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FERNANDO TANNOUS TAHAN O CATOLICISMO INTEGRALISTA E O NAZI-FASCISMO Trabalho de conclusão da disciplina de Pesquisa Histórica, Setor de Ciências Humanas,,Universidade Federal do Paraná,DEHIS Professor. Dennison de Oliveira CURITIBA 2006

fernando tannous tahan - Departamento de História · O autor analisa a ‘’revolução espiritual’’, destacando as obras de Jackson de Figueiredo, ... Integralismo, o fascismo

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FERNANDO TANNOUS TAHAN

O CATOLICISMO INTEGRALISTA E O NAZI-FASCISMO Trabalho de conclusão da disciplina de Pesquisa Histórica, Setor de Ciências Humanas,,Universidade Federal do Paraná,DEHIS Professor. Dennison de Oliveira

CURITIBA

2006

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FERNANDO TANNOUS TAHAN

O CATOLICISMO INTEGRALISTA E O NAZI-FASCISMO Trabalho de conclusão da disciplina de Pesquisa Histórica,Setor de Ciências Humanas,,Universidade Federal do Paraná,DEHIS Professor. Dennison de Oliveira

CURITIBA

2006

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SUMÁRIO ABSTRACT.............................................................................................................v 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................6 2 ORIGENS DO CATOLICISMO ‘’ANAUÊ’’.....................................................13 3 A QUESTÃO DAS ENCÍCLICAS........................................................................25 4 EMBATES FILOSÓFICOS...................................................................................36 5 RELIGIÃO E ADESÃO.........................................................................................44 6 CONCLUSÃO..........................................................................................................47 7 FONTES....................................................................................................................52 8 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................53

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ABSTRACT

O movimento integralista (1932-1938) é considerado pela grande maioria dos estudiosos da história como uma ideologia de caráter fascista. A partir dessa constatação, é pertinente associar ou comparar o integralismo a outros movimentos fascistas. A presença fundamental do catolicismo na ideologia integralista é o principal fator de distinção entre o integralismo e o nazi-fascismo. As influências cristãs no ideário de SALGADO remete a questionar a incorporação de ideais’’pagãos’’ na ideologia nazista e fascista italiana. O ‘’fascismo brasileiro’’ era representado por três figuras chaves: Plínio SALGADO, Gustavo BARROSO e Miguel Reale, intelectuais que buscaram a partir do fascismo, concretizar um ideário que aproximava um conteúdo político às raízes nacionais.

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Introdução

O integralismo foi considerado um movimento de caráter fascista, pela grande maioria

dos estudiosos da história dos ‘’camisas verdes’’. A partir desse aspecto, é pertinente associar ou

comparar o integralismo a outros movimentos fascistas.O ponto de partida deste trabalho é que a

incorporação do catolicismo na ideologia integralista é o principal fator de distinção entre o

integralismo e o nazi-fascismo. Abordar a inserção de ideais católicos na doutrina de Plínio

Salgado remete a questionar o ‘’paganismo’’ de outros movimentos fascistas. Uma das metas da

pesquisa é analisar através do discurso e da literatura de Plínio Salgado e de Gustavo Barroso, o

embate entre o ‘’catolicismo integralista e o paganismo nazi-fascista’’. As maiores autoridades na

pesquisa do tema ‘’integralismo’’, são predominantemente de formação marxista, associam a fé

integralista a uma forma de movimento messiânico a partir do ‘’Chefe Nacional’’ que apoiava-se

na Igreja Católica, uma espécie de ‘’representante’’ dos interesses da burguesia. A luta de classes

é o principal conceito utilizado pelos autores para explicar a natureza do tema pesquisado,

afirmando que o principal interesse dos integralistas era a manutenção do status quo burguês, no

qual Igreja Católica e os ‘’camisas verdes’’ possuíam interesse comum. O caráter espiritual dos

movimentos fascistas são retratados pela historiografia brasileira, a partir de autores como

Marilena CHAUÍ, José CHASIN , Hélgio TRINDADE e Ricardo Benzaquen ARAUJO como

uma característica de ‘’alienação’’ das massas a partir da figura de um líder carismático.

Interpretar a relação dos líderes do fascismo , integralismo e nazismo com a Igreja Católica é um

objetivo da pesquisa de conclusão de curso.

A delimitação do tema ‘’integralismo’’, é abordada na pesquisa a partir do ano da

publicação do Manifesto de Outubro de 1932, até o período de decadência do movimento em

1938, portanto a delimitação do tema é 1932-1938. O objeto da pesquisa é o catolicismo na

ideologia integralista. Essa particularidade do movimento de Plínio Salgado é pronunciada

através do discurso de fundação do partido, quando os ‘’camisas verdes’’ afirmaram que ‘’Deus

dirige o destino dos povos’’. A partir do caráter monoteísta de fé, o integralismo afirmou-se como

um movimento espiritual, desenvolvendo uma doutrina que enaltece a religião cristã, mais

especificamente a católica romana., da qual apropriam-se de seus conceitos morais e sociais para

justificar a existência de um Estado integralista. A problemática da pesquisa consiste em analisar

os pontos de contato e diferenciação entre integralismo, nazismo e fascismo italiano, a partir da

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principal peculiaridade dos ‘’camisas verdes’’, o catolicismo. O fascismo e o nazismo, são

movimentos que aproximam-se do integralismo por combaterem o liberalismo econômico e o

comunismo internacional. O caráter ‘’dogmático’’ desses três movimentos remete a traçar os

pontos de diferenciação entre o Nazismo/Fascismo e o Integralismo. De um lado o cristianismo

representado pela Igreja Católica Romana , defensora dos interesses da cristandade ocidental e de

outro lado o ‘’paganismo’’ , representado pelo nazismo, estatuído pela tradição racial nórdica de

um feitio odínico , e o fascismo italiano que possuía uma concepção de Estado baseado no

Império romano, sendo assim, segundo os autores integralistas, seria também uma doutrina anti-

cristã.

Os objetivos da pesquisa são os seguintes: analisar o ponto de vista dos integralistas, no

que se refere a fé, a partir do nazi-fascismo; demonstrar que a relação entre Igreja Católica e os

fascismos, foi caracterizada por atritos, e nem sempre harmoniosa, como algumas bibliografias

retratam de forma equivocada;a utilização do estado corporativo no fascismo como uma herança

católica;o papel das encíclicas papais como fundamento para o Estado corporativo, como a

Rerum Novarum e a Quadragessimo Anno; enfocar o catolicismo integralista como uma

característica divergente ao ‘’paganismo’’ nazi-fascista.

As principais obras utilizadas na pesquisa de conclusão de curso são basicamente quatro

bibliografias de grande importância, pois elas trabalham de forma pertinente com as fontes.

A primeira referencia para o tema é Marilena CHAUÍ, na obra Ideologia e mobilização

popular, faz apontamentos para uma crítica da Ação Integralista Brasileira. De formação

marxista, ela procura traduzir o discurso integralista a partir do conceito de luta de classes.

A análise de CHAUÍ, sobre o integralismo é caracterizada a partir do processo político

brasileiro, procurando defini-lo a partir do princípio da autoridade e do caráter fascista.’’O

integralismo moldado sobre o fascismo, com adaptações nacionais, expande-se em nível social

colhendo a herança abandonada da direita nacionalista da década de 20. A organização do Brasil

segundo moldes profissionais restauraria a autoridade e afastaria o cosmopolitismo’’1 .A primeira

parte da análise refere-se ao imaginário integralista. A autora considera que o imaginário

integralista é amplamente caracterizado por um aspecto de tônica anticomunista e anti-liberal,

muitas vezes estimulada pelo catolicismo fervoroso de Plínio Salgado.’’Se o lema ‘’Deus, Pátria

e Família’’, alimenta o catolicismo dos militantes e explica seu moralismo na crítica da

1 CHAUÍ, Marilena de Souza.Ideologia e mobilização popular.Rio de Janeiro: Paz e Terra,1978. p65

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democracia liberal que destrói os valores sagrados, esse lema também sustenta a atitude

anticomunista, na medida em que marxismo, socialismo, bolchevismo e o comunismo,sendo

‘’materialistas’’,são ateus, internacionalistas e destruidores do núcleo familiar’’2

CHAUÍ, tem como objetivo explicar as condições históricas que permitem compreender o

itinerário ideológico do ‘’Chefe Nacional’’ e o nascimento do integralismo.

O contexto de produção da obra de CHAUÍ, é caracterizado pela procura em destacar os

fatores que explicam o significado da inspiração ideológica do líder integralista conforme seu

itinerário político na sociedade em transição dos anos 20.’’Para abordar a questão do integralismo

dediquei-me ao estudo dos trabalhos acerca do período de 1920-1938. Lendo e confrontando a

multiplicidade das interpretações percebi que se todas diferem, seja pelas escolhas das

determinações que teriam decidido o curso dos acontecimentos, seja pela maneira específica de

combina-las, todavia, o arcabouço conceitual empregado é quase sempre o mesmo’’3.

CHAUÍ ao destacar a chamada renovação espiritual evidencia as origens dos valores

cristãos e as influencias que incorporam os ideais de SALGADO, BARROSO e Miguel Reale. A

autora faz referencias a Jackson de Figueiredo, Farias de Brito e Tristão de Athaide.

As fontes utilizadas pela autora são basicamente as obras de SALGADO, Miguel Reale e

BARROSO. Utilizando os relatos de integralistas a autora afirma que’’o catolicismo é um

elemento tático e ideológico de grande envergadura’’4 para os integralistas. Documentos

integralistas em que constavam as relações da Ação Integralista Brasileira e a Igreja Católica

também foram utilizadas.

A segunda obra é de José CHASIN denominada O Integralismo de Plínio Salgado: forma

de regressividade no capitalismo hiper-tardio. De formação marxista, e com inúmeras teses

publicadas no exterior, o autor é considerado uma das maiores referencias para o estudo do

integralismo.

O objetivo da obra de CHASIN é definir as raízes e as metas do discurso de Plínio

salgado. O autor considera que a doutrina do ‘’Chefe Nacional’’ como uma utopia regressiva e

reacionária, procura analisar o integralismo como uma forma peculiar e não apenas derivada do

2 Idem, ibidem.p.76. 3 Idem, ibidem.p.19 4 Idem, ibidem. p.77

9

fascismo.’’ Para ele, o integralismo funda-se numa concepção espiritualista do homem, oposta a

‘’teoria da raça’’.5

CHASIN analisa o integralismo como algo que nega a razão e favorece a intuição. É a

partir dessa característica que o autor retrata os valores cristãos incorporados no integralismo.

Para o autor a revolução espiritualista, seria uma espécie de retorno a valores imutáveis e uma

reação a era do ateísmo, algo oposto ao que era pregado por um sistema rival às doutrinas cristãs

e integralista, que era o comunismo internacional. Usando relatos de Plínio Salgado, CHASIN

explica o conceito de revolução imerso no ideário católico integralista.

O autor analisa a ‘’revolução espiritual’’, destacando as obras de Jackson de Figueiredo,

como uma fonte que permite compreender as origens da espiritualidade católica integralista.Outra

fonte que merece destaque é a obra de Plínio Salgado denominada Oriente, que retrata as viagens

do Chefe Nacional’’ a Palestina (Terra Santa), e outras regiões próximas , nas quais visitou

templos e mosteiros cristãos. O autor enfatiza as chamadas ‘’Diretrizes Integralistas’’,

desenvolvidas através de 26 postulados, na qual Plínio salgado destaca os fundamentos cristãos

As funções do Estado e religião podem ser compreendidas através da obra O Cristo e o Estado

integral.

A problemática da obra desenvolve-se a partir do discurso dos ‘’camisas verdes’’, que

segundo CHASIN possuíam o ideal de transformar o Brasil em um país de pequenos

proprietários de terras , destinado a atingir a meta de um país ‘’tradicionalmente agrícola’’.A

partir desse princípio, o autor revela seus ideais marxistas, afirmando que o discurso pliniano era

fortemente burguês.

A terceira obra escolhida foi a de Hélgio TRINDADE, uma interpretação do processo

político brasileiro, procurando defini-lo a partir de sua origem, formação e natureza. A primeira

parte da análise refere-se as relações entre o integralismo e o catolicismo. O autor considera que

‘’todo o conteúdo tradicionalista da ideologia integralista, inspira-se em parte, na doutrina social

da Igreja e nos temas fundamentais da renovação das elites católicas’’6

5 CHASIN, José. O integralismo de Plínio Salgado, forma de regressividade no capitalismo hiper tardio.

São Paulo: Ed.Ciências Humanas,1978.p.64

6TRINDADE, Hélgio .Integralismo, o fascismo brasileiro na década de 30.São Paulo: Difusão

européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.1974.p.10

10

A obra de TRINDADE procura destacar os fatores que explicam o significado da

evolução ideológica do líder integralista conforme seu itinerário político na sociedade em

transição dos anos 20. O autor dá ênfase a hipótese do conteúdo fascista do integralismo.

As fontes utilizadas pelo autor são basicamente as obras de SALGADO,BARROSO e

Miguel Reale. Documentos integralistas ligados ao Departamento de Milícias e do Departamento

de Propaganda também foram explorados. Os periódicos também foram ultilizados como a

revista Anauê, a revista Panorama e a revista a Ordem, ligada a grupos católicos.

A ultima obra escolhida foi a de Ricardo Benzaquen ARAÚJO,denominada Totalitarismo

e Revolução:o integralismo de Plínio Salgado.O autor faz uma abordagem do conceito espiritual

da doutrina integralista, a partir de aspectos relacionados ao positivismo.Além disso o autor

propõe uma espécie de síntese ideológica do movimento a partir de derivações,como

nacionalismo modernista e pensamento fascista de origem européia.

As obras referentes ao integralismo discutem as fontes utilizadas no trabalho. . A partir do

caráter espiritual as fontes e bibliografia ‘’dialogam’’.

A abordagem da pesquisa é fundamentada a partir de autores que analisam os pontos de

contato e diferenciação entre o integralismo e as outras doutrinas de caráter fascista.A análise de

caráter marxista é a que melhor se ‘’expressa’’em qualidade e em quantidade de obras de cunho

acadêmico no que se refere ao estudo do integralismo, pois foi esse método histórico que mais

explorou e analisou os movimentos fascistas, além disso, os autores de expressão que retrataram

o integralismo são em grande maioria de formação marxista.

A pesquisa é caracterizada pela presença de linhas metodológicas que remetem ao uso da

História das Idéias, no que se refere ao conteúdo do imaginário integralista, representada pela

própria literatura dos ‘’camisas verdes’’. A História Política está presente no tema a partir do

momento, que é pertinente analisar as relações entre Igreja e fascismos. A História das Religiões

também aparece presente na pesquisa, pois o catolicismo é parte integrante do contexto da

temática.

A história oral foi outro método norteador presente nas bibliografias. Os autores

realizaram entrevistas com dirigentes integralistas, extraindo novas e diferentes conclusões a

respeito dos ideais dos ‘’camisas verdes’’.

11

A partir das divergências, no campo espiritual, a metodologia marxista explora o papel

da fé nos regimes fascistas como uma característica de ‘’alienação’’ das massas, a partir de um

líder carismático. As literaturas que analisam o integralismo evidenciam o caráter monoteísta do

integralismo, são análises que confirmam a concepção cristã como parte da doutrina do ‘’Chefe

Nacional”. São obras extremamente necessárias para a compreensão do caráter cristão do

movimento integralista, através de um viés que diverge das concepções nazista e da fascista

italiana

A pesquisa é baseada em documentos escritos pelos próprios fundadores da Ação

Integralista Brasileira, portanto tratam-se de fontes primárias e bibliográficas. A partir das obras

de BARROSO e SALGADO , o trabalho de pesquisa insere-se numa esfera em qual permite

traçar os pontos de contato e diferenciação entre o integralismo e outros movimentos de caráter

fascista (particularmente nazismo e fascismo italiano), segundo a perspectiva integralista

referente a fé e a religião cristã (particularmente a católica romana).

