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    PESQUISA ARQUITETURAINSTITUCIONAL DE APOIO ÀS

    ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADCIVIL NO BRASIL

    Apresentação e Resumo Executivo

    São Paulo, fevereiro de 2013

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    Créditos

    Realização:Articulação D3 - Diálogos, Direitos e DemocraciaCEAPG - Centro de Estudos em Administração Pública e Governo da EAESP –FGV

    Coordenação Geral da Pesquisa:Patrícia Maria E. Mendonça

    Pesquisadores Responsáveis:Catarina IanniSegatoFernando do Amaral NogueiraLuiza Reis Teixeira Natália Navarro SantosMario Aquino AlvesSofia Reinach

    Patrícia Maria E. MendonçaColaboradores:Adriana WilnerFelipe Guerra AcostaFrederico Silva TonusPedro Fadanelli

    Apoio para realização:Aliança Interage(Instituto C&A, Instituto Arcor, Fundação Avina, International Service)Fundação W. K. Kellogg

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    1. Apresentação- a Pesquisa e seu Contexto

    O presente estudo é fruto de uma reflexão coletiva realizada no âmbito da D3 – Diálogos,Direitos e Democracia -uma articulação de organizações não governamentais internacionais,institutos e fundações privadas nacionais, agências de cooperação internacionais bilaterais emultilaterais com atuação nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

    A D3 teve origem em 2009, motivada pela preocupação com a sustentabilidade das OSCs quevinham realizando um trabalho voltado para a promoção do desenvolvimento e defesa dedireitos. Desde então, sua dinâmica de atuação tem sido pautada pelo aporte temático de seus participantes, destacando-se a necessidade de garantir a continuidade do trabalho dasOSCsDD (OSCs de Defesa de Direitos) no Brasil, em um cenário que, cada vez mais, temlimitado o acesso destas organizações a recursos.

    Em 2011 a FGV, através do CEAPG- Centro de Estudos em Administração Pública eGoverno- é convidada a participar das discussões sobre a sustentabilidade das OSCs brasileiras e é selecionada como instituição executora da pesquisa. Contando com o apoio daAliança Interage, da qual fazem parte Instituto C&A, Instituto Arcor, e Fundação Avina, e daFundação Kellogg, a pesquisa teve início em Maio de 2012.

    1.1 Contexto da Pesquisa

    As mudanças que ocorreram nos últimos anos no campo de atuação da sociedade civil eacontecimentos recentes sobre a sua atuação, em especial no que se refere às relações entre asOSCs e o Estado, estão no pano de fundo que motivaram a realização desta pesquisa. Elas promoveram alterações profundas nos relacionamentos e interações entre as OSCs, osEstados, as organizações internacionais de cooperação para o desenvolvimento e asorganizações do mercado, que são expressas de maneira determinante pela reorientação defluxos de recursos, especialmente os direcionados à promoção do desenvolvimento e à defesade direitos.

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    Podemos destacar os seguintes pontos de mudança no cenário de atuação das OSCs brasileiras:

    1.1.1 No campo da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento

    No caso do Brasil, muitas OSCs têm sido recipientes de ajuda internacional desde a década de1970. Durante a ditadura militar brasileira (1964-1984) e durante o período deredemocratização (anos 1980 e 1990), as OSCs brasileiras foram fortemente financiadas pelacooperação internacional, em especial, por outras OSCs de desenvolvimento e fundações partidárias da Europa, por fundações independentes da América do Norte, além de setores progressistas da Igreja Católica e de alguns poucos empresários nacionais comprometidoscom a mudança democrática no país, sem mencionar a ajuda oficial da cooperação bilateral

    (LANDIM, 2002).

    Após quase 20 anos de lutas e conquistas, a democracia e a promoção da justiça social sefortalecem no país, com as condições de pobreza e desigualdade da sociedade modificada(embora não desaparecendo), através da inclusão de muitos brasileiros em programas sociais.Isto demonstrou a própria capacidade e compromisso dos governos em enfrentar tais problemas, muitas vezes com inspirações e colaborações das OSCs. Por fim, o Brasil se posiciona no cenário internacional como uma “nação de renda média” (TdRPESQUISA,2010).

    Por si só, estas mudanças influenciaram o re-ordenamento da agenda da cooperaçãointernacional para o desenvolvimento, em especial a cooperação internacional solidária ounão oficial, redirecionando suas prioridades para outras áreas geográficas.

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    Ocorre que, combinada a isto, o chamado “mundo desenvolvido”, tradicional doador dacooperação internacional para o desenvolvimento, mergulha numa crise econômica que vemdesdobrando-se desde 2008.

    Isso faz com que o cenário de cooperação e desenvolvimento mude, a partir do início dos anos2000, com maior enfoque para ações mais integradas com governos que, por sua vez, irãoaproximar-se dos diversos stakeholders da sociedade (LEWIS e KANJI, 2009). A conferência

    da OECD de Paris, em 2005, destacou a necessidade de aumento da eficiência da cooperaçãointernacional a partir da harmonização da ajuda enviada, destacando a necessidade decoordenação de projetos, programas e prioridades. Essas mudanças estão ancoradas em princípios, os quais destacam uma atuação voltada para resultados que buscam prover meiosde quantificação do progresso em direção à redução da pobreza, tendo no seu mais altoindicador os Objetivos do Milênio (MAXWELL, 2003; CORDEIRO e Mendonça, 2012).

    1.1.2 Relações entre OSCs -Estado

    A relação entre governo e sociedade civil organizada sofreu profundas mudanças nos últimosanos. A Constituição Federal de 1988 e o primeiro governo de Fernando Henrique Cardosoforam o principal marco na modificação dessa relação. Especialmente, a partir de 1995, odebate sobre a regulamentação e o financiamento governamental às Organizações daSociedade Civil (OSCs) é fortalecido por meio do grupo de discussão sobre o marcoregulatório1. As OSCs passaram a desempenhar um papel de parceria na implementação de políticas públicas e deadvocacy e controle social.

    Somado a isso, foram promovidas mudanças no processo de financiamento governamental,especialmente em relação ao aumento do controle sobre o uso de recursos públicos.

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    1.1.3 Novos Formatos e Estratégias de Atuação

    Acredita-se que todas as mudanças que ocorreram no campo da cooperação internacional parao desenvolvimento e nas relações entre OSCs e o Estado no Brasil, venham também provocando mudanças no próprio campo de promoção do desenvolvimento e defesa dedireitos. Tem- se observado, por exemplo, o surgimento de “novos” tipos de organizações e“novos” mecanismos destinados à mobilização de recursos.

    Alguns deles não são necessariamente novos, porque são historicamente utilizados em outros países, mas passam a ser experimentados, somente agora, de forma mais sistematizada, pormuitas OSCs brasileiras, como é o caso da captação com indivíduos voltados para a causa eutilização de estratégias novas, como microdoações, internet, face to face , entre outras, e amobilização para constituição de fundos patrimoniais. Outros formatos e mecanismos, de fato,são novos, motivados pelas possibilidades do uso de ferramentas da comunicação e redes

    sociais, comocrowdfunding , ou ainda os modelos que propõem uma aproximação das açõessociais com as atividades econômicas, como os negócios sociais ouimpactinvestmentsfunds .Além destes fatores, acontecimentos recentes, como a crescente dificuldade e alto custo erisco associados para acessar financiamento governamental, têm pressionado para que asOSCs, cada vez mais, busquem e experimentem novas formas de financiar-se. Isso incluirever as relações já existentes, mas também buscar inovações para garantir suasustentabilidade.

    A partir deste cenário de transformação, ocorre um re-ordenamento do fluxo de recursosdirecionados às OSCs, sendo o campo da promoção e defesa de direitos, particularmente,afetado por ele. Portando, a proposição do projeto “Arquitetura Institucional de Apoio àsOrganizações da Sociedade Civil (OSCs) no Brasil” visa a compreender este re-ordenamentoe suas implicações para o campo da defesa de direitos.

    Adicionalmente, constitui um esforço inicial de sistematização de dados em uma área quecarece de informações, especialmente as relacionadas a monitoramentos quantitativos

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    2. Desenvolvimento e Defesa de Direitos

    Quando falamos de Organizações Não Governamentais – ou ONGs - no seu sentido maisestrito, falamos de organizações ligadas aodesenvolvimento e à defesa de direitos , ou seja, deuma parte da sociedade civil no seu sentido mais politizado.

    De forma geral, falar de organizações de defesa de direitos, em especial no campo dacooperação internacional e dos movimentos sociais, significa remeter a discussão aotermorights approach (abordagem de direitos). Contudo, não há um conceito fechado sobre oque implicarights approach para o campo das ONGs (UNCHR, 2002), mas é certo que setrata de um conceito amplo calcado tanto na luta pelos direitos humanos e pela igualdade degênero (Harris-Curtis( 2003), quanto na luta pelas liberdades, no mesmo sentido atribuído por Amartya Sen (2000), que destaca a intrínseca importância dos seres humanos, o seu papele consequência no desenvolvimento econômico e o seu papel construtivo, na gênese devalores e prioridades.

    Romano e Antunes (2002), num documento produzido pela ActionAid, discutem a relaçãoentre a abordagem do empoderamento e a abordagem da defesa de direitos. Enfatizando, estasduas estratégias estão presentes nas ONGs envolvidas na promoção do desenvolvimentoalternativo e no combate à pobreza desde a década de 70. Um número crescente de OSCs passou a adotar abordagem baseada em direitos para promover a luta pelo reconhecimento e a promoção conjunta de direitos humanos (sociais, políticos, econômicos, culturais).

    Um exemplo é a OXFAM, que desenvolveu uma abordagem baseada em direitos queretornam a pontos importantes de diversos tratados internacionais sobre direitos humanos.Este plano estratégico de ação, desenvolvido por 12 organizações da rede OXFAM em 2012ficou conhecido comorightsbased approach , e propunha a análise sistemática da governançaglobal para apontar as relações existentes entre pobreza, direitos humanos, desenvolvimento,comércio internacional, propondo ações para uma “globalização com face humanitária”, na

    qual as agendas da economia e da justiça social ocupavam o cenário central.

