O Senhor deu-lhe sabedoria e prudência e um coração grande como a areia que está nas praias do mar.

(Reis 5,9)

1. Ação de graças a Deus criadorDia de Dom Bosco. Tempo de memória. Tempo do hoje celebrativo na corrente do Bicentenário do nascimento de Dom Bosco. Um momento em que recordamos o Lema “Com Jesus percorramos juntos a aventura do Espírito”, recentemente apresentado em Fátima.

Ensaiamos o estilo de vida salesiano, o desejo de descobrir a dimensão contemplativa de Dom Bosco, o seu imenso amor pelos jovens, sobretudo mais pobres.

Este é o mistério de um Deus que se revela na nossa circunstância, que se revelou a Dom Bosco concedendo-lhe o carisma.

Um Deus que se recria no cansaço dos nossos trabalhos, na banalidade dos nossos percursos, no desgaste das nossas relações, nos impasses das nossas vidas, na aridez da oração.

Um Deus que se quer fazer presente e, para isso, nos prodigaliza o essencial: espaço, atenção, disponibilidade, acolhimento...Amor. Diz Isaías: “Aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças; têm asas como a águia e voam velozmente sem se cansar, e correm sem desfalecer”(Is 40,31).

Podes ter dúvidas sobre o que isto significa. Mas Jesus, ao chamar-te para estar a sós contigo, também diz: “Não temas. Eu estou contigo”.

2. Catequese duma mãeNeste momento quero recordar mãe Margarida e as suas confidências catequéticas com o seu Joãozinho. “Olha, filho, a planície verdejante e o céu azul. As videiras são esperança ainda.

Festa de S. João BoscoHomilia comentada para a Família Salesiana

Lectio Divina para a Família SalesianaP. J. Rocha Monteiro, sdb

rocha@salesianos.pt www.adma.salesianos.pt

FESTA DE SÃO JOÃO BOSCOFundador da Sociedade de São Francisco de Sales,

do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadorados Salesianos Cooperadores da Associação de Maria Auxiliadora

Mas o sol é o mesmo, o mesmo de sempre. E, por entre o nevoeiro vai descrevendo a história de Deus, de Deus Criador.

“E Deus disse: faça-se a luz...” e, da janela aberta a nascente, o sol entrou quente, desenhando no chão de tijolo vermelho, o perfil inacabado de uma janela. Sei que era de manhã. Sei que a luz lavava aquele chão limpo e encerado e fazia brilhar a flor sobre a mesa e o barro da tijela.

E lá fora, na colina serpenteada de videiras, abençoava as casas, o fumo da chaminé, as searas, as laranjeiras, o barranco, a planície… e nela, a perder-se no horizonte, os Alpes e o rio grande que corre da montanha para o sul. - “Vês, filho, Deus criou tudo isto “.

3.VidaJoão Bosco nasceu em Castelnuovo d’Asti em 1815. Sua mãe educou-o na fé e na prática coerente da mensagem evangélica. Tinha apenas nove anos quando um sonho lhe fez intuir que deveria dedicar-se à educação da juventude.

Ordenado sacerdote (1841), escolheu como programa de vida: «Da mihi animas, cetera tolle» (Gen 14, 21), e deu início ao seu apostolado entre os jovens mais pobres, fundando o Oratório e pondo-o sob a proteção de São Francisco de Sales.

4. Estilo educativoCom o seu estilo educativo e a sua prática pastoral, baseados na razão,

na religião e na bondade (Sistema preventivo), levava os adolescentes e os jovens à reflexão, ao encontro com Cristo e com os irmãos, à educação na fé e à sua celebração nos sacramentos, ao empenhamento apostólico e profissional. De entre os mais belos frutos da sua pedagogia emerge São Domingos Sávio e Laura Vicuña. Os seus três amores: amor a Jesus Sacramentado, amor a Nossa Senhora e amor à Igreja (Papa).

5. EspiritualidadeFonte da sua incansável atividade e da eficácia da sua ação foi uma constante «união com Deus» e uma confiança ilimitada em Maria Auxiliadora, que sentia como inspiradora e amparo de toda a sua obra. No fim da sua vida concluía o seu amor por Maria Imaculada Auxiliadora repetindo “Foi Ela quem tudo fez”. Aos seus filhos Salesianos deixou o binómio: «trabalho e temperança».

6. Família SalesianaDe entre os seus jovens formou os melhores colaboradores da sua obra, dando origem à Sociedade de São Francisco de Sales; juntamente com Santa Maria Domingas Mazzarello fundou o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora; finalmente, com leigos bons e dinâmicos, homens e mulheres, criou a Associação dos Salesianos Cooperadores para apoiar a sua obra e a Associação de Maria Auxiliadora para expressar o seu profundo amor ao Santíssimo Sacramento e à Mãe de Jesus. Morreu no dia 31 de Janeiro de 1888.