Os documentos ultilizados na pesquisa, são análises de grande objetividade e pertinência a

pesquisa. Retratam de forma surpreendente e explícita os pontos de contato e de diferenciação

entre o integralismo e outros movimentos de caráter fascista e de que forma o cristianismo

contrasta ou insere-se nessas comparações. A partir disso, pode-se caracterizar o ideal cristão

como a principal peculiaridade do ideal integralista, contrapondo-se ao ideal pagão e secular, que

segundo os autores integralistas eram características de outros movimentos fascistas.

As obras enaltecem o caráter monoteísta do integralismo, são relatos que confirmam a

concepção cristã como parte da doutrina do ‘’Chefe Nacional”. São obras extremamente

necessárias para a compreensão do caráter cristão do movimento integralista, através de um víeis

que diverge das concepções hitlerista e da fascista italiana.Os documentos explorados são os

seguintes :

BARROSO, Gustavo. Integralismo e Catolicismo. 2ed.Rio de Janeiro.Ed.ABC.1937.

BARROSO, Gustavo. Integralismo e o Mundo. 2ed.Rio de Janeiro.Civilização Brasileira Editora. 1937. SALGADO, Plínio. A Quarta Humanidade. 5ed.São Paulo.Ed.das Américas. 1963

SALGADO, Plínio.Conceito cristão de Democracia.Ed civilização brasileira. 1937

SALGADO, Plínio. O Integralismo perante a nação. 3ed Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1955. SALGADO, Plínio.O Soffrimento Universal.2ed.Rio de Janeiro: Livraria José Olympio,1934

12

A localização e as condições de acesso das obras relacionadas são de relativa dificuldade,

pois as obras de Plínio Salgado são de fácil acesso , enquanto que as de Gustavo Barroso não o

são.

As duas obras de Plínio Salgado relacionadas encontram –se disponíveis na biblioteca

Pública do Paraná e na Biblioteca da UFPR em bom estado de conservação. As duas obras de

Gustavo Barroso não estão disponíveis em nenhuma das bibliotecas citadas, mas está presente em

minha biblioteca particular. Um dos locais de acesso dessas obras denomina-se C.E.D.I ( Centro

de Estudos e Debates Integralistas do Estado do Paraná), com sedes em Foz Do Iguaçu, Londrina

e Curitiba.

13

2 ORIGENS DO CATOLICISMO “ANAUÊ”

Para compreender questões relativas ao integralismo (1932) é necessário abordar o período pelo

qual os intelectuais da AIB fundamentaram as diretrizes, os conceitos e princípios que deram suporte

para a formulação do movimento.Segundo a pesquisadora Marilena CHAUÍ, o período de (1920 –

1938), foi caracterizado pela ‘’multiplicidade de interpretações’’7.

Em termos gerais, este período pode ser caracterizado pela transformação da sociedade brasileira

entre as duas guerras mundiais em níveis econômicos, sociais, políticos e ideológicos. O integralismo é

o reflexo da transformação ideológica da década de 20, pois é a partir desta que o pensamento de

caráter fascista, de origem européia, marca presença, embasado por três figuras chaves: Plínio

SALGADO (1895-1975), Gustavo BARROSO (1888-1959) e Miguel Reale (1910).A transformação

das idéias do após guerra é o centro do ideário do ‘’Chefe Nacional’’, e para entender o conteúdo

ideológico do integralismo é necessário compreender o sentido de mutação de idéias da década de

1920. O pesquisador Hélgio TRINDADE, enfatiza que não há como atribuir apenas a influencia

européia na natureza ideológica AIB, mesmo que sendo decisiva; pois seria impossível desvincular o

clima intelectual presente no Brasil no após guerra, o qual o integralismo busca suas raízes nacionais8.

A partir desse panorama que surge o princípio do ideário da AIB expresso pela figura central de

SALGADO.”A mutação da sociedade brasileira na década de 20 é crucial para a compreensão do

itinerário político ideológico do Chefe integralista e das transformações que precederam a revolução de

30 em cujo contexto nascerá a Ação Integralista Brasileira”.9O ano de 1922 é a maior evidência dessas

transformações, pois é caracterizado por importantes fatos considerados simbólicos, que confirmam a

transição ideológica e política da sociedade brasileira no após guerra, sendo fundamentais para o

surgimento da AIB. Dentre os acontecimentos podemos citar: a Semana de Arte Moderna, a fundação

do Partido Comunista Brasileiro, a criação do ‘’Centro D. Vital’’ e o Movimento Tenentista.

A Semana de Arte Moderna desencadeou uma nova safra de intelectuais que tinham como

objetivo questionar o conceito de brasilidade, originando o modernismo (1922-1930), que foi dividido

por quatro correntes principais: a ‘’pau-brasil’’ de Oswald de Andrade; a dos ‘’verde-amarelos’’

7 CHAUÍ,Marilena.Ideologia e mobilização popular.Rio de Janeiro;Paz e Terra,1978. p 19-20-21.

8 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo :Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974. p 27.

9 Idem ibidem. p15

14

destacando-se o que viria a ser o futuro líder da AIB, Plínio SALGADO; Menotti Del Picchia e

Cassiano Ricardo;a ‘’espiritualista’’ de Tasso da Silveira e a ‘’dinamista’’ de Graça Aranha.A proposta

dos ‘’verde-amarelos’’ era caracterizada pelo caráter conservador, pela identificação com o ufanismo e

pela crítica ao tipo de nacionalismo da corrente ‘’pau-brasil,’’ considerado ‘’afrancesado’’.O

nacionalismo de SALGADO possuía fortes raízes no conceito de brasilidade do modernismo, um ideal

que serviria de base para os ideólogos da AIB.O integralismo recrutará seu chefe e um grupo de

intelectuais a partir das correntes ‘’nacionalista’’ e ‘’espiritualista’’.

A fundação do partido Comunista Brasileiro acelerou a organização da classe operária inspirados

na doutrina de Marx, despertando o temor dos círculos católicos e nacionalistas.Uma das hipóteses

difundidas, principalmente por historiadores de formação marxista; sugere que o surgimento da AIB

deriva de grupos de características ‘’reacionárias’’, que uniram interesses, com o objetivo comum de

combater o crescimento do PCB.

A criação do ‘’Centro D. Vital’’ fundado por Jackson de Figueiredo (1891-1928), pode ser

considerado como um movimento de renovação e de reativação da Igreja, a partir do laicato católico,

que visava um maior apoio das elites, inspirados nos movimentos de Ação Católica europeus,

principalmente o Action Française10.O surgimento da revista A Ordem (1921), um ano antes,

fortaleceu as idéias da instituição, dando o primeiro ‘’passo’’ para o surgimento de uma ideologia de

caráter político-religioso que foi responsável pela atração de inúmeros intelectuais.Os integrantes do

‘’Centro D. Vital’’, alegavam que a Igreja estava sendo excluída dos principais assuntos do Brasil.A

partir disso surge um movimento de ‘’reação católica’’ em níveis nacionais, inspirado nos princípios

do tomismo, combatendo a educação leiga no país, propondo a recatolicização das massas a partir das

elites e a reaproximação da Igreja com o Estado.Um número considerável de membros do ‘’Centro’’

criaram vínculos ou aderiram ao integralismo, anos depois.O conteúdo ideológico do Centro foi a base

de fundamentação do ‘’catolicismo integralista’’.

O Movimento Tenentista foi um nítido reflexo do descontentamento de grande parte da

população ao status quo vigente, composto principalmente por setores da classe média e militares, que

buscavam maior representatividade política no país. Os revoltosos desejavam combater os

regionalismos e a supremacia econômica de São Paulo e Minas Gerais.As consequências da rebelião

10 ‘’A doutrina do Action Française pouco a pouco foi se elaborando sob a direção de Charles Maurras: critica o liberalismo, reação contra o romantismo, refutação dos erros da Revolução Francesa, renascimento da França pelo renascimento do sentimento monárquico francês.E as figuras magníficas de Paul Bourget e Leon Daudet trouxeram sua magnífica adesão ao grande movimento nacionalista’’ BARROSO, Gustavo.O Integralismo e o Mundo. 2ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira Editora, 1937. p.80.

15

acarretariam na revolução de 30 e alguns revoltosos, apesar de um número relativamente baixo,

passaram a integrar a AIB, em 1932.

Os eventos da ‘’crise de 29’’ nos Estados Unidos, afetaram indiretamente o Brasil;

impulsionando a revolução de 30;evidenciando o caráter de dependência econômica que o país

enfrentava no cenário mundial. A população brasileira estava profundamente decepcionada pela forma

com que os governantes conduziam o país, não sendo capazes de atender os interesses desta, de forma

pragmática.A partir da insatisfação geral, que as idéias de caráter fascista, antes manifestadas

timidamente; ganham força efetiva, chegando a níveis populares e saindo do plano teórico. A ausência

de um governo que respondesse aos anseios da nação,facilitou a penetração dos ideais fascistas que

apresentavam uma ‘’solução’’ aos problemas do Brasil, a partir da figura de SALGADO, que elaborou

uma concepção política que seria aplicada com urgência e com resultados imediatos, através de um

‘’movimento efetivamente revolucionário, baseado numa doutrina e não nos interesses pessoais. Ele

seria capaz, por isso mesmo, de empolgar todos os brasileiros na luta contra a concepção materialista

da vida’’11.É a partir deste aspecto, que os ideólogos do integralismo esboçaram o conteúdo

‘’reacionário’’ do movimento, proclamando-se defensores da espiritualidade frente aos males das

sociedades ‘’materiais’’, representadas pelo liberalismo ‘’maçonico individualista’’ e o comunismo

‘’ateu coletivista’’; forças moldadas por um progresso material, opostas aos princípios integralistas que

propunham o progresso espiritual. A peculiaridade mística católica era o principal diferencial em

relação ao liberalismo e o comunismo, a partir desse fator surgiu ‘’o integralismo, e sua doutrina vai,

obviamente promover a defesa de princípios espirituais, como a igualdade, a justiça e a piedade’’12.

Considerando que a ideologia pliniana era produto das transformações do após guerra a doutrina

integralista criticava os males das sociedades urbanizadas; o cosmopolitismo e a luta de classes,uma

clara alusão ao liberalismo e ao comunismo.’’Sua concepção política em gestação se inspira em última

análise, na efervescência ideológica das elites intelectuais no após guerra que resulta na confluência

entre o despertar nacionalista, a revolução literária e a revolução espiritual’’13 A partir dessas elites

intelectuais do após guerra surge a expansão dos ideais fascistas, com a presença de um grande número

de escritores e livrarias que difundiam os ideais da Itália de Mussolini e do Novo Estado

11 ARAUJO, Ricardo Benzaquen .Totalitarismo e Revolução: o integralismo de Plínio Salgado. Rio de Janeiro: J..Zahar, 1988. p62

12 Idem ibidem. p62

13 TRINDADE, Hélgio. Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo .Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p56

16

Português(Integralismo lusitano), servindo de inspiração para uma análise da situação política do

Brasil, através de um viés antiliberal e de acolhida aos ideais autoritários da década de 30.’’Mais tarde,

a maior parte desses grupos vai se amalgamar na Ação integralista Brasileira’’14 A criação da A.I.B, é a

junção de valores de grupos conservadores,alguns ligados a Igreja Católica;e nacionalistas ,do final da

década de 1920 e 1930, como a Ação Imperial Patronovista Brasileira (1928),quase um precursor do

integralismo, por seu conteúdo ideológico que apresentava similaridades;tinha como finalidade

restaurar a monarquia, apoiando-se no Rei,na Igreja Católica e nas corporações medievais.

Diferenciava-se dos ‘’camisas verdes’’ por estes estabelecerem um ideal de estado

republicano.TRINDADE explicita de forma objetiva a origens do integralismo: ’’A fundação da AIB,

em 1932, não é um fato isolado, mas resulta da cristalização de idéias radicais de direita no Brasil e da

convergência dos movimentos precursores que Salgado buscará interpretar’’.15

O integralismo alicerça sua base de fundamentação apoiada nos pensadores católicos da década

de 10 e 20 destacando-se: Farias de Brito (1861-1917); Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima

(1893-1983), mais conhecido pelo pseudônimo Tristão de Athaíde.’’Todo conteúdo tradicionalista da

ideologia integralista inspira-se em parte na doutrina social da Igreja e nos temas fundamentais da

renovação das elites católicas’’16. Grande parte do ideário de SALGADO foi influenciado por uma

intelectualidade católica engajada, que difundiam a chamada ‘’renovação espiritual’’,a partir do

Centro D.Vital. Esta manifestação de cunho místico é resultado de longas reflexões de filósofos

brasileiros, que tinham por objetivo impor valores cristãos e espirituais na poesia e na filosofia em

contraposição às obras de intelectuais oriundos das correntes positivistas e naturalista. O alvo dos

filósofos que inspiraram o ‘’Chefe Nacional’’era o conteúdo ideológico da geração intelectual

‘’descristianizada’’ da segunda metade do século XIX, caracterizados pelo ceticismo e

anticlericalismo; e a base de apoio era a grande parte da população que ainda conservava a fé baseada

nos princípios de Roma.Outra característica dos filósofos era o repúdio aos valores da sociedade do

Império Brasileiro, aos conceitos de uma sociedade de cunho liberal; viviam sob uma espécie de

nostalgia da sociedade da Idade Média de cunho conservador e tradicionalista.

14 Idem ibidemp105

15 TRINDADE, Hélgio .Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974, p106

16 Idem ibidem. p10

17

O auge do movimento de ‘’renovação espiritual’’, surge a partir da separação da Igreja e do

Estado com a consolidação da República.TRINDADE, destaca a influência do Arcebispo de Olinda e

Recife, D.Sebastião (1882-1942), como fundamental numa tomada de consciência de certos setores da

hierarquia católica com relação à situação da Igreja no Brasil’’17, convidando os clérigos e leigos a

tomar medidas que efetivassem uma espécie de ‘’renascimento’’ do catolicismo

brasileiro,considerando que os católicos eram uma maioria e que formavam uma grande força nacional,

mas que era inatuante, pois não influíam na sociedade do modo que deveriam. Neste contexto de

laicização nacional, os simpatizantes do catolicismo se lançam numa verdadeira’’cruzada’’, com

resultados que acarretaram em inúmeras conversões de intelectuais. Dentre eles destaca-se Júlio

Moraes Carneiro (1860-1916), o Padre Júlio Maria, como apenas o princípio de uma geração de

fervorosos intelectuais católicos, abrindo caminho para Farias de Brito,de grande influencia e

admiração de SALGADO18e fundamental na elaboração da concepção filosófica integralista,foi

considerado precursor da ‘’renovação espiritualista’’19pelos intelectuais do ‘’Centro D.Vital’’ após a

sua morte; criticava o positivismo,inspirando-se em Bergson, Kant e Spinoza;influenciando a nova

geração católica a partir do conceito idealista de Kant,e do intuicionismo e criacionismo bergsonianos.

Além disso, suas obras fazem duras críticas a revolução francesa, a democracia liberal e ao socialismo,

temas que mais tarde seriam alvo dos integralistas.

Farias de Brito influenciou diretamente outro importante intelectual: Jackson de Figueiredo

(1891-1928), um personagem central da renovação católica e da formação intelectual de SALGADO.

Antes de aderir a filosofia espiritualista, Jackson de Figueiredo, era influenciado pelo anarquismo e

pelas leituras de Nietzsche, e apenas em 1916 se converte plenamente ao catolicismo20,passando a

difundir temas como: catolicismo, contra revolução, ordem e nacionalismo,temas presentes em toda

17 TRINDADE, Hélgio .Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo :Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974. p39

18 SALGADO sempre evocou a influencia de Farias de Brito na elaboração do primeiro capítulo do manifesto de outubro de 1932 designado ‘’ concepção do universo e do homem’’, e também difundiu suas idéias reeditando suas obras mesmo depois da dissolução da AIB. 19Alguns historiadores negam seu papel de precursor do renascimento espiritual católico.