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    A abordagem da OXFAM, bem como a abordagem de muitas outras ONGs e Fundações privadas internacionais, que priorizam a agenda dos direitos humanos, faz constantesreferências a tratados, acordos e outros documentos internacionais, que frequentementeorientam suas ações. Iorio (2002) aponta que a perspectiva baseada em direitos busca aconexão entre os diferentes direitos, equidade, igualdade, prestação de contas em sentidoamplo, empoderamento, participação e a não discriminação e atenção a grupos vulneráveis.

    As violações dos direitos humanos, ocorridas tanto na prevenção quanto na reparação,vinculam-se a inadequações da legislação e de mecanismos de controle de poder e a umdistanciamento da percepção destes direitos em contextos culturais e políticos.

    Por isso, a perspectiva de direitos se alicerça na necessidade de constante fortalecimento desuas organizações, criação de novos conhecimentos e habilidades, fortalecimento da auto-estima e valores e a construção de vínculos e alianças com diferentes setores (Iorio, 2002).

    A abordagem das ONGs e fundações internacionais, bem como de organizações locais emovimentos sociais voltados para a defesa e promoção dos direitos, reflete-se nas práticasalternativas de desenvolvimento que enfatizam a necessidade de um processo de globalizaçãomais justo, contrapondo-se ao ideário neoliberal.

    Ocorre que, a partir da década de 90, as noções de empoderamento e defesa de direitos passam a ser objeto de disputas ideológicas, sendo apropriados em discursos de organismosinternacionais, como o Banco Mundial, que passam a instrumentalizar tais conceitos .

    2.1 Histórico do Campo de Defesa e Promoção de Direitos

    Traçar o percurso do campo das organizações de defesa de direitos remonta à própriaascensão da temática dos direitos humanos no âmbito das relações internacionais.

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    Embora a questão dos direitos humanos e sua importância sejam antigas, remontando às próprias raízes do Iluminismo, pode-se dizer que somente depois da Segunda Guerra Mundialela toma corpo, justamente para tentar evitar a repetição das violações cometidas pelossistemas totalitários, como o fascismo e o nazismo. Assim, no cenário internacional, surgemos primeiros e mais importantes estatutos internacionais de proteção desses direitos,notadamente a fundação das Organizações das Nações Unidas, juntamente com a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos (1948).

    Como nos lembra Boaventura de Sousa Santos (1997: 20):

    A marca ocidental, ou melhor, ocidental-liberal do discurso dominante dosdireitos humanos pode ser facilmente identificada em muitos outrosexemplos: na Declaração Universal de 1948, elaborada sem a participação damaioria dos povos do mundo; no reconhecimento exclusivo dos direitosindividuais, com a única exceção do direito coletivo à autodeterminação, oqual, no entanto, foi restringido aos povos subjugados pelo colonialismoeuropeu; na prioridade concedida aos direitos cívicos e políticos sobre os

    direitos econômicos, sociais e culturais e no reconhecimento do direito de propriedade como o primeiro e, durante muitos anos, o único direitoeconômico.”

    A Guerra Fria fez com que a discussão sobre os direitos humanos fosse crivada pelo embateideológico, político – por vezes, militar – entre capitalismo e socialismo, o que tornou difícil oavançar de uma agenda mais abrangente sobre direitos humanos, mesmo havendo diversasconferências internacionais sobre o tema. O poder das grandes potências fez com que atemática dos direitos humanos ficasse subordinada à questão da soberania estatal. Por estemotivo, por exemplo, o continente latino-americano passou por um conturbado período desupressão das liberdades, durante os anos sessenta aos anos oitenta, com o surgimento deditaduras militares aliadas aos interesses norte-americanos.

    Além disso, a guerra fria ocorria ao mesmo tempo em que se processava a descolonização dosterritórios africanos e asiáticos, processo marcado por conflitos das mais diversas naturezas(política, religiosa e étnica) cujas consequências se estenderam muito além dos anos 1970, nodecorrer das últimas guerras coloniais na África portuguesa. O processo de descolonização

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    foi assentado no princípio da auto-determinação dos povos e pelo direito ao desenvolvimentoque levou à formação do bloco de países não alinhados e à divisão do mundo a partir dosconceitos de países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, expressão que se transformouem países em desenvolvimento.

    Assim, nesse contexto, surgiram as “Organizações Não Governamentais” - ou maissimplesmente ONGs. Foi um termo utilizado, com bastante freqüência, nos países em

    desenvolvimento, para designar organizações que se dedicavam a promover odesenvolvimento econômico e social, tipicamente no nível comunitário e de base (Gardner &Lewis, 1996).

    Os anos 1990 foram profícuos à produção de uma literatura sobre ONGs , dedicada quasesempre às questões do envolvimento destas organizações com o desenvolvimento econômico(Farrington&Bebbington, 1993; Korten, 1990; Smillie, 1995; Carrol, 1992), com a assistência

    humanitária internacional (Hulme& Edwards, 1997), ou com a transformação social (Clark,1991; Fisher, 1994). Para esta literatura, independente do local-sede das organizações(Londres, Estocolmo ou Katmandu), seriam designadas como ONGs apenas aquelasorganizações que atuassem nos países em desenvolvimento (países do Sul), voltadas paraquestões de desenvolvimento local, para a luta por direitos, para a assistência e ajudahumanitárias (Lewis, 1998). As demais organizações seriam simplesmente chamadas deorganizações voluntárias, sem fins lucrativos, caritativas, etc.

    Na América Latina, o termo ONG foi adotado para designar organizações que surgiram dosmovimentos sociais e das lutas contra as ditaduras que se instalaram no continente durante asdécadas de 1960 e 1970 (Landim, 1988; Fernandes, 1993). Isso fez com que o termo ONGtivesse, nessa região, uma conotação muito mais politizada do que em outras partes domundo. Segundo Fernandes e Piquet Carneiro (1991) a denominação ONG passou a serempregada, por volta dos anos 1980, para designar várias entidades que, originárias dos váriosmovimentos sociais dos anos 1970, vinham agregando quadros de matrizes ideológicasdiversas, como o marxismo e o cristianismo, e passaram a contar com uma estreitacooperação com entidades não governamentais internacionais. O mote principal destas

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    organizações era a defesa da transformação social por meio da educação, com inspiração,sobretudo, nas obras de Paulo Freire, em contrapartida à visão assistencialista caracterizada pela ação das entidades beneficentes até então (Lehmmann, 1990). Harris-Curtis (2003),chama a atenção para o fato de que este tipo de ação antecipa a visão do desenvolvimento baseado em direitos (rightsbased approach ).

    O fim da guerra fria trouxe, assim, uma visão para a ação nos países em desenvolvimento em

    que não mais se separavam as lutas pelo desenvolvimento de uma visão de direitos humanos.Assim, a divisão entre organizações voltadas para o desenvolvimento e organizações dedefesa dos direitos humanos passou a ser inócua, uma vez que o debate confluiu para aconvergência das duas temáticas. Assim, tornou-se um consenso dizer que, para que se possaalterar o status quo nas sociedades em desenvolvimento, faz-se necessário alterar a balança de poder nestas sociedades, por meio da afirmação, do reconhecimento e da proteção de direitos(Harris-Curtis, 2003).

    A partir daí, passou-se então a discutir não apenas os clássicos direitos humanos de 1948, mastambém os novos direitos contemporâneos, inspirados nos movimentos de emancipação dasmulheres e nos movimentos civis dos anos 1960 nos Estados Unidos. Assim, evoluímos parauma era de transformação da luta dos direitos que passam, necessariamente, por ir além deuma mera questão de redistribuição (os direitos ligados ao desenvolvimento e justiça) e dereconhecimento (direitos identitários) (Fraser &Honneth, 2003). Não por acaso, osmovimentos sociais contemporâneos passam a tratar da transversalidade dos direitos na lutacontemporânea pela cidadania (Scherer-Warren, 2003). Conclui-se, portanto, que o campo dasorganizações de defesa de direitos não deve ser compreendido como estático, mas a partir deuma dinâmica que exprime as próprias transformações pelas quais passaram o campo dosdireitos no Brasil e no mundo nos últimos anos.

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    2.1.2 O termo ONG no Brasil

    “ONG”, no Brasil, desde a Conferência Rio-92, passou por uma banalização no usocotidiano, sendo empregado como um termo “guarda-chuva” que envolveria desdeorganizações dos movimentos populares, até organizações filantrópicas e de caridade. Assim,diferentes organizações, tais como fundações, entidades sem fins lucrativos, OrganizaçõesSociais, associações e ONGs passaram a ser tratadas como sinônimos. Tudo se tornou ONG:

    tanto a organização que trabalha em sustentação ao movimento social, quanto umaorganização filantrópica tradicional; isso contribuiu para a estigmatização das organizaçõesligadas aos movimentos sociais, pois passaram a ser confundidas com outros tipos deorganizações que fazem parte do chamado universo das fundações e associações sem finslucrativos, que possuem convênios ou outros tipos de contratos com o setor público, mas quetiveram sua atuação contestada por uma série de escândalos, de malversação de fundos ecorrupção.

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    3. OSCs e Defesa de Direitos- de que estamos falando?

    Assim, a primeira coisa a fazer é tentar entender melhor este universo. A última pesquisa doIBGE sobre o quadro de fundações e associações sem fins lucrativos (FASFIL) no Brasilmostrava a existência de 338 mil organizações (IBGE, 2008), conforme a tabela 1.

