir os efeitos sociais e a expectativa de que toda a sociedade será favorecida

ou não com a sua instalação. O Índice de Custo Benefício tem a possibilidade de

mensurar esses reflexos e o “grau” de riqueza a ser contemplada pela sociedade

com a implementação do empreendimento;

* o aprimoramento ou a elaboração de infra-estrutura para estas empresas, que

terminaria por beneficiar a população a sua volta, com alternativas de

pavimentação, saneamento, energia etc.;

Os custos dessa infra-estrutura, por sua vez, também devem ser

levantados a partir do interesse da instalação de novos empreendimentos:

* os efeitos sociais, especificamente os qualitativos (aqueles surgidos em

decorrência da fixação da empresa tendem a refletir no nível de bem-estar da

população), e também devem ser considerados na análise do projeto. Situações

nas quais a preocupação quanto às mudanças de comportamento, aumento

considerável no tráfego de veículos, elevação da demanda por transporte,

atendimento público de saúde, instituições públicas de ensino devem receber um

certo peso na análise pela sua relevância;

* comentou-se sobre a riqueza gerada, mas também sobre o crescimento, e este

pode ocorrer de modo indireto, propiciado pela instalação da empresa no município

com a injeção de recursos no comércio local e a mudança de perfil quanto a

demanda por qualificação, motivando a busca por cursos junto a diversas

instituições de ensino;

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95

* a demanda, mesmo indireta, no mercado imobiliário local com a vinda de

profissionais de outras cidades;

* a diversidade cultural e inovação tecnológica promovida com a chegada de novos

empreendimentos são informações qualitativas, não provenientes das

demonstrações financeiras convencionais;

* a “pressão“ pela criação de alternativas de diversão e lazer pode fazer surgir um

nicho indireto de novos investimentos;

* se a empresa ao se instalar provocará algum impacto ambiental desde o

lançamento de resíduos na atmosfera até a sua localização em proximidade a

áreas de preservação; os projetos e os empreendimentos já podem, a título de

sugestão, ser instituídos com medidas preventivas com a finalidade de minimizar

este impactos ambientais;

* identificar os reflexos insalubres ou de periculosidades de determinadas

atividades para os seus colaboradores e para a sociedade;

* os custos reais auferidos para atrair esses investimentos, não se restringindo

apenas ao âmbito fiscal, mas no caso de cidades em crescimento, por exemplo, de

liberação de áreas valorizadas para sua instalação;

* o efeito na imigração e o reflexo social advindo daí, com o surgimento de

periferias e, por conseguinte, o aumento de situações precárias de subsistências,

além da elevação dos índices de violência;

* um aumento do volume da oferta de mão-de-obra e a redução média do valor final

da remuneração do trabalhador em razão desse “exército de reserva”.

No caso de empresas, cuja existência contribui e vem contribuindo para

com o crescimento e desenvolvimento das sociedades, vale a sugestão sobre a

publicação das demonstrações sociais e ambientais, até mesmo para demonstrar a

boa relação mantida com a comunidade.

Empresas, como a Black & Decker, desobrigadas de publicar suas

demonstrações financeiras poderiam estar divulgando informações sociais

espontaneamente, vindo a contribuir para a disseminação da cultura de boas

relações com os stakeholders.

Propostas vêm surgindo no sentido de organizar-se a publicação de

demonstrativos e informações de empresas não definidas como Sociedades

Anônimas, até mesmo para ressaltar a credibilidade junto aos mais diversos tipos

Page 114: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

96

de usuários da informação. O Anteprojeto de Lei 3.741/2000 está aí para comprovar

essa necessidade.

Os indicadores sociais não são as respostas únicas e irrefutáveis para as

negociações, mas se expressam como dados e situações a serem consideradas e,

juntamente com as demais informações econômicas e financeiras, contribuírem

para o embasamento das decisões a serem tomadas.

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CONCLUSÃO

No momento da identificação do problema que seria o cerne de toda a

estrutura a ser desenvolvida neste trabalho, tinha-se como intuito identificar as

informações possíveis de serem auferidas por meio da Demonstração do Valor

Adicionado em conjunto com a DRE e Balanço Patrimonial. E estando na posição

de um agente econômico, famílias e ou principalmente uma autoridade

governamental, com a responsabilidade de representar toda uma sociedade. Essa

autoridade gestora governamental estar-se-ia identificando e trabalhando para

atrair, em um primeiro momento, estruturas produtivas de modo a agregar, não

somente o crescimento da região onde se instalaria, mas também de gerar

externalidades positivas ao meio ambiente e social.

Muito além de um simples conceito teórico, o Balanço Social, somado às

informações publicadas na Demonstração do Valor Adicionado pode contribuir para

a verificação do impacto na vida das pessoas e dos efeitos sócio-ambientais daí

decorrentes.