20TRINDADE retrata o intelectual de forma categórica: ‘’Católico ardoroso, contra revolucionário e combatente, defensor intransigente da ordem e da autoridade nacionalista radical, Jackson encarna sobre tudo, o espírito do capitalismo ultramarino combate a ameaça do protestantismo e da maçonaria, dos judeus que controlam o capitalismo internacional.Seu nacionalismo, sem se tornar tão radical como o nacionalismo integral de Maurras ou como o culto estético e afetivo da nação de Barrès, apóia-se sobretudo no culto do passado nacional e nas crenças e valores que consistem a nação’’ TRINDADE, Hélgio .Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974

18

ideologia integralista. A partir de 1928, após a morte de Jackson de Figueiredo, surgiu a figura de

Tristão de Athaíde21, que assumiu o Centro D.vital e a Liga Eleitoral Católica, sendo considerado por

muitos por muitos como o ‘’líder do catolicismo brasileiro’’22 e influenciando diretamente toda a

geração católica da década de 30, estando presente nos momentos que a AIB despontava no cenário

nacional, estabelecendo contato direto com SALGADO e elaborando uma análise profunda do

movimento; através da ação doutrinária na imprensa.

A compreensão dos ancestrais intelectuais que influenciaram SALGADO,são de fundamental

importância para entender a fundamentação do catolicismo na ideologia dos‘’camisas verdes’’.O

primeiro contato do ‘’Chefe Nacional’’ com o catolicismo, surgiu a partir da educação religiosa de

cunho politizado transmitida pela mãe deste, ensinando-lhe a história sagrada. Na adolescência,

estudara em colégios de formação religiosa, o Externato São José e no Ginásio Diocesano de Pouso

Alegre. Apesar disso, é importante destacar que o’’Chefe Nacional’’ direcionou seus estudos aderindo

ao materialismo histórico, algo oposto do que iria ocorrer anos depois, quando adere em definitivo a

filosofia espiritualista,após sofrer os males da gripe espanhola.23

O fato de SALGADO fundamentar-se na geração católica para elaboração do integralismo não

permite afirmar que as influências anteriores a 1930, período que ‘’cultuava’’ o materialismo histórico;

não serviram de fundamento na ideologia. Na realidade havia uma espécie de sincretismo de idéias

materialistas e espiritualistas. O pesquisador Ricardo B. ARAUJO confirma esta hipótese afirmando

que;’’seu contato com o positivismo, com o espiritualismo católico, com o pensamento fascista,

especialmente com o nacionalismo modernista, representam um papel da maior importância na

confecção da síntese ideológica por ele proposta em 1932’’.24

21 O catolicismo de Tristão de Athaíde foi difereciando-se progressivamente do de Jackson de Figueiredo, passando a ser mais liberal ,tolerante e neotomista, mais aberto aos problemas sociais e da modernidade.O pensamento católico contemporâneo, devido a influencia de Tristão, não se inspira mais: em De Maistre e maurraras, mas em Mauritain e Mounier. 22 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo :Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974. 23 ’’Após esta fase, começa a interessar-se pelas obras de Farias de Brito que vai atraí-lo a uma concepção espiritualista do mundo e aproximá-lo de Jackson de Figueiredo.Nesta época começa a preocupar-se com os problemas brasileiros,embora ainda por mero diletantismo’’ TRINDADE, Hélgio .Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974. p 44,45 24 ARAUJO, Ricardo Benzaquen .Totalitarismo e Revolução:o integralismo de Plínio Salgado. Rio de Janeiro: J.Zahar, 1988. p 125

19

O manifesto integralista de 1932 é o primeiro referencial de fundação da AIB, e já no início do

documento consta à primeira alusão a figura divina, na qual apenas esta é responsável pelo futuro da

humanidade, através da mensagem, de que’’Deus dirige o destino dos povos’’25 Os integralistas desde

seu marco inicial em 1932 já direcionavam sua filosofia política exaltando e confirmando valores

espiritualistas cristãos do movimento, ao contrário de movimentos contemporâneos a este, como os

regimes liberais que desde sua essência são caracterizadas pelo anticlericalismo, sendo que; apenas no

ano de 1935, procuram algum tipo de aliança com a Igreja Católica, pelo ódio e temor que ambos

sentiam do bolchevismo. TRINDADE, confirma que as influências cristãs faziam parte do

integralismo, no mesmo período da publicação do Manifesto,três anos antes dos regimes liberais

tentarem uma aliança com a Igreja:’’’26.Na realidade existe uma falsa noção do ‘’senso comum’’ e de

muitos intelectuais de esquerda, que associam a direita liberal à Igreja Católica alegando uma certa

associação de instituições ‘’burguesas’’ contrárias a causa do operariado. As sábias palavras de Tristão

de Athaíde na obra Integralismo Perante a Nação faz alusão a esta equivocada associação de forma

categórica:

A condenação (do integralismo) parte,em geral,de pessoas que,consciente ou inconscientemente,continuam a confundir liberalismo com liberdade ,democratismo com justiça social,pacifismo com amor da paz.E como a Igreja defende,intransigentemente,a liberdade,a justiça social, o amor da paz, ligam a ela o regime político-liberal,que defende o liberalismo, o democratismo,o pacifismo.Faz-se assim uma ligação entre o Catolicismo e o regime liberal-democrático,tanto na ordem política como na ordem econômica27

Em termos gerais, a composição da AIB pode ser caracterizada a partir da cúpula dirigente; que

era composta, principalmente por membros que oriundos do movimento modernista e do ‘’Centro

D.Vital’’ e a base; que era composta de variados setores da sociedade brasileira como artesãos,

pequenos proprietários de terras, ex-oficiais do Exército e da Marinha; comerciantes;

clérigos;operários; e imigrantes rurais provenientes da Itália e da Alemanha,que formavam a maioria

dos integralistas. A estrutura da AIB está associada aos vínculos desta com os imigrantes italianos e

alemães no Brasil, considerando o caráter receptivo destes e da existência de sedes do Partido Fascista

25 SALGADO, Plínio.O Integralismo perante a nação. 3ed Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1955. p 17.

26TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974 ,pp38-39

27 SALGADO, Plínio.O Integralismo perante a nação.3ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1955. p64.

20

Italiano e o Nacional Socialista Alemão.A partir disso, surgem questões: Quais as relações entre estes

três movimentos? Quais as diferenças e similaridades?Sob que aspecto pode-se apontar pontos de

contato e diferenciação?Essas questões permitem traçar uma primeira comparação entre os fascismos

europeus e o ‘’fascismo brasileiro’’28

Devido ao fato do integralismo ser enquadrado como um movimento de caráter fascista por

grande parte dos especialistas no tema remete a necessidade de registrar que as similaridades são

numerosas com o nazi-fascismo. Seria lógico concluir que as similaridades são próximas desses

regimes, mas é importante destacar que os fascismos, diferente do comunismo, não era uma doutrina

internacionalista e sim uma ideologia que se ‘’expressava’’ sob formas particulares, não podendo ser

aplicado da mesma forma em todos os ‘’cantos da terra’’; os princípios das doutrinas fascistas seriam

adaptados de acordo com a realidade de cada país. Cada forma de fascismo possuía características

próprias que convergiam e divergiam em inúmeros pontos.A diferença mais aguda do integralismo

para o nazi-fascismo talvez seja a incorporação do catolicismo dentro do ideal do ‘’fascismo

brasileiro’’, em contraposição a duas doutrinas que representaram o fascismo à níveis mundiais a partir

da expansão; algo que talvez tenha feito delas as únicas representantes da ideologia fascista para o

‘’senso comum’’; pelo caráter pioneiro do fascismo italiano e o nazismo por representar o ‘’fascismo’’

em proporções avassaladoras na Segunda Guerra (1939-1945), provocando grande temor aos

‘’bolcheviques’’ e ‘’liberais’’.Apesar disso é importante enfatizar que um grande número dos

fascismos que existiram ao redor do planeta inseriram o catolicismo dentro de suas doutrinas, e por

isso foram denominados de clericais fascistas ou integralistas,outro termo utilizado por alguns

intelectuais para designá-la;que foram fundamentadas a partir do nacionalismo e da religião.A partir

disso, a reflexão de BARROSO é de fundamental importância e corrobora a essência cristã do

integralismo em contraposição ao ‘’paganismo’’ nazi-fascista, como bem elucida:

De todos os movimentos de caráter fascista, e assim os denominamos por falta de expressão mais apropriada para sua generalidade, o integralismo é o que contém maior dose de espiritualidade e um corpo de doutrina mais perfeito à formação dos grupos naturais e à solução dos grandes problemas materiais. Surgindo depois de Mussolini e Hitler, ele afirma mais fortemente o primado do espírito e mais alto se eleva doutrinariamente, para as verdades Eternas, que cintilam na aurora dos novos tempos.O Integralismo defende os princípios básicos da civilização cristã ocidental.Como esses princípios fundamentam quase todos ou quase todos os chamados fascismos, naturalmente com ele com eles se cruza o integralismo aqui e ali.Os ignorantes em questões filosóficas e sociais ou os de má fé poderão confundi-los.Os que estudam e conhecem sabem que há diferenças essenciais no modo de considerar as questões, as quais se refletem, na prática e no modo de resolve-las.Tomemos como exemplo o Integralismo, o Fascismo italiano e o Nazismo Alemão.Os três tem os

28 É importante enfatizar que dentre os autores citados na pesquisa apenas CHASIN contesta ao caráter possibilidade do integralismo ser uma forma de fascismo.

21

seguintes pontos de contato: No terreno espiritual, são reações do espiritualismo contra o materialismo, do nacionalismo contra o internacionalismo, do idealismo cristão contra o naturalismo judaico-puritano.No terreno econômico são reações da produção contra a especulação, da propriedade contra o capitalismo absorvente.No terreno moral ,são reações do nobre sentido de trabalho honesto e sacrifício do cristianismo contra o sentido de gozo material e do utilitarismo sem honra da burguesia judaizada e paganizante. Todos os três condenam as forças ocultas que dominam o estado, querem o corporativismo, mantém o direito de propriedade, afirmam a soberania econômica, adotam a economia de plano, defendem a pátria, garantem a família, detestam a usura e organizam as hierarquias.Separam-nos, no entanto, diferenças profundas.O Fascismo se enraíza na gloriosa tradição do império romano e sua concepção de Estado é Cesariana ,anti-cristã.O Estado nazista é também pagão e se baseia na pureza da raça ariana, no exclusivismo racial. Apoiado neste , combate os judeus.O Estado Integralista, é profundamente cristão, Estado forte, não cesarianamente, mas cristãmente, pela autoridade moral de que está revestido e porque é composto de homens fortes.Alicerça-se na tradição da unidade da pátria e do espírito de brasilidade.Combate os judeus, porque combate os racismos, os exclusivisnos raciais, e os judeus são os mais irredutíveis racistas do mundo.No fundo, o Fascismo,entroncando-se na tradição romana, reveste-se dum caráter cesareo e pagão.Cultua o super-homem nitzscheano, que é a pianta uomo de Alfieri, prendendo-se à hipertrofia dos grandes tipos do renascimento.Do mesmo modo, o Nazismo estatuído sobre a tradição racial nórdica, toma um feitio nitidamente odínico. Rende preito à força bárbara da invasão dos godos antigos.O integralismo trás em si o idealismo de três raças: o sonho da tribus andejas dos tupis em busca duma terra feliz, o sonho de libertação dos escravos arrancados aos sertões longínquos, o sonho de glória e de riqueza dos conquistadores e bandeyrantes audazes.a benção do jesuíta uniu todos debaixo da mesma cruz.Dos Guararapes ao Aquibadan, o sangue de todos os uniu no mesmo destino. O seu culto é a cruz que juntou as três raças e os três sonhos.29

BARROSO, foi o personagem integralista que mais levou a sério a pregação de uma

solidariedade entre o integralismo e outros movimentos fascistas ao redor do mundo mesmo não

pretendendo que o integralismo copiasse o fascismo, mas considerava que os dois possuíam afinidades

ideológicas.Apesar de existirem pontos de diferenciação entre o integralismo e o nazi-fascismo,

BARROSO, procurou solidarizar-se com eles. A melhor demonstração dessa consciência é revelada na

obra Integralismo e o Mundo,estabelecendo a espiritualidade como um primeiro ponto de contato

entre eles, a partir de um viés integralista, o que é contestado por alguns historiadores como CHASIN,

e aceita parcialmente por autores com TRINDADE e ARAUJO .BARROSO afirma:

Como reação natural ao materialismo e ao internacionalismo dissolvente, em todo mundo desabrocham e se desenvolvem movimentos baseados em idéias que se inspiram numa mística nacionalista.São movimentos de síntese que se contrapõe à análise levada ao extremo em todos os domínios e atividades da vida pelo espírito do século XIX, filho da Reforma,da Enciclopédia e da Revolução Francesa.Variando em cada país, de acordo com suas verdadeiras realidades, ligam-se na base por princípios comuns.Daí as suas semelhanças.O primeiro deles que triunfalmente se manifestou foi o fascismo italiano, chefiado por Benito Mussolini.Daí se ter dado o nome de fascismo a todos os movimentos idênticos, análogos ou semelhantes.Ao internacionalismo individualista do século passado, que permita a hipertrofia do indivíduo isolado ou em grupos com o capitalismo, que dissolva o indivíduo na massa, deixando-lhe somente os interesses individuais, com o bolchevismo, sucede o universalismo personalista das doutrinas denominadas fascistas,as quais, na essência, respeitam a liberdade e a dignidade da pessoa humana, e se universalizam pelo seu espiritualismo.30

29 BARROSO,Gustavo. Integralismo e o Mundo. 2ed.Rio de Janeiro.Civilização Brasileira Editora. 1937.p

30 BARROSO,Gustavo. Integralismo e o Mundo. 2ed.Rio de Janeiro.Civilização Brasileira Editora. 1937.p 13-14

22

A evidência de uma certa universalidade fascista é explicada por BARROSO como a

própria finalidade da obra Integralismo e o Mundo:

O fim deste livro é mostrar a amplitude de manifestações dessas idéias no mundo, desde a Ásia à América, afim de que se veja o impulso e se sinta a grandeza dos movimentos de caráter fascista que florescem em todos os povos.A leitura dos seus postulados doutrinários mostrará claramente os pontos de contato desses movimentos no âmbito dos princípios superiores às raças e nacionalidades e os pontos de divergência em relação às circunstâncias e realidades próprias de cada nação ou povo, indicando ao mesmo tempo, a posição do integralismo Brasileiro no panorama dos nacionalismos modernos.’’31

Dentre os vários movimentos fascistas, considerando o fascismo como um fenômeno

internacional32 que tiveram origem durante as décadas de 20 e 30, o integralismo, ao lado do

fascismo belga, Movimento Rexista33 (1930) liderado por Leon Degrèlle; a falange

espanhola34(1933), que mais tarde foi liderada por Francisco Franco; o

Salazarismo35(1922),oriundo do integralismo lusitano de Rolão Preto, chegando ao poder em 32

31 Idem ibidem.p 15 32 BARROSO classifica os fascismos a partir de uma solidariedade entre eles, por possuírem inimigos comuns, com:comunismo,liberalismo, judeus e maçonaria’’A universalidade fascista é, hoje, fato indiscutível. Por toda parte se levanta a mocidade em reação ao ateísmo, ao individualismo, ao judaísmo, ao comunismo e a desordem’’ G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit.p 50 .Segundo BARROSO:‘’O movimento fascista,como movimento,é especificamente italiano.a revolução que realizou é um fato histórico italiano.Mas o fascismo também é uma doutrina,e,como doutrina ,tem caráter universal’’ G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit.p.101. 33 BARROSO em Integralismo e o Mundo relacionou o Movimento Rexista, como uma manifestação nacionalista e defensora da espiritualidade, dois elementos que estão presentes no ideário integralista: ‘’Organizou-se em toda a Bélgica uma ação nitidamente fascista, na qual a maioria dos aderentes era composta de veteranos de guerra. Por essa razão, ao invés de camisas, usavam capacetes de aço com que , nas trincheiras, durante quatro anos haviam defendido sua pátria. Seu programa doutrinário compreendia a condenação a usura e da especulação, a defesa da pátria e da família, e a afirmação a Deus.G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit.p.34. 34 O fascismo espanhol, procurava o reestabelecimento dos valores tradicionais da Espanha, dentre eles o catolicismo.’’A falange sabe que o sopro do gênio espanhol e somente animará a mocidade, se ela voltará à sua estrutura tradicional, unicamente modificada pelos progressos da economia moderna.E a estrutura tradicional é do tipo corporativo’’ G. Barroso ,Integralismo e o Mundo op.cit .p 38.. 35 ‘O ministro Salazar que encarna todo o espírito fascista do atual governo português é um filho espiritual do integralismo lusitano.Pertence a geração de Coimbra que dos fins do século XIX ao início do século XX se revoltou contra o materialismo corruptor.Católico, compreendendo a ascése do poder, impôs a ordem política e financeira ao seu país;mas entendendo ser possível a realização da idéias integralistas sem um movimento verdadeiramente nacional, com sua mística e o apoio de sua milícia. G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit.p 180.