    TABELA 1- Distribuição das FASFIL por período de criaçãoPeríodo de Criação Nº de

    Fundações eAssociaçõessem FinsLucrativos

    Acumulado

    Crescimento em

    relação ao períodoanterior (%)

    Crescimento em

    relação a 1970 (%)

    Até 1970 10.998 10.998 - -

    De 1971 a 1980 32.858 43.856 298,8% 298,8%

    De 1981 a 1990 61.970 105.826 141,3% 862,2%

    De 1991 a 2000 139.197 245.023 131,5% 2127,9%De 2001 a 2002 30.882 275.905 12,6% 2408,7%

    De 2003 a 2005 62.257 338.162 22,6% 2974,8%

    Fonte: Guerra-Silva (2011), a partir de IBGE (2004; 2008).

    Fazendo um desdobramento das chamadas FASFIL (ver Tabela 2), o grupo de defesa dedireitos compreende 45 mil organizações (IBGE, 2008).

    Este é o lado politizado da constituição das FASFIL, mas que é, ao mesmo tempo, um ladodiminuto diante daquilo que se acostumou chamar de ONGs e Terceiro Setor no Brasil.

    TABELA 2 - Organizações de Defesa de Direitos dentro das FASFIL em 2005Total 45 161

    Associação de moradores 14 568

    Centros e associações comunitárias 23 149

    Desenvolvimento rural 1 031Emprego e treinamento 388

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    Defesa de direitos de grupos e minorias 4 662Outras formas de desenvolvimento e defesa dedireitos

    1 363

    Fonte: IBGE (2008)

    A definição oficial do IBGE aponta que essas organizações compreendem “associações quesão criadas para atuar em causas de caráter social, tais como a defesa dos direitos humanos,defesa do meio ambiente, defesa das minorias étnicas, etc.”, sendo excluídas destasclassificações as organizações que realizam as atividades de assistência social prestadas emresidências coletivas e particulares, ou os serviços de assistência social sem alojamento.

    Existe ainda a categoria “Outras formas de desenvolvimento e defesa de direitos” que édescrita pela FASFIL como (excluindo-se também as atividades de assistência social):

    As atividades de organizações associativas diversas, criadas para defesa de causas decaráter público ou objetivos particulares não relacionadas a quaisquer atividades são

    distribuídas em outras classes, tais como:• movimentos ecológicos e de defesa do meio ambiente;• organizações que prestam apoio a serviços municipais e educativos;• associações feministas;• organizações de proteção de grupos étnicos e minoritários;• associações de consumidores;• associações de pais de alunos;• associações e clubes estudantis;• fraternidades.

    Desta forma, temos diversas “organizações híbridas” que podem estar se dedicando àrealização de diferentes atividades, incluindo prestação de serviços de assistência social, desaúde, educação, capacitação profissional, entre outras.

    A partir de levantamentos da pesquisa e de discussões com o Grupo da D3 e também durantea discussão realizada no Congresso do GIFE, em 2012, na mesa “Contribuições do

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    Investimento Social Privado para as Organizações de Defesa de Direitos – Rumo à Visão ISP2020”, foram levantadas diversas proposições sobre a atuação das organizações do campo dadefesa e promoção de direitos. As atividades de promoção e defesa de direitoscompreenderiam (não se limitando somente a estas):

    • Atuação em Sistemas Jurídicos e Espaços Formais (MP, Conselho Tutelar, espaçostransnacionais, agências multilaterais, conselhos).

    Militância Direta:o Organizações, grupos, indivíduos para realização de protestos presenciais ou

    através de mídias sociais;o Organização de Campanhas e Comunição.

    • Advocacy:o Lobby; o Participação em conselhos/ controle social;o

    Assessoria governamental/ think-tanks, produção de dados.• Organização e Suporte:

    o Capacitação/ Educação Popular;o Intermediação de recursos.

    Note-se que estas atividades, muitas vezes, não são excludentes com outros tipos de ações, por isso, na listagem desta categoria, aparecem também Associação de moradores, Centros eassociações comunitárias, Desenvolvimento rural e Emprego e treinamento. Essasorganizações, muitas vezes, podem prestar serviço de assistência, mas também atuarem emdefesa de direitos ao produzirem denúncias, ou promovendo mobilizações e campanhaseducativas, que comporiam 39.136 organizações que se dedicam às atividades de defesa dedireitos, compondo 5.985 organizações.

    Como qualquer taxonomia, essa classificação implica inclusões/exclusões. Esta pode ser umadificuldade para a caracterização do campo de defesa de direitos, devido ao caráter hibrído demuitas de suas organizações.

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    Dentro da categoria “Desenvolvimento e Defesa de Direitos” da FASFIL, observa-se que, nosúltimos anos, houve um crescimento mais significativo das organizações de DesenvolvimentoRural, Emprego e Treinamento e outras formas de desenvolvimento e Defesa de Direitos.Sobre esta última subcategoria, sabe-se muito pouco, poder-se-ia aprofundar um estudo sobreestas organizações para verificar o porquê de se autoclassificarem de tal forma. Uma hipóteseé a de que poderiam estar representando algumas organizações envolvidas no campo daEconomia Solidária (ver tabela 3).

    Tabela 3- Evolução das organizações por Tipo de Entidade e Classificação (2002-2005)

    Área e Subáreas Fundações privadas Associação sem fins lucrativos

    Todas as Áreas 2002 2005 Variação 2002x 2005 2002 2005

    Variação2002 x 2005

    Área“Desenvolvimento edefesa de direitos”

    Associações demoradores 35 38 8,57% 14.533 19.158 31,82%

    Centros e associaçõescomunitárias

    183 162 -1,48% 22.966 29.424 28,12%

    Desenvolvimentorural 20 27 35,00% 1.011 1.725 70,62%

    Emprego etreinamento

    1 7 600,00% 387 715 84,75%

    Defesa de direitos de grupos e minorias 66 64 -3,03% 4.596 6.212 35,16%

    Outras formas dedesenvolvimento edefesa de direitos

    122 145 18,85% 1.241 2.582 108,06%

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    A Tabela 4 apresenta a distribuição geográfica das organizações de defesa de direitos daFASFIL, ocorrendo uma concentração de organizações “ híbridas” na região Nordeste, a umaconcentração de organizações “puras” na região Sudeste.

    Tabela 4- Entidades de “Desenvolvimento e Defesa de Direitos” e região do país

    Entidades de desenvolvimento e

    defesa de direitos Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

    Oeste Total

    Associações de moradores 681 6.723 5.874 5.015 903 19.196

    Centros e associações comunitárias 1.101 13.248 9.470 4.932 835 29.586

    Desenvolvimento rural 107 883 318 351 93 1.752

    Emprego e treinamento 26 111 322 226 37 722

    Defesa de direitos de grupos e

    minorias 281 1.814 2.192 1.625 364 6.276 Outras formas de desenvolvimentoe defesa de direitos 106 541 1.009 886 185 2.727

    Total 2.302 23.320 19.185 13.035 2.417 60.259

    Já a tabela 5 demonstra a distribuição por estado e per capita das organizações de defesa dedireitos da FASFIL. Vemos uma concentração no estado de São Paulo com maior número deEntidades, mas per capita o mesmo estado ocupa a 19ª posição. Há maior representatividade

    per capita nos Estados do Nordeste (6 dos 10 mais representativos), e Sul. Há também umdestaque para a concentração de Fundações Privadas que realizam defesa de direitos noestado de Minas Gerais.

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    Tabela 5- Entidades de “Desenvolvimento e Defesa de Direitos” por Estado e per capita

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    A Tabela 6 demonstra a evolução de criação das entidades de defesa de direitos no Brasil na

    qual podemos verificar um crescimento mais acentuado, durante a década de 90, das

    organizações de defesa de direitos e grupos de minorias (Crescimento de 145% em relação ao

    número das outras entidades criadas no mesmo período). A década de 1990 foi marcada pelo

    período de redemocratização do Brasil e, a partir daí, muitas entidades que estavam na

    clandestinidade puderam formalizar-se

    Tabela 6- Entidades de “Desenvolvimento e Defesa de Direitos” e Data da criação

    Entidades de desenvolvimento edefesa de direitos

    Até1970

    1971 a 1980

    1981 a1990

    1991 a2000

    2001 a2004 2005

    Associações de moradores 17 190 4.455 9.766 3.996 772

    Centros e associaçõescomunitárias 82 571 5.249 15.982 6.478 1.224

    Desenvolvimento rural 24 39 242 854 450 143

    Emprego e treinamento 7 33 58 285 292 47

    Defesa de direitos de grupos eminorias 123 253 841 2.983 1.671 405

    Outras formas dedesenvolvimento e defesa dedireitos 23 80 276 869 1.137 342

    Total 276 1.166 11.121 30.739 14.024 2.933

    A tabela 7 demonstra que o estado de São Paulo concentra o maior número de pessoas

    ocupadas nas fundações privadas que realizam defesa de direitos. Entre as associações a

    categoria “Associações de moradores /Centros e associações comunitárias” concentra maior

    número de pessoas ocupadas (40,7%). Outras formas de desenvolvimento e defesa de direitos

    concentram 80,7% das pessoas ocupadas entre as fundações

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    4.2 Principais Achados e Recomendações por Eixo de Levantamento

    4.2.1 Eixo Fundos Públicos

    Os levantamentos concentraram-se nos recursos federais, pois é onde se encontram, até omomento, as sistematizações de dados sobre as transferências de recursos para OSCs. Vale

    ressaltar que mesmo estes dados ainda são muito gerais, e que há pouca padronização no seuacompanhamento. Por exemplo, poderiam ser disponibilizadas informações sobre o númerode contratos com OSCs por programas específicos dentro dos Ministérios, por tipo deorganização ou projeto apoiado.