A Análise de Produtividade por Empregado, Análise de Custo Benefício e

outros indicadores, gerados a partir de tais demonstrações, não se apresentam

apenas como teoria, mas verificou-se que podem ser considerados como análise

real da empresa gerando possíveis conclusões a respeito do desempenho, como foi

demonstrado.

A utilização destes dados poderia contribuir para um trabalho mais pró-

ativo de diversos segmentos, parceiros reais dos empreendimentos.

No município de Uberaba a carência por investimentos é uma realidade e

a instalação de capital produtivo uma resposta aos anseios e as necessidades

locais. O crescimento econômico, a população economicamente ativa, a melhoria

do bem-estar e qualidade de vida são metas a serem concretizadas não apenas

pelas pessoas que residem em determinado local, mas pela sociedade e seus

representantes como um todo.

Percebe-se, também, a importância de um estudo de impacto sócio-

ambiental e a seriedade e imparcialidade no tocante aos dados auferidos. Uma

formalização de padrões e a instituição de regras, assim como as inclusões de

auditoria, também das informações sociais, devem fazer parte, não apenas das

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98

demonstrações em fase de projeto, mas também dos empreendimentos em franco

processo de funcionamento.

Verificando-se as informações da empresa Alfa, cuja inspiração foi a Black

& Decker, percebeu-se a riqueza de informações conjuntas que podem ser

trabalhadas pelas empresas, inclusive fortalecendo sua marca, seu nome, ativo

hoje de grande importância no mercado, como vem ilustrar Santos (2003, p.36):

Há muitas vantagens em se apresentar a Demonstração do Valor Adicionado de uma empresa multinacional em um país que a hospeda. As vantagens apóiam-se no fato de que essa demonstração oferece à empresa a oportunidade de apresentar sua contribuição a esse país A empresa multinacional pode utilizar essa demonstração para estabelecer o interesse da comunidade e de seus legisladores num país qualquer. Isso daria a empresa à oportunidade para formação do goodwill, expansão de mercado, redução de conflitos com o governo local e outros grupos de da sociedade e evitaria diversos desgastes políticos. Como conseqüência disso a empresa provavelmente alcançaria maior crescimento e estabilidade de seus lucros. (SANTOS, 2003 p. 36)

Desta forma, a evidenciação por parte de empresas, multinacionais ou não,

tendem a somar pontos à sociedade, permitindo uma melhor compreensão,

quando, por exemplo, da tomada de decisões pela redução de pessoal ou corte de

benefícios antes concedidos.

As empresas, desejosas por se estruturar física e produtivamente, e as

diversas localidades carentes por suas instalações e benefícios, daí decorrentes,

poderiam encontrar nas informações de seus projetos e demonstrativos sociais a

confirmação de que a empresa naquele local seria benéfica para todos.

Esbarrou-se, no estudo, no fato de ser uma empresa de responsabilidade

limitada, cuja obrigatoriedade de publicação das demonstrações financeiras

inexiste, mas, como já foi citado, deverá estar se preparando para a sua adequação

à medida que as novas normas da reforma da Lei 6.404/76 forem votadas.

Encontrou-se, também, a ausência de relatórios sociais padronizados,

apesar de possuir, a empresa, uma posição respeitável no mercado, com o seu

porte e tradição, não divulgando dados ou relatórios sociais, mesmo realizando

atividades de cunho social e ambiental.

Como se mencionou, os reflexos e ponderações sociais são fatos reais a

serem prestadas às comunidades. A publicação (evidenciação) destas informações

traria um arcabouço de dados adicionais ao usuário dos relatórios contábeis,

complementando-se uma lacuna, até então existente de informações sobre a

análise do empreendimento.

Page 117: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

99

Quanto ao Balanço Social, no entanto, se fala muito na ausência de

diretrizes legais e formais, determinando o que deve ser ou não publicado,

carecendo de credibilidade no sentido lato da palavra, mesmo com a entrada em

vigor da NBC T 15, em janeiro de 2006. Falta sim, a cobrança por parte das

entidades de classe a cobrança efetiva para o respeito à referida Instrução.

Desse modo, autoridades poderiam identificar as informações de seu

interesse e o empreendimento produtivo, informando o quanto a sua atividade afeta

a vida ao seu redor, inclusive a distribuição de riquezas. Contribui, também, a

Demonstração do Valor Adicionado, pois esta é muito mais do que um emaranhado

de dados numéricos, podendo vir a somar conclusões na avaliação de projetos e

das demonstrações financeiras.