23

em Portugal;, os Cristeros no México que aderiram ao sinarquismo anos depois36(1926), os

Apristas no Peru37, o Partido Nacional cristão e a Guarda de Ferro(1935) na Romênia38,os

nacionais socialistas cristãos no Canadá39; a National Union for Social Justice (União Nacional

pela justiça social) (1934), nos EUA40;a Ustashe na antiga Iuguslávia (1929)41;o fascismo na

antiga Thecoeslovaquia42 (1925) e o fascismo na Áustria43(1933);foram movimentos que optaram

pela incorporação do catolicismo romano; exceto o fascismo romeno que estava vinculada a

Igreja Ortodoxa, como parte integrante das doutrinas, alguns com maior relevância outros com

menos. Se não são totalmente clericais fascistas podem ser considerados regimes que adotaram

elementos do catolicismo.Apesar disso, as origens do modelo de Estado fascista remontam a uma

apropriação de concepção de estado de natureza pagã. A melhor evidência disso, seria o fato dos

36 Movimento liderado por Crístero, os ‘’camisas douradas’’formavam uma organização extremista católica que possuía vários membros do clero que partciparam de lutas contra os comunistas e os norte americanos ‘’Já existe no México a Ação Revolucionária Mexicana, ala fascista, que organiza sua milícia de camisas-Douradas e que conta com o apoio de altas personalidades como o presidente Rodriguez e o general Aaron Saenz.É uma forte organização anti-semita e anti-comunista G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit. p168 37 ’’O aprismo é um movimento de opinião e cultura, de caráter espiritual e nacionalista que se está irradiando por toda a república peruana.Seus princípios básicos são os seguintes: ordem, hierarquia, propriedade,,trabalho,soberania econômica,alem da soberania política,para a nação.Combatem a usura e a especulação, as desnacionalização do país, o cosmopolitismo, as influencias nefastas junto aos governos. G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit p169 38 ’’A14de julho de 1935 fundou-se na Romênia o Partido Nacional Cristão, dirigido por dois membros do parlamento- o deputado Cuza e o ex-ministro Goga.Sua divisa é ‘’a Romênia aos romenos’’ e reveste-se de caráter profundamente anti-semita.Outra organização fascista e anti-semita da Romênia é a chamada Guarda de Ferro.É’ do seu programa a inalienabilidade da propriedade agrária, a indestrutibilidade da família o culto da pátria acima de tudo, a afirmação de Deus.Compõe-se em grande maioria os camponeses.Seu chefe é um político de nomeada, Cornélio Cordeanu’’ G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit p169 39 O clero canadense empreendeu uma grande campanha popular dirigida principalmente aos estudantes,difundindo ensinamentos através de propagandas que rechaçavam o bolchevismo.’’Os padres Phelon e Cousineau fizeram preleções formidáveis com grande êxito nos meios estudantis.E os elementos que estão preparando a reação fascista no Canadá sentiram os benefícios da campanha cristã, vendo engrossar a suas fileiras Cordeanu’’ G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit . p50 40 ‘’A National Union For Social Justice foi fundada a 11 de novembro de 1934, dia do Armistício, pelo padre Charles E. Conghlin, o mais famoso pregador católico dos Estados Unidos, vigário da paróquia de Royal Oak no Michigan, cuja Igreja é dedicada a Santa Terezinha do Menino Jesus.É considerado chefe supremo dos fascistas ianquis’’ G. Barroso,Integralismo e o Mundo op.cit p 72 41 Tomou o poder em 41,era controlada pela hierarquia católica croata com ativa participação do clero, fundada por Ante Pavelic.Apesar de ser um movimento católico participavam muçulmanos bósneos que tinham ódio comum aos sérvios. 42 Movimento liderado pelo clérigo Jozef Tiso. 43 Fundada por Dollfuss que inspirou grande parte de sua doutrina a partir de Mussolini,mas com fortes características cristãs.Permaneceu no poder,até a incorporação da Áustria pela Alemanha.

24

ideários do fascismo italiano como Giovani Gentile44 (1875-1944) declarar em discurso que

pretendia resgatar a Itália a partir dos moldes do Império Romano, influenciado por uma

concepção de estado Cesariana.. O nazismo parte do mesmo princípio apoiado no culto a tradição

germânica, anterior ao cristianismo, sob o viés do espaço vital.TRINDADE reflete bem esta

questão: ’’Neste aspecto doutrinário o integralismo aproxima-se muito mais dos fascismos

conservadores -o português (salazarismo), o espanhol (falange espanhola), o belga (rexismo)- que

do espiritualismo vago do fascismo italiano ou do agnosticismo nacional-socialista alemão’’.

44 Filósofo italiano e ministro do governo de Mussolini, elaborou uma filosofia que colocava o Estado no centro das atenções.

25

3. A QUESTÃO DAS ENCÍCLICAS

O Manifesto de Outubro de 1932, aponta a um direcionamento político que remete a

‘’dois postulados doutrinários: o humanismo espiritualista e a harmonia da vida em

sociedade’’45.Influenciados por um pensamento doutrinário, que lembra alguns fundamentos do

tomismo; no qual procura adaptar a Igreja à sociedade46; os ‘’camisas verdes’’ elaboraram uma

concepção de Estado que busca integrar valores da sociedade do medievo ao almejado Estado

Integral47. O espiritualismo católico e a sociedade estão profundamente ligados, como elucida

TRINDADE:

A harmonia social resulta da organização hierárquica da sociedade, em função das diferenças naturais que

existem entre os homens na sociedade integralista, harmonia e hierarquia são indissociáveis.E como

conseqüência, o fundamento espiritualista da ideologia integralista inspira-se na concepção tradicional da

doutrina social católica’’48

45 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974. pp 208-209

46 O integralismo procurava estabelecer uma harmonização no plano social e político entre o poder espiritual e temporal. BARROSO elucida esta questão:’’Ora é preciso não esquecer que o papa Gregório XVI declara nas encíclicas que existem laços naturais entre o temporal e o espiritual., e que a religião católica, como guarda que é da moral, deve intervir nas cousas públicas, na vida pública, na vida política,, pela palavra e pela ação, todas as vezes que restringe se desviam claramente dos princípios sagrados da moral cristã’’ BARROSO,Gustavo. Integralismo e o Mundo. 2ed.Rio de Janeiro.Civilização Brasileira Editora. 1937.p 11 47 Os estatutos da AIB, divulgados em 1934 ,a partir do documento numero três, define a partir de quatro pontos (ordem política,econômica, moral e intelectual) o Estado Integral: ‘’Compreende-se por Estado Integral o Estado que realiza:1-Na ordem política,um regime político-social baseado na doutrina integralista ou nacional corporativa; 2-Na ordem econômica o regime da economia dirigida no sentido do predomínio do social sobre o individual.3-Na ordem moral,a cooperação espiritual de todas as forças que defendem as idéias de Deus,Pátria e Família;4-Na ordem intelectual, a participação de todas as forças culturais e artísticas na vida do Estado’’ SALGADO,Plínio.O integralismo perante a nação.3ed Rio de Janeiro:Livraria Clássica Brasileira,1955. p 42 48 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro,Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p 209

26

A encíclica49 Rerum Novarum 50(1891) elaborada por Leão XIII (1810-1903), o primeiro

documento social da Igreja; é considerado por alguns teóricos devido sua similaridades de idéias

como a inspiradora da concepção de Estado Corporativo de Mussolini, que posteriormente

influenciara o nazismo e o integralismo.É importante enfatizar que o ideário de Hitler e de

Mussolini; apesar de estarem muito longe dos ensinamentos do catolicismo e de serem

caracterizados pelo repúdio aos decretos dos papas51; muitos dos temas da encíclica de Leão XIII

são encontradas no ideal de Estado Corporativo do fascismo italiano e do nazismo. Partindo deste

contraponto, seria mais natural identifica-lo com o integralismo, na medida que seus ideólogos

propunham um Estado vinculado ao catolicismo52. Considerando a possibilidade da concepção de

Estado Corporativo ser uma herança da Igreja Católica, pode-se traçar um ponto de contato entre

as três doutrinas.A passagem de BARROSO na obra Integralismo e o Mundo faz uma

comparação entre o Estado Corporativo Integralista e o Estado corporativo Nazi-fascista:

49A posição de BARROSO a respeito do significado da encíclica evidencia o caráter de profundo respeito a autoridade papel e demonstra um conceito sobre as notas papais: ‘’E a Encíclica(voz grega que significa circular) um documento apostólico que o Papa, Soberano Cabeça da Igreja e vigário de Nosso senhor Jesus Cristo,dirige a todos os bispos do mundo, ou aos Bispos de uma nações, por eles,a todos os sacerdotes e fiéis que lhe estão sujeitos(...)Estas circulares ou cartas só as expede a Santa Sé em ocasiões solenes e sobre os mais graves assuntos, como é firmar a fé,condenar os erros, reestabelecer a disciplina,apaziguar discórdias, formular leis e regras para direção espiritual do povo cristão’’ BARROSO,Gustavo. Integralismo e o Mundo. 2ed.Rio de Janeiro.Civilização Brasileira Editora, 1937.p 119 50 Esta encíclica é uma nítida crítica da Igreja Católica ao liberalismo, a partir das conseqüências da revolução industrial, que ‘’explorava’’ o trabalhador e o afastava da Igreja.O conteúdo da encíclica propõe a solução dos problemas materiais a partir de governos fortes, conservadores e do nacionalismo, pois apenas a partir disto, que as populações escapariam da ‘’exploração’’ capitalista e manteriam seus costumes tradicionais.Apesar disso, a encíclica também é uma dura crítica ao comunismo, a partir do conceito marxista de luta de classes,;propondo uma espécie de solidariedade ou harmonia entre as classes altas e baixas.A Rerum Novarum propunha a manutenção da propriedade privada como um direito natural em contraposição a eliminação desta, proposta pelo socialismo. O documento também repudia as doutrinas derivadas do anarquismo, procurando harmonizar os interesses divergentes entre operários e patrões através do catolicismo;defendia a não intervenção do estado na questão operária e sim a elaboração das associações de trabalhadores inspirando-se nas antigas corporações de ofícios do medievo e manifesta a preocupação em cristianizar as massas operárias. 51 Os decretos papais não influíam diretamente na composição ideológica do fascismo e do nazismo.Um exemplo que pode elucidar esta querela pode ser encontrado na assinatura das concordatas (como a Concordata do Reich) entre o Papa Pio XII e Hitler que afastavam as agremiações católicas das questões políticas da Alemanha, com o intuito de não mesclar a espiritualidade católica aos princípios da ideologia hitlerista. Através desta concordata a Igreja Católica aceitou obedecer o soberano alemão ,abdicando o direito de impor decretos aos católicos da Alemanha. 52 ‘’O Integralismo é um movimento cristão.Isto tem sido dito e repetido a sociedade pelo Chefe Nacional em discursos e artigos.Se assim é, o Integralismo tem suas bases filosóficas e morais na doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo,nos evangelhos. BARROSO,Gustavo.Integralismo e Catolicismo.2ed. Rio De Janeiro: Ed ABC,1937. p31

27

O Estado Corporativo Brasileiro é uma verdadeira democracia orgânica, pois resulta dos sufrágios dos

sindicatos, federações e corporações.A base do Estado reside na família.Das famílias nasce o município.E os

sindicatos se organizam nos municípios.A organização vem de baixo para cima, nasce do próprio povo (...) O

Estado Corporativo Italiano já não é assim.O impulso parte de cima.E o governo quem tudo organiza até o

âmbito familiar,de onde o movimento organizador volta novamente ao estado,como um reflexo.O mesmo se

dá mais ou menos no Estado Corporativo Nazista’’53

A encíclica Quadragesimo Anno54 (1931), elaborada por Pio XI(1857-1939), o segundo

texto social católico após trinta anos da consolidação do primeiro influenciou diretamente a

AIB55, mas foi descrito com desconfiança por fascistas e nazistas devido o conteúdo de

crítica a certos regimes totalitários56. O integralismo, mesmo sendo considerado por muitos

como uma doutrina totalitária não poderia deixar de acatar nenhum decreto papal divulgado

nas encíclicas, justamente por declarar-se um movimento social cristão, como explicita

BARROSO:

O Integralismo é um movimento político e social cristão, segundo declaram todos seus doutrinadores.Portanto, o Integralismo se alicerça, fundamenta e radica no cristianismo, nas doutrinas sociais e políticas do cristianismo.(...) A Igreja Católica possui um corpo de doutrina social estatuído sobretudo nas duas grandes Encíclicas, Rerum Novarum’’ e Quadragésimo Anno’’.A segunda corrobora, pormenoriza e ajusta ao momento presente os princípios gerais expostos com sábia clareza na primeira.(...) Movimento cristão, o integralismo não poderá contrariar os princípios assentados pela Igreja e os integralistas precisam conhecer a Augusta palavra de Roma sobre a grave matéria.57

Segundo TRINDADE, o ideal de corporativismo de SALGADO teve grande influência do

integralismo lusitano, ‘’a partir de estudos sobre as idéias religiosas no Brasil, que confirmam a

53 BARROSO,Gustavo. Integralismo e o Mundo. 2ed.Rio de Janeiro.Civilização Brasileira Editora, 1937.p18 54 É uma adaptação ao presente e uma reafirmação da encíclica Rerum Novarum, sendo que à maior parte do conteúdo dela assemelha-se à esta. Alguns teóricos a consideram como resultado das atitudes de alguns governos totalitários e como uma resposta do catolicismo à ameaça de regimes autoritários, como o stalinismo, que apresentava um projeto político que visava a aniquilação da Igreja, como o que ocorrera com a Igreja Ortodoxa Russa; o que gerava um grande temor aos católicos romanos. O conteúdo do texto papal condena os regimes de direita e de esquerda e questiona alguns pontos do totalitarismo sob viés do papa Pio XI ,formulado quando a Igreja estava ameaçada pelos regimes liberais e comunista. 55 ‘’A encíclica Quadragésimo Anno exige um governo forte e um princípio diretivo na economia,e admite a nacionalização de serviços cujo poder particular é um perigo para a soberania do Estado’’ SALGADO,Plínio.O integralismo perante a nação.3ed Rio de Janeiro:Livraria Clássica Brasileira,1955. p72 56Plínio Salgado também condenara o totalitarismo, apesar da analise tradicional historiográfica afirmar que a doutrina integralista era totalitária.No período de 1932-1938 os regimes fascistas, como o nazi-fascismo estavam em atrito com algumas afirmações da Santa Sé. 57BARROSO,Gustavo.Integralismo e Catolicismo. 2ed. Rio De Janeiro: Ed ABC,1937. p 7-8

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hipótese de convergência ideológica entre certos movimentos dos anos 30 e o Integralismo’’.58 .

Segundo essa afirmação fica evidente que a influência fascista italiana sobre Salgado não foi

exclusiva. Em termos gerais o ideal de corporativismo de Salgado poder ser considerado como

uma mescla de influencias derivadas do Integralismo Lusitano59 ; da doutrina católico-social, de

onde se origina sua valorização da autonomia municipal60; do corporativismo tradicional; e das

bases espiritualista de ideologia. ‘’A atração integralista pelos ideais corporativistas também está

associada ao anticomunismo e à solidariedade fascista’’61.