    O IPEA, cujos resultados preliminares foram utilizados neste estudo, realizou esforços paradetalhar mais. Acredita-se que os Ministérios possuam seus registros, porém sem fazer usodeles a partir de alguma sistematização ou categorização. Além disso, existem diferenteshistórias de relacionamento e formas de relação das OSCs de acordo com diferentes políticas públicas. Alguns exemplos das áreas de Assistência Social, Saúde e Cultura serão citados commais detalhe ao longo deste relatório. Esta diversidade de políticas e especificidades doshistóricos de relacionamento entre Estado e sociedade civil em diferentes áreas também foiapontada pelo estudo do INESC/ABONG2 (2012, no prelo) sobre “Acesso das Organizaçõesde Defesa de Direitos e de bens Comuns aos Fundos Públicos Federais”.

    Uma das maiores limitações encontradas na pesquisa foi a quase total ausência de dadosquando se busca olhar para as transferências de recursos públicos Estaduais e Municipais paraas OSCs. No caso, o Governo do Estado de São Paulo, que tem, reconhecidamente, realizadoesforços para disponibilizar estas informações, ainda não tornou a sua consulta públicaoperacional. Nowebsite da Secretaria de Finanças, existem abas com o título “Transferências

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    Voluntárias para Municípios e Entidades”, porém a informação ainda não está disponível.Algumas planilhas estão disponibilizadas para os Convênios, cuja origem foi de indicações parlamentares, mas não se encontram atualizadas - algumas não especificam as transferências para Municípios ou Entidades3. No site da Secretaria de Finanças de São Paulo, há, ainda, umcadastro denominado CPATES - Cadastro de Parceiros do Terceiro Setor 4, mas o acesso a partir dowebsite encontra-se restrito. A tentativa de busca de dados estaduais foi apenas parailustrar o tamanho da dificuldade que se enfrenta para obter dados de transferências nos

    demais entes federados. Não seria possível, no escopo e tempo destinado a esta pesquisa, ir buscar estas informações, embora elas possam ser acessadas. A limitação encontrada na nossa pesquisa não invalida que outros estudos busquem realizar esse levantamento nas basesestaduais e municipais.

    A partir da coleta e análise dos dados referentes ao Governo Federal, os principais achadosdesta pesquisa foram:

    • Há diferentes arranjos utilizados para transferências de recursos entre GovernoFederal e organizações da sociedade civil. Há órgãos governamentais, como oBNDES, que transferem recursos para OSCs e/ou Fundações e InstitutosEmpresariais de maior porte e essas transferem os recursos para OSCs de menor porte, que trabalham diretamente com os beneficiários e, muitas vezes, estãolocalizadas no território onde ocorrerá a intervenção. Em outros órgãosgovernamentais, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário, os recursossão transferidos diretamente para as OSCs, muitas das quais trabalham com atemática da defesa de direitos. Há ainda outro arranjo através do qual o GovernoFederal transfere recursos a estados e municípios, e esses os repassam aentidades sociais - casos que ocorrem com maior freqüência na Educação e naAssistência Social.

    • As formas de contratualização (mecanismos administrativos ou instrumentos jurídicos utilizados) são: convênios, contratos, contratos de gestão e termos de

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    parceria. O que predomina na grande maioria dos casos é o convênio. Estasformas de contratualização não consideram necessidades específicas das OSCs:necessidade de continuidade de recursos (especialmente para organizações quetêm um fluxo contínuo de prestação de serviços ou para aquelas cujo trabalho é processual e de difícil mensuração no intervalo de um ou dois anos de duraçãode um convênio ou contrato); falta de clareza no marco regulatório sobre otratamento jurídico para utilização dos recursos, limitações nas despesas,

    excessiva burocratização (que pode inviabilizar o acesso a recursos por muitasentidades).

    • De modo geral, os recursos são transferidos com base nas característicasespecíficas de cada órgão ou política - cada órgão ou política têm demandasespecíficas de serviços, assessoria das entidades sociais, tendo tambémdiferentes históricos de relacionamento com estas organizações. Existem, ainda,as emendas parlamentares, que também complementam ou direcionam recursos

    específicos diretamente às OSCs, ou repassando-os aos entes federados (estados,DF ou municípios) que, em seguida, os repassam à ONG por meio da celebraçãode novo convênio.

    • Em 2011, o IPEA realizou estudo sobre transferências federais para entidadessem fins lucrativos, apontando a tendência constante de aumento entre 2002 e2010. Porém, o crescimento destas transferências não acompanhou ocrescimento do volume total do orçamento federal. Em 1999, o valor total dosrepasses federais a entidades sem fins lucrativos foi de R$ 2,2 bilhões, em 2010,era de R$ 4,1 bilhões. Proporcionalmente, as transferências às OSCs forammenores em relação ao crescimento do Orçamento da União. Entre 2002 e 2010o valor real do orçamento global da União – que exclui despesas financeiras –aumentou mais de 80%, enquanto o crescimento do orçamento destinado àsONGs foi de 45%. De acordo com o IPEA, ao se considerarem as transferênciasobrigatórias e voluntárias, o repasse a ONGs nunca foi responsável por mais de2,5%(pico em 2005) do total de transferências, alcançando 1,8% em 2010.

    • De acordo com o IPEA, as transferências federais para entidades sem finslucrativos tiveram crescimento de 3.49% entre 2002-2010. O crescimento das

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    transferências estaduais para entidades sem fins lucrativos foi de 4.97%,enquanto o das transferências municipais foi de 9.33%

    • Para muitas organizações, o acesso a recursos públicos viabiliza o seu trabalho. Na área de Assistência Social, por exemplo, segundo dados do IBGE (2006),55,7% das entidades sem fins lucrativos recebem algum tipo de financiamento público, sendo 84,9% de financiamento municipal; 39,5% de financiamentoestadual; 40,5% do governo federal. Além disso, 32,6% têm como fonte de

    financiamento principal os recursos públicos. Nas associadas à AssociaçãoBrasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), em 2005, houveaumento dos recursos do governo federal, estadual e municipal. Em 2003, 16,7%das associadas tinham de 41% a 100% de seus orçamentos vindos do governofederal, em 2007, 37,4%. Em 2003, apenas 2,4% tinham de 41% a 100% de seusorçamentos vindos do governo estadual, em 2007, 14,5%. Os recursosmunicipais têm um crescimento estável: em 2000, 22% das associadas

    acessavam esses recursos e, em 2007, 30,2%• Os dados apontam que, para além do acesso a recursos públicos federais, tem

    aumentado também o apoio direto dos estados e municípios às OSCs. Estatendência está de acordo com as premissas de descentralização que norteiam boa parte das políticas públicas, especialmente as relacionadas às áreas sociais noBrasil. Ainda que muitas OSCs trabalhem com o governo federal e seu papelseja importante na complementação e inovação destas políticas, odirecionamento dos gestores públicos será o de repassar esta execução a estadose municípios.

    • Apesar disso, são escassas as informações publicizadas sobre as transferênciasrealizadas pelos estados e municípios para entidades sociais, demonstrando quegrande esforço precisa ser realizado por esses entes para a sistematização dessasinformações.

    • No âmbito federal, no qual existem algumas sistematizações e estudos sobre astransferências para entidades, nota-se que grande parte do montante transferidoàs entidades privadas sem fins lucrativos é proveniente de poucos órgãos doGoverno Federal, e são expressivas as transferências feitas pela Saúde e pela

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    Educação. Ainda, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Ministério doTurismo, o Ministério do Esporte e o Fundo Nacional de Cultura são grandesfinanciadores.

    • Estudo do IPEA (2012, no prelo), fez um levantamento de 20.095 convênios dogoverno federal com entidades, celebrados entre 2003 e 2011, representando umvolume de recursos de aproximadamente 12 bilhões de reais. Encontrou-se umagrande variação nos tipos de organização que receberam os recursos, bem como

    nos diferentes tipos de objetivos dos convênios. Os convênios feitos com asorganizações que trabalham com defesa de direitos representam apenas 4,8% douniverso (para isso observaram-se apenas as organizações que juridicamente seconstituíam como “associações” e utilizou-se uma classificação específica doIBGE-FASFIL).

    • A classificação do IBGE-FASFIL sobre os tipos de entidades apresenta, entreoutras, uma classificação para as que trabalham com defesa de direitos. No

    entanto, esta classificação é obtida a partir da autodenominação da entidade. Na prática, nem sempre é tão simples distinguir estas atividades. Por isso, foirealizada uma parte qualitativa da pesquisa, com entrevistas com gestores públicos e de entidades, para saber o que representava para eles “defesa dedireitos”.

    • Buscou-se mostrar os diferentes entendimentos sobre o conceito de defesa dedireitos a fim de compreender quais são as políticas públicas que têm destinadorecursos às OSCs de defesa de direitos. Os entrevistados, provenientes da gestão pública, de maneira geral, conceituam a defesa de direitos como a efetivação dosdireitos previstos na Constituição Federal de 1988, incluindo o seu acesso, já quea previsão constitucional dos direitos não significa necessariamente a suaefetivação.

    • Para as Secretarias que trabalham com os grupos minoritários – Secretaria dePolíticas para a Mulher (SPM), Secretaria de Direitos Humanos (SDH) eSecretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR) –, a defesa de direitosinclui a promoção de igualdade e equidade para grupos que foram destituídos dacondição de igualdade e o reconhecimento de que esses grupos têm direitos

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    iguais a toda população brasileira ou a efetivação de direitos de gruposvulneráveis.

    • A Assistência Social é a única área que apresenta uma definição formal sobre oque seja uma entidade de defesa de direitos. Do universo de aproximadamente10.200 entidades cadastradas nos Conselhos Municipais de Assistência Social,apenas cerca de 300 afirmam que atuam exclusivamente com assessoramento edefesa de direitos, a maior parte realizando atendimento junto com defesa de

    direitos concomitantemente. Além disso, o Departamento não sabe o queconstitui as atividades dessas 300 que realizam defesa de direitosexclusivamente. A gestora aponta que, no caso da defesa de direitos, a própriasociedade civil se organiza de diferentes formas para reivindicar seus direitos,não faz sentido o Estado predefinir quais são as atividades do assessoramento eda defesa. A definição de formas foi apenas para titulo de orientação, para tentardefinir algumas atividades, alguns objetivos, público alvo, e quais seriam os

    impactos esperados disso (em qualquer plano de trabalho para recebimento derecursos públicos é necessário que se identifiquem estes itens).• Para muitos gestores das OSCs, defesa de direitos inclui não somente garantir o

    cumprimento e acesso do que está na Constituição Federal, mas também o queconsta em tratados e acordos internacionais (quando o Governo brasileiro ésignatário).