Na medida que a Black & Decker evidencie os resultados obtidos por meio

da DVA e do Balanço Social, acredita-se na possibilidade da difusão da cultura em

divulgar relatórios sociais, não apenas por parte dos novos empreendimentos do

setor de agro-negócio, que precisam se consolidar na sociedade, mas também

pelas empresas de outros segmentos, tendo-se assim uma elevação de resultados

positivos e nos benefícios sociais para a comunidade.

A alternativa como se levantou de apurar o Produto Interno Bruto (PIB)

seria uma realidade efetiva de analisar a geração e a distribuição de riquezas. Isso

se menciona, conforme Luca (1998), Santos (2003), entre outros, da possibilidade

de avaliar-se a riqueza de acordo com o efetivamente produzido e ou vendido.

Ainda, neste ponto, o direcionamento de recursos sob a forma de

incentivos, por exemplo, poder-se-ia impulsionar o crescimento econômico e, com

certa expectativa, o desenvolvimento local.

Talvez com mais este ferramental - o Balanço Social, a DVA e os

indicadores de análise originários destas publicações - a liberação de incentivos

fiscais encontre o devido respaldo para a destinação de recursos de fomento, com

uma maior perspectiva de realização, continuidade e maturação.

O fato é a possibilidade e a essencialidade de propiciar-se um aumento da

riqueza distribuída, não apenas dos fatores de produção, trabalhadores, credores

de capital, mas também do próprio estado.

Por outro lado, detalhes e informações a serem publicadas e analisadas,

contudo, podem tornar o empreendedor receoso em divulgar tais dados.

Page 118: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

100

Informações muito específicas se expostas, e se forem de caráter estratégico,

podem dar conotação negativa ao empreendimento diante da concorrência.

O risco de processos produtivos envolvendo poluentes residuais ou

sonoros, proximidades com áreas de conservação, devem por sua vez mostrar

benefícios e resultados positivos superiores, de modo a compensar positivamente

quando comparado na relação custo versus benefícios para o ambiente.

Na empresa utilizada como referência na pesquisa, identificou-se uma

preocupação com a capacitação intelectual dos colaboradores, o desejo de

disseminação de uma nova cultura de gestão, entre outros pontos e uma estrutura

produtiva instalada conjuntamente com procedimentos antipoluentes, mostrando o

comprometimento de uma marca desejosa de ser lembrada como politicamente

correta.

Houve limitações quanto ao acesso a alguns tipos de informações em

decorrência do enquadramento legal, como mencionado, mas verificou-se o quanto

seria importante se as empresas, de qualquer que sejam o segmento ou porte,

tivessem suas informações pelo menos as sociais e ambientais divulgadas. A

contribuição para com o social ocorre a partir do comprometimento em se estar

empregando um colaborador, ou recolhendo um tributo, ou ainda fazendo uma

doação a uma instituição beneficente ou adotando valores de preocupação sócio-

ambientais, de maneira a contribuir para uma melhor condição de vida da

sociedade a sua volta.

Ao se utilizar um modelo, com dados fictícios, conseguiu-se auferir

informações com dados sociais até então não conhecidos, por parte da empresa

Alfa. Os indicadores, independentemente dos valores encontrados, podem oferecer

informações de qualidade as empresas e aos usuários da informação.

Não era a proposta deste trabalho uma comparabilidade entre os dados

encontrados a título de análise de desempenho, pois nesse caso ter-se-ia o

desempenho de outras empresas do mesmo segmento e as expectativas para se

verificar uma boa ou má atuação.

Conseguiu verificar, com este trabalho, como se mencionou, uma gama de

informações complementares que, para empresas como a Black & Decker pode

significar uma justificativa de sua existência perante a comunidade onde está

inserida. A sugestão de evidenciar as informações sociais pode mostrar um

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101

empreendimento tradicional, com participação expressiva no mercado, mas com

produção e decisões de gestão com responsabilidade.

E, a título de sugestão, o autor acredita existir um leque de assuntos a

serem tratados, tais como: Contabilidade Ambiental, Marketing Social, relação das

empresas e balanço de recursos humanos; e, ainda, o acompanhamento efetivo da

implementação da cultura de se publicar dados sociais e ambientais para todos os

tipos de empreendimentos.

Por tudo isso, é possível perceber o quanto devem ser trabalhados os

procedimentos de evidenciação e das informações sociais por parte das empresas,

e devem ser desejadas pela comunidade; pois, mesmo sendo uma empresa forte,

nenhum empreendimento pode se manter sem o consentimento positivo do

mercado e da sociedade.