Segundo TRINDADE a formação católica de SALGADO leva-o mais a valorizar a reforma

do homem do que do Estado62; ao contrário de Mussolini, que oriundo de raízes sindicais

marxistas valoriza mais o Estado que o indivíduo.63.É Importante ressaltar, que apesar do modelo

de Estado proposto pelos dois líderes ser o corporativo, fundamentam-se a partir de uma

concepção teleológica e de bases divergentes64. Para SALGADO o Estado é construído através da

organização de grupos naturais, representada pela família, enquanto que Mussolini propõe uma

organização sindical, representada pelo conjunto de trabalhadores.TRINDADE classifica da

seguinte maneira: Poder-se-ia qualificar o primeiro modelo de Estado-Familiar-Corporativo, que

58 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p 124 59 O que pode ter sido o fator que afastou Plínio Salgado da influencia corporativa do estilo sindical. 60 ‘’Os municípios devem ser autonomos em tudo o que respeita os seus interesses peculiares, porque o município é uma reunião de moradores que aspiram ao bem estar e ao progresso locais (...) O município, portanto, sede das famílias e das classes, será administrado com honestidade, será autônomo e estará diretamente ligado aos desígnios nacionais’’ SALGADO,Plínio.O integralismo perante a nação.3ed Rio de Janeiro:Livraria Clássica Brasileira,1955. p 26-27 61 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974. p 164 62 Idem, ibidem p 227 63É interessante ressaltar que Miguel Reale, o terceiro homem da hierarquia da AIB, também era originário de raízes marxistas como o líder da Itália fascista, e propunha a organização de um Estado Sindical integralista nos mesmos moldes do estado idealizado por Mussolini que coloca o estado no centro de suas preocupações, ao contrário de SALGADO. 64 A base teleológica do integralismo fundamenta-se à partir do nacionalismo supervisionado por uma Igreja atuante.O nazismo embasa suas bases no nacionalismo à partir do conceito da pureza racial e do espaço vital.O fascismo também prevê o nacionalismo, mas a partir da ‘’volta’’ da Roma antiga ao molde Cesariano e uma forma imperial de governo colonialista.

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estaria diretamente vinculado com o catolicismo tradicional e o segundo Estado-Sindical-

Corporativo, que seria supostamente adaptado por Mussolini através do catolicismo.65 Portanto, o

integralismo aceita do fascismo italiano o conteúdo ‘’revolucionário’’ e o nacionalismo de

base corporativa através da harmonia das classes, mas aceita a identificação com a hierarquia

católica, ao contrário do fascismo que não aceita.’’A originalidade reivindicada pelo integralismo

é de ser enquanto movimento e doutrina, mais espiritualista do que vitalista’’66 e

expansionista,como o nazi-fascismo. O integralismo estava mais próximo de um cristianismo

social do que da doutrina de fortes características seculares do fascismo, ligado ao esplendor

material. O pesquisador José CHASIN,faz uma abordagem que confirma uma certa repulsa de

SALGADO à concepção de Estado Cesariano, afirmando que o ‘’Chefe Nacional’’ valoriza mais

a reforma do homem que o Estado, e o catolicismo como o cerne do Estado corporativo

integralista:

Salgado vê que o Estado isento das deturpações que lhe poderiam trazer a mística estatal, a adoração de César, o absolutismo do Gênio, o sentido exagerado das exaltações revolucionárias.O que significa, independentemente de outras implicações, que a concepção corporativista de Salgado tem por alicerce decisivo o conceito espiritualista cristão da pessoa humana, tal como é pliniamente entendido (...) ’’E a concepção espiritualista do homem não é apenas uma referencia remota para vagamente sustentar a tese corporativa, mas um nódulo substancial de fundamentação’’67.

A Carta de Natal escrita em 25 de Dezembro de 1935, é de fundamental importância para

esclarecer a visão de SALGADO, a respeito da concepção de Chefe de Estado, e do caráter pagão –

Cesariano da doutrina Nacional-Socialista, na qual condena:

Aquilo mesmo que aparece, aos olhos da humanidade atônita,com reação aos cataclismas morais

contemporâneos, traz, muitas vezes no fundo, a essência de uma das numerosas expressões do erro que

solapou os fundamentos cristãos da sociedade.(...)É o caso da perigosa tendência pagã do hitlerismo,

fenômeno que deve impressionar fundamente a consciencia espiritual dos povos. A guerra às religiões, em

‘’estado latente’’,é conseqüência natural do misticismo que na Alemanha se criou sem base religiosa,isto é,

misturando duas manifestações humanas diferentes, no âmbito do Estado.É a própria concepção do estado

Totalitário, no seu máximo exagero, no estilo de César:Chefe Militar,Chefe Civil e Pontífice.É o erro de Luís

65 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974 .p227 66Idem, ibidem .p 261 67 CHASIN,José.O integralismo de Plínio salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p 584

30

XIV que se transporta à apoteose napoleônica, reponta a filosofia nitzscheana, haure energias em Bismark,

funde-se no espírito da massa, na fornalha da Grande Guerra e, finalmente,traduz-se na mística racista,no

paganismo que,em pleno século XX arranca das cinzas do passado, para atualiza-lo, o drama de Juliano o

apóstata.Já não é a volta de Jupter Olímpico e dos deuses helênicos; é porém, a volta de Odim e dos deuses

que,através de suas músicas clamantes,Wagner vê no alto da montanha.(...) Chegará a Alemanha a essas

loucuras? Não o sabemos..Apenas verificamos as conseqüências de um misticismo transportado do campo

religioso, onde sempre deveria estar e de onde nunca deveria sair,para o campo das atividades políticas,isto é,

à concepção do Chefe,como um homem diferente dos outros,um semi-deus,terminando na própria encarnação

de Odim, a concepção de seus adeptos,como seres inumanos,super-religiosos,porém que,sem um fundamento

cristão,ultrapassaram a linha hipócrita do velho puritanismo,atingindo o outro extremo,onde a explosão de

todos os recalques acaba manifestando-se como negação da virtude68

A proposta de Estado de SALGADO também é relatada na Carta de Natal, que além de repudiar

o ‘’Estado pagão Hitlerista’’ e considerá-lo a representação do anti-cristo, propõe o Estado Integral a

partir do Messias,contrapondo-se ao modelo Cesariano de Estado:

O integralismo não quer construir um estado totalitário, pois quer construir um Estado Integral, o estado

Harmonioso,o estado imutável na sua essência e mudável na marcha revolucionária que lhe impõe os deveres

do Espírito e lhe faculta o livre-arbítrio do espírito,que nele se reflete (...) Distinguimos o campo religioso da

área política.Concebemos a autoridade, não segundo o furor mítico, exacerbado, doentio, dos adeptos em

torno do Chefe,porém com um princípio da manutenção das estruturas orgânicas da sociedade..É no divino

mestre que encontramos a lição admirável: a César o que é de César e a Deus o que é de Deus; sim, porque

César é um homem,ainda que os romanos possam acreditar na sua divindade.Daí tiramos o conceito de

Estado, os limites de sua área de ação,a natureza de sua missão.Porque a missão do Estado não é o Cristo, cujo

reino não pertence, pois o reino do Estado como o Império de César, é exatamente e somente deste

mundo.(...)Sendo o reino de César,ou do Estado,deste mundo,isso não significa que César,ou o Estado,se

desinteresse pelo reino de Cristo,porque o reino de Cristo é também para os homens e César tem deveres

espirituais por ser homem,como tem direitos e deveres na qualidade de chefe de homens.(...) O direito de

César,nos limites do seu império,são exclusivos,e tão exclusivos,que o próprio Cristo os reconhece e neles não

interfere.E claro que César não deverá ultrapassar as fronteiras do seu império.(...) O povo não pode ser uma

criação de César,nem César uma criação do povo.Será usurpar direitos que só pertencem a Deus.E toda a vez

68 SALGADO,Plínio.O integralismo perante a nação.3ed

Rio de Janeiro:Livraria Clássica Brasileira,1955. p55

31

que César quer criar o povo, fabrica um monstro; e toda vez que o povo quer criar um César engendra um

Anti-Cristo69.

A função do Estado para SALGADO é caracterizada a partir da defesa da religião,ante ao

marxismo,o que também serviria ao nazi-fascismo, diferenciando-se apenas pela doutrina peculiar de

cada um ,que no caso não seria a religião,mas a preservação da raça ariana ou as características

imperias romanas:

69

Idem ibidem. p55

32

Sendo o Homem e a família fracos para reagirem sozinhos contra tão grande perigo, fazem no através da

Religião e da Nacionalidade.Do mesmo modo como buscam defesa espiritual na comunhão religiosa que os

proclama intangíveis,também procuram os meios de defesa civil-temporal na comunidade política

representada pelo Estado (...) Se o estado se inspira nos princípios religiosos e sabe distinguir os limites entre

o poder de César e o poder de Deus,então a personalidade humana,com todos os seus atributos ,

prerrogativas,deveres e justas aspirações encontrará neles garantias; se, ao contrário,o Estado se inspira nos

interesses da sua própria manutenção,como entidade viva,nesse caso,querendo se defender da pulverização

coletivista do socialismo internacional, a personalidade humana sucumbe triturada por um socialismo

nacional.Querendo livrar-se de um Estado totalitário destinado a absorver a espécie humana,cai na armadilha

de estado totalitário que se propõe a absorver a nação.O primeiro pretende reduzir toda a humanidade a uma

massa amorfa,onde os direitos individuais se afogarão no oceano de direitos coletivos,utopia que só favorece a

uma reduzida casta dirigente.O segundo identificando os conceitos da nação e Estado e dando a este a

configuração e exercício funcional de caráter biológico, fará desaparecer as marcas da personalidade dos

súditos,sempre que elas contrariem os caracteres expressivos da fisionomia estatal.70

CHASIN vê as reflexões de SALGADO como uma resposta de caráter nacionalista tradicional,

fundada no convicionalismo católico71, à influencia dos países comunistas e liberais72.CHAUI,tem uma

posição similar, considerando a incorporação do catolicismo no ideal de Estado apenas como um plano

tático ideológico para a consolidação do poder73.É necessário ressaltar que grande parte da motivação

70 SALGADO,Plínio.O integralismo perante a nação.3ed

Rio de Janeiro:Livraria Clássica Brasileira,1955. p55

71CHASIN,José.O integralismo de Plínio salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p 142 72Segundo,CHASIN ‘’constata-se , indubitavelmente, que o tratamento pliniano da idéia corporativa, tão parco quanto o tratamento de inumeráveis outros conceitos versados pela ideologia integralista, está visceralmente atado a crítica romântica do capitalismo e à filiação daquela com ao cristianismo, tudo sendo transpassado pela nostalgia do corporativismo medieval, encarado como a estrutura social concetanea com a hegemonia do espiritual.CHASIN retrata que intervem,portanto, a proposta corporativista de Salgado num contexto ideológico marcado à satura, ao pelas ancoragens espiritualistas cristãs, como instrumento de salvaguarda do direito natural da pessoa à propriedade, em face da escalada da acumulação capitalista; ou numa afirmação mais direta:tem por função coibir ou frear precisamente a referida acumulação.E exata finalidade do corporativismo pliniano fica ainda mais ressaltada se lembrando que o integralismo se propõe a extinção de toda a luta, atentarmos que o integralismo tem por base disciplina interior.CHASIN,José.O integralismo de Plínio salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p 583-584 73 A análise de CHAUI no que se refere ao ideário pliniano é retratada a partir do viés econômico e da relação de poder entre Igreja e ‘’burguesia católica’’ ,ocultando a presença de um verdadeiro catolicismo fervoroso que era característico da classe média brasileira e presente na ideologia pliniana ,sob um prisma particular e não político.

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de concepção de Estado corporativo de Salgado foi de motivação religiosa ,’’pois nota-se que os ideais

da revolução espiritual aproxima-se dos ideais corporativos.Apesar disto, não é correto afirmar que a

motivação corporativa de Salgado seja exclusivamente de ordem religiosa, mas que ela é harmônica

com uma com uma dada concepção deste tipo’’74.

Os integralistas atribuíam ao ministério das corporações como o elemento mais precioso de

todos que compunham a estrutura política da AIB.O Estado corporativo integralista surge como um

atalho para cristianizar as massas operárias, a partir de uma espécie de ‘’solução corporativa

cristã’’,que destruiria o sindicalismo ‘’sem Deus’’. Para SALGADO a organização corporativa não

realiza a harmonia das classes, mas sim é o instrumento para a realização desta, a partir de uma espécie

de energia metaforicamente representada pelo espírito cristão. BARROSO não acredita em

corporativismo leigo, alegando que ‘’sem Deus’’ é impossível chegar a uma harmonia das classes,

porque não há o princípio da autoridade na qual os homens não podem chegar, pois a autoridade vem

de Deus75.O sindicalismo ‘’sem Deus’’ é considerado algo contraditório com a própria doutrina

integralista, mas é algo nitidamente evidenciado no ideal corporativo nazi-fascista.

O integralismo ‘’retrata’’ as corporações como um instrumento que simplesmente segue a marcha

natural da história na medida que o próprio criador instruíra esse caminho.No ideal de BARROSO

‘’observa-se conseqüentemente que família, estado e classes, articulam-se de modo íntimo’’76 através

dos municípios,como retrata na obra integralismo e catolicismo:

A reunião de famílias, preceitua a doutrina integralista, em muitos documentos,forma o município,isto é,um

circulo de relações privadas familiares se projeta e reflete numa pessoa de direito público.Do mesmo modo os

sindicatos privados se projetam e refletem na Corporação pública.(...)Se se considerar o sindicato pessoa de

direito público,é obvio que, ipso facto, se deve considerar a família também pessoa de direito público’’77

74CHASIN,José.O integralismo de Plínio salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo: Ed.Ciências Humanas,1978. p 134 75 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p124. 76 CHASIN, José.O integralismo de Plínio salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p 133. 77BARROSO, Gustavo.Integralismo e Catolicismo.2ed. Rio De Janeiro:Ed ABC,1937.p100.

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A partir do fato que a autoridade do Estado se funda no direito da família, e por outro representa

as classes, cabe indagar de que modo essa representação se efetiva.78.O Estado é uma espécie de uma

‘’grande família’’, sendo através dela que extrai a sua autoridade, e se apóia nesta para exercer a sua

legitimidade, que automaticamente estaria imbuída de aspectos pertinentes a espiritualidade. Para o

integralismo o Estado representa as classes, que seria apoiado pela ‘’autoridade’’ familiar

cristã.’’.SALGADO fala do Estado que extrai da família sua autoridade, mas não de representação

familiar, mas sim de classes’’A partir daí surge o Estado corporativo, aquele que representa as

classes.No Manifesto está evidente que a concepção religiosa é efetiva a partir da organização da nação

em classes profissionais79.CHASIN esclarece alguns aspectos do estado corporativo, a partir da

cooperação entre as classes:

Em síntese, para Salgado o fascismo é entendido como uma doutrina de fusão e presentificação de duas épocas históricas, a atualização do ‘’Espírito do Estado Romano’’ e do mecanismo medievalista das corporações, reativando o espírito da hierarquia do primeiro e restaurado’’ o senso dos deveres inerente ao segundo, o que redunda num ideário de cooperação entre as classes, de superamento de todas as tendências e teorias sociais, de todos os processos políticos, e da realização na sua expressão total da nação, de todas as energias do país que sejam materiais Intelectuais ou morais.80

O Manifesto prevê que a igualdade dos homens deve ser procurada, não através do coletivismo;

uma nítida alusão ao comunismo; mas das hierarquias que deviam ser respeitadas81 Pode também ser

interpretado como uma crítica ao liberalismo econômico, que por ser individualista, provoca uma

desigualdade que ultrapassa as ‘’barreiras’’ da desigualdade natural, não dando ‘’brechas’’ para a

busca uma igualdade.É importante enfatizar que o conceito católico (ou conceito corporativo) das

hierarquias, pelo seu caráter de mobilidade, permite a ascenção em direção a uma desigualdade

considerada um pouco mais amena.O integralismo nitidamente influenciado pelo catolicismo, acredita

78CHASIN José.O integralismo de Plínio salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo: Ed.Ciências Humanas,1978.p 133. 79 Idem ibidem,p133 80CHASIN,José.O integralismo de Plínio salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978. p 462 81 ‘’O integralismo pretende construir a sociedade segundo a hierarquia de seus valores espirituais e materiais ,de acordo com as leis que regem os seus movimentos e sob a dependência da realidade primordial,absoluta,que é Deus .(...)Essa hierarquia,na qual se funda o princípio e o exercício da Autoridade,faz prevalecer o Espiritual sobre o Moral,o Moral sobre o social,o social sobre o Nacional,e o Nacional sobre o particular. BARROSO, Gustavo.Integralismo e Catolicismo.2ed. Rio de Janeiro:Ed ABC,1937.p31

35

na desigualdade natural entre os homens; baseado no livro de Genesis;82 mas isso não quer dizer que

não acredite na possibilidade de uma ascenção em direção à igualdade.