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    Recomendações

    Em decorrência das dificuldades encontradas para a realização desta pesquisa e dos resultadosencontrados, as seguintes recomendações são feitas:

    1. São escassas as informações publicizadas sobre as transferências e os convêniosnos governos estaduais e municipais. Entretanto, como apontado, houve umcrescimento das transferências às entidades sem fins lucrativos no plano

    subnacional, o que torna a análise dessas transferências e convênios fundamental para constituir este mapa. Essa análise poderia ser realizada, inicialmente, pormeio de estudos de caso em estados e/ou municípios onde há grande transferênciade recursos, como estados e municípios do Sudeste e do Nordeste. E no caso dosestados em que há publicização dos dados sobre o volume transferido e asorganizações financiadas, esses dados poderiam ser analisados. Além disso, hágrande esforço a ser feito pelos governos para a publicização dessas informações e

    de sistemas orçamentários para a consulta pública.2. É importante que se analisem as emendas parlamentares que transferem recursos

    às OSCs, os projetos financiados, sua aderência aos programas federais, númerode projetos financiados e valores transferidos, e parlamentares responsáveis pelasemendas.

    3. Foi realizado um esforço de mapeamento e de levantamento dos fundos que maistransferem recursos, mas seria importante analisarmos os projetos financiados, o

    que poderia ser realizado por meio de entrevistas com os atores que gerenciamesses fundos e com entidades que receberam os recursos, assim como com aanálise de editais em uma determinada série histórica.

    4. Não há dados publicizados sobre as isenções fiscais. Seria necessária, para acomplementação do mapa, a estimativa do valor repassado. Além disso, essaestimativa poderia ser categorizada segundo a classificação da FASFIL, o quemostraria o volume de isenções para as entidades que trabalham com defesa de

    direitos. Vale ressaltar a importância de o Governo Federal tornar públicas essas

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    movimento expressivo de retirada da atuação de parte destas organizações do Brasil, processodenominado por alguns entrevistados como “crise da cooperação internacional”, intensificadoou legitimado frente à crise financeira.

    A fim de verificar se o pressuposto inicial da pesquisa se confirmava, fez-se necessáriolevantar dados quantitativos do volume de investimentos de organizações de cooperaçãointernacional, no Brasil, para analisar se, de fato, há uma tendência de queda do investimentono Brasil. As dificuldades foram encontradas logo no início da pesquisa, ao constatar-se quenão há uma fonte de dados que disponibilize tais informações. Essa constatação se repetiu namaior parte dos documentos analisados. Foi um consenso o fato de que haveria umdesinteresse, ou mesmo despreparo, por parte do sistema de produção de informaçõesestatísticas, na coleta e divulgação de dados deste tipo de organização. Em quinze anos, desdeo primeiro documento encontrado com essa afirmação, parece não ter havido uma mudançasignificativa na produção de dados estatísticos sobre organizações de cooperaçãointernacional no Brasil.

    O reflexo dessa escassez de dados e de reflexões mais estruturados sobre o tema podeser visto nas pesquisas desenvolvidas, uma vez que a maior parte dos documentos consultadosnão consegue elaborar grandes conclusões, trazendo apenas elementos para o debate elevantando algumas hipóteses. No campo da cooperação internacional, os dados referentes àcooperação oficial são acessíveis. Por meio de consultas à Agência Brasileira de Cooperação(ABC), foi possível obter informações detalhadas sobre a cooperação Bilateral e Multilateral

    recebida pelo Brasil ao longo de dezesseis anos. O relatório do IPEA e da ABC (2010) sobre aCooperação Internacional para o Desenvolvimento também apresenta números e um balançoextenso sobre a cooperação oficial oferecida pelo país nos últimos anos. Portanto, osresultados da pesquisa, no que se refere à cooperação Pública Oficial, são mais conclusivos eestabelecem tendências sobre o campo - o que não ocorre quando retratamos a CooperaçãoEmpresarial e Filantrópica Solidária.

    No cenário internacional, nos últimos anos, o Brasil vem assumindo um papel dedestaque no âmbito da cooperação internacional. Atualmente, o Brasil se caracteriza como

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    ator que, tanto recebe, como promove cooperação internacional oficial ou governamental. Osdados consultados em pesquisas anteriores (INESC, 2012; INSTITUTO FONTE, 2009),assim como os dados coletados por meio de entrevistas e questionários, apontaram para o fatode que há uma avaliação de que o país não precisa mais de apoio externo, visto que já dispõede recursos suficientes para enfrentar, sozinho, seus problemas.

    Outro aspecto que aparece como um dos fatores que contribui para a escassez derecursos para AOD é a emergência de novos problemas nos países desenvolvidos, a exemplodo “11 de Setembro” nos Estados Unidos; do apoio a processos de integração dos novos países que se somaram mais recentemente à União Europeia (UE), ou mesmo do atendimentode carências sociais dos países mais pobres da região; e do apoio do Japão às vítimas doviolento terremoto que sacudiu o país em 2011 (INESC, 2012). Contudo, essa hipótese não seconfirma, ao analisarmos os dados da pesquisa, pelo menos no que se refere à cooperação bilateral entre países. No Brasil, foi possível verificar que, por mais que os dados referentes aAOD realizada pelos países, individualmente, nem sempre representem uma ascensão, acooperação bilateral entre países apresenta uma linha ascendente, ou seja, uma tendência deinvestimento crescente.

    No que se refere à Cooperação Oficial Internacional oferecida e recebida pelo Brasil, podemos destacar que:

    • O fluxo da cooperação governamental oferecida pelo Brasil corresponde a0,02% do

    PIB (INESC, 2011).• A AOD dos países do DAC-OCDE apresentou um decréscimo ao longo de cinquenta

    anos: em 1961, representava0,5 do PIB per capita destes países e, em 2008, esse percentual era de0,3%.

    • A cooperação oficial total da OCDE cresceu, mas não na mesma proporção docrescimento do PIB dos países.

    • Sobre a cooperação multilateral, o país recebeu em investimentos externos,aproximadamente,634 milhões de reais ao longo de 16 anos, mas deu, emcontrapartidas, aproximadamente,4,8 bilhões de reais , no mesmo período.

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    Ao analisar os números referentes à cooperação multilateral, feita por intermédio deorganismos internacionais, foi possível notar um alto número de organismos com os quais o país mantém relações, e um grande volume de investimentos externos, ao longo de dezesseisanos (634 milhões de reais , aproximadamente). Contudo, foi possível observar que os valorestotais das contrapartidas oferecidas pelo Brasil, em dezesseis anos, foram muito maiores queos valores totais de financiamento externo (4,8 bilhões de reais , aproximadamente).

    Sobre a cooperação bilateral, foi possível constatar que, nos últimos quinze anos, oBrasil recebeu uma média de184 milhões de dólares, por ano:

    • A partir de 2007 (235 milhões ), a soma das doações ultrapassou os200 milhões dedólares.

    • Os países que se configuram entre os cinco principais doadores do Brasil são:Alemanha, França, Japão, Estados Unidos e Espanha.

    • Os principais setores de atuação da cooperação recebida são: Meio Ambiente,Agricultura, Pecuária e Pesca, Desenvolvimento Social, Saúde, entre outros.

    • Apesar da tendência de crescimento, é possível notar que houve uma queda no total dedoações entre 2008 e 2010.

    • O menor valor alcançado foi em 2010, com um total de17 milhões de dólares amenos em relação ao montante de 2007.

    • As duas agências de cooperação (Espanha e Inglaterra) não apontaram para o

    crescimento do investimento, como os dados da ABC.

    Sobre as doações brasileiras foi possível constatar que, desde a primeira década do ano2000, o Brasil passou a ser mais doador do que beneficiário de recursos da cooperação paradesenvolvimento.

    • No período de cinco anos, entre 2005 e 2009, o país recebeu1,48 bilhões de dólares ,enquanto doou1,88 bilhões de dólares , ficando com um saldo de400 milhões de

    dólares a mais doados (IPEA, 2010).

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    • Do valor total de1,88 bilhões de dólares doados pelo Brasil entre 2005 e 2009,55% (ou U$ 1,05 bilhão) foram destinados ao apoio a programas de instituiçõesmultilaterais;24% (U$ 448 milhões) foram computados como perdão de dívidaexterna de outros países;8% (U$ 143 milhões) foram destinados a bolsas de estudo para estrangeiros no Brasil; e13% (U$ 252 milhões) foram gastos com a CTI.

    • A cooperação brasileira registrou um aumento de quase50% , passando deR$ 384,2milhões em 2005, para mais deR$ 724 milhões em 2009.

    • O recurso destinado à cooperação brasileira é dividido em quatro modalidadesdiferentes: ajuda humanitária, bolsa de estudo para estrangeiro, cooperação técnica,científica e tecnológica e contribuições para organizações internacionais (IPEA, 2010).

    Chamamos atenção para o assunto da transparência no que se refere à CooperaçãoOficial Internacional. Assim como a pesquisa do INESC (2012) se posiciona, acreditamosexistir pouca transparência nas informações, além de baixa participação de movimentos e

    organizações da sociedade civil nas tomadas de decisão, na implementação e noacompanhamento das atividades de cooperação.