No centenário da sua morte, João Paulo II declarou-o e proclamou-o Pai e Mestre da juventude, determinando que “ele seja honrado e invocado com este título, especialmente por todos quantos se reconhecem como seus filhos espirituais”. O prefácio da missa chama-o de “amigo, irmão e pai dos jovens”.

Mt 18, 1-6.10

7. Virtudes da criançaO quarto dos cinco grandes discursos, em torno dos quais gira o Evangelho de Mateus, vem neste capítulo 18. É especialmente dirigido aos seus discípulos. Jesus manda que se tornem como crianças.

Pensa, sobretudo, na sua humildade: a criança não tem pretensões, sabe que é criança e aceita a sua pequenez, a sua impotência diante da vida, a necessidade que tem de seus pais e educadores. São humildes. E se da família humana passamos para a família cristã, a argumentação tem muito maior razão de ser.

O que é o homem diante de Deus? (Sl 8) Precisamente por isso, a humildade cristã é fruto da alegria de ser filhos de Deus. Dom Bosco percebeu muito bem a relação entre a pedagogia dos jovens como ato educativo e a pedagogia da fé. Interligava as duas. S. Domingos Sávio deu a melhor definição a Miguel Magone: “aqui, fazemos consistir a santidade em estarmos sempre alegres”.

Dom Vecchi traduziu a mesma realidade com o slogan: ”Educamos evangelizando e evangelizamos educando”.

8. Amor sagradoEsta perícope revela-nos um Jesus muito “humano”, um Jesus muito perto de nós... um Jesus terno, carinhoso, sensível, um Jesus que abraça as crianças...É contrastante a atitude de Jesus com a dos apóstolos. Estes “afastam-nas”.

Quando alguém ama uma criança, quando a abraça, quando a defende diante dos grandes públicos da sociedade contemporânea, usa esta atitude profunda de Jesus.

Para Jesus não há seres humanos insignificantes: o mais fraco, o mais pequeno, o mais pobre, o mais humilde, o que não tem defesas, é o mais sagrado. Diante de Deus tem um valor infinito.

Fil 4,49

9. Palavras do arcebispode Évora“Estou certo de que esta louvável iniciativa será uma excelente ocasião para evocar a vida e a obra de S. João Bosco, esse gigante do século XIX, iluminado por Deus a tal ponto que “nele o sobrenatural se tornou natural”, segundo a feliz expressão de Pio XI que o canonizou em 1934.

A sua luz espiritual continua a brilhar na igreja e no mundo e o carisma fundacional que legou à Igreja, através das obras por ele fundadas, tem resistido às vicissitudes do tempo e merece ser conhecido, aprofundado e posto em prática. (...)

Como S. Paulo, foi um cultivador da alegria e sentia-se atraído por tudo o que é verdadeiro e nobre, justo e puro, amável e de boa reputação, virtuoso e digno de louvor, por considerar que é mais importante promover os aspetos positivos da vida do que reprovar o que é negativo.

Por isso, a sua vida e os seus métodos pedagógicos foram sempre enformados pelos valores do Evangelho. Daí o sucesso alcançado em todos os lugares, épocas e culturas. (D. José Alves, Sé de Évora, 17.09.2012, passagem das relíquias de S. João Bosco por Évora)

10. Com Jesus, percorramos juntos a aventura do EspíritoPe. Ángel Fernández Artime, Reitor Mor, Lema 2016, excerto do Lema 2016

Tal como nos chamamentos de Jesus no Evangelho, hoje como então Ele fixa e olha com atenção cada pessoa, o fundo do seu coração, e dali faz ressoar o seu convite a segui-l’O.

(…) É Jesus que toma a iniciativa, que se junta no caminho, que procura o encontro com desvelo. O seu olhar de eleição e o seu chamamento pessoal pedem uma decisão cheia de confiança e de abandono n’Ele.

(…) A interioridade não é o lugar no qual me retiro, mas sim a tomada de consciência de que estou dentro de Alguém e com Alguém.

(…) Todavia conhecer a Deus e buscá-l’O é mais do que um desejo nosso. É, antes de tudo, um Dom que nos é oferecido e que está em sintonia com a nossa condição de buscadores do Absoluto, porquanto muitas vezes os nossos passos sejam pequenos e incertos.

(…) O grande desafio é encontrar caminhos, meios e propostas que nos permitam convidar os jovens a percorrer um caminho que seja um verdadeiro sopro de vida, de ar fresco de Deus, de presença do Espírito nas suas vidas.

(…) Dom Bosco vos ajude a não desiludir as aspirações profundas dos jovens: a necessidade de vida, abertura, alegria, liberdade, futuro; o desejo de colaborar na construção de um mundo mais justo e fraterno, no desenvolvimento de todos os povos, na salvaguarda da natureza e dos ambientes de vida.