O conceito de trabalho é um dos temas abordados nas encíclicas das doutrinas sociais que

assemelha-se com os ideais corporativistas das três doutrinas83.É curioso mencionar que a concepção

sobre o trabalho estabelecido pelo catolicismo é retratado como uma forma de sacrifício e uma

‘’maldição’’84 a partir do direito divino da herança85 e da propriedade privada86,por isso o comunismo

seria algo contrário a própria natureza humana, pois toda a humanidade está condenada a viver sob o

‘’suor do trabalho’’ como um decreto divino,através do livre arbítrio,por isso existiria uma

desigualdade natural entre os homens.Desrespeitar essa ordem seria uma afronta a autoridade divina,

portanto o comunismo e o liberalismo (que propõe abolir as classes) seriam doutrinas que não

respeitam as leis do próprio criador.Tanto o integralismo como o nazismo e o fascismo italiano eram

regimes que partiam de um principio muito similar a este no que se refere ao trabalho, algo que poderia

servir de embasamento para a luta contra o bolchevismo.

82 O pecado simbolizado pela ‘’fraqueza de Adão amaldiçoou a humanidade, condenando- a viver sob o ‘’suor do trabalho’’eis a passagem bíblica que embasa o direito a propriedade privada e o dever do trabalho:’’Pois tu que destes ouvidos à voz de tua mulher,e comeste do fruto da árvore,de que eu tinha ordenado que não comesses;a terra será maldita por causa da tua obra:tu tirarás dela o teu sustento à força do trabalho.Ela te produzirá espinhos e abrolhos:e tu terás por sustento as ervas da terra.Tu comerás o teu pão no suor do teu rosto, até que te tornes terra,de que foste formado.(Genesis3,21) 83A questão do dever no trabalho está inserido nas três doutrinas.A visão de BARROSO sobre o trabalho permite melhor compreender esta questão: ‘’O trabalho é, ao mesmo tempo, um direito individual e um dever social.Se o capital participa dos resultados do trabalho, é justo que o trabalho participe,em justa medida, dos resultados do capital.A dignidade da pessoa humana e de suas projeções no tempo e no espaço exige uma organização social em que o trabalho não seja envilecido como uma mercadoria, dando-se a todos s homens direito ao trabalho, direito de cumprir um direito social e humano, em condições tais que ponham a salvo da miséria e de humilhações, permitindo que melhorem, progridam e se desenvolvam moral, mental, social política e economicamente, de acordo com suas possibilidades e capacidades próprias’’ BARROSO, Gustavo.Integralismo e Catolicismo.2ed. Rio De Janeiro:Ed ABC,1937.p238.. 84 A passagem bíblica do Genesis que condena a humanidade a viver sob o ‘’suor do trabalho’’ serve embasamento para a doutrina integralista no que se refere ao trabalho e o direito a propriedade. 85 A passagem de BARROSO,na obra Integralismo e Catolicismo é uma nítida crítica ao comunismo,que pretendia ‘’usurpar’’ os direitos doados de pai para filho e doa-los ao Estado coletivista: ‘’Do mesmo modo que o direito de propriedade,o direito de herança,a ele estritamente unido,é de interesse social essencial’’(... )O Estado,sem atentar gravemente contra o interesse social e sem ofender os direitos invioláveis da família,não pode suprimir,direta ou indiretamente,a herança. BARROSO, Gustavo.Integralismo e Catolicismo.2ed. Rio de Janeiro: Ed ABC,1937.p 253 86BARROSO acredita na legitimidade da propriedade privada, sob víeis da Providencia divina,por isso o Estado comunista não teria direito algum de usufruir dos bens da humanidade,como explicita‘’Os bens materiais deste mundo estão destinados pela Providencia divina,em primeiro lugar para satisfazer a necessidade de todo s(... )A apropriação da terra e dos instrumentos de produção é legítima,porque é conforme a natureza humana e porque,em geral,esse regime,assegura,melhor do que qualquer outro,a utilização dos bens matérias BARROSO, Gustavo.Integralismo e Catolicismo.2ed. Rio de Janeiro:Ed ABC,1937.p252

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Os integralistas pregavam o livre arbítrio87 em oposição a predestinação88, algo característico da

catolicidade.’’Sejam quis forem as inúmeras incongruências, e enormes debilidades do conceito

pliniano do trabalho, o que importa reter é que ele divide com a família a condição de base e

fundamento do estado, e tal como aquela ela está preso à concepção pliniana

do homem, e é tecido pelo mesmo fio espiritualista desta’’89É precisamente o trabalho enquanto dever,

e não apenas como uma necessidade,que subjaz ao corporativismo pliniano’’.O que vale dizer que o

corporativismo em Salgado, também é posto de uma perspectiva espiritualista’;90.O trabalho árduo é

uma forma de defesa e sacrifício ao conforto exacerbado das sociedades liberais materiais e do

comunismo ‘’escravizador’’, que coloca as nações em estado de miséria.

87 SALGADO retrata o espiritualismo a partir do livre arbítrio, enquanto que o materialismo seria a negação deste como expressa na obra conceito cristão de democracia:‘’O materialismo nega o livre arbítrio e proclama a irresponsabilidade’’P.Salgado,conceito cristão de democracia op.cit.p .23.Para SALGADO a idéia de livre arbítrio liberta a humanidade da ‘’escravização’’ da consciência e a torna mais próximo do Homem-Integral:’’Aceita a idéia do livre arbítrio,teremos colocado o Homem fora do domínio em que se encontram as coisas e os fatos e a sua própria base física,isto é, liberto de um mundo onde não existe capacidade de crítica ou de opção.E o reconhecimento do Homem-Integral,do Homem-Corpo-Espírito,com todas as prerrogativas que Deus lhe outorgou,entre as quais a liberdade,que á a que o torna mais semelhante ao seu Criador,pois lhe dá, de certa forma,o poder de criar alguma coisa.P.Salgado,conceito cristão de democracia op.cit.p 68 88 O ideal de livre arbítrio e predestinação é uma clara distinção entre o catolicismo representante do livre arbítrio e das seitas protestantes, principalmente as oriundas do calvinismo que também divergem no conceito do trabalho,que para estes significa algo dignificador do indivíduo,enquanto o catolicismo acredita no caráter maligno(a partir do castigo divino) do trabalho. 89 CHASIN,José.O integralismo de Plínio Salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p581. 90 Idem ibidem. p581

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4.EMBATES FILOSÓFICOS

A literatura integralista, especialmente a de SALGADO e BARROSO; que foram os personagens

integralistas que mais escreveram obras referentes ao cristianismo91; são embasadas a partir de uma

espécie de luta constante entre o materialismo e o espiritualismo92. Para ambos, este, é o símbolo dos

valores positivos da humanidade, enquanto aquele simboliza a desgraça dos povos93. Para o

pesquisador ARAÚJO as lutas entre matéria e espírito ‘’vão se constituir no fundamento de todo o

esquema intelectual que será desenvolvido por Plínio. Elas moveriam dois planos essenciais

antagônicos da existência humana, planos que sempre estiveram presentes, em todos os lugares e desde

o principio dos tempos, sempre na mais agida oposição’’94.ARAUJO fundamenta suas reflexões sobre

o integralismo a partir de duas categorias teóricas; materiais e espirituais, valores que para ARAÚJO

eram conflitantes em SALGADO, pois foi influenciado por positivismo e catolicismo95,duas doutrinas

que se apresentam como antagônicas . Os autores que mais influenciaram no campo político-

filosófico a literatura em Salgado eram os remanescentes do integralismo lusitano de Rolão Preto e

Oliveira Salazar . CHASIN relata que há integralismos dentro do integralismo.As obras de BARROSO

identificam-se com o modelo nazista pelo caráter anti-semita, o de Reale ao modelo italiano e o de

Plínio identificava-se com um modelo de ruralismo caboclo, anti-urbanista, anti-industrial96 .As obras

91 BARROSO escreveu obras referentes ao folclore,romances, crônicas novelas,historia, ensaios filologia filosofia,política,etc.Algumas das obras que referem-se ao cristianismo são ,O livro dos milagres(1924);O Santo do brejo(1933);Integralismo e Catolicismo(1937);O quarto império(1935) e Corporativismo,Cristianismo e Comunismo(1938).Nas obras de SALGADO destacam-se, A quarta humanidade(1934);Conceito cristão de democracia;A vida de Jesus(1942);O Esperado(1931);O Rei dos Reis(1945);Oriente(1932);Pio IX e seu tempo;A tua cruz senhor e Primeiro cristo! 92 ‘’O que estamos a assistir no mundo contemporâneo, sob forma de complicados debates, é o choque de duas concepções de Universo e do Homem.Todas as dificuldades contrapostas ao entendimento entre os povos e à solução de seus problemas vitais decorrem da circunstancia de se não querer confessar abertamente qual das duas concepções é tomada como base da nova ordem que se pretende instaurar.Temos chegado a uma crise suprema da qual só poderemos sair pela escolha definitiva de um dos conceitos -o materialista e o espiritualista.De um como de outro decorrem todas as conseqüências de ordem social,econômica e política,seja no ambiente nacional seja no internacional. SALGADO, Plínio.Conceito Cristão de democracia.Ed Civilização Brasileira.1937.p 15-16 93 Para BARROSO, comunismo, liberalismo e judaísmo simbolizam o mal. 94 ARAÚJO,Ricardo Benzaquen de.Totalitarismo e revolução:o integralismo de Plínio Salgado. Rio deJaneiro:J.Zahar,1988.p129 95 A influência de duas categorias, uma espiritual que seria o catolicismo e o positivismo materialista,estariam em conflito na vida de SALGADO,o que refletia como uma constante luta interior. 96Segundo CHASIN, o ideal de SALGADO era atingir um país de pequenos proprietários de terras, para chegar ao destino de um país tradicionalmente agrícola

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literárias que fundamentaram o nazismo e o fascismo italiano contrapõe-se a ideologia tomista dos

escritores integralistas.Os livros de Georges Sorel 97(1847-1922) utilizados para legitimar os métodos

de sindicalismo e de violência aplicados pelos ‘’camisas negras’’98 entram em choque se comprarmos

com a inspiração integralista embasadas a partir das obras de Jackson de Figueiredo.O pensamento de

Giovanni Gentille e seu ideal de Estado italiano,também entram em contraposição ao ideal de

SALGADO,por não focar a reforma do indivíduo.A utilização de obras de Nietzsche e sua ideologia de

caráter ateu, utilizada pelos nazistas,entram em embate com o ideal católico dos ‘’camisas

verdes’’,como explicita SALGADO,considerando as obras de Nietzsche, Marx e Sorel como uma

nítida expressão da filosofia materialista:

‘Mas, se o fascismo, como doutrina e realização política, operou a fusão de duas épocas históricas, também

como cultura traça um caminho,que decorre daquele vértice,onde vem ter as diferentes projeções intelectuais

do século passado,que podemos dizer,terminou em 1918(...) Assim,o fascismo tem qualquer cousa de

Nietzsche,na sua concepção de vida e de força.O espírito romano tinha-se transladado da península para a

Alemanha, inspirando toda a obra anti-cristã da Kultur, traduzida,já agora no conceito de superioridade racial

do tipo dolicolouro. Esse movimento tem sua origem no sonho de restauração pagã de Juliano, o apostata, e

torna-se culminante em Nietzsche, transbordando, depois,por toda a Europa99Negando Deus e repudiando as

religiões,especialmente o Cristianismo,Nietzsche contradiz-se porque antepõe,ao mundo prosaico das

mediocridades positivistas e agnósticas,um mundo de Poesia,como realidades ideais que se antecipam às

representações objetivas100.(...) Há outro aspecto a apreciar em Nietzsche, em Marx, em Sorel: é a intervenção

do Homem como agente modificador dos fenômenos sociais.Se o super-homem de Nietzsche exprime uma

vontade atuando soberanamente,se a luta de classe de Marx e o sindicalismo revolucionário de Sorel

exprimem processos da inteligência no sentido de acelerar artificialmente a evolução e transformação dos

quadros sociais,segue-se que no sistema do universo é possível a intervenção de um agente externo101.

O integralismo era a resposta aos anseios por mudança, dos valores materiais característicos da

sociedade de 20 e 30, tornava-se então estritamente necessário, e mesmo urgente, a criação de um

97 Georges Sorel foi responsável pela criação de um sindicalismo revolucionário, muito difundido na França.É necessário ressaltar que suas obras embasaram, tanto o fascismo italiano quanto o comunismo e o anarquismo. 98 Camisas negras era a denominação dos fascistas italianos. 99 SALGADO,Plínio.O Soffrimento Universal.2ed.Rio de Janeiro:Livraria José Olympio,1934. p 119-120 100 SALGADO, Plínio.Conceito Cristão de democracia.Ed Civilização Brasileira.1937.p52. 101Idemi bidem.p63

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movimento espiritual102. Muitos brasileiros na época de 30, acreditavam que a única maneira de

derrotar os ideais materialistas, a desigualdade e outros males da sociedade brasileira só poderia

ocorrer a partir de um movimento espiritualista.O fato de SALGADO ser proveniente de corrente

intelectuais materialistas, remetem a uma questão: A partir de quando SALGADO tornou explícita a

simpatia aos ideais espiritualistas em suas obras, na qual consolidou a própria filosofia integralista

espiritualista?TRINDADE revela que SALGADO começa a manifestar o espiritualismo no romance

O Esperado(1931).’’Este livro foi acusado por muitos de ter um conteúdo messianico’’103

A filosofia integralista está imbuída de catolicismo, sendo moldada por uma espécie de

‘’maniqueísmo cristão’’104. Os integralistas elaboraram uma filosofia da História, destacando-se a de

SALGADO e a de BARROSO, duas que fazem referências cristãs ao inverso de Reale, que talvez não

tenha elaborado uma concepção filosófica a partir do catolicismo por ainda estar muito influenciado

por marxismo, como alguns teóricos atribuem. A filosofia de SALGADO divide a humanidade em

quatro; a Politeísta105, anterior ao cristianismo; a Monoteísta106, que iria até a Idade Média que era

caracterizada como o período da bondade, e a Ateísta107, que teria origem na Idade Moderna; a partir