    Investigar a Cooperação Privada Internacional mostrou-se uma tarefa mais árduaainda. Dos documentos consultados, poucos faziam referência a ela, mas não foi possívelencontrar dados sobre os investimentos, ou a perspectiva de investimentos futuros. Um dosdocumentos apresentou as vantagens e desvantagens que o investimento de empresas privadas pode trazer para o campo de atuação social (INESC, 2012). A mesma pesquisa indica quedeve haver uma evolução crescente do investimento da cooperação empresarial em OSC’s brasileira no futuro próximo, pois as principais transnacionais possuem sede no Brasil e buscam legitimidade política e social, assim como novos mercados (INESC, 2012).

    Outra constatação sobre a cooperação empresarial que podemos fazer é que as grandestransnacionais acabam fundando institutos e fundações nos países de atuação, determinando,assim, o fluxo dos recursos das matrizes diretamente para as fundações empresariais

    constituídas nos países de atuação. Com isso, os recursos desse tipo de cooperação acabamnão chegando às OSC’s brasileiras.

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    No campo da Cooperação Solidária Internacional, foi possível encontrar algumas pesquisas com dados sobre investimentos da cooperação. Contudo, as pesquisas encontradasnão abrangiam a totalidade do campo das organizações internacionais que atuam no Brasil, oque torna difícil fazer generalizações, e conhecer a evolução do investimento financeiro nocampo. Por mais que tenhamos conseguido acesso a três listas de contato diferentes, vindas defontes diferentes, o contato com essas organizações mostrou-se falho. A maior parte doscontatos tinha números telefônicos inexistentes, ou mesmo equivocados. Os retornos aose-

    mails enviados ocorreram sempre mediante um contato telefônico prévio. Novamente, atotalidade dos dados levantados não corresponde a uma boa amostra do campo.

    A partir da análise dos dados coletados nesta pesquisa, nos aproximamos dasconclusões alcançadas por pesquisas anteriores, como a do Instituto Fonte, de 2011, queapresentou uma queda significativa nos recursos investidos pela cooperação solidáriainternacional, de 30% em 2008 e 2009, e uma previsão de queda ainda maior, de 49% em2010.

    A pesquisa Panorama das Organizações da Associação Brasileira de ONGs – ABONG, de 2008, também apresentou queda semelhante ao comparar a origem dos recursosfinanceiros de suas 250 associadas, entre 2003 e 2007. Por mais que a pesquisa da ABONGaponte para uma redução de organizações da cooperação internacional nos orçamentos dasassociadas, é preciso chamar atenção para o fato de que este tipo de financiamento nãodesapareceu. Ou seja, podemos afirmar que ainda há cooperação filantrópico-solidária no

    Brasil, mesmo que concentrada em um número menor de organizações. Não conseguimos teracesso aos valores absolutos investidos pela cooperação internacional no orçamento dasassociadas, uma vez que os valores apresentados são percentuais. Portanto, faz-se necessáriouma análise comparativa, entre 2003 e 2007, dos valores totais investidos pelas organizaçõesinternacionais nas associadas. Aí sim, poderemos afirmar, ou negar a existência de umaredução no montante investido. Por enquanto, podemos afirmar, apenas, que o recurso estáconcentrado em um menor número de organizações.

    Portanto, sobre a Cooperação Solidária Internacional, foi possível constatar que:

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    • Das 11 organizações consultadas na pesquisa, 10 apresentaram perspectivas futuras deredução do investimento no Brasil;

    • A única organização que não falou em redução do investimento, foi a Fundação RosaLuxemburgo, que tem financiamento do Partido Democrático Socialista (PDS) daAlemanha;

    • Apenas uma organização, a CESE, apresentou um aumento do investimento em 2011,mas a perspectiva futura é de redução;

    • Todas as organizações consultadas mencionaram a redução dos investimentosinternacionais como um efeito da crise internacional;

    • Algumas das organizações consultadas fizeram observações sobre a dificuldade quevem sendo enfrentada no que se refere à sustentabilidade das OSC´s no Brasil;

    • Uma das organizações ressaltou algo que pode aparecer como uma tendência, no quese refere à mudança na forma de parceria estabelecida com as OSC’s no Brasil, emque há o apoio para a busca de recursos que passam a ser registrados nos orçamentos

    das organizações parceiras.

    Recomendações

    Com base no que foi relatado e tendo em vista os objetivos estratégicos das OSCs brasileiras, em especial das OSCs que trabalham com a temática de defesa de direitos,

    sugerimos as seguintes reflexões e ações:

    Existe carência de dados e pouca publicização sobre a movimentação dos recursos dacooperação internacional no Brasil. Sugere-se uma ampla articulação com órgãos como aABC-MRE, Banco Central, e redes de OSCs para criar mecanismos permanentes desistematização, atualização e publicização de dados acerca do recebimento de recursos dacooperação internacional para o desenvolvimento.

    A ABC- Agência Brasileira de Cooperação- poderia ganhar um status de agênciaexecutora, ganhando mais autonomia para ações e orçamento. Assim, acreditamos que o MRE

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    tornaria mais efetiva a sua atuação por meio do estabelecimento de distinções mais clarasentre o papel da diplomacia e da cooperação internacional.

    Com relação à Cooperação Internacional Público-Oficial, foi possível encontrar dados,embora muito dispersos, em geral não públicos. A partir destes dados, foram feitas análisesobservando-se que a Cooperação Público-Oficial não tem diminuído no Brasil. Após um picoem 2007, ela teve uma leve queda nos dois anos seguintes, mas sem tendência de diminuição.Acreditamos que seja necessário criar mecanismos que possam realizar um acompanhamentomais detalhado destes recursos. Isso seria importante para as OSCs, uma vez que elas têm a possibilidade de potencializar sua participação em diversos projetos, em especial nacooperação bilateral.

    Se a Cooperação Público-Oficial não diminuiu, ocorreu, entretanto, umredirecionamento de suas agendas, com forte enfoque na área de Meio-ambiente e, em menorgrau, em Agricultura e Saúde. A temática dos Direitos Humanos não está presente como uma

    agenda especifica da Cooperação Público-Oficial, embora, indiretamente, possa envolver estatemática.

    A sociedade civil brasileira poderia se mobilizar para demonstrar para a CooperaçãoPúblico-Oficial a importância de outras agendas, como a agenda de Direitos Humanos eFortalecimentos Democráticos, assim como mostrar que essa discussão ainda se faz presente,sendo necessária em diversas áreas no Brasil, mesmo após os avanços sociais e políticosconquistados nos últimos anos. É importante ressaltar a necessidade da institucionalização dodialogo entre a ABC e a sociedade civil, e que esse diálogo deixe de serad hoc, como temsido a prática.

    Com relação à cooperação Empresarial e a Cooperação Filantrópico-Solidária, não foi possível realizar recomendações mais aprofundadas pela falta de acesso a dados mais gerais e precisos. O que se percebe, a partir dos relatórios e dados secundários acessados, é que esta parece ser a área mais sensível da cooperação internacional para o desenvolvimento, e a que

    mais financiou historicamente as OSCs engajadas com as temáticas dos direitos humanos,embora, nas poucas organizações em que encontramos números, e nas entrevistas realizadas,

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    apenas bens (esses, na sua grande parte, alimentos). As que fazem doações apenas para pessoas, diretamente, são maioria, 80%.O valor médio das doações anuais é deR$ 396,00.

    • O IDIS realizou, em 2007, pesquisa em quatro cidades do interior paulista sobre odoador local. A partir de uma amostra aleatória em locais de grande circulação, foramentrevistadas 957 pessoas. Constatou-se que 74% são doadores; 50% são do sexofeminino; 40 % das classes A/B; a escolaridade dos doadores é alta (20% graduados e

    39% universitários); a idade média dos doadores é de 40 anos; a maior parte dasdoações tem valor entre R$10 e R$50(45%);o valor médio anual das doações é deR$ 388,00 .

    • Nos dois estudos, a maior parte das doações se destinou a entidades religiosas e deassistência social, e direcionou-se, principalmente, ao público de crianças eadolescentes, idosos, jovens ou famílias. As motivações ligadas a estas doações sãoreligiosas ou ligadas a um desejo de ajudar o próximo.

    • Este tipo de doador poderia vir a ser um contribuidor potencial para as nascentesexperiências de Fundações Comunitárias no Brasil. Sabe-se que eles atuam hámuito tempo, são regulares nas suas ajudas e têm uma relação de proximidadegeográfica com os beneficiários das doações.

    • Outra pesquisa mapeada, solicitada pelaChildFundBrasil , realizada pela empresaRGarber, com base nos dados da POF- Pesquisa de Orçamento Familiar- do IBGE, de2003 e 2009, e em dados preliminares do Censo 2010, do IBGE, demonstram que, noBrasil, há17 milhões de doadores . Este número corresponde a 9% da população brasileira.O valor médio mensal doado seria R$ 21 para mulheres e R$ 31 parahomens , totalizando recursos disponíveis deR$ 5,2 bilhões/ano destinados às OSCs.A pesquisa excluiu os valores para Igrejas e, embora haja a especificação da fonte dogasto e do meio utilizado para o gasto nos questionários da POF/IBGE, por vezes, pode ser difícil fazer tal distinção, pois muitos indivíduos doam para OSCs através deIgrejas as quais encaminham os recursos a uma determinada destinação.

    • A CharitesAid Foundation (CAF) elabora anualmente oWorld Giving Index , umestudo comparativo sobre as doações de indivíduos de vários países. Com umametodologia que compara: 1- as doações feitas para alguma organização; 2- trabalho

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    direitos das mulheres, aponta que existem diversas dificuldades e baixa priorização,tanto por parte de governos, como de instituições multilaterais ou indivíduos para doar para a causa das mulheres.