Page 120: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

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109

ANEXOS

1. QUESTIONÁRIO I. Quantitativo a. Número de funcionários na empresa:

Ano de

Referência

Quantidade

Homens Mulheres Total Em 2004 903 182 1.085 Em 2005 881 186 1.067

b. A empresa trabalha com funcionários temporários? (x) sim ( ) não Se a resposta for positiva qual a proporção: Funcionários Proporção (%) Contratados por prazo indeterminado 91,5 Temporários 8,5 c. A empresa trabalha com empregados terceirizados ( x ) sim ( ) não Se a resposta for positiva qual o número de funcionários na empresa: Ano de Referência Quantidade. Em 2004 15 Em 2005 15 d. Quantidade de funcionários por faixa etária: Faixa etária Ano 2004 Ano 2005 18 a 25 anos 358 352 26 a 33 anos 347 341 34 a 39 anos 169 167 40 a 47 anos 174 171 Acima 48 anos 37 36 II – Qualificação profissional

e. Escolaridade dos funcionários da empresa - 2005

Quantidade % Analfabeto 0 0 Primeiro Grau incompleto 6 1% Primeiro Grau Completo 421 39% Segundo Grau Incompleto 143 13% Segundo Grau Completo 267 25% Curso Superior Incompleto 114 11% Curso Superior Completo 86 8% Pós Graduação 30 3% Total 1067 100%

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110

f. A empresa trabalha com programas de incentivo a formação do profissional:

Benefícios

Executa

Curso e Treinamento Profissional (reciclagem)*

( x ) sim ( ) não

Programas de bolsa de Estudos – Ensino Médio/Graduação

( x ) sim ( ) não

Programas de bolsa de Estudos – MBA e especializações

( x ) sim ( ) não

Cursos de Línguas

( ) sim ( x ) não

Cursos e treinamentos na empresa.

( x ) sim ( ) não

* voltados para a atividade cotidiana do funcionário, em instituições profissionalizantes fora da empresa. III – Benefícios sociais Benefícios

Executa

Auxílio Alimentação

( x ) sim ( ) não

Alimentação servida na empresa

( x ) sim ( ) não

Auxílio Transporte

( x ) sim ( ) não

Transporte oferecido pela empresa

( ) sim ( x ) não

Auxílio habitação

( ) sim ( x ) não

Auxílio Creche

( ) sim ( x ) não

Plano de Saúde

( ) sim ( x ) não

Incentivo ao esporte (na empresa)

( x ) sim ( ) não

Incentivo ao esporte (a entidades externas a empresa)

( x ) sim ( ) não

Incentivos a atividades culturais (na empresa)

( ) sim ( x ) não

Incentivos a atividades culturais (externas a empresa)

( ) sim ( x ) não

IV – Projetos Ambientais

a) A empresa possui algum projeto ambiental? ( ) sim ( x ) não

Rº Não temos processos poluidores

Page 129: FERNANDO RODRIGUES DE CARVALHO - PUC-SP

2. Informativo de desempenho Black & Decker 2006

Black e Decker em números

1. Faturamento Mundial

* 2.003 � US$ 4.5 bilhões;

* 2.004 � acima de US$ 5 bilhões;

* 2.005 � US$ 6.5 bilhões;

2. Faturamento Brasil

* 2.003 � R$ 288 milhões (inclusas exportações de R$ 61 milhões);

* 2.004 � R$ 327 milhões (inclusas exportações de R$ 97 milhões);

* 2.005 � R$ 318 milhões (inclusas exportações de R$ 92 milhões);

Obs: redução de 3% no faturamento, embora com exportações crescendo, porém,

com o efeito cambial reduzindo em “reais”. Mercado local praticamente estável em

faturamento, indicando perda de volume em unidades, devido também ao câmbio

favorável à entrada de competidores chineses.

3. Número de funcionários (2005)

* Mundial: cerca de 26mil

* Brasil: total de 1.294, incluindo fábrica de Uberaba, terceirizados, e filial de vendas

em São Paulo. Sendo desses, 1.144 funcionários diretos.

4. Dados de Mercado

Ferramentas Hobby (marca Black & Decker)

Participação de mercado

2003: 54%

2004: 52%

2005: 47%

� Segmento crescendo uma média de 3% ao ano em R$;

� Crescimento B & D em 2005: 3% em R$ e – 8,5% em unidades;

Ferramentas profissionais e industriais (marca DeWalt)

Participação de mercado

2003: 14%

2004: 14%

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2005: 16%

� DeWalt cresceu em 2005 7% em volume e 11% em vendas R$ comparando-se

com 2004;

� Estima-se um crescimento de mercado em torno de 5% em volume;

Segmento de eletrodomésticos portáteis

Participação de mercado:

2003: 26%

2004: 22%

2005: 20%

� 2005 – Ferro seco: 47%

� 2005 – Ferro a vapor: 59%

� Segmento eletros crescendo de 5% a 7% (R$ ao ano);

�Crescimento B & D em 2005 -12,1% (unidades) e -7% em R$ comparando-se a

2004.