102ARAÚJO,Ricardo Benzaquen de.Totalitarismo e revolução:o integralismo de Plínio Salgado. Rio deJaneiro:J.Zahar,1988.p62 103TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p67 104 No qual existe uma luta constante entre o bem e o mal simbolizado pelo conflito espiritualismo X materialismo. 105 Segundo SALGADO o ‘’politeísmo está entre dois fogos: o helenismo, que prossegue nos métodos naturalistas de interpretação e explicação dos elementos; e o orientalismo, que prossegue o rumo do sobrenatural,estabelecendo em Deus o centro do Universo e do mundo interior,conseqüentemente,o centro dos movimentos sociais.SALGADO,Plínio.A Quarta Humanidade.5ed.São Paulo.Ed das Américas. 1963.p 30 106 ‘’O segundo tipo de humanidade (a monoteísta) apresenta um caráter de fusão, como a primeira (politeísta) apresentou uma índole de adição.Na primeira somam-se os clãs, somam-se os deuses,somam-se as províncias,somam-se as causas.Na segunda todas se fundem numa idéia totalitária,que abarca toda a compreensão do Universo e de todos os movimentos humanos.Fonte remota desse sistema de movimentos ,é o povo hebreu,antítese do povo grego.Este será a origem da civilização cristã e influenciará na civilização sarracena. Dará ao mundo um conceito de autoridade, um objetivo final, uma estrutura social.A Nação judaica não tem base física ao nascer.Seu fundamento é exclusivamente moral.(...) P.Salgado ,A quarta humanidade,op.cit p.34))Na elaboração da Humanidade monoteísta há o germen do materialismo,que mais tarde vai se aninhar no grupo sectário dos saduceus,cuja recusa à aceitação dos espíritos, dos arcanjos,irá ser repetida mais de vinte séculos depois,pelo racionalismo filosófico e pelo experimentalismo científico,em que influíram tanto os intelectuais de raça hebréia . .(...)P.Salgado,A quarta humanidade,op.cit.p 36. 107 ‘’A terceira humanidade funda-se nas conclusões científicas, nas verdades em trânsito, da hipótese para tese e da tese para hipótese.É o caráter do experimentalismo ,a feição extrema do humanismo (...) P.Salgado,A quarta humanidade,op.cit p41 A humanidade no entanto,entristece.Porque ela não se conforma com as conclusões científicas, nem com divagações filosóficas.E essa é a terceira humanidade ateísta nos seus caracteres mais típicos.E a humanidade ,que desaparece na Era da Maquina,com todo seu cabedal.E a força que a destrói nasceu do

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da Revolução Francesa, onde começaria a degradação humana até teleologicamente chegar-se-ia a

Quarta humanidade108, no qual o homem integral que sob citações apocalípticas venceria o mal109.A

filosofia da história de BARROSO, que era muito semelhante a SALGADO, atribui a primeira como

Império do Carneiro, a segunda como Império da Loba, a terceira como Império do Capricórnio.E a

quarta como Império do Cordeiro.’’Essa concepção integralista da evolução humana inspira-se numa

filosofia da História que crê no aperfeiçoamento da humanidade’’110 A filosofia integralista,

particularmente a de SALGADO, procura demonstrar que a insatisfação geral da sociedade da década

de 20 e 30 era oriunda dos males provenientes do materialismo.Um desses males era as sociedades

urbanizadas de luxo exacerbado111. A partir disso o ‘’Chefe Nacional’’ apelava a um certo tipo de

messianismo através de metáforas, em suas obras.Apesar disso,TRINDADE afirma que:’’é indiscutível

que Salgado critica a predisposição ao messianismo do povo brasileiro, incluindo a esperar

passivamente a vinda de um Salvador’’112 .

A revolução espiritual é o bojo da filosofia integralista. BARROSO prevê a revolução espiritual

baseando na Idade Média, a sede um cristianismo totalitário que deveria encerar tosos os conflitos’’113

CHASIN interpreta a revolução espiritualista a partir da origem divina do Homem..Diferente do

fascismo e do nazismo, o integralismo funda-se numa concepção espiritualista em oposição as teorias

seu próprio seio,é a conclusão idealista e um critério nominalista;é a essência metafísica de uma índole naturalista P.Salgado,A quarta humanidade,op.cit p41. 108 A quarta humanidade seria a civilização integralista, aquela que estaria imbuída por fusões étnicas que criaria um super raça cabocla,cheia de espiritualidade. 109 A citação do evangelho segundo a qual ‘’as portas do inferno não prevalecerão sobre a Igreja’’ era expressada pelos ‘’camisas verdes’’, que tinham plena certeza que as doutrinas materialistas (comunismo e liberalismo) não venceriam o movimento espiritualista integralista,representante da Igreja de Pedro. 110TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p67 111’’Homens e mulheres de uma sociedade que se diz cristã, e mesmo muitos daqueles que apresentam exterioridades religiosas,possuem uma tão profunda consciencia da seleção dos seres humanos pela sua capacidade de ostentar e de impor na vaidade e no luxo,que o observador do nosso tempo conclue que a civilização moderna arrancou o coração do Homem e o atirou aos dentes das máquinas. SALGADO,Plínio.O Soffrimento Universal.2ed.Rio de Janeiro:Livraria José Olympio,1934.p37 112 O culto à personalidade e à idolatria e messianismo, são condenados pelos integralistas devido às características cristãs do movimento, pois não há outro a cultuar,se não o próprio Messias.A existência do ‘’Chefe Nacional’’ não pode ser entendida como culto a personalidade como foi nitidamente evidenciada em líderes como Stalin, Lenin e Hitler,que difundiam doutrinas fortemente seculares. 113 ARAÚJO,Ricardo Benzaquen de.Totalitarismo e revolução:o integralismo de Plínio Salgado. Rio deJaneiro:J.Zahar,1988.p108

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raciais114.Enquanto o fascismo e o nazismo alimentaram o expansionismo115, o integralismo cultuava

uma espécie de isolamento extremo116.O fascismo e o nazismo se submeteram ao ‘’Duce’’ e ao

‘’Fuher’’ que buscavam suprir as necessidades materiais e expansionistas, enquanto que o integralismo

do ‘’Chefe Nacional’’ era carismático aos católicos, chegando a ser considerado uma espécie de

Antonio Conselheiro por muitos fiéis praticantes, pois buscava suprir as necessidades espirituais de

seus seguidores.117É importante enfatizar que o ideal filosófico nazista, além de basear-se em autores

materialistas como Nietzsche, estava imbuída de aspectos de seitas de caráter ocultista como a

sociedade Thule118(1918),que tinha como inspiração a filosofia de Madame Blavastski119(1831-1891),a

partir de elementos da teosofia120.O ideal de seitas ocultas, incluindo o maçonico, é profundamente

condenada pelos integralistas que acreditam ser anti-patriótico, fundadas a partir do esoterismo,da

magia e da ‘’ciência oculta’’.O caráter evolucionista da humanidade sob características biológicas

também faz parte da filosofia nazista, e também entra em contraposição com o ideal

integralista.Segundo as reflexões de TRINDADE, ‘’o Integralismo rejeita, pois a concepção

evolucionista que reduza a história a uma relação natural da espécie, assim como considera as

concepções hegelianas e individualista como fragmentárias na medida que não captaram a marcha

contínua do espírito’’121 A filosofia fascista italiana valoriza os tempos anteriores ao cristianismo na

114 E necessário enfatizar que diferente do nazismo,o integralismo cultuava as origens afro-indígenas do povo Brasileiro,como parte do homem integral, a partir de fusões étnicas.A relação com os judeus é tensa não pelas origens raciais do povo judeu,mas pelo viés econômico e a atribuições que teriam sido eles os próprios fundadores do comunismo e do liberalismo,doutrinas materialistas que entrariam em choque com à espiritualidade católica,tornando-se o povo judeu a própria antítese do povo cristão.Uma segunda característica do anti-semitismo integralista, poderia estar vinculada ao catolicismo, a partir do assassinato de Cristo,atribuído aos judeus,a partir dos evangelhos,principalmente o de João,que apresenta maior crítica aos judeus. É necessário ressaltar que a Igreja Católica nesse período ainda incitava os católicos a perseguirem os judeus, principalmente na Sexta-Feira Santa na qual os católicos proferiam palavras de ódio aos judeus.Portanto nota-se que o anti-semitismo era caracterizado pelo víeis econômico e às vezes religioso,mas não racial. 115 A invasão da Etiópia pela Itália de Mussolini é um exemplo do expansionismo fascista. 116 Não há alusões ao expansionismo, nem sob um ponto de vista teórico e nem prático. 117CHASIN,José.O integralismo de Plínio Salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p16 118 Essa organização foi uma das precursoras da difusão do anti-semitismo.Foi uma espécie de precursora do Partido Nazista.Altos membros do nazismo eram membros dessa sociedade, como Hitler, Rudolf Hess e Alfred Rosemberg. 119Foi uma das fundadoras da sociedade Teosófica. Escreveu obras com um conteúdo de nítida crítica a teologia cristã. 120 Doutrina que entra em choque com catolicismo por incitar valores racistas e panteístas. 121 TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30.

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Itália,pois viam nesse período o tempo de progresso da Itália,enquanto o catolicismo seria o retrocesso

da sociedade italiana,algo que contrapõe-se ao integralismo;basta lembrar que os autores integralistas

fundamentaram o período de progresso da humanidade a partir da Idade Média,período que o

catolicismo encontrava-se dominante.

SALGADO rejeita o Super Homem Nietzschiano, o pessimismo de Shopenhauer, Russeau e seu

ideal de liberdade ao homem., a partir da retração e focado na reforma do homem , ao contrario do nazi

-fascismo que pregavam uma teleologia a níveis mundiais.CHASIN, relata citando SALGADO, que

este mostrou preocupação pelo fato dos dois fascismos,na busca de aplicar corretivos nas sociedades

liberais e comunistas,tenham sido corrompidos por um erro que acarretaria no fim das sociedades

cristãs122’’Salgado identifica a perigosa tendência pagão do hitlerismo como um desses

erros123.CHASIN ,citando SALGADO alega que a Alemanha criou uma base mística sem criar uma

base religiosa124.Na Alemanha e Itália criou-se a própria concepção de Estado Cesariano: Chefe

militar,Chefe Civil e Pontífice.’’Concepção e poderes e misticismo não fundamentado que ‘’traduz-se

na mística racista, no paganismo’’Eis que temos o cerne da crítica de Salgado ao Nacional Socialismo:

a oposição do cristianismo ao paganismo, visto que na religiosidade, sem fundamento cristão pode ser

mesmo uma super religiosidade, mas acaba por se mostrar como negação da virtude’’.De modo que o

verdadeiro plano religioso só e se mantém enquanto cristão125

Segundo TRINDADE, citando Reale, enumerou diversos fatores que os integralistas deveriam

rejeitar, um deles é que os princípios universais do fascismo deveriam ser adaptados segundo as

necessidades do Brasil e não da Itália. Os integralistas não deveriam assimilar os aspectos locais do

fascismo ou as características italianas de nacionalismo, nem as dimensões ideológicas ligadas à

tradição histórica Romana de origem pagã cesariana. O racismo seria uma dimensão local ou do

São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p 212-213. 122 CHASIN, José.O integralismo de Plínio Salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p 149 123 Idem ibidem,p149 124 Adolf Hitler não pretendia reestabelecer o paganismo na Alemanha de forma prática religiosa,mas apenas filosófica.Alguns líderes nazistas pretendiam restaurar o paganismo, algo que foi censurado por Hitler,que proibiu o culto a Odim. As crenças baseadas no esoterismo e na ‘’ciência oculta’’ estavam acima dos valores pagãos em Hitler.E necessário enfatizar que os autores integralistas rotulavam as intenções de Hitler baseadas no paganismo, o que na prática religiosa não ocorrera, mas a partir de uma exaltação exacerbada.(misticismo sem religião) 125CHASIN, José.O integralismo de Plínio Salgado,forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978.p 149-152 .

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nacionalismo alemão: a violência totalitária do fascismo italiano estaria vinculado as condições

político-sociais da Itália na década de 1920 e o cesarianismo político que teria suas raízes na história

secular da Itália.126

Os princípios integralistas exaltam a fé e a subordina ao sobrenatural, a conversão espiritual do

homem é a condição prévia da reforma social, a virtude se encontra numa vida sóbria e religiosa,

valoriza o papel da religião na História, defende que a degradação da civilização contemporânea é

provocada pelo abandono dos princípios morais religiosos. O nacional socialismo não se proclama

espiritualista, ele está presente nos textos doutrinários do fascismo italiano e, sobretudo nos da falange

espanhola e do rexismo belga.Apesar do fascismo italiano citar o espiritualismo de forma vaga, ele

incita os valores religiosos e morais’’Neste sentido, (na falange ) (e o rexismo) são mais explícitos na

proclamação dos valores religiosos dos princípios cristãos e creem numa transformação espiritual do

homem e não vital como o nazismo e fascismo.TRINDADE relata que quase a totalidade dos

integralistas manifestaram –se a favor da religião e da moral, o que sustentava a dimensão espiritual do

movimento.’’Se o espiritualismo no plano da adesão não teve papel importante, ela se torna dominante

nas atitudes ideológicas’’127

A influencia dos fascismos da Europa é fundamental para explicar a natureza do integralismo’’O

fenômeno fascista, se pode ser considerado, como tendo ele reação contra-revolucionária tendendo a

impor uma estrutura de dominação totalitária128Influenciado pelas diferenças dos movimentos

autoritários da Europa, o integralismo pode ser considerado uma manifestação que abrangia várias

características dos fascismos europeus.TRINDADE sintetiza esta questão da seguinte maneira:

Enraizado num nacionalismo telúrico ,fundado sob o messianismo místico do destino histórico da raça

mestiça, a ideologia incorpora e integra, uma nova síntese, o tradicionalismo social e religioso do integralismo

lusitano e do Salazarismo, o Estatismo Romano e o Corporativismo do fascismo italiano e o anti-semitismo de

inspiração nacional socialista’129

126TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974.p261 127 Idem ibidem p286 128 Idem ibidem p289 129 Idem ibidem p 289

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ARAUJO acrescenta que a lógica totalitária que vai afastar o integralismo de Plínio dos

pensadores católicos:

Amoroso Lima e Octaviano Faria, mesmo estando muito próximo do integralismo não aderiram ao

movimento de forma efetiva, pois acreditavam que a revolução espiritual viria através de uma catolicização

das elites e não de forma autocrática e autoritária como previa a ideologia integralista130

130 Apesar disso, alguns pensadores não deixaram de elogiar o integralismo, e também receberam elogios de Salgado,que incitava a leitura de Tristão de Athaíde. ARAÚJO,Ricardo Benzaquen de.Totalitarismo e revolução:o integralismo de Plínio Salgado. Rio deJaneiro:J.Zahar,1988.p108

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5.RELIGIÃO E ADESÃO

O fato do integralismo ser fundamentado no catolicismo, permite estabelecer uma relação direta

entre a religião do rito romano e a adesão a AIB.Antonio Candido no prefacio da obra de CHASIN

relata que: ‘’tinham os que aderiram por devoção religiosa, prolongando o espírito do catolicismo e

congregação Mariana; numa piedade assustada que procurava garantias de manutenção da igreja(como

era então)contra o que chamavam o materialismo ateu do nosso tempo e englobava um mundo

irracional do comunismo’’131 Logicamente, a grande maioria dos integralistas eram de confissão

católica, mas é importante frizar, o grande número de protestantes oriundos da imigração alemã e até

espíritas! Isto revela que não era necessário professar o catolicismo para entrar no movimento, apesar

da alta cúpula ser católica’’Contudo, ao nível dos dirigentes nacionais e regionais,os católicos são a

imensa maioria. Cabe também mencionar que nenhum integralista pertence a religião judaica’’132A

relação de adesão de católicos praticantes ao nazismo e ao fascismo italiano dá- se pelo fato da

obrigatoriedade de qualquer cidadão alemão ou italiano servirem no exército133,assim mantinham

oculta certas práticas da fé católica.Muitos alemães, leigos e clérigos, na Segunda Guerra Mundial

(1939-1945) pouparam dos bombardeios, mosteiros e paróquias dos países invadidos134 e tesouros

artísticos e culturais cristãos;como o caso do tenente-coronel Shlegel135,que mesmo servindo aos

131 CHASIN, José.O Integralismo de Plínio salgado, forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. São Paulo:Ed.Ciências Humanas,1978., p12 132TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974..p 54 . 133 E necessário ressaltar que todo alemão e italiano era obrigado a se juntar com as forças nazista/fascista ou desertar.Um exemplo interessante de católico praticante desertor na Alemanha é o atual Papa Bento XVI, evidenciando um profundo descontentamento dos católicos ao regime nazista, o que pode servir de prova que apesar das concondatas assinadas entre Pio XII e HITLER os atritos entre a Santa Sé e o regime hitlerista realmente existiam. 134 Alguns teóricos atribuem a destruição de lugares santos aos nazistas, algo equivocado, pois arquivos da antiga união Soviética comprovam que a destruição atribuída aos nazistas era na verdade responsabilidade dos comunistas,que destruíram vários mosteiros e Igrejas,na invasão da Polônia e Ucrânia,além de mesquitas em território checheno. A destruição das igrejas no Leste Europeu, não foi realizada pela ocupação nazista, mas pela soviética. 135 A trama revelada por Rudolf Bohmler, relata alguns dos aspectos da importância da figura do tenente coronel Shlegel.Bohmler, relata que Shlegel compactuara com líderes católicos como Gregório Diamare,numa corajosa atitude por iniciativa própria e depois de acordo com o comandante da divisão Herman Goring,numa ação que se estendia de Roma até a sede dos monges Beneditinos.A partir do início das batalhas do monte Cassino,Shlegel tentara por todos os meios poupar a ordem seguidora de São Bento,de importância indiscutível até hoje para os monges ocidentais.