    • Uma organização de direitos das mulheres, oGlobal Fund for Women , experimentouum aumento significativo da doação de indivíduos nos últimos dez anos, passando de9% para 50 % do total de receitas da organização, demonstrando o potencial deste tipode mobilização. OGlobal Fundfor Women mobilizou $ 14 milhões em 2011, tendo

    um crescimento de 18% com relação ao ano anterior. As contribuições vieram deindivíduos (50%), fundações (27%), empresas (11%) e governos (2%).

    • De acordo com o IDIS, este doador de causas, teria um perfil diferenciado do doadorlocal, pois suas motivações seriam mais políticas e de engajamento com uma causaque acreditam ser importante. Sobre este doador, não há praticamente nenhum estudoespecífico no Brasil. Mais informações poderiam ser coletadas sobre suas motivaçõese expectativas, especialmente para subsidiar a decisão de entidades que trabalham com

    causas específicas (crianças, idosos, meio-ambiente, mulheres, entre outras) ou comdireitos humanos. Algumas OSCs contatadas para este estudo realizaram pesquisasneste sentido. No entanto, não foi possível ter acesso, pois muitas delas não sesentiram à vontade para compartilhar os resultados dos estudos que encomendaram.

    • No Brasil, os dados fiscais não são abertos, e algumas das informações disponíveis em bases de dados e pesquisas nos Estados Unidos não poderiam ser reproduzidas semacesso a estas informações.

    Sobre a estratégia de Criação de Fundos/Fundações Comunitárias

    • Os Fundos são um modelo mais comum nos EUA, Europa e Canadá, e começam a serincentivados em outras partes do globo, como Ásia e América Latina, porfinanciadores internacionais, com o objetivo de garantir a sustentabilidade em váriasdas suas dimensões, especialmente, a financeira das OSCs.

    • Há diversas modalidades de fundos. Um Endowment pode envolver um ou diversosfundos geridos pela organização para garantir a sua sustentação. Eles são geridos pela

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    organização ou gestores designados por ela de acordo com os propósitosespecificados.

    • Os relatos na América Latina têm apontado dificuldades para constituição do fundo,devido ànecessidade de acúmulo de quantia suficiente para gerar rendimentos .Além da necessidade de acumulação de certo volume de recursos, outras dificuldadesapontadas foram: 1- mudanças no cenário econômico global, em que houve umaredução consistente das taxas de juros; 2-dificuldade de levantar recursos que não

    sejam para programas ou atividades, mas para cobrir suas despesas operacionais econstituir o fundo - existe uma“competição” por doadores e outras causas de apelosocial como redução da pobreza, infância ou educação, que são mais atraentes paradoadores; 3- a doação para constituir um fundo não faz parte da cultura de doação edas práticas dos membros do conselho e a responsabilidade acabava caindo sobre osexecutivos da organização.

    • Os doadores, por sua vez, apontam como entraves para doar para fundos, a ausência de

    um histórico que mostre a capacidade de gerenciar o fundo, passando uma impressãode que os riscos financeiros seriam altos, e a dificuldade em atribuir resultados delongo prazo aosinputs dos doadores. Por causa disso, identificou-se que uma das partes fundamentais presentes nos novos modelos e formatos de mobilização derecursos é acapacidade da organização intermediadora de elaborar indicadoresde performance e realizar o seu acompanhamento consistente .

    • Os ganhos relacionados à decisão de constituir um fundo e às estratégias que seseguem para formá-lo são o preparo e planejamento da organização com a elaboraçãode estudos de viabilidade, pesquisas e diagnósticos. Estas etapas auxiliam não só nacriação de confiança com os doadores, mas também na criação de capacidade degestão interna e externa da organização - estratégia de mobilização de recursos baseada na criação de amplas conexões.

    • Um modelo específico de Fundos, presente nos Estados Unidos é o da FundaçãoComunitária, que chega ao Brasil, também incentivado por Fundações Internacionais.As três experiências existentes no país são oInstituto Rio , o Instituto BaixadaMaranhense e, de forma mais aprofundada, o ICON-Instituto Comunitário daGrande Florianópolis .

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    • As Fundações Comunitárias brasileiras têm realizado um esforço de adaptação localdo modelo. Apenas o Instituto Rio constituiu um fundo permanente. O ICON aindanão tem esta prioridade definida.

    • Os Fundos independentes da sociedade civil existentes no Brasil são bastante diversose, assim como as fundações comunitárias, buscam realizar adaptações locais domodelo. Estas iniciativas buscam trabalhar com causas ligadas aos direitoshumanos, muito como resposta às dificuldades de mobilizar recursos para estas

    causas.• Em sua grande maioria, foram criados com o apoio da cooperação internacional, e

    muitos deverão tornar-se parceiros preferenciais de muitas Fundações, ONGs ouagências de desenvolvimento que buscam diminuir ou tornar mais eficiente suaoperação no país, dividindo com os fundos parte da sua infraestrutura de operação -uma forma de parceria nova que está em fase de aprimoramento pelos fundos brasileiros.

    • O maior desafio dos fundos está emcriar e implementar novos mecanismos eestratégias de mobilização de recursos capazes de influenciar a cultura de doação

    no Brasil, em especial a filantropia familiar e dos indivíduos.

    Sobre diferentes estratégias de mobilização• Alguns mecanismos de mobilização têm surgido especialmente os que se utilizam a

    web . Diversas ferramentas e soluções permitem a entrega de conteúdo textual eaudiovisual enquanto os visitantes (participantes) têm a possibilidade de reagir

    instantaneamente, podendo realizar a doação por meio de transferência de dinheiro,(por exemplo, Paypal ou pagamento com cartão de crédito).

    • Os visitantes podem ainda contribuir para a disseminação de informações sobre o programa da OSC, enviando uma mensagem para seus amigos, repassando a causaatravés de redes sociais, sem que isso gere custos muito altos às instituições quearrecadam. As redes de relações e convivência são forte influência para doações.

    • Todos esses fatores influenciam não só a forma e o valor de doação, mas também o

    que se espera por parte dos doadores, o que será feito com os recursos doados. E paraisso, algumas organizações dessa natureza já têm construído medidas de

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    confiabilidade dos projetos que receberão doações.• Alguns modelos utilizados são ocrowdfunding e a microdoação. Ocrowdfunding

    geralmente é realizado por meio de redes sociais, em especial pela internet (Twitter,Facebook, LinkedIn e outros diferentes blogs especializados).

    • Acredita-se que exista um limite para a quantidade de iniciativas (portais, sites especializados) para a realização decrowdfunding , pois pode haver a saturação e oaumento da competição pode fazer com que novos esforços para captar doadores

    aumentem os custos de transação para doações.• Muitas destas iniciativas têm sido utilizadas não apenas para captar doações para

    causas sociais, mas também para captar investimentos para negócios sociais ou aindaempreendimentos tradicionais.

    • Organizações maiores têm mantido outras estratégias para captar com indivíduos,como o tradicionaltelemarketing , ou investido em estratégias face to face ou

    doortodoor , ainda pouco utilizadas no Brasil. Estas estratégias exigem a capacidade de

    manter uma estrutura de divulgação e sensibilização de doadores bastante cara.• O telemarketing pode ser consideravelmente custoso, podendo variar entre 40% e 70%

    do valor total das doações arrecadadas. No caso da captação face to face , oinvestimento pode exigir até cinco anos para obter retorno. Cada doador captado, a partir destas estratégias, leva entre oito e doze meses para se pagar.

    Recomendações

    Necessidade de melhor detalhamento e atualização de pesquisas sobre doações individuais.Além de surveys , existe a possibilidade de acompanhamento do fluxo de doações deindivíduos a partir de bases de dados oficiais como a POF- Pesquisa de Orçamento Familiar-do IBGE. Os institutos de pesquisa oficiais poderiam produzir tais dados de forma maissistemática, da mesma forma como realizam o monitoramento de outros dados setoriais produzindo indicadores relevantes para a economia e as áreas sociais no Brasil.

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    4.1.4 Eixo ISP

    Principais resultados

    Por fim, são apresentadas as recomendações e conclusões do estudo que, de forma resumida, podem ser elencadas da seguinte forma:

    • Dados do IPEA de 2006, indicam que cerca de 60% das empresas brasileiras possuem

    alguma atuação social com investimentos da ordem deseis bilhões (dado atualizadopela inflação para 2009) .

    • Segundo o IPEA uma quantidade significativa de micro e pequenas empresas relatamações sociais (empresas de 1 a 10 empregados – 66% delas contribuem), no entanto odestaque fica para as grades empresas (mais de 500 empregados), com 94% delas atuandono social.

    • De acordo com pesquisas do IPEA, GIFE e BISC existe uma diversidade de formas de

    atuação das empresas no social (doação direta a indivíduos e comunidade, financiamentode organizações e projetos, operação própria de projetos e formas híbridas). A pesquisado IPEA mostra que as empresas, em sua maioria (cerca de 2/3), doam recursos, e cercade 1/3 operam seus próprios projetos. Boa parte dessas doações, entretanto, não pode serclassificada como parcerias ou apoio a projetos de OSCs. A pesquisa do IPEA demonstraque 57% das doações são realizadas diretamente para as comunidades ou indivíduoscarentes, enquanto 67% são destinadas para as OSCs.

    • Enquanto nas pesquisas do IPEA há o destaque para o apoio direto a pessoas ecomunidades, e um índice menor de implementação própria de projetos, o perfil derespondentes do Censo GIFE e BISC apresenta diferenças. Com amostras contentoorganizações maiores e um ISP mais estruturado, os associados GIFE e participantes da pesquisa BISC mais operam projetos próprios do que investem em terceiros. Quandodoam, o fazem mais para organizações da sociedade civil do que a indivíduos oucomunidades diretamente.

    • Na pesquisa do IPEA, as áreas em que se concentram os apoios são: Alimentação eAbastecimento e Assistência Social. Já nas pesquisas do GIFE e BISC as áreas de apoio

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    se concentram em Educação,Qualificação Profissional de Trabalhadores, Jovens eOrganizações do Terceiro Setor, Cultura.

    • A última edição do Censo GIFE (2012) mostrou um aumento das organizações queoferecem apoio financeiro e/ou técnicos a projetos e programas de terceiros, bem comocrescimento dos investimentos na área de Defesa de Direitos e a diminuição na área deMeio-Ambiente.

    • O GIFE relata que seus associados investem cerca deR$ 2 bilhões por ano, enquanto o

    BISC apresentou em 2011 os resultados de pesquisa com 23 grandes corporações e uminstituto independente, representando um universo de 171 empresas que investiramsocialmente em conjunto um total deR$ 1,6 bilhões em 2010.

    • O BISC (2011) captou que um montante deR$ 709 milhões foi transferido às OSCs ,dos quais41% se destinaram à execução dos projetos da empresa e 59% para apoiarprojetos próprios das organizações . Os valores repassados para cada organização sãoem média de R$ 30 mil, com 1/3 das organizações chegando a receber R$ 100 mil por

    projeto.• A Fundação AVINA, em seu Índice de Doadores para a América Latina, informa que em

    2010 foram investidos U$ 10,3 bilhões, na Região, um aumento de 23% frente ao valorde U$ 8,4 bilhões de 2009. Do total de 2010, 3% veio diretamente das empresas, e partedos 10,5% classificados como “Doador particular” são de origem corporativa (institutos efundações).

    • De acordo com a pesquisa da AVINA, o Brasil recebeu 5,5% dos recursos da região em2010. As organizações brasileiras foram origem de 8,4% dos recursos da região,colocando assim o Brasil em posição de doador – e não receptor – líquido de recursosfinanceiros internacionais. Os Estados Unidos são os maiores doadores à região, com42,5% do total.O Brasil tem seis doadores na lista dos trinta maiores investidores naregião, todos de origem corporativa .

    • Dados do Foundation Center mostram que houve um crescimento da filantropiainternacional, tanto entre indústrias como em empresas de serviço e que 14% do valorinvestido foram destinados a outros países que não os próprios Estados Unidos. O Brasilse mostra um destino importante do investimento corporativo internacional. Das doaçõesfeitas por empresas e fundações americanas ao Brasil (entre 2003 e 2012):

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    Direitos Humanos e a Filantropia

    • O entendimento das organizações empresariais sobre a temática de Direitos

    Humanos ainda não está consolidado . Grande parte dos relatos refere-se às atuaçõesrelacionadas às condições de trabalho na empresa e na sua cadeia produtiva e apoios paraações de promoção da igualdade e inclusão de minorias, em especial mulheres e negros.• No Censo GIFE de 2010, a área defesa de direitos é a 11ª em prioridade de investimento,

    com atuação por parte de 30% dos associados respondentes. É interessante destacar, noentanto, queesta é a única área em que há mais associados que financiam terceiros doque executam projetos próprios .• No Censo GIFE de 2012, observa-se um crescimento de cerca de 30% da atuação na

    área de Defesa de Direitos por parte dos associados de origem empresarial . No entanto,não podemos afirmar se o aumento decorre de uma maior atenção das empresas ao tema ou seé resultado da entrada de novos associados que já desenvolviam estas ações, visto que a base

    vem mudando ao longo das pesquisas. Da mesma forma, não se consegue saber se o aumentode organizações que atuam na área representa um aumento proporcional em recursosinvestidos, já queo Censo não traz uma divisão de valores por área temática .• Na pesquisa do BISC, 43% dos respondentes declaram fazer parcerias com

    organizações de defesa de direitos, mas apenas 3% do valor investido chegam à área

    (cerca de R$ 60 milhões).• O BISC mostra que, do valor de quase R$ 1,6 bilhões investidos por ano em programassociais,apenas R$ 252 milhões são repassados a OSCs . Ainda que não haja recorte especial para a área de Direitos humanos, é interessante notar que os respondentes do BISC relatamque85% dos recursos que passam à OSCs são destinados a projetos, enquanto apenas11% contribuiem para a manutenção geral da organização , representando assim mais umdesafio à sustentabilidade das entidades de direitos• Nas entrevistas qualitativas com organizações de origem empresarial atuando no Brasilque realizam doações, observou-se que os valores apoiados por projetos, em geral, nãoultrapassam 150 mil reais. Alguns projetos específicos podem receber apoios maiores, principalmente para uma organização que já trabalha com o financiador. Geralmente não há

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    apoio para nenhuma despesa fixa da organização, como pessoal e encargos trabalhistas, infra-estrutura, aluguel e manutenção.• Os dados do Foundation Center mostram que o Brasil está no topo da agendainternacional para fundações americanas que atuam fora dos Estados Unidos. No entanto, issodeve-se basicamente a três doadores que juntos respondem por mais de 97% do valorinvestido ao longo desses dez anos.• De forma geral, percebe-se queDireitos humanos não é assunto prioritário para

    corporações. No mundo, a proporção de doações corporativas em relação ao total da área éde 0,9%. No Brasil, a proporção é de 0,3%.

    Conclusões e Recomendações

    A coleta e análise dos dados disponíveis sobre o papel do Investimento Social Corporativo noapoio às organizações da sociedade civil e, em especial, às de Direitos Humanos nos permiteenxergar desafios e caminhos a serem trilhados.

    Certamente, há desafios a serem enfrentados pelo setor da Filantropia e do investimento socialcomo um todo, como foi resumido pela publicação “Principais tendências da Filantropia naAmérica Latina”:

    Nos próximos anos, a Filantropia não só deverá ser mais eficientecomo também terá que ser mais adaptável e trabalhar em maior escala para atuar em um mundo mutante. Ademais, terá que satisfazer às

    crescentes demandas tanto de quem faz Filantropia como de quem estáfora do setor. Atualmente, a Filantropia considera as pessoas nãocomo objetos de uma doação, mas sim como sujeitos de direito.(FUNDAÇÃO AVINA, BID, 2010, p. 8)

    Mas há também obstáculos específicos no financiamento e desenvolvimento da área deDireitos Humanos. Um primeiro desafio é conceitual e tem a ver tanto com registro, coleta e

    análise de informações quanto com prática: o nome e a definição do que entra ou não comoDireitos Humanos. Nos vários estudos citados, usam-se diferentes expressões como Direitos

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    Humanos, defesa de direitos, democracia e sociedade civil, assuntos públicos ou cívicos. Emalguns casos é possível perceber que se referem a fenômenos equivalentes, em outros hámaior imprecisão. Em algumas situações, a falta de glossários ou definições faz com que nãoseja possível afirmar nem uma coisa nem outra, e é de se esperar que tais confusões tambémtraduzam-se em práticas por vezes pouco consistentes.

    É importante lembrar também que, mesmo dentro do campo mais geral de Direitos Humanos,há muitas correntes, subdivisões e formas de pensar quanto aos direitos. Nesse sentido, éimportante reconhecer iniciativas como a feita pelo Foundation Center em conjunto com o

    Internationa Huma RightsFundersGroup em criar uma taxonomia do investimento emDireitos Humanos. Partindo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o grupo chegou,após dois anos de debate, a uma rica divisão, tanto a partir de áreas de direitos quanto de públicos e sujeitos de direitos. A lista encontra-se nos Anexos.

    Finalmente, listam-se, a seguir, desafios e sugestões para o desenvolvimento do apoio às

    organizações de Direitos Humanos, subdivididos em três grupos:

    D As empresas e organizações corporativas que praticam ISP;D As organizações de apoio ao ISP, as instituições acadêmicas e consultores;D As organizações da sociedade civil.

    Para empresas e organizações corporativas que praticam ISP:

    • Despertar para a importância do tema.• Entender o cenário de mudança de financiamento à área.• Incorporar conceitos e preocupações de Direitos Humanos em investimento em áreas

    relacionadas.• Ao financiar Direitos Humanos, pensar não apenas emadvocacy e mudanças legais,

    mas também em cultura e sociedade.• Ampliar o debate sobre Direitos Humanos para além da área de investimento social.• Acelerar o desenvolvimento de boas práticas de investimento social em geral.

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    Para as organizações de apoio ao ISP, academia e consultores

    • Desenvolver capacitações sobre investimento sociais e Direitos Humanos.• Promover trocas de experiências /peer-learning entre investidores sociais.• Promover novos eventos ou abrir espaço nos existentes, facilitando uma ponte entre os

    investidores e as organizações da sociedade civil. • Continuar a desenvolver ações para estimular outros modelos não corporativos de

    investimento social.• Liderar e contribuir para uma maior e mais regular produção de dados.• Promover mais investigações sobre o ISP em geral.

    Para as organizações da sociedade civil

    • Continuar o monitoramento e pressão sobre investidores sociais e empresas.• Contribuir para criação de uma cultura de investimento em Direitos Humanos.• Buscar caminhos alternativos para tratar de Direitos Humanos no ambiente

    corporativo.

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    Referências

    ARTICULAÇÃO D3- DIALOGOS DIREITOS E DEMOCRACIA. Termo de referencia daPesquisa para Caracterização da Atual Arquitetura Institucional de Apoio às Organizações daSociedade Civil (OSCs) no Brasil. D3, 2010, mimeo.

    CARROLL, Thomas. Intermediary NGOS: the supporting link in grassroots development.West Hartford, Co: Kumarian Press, 1992.

    CLARK, John. Democratising development : the role of voluntary organisations. London:Earthscan, 1991.

    CORDEIRO, R. M. ;MENDONÇA, P. . Nationalization of international CSOs in Brazil:thecase of ABRIN/Save the Children. ISTR- International Society for Third Sector Research-Biannual Conference. Siena, Italia. 2012.

    FARRINGTON, John & BEBBINGTON, Anthony. Reluctant Partners? NGOs, the state and

    sustainable agricultural development.London: Routledge, 1993.

    FERNANDES, Rubem C. Privado porém Público. Rio de Janeiro: RelumeDumará. 1994.

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