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nazistas,manteve-se como um católico fervoroso.Muitos católicos que optaram ao fascismo e ao

nazismo, não pela obrigatoriedade, fizeram esta escolha devido ao temor do comunismo,e obedeceram

ao pedido de PIO XII,que pediu aos fies alemães que obedecessem o soberano alemão.

As relações entre a AIB e a Igreja Católica pode ser caracterizada pela neutralidade desta diante

daquela, não estabelecendo uma posição oficial, condenando ou apoiando os ‘’camisas verdes’’.A

ligação entre as duas instituições estava restritas à alguns membros.’’Alguns bispos não hesitaram em

manifestar sua simpatia pela AIB e outros alertaram os católicos contra certos aspectos da ideologia,

mas a maioria permaneceu neutra’’. Apesar do alerta de alguns membros da Igreja, vários padres (e até

pastores protestantes) eram membros efetivos do movimento136, como o caso do Bispo Dom Hélder

Câmara, oriundo da legião cearense do Trabalho e o arcebispo de Porto Alegre D.João Becker . Alguns

relatos de bispos extraídos da obra Integralismo perante a nação, revelam que não existia

incompatibilidade entre a doutrina católica e o integralismo, sendo que os católicos poderiam aderir ao

movimento ,como retrata o relato do Cardeal-Arcebispo de São Paulo:

Os católicos tem ampla liberdade de abraçar o integralismo.Não vejo incompatibilidade entre a doutrina

integralista e a moral católica.Formo o melhor conceito do Chefe Nacional,Plínio Salgado,julgando-o um

católico verdadeiro e um patriota sincero137

As relações entre Igreja e fascismo italiano, tem como auge o Tratado de Latrão (1929),que dava

independência ao Patriarcado Romano em relação a Itália.É importante enfatizar que as intenções de

Mussolini ao ‘’presentear’’ a Igreja era uma forma de afastar os cidadãos italianos da ordens da Igreja

e vincula-los ao Estado fascista de uma forma mais amena,pois ao mesmo tempo que dava

independência ao Vaticano, afastava a Igreja dos limites territoriais da Itália fascista,na qual ela não

poderia intervir de forma alguma.Outra curiosidade foram as medidas de Mussolini, em fechar a Ação

Católica italiana, algo que entra em choque com o integralismo que apoiava os movimentos de Ação

Católica.O fato do fascismo voltar a ensinar catolicismo nas escolas e declarar o catolicismo como

136 A câmara dos 400 era uma facção do integralismo que contava com inúmeros clérigos. 137SALGADO, Plínio.O integralismo perante a nação.3ed

Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira,1955. p103

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religião oficial da Itália é que chama atenção,por ser ambíguo as atitudes citadas anteriormente,mas

ocorrera devido um acordo com a Igreja138.

Os fascismos em todo o mundo,atribuíam muita importância aos símbolos.Partindo do

integralismo ,temos o a letra grega sigma que segundo TRINDADE, além de significar a somatória,

existe uma outra significação :’’é a letra com a qual os primeiros cristãos da Grécia indicaram a

palavra de Deus’’139.Partindo deste último significado, o integralismo se contrapõe à suástica140 e

fascio littorio141,dois elementos usados pela simbologia pagã.

138 A volta do ensino do catolicismo nas escolas foi instituído por Mussolini como uma troca com o Papado,que assim renegava os antigos territórios italianos pertencentes a Igreja,dando a soberania plena para Mussolini. 139TRINDADE, Hélgio Integralismo, o fascismo brasileiro na década de30. São Paulo: Difusão Européia do livro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1974..p 196-197. 140 Símbolo pagão dos antigos povos indo-europeus 141 Símbolo que representava as fasces ,que no período do império romano simbolizava os magistrados no contexto de poder estatal.Esta simbologia demonstra a concepção de estado Cesariano.

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CONCLUSÃO

Para compreender o tema integralismo (1932-1938) é necessário uma abordagem do

período pelo qual intelectuais como SALGADO e BARROSO formularam a ideologia político-

filosófica que deu origem ao movimento.

O período (1920-1938) é de fundamental importância para o conteúdo ideológico do

integralismo, pois as inspirações que deram origem como o fascismo e a literatura católica

surgiram anteriormente ao movimento e serviram como base para todo o ideário da AIB.O

período entre guerras (1920-1938) alterou a sociedade brasileira em diversos aspectos.O

integralismo é o produto das transformações ideológicas da década de 20.

O sentido de mutação de idéias no após guerra está presente todo conteúdo ideológico do

integralismo.A influencia européia não foi a única responsável pelo conteúdo ideológico da AIB,

mas o clima intelectual presente no Brasil no após guerra, como o modernismo que inspirou a

Semana de Arte Moderna, o qual Salgado procurou buscar suas raízes nacionais.

O estudo da década de 20 foi fundamental para a compreensão das influencias político-

ideológicas do ‘’Chefe Nacional’’,enquanto que as transformações que precederam a revolução

de 30 explicam o contexto de nascimento da AIB.O ano de1922 expressa com clareza as

transformações do período, pois confirma a transição ideológica e política da sociedade brasileira

no após guerra. A participação de SALGADO na Semana de Arte Moderna foi o primeiro passo

para a concretização da visão nacionalista e espiritualista do ‘’Chefe Nacional’’.A fundação do

partido Comunista foi outro fator que uniu um grupo de intelectuais ligados a SALGADO que

derivavam de características ‘’reacionárias’’ movidos pelo tradicionalismo e espiritualidade.O

surgimento do Centro D. Vital fomentou a espiritualidade brasileira,influenciado o integralismo

no conteúdo ideológico que serviu de base para a fundamentação do ‘’catolicismo integralista’’.O

Movimento Tenentista também teve uma pequena parcela de influencia na AIB, pois alguns

membros desse movimento, descontentes com a situação do país aderiram ao integralismo.

As idéias de caráter fascista ganham força efetiva no Brasil a partir dos eventos da ‘’crise

de 29’’ que impulsionara a revolução de 30, acarretando na penetração dos ideais fascistas que

apresentavam uma solução aos problemas do país. SALGADO elaborou uma concepção política

que seria aplicada com urgência e com resultados imediatos. O ‘’Chefe Nacional” elaborou uma

filosofia capaz de lutar contra as concepções materialistas de vida.A partir do conteúdo filosófico

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da doutrina integralista que SALGADO fundou o conteúdo ‘’reacionário’’ do movimento,

proclamando-se defensor da espiritualidade frente as sociedades materiais,simbolizadas pelo

liberalismo e comunismo.

O catolicismo presente no movimento integralista é o principal diferencial deste em

relação ao liberalismo e ao comunismo.A doutrina integralista fundada no convicionalismo

católico criticava as sociedades urbanizadas, o cosmopolitismo e a luta de classes.

A criação da AIB foi a soma de valores de grupos conservadores e nacionalista. A origem

da AIB resulta da junção de idéias de direita e da convergência de movimentos precursores.

Um fator que não deve ser ocultado nas origens ideológicas do movimento é a influência

dos pensadores católicos da década de 10, 20 e 30, como Farias de Brito, Jackson de Figueiredo e

Tristão de Athaíde, pois todo conteúdo da ideologia integralista inspirou-se na doutrina social da

Igreja e nas renovações das elites católicas.

O primeiro referencial de fundação da AIB, o Manifesto de Outubro de 1932, remete ao

catolicismo a partir da mensagem que faz alusão a Deus, responsável pela autoridade dos

povos.Os integralistas desde seu marco inicial contrapunham-se aos movimentos contemporâneos

a este, como os regimes liberais e comunistas, enfatizando que a espiritualidade do movimento

nada possuía de liberal ou burguês e muito menos comunista.

O fato do integralismo ser considerado de caráter fascista,exclui a possibilidade de ser

um movimento internacionalista,mas uma doutrina caracterizada por características

particulares,pois os princípios das doutrinas fascistas seriam adaptados de acordo com a realidade

vigente em cada país.É necessário ressaltar que cada forma de fascismo possuía características

próprias que convergiam e divergiam em inúmeros pontos.A diferença mais notória entre o

integralismo e o nazi-fascismo era a incorporação do catolicismo dentro do ideal ‘’fascista

brasileiro’’ em contraposição a duas doutrinas que não aceitavam o catolicismo como base

teórica e filosófica.Os chamados ‘’clericais fascistas’’, fundamentados a partir do nacionalismo e

da religião, contrapunham-se ao ideais do nazi-fascismo.

O fundamento tomista ultilizado pelos autores integralistas, procurando adaptar Igreja à

sociedade está no bojo de todo ideário integralista. A partir de um fundamento baseado no

medievo, os integralistas aceitaram a concepção tradicional da doutrina social católica.A

encíclica Rerum Novarum é o primeiro ponto de contato entre o integralismo e o nazi-fascismo.O

integralismo aceitava a encíclica como um decreto, enquanto que o nazi-fascismo aceitou alguns

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de seus aspectos na elaboração do Estado Corporativo, que posteriormente influenciaria todos os

fascismos.O integralismo, portanto, aceita a doutrina social católica como uma ordem por

declarar-se um movimento católico, enquanto que o fascismo adaptou algumas partes da encíclica

à concepção de estado Corporativo com o intuito de provocar a harmonia das classes em

contraposição a luta de classes.

A utilização da encíclica Quadragessimo Anno entra como um ponto de diferenciação

entre o integralismo e o nazi-fascismo.Enquanto o primeiro aceitou, o segundo repudiou, devido

a crítica papal aos regimes totalitários de esquerda e de direita.

O ideal corporativo de SALGADO não foi exclusivamente de influencia fascista

italiana,mas derivada do integralismo lusitano,da doutrina católica social e do corporativismo

tradicional.

A formação católica de SALGADO remete a reforma do homem, mais do que a do Estado

como é nitidamente evidenciado em Musssolini. As concepções teleológicas do integralismo

diferenciam-se do nazi-fascismo, a partir do momento que acredita na autoridade da família e não

no conjunto de trabalhadores do estilo sindical como é evidenciado no fascismo italiano. Nota-

se,portanto,que a própria concepção de Estado integralista se contrapõe ao ideal de Estado nazi-

fascista

Os pontos de contato do integralismo ao nazi-fascismo no que diz respeito ao Estado

limita-se ao conteúdo revolucionário e o nacionalismo de base corporativa,mas contrapõe-se ao

aceitar a identificação com a hierarquia católica,que o fascismo não aceita.

A peculiaridade do integralismo é percebida a partir do momento que é uma doutrina mais

espiritualista do que vitalista, contrapondo-se ao nazi-fascismo e suas raízes seculares.

A visão de contraponto em SALGADO, no que diz respeito a concepção de Chefe

Nacional,é constatada a partir de críticas as características pagã-cesarianas de Chefe de Estado.O

Estado ‘’pagão’’ é visto como uma representação do anti-cristo.

A função do Estado para o integralismo e o nazi-fascismo possuem um ponto de contato,

a partir dom momento que o Estado é um instrumento de defesa ante ao marxismo.

A incorporação do catolicismo no ideal integralista não pode ser considerado apenas

como um plano tático ideológico para a consolidação do poder,mas também por motivação

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religiosa de seus membros,pois nota-se que os ideais espirituais aproximam-se dos ideais

corporativos.

O Estado Corporativo era um atalho para a cristianização das massas operárias, que

destruiria o sindicalismo ‘’sem Deus’’, algo que é percebido como um ponto de diferenciação

com o comunismo e com o nazi-fascismo.

A literatura integralista possui pontos de contato com o nazi-fascismo a partir das obras de

BARROSO; que indentifica-se com o modelo nazista, pelo caráter anti-semita, e as obras de

Reale que identifica-se com o modelo italiano de Estado,entrando em contraponto coma ideologia

de SALGADO; devido as influencias de George Sorel no fascismo que entra em embate com as

obras de Jackson de Figeuiredo. O ideal de Giovanni Gentille entra em choque com SALGADO

por não focar a reforma do homem. A ultilização da literatura de Nietzsche pelos nazistas, a partir

do conceito de ateísmo entra em contraposição com o ideal religioso de SALGADO.

A concepção espiritualista do integralismo entra em choque com as teorias raciais e

evolucionistas do nazismo inpirados pela eugenia. O nazi-fascismo incorporou o expansionismo

enquanto o integralismo a retração.O caráter ocultista ultilizado pelo nazismo, a partir de

elementos da teosofia, também entram em contraposição aos ideais integralistas contrários a

existência de seitas secretas,incluindo a maçonaria.

O culto aos valores anteriores ao cristianismo, louvado pelo fascismo italiano é um ponto

de diferenciação entre o fascismo italiano e o integralismo, que acreditam que o período de

progresso da humanidade teria surgido na Idade Média, tempos de glória da fé católica.

A relação entre Igreja e a adesão de católicos praticantes nos três movimentos fascistas

entram em contraposição pela forma de adesão. No integralismo percebe-se que alguns católicos

aderiram ao movimento por ele incitar valores religiosos, enquanto que no nazi-fascismo o fator

da obrigatoriedade e o temor ao bolchevismo foi a condição que prevaleceu.

A relação entre as instituições Igreja e os movimentos fascistas, é caracterizada muitas

vezes pela neutralidade e alguns acordos. A atitude da Igreja perante o integralismo foi neutra, às

vezes condenando, às vezes apoiando. O fascismo italiano tem o auge das relações com a Igreja a

partir do Tratado de Latrão, enquanto que o nazismo na Concordata do Reich.

O tema integralismo é muito abrangente, o que permite novas perspectivas de estudos

futuros sobre o assunto. A relação catolicismo e movimentos fascistas já foi muito debatida pela

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historiografia, mas alguns conceitos ainda não foram explorados,como o princípio das hierarquias

e o Estado Corporativo,a partir do modelo proposto pela Rerum Novarum.

Os pontos de diferenciação entre integralismo e nazi-fascismo também foram pouco

debatidos,pois a historiografia dá prioridade aos pontos de contato,a partir do caráter fascista dos

três movimentos.

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FONTES BARROSO, Gustavo. Integralismo e Catolicismo.2ed.Rio de Janeiro.Ed.ABC.1937.

BARROSO,Gustavo. Integralismo e o Mundo. 2ed. Rio de Janeiro.Civilização Brasileira Editora. 1937. SALGADO, Plínio.A Quarta Humanidade.5ed.São Paulo.Ed.das Américas.1963

SALGADO, Plínio.Conceito cristão de Democracia.Ed civilização brasileira.1937

SALGADO, Plínio.O Integralismo perante a nação. 3ed Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1955. SALGADO, Plínio.O Soffrimento Universal.2ed. Rio de Janeiro:Livraria José Olympio,1934

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FERNANDO TANNOUS TAHAN

O CATOLICISMO INTEGRALISTA E O NAZI-FASCISMO Trabalho de conclusão da disciplina de Pesquisa Histórica, Setor de Ciências Humanas,,Universidade Federal do Paraná,DEHIS Professor. Dennison de Oliveira

CURITIBA

2006

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